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Análise Na Reta PDF

1) O documento discute os diferentes tipos de conjuntos (finitos, enumeráveis e não enumeráveis) e introduz a noção de conjunto enumerável, ligada aos números naturais. 2) A adição de números naturais é definida recursivamente usando as iterações da função sucessora s: N → N. 3) Os axiomas de Peano fornecem as propriedades básicas dos números naturais a partir das quais sua teoria é deduzida.
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1) O documento discute os diferentes tipos de conjuntos (finitos, enumeráveis e não enumeráveis) e introduz a noção de conjunto enumerável, ligada aos números naturais. 2) A adição de números naturais é definida recursivamente usando as iterações da função sucessora s: N → N. 3) Os axiomas de Peano fornecem as propriedades básicas dos números naturais a partir das quais sua teoria é deduzida.
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Parte 1

Conjuntos finitos, enumeraveis e



nao-enumer
aveis Georg Ferdinand Ludwig
Philipp Cantor
(1845-1818) Russia.

Para saber mais sobre os nume-


A descoberta de que ha diversos tipos de infinito deve-se a Georg ros cardinais, consulte:

Cantor. Mas, para os objetivos do nosso curso, sera necessario


distin-

Halmos, Paul R., Teoria Ingenua
guir os conjuntos, quanto ao numero
ca-
de elementos, apenas em tres dos Conjuntos, Editora Polgono,
Paulo, 1970.
Sao

tegorias: os conjuntos finitos; os conjuntos enumeraveis e os conjuntos

nao-enumer
aveis.
A nocao
de conjunto enumeravel, como veremos, esta estritamente
ligada ao conjunto N dos numeros
naturais. Por isso iniciamos o curso
da teoria dos numeros
com uma breve apresentacao naturais a partir dos
axiomas de Peano, que exibem os numeros
naturais como numeros
ordi-
objetos que ocupam lugares determinados numa sequencia
nais, isto e,
ordenada. Depois, empregaremos os numeros
naturais para a contagem
Giuseppe Peano
dos conjuntos finitos, mostrando que eles podem ser considerados como
(1858-1932) Italia.
numeros
cardinais.
Dedekind definiu o conjunto N dos numeros
naturais a partir da teoria
dos conjuntos e demonstrou os axiomas de Peano (ver [Halmos]).
Do ponto de vista de Peano, os numeros
sao
naturais nao definidos.
E apresentada uma lista de propriedades (axiomas) que eles satisfazem
interessa o que os numeros
e tudo o mais decorre da. Nao mas
sao,
apenas as suas propriedades.
Julius Wihelm
Richard Dedekind
(1831-1916) Braunschweig,
hoje Alemanha.


Instituto de Matematica - UFF 1
2 J. Delgado - K. Frensel
Os numeros
naturais

1. Os numeros
naturais

Toda a teoria dos numeros


axi-
naturais pode ser deduzida dos tres
omas abaixo, conhecidos como axiomas de Peano.
dados, como objetos nao-definidos,
Sao um conjunto, que se de-
chamados numeros
signa pela letra N, cujos elementos sao naturais, e
s : N N. Para cada n N, o numero
uma funcao natural s(n) e
chamado o sucessor de n.
s satisfaz aos seguintes axiomas:
A funcao
(I) s : N N e injetiva, ou seja, se s(m) = s(n), entao
m = n.

(II) N s(N) consiste de um unico


elemento, ou seja, existe um
unico
numero
e sucessor de outro numero
natural que nao natural. Este
numero,
chamado um, e representado pelo smbolo 1.
Assim, s(n) 6= 1 para todo n N e, se n 6= 1, existe um unico
mN
tal que s(m) = n.
Uma demonstracao na qual o axi-
Se X N e tal que 1 X e, para todo
(III) (Princpio de Inducao) oma (III) e empregado, chama-se
uma demonstracao por inducao.

n X tem-se s(n) X, entao
X = N. Ver exemplo 1.1.

Exemplo 1.1 Demonstrar por inducao


que s(n) 6= n para todo n N.
Seja X = {n N | s(n) 6= n} .
Solucao:
(1) 1 X, pois, pelo axioma (II), s(n) 6= 1 para todo n N. Em particular
s(1) 6= 1.
(2) Seja n X, ou seja, s(n) 6= n.
Como s e injetiva, pelo axioma (I), s(s(n)) 6= s(n). Isto e,
s(n) X.
axioma (III), X = N, ou seja, s(n) 6= n
pelo princpio de inducao,
Entao,
para todo n N. 

Nao menos importante do que de-


por inducao
As definicoes baseiam-se na possibilidade de se iterar monstrar proposicoes usando o
e saber de-
princpio de inducao
f : X X um numero
uma funcao
arbitrario, n, de vezes.
finir objetos por inducao.

Mais precisamente, sejam X um conjunto e f : X X uma funcao.



A cada n N podemos associar, de modo unico,
fn : X X
uma funcao
tal que:


Instituto de Matematica - UFF 3

Analise na Reta

Numa exposicao sistematica


da f1 = f e fs(n) = f fn .
teoria dos numeros
naturais, a

existencia
do nesimo iterado fn s : N N vamos definir por inducao
Usando as iteradas da funcao
de uma funcao f : X X e
um teorema, chamado Teorema
de numeros
a adicao naturais.
por Inducao.
da Definicao

1.1 Sejam m, n N. O numero


Definicao natural sn (m) e chamado a
A operacao
de adicao de
soma de m e n e e designado por m + n. Isto e,

numeros
naturais e uma funcao

que a cada par de numeros m + n = sn (m) .
naturais (m, n) N N faz
corresponder o numero natu- que consiste em somar numeros
A operacao naturais e denominada adicao,

ral sn (m) designado m + n e
chamado a soma de m e n. e e designada pelo smbolo +.

Isto e,
+:NN N Assim,
(m, n) 7 m + n = sn (m)
m + 1 = s(m) (somar m com 1 significa tomar o sucessor de m).

m + s(n) = ss(n) (m) = s(sn (m)) = s(m + n),


ou seja,
m + (n + 1) = (m + n) + 1 .

1.1 A adicao
Proposicao de numeros
naturais possui as seguintes pro-
priedades:
(a) Associatividade: m + (n + p) = (m + n) + p .
(b) Comutatividade: m + n = n + m .
(c) Tricotomia: dados m, n N, exatamente uma das seguintes tres
alter-
nativas ocorre: ou m = n , ou existe p N tal que m = n + p, ou existe
q N tal que n = m + q.
(d) Lei de cancelamento: m + n = m + p = n = p .

Prova.
(a) Sejam m, n N numeros

naturais arbitrarios e seja
X = {p N | m + (n + p) = (m + n) + p} .
1 X e se p X, tem-se que
Entao
m + (n + s(p)) = m + s(n + p) = s(m + (n + p)) = s((m + n) + p)
= (m + n) + s(p) .

Logo, s(p) X e, portanto, X = N, ou seja, m + (n + p) = (m + n) + p,


quaisquer que sejam m, n, p N.

4 J. Delgado - K. Frensel
Os numeros
naturais

(b) Seja X = {m N | m + 1 = 1 + m} . Entao,


1 X e se m X, tem-se
1 + s(m) = s(1 + m) = s(m + 1) = s(s(m)) = s(m) + 1 ,
ou seja, s(m) X. Logo, X = N, isto e,
m + 1 = 1 + m, qualquer que seja
m N.
Seja Y = {m N | m + n = n + m}, onde n N.
pelo provado acima, 1 Y. E se m Y, tem-se que
Entao,
n + s(m) = s(n + m) = s(m + n) = m + s(n)
= m + (n + 1) = m + (1 + n) = (m + 1) + n
= s(m) + n ,

ou seja, s(m) Y. Logo, Y = N, isto e,


m + n = n + m quaisquer que
sejam m, n N.
(c) Seja m N e seja
X = {n N | n e m satisfazem a propriedade de tricotomia } .
(1) 1 X. De fato, ou m = 1 ou m 6= 1 e, neste caso, m e o sucessor de
algum numero
n0 N, ou seja, existe n0 N tal que
1 + n0 = n0 + 1 = s(n0 ) = m .
(2) Seja n X. Entao,
ou n = m, ou existe p N tal que n = m + p, ou
existe q N tal que m = n + q.
Vamos provar que s(n) X.
De fato,
se n = m = s(n) = s(m) = m + 1 .
se n = m + p = s(n) = s(m + p) = (m + p) + 1 = m + (p + 1) .
se m = n + q = ou q = 1 ou q 6= 1. Se q = 1, m = n + 1, ou seja,
s(n) = m. Se q 6= 1, existe q0 N tal que q0 + 1 = q.
Logo,
m = n + q = n + (q0 + 1) = n + (1 + q0 ) = (n + 1) + q0 = s(n) + q0 .
Exerccio 1: Para provar que vale
Em qualquer caso, provamos que ou s(n) = m, ou existe r N tal que exatamente uma das tres alterna-
tivas ao lado, verifique antes que
s(n) = m + r, ou existe ` N tal que m = s(n) + `. n + p 6= n quaisquer que sejam
n, p N.
Logo, X = N, ou seja, dados m, n N temos que, ou m = n, ou existe
p N tal que m = n + p, ou existe q N tal que n = m + q.


Instituto de Matematica - UFF 5

Analise na Reta

(d) Sejam m, n, p N tais que m + n = m + p.


Pela propriedade de tricotomia, temos que ou p = n ou existe q N tal
que n = p + q, ou existe ` N tal que p = n + `.
se p 6= n, temos que:
Entao,
n = p + q = m + (p + q) = m + p = (m + p) + q = m + p, o que e
(ver o exerccio 1 acima).
uma contradicao
ou
p = n + ` = m + n = m + (n + `) = (m + n) + ` que e tambem
uma

contradicao.
Logo, p = n. 

de ordem no conjunto dos numeros


A relacao naturais e definida em

termos da adicao.

1.2 Dados m, n N, dizemos que m e menor do que n (ou


Definicao
m n significa que m
A notacao
que n e maior do que m) e escrevemos m < n (ou n > m) se existir
e menor do que ou igual a n.
p N tal que n = m + p.

1.2 A relacao
Proposicao < possui as seguintes propriedades:
m < p.
(a) Transitividade: se m < n e n < p, entao
(b) Tricotomia: dados m, n N, ocorre exatamente uma das alternativas
seguintes:
m = n, ou m < n, ou n < m.
m + p < n + p para todo p N.
(c) Monotonicidade: se m < n entao

Prova.
(a) Se m < n e n < p, existem q1 N e q2 N tais que n = m + q1
e p = n + q2 .
Logo,
p = n + q2 = (m + q1 ) + q2 = m + (q1 + q2 ).
m < p.
Entao,
(b) Sejam m, n N. Entao,
ocorre exatamente uma das seguintes alter-
nativas:

6 J. Delgado - K. Frensel
Os numeros
naturais

ou m = n;
ou existe p N tal que m = n + p, ou seja n < m;
ou existe q N tal que n = m + q, ou seja m < n.
(c) Sejam m, n, p N. Se m < n, existe q N tal que n = m + q.
Logo,
n + p = (m + q) + p = m + (q + p) = m + (p + q) = (m + p) + q ,
ou seja, m + p < n + p. 

de numeros
Definiremos, agora, a multiplicacao naturais.

1.3 Para cada m N, seja fm a funcao


Definicao definida por
de multiplicacao
A operacao e
que a cada par de
a funcao
fm : N N numeros
naturais associa o seu
p 7 fm (p) = p + m . produto:
:NN N
O produto de dois numeros
naturais e definido por: (m, n) 7 mn
Multiplicar dois numeros
naturais
m 1 = m, significa calcular o produto entre
eles.
m (n + 1) = (fm )n (m) . O produto de m e n e designado
por m n ou por m n.
Assim, multiplicar um numero
o altera, e multiplicar m
m por 1 nao
por um numero
maior que 1, ou seja, por um numero
da forma n + 1, e
de somar m, comecando com m.
iterar nvezes a operacao
Por exemplo:
m 2 = fm (m) = m + m;

m 3 = (fm )2 (m) = fm (fm (m)) = fm (m + m) = m + m + m.

1.1 Pela definicao


Observacao acima, temos que
m (n + 1) = m n + m , m, n N

De fato, se n = 1, entao
m n + m = m 1 + m = m + m = (fm )1 (m) = m (1 + 1) .
Se n 6= 1, existe n0 N tal que s(n0 ) = n. Logo,
m n + m = m (n0 + 1) + m = (fm )n0 (m) + m
= fm ((fm )n0 )(m) = (fm )s(n0 ) (m)
= (fm )n (m) = m (n + 1) .


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Analise na Reta

1.3 A multiplicacao
Proposicao de numeros
naturais satisfaz as se-
guintes propriedades:
(a) Distributividade: m (n + p) = m n + m p e (m + n) p = m p + n p.
(b) Associatividade: m (n p) = (m n) p.
(c) Comutatividade: m n = n m.
(d) Monotonicidade: m < n = m p < n p.
(e) Lei de cancelamento: m p = n p = m = n.

Prova.
(a) Sejam m, n N e seja X = {p N | m (n + p) = m n + m p} .
Ja vimos que 1 X. Suponhamos que p X. Entao,

m (n + (p + 1) = m ((n + p) + 1) = m (n + p) + m 1
= (m n + m p) + m = m n + (m p + m)
= m n + m (p + 1) , ou seja, p + 1 X.

m (n + p) = m n + m p quaisquer que sejam


Logo, X = N. Isto e,
m, n, p N.
Seja, agora, Y = {p N | (m + n) p = m p + n p} . Entao,

1 Y, pois (m + n) 1 = m + n = m 1 + n 1.
Se p Y, temos:
(m + n) (p + 1) = (m + n) p + (m + n) = m p + n p + m + n
= m p + m + n p + n = m (p + 1) + n (p + 1) ,

ou seja, p + 1 Y. Logo, Y = N, isto e,


(m + n) p = m p + n p quaisquer
que sejam m, n, p N.
(b) Sejam m, n N e seja X = {p N | m (n p) = (m n) p} . Entao,

1 X, pois m (n 1) = m n = (m n) 1.
Se p X, temos
m (n (p + 1)) = m (n p + n) = m (n p) + m n
= (m n) p + m n = (m n) (p + 1) ,

ou seja, p + 1 X .
m(np) = (mn)p quaisquer que sejam m, n, p N.
Logo, X = N, isto e,

8 J. Delgado - K. Frensel
Os numeros
naturais

(c) Seja X = {m N | m 1 = 1 m} . Entao,


1 X e se m X temos que
(m + 1) 1 = m 1 + 1 1 = 1 m + 1 1 = 1 (m + 1) ,
ou seja, m + 1 X.
m 1 = 1 m, m N.
Logo, X = N, isto e,
Seja, agora, Y = {m N | m n = n m} , onde n N. Entao,
pelo que
acabamos de provar acima, 1 Y.
Se m Y, temos
(m + 1) n = m n + 1 n = n m + 1 n = n m + n = n (m + 1) ,
ou seja, m + 1 Y.
Logo, Y = N, ou seja, m n = n m quaisquer que sejam m, n N.
(d) Sejam m, n N tais que m < n. Entao,
existe q N tal que n = m+q.
Logo,
n p = (m + q) p = m p + q p ,
ou seja, m p < n p.
(e) Sejam m, n, p N tais que m p = n p.
m = n, pois, caso contrario,
Entao, teramos que:
m < n = m p < n p (absurdo),
ou
n < m = n p < m p (absurdo) . 

1.4 Seja X N. Dizemos que p X e o menor elemento de


Definicao
X, ou o elemento mnimo de X, se p n para todo n X.

1.2 1 e o menor elemento de N, pois se n 6= 1, existe


Observacao
n0 N tal que n0 + 1 = n. Entao,
n > 1.

Se X N e 1 X, entao
1 e o menor elemento de X.
Existe X N sem menor ele-
O menor elemento de um conjunto X N, se existir, e unico.
De fato, se
mento?
p q e q p. Logo, p = q.
menores elementos de X, entao
p e q sao

1.5 Seja X N. Dizemos que p X e o maior elemento de


Definicao

X, ou o elemento maximo de X, se p n para todo n X.


Instituto de Matematica - UFF 9

Analise na Reta

1.3 Nem todo subconjunto de N possui um maior ele-


Observacao
tem um maior elemento, pois se n N, entao
mento. Por exemplo, N nao
n + 1 = s(n) N e n + 1 > n.
Se existir o maior elemento de um conjunto X N, ele e unico.

Teorema 1.1 (Princpio da Boa Ordenacao)




Todo subconjunto nao-vazio A N possui um elemento mnimo.

Prova.
Seja X = {n N | {1, . . . , n} N A} .
Se 1 A, entao
1 e o menor elemento de A. Se 1 6 A, entao
1 X.

Como A 6= e X N A, temos que X 6= N.


existe n0 X tal que n0 + 1 6 X, ou seja,
Logo, pelo princpio de inducao,
1, . . . , n0 6 A e n0 + 1 A.
Assim, n0 + 1 n, para todo n A.

Outra demonstracao.
tem um menor elemento. Seja
Suponha, por absurdo, que A nao
X = {p N | p n , n A} .

Entao:
(1) 1 X, pois 1 n n N.
(2) Seja p X, ou seja, p N e p n n A.
tem um menor elemento, temos que p 6 A. Logo, p < n para
Como A nao
todo n A, ou seja, para todo n A existe qn N tal que n = p + qn .
p < p + qn = p + 1 p + qn = n , n A = p + 1 X.
Entao,
temos que X = N, o que e um absurdo, pois,
Pelo princpio de inducao,
como A 6= , existe n0 A. Sendo X = N, n0 + 1 X e, portanto,
n0 + 1 n0 . 

Teorema 1.2 (Segundo Princpio de Inducao)


Seja X N um conjunto com a seguinte propriedade: dado n N, se


todos os numeros
X contem n X.
naturais m tais que m < n, entao

Nestas condicoes, X = N.

10 J. Delgado - K. Frensel
Os numeros
naturais

Prova.
obvio que 1 X, pois, caso contrario,
E existiria algum numero
natural
n 6 X tal que n < 1.
Suponha que n X. Vamos provar que n + 1 X.
De fato, se n + 1 6 X, existe p0 < n + 1 tal que p0 6 X.
Seja A = {q N | q < n + 1 e q 6 X}.
como A 6= , A possui um menor elemento q0 A, ou seja,
Entao,
q0 < n + 1 e q0 6 X.
Se p < q0 , temos que p X, ja que p < q0 < n + 1 e q0 e o menor
pertencente a X com esta propriedade.
elemento nao
Logo, como p < q0 implica que p X, temos, pela hipotese,
que q0 X,
o que e uma contradicao.

Assim, se n X, temos que n + 1 X.


pelo Primeiro Princpio de Inducao,
Entao, X = N.

Outra demonstracao.
Seja A = N X. Se X 6= N, entao
A 6= .
existe p A tal que p n para todo
Pelo Princpio da Boa Ordenacao,
n A.
Assim, se q < p, temos que q 6 A, ou seja q X. Pela hipotese,
p X, o
que e uma contradicao.
Logo, X = N. 

Exemplo 1.2 Um numero


natural p e chamado primo quando p 6= 1 e
pode se escrever na forma p = m n com m < p e n < p.
nao

O Teorema Fundamental da Aritmetica diz que todo numero
natural maior
de modo unico,
do que 1 se decompoe, como um produto de fatores pri-
mos.

Podemos provar a existencia utilizando o Segundo
desta decomposicao

Princpio de Inducao.
De fato, dado n N, suponhamos que todo numero
natural m < n pode
ser decomposto como um produto de fatores primos ou m = 1.
Se n e primo, nao
ha nada a provar.


Instituto de Matematica - UFF 11

Analise na Reta

e primo, existem p < n e q < n tais que n = pq.


Se n nao

Pela hipotese p e q sao
de inducao, produtos de fatores primos. Logo,
n = pq e tambem
um produto de fatores primos.
obtemos que todo numero
Pelo Segundo Princpio de Inducao, natural,
n > 1, e produto de numeros
primos. 

Teorema 1.3 (Definicao


por Inducao)

Para ver uma prova do Teorema Seja X um conjunto qualquer. Suponhamos que nos seja dado o valor
por Inducao,
de Definicao con-
uma regra que nos permite obter f(n) a partir do
f(1) e seja dada tambem
sulte Fundamentals of Abstract
Analysis de A.M. Gleason, p. 145. existe uma, e
conhecimento dos valores f(m), para todo m < n. Entao,
f : N X que toma esses valores.
somente uma funcao

Exemplo 1.3 Dado a N, definamos uma funcao


f : N N por
pondo f(1) = a e f(n + 1) = a f(n).
inducao,
f(2) = a f(1) = a a, f(3) = a f(2) = a a a etc.
Entao,
Logo, f(n) = an . Definimos, assim, por inducao,
a nesima
potencia do
numero
natural a. 

Exemplo 1.4 Seja f : N N a funcao


definida indutivamente por
f(1) = 1 e f(n + 1) = f(n) (n + 1).
f(1) = 1, f(2) = 1 2, f(3) = f(2) 3 = 1 2 3 etc.
Entao,
Assim, f(n) = 1 2 . . . n = n! e o fatorial de n. 

Exemplo 1.5 Definir por inducao


a soma de uma nupla
de numeros

de uma nupla
A multiplicacao
de numeros
naturais pode ser de- naturais.
por inducao
finida, tambem, como
fazemos para a adicao no exem-
Solucao:
Seja X o conjunto das funcoes tomando valores em N e seja
plo ao lado.
f : N X a funcao
definida indutivamente por f(1) : N N tal que
f(1)(a) = a, e f(n + 1) : Nn+1 N tal que
f(n + 1)(a1 , . . . , an+1 ) = f(n)(a1 , . . . , an ) + an+1 .
f(1)(a) = a, f(2)(a1 , a2 ) = f(1)(a1 )+a2 = a1 +a2 , f(3)(a1 , a2 , a3 ) =
Entao,
f(2)(a1 , a2 ) + a3 = a1 + a2 + a3 etc.
Assim, f(n)(a1 , . . . , an ) = f(n1)(a1 , . . . , an1 )+an = a1 +. . .+an1 +an .


12 J. Delgado - K. Frensel
Conjuntos finitos e infinitos

2. Conjuntos finitos e infinitos

2.1 Seja In = {p N | 1 p n} = {1, 2, . . . n}.


Definicao
Um conjunto X chama-se finito quando e vazio ou quando existe uma
: In X, para algum n N.
bijecao
No primeiro caso dizemos que X tem zero elementos, e no segundo caso,
dizemos que X tem n elementos.

2.1 Intuitivamente, uma bijecao


Observacao : In X significa uma
contagem dos elementos de X.
Pondo (1) = x1 , (2) = x2 ,. . . ,(n) = xn , temos X = {x1 , x2 , . . . , xn } .

2.2
Observacao
Cada conjunto In e finito e possui n elementos.
Se f : X Y e uma bijecao,
entao
X e finito se, e so se, Y e finito.

Para verificar que o numero


de elementos de um conjunto esta bem

definido, devemos provar que se existem duas bijecoes : In X e
: Im X, entao
n = m.
f = 1 : In Im , basta provar que se
Considerando a funcao
f : In Im , entao
existe uma bijecao m = n. Podemos supor, tambem,

que m n, ou seja Im In .

Teorema 2.1 Seja A In um subconjunto nao


vazio. Se existe uma
f : In A, entao
bijecao A = In .

Prova.
em n.
Provaremos o resultado por inducao
Se n = 1, I1 = {1} e A {1}.
Logo A = {1} = I1 .

Suponhamos que o teorema seja valido
para n e consideremos uma bijecao
f : In+1 A.
f 0 : In A {f(n + 1)}. Se
de f a In fornece uma bijecao
A restricao
A{f(n+1)} In , temos, pela hipotese
que A{f(n+1)} = In .
de inducao,


Instituto de Matematica - UFF 13

Analise na Reta

f(n + 1) = n + 1 e A = In+1 .
Entao,
A {f(n + 1)} 6 In , entao
Se, porem, n + 1 A {f(n + 1)}. Neste caso,
existe p In tal que f(p) = n + 1, e f(n + 1) = q In .
g : In+1 A pondo g(x) = f(x) se
uma nova bijecao
Definimos, entao,
x 6= p e x 6= n + 1, g(p) = q e g(n + 1) = n + 1.
g 0 : In A {n + 1}.
de g a In nos da uma bijecao
Agora, a restricao
Como A {n + 1} In , temos, pela hipotese
que A {n + 1} =
de inducao,
In , ou seja A = In+1 . 


Corolario 2.1 Se existir uma bijecao
f : Im In entao
m = n. Con-
sequentemente,

se existem duas bijecoes : In X e : Im X
m = n.
entao

Prova.
Se n m, temos que In Im .
Logo, m = n, pelo teorema anterior.
Se n m, temos que f1 : In Im e uma bijecao
tal que Im In .

Portanto, Im = In . 


Corolario 2.2 Nao f : X Y de um conjunto finito
existe uma bijecao

X sobre uma parte propria Y X.

Prova.
: In X para algum n N.
Sendo X finito, existe uma bijecao
Seja A = 1 (Y).
A e uma parte propria
Entao, de a A fornece uma
de In e a restricao
f 0 : A Y.
bijecao
X Y
f
x x


0

In A
g

A composta g = ( 0 )1 f : In A seria entao


uma bijecao
de In

sobre sua parte propria A, o que e uma contradicao
pelo teorema anterior.
f : X Y. 
existe a bijecao
Logo, nao

14 J. Delgado - K. Frensel
Conjuntos finitos e infinitos

Teorema 2.2 Se X e um conjunto finito entao


todo subconjunto Y X e
disso, o numero
finito. Alem de elementos de Y e menor do que ou igual
a o numero
de elementos de X e e igual se, e somente se, Y = X.

Prova.
Designaremos por #(A) o numero

e seja f 0 : A Y a restricao
Seja f : In X uma bijecao de f a
de elementos de um conjunto A.
A = f1 (Y) In .
Se provarmos que A e finito, que #(A) e menor do que ou igual a n e e
igual a n se, e somente se, A = In , teremos que Y e finito, que #(Y) = #(A)
e menor do que ou igual a #(In ) = #(X), e e igual se, e somente se A = In ,
ou seja, se, e somente se, Y = X.
provar o teorema no caso em que X = In .
Basta, entao,
Y = ou Y = {1}.
Se n = 1, entao
Assim, #(Y) 1 e #(Y) = 1 se, e so se, Y = {1} = I1 .

Suponhamos que o teorema seja valido para In e consideremos um sub-
conjunto Y In+1 .
Se n + 1 6 Y, entao
Y In . Logo, pela hipotese
Y e um
de inducao,
conjunto finito com #(Y) n e, portanto, #(Y) < n + 1.
n + 1 Y, temos que Y {n + 1} In . Logo, Y {n + 1} e um
Se, porem,
conjunto finito com p elementos, onde p n.
Se Y {n + 1} 6= , existe uma bijecao
: Ip Y {n + 1}.
: Ip+1 Y pondo (x) = (x) para x Ip
a bijecao
Definimos, entao,
e (p + 1) = n + 1.
Segue-se que Y e finito e que #(Y) = p + 1 n + 1.
Resta, agora, mostrar que se Y In tem n elementos entao
Y = In .
f : In Y.
Se #(Y) = n, existe uma bijecao
Como Y In temos, pelo Teorema 1.4, que Y = In . 


Corolario 2.3 Seja f : X Y uma funcao
injetiva. Se Y e finito, entao

e finito, e o numero
X tambem excede o de Y.
de elementos de X nao

Prova.
Sendo f : X Y injetiva, temos que f : X f(X) e uma bijecao.


Instituto de Matematica - UFF 15

Analise na Reta

Como f(X) Y e Y e finito, temos que f(X) e finito e #(f(X)) #(Y).


Logo, o conjunto X e finito e #(X) = #(f(X)) #(Y). 


Corolario 2.4 Seja g : X Y uma funcao
sobrejetiva. Se X e finito,
Y e finito e o seu numero
entao excede o de X.
de elementos nao

Designamos por IA : A A a Prova.


identidade do conjunto A.
funcao
Como g : X Y e sobrejetiva, existe uma funcao
f : Y X tal que
g f = IY , ou seja, g possui uma inversa a` direita.
De fato, dado y Y, existe x X tal que g(x) = y. Definimos, entao,

Exerccio 2: Prove que dada uma
f : X Y injetiva, existe
funcao f(y) = x.
uma funcao g : Y X tal que
g f = IX , ou seja, f possui disso, como g f(y) = y para todo y Y, temos que se f(y) = f(y 0 )
Alem
uma inversa a` esquerda. Verifi-
que, tambem, que se g f = IX ,
y = y 0 , ou seja, f e injetiva.
entao
g e sobrejetiva.
entao
pelo corolario
Entao, anterior, Y e um conjunto finito e o seu numero
de
excede o de X. 
elementos nao

2.2 Um conjunto X e infinito quando nao


Definicao e finito. Ou seja,
X 6= e seja qual for n N, nao : In X.
existe uma bijecao

Exemplo 2.1 O conjunto dos numeros


naturais e infinito.
: In N, n > 1, tome
De fato, dada qualquer funcao
p = (1) + . . . + (n) .
p N e p > (j) para todo j = 1, . . . , n. Logo, p 6 (In ), ou seja,
Entao,
e sobrejetiva.
nao
Outra maneira de verificar que N e infinito e considerar o conjunto dos
numeros
naturais pares
P = {2 n = n + n | n N}
: N P dada por (n) = 2 n.
e a bijecao
Como P e um subconjunto proprio

de N, temos, pelo corolario 2.2, que N
e infinito. 

2.3 Como consequencia


Observacao dos fatos provados acima para
conjuntos finitos, segue que:
se X e infinito e f : X Y e injetiva, entao
Y e infinito.

16 J. Delgado - K. Frensel
Conjuntos finitos e infinitos

se Y e infinito e f : X Y e sobrejetiva, entao


X e infinito. Segue da observacao ao lado
que os conjuntos Z e Q, dos
se X admite uma bijecao
sobre uma de suas partes proprias,
X e
entao numeros
inteiros e dos numeros

infinito. racionais, respectivamente, sao


N.
infinitos, pois ambos contem

2.3 Um conjunto X N e limitado se existe p N tal que


Definicao
n p para todo n X.

Teorema 2.3 Seja X N nao-vazio.


sao
As seguintes afirmacoes equi-
valentes:
(a) X e finito;
(b) X e limitado;
(c) X possui um maior elemento.

Prova.
(a)=(b) Seja X = {x1 , . . . , xn } e seja a = x1 + . . . + xn . Entao
a > xi
para todo i = 1, . . . , n, ou seja, X e limitado.
(b)=(c) Como X e limitado, existe a N tal que a n para todo n X.
o conjunto
Entao,
A = {p N | p n n X}
e nao-vazio.
existe p0 A que e o
Pelo Princpio da Boa Ordenacao,
menor elemento de A.
Se p0 6 X, temos que p0 > n n X e p0 > 1, pois X 6= .
Logo, existe q0 N tal que p0 = 1 + q0 .
Assim, p0 n + 1 n X, ou seja, q0 + 1 n + 1 n X. Entao
q0 n
n X, ou seja, q0 A, o que e absurdo, pois q0 < p0 e p0 e o menor
elemento de A.
Logo, p0 X e p0 n n X, ou seja, p0 e o maior elemento de X.
p X e p n n X.
(c)=(a) Seja p o maior elemento de X. Entao,
Logo, X Ip e e,
portanto, finito. 

2.4 Um conjunto X N e ilimitado quando nao


Observacao e limitado, Note que: pelo teorema 2.3, an-
terior, X e infinito se, e somente
ou seja, para todo p N existe n X tal que n > p. se, X e ilimitado.


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Analise na Reta

Teorema 2.4 Sejam X, Y conjuntos finitos disjuntos, com m e n ele-


X Y e finito e possui m + n elementos.
mentos respectivamente. Entao,

Prova.
Sejam f1 : Im X e f2 : In Y bijecoes.

f : Im+n X Y pondo
Definamos a funcao
f(x) = f1 (x) se 1 x m
f(m + x) = f2 (x) se 1 x n .

Como X Y = , e facil
verificar que f e uma bijecao.

Logo, X Y e finito e possui m + n elementos. 

Exerccio 3: Use o teorema 2.4 e



Corolario 2.5 Sejam X1 , . . . , Xk conjuntos finitos, dois a dois disjuntos,
para pro-
o Princpio de Inducao X1 . . . Xk e finito e
com n1 , . . . , nk elementos, respectivamente. Entao

var o corolario 2.5, ao lado.
possui n1 + . . . + nk elementos.


Corolario 2.6 Sejam Y1 , . . . , Yk conjuntos finitos (nao
necessariamente
disjuntos) com n1 , . . . , nk elementos, respectivamente.
Y1 . . . Yk e finito e possui no maximo
Entao n1 + . . . + nk elementos.

Prova.
Para cada i = 1, . . . , k, seja Xi = {(x, i) | x Yi } e seja i : Yi Xi
definida por i (x) = (x, i).
a funcao
Como i e uma bijecao,
temos que Xi e finito e possui ni elementos,
disso, os conjuntos finitos X1 , . . . , Xk sao
i = 1, . . . , k. Alem disjuntos dois
a dois.

Logo, pelo corolario anterior, X1 . . . Xk e finito e possui n1 + . . . + nk
elementos.
Seja
f : X1 . . . Xk Y1 . . . Yk
definida por f(x, i) = x.
a funcao
Como f e sobrejetiva, X1 . . . Xk finito e possui n1 + . . . + nk elementos,
temos que Y1 . . .Yk e finito e possui no maximo
n1 +. . .+nk elementos.


18 J. Delgado - K. Frensel
Conjuntos finitos e infinitos


Corolario 2.7 Sejam X1 , . . . , Xk conjuntos finitos com n1 , . . . , nk elemen-
o produto cartesiano X1 . . . Xk e finito e
tos respectivamente. Entao
possui n1 . . . nk elementos.

Prova.

Basta provar o corolario
para k = 2, pois o caso geral segue por inducao
em k.
Sejam X e Y conjuntos finitos com m e n elementos, respectivamente.
Se Y = {y1 , . . . , yn }, entao
X Y = X1 . . . Xn , onde Xi = X {yi },
i = 1, . . . , n.
disjuntos dois a dois e todos possuem m elementos,
Como X1 , . . . , Xn sao
temos que X Y e finito e possui m n elementos. 


Corolario 2.8 Sejam X e Y conjuntos finitos com m e n elementos res-
o conjunto F(X; Y) de todas as funcoes
pectivamente. Entao de X em Y e
finito e possui nm elementos.

Prova.
Seja : Im X uma bijecao.
Entao,
a funcao

H : F(X; Y) F(Im ; Y)
f 7 f

e uma bijecao.
De fato, a funcao

L : F(Im ; Y) F(X; Y)
g 7 g 1

e a inversa da funcao
H.

Logo, basta provar que F(Im ; Y) e um conjunto finito e que possui nm


elementos.

Seja a funcao
F : F(Im ; Y) Y . . . Y (m fatores)
definida por
F(f) = (f(1), . . . , f(n)) .
e Y . . . Y (m fatores) possui nm elementos pelo
Como F e uma bijecao

corolario anterior, temos que F(Im ; Y) e finito e possui nm elementos. 


Instituto de Matematica - UFF 19

Analise na Reta

3.
Conjuntos enumeraveis

3.1 Um conjunto X e enumeravel


Definicao quando e finito ou quando
f : N X. Neste caso, X diz-se infinito enumeravel
existe uma bijecao e
pondo-se xi = f(i), i N, tem-se uma enumeracao
de X:
X = {x1 , . . . , xn , . . .} .

Exemplo 3.1 O conjunto P dos numeros


naturais pares e o conjunto
I = N P dos numeros
conjuntos infinitos enu-
naturais mpares sao

meraveis.

De fato, as funcoes
1 : N P 2 : N I
e
n 7 1 (n) = 2 n n 7 2 (n) = 2 n 1

bijecoes.
sao 

Exemplo 3.2 O conjunto Z dos numeros


inteiros e infinito enumeravel.

: Z N definida por
De fato, a funcao

2 n se n 1
(n) =
2n + 1 se n 0

Logo, 1 : N Z e uma enumeracao


e uma bijecao. de Z. 

Teorema 3.1 Todo conjunto infinito X contem


um subconjunto infinito

enumeravel.

Prova.
f : N X injetiva, pois, assim,
Basta provar que existe uma funcao
f : N f(N) e uma bijecao,
sendo, portanto, f(N) um subconjunto infi-

nito enumeravel de X.

Para cada subconjunto A nao-vazio de X podemos escolher um elemento
xA A.
f : N X.
uma funcao
Vamos definir por inducao
Tome f(1) = xX e suponhamos que f(1), . . . , f(n) ja foram definidos.
Seja An = X {f(1), . . . , f(n)}.

20 J. Delgado - K. Frensel

Conjuntos enumeraveis

e finito, An nao
Como X nao e vazio.
f(n + 1) = xAn .
Defina, entao
f : N X e injetiva.
A funcao
f(m) {f(1), . . . , f(n 1)} e
Com efeito, se m 6= n, digamos m < n, entao
f(n) 6 {f(1), . . . , f(n 1)}. Logo, f(m) 6= f(n). 


Corolario 3.1 Um conjunto X e infinito se, e somente se, existe uma
f : X Y de X sobre uma parte propria
bijecao Y X.

Prova.
existir, pelo corolario
Se uma tal bijecao e finito.
2.2, X nao
Reciprocamente, se X e infinito, X contem
um subconjunto infinito enu-

meravel A = {a1 , . . . , an , . . .}.
Seja Y = (X A) {a2 , a4 , . . . , a2n , . . .}.
Y e uma parte propria
Entao de X, pois
X Y = {a1 , a3 , . . . , a2n1 , . . .}.
f : X Y definida por f(x) = x se x X A e
disso, a funcao
Alem
f(an ) = a2n , n N, e uma bijecao
de X sobre Y. 

3.1 Como consequencia


Observacao do teorema anterior, temos que:
Um conjunto e finito se, e somente se, nao
admite uma bijecao
sobre uma

parte sua propria.

Obtem-se, dos conjuntos finitos que independe
assim, uma caracterizacao
do conjunto N.

Teorema 3.2 Todo subconjunto X N e enumeravel.


Prova.
Se X e finito, entao
X e enumeravel,

por definicao.
Suponhamos que X e infinito.
f : N X.
uma bijecao
Vamos definir por inducao
Tome f(1) =menor elemento de X, e suponha que f(1), . . . , f(n) foram

definidos satisfazendo as seguintes condicoes:


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Analise na Reta

(a) f(1) < f(2) < . . . < f(n) ;


(b) Se Bn = X {f(1), . . . , f(n)}, tem-se x > f(n), para todo x Bn .
Como Bn 6= , pois X e infinito, seja f(n + 1) =menor elemento de
f(n + 1) > f(n) e x > f(n + 1) para todo x Bn+1 =
Bn . Entao,
X {f(1), . . . , f(n + 1)}.
Como f : N X e crescente, f e injetiva.
disso, f e sobrejetiva, pois se existisse algum x X f(N), teramos
Alem
que
x X f(N) X {f(1, . . . , f(n)} = Bn ,
para todo n N, e, portanto, x > f(n) para todo n N. Assim, f(N) N
seria infinito e limitado, o que e absurdo. 

Exemplo 3.3 O conjunto dos numeros


primos e infinito (fato conhecido)

e enumeravel. 


Corolario 3.2 Dado um subconjunto X N infinito, existe uma bijecao

crescente : N X.


Corolario 3.3 Um subconjunto de um conjunto enumeravel
e enumeravel.


Corolario 3.4 Se f : X Y e uma funcao
injetiva e Y e enumeravel,

X e enumeravel.
entao

Prova.
Como f(X) Y e enumeravel
e f : X f(X) e uma bijecao,
temos
que X e enumeravel.



Corolario 3.5 Se f : X Y e uma funcao
sobrejetiva e X e enu-

meravel, Y e enumeravel.
entao

Prova.
Como f : X Y e sobrejetiva, f possui uma inversa a` direita, ou seja,
existe g : Y X tal que f g = IY . Entao,
g e injetiva. Logo, Y e

enumeravel. 

Teorema 3.3 Se X e Y sao


conjuntos enumeraveis,
o produto
entao
cartesiano X Y e enumeravel.

22 J. Delgado - K. Frensel

Conjuntos nao-enumer
aveis

Prova.

Sendo X e Y finitos ou infinitos enumeraveis, f : X N
existem funcoes
e g : Y N injetivas.
Seja f g : X Y N N definida por f g(x, y) = (f(x), g(y)). Como
injetivas, f g tambem
f e g sao e injetiva.
provar que N N e enumeravel.
Basta, entao, Para isso, definimos a
h : N N N, pondo h(m, n) = 2m 3n . Pela unicidade da
funcao
em fatores primos, f e injetiva e, portanto, N N e enu-
decomposicao

meravel. 


Corolario 3.6 O conjunto Q dos numeros
racionais e enumeravel.

Prova.

p Designamos Z? = Z {0} .
Sabemos que Q = p Z e q Z? , e que Z Z? e enumeravel.

q
p
f : Z Z? Q, definida por f(p, q) =
Como a funcao e sobrejetiva,
q

segue-se do corolario 3.5 que Q e enumeravel.



Corolario 3.7 Sejam X1 , X2 , . . . , Xn , . . . conjuntos enumeraveis.
a
Entao

[
X=
reuniao Xn e enumeravel.
enumeravel
Ou seja, uma reuniao de
n=1


conjuntos enumeraveis e enumeravel.

Prova.
Tomemos, para cada m N, uma funcao
fm : N Xm sobrejetiva, e
f : N N X pondo f(m, n) = fm (n). Como f e
definamos a funcao
sobrejetiva e N N e enumeravel,
tem-se que X e enumeravel.


3.2 Uma reuniao


Observacao finita X = X1 . . . Xk de conjuntos

enumeraveis e enumeravel.

3.3 Se X1 , . . . , Xk sao
Observacao conjuntos enumeraveis,
seu pro-
duto cartesiano X1 . . . Xk e enumeravel.

Y


Porem, nem sempre, o produto cartesiano X =
Xn de uma sequ encia
n=1


de conjuntos enumeraveis e enumeravel.


Instituto de Matematica - UFF 23

Analise na Reta

4.
Conjuntos nao-enumer
aveis


Veremos, agora, que existem conjuntos nao-enumer
aveis. Mais ge-
Ao lado, estamos designando ralmente, mostraremos que, dado qualquer conjunto X, existe sempre um
card(X) o numero
cardinal do
conjunto cujo numero
cardinal e maior do que o de X.
conjunto X. Quando X e um con-
junto finito, card(X) e o numero

Nao
vamos definir o que e o numero
cardinal de um conjunto. Diremos,
de elementos de X, que anterior-
mente designamos #(X).
apenas, que card(X) = card(Y) se, e somente se, existe uma bijecao
f : X Y.
Assim, dois conjuntos finitos tem
o mesmo numero
cardinal, se, e so-
o mesmo numero
mente se, tem de elementos. E se X e infinito enu-

meravel, card(X) = card(N) e card(Y) = card(X) se, e somente se,
entao
Y e infinito enumeravel.

Dados os conjuntos X e Y, diremos que card(X) < card(Y) quando existir


injetiva f : X Y, mas nao
uma funcao existir uma funcao
sobrejetiva
g : X Y.
Como todo conjunto X infinito contem
um subconjunto enumeravel,
tem-
se que card(N) card(X), ou seja, o numero
cardinal de um conjunto

infinito enumeravel e o menor dos numeros
cardinais dos conjuntos infini-
tos.
Dados dois conjuntos A e B quaisquer, vale uma e somente uma, das
Para ver as demonstracoes dos seguintes alternativas:
fatos citados ao lado e obter mais
card(A) = card(B) , card(A) < card(B) , ou card(B) < card(A) .

informacoes sobre numeros
car-
dinais de conjuntos, veja o livro: Se existirem uma funcao
injetiva f : A B e uma funcao
injetiva

Teoria Ingenua dos Conjuntos de
Paul Halmos. g : B A, existira tambem h : A B.
uma bijecao

Teorema 4.1 (Teorema de Cantor)


e Y um conjunto contendo pelo menos dois
Sejam X um conjunto arbitrario
: X F(X; Y) e sobrejetiva.
nenhuma funcao
elementos. Entao,

Prova.
Seja : X F(X; Y) uma funcao
e seja x : X Y o valor da funcao

no ponto x X.
f : X Y tal que f 6= x para todo x X.
Construiremos uma funcao

24 J. Delgado - K. Frensel

Conjuntos nao-enumer
aveis

Para cada x X, seja f(x) Y tal que f(x) 6= x (x), o que e possvel, pois
Y tem pelo menos dois elementos.
Assim, f 6= x para todo x X, pois f(x) 6= x (x) para todo x X.
Logo, f 6 (X), ou seja, nao
e sobrejetiva. 

4.1 Sejam y1 , y2 Y tais que y1 6= y2 , e seja : X


Observacao
F(X; Y) a funcao
definida por x (x) = y1 e x (z) = y2 se z 6= x.
e injetiva. Logo, card(X) < card(F(X; Y)).
Entao
Provamos, assim, que dado qualquer conjunto X, existe sempre um con-
junto cujo numero
cardinal e maior do que o de X


Corolario 4.1 Sejam X1 , X2 , . . . , Xn , . . . conjuntos infinitos enumeraveis.

Y

o produto cartesiano
Entao, e enumeravel.
Xi nao
i=1

Prova.
iguais a N. De fato,
Basta considerar o caso em que todos os Xn sao
para cada n N, existe uma bijecao
fn : N Xn . Entao,
a funcao

Y Y
F: Ni Xi
i=1 i=1
(x1 , x2 , . . . , xn , . . .) 7 (f1 (x1 ), f2 (x2 ), . . . , fn (xn ), . . .) ,

onde Ni = N, para todo i N. Como a funcao


e uma bijecao,
Y
H: Ni F(N; N)
i=1
hx : N N
x = (x1 , . . . , xn , . . .) 7
i 7 xi

e F(N; N) nao
e uma bijecao e enumeravel
pelo teorema anterior, o con-
Y

junto e enumeravel.
Ni nao 
i=1

O argumento usado na demonstracao


do teorema acima, chama-se

metodo da diagonal de Cantor, devido ao caso particular X = N.
Os elementos de F(N; Y) sao
as sequ encias
de elementos de Y.
: N F(N; Y) e sobrejetiva, escre-
Para provar que nenhuma funcao


Instituto de Matematica - UFF 25

Analise na Reta

sequ encias
vemos (1) = s1 , (2) = s2 , . . . etc., onde s1 , s2 , . . . sao de
elementos de Y, ou seja,
s1 = (y11 , y12 , y13 , . . .)
s2 = (y21 , y22 , y23 , . . .)
s3 = (y31 , y32 , y33 , . . .)
.. ..
. .

Para cada n N, podemos escolher yn Y tal que yn 6= ynn , onde


ynn e o nesimo
termo ynn da diagonal.
a sequ encia
Entao s = (y1 , y2 , y3 , . . .) 6= sn para todo n N, pois

o nesimo
termo yn da sequ encia s e diferente do nesimo
termo da

sequ encia sn .

Assim, nenhuma lista enumeravel em
pode esgotar todas as funcoes
F(N; Y).

Exemplo 4.1 Seja Y = {0, 1}. Entao,


o conjunto {0, 1}N = F(N; Y) das

sequ encias 0 ou 1 nao
cujos termos sao e enumeravel.


Seja P(A) o conjunto cujos elementos sao


todos os subconjuntos do
conjunto A.

Vamos mostrar que existe uma bijecao
: P(A) F(A; {0, 1}) .
Para cada X A, consideremos a funcao
caracterstica de X:
X : A {0, 1}

1, se x X
7 X (x) =
x
0, se x 6 X


A funcao
: P(A) F(A; {0, 1})
X 7 X

e uma bijecao, f : A {0, 1} o con-


cuja inversa associa a cada funcao
junto X dos pontos x A tais que f(x) = 1.
Como {0, 1} tem dois elementos, segue-se do teorema 4.1 que ne-
: A F(A, {0, 1}) e sobrejetiva. Logo, nenhuma
nhuma funcao

26 J. Delgado - K. Frensel

Conjuntos nao-enumer
aveis

: A P(A) e sobrejetiva. Mas existe uma funcao


funcao injetiva
f : A P(A) definida por f(x) = {x}.
card(A) < card(P(A)) para todo conjunto A.
Entao,
No caso particular em que A = N, temos que
card(N) < card(P(N))

ou seja, P(N) nao


e enumeravel.


Instituto de Matematica - UFF 27
28 J. Delgado - K. Frensel
Parte 2

O conjunto dos numeros


reais


Neste captulo, adotaremos o metodo
axiomatico para apresentar os
numeros
faremos uma lista dos axiomas que apresentam o
reais. Isto e,
conjunto R dos numeros
reais como um corpo ordenado completo.
Mas surge, naturalmente, uma pergunta: Existe um corpo ordenado
completo? Ou melhor: partindo dos numeros
naturais, seria possvel, por
sucessivas do conceito de numero,
meio de extensoes chegar a` construcao

dos numeros
reais? A resposta e afirmativa e a passagem crucial e dos
racionais para os reais. Por exemplo: Dedekind construiu o conjunto dos
numeros

reais por meio de cortes (de Dedekind), cujos elementos sao
de numeros
colecoes racionais; e Cantor obteve um corpo ordenado com-
as classes de equivalencia
pleto cujos elementos sao
de sequ encias de
Cauchy de numeros
racionais.

Provada a existencia, surge uma outra pergunta relevante: sera que
existem dois corpos ordenados completos com propriedades diferentes?
A resposta e negativa, ou seja, dois corpos ordenados completos diferem
pela maneira como os
apenas pela natureza de seus elementos, mas nao

elementos se comportam. A maneira adequada de responder a questao
da unicidade e a seguinte: Dados K e L corpos ordenados completos,
existe um unico
isomorfismo f : K L, ou seja, existe uma unica

bijecao
f : K L tal que f(x + y) = f(x) + f(y) e f(x y) = f(x) f(y). Como, alem

disso, o fato de f preservar a soma implica que x < y f(x) < f(y),
indistinguveis no que diz respeito as propriedades de corpos
K e L sao
ordenados completos (ver exerccios 55 e 56).


Instituto de Matematica - UFF 29
30 J. Delgado - K. Frensel
Corpos

1. Corpos

Um corpo e um conjunto K munido de duas operacoes:



+ : K K
Adicao K : K K K
Multiplicacao
(x, y) 7 x + y (x, y) 7 x y ,


que satisfazem as seguintes condicoes, chamadas axiomas de corpo:


Axiomas de corpo para a adicao:
(1) Associatividade: (x + y) + z = x + (y + z) , para todos x, y, z K.
(2) Comutatividade: x + y = y + x , para todos x, y K.
(3) Elemento neutro: existe um elemento designado 0 K e chamado
zero, tal que x + 0 = x, para todo x K.

(4) Simetrico: para todo x K existe um elemento designado x K e

chamado o simetrico de x, tal que x + (x) = 0.
A soma x + (y) sera indicada
1.1
Observacao apenas por x y e chamada
a diferenca entre x e y. A
(x, y) 7 xy chama-
operacao
0+x=x e (x) + x = 0 , para todo x K.

se subtracao.

x y = z se, e so se, x = y + z. De fato,


x y = z x + (y) = z x + (y) + y = z + y
x + 0 = y + z x = y + z .

O zero e unico,
ou seja, se x + = x para todo x K, entao
= 0. De
fato,
x + = x = x x = 0 .
Todo x K possui apenas um simetrico.
De fato,
x + y = 0 = y = 0 + (x) = x .
(x) = x , pois (x) + x = 0 .
Lei de cancelamento: x + z = y + z = x = y. De fato,
x + z + (z) = y + z + (z) = x + 0 = y + 0 = x = y .


Axiomas de corpo para a multiplicacao:
(5) Associatividade: (x y) z = x (y z) , para todos x, y, z K.
(6) Comutatividade: x y = y x , para todos x, y K.


Instituto de Matematica - UFF 31

Analise na Reta

(7) Elemento neutro: existe um elemento designado 1 K {0} e cha-


mado um, tal que x 1 = x, para todo x K.
(8) Inverso multiplicativo: para todo x K {0} existe um elemento
designado x1 K e chamado o inverso de x, tal que x x1 = 1.

1.2
Observacao
x 1 = 1 x = x para todo x K.
x x1 = x1 x = 1 para todo x K {0}.
x
Dados x, y K, com y 6= 0, escrevemos x y1 =
. A operacao
y
x x

A multiplicacao de x por y 7 , x K, y K {0}, chama-se divisao
(x, y) e o numero
e o
sera designada, tambem,
pela y y
xy.
justaposicao
quociente de x por y.
x
Se y 6= 0, = z x = yz. De fato,
y
x
= z (xy1 )y = zy x(y1 y) = yz x 1 = yz x = yz .
y

Lei de Cancelamento: se xz = yz e z 6= 0, entao


x = y.

Se xy = x para todo x K, entao,


tomando x = 1, temos y = 1. Isto
prova a unicidade do elemento neutro multiplicativo 1.
Seja xy = x. Se x 6= 0, pela lei de cancelamento, temos que y = 1.
Se x = 0, y pode ser qualquer elemento de K, pois, como provaremos
depois, 0 y = 0 para todo y K.
se xy = 1, entao,
como veremos depois, x 6= 0 e y 6= 0. Logo,
xy = 1 = x1 1 = x1 (xy) = (x1 x) y = 1 y = y = x1 .
Isso prova a unicidade do elemento inverso multiplicativo de x.

de adicao
Por fim, as operacoes e multiplicacao
num corpo K acham-
se relacionadas pelo axioma:
(9) Distributividade: x(y+z) = xy+xz quaisquer que sejam x, y, z K.

1.3
Observacao
(x + y) z = x z + y z para todos x, y, z K.
x 0 = 0 para todo x K. De fato,
x 0 + x = x 0 + x 1 = x (0 + 1) = x 1 = x ,

32 J. Delgado - K. Frensel
Exemplos de corpos

logo, x 0 = 0.
se x y = 0 entao x1 (x y) =
x = 0 ou y = 0. De fato, se x 6= 0, entao
x1 0. Logo, y = 0.
Assim, se x 6= 0 e y 6= 0, entao
x y 6= 0.

Regras dos sinais: (x) y = x (y) = (x y) e (x) (y) = x y .


De fato, temos que (x) y + x y = (x + x) y = 0 y = 0, ou seja,
(x)y = (xy). Analogamente, podemos verificar que x(y) = (xy).
Logo,
(x) (y) = (x (y)) = ((x y)) = x y .
Em particular, (1) (1) = 1.

2. Exemplos de corpos

Exemplo 2.1 O conjunto Q dos numeros



racionais, com as operacoes
p p0 pq 0 + p 0 q p p 0 p p0
+ 0 = e = , e um corpo.
q q qq 0 q q0 q q0

p p0
De fato, lembrando que = 0 pq 0 = p 0 q, vamos provar primeiro
q q
de numeros
que a soma e a multiplicacao bem definidas.
racionais estao
p p p0 p0
Sejam = 1 e 0 = 10 . Entao

q q1 q q1

p p0 pq 0 + p 0 q p1 q10 + p10 q1 p1 p10


+ 0 = = = + , pois, como pq1 = p1 q e
q q qq 0 q1 q10 q1 q10
p 0 q10 = p10 q 0 , segue-se que
(pq 0 + p 0 q)(q1 q10 ) = pq 0 q1 q10 + p 0 qq1 q10
= (pq1 )(q 0 q10 ) + (p 0 q10 )(qq1 )
= p1 qq 0 q10 + p10 q 0 qq1
= (p1 q10 + p10 q1 )(qq 0 ) .

p p0 pp 0 p1 p10 p1 p10
0 = = = , pois
q q qq 0 q1 q10 q1 q10
(pp 0 )(q1 q10 ) = p1 qp10 q 0 = (p1 p10 )(qq 0 ) .


Instituto de Matematica - UFF 33

Analise na Reta

0
O elemento neutro da adicao
e , para todo p 0 6= 0, pois
p0
p 0 pp 0 + 0q 0 pp 0 p
+ 0 = 0
= 0
= .
q p qp qp q

1 p0
O elemento neutro da multiplicacao
e = 0 , p 0 Z? , pois
1 p
p 1 p1 p
= = .
q 1 q1 q
p p p
seja Q. Entao
e o simetrico
de , pois
q q q
p p p q + (p) q 0
+ = = = 0.
q q qq qq
p q p
Exerccio 1: Verificar as propri- Seja Q, com p 6= 0. Entao
e inverso de , pois
edades comutativa, associativa e
q p q

a distributividade das operacoes p q pq
= = 1.
definidas no exemplo 2.1 sobre os q p qp
numeros
racionais.


Exemplo 2.2 O conjunto Z2 = {0, 1} com as operacoes


e
de adicao
definidas nas tabuadas abaixo e um corpo.
multiplicacao
+ 0 1 0 1
0 0 1 0 0 0
1 1 0 1 0 1
Exerccio 2: Verificar a associ-
atividade e a distributividade das a adicao
Pela definicao, e a multiplicacao
sao
comutativas; o elemento

operacoes definidas no exemplo e o 0; o elemento neutro da multiplicacao
neutro da adicao e o 1; o
2.2 sobre Z2 .

simetrico do 0 e o 0 e do 1 e 1; o inverso do 1 e 1. 

Exemplo 2.3 O conjunto Q(i) = {(x, y) | x, y Q} e um corpo com as


de adicao
operacoes e multiplicacao
definidas por
(x, y) + (x 0 , y 0 ) = (x + x 0 , y + y 0 )
(x, y) (x 0 , y 0 ) = (xx 0 yy 0 , xy 0 + x 0 y) ,

seguem-se direto
De fato, a comutatividade e a associatividade da adicao
do fato que Q e um corpo.
e (0, 0) e o simetrico
O elemento neutro da adicao de (x, y) e (x, y).
sai direto da definicao
A comutatividade da multiplicacao e da comutativi-
de numeros
dade da multiplicacao racionais.

34 J. Delgado - K. Frensel
Exemplos de corpos

e (1, 0), pois


O elemento neutro da multiplicacao
(x, y) (1, 0) = (x 1 y 0, x 0 + 1 y) = (x, y) .
 
x y
O inverso multiplicativo de (x, y) 6= (0, 0) e 2 2
, 2 2
, pois
x +y x +y Exerccio 3: Verificar a proprie-

dade associativa da multiplicacao
x2 + y2 6= 0 e e propriedade distributiva das
   
operacoes definidas no exemplo
x y x2 y2 xy xy 2.2 sobre Q(i).
(x, y) , = + , + 2
x + y2 x2 + y2
2 x2 + y2 x2 + y2 x2 + y2 x + y2
 
x2 + y2 0
= 2 2
, 2 = (1, 0)
x +y x + y2

Representando (x, 0) por x e (0, 1) por i, temos que


iy = (0, 1)(y, 0) = (0, y) ;
ii = (0, 1)(0, 1) = (0 0 1 1, 0 1 + 1 0) = (1, 0) = 1 ;
(x, y) = (x, 0) + (0, y) = x + iy .
O corpo Q(i) chama-se o corpo dos numeros
complexos racionais. 

p(t)
Exemplo 2.4 O conjunto Q(t) das funcoes
racionais r(t) = , onde
q(t)
polinomios
p e q sao identica-
com coeficientes racionais, sendo q(t) nao
de adicao
mente nulo, com as operacoes e multiplicacao
definidas abaixo
e um corpo.
p(t) p 0 (t) p(t) q 0 (t) + p 0 (t) q(t) p(t) p 0 (t) p(t) p 0 (t)
+ 0 = 0 = .
q(t) q (t) q(t) q 0 (t) q(t) q (t) q(t) q 0 (t)

2.1 Num corpo K tem-se:


Observacao
x2 = y2 = x = y .
Com efeito,
x2 = y2 = x2 y2 = 0
= (x y)(x + y) = 0
= x y = 0 ou x + y = 0
= x = y ou x = y
= x = y .


