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O Largo Da Palma

O livro de novelas O Largo da Palma, de Adonias Filho, publicado em 1981, contém três histórias: 1) "A Moça dos Pãezinhos de Queijo" narra o romance entre Célia e Gustavo, um homem mudo; 2) "O Largo de Branco" acompanha a vida de Eliane ao longo dos anos enquanto espera reencontrar seu antigo amor Odilon; 3) "Um Avô Muito Velho" aborda a eutanásia através da história de amor extremo entre Negro Lo

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O Largo Da Palma

O livro de novelas O Largo da Palma, de Adonias Filho, publicado em 1981, contém três histórias: 1) "A Moça dos Pãezinhos de Queijo" narra o romance entre Célia e Gustavo, um homem mudo; 2) "O Largo de Branco" acompanha a vida de Eliane ao longo dos anos enquanto espera reencontrar seu antigo amor Odilon; 3) "Um Avô Muito Velho" aborda a eutanásia através da história de amor extremo entre Negro Lo

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O LARGO DA PALMA, DE ADONIAS FILHO

Anlise da obra

O Largo da Palma, livro de novelas de Adonias Filho, foi publicado em 1981.

Resumos / Anlises

1. A MOA DOS PEZINHOS DE QUEIJO

Espaos: Largo da Palma, Igreja e Ladeira da Palma (viso animista). Os e


ncontros entre Gustavo e Clia
so no Largo da Palma e no Jardim de Nazar. A casa dos pezinhos de
queijo e a de Gustavo.

Foco narrativo e Tempo

A narrativa em terceira pessoa, com um narrador onisciente. Conhece


presente e passado dos
personagens, os fatos e os sentimentos internos dos personagens diante
dos fatos.

Percebemos como os aspectos psicolgicos so to intensos que torna


extremamente subjetiva a percepo
do mundo exterior.

Embora a narrao dos fatos enfatize sempre os aspectos psicolgicos,


interiores, o decurso temporal
cronolgico, com pequenos flashes de volta ao passado (por exemplo: a
morte do pai de Clia, a doena da
me de Gustavo).

A narrativa bastante lrica, embora aqui e ali se percebam aspectos


crticos como quando fala de Largo
sempre mal-iluminado que parece em penumbra ou quando fala da
postura capitalista do pai de Gustavo
em sua decepo de ter um filho, quando no invlido, praticamente intil

Linguagem

Linguagem concisa, perodos curtos, incisivos. A linguagem narrativa


intensamente lrica. O narrador
explora os aspectos poticos da linguagem. Presena constante de
metforas, smbolos, comparaes.

Uso do Discurso Livre Indireto: Falar com a me, noite seguinte, pouco
antes de sair para encontrar -se
com o rapaz. E se a me perguntar quem ele e o que faz, como
responder? Dir -lhe- que no sabe
sequer o nome porque no houve tempo para maior aproximao.
Confessar, porm, o detalhe: Ele
mudo. Intil discutir, procurar explicar, tentar justificar-se frente ao espanto
da me. Sabe que ela no
compreender, ningum entender, o sobrado inteiro a dizer que tem um
parafuso a menos. Uma doida,
apenas uma doida se deixar seduzir e fascinar por um mudo.

Personagens

H nos dois personagens protagonistas uma intercomplementaridade


(carncia, desejo, complementao no
outro).

Joana - viva de Roberto Milito.

Clia - protagonista, moa de dezoito anos, cabelos de carvo que chegam


aos ombros, olhos tambm
negros que combinam com a pele amorenada. H quem afirme ser mais
bonita que o canto do
pssaro. Gustavo - protagonista, ele adora, com a msica, os rudos das
ondas do mar, do vento nos
coqueiros e os cantos dos pssaros. Falar, porm, no fala. Expressa-se com
as mos e o rosto. Responde escrevendo ou gesticulando, porque mudo. A
av, me do pai, a sua verdadeira me. Sua me
desaparecera e a av corta, enrgica, qualquer pergunta a esse respeito
dizendo: uma doente da cabea.

