Direito de Empresa - Notas de Aula AP1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR UFC

FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO
DIREITO DE EMPRESA
PROF. JOO LUS NOGUEIRA MATIAS
ALUNA: Larissa Guimares
NOTAS DE AULA
2016.2

CONTEDO PROGRAMTICO
- consideraes gerais

1. Abordagem Histrica
O Cdigo Comercial e o Regulamento 737 (Cdigo de Processo Comercial),
ambos de 1850, fazem parte da primeira safra de cdigos a ser aprovados no Brasil.
No que diz respeito ao Cdigo Comercial, este era dividido em trs partes:
Parte Primeira do Comrcio em Geral
Parte Segunda do Comrcio Martmo
Parte Terceira - Das Quebras (tratava das falncias)
Das Quebras foi a primeira parte do Cdigo Comercial a ser revogada e o
assunto passou a ser tratado por lei especial (atualmente, lei 11.101/05). O Cdigo
Civil de 2002 revoga a Parte Primeira; e o Cdigo Comercial passa a regular
somente o comrcio martimo.

2. Noo de Empresa
Em primeiro lugar, preciso desvincular a ideia de empresa da ideia de
pessoa jurdica: pode sim haver empresa sem a criao de pessoa jurdica. O
Cdigo Civil Italiano (1942) foi o primeiro a trazer a noo de empresa para o centro
do Direito Comercial, anteriormente ocupado pelo comerciante. Cabe ressaltar que a
parte de Empresa do Cdigo Civil Brasileiro de 2002 cpia literal do que traz o
Cdigo Civil Italiano (Oscar Barreto foi o responsvel pela parte de Empresa no
CC/2002). Importante destacar que a noo de Empresa plurvoca: h vrios
significados de empresa, todos possveis e baseados no Cdigo.

3. Noo de Empresrio
O que o empresrio? Desfazer a ideia comum de que o empresrio o
dono/gestor da empresa. Aqui, empresrio o sujeito da atividade empresarial.
Diferenciar o nome da empresa do ttulo do estabelecimento (nome de fantasia),
pois apresentam funo econmica e proteo jurdica distintas.

4. Expresses Jurdicas da Empresa


Expresso jurdica como a estrutura jurdica que viabiliza o funcionamento da
empresa: so modelos estabelecidos por lei e, via de regra, de livre escolha do
organizador. A escolha desse modelo determinante para a organizao da
empresa e estabelece regras quanto responsabilidade e ao nome, por exemplo.
Notas de Aula

Evoluo Histrica do Direito Comercial


AULA 01 (16.08)

A atividade comercial existe desde o advento da moeda, que aparece


como um meio mais eficaz que o escambo na obteno de produtos; a moeda vem
possibilitar a negociao e as pessoas passaram a perceber que, com a moeda,
podiam exercer a atividade de intermediao: comprar produtos e revende-los isso
a tpica atividade comercial. So trs as caractersticas centrais da atividade
comercial:

- intermediao no acesso a bens (o comerciante intermedirio);

- lucratividade;

- exercida em carter profissional (de maneira no espordica);

Primeira Fase do Direito Comercial Fase Subjetiva (Sc. XI)

O Direito Comercial no existe concomitantemente atividade


comercial que, no incio, era regida pelo direito comum, no havia a especialidade. O
Direito Comercial surge no perodo da Baixa Idade Mdia, onde o direito regente era
uma mistura da redescoberta do Direito Romano, mais o Direito Cannico e os
costumes brbaros, era um direito muito formal, que no se adequava atividade
comercial. Esse perodo marca o abandono do meio de produo feudal e o
surgimento dos centros urbanos a partir da aglomerao de pessoas.

Essas aglomeraes se tornam pontos fixos para o exerccio da


atividade comercial e acabam por criar mercados. Essa era uma poca de grande
conformao social, as pessoas se reuniam em guildas conforme sua classe com o
objetivo de proteger e fortalecer a mesma; a classe dos comerciantes, como sujeitos
da atividade comercial, passou a acumular dinheiro e ganhar prestgio e poder por
isso.

Nessa mesma poca comeam disputas pelo controle das cidades,


disputas patrocinadas pelos comerciantes que, em troca, exigem liberdade para
autorregular sua profisso. A atividade comercial diferente de todas as outras
praticadas at ento, no sendo as normas do direito comum adequadas a ela.
Surge ento o Direito Comercial como um direito de classe normas feitas pelos
comerciantes para os comerciantes , consuetudinrio, que se consolida e se torna

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Direito de Empresa

obrigatrio, pois apesar de no ter nenhuma influncia estatal considerado vlido


pelo Estado.

Surge, ento, o Direito Comercial como conjunto de princpios e regras


que regem o comerciante, possibilitando um melhor desenvolvimento da atividade
comercial.

Segunda Fase do Direito Comercial Fase Objetiva (Sc. XVIII Rev.


Francesa)

Com o passar do tempo, os institutos jurdicos criados pelo


comerciante passam a interessar ao resto da sociedade (como os ttulos de crdito,
por exemplo) que comeam a utilizar tais institutos na prtica, provocando uma
revoluo nas relaes comerciais. A partir da, o conceito anterior perde o sentido,
pois as normas passam a ser aplicadas tambm aos no-comerciantes e se torna
necessrio redefinir o alcance do Direito Comercial.

Isso acontece no contexto da Revoluo Francesa, que trouxe


segurana para o mundo jurdico, tomando a lei como geral e abstrata, criando
cdigos que regulem as relaes sociais, e tornando a lei a principal fonte do direito.
Ento, em 1804, feito o Cdigo de Napoleo e, logo depois, em 1807, o Cdigo
Comercial que, por sua vez, irradiou seus valores pra todo o mundo ocidental da
poca e aumentou o alcance do Direito Comercial, que passou a ser definido em
relao ao objeto, contemplando a atividade comercial.

No entanto, a mudana mais do que essa passagem do conceito


subjetivo para um objetivo; nessa fase, o Direito Comercial passa a ser conceituado
como o conjunto de princpios e regras que regulam os atos de comrcio. Aqui, atos
de comrcio, alm dos atos de comrcio por natureza (aqueles praticados pelo
comerciante no desenvolvimento de sua atividade), engloba tambm os atos de
comrcio por definio legal: aqueles atos que a lei diz que so comerciais,
independente de quem os pratique. O Cdigo de Napoleo trazia uma lista de atos
comerciais, assim como, no Brasil, o Regulamento 737 (Cdigo de Processo
Comercial) tambm o fazia em seus artigos 19 e 20. Ou seja, ocorreu um aumento
no espectro de incidncia da norma e esse o critrio de mudana da primeira para
a segunda fase do Direito Comercial.

Larissa Guimares
Notas de Aula

AULA 02 (18.08)

A atividade comercial surge com a inveno da moeda e no datada


historicamente, enquanto o Direito Comercial surge posteriormente, por volta do
sculo XI, quando condies sociais, histricas, polticas e econmicas permitiram
que os comerciantes pudessem autorregular sua atividade, pois o direito comum no
era adequado atividade comercial (1 fase).

Logo o Direito Comercial deixa de atender a realidade de direito de


classe, pois tais institutos jurdicos passaram a ser usados cotidianamente por
outras pessoas que no os comerciantes, trazendo problemas complexos, em
relao a competncia, por exemplo: o Tribunal do Comrcio poderia ou no julgar
casos em que as partes no eram comerciantes?

nesse contexto que surgem os primeiros cdigos, entre eles o


Cdigo Comercial de 1807, que traz um perfil objetivo de aplicao das normas (2
fase), voltado para os atos de comrcio, devendo ser feita a distino entre os atos
de comrcio por natureza, o ato tpico de intermediao, o comerciante
desenvolvendo o seu mister; e atos de comrcio por indicao legal, aqueles que a
lei estabelece como atos de comrcio. O legislador faz isso para contemplar as
pessoas que no eram comerciantes e usavam os institutos do Direito Comercial,
ampliando, assim, o alcance da norma.

