ENGV27 ANLISE DE SISTEMAS ELTRICOS DE POTNCIA

Leonardo Souza Rocha

TRANSITRIOS ENVOLVENDO BANCOS DE CAPACITORES EM

DERIVAO

Vitria da Conquista, Abril de 2017

1. Introduo

A instalao de bancos de capacitores em uma subestao, em derivao,

introduz transitrios de frequncias elevadas alterando a natureza das
solicitaes aos equipamentos, pois com a presena desses bancos,
podem ocorrer oscilaes de corrente e tenso entre os equipamentos e o
sistema de transmisso

1.1. Objetivo
Apresentar, com circuitos monofsicos elementares, os principais
transitrios eletromagnticos devidos aos bancos de capacitores.
Vale ressaltar que o equacionamento monofsico aplicvel ao caso
trifsico desde que as manobras sejam equilibradas, ou seja, com
envolvimento apenas da sequncia positiva.
2. Sobretenses

2.1. Energizao de um Banco de Capacitores

Numa subestao contendo vrios bancos de capacitores ocorrem

sobretenses de manobra, principalmente na ligao do primeiro banco
de capacitores a ser energizado. Isso ocasiona oscilao que envolve
esse equipamento e o sistema de alimentao. A Figura 1 mostra uma
representao simplificada da rede atravs de uma indutncia
equivalente.

Figura 1-Energizao do Banco

A indutncia Ls representa o sistema equivalente da fonte, que uma

aproximao quando existem transformadores para a conexo do banco
de capacitores. A indutncia L representa indutncias internas dos
bancos de capacitores, na faixa de 5 a 10 .

Equacionamento:

Aplicando a transformada de Laplace, supondo uma corrente i(0)=0 e

uma tenso no capacitor vc(0) = v0. Aps dedues, tem-se:
 Onde, LsC.

Em uma manobra de energizao, pode-se considerar que o banco de

capacitores tem ou no carga residual, existindo resistores que
descarregam o banco para a prxima manobra de energizao. A
representao da Figura 1 fornece os primeiros indicadores da natureza
do fenmeno, porm ignora outros fatores importantes como disperso
no fechamento dos disjuntores, representao mais detalhada das linhas
de transmisso existentes, presena de perdas e amortecimentos.
interessante verificar as sobretenses na subestao e uma eventual
descarga de pra-raios.

2.2. Energizao com Carga Residual ou Reacendimento do Arco na

Abertura de um Unico Banco de Capacitores Restrike

Reacendimento o restabelecimento do arco eltrico em um perodo

superior a de ciclo, aps a extino da corrente, cujo termo
correspondente em ingls restrike.

Figura 2- Abertura do Banco e Carga Residual

Na Figura 2, pode-se notar que o fechamento da chave S, simulando o

reacendimento, ocorre com uma tenso armazenada no banco de
capacitores, proveninente da abertura anterior. Quando a corrente passa
pelo zero, em t1, ocorre a abertura e temos a tenso no capacitor
passando do seu valor de pico nesse instante, pois a corrente est
adiantada de 90 graus em relao tenso. Considera-se, na pratica,
que a amplitude da tenso no capacitor proxima da amplitude da
tenso de excitao, ou seja, admite-se queda de tenso pequena na
indutncia.
 Supondo que o restrike ocorra meio ciclo aps a abertura, em t2,
verifica-se que a corrente mxima quando vo e Eo tem polaridades
opostas. Logo, adota-se a excitao aproximadamente constante,
atravs de uma excitao em degrau:

Nesse caso, a corrente pode dobrar em relao ao caso de energizao.

2.3. Sobretenses Transitrias na Abertura de Banco de Capacitores -

Reacendimento e Solicitaes aos Pra-Raios

Figura 3 - Reacendimento em Banco de Capacitores, protegido com Para-Raios

Tenso na barra, que a tenso no capacitor, antes da atuao do pra-

raios:

No caso de energizao com o banco descarregado, encontra-se uma

sobretenso mxima de 2Eo. No caso de energizao com o banco
carregado a mxima foi de 3Eo.