Enredo

no Largo da Palma, to velho quanto Salvador, na esquina da ladeira que


desce no caminho da Baixa dos
Sapateiros, precisamente a que fica A Casa dos Pezinhos de Queijo. Ali
vive um bocado de povo,
cobertas coloridas enfeitam as janelas, e a gritaria dos rdios sufoca os
preges dos vendedores de frutas da
Bahia.

Joana faz os pezinhos no andar de cima e Clia, sua filha, os vende na loja,
embaixo, com a freguesia
aumentando dia a dia. Todos comentam a delicadeza de quem os vende.

Gustavo escuta a voz de Clia pela primeira vez quando vai comprar
pezinhos de queijo para a av. Nada
permanece a no ser a voz que acabara de ouvir. Doce e macia, ao lado do
riso alegre, a voz da moa
msica melhor de ouvir-se, nas manhs de domingo, que o prprio rgo da
igreja.

No dia seguinte volta "Casa dos Pezinhos de Queijo". O que deseja, no


ntimo, retroceder. As
pancadas do corao, porm, ordenam que prossiga. Mas prosseguir para
qu? um homem sem voz que,
ao tentar falar, consegue apenas guinchar como um bicho.

Apoiando-se no balco, escreve: "no sou surdo e, porque ouvi, sei que voc
se chama Clia." Clia,
sentindo mais que percebendo, sabe que ele fora para declarar-se como um
namorado. Permanece, pois,
fascinada pelo rapaz que no fala e que de rosto faz lembrar um dos anjos
da igreja.

Sabe que no esquecer jamais, com os cabelos negros e os olhos cor de


avel, o rosto do rapaz que reflete
enorme amor de homem. Como entender o que acontece? Homem ele j
com o peito largo e forte que
quase um lutador. Alto e belo como uma rvore. E por que Senhora Santa
da Palma e por que mudo?
Nasceu assim? Houve um acidente? Doena? Uma doida, apenas uma doida
se deixaria seduzir e fascinar
por um mudo!

O pai de Gustavo no ocultava a decepo de ter um filho, quando no


invlido, praticamente intil. Os
mdicos no admitiam a cura. Que moa, afinal, o aceitaria como
namorado? Ou seria uma criatura
extraordinria e incomum ou apenas uma vigarista que, sabendo-o rico, a
ele se chegava por causa do
dinheiro.

Ele tem medo. Medo de que ela escape qualquer dia por ele ser mudo e
ela escapando sentir-se
novamente desesperado e s.

O milagre

- No quero que voc escreva mais! Quero que voc fale!

Gustavo ouve e sente que o amor e o beijo de Clia podem gerar o milagre.
(...) As bocas se afastam, as
mos mais se apertam, as lgrimas nos olhos que parecem sangrar. Tudo,
agora, nele angstia e dor. (...)
como num parto, a voz est nascendo. (...) E ele a rir e a chorar ao mesmo
tempo, exclama, em tom ainda
fraco, mas exclama:

- Amor!

2. O LARGO DE BRANCO

As personagens desse conto so Eliane, Odilon e Geraldo.

Espaos

Externo - Largo e Igreja da Palma (como j vimos, presente em todas as


novelas e tratado como ser vivo), e
Rua do Bngala.

Interno - Quarto em que mora Alice e que Eliane subloca. Casas em que
Eliane morou na infncia
(Itapagipe), quando casada com Odilon e quando viveu com Geraldo
(Campo Grande, Barris e Rio
Vermelho).
Linguagem

Concisa, perodos curtos, incisivos. O narrador explora os aspectos lrico-


poticos da linguagem. Percebe-
se o uso de metonmias: Voc, Eliane, casou com um hospital.

O autor usa os mesmos recursos poticos presentes nas outras novelas:


metforas, comparaes, inverses,
frases nominais e enumeraes, assndetos etc.