Direito Comercial conjunto de regras e princpios que regulam...

1 Fase: ...o comerciante, perspectiva subjetiva;

2 Fase: ...os atos de comrcio por natureza


por indicao legal

3 Fase: ...a empresa.

A segunda fase vigora por muito tempo, mantendo como trao


diferenciador entre o Direito Comercial e o Direito Comum, o instituto da falncia e
recuperao. No Brasil, por volta da segunda metade do sculo XX, quando
estavam sendo contestados os valores liberais e surgiam ideias de carter mais
socializante, comea a ser questionado porque apenas os comerciantes usufruam
desse regime privilegiado e algum que desenvolvesse atividade econmica
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Direito de Empresa

diferente dos atos de comrcio, no fosse regido pelas mesmas normas. Ao


mesmo tempo, era complicado sistematizar o que viria a ser atos de comrcio, pois
estes no tinham nenhuma lgica entre si, no havia razo afim para defini-los como
tal que no fosse a pura vontade do legislador.

Tornava-se necessrio, ento, estabelecer um novo conceito para o


Direito Comercial que permitisse superar essas dificuldades tericas, definir os atos
de comrcio e ampliar o alcance da norma a quem exercesse atividade econmica
organizada. Quem primeiro o fez foi o Cdigo Civil Italiano, dizendo que o Direito
Comercial seria aplicado a qualquer pessoa que se enquadrasse como empresa.

A noo de Empresa foi trazida da economia e permitia a amplitude de


alcance da norma, tornando-se o ncleo central do Direito Comercial, agora definido
como conjunto de princpios e regras que regulam a empresa.

Para melhor compreenso do assunto, preciso ser feita a distino


entre empresrio e comerciante; o Cdigo Civil, em seu art. 966, define empresrio
de maneira mais ampla, trazendo o comerciante (circulao de bens) como uma
espcie do mesmo.

produo de bens
exerccio da atividade
empresrio circulao de bens (intermediao) econmica organizada
em carter profissional
prestao de servios

O ncleo produo de bens contempla, alm da empresa (que j era


considerada ato de comrcio na 2 fase), o produtor rural e apenas a ele facultado
ser ou no empresrio, mas prefervel que opte pelo regime empresarial pois s
assim ter direito falncia e recuperao.

A partir dessa anlise da evoluo histrica possvel perceber que o


Direito Comercial deixa de ser a exceo (1 fase) para se tornar a regra (3 fase)
nas relaes econmicas (fenmeno da comercializao da economia).

Larissa Guimares
Notas de Aula

Noes de Empresa e Empresrio

A redao de Empresa, do Cdigo Civil de 2002, cpia literal do CC


italiano que, por sua vez, tem em Alberto Asquini um dos primeiros a tentar
sistematizar os diversos conceitos de empresa trazidos pelo cdigo sem fugir
definio dada pela Cincia Econmica, uma das principais fontes do Direito
Comercial. Asquini passou a entender a empresa como um fenmeno econmico
polidrico, de definies diversas e possveis, segundo os diferente perfis pelos
quais o fenmeno econmico encarado. Seu pensamento ficou conhecido como
Teoria da Empresa e traz quatro definies de empresa:

Funcional ato de empreender, o que faz; se aproxima do conceito


econmico de empresa, compreendido como o ato em si de empreender,
Objetivo patrimonial, com o que faz (empresa = estabelecimento); o
conjunto de elementos, corpreos ou incorpreos, reunidos para
desenvolver a atividade empresarial.
Subjetivo quem faz (empresa = empresrio); no confundir com o
organizador da empresa, a empresa como sujeito de direito e obrigaes
independente de ser pessoa fsica ou jurdica.
Corporativo efeito de responsabilidade do empregador, empresa como
uma colaborao entre empregador e empregado para buscar o mesmo
objetivo; o Cdigo Civil brasileiro no se refere a esse perfil.

O legislador escolheu se referir a empresa no sentido funcional,


relacionado atividade. O cdigo aborda o perfil subjetivo pelo uso do termo
empresrio e o perfil objetivo pelo termo estabelecimento. A legislao especial
anterior ao CC/2002 traz comerciante que deve ser entendido como empresrio,
do perfil subjetivo de empresa.

O art. 966 (CC/2002) traz a definio de empresa baseada no perfil


funcional e apresenta como caracterstica principal desta a despersonalizao da
atividade. A organizao econmica, pressuposto da empresa, resulta da
capacidade que ela tem de enfrentar e disputar a concorrncia no mercado, para tal,
a empresa deve ter um modo de atuar que despersonalize a atuao do
organizador. A personalizao afronta o conceito de empresa do Cdigo que exclui
da definio quem pratica atividade intelectual (art. 966, nico).

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Direito de Empresa

Aula 03 (23.08)

A empresa tem trs ncleos de atividade econmica: produo de


bens, circulao de bens e prestao de servios. O sujeito que exerce quaisquer
desses ncleos deve submeter-se ao regime empresarial quer queira, quer no,
exceto o produtor rural, a quem facultado ser empresrio, mesmo que seja
economicamente organizado.

Continuando a anlise do art. 966, atenhamos ao nico, que traz as


excees ao regime de empresrio: No se considera empresrio quem exerce
profisso intelectual, de natureza cientfica, literria ou artstica, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores.

As excees afetam principalmente o ncleo dos prestadores de


servio; mesmo que um prestador de servio se organize economicamente, pela
natureza da atividade desenvolvida, no ser considerado empresrio. Isso atinge
principalmente os profissionais liberais e, no caso dos advogados, a lei da advocacia
ainda especifica que o advogado no pode se organizar em sociedades
empresariais. O critrio de no-existncia da empresa justamente o vnculo de
personalidade entre o profissional e a atividade.

Temos ento a exceo da exceo, salvo se o exerccio da profisso


constituir elemento de empresa, se a atividade intelectual uma dentre as vrias
desenvolvidas passa a ter carter empresarial. Por exemplo, um mdico que presta
servio em seu consultrio no pode ser considerado empresrio pois no h
rompimento do carter pessoal da prestao de servios; j se esse mesmo mdico
trabalha em um hospital, onde so ofertadas diversas especialidades e servios, o
atendimento dele apenas mais um dos servios ofertados, desvinculada do
profissional que a exerce, e acaba por diluir-se nesse conjunto de servios.

Princpio da Funo Social da Empresa

Os ideais revolucionrios da Revoluo Francesa trouxeram uma


noo nova de propriedade: nica, basicamente privada (propriedade pblica como
exceo) e absoluta (direito de usar, gozar e dispor). Essa definio acabou sendo
levada ao extremo, causando muita opresso, at que no incio do sc. XX
aparecem reaes a essa noo, primeiro com a Constituio Mexicana (1917) que
trata propriedade vinculada ao contexto social, e depois com a Constituio de

Larissa Guimares
Notas de Aula

Weimer (1919) que estabeleceu obrigaes, no s mais direitos, sobre a


propriedade. A CF/1988 prev a funo social da propriedade (arts. 6, 170, 184)
que vincula o exerccio da propriedade.

O exerccio da empresa um formato do exerccio da propriedade e,


sendo assim, da funo social da propriedade, decorre a funo social da empresa,
um princpio jurdico que acarreta obrigaes a empresa, onde o lucro continua
como motivao da empresa, mas que no deve ser obtido a qualquer custo.
Importante distinguir funo social da empresa e social responsability (teoria norte-
americana); enquanto a funo social tem carter obrigatrio, a social responsability
facultativa, voluntria, sistema do lucro pelo lucro. Confundir os termos seria um
erro e acabaria fragilizando a noo de funo social da empresa.

