UCP - Apontamentos - Direito Canónico Institucional - I

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UNIVERSIDADE

CATLICA PORTUGUESA

FACULDADE DE TEOLOGIA
LISBOA

DIREITO
CANNICO
INSTITUCIONAL-I
Apontamentos para uso dos alunos
ano 2013/2014
Ad usum privatum auditorum

Docente: Prof. Doutor M. Saturino C. Gomes

Programa
OBJECTO
A unidade curricular Direito Cannico Institucional prope-se estudar as
instituies da Igreja a partir do Cdigo de Direito Cannico, sobretudo as do Livro II.
Tendo em conta os inmeros cnones sobre esta matria, dedicaremos mais tempo s
instituies com relevncia mais directa na vida da Igreja, e consoante o interesse dos
alunos.
Alguns aspectos dos Livros III, V e VII sero abordados, dentro das
possibilidades.
ESQUEMA GERAL
1. Introduo geral
1.1 Significado de instituio
1.2 Organizao na vida da Igreja
2. Os Fiis e sua vocao (cc.204-329; 573-746)
2.1 Os fiis em geral
2.2 Obrigaes e direitos dos fiis
2.3 Os leigos
2.4 Os clrigos
2.5 Institutos de Vida Consagrada
2.6 Sociedades de Vida Apostlica
2.7 Associaes de fiis
2.8 Prelaturas pessoais
3. Constituio Hierrquica da Igreja: cc.330-572
4. Noes bsicas sobre as Igrejas Orientais Catlicas.
5. Introduo ao Munus Docendi (Livro III)
6. Introduo aos bens eclesisticos (Livro V).
7. Introduo ao poder judicial da Igreja (Livro VII).

SIGLAS
CIC Codex Iuris Canonici (1983)

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes -

I. INTRODUO GERAL
1. NOO DE INSTITUIO
O termo "Instituio" tem diversos sentidos e nem sempre fcil defini-lo, mesmo
no mbito do direito.
Na lngua latina os termos instituere - institutio, constituere - constitutio... (da
comum raiz stare) tm uma particular importncia na linguagem jurdica. "Institutio"
indica ao mesmo tempo a aco de fundar, da fazer e a coisa fundada; ideia de uma
realidade criada ou estabelecida, acrescenta-se um critrio de ordem e de permanncia
no tempo.
O conceito base foi estudado por SANTI ROMANO, jurista italiano, para quem,
"uma instituio uma unidade firme e permanente que no perde a sua identidade com
a mudana dos seus elementos, das pessoas que dela fazem parte, do seu patrimnio,
dos seus meios, dos seus interesses, dos seus destinatrios e assim por diante. Ela pode
renovar-se, conservar-se sempre a mesma e manter a prpria individualidade"1.
Nesta descrio encontramos os seguintes elementos constitutivos da instituio:
uma multiplicidade de elementos (pessoas,coisas,interesses, meios...);
uma ordem interna que consente a estes elementos formar uma nova
entidade;
um ente que adquire uma prpria identidade e uma existncia objectiva e
concreta, que permanece no tempo apesar das mudanas.
Este conceito assim formulado resulta vlido para qualquer entidade constituida
por uma pluralidade de elementos: a comunidade internacional, o Estado, a Igreja, uma
associao...
1.1. Instituio e graa
A relao Instituio-graa adquire uma funo relevante na recepo dos
sacramentos.
Estes, institudos por Jesus Cristo como instrumento da graa para aplicar a obra
da redeno a cada homem, servem tambm para estruturar a comunidade eclesial na
sua dimenso social2. Diversamente de quanto sucede na sociedade humana, em que a
vontade dos seus membros incide de maneira determinante na configurao do grupo
social e na distribuio dos papis entre os seus membros, os aspectos fundamentais da
estrutura social da Igreja so determinados pelos particulares bens que beneficiam a
comunidade eclesial, e mais especificamente, pela eficcia dos sacramentos que
perpetuam a vontade fundacional de Cristo3.
1

SANTI ROMANO, L'ordinamento giuridico, Firenze, 1977, 3 ed., 39, cit. in A.LONGHITANO, La
dimensione istituzionale della Chiesa, in GRUPPO ITALIANO DOCENTI DIRITTO CANONICO (a/c),
Il Diritto nel Mistero della Chiesa, I, Roma, PUL, 1979, 46. Cf. traduo espanhola: El ordenamiento
jurdico, traduo de Sebastin Martin-Retortillo y Lorenzo Martin-Retortillo, Madrid, Instituto de
Estudios Politicos, 1963. Este tema tambm apresentado por vrios cultores do direito cannico e civil.
Cf. ainda: Jos de O. ASCENSO, O Direito. Introduo e teoria geral, Coimbra, Almedina, 13 ed.
refundida, 2005; Silvio FERRARI, L'ordinamento giuridico della Chiesa cattolica. Lo sviluppo storico,
1998.
2
Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 7. Cf.
Tambm Carlos J. ERRZURIZ M., Corso Fondamentale sul Diritto nella Chiesa I Introduzione I
Soggetti Ecclesiali di Diritto, Milano, Giuffr, 2009.
3
Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 7.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes -

Afirma J.I. ARRIETA: Todos os sacramentos, com efeito, concorrem de


qualquer modo para a configurao social da Igreja. De maneira particular, porm, os
sacramentos que conferem carcter sacramental o Baptismo, a Confirmao, a
Ordem contribuem para estruturar societariamente a Igreja, determinando
estavelmente a posio social dos sujeitos, e atribuindo-lhes determinadas capacidades e
funes4.
Se, certo que estes trs sacramentos conferem o carcter sacramental, o
sacramento da Eucaristia - fonte e fora criadora de comunho entre os membros da
Igreja - possui tambm uma particular importncia no momento estruturante da
sociedade eclesial, manifestando a unio indissolvel entre o elemento visvel e o
espiritual da Igreja de Cristo. Por ser o sacramento da presena real de Jesus Cristo, a
Eucaristia coloca-nos no centro dos outros sacramentos todos se ordenam para a
Eucaristia e dos restantes bens usufrudos pela configurao eclesial, como
fundamento da comunidade de f, dos sacramentos e de governo da Igreja, e da sua
unidade estrutural5.
Ancorada na eficcia dos sacramentos, a Igreja aparece na histria, alm de
Povo de Deus e comunidade de crentes, como sociedade unitria e organicamente
estruturada, que permanece idntica a si no tempo, e na qual as funes pblicas
basilares foram individualizadas e confiadas estavelmente a alguns baptizados, em
virtude do Sacramento da Ordem6. Por seu lado, GHIRLANDA apresenta a relao
existente e necessria entre carisma e estrutura: A estrutura fundamental da Igreja de
natureza carismtico-institucional, enquanto determinada por vrios carismas, mesmo os
mais ordinrios, que por si geram uma instituio, enquanto determinam vrios deveres
e direitos intersubjectivos (cf. LG 12b; 13c). A prpria estrutura hierrquica da Igreja
visvel, na distino entre leigos e ministros sagrados, fundamenta-se nessa estrutura
carismtico-institucional7.
Tenhamos presente a analogia existente entre o mistrio da Incarnao e a
Igreja, bem descrito pelo Conclio Vaticano II: Pois, assim como a natureza assumida
serve ao Verbo divino de instrumento vivo de salvao, a Ele indissoluvelmente unido,
de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Esprito de Cristo, que a
vivifica, para o crescimento do corpo8.
A instituio pertence condio histrica na sua exigncia de certeza, o carisma
lembra a dimenso da graa e do dom. Por isso, nenhuma expresso institucional
capaz de compreender e actuar a instncia carismtica. A prpria presena de Deus
entre os homens uma presena que aceitou revelar-se e comunicar-se na fragilidade da
carne humana, e esta fragilidade acompanha e assinala por si toda a histria da
salvao9.
O carisma, enquanto elemento vital, tem a finalidade de renovar a Igreja, por isso
no pode aceitar esquemas muito rgidos e imutveis. A instituio, pelo contrrio, para
realizar o seu objectivo, tende formao de esquemas estveis e duradouros10.

Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, 7.


Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, 8.
6
Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, 8-9.
7
G. GHIRLANDA, Carisma, in Carlos CORRAL SALVADOR, Velasio DE PAOLIS, G.
GHIRLANDA (a/c), Nuovo Dizionario di Diritto Canonico, Ed.San Paolo, 1993, 129.
8
Lumen gentium, n 8.
9
Cf. A. LONGHITANO, La dimensione istituzionale della Chiesa, in GRUPPO ITALIANO DOCENTI
DIRITTO CANONICO (a/c), Il Diritto nel Mistero della Chiesa, I, 50.
10
Cf. A.GIACOBBI, "Le Istituzioni Ecclesiali", in GRUPPO ITALIANO DOCENTI DIRITTO
CANONICO (a/c), Il Diritto nel Mistero della Chiesa, I, Roma, PUL, 1979, 50; Carlos J. ERRZURIZ
5

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes -

Paulo VI, referindo-se ao direito dizia: "O direito no um impedimento, mas


uma ajuda pastoral, no leva morte, mas vida. A sua misso especfica no a de
reprimir e de contrastar, mas de estimular, promover, proteger e defender o esprito da
verdadeira liberdade..."11.
Na Igreja h muitos organismos e organizaes nas quais trabalham pessoas, seja
por fora de um "ofcio" do qual tm a responsabilidade, como membros de um "coetus"
ou de um conselho onde se procura agir com responsabilidade e esprito eclesiais. Esses
organismos permitem que a Igreja opere neste mundo, leve a mensagem evanglica a
todas as culturas, sociedades e povos12.
Estas "instituies" constituem o conjunto da organizao da Igreja-Instituio;
esto em funo da comunho eclesial, servem e valem na medida em que favorecem a
vida de comunho na Igreja, a cooperao entre os seus membros, a difuso da nica f,
a participao nos mesmos mistrios, empenhando todos "a guardar a unidade do
Esprito no vnculo da paz" (Ef 4,3).
A responsabilidade do fiel no se mede s em base aos cnones do Cdigo, tem
uma dimenso teolgica e moral, que vai para alm das instituies e da eficincia das
estruturas eclesiais13.
Em certas naes, a Igreja no possui todas as estruturas porque esto ainda em
formao, ou ento porque lhe faltam as pessoas e os meios, como no terceiro mundo,
ou ento porque em alguns pases impedida e perseguida.
Em geral, as dioceses tm uma estrutura montada14, qual nem sempre
corresponde o dinamismo desejado; isso acontece por culpa das pessoas, e de
circunstncias diversas.
A misso dos pastores na Igreja ser a de velar pelo bom funcionamento das
instituies eclesiais, previstas no ordenamento cannico, para que o Povo de Deus
cumpra os seus deveres e usufrua dos seus direitos.
1.2. A Igreja como instituio
A Igreja enquanto instituio um sujeito fundamental de direito. Falamos neste
contexto da Igreja como instituio (por vezes, usa-se tambm Igreja instituio,
Igreja institucional) porque tomamos em considerao uma certa dimenso da Igreja:
o seu ser sujeito jurdico que transcende as pessoas singulares e que permanece
essencialmente o mesmo no tempo e no espao15.
Dentro da Igreja enquanto instituio existe uma pluralidade de sujeitos jurdicos
que participam na dimenso institucional da mesma Igreja. Essa pluralidade apoia-se na
realidade eclesial, em que se encontra tambm o fundamento das relaes de
subordinao e de corodenao que existe entre os diversos sujeitos. Mas no podemos
esquecer que todas as instituies da Igreja so expresso da nica Igreja de Cristo que
subsiste na Igreja Catlica (cf. LG 8b). Os sujeitos jurdicos que participam na
institucionalidade da prpria Igreja podem reagrupar-se em dois tipos fundamentais:

M., Corso Fondamentale sul Diritto nella Chiesa I Introduzione - I Soggetti Ecclesiali di Diritto, 290291.
11
PAULO VI, Discurso aos participantes no Congresso de Direito Cannico promovido pela Pontificia
Universidade Gregoriana, Roma, 19.2.1977, in AAS 69 (1977) 211-212.
12
Cf. A.GIACOBBI, "Le Istituzioni Ecclesiali", 291ss.
13
Cf. A.GIACOBBI, "Le Istituzioni Ecclesiali", 301.
14
Cf. Anurio Catlico de Portugal; e Anurio de cada Diocese.
15
Carlos J. ERRZURIZ M., Corso Fondamentale sul Diritto nella Chiesa I Introduzione - I Soggetti
Ecclesiali di Diritto, 290.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes -

comunidades jerrquicas de fiis e sujeiros que representam a Igreja enquanto


instituio16.
2. CONCLIO VATICANO NO LIVRO II E CIC 1983
de todos conhecida a influncia do Conclio Vaticano II no Livro II do Cdigo
de Direito Cannico.
2.1. O livro II do CIC o livro que mais reflecte a eclesiologia do Conclio
Vaticano II, conforme o pensamento de Joo Paulo II. O seu nome deriva da
Constituio dogmtica "Lumen Gentium" (cf. LG cap.II: De Populo Dei, O Povo de
Deus); deriva tambm da LG a doutrina segundo a qual todos os membros do Povo de
Deus gozam de uma verdadeira igualdade na dignidade e no agir (cf. LG n.32; cn. 208223); deriva a doutrina da Igreja como comunho e, por isso, determina as relaes que
devem existir entre as Igrejas particulares e a Igreja universal, entre a colegialidade e o
primado, entre o ministrio pastoral e os fiis (leigos e consagrados), entre os diversos
membros do Povo de Deus, e por fim, o esforo que a Igreja deve consagrar ao
ecumenismo17.
2.2. O esquema definitivo tem a sua lgica18. Assenta em trs conceitos chave,
que constituem as trs partes do livro: fiis, constituio jerrquica da Igreja, Institutos
de Vida consagrada e Sociedades de Vida Apostlica. A estrutura , pois, bem
conseguida, parte da condio bsica dos fiis para depois pela autoridade hierrquica e
terminar nos fiis que se consagram pela profisso dos conselhos evanglicos.
Dos 38 cnones includos no CIC e provenientes da projectada Lex Ecclesiae
Fundamentalis (LEF), 28 foram incorporados no livro II, assumindo deste modo um
rico contedo doutrinal-constitucional. So os cnones preliminares, os cnones sobre
as obrigaes e direitos dos fiis, alguns cnones fundamentais sobre o Romano
Pontfice e sobre o Colgio dos Bispos.
2.3. Confrontando a ordem sistemtica do livro II do CIC 1917 e do livro II do
CIC 1983, notamos:
CIC 1917
Livro II: AS PESSOAS
Parte I: Os Clrigos (cc.108-486)
Seco I - Dos clrigos em geral
Seco II: Dos clrigos em particular
(Romano Pontfice, Conclio Ecumnico,
Cardeais, Cria, etc.)
Parte II - Os religiosos (cc.487-681)

CIC 1983
Livro II: O POVO DE DEUS
Parte I: Os fiis
Parte II: A constituio jerrquica da
Igreja
Parte III: Os IVC e as SVA

16

Carlos J. ERRZURIZ M., Corso Fondamentale sul Diritto nella Chiesa I Introduzione - I Soggetti
Ecclesiali di Diritto, 291.
17
Cf. JOO PAULO II, Constituio Apostlica Sacrae Disciplinae Leges, 25.1.1983.
18
O ttulo do livro (ou rubrica) encontra-se no esquema preparatrio de 1977 e a partir da nunca mais foi
mudado. O mesmo no aconteceu com o esquema que sofreu inmeras modificaes (Cf.
Communicationes IX (1977) 237-239; XII (1980) 48-55 e 239ss; XIII (1981) 298-302, cf.tambm 111ss e
271ss; XIV (1982) 154-158, 28ss).

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2.3.1 H algumas diferenas:


a) O ttulo As pessoas (CIC 1917) diverso. Tem a sua origem na
organizao do direito romano (personae, res, actiones) e tem um cunho
individualstico.
O Povo de Deus (CIC 1983): deriva da eclesiologia do Conclio Vaticano II. Pe
a Igreja em continuidade com Israel (LG 9), coloca em realce a peculiar dimenso
humana da Igreja, explica a igualdade na dignidade e no agir entre todos os fiis sem
excluir a variedade (LG 32bc).
O inciso de Deus evidencia a absoluta novidade da Igreja: a sua dependncia
de Deus, o seu ser simultaneamente "mistrio" e "sujeito histrico" (Povo) (LG cap.I e
II).
A respeito de outras locues para designar a Igreja (Corpo de Cristo, Esposa de
Cristo) a expresso "Povo de Deus" comporta uma certa nfase jurdica (basta pensar
nos direitos-deveres inter-pessoais, na justia que deve realizar-se no povo, na lei, na
autoridade...)19.
b) Orientao eclesiolgica diversa
O CIC 1917 evidencia uma Igreja compreendida como sociedade juridicamente
perfeita de desiguais, jerarquicamente constituda, com grande prevalncia de clrigos.
O CIC 1983, embora mantendo o princpio da constituio jerrquica da Igreja (cf. Parte
II = LG cap. III), parte do princpio de igualdade entre todos os fiis no nico Povo de
Deus, olha positivamente para a diversidade de funes, dos ministrios e dos carismas,
numa perspectiva circular e no piramidal.
Eis alguns elementos que integravam a noo de Igreja como societas perfecta
no CIC 1917:
Sociedade: uma pluralidade de pessoas organicamente unidas para conseguir o mesmo fim, com os mesmos meios. A noo aplica-se Igreja evidenciando
todos os elementos que manifestam a sua natureza social. Definio de BELARMINO:
"A Igreja a comunidade de todos os fiis, unidos pela profisso da mesma f pela
participao nos mesmos sacramentos, sob a autoridade dos legtimos pastores,
especialmente do Romano Pontfice, vigrio de Jesus Cristo na terra"20. Ou ento: "A
Igreja a sociedade dos membros sujeitos hierarquia atravs do duplo poder de
jurisdio e de ordem"21. Acentua-se, pois, os aspectos visveis, prescindindo da graa.
Juridicamente perfeita: uma sociedade jurdica, enquanto a unio dos
membros resulta de um vnculo jurdico; perfeita, enquanto, perseguindo um bem
completo, tem um seu fim e dispe de meios para consegui-lo, e por isso, na sua ordem
basta-se a si mesma e independente, totalmente autnoma. Assim a Igreja: sociedade
jurdica enquanto a comunho dos fiis est unida por elementos juridicamente
vinculantes; perfeita enquanto tende a um bem completo como fim para realizar e
dispe de todos os meios para consegui-lo, pelo que na sua ordem basta-se a si mesma e
independente.
uma sociedade livre e independente (diante do Estado...), com prprios
poderes de ordem (funo de santificar) e de jurisdio (funo de magistrio e de
governo).

19

Cf. A.GIACOBBI, "Le Istituzioni Ecclesiali", 301ss.


De Ecclesia militanti, 2.
21
L.BILLOT, Tractatus de Ecclesia Christi, Prato,1909.
20

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes -

De desiguais: na Igreja alguns so sbditos de outros. H governantes e


sbditos, mestres e discpulos, clrigos e leigos, diferentes estados de vida
jerarquicamente dispostos22.
2.3.2 O CIC 1983
Em conformidade com o Conclio Vaticano II, o CIC 1983 apresenta-nos a
Igreja como:
Mistrio: a Igreja a comunidade humana do amor divino, "um povo
reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Esprito Santo" (LG 4).
Ecclesia in Trinitate (participa da vida trinitria), Ecclesia de Trinitate (procede
da aco da Trindade). preciso pois olhar para a alma profunda da Igreja, considerar o
que visvel e o que espiritual (LG 8a; SC 2). Do ponto de vista institucional,
significa olhar antes de tudo para a congregatio fidelium, ao povo de Deus na sua
unidade e igualdade, depositrio e anunciador, no seu conjunto, dos bens da salvao.
Povo de Deus: esta imagem afirma a igualdade interna do povo (LG 32bc).
Recorda que a Igreja tem origem em Deus, que a mantm na sua existncia e que lhe
deu uma estrutura da qual ela no pode dispor de maneira absoluta; recorda, alm disso,
que no povo h diversos ministrios e servios (LG 13d).
Comunho: esta perspectiva compe ao mesmo tempo os elementos
interiores da Igreja e o seu aspecto visvel, a comunidade messinica e escatolgica
sujeita a Cristo e o aspecto visvel constitudo e organizado como sociedade e edificada
sobre a pedra (Mt 16, 18; cf. LG 8). A comunho, no deve ser compreendida s em
sentido mstico-ontolgico, mas em sentido orgnico e como participao.
No CIC 1983 os elementos de "perfeio" social so apresentados na perspectiva
da "sacramentalidade".
A liberdade da Igreja, em relao ao poder poltico, afirmada a partir da pessoa
humana, da sua dignidade e do seu direito liberdade religiosa (cf. DH). Antes das
diversidades funcionais, afirma-se a igualdade fundamental entre todos (cf. Livro II, p.
I, cc. 208-223). Tem-se uma viso dinmica de Igreja, que deve ser compreendida como
"sujeito agente".
A autoridade jerrquica proposta como servio.
2.4. Os dois Cdigos reflectem uma diversa cultura jurdica. O CIC 1917 exalta
a condio do fiel em si e as suas relaes com a instituio; na tenso entre autoridade
e liberdade, privilegia a primeira. O CIC 1983 considera o fiel em si, mas sem
prescindir das formaes eclesiais nas quais se desenrola a sua vida. Daqui a ateno ao
momento comunitrio: cf. as noes de diocese (cn.369) e de parquia (cn.5151).
No se fala de "religiosos", mas de "Institutos de vida consagrada". No CIC 1983
prevalece uma cultura mais personalstica e comunitria.
22

Cf. A.OTTAVIANI, Institutiones Iuris Ecclesiastici, vol I, Roma, Typis Polyglottis Vaticanis, 1947,
editio tertia, 53-64. Este autor define a sociedade perfeita nos seguintes termos: Societas iuridice
perfecta est quae bonum in suo ordine completum tamquam finem habens, ac media omnia ad illud
consequendum iure possidens, est in suo ordine sibi sufficiens et independens, ide st plene autonoma
(ibidem, 53). O Ttulo II De Potestate Societatis Perfectae desenvolve a noo de autoridade, o poder
na sociedade perfeita, o poder legislativo, judicial e executivo (cf. ibidem, 65-127).

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O Papa Joo Paulo II exprime de forma clara a relao entre o Conclio Vaticano
II e o Codex Iuris Canonici:
O instrumento, que o Cdigo, combina perfeitamente com a natureza da
Igreja, tal como proposta, principalmente pelo magistrio do Conclio Vaticano II, no
seu conjunto e de modo especial na sua eclesiologia. Mais ainda, este novo Cdigo
pode, de certo modo, ser considerado como grande esforo de transferir, para a
linguagem canonstica, a prpria eclesiologia conciliar. Se impossvel que a imagem
de Igreja descrita pela doutrina conciliar se traduza perfeitamente na linguagem
canonstica, o Cdigo, no obstante, deve sempre referir-se a essa imagem como
modelo primordial, cujos traos, enquanto possvel, ele deve em si, por sua natureza,
exprimir.
Da derivam algumas normas fundamentais, segundo as quais se rege todo o
novo Cdigo, nos limites, claro, de sua matria especfica, bem como da prpria
linguagem adaptada a essa matria. At se pode afirmar que tambm da que promana
a caracterstica que faz considerar o Cdigo como um complemento do magistrio
proposto pelo Conclio Vaticano II, particularmente no que tange s duas constituies,
dogmatica, Lumen Gentium e pastoral Gaudium et spes.
A conseqncia que a razo fundamental da novidade que, sem jamais afastarse da tradio legislativa da Igreja, se encontra no Conclio Vaticano II, principalmente
em sua eclesiologia, constitui tambm a razo da novidade no novo Cdigo.
Entre os elementos que exprimem a verdadeira e autntica imagem da Igreja,
cumpre mencionar sobretudo os seguintes:
a doutrina que prope a Igreja como Povo de Deus (cf. Const. Lumen
Gentium 2), e a autoridade hierrquica como servio (ibid. 3);
a doutrina que, alm disso, apresenta a Igreja como comunho e, por
conseguinte, estabelece as relaes que deve haver entre Igreja particular e Igreja
universal, e entre a colegialidade e o primado;
a doutrina, segundo a qual todos os membros do Povo de Deus participam, a
seu modo, do trplice mnus de Cristo: sacerdotal, proftico e rgio. A esta doutrina est
unida tambm a que se refere aos deveres e direitos dos fiis e expressamente dos
leigos;
enfim, o esforo que a Igreja deve consagrar ao ecumenismo.
Portanto, se o Conclio Vaticano II hauriu elementos antigos e novos do tesouro
da Tradio e se sua novidade se constitui por estes e outros elementos, manifesto que
o Cdigo deve possuir a mesma caracterstica de fidelidade na novidade e de novidade
na fidelidade, conformando-se a ela em seu prprio campo e sua maneira especial de
expressar-se. O novo Cdigo de Direito Cannico publicado no momento em que os
Bispos de toda a Igreja, no somente pedem sua publicao, como a solicitam com
insistncia e energia. De fato, o Cdigo de Direito Cannico totalmente necessrio
Igreja. Constituda tambm como corpo social e visvel, a Igreja precisa de normas: para
que se torne visvel sua estrutura hierrquica e orgnica; para que se organize
devidamente o exerccio das funes que lhe foram divinamente confiadas,
principalmente as do poder sagrado e da administrao dos sacramentos; para que se
componham, segundo a justia inspirada na caridade, as relaes mtuas entre os fiis,
definindo-se e garantindo-se os direitos de cada um; e finalmente, para que as iniciativas
comuns empreendidas em prol de uma vida crist mais perfeita, sejam apoiadas,
protegidas e promovidas pelas leis cannicas (C.A. Sacrae Disciplinae Leges,
25.01.1983).

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3. ORGANIZAO NA VIDA DA IGREJA


A organizao na vida eclesial uma dimenso da sua existncia. A Igreja sendo
uma comunidade espiritual na sua essncia necessita, todavia, de uma organizao
exterior para apoi-la no exerccio da sua misso.
3.1 Noo e mbito
A funo pastoral de direco e de governo exercida na Igreja por um grande
nmero de sujeitos e institutos, harmonicamente ligados entre si por normas especficas
e princpios. Essa ligao d vida na Igreja a uma estrutura unitria que recebe o nome
de organizao eclesistica, correspondente estrutura oficial que em qualquer
sociedade organizada se ocupa dos fins colectivos. A organizao eclesistica aparece
como resultado global ltimo de um conjunto de factores subjectivos, de elementos
materiais, e elementos formais que esto ao servio da funo pastoral na Igreja23.
organizao da Igreja pertencem os ofcios eclesisticos e os institutos
pastorais e de governo estabelecidos pelo ordenamento cannico, assim como as
pessoas que foram investidas de funes eclesisticas, independentemente do facto que
tenham tambm a titularidade de um ofcio eclesistico24.
preciso notar que o conceito de organizao eclesistica, enquanto estrutura da
dimenso oficial e pblica da Igreja envolve, pois, diversos elementos, que esto em
estreita ligao. Alm da existncia de uma distribuio de funes entre os diversos
sujeitos, a organizao exige a presena de uma ligao entre eles que permita
consider-la uma estrutura unitria, centro de atribuio das funes eclesisticas e
titular abstracto das relativas posies jurdicas de dever e de servio: a esta estrutura
complexa que denominamos de organizao eclesistica. Tal conceito implica que as
instituies e pessoas trabalhem para um mesmo e nico objectivo, o anncio da
mensagem de Jesus Cristo25.
No interior dessa unidade global podem ser individualizadas tambm
organizaes especficas, por sectores particulares, regidas por regras e princpios
prprios. lcito, pois, falar de uma organizao central e universal da Igreja e de uma
organizao diocesana; e, ao mesmo tempo, da organizao administrativa e da
organizao judicial, ou da organizao universitria e formativa, da organizao dos
Institutos de Vida consagrada e Sociedades de Vida apostlica, da organizao das
vrias instituies, etc26.
Falar de direito das instituies eclesiais ou da organizao eclesistica,
referir-se quela parte do direito cannico dirigida ao estudo da estrutura unitria
formada por sujeitos que assumem a funo pastoral de governo na Igreja. O direito
tem em conta os fundamentos de natureza teolgica (teologia, espiritualidade, carisma)
que apoiam as instituies para ento interpretar as normas e definir os parmetros de
actuao27.

23

Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 17-18.
Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 18.
25
Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 18-19.
26
Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 19.
27
Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 19.
24

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 10

3.2 Hierarquia e organizao eclesistica


Como se ver mais adiante, a hierarquia, enquanto series personarum daqueles
que pertencem ordem clerical, representa por preceito constitucional o ncleo central
da organizao eclesistica. A Igreja foi constituda de forma hierrquica, e o seu divino
Fundador, atravs do Sacramento da Ordem, atribuiu determinadas funes a alguns
baptizados, estabelecendo uma relao de hierarquia com os outros fiis. A noo de
hierarquia serve primariamente para indicar os sujeitos investidos pessoalmente de
certos ministrios sagrados, centrando de modo particular a ateno no ordo clericorum
e a sua investidura pela sacra potestas28. Mas a hierarquia no esgota a titularidade de
funes na Igreja, como facilmente podemos depreender da histria eclesial29. H
misses e responsabilidades que so assumidas por leigos, consagrados. Recordamos
quanto enunciado no Livro I: cc.145, 228.
3.3 Unidade e descentralizao de funes
A estrutura eclesistica a estrutura que torna unitria a pluralidade de
manifestaes da funo pblica na Igreja. Factores de unidade e de pluralidade esto
presentes, em diversos nveis da organizao eclesistica, determinando o modo de
conceber e de estudar tal organizao30.
O episcopado possui a plenitude das funes pblicas eclesisticas, enquanto o
Bispo titular dessas funes, e tem a possibilidade de descentraliz-las em favor de
outros sujeitos seus colaboradores. Trata-se de uma possibilidade, que representa
tambm uma obrigao, porque tais funes (de presbtero, de dicono) forma
individualizadas e delineadas distintamente das do Bispo. Poder-se-ia dizer, em sntese,
que enquanto a funo episcopal concentra a globalidade das funes pblicas, as
funes pblicas eclesisticas no se esgotam na episcopal31.

