Reformas Neoliberais e Políticas Públicas Hegemonia Ideológica e Redefinição Das Relações Estado-Sociedade
Reformas Neoliberais e Políticas Públicas Hegemonia Ideológica e Redefinição Das Relações Estado-Sociedade
Reformas Neoliberais e Políticas Públicas Hegemonia Ideológica e Redefinição Das Relações Estado-Sociedade
REGINALDO C. MORAES *
Profetas do apocalipse
Como seria de esperar, a vertente neoconservadora do pensa-
mento nico, requentando temas de Burke e Spencer, acentuar esses
efeitos deletrios sobre o comportamento moral: alguns dos descen-
dentes do velho Ado teriam arranjado um meio de contornar a sina
de ganhar a vida com o suor do prprio rosto, 6 transformando-se em
caronistas do gasto pblico, free-riders. Ao invs de indivduos
independentes, empreendedores, autoconfiantes, teramos dependentes
qumicos do welfare-state. Ao invs de famlias, teramos hordas de mes
solteiras ou abandonadas e pais prolficos no esperma, mas estreis na
responsabilidade. No estaramos muito longe, no sculo XX, do
destino de Sodoma e Gomorra. Para quem pense que estou exagerando,
sugiro a leitura dos sermes de James Buchanan, ganhador do Prmio
Nobel de Economia em 1986. Veja por exemplo as seguintes passagens:
Durante varias dcadas (...) nossa ordem moral tem estado num processo de
eroso. Um nmero cada vez maior de pessoas parece se tornar anarquistas
morais; parece estar perdendo um senso de respeito mtuo uns pelos outros,
juntamente com qualquer propenso a comportar-se segundo regras e cdigos
de conduta generalizveis. (Buchanan, 1986)
(...) (tem-se observado) eroso generalizada na conduta pblica e privada,
atitudes crescentemente liberalizadas no que diz respeito a atividades sexuais,
uma vitalidade declinante da tica puritana do trabalho, deteriorao na
Notas
1. Para um exame do idario neoliberal, de suas origens e correntes, tomo a liberdade de
remeter o leitor a meu livro (Moraes, 2001).
2. Vale enfatizar essa verdade da narrativa. Ela no deriva de qualquer suposta adequatio
entre coisa e idia, realismo de pressupostos ou potencial de predio de fatos
independentes dos seus enunciados. A verdade da doutrina deriva da efetividade desses
enunciados, da sua capacidade de virar fato em virtude de conquistarem a imaginao
dos sujeitos-objetos, isto , dos agentes que examina e cujo comportamento ao mesmo
tempo explica e dirige. Merton, em brilhante ensaio a respeito das profecias que se
auto-realizam, j mostrara esse peculiar sentido da verdade nos fatos sociais, explorando
Referncias bibliogrficas