Obrigaes Impostas aos Empresrios

O exerccio da empresa pressupe o cumprimento de determinadas


obrigaes que lhe so impostas e independem do formato jurdico escolhido. So
elas:

1. Realizar registro na Junta Comercial

A Junta Comercial um rgo administrativo, j foi Tribunal do


Comrcio e tinha, portanto, funo jurisdicional (os tribunais do comrcio vigoraram
no Brasil at o fim do sc. XIX e julgavam demandas comerciais). Elas fazem parte
de um contexto maior, o SIREM Sistema Nacional de Registro de Empresas
Mercantis; cada estado da federao tem uma Junta e o conjunto delas compe o
SIREM.

O criador da empresa deve realizar registro no Registro Pblico de


Empresa Mercantis, as Juntas so os rgos executores desse sistema e, na
condio de autarquias estaduais, tm sua atuao normatizada pelo DREI
Departamento de Registro Empresarial e Integrao. O registro obrigatrio,
independente da vontade do empresrio e de a empresa ser pessoa jurdica ou no,
e deve ser realizado na Junta Comercial. As nicas excees a essa obrigatoriedade
de registro a Sociedade em Conta de Participao e o produtor rural, a quem
facultado submeter-se ao regime empresarial, mas a partir do momento que opta ser
empresa, deve cumprir todas as obrigaes impostas, inclusive o registro.

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Direito de Empresa

Toda e qualquer modificao na empresa deve ser informada e


arquivada na Junta. As Juntas Comerciais equivalem a cartrios e o registro junto
elas tem fora de publicao, qualquer modificao na empresa s vlida perante
terceiros se arquivado na Junta.

Aula 04 (25.08)

2. Nome Empresarial

O nome empresarial regido pelo princpio da realidade e tem como


funo individualizar a empresa, com ele que a empresa vai assumir obrigaes e
exercer direitos, o nome que vai identificar a empresa. No pode haver mais de um
nome empresarial igual no mbito da mesma Junta Comercial.

A empresa, qualquer que seja o formato jurdico, responde por suas


dvidas com seu patrimnio. O que varia de acordo com a estrutura jurdica eleita a
responsabilidade dos scios e o nome empresarial quem informa a terceiros sobre
essa responsabilidade. Alm de individualizar a empresa, o nome empresarial tem a
segunda funo de demonstrar, a partir do modo como ele for construdo, aspectos
da responsabilidade dos que atuam na empresa, dos seus criadores.

O nome empresarial tem funes determinantes e dotadas de eficcia


e, se no for construdo de maneira correta, vai passar informaes erradas aos
terceiros. As regras de construo do nome empresarial se encontram no Cdigo
Civil, na lei 8934/94. Cabe destacar que as regras do nome empresarial no Brasil
no so to modernas.

firma (razo) individual


espcies de
nome social
empresarial denominao

Sempre que pelo menos um dos organizadores da empresa responder


com seu patrimnio quando a empresa no pagar a dvida, obrigatrio o uso de
firma (razo) para construo do nome. Ou seja, para saber se a hiptese de firma
(razo) ou denominao preciso conhecer as regras sobre responsabilidade da
empresa.

No modelo firma (razo) o nome empresarial construdo a partir do


nome do organizador que responde com seu patrimnio. Pode ser usado o nome

Larissa Guimares
Notas de Aula

completo ou parte dele, as combinaes so livres desde que o sobrenome seja


mantido. No caso de uma sociedade em que mais de um organizador tm
responsabilidade, possvel optar por colocar o nome de todos os que respondem
ou s de alguns.

No modelo de denominao no se usa os nomes dos organizadores,


so usadas palavras comuns, no idioma nacional ou estrangeiro e/ou expresses de
fantasia. Nome prprio pode ser usado desde que como forma de homenagem.

Para entender melhor, interessante analisar como construdo o


nome empresarial de acordo com o formato jurdico da empresa e a respectiva
responsabilidade em cada caso.

Empresrio Individual Tradicional: antes da criao da EIRELI, o Empresrio


Individual Tradicional respondia por 2/3 dos novos negcios no Cear e metade no
Brasil. um modelo de sociedade unipessoal, onde a responsabilidade automtica
e, se a empresa no puder responder com seu patrimnio, o organizador quem
responde, mas no pressupe fraude. O Cdigo Civil no permite que o empresrio
individual tradicional se torne pessoa jurdica. Obrigatrio o uso de firma (razo), ou
seja, o nome empresarial construdo baseado no nome do organizador. Usar o
prprio nome como nome empresarial pode tornar as coisas confusas pois haver
um CPF e um CNPJ registrados com o mesmo nome, portanto interessante que
seja feita algum tipo de combinao para o nome empresarial.

Ter CNPJ no faz ser pessoa jurdica, as condies para ser pessoa jurdica tm
previso legislativa. Em alguns casos preciso ter CNPJ para diferenciar o
organizador do empresrio, um dado de controle fiscal.

EIRELI Empresrio Individual de Responsabilidade Limitada: a EIRELI difere


do Empresrio Individual Tradicional principalmente no que diz respeito
responsabilidade, pois constitui pessoa jurdica e, desse modo, protege o patrimnio
do organizador. A criao da EIRELI requer capital social mnimo de 100 salrios-
mnimos. Esse formato jurdico pode optar entre firma (razo) ou denominao
devendo sempre ser usado o termo EIRELI ao final do nome empresarial.

Sociedade em Nome Coletivo: modelo pouco utilizado pois no protege o


patrimnio, todos os organizadores respondem com seu patrimnio pessoal quando
o patrimnio da sociedade no capaz de responder. O modelo usado nesse caso
o de firma (razo), devendo constar no nome empresarial ao menos o sobrenome de
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Direito de Empresa

todos os organizadores ou, no caso de supresso de algum dos nomes, usar e


companhia, e cia ou outras expresses afins no fim do nome.

Sociedade em Comandita Simples: nesse modelo alguns scios respondem e


outros no, o contrato indica obrigatoriamente quem o administrador ( sobre ele
que recai a responsabilidade) e quais scios no respondem com seus bens. Aqui
usado o modelo firma (razo), sendo obrigatrio o uso do termo e cia ou afins pois
o nome de quem no tem responsabilidade no pode compor o nome empresarial.
Seguindo o princpio da realidade, se mudar o administrador da empresa, tambm
muda o nome empresarial.

Sociedade em Conta de Participao: no se apresenta como sociedade perante


terceiros, portanto no tem nome que a identifique; h o scio oculto e o scio
ostensivo, ambos definidos por meio de contrato, o nome da empresa ser o nome
do empresrio individual, no caso de mais de um scio ostensivo, estes registram-se
como empresrio individual e agem separadamente.

Sociedade em Comandita Por Aes: mesmas caractersticas da Sociedade em


Comandita Simples, exceto pela estrutura do capital, enquanto naquela por
quotas, nesta por aes. Alm de firma ou razo, os scios podem optar por usar
a denominao. Em qualquer das hipteses deve constar, obrigatoriamente, a
expresso comandita por aes ao fim do nome empresarial.

Sociedade Limitada: nesse modelo nenhum dos scios responde com seu
patrimnio, nem mesmo o administrador (que no precisa ser um dos orgnizadores
da empresa). facultado a esse modelo os dois tipos de nome empresarial, sendo
obrigatrio ao final do nome o uso do termo limitada ou ltda..

Sociedade Annima: nenhum dos scios responde com o patrimnio. Nesse caso,
o regime de denominao, o termo S/A deve vir ao comeo ou no final do nome,
pode ser usada tambm a expresso companhia apenas no comeo do nome.

No se confundem os institutos do nome empresarial, do ttulo do


estabelecimento e da marca. A funo do ttulo do estabelecimento levar a
empresa a ser conhecida na sociedade que ela atua. Diferente do nome empresarial
que, como visto, est preso a vrias regras para sua construo, o ttulo do
estabelecimento (ou nome de fantasia) o que est na fachada, criado livremente
e de maneira que possa ser assimilado facilmente pelos consumidores. No h
proteo formal para o ttulo, essa proteo deve ser pleiteada judicialmente.

