A Vara Como Metodo de Disciplna A Luz de Proverbios13:24
A Vara Como Metodo de Disciplna A Luz de Proverbios13:24
A Vara Como Metodo de Disciplna A Luz de Proverbios13:24
T his article deals with the rod validity as a method of discipline in light of Proverbs
13:24. We analyze the key terms of the verse and its specific parallelism, seeking
to establish syntactic relation of terms, establishing the back of the connection to
the biblical concept of divine discipline. Our study indicates that the discipline has
a redemptive function and the use of the rod is an acceptable reality only when the
objective is to discipline to save. We conclude that the text of Proverbs 13:24, according
to its context, is a hymn to the redemptive discipline, not merely punishment method.
1
Mestre em Teologia Bblica pelo Centro Universitrio Adventista de So Paulo. E-mail:
REVISTA KERYGMA
Provrbios e o paralelismo
O livro de Provrbios faz parte da literatura de sabedoria bblica, que tem como
uma das caractersticas mais marcantes o uso do paralelismo. O paralelismo consiste
em se colocar duas linhas paralelas, repetindo, basicamente, o mesmo contedo
semntico ou estrutural. O texto de Provrbios 13:24 se encontra na seo que vai do
captulo 10:1 a 22:16, composta de aproximadamente 375 provrbios, considerada a
130 mais antiga do livro. Provrbios so, em sua maioria, comparaes (KIDNER, 1986,
p. 56; LASOR, 2002, p. 501, 503, 509), ditos curtos ou mximas que tm em mdia
uma linha de extenso, caracterstica que facilita sua reteno (RAD, 1976, p. 87),
tornando-os populares em praticamente todas as culturas.
A seo de Provrbios 10:122:16 pode ser dividida em dois grupos: o grupo de
paralelismo antittico (1015) e o grupo de paralelismo sinttico (1622). O paralelismo
sinttico acontece quando a segunda linha desenvolve ou completa o pensamento da
primeira linha. O paralelismo antittico, por sua vez, ocorre quando a segunda linha
contrasta ou anula o pensamento e o significado da primeira linha (REID, 2007, p. 165).
O texto de Provrbios 13:24 est dentro do grupo de paralelismo antittico.
Paralelismo antittico
A B
O que retm a vara Odeia o filho
B A
mas o que ama cedo o disciplina
2
Segundo Milton Schwantes (2005, p. 1363), quando a parte b se pe a formular um
contraponto, um contra-provrbio parte a, contrape ao provrbio da primeira parte um
ampliao sentencial na segunda e, dessa forma, a parte b altera a frase proverbial de a.
O verbo amar, ahab que est em clara oposio ao verbo odiar, aparece 31 vezes
no texto bblico.3 Esse termo se refere tanto ao sentimento puro quanto impuro, tanto
ao sentimento direcionado a Deus quanto ao homem. No entanto, quando se usa no
contexto familiar, descrevendo o sentimento do pai para com o filho, geralmente, tem
o sentido de amar, querer ou preferir.
O substantivo shebet, geralmente traduzido como vara, ocorre no texto hebraico
do AT 192 vezes.4 A palavra aparece vrias vezes de forma literal, significando uma
espcie de pau, de vara, que era usado como um instrumento de trabalho (Is 28:27),
podendo ser uma arma usada em um ataque a um inimigo (2Sm 18:14; 23:21); ou
uma arma usada para ferir e punir um escravo ou filho (x 21:20, Pv 10:13; 22:15;
23:13-14; 29:15). O uso desse termo se refere tambm a um tipo de ferramenta que
os pastores utilizavam para guiar e at mesmo defender as ovelhas (Lv 27:32; Sl 23:4;
Ez 20:37; Mq 7:14). Essa palavra, em alguns textos, traduzida como tribo (Nm 4:18;
18:2; 24:2; 32:33; 36:3); provavelmente, o termo tomou esse significado por causa da
ligao de tribo com a ideia de autoridade, devido traduo do substantivo shebet
como cetro, que simboliza em algumas passagens autoridade (Gn 49:10; Am 1:5; Zc
10:11) (HARRIS, 1998, p. 1511-1512). Alm do seu uso literal, observa-se que esse
132 substantivo usado vrias vezes no texto bblico de forma claramente simblica (Gn
49:11; Sl 2:9; 23:4; Is 10:5, 15, 24; 11:4; 14:5).
evidente que existe uma tenso entre o simblico e o literal, no que diz
respeito ao uso do termo. Todavia, apesar de no ser uma tarefa fcil apontar dentro
de uma frase como feito o uso de certas palavras, temos que admitir que o contexto
e os usos histricos das palavras so os melhores guias gerais na tomada de decises
3
Gn 25:28; x 20:6; Dt 5:10; 7:9; 10:18; 13:4; Jz 5:31; 1Sm 18:16; 2Sm 13:4; 19:7; 1Rs 5:15; 2Cr
20:7; 26:10; Ne 1:5; Et 5:10, 14; 6:13; Sl 5:12; 11:5; 33:5; 34:13; 37:28; 38:12; 40:17; 69:37; 70:5;
87:2; 88:19; 97:10; 119:132, 165; 122:6; 145:20; 146:8; Pv 8:17, 21; 12:1; 13:24; 14:20; 17:17, 19;
18:21, 24; 19:8; 21:17; 22:11; 27:6; 29:3; Ec 5:9; Is 1:23; 41:8; 56:10; 61:8; 66:10; Jr 20:4, 6; Lm 1:2;
Dn 9:4; Os 3:1; 10:11; Mq 3:2.