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Analise na Reta

3. Corpos ordenados

Um corpo ordenado e um corpo K no qual existe um subconjunto


P K, chamado o conjunto dos elementos positivos de K, com as se-
guintes propriedades:
elementos posi-
(1) A soma e o produto de elementos positivos sao
tivos. Ou seja, x, y P = x + y P e x y P.
(2) Dado x K, exatamente uma das tres
alternativas seguintes
ocorre:
ou x = 0 ; ou x P ; ou x P .
Assim, sendo P = {x K | x P}, temos
K = P (P) {0} ,
onde P, P e {0} sao
subconjuntos de K disjuntos dois a dois.

Os elementos de P chamam-se negativos.


a2 P.
Num corpo ordenado, se a 6= 0 entao
De fato, sendo a 6= 0, temos que a P ou a P. No primeiro caso,
a2 = a a P, e no segundo caso, a2 = a a = (a) (a) P.
Em particular, num corpo ordenado, 1 = 1 1 e sempre positivo e,
portanto, 1 P.
e quadrado de elemento algum.
Logo, num corpo ordenado, 1 nao


p
Exemplo 3.1 Q e um corpo ordenado no qual P = pq N .
q

p p0
De fato, se , pq, p 0 q 0 N e, portanto,
P, entao
q q0

p p0 pq 0 + p 0 q
+ 0 = P, pois
q q qq 0
(pq 0 + p 0 q)(qq 0 ) = (pq)q 02 + (p 0 q 0 )q2 N .
p p0 pp 0
0 = P, pois pp 0 qq 0 = (pq)(p 0 q 0 ) N.
q q qq 0
p p 0
Seja Q. Entao,
pq = 0 ou pq N ou (pq) N, ou seja, = = 0
q q q
p p p
ou P ou = P. 
q q q

36 J. Delgado - K. Frensel
Corpos ordenados

Exemplo 3.2 Q(t) e um corpo ordenado no qual



p(t) Lembre que o coeficiente lder de
P= pq e um polinomio
cujo coeficiente lider e positivo .
um polinomio e o coeficiente do
q(t)
seu termo de maior grau.

De fato:
p(t) p 0 (t)
Se , P, entao
os coeficientes an e bm dos termos de maior
q(t) q 0 (t)
grau de pq e p 0 q 0 , respectivamente, sao
positivos.

Logo,
o coeficiente cj do termo de maior grau de (pq 0 + p 0 q)qq 0 =
pqq 02 + p 0 q 0 q2 e positivo, pois cj = an q 0 2i + bm q2i ou cj = an q 0 2i ou
cj = bm q2i , onde qi e qi0 sao
os coeficientes dos termos de maior grau
de q e q 0 , respectivamente.
o coeficiente do termo de maior grau de pp 0 qq 0 = (pq)(p 0 q 0 ) e
an bm > 0.
p(t)
Se Q(t), entao
ou pq = 0 (e, neste caso, p = 0) ou o coeficiente
q(t)
do termo de maior grau de pq e positivo ou o coeficiente do termo de
p(t) p(t) p(t)
maior grau de pq e negativo. Logo, ou = 0 ou P ou P
q(t) q(t) q(t)


Exemplo 3.3 O corpo Z2 nao


e ordenado, pois 1 + 1 = 0, e num corpo
ordenado 1 e positivo e a soma 1 + 1 de dois elementos positivos e um
elemento positivo. 

Exemplo 3.4 O corpo Q(i) nao


e ordenado, pois i2 = 1, e num corpo
ordenado 1 e negativo e o quadrado de qualquer elemento diferente de
zero e positivo. 

3.1 Num corpo ordenado K, dizemos que x e menor do que


Definicao
y, e escrevemos x < y, se y x P, ou seja, y = x + z, z P. Podemos,

tambem, dizer que y e maior do que x e escrever y > x.

3.1
Observacao
Em particular, x > 0 se, e so se, x P e x < 0 se, e so se, x P, ou
seja, x P.


Instituto de Matematica - UFF 37

Analise na Reta

Se x P e y P, tem-se x > y, pois x + (y) P.

3.1 A relacao
Proposicao de ordem x < y num corpo ordenado satis-
faz as seguintes propriedades:
(1) Transitividade: x < y e y < z = x < z ;
(2) Tricotomia: dados x, y K, ocorre exatamente uma das seguintes
alternativas:
ou x = y , ou x < y , ou y < x .
x + z < y + z para todo
Se x < y, entao
(3) Monotonicidade da adicao:
z K.

(4) Monotonicidade da multiplicacao: xz < yz para
Se x < y, entao
todo z > 0, e xz > yz para todo z < 0.

Prova.
y x P e z y P. Logo, (y x) + (z y) =
(1) Se x < y e y < z, entao
z x P, ou seja, x < z.
(2) Dados x, y K, ocorre exatamente uma das seguintes alternativas:
ou y x = 0 , ou y x P , ou y x P ,
ou seja,
ou x = y , ou x < y , ou y < x .
y x P. Logo, (y + z) (x + z) = y x P, ou seja
(3) Se x < y entao
x + z < y + z, para todo z K.
y x P e z P. Logo, (y x)z = yz xz P,
(4) Se x < y e z > 0, entao

ou seja xz < yz. Se, porem, y x P e z P,
x < y e z < 0, entao
donde (y x)(z) = xz yz P, ou seja, xz > yz.
Em particular, x < y e equivalente a x > y, pois (1)x > (1)y,ou
seja, x > y, ja que 1 P, ou seja 1 < 0.
Se x < x 0 e y < y 0 entao
x + y < x 0 + y 0.

De fato, por (3), se x < x 0 , entao


x + y < x 0 + y, e se y < y 0 , entao

x 0 + y < x 0 + y 0 . Logo, por (1), x + y < x 0 + y 0 .
Se 0 < x < x 0 e 0 < y < y 0 , entao
xy < x 0 y 0 .

De fato, por (4), x y < x 0 y e x 0 y < x 0 y 0 , e por (1), xy < x 0 y 0 .

38 J. Delgado - K. Frensel
Corpos ordenados

se x > 0 e y < 0, entao


xy < 0.

De fato, como x P e y P, temos x(y) = (xy) P, ou seja, xy < 0.

x1 > 0, pois xx1 = 1 > 0.


Se x > 0 entao
x x
Se x > 0 e y > 0, entao
> 0, pois = xy1 e y1 > 0.
y y
1 1
Se x < y, x > 0 e y > 0, entao
< .
y x
1 1 yx
x1 y1 =
De fato, como y x > 0 e xy > 0, entao = > 0,
x y xy
ou seja, x1 > y1 . 

3.2 Num corpo ordenado, dizemos que x e menor ou igual a


Definicao
y, e escrevemos x y, se x < y ou x = y, ou seja, y x P {0}. Os
elementos do conjunto P {0} = {x K | x 0} chamam-se nao-negativos.

Dados x, y K, tem-se x = y se, e so se, x y e y x.


Com excecao
da tricotomia, que e substituda pelas propriedades:

Reflexiva: x x,

Anti-simetrica: x y e y x x = y,
x<y
todas as outras propriedades acima demonstradas para a relacao
validas,
sao
tambem, x y.
para a relacao
Num corpo ordenado K, 0 < 1, logo 1 < 1 + 1 < 1 + 1 + 1 < . . ., e o
subconjunto de K formado por estes elementos e infinito, e se identifica
de maneira natural ao conjunto N dos numeros
naturais.
Indiquemos por 1 0 o elemento neutro da multiplicacao
de K e defina-
f : N K, pondo
a funcao
mos por inducao
f(1) = 1 0 e f(n + 1) = f(n) + 1 0 .
podemos verificar que f(m + n) = f(m) + f(n) e que se
Por inducao,
f(m) < f(n). De fato:
m < n entao
Seja m N e seja X = {n N | f(m + n) = f(m) + f(n)}.
Assim, 1 X e se n X, entao

f(m + (n + 1)) = f((m + n) + 1) = f(m + n) + 1 0
= f(m) + f(n) + 1 0 = f(m) + f(n + 1) .


Instituto de Matematica - UFF 39

Analise na Reta

ou seja, n + 1 X. Logo, X = N.
Seja Y = {n N | f(n) P} . Entao:

1 Y, pois f(1) = 1 0 P ,
n + 1 Y, pois f(n + 1) = f(n) + 1 0 P.
se n Y, entao
Logo, Y = N.
f(m) < f(n), pois, como existe
Temos, assim, que se m < n entao
Exerccio 4: Verifique que
f(mn) = f(m)f(n) , m, n N . p N tal que n = m + p, segue-se que f(n) = f(m) + f(p), ou seja,
f(n) f(m) = f(p) P.
Portanto, f : N f(N) = N 0 K e uma bijecao,
onde N 0 e o
subconjunto de K formado pelos elementos 1 0 , 1 0 + 1 0 , 1 0 + 1 0 + 1 0 , . . . que
de ordem. Podemos, entao,
preserva a soma, o produto e a relacao iden-
tificar N 0 com N e considerar N contido em K, voltando a escrever 1, em
vez de 1 0 .
Em particular, um corpo ordenado K e infinito e tem caracterstica
zero, ou seja, 1 + 1 + 1 + . . . + 1 6= 0 qualquer que seja o numero
de
parcelas 1.
Considere o conjunto Z 0 = N {0} (N), onde N = {n | n N}.
Z 0 e um subgrupo abeliano de K com respeito a` operacao
Entao, de

adicao.
De fato, 0 Z 0 e se x Z 0 entao
x Z 0 . Resta verificar que se
x, y Z 0 entao
x + y Z 0.
x + y N Z 0.
Se x, y N entao
(x)+(y) = (x+y) N, ou seja, x+y N Z 0 .
Se x, y N entao
Se x N e y N entao,
fazendo y = z, com z N, temos que, ou
Exerccio 5: Verifique que se
m, n N 0 e m n > 0 entao
x + y = x z = 0 Z 0 , ou x + y = x z > 0 e, portanto, x + y N, ou
m n N0 . x + y = x z < 0 e, portanto, x + y N.

Exerccio 6: Verifique que xy Se x N {0} (N) e y = 0 entao


x + y = x Z 0.
Z 0 quaisquer que sejam x, y
Z0 . Podemos, assim, identificar Z 0 com o grupo Z dos numeros
inteiros.

m
Seja, agora, Q 0 = Q 0 e um subcorpo
m Z e n Z? . Entao,

n
de K, pois:

40 J. Delgado - K. Frensel
Corpos ordenados

0, 1 Q 0 ,
m m m
se Q 0 entao
= Q 0.
n n n
m n
se Q 0 ? entao
Q 0.
n m
m m0 m m0
se , 0 Q 0 entao
+ 0 Q 0 . De fato, como
n n n n
 
0 m m0 mnn 0 m 0 nn 0
nn + 0 = + = mn 0 + m 0 n ,
n n n n0

temos que
m m0 mn 0 + m 0 n
+ 0 = Q0 ,
n n nn 0
pois, como ja vimos, mn 0 + m 0 n Z e nn 0 Z? .
Q 0 e o menor subcorpo de K.
Com efeito, todo subcorpo de K deve conter pelo menos 0 e 1; por
sucessivas de 1, todo subcorpo de K deve conter N; tomando os
adicoes

simetricos, em Z, deve conter o conjunto das
deve conter Z e por divisoes
m

fracoes , m Z e n Z? .
n
Este menor subcorpo de K se identifica, de maneira natural, com o
corpo Q dos numeros
racionais.
Assim, dado um corpo ordenado K, podemos considerar, de modo

natural, as inclusoes
N Z Q K.

Exemplo 3.5 O corpo ordenado Q(t) contem


todas as fracoes
do tipo
p
polinomios
, onde p e q sao constantes, inteiros, com q 6= 0. Logo,
q
Q Q(t). 

3.2 (Desigualdade de Bernoulli)


Proposicao
Seja K um corpo ordenado e seja x K. Se n N e x 1 entao

(1 + x)n 1 + nx

Prova.
por inducao
Faremos a demonstracao em n.
Johann Bernoulli
(1667-1748) Suca.


Instituto de Matematica - UFF 41

Analise na Reta

Para n = 1 a desigualdade e obvia.


Se (1 + x)n 1 + nx, entao



Exerccio 7: Mostre que se n
N, n > 1, x > 1 e x 6= 0, entao (1 + x)n+1 = (1 + x)n (1 + x) (1 + nx)(1 + x)
a desigualdade de Bernoulli e es- = 1 + nx + x + nx2 = 1 + (n + 1)x + nx2

trita, isto e,
(1 + x)n > 1 + nx . 1 + (n + 1)x .

3.2 (Sobre a Boa Ordenacao)


Observacao

Existem conjuntos nao-vazios de numeros
possuem um
inteiros que nao
menor elemento.

Exemplo 3.6 O conjunto Z nao


possui um menor elemento.

De fato, dado n0 Z, temos que n0 1 Z e n0 1 < n0 , pois n0 (n0


1) = 1 > 0. 

Exemplo 3.7 O conjunto A = {2n | n Z} dos inteiros pares nao


possui
um menor elemento.
De fato, dado 2n0 A, 2n0 2 = 2(n0 1) A e 2(n0 1) < 2n0 . 

Exemplo 3.8 Se X N e um conjunto infinito de numeros


naturais,
X = {n | n X} e um conjunto nao-vazio
entao de numeros
inteiros
possui um menor elemento.
que nao
Com efeito, suponha que existe n0 X tal que n0 n para todo n X.
n0 n para todo n X, o que e absurdo, pois, como X e infinito,
Entao,
e limitado superiormente. 
X nao


Mas, se um conjunto nao-vazio X Z e limitado inferiormente, entao

X possui um menor elemento.
Seja a Z tal que a < x para todo x X. Entao,
x a > 0 para todo
x X, ou seja x a N para todo x X.
Seja A = {(x a) | x X}.
Como A N, temos, pelo Princpio da Boa Ordenacao,
que existe
n0 A tal que n0 x a para todo x X.

42 J. Delgado - K. Frensel
Intervalos

Seja x0 X tal que n0 = x0 a. Entao,


x0 a x a para todo
x X.
Logo, x0 x para todo x X.

4. Intervalos

de intervalo.
Num corpo ordenado, existe a importante nocao
Intervalos limitados: Dados a, b K, a < b, definimos os intervalos
limitados de extremos a e b como sendo os conjuntos:
Intervalo fechado: [a, b] = {x K | a x b} ;
Intervalo fechado a` esquerda: [a, b) = {x K | a x < b} ;
Intervalo fechado a` direita: (a, b] = {x K | a < x b} ;
Intervalo aberto: (a, b) = {x K | a < x < b} ;
Intervalos ilimitados: Dado a K, definimos os intervalos ilimitados
de origem a como sendo os conjuntos:
Semi-reta esquerda fechada de origem a: (, a] = {x K | x a} ;
Semi-reta esquerda aberta de origem a: (, a) = {x K | x < a} ;
Semi-reta direita fechada de origem a: [a, +) = {x K | a x} ;
Semi-reta direita aberta de origem a: (a, +) = {x K | a < x} ;
(, +) = K , este intervalo pode ser considerado aberto ou fechado.

4.1 Ao considerar o intervalo fechado [a, b] e conveniente


Observacao
admitir o caso a = b em que o intervalo [a, a] consiste apenas do unico

ponto a. Tal intervalo chama-se intervalo degenerado.

4.2 Todo intervalo nao-degenerado


Observacao e um conjunto infinito.
a+b
Com efeito, se a, b K e a < b entao
a< < b, pois
2
a+b ba a+b ba
a= > 0, e b = > 0.
2 2 2 2
a+b a + xn
Faca x1 = xn+1 =
, e defina por inducao, .
2 2


Instituto de Matematica - UFF 43

Analise na Reta

a < . . . < xn+1 < xn < . . . < x2 < x1 < b.


Entao,
: N (N) (a, b), dada por i 7 xi , e uma bijecao,
Como a funcao
(N) e um conjunto infinito enumeravel.

da sequencia
Fig. 1: Construcao x1 , x2 , . . . , xn , . . ..

4.1 Num corpo ordenado K, definimos o valor absoluto ou


Definicao

modulo de um elemento x K, designado |x|, como sendo x, se x 0, e
x, se x < 0. Assim,


x , se x > 0


|x| = 0 , se x = 0



x , se x < 0

4.3 Tem-se
Observacao
|x| = max{x, x} ,
e, portanto, |x| x e |x| x, ou seja, |x| x |x|.

4.1 Seja K um corpo ordenado e a, x K. As seguintes


Proposicao
sao
afirmacoes equivalentes:

(1) a x a ;
(2) x a e x a ;
(3) |x| a.

Prova.
Temos que
a x a a x e xa
a x e a x
a max {x, x} = |x| .


Corolario 4.1 Dados a, b, x K, tem-se
|x a| b se, e so se, a b x a + b .

44 J. Delgado - K. Frensel
Intervalos

Prova.
De fato, |x a| b se, e so se, b x a b, ou seja, a b x a + b
(somando a). 

4.4 Todas as afirmacoes


Observacao da proposicao
e do seu corolario

verdadeiras com < em vez de .
sao
Em particular,
x (a , a + ) a < x < a + |x a| < .
Assim, o intervalo aberto (a , a + ), de centro a e raio , e formado
pelos pontos x K cuja distancia,
|x a|, de a e menor do que . Na figura ao lado, representa-
mos os elementos do conjunto em
no caso, a, x (a
questao,
, a + ), por um ponto cheio. Os
pontos sem preenchimento repre-
Fig. 2: x (a , a + ) |x a| < .
sentam pontos que nao perten-

cem ao conjunto em questao.

4.2 Para elementos arbitrarios


Proposicao de um corpo ordenado K,

valem as relacoes:
(1) |x + y| |x| + |y| ;
(2) |x y| = |x| |y| ;
(3) |x| |y| | |x| |y| | |x y| ;
(4) |x y| |x z| + |z y| .

Prova.
(1) Como |x| x |x| e |y| y |y|, temos que
(|x| + |y|) x + y |x| + |y| .
Logo, |x + y| |x| + y|.

(2) Seja qual for x K, |x|2 = x2 , pois se |x| = x, entao


|x|2 = x2 , e se
|x| = x, tambem
|x|2 = (x)2 = x2 . Logo,
|xy|2 = (xy)2 = x2 y2 = |x|2 |y|2 = (|x| |y|)2 .
|xy| = |x| |y|. Como |xy| 0 e |x| |y| 0, temos que |xy| = |x| |y|.
Entao,
(3) Por (1), |x| = |x y + y| |x y| + |y|, ou seja, |x y| |x| |y|.

De modo analogo, |y x| |y| |x|.
Como |y x| = |x y|, temos que |x y| |x| |y|.


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Analise na Reta

Assim,
|x y| |x| |y| |x y| .
4.1,
Logo, pela proposicao
| |x| |y| | |x y| .
A outra desigualdade, |x| |y| | |x| |y| | segue da definicao
de valor
absoluto.
(4) Por (1), |x y| = |x z + z y| |x z| + |z y| . 

4.2 Seja X um subconjunto de um corpo ordenado K.


Definicao
X e limitado superiormente quando existe b K tal que x b para todo
x X, ou seja X (, b]. Cada b com esta propriedade e uma cota
superior de X.
X e limitado inferiormente quando existe a K tal que x a para todo
x X, ou seja, X [a, +). Cada a com esta propriedade e uma cota
inferior de X.
X e limitado quando e limitado superior e inferiormente, ou seja, quando
existem a, b K, a < b, tais que X [a, b].

Exemplo 4.1 No corpo Q dos numeros


racionais, o conjunto N dos
numeros
naturais e limitado inferiormente, pois N [1, +), mas nao

e limitado superiormente.
p p
De fato, se |p| + 1 N e |p| + 1 > , pois
Q, entao
q q
p |p|q + q p
|p| + 1 =
q q
e
(|p|q + q p)q = |p|q2 + q2 pq = |p| |q|2 + |q|2 pq
|p| |q| + |q|2 pq |q|2 1 > 0 .

Exemplo 4.2 No corpo Q(t) das fracoes


racionais, o conjunto N dos
numeros
naturais e limitado inferior e superiormente, pois N [0, +) e
n < t para todo n N, ja que o coeficiente do termo de maior grau de
t n e 1 > 0 

46 J. Delgado - K. Frensel
Numeros
reais

Teorema 4.1 Num corpo ordenado K, as seguintes afirmacoes


sao
equi-
valentes:
(a) N K e ilimitado superiormente;
(b) dados a, b K, com a > 0, existe n N tal que na > b.
1
(c) dado a > 0 em K, existe n N tal que 0 < < a.
n

Prova.
(a)=(b) Como N e ilimitado superiormente, dados a, b K, com a > 0,
b b
existe n N tal que n > . Logo, na > a = b.
a a
(b)=(c) Dado a > 0, existe, por (b), n N tal que na > 1. Entao

1
0< < a.
n
(c)=(a) Seja b K. Se b 0, entao
b < 1 e, portanto, b nao
e cota
superior de N.
1 1
Se b > 0, existe, por (c), n N tal que 0 < e,
< . Logo, b < n e nao
n b
portanto, uma cota superior de N. 

4.3 Dizemos que um corpo ordenado K e arquimediano se


Definicao
N K e ilimitado superiormente.

Exemplo 4.3 O corpo Q dos numeros


racionais e arquimediano, mas o
e arquimediano.
corpo Q(t), com a ordem introduzida no exemplo 3.2, nao


5. Numeros
reais

5.1 Seja K um corpo ordenado e X K um subconjunto


Definicao
limitado superiormente. Um elemento b K chama-se supremo de X
quando b e a menor das cotas superiores de X em K.

Assim, b K e o supremo de X se, e so se, b satisfaz as duas


abaixo:
condicoes


Instituto de Matematica - UFF 47

Analise na Reta

S1: b x para todo x X.


S2: Se c K e tal que c x para todo x X, entao
c b.
S2 e equivalente a` condicao:
A condicao

S2: Dado c K, c < b, existe x K tal que x > c.

5.1 O supremo de um conjunto, quando existe, e unico.


Observacao
De fato, se b e b 0 em K cumprem as condicoes b b0 e
S1 e S2, entao,
b 0 b, ou seja, b 0 = b.
O supremo de um conjunto X sera denotado por sup X.

5.2 O conjunto vazio nao


Observacao possui supremo em K, pois
todo elemento de K e uma cota superior do conjunto vazio e K nao
possui
um menor elemento.

5.2 Um elemento a K e o nfimo de um subconjunto Y K


Definicao
limitado inferiormente quando a e a maior das cotas inferiores de Y.

Assim, a K e o nfimo de Y se, e so se, a satisfaz as duas


abaixo:
condicoes
I1: a y para todo y Y.
I2: Se c K e tal que c y para todo y Y, entao
c a.
I2 e equivalente a` condicao:
A condicao

I2: Dado c K, c > a, existe y Y tal que y < c.

5.3 O nfimo de um conjunto X, quando existe, e unico,


Observacao e
sera denotado por inf X

5.4 O conjunto nao


Observacao possui nfimo em K, pois todo ele-
mento de K e uma cota inferior do conjunto vazio e K nao
possui um maior
elemento.

Exemplo 5.1
Se X K possui um elemento maximo
b X, entao
b = sup X. De fato:

(1) b x para todo x X.


(2) Se c x para todo x X, entao
c b, pois a X.

48 J. Delgado - K. Frensel
Numeros
reais

Se X K possui um elemento mnimo a X, entao


a = inf X. De fato:

(1) a x para todo x X.


(2) Se c x para todo x X, entao
c a, pois a X.

Se b = sup X X, entao
sup X e o maior elemento de X, pois b x para
todo x X e b X.
Se a = inf X X, entao
inf X e o menor elemento de X, pois a x para
todo x X e a X.
Em particular, se
X e finito, entao
o sup X e o inf X existem e pertencem a X.

sup X = b e inf X = a.
X = [a, b], entao
sup X = b.
X = (, b], entao
inf X = a. 
X = [a, +), entao

Exemplo 5.2 Se X = (a, b), entao


inf X = a e sup X = b.

Com efeito, b e uma cota superior de X. Seja c < b em K. Se c a,


a+b a+b
existe x = X, por exemplo, tal que c <
. Se a < c < b, entao
2 2
c+b c+b
Xec< . Assim, b = sup X.
2 2

De modo analogo, podemos provar que a = inf X.
Observe que, neste exemplo, sup X 6 X e inf X 6 X. 

1
Exemplo 5.3 Seja Y Q o conjunto das fracoes
do tipo , n N.
2n
1
sup Y =
Entao, e inf Y = 0.
2
1 1 1 1
Como Y e n < para todo n > 1, n N, temos que e o maior
2 2 2 2
elemento de Y e, portanto, o supremo de Y.
1
Sendo 0 para todo n N, 0 e cota inferior de Y.
2n
Seja b > 0 em Q. Como Q e um corpo arquimediano, existe n0 N tal
1 1
que n0 > 1. Logo, n0 + 1 > .
b b
Pela desigualdade de Bernoulli, temos que


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Analise na Reta

1
2n0 = (1 + 1)n0 1 + n0 > ,
b
1
ou seja, b > . Assim, 0 = inf X. 
2n0

Mostraremos, agora, que alguns conjuntos limitados de numeros


ra-
possuem nfimo ou supremo em Q.
cionais nao

Lema 5.1 (Pitagoras)



existe um numero
Nao racional cujo quadrado seja igual a 2.

Prova.
p
Suponhamos, por absurdo, que existe Q tal que
q
 2
p
= 2,
q

ou seja p2 = 2q2 .
O fator 2 aparece um numero
de p2 e de
par de vezes na decomposicao
q2 em fatores primos.
Como p2 possui um numero
par de fatores iguais a 2 e 2q2 possui um
numero

mpar de fatores iguais a 2, chegamos a uma contradicao.

Exemplo 5.4 Sejam



X = {x Q | x 0 e x2 < 2} e Y = x Q | y > 0 e y2 > 2 .

Como X [0, 2], pois x > 2 implica que x2 > 4, X e um subconjunto


limitado.
Sendo Y [0, +), Y e limitado inferiormente.
possui um supremo em Q e que Y nao
Mostraremos que X nao possui um
nfimo em Q.
possui elemento maximo.
(1) O conjunto X nao

2 b2
Seja b X, ou seja b 0 e b2 < 2. Como > 0 e Q e arquimediano,
1 + 2b
1 2 b2
existe n N tal que < .
n 1 + 2b
1
Faca r = 0<r<1e
. Entao
n

50 J. Delgado - K. Frensel
Numeros
reais

(b + r)2 = b2 + 2rb + r2 < b2 + 2rb + r


2 b2
= b2 + (2b + 1)r < b2 + (2b + 1)
2b + 1
= b2 + 2 b2 = 2 .

Logo, b + r X e b + r > b. Assim, dado b X existe b + r X tal que


possui maior elemento.
b + r > b.Logo, X nao
possui elemento mnimo.
(2) O conjunto Y nao
Seja b Y, ou seja, b > 0 e b2 > 2. Sendo Q arquimediano e b2 2 > 0,
existe n N tal que
1 b2 2
0<r= < .
n 2b
Logo,
(b r)2 = b2 2br + r2 > b2 2br > b2 b2 + 2 = 2
e
b2 2 b 1 b 1
br>b = b + = + > 0,
2b 2 b 2 b
ou seja, b r Y e b r < b. Assim, X nao
possui menor elemento.

(3) Se x X e y Y, entao
x < y.

De fato, x2 < 2 < y2 = x2 < y2 = y2 x2 > 0 = (y x)(y + x) >


0 = y x > 0, ou seja, y > x, pois y + x > 0.
Usando (1), (2) e (3) vamos provar que nao
existem sup X e inf Y em Q.

Suponhamos, primeiro, que existe a = sup X, a Q. Entao,


a>0
e a2 2, pois se a2 < 2, a pertenceria a X e seria seu maior elemento.
Se a2 > 2, entao
a Y. Como a nao
e o menor elemento de Y, existe
b Y tal que b < a. Por (3), x < b < a para todo x X, o que contradiz
ser a = sup X.
Assim, se existir a = sup X, a2 = 2 e a Q, o que e absurdo pelo Lema

de Pitagoras.
Suponhamos, agora, que existe b = inf Y, b Q. Entao,
b > 0,
pois y > 0 e y2 > 2 > 1 para todo y Y, ou seja, y > 1 para todo y Y.
Se b2 > 2 e b > 0, b Y e seria o seu menor elemento, o que e absurdo
por (2).


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Analise na Reta

Logo, b2 2. Se b2 < 2, entao


b X. Como b nao
e o maior elemento de
X, existe a X tal que b < a. Por (3), b < a < y para todo y Y, o que
contradiz ser b = inf Y.
Assim, b2 = 2 e b Q, o que e absurdo pelo Lema de Pitagoras.


5.5 Estes argumentos mostram que se existir um corpo


Observacao

ordenado K no qual todo subconjunto nao-vazio limitado superiormente
possui supremo, existira neste corpo um elemento a > 0 tal que a2 = 2.
Q e, portanto, contem
De fato, K, sendo ordenado, contem o conjunto
X, que e limitado superiormente. Entao,
existira a = sup X em K, cujo
quadrado devera ser igual a 2.

Exemplo 5.5 Seja K um corpo ordenado nao


arquimediano.
N K e limitado superiormente, mas nao
Entao, possui supremo.

De fato, seja b K uma cota superior de N. Entao,


n + 1 b para todo
n N. Logo, n b1 para todo n N, ou seja, b1 e uma cota superior
de N menor do que b. 

5.3 Um corpo ordenado K chama-se completo quando todo


Definicao

subconjunto de K nao-vazio e limitado superiormente possui supremo em
K.

5.6 Num corpo ordenado K completo, todo subconjunto


Observacao
Y K nao-vazio
limitado inferiormente possui nfimo em K.
De fato, considere X = Y = {y | y Y}. Seja b K uma cota inferior de
Y, ou seja, b y para todo y Y. Entao,
b y para todo y Y, ou
seja, b e uma cota superior de X e, portanto, X e limitado superiormente.
Sendo K completo, existe a = sup X.
Vamos mostrar que a = inf Y:
a y para todo y Y = a y para todo y Y.
Se c y para todo y Y, entao
c y para todo y Y. Logo,
a c, ou seja, c a.

5.7 Pelo exemplo 5.5, temos que todo corpo ordenado


Observacao
completo e arquimediano.

52 J. Delgado - K. Frensel
Numeros
reais

Exemplo 5.6
e completo, pois o conjunto X = {x | x 0 e x2 < 2} Q nao-vazio
Q nao
possui supremo em Q.
e limitado superiormente nao
Q(t) nao
e completo, pois Q(t) nao
e arquimediano. 


Enunciaremos, agora, o axioma fundamental da Analise
Matematica.

Axioma: Existe um corpo ordenado completo, R, chamado o corpo


dos numeros
reais.

5.8 Existe em R um numero


Observacao positivo a tal que a2 = 2, que

e representado pelo smbolo 2, e e unico.

De fato, se b > 0 em R e b2 = 2, entao

a2 b2 = 0 = (a b)(a + b) = 0 = a = b ou a = b.
Logo, a = b, pois a > 0 e b > 0.
disto, a R Q.
Alem

5.4 O conjunto I = R Q e o conjunto dos numeros


Definicao irracio-
nais.

Exemplo 5.7 2 I .

Exemplo 5.8 Dados a > 0 em R e n N, n 2, existe um unico



numero
real b > 0 tal que bn = a. O numero

b chama-se raiz nesima

de a e e representado pelo smbolo n a.
Consideremos os conjuntos:
X = {x R | x 0 e xn < a} e Y = {y R | y > 0 e yn > a}
O conjunto Y e limitado inferiormente pelo zero.
e vazio, pois 0 X, e e limitado superiormente. De fato:
O conjunto X nao
se a 1, entao
1 e cota superior de X, pois se z 1, tem-se que
zn 1 a, ou seja, z 6 X. Logo, X [0, 1].
an > a para todo n 2. Logo, se z a, tem-se
se a > 1, entao
zn an > a, ou seja, z 6 X. Assim, X [0, a).
Como R e completo, existe b = sup X. Vamos provar que bn = a.


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Analise na Reta

possui elemento maximo.


(1) X nao

Dado x X, mostremos que existe d > 0 tal que (x + d)n < a, ou seja,
x + d X e x + d > x.
Dado x > 0 existe, para cada n, um numero
Afirmacao: real positivo An ,
que depende de x, tal que (x + d)n xn + An d seja qual for 0 < d < 1.
por inducao
Vamos provar esta afirmacao em n.

Para n = 1, basta tomar A1 = 1. Supondo verdadeiro para n, temos que


(x + d)n+1 = (x + d)n (x + d) (xn + an d)(x + d)
= xn+1 + An dx + dxn + An d2
= xn+1 + (An x + xn + An d)d
< xn+1 + (An x + xn + An )d ,

ja que 0 < d < 1. Tomando An+1 = An x + xn + An , temos que


(x + d)n+1 xn+1 + An+1 d.
x 0 e xn < a, tome d R tal que
Dado x X, isto e,

a xn
0 < d < min 1, .
An


Entao,
An (a xn )
(x + d)n xn + An d < xn + = a,
An

ou seja, x + d X e x + d > x, o que prova que X nao


possui elemento

maximo.
possui elemento mnimo.
(2) O conjunto Y nao
Seja y Y. Mostremos que existe d R tal que 0 < d < y e (y d)n > a,
ou seja, y d Y e y d < y.
d d
0<
Seja 0 < d < y. Entao, < 1, ou seja, 1 < < 0.
y y

Pela desigualdade de Bernoulli, temos


 n  
n n d n d
(y d) = y 1 y 1n = yn ndyn1 .
y y

yn a
Se tomarmos 0 < d < min y, n1 , teremos que
ny
(yn a)
(y d)n yn ndyn1 > yn nyn1 = yn yn + a = a ,
nyn1

54 J. Delgado - K. Frensel
Numeros
reais

ou seja, y d > 0 e (y d)n > a.


(3) Se x X e y Y entao
x < y.

De fato, como xn < a < yn , x 0 e y > 0, temos que x < y, pois xn < yn
e, portanto,
yn xn = (y x)(yn1 + yn2 x + . . . + yxn2 + xn1 ) > 0 .
Como
yn1 + yn2 x + . . . + yxn2 + xn1 > 0, Exerccio 8: Prove que
yn xn = (y x) yn1 + yn2 x
`

temos que y x > 0, ou seja, x < y. + . . . + yxn2 + xn1 ,


quaisquer que sejam x, y R e



Vamos provar, agora, usando (1), (2) e (3), que se b = sup X, entao n N.

bn = a.
Se bn < a, temos que b X, o que e absurdo, pois

b = sup X e, portanto, o elemento maximo de X, o que contradiz (1).
Se bn > a, entao
b Y, pois b > 0.
Exerccio 9: Mostrar que Y 6=
possui um elemento mnimo, existe c Y tal que
Como, por (2), Y nao e bn = a, onde b = inf Y .

c < b.
Exerccio 10: Mostrar que existe
um unico
b > 0 em R tal que
Por (3), x < c < b para todo x X, ou seja, c e uma cota superior de X
bn = a (ver observacao
5.9).
menor do que b = sup X, o que e absurdo. Logo, bn = a. 

5.9 Dado n N, a funcao


Observacao f : [0, +) [0, +) definida
por f(x) = xn e sobrejetiva, pois, pelo que acabamos de ver, para todo
a 0 existe b 0 tal que bn = a, e e injetiva, pois se 0 < x < y, entao,

0 < xn < yn .
pela monotonicidade da multiplicacao,
Logo, f e uma bijecao
de [0, +) sobre si mesmo, e sua inversa

f1 : [0, +) [0, +) e dada por y n y, a unica

raiz nesima

nao-negativa de y.

5.10 (Generalizacao
Observacao do Lema de Pitagoras)

Dado n N. Se um numero
possui uma raiz nesima
natural m nao
nao
natural, tambem possui uma raiz nesima
racional.
 n
p
De fato, sejam p, q numeros
naturais primos entre si tais que = m.
q
pn = m qn .
Entao,


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Analise na Reta

Como pn e qn sao
primos entre si e qn divide pn , temos que q = 1, ou
p
seja, N, o que e absurdo.
q

dados m, n N, se
Entao, n
m 6 N entao
n
m I = R Q, ou seja, n
m
e um numero
irracional.

Exemplo 5.9

2 I, pois 12 = 1 e 22 = 4 > 2, ou seja, 2 6 N.

3 3 I, pois 13 = 1 e 23 = 8 > 3, ou seja, 3 3 6 N.

3 6 I, pois 13 = 1 e 23 = 8 > 6, ou seja, 3 6 6 N. 

Mostraremos, agora, que os numeros


irracionais se acham espa-
lhados por toda parte entre os numeros
reais e que ha mais numeros

irracionais do que racionais.

5.5 Um conjunto X R chama-se denso em R quando todo


Definicao
algum ponto de X.
intervalo aberto (a, b) contem

Exemplo 5.10 O conjunto X = R Z e denso em R.


existe n0 Z
De fato, seja (a, b), a < b, um intervalo aberto de R. Entao,
tal que n0 < a e existe m0 Z, m0 > b. Logo,
(a, b) Z {n0 , . . . , n0 + (m0 n0 )} ,
que e um conjunto finito.
Como ja provamos que (a, b) e um conjunto infinito, temos que o conjunto
(a, b) (R Z) e,
tambem,
infinito e, em particular, e nao-vazio.


Teorema 5.1 O conjunto Q dos numeros


racionais e o conjunto R Q
dos numeros
densos em R.
irracionais sao

Prova.
Seja (a, b), a < b, um intervalo aberto qualquer em R.
Afirmativa 1: Existe um numero
racional em (a, b).
1
Como b a > 0, existe p N tal que < b a.
p

m
Seja A = m Z b .
p

56 J. Delgado - K. Frensel
Numeros
reais

Como R e arquimediano, A e um conjunto nao-vazio


de numeros
inteiros,
limitado inferiormente por pb R, e, portanto limitado inferiormente por
um numero
inteiro.
(ver pag. 42), existe m0 A tal
pelo Princpio de Boa Ordenacao
Entao,
que m0 m para todo m A.
m0 1
Logo, como m0 1 < m0 , temos que m0 1 6 A, ou seja, < b.
p
m0 1

Temos, tambem, que a <
< b, pois, caso contrario,
p
m0 1 m
a<b 0,
p p
m0 m 1 1
o que acarretaria b a 0
= , uma contradicao.
p p p
m0 1 m 1
Logo, a < < b, ou seja, 0 (a, b) Q.
p p

Afirmativa 2: Existe um numero


irracional em (a, b).
Vamos considerar primeiro o caso em que 0 6 (a, b), ou seja, 0 < a < b
ou a < b < 0.

1 ba 2
Seja p N tal que < , ou seja, < b a.
p 2 p

2m
Seja A = m Z b .
p

Como R e arquimediano, A e nao-vazio,


limitado inferiormente por
bp
R. Entao, existe m0 A tal que m0 m para todo m A. Sendo
2

2 (m0 1)
m0 1 < m0 , m0 1 6 A, ou seja, < b.
p

2 (m0 1)
disso,
Alem
> a, pois, caso contrario,
p

2 (m0 1) 2 m0
a<b .
p p

2 2 (m0 1)
ba
Entao, , o que e absurdo. Assim a < < b e
p p
m0 1 6= 0, pois 0 6 (a, b).


Instituto de Matematica - UFF 57

Analise na Reta


2(m0 1)
Logo, (R Q) (a, b).
p

Suponhamos, agora, que 0 (a, b). Neste caso, basta tomar p N tal

1 b 2
que < , ou seja, < b.
p 2 p

2 2
Como a < 0 < < b, temos que (R Q) (a, b). 
p p

Teorema 5.2 (Princpio dos Intervalos Encaixados)


Seja I1 I2 . . . In . . . uma sequ encia
decrescente de intervalos
In = [an , bn ] limitados e fechados.
\
a intersecao
Entao e vazia. Mais precisamente,
In nao
nN
\
In = [a, b] ,
nN

onde a = sup an e b = inf bn .

Prova.
Para cada n N, an an+1 bn+1 bn , pois In+1 = [an+1 , bn+1 ]
que
[an , bn ] = In . Segue-se, entao,
a1 a2 < . . . an . . . bm . . . b2 b1 ,
pois an bm quaisquer que sejam m, n N.
De fato, se m = n, an bn . Se n < m, an am bm , e se n > m,
an bn bm .
Sejam A = {an | n N} e B = {bn | n N}. Entao
A e B sao
subconjuntos
limitados de R, ja que: a1 e uma cota inferior e bm e uma cota superior de
A, para todo m N; e b1 e uma cota superior e am e uma cota inferior de
B, para todo m N.
Sejam a = sup A e b = inf B.
Como, para todo m N, bm e uma cota superior de A e am e uma cota
inferior de B, temos a bm e b am .
Logo, como a bm para todo m N, temos a b.
[a, b] In , pois an a b bn , para todo n N.
Entao,

58 J. Delgado - K. Frensel
Numeros
reais

\
Portanto, [a, b] In .
nN
\
Precisamos ainda provar que In [a, b]. Suponhamos que existe
nN

x < a tal que x In para todo n N.


Sendo x an para todo n N, x e cota superior de A e, portanto, x a,
o que e uma contradicao.


De modo analogo, suponhamos que existe y > b tal que y In para todo
n N. Como y bn para todo n N, y e uma cota inferior de B. Logo,
b y, o qual e absurdo.
\
que [a, b] =
Temos, entao, In . 
nN

Teorema 5.3 O conjunto R dos numeros


e enumeravel.
reais nao

Prova.
Precisamos, antes, provar a seguinte:
Dados um intervalo limitado e fechado I = [a, b], a < b, e um
Afirmacao:
numero
real x0 , existe um intervalo limitado e fechado J = [c, d], c < d, tal
que J I e x0 6 J.
De fato:
se x0 6 I, tome J = I.
suponha que x0 I. Se
ha + b i
x0 = a, tome J = ,b ;
2
a+b
h i
x0 = b, tome J = a, ;
2
h a+x i
0
a < x0 < b, tome J = a, .
2
Seja X = {x1 , . . . , xn , . . .} um subconjunto enumeravel
de R.
Vamos mostrar que existe x R tal que x 6 X.

Seja I1 um intervalo limitado, fechado e nao-degenerado tal que x1 6 I1 .
Supondo que e possvel obter intervalos I1 I2 . . . In limitados,

fechados e nao-degenerados com xi 6 Ii para todo i = 1, . . . , n, podemos


Instituto de Matematica - UFF 59

Analise na Reta


obter um intervalo Ii+1 limitado, fechado e nao-degenerado tal que In+1
In e xn+1 6 In+1 .

Isto nos fornece uma sequ encia decrescente I1 I2 . . . In . . . de
intervalos fechados e limitados. Pelo teorema anterior, existe x In para
todo n N.
Como xn 6 In , para todo n N, temos que x 6= xn para todo n N.
Logo x R X, ou seja, R nao
e enumeravel.



Corolario 5.1 Todo intervalo nao-degenerado
de numeros
reais e nao-


enumeravel.

Prova.
[
Primeiro vamos provar que R = dado x R existe
(n, n + 1], isto e,
nN

n N tal que n < x n + 1.


Seja A = {n Z | x n + 1}. Como A e um subconjunto nao-vazio
de Z
limitado inferiormente, A possui um elemento mnimo n0 .
Logo, n0 < x n0 + 1, pois n0 A e n0 1 6 A.
Precisamos, tambem,
f : (0, 1) R definida por
verificar que a funcao
f(x) = (b a)x + a e uma bijecao
sobre o intervalo aberto (a, b). De fato:

se 0 < x < 1, entao


a < (b a)x + a < b .

se f(x) = f(y), entao


(b a)x + a = (b a)y + a, donde (b a)x =
(b a)y, ou seja, x = y.
ya
se y (a, b), entao
x= (0, 1) e f(x) = y.
ba

Portanto, se provarmos que (0, 1) nao


e enumeravel,
todo intervalo
entao

nao-degenerado e nao-enumer

avel.
Suponhamos, por absurdo, que (0, 1) e enumeravel.

o intervalo (n, n + 1] tambem
Entao, seria enumeravel,
fn :
pois a funcao
(0, 1] (n, n + 1] definida por f(x) = x + n e uma bijecao
para todo
n N.
[
Mas, assim, R =
(n, n + 1] seria enumeravel
por ser uma reuniao
nN

60 J. Delgado - K. Frensel

enumeravel
dos conjuntos enumeraveis (n, n + 1]. 


Corolario 5.2 O conjunto dos numeros
e enumeravel.
irracionais nao

Prova.
Como Q e enumeravel
e R = Q (R Q), entao
R Q nao
e enu-

meravel,
pois, caso contrario,
R seria enumeravel de dois
por ser reuniao

conjuntos enumeraveis. 


Instituto de Matematica - UFF 61
62 J. Delgado - K. Frensel
Parte 3


Sequencias
e series de numeros

reais

de limite tem um papel central no estudo da Analise


A nocao Ma-

tematica, pois todos os conceitos e resultados importantes se referem a
limites direta ou indiretamente.


Instituto de Matematica - UFF 63
64 J. Delgado - K. Frensel

Sequ encias


1. Sequ encias

1.1 Uma sequ encia


Definicao de numeros
reais e uma funcao
definida
no conjunto N dos numeros
naturais e tomando valores no conjunto R dos
numeros
reais.
Se x : N R e uma sequ encia
de numeros
reais, o valor x(n) sera

representado por xn e chamado o termo de ordem n ou nesimo termo

da sequ encia x.
Escreveremos (x1 , x2 , . . . , xn , . . .) ou (xn )nN ou (xn ) para indicar a

sequ encia x.

1.1
Observacao
Nao
se deve confundir a sequ encia
x com o conjunto de seus termos:
x(N) = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .} ,

que pode ser finito, pois a sequ encia x : N R nao
e necessariamente
injetiva.

1.2 Quando a sequ encia


Definicao a : N R for injetiva, ou seja,
xn 6= xm , se n 6= m, diremos que x e uma sequ encia
de termos dois a
dois distintos.

1.3 Dizemos que uma sequ encia


Definicao (xn )nN e
limitada superiormente quando existe um numero
real b tal que xn b
para todo n N, ou seja, xn (, b] para todo n N.
limitada inferiormente quando existe um numero
real a tal que a xn
para todo n N, ou seja, xn [a, +) para todo n N.
limitada quando e limitada superior e inferiormente, ou seja, quando
existem a, b R tais que xn [a, b] para todo n N.
ilimitada quando nao
e limitada.

1.2
Observacao
Todo intervalo [a, b] esta contido num intervalo centrado em 0 da forma
[c, c] para algum c > 0. Basta tomar c = max{|a|, |b|}, pois c a < b
c, ja que c |b| b e c |a| a, ou seja c a.


Instituto de Matematica - UFF 65

Analise na Reta

Assim, uma sequ encia


e limitada se, e so se, existe c R?+ tal que
|xn | c para todo n N.
Entao,
(xn )nN e uma sequ encia
limitada se, e so se, (|xn |)nN e uma

sequ encia limitada.

1.4 Uma subsequ encia


Definicao
da sequ encia x = (xn )nN e a restricao

x : N R a um subconjunto infinito N 0 = {n1 < n2 <
da funcao
. . . < nk < . . .} de N. Escreve-se x 0 = (xn )nN 0 ou (xnk )kN ou
0

(xn1 , xn2 , . . . , xnk ) para indicar a subsequ encia x = x|N 0 .

1.3 Lembremos que um subconjunto N 0 N e infinito


Observacao
para todo m N existe n N 0 tal que
se, e so se, e ilimitado, isto e,
m < n. Neste caso, dizemos que N 0 contem
numeros
naturais arbitraria-
mente grandes.
Em particular, se existe n0 N tal que n n0 para todo n N 0 , entao

N N 0 e finito e, portanto, N 0 e infinito. Dizemos, neste caso, que N 0
todos os numeros
contem naturais suficientemente grandes.

1.4 Toda subsequ encia


Observacao
de uma sequ encia limitada e limi-
tada


Note que: Uma sequ encia cres-
1.5
Definicao

cente ou nao-decrescente e limi-
Uma sequ encia
(xn )nN e crescente quando xn < xn+1 para todo n N,
tada inferiormente pelo seu pri-
meiro termo. ou seja, x1 < x2 < . . . < xn < . . .. Se xn xn+1 para todo n N, a

sequ encia e nao-decrescente.


Note que: Uma sequ encia de-

crescente ou nao-crescente e li- Uma sequ encia
(xn )nN e decrescente quando xn > xn+1 para todo
mitada superiormente pelo seu n N, ou seja, x1 > x2 > . . . > xn > . . .. Se xn xn+1 para todo n N, a
primeiro termo.

sequ encia e nao-crescente.

As sequ encias

crescentes, nao-decrescentes,
decrescentes e nao-crescentes
chamadas sequ encias
sao
monotonas.

1.5 Uma sequ encia


Observacao
monotona (xn )nN e limitada se, e so

se, possui uma subsequ encia limitada.
Com efeito, vamos supor que x = (xn )nN e nao-decrescente
e (xn )nN 0
e uma subsequ encia
limitada de x, ou seja, existe b R tal que xn b

66 J. Delgado - K. Frensel

Sequ encias

para todo n N 0 . Como N 0 e ilimitado, dado n N existe m N 0 tal que


m > n.
Logo, x1 xn xm b. Assim, x1 xn b para todo n N.


Analisaremos agora alguns exemplos de sequ encias.

Exemplo 1.1 xn = 1 para todo n N, ou seja, (xn )nN e uma sequ encia

ela e limitada nao-decrescente
constante. Entao,
e nao-crescente. 

Exemplo 1.2 Se xn = n para todo n N, a sequ encia


(xn )nN e limi-

tada inferiormente, ilimitada superiormente e monotona crescente. 

Exemplo 1.3 xn = 0 para todo n par e xn = 1 para n mpar. Essa



sequ encia e limitada e nao
e monotona.

Observe que a sequ encia se
1 + (1)n  n


define, tambem,
pelas formulas xn = ou xn = sen2 .
2 2 

1 1 1
 
Exemplo 1.4 Se xn = para todo n N, entao
x= 1, , . . . , , . . .
n 2 n
e uma sequ encia
limitada e decrescente, pois xn (0, 1] e xn+1 < xn para
todo n N.

n(1 + (1)n+1 )
Exemplo 1.5 Seja x = (xn )nN , onde xn = para todo
2
n N. Entao
xn = 0 para n par e xn = n para n mpar, ou seja, x =
(1, 0, 3, 0, 5, . . .). Ela e ilimitada superiormente, limitada inferiormente e
e monotona,
nao mas seus termos de ndice mpar x2n1 = 2n 1 formam

uma subsequ encia
monotona crescente ilimitada superiormente e seus

termos de ndice par x2n = 0 formam uma subsequ encia constante. 

Exemplo 1.6 Seja a R e consideremos a sequ encia


xn = an , n N.
se a = 0 ou a = 1, entao
xn = 0 para todo n N ou xn = 1 para todo
n N, respectivamente. Nestes casos, (xn )nN e constante.

an+1 < an e 0 < an < 1 para todo n N, ou seja,


Se 0 < a < 1, entao
(xn )nN e decrescente e limitada.
Se 1 < a < 0, entao
a sequ encia
e monotona,
nao pois seus termos
alternadamente positivos e negativos, mas continua sendo limitada,
sao
pois |an | = |a|n , com 0 < |a| < 1.


Instituto de Matematica - UFF 67

Analise na Reta

Se a = 1, entao
a sequ encia
(an )nN e (1, 1, 1, 1, . . .) e e,
portanto,
e monotona.
limitada, mas nao

Se a > 1, entao
a sequ encia
(an )nN e monotona
crescente e ilimitada
superiormente.
De fato:
Como a > 1 e an > 0, temos que aan > 1an , ou seja, an+1 > an
para todo n N.
Seja h > 0 tal que a = 1 + h. Entao,
pela desigualdade de Ber-
b1
noulli, an = (1+h)n 1+nh. Dado b R, existe n N, tal que n > .
h
Logo, an 1 + nh > b.
se a < 1, a sequ encia
e monotona,
nao al-
pois seus termos sao
e limitada superiormente nem
ternadamente positivos e negativos, e nao
inferiormente.
De fato:
Os termos de ordem par x2n = a2n = (a2 )n formam uma sub-

sequ encia
monotona crescente ilimitada superiormente pois a2 > 1.

a2n
Os termos de ordem mpar x2n1 = a2n1 = formam uma
a

subsequ encia decrescente ilimitada inferiormente, pois a < 0 e (a2n )nN
e uma sequ encia
crescente ilimitada superiormente. 

Exemplo 1.7 Dado a N, 0 < a < 1, seja


1 an+1
x n = 1 + a + . . . + an =
1a
para todo n N.
(xn )nN e uma sequ encia
Entao, crescente, pois xn+1 = xn + an+1 > xn
1
para todo n N; e e limitada, pois 1 < xn < para todo n N.
1a
1
1 1 1 1 n+1 1
Em particular, se a = , temos que 1+ +. . .+ n = 2 < =2
2 2 2 1 1
1 1
2 2
para todo n N. 

68 J. Delgado - K. Frensel

Sequ encias

1 1 1
Exemplo 1.8 Seja an = 1 + + + . . . + , n N. A sequ encia

1! 2! n!
(an )nN e crescente e e limitada, pois
1 1 1
an < 1 + 1 + + + . . . + n1 < 1 + 2 = 3 ,
2 22 2
para todo n N. 

 1
n
Exemplo 1.9 Seja bn = 1 + , n N. A formula

do binomio de
n
nos da
Newton (que pode ser provada por inducao)
 1
n
bn = 1+
n
1 n(n 1) 1 n(n 1)(n 2) 1
= 1+n + 2+ 3
n 2! n 3! n
n(n 1) . . . 2 1 1
+... + n,
n! n

ou seja,

1 1 1 1 2
    
bn = 1+1+ 1 + 1 1 + ...
2! n 3! n n
1 1 2 n1
    
+ 1 1 ... 1 .
n! n n n

j
Como 1 > 0, para 1 j n 1, temos que cada bn e uma
n
disso,cada parcela cresce com n, pois
soma de parcelas positivas. Alem
j j
   
1 > 1 , 1 j n 1, e, tambem,
o numero
de parcelas
n+1 n
cresce com n.
Logo, bn+1 > bn para todo n N, ou seja, (bn )nN e uma sequ encia

crescente.
Observe ainda que (bn )nN e uma sequ encia
limitada, pois
Importante: Provaremos depois
1 1 1
0 < bn < 1 + 1 + + + ... + < 3,
que as sequ encias (an )nN e
2! 3! n! (bn )nN dos exemplos 1.8 e 1.9
convergem para o numero
e.
para todo n N. 

Nota: Dados a, b R, a < b,


a+b
1
sua media
aritmetica 2
e ob-
Exemplo 1.10 Seja x1 = 0, x2 = 1 e xn+2 = (xn + xn+1 ), para todo tida somando-se ao numero
a a
2
metade da distancia ba
de aa
2
1 3 5 11
 
ba
n N. A sequ encia
e 0 , 1 , , , ,
que se obtem , ... . b, ou subtraindo-se 2
de b.
2 4 8 16


Instituto de Matematica - UFF 69

Analise na Reta


Segue-se que os termos desta sequ encia
sao:

x1 = 0 ,

x2 = 1 ,
1 1
x3 = 1 = ,
2 2
1 1 1
x4 = 1 + =1 ,
2 4 4
1 1 1 1 1 1 1
 
x5 = 1 + = + = 1+ ,
2 4 8 2 8 2 4
1 1 1 1 1 1
1 1

x6 = 1 + + =1 =1 + 2 ,
2 4 8 16 4 16 4 4
etc


Provaremos alguns fatos para obter a formula geral dos termos de ordem
par e de ordem mpar.
1
1: xn+1 xn = (1)n+1
Afirmacao , para todo n N.
2n1
De fato:
1
Se n = 1, x2 x1 = 1 0 = 1 = (1)2 .
20
Suponhamos que a afirmacao
seja valida

para n. Entao
1 1
xn+2 xn+1 = (xn + xn+1 ) xn+1 = (xn xn+1 )
2 2
1 1 1
= (xn+1 xn ) = (1)n+1 n1
2 2 2
1 1
= (1)n+2 n = (1)(n+1)+1 (n+1)1 .
2 2
Note que:
Se n e par, xn+1 < xn e, portanto, xn+1 < xn+2 < xn , pois
1
xn+1 xn = (1)n+1 < 0.
2n1
Se n e mpar, xn < xn+1 , e, portanto, xn < xn+2 < xn+1 , pois
1
xn+1 xn = (1)n+1 > 0.
2n1


Fig. 1: Posicionamento dos pontos da sequ encia (xn )nN .

70 J. Delgado - K. Frensel

Sequ encias

1 1 1
 
2: x2n+1 =
Afirmacao 1 + + . . . + n1 para todo n N.
2 4 4
De fato:
0+1 1 1
Se n = 1, x3 = = = 1.
2 2 2
verdadeira para n.
Suponhamos a afirmacao
como x2n+1 < x2n+3 < x2n+2 , temos que
Entao,
1
x2(n+1)+1 = x2n+3 = x2n+1 + (x2n+2 x2n+1 )
2
1
 1 1
 1 (1)2n+2
= 1 + + . . . + n1 +
2 4 4 2 22n
1 1 1 1 1
 
= 1 + + . . . + n1 + n
2 4 4 2 4
1 1 1 1
 
= 1 + + . . . + n1 + n .
2 4 4 4
1 1

3: x2n = 1
Afirmacao + ... + para todo n N, n 2.
4 4n1
De fato:
1
Se n = 2, x4 = 1 .
4

Suponhamos que a igualdade seja valida para n.
como x2n+1 < x2(n+1) < x2n , temos que
Entao,
1 1
x2n+2 = x2n (x2n x2n+1 ) = x2n + (x2n+1 x2n )
2 2
1 1
 (1)2n+1 1 1
 1
= 1 + . . . + n1 + 2n1
= 1 + . . . + n1
n
4 4 22 4 4 4
1 1 1

= 1 + . . . + n1 + n .
4 4 4
Assim, como
1
1 1 1 1 n+1 1 4
1 + + . . . + n1 + n = 4 < = ,
4 4 4 1 1 3
1 1
4 4
para todo n N, temos que
1 4 4
0 x2n+1 < = < 1,
2 3 6
para todo n 0, e
4 2
 
1 x2n >1+ 1 = , para todo n 1.
3 3


Instituto de Matematica - UFF 71

Analise na Reta

Logo, 0 xn 1 para todo n N, ou seja, a sequ encia


(xn )nN e limi-

tada, sendo (x2n+1 )nN uma subsequ encia crescente e (x2n )n N uma

subsequ encia decrescente. 