Larissa Guimares
Notas de Aula

A marca a certificao da origem do produto. s vezes, a mesma


expresso pode ser usada como ttulo e como marca. A proteo da marca segue
procedimento prprio feito pelo INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial;
essa proteo nacional e vlida por 10 anos, podendo ser prorrogada por quantos
mais perodos de 10 anos que se queira.

Aula 05 (01.09)

3. Escriturao

a obrigao de colocar por escrito todas as atividades importantes


que acontecem na empresa. Tem duas finalidades, a finalidade interna de
organizao e a finalidade externa de fiscalizao. Os livros podem ser obrigatrios
ou facultativos e sua escriturao segue certas regras. Eles so de responsabilidade
do administrador da empresa e de um tcnico que deve ser especializado na rea;
em regra, esse tcnico deve ser um contador, a menos que a cidade no tenha
contador, ento ser chamado algum com notrio conhecimento na rea. Todos os
livros devem ser chancelados pela Junta Comercial. Atualmente, tendem cada vez
mais a serem eletrnicos.

3.1. Livro Dirio o livro mais importante, o administrador deve escrever todas as
atividades dirias que ocorrem na empresa. nico livro obrigatrio a todos os
modelos de empresa, exceto para a pequena empresa (o legislador buscou facilitar
o regime das pequenas empresas).

3.2. Livro Caixa restrito contabilidade, onde registrado o controle de finanas,


o fluxo de caixa.

3.3. Livro Razo o Livro Dirio em tpicos, uma espcie de sumrio para melhor
organizao da empresa;

3.4. Livro Controle de Estoque faz referncia ao controle interno, ao fluxo de


vendas.

3.5. Livro Borrador o livro de rascunho.

3.6. Livro Nominativo de Aes apenas para o modelo da Sociedade Annima,


onde identificam-se os donos das aes e quantas possuem.

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Direito de Empresa

*** O Livro Caixa e o Livro Controle de Estoque so os nicos obrigatrios para a


Pequena Empresa, pois por meio deles que aferido se a empresa de fato se
encaixa ou no no regime de Pequena Empresa.

Os livros so inviolveis, apenas o administrador tem acesso a eles. S


so publicados em duas hipteses: para exame pelo agente fiscal, ou por
determinao judicial quando os livros so usados como prova. A violao pode ser
total ou parcial. muito comum que ocorram essas excees, principalmente em
caso de conflito de scios, falncia, ou por problemas relacionados administrao
da empresa por terceiros.

Os livros tm valor probatrio. Se o livro estiver regularmente escrito,


faz prova a favor do empresrio; no caso de no estar obedecendo as regras de
escriturao, faz prova contra.

4. Demonstraes Financeiras

So obrigatrias a todos os formatos de empresa, servem


principalmente para controle interno, para permitir acompanhar a situao financeira
da empresa e tambm so sigilosas.

O balano patrimonial feito para aferir o patrimnio lquido da


empresa, que o quanto a empresa vale. Deve ser feito anualmente,
preferencialmente entre os meses de dezembro e abril, lanado no livro dirio e
calculado descontando dos crditos (bens e direitos), os dbitos (obrigaes):

bens e direitos > obrigaes = patrimnio lquido +

bens e direitos < obrigaes = patrimnio lquido

(polo ativo) (polo passivo)

J a DRE Demonstrao do Resultado de Exerccio feita para aferir


se a empresa est tendo lucro ou prejuzo em determinado perodo de tempo, o
clculo feito subtraindo as despesas das receitas.

No caso de empresas que negociam as aes na Bolsa (S/A aberta),


as demonstraes financeiras devem ser publicadas num jornal de grande
circulao, conforme prescrito em lei. Os bancos devem fazer o balano patrimonial
e a subsequente publicao trimestralmente.
Larissa Guimares
Notas de Aula

Exerccio da Atividade Empresarial

No podem exercer empresa militares; magistrados; servidores


pblicos federais; pessoas que anteriormente foram condenados por crimes
relacionados atividade empresarial; e os civilmente incapazes.No caso da
incapacidade civil, pode ser empresrio individual tradicional quem j exercia
empresa anteriormente incapacidade, ou aquele que, apesar de civilmente
incapaz, herdou a empresa devido morte dos pais, por exemplo. Ao definir essas
excees, o legislador prezou pela continuidade da empresa e elas no se
configuram por si s, essas pessoas exercem atividade empresarial apenas em caso
de determinao judicial e devem ser assistidas. O patrimnio do interdito ou do
menor anterior interdio ou sucesso no pode ser afetado para efeitos de
responsabilidade empresarial. Essas excees se aplicam tambm aos scios de
responsabilidade ilimitada.

Exerccio Individual da Empresa

Empresrio Individual Tradicional

Obrigatoriamente pessoa fsica, dotada de capacidade, que se


responsabiliza sozinho por exercer qualquer atividade empresarial. No configura
pessoa jurdica e o organizador responde com seu patrimnio pessoal, no h como
definir bem o que patrimnio da empresa e o que patrimnio do organizador.

Formato desvantajoso em razo da ampla responsabilidade que lhe


atribuda. Para o entendimento clssico (entendimento do professor), a
responsabilidade direta e ilimitada. J o entendimento moderno considera que a
responsabilidade subsidiria e que h, sim, patrimnio de afetao.

Empresa Individual de Responsabilidade Limitada EIRELI

A EIRELI criada para responder necessidade daquele que vai


exercer sozinho a atividade empresarial de limitar a responsabilidade empresarial
criando um ente diferente da pessoa do organizador. Para criao da EIRELI deve
ser investido o capital social mnimo de 100 salrios-mnimos, que deve ser
declarado na Junta, no ato do registro.

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Direito de Empresa

O DREI, rgo normatizador do SIREM, tem entendido que pessoa


jurdica no pode criar EIRELI, uma vez que o intuito do legislador era permitir que a
pessoa fsica pudesse exercer individualmente a empresa sem comprometer seu
patrimnio (professor concorda com esse entendimento); a jurisprudncia discorda e
vem permitindo a criao de EIRELI por pessoa jurdica.

Aula 06 (06.09)

Do nome empresarial e institutos correlatos:

A proteo ao nome empresarial efeito do arquivo do contrato na


Junta Comercial, se j houver nome completamente igual no mbito daquela junta,
qualquer que seja a rea de atuao, o contrato ser arquivado com ressalvas,
dando um prazo ao organizador da empresa para mudar o nome.

O ttulo do estabelecimento vinculado rea de atuao daquela


empresa e no tem proteo formal. A proteo deve ser pleiteada na prtica, junto
ao poder judicirio, devendo levar em considerao o ponto de vista do consumidor.
Normalmente tem direito a essa proteo quem primeiro utilizou o ttulo dentro
daquela rea de atuao.

A marca vlida nacionalmente e o que atesta a origem do produto.


vinculada ao produto ou servio e rea de atuao. A marca tem proteo formal
feita pelo INPI, que d direito ao uso da marca pago por um prazo prorrogvel a
cada 10 anos por quantas vezes for requerido.

Das obrigaes impostas ao empresrio:

Escriturao: o nico livro obrigatrio a todas as empresas (exceto pequena


empresa) o livro dirio. Os livros so regidos pelo princpio da inviolabilidade e
somente o administrador tem acesso eles, exceto nos casos de exibio judicial ou
para exame por parte do agente fiscal. O livro til ao empresrio (planejamento e
controle) e pode ser contra ele usado o livro faz prova a favor do empresrio desde
que a escriturao tenha sido feita de maneira correta, que tenha seguido as regras
previstas para cada livro, em relao forma e contedo; a escriturao errada faz
prova contra o empresrio. A pequena empresa s tem dois livros obrigatrios, o
livro caixa e o livro controle de estoque. Para a S/A obrigatrio o livro registro de
aes nominativas.

