Proj Santo Amaro Diagnostico

PROJETOSANTOAMAROBA
aglutinandoideias,construindosolues
DIAGNSTICOS
Editores:
FranciscoRegoChavesFernandes
LuizCarlosBertolino
SilviaGonalvesEgler
RIODEJANEIRO
CETEMCENTRODETECNOLOGIAMINERAL
2012
PROJETOSANTOAMAROBA
aglutinandoideias,construindosolues
DIAGNSTICOS
2EDIO
Coordenao
LuizCarlosBertolino
Pesquisadores
AllegraVivianeYallouz
CarlaCosta(ISCSP/UTLPT)
CarlosEduardoGomesdeSouza
DboraMonteirodeOliveira
KeilaValentedeSouza
LlianIreneDiasdaSilva
LuisGonzagadosSantosSobral
LuizCarlosBertolino
ManuelCastroCarneiro
MariadeFtimadasDoresdosSantosLima
PauloFernandodeAlmeidaBraga
RuiC.HasseFerreira(ConsultorIndependente)
SilviaCristinaAlvesFranaSilva
SilviaGonalvesEgler
ThaisdeLimaAlvesPinheiroFernandes
ApoioTcnico
DanieldaSilvaTeixeira
DanielleDuarteGomes
MariaInsF.C.AlmeidaRibeiro
NatliaSouzaeSouza
RaquelLucenadeOliveira
ProgramaoVisual
VeraLciaEspritoSantoS.Ribeiro
Ocontedodestetrabalhoderesponsabilidade
exclusivado(s)autor(es)
CentrodeTecnologiaMineral
Projeto Santo Amaro BA: aglutinando ideias, construindo solues

diagnsticos/Eds.: Francisco Rego Chaves Fernandes, Luiz Carlos Bertolino. Silvia
EglerRiodeJaneiro:CETEM/MCTI,2012).2Edio
252p.:il.
1. Contaminao. 2. Metais pesados. 3. Desenvolvimento sustentvel. 4. Sade

humana.I.CentrodeTecnologiaMineral.II.Fernandes,FranciscoRegoChaves(Ed.).III.
Bertolino,LuizCarlos(Ed.).IV.Egler,SilviaGonalves(Ed.)
ISBN9788561121945
CDD363.1791
SUMRIO
Apresentao
FernandoA.FreitasLins,DiretordoCETEM...............................................................................................3
Prefcio
FranciscoRegoChavesFernandes,LuizCarlosBertolinoeSilviaGonalvesEgler.....................5
Depoimentos......................................................................................................................................9
SantoAmaroprecisadeumtratamentodechoqueemergencial,
umPACpelavida.
SenadorpelaBahia,WalterPinheiro......................................................................................................9
PerspectivasparaamineraodechumbonoEstadodaBahia.
DeputadoFederalpelaBahia,LuizAlberto......................................................................................10
Superandoador,mensagemsobreaquestoambientalemSantoAmaro/BA.
SenadorpeloRioGrandedoSul,PauloPaim......................................................................................12
Depoisdeumagrandequantidadedeestudosoquefaltaasoluo.
PrefeitodeSantoAmaro,RicardoMachado......................................................................................15
Diagnsticos
PassivossocioambientaisdaminerometalurgiadochumboemSanto
Amaro(BA),Boquira(BA),ValedoRibeira(PR)eMaudaSerra(PR).
KeilaValentedeSouzaeMariadeFtimadasD.dosSantosLima..........................................19
GovernaoeResponsabilidadeSocialEmpresarial:anecessriaconvivncia.
CarlaGuapoCostaeFranciscoRegoChavesFernandes...............................................................42
Desafiosepropostasparaoenfrentamentodacontaminaoporchumbo
emSantoAmaro.
MaizaFerreiradeAndrade......................................................................................................................64
Estudosdeavaliaodaexposioambientalhumanaaochumbono
Brasil:umaanlisecomparativa.
EduardoMelloDeCapitanieMnicaMariaBastosPaoliello.....................................................75
Avaliaodaexposioocupacionalaochumboem1992emonitorizao
biolgicadacomunidadedoentornodaantigafundioem2011.
Oquemudouemquase20anos.
JosA.MenezesFilhoeVanescaLuanaSilva.....................................................................................86
Remediaodereascontaminadas:proposiesparaostiodaPlumbum
emSantoAmarodaPurificaoBA.
JosengeloSebastioAraujodosAnjos,LuisEnriqueSnchezeLuizCarlosBertolino103
AvaliaesecolgicaseecotoxicolgicasrelacionadasaocasodaPlumbum
emSantoAmaro(BA).
JliaCarinaNiemeyer,SilviaEglereEduardoMendesdaSilva..............................................131
Metalurgiadochumbo:processosdeproduoerefino.
LuisGonzagadosSantosSobral,DboraMonteirodeOliveira,CarlosEduardoGomes
deSouza,SilviaCristinaAlvesFranaSilvaePauloFernandoAlmeidaBraga................150
Qumicaanalticaaplicadaaoestudodochumbo,SantoAmaroBA.
LlianIreneDiasdaSilva,ManuelCastroCarneiroeThaisdeLimaAlvesP.Fernandes174
Casosparadigmticossobrecontaminaoprovocadaporchumboemvrias
regiesdomundo.
CarlaCosta,ElianeAraujo,RenataDamicoOlivieri,MariaInsF.C.AlmeidaRibeiroe
RaquelLucena..............................................................................................................................................191
Quarentaanosdeestudos:bibliografiareferenciadasobreochumbo.
SlviaEglereNatliaSouza..................................................................................................................222
Apresentao
Com o apoio do MCTIMinistrio da Cincia, Tecnologia e Inovao, por meio da

SCUPSubsecretariadasUnidadesdePesquisa,oCETEMCentrodeTecnologiaMine
ral, coordenou o Projeto Santo Amaro BA que tem, como lema principal, o
subttulodestelivro:aglutinandoideias,construindosolues.Apartirdeumextenso
levantamento bibliogrfico, que ocupou o primeiro ms do projeto, focando a
contaminaodechumboemSantoAmarodaPurificaoe,ainda,outrosexemplos
como Boquira (BA), Vale do Ribeira (SP), montadoras e recicladoras de baterias
recolheramse cerca de quatro centenas de referncias de trabalhos de cientistas e
pesquisadores sobre o assunto, dos quais mais de uma centena focados em Santo
Amaro.
Combasenestelevantamentoconvidamososautores,realizamosumgrandedebate
emumSeminrioespecializado(abertoaopblico)nosdias24e25deoutubrode
2012 e contamos com a presena de mais de meia centena de pesquisadores, de
representantes da sociedade civil de Santo Amaro e autoridades, entre as quais se
destacamoSr.Prefeitodacidade,secretriosdegovernomunicipaldeSantoAmaroe
Boquira, representantes de senadores e deputados federais, alm de diferentes
rgos pblicos da Bahia. A todos que colaboraram, registramos nossos sinceros
agradecimentos.
Os Diagnsticos a seguir apresentados aglutinando ideias so 12 captulos
abrangendo os balanos das reas de Sade Humana e Risco, Exposio Ambiental
Humana, Ecotoxicologia, Metalurgia, Engenharia Ambiental, Geoqumica Ambiental,
Remediao de reas Contaminadas, Democracia, Comunidade Alargada e Estudos
SocioeconmicosambientaisnoTerritrio,EducaoAmbiental,CasosParadigmti
cos para Regies do Mundo, Investimento Estrangeiro e Boa Governana, alm da
apresentaocomentadadabibliografia.
Deste livro DIAGNSTICOS aglutinando ideias se passa para um segundo livro,
PLANODEAOconstruindosoluesnoqualumconjuntoderecomendaesso
breoquedeveserfeitoserapresentado.
RiodeJaneiro,novembrode2012.
FernandoA.FreitasLins
DiretordoCETEM
Prefcio
LuizCarlosBertolino
SilviaGonalvesEgler(editores)
A coordenao do Projeto Santo Amaro, em execuo pelo CETEM/MCTI, realizou

durantedoisdias,23e24deoutubrode2012,oSeminrioSantoAmaro.Foiumen
contronacionalcomgrandeparticipao,maisdemeiacentenademembrosdaco
munidadecientficaetecnolgicabrasileiraeaindademembrosdogovernomunici
pal,estadualefederal.Destacamse,dentreestesltimos,apresenadoSr.Prefeito
de Santo Amaro e secretrios municipais, o secretrio municipal de Sade de
Boquira,representantesdesecretariasdoEstadodaBahiadeIndstriaeMineraoe
deSade,representantedoMCTIedoMin.daSade,representantesdesenadorede
deputadofederaldabancadadaBahiaedosenadorpresidentedaComissodeDirei
tosHumanosdoSenado,almdemembrosdasociedadecivildeSantoAmaro.
Deste seminrio saram um conjunto de DIAGNSTICOS que hoje esto reunidos
neste livro e ainda um conjunto de sugestes e recomendaes que faro parte do
LIVROIIPLANODEAO.Estesdiagnsticoscompem12captuloscom30autorias.
Iniciase o livro com o DEPOIMENTOS, transcrevendo as vises dos polticos que
clamamqueSantoAmaroprecisadeumtratamentodechoqueemergencial,umPAC
pelavida,ataopostuladodequedepoisdeumagrandequantidadedeestudosoque
falta a soluo. Os discursos demonstram a necessidade de aes para que a
contaminaoporchumboemSantoAmarovenhaserremediada.
Jemseguida,vmosDIAGNSTICOS.Passivossocioambientaisdaminerometalurgia
do chumbo Santo Amaro e Boquira (BA), Vale do Ribeira (PR) e Mau da Serra (PR)
expemseoscasosdopassivosocioambientaldaPlumbumemSantoAmaro(BA),os
rejeitos da minerao e beneficiamento com altos teores de metais pesados em
Boquira(BA),acontaminaodosoloehabitantesdaregiodoValedoRibeira(PR)
e a mobilizao social contra a operadora de recicladora de chumbo em Mau da
Serra(PR).
OcaptuloGovernaoeResponsabilidadeSocialEmpresarial:anecessriaconvivncia
constata que o cumprimento de critrios de responsabilidade social empresarial e
dosgovernosnofeitodeformamuitoafirmativa,verificandosepoucoscasosde
sucesso,sendonamaioriadassituaesumacumulardemalfeitoscomprovados,a
existncia de grandes passivos (econmicos, sociais, ambientais) durante o perodo
depermannciadasempresasnoempreendimentooudepoisdoabandonodasativi
dades. Relatase o caso, no noroeste da Frana, da Metaleurop Nord (exPennaroya,
quecontrolavanoBrasilaCOBRAQ,noValedoRibeira,aPlumbumemSantoAmaro
e a Minerao Boquira, em Boquira), famoso pelos efeitos de contaminao por
chumbo que gerou no noroeste da Frana e as polticas de remediao que foram

aplicadaspararesolverou,pelomenos,minoraroproblema.
Ressaltaaindaocaptulo,queagrandediferenaemrelaoaocasobrasileiroque,
nos pases desenvolvidos, foram criados fortes laos de governao, muito alm da
capacidadefinanceira,criaramacapacidadeinstitucionalnecessriaparacontrariar
estratgias menos sustentadas das grandes empresas transnacionais, e induzilas a
participar ativamente no processo de construo e manuteno da cidadania.No
mbitodoProjetoSantoAmaro,ocasodaMetaleuropNordassumeumaimportncia
acrescida,porsetratardomesmogrupoempresarialMetaleuropquedetinhaausina
demineraonacidadedeSantoAmaro,aPlumbum.
Desafios e propostas para o enfrentamento da contaminao por chumbo em Santo
Amaro retrata o fato de passados quase 20 anos do fechamento da metalurgia de
chumboemSantoAmaro,ointeresseporestecampodeestudofoicrescenteseob
servadaaevoluodaspesquisasaolongodosltimos37anos,desdequeaconta
minao por chumbo e cdmio provocada apresentou suas primeiras evidncias,
tanto nas guas do rio Suba, quanto na urina dos trabalhadores da antiga fbrica
(BAHIA/CEPED, 1977). Faz algumas recomendaes para a superao do embate
latenteentreacinciaeomundodavida,considerandoindispensvelaparticipao
dosinteressados,comunidadealargadanadefinioeenfrentamentodosriscos.
EstudosdeavaliaodaexposioambientalhumanaaochumbonoBrasil:umaan
lise comparativa relata que em Santo Amaro, os valores de chumbo em sangue das
crianas,mostramumdecrscimonasltimasdcadas,resultadoprovveldofecha
mentodaempresa.Nenhumamedidaprticadedescontaminaodareafoiimple
mentada. Nem mesmo um programa regular de monitoramento biolgico, diagns
tico e seguimento das crianas com problemas secundrios contaminao foi
implantado.Concluiaindaqueacontaminaodosolo,guaesedimentosdosriose
riachos da bacia do rio Suba continuam sendo fonte secundria de contaminao
dasruas,do interiordascasas,dosquintais,dosalimentos,dospeixesecrustceos
locais, colocando as crianas e adultos em contato direto com o chumbo em algum
grau,exigindoainstalaodeumprogramaabrangentedeavaliao,planejamentoe
remediaoacurto,mdioelongoprazodarea.
Complementandoocaptuloanterior,Avaliaodaexposioocupacionalaochumbo
em1992emonitorizaobiolgicadacomunidadedoentornodaantigafundioem
2011.Oquemudouemquase20anos,apresentaumarevisodosdadosdaavaliao
da exposio dos trabalhadores da antiga Plumbum em 1992, atravs do marcador
de exposio chumbo sanguneo (PbS) e dos biomarcadores de efeito: cido delta
aminolevulnico urinrio (ALAU), zincoprotoporfirina eritrocitria (ZnPP) e hemo
globina(Hb).Umaanlisefeitadeacordocomasdiferentesocupaesnametalr
gica. Nesta oportunidade, 216 pessoas foram avaliadas atravs das determinaes
dosnveissanguneosdechumbo(PbS)ecdmio(CdS),almdadeterminaodos
nveis de ALAU. Por fim, faz uma discusso das condies de exposio ambiental
atual em Santo Amaro, Bahia e dos fatores de risco associados com exposio ao
chumbonapopulaoemgeral.Apresentapropostasdenovasabordagensparaava
liaodaexposiocrnicaametaispesadoscomoPbeCd.
AestratgiaparaarecuperaodareaafetadapelaPlumbumtratadaemRemedia
odereascontaminadas:proposiesparaostiodaPlumbumemSantoAmaroda
Purificao/BA, que aborda o planejamento e aes sequenciadas para recuperao
dostio,contemplandomedidasdeintervenoquedeverocomearnasinstalaes
industriaisdametalurgia,atareacontaminadadoesturiodorioSuba.Comoes
tratgiainicialdeaofoiavaliadaaextensodacontaminaopormeiodaanlise
de todos os dados disponveis sobre a rea e nesta averiguao foram delimitadas
trsreasdistintasparainterveno:aprimeirarepresentadapelametalurgiaeseu
entornoimediato;asegundacompreendendoasreasdeaterrosdeescriaeater
ceirareunindoazonarural,orioSubaeseuesturio.
Sendoumcomplementoaocaptuloanterior,emAvaliaesecolgicaseecotoxicol
gicasrelacionadasaocasodaPlumbumemSantoAmaro(BA)aprofundaseeprovase
aconstataoqueosresultadosindicaramriscoecolgicoparaosorganismosepro
cessos do solo mesmo aps quase duas dcadas do trmino das atividades da
Plumbum,relacionadoexposiodosreceptoresecolgicosaosolocontaminado.A
avaliaoderiscoecolgicoapontouumaltoriscoecolgicoemlocaisdentrodarea
daPlumbum,indicandoanecessidadedemedidasderemediaoeposteriorrestau
rao da rea. A restaurao ecolgica das reas degradadas e o reestabelecimento
dosprocessosecolgicossoessenciaisparaevitarqueacontaminaocontinuese
dispersandoatravsdapoeiraedoescoamentosuperficialparaoutroslocais.
Ametalurgiadochumbo:processosdeproduoerefino,ondeoprocessotecnolgico
produtivodissecadoaodetalhe,sendoconcludoquepoucaimportnciafoidadas
emanaes produzidas durante aquele processo produtivo de chumbo em Santo
Amaro (BA), em especial aos danos que tais emanaes causariam aos operadores.
Nohouve,porpartedosdirigentestcnicos,apreocupaodeinformaraosopera
dores, de forma palatvel, as propriedades fsicas e qumicas dos compostos de
chumbo,aosquaisestavamconstantementeexpostos,edeproverosequipamentos
de proteo individual. Com a operao interrompida h muitos anos, ficou um le
gado de enfermidades causadas pelos metais pesados dispostos, de alta periculosi
dade,aexemplodochumbo,cdmio,arsnio,bismuto,entreoutros,quedevem,sem
sombradedvidas,serremovidosdaqueleterritrio.
UmconjuntodeferramentasfundamentalparaascinciasestonocaptuloQumica
analtica aplicada ao estudo do chumbo. Num primeiro momento, as anlises de
amostrasambientaisdevemcontribuirpararesponderaquestescomoaidentidade
econcentraodospoluenteseanlisesmaisdetalhadascontribuemparaaelucida
o da mobilidade, estabilidade, transformaes, acumulao e efeitos de curto e
longoprazodasespciespresentesnoecossistema.
UmapesquisaemoutroslugaresdomundoresultouemCasosparadigmticossobre
contaminao provocada chumbo em vrias regies do mundo. Pinando apenas al
gunspasesealgumasregiesdomundo,documentadiversoscasos,passadosepre
sentes de explorao irresponsvel de recursos naturais, sem preocupao com os
objetivos de desenvolvimento sustentvel, afetando pases desenvolvidos e em de
senvolvimento.NaFrana,nacidadeaustralianadePortPirie;nosEstadosUnidosda
Amrica;naChinaemPortugalenaNigria.
Finalmente no ltimo captulo do livro, Quarenta anos de estudos sobre chumbo no
Brasil:bibliografia referenciada oresultadodeumaintensabusca,realizadaporv
rias pessoas, de publicaes sobre a contaminao, principalmente, de chumbo e
cdmioemSantoAmaroeBoquira(BA),naregiodoValedoRioRibeiradoIguape
(SP e PR), locais reconhecidamente contaminados pelas atividades de minerao e
metalurgia do chumbo e ainda nas indstrias de baterias em outros lugares do
mundo.Aolongodesteprocessodiferentesassuntosrelacionadoscomestesmetais
foramsendoincorporadoslista.Asrefernciasforamdivididasemgrandestemas:
Stioscontaminados;Oelementoeseususos;Oambientefsico;Influnciasnomeio
ambienteesadehumana;AvaliaoderiscoevaloresorientadoreseRemediao.
Depoimentos
Santo Amaro precisa de um tratamento de choque emergencial, um
PACpelavida.
SenadorpelaBahia,WalterPinheiro1
Asimagenschocantesdopassivodacontaminaoporchumbonacidadebaianade
SantoAmaronosconvencemalutarporreparaoincondicionalmente,adespeitoda
indignao pela ao criminosa deflagrada pela Companhia Brasileira de Chumbo
(Cobrac), subsidiria da empresa francesa Penarroya Oxyde. Aps explorao de
mais de trs dcadas, a empresa despejou na cidade 490 mil toneladas de rejeitos
contaminadosporesseeoutrosmetaisperigosos,comocdmioemercrio.
Atragdia,queseiniciouaindanosanos60,desdobraseathoje.Osdanoscausados
ao meio ambiente tiveram como consequncia a contaminao da populao santa
marense,primeiroosextrabalhadoresemoradoresdoentornodafbrica,quepas
saram a conhecer o saturnismo, uma doena que afina os braos, paralisa as mos,
provocadoresagudas,causaimpotnciasexualnoshomensenasmulheres,abortoe
mformaofetal.Porcausadoexcessodemetaisnaguaenosolo,outrasdoenas
tambmforamidentificadascomoanemia,cncerdepulmo,lesesrenais,hiperten
soarterial,doenascerebrovascularesealteraespsicomotoras.
Acidade,quejsechamouSantoAmarodaPurificao,consideradaumadasmais
poludasporchumbonomundo,deacordocomestudosdaUniversidadeFederalda
Bahia.Calculaseque80%dapopulaoestejacontaminadapelosresduosdeixados
pelamineradora.dolorosoassistirodramadaquelesquetemumaheranamaldita
noseuprpriocorpo,cidadosdoentesemarginalizados,crianascomdeformaes
ouqueconvivemsoboriscodeguasesolocomprometidos.
NemomunicpiodeSantoAmaronemoEstadodaBahiatmcondiesderesolvero
problema que demanda aes das mais variadas frentes, como de descontaminao,
atendimentoemsade,indenizaeseaposentadoriasespeciais.Eraprecisoenvolvera
Unioepedircooperaodeorganismosinternacionaisnocaso,umverdadeiroPACpela
Vida,encaminhandoquestestrabalhistas,deinfraestrutura,desadeemeioambiente.
Anopassado,entregamosapresidentaDilmaRousseffumdossiquemostraoquadro
dramticovividopelapopulaodeSantoAmaro.Dilmatambmchocadacomasima
gensdeumlegadonefastodeterminouaimediatainterfernciadogovernofederal.
Hmuitoquefazerparalimpar,dofuturodasgeraessantamarenses,essepassado
de resduo mortal que assombra os moradores. Sem um plano de manejo de fecha
1WalterdeFreitasPinheiro,25demaiode1959,DeputadoFederal(19972011)eSenadoreleito
peloPT(20112016)
10
Depoimentos
mentodamineradora,apopulao,desavisadadosriscos,chegouapavimentarruas,
construir casas e at mesmo prdios escolares e creches com oresduo do chumbo
utilizadonaatividadeindustrial.
Acidadefoivtimadainsensatezdeumaaocriminosa,quemenosprezouenegli
genciouavida.SantoAmaronopodeesperarmais.
PerspectivasparaamineraodechumbonoEstadodaBahia
DeputadoFederalpelaBahia,LuizAlberto2
A existncia de uma poltica mineraria atualizada, bem como a incluso do setor
comoatividadeeconmicaestratgica,colaborariasobremaneiraparaocrescimento
do Pas. Traria como resultados benficos, mais investimentos internos e externos,
maisestmulosgeraodeempregoerenda,atenoconservaodomeioambi
enteemmunicpioscomvocaominerariaeproteopopulaonasuasade.
nessecontextoqueseinsereoEstadodaBahiaque,pelaausnciadeapoiogover
namental,viveuentre1960e1993,umperodoconturbadonaatividademinerariae
metalrgicadochumbo,insumoindispensvelnaindstriaautomobilsticaeemou
trossetoresdaeconomiabrasileira.
OminriodechumboeralavradoebeneficiadopelaPlumbumMineraoeMetalur
giaLtda.,noMunicpiodeBoquira,localizadonosudoestedoestadoedistantecerca
de600kmdacidadedeSalvador.Asligasdechumboeramproduzidaspelamesma
empresaemSantoAmarodaPurificao,noRecncavoBaiano,distantecercade100
kmdaquelacapitalbaiana.
AtecnologiaeradaempresafrancesaPenarroya,queseassociouCOBRAC(Compa
nhiaBrasileiradeChumbo)paraaimplantaodoempreendimentonofimdadcada
de50.Osfuncionrioscomearamasercontratadosnosanos60 pelaCOBRAC,de
poisMineraoBoquiraePlumbumMineraoeMetalurgiaLtda,atualmentesobo
controledogrupogachoTrevisa,AdubosTrevoS/A.
APenarroyaldermundialnaproduodexidosdechumbodestinadosfabrica
odebaterias,cristais,plsticosetubosdeteleviso.Apartirde1994,elafazparte
do Grupo Metaleurop. Atualmente, a Penarroya detm 60% do mercado europeu e
25%domercadomundialemseusegmentodeatividades.AfbricaemSantoAmaro
da Purificao produzia anualmente cerca de 30.000 (trinta mil) toneladas de
chumbo, o que corresponde a 20% da atual produo mundial da Penarroya. Pelos
valoresatuaisdochumbonomercadomundial,ogrupoPenarroya/Plumbumfaturou
noEstadodaBahia,cercadeUS$500milhes,duranteos30anosdeatividade.
2LuizAlbertoSilvadosSantos,3dejaneirode1959,DeputadoFederal(19952011).Reeleito
DeputadoFederalpeloPTparaoperodo20112015.
ProjetoSantoAmaroBahia:aglutinandoideias,construindosoluesDiagnsticos
11
AlavradominrioemBoquiraeasuaindustrializaoemSantoAmarodeixaramum
extensopassivoambientalaserremediado,almdeumalistadepessoascontamina
das,algumasjindenizadaspelosempreendedores,restando,porm,agrandemaio
riaaserressarcidapelosdanosmoraisepatrimoniaisemdecorrnciadacontamina
o. Durante as trs dcadas de funcionamento do empreendimento no Estado da
BahiaforamgeradasemBoquiracercadecincomilhesdetoneladasderejeitoeem
SantoAmaro,cercade500miltoneladasderesduos.
So desconhecidas as pesquisas toxicolgicas realizadas na populao de Boquira.
ComrelaoaSantoAmaro,oDepartamentodeSadeOcupacional,daUniversidade
FederaldaBahia,constatouqueapopulaoadultaeinfantiltinhaumelevadograu
depersistnciadecontaminao,acimadosndicespermitidospelaOMSOrganiza
o Mundial de Sade. A maioria das crianas residentes no raio de 900 metros, a
partirdachamin,tambmtinhaconcentraodecdmionosangueacimadovalor
normaldereferncia,demonstrandoinequivocamenteoelevadograudecontamina
oambientaldaregio.
AResoluodoCEPRAMConselhodeProteoAmbientaldaBahian812/93,que
estabeleceu extensa lista de exigncias para a renovao da licena de operao da
fbricadechumbodeSantoAmarodaPurificao,possivelmentetenhasidoofator
determinanteparaoabandonodafbrica,em1993,pelaPlumbum.
Oterceiroperodo,queseiniciacomoabandonodaminadeBoquiraedametalr
gicadeSantoAmaro,representadopelodiagnsticoirrefutvelecontundente,rea
lizadopeloDepartamentodeEngenhariadeMinas,daEscolaPolitcnicadaUniver
sidade de So Paulo, sobre a contaminao por metais pesados no meio fsico e a
recomendaodasmedidasparaaremediaodasreascontaminadas.Esteperodo
teveseufinalem2001,comoencapsulamentodoresduoeaintervenojudicialna
rea da fbrica, determinada pelo Juzo da Vara Cvel nica da Comarca de Santo
Amaro da Purificao, em cumprimento Ao Civil Pblica n302/97, contra a
Plumbum.
Oquartoperododestahistriadecontaminaoseiniciaem25deoutubrode2001,
comumaAudinciaPblicanaComissodeDefesadoConsumidor,MeioAmbientee
Minorias,daCmaradosDeputados,organizadapeloGrupodeTrabalhocoordenado
pelodeputadobaianoLuizAlbertoepelorelatorodeputadoFernandoGabeira.OGT
assessoradopeloconsultorJooSalles,quepublicouartigonoperidicofrancsLa
VoixduNord,relatandoasatividadesdaPenarroyanoBrasil.
Participaramdesteevento,comodeoutrorealizadoem14dedezembrode2002,au
toridadesmunicipaiseestaduais,especialistasempoluiopormetaispesados,em
toxicologiaeepidemiologia,almdemembrosdasociedadecivilorganizadaerepre
sentantedaONGfrancesaEDA.
Em 12 de dezembro de 2001 e 06 de maro de 2004, foram realizadas Audincias
Pblicas,respectivamenteemSantoAmaroeBoquira,ficandoregistradopeloGrupo
12
Depoimentos
deTrabalhoasreivindicaeseassolicitaesapresentadaspelosdepoentesepela
sociedadecivilsantamarenseeboquirense.
Como pode ser observado, se passaram 11 anos do abandono do empreendimento,
ocorrido em 1993, e sete anos da Ao Civil n302/97, sem que o problema tenha
sidoefetivamenteresolvido.
Para superar este impasse, a AVICCA Associao das Vtimas da Contaminao de
Chumbo,CdmioeoutrasSubstnciasQumicas,sediadaemSantoAmaro,comaco
laboraodoDr.JooSallesedeoutrosprofissionais,estatuandopararestabelecer
a economia santamarense atravs da remediao das reas contaminadas pela me
talrgicaeajustaindenizaodasvtimasdapoluio.NocasodeBoquira,comoa
vocao municipal a minerao, pretendese incentivar, em bases sustentveis, as
atividadesdereprocessamentodorejeitoatravsdainstalaodeumaindstriame
talrgicanolocal,oqueproporcionariaaretomadadodesenvolvimentodeBoquira,
cujaeconomiaatualestapoiadanostrabalhadoresaposentadosdamina.
Paralelamente, o Grupo de Trabalho da Comisso de Defesa do Consumidor, Meio
AmbienteeMinoriasdaCmarados Deputadosestanalisando,emcomumacordo
com os rgos federais e estaduais afins e a participao da sociedade civil organi
zada,acriaonoEstadodaBahia,deumCentroNacionaldeRefernciaparaReme
diaodereasContaminadasporMetaisPesados.TalCentropretendeterocasodo
chumbobaianocomorefernciaparaproblemassemelhantesnorestantedoPas.
Superando a dor, mensagem sobre a questo ambiental em Santo

Amaro/BA.
SenadorpeloRioGrandedoSul,PauloPaim3
Quero expressar nesta mensagem que envio a todos, minha profunda gratido pelo
convitequemefoifeitoparaparticipardesteevento.
Queroquesaibam,tambm,queeuficariaprofundamentefelizempoderestarcom
vocs e compartilhar deste debate to importante, mas compromissos agendados
previamentenomepermitem.
Mas,gostariadepediratodosquesintamqueestoupresenteaqui,nacidadedoRio
deJaneiro,nesteencontropromovidopeloCentrodeTecnologiaMineralCETEM
doMinistriodaCinciaeTecnologiaeInovao!
EstacidadetoqueridaquemeagracioucomottulodeCidadoHonorriodoRiode
Janeiro!
3PauloRenatoPaim,15demarode1950,DeputadoConstituinteem1959eeleitoDeputado
Federal(19912002).SenadordoRioGrandedoSuldesde2002ereeleitoparanovoperodo
(20112017).
13
Considero muito nobre a atitude das pessoas preocupadas com a questo ambiental na
cidadebaianadeSantoAmaro,antigamentechamadadeSantoAmarodaPurificao.
Queironia!Acidade,anteschamadadePurificao,foi,lamentavelmente,maltratada
pelacontaminaoporchumbodesdeosanos60.
SantoAmarovemsofrendoasconsequnciasdessacontaminaodesdeainstalao,
em1960,daempresadeMineraoeMetalurgiaCompanhiaBrasileiradechumbo
Cobrac, pertencente na poca ao grupo multinacional francs Penarroya Oxide S.A.
(hojeMetaleroupS.A.)quecomeouaproduzirlingotesdechumbonacidade.
Oquehouvenestelocalfoiumverdadeirocrimecontraahumanidade!
Umcrimequecondenoutodaapopulao,osolo,afauna,aflora,aguae,comisso,
osmariscosdorioSuba,aoresduocontaminadocommetaispesados,emespecialo
chumboeocdmio.
Todaestaagressosocioambientalteveimpactonaeconomiadacidade,poisdiver
sascomunidadestiravamseusustentodorio,pormeiodapesca.
Tambmprejudicouquemplantava,quemcriavagado,poisosoloeoarficaramcon
taminadosporestesresduostxicos.
E,omaistristedetudoforamosdanoscausadossadedapopulao!!!
Fiquei com lgrimas nos olhos quando presidi a Audincia Pblica na Comisso de
Direitos Humanos e Legislao Participativa do Senado Federal, em maio de 2011,
vendoasimagensdepessoasmutiladas,deformadas,fetoscommformao,devido
aoexcessodemetaisnaguaenosolodaregio.
Foramcenaschocantes.Umadorprofundatocoutodosquelestavam.
Seibemqueasconsequnciasdessecrimevoalm:existeaincidnciadedoenas
comoaanemia,impotnciasexual,lesesrenais,cncerdepulmo,entreoutras.
Assim como eu frisei na audincia, repito aqui: H urgncia em se tomar medidas
concretasparasolucionarestesproblemasnacidadedeSantoAmaro!
Estudosjforamrealizados,agoraahoradaao!
Aproximadamente80%dapopulaodeSantoAmaroestafetadapelaexposioao
chumbo, concentrao do metal acima do permitido pela Organizao Mundial da
SadeOMS.
Isto tambm afeta as relaes de trabalho, pois as empresas hesitam em contratar
trabalhadores, mesmo aqueles que no apresentam sintomas, so considerados um
passivoemtermosdesade.
ApsaAudinciaPblicarealizadanaComissodeDireitosHumanosdoSenado,foi
entreguepormimepeloLderdoPTnoSenado,oSenadorWalterPinheiro,umdos
siPresidentaDilma.
14
Depoimentos
ElasepropsaencaminharodebatejuntoaosMinistrioscompetentesemprolde
soluesquevenhamaprotegerapopulaodeSantoAmaro.
AcreditoqueesteempenhodoGovernoFederalhdeconstruirumcaminhoabran
gendoaesqueenvolveroasreasdemeioambiente,sade,justiaeatmesmo
esforosnocampodasrelaesexteriores,aoqualestouengajadoeunido.
Tambm apoio os esforos deste grupo de pesquisadores do CETEM, coordenado
pelosDrs.FranciscoFernandeseLuizCarlosBertolino,paraquejuntos,atravsdeste
Seminrio, tracemos aes concretas para a soluo dos problemas da populao
destacidadequetomaltratadafoi,econtinuasofrendoasconsequncias.
Antesdefinalizar,querodeixarminhapreocupaocomoutraquestolevantadana
AudinciaPblica,asdificuldadesenfrentadaspelapopulaonabuscadeseusdirei
tosnoscampostrabalhistaeprevidencirio!
Clamoe acreditoemumamaioraproximaodajustiacom apopulao,paraque
estasperdassejamamenizadasereparadasdamelhorformapossvel.
muitoimportantelembrarqueomeioambienteestligadoaonossociclodevida.
A natureza pulsa em ns. Ns temos vida a partir dela e com ela. Ns todos somos
parte da mesma energia que flui em nosso planeta. Aquilo que afeta um nico ser
humano,naverdade,dizrespeitoatodosns.
Porisso,deixomeuprofundosentimentodesolidariedadeemeutotalapoiolutada
populao to maltratada e to sofrida, da cidade de Santo Amaro, pois, sem digni
dadehumana,semaproteodenossosemelhantedesdeseunascimentoeportoda
asuaexistncia,comrespeitoeequilbrio,impossvelademocracia!
Ficamaqui,meussinceroscumprimentosemeuagradecimentoaestegrupodeab
negadoshomensemulheresquesensveiscausa,organizaramestedebate.
Porissoestouaqui,sendorepresentadoporumademinhasassessorasdoGabinete,
nacrenadequepodemosavanarpelobemdestacidadequepadecetantodevido
irresponsabilidadedeumaempresaquevisavaapenasseulucroeassimprejudicou
todaumapopulao.
Querodizerdecorao:comobomsaberquenomundoexistempessoascomovocs!
15
Depoisdeumagrandequantidadedeestudosoquefaltaasoluo
PrefeitodeSantoAmaroBARicardoMachado4
Muitofoiexplanadoaquiporvriosestudiosos,ehojejexperts,PhDs,sobreacon
taminaoemSantoAmaro.
Podemosfalar,queestudosemaisestudosjforamfeitos,duranteaproximadamente
40anos!
Dondeque,porironiadavida,muitosqueestoaquitrabalhandonestaquestoda
descontaminaodochumbodeSantoAmaro,comearamjovenseaindadecabelos
pretinhosecheiosdegs.Hojeessesexcabelospretinhos,jcheiosdecabelosbran
cosejtalvezavs,aindaestodebruadosnessasquestes.
Durante todo o dia de ontem pude ouvir vrias falas: um disse, existem lugares no
mundo que problemas iguais a esses j foram resolvidos. Mas no sabe como, mas
que foi resolvido foi, afirmou aqui. Outros disseram: Por qu fazer? Como fazer?
Quandofazer?Eparaquemfazer?Muitosafirmaram,amaioriaaquireconheceuque
existeumaquantidadedeestudossobreosproblemasdeSantoAmaroequeagora
depoisdetantosestudosoquefaltaasoluo!
AassessoradoSenadorPauloPaim,reconhecequeosnecessriosestudosjforam
feitos,agoraprecisamosagir,queagorahoradeseremtraadasasdilignciase
sermosobjetivos.OassessordoSenadorWalterPinheirodissequeessasituaopre
cisadeumtratamentodechoque.OassessordoDeputadofederalLuizAlbertotam
bmdisse,citandooDeputado:colocoomeumandatodisposiodestacausa.
Ainda,nafaladeDonaMazadeAndrade,ficoumuitoclaroparansquenofaltam
mais estudos, que realmente s falta ao, que de estudiosos e de tcnicos esto
bemservidos,emoutraspalavras,ningumaguentamaisesperar,agoratemosque
terasoluo.Masnofinaldesuafala,eladissequenoestiludidaemacreditarque
daquivsairadiretrizasetomar.
Umaperguntaminha,queristodizerquesevoltaatermaisestudos?
Maisumestudo,maispesquisas?
Bateumdesnimo.
Foioquecolocaramaqui.
Nossacidadeumacidadesofridaepobre.Vivemoscomessasituaohdcadas.
Achoquehojedepoisdetantosestudoschegamosaumaconcluso,quetemosuma
4PrefeitodeSantoAmaro(20092012).ReeleitoPrefeitopeloPTnoperodode20132016.
16
Depoimentos
heranamaldita,queprecisamosabarcartudoissodeumavezportodasetentarre
solverosproblemasdacidade,osseusproblemasatuais.
Nopodemosmaisesperarpormaisdcadas,vamosdarumprazo.Essafoiumapro
postaqueeuealgunscompanheirosdiscutimosontem,masqueeuquerorecuarcom
relaoaissoataprximareunio.Nsqueramosnaverdadedarumprazodeno
mximoseismesesparatodososestudiososdessascausas,todososprofessores,to
dos os tcnicos e um prazo at para os poderes, seja ele estadual ou federal, esse
prazoseriadeseismeses.
Seissonoseresolvesse,anossaatitudeseriafazerumchamamentopblico.Temos
forapolticajuntoaogovernoestadualeaogovernofederalelegitimidadedeuma
populao.APresidentaDilmaquerresolvereomomentoesse.
Em minha opinio, reconhecendo e valorizando todos os estudiosos e as pesquisas
que j foram realizadas, vejo que o maior problema deste caso Santo Amaro, e a
diantedetantasdvidas,euousoaquiatemdarumaresposta.
O problema hoje , sem desmerecer a nenhum estudioso do assunto, mas de forma
muitohumildeehumanaatporqueoserhumanonoeterno,oproblemaestno
excessodeestudossendoasoluoaseguinte:
Primeiro, saber quem verdadeiramente quer ajudar os humanos que esto em
SantoAmaro.
Segundo,saberquemestardispostoemdeixaravaidadedelado.
Terceiro,quemqueestpreocupadoemseropaidacriana.
Quarto,quemquequerfazerpartedeumtimequevaiajudarSantoAmaro.
Quinto, colocar a mo na massa e ajudar a definir uma lista de prioridades e
diligenciar.
Meusamigos,depoisde40anosnodmaisparaterpacincia!
Euaprendiduranteestacampanhaeleitoralqueterminoutemtopoucotempo,uma
estriaquedizoseguinte:existemduasformasdevidaparacadaum.Vocpodees
colher, a primeira ficar em uma arquibancada de um campo de futebol assistindo
aosjogadoresdessecampeonato,easegundavocentraremcampo.
Sque,quandopassaremmuitosanosdasuavida,voctertambmapenasumadas
duasestriasparacontar:umaquevocassistiuatodososjogosdetodososcam
peonatos,conhecendoosjogadores,podendorelatarissoparaosseusnetos,paraos
seusfilhos,eaoutravoccontaraelesquantosgolsvocfez,quantaspartidasvoc
participou, quantos ttulos voc ganhou. Cabe ento a voc escolher qual o tipo de
vidaquevocquer.AhistriaemSantoAmaroseconfundemuitocomaestriade
vidaqueossenhoresqueremfazerdasuavida.
17
Quantominha,desdequevenciaprimeiraeleioem2008,eunaminhaousadia,
outalveznaminhainocncia,ounaminhainexperincia,ounaminhasimplicidade,
eulevanteiaesperanajuntoaalgumaspessoasdepoderresolver.Completeiquatro
anoscomoprefeitoeeunoconseguiresolvereagoracomeaumajornadademais
quatroanos.
DonaCanumasenhoraquenuncacolocouumaplacadenenhumpolticonapa
rededacasadela,nemdeLula,elenuncacolocou.Elaaos104anospelaprimeiravez
na vida dela, contra a vontade dos filhos dela, Caetano Veloso e Maria Betnia, ela
colocou a minha placa, e o que ela me pediu: Eu no quero morrer sem ver o rio
Subapurificado.
Eu sei que ela falou isso, talvez sem saber o tamanho da problemtica, mas s que,
nas duas oportunidades que eu tive de estar com a Presidenta Dilma, eu transferi
essepedidodeDonaCanparaela.Etalvez,eunoseiseaPresidentaatravsdeal
gumassessor,ouatravsdealgumministrooudealgum,chegouaquiatvocs,sei
queaPresidentadisse,medeuasuapalavraqueiriaresolveressaquesto.
Paraconcluir,euquerodizerquesaberesperarumavirtude,aceitarquecadacoisa
temoseutempocertoparaacontecerterf.
Sparacompararaquiumacoisaassimtalvezmuitoparecida.Muitoscientistaspas
saramanoseanosdesuavidaestudaramdefioapaviocomolevarohomemLua.
Estudosforamfeitos,muitosanossepassaramealgum,entreelesmesmos,gritou:
nsjsabemoscomoqueohomemchegaLua!Ealgumtevequetomarumade
cisoeohomemchegouLua.
EsseproblemadeSantoAmaro,seagentenooabordar,euestouvendoahora,de
vocscompanheirosecompanheirasseaposentaremenoseresolver.
Entoeuqueropedir,queficoumuitoclaroparamimaquicompanheirocoordena
dor do Projeto Francisco Fernandes, que estudos que deveriam ser feitos j foram
feitos.Euinclusiveontem,naminhaignorncianarea,eupudeperceberexplicaes
deprofessores,passandonodatashow,praticamenteamesmacoisa,ouseja,nses
tamosestudandoemcrculos,todomundojconheceosestudos,nstemosqueir
paraaprtica.
Seoqueestfaltandoparaaprticaocampopoltico,omomentoesse,porqueo
exPresidenteLula,eeupossoaquiestarfalandoissoparavocsporqueforampala
vrasdoGovernadordaBahia,eleencerrouoseumandatodeoitoanoscomumfrus
traomuitograndeporqueeleprometeuissoparaDonaCaneelenoconseguiu
resolver.EntraagoraumanovaPresidentaeeladissequequerresolver.
Se a gente destaca um assessor de um senador, como est aqui a senhora Ingrid
Carlucci, assessora do Senador Paulo Paim, o Cladio Santos, assessor do Senador
Walter Pinheiro, o Antnio Santos, assessor do Deputado Luiz Alberto, se est aqui
umrepresentantedapresidenteDilmanaplateiaouvindoossenhores,enquantoum
18
Depoimentos
diz que um diz que tem que ser feito de uma forma e o outro contesta que no, se
vocs no esto se entendendo, imagina na cabea do poltico que altamente
fiscalizado hoje pelo TCN, TCE, TCU, CGU, pelo Ministrio Pblico, pela Cmara dos
Vereadoresepelamdia.
Hojeparacolocarmosospsemqualquertipodecoisatemosqueteroavaldostc
nicos,eaumfalaqueinerte,eoutrofalaquenoinerte,ageraumadiscussoe
alinomeioestopoltico.
Vocsprecisamentenderquesovidas,sovidas!
SantoAmaronopodesermaiscobaia,SantoAmaronopodesermaislaboratrio,
quemtinhaqueaprender,aprendeu,quemtinhaqueestudar,estudou,quemcapaz,
temquedemonstrarquecapaz.
Seestiverfaltandocoragem,eunoseiondequeexistenafarmciaoremdiodaco
ragem,masnstemosqueresolver.Eusouprefeitodeumacidade,tenhoresponsa
bilidadecomopovo.
Adorei conhecer vocs, vamos com certeza criar aqui uma amizade, mas uma ami
zadequesejasinceraqueagentequeiraresultados.
Est aqui agendado esse compromisso nosso na Bahia, at o dia 15 de novembro,
paraumareuniopreliminarparaqueagentepossadiscutirasquestesemcomum
acordo,fechar,paranodiaseguinteagenteiraogabinetedoGovernadordaBahia.
Eu preciso desta agenda com antecedncia, porque a agenda do Governador no
assimdeumahoraparaoutra,entoparaeujdeixaragendadocomoGovernador.
A gente vai promover essa reunio l, vou apresentar o projeto que j est pronto.
QueroagradecerasensibilidadedaPresidentaDilmaedetodosvocsaquienvolvi
dosemedesculpaalgumacoisamasagentequeragorasoluo.
Passivos socioambientais da minerometalurgia do chumbo em

SantoAmaroe Boquira(BA),ValedoRibeira(PR)eMaudaSerra
(PR)
KeilaValentedeSouza1
MariadeFtimadasD.dosSantosLima2
Introduo
O projeto Banco de Dados Recursos Minerais e Sociedade: Impactos Territoriais,
Sociais, Ambientais e Econmicos, desenvolvido no CETEM Centro de Tecnologia
Mineral/MCTI Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao, lista mais de uma
centena de empreendimentos minerais com registros dos impactos gerados nos
processosdeusoeocupaodosterritrios.
Os verbetes foram selecionados e elaborados por uma ampla equipe redacional de
acordocomsuasrelevnciassociais,ambientaiseeconmicas.Emumaextensarevi
sobibliogrficaforamutilizadasasinformaespresentesemdocumentosdisponi
bilizadospublicamente(reportagens,artigoscientficos,relatriosacadmicos e/ou
tcnicoseaesdoMinistrioPblicooudaJustia)nainternet,nasbibliotecas,den
treoutros.Osverbetessocomplementadoscomacervofotogrficoerevisadostec
nicamenteporumcomiteditorialcompostoporaproximadamente10especialistas.
Paraestecaptuloforamselecionadosquatroverbetesquerelatamsituaesdeim
pactos sociais, econmicos e ambientais deixados pela atividade de minerao de
chumbocomoacontaminaodosolo,sedimentoehabitantesoriundadas ativida
des da Plumbum Minerao e Metalurgia em Santo Amaro (BA) e Vale do Ribeira
(PR),osrejeitoscomaltosteoresdemetaispesadosemBoquira(BA)eamobilizao
socialcontraaoperadoraderecicladoradechumboemMaudaSerra(PR).
SantoAmaro:Plumbumdeixagrandepassivosocioambiental
As instalaes da Plumbum Minerao e Metalurgia Ltda., localizadas no municpio
de Santo Amaro [antigamente chamado de Santo Amaro da Purificao], no Recn
cavoBaiano,foramabandonadasem1993,deixandoumpassivocom490miltonela
dasderesduocontaminadocommetaispesados,emespecialchumboecdmio.Boa
partedapopulaodaregio,dentreelesexfuncionriosdametalrgica,bemcomo
1Gegrafa.BolsistaPCIdoCETEM/MCTI.
2Gegrafa.AssistentedepesquisadoCETEM/MCTI
20
PassivossocioambientaisdaminerometalurgiadochumboemSantoAmaroeBoquira(BA)...
osolo,ossedimentoseosorganismosdoesturiodorioSubaforamcontaminados
comresduosindustriais(ANJOS;SNCHEZ,2001).
Com492,912kme57.800habitantes(IBGE,2010a),omunicpiohistricodeSanto
Amarolocalizasea100kmdacapital,Salvador,etemnosetordeserviosabasede
suaeconomia(MANZONI;MINAS,2009).
Tudo comeou em 1960, quando a Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac),
poca pertencente ao grupo multinacional Penarroya Oxide S.A. (hoje Metaleurop
S.A.), inicioua produo de lingotes de chumbo emSanto Amaro (ANJOS; SNCHEZ,
2001).
Em1974,aCobracfezoprimeiropedidodelicenciamento,comoobjetivodeaumen
tarsuacapacidadedeproduode30miltoneladasdechumbometlicopara45mil
t/ano, bem como para modernizar as instalaes do complexo metalrgico
(OLIVEIRA,1977apudANJOS;SNCHEZ,2001).OgovernodoEstadodaBahia,noen
tanto,indeferiuopedido (MANZONI; MINAS, 2009)esugeriuatransfernciadoem
preendimento para o Centro Industrial de Aratu (CIA), na regio metropolitana de
Salvador,levandoemconsideraoos aspectosambientaiseo estadodedeteriora
oemqueoempreendimentoseencontrava(OLIVEIRA,1977apudANJOS;SNCHEZ,
2001).
Apermannciadametalrgicanolocalcondenadomantevecontnuooprocessode
degradaoambiental,contribuindoparaqueasguas,osolo,afloraeafauna,assim
como, a populao local, principalmente as crianas, fossem contaminadas por
chumboecdmio(CARVALHOetal.,2003).
Em1989,ausinafoivendidaempresaPlumbumMineraoeMetalurgiaLtda.,per
tencenteaogrupobrasileiroTrevo (ANJOS;SNCHEZ,2001).Doisanosdepois,aem
presasolicitouaoCentro deRecursos Ambientais(CRA),rgo ambientaldaBahia,
licenadeoperao.OCRAemitiuparecercom27condicionantesparaaliberaoda
licenaportrsanos.Noentanto,oscondicionantesnoforamatendidose,emde
zembrode1993,aPlumbumencerrousuasatividadesemSantoAmaro(PNUD,2003
apudMEYER;GENERINO;CRISTANI,2007,p.3).
ParaproduzirasligasdechumboemSantoAmaro,ametalrgicausavaominriode
chumbo lavrado e beneficiado no municpio de Boquira, no sudoeste do Estado da
Bahia (MANZONI; MINAS, 2009). Com a exausto da mina, em Boquira, a Plumbum
passouaimportarominriodoPeru(MACHADOetal.,2004).
Duranteoprocessodebeneficiamentohaviamuitopoucocontroledosdanosaomeio
ambiente e das medidas de proteo e segurana destinadas aos funcionrios e
moradores.Aescriaeraconsideradaincuaeamontoadanoterreno(Figura1)no
entornodausinaeaindahaviaoparticuladodechumbodecorrentedoprocessode
sinterizaoqueeraexpelidopelachamin (SOBRAL,2008).Apartirdofechamento
da empresa, o resduo e o solo contaminado se constituem nasprincipais fontes de
poluioambientalporchumbonomunicpio(CARVALHOetal.,2003).
KeilaValentedeSouzaeMariadeFtimadasD.dosSantosLima
21
Figura1Pilhasdeescriadispostassobreosolo,acuaberto.
DuranteosanosdeoperaodaPlumbumMineraoeMetalurgiaLtda.,forampro
duzidas aproximadamente 900 mil toneladas de concentrado de chumbo, gerando
milhesdetoneladasderesduosecercade500miltoneladasdeescria(MANZONI;
MINAS,2009).Desdeoinciodofuncionamentodametalurgica,omunicpioapresen
tousinaisdecontaminao,comamortedeanimaisnasreasprximasaoempreen
dimento(ANJOS,2001),localizadoanoroestedareaurbanadeSantoAmaro,a300
metrosdorioSuba,principalriodabaciahidrogrficademesmonome(MANZONI;
MINAS,2009).
Dentre os principais impactos socioambientais causados pelas atividades da meta
lrgicanomunicpiobaiano,podemsecitar:acontaminaodasguasdorioSuba
porsubstnciastxicas,impactandodiversascomunidadesquetiravamseusustento
dorio;apoluiodoarpelafumaadaindstria,quesomente,em1989,apsdeter
minaodaJustia,passouausarfiltroemsuachamin (ALCNTARA,2010);odep
sitodegrandespilhasderesduosdiretamentesobreosolo,acuaberto,ameaando
asguassubterrneaseorioSuba(CARVALHOetal.,2003);adistribuiopelaem
presadaescriacontaminadacom2%a3%dechumbopara usocomoaterropela
populao e pela prefeitura na pavimentao de ruas e construes pblicas, como
crecheseescolas;eacontaminaodosoloporgrandequantidadedesoluescom
contaminantes que se infiltrou no subsolo durante os anos de funcionamento da
usina(ALCNTARA,2010).
Oaltonveldechumboecdmio,noar,naguaenosolo,tambmprejudicouasati
vidadeseconmicasnaregio,comoapesca (ALCNTARA, 2010),aproduohorti
frutigranjeira e a criao de gado, e ainda causou danos sade da populao
(MANZONI; MINAS, 2009), em especial aos trabalhadores, que no usaram, em ne
22
nhummomento,proteoadequadaparaomanuseiodamatriaprimaconsiderada
altamente txica pela Organizao Mundial de Sade (OMS) (ALCNTARA, 2010;
SOBRAL,2008).
A partir de 1975, pesquisas desenvolvidas pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA),nabaciadorioSuba,identificaramcomocausasdacontaminao:ainstala
o da metalurgia em uma rea onde predominavam ventos de baixa velocidade e
constantes inverses trmicas, prejudicando a disperso e facilitando a deposio
dos particulados na rea urbana; a proximidade da empresa do leito do rio Suba,
bem como de suas reas de inundao; o transbordamento da bacia de rejeito em
perodosdemuitachuva;abaixavazodorioSuba,prejudicandoadiluioeadis
perso dos efluentes lquidos lanados sem tratamento; a deposio inadequada da
escria em aterros, e seu reuso para a construo de estradas, casas etc, o que au
mentouacontaminaodosolo,deguassuperficiais,subterrneasedapopulao
residente nos arredores do empreendimento; a alta concentrao dos metais nos
manguezais do esturio do rio Suba, contaminando os moluscos e prejudicando a
basealimentardapopulao;osparticuladoslanadospelachamindametalrgica;
eofatodeaempresaconsideraraescriaincua,depositandoasemcritriostcni
cos(ANJOS;SNCHEZ,2001).
Em1980,novoestudodaUFBAconstatouque96%dascrianasresidindoamenos
de 900 m da chamin da companhia apresentavam nveis de chumbo e cdmio no
sangueacimadolimitedetoxicidade(Figura2).Detectoutambmqueonveldeme
taisnosanguedapopulaocresciamedidaqueseulocalderesidnciaseaproxi
mavadasinstalaesdametalrgica(MACHADOetal.,2004).
Em 1998, outro estudo realizado pela UFBA, com crianas de 1 a 4 anos de idade,
nascidasapsofechamentodametalrgica,constatouqueopassivoambientaldei
xadopelaPlumbumpermaneciacomoumafontedeexposiorelevanteparaainto
xicao pelo chumbo (CARVALHO et al., 2003). Provavelmente em consequncia da
contaminao, muitas pessoas foram acometidas por saturnismo, doena que fragi
liza os ossos, paralisa as mos, provoca dores agudas, causa impotncia sexual nos
homenseabortoemmulheresemformaofetalnosbebs.Devidoaoexcessode
metaisnaguaenosolo,aincidnciadeoutrasdoenas,comoanemia,lesesrenais,
hipertensoarterial,cncerdepulmoetc.,tambmaumentou(BAHIAJ,2011).
Emfunodograndepassivodeixadoedeseuimpacto,nosanosde1994e1995o
CRAclassificouaescriadaPlumbumcomoresduoperigosodevidoasuatoxidade.
Foramsolicitadasempresa,ento,medidasmitigadoras,queincluam,inicialmente,
acolocaodecercaseasinalizaodetodaareaondeseencontravamdepositados
osresduos.Almdisso,foiindicadoqueametalrgicaelaborasseumplanodedis
posio adequada para a escria, fizesse a instalao de poos de monitoramento
paradetecodepossveispoluentesnolenolfretico,erealizasseestudosqueim
pedissemapropagaodacontaminaoepossibilitasseoencapsulamentodaesc
ria(ANJOS;SNCHEZ,2001).
23
Figura2Crianasexpostasaorejeitocontaminado.
Diante da recusa da Plumbum em atender s exigncias do rgo ambiental, foram
tomadasmedidasjurdicaspeloCRA einiciada,emparceriacomaUniversidadede
SoPaulo(USP),aFundaodeAmparoPesquisadoEstadodeSoPaulo(Fapesp)
eaSuperintendnciadeGeologiaeRecursosMinerais(SGM),umapesquisaparaim
plementao de um plano de gesto ambiental destinado aos stios contaminados
comresduosindustriaisnolocal(ANJOS;SNCHEZ,2001).
ApesquisaacabougerandooprojetoPurifica,financiadopelaFinanciadoradeEstu
doseProjetos(Finep)edesenvolvidopelaUFBA,USP,CRAeCentrodeEstudos,Pes
quisas e Desenvolvimento do Estado da Bahia. Com incio em 2000, o projeto diag
nosticouacontaminaodetodaazonaurbanadeSantoAmaroeampliouaspesqui
sassobreacontaminaonasinstalaesdaPlumbum(ANJOS;SNCHEZ,2001).
Almdisso,sugeriuvriasmedidasdemitigao,comoaelaboraodeumplanode
remediaoparaareaurbanadomunicpio,comadefiniodasreasprioritrias
para interveno, estimativa da quantidade de escria disposta na cidade, plano de
aoeprevisodecustos.Oprojetorecomendouaraspagemdosolosuperficialpara
removeraescriadepositadadeformaaleatrianoentornodausina,bemcomodo
solosuperficialquefoimaisimpactado,eposteriortratamentoparasepararaescria
dosolo.Foisugeridoaindaqueosolocontaminadofosseutilizadoparafabricaode
telhaseblocoscermicosumavezqueoprocessodemonstroualtacapacidadede
imobilizaodospoluentes,almdeenvolverbaixocustoerecomendadoque,at
quearemoodosolosuperficialedaescriafosseconcluda,sedeixasseintactaa
zonaalagadia(PROJETOPURIFICA,2003).
24
Esta zona alagadia (ou wetland), situada a jusante do principal barramento de

escriaecomextensodecercade90metros,teveorigemnumaterrodeguasplu
viaisdoempreendimentoetemsemostradoeficazparaocontroledacontaminao
das guas superficiais, uma vez que retm a grande maioria dos metais pesados
(ANJOS,2003).
Em2004,osriscosdecontaminaoporviaareajestavammaisreduzidosnarea
urbanadeSantoAmaro,devidoaofatodequasetodosospontosdelanamentoda
escriadechumboestaremrecobertoscomparaleleppedoouasfalto.
Aimpermeabilizaopromovidaporessetipodecoberturadiminuiainfiltrao
das guas das chuvas no solo, reduzindo a lixiviao da escria depositada e o
espalhamentoearrastedepartculasdepoluentespelovento.Contudo,esseres
duo ,detempos emtempos,trazidotona por servios de reparos na rede de
gua e esgoto, instalao de dutos, reativando diversas rotas de contaminao
(MACHADOetal.,2004,p.142).
Aolongodosanos,foramrealizadasdiversasanlisesdecaracterizaodechumboe
de outros metais pesados no resduo metalrgico em Santo Amaro (LIMA;
BERNARDEZ,2010,2011ae2011b)e,at2010,aproximadamente500miltoneladas
deescriaencontravamsenoterrenodametalrgica,semodevidoencapsulamento
(ALCNTARA, 2010). Muitos dos exfuncionrios apresentavam doenas ocupacio
nais,recebendoapenasaposentadoriasdoInstitutoNacionaldoSeguroSocial(INSS)
ouauxliodoena.Emboraaempresatenhapagadoalgumasindenizaes,existiam
aindacercadedoismilprocessosindividuaistramitandonaDelegaciaRegionaldo
Trabalho de Santo Amaro. E, com relao aos danos ambientais, nada foi feito
(ALCNTARA,2010,p.109).Cabemencionarquerecentepesquisarealizadaapartir
de amostras da escria diverge das anteriormente realizadas em Santo Amaro por
considerarquenoconstituifontedecontaminao.(LIMA;BERNARDEZ,2010,2011a
e2011b).
Independentedequaissejamasviasdecontaminao,noentanto,especialistasaler
tamqueomunicpiodeSantoAmaroprecisanosdeumplanodegestoambien
tal,comotambmdeumacomunicaoegovernanaderiscoseficazes,quepossibi
litemumdilogoparticipativocomascomunidadesafetadaseadivulgaodedados
para mdia e rgos governamentais (DI GIULIO et. al, 2010). Por sua vez, em 26 de
maiode2011,aPresidentadaRepblicaDilmaRousseffdeterminouprovidnciasao
governopararesoluodopassivodomunicpio(AGNCIASENADO,2011).
SantoAmaroconsideradaumadascidadesmaispoludasporchumbonomundo.
Naliteraturamundial,ocasorefernciaparaestudaracontaminaoporchumboe
cdmio(ALCNTARA,2010,p.114).
25
Boquira:lavrademinriodechumbodeixarejeitoscomaltosteores
demetaispesados
A exemplo do que ocorreu no municpio de Santo Amaro, no Recncavo Baiano, os
moradoresdomunicpiodeBoquira,localizadonosudoestedaBahia,estiveramex
postoscontaminaoporchumbodurantedcadas(Figura3)(BARRERO,2008).
Figura3CidadedeBoquira.
AexploraodominriodechumboemBoquira1.482,704kme22.037habitantes
(IBGE,2010a)comeounofinaldadcadade1950pelaPenarroyaS.A,quecrioua
CompanhiaBrasileiradeChumbo(Cobrac)paraatuarnoBrasilcomosuasubsidiria.
Posteriormente,aempresafoiincorporadaPlumbumMineraoeMetalurgiaLtda.
(MANZONI; MINAS, 2009), pertencente ao Grupo Trevo (ANJOS; SNCHEZ, 2001;
CAMELO, 2006; BARRERO, 2008). O minrio de chumbo lavrado e beneficiado em
BoquiraerausadoparaproduzirligasdechumboemSantoAmaro(CAMELO,2006;
BARRERO,2008;MANZONI;MINAS,2009).
BoquiranasceudoantigodistritoAssuno,nomunicpiodeMacabas.Comoincio
daexploraodominriodechumbo,nadcadade1950,odistritodeAssunode
senvolveuse tanto que representantes do povo na Cmara de Vereadores de
Macabas entraram com um projeto de emancipao poltica, dando origem, em
1962,aomunicpiodeBoquira(ARAJO;PINHEIRO,2004).
OminriodechumbofoidescobertoporacasoporumpadrechamadoMacrioque
procurava um local para instalar uma parquia em Macabas. Em suas andanas,
recolheuamostrasdeminrioqueocorriamacuaberto,nasproximidadesdopovo
ado de Boquira. Anlises laboratoriais das amostras, realizadas no Rio de Janeiro,
26
comprovaram as suspeitas do padre de que se tratava de minrio de chumbo