Exemplo 1.11 Seja xn = n
n para todo n N.

A sequ encia (xn )nN e decrescente a partir do seu terceiro termo, pois,
1 n 1 n
   
como 1 + < 3 para todo n N, 1 + < n para todo n 3.
n n
(n + 1)n
Logo, < n, ou seja, (n + 1)n < nn+1 .
nn

n+1

Assim, n + 1 < n n para todo n 3.

Como 1 = x1 < 2 = x2 < 3 3 = x3 e 0 < xn x3 = 3 3 para todo n N,
que (xn )nN e limitada. 
conclumos tambem

2.
Limite de uma sequ encia

2.1 Dizemos que o numero


Definicao real a e limite da sequ encia
(xn )nN
de numeros
reais, e escrevemos
a = lim xn ,
n

quando para cada numero


real > 0 e possvel obter um numero
natural
n0 tal que
|xn a| < ,
para todo n > n0 .
Simbolicamente, temos que
a = lim > 0 n0 N ; |xn a| < , n > n0
n

ou seja,
a = lim > 0 n0 N ; xn (a , a + ) , n > n0
n

Assim, a = lim xn se, e so se, todo intervalo aberto de centro a


n

todos os termos xn da sequ encia,


contem salvo, talvez, para um numero

finito de ndices n.

72 J. Delgado - K. Frensel

Limite de uma sequ encia

2.1
Observacao
Quando lim xn = a, dizemos que a sequ encia
(xn )nN converge para a
n


ou tende para a e escrevemos, tambem, xn a.
Uma sequ encia

que possui limite chama-se convergente. Caso contrario,

chama-se divergente, ou seja, uma sequ encia (xn )nN e divergente se,
para nenhum numero
real a, e verdade que lim xn = a.
n

lim xn 6= a se, e so se, existe 0 > 0 tal que para todo n0 N existe
n

n1 > n0 com |xn1 a| 0 .

Teorema 2.1 (Unicidade do Limite)


a = b.
Se a = lim xn e b = lim xn , entao
n n

Prova.
1
Suponhamos a 6= b e seja = |b a| > 0. Temos que:
2
(a , a + ) (b , b + ) = , pois se existisse x (a , a + )
(b , b + ), teramos que:
|b a| = |b x + x a| |b x| + |x a| < + = 2 = |b a| .
Existe n0 N tal que xn (a , a + ) para todo n > n0 .
Logo, xn 6 (b , b + ) para todo n > n0 . Entao
lim xn 6= b. 
n

Teorema 2.2 Se n toda subsequ encia


lim xn = a entao de (xn )nN con-
verge para a.

Prova.

Seja (xnk )kN uma subsequ encia de (xn )nN . Dado > 0, existe n0 N
tal que |xn a| < para todo n > n0 .
Como o conjunto N 0 = {n1 < n2 < . . . < nk < . . .} e ilimitado, existe k0 N
tal que nk0 > n0 .
Logo, nk > nk0 > n0 e |xnk a| < para todo k > k0 . 


Corolario 2.1 Se lim xn = a entao,
para todo k N, lim xn+k = a.
n n


Instituto de Matematica - UFF 73

Analise na Reta

Prova.
De fato, ( x1+k , x2+k , . . . , xn+k , . . . ) e uma subsequ encia
de (xn )nN e,
portanto, converge para a.

2.2
Observacao
O limite de uma sequ encia
se altera quando dela se omite um
nao
numero

finito de termos. Ou melhor, pelo teorema 2.2, o limite se mantem
Exerccio 12: Se (xn+k )nN
converge para a, para algum k quando se omite um numero
infinito de termos desde que reste ainda um
xn a.
N, entao
numero
infinito de ndices.
Se (xn )nN possui duas subsequ encias
(xn )nN
com limites distintos entao
e divergente.
Se (xn )nN converge e a subsequ encia

(xnk )kN converge para a, entao
xn a.

Teorema 2.3 Toda sequ encia


convergente e limitada.

Prova.
existe n0 N tal que xn
Seja a = lim xn e tome = 1. Entao,
n

(a 1, a + 1) para todo n > n0 .


Sejam A = {a 1, a + 1, x1 , . . . , xn0 }, M = max A e m = min A. Entao

m xn M para todo n N, ou seja, (xn )nN e limitada.

2.3 A recproca do teorema anterior nao


Observacao e verdadeira. Por

exemplo, a sequ encia (0, 1, 0, 1, 0, 1, . . .) e limitada, mas nao
e conver-
gente, pois x2n = 1 1 e x2n1 = 0 0, ou seja (xn )nN possui

duas subsequ encias que convergem para limites diferentes.

2.4 Se uma sequ encia


Observacao e limitada, ela nao
nao e conver-
gente.

Teorema 2.4 Toda sequ encia



monotona limitada e convergente.

Prova.
Suponhamos que (xn )nN e nao-decrescente,
xn xn+1 para todo
isto e,
n N.
Seja b R tal que xn b para todo n N e seja a = sup{xn | n N}.

74 J. Delgado - K. Frensel

Limite de uma sequ encia

Vamos mostrar que a = lim xn .


n

e cota superior do conjunto dos


Dado > 0, como a < a, a nao

termos da sequ encia. Logo, existe n0 N tal que a < xn0 a. Como
xn xn0 , para todo n n0 , temos
a < xn0 xn a < a + para todo n n0 .
Assim, lim xn = a.
n


De modo analogo, podemos provar que se (xn )nN e nao-crescente,

entao
lim xn = inf{xn | n N}.
n


Corolario 2.2 Se uma sequ encia

monotona (xn )nN possui uma sub-

sequ encia (xn )nN e convergente.
convergente, entao

Prova.
1.5, temos que a sequ encia
Pela observacao
monotona (xn )nN e limi-

tada porque possui uma subsequ encia convergente e, portanto limitada.
pelo teorema anterior, (xn )nN e convergente.
Entao,

Reexaminaremos os exemplos anteriores quanto a` convergencia.


Exemplo 2.1 Toda sequ encia


constante, xn = a, n N, e convergente
e tem limite a.

Exemplo 2.2 A sequ encia


de termo geral xn = n, n N, nao
e conver-
e limitada.
gente porque nao

1 + (1)n+1
Exemplo 2.3 A sequ encia
(1, 0, 1, 0, . . .), onde xn = , n N,
2
e divergente porque possui duas subsequ encias
(x2n )nN e (x2n1 )nN que
convergem para limites diferentes.

1
Exemplo 2.4 A sequ encia
tem limite zero.
n nN

1
De fato, dado > 0 existe n0 N tal que < .
n0
1 1
<
Entao, < < , para todo n > n0 . 
n n0


Instituto de Matematica - UFF 75

Analise na Reta

Exemplo 2.5 A sequ encia


e
(1, 0, 2, 0, 3, 0, . . . , 0, n, 0, n + 1, 0, . . .) nao

convergente porque possui uma subsequ encia, (x2n1 )nN , ilimitada.

Exemplo 2.6 Sejam a R e a sequ encia


(an )nN . Entao:

Se a = 1 ou a = 0, a sequ encia
constante (an )nN converge e tem limite
1 e 0, respectivamente.
Se a = 1, a sequ encia
(1, 1, 1, 1, . . .) e divergente, pois possui duas

subsequ encias, (x2n )nN e (x2n1 )nN , que convergem para limites dife-
rentes.
Se a > 1, a sequ encia
(an )nN e divergente, pois e crescente e ilimitada
superiormente.
Se a < 1, a sequ encia
(an )nN e divergente, pois nao
e limitada supe-
riormente nem inferiormente.
Se 0 < a < 1, a sequ encia
(an )nN e decrescente e limitada, logo,
disso, lim an = 0.
convergente. Alem
n

1 1
Com efeito, dado > 0, existe n0 N tal que n > para todo n n0 ,
a
  n 
1

pois a sequ encia e crescente e ilimitada superiormente, ja
a nN
1
que > 1. Logo, < an < n n0 .
a
Se 1 < a < 0, lim an = 0, pois lim |an | = lim |a|n = 0, ja que
n n n

0 < |a| < 1.

2.5 lim xn = 0 lim |xn | = 0.


Observacao
n n

Exemplo 2.7 Se 0 < a < 1, a sequ encia


(xn )nN , onde
1 an+1
x n = 1 + a + . . . + an = ,
1a

e convergente porque e crescente e limitada superiormente. Alem


disso,
1
lim xn = .
n 1a

De fato, dado > 0, existe n0 N tal que |an | < (1 a) para todo n > n0 .
1 |an+1 |

Logo, xn = < para todo n n0 .

1a |1 a|

76 J. Delgado - K. Frensel

Limite de uma sequ encia

1
O mesmo vale para a tal que 0 |a| 1, ou seja, lim xn = , apesar
n 1a
ser monotona
de (xn )nN nao para 1 < a < 0. 

1 1 1 1
 n
Exemplo 2.8 Sejam an = 1 + + + . . . + + . . . e bn = 1 + ,
1! 2! n! n
para todo n N.

Como as sequ encias crescentes e limitadas, elas
(an )nN e (bn )nN sao
convergentes.
sao
Mostraremos depois que lim an = lim bn = e, onde e e a base dos
n n

logaritmos naturais.

Exemplo 2.9 Seja (xn )nN a sequ encia


dada por
xn + xn+1
x1 = 0 , x2 = 1 e xn+2 = , n N.
2
Ja vimos que:
 n
1
1 1 1
 1 1 2  1
4
 
x2n+1 = 1 + + . . . + n1 = = 1 ,
2 4 4 2 1 3 4n
1
4

e
1 1
 1
 1

x2n = 1 + . . . + n1 = 2 1 + + . . . + n1
4 4 4 4
1
1 4n 4 1
  2 4 1
= 2 = 2 1 = + n.
1 n 3 4 3 3 4
1
4
a subsequ encia
Entao (x2n1 )nN e crescente limitada superiormente e a

subsequ encia (x2n )nN e decrescente limitada inferiormente.
2
1: lim x2n1 =
Afirmacao .
n 3
1
Com efeito, dado > 0, existe n0 N tal que < , para todo n > n0 ,
4n
1 1
pois lim = 0, ja que 0 < < 1 .
n 4n 4
2 2
1
Logo, x2n+1 = < para todo n > n0 .

3 n 3 4
2
2: lim x2n =
Afirmacao .
n 3


Instituto de Matematica - UFF 77

Analise na Reta

1 3
Dado > 0 , n0 N tal que n
< para todo n n0 .
4 4
2 4 1

Assim, x2n = n < para todo n n0 .

3 3 4
lim xn = a.
3: Se lim x2n+1 = lim x2n = a entao
Afirmacao
n n n

De fato, dado > 0 existem n1 , n2 N tais que |xn a| < se n > n1 , n


par, e |xn a| < se n > n2 , n mpar.
Seja n0 = max{n1 , n2 }. Entao,
|xn a| < para todo n > n0 , pois n >
n0 n1 e n > n 0 n2 .
acima, temos que a sequ encia
Pelas 3 afirmacoes (xn )nN e convergente
2
e lim xn = . 
n 3

Exemplo 2.10 Como a sequ encia
( n n)nN e decrescente a partir do

terceiro termo e e limitada inferiormente por 0, temos que ( n n)nN e con-

vergente. Mostraremos depois que lim n n = 1 .
n

3.
Propriedades aritmeticas dos limites

Teorema 3.1 Se n
lim xn = 0 e (yn )nN e uma sequ encia

limitada, entao

lim (xn yn ) = 0.
n

Prova.
Seja c R, c > 0, tal que |yn | < c para todo n N.

Dado > 0 existe n0 N tal que |xn | < para todo n > n0 . Logo,
c

|xn yn | < c = para todo n > n0 .
c
Isso mostra que lim (xn yn ) = 0. 
n

sen(nx)
Exemplo 3.1 Para todo x N, n
lim
= 0, pois a sequ encia
n
1
(sen(nx))nN e limitada ja que | sen(nx)| 1, e a sequ encia
con-
n nN
verge para zero. 

78 J. Delgado - K. Frensel

Propriedades aritmeticas dos limites

3.1 Se lim yn = b e b 6= 0, entao


Observacao existe n0 N tal que
n

yn 6= 0 para todo n > n0 .


De fato, seja = |b| > 0. Entao
existe n0 N tal que yn (b |b|, b + |b|)
para todo n > n0 , ou seja, b |b| < yn < b + |b| para todo n > n0 . Logo,
yn > b |b| = b b = 0 para todo n > n0 , se b > 0, ou yn < b + |b| =
b b = 0 para todo n > n0 , se b < 0. Assim, yn 6= 0 para todo n > n0 , se
b 6= 0.

 
xn

No item 3 do teorema abaixo, vamos considerar a sequ encia
yn nN


a partir de seu n0 esimo termo, onde n0 N e tal que yn 6= 0 se n n0 .

Teorema 3.2 Se n
lim xn = a e lim yn = b, entao:
n

(1) lim (xn + yn ) = a + b ; lim (xn yn ) = a b ;


n n

(2) lim (xn yn ) = a b ;


n

xn a
(3) lim = , se b 6= 0.
yn b

Prova.
(1) Dado > 0 existem n1 , n2 N tais que

|xn a| < para n > n1 ,
2

|yn b| < para n > n2 .
2
Seja n0 = max{n1 , n2 }. Entao,

|(xn + yn ) (a + b)| = |(xn a) + (yn b)|
|xn a| + |yn b|

< + =
2 2
para todo n > n0 .

Se prova, de modo analogo, que (xn yn ) (a b) .
(2) Como xn yn ab = xn yn xn b + xn b ab = xn (yn b) + (xn a)b,
lim (xn a) = lim (yn b) = 0 e (xn )nN e limitada, por ser convergente,
n n

temos que lim xn (yn b) = lim (xn a)b = 0, pelo teorema 3.1.
n n


Instituto de Matematica - UFF 79

Analise na Reta

Logo, pelo item (1),


lim (xn yn ab) = lim xn (yn b) + lim (xn a)b = 0 .
n n n

Assim, lim xn yn = ab .
n

b2
(3) Pelo item (2), lim yn b = b2 . Entao,
dado = , existe n0 N tal que
n 2
b2 b2
yn b > b2 = > 0 para todo n > n0 .
2 2
1 2
Segue-se que 0 < < para todo n > n0 .
yn b b2
 
1

Logo, a sequ encia e limitada.
yn b nN

Assim,
 
xn a xn b yn a
lim = lim =0
n yn b n yn b

pelo teorema 3.1, pois lim (xn b yn a) = ab ba = 0, pelos itens (1) e


n
 
1
(2), e e limitada.
yn b nn0

a
Logo, lim xn yn = .
n b 

3.2 Resultados analogos


Observacao aos itens (1) e (2) do teorema

anterior valem, tambem, para um numero

finito qualquer de sequ encias.
se aplica para somas, ou produtos, em que o numero
Mas, o resultado nao
de parcelas, ou fatores, e variavel
e cresce acima de qualquer limite.
1 1
Por exemplo, seja sn = + . . . + (n parcelas).
n n
sn = 1 para todo n N e, portanto, lim sn = 1.
Entao,
n

1 1
Assim, lim sn 6= lim + . . . + lim = 0 + . . . + 0 = 0.
n n n n n


Exemplo 3.2 Seja a sequ encia
(xn )nN , onde xn = n
a , a > 0.

n
Se a = 1, n
a = 1 para todo n N, logo, lim a = 1.
n

Sejam b = n+1
aec= n
a, ou seja, bn+1 = cn = a .

80 J. Delgado - K. Frensel

Propriedades aritmeticas dos limites


Se a > 1, entao
n a e decrescente e limitada.

De fato, b = n+1 a > 1, pois bn+1 = a > 1, e bn < bn b = bn+1 = cn .

Logo, b < c, ou seja, n+1 a < n a, e n a > 1 para todo n N.

Se 0 < a < 1, entao
n a e crescente e limitada.

De fato, b = n+1 a < 1, pois bn+1 = a < 1, e bn > bn b = bn+1 = cn .

Logo, b > c, ou seja, n+1 a > n a e n a < 1 para todo n N.


Como, para todo a > 0, a sequ encia ( n a)nN e monotona
e limitada,

temos, pelo teorema 2.4, que existe lim n a = `.
n

n

Afirmacao: lim a = ` > 0.
n

Se a > 1, lim n
a = inf{ n a | n N} 1, pois ( n a)nN e decrescente e 1
n

e uma cota inferior.



Se 0 < a < 1, lim n a = sup{ n a | n N} a, pois ( n a)nN e crescente
n

e n a a para todo n N.


Afirmacao: lim n a = 1.
n

1 1 1

Consideremos a subsequ encia (a n(n+1) )nN = (a n n+1 )nN . Pelo teorema
2.2 e pelo item (3) do teorema 3.2, obtemos:
1
1 1 1 an `
` = lim a n(n+1) = lim a n n+1 = lim 1 = = 1.
n n n a n+1 `



Exemplo 3.3 Podemos, agora, mostrar que n
lim n n = 1.

Como ( n n)nN e uma sequ encia
decrescente a partir de seu terceiro

termo e n n 1 para todo n N, temos que

` = limn n n = inf{ n n | n 3} 1 .
1

Tomando a subsequ encia ((2n) 2n )nN , obtemos que
h 1
i2 1
h 1 1
i
`2 = lim (2n) 2n = lim (2n) n = lim 2 n n n
n n n
1 1
= lim 2 lim n = 1 ` = ` .
n n
n n

Sendo ` 6= 0 e `2 = `, temos que ` = 1. 


Instituto de Matematica - UFF 81

Analise na Reta

Exemplo 3.4 Seja n


lim yn = 0.
 
xn
Se a sequ encia
e convergente ou, pelo menos, limitada, entao

yn nN

lim xn = 0, pois
n
 
x
lim xn = lim yn n = 0.
n n yn


Portanto, se lim yn = 0 e a sequ encia (xn )nN diverge ou converge para
n
 
xn
a sequ encia
um limite diferente de zero, entao e divergente e
yn nN

ilimitada.
Suponhamos agora que lim xn = lim yn = 0. Neste caso, a sequ encia

n n
 
xn
Por exemplo:
pode ser convergente ou nao.
yn nN

1 1 xn
se xn = e yn = , a 6= 0, entao
= a a.
n an yn
 
(1)n 1 xn
se xn = a sequ encia
e yn = , entao e diver-
n n yn nN
xn
gente, pois = (1)n .
yn
 
1 1 xn
a sequ encia
se xn = e yn = 2 , entao converge,
nao
n n yn nN
x
pois n = n. 
yn

Teorema 3.3 (Permanencia


do sinal)
Se lim xn = a > 0, existe n0 N tal que xn > 0 para todo n n0 .
n

Prova.
a a a
Dado = > 0, existe n0 N tal que a < xn < a + para todo
2 2 2
a a
n n0 . Logo, xn > a = > 0 para todo n n0 . 
2 2

3.3 De modo analogo,


Observacao se xn a < 0, existe n0 N tal
que xn < 0 para todo n 0.

82 J. Delgado - K. Frensel

Propriedades aritmeticas dos limites


Corolario 3.1 Sejam (xn )nN e (yn )nN sequ encias
convergentes. Se
xn yn para todo n N, entao
lim xn lim yn
n n

Prova.
Suponhamos, por absurdo, que lim xn > lim yn .
n n


Entao, lim (xn yn ) = lim xn lim yn > 0. Logo, existe n0 N tal
n n n

que xn yn > 0, ou seja, xn > yn para todo n n0 . o que contradiz a



hipotese.

3.4 Quando xn < yn para todo n N, nao


Observacao se pode ga-
rantir que lim xn < lim yn .
n n

1 1 1
Por exemplo, tome xn = 0 e yn = , ou xn = 2 e yn = .
n n n


Corolario 3.2 Se (xn )n uma sequ encia
convergente. Se xn a para
todo n N, entao
lim xn a .
n

Teorema 3.4 (Teorema do Sandwiche)


Se xn zn yn para todo n N e
lim xn = lim yn = a , entao
n n

lim zn = a.
n

Prova.
Dado > 0, existem n1 , n2 N tais que a < xn < a + para todo
n n1 e a < yn < a + para todo n n2 .
Seja n0 = max{n1 , n2 }. Entao,a
< xn zn yn < a + para todo
n n0 .
Logo, lim zn = a. 
n

1 1 1 1
 n
Exemplo 3.5 Sejam an = 1 + + + . . . + e bn = 1 + , n N.
1! 2! n! n
Ja provamos antes que as sequ encias
crescentes
(an )nN e (bn )nN sao
e limitadas, e que bn < an para todo n N.

Entao, lim bn lim an = e. Por outro lado, fixando p N, temos, para
n n

todo n > p,


Instituto de Matematica - UFF 83

Analise na Reta

1 1 1 1 2
    
bn = 1+1+ 1 + 1 1 + ...
2! n 3! n n
1 1 2 n1
    
+ 1 1 ... 1
n! n n n
1 1 1 1 2
     
1+1+ 1 + 1 1 + ...
2! n 3! n n
1 1 p1
   
+ 1 ... 1 .
p! n n

Fazendo n e mantendo p fixo, o lado direito da desigualdade acima


tende para ap .
Logo, lim bn ap para todo p N e, portanto, lim bn lim ap .
n n p

que
Obtemos, entao,
1 n 1 1 1
   
no seguinte, escrevere-
Notacao: lim 1 + = lim 1 + + + . . . + = e.
n n n 1! 2! n!

mos as sequ encias na forma (xn )
mais simples do que (xn )nN e 
os limites lim xn , tambem, na
n
forma mais simples lim xn , desde
surjam ambiguidades.
que nao

4.
Subsequ encias

O numero
real a e o limite da sequ encia
x = (xn ) se, e so se, para
todo > 0 o conjunto
x1 (a , a + ) = { n N | xn (a , a + ) }
tem complementar finito em N.

Para subsequ encias, temos o seguinte resultado:

Teorema 4.1 Um numero


real a e o limite de uma subsequ encia
de
(xn ) se, e so se, para todo > 0, o conjunto dos ndices n tais que xn
(a , a + ) e infinito.

Prova.
(=) Seja a = lim0 xn , onde N 0 = {n1 < n2 < . . . < nk < . . .}. Entao,

nN

para todo > 0, existe k0 N tal que xnk (a , a + ) para todo k > k0 .
Como o conjunto {nk | k > k0 } e infinito, existem infinitos n N tais que
xn (a , a + ).
(=) Para = 1, existe n1 N tal que xn1 (a 1, a + 1).

84 J. Delgado - K. Frensel

Subsequ encias

que n1 < n2 < . . . < nk foram escolhidos de


Suponhamos, por inducao,
1 1
 
modo que xni a , a + , para i = 1, . . . , k.
i i
1

 1 1

Seja = > 0. Como o conjunto n N | xn a ,a +
k+1 k+1 k+1
1 1
 
e infinito, existe nk+1 N, tal que nk+1 > nk e xnk a ,a + .
k+1 k+1
1
N 0 = {n1 < n2 < . . . < nk < . . .} e infinito e como |xnk a| <
Entao,
k
para todo k N , temos que lim xnk = a, ou seja, a e o limite de uma
k


subsequ encia de (xn )nN . 

4.1 Um numero
Definicao real a e valor de aderencia

da sequ encia Terminologia: na literatura,
(xn ) quando a e o limite de uma subsequ encia
de (xn ). ponto de acumulacao, valor de

acumulacao, valor limite, ponto
limite e ponto aderente sao

sinonimos
de valor de aderencia.
4.1 Como um subconjunto de N e infinito se, e so se, e
Observacao
sao
ilimitado, temos que as seguintes afirmacoes equivalentes:

a R e valor de aderencia

da sequ encia (xn ) ;
para todo > 0 e todo n0 N, existe n N, tal que n > n0 e
xn (a , a + ) ;
todo intervalo de centro a contem
termos xn com ndices arbitrariamente
grandes.

4.2 Se lim xn = a, entao


Observacao a e o unico

valor de aderencia
e verdadeira.
de (xn ). Mas a recproca nao

Por exemplo, a sequ encia (0, 1, 0, 3, 0, 5, . . .) so possui o zero como valor

de aderencia, mas e divergente, ja que e ilimitada.

Exemplo 4.1 A sequ encia


(1, 0, 1, 0, . . .) tem apenas o zero e o um como

valores de aderencia. 

Exemplo 4.2 Seja {r1 , r2 , . . . , rn , . . .} uma enumeracao


dos numeros
ra-
cionais de termos dois a dois distintos.
Como todo intervalo aberto (a , a + ), a R e > 0, contem
uma infi-
nidade de numeros
racionais, pois Q e denso em R, temos que o conjunto
{n N | rn (a , a + )}


Instituto de Matematica - UFF 85

Analise na Reta

e infinito e, portanto, a e valor de aderencia


de (rn ). Ou seja, todo numero

real a e valor de aderencia

da sequ encia (rn ). 

Exemplo 4.3 A sequ encia


possui valor de aderencia,
(xn ), xn = n, nao

pois toda subsequ encia de (xn ) e ilimitada.

Seja (xn ) uma sequ encia


limitada de numeros
reais, onde xn
para todo n N.
Seja Xn = {xn , xn+1 , . . .}. Entao,

[, ] X1 X2 . . . Xn . . .
Sendo an = inf Xn e bn = sup Xn , temos que an+1 an e bn+1 bn ,
pois, como Xn+1 Xn , temos
an = inf Xn xj e bn = sup Xn xj ,
para todo j n, e, portanto, para todo j n + 1.
Ou seja, an e cota inferior de Xn+1 e bn e cota superior de Xn+1 .
Logo, an an+1 e bn+1 bn .
disso, an bn para todo n N. Assim, an bm quaisquer
Alem
que sejam n, m N, pois:
se m > n = an am bm ,
se m n = an bn bm .
Logo,
a1 a2 . . . an . . . bm . . . b2 b1 .
Existem, portanto, os limites
a = lim an = sup an = sup inf Xn ,
nN nN

e
b = lim bn = inf bn = inf sup Xn .
nN nN

Dizemos que a e o limite inferior e b e limite superior da sequ encia




Notacao: em alguns livros de

Analise, pode ser encontrada
limitada (xn ), e escrevemos
a notacao lim xn em vez de a = lim inf xn e b = lim sup xn .
lim sup xn e lim xn em vez de
lim inf xn .
Temos, tambem, que sup an bm para todo m N, ou seja, sup an
nN nN

e uma cota inferior do conjunto {bm | m N}.

86 J. Delgado - K. Frensel

Subsequ encias

Logo, sup an inf bn , ou seja,


n n

a = lim inf xn b = lim sup xn .

1 1
Exemplo 4.4 Seja a sequ encia
(xn ), onde x2n1 = e x2n = 1 + ,
n n
n N. Entao,


1 1 1 1

X2n2 = 1+ , ,1 + , ,... ,
n1 n n n+1

1 1 1 1

X2n1 = , 1 + , ,1 + ,... ,
n n n+1 n+1

1 1 1 1

X2n = 1 + , ,1 + , ,... ,
n n+1 n+1 n+2
1 1
Assim, inf X2n2 = inf X2n1 = e sup X2n1 = sup X2n = .
n 1+n
Logo, a = lim inf xn = sup inf Xn = 0 e b = lim sup xn = inf sup Xn = 1.
n n

subsequ encias
Como (x2n1 ) e (x2n ) sao convergentes de (xn ), e
lim x2n1 = 0 6= 1 = lim x2n , segue-se que 0 e 1 sao
seus unicos
valo-

res de aderencia. 

Teorema 4.2 Seja (xn ) uma sequ encia


a = lim inf xn e
limitada. Entao,

o menor valor de aderencia de (xn ) e b = lim sup xn e o maior valor de

aderencia de (xn ).

Prova.
Vamos provar primeiro que a = lim inf xn e valor de aderencia
de (xn ).
Dados > 0 e n0 N, como a = lim an , existe n1 > n0 tal que
an1 (a , a + ). Sendo an1 = inf Xn1 e a + > an1 , existe n n1 tal
que a < an1 xn < a + .
que dados > 0 e n0 N, existe n > n0 tal que
Provamos, entao,
xn (a , a + ). Logo, pelo teorema 4.1, a e valor de aderencia
de (xn ).
Vamos, agora, provar que a e o menor valor de aderencia
de (xn ).
Seja c < a. Como a = lim an , existe n0 N, tal que c < an0 a. Ou seja,
c < an0 xn , para todo n n0 ,
pois an0 = inf{xn0 , xn0 +1 , . . .}.


Instituto de Matematica - UFF 87

Analise na Reta

Tomando = an0 c, temos que c + = an0 . Logo, xn c + , ou seja,


xn 6 (c , c + ) para todo n n0 .
e valor de aderencia
Assim, c nao de (xn ).
de que b = lim sup xn e o maior valor de aderencia
A demonstracao de

(xn ) se faz de modo analogo. 


Corolario 4.1 Toda sequ encia
limitada de numeros
reais possui uma

subsequ encia convergente.

Prova.
Como a = lim inf xn e valor de aderencia
de (xn ), (xn ) possui uma sub-

sequ encia que converge para a. 


Corolario 4.2 Uma sequ encia
limitada de numeros
reais (xn ) e conver-
gente se, e so se, lim inf xn = lim sup xn , isto e,
se, e so se, (xn ) possui
um unico

valor de aderencia.

Prova.
(=) Se (xn ) e convergente e lim xn = c, entao
c e o unico
valor de

aderencia de (xn ).
Logo, lim inf xn = lim sup xn = lim xn .
(=) Suponhamos que a = lim inf xn = lim sup xn .
Como lim an = lim bn = a, dado > 0, existe n0 N tal que
a < an0 a bn0 < a + .
Mas, an0 xn bn0 para todo n n0 . Logo,
a < an0 xn bn0 < a + ,
para todo n n0 .
Assim, lim xn = a . 

Teorema 4.3 Sejam a = lim inf xn e b = lim sup xn , onde (xn ) e uma

sequ encia limitada.
dado > 0, existe n0 N tal que a < xn < b + para
Entao,
disto, a e o maior e b e o menor numero
todo n > n0 . Alem com esta
propriedade.

88 J. Delgado - K. Frensel

Subsequ encias

Prova.
Seja > 0. Suponha que existe uma infinidade de ndices n tais que
xn < a . Estes ndices formam um subconjunto N 0 N infinito.
a subsequ encia
Entao,
(xn )nN 0 possui um valor de aderencia c a ,
pois xn < a para todo n N 0 , o que e absurdo, pois c < a e a e o

menor valor de aderencia de (xn ).
Logo, dado > 0, existe n1 N tal que xn > a para todo n > n2 .

De modo analogo, suponha que existe uma infinidade de ndices n tais
estes ndices formam um subconjunto N 0 N
que xn > b + . Entao

infinito. A subsequ encia
(xn )nN 0 possui um valor de aderencia c b + ,
ja que xn > b + para todo n N 0 , o que e absurdo, pois c b + > b
e b e o maior valor de aderencia
de (xn ). Logo, existe n2 N tal que
xn < b + para todo n > 1.
Seja n0 = max{n1 , n2 }. Entao
a < xn < b + para todo n > n0 .
1
Seja a < a 0 e tome = (a 0 a). Entao,
a + = a 0 .
2

Sendo a um valor de aderencia de (xn ), existe uma infinidade de ndices
n tais que a < xn < a + = a 0 . Logo, nenhum numero
real a 0 > a
goza da propriedade acima.
1
Seja b 0 < b e tome = b b 0 . Entao,
b 0 + = b .
2
Como b e valor de aderencia
de (xn ), existe uma infinidade de ndices n
tais que b 0 + = b < xn < b + . Logo, nenhum numero
real b 0 < b
goza da propriedade. 


Corolario 4.3 Se c < lim inf xn , entao
existe n1 N tal que c < xn para
existe n2 N tal
todo n > n1 . Analogamente, se d > lim sup xn , entao
que xn < d para todo n > n2 .

Prova.
c = a , com = a c > 0. Entao,
Se c < a = lim inf xn , entao
pelo teorema 4.3, existe n1 N tal que xn > a = c para todo n > n1 .

De modo analogo, com respeito ao
podemos provar a afirmacao
lim sup xn = b, tomando = d b > 0. 


Instituto de Matematica - UFF 89

Analise na Reta


Corolario 4.4 Dada uma sequ encia
limitada (xn ), sejam a e b numeros

reais com as seguintes propriedades:
existe n1 N tal que xn > c para todo n > n1 ;
se c < a, entao
existe n2 N tal que xn < d para todo n > 2.
se b < d, entao
a lim inf xn e lim sup xn b.
Nestas condicoes


Os corolarios acima apenas repetem, com outras palavras, as afir-
do teorema 4.3.
macoes
Sem usar as nocoes

de limites inferior e superior de uma sequ encia
limitada vamos provar que:


Toda sequ encia limitada de numeros
reais possui uma sub-

Veja, tambem, o exerccio 15.

sequ encia convergente.

Prova.
Suponhamos que xn [a, b] para todo n N. Seja
A = {t R | t xn para uma infinidade de ndices n} .
Como a xn b para todo n N, temos que a A e nenhum elemento
de A pode ser maior do que b.
Assim, A 6= e e limitado superiormente por b.
Portanto, existe c = sup A.
Vamos usar o teorema 4.1 para provar que c e valor de aderencia
da

sequ encia (xn ).
Dado > 0, existe t A tal que c < t c. Logo, ha uma infinidade de
ndices n tais que c < xn .
Por outro lado, como c + 6 A, existe apenas um numero
finito de ndices
n tais que xn c + .
Assim, existe um numero
infinito de ndices n tais que c < xn < c + .

4.3 c = lim sup xn .


Observacao
Sejam Xn = {xn , xn+1 , . . .} e bn = sup Xn , n N . Por definicao,

lim sup xn = inf bn .

Afirmacao: c bn para todo n N, ou seja, c e uma cota inferior do
conjunto {bn | n N}.

90 J. Delgado - K. Frensel

Sequ encias de Cauchy

Seja n N. Como bn xm para todo m n, temos que se t bn , entao



t xm para todo m n.
Logo, A (, bn ), ou seja, c = sup A bn .
Como c bn para todo n N e = lim sup xn = inf bn , temos que
nN

c . Suponhamos, por absurdo, que c < .


Logo, 6 A, ou seja, existe n1 N tal que > xn para todo n n1 .
bn para todo n n1 . Mas, = inf bn , ou seja, bn para
Entao,
nN

todo n N.
Assim, = bn = sup Xn para todo n n1 .
1
Tome = para todo n n1 , existe m > n tal que
( c) . Entao,
2
1
< xm , ou seja, xm > ( + c) > c .
2
1
Portanto, o conjunto dos ndices n tais que ( + c) < xn e ilimitado,
2
logo, infinito.
1 1

Entao ( + c) A e ( + c) > c = sup A , o que e uma contradicao.

2 2
Logo, c = sup A = = lim sup xn .

5.
Sequ encias de Cauchy

5.1 Dizemos que uma sequ encia


Definicao (xn ) e de Cauchy quando
para todo > 0 dado, existir n0 N, tal que |xm xn | < quaisquer que
sejam m, n > n0 .

Teorema 5.1 Toda sequ encia


convergente e de Cauchy.

Prova.

Seja a = lim xn . Dado > 0, existe n0 N tal que |xm a| < e
2

|xn a| < , quaisquer que sejam m, n > n0 .
2

Logo, |xm xn | |xm a| + |xn a| < + = para todos m, n > n0 . 
2 2


Instituto de Matematica - UFF 91

Analise na Reta

Antes de provarmos a recproca do teorema acima, vamos demons-


trar dois lemas importantes.

Lema 5.1 Toda sequ encia


de Cauchy e limitada.

Prova.
existe n0 N tal que |xm xn | < 1, quaisquer
Seja = 1 > 0. Entao,
que sejam m, n n0 .
Em particular, |xm xn0 | < 1, ou seja, xn0 1 < xn < xn0 + 1 para todo
n n0 .
Sejam a o menor e b o maior elementos do conjunto
{xn0 1, xn0 + 1, xn1 , . . . , xn0 1 } .
a xn b para todo n N, ou seja, a sequ encia
Entao, (xn ) e limitada.

Lema 5.2 Se uma sequ encia



de Cauchy (xn ) possui uma subsequ encia
convergindo para a R, entao
lim xn = a.

Prova.

Dado > 0, existe n0 N tal que |xm xn | quaisquer que sejam
2
m, n > n0 .
Como a e limite de uma subsequ encia
de (xn ), existe, pelo teorema 4.1,

n1 N, n1 > n0 , tal que |xn1 a| < .
2
Logo,

|xn a| |xn xn1 | + |xn1 a| < + = ,
2 2
para todo n > n0 .
Com isto, provamos que a = lim xn .

Teorema 5.2 Toda sequ encia


de Cauchy de numeros
reais converge.

Prova.

Seja (xn ) uma sequ encia de Cauchy.
Pelo lema 5.1, (xn ) e limitada e, portanto, pelo corolario
4.1, (xn ) possui

uma subsequ encia pelo lema 5.2, (xn ) e conver-
convergente. Entao,
gente.

92 J. Delgado - K. Frensel

Sequ encias de Cauchy

5.1 (Metodo
Observacao
das aproximacoes sucessivas)
Seja 0 < 1 e suponhamos que a sequ encia
(xn ) satisfaz a seguinte

condicao:
|xn+2 xn+1 | |xn+1 xn | , para todo n N.

|xn+1 xn | n1 |x2 x1 | , para todo n N .


Entao,

De fato, se n = 1, a desigualdade e valida,


e se |xn+1 xn | n1 |x2 x1 |,

entao
|xn+2 xn+1 | |xn+1 xn | n |x2 x1 | .
Assim, para m, p N arbitrarios,
temos:

|xn+p xn | |xn+p xn+p1 | + . . . + |xn+1 xn |

(n+p2 + n+p1 + . . . + n1 ) |x2 x1 |

= n1 (p1 + p2 + . . . + + 1) |x2 x1 |
1 p n1
= n1 |x2 x1 | |x2 x1 | .
1 1

n1
Como lim |x2 x1 | = 0 , dado > 0 , existe n0 N tal que
n 1

n1
0 |x2 x1 | < para todo n > n0 .
1

Logo, |xn+p xn | < para todo p N e todo n > n0 , ou seja, |xm xn | <
quaisquer que sejam m, n > n0 .
(xn ) e de Cauchy e, portanto, converge.
Entao,

Aproximacoes
Aplicacao: sucessivas da raiz quadrada

Seja a > 0 e seja a sequ encia definida por x1 = c, onde c e um
 
1 a
numero

real positivo arbitrario, e xn+1 = xn + , para todo n N.
2 xn


Se provarmos que a sequ encia e convergente e lim xn = b > 0,
teremos que
entao
 
1 a 1 a
 
b = lim xn+1 = lim xn + = b+ .
2 xn 2 b
a
Logo, b = , ou seja, b2 = a.
b


Instituto de Matematica - UFF 93

Analise na Reta

Para isto, precisamos provar antes o seguinte lema:


r
1 a a
 
Lema 5.3 Para todo x > 0, tem-se x+ > .
2 x 2

Prova.
r
1 a a a 2 a a2
 
x+ > x + > x2 + 2a + 2 > 2a, o que e
2 x 2 x 2 x
a2
verdadeiro, pois x2 0 e 0.
x2
r
a a
Pelo lema, temos que xn > , para todo n > 1. Portanto, xn xn+1 > ,
2 2
a
ou seja, < 1 para todo n > 1 .
2 xn xn+1

1
|xn+2 xn+1 |
Afirmacao: |xn+1 xn | para todo n > 1.
2
De fato, como
   
1 a 1 a
xn+2 xn+1 = xn+1 + xn +
2 xn+1 2 xn
 
1 a 1 1
= (xn+1 xn ) +
2 2 xn+1 xn
 
1 a xn xn+1
= (xn+1 xn ) + ,
2 2 xn+1 xn

temos que

|xn+2 xn+2 | 1 a 1
,
=
|xn+1 xn | 2 2 xn xn+1 2
a
pois 0 < < 1.
2 xn xn+1

Pela observacao
5.1, (xn ) e de Cauchy e, portanto, convergente, e
r
a
lim xn = b > 0, pois xn > , para todo n > 1.
2

6. Limites infinitos

6.1 Dizemos que uma sequ encia


Definicao (xn ) tende para mais infi-
nito, e escrevemos lim xn = +, quando para todo numero
real A > 0
dado, existir n0 N tal que xn > A para todo n > n0 .

94 J. Delgado - K. Frensel
Limites infinitos

Exemplo 6.1 Se xn = n, entao


lim xn = +, pois dado A > 0, existe
n0 N tal que n0 > A. Logo xn = n > A para todo n > n0 .

Exemplo 6.2 Seja a sequ encia


(an ), onde a > 1.
Como a > 1, existe h > 0 tal que a = 1 + h. Dado A > 0, existe n0 N tal
A1
que n0 > . Logo, pela desigualdade de Bernoulli,
h
an = (1 + h)n 1 + nh > 1 + n0 h > A ,
para todo n > n0 .
Logo, lim an = + se a > 1. 

Mais geralmente, uma sequ encia



nao-decrescente (xn ) ou e conver-
gente, se for limitada, ou lim xn = +, se for ilimitada.
De fato, se (xn ) e nao-decrescente
ilimitada, dado A > 0, existe
n0 N tal que xn0 > A. Logo, xn xn0 > A para todo n n0 .

6.1 Se lim xn = +, entao


Observacao (xn ) e ilimitada superiormente,
mas e limitada inferiormente.

6.2 Se lim xn = +, entao


Observacao toda subsequ encia
de (xn )
tende para +.
tambem

lim np = +, pois (1p , 2p , . . . , np , . . .)


Exemplo 6.3 Para todo p N, n
e uma subsequ encia

da sequ encia (1, 2, . . . , n . . .) que tende para + .


Exemplo 6.4 A sequ encia
( p n)nN , para todo p N, tende para +,

pois e crescente e ilimitada superiormente, ja que ( p np )nN = (n)nN e


uma subsequ encia
ilimitada superiormente da sequ encia ( p n)nN .

Exemplo 6.5 A sequ encia


(nn )nN tende para +, pois nn n para
todo n N e a sequ encia
(n) tende para +.

6.2 Dizemos que uma sequ encia


Definicao (xn ) tende para , e es-
crevemos lim xn = , quando para todo A > 0 existir n0 N tal que
xn < A para todo n > n0 .

6.3 lim xn = + lim(xn ) = .


Observacao


Instituto de Matematica - UFF 95

Analise na Reta

6.4 Se lim xn = entao


Observacao (xn ) e ilimitada inferiormente,
mas e limitada superiormente.

Exemplo 6.6 A sequ encia


((1)n n)nN nao
tende para + nem para
, pois ela e ilimitada superiormente e inferiormente.

Exemplo 6.7 A sequ encia


(0, 1, 0, 2, 0, 3, . . .) e ilimitada superiormente
tende para +, pois possui uma sub-
e limitada inferiormente, mas nao

sequ encia tende para + por ser constante.
(x2n1 = 0) que nao

Teorema 6.1 (Operacoes


aritmeticas
com limites infinitos)

(1) Se lim xn = + e a sequ encia (yn ) e limitada inferiormente, entao

lim(xn + yn ) = + .
(2) Se lim xn = + e existe c > 0 tal que yn > c para todo n N, entao

lim(xn yn ) = + .
1
lim xn = 0 lim
(3) Seja xn > 0 para todo n N. Entao = + .
xn


(4) Sejam (xn ) e (yn ) sequ encias de numeros

positivos. Entao:
(a) se existe c > 0 tal que xn > c para todo n N e se lim yn = 0,
xn
lim
entao = + .
yn
xn
(b) se (xn ) e limitada e lim yn = +, entao
lim = 0.
yn

Prova.
(1) Existe b < 0 tal que yn b para todo n N. Dado A > 0, temos
que A b > 0. Logo, existe n0 N tal que xn > A b para todo n > n0 .
Assim, xn + yn > A b + b = A para todo n > n0 e, portanto
lim(xn + yn ) = + .
A
(2) Dado A > 0 existe n0 N tal que xn > para todo n > n0 . Logo,
c
A
xn yn > c = A para todo n > n0 . Portanto, lim xn yn = + .
c
(3) Suponhamos que lim xn = 0 . Dado A > 0, existe n0 N tal que
1 1
0 < xn < para todo n > n0 . Logo, > A para todo n > n0 . Assim,
A xn
1
lim = +.
xn

96 J. Delgado - K. Frensel
Limites infinitos

1
Suponhamos, agora, que lim = + .
xn
1 1
Dado > 0 existe n0 N tal que > para todo n > n0 .
xn

< 0 < xn < para todo n > n0 .


Entao
Logo, lim xn = 0.
c
(4) (a) Dado A > 0 , existe n0 N tal que 0 < yn < .
A
xn c

Entao, > = A para todo n > n0 .
yn c/A
xn
Logo, lim = + .
yn

(b) Seja b > 0 tal que 0 < xn < b para todo n N. Dado > 0, existe
b
n0 N tal que yn > para todo n > n0 .

xn b x
0<
Entao, < = para todo n > n0 e, portanto, lim n = 0 .
yn b/ yn

6.5 e indeterminado, ou seja, se lim xn = + e


Observacao
lim yn = , nada se pode afirmar sobre lim(xn + yn ).

Pode ser que a sequ encia (xn + yn ) seja convergente, tenda para +,
tenha limite algum.
tenda para ou nao

Exemplo 6.8 Se xn = n + a e yn = n , entao


lim xn = + ,
lim yn = e lim(xn + yn ) = a.


Exemplo 6.9 Se xn = lim xn = + e
n + 1 e yn = n, entao
lim yn = , mas

( n + 1 n)( n + 1 + n)
lim (xn + yn ) = lim ( n + 1 n) = lim
n n n n+1+ n
1
= lim = 0.
n n+1+ n

Exemplo 6.10 Se xn = n2 e yn = n, entao


lim xn = +, lim yn =
e lim(xn + yn ) = lim(n2 n) = + , pois n2 n = n(n 1) > n se n 2.
E, portanto, lim(n n2 ) = .


Instituto de Matematica - UFF 97

Analise na Reta

Exemplo 6.11 Se xn = n e yn = (1)n n, entao


lim xn = + e

lim yn = , mas a sequ encia (xn + yn ) = ((1)n ) nao
possui limite
algum.


6.6
Observacao e indeterminado, ou seja, se lim xn = + e

 
xn

lim yn = + , nada se pode dizer sobre o limite da sequ encia .
yn

Pode ser que essa sequ encia
convirja, que tenha limite + ou que nao
tenha limite algum.

Exemplo 6.12 Se xn = n + 1 e yn = n 1, entao


lim xn = lim yn = +,
e
xn n+1 1 + 1/n
lim = lim = lim = 1.
yn n1 1 1/n

Exemplo 6.13 Se xn = n2 e yn = n, entao


lim xn = lim yn = + e
xn
lim = lim n = + .
yn

Exemplo 6.14 Se xn = (2 + (1)n )n e yn = n , entao,


lim xn = + ,
 
xn

lim yn = + , mas a sequ encia = (2 + (1)n ) nao
possui limite.
yn

Exemplo 6.15 Se xn = a n , a > 0 e yn = n , entao


lim xn = +
xn
lim yn = + e lim = lim a = a .
yn

an
Exemplo 6.16 Se a > 1 , entao
lim = + , para todo p N .
np
Como a > 1, a = 1 + h, onde h > 0. Logo, para todo n p,
X n nj j X n j
n   p+1  
n n
a = (1 + h) = 1 h h
j=0
j j=0
j
n(n 1) 2 n(n 1) . . . (n p) p
= 1 + nh + h + ... + h .
2! p!

Da,
an 1 h 1 1 h2
 
+ + 1 + ...
np np np1 2 n np2
1 1 p1 n 1 p
       
p1
+ 1 ... 1 h + 1 ... 1 hp .
(p 1)! n n p! n n

98 J. Delgado - K. Frensel

Series
numericas

Como
   2    
1 h 1 1 h 1 1 p1
lim + p1 + 1 + ... + 1 ... 1 hp1
n np n 2 n np2 (p 1)! n n
   
n 1 p p
+ 1 ... 1 h = + ,
p! n n

an
temos que lim = + , qualquer que seja p N.
n np


Isto significa que as potencias an , a > 1, crescem com n mais rapida-

mente do que qualquer potencia de n de expoente fixo. 

an
Exemplo 6.17 Mas, n
lim = 0, a > 0.
nn
a 1
De fato, seja n0 N tal que < .
n0 2
 n
an
 a n a 1
0< n =
Entao, < ; para todo n n0 .
n n n0 2n

an 1 an
Logo, 0 lim lim = 0 , ou seja, lim = 0.
nn 2n nn

n!
Exemplo 6.18 Para todo numero
real a > 0, tem-se lim = + .
an
n0
De fato, seja n0 N tal que > 2. Logo, para todo n > n0 , temos que
a
n! n ! n +1 n + (n n0 ) n !
n
= n00 0 ... 0 > 0n 2nn0 ,
a a a a a0

n! n0 ! n n n!
ou seja, n
> n
2 . Como lim 2 = +, temos que lim = + .
a (2a) 0 an


Isso significa que n! cresce mais rapido do que an , para a > 0 fixo.


7. Series
numericas

A partir de uma sequ encia


de numeros
reais (an ) formamos uma nova

sequ encia as somas:
(sn ), cujos termos sao
sn = a1 + . . . + an , n N,
X


que chamamos as reduzidas da serie an .
n=1


Instituto de Matematica - UFF 99

Analise na Reta

A parcela an e chamada o nesimo



termo ou termo geral da serie.
Se existe o limite
s = lim sn = lim (a1 + . . . + an ) ,
n n


dizemos que a serie e convergente e que s e a soma da serie.
Escreve-

mos, entao,
X

s= an = a 1 + a2 + . . . + an + . . . .
n=1


Notacao: a
Usaremos tambem
Se a sequ encia converge, dizemos que a serie
das reduzidas nao

notacao
P
an para designar a P

an e divergente ou que diverge.
X

serie an .
n=1
7.1 Toda sequ encia
Observacao (xn ) pode ser considerada como a

sequ encia
das reduzidas de uma serie.
De fato, basta tomar a1 = x1 e an+1 = xn+1 xn , para todo n N, pois,
assim, teremos:
s1 = x1 ,
s2 = a1 + a2 = x1 + x2 x1 = x2 ,
.. ..
. .
sn = x1 + (x2 x1 ) + . . . + (xn xn1 ) = xn .

X


Assim, a serie x1 + (xn+1 xn ) converge se, e so se, a sequ encia
(xn )
n=1


converge. E, neste caso, a soma da serie e igual a lim xn .
P
Teorema 7.1 Se an e uma serie
lim an = 0.
convergente, entao,

Prova.
Seja s = lim sn , onde sn = a1 + . . . + an .
lim sn1 = s. Logo, como an = sn sn1 , temos que
Entao,
lim an = lim(sn sn1 ) = lim sn lim sn1 = 0.

Exemplo 7.1 A recproca do teorema acima e falsa.


X

1 1

De fato, basta considerar a serie
harmonica . Seu termo geral
n n
n=1


tende para zero, mas a serie diverge.

100 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

Com efeito, para todo n 1, temos


1
1 1 1 1 1 1  1 1

s2n = 1 + + + + + + + + ... + + ... +
2 3 4 5 6 7 8 2n1 + 1 2n
1 2 4 2n1 1
> 1 + + + + ... + n = 1 + n ,
2 4 8 2 2


Logo, a subsequ encia
(s2n ) tende a +. Como a sequ encia (sn ) e cres-
cente e ilimitada superiormente, temos que sn +, ou seja, a serie

X

harmonica diverge. 
n=1

X

1 1 1
Como consequencia,

para 0 < r < 1, a serie diverge, pois >
nr n r n
n=1
Lembre que: nr = er log n <
para todo n > 1. elog n = n .

X

Exemplo 7.2 A serie

geometrica an e
n=0

divergente, se |a| 1, pois, neste caso, seu termo geral an nao



tende para zero.
convergente, se |a| < 1, pois, neste caso, a sequ encia
das reduzi-
das e
1 an+1
sn = 1 + a + . . . + an = ,
1a

1 X

1
que tende para
. Isto e, an = , se |a| < 1.
1a 1a
n=0

7.2 Das propriedades aritmeticas


Observacao
dos limites de sequ encias,
resulta que:
P P P
se an e series
bn sao convergentes, entao a serie
(an + bn ) e
P P P
convergente e (an + bn ) = an + bn .
P P P
se an e convergente, entao
a serie
(ran ) e convergente e (ran ) =
P
r an , para todo r R.
P P P
se as series
an e bn convergem, entao a serie
cn cujo termo
X
n X
n1
P P P
geral e cn = ai bn + an bj converge e cn = ( an ) ( bn ).
i=1 j=1


Instituto de Matematica - UFF 101

Analise na Reta

De fato, sejam sn = a1 + . . . + an e tn = b1 + . . . + bn as reduzidas das


P P

series an e bn .
Como sn s e tn t, temos que
P P X
n
( an ) ( bn ) = s t = lim sn tn = lim ai bj .
n n
i,j=1

X
n X
n

Afirmacao: c` = ai bj , para todo n N.
`=1 i,j=1

X
1 X
1
Se n = 1, c` = c1 = a1 b1 = ai bj .
`=1 i,j=1

que
Suponhamos, por inducao,
X X X
n n
! n
!
c` = ai bj .
`=1 i=1 j=1


Entao,

X X X X
n+1 n n
! n
!
c` = c` + cn+1 = ai bj + cn+1
`=1 `=1 i=1 j=1

X X X X
n
! n
! n+1 n
= ai bj + ai bn+1 + an+1 bj
i=1 j=1 i=1 j=1

X X X X
n
! n
! n n
= ai bj + ai bn+1 + an+1 bn+1 + an+1 bj
i=1 j=1 i=1 j=1

X X X
n
! n+1
! n+1
= ai bj + an+1 bj
i=1 j=1 j=1

X X
n+1
! n+1
!
= ai bj .
i=1 j=1

Veremos depois que, em casos especiais,


P P P
( an ) ( bn ) = pn ,
X
n
onde pn = ai bn+1i = a1 bn + a2 bn1 + . . . + an b1 .
i=1

X

1
Exemplo 7.3 A serie
e convergente e sua soma e 1.
n(n + 1)
n=1

102 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

1 1 1
De fato, como =
, a reduzida de ordem n da serie e
n(n + 1) n n+1
1
  1 1 1 1
 1
sn = 1 + + ... + =1 .
2 2 3 n n+1 n+1
P 1
Logo, = lim sn = 1.
n(n + 1)

P
Exemplo 7.4 A serie
(1)n+1 = 1 1 + 1 1 + . . . e divergente, pois
tende para zero. Suas reduzidas de ordem par sao
seu termo geral nao
iguais a um.
iguais a zero e as de ordem mpar sao

X
X

7.3 A serie
Observacao an converge se, e somente se, an
n=1 n=n0

converge, onde n0 N e fixo.



De fato, as reduzidas da primeira serie sn = a1 + . . . + an e as da
sao

segunda serie tn = an0 + an0 +1 . . . + an0 +n1 , ou seja, tn+1 = sn0 +n
sao
sn0 1 . Logo, sn converge se, e somente se, tn converge.

Isto significa que a convergencia



de uma serie quando dela
se mantem
retiramos ou acrescentamos um numero
finito de termos.

P
Teorema 7.2 Seja an 0 para todo n N. A serie
an converge se, e

somente se, a sequ encia das reduzidas e limitada, ou seja, se, e somente
se, existe k > 0 tal que sn = a1 + . . . + an < k para todo n N.

Prova.
Como an 0 para todo n, a sequ encia
(sn ) e monotona

nao-decrescente.
Logo, (sn ) converte se, e somente se, (sn ) e limitada.


Corolario 7.1 (Criterio

de comparacao)
P P
Sejam an e
bn series
de termos nao-negativos. Se existem c > 0
e n0 N tais que an cbn para todo n n0 , entao
a convergencia
de
P P P

bn implica a convergencia de
an , enquanto a divergencia de an
P
acarreta a de bn .

Prova.
Sejam sn0 = an0 + . . . + an e tn0 = bn0 + . . . + bn para todo n n0 .


Instituto de Matematica - UFF 103

Analise na Reta

P

Se a serie bn converge, existe k > 0 tal que b1 + . . . + bn < k
para todo n N. Logo, a sequ encia
crescente (sn0 ) converge, pois sn0 < k
para todo n n0 .
X X


Assim, a serie an converge, e, portanto, an e uma serie
conver-
nn0 n=1

gente.
P

Se a serie
an diverge, a sequ encia (sn ) de suas reduzidas,
tende a . Como sn0 = sn sn0 1 , temos que a sequ encia
(sn0 ) tende a .
P 1
a serie
Entao bn diverge, pois tn tn0 sn0 , para todo n n0 , ja que
c
bn an c para todo n n0 .

X

1
Exemplo 7.5 Se r > 1, a serie
e convergente.
nr
n=1

1
Como os termos
da serie positivos, a sequ encia
sao (sn ) de suas re-
nr
duzidas e crescente.
para provar que (sn ) converge, basta mostrar que (sn ) possui uma
Entao,

subsequ encia limitada.
Para m = 2n 1,
1 1
 1 1 1 1

s2n 1 = 1 + r + r + r + r + r + r + . . .
2 3 4 5 6 7
 
1 1
+ n1 r
+ ... + n r
(2 ) (2 1)
2 4 2n1
< 1+ + + . . . +
2r 4r (2n1 )r
X
n1 
2 i

= ,
2r
i=0

1 1
pois = n1 .
(2n 1)r (2 + 2n1 1)r

2 X 2  n

Como r > 1, temos r < 1. Logo, a serie portanto,
converge e e,
2 2r
n=0

limitada. Assim, sm < c para todo m = 2n 1, ou seja, a subsequ encia



(s2n 1 )nN e limitada.

104 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

Teorema 7.3 (Criterio



de Cauchy para series)
P

Uma serie an e convergente se, e somente se, para cada > 0 dado,
existe n0 N tal que
|an+1 + . . . + an+p | < ,
quaisquer que sejam n > n0 e p N.

Prova.
P

Seja (sn ) a sequ encia
das reduzidas da serie an .
Como sn+p sn = an+1 + . . . + an+p , basta aplicar a` sequ encia
(sn ) o

criterio
de Cauchy para sequ encias. 

P
7.1 Uma serie
Definicao an chama-se absolutamente convergente
P

quando a serie |an | e convergente.

Exemplo 7.6 Toda serie


convergente cujos termos nao
mudam de sinal
e absolutamente convergente.

P
Exemplo 7.7 Se 1 < a < 1, a serie
geometrica
an e absolutamente
convergente.


Mas nem toda serie convergente e absolutamente convergente.