Larissa Guimares
Notas de Aula

Demonstraes Financeiras: anualmente deve ser apurado o patrimnio lquido da


empresa (balano patrimonial) atravs da diferena entre bens e direitos e as
obrigaes, que demonstra como a empresa do ponto de vista patrimonial, feito o
balano patrimonial, o resultado levado para o livro dirio. Empresas que
negociam aes na Bolsa devem public-lo em jornais de grande circulao at o
quarto ms do ano posterior, bancos devem faz-lo trimestralmente (elas tm que
mostrar como est a situao para qualquer potencial investidor). Para aferir se a
empresa teve lucro ou prejuzo, feita a Demonstrao de Resultado de Exerccio
DRE, elencando receitas de um lado e despesas do outro, se as receitas forem
maiores que as despesas, h lucro, do contrrio, constata-se o prejuzo.

O descumprimento de quaisquer das obrigaes pode trazer


consequncias que no sero aplicadas de maneira uniformes na prtica. A Junta
Comercial no fiscaliza, ela funciona como cartrio, arquiva documentos e os
disponibiliza a quem tiver interesse.

Formatos Jurdicos da Empresa

Empresrio a empresa no plano subjetivo (teoria da empresa


Asquini), a empresa como sujeito da atividade empresarial. O empresrio vai se
organizar conforme formatos jurdicos que a legislao faculta, podendo ser
empresrio individual ou sociedade empresria. Ateno para a distino entre
empresrio e o formato jurdico que ele assume, o formato jurdico pode ser
modificado a qualquer tempo, desde que cumpra os requisitos estabelecidos em lei
para configurar aquele modelo.

exerccio individual Empresrio Individual Tradicional


da empresa
Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada

As duas hipteses de empresrio individual contemplam aquele que


organiza/administra a empresa sozinho. O modelo de Empresrio Individual
Tradicional no vantajoso pelas consequncias que acarreta, pois, por no permitir
a criao de pessoa jurdica diferente do organizador, acaba por afetar o patrimnio
16
Direito de Empresa

pessoal do organizador. A despeito disso, h muito uso desse modelo; no Cear, j


representou 2/3 de todos os novos negcios, e metade no Brasil. A nica vantagem
desse modelo a rpida organizao, no precisa de contrato social, apenas
preencher a ficha de registro e arquiv-la na junta. Diferenciar o organizador da
empresa do Empresrio Individual Tradicional, o organizador pessoa fsica, o
empresrio tem CNPJ pra fins fiscais, mas no configura pessoa jurdica; tambm
lhe assegurada a condio de sujeito de direitos e lhe permitido ter nome,
mesmo no sendo pessoa. Normalmente esse formato usado para negcios de
pequena monta.

A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada EIRELI um modelo


recente, permite quele que vai exercer a atividade empresria de forma isolada a
criao de um ente diferente do seu, criao de uma pessoa jurdica. Esse modelo
protege os bens do organizador por limitar sua responsabilidade, o patrimnio
pessoal do organizador s afetado em caso de fraude. Para cri-la preciso
capital social mnimo de 100 salrios-mnimos.

Sociedades Empresariais

Sociedade em Nome Coletivo

Sociedade em Comandita Simples


exerccio coletivo
da empresa Sociedade em Conta de Participao
(pressupe reunio
de duas ou mais Sociedade em Comandita Por Aes
pessoas)
Sociedade Annima

Sociedade Limitada

Esses formatos foram sendo criados de acordo com a necessidade do


empresrio, a partir da prtica comercial medieval, e evoluram quase que numa
marcha em busca da restrio da responsabilidade e da diminuio do risco. A
princpio, todos eram comerciantes individuais e depois foram criando sociedades
com o objetivo de ter maior eficincia econmica na sua atividade.

O contrato de sociedade no pode ser tomado como um contrato


clssico pois no h o antagonismo de interesses existente naquele, um contrato
diferenciado, de colaborao. So vrias as teorias que buscam explicar a origem do
Larissa Guimares
Notas de Aula

contrato de sociedades, a mais adequada a Teoria do Contrato Plurilateral, de


Tlio Ascareli, que traz a ideia de um contato de vrios lados, todos eles com o
mesmo objetivo. H quem defenda que no caso da S/A, no contrato plurilateral,
pois os participantes no conhecem uns aos outros, a criao da S/A um ato
institucional.

Torna-se necessrio desfazer a associao entre sociedade


empresria e pessoa jurdica, pois esse vnculo no automtico. Nem toda
sociedade empresarial tem personalidade jurdica.

As sociedades podem ser repartidas em sociedades de pessoas e


sociedades de capital. Nas sociedades de pessoas, os scios esto vinculados pelo
affectio societatis, a vontade de estar associado, de exercer a empresa em conjunto;
um vnculo dos scios entre si. Nas sociedades de capital, a affectio societatis no
se faz presente. H uma regra para regular a livre entrada e sada de scios,
permitindo diferenci-las na prtica, se h livre venda de quotas, a sociedade de
capital; no caso de haver restries a essa venda, a sociedade de pessoas.

Aula 07 (08.09)

As sociedades podem ser de pessoas ou de capital, essa classificao


importante em razo dos inmeros efeitos que dela decorrem e tem como critrio
de diferenciao a importncia da pessoa do scio naquela sociedade. Em regra, os
scios no escolhem qual vai ser a sociedade, se de pessoas ou capital, a lei que
impe esses aspectos ao formato que ela vai ter, e o faz por meio das regras
referentes ao ingresso e sada de scios.

As primeiras sociedades (em nome coletivo, em comandita simples e


em conta de participao) foram criadas como sociedade de pessoas, que
pressupe o vnculo entre os scios e, portanto a existncia do affectio societatis.
Por outro lado, temos a sociedade annima, definida como sociedade de capital
desde a sua criao e faculta aos scios vender suas quotas para quem quiser. A
sociedade em comandita por aes tambm uma sociedade de capital, pois
caracterstica das aes serem transmissveis a quem seu proprietrio desejar.

Essas regras eram postas at o incio do sc. XX quando surgiu a


sociedade limitada que, inicialmente, deveria ser uma sociedade de pessoas. No
entanto, enquanto nas outras sociedades de pessoas era necessria aprovao
18
Direito de Empresa

unnime dos scios para ingresso ou sada de algum na sociedade, na limitada, a


previso era de que os scios que representassem a maioria do capital social tinham
poder para aprovar. A sociedade limitada sempre teve muita liberdade na definio
de suas regras de organizao porque o decreto que a regulava antes do Cdigo
Civil de 2002 era muito aberto a partir de determinado momento, as pessoas
passaram a criar sociedades limitadas com o perfil prximo aos das S/A, com essa
regra de livre cesso.

As Juntas Comerciais no admitiram isso por muito tempo, mas, a


chegada da atual lei que regula as sociedades annimas, lei 6404/76, trouxe nas
suas consideraes finais a possibilidade de transformar S/A de pequeno porte em
sociedades limitadas, mantendo a regra da livre alienao presente nas S/A. O
legislador acabou criando, assim, uma sociedade limitada de capital. O Cdigo Civil
de 2002, que regula as sociedades limitadas, veio permitir que os scios definissem
o que quiserem sobre esse assunto.

A sociedade limitada nico formato societrio cuja natureza quem


define o contrato social, a vontade dos scios. No caso de contrato omisso, a regra
que a venda de quotas para terceiros estranhos sociedade s pode ser feita
mediante aprovao de 3/4 dos scios. A sociedade limitada no tem sua natureza
pr-definida, depende do que for fixado no contrato, se o contrato no regular,
prevalece o que previsto em lei. Da vem o carter hbrido da sociedade limitada:
pode ser caracterizada como de pessoas ou de capital (nunca as duas coisas, no
mista!).