(FERRAN,2007).
Opadre,ento,largouabatinaecomeouumnegcio.Fezcontatocomafbricade
bateriasPrestoLite,sediadaemSoPaulo,quesemostrouinteressadaemcomprar
ominrioalteradodoMorroPelado,constitudodecerussita,carbonatodechumbo
defcilfusoereduo.Aempresainiciouaoperaosubterrnea,abrindogaleria
noMorroPeladoeobtendorapidamentegalena[minriodechumbo]pordebaixodo
afloramento de cerussita, e ao mesmo tempo iniciou a montagem de uma usina de
flotaonafrentedomorrodoCruzeiro(FERRAN,2007).
Ominrioextradotinha9%dechumbo,3%dezincoe32gramasdeprataporto
nelada,eerabeneficiadoemdoisconcentradosdeflotao,odechumbo,com70%
do metal, e o de zinco, com 51%. Estes concentrados eram encaminhados de cami
nho para a Cobrac, em Santo Amaro, a 500 km damina onde, depois da ustulao
[queima de sulfeto] e fuso, viravam chumbo com praticamente 100% de pureza,
prontos para entrarem no mercado. Os concentrados de zinco eram exportados
(FERRAN,2007).
Comoaoperaodeflotaonoestavadandoosresultadosesperados,Macrioen
trouemcontatocomaPlumbumumaassociaodaPearroyafrancesanapoca
especialista em chumbo e zinco que operava as minas de chumbo do Vale do rio
RibeiradoIguape,entreSoPauloeParan(FERRAN,2007).
Durante o perodo de operao da mina, Boquira conheceu a prosperidade. A mina
atingiuseuaugedeproduonosanos1970 (DNPM,2006).Noentanto,asreservas
economicamente mais viveis se esgotaram e a Minerao Boquira foi vendida, em
1986,aosgruposbrasileirosCMPeLuxma.Asempresaspassaramaexplorarospila
resdesustentaodaminadeBoquirareasquetinhamdeserpoupadasparaas
segurarasustentaodasgaleriasabertasnosubsolo.Porm,oscustosdaatividade
inviabilizaramonegcio,pois,paracadapilardesustentao explorado,aempresa
tinhadeconstruir,porquesto desegurana,um novopilarartificial,commaterial
trazidodeforaparadentrodasgalerias(FERRAN,2007).
Somado aos altos custos de operao, o excesso de oferta internacional de chumbo
fezcomqueascotaesdominriocassem,oquelevouaofechamentodaminade
Boquira (FERRAN,2007).Aminafoidesativadaem1992 (CAMELO,2006).Hoje,aci
dade est espera de um Plano de Recuperao de reas Degradadas (PRAD) e de
umplanoquepermitaquetodaainfraestruturadaminasejaaproveitadaporativi
dadescompatveiscomalocalidade(FERRAN,2007).
Em Boquira,uma das maiores preocupaes com a disposio dos rejeitos do be
neficiamentodesenvolvidoaolongodemaisdetrsdcadas(Figuras4e5).Osrejei
tos do beneficiamento apresentam teores de zinco, cdmio, arsnio, prata, alm de
chumboeoutrosmetais,enoforamdispostossegundoparmetrosambientaisacei
27
tveis,colocandoemriscoosmananciaisesolosapsorompimentodeumaantiga
barragemdeconteno(DNPM,2006).
Figura4Pilhaderejeitosdaminerao.
Figura5PilhadeRejeitosaoladodacidade.
28
Peritos do Programa de Fiscalizao Preventiva Integrada, coordenado por rgos

ambientaisedefiscalizaoestaduaisefederaisepeloMinistrioPblicodoEstado
daBahia,estiveram,em2008,emBoquiraparaavaliarasituaodasantigasgalerias
no Morro Pelado, hoje interditadas, da pilha com reserva de minrio e da pilha de
rejeito do beneficiamento, sobre a qual, h anos, foi instalado o lixo municipal.
poca,constataraminstabilidadedomaterialcontidonapilhaderejeito,comdiver
sos canais de eroso conduzindo sedimentos e contaminando h dcadas guas su
perficiaisesubterrneascomresduodechumbo(BARRERO,2008).
Deacordocomoparecertcnico,nofoiobservadaqualqueraoparacontenode
enxurradasoureparodosimpactosnegativoscausadospelapilhaderejeito,embora
estivesseprevistoumplanoderecuperaodareadegradada.Outraconstataofoi
apresenadecatadoresdematerialreciclvelnolixoinstaladosobreapilhadere
jeito(BARRERO,2008).
O plano de recuperao estaria a cargo da empresa Bolland do Brasil (BARRERO,
2008),amesmaque,em2007,apresentara,aoDepartamentoNacionaldeProduo
Mineral (DNPM), um estudo de viabilidade para reativao da mina de chumbo no
municpioedafundiodechumboemSantoAmaro.Oprojetoprevia,dentreoutras
aes,oprocessamentodosrejeitosestocadosnaantigaminaeaexploraode900
miltoneladasdeminriocontendochumbo(REUTERS,2007).
De acordo com a Bolland, o chumbo seria extrado da pilha de rejeitos atravs do
processoqumicodelixiviao.(BRASILMINERAL,2007).
Em 2007 o DNPM informou que a Bolland j detinha autorizao para pesquisa de
minriodechumboemquatroreasdeBoquira (JORNALATARDE,2007).Contudo,
posteriormenteaBollanddesistiudoempreendimento,eaMineraoCruzeiroLtda.,
subsidiriadaMetalDataS.A.,assumiuosdireitosdaconcessodaPlumbumMine
rao e Metalurgia S.A. para iniciar o projeto de reavaliao da mina de Boquira e
aproveitamentodorejeito.Aempresaplanejainicialmenteinvestir,US$18milhes
em pesquisa mineral visando diagnosticar a reserva de chumbo, os subprodutos
conhecidos,bemcomoominriodeferroqueocorrenareadaconcesso.Oprojeto
previatambmaconstruodeumausinasiderrgicaemBoquiraparaverticalizara
produonoEstadodaBahia(SILVA;TEIXEIRA,2009).
ValedoRibeira:chumbocontaminasoloehabitantesdaregio
A minerao e a metalurgia realizadas no alto vale do rio Ribeira do Iguape, locali
zadoentreosestadosdoParaneSoPaulo,geraramcomopassivoambientalacon
taminao de rios e solos em diversas reas da regio (CUNHA et al., 2006). Alm
disso,submeteramapopulaoaproblemasdesade,decorrentes,inclusive,dacon
taminaoporarsnio,cujaprincipalfontenolocalaarsenopirita (SAKUMAetal.,
2010).
29
OvaledoRibeirajfoiumadasmaioresprovnciasmetalogenticasdechumbodo
Brasil.Hnaregioumimportantereservatriodeguadoce,almdeboaparteda
MataAtlnticaremanescente(Figura6)(LOPESJr.etal.,2006).AolongodosculoXX,
diversasminasdechumbo,zincoeprataforamexploradasnoaltovale (CUNHAetal.,
2006).
Figura6ValedorioRibeiradeIguap(SPePR).
Duranteosanosdepicedaminerao,apopulaolocalexperimentouumnvelde
vida relativamente prspero. Com a exausto do solo e o fechamento das minas e
refinarias, ocorreu uma forte decadncia nos ndices econmicos e sociais. Hoje,
Adrianpolis(PR),assimcomooutrosmunicpiosquetiveramforteatividademine
radoranopassado,estentreosmaispobresdaregio (CUNHAetal.,2006).Coma
escassezdeempregoeasprecriascondiesdevida,apopulaodeAdrianpolis
caiupelametade.Jabaseeconmicadomunicpiopassouagiraremtornodofun
cionalismo pblico, da agricultura, da pecuria e do setor de comrcio e servios
(IPARDES,s.d.apudDIGIULIO;PEREIRA;FIGUEIREDO,2008).
Adrianpolis localizase na regio metropolitana de Curitiba (MAPA DA INJUSTIA
AMBIENTALESADENOBRASIL,2009).Com1.349,335kme6.376habitantes(IBGE,
2010),omunicpiofoialvo,pormaisde50anos,dasatividadesdeextraoerefina
mentodechumbopelaPlumbumdoBrasilLtda (CUNHAetal.,2006),pertencenteao
grupo Trevo e que se instalou no bairro Vila Mota, na zona rural do municpio (DI
GIULIO; PEREIRA; FIGUEIREDO, 2008). A Plumbum comeou a explorar chumbo e
pratanomunicpio,em1954.Devidoaoesgotamentodasjazidas,aempresafechou
em 1995, deixando grande passivo ambiental. Suas atividades atingiram ainda, por
meiodapoluioatmosfricaehdrica,outrosmunicpiosparanaenses,comoCerro
Azul,BocaivadoSul,DoutorUlysses,TunasdoParaneColombo,etambmApia,
30
Ribeira,IporangaeItaca,noestadodeSoPaulo(MAPADAINJUSTIAAMBIENTALE
SADENOBRASIL,2009).
Durante os 50 anos de funcionamento, a Plumbum, lanou na atmosfera grande
quantidade de material particulado rico em chumbo, que se depositou nos solos de
reasprximas.Mesmodepoisdeumadcadadofechamentodausinaedasltimas
minasdechumbo,opassivoambientalpermanece,bemcomooriscodecontamina
odaspopulaeslocais (FIGUEIREDO,2005apudDIGIULIO;PEREIRA;FIGUEIREDO,
2008).
Emreasprximasrefinariadesativadadaempresa,oacmuloderejeitosdopro
cesso industrial, depositados durante anos a cu aberto, levou contaminao do
soloporchumbo (CUNHAetal.,2006).RejeitosdaminadePanelas,outraantigapro
priedadedaempresaemAdrianpolis,atingiramorioRibeiradoIguape,poisaobe
neficiarominrio(predominantementegalena),aempresajogavaresduoseefluen
tesdiretamentenoleitodorio.Almdisso,empilhavaorejeitoeaescriadorefino
juntosuamargem(LOPESJr.etal.,2006).
Parte dos rejeitos estocados de forma inadequada pela empresa ainda foi utilizada
pelosmoradoresnocalamentodasruasdeVilaMotaedeVilaCapelinha,localidades
operrias vizinhas antiga refinaria, em Adrianpolis. Em rea prxima a Panelas,
constatouse grande concentrao de chumbo em rejeitos despejados em um local
ondecrianascostumavambrincardiariamente(LOPESJr.etal.,2006).
Ochumbopodeserabsorvidoporingestodealimentosedeguaouporinalaode
poeira contaminada, forma comum principalmente entre crianas pequenas. A con
taminao pode gerar diversos efeitos nocivos sade, entre os quais: distrbios
irreversveis no sistema nervoso central, anemia e alteraes renais (CUNHA et. al.,
2006).
Estudos diagnosticaram a presena elevada de chumbo no sangue de crianas em
Adrianpoliseadjacncias(CUNHAet.al.,2006;SAKUMAetal.,2010).Apesquisacole
touamostrasdesanguede335crianasnafaixaetriaentresetee14anosede350
adultos, entre 15 e 70 anos, residentes em Adrianpolis e nos municpios de Cerro
Azul,RibeiraeIporanga.Coletaramse,ainda,amostrasdosoloedaguadaregio
estudada(CUNHAet.al.,2006;LAMMOGLIAetal.,2010).
Exceto pela populao da cidade de Cerro Azul, onde no houve atividade minera
dora,amdiaaritmticadopercentualdechumboencontradonosanguedosindiv
duosanalisadosfoiconsideradaaltaeperigosaparaasadehumana.Osndicesre
gistradosemRibeiraeIporangatambmdespertarampreocupao.Entreosadultos,
os ndices mais altos foram encontrados em exoperrios da refinaria da Plumbum,
residentesemVilaMotaeVilaCapelinha,emAdrianpolis.Entrecrianasmoradoras
dasvilas,osvaloresdechumbonosangueficaramacimade10gramaspordecilitro
(g/dL), valor considerado alarmante pelos pesquisadores (CUNHA et. al., 2006;
LAMMOGLIAetal.,2010).
31
Quanto contaminao por arsnio, pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz (So

Paulo), Centro de Controle de Intoxicaes da Universidade Estadual de Campinas
(CampinasSP), Instituto de Geocincias da Universidade Estadual de Campinas
(CampinasSP), Centro de Cincias da Sade da Universidade Estadual de Londrina
(LondrinaPR) e da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (Rio de Janeiro
RJ)verificaramapresenadasubstnciaemamostrasdeurinadecrianasentresete
e14anosdascidadesdeCerroAzul,Adrianpolis,RibeiraeIporanga.Deacordocom
os resultados, a diferena entre a quantidade de arsnio encontrada no grupo de
CerroAzul,noexpostoaatividadesminerriaseosdemais,quemoravammaispr
ximosdasreasminerariasfoibemgrande(SAKUMAetal.,2010).
A exposio crnica aos compostos de arsnio pode causar vrios danos sade,
como desordens vasculares perifricas, hiperpigmentao, hiperqueratose, alm de
cncerdepele,bexiga,pulmo,fgadoeoutrosrgos(SAKUMAetal.,2010).
Vriosestudoscontinuamsendorealizadosparatentardimensionaraamplitudeda
contaminaoporchumbonoaltovaledorioRibeiradoIguape.OMinistrioPblico
do Paran vem trabalhando juntamente com uma comisso interinstitucional para
discutir e tentar oferecer solues para os problemas que afligem moradores de
Adrianpoliseoutrosmunicpios(MPPR,2009).
Em2011,foiconcedidaliminarcontraaPlumbum,oDepartamentoNacionaldePro
duoMineral(DNPM),omunicpiodeAdrianpoliseaCompanhiadeSaneamento
doParan(Sanepar),pelacontaminaoambientaledanossadedapopulaoda
VilaMotaedaVilaCapelinha.Osrusdeveroadotarvriasmedidaspararemediar
osdanoscausadosaomeioambienteeoferecertratamentoatodasaspessoasimpac
tadaspelasatividadesminerriasnaregio(PARAN.EXTRA.COM.BR.,2011).
MaudaSerra:mobilizaocomunitriaimpedeainstalaodereci
cladoradechumbo
OmunicpiodeMaudaSerra,noParan,enfrentougrandeapreensofrentepos
sibilidadedainstalaodeumaindstriarecicladoradechumbonacidade.Estudio
sosdaregiotemiampeloinciodesuaoperaodevidosfalhasnoprojetodepro
teo ambiental apresentado pela empresa e que foi desconsiderado pelo Instituto
AmbientaldoParan(IAP),rgoresponsvelpelolicenciamentoefiscalizaodos
empreendimentos potencialmente impactantes ao meio ambiente (BEM PARAN,
2007aMARTONI,2008a;).
MaudaSerraumpequenomunicpiocom8.555habitantese108,325km2 (IBGE
2010), situado no norte paranaense (Figura 7), e que faz fronteira com Tamarana,
Ortigueira,FaxinaleMarilndiadoSul (MAPADAINJUSTIAAMBIENTALESADENO
BRASIL,2009).
32
Figura7LocalizaogeogrficadeMaudaSerraPR.Google(2012).
AempresaresponsvelpelarecicladoraeraaMetalrgicaCPGLtda,quepretendiase
instalar na Serra do Cadeado, no divisor das subbacias do rio Preto e rio do Meio,
afluentesdorioTibagi,utilizadocomomanancialdeabastecimentopblicodegua.
Alocalizaonodivisordessassubbaciasfoiconstatadaemvistoriafeitaportcni
cosambientaisdoCentrodeApoioaoMeioAmbiente(Caopma),rgodoMinistrio
PblicodoParan(MPPR)(BEMPARAN,2007b).
Em2007,aempresatinhalicenaprviaqueautorizaolocal deconstruoeli
cenadeinstalaoquepermitearealizaodasobras,masaindaaguardavaade
operao,quehaviasidosuspensaquandoapopulaoseinsurgiucontraoempre
endimento (MARTONI,2008a).Nolocal,jhaviamsidoconstrudosumamplobarra
co, lagoas para despejos de efluentes industriais e toda a base para instalao de
caldeiras,fornosentreoutrosequipamentos(BORGES,2007).
SegundoorelatrioencomendadopeloInstitutoAmbientaldoParan(IAP)aoses
pecialistas da Universidade Estadual do CentroOeste (Unicentro), a empresa tinha
cumpridotodososseus devereseobrigaes, dentrodesuaspossibilidadesecon
micasetambmasexignciaslegais.Porm,odiretordaAssociaoNacionaldeDe
fesa do Consumidor e Cidadania (Andec), Fernando Monteiro, questionava a capa
cidade econmica da empresa de arcar com as medidas de seguranas necessrias,
que tm umcusto milionrio, incompatvel com seu capital social, que segundo do
cumentos emitidos pela Junta Comercial de R$ 100 mil. Segundo ele, mesmo com
todoaparatotecnolgico defiltros,aempresano dariaconta deconteroespalha
mentodomaterial(MARTONI,2008a).
33
SegundoinformaesdostcnicosdaCAOPMA(CentrodeApoiosPromotoriasdo
MeioAmbiente),quefizeramavistorianolocal,em2007,efluenteslquidosseriam
geradospela atividadede reciclagemdebateriasautomotivas.Tambmseriamlan
adosgasescomchumboparaaatmosfera,poisoreaproveitamentodochumbouti
lizariafornosparaderreterometalpesado(BEMPARAN,2007b).
Ainda,deacordocomoconsultorparaassuntosambientaiseprofessordaUniversi
dadeEstadualdeLondrina(UEL),EwertondeOliveira,ainstalaodaindstriapre
judicariamananciaisdorioTibagi,contaminandoumadasprincipaisfontesdeabas
tecimentodaregio.Apesardorelatriodoconsultorapontarcomoinapropriadaa
instalaodarecicladoranacidade,opresidentedoIAP,VitorHugoBurko,afirmava
nohaverrespaldocientficoparaoestudo(MARTONI,2008a).
Ochumbodasbateriasconsideradoresduoperigosopelalegislaonacionalein
ternacional (BEM PARAN, 2007b).Umadasprincipaisfontesdecontaminaopelo
chumboestnodescarteinadequadodebateriasautomotivasusadas.Nestecaso,as
recicladorastmumimportantepapelnadestinaodestaspeas,poisimpedemque
ascarcaassejamenviadasaosaterrossanitrios.Contudo,podesetornarumaati
vidadederiscoquandonoavaliadoosaspectostcnicosdoempreendimento (BEM
PARAN,2007a).
Asrecicladoras,senoforemgerenciadascorretamente,podemocasionarproblemas
comoolanamentodeguaprovenientedasbateriasemrios;aliberaodevapores
comchumbonaatmosfera(queposteriormentepodemcontaminarosolo)eadispo
sioinadequadaderestosdechumbodiretamentenosolo(BEMPARAN,2007b).
Ochumboummetalpesadoaltamentetxico,queseacumulanacorrentesangu
neaepodeprovocaranorexia,vmitos,convulso,danocerebralpermanente,leso
renal,perdadepeso,anemia,deficinciadesistemanervoso,manifestaesgastroin
testinais,alteraesneurolgicas,clicas, (MAPADAINJUSTIAAMBIENTALESADE
NOBRASIL,2009)esaturnismo(BEMPARAN,2007a).
Devido ao seu alto potencial de contaminao, o chumbo no pode ser manipulado
emzonaestritamenteruralecommananciaisdegua (BEMPARAN,2007b).Parao
MinistrioPblicodoParan,oriscodecontaminaoseriaiminentenaregioonde
sepretendiaconstruirarecicladoradechumboemMaudaSerra,poisosmoradores
vizinhos tm seu abastecimento de gua feito por meio de poos artesianos. Alm
dessefato,afbricaficariaprximadelavourasdemilho,feijoeassentamentosdo
InstitutoNacionaldeColonizaoeReformaAgrria(Incra),gerandootemorquanto
contaminao da criao de bovinos e ovinos, e das hortalias (BEM PARAN,
2007b). Prxima fbrica tambm h uma reserva indgena e diversos empreendi
mentosdeecoturismoquepoderiamserprejudicadospelaatividadedarecicladora
(MARTONI,2008a).
Entre maro e setembro de 2007, a populao de Mau da Serra e entidades que
atuamnadefesadaregiorealizaramdiversasmanifestaeseatoscontrriosins
34
talaodausinadereciclagemdechumbonalocalidade.Nodia27demarode2007,
moradores da localidade fecharam a BR376 por uma hora, para protestar contra
essasituao(MAPADAINJUSTIAAMBIENTALESADENOBRASIL,2009).
Aindatemendooriscodecontaminaodosolo,doareprincipalmentedosriosda
regio, os ndios Caingangues que vivem na reserva Apucaraninha, em Tamarana
(PR),invadiramareanaqualaindstriarecicladoradechumbohaviainstaladoum
galpo,epassaramtrsdiasacampadosemsetembrodaqueleano.Comisso,conse
guiram fazer com que osproprietrios se comprometessem formalmente, por meio
dedocumentoregistradoemcartrio,aabandonarolocaleanoconstruirausina.
Pelotermofirmadoentreasduaspartes,osproprietriossecomprometiamaretirar
todas as instalaes do que seria a usina at o dia 30 de janeiro de 2008 (BORGES,
2007;MARTONI,2008b).
Aindaporcontadapolmicacausadanaregio,nomesmoano,oMinistrioPblico
(MP)deMarilndiadoSul(nortedoParan)obteveliminar,requeridaemaocivil
pblicaambiental,paraparalisaraimplantaodaindstriadereciclagemdebate
riasautomotivasesucatadechumbonaSerradoCadeadoemMaudaSerra(FOLHA
DELONDRINA,2007).
Nestemesmoperodo,osecretriodoMeioAmbienteeRecursosHdricosdoParan,
RascaRodrigues,suspendeuolicenciamentoambientaldenovosempreendimentos
relacionados manipulao de chumbo e seus derivados, at que obtivesse maior
conhecimento sobre dados tcnicos, cientficos e administrativos sobre as baterias
descartadasemtodooEstadodoParan.Entreosempreendimentosestavamasre
cicladorasdebateriasdeveculosquetrabalhamcomarefundiodochumboencon
trado nestes produtos (BEM PARAN, 2007a). No Estado do Paran, 25 recicladoras
tmautorizaodefuncionamentoepassavamporinspeesperidicas (MARTONI,
2008a).
AdecisodesuspenderoslicenciamentosfoitomadadepoisqueopresidentedoIAP
encaminhou um ofcio ao secretrio do Meio Ambiente e Recursos Hdricos solici
tandoacriaodeumGrupodeTrabalhoparadiscutirasustentabilidadesocial,am
bientaledesadepblicadasatividadesqueutilizamchumbo.Estegrupoforneceria
um parecer tcnico incluindo proposta de regulamentao para a continuidade ou
nodestesempreendimentosnoParan(BEMPARAN,2007a).
Posteriormente,umadecisojudicialimpediuarecicladoradeentraremoperaoe
aprefeituradeMaudaSerracancelouoalvarquepermitiaainstalao.Naocasio,
o IAP informou que, aps a revogao municipal, houve suspenso automtica da
licenaprviadeoperao,dadaem2007(MARTONI,2008b).
Atualmente,aindasoencontradasfbricasdeligaereciclagemdechumboemope
raonoestado.Osproblemasdecorrentesdafaltadeinfraestruturadessasfbricas
levaramaSecretariaEstadualdeSadedoParanaelaborareimplantaroprojetode
controledaexposioaochumbo.Nesteprojetoficaramevidentesossriosproble
35
mas da falta de segurana ambiental e do trabalhador por conta de equipamentos

precrios,armazenamentoinadequadodaproduoedescuidonodescartedaesc
ria(CENTROESTADUALDESADEDOTRABALHADOR,2011).
Contudo,osdiversosproblemasadvindosdacontaminaoporchumbonosores
tritos ao Estado do Paran e podem ser vistos em diversos lugares do Brasil e do
mundo,aexemplodoqueaconteceuemBauru(SP),em2007,quandofecharamuma
fbrica de baterias por irregularidades ambientais e logo apareceram os primeiros
intoxicados:860crianas(MARTONI,2008a).
Em outros pases tambm tm sido registrados casos de contaminao, como na
China,ondemaisde1000crianasforamcontaminadaspelometalpesadoem2009,
por conta da maior fundio de chumbo do pas. O fato levou remoo de 15 mil
pessoas do local (BBC BRASIL, 2009). No ano seguinte, na Nigria, 163 pessoas, a
maioriacrianas,foramenvenenadasporchumbo(BBCBRASIL,2010).
As crianas so as maiores vtimas dos casos de contaminao por chumbo porque
tm organismo mais propenso absoro do metal e assimilam maior quantidade
porquiloqueosadultos,jquepesammenos.Elastambmcolocamobjetosnaboca
comfrequncia,levandosujeirasdosolo,quepodeestarcontaminado,paraseusor
ganismos(MARTONI,2008a).
OdesfechoatpicodocasodeMaudaSerrasedeveparticipaodacomunidade,
quepodecontartambmcomaforadamobilizaodegruposeentidadesdasocie
dade civil organizada e com o apoio dos Ministrios Pblicos, federal e estaduais
(MAPADAINJUSTIAAMBIENTALESADENOBRASIL,2009).
Consideraesfinais
Os quatro estudos de caso apresentados demonstram a ligao direta entre a ativi
dade de minerometalurgia e a qualidade de vida da populao local. A ausncia de
responsabilidade social por parte de atividades econmicas pretritas no deve ser
repetidapelasatuaisadministraesdasgrandes,mdiasepequenasmineradoras.
exigidaumagovernanasustentvelporpartedosmunicpios,estadoseUnio.
Osimpactosnegativosresultantesdofechamentodeempreendimentomineraleda
faltadedestinoparaosseusresduospodemseconfiguraremsriosproblemasde
sadeparaosextrabalhadores epara acomunidadelocal,alm dosproblemasso
cioeconmicosdecorrentesdodesempregoefortereduodaatividadeeconmica.
Doenasnosistemanervosocentralenosossosdevidoainalaoe/ouingestode
chumbo so observados em todos os estudos de caso relatados nesse captulo, de
monstrandoaseriedadecomquedevesertratadaaquestododescartedosresduos
daminerao.
36
Noobstante,omeioambientetambmimpactadonegativamentecomadisposio
inadequadaderestosdechumbodiretamentenosoloqueacabaporlevarcontami
naodaguaedoar.
Aesjudiciaisrealizadasnosmunicpioscompassivosdaatividademineraldemons
tramquearesponsabilidadedetaisimpactospassadaparaaempresa,paraosr
gos responsveis pela emisso da licena (DNPM) e at para o prprio municpio,
comoocasodeAdrianpolis(PR).Osrusdevemadotarvriasmedidasparare
mediar os danos causados ao meio ambiente e oferecer tratamento a todas as pes
soasimpactadaspelaminerao.
Existeaindaumgrandepassivoambientaldemineraesparalisadasportodoopas,
sendonecessrioqueexistauminventriosobretaissituaes,almdeumaregula
mentao sobre as garantias de recursos financeiros para o encerramento da ativi
dadedeminerao,sejamcaues,fianas,fundoseoutrosmecanismos.Tambm
necessriopesquisaraeficciadeiniciativaseprogramasderesponsabilidadesocial
das empresas e analisar os impactos socioeconmicos a longo prazo para retroali
mentar futuras avaliaes de impacto. Nesses casos, as ONGs, instituies de pes
quisa e universidades desempenham importante papel para relatar os incmodos
causadospelaatividadedemineraosociedade.
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GovernaoeResponsabilidadeSocialEmpresarial:a
necessriaconvivncia
CarlaGuapoCosta1
FranciscoRegoChavesFernandes2
Introduoeproblemtica
Os anos mais recentes tm testemunhado, em vrios pases desenvolvidos e em
desenvolvimento, um interesse claro dos investidores pelos setores ligados
exploraoderecursosnaturais,comdestaqueparaamineraoeparaaexplorao
derecursosenergticosfsseis.
Na realidade, pases como o Brasil, Moambique ou Austrlia, para citar apenas
alguns casos, tm realizado esforos significativos para introduzir na legislao
regras condicionantes da atuao dos investidores, nacionais e estrangeiros, que
fazem depender a autorizao da explorao dos recursos (em particular da
minerao) ao cumprimento de um conjunto de requisitos, que podem passar por
pagamentos financeiros, apoio populao, construo de infraestruturas ou
preocupaesambientais.
Noentanto,apesardosesforos,aanlisedasituaointernacionalpermiteconcluir
que o cumprimento desses critrios de responsabilidade social empresarial no
feito de forma muito afirmativa, verificandose mesmo a existncia de elevados
passivos (econmicos, sociais, ambientais) durante o perodo de permanncia das
empresasoudepoisdoabandonodasatividades. Poroutrolado,tentamostambm
demonstrarqueosgovernosdospasesdeacolhimentonoestototalmenteisentos
de responsabilidade, pois, na disputa pelo investimento, pem muitas vezes em
prtica polticas pblicas competitivas na captao daqueles capitais, e cuja
competitividadedecorre,muitasvezes,naflexibilizaoeminoraodoscritriosde
proteoeconmica,socialouambiental.
Neste contexto, a estrutura do artigo centrase na anlise das Polticas Pblicas de
AtraodeInvestimentoemsetoresdeexploraoderecursosminerais,elaborando
emseguidasobreosmodelosdegovernaoeoconceitodeResponsabilidadeSocial
Empresarial (RSE) no setor da minerao. Introduzimos como paradigma da
necessidade de articulao da RSE com a capacidade institucional e de governana
ProfessoraAssociadadoISCSPInstitutoSuperiordeCinciasSociaisePolticas,daUniversidade
TcnicadeLisboa,Portugal.
TecnologistaSeniordoCETEM/MCTI.
CarlaGuapoCostaeFranciscoRegoChavesFernandes
43
dos pases receptores do investimento, o caso da Metaleurop Nord, famoso pelos

efeitos de contaminao por chumbo que gerou no noroeste da Frana e tambm
pelas polticas de remediao que foram aplicadas para resolver ou, pelo menos,
minoraroproblema.NombitodoProjetoSantoAmaro,ocasodaMetaleuropNord
assumeuma importncia acrescida,porsetratardomesmogrupo empresarialque
detinhaausinademineraonacidadedeSantoAmaro,aPlumbum.
Aglobalizaoeosfluxosinternacionaisdecapital
A internacionalizao das economias, que tradicionalmente se caracterizava
fundamentalmente pelos fluxos de comrcio externo, traduzse atualmente numa
intensificao dos movimentos internacionais de fluxos de capitais, constituindo,
estesltimos,uminstrumentoprioritriodessainternacionalizao.Efetivamente,os
fluxos de capitais que circulam, sem restries, entre as vrias regies do globo,
constituem,nestemomento,osmaisimportantessinaisdoprocessodeglobalizao.
Desde meados da dcada de 1980, esses fluxos registram um crescimento muito
superioraosfluxosdecomrciointernacional,e,emescalaaindamaior,daproduo
mundialrealizada(COSTA,2005).
Neste mbito, interessante destacar a importncia da atuao das Empresas
Transnacionais (ETN), que, sob vrias perspectivas, acabam por ser os principais
agentes da globalizao, sendo, igualmente, as maiores beneficirias (COHN, 2008).
Na verdade, as ETN, que, pela importncia assumida na economia internacional,
transformaramse em veculos de (des)articulao das relaes econmicas
internacionais,exercendograndeinflunciasobreosestadosemissoresereceptores,
nomeadamente no que respeita conceo e implementao de polticas pblicas
favorveis sua atuao, levando redefinio das relaes tradicionais entre
estadoseempresaseemergnciadeumanovadiplomaciaeconmica(CARRIRE,
1998). Entre os fatores que tero exercido maior influncia no aumento do
InvestimentoDiretoEstrangeiro(IDE)mundialdestacamse,nomeadamenteapartir
dosanosde1980,areemergnciadaortodoxianeoliberal,queconcedeumamaior
liberdadedeaosETNparaexpandirassuasatividades,nocontextodeumamaior
desregulamentao da atividade econmica, dos processos de privatizaes e da
aboliodasrestriescirculaodosfluxosdecapital(COSTA,2009).
Como podemos verificar pela anlise da Figura 1, a volatilidade dos fluxos de IDE
constituiumacaractersticapredominantenaevoluodosmesmos.Verificaseuma
tendnciaparaacompanhamentointensodocicloeconmico,crescendofortemente
em anos de crescimento econmico generalizado, e abrandando em perodos de
desacelerao.Em2011,ltimoanoparaoqualexistemdadosdisponveis,verificou
seumaumentode16%em2010,refletindoaexistnciadelucrosmaiselevadospor
partedasempresastransnacionais,eomaiorcrescimentoeconmicoporpartedas
economias em desenvolvimento (UNCTAD, 2012). No caso das economias em
desenvolvimentoeemprocessodetransio,queregistraramumaumentode12%,
44
GovernaoeResponsabilidadeSocialEmpresarial:anecessriaconvivncia
ocorreu um aumento dos projetos envolvendo investimentos de raz (greenfield

investments), enquanto as economias desenvolvidas (com um aumento de mais de
20% em 2010) testemunharam a expanso de movimentos de fuso e aquisio
transfronteirios.
Fonte:UNCTAD,2012.
Figura 1 Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) mundial, entre 1995 e 2011, mil
milhesdedlares.
Quando analisamos o protagonismo de pases e regies, para alm do grupo das

economias desenvolvidas, que absorve cerca de 70% dos fluxos mundiais de IDE,
evidenciamsealgunspasespertencentesaogrupodosemergentes,comosendodos
principaisreceptoresdeIDEanvelglobal(UNCTAD,2012).OscasosdaChinaedo
Brasil so os mais significativos, tendo recebido, respetivamente, 15,5% e 4,5% do
total(31%dosfluxosdeIDEnaregiodaAmricaLatinaeCarabas),oqueostorna
lderesincontestadosdasrespectivasregies.
Fonte:Ernst&Young,2012
Figura2InvestimentosDiretosEstrangeiros(IDE)noBrasil,umaevoluosustentada
nosltimosanos.
45
DeacordocomdadosdaconsultorainternacionalErnstandYoung,registrouseum
aumento do nmero de projetos de IDE em 39% em 2010, acompanhando o
crescimentodovalordosfluxosdeIDE.Esteaumentodevese,fundamentalmente,ao
reforo das condies de atrao da economia brasileira, como o dinamismo da
procura interna (alimentada pelo reforo da classe mdia), o anncio de grandes
eventos internacionais que necessitam de fortes investimentos em infraestruturas
fsicas (Copa do Mundo da FIFA de 2014 e os Jogos Olmpicos de 2016) e enormes
reservas inexploradas de recursos naturais. Uma componente fundamental para a
atraodeIDEresidenaspolticaspblicasdesenvolvidaspelogovernobrasileirode
estmulo aos investimentos estrangeiros, de onde se destacam os incentivos fiscais
centrados na produo e contedos locais, a simplificao de procedimentos de
licenciamento e da estrutura regulatria, crdito subsidiado e acesso facilitado ao
financiamento.
Fonte:UNCTAD,2012.
Figura3DistribuiosectorialdoInvestimentosDiretosEstrangeiros(IDE)em2011.
A distribuio setorial do IDE, em 2011, tambm revela dados interessantes para o

nosso trabalho. Assim, o setor primrio, que engloba as atividades de minerao,
extrao de pedras naturais e de petrleo, foi aquele que registrou maior taxa de
crescimento em 2010, 46% de acrscimo dos fluxos de capital estrangeiro, tendo
estas atividades registrado um aumento de 51%, o que traduz, claramente, o
interesse dos investidores na explorao deste tipo de recursos, e o potencial de
crescimentodosetor,querepresenta,atualmente,14%dototaldasprefernciasdos
investidores(UNCTAD,2012).
46
Em termos de vantagens comparativas, o Brasil detm uma das maiores

concentraesmundiaisdeminerais,queoriginaasextamaiorproduomineraldo
mundo,detendoposiesdeliderananaproduodevriascommodities:omaior
produtor mundial de nibio; o segundo maior produtor de minrio de ferro e
tantalita;oterceiromaiorprodutordebauxita;eoquintomaiorprodutordecobre,
estanho e caulim. O setor mineral contribui para 4,2% do PIB e 20% do total das
exportaesbrasileiras,gerandoummilhodeempregosdiretos,oequivalentea8%
dosempregosdaindstria(PNM,2011).Opasdestacaseinternacionalmentecomo
produtor de nibio, minrio de ferro, bauxita, mangans e vrios outros bens
minerais. Apesar de o setor brasileiro de minerao ter sido afetado pela crise
financeirade2008,ascompanhiasvmaumentandoseuinvestimentodesdeento.
DeacordocomorelatriodaErnst&Young,osetordemineraoemetaisdoBrasil
foiresponsvelpelacaptaode35projetosdeIDEem2011,ouseja7%dototalde
projetosfinanciadosporcapitalestrangeironopas.
Concentradas nas regies sudeste e sul do pas, as empresas que exploram os
recursos minerais em territrio brasileiro englobam ETN de capitais
maioritariamente estrangeiros (britnicos, australianos, canadenses), mas tambm
existem grandes players de origem nacional, como a Vale do Rio Doce, Grupo
CamargoCorra,Gerdau,GrupoVotorantim,entreoutros.
Emboraapresenteperspectivasmuitootimistasdecrescimento,osetorderecursos
minerais brasileiro apresenta alguns riscos significativos, como a excessiva
dependnciadaexportaodecommodities,comoocomrciocomaChina,comtodos
os custos da volatilidade habitualmente associada a esses mercados, assim como a
falta de infraestruturas fsicas e humanas e a complexidade do enquadramento
regulatriopodematuarcomofatoresdesestimulantesdoinvestimentoestrangeiro.
Apesardisso,ogovernopsemmarchaumambiciosoPlanodeMineraoat2030,
queprevinvestimentosmuitosignificativoseatriplicaodaproduonacionalde
ouro, ferro e cobre at ao ano referido, assim como a dinamizao da explorao
mineralnaAmaznia,criandocondiesparaafacilitaodastrocasatravsdaim
plementaodeumazonadecomrciolivre.(PNM,2011).
EstePlanoNacionaldeMinerao2030deverservircomorefernciaparadefinir
o planejamento estratgico do setor mineral brasileiro nos prximos 20 anos, no
contextodaspolticasambientaiseindustriais,comoobjetivocomumdepromovero
desenvolvimento sustentvel do Brasil (PNM, 2011). O Plano centrase em trs
vetoresfundamentais:
umagovernaopblicaeficaz,parapromoverousodosbensmineraisextrados
nopas,nointeressenacional,incluindoaconsolidaodonovomarcoregulatrio
do setor mineral, com a criao do Conselho Nacional de Poltica Mineral,
mudanasnomodelodeconcesso,acriaodaAgnciaNacionaldeMinerao,e
arevisodapolticaparaaCompensaoFinanceirapelaExploraodeRecursos
Minerais(osroyaltiesdaminerao);
47
agregaodevaloreadensamentodeconhecimentoemtodasasetapasdacadeia
produtiva mineral, desde a geologia at a minerao e a transformao mineral,
pelo estmulo expanso de cadeias produtivas minerais no pas, melhorando o
rendimento,oempregoeainovaotecnolgica.
assumir a sustentabilidade como premissa fundamental, pela manuteno da
qualidadeambientaldoterritrio,citadasnaAgenda21.
PolticaspblicasdeatraodeIDE:concorrnciaaguerridaepouco
transparente
Nosltimosanos,nocontextodaglobalizaofinanceiraedoapogeudocapitalismo
liberal,oinvestimentoprivado,nacionale,principalmente,estrangeiro,vistocomo
fatordedinamizaodocrescimentoeconmico,devidoaosefeitos,potencialmente
positivos e dinamizadores sobre o conjunto da economia, a saber: transferncia de
tecnologia, criao de emprego, desenvolvimento de infraestruturas fsicas e
humanas, melhoria da produtividade dos fatores de produo e reformulao do
perfil das exportaes, melhorando ocontedo em termos de valor acrescentado, e
permitindoumganhoglobalnostermosdetroca,principalmenteparaaseconomias
menosdesenvolvidas.
Mas grande parte dos pases concebeu e implementou polticas de atrao do IDE,
nem sempre coincidentes com as necessidades das economias domsticas, tendo a
concorrncia entre os pases em desenvolvimento e economias emergentes para
captaodosfluxosdecapitallevado definiodepolticas permissivas,e mesmo
predatrias, que, em muitos casos, tiveram uma influncia nefasta sobre as
economiasdeacolhimento(FORSTATERetal,2010).
Para alm das polticas comerciais, os pases em desenvolvimento oferecem uma
grande variedade de apoios s empresas estrangeiras, tais como incentivos fiscais,
isenooureduodedireitossobreasimportaesdecomponentesoupromoo
deexportaes.
No entanto, no h uma evidncia conclusiva de que estes incentivos tenham
importncianadecisodeinvestimentodasempresasestrangeiras.
Os pases em desenvolvimento podem ser compelidos a oferecer tais incentivos
devido concorrncia, j que se nenhum pas oferecer tais incentivos, a deciso de
IDEserbaseadanadotaoderecursosdecadapasenascondiesmaiseficientes
queelesproporcionam(COSTA,2005).
O Brasil no constitui exceo a esta tendncia, j que consensual entre vrios
autoresregistrarqueoprotecionismoconstituiumdoselementosmaismarcantesda
economia brasileira desde o incio dos anos 1930, at liberalizao da atividade
econmica,quemarcouadcadade1990(COSTA,2005).
48
Um outro poderoso fator de atrao do IDE , naturalmente, a disponibilidade de

recursos naturais, energticos e afins. Os dados disponveis apontam para a
concentraodosfluxosdeIDEnumsentidonortesul,ouseja,ospasesde origem
eram as grandes potncias europeias, os EUA, Canad e Japo, enquanto os de
acolhimento se situavam na sia, frica e Amrica Latina, evidenciando um fraco
nveldedesenvolvimentoeconmico.EstetipodeIDEcentravaseemindstriasque
tiravampartidodaexploraodosrecursosnaturais.
A importncia decrescente dos recursos naturais nos anos que se seguiram II
Guerra Mundial, assim como a emergncia de novos pases independentes
abundantementedotadosderecursosnaturaisepoucoreceptivosaoIDE,levarama
um declnio no tipo de IDE que se deslocalizava em busca de recursos naturais
(UNCTAD,1999),que,noentanto,temvindoaregistrarumnotvelcrescimentonos
anosmaisrecentes.
Acapacidadeinstitucionaleaqualidadedagovernao
Um dos principais objetivos da Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e
Desenvolvimento,quetevelugarnoRiodeJaneiro,em1992,foiodeestabelecerum
conjuntodeprincpioscomunsecompromissosentreosvriospasesparadefinire
implementar processos de desenvolvimento sustentvel por todo o globo. Esta
conferncia deu origem famosa Agenda 21, que apelava a uma cooperao
reforada entre pases desenvolvidos e em desenvolvimento naquele domnio
especfico,dadososcustosdasustentabilidadeambientalesocial,ereconhecendoa
necessidade do envolvimento de vrios atores, para alm dos estados nacionais,
como os atores no governamentais, associaes profissionais e entidades
acadmicasecientficas.
Como referem Freitas et al (2001), esta participao em rede confere questo da
sustentabilidade uma dimenso no s de governabilidade, mas tambm de
capacidadedegovernao,aonvelnacionaleinternacional,paraoaumentodeuma
responsabilidadecoletiva.
Nocasodospasesemdesenvolvimento,asituaotornaseaindamaiscomplexa,j
que,deacordocomFreitasetal(2001),estespasesdefrontamsecomdoistiposde
vulnerabilidades: a maior parte das regras e especificidades tcnicas e cientficas
relativassustentabilidadesodefinidasnocontextodospasesmaisdesenvolvidos,
existemmuitasdificuldadesporpartedospasesemdesenvolvimentodeconseguir
congregarosrecursostcnicos,econmicosehumanosparaavaliarassituaesde
riscoeimplementarmedidascorretivas.
Nosaspopulaessomaisvulnerveisaosdanosambientais,atpelasuafraca
formao e excluso social, mas as prprias instituies pblicas revelam uma
fragilidade acrescida, dadas as deficincias estruturais em temos de definio e
49
implementao de polticas pblicas, processos de tomada de deciso e

disponibilidadedemeiosparadetectareprevenirsituaesderisco.
A falta de legislao adequada, o desequilbrio de foras entre os intervenientes no
processo (governos locais e instituies pblicas versus grandes empresas e
interesses instalados) e o desconhecimento das populaes afetadas gera uma
assimetriadeinformaomuitogrande,quelesaprincipalmenteosmaisvulnerveis.
OcasodoBrasilnoconstituiexceo,combinandoavulnerabilidadeinstitucionale
acomplexidadenoprocessodetomadadedecisocomaescassezdemeiostcnicos
e humanos disponveis, tornando as populaes, em risco de excluso social, mais
expostasariscosemtermosdesadepblicaedegradaoambiental,empresena
de prticas empresariais (nomeadamente na explorao dos recursos naturais)
menosresponsveis(FREITASetal,2001).
Adoenaholandesaouamaldiodosrecursosnaturais
O setor da explorao de recursos naturais (com destaque para a minerao) no
constitui exceo a este tipo de comportamento, aumentando o potencial de
ocorrncia da doena holandesa, com todos os vcios que a mesma acarreta, como
sejamodesvioderecursos,corrupoeconflitos,avolatilidadeeconmica,oreforo
daespecializaoprimriadoaparelhoprodutivo,osimpactoslocaisprejudiciaiseas
polticaspblicasdefracaqualidade(CORDEN,1984).
Naverdade,osrecursosnaturaiseariquezamineralpodemconstituirumpoderoso
catalisador do processo de desenvolvimento, agregando investimento, emprego e
receita para o estado receptor. No entanto, muitos pases dotados de recursos
naturais abundantes no tm conseguido sair das armadilhas do
subdesenvolvimento, da m gesto poltica e da corrupo instalada, pelo que, em
muitos casos, a descoberta de petrleo ou de recursos minerais no levou
prosperidade sustentvel, mas antes ao conflito poltico e ruptura econmica
(FORSTATERetal,2010).
Talfatoficouconhecidonaliteraturacomoadenominadamaldiodaabundncia
ouapragadosrecursosnaturais,maisconhecidapeladoenaholandesa,traduzindo
o fato de pases ricos em recursos naturais terem sido incapazes de utilizar essa
riquezaparamelhorarasituaoeconmicadomstica.
Osprincipaisfatoresdisruptivossoapossibilidadedecorrupoepeculato,jque
os fluxos monetrios provenientes da explorao dos recursos naturais podem ser
facilmenteapropriadosparausoindevidoefraudulento,deumaformamaisfcildo
queosganhosderivadosdocomrciointernacional;avolatilidadeeconmica,jque
uma dependncia excessiva das receitas de exportao centradas nos recursos
naturaiseemcommoditiesdeixaaseconomiasmuitovulnerveisevoluodociclo
econmico, dificultando a definio de politicas econmicas mais sustentadas e
induzindodeterioraodoclimadenegocios.
50
Oafluxodegrandesquantidadesdedinheiropodelevaraumaapreciaodamoeda,
o que torna menos rentvel a exportao de produtos agrcolas e de bens
manufaturados, levando a uma excessiva especializao exportadora no setor dos
recursosminerais,oque, alongoprazo,comprometeasustentabilidadedoprprio
processo de desenvolvimento, num fenmeno que vrios autores denominam de
especializaoreversa(BRESSERPEREIRA,2008).
Um outro problema tem a ver com a fraca qualidade das polticas pblicas, j que
muitos pases com abundncia de recursos naturais so muitas vezes afetados por
deficientes estruturas institucionais. A aparente facilidade de arrecadao
proveniente da explorao dos recursos naturais leva muitas vezes os governos a
menosprezaroutrossetoresdeatividade,anegligenciarasobrigaeseoscontratos
sociaisquedevemexistirentreasempresaseosseustrabalhadores.
Finalmente, a explorao de recursos naturais pode ter impactos muito negativos
sobre a economia local, originando a desestruturao de setores da economia
domstica, e agravando as condies socioeconmicas da populao. No caso
brasileiro, vrios autores tm alertado para os riscos da excessiva concentrao do
minriodeferronapautadeexportaesdebensminerais,destinadas,nasuamaior
parte a um nico comprador, a China. De acordo com o PNM, em 1990, a China
importava2%dominriodeferrobrasileiroeestasubstnciarepresentava5%nas
exportaes totais brasileiras. Duas dcadas depois, em 2009, esses percentuais
passaram para 59% e 9%, respetivamente (PNM; 2011), configurando,
potencialmente, um risco de especializao reversa da pauta de exportaes: de
acordo com dados do IPEA (2009), em 2000, 42% dos bens exportados estavam
classificadoscomocommoditiesebensenergticos,enquantoosbensdemdiaealta
intensidade tecnolgica correspondiam a 36% das exportaes. Em 2008, essas
percentagenspassarampara56%e27%,respetivamente(PNM,2011).
Emsntese,umacondioimprescindvelparaprevenirouminimizarosefeitosda
doenaholandesaqueexistaumafortecapacidadedegovernaoeumaarquitetura
institucional robusta, para que os desafios do desenvolvimento coletivo se
sobreponham aos interesses particulares ou de grupos de interesse. Infelizmente,
no o que acontece na maior parte dos casos, sendo a qualidade da governao
bastantedbil.
Nosanosmaisrecentes,tememergidoumconsensointernacionalsobreoconjunto
demedidasaseremempreendidasdemodoqueaexploraodosrecursosnaturais
possa,efetivamente,contribuirparaodesenvolvimentosustentvel.
Por um lado, por em prtica um conjunto de medidas de salvaguarda social e
ambiental,demodoareduzirosimpactossociaismaisnegativos(deslocalizaodas
populaes,perdadeemprego,fracaligaocomaatividadelocal),mitigarosdanos
ambientaiselutarcontraacorrupo.
51
Os recursos naturais so, por definio, localmente esgotveis, pelo que o grande
desafio em termos de polticas pblicas ser o de criar condies para desenvolver
uma economia local sustentvel, que sobreviva insustentabilidade dos recursos
naturais,emtermosdecriaodeemprego,deenvolvimentodosparceiroslocais,da
criao de infraestruturas e da criao de capacidade institucional e governativa,
aproveitando as receitas da explorao dos recursos naturais para financiar esses
objetivos(Figura4).
Figura4Desafios(in)sustentabilidadedosrecursosnaturais
OconceitodeResponsabilidadeSocialEmpresarial(RSE)
umconceitorecente,quecomeaaassumirumamaiorimportncianosanos1990,
comoaumentodoprotagonismodasempresastransnacionaisnaeconomiaglobal,e
nos pases de acolhimento em particular. Est intimamente ligado ao processo de
globalizao,essuasconsequnciasnegativas,dopontodevistasocial:decorreda
concorrncia desenfreada dos pases pela captao de capitais externos, e pela
dificuldadeemresponsabilizarasETN,cadavezmaisglobalizadas,pelassuasaes
concretas num determinado pas. Em vrios pases, a emergncia de preocupaes
comasustentabilidadeambientalesociallevanecessidadedeequacionarumaao
conjunta entre ETN, governos e organizaes internacionais, no sentido de definir
aes que promovam a RSE, numa dinmica de rede e interao entre os vrios
agentes.
So necessrias formas alternativas de regulao, que no passem somente pela
atuao dos governos, mas envolvam tambm as prprias ETN, monitorizadas pela
sociedade civil. Como refere Fernandes (2006), a responsabilidade social um
conceito amplo, porque diz respeito empresa se empenhar na construo de uma
sociedademaisjustaeambientalmentesustentvel,incluindoquestesrelacionadas
52
a direitos humanos, trabalho, relaes com a comunidade e a sociedade e relaes

entrefornecedores,fornecedoresdeseusfornecedoreseconsumidores
Embora a RSE tenha emergido diferenciada em vrios pases, incorporando
elementos da cultura de negcios local, possvel detectar um padro de evoluo
mais ou menos comum em vrios pases. A primeira gerao de prticas de RSE
geralmentecaracterizadaporumconjuntodeprticasadhoc,derespostaaquestes
ambientais e a ameaas sobre o desenvolvimento do negcio. Asegunda gerao j
testemunha o empenho das vrias empresas a introduzir uma abordagem mais
profissionalizante,definindocompromissoseobjetivos,ereportandooimpactodos
mesmos sobre a respectiva performance. A terceira gerao pressupe que as
empresas definam as suas estratgias negociais no contexto do desenvolvimento
sustentvel, o que implica contriburem ativamente para criar impactos positivos
sobreascondiesdevidadoshabitanteslocaisesobreoambiente.
Entre os fatores determinantes para a construo da RSE, destacamos a rpida
globalizao da economia, com efeitos na sociedade, ambiente e estratgias
empresariais; o declnio da influncia estatal na esfera pblica, ascenso do
neoliberalismo nos anos 1980 e a consequente transposio do poder governativo
para a sociedade civil. A formulao da business ethics (acadmicos, policymakers,
ETN): a prpria ETN reconhece os ganhos que ter, para a imagem pblica, da
definiodeumapoliticadeRSE.
Na verdade, no existe uma definio global, mas um tema comum: preencher um
conjunto de requisitos legais e expectativas ampliadas dos stakeholders, de modo a
contribuir para uma sociedade mais equitativa e harmoniosa, atravs de aes no
localdetrabalho,nosmercados,nacomunidadeeatravsdepolticaspblicasede
parceriasentreosvriosmembrosdasociedadecivil.ComorefereFernandes(2006),
existe uma relativa contradio, entre a atuao do empresariado que na mdia j
incorporoubemrazoavelmenteoambientaleutilizaodesenvolvimentosustentvel
como uma palavra chave includa em todos os seus textos das estratgias
empresariais, mas que em relao ao social, na mdia, s aceita pouco mais do que
ummnimonoqueserefereatodasassuasobrigaeslegais.
Entre os vrios contribuintes para a definio, destacamos a posio oficial do
governo chins, que enfatiza a responsabilidade das empresas perante a sociedade
civil e o ambiente, considerando que as empresas, ao mesmo tempo que
desempenham a sua funo principal de criar valor, tm de prestar contas aos
acionistas, trabalhadores, consumidores, fornecedores, a comunidade no seu
conjuntoeosstakeholders,emgeral,assimcomoprotegeroambiente.
Como verificamos, a RSE encarada, do ponto de vista do discurso oficial, numa
posio holstica, integrada. Por seu turno, o governo britnico procura conjugar
interessescompetitivoseinteressesocial,embuscadodesenvolvimentosustentvel.
TalconcepoprevqueasempresasdesenvolvamprticasdeRSEqueimplicamem
53
uma atuao voluntria, para alm dos critrios mnimos legais, no respeito pelos
interesses competitivos e pela sociedade no seu conjunto. Finalmente, o Banco
Mundial percebe a RSE como uma convergncia de interesses de todos os
intervenientes sociais, de modo a melhorar o contexto de atuao dos agentes
econmicosempresariaisedaqualidadedevidadacomunidade.
NocasodoBrasil,comorefereKirshner(2009),apardesituaesquerelatamuma
ausncia de efetiva RSE, existem casos de empresas que desenvolvem uma atuao
viradaparaacomunidade,assumindoresponsabilidadesqueseestendemparaalm
dassuasatividadeshabituais.Attulodeexemplo,relatamosocasodaETNAlcoaeo
projeto Viva a vida, em que a empresa ajuda a construir um conjunto de pilares de
atuao social, promovendo iniciativas nos domnios da sade, segurana,
alimentao e cultura da comunidade, agindo atravs da mudana de hbitos dos
prprioshabitanteslocais.A UnilevereoprojetoMais vida, quedesenvolveuvrias
intervenes no municpio de Araoiaba (Recife, PE), caracterizado por uma
profunda pobreza e depauperao, com vista melhoria das condies de vida da
populaolocal,alavancandoprojetosdedesenvolvimentosustentvel,promovendo
aes sociais e de capacitao profissional e colaborando com organizaes
ambientais.AempresaaderiuaumainiciativadomovimentoGreenpeace,em2008,
apelando suspenso do corte de palmeiras, mesmo sendo uma das principais
utilizadorasdoleodepalmaparaofabricodeprodutosdehigiene.Essasatividades,
que procuram minimizar os efeitos sociais e ambientais do extrativismo, envolvem
melhoriasnaredeescolar,habitaoeinfraestruturaslocais.
Estescasosenfatizamopapelqueainterrelaoentreestasgrandesempresaseas
comunidadeslocaispodetercomocontribuinteparaodesenvolvimento,aomesmo
tempo, expem as fragilidades dos poderes pblicos em dinamizar essas redes de
cooperao: tudo depende da iniciativa e empenho das empresas envolvidas, numa
situao que caracterstica de grande parte dos pases em desenvolvimento com
grandes dotaes de recursos naturais. As ETN, por definio, atuam em zonas de
jurisdio transversal, pelo que so menos suscetveis a serem condicionadas por
normativos dos pases de acolhimento. Neste contexto, tornase ainda mais
fundamental a construo de redes de atores, formados por vrios atores da
sociedade civil (empresas, governos, agncias, consumidores, fornecedores, ONG,
comunidade em geral), que induza a prticas empresariais condizentes ao
desenvolvimentosustentvel(verFigura2).
Por outro lado, como referem Gifford et al (2010), historicamente os pases em
desenvolvimento onde estavam instaladas grandes ETN no tinham grande
influncia sobre a atividade dessas empresas, mesmo nos seus prprios territrios,
dada a dimenso e poder daquelas e a fraqueza das arquiteturas institucionais
autctones.Comoadventodainternetedaglobalizaodosmeiosdecomunicao
social, da proliferao de ONGs e de fundaes e associaes da sociedade civil, a
atividade daqueles agentes econmicos tornouse mais exposta avaliao da
54
sociedade internacional, o que aumenta a sua responsabilidade social face aos