X

(1)n+1
Exemplo 7.8 A serie
e convergente, mas nao
e absoluta-
n
n=1

mente convergente.
Ja provamos que a serie

X (1)n+1 X


1

n
= ,
n
n=1 n=1

P (1)n+1
e divergente. Vamos mostrar agora que a serie
e convergente.
n

Suas reduzidas de ordem par sao:
1 1
  1 1
s2 = 1 ; s4 = 1 + ;...;
2 2 3 4
1
  1 1  1 1

s2n = 1 + + ... + ;...
2 3 4 2n 1 2n


Instituto de Matematica - UFF 105

Analise na Reta

 
1 1
Como
> 0, para todo j > 1, temos que a subsequ encia (s2n )
j1 j
e crescente.
disso, (s2n ) e limitada superiormente.
Alem
Com efeito, existe c > 0 tal que
1 1 1
s2n = + + ... +
21 34 (2n 1) (2n)
1 1
< 1+ 2
+ ... + < c,
3 (2n 1)2
P 1
para todo n N, pois a serie
e convergente e, portanto, limitada.
n2
Logo, existe lim s2n = s 0 .
Suas reduzidas de ordem mpar sao:

1 1
s1 = 1 ; s3 = 1 ;...;
2
1 1 3 1 1

s2n1 = 1 + ... + ;...
2 3 2n 2 2n 1
a subsequ encia
Entao (s2n1 ) e decrescente.
disso, como, para todo n N,
Alem
1 1 1
s2n1 = 1 ...
23 45 (2n 2)(2n 1)
1 1 1
> 1 2
2 ...
2 4 (2n 1)2
 
1 1 1
> 1 1 + 2 + 2 + ... + .
2 3 (2n 1)2
P 1

e a serie e convergente, temos que a subsequ encia
(s2n1 ) con-
n2
verge, pois (s2n1 ) e limitada inferiormente.
Seja s 00 = lim s2n1 .
1
Como s2n+1 s2n = 0, temos que s 0 = s 00 . Logo, a sequ encia

2n + 1
X

(1)n
(sn ) converge, e s = s 0 = s 00 = .
n
n=1

P P
7.2 Se a serie
Definicao an e convergente, mas a serie
|an | e
P
divergente, dizemos que an e condicionalmente convergente.

106 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

Teorema 7.4 Toda serie


absolutamente convergente e convergente.

Prova.
P

Se a serie |an | converge, dado > 0, existe n0 N tal que
|an+1 | + . . . + |an+p | < ,
quaisquer que sejam n > n0 e p N. Logo, como
|an+1 + . . . + an+p | |an+1 | + . . . + |an+p | < ,
P

temos, pelo criterio
de Cauchy para series, que a serie an converge.

P

Corolario 7.2 Seja
bn uma serie convergente com bm 0 para todo
n N.
Se existem k > 0 e n0 N tais que |an | kbn para todo n > n0 , entao
a
P

serie an e absolutamente convergente.

Prova.
Dado > 0, existe n1 N tal que

|bn+1 + . . . + bn+p | = bn+1 + . . . + bn+p < ,
k
quaisquer que sejam n > n1 e p N.
Tome n2 = max{n1 , n0 }. Entao,

|an+1 | + . . . + |an+p | k (bn+1 + . . . + bn+p ) < ,
quaisquer que sejam n > n0 e p N.


Corolario 7.3 Se, para todo n > n0 tem-se |an | kcn , onde 0 < c < 1
P
a serie
e k > 0, entao an e absolutamente convergente.

Prova.
P

Basta aplicar o corolario anterior, ja que a serie

geometrica cn con-
verge se 0 < c < 1.

7.4 Tomando k = 1 no corolario


Observacao anterior, temos que
|an | cn se, e somente se, n |an | c.
p

Mas, se n |an | c < 1 para todo n > n0 , entao


sup{ n |an | | n n1 } c
p p

para todo n1 > n0 .

Logo, lim sup n |an | c < 1.


p


Instituto de Matematica - UFF 107

Analise na Reta

E reciprocamente, se lim sup n |an | < 1, entao


p
existe n0 N e 0 < d < 1
tal que n |an | < d < 1 para todo n > n0 .
p

pelo corolario
De fato, seja 0 < d < 1 tal que lim sup xn < d. Entao, ,
existe n0 N tal que n |an | < d < 1 para todo n > n0 .
p


Corolario 7.4 (Teste da raiz)
P
|an | c < 1 para todo n > n0 , entao
p
Se existe c tal que n
a serie
an
e absolutamente convergente. Ou seja, se lim sup xn < 1, entao
a serie

P
an e absolutamente convergente.

P
|an | < 1, entao
p

Corolario 7.5 Se lim n
a serie
an e absolutamente
convergente.

7.5 Se existe uma infinidade de ndices n para os quais


Observacao
P
|an | 1, entao
p
n
a serie
an e divergente, pois seu termo geral nao

tende para zero. Em particular, isto ocorre quando lim n |an | > 1 ou
p

lim inf n |an | > 1.


p

P
|an | = 1 e lim an = 0, a serie
p
7.6 Se lim
Observacao n
an pode

convergir ou nao.
P1 P 1

Por exemplo, para ambas as series e
temos que lim an = 0 e
n n2
r  2
1 1 1
lim |an | = 1, pois lim
p
n n
n
= 1 e, portanto lim 2
= lim n
= 1.
n n n
P1 P 1

No entanto, a serie
diverge e a serie converge.
n n2

X

Exemplo 7.9 Consideremos a serie
nr an , onde a, r R. Temos
n=1
r r
lim n |nr an | = lim n |a| = |a| lim n n = |a|.
p n

n n


Logo, a serie converge se |a| < 1.
Como |nr an | 1 para todo n N, se |a| 1 e r 0, o termo geral da

serie tende para zero.
nao
Exerccio 13: Determine quando
P r n P r n

a serie n a diverge ou con-

Logo, a serie n a diverge se |a| 1 e r 0.
verge, se |a| = 1 e r < 0.

108 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

an
Se |a| > 1 e r < 0, temos que lim r = +. Logo, neste caso, tambem,

n n
P r n

a serie n a diverge.

Exemplo 7.10 Seja a serie


1+2a+a2 +2a3 +a4 +. . .+2a2n1 +a2n +. . .,
b2n = 2a2n1 e os de ordem mpar sao
cujos termos de ordem par sao
b2n1 = a2n2 .
Se |a| = 1, temos que lim |bn | = +, pois, neste caso, |b2n = 2 e
|b2n1 | = 1. Assim, a serie
diverge se |a| = 1.
|a|
|b2n | = lim = |a| , e
p
2n 2n
Como lim 2 2n
|a|
p

|a|
|b2n1 | = lim |a|2n2 = lim = |a| ,
2n1
p 2n1
p
lim
|a|
2n1
p

converge absolutamente se |a| < 1 e diverge se |a| > 1.


temos que a serie

Portanto, a serie converge (absolutamente) se, e somente se, |a| < 1.

Teorema 7.5 (Teste da razao)



P P
Sejam
an uma serie nulos e
de termos nao
bn uma serie conver-
|a | b
gente com bn > 0 para todo n. Se existe n0 N tal que n+1 n+1
|an | bn
P

para todo n > n0 , entao an e absolutamente convergente.

Prova.

Seja n > n0 . Entao,
|an0 +2 | b |an0 +3 | b |an | b
n0 +2 , n0 +3 , . . . , n .
|an0 +1 | bn0 +1 |an0 +2 | bn0 +2 |an1 | bn1

Multiplicando membro a membro essas desigualdades, obtemos


|an | bn
,
|an0 +1 | bn0 +1

|a |
ou seja, |an | k bn , onde k = n0 +1 . Entao,
pelo corolario

-, a serie
bn0 +1
P
an e absolutamente convergente.

|an+1 |

Corolario 7.6 Se existe uma constante c tal que 0 < c < 1 e c
|an |
P
para todo n n0 , entao
a serie
an e absolutamente convergente.


Instituto de Matematica - UFF 109

Analise na Reta

|an+1 | P
Ou seja, se lim sup
< 1, a serie an converge absolutamente.
|an |

Prova.
P
Basta tomar bn = cn no teorema anterior, pois a serie

geometrica cn
converge se 0 < c < 1.

|an+1 | P

Corolario 7.7 Se lim a serie
< 1 entao an e absolutamente
|an |
convergente.

P
Exemplo 7.11 Seja a serie
nan . Como
|(n + 1)an+1 |
n + 1
lim = lim |a| = |a| ,
|na |n n
P

temos que a serie an converge.
levam ao mesmo resultado, pois,
Neste caso, o teste da raiz e da razao

como ja vimos, lim n nan = |a|.

Exemplo 7.12 Considere a serie



1 + 2a + a2 + 2a3 + a4 + . . . + 2a2n1 + a2n + . . .
|an+1 | |a| |a |
Para n par, = , e, para n mpar n+1 = 2|a|.
|an | 2 |an |

|an+1 |
Logo, lim sup temos que a serie
= 2|a| e, pelo teste da razao, con-
|an |
1
verge se |a| < .
2

|bn | = |a|, onde bn e o termo geral da serie.


p
Mas, como vimos antes, lim n


Logo, pelo teste da raiz, a serie converge se |a| < 1.

Veremos, depois, que o teste da raiz sempre e mais eficaz do que o


pois
da razao,
|an+1 |
|an | lim sup
p
n
lim sup
|an |

|an+1 |
lim n |an | e, mais ainda,
p
e, se existe lim existe tambem
, entao
|an |
esses limites coincidem.

110 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

X

xn
Exemplo 7.13 Seja a serie
, onde x R.
n!
n=0

|x|n+1 n! |x| X

xn
Como n = 0, temos que a serie
e absoluta-
(n + 1)! |x| n+1 n!
n=0

mente convergente para todo x R.

|an+1 |
7.7 Quando lim
Observacao = 1 nada se pode afirmar, ou seja,
|an |
P

a serie an pode convergir ou divergir. Por exemplo,
P1 |an+1 | n+1
a serie

harmonica diverge e lim = lim = 1;
n |an | n

P 1 |an+1 | n+1
 2
a serie
converge e lim = lim = 1.
n2 |an | n

|an+1 | P
7.8 Quando
Observacao 1 para todo n n0 , a serie
an
|an |
tende para zero.
diverge, pois seu termo geral nao
P

Mas, ao contrario se pode concluir que a serie
do teste da raiz, nao an
|an+1 |
diverge apenas pelo fato de se ter 1 para uma infinidade de
|an |
valores de n.
P
Com efeito, se an e uma serie
convergente qualquer e an > 0 para todo
n N, a serie
a1 + a1 + a2 + a2 + . . . + an + an + . . . tambem
e convergente,
0 0
pois s2n = 2sn e s2n1 = 2sn an e, portanto,
0 0
P
lim s2n = lim s2n1 = 2s = 2 an ,
onde sn0 e sn sao as reduzidas de ordem n das series
a1 + a1 + a2 + a2 +
P
. . . + an + an + . . . e an , respectivamente.
Mas, se bn e o termo geral da serie
a1 + a1 + a2 + a2 + . . . + an + an + . . .,
bn+1
temos que = 1 para todo n mpar.
bn

Teorema 7.6 Seja (an ) uma sequ encia


limitada de numeros
reais posi-

tivos. Entao,
an+1 a
lim inf lim inf n an lim sup n an lim sup n+1 .
an an
an+1
Em particular, se existir lim tambem,
, existira, lim n an e os dois limi-
an


Instituto de Matematica - UFF 111

Analise na Reta

iguais.
tes serao

Prova.
Vamos provar que
an+1
lim inf lim inf n an .
an

Suponhamos, por absurdo, que



a = lim inf an+1 an > lim inf n
an = b .
existe c R, tal que b < c < a, ou seja,
Entao,
a
b = lim inf n an < c < lim inf n+1 = a .
an
an+1

Pelo corolario , existe p N tal que > c para todo n p. Assim,
an
ap+1 ap+2 a
>c, > c ,... , n > c ,
ap ap+1 an1

para todo n > p. Multiplicando membro a membro as np desigualdades,


a
obtemos que n > cnp , ou seja, n an > c k para todo n > p, onde
n

ap
ap
k= . Logo,
cp


inf { an+1 , . . . } inf c k, c
n n+1
n
an , n+1
k, . . .

pois,


n n+1 m
inf c k, c k, . . . c k < m am ,


n n+1
para todo m n e n > p. Ou seja, inf c k, c k, . . . e uma cota

inferior do conjunto { n an , n+1 an+1 , . . . }.
Assim, temos que

n
n
an lim inf c k = lim c k = c ,
lim inf n


o que e absurdo, pois estamos supondo que lim inf n an < c.
A desigualdade
an+1
lim sup n
an lim sup
an


prova-se de modo analogo.

Exemplo 7.14 Consideremos a sequ encia


(xn ), onde
x2n1 = an bn1 e x2n = an bn , n N,

112 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

ou seja, x = (a, ab, a2 b, a2 b2 , a3 b2 , . . .), onde a, b R.


xn+1 x
Como = b, se n e mpar, e n+1 = a, se n e par, temos que nao

xn xn
x
existe lim n+1 .
xn

Mas,
1
lim 2n1
x2n1 = lim(an bn1 ) 2n1
n n1
= lim a 2n1 b 2n1
1 1 1 1
= lim a 2 + 2(2n1) b 2 2(2n1)
 1
  1

= a lim a 2(2n1) b lim b 2(2n1)

= ab

2n

lim 2n
x2n = lim an bn = lim a b = a b

Logo, lim n
xn = a b .

Este exemplo mostra que pode existir o limite da raiz sem que exista

o limite da razao.

1 1
Exemplo 7.15 Seja xn =
n
xn = n yn .
. Tome yn = . Entao,
n! n!

Como
yn+1 1 1
lim = lim n! = lim = 0,
yn (n + 1)! n+1

temos que lim n
existe e
yn tambem
y
lim n yn = lim n+1 = 0 .
yn

Logo, lim xn = lim n
yn = 0.

n nn
Exemplo 7.16 Seja xn =
n
e considere yn = n yn = xn .
. Entao,
n! n!

Como
yn+1 (n + 1)n+1 n! (n + 1)(n + 1)n n! 1
 n
= n = n
= 1+ e ,
yn (n + 1)! n n!(n + 1)n n

temos que existe lim n
yn . Logo,


Instituto de Matematica - UFF 113

Analise na Reta

yn+1
lim xn = lim n
yn = lim = e.
yn

Teorema 7.7 (Teorema de Dirichlet)


P
Seja
an uma serie cujas reduzidas sn = a1 + . . . + an formam uma

sequ encia
limitada. Seja (bn ) uma sequ encia
nao-crescente de numeros

P
positivos com lim bn = 0. Entao a serie
an bn e convergente.

Prova.
que, para todo n 2,
Vamos mostrar, primeiro, por inducao,
X
n
a1 b1 + a2 b2 + a3 b3 + . . . + an bn = si1 (bi1 bi ) + sn bn ,
i=2

ou seja,

a1 b1 + a2 b2 + . . . + an bn = a1 (b1 b2 ) + (a1 + a2 )(b2 b3 )


+ (a1 + a2 + a3 )(b3 b4 )
+ . . . + (a1 + . . . + an ) bn .

De fato
Se n = 2, a1 b1 + a2 b2 = a1 (b1 b2 ) + (a1 + a2 )b2 .
Suponhamos que a igualdade e verdadeira para n. Entao,

a1 b1 + a2 b2 + . . . + an bn + an+1 bn+1
X
n
= si1 (bi1 bi ) + sn bn + an+1 bn+1
i=2
Xn
= si1 (bi1 bi ) + sn (bn bn+1 ) + sn bn+1 + an+1 bn+1
i=2
X
n+1
= si1 (bi1 bi ) + sn+1 bn+1 .
i=2


Como a sequ encia (sn ) e limitada, existe k > 0 tal que |sn | k para todo
n N.
Temos tambem que a reduzida de ordem n da serie
de termos nao-
X

negativos (bn1 bn ) e b1 bn+1 , que converge para b1 .
n=2

114 J. Delgado - K. Frensel



Series
numericas

X
X


Logo, a serie sn1 (bn1 bn ) e convergente, pois a serie
(bn1 bn )
n=2 n=2
converge e
|sn1 (bn1 bn )| k(bn1 bn ) , para todo n 2.
X

a serie
Entao an bn e convergente, pois lim sn bn = 0, ou seja, a redu-
n=1

X
n
P
zida
si1 (bi1 bi ) + sn bn de ordem n da serie an bn converge.
i=2


Corolario 7.8 (Criterio
de Abel)
P

Se a serie an e convergente e (bn ) e uma sequ encia

nao-crescente e
P
a serie
limitada inferiormente, entao an bn e convergente.

Prova.

Como a sequ encia (bn ) e nao-crescente
e limitada inferiormente, existe
lim bn = b e b bn para todo n N.
Logo, lim(bn b) = 0 e (bn b) e uma sequ encia

nao-crescente.
P
pelo teorema de Dirichlet, a serie
Entao, an (bn b) e convergente e,
P P

portanto, a serie e convergente, ja que a serie
an bn tambem bn an
converge.


Corolario 7.9 (Criterio
de Leibniz)
P

Se a sequ encia (bn ) e nao-crescente
a serie
e lim bn = 0, entao (1)n bn
e convergente.

Prova.
P

Pelo teorema de Dirichlet, a serie (1)n bn converge, pois as reduzidas
P

da serie (1)n sao
limitadas por 1.

P (1)n
Exemplo 7.17 A serie
e convergente para todo r > 0, pois a
nr
1

sequ encia e decrescente e tende para zero.
nr
P (1)n

Logo, a serie e condicionalmente convergente para 0 < r 1,
nr
P 1
pois ja provamos que a serie
converge quando r 1.
nao
nr


Instituto de Matematica - UFF 115

Analise na Reta

X

cos(nx) X sen(nx)
Exemplo 7.18 Se x 6= 2k , k Z, as series
e ,
n n
n=1

convergentes.
sao
1

Como a sequ encia e decrescente e tende para zero, basta mostrar
n
que as reduzidas sn = cos(x) + cos(2x) + . . . + cos(nx) e tn = sen(x) +
P P

sen(2x) + . . . + sen(nx) das series cos(nx) e sen(nx) sao limitadas.
respectivamente, a parte real e imaginaria
Temos que 1 + sn e tn sao, do
numero
complexo
1 (eix )n+1
1 + eix + . . . + einx = .
1 eix

Logo, como eix =


6 1, pois x 6= 2k, k Z, temos que

1 eix n+1
2
, para todo n N.

1 eix |1 eix |




Ou seja, a sequ encia 1 + eix + . . . + einx nN
e limitada e, portanto, as

sequ encias
de suas partes reais e imaginarias tambem,
sao, limitadas.

P
7.9 Dada uma serie
Observacao an , definimos

an se an > 0
pn =
0 se an 0 .

O numero
pn e chamado parte positiva de an .
Analogamente, definimos a parte negativa de an como sendo o numero


0 se an 0
qn =
a se a < 0 . n n

para todo n N temos pn 0 , qn 0 e


Entao,
an = pn qn ; |an | = pn + qn ; |an | = an + 2qn ; |an | = 2pn an .
P
Se an e absolutamente convergente entao, para todo k N, temos:
X
X
k X
k X
k
|an | = pn + qn .
n=1 n=1 n=1 n=1
P P

Logo, as series pn e convergentes, pois suas reduzidas for-
qn sao

116 J. Delgado - K. Frensel



Aritmetica
de series

X


mam sequ encias
nao-decrescentes limitadas superiormente por |an |.
n=1
P P

E, reciprocamente, se as series pn e convergentes, entao
qn sao a
P

serie an e absolutamente convergente.
P
Mas, se a serie
an e condicionalmente convergente, entao
as series

P P
pn e qn divergem. De fato, se pelo menos uma dessas series con-
P

verge, a serie an tambem converge.
P
Suponha, por exemplo, que a serie qn converge.
P
a serie
Entao, |an | converge, pois
X
k X
k X
k X
X

|an | = an + 2 qn an + 2 qn .
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1
P P

O caso em que a serie
pn converge, prova-se que a serie |an | con-

verge de modo analogo |an | = 2pn an , para todo
usando a relacao
n N.

X

(1)n+1 1 1 1
Exemplo 7.19 Ja sabemos que a serie
= 1 + +. . . e
n 2 3 4
n=1
P
das partes positivas pn =
condicionalmente convergente. Logo, a serie
1 P 1 1
das partes negativas qn = 0 + + 0 + + . . .
1 + 0 + + 0 + . . . e a serie
3 2 4
divergem.

8.
Aritmetica
de series


Vamos investigar, agora, se as propriedades aritmeticas, tais como
associatividade e comutatividade, se estendem das somas finitas para as

series.
P
Associatividade: Dada uma serie
an convergente, ao inserirmos

parenteses
entre seus termos, formamos uma nova serie
cuja sequ encia
(tn ) das reduzidas e uma subsequ encia

da sequ encia (sn ) das reduzidas
P

da serie an .
Como (sn ) e uma sequ encia
o e,
convergente, (tn ) tambem ou seja,


Instituto de Matematica - UFF 117

Analise na Reta

X


a nova serie e convergente e sua soma e igual a s = an .
n=1


Por exemplo, a reduzida tn da serie
(a1 + a2 ) + (a3 + a4 ) + (a5 + a6 ) + . . .
e igual a s2n .
Dissociatividade: Ao dissociarmos os termos de uma serie
conver-
divergente, pois a serie
gente, podemos obter uma serie original pode ser

obtida da nova serie de seus termos. Logo, a sequ encia
por associacao

das reduzidas (sn ) da serie original e uma subsequ encia
das reduzidas

(tn ) da nova serie. Assim, (sn ) pode convergir sem que (tn ) convirja.
P

Por exemplo, dada a serie an convergente, podemos dissociar
a nova serie
seus termos da forma an = an + 1 1. Entao,
a1 + 1 1 + a2 + 1 1 + a3 + 1 1 + . . .
converge para zero.
diverge, pois seu termo geral nao
P

Mas, quando a serie an e absolutamente convergente e dissocia-
mos seus termos como somas finitas an = a1n + . . . + akn de parcelas com

o mesmo sinal, a nova serie obtida converge e converge para a mesma
soma.
Suponhamos, primeiro, que an 0 para todo n N. Se escre-
vermos cada an como uma soma finita de numeros

nao-negativos, obte-
P

mos uma nova serie bn , com bn 0, cuja sequ encia
das reduzidas
(tn ) e uma sequ encia

nao-decrescente,
que possui como subsequ encia a
P

sequ encia
(sn ) das reduzidas da serie an .

Como a subsequ encia (sn ) e limitada superiormente, por ser conver-
(tn ) e,
gente, entao tambem,
limitada superiormente. Logo, (tn ) converge

e converge para o mesmo limite da subsequ encia (sn ). Ou seja, a nova
P P P

serie bn converge e tem soma bn = an .
P

Seja, agora, uma serie an absolutamente convergente.
respectivamente, a parte positiva e a parte nega-
Se pn e qn sao,
P P

tiva de an , temos que as series pn e todos os termos nao-
qn tem
convergentes, e
negativos, sao
P P P
an = pn qn .

118 J. Delgado - K. Frensel



Aritmetica
de series

dos an em somas finitas de parcelas com


Como toda dissociacao
P P
em
o mesmo sinal determina uma dissociacao pn e outra em qn ,
mantem
temos, pelo visto acima, que esta dissociacao a convergencia
e
P P

o valor da soma das series pn e qn .
P

Logo, a nova serie e convergente e tem a mesma soma que an .

P P
Exemplo 8.1 Sejam an e
bn series convergentes com somas s e
P
t, respectivamente. Ja sabemos que a serie
(an + bn ) = (a1 + b1 ) +
(a2 + b2 ) + . . . converge para s + t.

Vamos provar que a serie
a1 + b1 + a2 + b2 + . . ., obtida pela dissociacao
P

dos termos da serie (an + bn ) converge e sua soma e s + t.
nao
Observamos primeiro, que esta afirmacao decorre do provado acima,
P P
estamos supondo que as series
pois nao an e bn sejam absoluta-
mente convergentes e nem que os seus termos an e bn tenham o mesmo
sinal.
P P

Sejam sn e tn as reduzidas das series an e bn respectivamente.
a serie
Entao, a1 +b1 +a2 +b2 +a3 +b3 +. . . tem como reduzidas de ordem
par r2n = sn +tn e como reduzidas de ordem mpar r2n1 = sn1 +tn1 +an .

Logo, lim rn = s + t , ou seja, a serie a1 + b1 + a2 + b2 + . . . e convergente
e tem soma s + t.

P
Comutatividade: Dada uma serie
an , mudar a ordem de seus termos
: N N para formar uma nova serie
significa considerar uma bijecao
P
bn , cujo termo geral e bn = a(n) , para todo n N.

P
8.1 Uma serie
Definicao an e comutativamente convergente quando,
P
: N N, a serie
para toda bijecao bn , cujo termo geral e bn = a(n) ,
P P
e convergente e an = bn .

X

(1)n+1 1 1 1
Exemplo 8.2 A serie
= 1 + + . . . e convergente,
n 2 3 4
n=1
Provaremos depois que a soma s
e absolutamente convergente.
mas nao
da serie do exemplo 8.2 e igual a
de Taylor da
log 2 , usando a serie
X

(1)n+1 1 logaritmo.
funcao
Seja s =
. Multiplicando os termos da serie por , obtemos
n 2
n=1


Instituto de Matematica - UFF 119

Analise na Reta

s X

(1)n+1 1 1 1 1 1
= = + + ...
2 2n 2 4 6 8 10
n=1


Entao,
s 1 1 1 1 1
=0+ +0 +0+ +0 +0+ ...,
2 2 4 6 8 10

pois, se incluirmos zeros entre os termos de uma serie, alteramos a
nao

sua convergencia e nem a sua soma.
P P
De fato, se sn e tn sao
as reduzidas da serie

an e da serie bn ,
obtida acrescentando zeros entre os seus termos an , temos que, dado
n0 N, existe m0 N tal que tm0 = sn0 .
Assim, se |sn s| < para todo n n0 , entao
|tn s| < para todo
m m0 , existe n n0 tal que m = n.
somando termo a termo as series
Entao,
s 1 1 1 1 1
=0+ +0 +0+ +0 +0+ ... ,
2 2 4 6 8 10
e
1 1 1 1 1 1 1 1 1
s=1 + + + + + ...,
2 3 4 5 6 7 8 9 10

obtemos a serie
3s 1 1 1 1 1 1 1 1
=1+0+ + +0+ + + + ...
2 3 2 5 7 4 9 11 6

Pela propriedade associativa, pois retiramos os termos zeros de uma serie

sem alterar sua convergencia nem a sua soma. Logo,
3s 1 1 1 1 1 1 1 1
=1+ + + + + + ...
2 3 2 5 7 4 9 11 6
P
Precisamos ainda provar que os termos da serie
(an + bn ), onde
P 1 1 1
an = 0 + + 0 + 0 + + . . .
2 4 6
e
P 1 1 1 1 1
bn = 1 + + + ...
2 3 4 5 6
P
os termos da serie
sao bn , depois de eliminarmos os zeros, so que
numa ordem diferente!
(1)n+1 (1)n+1
De fato, como a2n1 = 0, a2n = e bn = , temos:
2n n
a2n1 + b2n1 = b2n1

120 J. Delgado - K. Frensel



Aritmetica
de series

e
(1)n+1 (1)2n+1 (1)n+1 + (1)2n+1
a2n + b2n = + = .
2n n 2n
2 (1)n+1
Logo, a2n + b2n = = se n e par, e a2n + b2n = 0 se n e mpar.
2n n
Provamos, assim, que os termos da serie

1 1 1 1 1 1 1 1
1+ + + + + + ...
3 2 5 7 4 9 11 6
3s
cuja soma e os mesmos da serie
sao original, cuja soma e s, apenas
2
com uma mudanca de ordem.
dos termos de uma serie
Assim, uma reordenacao convergente pode al-
terar o valor da sua soma!

Teorema 8.1 Toda serie


absolutamente convergente e comutativamente
convergente.

Prova.
P
Suponhamos, primeiro que an e uma serie
convergente com an 0
para todo n.
Seja : N N uma bijecao
e tomemos bn = a(n) .
P P P

Vamos provar que a serie bn e convergente e que bn = an .
Sejam sn = a1 + . . . + an e tn = a(1) + . . . + a(n) as reduzidas de ordem
P P

n das series an e bn , respectivamente.

1: Para cada n N existe m N tal que tn sm .


Afirmacao
De fato, seja m = max {(1), . . . , (n)}. Entao

{(1), . . . , (n)} {1, 2, . . . , m} .
Logo,
X
n X
m
tn = a(i) aj = sm .
n=1 i=1

2: Para cada m N, existe n N tal que sm tn .


Afirmacao
X
m X
m
De fato, dado m N, temos que sm = ai = b1 (i) .
i=1 i=1


Instituto de Matematica - UFF 121

Analise na Reta


Seja n = max 1 (1), . . . , 1 (m) . Entao,

 1
(1), . . . , 1 (n) {1, 2, . . . , n} .

Logo,
X
m X
n
sm = b1 (i) = tn .
i=1 j=1

P
3: lim sn = lim tn = s , ou seja,
Afirmacao bn e convergente e
P P
bn = an .
De fato, como s = lim sm = sup sm e t = lim tn = sup tn , temos que
mN nN

sm s para todo m N e tn t, para todo n N.


(1) e (2), tn s para todo n N e sm t para
Assim, pelas afirmacoes
todo m N.
Portanto, t s e s t, ou seja, s = t.
P
No caso em que a serie
an e absolutamente convergente, temos que
P P P
an = pn qn , onde pn e qn sao a parte positiva e a parte negativa
de an , respectivamente.

4: Toda reordenacao
Afirmacao (bn ) dos termos an da serie
original da
(un ) para os pn e uma reordenacao
lugar a uma reordenacao (vn ) para
os qn , de tal modo que cada un e a parte positiva e cada vn e a parte
negativa de bn .
De fato, se bn = a(n) , sendo : N N uma bijecao,
temos que:

un = a(n) = p(n) = bn , se an = bn < 0
v = 0 = q , se a = b 0.
n (n) (n) n

P P
Pelo provado anteriormente, as series
un e vn convergem, sendo
P P P P
un = pn e vn = qn .
P P P P

Logo, a serie bn e absolutamente convergente e bn = un vn .
P P P P P P
disso,
Alem an = pn qn = un vn = bn .

P
Teorema 8.2 Seja condicionalmente convergente. Dado
an uma serie
P
qualquer numero
(bn ) dos termos de an ,
real c, existe uma reordenacao
P
de modo que bn = c.

122 J. Delgado - K. Frensel



Aritmetica
de series

Prova.
sejam pn a parte positiva e qn a parte negativa de an . Como a serie
P
an e condicionalmente convergente, temos que lim an = 0, e, portanto,
P P
lim pn = lim qn = 0, mas pn = + e qn = +.
P

Vamos reordenar os termos da serie an da seguinte maneira:
Sejam
n1 N o menor ndice tal que p1 + . . . + pn1 > c .
n2 N o menor ndice tal que
p1 + . . . + pn1 q1 . . . qn2 < c .
n3 N o menor ndice tal que
p1 + . . . + pn1 q1 . . . qn2 + pn1 +1 + . . . + pn3 > c .
n4 N o menor ndice tal que
p1 + . . . + pn1 q1 . . . qn2 + pn1 +1 + . . . + pn3 qn2 +1 . . . qn4 < c .
P P
Esses ndices existem, pois pn = + e qn = +.
da serie
Prosseguindo desta maneira, obtemos uma reordenacao tal que

as reduzidas tn da nova serie tendem para c.
De fato, para todo i 3 mpar, temos
X
ni X
ni+1
X
ni X
ni1
tni +ni+1 = pj q` < c < pj q` = tni1 +ni ,
j=1 `=1 j=1 `=1

0 < tni1 +ni c < pni , e 0 < c tni +ni+1 < qni+1 ,

X
ni X
ni1
pois ni e o menor inteiro tal que pn q` < c e ni+1 e o menor
j=1 `=1

X
ni X
ni1
inteiro tal que pj q` > c.
j=1 `=1

Sendo lim pni = lim qni+1 = 0, temos que lim tni +ni+1 = lim tni1 +ni = 0 .
disso, dado n N, existe i mpar, tal que
Alem
ni1 + ni < n < ni + ni+1 = tni +ni+1 tn tni1 +ni ,
ou
ni + ni+1 < n < ni+1 + ni+2 = tni +ni+1 tn tni+1 +ni+2 .

Logo, lim tn = c, ou seja, a nova serie tem soma c.


Instituto de Matematica - UFF 123

Analise na Reta

P
8.1 Podemos reordenar uma serie
Observacao an condicionalmente

convergente de modo que a serie reordenada tenha soma + ou .
De fato, sejam
n1 N tal que p1 + . . . + pn1 > 1 + q1 ,
n2 N tal que n2 > n1 e
p1 + . . . + pn1 q1 + pn1 +1 + . . . + pn2 > 2 + q2 ,
n3 N tal que n3 > n2 e
p1 + . . . + pn1 q1 + pn1 +1 + . . . + pn2 q2 + pn2 +1 + . . . + pn3 > 3 + q3 .
P
Prosseguindo desta maneira, obtemos uma reordenacao da serie
an ,

de modo que as reduzidas tn da nova serie satisfazem:
tni +(i1) > i + qi > i e tni +i > i , para todo i N .

disso, se n ni + (i 1), existe j i tal que n = nj + (j 1) ou


Alem
n = nj + j ou nj + j < n < nj+1 + j.
Logo, tn > j i, pois tnj+1 +j = tnj +j + pnj +1 + pnj+1 .

Como, dado A > 0, existe i0 N, tal que i0 > A, temos que tn > i0 > A
para todo n ni0 +(i0 1)


Portanto, as reduzidas da nova serie tendem para +.
P
dos termos da serie
Para provar que existe uma reordenacao an de

modo que a nova serie tenha soma , basta trocar pi por qi no argu-
mento acima.

P

Corolario 8.1 Uma serie
an e absolutamente convergente se, e so-
mente se, e comutativamente convergente.

X X
Teorema 8.3 Se an e series
bn sao absolutamente convergen-
n0 n0


tes, entao
P P P
( an ) ( bn ) = cn ,
onde cn = a0 bn + a1 bn1 + . . . + an b0 para todo n 0.

Prova.
Ja sabemos que, para todo n 0,

124 J. Delgado - K. Frensel


X X X
n
! n
! n
ai bj = ai bj = x0 + x1 + . . . + xn ,
i=0 j=0 i,j=0

onde
X
n X
n1
xn = ai bn + an bj
i=0 j=0

= a0 bn + a1 bn + . . . + an bn + an bn 1 + . . . + an b0 .
P P P
E, portanto, ( an ) ( bn ) = xn .
P
dos termos xn , obtemos a serie
Pela dissociacao ai bj , cujos termos
ordenados de modo que as parcelas de xn precedem as de xn + 1.
sao
P
Para cada k 0, a reduzida de ordem (k + 1)2 da serie
|ai bj | e
X X X X X
k k
! k
! ! !
|ai | |bj | = |ai | |bj | |an | |bn | ,
i,j=0 i=0 j=0 n0 n0
P

ou seja, a subsequ encia das reduzidas de ordem (k + 1)2 da serie
|ai bj |
e limitada.
P

Logo, a sequ encia
das reduzidas da serie |ai bj | e convergente, por ser

nao-decrescente e limitada, ja que possui uma subsequ encia
limitada.
P

Assim, a serie ai bj e absolutamente convergente.
P
Reordenando e depois associando os termos da serie ai bj , obtemos a
P X

nova serie cn , onde cn = a0 bn + . . . + an b0 = ai bj .
i+j=n
P

Como a serie ai bj e absolutamente convergente, temos que
X X X X X
! !
an bn = xn = ai bj = cn .
n0 n0 n0 n0


Instituto de Matematica - UFF 125
126 J. Delgado - K. Frensel
Conjuntos abertos

Parte 4

Topologia da reta


Nesta parte estudaremos as propriedades topologicas do conjunto
dos numeros
reais, de modo a estabelecer os conceitos de limite e conti-
reais de variavel
nuidade de funcoes real.

1. Conjuntos abertos

1.1 Sejam X R e x X. Dizemos que x e um ponto interior


Definicao
de X quando existe um intervalo aberto (a, b) tal que x (a, b) X.

Isto significa que todos os pontos suficientemente proximos de x ainda
pertencem ao conjunto X.

1.1 x e um ponto interior do conjunto X se, e so se, existe


Observacao
> 0 tal que (x , x + ) X.
De fato, se x (a, b) X, tome = min{x a, b x} > 0.
a x < x + b, ou seja, (x , x + ) (a, b). Logo,
Entao,
(x , x + ) X.

Fig. 1: Intervalo centrado em x de raio contido em X.

1.2 x e um ponto interior de X se, e so se, existe > 0 tal


Observacao
que |y x| < = y X.


Instituto de Matematica - UFF 127

Analise na Reta

De fato,
|y x| < < y x < x < y < x + y (x , x + ).

1.2 O interior do conjunto X, representado por int X, e o con-


Definicao
junto dos pontos x X que sao
interiores a X.

1.3
Observacao
int X X.
X Y entao
int X int Y.

Se int X 6= , X contem
um intervalo aberto, sendo, portanto, infinito

nao-enumer
avel.
Logo, int X = , se X e finito ou infinito enumeravel.

Em particular int N = int Z = int Q = .


O conjunto R Q dos numeros

irracionais, apesar de ser infinito nao-

enumeravel, possui interior vazio, pois todo intervalo aberto contem
tambem
um numero
racional.

Exemplo 1.1 Se X = (a, b) ou X = (, b) ou X = (a, +), entao



int X = X.
De fato, no primeiro caso, para todo x X, temos x (a, b) X. No
segundo caso, dado x X, temos x (x 1, b) X, e, no terceiro caso,
dado x X, temos x (a, x + 1) X.
Logo, X int X, ou seja, X = int X.

Exemplo 1.2 Sejam X = [c, d], Y = [c, +) e Z = (, d]. Entao,



int X = (c, d) , int Y = (c, +) , int Z = (, d) .
De fato, se x (c, d), temos que x (c, d) X. Logo, (c, d) int X.
disso, como para todo intervalo aberto (a, b) contendo c, (a, c) 6 X,
Alem
temos que c 6 int X.
Do mesmo modo, d 6 int X, pois para todo intervalo aberto (a, b) que
d, temos que (d, b) 6 X. Entao,
contem int X (c, d). Logo, int X = (c, d).

Analogamente, podemos provar os outros casos e, tambem, que
int(c, d] = int[c, d) = (c, d).

128 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos abertos

1.3 Dizemos que um subconjunto A R e um conjunto aberto


Definicao
interiores, isto e,
quando todos os seus pontos sao quando int A = A.

Assim, A R e aberto se, e somente se, para cada x A existe um


intervalo aberto (a, b) tal que x (a, b) A.

Exemplo 1.3 O conjunto vazio e aberto, pois um conjunto X so deixa


esta em seu interior.
de ser aberto se existir algum ponto de X que nao

Exemplo 1.4 A reta R e um conjunto aberto.

Exemplo 1.5 Um intervalo e um conjunto aberto se, e so se, e um in-


tervalo aberto. Ou seja, os intervalos da forma (a, b), (a, +), (, b)
os unicos
sao conjuntos abertos (ver exemplo
tipos de intervalos que sao
1.2).

Exemplo 1.6 Todo conjunto aberto nao-vazio


e nao-enumer

avel.
Em particular, todos os subconjuntos de Q e todos os subconjuntos finitos
sao
de R nao abertos.

Exemplo 1.7 Nenhum subconjunto do conjunto dos numeros


irracio-
nais e aberto, pois todo intervalo aberto contem
um numero
racional.

Teorema 1.1 A intersecao


de um numero
finito de conjuntos abertos e
um conjunto aberto.

Prova.
Sejam A1 , . . . , An R conjuntos abertos e seja
A = A1 . . . An .
Se x A, entao
x Ai para todo i = 1, . . . , n.

Logo, para cada i = 1, . . . , n existe um intervalo aberto (ai , bi ) tal que


x (ai , bi ) Ai .
Sejam a = max{a1 , . . . , an } e b = min{b1 , . . . , bn }.
Como para todo i = 1, . . . , n ai < x < bi , temos que ai a < x < b bi .
Ou seja x (a, b) (ai , bi ) Ai para todo i = 1, . . . , n.
Logo, x (a, b) A.


Instituto de Matematica - UFF 129

Analise na Reta

Teorema 1.2 Se (A ) L e uma famlia arbitraria


de subconjuntos
a reuniao:
abertos na reta R, entao
[
A= A
L

e um conjunto aberto.

Prova.
S
Se x A = L existe 0 L tal que x A0 .
A , entao

Como A0 e aberto, existe um intervalo aberto (a, b) tal que


x (a, b) A0 .
Logo, x (a, b) A, pois A0 A.

1.4 Se (a1 , b1 ) (a2 , b2 ) 6= , entao


Observacao
(a1 , b1 ) (a2 , b2 ) = (a, b),
onde a = max{a1 , a2 } e b = min{b1 , b2 }.
De fato, como existe x (a1 , b1 ) (a2 , b2 ), temos
a1 < x < b1 e a2 < x < b2 .
Logo, a1 < b1 , a1 < b2 e a2 < b1 , a2 < b2 .
a = max{a1 , a2 } < b = min{b1 , b2 }, ou seja, (a, b) e realmente um
Entao,
intervalo.
y > a1 e y > a2 , e se y < b, entao
Se y > a, entao y < b1 e y < b2 .

Logo, se y (a, b), entao


y (a1 , b1 ) (a2 , b2 ).

E, reciprocamente, se y (a1 , b1 ) (a2 , b2 ), entao


y > a1 , y > a2 e
y < b1 , y < b2 . Logo, a < y < b, ou seja y (a, b) .

1.5 A intersecao
Observacao de uma infinidade de conjuntos abertos
ser um conjunto aberto.
pode nao
 1 1
Por exemplo, considere, para cada n N, o conjunto aberto An = ,
n n
T
e seja A = nN An .

A = {0} e, portanto, A nao


Entao, e aberto.

De fato, como 0 An para todo n N, temos que 0 A.


1
Seja, agora, x 6= 0. Como |x| > 0, existe n0 N tal que 0 < < |x|, ou
n0

130 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos abertos

 
1 1
seja, x 6 An0 = , .
n0 n0

Logo, se x 6= 0, entao
x 6 A.

Exemplo 1.8 Mais geralmente, se a < b, entao




1 1
\ 
A= a ,b + = [a, b] .
n n
n=1

1 1
De fato, se x [a, b], entao
a a x b < b + para todo n N,
n n

1 1
\ 
ou seja, x a ,b + . Assim [a, b] A.
n n
n=1

1 1
Se x > b, existe n0 N tal que
< x b, ou seja, x > b + . Entao
n0 n0
  
1 1 1 1
\ 
x 6 a ,b + e, portanto, x 6 a ,b + .
n0 n0 n n
n=1

1

De modo analogo, se x < a, existe n0 N tal que < a x, ou seja,
n0
 
1 1 1
x < a . Logo, x 6 a , a + e, portanto, x 6 A.
n0 n0 n0
 
1 1 1 1
\  \ 

Entao, a ,b + [a, b]. Logo, a ,b + = [a, b].
n n n n
n=1 n=1

Exemplo 1.9 Seja X = {x1 , . . . , xn } um conjunto finito de numeros


reais,
com x1 < x2 < . . . < xn .
RX = (, x1 )(x1 , x2 ). . .(xn1 , xn )(xn , +) e um conjunto
Entao,
aberto.
Ou seja, o complementar de um conjunto finito de numeros
reais e um
conjunto aberto.

Exemplo 1.10 O complementar RZ do conjunto dos numeros


inteiros
e aberto, pois
[
RZ= (n, n + 1)
nZ

e uma reuniao
de conjuntos abertos.


Instituto de Matematica - UFF 131

Analise na Reta

1.6 Todo conjunto aberto A R e uniao


Observacao de intervalos
abertos.
De fato, para todo x A existe um intervalo aberto Ix tal que x Ix A.
Logo,
[ [
A= {x} Ix A ,
xA xA
[
ou seja, A = Ix .
aA

Lema 1.1 Seja (I )L uma famlia de intervalos abertos, todos con-


tendo o ponto p R.
[
I=
Entao, I e um intervalo aberto.
L

Prova.
Para cada L, seja I = (a , b ). Entao,
a < b quaisquer que se-
jam , L, pois a < p < b .
Sejam a = inf{a | L} e b = sup{b | L}.
a a < p < b b, ou seja, a < b.
Entao,
Pode, ainda, ocorrer que seja a = ou b = +, ou seja, pode ocorrer
que o conjunto {a | L} seja ilimitado inferiormente ou que o conjunto
{b | L} seja ilimitado superiormente.
[
Afirmacao: (a, b) = I .
L
[
Como a a < b b para todo L, temos que I (a, b).
L

Suponhamos que x (a, b).


como a = inf{a | L} e b = sup{b | L}, existem 0 , 0 L
Entao,
tais que a0 < x < b0 .
[
x (a0 , b0 )
Se x < b0 , entao I . Se x b0 , entao
a0 < b0
L
[ [
x < b0 , ou seja, x (a0 , b0 ) I . Logo, (a, b) I . 
L L

132 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos abertos

Teorema 1.3 (Estrutura dos intervalos da reta)



Todo subconjunto aberto nao-vazio A R se exprime, de modo unico,

enumeravel
como uma reuniao de intervalos abertos dois a dois disjuntos.

Prova.
Para cada x A, seja Ix a reuniao
de todos os intervalos abertos que
x e estao
contem contidos em A. Cada Ix , pelo lema anterior, e um inter-
valo aberto tal que x Ix A.
Se I e um intervalo aberto qualquer que contem
x e esta contido em A,
I Ix . Isto e,
entao, Ix e o maior intervalo aberto que contem
x e esta
contido em A.
1: Se x, y A, entao
Afirmacao Ix = Iy ou Ix Iy = .

Suponhamos que existe z Ix Iy , ou seja, Ix Iy 6= . Entao,


pelo
lema anterior, I = Ix Iy e um intervalo aberto contido em A que contem

os pontos x e y. Logo, I Ix e I Iy . Mas, como I Ix e I Iy , temos
que I = Ix = Iy .
[
Existe, portanto, um subconjunto L A, tal que A = Ix e Ix Iy =
xL

se x, y L e x 6= y.
[
2: Se A =
Afirmacao J e uma uniao
de intervalos abertos dois a
L

L e enumeravel.
dois disjuntos, entao

Para cada L, seja r() J Q.


Como J J 0 = se 6= 0 , temos que r() 6= r( 0 ) se 6= 0 .

Ou seja, a funcao
r : L Q
7 r()

e injetiva. Logo, L e enumeravel,


pois Q e enumeravel.

Unicidade
[
Seja A = intervalos abertos dois a
Jm , onde os Jm = (am , bm ) sao
mN

dois disjuntos.


Instituto de Matematica - UFF 133

Analise na Reta

3: am e bm nao
Afirmacao pertencem a A.

De fato, se am A, existiria p 6= m tal que am Jp = (ap , bp ). Entao,



pondo b = min{bm , bp }, teramos que (am , b) Jm Jp o que e absurdo,
pois Im Ip = .

De modo analogo, podemos provar que bm 6 A.

4: Se x Jm e x I A, onde I = (a, b) e um intervalo


Afirmacao
I Jm . Ou seja, Im e a reuniao
aberto, entao de todos os intervalos
abertos contidos em A e contendo x, para todo x Jm , ou melhor, Im = Ix
x, onde x Jm .
e o maior intervalo aberto contido em A que contem
De fato, am < a < b < bm , pois se a am (ver figura 2) ou bm b
(ver figura 3), teramos, respectivamente, que am A ou bm A, o que e
absurdo.

Fig. 2: a am .

Fig. 3: bm b.


Corolario 1.1 Seja I um intervalo aberto. Se I = A B, onde A e B
conjuntos abertos disjuntos, entao
sao um desses conjuntos e igual a I e
o outro e vazio.

Prova.
Se A 6= e B 6= , as decomposicoes
de A e B em intervalos aber-
de I com pelo menos
tos disjuntos dariam origem a uma decomposicao
dois intervalos, o que e absurdo, pela unicidade da decomposicao,
ja que
I e um intervalo aberto.

2. Conjuntos fechados

2.1 Dizemos que um ponto a R e aderente a um conjunto


Definicao
X R quando a e limite de uma sequ encia
de pontos xn A.

134 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos fechados

2.1
Observacao
Todo ponto a X e aderente a X.

Basta tomar a sequ encia constante xn = a, n N.
Mas a R pode ser aderente a X sem pertencer a X.
1
Por exemplo, 0 e aderente ao conjunto X = (0, +), pois X, para todo
n
1
nNe 0.
n

2.2 Todo valor de aderencia


Observacao
de uma sequ encia (xn ) e um
ponto aderente ao conjunto X = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .}. Mas a recproca nao

e verdadeira. Por exemplo, se xn a e (xn ) nao
e uma sequ encia

a e o unico
constante, entao
valor de aderencia
da sequ encia, mas todos
pontos aderentes a X.
os pontos xn , por pertencerem a X, sao

Teorema 2.1 Um ponto a R e aderente a um conjunto X R se, e so


se, (a , a + ) X 6= para todo > 0.

Prova.

(=) Seja (xn ) uma sequ encia de pontos de X tal que xn a.
dado > 0, existe n0 N tal que xn (a , a + ) para todo
Entao,
n > n0 .
Assim, (a , a + ) X 6= para todo > 0.
1 1
 
(=) Para cada n N, seja xn X a , a + (xn ) e uma
. Entao
n n
1

sequ encia de pontos de X tal que xn a, pois |xn a| < para todo
n
1
n N, e 0.
n


Corolario 2.1 Um ponto a R e aderente a um conjunto X R se, e
so se, I X 6= para todo intervalo aberto I contendo a.

Prova.
Basta observar que para todo intervalo aberto contendo a existe > 0
tal que (a , a + ) I.


Instituto de Matematica - UFF 135

Analise na Reta


Corolario 2.2 Sejam X R um conjunto limitado inferiormente e Y R
a = inf X e aderente a X e
um conjunto limitado superiormente. Entao,
b = sup Y e aderente a Y.

Prova.
Dado > 0, existem x X e y Y tais que a x < a + e b < y b.
Logo, (a , a + ) X 6= e (b , b + ) Y = .

2.2 O fecho do conjunto X R e o conjunto X formado pelos


Definicao
pontos aderentes a X.

2.3
Observacao
X X.
Se X Y = X Y .

2.3 Dizemos que um conjunto X R e fechado quando


Definicao
X = X, ou seja, quando todo ponto aderente a X pertence a X.

Assim, X R e fechado se, e so se, para toda sequ encia


conver-
gente (xn ) de pontos de X tem-se lim xn = a X.

2.4 Se X R e limitado, fechado e nao-vazio,


Observacao sup X
entao
e inf X pertencem a X.

Exemplo 2.1 O fecho do intervalo aberto (a, b) e o intervalo fechado


[a, b].
1 1
De fato, a, b (a, b), pois a + , b (a, b), para n suficientemente
n n
1 1
grande, e a + a, b b. Logo, [a, b] (a, b).
n n
Por outro lado, se (xn ) e uma sequ encia
de pontos do intervalo (a, b) que
converge para c (a, b), entao
a c b pois a < xn < b para todo
n N. Logo, (a, b) [a, b]. 

2.5
Observacao
De modo analogo,
podemos provar que

136 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos fechados

[a, b) = [a, b] ; (a, b] = [a, b] ;


[a, b] = [a, b] ; (a, +) = [a, +) ;
[a, +) = [a, +) ; (+, b) = (+, b] ;
(, b] = (, b] e (, +) = (, +) = R .

Assim, os intervalos fechados [a, b], (, b] e [a, +) sao


conjuntos
o e.
fechados e R tambem

Em particular, se a = b, o conjunto [a, b] = [a, a] = {a} e um conjunto



fechado. Ou seja, todo conjunto unitario e fechado.

Exemplo 2.2 Q = R Q = R, pois todo intervalo da reta contem


numeros

sao
racionais e irracionais. Em particular, Q e R Q nao conjuntos fecha-
dos.

Teorema 2.2 Um conjunto F R e fechado se, e somente se, seu com-


plementar R F e aberto.

Prova.
De fato, F e fechado

todo ponto aderente a F pertence a F


se a R F entao
a nao
e aderente a F
se a R F entao
existe um intervalo aberto I tal que
aIeIF=
se a R F entao
existe um intervalo aberto I tal que
aIeIRF
se a R F entao
a pertence ao interior de R F
R F e aberto.


Corolario 2.3 (a) R e o conjunto vazio sao
fechados.
F1 . . . Fn e fechado.
conjuntos fechados, entao
(b) Se F1 , . . . , Fn sao
(c) Se (F )L e uma famlia qualquer de conjuntos fechados, entao
a
\
F=
intersecao F e um conjunto fechado.
L


Instituto de Matematica - UFF 137

Analise na Reta

Prova.
conjuntos abertos, temos que
(a) Como R R = e R = R sao
conjuntos fechados.
R e sao
n
\
(b) Como R (F1 . . . Fn ) = (R Fi ) e um conjunto aberto, pois cada
i=1

R Fi , i = 1, . . . , n, e aberto, temos que F1 . . . Fn e fechado.


\ [
(c) Como R F = (R F ) e um conjunto aberto, por ser a reuniao

L L
\
dos conjuntos abertos da famlia (R F )L , temos que F e um con-
L

junto fechado.

2.6 A reuniao
Observacao de uma famlia arbitraria
de conjuntos fe-
ser um conjunto fechado.
chados pode nao
De fato, como todo conjunto X e a reuniao de seus pontos, ou seja,
[
X = {x} , e os conjuntos {x} sao
fechados, basta considerar um con-
xX

e fechado.
junto X que nao

Teorema 2.3 O fecho de todo conjunto X R e um conjunto fechado.


X = X.
Isto e,

Prova.
Seja x R X, ou seja, x nao
e aderente a X. Entao,
existe um intervalo
I tal que x I e I X = , ou seja, x I R X.

Isto mostra que R X int(R X), ou seja, R X e um conjunto aberto.

Logo, X e um conjunto fechado.

Exemplo 2.3 Todo conjunto F = {x1 , . . . , xn } finito e fechado, pois


n
[
F = {xi } e a reuniao
finita dos conjuntos {xi }, i = 1, . . . , n, fechados,
i=1

ou porque R F e aberto, como ja vimos anteriormente.

[
Exemplo 2.4 Z e um conjunto fechado, pois R Z = (n, n + 1) e um
nZ

138 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos fechados

conjunto aberto.

Exemplo 2.5 Q, R Q, [a, b) e (a, b] nao


sao
conjuntos abertos nem
fechados.

2.7 Um conjunto X R e aberto e fechado ao mesmo


Observacao
tempo se, e so se, X = R ou X = .
De fato, ja provamos que R e sao
conjuntos abertos e fechados ao
mesmo tempo.
Se X R e aberto e fechado, entao
R X e aberto e fechado. Logo,
R = X (R X) e a reuniao
de dois conjuntos abertos disjuntos. Assim,

pelo corolario 1.1, X = ou X = R.

Exemplo 2.6 (O conjunto de Cantor)


O conjunto de Cantor e um subconjunto fechado do intervalo [0, 1], obtido
enumeravel
como complementar de uma reuniao de intervalos abertos,
da seguinte maneira.
1 2


Primeiro, retira-se do intervalo [0, 1] seu terco medio ,
3 3
. Depois, retira-
abertos 91 , 29 e 79 , 89 dos intervalos restantes 0, 13 e
   

se os tercos medios
2 
, 1 , sobrando, assim, os intervalos fechados 0, 19 , 29 , 31 , 32 , 79 e 79 , 1 .
       
3

Em seguida, retira-se o terco medio aberto de cada um desses quatro
intervalos. Repetindo-se esse processo indefinidamente, o conjunto de
Cantor e o conjunto K que consiste dos pontos nao
retirados.

do conjunto de Cantor.
Fig. 4: Construcao

Se indicarmos por I1 , I2 , . . . , In , . . . os intervalos abertos omitidos, temos



!
[ [
K = [0, 1] In = [0, 1] R In .
n=1 n=1


[
Logo, K e um conjunto fechado, pois [0, 1] e R conjuntos fe-
In sao
n=1

chados. Observe que os pontos extremos dos intervalo retirados, como 13 ,


2 1 2 7 8
, , , ,
3 9 9 9 9
etc., pertencem ao conjunto de Cantor, pois, em cada etapa


Instituto de Matematica - UFF 139

Analise na Reta

sao
da construcao, retirados apenas pontos interiores dos intervalos res-
tantes da etapa anterior.
Esses pontos extremos dos intervalos omitidos formam um subconjunto

infinito enumeravel e enumeravel.
de K, mas, como veremos depois, K nao
contem
Vamos provar, agora, que K nao nenhum intervalo aberto, ou seja,
int K = .

De fato, na nesima retirados 2n1 in-
de K, sao
etapa da construcao
1
tervalos abertos de comprimento 3n
, restando 2n intervalos fechados de
1
comprimento 3n
.

Sejam I um intervalo aberto de comprimento ` > 0 e n0 N tal que


1
3n0
< `.
n0
2[
Se I K, entao
I Jk , onde Jk , k = 1, . . . , 2n0 , sao
os intervalos
k=1
1
fechados de comprimento 3n0

restantes da n0 esima etapa.

Logo, existe k0 {1, . . . , 2n0 } (verifique!) tal que I Jk0 , o que e absurdo,
1
pois 3n0
< `.

2.4 Sejam X e Y subconjuntos de R tais que X Y. Dizemos


Definicao
que X e denso em Y quando todo ponto de Y e aderente a X, ou seja,
quando Y X.

2.8 X Y e denso em Y todo ponto de Y e limite de


Observacao

uma sequ encia de pontos de X.

2.9 X e denso em R se X = R. Em particular, Q e R Q


Observacao
densos em R, pois, como ja vimos, Q = R Q = R.
sao

2.10 Se J e um intervalo nao-degenerado,


Observacao JQe
entao
densos em J, ou seja, para todo a J existe uma sequ encia
J(RQ) sao
(xn ) de pontos de J Q e uma sequ encia
(yn ) de pontos de J (R Q)
que convergem para a (verifique!).

2.11
Observacao

140 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos fechados

X Y e denso em Y se, e so se, para todo y Y e todo > 0 tem-se


(y , y + ) X 6= .
X Y e denso em Y se, e so se, todo intervalo aberto que contem
algum

ponto de Y contem, necessariamente, algum ponto de X.
Em particular, X R e denso em R se, e so se, I X 6= para todo
intervalo aberto I.
Assim, dizer que X e denso em R a partir da definicao
acima, coincide
dada anteriormente.
com a definicao

Teorema 2.4 Todo conjunto X de numeros


um subcon-
reais contem

junto enumeravel E denso em X.

Prova.
Se X e finito, entao
X e denso em si mesmo, pois X = X.

Suponhamos, agora, que X nao


e finito.

Dado n N, podemos exprimir R como uniao


enumeravel
de intervalos
1
de comprimento :
n
[ h p p + 1
R= , .
n n
pZ

h p p + 1
Se X , 6= , escolhemos um ponto xpn nessa intersecao.

n n

O conjunto E dos pontos xpn assim obtidos e enumeravel.


Afirmacao:

De fato, como o conjunto A = (p, n) Z N | X np , p+1
 
n
6
= e enu-

meravel
e a funcao
: A X
(p, n) 7 xpn

e injetiva, temos que E = (A) e enumeravel.