O capital social da empresa o conjunto das transferncias que os


scios fazem de seu prprio patrimnio para o patrimnio da empresa, de forma
obrigatria (que recai sobre qualquer modelo de sociedade) e serve para arcar com
os gastos necessrios ao funcionamento inicial da empresa. o conjunto de
participaes societrias, da quota de cada scio, da porcentagem que cada um tem
do capital social.

No precisa ser necessariamente em dinheiro, qualquer bem que tenha


valor patrimonial pode compor o capital social da empresa. O contrato indica quanto
cada scio transfere de seu patrimnio para o capital social, como e quando vai se
dar esse pagamento, e que bens podero ser aceitos como pagamento, de acordo
com o que foi previamente ajustado entre os scios. No incide nenhuma tributao
sobre essas transferncias.

Larissa Guimares
Notas de Aula

Capital subscrito aquilo que o scio se comprometeu a transferir pra


sociedade, diferente do capital integralizado, que aquele que j foi efetivamente
pago. O scio sempre entra com uma parte do patrimnio, no pode ser scio
somente com o trabalho. A participao do scio no capital da empresa opera uma
srie de efeitos: a medida o que ele vai receber de lucro, medida do poder de
mando dele.

A responsabilidade subsidiria decorre j da empresa criada e


independe da participao societria, varia de acordo com o formato da empresa:
em algumas sociedades, ningum responde, como na limitada e na S/A; em outras,
como na sociedade em nome coletivo, todos respondem e a responsabilidade
solidria.

O scio que subscreveu e no integralizou, de maneira a caracterizar a


mora, torna-se scio remisso e pode ser acionado judicialmente para pagar o que
deve ou pode ser expulso da sociedade ou os outros scios podem decidir por
diminuir o capital daquela quota faltante.

Os recursos do capital no ficam guardados para proteger os credores,


so recursos para a empresa realizar seu objeto, para iniciar sua atividade. O que
prova que a empresa pode ou no pagar seus credores o balano patrimonial. O
capital social definido pelo contrato, esttico at que seja modificado no contrato
social; o patrimnio pode ser maior ou menor que o capital social.

Aumentar o capital implica em modificar todo o equilbrio que h na


sociedade porque a medida da participao do scio a medida do seu poder na
empresa, o valor do voto dele, a porcentagem de lucros que ele ir receber.
preciso cautela, a empresa deve dar lucro, se preciso constantemente colocar
novo capital, significa que a empresa no est indo bem.

Capital social e patrimnio normalmente so iguais, principalmente no


incio, mas pode acontecer de, mesmo com o capital integralizado, os scios
resolverem extra capital fazer doaes para a empresa; tambm pode ser caso
do capital ser subscrito, no ser pago, e nunca vir a ser patrimnio.

Dos efeitos decorrentes do capital social, o primeiro o poder de


mando, proporcional participao no capital, calculando quem tem menor
participao e calculando a participao dos outros proporcionalmente ao de menor
participao. Poder de mando e administrao da sociedade so coisas diferentes, o
20
Direito de Empresa

poder de mando um poder inerente ao scio, de organizar a sociedade, elegendo


o administrador, ingresso e sada de scios, por exemplo; ao administrador cabe
cuidar do dia-a-dia da empresa, em sociedades como limitada e annima, o
administrador no precisa ser scio. As deliberaes so tomadas considerando o
proporcionalmente o poder de mando de cada scio; nunca, em direito societrio, o
voto ser contado pela quantidade de scios, mas pela sua participao no capital
social.

H uma exceo regra da proporcionalidade do poder de mando.


Essa exceo se aplica nas sociedades annimas, no que diz respeito ao
preferencial, que no permite o direito de voto, se a participao do scio toda em
aes preferenciais, ele no tem poder de voto. A ao preferencial no permite o
voto, mas, em troca disso, traz vantagens, como maior participao nos lucros, por
exemplo. Esse tipo de ao foi criado pra isso, atrair pessoas pra esse meio
comercial e ampliar o mercado. Por isso na S/A existe capital votante, que as
aes com direito de voto.

Outro efeito decorrente da integralizao do capital social a


participao nos lucros. Aqui a regra tambm a proporcionalidade: o scio tem
20% do capital, tem tambm 20% da participao nos lucros. Os lucros no tm a
ver com o patrimnio, diz respeito s receitas e despesas. Lucro o excedente que
foi criado pela atuao da empresa e desse excedente, deve ser retirada uma
parcela para reinvestir na empresa; o contrato social estipula qual porcentagem dos
lucros vai ser dividido entre os scios.

O terceiro e ltimo efeito o direito participao no acervo final. A


empresa tem vida e um dia se extingue, pelos mais variados motivos, para que a
empresa seja extinta preciso fazer um balano final, se o patrimnio lquido for
positivo, vai ser dividido entre os scios proporcionalmente sua participao na
empresa. Se o patrimnio lquido for negativo, as consequncias dependem do
formato da empresa. A regra a diviso proporcional, mas pode ser feito diferente
se previsto no contrato social.

Aula 08 (13.09)

Os primeiros modelos de sociedades empresrias (anteriormente,


sociedades comerciais) foram forjados na prtica comercial medieval. Antes das

Larissa Guimares
Notas de Aula

sociedades, a atividade comercial s era exercida individualmente, ao longo da


prtica o comerciante foi criando modelos para o exerccio da atividade comercial,
fundamentalmente de base consuetudinria, que foram se consolidando ao longo do
tempo e passaram a ser regulados juridicamente. A criao de novos modelos
acontece vislumbrando mais eficincia econmica.

1. Sociedade em Nome Coletivo

Quando um comerciante individual vinha a falecer era comum que sua


famlia passe a exercer aquela atividade em conjunto e da nasceu um modelo de
sociedade familiar que com o tempo passou a ser sociedade em nome coletivo.

Os modelos anteriores de reunio de pessoas com o objetivo de


exercer atividade econmica, tal como a societas romana, pouco interferem no que
so as sociedades empresrias, no entanto, algumas regras podem ser percebidas.
O affectio societatis, por exemplo, era tpico do modelo romano e se mantm aqui.

No Brasil, a sociedade familiar ou em nome coletivo constitui pessoa


jurdica, diferente, portanto, dos seus scios. Duas ou mais pessoas se renem e
fazem nascer, por meio de um contrato arquivado na Junta Comercial daquele
estado, uma pessoa diferente dos scios que a criaram.

Esse modelo de sociedade tem regulao no Brasil j poca do


Cdigo Comercial de 1850. Mesmo no sendo muito usado atualmente, agora
regulado pelo Cdigo Civil de 2002, talvez por tradio, superando algumas dvidas
que havia em relao a essa matria, a ideia de pessoa jurdica, por exemplo, ainda
estava sendo maturada em 1850.

A regra sobre responsabilidade para a sociedade em conta de


participao desvantajosa para os scios porque ainda que configure pessoa
jurdica, se a sociedade no puder responder com o prprio patrimnio, os scios
tero seu patrimnio afetado mesmo que no tenha existido fraude. A
responsabilidade decorre da mera condio de scio.

2. Contrato de Comenda

Na Alta Idade Mdia, a usura (lucro demasiado) passou a ser


considerado pecado, numa poca em que o Direito Cannico era o direito aplicado

22
Direito de Empresa

ao cotidiano, com isso a atividade comercial se tornou perigosa, se um comerciante


praticasse usura e fosse descoberta, seria condenado morte.

Para driblar essa nova regra, criado o contrato de comenda com o


intuito de permitir ao comerciante exercer a atividade comercial sem aparecer de
forma direta, possibilitando a um scio a prtica comercial em nome dos outros que
no apareciam. Normalmente, esse scio que aparecia era algum prximo ao chefe
religioso ou com poder bastante para no sofrer as penas impostas. O uso desse
contrato foi muito comum na poca do trfico de escravos e - devido rejeio moral
e, depois, s proibies legais que essa atividade sofria algumas pessoas
preferiam no aparecer.