territriosondeestoinstalados.OimpactodaatuaodasETN,particularmentedo
pontodevistasocialeambientalnasregiesdeexploraodosrecursosnaturais,ea
pressodaopiniopblicainternacional,maisdoquedas autoridadeslocais, levou
muitasdaquelasempresasadesenvolveremesforosconjuntoscomparceiroslocais,
muitasvezesnotradicionais(tribos,porexemplo)paradesenvolverestratgiasde
RSE.
Fonte:AdaptadodeGonzalezPerezetal(2011)
Figura2ArededaResponsabilidadeSocialEmpresarial(RSE).
Ao contrrio do que acontecia h cerca de 30 anos, as prticas de sustentabilidade

estosetornandoumafontedevantagenscompetitivasparaasempresasnosetorda
minerao, aportando benefcios para a imagem da empresa e maior facilidade de
acessoaosrecursos,enquantoosurgimentodeacordoseorganismosinternacionais
fomentamodesenvolvimentodaRSE:soexemplosmaissignificativosacriaoda
Comisso Internacional de Minerao e Metais, em 2001, e a formao da United
Nations Global Compact, em 2002, em que os respetivos membros, as ETN, se
comprometem a desenvolver prticas negociais social e ambientalmente
responsveis.AprpriaOCDElanou,em2000,oGuiaparaaAtuaodasEmpresas
Multinacionais, onde esto listados os requisitos e padres que as empresas devem
assegurar voluntariamente, em reas como o emprego e as relaes industriais, os
direitos humanos, ambiente, combate corrupo, interesse dos consumidores ou
inovaoedesenvolvimento.
55
Como natural, a motivao das ETN para participar neste tipo de iniciativa no
orientada, exclusiva ou mesmo primariamente, por fins altrustas ou humanitrios.
Existe uma preocupao com a imagem pblica da empresa, face crescente
exposionamdiaeaoacrscimodaspreocupaescomasustentabilidadenoseio
daopiniopblicainternacional.Poroutrolado,asempresasquepromoveremaes
deRSEpodemterumacessoprivilegiadoadeterminadotipoderecurso,conseguem
diminuir os custos de transaes pelas boas relaes com as instituies e com os
responsveisgovernamentaislocais,aumentarosganhosdeeficincianaadoode
equipamentosmenospoluentes,porexemplo.
Como refere Fernandes (2006), nos anos 2000, podese afirmar que a
responsabilidade socioambiental, no um adendro, um apndice facultativo s
atividadesestratgicasdaempresa,massimaformacomoumaempresagerida
nocontextodaglobalizaoehojeumreferencialcompetitivoparaasempresasde
todosossegmentosdemercado.Estefatorpossuiimportnciaestratgica,epoder,
num futuro prximo, ser to importante como a qualidade, a competitividade, os
preoseacapacidadedeatrairmodeobraaltamentequalificada.
7.OcasodaMetaleurop:daFranaaSantoAmaro,aimportnciada
governao
Aproblemtica
Umdoscasosmaisfamosodepoluioresultantedecontaminaoporchumboo
daempresaMetaleuropNord,cujaatividadeafetou,durantemaisdeumsculo,uma
regio do noroeste da Frana, o Nord Pas de Calais, e se tornou emblemtica pelas
implicaes que teve de articulao da RSE com a capacidade institucional e de
governao. Cobrindo uma rea de cerca de 120 km2, a regio foi dominada pela
exploraodeduasgrandesempresasmetalrgicas:MetaleuropeNyrstar.Durante
maisdeumsculo,asduasfbricas,comatividadesrelacionadascomaextraodo
carvo e com atividades metalrgicas, emitiram para a atmosfera quantidades
considerveisdeelementosmetlicos,contaminandosolos,ar,guaerios(chumbo,
cdmio, zinco). Os rejeitos aquferos e o transporte fluvial dos minerais originaram
uma forte contaminao dos sedimentos do Canal de Deule, que passa pela regio
onde estiveram situadas as duas fbricas, a Metaleurop em NoyellesGodault e a
NyrstaremAuby,distandomenosdequatroquilmetrosumadaoutra,comosepode
verpelafigura3,aolongodoCanaldeDule.
AsorigensdaMetaleuropremontama1894,quandoaempresafrancesaMalfidano,
instalanaregiodeNordPasdeCalaisumametalurgiaparatratarmineraisdezinco.
Essa fbrica, localizada especificamente na cidade de NoyellesGodault, foi ocupada
pelos alemes, e utilizada como um depsito de munies durante a I Guerra
Mundial,tendosidocompletamentedestrudaporbombardeiosem1917.Aempresa
renasceu em 1920, com a compra por parte da empresa francesa Penarroya,
56
tornandoserapidamenteumdosmaioresprodutoresmundiaisdechumboezinco,a
que se juntaram mais tarde as produes de germanium, ndio e trixido de
antimnio, a partir de 1976. A importncia da regio muito considervel: era
responsvel por 2/3 da produo nacional de chumbo, 1/3 da produo de zinco,
sendo tambm o primeiro produtor mundial de germanium e de indo, a que se
juntavamasproduesdecdmio,prataearsnico,entreoutras(SAFIR,2012).
Figura3BaciametalrgicaemNordPaddeCalais,comasduasempresas,Metaleurope
Nyrstar.
Figura4AregiodeNordPasdeCalaiseacidadedeNoyellesGodault
57
Em1988,foicriadaaMetaleurop,atravsdafusodaPenarroya,edeumaempresa
demetaisnoferrososalem,Preussag.
Nosanos1980,aempresajconstituaumaunidadedeproduoquecausavagran
des nveis de poluio, nos solos, no ar, na gua e nos seres humanos. A partir dos
anos 1970, j como resposta poluio que afetava os solos e a gua, so
desenvolvidostrabalhosderemediao,quevisavamareduodosresduos,comoa
filtraodosfumosouotratamentodeguas.
Noentanto,eapesardasmedidas,aquantidadederejeitospermaneciaassustadora
menteperigosa;em2001,ocomplexoproduzia18,3toneladasdechumbo,26tone
ladasdezinco,0,8decdmio,6800dedixidodeenxofreeainda10a15toneladas
derejeitosindiferenciados.
Para,almdisso,osistemadefiltraoadotadotinhaumefeitoperverso,poispermi
tiaapassagemdaspartculasmaisfinas,justamenteaquelasquesomaisassimil
veis pelo organismo humano, em particular o das crianas, que foram particular
mente afetadas pelo saturnismo, nos municpios de CourcelleslesLens, Dourges,
EvinMalmaison,LeforesteNoyellesGodault.Oprogramadeavaliaodosaturnismo
identificou11%dascrianasregistrandoumataxadechumbonosanguesuperiora
100 g/por litro de sangue, o mximo aceitvel, especialmente na cidade de Evin
Malmaison,ondeataxaatingiuunsassustadores25%decrianascomumnvelde
chumbo no sangue 40 vezes superior ao aceitvel (FRANGI; RICHAR, 1997) . De
acordo com a DIRE (Direo Regional da Indstria, Pesquisa e Ambiente), sero
necessrios entre 5000 a 10000 anos para descontaminar as reas poludas. As
pesquisas desenvolvidas ao longo dos ltimos 15 anos para identificar casos de
envenenamentoporchumbonaregiorevelaramaexistnciade260ocorrncias,em
crianas, enquanto, entre 1996 e 2001, foram registrados 36 casos de
envenenamento entre os trabalhadores da fbrica, tendo outros 172 sido
consideradosinaptosparaaatividadeprofissional(SAFIR,2012).
Noentanto,asvriascampanhasdesenvolvidasparalutarcontraosaturnismoreve
laramumaquedadosnveisdechumbonosanguedepoisdofechamentodafbrica:
em2000,27crianastinhamumataxadechumbonosanguesuperiora100g/por
litrodesangue;em2002,registravamse30crianascomessevalores,32em2003,
tendoonmerobaixadopara7em2004(jdepoisdoencerramentodocomplexo)e
1 criana em 2006, embora houvesse registros de um nmero significativo de
crianas com nveis muito prximos do mximo permitido. Em 2009, os nveis de
chumbo presentes no sangue de crianas pequenas ainda eram superiores aos
admissveispelaOrganizaoMundialdeSade.
Haindaqueseregistrarosacentuadosnveisdepoluiodaguaedossolos,que
teriam alcanado uma rea superior a 45 quilmetros quadrados, tornando a terra
imprpriaparaculturasoupecuria.
58
Nasequnciadedoisacidentesgraves,em1993e1994,queprovocaramamortede
umadezenadetrabalhadoresdaempresa,oacionistaprincipal,aPreussag,retirase
docapitaldaMetaleurop,sendosubstitudapela Glencore,empresaconhecidapelas
suas atividades na explorao de matriasprimas, dando origem empresa
Metaleurop Nord. Vrios registros mencionam que a Metaleurop transferiu para a
Metaleurop Nord as perdas financeiras associadas aos dois acidentes, o que, num
contexto de baixa generalizada dos preos mundiais de commodities, no ter
contribudoparaasadefinanceiradaempresa.Depoisdeefetuarmaisdeduascen
tenasdedespesas,aempresamedecideencerrarocomplexoindustrialdeNoyelles
Godault, justificando a ausncia de financiamento por parte do setor financeiro e a
necessidade de garantir a estabilidade financeira do grupo. No incio de 2003, a
empresasolicitaadeclaraodefalnciajuntodoTribunaldePrimeiraInstnciade
Bthune,sendoasentenaproferidadoismesesdepois.Todoocomplexoindustrial
encerrado, lanando no desemprego 830 trabalhadores e deixando um aterrador
passivoambiental:aregioconsideradaamaispoludaemtodooterritriofrancs,
jquenaalturadoencerramento,afbricaaindaemitia50quilogramasdechumbo
pordia.
OsrepresentantessindicaisformalizaramumaaojuntoaotribunaldeBthune,em
abril de 2003, com o objetivo de liquidar os bens da empresa me, Metaleurop, e
obrigaraempresaaassumirassuasresponsabilidadeslegais:umplanodeseguros
aostrabalhadoresdespedidos,opagamentoadezenasdesubcontratadoseofinanci
amentodarecuperaoambientaldaregioafetada.Otribunalrejeitouaao,eos
trabalhadoresviramseobrigadosaaceitarumplanosocial,financiadopelogoverno
francsepelaSGS(SegurodeGarantiadosSalrios),financiadopeloMEDEF,afede
raofrancesadeempresrios,comvaloresmuitomaisreduzidosdoqueossolicita
dosanteriormente(SAFIR,2012).
Aremediao
OencerramentodocomplexoindustrialdaMetaleuropNordoriginouumconjuntode
consequncias devastadoras sociais, econmicas e ambientais, que no foram re
solvidas, como testemunhamos acima, por prticas de Responsabilidade Social
Empresarialporpartedaempresaenvolvida.
Nestecontexto,aprefeituradeNordPasdeCalaisencarregaaADEMEAgnciapara
oAmbienteeEnergiafrancesadeprogramarumconjuntodemedidasdegestodo
risco, envolvendo agentes da sociedade civil, Municpios, vrias universidades fran
cesas de renome, agncias nacionais de proteo ambiental e vultosos fundos
comunitrios,pararesolveroproblema.
O encerramento da Metaleurop significou o desemprego de 830 trabalhadores,
aumentandoataxadedesempregonaregiopara30%(40%paraosmaisjovens),
umconjuntodetradiesfamiliaresquesequebram(variasgeraestrabalharamna
empresaaolongodemaisdesculo),eaindaumaperdade3milhesdeeurosem
59
receitasprovenientesdetaxasprofissionaisparaosmunicpiosemcausa,nomeada
menteNoyelleGodaulteCourcellelesLens.
Dopontodevistaambiental,asconsequnciassotambmdevastadoras,comuma
empresaobsoletaeumafbricaondeseacumularamvriasdezenasdemilharesde
toneladasderejeitosindustriaisperigosos,gerandopoluioparaasregiesadjacen
tesdurantemaisde100anos.
Atualmente,todooestaleiropropriedadedaempresa SITA,pertencenteao Grupo
SUEZ,quedesmanteloucompletamenteasantigasinstalaesdaMetaleurop,reabili
tandoolocal,paraacolherumconjuntodeatividadesecoindustriaisedereciclagem.
Paraareconversodaregio,umprocessomuitocomplexoefinanceiramenteone
roso,foinecessrioaintervenodevriosatores,dosquaisdestacamosaDRIRE
DireoRegionaldeIndstria,PesquisaeAmbientefrancesa,quepsemmarchaum
plano formado por duas vertentes: um conjunto de medidas de acompanhamento
comcarterdeurgncia,eumplanodereconversodaregionumhorizontedem
dioprazo.
Asmedidasdeurgnciaeramdendole,essencialmente,social,agindosobreostra
balhadores desempregados e sobre os subcontratados, que receberam ajuda finan
ceiraatconseguiremencontrarnovaatividadeprofissional.
Oplanodereconversopreviaavalorizaodosfatoresdeproduolocais(infraes
truturas, mo de obra qualificada, centros de pesquisa), tendo sido criadas vrias
zonasdeatividadesehotis,assimcomoumazonafranca,oquepermitiusempre
sasbeneficiaremsedeisenesfiscaisesociais.
Logoaps a falnciadaempresa tersidodecretada,otribunal deBthune,quejul
garaocaso,lanouumapeloaempresasquequisessemporemprticaumplanode
descontaminaodarea.AempresaSITAelaborouumplanoemcomumacordocom
as entidades locais, com antigos sindicalistas e trabalhadores, com uma dupla
orientao: sanitria, para que a descontaminao fosse rpida, e econmica, para
criaroufavoreceracriaodeempregos.
O projeto Agora foi selecionado para reconverter todo o estaleiro da Metaleurop,
atravsdaempresaSITA,apartirdenovembrode2003,combaseemcompromissos
recprocos.Entreessescompromissos,destacamse:arealizaodeestudosprvios,
nomeadamente uma anlise detalhada dos riscos que tinham sido pedidos, sem su
cesso, quer Metaleurop, quer entidade liquidatria. Os antigos empregados da
empresativeramumpapelmuitoimportanteneste processo, poisdetinhamconhe
cimentosinsubstituveissobreosriscosinerentesaoprocesso.ASITAcomprometeu
setambmatornararegioaptaparaumanovautilizaoindustrial,assimcomoa
realizar um inventrio dos rejeitos, tratalos e evacualos, desmantelar as antigas
mquinas e instalaes, limpar e lavar os edifcios retirarlhes o amianto e, final
mente,demolilosparatratarapoluiodossolos.Tambmerasupostaacriaode
190empregos,atravsdaimplantaodeumecopolo.
60
OestadofrancsearegiodeNordPasdeCalaisforamenvolvidosemtodoopro
cesso,nomeadamenteatravsdeumaparticipaofinanceirademaisde13milhes
deeuros.
Ostrabalhosdedescontaminaoforammuitosignificativos:maisde130miltonela
das de rejeitos foram tratadas, e 40 mil toneladas valorizadas; 83000 metros qua
dradosdeamiantoforamdesmantelados;umasuperfciede500milmetrosquadra
dos foi descontaminada e confinada. No total, estes trabalhos permitiram reduzir o
impactoambientalemcercade10000vezesmenosaquantidadedenuvensdepde
chumbo,zincoecdmio.
importanteressaltarque,logoem1994,tinhasidocriadopeloConselhoRegional
daRegiodeNordPasdeCalaisumprogramaintituladoProgrammedeRecherches
Concertes(ProgramadePesquisasConcertadas)sobrelocaisesolospoludos.Este
Programa permitiu acompanhar, at 2009, equipes de pesquisadores regionais
dedicadas contaminao dos solos em redor das grandes metalurgias, e que
visavam, essencialmente, analisar o impacto dos poluentes sobre o ambiente e a
sadehumana.Essespesquisadorestrabalharamemestreitaligaocomequipesdas
Universidades de Lille I, Lille II, Escola de Minas de Douai, do INRA (Instituto
Nacional de Pesquisa Agronmica), do CNRSSP (Centro Nacional de Pesquisa sobre
Locais e Solos Contaminados), entre outros. Foram tambm realizados estudos a
pedido de parceiros industriais e institucionais (empresas, cmaras agrcolas e de
comrcio,coletividadeslocais,etc), evidenciandoa participao devriosatoresda
sociedadecivil.
Em simultneo, durante o perodo de implementao do Programa, vrias equipes
externasregiointervieram,eminteraocomoutrosprogramasregionaisligados
sadeeaoambiente,numaabordagemtransdisciplinar,comodesenvolvimentode
pesquisas relacionadas com a contaminao de solos cobertos por gramneas, da
qualidade dos produtos hortifrutcolas, a exposio aos contaminantes de crianas
pequenas ou a implementao de ferramentas de diagnstico no domnio da
ecotoxicologiaoudafitoestabilizao,porexemplo.
Nestecontexto,desalientaraaodaADEME,aagnciadeambientefrancesa,que
contribuiu para o desenvolvimento de conhecimentos atravs do financiamento de
teseseprogramasdepesquisapluridisciplinares.
DuranteoperododeatividadedaMetaleuropNord,aADEMEtinhaconseguidode
monstrarqueasproduesvegetaisouagrcolaslocaisapresentavamconcentraes
de chumbo e cdmio que ultrapassavam os valores regulamentares em vigor, pelo
que,apartirdemeadosdosanos1990,ecomoobjetivodeimpediraplantaode
produtosagrcolasemsoloscontaminados,sedecidiucriarumcinturoverde.Assim,
cada ano, entre cinco a 10 hectares eram reconvertidos, com a instalao de uma
vegetao herbcea e plantao de rvores. Desde o final de 2009, este dispositivo
experimental foi integrado num vasto programa pluridisciplinar, o Phytener,
61
financiadopelaADEME,comvistaaavaliarointeressedafitoestabilizaocomfins
energticosemsolosfortementecontaminados.
Estes mesmos trabalhos tambm permitiram empregar 140 pessoas, em que um
teroeradeantigostrabalhadoresdaMetaleurop.Desdejaneirode2006,foilanado
um programa de desenvolvimento de uma zona voltada para atividades tercirias,
comareabilitaode8000quilmetrosquadradosdeescritrioselocaisparaativi
dades regionais. Nesta zona, foram criados mais de 160 empregos, ligados a
atividades como a coleta de rejeitos, operao de caldeiras industriais, atelier de
mecnica e reparao, lavanderias industriais, um gabinete de estudos ambientais,
entreoutros.
Notas Finais: uma nova gerao de polticas de promoo do

investimentocentradasnaRSE
O Relatrio da UNCTAD (2012) sobre IDE revela que os pases continuam a imple
mentarpolticasfacilitadorasdoIDE,masosetordamineraofoionicoaendure
cer as regras e a incrementar prticas de sustentabilidade. Em vrios pases, de
acordocomoRelatrio,verificouseumacrscimodaspolticasregulatriasnosetor
daminerao,incluindomesmonacionalizaes,expropriaes,assimcomoaumen
tonastaxassobreoslucrosdasempresas,royaltieserenegociaocontratual.
AspreocupaescomoscompromissosassumidosnombitodaRSEforam,tambm,
umaconstante,comumgraudecomplexidade,porvezes,superioraosvigentesnas
economiasdeorigemdasempresasemquesto.DeacordocomoRelatrio,assiste
se emergncia de uma nova gerao de polticas de investimento, que, num
contextodecrisepersistenteedesafiossociaiseambientais,caracterizadaporuma
preocupao de conciliar a liberalizao dos regimes regulatrios do IDE com a
implantaodepolticaspblicasdirecionadasparaasnecessidadeslocais.
Comofoireferido,anovageraodaspolticasdeinvestimentovisaoperacionalizar
oconceitodedesenvolvimentosustentvelemmedidasemecanismosconcretos,ao
nvel nacional e internacional, nos planos do policymaking e da respectiva
implementao.
Estasnovaspolticasvoprocuraratingirtrsobjetivoscentrais:criarsinergiascom
polticasdefomentoindustrial,visandoumaintegraodasestratgiasdedesenvol
vimento, e baseadas num envolvimento dos stakeholders e num enquadramento
institucionalbaseadonodireitoenaqualidadedagovernao;incentivaraodesen
volvimentoecumprimentodaRSE,aonveldobenchmarkinginternacional;assegu
rar o cumprimento dos direitos e deveres de todos os intervenientes: ao estado
receptordoIDEcabepromovereprotegeroinvestimentoenquadradonosobjetivos
dedesenvolvimentosustentveleointeressenacional.
62
Oinvestimentonacionaleinternacional,decarterprodutivo,podedesempenharum
papel extremamente importante nas economias em desenvolvimento, muitas vezes
afetadasporumainsuficinciadecapitalprodutivo,promovendoacompetitividade
internacional,atransfernciadetecnologiaeaformaodecapitalfsicoehumano.
Mas,naausnciadecapacidadeinstitucionaledegovernaoepolticaspblicasin
tegradoras,omesmoIDEpodefomentarprocessosdecrescimentoecaptaodere
ceitasemqualquerligaocomaeconomialocaloucomaqualidadedevidadaspo
pulaes. Neste contexto, as crescentes importncias dos compromissos assumidos
no mbito da RSE possam, influenciando prticas empresariais, comportamentais e
decises de investimento, funcionar como complemento do enquadramento
regulatrioemaximizarosbenefciosdoinvestimento.
OcasoprticoqueanalisamosaMetaleurop,nonoroestefrancs,podeserconside
radoumparadigmadasconsequnciasqueresultamdaausnciadeprticasdeRSE,
edanecessidadedeenvolverosvriosatoresdasociedadecivilnaprocuradesolu
esparaproblemastransversais,comoocasodosdanosambientaisedasproble
mticas socioeconmicas, que requerem uma dinmica rede de atores e interaes
parafuncionareficazmente.Comovimosascatstrofesambientaise/ousociaisno
so exclusivas dos pases em desenvolvimento, ocorrendo tambm em pases com
nveisderiquezaedesenvolvimentoeconmicorelevantes,comoocasodaFrana.
A grande diferena que, nestes ltimos casos, existe, para alm da capacidade fi
nanceira, a capacidade institucional necessria para contrariar estratgias menos
sustentadas das grandes empresas transnacionais, e induzilas a participar ativa
mentenoprocessodeconstruoemanutenodacidadania.
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Desafios e propostas para o enfrentamento da contaminao

porchumbo em Santo Amaro
1
MaizaFerreiradeAndrade
Introduo
Passadosquase20anosdofechamentodametalurgiadechumboemSantoAmaro,o
interesse por este campo de estudo crescente se observada a evoluo das
pesquisas ao longo dos ltimos 37 anos, desde que a contaminao por chumbo e
cdmioprovocadapelaCobracapresentousuasprimeirasevidncias,tantonasguas
do rio Suba, quanto na urina dos trabalhadores da antiga fbrica (BAHIA/CEPED,
1977).Altimadcadafoioperododemaiorproduodepesquisasrepresentando
61% do total desde 1975 (ANDRADE, 2012) e a razo disso a persistncia da
contaminaoquetemsidoevidenciadaemestudosrecentes(CARVALHOetal.,2001;
GUERRA, 2010; ZENTNER; ROND, 2004; ZENTNER; ROND; LATORRE, 2005;
ZENTNER;ROND,MASTROENI,2006;ZENTNERetal.,2008).
Aessas evidnciassomamseaquelasqueapontamparaosentimentodesaturao
dossantamarensespormaispesquisas(BAHIA/CEPED,1977;BRASIL,2003;DIGIULIO,
2010).Essedadorevelaumparadoxo entreo grandiosoempreendimentocientfico
desenvolvido em Santo Amaro, que beira uma centena de relatrios tcnicos,
dissertaes de mestrado, monografias de graduao, teses de doutorado e artigos
publicados e a insuficincia de aes no sentido de fazer cessar a fonte de conta
minao. Este artigo, construdo a partir dos dados da dissertao A contaminao
por chumbo em Santo Amaro: a cincia e o mundo da vida no esturio do rio Suba
(ANDRADE, 2012), discute essa problemtica e faz algumas recomendaes para a
superao do embate latente entre a cincia e o mundo da vida, tomando como
referncia os limites da metodologia da avaliao de risco sade humana e o
paradigmaemergentedaparticipaodosinteressadosnadefinioeenfrentamento
dosriscos.
Avaliaoderiscosadehumana
Em Santo Amaro, convivese com o fato da contaminao como se natural fosse. A
cidadeesttodacontaminadaout todomundocontaminadosoexpressesdo
senso comum naquela comunidade. No esturio do rio Suba, a rotina de
marisqueiras e pescadores em nada se alteraram ao longo de todos esses anos em
que o rio recebeu toneladas de metais pesados, e outras contribuies de efluentes
JornalistaemestrepeloProgramadePsGraduaoemSade,AmbienteeTrabalhoPPGSAT
daFaculdadedeMedicinadaBahia/UniversidadeFederaldaBahia.
65
industriaisedomsticosdesdeasuanascente,emFeiradeSantana,a55kmdafoz,
na baa de Todos os Santos (BAHIA/CEPED, 1977). Com exceo da poca em que
ocorreu uma mortandade de peixes, ostras, siris, sururus e todo tipo de vida
estuarina,nadcadade1980,comolembramosmaisvelhos,nosedeixoudetirar
do mangue, ou das coroas, os mariscos, que garantem a sobrevivncia de muitas
famlias.Senoparouacoleta,tambmnocessouoconsumodessesprodutos,es
pecialmenteosururu,queteveoseuconsumodesaconselhadonaAvaliaodeRisco
Sade Humana por Metais Pesados em Santo Amaro realizada pelo Ministrio da
Sade,em2001(BRASIL,2003).
Parapescadoresemarisqueiras,otemacausadesconfortoumavezqueareferncia
contaminaodizrespeitoasuaatividadedesubsistncia.Odesconfortotambm
proveniente da falta de informaes precisas sobre a situao da contaminao no
esturio.Sim,estcontaminado,masonde,emquepartedoriotemmetaispesados,
onde que tem marisco contaminado, quanto tem de contaminao? (ANDRADE,
2012)soquestesqueumpescadorlevanta,desafiandooconhecimentotcnico.Um
possvelcaminhoparataisrespostasteriasidoaavaliaoderiscosadehumana.
Mas,assimcomoodamaioriadaspesquisasrealizadasemSantoAmaro,orelatrio
doMinistriodaSaderepousanumaestante.Nosomenteporqueorelatriono
esteja acessvel populao interessada, mas, tambm pelo fato de as suas
recomendaesaindanoteremsidocumpridas,aavaliaoderisconopareceter
cumprido o seu papel, especialmente quanto comunicao de risco (ANDRADE;
MORAIS,2010).
O grupo populacional das crianas foi o mais pesquisado, embora as primeiras
evidnciasdacontaminaoemhumanostenhamsidodetectadasemtrabalhadores
epescadores.Aopoporestudosepidemiolgicosdotipotransversalproporcionou
resultados rpidos e significativos da contaminao por chumbo em crianas, mas
no permitiu um acompanhamento mais prolongado dos efeitos desse metal no
desenvolvimento delas, sobretudo quanto ao aspecto cognitivo (GUERRA, 2010). Es
tudos de coorte que poderiam revelar tais relaes de causa e efeito foram
descartadosporseremmuitocarosemaisdemoradoscomorevelaosensocomum
entre epidemiologistas e gestores de sade. Da mesma forma, as medies das
concentraesdemetaispesadosnosolo,aregua,enabiotadorioSubatmsido
feitasdeformapontualnaspesquisas,nopermitindooconhecimentosistemticoda
qualidadeambientaldeSantoAmaro.
Diante da justa e veemente cobrana por solues que comea a pulsar em Santo
Amaro, como se pde perceber na fala do prefeito daquele municpio diante dos
especialistasreunidosemseminrioorganizadopeloCentrodeTecnologiaMineral,o
desafiopensarnoquefazercomopassivoambientalemtornode500miltoneladas
de escria de chumbo (ANJOS, 1998) e que tem sido apontado como a causa da
persistnciadacontaminao.Soluescomoadoprocessamentohidrometalrgico
a base de cido clordrico separaram os campos da Engenharia e da Sade em um
embatederacionalidadesqueparalisouadiscussodesde2008,quandooConselho
66
DesafiosepropostasparaoenfrentamentodacontaminaoporchumboemSantoAmaro
Estadual de Meio Ambiente opinou sobre a questo. Sem a participao qualificada

da comunidade de Santo Amaro nessa discusso, correse o risco de o valor de
mercado do chumbo e do zinco, remanescentes na escria, ser o balizador das
decisesaseremtomadas.
Neste sentido, cabe pensar em uma metodologia de avaliao de risco que avance
paraaconstruodeprticasdecomunicaoderisco,entendidaestanocomoum
mero canal para o contedo tcnico, mas como um processo de dilogo entre os
diferentes campos cientficos, os gestores pblicos e a populao interessada. A
ausncia das Cincias Sociais nas pesquisas sobre a contaminao em Santo Amaro
acompanhouumatendnciaglobalobservadadesdeadcadade1980peloscrticos
do modelo de avaliao de risco. recente o interesse desse campo cientfico,
notadamente da comunicao. A demanda por participao na tomada de deciso
envolvendo riscos uma tendncia irreversvel e desafia a busca por novas
metodologias para alm do que estabelece as agncias norteamericanas, que tm
sidoreferncianoPas.
Os pescadores (a incluindo as marisqueiras) ainda no receberam a ateno
recomendada pela avaliao de risco. A coleta de sururu no rio Suba a base da
subsistncia de cerca de 100 famlias segundo a prefeitura de Santo Amaro, que
estimaem800a1.000kgaproduopordia.Nasuaavaliao,oMinistriodaSade
deixadvidas.Oraafirmaque,partindodeSantoAmaroatafoz,emSoFrancisco
doConde,ossedimentosestotodoscontaminados.Oraespecificaqueosmoluscos
(sururus)queestocontaminadosprovmdeumanicacoroaedescartaasoutras
15estudadas.Nacomunidade,sabesequeestetipodemoluscoocorrenomanguee
noemcoroas.Extradosdomangueoudascoroas,osmoluscoscontinuamnadieta
dascomunidadespesqueirasedosconsumidoresqueapreciamestaiguaria.
Emboranovenhasendofeitoummonitoramentosistemticodossedimentosedos
produtosdabiotaquantopresenadosmetaispesados,concentraesdechumbo
foramencontradasnosanguedecrianas,nocordoumbilicaleemrecmnascidos
em Santo Amaro (GUERRA, 2010; ZENTNER; ROND, 2004; ZENTNER; ROND;
LATORRE,2005;ZENTNERetal.,2008).Essasanlisesdatamde2002,etiveramseus
resultados publicados nos ltimos anos por uma pesquisadora de outra nacio
nalidadequenotemcurrculoregistradonaPlataformaLattesdoConselhoNacional
de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). A autora cita nos artigos ter
obtido aprovao do estudo em comit de tica de duas unidades hospitalares de
Santo Amaro, mas esta informao no foi confirmada pelos gestores dessas
instituies.Ofatoapontaparaanecessidadedemecanismosdecontroledoaspecto
da tica em pesquisas com seres humanos em Santo Amaro, que inclua o acesso
pblicoaosprojetoseaosrespectivosrelatrios,bemcomoaoresultadodasanlises.
67
Retornodaspesquisas
A produo cientfica sobre o caso da contaminao por chumbo em Santo Amaro
teve incio no ano de 1975 e decorridos 36 anos constituda de pelo menos 26
pesquisas (15 de mestrado, cinco de doutorado e seis monografias) e 36 artigos
publicados (ANDRADE, 2012). Para verificar o dado do senso comum de que as
pesquisas no retornam para a comunidade, este estudo definiu como indicador a
disponibilidadederelatriosdepesquisasnasbibliotecasdacidadedeSantoAmaro.
Foram visitadas trs bibliotecas, duas pblicas e uma mantida por uma fundao,
bemcomo22escolassituadasnasededoMunicpio.Apenasduasdissertaesedois
artigos foram encontrados, que representam apenas 6,45% do total de teses,
dissertaes,monografiaseartigos.
Professores das escolas visitadas relataram a necessidade de material de consulta
sobre o caso da contaminao e da insuficincia de conhecimento do assunto por
parte deles. O conhecimento foi todo para fora. O acervo constitudo no presente
estudo foi doado Biblioteca Padre Jos Gomes Loureiro, de Santo Amaro, numa
tentativa de fazer voltar aos santamarenses o conhecimento que tambm lhes
pertence.Acreditasequeoacessoaoconhecimentoproduzidosobreocasopossavir
aserumimportantepassoparaqueacomunidadevenhaausufruirdosbenefciosdo
conhecimento produzido tanto pela sua aplicao tcnica, quanto pelo aumento da
massacrticadoscidadoslocais.
O debate em torno da questo do retorno dos resultados de pesquisas, embora
incipiente, mostrase mais aberto no campo das cincias humanas e tambm da
etnobotnica. Debert (2003) nos lembra de ter sido a antropologia a primeira
disciplina das cincias sociais a formular um cdigo de tica e de colocar em
discussoquestescomodarounoaospesquisadosacessoemprimeiramoobra
produzida. Do seu ponto de vista, imperativo nas cincias humanas politizar o
debate nesses domnios que afetam nossa vida cotidiana e a vida dos grupos que
pesquisamos(DEBERT,2003).
Interessadas em discutir o retorno do conhecimento etnobotnico sistematizado
comunidade,PatzlaffePeixoto (2009)afirmamqueoscientistasdestecampotmse
preocupado em compartilhar o saber com as comunidades pesquisadas. Tal
preocupao, contudo, teve propulso com o advento da Conveno sobre a
Diversidade Biolgica firmada em 1992 por 162 pases, incluindo o Brasil, que
estabeleceu como uma obrigao a repartio de benefcios derivados da utilizao
dos recursos genticos (DEBERT, 2003). Prticas de pesquisa em Sade Ambiental
tm demonstrado novos compromissos como o de no abrir mo de devolver os
resultados aos sujeitos da pesquisa como destaca a pesquisadora da Universidade
FederaldoCear,RaquelRigoto(RIGOTO,2010).
Freitas e Gomez (1997) j chamavam a ateno para os inmeros desafios que as
Cincias Sociais devem enfrentar para ampliar sua presena no campo da sade
ambiental, especialmente nas anlises de risco, dentre os quais o de incorporar o
68
sabereaparticipaodaquelesquevivenciameseencontramexpostosaosriscosno
seudiaadia.Falascomoadeumsantamarense,oconhecimentofoitodoembora,
revelam a percepo da no participao da populao local no empreendimento
cientficoemtornodocasodacontaminao.Emboranosequestionaaqualidade
das pesquisas sobre o caso da contaminao em Santo Amaro, essa fala, mais a
ausncia dos relatrios das pesquisas nos espaos pblicos da comunidade, como
escolasebibliotecas (BRASIL/CEPED,1977)sosintomasdaqualidadedarelaoda
cinciacomosaspectossociolgicoseticos(FUNTOWICZ;RAVETZ,1997).
Ataisdesafios,FuntowiczeRavetz(1997)recomendamademocratizaodacincia
comainclusodosafetadoscomoparticipantesdoprocessodeinvestigao.Esses,
noapenasenriquecemascomunidadestradicionaisdepares,criandooquesepode
chamardecomunidadeampliadadepares,comosonecessriosparaatransmisso
dehabilidadeseparaagarantiadaqualidadedosresultados (FUNTOWICZ;RAVETZ,
1997). Para esses autores, a incluso dos afetados no mero gesto tico, mas
poltico.Aspessoasquedependemdasoluodeproblemasqueestoameaando
suas vidas e sustento tm conscincia aguada de como os princpios gerais se
materializamemseusquintais(FUNTOWICZ;RAVETZ,1997).
Abordagens inovadoras de pesquisa baseadas na democratizao do conhecimento,
comoaepidemiologiapopular,tambmreferidacomopesquisaparticipativadebase
comunitria(LEUNG;YEN;MINKLER,2004)tmsemostradoadequadasemcontextos
nos quais o conhecimento cientfico reconhecido como algo inacessvel. Em casos
comoodeSantoAmaro,bemcomonodasdemaiscomunidadesextrativistasdabaa
de Todos os Santos, que so impactadas pela contaminao por metais pesados
(PAREDES et al., 1995) fazse necessrio a construo de processos de comunicao
deriscopartindodointeressedacomunidadesobreoquedeveserpesquisado,como
eafinalidadedapesquisa.DeacordocomLeung,YeneMinkler(2004),achadosde
estudosepidemiolgicospodemnosercomunicadosnacomunidadeemestudopor
medo de que esse conhecimento poderiaser perturbador,confuso,ou ambos: Por
deixar decompartilhartal conhecimento, entretanto, os epidemiologistasnegam
comunidadeaoportunidadedetornarsemaiscrticaeconscientedasuasituaoe,
finalmente,paraenfrentarosproblemasdescobertos(LEUNG;YEN;MINKLER,2004).
A discusso do retorno das pesquisas para as comunidades pesquisadas uma
discussoqueperpassaaquestodaticaempesquisa.Nestesentido,seaindauma
discusso incipiente nas Cincias Sociais, no campo das Cincias da Sade j tem
princpiosestabelecidoscomoocasodaResoluon196/96doConselhoNacional
de Sade CNS (BRASIL, 1996) que prev entre os aspectos ticos da pesquisa
envolvendo seres humanos, a garantia de retorno dos benefcios obtidos por meio
daspesquisasparaaspessoaseascomunidadesondeasmesmasforemrealizadas;a
comunicao s autoridades sanitrias dos resultados da pesquisa, sempre que os
mesmospuderemcontribuirparaamelhoriadascondiesdesadedacoletividade;
e assegura aos sujeitos da pesquisa os benefcios resultantes do projeto, seja em
termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da
69
pesquisa.Estaregulamentao,noentanto,omissanoquesereferecomunicao
dos resultados das pesquisas para os indivduos e comunidades pesquisadas. Por
aproximao, seria possvel interpretar como benefcios obtidos por meio das
pesquisas o conhecimento alcanado, e assim tratar o retorno dos resultados das
pesquisascomooretornosocialaquealudeaResoluon196/96.AResoluon
196/96revogouaresoluoanteriorn01/88doConselhoNacionaldeSade,que
restringiaasnormasdeticaempesquisasinstituiesdesade.Naresoluode
88 tambm no havia referncia comunicao dos resultados para os indivduos
objetos da pesquisa, mas se previa que o pesquisador devesse elaborar e
apresentar relatrios parciais e finais e publicar seus achados por outros meios,
respeitando o carter confidencial a que tm direito os indivduos objeto da
pesquisa.TaldesignaodosparticipantesdaspesquisasfoialteradanaResoluo
n 196/96 que passou a identificlos como sujeitos da pesquisa, estes definidos
comoos(as)participantespesquisados(as),individualoucoletivamente,decarter
voluntrio, vedada qualquer forma de remunerao. Esta nova designao
demonstrava a tendncia para uma nova postura em relao aos pesquisados, que
deixavamolugardeobjetoparaadesujeito.
Participao:umatendnciacontempornea
Os estudos tcnicos e quantitativos de avaliao de risco surgiram nos anos 60 em
respostasaosimpactosdaindstriaqumica,eaosprotestoscontrausinasnucleares,
sendo adotados inicialmente pelas agncias reguladoras norteamericanas e depois
servindodeparmetroparaoutrospases (FREITAS; GOMEZ, 1997; GUIVANT, 1998).
Parasubsidiaressasagncias,oConselhoNacionaldePesquisasdosEUA(National
Research Council/NRC), vinculado Academia Nacional de Cincias produziu uma
sriedeestudosvoltadosparaamelhoriadasdecisessobreriscosesadepblica,
seguranaemeioambiente.ComorelatrioUnderstandingRisks;InformingDecisons
in a Democratic Society (STERN, 2009), o NRC responde demanda por maior
participao do pblico nas decises e prope uma nova abordagem para a
superaodoparadigmadominantesegundooqualaavaliaoeacaracterizaodo
risco caberiam to somente aos cientistas, ficando separada do gerenciamento do
risco, este sim aberto ao envolvimento das partes interessadas (SHRADER
FRECHETTE,2010).
EssaquestonopareceresolvidanosEUA,setomarmosoestudodoNRC,Science
andDecision (NRC,2009),oqualdemarcaolugardaspartesenvolvidasnoprocesso
dedecisosobreriscos.Convocadoarevisarosconceitoseasprticasadotadaspela
EPA (Environmental Protection Agency) em anlise de risco, o National Research
Council (NCR) conclui que o risk assessment est numa encruzilhada, com sua
credibilidadedesafiada,eque,justamenteporseraprimeirabasecientficadaregu
laonocampodosimpactosambientaisnasadehumanacomimpactonacionale
global, est sujeito a um considervel escrutnio de ordem cientfico, poltico e
pblico(NCR,2009).Deacordocomorelatrio,oprocessodetomadadedecisocom
70
base em avaliao de risco tambm estaria atolado (bogged down) por conta das
incertezasdosdadoscientficosedassuasmltiplasinterpretaes.
No caso do Brasil, o conflito entre leigos e peritos no se d da mesma forma,
segundoGuivant(1998).Aqui,osleigostendemasemanifestarmaisapaticamente
narelaocomosperitos,oquetalvezexpliqueoporqudeotemanoteratrado
muito a ateno, hiptese que ela sugere para estudos futuros. Guivant tambm
observaqueopapeldosperitosnoPasnotocentralnaformulaodepolticas,
equeatuamprimordialmenteemauditoriasejuzos,concluindoqueacomunidade
acadmicanotemdadomuitaatenoaotemadosriscos.
Para Freitas e Gomez (1997), no Brasil, no campo da sade do trabalhador que
algumas experincias concretas de investigao de acidentes industriais e da
exposiodotrabalhadoraosagentesqumicostmcaminhadonasuperaodesses
desafios. Assim, tendo em vista a incipiente prtica da avaliao de risco no Pas
tornaseimprescindvelquesediscutaametodologiaadotadaincorporandomesma
oparadigmadaparticipaodopblico,especialmentedosmaisdiretamenteafeta
dos.Ferramentascomoacomunicaoderiscoquetambmfoiobjetodeestudosdo
NRC (Improving Risk Communication) (NCR, 1989), na dcada de 1980, mostramse
adequadas para alavancar tal discusso. De acordo com o NRC, a comunicao de
riscooprincipalelementodogerenciamentoderisconumasociedadedemocrtica
eserbemsucedidanamedidaemqueelevaacompreensodasquestesrelevantes
porpartedosenvolvidos,dentrodoslimitesdoconhecimentodisponvel.
Pensarqueaanlisetcnicadosriscossubstituiodebatepolticoprivardedireitos
aspessoasquenotmconhecimentotcnicoouacharqueaanlisetcnicamais
importanteparaatomadadedecisesdoqueosvalores.Noestamosminimizando
oconhecimentotcnico,masenfatizamosqueescolhastecnolgicassocarregadas
devalores.Assimcomoosnoexpertsdevembuscarconhecimentotcnico,osexperts
efuncionriospblicostambmprecisamconhecersobreinteresses,valoresepreo
cupaodosnoexperts(NCR,1989).
TomandoocasodaavaliaoderiscosadehumanarealizadapeloMinistrioda
Sade em Santo Amaro, possvel reconhecer a distncia entre o conhecimento
perito que caracteriza o risco e a conduta da populao considerada exposta. Um
exemplodissoqueaextraoeoconsumodemoluscoscontinuamfazendoparteda
rotinadapopulao,quenofoienvolvidanoprocessodeavaliaoderisco,apesar
de o esturio do rio Suba ter sido classificado como rea de perigo para a sade
pblicaporcausadaconcentraodemetaispesadosemseussedimentos.
Pescadoresemarisqueirasquestionamsobrequealternativasrestariamaelesseno
puderemdispordosprodutosdoesturioconformerecomendaaavaliaoderisco
do Ministrio da Sade. Neste sentido, observase a pertinncia do que prope o
Improving Risk Communication ao considerar que, no plano da ao pessoal, a
comunicao de risco ser bem sucedida somente se informar adequadamente o
indivduosobreasalternativasasuadisposio(NCR,2009).
71
Concluseserecomendaes
DiantedalegtimacobranaporsoluesparaocasodeSantoAmaro,quelatente
naquela comunidade ante ao volume de pesquisas j realizadas, tornase
imprescindvel a abertura de canais de dilogo entre todos os setores interessados.
Porumdevertico,acomunidadecientficaquesededicouaestudarotemanesses
quase 40 anos, deve atender ao apelo histrico pronunciado pelo gestor municipal
duranteoSeminrioSantoAmaro,realizadopeloCentrodeTecnologiaMineral,em
outubrodoanocorrente.
Asoluodesejadapeloprefeito,noentanto,deveserconstrudacomaindispensvel
participaodacomunidadedeSantoAmaronessadiscusso,comoprotagonistado
seuprpriodestino.Paraisso,necessrioqualificartalparticipaopromovendoo
acesso dos interessados ao conhecimento que foi possvel construir. Assim, seria
recomendvel o inventivo criao de um frum local permanente dedicado
promoo do dilogo entre especialistas, gestores pblicos e a comunidade, consti
tuindosenachamadacomunidadeampliadadepares(FREITAS;GOMEZ,1997)qual
cabe,nonovocontextocientfico,ocontroledaqualidadedosresultadosdapesquisa,
segundoFuntowiczeRavetz(1997).
Aslacunasdeixadaspelosestudosrealizados,sobretudoquantoaomonitoramentoe
cuidado permanente das vtimas da contaminao e das concentraes de metais
txicos nos compartimentos ambientais (solo, gua, ar e biota) tornam urgente a
instalaodeumainstituiopblicaaexemplodoInstitutoNacionaldaDoenade
Minamata(JAPAN,2012),ondeadifcilsuperaodacontaminaopormercriotem
ocorrido graas conjugao de pesquisa e ateno sade humana. O National
Institute for Minamata Disease (NIMD) foi instalado em 1978, aps 22 anos do
reconhecimento oficial da doena de Minamata. Sua estrutura conta com
departamentos de Cincias Ambientais e Assuntos Internacionais; Medicina Clnica;
Cincias Mdicas; e Epidemiologia. Em 2001, foi agregado ao NIMD o Minamata
Disease Archives destinado coleta e organizao de informaes relacionadas
doena para o pblico, ao compartilhamento de lies sobre a doena e
contribuioparaodesenvolvimentodapesquisarelacionadadoenadeMinamata
e o mercrio. Dessa forma, Santo Amaro passaria da condio estigmatizada de
cidademaiscontaminadaporchumbodomundo,comopropugnaosensocomum,
para se tornar em um centro irradiador de conhecimento sobre contaminao por
metaispesados.
Ofomentoaoprotagonismolocalpodeseconstituirnumaimportanteferramentaa
ser incorporada metodologia de avaliao de risco sade, que ainda no tem
prticas consolidadas em comunicao de risco, conforme se pode verificar nas
Diretrizes para Elaborao de Estudo de Avaliao de Risco Sade Humana por
ExposioaContaminantesQumicos (BRASIL,2008).Pensaracomunicaoderisco
nestecontextosignificarefletirsobreosdesafiosdasuaaplicabilidadenaproteoda
72
sade e na ausncia de um consenso entre os autores quanto ao modelo a ser

desenvolvido(RANGEL,2007).
Afaltadeconsenso,noentanto,tambmpodeserencaradacomooportunidadepara
ousar em prticas inovadoras centradas no fortalecimento da cidadania. Segundo
MorenoePeres(2011):
Cuando se le da la oportunidad a la ciudadana para participar activamente em
discussiones enfocadas em minimizar y controlar riesgos de salud se abre la
oportunidadparaqueseminimiceelressentimientodelaspersonasquesesienten
excludas de las polticas de salud y propicia que se mantengan las normas o se
cambieelstatuquo,lograndoreducirlamorbilidad,salvarvidasyempoderaralas
personas(MORENO;PERES,2011).
Outra importante medida a ser tomada em Santo Amaro a estruturao de um

comitdeticaempesquisadentrodosprincpiosdaComissoNacionaldeticaem
PesquisaparaodevidocumprimentodaResoluon196/96doConselhoNacional
de Sade CNS (BRASIL, 1996) que prev entre os aspectos ticos da pesquisa
envolvendosereshumanos.Medidascomoessapoderoevitaraprticadepesquisas
controversasquenogarantemoretornodosbenefciosobtidos pormeiodaspes
quisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas; nem
comunicamasautoridadessanitriasdosresultadosdapesquisa,nemasseguramaos
sujeitosdapesquisaosbenefciosresultantesdoprojeto,sejaemtermosderetorno
social,acessoaosprocedimentos,produtosouagentesdapesquisa.
Exemplodissoforamaspesquisasemmulheresgrvidasadmitidasnamaternidade
de Santo Amaro, quando se detectou que trs delas tinham resultado positivo para
chumbo no sangue e no cordo umbilical em concentraes acima de 10/dL
(ZETNER;ROND;LATORRE,2005).Emborasejamencionadonessesartigosquetais
estudos teriam sido aprovados por comits de tica em pesquisa das unidades
hospitalares de Santo Amaro, no h registros desses estudos nessas instituies,
nemaindicaodemedidasparaaproteodasadedaspessoaspesquisadas.
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Estudos de avaliao da exposio ambiental humana ao

chumbonoBrasil:umaanlisecomparativa
EduardoMelloDeCapitani1
MnicaMariaBastosPaoliello2
Apesar da difuso de empreendimentos industriais de pequeno, mdio e grande

porte, manipulando chumbo metlico e seus compostos em todo o pas h diversas
dcadas,sopoucososestudosepidemiolgicosavaliandoaexposionoocupacio
naldepopulaesexpostasambientalmenteachumbonoBrasil(TRIVELATO,2006).
Com relao a avaliaes epidemiolgicas de adultos, o estudo pioneiro o de
Carvalho(1978),contidoemteseacadmicadecunhomaisabrangente,eposterior
mente publicada como artigos cientficos em 1983e 1984 (CARVALHO et al., 1983;
CARVALHO,etal.,1984).
Nesse estudo Carvalho e cols (1983, 1984) dosaram chumbo em cabelo de popula
es de pescadores de trs localidades prximas da fundio de chumbo Plumbum,
localizadaemSantoAmarodaPurificao,BA,eemfuncionamentodesde1960,ede
umalocalidadecontrolelocalizadaacercade80kmdedistncia(CARVALHOetal.,
1983;CARVALHO,etal.,1984).ATabela1mostraosresultadosdesseestudo,coma
mdia das concentraes de Pb em cabelo nas respectivas localidades, mostrando
haversituaodecontaminaoelevadaemSantoAmarodaPurificao,eumgradi
entedecrescenteconformeascomunidadessedistanciamdafontepoluidora.Entre
tanto,oestudonoforneceresultadosdeanlisedechumboemsangue.Essesresul
tados confirmavam o que j se pressentia na regio, que a refinadora de chumbo
PlumbumpoluaoambienteapontodealcanarasguasdorioSuba,fornecedora
desubsistnciaepescacomercialdegrandepartedapopulaoribeirinha.
Desde essa poca, e apenas mais recentemente, alguns poucos estudos produziram
resultadosemadultosexpostosambientalmenteemreascontaminadasporinds
trias,refinariaseminerao.
DoutoradoemSadeColetiva,UniversidadeEstadualdeCampinas(UNICAMP).Centrode
ControledeIntoxicaes,DepartamentodeClnicaMdica,FaculdadedeCinciasMdicas,
UniversidadeEstadualdeCampinas,SoPaulo.
DoutoradoemSadeColetiva,UniversidadeEstadualdeCampinas(UNICAMP).Departamento
dePatologia,AnlisesClnicaseToxicolgicasUniversidadeEstadualdeLondrina,Paran
76
EstudosdeavaliaodaexposioambientalhumanaaochumbonoBrasil:umaanlise...
Tabela1Chumboemcabelodepopulaesdepescadoresde3localidadesprximas
fundioPlumbumemStoAmaroeumalocalidadecontrolea84kmdedistncia(1978).
Localidade
SantoAmaro
SoBraz
S.Franciscodo
Conde
Guaibim
Distncia
dafonte
3,5km
5,0km
7,5km
Mdia(ppm)
DP
MinMx
31
35
50
55,5
22,3
14,1
60,2
33,4
11,2
2267
2161
049
84km
63
12,1
14,9
073
Fonte:Carvalhoetal.AbsoroeintoxicaoporchumboecdmioempescadoresdaregiodoRio
Suba.CinciaCultura.1983;35(3):36066.
Na regio do alto Vale do rio Ribeira, em rea de fronteira entre os estados de So

PauloeParan,partedapopulaodeadultosecrianascontinuaexpostaaumpas
sivodecontaminaocomcompostosinorgnicosdechumbo,apesardofechamento
de refinaria/fundio primria de chumbo, tambm pertencente Plumbum, que
funcionounaregiode1940a1995.
Em estudo realizado entre 1999 e 2000 no alto Vale do Ribeira, 350 adultos foram
amostradosnototal,sendoqueaquelesquemoravamaumadistnciaigualoume
nor a 1000 m da exrefinaria primria de chumbo apresentaram nveis de chumbo
emsanguede14,55g/dLparahomens(n=46)e6,80g/dLparamulheres(n=55)
(PAOLIELLO et al., 2002). Dentre as variveis estudadas associadas aos altos nveis
dechumboemsangueemadultosestarearesidencial(PAOLIELLOetal.,2005).
Emoutroestudonadcadade90depopulaomoradoraprximaaumarecicladora
debateriasnovaledorioParaba,emSoPaulo,observaramsenveisdeplumbemia
variandode21,22g/dL(numadistnciaentre600a800metrosdaplanta)e4,85
g/dL(emmoradoresa2kmdaplanta)(KUNOetal.,1994).
Em2004,emSantoAmarodaPurificao,umestudomostrouqueaplumbemiam
diadegrvidasvivendoaoredordeantigarefinariadechumboapresentavagradien
tedecrescentedeacordocomadistnciadafonteprimriadepoluio(0,44mol/L
[9,11 g/dL] perto da fonte; 0,231 mol/L [4,78 g/dL] distncia mdia; 0,053
mol/L [1,09 g/dL] longe da fonte), tendose obtido uma boa correlao entre
plumbemia das mes e nveis de chumbo no cordo umbilical durante o parto
(r=0,86;p<0,001)(ZENTNER;ROND,2004).Quandoessesresultadossocompara
doscomresultadosdeestudofeitoemgrvidasnoexpostasnacidadedeSoPaulo,
ondeamdiadeplumbemiaencontradafoide2,39 g/dL(ROSALM,2004),cons
tatasequeasgrvidasdeSantoAmaroresidindoprximasdafontedepoluioes
tocomnveismdiosdechumbocercade3vezesmaiores.
EmestudorealizadoempopulaoadultamoradoradasmargensdorioTapajs,PA,
Barbosaecols.(2009)obtiverammdiadeplumbemiade13,1g/dL(DP=8,5)eme
dianade11,2g/dL(intervalode0,59a48,3g/dL)em448adultosvivendoem12
localidadesdobaixoTapajssemexposioocupacionalachumbo.Oshomensapre
EduardoMelloDeCapitanieMnicaMariaBastosPaoliello
77
sentavam mediana significativamente maior que as mulheres (15,3 g/dL vs 7,9

g/dL, respectivamente). Aprofundando o estudo de possveis fontes locais de
chumboosautoresapontamparaacontaminaodafarinhademandiocaduranteo
processodefabricao,tendoemvistaqueasconcentraesdePbemmandiocacrua
so10vezesmaisbaixasquandocomparadascomafarinhatorrada(mdiade0,017
0,016g/gvs0,190,10g/g,respectivamente)(BARBOSA,2012;BARBOSA et
al.,2009).
Comrelaoexposiodecrianas,apesardenodispormosdevaloresderefern
ciaatualizadosparafinsdecomparaodosresultadosdeestudosepidemiolgicos,
ostrabalhosdeavaliaodeexposiorealizadosnoBrasiltemutilizadoosparme
trosestabelecidospeloCDCnorteamericanocomorefernciaparatomadasdedeci
soquantoamedidasdeinterveno.NessesentidooCDC,desde1990estabeleceuo
valordeplumbemiade10g/dLcomolimitedaaoparacrianas(CDC1991).Esse
valortinhaporbaseestudosrealizadosataqueladatamostrandobaixoriscodeda
nos neurolgicos a longo prazo em crianas com exposies ambientais que manti
vessem nveis de plumbemia abaixo desse valor. A Alemanha adotou oficialmente
essevalorcomolimiteem1996(WILHELM;IDEL,1996)eoutrospases,naausncia
devaloresprprios,mantiveramosparmetrosestabelecidospeloCDCcomobaliza
dordesuasaesdecontroledeexposioambientalachumbo.
Convmressaltarnoentantoque,noiniciode2012,oComitAssessorparaPreven
odeIntoxicaoporChumboemCrianas(ACCLPP),doCDCrecomendouousode
valor de referncia (VR),ao invs de nvel de ao, como balizador das medidas de
prevenonosEUA,definindoVRcomoamargemsuperiordadistribuiodasmedi
daslaboratoriaisdeumdeterminadoanalitonumadeterminadapopulao(ACCLPP
CDC, 2012). Nesse sentido o ACCLPP prope que o nvel de ao de 10 g/dL seja
substitudopeloVRde5g/dL,valorestederivadodopercentil97,5%dosvalores
obtidos em crianas de 1 a 5 anos de idade amostradas pela NHANES (National
HealthandNutritionExaminationSurvey),equesejarevistoacada4anos(ACCLPP
CDC,2012).
Osprimeirosestudosdeavaliaodecrianasexpostasaochumboporpoluioam
bientalnoBrasilforamtambmrealizadosemSantoAmarodaPurificao,nasdca
dasde80e90pelogrupodaUniversidadeFederaldaBahia,lideradopeloprofessor
Fernando Carvalho (CARVALHO et al., 1984; CARVALHO et al., 1995; CARVALHO et
al.,2003).
Comojreferidoanteriormente,nessemunicpio,duranteoperodode1960a1993
funcionouumafundioprimriadechumboquepoluiuasreasurbanaeruralao
seuredorcomxidoseoutrossaisdechumbo.Almdisso,aescriadoprocessode
fundio,contendoat2%dechumbo,foidistribudapelamunicipalidadeaolongo
dosanos,comomaterialdepavimentaoderuas,caladaseatdequintaisdoms
ticos,democratizandooriscodeexposioatentodefinidopeladistnciadasmo
radiasdafontedepoluio(ANJOS,2012).
78
Osestudosdesenvolvidosnoinciodosanos1980,contendoosprimeirosresultados
daavaliaodecrianasexpostasemSantoAmaroapresentaram,numaamostrade
555crianasentre1e9anosmorandodentrodopermetrode900metrosdaem
presa,mdiadeplumbemiade59.125.0g/dL(CARVALHOetal.,1985).Essesva
lores so extremamente elevados e, seguramente, produziram danos neurolgicos
nascrianasquesemantiveramexpostasportempoprolongado.
Em 1989, aps a adoo de algumas medidas de controle ambiental, a mdia de
plumbemia de 53 crianas, amostradas de forma representativa, foi de 36.9
22.9g/dL(SILVANYNETOetal.,1989).
Em2003,10anosapsofechamentodefinitivodafundio,amostrandocrianasde
1a4anos,omesmogrupodepesquisadoresobtevemdiadeplumbemiade17.1
7.3g/dL,pormcom88%dascrianasaindacomnveisacimade10g/dLe32%
acimade20g/dL(CARVALHOetal.,2003)(Tabela2).Desdeessaltimaavaliao,
osnveisdechumbonosanguedascrianasnoforammaismonitorados.
Tabela2Estudosepidemiolgicosavaliandoexposioambientalachumboporcrianas
noBrasil.
Local
Fonte
Distncia Idade
dafonte
Expostos
Controles
Referncia
Plumbemia
Plumbemia
g/dL
n
g/dL
(mdia)
(mdia)
555 59,125,0
Carvalho
etal,1985
53 36,922,9
SylvaniNetoet
al,1989
n
StoAmaro,
BA
StoAmaro,
BA
Fundio
1ria
Fundio
1ria
At
900m
At
900m
19
StoAmaro,
BA
Fundio
1ria
At
1km
14
47
17,17,3
Rio
Cubato
Rio
Cubato
500ma
1,5km
At1km
45
199
5.02
18.51
17,85,8
Cubato,SP
Complexo
industrial
Cubato,SP
Complexo
industrial
Adrianpolis, Fundio
PR
1ria
Bauru,SP
Recicladora
debaterias
19
110 251
714 94
11,5
39
(mediana)
0 14 825
9,8
31
Carvalho
etal,2003
Azevedo
etal,1989
SantosFilhoet
al,1993
1,8
Paoliello
(mediana) etal,2002
<5,0
Freitasetal,
2002
79
Tabela 3 Concentrao de Pb em poeiradomstica em casas decrianascom plumbe

miasmaioresde20g/dl(Adrianpolis,PR)
Amostra Valordeplumbemiadacrianamoradora
A1
A2
B
C
D
E1
E2
F
37,8
37,8
24,1
29,0
19,5
24,0
24,0
23,0
ConcentraodePb
emg/g(ppm)
1.100
569
538
218
299
994
3.268
552
Nota:EPAUSA400mg/kg(ppm),valorlimiteguiaparasolo(soilscreeningguidance)(ATSDR,2000).
Em Cubato, So Paulo, rea de desenvolvimento industrial considerada um dos

maiores complexos siderrgicos, qumicos e metalrgicos do pas, em operao
desdeosanos50e,almdisso,consideradaumadasreasurbanasmaispoludasno
mundo,umestudopublicadoem1993avaliou199crianasde4a5anosem10es
colas pblicas. Foram encontrados nveis de plumbemia variando de 5.02 g/dL a
18.51g/dL(AZEVEDOetal.,1989;CETESB,2001),ouseja,comparvelcomafaixa
deplumbemiasencontradasemSantoAmaroem2003(Tabela2).Corroborandoes
sesdados,outroestudoemCubato,deSantosFilhoecols(1993)encontroumdia
deplumbemiade17.85.8g/dLem251crianasde1a10anos(SANTOSFILHOet
al.,1993).Aparentemente,nenhumamedidaderemediaoespecficafoitomadaem
Cubatofrenteaessesresultados.
NaregiodoValedorioRibeira,nafronteiraentreSoPauloeParan,umafundio
primriadechumbodemenorcapacidadequeadeSantoAmarodaPurificao,per
tencentemesmaempresaPlumbum,operoude1946a1995,poluindooareosolo
naproximidadedaempresa,easguasesedimentosdorioRibeiraondeforamdes
pejadosresduoseescriadoprocessodebeneficiamentodurantealgumasdcadas
at a agncia de meio ambiente do estado do Paran proibir esse procedimento no
inciodadcadade1980.
Entre1999e2000,Paolielloecols(2002)avaliaramosnveisdeplumbemiade295
crianasentre7e14anos,obtendomedianade11.25g/dL(1,837,8g/dL)numa
distnciaat1,5kmdafonte(nessapocajfechada)(Tabela2)(Figura1).Cercade
72%dascrianasapresentavamnveismaioresque10g/dL,e12,8%acimade20
g/dL.Crianasavaliadascomocontrole,morandoemmunicpioa40kmamontante
dafontedecontaminao,mostrarammdiadeplumbemiade1,8g/dL(provavel
menteesteovalorderefernciaparaessaregiodoBrasil)confirmandooimpacto
dopassivoambientaldeixadopelaempresanacargacorpreadechumbodascrian
as(PAOLIELLOetal.,2002).
80
Figura 1 Localizao da fundio primria de chumbo Plumbum em Adrianpolis, PR,

comrelaovilaMota,readeestudodeavaliaodeexposiohumana.
Comoaoisoladaderemediaodarea,umamontanhaderejeitodafundiodis
posta a cu aberto prximo das moradias da rea, foi retirada do local. As crianas
com nveis acima de 20 g/dL foram encaminhadas para avaliao clnica geral e
neurolgicaemCuritiba,pelaSecretariadeEstadodaSade.
Nointeriordascasaslocalizadasdentrodeumraiode1000metrosdaempresafo
ramcoletadasamostrasdepoeiradepositadaemcimadosbatentesdeportaedeja
nelas,sobreguardaroupasearmrios,esobresuperfciesdemadeiraealvenarias
quaisascrianasregularmentetinhamacesso(Figura2).Osresultadosdaanlisede
chumbonessasamostraspodemservistosnaTabela3.
Figuras 2a e 2b Detalhes do interior de casas localizadas prximas fundio em