Foco narrativo e Tempo

A narrativa em terceira pessoa, embora centrada no personagem Eliane.


Est muito presente o estilo
indireto livre. como se Eliane estivesse fazendo uma reviso de suas
vivncias: a vida com Geraldo e a
vida com Odilon.

Coloca-se como tempo presente narrativo aquela manh de junho, em


que, gasto o vestido que usa, fora
de moda, o melhor de todos os que restaram, Eliane espera reencontrar-se
com Odilon no Largo da Palma.

Inclusive, neste incio, as formas verbais esto no indicativo presente;


ressaltam a idia dos fatos que esto
em curso.

No raras vezes se fundem presente fatos que esto sendo vividos, e


passado fatos recordados, pois
vividos no passado.

Mudam, ento, os tempos verbais (imperfeito, perfeito, mais que perfeito,


ressaltando a idia de fatos j
ocorridos.) Inclusive, em longos trechos, utilizam-se as aspas, para indicar
que esses trechos so narrados
pela memria da prpria Eliane, como em um longo discurso indireto livre,
dentro do qual aparecem
formas do discurso direto.

O narrador, alm de marcar o tempo, usando verbos no presente e no


passado, usa os advrbios agora e
l que ressaltam o tempo presente e o lugar. Eliane no Largo da Palma,
espera de Odilon.

L-se e percebe-se a pass agem do passado, visto atravs da lembrana de


Eliane, para o presente:

Essa lembrana a perseguiu durante bastante tempo, era como uma idia
fixa, hora a hora a rever as
notas sobre a cama. Parecia-lhe uma coisa to venenosa e viva quanto uma
vbora ou um escorpio. O dinheiro na cama, sobre o lenol, nele refletido o
desprezo do homem. E como se aquele dinheiro pudesse
compensar a ingratido e resgatar a mocidade e a vida que a ele dera em
troca de alguma coisa. Tudo,
dera tudo mesmo em troca de nada.
O sol, agora, invade o Largo da Palma e parece que vem mostr-lo como
uma das coisas mais preciosas
da Bahia . Habituara-se aos poucos com ele, o Largo da Palma... Eliane,
detendo-se para aquecer-se,
esmorece os passos. L, no quartinho onde mora, o sol no entra.

Pelo exposto, percebe-se que o tempo da narrativa basicamente


psicolgico.

O mundo interior - mundo invisvel

Gasto o vestido que usa, fora da moda, o melhor dos que restaram. Os
cabelos agora brancos, sempre
sedosos, no melhoram o rosto cansado. Olhos sem brilho, boca um pouco
murcha, as rugas. Este o
lado, o lado de fora, que Odilon ver. Sabe que o Odilon e se no mudou
inteiramente examinar-lhe-
o rosto com ateno a observar todos os detalhes. No poder ver, porm, o
lado de dentro, precisamente
o lado da conscincia e do corao.

O mundo interior traz uma percepo subjetiva do mundo exterior: (...) a rua
no era a mesma e certamente
no era a mesma por causa dela prpria.

Apesar de menos de sete meses, ah, quanto tempo.

A tenso nervosa expulsando-a do quarto, empurrando-a para a rua. A


tenso nervosa e os olhos de Alice
sempre cheios de curiosidade.

(ver mundo interior = tenso nervosa; mundo exterior = olhos de Alice =


expresso mundo interior =
curiosidade)

Desfecho: E, como se nada houvesse acontecido naqueles trinta anos,


desde que se separaram, ele apenas
diz:
Vamos, Eliane, vamos para casa.
(...) Ela se lembra das manhs de chuva que sempre escurecem o Largo da
Palma. Agora, como a vingar-
se daquelas manhs, o sol ajuda o cu to azul. E Eliane, ainda com o
corao a bater muito forte, no
tem dvida de que o seu velho largo, como num dia de festa, est vestido
de branco.

3. UM AV MUITO VELHO

Tema central: eutansia. Abordagem lrica de um tema polmico: amor


extremado x sofrimento da amada.
Morte Provocada

Foco narrativo

Narrao em terceira pessoa, centrada no personagem Negro Loio.