Quando, desse contrato, foi feita a regulao pelo Estado para um


modelo de sociedade, foram criados dois formatos distintos: a sociedade em
comandita simples e a sociedade em conta de participao.

2.1. Sociedade em Comandita Simples

Nesse modelo existem duas espcies de scios, os scios que


respondem com o seu patrimnio caso a sociedade no possa pagar e os scios
que no respondem. Foi a primeira vez que houve a possibilidade de algum ser
scio e no responder pelas dvidas que a sociedade no conseguisse honrar.

A situao dos scios definida logo no contrato de sociedade.


Aqueles que eram responsabilizados tm o mesmo tipo de responsabilidade dos
scios da sociedade em nome coletivo, mas so tambm encarregados pela
administrao da empresa so os scios comanditados. Os outros scios, que no
respondiam com seu patrimnio scios comanditrios , tiveram a eles vedado o
exerccio da administrao. A ideia de atrelar responsabilidade a administrao torna
os scios responsveis por essa administrao mais responsveis, pois no querem
comprometer seus bens caso a sociedade no responda.

Guarda pontos em comum com a sociedade em nome coletivo pois


personalizada, ou seja, h presena de affectio societatis e alguns dos scios so
responsabilizados com seu patrimnio, mas, justamente por possibilitar que os
outros scios no fossem responsveis caso a sociedade no cumprisse suas
obrigaes, foi o mais usado de todos os formatos at o advento da sociedade
limitada, na segunda metade do sc. XX.

Larissa Guimares
Notas de Aula

O Cdigo Civil de 2002 probe pessoa jurdica de fazer parte de uma


sociedade que ela responda com seu prprio patrimnio, logo, no pode ser scio
na sociedade em nome coletivo, nem scio comanditado na comandita simples.

2.2. Sociedade em Conta de Participao

Por vontade do legislador, a sociedade em conta de participao no


pessoa jurdica. importante diferenci-la da sociedade em comum (antiga
sociedade de fato) que no se personaliza. A sociedade em comum no pessoa
jurdica porque houve uma falha em seu processo de criao, ela pode, em tese, ser
pessoa jurdica, mas o contrato no foi arquivado na Junta. J a sociedade em conta
de participao no pode constituir pessoa jurdica, o contrato facultativamente
arquivado na Junta. *** Fbio Ulha no considera esse modelo como sociedade,
entende que apenas um contrato, pois no constitui pessoa jurdica. Joo Lus
discorda, defende que o argumento falho, pessoa jurdica no pr-requisito para
empresa.

Aqui tambm esto presentes duas espcies de scios; o scio


ostensivo, que quem de fato se apresenta para terceiros, e o scio participante ou
oculto, que no aparece (no aparecer diz respeito sociedade em geral, mas os
entes pblicos devem ser informados da condio de scio em conta de
participao). Ambos contribuem para o capital social da empresa, mas o scio
ostensivo quem vai gerir esses recursos e responde ilimitadamente com seu
patrimnio, enquanto o scio participante no tem responsabilidade. O scio
ostensivo deve ser regularizado perante a Junta Comercial, pratica sozinho todos os
atos, sem qualquer referncia sociedade, e tem a obrigao de, no prazo
combinado, repartir o lucro com os outros scios.

*** No pressupe fraude!

*** A lei no probe, nesse caso, que pessoa jurdica seja scio ostensivo, mesmo
comprometendo seu patrimnio.

Essa sociedade funciona bem para um negcio especfico,


momentneo. fundamental que haja affectio societatis para o bom andamento da
sociedade. A faculdade de o contrato ser arquivado na Junta traz problemas para o

24
Direito de Empresa

scio participante no que diz respeito segurana do contrato, se no for arquivado,


nada garante que ele ter direito participao nos lucros, por exemplo.

*** Esse contrato, se arquivado na Junta, exceo ao princpio da publicidade, pois


no pode ser publicado para terceiros.

Esses modelos foram evoluindo e criada a S/A que, segundo alguns


autores, remonta poca de surgimento das cidades-Estado, onde os comerciantes
financiavam as constantes disputas de poder e em troca lhes era conferido o direito
de cobrar tributos durante certo perodo de tempo. Para otimizar o resultado dessas
cobranas, os comerciantes criaram associaes onde cada participante tinha o
poder de sua quota, essas participaes eram livremente alienveis, no havia o
affectio societatis, aparecendo aqui o embrio da S/A, que acaba por se consolidar
pela possibilidade de reunir grande quantidade de recursos para um
empreendimento nico.

3. Sociedade em Comandita Por Aes

Diferente dos modelos anteriores criados na prtica comercial medieval


e posteriormente regulado pelo Estado, esse modelo surge no fim do sc. XIX,
quando a lei passou a ser considerada fonte mxima do Direito e no mais se
permitia criar sociedades a partir da prtica negocial, pois algumas regras da
estrutura da sociedade, como a responsabilidade dos scios, so de carter pblico
e, portanto, devem ser reguladas pelo legislador.

Havia uma demanda muito grande por um modelo de sociedade que


reunisse as vantagens das sociedades clssicas de pessoas de serem facilmente
criadas com a vantagem da S/A de proteger o patrimnio (a criao da S/A era
extremamente formalista, era necessria autorizao do monarca). A sociedade em
comandita por aes criada com esse objetivo, como uma espcie de sociedade
annima com um capital repartido por aes, que no precisava de autorizao para
ser criada, mas tambm no possibilitava a todos os scios resguardar seu
patrimnio.

4. Sociedade Limitada

Larissa Guimares
Notas de Aula

Essa situao se prolonga at 1882, quando surge, na Alemanha, a


sociedade limitada com pouco formalismo e proteo ao patrimnio dos scios. Foi
criada sem prtica anterior, por vontade do legislador. Em 1919, o Decreto 3708 cria
a sociedade limitada no Brasil com o nome de Sociedade por Quotas de
Responsabilidade Limitada e, a partir de 1950, passa a se popularizar no pas,
ultrapassando o uso da sociedade em comandita simples.

Aula 09 (15.09)

Em outros pases a esse modelo (a sociedade limitada) prprio de


pequenos e mdios negcios, uma proibio feita por lei e recai ora sobre o capital
social ora sobre o volume de scios.

No Brasil, o Decreto 3708/1919 (decreto era o nome dado, mas era


como lei) tinha regncia muito aberta, deixava muito da regulao a cargo do
contrato social e no trazia nenhuma restrio em relao ao tamanho; foi essa
abertura nas normas que fez a sociedade limitada evoluir e ser to amplamente
usada no pas.

4.1. Regimento Jurdico da Sociedade Limitada

O Cdigo Civil de 2002 revoga integralmente esse decreto e traz as


regras sobre sociedade limitada entre os artigos 1052 e 1087. Alm desses, h
outros artigos que compe o regime jurdico da limitada no caso de lacuna, so
artigos de aplicao obrigatria como alguns dos artigos que regem a sociedade
simples (exerccio coletivo de atividade econmica no-empresarial). Esse regime
jurdico tambm complementado pelo contrato social, de acordo com o previsto
pelo legislador no Cdigo Civil. Sinteticamente, o regime jurdico da sociedade
limitada definido pelas prprias regras da limitada, por algumas regras da
sociedade simples previstas no regramento da limitada e pelas regras do contrato
social e nesse regime jurdico que devem ser encontradas a soluo do caso
concreto.

Quando h lacunas no regime jurdico da limitada, deve ser consultado


o art. 1053 que traz uma regra bsica para tratar as omisses: buscar no

26
Direito de Empresa

regulamento das sociedades simples, a soluo. Se no for o bastante, aplica-se o


regramento das S/A.

