Livro - Cap3 - Os Sentidos Do Texto
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SEQUNCIAS TEXTUAIS
A noo de discurso de Bronckart no a mesma que estamos adotando nesta obra. A concepo de
discurso que nos interessa aqui marcada por aspectos subjetivos e sociais, histricos e culturais que
esto na base mesmo de qualquer enunciado e que denunciam o posicionamento de um enunciador, os
ser notado quando o funcionrio entra na sala para falar com o empresrio e usa a
expresso Doutor para abrir o dilogo; a interao entre os dois prossegue com a
discusso de um tema especfico, o desconto. O encerramento da conversa marcado
pela expresso de indignao do funcionrio. Esse trecho coincide com a situao final
da sequncia narrativa, que dominante neste texto, pois a piada caracteriza-se pela
breve narrao de fatos, cujo final deve ser engraado e, s vezes, surpreendente, com o
propsito de provocar o riso.
CLASSIFICAO E CARACTERIZAO DAS SEQUNCIAS TEXTUAIS
Como vimos, o contedo temtico de um texto pode ser organizado, conforme
Bronckart (1999), por meio de seis sequncias bsicas: narrativa, argumentativa,
explicativa, descritiva, injuntiva e dialogal. Essas sequncias desempenham funes
especficas, sendo compostas por fases que constituem modelos prototpicos. No
entanto, dependendo do propsito comunicativo e das escolhas feitas pelo agente
produtor de textos, essas fases podem variar quanto extenso e ao nmero de
proposies e, ainda, quanto sua distribuio e organizao no interior da sequncia.
Portanto, nem sempre a estrutura linear de um texto ser marcada pela combinao de
sequncias prototpicas, pois, segundo Adam (2009, p. 129), um texto uma estrutura
hierrquica complexa que compreende n sequncias elpticas ou completas do
mesmo tipo ou de tipos diferentes.
Vejamos as especificidades de cada uma das sequncias textuais.
Sequncia narrativa
A sequncia narrativa tem como principal objetivo manter a ateno do
leitor/ouvinte em relao ao que se conta. Para isso, so reunidos e selecionados fatos e
a histria passa a ser desenvolvida, quando a situao de equilbrio alterada por uma
tenso, que determina transformaes e re-transformaes, as quais direcionam ao final.
Prototipicamente, constitui-se de sete fases:
i)
situao inicial estgio inicial de equilbrio, que modificado por uma
situao de conflito ou tenso;
ii)
complicao fase marcada por momento de perturbao e de criao de
tenso;
iii)
aes (para o clmax) fase de encadeamento de acontecimentos que
aumentam a tenso;
iv)
resoluo momento de reduo efetiva da tenso para o
desencadeamento;
v)
situao final novo estado de equilbrio;
vi)
avaliao comentrio relativo ao desenvolvimento da histria;
vii)
moral momento de explicitao da significao global atribudo
histria.
Confira, no exemplo 2, as fases que compem uma sequncia narrativa:
Exemplo 2
O trapezista
Um velho trapezista de circo dedicava-se a formar jovens acrobatas. (Situao inicial)
Um grupo de alunos, aps vrios meses de treinamento intenso, tinha agora que enfrentar o teste
aspectos ideolgicos que ele defende. Mais detalhes sero dados no captulo 8.
principal: seu primeiro salto no trapzio a 15 metros de altura. Um a um, os jovens foram
superando aquela prova, at que o ltimo aluno se posicionou na plataforma, aguardando o
momento certo para o salto, em busca do trapzio que balanava suavemente na sua frente. E o
tempo ia passando e o jovem continuava l, olhando para um ponto qualquer sua frente,
imvel como que congelado. (Complicao)
O velho professor, observando a hesitao do aluno, procurou ajud-lo:
Vamos l rapaz... Pule!
Sem qualquer reao o jovem gaguejou:
Eu no posso... No posso pular... Eu me vejo morto l embaixo estendido no cho.
