Afrobrasilidade, Religião e Teatro: o Retrato Do Candomblé em Aruanda (1946), de Joaquim Ribeiro. José Edileudo Da Silva Morais
Afrobrasilidade, Religião e Teatro: o Retrato Do Candomblé em Aruanda (1946), de Joaquim Ribeiro. José Edileudo Da Silva Morais
Afrobrasilidade, Religião e Teatro: o Retrato Do Candomblé em Aruanda (1946), de Joaquim Ribeiro. José Edileudo Da Silva Morais
resultado
mostra
transformao
de
Rosa
Mulata,
O candombl
A palavra candombl tem origem Bantu (do Kimbundu) e vem de uma juno das palavras KANDOMBE MBELE que tem o significado de pequena casa de iniciao dos negros. Segundo
alguns pesquisadores Candombl seria ainda uma modificao fontica de Candomb, um tipo de
atabaque usado pelos negros de angola; ou que viria de Candonbid, que quer dizer ato de louvar,
pedir por algum ou por alguma coisa. (NASCIMENTO, 2010, p. 935).
Brasileiro, organizada por Abdias Nascimento. Outras peas desta seleo foram:
O filho prdigo, de Lcio Cardoso; O castigo de Oxal, de Romeu Cruso; Auto
da Noiva, de Rosrio Fusco; Sortilgio (Mistrio Negro), de Abdias do
Nascimento; Alm do Rio, de Agostinho Olavo; Filhos de Santo, de Jos Moraes
Pinho; Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, e O emparedado, de Tasso da Silveira.
Autor das peas teatrais Aruanda, Yemanj e Deuses de Ferro, Joaquim
Ribeiro foi professor da Escola Dramtica Municipal, do Colgio Pedro II e
Tcnico de Educao do Ministrio da Educao, alm de ser pesquisador nas
reas da Educao, Histria do Brasil, Folclore, Esttica, Estilstica, Hermenutica,
Romance e Teatro3.
Na pea Aruanda, que apresenta uma estranha relao, envolta em
mistrio e sensualidade, entre Rosa Mulata e o deus Gangazuma, com quem ela
se encontra por meio de seu marido, Quel, que recebe o esprito da entidade, o
autor aborda temas como a religiosidade afro atravs do candombl:
Aruanda est dividida em trs atos e tem como cenrio a cidade da Bahia,
com seu folclore e sua macumba, conhecida como tambm como candombl. As
personagens so: CLEMENTINO Conhecido pelo hipocorstico Quel, negro,
pai de santo. ROSA MULATA Mestia, filha de negra e de branco. TIA ZFA
Negra velha, baiana doceira. BENEDITO Moleque crioulo ainda menino. PAI
JOO Negro velho. BAIANAS, NEGROS E CRIOULOS. (RIBEIRO, 1961, p.
288).
CENRIO NICO: Poro de uma velha casa, estragada pelo tempo. Porta e janela gradeada
dando para uma ladeira, que constitui o 2 plano. No 1 plano existe pequena escada que d para
a porta. De um lado existem um catre e pequena mesa com candeeiro de azeite. Na parede vmse imagens de So Jorge, palmas de Santa Rita, rosrios e outras bugigangas (ferraduras, figas,
etc.). Do outro lado, porta de onde se descortina trecho da Cidade de Salvador com as torres de
suas igrejas e os seus coqueirais. (RIBEIRO, 1961, p. 288).
como se fosse veneno e jogar sua carne estraalhada na ribanceira para pasto
dos urubus. Desesperada, Rosa pede para ser morta, pois desejava ir para
Aruanda se encontrar com Gangazuma. Mas Quel mutila os seus seios e o rosto
como forma de vingana. A moa evoca a divindade que aparece, mas a recusa,
pois ela est desfigurada.
Percebe-se ento a existncia de certo pavor por parte das pessoas como
um todo, diante das prticas de candombl, pois no conhecem o significado de
certos rituais. No incio da pea, Rosa confessa ter medo:
ROSA Candombl est matando meu homem.