O professor considera que essa no a forma mais adequada de


preencher as lacunas tendo em vista que, mesmo antes de existir as sociedades
simples, j eram buscadas solues nos casos no contemplados pelo Cdigo
Comercial na legislao da S/A (por sua vez, regida por lei prpria). Destarte, sendo
a lei da sociedade annima quem primeiro deveria ser consultada para suprir
lacunas, no h porque, na ordem prevista no art. 1053, no o fazer. H ainda outro
argumento: a sociedade limitada tem carter hbrido e as regras das sociedades
simples regulam exclusivamente sociedades de pessoas, devendo aplicar aos casos
de sociedades de capital o regulamento das sociedades annimas, tornando
incompatvel aplicar a regra do art. 1053 a todos os casos.

4.2. Responsabilidade dos Scios

Anteriormente a matria era regida pelo disposto no art. 2 do Decreto


3708/1919 que estipulava que a responsabilidade dos scios dependia do total do
capital social. Fran Martins entendia que isso significava que os scios deveriam
assegurar que o patrimnio da empresa nunca fosse inferior ao capital social, nem
que pra isso tivessem que integralizar o capital vrias vezes. Esse entendimento
trazia muito insegurana para os scios, no era uma interpretao razovel e
acabou no sendo acolhida pelos Tribunais, a posio predominante era que
quando todos os scios pagassem sua parte, integralizando o capital, no havia
mais responsabilidade.

O Cdigo Civil traz essa regra, agora, no art. 1052, e no deixa


dvidas: cada scio deve integralizar o valor de suas quotas, uma vez que todos
faam isso, o capital social ser integralizado e ningum responde por mais nada.
No caso de um dos scios deixar de pagar sua parte, os outros so obrigados a
faz-lo (os scios decidem o que acontece com esse que no pagou), ento estaro
desonerados.

Comparando as responsabilidades nos regimes da limitada e da S/A,


nesta ltima a responsabilidade menor, pois cada um paga sua quota sem se
preocupar se os outros scios vo cumprir ou no com a obrigao.

Larissa Guimares
Notas de Aula

4.3. Administrao da Sociedade Limitada

O Decreto 3708/1919 trazia em seu texto a figura do scio-gerente, o


administrador tinha que necessariamente ser scio, seguindo a regra bsica das
sociedades de pessoas: a gesto prpria pra quem scio.

O regime jurdico atual prev que a administrao pode ser feita por
algum que seja ou no scio, pois a figura agora a do administrador (art. 1061),
ele ser eleito pelos scios e enquanto o capital social no for integralizado, a
aprovao deve ser unnime, depois de integralizado, a aprovao de 2/3.

Administrador aquele que est frente da empresa, a representa e


responde por ela e eleito para cumprir um prazo tem um mandato que pode ser
prorrogado por quanto tempo os scios queiram , isso profissionaliza a gesto. O
administrador recebe pro labore, retribuio que se paga por ele estar ali
profissionalmente, quer seja scio, quer no; se for scio, recebe tambm
participao nos lucros. O contrato do administrador de natureza cvel, sem
relao trabalhista. Se um empregado vem a tornar-se o administrador, tem o
contrato de trabalho suspenso, a contribuio do administrador no INSS de 20%
sobre o pro labore, enquanto o de um empregado de 8%, 9% ou 11% conforme o
que ganha. Lembrando sempre que o administrador est frente da empresa, ele
tem poderes e pode delega-los para que outra pessoa os exera em seu nome.

O DREI ( poca da criao do Cdigo Civil de 2002, ainda DNRC


Departamento Nacional de Registro do Comrcio), como rgo normatizador,
entendeu que pessoa jurdica no pode ser administrador na sociedade limitada,
apesar de no haver proibio legal; a pessoa jurdica pode ser scia, mas no pode
ser administradora. Essa deciso baseada nos requisitos do que deve conter o
contrato social que traz dados de pessoa natural. Joo Lus entende que esses
dados no excluem pessoa jurdica da condio de administradora, apenas regulam
o caso de pessoa natural e o histrico da sociedade limitada admitia pessoa jurdica
como administrador, ou seja, os argumentos para a proibio so falhos, mas o
entendimento vlido.

Aula 10 (20.09)

O administrador no pode ser pessoa jurdica, segundo o entendimento


do DREI. Durante muitos anos o administrador tinha que ser scio, da a expresso
28
Direito de Empresa

scio-gerente, hoje se abre a possibilidade de o administrador no ser um scio,


para tanto, preciso ser eleito por unanimidade pelos scios, em caso de capital
no integralizado ou 2/3 do total, em caso de capital integralizado. A administrao
deve corresponder estrutura, ao perfil da sociedade limitada. Se o contrato
silenciar sobre administrao, todos os scios so administradores.

Pode ser estipulado um conselho de administrao (considerado como


administrador para efeito de respinsabilidade), alm da diretoria que obrigatria
(normalmente, esse conselho existe na S/A). O Cdigo Civil no regula o conselho
de administrao, ento so aplicadas as regras j previstas na lei 6404. O conselho
normalmente tem uma viso de planejamento estratgico, muitas vezes assume
papel de rgo de autorizao das matrias de maior impacto econmico.

A matria sobre responsabilidade do administrador muito mal


regulada pelo Cdigo Civil, principalmente por ser um assunto de mxima
importncia, onde administrador e scio podem ser a mesma pessoa, mas as
funes e a responsabilidade a elas atreladas no se confundem. O art. 1070 do
Cdigo Civil regula o conselho fiscal e remete aplicao obrigatria do art. 1016,
fora do captulo que trata de sociedade limitada, para tratar da responsabilidade do
administrador desse modelo de sociedade, equiparando as responsabilidades do
conselho fiscal s responsabilidades do administrador. Quem faz parte do conselho
fiscal no administrador, fiscal!

O Enunciado 220, das Jornadas de Direito Civil, obriga observar o art.


1016, CC, no que se trata de responsabilidade do administrador. No existe sentido
em ter uma sociedade com dois padres de responsabilidade, ento essa regra
deve ser aplicada pra qualquer tipo de sociedade limitada, seja ela de pessoas ou de
capital. Traz o art. 1016 a regra da responsabilidade solidria dos administradores, o
ato praticado pelo administrador obriga a sociedade a responder (isso no afasta a
regra da subsidiariedade!).

Existem algumas hipteses em que a regra da solidariedade no ser


aplicada modo que a administrao se organiza como nos casos que o contrato
social regula o que cada administrador faz, cada um assumindo separadamente um
aspecto da administrao, que no se confundem. efeito da organizao da
administrao a aplicao da regra da solidariedade.

Essa regra de solidariedade vem da teoria dos atos ultra vires


societatis, que tem a ver com os poderes atribudos ao administrador. O art. 1015
Larissa Guimares
Notas de Aula

complementa a regra do art. 1016, e dispe sobre o que pode fazer o administrador.
Quando o contrato no estipular o que pode ou no fazer o administrador, ele estar
autorizado a praticar todo e qualquer ato que leve realizao do objeto da
empresa, exceto a compra e venda de bens imveis (autorizao dispensada
quando o objeto for a compra e venda de bens imveis).

Quando o administrador faz algo que no est dentro de suas


atribuies, aplicada a teoria dos atos ultra vires societatis, quando ocorre excesso
do administrador (art. 1015, nico): h trs hipteses em que, se a sociedade
comprova que houve excessos por parte do administrador, est desonerada da
obrigao. A primeira hiptese diz respeito ao contrato que estipula o que o
administrador pode fazer, ficando fcil para a sociedade provar que no tem
responsabilidade. A segunda hiptese quando o credor conhece que aquele ato do
administrador no poderia por ele ser feito. A terceira hiptese trata de quando a
operao era obviamente impertinente ao objeto da sociedade.

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