28

Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 20.
Cf. A.Leite SOARES, supra.
30
Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 20.
31
Cf. Juan Ignacio ARRIETA, Diritto dellorganizzazione ecclesiastica, Milano, Giuffr, 1997, 21.
29

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 11

II. OS FIIS E SUA VOCAO (CC. 204-329)


1. CONCEITO DE FIEL
O livro II do Cdigo de Direito Cannico De Populo Dei - reflecte bastante a
eclesiologia do Vaticano II. Deriva da Lumen Gentium, a doutrina segundo a qual todos
os membros do Povo de Deus gozam de verdadeira igualdade na dignidade e no agir
(Cf. LG 32; cc. 208-223).
Vejamos uma breve comparao entre os dois Cdigos de Direito Cannico:
CIC 1917
Livro II AS PESSOAS
Parte I Os Clrigos (cc. 108-486)
Seco I Dos Clrigos em geral
Seco II Dos Clrigos em Particular
Parte II Os Religiosos (cc. 487-681)

CIC 1983
Livro II DO POVO DE DEUS
Parte I Os Fiis
Parte II Constituio Hierrquica da
Igreja
Parte III Dos Institutos de Vida
Consagrada e Sociedades de Vida
Apostlica

O CIC 1917 tem um cunho mais individualista assente no Direito Romano. O


CIC 1983 tem uma eclesiologia assente no Vaticano II; aceita a igualdade sem excluir a
diversidade; olha positivamente para a diversidade das funes e carismas.
No CIC 1917 a Igreja era ainda entendida como "societas perfecta", com uma
ordem jurdica perfeita que a torna independente e livre perante o Estado. A Igreja era
uma sociedade de desiguais.
O CIC 1983 fala de mistrio e comunho. A Igreja o povo reunido na unidade
do Pai, do Filho e do Esprito Santo (LG 4). uma Igreja com uma dimenso visvel e
espiritual (LG 8; SC 2). A Igreja povo de Deus (LG 13. 32). H uma igualdade interna
do povo de Deus porque tem em Deus uma origem comum. No povo de Deus h
diversos ministrios e servios.
A comunho no deve ser compreendida somente em sentido msticoontolgico, mas tambm orgnico-participativo. A autoridade hierrquica vista como
um servio, promovendo os diferentes carismas.
Parte I

A Parte I do Livro II inclui os cnones 204-329. Os cc.204-207 so


introdutrios e fundamentais, na medida em que fornecem um conceito de fiel
na Igreja. O fiel uma figura-chave de todo o CIC, em especial do Livro II.

204

Definio do estado do fiel cristo que fundamental enquanto comum a


todos os membros da Igreja. Este cnone evidencia os efeitos do Baptismo.
So fiis aqueles que recebem o Baptismo. O Baptismo incorporao em
Cristo e a Igreja povo de Deus. Todos os fiis participam no munus
santificandi, docendi e regendi. Fala-se tambm da misso de salvao que
compete Igreja e de responsabilidade de todos os fiis nessa misso. O CIC
estvel, no exclusivo e deve ser lido em paralelo com os documentos do
Magistrio. Os fiis so chamados a actuar na misso da Igreja (Cf. AA 6;
AG 5; LG 17).
Na linha do Conclio Vaticano II e da Tradio da Igreja, dito que a Igreja
peregrina uma societas (instituio), e que subsiste na Igreja catlica,
governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunho com ele.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 12

205

Para aferir a plena comunho com a Igreja, tem de haver a manifestao


visvel da profisso de f, dos sacramentos e obedincia hierarquia.

206

Vnculo jurdico dos catecmenos: no so membros de pleno direito, mas


beneficiam de uma particular solicitude da Igreja. Veja-se por exemplo, as
exquias eclesisticas: cn. 11831.

207

A vida dos fiis enriquecida na Igreja com os carismas do Esprito Santo.


H uma igualdade e uma variedade. O 1 distingue os ministros ordenados
(clrigos) dos leigos, com base no direito divino. O 2 reconhece o estado
cannico da vida consagrada como estado de vida. O termo estado
entendido como condio jurdica da pessoa.
Esses fiis vivem os conselhos evanglicos de castidade, pobreza e obedincia
por meio de votos ou outros vnculos sagrados. Os votos referem-se aos
Institutos Religiosos; os outros vnculos sagrados dizem respeito aos institutos
seculares. Estes vnculos tm designao diversa conforme a tradio de cada
instituto: votos privados, promessas, compromissos
As Sociedades de Vida Apostlica no so consideradas Institutos de Vida
Consagrada, mas so semelhantes em alguns aspectos. Os aspectos essenciais
destes Institutos e SVA sero estudados na Parte III do Livro II.

2. TTULO I: DAS OBRIGAES E DIREITOS DE TODOS OS FIIS (CC. 208-223)


Vrios destes cnones do Ttulo I foram transferidos dum projecto que era a Lex
Ecclesiae Fundamentalis, projecto esse que procurava legislar uma espcie de
constituio para a Igreja universal (para a Igreja latina e para as Igrejas Orientais), e
que no era bem aceite por determinados setores da Igreja. Devido a vrias
contingncias, o Papa Joo Paulo II suspendeu a promulgao desse Projecto, que tinha
sido iniciado no pontificado de Paulo VI.
Os cc. 208-223 definem a situao jurdica comum de todos os fiis na Igreja.
um dos aspectos de maior originalidade do novo Cdigo. Reflecte um amadurecimento
teolgico-canonstico que teve o seu incio antes do Conclio Vaticano II, com um
contributo importante das reflexes em torno da questo dos Direitos do Homem, luz
da Doutrina social da Igreja (DSI).
Os deveres e direitos fundamentais do homem no podem no encontrar
acolhimento numa Igreja formada por homens; por outro lado, h o Baptismo que gera
novos direitos e deveres que se torna seu fundamento O homem foi criado imagem e
semelhana de Deus. No pode haver uma transposio mecnica e imediata dos
direitos humanos para a Igreja.
Nos documentos do Vaticano II possvel encontrar j alguns direitos e alguns
deveres: dever e direito de participar responsavelmente na vida da Igreja (SC 14; LG 37;
CD 16; AA 3. 19. 25); dever de obedincia aos pastores (LG 37); direito de receber da
Igreja os meios de santificao (LG 37).
A Assembleia Geral do Snodo dos Bispos de 1967 afirma que preciso
reconhecer e garantir os direitos dos fiis. Por causa da igualdade fundamental de
todos os fiis e da diversidade de ofcios e de funes, baseada na prpria ordem
hierrquica da Igreja, importa que se definam adequadamente e se tutelem os direitos
das pessoas. Daqui resulta que o exerccio do poder aparea mais claramente como
servio, se robustea mais o seu uso, e se afastem os abusos (Prefcio ao CIC 1983,

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onde se encontram transcritos os 10 princpios aprovados por essa Assembleia Geral do


Snodo dos Bispos).
No se fala de "direitos fundamentais". O legislador formula uma srie de
obrigaes e direitos. Para o fiel cristo, as obrigaes so anteriores aos deveres,
considerando que a sua condio deriva da livre iniciativa de Deus e da sua participao
na Igreja.
Sobre o significado dos deveres e direitos na Igreja, cf. artigo em Apndice32.
Podemos distribuir os cnones por temas:
a) Situaes relativas igualdade fundamental
208: igualdade na dignidade e no agir
209: obrigao de conservar sempre a comunho na Igreja
210: obrigao de levar uma vida santa
211: obrigao de participar na misso da Igreja
Os cnones 208-209 devem ser lidos luz do cnone 204. Temos uma
igualdade radical entre todos os fiis que se fundamenta no Baptismo. A
comunho no uma uniformidade, mas unidade no fundamental. O CIC fala
de uma obrigao moral e jurdica de manterem sempre a comunho com a
Igreja.
b) Obrigaes e deveres dos fiis com a Hierarquia
Cn.212: obedincia aos pastores
c) Direito aos meios de santificao
213: Direito a receber dos Pastores os auxlios espirituais, sobretudo a
Palavra de Deus e os Sacramentos.
214: Rito prprio aprovado pelos legtimos pastores da Igreja.
215: direito de fundar e dirigir associaes de caridade ou piedade
216: Direito de promover e manter a aco apostlica
217: Direito a receber uma educao crist
218: Direito justa liberdade de investigao e exposio das suas
opinies.
d) Alguns direitos pessoais
219: direito na escolha do estado de vida
220: direito boa fama e intimidade
e) Tutela ou defesa dos direitos
Cn. 221: Se algum dos direitos for lesado, a pessoa pode recorrer
autoridade eclesistica e defender os seus direitos no foro eclesistico
competente (1). Tm o direito de serem julgados segundo as normas do
direito (2). Ningum pode ser punido se no tiver cometido um delito
(3).

32

GOMES, M.Saturino C., Deveres e Direitos na Igreja: do CIC 1917 ao CIC 1983-algumas notas, in
GOMES, M.Saturino C., Deveres e direitos dos fiis na Igreja, Lisboa, UCP-CEDC, 1999, pp.33-50,
col.Lusitania Canonica 5.

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f) Obrigaes com certo contedo social


2221: os fiis tm a obrigao de contribuir para o culto divino, obras de
apostolado e caridade, e para a honesta sustentao dos seus ministros
2222: os fiis devem promover a justia social.
2231: O contexto do exerccio dos direitos dos fiis na Igreja o bem
comum da Igreja, tendo tambm em conta os direitos alheios e os seus
deveres para com os outros.
2232: a autoridade eclesistica deve estar vigilante e regular o exerccio
dos direitos dos fiis.
3.

TTULO II: DAS OBRIGAES E DIREITOS DOS FIIS LEIGOS (CC. 224-231)

Leigo vem do grego laos (povo) ou laikos. O povo era considerado como
privilegiado, isto , pertencia aos que eram eleitos por Deus. Povo e clero, inicialmente,
termos sinnimos, no incio, e aplicavam-se a todos os cristos. Posteriormente, a
distino entre as duas realidades acentuou-se.
O Conclio Vaticano II, nos documentos LG e AA, dignificou a vocao laical,
despindo-a de preconceitos e de conotaes negativas do passado. Joo Paulo II, a
quando da apresentao pblica do novo CIC, afirmou: sem dvida direito divino
esta diversidade dos membros, e com efeito a distino que o Senhor fez entre os
ministros sagrados e o resto do Povo de Deus (LG 32), comporta na Igreja um duplo e
pblico modo de viver33.Veja-se tambm a Christifideles Laici, 15.
O que mais caracteriza o leigo a sua ndole secular.
Cn. 225: enquadra o laicado no estado comum do fiel cristo.
Cn.227: explicita o ministrio do leigo na sociedade civil, de atuarem segundo
a sua vocao e de acordo com a doutrina da Igreja.
Participao do leigo nos trs munera. Apresenta-se alguns exemplos.

a) Munus docendi (Liv. III):


759

So testemunhas do evangelho pela palavra e pelo exemplo de vida

766

Podem pregar na Igreja ou oratrio

767 1
774; 776

No podem pregar na homilia


Podem ser catequistas

781; 784; 785

Podem ser missionrios

793; 796-798

Devem educar os filhos na f catlica; contam com a ajuda das


escolas e respectivos professores;

803; 806

O lugar das escolas catlicas;

804; 805

Os professores de religio

801; 812; 818

Podem colaborar nas escolas catlicas, universidades catlicas e


faculdades eclesisticas

33

Discorso di Giovanni Paolo II per la presentazione ufficiale del nuovo Codice di Diritto Canonico,
3.02.1983, 3.2.1983, in www.vatican.va.

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b) Munus santificandi (Liv. IV):


1055
835; 843 2

876; 890; 914


1168
1112 2; 1063; 1064

Participam neste munus pelo matrimnio


Participam neste munus os leigos que participam nas celebraes
litrgicas e os casais que vivem cristmente a sua vida conjugal e
cuidam da educao crist dos filhos
Devem participar nos sacramentos da iniciao crist
Podem administrar alguns sacramentais
Podem assistir aos matrimnios

Podem rezar a Liturgia das Horas e receber os ministrios de leitor e


aclito
517 2 Podem participar no exerccio da cura pastoral

1174; 1035

910
230 2

Podem ser ministros extraordinrios da Comunho


Podem ser leitores, comentadores e cantores na celebrao litrgica

c) Munus regendi:
339 2

Podem participar nos Conclios Ecumnicos

443 4

Podem participar nos conclios particulares

460; 463 1, n5, 2

Podem participar nos snodos diocesanos

512; 536

Podem participar nos conselhos pastorais

492
1714

Podem participar nos conselhos para os assuntos econmicos


Constituio do juzo arbitral

Podem participar nos conselhos ou ofcios que procuram ou sugerem


solues equitativas
377; 524 Podem dar a sua opinio na escolha do bispo ou proco
1733 2

1424
1575; 296; 317 3;
363; 494

Podem participar no Tribunal de Primeira Instncia


Podem ser peritos no mbito do juzo contencioso; podem dedicar-se
s obras apostlicas da prelatura pessoal; podem ser moderadores nas
associaes no clericais; podem ser delegados ou observadores da
S Apostlica junto doutras instncias;

Podem ser administradores de causas pias e cuidar da celebrao de


Missas; podem cooperar na administrao dos bens eclesisticos;
1421 2; 1428 2 Podem ser juzes e auditores
956; 1282; 1287

1429; 1528; 1435

Podem ser ponentes ou relatores; podem escutar as testemunhas;


podem ser promotores da justia e defensores do vnculo;

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 16

4.

TTULO III: DOS MINISTROS SAGRADOS OU CLRIGOS (CC.232-293)

No comeo, ambos os termos clero e povo eram sinnimos; no sc. III, o


termo clero reservado para os ministros ordenados. Clero quer dizer sorte, da que
fosse aplicado a todo o povo cristo.
Por ministros sagrados entendem-se aqueles que receberam o sacramento da
ordem, nos graus do diaconado, presbiterado e episcopado (cn. 1009).
Joo Paulo II, na apresentao pblica do novo CIC, dizia: Apesar de todos os
fiis cristos participarem do mnus real, proftico e sacerdotal da Cabea, todavia os
clrigos e os leigos recebem distintas funes em ordem sua atividade social, funes
regulamentadas e tuteladas por vontade de Cristo pelo direito sagrado (ius sacrum),
de modo que se proveja ao bem comum de toda a Igreja (3.2.1983).
4.1 Captulo I: Da formao dos clrigos (cc.232-264)
Sobre este tema da formao, ver a Lumen Gentium, a Optatam Totius, o
Presbyterorum Ordinis, a Sacerdotalis Coelibatus de Paulo VI (24.6.1967), Ultimis
Temporibus (Snodo dos Bispos: 30.11.1971). So documentos de carcter doutrinal.
Com Joo Paulo II, temos a Pastores Dabo Vobis (25.3.1992).
A nvel normativo, temos a Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis da
Congregao para a Educao Catlica (primeira edio: 6.1.1970; segunda edio:
19.3.1985). Da Congregao para o Clero, o Directrio para a Vida dos Presbteros
(31.01.1994).
Os documentos do Vaticano II definem o ministrio ordenado na sua relao
com o Povo de Deus com a sua unidade, apostolicidade e catolicidade. O ministrio
ordenado participa da dimenso sacramental da Igreja. Rene e edifica o Corpo de
Cristo mediante a proclamao da Palavra de Deus, dos sacramentos, sinal
sacramental de Cristo pastor.
A partir de alguns cnones, vejamos algumas exigncias que so pedidas ao
presbtero:
a) Se dedique inteiramente ao servio da Igreja;
b) Seja evangelizador sobretudo dos mais pobres;
c) Seja homem de comunho, atento aos carismas dos fiis; que viva solidrio
com os outros pastores.
d) Cumpra a sua misso de pastor associado a Cristo no seu mnus de
santificar, ensinar e governar: cc. 245; 257; 271; 273; 5281: 777; 2452;
2751; 278; 280; 495; 1008.
A Igreja no est dependente de nenhuma autoridade externa no que diz respeito
formao dos seus candidatos. A Igreja tem o dever de formar: um direito
prprio e exclusivo que decorre do prprio mandato de Cristo de apascentar o
rebanho.
233 O dever da comunidade crist em fomentar as vocaes sobretudo as famlias
crists, os educadores e sacerdotes procos. A pastoral das vocaes algo que
compete a todos.
232

234

Os seminrios menores como espaos de formao religiosa, humanstica e


cientfica:

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 17

235

Deve haver uma formao espiritual conveniente no seminrio maior, pelo


menos durante quatro anos. Aqueles que esto fora devem ser confiados a
algum piedoso e idneo;

236

Preparao dos Diconos Permanentes;

237

Da necessidade do seminrio maior ou seminrio maior inter-diocesano;


A personalidade jurdica dos seminrios. O reitor representa-o em todos os
assuntos;
As funes dentro do seminrio para que este funcione bem: reitor, vice-reitor,
ecnomo, professores, director espiritual. H, alm disso, um conjunto de
normas que contribuem para este correcto funcionamento.
Os confessores. Tanto os confessores como os Directores Espirituais tratam de
assuntos do foro interno.
Condies de admisso ao seminrio maior: dotes humanos e morais, espirituais
e intelectuais, sade fsica e psquica, vontade recta. Necessidade de certido de
baptismo e confirmao.

238
239

240
241

242

Necessidade de normas para a formao sacerdotal onde se definam os


princpios mais importantes e orientaes gerais para a formao;

243

Necessidade de um regulamento prprio em cada seminrio;

244

Necessidade de harmonizao entre formao espiritual e instruo doutrinal


para adquirir o esprito do Evangelho e a unio ntima com Cristo;

245

A formao espiritual como meio de formao para o ministrio pastoral e


formao no esprito missionrio. Necessidade de cultivar as virtudes humanas.
O ministrio ordenado como meio para a prpria santificao.

247

O celibato como dom especial de Deus. Os alunos devem ter a devida formao
teolgica quanto a este aspecto.

248

A formao deve permitir conhecimentos amplos e slidos nas disciplinas


sagradas e que possam adequar-se ao meio envolvente.

A necessidade da lngua latina e outras lnguas estrangeiras


250 O sexnio como durao dos estudos teolgicos para os candidatos ao
sacerdcio;
251 A necessidade da formao filosfica e humana;
249

252

A formao teolgica deve levar a que os alunos conheam integralmente a


doutrina catlica. Devem ter conhecimento de Sagrada Escritura, dogmtica (em
especial S. Toms de Aquino), teologia moral e pastoral, Direito Cannico,
liturgia, histria da Igreja.

253

A necessidade da competncia dos professores (o mnimo a licenciatura


cannica);

A necessidade da formao apostlica que uma arte. O ano pastoral deveria


permitir a ligao com a vida.
259 O Bispo tem responsabilidade sobre o seminrio, a formao dos alunos, e deve
ter um conhecimento particular acerca dos alunos em ordem s ordens sagradas;
260 O reitor tem a responsabilidade da formao e os alunos devem-lhe obedincia;
258

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 18

261

Necessidade de que todos cumpram as suas obrigaes em ordem ao melhor


funcionamento do seminrio.

O seminrio est isento da jurisdio paroquial. O reitor exerce as funes de


proco, mas no deve ser confessor.
263 A gesto econmica do seminrio algo que o bispo deve ter em ateno;
264 Pode fazer-se um tributo na diocese para o seminrio;
262

4.2 Captulo II: Da adscrio ou incardinao dos clrigos (cc.265-272)


O termo incardinao de uso relativamente recente na legislao eclesistica;
encontra-se pela primeira vez num decreto da S.Congregao do Conclio, de 20 Julho
1898. O CIC 17 canoniza-o nos cc.111-117.
Incardinao vem de cardo (eixo, ponto fixo). No primeiro milnio, os clrigos
so estveis e recebem da Igreja meios de subsistncia. A orientao muda no segundo
milnio. No sc. XII temos as ordenaes absolutas, nas quais o clrigo apresentava o
titulus patrimonii ou beneficii e assim recebia a ordenao, uma vez que podia prover ao
seu sustento. No havia qualquer ligao com um superior hierrquico, seja a nvel de
diocese seja a nvel de outros superiores. Mais tarde, a Igreja teve de disciplinar estas
situaes, obrigando os clrigos incardinao numa estrutura eclesistica.
A incardinao um acto de incorporao a uma comunidade e a um presbitrio.
O seu contedo primrio uma relao de servio entre um clrigo e uma estrutura
jerrquica da Igreja, seja ela territorial ou pessoal. No se trata j como era entendido
de um simples vnculo de subordinao ao Bispo, mas sim de uma incorporao na
Igreja particular ou noutra estrutura pastoral hierrquica para servi-la e, atravs dela,
servir tambm Igreja universal34.
265

A incardinao exprime a ideia que um clrigo deve estar inserido numa Igreja
particular, Prelatura pessoal, ou Instituto de Vida Consagrada ou Sociedade
dotados desta faculdade. Na Igreja no se aceitam clrigos acfalos ou vagos.

Pelo diaconado, o cristo torna-se clrigo e incardina-se automaticamente numa


estrutura eclesistica.
2662 O membro professo de votos perptuos de um Instituto religioso, ou com
incorporao definitiva numa SVA clerical, pela recepo do diaconado
incardina-se como clrigo no respectivo Instituto ou Sociedade, a no ser que o
direito prprio das sociedades disponha de forma diversa.
2661

2663

Quanto aos membros de um Instituto secular, ordenados diconos, incardinamse na Igreja particular para cujo servio foram ordenados, a no ser que a S
Apostlica tenha autorizado a incardinao no prprio Instituto.

34

Cf. Dominique LE TOURNEAU, De clericorum adscriptione seu incardinatione, in Comentario


Exegtico al Cdigo de Derecho Cannico, Pamplona, EUNSA, 1997, vol.II/1, 298.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 19

A modificao da incardinao produz-se mediante a obteno conjunta (para a


validade) da excardinao do Bispo prprio e a incardinao noutra Igreja
particular, conseguida pelo Bispo desta Igreja particular. Para a validade so
necessrios dois actos distintos e complementares: a) uma carta de
excardinao do Bispo diocesano a quo, que autoriza que um clrigo se
desvincule definitivamente da sua Diocese; b) e uma carta de incardinao do
Bispo diocesano ad quem, com a qual se compromete a receber dito clrigo na
sua Diocese. A primeira carta s produz efeito desde que exista a segunda e que
produza o seu efeito. Assim, evita-se que o clrigo possa ficar, mesmo que seja
por pouco tempo, sem nenhuma adscrio. Alis, o Bispo diocesano s pode
incardinar depois de receber um documento legtimo (cn.269,2) e uma
declarao escrita do clrigo (cn.269,3). Se faltar um destes requisitos, a nova
incardinao e qualquer incardinao ulterior ser invlida. O 2 tomado do
CIC 17 refora esta afirmao ao estabelecer que a incardinao concedida de
acordo com o 1 s produz efeito se o clrigo conseguir que outro Bispo
diocesano o incardine noutra Igreja particular.
268 Este cnon descreve o modo como se realiza a incardinao ipso iure.
Contemplam-se 3 casos.
1. O primeiro caso a incardinao ipso iure (1), acontece quando um clrigo
secular se transfere legitimamente da sua Igreja particular a outra Igreja
particular. A incardina-se realiza-se automaticamente (ipso iure) desde que:
a) O clrigo tenha manifestado por escrito essa vontade ou inteno de ser
incardinado na nova Igreja particular; manifestao que pode dar-se
tanto formal como implicitamente, em forma de splica ou at de
simples desejo.
b) Tenham passado cinco anos de legtima permanncia na Igreja
particular ad quem. Legtima, quer dizer, autorizada por ambos os
Bispos diocesanos (a quo e ad quem), e de forma ininterrupta de iure,
nenhum Bispo ter retirado o seu consentimento, e de facto, o clrigo
deve ter permanecido sem interrupo na Igreja particular, salvo
legtimas autorizaes e necessidades.
c) irrelevante que os documentos mencionados no 1 tenham sido
redigidos no decorrer dos 5 anos ou no final deste: no pode produzir-se
a incardinao automtica enquanto no tiver passado o tempo de cinco
anos.
d) As cartas do clrigo so enviadas tanto ao Bispo da sua Igreja de origem
como ao Bispo diocesano da Igreja particular que o acolhe,
independentemente de que estas cartas tenham sido redigidas no mesmo
dia ou em momentos distintos.
e) Nenhum dos Bispos diocesanos tenha manifestado uma vontade
contrria dentro do prazo de quatro meses depois de recebida a dita
carta. Teria que tratar-se de uma verdadeira vontade no de um
simples desejo, conselho, etc. comunicada por escrito ao interessado,
directamente pelo Bispo diocesano , ou por outem em seu nome. Se se
exige o consentimento dos dois Bispos diocesanos, no se exige, sem
dvida, o exerccio efectivo do ministrio pro parte do clrigo na
diocese ad quem, j que o clrigo pode dedicar-se a obras sociais,
educativas, assistenciais, ou encontrar-se doente, incapacitado, ou em
idade avanada.
2. O segundo caso (2) o de um clrigo secular que foi admitido num IVC ou
267

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 20

SVA com faculdade de incardinar os seus membros. A admisso no equivale


a excardinao. O clrigo pode ingressar num Instituto religioso ou SVA e
permanecer incardinado na diocese, enquanto no fizer a profisso perptua ou
admisso definitiva, ficando ento excardinado da Igreja particular. De igual
modo, o clrigo que conseguir a excardinao de um Instituto no
automaticamente incardinado na sua prpria diocese: deve encontrar um Bispo
que o aceite (cf. cn.693).
3. O terceiro caso d-se quando um clrigo incardinado num Instituto religioso
ou numa SVA consegue um indulto de sada do Instituto ou da Sociedade e
acolhido ad experimentum numa Diocese pelo respectivo Bispo. O indulto s
se concede quando o interessado encontrar um Bispo diocesano disposto a
acolh-lo. Depois de ter transcorrido im quinqunio sem oposio nenhuma do
Bispo diocesano, o clrigo fica incardinado de iure na Diocese que o acolheu, a
no ser que o Bispo no tenha aceite (cf. cc.693, 743).
O clrigo legitimamente expulso do Instituto ou Sociedade, est proibido de
exercer as ordens sagradas enquanto no tiver sido recebido por um Bispo
diocesano ad experimentum ou, pelo menos, com autorizao de exercer o seu
ministrio (cf. cn.701). Isto tambm se aplica ao membro de um IS (cf.
cn.7272).
Condies e requisitos para a incardinao de um clrigo.
270 Causas para a excardinao de um clrigo.
271 Critrios a seguir na transferncia de uma Igreja Particular para outra, sem se
verificar a excardinao.
272 O Administrador diocesano (AD) no pode conceder a excardinao ou
incardinao por si s, ou ainda a licena de transferncia para outra Igreja
particular, a no ser um ano depois da vagatura da s episcopal e com o
consentimento do colgio dos consultores. Acerca do papel do AD noutros
casos que envolvem clrigos, cf. cn.1018.
269

4.3 Captulo III: Das obrigaes e direitos dos clrigos (cc.273-289)


O CIC 1917 dedicava o ttulo II aos direitos e privilgios dos clrigos e o ttulo
III aos seus deveres.
O CIC 1983 parte duma viso mais unitria, defendendo uma origem comum
para os direitos e deveres dos clrigos. A ordenao compromete o ministro num estilo
de vida sacerdotal que foi o de Jesus, numa disponibilidade e servio constantes. O
ministro est ao servio da Igreja.
273

Os clrigos tm obrigao especial de prestar reverncia e obedincia ao


Sumo Pontfice e ao Ordinrio prprio. Trata-se das relaes entre o clrigo e
o Sumo Pontfice e com o seu Ordinrio. Ao mencionar Ordinrio prprio, o
legislador est a pensar nos clrigos seculares e nos clrigos que fazem parte
de IVC e SVA. As atitudes de respeito e obedincia dos clrigos perante as
autoridades eclesiais, referidas neste cnon, no respondem simplesmente a
manifestaes do exerccio do poder de jurisdio nem a meras motivaes de
ndole pastoral, mas expressam aspectos essenciais da natureza e da misso
dos presbteros. O Conclio Vaticano II fala de uma comunho hierrquica
com a ordem dos Bispos (cf. PO 7), para expressar que o sacerdcio dos

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 21

presbteros se exerce na ajuda da ordem episcopal e sob a sua autoridade.


Todos os sacerdotes, tanto diocesanos como religiosos diz o Conclio
noutro lugar esto adscritos ordem episcopal, por razo da ordem e do
ministrio (LG 28)35. O Directrio para o ministrio e a vida dos presbteros
(DVMP) adverte que no so transferveis automaticamente para a Igreja a
mentalidade e a praxis que se do em algumas correntes culturais sciopolticas do nosso tempo (). O assim chamado democraticismo constitui
uma tentao gravssima, pois no reconhece a autoridade e a graa capital de
Cristo e desnaturaliza a Igreja, como se esta no fosse seno uma sociedade
humana. Uma concepo deste gnero acaba com a mesma constituio
hierrquica, tal como foi querida pelo seu Divino Fundador, como sempre
ensinou o Magistrio e como a mesma Igreja viveu de forma ininterrupta36.
Este vnculo entre os sacerdotes de qualquer condio e grau e os Bispos
essencial no exerccio do ministrio presbiteral. Os sacerdotes recebem do
Bispo o poder sacramental e a autorizao hierrquica para dito ministrio. Na
ordenao presbiteral, promete-se obedincia ao Bispo diocesano e seus
legtimos sucessores, os membros de IVC e SVA prometem obedincia ao seu
Ordinrio e ao Bispo diocesano.
274,1-2 S os clrigos podem obter os ofcios para cujo exerccio se requer o poder de
ordem ou o poder de governo eclesistico. S os clrigos podem ser procos
ou vigrios paroquiais (cf. cn. 546).
O clrigos esto obrigados a aceitar e a desempenhar fielmente os cargos que
lhes forem confiados pelo seu Ordinrio.
Os dois pargrafos deste cnon que aludem a realidades heterogneas tm
em comum a referncia ao ofcio eclesistico. O primeiro no enuncia direito
nem dever mas simplesmente reconhece uma aptido ou habilidade genrica
dos clrigos para o desempenho dos ofcios, cujo exerccio requer o poder de
ordem ou o poder de governo eclesistico. O sacerdcio supe uma
participao da autoridade com que Cristo edifica, santifica e governa a Igreja,
contida nos trs munera docendi, sanctificandi, regendi recebidos no
sacramento da Ordem.
Segundo o teor do cnon, o exerccio do poder de governo eclesistico fica
circunscrito ao mbito dos clrigos, com excluso dos demais fiis. No h
dvida de que s os clrigos possuem o poder de governo, recebido no
sacramento da Ordem. Por seu lado, os leigos podem cooperar a teor do
Direito no exerccio do poder de governo (cn.129), assim como participar no
poder judicial (cn.14212), ou serem chamados para desempenhar ofcios
eclesisticos (cn.228).
O 2 destaca o dever de obedincia cannica e de disponibilidade para o
ministrio prprio dos clrigos. O pressuposto desta obrigao a
dependncia essencial do presbtero face ao Bispo, como consequncia da sua
participao no ministrio episcopal (ver cn.273). O ministrio sacerdotal
o ministrio da prpria Igreja. Por isso, s se pode realizar em comunho
jerrquica de todo o Povo de Deus (PO, 15).
O fundamento imediato deste dever baseia-se na incardinao que pretende,
justamente, concretizar o servio ministerial do ordenado Igreja particular ou
a outra estrutura eclesistica. A incardinao vincula o presbtero no s com
35

Cf. Jorge de OTADUY, De clericorum obligationibus et iuribus, in Comentario Exegtico al Cdigo de


Derecho Cannico, Pamplona, EUNSA, 1997, vol.II/1, 319. Cf. PDV, 12.
36
Directrio para o ministrio e a vida dos presbteros, 31.1.1994, n 17; cf. tambm nn.22,24,62.