4
Gn 49:10, 16, 28; x 21:20; 24:4; 28:21; 39:14; Lv 27:32; Nm 4:18; 18:2; 24:2, 17; 32:33; 36:3; Dt
1:13, 15, 23; 3:13; 5:23; 10:8; 12:5, 14; 16:18; 18:1, 5; 29:7, 9, 17, 20; 31:28; 33:5; Js 1:12; 3:12; 4:2,
4f, 8, 12; 7:14, 16; 11:23; 12:6, 7; 13:7, 14, 29, 33; 18:2, 4, 7; 21:16; 22:7, 9, 10, 11, 13, 15, 21; 23:4;
24:1; Jz 5:14; 18:1, 19, 30; 20:2, 10, 12; 21:3, 5f, 8, 15, 17, 24; 1Sm 2:28; 9:21; 10:19, 20, 21; 15:17;
2Sm 5:1; 7:7, 14; 15:2, 10; 18:14; 19:10; 20:14; 23:21; 24:2; 1Rs 8:16; 11:13, 31, 32, 35, 36; 12:20,
21; 14:21; 18:31; 2Rs 17:18; 21:7; 1Cr 5:18, 23, 26; 11:23; 12:38; 23:14; 26:32; 27:16, 20, 22; 28:1;
29:6; 2Cr 6:5; 11:16; 12:13; 33:7; Jo 9:34; 21:9; 37:13; Sl 2:9; 23:4; 45:7; 74:2; 78:55, 67, 68; 89:33;
105:37; 122:4; 125:3; Pv 10:13; 13:24; 22:8, 15; 23:13, 14; 26:3; 29:15; Is 9:3; 10:5, 15, 24; 11:4; 14:5,
29; 19:13; 28:27; 30:31; 49:6; 63:17; Jr 10:16; 51:19; Lm 3:1; Ez 19:11, 14; 20:37; 21:15, 18; 37:19;
45:8; 47:13, 21, 22, 23; 48:1, 19, 23, 29, 31; Os 5:9; Am 1:5, 8; Mq 4:14(5:1); 7:14; Zc 1:7; 9:1; 10:11.
Interpretao do texto
Provrbios 13:24 claramente um paralelismo antittico, formado por duas
sentenas curtas: uma colocada de forma negativa e a outra de forma positiva, sendo a
segunda linha introduzida por uma conjuno adversativa:
pela dor da vara (Pv 23:13;14; cf. 1Pe 5:10). A vara prefervel vergonha e loucura
da insensatez (Sl 10:1; 14:1; 51:1; Pv 13:16; 14:7; 16:22; 24:7-8; 26:1, 3, 5; 29:15; Mt 7:26),
provocada pela falta de disciplina, que resultar, finalmente, na morte (Pv 5:7-13; 19:18).
Consideraes finais
Provrbios 13:24 se posiciona contra dois conceitos no que se refere disciplina
de crianas. O primeiro a severidade violenta, sem parmetros e propsitos salvficos.
O segundo a liberdade permissiva que desconhece regras, leis e ordens, conduzindo
tambm para o caminho de morte e perdio. O texto aponta um terceiro caminho,
ressaltando a importncia de ter a vara como um mtodo de limitao do mau, usada
dentro da viso mais ampla da disciplina como um processo redentivo.
Com relao ao uso da vara, a questo no se vamos ou no us-la, mas como
a usaremos: fora do contexto da disciplina redentora ou dentro dele? No entanto, o
ponto principal que, independentemente de usarmos ou no a vara no conceito
da disciplina redentora, o que no se pode deixar de fazer disciplinar dentro desse
conceito. A nfase no tanto na vara ou no mtodo, mas se esse mtodo adequado 135
ao conceito mais amplo de disciplinar para salvar.
Cremos que o no uso da disciplina redentora, promovida em Provrbios,
limitadora do mal e instrutora do bem, constitui um dos grandes problemas da
educao atual. Pois, de fato, a disciplina permissiva no tanto um mtodo de
disciplina, mas a falta dela (TAYLOR, 2011, p. 7).
Provrbios 13:24, assim, no promove o uso da vara de forma indiscriminada e
irresponsvel, mas o texto no exclui a possibilidade do seu uso. Ellen G. White (1996,
p. 250), em referncia ao assunto, declarou que a vara pode ser necessria quando
falharam outros recursos, contudo no deve fazer uso dela, se for possvel evitar. Ela
concorda com o uso da vara dentro de um processo disciplinar, em harmonia com
Provrbios, afirmando que a disciplina pode evolver um mtodo pontual, mas vai alm
dele, sendo caracterizada pelo conjunto de mtodos aplicados dentro de um processo
mais amplo. O texto de Provrbios 13:24, portanto, um apelo disciplina motivada
pelo amor com o objetivo de salvar, e no um sem propsito louvor vara.
Referncias
BOTTERWEEK, J. G. (Ed.). Theological Dictionary of the Old Testament. Grand
Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1998. v. 9.
ROSRIO, M. Projeto de lei n 2654 /2003, [s. d.]. Disponvel em: http://bit.
136 ly/1QwbnXy. Acesso em: 07 jun. 2012.