E e denso em X.
Afirmacao:
Seja I = (a, b) um intervalo aberto contendo algum ponto de X e seja
x I X.


Instituto de Matematica - UFF 141

Analise na Reta

1
Sejam n0 N tal que < max{d(a, x), d(b, x) } e p0 Z tal que
n0
   
p0 p0 + 1 p0 p0 + 1
x ,
. Entao, , I, pois, caso contrario,
teramos
n0 n0 n0 n0
1 1
que > d(a, x) ou > d(b, x).
n0 n0

h
p0 p0 +1
Fig. 5: x n0
, n (a, b) .
0

 
p0 p0 + 1
Logo, como x , X 6= , existe o ponto xp0 n0 E, que
n0 n0
 
p p +1
pertence a I, pois xp0 n0
tambem 0, 0 I.
n0 n0

h
p0 p0 +1
Fig. 6: xp0 n0 n0
, n I = (a, b) .
0

um ponto de
Mostramos, assim, que todo intervalo aberto I que contem
um ponto xpn E.
contem
X, tambem
Logo, E e denso em X.

2.12 O conjunto enumeravel


Observacao E dos extremos dos interva-
do conjunto de Cantor K e denso em K.
los omitidos na construcao
1
Com efeito, sejam x K e 0 < . Assim, pelo menos um dos inter-
2
valos (x , x] ou [x, x + ) esta contido em [0, 1], pois, caso contrario,
2
seria maior que 1.
que [x, x + ) [0, 1].
Suponhamos, entao,
1
Seja n0 N tal que
< . Como depois da n0 esima etapa da
3n0
de K restam apenas intervalos de comprimento menor que
construcao
1
, alguma parte do intervalo [x, x + ) e retirada na n0 esima
etapa, ou
3n0
foi retirada antes.
disso, como x K, o extremo inferior y da parte retirada (que pode
Alem
ser x, se x E) pertence ao intervalo [x, x + ), pois, caso contrario,
x
seria retirado.

142 J. Delgado - K. Frensel



Pontos de acumulacao

Logo, y E [x, x + ) E (x , x + ).
Mostramos, assim, que (x , x + ) E 6= , para todo x K e > 0.

3.
Pontos de acumulacao

3.1 Seja X R. Um numero


Definicao a R e ponto de acumulacao

do conjunto X quando todo intervalo aberto (a , a + ), de centro a e
algum ponto x X diferente de a.
raio > 0, contem
de X, tambem
O conjunto dos pontos de acumulacao chamado o derivado
de X, sera representado por X 0 .
Simbolicamente, temos que a X 0 se, e so se,
> 0 , x X ; 0 < |x a| <
ou
> 0 , (a , a + ) (X {a}) 6= .

Teorema 3.1 Dado X R e a R, as seguintes afirmacoes


sao
equi-
valentes:
(1) a X 0 ;
(2) a = lim xn , onde (xn ) e uma sequ encia
de elementos de X, dois a dois
distintos;
(3) todo intervalo aberto contendo a possui uma infinidade de elementos
de X.

Prova.
(1) = (2) Seja x1 X tal que 0 < |x1 a| < 1.
Suponhamos que foi possvel determinar pontos x1 , x2 , . . . , xn X tais que
1
0 < |xj a| < |xj1 a| e 0 < |xj a| < , j = 2, . . . , n.
j

xn+1 X tal que 0 < |xn+1 a| < , onde


Existe, entao,

1
= min , |xn a| .
n+1


Instituto de Matematica - UFF 143

Analise na Reta


Com isso, construmos uma sequ encia (xn ) de pontos de X dois a dois
1
distintos que converge para a, pois |xn+1 a| < |xn a| e |xn a| < ,
n
para todo n N.

(2) = (3) Seja (xn ) uma sequ encia de pontos de X dois a dois distintos
a.
que converge para a e seja I um intervalo aberto que contem
existem > 0 tal que (a , a + ) I e n0 N tal que
Entao,
xn (a , a + ) para todo n n0 .
Logo, {xn | n n0 } I. Assim I contem
uma infinidade de pontos de X,

pois os termos xn da sequ encia dois a dois distintos.
sao
trivial verificar esta implicacao.
(3) = (1) E 


Corolario 3.1 Se X 0 6= , entao
X e infinito.

Exemplo 3.1 Se xn 6= a para um numero


infinito de ndices n N e
X 0 = {a}, onde X = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .} e o conjunto
lim xn = a, entao

formado pelos termos da sequ encia (xn ).
De fato, dado > 0, existe n0 N tal que |xn a| < para todo n n0 .
existe n1 n0 tal que 0 < |xn1 a| < , ou seja, existe n1 n0 tal
Entao,
que xn1 (a , a + ) {a}, pois, caso contrario,
teramos xn = a para
todo n n0 . Logo, a X 0 .
|b a|
Seja b 6= a. Como xn a, existe n0 N tal que |xn a| < para
2
todo n n0 .
|b a|
Logo, |xn b| > para todo n n0 .
2
|b a|
Ou seja, o intervalo (b , b + ), onde = apenas
> 0, contem
2
um numero
finito de elementos de X. Logo, b 6 X 0 .
Assim, X 0 = {a}.

1 1
1 1
Em particular, X 0 = {0}, onde X = 1 , , . . . , , . . . , pois 0 e 6= 0
2 n n n

1 1

para todo n N, e Y 0 = {a}, onde Y = a, a + 1, a, a + , . . . , a, a + , . . . ,
2 n
1

pois a sequ encia yn = a para n mpar e yn = a +
cujos termos sao ,
n

144 J. Delgado - K. Frensel



Pontos de acumulacao

para n par, converge para a e yn 6= a para todo n par.


X 0 = , pois X = {a} e
Observe que, se xn = a para todo n N, entao
um conjunto finito.

Exemplo 3.2 Todo ponto x do conjunto de Cantor K e um ponto de


de K, ou seja, K K 0 .
acumulacao
pertence ao conjunto E das extremida-
Suponhamos, primeiro, que x nao
des dos intervalos retirados. Como E e denso em X, dado > 0, existe
existe y K tal que 0 < |y x| < .
y E tal que y (x , x + ). Entao,
Logo, x K 0 .
Suponhamos, agora, que x E e que x e a extremidade direita do in-

tervalo (a, x) retirado na n0 esima do conjunto de
etapa da construcao
Cantor K, restando um intervalo da forma [x, b1 ]. Na etapa seguinte, sera

omitido o terco medio do intervalo [x, b1 ], sobrando um intervalo [x, b2 ]
[x, b3 ] , [x, b4 ] , . . . , [x, bn ] , . . .,
[x, b1 ]. Assim, nas outras etapas, sobrarao
com b1 > b2 > b3 > . . . > bn > . . . pertencentes a E K e lim bn = x ,
1
pois |x bn | = , para todo n N. Logo, x K 0 .
3n0 +n1

De modo analogo, podemos provar que se x E e a extremidade es-
do conjunto de Can-
querda de um intervalo retirado durante a construcao
x K 0.
tor, entao
1 1

Observe, tambem, que 0, 1 K 0 , pois n
, 1 n E K, para todo
3 3
1 1
n N, e 0 e 1 n 1.
3n 3
Assim, todo ponto de K e um ponto de acumulacao
de K.

Exemplo 3.3 Q 0 = (R Q) 0 = R 0 = R, pois todo intervalo aberto de R


uma infinidade de numeros
contem 
racionais e irracionais (por que?).

Exemplo 3.4 (a, b) 0 = [a, b) 0 = (a, b] 0 = [a, b] 0 = [a, b] (verifique!).

3.2 Um ponto a X que nao


Definicao pertence a X 0 e um ponto iso-
lado de X.
Assim, a X e um ponto isolado de X se, e so se, existe > 0 tal que
(a , a + ) X = {a}.


Instituto de Matematica - UFF 145

Analise na Reta

Exemplo 3.5 Todo ponto a Z e um ponto isolado de Z, pois


(a 1, a + 1) Z = {a}.

3.1 X nao
Observacao possui ponto isolado se, e somente se, X X 0 .
possuem pontos isolados,
Em particular, Q e o conjunto de Cantor K nao
pois Q Q 0 = R e K K 0 .

Teorema 3.2 Para todo X R, tem-se X = X X 0 .


Ou seja, o fecho de um conjunto X e obtido acrescentando-se a X os seus

pontos de acumulacao.

Prova.
de ponto aderente e de ponto de acumulacao,
Pela definicao temos que
X X e X 0 X. Logo, X X 0 X.

Seja, agora, a X tal que a 6 X.


dado > 0, existe x X tal que x (a , a + ), ou seja,
Entao,
x (a , a + ) X.
Como a 6 X, temos que x 6= a. Logo, (a , a + ) X {a} 6= .

a X ou a X 0 , isto e,
Assim, se a X, entao X X X 0 .

3.2 X e X 0 podem ter intersecao


Observacao nao-vazia.
Por exemplo,
X 0 = [0, 1].
se X = (0, 1), entao


Corolario 3.2 X e fechado se, e somente se, X 0 X.

Prova.
X e fechado X = X X = X X 0 X 0 X.

K = K 0 , pois K e
Exemplo 3.6 Se K e o conjunto de Cantor, entao
fechado, ou seja, K 0 K, e tambem
K K 0 , pelo exemplo 3.2.


Corolario 3.3 Um conjunto X R e fechado sem pontos isolados se, e
somente se, X 0 = X.

146 J. Delgado - K. Frensel



Pontos de acumulacao


Corolario 3.4 Se todos os pontos do conjunto X sao
isolados, entao
X
e enumeravel.

Prova.
Seja E X um subconjunto enumeravel
denso em X, ou seja, X E.

x E. Como x 6 X 0 , temos, tambem,


Seja x X. Entao que x 6 E 0 , pois
E X.
Logo, x E. Assim, X = E e, portanto, X e enumeravel.


3.3 Dizemos que a e ponto de acumulacao


Definicao a` direita de X
quando (a, a + ) X 6= para todo > 0.
Indicaremos X+0 o conjunto dos pontos de acumulacao
a` direita de X.

a` direita de X todo in-


3.3 a e ponto de acumulacao
Observacao
uma infinidade de pontos de
tervalo da forma (a, a + ), > 0, contem
X a e ponto de acumulacao
de X [a, +) a e limite de uma

sequ encia decrescente de pontos de X todo intervalo aberto (a, b)
algum ponto de X.
contem
Verifiquemos apenas que a e ponto de acumulacao
a` direita de X se, e so
se, a e limite de uma sequ encia
decrescente de pontos de X.
De fato, seja (xn ) uma sequ encia
decrescente de pontos de X que con-
verge para a e seja > 0.
existe n0 N tal que a xn < a + para todo n n0 , pois
Entao,
a = inf{xn | n N}, ja que (xn ) e decrescente e converge para a.
disso, xn > a para todo n N, pois xn > xn+1 a para todo n N.
Alem
Logo, {xn | n n0 } X (a, a + ), ou seja, X (a, a + ) e infinito.
Suponhamos, agora, que a e ponto de acumulacao
a` direita de X.

Seja x1 (a, a + 1) X. Suponhamos que seja possvel encontrar pontos


1
x1 , . . . , xn X tais que xn < xn1 < . . . < x1 e a < xj < a + , j = 1, . . . , n.
j

1
Seja = min , xn a > 0.
n+1
existe xn+1 X tal que a < xn+1 < a + .
Entao,


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Analise na Reta

1
Logo, a < xn+1 < a + e xn+1 < a + xn a = xn .
n+1
por inducao,
Isto completa a definicao, da sequ encia
(xn ) decrescente de
1
pontos de X tal que a < xn < a + para todo n N.
n
Logo, lim xn = a.

3.4 Dizemos que a e ponto de acumulacao


Definicao a` esquerda de X,
quando (a , a) X 6= , para todo > 0.
Indicaremos por X0 o conjunto dos pontos de acumulacao
a` esquerda de
X.

3.4 a X0 todo intervalo aberto da forma (a , a),


Observacao
uma infinidade de pontos de X a e ponto de acumulacao
> 0, contem
do conjunto X (, a] a e limite de uma sequ encia
crescente de
pontos de X todo intervalo aberto (c, a) contem
algum ponto de X.

Exemplo 3.7 Se X = 1, 12 , . . . , n1 , . . . , entao
0 e ponto de acumulacao

a` direita de X, mas nao
e ponto de acumulacao
a` esquerda de X. 

Exemplo 3.8 Todo ponto x X = (a, b) e ponto de acumulacao


a` es-
querda e a` direita de X, mas a e apenas ponto de acumulacao
a` direita de
X e b e apenas ponto de acumulacao
a` esquerda de X.

Exemplo 3.9 Seja K o conjunto de Cantor. Ja provamos que K = K 0 .


O ponto 0 e apenas ponto de acumulacao
a` direita e o ponto 1 e apenas
a` esquerda de K.
ponto de acumulacao
se a K e extremidade inferior de algum dos intervalos retirados, entao

a e apenas ponto de acumulacao
a` esquerda de K.

De fato, se (a, x) e o intervalo aberto retirado na n0 esima


etapa, vai
1
restar, nesta etapa, um intervalo do tipo [b1 , a] de comprimento . E,
3n0
sobrar intervalos [b2 , a], [b3 , a], . . . , [bn , a], . . .,
nas etapas seguintes, vao
1
tais que [bn+1 , a] [bn , a] e a bn = para todo n N.
3n0 +n+1
Assim, (bn ) e uma sequ encia
crescente de pontos de K tais que bn a.
Logo, a K0 .

148 J. Delgado - K. Frensel



Pontos de acumulacao

Como (a, x) K = , temos que a 6 K+0 .


Se a e extremidade superior de algum intervalo aberto retirado, entao
a
e apenas ponto de acumulacao
a` direita de K. A demonstracao
e analoga

a` anterior.
Se a K e a 6 E {0, 1}, entao
a e ponto de acumulacao
a` esquerda e
a` direita de K.
De fato, suponhamos, por absurdo, que existe > 0 tal que
(a , a) X = .
(a, a) (c, d), onde (c, d) e um dos intervalos abertos retirados.
Entao,
Logo, como a K, devemos ter d = a, ou seja, a E, o que e absurdo.
Assim, a e ponto de acumulacao
a` esquerda de K.

De modo analogo, podemos provar que a e ponto de acumulacao
a` direita
de K.

Lema 3.1 Seja F R nao-vazio,


fechado e sem pontos isolados. Para
todo x R, existe Fx limitado, nao-vazio,
fechado e sem pontos isolados
tal que x 6 Fx F.

Prova.
Como F 0 = F e F 6= , temos que F 0 6= . Logo, F = F 0 e infinito. Entao,

existe y F tal que y 6= x.
Seja [a, b] um intervalo fechado tal que x 6 [a, b] e y (a, b).
Seja G = (a, b) F. Entao,
G e limitado e nao-vazio,
pois y G. Alem

possui pontos isolados.
disso, G nao
De fato, se c e um ponto isolado de G, existe > 0 tal que
(c , c + ) (a, b) F = {c}.
para 0 = min{, b c, c a}, temos
Entao,
(c 0 , c + 0 ) (a, b) (c , c + )
e, portanto, (c 0 , c + 0 ) F = {c}, o que e absurdo, pois F nao
possui
pontos isolados.
Se G e fechado, basta tomar Fx = G, pois x 6 G.
e fechado.
Suponhamos que G nao


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Analise na Reta

ou a G 0 ou b G 0 .
Como G [a, b] F, entao
esse(s) ponto(s) a G para obter Fx .
Acrescentamos, entao

Assim, x 6 Fx , Fx e fechado e nao


e vazio, pois Fx = G. Alem
disso, Fx nao

possui pontos isolados.
De fato, ja provamos que se c G = (a, b)F, entao
c nao
e ponto isolado
e ponto isolado de G.
de G, e, portanto, nao

a G 0 , e, portanto,
Suponhamos que a G e ponto isolado de G. Entao
de G, o que e absurdo.
a e ponto de acumulacao


De modo analogo, e ponto isolado de G, caso b G.
prova-se que b nao

possui pontos isolados.


Logo, Fx = G nao

Teorema 3.3 Se F e um conjunto nao-vazio,


fechado e sem pontos iso-
F e nao-enumer
lados, entao
avel.

Prova.
Seja X = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .} um subconjunto enumeravel
de F.

Pelo lema anterior, existe um conjunto F1 nao-vazio, limitado, fechado, e
sem pontos isolados tal que x1 6 F1 F.

Suponhamos que existem subconjuntos F1 , F2 , . . . , Fn , nao-vazios, limita-
dos, fechados e sem pontos isolados tais que
Fn . . . F2 F1 F e xj 6 Fj , para todo j = 1, . . . , n.
pelo lema, existe Fn+1 nao-vazio,
Entao, limitado, fechado e sem pontos
isolados tal que xn+1 6 Fn+1 Fn .

Obtemos, assim, uma sequ encia
decrescente (Fn ) de conjuntos nao-vazios,
fechados, limitados e sem pontos isolados tais que xn 6 Fn para todo
n N.
Como Fn 6= , para todo n N, existe yn Fn . A sequ encia
(yn ) e
limitada, pois yn Fn F1 para todo n N e F1 e limitado.

Logo, a sequ encia
(yn )nN possui uma subsequ encia (ynk )kN conver-
gente.
Seja y = lim ynk .
k

150 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos compactos

Dado j N, temos que ynk Fj para todo nk j. Logo, y Fj , para todo


j N, pois Fj e fechado e ynk y.
Assim, y F e y 6= xn para todo n N. Ou seja, y F e y 6 X. Logo, F
e enumeravel.
nao 


Corolario 3.5 Todo conjunto fechado nao-vazio

enumeravel possui al-
gum ponto isolado.


Corolario 3.6 O conjunto de Cantor e nao-enumer

avel.

4. Conjuntos compactos

4.1 Uma cobertura de um conjunto X R e uma famlia


Definicao
[
C = (C )L de subconjuntos C R tais que X C .
L

Uma subcobertura de C e uma subfamlia C 0 = (C )L 0 , L 0 L, tal que


[
X C .
L 0

h1 3i
Exemplo 4.1 Seja X = , e seja C = {C1 , C2 , C3 } uma famlia de
3 4
subconjuntos de R, onde
 2 1  1 9 
C1 = 0, , C2 = ,1 e C3 = , .
3 3 2 10
C e uma cobertura de X, pois X C1 C2 C3 = (0, 1) e
Entao,
C 0 = {C1 , C2 } e uma subcobertura de C, pois X C1 C2 = (0, 1).

Exemplo 4.2 C = (Cn )nZ , onde Cn = [n, n+1), n Z, e uma cobertura


possui uma subcobertura propria,
de R que nao
pois os conjuntos Cn sao
dois a dois disjuntos.


1 1

Exemplo 4.3 Seja X = 1, , . . . , , . . . . Entao
X e infinito e todos os
2 n
isolados, pois X = {0} e, portanto, X X 0 = .
seus pontos sao 0

Assim, para cada x X, existe um intervalo de centro x tal que Ix X = {x}.


Instituto de Matematica - UFF 151

Analise na Reta

[ [ [
Como X = {x} Ix X, temos que X = Ix , ou seja C = (Ix )xX e
xX xX xX

uma cobertura de X.
Mas C nao
possui uma subcobertura propria,
pois se x X, entao
x 6 Iy ,
para todo y 6= x, y X, ja que Iy X = {y}.

Teorema 4.1 (Borel-Lebesgue)


Seja [a, b] um intervalo limitado e fechado. Dada uma famlia (I )L de
[
intervalos abertos tais que [a, b] I , existe um numero
finito deles
L

I1 , . . . , In , tais que I I1 . . . In . Ou seja, toda cobertura de [a, b]


por meio de intervalos abertos possui uma subcobertura finita.

Prova.
Seja
X = {x [a, b] [a, x] pode ser coberto por um numero finito dos intervalos I } .

Como X e limitado e nao-vazio,


pois X [a, b] e a X, existe c = sup X.

c X.
Afirmacao:
Como a x b para todo x X, temos que a c b, ou seja, c [a, b].
existe 0 L tal que c I0 = (, ).
Entao
Sendo < sup X = c, existe x X tal que < x c < . Como x X,
existem 1 , . . . , n L tais que [a, x] I1 . . . In .
[a, c] I1 . . . In I0 , pois [x, c] (, ) = I0 . Logo, c X.
Entao,

c = b.
Afirmacao:
existe c 0 I0 tal que c < c 0 < b.
Suponhamos que c < b. Entao
Assim, [a, c 0 ] I1 . . . In I0 , ou seja, c 0 X, o que e absurdo, pois
c 0 > c = sup X.
Logo, b X, ou seja, o intervalo [a, b] esta contido numa uniao
finita dos
I .

Teorema 4.2 (Borel-Lebesgue)


Toda cobertura de [a, b] por meio de conjuntos abertos admite uma sub-
cobertura finita.

152 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos compactos

Prova.
Seja C = (A )L uma cobertura de [a, b], onde cada A e aberto.
Seja x [a, b]. Entao
existe x L tal que x Ax . Sendo Ax aberto,
existe um intervalo aberto Ix tal que x Ix Ax .
[
Logo, [a, b] Ix . Pelo teorema anterior, existem x1 , . . . , xn [a, b]
x[a,b]

tais que [a, b] Ix1 Ix2 . . . Ixn . Assim, [a, b] Ax1 . . . Axn .

Teorema 4.3 (Borel-Lebesgue)


Seja F R um conjunto fechado e limitado. Entao toda cobertura
[
F A de F por meio de conjuntos abertos admite uma subcobertura
L

finita.

Prova.
Sejam A = R F e [a, b] um intervalo fechado e limitado tal que F [a, b].
!
[
Logo, [a, b] A A. Como A e aberto, temos, pelo teorema
L

anterior, que existem 1 , . . . , n L tais que [a, b] A1 . . . An A .


F A1 . . . An , pois F A = .
Entao,

4.1 As tres
Observacao formas do teorema de Borel-Lebesgue anteri-
equivalentes.
ores sao

Exemplo 4.4 A cobertura aberta C = ( (n, n) )nN de R nao


possui
finita de intervalos abertos da
uma subcobertura finita, pois uma reuniao
pode ser R.
forma (n, n) coincide com o maior deles e, portanto, nao
Observe, neste caso, que R e fechado, mas nao
e limitado.

1 
Exemplo 4.5 O intervalo (0, 1] possui a cobertura aberta ,2
n nN

possui subcobertura finita, pois uma reuniao


que nao finita de intervalos
1 
da forma , 2 e o maior deles e, portanto, nao
pode conter (0, 1].
n
Neste exemplo, o intervalo (0, 1] e limitado, mas nao
e um conjunto fe-
chado.


Instituto de Matematica - UFF 153

Analise na Reta

Teorema 4.4 As seguintes afirmacoes


a respeito de um conjunto K R
equivalentes.
sao
(1) K e fechado e limitado.
(2) Toda cobertura de K por conjuntos abertos possui uma subcobertura
finita.
per-
(3) Todo subconjunto infinito de K possui um ponto de acumulacao
tencente a K.

(4) Toda sequ encia
de pontos de K possui uma subsequ encia que con-
verge para um ponto de K.

Prova.
(1) = (2) Segue do teorema de Borel-Lebesgue.
(2) = (3) Seja X K um conjunto sem pontos de acumulacao
em K.
Vamos provar que X e finito.
Seja x K. Como x 6 X 0 , existe um intervalo aberto Ix tal que Ix X = {x}
se x X, e Ix X = , se x 6 X.
[
Como K Ix , existem x1 , . . . , xn K, tais que K Ix1 . . .Ixn . Entao,

xK

X (Ix1 X) . . . (Ixn X) {x1 , . . . , xn } .


Logo, X e finito.

(3) = (4) Seja (xn ) uma sequ encia de pontos de K.
X = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .} e um conjunto finito ou infinito.
Entao
existe a R tal que xn = a para uma infinidade de
Se X e finito, entao
ndices n N, ou seja, existe N 0 N infinito tal que xn = a para todo
n N 0 . Logo, a subsequ encia
(xn )nN 0 e convergente.
Se X e infinito, existe a K que e ponto de acumulacao
de X. Entao,

infinitos pontos
para todo > 0, o intervalo aberto (a , a + ) contem
termos xn com ndices arbitrariamente grandes.
de X e, portanto, contem
Logo, a e valor de aderencia

da sequ encia (xn ) ou seja, a e limite de uma

subsequ encia de (xn ).
e limitado superiormente. Entao,
(4) = (1) Suponhamos que K nao para
todo n N, existe xn K tal que xn > n.

154 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos compactos


Seja (xn )nN 0 uma subsequ encia de (xn ). Como N 0 N e ilimitado, para
todo n N existe n 0 N 0 tal que n 0 > n.
Logo, xn 0 > n 0 > n. Entao,
a subsequ encia
(xn )n N 0 nao
e limitada
e convergente.
superiormente e, portanto, nao

Assim, a sequ encia possui uma subsequ encia
(xn )nN de pontos de K nao
convergente, o que e absurdo. Logo, K e limitado superiormente.

De modo analogo, podemos provar que K e limitado inferiormente. Entao,

K e limitado.

Seja (xn ) uma sequ encia convergente de pontos de K com lim xn = x.

Como (xn ) possui uma subsequ encia (xnk )kN que converge para um
ponto de K e lim xnk = x, temos que x K.
k

Logo, K e fechado.


Corolario 4.1 Toda sequ encia
limitada de numeros
reais possui uma

subsequ encia convergente.

Prova.

Seja (xn ) uma sequ encia limitada de numeros
reais e seja
X = {x1 , x2 , . . . , xn , . . .}.
Como X e limitado, existem a, b R, a < b, tais que X [a, b].

X [a, b]. Ou seja, X e fechado e limitado. Logo, pelo teorema


Entao,

anterior, a sequ encia
(xn ) de pontos de X possui uma subsequ encia con-
vergente.


Corolario 4.2 (Bolzano-Weierstrass)
Todo conjunto limitado e infinito de numeros
reais possui um ponto de

acumulacao.

Prova.
Seja X um conjunto limitado e infinito de numeros
existem
reais. Entao,
a, b R, a < b, tais que X [a, b].

Logo, X [a, b]. Entao,


X e fechado, limitado, e X X e infinito. Assim,

pelo teorema anterior, X possui um ponto de acumulacao.


Instituto de Matematica - UFF 155

Analise na Reta

4.2 Dizemos que um conjunto K R e compacto se toda


Definicao
cobertura aberta de K possui uma subcobertura finita.

4.2 K e compacto se, e somente se, satisfaz uma (e, por-


Observacao
do teorema 4.4.
tanto todas) as afirmacoes

Exemplo 4.6

1 1

O conjunto Y = 0, 1, , . . . , , . . . e compacto, pois Y = X = X X 0 ,
2 n

1 1

onde X = 1, , . . . , , . . . .
2 n
O conjunto de Cantor e compacto.
Os intervalos do tipo [a, b] sao
compactos.

R, Q e Z nao
sao
compactos porque nao
sao
limitados.

Q [0, 1] nao
e compacto, pois Q [0, 1] = [0, 1] e, portanto, Q [0, 1]
e fechado.
nao

Teorema 4.5 Seja K1 K2 . . . Kn Kn+1 . . . uma sequ encia



\

decrescente de compactos nao-vazios. K=
Entao Kn e nao-vazio
e
nN

compacto.

Prova.
O conjunto K e fechado, pois e intersecao
de uma famlia de conjuntos
fechados, e e limitado, pois K K1 e K1 e limitado (por ser compacto).
Logo, K e compacto.
Para cada n N, tome xn Kn . Entao,
xn Kj para todo n j. Em
particular, xn K1 para todo n N.
Como K1 e compacto, a sequ encia
(xn ) de pontos de K1 possui uma sub-

sequ encia convergente (xnk ). Seja x = lim xnk .
k

Dado j N, existe k0 N tal que nk0 j. Entao,


xnk Kj , para todo
k k0 , ja que nk nk0 j.
Logo, xnk x Kj para todo j N, pois Kj e fechado para todo j N.
Ou seja, x K.

do Teorema de Borel-Lebesgue
Aplicacao

156 J. Delgado - K. Frensel


Conjuntos compactos

4.3 O comprimento dos intervalos [a, b] , (a, b) , (a, b] e


Definicao
[a, b) e o numero
b a.

n
[ X
n
4.1 Se [a, b]
Proposicao ba<
(ai , bi ), entao (bi ai ).
i=1 i=1

Prova.
Podemos supor, sem perda de generalidade, que (ai , bi ) [a, b] 6= para
todo i.
Sejam c1 < c2 < . . . < ck os numeros
ai e bj ordenados de modo cres-
cente.
k1
[
{a1 , . . . , an , b1 , . . . , bn }
Entao (cj , cj+1 ) = , ou seja, ai 6 (cj , cj+1 ) e
j=1

bk 6 (cj , cj+1 ) para quaisquer i, k = 1, . . . , n e j = 1, . . . , k 1.


disso, c1 < a e ck > b. Logo, b a < ck c1 , ou seja,
Alem
b a < (ck ck1 ) + . . . + (c3 c2 ) + (c2 c1 ) = ck c1 .
Mostraremos, agora, que cada intervalo (cj , cj+1 ) esta contido em algum
intervalo (ai , bi ).
cj [a, b]
Neste caso, cj (ai , bi ) para algum i = 1, . . . , n. Como bi nao
esta entre
cj e cj+1 , temos que (cj , cj+1 ) (ai , bi ).

Fig. 7: Caso cj [a, b] .

cj < a
pode ser um dos bi , pois, caso contrario,
Neste caso, cj nao (ai , bi )
pode estar
[a, b] = . Logo, cj = ai para algum i = 1, . . . , n. Como bi nao
entre cj e cj+1 , temos que (cj , cj+1 ) (ai , bi )

Fig. 8: Caso cj < a .

cj > b


Instituto de Matematica - UFF 157

Analise na Reta

Neste caso, temos cj+1 > b. Logo, cj+1 = bi para algum i = 1, . . . , n,



pois, caso contrario, (ai , bi ) [a, b] = . Como ai 6 (cj , cj+1 ), temos que
ai cj e, portanto, (cj , cj+1 ) (ai , bi ).
Para cada i = 1, . . . , n, existem p {1, . . . , k} e q N tais que ai = cp ,
bi = cp+q e p + q {1, . . . , k}. Entao,

bi ai = (cp+q cp+q1 ) + . . . + (cp+1 cp ) .
X
n
Logo, (bi ai ) e uma soma de parcelas do tipo cj+1 cj , sendo que
i=1

cada parcela cj+1 cj , j = 1, . . . , k 1, aparece pelo menos uma vez, pois


cada intervalo (cj , cj+1 ) esta contido em algum intervalo (ai , bi ).

relativa do intervalo (a, b) entre os (ai , bi ) .


Fig. 9: Posicao

X
k1 X
n
Assim, b a < (cj+1 cj ) (bi ai ) . 
j=1 i=1


[ X

4.2 Se [a, b]
Proposicao (b a) <
(an , bn ) entao (bn an ) .
n=1 n=1

Prova.
Pelo teorema de Borel-Lebesgue, existem n1 , . . . , nk N tais que
[a, b] (an1 , bn1 ) . . . (ank , bnk ) .
pela proposicao
Entao, anterior, b a < (bn1 an1 ) + . . . + (bnk ank ) .
X

Portanto, b a < (bn an ) .
n=1

X

4.3 Se
Proposicao o conjunto
(bn an ) < b a, entao
n=1

[
X = [a, b] (an , bn )
n=1

e nao-enumer

avel.

158 J. Delgado - K. Frensel


Prova.
X

Seja c = (b a) (bn an ) > 0, e suponha que X = {x1 , . . . , xn , . . .} e
n=1


enumeravel.
c
Tome, para cada n N, um intervalo Jn de centro xn e raio n+2 . Logo,
2

! !
[ [
[a, b] (an , bn ) Jn . (?)
n=1 n=1

Mas,

X
X
X
X
1 cX 1
(bn an ) + |Jn | = (bn an ) + c = (b a) c +
2n+1 2 2n
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1
c c
= (b a) c + = (b a) < b a ,
2 2
anterior.
o que contradiz (?), pela proposicao


Aplicacoes
de intervalos abertos cujos centros sao
(A) Existe uma colecao todos
os numeros
e uma cobertura de [a, b].
racionais do intervalo [a, b] que nao
Seja X = {r1 , r2 , . . . , rn , . . .} uma enumeracao
dos racionais contidos no
intervalo [a, b].
ba
Para cada n N, seja (an , bn ) o intervalo aberto de centro rn e raio .
2n+2
X

ba X

Entao, (bn an ) = < b a . Logo, [a, b]
(an , bn ) nao
2
n=1 n=1

[
e vazio, pois nao
e enumeravel,
ou seja, [a, b] 6 (an , bn ).
n=1


(B) Existe um conjunto fechado, nao-enumer
avel, formado apenas
por numeros
irracionais.
Com efeito, sejam (an , bn ), n N, os intervalos do exemplo anterior.

Entao

!
[ [
X = [a, b] (an , bn ) = [a, b] R (an , bn )
n=1 n=1

e fechado, nao
enumeravel
e formado apenas por numeros
irracionais.


Instituto de Matematica - UFF 159
160 J. Delgado - K. Frensel
e propriedades do limite
Definicao

Parte 5


Limites de funcoes

Voltaremos a` nocao
de limite sob uma forma mais ampla, conside-
reais de variavel
rando, agora, funcoes real, f : X R, com X R, em

vez de sequencias.

1. e propriedades do limite
Definicao

1.1 Seja f : X R uma funcao


Definicao definida num subconjunto
X R e seja a X 0 um ponto de acumulacao.

Dizemos que o numero


real L e o limite de f(x) quando x tende para a e
escrevemos
lim f(x) = L
xa

quando para cada > 0 dado, existe > 0 tal que


x (X {a}) (a , a + ) = |f(x) L| <

Assim, simbolicamente escrevemos:


lim f(x) = L > 0 > 0 ; x X e 0 < |x a| < = |f(x) L| <
xa
> 0 > 0 ; f ( (a , a + ) (X {a}) ) (L , L + ) .

Ou seja, lim f(x) = L quando e possvel tornar f(x) arbitrariamente


xa


proximo de L, desde que se tome x X suficientemente proximo
de a e
diferente de a.


Instituto de Matematica - UFF 161

Analise na Reta

1.1 So tem sentido escrever lim f(x) = L quando a X 0 ,


Observacao
xa

pois se a 6 X 0 , todo numero


real L seria limite de f(x) quando x tende
para a.
De fato, como a 6 X 0 , existe 0 > 0 tal que (X {a}) (a 0 , a + 0 ) = .
para cada > 0 dado, existe = 0 > 0, tal que
Entao,
= f ( (X {a}) (a 0 , a + 0 ) ) (L , L + ) ,
qualquer que seja L R.

1.2 O ponto a pode pertencer ou nao


Observacao ao domnio X. Mesmo
quando a X, o valor f(a) nao
interfere na determinacao
de lim f(x), pois
xa


tal limite, quando existe, depende apenas dos valores f(x) para x proximo
e diferente de a.
E possvel ter-se lim f(x) 6= f(a).
xa

1 , se x R {0}
Por exemplo, se f : R R e a funcao
definida por f(x) =
0 , se x = 0 ,

lim f(x) = 1 6= 0 = f(0).


entao
x0

1.3 Se lim f(x) = L entao


Observacao L e aderente ao conjunto f(X
xa

{a}), pois todo intervalo aberto de centro L contem


pontos deste conjunto.


Tem-se, tambem, que L f(V ), onde V = (a , a + ) (X {a}) e
> 0.

Teorema 1.1 (Unicidade do limite)


Sejam X R, f : X R e a X 0 .
L1 = L2 .
Se lim f(x) = L1 e lim f(x) = L2 , entao
xa xa

Prova.
Dado > 0, existem 1 > 0 e 2 > 0 tais que:

x X {a} e 0 < |x a| < 1 = |f(x) L1 | < ;
2

x X {a} e 0 < |x a| < 2 = |f(x) L2 | < .
2

162 J. Delgado - K. Frensel


e propriedades do limite
Definicao

Seja = min{1 , 2 }. Como a X 0 , existe x0 (X {a}) (a , a + ).


Logo,

|L1 L2 | |L1 f(x0 )| + |f(x0 ) L2 | < + = .
2 2
Ou seja, |L1 L2 | < para todo > 0. Logo, L1 = L2 , pois, se L1 6= L2 ,
|L1 L2 | |L L2 |
teramos que |L1 L2 | < , para = 1 > 0, o que e absurdo.
2 2

Teorema 1.2 Sejam X R, f : X R, a X 0 . Seja Y X tal que


O teorema 1.2 e analogo a`
a Y 0 e seja g = f|Y .
afirmacao de que toda sub-

sequ encia
de uma sequ encia
lim g(x) = L .
Se lim f(x) = L, entao convergente e tambem
conver-
xa xa
tente e tem o mesmo limite.

Prova.
Dado > 0, existe > 0 tal que |f(x) L| < qualquer que seja
x (X {a}) (a , a + ) .
|g(x) L| = |f(x) L| < para todo x (Y {a}) (a , a + ).
Entao,
Logo, lim g(x) = L.
xa

Teorema 1.3 Sejam X R, f : X R e a X 0 . Se I e um intervalo


O teorema 1.3 diz que a
a, Y = I X, g = f|Y e lim g(x) = L, entao
aberto que contem lim f(x) = L.
existencia e o valor do limite
xa xa
f depende apenas
de uma funcao
do comportamento de f numa
Prova. vizinhanca de a.

Seja 0 > 0 tal que (a 0 , a + 0 ) I. Dado > 0 existe > 0 tal


que |g(x) L| < para todo x (I X {a}) (a , a + ).
Tome 0 = min{, 0 }. Entao,

(I X {a}) (a 0 , a + 0 ) = (X {a}) (a 0 , a + 0 ) ,
pois (a 0 , a + 0 ) I.
Logo, |f(x) L| = |g(x) L| < para todo x (X {a}) (a 0 , a + 0 ).
Portanto, lim f(x) = L.
xa

Teorema 1.4 Sejam X R, f : X R e a X 0 . Se existe xa


lim f(x),

f e limitada numa vizinhanca de a, ou seja, existem A > 0 e > 0


entao
tais que |f(x)| < A para todo x (X {a}) (a , a + ).


Instituto de Matematica - UFF 163

Analise na Reta

Prova.
Seja L = limxa f(x). Dado = 1 > 0, existe > 0 tal que |f(x) L| < 1
para todo x (X {a}) (a , a + ).
|f(x)| |f(x) L| + |L| < 1 + |L| = A para todo x (X {a}) (a
Entao,
, a + ).

Teorema 1.5 (Princpio do Sandwiche)


Sejam X R, f, g, h : X R e a X 0 . Se limxa f(x) = limxa h(x) = L
e f(x) g(x) h(x) para todo x X {a}, entao
limxa g(x) = L .

Prova.
Dado > 0, existem 1 > 0 e 2 > 0 tais que:

|f(x) L| < se x X e 0 < |x a| < 1 .
2

|h(x) L| < se x X e 0 < |x a| < 2 .
2
Tome = min{1 , 2 }. Entao,

L f(x) g(x) h(x) L + ,
para todo x (X {a}) (a , a + ). Logo, lim g(x) = L. 
xa

Teorema 1.6 Sejam X R, f, g : X R e a X 0 .


existe > 0 tal que x X,
Se lim f(x) = L < lim g(x) = M, entao
xa xa

0 < |x a| < = f(x) < g(x).

Prova.
ML L+M
Seja = L+ =
> 0. Entao, = M e existe > 0
2 2
tal que L < f(x) < L + = M e M < g(x) < M + para todo
x (X {a}) (a , a + ).
M+L
Logo, f(x) < < g(x), ou seja, f(x) < g(x) para todo x (X {a})
2
(a , a + ).


Corolario 1.1 Se xa existe > 0 tal que x X,
lim f(x) = L > 0, entao

0 < |x a| < = f(x) > 0.

164 J. Delgado - K. Frensel


e propriedades do limite
Definicao


Corolario 1.2 Se xa
lim f(x) = L, lim g(x) = M e f(x) g(x) para todo
xa

x X {a}, entao
L M.

Teorema 1.7 Sejam X R, f : X R e a X 0 . Entao


lim f(x) = L
xa

se, e so se, lim f(xn ) = L para toda sequ encia


(xn ) X {a} tal que
n

lim xn = a.
n

Prova.
Suponhamos que lim f(x) = L e que lim xn = a, com xn X {a}
xa n

dado > 0, existe > 0, tal que |f(x) L| <


para todo n N. Entao,
para todo x X, 0 < |x a| < .
Como lim xn = a e xn 6= a para todo n N, existe n0 N tal que
n

0 < |xn a| < para todo n > n0 .


Logo, |f(xn ) L| < para todo n > n0 . Assim, lim f(xn ) = L.
n

Suponhamos, agora, que lim f(x) 6= L. Entao


existe 0 > 0 tal que para
xa
1
todo n N podemos obter xn X tal que 0 < |xn a| < e |f(xn )L| 0 .
n
Logo, lim xn = a, mas lim f(xn ) 6= L.
n n


Corolario 1.3 Existe xa
lim f(x)se, e so se, lim f(xn ) existe e independe
n


da sequ encia (xn ) X {a} com lim xn = a.
n


Corolario 1.4 Se existe n
lim f(xn ) para toda sequ encia (xn ) X {a}

existe lim f(x).


tal que lim xn = a, entao
n xa

Prova.

Basta provar que lim f(xn ) independe da sequ encia (xn ) X {a} com
n

lim xn = a.
n


Suponhamos, por aburdo, que existem duas sequ encias (xn ) e (yn ) de
pontos de X {a} tais que lim xn = lim yn = a, mas lim f(xn ) = L 6=
n n n

M = lim f(yn ).
n


Instituto de Matematica - UFF 165

Analise na Reta

a sequ encia
Entao, (zn ) X {a}, dada por z2n = xn e z2n1 = yn , e uma

sequ encia de pontos de X {a} que converge para a, mas que (f(zn )) nao


converge, porque possui duas subsequ encias (f(z2n )) e (f(z2n1 )) que
convergem para limites diferentes.

Logo, o valor de lim f(xn ) independe da sequ encia (xn ) com xn X {a}
n

pelo corolario
e lim xn = a. Entao, 1.3, existe lim f(x).
n xa

Teorema 1.8 Sejam X R, a X 0 , f, g : X R.



Se lim f(x) = L e lim g(x) = M, entao:
xa xa

(1) lim (f(x) g(x)) = L M .


xa

(2) lim (f(x) g(x)) = L M .


xa

f(x) L
(3) lim = , se M 6= 0.
xa g(x) M

(4) Se lim f(x) = 0 e existe A > 0 tal que |g(x)| A para todo x X {a},
xa

lim f(x) g(x) = 0.


entao
xa

Prova.

Seja (xn ) uma sequ encia de pontos de X {a} com lim xn = a.
n

Entao,
lim (f(xn ) g(xn )) = L M e lim (f(xn ) g(xn )) = L M, pois
n n

lim f(xn ) = L e lim g(xn ) = M.


n n

Logo, pelo teorema 1.7


lim (f(x) g(x)) = L M e lim (f(x) g(x)) = L M .
xa xa

Se M 6= 0, temos, pelo teorema 1.6, que existe > 0 tal que g(x) 6= 0
para todo x (X {a}) (a , a + ). Como lim xn = a e xn X {a},
n

existe n0 N tal que 0 < |xn a| < para todo n > n0 . Logo, g(xn ) 6= 0
f(xn ) L
para todo n > n0 e lim = .
n g(xn ) M

f(x)
Assim, pelo teorema 1.7, tem sentido para todo x suficientemente
g(x)
f(x) L

proximo e diferente de a e lim = .
xa g(x) M

166 J. Delgado - K. Frensel


e propriedades do limite
Definicao

Se lim f(x) = 0 e |g(x)| A para todo x X {a}, entao


lim f(xn ) = 0
xa n

e (g(xn )) e uma sequ encia


limitada. Logo, lim (f(xn ) g(xn )) = 0. Assim,
n

pelo teorema 1.7, lim (f(x) g(x)) = 0.


xa

f(x) f(x)
1.4 Se lim g(x) = 0 e existe lim
Observacao ou o quociente
xa xa g(x) g(x)
e limitado numa vizinhanca de a, entao,
pelo teorema acima,
 
f(x)
lim f(x) = lim g(x) = 0.
xa xa g(x)

Logo, se lim g(x) = 0 e lim f(x) 6= 0 ou nao


existe lim f(x), entao
o quoci-
xa xa xa

f(x)
ente e sequer limitado numa vizinhanca de a.
nao
g(x)

Teorema 1.9 (Criterio



de Cauchy para limites de funcoes)
Sejam X R, a X 0 e f : X R. Entao
existe lim f(x) se, e so se, para
xa

todo > 0 dado, existe > 0, tal que |f(x) f(y)| < quaisquer que sejam
x, y ( X {a} ) (a , a + ) .

Prova.

(=) Se xa dado > 0 existe > 0 tal que |f(x) L| <
lim f(x) = L, entao,
2
para todo x X, 0 < |x a| < .
Logo,

|f(x) f(y)| |f(x) L| + |f(y) L| < + = ,
2 2
quaisquer que sejam x, y X, 0 < |x a| < e 0 < |y a| < .

(=) Seja (xn ) uma sequ encia


de pontos de X {a} com lim xn = a.
n

Dado > 0, existe > 0 tal que |f(x)f(y)| < para x, y X, 0 < |xa| <
e 0 < |y a| < .
Como lim xn = a e xn X {a}, existe n0 N tal que 0 < |xn a| <
n

para todo n > n0 .


Logo, |f(xn ) f(xm )| < para todos n, m > n0 . Ou seja, a sequ encia

(f(xn )) e de Cauchy e, portanto, converge.
pelo corolario
Entao, 1.4, existe lim f(x).
xa


Instituto de Matematica - UFF 167

Analise na Reta

Sejam X R, Y R, a X 0 , b Y 0 , f : X R e g : Y R tais que


f(X) Y, lim f(x) = b e lim g(y) = c.
xa yb

para x proximo
Entao, de a, f(x) esta proximo
de b, mas pode ocor-

rer que f(x) = b para x arbitrariamente proximo de a. Neste caso, b Y e
lim (g f)(x) pode existir ou nao.
Caso exista, deve ser igual a g(b), que
xa

pode ser diferente de c.

Exemplo 1.1 Seja f : R R a funcao


identicamente nula e seja

1 , se x 6= 0
g : R R a funcao
definida por g(x) =
0 , se x = 0 .

lim f(x) = 0, lim g(y) = 1 e lim (g f)(x) = 0, que e diferente de


Entao,
x0 y0 x0

1.

Exemplo 1.2 Sejam f : R R e g : R R as funcoes


definidas da
seguinte maneira:

0 , se x Q 0 , se y 6= 0
f(x) = e g(x) =
x , se x R Q , 1 , se y = 0 .


Entao, existe lim g(f(x)), pois
lim f(x) = 0 e lim g(y) = 0, mas nao
x0 y0 x0

1 , se x Q
g f(x) =
0 , se x R Q . 

Teorema 1.10 Sejam X, Y R, f : X R, g : Y R, com f(X) Y,


a X 0 e b Y Y 0.
lim (g f)(x) = g(b).
Se lim f(x) = b e lim g(y) = g(b), entao,
xa yb xa

Prova.
Dado > 0 existe > 0 tal que |g(y) g(b)| < para todo y Y,
|y b| < .
Sendo lim f(x) = b, existe > 0 tal que |f(x) b| < para todo x X,
xa

0 < |x a| < .
Logo, |g(f(x)) g(b)| < para todo x X, 0 < |x a| < .

168 J. Delgado - K. Frensel


Exemplos de limites

2. Exemplos de limites

Exemplo 2.1 Seja f : R R a funcao


identidade, ou seja, f(x) = x
para todo x R.
lim f(x) = lim x = a para todo a R.
Entao,
xa xa

lim xn = an para todo n N, porque se lim xj = aj , temos,


Por inducao,
xa xa

pelo teorema 1.8, que


  
lim xj+1 = lim xj lim x = aj a = aj+1
xa xa xa

Logo, pelo teorema 1.8, temos que se


p(x) = an xn + an1 xn1 + . . . + a1 x + a0
e um polinomio,
para a R,
entao,
lim p(x) = an lim xn + an1 lim xn1 + . . . + a1 lim x + a0
xa xa xa xa
= an an + an1 an1 + . . . + a1 a + a0 = p(a) .

p(x)
Assim, se f(x) = e o quociente de dois polinomios,
ou seja, f e uma
q(x)
lim f(x) = f(a), se q(a) 6= 0.
racional, entao
funcao
xa

a e uma raiz de q(x) e, portanto, x a divide q(x).


Se q(a) = 0, entao
Seja m 1 tal que q(x) = (x a)m q1 (x), com q1 (a) 6= 0, e seja n 0 tal
que p(x) = (x a)n p1 (x), com p1 (a) 6= 0.
p1 (x) p (a) p (x)
Se m = n, lim f(x) = lim = 1 , pois f(x) = 1 para todo
xa xa q1 (x) q1 (a) q1 (x)
x 6= a.
p1 (x)
Se m < n, lim f(x) = 0, pois f(x) = (x a)nm para todo x 6= a.
xa q1 (x)

p1 (x)
lim f(x) nao
Se m > n, entao existe, pois f(x) = , onde o
xa (x a)mn q1 (x)
(ver observacao
denominador tem limite zero e o numerador nao 1.4).

Exemplo 2.2 Seja f : R R a funcao


definida por

0 , se x Q
f(x) =
1 , se x R Q .


Instituto de Matematica - UFF 169

Analise na Reta

existe lim f(x) para todo a R.


nao
Entao,
xa


De fato, existe uma sequ encia (xn ) de numeros
racionais, xn 6= a, tal que
xn a e existe uma sequ encia
(yn ), yn 6= a, de numeros
irracionais tal
que yn a. Entao,
lim f(xn ) = 0 e lim f(yn ) = 1. Logo, pelo corolario

n n

existe lim f(x).


1.3, nao
xa

Mas, se g(x) = (x a)f(x), temos que lim g(x) = 0, pois lim (x a) = 0 e


xa xa

f e limitada.

Exemplo 2.3 Seja f : Q R a funcao


definida por

1/q , se p/q e uma fracao
irredutvel com q > 0
f(x) =
1 , se x = 0 .

Como Q 0 = R, tem sentido falar em lim f(x) para todo a R.


xa

Vamos provar que lim f(x) = 0 para todo a R.


xa

Seja a R fixo. Dado > 0 existe > 0 tal que 0 <


Afirmacao:

p
a < = 0 < 1 < , ou seja, q > 1 .

q q

1
Seja F = {q N | q } . Entao,
F e um conjunto fiinito. Para cada q F

m

fixo, as fracoes , m Z, decompoem
a reta em intervalos juxtapostos
q
1
de comprimento , pois
q
[  m m+1 
R= , .
q q
mZ

mq m0
Para cada q F, seja mq Z o maior inteiro tal que < a. Seja q0 a
q q
mq

maior das fracoes , com q F, a qual existe, pois F e finito.
q


De modo analogo, para cada q F, seja nq Z o menor inteiro tal que
nq n 00
> a. Como F e finito, existe nq 00 Z tal que q00 e a menor das fracoes

q q
nq
, com q F.
q

170 J. Delgado - K. Frensel


Exemplos de limites

mq 0
Assim, e a maior fracao
que tem denominador em F e e menor do que
q0
nq 00
a, e e a menor fracao
com denominador em F que e maior do que
q 00
salvo possvelmente a, nenhum numero
a. Entao, racional do intervalo
 
mq 0 nq 00
0
, 00 pode ter denominador em F.
q q

m 0 n 00
Seja = min a q0 , q00 a . Entao,

q q

p p p
0 < a < = a < < a + , 6= a

q q q
mq 0 p n 00 p
= 0
< < q00 , 6= a
q q q q
1 1
= q 6 F = q > = 0 < <
  q
p
= f 0 < .
q
 
p
Logo, provamos que dado > 0, existe > 0 tal que f
0 < para
q

p p
todo Q, 0 < a < . Assim, lim f(x) = 0 para todo a R.
q q xa

2.1 Seja g : R R a funcao


Observacao definida por




0 , se x R Q

g(x) = 1 , se x = 0



1 p
, se e irredutvel com q > 0 .
q q

lim g(x) = 0 para todo a R.


Entao,
xa

x
Exemplo 2.4 Seja f : R {0} R definida por f(x) = x + , ou seja,
|x|

x + 1 , se x > 0
f(x) =
x 1 , se x < 0 .

nao
Entao, existe lim f(x), pois
x0
1 1   1  1  1
lim f = lim +1 =1 e lim f = 1 = 1 = 1 .
n n n n n n n n



Instituto de Matematica - UFF 171

Analise na Reta

1
Exemplo 2.5 Seja f : R {0} R a funcao
definida por f(x) = sen .
x
nao
Entao existe lim f(x).
x0

De fato, seja c [1, 1] e b R tal que sen b = c.


1
 
a sequ encia
Entao, tende para zero e
b + 2n nN
1
 
lim f = lim sen(2n + b) = sen b = c .
n 2n + b n

1
f e limitada, temos que lim g(x) sen
Mas, como a funcao = 0 para toda
x0 x
g : R {0} R tal que lim g(x) = 0.
funcao
x0

1
Em particular lim xn sen = 0 para todo n N.
x0 x

3. Limites laterais

3.1 Sejam X R, a X+0 e f : X R. Dizemos que L R


Definicao
e o limite a` direita de f(x) quando x tende para a, e escrevemos
L = lim+ f(x) ,
xa

quando, para todo > 0 dado, existe > 0 tal que |f(x) L| < para todo
x X, a < x < a +

Simbolicamente, temos:
lim f(x) = L " > 0 > 0 ; x X , a < x < a + = |f(x) L| < " .
xa+

ou
lim f(x) = L > 0 > 0 ; f(x) (L , L + ) x X (a, a + ) .
xa+

3.2 Sejam X R, a X0 e f : X R. Dizemos que L R


Definicao
e o limite a` esquerda de f(x) quando x tende para a, e escrevemos
L = lim f(x) ,
xa

quando, para todo > 0 dado, existe > 0 tal que |f(x) L| < para todo
x X, a < x < a.

Simbolicamente, temos:

172 J. Delgado - K. Frensel


Limites laterais

lim f(x) = L " > 0 > 0 ; x X , a < x < a = |f(x) L| < " ,
xa

ou
lim f(x) = L > 0 > 0 ; f(x) (L , L + ) x X (a , a) .
xa

Teorema 3.1 Sejam X R, a X+0 , f : X R, Y = X (a, +) e


Um resultado analogo ao teorema

g = f|Y . Entao, lim+ f(x) = L se, e so se, lim g(x) = L. 3.1 vale para o limite a` esquerda.
xa xa

Prova.
(=) Dado > 0, existe > 0 tal que f(x) (L , L + ) para todo
x X (a, a + ).
Como (Y {a}) (a , a + ) = X (a, a + ), temos que |g(x) L| <
para todo x (Y {a}) (a , a + ).

(=) Dado > 0, existe > 0 tal que |g(x) L| = |f(x) L| < para todo
x (Y {a}) (a , a + ) = X (a, a + ).

3.1 Pelo teorema acima, o limite a` direita e o limite a` es-


Observacao
o limite de uma restricao
querda sao de f. Assim, os teoremas 1.1 a
para os limites laterais, substituindo nos enunciados
1.10 valem tambem
(a , a + ) por (a, a + ) no caso de limite a` direita, e (a , a + ) por
(a , a) no caso de limite a` esquerda.

Exemplo 3.1 Sejam X, Y R, f : X R, g : Y R, f(X) Y,


a X+0 , b Y 0 Y.
lim+ g(f(x)) = g(b).
Se lim+ f(x) = b e lim g(y) = g(b) entao
xa yb xa

Teorema 3.2 Sejam X R, f : X R e a X+0 X0 . Entao


existe
lim f(x) se, e so se, existem e sao
iguais os limites laterais lim+ f(x) e
xa xa

lim f(x). Neste caso,


xa

lim f(x) = lim+ f(x) = lim f(x) .


xa xa xa

Prova.
(=) Suponhamos que L = lim f(x). Sejam Y = (a, +) X e g = f|Y .
xa


Instituto de Matematica - UFF 173

Analise na Reta

Como a Y 0 , pois a X+0 , temos, pelo teorema 1.2, que lim g(x) = L.
xa

pelo teorema 3.1, existe lim+ f(x) e e igual a L.


Entao,
xa


De modo analogo, podemos provar que o lim f(x) existe e e igual a L.
xa

(=) Suponhamos que L = lim f(x) = lim+ f(x).


xa xa

Dado > 0, existem 1 > 0 e 2 > 0 tais que


|f(x) L| < para todo x X (a, a + 1 ) ,
e
|f(x) L| < para todo x X (a 2 , a).
Tomando = min{1 , 2 }, temos que |f(x) L| < para todo x tal que
x (X (a, a + )) (X (a , a)) = (X {a}) (a , a + ) .
Logo, lim f(x) = L. 
xa

x
Exemplo 3.2 Seja f : R {0} R definida por f(x) = x + . Como
|x|
f(x) = x + 1 para x (0, +) e f(x) = x 1 para x (, 0), temos que
existe lim f(x).
lim f(x) = 1, lim f(x) = 1 e nao
x0+ x0 x0

1
Exemplo 3.3 Seja f : R {0} R definida por f(x) = .
x
0 (R {0})+0 (R {0})0 , mas nao
Entao, existem os limites laterais a`
direita e a` esquerda no ponto 0.

1
Exemplo 3.4 Seja f : R {0} R definida por f(x) = e x .

Entao, existe lim f(x), pois f(x) nao
lim+ f(x) = 0, mas nao e limitada
x0 x0


para x negativo proximo de 0.

3.3 Seja f : X R R. Dizemos que f e


Definicao
crescente quando x, y X, x < y = f(x) < f(y).
nao-decrescente
quando x, y X, x < y = f(x) f(y).
decrescente quando x, y X, x < y = f(x) > f(y).
nao-crescente
quando x, y X, x < y = f(x) f(y).

174 J. Delgado - K. Frensel


Limites laterais

monotona
quando f e de algum dos quatro tipos acima.

Teorema 3.3 Sejam X R, a X+0 , b X0 e f : X R, uma funcao




monotona existem os limites laterais
limitada. Entao,
L = lim+ f(x) e M = lim f(x).
xa xb

Prova.
Suponhamos que f : X R e nao-decrescente.

Seja a X+0 e seja A = {f(x) | x X e x > a}.


Como a X+0 e f e limitada, temos que A e nao-vazio
e limitado inferior-
existe L = inf A.
mente. Entao,
L = lim+ f(x) .
Afirmacao:
xa

Dado > 0, existe x X, x > a, tal que L f(x) < L + .


para x X, a < x < a + = x temos que
Seja = x a > 0. Entao,
L < L f(x) f(x) < L + . Logo, lim+ f(x) = L.
xa

Sejam, agora, b X0 e B = {f(x) | x X e x < b}. Entao,


existe M =
sup B, pois B 6= e e limitado superiormente.
Dado > 0, existe x X, x < b, tal que M < f(x) M.
para x X, x = b < x < b, temos que
Tome = b x > 0. Entao,
M < f(x) f(x) M < M + .
Logo, lim f(x) = M.
xb

3.2 Se a X, entao
Observacao nao
e preciso supor que f e limitada,
pois, se f e nao
decrescente, por exemplo, f(a) e uma cota inferior para
o conjunto {f(x) | x X e x > a} e e uma cota superior para o conjunto
{f(x) | x X e x < a}.