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o Bispo mas tambm com os restantes membros do Povo de Deus onde realiza
o seu ministrio: presbitrio e povo cristo.
A obedincia cannica no impede a liberdade do clrigo, mas configura-se
como corresponsabilidade no ministrio. A iniciativa pessoal deve
impulsionar o sacerdote na procura de um dilogo fraterno com o prprio
Bispo ou com outros superiores imediatos, sempre disposto a submeter-se ao
juzo dos que exercem a funo principal no governo do Povo de Deus37.
275

1. Os clrigos, uma vez que todos conspiram para a mesma obra, a saber, a edificao do
Corpo de Cristo, estejam unidos entre si pelo vnculo da fraternidade e da orao, cooperem
uns com os outros, segundo as prescries do direito particular.
2. Os clrigos reconheam e promovam a misso que os leigos, cada um pela sua parte,
desempenham na Igreja e no mundo.

1. Os clrigos esto obrigados, por motivo peculiar, a tender santidade na


sua vida, uma vez que, consagrados a Deus por novo ttulo na recepo da
ordem, so os dispensadores dos mistrios de Deus para o servio do Seu
povo.
2. Para poderem adquirir esta perfeio:
1. antes de mais, desempenhem fiel e esforadamente os deveres do ministrio pastoral;
2. alimentem a sua vida espiritual na dupla mesa da sagrada Escritura e da
Eucaristia; pelo que, os sacerdotes so instantemente convidados a oferecer
diariamente o Sacrifcio eucarstico, e os diconos a participar tambm
quotidianamente nessa oblao;
3. os sacerdotes e os diconos que aspiram ao sacerdcio tm a obrigao de
rezar diariamente a liturgia das horas segundo os livros litrgicos prprios e
aprovados; os diconos permanentes rezam-na na parte determinada pela
Conferncia episcopal;
4. igualmente tm a obrigao de participar nos exerccios espirituais,
segundo as prescries do direito particular;
5. recomenda-se-lhes que faam regularmente orao mental, se aproximem
frequentemente do sacramento da penitncia, honrem com particular venerao a Virgem Me de Deus e empreguem outros meios de santificao
comuns e particulares.
277 Este cnone tem como fontes Presbyterorum Ordinis 16, Sacerdotalis
Coelibatus e no CIC 17, cc.132-133.
No 1 deste cnon pode-se distinguir os distintos contedos volta do celibato
dos clrigos. Por um lado, a formulao da lei nos seus termos jurdicos, e, em
segundo lugar, a sua qualificao teolgica. No nos compete fazer
comentrios teolgico-espirituais, pois ultrapassa a competncia desta unidade
curricular.
O contedo do celibato a total doao ao Senhor e Igreja (Paulo VI). A
obrigao do celibato livremente assumido sinal da realidade esponsal que se
realiza na sagrada ordenao e tem prioritariamente um carcter teologal e
moral; mas encontra-se sancionado por um especfico vnculo jurdico,
derivando da uma obrigao moral de observncia38.
Alguns pontos importantes a considerar sobre esta questo:
276

37

Cf. Jorge de OTADUY, comentrio can.274, in Comentario Exegtico al Cdigo de Derecho


Cannico, Pamplona, EUNSA, 1997, vol.II/1, 324.
38
Cf. Jorge de OTADUY, comentrio can.277, in Comentario Exegtico al Cdigo de Derecho
Cannico, Pamplona, EUNSA, 1997, vol.II/1, 337. A bibliografia sobre esta matria abundante. O
DMVP, nn.57-60, exps de forma sinttica e autorizada, a doutrina da Igreja.

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a) O celibato pelo Reino dos Cus (Mt 19,11);


b) Como dom de Deus, o celibato s pode ser encarado pela f. Jesus vive
o celibato e manifesta esse estilo de vida e opo.
c) O apostolado como estilo de vida do seguimento de Cristo no podia
no reflectir o estilo de vida de Jesus e em particular a sua vida celibatria.
d) Durante os primeiros tempos da Igreja foi-se associando
progressivamente o exerccio da continncia perfeita e o ministrio sacerdotal.
S no sc. IV, no Conclio de Elvira que temos o estabelecimento do celibato
como obrigao. No sc. XII, entendido como obrigao universal para a
Igreja. A continncia perfeita do sacerdcio uma exigncia imprescindvel da
conformidade com Cristo na ordenao. uma lei disciplinar da Igreja. No
uma simples promessa, mas obrigao. A Igreja latina exige o celibato para a
admisso s sagradas ordens. No que haja desprezo pela vida sexual e
afectiva, mas implica domnio de si e uma sublimao para um nvel superior.
Com o celibato no h negao do amor, mas apenas limitao de alguns
meios de vivncia do amor, para levar a transcendncia da graa a uma
expresso visvel. Deve ser assumido de forma livre e responsvel, vivendo
um equilbrio afectivo e uma afectividade amadurecida.
Efeitos cannicos em relao ao celibato:
a) Gera o impedimento de ordem sagrada em relao ao matrimnio.
A nulidade do matrimnio dos ordenados in sacris tem uma longa tradio
na Igreja. Inicialmente, houve normas de Direito particular que posteriormente
foram recolhidas por disposies pontifcias e Conclios gerais. O cn. 1072 do
CIC 17, por seu lado, referiu de forma taxativa que invalidamente atentam
contrair matrimnio os clrigos que receberam ordens sagradas. Em termos
quase idnticos expressa-se o cn.1087 do CIC 83.
b) As normas cannicas reage inobservncia da lei do celibato com uma
srie de sanes.
A teor do cn.1941,3, o clrigo que atenta contrair matrimnio, mesmo
que s civil, fica removido ipso facto do ofcio eclesistico; esse
comportamento provoca uma irregularidade pra receber ordens ulteriores (cn.
1041,3) ou para exercer as j recebidas (cn.10441,3); e d lugar aplicao
da pena de suspenso latae sententiae (cn.1394). censura anterior pode-se
acrescentar, em caso de aumentar a contuumcia e de continuar o escndalo,
penas expiatrias de privao ferendae sententiae facultativas, que podem
aumentar at chegar mxima, que a expulso do estado clerical39.
c) A lei do celibato susceptvel de dispensa, mas esta no segue
imediatamente perda do estado clerical, mas que exige um processo separado
e concesso especial em cada caso por parte do Romano Pontfice. As normas
para a dispensa foram publicadas pela Congregao para a Doutrina da F, em
14.10.1980, e tm como eixo o cn.291 do CIC 83.
O magistrio da Igreja constante ao afirmar que a lei do celibato, embora no
pertena essncia do sacerdcio como ordem (PO, 16), forma parte da lgica
da consagrao. E afirma-o com argumentos bem slidos: favorece uma
adeso mais plena a Cristo, amado e servido com um corao indiviso (cf. 1
Cor 7,32-33); uma disponibilidade mais ampla ao servio do reino de Cristo e
39

Cf. Jorge de OTADUY, comentrio can.277, in Comentario Exegtico al Cdigo de Derecho


Cannico, Pamplona, EUNSA, 1997, vol.II/1, 337.

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a realizao das prprias tarefas na Igreja; a opo mais exclusiva de uma


fecundidade espiritual (cf 1 Cor 4,15); e a prtica de uma vida mais semelhante
vida definitiva do alm e, por conseguinte, mais exemplar para a vida deste
mundo40.
A disciplina de outras Igrejas Orientais catlicas, que admitem ao sacerdcio
homens casados, no se contrape da Igreja latina: de facto, as mesmas
Igrejas orientais exigem o celibato dos Bispos; to pouco admitem o
matrimnio dos sacerdotes e no permitem sucessivas npcias aos ministros
que ficaram vivos. Trata-se, sempre e somente, da ordenao de homens que
j estavam casados41.
Os 2 e 3 do cn.277 referem-se s precaues necessrias no tratamento
com pessoas que podem pr em perigo a obrigao de guardar continncia ou
ser escndalo para os fiis42. Apesar do esprito da norma ser o mesmo que
inspirava o cn.133 do CIC 17, a referncia agora genrica e remete para
uma regulamentao pormenorizada da legislao particular, se for o caso.
Os diconos permanentes no casados encontram-se sujeitos norma do
cn.277 da mesma maneira que os presbteros, tambm no que estabelecido
no 2. Os diconos casados, por sua vez, no se encontram obrigados
continncia perfeita e perptua e podem prosseguir com normalidade a vida
conjugal43.
278 1. Os clrigos seculares tm o direito de se associarem com outros para
alcanarem os fins consentneos com o estado clerical.
2. Os clrigos seculares tenham sobretudo em grande apreo aquelas associaes que, com estatutos aprovados pela autoridade competente, por meio de
uma regra de vida adaptada e convenientemente aprovada, e do auxlio
fraterno, fomentam a sua santidade no exerccio do ministrio, e favorecem a
unio dos clrigos entre si e com o seu Bispo.
3. Abstenham-se os clrigos de constituir ou participar em associaes, cujo
fim e actividades no se possam compaginar com as obrigaes prprias do
estado clerical ou possam prejudicar o diligente cumprimento do mnus que
lhes foi confiado pela autoridade eclesistica competente.
279 1. Os clrigos prossigam os estudos sagrados, mesmo depois de recebido o
sacerdcio, e sigam a doutrina slida, fundada na sagrada Escritura,
transmitida pelos antepassados e comummente recebida pela Igreja, como
apresentada sobretudo nos documentos dos Conclios e dos Pontfices
Romanos, evitando as novidades profanas de linguagem e a falsamente
chamada cincia.
2. Os sacerdotes, segundo as prescries do direito particular, depois da ordenao sacerdotal, assistam s preleces pastorais que se devem realizar, e,
nos tempos estabelecidos pelo mesmo direito, participem em outras
preleces, reunies teolgicas ou conferncias, com as quais se lhes oferece
ocasio de adquirirem conhecimentos mais plenos das cincias sagradas e dos
mtodos pastorais.
40

JOO PAULO II, Alocuo na Audincia geral, 17.7.1993, in LOsservatore Romano (ed.espanhola),
23.7.1993, p.2.
41
DMVP, n 60.
42
Cf. DMVP, n 60.
43
Cf. Jorge de OTADUY, comentrio can.277, in Comentario Exegtico al Cdigo de Derecho
Cannico, Pamplona, EUNSA, 1997, vol.II/1, 339.

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280
281

282

283

3. Prossigam tambm no conhecimento de outras cincias, sobretudo daquelas que se relacionam com as cincias sagradas, principalmente na medida em
que aproveitem ao exerccio do ministrio pastoral.
Muito se recomenda aos clrigos alguma forma de vida comum; a qual, onde
esteja em uso, se h-de conservar quanto possvel.
1. Os clrigos, quando se dedicam ao ministrio eclesistico, merecem uma
remunerao condigna com a sua condio, tendo em conta tanto a natureza do
seu mnus, como as circunstncias dos lugares e dos tempos, com a qual
possam prover s necessidades da sua vida e justa retribuio daqueles de
cujo servio necessitam.
2. Tambm se deve providenciar para que desfrutem da assistncia social,
com a qual se proveja convenientemente s suas necessidades, se sofrerem de
doena, invalidez ou velhice.
3. Os diconos casados, que se entregarem plenamente ao ministrio
eclesis-tico, merecem uma remunerao com que possam prover sua
sustentao e da famlia; mas aqueles que tiverem remunerao pela
profisso civil que exercem ou exerceram, provejam s suas necessidades e s
da famlia com essas receitas.
Cn. 282 1. Os clrigos cultivem a simplicidade de vida e abstenham-se
de tudo o que tenha ressaibos de vaidade.
2. Os bens recebidos por ocasio do exerccio do ofcio eclesistico, que lhes
sobejarem depois de providenciarem sua honesta sustentao e ao
cumprimento dos deveres do prprio estado, procurem empreg-los para o
bem da Igreja e em obras de caridade.
1. Os clrigos, mesmo que no tenham ofcio residencial, no se ausentem da
sua diocese por tempo notvel, a determinar por direito particular, sem licena,
ao menos presumida, do Ordinrio prprio.
2. Compete-lhes tambm a faculdade de gozar todos os anos do devido e
suficiente tempo de frias, determinado por direito universal ou particular.

Os clrigos usem trajo eclesistico conveniente, segundo as normas


estabelecidas pela Conferncia episcopal, e segundo os legtimos costumes dos
lugares.
285 1. Os clrigos abstenham-se inteiramente de tudo o que desdiz do seu estado,
segundo as prescries do direito particular.
2. Evitem ainda o que, no sendo indecoroso, no entanto alheio ao estado
clerical.
3. Os clrigos esto proibidos de assumir cargos pblicos que importem a
participao no exerccio do poder civil.
4. Sem licena do seu Ordinrio, no se ocupem da gesto de bens
pertencentes a leigos nem de outros ofcios seculares, que tragam consigo o
nus de prestar contas; sem consultar o mesmo Ordinrio esto proibidos de
serem fiadores, mesmo com bens prprios, e abstenham-se de assinar
documentos, pelos quais se obriguem, sem especificar a causa, a pagamentos.
286 Probe-se aos clrigos que, sem licena da legtima autoridade eclesistica,
exeram, por si ou por outrem, para utilidade prpria ou alheia, negociao ou
comrcio.
287 1. Os clrigos promovam e fomentem sempre e o mais possvel a paz e a
concrdia entre os homens, baseada na justia.
284

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 26

2. No tomem parte activa em partidos polticos ou na direco de associaes sindicais, a no ser que, a juzo da autoridade eclesistica competente, o
exija a defesa dos direitos da Igreja ou a promoo do bem comum.
288 Os diconos permanentes no esto sujeitos s prescries dos cnones 284,
285, 3 e 4, 286, 287, 2, a no ser que o direito particular determine outra
coisa.
289 1. Sendo o servio militar menos consentneo com o estado clerical, os
clrigos e os candidatos s ordens sagradas no se alistem nele voluntariamente, a no ser com licena do seu Ordinrio.
2. Os clrigos utilizem as isenes que as leis civis, as convenes e os costumes lhes concedem, em ordem a no exercerem cargos e servios pblicos
civis alheios ao estado clerical, a no ser que em casos particulares o Ordinrio
prprio decida outra coisa.
4.4 Captulo IV: Da Perda do estado clerical (cc.290-293)
preciso distinguir a invalidade da ordenao da perda do estado clerical (perda
daquela condio jurdica estvel de vida que distingue o clrigo dos leigos). Pode
perder-se o estado clerical, mas a ordenao continuar vlida. A perda do estado clerical
no comporta necessariamente a perda da obrigao do celibato (cn. 291), exceptuado
o caso referido no cn.290, n 1.
O ordenamento cannico estabeleceu tradicionalmente uma ntida distino
entre as duas situaes jurdicas: a perda da condio clerical e a dispensa das
obrigaes contradas com a recepo do sacramento.
O captulo relativo perda do estado clerical abre-se como o fazia no CIC 17 o
ttulo correspondente com a referncia doutrina do carcter sacramental, impresso na
pessoa de maneira indelvel pela recepo da ordem sagrada, desde que no seja
anulado.
Neste comentrio no pretendemos estudar a eficcia sacramental mas sim a
condio jurdica de quem recebe a ordem sagrada, que pode sofrer importantes
modificaes embora permanecendo o sacramento na sua realidade ontolgica.
Na linguagem pio-beneditina denominava-se de reduo ao estado laical, hoje
chamamos de perda do estado clerical. Evita-se deste modo a referncia pejorativa.
290

Perde-se o estado clerical por:


1. Sentena judicial ou decreto administrativo, em que se declara invlida a
ordenao. A obrigao do celibato tambm cai (Cf. cc. 1012; 1024; 1009 2).
O prprio clrigo pode acusar a invalidade da sua ordenao.
2. Mediante a pena cannica da demisso, em virtude de um delito. Uma
pessoa pode ser demitida a teor da lei cannica:
Quem deitar fora as espcies sagradas (1367) demitido do estado
clerical e excomunho latae sententiae;
Quem usar de violncia contra o Papa incorre tambm em excomunho
latae sententiae (1370 1);
O sacerdote que no acto da confisso solicitar o penitente contra o
sexto mandamento incorre tambm em excomunho latae sententiae
(1387);
O clrigo que permanecer em escndalo contra o sexto mandamento
(1395; 1364 2) e contra a unidade da Igreja e legtimas autoridades;

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 27

3. Mediante um pedido S Apostlica para tal. O clrigo pede para ser


dispensado.
292 Uma vez que perde o estado clerical, assume o estado laical com os seus
deveres e direitos.
293 Uma pessoa que foi padre, pediu a dispensa e perdeu o estado clerical, poder
ser reintegrado por rescrito da S Apostlica.
(Ler o documento sobre os Diconos Permanentes que vem na Bibliografia)
(Ler CCEO, cc. 7-26)
5. TTULO IV: DAS PRELATURAS PESSOAIS (CC.294-297)
A palavra prelado deriva de prelatus, isto , pessoa superior a outras em
dignidade e poder. Refere-se queles que esto investidos de funes e ofcios na Igreja;
aos membros do clero que tm poder de governo. Todos os bispos so prelados, mas
nem todos os prelados so bispos.
Genericamente, prelatura designa um espao geogrfico (cn. 370).
A prelatura pessoal uma instituio nova no CIC com a misso de distribuir os
presbteros e realizar obras pastorais ou missionrias (cn. 294). Este conceito encontrase elaborado na Presbyterorum Ordinis 10 e Ad Gentes 20.27.
Uma prelatura tem o direito de erigir um seminrio, incardinar os alunos e
promov-los s ordens.
296 Os fiis leigos tambm podem colaborar com a prelatura.
297 preciso determinar as relaes entre a prelatura e os Ordinrios de lugar.
295

A prelatura pessoal no se assimila a uma Igreja particular, no tem a cura


ordinria de almas. Tambm no uma associao de fiis nem Instituto de Vida
Consagrada ou Sociedade de Vida Apostlica. A nica prelatura existente a Opus Dei
(aprovada pela Constituio Apostlica Ut Sit Validum, 23-11-1982).
Prelatura pessoal uma estrutura jurdica com finalidades pastorais, compostas
por clrigos; no tem territrio definido. Vivem uma espiritualidade sacerdotal de
santificao do mundo e do trabalho. No h qualquer dependncia relativamente ao
Bispo da diocese.
6. TTULO V DAS ASSOCIAES DE FIIS (CC. 298-329)
6.1 O direito de associao como direito fundamental
um direito nsito de natureza humana o facto de o homem se poder associar
com outros para alcanar determinados objectivos ou finalidades em vista da sua
realizao pessoal e comunitria.
Tanto os filsofos como telogos juristas tm defendido esse direito da pessoa
humana. O magistrio pontifcio sempre reivindicou para o cidado o direito de fundar e
pertencer a associaes no campo civil, social, profissional e religioso: Leo XIII
(Rerum Novarum, 15.5.1891), Pio XI, Pio XII, Joo XXIII, Paulo VI, Joo Paulo II,
Bento XVI, Francisco. um direito humano.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 28

A nvel eclesial, tem havido movimentos e associaes desde o incio como


comprova a sua vida e evangelizao.
A formulao jurdica deste direito como direito fundamental de associao no
existe no CIC 1917. S o encontramos no actual Cdigo por influncia da doutrina e do
Conclio Vaticano II.
Mas a limitao do 1 Cdigo no tanto a falta de reconhecimento do direito de
associao, mas sobretudo a sua no explcita afirmao e o no encorajamento do
fenmeno associativo.
6.2 Associaes no Cdigo 1917
CIC 1917 = Depois dos cnones sobre as associaes de fiis em geral (cc. 684699), o ttulo XIX regulamenta as associaes de fiis em particular (cc. 700-725) com
trs tipos:
Ordens Terceiras Seculares (cc. 702-706), que so associaes
approbatae;
Confrarias (cc. 707-719), que podem ser constitudas s por formal ereco
de decreto (cn. 708);
Pias Unies, para as quais suficiente a aprovao; podem ser tambm
erectas (cn. 708).
Arquiconfrarias e unies primrias: cc. 720-725.
Quanto aprovao h dois tipos de associaes:
Associaes eclesisticas so aquelas erectas e dirigidas pela autoridade
eclesistica e que adquirem personalidade jurdica.
Associaes laicais so dirigidas pelos leigos, as quais podem ser
probatae ou laudatae pela autoridade eclesistica. No tm o seu ser da
autoridade eclesistica, no so governadas por ela, e portanto no podem
chamar-se erectae com personalidade jurdica; nem sequer tm os seus
estatutos e a sua organizao interna aprovados por tal autoridade. So
dirigidas por leigos, segundo os estatutos. Laicais no eclesisticas.
Laicais no significava que os membros fossem s leigos, mas que no tinham
sido erectas pela autoridade eclesistica ou que no tinham sido aprovadas
juridicamente por esta. Tratava-se de associaes constitudas por fiis por sua prpria
iniciativa, por eles governadas para fins espirituais ou caritativos.
Mas no esto fora da vigilncia do Bispo: embora ele no as possa governar,
olha pela f e bons costumes... (cn.. 3362).
O CIC considera s as associaes eclesisticas, enquanto sujeito tpico de
direitos e de deveres no ordenamento jurdico eclesistico, no se ocupando das
associaes laicais enquanto tal.
Tnhamos:
associaes louvadas, de natureza privada (a autoridade eclesistica
limitava-se a louvar o fim da associao);
associaes aprovadas: entravam na estrutura organizativa da Igreja, mas
sem possuir a personalidade jurdica (cn. 687);

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associaes erectas: entravam na estrutura organizativa da Igreja com a


atribuio da personalidade jurdica depois da ereco formal (cn.687).
6.3 Conclio Vaticano II
AA, 2,3 18-19: direito de associao para os leigos.
PO, 8: direito de associao para os presbteros.
A liberdade associativa dos fiis no uma espcie de concesso da autoridade,
mas brota do Baptismo, sacramento que chama os fiis leigos comunho e misso na
Igreja (LG 37; LG 30-32; CD 17).
O Vaticano II delineou o contexto no qual situar o fenmeno associativo e
apresenta o seu fundamento eclesiolgico:
o direito de associao dos fiis, como modalidade tpica de participao na
nica misso da Igreja (cf.: LG 30-33). Est in Ecclesia diversitas ministerii,
sed unitas missionis (AA,2).
a distino, na nica misso em razo unicamente da sua condio
ontolgico-sacramental.
O Conclio no emite uma qualificao jurdica das associaes; descrevendo as
vrias relaes das associaes com a hierarquia, oferece uma interessante catalogao
das associaes nascidas da livre iniciativa dos fiis: associaes simplesmente
constitudas por leigos, associaes louvadas ou recomendadas, associaes
explicitamente reconhecidas, associaes electas et particulari modo promotae.
No fenmeno associativo e nas suas vrias manifestaes (grupos, agregaes,
movimentos, comunidades, pias unies, confrarias, ordens terceiras, institutos, etc.)
tem-se uma peculiar realizao da comunho eclesial:
Portanto, o apostolado em associao responde com fidelidade exigncia
humana e crist dos fiis e , ao mesmo tempo, sinal da comunho e da unidade da
Igreja em Cristo...
...O apostolado associativo de grande importncia tambm porque, nas
comunidades eclesiais e nos vrios meios, o apostolado exige com frequncia ser
realizado mediante a aco comum. As associaes criadas para a aco apostlica
comum fortalecem os seus membros e formam-nos para o apostolado...
... absolutamente necessrio que se robustea a forma associada e organizada
do apostolado no campo de actividades dos leigos (AA 18).
6.4 Cdigo de Direito Cannico 1983
O cnon 215 fundamental para a formulao jurdica do direito de associao na
Igreja, e o direito de reunio.
6.4.1 Normas gerais
Nos cc. 298-329 temos:
2981 = associaes no interior da Igreja para promoverem finalidades
prprias da Igreja;
298-312 = normas comuns para todos os tipos de associaes;
312-320 = normas sobre as associaes pblicas de fiis;
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321-326 = normas sobre as associaes privadas;


327-329 = normas para as associaes de leigos.
Finalidade
Devem fomentar uma vida mais perfeita, promover o culto pblico ou a doutrina
crist, ou outras obras de apostolado: trabalho da evangelizao, exerccio de obras de
piedade ou de caridade, informar a ordem temporal com o esprito cristo (cn. 2981).
Membros
Podem ser membros todos os fiis: clrigos ou leigos, ou em conjunto clrigos e
leigos (cn. 2981).
Consoante a qualidade dos seus membros, temos:
a) Associaes clericais = sob a direco de clrigos, assumem o exerccio da
ordem sagrada e so reconhecidas como tais pela autoridade competente
(cn. 302).
b) Associaes religiosas = vivem a espiritualidade de um Instituto religioso e
tendem perfeio crist, tomando o nome de Ordens terceiras ou de
associaes (cn. 303; CL 29).
Quando o Bispo d o seu consentimento por escrito para a ereco de uma casa
religiosa, o mesmo vale para a ereco na mesma casa ou igreja a esta anexa de uma
associao prpria do Instituto (cf. cn. 3172; cn.3122). As associaes que foram
constitudas por privilgio apostlico podem entrar numa Diocese, desde que recebam o
consentimento escrito do Bispo diocesano (cn.3122).
Procurem estas associaes cooperar com as obras de apostolado existentes na
diocese, colaborando com o Ordinrio do Lugar (cn.311).
c) Associaes laicais = so formadas por leigos, com as finalidades do cn.
298. Devem cooperar com outras associaes de fiis, na pastoral, e
preparar devidamente os leigos (cc. 327-329). Nas associaes no clericais,
os leigos podem ser presidentes das mesmas (cn. 3173).
6.4.2 Associaes pblicas
O CIC usa a distino associaes pblicas e associaes privadas embora
na linguagem corrente tenhamos outras denominaes: confraria, irmandade, ordem
terceira, fraternidade, grupo, movimento, etc.
As associaes pblicas so erectas pela autoridade eclesistica, para conseguir
alguns fins reservados natura sua hierarquia e outros fins que no tenham sido
conseguidos pela iniciativa privada; so constitudas ipso iure pessoas jurdicas pblicas
e agem nomine Ecclesiae, sob a superior direco da autoridade eclesistica (cf.
cn.116). Todas as suas aces abrangem a autoridade eclesistica, supondo uma
relao de quase identificao com ela.
Uma associao pblica no porque um fim geral eclesial, no porque tenha
tido um reconhecimento da autoridade eclesistica, no porque tenha um carcter de
internacionalidade, mas porque entra a fazer parte da estrutura jerrquica da Igreja,
conseguindo fins propriamente institucionais, como estabelece o cn. 3011.
As relaes com a hierarquia esto definidas nos cnones 322 e 3121: Santa S,
Conferncia Episcopal, Bispo diocesano.

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6.4.3 Associaes privadas


As associaes privadas so constitudas por fiis mediante acordos privados
para conseguir fins espirituais e no cn. 298 e a sua actividade desenvolve-se sob a sua
direco e moderao; podem adquirir a personalidade jurdica privada. Privado no
significa portanto sem importncia eclesial.
O critrio que distingue associaes pblicas e associaes privadas dado pelo
concurso do critrio subjectivo e pelo critrio objectivo: o sujeito da constituio das
associaes e a sua finalidade especfica.
As relaes com a hierarquia esto definidas no cn.3121: Santa S,
Conferncia Episcopal, Bispo diocesano.
6.5 Papa Joo Paulo II
Na Exortao Apostlica Christifideles Laici, o Papa refere-se s formas
agregativas de participao, falando de uma nova era agregativa dos fiis leigos:
... ao lado do associativismo tradicional e, por vezes, nas suas prprias razes,
brotaram movimentos e sodalcios novos, com fisionomia e finalidade especficas: to
grande a riqueza e versatilidade de recursos que o Esprito infunde no tecido eclesial
e tamanha a capacidade de iniciativa e a generosidade do nosso laicado (CL, 29).
Muitas outras intervenes deste Papa (em particular no congresso mundial dos
movimentos eclesiais, em 1998) demonstram o seu interesse pela promoo da vocao
laical e das associaes de fiis.
6.6 Estatutos
Qualquer associao pblica ou privada tem de possuir os seus estatutos (cf. cn.
94) nos quais se determinam:
o nome da associao;
o fim ou objectivo da associao;
a sede;
o governo;
patrimnio;
condies de ingresso e pertena;
modo de agir, tendo em conta o meio em que trabalham (cn. 304).

6.7 Assistncia espiritual


As associaes so acompanhadas espiritualmente por um Assistente,
normalmente presbtero, nomeado pela autoridade eclesistica competente (cf.
cc.3171-3; 3242).
6.8 Capacidade jurdica
A capacidade jurdica das associaes est definida no Cdigo de Direito
Cannico, nos respectivos Estatutos, e nas normas de direito particular e direito prprio.
Elas podem intervir eclesial e socialmente, administrar bens (cf. cc.319; 325).
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6.9

Supresso

A supresso das associaes deve realizar-se de acordo com o Cdigo de Direito


Cannico (cc. 320, 326), os Estatutos, e as normas de direito particular e direito prprio.
6.10 Associaes eclesiais em Portugal
De acordo com o cn.312, as associaes eclesiais em Portugal so erectas e/ou
aprovadas pelo Bispo Diocesano ou pela Conferncia Episcopal Portuguesa (CEP).
A CEP publicou alguns decretos sobre as normas gerais das associaes de fiis
e sobre o estatuto cannico das Misericrdias (ver bibliografia).
6.11 Critrios de eclesialidade44
As associaes e movimentos no podem descurar a comunho eclesial:
sempre na perspectiva da comunho e da misso da Igreja e no em contraste com a
liberdade associativa, que se compreende a necessidade de claros e precisos critrios
de discernimento e de reconhecimento das associaes laicais, tambm chamados
critrios de eclesialidade (CL 30).
Os movimentos e associaes devem seguir critrios de eclesialidade que os
introduzam na esfera da comunho eclesial:
6.11.1

Responsabilidade em professar a f catlica

Uma clara adeso doutrina da f catlica e ao magistrio da Igreja, que a


interpreta e a proclama, sem dvida condio indispensvel para que uma realidade
possa existir como tal na Igreja (CL 30).
Equilbrio entre dimenso pessoal e comunitria, entre pertena Igreja e
pertena ao grupo, entre empenho de orao e coerncia de vida, entre valorizao da
vocao especfica dos leigos e reconhecimento da funo eclesial da hierarquia, entre
autonomia de vida e actividade de grupo.