Adrianpolis,PR,mostrandolocaisdeacmulodepoeiracontaminada.
81
Frente a esses resultados foi proposto em relatrio final Secretaria de Estado da

Sadeumacampanhadeeducaoehigieneambiental,juntocompropostademuti
rodelimpezaeaspiraodointeriordascasasvisandodiminuiracargadeexposi
oachumboporpartedascrianas.Essaspropostasnoforamimplementadasat
o momento, e proposta de realizao de novas dosagens de chumbo no sangue das
crianas , dez anos aps o primeiro estudo, foram rechaadas pelas autoridades lo
caiseestaduais,quandofeitaspelaequipedepesquisaentre2010e2011.
Tabela 3 Concentrao de Pb em poeiradomstica em casas decrianascom plumbe
miasmaioresde20g/dl(Adrianpolis,PR)
Amostra
A1
A2
B
C
D
E1
E2
F
Valordeplumbemiada
crianamoradora
37,8
37,8
24,1
29,0
19,5
24,0
24,0
23,0
ConcentraodePbem
g/g(ppm)
1.100
569
538
218
299
994
3.268
552
Nota:EPAUSA400mg/kg(ppm),valorlimiteguiaparasolo(soilscreeningguidance)(ATSDR,2000).
EmBauru,naregiocentraldoestadodeSoPaulo,apartirdemedidasdechumbo
noarfeitaspelorgodefiscalizaoambientaldoestado(CETESB)eposteriorve
rificaodeexistnciadesolocontaminadocomnveiselevadosdechumboaoredor
de uma recicladora de baterias, onde funcionava uma fundio secundria de
chumbo,624crianasde0a12anosforamamostradasemrearesidencialat1km
de distncia da empresa, em conjunto com as Secretarias Municipal e Estadual de
Sade e duas universidades. Um grupo de 31 crianas da mesma faixa etria, mo
randoa11kmdedistncia,foitambmavaliadoparaservircomocontrole.Amdia
deplumbemiadas624crianasexpostasmostrouserde9,28g/dLcomparadacom
valoresinferioresa5,0g/dLnogrupocontrole(Tabela2).
Das crianas com concentraes acima de 10 g/dL (n=311) a mdia foi de 16,5
g/dL(DP=6,36).Umareavaliaodessesubgrupodecrianasfeita6mesesapso
fechamentodaempresamostrouaindanveismdiosde16,6g/dL(DP=8,52).Aps
medidasdecontroledaexposio,queincluramaaspiraodapoeiraintradomici
liarearetiradaesubstituiodosolosuperficialperidomiciliarondemoravamessas
crianas,amdiadeplumbemiade241crianasfoide9,05g/dL(DP=4,82),ouseja,
46,2% mais baixa (p < 0,0001), mostrando que medidas de remediao desse tipo
temimpactosignificativonograudeexposiodascrianas(FREITASetal.,2007).
Tambm em Bauru foram coletadas amostras de poeira domiciliar depositada em
reasinacessveise reas acessveiss crianas. Os resultados podemservistosno
82
Quadro1Ressalteseogradientedeconcentraodecrescendocomadistnciada
fonteeoselevadosnveisemcasasdentrodopermetrode1000metros.
Quadro 1 Concentrao mdia de chumbo em poeira domiciliar em trs bairros de

BauruSP
As mesmas propostas de remediao com relao educao e higiene ambientais

feitas em Adrianpolis foram repetidas em Bauru, com implementao parcial das
medidasderemediao,incluindolimpezaeaspiraodealgumasdascasas conta
minadas,oqueresultouemdecrscimodasmdiasdeplumbemiacolhidascercade
6mesesapsosprocedimentos(Tabela4).
Tabela4Evoluodasplumbemiasdecrianascommaisde10g/dLna1avaliao.
Bauru,SP
n
Plumbemiag/dL
mdia(DP)
Plumbemia
g/dL
mediana
311
16,52(6,36)
14,7
2(6mesesapsofecha
mentodaempresa)
241
16,63(8,52)
15,0
3(18mesesapsapri
meiraavaliao,e6meses
apsmedidasderemedia
o)
241
9,05(4,82)
8,0*
Avaliao
*46%dedecrscimo
83
EmMontevidu,Uruguai,nofinaldosanos90,foidetectadoumproblemadeconta
minaoporchumboemreaurbanacomparvel,emtermosdemagnitudedosn
veis de chumbo no sangue de crianas detectados, com as reas contaminadas no
Brasil acima descritas (COUSILLAS et al., 2008). A Tabela 5 mostra a evoluo dos
nveis de plumbemia em crianas moradoras nessa rea ao longo dos anos, verifi
candose um decrscimo fruto de mltiplas aes conjuntas da comunidade, do go
verno,dasinstituiesdesade,dauniversidade,etc.(Quadro2).
Tabela5ContaminaoambientalporchumboemreaurbanadeMontevidu(LaTeja)
resultadoscrianas.
Ano
1994 47
1998 107
2004* 180
Idade(anos)(intervalo)
5,2(2 11)
7,8(0 14)
6,3(0 14)
Plumbemia
g/dL(minmax)
9,7 (4,7 19,1)
9,4 (5,5 18,6)
5,7 3,0 16,0)
Referncia
Schutzetal,1997
Cousillasetal,2005
Cousillasetal,2008
Nota:*resultadosapsasmedidasdecomunicaoderisco,educaoeremediao.
Fonte:Cousillasetal,2012.Impactsofmultidisciplinaryactionsonenvironmentalleadexposurein
Uruguay.EnvironGeochemHealth.34:207211.
Quadro2AesdecontrolerealizadasemLaTeja,Montevidu,Uruguaiduranteepis
diodecontaminaourbanaporchumbo.
FormaodeumComitInterinstitucionaleMultidisciplinar
Avaliaodesolo,gua,poeira,visitasdomiciliares
Amplicaodaofertadeplumbemias
FaculdadedeQumicadaUdelaR
Comunicaodorisco
Educaoambientaledehigieneesade
Assistnciamdicaespecializada
CIAT(CentrodeInformaoeAssistnciaToxicolgica
GrupodePediatrialigadoFa.MedicianaeaoCIAT(UPA)
Diagnstico,tratamento,orientaoeseguimento
Localizao,isolamento,conteno,edesocupaodasfontesdecontaminao
(100empresasavaliadas)
Legislao
2003leisobredescartedebaterias
2004banimentodegasolinacommaisde13mg/LPb
2004Leicomdispositivossobretintas,descartes,teoresemguaetc.
2004 Leidevigilnciadetrabalhadoresexpostos
Fonte:Cousillasetal,2012.Impactsofmultidisciplinaryactionsonenvironmentalleadexposurein
Uruguay.EnvironGeochemHealth.34:207211.
84
EmSantoAmarodaPurificao,asmedidasdechumboemsanguedascrianas,apa
rentementemostramumdecrscimonasltimasdcadas(Tabela2),resultadopro
vveldofechamentodaempresa,cessandocompletamenteafonteprimriadecon
taminao do processo de urbanizao, mudana de hbitos das pessoas, e outros
fatoresaindadesconhecidos.Nenhumprogramaderemediaofoiimplantadoato
momento.Nenhumamedidaprticadedescontaminaodarea foi implementada.
Nemmesmoumprogramaregulardemonitoramentobiolgico,diagnsticoesegui
mentodascrianascomproblemassecundrioscontaminaofoiimplantado.
Ofatoqueacontaminaodosolo,guaesedimentosdosrioseriachosdabaciado
Subacontinuamsendofontesecundriadecontaminaodasruas,dointeriordas
casa,dosquintais,dosalimentos,dospeixesecrustceoslocais,colocandoascrian
aseadultosemcontatodiretocomochumboemalgumgrau,exigindoainstalao
deumprogramaabrangentedeavaliao,planejamentoeremediaoacurto,mdio
elongoprazodarea.
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Avaliao da exposio ocupacional ao chumbo em 1992 e

monitorizao biolgica da comunidade do entorno da antiga
fundioem2011. Oquemudouemquase20anos
JosA.MenezesFilho1
VanescaLuanaSilva2
Monitorizaobiolgicadaexposioocupacionalnostrabalhadores
daextintaPlumbumem1992
Nestasessoapresentamosumareformataodos dadosdeavaliaodaexposio
ocupacional de todos os trabalhadores ativos da antiga fundio primria que fora
realizadaem1992epublicadaem2004naRevistaBrasileiradeSadeOcupacional
(MenezesFilho,JA,Spnola,AGeCarvalho,WA,2004).
Apresentaodoproblema
Osprocessosdefundioerefinariasoprovavelmente,entretodasasmodalidades
deexposioocupacional,asqueapresentammaiorriscodeexposioaometal,pro
vavelmente porque envolvem operaes nas quais o chumbo fundido e as ligas so
aquecidas a temperaturas elevadas com desprendimento de vapores de chumbo
(WHO,1979;Gerhardsson,1992eGover,1991).
No ambiente laboral a absoro do chumbo resulta principalmente da inalao de
pequenaspartculasdetamanhorespirveloudosfumosdometal.Secundariamente,
podeocorrerabsorodaingestodealimentoscontaminados,guaeporhbitosde
trabalho,comoodefumareporcontaminaodrmicaedovesturio(WHO,1979e
Gerhardsson,1992).
Diversosestudosepidemiolgicosetoxicolgicostmsidorealizadosrecentemente
empopulaescomexposioocupacionalaochumbocomoobjetivodedesenvolver
marcadores biolgicos de toxicidade subclnica adequados para aplicao em pro
gramas de sade ocupacional, particularmente para baixos nveis de exposio
(Landriganetal.,1999;Gerhardsson,1992eLandrigan,1989).OsIndicadoresBiol
gicosdeExposio(IBE)maiscomumenteempregadoserecomendadosparamoni
torizaobiolgicadaexposioocupacionalaochumbodosangue(PbS),zincopro
toporfirina(ZnPP)ecidodaminolevulnico(ALAU).Outrosindicadorescomcido
daminolevulnico desidratase (ALAD) e a coproporfirina urinria (CPU), no so
comumente empregados em sade ocupacional, principalmente por apresentarem
ProfessorDoutordeToxicologia,FaculdadedeFarmciaUniversidadeFederaldaBahia.
Bolsistadeiniciaocientfica,LaboratriodeToxicologia,FaculdadedeFarmcia
UniversidadeFederaldaBahia.
JosA.MenezesFilhoeVanescaLuanaSilva
87
poucaespecificidade(Correy&Galvo,1985;Goyer,1991;Cramer&Selender,1965
eMooreetal.,1980).
Onossoobjetivofoiavaliaronveldeexposioaochumbonafundioprimriana
poca em que ainda operava em 1993. Essa avaliao da exposio ocupacional se
deu atravs da monitorizao biolgica dos trabalhadores ativos, atravs da deter
minaodosindicadoresbiolgicosdeexposioeefeitodochumbo,afimdeesta
belecerummapeamentodasreasderiscodaplantaindustrial.
Caracterizaodosgruposocupacionaisemetodologias
Foraminvestigadoscentoenoventaecincotrabalhadoresadultosdosexomasculino
darefinariaprimriadechumboemSantoAmaro,Bahia,Brasilnoanode1993.De
acordocomofluxogramadoprocessodeproduodaplantaindustrialedeorgani
zao e distribuio de cargos e funo da empresa, os trabalhadores foram distri
budos nos seguintes grupos de atividade laboral: sinterizao (n = 23), fuso (n =
41),refinaria(n=49),laboratrio(n=8),serviosgerais(n=17),manuteno(n=
26) e administrao (n = 31). Os grupos de sinterizao, fuso e refinaria exerciam
suas atividades laborais nos respectivos setores industriais, os indivduos do grupo
deserviosgerais,comatividadedelimpeza;eosdamanutenocomatividadede
manutenodentrodaplanta.Opessoaldolaboratrioparticipavadaexecuo,co
leta e determinao analtica das amostras destinadas ao controle de qualidade de
produo e da monitorizao ambiental nos programa de higiene industrial da em
presa. O grupo controle foi constitudo de 65 indivduos pareados por sexo, idade,
raa,hbitosalimentares,tabagismoealcoolismocomogrupodetrabalhadoresex
postonaplantaindustrial,diferindoapenasquantoaoaspectodenosereferirema
exposioatualounopassadoaoscompostosdechumbo.
Este foi um estudo de corte transversal incluindo os grupos exposto e controle nos
quaisforamrealizadasasdeterminaesdechumbonosangue(PbS)porespectro
metria de absoro atmica em forno de grafite, cido daminolevulnico na urina
(ALAU)porespectrofotometria,zincoprotoporfirina(ZnPP)porfluorescnciadireta
ehemoglobina(Hb)nosanguetotalporanalisadorautomatizado.
Osanguefoicoletadoporpunovenosaemveiacubital,atravsdosistemaavcuo,
emdoistubosdevidrocomEDTAlivrederesduodechumbo.Otubodesanguedes
tinadoadeterminaodochumbofoiarmazenadoemgeladeiraaatomomentoda
anliseeotubocoletadoparaadeterminaodeHbfoiimediatamenteprocessado.A
urina foi coletada em coletores de polietileno descontaminado com cido ntrico a
2%emguapuraTipoI(SistemaMilliRX45acopladoaumMilliQ,Millipore).
NestaoportunidadetodasasanlisestoxicolgicasforamrealizadasnoLaboratrio
deToxicologiadoHospitalSoRafaeldaFundaoMonteTabor,emSalvador,Bahia.
Aconcentraodechumbonosanguefoideterminadaemduplicataporespectrosco
piadeabsoroatmica,usandoomtodoeletrotrmicodedigestodaamostraem
fornodegrafite,segundoomtododeFernadezmodificado(Pruszakowasakaetal.,
88
Avaliaodaexposioocupacionalaochumboem1992emonitorizaobiolgica...
1983),utilizandooequipamentoPerkinElmer5000equipadocom fornode grafite

P.E. HGA 500. A dosagem do ALAU foi realizada pelo mtodo espectrofotomtrico
(Tomokumi&Ogata,1992),usandooespectrofotmetroPerkinElmer,LambdaI.O
resultadofoicorrigidopelovalordacreatininaurinria,quefoidosadapelomtodo
cinticodeJaffnoanalisadorbioqumicoMega(MerckDiagnsticos).Adetermina
o da ZnPP foi executada por fluorimetria direta em sangue total, utilizandose o
hematofluormetroProtofluorZ(HelenaLaboratories).Ahemoglobinafoidetermi
nada imediatamente aps a coleta do sangue, usandose o sistema automatizado
STKS(Colter).
OcontroledequalidadeanalticaparaadeterminaodoPbSfoirealizadousandoo
sanguecontrolefornecidopelaBioRad,LiphochekNvelIeII,Almdocontroleex
ternodequalidadedoProgramadeIntercalibraodeControledeQualidadedoIns
tituto Nacional de Seguridad y Higiene del Trabajo (Espanha). O controle de quali
dadedasdeterminaesbioqumicasfoirealizadoatravsdoprogramadeControle
ExternodeQualidadedaSociedadeBrasileiradePatologiaClnicaeSEGULAB(Itlia).
Aps a estratificao por grupos de atividade, as mdias aritmticas de cada grupo
foram comparadas atravs do teste no paramtrico de Wilcoxon para mdias no
pareadas,anlisedevarinciaoneway(ANOVA)eanlisedecorrelao,utilizando
seprogramaestatsticoEpinfo6.0.
ResultadoseDisCuSso
Osvaloresmdios,maisdesviopadro(DP)eintervalomnimoemximodasdeter
minaesdePbS,ALAU,ZnPPeHbdogrupocontroleedosgrupostrabalhadores
dametalrgicadeacordocomafunoestoresumidosnaTabela1.
Tabela 1 Valores indicadores biolgicos de efeito e exposio nos grupos expostos e
controle.
GruposAvaliados
GrupoControle
N=65
Administao
n=31
Ser.Gerais
n=17
Manuteno
n=26
Laboratrio
n=8
Sinterizao
n=23
Fuso
n=41
Refinaria
n=49
PbS
5,43,1
(1,416,6)
13,18,4*
(1,434,8)
25,19,1*
(11,746,3)
28,59,8*
(10,742,6)
23,17,6*
(11,056,5)
36,79,8*
(5,655,4)
37,98,5*
(24,855,0)
36,09,1*
(11,056,5)
ALAU
ZnPP
Mg/gcreat.
Pg/dl
1,90,9
16,57,0
(0,56,3)
(8,559)
4,63,0
2128
(1,217,4)
(5,5125)
6,03,8
25,520
(2,518,3)
(980)
6,98,4*
3338
(1,442,1)
(10,5150)
4,31,0
25,517
(3,36,6)
(1063,5)
11,99,3*
87,5107*
(2,5432,55) (14,5458)
11,16,9*
65,545,5*
(2,430,9)
(11,5150)
10,39,5*
65,561,5*
(1,247,0)
(11307)
Hb
g/dl
14,01,3
(0,717,4)
14,41,5
(11,616,9)
15,0 0,8
(13,516,1)
14,80,9
(13,216,1)
15,60,4
(14,816,1)
15,00,9
(13,917,0)
14,41,2
(11,916,9)
15,10,9
(12,916,8)
89
ComparandoseosvaloresdePbSdogrupocontrole(5,43,9g/dL)comogrupode
indivduosdereaadministrativa(13,18,4g/d/L),constatouseumadiferenaes
tatisticamente significativa (p<0,001) entre eles, demonstrando que embora os tra
balhadores administrativos no exeram atividade na rea de produo da planta,
possuam uma fonte adicional de exposio, oriunda provavelmente, da contamina
oambientaldametalrgica.Nofoiobservadodiferenasignicativa(p>0,05)entre
os indicadores de efeito (ALA, ZnPP e Hb) deste grupo quando comparado com o
grupocontrole.Diferenaaindamaissignificativa(p<0,0001)foiconstatadacompa
randoseoPbSdogrupodostrabalhadoresdeServiosGerais(25,19,1g/dL),da
Manuteno (28,59,8g/dL), do Laboratrio (23,17,6g/dL) e da Sinterizao
(36,79,8g/dL).Entretantonofoiobservadodiferenasignificativa(p>0,05)entre
oPbSdosgruposdeRefinaria,FusoeSinterizao,sugerindonveissemelhantede
exposio, bem como os grupos de Laboratrio, Manuteno e Servios Gerais. Em
relaoaoALAU,queobiomarcadordeefeito,foiconstatadaumadiferenaalta
mente significativa (p<0,0001) quando comparada a mdia do grupo controle
(1,90,9 mg/g creat.) com as mdias dos grupos da Manuteno (6,93,8 mg/g
creat.),Sinterizao(11,99,3mg/gcreat),Fuso(11,96,9mg/gcreat.)eRefinaria
(10,39,5 mg/g creat.), no sendo, porm, observada diferena estatstica entre as
mdias deste grupo de trabalhadores. Considerando a ZnPP, outro marcador de
efeito da ao do chumbo na sntese do grupamento Heme, constatouse uma dife
rena altamente significativa (p<0,0001) entre as mdias do grupo controle
(13,50,9 g/dL) e as mdias dos grupos de Fuso (65,545,5 g/dL), Sinterizao
(87,5107,0g/dL)eRefinaria(65,561,5g/dL).Estadiferenafoimenossignifica
tiva(p<0,0001)paraogrupodeManuteno(33,038,0g/d/L)eparaogrupode
ServioGerais(25,520,0g/dL).No sendoobservada,porm, diferenasignifica
tiva (p>0,05) entre os grupos controle (25,520,0 g/dL) e o da Administrao
(21,028,0g/dL).
A Figura 1 apresenta uma distribuio grfica dos valores mdios de PbS, ZnPP e
ALAUdosgruposcontroleedosgruposdetrabalhadoresexpostosdametalrgica.
90
Figura 1 Distribuio dos bioindicadores PBS, ALAe ZnPP nos gruposcontrole e nos
gruposdetrabalhadoresexpostos.
Osnveisdechumbonosanguedapopulaogeraltmdiminudoaolongodotempo
em diversos pases do mundo, provavelmente resultante das aes de controle de
determinadasfontesdeemissodechumbo,comoasdeorigemindustrialedederi
vadosdopetrleo.Ousodolcooladicionadogasolinareduziuautilizaodeanti
detonantebasedechumbo,contribuindosubstancialmenteparareduodaemis
soatmosfricadechumbopelosautomveis,comoacontecenoBrasil(WHO,1996e
Torraetal.,1995).
O grupo da administrao apresentou PbS de 13,1 g/dL, significativamente mais
elevadoqueogrupocontrole(p<0,001),demonstrandoqueaproximidadedoescri
trioadministrativodareadeproduodaplantaindustrialeousodomesmore
feitriodeoutrasinstalaesdaempresa,podemtercontribudoparaumamaiorex
posioambientaldestegrupo,passandoaapresentarnveissanguneosdechumbo
semelhanteaosdeindivduosqueconvivemprximoareasindustriaisdeproduo
de chumbo reportada por outros pesquisadores (Carvalho et al., 1986; 0MS, 1979;
WHO,1996eFerncola&Azevedo,1981).
Emboratenhaocorridoconsidervelaumentonaproduoeconsumodoscompos
tosdechumbonadcadade1970,observouseparalelamenteumareduosubstan
cialnosnveisdePbSdeindivduosocupacionalmenteexpostos,refletindoumame
lhoriaemaioratenoaosprogramasdevigilnciaepidemiolgica,demedidasmais
eficazes de higiene industrial e monitorizao biolgica dos trabalhadores exposto
(Landrigan,1999;WHO,1996eGerhadssonetal.,1996).Osprocessosdefundioe
refinariadechumbosoosqueprovavelmenterepresentammaior riscodeexposi
o, confirmando os resultados obtidos neste estudo no qual os trabalhadores nas
reas de refinaria, fuso e sinterizao apresentam as concentraes mais elevadas
91
dechumbonosangue (Winegeretal.,1997;Landrigan,1999;WHO,1996;Bakeret
al.,1979eLundstronetal.,1997).
NoBrasiloMinistriodoTrabalho (MinistriodoTrabalho,1994) adotacomovalor
dereferenciadoPbSdeat40g/dLeparaexposiesocupacionaloIBMP(ndice
BiolgicoMximoPermitido)de60g/dL.Nesteestudoconstatamosque43,5%dos
trabalhadoresdogrupodesinterizao,36,6%defuso,32,6%darefinariae23%
da manuteno possuam chumbo superior a 40 g/dL, considerado como normal
pelalegislaobrasileiraigualousuperioraoLTBestabelecidoemdiversospases,
enquanto12,2%dostrabalhadoresdareadefuso,12,2%daderefinariae7%da
desinterizao,totalizando12trabalhadoresnostrsgrupos,revelaramPbSsupe
rior a 50 g/dL, valor de chumbo sanguneo mais elevado do que o estabelecido
como LTB pela Organizao Mundial de Sade e a ACGIH dos Estados Unidos da
AmricadoNorte.
Noqueconcerneobioindicadordeefeito,concentraourinriadeALA,observamos
que 85,4% dos trabalhadores da rea de Sinterizao e de 81,6% da Refinaria pos
suamALAUsuperiora4,5mg/gcreat.queestabelecidocomovalordereferncia
pela legislao brasileira, enquanto que 36,6% dos indivduos da de Sinterizao,
48,8%dadefusoe30,6%daderefinariaapresentaramALAUsuperiora10mg/g
creat., adotado pela legislao brasileira como ndice Biolgico Mximo Permitido
(IBMP).
possvel concluir, portanto, que os trabalhadores com maior risco de exposio
ocupacionalaochumbonaplantadametalrgicaestudadosorepresentadospelos
gruposdafuso,sinterizaoerefinariaalgunsdelescomelevadasconcentraesde
chumbo no sangue e importante alteraes na concentrao de ZnPP sanguneo e
ALAurinrio.
ApesardaconstataodeconsidervelconstataonosnveisdePbSnostrabalhado
resexpostosemtodoomundo,motivandoinclusivearevisodosLTBsestabelecidos
na legislao de sade ocupacional de diversos pases, mas recentemente tem
enfatizado a importncia da toxicidade subclnica do chumbo, demonstrando que
concentraes de chumbo no sangue mesmo abaixo do LTBs adotados atualmente,
podem desencadear importante toxicidade com nefropatia, neurotoxicidade central e
perifrica, efeitos sobre a reproduo, cncer renal e hipertenso arterial. Por outro
lado, a associao de outros metais, como arsnico, cdmio e zinco presentes em de
terminadostiposdeminrio,comoagalena,utilizadapelametalrgicaavaliadapode
aumentar o risco de toxicidade metal, como tambm influenciar na cintica de pro
duo de determinados indicadores biolgicos utilizados na monitorizao dos tra
balhadoresexpostos(Landrigan,1989,1999;Gerhadssonetal.,1996;Lundstron,1997
eCandelaetal.,1991).Dessemodoozincopodeativarocidodeltaaminolevulnico
desidratase(ALAD),influenciandonaproduodeALAU22,ocdmiopodeaumentar
anefrotoxicidadedochumbo,bemcomooutrosfatores,comoconsumodelcool,que
influencianaproduodealgunsdestesindicadores(Candelaetal.,1991).
92
Monitorizaobiolgicadaexposioambientaldapopulaodoen
tornodaextintametalrgicaem2011
AplicaopilotodoProtocolodeAvaliao
AaplicaopilotodoProtocolodeAvaliaodaPopulaodeSantoAmaro(SESAB)
desenvolveuseentreagostode2010esetembro2011,comoumaaoconjuntada
Secretaria de Sade do Estado da Bahia, com envolvimento do Laboratrio Central
(Lacen)daSuperintendnciadeVigilnciaeProteodaSade(SUVISA)edaSecre
tariadeSadedoMunicpiodeSantoAmaro.Oprotocolocompostodeumasriede
questionrios que devem ser aplicados a cada morador por enfermeiros e mdicos
emcadaPSFdassubregiesdomunicpio,comprioridadeparaaquelascomunidades
do entorno da antiga fbrica. Esses questionrios tm por objetivo levantar dados
sciodemogrficos, hbitos de vida, histrico de exposio ocupacional, anamnese
mdicaentreoutros.Emseguida,essaspessoasdeveriamserconvidadasparacoleta
desangueeurina,paraavaliaoclnicaedosbiomarcadoresdeexposioametais
pesados, sendo eles: Chumbo sanguneo (PbS), cdmio sanguneo (CdS), cobre
srico(CuS),zincosrico(ZnS)ecidodeltaaminolevulnicourinrio(ALAU).
O Laboratrio de Toxicologia (LabTox) da Faculdade de Farmcia, atravs de um
convniofirmadoentreaUniversidadeFederaldaBahiaeaSESABem2009,passou
a ser o Laboratrio de referncia para o Estado da Bahia em anlises toxicolgicas.
Portanto,todasasdeterminaesdosbiomarcadoresdeexposiohumanaametais
pesadosdoProjetoPurificaseriamexecutadaspeloLabToxUFBA.
Aps diversas reunies entre as equipes do LabTox e do Lacen, um procedimento
operacional padro foi elaborado, sob ttulo: Fluxo de Recepo, Cadastramento,
Armazenamento e Transporte das Amostras Biolgicas do Projeto Purificao de
SantoAmaro.Deacordocomoprpriottulo,estedocumentopadronizariaoproce
dimento de acompanhamento das amostras da coleta, recepo no Lacen, envio ao
LabTox,assimcomoaemissodoslaudoseentregadosresultados.
Asanlisestoxicolgicasforamexecutadaspormetodologiasderefernciaparaan
lise de metais. Sendo espectroscopia de absoro atmica em forno de grafite com
efeitoZeeman(AAGT240,VarianInc),paraanlisesdechumboecdmiosanguneo
de acordo com os mtodos descritos no manual da Organizao Mundial de Sade
(WHO,1996)eKummrowetal.,2008,respectivamente.Espectroscopiadeabsoro
atmica no modo chama no equipamento EAA B55, Varian Inc. foi aplicada para as
anlisesdezincoecobresricos,baseandoemmetodologiasdescritasporInceetal.,
2008 e Kelson et al., 1978, respectivamente. A dosagem de ALA na urina foi execu
tadaespectrofotometrianovisveldeacordocomomtododescritoporKatsumara
&Masana,1978.Todasasanlisesforamacompanhadasporutilizaoemcadabate
riadematerialderefernciaparafinsdecontroleinternodequalidade,sendoSan
guenveis1e2,Lyphocheck(BioRad),soronveis1e2(Lyphocheck(BioRad).Alm
disso, o LabTox participa do Programa de Proficincia Analtica da Dosagem de
93
ChumboSanguneodoInstitutoAdolfoLutz,doqualdetmoCertificadodeProfici
nciaAnalticanosanosde2010e2011.
ResultadosedisCuSso
Foramavaliados216moradoresatendidosnoPSFdoTrapiche.Foram114(52,8%)
dosexofemininoe102(47,2%)dosexomasculino.Apenas4,7%daspessoasavalia
dastinhammenosque17anos.Nafaixaetriaentre20e40anosforam13,6%,entre
40e60anosforam43,5%eacimade60anosforam37%dosparticipantes.ATabela
2 apresenta os resultados dos valores mdios, mnimos e mximos do chumbo e
cdmionosangue,estratificadosporfaixaetriaesexo.
Tabela2Nveismdios,mnimosemximosdePbSeCdSestratificadosdeacordocom
afaixaetriaesexo.
FaixaEtria
<20
2039,9
4059,9
>60
Sexo
PbS(g/dL)
Cd(g/L)
03
5,8(0,5 15,5)
0,37(0,210,66)
07
1,3(0,52,4)
0,33(0,050,87)
08
5,7(0,5 14,6)
0,67(0,20 1,12)
18
1,4(0,88,6)
0,57(0181,79)
42
6,4(0,5 22,8)
0,63(0,18 1,66)
48
3,3(0,515,3)
0,67(0,105,17)
43
9,6(0,5 33,6)
0,91(0,09 3,38)
32
4,6(0,514,4)
0,94(0,122,94)
Amdiadochumbonosangueentreoshomensfoide7,7g/dLenasmulheres3,2
g/dL,alcanandoumadiferenaestatisticamentesignificante(p<0,001).Amaioria
daspessoasavaliadasapresentaramplumbemiaabaixode4,0g/dL.Apenas6%ti
veramplumbemiaacimade15g/dLedesses,somentecincopessoastiveramPbS
acimade20g/dL,sendosomenteumcasocomPbSiguala33,6g/dLetodosdo
sexo masculino. Assim sendo, podese observar na Tabela 2 que em todas as faixas
etriasosnveismdiosdaplumbemiasosempremaioresnoshomensdoquenas
mulheresetendemaaumentarcomaidadeemambosossexos,demonstrandoseu
carteracumulativonoorganismo.Osnveismaioresobservadosnosexomasculino
podem estar associados exposio ocupacional pregressa na antiga fbrica ou em
atividades que envolvessem o manuseio do solo contaminado, como a agricultura,
pavimentao de vias, instalao de rede sanitria etc. A Figura 2 apresenta repre
sentao grfica dos nveis medianos da plumbemia de acordo com a faixa etria e
sexo.
94
Fem
Mas
Figura2Medianadaplumbemia(g/dL)nasdiferentesfaixasetriasestratificadasde
acordocomosexo.
Osnveisdecdmiovariaramentre0,05g/La5,17g/L,comvalormdiode0,74
g/L.Ovaloresperadonapopulaogeralnofumantede0,50g/Ledeat1,5
g/Lemfumantes(WHO,1996).Infelizmentenotivemosacessoaosdadoscoleta
dos na aplicao dos questionrios do protocolo ou mesmo se todas as pessoas
avaliadas passaram pela entrevista e aplicao dos questionrios. Portanto no co
nhecemosostatusdessaspessoasquantoaohbitodefumar.Apenas18(8%)pes
soastiveramCdSacimade1,5g/L.ANormaRegulamentadoraNo7doMinistrio
doTrabalhoestabeleceovalorde5,0g/LparandiceBiolgicoMximoPermitido
(IBMP)paraoCdS.OquesignificadizerquetrabalhadorcomvalordeCdnosangue
maiorqueestedeveriaserafastadodasuafuno.Noentanto,estamostratandode
exposio ambiental e esta pessoa observada com CdS maior que 5,0 g/L uma
mulher de quase 60 anos. Esses resultados refletem uma exposio excessiva por
partedapopulao,asquaisemtesedeveriamserafastadasdafontedeexposio.A
Figura3mostraoshistogramasdasdistribuiesdefrequnciadosnveisdeCdSes
tratificadopelosexo.EnquantoqueaFigura4apresentaasmedianasdosnveisde
CdSdeacordocomafaixaetriaesexo.
95
Figura3HistogramasdasfrequnciasdeindivduosemcadanveldeCdnosanguede
acordo com o sexo. Setas mostram os valores de referncia do CdS para no fumantes
(NF)efumantes(Fum.).
PodemosobservarnaFigura4umsignificanteaumentodosvaloresmdiosdeCdS
com a idade,refletindo dessa forma o forte potencial cumulativodo Cd. Estemetal,
diferente do chumbo que tem um tropismo pelos tecidos sseos acumulandose na
formadepirofosfatodechumbocommeiavidade5a25anos,temacapacidadede
acumularse no crtex renal onde fica depositado com uma meiavida estimada em
30anos(Robertsetat.2001;WHO,1996).
Fem
Mas
Figura 4 Mediana dos nveis de cdmio

sanguneo nas diferentes faixas etrias
estratificadadeacordocomosexo.
96
QuantoaosnveisdeALAU,umbiomarcadordeefeitodochumbo,amdiaentreas
mulheresfoi1,9mg/gdecreatinina,variandode0,2a4,9mg/gdecreatinina.Am
dianogrupomasculinofoi2,0mg/gdecreatinina,variandode0,6a7,5mg/gdecre
atinina.SegundoaNR7(MTBr)ovalornormaldeALAUde4,5mg/gdecreati
nina e o IBMP de 10,0 mg/g de creatinina. Dentre todas as pessoas avaliadas 3,6%
apresentaramnveisdeALAurinrioacimadovalordereferncia.AFigura5apre
sentaadistribuiodefrequnciadosnveisdeALAUdeacordocomosexo.
Figura5FrequnciasdosindivduosdeacordocomosnveisdeALAUestratificadasde
acordocomosexo.
Foiobservadaumafracacorrelao(Spearmanrho=0,198,p=0,009)entreosnveis
de PbS e os nveis de ALA na urina, somente quando este parmetro no era
corrigido pela creatinina urinria. Esta baixa correlao devese ao fato dos baixos
nveis de PbS observados neste grupo, em que poucos valores de plumbemia
estavam acima de 20 g/dL. O aumento dos nveis de ALA reflete a inibio pelo
chumbodaenzimaALAdesidrogenasenasmitocndriasdosistemahematopoitico,
resultando no seu acmulo no organismo e consequente excreo atravs da urina.
Esta inibio enzimtica resultar na reduo da sntese do grupamento Heme da
hemoglobina,tendocomoconsequnciaumaanemiahipocrmica(WHO,2002).
Os demais parmetros analisados como CuS, ZnS apresentaram valores dentro da
faixanormalesperadanapopulaogeral,nohavendonenhumacorrelaocomos
nveisdePbSouCdS.
97
Oquemudouemquase20anos
Aps vinte anos de cessada a operao da fundio primria de chumbo, os nveis
dessemetalsuspensonoartmdecadosensivelmente,oqueserefletenosvalores
de plumbemia na populao adulta e, sobretudo na populao infantil. Os nveis de
plumbemia reportados ao longo desses anos apresentam mdias cada vez menores
emcrianas.Carvalhoetal.(1980)avaliaram555crianasde1a9anoseencontra
ramumamdiadePbSde59,125,0g/dL;em1985SilvanyNetoetal.(1989)ava
liaram53crianasapsadoodemedidasdecontroledeemissonafundioeen
contraramumamdiadeplumebemiade36,922,9g/dL.Osltimosresultadosde
plumbemia em crianas dessa localidade disponveis na literatura mostram que o
valormdioem47crianasde1a4anosdeidadefoide17,17,3g/dL,onde88%
estavamacimade10g/dL(Carvalhoetal.2003).Emadultos,deacordocomosda
dosapresentadosnassessesanteriores,em1992amdiadePbSnos31trabalha
doresdaadministraodaempresadefundiofoide13,17,3g/dL,variandode
1,4a34,8g/dL.Jem2011,ovalormdiodaplumbemiaobservadaemadultosde
20a40anosnapopulaodoentornodaantigafbricafoide2,67,3g/dL.Esses
dadosdemonstramcomoosvaloresdeplumbemiatendemaaproximarsedosvalo
res esperadosdapopulaosemuma fontepontualde contaminao apso encer
ramentodasatividadesdafundioprimriadechumboemdezembrode1993.
Afontedeexposioatualosolocontaminadodasruasprximasdaantigafundi
o e a montanha de 490.000t de escria contaminada (Anjos, 1998). Essas fontes
podemcontaminarprodutosnelecultivados,lixiviarparaosrecursoshdricos,con
taminandoosfrutosdomar,sobretudoosbivalvesquesofiltradores,assimconcen
trando os metais pesados. Como foi o observado por Carvalho et al. (2003) que o
chumbodepositadonosoloenapoeiratornaseumafontedeexposioduradoura.
Estimase que os nveis de chumbo no sangue aumentem em 3 a 7g/dL por cada
aumento de 1 000 ppm do metal no solo ou poeira (CDC, 2002). Isto significa, que
emboraoriscotenhadiminudo,operigocontinua,poisamobilizaodosolocon
taminadopodeelevaroutravezosnveisdepartculasdechumboemsuspensona
atmosferaeculminarcomareexposiodacomunidadeaconcentraesperigosas.
Recomendaessobreosbiomarcadores
Diantedanecessidadedeproverevidnciascientficasincontestveisquantoaosn
veisatuaisepregressosdeexposio,aliadoaofatoquedevehaverumaotimizao
dosrecursospblicosinvestidosnesteestudo;que,baseadosnosresultadospreli
minares desta avaliao e, sobretudo, na toxicologia desses metais pesados, reco
mendamosumarevisonosbiomarcadoresaseremmonitoradosnestapopulao:
Paramonitorizaodaexposioaocdmio
Aconcentraodecdmionoorganismoaumentacontinuamenteatcercade6070
anos,quandopodedecrescer.Acumulaseprincipalmenteemrinsefgadodevido
98
habilidadedessestecidosemsintetizarmetalotioneina,protenaqueinativaometal
eprotegeosistemaenzimticocelular(Bernard,2008)daaotxicadocdmio,a
qualsedeveafinidadeporradicaissulfidrila,hidroxila,carboxila,fosfatil,cisteinile
histidileaocompetitivacomelementosessenciaiscomozinco,cobre,ferroeclcio
(Ramirez, 2002). Depois de ligado a metalotioneina, o cdmio filtrado nos glom
rulos renais e reabsorvido nos tbulos proximais. A metalotioneina ento degra
dadanasclulastubulares,liberandoometal,oqualestimulaaproduotubularda
protena.EmaltasconcentraesdeCdnocrtexrenal,ometallivrealcananveis
tambmelevados,provocandodanotubular.Vistoqueatoxicidadedocdmiode
pendente da concentrao nos rins, os efeitos adversos no so observados aps
curtoperododeexposio(ATDSR,2008).Assimsendo,adosagemdocdmiouri
nrio(CdU)omelhormarcadorparaexposiodelongodeprazo.
Ainda,sugerimosainclusodeumoumaisbiomarcadordeefeitosubclnico.Orim
por ser um rgo compensatrio s revela alteraes dos valores de uria e creati
ninacomperdadedoisterosdafuno.Dessaforma,outrosbiomarcadoressore
comendadosafimdedetectarinjriaprecoce.Sugerimosadosagemdeumoumais
marcadores de leso renal, como Nacetilglucosaminidase (NAG), retinol binding
protein(RBP)e/ou2microglobulina,osquaisestorelacionadosadanosprovoca
dosnotbulocontornadoproximal.A2microglobulina,expressaemclulasnucle
adas e encontrada em baixas concentraes no plasma, e a RBP, responsvel pelo
transportederetinoldofgadoparaostecidosepiteliais,consistememprotenasde
baixo peso molecular geralmente filtradas pelos glomrulos renais e reabsorvidas
nos tbulos proximais. Em caso de dano tubular, teores elevados dessas protenas
so detectados na urina e, por isso, so marcadores utilizados na monitorao de
disfunorenal(Prozialecketal,,2007).
Paramonitorizaodaexposioaochumbo
Combasenosdadosaquiapresentados,osnveisdechumbosanguneoobservados
nestapopulaonosoelevadososuficientepararefletirumaumentosignificativo
nosnveisdeALAurinrio.ComofoiobservadoporLee(1982)eMenezesFilhoetal.
(2004) somente a um aumento da excreo de ALA quando os nveis de PbS so
acimade40g/L.Nestegrupoestudado,ovalormaiselevadodePbSfoideumho
memqueteve33,6g/LeoALAnaurinade1,0mg/gdecreatinina.Almdomais,o
ALAnoumbiomarcadorespecficodosefeitosdochumbo,elepodeestarelevado
em doenas relacionadas ao sistema hematopoitico, sobretudo as porfirias. Deste
modo,sugerimosqueapenasindivduosquetenhanveisdePbSacimade40g/L
sejamrequisitadasadosagemdeALAurinrioedazincoprotoporfirnaeritrocitria
(ZnPP).
Paraosextrabalhadoresdafundioprimria,adosagemdePbSnovairefletiros
elevados nveis que estes trabalhadores tiveram no passado, como est descrito na
primeira sesso deste captulo. O ideal seria a quantificao dos nveis de chumbo
depositadosnosossos,atravsdemtodonoinvasivo.Osossoschatosoutrabecu
99
lares,aexemplodoexterno,patela,etc,porsuaaltaperfusosoconsideradosdep
sitosmaiscurtodochumbo,ondesuameiavidaestimadade5a10anos.Osossos
corticaiscomofmur,tbia,etcsomaisrgidoseameiavidadochumbonessesteci
dos de 15 a 30 anos (ATSDR, 2005). Diversos estudos tm associado a exposio
crnicaoupregressadelongoprazoaoPbcomumasriedeefeitoscomo:hiperten
so (Weaver et al., 2008), neurobehavioral effects (Dorsey et al., 2006) e danos na
funorenal(Muntneretal.,2007,Weaveretal.,2011).Noentanto,estametodolo
gia baseiase na fluorescncia de RaioX (XRF), a qual usa uma fonte radioativa de
Cd109.Donossoconhecimento,sexisteumgruponomundoquedetmestatecnolo
gia e presta esse servio atravs de consultoria, est localizado em Nova York na
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Remediaodereascontaminadas:proposiesparaostioda
PlumbumemSantoAmarodaPurificao/BA
JosengeloSebastioAraujodosAnjos1
LuisEnriqueSnchez2
LuizCarlosBertolino3
Introduo
NumbairrodaZonaLestedomunicpiodeSoPaulo,cercadecemfamliasocupam
umterrenoondefuncionouumafbricaderevestimentocermico,constroemcasas
e criam alguns animais domsticos. Em abril de 1997, ao fazerem uma escavao
parainstalarumamanilhadeguasservidas,descobremumasubstnciacomcheiro
muito forte. Uma vaca pasta na rea. Descobrese que a substncia BHC, produto
organocloradousadocomoagrotxico,proibidonoBrasil,quenadatemavercoma
fbrica de revestimentos cermico e que foi provavelmente abandonado clandesti
namentenoterreno.Apelaseparadiferentesrepartiesdosgovernosmunicipale
estadual.Algumamedidaurgenteparecenecessria,tantoemvistaapericulosidade
desse produto qumico. Diversas perguntas se colocam: o que fazer? como fazer?
quem deve fazer o que? quando? Esta repartio pblica tem atribuio legal para
fazer alguma providncia? sua competncia? Quais as consequncias se nenhuma
medida for tomada? Quais as consequncias se alguma medida for tomada?
(SANCHEZ,2001)
Com o objetivo de limpar o solo e as guas subterrneas de substncias txicas foi

formuladopelaEnvironmentalProtectionAgency(EPA),em1986,aprimeirasequen
ciadeprocedimentosdecorreoparaumareacontaminada.Estasaescorretivas
foramdesenvolvidasemcincofases,sendoainicialumavistoriaeavaliaoprelimi
nardositio,passandopelaproposiodetcnicasderemediaoataimplantao
dasmedidascorretivaseestabilizadoras(BERTENFELDER,1992).
Nesteperodo,noBrasil,em1987,ocorreoacidentecomocsio137emGoiniae,
segundoTerraeLadislau(1991),anodefiniodosculpadospeloacidenteque
retarda o devido atendimento s vitimas, seja mdico, seja financeiramente o que
1
2
3
DoutoradoemEngenhariaMineral/[email protected]
DoutoradoemEconomiadosRecursosNaturaisedoDesenvolvimentopelaEscoladeMinasde
[email protected]
Doutorado em Engenharia de Materiais. Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro.
[email protected]
104
Remediaodereascontaminadas:proposiesparaostiodaPlumbumemSantoAmaro...
caracterizaumaaodesarticuladadasinstituies,porfaltadeleisespecficassobre
acontaminaoindustrial,esuasconsequnciasnasadehumana.
Dentrodestecontexto,apartirdadcadapassada,emSoPaulo,umnmeroexpres
sivodetrabalhosenvolvendoogerenciamentodereascontaminadasporresduos
industriais e proposies para remediao de stios foram se multiplicando, tais
comoMarkeretal.(1994),Pompeia(1994),Sanchez(1995),Cunha(1997),Gloeden
et al. (1997), Hassuda (1997), Leite et al. (1997), Sgolo (1997), Anjos (1988),
Gloeden (1999), CETESB (1999), Crozera (2001), Silva, A.L.B. (2001), Silva, F. A. N.
(2001),TosoJnior(2001),Borba(2002),Sanchez(2006)eMarker(2008).
Otermoremediation,nalnguainglesa,refereseabordagemdecunhoeducacional,
uma ao ou processo de correo ou domnio do conhecimento ou problema
(WEBSTERS, 1995). Contudo, este termo foi introduzido nos Estados Unidos e Eu
ropa, pelos formadores de opinio, como um conjunto de medidas objetivando a
limpeza de stios degradados por atividades industriais, notadamente a disposio
de resduos txicos, que tenha causado a contaminao do solo ou do aqufero
(SNCHEZ,1994).
A USEPA define remediao como um conjunto de aes corretivas aplicveis a um
determinado stio contaminado por resduos perigosos. Na prtica, essas aes mi
nimizamosefeitosdacontaminao,oquesignificaquedificilmentepodeserecupe
rarostio(BERTENFELDER,1992).EnquantoqueBitar(1997)definearemediao
como tcnicas de tratamento que se destinam a eliminar, neutralizar, imobilizar,
confinar ou transformar elementos ou substncias presentes no ambiente e, assim,
alcanaraestabilidadequmicadoambiente.
O termo remediao por vezes se confunde com recuperao. Gloeden (1999) e
Sanchez (2001) discutiram as diferenas e aplicao destas terminologias, que se
gundo (GLOEDEN op. cit.) podem ser empregadas quando determinarem medidas
paracompatibilizarousoatualefuturodareacontaminada.Dentrodestecontexto,
arecuperaodereascontaminadasseriatodooprocessodeaplicaodemedidas
corretivasnecessriasparaminimizaroueliminaracontaminao,visandoautiliza
o da rea para um determinado uso, enquanto a remediao est relacionada a
medidas de conteno ou isolamento da contaminao. Enquanto Sanchez (op. cit.)
enfatizaarecuperaocomomedidasparaeliminaroureduziraquantidadedesubs
tncias nocivas presentes no solo ou na gua subterrnea, enquanto a remediao
estaria relacionada a medidas para isolar os setores mais contaminados e remoo
doscontaminantesanveissegurossadehumanaeaoecossistema.
Todavia,aaplicaodotermoremediaoporvezestornaseimprocedentequando
dependentederespaldojurdico,vistoque,atomomento,noexisteleiespecfica
noBrasilpararemediaodestioscontaminados.Entretanto,omesmonoocorre
comaespecificaodotermorecuperaonaConstituioFederalde1988,regula
mentadopeloDecretoFederal97.632/89paraprojetosdemineraoedenominado
Plano de Recuperao de reas Degradadas. Nestas condies, a recuperao deve
JosengeloSebastioAraujodosAnjos,LuisEnriqueSnchezeLuizCarlosBertolino
105
serentendidacomooresultadodaaplicaodetcnicasdemanejoobjetivandotor
narareaadequadaparaumnovouso(SANCHEZ,2001).
Schianetz(1999)noutilizouotermoremediaoecorrelacionaopassivoambien
tal4dereascontaminadasporresduosindustriaisaaesparaasuarecuperao,
tais como: necessidade de aes imediatas; objetivos da recuperao; durao da
aodarecuperao;tiposdecontaminantesesuasrelaescomosubsolo;recursos
financeirosdisponveise;aspectoslegaisreferentesseguranadaoperao.
Jomanualdegerenciamentodereascontaminadas(CETESB,1999),primeiropro
tocolo brasileiro sobre reas contaminadas, define a remediao como a aplicao
detcnicaouconjuntodetcnicasemumareacontaminada,visandoremooou
contenodoscontaminantespresentes,demodoaassegurarumautilizaoparaa
rea,comlimitesaceitveisderiscosaosbensaproteger.
Destaforma,osistemadegerenciamentodereascontaminadasdaCETESBcontem
plaumaetapaparainvestigaoparaaremediao(selecionardentreasvariasop
esdetcnicasexistentesaquelasmaisapropriadasparaocasoconsiderado)eem
seguidaumprojetoderemediao(basetcnicaparaorgogerenciadorourgo
de controle ambiental avaliar a possibilidade de autorizar ou no a implantao e
operaodossistemasderemediaopropostas).
Todavia, duas dcadas aps as primeiras regulamentaes efetuadas pelos Estados
Unidos5 para limpeza de solos contaminados e, da intensa investigao tecnolgica
patrocinada pelos pases industrializados, em especial, Estados Unidos, Canad, In
glaterra,HolandaeAlemanha,constatasequeasdificuldadesderecuperaodessas
reascontaminadascontinuam.Estaconclusodecorredacomplexidadequeenvolve
a contaminao dos stios, das tcnicas aplicadas no atingirem seus objetivos ple
namentee,notadamente,peloselevadoscustosparaimplementaodaremediao.
Estas condies vm favorecendo a especificidade de tcnicas de remediao com
menores custos, como as apresentadas nas Sixth and Seventh International
Conference on Contaminated Soil, realizadas sequencialmente, em 1988, em
Edinburgh,UKe2000,emLeipzig,Alemanha.Nestasconfernciasforamenfatizadas
as dificuldades de atingir padres mais restritivos com as tecnologias atuais, a
SegundoSchianetz(op.cit.),passivosambientaissodeposiesantigasestioscontaminados
que produzem riscos para o bem estar da coletividade, segundo a avaliao tecnicamente
respaldadadasautoridadescompetentes.Porm,paraSnchez(op.cit.),opassivoambientalo
acmulodedanos(impactos)ambientaisquedevemserreparadosafimdequesejamantidaa
qualidadeambientaldeumdeterminadolocal.
ComprehensiveEnvironmentalResponse,Compensation,andLiabilityAct(CERCLA),aprovadoem
1980,foiaprimeiraleiquetratoudacontaminaodosoloedasguassubterrneas,tambm
conhecidacomoSuperfund.Estaleifoiprecedidadasregulamentaesespecificasparagua,
areresduosslidos,respectivamente,WaterPollutionControlAct(1948),CleanAirAct(1955)
eSolidWasteControlAct(1965)(SNCHEZ2001)
106
necessidade de conviver com as reas contaminadas e a urgncia na utilizao do

bom senso para determinao dos stios com riscos imediatos, alm de serem
enfatizadas as pesquisas sobre tcnica de atenuao natural dos contaminantes,
caracterizadapeloseubaixocustonaexecuodaremediao.
Nessas circunstncias, diversas organizaes mundiais, em especial as instituies
ligadas ao Mercado Comum Europeu6, Leste Europeu e Amrica do Norte, vm
apresentandopropostasdecooperao,paratrocadeconhecimentocientficoepro
posiesdemetodologiasetestesdenovastecnologiasderemediaoparaossolose
asguassubterrneas.
NoBrasil,desde1992,algumastcnicasdedescontaminaodesolojvinhamsendo
executadas pelo setor privado, dentre elas o processo Bergmann e tecnologias con
vencionais como: incinerao, extrao qumica, descolorao, biodegradao, esta
bilizaoevitrificao.Todavia,umdosgrandesempecilhosimplementaodare
mediao nos solos contaminados estava relacionado ao custo operacional das tec
nologias que variava de US$ 122/m3 quando utilizado o processo Bergmann, a US$
1.282/m3 o custo para a incinerao com remoo do contaminante (ROHRIG;
SINGER1996).
Contudo,em1997,arevistaQumicaeDerivadosapresentouumagrandediscusso
denominadadeControleambientalchegaaosubsolo.Nesteartigosoapresentadas
as proposta dos planos de ao da CETESB para stios contaminados em conjunto
com a Agncia Ambiental do Governo Alemo (GTZ) e, so enfatizados os procedi
mentosparadesenvolvimentodoManualdereasContaminadas,almdoestabele
cimentodosvaloresderefernciaeintervenoparasoloeguasubterrneanoEs
tadodeSoPaulo(FURTADO,1997).
Durante este perodo, a metodologia adotada para diagnstico e avaliao de reas
contaminadasseguiuosprocedimentosaplicadospelaUSEPA,esequenciadoemtrs
fases:
Fase1Auditoriadeconformidade,quandoserolevantadasaslegislaesambien
taispertinentes;licenasMunicipais,Estaduais,FederaiseAmbientais;mapaselau
dosderiscosambientais,sadeocupacional,ergonmicoenotificaesdeacidentes,
alm de inspeo e conhecimento dos equipamentos instalados a cu aberto e em
subsolo;
Fase 2 Delineamento da contaminao, quando sero levantadas as informaes
quepermitamquantificaronveldecontaminaoexistentenosoloeguasubterr
nea,pormeiodoconhecimentogeolgicoehidrolgicodarea,utilizaodeproce
O Concerted Action on Risk Assessment for Contaminated Sites in the European Union
(CARACAS); Contaminated Land Rehabilitation Network for Environmental Technologies in
Europe(CLARINET);NetworkforIndustryContaminatedInEurope(NICOLE)eRiskAbatement
CenterforCentralandEasternEurope(RACE).
107
dimentosnormalizadosparaamostragemecaracterizaoda/sfonte/sdecontami
nao e qualificao e quantificao das substncias txicas por meio de anlises
qumicas.Nestafasetambmdevemserestabelecidasasprioridadesparaaremedia
o,oriscoimediatosadepublica,almdoscustosedetalhamentoparaaremedi
ao;e
Fase3Programadetalhadodemonitoramentoeaescorretivas,pormeiodepro
gramasderiscosadeeaoecossistema,aplicaodetcnicasderemediaoeava
liaosistemticadapersistnciadassubstnciastxicasnositiocontaminado.
Pormcadavezmaioronmerodestioscontaminadosquevmsendoidentifica
dosnoBrasil,principalmente,emfunododescarteinadequadoouclandestinodos
resduosindustriais7existentesnopassado.Emboranoexistaumcadastrodereas
contaminadas no Brasil, somente o estado de So Paulo contempla um programa
paraaregiometropolitanae,quejteria2300reaspotencialmenteidentificadas.
Dadosapresentados por Gloeden(1999)apresentamsomente paraabacia doGua
rapiranga,noEstadodeSoPaulo,1267reaspotencialmentecontaminadas.
Todavia,comaimplantaodeprotocolosespecficosparaosstioscontaminadosno
EstadodeSoPaulo,emespecialoManualparaGerenciamentodereasContamina
das(Figura1),osValoresderefernciadequalidadedosoloeguassubterrneasea
nova legislao implementada pela prefeitura de So Paulo para ocupao de lotes
urbanos que dispe de diretrizes e procedimentos relativos ao gerenciamento de
reas contaminadas no Municpio8, o Estado de So Paulo tornouse pioneiro na
AmricadoSulporpossuirmecanismosespecficoselegaisparaavaliaodestios
contaminados.
Apartirdaimplementaodosprotocolosestaduais,aCETESBapresentouemmaio
de 2002 o primeiro cadastro de reas contaminadas, compreendendo 255 stios j
em fase de remediao. Este cadastro, disponvel na internet (www.cetesb.sp.gov.
br/Solo/areas_contaminadas/relacao_areas.htm), compreendido por uma ficha
comdadossobreareacontaminada.
Em2009,foipromulgadaaResoluoCONAMA420/2009quedispesobrecritrios
evaloresorientadoresdequalidadedosoloquandopresenadesubstnciasqumi
cas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de reas contaminadas
poressassubstnciasemdecorrnciadeatividadesantrpicas.
SegundoaFundaoNacionaldeSade(FUNASA),rgodogovernofederal,asreascom
maiorpotencialderiscoasadehumanaso:Santana,noEstadodoAmap,presenade
arsnio;SantoAmarodaPurificao,noEstadodaBahia,contaminaoporchumboecdmio;
DuquedeCaxias,noRiodeJaneiro,contaminaoporpesticidas;Goinia,Gois,contaminao
pormaterialradioativoe,emSoPaulo,entreoutrosoCondomnioBarodeMau,presenade
benzeno,RecantodosPssarosemPaulnea,presenadeorganocloradoseFabricadeBateria
jax,contaminaoporchumbo.
Decreton42.319,de21deagostode2002.
108
NestaResoluoficaestabelecidoqueaavaliaodaqualidadedosolo,quantopre
senadesubstanciasqumicas,deveserefetuadacombaseemValoresOrientadores
deReferenciadeQualidade,dePrevenoedeInvestigao,sendoqueosValoresde
RefernciadeQualidadedosoloVQRs(concentraodedeterminadasubstnciaque
define a qualidade natural do solo, sendo determinada com base em interpretao
estatstica de anlises fsicoqumicas de amostras de diversos tipos de solos) para
substncias qumicas naturalmente presente sero estabelecidos pelos rgos
ambientaiscompetentedosEstadosedoDistritoFederal,emat04anosapsapu
blicao desta Resoluo, de acordo com o procedimento estabelecido no anexo I
destaResoluo(CONAMA420/2009).OprazofinalparaestabelecimentodoVRQs
findaem27dedezembrode2013.
Todavia,em2011foinegadapelorgoambientaldoEstadodaBahia,alicenade
localizao do projeto imobilirio MCMV Residencial Solar Paraso, vinculado ao
PACProgramadeAceleraodoCrescimentodoGovernoFederal,localizadonaFa
zenda Mucumbe, 200 (duzentos) metros da metalurgia da Plumbum. Embora o
projetoestivesseforadareaderestriodousodosolosegundooplanodiretordo
municpio de Santo Amaro, o rgo ambiental considerou que a rea apresentava
riscosadehumana.
1.Tecnologiasderemediao
Apsarevoluoindustrial,responsvelpelaconcentraoedisposioinadequada
de resduos txicos, e dos problemas causados sade humana pela migrao dos
metaispesadosnosoloeguassubterrneasnasformaspotencialmentedisponveis,
taiscomoosexemplosmundialmenteconhecidosdoLoveCanal,nosEstadosUni
dos,LekkerkerknaHolanda,eMinamatanoJapo.
As tcnicas de remediao evoluram rapidamente, principalmente as oriundas dos
processosconsagradosnametalurgia.Porm,aspesquisassobrestioscontaminados
conviveram, por muito tempo, dividida em dois grandes grupos de tecnologias de
remediao(ANDERSON,1994a;1994b;1994c;1994de1994f;USEPA,1990).Area
lizadaexsitu,caracterizadaportcnicasquepromovemaremoodosoloparades
contaminaoeposteriorreposionolocaldeorigemoudisposioematerroade
quado. E a tcnica in situ, realizada no local da contaminao, e sendo largamente
utilizada tanto para remover a contaminao do solo como para as guas subterr
neas.
Fonte:CETESB(1999)
Figura1Fluxogramadeprocedimentosparaavaliaodestioscontaminados
109
110
SegundoSchianetz(1999),astcnicasderemediaopodemserdiferenciadasentre
processosinsite(semremoodomaterial),onsite(remosoetratamentonolocal)
eoffsite(tratamentoforadolocal).Estastcnicasapresentamvantagensedesvanta
gensquedevemseravaliadas,conformeoQuadro1.
Quadro1Vantagensedesvantagensdosprocessosderemediao
Processoinsite
Vantagem
relativamentebarato
Desvantagens
dificuldadededescontaminardeformauniforme;
problemasconsequentessodedifcilavaliao;
grandedespndiodetempo;e
xitodarecuperaonopodeserconstatadocomconfiabilidade
Processoonsite
Vantagem
xitodarecuperaodefcilrepetibilidade
Desvantagens
apsotratamentoosoloficabiologicamentemortoe
mineralogicamentealterado;
autilizaodesolventesparaaextraocomprometesuasepara
onofinaldoprocesso;
naescavaoocorremriscosaomeioambienteeasade;e
2a3vezesmaiscaroqueosprocessosinsite
Processooffsite
Vantagens
geralmenterentvel;e
areaterumdestinoimediatoaumautilizao
Desvantagens
problematransferido;
sonecessrioscentrosdetratamentoparaadescontaminao;e
grandedispndionotransporteeproteonotrabalho
Fonte:Schianetz(1999)
As principais tcnicas de remediao testadas pela USEPA, durante o perodo de