3.3 Uma sequencia


Observacao
monotona limitada e convergente, mas
monotona
para uma funcao existir lim f(x) quando
limitada pode nao
xa
x
a X 0 . Isso acontece, por exemplo, com a funcao
f(x) = x + , para
|x|
x (R {0}) (1, 1), porque o limite de uma sequ encia
e um limite
lateral a` esquerda, pois quando n +, tem-se n < +.


Instituto de Matematica - UFF 175

Analise na Reta

4.
Limites no infinito, limites infinitos e expressoes
indeterminadas

4.1 Sejam X R um conjunto ilimitado superiormente e f :


Definicao
X R. Dizemos que L e o limite de f(x) quando x +, e escrevemos
lim f(x) = L ,
x+

quando
> 0 A > 0 ; x X , x > A = |f(x) L| < .

4.2 Sejam X R um conjunto ilimitado inferiormente e f :


Definicao
X R. Dizemos que L e o limite de f(x) quando x , e escrevemos
lim f(x) = L ,
x
Os resultados do teorema 1.1 ao
teorema 1.9 sao validos
para li- quando
mites no infinito com as devidas

> 0 A > 0 ; x X , x < A = |f(x) L| < .
adaptacoes.

4.1 O limite quando x tende a + e,


Observacao de certo modo, um
limite lateral a` esquerda, e o limite quando x tende a , um limite lateral
a` direita.

Assim, o resultado do teorema 3.3 continua valido. Mais precisamente:
Seja f : X R uma funcao
monotona
limitada e X R um conjunto
ilimitado superiormente.
Se f e nao-decrescente,
lim f(x) = L, onde L = sup{f(x) | x X}.
entao
x+

Se f e nao-crescente,
lim f(x) = L, onde L = inf{f(x) | x X}.
entao
x+

Seja, agora, X R ilimitado inferiormente.


Se f e nao-decrescente,
lim f(x) = L, onde L = inf{f(x) | x X}.
entao
x

Se f e nao-crescente,
lim f(x) = L, onde L = sup{f(x) | x X}.
entao
x

4.2 O limite de uma sequencia


Observacao f : N R e um caso
no infinito, pois lim f(x) = lim f(n).
particular de limite de uma funcao
x+ n

176 J. Delgado - K. Frensel


indeterminadas
Limites no infinito, limites infinitos e expressoes

1 1
Exemplo 4.1 x
lim = 0, pois dado > 0 existe A = > 0 tal que
x
1 1 1 1
0 < < , para todo x > = A, e < < 0, para todo x < A = .
x x

existe lim sen x, pois 2n + e sen(2n) 0,


Exemplo 4.2 Nao
x+

   
enquanto 2n + + e sen 2n + 1.
2 2

De modo analogo, existe lim sen x.
podemos verificar que nao
x

lim ex = 0, mas nao


Exemplo 4.3 x existe lim ex .
x+

4.3 Sejam X R, a X 0 e f : X R. Dizemos que f(x)


Definicao
tende para + quando x tende para a e escrevemos
lim f(x) = + ,
xa

quando para todo A > 0 dado, existe > 0 tal que


x X, 0 < |x a| < = f(x) > A .

1 1
Exemplo 4.4 xa
lim = +, pois dado A > 0 existe = > 0
(x a)2 A
tal que
1 1
0 < |x a| < = 0 < (x a)2 < = > A.
A (x a)2

4.4 Sejam X R, a X 0 e f : X R. Dizemos que f(x)


Definicao
tende para quando x tende para a e escrevemos
lim f(x) = ,
xa

quando para todo A > 0 dado, existe > 0 tal que


x X, 0 < |x a| < = f(x) < A .

1
Exemplo 4.5 xa
lim = .
(x a)2

Outros casos possveis

4.5 Sejam X R, a X+0 e f : X R. Dizemos que:


Definicao


Instituto de Matematica - UFF 177

Analise na Reta

lim+ f(x) = + A > 0, > 0 ; x X, a < x < a + = f(x) > A.


xa

lim+ f(x) = A > 0, > 0 ; x X, a < x < a + = f(x) < A.


xa


De modo analogo, podemos definir lim f(x) = + e lim f(x) = ,
xa xa

quando a X0 .

4.6 Sejam X R ilimitado superiormente e f : X R.


Definicao
Dizemos que:
lim f(x) = + A > 0, B > 0 ; x X, x > B = f(x) > A.
x+

lim f(x) = A > 0, B > 0 ; x X, x > B = f(x) < A.


x+

4.7 Sejam X R ilimitado inferiormente e f : X R. Dize-


Definicao
mos que:
lim f(x) = + A > 0, B > 0 ; x X, x < B = f(x) > A.
x

lim f(x) = A > 0, B > 0 ; x X, x < B = f(x) < A.


x

1 1
Exemplo 4.6 lim+ = + ; lim = ; lim ex = + ;
xa xa xa xa x+
k
lim x = + , k N.
x+

Modificacoes
que devem sofrer os teoremas provados para limites finitos

de modo a continuarem validos no caso de limites infinitos.
f e positiva e ilimitada supe-
(1) Unicidade. Se lim f(x) = +, entao
xa

se pode ter lim f(x) = L, pois,


riormente numa vizinhanca de a. Logo, nao
xa

neste caso, f seria limitada numa vizinhanca de a, nem lim f(x) = ,


xa

pois f seria negativa numa vizinhanca de a.


(2) Sejam Y X com a Y 0 e g = f|Y .
Se lim f(x) = + = lim g(x) = +.
xa xa

Sejam Y = (a , a + ) X, > 0, e g = f|Y .


Se lim g(x) = + = lim f(x) = +.
xa xa

178 J. Delgado - K. Frensel


indeterminadas
Limites no infinito, limites infinitos e expressoes

f e ilimitada superiormente em qualquer


(3) Se lim f(x) = + entao
xa

vizinhanca de a.
(4) Se f(x) g(x) x X e lim f(x) = +, entao
lim g(x) = +.
xa xa

existe > 0 tal que


(5) Se lim f(x) = L e lim g(x) = +, entao
xa xa

x X, 0 < |x a| < = f(x) < g(x).


(6) lim f(x) = + lim f(xn ) = + para toda sequ encia
(xn )
xa n+

de pontos de X {a} com lim xn = a.


n

(7) Se lim f(x) = + e g(x) > c x (X {a}) (a , a + ),


xa

lim (f(x) + g(x)) = +.


entao
xa

Se lim f(x) = + e g(x) > c > 0 x (X {a}) (a , a + ),


xa

lim (f(x) g(x)) = +.


entao
xa

Se f(x) > 0 x (X {a}) (a , a + ), entao


lim f(x) = 0
xa
1
lim = +.
xa f(x)

Sendo f(x) > c > 0 e g(x) > 0 para todo x (X{a})(a, a+),
f(x)
lim
temos que se lim g(x) = 0 entao = +.
xa xa g(x)

Sendo |f(x)| c para todo x (X {a}) (a , a + ), temos que


f(x)
lim
se lim g(x) = +, entao = 0.
xa xa g(x)

existe algo semelhante ao criterio


(8) Nao de Cauchy para limites
infinitos.
(9) Se lim f(x) = e lim g(y) = L, entao
lim g(f(x)) = L.
xa y xa

Se lim f(x) = e lim g(y) = +, entao


lim g(f(x)) = +.
xa y xa

Se lim f(x) = e lim g(x) = , entao


lim g(f(x)) = .
xa x xa

(10) Sejam a X+0 e f : X R monotona.


lim+ f(x) existe se, e so se, existe > 0 tal que f e limitada no
xa

conjunto X (a, a + ).


Instituto de Matematica - UFF 179

Analise na Reta

Se f e ilimitada superiormente em X (a, a + ) para todo > 0,


lim+ f(x) = +.
entao
xa

De fato, dado A > 0, existe x X (a, a + 1) tal que f(x) > A.


Se f e nao-crescente
ou decrescente, temos que f(x) f(x) > A
para todo x X (a, a + ), onde = x a > 0.
pode ser nao-decrescente
Observe que, neste caso, f nao ou cres-
cente, pois, dado x > a, x X, existiria x (a, x) tal que f(x) > f(x).
De modo analogo,
podemos provar que se f e ilimitada inferior-
mente em X (a, a + ) para todo > 0, entao
lim+ f(x) = e f tem
xa


que ser crescente ou nao-decrescente.

4.3 No entanto, se a X0 , temos que:


Observacao
lim f(x) existe se, e so se, existe > 0 tal que f e limitada no conjunto
xa
Exerccio: Se f : X R X (a , a).
e monotona,
ou existe
entao
lim f(x) ou
x+
lim f(x) =
x+
Se f e ilimitada superiormente em X (a , a) para todo > 0, entao

. lim f(x) = + e f e nao-decrescente
ou crescente.

De modo analogo, ou existe xa
lim f(x) ou lim f(x) =
x x
. Se f e ilimitada inferiormente em X (a , a) para todo > 0, entao

lim f(x) = e f e nao-crescente
ou decrescente.
xa

indeterminadas do
Agora, vamos falar um pouco sobre expressoes
0 0
tipo , , 0 , , 0 , 0 , 1 .
0
0
Indeterminacao
do tipo .
0
Sejam X R, a X 0 , f, g : X R tais que lim f(x) = lim g(x) = 0.
xa xa

f(x)
Se a Y 0 , onde Y = {x X | g(x) 6= 0}, entao
o quociente esta
g(x)
f(x)
definido em Y e faz sentido indagar se existe lim . Mas nada se pode
xa g(x)
f e g, ele pode
afirmar sobre esse limite, pois, dependendo das funcoes
existir.
assumir qualquer valor ou nao
Por exemplo, se f(x) = cx e g(x) = x, temos

180 J. Delgado - K. Frensel


indeterminadas
Limites no infinito, limites infinitos e expressoes

f(x)
lim f(x) = 0, lim g(x) = 0 e lim = c.
x0 x0 x0 g(x)

1
Por outro lado, se f(x) = x sen , x 6= 0, e g(x) = x, entao
lim f(x) =
x x0

f(x) 1
existe lim
lim g(x) = 0, mas nao = lim sen .
x0 x0 g(x) x0 x

Dizer que e indeterminado, significa que, dependendo das esco-


lhas para f e g, tais que lim f(x) = lim g(x) = +, o limite lim (f(x)g(x))
xa xa xa


pode ser um valor real c arbitrario existir.
ou pode nao
1
Por exemplo, se f, g : R {a} R sao
dados por f(x) = c +
(x a)2
1
e g(x) = lim f(x) = lim g(x) = + e lim (f(x) g(x)) = c.
, entao
(x a)2 xa xa xa

1 1 1
E se f(x) = sen + 2
e g(x) = , temos que
xa (x a) (x a)2
lim f(x) = lim g(x) = +,
xa xa

existe lim (f(x) g(x)).


mas nao
xa

do tipo 00 , dado qualquer c > 0, existem funcoes


Para a indeterminacao
f, g : X R, com a X 0 , lim f(x) = lim g(x) = 0 e f(x) > 0 para todo
xa xa
g(x)
x X, tais que lim f(x) = c.
xa

f, g : (0, +) R dadas por f(x) = x


Por exemplo, para as funcoes
log c
e g(x) = , temos que
log x
lim f(x) = lim g(x) = 0 e lim f(x)g(x) = lim eg(x) log f(x) = lim elog c = c .
x0 x0 x0 x0 x0


Podemos, tambem, escolher f e g de modo que o limite de f(x)g(x)
existe. Basta tomar, por exemplo, as funcoes
nao dadas por f(x) = x e
1
 
g(x) = log 1 + sen (log x)1 , x > 0, para termos

x
lim f(x) = lim g(x) = 0,
x0 x0

mas o limite
1
 
lim f(x)g(x) = lim eg(x) log f(x) = lim 1 + sen

x0 x0 x0 x

existe.
nao


Instituto de Matematica - UFF 181

Analise na Reta

5.
Valores de aderencia limsup
de uma funcao,
e liminf

Sejam X R, a X 0 e f : X R. Para cada > 0, indicaremos


por V o conjunto
V = {x X | 0 < |x a| < } = (X {a}) (a , a + ) .

5.1 Dizemos que f e limitada numa vizinhanca de a quando


Definicao
existe > 0 tal que f|V e limitada, ou seja, existe K > 0 tal que |f(x)| K
para todo x V .

5.2 Dizemos que c R e um valor de aderencia


Definicao de f no

ponto a quando existe uma sequ encia (xn ) de pontos de X {a} tal que
lim xn = a e lim f(xn ) = c.
n+ n+


Indicaremos por VA(f; a) o conjunto dos valores de aderencia de f no
ponto a.

5.1 Pelo teorema 1.7, temos que se L = lim f(x), entao


Observacao L
xa

e o unico

valor de aderencia de f no ponto a.

Mostraremos, mais adiante, que se f e limitada numa vizinhanca de


a e L e o unico

valor de aderencia lim f(x) = L.
de f no ponto a, entao
xa

e limitada numa vizinhanca de a, pode ocorrer que nao


Mas se f nao
exista lim f(x), mesmo quando f possui um unico

valor de aderencia no
xa

ponto a.


1 , se x Q
Exemplo 5.1 Seja f : R R a funcao f(x) = 1
.
, se x R Q
x
1 e o unico
Entao,
valor de aderencia existe
de f no ponto 0, mas nao
e limitada numa vizinhanca de 0.
lim f(x), pois f nao
x0

Teorema 5.1 Um numero


real c e valor de aderencia
de f no ponto a
se, e so se, c f(V ) para todo > 0.

182 J. Delgado - K. Frensel



Valores de aderencia limsup e liminf
de uma funcao,

Prova.
(=) Seja c um valor de aderencia
de f no ponto a e seja (xn ) uma

sequ encia de pontos de X {a} tal que xn a e f(xn ) c.
Como xn a, dado > 0, existe n0 N tal que xn V para todo
n > n0 . Logo, f(xn ) f(V ) para todo n > n0 , ou seja, (f(xn ))n>n0 e uma

sequ encia de pontos de V que converge para c.

c f(V ) .
Entao,

(=) Suponhamos que c f(V ) para todo > 0.


c f(V 1 ) para todo n N.
Entao,
n

1
Assim, para todo n N, existe xn V 1 tal que |f(xn ) c| < .
n n
1 1
Como xn X, 0 < |xn a| < e |f(xn ) c| < para todo n N,
n n
temos que (xn ) e uma sequ encia
de pontos de X {a} tal que xn a e
f(xn ) c. Logo, c e um valor de aderencia
de f no ponto a.

\

Corolario 5.1 VA(f; a) = f(V ) .
>0

\

Corolario 5.2 VA(f; a) = f(V 1 ) .
n
nN

Prova.
\
Se c c f(V ) para todo > 0. Em particular, c f(V 1 )
f(V ), entao
n
>0
\
para todo n N. Logo, c f(V 1 ) .
n
nN
\
Suponhamos, agora, que c f(V 1 ).
n
nN

1
Dado > 0, existe n N, tal que < . Logo, V 1 V e, portanto,
n n

f(V 1 ) f(V ). Assim, f(V 1 ) f(V ) .


n n

Como c f(V 1 ) para todo n N, temos que c f(V ) para todo > 0.
n

Portanto,


Instituto de Matematica - UFF 183

Analise na Reta

\
c f(V ) = VA(f; a) ,
>0

ou seja, c e um valor de aderencia


de f no ponto a.


Corolario 5.3 O conjunto dos valores de aderencia
de f num ponto a
X 0 e fechado. Se f e limitada numa vizinhanca de a, entao
VA(f; a) e

compacto e nao-vazio.

Prova.
Como VA(f; a) e uma intersecao
de conjuntos fechados, temos que VA(f; a)
e fechado.
existe n0 N
Suponhamos que f e limitada numa vizinhanca de a. Entao
tal que f(V 1 ) e limitado. Logo, f(V 1 ) e fechado e limitado e, portanto,
n0 n0

compacto.

Seja Kn = f(V 1 ), n N. Como Kn Kn0 para todo n n0 , temos


n

que (Kn )nn0 e uma sequ encia



decrescente de conjuntos compactos nao-
\
vazios tal que VA(f; a) = Kn . Logo, pelo teorema 4.5 da parte 4,
nn0

temos que VA(f; a) e compacto e nao-vazio.




5.2 Se f e ilimitada em qualquer vizinhanca de a, isto e,


Observacao
f(V ) e ilimitado para todo > 0, entao
VA(f; a) pode nao
ser compacto.

1 1
Exemplo 5.2 Se f : R{0} R e a funcao
definida por f(x) = sen ,
x x
f e ilimitada em toda vizinhanca de 0 e VA(f; 0) = R, que nao
entao e
compacto, pois e ilimitado.
1
De fato, 0 VA(f; 0), pois xn = 0 e
2n
f(xn ) = 2n sen(2n) = 0 0.
Seja, agora, c > 0.
1 1
Dado n N, existe xn > 0 tal que xn <
Afirmacao: e sen = xn c .
n xn
1 1 c
De fato, como c sen(n) = c0= >0 e
n n n
1 c
c sen(2n + (4kn 3) 2 ) = 1<0
2n + (4kn 3) 2 2n + (4kn 3) 2

184 J. Delgado - K. Frensel



Valores de aderencia limsup e liminf
de uma funcao,

para algum kn N, temos, pelo teorema do valor intermediario


para
contnuas, que provaremos na proxima
funcoes parte, que existe
 
1 1 1
xn , tal que xn c sen = 0.
2n + (4kn 3) 2 n xn

1
Logo, 0 < xn < e f(xn ) = c para todo n N. Assim, xn 0 e
n
f(xn ) c, ou seja, c VA(f; 0).

De modo analogo, se c < 0, dado n N, temos que
1 c
c sen(n) = <0
n n
e
1 c
 
c sen 2n + (4kn + 3) = +1>0
2n + (4kn + 3) 2 2 2n + (4k + 3) 2

para algum kn N.

Logo, pelo teorema do valor intermediario contnuas, existe
para funcoes
 
1 1 1
xn , tal que xn c sen = 0.
2n + (4kn + 3) 2 n xn

Assim, c VA(f; 0), pois xn 0, f(xn ) = c c e xn = 0 para todo


n N.

5.3 Tambem
Observacao pode ocorrer que VA(f; a) seja vazio quando
f e ilimitada em toda vizinhanca de a. Por exemplo, se f : R {0} R e
1
definida por f(x) = , entao
a funcao VA(f; a) = .
x

5.4 Como VA(f; a) e compacto e nao-vazio


Observacao quando f e
limitada numa vizinhanca de a, VA(f; a) possui um maior elemento e um
menor elemento.

5.3 Chamamos limite superior de f no ponto a ao maior valor


Definicao

de aderencia L de f no ponto a, e escrevemos:
lim sup f(x) = L .
xa


Chamamos limite inferior de f no ponto a ao menor valor de aderencia `
de f no ponto a, e escrevemos:
lim inf f(x) = ` .
xa


Instituto de Matematica - UFF 185

Analise na Reta

1
Exemplo 5.3 Seja f : R {0} R a funcao
definida por f(x) = sen .
x
pelo visto no exemplo 2.5, VA(f; 0) = [1, 1].
Entao,
Logo, lim sup f(x) = +1 e lim inf f(x) = 1 .
x0 x0

` vezes escrevemos lim sup f(x) = + para indi-


5.5 As
Observacao
xa

car que f e ilimitada superiormente em toda vizinhanca de a, e escreve-


mos lim inf f(x) = para indicar que f e ilimitada inferiormente em toda
xa
1 1
vizinhanca de a. Por exemplo, para f(x) = sen , x 6= 0, do exemplo
x x
5.2, teramos lim sup f(x) = + e lim inf f(x) = .
x0 x0


Tambem, quando lim f(x) = , teramos
xa

lim sup f(x) = lim inf f(x) = + .


xa xa


Consideraremos, agora, o valor de aderencia de f quando x +
ou x .
Dizemos que c VA(f; +), ou seja, que c e um valor de aderencia


de f em +, quando existe uma sequ encia (xn ) de pontos de X tal que
xn + e f(xn ) c.
Dizemos que c VA(f; ), ou seja, que c e um valor de aderencia


de f em , quando existe uma sequ encia (xn ) de pontos de X tal que
xn e f(xn ) c.
Seja V = X (, +), > 0, e W = X (, ), < 0. Entao,

\ \ \ \
VA(f; +) = f(V ) = f(Vn ) e VA(f; ) = f(W ) = f(Wn ) .
>0 nN <0 nN

destes fatos faz-se de modo analogo


A demonstracao ao caso finito.
Dizemos que f e limitada numa vizinhanca de + quando existe > 0
e K > 0 tais que x X , x > = |f(x)| K, ou seja, |f(x)| K para todo
x V = X (, +).
E dizemos que f e limitada numa vizinhanza de quando existe < 0
e K > 0 tais que x X , x < = |f(x)| K, ou seja, |f(x)| K para todo
x W = X (, ).

186 J. Delgado - K. Frensel



Valores de aderencia limsup e liminf
de uma funcao,

Como no caso finito, podemos provar que VA(f; +) e VA(f; )


compactos nao-vazios
sao quando f e limitada numa vizinhanca de +
nestes casos, temos, tambem,
e , respectivamente. Entao, o maior

e o menor valor de aderencia, denotados por lim sup f(x) e
que serao
x

lim inf f(x), respectivamente.


x

provados a seguir para VA(f; a) se estendem aos


Os fatos que serao

valores de aderencia
no infinito com as devidas adaptacoes.
Seja f limitada numa vizinhanca V0 de a, ou seja, f(V0 ) e um conjunto
f(V ) e limitado para todo (0, 0 ].
limitado. Entao

Sejam as funcoes
L : (0, 0 ] R ` : (0, 0 ] R
7 L = sup f(x) e 7 ` = inf f(x)
xV xV

Como V V0 para (0, 0 ], temos que `0 ` L L0 para


todo (0, 0 ].
Se 0 < 0 < 00 0 , entao
V 0 V 00 e, portanto, ` 00 ` 0 e
L 0 L 00 , ou seja, 7 ` e uma funcao
monotona

nao-crescente e
7 L e uma funcao
monotona

nao-decrescente.
Logo, pelo teorema 3.3, existem os limites lim ` e lim L , e
0 0

lim ` = sup{` | (0, 0 ]} e lim L = inf{L | (0, 0 ]} .


0 0

Teorema 5.2 Se f e limitada numa vizinhanca de a, entao



lim sup f(x) = lim L e lim inf f(x) = lim ` .
xa 0 xa 0

Prova.
Sejam L = lim sup f(x) e L0 = lim L . Como L e valor de aderencia
de
xa 0

L f(V ) para todo > 0. Logo, L L para todo


f no ponto a, entao
(0, 0 ], ou seja, L e uma cota inferior do conjunto {L | (0, 0 ]}.
Assim, L L0 = inf{L | (0, 0 ]}.
Vamos provar, agora, que L0 e valor de aderencia
de f no ponto a.
1 1
 
Como L 1 = sup{f(x) | x V 1 }, existe xn V 1 = X a , a + tal
n n n n n


Instituto de Matematica - UFF 187
1
que L 1 < f(xn ) L 1 .
n n n

xn a, xn X {a}, e f(xn ) L0 , pois lim L 1 = lim L = L0 .


Entao
n n 0

Logo, L0 e valor de aderencia


de f no ponto a e, portanto, L0 L.
Provamos, assim, que L = L0 .

A igualdade lim inf f(x) = lim ` se demonstra de maneira analoga. 
xa 0

Teorema 5.3 Se f e limitada numa vizinhanca de a, entao



> 0 > 0 ; x X, 0 < |x a| < = ` < f(x) < L + ,
onde ` = lim inf f(x) e L = lim sup f(x).
xa xa

Prova.
dado > 0,
Pelo teorema anterior, ` = lim ` e L = lim L . Entao,
0 0

existem 1 > 0 e 2 > 0 tais que ` < `1 ` e L L2 < L + .


Tomando = min{1 , 2 }, temos que ` `1 ` f(x) L L2 <
L + ,
para todo x (X {a}) (a , a + ).

5.6 Como no caso de sequ encias,


Observacao L e o menor numero

que goza da propriedade acima, e ` e o maior numero
com a propriedade
acima.


Corolario 5.4 Seja f limitada numa vizinhanca de a. Entao
existe lim f(x)
xa

se, e so se, f possui um unico



valor de aderencia no ponto a.

Prova.
(=) Se lim f(x) = L entao
L e o unico

valor de aderencia de f no ponto
xa

a, pois se (xn ) e uma sequ encia


de pontos de X {a} que converge para
a, temos, pelo teorema 1.7, que f(xn ) L.

(=) Se f possui um unico



valor de aderencia L = `.
no ponto a, entao
Assim, pelo teorema anterior, para todo > 0 dado, existe > 0 tal que
L < f(x) < L + para todo x (X {a}) (a , a + ). Logo,
L = lim f(x).
xa


Instituto de Matematica - UFF 189
190 J. Delgado - K. Frensel
de funcao
A nocao contnua

Parte 6


Funcoes contnuas

1. de funcao
A nocao contnua

1.1 Dizemos que uma funcao


Definicao f : X R e contnua no ponto
a X, quando para todo > 0 dado, existe > 0 tal que |f(x) f(a)| <
para todo x X, |x a| < .

Simbolicamente, f : X R e contnua no ponto a se, e somente



se:
> 0 > 0 ; x X , |x a| < = |f(x) f(a)| <

1.1 Em termos de intervalos, temos que f e contnua no


Observacao
ponto a se, e so se:
> 0 > 0 ; f(I X) J, onde I = (a , a + ) e J = (f(a) , f(a) + ) .
ou
Para todo intervalo aberto J contendo f(a) existe um intervalo aberto I
contendo a tal que f(I X) J.

1.2 Dizemos que uma funcao


Definicao f : X R e contnua quando
e contnua em todos os pontos de X.

1.2 Se a e um ponto isolado de X, entao


Observacao toda funcao

f : X R e contnua no ponto a.
De fato, seja 0 > 0 tal que (a 0 , a + 0 ) X = {a}.


Instituto de Matematica - UFF 191

Analise na Reta

dado > 0, existe = 0 > 0, tal que |f(x) f(a)| < para todo
Entao,
x X (a 0 , a + 0 ) = {a}.
isolados, entao
Em particular, se todos os pontos de X sao toda funcao

f : X R e contnua.

1.3 Seja a X X 0 . Entao


Observacao f e contnua no ponto a se, e
so se, lim f(x) = f(a).
xa

se a X 0 , temos que lim f(x) = L se, e so se, a funcao


Entao,
xa

f(x), se x X {a}
g : X {a} R dada por g(x) =
L, se x = a

e contnua no ponto a.

1.4 Sejam Y X e f : X R. Se f e contnua num ponto


Observacao
a Y, entao
f|Y e contnua no ponto a. Mas a recproca nao
e verdadeira.
Basta tomar f descontnua no ponto a e Y X finito ou discreto com
a Y.

Exemplo 1.1 Toda funcao


f : Z R e contnua, pois todo ponto de Z
e isolado, ou seja, Z e um conjunto discreto.

1 1 1

Pela mesma razao, toda funcao f : 1, , , . . . , . . . R e contnua.

2 3 n

1 1 1

Mas se Y = 0, 1, , , . . . , . . . , uma funcao f : Y R e contnua se,
2 3 n
1
e so se, e contnua no ponto 0, ou seja, se, e so se, f(0) = lim f .
n n 


Os resultados enunciados abaixo decorrem dos fatos analogos ja
1.2 e 1.3
demonstrados para limites na parte anterior e das observacoes
acima.

Teorema 1.1 Seja f : X R contnua no ponto a X.


Se a Y X e g = f|Y , entao
g e contnua no ponto a.
de uma funcao
Em particular, toda restricao contnua e contnua.

Teorema 1.2 Sejam a X, f : X R e g = f|Y , onde Y = I X e I e


a.
um intervalo aberto que contem

192 J. Delgado - K. Frensel


de funcao
A nocao contnua

f e contnua no ponto a se, e so se, g e contnua no ponto a.


Entao

1.5 Este resultado diz que a continuidade de uma funcao


Observacao
f e uma propriedade local, ou seja, se f coincide com uma funcao
contnua
f tambem
no ponto a numa vizinhanca do ponto a, entao e contnua no
ponto a.

Teorema 1.3 Se f e contnua no ponto a X, entao


f e limitada numa
vizinhanca de a, ou seja, existe > 0 tal que f(U ) e limitado, onde
U = X (a , a + ).

Teorema 1.4 Se f, g : X R sao


contnuas no ponto a X, e f(a) <
existe > 0 tal que f(c) < g(x) para todo x X (a , a + ).
g(a), entao


Corolario 1.1 Sejam K R e f : X R uma funcao
contnua no
ponto a X. Se f(a) < K, entao
existe > 0 tal que f(x) < K para todo
x X (a , a + ).

Prova.
Dado = K f(a) > 0, existe > 0 tal que f(a) < f(x) < f(a) + = K
para todo x X (a , a + ).

1.6 De modo analogo,


Observacao podemos provar que:
se f(a) > K, entao
existe > 0 tal que f(x) > K x X (a , a + ).

se f(a) 6= K, entao
existe > 0 tal que f(x) 6= K x X (a , a + ).

1.7 Sejam f : X R uma funcao


Observacao contnua e K R.
A = {x X | f(x) > K} e a intersecao
Entao, de X com um conjunto U
aberto em R.
De fato, seja a A, ou seja, f(a) > K. Entao,
pelo corolario
acima, existe
a > 0 tal que f(x) > K para todo x X Ia , onde Ia = (a a , a + a ).
[
Seja U = U e aberto e A = U X, pois U X A e
Ia . Entao,
aA

A U X.
Em particular, se X e aberto, entao
A e aberto.


Instituto de Matematica - UFF 193

Analise na Reta

Teorema 1.5 Uma funcao


f : X R e contnua no ponto a X se,
e so se, lim f(xn ) = f(a) para toda sequ encia
(xn ) de pontos de X que
n
converge para a.


Corolario 1.2 Uma funcao
f : X R e contnua no ponto a X se,
e so se, lim f(xn ) existe e independe da sequ encia
(xn ) de pontos de X
x

com lim xn = a.
n


Corolario 1.3 Uma funcao
f : X R e contnua no ponto a X se,
e so se, existe lim f(xn ) para toda sequ encia
(xn ) de pontos de X com
n

lim xn = a.
n

Teorema 1.6 Se f, g : X R sao


contnuas no ponto a X, entao

f
f g e f g sao
contnuas em a. Se g(a) 6= 0, entao
: X0 R e
g
contnua em a, onde X0 = {x X | g(x) 6= 0}.

Em particular, se f e contnua no ponto a X, entao


cf e contnua
1
em a, onde c R. E, se f(a) 6= 0, entao
e contnua em a.
f

Teorema 1.7 Se f : X R e contnua no ponto a X e g : Y R e


contnua no ponto b = f(a) e f(X) Y, entao
g f : X R e contnua
no ponto a.

contnuas e contnua no
Em particular, a composta de duas funcoes

seu domnio de definicao.

1.8 A restricao
Observacao f : X R a um subcon-
de uma funcao
junto Y X e um caso particular de funcao
composta, pois f|Y = f i :
Y R, onde i : Y R e a inclusao,
ou seja, i(y) = y para todo y Y.

identidade x 7 x e contnua, temos,


1.9 Como a funcao
Observacao
x 7 xn e contnua para todo n N.
pelo teorema 1.6, que a funcao
polinomial p : R R,
Pelo mesmo teorema, temos que toda funcao
p(x) = an xn + . . . + a1 x + a0 , e contnua, e, portanto, toda funcao
racional

194 J. Delgado - K. Frensel


de funcao
A nocao contnua

p(x)
f(x) = funcoes
, onde p e q sao polinomiais, e contnua nos pontos
q(x)
se anula.
onde o denominador q nao

x + 1, se x 5
Exemplo 1.2 Seja f : R R dada por f(x) =
16 2x, se x < 5

f e contnua em todos os pontos do conjunto (, 5) (5, +),


Entao,
contnua
pois f restrita ao conjunto aberto (, 5) coincide com a funcao
x 7 x + 1 e f restriga ao conjunto aberto (5, +) coincide com a funcao

contnua x 7 16 2x.
disso, f tambem
Alem e contnua no ponto 5, pois
lim f(x) = lim f(x) = 6 = f(5) .
x5+ x5

Exemplo 1.3 Seja f : R R definida por




x , se x 6= 0
f(x) = |x|

1 , se x = 0 .

f e contnua em todos os pontos do conjunto (, 0) (0, +),


Entao
e contnua em x = 0, pois lim+ f(x) = 1 6= lim f(x) = 1, ou
mas nao
x0 x0

existe lim f(x).


seja, nao
x0

1.10 O motivo que assegura a continuidade da funcao


Observacao do
do exemplo 1.3, e
exemplo 1.2, mas permite a descontinuidade da funcao
fornecido pelo teorema abaixo.

Teorema 1.8 Sejam f : X R e X F1 F2 , onde F1 e F2 sao


conjuntos
contnuas entao
fechados. Se f|XF1 e f|XF2 sao f e contnua.

Prova.
Sejam a X e > 0 dados. Precisamos analisar tres
casos:

(1) a F1 F2
contnuas no ponto a, existem 1 > 0 e 2 > 0
Como f|XF1 e f|XF2 sao
tais que:


Instituto de Matematica - UFF 195

Analise na Reta

|f(x) f(a)| < se x (X F1 ) (a 1 , a + 1 ) ,


e
|f(x) f(a)| < se x (X F2 ) (a 2 , a + 2 ) .
Seja = min{1 , 2 } > 0. Entao,



x (X F1 ) (a ), a + )


|f(x) f(a)| < e



x (X F ) (a ), a + ) .
2

Mas, como X F1 F2 , temos que


( (X F1 ) (X F2 ) ) (a , a + ) = ( X (F1 F2 ) ) (a , a + )
= X (a , a + )

Logo, |f(x) f(a)| < para todo x X (a , a + ) .


(2) a F1 e a 6 F2 .
Como f|XF1 e contnua no ponto a, existe 1 > 0 tal que |f(x) f(a)| <
para todo x (X F1 ) (a 1 , a + 1 ).
disso, como a 6 F2 e F2 e fechado, existe 2 > 0 tal que (a 2 , a +
Alem
2 ) F2 = .
Seja = min{1 , 2 } > 0. Entao,
se x X (a , a + ) temos que
|f(x) f(a)| < , pois
X (a , a + ) = ((X F1 ) (a , a + )) ((X F2 ) (a , a + ))
= (X F1 ) (a , a + ),

ja que (X F2 ) (a , a + ) = .
(3) a F2 e a 6 F1 .

Este caso prova-se de modo analogo ao anterior.


Corolario 1.4 Sejam f : X R e X = F1 F2 , onde F1 e F2 sao
conjun-
contnuas entao
tos fechados. Se f|F1 e f|F2 sao f e contnua.

1.11 O teorema 1.8 e o corolario


Observacao 1.4 sao
validos

tambem
quando se tem um numero
finito de conjuntos fechados. Mas, para uma
em geral, falso.
infinidade de conjuntos, o resultado e,
f : X R que nao
Por exemplo, para uma funcao e contnua num ponto

196 J. Delgado - K. Frensel


de funcao
A nocao contnua

[
x0 X, temos X = {x}, com {x} fechado, e f|{x} contnua em x, para
xX

todo x X.

1.12 No exemplo 1.2, R = F G, onde F = (, 5] e


Observacao
fechados. Como f|F e f|G sao
G = [5, +) sao contnuas, temos que f e
contnua.
Mas, no exemplo 1.3, R = A B, onde A = (, 0) e B = [0, +), f|A
contnuas e f nao
e f|B sao e contnua no ponto 0. Isso ocorre porque A
e fechado.
nao
[
Teorema 1.9 Sejam f : X R e X A uma cobertura de X por
L

meio de abertos A , L. Se f|A X e contnua para todo L, entao


f
e contnua.

Prova.
Sejam a X e > 0 dados. Entao
existe 0 L tal que a A0 .

Como A0 e aberto, existe 1 > 0 tal que (a 1 , a + 1 ) A0 .


disso, como f|XA0 e contnua no ponto a, existe 2 > 0 tal que
Alem
|f(x) f(a)| < , x (X A0 ) (a 2 , a + 2 ) .
Seja = min{1 , 2 } > 0. Entao,

|f(x) f(a)| < , x (X A0 ) (a , a + ) = X (a , a + ),
pois (a , a + ) A0 . Logo, f e contnua no ponto a.
[

Corolario 1.5 Sejam f : X R e X = A , onde cada A e aberto.
L

Se f|A e contnua para todo L, entao


f e contnua.

Exemplo 1.4 Seja f : R {0} R a funcao


definida por:

1, se x (0, +)
f(x) =
1, se x (, 0) .

f : R {0} R e contnua, pois R {0} = (, 0) (0, +), os


Entao
abertos e as funcoes
conjuntos A = (, 0) e B = (0, +) sao f|A e f|B
contnuas.
sao


Instituto de Matematica - UFF 197

Analise na Reta

2. Descontinuidades

2.1 Dizemos que uma funcao


Definicao f : X R e descontnua no
ponto a X quando f nao
e contnua no ponto a.

Ou seja, f e descontnua no ponto a se existe 0 > 0 tal que para


todo > 0 existe x X (a , a + ) tal que |f(x ) f(a)| 0 .

0, se x Q
Exemplo 2.1 Seja f : R R a funcao
f(x) =
1, se x R Q .

f e descontnua em todos os pontos de R, pois nao


Entao existe lim f(x)
xa

qualquer que seja a R.

Exemplo 2.2 Seja f : R R a funcao





0, se x R Q


f(x) = 1, se x = 0



1 , se x = p Q e uma fracao
q q
irredutvel, com q > 0 .

2.1 da parte 5, temos que lim g(x) = 0 para todo a R.


Pela observacao
xa

Logo, g e contnua nos numeros


irracionais e descontnua nos racionais.

Ver o exerccio 18 do livro.


Mas nao f : R R que seja contnua nos pontos
existe uma funcao
raiconais e descontnua nos pontos irracionais. 


0, se x = 0
Exemplo 2.3 Seja f : R R definida por f(x) = x

x + , se x 6= 0 .
|x|

o ponto 0 e o unico
Entao ponto de descontinuidade de f.

Exemplo 2.4 Sejam K [0, 1] o conjunto de Cantor e f : [0, 1] R a


definida por
funcao

0, se x K
f(x) =
1, se x 6 K .

o conjunto dos pontos de descontinuidade de f e K.


Entao

198 J. Delgado - K. Frensel


Descontinuidades

De fato, como A = [0, 1] K e aberto e f|A 1 e constante, temos que f e


contnua em todos os pontos de A.
Mas, como int K = , para cada x K, existe uma sequ encia
(xn ) de
pontos de A com lim xn = x.
n

lim f(xn ) = 1 6= 0 = f(x).


Entao,
n

Logo, f e descontnua em todos os pontos de K.

2.2 Dizemos que f : X R possui uma descontinuidade


Definicao

de primeira especie no ponto a X quando f e descontnua em a, mas
existe lim+ f(x) se a X+0 e existe lim f(x) se a X0 .
xa xa

2.3 Dizemos que f : X R possui uma descontinuidade de


Definicao

segunda especie no ponto a X se f e descontnua no ponto a quando

a X+0 e lim+ f(x) nao


existe
xa
ou
a X0 e lim f(x) nao
existe.
xa

Exemplo 2.5 Seja f : R R a funcao





0, se x R Q


f(x) = 1, se x = 0



1 , se x = p Q e uma fracao
q q
irredutvel, com q > 0 .

Como lim f(x) = 0 para todo a R, todas as descontinuidades de f sao



xa


de primeira especie.
Neste exemplo, os limites laterais nos pontos de descontinuidade existem
iguais, mas sao
e sao diferentes do valor da funcao
nesses pontos.

Exemplo 2.6 No exemplo 2.3, o zero e um ponto de descontinuidade



de primeira especie, pois, os limites laterais existem nesse ponto, embora
sejam diferentes.

Exemplo 2.7 No exemplo 2.1, todos os numeros


desconti-
reais sao

nuidades de segunda especie, existem os limites
pois nao lim f(x) e
xa+

lim f(x) para todo a R.


xa


Instituto de Matematica - UFF 199

Analise na Reta

Exemplo 2.8 No exemplo 2.4, todos os pontos do conjunto de Cantor


descontinuidades de segunda especie,
sao existe lim+ f(x)
pois ou nao
xa

existe lim f(x), para todo a K.


ou nao
xa

De fato:
se a e a extremidade superior de um dos intervalos abertos retirados na
do conjunto de Cantor K, temos que a K+0 e a A+0 , pois
construcao
existem sequencias
int K = (lembre que A = [0, 1] K), entao, (xn ) e
(yn ) tais que xn K, xn > a, yn [0, 1] K = A, yn > a, xn a e
yn a.
Logo, f(xn ) 0 e f(yn ) 1. Portanto, nao
existe lim+ f(x), apesar
xa

de existir lim f(x) = 1, pois a e a extremidade superior de um intervalo


xa

aberto contido em A.
se a = 0, nao
existe o limite lim+ f(x) pelo mesmo motivo exposto acima,
x0

faz sentido, pois 0 6 [0, 1]0 e o domnio da funcao.


e lim f(x) nao
x0

se a e a extremidade inferior de um dos intervalos retirados na cons-


do conjunto K, temos que a K0 e a A0 , pois intK = , entao,
trucao

existem sequ encias (xn ) de pontos de K e (yn ) de pontos de A tais que
xn < a, yn < a, xn a e yn a. Logo, lim f(xn ) = 0 e lim f(yn ) = 1.
n n

existe lim f(x), mas existe lim+ f(x) = 1, pois a e a extre-


Portanto, nao
xa xa

midade inferior de um intervalo aberto contido em A.


se a = 1, o limite lim f(x) nao
existe pelo mesmo motivo exposto acima,
x1

faz sentido, pois 1 6 ([0, 1])+0 .


e lim+ f(x) nao
x1

se a nao
e extremidade de intervalo algum retirado na construcao
de K,
a K0 K+0 e a A0 A+0 , pois int K = .
entao
existem lim+ f(x) e lim f(x).
Logo, nao
xa xa

Exemplo 2.9 Seja f : R R a funcao




sen 1 , se x 6= 0
x
f(x) =
a, se x = 0 .

200 J. Delgado - K. Frensel


Descontinuidades

para qualquer a R, o zero e um ponto de descontinuidade de


Entao,

segunda especie, pois os limites laterais a` esquerda e a` direita em 0 nao

existem.

Exemplo 2.10 Seja f : R R a funcao





sen 1
, se x 6= 0
1
f(x) = 1 + ex

0, se x = 0 .

0 e o unico
Entao, ponto de descontinuidade de f e e de primeira especie,

pois lim+ f(x) = 0 = f(0) e lim f(x) = sen 1 6= f(0).
x0 x0

1

sen( x1) , se x 6= 0
Exemplo 2.11 Seja f : R R a funcao
f(x) = 1 + ex

0, se x = 0 .

0 e a unica
Entao, descontinuidade de f e e de segunda especie,
pois
 1 
existe, ja que f
lim f(x) = 0 = f(0), mas lim f(x) nao 0 e
x0+ x0 2n
 
1
f 1 .
2n + 2

Exemplo 2.12 Seja f : R R a funcao


dada por

0, se x R (R+ Q)
f(x) =
1, se x (R Q).
+

lim f(x) = f(0) = 0, mas nao


Entao existe lim+ f(x). Logo, 0 e um ponto
x0 x0


de descontinuidade de segunda especie, no qual um dos limites laterais
existe.

Teorema 2.1 Uma funcao


monotona
f : X R nao
admite desconti-

nuidades de segunda especie.

Prova.
f e contnua em a. Seja a X X 0 .
Se a X e um ponto isolado, entao
Se a X X+0 , entao
existe > 0 tal que a + X. Logo, f|X[a,a+] e

limitada e monotona e, portanto, existe lim+ f(x).
xa


Instituto de Matematica - UFF 201

Analise na Reta

Se a X X0 , entao
existe > 0 tal que a X. Logo f|X[a,a] e

limitada e monotona e, portanto, existe lim f(x).
xa

Logo, para todo a X X 0 , existem os limites laterais que facam sentido


nesse ponto.

Teorema 2.2 Seja f : X R monotona.


Se f(X) e denso em algum
f e contnua.
intervalo I, entao

Prova.
Se a e ponto isolado de X, entao
f e contnua em a.

Seja a X X 0 . Se a X X+0 , existe lim+ f(x) = f(a+ ) e se a X X0 ,


xa

existe lim f(x) = f(a ), pelo teorema anterior.
xa

f(a+ ) = f(a) se a X X+0 e f(a ) = f(a) se a X X0 .


Afirmacao:
Suponhamos que f e nao-decrescente.

Nesse caso, f(a+ ) = inf{f(x) | x > a}. Como f(a) f(x) para todo x > a,
x X, temos que f(a) f(a+ ).
Vamos supor, por absurdo, que f(a) < f(a+ ).
f(X), ou seja, f(X) I.
Seja I um intervalo que contem
Como a X+0 , existe x > a tal que x X. Sendo f(x) f(a+ ), temos que
( f(a), f(a+ ) ) I, pois ( f(a), f(a+ ) ) ( f(a), f(x) ) e f(a), f(x) f(X).
Mas ( f(a), f(a+ ) ) f(X) = , pois se x < a, f(x) f(a) e se x > a,
f(x) f(a+ ).

se f(X) e denso em I, ou seja, f(X) I e I f(X), chegamos


Entao,
1
pois
a uma contradicao, ( f(a) + f(a+ ) ) I e ( f(a), f(a+ ) ) e um inter-
2
1

valo aberto que contem ( f(a) + f(a+ ) ) tal que ( f(a), f(a+ ) ) f(X) = .
2
Logo, f(a+ ) = f(a).

De modo analogo, podemos provar que f(a ) = f(a) se a X0 .
Logo, f e contnua em todos os pontos de X.


Corolario 2.1 Se f : X R e monotona
e f(X) e um intervalo, entao
f
e contnua.

202 J. Delgado - K. Frensel


Descontinuidades

Exemplo 2.13 Seja f : R R a funcao


dada por

x, se x Q
f(x) =
x, se x R Q .

f e contnua apenas no ponto 0, pois:


Entao
se a Q {0}, existe uma sequ encia
(xn ), xn R Q, tal que xn a
e f(xn ) = xn a 6= a = f(a) ,
e
se a R Q, existe uma sequ encia
(xn ), xn Q, tal que xn a e
f(xn ) = xn a 6= a = f(a).
disso, f e uma bijecao,
Alem ou seja, f e injetiva e f(R) = R. Em particular,
f(R) e um intervalo. Isto so e possvel porque f nao
e monotona.


Seja f : X R uma funcao


cujas descontinuidades sao
todas de

primeira especie. Seja : X R a funcao
definida por


max { |f(x) f(x+ )| , |f(x) f(x )| } , se x X+0 X0





|f(x) f(x+ )|, se x X+0 e x 6 X0
(x) =

|f(x) f(x )|, se x X0 e x 6 X+0





0, se x e um ponto isolado de X ,

onde f(a+ ) = lim+ f(x) e f(a ) = lim f(x).


xa xa

O valor (x) e chamado o salto de f no ponto x.

2.1 Se a f(x) b para todo x X, entao


Observacao 0 (x)
b a. De fato:
Se x0 X+0 , existe uma sequ encia
(xn ), xn > x0 , xn X, tal que
f(xn ) f(x+
0 ).

Logo, |f(x0 ) f(x+


0 )| b a, pois |f(x0 ) f(xn )| b a para todo n N.

Se x0 X0 , existe uma sequ encia


(xn ), xn < x0 , xn X, tal que f(xn )
f(x
0 ).

Logo, |f(x0 ) f(x


0 )| b a, pois |f(x0 ) f(xn )| b a para todo n N.

2.2 (x) > 0 se, e so se, x e uma descontinuidade de f.


Observacao


Instituto de Matematica - UFF 203

Analise na Reta

Teorema 2.3 Seja f : X R uma funcao


cujas descontinuidades sao


todas de primeira especie. o conjunto dos pontos de descontinui-
Entao
dade de f e enumeravel.

Prova.


1

Para cada n N, seja Dn = x X (x) .

n
o conjunto dos pontos de descontinuidade de f e
Entao
[
D= Dn .
nN

Se provamos que, para todo n N, o conjunto Dn so possui pontos isola-


Dn e enumeravel
dos, entao e, portanto, D sera enumeravel.

Para todo n N, Dn so possui pontos isolados.


Afirmacao:
1
Seja a Dn , ou seja, (a) a X 0 , pois f e descontnua em a.
. Entao
n
Suponhamos que a X+0 .
de limite lateral a` direita, existe > 0 tal que
Pela definicao
1 1
f(a+ ) < f(x) < f(a+ ) + ,
4n 4n
para todo x (a, a + ) X.
1 1
(x) <
Entao, < para todo x (a, a+)X. Logo, (a, a+)Dn = .
2n n
Se a 6 X+0 , existe > 0 tal que (a, a+)X = . Logo, (a, a+)Dn = .
Assim, para todo a X 0 , existe > 0 tal que (a, a + ) Dn = .

De modo analogo, podemos provar que para todo a X 0 existe > 0 tal
que (a , a) Dn = .
se a Dn , existe > 0 tal que (a , a + ) Dn = {a}, ou seja a
Entao,
e um ponto isolado de Dn .


Corolario 2.2 Seja f : X R uma funcao
monotona.
o conjunto
Entao
dos pontos de descontinuidade de f e enumeravel.

Prova.
de primeira especie.
Pelo teorema 2.1, todas as descontinuidades de f sao 

204 J. Delgado - K. Frensel


contnuas em intervalos
Funcoes


3. Funcoes contnuas em intervalos

Teorema 3.1 (Teorema do valor intermediario)


Seja f : [a, b] R contnua. Se f(a) < d < f(b) entao


existe c (a, b)
tal que f(c) = d.

Prova.

Primeira demonstracao.
Como f e contnua no ponto a, dado = d f(a) > 0, existe > 0,
< b a, tal que f(x) < f(a) + = d para todo x [a, a + ).
A = { x (a, b) | f(x) < d } 6= , pois (a, a + ) A, e e aberto, pela
Entao
1.7.
observacao
e contnua no ponto b, dado = f(b)d > 0 existe > 0,
Como f tambem
< b a, tal que d = f(b) < f(x) para todo x (b , b]. Entao
o
conjunto B = {x (a, b) | f(x) > d} e nao-vazio,
pois (b , b) B, e e
1.7.
aberto, pela observacao
existir c (a, b) tal que f(c) = d, teramos (a, b) = A B, o que e
Se nao
de um aberto como reuniao
absurdo pela unicidade da decomposicao de
intervalos abertos dois a dois disjuntos, ja que A 6= , B 6= e (a, b) e

um intervalo aberto (ver corolario 1.1 da parte 4).


Segunda demonstracao.
Seja A = {x [a, b] | f(x) < d}. Entao,
A e limitado e nao-vazio,
ja que
f(a) < d. Seja c = sup A.

c 6 A.
Afirmacao:
Suponhamos, por absurdo, que c A, ou seja, que f(c) < d.
Como c b e f(b) > d, temos que a c < b. Sendo f contnua em c,
dado = d f(c) > 0, existe > 0, < b c, tal que f(x) < f(c) + = d
para todo x [c, c + ) [a, b), o que e absurdo, pois c e o supremo de
A e (c, c + ) A.
disso, como c e o limite de uma sequ encia
Alem de pontos xn A, temos
f(c) = lim f(xn ) d.
n

Logo, f(c) = d, pois c 6 A, ou seja, f(c) d.


Instituto de Matematica - UFF 205

Analise na Reta

3.1 O teorema continua valido


Observacao quando f(b) < d < f(a).


Corolario 3.1 Seja f : I R uma funcao
contnua num intervalo I
qualquer. Se a < b pertencem a I e f(a) < d < f(b) (ou f(b) < d < f(a)),
existe c (a, b) tal que f(c) = d.
entao

Prova.
Basta restringir f ao intervalo [a, b] e aplicar o teorema anterior.


Corolario 3.2 Seja f : I R uma funcao
contnua num intervalo I.
f(I) e um intervalo.
Entao

Prova.
Sejam = inf{f(x) | x I} e = sup{f(x) | x I}.
Podemos ter = se f e ilimitada inferiormente, e = + se f e
ilimitada superiormente.

f(I) e um intervalo, cujos extremos sao


Afirmacao: e .
pelas definicoes
Seja < y < . Entao,
de sup e inf, ou pela definicao
de conjunto ilimitado, quando um dos extremos ou e infinito ou ambos
infinitos, existem a, b I tais que f(a) < y < f(b). Pelo Teorema do
sao

Valor Intermediario, existe x entre a e b tal que f(x) = y, ou seja, y f(I).


3.2 No corolario
Observacao acima, podemos ter f(I) = [, ], f(I) =
(, ], f(I) = [, ) ou f(I) = (, ).

Exemplo 3.1 Seja f : (1, 3) R dada por f(x) = x3 . Entao,


f((1, 3)) =
[0, 9).

3.3 Se I e um intervalo e f : I R e uma funcao


Observacao
contnua tal que f(I) Z, entao
f e constante, pois todo intervalo con-
tido em Z e degenerado. Mais geralmente:
Se f : X R e contnua, f(X) Y e int Y 6= , entao
f e constante em
cada intervalo contido em X.

3.4 Seja p : R R, p(x) = an xn + . . . + a1 x + a0 , an 6= 0


Observacao

206 J. Delgado - K. Frensel


contnuas em intervalos
Funcoes


um polinomio p possui uma raz real, ou seja,
de grau n mpar. Entao,
existe c R tal que p(c) = 0.

Suponhamos que an > 0. Se a0 = 0, temos p(0) = 0. Caso contrario,
para todo x 6= 0, p(x) = an xn r(x), onde
an1 1 a 1 a 1
r(x) = 1 + + . . . + 1 n1 + 0 n .
an x an x an x

Como lim r(x) = 1, lim an xn = + e lim an xn = , temos que


x x x

lim p(x) = + e lim p(x) = . Logo, p(R) = R, pois p(R) e um


x+ x

intervalo ilimitado superior e inferiormente.


para todo d R existe c R tal que
Ou seja, p e sobrejetiva. Entao
p(c) = d. Em particular, existe c R tal que p(c) = 0.

Exemplo 3.2 Para cada n N, seja f : [0, +) [0, +) a funcao



definida por f(x) = xn .
Como f e contnua, f(0) = 0 e lim xn = +, temos que
x+

f([0, +)) = [0, +),


ou seja, f e sobrejetiva. Alem
disso, f e crescente e, portanto, injetiva.
f : [0, +) [0, +) e uma bijecao
Entao contnua.

Assim, dado y 0 existe um unico
x 0, que denotamos por x = n y, tal
n
que x = y.

f, g : [0, +) [0, +), g(y) =
A inversa g da funcao n y, e tambem

contnua e crescente, pelo teorema que provaremos abaixo.

Teorema 3.2 Seja f : I R uma funcao


contnua, injetiva, definida
f e monotona,
num intervalo I. Entao sua imagem J = f(I) e um intervalo
e sua inversa f1 : J I e contnua.

Prova.
Para verificar que f e monotona,
basta provar que f e monotona
em todo
intervalo limitado e fechado [a, b] I.
Como f e injetiva, temos f(a) 6= f(b).
Vamos supor que f(a) < f(b).

A funcao
Afirmacao: f e crescente.


Instituto de Matematica - UFF 207

Analise na Reta

Suponhamos, por absurdo, que existem x, y [a, b] tais que x < y e


entao,
f(x) > f(y). Ha, duas possibilidades: f(a) < f(y) ou f(a) > f(y).

1o caso: f(a) < f(y) < f(x).



Pelo Teorema do Valor Intermediario, existe c (a, x) tal que f(c) = f(y),
o que e absurdo, pois c < y e f e injetiva.
2o caso: f(y) < f(a) < f(b).

Pelo Teorema do Valor Intermediario, existe c (y, b) tal que f(c) = f(a),
o que e absurdo, pois c > a e f e injetiva.
Logo, f e monotona
e J = f(I) e um intervalo, pois f e contnua. Entao,

f : I J e uma bijecao
contnua e monotona.

disso, f1 : J I e tambem
Alem monotona,
pois se y < z, y, z J, entao

f1 (y) < f1 (z) se f e crescente e f1 (y) > f1 (z) se f e decrescente, ja
que y = f(f1 (y)) < z = f(f1 (z)).

pelo corolario
Entao, 2.1, f1 : J I e contnua, pois f1 e monotona
e
f1 (J) = I e um intervalo.

3.5 Se f : I R e contnua, injetiva e, portanto, monotona,


Observacao
o intervalo J = f(I) e do mesmo tipo (aberto, fechado, semi-aberto)
entao
do intervalo I.
Mas, um dos intervalos I e J pode ser ilimitado e o outro limitado.
1
f : (0, 1] R dada por f(x) =
Por exemplo, para a funcao , temos
x
f((0, 1]) = [1, +).

3.1 Sejam X, Y R. Uma bijecao


Definicao contnua f : X Y, cuja
inversa f1 : Y X tambem
e contnua, chama-se um homeomorfsmo
entre X e Y

Pelo teorema anterior, se f : I R e uma bijecao


contnua definida
f(I) = J e um intervalo e f1 : J I e tambem
num intervalo I, entao
contnua, ou seja f : I J e um homeomorfismo.
contnua f : X Y tem inversa contnua.
Mas, nem toda bijecao
Por exemplo, seja f : X = [0, 1)[2, 3] Y = [1, 3] definida por f(x) = x+1
se x [0, 1) e f(x) = x se x [2, 3).

208 J. Delgado - K. Frensel


contnuas em conjuntos compactos
Funcoes

f e uma bijecao
Entao, contnua e crescente, mas a funcao
inversa
f1 : [1, 3] [0, 1) [2, 3] e descontnua no ponto 2. De fato, como
f1 (y) = y se y [2, 3) e f1 (y) = y 1 se y [1, 2), entao
f1 (2) = 2 e
lim f1 (y) = 1 6= f1 (2).
y2

4.
Funcoes contnuas em conjuntos compac-
tos

Teorema 4.1 Seja f : X R uma funcao


contnua. Se X e compacto
f(X) e compacto.
entao

Prova.

Primeira demonstracao.
[
Seja (A ) L uma cobertura aberta de f(X), ou seja, f(X) A e
L

cada A , L, e aberto.
para todo x X, existe x L tal que f(x) Ax .
Entao,
Como f e contnua, para cada x I, existe um intervalo aberto Ix centrado
em x tal que f(Ix X) Ax .
[
Logo, como X Ix e X e compacto, existem x1 , . . . , xn X tais que
xX

X Ix1 . . . Ixn .
Assim, f(X) Ax1 . . . Axn , o que prova a compacidade de f(X).


Segunda demonstracao.