Naquele instante o silncio se fez sentir no picadeiro. Todos os presentes acompanhavam tensos
aqueles momentos. (Aes)
O velho trapezista subiu at ento onde estava o jovem e calmamente disse-lhe:
Se no tivesse certeza de que voc seria capaz de pular, no pediria para faz-lo.
Voc tem conhecimentos tcnicos e competncia para executar este movimento. Vou lhe dar um
conselho... Preste ateno: primeiro atire seu corao e a mente naquela barra... o corpo ir
atrs... Acredite! (Resoluo)
Passados alguns segundos o jovem aluno se lana no espao resoluto e agarra o
trapzio, ouvindo ento as palmas dos que o observavam naquele instante. (Situao final)
Assim como o aluno, muitas vezes nos sentimos congelados quando pensamos no
pior. O velho professor, quando pedia ao jovem para jogar o corao e a mente, estava na
realidade dizendo:
Atire na mente sua confiana, sua f, sua determinao, que a parte material vem na
sequncia. (Avaliao)
Criar uma imagem mental positiva ajuda a descongelar o raciocnio. (Moral)
Autor desconhecido. Disponvel em: http://www.bilibio.com.br/mensagem/99/O+trapezista.html
ii)
iii)
iv)
i)
ii)
iii)
iv)
Sequncia descritiva
A sequncia descritiva centra-se na caracterizao de objetos ou pessoas, de
modo subjetivo ou objetivo, tendo como peculiaridade a ausncia de aes. Em sua
constituio, observam-se o predomnio de formas nominais, de adjetivos. Esta
sequncia apresenta as seguintes fases:
i)
ancoragem tema da descrio, em geral uma forma nominal, ou o
ttulo;
ii)
aspectualizao enumerao dos diversos aspectos do tema;
iii)
relacionamento associao com outros elementos, geralmente por
comparaes ou metforas;
iv)
reformulao retomada do tema-ttulo.
Para a observao de uma sequncia descritiva prototpica, selecionamos o
exemplo 5 para anlise.
Exemplo 5
Cariocas (Adriana Calcanhoto)
Cariocas so bonitos
Cariocas so bacanas
Cariocas so sacanas
Cariocas so dourados
Cariocas so modernos
Cariocas so espertos
Cariocas so diretos
Cariocas no gostam de dias nublados
Cariocas nascem bambas
Cariocas nascem craques
Cariocas tm sotaque
Cariocas so alegres
Cariocas so atentos
Cariocas so to sexys
Cariocas so to claros
Cariocas no gostam de sinal fechado
Disponvel em:
http://deliriosereflexoes.files.wordpress.com/200
8/09/dot_s_america_brazil_rio_de_janeiro_4.jpg
Sequncia injuntiva
As sequncia injuntiva, conforme Bronkcart (1999), consiste em uma entidade
com propsito autnomo: a partir dela, os interlocutores ou produtores de texto visam a
alcanar um determinado efeito, ou simplesmente persuadir seu destinatrio a realizar
alguma ao. Esse tipo de sequncia apresenta uma sucesso de aes instrucionais,
realizadas pela presena de formas verbais no imperativo ou no infinitivo.
A configurao desta sequncia ocorre, principalmente, com o objetivo de dar
ordens, aconselhar, orientar, dar instrues, expressar convites. Ilustramos esta
sequncia com o exemplo 7.
Exemplo 7
Simpatia para perder barriga
Consiga uma vela branca, um copo de gua e uma imagem de Santo Antnio em uma
fita mtrica.
Ento, coloque tudo isso aos seus ps e se deite.
Agora, deitado toque a ponta dos dedos dos ps com a ponta dos dedos da mo,
dizendo:
Santo Antnio, me tira essa barriga.
Repita 100 vezes por dia at notar que Santo Antnio j resolveu o seu problema.