O presente narrativo o momento posterior a todos os fatos narrados:

O velho, quando aquilo aconteceu, trancou-se em si mesmo. (...) Sempre


calado em seu canto... No quarto
e no quintal, a tocar sua sanfona, como a esperar a morte e que todos o
esquecessem.

O narrador desenvolve dois ncleos narrativos:

1- Ncleo Central: O Negro Loio e sua neta Pintinha.

2- Ncleo secundrio: A vida do negro Loio.

Espaos - Largo da Palma (viso animista = tratado como ser vivo); a casa
do Gravat e Mercado Modelo.

Linguagem

Linguagem bem trabalhada, concisa, perodos curtos, incisivos. Tratamento


lrico dado narrativa e aos
conflitos humanos abordados. Inverso como forma de enfatizar sentido do
termo invertido "Companhias,
se teve, foram duas: a sanfona e a saudade de Aparecida". Observe a
juno do concreto (sanfona) com o
abstrato (saudade de Aparecida).

4. UM CORPO SEM NOME

Foco narrativo

Narrativa em primeira pessoa. Narrador no se identifica: quem sou, isto


no importa. Associao:
presente passado identificao:

Hoje, dois meses aps a morte da mulher...

"Ontem, quando reencontrei o inspetor na Rua Chile, quase dois meses aps
o meu depoimento na
Delegacia da Polcia...

Dezoito anos, pois, a minha idade. (...) Loura e bonita, os cabelos corridos,
os lbios finos, os seios
pequenos e cheios, muito azul nos olhos. No a vi, nem a ela e nem ao
amigo, quando me levantei. E, ao
levantar-me, j gritava:
- Eu quero esta mulher!
Crtica social - "A cafetina a expulsa do bordel porque ela j no d no
couro, no arranja mais homem".

A narrativa do passado, termina quando essa mulher exclama para o


narrador que morte deve ser melhor.
Deve ser melhor mesmo porque no tem medo nem fome.

Espaos - Largo da Palma, bordel (Sobradinho da Ajuda).

Enredo - Mulher que morre nos braos do narrador e o faz lembrar fatos que
viveu aos 18 anos.

Hoje, dois meses aps a morte da mulher, o Largo da Palma j esqueceu


porque, velho como , no tem
memria para todos os acontecimentos. No deve sequer lembrar-se de
quando levantaram as casas mais
baixas e estreitas, estas de telhas to pretas quanto o tempo, com o verde e
o azul das tintas fortes
ocultando as cicatrizes e rugas, e certamente, no se lembra quando foram
plantadas as rvores e
chegaram os primeiros pombos. Vendo-os agora, nesta penumbra que
sempre avisa a aproximao das
noites na Bahia, com a igreja vazia e os sobradinhos em silencio, penso na
mulher que morreu em meus
braos. Ela, a pobre, pareceu-me que vinha de longa viagem.

5. O ENFORCADO

Embasamento histrico: Revoluo dos Alfaiates (1798).

Foco narrativo - Narrativa em 3 pessoa, mas enquadrada tica de um


personagem: o ceguinho da
Palma.

Presente narrativo: dia dos enforcados quatro homens, um quase


menino, todos mulatos: A
execuo, um espetculo exemplar.

Personagens - Ceguinho da Palma e Valentim.

Crtica scio-histrica - o governo e os grados, a opresso, o terror, o


medo, a insegurana.

Ambiente - Largo da Palma, Piedade.

Linguagem - Uso dos mesmos recursos expressivos que se fazem presentes


nas outras novelas: metforas,
comparaes, frases nominais, enumeraes etc.