1990, nos pases industrializados, e aplicadas em escala piloto e reais (ROEHRING;
SINGER,1996),sederamemfunodonmeroexpressivodereaspotencialmente
contaminadasnaComunidadeEuropia,cercade1.500.000(CROZERA,2001),edas
500.000reasnaAmricadoNorte(SANCHEZ,2001).
Issofoipossvelgraasapolticasespecificasparaessesstiosedisponibilidadede
recursosfinanceirospelosGovernosenvolvidos.SegundoCunha(1997),entre1980e
1986 foi destinado pelo Superfund, respectivamente, US$ 1,6 bilho e 9,0 bilhes, e
segundoSanchez(2001),ocustomdiodaremediaodoSuperfundporstioficou
emUS$29milhes.
Porm,jnoanofiscalde1993,aUSEPArealizouaprimeiraseleodetecnologias
de remediao mais frequentemente usadas nos stios contaminados e controladas
111
pelo Superfund. A aplicao e desenvolvimento destas tcnicas nos stios Superfund

proporcionaramaelaboraodeumacoletneadenominadaInnovatiesiteremedia
tiontechnology,organizadapelaAmericamacademyofenvironmentalerngineerscom
a assistncia da USEPA, composta por oito volumes. Este trabalho foi desenvolvido
por mais de 100 especialistas, que classificaram como principais tecnologias de
remediao,abiorremediao,otratamentoqumico,otratamentoporextrao,os
processosdesolidificaoeestabilizao,alavagemevaporizaodosolo,adessor
otermal,adestruiotermaleaextraoporvaporavcuo.
Estapublicaoseconstituiuemumagrandeavaliaodosresultadosquantitativos
das principais tcnicas empregadas pela USEPA, sendo discutido amplamente o po
tencialdeaplicaodastcnicas,seusprocessoseevoluo,suaslimitaeseseupo
tencialcomotecnologiainovadora(ANDERSON,1994ae1994b).
EmUSEPA(1990),foramapresentadastrsclassesdetecnologiasutilizadasespecifi
camente para metais pesados. Elas foram classificadas como conteno, solidifica
o/estabilizaoeseparao/concentrao(Quadro2).
Quadro2Tecnologiasderemediao
Classificaodatecnologia
Conteno
Tecnologiaespecifica
Solidificao/Estabilizao
Separao/Concentrao
Cobertura
Barreirasverticais
Barreirashorizontais
Microencapsulamentodepolmeros
Vitrificao
Lavagemdesoloinsitu
Lavagemsoloexsitu
Pirometalurgia
Eletrocinetica
Fonte:USEPA(1990)
NaUSEPA(1990)foramselecionadasasmaispromissorastecnologiasinsitudere
mediaoparastioscontaminadosporcompostosorgnicoseinorgnicos.Estapro
posiofoideterminadapeloaumentosignificativodestastecnologiasnosprocessos
de seleo e avaliao das remediaes desenvolvidas nos stios Superfund. As tec
nologiasparatratamentodesoloforam:
Eletrocinticaa)eletromigrao(transporteetrocadeespciesqumicasdentro
dogradienteeltrico,acarretandoacapturadoscontaminantes(Figura2);b)ele
troosmose (transporte de fludo no gradiente eltrico); e c) eletrlise (reaes
qumicasassociadascomocampoeltrico).
Fitorremediaoa)fitoextrao(tecnologiaqueusaplantashiperacumuladoras
paratransportedemetais(Ni,Co,Cu,CreZn)dosoloparadentrodaraiz);b)fi
112
toestabilizao(usodeplantasparalimitaramobilidadeebiodisponibilidadedos
metais(Zn,PbeCu)nosolo;ec)rizofiltrao(usoderazesdeplantasaquticas
paraabsorver,concentrareprecipitarmetaisderesduos).
Lavagemdosoloinsitu(soilflushing)usadoemsoloscomaltapermeabilidade
quandosoutilizadasguasoureagentesqumicosparasolubilizaoeextrao
doscontaminante(Figura3).
Fonte:USEPA(1990)
Figura2Remediaodesolocontaminadoporeletromigrao
Solidificao/estabilizao (S/S) solidificao o processo de troca das
caractersticasfsicasnoresduoparacontroleereduodamobilidadedoscon
taminantes,criandoumabarreirafsicaparaalixiviao.Enquantoaestabilizao
o processo de tratamento que converte o contaminante para baixas formas de
mobilidadeatravsinteraestermaisequmicas(imobilizao).ExemplosdeS/S
soavitrificaodosoloeautilizaodereagentesdeestabilizaoinsitu(Qua
dro3).
113
Fonte:USEPA(1990)
Figura3Remediaoporlavagemdosolo.
Jaagumagi(2002)apresentou,almdastcnicasinsitueexsitu(remooseguidade
tratamentoedisposio),aatenuaonaturalcomoaterceiraemaisnovacategoria
bsicaderemediaoparalimpezadesedimentosdecanaisdeporto.Segundooau
tor, a atenuao natural uma abordagem baseada em procedimentos e monitora
mento de processos biolgicos e qumicos que ocorrem naturalmente, reduzindo a
contaminao do solo e guas subterrneas. Requer o conhecimento detalhado de
qumicos, fsicoqumicos, hidrologistas e bilogos. Esta nova forma de remediao
vemseconsagrarcomaEuropeanconferenceonnaturalattenuationrealizadaemou
tubrode2002,emHeidelbergnaAlemanha.
SegundoOliveira(2000),aAtenuaonaturalmonitorada(ANM)secaracterizacomo
a tecnologia de remediao com maior viabilidade econmica para o acompanha
mento geoqumico e atividade microbiolgica de contaminantes orgnicos em sub
superfcie. Estes dados so referendados pelos projetos de remediao utilizando
ANM em tanques subterrneos nos Estados Unidos (Figura 4). Entretanto, para o
National Reserch Council (NRC) dos Estados Unidos a ANM uma tcnica de
remediao at o momento desenvolvida para os contaminantes orgnicos, BTEX,
114
hidrocarbonetos oxigenados (lcoois, cetonas e steres de baixo peso molecular) e

cloretodemetileno.
Quadro3Tecnologiasdesolidificao/estabilizao
Reagentesdeestabilizaoinsitu
Vitrificao
Adiodereagentespozzolanicoscomou
semaditivosparaconverterquimicamente
efisicamentecontaminantesparabaixas
formasdemobilidade
Usodeenergiaparadissolversoloseen
capsularcontaminantesquimicamentee
fisicamenteproduzindobaixamobilidade
emaiorformaestvel
Aplicadoparamuitosmetaistaiscomoo
arsnio,mercrioecromohexavalente
aplicadageralmenteparaarsnio,
chumbo,cromo,cdmio,cobre,zinco,as
bestoemetaisradioativos
Asuaeficinciadependedebaixaspercen
tagensdeargilas
Apresenadevolteisealtasconcentra
esdecontaminantesorgnicospode
diminuirasuaeficincia.
Fonte:USEPA(1990)
Fonte:Tulisetal.(1997apudOliveira,2000)
Figura4Programasderemediaoemtanquessubterrneos
Outraformadeimplementartcnicasderemediaoemstioscontaminadosdefi
nida por meio da caracterizao do alvo a ser atingido no projeto de remediao
(SMITHetal.,1995).Pormeiodesteprocedimentodevemserenfatizadocritriose
opes aproximadas para os principais objetivos da remediao, sendo preponde
ranteareduodovolumedocontaminante;oestabelecimentodeformadeestacio
nar a mobilidade do meio contaminado e diminuir sua mobilidade. Estes procedi
mentossodistribudosnosseguintesgrupos:
115
1.Tratamentoporimobilizaosotcnicasinsituquesecaracterizampelare
duodamobilidadedoscontaminantesnamatrizdosoloounotransportedoscon
taminantesnasguas,pormeiodosseguintesmecanismos:reduodainfiltraono
meio contaminado por meio do uso de barreiras; reduo da infiltrao atravs da
modificao da permeabilidade da matriz contaminada; reduo da solubilidade e
consequentemente a mobilidade do contaminante nas guas subterrneas; e o con
trole do fluxo dos contaminantes nas guas para permitir a coleta e tratamento
(SMITHetal,.1995).Astcnicasmaisempregadasso:
Sistemadeencapsulamento;
Barreirasverticais;
Barreirashorizontais,e
Solidificao/Estabilizao.
2.Tratamentodereduodatoxicidadesotcnicasaplicadasparareduoda
toxicidadeporprocessosqumicosebiolgicos.Geralmenteconverteoscontaminan
tesmetlicosdamatrizdoresduoslidoparaumaformamenostxico.Asprincipais
tecnologiasdetratamentoqumicoso:
Oxidaoqumicareaesquealteramoestadodeoxidaodostomosatravs
daperdadoseltrons.Asreaespredominantessoaprecipitaoeasolubiliza
o,esoprocessosutilizadosbasicamenteparacompostosorgnicos;
Reduoqumicaumprocessodereduonoqualoestadodeoxidaodeum
tomotende adecrescer. Asprincipaisreaesso aprecipitaoeasolubiliza
o,e
Neutralizao qumica reaes que regulam as concentraes de solues de
onshidrxidoehidrognio.Soutilizadosparatratamentodeslidosquesoex
cessivamentecidosoubsicos.
Osprocessosbiolgicosempregadosnaremediaodereascontaminadasobti
dos por intermdio da decomposio da molcula orgnica em molculas mais
simples, por exemplo: CO2, CH4, sais inorgnicos e gua. Este processo envolve
reaesdeabsoro,oxidao,reduo,biolixiviao,bioextrao,biosoroere
duoouoxidaobiolgica.Asprincipaistecnologiasdetratamentosbiolgicos
so:
Bioacumulao o processo de transferncia de metal da matriz contami

nada para a biomassa, podendo o metal ser acumulado em organismos vivos
seletivosoubiomassasnovivas;
Oxidoreduo biolgica uma tcnica utilizada para selecionar

microorganismosatravsdareduoouoxidaodosmetais,e
Metilizao o processo atravs do qual organismos atacam o grupo metil

(CH3)paraformarmetaisinorgnicos.
116
3. Tratamento por concentrao e separao so tecnologias desenvolvidas a

partirdastcnicasdetratamentodeminrio.Asprincipaistcnicassoosprocessos
fsicosdeseparaopirometalrgicasehidrometalrgicas.Astecnologiasinsituso
osprocessosporlavagemdesoloseaextraoeletrocinticaporguassubterrneas.
O principal problema que envolve a implementao destas tecnologias o elevado
custoeaobtenodeumdesejvelnveldosresultados.
Principaistecnologiasderemediaoaplicadaparametais
Algumastecnologiasparatratamentodesoloseguascontaminadaspormetaispe
sados, especialmente, chumbo, cdmio, zinco e cobre, so encontradas em grande
densidade na literatura. Da, sua aplicao e eficincia no processo de remediao
dependemdotipoderemediaoproposto(conteno,estabilizaooulimpeza),do
acessoatecnologiasdisponveisnomercadoalmdocustoparaaremediao.Estes
fatorestmlevadomuitosstioscontaminadosautilizaremmaisdeumatecnologia
deremediaoparaquehajaxitonoprocessoderecuperao.
A USEPA (1990) apresentou uma listagem dos principais contaminantes que sofre
ramtratamentoinsituenfocandosomenteacontaminaonosolo.Osmetaisidenti
ficados so: chumbo (445 stios); arsnio (388 stios); cromo (352 stios); cdmio
(276 stios); nquel (276 stios) e zinco (273 stios), alm do mercrio e cobre em
menores propores em stios Superfund. O Quadro 4 apresenta as tecnologias de
contenoaplicadasnosprincipaisstiosdoSuperfund.
Quadro4Tecnologiasdeconteno
Nomedositio
Tecnologia
especifica
NinthAvenueDump,IN
Conteno
IndustrialWasteControl,AK
Tecnologiaasso
ciada
Situao
Pb
Barreiraverticale
cobertura
Selecionado
Conteno
As,Cd,Cre
Pb
Coberturaedrenos Emoperao
E.H.ShillingLandfill,OH
Conteno
As
Coberturaeberma
deargila
Selecionado
Chemtronic,NC
Conteno
CrePb
Cobertura
Selecionado
OrdnanceWorksDisposal,
WV
Conteno
AsePb
Cobertura
Selecionado
Industriplex,MA
Conteno
As,PbeCr
Cobertura
Selecionado
Fonte:USEPA(1990)
Metais
117
O Quadro 5 apresenta as tecnologias de solidificao/estabilizao aplicada no

Superfund.
Quadro5Tecnologiasdesolidificao/estabilizao
Sitio
Tecnologiaespecifica
Metais
Tecnologiaasso
ciada
Situao
DaRewalChemical,NJ Solidificao
Cr,CdePb Bombeamentoe
tratamento
Selecionada
MarathonBattery
Co.,mNy
Fixaoqumica
CdeNi
Dragagemedis
posiooffsite
Emoperao
Nascolite,Millville,NJ
Estabilizaodesoloem
wetlands
Pb
Disposioonsite Selecionada
RoeblingSteel,NJ
Solidificao/estabilizao As,CrePb Cobertura
Selecionada
WaldickAerospace,Nj Solidificao/estabilizao CdeCr
Disposiooffsite Executado
PalmertonZinc,Pa
Estabilizao
Emoperao
TonnoliCorp.,PA
Solidificao/estabilizao AsePb
Barreiraqumica
Selecionada
Whitmoyer
Laboratories,PA
Oxidao/ficao
Bombeamentoe Selecionada
tratamento,cober
turaerevegetao
Bypass601,NC
Solidificao/estabilizao CrePb
Coberturaebom
beamentoetra
tamento
Selecionada
Flowood,MS
Solidificao/estabilizao Pb
Cobertura
Executada
IndependenteNail,SC Solidificao/estabilizao CdeCr
Cobertura
Executada
PappersSteeland
Alloys,FL
Solidificao/estabilizao AsePb
Disposioonsite Executada
GurleyPit,AR
Executada
PessesChemical,TX
Estabilizao
Coberturacom
concreto
Executada
E.I.Dupontde
Nemours,IA
Solidificao/estabilizao Cd,CrePb Coberturaereve

getao
ShawAvenueDump,
IA
Solidificao/estabilizao AseCd
Coberturaemoni Executada
toramentodas
guassubterr
neas
GouldSite,OR
Coberturaereve
getao
Fonte:USEPA(1990)
CdePb
As
Cd
Executada
Emoperao
118
OQuadro6apresentaastecnologiasdelavagemdesoloexsitu(soilwashing)1ein
situ(soilflushing)2aplicadanoSuperfund.
Quadro6Tecnologiasdelavagemdesolo
Sitio
Tecnologia
Metal
Tecnologiaassocia
especifica
da
EwanProperty,NJ
Tratamentoda As,Cr,Cue Prtratamentocom
gua1
Pb
extraodesolven
tespararemoode
orgnicos
GEWiringDivices,PR
guacom
Hg
Tratamentodere
soluoadi
sduo,disposioon
tivadeKl1
siteecoberturacom
soloargiloso
KingofPrssia,NJ
guatratada Ag,CreCu Disposiodesolo
comaditivos1
nosolo
ZanesvilleWellField,OH Lavagemde
HgePb
SVEpararemover
solo1
orgnicos
TwinCitiesArmy
Lavagemde
Cd,Cr,Cu, Lixiviaodosolo
AmmunitionPlant,MN
solo1
HgePb
SacramentArmyDepot Lavagemde
CrePb
Disposioderes
CA
solo1
duoslquidosoff
site
LipariLandfill,NJ
Lavagemde
Cr,HgePb Contenocom
soloeres
barreirashorizon
duos2
taisewetlands
UnitedChromeProducts, Lavagemde
Cr
Eletrocinetica
OR
solo2
Fonte:USEPA(1990)
Situao
Selecionada
Selecionada
Executada
Selecionada
Executado
Selecionadoe
posteriormente
retirado
Emoperao
Emoperao
NoConSoil98diversastecnologiasderemediaoparametaispesadosforamapre
sentadas.Entreelasastcnicashidrometalrgicasparaaremoodemetaisporlixi
viaoapresentaramresultadossignificativoscomautilizaodecidoctrico(H3C),
Na2EDTAeHClCaCl2(Quadro7),alavagemdepartculasfinasdosolocontaminado
comzincoporflotao e autilizaodetecnologias usandofosfatos,sedimentosde
origembiolgicasecinzasparaaestabilizaodesolosaltamentecontaminadosnas
reademinerao(KONTOPOULOS;THEODORATOS1998).
119
Quadro7Testesdelixiviaoparaextraodemetais
Pb
Zn
Cd
As
Ca
Mg
Al
Fe
Mn
Conc.inicialdosolo
(mg/kg)
34800 2020 100 2800 72800 15200 12900 60000 3500
cidoctrico(H3C)
3,3molesH3C/kgsolo% 54,6
61,4 72,0 3,6
65,2
37,5
9,3
3,5
74,3
6,6molesH3C/kgsolo% 66,1
72,8 92
10
70,9
53,3
12,1
5,5
86
Na2EDTA%
2,5molesNa2H2L/kg
solo
75,6
55,4 96,0 21,0 78,7
6,4
6,3
2,8
82,9
79,9
67,8 100 26,1 82,6
6,7
7,9
4,2
90,0
2,5molesNa2H2L/kg
solo
HCL
5,6molesHCL/kgsolo% 88,1
87,8 87,4 0,01
88,1
1,4
93,0
6,7molesHCL/kgsolo% 91,1
91,3 91,8 6,1
93,9
47
7,0
94
91,7
Fonte:Papassiopietal.(1998)
Enquanto que no Prague (20009), foi dada grande nfase na remediao in situ de
sedimentos,principalmenteemcanaisdeportoscomgrandesmovimentaesdeprodu
tosindustrializados.Estessedimentosgeralmenteprecisamserdragados,remediadose
dispostosadequadamente.Destaformaasprincipaistecnicasderemediaoinsitupara
metaispesadosemsedimentossoapresentadasnoQuadro8.
FifthInternationalSymposiumandExhibitiononEnvironmentalContaminationinCentraland
EasternEurope,1214setembrode2000,Praga/RepublicaCheca.
120
Quadro8Remediaesinsitudesedimentos
Remediao
Tipode
con
taminante
Tecnologiautilizada
Implementaodatecnologia
Remoodoscon
taminantesecon
centraobiolgica
Ni,Zn,Cue
Cd
Fitoextrao(entrada
demetaisnaplanta)
Introduodaespcievegetal,
cultivoeincinerao
Transformaoqu
mica
Metais
Precipitaodemetais
Infiltraodesaiseconstruo
dewetlands
Fixaodecontami
nantesporsoroou
imobilizao
Metais
Precipitaodemetais
comohidrxidosou
complexosinsolveis.
Encapsulamentode
metaisemmatriz
inorgnica.
AumentodopHporadiode
calouhidrxidosalternativos;
Precipitaoouadsoroperto
dasrazesdasplantas.
Adiodecimento;Vitrificao
usandocorrenteeltrica;
Adsorodemetaisnassu
perfciesdealuminossilicatose
argilas.
Reduodadisperso
advectivaprximoa
superfciedagua.
Todosos
con
taminantes
Aumentodaresistncia
hidrolgica.
Reduodaeroso.
Isolamentohidrogeo
lgico.
Recobrimentoporcamadas;
Desnitrificaodosedimento.
Introduodeespciesvegetais
Desviodedrenagens
Reduodadisperso
advectivaprximoa
guasubterrnea.
Todosos
con
taminantes
Aumentodaresistncia
hidrogeolgico.
Isolamentohidrogeo
lgico.
Aplicaodecamadadeargila.
Medidasdecontroledonvel
hidrosttico.
Aesparaconteno
Todosos
contaminan
tes
Reduodorisco
Trocadefunodocanalnave
gvel
Fonte:Zeman;Patterson(2000)
PesquisasdesenvolvidasporMarseilleetal.(2000)enfocaramamobilidadedosme
taispesadosnasespciesvegetais(Quadro9)esedimentoscontaminadosdragados
do rio Scarpe, no norte da Frana. A contaminao, oriunda de uma metalurgia de
zinco,apresentouasseguintesconcentraes(mg/kg)nossedimentos:Zn(6000);Pb
(600);Mn(230);Fe(17000)eTi(1400).
121
Quadro9ConcentraesdeZn,Pb,CdeCunasrazes
Espcies
Zn(mg/kg) Cd(mg/kg) Pb(mg/kg) Cu(mg/kg)
Uricadiosca
104010
29,40,4
300,7
33,60,4
Epilobiumparviflorum
4307
8,70,2
5,30,2
9,50,1
Epilobiumhirsutum
33010
7,10,7
5,20,2
8,00,2
Polygonumhydropiper
240090
884
21020
633
Rononculussceleratus
10001600
5060
100140
3043
170050
444
1846
603
Ellytdrigiarepens
Fonte:Marseilleetal.(2000)
QuantoaosstioscontaminadospormetaispesadosnoestadodeSoPauloequese
encontramemprocessoderemediaoedisponveisnositedaCETESB,constatase
que em muitos stios contaminados, j esto sendo aplicadas tcnicas de controle
(Quadro10).
EntreestesstiosavaliadospelaCETESBencontraseaPlumbumMineraoeMeta
lurgiaLtda,margemdoribeiroFurnasIporanga/SP.Oplanoderecuperaoambi
entalparaestestiocontaminadoprevasseguintesetapas(POMPEIA,2002):remo
vereisolarasfontesativasdecontaminao;minimizarotransportesecundriode
metaispesados;reduziroriscodeexposiohumanaaospoluentes;tornarosnveis
remanescentesdecontaminaoemsuperfciescompatveiscomosusosdepreser
vao ambiental e turismo; e estabelecer mecanismos de monitoramento da conta
minaoremanescente.
122
Quadro10Stioscontaminadosporchumboemetaisassociados
Sitio
Contaminante
TonollidoBrasil,
Jacare/SP
Chumbo
SaturniaSistemade
EnergiaLtda,
Sorocaba/SP
Chumbo
Acumuladoresjax
Ltda,Bauru/SP
Chumbo
CAFArgentiferaFurnas Chumbo
Minerao,Iporanga/SP
EmplasComrcioeBe
Chumbo
neficiamentodeMetais
Ltda,EliasFausto/SP
GerdauS/A,Cotia/SP
Chumboecido
clordrico
Aesimediatas
Coberturadoresduo;
Remoodoresduo/solo;
Tratamentodelquidoscon
taminados;
Monitoramentoambiental
Coberturadoresduo
Preveno/consumodegua;
TratamentodeLquidoscon
taminados;
Prevenodoconsumode
alimentos;
Remooderesduos/solo
Prevenoaoconsumode
gua;
taminados;
taminados
MangelsInsdstrias
Ltda,SoBernardodo
Campo/SP
Chumbo,zincoe
brio
PanasonicdoBrasil
Ltda,SoJosdos
Campos/SP
Chumbo,cdmio Barreirafsicaehidrulica;
ezinco
Remooderesduos/solo;
taminados;
Chumbo,cdmio MonitoramentoAmbiental
ecromo
ProlubRerrefinodelu
brificantesLtda,Presi
dentePrudente/SP
Regiodoslagosde
SantaGertrudes,Santa
Gertrudes/SP
PolibrasilResinasS.A,
Mau/SP
Chumbo,cd
Coberturaderesduos;
mio,zincoeboro Estabilidadedeaterro;
Isolamentodarea;
Prevenoaoconsumode
guaealimentos;
Chumbo,cdmio Monitoramentoambiental
emercrio
Remediao
Aserdefinida
Bombeamentoe
tratamentodas
guassubterr
neas
Aserdefinido
ProjetoRemoo
deresduos
Aserdefinida
Aserdefinida
Bombeamentoe
tratamentode
guassubterr
neas
Bombeamentoe
tratamentode
guassubterr
neas
Aserdefinido
Remoodecon
taminanteecober
turadesedimento
defundodelagos
Aserdefinido
Fonte:www.cetesb.sp.gov.br/Solos/areas_contaminadas/relacao_areas.htm(2002)
123
ProposiespararemediaodositiodaPLUMBUM
AestratgiaparaarecuperaodareaafetadapelaPlumbumdevealcanartodaa
reacontaminadaemaesquecontemplemintervenesimediatas,amdioeem
longoprazo.Oplanejamentoeaesseqenciadaspararecuperaodostiodevero
contemplarmedidasdeintervenoquedeverocomearnasinstalaesindustriais
dametalurgia,atareacontaminadadoesturiodorioSuba.
Comoestratgiainicialdeaofoiavaliadaaextensodacontaminaopormeioda
anlisedetodososdadosdisponveissobrearea.Nestaaveriguaoforamdelimi
tadastrsreasdistintasparainterveno:aprimeirarepresentadapelametalurgia
e seu entorno imediato; a segunda compreendendo as reas de aterros de escria
(quintaisderesidncias,subbasedecalamentodasruasdeSantoAmaroeaterros
emvias pblicasnazona urbana)e;a terceira reunindoazona rural,orioSuba e
seuesturio.
Todavia, a implementao de medidas de remediao para o stio da Plumbum de
pendedograuderecuperaoquesedesejaalcanarnarea,oqueestrelacionado
comseuusofuturo.Estacondioestsubordinadaavaloresdeintervenodosolo
estabelecidopelaCETESB(2009),eaoaportederecursosaserdisponibilizadospara
o Plano de Recuperao Ambiental, que envolve diretamente os custos para imple
mentaodastecnologiasdecontrole,monitoramentoambientale,principalmente,a
remediaodosoloedaescria.
Deacordocomestaspremissasforamlevantadasasprincipaisetapasaseremdesen
volvidasparaformulaodoPlanodeRecuperaoAmbientalnositiodaPlumbum,
quesoasseguintes(ANJOS,2003):
Delimitaodasreasdeabrangnciadacontaminao:foramdelimitadas
asseguintesreas(Figura5):
a rea de influncia direta e fonte principal de contaminao delimitada pelas
instalaesdaPlumbumeseuentornoimediato;
avaliaodafontedecontaminaonareaindustrial,comoobjetivodeterminar
aextensoeograudecomprometimentodafontedecontaminao,dosoloese
dimento,almdasguassuperficiaisesubterrneas;
areadeinflunciaindireta,compreendendoasfontesprimriasesecundriasde
contaminaosituadasnazonaurbanadacidade,queocorrerampormeiodade
posioinadequada,emformadeaterros,daescria,emruassemcalcamentoe
disposiodeescrianassubbasedeestradascaladasouasfaltadas,dosconta
minantescarreadosparaodorioSuba,almdapoeira,e
areadeinflunciaaquidenominadaregionalcompostapeloentornodacidade
deSantoAmaroatanascentedorioSubaeoseuesturio.
124
Determinaodosvaloresorientadoresdequalidadedosoloquantopre
senadesubstnciasqumicas:
determinao das reas de investigao (agrcola e APMax; residencial e indus
trial);e
estabelecimento de diretrizes para o gerenciamento ambiental da rea contami
nadaeusodosolo;
a. Definiodareaemergencialdeinterveno:porsetratardaprincipalfonte
decontaminao,areaindustrialdaPlumbumeseuentornodeverosofrerin
tervenes, em curto prazo, por meio de um Plano de Recuperao Ambiental
paraostioindustrial;
b. Delimitaodasreasdeintervenoacurtoemdioprazo:reasurbanas,
emespecialaAv.RuyBarbosaeoaltodaCOBRAC;
c. Complementao da avaliao de risco sade humana: Reavaliao e
complementaodosestudosnoscompartimentosambientaiseseuriscosade
humana,desenvolvidopelaFUNASAem2003.
d. Plano de remediao para o stio da PLUMBUM: definio das tecnologias e
tcnicasderemediaoparaintervenoacurto,mdioelongoprazo.
e. Plano de recuperao das edificaes: projeto de uso futuro da rea que
contempleareutilizaooudemoliodasinstalaes;
f. Programa de Educao Ambiental: que contemple a compatibilidade de viver
emreacontaminada;e
g. PlanodemonitoramentoAmbiental.
Estratgiapararecuperaodarea
A estratgia para definio do Plano de Remediao proposta para a rea pautase
nosseguintescritrios:
delimitaodasreasdevalidaodosdadosdisponveiseinterveno:a)reade
influncia direta compreendida pelas instalaes da Plumbum e seu entorno
imediato (Subrea 0); b) rea do entorno at 300m (Subrea I); c) rea entre
300e600m(SubreaII);reaentre600e900m(SubreaIII);reaentre900e
2.000m (Subrea IIa); rea entre 2.000 e 3.000m (Subrea IIb) e rea entre
3.000 e final da zona urbana e esturio do Suba (Subrea IIC) (adaptado de
TAVARES,1990)(Figura5)
avalidaodoslevantamentosrealizadosnasreas,paradeterminaodetodas
ocorrncias da escria e resduos finos depositados nas instalaes industriais,
subbasedasruasequintais,almdapoeiraeguassuperficiaisesubterrneas;
125
determinaodetodososmetaistxicoscontidosnafontedecontaminao,solo
esedimentos;
Fonte:Tavares(1990)
Figura5Delimitaodasreasesubareasparainterveno
ProposiesparaintervenonaSubrea0instalaesdaPlumbum
a. Remoo da escria e solo contaminado para tratamento exsitu: O trata
mento exsitu, fora da cidade de Santo Amaro, da escria poder ser viabilizado
pormeiodetecnologiasdehidrometalurgia(PURIFICA,2002)oupirometalurgia,
retirandoseosmetaiscontidosnaescriaeatornandoinerte;
b. Disposio da escria e solo contaminado das ruas e quintais em aterro
industrial dentro das instalaes da Plumbum: A disposio controlada se
dar por meio de aterro industrial para os solos contaminados e escria
(PURIFICA,2002),eocontroledacontaminaoviaguassuperficialpormeiode
cluladewetlands(ANJOS,2003)
Oaterroindustrialterasseguintescaractersticas(PURIFICA,2002):
Primeira etapa isolamento da rea! se caracteriza pela construo de cerca em
todo domnio da Plumbum e que tem como objetivo impedir o acesso de pessoas e
animaisnareacontaminada.
Segunda etapa deslocamento e aterramento da escria: Esta fase corresponde ao
serviodeterraplanagemparadeslocamentodaescriaqueseencontranoentorno
da fbrica e disposio da mesma no vale onde grande quantidade de escria j se
encontra em forma de um barramento. A execuo desta etapa tem como objetivo
126
disporos57.160m3deescriadeformaadequadaatacota115eumdeslocamento
at53memdireozonaalagadiaestudada.
TerceiraetapaSistemadeimpermeabilizao:Estaetapatemcomoobjetivoaexe
cuodosistemadeimpermeabilizaodotopoelateraisdobarramentodaescria,
com o intuito de evitar a lixiviao da escria. O sistema de impermeabilizao do
topodobarramentocompostoporcamadassuperpostasdesolovegetal,material
drenanteeumabarreirahidrulicacompostaporargilacompactada(espessuram
nimade0,6,graudecompactaosuperiora95%,teordeumidadedentrodafaixa
de2%epermeabilidadeinferiora107cm/s)intercaladaporumageomembrana
depolietilenocomespessurade1mm.Complementandoosistemafoiprevistaaim
permeabilizao do fundo da lagoa com camadas de argila compactada de 0,3m e
uma geomembrana de 1mm de espessura e uma alvenaria de pedra com fundao
situadaa2mdeprofundidadedasuperfcieetoponacota108(Figura6).
Fonte:Machado(2001)
Figura6Esquemadosistemadeimpermeabilizao
127
Quartaetapasistemadedrenagem:Nestaetapaforamdimensionadososelementos
de drenagem superficial composto por canaletas e bermas com o objetivo de in
terceptaredesviaroescoamentodasguaspluviaisparaforadareadobarramento
e evitar o aparecimento de eroso, alm de sugerir uma galeria para a remoo e
conduodasguasacumuladasamontantedobarramentodaescria.
Quinta etapa sistema de conteno: Se refere construo de um muro de gravi
dadecomcercade4mdealturatotal,incluindoaalturadabase(2m),quetemcomo
objetivoevitarapercolaodaguadalagoa.
Acluladawetlandpropostaconsistetemcomocaractersticas:solocomaltacapa
cidadedeatenuaofsica(condutividadehidrulicadosoloiguala109cm/s),ate
nuao qumica dada pela alta capacidade de troca catinica da montimorilonita e
matriaorgnica;terrenoplanoedefciladaptaosobrasdawetland.
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Avaliaes ecolgicas e ecotoxicolgicas relacionadas ao caso

daPlumbumemSantoAmaro(BA)
JliaCarinaNiemeyer1
SilviaEgler2
EduardoMendesdaSilva3
Introduo
Em reas contaminadas por metais, estudos envolvendo a avaliao e o monitora
mentodosecossistemasenvolvidossonecessriosparaentenderepreverabiodis
ponibilidade,atransferncia,abioacumulaoeosefeitosdospoluentesparaasco
munidadesbiolgicaseparaasadehumana(DOUAYetal.,2009).Estesestudosge
ralmenteenvolvemadeterminaodaconcentraodemetaisnoscompartimentos
ambientais(solo,gua subterrnea, guasuperficial,sedimentos,poeira)enabiota
(DOUAYetal.,2012),visandoaproteodasadehumanaedosecossistemas,alm
de envolver a realizao de avaliaes ecotoxicolgicas e da estrutura e funciona
mentodosecossistemasimpactados.
Estecaptulotemcomoobjetivodarumavisogeraldosestudosenvolvendoecolo
giaeecotoxicologiarelacionadoscontaminaopormetaisgeradapelaatividadeda
antigaPlumbumMineraoeMetalurgiaemSantoAmaro(BA).Taisestudosforam
realizadosnosolodaregiodeinflunciadaantigafbrica,nazonaurbanadeSanto
Amaro,nossedimentosdorioSubaenabaadeTodososSantos,desdeapocaem
queausinaestavaemfuncionamentoatopresente.Estesestudos,emboradisper
sos,buscaramcaracterizaracontaminaoeaspossveisrotasdeexposioaosme
taisnosoloesuabiota;gua,sedimentoebiotadorioSuba;almdoriscoecolgico
envolvendo tanto ecotoxicidade dos metais quanto impacto fsico da disposio do
resduosobreosorganismosdosolo.
Dentreosfatoresquecontrolamodestinodoscontaminantesinorgnicos,comoos
metais,nosecossistemas,estoaproximidadeemrelaofonte,apersistnciano
ambiente, os fatores de bioconcentrao e bioacumulao, e a biodisponibilidade
(WALKERetal.,2006).Osmetaisnosedegradamepodemacumularsenoscompo
nentes do ambiente onde manifestam sua toxicidade, sendo os solos e sedimentos
seus locais de maior deposio, e a biota associada a estes compartimentos a de
maiorpreocupaopelapossibilidadedecausarriscosadehumana.Almdepo
dercausartoxicidadeaosorganismosterrestreseaquticos,pelaabsorodiretaou
biomagnificao, os metais tambm podem se depositar na superfcie das plantas.
MestradoemEcologiaeBiomonitoramento.UFBAUniversidadeFederaldaBahia.
MestradoemEcologia.UNICAMPUniversidadeEstadualdeCampinas.
DoutoradoemBiogeografia.UniversitatdesSaarlandes.Alemanha
132
AvaliaesecolgicaseecotoxicolgicasrelacionadasaocasodaPlumbumemSantoAmaro(BA)
Atravsdoconsumodeguaoudabiotacontaminada,inalaodepoeiraouingesto
acidentaldesolopelascrianas,algunsmetaispodemfazerpartedacadeiaalimentar
humana e causar intoxicao (JRUP, 2003), como j constatado em Santo Amaro
(CARVALHOetal.,1996).
OcasodeSantoAmarotemsidoalvodevriosestudossobreacaracterizaodacon
taminaonoscompartimentosambientais,atravsde anlisesqumicaspara ade
terminaodaconcentraodemetais.Porm,nofocoambientaleenvolvendorisco
ecolgico,poucostrabalhostmestudadocomoacontaminaoexistenteafetaainda
hojeaestruturaeofuncionamentodosecossistemasatingidos,econsequentemente,
osserviosoferecidospelosecossistemasparaavidahumana.Estaabordagempode
incluir tanto levantamentos de campo, como por exemplo, a anlise da estrutura e
diversidade da comunidade vegetal ou de comunidades aquticas in situ, quanto os
ensaios de ecotoxicidade, usando organismos vivos e os expondo ao material cole
tado nos locais em anlise. Em geral, h uma ausncia de estudos integrados e de
longaduraocomestasabordagens.
Avaliaesbiolgicassoespecialmenteimportantesporqueoriscoecolgicono
previsvelapartirdeanlisesqumicas.Istoporqueabiodisponibilidadedosmetais
vaidependerdascaractersticasdomeio(porexemplo,pH,matriaorgnica,capaci
dadedetrocacatinica)epodeseralteradaaolongodotempoporfatoresfsicosdo
meio, ou pode ser alterada pela atividade dos organismos (atividade enzimtica de
microrganismosdosolo,pHintestinaldeinvertebradosdesolo,bioturbaodema
riscosquevivemnosedimento,dentreoutros)(ALLEN,2002).
Dentre as avaliaes biolgicas disponveis, os ensaios de ecotoxicidade tm sido
usadosemconjuntocomasanlisesqumicasparaavaliaroriscoecolgicodereas
contaminadas por metais, como reas de minerao e reas industriais desativadas
(ALVARENGAetal.,2008;ANTUNESetal.2008;WEEKSetal.,2004).Osensaiosde
ecotoxicidadesousadospara expor organismostesteaummeio(gua,sedimento
ousolo)contaminado,comoobjetivodeavaliarseacontaminaoaltaosuficiente
paracausaralgumefeitoadversosobreasobrevivncia,crescimento,reproduoou
outrosatributosdestesorganismos(USEPA,1994).Dentreasvantagensdosensaios
deecotoxicidadeestoofatodequeelesrevelamoefeitocombinadodamisturade
contaminantes presentes, incluindo contaminantes no analisados ou para os quais
no existem limites mximos estabelecidos (FERNANDEZ et al. 2005; JENSEN;
MESMAN,2006;WEEKSetal.2004).Algunsensaiossoespecialmenteteisemes
tudos de varredura, usados para identificar os locais onde h maior toxicidade e
consequentemente maior risco ecolgico, como os ensaios de comportamento de
fuga,enquantoqueoutrosensaiosrevelamosefeitoscrnicossobreabiotaemuma
exposioprolongada(JENSEN;MESMAN,2006).
JliaCarinaNiemeyer,SilviaEglereEduardoMendesdaSilva
133
AbaciadorioSuba
AbaciahidrogrficadorioSubaencontraselocalizadanoRecncavoNorte,abran
gendo parte de sete municpios: Feira de Santana, So Gonalo dos Campos, Santo
Amaro, So Francisco do Conde, So Sebastio do Pass, Amlia Rodrigues e
Conceio do Jacupe, numa rea de 655 km. Est localizada entre as coordenadas
o
o
o
o
geogrficasde12 15e12 40latitudesule38 37e39 00longitudeoeste.Oprin
cipalcursodguaorioSuba,oqualtemsuanascentenachamadaLagoadoSuba
(bairro Suba e Loteamento Parque do Suba) no permetro urbano de Feira de
Santana,servindocomocorporeceptordeefluentesindustriaisdoCentroIndustrial
do Suba e esgotos domsticos provenientes de vrios bairros adjacentes. Este
aporteprovocadiminuiodaconcentraodeoxigniodissolvidonaestaosecae
pH do sedimento de neutro a bsico (HATJE et al., 2006; 2010). Seus principais
afluentes so: a) margem direita: rio Sergi (principal afluente), rio Pirauna, rio da
SerraerioSerjiMirimeb)margemesquerda:rioTraripe(principalafluente)erio
doMacaco.SuafozestlocalizadanomunicpiodeSoFranciscodoCondenabaade
TodososSantos,emfrenteilhadeCajaba.OrioSubaconsideradocomoaprin
cipal fonte de material em suspenso para a baa de Todos os Santos (HATJE et al.,
2006), transportando e distribuindo partculas contaminadas para as guas e sedi
mentosdabaa.
Deummodogeralareadabaciahidrogrficarecobertacomespciesquecomu
mente constituem a Floresta Pereniflia (vegetao secundria) e manguezais que
recobrem as margens desde a foz do rio Suba at as proximidades da cidade de
Santo Amaro. A vegetao tpica de Mata Atlntica vem sendo degradada devido
ao antrpica, inicialmente pelo extrativismo e posteriormente por culturas diver
sasepastagens.Atualmente,restamcercade5%dasuacoberturaoriginal.
Primeiros indcios de contaminao e de ecotoxicidade relacionados

Plumbum
UmacompletarevisosobreohistricodecontaminaoemSantoAmaropodeser
vista na tese de Anjos (2003). l que encontramos o relato de que, em 16 de de
zembrode1961,ojornaldemaiorcirculaonomunicpio,OArchote,traziacomo
mancheteprincipalCOBRAC:fbricadechumboedemorte.Areportagemreferia
seaumestudodesenvolvidopeloengenheiroqumicoDr.HansDittmar,contratado
por pecuaristas da regio, alarmados com a grande mortalidade de gado e sunos.
Apsumestudominucioso,oDr.Dittmaratribuiusatividadesdafbricaamortede
cercade250burros,200bovinos,almdeoutrosanimais,relacionandoassemis
sesatmosfricastxicas,ealegouqueosprocessosusadospelafbricaparaopro
cessamentodochumboeramdosmaisprimitivos.Apolmicalevouafbricaatomar
algumasmedidasdecontroledacontaminaoatmosfrica,almdaaquisiodeter
rasnoseuentorno,buscandocontinuarsuaproduo(ANJOS,2003).
134
Em1975,oprof.JosOscarN.Reisrealizouestudossobreaqualidadedasguasdo
rio Suba. Os valores encontrados para Cd variaram entre 0,0042 mg/L e 0,0813
mg/L e para Pb entre 0,04 mg/L e 6,18 mg/L, superando os limites mximos para
esses elementos na gua estabelecidos pela Organizao Mundial da Sade O.M.S.
(REIS,1975ApudSANTOS,2011).Comoresultado,aSecretariadoMeioAmbientedo
Governo Federal firmou convnio com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
(CEPED), na poca responsvel pela execuo da poltica ambiental no estado, e a
equipe da UFBA do Projeto de Estudos Ecolgicos do Recncavo, para estudos dos
nveisdecontaminaopormetaisnasguas,nossedimentosenafaunanareada
baadeTodososSantos(OLIVEIRA,1977).Esteslevantamentosmostraramaregio
doesturiodorioSubacomosendoamaiscrticadecontaminaodePbeCd.Nos
moluscos, as concentraes de metais foram em mdia superiores aos limites para
consumohumanoestabelecidospelaFAO/WHOparaPb,2ppm(matriamida)e10
ppm(matriaseca)eparaCd500g(valormximosemanal)(OLIVEIRA,1977).
Em um estudo preliminar dos poluentes metlicos da baa de Todos os Santos,
Donnier etal.(1977,apudCARVALHO et al.,1982)encontraramemsedimentosdo
rio Suba, concentrao mdia de 23,7 ppm de Cd, com intervalo entre 0,5 120
ppm. Estes autores reportaram teores de cdmio (em peso seco) variando de 80 a
135 g/g em amostras de ostra, de 13 a 40 g/g em amostras de siri e de 40 a 60
g/gemamostrasdesururu,napocaemqueausinaestavaemfuncionamento,se
gundodadosrelatadosnadissertaodeSantos(2011).Azonamaiscrticadecon
taminaodossedimentosebiotacompreendiaoesturiodorioSuba.Asaltascon
centraesdePbeCdencontradasnosmariscoslevaramrealizaodeestudosvol
tadosparaaspopulaesconsumidoras.
Entreoperodode1975e1980,aequipedoProjetoEstudosEcolgicosdoRecn
cavo (PEER) da UFBA e do CEPED realizaram vrios estudos sobre a contaminao
porPbeCdemdiferentescompartimentosambientais.Costa(2001,Tabela7,p.44)
apresentaosresultadosdasconcentraesobtidasparaestesmetais:
1. RioSuba:a)guas:Pbmdia=1,6mg/L;prximo PLUMBUM:Pbmximo=
6,0mg/L).Valoresde refernciapara gua: Cd=0,003mg/LePb=0,01mg/L
(W.H.O.,2011).
2. Alimentos:a)ostras:Cdmdia=4g/g;b)frutaseverduras:Cdmnima=0,004
g/g,Pbembananaelaranjamnima=0,010g/g,evegetaisfolhosos:Cdm
xima=11,8g/gePbmxima=215g/g.Valoresderefernciaparaalimento
Cd=<10g/g(W.H.O.,2004).
Em 1996, os resultados dos estudos da Universidade Federal da Bahia, atravs do
ProgramadeMonitoramentodosEcossistemasaoNortedaBaadeTodososSantos
(UFBA,1996ApudFUNASA,2003),mostraramqueasconcentraesmdiasdeme
taisnasamostrasdesururucoletadasemSoBrs(Pb=1,36g/geCd=0,86g/g)
eSoFranciscodoConde(Pb=33,7g/geCd=0,25g/g)representavamumim
portanteindicativosobreapossvelexposiohumanaaalimentoscontaminados.
135
Em2001,CunhaeArajo(2001,apudFUNASA,2003)realizaramumestudopericial
onde,emamostrasdeguassuperficiaisnareadaPlumbum,asconcentraesm
ximasparaPbforamde37,2mg/LeparaCdde0,46mg/L.Oestudotambmincluiu
amostrasdefrutas(seteamostras),comconcentraesdePb=12,350,30g/ge
deCd=1,880,03g/g,tubrculos(quatroamostras)comconcentraesdePb=
14,11,55g/gedeCd=2,320,54g/gegramneas,concentraesdePb=85,0
g/gedeCd=41,3g/g.Outroestudofoirealizadocomamostrasdegramneasno
mesmo ano, 2001, coletadas a 300 m da Plumbum e a 1, 6, 10 e 14 km de Santo
Amaro por Costa (2001). As concentraes (em peso seco) encontradas em gram
neasa300mdaPlumbumforamPb=30,22,7g/geCd=1,230,05g/g;ea14
km,Pb=0,8970,386g/geCd=0,3020,036g/g.Correlaespositivasforam
encontradas entre as concentraes de Pb nas plantas e no solo. Para comparao
comconcentraesdePbeCddereasnocontaminadas,aautoraconsideroucomo
valoresdereferncia1g/gparaPb,e0,3g/gparaCd.
Emumestudomaisrecente,realizadopelaFunasa(2003),coletasdesedimentofo
ramrealizadasa500mmontantedaPlumbum,daPlumbumatoinciodomangue
emSantoAmaro,edomanguedeSantoAmaroatSoBrs.Osmetaisdeterminados
nossedimentosforam:As,Cu,Hg,Pb,NieZn.Osresultadosobtidosforamdivididos
emduasfaixas,T=05cmeF=510cm,ondeasconcentraesdemetaisdetermi
nadasforam:PbnafaixaT=24,3910,64ppm(n=17)eF=32,2531,15ppm(n=
17);AsnafaixaT=0,940,31ppm(n=5)eF=0,630,08ppm(n=4);Cdnafaixa
T=0,540,08ppm(n=4)eF=0,730,33ppm(n=4).Tambmforamcoletadas
noveamostrasdemoluscos(sururu)nomangueentreSantoAmaroeSoBrs,onde
emumpontoaconcentraomximadePbfoide5,73ppm.
O estudo realizado pela Funasa (2003) relata que, na colnia de pesca de Caieira,
ondeospescadoresesuasfamliasvivembeiradorioSuba,quandoquestionados
sobreaqualidadedopescadoedaguadorio,ospescadoresinformaramqueentre
1994e1995omanguemorreu,equehojenecessrioandarmais,paraseencon
trarmariscos.Relatamaindaqueaquantidadeeaqualidadedasespciesforamre
duzidas (FUNASA, 2003). Estes relatos mostram um possvel efeito txico para os
ecossistemasemquesto,comumimpactosobreumserviodoecossistemaessen
cialparaasobrevivnciadestascomunidades,quepodeserresultadodacontamina
ogeradapelaPlumbumouporoutrosimpactosqueorioSubavemsofrendo.
Acontaminaodoscompartimentosambientaisedabiotaatualmente
ATabela1apresentaumacompilaodosdadosexistentessobreadeterminaodos
metaisPbeCdnoscompartimentosambientaisenabiota.Podesenotarqueacon
taminaopersistenabiotaassociadaasolosesedimentoscontaminados.
UmadasconclusesdaanlisederiscosadehumanarealizadapelaFunasa(2003)
adequeosmariscoscontaminadosconstituamseemumarotapresenteepossi
velmente em uma rota futura de contaminao humana. Os dados levantados neste
136
estudo e em estudos anteriores corroboraram a contaminao passada, presente e

possvelcontaminaofuturadacadeiatrficadestecompartimentoaqutico.Osau
tores recomendaram a realizao de estudos que determinem os pontos de maior
concentrao dos metais nos sedimentos, principalmente nas proximidades da
Plumbum,paramelhordelimitarasreasqueoferecemriscos.
Hatjeetal.(2006)estudaramacontaminaopormetaisnorioSuba,aestruturada
comunidadedeorganismosbentnicos(coletadosnosedimento),eacontaminao
pormetaisemamostrasdesolonasvizinhanasdausinadaPlumbum.Asestaes
decoletanocanalprincipaldorioestavamdistribudasdesdeoesturio,nabaade
TodososSantos,atamontantedacidadedeSantoAmaro.Osmetaisanalisadosna
frao<63mforam:Cd,Co,Cr,Cu,Mn,Ni,PbeZn.Almdadigestoparaaanlise
totalcomguaregia,foirealizadaoutracomsoluodeHCl1M,utilizadaparaobter
dadossobrebiodisponibilidade.AmenorconcentraototalnosedimentofoideCd
(0,223mg/kg)eamaiordeZn(877mg/kg).Nasamostrasdesolo,asmaiorescon
centraesforamdePb(>15091mg/kg)edeZn(2291mg/kg).Dasextraescom
HCl1M,Cd,Zn,MnePbapresentaramasmaioresporcentagensderecuperaocom
60 a 90%, 60%, 60% e 80%, respectivamente, sugerindo que esses metais foram,
principalmente, solubilizados pela dissoluo de xidos metlicos. Os resultados
obtidoscomaanlisedascomunidadesbentnicasindicaramqueestasforamnega
tivamenteafetadaspelasaltasconcentraesdemetais,especialmentedeCoemto
das as estaes amostradas. Os autores concluram que o passivo da usina da
Plumbumrepresentaumafontecontempornea(altamobilidadeecontnuoaltopo
tencialdeimpactoambiental)decontaminaofluvial,subterrneaeatmosfricade
metaiscomoPb,ZneCd.
Hatje et al. (2010) determinaram a concentrao de As em amostras de sedimento
coletadasem11pontosaolongodocanalprincipaldorioSuba.Afraoanalisada
foia<63m.AlmdoAsT(arsniototal)foirealizadaaanlisedasespciesAs(III)
e As(V). De acordo com CRA (2004, apud HATJE, 2010) as concentraes de back
grounddeAsTnabaadeTodososSantosvariamde5a17mg/kg.Asconcentraes
deAs(V)somaiores,representandoentre69e83%doAspresentenosedimento.
EstaespciemenostxicaqueoAs(III)emenosmvel,apresentandomaioradsor
oaosedimento.AconcentraodeAsT(515mg/kg)eAs(III)(13mg/kg)dimi
nuiudafozparamontante.Osautoresatriburamestadistribuiosregiespetro
lferasnabaadeTodososSantoseaopassivodausinadaPlumbum.
OtrabalhodeSantos(2011)confirmaqueaexposiohumanabiotacontaminada
continua atualmente. Em amostras oriundas de trs associaes de pescadores em
SoFranciscodoConde,coletadasduranteosanosde2010e2011,foramencontra
dos altos teores de Pb em amostras de sururu (Mytela guyanensis), variando numa
faixade0,28g/ga5,4g/g,eemamostrasdecamaro(Penaeusbrasiliensis),vari
andode0,19g/ga3,4g/g,pesoseco,excedendoolimiteestabelecidopelaAnvisa
(BRASIL,1998)de2,0g/g.Emrelaoaocdmio,osururu(M.guyanensis),comteor
mximo de 1,1 g/g, ultrapassou o limite desse metal estabelecido pela Anvisa
137
(BRASIL,1998),quede1,0g/g.Asamostrasdetainha(Mugilbrasiliensis)edero
balo(Centropomusundecimalis)apresentarambaixosteoresdechumbo(0,10a0,81
g/g e 0,14 a 1,5 g/g , respectivamente), dentro dos valores recomendados pela
Anvisa,oqueestdeacordocomocomportamentodosmetais,jquetendemase
depositarnosedimentoenopermanecemnacolunadgua.
NotrabalhodeRamosetal.(2012a),asconcentraesdeZn,Cu,Pb,HgeCdforam
determinadasemexemplaresdeCallinectesexasperatus(siri)capturadosnabaade
TodososSantosporpescadoreslocaisutilizandotcnicasartesanais,eadquiridosno
portodeAcupe,distritodeSantoAmaro.OsresultadosdasanlisesparaoPbapre
sentaramconcentraesabaixodolimitededeteco,tendoomesmoocorridocomo
Cdnasamostrasdetecidomuscular.Osprincipaislocaisdearmazenamentodecobre
ezincoforamasbrnquiasemsculo,respectivamente;paraocdmioeomercrio,
as vsceras constituram o principal local de armazenamento. Os valores de metais
encontradosnoestudo,empesoseco,variaramentre73,29e202,74g/gparaoZn;
47,66e290,7g/gparaoCu;0,71a1,96g/gparaoCd,e1,13a4,43g/gparao
Hg.Apsconversoparapesomido,foiverificadoqueosnveisdemercrio(vsce
ras) e cobre (vsceras e brnquias), esto acima dos limites estabelecidos pelos r
gossanitrios,devendoosriscosassociadosaoseuconsumoseravaliados(RAMOS
etal.,2012a).
OsteoresdecobreencontradosporRamosetal.(2012b)emUcidescordatus(caran
guejou),coletadosnaregioentreAcupeeSoFranciscodoConde,variaramentre
41,33 e 329 g/g e 43 e 284 g/g, em peso seco, em fmeas e machos, respectiva
mente.Asbrnquiasconstituramoprincipallocaldeacumulaodocobre.Emrela
oaosnveisdezinco,estesvariaramentre86,94e300,55g/g(pesoseco)nasf
meas,e68,94e266,11g/g(pesoseco)nosmachos,sendootecidomuscularoprin
cipalstiodeacumulaodozinco.
Emrelaocontaminaonosolo,otrabalhodeRabelo(2010)concluiuqueasan
tigas emisses atmosfricas ainda desempenham um papel importante na contami
naodereasnoentornodaPlumbum,ondeseverificouumaclaracorrelaoentre
osvaloresdeconcentraonosoloeosvaloresobtidosnasimulaodaconcentra
oatmosfrica,indicandoque,quantomaisprximodafbrica,maioresosnveisde
contaminao no solo. Os resultados deste trabalho tambm evidenciaram que o
aumentodosnveisdecontaminaonareaurbanaestdiretamenterelacionadoao
usodeescriaparapavimentaoderuaseaterrodequintaisdacidade.Emgeral,os
resultados confirmam a persistncia nos nveis de contaminao por chumbo e um
pequenodecrscimoparaocdmio,quandocomparadoscomestudosrealizadosan
teriormente.
Aatualcontaminaodosoloserefletenacontaminaodefrutaseverduras,onde
osvegetaisfolhosostmapresentadoconcentraesmaisaltasdemetaisdoqueas
frutaslocais.Magnaetal.(2011)estudaramvegetaisqueocorriamemquintaisehor
tasdemoradoresprximosausinadaPlumbumegramneasemreasadjacentesa
138
usina.Osalimentosvegetaisselecionadosforam: acerola(Malpighia glabraL.),aro