(Disponvel em: http://www.contaoutra.com.br/mostratexto.asp?id_bla=3.)
De acordo com Sacks, Schegloff & Jefferson, ([1974] 2005), os turnos consistem em unidades sintticas
(sentenas, oraes, sintagmas nominais etc.) identificadas como unidades de turno em parte por meios
prosdicos e, especialmente, por meios entonacionais, que ocupam lugar especfico em uma conversa.
Exemplo 83
Chat
Macroproposio
Abertura
Operaes interacionais
[...]
*candice* fala para iniciante-M: vou indo,
bye...
iniciante-M fala para *candice*: boa
sorte! Bye
Fechamento
Conclumos nossa exposio reiterando que, embora a tendncia dos textos seja
a de se organizarem de forma heterognea, h frequentemente uma sequncia
(prototpica ou no) que se sobrepe s demais. Tal aspecto justificado pela situao e
propsitos comunicativos que envolvem a produo textual falada e/ou escrita. Isso
permite, no processo ensino-aprendizagem, a escolha de gneros especficos para a
sequncia que se pretende explorar em sala de aula, conforme pode ser observado no
quadro de sugestes a seguir.
Sugesto de gneros para o ensino aprendizagem de sequncias textuais
Sequncia textual
Gneros textuais sugeridos
Narrativa
contos, piadas, fbulas, poemas, notcias, msicas
Argumentativa
artigos, editoriais, msicas
Explicativa
textos cientficos, de curiosidades
Descritiva
anncios, folders, msicas
dicas, folhetos, manuais de instrues, convites, receitas
Injuntiva
culinrias
Dialogal
peas teatrais; tirinhas; bate-papo
Com base no que vimos neste captulo, podemos sintetizar os contedos sobre
sequncias textuais no seguinte esquema:
as fases que as constituem. Eles devem perceber que: a dialogal formada pela abertura
e as operaes interacionais; a argumentativa caracteriza-se, essencialmente, pelo
argumento do gato para justificar a ligao e o horrio em que foi feita; e a injuntiva,
pela sugesto e pela solicitao feitas ao gato. Concluda a anlise e discusso das
sequncias, solicite a produo de um conto, em que o protagonista seja o gato.
Determine alguns tpicos que devem estar na histria: momento em que o gato se
apaixonou; como mergulhou na paixo e, ao mesmo tempo, sentiu-se incomodado por
ela; por que tomou a deciso de ligar para o amigo; que conselhos recebeu do amigo; e,
para encerrar, o que o gato decidiu e que final teve sua saga.
REFERNCIAS
ADAM, Jean-Michel. A Lingustica Textual: introduo anlise textual dos
discursos. So Paulo: Cortez, 2008.
ADAM, Jean-Michel. Les textes: types et prototypes. Paris: Naham, 1992.
_______. A Lingustica Textual: introduo anlise textual dos discursos. So Paulo:
Cortez, 2008.
_______.Textualidade e sequencialidade: o exemplo da descrio. Traduo Mnica
Magalhes Cavalcante. In: BEZERRA, B. G.; RODRIGUES-BIASI, B.;
CAVALCANTE, M. M (Org.). Gneros e sequncias textuais. Recife: EDUPE, 2009,
p. 79-113.
BRONCKART, Jean P. Atividades de linguagem, textos e discursos. So Paulo:
EDUC, 1999.
PAIVA, Gergia F. M. A polidez lingustica em sala de bate-papo na internet. 294p.
Dissertao (Mestrado em Lingustica). Universidade Federal do Cear, Fortaleza,
2008.
SACKS, H.; SCHEGLOFF, E. A.; JEFFERSON, G. A simplest systematic for the
organization of turn-taking for conversation. Language, Baltimore, v. 50, 1974, p. 696735 / Sistemtica elementar para a organizao da tomada de turnos para a conversa.
Veredas, Juiz de Fora, v. 7, p. 9-73, 2005.