44

Alm de CL, 30, cf. CEP, Normas gerais das Associaes de Fiis, 4.4.2008, Introduo.

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6.11.2 Conformidade com as finalidades da Igreja


Desempenham actividades conforme finalidade da Igreja ou seja
evangelizao todas aquelas associaes que se propem fins espirituais, religiosos,
formativos, pastorais, obras de piedade, de caridade, de misericrdia (CL 30).
6.11.3 Comunho com os Pastores
A vontade de uma plena comunho com o Papa, centro perptuo e visvel da
unidade da Igreja universal (LG 23), e com o bispo, princpio visvel e fundamento da
unidade da Igreja particular (LG 22) traduz-se concretamente na disponibilidade em
acolher:
a) os princpios doutrinais e orientaes pastorais do bispo da diocese;
b) a sua aco de coordenao pastoral que tem em vista harmonizar a
actividade dos fiis e a conjug-la com o bem comum da Igreja;
c) a sua presena atravs de um presbtero.
6.11.4 Reconhecimento da legtima pluralidade das formas associativas na Igreja
Pede-se de cada associao uma atitude de respeito, de estima, de abertura em
relao aos outros grupos e movimentos; e tal atitude demonstra-se verdadeira se se
traduz numa disponibilidade real, no respeito pelos outros, sem constituir uma capelinha
ou um grupo fechado e disponibilidade em colaborar com outras associaes (cf. cc.
327-329).
6.11.5 Os frutos espirituais
... so aqueles elementos de relevo sobrenatural que acompanham a uma certa
distncia de tempo, a obra de uma associao, movimento, grupo, etc e representam em
certo sentido a contraprova dos autnticos dinamismos espirituais que neles e atravs
deles se exprimem: a orao, o estilo de pobreza, a caridade, o florescimento de
vocaes, a coragem da evangelizao (catequese, programas de pastoral...) (CL 30) e
identificao com o carisma IVC.
Concluso
As associaes na Igreja no se justificam s pela inmeras vantagens que
comporta a aco associada pelo apostolado, mas porque sublinha uma exigncia
conatural Igreja e ao ser cristo, a de ser comunho a todos os nveis e de aproveitar
todas as oportunidades para construir comunidade.
O fenmeno associativo na Igreja s tem sentido quando, consciente dos seus
carismas, contribui para o anncio do Evangelho, quando incrementa a unidade e a
reconciliao, quando capaz de ver a Igreja numa perspectiva catlica.
Os movimentos e associaes eclesiais so formas privilegiadas de realizar uma
vocao na Igreja, revitalizando a conscincia baptismal. Aprofundando o apelo
santidade que a todos dirigido ajudando a configurar caminhos de vida e
espiritualidades ao servio de uma identidade crist e do crescimento do Reino de Deus.
Mas no so a nica forma de concretizar a vocao crist.

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Por outro lado, h aspectos negativos da experincia das


associaes/movimentos. Antes de mais, o querer apropriar-se do Evangelho e possuir a
verdade total. Os movimentos colhem geralmente um aspecto do Evangelho com a sua
espiritualidade. O risco reside nas leituras parciais do Evangelho, o fixar-se numa
mentalidade teolgica fechada, o no aceitar (ou aceitar) os membros da hierarquia
consoante as sensibilidades (...), o absolutizar a prpria experincia (o meu movimento
o nico na Igreja que vive na sua totalidade a vocao baptismal...), o ser uma Igreja
paralela com projectos que porventura ignorem a Igreja local, etc...

BIBLIOGRAFIA SUMRIA
FONTES
Cdigo de Direito Cannico, 1917, cc.684-725.
Cdigo de Direito Cannico, 1983, cc.298-329.
CONCLIO VATICANO II, AA, nn.18-22; PO, n.8; PC, n.20.
JOO PAULO II, Exortao Apostlica Christifideles Laici, nn.29-31.
CONFERNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA
-Normas gerais para a regulamentao das associaes de fiis, Ftima, 1988.
-Declarao conjunta dos Bispos sobre a Dimenso pastoral e cannica das
Misericrdias Portuguesas, 15.11.1989, in Lumen 11 (1989) 7-8.
-Normas gerais das Associaes de Fiis, 4.4.2008.
-Decreto geral sobre as Misericrdias, 23 Abril 2009.
-Decreto geral Interpretativo para as Misericrdias portuguesas, 2 Maio 2011.
ESTUDOS
BENTO XVI-Joseph Ratzinger, Os Movimentos na Igreja-Presena do Esprito e
Esperana para os Homens, Lucerna, 2007.
FERREIRA, Manuel Pinho, A personalidade jurdica das associaes de fiis, in Forum
Canonicum, vol. V/1 (2010) 21-34.
FERREIRA, Sebastio Pires, Os bens temporais das associaes de fiis, in Forum
Canonicum, vol. V/1 (2010) 45-70.
GOMES, M.Saturino C., O direito de associao um direito fundamental da Igreja, in
Didaskalia XIX (1989) 191-262.
IDEM (coord.), As Associaes na Igreja, Lisboa, UCE, 2005. Contm vrios artigos
sobre as associaes.
GUARDA, Jorge M.F., Critrios de eclesialidade das associaes de fiis, in Forum
Canonicum, vol. V/1 (2010) 35-44.
MARQUES, J.Antnio Silva, O Direito de associao e as associaes de fiis na Igreja
luz do Vaticano II e do novo Cdigo de Direito Cannico, in Theologica XIX/IIIIV (1986), pp.165 (separata).
IDEM, As associaes de fiis no contexto civil e eclesial portugus, in Codex Iuris
Canonici: dez anos de aplicao na Igreja e em Portugal, Lisboa, CEDC, 1995, 113151.
MARTNEZ SISTACH, Llus, Las asociaciones de fieles, Barcelona, Facultat de
Teologia de Catalunya, 2004, 5 ed.
Movimentos eclesiais e novas comunidades, Pentecostes 1998 (Congresso internacional e
Encontro com Joo Paulo II). Procurar material nas revistas eclesiais.
Revista Communio, ed. port., (1/1991) nmero monogrfico sobre os movimentos
eclesiais.

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7. DOS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E SOCIEDADES DE VIDA APOSTLICA


[LIVRO II, PARTE III, CC. 573-746]
SEO I DOS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA

Normas comuns a todos os Institutos de Vida Consagrada= cc.573-606.

I. A vida consagrada em geral


1. Noo teolgico-cannica de vida consagrada (c.573)
Fontes:
a) c. 573l: Cic 1917, c.487; LG 42-44; CD 33; PC 1; RC 1; ET 7; HG 567-568
(Paulo VI, alocuo Magno Gaudio, 23.5.1964: AAS 56 (1964) 565-571).
b) c. 5732: CIC 1917, cc.487, 488, 1; LG 43-45; PC 5; AG 18.
O legislador mostra grande capacidade de sntese, ao oferecer-nos no can.573
uma noo teolgico-cannica de vida consagrada, construda com todos os elementos
essenciais que posteriormente aparecero fundamentando, explicita ou implicitamente,
as diversas normas. umcanon fundamental para compreendermos todo o tratado sobre
a vida consagrada (Institutos religiosos e seculares)45.
1.1 Elementos teolgicos
a) consagrao total a Deus, como forma excelsa de honr-lo e prestar-lhe culto.
b) seguimento ou imitao mais prximos de Jesus Cristo, sob a aco do Espirito
Santo, c) profisso dos conselhos evanglicos. d) unio com a Igreja pela perfeio da
caridade. e) sinal e significado eclesial e escatolgico.
1.2 Elementos cannicos
a) forma estvel de vida. b) ereco cannica pela competente autoridade da
Igreja. c) opo livre por essa forma de vida (supondo a vocao e a admisso). d) votos
ou outros vnculos, mediante as quais se professam os conselhos evanglicos. e)
observncia das leis prprias de cada Instituto.
2. Pertena vida e santidade da Igreja
Fonte: LG 44.
Esta verdade bsica conciliar foi codificada duas vezes, com diverso significado
contextual:
45

Cf. ANDRS, Domingo J., El derecho de los religiosos, Madrid Publicaciones Claretianas, 1983, pp.
14ss. Novas edies da obra, em italiano e espanhol.

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2.1 Primeiro, na constituio do Povo de Deus (c.2072) que, sendo composto por
divina instituio de ministros sagrados e de leigos, tem tambm outro grupo de fiis,
provenientes do ministrio sagrado ou do laicado, cujo estado, ainda que nao pertena a
estrutura jerrquica da Igreja, pertence, sem duvida, sua vida e santidade. Assim, o
legislador quis por em relevo o peso quase constitucional, a dignidade e a proximidade
do estado da vida consagrada, aos dois nicos estados fundamentais e constitutivos do
Povo de Deus.
2.2 Segundo, no tratado prprio sobre os IVC e SVA (c.574), para tirar duas
consequncias relevantes:
2.2.1 este estado e os seus membros devem incrementar a misso salvfica da
Igreja; da deriva toda a abertura e regulamentao do apostolado e das relaes com a
jerarquia, responsvel daquela misso;
2.2.2 na Igreja, todos ho-de fomentar e promover dito estado; com idntica
obrigao e intensidade e pelo mesmo motivo, com que tem que promover-se e
favorecer-se a vida e a santidade da Igreja; de onde derivaro, alm das normas que
regulam o apostolado e as relaes com a jerarquia - expresso e
expanso da vida da Igreja - as prescries que exigem aos consagrados a tendncia
santidade e perfeio.
3. Autonomia dos IVC
Reconhece-se a cada Instituto a justa autonomia de vida, sobretudo de governo
(c.586#l).
Concede existncia jurdica no mbito do ordenamento cannico universal, para
que no fique como um axioma pragmtico...
Autonomia: a faculdade reconhecida pela Igreja a fim de que cada Instituto
possa emanar normas cannicas, referidas a si mesmo e equiparadas, mas subordinadas
as do direito universal do qual fazem parte.
0 ordenamento cannico prev certas medidas de controlo (aprovao das
Constituies e de suas mudanas, assuntos que ho-de tratar a confirmao de certos
actos transcendentes, informaes, conhecimento dos documentos da jerarquia...) no
para limitar os espaos de autonomia codificados, mas para estar seguro de que o IVC
no ultrapassa a esfera que lhe foi atribuda.
3.1 Fundamento da autonomia
a) natureza carismtica da vida consagrada. b) ndole constitutiva e
incondicional que oferecem Igreja. c) no pertena jerarquia eclesistica. d) fins
fundacionais. e) relevo histrico e actual da sua vida e apostolado para
a Iqreja.

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3.2 Quem a reconhece?


S o legislador ou a suprema autoridade da Igreja autora e promulgadora do
Cdigo e dentro deste, o presente cnon. Tambm o direito e o ordenamento universal,
cujo legislador o Sumo Pontfice. Os demais na Igreja devem respeit-la, mas no
podem reconhec-la porque no tm capacidade para tal.
3.3 Finalidades da autonomia
a) para que possam desfrutar uma disciplina pr6pria e peculiar, isto , possam ter
uma fisionomia prpria e peculiar na Igreja. b) para que possam conservar ntegro o seu
patrimnio, segundo o can. 578 (=fim genrico, o fim especfico; os meios primrios e
as obras prprias de apostolado; o espirito que anima a vida e as obras; a mente, a
inteno e o esprito do fundador; as ss tradies).
3.4 Papel da Jerarquia
Os Ordinrios do lugar (...) devem conservar e defender a autonomia dos IVC.

4. Direito prprio (cn.587)


Regra
Constituies

Aprovadas pela Santa S


Captulos

DIREITO
UNIVERSAL

Decises
1. Geral

DIREITO
PRPRIO

Superiores
Directrios
Plano de Formao (Ratio)
Ratio Studiorum
Bens Temporais
Ss Tradies

(autonomia)
2. Provincial/Regional/Local

Outras normas
Directrio / Estatutos Provinciais
Normas dos Captulos
Ratio Formationis
Ratio Studiorum
Administrao dos Bens Temporais
Captulos locais
Outras normas

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5. A profisso dos conselhos evanglicos


5.1 Fundamento
Reside na doutrina e nos testemunhos do prprio Cristo, enquanto Mestre
(c.575). Doutrina e testemunhos constam no Evangelho; pelo que, logicamente, este nos aspectos que expressam as Constituies de cada IVC - ter de ser a regra suprema
de vida (c.662). Os conselhos evanglicos so, antes de mais, um dom ou graa do
Senhor Igreja, que ela conservou sempre com zelo, mediante a graa de um novo dom
de conservao, por parte da Igreja, e de liberdade (c.573#2) e que desfrutado
(c.574#2) por parte de quem os praticam para seguir Jesus mais de perto.
Deste carcter de dom deriva a competncia da jerarquia sobre os conselhos
evanglicos.
5.2 Competncias da jerarquia (c.576)
a) interpreta, como efectua tambm com o resto da doutrina evanglica e como o
faz nos cc.599-601(os trs votos);
b) modera a sua praxis vivncia mediante leis, as principais e mais orgnicas das
quais so precisamente as que contm o Cdigo;
c) constitui formas estveis de vive-los, aprovando canonicamente os IVC;
d) responsabiliza-se, naquilo que lhe diz respeito, por que os IVC cresam e
floresam segundo o espirito de seus fundadores e as ss tradies.
5.3 Contedo essencial bblico-cannico
0 legislador descreve-o separadamente para cada conselho, mas de forma _
unitria e global; toca jurisprudncia distinguir os dois aspectos de uma mesma e
nica realidade.
Ver os cc.599, 600, 601.
5.4 Duplo modo de profisso dos conselhos
estabelecido pelo direito da Igreja: a) mediante votos pblicos (cc.1191-1198)
devido a sua tradio secular; b) mediante outros vnculos sagrados distintos dos votos e
que tm de ser especificados nas Constituies.
A grande diviso do direito universal :
a) os IVCR emitem votos pblicos, perptuos ou temporais, renovveis no fim da
emisso (cc.607#2 e 654);
b) os IVCS emitem vnculos sagrados, definidos nas Constituies;
c) as SVA no tem votos religiosos (can.731);
d) os anacoretas podem emitir votos ou vnculos (can.603 #2) para professar os trs
conselhos;
e) as virgens emitem o nico e santo propsito de virgindade (can.604).

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6. O poder dos superiores e dos captulos (can. 596)


7. Tipologias dos IVC
7.1 Por fundamento geral do Cdigo
So: IVCR (cc. 607-609); IVCS (cc.710-730); SVA (cc. 731-746); vida
anacortica (c.603); Ordem das virgens (c.604).
7.2 Por fundamento da ordem sagrada (c.588)
Por sua natureza a vida consagrada no clerical nem laical. Temos:
a) IVC clericais: os que, por razo do fim e propsito de Fundacao, ou por fora de sua
legtima tradio, esto sob a orientao de clrigos assumem a ordem sagrada, e so
reconhecidos como tais pela competente autoridade eclesistica;
b) IVC laicais: os que, reconhecidos como tais pela Igreja, por fora da sua natureza,
ndole e fim, tem uma funo prpria, definida pelo fundador ou pela legtima tradio e
que no comporta o exerccio da ordem sagrada.
7.3 Por razo da aprovao
a) Direito pontifcio: os que foram erectos ou aprovados mediante decreto formal da S
Apostlica;
b) Direito Diocesano: os que tendo sido erectos por um bispo diocesano, no obtiveram
o decreto de aprovao da Santa S.

II. O Instituto Religioso (cn. 6072)


1. Noo de Instituto religioso
a) Instituto. De instituto: por, instituir, estabelecer. No Cdigo, e sempre com letra
maiscula, significa toda a corporao, grupo, comunidade ou sociedade de vida
consagrada pela profisso dos conselhos evanglicos. O Direito inclui aqui todas as
categorias. O direito prprio pode utilizar outras denominaes: Ordem,
Congregao, Religio, Sociedade, Famlia, Fraternidade, Comunidade, pois so suas
e fazem parte do seu patrimnio.
b) Sociedade. Ao dizer que o Instituto uma sociedade, o cnon declara que, alem de
ser uma unidade carismtica, criativa, tambm um grupo de pessoas consagradas,
cuja estrutura ou ncleo se caracteriza por uma realidade complexa de ordem
sobrenatural, social, eclesial, moral e jurdica, que h uma unidade nos mesmos fins,
h uma autoridade comum.

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c) Votos pblicos
Para a noo de voto ver o can. 1191.
d) Caractersticas dos votos
- * pblicos: so emitidos perante um superior eclesistico legtimo que os aceita em
nome da Igreja (c.11921).
- * pessoal: o que se promete e a prpria pessoa, a qual se entrega em tudo o que e
o que faz.
- * trilogia: so trs, segundo a norma do Cdigo, correspondentes aos trs
conselhos evanglicos de castidade, pobreza e obedincia. No direito prprio so
abundantes os quartos, quintos votos...
- * perpetuidade ou temporalidade renovvel (c.6072).
Perptuos: emitidos por toda a vida (na quase totalidade dos IVCR).
Temporais: renovveis ao expirar o prazo de emisso. Ho-de entender-se num duplo
sentido: 1. como permanentemente temporais nos perodos de emisso, de modo que
nunca se emitem os perptuos, ainda que a inteno de perseverana deva ser perpetua;
2. como transitoriamente temporais, antes dos perptuos, segundo o can. 655 (trinio
como mnimo e sexnio como mximo).
-* Obrigatoriedade na ordem jurdica eclesistica. O seu cumprimento passa a ser
uma obrigao no foro externo da Igreja, pois so recebidos por um superior legtimo
eclesistico.
Podem criar certas inabilitaes ou incapacidades (c.1088), podem ser expulsos do
Instituto (cc.694-704).
- * nem solenidade nem simplicidade (s h uma referencia no can.11922)
Deixa-se ao direito prprio...
- * o voto fica reservado competente autoridade da Igreja: Santa S, Bispo
Diocesano.
- * sacralidade da pessoa que professa mediante voto: o religioso fica convertido
em pessoa sagrada dentro da Igreja, enquanto plenamente consagrada a Deus e Igreja
(cf. can.6071). No CIC 1917 isto era maia claro e mais forte. O nico vestgio no
actual CIC sobre a sacralidade da pessoa do religioso o can. 13703.
e) Vida fraterna em comum
Enquanto fraterna, cujo fundamento cristolgico est no can.602, como a dos
IVCS e algumas SVA, mas canonicamente distinta da via fraterna destes (cc. 714;
7311), enquanto comum. imposta como obrigao especfica pelo cn. 665.
Basicamente consta de: incorporao, coabitao, forma comunitria de
vidaH outros aspectos: litrgico-espiritual, disciplinar, econmico
2. Deveres e direitos dos Institutos e dos seus membros (cc.662-672)
2.1 O seguimento de Cristo: cn. 662.
2.2 Prticas de contemplao e de orao: cn. 663.
2.3 Prticas de converso e de penitncia: cn. 664.
2.4 A vida comum na casa e as ausncias: cn. 665.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 41

2.5 Uso passivo dos meios de comunicao social: cn. 666.


2.6 A clausura: cn. 667.
2.7 Desapego pessoal dos bens: cn. 668.
2.8 Hbito religioso: cn. 669.
2.9 O necessrio ao fim da vocao: cn. 670.
O necessrio ao fim da vocao: todas as coisas, espirituais e materiais (formao,
Constituies, comunidades) necessrias para a realizao da vocao, segundo o
carisma, a estrutura e o modo de ser do Instituto de vida consagrada.
Segundo as normas das Constituies: os direitos fundamentais do membro esto nas
Constituies; justo mencionar as suas normas para ser fiel sua vocao.
Cargos e ofcios fora do Instituto: cn.671.
Estes cargos e ofcios podem ser: na sociedade civil, no mbito eclesistico, a
favor de outro Instituto de vida consagrada.
A norma pretende evitar todo o compromisso que comporte o risco de
desidentificao, de ausncias descontroladas, de disperso. uma consequncia da
profisso e da incorporao: no pode dispor por si mesmo, s o superior legtimo pode
decidir quando um cargo ou um ofcio exterior compatvel com o carisma do Instituto
e com os deveres fundamentais do religioso.
2.11

Obrigaes clericais impostas aos religiosos: cn. 672.

3. Ereco e supresso das casas


Ereco: cn. 608
- a comunidade = o elemento principal, tanto no nascimento como na vida de
uma casa. No indica o nmero de pessoas, se so clrigos ou no
- deve = obrigatrio.
- lugar= habitar.
-constituio= a fundao jurdica deve ser legtima, segundo o direito universal
e prprio (ereco).
-o superior=sem a sua presena no pode existir verdadeira casa religiosa
cannica. animador da comunidade, garante de sua comunho, responsive1 da
actividade apostlica.
-o oratrio= novo no CIC. No precisa de autorizao do Ordinrio do lugar.
As suas finalidades: a) conservao da Eucaristia; b) centro da comunidade.
Autoridade competente: can.609
4. Superiores e captulos (cn.617)
5. Profisso religiosa (cc. 654-658)
6. Apostolado dos Institutos (cc. 673ss)
7. Separao do Instituto (cc. 684ss)
8. Vigrio Episcopal para os religiosos
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 42

III. Dos Institutos Seculares (cc.710-730)


Cn.710 - Instituto secular o instituto de vida consagrada, em que os fiis, vivendo no
sculo, se esforam por atingir a perfeio da caridade e por contribuir, sobretudo a
partir de dentro, para a santificao do mundo.
* Fonte: Constituio Apostlica Provida Mater Ecclesia, 2.2.1947, in AAS 39 (1947)
114-124).
a primeira vez que o CIC legisla sobre os Institutos seculares, embora a
legislao fosse de 1947 com a Provida Mater.
Nota histrica
No direito cannico anterior ao Cdigo, s as Ordens religiosas eram
reconhecidas pela Igreja como verdadeiras Religies, e s os seus membros eram
verdadeiros religiosos.
Os pioneiros dos IS encontraram dificuldades por parte da Igreja em
compreender este estilo de vida suscitado pelo Espirito, no tendo cedido aos convites
para se colocarem nas estruturas e nas instituies j existentes na Igreja.
Com a aprovao dos IS, a consagrao deixa de ser exclusiva dos Institutos de
Vida religiosa e passa a ser tambm dos IS.
Caractersticas
a) Consagrao
Fazem a sua consagrao pela vivncia dos conselhos evanglicos, mas no se
identificam com os IR. Sentiram-se chamados a viver a sua consagrao segundo o
Espirito na caridade, mas no necessariamente como religiosos, porque, para eles, viver
segundo o Espirito no significa entrar numa comunidade religiosa, nem em qualquer
coisa semelhante.
Os membros dos IS leigos sentiram, pois, que o Esprito os chamava a escolher
uma consagrao, mas uma consagrao que os conservasse em seu estado e em sua
condio de leigos, sem mudar em nada esse estado e essa condio46.
A vivncia dos conselhos evanglicos realiza-se por meio de votos ou de outros
vnculos (a Igreja aceitou outros vnculos justamente para respeitar as particularidades
de vrios IS).
b) Secularidade
A vocao particular dos membros dos IS faz com que sejam conjugadas ou
fundidas numa unidade indivisvel duas realidades: a consagrao e a secularidade. (...)
Para os membros dos IS, a secularidade entendida no sentido pleno e forte apresentado
pelo Concilio, exactamente para indicar a qualidade distintiva, o carisma peculiar, o
ministrio especfico daqueles que so leigos e, portanto, daqueles membros do povo de
Deus que, pela secularidade, se distinguem dos religiosos e dos clrigos. Assim, deve
dizer-se que os membros dos IS so leigos consagrados, do mesmo modo como
46

Cf. OBERTI, A., Consagrados no mundo, in AA.VV., Leigos consagrados hoje, S. Paulo, EP, 1986,
p.9.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 43

acontece com os Institutos religiosos, que tambm supem a presena de religiosos


consagrados que no assumem o sacerdcio47.
Os membros vivem no mundo, conservam a sua atividade profissional, no tm
vida fraterna em comum (mas podem ter), no emitem os trs votos pblicos, tm
vnculos sagrados (promessa, juramento, consagrao)
A pertena a um IS no muda a condio jurdica do fiel: permanece clrigo ou
leigo como era. Os clrigos podem ser incardinados no instituto a teor das
Constituies. O clero secular pode estar associado ao IS por causa da espiritualidade.
Temos claro que se identifica com o modo de ser de um IS (ou ento de um IR ou
Prelatura) sem dele serem membros jurdicos. Exemplos!...
c) Apostolado: cn.713.

SEO II: DAS SOCIEDADES DE VIDA APOSTLICA

IV. Das Sociedades de Vida Apostlica (Seco II, cc.731-745)


Cn.7311 Assemelham-se dos Institutos de vida consagrada as sociedades de vida
apostlica, cujos membros, sem votos religiosos, prosseguem o fim apostlico prprio
da sociedade e, vivendo em comum a vida fraterna, de acordo com a prpria forma de
vida, tendem, pela observncia das constituies, perfeio da caridade.
2 - Entre elas h sociedades, cujos membros assumem os conselhos
evanglicos com um vnculo determinado pelas constituies.
1. Notas gerais
O CIC trata das SVA numa seco separada, j denominadas no CIC 1917 como
sociedades de vida em comum sem votos (cc.673-681).
Apesar de terem normas anlogas s dos IVC e em particular dos IR, com uma
certa equiparao (assemelham-se), as SVA no podem ser considerados IVC
segundo o can.573#1-2. Falta a profisso pblica dos trs conselhos evanglicos com
votos (can.731#1). Tambm a vida fraterna em comum levada segundo um prprio
estilo (ivi), que no o dos IVC e IR.
2. Perfeio da caridade
Podemos pensar numa sociedade de tipo exclusivamente apostlico, mas na
verdade tende-se perfeio da caridade mediante a observncia das constituies,
prosseguindo um fim apostlico prprio e levando vida fraterna (can.731#1).
3. Variedade das SVA
Entre as SVA h uma grande variedade de situaes:
*votos reconhecidos (Lazaristas e Filhas da Caridade),
*juramento (algumas sociedades missionrias),
*promessas (Palotinos, Eudistas),
*incorporao (Misses estrangeiras de Paris, Oratorianos S.F. Neri).
47

Cf. ibidem, 9-10.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 44

Algumas SVA tm o 4 voto.


Segundo alguns autores, os membros destas SVA seriam consagrados.
Teramos dois tipos de SVA: as que esto no can. 731#1 e aquelas cujos membros
assumem os conselhos evanglicos com algum vnculo definido nas Constituies (can.
731#2)48.
4. Outros
O importante a incorporao na sociedade, da qual derivam efeitos jurdicos
fundamentais, segundo as Constituies (can.737).
As SVA podem ser clericais e laicais, de direito pontifcio ou de direito
diocesano (cn.732).

48

Cf. Il Diritto nel mistero della Chiesa, II, Roma, Pont. Univ. Lateranense, 1990, p. 324, nota 162.

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III. DA CONSTITUIO HIERRQUICA DA IGREJA


[LIVRO II, PARTE II, cc. 330-572]
SEO I: Da Autoridade Suprema da Igreja
1. Captulo I: O Bispo de Roma e o Colgio Episcopal (cf. cc.330-341)
331

332

334

O Papa Bispo de Roma e sucessor de Pedro. tambm Cabea do Colgio


dos bispos, Vigrio de Cristo e Pastor da Igreja universal neste mundo. O ser
bispo de Roma o fundamento dos demais ttulos. o primeiro entre os
apstolos. A condio de Vigrio de Cristo no exclusiva do papa; tambm os
bispos nas suas dioceses so vigrios de Cristo.
O poder do Papa :

Ordinrio: poder que o papa possui em virtude do seu ofcio, como


titular desta funo (cn. 131 1; 1341);

Supremo: no est subordinado a nenhum outro poder humano,


eclesistico ou temporal (cc. 782 1; 1273; 1256). A Primeira S por
ningum pode ser julgada (cc. 1404; 1406; 1442). H causas que so da
competncia exclusiva do Papa (cc. 1405; 333 3). Ver tambm cc. 1622 1;
1732; 1372.
Poder pleno (plenitudo potestatis): o poder necessrio para o governo
da Igreja em todas as esferas do mbito eclesistico. Abrange o poder de
ordem e o poder de jurisdio e estende-se ao munus de santificar, reger e
governar e tambm s funes que tm a ver com o poder de governo (poder
executivo, judicial e legislativo). Christus Dominus 2 diz que o poder do
papa para servir a Igreja e deve respeitar a estrutura e fundao divina
(sacramentos,) da mesma.
Poder imediato: pode exercer o seu poder em relao com todos os fiis,
Igrejas particulares sem pedir autorizao a ningum. Como consequncia os
fiis tm o direito de se dirigirem directamente ao papa para exprimir os seus
anseios e desejos (cc. 1417 1; 273; 590 2; 1196; 1203);
Poder universal: estende-se a todos os mbitos da Igreja;
Pode exercer sempre livremente: se no o pudesse fazer, no seria
detentor de um poder pleno e supremo (cf.LG 22 e NEP). No est vinculado
juridicamente s decises dos membros do Colgio Episcopal.
A necessidade da consagrao episcopal para ser Papa, uma vez que este
cabea do colgio episcopal e bispo de Roma.
O papa pode renunciar ao cargo. A heresia, o cisma, a apostasia, doenas
psquicas podem levar renncia, para alm do motivo mais normal que a
morte (cf. 184-196).
A colaborao que pessoas e associaes prestam ao Santo Padre. Trata-se de
uma colaborao em sentido lato.