Inverso (explorando o valor expressivo do adjetivo): Inmeros os que


passavam por ele, todos apressados,
alguns como que corriam. E porque grande era o silncio e ouviu o
barulho dos grilhes de ferro, soube
que se arrastavam os que caminhavam para a morte.
Linguagem coloquial - Adequada ao personagem central (o ceguinho),
encontramos expresses e palavras
de linguagem coloquial. Palavras como: birosca, porrete,
estrebuchavam. Expresses como quero
um gole da melhor engolir a aguardente boa pinga! de arrebentar o
corao exemplo de merda;
e o uso do pronome sujeito como complemento verbal: Que a Senhora da
Palma ajude eles.

6. A PEDRA

Aspectos regionais: garimpo, Jacobina.

O enriquecimento gera a migrao para a capital.

Foco narrativo - Narrativa em terceira pessoa, centralizada em Ccero e


Zefa.

Espaos - Largo e Igreja da Palma, e o bordel onde Flor trabalha.

Linguagem - Inverso: Maior que a peste, de verdade, s o medo; E tinha


os seus dengues, Flor!;
Farta estava cheia de tantas mentiras e malandragens.

Personagens - Ccero Amaro, Zefa, Flor.

Enredo - A ingenuidade de Ccero, a explorao, as mulheres, o


empobrecimento.

Clmax - Fique de uma vez com suas putas... V e no volte, Saia, saia logo
seu bbado sujo. V logo
antes que te meta o brao.

Desfecho - E no largo, ao ver a igreja bem defronte, (Ccero) ps-se a


andar, cabisbaixo, como perdido em
profunda meditao. A ingratido de Zefa, o desprezo de Flor, ch, o mundo
era mesmo uma boa merda.
(p.101) Grandes, porm, eram os olhos de Deus. Todos pagariam
semelhante na prpria terra.
E procura arranjar um pouco dinheiro para voltar sua vida de garimpeiro
em Jacobina.

O DESTERRO DOS MORTOS, DE Aleilton Fonseca


O desterro dos mortos constitui-se de um conjunto de 12 contos escritos
numa
linguagem simples e elegante, com uma profuso de vivncias e
experincias
experimentadas por personagens emblemticos do cotidiano. As histrias
so
surpreendentes, cheias de humanidade e busca de compreenso do outro. E
os
narradores esto sempre empenhados em desvendar e compreender as
vicissitudes da
existncia humana.

Em cada conto, o leitor se depara com situaes em que as personagens


enfrentam os
confrontos e os dilemas da vida a aceitao, o amor, a dor, a finitude, a
compaixo. A
morte aparece no apenas como perda e dor, mas como experincia
profundamente
humana, rica em significados e sabedoria. Os narradores trazem tona as
diversas
questes que envolvem as relaes interpessoais, entre amigos e familiares,
em que a
reflexo sobre as pessoas e os seus afetos transformam-se em
conhecimentos e
experincias para a compreenso do mundo e da vida.