eira(SchinusmolleL.),alum(VernoniabahiensisToledo),banana(Musaparadisiaca
L.), boldo doChile (Peumus boldus Molina), capim santo (Cymbopogon citratus (DC)
Stapf.), cana (Arundo donax L.), cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P.
Wilson),goiaba(PsidiumcattleyanumSabine),limo(CitruslimonumRisso),laranja
(CitrusaurantiumL.)emanga(MangiferaindicaL.).Asespciesdegramneasanali
sadas foram capim de burro (Eleusine indica (L.) Gaertn.) e capim braquiria
(Brachiaria decumbens Stapf.). Na localidade de referncia, Oliveira dos Campinhos,
foramselecionadasasespciesvegetaisbanana,limo,aroeira,cana,cidreira,capim
santo,alumeboldodoChile.OsresultadosobtidosdetectaramapresenadePb(de
0,18 at 118,2 mg/kg) e Cd (de 0,04 at 7,39 mg/kg). Todos os alimentos vegetais
avaliadosapresentaramcontedosmdiosdePbeCdacimadosvaloreslimitesper
mitidos pela OMS. As gramneas apresentaram contedos de Pb (mximo de 820
mg/kg) e Cd (mximo de 7,99 mg/kg). Os valores de concentrao obtidos nos ali
mentosvegetaisegramneasvariaramconformeaespcievegetal.
Apesar do risco de consumo de alguns grupos de alimentos cultivados em solo dos
quintais contaminados ou consumo de mariscos oriundos de sedimento contami
nado,otrabalhorealizadoporAlmeidaePena(2011),comoobjetivodecompreen
der os significados do risco da contaminao alimentar para os feirantes de Santo
Amaro,apontouqueapossvelcontaminaopelochumbopercebidapelosentre
vistados como algo distante. Os autores concluram que a percepo do risco est
presente no pensamento e na reflexo quando h questionamento acerca do tema,
masnonaprticacotidiana,oqueapontaparaanecessidadedetrabalhosdecons
cientizaodestapopulao.
Efeitosecolgicoseecotoxicolgicosjdemonstrados
NocasodareadaantigaPlumbumeseusarredores,umaAnlisedeRiscoEcolgico
(ARE) foi realizada por Niemeyer et al. (2010) entre os anos de 2006 e 2008, inte
grandoinformaesdetrslinhasdeevidncia:qumica,ecotoxicolgicaeecolgica
(JENSEN;MESMAN,2006).Foramanalisados11pontos,distantesat1000mdarea
daantigafundiodaPlumbum,distribudosemdoistransectos,emaistrslocaisde
referncia, distantes trs e nove km da rea. Os resultados da fase de varredura da
AREoufase1soapresentadosemNiemeyeretal.(2010),enquantoqueosresulta
dosdafase2estopublicadosemNiemeyeretal.(2012a,2012b)eseroapresenta
dosemumatesededoutoradoqueencontraseemfasedefinalizao(NIEMEYER,in
preparation).
Alinhadeevidnciaqumicadafase1daAREapontoualtasconcentraestotaisde
metais,especialmentePb,Cd,CueZn,nosolosuperficialdareadaPlumbumearre
dores.Apesardabaixaextractabilidadedosmetaisemextraesbrandasrealizadas
comumasoluoCaCl20,01M,oquesignificariabaixabiodisponibilidadedosmetais
paraosorganismos,altosvaloresderiscoecolgicoforamdeterminadosparavrios
139
locais dentro da rea da Plumbum, indicados pelos ensaios de ecotoxicidade e por

avaliaesecolgicasemcampo(NIEMEYERetal.,2010).
Alinhadeevidnciaecotoxicolgicadafase1daAREincluiuensaioscomportamen
tais com invertebrados de solo, os chamados ensaios de comportamento de fuga,
normatizadosinternacionalmentepelaNormaISO175122(ISO,2011)paracolm
bolos,epelaNormaISO175121(ISO,2008)paraminhocas,estaltimajadotada
nacionalmentepelaNormaABNTNBR/ISO175121(ABNT,2011).Osensaioscom
portamentaiscomminhocasecolmbolosmostraramqueestesorganismosevitaram
ossolosdetodosospontoscontaminadosquandocomparadosaoslocaisderefern
cia. Isto significa que, no ambiente, temos a perda destes grupos de organismos no
soloeconsequentementetemosumimpactosobreosprocessosdeciclagemdenu
trientes,estruturaefertilidadedosolo,almdeimpactosobreacadeiatrfica,jque
taisorganismosservemdealimentoparaoutros.Asminhocassoorganismosconsi
derados engenheiros do ecossistema porque esto entre os invertebrados de solo
maisimportantesemtermosdebiomassaeatividade,influenciandoaestruturaea
composio qumica do solo, e particularmente os processos de decomposio do
materialorgnico(RMBKEetal.2005).Joscolmbolossoconsideradoscatali
sadoresdoprocessodeciclagemdenutrientes(ZEPPELINIFILHO;BELLINI,2004).
Almdosensaioscomamatrizsolo,ensaiosdeecotoxicidadeaquticoscombact
rias e cladceros foram realizados com elutriatos dos solos, e apontaram um com
prometimentodafunoderetenodosolonoslocaiscorrespondentesaosdepsi
tosdeescriadentrodareadaPlumbum,indicandoriscodacontaminaomigrar
paraguassubterrneasousuperficiais(NIEMEYERetal.,2010).
Na linha de evidncia ecolgica da fase 1 da ARE foi observado um baixo ndice de
coberturavegetalnospontosdentrodareadaPlumbum,ebaixaatividadealimen
tar de organismos do solo, usandose o ensaio bait lamina, indicando impacto para
plantas e invertebrados de solo (NIEMEYER et al., 2010). Ao integrar os resultados
dastrslinhasdeevidncia(qumica,ecotoxicolgicaeecolgica)nafasedevarre
dura da ARE, um alto risco ecolgico foi indicado nos pontos dentro da rea da
Plumbum(NIEMEYERetal.,2010),oquefoiconfirmadoposteriormenteatravsde
ensaiosdeecotoxicidadecrnica(Niemeyeretal.,inpreparation)eavaliaesecol
gicasmaisdetalhadas(Niemeyeretal.,2012a,2012b).
Ossolosdereasdedeposioderejeitoscostumamserinstveisepodemserfontes
decontaminaodeoutroscompartimentosambientais.Estasituaovisvelatual
mente na rea da antiga fbrica da Plumbum, como se pode ver na Figura 1, mos
trandoaausnciadevegetaoempocassecas,comapossveldispersodepoeira,
e as evidncias do escoamento superficial ocasionado pelas chuvas, descobrindo o
rejeitoqueestlogoabaixodeumafinacamadadesolo.OtrabalhodeOliveiraetal.
(2011)apresentoudadossobreacontaminaoporpoeiraemarcondicionadosna
cidade de Santo Amaro, o que evidenciou a exposio atual da populao por esta
rota,nestecasoprovavelmenteacontaminaoocasionadapelapoeiradasruase
quintaiscontaminados.
140
Outro trabalho, ainda no publicado (NIEMEYER et al. in preparation), incluiu uma

amostragemdesedimentonocanalqueligaareadaPlumbumaorioSuba,almde
umpontoamontanteeoutroajusantenoprpriorio.Osresultadosapontaramaltas
concentraes de metais no sedimento do canal, especialmente Pb, Cd, Zn, Cu, Hg e
As.Almdaanlisequmica,ossedimentosdostrspontosforamavaliadosemen
saiosdeecotoxicidade.OensaiorealizadocomHeterrocyprisincongruens(Crustacea,
Ostracoda)paraavaliaroefeitosobreocrescimentoapsseisdiasdeexposioao
sedimento, apresentou 100% de mortalidade para os organismos expostos ao sedi
mento do canal, indicando alta toxicidade. O ensaio realizado com larvas do inseto
Chironomus riparius (Insecta, Diptera), para avaliar o crescimento aps 10 dias de
exposio, apontou um crescimento significativamente inferior nas larvas expostas
aosedimentodocanalemrelaoaos outrospontos,indicandotoxicidade.Joen
saiorealizadocompeixesdaespcieDaniorerioparaobservarasobrevivnciaaps
96hdeexposio,indicouausnciadetoxicidadenacolunadeguaobtidapelaadi
odeguaaosedimentodecadaumdospontos(NIEMEYERetal.,inpreparation).
Osresultadosdestetrabalho,bemcomoosresultadosjmostradosporAnjos(2003),
apontamacontaminaodocanaleaprovvelmigraodoscontaminantesdarea
daPlumbumparaorioSuba,oqueindicaanecessidadedemedidasdeinterveno
nareadaPlumbumparaimpediramigraodestescontaminantesparadentrodo
rio.
Figura1Esquerda:areadaPlumbumnaestaoseca(ausnciadecoberturavegetal).
Direita:evidnciadeescoamentosuperficialapsachuvaemumareadedeposiode
rejeitos.Imagensregistradasem2008.Fotos:JliaNiemeyer.
141
O estabelecimento de uma cobertura vegetal tornase essencial para estabilizar a

readescobertaeparaminimizarosproblemasdecontaminaodeoutroscompar
timentosambientais(OLIVEIRAetal.,2006),eestentreasdiversastcnicasdecon
trole e de remediao que podem ser aplicadas na rea da Plumbum (ANJOS;
SNCHEZ,2001).UmexemplodaimportnciadavegetaopodeservistoemAnjos
(2003)queavaliouaeficinciadeumazonamida(ouwetland),situadajuzantedo
principalbarramentodeescrianareadaPlumbumecomextensodecercade90
m,nocontroledacontaminaodasguassuperficiais.Estazonamidateveorigem
emumaterroparacanalizaode guaspluviaisdoempreendimento.Oautorcon
cluiu que esta zona mida se mostrava eficaz para o controle da contaminao das
guassuperficiais,umavezqueretinhaagrandemaioriadosmetais.
Narestauraodereascontaminadas,almdaescolhacorretadastcnicasdecon
troleeremediao,fazsenecessrioaescolhadeumavegetaoapropriadaparao
local,tantoemtermosdetolernciascondieslocais,quantocomosobjetivosde
estabilizaodosolo(fitoestabilizao),melhoramentodoaspectovisualediminui
odaexposiohumanaaosolocontaminado(WONG,2003).Emtrabalhosderes
taurao de reas degradadas, tambm importante que o processo de sucesso
ecolgicaocorradaformamaissemelhantepossvelemrelaocondionaturalda
regio.Paratanto,fazseimportanteentendercomoosprocessossucessionaisocor
rememcadarea,etaisestudosaindasoescassosemreascontaminadasnoBrasil.
Emsoloscontaminadospormetais,almdatoxicidade,outrosfatorespodemserad
versosaoestabelecimentodavegetao,taiscomo,ausnciadesolosuperficial,ero
sesperidicas,estaoseca,compactao,amplaflutuaodatemperaturaeescas
sezdenutrientesessenciais(WONG,2003).Porisso,fazseimportanteautilizaode
espciesquetenhampotencialparatolerartaiscondies.NocasodeSantoAmaro,
Viana (2008) estudou o potencial da mamona (Ricinus communis L.) para uso em
processo de fitorremediao na rea da antiga Plumbum e arredores. Esta espcie
ocorrenaturalmentenolocalepoderiaservircomoalternativaeconmicaparaare
gio,jquepodeserexploradacomercialmenteparaaricinoqumicaeproduode
biodieselapartirdasemente.Osresultadosapontaramqueamamonanoconcentra
As,Cd,Pb,ZneCunoleo,pormacumulaZneCunacascaenatorta,produzidadu
rante a extrao do leo, indicando a necessidade de estudos adicionais sobre o
aproveitamento da torta como adubo orgnico neste caso. O estudo de Azzollini
(2008),realizadoemreasdedepsitodecinzadecarvomineralnosuldoBrasil,
concluiqueamamonapodeauxiliarnoprocessoderestauraodasreasdegrada
das,favorecendooestabelecimentodeoutrasespciesquenecessitamdecondies
maisespecficasdesubstrato,equepodecontribuirparaafitoestabilizaodecromo
enquel,principaiscontaminantesnoslocaisestudadospeloautor.
Almdaimportnciadavegetaoparaosobjetivosrelacionadosacima,amicrobiota
dosoloeosprocessosrealizadosporelatambmestoestreitamenterelacionados
vegetaoeaousodosolo(FAGOTTIetal.,2012;NOGUEIRAetal.,2006;ZAKetal.,
2003).Avegetaocontribuiparareduziratoxicidadedosmetais,oferecendocondi
142
es favorveis aos microrganismos na rizosfera (DIASJUNIOR et al., 1998), e pelo

fornecimentodematerialorgnicoqueservecomofontedecarbonoeenergiapara
osmicrorganismos.NocasodareadaPlumbum,Niemeyeretal.(2012a)concluram
que, alm do efeito direto da toxicidade dos metais sobre a atividade e a biomassa
microbiananosolo,hefeitosindiretosrelacionadossmudanasnacoberturavege
tal,taxasdecarbonoorgnicodosolo,pHedisponibilidadedenutrientes.Essesatri
butos tm alterado o microclima e as propriedades fsicoqumicas do solo, e dessa
formaosolodeixadeservircomohabitatparaosmicrorganismos(oquechamamos
deperdadafunodehabitat),econsequentementetemosumimpactosobreospro
cessoschave desempenhados por estes organismos, como a ciclagem do carbono e
dosnutrientes.
O processo de decomposio de material orgnico foi avaliado por Niemeyer et al.
(2012b)emlocaisdentroeforadareadaantigaPlumbum,distantesat1km,eem
trslocaisdereferncia,distantes3kme9km.Atcnicautilizadafoiamontagemde
bolsasdedecomposio,oschamadoslitterbags,seguindoseasrecomendaesda
Norma OECD (2006) e o recomendado por Rmbke et al. (2003). As bolsas foram
preenchidascomfolhasdearoeiravermelhaSchinusterebinthifoliusRaddieexpostas
porperodosde15,43,83e131dias.Osresultadosmostrarambaixastaxasdede
composio dentro da rea da fbrica, onde este processo foi significativamente
comprometido,eosresultadosapontaramqueataxadedecomposiofoinegativa
mentecorrelacionadacomasconcentraesdemetais.Istopodeserexplicadopela
reduzidaatividademicrobiananesteslocais(NIEMEYERetal.2012a),reduzidaativi
dadealimentardafaunadosolo(NIEMEYERetal.2010),emenordensidadedede
tritvoros, aliados s condies de baixa umidade e altas temperaturas nos locais
maisexpostossemcoberturavegetal.Ouseja,oimpactosobreesteserviodoecos
sistema(decomposio)estrelacionadonosaosefeitosdiretosdatoxicidadedos
metais, mas tambm aos efeitos indiretos ocasionados pelas caractersticas fsicas
doslocaiscomdisposioderejeitosepelaausnciadecoberturavegetal,resultando
emcondiesadversasparaosmicrorganismoseparaafaunadosolo(NIEMEYERet
al.2012b).
Conclusogeral
OsdadosexistentessobreadeterminaodemetaisemsolosdareadaPlumbume
arredores, e nos quintais das casas das ruas Rui Barbosa e Sacramento, e em sedi
mentosdoesturiodorioSuba,indicamapersistnciadacontaminaopormetais
nestes compartimentos. Os dados das determinaes de metais na biota apontam
paraabiodisponibilidadedePbeCdparamariscosnoesturiodoRioSuba,epara
plantas(gramneas,frutaseervas)nosarredoresdaPlumbumenosquintaisdasca
sasquereceberamescria.OsnveisdePbeCd emmariscoscontinuamacimados
nveismximosrecomendadospelaAnvisaparaconsumohumano.
143
AsavaliaesecolgicaseecotoxicolgicasrealizadasnareadaPlumbumearredo
resindicaramimpactonegativosobreserviosecossistmicos,comociclagemdenu
trienteseprodutividadevegetal,eimpactosobreafunoderetenodosolo,oque
indicaqueacontaminaoaindapodemigrarparaoutroscompartimentosambien
tais,comoguasubterrneaeguassuperficiaisprximas,comoorioSuba.
Emgeral,osresultadosindicaramriscoecolgicoparaosorganismoseprocessosdo
solomesmoapsquaseduasdcadasdotrminodasatividadesdaPlumbum,rela
cionado exposio dos receptores ecolgicos ao solo contaminado. A avaliao de
risco ecolgico realizada na rea da Plumbum e arredores apontou um alto risco
ecolgicoemlocaisdentrodareadaPlumbum,indicandoanecessidadedemedidas
deremediaoeposteriorrestauraodarea.Arestauraoecolgicadasreasde
gradadas e o reestabelecimento dos processos ecolgicos (por exemplo, a partir da
reestruturaodacomunidadevegetaldeacordocomoecossistemanoqualestin
serida),soessenciaisparamelhorarascondiesecolgicasdolocaleassimevitar
queacontaminaocontinuesedispersandoatravsdapoeiraedoescoamentosu
perficialparaoutroslocais.
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Tabela1Resumodosdadosexistentessobreacontaminaopormetaisnoscomparti
mentosambientaisebiotarelacionadosaocasodaPlumbumemSantoAmaro(BA).
Concentraodemetais(mg/kgoumg/L)
Valoresde
referncia
Chumbo
Cdmio
Fonte
Mnima Mdia Maxima Mnima Mdia Mxima Pb
Cd
0,04
6,18 0,0042
0,0813
Reis,1975*
1,6
6,0
guasdorioSuba
0,01 0,003 CEPED#
37,2
0,46
Cunha;Arajo,2001
SedimentosdorioSuba
0,5
23,7
120
Donnieretal.,1977@
SedimentosdorioSuba
119
1,19
UFBA,1996
emSoBrs
SedimentosdorioSuba
emSoFranciscodo
62,2
0,189
UFBA,1996
Conde
Sedimentosdabaade
877
0,223
Hatjeetal.,2006
TodososSantos
Peixes
1,03
0,19
Cunha;Arajo,2001
2,0
1
Tainha
0,1
0,81
Santos,2011
Robalo
0,14
1,5
4
CEPED#
Ostras
80
135
Donnieretal.,1977@
CEPED#
Siris
13
40
Donnieretal.,1977@
Vscerasdesiris
1,13
4,43
Santos,2012a
40
60
Donnieretal.,1977@
Sururus
5,73
2,0 1 Funasa,2003
1,36
0,86
UFBA,1996
SururusSoBrs
1,15
1,06
Cunha;Arajo,2001
33,7
0,25
Sururus
UFBA,1996
SoFranciscodoConde
0,28
5,4
1,1
Santos,2011
Camaro
0,19
3,4
Santos,2011
SoFranciscodoConde
nANVISA,decreto,1965
ANVISA,1998
"pesoseco
*ApudSantos,2011
#perodode1975a1980
@ApudCarvalhoetal.,1982
ApudFUNASA,2003
Compartimento
Ambiental
149
Tabela1Continuao...
Concentraodemetais(mg/kgoumg/L)
Valoresde
referncia
Chumbo
Cdmio
Fonte
Mnima Mdia Mxima Mnima Mdia Mxima Pb Cd
0,004
CEPED#
Frutaseverduras
12,35
1,88
Cunha;Arajo,2001
Bananaelaranja
0,01
CEPED#
Manga
0,530 0,601
0,685
Funasa,2003
0,5
0,5
Frutasechs
0,18
118,2
0,04
7,39
Magnaetal.,2011
Tubrculos
14,1
2,32
Cunha;Arajo,2001
Aipim
0,610 0,691
0,808
Funasa,2003
Vegetaisfolhosos
215
11,8
CEPED#
Gramneas
85
41,3
Cunha;Arajo,2001
Gramneas
300m
26,4
1,07
<1km
4,13
0,635
Costa,2001(peso
1 0,030,3"
umido)
>6km
6,03
0,201
>10km
4,19
0,096
>14km
0,767
0,263
Gramneas
820
7,99
Magnaetal.,2011
nANVISA,decreto,1965
ANVISA,1998
"pesoseco
*ApudSantos,2011
#perodode1975a1980
@ApudCarvalhoetal.,1982
ApudFUNASA,2003
Compartimento
ambiental
Metalurgiadochumbo:processosdeproduoerefino
LuisGonzagadosSantosSobral1
DboraMonteirodeOliveira2
CarlosEduardoGomesdeSouza3
SilviaCristinaAlvesFranaSilva4
PauloFernandoAlmeidaBraga5
Introduo
Estacompilaobibliogrficatempor objetivodescreveros processosdeproduo
primriaesecundriadechumbo.Naproduoprimriaominriodechumbopro
cessadoemdoisestgios:
1. A ustulao do sulfeto de chumbo (galena PbS), com formao do xido do
chumbo correspondente (litargrio PbO) que , posteriormente, reduzido a
chumbometlicoporreaopirometalrgicacomaadiodecoquee
2. Refinodochumbometlicoimpuro,tambmporprocessopirometalrgico.
Taisprocessossopraticados,convencionalmente,nomesmolocal.Naproduose
cundria de chumbo, o que se caracteriza como um processo de reciclagem, o
chumboextradodemateriaisusados,taiscomosucatasebateriasautomotivas.O
chumbo, nesse caso, pode ser recuperado por fuso ou por refino, dependendo do
tipo de sucata que o contm. Aps processo de refino, o chumbo , em seguida,
transformadoemoutrosprodutostaiscomoligas(ligafusvel,anodos(PbSn,PbSb,
PbAg,PbTl))efolhasdechumbo.
O minrio de chumbo mais importante a galena (PbS sulfeto de chumbo), que
ocorre,frequentemente,emcombinaocomozinco,apirita(FeS2)eaprata.Aceru
sita (carbonato de chumbo PbCO3) e a anglesita (sulfato de chumbo PbSO4) so
outros minerais comercialmente importantes originrios da oxidao e intempe
rismo da galena. A Figura 1 mostra os aspectos fsicos dos referidos minerais de
chumbo.
OchumbotemsidoutilizadodesdeapocadosRomanosnoReinoUnido.Aindstria
do chumbo ganhou mpeto no comeo de 1800, quando se utilizou minrio local
1 DoutoradoemHidrometalurgia.ImperialCollegeofScienceandMedicine.UK.
2 MestradoemTecnologiadeProcessosQumicoseBioqumicos.UniversidadeFederaldoRiode
Janeiro,UFRJ.
3 GraduaoemQumicaIndustrial.UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,UFRJ.
4 Doutorado em Engenharia Qumica.Coordenao dos Programas de Ps Graduao em
Engenharias.UFRJ.
5 MestradoemEngenhariaMineral.UniversidadedeSoPaulo,USP.
LuisGonzagadosSantosSobraletalii...
151
mente prospectado em muitas localidades naquele pas, tais como Derbyshire e

Cornwall.Essesminrioseram,usualmente,fundidosetransformadosembarrasde
chumboprximosfontesdessesmetaisedecarvo.Ochumbo,assimobtido,era,
ento,refinadoeminstalaesdepequenoporte.
(a)
(b)
(c)
Figura1Aspectosfsicosdagalena(a),cerusita(b)eanglesita(c).
Estaautossuficinciaresultounaespecializaoregionalemtiposdechumboepro
dutosqumicosdessemetal.Londrescomeouaproduzirochamadochumbobranco
(carbonatodechumboPbCO3)paraaindstriadetintaseparaexportao.Osxi
dosdechumbo,olitargrio(PbO),eochumbovermelho(Pb3O4),foramproduzidos
na regio central da Inglaterra para as indstrias de vidro e cermica. Peltre (liga
principalmente deestanho, comantimnio,cobreechumbo) e balas de chumbo fo
ramproduzidasapartirdechumboduro(argentfero)emBristol.AFigura2mostra
osaspectosfsicosdosxidosdechumbo.
PbO
Pb3O4
Figura2Aspectosfsicosdosxidosdechumbo.
Emmeadosdosculo19,Newcastletornouseumadasprincipaisreasdeproduo
de chumbo, com a vantagem da importao de minrio de chumbo e barras de
chumboimpurodaEspanha(jinicialmentefundidonestepas).Osprodutosmanu
faturados foram o chumbo branco, o chumbo vermelho, o litargrio, chumbo lami
nado,tuboseemgros.Hull,LiverpooleSwanseaeramportosquetiveramavanta
gemdeimportarminrioscompreosbaixos.
152
No incio do sculo 20, a produtividade de chumbo do Reino Unido conhecia o seu

declnio. medida que o suprimento de minrio diminua e se tornava gradativa
mentemaiscaroasuaprospeco,asinstalaesmenoresemaisantigastenderama
parardefuncionaremfavordeplantaslocalizadasemregiesondeasimportaes
erammaisbaratas.Nessemomentoasprincipaisfonteseprodutoresdechumboso
osEstadosUnidos,Austrlia,osestadosqueeramanteriormentepartedaUnioSo
vitica,Mxico,CanadePeru.
Desdeadcadade50,aindstriadechumbodoReinoUnidoseenvolveu,maisin
tensamente, com o processamento de fontes secundrias desse elemento. O reuso
mais intenso de chumbo devido sua resistncia a corroso e a facilidade de sua
separao de outros materiais. Somente um segmento primrio de produo de
chumbooperanoReinoUnidonosdiasatuais.Todoobulliondechumboproduzido
naqueleseguimentoexportadoparaserrefinadoemoutraunidade.Existemquatro
unidades fundidoras de chumbo no Reino Unido, lidando com materiais contendo
chumbo,naproduosecundriaeexistemquatrooutrasplantasrefinandochumbo
apartirdesucatasparaaproduo,principalmente,delenisdechumbo.AFigura3
mostrabobinasdelenoldechumbo.
O chumbo um metal cinzento, azulado brilhante, no elstico, mole, riscvel com
unha,deixatraocinzentonopapel,dctil,malevel,trabalhvelafrio,razovelcon
dutordecaloreeletricidade,possuicondutividadetrmicade0,83cal/cm3/cm/C/S
a 0C e 0,81 cal/cm3/cm/C/S a 100C, coeficiente de expanso trmica linear de
29,105a1Ceaumentoemvolume(de20Caopontodefuso)de6,1%.Pesoespe
cficode11,37,baixopontodefuso(327C),pesoatmico207,2epontodeebuli
ode1717C,emitindo,antesdestatemperatura,vaporestxicos.Apresentaretra
olinearnasolidificaode1a2,5%ealongamentode31%.
Figura3Bobinasdelenoldechumbo.
As ocorrncias minerais de chumbo no vale do rio Ribeira do Iguape, (So Paulo

Paran), so conhecidas desde o sculo XVII, mas a explorao de chumbo e prata
somentecomeounoiniciodestesculonaMinadeFurnas,inclusiveexportandomi
nrioparaaEspanha,duranteaprimeiraguerramundial(ROCHA,1973).
153
OsprimeirosestudosgeolgicosnaminadePanelas,noParan,foramrealizadospor
Moraes Rego em 1935, e a lavra foi iniciada em 1938, por Adriano Seabra Foncesa
(ROCHA,1973).
As ocorrncias na regio de Macabas, na Bahia, so, tambm, conhecidas desde o
sculoXVIIeem1928,noCompndiodeMineraisdoBrasil,LuizCaetanoFerrazre
gistraaocorrnciadeanglestanomunicpiodeMacabas(ROCHA,1973).
Em1954foiformadaaMineraoBoquiraparalavrarajazidadomunicpiodeMa
cabas, posteriormente municpio de Boquira. Em 1955 comeou a produo em
Boquira (BA), que se constituiu na maior mina em atividade no pas, mesmo sendo
uma mina de tamanho mdio, de acordo com os padres internacionais (ROCHA,
1973).
Naquelaocasio,encontravaseematividadeaminadeBoquira, comreservaspara
seteanos,exploradapelaMineraoBoquiraeasminasdePanelaseRocha,comre
servas para quatro anos, exploradas pela PLUMBUM. Essas companhias eram rela
cionadas Societ Minire et Metallurgique de Pearroya, que tambm mantinham
minasemetalrgicasnaFrana,Espanha,Itlia,Grcia,IraneMarrocos.
O chumbo um dos metais de maior uso industrial. empregado, principalmente,
nos acumuladores de automveis (baterias chumbocido), como aditivo antideto
nantenagasolinae,emgeral,nasconstruescivis,inclusivetintas.Outrousoimpor
tantenafabricaodemunioparaarmasesportivasemilitares,embalagens,im
pressoerevestimentosdecabos.
Raramente ocorre no seu estado natural, mas sim em combinao com outros ele
mentos,eseusmaisimportantesminriossoagalena(PbS),cerusita(PbCO3),an
glesita(PbSO4),piromorfitaPb3Cl(PO4)3,vanadinita[PbCl(VO4)2],crocoita(PbCrO4)e
aWulfenita(PbMoO4).
O advento do arranque eltrico nas mquinas de combusto interna deu lugar ao
grandeaumentodeconsumo,queseexpandiu,novamente,comanecessidadedeadi
tivoantidetonanteparausonasmquinasdealtacompresso.
O maior aumento na procura de chumbo tem sido para baterias e aditivo antideto
nanteparagasolina.Ousodesucedneosdechumbotemsedesenvolvidoemmuitas
aplicaes,oquetendeadiminuiroritmodoaumentodaprocura.
Embora a presena de chumbo na crosta terrestre seja de somente 0,002%, existem
jazidasemvariaspartesdoglobo,algumasexploradasatcomteorde3%dessemetal.
Os principais pases mineradores de chumbo so Austrlia, os Estados Unidos, o
Mxico,oCanadeoPeruque,juntocomaexURSS,perfazemmaisde50%dapro
duomundial.OutrospasescommineraodechumboimportantesoIugoslvia,
Marrocos,EspanhaeSucia.
154
Estruturadaindstria
Localizaodasminasbrasileiras
EstadodoParan
AminadePanelassituavasenoMunicpiodeAdrianpolis,exParana,a14kmda
sede,margemdireitadorioRibeiradoIguape,queadivideosestadosdeSoPaulo
e Paran. Era uma mina integrada, compreendendo minerao, concentrao e me
talurgia.
AminadoRocha,novaledoRibeirodoRocha,afluentedorioRibeiradoIguape,si
tuavase nos municpios de Adrianpolis e Cerro Azul, distando 42 km da Mina de
Panelas,paraondeeratransportadoominrioproduzido.
EstadodaBahia
AMinadeBoquiraeraaprincipalminadopas,nosquantosreservascomoao
teordominrio.SituavasenacidadedeBoquira,noEstadodaBahia,novaledorio
Paramirim,a28KmaonortedeMacabas,comarcaaquepertenceoMunicpiode
Boquira,seuexdistrito.Distam440kmemlinharetadeSalvador,estandopratica
mentenomesmoparalelodestaCapital.
Oacesso,apartirdeSalvador,almdaviaarea,erafeito,naquelapoca,pelaRodo
viaSalvadorBraslia(BR242),quepassaa90kmaoNortedeBoquira.Adistncia
SantoAmaroBoquirade650km.
a)qualidadedominrio
OteormdioemchumbodominrioexploradoemBoquiraerade8,88%enquanto
queemPanelasoteormdiodominrioerade5%eeconomicamenteaproveitvel
devidopresenadeprataqueoscilavaemtornode15kgportoneladadechumbo
refinado.
Os teores dos minrios das minas de Panelas e Rocha eram menores que 5% em
chumboapsrigorosaescolha,tantonointeriorcomonoexteriordamina,contrari
amenteMinadeBoquiraondenohaviaescolha.
As variaes dos teores de chumbo e outros elementos nas Minas de Boquira e
Panelas,eram:
Pb
9,03%
Zn
2,40%
Pb
PbO
5,0%
0,70%
b)fabricao
Fe
21,10%
S*
3,5%
Boquira
CaO
MgO
CO2
0,50% 4,40% 2,05%
Panelas
CaO
Fe
Zn
31,4%
4,5%
0,7%
S
5,65%
Al2O3
2,10%
SiO2
0,37%
Ag
76g/t
155
As sees, a seguir, descrevem os processos praticados em uma unidade pirometa

lrgica tpica de produo, refino e de processamento de fontes secundrias de
chumbo.Osestgiosprincipaisdeprocessosso:aconcentraodominrio,emter
mosdeespciesmineraisdechumbo,asinterizao,areduodoPbOemchumbo
metlicoimpuroeseuposteriorrefino.
Produoprimriadechumbo
O chumbo era produzido, tradicionalmente, pelo aquecimento da galena em forno
Revrbero para a sua oxidao a xido de chumbo e sulfato de chumbo e,
eventualmente,abulliondechumbo.Essemtodofoisubstitudopelomtododoalto
forno(blastfurnace)queutilizadoatosdiasatuais.Osvriosprocessosutilizados
naproduoprimriadechumboestoresumidosabaixonaFigura4.
M IN R IO D E C H U M B O
Britagem
Reciclo de m aterial
sinterizado, calcrio (fluxo)
C oncentrao
P de Carvo
Bullion de C hum bo
calcrio (fluxo)
reciclo de escria
Alto Forno
P de Carvo
Bullion de C hum bo
Alto Forno
Bullion de C hum bo
Enxofre
Alto Forno
Cobre
NaOH NaNO3
Forno de
Am olecim ento
Planta de H arris
As, Sn, Sb
Au e Ag
As, Sn, Sb
Panela para R em oo
de Prata
Zinco
D estilao a Vcuo
Liga Ca-Mg
NaOH
R efino C ustico
Final
Processo
Kroll-Betterton
C hum bo Prim rio
Liga Ca-Mg-Bi
R efinado
Figura4Processosutilizadosnaproduoprimriadechumbo.
156
Chumbo Primrio
Refinado
Tratamento
Qumico
Processos
Especiais
Fundio
Extruso
Laminao
Piguimentos e
Coberturas
Tubos, arames
e cabos
Compostos Orgnicos Chapa

de Chumbo e xidos metlica
de Chumbo
Grnulos
e ligas
Figura5Utilizaodechumboprimriorefinado.
Processamentomineral
Antesdoprocessodeoxidaopirometalrgica,ominriodechumbo,estedeveser
processado para se elevar o teor em chumbo. O minrio , inicialmente, britado e
moido, at finamente dividido, e, em seguida, concentrado quer por separaes
mecnica e gravitacional quer por tcnicas de flotao. No processo de flotao o
minriofinamentedivididosuspenso,mecanicamente,emguacontendoreagentes
especficos quando ocorre a formao de grande volume de espuma. As partculas
minerais aderem espuma que se forma no topo da clula de flotao, sendo os
minerais da ganga do minrio afundados para a base da clula. A espuma gerada
retiradadacluladeflotaoeposteriormentesecada.Astcnicasdeflotaopodem
ser,tambm,ajustadasparaseparardistintosmetaisenosomenteaseparaodo
metal de interesse da ganga. A concentrao mineral por flotao eleva o teor de
chumbonominrioparaafaixade65a80%e,dessaforma,ominrioresultante
consideradoumconcentradomineral.AFigura6mostraumainstalaodeflotao
comdetalhenaformaodasbolhascarreadorasdosulfetodechumbo.
(b)
Figura6Unidadedeflotao(a)comdetalhedasbolhasdearcarreandoagalena(PbS)(b).
(a)
157
Sinterizao
Antesdafusodoconcentradodeflotaoparaadevidareduodoscompostosde
chumboemchumbometlico,essedeveserustuladoparaaremoodegrandeparte
do enxofre contido (proveniente da galena PbS) e posterior aglomerao das
partculas finas produzidas (litargrio PbO), pois no podem ser introduzidas no
altofornodessaforma.Esseprocessoconhecidocomosinterizao.Oprocessode
ustulaorepresentadopelaequao1,aseguir.
2PbS+3O22PbO+2SO2
(1)
O concentrado de flotao misturado com fundentes (i.e.: calcrio), produtos

reciclados (i.e.: sinterizado reciclado) e coque em p. Essa mistura alimentada,
atravsdamquinadesinterizao,noaltofornoondeocorreaustulao.Omaterial
sinterizado reciclado adicionado ao forno para controlar a temperatura e diluir o
teordesulfeto.Omaterialsinterizadoaglomerado,naformadeagregado(torro),e
classificadoemumtamanhoprprioparaoaltoforno.AFigura7mostradetalhesde
um alto forno para o processamento pirometalrgico de concentrado de sulfeto de
chumbo.
Os rejeitos originrios desse processo so, primeiramente, gases e emisso de
particulados,querequerumcontrolerigoroso.Amaiorpartedoenxofreremovido
doconcentradonesseestgiodoprocessoeconvertidoemdixidodeenxofre(SO2).
Nosdiasatuaisessegas(SO2),usualmente,convertidoemcidosulfrico,emuma
unidade secundria de subprodutos que deve estar presente no mesmo local. No
passado,oSO2eraemitidodiretamenteparaaatmosfera.
Autilizao,atualmente,desistemasdecoletadeparticuladosprticapadroem
instalaesindustriaisdessetipo.
158
1. Minrio de chumbo + fluxo, 2. Coque, 3. Elevador, 4. Entrada de alimentao, 5. Camada de

coque, 6. Camada de material sinterizado, 7. Soprador de ar quente (em torno de 1200oC), 8.
Remoodeescria,9.Torneiraparaliberaodechumbofundido,10.Reservatriodecoletade
escria,11.Reservatriodecoletadechumbometlicobruto,12.Cicloneparacoletadepoeira,13.
Forno Cowper para ar quente, 14. Sada de fumao, 15. Alimentao de ar para o forno Cowper
(praquecedoresdear),16.Carvoemp,17.Fornodecoque, 18.Coque e19.Gsdoaltoforno.
Figura7Detalhesdoaltoforno.
Reduoemaltoforno
O concentrado ustulado, ou sinterizado, agora j na forma de aglomerado,
carregado no topo do alto forno aquecido, juntamente com o calcrio e outros
compostos fundentes, e coque de carvo como combustvel. Ar praquecido
insuflado na parte inferior do forno para auxiliar no processo de combusto e
completaraformaodexidosmetlicos.Osxidossoreduzidosaosrespectivos
metais pelo coque e monxido de carbono presente. As reaes que traduzem o
processodereduosolistadasabaixo.
C O2 CPO2 calor
(2)
C CO2 2CO
(3)
PbO CO calor Pbo CO2
(4)
PbO C Pbo CO
(5)
159
O resduo nometlico (i.e., sulfetos, silicatos etc.) formam uma escria com os
fundentesanteriormenteadicionados[SiO2,FeO,CaO,Zn,Sepequenasquantidades
de As, Sb, Pb (1 a 3%)]. O chumbo metlico produzido, que se apresenta na forma
lquida,devidoaelevadatemperaturainternadoforno,vazadopelaparteinferior
dofornodiretamenteemmoldesmetlicos.Ochumbometlicoformadodessaforma
um produto semiacabado conhecido como bullion. Esse chumbo contm
impurezasmetlicastaiscomoprata,ouro,cobre,zinco,antimnio,estanho,arsnio,
bismutoeoutroscontaminantesmenoresquepodemsertotalmenteouparcialmente
removidos,porprocessoderefino,paraproduzirumchumbometlicocomercial.
Aescriaproduzidanesseprocessodefusoremovidanotopodamassametlica
fundida e descartada. Os teores de chumbo, antimnio, zinco e outras impurezas
metlicasso,ainda,relativamenteelevadosnessaescria.
Processoderefino
O bullion de chumbo necessita ser refinado, posteriormente, para remover as
impurezasmetlicas.Nopassado,ochumboeraimportadonaformadebullioneno
naformademinrio.
Em primeiro lugar, o cobre removido em uma planta de gerao de escria. O
bulliondechumbofundidoeresfriadoumatemperaturaumpoucoacimadeseu
ponto de fuso. O cobre cristaliza e sobrenada na superfcie da massa fundida e
recolhidocomoumaescriaricaemcobre.Enxofreelementaradicionadoaobullion
dechumbofundidopara reduziroteorde cobre pelaformaodesulfetodecobre
que,tambm,removidodasuperfciedochumbofundido.
Aps a remoo do cobre, distintos mtodos so utilizados para remover as
impurezasmetlicasremanescentesnobulliondechumbo.Essesmtodospodemser
pirometalrgicos ou eletrolticos. No processo eletroltico, o chumbo puro
depositado nos catodos de chumbo e as impurezas metlicas permanecem nos
anodos.
Nosprocessospirometalrgicos,amisturametlicaobtida,apsremoodocobre,
sequencialmente aquecida e resfriada em diferentes condies e em diferentes
temperaturas. Esses processos oxidam, preferencialmente, ou se no removem as
impurezasmetlicasdochumborefinado.Algunsdosprincipaisprocessosutilizados
somostradosnaFigura7edescritosaseguir.
Amolecimento
Apresenadearsnio,estanhoeantimniotornamochumbometlicomaisduro;o
forno utilizado para a remoo desses metais , portanto, chamado forno de
amolecimento.Obulliondechumbofundidoeagitadocominsuflaodear.
160
ProcessoHarris
Nesse processo um fluxo, constitudo pela mistura fundida de hidrxido de sdio

(NaOH)enitratodesdio(NaNO3),adicionadoaobulliondechumbofundido.Aps
total mistura desses materiais, as impurezas metlicas como arsnio, estanho e
antimnio so removidas em um fluxo alcalino na forma de arseniato de sdio
(Na3AsO4), estanato de sdio (Na2SnO3) e antimoniato de sdio (Na3SbO4)
(MATTHIAS,1929).
ProcessoParke(remoodeprata)
Esse processo remove prata e ouro pela adio de zinco metlico no reator de
remoo de prata. O ouro e a prata so dissolvidos, preferencialmente, no zinco o
qual,sendomaislevequeochumbo,surgenasuperfciedobanhofundido(bullionde
chumbo).Atemperaturadobanhofundidodiminudaeaescriasobrenadante,rica
emprataezinco,sesolidificaeremovidadoforno.Oscomponentesdessaescriaso
separados por destilao. O zinco reciclado ao processo de remoo de prata
enquantoaescriaricaempratarefinada,posteriormente,usualmenteemfornode
copelao.Noprocessodecopelao,ochumbopresenteoxidadoalitargrio(PbO)
(que utilizado em outros seguimentos industriais e a escria rica em prata
contatadacomumfluxodenitatodesdioquereduzaomnimoosteoresdeoutras
impurezas, tais como o cobre, bismuto e ferro. Esse processo conta, de forma
vantajosa, com duas propriedades do zinco quando no estado lquido. A primeira
queozincoimiscvelemchumbo,eaoutraqueaprata3000vezesmaissolvel
em zinco do que no chumbo. Quando zinco adicionado ao chumbo lquido, que
contmpratacomoumcontaminante,apratamigra,preferencialmente,paraozinco.
Vistoqueozincoimiscvelnochumbo,elepermaneceemumacamadaseparadae
facilmenteremovido.Asoluopratazinco,ento,aquecidaatqueocorraatotal
vaporizaodozinco,deixandoquasepratapura.Seoouroestpresentenochumbo
lquido, este pode, tambm, ser removido e isolado pelo mesmo processo
(BRITANNICAONLINE;LINUS,1947).
Remoodezinco
Ozincoremovidodobullionprimriodechumboutilizandoadestilaoavcuo.O
vcuocriadonasuperfciedobullionfundidoeosvaporesdezincosecondensam
nas paredes do recipiente de vcuo. O zinco metlico coletado e reutilizado no
processoderemoodeprata.
ProcessoBettertonKroll
O processo BettertonKroll amplamente utilizado na remoo de bismuto do

chumbo,acrescentandoumaligaclciomagnsioaumbanhoconstitudodamistura
fundidadechumboebismuto,emumafaixadetemperaturade380a500 oC.Com
postossoformadoscombismutoquetmpontosdefusomaiselevadosedensida
desmaisbaixasdoqueochumboe,assim,podemserseparadoscomonaformade
escriasslidas.Obismutopode,ento,serextradodamisturadoselementosclcio
161
e magnsio pelo tratamento com cloro. O mtodo, desenvolvido pela American

Smeltingand RefiningCo.,nadcadade1930,asvezeschamadoprocessoAsarco.
Esse processo foi desenvolvido por William Justin Kroll em 1922 (BETTERTON;
LEBEDEFF, 1937; KROLL, 1925) e melhoras processuais foram desenvolvidas por
Jesse Oatman Betterton na dcada de 30 (BETTERTON; LEBEDEFF, 1940; SAMANS,
1949).
Refinofinalcomsodacustica
Aadiodesodacusticaaobullion,emtemperaturaselevadas,conduzformao
de uma escria, constituda de antimoniato de sdio (Na3SbO4) e zincato de sdio
(Na2ZnO2),queremovidadobanhometlicofundido.
Os processos supramencionados so combinados, quando necessrio, para refinar
bullions de chumbo. O chumbo metlico puro resultante moldado em lingotes ou
barrasparadistintosusoscomerciais.
As escrias obtidas dos processos de refino so, usualmente, refundidas para se
obterasimpurezascomosubprodutoserecuperarochumbonelascontido.Aescria
de cobre tratada e o cobre removido na forma de mate, que pode ser
comercializado para a recuperao desse metal. O antimnio e estanho so,
usualmente, recuperados como ligas mais concentradas com chumbo e podem ser
utilizadasdiretamentenaconfecodeoutrasligasdechumbo,comonocasodaliga
estanhochumbo que utilizada como liga fusvel (soldas). Fundentes e outros
materiais formadores de escria so usados nesses processos de fuso e,
inevitavelmente, alguns metais so retidos nas escrias resultantes. O bullion de
chumborecuperadovoltaaoprocessoderefino.
Produosecundriadechumbo
Asfontesprimriasdechumbosecundrioso:
Sucata de chumbo (i.e.: sucata de bateria veicular, tubos e chapas de chumbo
descartados). A sucata de bateria veicular tem constitudo uma proporo
substancialdematriasprimanaindstriadechumboemnvelmundial.Partedessa
sucatapodeserpreviamentefundidaemlingotespelosfornecedores.
Escrias de chumbo contendo entre 35 e 90% de chumbo. Essas escrias surgem em
diversasformasesoadquiridascomoresduosdeoutrosprocessosmetalrgicos.
Invlucro de chumbo. O chumbo nessa forma foi usado no passado em cabos
telefnicosedeenegiaprotegendofiosdecobrequedeveserremovidoantesdese
recuperarochumbo.
Opreparodasucatadechumbopodeenvolverseparaofsicademateriaisantesde
processla. Esse tipo de preparo prvio se aplica, particularmente, sucata de
bateriaautomotiva.Nopassado,muitoslocaisadquiriambateriasinteiras.Nessecaso
a soluo sulfrica era removida dessas baterias exustas e a carcaa de ebonite
162
tinha que ser quebrada manualmente. Entretanto, todas as fundidoras modernas

possuem sistemas mecnicos de rompimento e separao de materiais, bem como
instalaesdetratamentodosefluentescidos(soluodecidosulfricocontendo
chumbosolvel).Asbateriasmodernaspossuemestojoempolipropileno,quedeve
serremovido.
As operaes individuais envolvidas no processo de refino de chumbo so,
essencialmente, as mesmas usadas na produo primria de chumbo; embora, as
empresas tendem a realizar suas prprias adaptaes. A extenso da remoo de
impurezas metlicas depende da matria prima em processamento, i.e., sucata de
chapas de chumbo necessita somente de refino, ao passo que escria de chumbo
necessitadeumprocessodefusocomoetapaqueantecedeoprocessoderefino.
Asucatadechumbo,geralmente,carregadanorecipientedefuso.Duranteafuso
uma quantidade considervel de escria formada (contendo cobre livre, ferro,
xidos,sujeiraetc.).Essaescriaremovidadasuperfciedochumbofundidopara
posterior processamento pirometalrgico. O chumbo metlico remanescente , em
seguida, refinado usando processos similares aos usados na produo primria de
chumbo.Comoexemplo,ocobreremovidocomosulfeto,apsaadiodeenxofre
elementar, o estanho e antimnio so removidos, como estanato de sdio e
antimoniatode sdio, pela adio de hidrxido de sodio e nitrato de sdio massa
fundida. O chumbo metlico fundido vazado em lingotes antes de processamento
posterior.
As escrias provenientes da fuso e refino de sucatas de chumbo e materiais como
sucata de bateria automotiva so fundidas em fornos rotatrios. No passado, alto
forno ou forno revrbero foram utilizados. Fundentes como carbonato de sdio
(Na2CO3), slica (SiO2) e escamas de fuso removem as impurezas do chumbo e
outrosmetaisformandoescria.Narecuperaodechumbodebaterias,ofundente
absorveossulfetos,silicatoseimpurezasnometlicasedescartadocomoresduo.
Osmetaissoreintroduzidosnoprocessoderefino.
Processamentoposterior
A fabricao de produtos base de chumbo refinado pode envolver diverssos
processos, alguns dos quais so praticados nas instalaes de fuso e refino de
chumbo.Osprocessosmaissimplessoafundioemoldagemdometalnoproduto
desejado.Essasatividadesnoenvolvemousodeprodutosqumicoseso,portanto,
relativamente limpos. Outros processos so altamente especializados e podem
aconteceremlocaisseparadosqueadquiremchumborefinadocomomatriaprima.
Processosfsicos
Essesprocessosincluemafuso,alaminaoeaextruso.
163
Afundio(vertermetalfundidoemmoldes)oprocessomaisantigoempregadona
indstria.Afundioetransformaoemchapasetubosforamrealizadasnoincio
dosculo18.
Em meados do sculo 19, a fundio convencional foi quase que completamente
substituda pela laminao. A laminao a frio convencional envolve a fuso do
chumboemgrandesblocosretangularesepassadosatravsdeumparderolospara
produzirchapasfinas.
Os tubos foram, originalmente, produzidos pela fuso em moldes e, ento, puxados
(extruso)afrioatravsdeumasriedecunhos.Essemtodofoisubstitudo,nofinal
doanode1820,pelousodopistohidrulico.Aextrusodochumbopelopistofoi
adaptadaeestendidaproduodearameecabos.
Processosespeciaisetratamentosqumicos
Essesprocessosenvolvemaproduodeligasdechumboeoutrasformasdechumbo
paramercadosdefinidos:
Ligas
Asligasdechumbosofeitaspelaadiodeoutrosmetaisemteoresvariandoentre
0,1 e 70%. O antimnio e estanho so usados, frequentemente, para a proteo
anticorrosiva, para melhorar a fluidez quando fundido ou endurecer quando
resfriado.Ocdmio,tambm,umcostituintedeligasfacilmentefusveisedesoldas
maleaveis, apesar de no ser usado amplamente. As ligas de chumbo so mais
comunsembaterias,soldas,metaisdeimpressoerevestimentosprotetores.
Chumbobranco(carbonatodechumbo)
A produo desse produto qumico foi comum nos sculos 18, 19 e 20. Vrios
processos de produo foram usados, tais como o velho processo holandes e os
processos Carter, Euston, Sperry e ThompsonStewart, que usam a mesma reao
qumicabsica.Ochumbo,quercomoslidooucomop,eraconvertidoemacetato
de chumbo pela reao com acido actico e o acetato resultante era, ento,
convertido em carbonato de chumbo por reao com dixido de carbono (CO2). O
chumbobrancoeraamplamenteutilizadocomopigmentonaindstriadetintaseem
cermicas, embora tenha sido substitudo em tintas pelo uso de dixido de titnio
(TiO2).
Litargrio(monxidodechumbo,PbO)echumbovermelho(xidodechumbo,
Pb3O4)
Olitargrioformadopelafusodebarrasdechumboemfornosrevrberoedeco
pelao na presena de ar. Alguns processos de produo envolviam a queima do
chumbocomformaodefumaanapresenadeoxignio.Olitargrio,quetemsido
164
usadoemumaamplavariedadedeindstrias,emescamasounaformadep,pode
ser conhecido como litargrio de vidreiro (utilizado na fabricao de uma forma de
vidro endurecido), litargrio cermico (usado como um costituinte vitrificante para
cermicaseesmaltes),litargriocolorante(usadonafabricaodepigmentos)ouli
targrioparafabricantesdeborracha(usadocomoaceleradorouenrigecedornafa
bricao de borracha). O chumbo vermelho, que usado como pigmento, uma
formadechumbomaisoxidadaqueadolitargrio.Eleformadopeloaquecimento
dolitargrioempemtemperaturacuidadosamentecontrolada.Olitargrioabsorve
oxignioeconvertidoemchumbovermelho.
Resduosdosprocessamentosprimrioesecundriodechumbo
Escria
Aescriaprovenientedaoperaodoaltofornocontmmineraisemuitasimpurezas
metlicas, incluindo de 2a 4% de chumbo. A escria da pirometalurgia do chumbo
tem sido sempre reciclada no processo para propiciar a mxima recuperao das
impurezas metlicas que permanecem aps processo de fuso. Em alguns casos, a
escria volatilizada, posteriormente, em um forno para coletar algo de zinco
recupervel. Da mesma forma, os processos de refino produzem pequenas
quantidadesdeescriametlica erejeitoslido.Casoessassubstnciasnofossem
recicladasemumfornodefusoelasteriamsidodispostasouemoutrolocalouno
mesmolocalondeforamproduzidas(emcasodedisponibilidadedeespao).Nesse
momento,existemcontrolesestritosparaadisposiodessesmateriaissenoforem
reciclados.
Dejetos
Os dejetos provenientes dos processos de refino contm chumbo, cobre, arsnio,
antimnio, prata e bismuto. Os teores desses metais vai depender das suas
quantidadesoriginalmentepresentesnamatriaprima.Arecuperaodessesmetais
dosdejetosvaiocorrercasosejarentvel.
Poeirasefumaas
Nos processos de sinterizao, fuso e refino, fumaa e poeiras contendo metais
podem ser emitidas durante o processamento e durante as operaes de carga e
descargadosfornos.Essaspoeiraspodemconterde10a20%dechumbobemcomo
uma ampla faixa de metais e metaloides, especialmente cobre, zinco, arsnio,
antimnio, estanho, cdmio, prata, ouro e bismuto. As unidades fabris so,
normalmente,projetadasparaoperaremcomsistemasdecaptaodeemanaese
as poeiras so usualmente extradas em ciclones e filtros. A poeira retida nesses
sistemasrefundidaou,comonopassado,dispostanoprpriolocaldaproduode
chumbo. As poeiras ricas em metal esto, comumente, presentes nos fornos, nos
dutos e por toda a unidade operacional. No passado, o cho dessas unidades fabris
165
noerampavimentadaseacontaminaodiretadosoloocorriacomoresultadodo
contatocomfumaas,respingosdeescriaseminrio.
guasresiduais
guasresiduaispodemsurgirdediversasfontes,incluindoplantasparareciclagem
debateriasautomotivas,comotambmdasoperaesdelavagemevazamentos.
Os gases emanados nas plantas de produo pirometalrgica de chumbo so, as
vezes,lavadosproduzindoefluentelquidocontendometaispesados.Essesefluentes
necessitam,portanto,seremtratadosparaneutralizaoeprecipitaodessesmetais
(na forma de lama) antes do descarte. Essa lama , ento, disposta em aterros
apropriados, possivelmente existente no prprio permetro industrial, ou ser
posteriormenterefundida.
Opes tecnolgicas para o tratamento dos resduos de chumbo em