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A ELEIO DO PAPA
Na Constituio Apostlica
Universi Dominici Gregis
Com data de 22 de Fevereiro 1996, Festa da Ctedra de S. Pedro, o Papa Joo
Paulo II promulgou uma nova Constituio Apostlica, denominada Universi Dominici
Gregis (UDG), sobre a vacncia da S Apostlica e da eleio do Romano Pontfice.
Este documento ab-roga o anterior, do Pontificado de Paulo VI, Romano Pontifici
Eligendo, de 1 de Outubro de 1975. A Constituio confirma nos seus pontos essenciais
a estrutura do Conclave, no deixando, porm, de inovar em alguns aspectos, tendo em
conta a evoluo histrica e a cultura moderna.
Esta uma lei especial, prevista pelo Cdigo de Direito Cannico da Igreja
Catlica Latina (cf. cn. 335), o qual no legisla nesta matria. Define, sim, o Bispo de
Roma como a cabea do Colgio dos Bispos, Vigrio de Cristo e Pastor da Igreja
Universal neste mundo; o qual goza na Igreja de poder ordinrio, supremo, pleno,
imediato e universal, que pode exercer sempre livremente (cn. 331). Alis, a UDG
comea por acentuar a importncia da figura e da misso do sucessor de Pedro: Todo o
Rebanho do Senhor tem como Pastor o Bispo da Igreja de Roma, onde, por soberana
disposio da Providncia divina, o bem-aventurado Apstolo Pedro, pelo martrio,
prestou a Cristo o supremo testemunho do sangue. Assim, bem compreensvel que
tenha sido sempre objecto de particular ateno a legtima sucesso apostlica nesta
Sede, com a qual, por ser mais excelente por causa da sua origem, deve
necessariamente estar de acordo toda a Igreja (St. Ireneu).
A S Apostlica declarada vaga pela morte ou renncia do Sumo Pontfice (cf.
cn.3322 ). Nessa altura, o governo da Igreja confiado ao Colgio dos Cardeais que
tem unicamente a competncia de assegurar a gesto dos assuntos ordinrios ou
inadiveis, bem como preparar a eleio do novo Pontfice. Assim, so nulas todas as
decises que so da competncia do Papa, enquanto estava vivo ou no exerccio das
funes do seu ofcio. As leis e os direitos da S Apostlica no podem ser alterados ou
prejudicados, por quem quer que seja. Permanece em vigor o clebre axioma de que
durante a vagatura ou total impedimento da S romana, nada se inove no governo da
Igreja universal (cn.335). O poder na Igreja fica reservado ao Bispo de Roma, pois s
ele e unicamente ele goza de poder ordinrio, supremo, pleno e imediato e universal,
que pode exercer sempre livremente (cn.331). O Colgio dos Cardeais assegura
interinamente a vida da Igreja, nos termos estabelecidos, mas no de modo nenhum uma
espcie de Parlamento que possa dispor de poderes especiais.
O acto de eleio, celebradas que foram as exquias pelo Pontfice, deve realizarse no dcimo quinto dia da morte do Pontfice, podendo esperar-se at ao vigsimo dia,
caso surjam dificuldades para a presena de todos os Cardeais.
O colgio dos eleitores do Santo Padre continua a ser o dos Cardeais da Santa
Igreja Romana, consoante a tradio milenar da Igreja, consolidada no sculo XI.
Mesmo que a S Apostlica fique vaga durante a celebrao de um Conclio Ecumnico
ou de um Snodo dos Bispos, a tarefa de eleger o Papa pertence sempre aos Cardeais.
Aps o Conclio Vaticano II no faltaram correntes, dentro da Igreja, que defendiam
tambm a actuao das Conferncias Episcopais, o que no veio a ser considerado
definitivamente pelo Pontfice de ento. Joo Paulo II explcito ao fundamentar as
razes da continuidade do Colgio dos Cardeais, apesar de reconhecer que a eleio
possa, porventura, encontrar outras vias. que neste Colgio manifestam-se, em
sntese, dois aspectos que marcam a figura e o ofcio do Romano Pontfice: Romano,
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 47

porque est conotado com o Bispo de Roma e, por tal, em ligao ntima com o clero da
Cidade de Roma, representado pelos Cardeais; Pontfice da Igreja Universal, porque
apascenta todo o rebanho do Senhor, os Cardeais representam por seu lado a
universalidade dos cinco continentes.
expressamente proibido o direito de eleio por qualquer outro eclesistico ou
por leigos, seja qual for a sua condio. O mesmo se diga em relao ao direito de veto
que algum ouse apresentar. Isto para facultar o normal desenrolar do acto eleitoral e a
no intromisso de estranhos, como sucedeu ao longo da histria da Igreja. Acima de
tudo, a plena liberdade da Igreja nos seus assuntos, excluindo-se influncias de polticas
externas. O Bispo de Roma exorta os Cardeais a no se deixarem conduzir por simonia,
interesses, pactos, influncias, compromissos de qualquer gnero na eleio do futuro
Papa. Certas transgresses so punidas com a excomunho latae sententiae.
O nmero no pode superar os 120, seguindo-se o limite da norma de Paulo VI.
Esto excludos da participao do Conclave (assembleia dos Cardeais para a eleio)
os Cardeais com mais de 80 anos (podem, todavia, estar presentes nas reunies
preparatrias) ou aqueles que tenham sido canonicamente depostos ou que tenham
renunciado dignidade cardinalcia, prvio consentimento do S. Padre.
O lugar da eleio continua a ser o mesmo: a Capela Sistina. S que os eleitores e
os colaboradores do Conclave ficaro alojados no j no Palcio Apostlico mas sim na
Casa Santa Marta, dentro das muralhas do Vaticano, o que no impede a concentrao
e o recolhimento dos eleitores. Eles no podero ser abordados por ningum durante
este perodo eleitoral. O Papa prescreve o total isolamento dos Cardeais e colaboradores
com o mundo exterior, a saber: no podem trocar correspondncia epistolar, telefnica
ou por outros meios de comunicao com pessoas estranhas ao acto da eleio, a no ser
que a Congregao particular dos Cardeais comprove que existe uma necessidade
urgente. imperioso que os Cardeais, antes de iniciarem o acto eleitoral, organizem
tudo o que diga respeito s suas exigncias de servio ou pessoais, de modo a no serem
perturbados.
O segredo de tudo o que acontece durante a assembleia eleitoral imposto aos
Cardeais e a todos os colaboradores, que devem promet-lo sob juramento. Deve-se usar
de todos os meios tcnicos para certificar-se de que na Capela Sistina no se realize
qualquer captao ou transmisso audiovisual, sob pena de incorrer em sanes
cannicas quem for descoberto como autor desses actos. Durante as votaes, na Capela
Sistina, s devero permanecer os Cardeais eleitores, pelo que no se admite mais
ningum; os outros colaboradores devero sair do local.
Uma inovao, agora introduzida por Joo Paulo II na realizao da eleio, a
eleio por escrutnio, a nica permitida. So abolidas a eleio por aclamao ou
inspirao e por compromisso. Para a vlida eleio do Romano Pontfice, exigida
uma maioria de dois teros dos sufrgios, calculados com base na totalidade dos
eleitores presentes. Se houver Cardeais doentes, estes podero votar nos seus aposentos,
segundo orientaes precisas desta Constituio.
Refira-se que na Constituio de Paulo VI contemplava-se a aclamao (ou
inspirao) e o compromisso (cf. artigos 63 e 64). A primeira acontece quando os
Cardeais eleitores, sentindo-se inspirados pelo Esprito Santo, proclamam espontnea e
unanimemente o nome de uma pessoa para o supremo Pontificado. Neste caso, os outros
eleitores devem dar o seu assentimento. No compromisso, os Cardeais eleitores confiam
a um grupo de entre eles o poder de eleger, em nome do Colgio, o Bispo de Roma. Um
grupo de Cardeais recebe a delegao e age segundo determinadas condies.
Uma outra novidade o modo de proceder, caso se verifique dificuldade em
eleger o Papa com a maioria de dois teros durante os trs primeiros dias. Assim, os

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escrutnios suspendem-se durante um dia (no mximo), para uma pausa de orao, de
colquio livre entre os votantes e de uma breve exortao espiritual, feita pelo primeiro
dos Cardeais da Ordem dos Diconos. Se aps sete escrutnios, no se verificar a
eleio, faz-se outra pausa de orao, de colquio e de exortao, feito pelo primeiro
dos Cardeais da Ordem dos Presbteros. Se ainda persistir a dificuldade, realiza-se nova
pausa de orao, de colquio e de exortao, feita pelo primeiro dos Cardeais da Ordem
dos Bispos. Recomea-se com nova votao at a um mximo de sete, se no houver
eleio. A Constituio UDG prev, mesmo assim, a possibilidade de impasse ou de
dificuldade. Que devero fazer os Cardeais? O Cardeal Camerlengo pede a opinio aos
Cardeais sobre o modo de proceder, cumprindo-se o que a maioria absoluta dos eleitores
tiver decidido. Dever-se-, contudo, celebrar uma vlida eleio, com a maioria absoluta
dos sufrgios ou votando somente os dois nomes que, no escrutnio imediatamente
anterior obtiveram a maioria dos votos, sempre com maioria absoluta. aqui que reside
a novidade, que eu anunciei no princpio deste pargrafo, isto , o Papa deixa a
liberdade aos Cardeais de decidirem como acharem oportuno. Podero, talvez, insistir
junto de algum Cardeal, propor nomes, afastar eventuais dificuldades e impedimentos...
Todavia, o Papa peremptrio quando declara nula e invlida qualquer eleio que no
obedea s normas da Constituio Universi Dominici Gregis. Nunca se poder
prescindir da votao secreta.
O eleito poder ser algum que no faa parte do Colgio dos Cardeais e que, at,
nem possua a dignidade episcopal. No obrigatrio que ele resida em Roma. Se o
eleito j tiver a Ordenao episcopal, torna-se imediatamente o Bispo de Roma,
verdadeiro Papa e Cabea do Colgio Episcopal, adquire efectivamente o poder pleno e
absoluto sobre a Igreja universal, e pode exerc-lo. Se, pelo contrrio, o eleito no
possuir o carcter episcopal, seja imediatamente ordenado Bispo (n 88).
Terminamos este artigo, com as palavras cheias de f de Joo Paulo II, recheadas
certamente da sua experincia, com as quais exorta o eleito a aceitar a misso de Bispo
de Roma e de Pastor da Igreja Universal: Peo, depois, quele que for eleito que no se
subtraia ao cargo, a que chamado, pelo temor do seu peso, mas que se submeta,
humildemente, ao desgnio da vontade divina. Com efeito, Deus, quando lhe impe o
nus, tambm o ampara com a sua mo, para que no se sinta impotente para o carregar;
quando lhe confere o pesado encargo, d-lhe tambm o auxlio para o cumprir, e quando
lhe confere a dignidade, concede-lhe tambm a fora, para que no sucumba sob o peso
do cargo (n 86).
A eleio do Papa sempre um acto que aglutina as atenes de todo o orbe
catlico e, tambm, da humanidade. A quem a v como acontecimento poltico,
devemos responder que , essencialmente, um momento eclesial de grande f.
CARTA APOSTLICA
DADA SOB A FORMA DE MOTU PROPRIO

DE ALIQUIBUS MUTATIONIBUS IN NORMIS


DE ELECTIONE ROMANI PONTIFICIS
DO SUMO PONTFICE
PAPA BENTO XVI
SOBRE ALGUMAS MODIFICAES
DAS NORMAS RELATIVAS
ELEIO DO ROMANO PONTFICE

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QUELQUES CHANGEMENTS DANS LES NORMES POUR


LLECTION DU PONTIFE ROMAIN49
BENOT XVI
De aliquibus mutationibus in normis de electione Romani Pontificis,
Par la Constitution apostolique Universi Dominici gregis [1], promulgue le 22 fvrier
1996, Notre Vnrable Prdcesseur Jean-Paul II a introduit quelques modifications
dans les normes canoniques observer pour llection du Pontife Romain, tablies par
Paul VI dheureuse mmoire [2]. Au n 75 de cette Constitution, il a t dispos que,
dans le cas o auraient t puiss en vain tous les scrutins, accomplis selon les normes
en vigueur, dans lesquels sont requis les deux tiers des suffrages des prsents pour que
soit valide llection du Pontife Romain, le cardinal Camerlingue consulte les cardinaux
lecteurs sur la manire de procder, et quon opre selon ce qui a t dcid par eux
la majorit absolue, en maintenant toutefois le principe que llection est valide soit
avec la majorit absolue des suffrages, soit en limitant les suffrages aux deux noms qui
ont obtenu le plus de voix lors du scrutin prcdent, tant galement requise dans cette
seconde hypothse la seule majorit absolue.
Mais aprs la promulgation de la dite Constitution, parvinrent Jean-Paul II des
sollicitations, qui ntaient pas en petit nombre, et provenaient de personnes autorises,
pour que soit rtablie la norme confirme par la tradition, selon laquelle le Pontife
Romain ne serait tenu pour validement lu que sil avait obtenu les deux tiers des
suffrages des cardinaux lecteurs prsents.
En consquence, aprs avoir mrement rflchi la question, Nous tablissons et
dcrtons que les normes prescrites au paragraphe 75 de la Constitution apostolique
Universi Dominici gregis de Jean-Paul II sont abroges, et sont remplaces par les
normes qui suivent :
Si les scrutins indiqus aux paragraphes 72, 73 et 74 de la Constitution cite nont pas
donn de rsultat, quil y ait une journe consacre la prire, la rflexion et au
dialogue; puis, dans les scrutins qui suivent, en conservant les dispositions fixes dans
le paragraphe 74 de la mme constitution , auront voix passive [a] seuls les deux
cardinaux qui ont obtenu le plus grand nombre de suffrages dans le scrutin prcdent ;
et lon ne scartera pas de la rgle selon laquelle, mme pour ces scrutins, est exige
pour la validit de llection la majorit qualifie [b] des suffrages des cardinaux
prsents. Dans ces scrutins, les deux noms qui peuvent tre lus nont pas le droit de
vote.
Ce document entrera en vigueur ds quil sera publi dans lOsservatore Romano. Cest
ce que Nous dcrtons et tablissons, nonobstant toutes choses contraires.
Donn Rome, prs de Saint-Pierre, le 11 juin 2007, en la troisime anne de Notre
Pontificat.
BENOT PP. XVI
[1] JEAN-PAUL II, Constitution apostolique Universi Dominici gregis, 22 fvrier 1996, AAS 88 (1996)
305-343, (in DC 1996, n. 2134, p.251 ss).
[2] Paul VI, Constitution apostolique Romano Pontifici eligendo, 1er octobre 1975: AAS 67 (1975) 605645, (DC 1975, n. 1687, p. 1001 ss).
[a] Possibilit de recueillir des suffrages sur leur nom.
[b] Majorit fixe un niveau plus lev que la majorit simple ; ici, celle des 2/3.
49

Texte original latin dans lOsservatore Romano du 27 juin 2007. La Documentation Catholique 16
dcembre 2007. N 2392, p. 1087.

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BENTO XVI
CARTA APOSTLICA
SOB FORMA DE MOTU PROPRIO
NORMAS NONNULLAS
Pela Carta Apostlica De aliquibus mutationibus in normis de electione Romani
Pontificis, dada Motu Proprio em Roma no dia 11 de Junho de 2007, no terceiro ano do
meu Pontificado, estabeleci algumas normas que, ab-rogando aquelas prescritas no
nmero 75 da Constituio apostlica Universi Dominici gregis promulgada no dia 22
de Fevereiro de 1996 pelo meu Predecessor o Beato Joo Paulo II, restabeleceram a
norma, sancionada pela tradio, segundo a qual, para a eleio vlida do Romano
Pontfice, sempre exigida a maioria dos dois teros de votos dos Cardeais eleitores
presentes.
Considerando a importncia de assegurar a melhor realizao de quanto concerne,
embora com desigual relevncia, eleio do Romano Pontfice, em particular uma
interpretao e actuao mais seguras de algumas disposies, estabeleo e determino
que algumas normas da Constituio apostlica Universi Dominici gregis e aquilo que
eu mesmo dispus na mencionada Carta apostlica sejam substitudas pelas normas
seguintes:
N 35. Nenhum Cardeal eleitor poder ser excludo da eleio, quer activa quer
passiva, por nenhum motivo ou pretexto, mantendo-se, porm, quanto est estabelecido
nos nnos 40 e 75 desta Constituio.
N 37. Determino, ainda, que, desde o momento em que a S Apostlica ficar
legitimamente vacante, se esperem, durante quinze dias completos, pelos ausentes antes
de iniciar o Conclave; deixo, ademais, ao Colgio dos Cardeais a faculdade de antecipar
o incio do Conclave se constar a presena de todos os Cardeais eleitores, bem como a
faculdade de adiar, se houver motivos graves, o incio da eleio por mais alguns dias.
Transcorridos porm, no mximo, vinte dias desde o incio da S vacante, todos os
Cardeais eleitores presentes so obrigados a proceder eleio.
N 43. Desde o momento em que foi disposto o incio das operaes da eleio at ao
anncio pblico da eleio concretizada do Sumo Pontfice, ou, de qualquer modo, at
quando assim tiver determinado o novo Pontfice, os espaos da Domus Sanctae
Marthae, bem como, e de modo especial, a Capela Sistina e os lugares destinados s
celebraes litrgicas, devero, sob a autoridade do Cardeal Camerlengo e com a
colaborao externa do Vice-Camerlengo e do Substituto da Secretaria de Estado, ser
fechados s pessoas no autorizadas, conforme se estabelece nos nmeros seguintes.
Todo o territrio da Cidade do Vaticano e ainda a actividade ordinria das Reparties,
que tm a sede dentro do mesmo, devero ser regulados, durante o referido perodo, de
modo que fiquem assegurados a reserva e o livre exerccio de todas as operaes
conexas com a eleio do Sumo Pontfice. De forma particular, dever-se- tomar
providncias, inclusive com a ajuda dos Prelados Clrigos de Cmara, para que os
Cardeais eleitores no sejam abordados por ningum durante o percurso da Domus
Sanctae Marthae ao Palcio Apostlico do Vaticano.
N 46 (1 pargrafo). Para acudirem s exigncias pessoais e de servio, conexas com a
realizao da eleio, devero estar disponveis, e, consequentemente, alojados em
lugares convenientes dentro dos confins apontados no n 43 da presente Constituio, o
Secretrio do Colgio Cardinalcio, que desempenha as funes de Secretrio da
assembleia eleitoral; o Mestre das Celebraes Litrgicas Pontifcias, com oito
Cerimonirios e dois Religiosos adscritos Sacristia Pontifcia; um eclesistico

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escolhido pelo Cardeal Decano ou pelo Cardeal que o substitua, para lhe servir de
assistente.
N 47. Todas as pessoas elencadas no nn.os 46 e 55 (2 pargrafo) da presente
Constituio apostlica, que, por qualquer motivo e a qualquer momento, chegassem a
ter conhecimento, por quem quer que fosse, daquilo que, directa ou indirectamente,
concerne aos actos prprios da eleio e, de modo especial, de algo atinente aos
prprios escrutnios havidos para a eleio, esto obrigadas a guardar estrito segredo
com qualquer pessoa estranha ao Colgio dos Cardeais eleitores; com tal objectivo,
antes do incio das operaes para a eleio, devero prestar juramento segundo as
modalidades e a frmula indicadas no nmero seguinte.
N 48. As pessoas apontadas nos nn.os 46 e 55 (2 pargrafo) da presente Constituio,
devidamente advertidas sobre o significado e a extenso do juramento a prestar, antes
do incio das operaes para a eleio, perante o Cardeal Camerlengo ou outro Cardeal
por ele delegado, na presena de dois Protonotrios Apostlicos de Nmero
Participantes, devero no tempo devido pronunciar e assinar o juramento segundo a
frmula seguinte:
Eu, N. N., prometo e juro observar o segredo absoluto com toda a pessoa que no fizer
parte do Colgio dos Cardeais eleitores, e isto perpetuamente, a no ser que receba
especial faculdade dada expressamente pelo novo Pontfice eleito ou pelos seus
sucessores, acerca de tudo aquilo que concerne directa ou indirectamente s votaes e
aos escrutnios para a eleio do Sumo Pontfice.
De igual modo, prometo e juro de me abster de fazer uso de qualquer instrumento de
gravao, de audio, ou de viso daquilo que, durante o perodo da eleio, se
realizar dentro dos confins da Cidade do Vaticano, e particularmente de quanto,
directa ou indirectamente, tiver a ver, de qualquer modo, com as operaes ligadas
prpria eleio.
Declaro proferir este juramento, consciente de que uma infraco ao mesmo
comportar para a minha pessoa a pena da excomunho latae sententiae reservada S
Apostlica.
Assim Deus me ajude e estes Santos Evangelhos, que toco com a minha mo.
N 49. Celebradas, segundo os ritos prescritos, as exquias do Pontfice falecido, e
preparado tudo aquilo que necessrio para o regular exerccio da eleio, no dia
estabelecido, nos termos do n 37 da presente Constituio, para o incio do Conclave,
todos os Cardeais reunir-se-o na Baslica de S. Pedro no Vaticano, ou noutro stio
segundo a oportunidade e as necessidades do tempo e do lugar, para tomarem parte
numa solene celebrao eucarstica com a Missa votiva pro eligendo Papa [19]. Isto
dever-se- realizar, se possvel, em hora conveniente da parte da manh, de modo que,
na parte da tarde, se possa realizar o que est prescrito nos nmeros seguintes da
presente Constituio.
N 50. Saindo da Capela Paulina no Palcio Apostlico, onde se congregaro em hora
conveniente da parte da tarde, os Cardeais eleitores com vestes corais dirigir-se-o, em
procisso solene e invocando com o cntico do Veni Creator a assistncia do Esprito
Santo, para a Capela Sistina do Palcio Apostlico, lugar e sede da realizao da
eleio. Participaro na procisso o Vice-Camerlengo, o Auditor Geral da Cmara
Apostlica e dois membros de cada um dos Colgios dos Protonotrios Apostlicos de
Nmero Participantes, dos Prelados Auditores da Rota Romana e dos Prelados Clrigos
de Cmara.
N 51 (2 pargrafo). Por isso, ser preocupao do Colgio Cardinalcio, actuando sob
a autoridade e responsabilidade do Camerlengo coadjuvado pela Congregao

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 52

particular, como se diz no n 7 da presente Constituio, que, no interior da referida


Capela e dos lugares adjacentes, tudo seja previamente disposto, tambm com a ajuda
do Vice-Camerlengo e do Substituto da Secretaria de Estado pelo que diz respeito ao
exterior, de forma que sejam tuteladas a regular eleio e a reserva da mesma.
N 55 (3 pargrafo). Se for realizada qualquer infraco contra esta norma, saibam os
seus autores que incorrero na pena da excomunho latae sententiae reservada S
Apostlica.
N 62. Abolidos os modos de eleio designados per acclamationem seu inspirationem
e per compromissum, doravante a forma de eleio do Romano Pontfice ser
unicamente per scrutinium.
Estabeleo, portanto, que, para a eleio vlida do Romano Pontfice, se requerem pelo
menos dois teros dos sufrgios, calculados com base nos eleitores presentes e
votantes.
N 64. O processo do escrutnio desenrola-se em trs fases, a primeira das quais que
se pode chamar pr-escrutnio compreende: 1) a preparao e a distribuio das fichas
pelos Cerimonirios, entretanto chamados para dentro do lugar da eleio juntamente
com o Secretrio do Colgio dos Cardeais e com o Mestre das Celebraes Litrgicas
Pontifcias que entregaro ao menos duas ou trs a cada um dos Cardeais eleitores; 2)
a extraco sorte entre todos os Cardeais eleitores de trs Escrutinadores, trs
encarregados de ir recolher os votos dos doentes aqui designados por razes de
brevidade Infirmarii e trs Revisores; esse sorteio feito em pblico pelo ltimo
Cardeal Dicono, o qual extrair sucessivamente os nove nomes daqueles que devero
desempenhar tais funes; 3) se, na extraco dos Escrutinadores, Infirmarii e
Revisores, sarem nomes de Cardeais eleitores que, por doena ou outro motivo, se
achem impedidos de desempenhar tais funes, sejam extrados para o seu lugar os
nomes de outros no impedidos. Os primeiros trs extrados faro o papel de
Escrutinadores, os trs seguintes de Infirmarii, e os outros trs de Revisores.
N 70 (2 pargrafo). Os Escrutinadores fazem a soma de todos os votos que cada um
obteve, e se ningum tiver conseguido pelo menos dois teros dos votos nessa votao,
o Papa no foi eleito; se, pelo contrrio, resultar que algum obteve pelo menos os dois
teros, verificou-se a eleio do Romano Pontfice canonicamente vlida.
N 75. Se as votaes de que se fala nos nn.os 72, 73 e 74 da mencionada Constituio
no tiverem xito, seja dedicado um dia orao, reflexo e ao dilogo; nas votaes
sucessivas, observada a ordem estabelecida no n 74 da mesma Constituio, tero voz
passiva apenas os dois nomes que no escrutnio anterior tiverem obtido o maior nmero
de votos; mas no se poder renunciar exigncia de que para a eleio vlida, tambm
nestes escrutnios, se requer a maioria qualificada de pelo menos dois teros de
sufrgios dos Cardeais presentes e votantes. Nestas votaes, os dois nomes que tm
voz passiva no tm voz activa.
N 87. Uma vez efectuada canonicamente a eleio, o ltimo dos Cardeais Diconos
chama para dentro do local da eleio o Secretrio do Colgio dos Cardeais, o Mestre
das Celebraes Litrgicas Pontifcias e dois Cerimonirios; em seguida, o Cardeal
Decano, ou o primeiro dos Cardeais segundo a ordem e os anos de cardinalato, em
nome de todo o Colgio dos eleitores, pede o consenso do eleito com as seguintes
palavras: Aceitas a tua eleio cannica para Sumo Pontfice? E, uma vez recebido o
consenso, pergunta-lhe: Como queres ser chamado? Ento o Mestre das Celebraes
Litrgicas Pontifcias, na funo de Notrio e tendo por testemunhas dois
Cerimonirios, redige um documento com a aceitao do novo Pontfice e o nome por
ele assumido.

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Este documento entrar em vigor imediatamente depois da sua publicao no jornal


LOsservatore Romano.
Decido e estabeleo isto, no obstante qualquer disposio em contrrio.
Dado em Roma, junto de So Pedro, no dia 22 do ms de Fevereiro de 2013, oitavo ano
do meu Pontificado.
BENEDICTUS PP. XVI
335
336
3371
2-3
338
3391
340
3411
3412

Durante a vagatura ou total impedimento da S romana, nada se inove no


governo da Igreja universal (cf. cn.4281). Observem-se as leis especiais para
estas circunstncias50.
O Colgio Episcopal tambm sujeito de poder pleno e supremo sobre a Igreja
universal. A consagrao episcopal legtima a verdadeira causa de
incorporao no Colgio Episcopal.
Colegialidade no Conclio Ecumnico.
Modalidades de colegialidade escolhidas pelo Papa
Autoridade do Papa face ao Conclio Ecumnico
Os bispos, membros do Colgio Episcopal, tm o voto deliberativo.
Se a S Apostlica vagar durante o conclio, este interrompe-se
automaticamente.
S tm fora obrigatria os decretos do Conclio que sejam aprovados,
juntamente com os Padres Conciliares, pelo Romano Pontfice, e por ele
confirmados e promulgados por seu mandato.
Confirmao e promulgao do Papa em relao a outros decretos elaborados
pelo Colgio dos Bispos.
2.Captulo II Snodo dos Bispos (cf. cc.342-348)

342

O Snodo dos Bispos a assembleia dos Bispos escolhidos das diversas


regies do mundo, que em tempos estabelecidos se renem para fomentarem
o estreitamento da unio entre o Romano Pontfice e os Bispos, para
prestarem a ajuda ao mesmo Romano Pontfice com os seus conselhos em
ordem a preservar e consolidar a incolumidade e o incremento da f e dos
costumes, a observncia da disciplina eclesistica, e bem assim ponderar as
questes atinentes aco da Igreja no mundo.
343
As assembleias sinodais no tm poder deliberativo, mas apenas voto
consultivo, a no ser que o Papa lhes confira a faculdade de deliberarem em
alguns assuntos.
344,347 Autoridade do Papa face ao Snodo
345Tipos de assembleia do Snodo dos Bispos:
346
Geral (ordinria ou extraordinria);
Especial: assuntos de determinadas regies.
A partir das Propositiones, apresentadas pelos Padres sinodais, o Papa
publica oportunamente uma Exortao apostlica.

50

Cf. JOO PAULO II, C.A. Universi Dominici Gregis, acerca da vacncia da S Apostlica e da eleio
do Romano Pontfice, 22.2.1996, in www.vatican.va. Cf. Apndice D.

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3. Captulo III Dos Cardeais da Santa Igreja de Roma (cf. cc.349-359)


A funo principal dos Cardeais a eleio do Romano Pontfice51. Os
cardeais como norma devem ser bispos, mas o Papa pode dispensar dessa
prerrogativa. Os Cardeais so uma espcie de senadores.
350
As trs ordens dos Cardeais.
351
Os Cardeais so escolhidos livremente pelo Santo Padre.
3521
Funo do Decano.
353
Consistrios ordinrios e extraordinrios
354
Os Cardeais devem tambm renunciar aos 75 anos de idade.
356,358 Outras funes dos Cardeais.
359
Funes dos Cardeais durante a vagatura da S Apostlica52.
349

A FUNO DE UM CONSISTRIO53
O Cdigo de Direito Cannico refere-se aos Cardeais na parte II do Livro II do
Cdigo de Direito Cannico (cc.349-359), explicando a sua funo e tambm a
existncia do consistrio (cn.353).
Consistrio o lugar, onde se est em conjunto; o lugar, onde est o Papa com os
Cardeais em audincia ou conselho. Ora, os Cardeais auxiliam o Santo Padre
principalmente nos Consistrios, nos quais se renem por ordem do Romano Pontfice e
sob a sua presidncia; podem ser ordinrios ou extraordinrios. Para os ordinrios so
convocados todos os Cardeais, ao menos os que se encontrem em Roma, a fim de serem
consultados sobre certos assuntos importantes, ou para a realizao de atos muito
solenes. Para os extraordinrios so convocados todos os Cardeais, para se
pronunciarem sobre assuntos importantes. S pode ser pblico o Consistrio ordinrio
(ser o prximo), em que se celebram alguns atos solenes, sendo tambm admitidos
outras pessoas: Prelados, embaixadores, convidados.
O Consistrio diferente de um Conclio, de um Snodo dos Bispos. Ao primeiro
pertencem os Bispos do mundo inteiro, ao segundo os representantes dos episcopados,
eleitos segundo as normas vigentes. Enquanto que o Colgio dos Bispos exerce de
modo solene o poder sobre toda a Igreja no Conclio ecumnico, o Colgio Cardinalcio,
em Consistrio, e o Snodo dos Bispos so rgos consultivos, a no ser que o Papa
decida de outro modo para determinados assuntos.
Os Cardeais surgiram dos 25 ttulos ou igrejas quase-paroquiais de Roma, dos 7
(mais tarde 14) diconos regionais e 6 diconos palatinos e dos 7 (sc.XII: 6) Bispos
suburbicrios, e que foram conselheiros e cooperadores do Papa. A partir de 1150
formaram o Colgio cardinalcio com um Decano, que Bispo de stia, e um
Camarlengo, que administrador dos bens. em 1059 que assumem as funes
exclusivas de serem eleitores do Papa (Conclave).
Alm da eleio do Papa, os Cardeais tambm assistem ao Romano Pontfice quer
agindo colegialmente, quando forem convocados para tratar em comum dos assuntos de
maior importncia, quer individualmente, nos vrios ofcios que desempenham,
auxiliando o Sucessor de Pedro no governo da Igreja universal. Podem ser incumbidos

51

Cf. JOO PAULO II, C.A. Universi Dominici Gregis.