Quando atinge o nvel de atuao do pra-raios, a tenso mantida

constante nos terminais do banco de capacitores, havendo uma
 transferncia de corrente do banco de capacitores para o pra-raios.
conveniente usar dispositivos de chaveamento que apresentem baixa
probabilidade de reacendimento.

2.4. Manobras com Ampliao da Tenso

Pode-se ampliar as tenses transitrias em bancos localizados em

outros pontos da rede.

Figura 4- Amplificao da Tenso

Condies bsicas para que essa ampliao da tenso ocorra: C1 C2,

f1 f2 e a potncia de curto-circuito na malha 1 ser superior a da malha
2.

2.5. Sobretenses de Impulso Atmosfrico

A seguir tem-se uma breve descrio das sobretenses de impulso

atmosfrico em banco de capacitores, com ligao estrela aterrada.
Considera-se inicialmente o caso de bancos sem reatores limitadores.

A relao entre carga armazenada e a tenso nos terminais dada por:

Q = C x V. Quando o banco de capacitores atingido por um impulso de
corrente, obtemos a carga no capcitor: Qt = Q0 + Qi; Sendo Q0 a carga
devida tenso operativa e Qi a carga devida ao impulso atmosfrico.
Considerando a carga Q, igual a 1C, a tenso nos terminais resulta em:
v1 = v0 +1/C.
Observa-se que a tenso diminui com o aumento da capacitncia do
banco.
3. Sobrecorrentes

3.1. Solicitao de Sobrecorrentes

As sobrecorrentes ocorrem nas energizaes de bancos

subsequentes ao primeiro, denominados back to back, e tambm no
curto circuito. Outro fenmeno envolvendo sobrecorrentes o
reacendimento do arco na abertura de um anco de capacitores, com
outros bancos operando na subestao.
Os principais equipamentos associados a esses fenmenos de
energizao e restrike so os disjuntores, capacitores e
transformadores de corrente. As bobinas de bloqueio so solicitadas
quando ocorrem curtos nas sadas de linha e no em curtos no
interior da subestao.

3.2. Energizao de n-simo Banco (n>1)- Energizao em Back to

Back

Ocorre quando j existem n-1 bancos energizados e ser energizado

o n-simo banco.
A circulao de correntes se processa preferencialmente entre as
indutncias, ficando o sistema praticamente fora das contribuies de
corrente. Tem-se um circuito LC livre, composto apenas por bancos
de capacitores, sendo que os bancos j em operao tm uma carga
armazenada e o banco a ser energizado j est descarregado.

Supondo que os bancos de capacitores sejam iguais:

L1=L2= L.
C1=C2= C.
Obtm-se um equivalente dos bancos energizados:

= L/(n-1).

necessrio modelar detalhadamente a subestao, no havendo a

mesma preocupao com sistema alimentador. Outro fato de
interesse que nessa manobra no ocorrem grandes variaes de
tenso na subestao, pois a troca maior de energia ocorre entre
bancos, com uma circulao de corrente atravs de indutncias
relativamente pequenas dos barramentos.

3.3. Reacendimento na Abertura de um Banco de Capacitores

Supe-se que no instante da abertura o banco armazene uma tenso

aproximadamente a tenso do sistema e que o restrike ocorra meio
 ciclo depois. Nesse instante h uma diferena de potencial na malha
do circuito equivalente de 2Eo, dobrando portanto as correntes de
energizao.

3.4. Curto-Circuito

A corrente composta pela contribuio do sistema a 60HZ e pela

onda de alta frequncia, proveninente da descarga dos bancos de
capacitores, quando ocorre o curto-circuito. Com o curto ocorrendo
no instante de tenso mxima, tem-se uma contribuio mnima da
componente unidirecional de corrente. Ocorrendo no instante de
tenso nula, teremos uma contribuio mxima da componente
unidirecional.
A oscilao de alta frequncia proveniente da descarga dos bancos
de capacitores.Obtm-se a mxima corrente de alta frequncia
quando o curto ocorre no instante de tenso mxima. Observa-se
que essa condio implica mnima contribuio da componente
unidirecional de corrente, devida ao sistema alimentador.
Para uma anlise mais precisa de corrente de curto-circuito
necessrio um detalhamento da subestao, representando as
indutncias dos barramentos. Tambm deve-se considerar o tipo de
ligao do banco e seu aterramento.
4. Circuitos Trifsicos

Uma rede tpica de capacitores isolados apresentado na Figura 5,

comum em circuitos de distribuio e subestaes at 69kV.