SantoAmaro
DuranteoprocessoprodutivodechumbopraticadoemSantoAmarogeravaseuma
escria que era disposta no meio ambiente sujeita a intempries com possibilidade
de liberao de metais pesados, tais como chumbo, arsnio, cdmio, bismuto etc.,
quer por processos qumicos oxidativos ou por processos biolgicos naturais. Alm
dessaescria,duranteaproduopirometalrgicadochumbo,materialparticulado,
constitudo por PbO (litargrio), Pb3O4 (xido salino de chumbo), PbSO4 (sulfato de
chumbo), era emitido pela chamin e se depositava nas cercanias da fbrica sem
mencionar o anidrido sulfuroso (SO2) emitido continuamente que em contato com
umidadeechuvasgeravachuvacidaresponsvelpordisponibilizarmetais,emsuas
formassolveis,aomeioambiente.
Diantedessecenriodeagressoambiental,vislumbramserotasdetratamentodes
sesmateriais,escriaeparticulado,querconjuntamente,pelafusodessesmateriais
comagregaodefontessecundriasdechumbo(i.e.:bateriasautomotivasexaustas,
tubos de chumbo, laminados de chumbo etc.), ou em separado pelo processamento
daescriaemmoinhodebarras,seguidodeumpeneiramentoemumasriedepe
neirasaserdefinida,posteriormente,paraaretenodelminasdechumbo,resul
tadodalaminaodegotculasdechumboencapsuladasnamatrizdaescria.Oma
terial fino, resultado dessa operao de moagem, dever ser submetido, posterior
mente,aumprocessodeflotao,cujafaixagranulomtricacarreadoradepartculas
minsculas de chumbo ser definida quando da realizao dos testes de flotao.
Essarota,comopodeserdepreendido,nocontemplaoprocessamentodomaterial
particuladosupramencionadoqueserrealizadoporumprocessodefusocomadi
odeumagenteredutor(coque)eagentesqumicosdeescorificaoparaatrans
formaodessescompostosdechumboemchumbometlico.
166
OfluxogramadaFigura8mostraasoperaeseprocessosunitriosnecessriospara
atransformaodoscompostosdechumboemchumbometlico,quesejuntarao
chumbo metlico contido na escria (gotculas de chumbo), chumbo esse que ser
carreadoparaabasedeumaltofornocomoauxliodaadiodeagentesqumicosde
escorificao(fluxo),bemcomodasfontessecundriasdechumbo(bateriasautomo
tivas,tubosdechumbo,lminasdechumboetc.).
Escria da Produo
Pirometalrgica do Chumbo
Material
Particulado:
-PbO
-Pb 3O4
-PbSO 4
Coque
Fuso Escorificante
Fonte secundria
de Chumbo:
-baterias automotivas
exaustas
-Tubos de chumbo
-Laminados de chumbo
Escria
Bullion de
Chumbo
[Pb]< 2ppm
Descarte
[Pb]>2ppm
Reprocessamento
Figura8Operaeseprocessosunitriosnecessriosparaatransformaodoscompos
tosdechumboemchumbometlico.
Aideiadeseagregarfontessecundriasdechumbomisturaescriacompostosde
chumbo tem dois objetivos. Um desses objetivos visa aumentar a quantidade de
chumbometlicomisturaaserfundidaparafacilitaracoalescnciadasmicrogot
culasdechumboencapsuladasnamatrizdaescria.Ooutroobjetivojustificarum
investimentoeminfraestruturaparaaconstruodeumafundidoraparaoproces
samentopirometalrgicodopassivoambientalexistenteemSantoAmaro,aserrea
lizadoemlocalaserdefinidoposteriormente,depreferncia,segundoaopiniop
blicalocal,foradacidadedeSantoAmaro.Nocasodautilizaodebateriasautomo
tivas,essasseconstituemcomoumafonteconstantedechumbovistoqueasmesmas
167
duram,emfuncionamento,de1a3anoseograndecrescimentodomercadodebate
riasnosculoXXfoidecorrentedocrescimentodaindstriaautomobilstica,naqual
asbateriassoaplicadasparaapartida,iluminaoeignio(bateriasSLIstarting,
lightingandignition)dosveculos.Estimasequeessemercadoconsomeentre70a
75% da produo mundial de chumbo (JOST, 2001). A maior parcela do chumbo
atualmenteconsumidonomundodestinasefabricaodeacumuladoreseltricos
para diferentes fins. As baterias chumbocido so universalmente utilizadas como
fontedeenergiaemveculosautomotores,emsistemasdefornecimentodeenergia
eltricaeemprodutosdeconsumoemgeral.Quandoessasbateriaschegamaofinal
desuavidatildevemsercoletadaseenviadasparaunidadesderecuperaoereci
clagem. Esta providncia garante que seus componentes perigosos (metais e cido)
fiquemafastadosdeaterrosedeincineradoresdelixourbanoequeomaterialrecu
peradopossaserutilizadonaproduodenovosbensdeconsumo.Todososconsti
tuintes de uma bateria chumbocido apresentam potencial para reciclagem. Uma
bateria que tenha sido impropriamente disposta, ou seja, no reciclada, representa
umaimportanteperdaderecursoseconmicos,ambientaiseenergticoseaimposi
odeumriscodesnecessrioaomeioambienteeseusocupantes.Asbateriasau
tomotivas,estacionriasetracionrias,contmchumbonamassapositiva,massane
gativa, nas grelhas e conexes e ainda na soluo eletroltica de cido sulfrico;
portanto, nas instalaes, durante o uso das mesmas, no transporte, manuteno,
armazenamentotemporrioenadisposiofinal,cuidadosdevemsertomadospara
que no ocorra vazamento de chumbo e cido sulfrico que exponha os usurios e
contamineosolo,aregua.Seapsoseuesgotamentoenergticoessasbateriasno
foremsegregadaseseucontedoreciclado,causaroameaaambientalsignificativa.
Nohumsubstitutoeconomicamenteinteressanteparaochumbonasbateriasau
tomotivaschumbocido.Aproduototalmundial,deacordocomodadomaisre
cente de 2006, foi de 8,6 milhes de toneladas. Estimase que 60% das toneladas
dessemetalproduzidasprovmdaproduosecundria,ouseja,devidoreciclagem
propriamente dita e o restante de minas. A reciclagem formalizada das baterias de
chumbocidoaalternativaquesemostramaisadequadaparacompatibilizarinte
ressedeeconomiaeproteoaomeioambiente.
OfluxogramadaFigura9,aseguir,mostraasoperaesunitriasutilizadas,conven
cionalmente,no processamento das baterias automotivas exaustas. A frao pesada
desse processamento se constitui como a fase metlica a ser adicionada mistura
escriacompostosdechumbo,quecomporoacargaaseralimentadanoaltoforno
paraaproduodobulliondechumbo.Essechumbobrutoproduzidocarecedeuma
etapaderefinoparalivralodeimpurezasmetlicascasosepretendautilizlopara
finsmaisnobres.
168
Bateria Automotiva
(Exausta)
Drenagem
(cida)
Triturao
Peneiramento
Eletrlito cido
Triturao
Finos e Pasta
dos Eletrodos
Material
Metlico
Separao
Gravtica
Frao Pesada
Frao
Leve
Separao
Gravtica
Ebonite
Frao Pesada
Polipropileno
Frao Leve
Figura9Operaesunitriasnoprocessamentoinicialdebateriasautomotivasexaus
tas.
Poroutrolado,ofluxogramadafigura10mostraasoperaeseprocessosunitrios
utilizadosnoprocessamentodoscomponenteseresduosdasbateriasexaustas.
Finos e Pasta
dos Eletrodos
Material Metlico
169
Eletrlito cido
Neutralizao
NaOH
Hidrxido de
Chumbo
[Pb(OH)2 ]
Soluo de
Na 2 SO 4
Dessulfurizao
xidos de
Chumbo
Fluxo
(Fundentes)
Forno
Escria
Substncias
Redutoras
Chumbo Bruto
(Bullion de Chumbo)
Figura10Operaeseprocessosunitriosutilizadosnotratamentodosresduosslidos
esoluosulfrica.
CasosejadointeresseoprocessamentoemseparadodaescriaexistenteemSanto
Amaro, um processamento fsico inicial pode ser utilizado. Essa etapa consiste na
moagemdessaescria,emmoinhodebarras,parapropiciaralaminaodasgotcu
lasdechumboencapsuladasnaquelamatriz.Oresultadodessaoperaodemoagem
ummaterialparticulado,contendolminasdechumbo,quedeveser,emseguida,
peneiradoparaaretenodessematerialmetlico,emformadelminas,posterior
mente,fundido.Osfinosdessaoperaodemoagem,contendo,possivelmente,part
culas metlicas muito finas, devem ser submetidos ao processo de flotao, com a
utilizaodereagentesespecficos,aseremdefinidosposteriormente,eafasemet
licaresultantedeversejuntarquelafasemetlicaanteriorretidanasriedepenei
rasutilizadas.OfluxogramadaFigura11mostraasoperaeseprocessosunitrios
que devero ser utilizados no processamento da escria da produo pirometalr
gicadechumbo.
170
Escria da Produo
Pirometalrgica do Chumbo
Moagem
(moinho de barras)
Peneiramento
(srie Tyler)
Lminas de
Chumbo
Partculas Finas
de Escria
Refuso
Processo de
Flotao
Bullion
de
Chumbo
Chumbo Metlico
(Partculas Finas)
Partculas finas
de Escria
(Isentas de Pb)
Figura11Operaeseprocessosunitriosquedeveroserutilizadosnoprocessamento
daescriadaproduopirometalrgicadechumbo.
Contaminao
Acontaminaodeumareaindustrialdepender, emmuito,dahistriapregressa
dessa rea e da diversidade de materiais nela produzidos. Os contaminantes em
potencial esto listados abaixo e as informaes referentes toxicidade dos metais
presentesnosresduospodemseracessadasnaliteratura(SAMANS,1949).muito
poucoprovvelquequalquerumadessasreascontenhatodosessescontaminantes
citados. recomendado que uma investigao criteriosa desses locais sejam
conduzidas para se determinar a natureza exata da contaminao associada a uma
determinadarea.
OscompostosqumicoseoutrosmateriaislistadosnaTabela1,abaixo,refletem,ge
ralmente, aqueles associados com esse seguimento industrial e tm potencial para
contaminarosolo.Essalistanoexaustiva,nemsignificaquetodosessesprodutos
qumicospossamestarpresentesnemtercausadocontaminao.
171
Tabela 1 Compostos qumicos e outros materiais considerados como potenciais

contaminantesnametalurgiadochumbo.
Metais,metaloideseligas
metlicas
CompostosInorgnicos
cidos
lcalis
Produtosdecarvo
leos
Pb,As,Sn,Sb,Cd,Cr,Bi,Mg,Mn,Cu,Zn,AgeFe
Sulfetos,sulfatos,cloretos,Carbonatos(ie.,
PbCO3,Na2CO3),xidos(ie.,PbO,Pb3O4),saisde
sdio(ie.,NaNO3,Na3AsO4,Na2SnO3,Na3SbO4e
Na2ZnO2
H2SO4
NaOH
Coque
leocombustvel, incluindodieseleleos
lubrificantes
AspectosAmbientaisedacontaminaoporchumboemSantoAmaro
Quandodastransformaespirometalrgicasdochumbometlicoeseuscompostos,
cuidadosdevemsertomadosvisandolivrarooperador,dosfornosdefuso,dosva
pores de chumbo metlico que causam danos irreversveis ao sistema respiratrio,
compossibilidadedetransformaesqumicasorgnicasgerandocompostosorgni
coscontendochumbo(organometlicos)comacessodiretocorrentesangunea.
Toxicocinticadochumbo
Absoro
O processo de absoro do chumbo, proveniente de fontes ambientais, depende da

quantidadedometalnasviasdeintroduoedeseuestadofsicoequmico.Aabsor
o tambm influenciada por caractersticas relacionadas ao hospedeiro, como
idade,estadofisiolgico,condionutricionale,possivelmente,fatoresgenticos.
Absoropulmonar
Apassagemdochumbo,presentenaatmosfera,paraosangueenvolveduasetapas:a
deposio das partculas de chumbo no trato respiratrio e remoo/absoro do
metal do trato respiratrio para a circulao. As partculas so depositadas, princi
palmente,nossacosalveolaresdopulmo.Fumosevaporesgeradosemoperaes,
nasquaisosmetaissocortadosouaquecidos,casotpicodasunidadespirometalr
gicasdechumbo,aexemplodaoperadaemSantoAmaro,sodetamanhomuitope
quenoe,portanto,podemserabsorvidos.Aabsorodepoisdadeposiovariacon
formeasolubilidadedoscompostosdechumboedatoxicidadeinerenteparaosma
crfagosecliosdopulmo(AZEVEDO;CHASIN,2003).
No homem, a deposio respiratria do chumbo daatmosfera est na faixa de 30 a
50%evariacomotamanhodapartculaetaxadeventilao.Taxaselevadasdede
172
posio podem ocorre com partculas maiores; entretanto, essa deposio acontece
notratorespiratriosuperior,podendo,eventualmente,haverdeslocamentodepar
tculasparaotratogastrintestinal(AZEVEDO;CHASIN,2003).
Aviarespiratriaconstituiaprincipalviadeabsorodochumbonaexposioocu
pacional.Cercade20a40%dometalqueentramnotratorespiratriopermanecem
no organismo, e a maior parte removida para o trato gastrintestinal atravs dos
movimentos ciliares. A quantidade que permanece nos pulmes rapidamente
absorvida,independentedaformaqumicadometal(JOST,2001).
Absorooral
A extenso e a taxa de absoro gastrintestinal so influenciadas por fatores relacio

nados dieta, ao estado nutricional e forma qumica do metal. Por exemplo, o
chumboingeridoduranteperodosdejejumabsorvidonumaextensomuitomaior
do que o ingerido com alimentos (AZEVEDO; CHASIN, 2003). No caso de adultos e
crianasmaisvelhas semexposioocupacional, ochumboabsorvidopelo tratogas
trintestinalprovenientedaingestodometalemalimentos,bebidasesolooupoeira.
Absorocutnea
Ataxadeabsorodrmicadoscompostosdechumboinorgnicosbastanteredu
zida,sendoestaviamuitomenossignificativadoqueaoralearespiratria.Comre
laoaoscompostostetraalquiladosdechumbo,estudosemanimaisdeexperimen
taoindicaramquesoextensivaserapidamenteabsorvidaspelapeledecoelhose
ratos(ASTDR,1999).
Concluses
Diantedoexposto,econsiderandoosaspectosoperacionaisquandodaoperaoda
plantapirometalrgicadeproduodechumboemSantoAmaro,podemosconcluir
que:
Poucaimportnciafoidadasemanaesproduzidasduranteaqueleprocessopro
dutivo,emespecialaosdanosquetaisemanaescausariamaosoperadoresdaquela
unidadepirometargica,numprimeiromomento,e,porextenso,aosmoradoresque
ali viviam e que permanecem penalizados pela persistncia dos compostos de
chumbodepositadospordcadas;
Nohouve,porpartedosdirigentestcnicos,apreocupaodeinformaraosopera
dores, de forma palatvel, as propriedades fsicas e qumicas dos compostos de
chumbo,aosquaisestavamconstantementeexpostos,edeproverosequipamentos
deproteoindividualque,certamente,oslivrariam,localmente,detaisexposies
que tanto os debilitaram de forma continuada, por tanto tempo. Essa exposio se
estendeuaosmoradorescircunvizinhosquerpelomaterialparticuladoexpelidopela
173
chamindafbricae,ainda,pelotransportedinmicodosoperadoresemretornando
aosseuslarescomasvestimentasdetrabalho;
Comaoperaointerrompidahmuitosanos,ficouumlegadodeenfermidadescau
sadaspelosmetaispesadosdispostos,dealtapericulosidade,aexemplodochumbo,
cdmio,arsnio,bismutoetc.,quedevem,semsombradedvidas,serextradosda
quelalocalidadeedevolver,comamaiorbrevidadepossvel,aosmoradoresdeSanto
Amaroodireitodeummeioambientesadioparaseusfilhos;
Foram acenadas as alternativas tecnolgicas para tal descontaminao, sendo a im
plantaodessasrotasprocessuaisumadecisoquedeversertomada,numfuturo
bem prximo, e em lugar apropriado com a devida infraestrutura operacional. Cer
tamente,sernecessriocongregarumamodeobraqualificadaeinformada,ante
cipadamente, dos riscos de se lidar com esse tipo de matria prima e rotas proces
suais,poisnopodemos,maisumavez,incorrernosmesmoserrosdopassado.
Refernciasbibliogrficas
ATSDR. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. Toxicological Profile for
Lead.Atlanta:ATSDR,1999.587p.
AZEVEDO, F.A.; CHASIN, A.A.M. Metais, Gerenciamento da Toxicidade. Atheneu,
Intertox,2003.
BETTERTON,J.O.;LEBEDEFF,Y.E.Refininglead.1937.
BETTERTON,J.O.;LEBEDEFF,Y.E.Recoveryofbismuth.1940.
BRITANNICA ONLINE ENCYCLOPEDIA. Disponvel em: <www.britannica.com>.
Acessoem:20deagosto2009.
JOST, M. Technical guidelines for the environmentally sound management of lead
acid battery waste. In: The Basel Convention on the control of Transboudery
MovementsofHazardousWastesandtheirDisposal.2001.
KROLL,W.Processfortheseparationandrecoveryofmetalsfrommetalalloys.1925.
LINUS,P.GeneralChemistry.W.H.Freemaned.,1947.
MATTHIAS,F.T.(ed.).TheWisconsinengineer.v.33,n.VII,1929.
ROCHA, A. J. D. Perfil Analtico do Chumbo. Boletim No. 8, Ministrio das Minas e
Energia,DepartamentoNacionaldaProduoMineral,1973.
SAMANS,C.H.EngineeringMetalsandtheirAlloys,MacMillan,1949.
Qumicaanalticaaplicadaaoestudodochumbo
LlianIreneDiasdaSilva1
ManuelCastroCarneiro2
ThaisdeLimaAlvesPinheiroFernandes3
Introduo
Osalquimistasacreditavamqueochumboeraomaisantigodosmetaiseoassocia
vamaoplanetaSaturno:saturnismo,aindahoje,oenvenenamentoporinalaoou
ingestodechumbo.Esteelementotemumavastagamadeaplicaes,sendoumdos
metaismaisutilizadosnomundo.
Ochumboraramenteencontradonoseuestadonatural,massim,emcombinaes
comoutroselementos,sendoosmaisimportantes,osminriosgalena(PbS),cerus
sita(PbCO3)eanglesita(PbSO4).Agalenageralmenteocorreassociadacomapratae
omneromineralmaisimportantedechumbo.Ozinco,ocdmio,ocobre,oouroe
oantimniosooutrosmetaisque,porvezes,aparecemassociadosaochumbo.
A qumica analtica apresenta um conjunto de ferramentas fundamentais para as
cincias ambientais, tecnolgicas e para a legislao. Num primeiro momento, as
anlisesdeamostrasambientaisdevemcontribuirpararesponderquestesquanto
identidadeeconcentraodospoluentes.Umestudomaisdetalhadodevesercapaz
de contribuir para a elucidao da mobilidade, estabilidade, transformaes,
acumulaoeefeitosdecurtoelongoprazodasespciespresentesnoecossistema.
Independente do nvel de detalhamento da abordagem, a amostragem sempre a
primeiraetapadequalquerprocedimentoanaltico(Figura1).
1MestraemQumicaAnalticapeloIQInstitutodeQumicadaUFRJRJ.
2DoutoremQumicaAnalticapelaUniversidadedeBarcelonaEspanha.
3DoutoraemCinciadeMateriaiseMetalurgiapelaPUCRio.
175
Figura1Etapasdeumprocedimentoanalticocompleto(Cornelisetal.,2003).
Definiodoproblema
Emprimeirolugardeveseteremmentequeadefiniodoproblemaanalticoim
plica na seleo e desenho do procedimento experimental. Portanto, a definio do
problemacrucialetodasaspropriedadesrelevantesdoanalitodeinteresse,dama
triz e da tcnica analtica, alm de diversos parmetros necessrios para avaliao
dosresultadosanalticos,devemserlevadosemconsiderao.
Paraamostragemdesolosesedimentos,oaspectomaisdifcilecriticoarepresen
tatividade.condiosinequanonparagarantiadaqualidadedosresultadosanalti
cos,queasamostrassejamcoletadaslevandoseemconsideraotodososparme
trosqueafetamarepresentatividadedasmesmas.Acampanhadeamostragemnor
malmente leva em considerao o conhecimento prvio do ambiente, assim como
dados geolgicos, meteorolgicos, geogrficos, biolgicos e das atividades humanas
nolocal.
Desenhodoprocessoplanodeao
O objetivo de qualquer anlise qumica obter a informao necessria num prazo
aceitvelparaousurio/cliente.Istosignificaqueoanalistadevereunirainformao
necessriaesuficiente,incluindorevisobibliogrfica,pararesolveroproblemaem
questo.Osprincipaiscomponentesaseremconsideradosnaplanificaodasanli
sesestoresumidosnaFigura1.Cadacomponenteimportanteparaobterinforma
o confivel a partir dos resultados analticos. A amostragem de campo e procedi
mentosdesubamostragememlaboratriodevemserdesenhadosparagarantirain
176
LlianIreneDiasdaSilva,ManuelCastroCarneiroeThaisdeLimaAlvesPinheiroFernandes
tegridadedosresultados.Paraarmazenarasamostraseospadres,devemserado
tadosprocedimentosadequados.Todasasamostrasdevemserrotuladaseregistra
das.Osprocedimentosfsicosequmicosrealizadoscomasamostrasantesdasme
didas servem para remover ou reduzir interferentes, ajustar as concentraes do
analitoparaumafaixaadequadaparaamedida,ouproduzirespciesdoanalitoque
possuampropriedadesmensurveis.Estesprocedimentosincluemdissoluo,sepa
rao,diluio,concentraoe derivatizaoqumica.Controlar econheceroambi
entequmicofrequentementenecessrioparagarantirqueoanalitosejamedidona
formadesejadaeparaminimizarosefeitosdosinterferentes.Osparmetrosambien
taisincluemtemperatura,pH,dadosmeteorolgicos,etc.
Amostragem
Emqualqueranlisequmica,clssicaouinstrumental,inorgnicaouorgnica,exi
gidoqueoanalistainiciecomumaquantidadeconhecidadaamostra.Afaltadeuma
amostra bem definida , com frequncia, motivo de discordncia entre analista e
cliente ou entre laboratrios. Os resultados analticos apenas tero validade se a
amostra representa o material de interesse. Embora nem sempre seja fcil reco
mendvelquetodasas amostrassejamsubmetidasaprocedimentosdepreparao
quegarantamgranulometriaadequada,homogeneidadeerepresentatividade.
Processamentodaamostrasecagem
Uma vez obtida a amostra representativa, a maioria das anlises comea com a
secagem. Embora muitos mtodos possam ser utilizados, a secagem tradicional em
estufas (105C) e o equilbrio em dessecadores oferecem resultados satisfatrios
paraamaioriadasanlisesinorgnicas.
Pesagemdaamostra
O termo pesagem inadequado porque a massa desconhecida comparada com a
massa de um padro analtico conhecido. Atualmente a grande maioria dos
laboratrios utilizam balanas analticas eletrnicas que embora fceis de operar,
estosujeitasavariaesqueprecisamserlevadasemconsiderao.fundamental
queestejaminstaladasemmesasantivibraoeemsalascomcontroledeumidadee
temperatura.Almdisso,importanteumplanodecalibraoperidicadasbalanas
eaobervaodoslimitesdecapacidadedecargadasmesmas.
Armazenamento
Umavezpreparadas,assoluespadroeassoluesamostranotmumavidatil
indefinidaeprecisam serarmazenadasemrecipientesadequados.Para assolues
contendoctions,amelhoropomanteraacidezemcido1%ou2%.Amaioria
das espcies inorgnicas so estveis indefinidamente em meio cido. O problema
residenacontaminaocausadapelomaterialdorecipiente.Emboraosrecipientes
177
de vidro no permitam o transporte de massa atravs das paredes, o vidro

lentamentesedissolvenosolvente,liberandoseuselementosmaisabundantes(Si,K,
Na, Ca, Mg e Al). O grau de contaminao depende do tempo de armazenamento.
Recipientes de quartzo so os mais prximos do ideal porque so essencialmente
confeccionadosemsilicapura,liberandopraticamenteapenasSi.
Frascos de polietileno so comumente usados para armazenar solues de
inorgnicos, enquanto que o vidro usado para solues de orgnicos. A maior
desvantagemdopolietilenoatranspiraoatravsdasparedes,perdendocercade
0,25% do conteudo por ano. Para armazenamento por longos perodos, Teflon e
outros fluoropolmeros so os mais indicados, pois as perdas so bem menores. A
Tabela 1 apresenta dados sobre as impurezas presentes no material usado para
confeccionar os recipientes de laboratrio. importante ressaltar que estes
elementostraopodemserlixiviadosdasparedesdosrecipientespelasoluoneles
contida, variando em quantidade e qualidade, em funo do material, do pH da
soluoedotempodearmazenamento.
Tabela 1 Principais elementos trao presentes na vidraria usada em laboratrio
(Kosta,1982).
Material
Polietileno
Polipropileno
Policloretode
vinila
Teflon
Policarbonato
Vidro
Silica
Faixadeconcentrao,mg/kg
100,1
0,1 0,01
Mn,Al,Sn,
Na,Zn
K,Br,Fe,Pb
Se
Ca,Al,Ti
Cl,Si,Sr
Na,sn,Al, Br,Pb,Sn,Cd,Zn,
As,Sb
Ca
Mg
Fe,Cu,Mn,
K,Na
Cl,Na,Al,W
Cr,Ni
Co,Cr,Cu,
Cl,Br
Al,Fe
Mn,Ni,Pb
Fe,Pb,B,Zn,Cu,
Al,K,Mg,
Sb,Rb,La,
Mn,Sr
Rb,Ti,Ga,Cr,Zn
Au,As,Co
Cl,Fe,K
Br,Ni,Cu,
Sb,Cr
100
0,010,001
Cu,Sb,Co,Hg
Cs,Co
Sc,Tl,U,Y,In
Sb,Sc,Th,Mo,Cd,
Mn,Co,As,Cs,Ag
Procedimentosanalticos
Vrios mtodos analticos esto disponveis para determinao de Pb em amostras
ambientais e biolgicas. Estes mtodos variam em custo e treinamento de pessoal
especializado.Tantonaanliseclssicacomonainstrumental,adeterminaofinal
quasesempreprecedidaporumaoumaisetapaspreparatrias.Aprecisoeaexati
dodosresultadosanalticosnosomelhoresdoqueaprecisoeexatidoconjunta
das etapas de preparao e podem ser afetadas pela contaminao das amostras
dentroouforadolaboratrio.Amaioriadasetapasdepreparaoparaaanliseins
trumental so as mesmas adotadas pelos mtodos clssicos. Portanto,
178
imprescindvel adotar as boas prticas de laboratrio. A fim de garantir qualidade

dosresultadosoanalistadeveutilizarmaterialderefernciacertificadosemelhante
matriz da amostra de interesse. No pretenso desta seo fornecer descrio
exaustivadosmetodosanaliticosdisponveisparadetectarequantificarniveisdePb
em amostras ambientais. Tratase to somente de uma abordagem dos mtodos
citados na apresentao durante o Seminrio Santo Amaro (CETEM, 2425 de
outubrode2012).
OsmtodosmaisutilizadosparadeterminaodePbemamostrasambientaissoa
espectrometriadeabsoroatmicacomchama(FAAS),espectrometriadeabsoro
atmica em forno de grafite (GFAAS), espectrometria de emisso atmica com
plasma indutivamente acoplado (ICPOES), espectrometria de massas com plasma
indutivamente acoplado (ICPMS) e espectrometria de fluorescncia de raiosX
(FRX). Os mtodos colorimtricos, usando 1,5difeniltiocarbazona (ditizona) como
reagente colorimtrico, tambm so muito usados, embora menos sensveis e mais
laboriosos.Almdosmtodosinstrumentais,aindasousadososchamadosmtodos
clssicos,comoagravimetriaetitrimetria.
Mtodosclssicos
A gravimetria a determinao de um elemento ou espcie atravs da medida da
massadeumprodutorelativamenteinsolveldeumareaoqumicabemcaracteri
zada envolvendo aquele elemento ou espcie. O produto insolvel pode ser um gs
emanado da soluo, ou pode ser um resduo slido no voltil. Usualmente o pro
dutoinsolvelumprecipitadoformadoemumasoluoaquosa.Osmtodosclssi
cosdegravimetriaetitrimetria,juntamentecomacolorimetriaeaespectrometriade
massascom diluioisotpica(IDMS),sochamadosdemtodosdefinitivosouab
solutosporquetemerrosexatamentedefinidose,sobcondiesadequadas,none
cessitamdecalibraoexterna.
Um exemplo de mtodo gravimtrico clssico para determinao de Pb mostrado
naFigura2.OprodutofinaldareaooPbCrO4(cromatodechumbo).Almdaco
loraocaracterstica(amarela),queajudanaidentificao,aquantificaobaseada
namedidadamassadocromatodechumboobtida.Nestemtodoaamostratratada
comumamisturadecidontricoesulfrico.Umavezdissolvida,asoluoaque
cidaparaliberaodevaporesdeSO3,NO2,H2Oeimpurezasvolteis,atcolorao
brancadosvapores.OresduocompostodePbSO4eimpurezasnovolteis,como
Cd,Bi,Ba,etc.Aadiodeumasoluodeacetatodeamnio3molardissolveprefe
rencialmente o PbSO4. Finalmente o Pb precipitado na forma de um precipitado
amarelodecromatodechumbo,livredosinterferentes.Apssecagem,oslidopode
serpesadoeoPbquantificadousandorelaesestequiomtricasadequadas.
179
Figura2Mtodogravimtricoparadeterminaodechumbo.
Mtodosdetriagem
Deumaformabsicaebastantesimplificada,osmtodosdetriagempodemsercon
sideradoscomoumamedidaqualitativadotiposimouno.Emumestudorecente,
paraavaliaodaconfiabilidadedokitdespottest,damarcaLeadChek,paradeteco
dePbempoeiradomstica,ficouevidenciado(Figura3)queestemtodoestsujeito
ainterferncias,nestecasoacargadepoeira,quelevamafalsospositivoscommuita
frequncia.Acoloraoesperada,quandonapresenadePb,umavariaodacor
derosaaovermelho,enquantoqueaausnciadePbindicadaapenaspelacolorao
amarela. O percentual de resultados positivos, possveis positivos e negativos para
diferentescargasdepoeirasobreasuperfcieemteste,apresentadonaFigura4.
180
Figura3(a)FotografiadebastesLeadCheckmostrandoresultadospositivos,nega
tivoseinconclusivos.(b)Vistadobastosujocomrosavisvelportrsdapontasu
perior(Smithetal.,2007).
Figura 4 Percentual de resultados positivos, possveis positivos e negativos para dife

rentescargasdepoeirasobreasuperfcie(Smithetal.,2007)
Mtodosinstrumentais
Colorimetria
Entreosmtodosinstrumentais,ocolorimtrico,sejapelasimplicidadedeoperao
oupelobaixocusto,umdosmaisutilizados.NoexemploabaixooPbsucessiva
mente extrado de modo a eliminar as interferncias. O Pb, uma vez em soluo
aquosa(pH9,510),extradocomumasoluodeditizona.Agoranafaseorgnica,
oPbnovamenteextradocomumasoluoaquosadecidontrico.Novamenteo
pHajustadoeoPbextradocomditizona.Finalmente,livredosinterferentes,oPb
podeserquantificadoespectrofotometricamente.
181
Faseaquosa
Faseorgnica
Pbextradocomsoluodeditizona
2+
2+
Pb
Pb
Aq.
org.
(pH9,510,0c/NH4OHaq.)
2+
PbextradodafaseorgnicacomHNO aq.
3
Pb
2+
Aq.
Pb
org.
(pH11,5c/NH4CN)ocianetomantmosinterferentesemsoluo
2+
Pbextradocomsoluodeditizona
Pb
Aq.
2+
Pb
org.
Figura5DeterminaoespectrofotomtricadePbapsextraocom ditizona.
Cromatografiadeons
Outro mtodo instrumental utilizado para separao e quantificao de metais a
cromatografiadeons(CI).ACItilparasepararonslivreseespciesfacilmente
ionizveis.Comoasespciesmetlicasocorremfrequentementenaformaionizada,a
CI muito utilizada. O fato de a separao ocorrer em meio aquoso, faz a tcnica
compatvel com os detectores elementoespecficos (ICPMS). Alm do detetor con
vencionaldecondutividadeinica,possveloacoplamentocomumreatorpsco
lunaparatransformaroanalitodeinteresseemumaespcieUVVisabsorvente.Na
Figura 6 mostrada uma aplicao onde vrios elementos, na forma catinica, so
separados e detectados por um detetor de absoro molecular UVVis. O reagente
utilizado para a reao pscoluna o (4(2piridilazo)resorcinol) (PAR). impor
tante ressaltar o quanto crtica a vazo do reagente pscoluna, principalmente
paraPb.
182
2+
2+
2+
2+
2+
2+
Figura 6 Cromatograma de Cu , Ni , Zn e Co (1,0 g/mL), Pb (8,0 g/mL) e Fe

(2,0g/mL)emumacolunaIonPacCS2.Condies:eluente,20mMoxalato20mMci
trato(pH3,6)evazode1,0mL/min;reagenteposcoluna,0,2mMPARemtampo1M
acetato de amnia (pH 9,0), medido em 520 nm, com vazo de PAR (A) 0,7 e (B) 0,4
mL/min.(Rahmalanetal.,1996).
Espectrometria
Comoinformadoanteriomente,osmtodosmaisutilizadosparadeterminaodePb
emamostrasambientaisso:FAAS,GFAAS,ICPOES,ICPMSeFRX.EmboraaFAAS
apresente baixa sensibilidade relativa e limite de deteco muito prximo da
concentrao mxima aceitvel pelos padres ambientais, uma tcnica
monoelementarfcildeoperaredecustorelativamentebaixo.Poroutrolado,aGF
AAS,aocontrriodaFAAS,apresentaumaexcelentesensibilidade,nocasodoPb
daordemdepartesportrilho(ppt).Almdisso,facilmenteautomatizada.Embora,
tanto a FAAS como GFAAS tenham se desenvolvido como tcnicas
monoelementares,atualmentepossvelautilizaodelmpadadexenniodealta
intensidade (fonte contnua), a qual possibilita a determinao de vrios elementos
simultaneamente.Algumascaractersticasanalticassolistadasecomparadascomo
desempenhodastcnicasaquidiscutidas(Tabela2).
183
Tabela2Comparaoentrealgumastcnicasdeespectroscpicas
Nmerodeelementosmedidos
Capacidademultielementar
Anlisedeslidos
Microamostras
Anlisequalitativa
Informaoisotpica
Limitededeteco
Faixadinmicadetrabalho
Interfernciaespectral/isob
rica
Interfernciaqumica
XRFS
FAAS
GFAAS
ICPOES
ICPMS
E
E
E
A
E
P
P
A
A
A
A
P
P
P
P
P
A
P
E
A
A
P
A
E
P
P
E
P
E
A
E
E
P
P
E
P
A
E
A
E
E
E
P
A
E
E
E
E
A
E
Nota:Desempenho:E=excelente;A=aceitvel;P=pobre.
Aespectrometriadeabsoroatmicaemfornodegrafiteumadas tcnicasmais
empregadas para determinao de Pb em amostras de solos e sedimentos devido a
suaaltaseletividadeesensibilidade.Ousodemodificadoresqumicosconvertemos
analitosvolteisemespciestermicamentemaisestveiseremovemamatrizantes
daatomizao/deteco.NaFigura7soapresentadosoperfildeatomizaodoCde
do Pb como resultado de um estudo para avaliar as diferenas em performance de
Mo,Ir,Ru,MoIreMoRucomomodificadores.Asmelhorescondiesforamobtidas
com a mistura MoIr e MoRu, evidenciado por uma menor massa caracterstica,
maiortemperaturadepirlise,menorlimitededetecoevidatilmaislongaparao
forno.
Figura7Perfildospicos(A)Cd
2,15 gL1; (B) Pb em solo 47
gL1. Perfil de atomizao e do
rudo de fundo para plataforma
norecoberta () e recoberta
().(Acar,2005).
184
EspectrometriacomPlasmaIndutivamenteAcoplado(ICP)
Entre as tcnicas baseadas em plasmas como fonte de atomizao/ionizao da
amostra,destacamseaespectrometriadeemissoticacomplasmaindutivamente
acoplado (ICPOES) e a espectrometria de massas com plasma indutivamente aco
plado (ICPMS). Em ambas as tcnicas, a temperatura efetiva do plasma duas ou
trsvezessuperiorquelaobservadanaFAAS(400010,000K).Oplasmagerado
pela passagem de gs argnio atravs de um conjunto concntrico de tubos de
quartzo,imersonumintensocampoderadiofrequncia(RF).Aenergiadaradiofre
qunciade27ou42MHze2kWdepotenciaacopladaaumaserpentinadeinduo
refrigeradaagua,localizadanaextremidadedotubodequartzo.Estaenergiasufi
cienteparaaceleraraspartculasionizadasemmuitascolises,provocandomaisio
nizaoeemissoderadiaodefundodoargnio.
Comumenteaamostraintroduzidanoplasmaatravsdeumnebulizador.Afuno
donebulizadorconverterasoluodaamostraemumfinoaerossol.Osnebulizado
ressofrequentementeacopladosaumacmaradespray,ondegrandesgotas,pre
ferencialmente, so removidas do fluxo de aerossol. Discriminao contra gotas
maiorespropiciaplasmasmaisestveiseumamelhorprecisodamedida.
SinaisdeemissoatmicanoICPsomuitomaioresdoqueaquelesnachamapara
quasetodososelementosepodemserobtidosparaumavastagamadeelementos.A
altatemperaturaeoambienteinerte deargnioconduzemauma atomizaomais
completaeeficienteexcitaodosanalitos,resultandoemsinaismaisintensos.
Sob condies tpicas de operao, cerca de metade dos elementos da tabela peri
dicasoionizadoscomumaeficinciade90%oumaior.NaICPOES,tomoseons
so excitados para emitir radiao eletromagntica (luz). A luz emitida resolvida
espectralmentecomaajudadeticadifrativa,eaquantidadedeluzemitida(suain
tensidade)medidaporumdetetor.NaICPOES,oscomprimentosdeondasousa
dosparaaidentificaodoselementos,enquantoqueasintensidadesservemparaa
determinaodesuasconcentraes(Nolte,2003).
AFigura8mostraoesquemadeintroduodeamostradeumICPOES.
185
Figura8EsquemadosistemadeintroduodeamostraemICPOES.
AtcnicadeICPOEStradicionalmenteutilizadaparaaanlisedesolosesedimen
tos.Elatemsidoamplamenteempregadaemanlisesambientaisdevidoaumasrie
devantagensqueoferece,taiscomo:anlisemultielementarsimultneaousequen
cial, sensibilidade e precises altas, rapidez, bem como ampla faixa dinmica linear
(Dalquistetal.,1978). Paraadeterminaodeumelementonecessriodesenvolver
ummtododeanliselevandoemcontaotipodematriz,escolherocomprimentode
onda(oulinhaanaltica)adequadoeotimizarosparmetrosdomtodo,taiscomoa
potnciadogeradorderadiofrequncia,fluxodogsdenebulizao,fluxodogsdo
plasma,velocidadedabombaperistlticaeetc.
Oprimeirocritrioparaaescolhadalinhaanalticaterideiadafaixadeconcentra
odoanalito.Seaanlisefordeelementotrao,aslinhasmaissensveisdevemser
usadas.recomendvelaescolhademaisdeumalinhaanaltica.Nocasodochumbo,
nossoelementodeinteresse,alinhamaisrecomendada,paravriostiposdeamostra
como guas, esgotos, amostras ambientais, amostras de origem biolgica, amostras
geolgicas,solosesedimentos,cermicoselixiviados,a220,353nm.Porm,como
alternativadevesetestaralinha283,306nme217,000nm.
Deveselevaremcontatambmqueochumboumelementoquepossuiefeitode
memria,portanto,importantelimparosistemadeintroduodeamostraemcaso
desuspeitadecontaminao.
186
NocasodeumICPMS,afaixalineardinmicaseestendepor8a9ordensdemagni
tude,enquantoasensibilidadedaordemdesubngL1.
Umavezatomizados/ionizadosnoplasma,osonsdevemserselecionadoseanalisa
dos. Nos modernos instrumentos, os ons so coletados por um sistema de cones e
passamatravsdelentesinicas,queseletivamenteatraemosonspositivos,almde
desviaraluzdoeixododetetor.Antesdeentraremnoanalisadordemassas,osons
passamporumacluladereao/colisodotipohexapoloouoctapolonapresena
deumgs,aqualeliminaoureduzasinterfernciasisobricasprovocadasporons
moleculares.Atualmente,cercade90%dosinstrumentosICPMSusadosnomundo
soequipadoscomanalisadoresdemassasdotipoquadrupolo.Emboraapresentem
baixaresoluo,umaunidadedemassaatmica(u.m.a),comumalarguradepicode
aproximadamente0,5u.m.aaolongodetodaaescalademassa,oquadrupolopode
realizarumavarreduracompletadaescalaem0,1s.
InfelizmenteatcnicaICPMStambmestsujeitaainterfernciasdotiponoespec
trais,supressoouaumentodosinalinduzidopelamatriz,eespectrais,sobreposio
dossinaisdeonsqueapresentamdiferenasdemassas<0,5u.m.a.Felizmente,di
versosesforosvemsendorealizadosparareduzir,eliminaroucorrigirtaisefeitos.
Semprequepossvelestesefeitospodemserevitadospelaseleoadequadadois
topoasermonitorado,mesmoquecomperdadesensibilidade.Tambm,asinterfe
rncias espectrais podem ser minimizadas adotandose tcnicas adequadas de pre
paraodaamostraeouseparaodasespcies.ComacoplamentosdotipoGCICP
MS ou HPLCICPMS, possvel separar as espcies antes que sejam atomiza
das/ionizadas no plasma. Nos casos relativamente simples, a correo matemtica
podeserusadacomsucesso.Asvezesasimplescorreodobrancoouapreparao
dassoluesanalticasnamesmasoluodobranco,jsuficiente.
Alguns elementos exigem operao do plasma em condies de plasma frio, obtido
com baixa potncia de radiofrequncia, uso de placa metlica para aterramento
(shieldplate)entreaserpentinadeRFeatocha,paradesacoplamentocapacitivode
ambososcomponentes.Nessascondies,ocorreumafortediminuionaproduo
deonsAr+eonsdotipoArX+,permitindoqueelementoscomoK,CaeFesejamana
lisados.Infelizmente,nessascondies,oselementoscomaltopotencialdeionizao
soprejudicados.
EntreosacoplamentospossveiscomoICPMS,acromatografiaemfasegasosa(GC
ICPMS) oferece um elevado poder de resoluo e uma eficincia de introduo de
amostra de 100%. Alm disso, favorece maior estabilidade ao plasma e quase ne
nhuma interferncia espectral, plasma seco, prolongando a vida til do cone. O
principalcampodeaplicaodestatcnicanadeterminaodecompostosorgano
metlicos de Sn, Hg, Se e Pb. Com a finalidade de ilustrao, a Figura 9 mostra um
cromatogramamultielementarparaosorganometlicosdeHg,Pb,SeeSn.
187
Intensidade(unidades
arbitrrias)
Tempodereteno,min
Figura 9 Cromatogramas de compostos volteis Se, Sn, Hg and Pb por GCICPMS

(Amourouxetal.,1998).
EspectrometriadefluorescnciaderaiosX(FRX)
AespectrometriadefluorescnciaderaiosX(FRX)umapoderosatcnicaanaltica,
nodestrutiva,quepermiteanlisequalitativa(identificaodoselementospresen
tesnumaamostra)etambmquantitativadosmaisvariadosmateriais.Atcnicaba
seiasenaexcitaodaamostraaseranalisadaporumfeixederaiosXeaquantifica
odaenergiaemitidaporessaamostraapsaexcitao.
Aolongodosltimos25anoshouveumconsiderveldesenvolvimentodatcnicade
fluorescncia no que diz respeito eficincia e robustez dos equipamentos e
softwares de interface, porm a etapa de preparao de amostra ainda precisa ser
melhorada para que cada vez mais seja possvel se obter resultados acurados e
precisos(Revenko,2011).
OsespectrmetrosdeFRXsocapazesdeleramostrasliquidaseslidas,comousem
preparao. As duas formas de preparao de slidos mais utilizadas so fuso e
prensagem e os dois tipos de preparao apresentam vantagens e desvantagens fa
zendocomqueaescolhasejaespecficaparacadaaplicao.Demodogeral,noso
dedifcilexecuosecomparadoscomosprocedimentosdeaberturacidarequeri
dosemoutrastcnicas(Tanjaetal.,2009).
Ousodeamostrasemptrazefeitosindesejadosrelacionadosahomogeneizaoe
caractersticas da matriz do material. Muitas vezes no se consegue chegar a uma
granulometria que permita a disponibilidade indistinta de todos os elementos pre
sentesnaamostra,nareatildeanlise(Figura10),issopodelevaraumafaltade
188
preciso do resultado causada por segregao do material nodecorrer do processo

deprensagem.
Profundidade de penetrao do raio X
Figura 10 Esquema do efeito de segregao que pode ocorrer durante o processo de

prensagemdeamostranaformadepemFRX.
Outro problema a indisponibilidade de padres primrios com caractersticas de

matrizsemelhantesasdoanalito.Oefeitomatrizcontribuiparadesviosnosresulta
dos,eparaseobterbonsresultadosapartirdepastilhasprensadas,acurvadecali
braodeveserconstrudaapartirdemateriaiscomasmesmascaractersticasda
quelesqueseroanalisados.
Comrelaoafusopodesecitarcomoprincipaisdesvantagens:agrandediluioda
amostraque ser analisada,tempode preparoecusto.Aopo poressatcnicade
preparaotemavantagemdeeliminaroefeitomatriz,possibilitarapreparaode
padresartificiaisparautilizaonaconstruodascurvasdecalibraoeminimizar
osefeitosrelacionadosatamanhosdepartculas(Figura11).
Amostra
Fundente
FUSO
(1050 12000C)
Cadinho
Pt-Au
Pastilha
Fundida
Figura11Diagramaesquemticadasetapasdoprocessodefuso.
Estudos mostram que a espectrometria de fluorescncia de raios X uma eficiente

ferramentanadeterminaodemetaispesadosem solosesedimentos(West etal.,
2011).Porm,importanteressaltarque,assimcomoamaioriadastcnicasanalti
cas instrumentais, os resultados obtidos a partir da anlise por FRX so significati
189
vamente dependentes da homogeneidade e representatividade do material a ser

analisado.Estudosrealizadosemsoloscontaminadosporfertilizantesmostramque
as caractersticas do solo podem mudar significativamente em distncias relativa
mentecurtasdecoletaeissopodecausarincoernciaderesultados(ElGhawietal.,
1999).
Considerandoaamostragemrepresentativa,aetapadepreparaodeamostradeve
consistirem:moagem,homogeneizao,determinaodaperdaaofogodomaterial
seguidadeprensagemoufuso.
Demodogeral,alinhaanalticaobservadaparaanlisedechumboaPbL,cristal
analisadorLIF220edetectordecintilao.Ostemposdecontagem,filtrostensoe
correntedevemserdefinidosdeacordocomoequipamentodisponvelparaanlise.
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Casos paradigmticos sobre contaminao provocada por

chumboemvriasregiesdomundo
CarlaCosta1
ElianeAraujo2
RenataDamicoOlivieri3
MariaInsF.C.AlmeidaRibeiro4
RaquelLucenadeOliveira5
Introduo
Abuscapeloacessoarecursosnaturaistornouseumafontedevantagemcompeti
tiva para empresas, de grande e pequena dimenso, e Estados pelo mundo inteiro.
Por outro lado, em muitos pases, a capacidade de atrao de empresas de porte
mundial est associada a um processo rpido de crescimento e desenvolvimento
econmico, o que leva a uma concorrncia agressiva na definio das polticas que
sejammaisapetecveisparaessasempresas.Noentanto,essasempresasnemsem
presepautamporprticassocialeambientalmentesustentveis,deixandopassivos
difceisdegerireatenuarporvriosanos.
Omapeamentogeogrficodadisponibilidadederecursosnaturaisapontaparauma
maior concentrao relativa dos mesmos em regies situadas em pases em desen
volvimento, com maior dificuldade em implementar polticas de salvaguarda para
proteodassuaspopulaesdoesgotamentodosrecursosedospassivosambien
taisesociaisqueumaatuaoirresponsvelporpartedeagenteseconmicosmais
oportunsticospossagerar.
No entanto, a anlise de vrios casos paradigmticos em vrias regies do mundo
mostraqueoscasosdeexploraoirresponsvelderecursosnaturais,sempreocu
paocomosobjetivosdedesenvolvimentosustentvel,existememtodasaspartes
domundo,afetandopasesdesenvolvidoseemdesenvolvimento,apesardasdiferen
asemtermosdecapacidadeinstitucional,edemonstrandoque,naausnciadeuma
verdadeira governana global de apoio sustentabilidade, a lgica de maximizao
dolucrodasempresasdemaiorportecontinuaraserpredominantenasdecisesde
localizao,noqueconcerneoacessoabaixocustoarecursosconsideradosestrat
gicos.
ProfessoradoISCSPInstitutoSuperiordeCinciasSociaisePolticasdaUTLUniversidade
TcnicadeLisboaPT
Jornalista,M.Sc.emPsicossociologiadeComunidadeseEcologiaSocial.
Jornalista.
MestrandaemServioSocialdaPUCRJ.
MestrandaemEngenhariaUrbananaUFRJRJ
192
Casosparadigmticossobrecontaminaoprovocadaporchumboemvriasregiesdomundo
Nestecontexto,opresenteartigoprocurafazerummapeamentodealgunsdoscasos
mais simblicos a nvel mundial, de contaminao por chumbo, envolvendo econo
miasdediferentesnveis dedesenvolvimentoeempresastransnacionais,cominte
ressesespalhadosporvriaszonasdoglobo.
Ochumboopoluentequeprovocamaiorameaaemescalaglobal.Estimaseque
10milhesdepessoasvivamemregiescontaminadas.Insumochaveparafabrica
odebateriasdecarro(trsquartosdaproduoanualdestinadaindstriaau
tomotiva),ochumboliberadonomeioambientepormeiodeprocessosderecicla
geminformaisepelaatividadedeminerao.Asprincipaisformasdecontaminao
sedopelaingestodealimentosouguacontaminados,epelainalaodepartcu
lasdepoeiradasubstncia,quepodesearmazenarporat30anosnotecidosseo
(AGSOLVE,2011).
Oscasosanalisadossoilustrativosdosriscosaqueestosujeitasaspopulaesea
qualidade ambiental local, quando no existem, ou no so cumpridos, os critrios
mnimosdeproteoambientale/ousocial,ou,pior,quandoaausnciadosmesmos
funcionacomoumvetordeatraonadefiniodepolticaspblicasquecompetem
porinvestimentosconsideradosestruturantes.
Umdoscasosmaisfamososeestudadosmundialmente,querpelassuasconsequn
cias,querpelorastodecontaminaoquedeixou,ocasodeNoyellesGodault,na
regio de Nord Pas de Calais, no noroeste da Frana, regio rica em recursos como
chumbo e zinco, que, durante mais de um sculo foi dominada pela atividade
prospetivaetransformadoradeduasgrandesempresasmetalrgicas,aMetaleurope
Nyrstar. Durante todo aquele tempo, as duas fbricas deitaram para a atmosfera
quantidades considerveis de elementos metlicos, contaminando solos, ar, gua e
rios,comchumbo,cdmioezinco.Dopontodevistadadisponibilidadederecursos,a
importncia da regio era muito considervel, j que albergava 2/3 da produo
nacional de e 1/3 da produo de zinco, sendo tambm o 1 produtor mundial de
germnio.
OencerramentodaMetaleurop,em2003,depoisdetersofridoacidentesem1993e
1994,edosrevesesprovocadospelabaixadopreodosseusprodutosnosmercados
mundiaisdeixamumterrvelpassivoambiental,deconsequnciasdevastadoraspara
as regies envolventes. Apesar de todas as medidas e meios financeiros
disponibilizados, envolvendo agentes da sociedade civil, municpios, vrias
universidades francesas de renome, agncias nacionais de proteo do ambiente e
vultososfundoscomunitrios,pararesolveroproblema.
Em2009,osnveisdechumbopresentesnosanguedecrianaspequenasaindaeram
superioresaosadmissveispelaOrganizaoMundialdeSade(OMS).
Noquerespeitaaeconomiasemdesenvolvimento,ocasodoBrasilemBoquira,Santo
AmaroBAeregiodoValedoRibeiraSPsoabordadosseparadamenteemartigos
CarlaCosta,ElianeAraujo,RenataDamicoOlivierieInsRibeiroeRaquelLucena
193
destacados do livro peloque no tero aqui consideraes adicionais, apenas o seu

registro.
OcasodamineraonoPerutornousetambmumexemploderefernciamundial,
j que a permissividade da legislao no setor da minerao colocou a
sustentabilidade das minas de ouro em causa, levando igualmente a processos de
contaminaocomchumbo,mercrioecdmio.Aconstataodosriscoseodesastre
de Choropampa, em 2000, que teve origem no derramamento de mercrio quando
umcaminhoedespistou,levouasautoridadesaconseguiremestabelecercomuma
dasmaisimportantesempresasmineradoras,aNewmont,umnovoenquadramento
institucional,quepassapeloempenhoconjuntodasinstituieslocaisedaempresa
emcausanadefiniodeumanovacartaderesponsabilidadesocialcorporativa,em
que a empresa em causa assumiu um papel determinante na construo de
infraestruturasparaodesenvolvimentodaregio.
Estes dois casos, j devidamente estudados no contexto mundial, levaramnos a
procurarocorrnciassemelhantes,masaindapoucoexploradas,queapresentamosa
seguir.
Na escolha dos casos, que esto situados em diferentes regies do globo, e afetam
regies pertencentes a pases com nveis de desenvolvimento diferenciados,
possvel extrair um elemento em comum: a explorao de recursos naturais,
indispensveis ao crescimento econmico, constituir sempre um fator de
concorrncia entre os vrios pases pela atrao de empresas mais performantes,
nacionais e transnacionais. A nica forma de minimizar os riscos decorrentes da
prpria atividade definir, mundialmente, formas de governo que obriguem os
agentes envolvidos (empresas, autoridades nacionais e locais, organizaes no
governamentais, sociedade civil no seu conjunto) a definir e implementar redes de
responsabilidade social dinmicas que atuem no sentido de criar uma verdadeira
cidadania.
Caso1:ContaminaoporchumbonacidadeaustralianadePortPirie
AAustrliaficalocalizadaentreoOceanondicoeoSuldoOceanoPacfico.Segundo
asinformaesdocensode2012temumapopulaodecercade22milhesdehabi
tantes,quenasuamaioriaselocalizaemreasurbanas(89%).Comoprincipaisati
vidadeseconmicasdestacamseaagriculturaeaindstria.Pasprivilegiadoemre
cursosnaturais,possuindoextensas reservasdecarvo,ferro,minrio,cobre, ouro,
gs natural, urnio, chumbo, zinco, prata e fontes de energia renovveis, tornase
extremamenteinteressanteparaoinvestimentodecapitalestrangeiro,sem2011o
investimento estrangeiro no pas foi de US$ 549.1 bilhes de dlares. O setor de
servioscontribuisignificativamenteparaaconsolidaodeumaeconomiafortepela
exportao de recursos naturais, energia e produtos agrcolas. Extremamente
competitiva a nvel internacional, foi das poucas economias a crescer depois da
grandecriseeconmicamundialde2008,crescendonoanoposteriorcercade1,4%
194
e 2,7% em 2010, tendo tido a melhor performance dos pases membros da OCDE
(CIA,2012).Em2011cresceu1,8%etemumProdutoInternoBrutopercapitade$
40.800 (CIA, 2011). A percentagem de populao desempregada muito baixa, de
5,0%em2011.
UmadascidadesmaisafetadaspelaatividadedamineraoacidadedePortPirie,
queficalocalizadanacostaorientaldoGolfoSpencernoSuldaAustrlia,acercade
230kmanortedeAdelaide(capitaldaAustrliadoSul).Fundadaem1845,constitui
secomoasextacidademaispopulosanosuldaAustrliacontandocomumapopula
o de 13.206 mil habitantes (censo de 2006), donde 92,7% so australianos
residentese2,6%soindgenas(WIKIPDIA,2012).
A principal atividade econmica da cidade a explorao da mina de minrio de
chumbo e da usina de produo de chumbo metlico, sendo a empresa Nyrstar o
principalempregadordaregio.Desdeasuainstalaoem1880,alcanouoestatuto
da maior mineradora de chumbo e refinaria do Hemisfrio Sul. Criada no ano de
2007aempresaNyrstarrapidamenteconstituiusecomoumadasprincipaislderes
mundiais na explorao de zinco e chumbo metlicos, bem como de outros metais
preciosos. A sua sede encontrase localizada em Bruxelas e o corpo executivo na
Sua.Inicialmente,aquandoasuacriao,apresenteempresaeraumaassociao
entre a ZINIFEX(EmpresaMineiraAustraliana)ea UNICORE(EmpresaTecnolgica
deMateriaisBelga).
Hoje as atividades da empresa estendemse por trs continentes: Amrica
(Norte/Sul),EuropaeAustrlia.NaexploraomineiranasAmricasasminaslocali
zamsenoMxico(CampoMorado);Peru(Contonga,PucarrajoeCoricancha);Hon
duras(ElMochito);Chile(ElToqui);Canada(Langlois,MyraFalls)eEUA(Tennessee
Mines),naEuropalocalizamsenaFinlndia(Talviaara).Comoatividademetalrgica,
localizase na Europa na Frana (Auby); Blgica (Balen/Overpelt) e na Holanda
(Budel),naAmricanosEUA(Clarksville)enaAustrliaemHobartePortPirie.Hoje
aempresaemprega7.000trabalhadoressendoasuamaiorconcentraonaAmrica,
comcercade4.368trabalhadores,seguidodaEuropacom1.439eporfimdaAustr
liacomcercade1.235trabalhadores(HEIDRICK&STRUGGLES,2012).
Noentanto,asoperaesrealizadaspelaempresatmsidoalvodecrescentepreocu
paoporpartedasautoridadeslocais,principalmentenoquerespeitasadep
blica,umavezque,setemdetectado elevadasconcentraes de chumbonosangue
dosresidenteslocais,principalmenteemcrianas.Almdisso,temsidoigualmente
preocupanteosrejeitosdechumboquealcanamumapilhacomaltitudede205me
trosquepodemservistosdistncia(WIKIPDIA,2012).
Segundo MAYNARD (2003) anualmente a metalrgica responsvel por produzir
cerca de 650.000 toneladas de metais. De acordo com Van Alphen (1999, apud.
MAYNARD,2003)onveldecontaminaoporchumboemespaosabertosrondaos
5000 u.g por metro quadrado/dia, enquanto a contaminao de espaos fechados
(habitaes)ultrapassaos100u.gpormetroquadradoaodia.
195
Apesardestacontradio,apresentemetalurgiadesempenhaumsignificativopapel
nadinamizaoeconmicadacidadeenaregio,poisaelaquehabitantesresiden
tes em outras cidades vizinhas confluem para o comrcio e procura de emprego.
Efetivamente,aminadePortPirietemestadoemconstantefuncionamentopormais
de120anos,encontrandonestacidadecosteiraascondiesideaisparaoseufuncio
namento,poispeloportoquesotambmrecebidososconcentrados,da minera
dora de Broken Hill, que aps serem transformados em produtos finais so facil
mente escoados por transportes rodovirios ou ferrovirios que servem a cidade
(HEIDRICK&STRUGGLES,2012).
A presente mina encontrase estrategicamente interligada com a metalrgica de
Hobart,poisociclodeproduodedeterminadosprodutosexigequedeterminados
processostenhamlugarcomoalixiviao,queaisorealizados.AindstriaFlinders,
recentemente implementada na regio, tinha como projeto a construo de uma
fbrica de cido sulfrico para apoiar a atividade da mina, contudo este projeto foi
arquivadoportersidoconsideradoinvivel.
Aminaconstituisecomoamaiormetalurgiadechumboanvelmundialeaterceira
maior na produo de prata. O valor competitivo da presente minerao devese
exploraoeproduodevriosmetaisconstitutivosdeumavariedadedeprodutos,
cuja oferta tem crescido, acompanhando o crescimento do mercado asitico, com
especialdestaqueparaomercadochins(HEIDRICK&STRUGGLES,2012).
Noentanto,vriastmsidoasvozesquechamamaatenoparaosefeitosprejudi
ciaisparaasadepblicaderivadadasatividadesdesenvolvidaspelamineraocom
especial destaque na cidade de Port Pirie. Vrios estudos e relatrios tm demons
tradoquefamliasquevivempertodecentrosdemineraodechumbo,metalurgias
erefinariassoexpostasdiariamentecontaminaoporchumbo,conhecidoporser
altamentetxico,principalmenteanvelneurolgico(THECONVERSATION,2012).
AcidadedePortPirietemsidoexpostaaelevadasemissesdechumboporcercade
120anos.Jem1925aComissoRealdaAustrliadoSul,numestudorealizadoso
bre o envenenamento por chumbo, identifica como a principal causa de envenena
mento,afinacamadadepoeiradechumbo.Duranteasdcadasde80e90vriosgo
vernos tm chamado ateno para o aumento histrico da poeira causada pelo
chumbo,quesetemvindoaimpregnartantonossolosdacidadecomonascasasre
sidenciais.
Deacordocomorelatriodaqualidadedoarde2010,elaboradopelaEnvironmental
ProtectionAuthority,acidadedePortPirieconsideradaaregiourbanamaiscon
taminadaporchumbonaAustrlia(THECONVERSATION,2012).Segundooreferido
relatrioacidaderegularmentesujeitaaelevadasconcentraesdechumbonoar,
contaminando toda a cidade, impregnandose nos solos e superfcies externas e in
ternas.Sem2011foramlanadosnoarcercade44.000toneladasdechumbo.
196
Ainda no ano de 1976 a Commonwealth Scientific and Industrial Research

