Lendas Do Distrito Do Porto

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Lendas do distrito do Porto

O Senhor de Matosinhos
Segundo a tradio, a imagem do Senhor de Matosinhos
uma das mais antigas de toda a cristandade. A lenda diz
que esta imagem foi esculpida por Nicodemos, que assistiu
aos ltimos momentos de vida de Jesus, sendo por isso
considerada uma cpia fiel do seu rosto. Nicodemos
esculpiu mais quatro imagens mas esta considerada a
primeira e a mais perfeita. A imagem oca porque nela
teria Nicodemos escondido os instrumentos da Paixo e,
nesses tempos de perseguio, os objectos sagrados eram
escondidos ou atirados ao mar para escaparem fogueira.
Nicodemos atirou a imagem ao mar Mediterrneo, na
Judeia, e esta foi levada pelas guas, passou o estreito de
Gibraltar e veio dar praia de Matosinhos, perdendo na
viagem um brao. A populao de Bouas ergueu-lhe um
templo e designou a imagem por Nosso Senhor de Bouas,
venerando-a durante 50 anos pelos seus muitos milagres.
Mas um dia, andava uma mulher na praia de Matosinhos a
apanhar lenha para a sua lareira, quando encontrou um
pedao de madeira que juntou aos restantes. Em casa,
lanou-o ao fogo mas este pedao saltou da lareira no s
da primeira, mas como de todas as vezes que ela o tentava
queimar. A sua filha, muda de nascena, fazia-lhe gestos
desesperados para que dizer qualquer coisa e, por fim,
balbuciou, perante o espanto da me, que o pedao de
madeira era o brao de Nosso Senhor das Bouas.
Assombrada pelo milagre a populao verificou que o brao
se ajustava to bem imagem que parecia que nunca dela
se tinha separado. No sculo XVI, a imagem foi mudada
para uma igreja em Matosinhos, construda em sua honra,
ficando a ser conhecida por Nosso Senhor de Matosinhos.

Santiago e Caio

No ano de 44 da era de Jesus Cristo, passeava pela praia


de Matosinhos um ilustre cavaleiro da Maia, Caio Carpo
Palenciano, com a sua mulher Claudina e vrios parentes e
amigos. Cavalgava o grupo pelo areal quando algum
vislumbrou uma barca que se dirigia para norte. Os
cavaleiros e as damas pararam todos para apreciar o ritmo

e a beleza da embarcao, quando inexplicavelmente o


cavalo de Caio galopou para dentro do mar, apesar de este
o tentar evitar, como se fosse obrigado por uma fora
desconhecida. Cavalo e cavaleiro imergiram no mar e
desapareceram para ressurgirem perto da barca, para onde
subiram cobertos de vieiras. Quando perguntaram
tripulao o motivo deste fenmeno e qual a razo da sua
viagem, estes explicaram que eram discpulos cristos de
um homem chamado Tiago. Tinham fugido de grandes
perseguies, levando o corpo do seu Mestre para terras de
Espanha, onde Tiago tinha pregado o Evangelho. Segundo
estes homens, o fenmeno ocorrido com Caio e o seu
cavalo poderia ser explicado pelo facto de ele ser um
escolhido de Nosso Senhor. As vieiras eram o sinal de
Santiago que queria ver Caio abraar a lei de Deus.
Comovido, Caio foi ali mesmo baptizado com gua do mar
e, quando voltou para junto dos seus familiares e amigos, a
todos converteu com o extraordinrio feito de Santiago. As
vieiras ficaram a fazer parte do braso da nobre famlia
Pimentel de Trs-os-Montes, descendentes, segundo se cr,
de Caio Carpo Palenciano.

Lenda de Valongo e Suso


Os nomes de Valongo e Suso tm origem nesta lenda que
remonta poca em que alguns cristos perseguidos no
Oriente se refugiaram em Cale, foz do rio Douro. Entre eles
estava o rico negociante judeu Samuel, recm convertido
ao Cristianismo, e a sua filha Susana. Pensavam os
fugitivos estarem j livres de perseguies quando foram
obrigados a defender-se dos rabes que dominavam a
regio. Com astcia, prepararam uma armadilha e
capturaram o jovem Domus de cujo resgate esperavam
obter a paz. Enquanto decorriam as negociaes, Domus e
Susana apaixonaram-se e o mouro pediu para ser
baptizado para poder casar-se com a jovem. O acordo com
os muulmanos era assim impossvel e decidiram todos
fugir, deixando Portucale (Porto) em direco ao Oriente.
Chegados ao topo da Serra de Santa Justa depararam com
uma paisagem lindssima e a apaixonada Susana exclamou
um elogio sincero ao vale longo que sob os seus olhos se
estendia. Desceram ao vale e nele decidiram ficar para

sempre, edificando as primeiras casas de uma povoao


que se veio a chamar Suso, em memria da bela Susana.
O vale que Susana tinha achado belo e longo ficou
conhecido como Valongo.