Seja (yn ) uma sequencia de pontos de f(X).
Para cada n N, existe xn X tal que f(xn ) = yn . Como X e compacto,

(xn ) possui uma subsequ encia (xnk )kN que converge para um ponto x
X.
pela continuidade de f, temos que ynk = f(xnk ) f(x), ou
Entao,

seja, (yn ) possui uma subsequ encia que converge para um ponto de f(X).
Logo, f(X) e compacto.


Instituto de Matematica - UFF 209

Analise na Reta


Corolario 4.1 (Weierstrass)
contnua f : X R definda num compacto X e limitada e
Toda funcao
atinge seus valores extremos, ou seja, existem x1 , x2 X tais que
f(x1 ) f(x) f(x2 ) ,
para todo x X.

Prova.
Pelo teorema acima, f(X) e compacto e, portanto, limitado e fechado.
inf f(X) e sup f(X) existem e pertencem a f(X), ou seja, existem
Entao,
x1 , x2 X tais que f(x1 ) = inf f(X) e f(x2 ) = sup f(X).

1
Exemplo 4.1 A funcao
f : (1, 1) R definida por f(x) = e
1 x2
e limitada, pois f((1, 1)) = [1, +). Isto e possvel,
contnua, mas nao
e compacto, pois, apesar de ser limitado,
porque o domnio (1, 1) nao
e fechado.
nao

Exemplo 4.2 A funcao


f : (1, 1) R definida por f(x) = x e contnua
possui um ponto de maximo
e limitada, mas nao nem de mnimo em seu
e compacto,
domnio. Observe que, nesse exemplo, o domnio (1, 1) nao
ja que nao
e fechado.

1
Exemplo 4.3 A funcao
f : [0, +) R definida por f(x) =
1 + x2
e contnua e limitada, pois f([0, +)) = (0, 1]. A funcao
f assume seu

maximo existe x [0, +) tal que
1 no ponto zero, mas nao
f(x) = 0 = inf{f(x) | x [0, +)}.
Isto e possvel porque o domnio de f nao
e compacto, pois, apesar de ser
e limitado.
fechado, nao

4.1 Dados a R e um subconjunto fechado nao-vazio


Observacao
F R, existe x0 F tal que |a x0 | |a x| para todo x F.
Seja n N tal que K = [an, a+n]F 6= . Como K e limitado e fechado,
K e compacto.
definida por f(x) = |a x|. Sendo f contnua e K
Seja f : K R a funcao
compacto, existe x0 K tal que f(x0 ) = |a x0 | f(x) = |a x| para todo
x K.

210 J. Delgado - K. Frensel


Continuidade Uniforme

Se x 6= K e x F, temos que |a x| > n > |a x0 |. Logo, |a x0 | |a x|


para todo x F.

4.2 Se F nao
Observacao e fechado e a F F, entao

inf{|a x| | x F} = 0.

De fato, como a F, existe uma sequ encia


(xn ) de pontos de F tal que
xn a.
Logo, |a xn | 0 e, portanto inf{|a x| | x F} = 0.
existe x0 F tal que |a x0 | |a x| para todo
Mas, como a 6 F, nao
x F, pois, neste caso, |a x0 | = inf{|a x| | x X} = 0, ou seja, a = x0 , o
que e absurdo, pois a 6 F e x0 F.

Teorema 4.2 Seja X R compacto. Se f : X R e contnua e


Y = f(X) e compacto e f1 : Y R e contnua.
injetiva, entao

Prova.
Seja b = f(a) f(X) = Y e seja yn b, onde yn = f(xn ) f(X).

xn = f1 (yn ) f1 (b) = a.
Afirmacao:
Como X e compacto e xn X para todo n N, a sequencia
(xn ) e
basta mostrar que a e o unico
limitada. Entao,
valor de aderencia da

sequencia (xn ).

Seja (xnk )kN uma subsequ encia de (xn ) que converge para a 0 R. Como
X e compacto, a 0 X. Logo, ynk = f(xnk ) b e ynk = f(xnk ) f(a 0 ),
pois f e contnua em a 0 . Entao,
b = f(a 0 ) = f(a) e, portanto, a 0 = a, pois
f e injetiva. 

5. Continuidade Uniforme

5.1 Dizemos que uma funcao


Definicao f : X R e uniformemente
contnua quando, para cada > 0 dado, existe > 0 tal que x, y X,
|x y| < = |f(x) f(y)| < .

5.1 Toda funcao


Observacao uniformemente contnua e contnua.

De fato, dado > 0 existe > 0 tal que


Instituto de Matematica - UFF 211

Analise na Reta

x, y X, |x y| < = |f(x) f(y)| < .


Se a X, temos que |f(x) f(a)| < para todo x X, |x a| < . Observe
que o numero
depende do ponto a X, apenas de .
real positivo nao

5.2 Uma funcao


Observacao f : X R nao
e uniformemente contnua
se, e so se, existe 0 > 0 tal que para todo > 0 existem x , y X tais
que |x y | < e |f(x ) f(y )| 0 .

5.3 Nem toda funcao


Observacao contnua e uniformemente contnua.
1
Por exemplo, seja f : (0, +) R dada por f(x) = f e
. Entao,
x
e uniformemente contnua em (0, +).
contnua, mas nao
De fato, sejam > 0 e > 0 dados.
1
Sejam a R tal que 0 < a < e 0 < a <
e b = a + . Entao,
3 2

|b a | = <e
2

1 1 2 1
|f(b ) f(a )| =
=
a + 2
a 2a + a
1
= > = > .
a (2a + ) 3a 3a

Exemplo 5.1 Seja f : R R definida por f(x) = ax + b, a 6= 0.



Dado > 0, existe = > 0 tal que
|a|

x, y R, |x y| < = |f(x) f(y)| = |c| |x y| < |c| = .
|c|

Logo, f e uniformemente contnua em R.

5.2 Dizemos que uma funcao


Definicao f : X R e lipschitziana
quando existe uma constante c > 0 tal que |f(x)f(y)| c |xy| quaisquer
que sejam x, y X. A menor de tais constantes c > 0 e chamada a
constante de Lipschitz de f.

Exemplo 5.2 A funcao


f : R R, f(x) = ax + b, a 6= 0 e lipschitziana
em toda a reta com constante de Lipschitz c = |a|.

212 J. Delgado - K. Frensel


Continuidade Uniforme

5.4 Toda funcao


Observacao f : X R lipschitziana e uniforme-

mente contnua, pois dado > 0, existe = > 0 tal que
c

x, y X, |x y| < = |f(x) f(y)| c|x y| < c = .
c

Exemplo 5.3 Se X R e limitado, a funcao


f : X R, f(x) = x2 , e
lipschitziana. De fato, seja A > 0 tal que |x| A para todo x X. Entao,

|f(x) f(y)| = |x2 y2 | = |x y| |x + y| 2A|x y| ,
quaisquer que sejam x, y A.
f(x) = x2 nao
Mas, se X = R, a funcao e sequer uniformemente contnua.
1
De fato, dados = 1 e > 0, sejam x >
e y = x + . Entao,
2
2 Exerccio.
2

|x y | = < e |f(x ) f(y )| = x + x2 = x + > x > 1 . f : R R
Mostrar que a funcao
2 2 4
dada por f(x) = xn nao e uni-
 formemente contnua para todo
n > 1.

Teorema 5.1 Seja f : X R uniformemente contnua. Se (xn ) e uma



sequ encia ( f(xn )) e uma sequ encia
de Cauchy em X, entao de Cauchy.

Prova.
Dado > 0 existe > 0 tal que
x, y X, |x y| < = |f(x) f(y)| < .
Como (xn ) e de Cauchy, existe n0 N tal que |xm xn | < para m, n > n0 .
Logo, |f(xn ) f(xm )| < para m, n > n0 , ou seja, (f(xn )) e uma sequ encia

de Cauchy.


Corolario 5.1 Se f : X R e uniformemente contnua, entao
existe
lim f(x) para todo a X 0 .
xa

Prova.

Seja (xn ) uma sequ encia de pontos de X {a} tal que xn a. Entao,

pelo teorema anterior, (f(xn )) e de Cauchy e, portanto, convergente. Logo,

pelo corolario 1.4 da parte 5, existe lim f(x).
xa

5.5 Para provar o corolario


Observacao
acima podemos usar tambem

o Criterio
de Cauchy para funcoes(teorema 1.9, parte 5).


Instituto de Matematica - UFF 213

Analise na Reta

De fato, dado > 0, existe > 0 tal que



x, y X, |x y| < = |f(x) f(y)| < .
2
se x, y X,
Entao,

|x a| < e |y a| < = |x y| |x a| + |a y| <
2 2
= |f(x) f(y)| < .

Logo, existe lim f(x) para todo a X 0 .


xa

1 1
Exemplo 5.4 As funcoes
f, g : (0, 1] R, f(x) = sen e g(x) = ,
x x
sao
nao uniformemente contnuas, pois nao
existem lim g(x) e lim f(x),
x0 x0
0
no ponto 0 (0, 1] .

5.6 Uma funcao


Observacao f : X R nao
e uniformemente contnua
se, e so se, existem 0 > 0 e duas sequ encias
(xn ), (yn ) de pontos de X
tais que |xn yn | 0 e |f(xn ) f(yn )| 0 para todo n N.

Exemplo 5.5 A funcao


f : R R, f(x) = x3 , nao
e uniformemente
1

contnua em R. De fato, existem = 3 e duas sequ encias xn = n + e
n
1
yn = n tais que |xn yn | = 0 e
n
 3
1 n 2 n 1
|f(xn ) f(yn )| = n +

n3 = n3 + 3 + 3 2 + 3 n3
n n n n
3 1
= 3n + + 3 3 , para todo n N .
n n


Teorema 5.2 Seja X compacto. Entao contnua f : X R


toda funcao
e uniformemente contnua.

Prova.

Primeira demonstracao.
Dado > 0. Para cada x X existe x > 0 tal que

y X, |y x| < 2x = |f(y) f(x)| <
2

214 J. Delgado - K. Frensel


Continuidade Uniforme

[
a cobertura aberta X
Seja Ix = (x x , x + x ). Entao Ix admite uma
xX

subcobertura finita X Ix1 . . . Ixn .


Seja = min{x1 , . . . , xn } > 0. Se x, y X e |x y| < , tome j {1, . . . , n}
tal que x Ixj .

|x xj | < xj e |y xj | |y x| + |x xj | < + xj 2xj .


Entao,

Logo, |f(x) f(xj )| < e |f(y) f(xj )| < , donde |f(x) f(y)| < .
2 2


Segunda demonstracao.
e uniformemente contnua.
Suponhamos que f nao
existe 0 > 0 tal que, para todo n N existem xn , yn X com
Entao
1
|xn yn | < e |f(xn ) f(yn )| 0 .
n
Como X e compacto, a sequ encia

(xn ) possui uma subsequ encia (xnk )kN
que converge para um ponto x X.
ynk x, pois (xnk ynk ) 0.
Entao
Sendo f contnua, temos que lim f(xnk ) = lim f(ynk ) = f(x), o que
k+ k+

contradiz a desigualdade |f(xnk ) f(ynk )| 0 , para todo k N.


Logo, f e uniformemente contnua.


Exemplo 5.6 A funcao
f : [0, 1] R, f(x) = x, e contnua e, portanto
uniformemente contnua, pois [0, 1] e compacto.

| x y| 1
e lipschitziana, pois o quociente
Mas, f nao = e
nao
|x y| x+ y
1
limitado, ja que lim+ = +.
x0 x+ y

g : [0, +) R, g(x) =
Por outro lado, a funcao x, da qual f e uma
e uniformemente contnua, embora seu domnio [0, +) nao
restricao,
seja compacto.
De fato, g|[1,+) e lipschitziana, pois
|x y| 1
|g(x) g(y)| = |x y|, para x, y [1, +) .
x+ y 2

uniformemente contnuas, temos que g|[0,+) e


Como g|[0,1] e g|[1,+) sao


Instituto de Matematica - UFF 215

Analise na Reta

uniformemente contnua, pois dado > 0 existem 1 , 2 > 0 tais que:



x, y [0, 1], |x y| < 1 = |g(x) g(y)| < ;
2

x, y [1, +), |x y| < 2 = |g(x) g(y)| < .
2
Seja = min{1 , 2 } > 0 e sejam x, y [0, +), |x y| < .
Assim, se

x, y [0, 1] = |g(x) g(y)| < < ;
2

x, y [1, +) = |g(x) g(y)| < < ;
2
x [0, 1] e y [1, +) = |x 1| < e |y 1| <

= |g(x) g(1)| < e |g(y) g(1)| < = |g(x) g(y)| < + .
2 2 2 2

5.3 Dizemos que uma funcao


Definicao : Y R e uma extensao

f : X R, quando f e uma restricao
da funcao de g, ou seja, X Y e
(x) = f(x) para todo x X.
Quando e contnua, dizemos que f se estende continuamente a` funcao

.

Teorema 5.3 Toda funcao


uniformemente contnua f : X R admite
contnua : X R. A funcao
uma extensao e a unica

extensao
contnua de f a X e e uniformemente contnua.

Prova.
Vamos definir no conjunto X = X X 0 .
Como f e uniformemente contnua, pelo Corolario
5.1, existe lim0 f(x) para
xx
0 0
todo x X .
da seguinte maneira:
Definimos, entao,
(x 0 ) = lim0 f(x) se x X 0 e (x) = f(x) se x X.
xx

(x 0 ) = lim0 f(x) = f(x 0 ), pois f e contnua em x 0 .


Se x 0 X 0 X, entao
xx

Logo, esta bem definida em X.

Observe que se x X, xn x, xn X, entao


(x) = lim f(xn ).
n+

216 J. Delgado - K. Frensel


Continuidade Uniforme

: X R e uniformemente contnua.
Afirmacao:


Instituto de Matematica - UFF 217

Analise na Reta

De fato, como f e uniformemente contnua em X, dado > 0 existe > 0



tal que x, y X, |x y| < = |f(x) f(y)| < .
2

Sejam x, y X tais que |x y| < .


existem sequ encias
Entao (xn ) e (yn ) em X tais que xn x e yn y.
Como |xn yn | |x y| e |x y| < , existe n0 N tal que |xn yn | <

|f(xn ) f(yn )| <
para todo n n0 . Entao, para todo n n0 e, portanto,
2

|(x) (y)| = lim |f(xn ) f(yn )| < .
n+ 2

Unicidade: Seja : X R outra extensao


contnua de f e seja x X.
existe uma sequ encia
Entao (xn ) em X com lim xn = x.
n+

Logo,
(x) = lim (xn ) = lim f(xn ) = lim (xn ) = (x) .
n+ n+ n+


Corolario 5.2 Seja f : X R uniformemente contnua. Se X e limi-
f(X) e limitado, ou seja, f e limitada.
tado, entao

Prova.
Seja : X R a extensao
contnua de f.

Como X e limitado, X e compacto. Logo, (X) e compacto e, portanto,


f(X) e limitado, pois f(X) (X).

218 J. Delgado - K. Frensel



A derivada de uma funcao

Parte 7

Derivadas

1.
A derivada de uma funcao

1.1 Sejam X R, a X X 0 e f : X R. Dizemos que f e


Definicao

derivavel no ponto a quando existe o limite
f(x) f(a)
f 0 (a) = lim
xa xa

Neste caso, f 0 (a) chama-se a derivada de f no ponto a

f(x) f(a)
1.1 Seja q : X {a} R definida por q(x) =
Observacao .
xa

Geometricamente, q(x) e a inclinacao,


ou coeficiente angular, da reta se-

cante ao grafico de f que passa pelos pontos (a, f(a)) e (x, f(x)).

1.2 A reta r : y = f 0 (a)(x a) + f(a) que passa pelo ponto


Definicao
f 0 (a) e chamada de reta tangente ao grafico
(a, f(a)) e tem inclinacao de
f no ponto a.

1.2 A inclinacao
Observacao da reta tangente e,
portanto, o limite,
quando x a, das inclinacoes
das retas secantes que passam pelos
pontos (a, f(a)) e (x, f(x))

1.3 Seja h = x a, ou x = a + h, h 6= 0. Entao


Observacao

f(a + h) f(a)
f 0 (a) = lim
h0 h


Instituto de Matematica - UFF 217

Analise na Reta

f(a + h) f(a)
h 7
onde a funcao esta definida no conjunto
h
Y = {h R {0} | a + h X} ,

que tem o zero como ponto de acumulacao.

1.3 Sejam X R, a X X+0 e f : X R. Dizemos que f e


Definicao

derivavel a` direita no ponto a quando existe o limite
f(x) f(a) f(a + h) f(a)
f 0 (a+ ) = lim+ = lim+ .
xa xa h0 h

No caso afirmativo, f 0 (a+ ) e a derivada a` direita de f no ponto a.


Seja a XX0 . Dizemos que f e derivavel
a` esquerda no ponto a quando
existe o limite
f(x) f(a) f(a + h) f(a)
f 0 (a ) = lim = lim .
xa xa h0 h

Neste caso, f 0 (a ) e a derivada a` esquerda de f no ponto a.

1.4 Se a X X+0 X0 , f 0 (a) existe se, e so se, existem


Observacao
iguais as derivadas laterais f 0 (a+ ) e f 0 (a ).
e sao

1.5 Dizer que uma funcao


Observacao f : [c, d] R e derivavel
no
ponto a significa que:
f possui as duas derivadas laterais no ponto a e elas sao
iguais quando
a (c, d).
f possui derivada lateral a` direita no ponto a quando a = c.
f possui derivada lateral a` esquerda no ponto a quando a = d.

1.6 Pelas propriedades gerais do limite, temos que f e


Observacao

derivavel no ponto a X X 0 se, e so se,
f(xn ) f(a)
lim = f 0 (a)
n+ xn a


para qualquer sequ encia (xn ) de pontos de X {a} com lim xn = a.
n

Mais geralmente, f e derivavel


no ponto a X X 0 se, e so se, dada
g : Y R, com b Y 0 , tal que lim g(y) = a e g(y) 6= a para
uma funcao
yb

y 6= b, temos que
f(g(y)) f(a)
f 0 (a) = lim .
yb g(y) a

218 J. Delgado - K. Frensel



A derivada de uma funcao

Exemplo 1.1 Seja f : R R constante, ou seja, existe c R tal que


f 0 (a) = 0 para todo a R.
f(x) = c para todo x R. Entao

Exemplo 1.2 Seja f : R R dada por f(x) = cx + d e seja a R.


f(x) f(a) c(x a)
f 0 (a) = c, pois
Entao = = c para todo x 6= a.
xa xa

Exemplo 1.3 Seja f : R R, f(x) = x2 e seja a R. Entao,



f(a + h) f(a) a2 + 2ah + h2 a2
= = 2a + h 2a
h h
quando h 0. Assim, f 0 (a) = 2a para todo a R.

Exemplo 1.4 Seja f : R R, f(x) = xn , n N e seja a R.


pela formula
Entao,
do binomio de Newton, temos que
Xn  
n j nj
n
f(a + h) f(a) = (a + h) a = n
ah an
j=0
j
X
n2  
!
n j nj1 n
 n1
= ah h + n1 a h.
j=0
j

Logo,
X
n2  
!
f(a + h) f(a) n
lim = lim aj hnj1 + nan1
h0 h h0 j
j=0
n1
= na , pois n j 1 1 para 0 j n 2 .

f 0 (a) = nan1 para todo a R.


Entao,
Se p(x) = an xn + . . . + a1 x + a0 e um polinomio,
usando as proprie-
entao,
dades conhecidas do limite, temos
p 0 (x) = nan xn1 + . . . + 2a2 x + a1 ,
para todo x R.

definida por f(x) = |x|.


Exemplo 1.5 Seja f : R R a funcao
f(x) f(0) |x|

Entao, = . Logo,
x0 x
|x| |x|
f 0 (0+ ) = lim+ = lim+ 1 = 1 e f 0 (0 ) = lim = lim (1) = 1 .
x0 x x0 x0 x x0

Como f 0 (0+ ) 6= f 0 (0 ), f nao


e derivavel
no ponto 0, mas e derivavel
nos
demais pontos da reta, com f 0 (a) = 1 se a > 0 e f 0 (a) = 1 se a < 0.


Instituto de Matematica - UFF 219

Analise na Reta


Exemplo 1.6 Seja f : [0, +) R definida por f(x) =
x. Entao,
para a [0, +), h 6= 0 e a + h 0, temos

a+h a h 1
=  = .
h h a+h+ a a+h+ a

1
Logo, f e derivavel
em todo ponto a > 0 e f 0 (a) = e
, mas f nao
2 a

derivavel no ponto zero, pois o quociente

0+h 0 h 1
= =
h h h
1
e ilimitado numa vizinhanca de zero e, portanto, nao
existe lim+ .
h0 h

Exemplo 1.7 Seja f : R R a funcao


definida por
f(x) = inf { |x n| | n Z } ,
ou seja, f(x) e a distancia

de x ao inteiro mais proximo. Temos que

x n 1
h i
se x n, n +
f(x) = 2
n + 1 x se x n + 1 , n + 1 .
h i
2
1 1
 
f(n) = 0 e f n +
Entao, , para todo n Z, e o grafico
= de f e uma
2 2
1 1
 
serra cujos dentes tem pontas nos pontos n + , .
2 2

1
f e derivavel
A funcao em todo x R, x 6= n, x 6= n + , n Z, sendo
2

1 1
 
se x n, n +
f 0 (x) = 2
1 se x n + 1 , n + 1 .
 
2
1
e derivavel
Mas f nao nos pontos n e n + , n N, porque f 0 (n+ ) = 1 6=
2
 +
   
1 1

0 0 0
f (n ) = 1 e f n+ = 1 6= f n+ = 1 .
2 2

220 J. Delgado - K. Frensel



A derivada de uma funcao

1.7 A derivada, sendo um limite, satisfaz aos seguintes


Observacao

resultados, provados para limite de uma funcao:
Se f : X R possui derivada no ponto a X X 0 , entao,
dado
Y X com a Y Y 0 , a funcao
g = f|Y tambem
e derivavel
no ponto a e
g 0 (a) = f 0 (a).
Se Y = I X, onde I e um intervalo aberto contendo o ponto a, e g = f|Y
e derivavel
f e derivavel
no ponto a, entao no ponto a e f 0 (a) = g 0 (a).

Este resultado mostra o carater local da derivada.

1.4 Dizemos que uma funcao


Definicao f : X R e derivavel
no
conjunto X quando f e derivavel
em todos os pontos a X X 0 .

1.8 Seja f : X R derivavel


Observacao no ponto a X X 0 . Seja r
dada por
a funcao
r(h) = f(a + h) f(a) f 0 (a) h
definida no conjunto Da = {h R | a + h X}.
para todo h Da {0}, temos
Entao,

r(h)
f(a + h) = f(a) + f 0 (a) h + r(h) , com lim = 0. (1)
h0 h

r(h)
Sendo lim = 0, dizemos que o resto r(h) tende para zero mais rapi-
h0 h

damente que h, ou que r(h) e um infinitesimo


com limite zero)
(=funcao
de ordem superior a 1, relativamente a h.
Reciprocamente, se existe L R tal que
r(h)
f(a + h) = f(a) + L h + r(h) , com lim = 0, (2)
h0 h

f e derivavel
entao no ponto a X X 0 e f 0 (a) = L, pois
 
f(a + h) f(a) r(h)
lim = lim L + = L.
h0 h h0 h

A condicao
(1) pode ser escrita sob a forma

f(a + h) = f(a) + (f 0 (a) + (h)) h , com lim (h) = 0 , (3)


h0

r(h) f(a + h) f(a)


onde (0) = 0 e (h) = = f 0 (a) para todo h 6= 0 tal
h h
que a + h X.


Instituto de Matematica - UFF 221

Analise na Reta

no ponto 0 equivale a` existencia


Assim, a continuidade da funcao da
derivada f 0 (a) de f no ponto a.

1.9 As condicoes
Observacao sao
(1), (2) e (3) tambem validas
para
as derivadas laterais, supondo h > 0 para a derivada a` direita e h < 0
para a derivada a` esquerda.

Exemplo 1.8 Seja f(x) = x2 . Entao,


dados a R e h 6= 0, temos
r(h) = (a + h)2 a2 2ah = h2 .

Exemplo 1.9 Sabemos do Calculo


f : R R dada por
que a funcao
f(x) = sen x e derivavel
na reta e f 0 (a) = cos a para todo a R. Entao,

r(h)
sen(a + h) = sen a + h cos a + r(h) , com lim = 0.
h0 h


Usando a formula da trigonometria
sen(a + h) = sen a cos h + sen h cos a ,
obtemos que
r(h) = sen a cos h + sen h cos a sen a h cos a
= sen a(cos h 1) + cos a(sen h h) .

r(h)
Isto confirma que lim = 0, pois
h0 h
cos h 1
lim = cos 0 (0) = sen(0) = 0 ,
h0 h
e
sen h h sen h sen 0
lim = lim 1 = cos 0 1 = 0 .
h0 h h0 h0


1.5 Seja f : X R uma funcao


Definicao derivavel
no ponto a. A
linear df(a) : R R
diferencial de f no ponto a e a transformacao
definida por df(a)h = f 0 (a) h.
Se f e derivavel
em todo X, definimos a diferencial de f como sendo a
df : X L(R; R), a 7 df(a), onde L(R; R) e o espaco vetorial
funcao
dos operadores lineares de R em R.

Teorema 1.1 Sejam a X X 0 e f : X R. Se f e derivavel


no ponto
f e contnua no ponto a.
a, entao

222 J. Delgado - K. Frensel



A derivada de uma funcao

Prova.
f(x) f(a)
Como o limite lim existe e lim (x a) = 0, temos que
xa xa xa
 
f(x) f(a)
lim ( f(x) f(a) ) = lim (x a)
xa xa xa
f(x) f(a)
= lim lim (x a) = 0 ,
xa xa xa

ou seja, lim f(x) = f(a). Logo, f e contnua no ponto a.


xa

1.10
Observacao
Se a X X+0 e f : X R e derivavel
a` direita no ponto a, entao
f e
contnua a` direita no ponto a, ou seja, lim+ f(x) = f(a) .
xa

E se a XX0 e f e derivavel
a` esquerda no ponto a, entao
f e contnua
a` esquerda no ponto a, ou seja, lim f(x) = f(a) .
xa


Estes resultados demonstram-se de modo analogo quando f e derivavel

no ponto a.
Entao,
f e contnua no ponto a, se f possui derivada a` direita e a` es-
querda no ponto a, mesmo sendo diferentes.

1 se x 0
Exemplo 1.10 Seja f : R R dada por f(x) =
1 se x < 0 .

f e contnua a` direita no ponto zero e f 0 (0+ ) = 0, mas f nao


Entao e
contnua a` esquerda no ponto 0 nem existe a derivada a` esquerda de f no
e contnua no ponto 0.
ponto 0. Portanto, f nao

Exemplo 1.11 Os exemplos 1.5, 1.6 e 1.7, mostram que uma funcao

ser derivavel
pode ser contnua em toda a reta e nao em alguns pontos.

Na realidade, a maioria das funcoes possuem de-
contnuas em R nao

rivada em ponto algum (ver E. Lima, Espacos Metricos, exemplo 33 do
captulo 7).

Teorema 1.2 Sejam f, g : X R funcoes



derivaveis no ponto
f
a X X 0 . Entao,
f g, f g e (quando g(a) 6= 0) sao
derivaveis

g

no ponto a e valem as seguintes formulas:


Instituto de Matematica - UFF 223

Analise na Reta

(f g)(a) = f 0 (a) g 0 (a)

(f g) 0 (a) = f 0 (a) g(a) + f(a) g 0 (a)


 0
f f 0 (a) g(a) f(a) g 0 (a)
(a) = 2
g ( g(a) )

Prova.

Vamos demonstrar a formula do quociente, deixando as ou-
de derivacao
tras como exerccio.
Sendo g(x) 6= 0 para todo x (X {a}) (a , a + ), para algum > 0,
f

a funcao esta definida nesta vizinhanca de a.
g

Como, para x (X {a}) (a , a + ),


f(x) f(a)

g(x) g(a) f(x) g(a) f(a) g(x) 1
=
xa xa g(x) g(a)
   
f(x) f(a) g(x) g(a) 1
= g(a) f(a) ,
xa xa g(x)g(a)

temos que
f(x) f(a)
 
g(x) g(a) f(x) f(a) g(x) g(a) 1
lim = g(a) lim f(a) lim lim
xa xa xa xa xa xa xa g(x)g(a)
1
= ( g(a) f 0 (a) f(a) g 0 (a) ) .
( g(a) )2

pois g e contnua no ponto a, ja que g e derivavel


no ponto a.


Corolario 1.1
Se c R entao (c f) 0 (a) = c f 0 (a) .
 1 0 f 0 (a)
Se f(a) 6= 0 entao
(a) = 2
.
f f(a)

Teorema 1.3 (Regra da cadeia)


Sejam f : X R, g : Y R, f(X) Y, a X X 0 , b = f(a) Y Y 0 .
Se f e derivavel
no ponto a e g e derivavel

no ponto b = f(a), entao
g f : X R e derivavel
no ponto a e tem-se a regra da cadeia:

( g f ) 0 (a) = g 0 (b) f 0 (a)

224 J. Delgado - K. Frensel



A derivada de uma funcao

Prova.
definidas numa vizinhanca de 0, tais que
Sejam e funcoes
f(a + h) = f(a) + ( f 0 (a) + (h) ) h , onde lim (h) = 0 ,
h0
g(b + k) = g(b) + ( g 0 (b) + (k) ) k , onde lim (k) = 0 .
k0

Tomando k = f(a + h) f(a) = ( f 0 (a) + (h) ) h, temos que


f(a + h) = f(a) + k = b + k
e
(g f)(a + h) = g(f(a + h)) = g(b + k) = g(b) + ( g 0 (b) + (k) )k
= g(b) + ( g 0 (b) + (k) ) ( f 0 (a) + (h) ) h
= g f(a) + ( g 0 (b) f 0 (a) + (h) ) h ,

onde (h) = ( f(a + h) f(a) ) ( f 0 (a) + (h) ) + g 0 (b) (h) .


Como f e contnua no ponto a, e sao
contnuas no ponto 0, com
(0) = (0) = 0, temos que
lim (h) = 0 ,
h0

pois lim (f(a + h) f(a)) = (0) = 0 e lim (h) = (0) = 0 .


h0 h0

Logo, g f e derivavel
no ponto a e (g f) 0 (a) = g 0 (b) f 0 (a) .


Corolario 1.2 (Derivada da inversa de uma funcao)

que possui inversa g = f1 : Y X. Se f e
Seja f : X Y uma funcao

derivavel no ponto a X X 0 e g e contnua no ponto b = f(a), entao
g e

derivavel no ponto b se, e so se, f 0 (a) 6= 0. Neste caso,
1
g 0 (b) =
f 0 (a)

Prova.
Como g e contnua no ponto b = f(a) e e injetiva, temos que
lim g(y) = g(b) = a ,
yb

e g(y) 6= a quando y Y {b}.


disso, b Y Y 0 , pois f e contnua no ponto a, e injetiva em X e
Alem
a X X 0.
Logo, se f 0 (a) 6= 0, entao


Instituto de Matematica - UFF 225

Analise na Reta

g(y) g(b) g(y) g(b)


lim = lim
yb yb ybf(g(y)) f(a)
 1
f(g(y)) f(a) 1
= lim = 0 ,
yb g(y) a f (a)

1
ou seja, g e derivavel
no ponto b e g 0 (b) = .
f 0 (a)

Reciprocamente, se g e derivavel
pela regra da cadeia,
no ponto b, entao,
g f = idX e derivavel
no ponto a e g 0 (b) f 0 (a) = 1, ou seja, f 0 (a) 6= 0 e
1
g 0 (b) = .
f 0 (a)

Exemplo 1.12 A funcao


f : R R, dada por f(x) = x3 , e uma bijecao


contnua com inversa contnua g : R R com g(y) = 3 y.

Como f 0 (a) = 3a2 6= 0 para todo a 6= 0 e f(0) = 0, temos que g e derivavel



1 1 1
em todo ponto b R {0} e g 0 (b) = = = .
f 0 (g(b)) 3(g(b))2 3
3 b2

1.6 Dizemos que uma funcao


Definicao f : X R possui um maximo

local no ponto a X, quando existe > 0 tal que f(x) f(a) para todo
x X (a , a + ).
E quando existe > 0 tal que f(x) < f(a) para todo x (a , a + )
(X {a}), dizemos que f possui um maximo
local estrito no ponto a X.
Ha definicoes
analogas
para os conceitos de mnimo local e mnimo local

estrito de uma funcao.

Exemplo 1.13 A funcao


f : R R, dada por f(x) = x2 , possui um
mnimo local estrito no ponto 0, pois f(x) = x2 > f(0) = 0 para todo
x R {0}.

Exemplo 1.14 A funcao


g : R R, g(x) = sen x , possui maximos


 
locais estritos nos pontos (4k + 1) , pois g (4k + 1) = 1 > g(x)
2 2




para todo x 4k , 4k + 3 (4k + 1) , e possui mnimos locais
2 2 2

 
estritos nos pontos (4k1) , pois g (4k 1) = 1 < g(x) , para todo
2 2
 3



x 4k , 4k + (4k 1) .
2 2 2 

226 J. Delgado - K. Frensel



A derivada de uma funcao

Exemplo 1.15 Uma funcao


constante possui maximo
local e mnimo

local nao-estritos em cada ponto do seu domnio.


1 se x 0
Exemplo 1.16 A funcao
h : R R, dada por h(x) =
1 se x < 0 ,

possui um maximo
local nao-estrito no ponto 0.

1
 
Exemplo 1.17 A funcao : R R, (x) = x 1 + sen se x 6= 0
2
x
e (0) = 0, e contnua em toda a reta e possui um mnimo local nao

estrito no ponto 0, pois (x) 0 = (0) para todo x R e, em toda
1
vizinhanca de 0, ha pontos x tais que (x) = 0, ja que 0 e
(4k 1)
2

1 = 0 para todo k Z.

(4k 1)
2

1.11 Se f : X R e nao-decrescente
Observacao
e derivavel no
f(x) f(a)
ponto a XX 0 , entao
f 0 (a) 0, pois 0 para todo x X{a}.
xa

Analogamente, se f : X R e nao-crescente

e derivavel no ponto
a X X 0 , entao
f 0 (a) 0.

Se f : X R e crescente (decrescente) e derivavel


no ponto a XX 0 ,
temos necessariamente f 0 (a) > 0 (< 0).
nao

f(x) = x3 e crescente e f 0 (0) = 0.


Por exemplo, a funcao
Se a X X 0 X0 e existe > 0 tal que f(y) f(a) f(x) para
f 0 (a) 0, mas nao
a < y < a < x < a + , entao implica que f seja

nao-decrescente (ver exemplo 1.18).

Teorema 1.4 Seja f : X R uma funcao


derivavel
a` direita no ponto
a X X+0 . Se f 0 (a+ ) > 0, entao
existe > 0 tal que f(a) < f(x) para todo
x X (a, a + ).

Prova.
f(x) f(a) f(x) f(a)
Como lim + = f 0 (a+ ) > 0, existe > 0 tal que >0
xa xa xa
para todo x X (a, a + ), ou seja, f(x) > f(a) x X (a, a + ).


Instituto de Matematica - UFF 227

Analise na Reta

1.12 Valem tambem


Observacao os seguintes resultados, que podem

ser provados de modo analogo ao teorema anterior:
Se a X X+0 e f 0 (a+ ) < 0, entao
existe > 0 tal que f(x) < f(a) para
todo X (a, a + ).
Se a X X0 e f 0 (a+ ) > 0, entao
existe > 0 tal que f(x) < f(a) para
todo x X (a , a).
Se a X X0 e f 0 (a ) < 0, entao
existe > 0 tal que f(x) > f(a) para
todo x X (a , a).


Corolario 1.3 Seja a X X+0 X0 . Se f : X R possui no ponto
a derivada f 0 (a) > 0 (f 0 (a) < 0), entao
existe > 0 tal que x, y X,
a < x < a < y < a + = f(x) < f(a) < f(y) (f(y) < f(a) < f(x)).


Corolario 1.4 Seja a X X+0 X0 . Se f : X R e derivavel
no ponto

a e possui um maximo f 0 (a) = 0.
ou um mnimo local nesse ponto, entao

Prova.
Se f 0 (a) > 0 ou f 0 (a) < 0, temos, pelo corolario
e
anterior, que a nao

ponto de maximo nem de mnimo local.

1.13 O teorema 1.4 nao


Observacao diz que existe um intervalo a` di-
reita de a no qual f e crescente quando f 0 (a+ ) > 0, nem o corolario
1.3
diz que f e crescente numa vizinhanca de a quando f 0 (a) > 0.

Exemplo 1.18
Antes de dar o exemplo de uma funcao
que ilustre a observacao
acima,

faremos o estudo de algumas funcoes.
1
A funcao
f : R R, f(x) = x sen se x 6= 0 e f(0) = 0, e contnua
x
1 1 1
em toda a reta e possui derivada f 0 (x) = sen cos em todo x 6= 0,
x x x
f(x) f(0)
e derivavel
mas nao existe o limite de
no ponto zero, pois nao =
x0
1
sen quando x 0.
x
1
g : R R, g(x) = x2 sen
A funcao se x 6= 0 e g(0) = 0, e contnua
x

228 J. Delgado - K. Frensel



A derivada de uma funcao

1 1
em toda a reta e possui derivada g 0 (x) = 2x sen cos em todo ponto
x x
g(x) g(0) 1
6 0. Alem
x= disso, como lim = lim x sen = 0, temos que g e
x0 x0 x0 x

derivavel no ponto 0 e g 0 (0) = 0.
Assim, g : R R possui derivadas em todos os pontos da reta, mas
g 0 : R R nao existe lim g 0 (x) =
e contnua no ponto zero, pois nao
x0
1 1
 
lim 2x sen cos .
x0 x x
1 x
: R R definida por (x) = x2 sen
Seja a funcao + se x = 6 0e
x 2
1
(0) = 0. Como e contnua e derivavel
em toda a reta, e 0 (0) = > 0,
2

temos, pelo corolario 1.3, que existe > 0 tal que 0 < x < = (x) > 0
e < x < 0 = (x) < 0.
e crescente em vizinhanca alguma do ponto 0, pois, como
Mas, nao
1 1 1
0 (x) = 2x sen cos + , para x 6= 0,
x x 2
1 1
dado > 0 existe n0 N tal que
< . Entao, (0, ) e
2n0 2n0
   
0 1 1 0 1 1
< 0, (, 0), e < 0, (0, ) e
2n0 2n0 2n0 4n0 + 2
   
1 1 1
0 > 0, (, 0) e 0 > 0.
4n0 + 2 4n0 + 2 4n0 + 2

Ou seja, dado > 0, existem pontos x , x (0, ) e y , y (, 0) tais


que 0 (x ) > 0, 0 (x ) < 0 , 0 (y ) > 0 e 0 (y ) < 0.
pode ser monotona
Logo, nao em intervalo algum do tipo (0, ) ou

(, 0), > 0, pelas observacoes feitas antes do teorema 1.4. Isto so
foi possvel, porque 0 nao
e contnua no ponto zero (por que?).

disso, nao
Alem pode ser injetiva em intervalo algum do tipo (0, ) ou

(, 0), > 0, pois, caso contrario,
seria monotona, por ser contnua e
injetiva num intervalo (ver teorema 3.2 da parte 6).

1.14
Observacao
A recproca do corolario
e verdadeira.
1.4 nao
f : R R, f(x) = x3 , apesar de ter derivada zero
Por exemplo, a funcao


Instituto de Matematica - UFF 229

Analise na Reta

e de maximo
no ponto 0, tal ponto nao nem de mnimo local, pois f e uma
crescente em toda a reta.
funcao
No corolario
basta que f possua derivadas laterais no ponto de
1.4, nao

maximo ou de mnimo para podermos concluir que as derivadas laterais
g : R R, g(x) = |x|,
nulas nesse ponto. Por exemplo, a funcao
sao
possui um mnimo no ponto 0, mas as derivadas laterais neste ponto
g 0 (0+ ) = 1 e g 0 (0 ) = 1 nao
sao
nulas.

E, tambem, de a X+0 X0 e necessaria


a condicao para que o corolario


1.4 seja valido. h : [0, +) R, h(x) = x2 + x
Por exemplo, a funcao
possui um mnimo local no ponto 0, mas h 0 (0) = 1 6= 0.

2.
Funcoes
derivaveis num intervalo

Seja X R um conjunto compacto tal que todo x X e ponto de


a` esquerda e a` direita de X, com excecao
acumulacao de a = inf X e
disso, X 6= {a, b}. Entao,
b = sup X, e, alem X = [a, b].

De fato, o aberto R X e reuniao


de intervalos abertos dois a dois
disjuntos, sendo (, a) e (b, +) dois deles. Se (c, d), c < d fosse outro
c e d pertenceriam a X. Como c nao
intervalo componente de RX, entao
e ponto de acumulacao
a` direita de X, teramos c = a ou c = b, e, como
e ponto de acumulacao
d nao a` esquerda de X, teramos d = a ou d = b.
Sendo c < d e a < b, teramos (c, d) = (a, b) e, portanto, X = {a, b}, o
que e absurdo.

2.1 Quando a funcao


Definicao f : I R possui derivada em todos os
derivada f 0 : I R
pontos do intervalo I, podemos considerar a funcao
dada por x 7 f 0 (x).
E quando f 0 : I R e uma funcao
contnua, dizemos que f e uma funcao


continuamente derivavel, de classe C1 .
ou uma funcao

2.1 Mas nem sempre a funcao


Observacao derivada e uma funcao


x2 sen 1 se x 6= 0
f : R R, f(x) =
contnua. Por exemplo, a funcao x
0 se x = 0 ,

230 J. Delgado - K. Frensel


derivaveis
Funcoes num intervalo

1 1
e derivavel
em todos os pontos da reta, com f 0 (x) = 2x sen cos se
x x
x 6= 0 e f 0 (0) = 0.
Mas f 0 : R R nao
e contnua no ponto zero e, portanto, f nao
e de
classe C1 em toda a reta.

2.2 Seja f : I R uma funcao


Observacao de classe C1 no intervalo
I e sejam a < b em I, tais que f 0 (a) < d < f 0 (c).
pelo teorema do valor intermediario
Entao, contnuas
(TVI) para funcoes
aplicado a` derivada f 0 , existe c (a, b) I tal que f 0 (c) = d.
Mas o teorema abaixo, devido a Darboux, nos diz que se f e derivavel
em
f 0 satisfaz o TVI, mesmo sendo descontnua.
[a, b], entao

Teorema 2.1 (Valor intermediario


para a derivada)
Se f : [a, b] R e derivavel
no intervalo [a, b] e f 0 (a) < d < f 0 (b), entao
Jean Gaston Darboux
(1842-1917) Franca.
existe c (a, b) tal que f 0 (c) = d.

Prova.
Suponhamos, primeiro, que d = 0, ou seja, f 0 (a) < 0 < f 0 (b). Como
f 0 (a) < 0, existe > 0 tal que f(x) < f(a) para todo x (a, a + ), e como
f 0 (b) > 0, existe 0 > 0 tal que f(y) < f(b) para todo y (b 0 , b).
disso, como f e contnua no compacto [a, b], temos, pelo teorema
Alem

de Weierstrass, que f possui um ponto de mnimo e um ponto de maximo
no intervalo [a, b].
Logo, o ponto de mnimo c pertence ao intervalo (a, b), pois, pelo visto
sao
acima, a e b nao pontos de mnimo.
1.4, f 0 (c) = 0, pois c (a, b) e ponto de acumulacao
Assim, pelo corolario
a` direita e a` esquerda do conjunto [a, b].
g(x) = f(x) dx, x [a, b].
No caso geral, basta considerar a funcao
g 0 (x) = f 0 (x) d e f 0 (a) < d < f 0 (b) se, e so se, g 0 (a) < 0 < g 0 (b).
Entao,
Logo, se f 0 (a) < d < f 0 (b), existe c (a, b) tal que g 0 (c) = 0, ou seja,
f 0 (c) = d.


Corolario 2.1 Se f : I R e derivavel
f 0 nao
no intervalo I, entao tem

descontinuidade de primeira especie em I.


Instituto de Matematica - UFF 231

Analise na Reta

Prova.
Seja c I um ponto de acumulacao
a` direita de I, isto e,
c nao
e a
extremidade superior de I.

Se existe lim+ f 0 (x) = L, entao


Afirmacao: L = f 0 (c).
xc

Suponhamos, por absurdo, que f 0 (c) < L.


Seja d R tal que f 0 (c) < d < L.
Para = L d > 0, existe > 0 tal que f 0 (x) > L = d para todo
x (c, c + ).

   
0 0
Em particular, f (c) < d < f existe x
c + , mas nao c, c + tal
2 2
que f(x) = d, o que contradiz o teorema 2.1.

De modo analogo, pode ser menor que f 0 (c).
podemos provar que L nao
Logo, L = f 0 (c).
Se c e um ponto de acumulacao
a` esquerda, podemos mostrar, tambem,

que se existe lim f 0 (x) = M entao
M = f 0 (c).
xc

possui descontinuidade de primeira especie,


Logo, f nao pois se os li-
mites laterais existem num ponto a, f e necessariamente contnua neste
ponto.

f : R R, f(x) = |x|, nao


Exemplo 2.1 A funcao e um contra-exemplo

para o corolario acima, pois, apesar de f 0 : R {0} R, ser dada por
f 0 (x) = 1 se x < 0 e f 0 (x) = 1 se x > 0, 0 nao
e uma descontinuidade de

primeira especie de f 0 , ja que f 0 (0) nao
existe.

Mas, o corolario g : R R
existe uma funcao
2.1 nos diz que nao

derivavel em toda a reta tal que g 0 = f 0 em R {0}, pois, nesse caso, g 0

teria uma descontinuidade de primeira especie no ponto 0.


0 se x Q
Exemplo 2.2 A funcao
: R R, dada por (x) =
1 se x R Q ,
: R R, pois, embora suas descon-
e a derivada de uma funcao
nao

tinuidades sejam todas de segunda especie, satisfaz ao teorema
ela nao

do valor intermediario derivaveis.
para funcoes 

232 J. Delgado - K. Frensel


derivaveis
Funcoes num intervalo

Teorema 2.2 (Rolle)


Seja f : [a, b] R contnua em [a, b] e derivavel
em (a, b). Se f(a) =
existe c (a, b) tal que f 0 (c) = 0.
f(b), entao

Prova.
f 0 (c) = 0 para todo c (a, b).
Se f e constante em [a, b], entao
que f nao
Suponhamos, entao, e constante em [a, b]. Como f e contnua

no compacto [a, b], o maximo atingidos em pontos do
e o mnimo de f sao
existe c (a, b) tal que f(c) = M ou f(c) = m, pois
intervalo [a, b]. Entao,

se o maximo M e o mnimo m fossem ambos atingidos nas extremidades,
teramos M = m, pois f(a) = f(b), e f seria, portanto, constante.

Logo, pelo corolario 1.4, f 0 (c) = 0, pois c e um ponto de acumulacao
a`
direita e a` esquerda do intervalo [a, b] e f e derivavel
no ponto c.

Exemplo 2.3 Seja f : [0, 1] R definida por f(x) = x se x [0, 1) e


f(0) = f(1) = 0 e f e derivavel
f(1) = 0. Entao em (0, 1), mas f 0 (x) = 1 6= 0
para todo x (0, 1). Isto ocorre porque f nao
e contnua em [0, 1].

Exemplo 2.4 Seja g : [1, 1] R dada por g(x) = |x|. Entao


g e
existe c (1, 1) tal que
contnua em [1, 1] e g(1) = g(1) = 1, mas nao
g 0 (c) = 0. Isto ocorre porque g nao
e derivavel
no intervalo aberto (1, 1),
ja que nao
e derivavel
no ponto 0.

1
Exemplo 2.5 Seja h : [1, 1] R definida por h(x) = (1x2 ) sen
1 x2
se x 6= 1 e h(1) = 0. Entao,
h e contnua em [1, 1] e derivavel
apenas
no intervalo aberto (1, 1). Neste exemplo, podemos aplicar o teorema de
Rolle para garantir que existe c (1, 1) tal que f 0 (c) = 0. Na realidade,
1 2x 1
f 0 (0) = 0, pois f 0 (x) = 2x sen 2
+ 2
cos para x 6= 1.
1x 1x 1 x2

Exemplo 2.6 Apesar do teorema de Rolle nao


se aplicar a` funcao
:
1
[1, 1] R definida por (x) = sen se x 6= 1 e (1) = 0, por
1 x2
ser contnua no intervalo fechado [1, 1], existem infinitos pontos em
nao
(1, 1) nos quais a derivada de se anula.


Instituto de Matematica - UFF 233

Analise na Reta

Teorema 2.3 (valor medio


de Lagrange)
Seja f : [a, b] R contnua em [a, b] e derivavel
existe
em (a, b). Entao
c (a, b) tal que
f(b) f(a)
f 0 (c) = .
ba

Um enunciado equivalente ao teorema acima e o seguinte:


Seja f : [a, a + h] R contnua no intervalo [a, a + h] e derivavel

existe t (0, 1) tal que
em (a, a + h). Entao
f(a + h) = f(a) + f 0 (a + th)h .
Prova.
 
f(b) f(a)
Seja g : [a, b] R definida por g(x) = (x a) + f(a).
ba

Como g e contnua e derivavel


em [a, b], g(a) = f(a) e g(b) = f(b), temos
: [a, b] R, (x) = f(x) g(x) satisfaz as hipoteses
que a funcao
do teorema de Rolle, pois e contnua em [a, b], derivavel
em (a, b) e
(a) = (b) = 0.
Logo, existe c (a, b) tal que 0 (c) = 0. Mas, como 0 (x) = f 0 (x) g 0 (x)
f(b) f(a)
e g 0 (x) = para todo x (a, b), temos que
ba
f(b) f(a)
f 0 (c) = g 0 (c) = .
ba


2.3 Geometricamente, o teorema de valor medio


Observacao de
Lagrange nos diz que existe um ponto c (a, b) tal que a reta tangente

ao grafico de f no ponto (c, f(c)) e paralela a` reta secante ao grafico
que
liga os pontos (a, f(a)) e (b, f(b)).


Corolario 2.2 Se uma funcao
contnua f : [a, b] R possui derivada
nula em todos os pontos x (a, b), entao
f e constante.

Prova.
Seja x (a, b). Entao
existe cx (a, b) tal que
f(x) f(a)
0 = f 0 (cx ) = .
xa

Logo, f(x) = f(a) para todo x (a, b).

234 J. Delgado - K. Frensel


derivaveis
Funcoes num intervalo

f(a) = lim f(x) = f(b), pois f e contnua em [a, b].


Entao,
xb

Assim, f(x) = f(a) para todo x [a, b], ou seja, f e constante em [a, b].


Corolario 2.3 Se f, g : [a, b] R sao
contnuas em [a, b], derivaveis

em (a, b) e f 0 (x) = g 0 (x) para todo x (a, b), entao
existe c R tal que
g(x) = f(x) + c para todo x [a, b].

Prova.
g f : [a, b] R e contnua em [a, b], derivavel
Como a funcao em
(a, b) e (g f) 0 (x) = g 0 (x) f 0 (x) = 0 para todo x (a, b), temos, pelo

corolario anterior, que g f e constante em [a, b], ou seja, existe c R tal
que g(x) f(x) = c para todo x [a, b].

x
Observacao f : R {0} R, definida por f(x) =
2.4 A funcao
, nao
|x|
e constante, apesar de f 0 (x) = 0 para todo x R {0}. Isto ocorre porque
e um intervalo.
o domnio de f nao


Corolario 2.4 Seja f : I R derivavel
no intervalo aberto I. Se existe
k R tal que |f 0 (x)| k para todo I I, entao

|f(x) f(y)| k|x y| ,
quaisquer que sejam x, y I.

Prova.
Sejam x, y I, x < y. Como f e contnua em [x, y] e derivavel
em (x, y),
existe z (x, y) tal que
f(x) f(y) = f 0 (z)(x y) .
Logo, |f(x) f(y)| = |f 0 (z)| |x y| k|x y| .
O mesmo vale se y < x.

2.5 Podemos concluir que se f possui derivada limitada


Observacao
f e lipschitziana e, portanto, uniformemente
num intervalo aberto I, entao
existem lim f(x) e
contnua em I. Em particular, se I = (a, b), entao
xb

lim f(x).
xa+

1
f : (0, +) R, definida por f(x) = sen , nao
Por exemplo, a funcao
x


Instituto de Matematica - UFF 235

Analise na Reta

tem limite a` direita no ponto 0 e tem derivada ilimitada em qualquer inter-


1 1
valo do tipo (0, ], pois f 0 (x) = cos para x 6= 0.
x2 x

2.6 Se f e uma funcao


Observacao contnua em [a, b], derivavel
em
(a, b) e |f 0 (x)| k para todo x (a, b), entao
|f(x) f(y)| k|x y|
quaisquer que sejam x, y [a, b].

De fato, sejam (xn ) e (yn ) sequ encias de pontos do intervalo (a, b) tais
que xn a e yn b.
Como |f(x) f(y)| k|x y| para todos os pontos x, y (a, b), temos que
|f(xn ) f(yn )| k|xn yn |
para todo n N.
Logo,
|f(a) f(b)| = lim |f(xn ) f(yn )| k lim |xn yn | = k|a b| .
n+ n+

E, se x (a, b), entao,


|f(a) f(x)| = lim |f(xn ) f(x)| k lim |xn x| = k|a x| ,


n+ n+

|f(x) f(b)| = lim |f(x) f(yn )| k lim |x yn | = k|x b| .


n+ n+

Logo, |f(x) f(y)| k|x y| para todos x, y [a, b].


Corolario 2.5 Seja f contnua em [a, b] e derivavel
em (a, b). Se existe
lim f 0 (x) = L, entao
existe f 0 (a+ ) e L = f 0 (a+ ).
xa+

Prova.
f(xn ) f(a)
Basta provar que lim
= L , para toda sequ encia (xn ) de pon-
n+ xn a
tos de (a, b) com lim xn = a.
n+


Pelo teorema do valor medio, para todo n N, existe yn (a, xn ) tal que
f(xn ) f(a)
f 0 (yn ) = .
xn a

Como yn a e lim f 0 (yn ) = lim+ f 0 (x) = L, temos que


n+ xa

f(xn ) f(a)
lim = L.
n+ xn a

Logo, f e derivavel
a` direita no ponto a e f 0 (a+ ) = L.

236 J. Delgado - K. Frensel


derivaveis
Funcoes num intervalo

2.7 De modo analogo,


Observacao podemos provar que se f e contnua

em [a, b], derivavel em (a, b) e existe lim f 0 (x) = L, entao
existe f 0 (b ) e
xb
0
L = f (b ).


Corolario 2.6 Seja f : (a, b) R derivavel,
exceto, possivelmente,
num ponto c (a, b), onde f e contnua. Se existe lim f 0 (x) = L, entao
f e
xc
0

derivavel no ponto c e f (c) = L.

Prova.
Seja > 0 tal que [c , c + ] (a, b).
f e contnua em [c , c], derivavel
Como a funcao em (c , c) e existe
lim f 0 (x) = L, entao
f e derivavel
a` esquerda no ponto c e f 0 (c ) = L.
xc

como f e contnua em [c, c + ], derivavel


E, tambem, em (c, c + ) e existe
f e derivavel
lim f(x) = L, entao a` direita no ponto c e f 0 (c+ ) = L.
xc+

Logo, f e derivavel
no ponto c e f 0 (c) = L.


Corolario 2.7 Seja f : I R derivavel
f 0 (x) 0
no intervalo I. Entao,
para todo x I se, e so se, f e nao-decrescente
em I.
E se f 0 (x) > 0 para todo x I, entao
f e crescente. Neste caso, f possui
uma inversa, definida no intervalo J = f(I), que e derivavel
no intervalo J
1
com (f1 ) 0 (y) = , para todo y J.
f 0 (f1 (y))

Prova.
(=) Sejam x, y I, x < y. Pelo teorema do valor medio,
existe
f(y) f(x)
z (x, y) tal que = f 0 (z). Como f 0 (z) 0 e y x > 0, te-
yx
mos que f(y) f(x).

(=) Se f e nao-decrescente

e derivavel f 0 (a) 0, pois
em a I, entao
f(a + h) f(a)
0 , para todo h 6= 0 tal que a + h I.
h
Se f 0 (x) > 0 para todo x I, temos que se a < b, a, b I, entao
existe,
Note que: a recproca deste re-

pelo teorema do valor medio, c (a, b) tal que f(b) f(a) = f 0 (c)(b a). e verdadeira, pois
sultado nao
Logo, f(b) > f(a), ja que f 0 (c)(b a) > 0. f(x) = x3 e crescente e derivavel

em toda a reta, mas f 0 (0) = 0.


Instituto de Matematica - UFF 237

Analise na Reta

Como f e contnua e injetiva no intervalo I, entao,


pelo teorema 3.2 da
parte 6, J = f(I) e um intervalo e f1 : J I e contnua.
disso, como f 0 (x) 6= 0 para todo x I, temos, pelo corolario
Alem 1.2, que
1
f1 e derivavel
em J e (f1 ) 0 (y) = para todo y J.
f 0 (f1 (y))

2.8 Vale um resultado analogo


Observacao nao-crescentes
para funcoes
e decrescentes com e <, respectivamente.

Exemplo 2.7 Seja f : R R definida por f(x) = ex . Sabemos do



Calculo que f e derivavel
em toda a reta e f 0 (x) = ex para todo x R.

Dado x > 0, existe, pelo teorema do valor medio, c (0, x) tal que f(x) =
f(0) + f 0 (c)x = 1 + ec x. Como c > 0 temos que ec > 1. Logo, ex > 1 + x
para todo x > 0.
xn

Aplicacao: lim = 0 para todo n N.
x+ ex
x x x
Com efeito, como e n+1 > 1 + > para todo x > 0 e n N,
n+1 n+1
xn+1
temos que ex > .
(n + 1)n+1

ex x xn A

Entao, n
> , ou seja, 0 < x
< para todo x > 0, onde A = (n+1)n+1 .
x A e x
xn
Logo, lim = 0.
x+ ex

p(x)
Mais geralmente: x+
lim
= 0 para todo polinomio p(x) = an xn +
ex
an1 xn1 + . . . + a1 x + a0 .
an1 a
De fato, como p(x) = an xn q(x), onde q(x) = 1 + + . . . + 0 n , temos
an x an x
p(x)
que lim = an e, portanto,
n+ xn
p(x) p(x) xn p(x) xn
lim = lim = lim lim = an 0 = 0 .
x+ ex x+ xn ex x+ xn x+ ex

1
Exemplo 2.8 Seja f : R R definida por f(x) = e x2 se x 6= 0 e
1
f(0) = 0. Como lim e x2 = 0, f e contnua em R. Alem
disso, f e derivavel

x0

238 J. Delgado - K. Frensel


derivaveis
Funcoes num intervalo

2 12
em R {0}, com f 0 (x) = e x para x 6= 0.
x3
3
1 2y 2
Pondo y = 2 , temos, pelo exemplo acima, que lim |f 0 (x)| = lim =
x x0 y+ ey
3
y y2 y2 y y2
0, ja que y < y < y , para todo y > 1, e lim y = lim y = 0.
e e e y+ e y+ e


Logo, pelo corolario 2.6, f e derivavel
no ponto 0 e f 0 (0) = 0.


e x1 se x 6= 0
Exemplo 2.9 Seja f : R R a funcao
f(x) = .
0 se x = 0
1 1
Como lim+ e x = 0 = f(0) e lim e x = +, f nao
e contnua no ponto
x0 x0

zero, mas e contnua a` direita nesse ponto.