Organization(CSIRO)chamaaatenoparaacontaminaodesolos,cereaisevege
taisemreasagrcolaspertodacidadedePortPirie,contaminadasporchumbo.Em
1981amesmaorganizaoconfirmaosimpactosnegativosdasemissesdechumbo
naqualidadedomeioambiente.
Porfim,em2004ojornalCrikeynoticiaqueoscereaisproduzidosemPortPiriefo
ram misturados com outros cereais devido as elevadas concentraes de cdmio e
chumboqueultrapassavamoslimitesestabelecidosanvelinternacional,colocando
emcausaasuacomercializao(THECONVERSATION,2012).
Oimpactodacontaminaodechumbonasadehumanapodeserexaminadoemo
nitorizado pela sua concentrao no sangue das crianas. Estudos realizados em
2011demonstramque25%dascrianascomidadesinferioresa5anos,apresentam
ndices elevados de concentrao de chumbo no sangue, ou seja, cerca de 10ug/dL.
Mesmo que crianas recmnascidas tenham baixos nveis de concentrao de
chumbonosangue(menosde5ug/dL)essaconcentraotemtendnciaaaumentar
passados2a3meses,oquedemonstraqueascrianasnoescapamcontaminao
pelo chumbo, tendo efeitos negativos no seu desenvolvimento saudvel. As conse
quncias mais visveis e retratadas na literatura, associam a contaminao de
chumbonascrianasaobaixodesenvolvimentodoQIassociado a umfracodesem
penhoescolareamanifestaodeproblemassciocomportamentais,comodfices
deatenoehiperatividade.Estesefeitosnoficamlimitadosaoperododainfncia,
poisassuasconsequnciasestendemsenaadolescnciaenaidadeadulta.Segundo,
informaesoficiaisaconcentraodechumbonosanguedascrianasnacidadede
PortPirieduasvezesmaiordoqueosvaloresencontradosemoutrascidadesAus
tralianas,comoascidadesdeBrokenHilleMountIsa(THECONVERSATION,2012).
Noanode1983,opediatraDr.PhillipLandrigan,depoisdeteridentificadoaorigem
da contaminao atmosfrica e dos solos pelo chumbo, junto com o Ministrio da
Sadeelaborouumplanodeao.Esteplanopretendiadiminuirasconcentraesde
chumbo,duranteumperodode10anos,paranveisinferioresa10up/dLemcrian
asataos4anosdeidade.Apesardagrandequantiadedinheirogasta,oplanono
tinhaatingidoosseusobjetivosnoanode2010.
Comoformadesolucionaroproblemadacontaminao,procurouseeducarosresi
dentes locais para determinados hbitos que deveriam desenvolver para evitar a
contaminao como o de lavar regularmente as mos, superfcies e comida, bem
comoevitartransportarpoeiraparadentrodecasa.Estasmedidasdeprevenore
velaramsepoucoeficazesparaevitaracontaminao(THECONVERSATION,2012).
Podemos dizer que passados 30 anos, ainda no se viu uma resposta decisiva por
parte das autoridades para a eliminao e preveno da exposio e contaminao
porchumbo.Paraquebrarociclodecontaminao,serianecessrioalgumasmudan
asdocontextoatualprincipalmentenoquerespeitatransparnciadainformao
esoluespropostas.Algumasdessassoluespassampelofechamentodametalur
197
giaoupelaadoodetecnologiasmaislimpaseporissomenospoluentesenotrata
mentodapoeirajexistenteemsolosehabitaes.
Ascausaseconsequncias,bemcomopossveissoluesparaadiminuiodacon
taminaoporchumbodeconhecimentodosprofissionaisquetrabalhamnainds
triacomodosgovernoslocais.Agrandequestoquesecolocaadesaberseogo
vernolocalsermaisassertivonarespostadadaaoproblemaouseapopulaolocal
termaisumavezdesesujeitarcontaminao,colocandoemriscoasuasade,por
medo de perder os seus empregos que representa a sua nica forma de sustento
(THECONVERSATION,2012).
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Acessoem:03nov.2012.
198
Caso2:Mesmocomusoestritamenteregulamentado,chumboainda
causacontaminaesnosEstadosUnidosdaAmrica
Sendoamaioreconomiadomundo,responsvelpormaisde20%doPIBmundial,os
EstadosUnidosdaAmricapossuemtambmaterceiramaiorreservadechumbodo
planeta(omundototaliza80.000t),sendonoanode1010tambmoterceiromaior
produtor mundial do metal (406.000 t), atrs de China (1.750.000 t) e da Austrlia
(620.000 t),seguido por Peru com 280.000t, Mxico com 185.000t e outros pases
(853.000t),comooKasaquisto,CanadeMarrocos,paraumaproduomundialde
metalprimriode3.860milhesdetoneladas6.
Nomesmoano,oconsumodometaldosEUAparaaindstriadebateriascidas,que
responde por 88% da demanda, foi de cerca de 1,2 milho de toneladas. J os
eletroeletrnicos, munies, compostos qumicos e outros usos, corresponderam a
12%(SILVA;TEIXEIRA,2012).
O governo norteamericano vem regulamentando o uso do chumbo, devido a seus
efeitosadversossadeeaomeioambiente.Noentanto,aindasovriososcasosde
contaminao no pas. As crianas esto entre os mais vulnerveis, devido a razes
neurolgicas, metablicas e comportamentais, como o fato de tenderem a colocar
objetos,comobrinquedos,naboca(BROWN;MARGOLIS,2012).
DeacordocomoCentrodeControleePrevenodeDoenasdosEUA,apresenade
chumbonosanguedecrianaspequenas,sesuperiora10microgramapordecilitro
(g/dl), preocupante (FREUDENRICH, 2012a), podendo causar deficincias de
aprendizagem,distrbiosdedficitdeateno,problemascomportamentais,atraso
nocrescimento,deficinciaauditivaeproblemasrenais(BROWN;MARGOLIS,2012).
Entretanto, estudos j comprovaram efeitos fortes e duradouros em crianas, cujo
sanguecontinhaapenas2mg/ldechumbo,oquereforaanecessidadedeseelimina
rem ou controlarem fontes de exposio ao metal em ambientes frequentados por
elas(LEVINetal.,2008).
Jparaadultos,amdianormalparachumbonosangue,deacordocomaEnciclop
diaMedlinePlus,inferiora20g/dl(MEDLINEPLUS,2012),eaexposioaometal
pode causar cncer, neuropatia perifrica, disfuno do nervo motor, insuficincia
renal,hipertenso,dentreoutrosproblemasdesade(BROWN;MARGOLIS,2012).
SegundolevantamentodaagnciadeproteoambientaldosEstadosUnidos(EPA
US Environmental Protection Agency), durante o sculo 20, a maior parte das emis
ses de chumbo era proveniente de fontes veiculares, como carros a gasolina con
tendochumbo(FREUDENRICH,2012a;LEVINetal.,2008).Comoometalnosede
Japroduosecundria,obtidaprincipalmentepelareciclagemdebateriasautomotivas,
atingiu5.000.000tdemetal,56%daproduomundialdechumborefinado.
199
compe nem destrudo pelo calor, minsculas partculas de emisses veiculares

contaminamosoloaolongodasestradas(FREUDENRICH,2012a).
Comaproibiodousodecombustveisaditivadoscomchumbonopas,apartirde
1996, a principal fonte de exposio ao metal passou a ser outra (FREUDENRICH,
2012a).Emumaanliserealizada,em2001,aEPAdetectouqueemissesindustriais
respondiampor78%dacontaminaodoarporchumbo;oscombustveis,por10%,
e o setor de transportes, por 12% (U.S. EPA, 2007d apud LEVIN et al., 2008). Em
2004,quatroplantasdetratamentoderesduosestavamentreas20fontesquemais
lanavamchumbonomeioambiente,deacordocomoToxicsReleaseInventory(TRI)
daEPA(U.S.EPA,2007dapudLEVINetal.,2008).
Apsumperododedeclnio,queperduroupormaisde25anos,osnveisdechumbo
noarvoltaramasubirnopasentre2004e2006.Asmaioresconcentraessoen
contradas nas proximidades de fundies e fabricantes de baterias, constituindo as
nicasviolaessleisnacionaisvoltadaspresenadometalnoar(U.S.EPA,2007a
apudLEVINetal.,2008).Estudosmostramquecrianasquemorampertodereas
demineraoefundiescorremriscodeterelevadosnveisdechumbonosangue
(MAISONETetal.,1997;MURGUEYTIOetal.,1996;SWARUPetal.,2005apudLEVIN
et al., 2008), mesmo at 20 anos depois do fechamento das unidades fabris (DIAZ
BARRIGAetal.,1997apudLEVINetal.,2008).
Noentanto,osdadosnacionaisdeemissesdechumbonoarnoretratamcompre
cisoasemisseslocais,tampoucoosriscosspopulaesenvolvidas.Nemtodasas
fontesdeemissodechumboestolistadasnoTRIdaEPA.Incineradorasmunicipais
ereparadorasdeautopeassoexemplosdistoepodemcontribuirparaacontami
naodeseusentornos(LEVINetal.,2008).Almdisso,demoliesdeconstrues
antigas contribuem para emisses locais de chumbo e podem aumentar o nvel do
metalnosanguedecrianas(FARFELetal.,2003;RABITOetal.,2007apudLEVINet
al.,2008).
Noquedizrespeitocontaminaodosolo,oitodcadasdecombustodegasolina
comchumbo,emissesindustriaiseresquciosdetintabasedometal,dentreou
trosfatores,deixaramumgrandepassivoambiental,especialmentenosbairrosmais
pobres(LEVINetal.,2008).Devidoaotrfegointensoeaonmeroelevadodehabi
taes,osolonasreasurbanasdopaspodeterumamdiade800a1.200g/dlde
chumbo(DUGGAN;INSKIP1985;LANPHEAR1998aapudLEVINetal.,2008).
Pesquisas histricas sobre atividades comerciais podem identificar fontes atuais de
exposio (ECKEL et al. 2001 apud LEVIN et al., 2008). Um estudo no estado de
Washington,porexemplo(WOLZetal.2003apudLEVINetal.,2008),mostrouque
moradiasprximasalocaisondecompostosdechumboeramusadoscomopesticida,
entre 1905 e 1947, apresentam contaminao significativa do solo e da poeira in
terna(LEVINetal.,2008).
200
Cabemencionarqueochumbooelementoqumicomaisfrequentementeliberado
emlocaisdedestinaoderesduosnocontrolados.AAgencyforToxicSubstances
andDiseaseRegistry(ATSDR)identificoucontaminaopelometalem59%dasreas
atualmentemonitoradas(ATSDR2005,apudLEVINetal.,2008).
Outrasfontespotenciaisdecontaminaoporchumboforamencontradasnapoeira,
em alimentos em especial o chocolate no leite materno, doces importados do
Mxico, gua potvel, suplementos dietticos, vidros e louas, cermicas, e numa
vasta gama de outros produtos (LEVIN et al., 2008), como batons (THE
WASHINGTONPOST,2012).
Em 2007, a Campanha por Cosmticos Seguros grupo formado por consumidores
que pressiona o governo norteamericano a estabelecer limites para o nvel de
chumbo encontrado nos batons, testou 33 batons vermelhos e descobriu que dois
terosdelescontinhamchumbo,sendoque,emumtero,onvelexcediaolimitees
tabelecido para a presena de metais em doces pela Food and Drug Administration
(FDA),aagnciadevigilnciasanitriadosEUA(THEWASHINGTONPOST,2012).
Desde ento, a FDA realizou dois testes. Em 2008,suas anlises envolveram 20 ba
tons, e, em 2011, 400. Foram encontrados nveis de chumbo em todos os produtos
testados.Nasanlisesde2012,cincobatonsdaL'OrealedaMaybelline,subsidirias
daL'Orealnorteamericana,ficaramentreos10maiscontaminados.Doisbatonsda
Cover Girl e dois da NARS tambm esto nesta lista, bem como um produto da
Stargazer(THEWASHINGTONPOST,2012).
Onvelmaisaltodechumbo7,19partespormilhofoiencontradonobatomPink
Petal, da srie Color Sensational, da Maybelline. Mas a concentrao mdia de
chumbonos400batonstestadosfoide1,11partespormilho,algobemprximoda
mdiaobtidanasanlisesde2008(THEWASHINGTONPOST,2012).
DeacordocomaFDA,osnveisdechumbodetectadosnorepresentamriscossa
de. "Do ponto de vista cientfico, no vlido comparar o risco que a presena de
chumbonosdoces,umprodutodestinadoingesto,representaparaoconsumidor,
aoriscoassociadoanveisdechumbonosbatons,umprodutodestinadoaousot
pico que eventualmente ingerido em quantidades muito inferiores do que os do
ces", afirmou a FDA em comentrios publicados na internet (THE WASHINGTON
POST,2012).
JaCampanhaporCosmticosSegurosargumentaqueaFDAnotembasecientfica
parafazertalafirmao.Deacordocomseusintegrantes,onveldechumboencon
tradonoPinkPetal,daMaybelline,correspondeamaisdoqueodobrodosnveisen
contradosnorelatrioanteriordaFDAeamaisde275vezesonvelencontradona
marcamenoscontaminadadentreastestadasrecentemente.Amarcamenosconta
minada, Wet & Wild Mega Mixers Lip Balm, era tambm a mais barata, "demons
trandoqueopreodoprodutonoumfatorindicativodaadoodeprticasade
quadasnasuamanufatura"(THEWASHINGTONPOST,2012).
201
Integrantesdacampanhacitarampesquisasfederaisquehaviamconcludoqueno
existe nvel seguro de exposio ao chumbo para crianas, e ressaltaram a necessi
dade de se protegerem crianas e mulheres grvidas da exposio ao metal. O
chumboseacumulanocorpocomotempo,eaaplicaofrequenteediriadebatons
quecontenhamchumbopoderepresentaraexposioanveissignificativosdasubs
tncia", disse Mark Mitchell, copresidente da Fora Tarefa de Sade Ambiental da
AssociaoNacionaldeMedicina(THEWASHINGTONPOST,2012).
Emsetratandodecrianas,cabemencionarqueaAcademiaAmericanadePediatria
geralmenterecomendaquesejamexaminadasduasvezes,paraochumbo,antesdos
2anosdeidade,dependendodascondieslocais(NEWYORKTIMES,2011).
Na dcada de 1970, ganhou bastante repercusso o envenenamento infantil por
chumbo devido exposio a tintas de parede base do metal (FREUDENRICH,
2012b).Quandoatintasedescasca,fragmentosquesedestacamdasparedesconsti
tuemumagrandefontedecontaminao,juntamentecomaguaquepercorrecanos
dechumbo(FREUDENRICH,2012a).Em1978,ousodechumboemtintasdeparede
foiproibidoe,atualmente,amaioria dosservios deguapblicosdopas estem
conformidadecomoSafe DrinkingWaterActLeadandCopperRule(LCR),de1991.
Comoresultado,osnveisdemetalnosanguedecrianasdiminuram,emmdia,de
cercade16,0g/dlparamenosde2,0g/dl(BROWN;MARGOLIS,2012).
Mesmoassim,anualmente,milharesdecrianasdopasaindasocontaminadascom
chumbodentrodassuasprpriascasas,devidotintacontendoometal.Deacordo
comoNationalCenterforEnvironmentalHealth,em2005,cercade50milcrianas
1,6%dascrianastestadasapresentaramtestespositivosparaochumbo,sendoque
porvoltade1998essenmerosuperava100mil(BIANCO,2012).
Hoje, o Departamento Americano de Desenvolvimento Urbano estima que existam,
nos Estados Unidos, cerca de 38 milhes de casas que ainda contm tinta com
chumbo.Operigodecontaminaomaiorseatintaestiveremprocessodedeterio
rao, pois contamina a poeira e o solo ao redor da casa onde as crianas brincam
(BIANCO,2012).
Acontaminaoporchumbonascasaspodematrapalharomercadoimobilirio.Se
umacasadiagnosticadacomocontendochumbo,oseupreocaiimediatamente
emdezenasdemilharesdedlares,poisocustodosaneamentomuitocaro.Orisco
dodiagnsticomuitoalto,podendoespantarinvestidoresdo mercadoimobilirio
(BIANCO,2012).
Diantedasituao,legisladoresamericanosoptaramporumasadapoltica,transfe
rindo a responsabilidade para o possvel comprador da casa. Dependendo da idade
dacasa,ocompradortemodireitodeexigirumtestedecontaminaoporchumbo
na propriedade que deseja comprar. Se houver contaminao, o resultado tem que
ser, por lei, comunicado prefeitura da cidade, e a propriedade permanecer mar
202
cadaatquesejasaneada.Nessecaso,aleiprobequecrianasdeat6anosresidam
napropriedade(BIANCO,2012).
O dono da casa (vendedor) tem o direito de recusar o teste, esperando um outro
compradorquenoosolicite,mesmoqueacasatenhasidoconstrudaantesde1978
eocompradortenhacrianaspequenas.Seotestenoforsolicitado,ogovernono
intercede,eaoperaodecompraevendaocorrenormalmente.Umaeventualcon
taminaodascrianassserdetectadapelopediatraouemtestesderotinareali
zados nas escolas da comunidade, s vezes tarde demais para evitar seus efeitos
(BIANCO,2012).
Algumas tragdias recentes revelam que o problema de contaminao por chumbo
ainda persiste nos Estados Unidos. Para citar exemplos, em 2004, uma criana foi
hospitalizadanoOregon, apsingestodeumcolarcontendochumbo,oquegerou
um recall voluntrio de 150 milhes de peas de joias para crianas (CDC, 2004b
apud LEVIN et al., 2008). Em Minnesota, dois anos depois, uma criana de quatro
anosmorreudeenvenenamentoporchumbodepoisdeengolirumbrinde,comteor
dechumbode99%,queganharanacompradeumpardesapatos(CDC,2006apud
LEVINetal.,2008).
Osprodutosimportadostambmconstituemfontesdeexposioaochumbonopas.
Para se ter uma ideia, em 2007, agncias reguladoras e empresas norteamericanas
instituraminmerosrecallsparaprodutosdefeituosos,perigososoutxicoscomo
pastas de dentes, jias para crianas, brinquedos, ferramentas, comidas para ces,
babadores,pneusebateriasparacomputador.Todosestesprodutoshaviamsidofa
bricadosnaChinapasque,nosltimosanos,temfiguradocadavezmaisnonoti
ciriointernacionaldevidoacasosdeenvenenamentoemmassa(REUTERS,2011)
e continham tinta base de chumbo, produto j proibido nos Estados Unidos
(SILVERMAN,2012).
Em 2011, o Dr. Gerald F. OMalley, mdico do setor de emergncia do Jefferson
MedicalCollege,naFiladlfia,eumgrupodepesquisadoresanalisaramdiversasce
rmicas vendidas na Chinatown local e descobriram contaminao por chumbo em
utensliosdecozinhaemesa.Maisdeumquartodasamostrasteveresultadoposi
tivo, podendo causar danos sade (THE NEW YORK TIMES, 2011). A equipe de
OMailleyrealizoutesteslaboratoriaisadicionaisem25peasparaconfirmarasdes
cobertas,estabelecerograudecontaminaoedeterminarseochumbopoderiaso
frerlixiviao(reaocomossucoscidosdoestmago)aoseringeridocomosali
mentos.Descobriuquetrspratoseduascolheressofriamlixiviaodechumboem
quantidadesqueexcediamemmuitooslimitesestabelecidospelaFDA.Umdospra
tostinhachumbolixiviadoemmaisde145partespormilho,enquantoolimitees
tabelecidopelaagnciaamericanade2partespormilho(THENEWYORKTIMES,
2011).
203
Tais acontecimentos esto fazendo com que membros de agncias federais cons
truamumcenriomaiscompletodosriscospotenciaisdeexposioaochumbonos
EUA(EPA,2006aapudLEVINetal.,2008).
Enquantoisso,algunscasosdecontaminaopelometalcontinuamasernoticiados.
Em2012,asautoridades desadedosEstadosUnidosanunciaramadescobertade
riscos de contaminao por chumbo em mulheres grvidas que tomaram medica
mentos ayuvrdicos. De acordo com o CDC, no ano anterior, funcionrios de sade
pblicadacidadedeNovaYorkjhaviaminvestigadoseiscasosdepacientes,cinco
dosquaistinhamnascidonandia,comaltoriscodecontaminaoporchumbopor
teremingeridocompostosayuvrdicos(FRANCEPRESS,2012).
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Caso3:ContaminaoporchumbonaChinaafetahabitantes,produ
tosindustrializados,alimentosemeioambiente
AChinatemfiguradocadavezmaisnonoticiriointernacionaldevidoacasosdeen
venenamentoemmassa,principalmentedemoradoresquevivemprximoafbricas
(REUTERS,2011).Umdosproblemasdopasofracozoneamentourbano,oquefaz
comqueexistamreasresidenciaisaoladodeunidadesfabris.Emalgumascidades
maisricas,comoXangai,osmoradoresestocadavezmaisansiososparatransferir
asunidadesindustriaispoluentesparaoutraslocalidades(AREDDY,2012).
Somado aos problemas de zoneamento, h questes econmicas que contribuem
paraadisseminaodapoluio.Comomuitasdasplantasindustriaiscompetemen
tresiparaproduzirmaisbarato,earegulamentaoambientaldopasdeficiente,
multiplicamseoscasosdepessoascontaminadaspormetaispesados,comochumbo,
eproblemasdesade(REUTERS,2011).
Almdaspessoas,alimentoseprodutosfabricadosnopastambmestosendoen
venenados.Umexemplooarroz,itembsicodocardpiochins,queestcontami
nado por metais pesados, especialmente cdmio, chumbo e mercrio. Uma anlise
feitapelaSecretariadaAgricultura,em2002,emtodoarrozdisponvelnopas,de
tectouqueosnveisdechumboultrapassavam28,4%,enquantoodecdmioerasu
periora10,3%.
205
A principal fonte de contaminao seria a minerao, que libera excesso de metais

pesadosnomeioambiente(THEEPOCHTIMES,2012).
Tendoemvistaoriscoqueacontaminaodossolosporchumborepresentasade
desereshumanos,animaisedomeioambiente,diversosestudostmsidofeitospara
tentar diminuir a biodisponibilidade do metal. Um deles utilizou amostras de solo
proveniente de uma rea residencial na cidade de Fuyang, na provncia de Anhui,
contaminada por uma indstria de fundio. Os resultados apontam que em solos
moderadamentecontaminadosporchumbodevemseusaraduboscomaltosteores
defsforoparaproduodehortalias,equeohidroxiapatiteseriaumdosmateriais
mais eficazes para recuperao de solos contaminados pelo metal (ZHU; CHEN;
YANG,2004).
Com relao contaminao de produtos fabricados na China, um dos casos mais
exemplaresocorreuem2007,quandobrinquedosexportadosparaosEstadosUnidos
foramretiradosdasprateleiraspelas autoridades americanasporutilizaremtinta
basedechumbo.Essetipodetintabaratoeproduzcoresvivas,almdeterdurabi
lidade e ser resistente corroso. Porm, tem efeito txico e, por isso, foi proibida
nos Estados Unidos, em 1962, para uso em brinquedos e produtos para crianas, e
tambm em apartamentos, casas, hospitais e outros tipos de construo
(SILVERMAN,2012).
Entre o incio de 2009 e meados de 2011, foram descobertos milhares de casos de
pessoasexpostasanveistxicosdechumboempelomenosnovedas31provncias
daChinacontinental.Aprincipalfontedasemissesforamfbricasdebateriasefun
diese,emmuitoscasos,houvemanifestaesdapopulaolocalcontraoenvene
namentopormetaispesados(LAFRANIERE,2011).
Em 2009, as autoridades chinesas fecharam uma fundio na provncia de Shaanxi,
no norte do pas, onde mais de 600 crianas foram envenenadas por chumbo (BBC
BRASIL,2009a).Manifestantesinvadiramafbrica,quebraramcaminhesederru
baram cercas antes que a polcia os detivesse (QING, 2012). Poucos dias depois, a
fundio Wanyan a maior da China e a segunda maior do mundo, segundo dados
oficiais,situadanacidadedeJiyuan,provnciadeHunan,tambmfoifechadaporter
contaminado 1.300 crianas. Revoltados, moradores bloquearam uma estrada de
acessofbricaeentraramemconfrontocomapolcia.Naocasio,doisexecutivos
daempresaforampresos(BBCBRASIL,2009a;BBCBRASIL,2009b).
TemsidocomumosmoradoresdeHunanapresentaremdoenasdecorrentesdapo
luio por metais pesados, oriundos indstrias de minerao, qumicas e empresas
de reciclagem de metal (GREENPEACE, 2012). Diante desses casos e da revolta po
pular,ogovernochinsanunciouaremoode15milpessoasdareacontaminada
com chumbo na cidade de Jiyuan. Na regio, esto localizadas vrias fundies que
tmumpesosignificativonaeconomialocal.Cercadedezmildos670milmoradores
deJiyuantrabalhamdiretamenteparaalgumadas35fundiesdechumbodacidade,
eoutras20milpessoasdependemindiretamentedonegcio(BBCBRASIL,2009b).
206
Em2011,houvenovainvasoaumafbrica.Dessavez,cercade200pessoasocupa
ramaIndstriaZhejiangHaijiu,fabricantedebateriasdechumboparamotosebici
cletaseltricas,edestruramarmrios,escrivaninhasecomputadores.Elesserevol
taram depois de saber que trabalhadores e vizinhos haviam sido envenenados por
emisses de chumbo da fbrica, e que, apesar de flagrantes violaes ambientais,
operavahseisanos.Foiconstatadoque233adultose99crianastinhamconcen
traesdechumbonosangueatsetevezesacimadonvelconsideradoseguro(LA
FRANIERE,2011).
Em agosto de 2011, o governo chins anunciou o fechamento de 583 fbricas de reci
clagemdebaterias,devidoadiversoscasosdeenvenenamentoporchumbo.Porm,no
reconheceuosabusosocorridos,comoarecusanotratamentodecrianasenvenenadas.
Foidevidoaoassdiodepaisquebuscavamreparaolegalqueaorganizaodedefesa
dos direitos humanos Human Rights Watch descobriu casos de envenamento por
chumbonasprovnciasdeHenan,Yunnan,ShaanxieHunan(HRW,2012).
Alguns pais relataram que muitos mdicos prescreviam apenas a ingesto de leite,
maasoualhoscrianascontaminadas.Josfuncionriosdogovernominimizavam
osperigosdoenvenenamentopelometalpesado(PBLICO,2011).Algumasautori
dadeslimitaramarbitrariamenteostestesdenveldechumboe,possivelmente,ma
nipularam resultados desses testes, negando tratamento apropriado a crianas e
adultos(LAFRANIERE,2011).Aquelesquetentavamfalarsobreoassuntoeramsi
lenciados(PBLICO,2011).
Emmuitoscasos,osproblemasdeenvenenamentosoocultadosdaopiniopblicanos
pelasautoridadeslocais,comopelogovernocentral(PBLICO,2011).Tmsidocomumno
pasasautoridadesdesconsideraremacontaminaoambiental,aseguranadotrabalha
doreosriscossadepblicaatseremobrigadasaassumirumaposioporforade
manifestaesrevoltosasdapopulao(LAFRANIERE,2011).
Asprincipaisvtimasdascontaminaestmsidoascrianas,quesomaissensveis
aometal.Orelatriode2011daHumanRightsWatchapontaquemilhesdecrianas
chinesas so envenenadas por chumbo todos os anos (PBLICO, 2011). Estimase
que cerca de 10% da populao infantil chinesa sofrem intoxicao devido ao
chumbo encontrado na tinta, na comida, na gua e em outros lugares (PRESS
INTERPRETERapudSILVERMAN,2012).Ochumbopodeimpediraaprendizageme
afetarocomportamentoinfantil(QING,2012).
Segundo informaes da agncia estatal chinesa Xinhua, em 2011, 103 crianas e
centenas de adultos foram contaminadas pelo metal oriundo de fbricas de papel
alumnio,situadasnolestedopas.Examesfeitosnaocasioemhabitantescomme
nosde14anosdomunicpiodeYangxunqiao,provnciadeZhejiang,indicaramapre
senade250microgramasoumaisdechumboporlitrodesangue(REUTERS,2011).
DeacordocomaEnciclopdiaMedlinePlus,dosEstadosUnidos,amdianormalpara
chumbono sangue inferior a 20 microgramas por decilitro (mg/dl) em adultos, e
menosde10mg/dlemcrianas(MEDLINEPLUS,2012).
207
Segundo autoridades de sade de Yangxunqiao, 26 adultos possuam mais de 600

microgramas do metal por litro de sangue, o que significa envenenamento grave, e
500outrosforamdiagnosticadoscomomoderadamenteenvenenadosporapresenta
rem de 400 a 600 microgramas de chumbo por litro de sangue. A maior parte dos
trabalhadores das plantas de papel alumnio so migrantes de regies mais pobres
(REUTERS,2011).
A situao levou suspenso da produo em 25 fbricas de Yangxunqiao. Preocu
padocomumarevoltapopular,oMinistriodoMeioAmbientechinssolicitoume
didas urgentes para combater a intoxicao por chumbo, mas enfrentou problemas
pelofatodeasautoridadeslocaiscolocaremfaturamento,crescimentoeempregos
frentedaproteoambientaledasadepblica(REUTERS,2011).
Em fevereiro de 2012, investigaes preliminares, feitas em amostras de sangue de
531moradoresdeDongtang,cidadelocalizadanumcinturodeminriodechumboe
zinco,apontaramelevadosnveisdechumbonosanguedecrianas,provavelmente
devido inalao do ar e ingesto de alimentos contaminados pelas indstrias
(QING,2012).
No mesmo ano, um site oficial do governo chins divulgou que 29 crianas de uma
readacidadedeXangaichamadaKangqiaohaviamsidocontaminadascomchumbo
devidoaemissesdeumafbricadebateriasdaJohnsonControlsInc.(JCI).Aalega
odogovernoeradequeafbricaestavausandomaischumboemsuaproduodo
queopermitido(AREDDY,2012).
RepresentantesdaempresaamericanabaseadaemMilwaukee,Wisconsin(EUA),ne
garamqueaplantafosseafonteprimriadeenvenenamentoe,apesardeadmitirem
ousodechumboalmdacotalocal,afirmaramqueasemissesestavamabaixodos
nveislocaisenacionais.Alegaramaindaque,nosltimosanos,asautoridadeslocais
estavam dando prioridade aos nveis de emisses e no cota de uso do metal
(KHAN,2012;AREDDY,2012).
ApesardeapenasocasodaJCIterchegadoimprensa,vriasoutrasplantasindus
triais tm sido fechadas por provocarem contaminao por chumbo. Na rea de
Kangqiao,duaspequenasempresasforamfechadaspelomesmoproblemae,segundo
umafontegovernamental,compartilhamaresponsabilidadepelacontaminaocom
aJCI.AsautoridadesdeXangaitmsinalizadoquenoiropermitiroprocessamento
dechumbonaprovncia(KHAN,2012;AREDDY,2012).
AONGambientalGreenpeacealertouqueaChinadevetomarmedidasmaisefetivas
para combater a poluio por metais pesados, especialmente o chumbo. De acordo
comaorganizao,asintoxicaesrecentessoapenasapontadoicebergdasgraves
contaminaespormetaispesados(KHAN,2012).
Devidograndepressopopular,em2011,ogovernochinspublicou,pelaprimeira
vez, um documento com informaes relativas poluio causada por empresas
(KHAN,2012).Emjaneirode2012,depoisdemuitoclamorpblico,ogovernopas
208
sou a divulgar dados sobre a qualidade do ar em Pequim. As autoridades reconhe

ceramque49crianasquevivemnareaapresentamsinaisdeexcessivaexposio
aochumbo(AREDDY,2012).
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Caso4:UnioEuropeia,asdiretivascomunitriaseocasoparticular
dePortugal
NaUEoptouseporproibiroulimitarousodechumboemdiversassituaes:entre
outrosnagasolina,nastintas,nosalimentos,nosbrinquedos,naguapotvelenos
equipamentoseletrnicos,existindoumatendnciaaoseutotalbanimentoparatodo
equalquerbemdeconsumo.
A UE adota duas diretivas que abordam os problemas suscitados pelos resduos de
equipamentoseltricoseeletrnicoseumaterceirareferenteproibiodeadio
dechumbogasolinaecombustveis.
A diretiva relativa aos resduos de equipamentos eltricos e eletrnicos (Diretiva
REEE), que entrou em vigor em fevereiro de 2003,visa prevenira produo e pro
moverareutilizao,areciclagemeoutrasformasdevalorizaodessesresduos,a
fimdereduziraquantidadeaeliminarpordepsitoematerroouincinerao.Impe,
pois, a recolha, a valorizao e a reutilizao/reciclagem dos REEE. Onde se justifi
que,deveserdadaprioridadereutilizaodoaparelhonasuatotalidade.
E a diretiva relativa restrio do uso de determinadas substncias perigosas em
equipamentoseltricoseelectrnicos(DiretivaRSP),queentrouemvigoremjulho
de2006,procuraque,quandoexistamalternativas,ochumbo,omercrio,ocdmio,
o cromo hexavalente, os bifenilos polibromados (PBB) e os teres difenlicos poli
bromados(PBDE)doequipamentoeltricoeeletrnicosejamsubstitudos,afimde
facilitarumavalorizaocorretaeprevenirproblemasduranteafasedegestodos
resduos.HaindamaislegislaocomunitriaincidentenosCFC,PCBePVC.)
210
Quanto primeira, dados de base sobre resduos de equipamentos eltricos e

eletrnicos(REEE),indicamaproduode21kgporhabitanteeporanonototal,
cercade9milhesdetoneladasporano(4%dofluxoderesduosurbanos).Adire
tivaasseguraacriaodesistemasderecolhaegarantequeosprodutoresdeequi
pamento eltrico e eletrnico assegurem o financiamento da recolha, tratamento,
valorizaoeeliminaoemboascondiesambientais.
Quanto segunda, a UE conta com dispositivos normativos bastante restritivos no
quedizrespeitoproibioemequipamentoseltricoseeletrnicosdecertosme
tais pesados (mercrio, chumbo, cdmio e cromo) e substncias halogenadas (CFC,
PCB,PVCeretardadoresdechamabromados),substnciasambientalmenteproble
mticas que estes componentes contm incluemse mercrio, cdmio, cromo hexa
valente,dentreoutroselementos,emseusequipamentoseletrnicos.Alei,dejulho
de 2011, foi criada para reforar a segurana desses produtos, mais extensiva,
abrangendotodoequipamentoeletrnico,cabosepeassobresselentes.Agora,sero
somados ao controle de segurana, produtos eletrnicos como: termostatos,
dispositivos mdicos e painis de controle. O objetivo prevenir a liberao de
chumboeoutrassubstnciasnomeioambiente(PANASONIC,2011).
Abrangemumamplssimoespectrodeprodutos,incluindoaparelhoseletrodomsti
cos pequenos e grandes, equipamento de TI e telecomunicaes, equipamentos de
iluminaoebensdeconsumocomordios,televisores,cmaras devdeoousiste
masdealtafidelidade.Taisprodutoscomportammuitosevariadosmateriaisecom
ponentes,algunsdosquaisperigososrazopelaqualosresduosdeequipamentos
eltricoseeletrnicos,senoforemadequadamentetratados,podemcausargraves
problemasambientaisduranteafasedegesto,nomeadamentedepsitoematerroe
incinerao.
Noqueconcerneasnormasdeutilizaodecombustveis,aUE,desdede1998,proi
biu o uso de gasolina com chumbo em todos os seus EstadosMembros, a partir da
implementao da Diretiva 98/70/CE.Essa Diretiva especifica a qualidade da gaso
linaedocombustvelparamotoresdieselquepodemserutilizadosnaComunidade.
Assim, desde janeiro de 2000, os estadosmembros foram obrigados a garantir que
todagasolinasemchumboetodoogasleo(combustvelparamotoresdiesel),ven
didos nos seus territrios respeitassem os nveis mximos de enxofre estipulados
peladiretiva.
Em certos pases, como Portugal, o chumbo desempenha um papel importante nas
atividades de caa, como munio, e ainda na pesca como chumbada. Contudo, em
anosrecentessuautilizaonacaaestsendoproibida,paracumpriroAcordoso
breaConservaodeAvesAquticasMigratriasAfroEurasianas(Agreementonthe
Conservation of AfricanEurasian Migratory Waterbirds AEWA), do qual fazem
parte 117 pases; da Europa, parte da sia, frica, Oriente Mdio e Canad. Este
acordointernacionalobrigaainterditarousodochumboprincipalmentenaszonas
211
midasdecadaterritrio,emcartuchoscarregadoscomgranalhaparaacaadeaves
aquticas,sobretudoemregiesmidas.
Osaturnismoprocessoqueconsistenoenvenenamentopelochumbonocasodos
patoseoutrasavesaquticasocorre,quandoasavesingeremgrosdechumboresul
tantedostirosdoscaadores.
Estas aves ingerem areia e pequenas pedras para facilitar a digesto mecnica dos
alimentos na moela, ingerindo conjuntamente os gros de chumbo que existem es
palhadosnomeioambiente,provocando,estimase,maisdedoismilhesdemortes
anualmentenomundo,sdepatosbravos(JUCAS.2006).
Osdispositivosparacaa,recomendadosedisponveisparacompra,atualmente,so
aquelescomgranalhademetaisalternativos,comoobismuto,eoao.Nohestats
ticasdasquantidadesdisponibilizadasdechumboparaomeioambiente,masopas
vizinho,aEspanhaestimaem6miltoneladasporano.Quantopesca,aschumbadas
quesousadasparadarpesosiscasdepesca,notmaindaregulamentaorestri
tivaemPortugal,podendoserlivrementecomercializadas,aocontrriodevastasre
giesdosEUAeCanadondeforamsuprimidas(JUCAS.2006).
Comrelaoutilizaodecombustveiscomoaditivosdechumbo,acomercializa
o da gasolina com chumbo foi proibida desde 2000, embora Portugal tenha tido
umaprazomaior,at2005,paraseadaptaranovarealidade.Anualmente,eramjo
gadosnomeioambiente300toneladasporanodepartculasdechumbo(Planetaa
zul,2012).
Com relao aos aparelhos eltricos e eletrnicos, Portugal cumpre a diretiva mais
recentedaUnioEuropia,de2011,quereforaa seguranadessesequipamentos.
(UNL,1999)
O que ainda se constitui um grave problema ambiental em Portugal so as minas
abandonadas. Apesar de muitas delas j terem cessado suas atividades h alguns
anos, continuam representando uma ameaa sade pblica. Existem mais de 100
complexosmineradoresabandonados,sendoaregiodoAlentejoamaisproblem
ticadevidoFaixaPiritosaIbrica(FPI),ondeosminriosexplorados,sobretudoos
sulfetos, so muito instveis, dando origem a guas muito cidas e liberando subs
tnciastxicascomo:ochumbo,arsnio,mercrio,cdmio,dentreoutros.
AselocalizaaminadeCaveira,emGrndola.Suaatividadefoimuitointensanoss
culosIatIV.Contudo,foinosanos1950,queatingiuoseuaugecomautilizaoin
tensivadapiritacomomatriaprimaparaaproduodecidosulfricoefertilizan
tes fosfatados, bem como os resduos resultantes do processo de beneficiamento
como matriaprima para mineral de ferro, cobre, zinco e chumbo. O foco dos pro
blemasambientais,comodamaioriadasminasportuguesasabandonadas,estloca
lizado na pilha de resduos slidos deixada pela explorao, onde a gua da chuva
provoca a formao de uma fonte de drenagem cida. Estudos feitos na regio da
212
mina apontam uma alta concentrao de substncias prejudiciais sade, como: o

cobre,ozinco,ochumbo,ferroemangans(SIMES,2012).
AsminasdaCunhaBaixa,implantadasnoDistritodeViseu,RegioNorte,noconse
lho de Mangualde, so outro exemplo desse problema ambiental. Sua atividade j
cessouhalgunsanos,masaextraodeurniofeitanolocalgeradistrbiosambi
entaisathoje.Ournioeoutrosmetaispesadoscontaminaram ajusantedamina,
umavastareaondesedesenvolveaatividadeagrcola,terrenoscultivadospelapo
pulaoaolongodeumalinhad'aguaquevaidesdeaminaatorioCastelo,afluente
dorioMondego.Aguaprovenientedaestaodetratamentodaminaedenascen
tes,comorigemnaspilhasderejeitos,foiutilizadapararegadossoloscomfinalidade
agrcola, provocando assim sua contaminao e, consequentemente dos vegetais e
legumesacultivadosquesovendidosemoutroscentrosurbanos.(SIMES,2012;
PSSSTI!,2011).
A UE tambm destina recursos do seu oramento para requalificao ambiental de
reasafetadaspelaatividademineira,obrigandoqueosantigosespaosmineiroste
nhamqueficaremcondiessemelhantesaosqueeramantesdainstalaodamina,
masmuitopoucofoifeitoaindaemPortugalparaminimizaresseproblema.
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http://europa.eu
http://pagina.fenca.pt
http://bd.camara.gov.br
Caso5:AmineraoilegaldeouronaNigria
ANigriacontacomgrandesjazidasmineraisdeouro,cobre,ferroemangans,oque
levou o governo do pas africano a inaugurar uma usina de processamento mineral
no estado de Zamfara, no norte do pas, e a buscar investimentos para a regio
(YAHAYA,2010).
Masessariquezamineralassociadapobrezadapopulaopropiciaamineraoile
gal, com usode tcnicas rudimentares e emprego de produtos qumicos, o que tem
causado envenenamento da populao por metais pesados (ECO
DESENVOLVIMENTO,2010).
Os moradores dos vilarejos costumam buscar ouro em jazidas onde se encontram
tambmminerais contendochumbo,cobreemercrio.Muitasvezes,ogarimpo a
principalfontederendadapopulao,queobtmmaioresganhoscomaatividadedo
que com a agricultura. Enquanto um grama de ouro vendido a 3.500 nairas (US$
26),50kgdemilhorendem6.000nairas(US$45)(ECODESENVOLVIMENTO,2010).
Essamineraoilegaldeourofoiaresponsvelpelapiorintoxicaoporchumboj
registradanomundo(OGLOBO,2010).Entremaroeoutubrode2010,400crianas
comidadeinferioracincoanosmorreramnoestadonigerianodeZamfaradevidoao
envenenamento por chumbo (REUTERS, 2010), e estimase que haja 18 milhes de
pessoas contaminadas (ECO DESENVOLVIMENTO, 2010). As aldeias afetadas esto
localizadas rida regio do Sahel, na franja sul do Sahara, onde muitas pessoas tra
balhamcomogarimpeiroseagricultoresdesubsistncia(REUTERS,2010).
O envenenamento foi descoberto pela agncia humanitria Mdicos Sem Fronteiras
(MSF),noinciode2010,quandodesenvolviaseuprogramadeimunizaoanual.Os
profissionaisdesadeperceberamqueamaioriadascrianasdaregioestavamor
rendoequeemalgunsvilarejoselasquasehaviamdesaparecido.Osmoradoressus
peitavam de malria, mas exames de sangue indicaram contaminao por produtos
qumicos (ECO DESENVOLVIMENTO, 2010; BBC BRASIL, 2010). De acordo com o
214
MSF,90%dosmenoresde5anosapresentavamintoxicaoporchumbo,emaisde
100crianastinhamnveisdemetal10vezessuperioraoaceitvel(HOEN,2010).
Foiidentificada,entreaspessoasqueestiveramemtornodareaondehescavaes
de ouro, uma grande incidncia de dores abdominais, vmitos, nuseas e eventual
menteconvulses(YAHAYA,2010).Hregistrostambmdealtastaxasdeinfertili
dadeeabortos,segundodadosdaMSF(ECODESENVOLVIMENTO,2010).
AsescavaesdeminriossoproibidasporleinaNigria,pormmuitomoradores
ignoramepersistemnaatividade,queliberaquantidadesletaisdechumbopresente
nosolo.Acreditasequeomaterialtxicoacabouporcontaminarrioselocaisondeas
crianasbrincavam(BBCBRASIL,2010).
Parapioraroquadro,muitosgarimpeiroslevavamoprodutodogarimpoparaosvi
larejosparaprocessamentoadicional,manualoumecnico,oqueenvolvetriturao
esecagem.Otrabalhofeito,geralmente,dentrodebarracasondevivemasfamlias,
porcrianasemulheres(ECODESENVOLVIMENTO,2010;MSF,2012a).
Mesmoquandonomanipulamdiretamenteometal,oshabitantesdosvilarejosaca
bam contaminados pela poeira trazida pelos trabalhadores no corpo, nas roupas e
nos equipamentos de trabalho (O GLOBO, 2010; ECO DESENVOLVIMENTO, 2010;
YAHAYA,2010).
O nvel de contaminao atingiu nveis elevadssimos. Numa das casas, anlises de
monstraramquehaviachumbonumaproporode11milpartespormilho,quando
onvelsegurode400partespormilho,segundoaAgnciadeProteoAmbiental
dosEstadosUnidos(OGLOBO,2010).
Investigaes realizadas pelo Centro de Controle de Doenas (CDC), Ministrio da
Sade,OMSeMSFestimamquetodaapopulaodesetevilascontaminadaspossa
estarsendoafetada.Soaproximadamente10milpessoas,dentreasquais2milcri
anascommenosdecincoanos(MSF,2012).
Ascrianassoasprincipaisvtimas,pois,almdemaisvulnerveis,costumambrin
carnochodebarro,ondeapoeiracontaminadacomchumbosetornapraticamente
invisvel(OGLOBO,2010;ECODESENVOLVIMENTO,2010;YAHAYA,2010).Asmu
lheresgrvidasouqueestoamamentandotambmpodemtransmitiracontamina
opormeiodaplacentaoudaamamentao(REUTERS,2010).
ApedidodogovernodaNigria,entidadesinternacionaiscomoaOrganizaoMun
dialdaSade(OMS),oCentrodePrevenoeControledeDoenasdosEstadosUni
doseoInstitutoBlacksmith,deNovaYork(YAHAYA,2010)umaorganizaointer
nacionalsemfinslucrativosqueinvestigariscosambientaiseorganizaalimpezade
reascontaminadasporchumbo(OGLOBO,2010)tmatuadonaregio(YAHAYA,
2010).
UmamissodaOrganizaodasNaesUnidas(ONU)tambmconstatoucontamina
oporelevadosnveisdechumbonaguaqueabastecequatrodecincoaldeiasvisi
215
tadas:Abare,Bagega,Dareta,KersaeSunke.Asconcentraesdemercrionoares
tavamigualmenteelevadas(REUTERS,2010).Deacordocomlevantamentofeitopela
ONU,em2011,osnveisdemercrionoareramquase500vezessuperiores aoli
mite aceitvel, e na gua potvel, cerca de dez vezes acima do recomendado
(PANDORA,2012).
Oenvenenamentoporchumboaconteceunomomentoemqueopreointernacional
do ouro superou US$ 1.300 por ona, devido crise econmica global (O GLOBO,
2010),oqueestimulouamineraoe,consequentemente,aexposiodosgarimpei
rosaochumbo(PANDORA,2012).Paratentarcontrolaroproblema,temsidocriados
mutirespararemoveracamadasuperficialdosolocontaminadoesubstitulapor
terralimpa(OGLOBO,2010;BBCBRASIL,2010).
AorganizaointernacionalHumanRightsWatch(HRW)destacaqueogovernodeve
implementar,aomenos,trsmudanasessenciais:prticasmaissegurasdeminera
o;limpezadasreascontaminadas;etratamentodecrianasemriscodeenvene
namentoporchumbo(PANDORA,2012).
Deacordocomaentidade,seascasasdosmoradoresdosvilarejosafetadosnofo
remlimpaseseosgarimpeirosnopassaremausartcnicasmaisseguras,quemi
nimizemaexposioaochumbo,otratamentonosereficazeascrianasvocon
tinuarexpostas(ECODESENVOLVIMENTO,2010).
RepresentantesdaMSFdestacamqueaperdadosmeiosdesubsistnciadasfamlias
afetadas tambm deve ser considerada pelas autoridades, para que as pessoas no
continuemaarriscarasadedesuasfamliasafimdeganharavida(MSF,2012a).
Emjaneirode2011,umrelatriodaMSFalertavaquealgumasaldeiasjdesconta
minadasapresentavamnovamentevestgiosdechumboemercrioporqueosmora
dores retomaram a explorao das minas sem tomar as devidas precaues
(AGNCIABRASIL,2012).
Depoisderepresentantesdogovernoteremminimizadoosepisdiosdecontamina
o por chumbo (BBC BRASIL, 2010), o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan,
aceitouliberar650milhesdenairas,aproximadamente4milhesdedlares,para
tratamentodomeioambienteepromoodeprticasmaissegurasdemineraoem
Zamfara (PANDORA, 2012), mas, at 2012, a verba ainda no havia sido liberada
(MSF,2012b).
Em2012,oenvenenamentonaNigriavoltousmanchetesdosveculosdecomuni
cao,depoisqueaMSFpromoveuumaconfernciainternacionalvisandoencontrar
solues para a questo da contaminao no pas. Delegados que participaram do
evento,dentreelesosministrosdoZamfara,ochefedeestadodosEmiradosdeAnka,
representantes do governo nigeriano, funcionrios de organizaes humanitrias
nacionaiseinternacionais,cientistas,eespecialistasemsade,meioambienteemi
nerao, se mostraram desapontados pela ausncia dos tomadores de deciso da
Nigria ministros de Minas, Meio Ambiente e Sade e pelo fato de que no foi
216
anunciada nenhuma ao concreta por parte do governo federal para enfrentar o

problema(MSF,2012b).
AMSFalertouquepelomenos1,5milcrianascontaminadasporchumbonaaldeia
deBajegaestosemtratamentomdicodesde2010,oquepodeprovocarlesesce
rebraisgraveseatmesmoamorte.Osmoradorestambmcontinuamesperada
descontaminaodesuaaldeia(AGNCIABRASIL,2012;MSF,2012b).
OcoordenadordeemergnciadaMSF,oaustralianoLaurenCooney,advertiusobrea
necessidadedeumprogramacoordenadodeeducaoemsadevisandopromover
mudanas de comportamento entre a populao local para evitar novas recontami
naes(MCLAUGHLIN,2010).
Estudosanterioresa2010parecemindicarqueessaeraumatragdiaanunciada.Um
estudo feito em 2009 j apontava que, ao contrrio dos pases ocidentais, que pro
gressivamentetmregistradoquedanonveldechumbonosanguedapopulao,na
Nigriaessesnveistmsidomantidoaltos,nosentreostrabalhadoresexpostos,
comoentreapopulaonodiretamenteexposta.Segundooestudo,asautoridades
desadenigerianaseospesquisadoresnotmencontradoumasoluoparaopro
blema,apesardesuarelevnciaparaasadepblica(ORISAKWE,2009).
Umoutroestudo,publicadoem2012,analisouaconcentraodechumbonaguade
poosdoestadonigerianodeBenue.Foramcoletadasguade26poosdecomuni
dades rurais, nos meses de outubro e fevereiro, representando as estaes secas e
midas. Os resultados mostraram que a concentrao de chumbo aparece em nvel
alm do recomendvel pela OMS na estao chuvosa. A possvel causa seria o au
mento do uso de fertilizantes qumicos nas fazendas nesse perodo, o que acabaria
contaminandoasguassubterrneas(OCHERI;OGWUCHE,2012).
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Caso6:AcomunidadeRomadoKosovo(ExIugoslvia)
Acontaminaoporchumboemcampospararefugiados,ondehmaisdeumad
cada vivem inmeros Roma [comumente chamados de ciganos] desalojados de seu
territriodeorigem(OSCE,2009;HUMANRIGHTSWATCH,2009),umgravepro
blema em Kosovo, pas com 10.887 km, localizado nos Blcs, sudeste da Europa
(SANTANNA,2012).Adespeitodevriasiniciativasvoltadasgarantiadosdireitos
humanos da comunidade cigana, nenhuma soluo duradoura foi satisfatoriamente
alcanada(OSCE,2009;HUMANRIGHTSWATCH,2009).
OKosovoeraumaprovnciadaSrviaat2008,quandodeclarousuaindependncia,
aps o conflito de 19981999 entre a guerrilha separatista kosovar e as foras de
Belgrado,capitalsrvia(FRANCEPRESS,2012).OKosovoumdospasesmaispo
bres da Europa. Apesar de possuir grandes reservas de chumbo, alumnio, nquel,
zinco,cromo,magnsio,entreoutrosminerais,nodispedeinfraestruturaedein
vestimentossuficientesparasuaexplorao(INFOPDIA,2012),oquefoiagravado
peloconflitode1999contraossrvios.Desdeento,opasvivedaajudainternacio
nal,quesomouUS$11bilhesentre1999e2007(SANTANNA,2012).
Devidoaltataxadedesemprego,muitoskosovares,queviviamemsuamaioriaem
zonas rurais, buscaram na emigrao uma maneira de melhorar seu nvel de vida
(INFOPDIA, 2012). Vrios pases europeus, no entanto, vm, desde o incio da d
cada de 2000, deportandoos para Kosovo, num ato de discriminao tnica. At
2009,emtodaaEuropa,cercade8milalbanokosovaresforamenviadosdevoltaseu
pasdeorigem(DWWORLD,2009).
AoretornaremaoKosovo,osdeportadosficavamsobresponsabilidadedoMinistrio
doTrabalhoedaAoSocial.Nocasodosciganos,ogovernonotinhamoradiasou
empregosalhesoferecer,portantoeramencaminhadosaosjlotadoscamposdede
sabrigadosdeMitrovica(DWWORLD,2009).
Esta cidade cresceu em torno das atividades da Trepca, importante complexo m
neroindustrialdeKosovo,compostopormaisde40minas,fundiesefbricassub
sidiriasespalhadasportodoopas.EmMitrovica,ficavamaminaprincipaldocom
plexoStanTrg/Staritrgevriasplantasdeprocessamento,querespondiam,nas
dcadas de 19701980, por 70% da produo mineral da antiga Iugoslvia
(STUART,2002).[Hoje,devidosconstantestensesentresrviosealbaneses,aocon
flitode1999esdificuldadesdopsguerra,aempresaestbeiradocolapso].
219
Noentanto,deacordocomestudos,asatividadesminerriasdocomplexodeTrepca
emMitrovicaaumentaramconsideravelmenteosnveisdepoluioambientalnaci
dadeeseuentorno.Dofinaldosanos1970atadcadade1990,aDivisodeEpi
demiologia e Sade Pblica da Universidade de Columbia realizou diversos estudos
sobreonveldecontaminaodapopulaoresidentenasproximidadesdafundio.
Deacordocomaspesquisas,oshabitantesdeMitrovicaapresentavamnveiseleva
dosdechumbonosangueemvirtudedasemissescausadaspelasatividadesmine
rrias(OSCE,2009).
Segundo especialistas, a situao nutricional e as condies de higiene dos ciganos
doscamposdeMitrovica,associadasspeculiaridadesdesuasetnias,deixaramnos
maisvulnerveiscontaminaoporchumbo(OSCE,2009).DoritNitzan,represen
tantedaOrganizaoMundialdeSade(OMS),emBelgrado,ressaltaqueoenvene
namentoporchumbonaregiodaMitrovicabastantegrave,eacontaminaonos
campospior,devidosprecriascondiesdevidadosciganos(VIEGAS,2009),e
grandeproximidadecomasantigasminasdocomplexodeTrepcaesuaescriacon
taminada(OSCE,2009).
Em2000,afundiodaTrepcaemMitrovicafoifechadapelaMissodasNaesUni
das(Unmik,doingls)emKosovo,comoobjetivodereduzirosriscossadecausa
dos pelo empreedimento. Entretanto, o chumbono se decompe e permanece nas
camadassuperioresdosolo,continuandotambmacontaminaroar,expondoosha
bitantesdeMitrovicaereasprximas(OSCE,2009).
De acordo com avaliaes realizadas pela Organizao Mundial de Sade (OMS) e
pelosCentrosdeControleePrevenodeDoenas(CDC)dosEstadosUnidos,entre
2004e2007,acomunidadedeciganospermaneciacomoamaisafetadapelometal
(OSCE,2009).
Diante da situao, o escritrio do Alto Comissariado da ONU para Refugiados
(UNHCR,doingls)limitouseadistribuiralimentosaosciganoseprovidenciouseu
alojamento nos campos Cesmin Lug and Zitkovac, ao norte de Mitrovica (HUMAN
RIGHTSWATCH,2009).Oscamposeramparaserumlocaltemporrioatqueasca
sasfossemreconstrudasemRomaMahalla,mashciganosquejestolhmaisde
10anos(HUMANRIGHTSWATCH,2009).
OutrosciganosocuparamespontaneamentequartisabandonadosemKablare,pr
ximo a Cesmin Lug, e Leposavic, cidade a 45 km de Mitrovica. Com exceo de
Leposavic, todos os campos esto na vizinhana do complexo minerrio da Trepca,
sendoqueCesminLugeKablarelocalizamseexatamenteaoladodolocalondeesto
depositadas as pilhas de escria contaminada com chumbo (HUMAN RIGHTS
WATCH,2009).
Apartirde2004,aOrganizaoparaSeguranaeCooperaonaEuropa(OSCE,do
ingls), entidade que luta pelos direitos humanos de minorias tnicas, presente em
Kosovo desde 1999, vem monitorando a situao dos ciganos nos campos de
220
Mitrovica.Emconjuntocominstituieslocaiseorganizaesinternacionais,aOSCE
lutaparaqueosdireitosdosciganossejamgarantidos(OSCE,2009).
Nodecorrerdosanos,vriastestagensforamrealizadasnosanguedemoradoresdos
campos de refugiados, inclusive de crianas, mais vulnerveis contaminao por
chumbo por razes neurolgicas, metablicas e comportamentais, como o fato de
tenderemacolocarobjetosnaboca(BROWN;MARGOLIS,2012).
Numa destas testagens, realizada em outubro de 2008 nos campos de Leposavic,
CesminLugeOsterode,das53crianasquetiveramosanguerecolhido,21apresen
taramnveisdechumboelevadosnosangue,commaisde65g/dL,requerendoin
terveno mdica imediata. O aceitvel at 10 g/dL (HUMAN RIGHTS WATCH,
2009).
Ainda em 2005, uma fora tarefa, envolvendo vrias organizaes, dentre elas a
OSCE,conseguiuquefossemrealizadasalgumasmedidaspaliativasnoscampospara
amenizarasituaodosciganos,incluindoadistribuiodecomidaedematerialde
higiene.Em2006,oscamposdeZitkovakeKablareforamfechados,eseusmorado
res,removidosparaOsterode(HUMANRIGHTSWATC).
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referenciada
SilviaG.Egler1
NataliadeSouzaeSouza2
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pessoas,depublicaessobreacontaminao,principalmente,dechumboecdmio
emSantoAmaroeBoquira(BA)enaregiodoValedoRioRibeiradoIguape(SPe
PR), locais reconhecidamente contaminados pelas atividades de minerao e meta
lurgiadochumbo.Aolongodesteprocessodiferentesassuntosrelacionadoscomes
tesmetaisforamsendoincorporadoslista.Asrefernciasforamdivididasemgran
destemas:Stioscontaminados;Oelementoeseususos;Oambientefsico;Influn
ciasnomeioambienteesadehumana;Avaliaoderiscoevaloresorientadorese
Remediao.
Stioscontaminados
SantoAmaro3
Abaixoestolistadososdiferentesmateriaisondeestdisponveloconhecimentoj
adquirido:dissertaes(12),teses(3),artigoscientficos(26),resumoexecutivo(1),
monografias (2), captulos de livro (2), resumos de congresso (11), relatrios (20),
documentoseletrnicos(6),laudo(1),protocolo(2),vdeos(8)enotcias(21).
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MestradoemEcologiapelaUNICAMPUniversidadeEstadualdeCampinas.
Bacharelado em Biblioteconomia pela UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de

Janeiro.
Todo material referenciado est disponvel no Google Drive. Para acessar utilize o email
[email protected],comasenha:stamaro2425bahia.
Qualquer adio, erro ou omisso nesta lista, entrar em contato com Natalia de Souza pelo e
mail:[email protected].
As referncias marcadas com asterisco(*) esto disponveis na Biblioteca Padre Jos Gomes
Loureiro. Localizada em Santo AmaroBahia, na rua Conselheiro Paranhos,64. Funcionamento
desegundaasexta,das9s12h/13hs17h30.
SilviaG.EglereNataliadeSouzaeSouza
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