Figura 5 - Rede com Bancos de Capacitores No Aterrados

4.1. Abertura de Bancos Isolados

Sem curto:

Figura 6 - Abertura do Banco de Capacitores Trifsico

 Para os bancos isolados, no existe circulao de sequncia zero, assim
representa-se a rede de alimentao apenas sequncia positiva:

Como os bancos so isolados, o referencial para a terra aps a abertura

dado pelas capacitncias parasitas existentes. No instante t0 de
abertura da chave Sa, temos as tenses nos capacitores: va0 =Eo, v0= -
Eo/2, vc0= -Eo/2. Decorrido meio ciclo, a tenso entre fases passa pelo
mximo e as correntes ib e ic se anulam. Resultando as tenses nos
capacitores:

4.2. Fechamento de Chaves no Circuito Trifsico

No geral, na energizao do banco de capacitores, adota-se condies

iniciais quiescentes. Em determinados casos, se admitirmos que a
energizao se processa com cargas armazenadas no banco,
estaremos em condies prximas do reacendimento, que deve envolver
pelo menos duas fases.

Com banco descarregado: Com as trs fases fechando

simultaneamente, tem-se va=vb=vc=0 e a corrente mxima
im=e.i(t), resultando o valor mximo do caso trifsico idntico ao
caso monofsico, quando e = Eo.
Banco com carga armazenada: Os casos de energizao com
carga residual assumem que o banco de capacitores tem carga
armazenada. No fechamento simultneo das trs fases
encontramos -2va + vb +vc =-3Eo, e supondo a tenso da fonte e
= Eo, com polaridade trocada em relao composio das
 condies iniciais , encontra-seuma corrente mxima im= 2Eo.i(t),
com valor mximo idntico ao caso monofsico.

Nos estudos trifsicos importante uma boa representao da rede,

simulando os demais componentes da subestao, como linhas e
alimentadores, cargas, transformadores de carga e de aterramento.
5. Caractersticas Eltricas dos Equipamentos e Solicitaes
Transitrias

5.1. Disjuntores

Os disjuntores devem suportar uma abertura de bancos de

capacitores sem reacendimento. Existem valores normalizados para
disjuntores, como por exemplo, para o caso de energizao
encontra-se na norma ANSI, para disjuntores de uso externo, uma
corrente mxima com pico de 20kA e uma frequncia mxima de
4,25kHz.
Para o curto-circuito, as normas no especificam as correntes
mximas de alta frequncia que o disjuntor pode suportar.

5.2. Transformadores de Corrente

Devem ser protegidos para correntes de alta frequncia, de tal forma

que as tenses induzidas no secundrio sejam admissveis, um valor
de referncia que pode ser utilzado corresponde a uma
suportabilidade de 7kV de pico. Uma representao detalhada do
circuito secundrio pode alterar o valor das sobretenses com uso de
varistores. Deve-se tambm verificar a corrente dinmica de placa do
TC e considerar o isolamento dos equipamentos conectados ao seu
secundrio, como cabos de rels.

5.3. Bancos de Capacitores

Para frequncias de energizao, uma manobra por dia, a norma

apresenta os valores: Ipico < 100 < In, em que In a corrente
nominal de operao do banco, em valor eficaz.

5.4. Pra-Raios

Valores normais de absoro de energia de um pra-raios, com uma

coluna, so da ordem de 2 a 7 kJ/kV da tenso nominal do pra-
raios, para sobretenses de manobra. Cabe mencionar que duas
colunas no duplicam a capacidade de absoro de energia devido
distribuio no uniforme de corrente entre elas.
6. Referncia

Junior, Luiz Cera Zanetta. Transitrios Eletromanticos em Sistemas de

Potncia So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2003.