Cf. JOO PAULO II, C.A. Universi Dominici Gregis.
53
M. SATURINO GOMES, artigo publicado na Agncia Ecclesia, Novembro 2012.
52

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 55

pelo Papa de o representar nalguma celebrao solene ou assembleia, ou ento de serem


seus enviados especiais para certas misses no mundo.
Esta veneranda instituio espelha a dimenso universal da Igreja, pois
composta por membros de todas as partes do mundo e com cargos eclesiais
diversificados. A nomeao compete ao Santo Padre, pertencentes pelo menos ordem
do presbiterado, e que se distingam pela doutrina, costumes, piedade e competncia na
resoluo dos problemas. Os que ainda no forem Bispos, devem receber a consagrao
episcopal, norma que pode ser dispensada pelo Romano Pontfice. De facto, em
consistrios anteriores tm sido institudos Cardeais que sendo presbteros, foram
ordenados Bispos, enquanto outros, por razes de sade, solicitaram para no receberem
o episcopado.
No consistrio secreto de 5 novembro 1973, o Papa Paulo VI estabeleceu que o
nmero mximo dos Cardeais com a faculdade de eleger o Romano Pontfice, fosse de
120, norma essa confirmada por Papa Joo Paulo II na C.A. Universi Dominici gregis
(22 fevereiro 1996).
Os Cardeais pertencem aos vrios dicastrios da Cria romana (Congregaes,
Pontifcios Conselhos, Tribunais), conforme nomeao pontifcia. Os residentes em
Roma e fora de Roma so considerados cidados da Cidade do Vaticano. Os Cardeais
que desempenham qualquer ofcio na Cria romana e no sejam Bispos diocesanos, tm
obrigao de residir em Roma; os Cardeais que sejam pastores de alguma Diocese, vo
a Roma todas as vezes que sejam convocados pelo Romano Pontfice. A nvel de
relacionamento e protocolo, so tratados por Eminncia.
Para significar a comunho com a Diocese e o clero de Roma, de onde nasceram
os Cardeais, atribuda pelo Papa a cada Cardeal o ttulo de uma Igreja suburbicria ou
uma igreja de Roma. Dela devem tomar posse oportunamente, promovendo com o seu
conselho e patrocnio o bem dessas dioceses e igrejas, sem todavia terem sobre elas
algum poder de governo.
4. Captulo IV Da Cria Romana (cf. cc.360-361)
Fontes: CIC 1917,cc.242-264; CIC, cc.360-361; CCEO, cc.46,48; PAULO VI, C.A.
Regimini Ecclesiae Universae, 15.8.1967; JOO PAULO II, C.A. Pastor Bonus,
28.6.1988.
Papa FRANCISCO: O servio na Cria Romana Discurso Cria Romana,
21.12.2013, in Apndice F.
1. mbito da Cria Romana (CR)
O Romano Pontfice, no exerccio ordinrio do seu mnus, alm da colaborao
oferecida pelo episcopado e em particular pelo Snodo dos Bispos e pelo Colgio dos
Cardeais, serve-se de um conjunto de pessoas, de ofcios e de instituies, denominado
Cria Romana.
A Pastor Bonus de 28.6.1988 d-nos a seguinte noo de Cria:
"A CR o conjunto de dicastrios e de organismos que coadjuvam o Romano
Pontfice no exerccio do seu supremo ofcio pastoral para o bem e servio da Igreja
universal e das Igrejas particulares, exerccio com o qual se reforam a unidade de f e
a comunho do Povo de Deus e se promove a misso prpria da Igreja no mundo"
(art.1).

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 56

2. Histria
Desde tempos antigos que os Romanos Pontfices utilizaram, para seu servio, em
favor da Igreja universal, seja pessoas singulares (bispos, presbteros, diconos) seja
instituies (snodos ou conclios), escolhidos pela Igreja de Roma. At ao sc. XI a
actividade consiste nisto: para o tratamento das causas comuns e dos problemas do
governo pastoral, o Papa assistido pelo presbitrio e, por vezes, pelos Bispos da
provncia eclesistica romana. Para as questes mais importantes so convocados
snodos ou conclios romanos nos quais participam os bispos da provncia. Nestes
snodos ou conclios no s se discutiam questes sobre a doutrina e o magistrio, mas
seguia-se uma prtica semelhante dos tribunais, e julgavam-se as causas dos Bispos,
deferidas pelo Romano Pontfice54.
A partir do sc.XI sucede aos Conclios/Snodos o Consistrio, organismo que se
torna progressivamente permanente. O Consistrio est ligado ao desenvolvimento do
Colgio dos Cardeais na Igreja de Roma, e ao relevo particular que tiveram na eleio
do Papa a partir de 1059 (definitivamente a partir de 1079 no II Conclio Lateranense).
O Consistrio era a assembleia dos Cardeais, que se reunia vrias vezes por semana,
presidida pelo Papa.
Fruto da actividade decisional so as "cartas decretais" que respondem a
perguntas jurdicas postas ao Papa ou contm decises tomadas por prpria iniciativa do
Papa (motu proprio). As questes de doutrina e de disciplina de ordem geral, so
tratadas nos Conclios ecumnicos. Como colaboradores e rgos temos
sucessivamente: os Notarii (faziam a redaco, a expedio e a conservao das cartas
dos actos pontifcios); Cancellaria e Dataria; Cmara Apostlica (administrao dos
bens). Depois aparecem os tribunais da Penitenciaria, Assinatura e Rota Romana.
A estruturao orgnica da Cria foi feita por Sixto V com a Const.Apost.
Immensae aeterni Dei de 22.1.1587. Foi uma reforma com grande alcance e que chegou
at ao sculo XX. Instituiu 15 Congregaes cardinalcias s quais foram confiadas
assuntos precisos para tratar. Os novos "Colgios" substituram o Consistrio que
perdeu parte da sua importncia.
Em 1908, Pio X determinou com clareza a esfera de competncia dos dicastrios
da Cria Romana distinguindo Congregaes, Tribunais e Ofcios, com a Const.Apost.
Sapienti Consilio (29.6.1908). As normas desta CA passaram para o CIC 1917. At ao
Conclio Vaticano II, a CR manteve a sua estrutura salvo algumas pequenas
modificaes.
Aps o Vaticano II, Paulo VI promulgou a Const.Apost. Regimini Ecclesiae
Universae, de 15.8.1967, seguindo-se o Regulamento geral da CR de 22.2.1968.
Joo Paulo II promulga a Const.Apost. Pastor Bonus que introduz algumas
modificaes e adapta a organizao da CR ao novo CIC.
3. Dimenso eclesiolgica da CR
A CR est ao servio da Igreja. Escrevia a propsito Sixto V:
"O Romano Pontfice... chama para junto de si e assume muitos colaboradores
numa to imensa responsabilidade... a fim de que, compartilhando com eles (os
54

Cf. A. MONTAN, Il Popolo di Dio e la sua struttura organica, pro manuscripto, Roma, 1988,
179-181. Ver a obra La Curia Romana nella Costituzione Apostolica Pastor Bonus, a/c di Pietro Antonio
BONNET e Carlo GULLO (a/c), Vaticano, LEV, 1990.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 57

Cardeais) e com as outras Autoridades da Cria Romana o encargo ingente das


preocupaes e incumbncias, Ele, que governa o timo de um poder to grande, com o
auxlio da graa divina, no venha a sucumbir"55.
O Decreto conciliar Christus Dominus 9:
"O Romano Pontfice no exerccio do seu supremo, pleno e imediato poder na
Igreja universal serve-se dos dicastrios da CR, os quais por tal razo, no seu nome e
com sua autoridade, cumprem sua misso para o bem das Igrejas e ao servio dos
sagrados pastores".
A CR no pertence constituio divina da Igreja. As pessoas que a compem
no adquirem na verdade uma nova conotao eclesial ligada a um sacramento
particular que a qualifique enquanto tal, pois todos permanecem na condio de bispos,
presbteros, diconos ou leigos como eram antes.
A colaborao que a CR presta ao S.Padre de unidade de f, unidade de
disciplina, que lhe permite intervir todas as vezes que esteja em causa a f, a caridade ou
a disciplina (PB, n.11).
4. Dimenso jurdica
A CR um instrumento nas mos do Papa. No tem nenhuma autoridade nem
nenhum poder fora do recebido atravs do Papa. Tem carcter vigrio como se l na PB:
"no age por direito prprio nem por sua iniciativa: exerce o poder recebido do Papa por
motivo daquela relao essencial e originria que tem com ele; e a caracterstica prpria
deste poder sempre de ligar o prprio empenho de trabalho com a vontade dAquele,
de quem tem origem. A sua razo de ser a de exprimir e de manifestar a fiel
interpretao e consonncia, isto , a identidade com aquela prpria vontade, para o bem
da Igreja e o servio dos Bispos. A CR encontra nesta caracterstica a sua fora e a sua
eficcia, mas ao mesmo tempo tambm os limites das suas prerrogativas e um cdigo de
comportamento" (PB, n.8).
O poder atribudo aos dicastrios da Cria segundo a competncia e o mbito de
cada um, reside em plenitude na pessoa do Vigrio de Cristo.
A CR tem, pois, um poder:
-vigrio, enquanto o exerce em nome do Sumo Pontfice;
-ordinrio, enquanto anexo ao ofcio e no atribudo s pessoas.
A CR no tem poder legislativo - s o Papa e o Colgio dos Bispos o tm e,
por isso, no pode emanar leis (art.18). Os tribunais da Assinatura e da Rota gozam de
poder judicial. O poder executivo exercido pelas Congregaes e pela Secretaria de
Estado.
5. Dimenso pastoral da CR
A pastoralidade da CR est bem patente na inteno dos documentos
pontifcios:
"A actividade de todos os que trabalham na Cria romana e nos outros
organismos da S.S presta um verdadeiro servio eclesial, marcado pelo carcter
pastoral, enquanto participao na misso universal do Romano Pontfice, e todos
55

Cf. Pastor Bonus, introd., n.3. Cf. GOMES, M. Saturino, "A nova reforma da Cria Romana", in
Direito e Pastoral, 1989, 5-6.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 58

devem cumpri-lo com a mxima responsabilidade e com a disposio para servir"


(art.33).
"A caracterstica saliente, que marcou a reviso da Const.Apost. REU para
adequ-la s exigncias emersas nos anos seguintes sua promulgao, foi o colocar no
devido relevo a fisionomia pastoral da CR e a ndole especfica vista sob esta luz das
actividades que gravitam volta da S Apostlica para fornecer os instrumentos aptos
ao exerccio da misso do Papa, querida por Cristo Senhor" (anexo II da PB, n.1).
Todos os dicastrios da CR, sejam eles de antiga tradio como os criados
depois do Vaticano II, tm um cunho pastoral, dentro da preocupao da Igreja de estar
atenta s realidades do homem de hoje.
Pela primeira vez, a Cria Romana concebida e renovada luz da eclesiologia
de comunho, a qual no est explicitamente presente nos documentos que reformaram
anteriormente a Cria56.
6. Estrutura da CR
A CR compreende Dicastrios e Organismos.
Com o nome de dicastrios entendem-se: a Secretaria de Estado, as
Congregaes, os Tribunais, os Conselhos e os Ofcios, isto , a Cmara Apostlica, a
Administrao do Patrimnio da S Apostlica, a Prefeitura dos Assuntos Econmicos
da Santa S (art.21).
6.1 Secretaria de Estado
6.2 Congregaes
6.3 Tribunais
6.4 Conselhos
6.5 Snodo dos Bispos
6.6 Ofcios
6.7 Comisses
6.8 Instituies diversas: Arquivo Secreto, Biblioteca, Academia das Cincias...
6.9 Gabinete de trabalho da Santa S
6.10 Academias Pontifcias
O site da Santa S na Internet (www.vatican.va) apresenta o elenco dos
dicastrios da Cria Romana.
7. Bispos diocesanos na Cria Romana
A incorporao ou associao de alguns Bispos diocesanos no ministrio prprio
dos dicastrios romanos na qualidade de membros e/ou de consultores -, constitui uma
demonstrao do esprito colegial, com o sentido de haver uma maior conexo entre
Roma e o Episcopado (cf.REU e PB).

56

Cf. GOMES, M. Saturino, art.cit., 6-7.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 59

8. Participao dos leigos


Pede-se a criao de um organismo para impulsionar o apostolado dos leigos:
"...crie-se junto da Santa S algum Secretariado especial para ajudar e
impulsionar o apostolado dos leigos, como centro que, por meios aptos, fornea
informaes sobre as diversas iniciativas apostlicas dos leigos, se dedique a investigar
os problemas actuais neste campo, e preste ajuda com o seu conselho hierarquia e aos
leigos, nas suas obras de apostolado. Neste Secretariado devero participar os diversos
movimentos e iniciativas apostlicas de leigos existentes em todo o mundo,
colaborando com os leigos tambm os clrigos e religiosos" (AA, n 26).
Seguindo as orientaes do documento conciliar AA (n 26), Paulo VI instituiu o
Consilium de laicis, transformado a 10.9.1976, com o MP Apostolatus peragendi, na
estrutura actual do Pontifcio Conselho para os Leigos.
O Motu Proprio constitutivo "Catholicam Christi Ecclesiam", 6.1.1967, define-o
como lugar de encontro e de dilogo entre a Hierarquia e os leigos e, entre suas
finalidades, determina que os leigos estejam mais estreitamente unidos S
Apostlica57.
A 9.5.1981 e a 20.5.1982, Joo Paulo II criou respectivamente o Pontifcio
Conselho para a Famlia e o Pontifcio Conselho para a Cultura. J em Julho de 1971,
Paulo VI institura o Pontifcio Conselho "Cor Unum", destinado a coordenar as
iniciativas da Igreja no campo caritativo.
Outros sectores de apostolado esto enquadrados na Pontifcia Comisso
"Iustitia et Pax" e no "Pontifcio Conselho para as Comunicaes Sociais"...
Sintoma e expresso consistentes e bem caracterizadas das presenas laicais na
Igreja do ps-Conclio devem considerar-se tambm algumas determinaes da
"Evangelii Nuntiandi" e da "Familiaris Consortio", sobre o papel dos leigos, das
comunidades de base e da famlia. Nessa linha, est a ereco da Prelatura pessoal do
Opus Dei e da associao laical Fraternidade Comunho e Libertao58.
A Exort. Apost. Christifideles Laici, de 30.12.1988, exorta os leigos a estarem
unidos Igreja universal sem esquecerem a Igreja particular:
"Com vista a uma adequada participao na vida da Igreja, absolutamente
urgente que os fiis leigos tenham uma ideia clara e precisa da Igreja particular na sua
originria ligao com a Igreja universal" (n.25).
Ler PB, nn.131-134.

5. Captulo IV Dos Legados do Papa (cf. cc.362-367)


Papa FRANCISCO: Discurso aos Nncios Apostlicos, 21.6.2013, in Apndice J.
362
363

57
58

Os legados pontifcios representam o Santo Padre num pas, junto do Estado e


das Igrejas particulares desse pas; representam o Papa tambm em organizaes
internacionais.
A sede da Nunciatura no est sujeita jurisdio do Bispo local nem do
Governo, pois goza de imunidade diplomtica.

Cf. AAS 59 (1967), 25-28.


Cf. S.BERLINGO, "I laici nella Chiesa" in AA.VV., Il fedele cristiano, Bologna, EDB, 1989, 191-192.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 60

O corpo diplomtico da Santa S formado em Roma, na Academia


Eclesistica. So presbteros, oriundos de diversas partes do mundo. Aps vrios
anos de servio, podem ser nomeados Nncios Apostlicos, sendo eleitos ao
Episcopado. So sempre Arcebispos e titulares de uma Diocese que existiu
historicamente, mas que foi extinta.

EXCURSUS: ESTADO DA CIDADE DO VATICANO


STATO DELLA CITT DEL VATICANO
www.vaticanstate.va

1. Histria
Con una superficie di appena 44 ettari, lo Stato della Citt del Vaticano il pi piccolo
stato indipendente del mondo, sia in termini di numero di abitanti che di estensione
territoriale. I suoi confini sono delimitati dalle mura e, su piazza San Pietro, dalla fascia
di travertino che congiunge le due ali del colonnato. Oltre che al territorio proprio dello
Stato, la giurisdizione vaticana si estende in un certo senso anche su alcune zone di
Roma e fuori Roma, che godono del diritto della "extraterritorialit".
Lo Stato della Citt del Vaticano sorto con il Trattato Lateranense, firmato l11
febbraio 1929 tra la Santa Sede e lItalia, che ne ha sancito la personalit di Ente
sovrano di diritto pubblico internazionale, costituito per assicurare alla Santa Sede, nella
sua qualit di suprema istituzione della Chiesa cattolica, "lassoluta e visibile
indipendenza e garantirle una sovranit indiscutibile pur nel campo internazionale",
come indicato nel preambolo del suddetto Trattato.
La Chiesa Cattolica svolge la sua missione evangelica sia tramite le varie Chiese
particolari e locali, sia tramite il suo governo centrale, costituito dal Sommo Pontefice e
dagli Organismi che lo coadiuvano nellesercizio delle sue responsabilit verso la
Chiesa universale (Santa Sede).
La forma di governo la monarchia assoluta. Capo dello Stato il Sommo Pontefice,
che ha la pienezza dei poteri legislativo, esecutivo e giudiziario. Tali poteri, durante il
periodo di sede vacante, sono demandati al Collegio dei Cardinali.
Lo Stato della Citt del Vaticano ha una propria bandiera contraddistinta da due campi
divisi verticalmente, uno giallo, aderente lasta, laltro bianco in cui appare la tiara
pontificia con le chiavi decussate. Batte moneta propria, che attualmente leuro, ed
emette propri francobolli postali. In Vaticano edito un giornale quotidiano,
"LOsservatore Romano", fondato nel 1861, e, dal 1931, funziona una emittente, la
Radio Vaticana, che trasmette in tutto il mondo in varie lingue.
Alle esigenze di sicurezza del Papa e dello Stato provvedono il Corpo della Guardia
Svizzera, fondato nel 1506, i cui appartenenti indossano una divisa che, secondo la
tradizione, sarebbe stata disegnata da Michelangelo, e il Corpo della Gendarmeria,
addetto a tutti i servizi di polizia e sicurezza dello Stato.
Populao
La popolazione dello Stato comprende circa 800 persone, delle quali oltre 450 godono
della cittadinanza vaticana, mentre le altre sono solo autorizzate a risiedere nello Stato,
temporaneamente o anche stabilmente, ma senza godimento della cittadinanza.
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 61

2. rgos do Estado
La forma di governo la monarchia assoluta. Capo dello Stato il Sommo Pontefice,
che ha la pienezza dei poteri legislativo, esecutivo e giudiziario. Il potere legislativo,
oltre che dal Sommo Pontefice, esercitato a Suo nome, da una Commissione
composta da un Cardinale Presidente e da altri Cardinali, nominati per un quinquennio.
Il potere esecutivo demandato al Presidente della Commissione che, in tale veste,
assume il nome di Presidente del Governatorato ed coadiuvato dal Segretario
Generale e dal Vice Segretario Generale. Il potere giudiziario esercitato, a nome del
Sommo Pontefice, dagli organi costituiti secondo lordinamento giudiziario dello Stato.
3. Poder legislativo e executivo
Le disposizioni legislative sono emanate tanto dal Sommo Pontefice, quanto, a Suo
nome, dalla Pontificia Commissione per lo Stato della Citt del Vaticano, che promulga
anche i regolamenti generali. Le une e gli altri sono pubblicati in uno speciale
supplemento degli Acta Apostolicae Sedis, che il Bollettino Ufficiale della Santa Sede.
Lesercizio del potere esecutivo demandato al Cardinale Presidente della Pontificia
Commissione per lo Stato della Citt del Vaticano, il quale, in tale veste, assume il
nome di Presidente del Governatorato.
Collaboratori immediati del Presidente del Governatorato sono il Segretario Generale
ed il Vice Segretario Generale.
Dal Presidente dipendono le Direzioni e gli Uffici Centrali in cui il Governatorato
organizzato.
Nellelaborazione delle leggi, e in altre materie di particolare importanza, la Pontificia
Commissione ed il Presidente del Governatorato possono avvalersi dellassistenza del
Consigliere Generale e dei Consiglieri dello Stato.
4. Poder judicial
Il potere giudiziario, secondo la legge del 21 novembre 1987, n. CXIX, ha come suoi
organi un Giudice unico, un Tribunale, una Corte dAppello e una Corte di Cassazione,
i quali esercitano le loro attribuzioni a nome del Sommo Pontefice.
Le rispettive competenze sono stabilite nei Codici di procedura civile e di procedura
penale vigenti nello Stato.
5. SUA SANTIDADE O PAPA - Soberano
Vescovo di Roma, Vicario di Ges Cristo; Successore del Principe degli Apostoli,
Sommo Pontefice della Chiesa Universale, Primate dItalia, Arcivescovo e Metropolita
della Provincia Romana, Sovrano dello Stato della Citt del Vaticano, Servo dei Servi di
Dio

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 62

Seco II: Das Igrejas Particulares e dos seus Agrupamentos


Ttulo I: Das Igrejas Particulares e autoridade nelas constituda
6. Captulo I Das Igrejas Particulares (cf. cc.368-374)
Documentos conciliares que inspiraram a redaco dos cnones:

368: LG 13; 23; 26; CD 11; AG 19;

369: SC 41; LG 25; 26; 28; CD 11; PO 4; 5.


368369

368;
cf.
3812
370

Caractersticas das Igrejas particulares:


1. In quibus et ex quibus (cn. 368): se fosse apenas in quibus, a Igreja
esgotaria o mistrio de Cristo e a Igreja universal seria uma
federao de Igrejas particulares. Se absolutizssemos o ex quibus, a
Igreja particular perderia a sua consistncia para ser considerada
unicamente uma circunscrio administrativa da Igreja que seria
reduzida a uma nica diocese. In quibus indica que a Igreja
universal tem origem na comunho convergente das Igrejas
particulares. O ex quibus refere-se Igreja universal que actua nas
Igrejas particulares;
2. A expresso portio tem um significado teolgico importante (cn.
369). H a preocupao de circunscrever o poder que o Bispo exerce
sobre o rebanho que lhe confiado. Poro exclui a ideia de
fragmentao (LG 23);
3. Os carismas do Esprito Santo so mltiplos e tm como finalidade a
construo de uma igreja santa;
4. Mediante a Eucaristia: a Eucaristia a plena manifestao deste
acontecimento (SC 41);
5. Unio com o pastor e com ele congregada. Um dos carismas da
Igreja o da presidncia, cuja funo discernir os carismas em
ordem plena comunho com os fiis, garantir a comunho com as
Igrejas particulares;
6. A cooperao do presbitrio com o bispo;
7. A territorialidade e a cultura: esto intimamente ligadas. O territrio
no um elemento exterior e secundrio. O Cristianismo foi um
fenmeno urbano. S no sc. III que aparece o termo paroikia para
designar a Igreja local. No incio do sc. IV, designa o territrio do
Bispo. Nos scs. V e VI assume o significado que tem hoje. As
comunidades locais que iam surgindo sentiam-se parte integrante da
Igreja universal. O termo dioceses era um termo civil do imprio
romano. Designava uma circunscrio territorial sujeita a uma
autoridade local.
Tipologias de Igrejas Particulares: dioceses, e estruturas equiparadas: prelatura
territorial, vicariato apostlico, prefeitura apostlica, e a administrao
apostlica estavelmente erecta.
Conceito de Prelatura territorial e Abadia territorial. So poro do povo de
Deus. Tm carcter de permanncia e so governadas por um prelado ou um
abade maneira de um bispo diocesano

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 63

3711 Conceito de vicariato e prefeitura apostlica. So poro do povo de Deus. So


circunscries provisrias que mais tarde podero ser erectas em dioceses. O
poder dos vigrios e dos prefeitos apostlicos no prprio, governam em
nome do Sumo Pontfice. A estrutura interna pode ser semelhante de uma
diocese.
3712 Conceito de administrao apostlica. uma poro do povo de Deus. O
administrador apostlico governa em nome do Sumo Pontfice. A estrutura
interna pode ser semelhante de uma diocese.
3721 Igreja particular com territrio.
3722 Igreja particular pessoal. Contudo, podem ser erectas dioceses pessoais (aquelas
que no esto limitadas por territrio) ou outras estruturas em razo do rito dos
fiis ou por outra razo semelhante. Estas dioceses tm um pastor prprio e no
dependem do pastor da diocese territorial, a no ser que a S Apostlica decida
diversamente.
373
Autoridade competente para erigir Igrejas particulares. Personalidade jurdica.
374
Diviso da Igreja particular em parquias e arciprestados/vigararias.
Os Ordinariatos castrenses regem-se por uma lei especial, a Constituio
Apostlica "Spirituali Militum Cura" (21.04.1986) e pelos Estatutos prprios.
O Ordinariato castrense no uma poro do Povo de Deus, mas um grupo
especial que precisa de assistncia devida sua misso. A jurisdio do ordinrio
militar pessoal, ordinria e prpria em foro interno e externo. Os fiis que pertencem
ao Ordinariato militar no cessam de pertencer sua Igreja particular.
O Ordinariato Castrense pode ter um conselho presbiteral, pode incardinar
clrigos, ter seminrios, tribunal.
Acerca do Ordinariato castrense em Portugal, cf.http://www.ecclesia.pt/castrense/
O Papa Joo Paulo II erigiu canonicamente a Administrao Apostlica Pessoal
So Joo Maria Vianney, com sede na Diocese de Campos, Brasil:
III atribuda Administrao Apostlica a faculdade de celebrar a
Sagrada Eucaristia, os demais sacramentos, a Liturgia das Horas e outras
aes litrgicas segundo o rito e a disciplina litrgica, conforme
prescries de So Pio V, juntamente com adaptaes introduzidas por
seus sucessores at o Bem-aventurado Joo XXIII.
IV Administrao Apostlica Pessoal So Joo Maria Vianney
confiada cura pastoral de um Administrador Apostlico, como seu
prprio Ordinrio, que ser nomeado pelo Romano Pontfice segundo as
normas do direito comum59.
O Papa Bento XVI constituiu Ordinariatos Pessoais para anglicanos que entram na
plena comunho com a Igreja Catlica60.
372
373
374

As Dioceses esto limitadas por um territrio.


S a Santa S pode criar Igrejas particulares.
A diocese deve ser dividida em parquias que se podem organizar em
vigararias, arciprestados, ouvidorias.

59

CONGREGAO PARA OS BISPOS, Decreto Animarum Bonum, 18.01.2002(cf.


http://www.adapostolica.org).
60
Cf. BENTO XVI, C.A. Anglicanorum Coetibus, 4.11.2009, in www.vatican.va. Cf. Apndice E.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 64

377
1

Pertence ao Papa nomear livremente os bispos ou confirmar os legitimamente


eleitos (cf. 1382).
A estrutura eclesistica adaptou-se organizao do Imprio romano:

PREFEITURAS
(no imprio romano)

Dioceses
Provncias
Parquias
(incluam provncias e (as metrpoles eram as
eparquias);
capitais das Provncias);

7. Captulo II Dos Bispos (cc.375-411)


No perodo apostlico, temos duas formas de escolha do bispo: pelos Apstolos
e/ou com o contributo da comunidade. O Conclio de Niceia ordena que os bispos sejam
eleitos pela maioria dos bispos da Provncia. O CIC 1917 determina que o Papa tem o
direito de livremente nomear os bispos, o que corroborado pelo cn.3771 do CIC
1983.
375

1. Os Bispos, que por instituio divina sucedem aos Apstolos, so


constitudos Pastores na Igreja pelo Esprito Santo que lhes foi dado, para serem mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado e ministros da
governao.
2. Pela prpria consagrao recebem os Bispos com o mnus de santificar
tambm o mnus de ensinar e governar, que, todavia, por sua natureza no
podem exercer seno em comunho hierrquica com a cabea e os membros do
Colgio.
376
Distino entre Bispos diocesanos e titulares
3771 Pertence ao Papa nomear ou confirmar livremente os Bispos.
3772 Modo de proceder na escolha dos Bispos.
378
A idoneidade do candidato ao Episcopado61.
379
Obrigao de receber a consagrao episcopal dentro de trs meses aps ter
recebido as letras apostlicas, e antes de tomar posse do ofcio.
380
Obrigao de fazer a profisso de f e o juramento de fidelidade.
381
Poder do Bispo diocesano.
382
Requisitos cannicos para o Bispo diocesano exercer as funes.
383
Solicitude pastoral do Bispo diocesano.
384
Solicitude pastoral do Bispo diocesano para com os presbteros.
385
Fomento das vocaes.
386
Munus docendi do Bispo diocesano.
Cf.:CONGREGAO PARA OS BISPOS, Diretrio Pastoral para o
Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores, 22.02.2004, nn.118141.
388Munus sanctificandi do Bispo diocesano.
390
Cf.:CONGREGAO PARA OS BISPOS, Diretrio Pastoral para o
Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores, 22.02.2004, nn.142157.
61

Acerca dos critrios para a escolha dos Bispos, cf. Discursos do Papa FRANCISCO aos Nncios
Apostlicos, 21.6.2013 (Apndice J) e Congregao dos Bispos, 27.2.2014 (Apndice G).

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 65

391393

Munus regendi do Bispo diocesano.


Cf.: CONGREGAO PARA OS BISPOS, Diretrio Pastoral para o
Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores, 22.02.2004, nn.158209.
3951 Obrigao de residncia do Bispo diocesano.
395
Ausncias da Diocese.
396Visita pastoral Diocese.
398
399Visita ad limina Apostolorum
400
401
Renncia do ofcio aos setenta e cinco anos (1) e por outros motivos (2).
402
Condio do Bispo emrito (cf. CONGREGAO DOS BISPOS, Diretrio
Pastoral para o Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores,
22.02.2004, nn.225-230).
403Nomeao de Bispos auxiliares e coadjutores
411
Sobre o Bispo auxiliar, o Bispo coadjutor e o Administrador Apostlico, cf.:
CONGREGAO PARA OS BISPOS, Diretrio Pastoral para o Ministrio
pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores, 22.02.2004, nn.70-74.
8. Captulo III Da S impedida e da S vaga cc.412-430)
412

416
419

421

422

Por s episcopal impedida entende-se a s cujo Bispo diocesano, por motivo de


cativeiro, desterro, exlio ou incapacidade, se encontra totalmente
impossibilitado de se ocupar do mnus pastoral da diocese, sem poder
comunicar sequer por carta com os diocesanos.
Vaga a s episcopal por morte do Bispo diocesano, por renncia aceite pelo
Romano Pontfice, por transferncia e por privao intimada ao Bispo.
Vagando a s, o governo da diocese at constituio do Administrador
diocesano, devolvido ao Bispo auxiliar, e, se houver vrios, ao mais antigo na
promoo; na falta de Bispo auxiliar, ao colgio dos consultores, a no ser que a
Santa S haja providenciado de outro modo. Quem assim assumir o governo da
diocese, convoque sem demora o colgio competente para eleger o
Administrador diocesano.
1. Dentro de oito dias a contar da recepo da notcia da vagatura da s, o
colgio dos consultores deve eleger o Administrador diocesano, que governe
interinamente a diocese, sem prejuzo do prescrito no cn. 502, 3.
2. Se por qualquer motivo o Administrador diocesano no tiver sido eleito
legitimamente dentro do prazo prescrito, a sua nomeao devolve-se ao
Metropolita, e se estiver vaga a prpria Igreja metropolitana ou a metropolitana
e a sufragnea simultaneamente, ao Bispo sufragneo mais antigo na promoo.
O Bispo auxiliar e, na sua falta, o colgio dos consultores informem quanto
antes a S Apostlica acerca da morte do Bispo, e do mesmo modo o
Administrador diocesano eleito acerca da sua eleio.