O livro todo vazado em uma prosa simples, atraente, potica, que


narra os fatos com a leveza, detalhes e
uma enorme soli dariedade para com as personage ns e o leitor. A
morte marca as narrativas e instiga o leitor a
pensar na existncia humana e na importncia de tentar compreender
e aceitar as diferenas no con vvio com
as pessoas prximas e com os semelhantes.
CONTOS DE INTENSA HUMANIDADE
A palavra exata associada a uma vivn cia profunda; a observao
argut a e sutil da vid a, expressa atravs de
um olhar marcado por um profundo lirismo, que compe, passo a
passo, e com extremo cuidado, uma
construo artstica plena de significados. Isto o que se pode dizer, logo
d e partida, dos 12 contos do escritor
Aleilton Fonseca, reunidos neste livro O desterro dos mortos.
A obra inclui cinco histrias anteriormente pu blicadas em Ja dos
Bois e Outros Contos, q ue obteve
considervel reconhecimento por parte da crtica, com ref erncias
entusiasmadas ele gncia da linguagem
simples, justa e densa de significados (Lus Antnio Cajazeira Ramos),
leveza e criatividade dos textos
combinadas com a h abilidade de quem sabe equilibrar as palavras
(Ktia Borges), juno da profu so de
sentimentos vivos do seu universo ficcional num espao definido e
preciso: o espao da escrita (Cid
Seixas), simplicidade de alto nvel, como se quer a simpli cidade literria
(Glucia Lemos), ao domnio da
tcnica formal a servio de uma s ensibilidade aguada (Lus Ruffato)
e sutil anlise psicolgica que lhe d
um carter universal (Dominique Stoenesco).
Nesse livro, Aleilton confirma sua posio entre os melhores escritores
brasileiros de sua gerao, fato
perfeitamente constatvel por qu em se dispuser a ler contos como
O Sorriso da Estrela includo na
antologia 25 Contistas Baianos, organizada por Cyro de Mattos , O Av
e o Rio, O Pescador e O Sabor
das Nuvens, entre outr os. So peas primorosas que garantem,
como assinala a professora Rita Aparecida
Colho S antos, no posfcio, a permanncia do narrador o mesmo do
qual se vaticinou a morte, mas que est
mais do que nunca vivo e atuante.
Segundo Rita Aparecida, Aleilton Fonseca aproxima -se do na rrador
clssico, conforme caracterizao que
dele fez Walter Benjamim em famoso ensaio sob re Nicolai Leskov.
Em geral, seus contos so relatos de
vivncias poderosamente nossas e ao mesmo tem po universais, porqu
e falam dos mistrios da vida e da
morte, e isso que eleva a nossa alma e nos faz pe nsar na necessidade
de intercambiar experincias e ouvir
conselhos, diz ela.
As contradies muitas vezes ilusrias entre tradio e
modernidade, regional e urbano ou local e
universal desaparecem, aqui, na alquimia que une experincia e ling
uagem. Experincia profunda,
linguagem depurada eis a base sobre a qual se constri o edifcio
ficcional do autor. Os tijolos so os
velhos e inextinguveis temas: a solido, a loucura, o amadurecimento,
a amizade, o ciclo de nascimento,
amadurecimento e morte, o amor.

H nos contos vrios na rradores e person agens emblemticos: o menino


que s compreende a irm doida
que lhe ofertava uma estrela d epois da sua morte; o menino que
acompanha a luta do av contra um rio,
que avana mais e mais sobre suas terras; o homem que retorna,
aps mu itos anos, fbrica inexistente,
agora apenas um terreno tom ado pelo mato, na qual sempre fora p
roibido de entrar; a av que, docemente,
espera a volt a do marido morto, aps tantos anos histrias tocadas
pelo mais in tenso lirismo e que, como
num conto de Tchekov, livre de qualquer sentimentalismo fcil, nos
restituem o direito de chorar e rir,
esquecidos de que estamos diante de uma fico.
Carlos Ribeiro escritor e jornalista, Doutor em Letras (UFBa), p
rofessor da Universidade Federal do
Recncavo Baiano, e membro da Academia de Letras da Bahia.

SOBRE O AUTOR
Aleilton Fonseca nasceu em Firmino Alves (1959), cresceu em Ilhus e
reside em Salvador. Cursou Letras
(UFBA), mestrado (UFPB) e doutorado na USP (1997). Atuou na
UESB e Professor Pleno de Literatura
da UEFS. Em 2003 lecio nou na Universit dArtois (Frana). coeditor da
s revistas Iararana (Literatura) e
Lgua e Meia (Arti gos). Publicou vrios livros. Poesia: Movimento de
sondagem (1981), O espelho da
conscincia (1984), Teoria particular do poema (1994). As formas do
barro (2006). Contos : J a dos Bois
(1997), O desterro dos mortos (2001), O c anto de Alvorada (2003) e
Les marques du feu (2008, Frana).
Ensaio: Guimares Rosa, crivain brsilien (2008, Blgica). Romance s:
Nh Guimares (200 6) e O
Pndulo de Euclides (2009). Pertence U BE-SP, ao PEN Clube do
Brasil e Academia de Letras da
Bahia.

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