Lenda do Rei Ramiro

Uma antiga lenda que remonta ao sculo X, conta que o rei


Ramiro II de Leo se apaixonou por uma bela moura de
sangue azul, irm de Alboazer Alboadam, rei mouro que
possua as terras que iam de Gaia at Santarm.
Influenciado pela sua paixo e com a inteno de pedir a
moura em casamento, Ramiro decidiu estabelecer a paz
com Alboazer, que o recebeu no seu palcio de Gaia.
Apesar de j ser casado, Ramiro pensou que seria fcil
obter a anulao do seu casamento pelo parentesco que o
unia a D. Aldora. Alboazer recusou terminantemente: nunca
daria a irm em casamento a um cristo e, de todas as
formas, esta j estava prometida ao rei de Marrocos. O rei
Ramiro, vexado, pareceu aceitar a recusa, mas pediu ao
astrlogo Am que estudasse os astros para decidir qual a
melhor altura para raptar a princesa e levou-a consigo
nessa data propcia. Dando por falta da irm, Alboazer
ainda chegou a tempo de encontrar os cristos a embarcar
no cais de Gaia. Gerou-se uma luta favorvel ao rei cristo,
que levou a princesa moura para Leo, a baptizou e lhe deu
o nome de Artiga, que tanto significava castigada e
ensinada como dotada de todos os bens. Alboazer, para se
vingar, raptou a legtima esposa do rei Ramiro, D. Aldora,
juntamente com todo o seu squito. Quando o rei Ramiro
soube do rapto ficou louco de raiva e, juntamente com o
seu filho D. Ordonho e alguns vassalos, zarpou de barco
para Gaia. A chegados Ramiro disfarou-se de pedinte e
dirigiu-se a uma fonte onde encontrou uma das aias de D.
Aldora a quem pediu um pouco de gua, aproveitando para
dissimuladamente deitar no recipiente da gua meio
camafeu, do qual a rainha possua a outra metade.
Reconhecendo a jia, D. Aldora mandou buscar o rei
disfarado de pedinte e, por vingana da sua infidelidade,
entregou-o a Alboazer. Sentindo-se perdido, o rei Ramiro
pediu a Alboazer uma morte pblica, esperando com
astcia ganhar tempo para poder avisar o seu filho atravs

do toque do seu corno de caa. Ao ouvir o sinal combinado,


D. Ordonho acorreu com os seus homens ao castelo e
juntos mataram Alboazer e o seu povo, para alm de
destrurem a cidade. Levando D. Aldora e as suas aias para
o seu barco, o rei Ramiro atou uma m de pedra ao
pescoo da rainha e atirou-a ao mar num local que ficou a
ser conhecido por Foz de ncora. O rei Ramiro voltou para
Leo onde se casou com a princesa Artiga, de quem teve
uma vasta e nobre descendncia.

Lenda de Pedro Sem


A torre medieval que se encontra diante do antigo Palcio
de Cristal, no Porto, ainda hoje conhecida por Torre de
Pedro Sem. A histria diz que essa torre pertencia a Pro
do Sem, doutor de leis, jurisconsulto e chanceler-mor de D.
Afonso VI, no sculo XIV. Mas a lenda remete para uma
data posterior, no sculo XVI, a existncia de um
personagem Pedro Sem que vivia no seu Palcio da Torre.
Possuindo muitas naus na ndia, Pedro Sem era um
mercador rico mas no tinha ttulos de nobreza, o que
muito o afectava. Era tambm usurrio, emprestando
dinheiro a juros elevados, custa da desgraa alheia,
enquanto vivia rodeado de luxo. Estavam as suas naus a
chegar, carregadas de especiarias e outros bens preciosos,
quando a sua mxima ambio foi realizada atravs do seu
casamento com uma jovem da nobreza, em troca do
perdo das dvidas de seu pai. Decorria a festa de
casamento, que durou quinze dias consecutivos, quando as
naus de Pedro Sem se aproximaram da barra do Douro. O
arrogante mercador acompanhado pelos seus convidados
subiu torre do seu palcio e, confiante do seu poder,
desafiou Deus, dizendo que nem o Criador o poderia fazer
pobre. Nesse momento, o cu que estava azul deu lugar a
uma grande tempestade! Pedro Sem assistiu, impotente e
encharcado pela chuva, ao naufrgio das suas naus. De
seguida, a torre foi atingida por um raio que fez deflagrar
um incndio que destruiu todos os seus bens. Arruinado,
Pedro Sem passou a pedir esmola nas ruas, lamentando-se
a quem passava: "D uma esmolinha a Pedro Sem, que
teve tudo e agora no tem...".

Lenda dos Tripeiros

No ano de 1415, construam-se nas margens do Douro as


naus e os barcos que haveriam de levar os portugueses,
nesse ano, conquista de Ceuta e, mais tarde, epopeia
dos Descobrimentos. A razo deste empreendimento era
secreta e nos estaleiros os boatos eram muitos e variados:
uns diziam que as embarcaes eram destinadas a
transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se
casaria; outros diziam que era para levar El-Rei D. Joo I a
Jerusalm para visitar o Santo Sepulcro. Mas havia ainda
quem afirmasse a ps juntos que a armada se destinava a
conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Npoles para
ali se casarem...
Foi ento que o Infante D. Henrique apareceu
inesperadamente no Porto para ver o andamento dos
trabalhos e, embora satisfeito com o esforo despendido,
achou que se poderia fazer ainda mais. E o Infante
confidenciou ao mestre Vaz, o fiel encarregado da
construo, as verdadeiras e secretas razes que estavam
na sua origem: a conquista de Ceuta. Pediu ao mestre e
aos seus homens mais empenho e sacrifcios, ao que
mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o infante o
mesmo que tinham feito cerca de trinta anos atrs aquando
da guerra com Castela: dariam toda a carne da cidade e
comeriam apenas as tripas. Este sacrifcio tinha-lhes valido
mesmo a alcunha de "tripeiros". Comovido, o infante D.
Henrique disse-lhe ento que esse nome de "tripeiros" era
uma verdadeira honra para o povo do Porto. A Histria de
Portugal registou mais este sacrifcio invulgar dos hericos
"tripeiros" que contribuiu para que a grande frota do
Infante D. Henrique, com sete gals e vinte naus, partisse a
caminho da conquista de Ceuta.

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