Coletânia de Poesias Do Romantismo
Coletânia de Poesias Do Romantismo
Coletânia de Poesias Do Romantismo
APRECIAO
3 GERAO
SOUSNDRADE
Harpa XXXII
Dos rubros flancos do redondo oceano
Com suas asas de luz prendendo a terra
O sol eu vi nascer, jovem formoso
Desordenando pelos ombros de ouro
A perfumada luminosa coma,
Nas faces de um calor que amor acende
Sorriso de coral deixava errante.
Em torno de mim no tragas os teus raios,
Suspende, sol de fogo! tu, que outrora
Em cndidas canes eu te saudava
Nesta hora d'esperana, ergue-te e passa
Sem ouvir minha lira. Quando infante
Nos ps do laranjal adormecido,
Orvalhado das flores que choviam
Cheirosas dentre o ramo e a bela fruta,
Na terra de meus pais eu despertava,
Minhas irms sorrindo, e o canto e aromas,
E o sussurrar da rbida mangueira
Eram teus raios que primeiro vinham
Roar-me as cordas do alade brando
Nos meus joelhos tmidos vagindo.
Geme lamento
De infinito amor,
Buscando debalde te escutar as juras
No mais venturas...
S me resta a dor.
O "Adeus" de Teresa
AS DUAS FLORES
Castro Alves
Castro Alves
Amar e Ser Amado
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delrio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tualma, ter s vida
Pra to puro e celeste sentimento
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus labios em delrio insano
A cano do africano
L na mida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no cho,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torro ...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E meia voz l responde
E a cativa desgraada
Deita seu filho, calada,
E pe-se triste a beij-lo,
Talvez temendo que o dono
No viesse, em meio do sono,
De seus braos arranc-lo!
As trs irms do poeta
Noite! as sombras correm nebulosas.
Vo trs plidas virgens silenciosas
Atravs da procela irrequieta.
Vo trs plidas virgens... vo sombrias
2 GERAO
LVARES DE AZEVEDO
LEMBRANAS DE MORRER
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o esprito enlaa dor vivente,
No derramem por mim nem uma lgrima
Em plpebra demente.
E nem desfolhem na matria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
No quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tdio
Do deserto, o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh'alma errante,
Onde o fogo insensato a consumia:
S levo uma saudade - desses tempos
Que amorosa iluso embelecia.
S levo uma saudade - dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas ...
De ti, minha me! pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus nicos amigos,
Poucos - bem poucos - e que no zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas plidas crenas duvidavam.
Se uma lgrima as plpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lbios me encostou a face linda!
S tu mocidade sonhadora
Do plido poeta destes flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperana
De na vida gozar dos teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo ...
Soneto do Beijo
Um beijo ainda! os lbios teus, donzela,
Nos meus se pousem junto de teu seio
Que treme-te e palpita em doce enleio
Beba eu o amor que teu olhar revela.
Vem ainda uma vez! s pura e bela,
Arfa-te o seio, amor, nolhos te leio
Que importa o mais? vem, anjo, sem receio!
Um beijo em tua face! indoutro nela!
Aperta-me ao teu colo assim um beijo
Desses em que ao cu umalma se transporta!
- E o mundo? Um louco. E o crime? S
te vejo.
- Mas quando a vida em ns gelou-se morta
- E o inferno? Contigo eu o desejo.
- E Deus? Meu Deus s tu. E o cu? Que
importa!
Soneto da Morte
J da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lbios meus o alento desfalece,
Surda agonia o corao fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter! j esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece
Eis o estado em que a mgoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Quando Tu Choras
O Fantasma
Sou o sonho da tua esperana,
Tua febre que nunca descansa,
O delrio que te h de matar!.
lvares de Azevedo
CASIMIRO DE ABREU
Saudades
Sonhando
Eu me lembro! eu me lembro!
Era pequeno
E brincava na praia; o mar
bramia
E, erguendo o dorso altivo,
sacudia
A branca escuma para o cu
sereno.
O vu da noite me atormenta
em dores
AMOR E MEDO
Eu me estremece de cruis
receios.
Quando eu te vejo e me desvio
cauto
Da luz de fogo que te cerca,
bela,
Contigo dizes, suspirando
amores:
"Meu Deus! que gelo, que
frieza aquela!"
Tu te queimaras, a pisar
descala,
Os braos frouxos
palpitante o seio!...
Ai! se eu te visse em
languidez sublime,
Na face as rosas virginais do
pejo,
Trmula a fala, a protestar
baixinho...
Vermelha a boca, soluando
um beijo!...
MINHALMA TRISTE
Minh'alma triste como a rola
aflita
Que o bosque acorda desde o
alvor da aurora,
E em doce arrulo que o soluo
imita
O morto esposo gemedora
chora.
E, como a rla que perdeu o
esposo,
Minh'alma chora as iluses
perdidas,
E no seu livro de fanado gozo
Rel as folhas que j foram
lidas.
E como notas de chorosa
endeixa
Seu pobre canto com a dor
desmaia,
E seus gemidos so iguais
queixa
Que a vaga solta quando beija
a praia.
Como a criana que banhada
em prantos
Procura o brinco que levou-lhe
o rio,
Minha'alma quer ressuscitar
nos cantos
Um s dos lrios que murchou
o estio.
Dizem que h, gozos nas
mundanas galas,
Mas eu no sei em que o
prazer consiste.
Ou s no campo, ou no
JUNQUEIRA FREIRE
LOUCO
(Hora de Delrio)
Ou sufocou ou reduziu a
pouco,
No lhe entendeis, por isso, as
frases santas,
E zombando o chamais,
portanto: - um louco!
MARTRIO
SONETO
Beijar-te a fronte linda
Beijar-te o aspecto altivo
Arda de raiva contra mim a
intriga,
Morra de dor a inveja
insacivel;
murmurando corre.
Sentir teus modos frios,
Sentir tua apatia,
Sentir at rpdio,
Sentir essa ironia,
FAGUNDES VARELA
SONETO
Desponta a estrela dalva, a
noite morre.
E dce a briza no arraial das
flres,
Languidas queixas
1 GERAO
GONALVES DIAS
Rola
Ds que amor me deu que eu lesse
Nos teus olhos minha sina,
Ando, como a peregrina
Rola, que o esposo perdeu!
Seja noite ou seja dia,
Eu te procuro constante:
Mas ai de mim!
Nem j sei qual fiquei sendo
depois que os vi!
So uns olhos verdes, verdes,
Que podem tambm brilhar;
No so de um verde embaado,
Mas verdes da cor do prado,
Mas verdes da cor do mar.
Mas ai de mim!
Nem j sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como se l num espelho,
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Tambm refletem os cus;
Mas ai de mim!
Nem j sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vs, meus amigos,
Se vos perguntam por mim,
Que eu vivo s da lembrana
De uns olhos cor de esperana,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mim!
Nem j sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vs: Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem esprana,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vs, meus amigos,
Que ai de mim!
No perteno mais vida
Depois que os vi!