- Sobre a S vaga, cf.: CONGREGAO PARA OS BISPOS, Diretrio Pastoral para o


Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores, 22.02.2004, nn. 232-244.
- Sobre as funes do Administrador diocesano, cf.: CONGREGAO PARA OS
BISPOS, Diretrio Pastoral para o Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum
sucessores, 22.02.2004, nn.236-243
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 66

Ttulo II: Do Agrupamento das Igrejas Particulares


9. Captulo I Provncias Eclesisticas e Regies Eclesisticas
431

432

1. Para se promover uma aco pastoral comum s diversas dioceses vizinhas,


de acordo com as condies das pessoas e dos lugares, e se fomentar mais
convenientemente as relaes mtuas dos Bispos diocesanos, as Igrejas
particulares mais prximas agrupem-se em provncias eclesisticas delimitadas
por um certo territrio.
2. No haja no futuro como regra dioceses isentas; por isso todas as dioceses
e as outras Igrejas particulares existentes dentro do territrio de alguma
provncia eclesistica devem pertencer a esta provncia eclesistica.
3. Compete exclusivamente autoridade suprema da Igreja, ouvidos os Bispos interessados, constituir, suprimir ou alterar as provncias eclesisticas.
1. Na provncia eclesistica gozam da autoridade, nos termos do direito, o
conclio provincial e o Metropolita.
2. A provncia eclesistica tem personalidade jurdica pelo prprio direito.
10. Captulo II Metropolitas

435

Preside provncia eclesistica o Metropolita, que o Arcebispo da diocese


testa da qual est colocado; este ofcio est unido s episcopal, determinada
ou aprovada pelo Romano Pontfice.
11. Captulo III Conclios Particulares

439

440

1. O conclio plenrio, para todas as Igrejas particulares da mesma


Conferncia episcopal, celebre-se, com a aprovao da S Apostlica, quando
parecer necessrio ou til mesma Conferncia.
2. A norma estabelecida no 1 vale tambm para a celebrao do Conclio
provincial da provncia eclesistica cujos limites coincidem com o territrio da
nao.
1. O Conclio provincial, para as diversas Igrejas particulares da mesma
provncia eclesistica, celebre-se quando, a juzo da maior parte dos Bispos
diocesanos da provncia, parecer oportuno, sem prejuzo do cn. 439, 2.
2. Estando vaga a s metropolitana, no se convoque o conclio provincial.
12. Captulo IV Conferncias Episcopais

447

448

A Conferncia episcopal, instituio permanente, o agrupamento dos Bispos


de uma nao ou determinado territrio, que exercem em conjunto certas
funes pastorais a favor dos fiis do seu territrio, a fim de promoverem o
maior bem que a Igreja oferece aos homens, sobretudo por formas e mtodos de
apostolado convenientemente ajustados s circunstncias do tempo e do lugar,
nos termos do direito.
1. A Conferncia episcopal, em regra geral, compreende os pastores de todas
as Igrejas particulares da mesma nao, nos termos do cn. 450.
2. Mas se, a juzo da S Apostlica, ouvidos os Bispos diocesanos interes-

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 67

454

455

sados, o aconselharem as circunstncias das pessoas ou das coisas, a


Conferncia episcopal pode ser erecta para um territrio de menor ou maior
amplitude, de tal modo que apenas compreenda os Bispos de algumas Igrejas
particulares constitudas em determinado territrio ou os pastores das Igrejas
particulares existentes em diversas naes; compete mesma S Apostlica
estabelecer normas peculiares para cada uma.
1. Pelo direito nas assembleias plenrias da Conferncia episcopal tm voto
deliberativo os Bispos diocesanos e os equiparados em direito e ainda os Bispos
coadjutores.
2. Os Bispos auxiliares e os demais Bispos titulares que pertenam Conferncia episcopal tm voto deliberativo ou consultivo, conforme as prescries
dos estatutos da Conferncia; salvo que s os referidos no 1 tm voto
deliberativo quando se trata da elaborao ou modificao dos estatutos.
1. A Conferncia episcopal apenas pode fazer decretos gerais nos casos em
que o prescrever o direito universal ou quando o estabelecer um mandato
peculiar da S Apostlica por motu proprio ou a pedido da prpria Conferncia.
2. Os decretos referidos no 1, para serem validamente feitos em assembleia
plenria, devem ser aprovados ao menos por dois teros dos votos dos Prelados
pertencentes Conferncia com voto deliberativo, e s adquirem fora
obrigatria quando forem legitimamente promulgados aps a reviso pela S
Apostlica.
3. O modo de promulgao e o prazo a partir do qual os decretos comeam a
vigorar so determinados pela prpria Conferncia episcopal.
4. Nos casos em que nem o direito universal nem o mandato peculiar da S
Apostlica tiverem concedido Conferncia episcopal o poder especial referido
no 1, mantm-se ntegra a competncia de cada Bispo diocesano, e nem a
Conferncia nem o seu presidente podem agir em nome de todos os Bispos a
no ser que todos e cada um hajam dado o consentimento.

Sobre a natureza teolgico-jurdica das Conferncias Episcopais, cf. JOO


PAULO II, Carta Apostlica Apostolos Suos, Apndice B.
Estatutos da Conferncia Episcopal Portuguesa, Apndice C.
Ttulo III: Ordenamento Interno das Igrejas Particulares

Captulo I Snodo Diocesano62 (cf. cc. 460-468)


O Conclio Vaticano II no se refere aos snodos diocesanos. O Christus Dominus
apela para que se restabelea o Snodo, mas trata-se dos Conclios e dos Snodos nos
quais os Bispos se encontram para decidir sistemas comuns para adoptar no ensino das
verdades da f e para regular a disciplina eclesistica (CD, 36).
460

O snodo diocesano a assembleia de sacerdotes e de outros fiis escolhidos


no seio da Igreja particular, que prestam auxlio ao Bispo diocesano, para o
bem de toda a comunidade diocesana, segundo as normas dos cnones se-

62

Cf. CONGREGAES PARA OS BISPOS E EVANGELIZAO DOS POVOS, Instruo sobre os


Snodos Diocesanos, 8.7.1997.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 68

guintes.
466
O nico legislador do Snodo diocesano o Bispo diocesano, tendo os demais
apenas voto consultivo; ele prprio o nico a subscrever as declaraes e os
decretos Sinodais, que somente com a sua autorizao podem ser publicados.
Os membros do Snodo so chamados a oferecer a sua colaborao ao Bispo
diocesano para o bem de toda a comunidade diocesana; no se contrapem ao Bispo,
mas juntamente com ele, procuram os caminhos mais vlidos que a Igreja particular
deve percorrer para ser fiel ao Senhor.
O CIC no estabelece uma periodicidade fixa para a celebrao do Snodo, mas
confia ao Bispo diocesano s misso de avaliar a situao e de decidir, ouvido o parecer
do Conselho presbiteral (cf. cn.4611).
O nico legislador o Bispo diocesano, os membros do Snodo tm apenas voto
consultivo (cf. cn.466).
O Diretrio Pastoral para o Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum
sucessores, publicado pela Congregao dos Bispos, em 22.02.2004, apresenta o snodo
diocesano deste modo:
167. Natureza do Snodo
O Snodo Diocesano uma reunio ou assembleia consultiva, convocada e
dirigida pelo Bispo, qual so chamados, segundo as prescries cannicas,
sacerdotes e outros fiis da Igreja particular, para o ajudarem na sua funo de
guia da comunidade diocesana. No Snodo e atravs dele, o Bispo exerce de forma
solene o ofcio e o ministrio de apascentar o seu rebanho.
168. Aplicao e adaptao da doutrina universal
Na sua dupla dimenso de acto de governo episcopal e evento de comunho,497 o
Snodo meio idneo para aplicar e adaptar as leis e as normas da Igreja universal
situao particular da Diocese, indicando os mtodos que importa adoptar no
trabalho apostlico diocesano, superando as dificuldades inerentes ao apostolado e
ao governo, animando obras e iniciativas de carcter geral, propondo a recta
doutrina e corrigindo, se existirem, os erros acerca da f e da moral.
169. Composio imagem da Igreja particular
Sempre no respeito pelas prescries cannicas,498 necessrio fazer com que a
composio dos membros do snodo reflicta a diversidade de vocaes, de
compromissos apostlicos, de origem social e geogrfica que caracteriza a
Diocese, procurando porm confiar aos clrigos uma participao predominante,
de acordo com a sua funo na comunho eclesial. O contributo dos membros
sinodais ser tanto mais vlido quanto mais eles se distingam pela rectido de
vida, prudncia pastoral, zelo apostlico, competncia e prestgio.
170. Presena dos observadores das outras Igrejas ou comunidades crists
Para introduzir a preocupao ecumnica na pastoral diocesana, o Bispo pode
convidar, se julgar oportuno, como observadores alguns ministros ou membros de
Igrejas ou comunidades eclesiais que no estejam em total comunho com a Igreja
Catlica. A presena dos observadores contribuir para fazer crescer o mtuo
conhecimento, a caridade recproca e possivelmente a colaborao fraterna.
Habitualmente, para a sua identificao, ser conveniente um perfeito
entendimento com os chefes dessas Igrejas ou comunidades, as quais indicaro a
pessoa mais indicada para as representar.499
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 69

171. Direitos e deveres do Bispo no Snodo


Cabe ao Bispo convocar o Snodo diocesano quando, depois de ter ouvido o
Conselho Presbiteral, as circunstncias da Diocese o sugiram.500 A ele compete
decidir sobre a maior ou menor periodicidade de convocao do Snodo. O
critrio que deve guiar o Bispo em tal deciso so as necessidades da Diocese e do
governo diocesano. Entre os motivos, o Bispo ter tambm em conta a
necessidade de promover uma pastoral de conjunto, a necessidade de aplicar
normas ou orientaes superiores de mbito diocesano, problemas especficos da
Diocese que precisam de uma soluo compartilhada e a necessidade de uma
maior comunho eclesial. Ao avaliar a oportunidade da convocao do Snodo, o
Bispo ter em conta os resultados da visita pastoral que, mais do que as
investigaes sociolgicas ou os inquritos, lhe permite conhecer as carncias
espirituais da Diocese. Compete, alm disso, ao Bispo determinar o tema do
Snodo e publicar o decreto de convocao que ele anunciar por ocasio de uma
festa litrgica de especial solenidade. Quem guie interinamente a Diocese501 no
tem o poder de convocar o Snodo diocesano. Se o Bispo tiver o cargo pastoral de
mais Dioceses como Bispo prprio ou como Administrador pode convocar um s
Snodo diocesano para todas as Dioceses que lhe esto confiadas.502 Desde o
incio do caminho sinodal o Bispo dever esclarecer que os membros do Snodo
so chamados a prestar ajuda ao Bispo diocesano com o seu parecer e com o voto
consultivo. A forma consultiva do voto significa que o Bispo, embora
reconhecendo a sua importncia, livre de acolher ou no as opinies dos
membros sinodais. Por outro lado, ele no se afastar das opinies ou votos
expressos por larga maioria, a no ser por graves motivos de carcter doutrinal,
disciplinar ou litrgico. O Bispo deve esclarecer imediatamente, se houver
necessidade disso, que nunca se pode pr o Snodo contra o Bispo com base numa
pretensa representao do Povo de Deus. Uma vez convocado o Snodo, o Bispo
dirigi-lo- pessoalmente, ainda que possa delegar no Vigrio Geral ou no Vigrio
Episcopal para presidirem a algumas sesses especficas.503 Como mestre da
Igreja, no Snodo, ele ensina, corrige, esclarece para que todos adiram doutrina
da Igreja.
dever do Bispo suspender e dissolver o Snodo diocesano sempre que graves
motivos doutrinais, disciplinares ou de ordem social, na sua opinio, perturbem o
pacfico decurso do trabalho sinodal.504 Antes de emitir o Decreto de suspenso
ou dissoluo, conveniente que o Bispo escute o parecer do Conselho
Presbiteral, embora mantendo-se livre de tomar a deciso que considere justa.505
O Bispo far com que os textos sinodais sejam redigidos com frmulas precisas,
evitarem que se fiquem no genrico ou em meras exortaes. As declaraes e os
decretos sinodais devero ser assinados apenas pelo Bispo. As expresses usadas
nos documentos devem mostrar com clareza que no Snodo diocesano o nico
legislador o Bispo diocesano. O Bispo ter presente que um decreto sinodal
contrrio ao direito superior juridicamente invlido.
172. Preparao do Snodo
O Bispo deve sentir-se profundamente empenhado na preparao, programao e
celebrao do Snodo, com formas renovadas e adaptadas s actuais necessidades
da Igreja. Com este objectivo, o Bispo tomar em conta a Instruo sobre os
Snodos diocesanos emanada das Congregaes para os Bispos e para a
Evangelizao dos Povos.506 Para que decorra bem e resulte verdadeiramente

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 70

fecundo para o crescimento da comunidade diocesana, o Snodo deve ser


devidamente preparado. Para tal fim, o Bispo constituir uma comisso
preparatria como organismo que, durante a fase de preparao e no decurso da
celebrao do Snodo, o assista e faa cumprir o que foi determinado. Deste
modo, proceda-se elaborao do regulamento do Snodo.
173. Sugestes, orao e informaes na preparao do Snodo Diocesano
O Bispo convide os fiis da Igreja particular a formularem livremente sugestes
para o Snodo e, em especial, instigue os sacerdotes para que transmitam
propostas relativas ao governo pastoral da Diocese. Na base destes contributos e
com a ajuda de grupos de peritos ou de membros do Snodo j eleitos, fixe o
Bispo as diversas questes a propor discusso e deliberao sinodal. Desde o
incio dos trabalhos preparatrios, o Bispo tenha a preocupao de que toda a
Diocese seja informada sobre o acontecimento e no se esquea de pedir
abundantes preces para o seu xito feliz. Pode igualmente organizar uma
catequese bem divulgada, oferecendo adequadas sugestes para a pregao, sobre
a natureza da Igreja, sobre a dignidade da vocao crist e sobre a participao de
todos os fiis na sua misso sobrenatural, luz dos ensinamentos conciliares.
174. Celebrao do Snodo
O carcter eclesial da assembleia sinodal manifesta-se antes de mais nas
celebraes litrgicas, que constituem o seu ncleo mais visvel.507
conveniente que tanto as solenes liturgias eucarsticas de abertura e de concluso
do Snodo, como as celebraes dirias sejam abertas a todos os fiis.
Os estudos e os debates sobre as questes ou os esquemas propostos so
reservados aos membros da assembleia sinodal, sempre na presena e sob a
direco do Bispo ou do seu delegado. Todas as questes propostas se
submetero livre discusso dos membros nas sesses do Snodo ,508 mas o
Bispo tem o dever de excluir da discusso sinodal teses ou posies porventura
propostas sob o pretexto de transmitir Santa S votos a propsito
discordantes da perene doutrina da Igreja ou do Magistrio Pontifcio, ou relativas
a matrias disciplinares reservadas suprema ou a outra autoridade
eclesistica.509
No final das intervenes, o Bispo confiar a diversas comisses a redaco dos
projectos de documentos sinodais, dando as convenientes indicaes. Finalmente,
examinar os textos preparados e, como nico legislador, assinar os decretos e as
declaraes sinodais, fazendo-as publicar com a sua autoridade pessoal.510
Concludo o Snodo, o Bispo proceder transmisso dos decretos e das
declaraes ao Metropolita e Conferncia Episcopal para dar fora comunho
e harmonia legislativa entre as Igrejas particulares de uma mesma rea, e
enviar, atravs da Representao Pontifcia, aos Dicastrios interessados da
Santa S, em especial Congregao para os Bispos e Congregao para a
Evangelizao dos Povos, o Livro do Snodo.511 Se os documentos sinodais de
carcter predominantemente normativo no se pronunciarem sobre a sua
aplicao, ser o Bispo que determinar as modalidades de execuo, confiando-a
tambm aos organismos diocesanos.
175. Forum e outras Assemblias eclesiais similares
desejvel que a substncia das normas do Cdigo de Direito Cannico sobre o
Snodo diocesano e as indicaes da Instruo sobre os Snodos diocesanos sejam

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 71

observadas, servatis servandis, igualmente nos forum e nas outras assembleias


eclesiais de tipo sinodal. Com grande sentido de responsabilidade, o Bispo deve
orientar essas assembleias e velar para que no sejam adoptadas propostas
contrrias f e disciplina da Igreja.

Captulo II Cria diocesana (cf. cc. 469-494)


469

470

A cria diocesana compe-se das instituies e pessoas que prestam servio ao


Bispo diocesano no governo de toda a diocese, principalmente na direco da
aco pastoral, na administrao da diocese e no exerccio do poder judicial.
Compete ao Bispo diocesano a nomeao dos que exercem ofcios na cria
diocesana.

A Cria diocesana (CD) consta das instituies e dos ofcios diocesanos que
ajudam o Bispo no governo de toda a Diocese, sobretudo na direo da atividade
pastoral, na administrao e no exerccio do poder judicial.
A CD est ordenada esteja ordenada de modo a ser para o Bispo um meio idneo
no s para a administrao da Diocese, mas tambm para o exerccio das obras de
apostolado (CD, 27).
H uma corresponsabilidade das pessoas que trabalham com o Bispo diocesano
(cf. CD, 27). A CD no pode separar-se do estilo do Bispo, deve considerar o seu
trabalho como um verdadeiro servio.
Sobre a Cria diocesana, sua composio e pessoas, cf.: Diretrio Pastoral para o
Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores, publicado pela Congregao
dos Bispos, em 22.02.2004, nn.165-192.
Pessoas e organismos
a) Principais colaboradores do Bispo:
-Vigrio geral (cf. cc.475-481). Deve ser munido de poder ordinrio, auxilia o
Bispo no governo, compete-lhe o poder executivo que por direito pertence ao
Bispo, exceptuado o que este tiver reservado para si. Hja um nico Vigrio
geral, a no ser que as circunstncias aconselhem diversamente. Deve
colaborar intimamente com o Bispo e no pode agir contra a sua mente e
vontade.
-Moderador da CD (cf. cn.4732-3): o sacerdote que deve coordenar os
servios administrativos da Cria e a atividade do pessoal.
-Vigrio episcopal (cf. cc.476-481). Tem poder administrativo e pastoral, para
uma determinada parte do territrio ou gnero de assuntos, ou em relao aos
fiis de um determinado rito ou grupo. Deve agir segundo a mente e a vontade
do Bispo.
-Vigrio judicial (cf. cc.472, 1419, 1420). Tem poder ordinrio de julgar,
distinto do Vigrio geral, a no ser que a pequenez da diocese ou o pequeno
nmero de causas aconselhe outra coisa.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 72

-Chanceler (cf. cc.482-483,485, 474). O mnus principal do chanceler cuidar


de que sejam redigidos os documentos da cria e de que eles se guardem no
arquivo da mesma.
-Notrios (cf. cc.483-485, 474).
-Arquivista diocesano (cf. cc. 486-491).
-Conselho episcopal (cf. cn.4734): o Bispo pode constitui-lo para fomentar a
aco pastoral, composto pelos Vigrios gerais e Vigrios episcopais, e pelos
Bispos coadjutor e auxiliares, se os houver.
-Ecnomo diocesano (cf. cn.494).
b) Conselho para os assuntos econmicos (cf. cc.492-494)
492

493

494

1. Constitua-se em cada diocese um Conselho para os assuntos econmicos, ao


qual preside o prprio Bispo diocesano ou o seu delegado, e que se componha ao
menos de trs fiis, nomeados pelo Bispo, que sejam verdadeiramente peritos
em assuntos econmicos e em direito civil, e notveis pela integridade de vida.
2. Os membros do conselho para os assuntos econmicos sejam nomeados por
cinco anos; decorrido este prazo, podem ser reconduzidos por outros perodos de
cinco anos.
3. Do conselho de assuntos econmicos so excludas as pessoas
consanguneas ou afins do Bispo at ao quarto grau.
Alm das funes ao mesmo atribudas no Livro V, Dos bens temporais da
Igreja, compete ao conselho para os assuntos econmicos, preparar todos os
anos, segundo as indicaes do Bispo diocesano, o oramento das receitas e
despesas, que se prevem para a administrao de toda a diocese no ano seguinte
e, no fim do ano, aprovar as contas das receitas e despesas.
1. Em cada diocese, ouvidos o colgio dos consultores e o conselho para os
assuntos econmicos, o Bispo nomeie um ecnomo, que seja verdadeiramente
perito em assuntos econmicos e notvel pela sua inteira probidade.
2. O ecnomo seja nomeado por cinco anos, mas decorrido este prazo pode ser
nomeado para outros quinqunios; durante o ofcio no seja removido sem causa
grave a avaliar pelo Bispo, depois de ouvidos o colgio dos consultores e o
conselho para os assuntos econmicos.
3. Compete ao ecnomo, segundo as normas estabelecidas pelo conselho para
os assuntos econmicos, administrar os bens da diocese, sob a autoridade do
Bispo, e com as receitas da diocese satisfazer as despesas autorizadas pelo Bispo
ou por outros pelo mesmo legitimamente deputados.
4. No fim do ano, o ecnomo deve apresentar ao conselho para os assuntos
econmicos as contas das receitas e despesas.

Captulo III - Conselho Presbiteral e Colgio dos Consultores


(cf. cc.495-502)
Conselho presbiteral
Os presbteros so ajuda, colaborao e instrumento para o bispo. Entre presbtero
e bispo h uma ntima fraternidade que se deve manifestar na comunho de vida, no
trabalho e na caridade (cf. LG 28; CD 28; PO 7).
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 73

O Conclio estabeleceu que se constitusse em cada diocese um grupo de


sacerdotes para ajudar eficazmente o Bispo no governo da diocese.
As vantagens e funes deste conselho so: facilitar o contacto entre os
sacerdotes; conhecer melhor o parecer e os desejos dos presbteros; troca de
experincias pastorais; as iniciativas de apostolado da diocese podem ser examinadas.
495

496
497

498

499

500

501

1. Em cada diocese constitua-se o conselho presbiteral, isto , um grupo de


sacerdotes que seja uma espcie de senado do Bispo e represente o presbitrio,
ao qual compete auxiliar o Bispo no governo da diocese nos termos do direito,
para se promover o mais possvel o bem pastoral do povo de Deus que lhe foi
confiado.
2. Nos vicariatos e nas prefeituras apostlicas constitua o Vigrio ou o Prefeito
um conselho composto ao menos por trs presbteros missionrios cujo parecer
oua, mesmo por carta, nos assuntos mais importantes.
O Conselho presbiteral possua estatutos prprios aprovados pelo Bispo
diocesano, tendo em considerao as normas publicadas pela Conferncia
episcopal.
No concernente designao dos membros do Conselho presbiteral:
1. cerca de metade seja livremente eleita pelos prprios sacerdotes, nos termos
dos cnones seguintes e dos estatutos;
2. alguns sacerdotes, nos termos dos estatutos, devem ser membros natos, os
quais pertencem ao conselho em razo do ofcio que lhes foi confiado;
3. o Bispo diocesano pode nomear livremente alguns membros.
1. Gozam do direito de eleio, com voz activa e passiva para a constituio
do Conselho presbiteral:
1. todos os sacerdotes seculares incardinados na diocese;
2. os sacerdotes seculares no incardinados na diocese, e os sacerdotes
membros de algum instituto religioso ou de uma sociedade de vida apostlica,
residentes na diocese e que nela exeram algum ofcio em favor da mesma.
2. Na medida em que os estatutos o prevejam, pode o mesmo direito de eleio
ser concedido a outros sacerdotes que na diocese tenham domiclio ou quasedomiclio.
O modo de eleger o Conselho presbiteral deve ser determinado pelos estatutos
de tal forma que, quanto possvel, os sacerdotes do presbitrio estejam
representados, tendo em considerao sobretudo os diversos ministrios e as
vrias regies da diocese.
l. Compete ao Bispo diocesano convocar o Conselho presbiteral, presidi-lo e
determinar os assuntos a tratar ou aceitar as propostas apresentadas pelos
membros.
2. O conselho presbiteral goza apenas de voto consultivo; o Bispo diocesano
oua-o nos assuntos de maior importncia, mas s necessita do seu
consentimento nos casos expressamente determinados pelo direito.
3. O conselho presbiteral nunca pode agir sem o Bispo diocesano, ao qual
compete exclusivamente o cuidado de divulgar o que foi decidido, nos termos
do 2.
1. Os membros do conselho presbiteral designem-se pelo tempo determinado
nos estatutos, mas de forma que todo ou parte do conselho se renove dentro de
cinco anos.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 74

2. Vagando a s, cessa o conselho presbiteral, e as suas competncias so


desempenhadas pelo colgio dos consultores; dentro de um ano depois da
tomada de posse, o Bispo deve constituir de novo o conselho presbiteral.
3. Se o conselho presbiteral no desempenhar o mnus que lhe est confiado
para o bem da diocese, ou dele abusar gravemente, o Bispo diocesano, depois de
consultar o Metropolita, ou, se se tratar da s metropolitana, o Bispo sufragneo
mais antigo na promoo, pode-o dissolver; mas dentro de um ano deve
constitu-lo de novo.

Os Padres conciliares estabeleceram que se constitusse em cada Diocese,


adaptando-se s circunstncias e s necessidades hodiernas, um grupo ou senado de
sacerdotes, representantes do presbitrio, para ajudar eficazmente com os seus
conselhos o Bispo no governo da Diocese (cf. PO, 7). No Motu Proprio Ecclesiae
Sanctae63, confirmou-se a obrigao da constituio deste Conselho:
15. Ad Consilium Presbyterale quod attinet:
1. In unaquaque dioecesi, modis ac formis ab Episcopo statuendis,
habeatur Consilium Presbyterale, scilicet coetus seu senatus sacerdotum,
Presbyterium repraesentantium, qui Episcopum in regimine dioecesis suis
consiliis efficaciter adiuvare possit. In hoc Consilio Episcopus sacerdotes
suos audiat, consulat et cum eis colloquatur de iis quae ad necessitates
operis pastoralis et bonum dioecesis spectant.
2. Inter membra Consilii Presbyteralis cooptari poterunt etiam Religiosi,
quatenus in cura animarum atque apostolatus operibus exercendis partem
habeant.
3. Consilium Presbyterale vocem tantum consultivam habet.
4. Sede vacante, Consilium Presbyterale cessat, nisi in peculiaribus
adiunctis a Sancta Sede recognoscendis Vicarius Capitularis vel
Administrator Apostolicus illud confirmet.
Novus autem Episcopus ipse sibi novum Consilium Presbyterale constituet.
Vantagens deste Conselho: mais fcil o contato com os sacerdotes; conhecimento
mais adequado dos seus pareceres e desejos; obteno de informaes sobre a Diocese;
troca de experincias pastorais; programao da vida pastoral da Diocese.
Estatutos: cn.496; composio: cc.497-499; funes: cn.500; mandato:
cn.501.
O CIC no oferece um quadro sistemtico das funes deste Conselho. O Bispo
poder valoriz-lo bastante para a dinmica da Diocese e para a partilha presbiteral.
O Conselho tem voto consultivo, a no ser que em determinadas ocasies o direito
universal diga diversamente ou o Bispo revista de carcter deliberativo algumas
questes. Deve ser ouvido nos assuntos de maior importncia, como por exemplo na
ereo, supresso e alterao da configurao das parquias (cf. cn.5152).

63

PAULO VI, M.P. Ecclesiae Sanctae, 6.8.1966, in www.vatican.va.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 75

Colgio dos Consultores


502

1. De entre os membros do Conselho presbiteral sejam livremente nomeados


pelo Bispo diocesano alguns sacerdotes, em nmero no inferior a seis nem
superior a doze, que formem durante cinco anos o colgio dos consultores, ao
qual competem as funes determinadas pelo direito; terminados os cinco anos,
continuar a exercer as suas funes at que se constitua novo colgio.
2. Ao colgio dos consultores preside o Bispo diocesano; no impedimento ou
vagatura da s, aquele que ocupar interinamente o lugar do Bispo ou, se ainda
no tiver sido constitudo, o sacerdote do colgio dos consultores mais antigo na
ordenao.
3. A Conferncia episcopal pode determinar que as funes do Colgio dos
consultores sejam cometidas ao cabido catedralcio.
4. No vicariato e na prefeitura apostlica as funes do colgio dos consultores
competem ao conselho da misso referido no cn. 495, 2, a no ser que pelo
direito esteja determinada outra coisa.

O colgio dos consultores foi institudo porque nem sempre oportuno convocar o
conselho presbiteral.
constitudo por um mnimo de seis e por um mximo de doze sacerdotes
(presbteros ou Bispos), nomeados livremente pelo Bispo diocesano de entre os
membros do conselho presbiteral.
O mandato dos membros do colgio dos consultores dura cinco anos. Mas podem
continuar a desempenhar as suas funes mesmo para alm desse tempo.
Inicialmente, essas funes podiam ser desempenhadas pelo cabido catedralcio,
segundo o juzo da Conferncia Episcopal (cn.5023). A Conferncia Episcopal
Portuguesa, no seu Decreto IV de aplicao do CIC 1983, estabeleceu que durante cinco
anos, os Cabidos das Dioceses podiam exercer as funes. Terminado o quinqunio, a
CEP no confirmou este decreto, pelo que os Cabidos deixaram de exercer o mnus de
Colgio dos consultores diocesanos (cn.5021). Algumas Dioceses porm obtiveram
da Santa S que os seus Cabidos continuassem a desempenhar aquelas funes.
Atribuies
Segundo o cn.5021, o colgio dos consultores tem as atribuies determinadas
pelo direito. Por exemplo:
-eleger o sacerdote que governa a diocese quando a s episcopal est impedida, se falta
ou est impedido o Bispo coadjutor (cn.4132),
-governar a diocese, quando a s episcopal est vaga, at constituio do
administrador diocesano, se no houver bispo auxiliar (cn.419),
-eleger o Administrador diocesano (cc.4211; 4302),
-desempenhar as funes do conselho presbiteral, que cessa quando a s episcopal est
vaga (cn.5012).
necessrio o consentimento do colgio dos consultores:
-em todos os casos em que for necessrio tambm o consentimento do conselho
para os assuntos econmicos;
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 76

-para que o Adm. diocesano possa conceder, aps um ano de s episcopal vacante,
a excardinao, a incardinao.
-para que o Adm. diocesano possa conceder as cartas dimissrias para os seculares
(cn 1018 1, 2) .