ZFA Credo, Rosa Mulata! Na f de Oxal no fale assim no.
ROSA Est sim, Tia Zfa. Tda vez que ele vai ao terrreiro, volta
cansado frio quase morto com o corpo dodo e a alma
estraalhada
ZFA Ele cavalo. Precisa ir. ia, se Quel deixa de ir pi
ROSA No. Eu no acredito nisso. [] verdade, Tia Zfa. s
vezes fico toda arrepiada, tenho medo. Numa noite fui com le no
terreiro de Tio Cabinda e vi o meu homem rodar, rodar, e cair
ganindo gemia de um modo horrvel! (RIBEIRO, 1961, p. 291).
O marido, entretanto, acredita que a esposa tem outro homem, pois o seu
comportamento estava muito estranho, era como se ela fosse outra.
Tia Zfa, negra tambm adepta aos cultos de matriz africana, tambm j
havia conhecido os prazeres dados pela divindade, descobre o que est
acontecendo com a esposa do filho, e fica furiosa com a situao j que ela no
esquecera o deus e ainda o amava:
ROSA Repete, Tia Zfa.
ZFA (num xtase):
O vento soprou
A chuva caiu
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A rola gemeu
E vem Gangazuma
Meu homem chegou.
le nem escuta mais. T longe t muito longe t l na minha
mocidade! Ah! A vida num vorta atrs
ROSA Ainda o ama?
ZFA Quem amou Gangazuma, nunca mais se esquece.
ROSA (surdamente) Nunca mais se esquece
[] ZFA Gangazuma te procura, desgraada?
ROSA (numa exaltao) Desgraada, que seja. Pouco importa,
chamei Gangazuma e le veio. E a le estou prsa por laos mais
fortes do que a vida e a morte, porque so laos sobrenaturais do
amor eterno. le me ama, tia Zfa. le me ama! [] (RIBEIRO,
1961, p. 305).
A vingana de Quel.
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Tia Zfa canta o ponto de Gangazuma que aparece, mas rejeita Rosa que
estava mutilada. A mulher chora e suplica ao deus que a possua e a ajude:
QUEL (esttico) le!
(Zfa principia a cantar o ponto de Gangazuma. Ouve-se o rumor
dos tambores, que vo aumentando sempre num crescendo at o
final da cena). (Quel recebe Gangazuma).
ROSA (reconhecendo Gangazuma) (aproxima-se dle como que
hipnotizada) Gangazuma! Meu amor!
QUEL (empurrando-a) Se, posta de sangue. Mulambo de
gente (atira-a no cho).
ROSA (cada, vendo Gangazuma subir a escada) Gangazuma!
Meu amor! Leva-me leva-me embora daqui
QUEL (de mos para o alto sobe a escada e desaparece na
ladeira num gemido sensual de bsta a procura da fmea) Ahn!
Ahn Ahn (RIBEIRO, 1961, p. 306).
Consideraes Finais
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dela, e comeou a ter cimes. Ao saber que sua esposa o traa com uma
divindade, ele a mutila, para que assim Gangazuma a desprezasse.
Aruanda, drama escrito em 1946 por Joaquim Ribeiro com exclusividade
para o Teatro Experimental do Negro, um retrato da vivncia do candombl
vigente na sociedade brasileira do sculo XX, e contribuiu para a intensificao
dos temas vinculados a negros brasileiros no teatro nacional e para a
consagrao do movimento liderado por Abdias do Nascimento.
Referncias Bibliogrficas
ABDIAS
DO
NASCIMENTO.
Disponvel:<
JOAQUIM
RIBEIRO-
1OO
ANOS.
Disponvel
em:http://professorfeijo.blogspot.com.br/2007/05/joaquim-ribeiro-100-anos.html.
Acesso em: 28 jun. 2014.