Captulo IV - Cabidos dos Cnegos (cc. 503-510)


503

504
505

506

507

508

509

510

O cabido de cnegos, quer catedralcio quer de colegiada, o colgio de


sacerdotes, que tm o dever de celebrar as funes litrgicas mais solenes na
igreja catedral ou colegiada; alm disso compete ao cabido catedralcio desempenhar as funes que lhe so confiadas pelo direito ou pelo Bispo diocesano.
reservada S Apostlica a ereco, a alterao ou a supresso do cabido
catedralcio.
Cada cabido, quer catedralcio quer de colegiada, tenha os seus estatutos,
votados por um acto capitular legtimo e aprovados pelo Bispo diocesano; estes
estatutos no se modifiquem nem sejam ab-rogados, sem a autorizao do
mesmo Bispo diocesano.
1. Os estatutos do cabido, salvaguardadas sempre as leis da fundao,
determinem a prpria constituio do cabido e o nmero de cnegos;
estabeleam o que deve ser realizado pelo cabido e por cada um dos cnegos,
para o culto divino e para o ministrio; regulamentem as reunies em que se
tratem assuntos do cabido e, salvaguardadas as prescries do direito universal,
estabeleam as condies requeridas para a validade e liceidade dos actos.
2. Nos estatutos determinem-se tambm os emolumentos no s fixos, mas a
receber por ocasio do cumprimento das funes; e, atendendo s normas da
Santa S, quais sejam as insgnias dos cnegos.
1. Entre os cnegos haja um que presida ao cabido, e constituam-se outros
ofcios nos termos dos estatutos, atendendo tambm aos usos vigentes na regio.
2. Podem confiar-se a clrigos no pertencentes ao cabido outros ofcios com
os quais prestem auxlio aos cnegos, nos termos dos estatutos.
1. O cnego penitencirio da igreja catedral ou da igreja colegiada, em virtude
do oficio tem a faculdade ordinria, que no pode delegar a outrem, de absolver
no foro sacramental das censuras latae sententiae no declaradas nem reservadas
S Apostlica, em toda a diocese tambm os estranhos diocese e os
diocesanos mesmo fora do territrio da diocese.
2. Onde no houver cabido, o Bispo diocesano escolha um sacerdote para
desempenhar esta funo.
1. Compete ao Bispo diocesano, depois de ouvido o cabido, no porm ao
Administrador diocesano, conferir todos e cada um dos canonicatos, no s na
Igreja catedral mas tambm na igreja colegiada, revogado qualquer privilgio
contrrio; compete ainda ao Bispo confirmar o eleito pelo prprio cabido para
presidir ao mesmo.
2. O Bispo diocesano confira os canonicatos apenas a sacerdotes notveis pela
doutrina e integridade de vida, que tenham exercido com louvor o ministrio.
1. No voltem a unir-se parquias a um cabido de cnegos; aquelas parquias
que ainda se encontram unidas a algum cabido, sejam separadas deste pelo
Bispo diocesano.
2. Na igreja que for simultaneamente paroquial e capitular, designe-se um

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 77

511

proco escolhido de entre os capitulares ou no; este proco est obrigado a


todos os deveres e goza de todos os direitos e faculdades que, nos termos do
direito, so prprios do proco.
3. Compete ao Bispo diocesano estabelecer normas certas, pelas quais se
harmonizem devidamente as obrigaes pastorais do proco e as funes
prprias do cabido, e com as quais se evite que o proco possa servir de
impedimento aos capitulares e o cabido s funes paroquiais; os conflitos, se os
houver, dirima-os o Bispo diocesano, o qual procure em primeiro lugar que se
atenda convenientemente s necessidades pastorais dos fiis.
4. As esmolas que so dadas igreja simultaneamente paroquial e capitular,
presumem-se terem sido dadas parquia, a no ser que conste outra coisa.

um organismo com uma tradio histrica em muitas dioceses64.


O termo captulo deriva de caput parvum, no sentido que os capitulares
constituam como que a pequena cabea da Igreja qual estavam adscritos (o Bispo
seria o caput maius). Ou talvez devido ao facto que os capitulares liam diariamente
um captulo das suas constituies. O termo cnego antiqussimo e deriva de
cnon, ou pelas normas que regulavam a sua vida em comum ou pelo livro em que
eram inscritos os seus nomes.
O captulo de cnegos um colgio de sacerdotes com a atribuio especfica de
cuidar das funes litrgicas mais solenes na igreja catedral ou colegiada. O Bispo pode
confiar outros encargos ao Cabido. O Cabido colegial se actua numa igreja colegiada.
Em Portugal e nos Cabidos mais importantes e numerosos, costumava haver as
dignidades seguintes: Deo (decanus, presidente do cabido); Chantre (cantor que
superintendia no canto e na msica), Arcipreste; Arcediago; Tesoureiro-mor; Mestreescola (que dirigia a escola capitular, existente sobretudo na Idade Mdia). Nos ltimos
sculos, estes ttulos passaram a ser quase meramente honorficos. Costuma ainda haver
o Cnego penitencirio, com a misso de confessar, e com faculdades especiais para
absolver de censuras, e outras de foro interno. Em vrios Cabidos h tambm cnegos
honorrios65.
Colegiada: O nome, derivado de collegium, designa a igreja no catedral que
possua cabido de cnegos a que presidia o prior, podendo ser sujeita ou no
jurisdio do Bispo. A mais famosa colegiada em Portugal foi a de Nossa Senhora da
Oliveira, em Guimares, que data do sculo XI ou XII, a qual em 1228 tinha 35 cnegos
e 10 porcionrios, com um mestre-escola para a instruo dos meninos. Dos alvores da
nacionalidade so as colegiadas de S.Martinho da Cedofeita, no Porto, e a de Alcova,
bem como outras66.
Os membros dos Institutos Religiosos e Sociedades de Vida Apostlica no
podem ser nomeados cnegos.
Descrio e atribuies: cn.503
O captulo de cnegos um colgio de sacerdotes com a atribuio especfica de
cuidar das funes litrgicas mais solenes na prpria Igreja. O bispo pode confiar outros
64

Cf. Antnio LEITE, Cabido, in Enciclopdia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, ed. Sculo XXI,
Lisboa-S.Paulo, 1998, vol.5, cols 584-586.
65
Cf. Antnio LEITE, Cabido, 584.
66
Cf. M.Alves de OLIVEIRA, Colegiada, in Enciclopdia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, ed.
Sculo XXI, Lisboa-S.Paulo, 1998, vol.7, col.400.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 78

encargos ao cabido. No CIC anterior, o captulo catedral tinha uma importncia no


campo litrgico e administrativo, seja em "sede vacante" como em "sede plena". Era sua
competncia prover administrao da diocese, "sede vacante", e eleger o Vigrio
capitular.
O termo "captulo" deriva de "caput parvum", no sentido que os capitulares
constituam como que a "pequena cabea" da Igreja qual estavam adscritos (o Bispo
seria o "caput maius"), ou devido ao facto que os capitulares liam diariamente um
captulo das suas constituies. O termo "cnego" antiqussimo e deriva de "cnon" ou
pelas normas que regulavam a sua vida em comum ou pelo livro em que eram inscritos
os seus nomes.
Alm das funes litrgicas e administrativas, o CIC prev:
-o Legado pontifcio o ua alguns cnegos (cn.3773);
-todos os cnegos devem ser convidados e tm o dever de participar no snodo
diocesano (cn.463l, 3);
-o cnego seja convidado a participar, com voto consultivo, no conclio provincial,
mediante dois dos seus membros designados colegialmente (cn.4435).
necessrio o consentimento do colgio dos consultores em todos os casos em
que for necessrio tambm o consentimento do conselho para os assuntos econmicos.
O consentimento o voto deliberativo.
Aps um ano de s vacante, o administrador diocesano pode resolver os processos
de incardinao/excardinao, consultado o colgio dos consultores.
O administrador diocesano pode passar as cartas demissrias, com o
consentimento do colgio dos consultores para a ordenao de presbteros e diconos.

Captulo V - O Conselho Pastoral Diocesano (cc. 511-514)


511

512

513
514

Em cada diocese, na medida em que as circunstncias pastorais o aconselharem,


constitua-se o conselho pastoral, ao qual pertence, sob a autoridade do Bispo,
investigar e ponderar o concernente s actividades pastorais da diocese e propor
concluses prticas.
1. O conselho pastoral constitudo por fiis que se encontrem em plena
comunho com a Igreja catlica, quer clrigos quer membros dos institutos de
vida consagrada, quer sobretudo leigos, designados pelo modo determinado pelo
Bispo diocesano.
2. Os fiis escolhidos para o conselho pastoral sejam de tal modo seleccionados que, por meio deles, toda a poro do povo de Deus, que constitui a diocese,
esteja representada, tendo em considerao as diversas regies da diocese, as
condies sociais e as profisses e ainda a parte que cada um exerce no
apostolado individualmente ou em conjunto com outros.
3. Para o conselho pastoral no se escolham seno fiis de f firme, de bons
costumes e notveis pela prudncia.
1. O conselho pastoral constitudo para um prazo determinado, segundo as
prescries dos estatutos dados pelo Bispo.
2. Ao vagar a s, o conselho pastoral cessa nas suas funes.
1. Compete ao Bispo diocesano, segundo as necessidades do apostolado,
convocar o conselho pastoral, que tem apenas voto consultivo, e presidi-lo;

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 79

tambm lhe compete exclusivamente tornar pblico aquilo de que se tratou no


conselho.
2. Seja convocado ao menos uma vez por ano.

Captulo VI Parquias, Procos e Vigrios paroquiais


(cf. cc.515-552)
Papa FRANCISCO, Exortao Apostlica Evangelii Gaudium,Apndice K.
Sobre a parquia, vigararias e visita pastoral, cf.: Diretrio Pastoral para o
Ministrio pastoral dos Bispos Apostolorum sucessores, publicado pela Congregao
dos Bispos, em 22.02.2004, nn.210-224.
515

1. A parquia uma certa comunidade de fiis, constituda estavelmente na


Igreja particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do Bispo diocesano, est
confiada ao proco, como a seu pastor prprio.
2. Compete exclusivamente ao Bispo diocesano erigir, suprimir ou alterar
parquias, o qual no as erija ou suprima, nem as altere notavelmente, a no ser
depois de ouvido o conselho presbiteral.
3. A parquia legitimamente erecta goza pelo prprio direito de personalidade
jurdica.

516

1. Se outra coisa no for determinada pelo direito, parquia equipara-se a quaseparquia, que uma certa comunidade de fiis na Igreja particular, confiada a um
sacerdote como a pastor prprio e que, em virtude de circunstncias peculiares, ainda
no foi erecta em parquia.
2. Onde certas comunidades no possam ser erectas em parquias ou quase-parquias, providencie o Bispo diocesano de outro modo ao servio pastoral das
mesmas.

13.1 Caractersticas da Parquia67:


1. A parquia uma comunidade de fiis, em substituio do termo portio. A
parquia no um simples territrio ou um territrio equiparado com Igreja,
fiis e presbtero. O CIC no renuncia contudo ao aspecto territorial,
acentuando sim a dimenso comunitria;
2. O territrio. A comunidade de fiis tem um territrio (cf.cn. 518). No mesmo
territrio esto vrias categorias de fiis que preciso coordenar. Devem ser
indicados os confins da parquia porque a validade de alguns actos est
dependente do territrio. Cada parquia tem os seus limites territoriais;
3. O bispo pode constituir parquias pessoais, em razo do rito, da mesma lngua
ou nacionalidade (cf. cc. 518; 813);
4. A parquia nasce da diviso da diocese em mltiplas comunidades;
5. Constituda estavelmente, isto , com o decreto do bispo com o parecer do
conselho presbiteral (cf.cn. 515 2). O mesmo procedimento exigido para a
modificao e supresso;
6. A Parquia goza de personalidade jurdica (cf. cn.5153);
67

Sobre a histria da parquia, cf. entre outros: Vincenzo BO, Storia della Parrocchia, vrios volumes,
Roma, Edizioni Dehoniane.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 80

7. Est confiada ao proco como seu pastor prprio (cf.cc. 519; 528-530). No
necessrio que cada parquia tenha um pastor prprio (cf.cn. 517 1), mas
podem ser confiadas a um grupo de sacerdotes em que um deles in solidum
oriente a aco conjunta e seja responsvel perante o Bispo (cf. cn.5171), ou
ento confiar a um nico Proco vrias parquias vizinhas (cf. cn.5261).
No se admite que na mesma Parquia haja dois procos ou dois moderadores
(cf. cn.5262). Est prevista tambm a possibilidade, por falta de sacerdotes,
que se confie a Parquia a um Dicono ou outra pessoa no sacerdote, ou a
uma comunidade, se bem que seja necessrio nomear algum sacerdote como
Proco (cf. cn.5172);
8. Sob a autoridade do bispo diocesano: o proco deve estar em comunho
hierrquica com o bispo (cf. cn.5292);
9. Cooperao de presbteros e diconos;
10. A presena e actividade dos leigos na parquia: o proco deve criar a
comunho. A actividade dos leigos tem lugar especial no conselho pastoral (cf.
cn. 536) e no conselho para os assuntos econmicos (cf. cn. 537);
11. A parquia comparada ao fontanrio da aldeia onde todos acorrem quando
tm sede, segundo o Beato Joo XXIII:
A Parquia, sendo a Igreja colocada no meio das casas dos homens,
vive e actua profundamente integrada na sociedade humana e intimamente
solidria com as suas aspiraes e os seus dramas. Frequentemente, o contexto
social, sobretudo em certos pases e ambientes, violentemente sacudido por
foras de desagregao e de desumanizao: o homem pode encontrar-se
perdido e desorientado, mas no seu corao permanece o desejo, cada vez
maior, de poder sentir e cultivar relaes mais fraternas e humanas. A resposta
a esse desejo pode ser dada pela Parquia, quando esta, graas participao
viva dos fiis leigos, se mantm coerente com a sua originria vocao e
misso: ser no mundo lugar da comunho dos crentes e, ao mesmo tempo,
sinal e instrumento da vocao de todos para a comunho; numa
palavra, ser a casa que se abre para todos e que est ao servio de todos, ou,
como gostava de dizer o Papa Joo XXIII, o fontanrio da aldeia a que todos
acorrem na sua sede68.
A XIII Assembleia Geral do Snodo dos Bispos, na sua Mensagem ao
Povo de Deus, destaca a importncia da Parquia na nova evangelizao:
8. A comunidade eclesial e os muitos operrios da evangelizao
A obra de evangelizao no tarefa de alguns na Igreja, mas das
comunidades eclesiais como tais, onde se tem acesso plenitude dos
instrumentos do encontro com Jesus: a Palavra, os sacramentos, a comunho
fraterna, o servio da caridade, a misso.
Nesta perspectiva sobressai antes de tudo o papel da parquia, como
presena da Igreja no territrio no qual os homens vivem, fonte da aldeia,
como gostava de a chamar Joo XXIII, na qual todos se podem dissedentar
encontrando nela o refrigrio do Evangelho. O seu papel permanece
irrenuncivel, mesmo se as mudadas condies podem exigir quer a sua
articulao em pequenas comunidades quer vnculos de colaborao em
contextos mais amplos. Sentimos agora que devemos exortar as nossas
68

JOO PAULO II, Exortao Apostlica ps-sinodal Christifideles Laici, 30.12.1988, n 27; cf. n 26.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 81

parquias a apoiar na tradicional solicitude pastoral do povo de Deus as novas


formas de misso exigida pela nova evangelizao. Elas devem permear
tambm as vrias formas, importantes expresses da piedade popular.
Na parquia continua a ser decisivo o ministrio do sacerdote, pai e
pastor do seu povo. Os Bispos desta Assembleia sinodal expressam a todos os
presbteros gratido e proximidade fraterna pela sua no fcil tarefa e
convidamo-los a vnculos mais estreitos no presbitrio diocesano, a uma vida
espiritual cada vez mais intensa, a uma formao permanente que os torne
idneos para enfrentar as mudanas.
Ao lado dos presbteros deve ser apoiada a presena dos diconos, assim
como a aco pastoral dos catequistas e de muitas outras figuras ministeriais e
de animao no campo do anncio e da catequese, da vida litrgica, do servio
caritativo, assim como as vrias formas de participao e co-responsabilidade
por parte dos fiis, homens e mulheres, por cuja dedicao nos mltiplos
servios nas nossas comunidades nunca seremos bastante agradecidos.
Tambm a todos eles pedimos que dediquem a sua presena e o seu servio na
Igreja na ptica da nova evangelizao, cuidando a prpria formao humana e
crist, o conhecimento da f e a sensibilidade aos fenmenos culturais de hoje.
Considerando os leigos, dirigimos uma palavra especfica s vrias
formas de antigas e novas associaes e ao mesmo tempo aos movimentos
eclesiais e s novas comunidades, todas expresses da riqueza dos dons que o
Esprito faz Igreja. Tambm a estas formas de vida e de compromisso na
Igreja expressamos gratido, exortando-os fidelidade ao prprio carisma e
convicta comunho eclesial, sobretudo no contexto concreto das Igrejas
particulares.
Testemunhar o Evangelho no privilgio de alguns. Reconhecemos
com alegria a presena de tantos homens e mulheres que com a sua vida se
tornam sinal do Evangelho no meio do mundo. Reconhecemo-los tambm em
tantos nossos irmos e irms cristos com os quais a unidade infelizmente
ainda no perfeita, mas que esto contudo marcados pelo Baptismo do
Senhor e so seus anunciadores. Nestes dias foi para ns uma experincia
comovedora ouvir as vozes de tantos responsveis influentes de Igrejas e
Comunidades eclesiais que nos testemunharam a sua sede de Cristo e a sua
dedicao ao anncio do Evangelho, tambm eles convictos de que o mundo
precisa de uma nova evangelizao. Estamos gratos ao Senhor por esta unidade
na exigncia da misso69.
13.2 O Proco70
519

O proco o pastor prprio da parquia que lhe foi confiada, e presta a cura
pastoral comunidade que lhe foi entregue, sob a autoridade do Bispo
diocesano, do qual foi chamado a partilhar o ministrio de Cristo, para que, em
favor da mesma comunidade, desempenhe o mnus de ensinar, santificar e
governar, com a cooperao ainda de outros presbteros ou diconos e com a
ajuda de fiis leigos, nos termos do direito.

69

http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20121026_messagesynod_po.html
70
Cf. CONGREGAO PARA O CLERO, Instruo O Presbtero, Pastor e Guia da Comunidade
Paroquial, 4.8.2002.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 82

O proco pastor de almas (CD 30). Esta qualidade no exclusiva dos procos.
O proco exerce um ofcio eclesistico (cn. 145 1), com poder de governo ordinrio e
prprio. a comunho com Cristo que realiza o vnculo com o bispo, com a Igreja, que
garante a eficcia do ministrio e apostolado. O contedo do ministrio do proco atinge
a plenitude dos trs munera (regendi, santificandi, docendi).
Requisitos para ser Proco:
Receber a proviso cannica (cf. cn.146);
Estar em comunho com a Igreja e com o Bispo diocesano (cf. cn. 149 1)71;
O ofcio que comporte a cura d'almas deve ser exercido por quem foi ordenado
presbtero (cc. 150; 5211). O dicono ou leigo no podem ser procos,
mesmo que coordenem a parquia;
Deve ser uma pessoa fsica (cn. 520 1) e no jurdica;
Deve distinguir-se pela s doutrina e probidade de costumes, zelo das almas
(521 2) e outras qualidades necessrias;
No caso de uma parquia ter sido confiada a um grupo de sacerdotes in
solidum, todos eles devem ter estas qualidades (cf. cn.542).
Nomeao do Proco:
da exclusiva competncia do Bispo diocesano (cn. 523) a nomeao e/ou a
confirmao no caso de apresentao/eleio (cf. cn.147);
Quando uma parquia est confiada a um Instituto de Vida Consagrada ou
Sociedade de Vida Apostlica, compete ao Bispo a confirmao e nomeao
do candidato apresentado (cf. cn.6821, para a remoo, cf.2);
O Bispo deve consultar o vigrio forneo e outros presbteros e leigos para se
inteirar da idoneidade do candidato (cf. cn.524).
Durao do mandato:
O proco deve beneficiar da estabilidade, por isso a nomeao deve ser feita
por prazo indeterminado (cn.522);
Segundo o Decreto V da Conferncia Episcopal Portuguesa, o Bispo
diocesano pode nomear o Proco por um perodo de seis anos72.
Tomada de posse:
o acto jurdico com o qual a autoridade competente confia ao proco a
comunidade paroquial (cf. cn.527); pela tomada de posse que se comea a
exercer a cura pastoral da parquia.
A posse conferida pelo Ordinrio do lugar ou um seu delegado;
Deve emitir a profisso de f e juramento de fidelidade (cn. 833 6);
Misso e deveres do Proco73:
Munus Docendi:

71

Cf. Pastores Dabo Vobis, 15-21; 73-75; Directrio para o Ministrio e Vida dos Presbteros, 23-27.
Cf. CONFERNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Decretos Gerais para aplicao do novo Cdigo
de Direito Cannico, in Lumen 46 (1985) 147-152.
73
Cf. Liomar Pereira da SILVA, Estudo sobre o governo da Parquia, in Revista Brasileira de Direito
Cannico, n 55 (2008) 111-139.
72

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 83

o Providenciar para que a Palavra de Deus seja anunciada (cc. 528 1; 757;
760; 761; 762-772; 773-780; 793-821)
Munus Santificandi (cf.cc. 528 2; 5291):
o Os presbteros tm o ponto mximo do seu ministrio no culto
eucarstico, onde agem in persona Christi;
o Devem fazer com que a Eucaristia seja o centro da assembleia crist;
o Deve educar os fiis para a prtica dos sacramentos e vida de orao.
Munus Regendi (cn. 529): visitar as famlias e confort-las; visitar os
doentes; dedicar ateno aos pobres e aflitos, aos solitrios e emigrantes;
apoiar os cnjuges e as famlias; fomentar a colaborao dos leigos e dos
movimentos; promover a comunho entre pessoas e organismos paroquiais.
Responsabilidade de modo especial confiadas ao proco, mas no exclusivas
dele (cf. cn.530):
o Administrao do Baptismo no seu territrio, no se pode batizar noutra
parquia sem a devida autorizao (cf. cn.862);
o Administrao do Crisma em perigo de morte (cf. cc.833,3; 5661);
o Administrao do Vitico e uno dos doentes, conceder a bno
apostlica 8cf. cn.5661);
o Assistncia aos matrimnios (cf. cc.11082; 1112, 1-2);
o Celebrar as exquias;
o Bno da fonte baptismal no tempo pascal, conduo das procisses
fora da igreja, e bem assim as bnos solenes tambm fora da igreja;
o Celebrar a Eucaristia de forma mais solene nos Domingos e dias de
preceito.
O Proco representa a Parquia em todos os assuntos jurdicos, vela pela boa
administrao dos bens da Parquia (cf. cc. 532; 1281-1288):
Direito remunerao do Proco e ofertas (cf. cn.2811):
Remunerao ao sacerdote e destino das ofertas (cf. cn.531) As ofertas feitas
ao proco revertem para o fundo paroquial (cn. 531). So nulos os actos que
ultrapassam a administrao ordinria sem a licena escrita do Ordinrio.
Dever de residncia e frias:
O proco deve residir na casa paroquial e perto da Igreja (cf. cc. 5331; 1396);
Direito a frias (cf. cc.2832; 5332);
Ausncia do Proco e substituto (cf. cc.5333; 549).
Dever da Missa pro populo (cf.cn. 534):
Todos os domingos e dias festivos de preceito na sua diocese;
Na missa pro populo, no se aceitam intenes nem se acumulam missas
pluri-intencionais.
Dever de velar pelos documentos e arquivo (cf. cn. 535).
13.3A perda do ofcio de proco
(cf. cc. 538; 184 1; 1336 1, 2; 1342 2)
1. A remoo (cf. cc. 192-194):
Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 84

Tem de haver um decreto legtimo, por escrito, da parte do bispo. Este pode
remover o proco, mesmo que no haja culpa grave, se a sua aco for
ineficaz.
As principais causas da remoo (cn. 1741):
o Perda da boa estima perante os paroquianos;
o Doena grave permanente;
o Grave negligncia ou violao dos direitos paroquiais, aps devida
admoestao;
o M administrao dos bens temporais;
O procedimento (cc. 1742-1745);
2. A transferncia pode ser imposta ou proposta pelo bispo (cc.1748-1751);
A ordem/transferncia s tem valor quando for apresentado o decreto por
escrito;
3. A renncia (cn. 187) deve ser aceite pelo bispo diocesano;
4. O proco, quando deixa de paroquiar, pode ser designado de "emrito";
5. O proco cessa o seu ofcio por decurso do prazo para o qual foi
nomeado (cn. 521);
6. A privao (cc. 1364 1; 1387-1389);
7. A perda do ofcio (cc. 1394; 1396-1398).
13.4 Parquia vaga
539

541

Quando vagar a parquia, ou o proco estiver impedido de exercer o mnus


pastoral na parquia, por motivo de cativeiro, exlio ou expulso, incapacidade
ou doena, ou por outra causa, seja quanto antes constitudo pelo Ordinrio do
lugar um administrador paroquial, isto , um sacerdote que supra as vezes do
proco, nos termos do cn. 540.
1. Enquanto a parquia estiver vaga ou o proco impedido de exercer o seu
mnus pastoral, antes da constituio do administrador paroquial, assuma
interinamente o governo da parquia o vigrio paroquial e, se forem vrios, o
mais antigo dos mesmos na nomeao; e, se no houver vigrios, o proco
determinado pelo direito particular.
2. Quem tiver assumido o governo da parquia, nos termos do 1, informe
imediatamente o Ordinrio do lugar da vagatura da parquia.

13.5 Administrador paroquial: cn.540


13.6 Os Vigrios paroquiais (cc. 545 1; 546; 547; 548-551)
O vigrio paroquial tem de ser um presbtero. Na sua nomeao, deve ser claro o
mbito da sua aco paroquial.
548

1. As obrigaes e os direitos do vigrio paroquial, para alm dos


mencionados nos cnones deste captulo, so determinados pelas constituies
diocesanas e pela carta de nomeao, dada pelo Bispo diocesano, e mais
especificadamente pelo mandato do proco.
2. Se outra coisa no for expressamente determinada na carta de nomeao

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 85

549

550

551
552

dada pelo Bispo diocesano, o vigrio paroquial est obrigado em razo do ofcio
a ajudar o proco no exerccio de todo o ministrio paroquial, exceptuada a
aplicao da Missa pelo povo, e ainda, se for necessrio, nos termos do direito, a
substituir o proco.
3. O vigrio paroquial exponha regularmente ao proco os trabalhos pastorais
em perspectiva e os j assumidos, para que o proco e o vigrio ou vigrios,
conjugados os esforos, possam providenciar cura pastoral da parquia, da
qual so simultaneamente responsveis.
Na ausncia do proco, a no ser que o Bispo diocesano tenha providenciado de
outro modo nos termos do cn. 533, 3, e a no ser que tenha sido constitudo
um administrador paroquial, observem-se as prescries do cn. 541, 1; neste
caso, est o vigrio obrigado a todos os deveres do proco, exceptuada a
obrigao de aplicar a Missa pelo povo.
1. O vigrio paroquial est obrigado a residir na parquia, ou, se foi
constitudo simultaneamente para diversas parquias, numa delas; todavia, o
Ordinrio do lugar pode, por justa causa, permitir que resida noutro lugar, principalmente numa casa comum a vrios presbteros, contanto que o cumprimento
das funes pastorais no sofra por isso nenhum detrimento.
2. Procure o Ordinrio do lugar que entre o proco e os vigrios, onde tal for
possvel, se desenvolva o costume da vida comum na residncia paroquial.
3. No atinente ao tempo de frias, goza o vigrio paroquial do mesmo direito
que o proco.
Quanto s oblaes que, por ocasio do ministrio pastoral, os fiis oferecem ao
vigrio, observem-se as prescries do cn. 531.
O vigrio paroquial, por justa causa, pode ser removido pelo Bispo diocesano
ou pelo Administrador diocesano, sem prejuzo do prescrito no cn. 682, 2.
14.7 Organismos paroquiais de participao
Conselho Pastoral Paroquial (cn. 536);
Conselho para os Assuntos Econmicos (cn. 537);

Apostolicam Actuositatem,10, afirma que os leigos devem participar na vida


pastoral e na administrao dos bens eclesisticos (cf. tambm PO 17).
O Conselho Paroquial presidido pelo proco. Tem voto consultivo.
Qualquer fiel pode fazer parte do Conselho Econmico (cn. 1254). Este conselho
no tem a finalidade de substituir o proco; este que o primeiro responsvel e o
representante legal da parquia. O proco, juntamente com este conselho, deve prestar
contas parquia (cn. 1287 2). Tem voto consultivo.
O direito particular deve especificar as competncias destes organismos. O Bispo
diocesano aprova os respectivos estatutos e seus membros.
Os leigos devem colaborar com os presbteros, mas no podem exceder os limites
das suas funes, respeitando as competncias dos pastores74.

74

Cf. VRIOS DICASTRIOS DA CRIA ROMANA, Instruo acerca de algumas questes sobre a
colaborao dos fiis leigos no sagrado ministrio dos Sacerdotes, 15.08.1997, in www.vatican.va.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 86

Captulo VII Vigrios forneos (cf. cc.553-555)


553

554

1. O vigrio forneo, tambm chamado vigrio da vara ou arcipreste ou por


outra forma, o sacerdote posto frente da vigararia fornea ou arciprestado.
2. A no ser que outra coisa esteja estabelecida no direito particular, o vigrio
forneo nomeado pelo Bispo diocesano, ouvidos, a seu prudente juzo, os
sacerdotes que, na vigararia em causa, exercem o ministrio.
1. Para o ofcio de vigrio forneo, que no est unido ao ofcio de proco de
determinada parquia, escolha o Bispo um sacerdote que, ponderadas as
circunstncias do lugar e do tempo, considere idneo.
2. Nomeie-se o vigrio forneo por tempo determinado, estabelecido pelo
direito particular.
3. Por justas causas, o Bispo diocesano, a seu prudente juzo, pode remover
livremente o vigrio forneo.

Sebenta de Direito Cannico Institucional I - Prof. Doutor Manuel Saturino C. Gomes - 87

BIBLIOGRAFIA GERAL
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Lisboa, Faculdade de Teologia, 13 de Maio de 2014


Festa de Nossa Senhora de Ftima

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