1 y2
Sendo f 0 (x) = 1 x
x2
e para todo x 6= 0 e lim+ f 0 (x) = lim = 0, onde
x0 y+ ey

1
y=
, temos, pelo corolario 2.5, que f e derivavel
a` direita no ponto 0 e
x
f 0 (0+ ) = 0.
1
Observe que lim f 0 (x) = lim 1 = +.
x0 x0 x2 e x

2.9 Ha duas situacoes


Observacao nas quais vale o teorema do valor

medio f : [a, b] R seja contnua nos pontos a
sem supor que a funcao
e b:

Primeira: Suponhamos que existem lim+ f(x) = L e lim f(x) = M. Entao,
xa xb

g : [a, b] R definida por g(x) = f(x) se x (a, b), g(a) = L e


a funcao
g(b) = M e contnua em [a, b] e derivavel
em (a, b). Logo, pelo teorema

do valor medio, existe c (a, b) tal que
g(b) g(a) = g 0 (c)(b a) ,
ou seja, existe c (a, b) tal que (M L) = f 0 (x)(b a).
Temos f(b) f(a) = f 0 (c)(b a) se, e so se, M L = f(b) f(a).
Segunda: Se f : [a, b] R e limitada em [a, b], derivavel
em (a, b)

e pelo menos um dos limites nas extremidades, digamos lim+ f(x), nao
xa

f(b) f(a)
existe c (a, b) tal que f 0 (c) =
existe, entao .
ba


Instituto de Matematica - UFF 239

Analise na Reta

existe lim+ f(x), temos, pela observacao


De fato, como nao feita apos
o
xa


corolario 2.4, que f 0 nao
e limitada em (a, b).

f 0 e ilimitada inferior e superiormente.


Afirmacao:
De fato, suponhamos, por absurdo, que f 0 (x) A para todo x (a, b).
a funcao
Entao, g(x) = f(x) Ax seria nao-decrescente
em (a, b), pois
g 0 (x) 0 em (a, b), e limitada. Existiria, portanto, lim+ g(x), o que e
xa


absurdo, pois isto implicaria na existencia de lim+ f(x).
xa


De modo analogo, podemos provar que f 0 nao
e limitada superiormente
em (a, b).
f(b) f(a)
Seja d = existem pontos x1 , x2 (a, b) tais que f 0 (x1 ) <
. Entao
ba
d < f 0 (x2 ). Logo, pelo teorema do valor intermediario
para a derivada,
f(b) f(a)
existe c (a, b) tal que f 0 (c) = d = .
ba

2.2 Dizemos que uma funcao


Definicao f : I R e uniformemente

derivavel no intervalo I quando f e derivavel
em I e para cada > 0 dado,
existe > 0 tal que

f(x + h) f(x)
0 < |h| < = 0

f (x) < ,
h

seja qual for x I, x + h I.


Uma condicao
equivalente seria:

> 0 > 0 ; 0 < |h| < =


| (f(x + h) f(x) f 0 (x)h | < |h| x, x + h I

Teorema 2.4 Uma funcao


f : [a, b] R e uniformemente derivavel
se,
e so se, f e de classe C1 .

Prova.
(=) Suponhamos que f e de classe C1 em [a, b], ou seja, f e derivavel

em [a, b] e f 0 e contnua em [a, b]. Entao,
f 0 e uniformemente contnua em
[a, b], ja que [a, b] e compacto.
> 0 , > 0 tal que x, y [a, b], |x y| < = |f 0 (x) f 0 (y)| < .

240 J. Delgado - K. Frensel


derivaveis
Funcoes num intervalo

Sejam x, x + h [a, b] com 0 < |h| < . Entao,


pelo teorema do valor

medio, existe y entre x e x + h tal que f(x + h) f(x) = f 0 (y) h. Logo,
|f(x + h) f(x) f 0 (x)h| = |f 0 (y) f 0 (x)| |h| < |h|,
pois |(x + h) x| = |h| < e, portanto, |y x| < .
Assim, f e uniformemente derivavel
em [a, b].
(=) Suponhamos, agora, que f e uniformemente derivavel
em [a, b].
Provaremos que a derivada f 0 e contnua em todos os pontos do intervalo
compacto [a, b].
Seja x0 (a, b) e tome = min{b x0 , x0 a} > 0.

Dado > 0, existe 0 < 0 < tal que se x [a, b], x + h [a, b] e
2
0 < |h| < 0 , entao


f(x + h) f(x) 0

f (x) < .
h 3

Sejam h > 0 fixo tal que h < 0 .



f(x + h) f(x) 0


Entao, f (x) < para todo x [a, x0 + h], pois
h 3
(x0 + h) + h < x0 + x0 + (b x0 ) = b.
Mostraremos que f 0 e contnua em x0 .
Seja x tal que |x x0 | < h. Entao,
x (x0 h, x0 + h) (a, b) , pois,
x0 h > x0 (x0 a) = a e x0 + h < x0 + b x0 = b , e

f(x + h) f(x)
|f (x) f (x0 )| f (x)
0 0
0

h

f(x + h) f(x) f(x0 + h) f(x0 )
+
h h

f(x + h) f(x0 )
+ 0

f 0 (x0 )
h

f(x + h) f(x) f(x0 + h) f(x0 )
< + + .
3 h h 3

f(x + h) f(x)
g : [a, x0 + h] R definida por g(x) =
Como a funcao e
h
contnua em x0 , existe 0 < 00 < h tal que

|x x0 | < 00 = |g(x) g(x0 )| < .
3


Instituto de Matematica - UFF 241

Analise na Reta


|f 0 (x) f 0 (x0 )| <
Entao, + + = para todo x (x0 00 , x0 + 00 ).
3 3 3
Mostraremos, agora, que f 0 e contnua no ponto a.
ba
Dado > 0, existe 0 < < tal que
2

f(x + h) f(x)
x, x + h [a, b] e 0 < |h| < = 0

f (x) < 3.
h


Seja h > 0 fixo tal que h < . Entao,

f(x + h) f(x) 0

f (x) < 3 ,
h
h a + bi a+b a+b ba
para todo x a, , pois a < +h< + = b.
2 2 2 2
h a + bi f(x + h) f(x)
g : a,
Como a funcao R definida por g(x) = e
2 h
00
contnua no ponto a, existe 0 < < h tal que

a x < a + 00 = |g(x) g(a)| < .
3
Logo,
|f 0 (x) f 0 (a)| |f 0 (x) g(x)| + |g(x) g(a)| + |g(a) f 0 (a)|

< + + = ,
3 3 3
para todo x [a, a + 00 ).
Assim, f 0 e contnua no ponto a.
Finalmente, mostraremos que f 0 e contnua no ponto b.
ba
Seja 0 < < tal que
2

f(x + h) f(x)
x, x + h [a, b] e 0 < |h| < =
0
f (x) < .
h 3

Seja h < 0 fixo tal que h > . Entao,



f(x + h) f(x) 0

f (x) < ,
h 3
ha + b i a+b a+b ba
para todo x , b , pois b > +h> = a.
2 2 2 2
ha + b i f(x + h) f(x)
g:
Como a funcao , b R , g(x) = , e contnua
2 h
no ponto b, existe 0 < < |h| tal que
00

242 J. Delgado - K. Frensel



Formula de Taylor

a+b
h i
|g(x) g(b)| < para todo x (b 00 , b] ,b .
3 2
Logo,
|f 0 (x) f 0 (b)| |f 0 (x) g(x)| + |g(x) g(b)| + |g(b) f 0 (b)| Para uma demonstracao mais

< + + = ,
sintetica,
veja Curso de Analise,
3 3 3 Vol. I de Elon Lima

para todo x (b 00 , b] . Assim, f 0 e contnua no ponto b.


3. Formula de Taylor

Seja n N. A nesima
derivada, ou derivada de ordem n, da
f no ponto a e indicada por f(n) (a) e e definida por inducao
funcao da
seguinte maneira:
f 00 (a) = f(2) (a) = [f 0 ] 0 (a) ,
f 000 (a) = f(3) (a) = [f 00 ] 0 (a) ,

(n) (n1) 0
f (a) = [f ] (a) .

conveniente considerar f como a sua propria


E derivada de ordem zero
e escrever f(0) (a) = f(a), para simplificar as formulas.

A derivada de ordem n, f(n) (a), de f no ponto a so faz sentido quando


f(n1) (x) existe para todo x num conjunto ao qual a pertence e do qual e
Em todos os casos que estudaremos, tal conjunto
ponto de acumulacao.
sera um intervalo contendo a.

3.1 Dizemos que f : I R e nvezes derivavel


Definicao no intervalo
I quando existe f(n) (x) para todo x I. Quando x e uma das extremidades
de I, f(n) (x) e uma derivada lateral.

3.2 Dizemos que f : I R e nvezes derivavel


Definicao no ponto
a I, quando existe um intervalo aberto J contendo a tal que f e

(n 1)vezes derivavel disso, existe f(n) (a).
em I J e, alem

3.3 Dizemos que f : I R e de classe Cn , e escrevemos


Definicao
f Cn , ou f Cn (I; R), quando f e nvezes derivavel
em I e a derivada
de ordem n, x 7 f(n) (x), e contnua em I.


Instituto de Matematica - UFF 243

Analise na Reta

3.1 Em particular, dizer que f C0 significa que f e cont-


Observacao
nua em I.

Exemplo 3.1 Para cada n = 0, 1, 2, . . ., seja n : R R a funcao



definida por n (x) = |x|n x .

n (x) = xn+1 , se x 0 e n (x) = xn+1 se x 0.


Entao,

n0 (x) = (n + 1)n1 (x) para todo x R e n N.


Afirmacao:
De fato,
Se x > 0, n0 (x) = (n + 1)xn = (n + 1)xn1 |x| = (n + 1)n1 (x) .

Se x < 0, n0 (x) = (n + 1)xn (n + 1)xn1 |x| = (n + 1)n1 (x) .

n0 (0+ ) = n0 (0 ) = 0 , pois lim n0 (x) = lim (n + 1)xn1 |x| = 0 .


x0 x0

Logo n0 (0) = 0 = (n + 1)n1 (0) .

(n)
Afirmacao: n (x) = (n + 1)! 0 (x) para todo x R.

Se n = 1, 10 (x) = 20 (x) = 2! 0 (x) , x R.


(n)
Suponhamos, por inducao,
que n (x) = (n+1)! 0 (x), para todo x R.
0
como n+1
Entao, (x) = (n + 2) n (x), temos que
(n+1) 0 (n)
n+1 (x) = [n+1 ](n) (x) = (n + 2) n (x)
= (n + 2) (n + 1)! 0 (x)
= (n + 2)! 0 (x) ,

para todo x R.
Como 0 (x) = |x|, x R, e contnua, mas nao
e derivavel
no ponto zero,
temos que Cn , mas nao
e (n + 1)vezes derivavel
no ponto zero.
6 Cn+1 .
Entao,

Exemplo 3.2
Sejam as funcoes
fn , hn : R R definidas por:

x2n sen 1 , se x 6= 0 x2n cos 1 , se x 6= 0
fn (x) = x e hn (x) = x

0 se x = 0 0 se x = 0 .

(n) (n)
fn e hn sao
Entao nvezes derivaveis
sao
em R, mas fn e hn nao
contnuas no ponto zero. Logo, fn 6 Cn e hn 6 Cn .

244 J. Delgado - K. Frensel



Formula de Taylor

sao
Em particular, fn e hn nao (n + 1)vezes derivaveis.

Sejam as funcoes
gn , n : R R definidas por:

x2n+1 sen 1 se x 6= 0 x2n+1 cos 1 se x 6= 0
gn (x) = x e n (x) = x

0 se x = 0 , 0 se x = 0 .

gn Cn e n Cn , mas nao
Entao, sao
(n + 1)vezes derivaveis
no
ponto zero.
feitas acima por inducao
Vamos provar as afirmacoes sobre n.

Caso n = 1: Como
1 1
f10 (x) = 2x sen cos se x 6= 0 e f10 (0) = 0 ,
x x
1 1
h10 (x) = 2x cos + sen se x 6= 0 e h10 (0) = 0 ,
x x
derivaveis
temos que f1 e h1 sao em R, mas f10 e h10 nao
sao
contnuas no
ponto zero.
Como
1 2
g10 (x) = 3x2 sen x cos , x 6= 0 e g10 (0) = 0,
x x
1 1 1 1
g100 (x) = 6x sen 4 cos + sen , x 6= 0,
x x x x
1 1
10 (x) = 3x2 cos + x sen , x 6= 0 , e 10 (0) = 0,
x x
1 1 1 1
100 (x) = 6x cos + 4 sen cos , x 6= 0 ,
x x x x

de classe C1 , mas nao


temos que g1 e 1 sao sao
2vezes derivaveis
no
g10 (x) g10 (0) 0 (x) 10 (0)
existem lim
ponto zero, pois nao e lim 1 .
x0 x0 x0 x0

feitas sejam validas


Caso geral: Suponhamos que as afirmacoes para fn ,
hn , gn e n .
Sendo
0 1 1 0
fn+1 (x) = (2n + 2)x2n+1 sen x2n cos , x 6= 0, e fn+1 (0) = 0 ,
x x
temos que
0
fn+1 (x) = (2n + 2)gn (x) hn (x) para todo x R .
gn e hn sao
Como as funcoes nvezes derivaveis
na reta, mas a derivada
e contnua na origem e a derivada da funcao
de ordem n de hn nao gn e


Instituto de Matematica - UFF 245

Analise na Reta

contnua em R, temos que fn+1 e (n + 1)vezes derivavel


em R, mas sua
e contnua no ponto 0.
derivada de ordem n + 1 nao

De modo analogo, temos que:
0 1 1 0
hn+1 (x) = (2n + 2)x2n+1 cos + x2n sen , x 6= 0 , e hn+1 (0) = 0
x x
ou seja,
0
hn+1 (x) = (2n + 2)n (x) + fn (x) para todo x R .
Logo, hn+1 e (n + 1)vezes derivavel
nvezes
em R, pois n e fn sao
(n+1) (n)

derivaveis e contnua no ponto zero, ja que fn nao
em R, mas hn+1 nao
(n)
e contnua no ponto zero e n e contnua em toda a reta.
Sendo
0 1 1 0
gn+1 (x) = (2n + 3)x2n+2 sen x2n+1 cos , x 6= 0 , e gn+1 (0) = 0 ,
x x
temos que
0
gn+1 (x) = (2n + 3)fn+1 (x) n (x) para todo x R .
Como n Cn e fn+1 Cn , pois fn+1 e (n + 1)vezes derivavel
em
R, temos que gn+1 Cn+1 , mas gn+1 nao
e (n + 2)vezes derivavel
no
e (n + 1)vezes derivavel
ponto zero, pois n nao no ponto zero e fn+1 e

(n + 1)vezes derivavel em R.

De modo analogo, temos que
0 1 1 0
n+1 (x) = (2n + 3)x2n+2 cos + x2n+1 sen , x 6= 0 , e n+1 (0) = 0 ,
x x
ou seja,
0
n+1 (x) = (2n + 3)hn+1 (x) + gn (x) .

Logo, n+1 Cn+1 , pois hn+1 , gn Cn , mas nao


e (n+2)vezes derivavel

e (n + 1)vezes derivavel
no ponto zero, pois gn nao no ponto 0 e hn+1 e

(n + 1)vezes derivavel em R.

3.4 Dizemos que f : I R e de classe C em I quando


Definicao
f Cn para todo n = 0, 1, 2, . . . ,ou seja, pode-se derivar f tantas vezes
quantas se deseje, em todos os pontos do intervalo I.

Exemplo 3.3
Todo polinomio
C em R.
e uma funcao

246 J. Delgado - K. Frensel



Formula de Taylor

Uma funcao
racional, quociente de dois polinomios,
e de classe C em
todo intervalo onde e definida.
As funcoes
trigonometricas,
logaritmica e a funcao
a funcao exponencial
de classe C em cada intervalo onde sao
sao definidas.

1
e x2 se x 6= 0
Exemplo 3.4 A funcao
f : R R, f(x) = e de
0 se x = 0
classe C .
claro que existem as derivadas de todas as ordens num ponto x 6= 0.
E

Vamos provar que existe f(n) (0) para todo n N.

Para cada n N, fn (x) = pn 1 e x2 , x 6= 0, onde pn (x) e


  1
Afirmacao:
x

um polinomio.
2 12 1
Para n = 1, f 0 (x) = 1
e x2 , x 6= 0, onde p1 (y) = 2y3 .

e x = p1 x
x3
1 1
Suponha que f(n) (x) = pn e x2 , x 6= 0, onde
x
pn (y) = ak yk + . . . + a1 y + a0
e um polinomio,
ou seja,
a a
 1
f(n) (x) = kk + . . . + 1 + a0 e x2 , x 6= 0.
x x
para x 6= 0,
Entao,
 ka a
 2 ak
 a1

k 2 1/x2
f(n+1) (x) = k+1 . . . 21 e1/x + 3 + . . . + + a 0 e
x x x xk x
1
2
= pn+1 e1/x ,
x

onde pn+1 (y) = kak yk+1 . . . a1 y2 + 2ak yk+3 + . . . + 2a1 y4 + 2a0 y3 , e



um polinomio de grau k + 3.

f(n) (0) existe e e igual a zero para todo n N.


Afirmacao:
1
Fazendo y = , temos que
x
f(x) f(0) 1/x y
lim = lim 1/x2 = lim y2 .
x0 x0 x0 e x e

Logo, f 0 (0) existe e e igual a zero, pois f 0 (0+ ) = f 0 (0 ) = 0.


Instituto de Matematica - UFF 247

Analise na Reta

Suponhamos que f(n) (0) existe e e igual a zero.


1
2
Como f(n) (x) = p e1/x , x 6= 0 , para algum polinomio
p, fazendo
x
1
y = , obtemos que
x
f(n) (x) f(n) (0) 1 1 yp(y)
  2
lim = lim p e1/x = lim 2 = 0.
x0 x0 x0 x x y ey

Logo, f(n+1) (0+ ) = f(n+1) (0 ) = 0. Entao,


f(n+1) (0) existe e e igual a zero.

Quando f e derivavel
num ponto a,
r(h)
f(a + h) = f(a) + f 0 (a) h + r(h) , onde lim = 0,
h0 h

ou seja, o resto r(h) e um infinitesimo



de ordem maior do que 1 em relacao
a` h.
Mostraremos que quando f e nvezes derivavel
no ponto a, existe

um polinomio p de grau n, polinomio
de Taylor de f no ponto a, tal que
r(h)
f(a + h) = p(h) + r(h) , onde lim = 0,
h0 hn

ou seja, o resto r(h) e um infinitesimo



de ordem superior a n em relacao
a h.
uma funcao
Isto e, nvezes derivavel
num ponto pode ser aproxi-

mada por um polinomio de grau n na vizinhanca daquele ponto.

No caso n = 1, a existencia
de um polinomio p(h) = f(a) + Lh de
r(h)
grau 1 tal que lim = 0, onde r(h) = f(a+h)p(h), e uma condicao

h0 h


necessaria
e suficiente para que f seja derivavel no ponto a.

Mas, quando n > 1, a existencia
de um polinomio p(h) de grau
r(h)
n tal que lim = 0, onde r(h) = f(a + h) p(h), decorre de f ser
h0 hn

nvezes derivavel e suficiente para garantir que f
no ponto a, mas nao

seja nvezes derivavel no ponto a.

Exemplo 3.5 Seja f : R R definida por



1 + x + (x a)2 + (x a)3 sen 1
, se x 6= a
f(x) = xa
1 + a , se x = a .

248 J. Delgado - K. Frensel



Formula de Taylor


Entao,
1
f(a + h) = 1 + a + h + h2 + h3 sen , h 6= 0 ,
h
ou seja,
f(a + h) = p(h) + r(h) ,

onde p(h) = 1 + a + h + h2 e um polinomio


de grau 2 e o resto
1 r(h)
r(h) = h3 sen lim 2 = 0.
cumpre a condicao
h h0 h

Temos que f e derivavel


em toda a reta com
1 1
f 0 (x) = 1 + 2(x a) + 3(x a)2 sen (x a) cos , para x 6= a
xa xa
e
1
f(x) f(a) (x a) + (x a)2 + (x a)3 sen
f 0 (a) = lim = lim xa
xa xa xa xa
1
= lim 1 + (x a) + (x a)2 sen = 1,
xa xa
e duas vezes derivavel
mas f nao existe
no ponto a, pois nao
f 0 (x) f 0 (a) 1 1
h i
lim = lim 2 + 3(x a) sen cos .
x0 xa xa xa xa


3.2 Um polinomio
Observacao de grau n
p(x) = b0 + b1 x + . . . + bn xn
fica determinado quando se conhecem o seu valor e o de suas derivadas
ate a ordem n no ponto 0, ou seja, o conhecimento de p(0), p 0 (0),. . .,p(n) (0)
determina os valores de b0 , b1 , . . . , bn .
De fato, p(0) = b0 , p 0 (0) = b1 , p 00 (0) = 2 ! b2 ,. . .,p(n) (0) = n ! bn , ou seja,
p(j)
bj = , j = 0, 1, . . . , n.
j!

3.5 Se f : I R e nvezes derivavel


Definicao no ponto a I, o

polinomio de grau n

f 00 (a) 2 f(n) (a) n


p(h) = f(a) + f 0 (a)h + h + ... + h
2! n!

e o polinomio
de Taylor de ordem n de f no ponto a.


Instituto de Matematica - UFF 249

Analise na Reta

3.3 O polinomio
Observacao de Taylor de ordem n de f no ponto a
e o unico

polinomio p de grau n cujas derivadas p(0), p 0 (0),. . .,p(n) (0)
no ponto 0 coincidem com as derivadas correspondentes de f no ponto
p(j) (0) f(j) (a)
a, pois, nesse caso o coeficiente de ordem j de p e = ,
j! j!
j = 0, 1, . . . , n.

Lema 3.1 Seja r : I R uma funcao


nvezes derivavel,
n 1, no
ponto 0 I. Entao,

r(x)
r(0) = r 0 (0) = . . . = r(n) (0) = 0 lim = 0.
x0 xn

Prova.
(=) Mostraremos, por inducao
sobre n, que se r e nvezes derivavel,

r(x)
n 1, no ponto 0 I e r(0) = r 0 (0) = . . . = r(n) (0) = 0, entao
lim = 0.
x0 xn

Caso n = 1: Se r(0) = r 0 (0) = 0, entao



r(x) r(x) r(0)
lim = lim = r 0 (0) = 0 .
x0 x x0 x0


Caso geral: Suponhamos o resultado valido para n 1, n 2.
Seja r : I R nvezes derivavel
no ponto 0 I com r(0) = r 0 (0) =
. . . = r(n) (0) = 0.
r 0 (x)
a hipotese
Entao, aplicada a r 0 , nos da que lim
de inducao, = 0.
x0 xn1

Logo, dado > 0, existe > 0, tal que



r 0 (x)
x I , 0 < |x| < = n1 < .
x

Como r e pelo menos uma vez derivavel


numa vizinhanca do ponto zero,
pois n 2, existe 0 < 0 < , tal que r e derivavel
em I ( 0 , 0 ).
pelo teorema do valor medio,
Entao, para cada 0 < |x| < 0 , x I, existe
cx I, 0 < |cx | < |x|, tal que
r(x) = r(x) r(0) = r 0 (cx )x .
Logo,

r(x) r 0 (cx ) r 0 (cx ) n1
cx
xn = xn1 = cn1 < .

x

x

250 J. Delgado - K. Frensel



Formula de Taylor

Provamos, assim, que dado > 0 existe 0 > 0 tal que



r(x)
x I, 0 < |x| < = n < .
0
x

r(x)
Logo, lim = 0.
x0 xn

(=) Mostraremos, agora, por inducao,


que se r : I R e nvezes
r(x)

derivavel, n 1, no ponto 0 I e lim r(0) = r 0 (0) =
= 0, entao
x0 xn

r 00 (0) = . . . = r(n) (0) = 0 .


r(x)
Caso n = 1: Se lim
= 0, entao
x0 x

r(x) r(x)
r(0) = lim r(x) = lim x = lim lim x = 0 ,
x0 x0 x x0 x x0

r(x) r(0) r(x)


e r 0 (0) = lim = lim = 0.
x0 x0 x0 x


Caso geral: Suponhamos o resultado valido para n 1, n 2, e conside-
r : I R nvezes derivavel
remos uma funcao no ponto 0 I tal que
r(x)
lim = 0.
x0 xn

r(n) (0) n
Seja : I R definida por (x) = r(x) x .
n!
e nvezes derivavel
Entao, no ponto 0 I e
 
(x) r(x) r(n) (0)
lim n1 = lim n
x x = 0.
x0 x x0 x n!


Pela hipotese temos que
de inducao,
(0) = 0 (0) = . . . = (n1) (0) = 0 .
r(0) = 0 e como
Entao,
r(n) (0)
(k) (x) = r(k) (x) n (n 1) . . . (n (k 1)) xnk ,
n!

para todo x I e k = 1, 2, . . . , n, temos r(j) (0) = 0, para todo


r(n) (0) n !
j = 1, . . . , n 1, e (n) (0) = r(n) (0) = 0.
n!
(x)
Logo, pela parte do lema ja demonstrada, temos que lim = 0, ja que
x0 xn
(0) = 0 (0) = . . . = (n1) (0) = (n) (0) = 0 .


Instituto de Matematica - UFF 251

Analise na Reta

r(x)
como lim
Entao, = 0, temos que
x0 xn
 
r(n) (0) r(n) (0) xn r(x) (x) r(x) (x)
= lim = lim n = lim lim n = 0 ,
n! x0 n ! xn x0 xn x x0 x n x0 x

ou seja, r(n) (0) = 0, o que completa a demonstracao.




Sejam f : I R uma funcao


definida no intervalo I, a I e p : R R

um polinomio. Se fizermos
f(a + h) = p(h) + r(h) ,
r : J R definida no intervalo J = a + I = {h
obtemos uma funcao
R | a + h I} que contem
o ponto 0.

Como p C , temos que f e nvezes derivavel


no ponto a se, e so
se, r e nvezes derivavel
no ponto 0.
Suponhamos que f e nvezes derivavel
no ponto a. Segue-se do
r(h)
lema anterior, que lim = 0 se, e so se, r(j) (0) = 0 , 0 j n, ou seja,
h0 hn

r(h)
lim = 0 se, e so se, f(j) (a) = p(j) (0), para todo j = 0, 1, . . . , n.
h0 hn

r(h)
disso, impusermos que grau(p) n, temos que lim
Se, alem =
h0 hn

0 se, e so se, p e o polinomio


de Taylor de ordem n para f no ponto a.

Com estas observacoes, provamos o seguinte:

Teorema 3.1 (Formula


de Taylor infinitesimal)
Seja f : I R uma funcao
nvezes derivavel
no ponto a I.
para todo h tal que a + h I, tem-se
Entao,

f(n) (a) n
f(a + h) = f(a) + f 0 (a) h + . . . + h + r(h)
n!

r(h)
onde lim = 0.
h0 hn

X
n
f(j) (a)
disso, p(h) =
Alem hj e o unico

polinomio de grau n tal que
j!
j=0

r(h)
f(a + h) = p(h) + r(h) , com lim =0
h0 hn

252 J. Delgado - K. Frensel


da formula
Aplicacoes de Taylor

Este teorema nos diz que o polinomio


de Taylor de ordem n para f
no ponto a aproxima f, numa vizinhanca do ponto a, a menos de um

infinitesimo de ordem superior a n.

Exemplo 3.6 Seja p : R R um polinomio


de grau n. Dados
a, h R, a formula
de Taylor infinitesimal nos diz que
p(n) (a) n
p(a + h) = p(a) + p 0 (a)h + . . . + h + r(h) ,
n!
r(h)
onde lim = 0.
h0 hn

Como r e um polinomio
de grau n e r(j) (0) = 0, 0 j n, temos que
r = 0, ou seja,
p(n) (a) n
p(a + h) = p(a) + p 0 (a)h + . . . + h ,
n!
quaisquer que sejam a, h R.
chegar ao mesmo resultado observando que q(h) =
Poderamos, tambem,
p(a + h) e um polinomio
de grau n tal que r(h) = p(a + h) q(h) = 0
r(h)
lim
satisfaz, trivialmente, a condicao pela unicidade do
= 0. Entao,
h0 hn

polinomio de Taylor, temos que
p(n) (a) n
p(a + h) = q(h) = p(a) + p 0 (a)h + . . . + h .
n!


4.
Aplicacoes
da formula de Taylor

4.1
Maximos e mnimos locais

Seja f : I R uma funcao


nvezes derivavel
no ponto a perten-
cente ao interior do intervalo I. Dizemos que a e um ponto crtico de f
quando f 0 (a) = 0.

Suponhamos que f 0 (a) = f 00 (a) = . . . = f(n1) (a) = 0 , mas


f(n) (a) 6= 0. Entao:

(1) Se n e par, entao


a e ponto de maximo
local quando f(n) (a) < 0, e um


Instituto de Matematica - UFF 253

Analise na Reta

ponto de mnimo local quando f(n) (a) > 0.


(2) Se n e mpar, o ponto a nao
e de maximo
nem de mnimo local.

De fato, pela formula de Taylor infinitesimal, temos que
 (n) 
f (a)
f(a + h) = f(a) + + (h) hn ,
n!

r(h)
onde (0) = 0 e (h) = se h 6= 0, a + h I.
hn

Como lim (h) = 0 e f(n) (a) 6= 0, temos que, para h suficientemente


h0

f(n) f(n) (a)


pequeno, o sinal de + (h) e o mesmo de .
n! n!

se n e par e f(n) (a) > 0, temos que f(a + h) > f(a) para todo
Entao,
h 6= 0 pertencente a uma vizinhanca do ponto zero, pois hn > 0 para todo
h 6= 0. Ou seja, a e um ponto de mnimo local estrito.

E, se n e par e f(n) (a) < 0, temos que f(a + h) < f(a) para todo
h 6= 0 suficientemente pequeno, ja que hn > 0 para todo h 6= 0. Ou seja,
a e um ponto de maximo
local estrito.

Agora, se n e mpar e f(n) (a) > 0, como existe > 0 tal que
f(n) (a)
(a , a + ) I e + (h) > 0 h (, ) {0}, temos que
n!
 
f(n) (a)
f(a + h) f(a) = + (h) hn < 0 , se < h < 0 ,
n!
 
f(n) (a)
e f(a + h) f(a) = + (h) hn > 0 , se 0 < h < .
n!

e ponto de maximo
Ou seja, a nao nem de mnimo local de f.


De modo analogo, podemos provar que se n e mpar e f(n) (a) < 0,
a nao
entao e ponto de maximo
nem de mnimo local de f.
Em particular, temos que se f : I R e nvezes derivavel
no ponto
a int I, f 0 (a) = . . . = f(n1) (a) = 0 e f(n) (a) 6= 0, entao
existe > 0 tal
que f(a + h) 6= f(a) para todo h (, ) , h 6= 0.

Como consequ encia, temos que se (xn ) e uma sequ encia
de pontos
de X {a} tal que lim xn = a e f(xn ) = f(a) para todo n N, entao

n+

nulas.
todas as derivadas de f que existam no ponto a sao

254 J. Delgado - K. Frensel


da formula
Aplicacoes de Taylor

Exemplo 4.1 A funcao


f : R R, f(x) = xn , tem um ponto de mnimo
no ponto zero se n e par, pois f 0 (0) = . . . = f(n1) (0) = 0 e f(n) (0) = n ! >
0 , e e crescente se n e mpar, pois f 0 (x) = nxn1 > 0 para todo x 6= 0,
f(x) < 0 para x < 0 e f(x) > 0 para x > 0.

0
4.2 do tipo .
Indeterminacao
0

Sejam f, g : I R funcoes
nvezes derivaveis
no ponto a I. Su-
ponhamos que f(a) = f 0 (a) = . . . = f(n1) (a) = 0 e g(a) = g 0 (a) = . . . =
g(n1) (a) = 0, mas f(n) (a) 6= 0 ou g(n) (a) 6= 0. Alem
disso, suponhamos
que g(x) 6= 0 para todo x 6= a suficientemente proximo

de a. Entao,
f(x) f(n) (a)
lim = (n) , se g(n) (a) 6= 0 ,
xa g(x) g (a)
e

f(x)
lim = + , se g(n) (a) = 0 ,
xa g(x)

Para provar este resultado, basta observar, fazendo h = (x a), que


!
f(n) (a)
+ (h) hn
f(x) f(a + h) n!
= = !
g(x) g(a + h) g(n) (a)
+ (h) hn
n!
f(n) (a) + n ! (h)
= , onde lim (h) = lim (h) = 0 .
g(n) (a) + n ! (h) h0 h0

Veremos, agora, outra formula


de Taylor, que nos da uma estimativa
sem supor
da diferenca f(a + h) f(a) para um valor fixo de h, isto e,
h 0. A formula
de Taylor que iremos obter nos da uma generalizacao


do Teorema do Valor Medio nvezes derivaveis.
para funcoes

Teorema 4.1 (Formula


de Taylor com resto de Lagrange)
de classe Cn1 , nvezes derivavel
Seja f : [a, b] R uma funcao no
existe c (a, b) tal que
intervalo aberto (a, b). Entao

f(n1) (a) f(n) (c)


f(b) = f(a) + f 0 (a) (b a) + . . . + (b a)n1 + (b a)n
(n 1) ! n!


Instituto de Matematica - UFF 255

Analise na Reta

Pondo b = a + h, isto equivale a dizer que existe (0, 1) tal que

f(n1) (a) n1 f(n) (a + h) n


f(a + h) = f(a) + f 0 (a) h + . . . + h + h
n! n!

Prova.
Seja : [a, b] R definida por
f(n1) (x) k
(x) = f(b) f(x) f 0 (x) (b x) . . . (b x)n1 (b x)n ,
(n 1) ! n!

onde a constante k e escolhida de modo que (a) = 0.


e contnua em [a, b], derivavel
Entao, em (a, b), (a) = (b) = 0.
disso, temos que
Alem
Xn 
f(j) (x) f(j1) (x)

0 0 j1 j2
(x) = f (x) + (b x) + (b x)
(j 1) ! (j 2) !
j=2

k
+ (b x)n1
(n 1) !
X
n1 (j+1)
f (x) X
n2 (j+1)
f (x) (b x)n1
j
= f (x) 0
(b x) + (b x)j + k
j! j! (n 1) !
j=1 j=0

k f(n) (x)
= (b x)n1 .
(n 1) !

Pelo teorema de Rolle, existe c (a, b) tal que 0 (c) = 0, ou seja, k =


f(n) (c) .
como (a) = 0, temos que
Entao,
f(n1) (a) f(n) (c)
f(b) = f(a) + f 0 (a)(b a) + . . . + (b a)n1 + (b a)n .
(n 1) ! n!

4.3
Funcoes convexas

f : I R, definida num intervalo I, e


Dizemos que uma funcao

convexa, quando para a < x < b arbitrarios em I, o ponto (x, f(x)) do

grafico de f esta situado abaixo da secante que liga os pontos (a, f(a)) e
(b, f(b)).
da reta secante e
Como a equacao

256 J. Delgado - K. Frensel


da formula
Aplicacoes de Taylor

f(b) f(a) f(b) f(a)


y= (x a) + f(a) , ou y= (x b) + f(b) ,
ba ba

dizer que, para a < x < b o ponto (x, f(x)) do grafico de f esta abaixo da
secante, significa que
f(b) f(a)
f(x) (x a) + f(a) ,
ba
e
f(b) f(a)
f(x) (x b) + f(b) ,
ba
ou seja,
f(x) f(a) f(b) f(a) f(b) f(x)

xa ba bx
Na realidade, basta que uma dessas desigualdades ocorra para que
seja convexa.
a funcao

Teorema 4.2 Seja f : I R uma funcao


duas vezes derivavel
no
f e convexa se, e so se, f 00 (x) 0 para todo
intervalo aberto I. Entao,
x I.

Prova.
(=) Suponhamos que f 00 (x) 0 para todo x I.
Sejam a, a + h I, h 6= 0. Entao,
pelo teorema anterior, existe c I entre
f 00 (c) 2
a e a + h tal que f(a + h) = f(a) + f 0 (a)h + h .
2!
Como f 00 (a) 0, temos que
f(a + h) f(a)
f 0 (a) se h > 0,
h
e
f(a + h) f(a)
f 0 (a) se h < 0.
h
Logo, se a < x < b, a, b, x I, temos que
f(a) f(x) f(b) f(x)
f 0 (x) ,
ax bx
f(x) f(a) f(b) f(x)

isto e, .
xa bx

Somando (f(x) f(a))(x a) a ambos os membros da desigualdade,


(f(x) f(a))(b x) (f(b) f(x))(x a) ,


Instituto de Matematica - UFF 257

Analise na Reta

obtemos que
(f(x) f(a))(b a) (f(b) f(a))(x a) ,
ou seja,
f(x) f(a) f(b) f(a)
,
xa ba

Logo, f e convexa no intervalo I.

(=) Suponhamos que f e convexa em I. Entao,


dados a < x < b em I,
temos que
f(x) f(a) f(b) f(a) f(x) f(b)
.
xa ba xb
Fazendo x a na primeira desigualdade e x b na segunda, obte-
mos que:
f(b) f(a)
f 0 (a) f 0 (b) ,
ba

ou seja, f 0 (a) f 0 (b).


Como f 0 e nao-decrescente

e derivavel em I, temos que f 00 (x) 0 para
todo x I.

4.1 Tomando a desigualdade estrita < em vez de 0 na


Observacao
de funcao
definicao convexa, obtemos o conceito de funcao
estritamente
convexa.

que fizemos acima, podemos pro-


Usando a mesma demonstracao
var que se f : I R e duas vezes derivavel
no intervalo aberto I e
f 00 (x) > 0 para todo x I, entao
f e estritamente convexa.

Mas a recproca nem sempre e verdadeira.

Exemplo 4.2 A funcao


f : R R, f(x) = x4 , e estritamente convexa,

pois se a < x < b, entao
x 4 a4 (x2 a2 )(x2 + a2 )
= = (x + a)(x2 + a2 )
xa xa
b4 a4
< (b + a)(b2 + a2 ) = ,
ba

mas f 00 (x) = 12x2 nao


e positiva em todo x, pois f 00 (0) = 0.

258 J. Delgado - K. Frensel


da formula
Aplicacoes de Taylor

4.4
Serie
de Taylor funcoes analticas

de classe C no intervalo I. Entao,


Seja f : I R uma funcao
dados a int I e a + h I, podemos escrever, para todo n N,
f(n1) (a) n1
f(a + h) = f(a) + f 0 (a)h + . . . + h + rn (h) ,
(n 1)!

f(n) (a + n h) n
onde rn (h) = h , com 0 < n < 1.
n!

A serie
X

f(n) (a)
hn
n!
n=0


chama-se serie f em torno do ponto a.
de Taylor da funcao

C definida num intervalo I possui uma


4.2 Toda funcao
Observacao

serie de Taylor em torno de cada ponto a int I. Mas tal serie
pode con-
vergir ou divergir e, mesmo quando converge, sua soma pode ser diferente
de f(a + h).

f : I R de classe C no
4.1 Dizemos que uma funcao
Definicao
intervalo aberto I e analtica quando, para cada a I existe a > 0 tal
X
f(n) (a) n

que a serie de Taylor h converge para f(a + h) para todo
n!
n=0

h (a , a ).

X

f(n) (a)
4.3 A serie
Observacao de Taylor hn converge para f(a+h)
n!
n=0

se, e so se, lim rn (h) = 0.


n+

Exemplo 4.3 Todo polinomio


p : R R e uma funcao
analtica, pois,
se p tem grau n, entao

p(n) (a) n X p(j) (a) j

p(a + h) = p(a) + p 0 (a) h + . . . + h = h ,
n! j!
j=0

para todo a, h R.


Instituto de Matematica - UFF 259

Analise na Reta

4.4 Costuma-se usar a unicidade do polinomio


Observacao de Taylor
f.
para se obter as derivadas de ordem superior de uma funcao

Exemplo 4.4 Seja a funcao


racional f : R R definida por f(x) =
1
f C e, como
. Entao,
1 + x2
1 yn
= 1 + y + y2 + . . . + yn1 ,
1y

ou seja,
1 yn
= 1 + y + . . . + yn1 + ,
1y 1y

para todo y 6= 1, temos, fazendo 1 + x2 = 1 (x2 ), que


1 2 4 6 n1 2n2 (1)n x2n
f(x) = f(x + 0) = = 1 x + x x + . . . + (1) x + ,
1 + x2 1 + x2
para todo x R e n N.

(1)n x2n
Sejam p(x) = 1 x2 + x4 x6 + . . . + (1)n1 x2n2 e r(x) = .
1 + x2
r(x) (1)n x
Como p e um polinomio
de grau 2n 1 e lim 2n1 = lim = 0,
x0 x x0 1 + x2

temos que p e o polinomio


de Taylor de ordem 2n 1 de f no ponto zero.
Logo, f(2n1) (0) = 0 e f(2n2) (0) = (1)n1 (2n 2) ! para todo n N.

(1)n x2n
disso, como r2n1 (x) = r2n (x) =
Alem , e lim rn (x) = 0 se, e so
1 + x2 n0

se, lim rn (x) = 0 se, e so se, lim r2n1 (x) = lim r2n (x) = 0 temos
n+ n+ n+

que, lim rn (x) = 0 se, e so se, |x| < 1.


n+

X

a serie
Entao de Taylor de f em torno de zero, (1)n x2n , converge
n=0

para f(x) se |x| < 1 e diverge se |x| 1, pois, neste caso, o termo geral
tende a zero quando n .
(1)n x2n nao
Apesar disto, como veremos depois, f e analtica em toda a reta. O que
acontece e que a serie
de Taylor de f em torno de um ponto a 6= 0 e

diferente da serie acima.

e1/x2 se x 6= 0
Exemplo 4.5 Seja f : R R a funcao
f(x) =
0 se x = 0 .

260 J. Delgado - K. Frensel


da formula
Aplicacoes de Taylor

Ja vimos, no exemplo 3.4, que f e de classe C e que f(n) (0) = 0 para


todo n N.
X

f(n) (0)

Logo, a serie de Taylor xn de f em torno do ponto 0 e identi-
n!
n=0

camente nula e, portanto, converge para zero, para todo x R. Como


f(x) 6= 0 para todo x 6= 0, a serie
de Taylor de f em torno do ponto 0
converge para f(x) para todo x 6= 0. Em particular, f nao
nao e analtica
o zero. Mas, como veremos depois, f e
em intervalo algum que contem
analtica em (0, ) e em (, 0).

Exemplo 4.6 Seja f : R R dada por f(x) = sen x.


Como f(2n+1) (x) = (1)n cos x e f(2n) (x) = (1)n sen x, para todo x R
e n N, temos que a formula
de Taylor de f com resto de Lagrange em
torno do zero e
x3 x5 (1)n x2n+1
sen x = x + + ... + + r2n+2 (x) ,
3! 5! (2n + 1) !

sen(n) (c) n
onde rn (x) = x e |c| < |x|.
n!
|x|n
Logo, |rn (x)| para x R e n N.
n!
|x|n
como lim
Entao, = 0, temos que lim rn (x) = 0 para todo x R.
n+ n ! n+


Ou seja, a serie seno em torno do ponto 0 converge
de Taylor da funcao
para sen x, para todo x R.

De modo analogo,
podemos provar que a serie de Taylor
h2 h3 h4
sen a + h cos a sen a cos a + sen a + . . .
2! 3! 4!
seno em torno de um ponto a R tambem
da funcao converge para
sen(n) (c) n
sen(a + h) para todo h R, pois o resto rn (h) = h , onde c esta
n!

entre a e a + h, da formula
de Taylor com resto de Lagrange da funcao
converge para zero quando n +
seno em torno do ponto a tambem
para todo h R.
seno e analtica em toda a reta e sua serie
Assim, a funcao de Taylor em
torno de qualquer ponto a converge para sen(a + h) para todo h R.


Instituto de Matematica - UFF 261

De modo analogo, cos-
podemos provar que o mesmo vale para a funcao
seno.

Exemplo 4.7 Seja f : R R a funcao


exponencial f(x) = ex . Como
f(n) (x) = ex para todo x R e n N, temos que a formula
de Taylor com
resto de Lagrange de f em torno de um ponto a R e dada por
h2 hn
ea+h = ea + ea h + ea + . . . + ea + rn+1 (h) ,
2! n!
ecn hn+1
onde rn+1 (h) = , para algum cn entre a e a + h.
n!
hn+1
Como ecn < ea+|h| e lim = 0, temos que lim rn+1 (h) = 0.
n+ (n + 1)! n+

X

ea hn
de Taylor
Logo, a serie exponencial em torno do ponto
da funcao
n!
n=0
a+h
a converge para e para todo h R.
exponencial e analtica em toda a reta e
Assim, a funcao
X

ea
x
e = (x a)n
n!
n=0

para todo x R e a R.


Instituto de Matematica - UFF 263
264 J. Delgado - K. Frensel
Integral superior e integral inferior

Parte 8

Integral de Riemann

1. Integral superior e integral inferior

Seja f : [a, b] R uma funcao


limitada no intervalo compacto [a, b].
existem m, M R tais que m f(x) M para todo x [a, b], ou
Entao,
seja, f(x) [m, M] para todo x [a, b].
f([a, b]) e dado por
O menor intervalo [m, M] que contem
m = inf{f(x) | x [a, b]} = inf f e M = sup{f(x) | x [a, b]} = sup f .

1.1 Uma particao


Definicao do intervalo [a, b] e um subconjunto finito
P = {t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b] tal que a = t0 < t1 < . . . < tn = b.
P.
os intervalos da particao
Os intervalos [ti1 , ti ], i = 1, . . . , n, sao

limitada e P = {t0 , t1 , . . . , tn } uma


Sejam f : [a, b] R uma funcao
de [a, b]. Para cada i = 1, . . . , n, tome
particao
mi = inf{f(x) | x [ti1 , ti ]} e Mi = sup{f(x) | x [ti1 , ti ]} .

1.2 Os numeros
Definicao reais
X
n X
n
s(f; P) = mi (ti ti1 ) e S(f; P) = Mi (ti ti1 )
i=1 i=1

chamados, respectivamente, a soma inferior e a soma superior da


sao
P.
f relativa a` particao
funcao

Se m = inf{f(x) | x [a, b]} e M = sup{f(x) | x [a, b]}, temos


Instituto de Matematica - UFF 265

Analise na Reta

m(b a) s(f; P) S(f; P) M(b a) ,


P do intervalo [a, b].
para toda particao

1.1 Se f e positiva no intervalo [a, b], s(f; P) e S(f; P) sao,


Observacao

respectivamente, a area
de um polgono inscrito e a area de um polgono
circunscrito e, portanto, valores aproximados, por falta, e por excesso, da

area
compreendida entre o grafico de f e o eixo das abscissas.

1.3 Sejam P e Q particoes


Definicao do intervalo [a, b].

Quando P Q, dizemos que a particao


Q e mais fina do que a particao

P, ou que a particao
Q e um refinamento da particao
P.

Seja Q = {t0 , t1 , . . . , ti1 , r, ti , . . . , tn } um refinamento da particao



P = {t0 , t1 , . . . , ti1 , ti , . . . , tn }, obtido acrescentando apenas um ponto

266 J. Delgado - K. Frensel


Integral superior e integral inferior

r (ti1 , ti ) a` particao
P.

Sejam
mi = inf{f(x) | x [ti1 , ti ]}
m 0 = inf{f(x) | x [ti1 , r]}
m 00 = inf{f(x) | x [r, ti ]} .

mi m 0 e mi m 00 .
Entao,
Assim,
s(f; Q) s(f; P) = m 00 (ti r) + m 0 (r ti+1 ) mi (ti ti1 )
= m 0 (ti r) + m 00 (r ti1 ) mi (ti r) mi (r ti1 )
= (m 0 mi )(ti r) + (m 00 mi )(r ti1 ) 0 ,

ou seja, s(f; Q) s(f; P).


que s(f; Q) s(f; P) para toda
provar por inducao
Podemos, entao,
Q mais fina do que P.
particao

De modo analogo, podemos mostrar que se Q e um refinamento de
P, isto e,
P Q, entao
S(f; Q) S(f; P).

Teorema 1.1 Sejam f : [a, b] R uma funcao


limitada e P, Q particoes

de [a, b]. Se P Q, entao

s(f, P) s(f; Q) e S(f; P) S(f; Q) .


Corolario 1.1 Seja f : [a, b] R uma funcao
limitada.
s(f; P) S(f; Q) quaisquer que sejam P e Q particoes
Entao de [a, b].

Prova.
Como P Q refina P e Q, temos
s(f; P) s(f; P Q) S(f; P Q) S(f; Q) .

1.4 Seja f : [a, b] R limitada. Chamamos integral inferior


Definicao
de f no intervalo [a, b] o numero
real
Zb
f(x) dx = sup s(f; P)
a P

e integral superior de f no intervalo [a, b] o numero


real


Instituto de Matematica - UFF 267

Analise na Reta

Zb
f(x) dx = inf S(f; P)
a P

Zb Zb
Ou seja, f(x) dx e caracterizados pelas proprieda-
f(x) dx sao
a a

des abaixo:
Zb
(1) f(x) dx s(f; P) para qualquer particao
P de [a, b]
a

P de [a, b] tal que


(2) Dado > 0, existe uma particao
Zb
s(f; P) > f(x) dx .
a

Zb
(1) f(x) dx S(f; P) para qualquer particao
P de [a, b]
a

P de [a, b] tal que


(2) Dado > 0, existe uma particao
Zb
S(f; P) < f(x) dx + .
a

se m f(x) M para todo x [a, b], temos que


Entao,
Zb Zb
m(b a) f(x) dx f(x) dx M(b a) ,
a a

pois
m(b a) s(f; P) S(f; Q) M(b a) ,
P e Q de [a, b].
quaisquer que sejam as particoes
Em particular, se |f(x)| K, ou seja, K f(x) K, para todo
x [a, b], entao

Z Z
b b
f(x) dx K(b a) e f(x) dx K(b a) .


a a


1 se x Q
Exemplo 1.1 Seja f : [a, b] R definida por f(x) =
0 se x R Q .

P de [a, b], temos mi = 0 e Mi = 1, para todo


Dada uma particao
i = 1, . . . , n, pois todo intervalo [ti1 , ti ] de P contem
numeros
racionais e
irracionais.

268 J. Delgado - K. Frensel


Integral superior e integral inferior

Logo, s(f; P) = 0 e S(f; P) = (b a), para toda particao


P de [a, b].
Zb Zb
Portanto, f(x) dx = 0 e f(x) dx = b a.
a a

Exemplo 1.2 Seja f : [a, b] R a funcao


constante f(x) = c para todo
x [a, b]. Entao
mi = Mi = c em todo intervalo [ti1 , ti ] de uma particao

P de [a, b]. Logo, s(f; P) = S(f; P) = c(b a) para toda particao
P de
[a, b]. Da,
Zb Zb
f(x) dx = f(x) dx = c(b a) .
a a

Teorema 1.2 Sejam a < c < b e f : [a, b] R limitada. Entao,



Zb Zc Zb
f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx
a a c

e
Zb Zc Zb
f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx
a a c

Lema 1.1 Seja a < c < b. Entao,



Zb
f(x) dx = sup { s(f; P) | P e particao
de [a, b] com c P }
a
Zb
f(x) dx = inf { S(f; P) | P e particao
de [a, b] com c P }
a

Prova.
P de [a, b], seja P 0 = P {c}. Entao,
Dada uma particao s(f; P) s(f; P 0 ) .
Zb
Como f(x) dx s(f; P) para toda particao P de [a, b], temos que
a
Zb
f(x) dx s(f; Q) ,
a

Q de [a, b] que contem


para toda particao c. Entao,

Zb
sup { s(f; Q) | Q particao
de [a, b] com c Q } f(x) dx .
a

P de [a, b], temos que


Por outro lado, dada uma particao


Instituto de Matematica - UFF 269

Analise na Reta

s(f; P) s(f; P 0 ) sup { s(f; Q) | Q particao


de [a, b] com c Q } ,

onde P 0 = P {c}. Logo,


Zb
f(x) dx sup { s(f; Q) | Q particao
de [a, b] com c Q }.
a

Zb
Assim, f(x) dx = sup { s(f; Q) | Q particao
de [a, b] com c Q} .
a


De modo analogo, podemos provar a outra igualdade.

1.2 Usando o mesmo tipo de argumento feito na demons-


Observacao
do lema acima, podemos mostrar que, para calcular as integrais
tracao
basta considerar as particoes
superior e inferior de uma funcao, de [a, b]
P0 dada. Ou seja,
que refinam uma particao
Zb Zb
f(x) dx = sup s(f; P) e f(x) dx = inf S(f; P) .
a PP0 a PP0

Lema 1.2 Sejam A e B conjuntos nao-vazios


limitados de numeros
re-

ais. Entao,
sup(A + B) = sup A + sup B e inf(A + B) = inf A + inf B ,
onde A + B = { x + y | x A e y B }.

Prova.
Como x sup A para todo x A e y sup B para todo y B, te-
mos x + y supA + sup B. Logo, sup A + sup B e uma cota superior do
conjunto A + B.

disso, dado > 0, existem x A e y B tais que x sup A
Alem e
2

y > sup B .
2
x + y > (sup A + sup B) . Logo, sup A + sup B e a menor cota
Entao,
superior de A + B, ou seja,
sup(A + B) = sup A + sup B .

De modo analogo, podemos provar que inf(A + B) = inf A + inf B. 


Corolario 1.2 Sejam f, g : [a, b] R funcoes
limitadas. Entao,

sup(f + g) sup f + sup g e inf(f + g) inf f + inf g.

270 J. Delgado - K. Frensel


Integral superior e integral inferior

Prova.
Sejam A = { f(x) | x [a, b] } , B = { g(y) | y [a, b] } e C = { f(x) +
g(x) | x [a, b] }. Como C A + B, temos, pelo lema anterior, que
sup(f + g) = sup C sup(A + B) = sup A + sup B = sup f + sup g ,
e
inf(f + g) = inf C inf(A + B) = inf A + inf B = inf f + inf g. 

Exemplo 1.3 Sejam f, g : [1, 1] R dadas por f(x) = x e g(x) = x.


sup f = 1 = sup g e sup(f + g) = 0, pois f(x) + g(x) = 0 para todo
Entao,
x [1, 1]. Logo, neste exemplo, sup(f + g) < sup f + sup g. 

Prova. (do Teorema 1.2)


Sejam
A = {s(f|[a,c] ; P) | P e particao
de [a, c] }
B = {s(f|[c,b] ; P) | P e particao
de [c, b] } .

A + B = {s(f; P) | P e particao
Entao, de [a, b] com c P } .

Logo, pelos lemas 1.1 e 1.2, temos que


Zb Zc Zb
f(x) dx = sup(A + B) = sup A + sup B = f(x) dx + f(x) dx .
a a c


De modo analogo, temos que
Zb Zc Zb
0 0 0 0
f(x) dx = inf(A + B ) = inf A + inf B = f(x) dx + f(x) dx ,
a a c

onde
A 0 = {S(f|[a,c] ; P) | P e particao
de [a, c] }

e B 0 = {S(f|[c,b] ; P) | P e particao
de [c, b] } . 

1.3 Sejam a < c < b e seja f : [a, b] R a funcao


Observacao dada

, ax<c
por f(x) =
, c x b.


Entao,
Zb Zb
f(x) dx = f(x) dx = (c a) + (b c) .
a a


Instituto de Matematica - UFF 271

Analise na Reta

De fato, como f|[c,b] , temos, pelo teorema anterior e pelo exemplo ,


que
Zb Zc Zb Zc
f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx = f(x) dx + (b c) ,
a a c a

e
Zb Zc Zb Zc
f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx = f(x) dx + (b c) .
a a c a


Suponhamos, para fixar as ideias, que . Entao,
f(x) para
todo x [a, b].
Zc
Logo, para todo > 0 tal que a < c < c, temos que f(x) dx
c
e, portanto,
Zc Z c Zc
(c a) f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx
a a c
(c a) +
= (c a) + ( ) ,

Assim, fazendo tender a zero, temos que


Zc
f(x) dx = (c a)
a

Zb
e, portanto, f(x) dx = (c a) + (b c) .
a


Alem, disso, como s(f|[a, c] ; P) = (c a) para toda particao
P de [a, c],
Zc
pois , temos que f(x) dx = (c a) e, portanto,
a
Zb
f(x) dx = (c a) + (b c) .
a

1.4 Observe, pela demonstracao


Observacao feita acima, que o valor
f|[a,c] no ponto c nao
da funcao influencia
nos valores das integrais, ou

, se x [a, c)
seja, se g(x) = para todo M R , temos
, entao,
M , se x = c
Zc Zc Zc Zc
f(x) dx = g(x) dx e f(x) dx = g(x) dx .
a a a a

272 J. Delgado - K. Frensel


Integral superior e integral inferior


De modo analogo, podemos povar que
Zc Zc Zc Zc
f(x) dx = h(x) dx e f(x) dx = h(x) dx
a a a a

, se x (a, c]
onde h(x) = e M R e um numero
qualquer.
M , se x = a ,

Zc Zc
Logo, f(x) dx = (c a) e f(x) dx = (c a) quaisquer que sejam os
a a

valores de f nos pontos a e c, onde f|(a,c) .

P = {t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b], uma


1.5 Dada uma particao
Definicao
f : [a, b] R constante, igual a ci , em cada intervalo aberto
funcao
escada.
(ti1 , ti ), i = 1, . . . , n, chama-se uma funcao

Repetindo o argumento feito acima um numero


finito de vezes, temos
que
Zb Zb X
n
f(x) dx = f(x) dx = ci (ti ti1 ) ,
a a i=1

quaisquer que sejam os valores que f assume nos pontos t0 , t1 , . . . , tn


P.
da particao

Lema 1.3 Seja A um conjunto limitado nao-vazio


de numeros
reais.
Dado c R, seja cA = {cx | x A}. Entao,

sup cA = c sup A e inf cA = c inf A se c > 0,


sup cA = c inf A e inf cA = c sup A se c < 0.

Prova.
Seja c > 0. Como x sup A para todo x A, temos que cx c sup A
para todo cx cA. Logo, c sup A e uma cota superior de cA.

disso, dado > 0, existe x A tal que x > sup A . Logo,
Alem
c
sup A e a menor cota superior de cA, ou seja,
cx > c sup A . Entao
c sup A = sup cA.
Seja, agora, c < 0. Como x sup A para todo x A, temos cx c sup A
para todo cx cA. Logo, c sup A e uma cota inferior de cA.


Instituto de Matematica - UFF 273

Analise na Reta


disso, dado > 0, existe x A tal que x > sup A + , pois
Alem < 0.
c c
Logo, cx < c sup A + . Portanto, c sup A e a maior cota inferior de cA, ou
seja, inf cA = c sup A.

De modo analogo, podemos provar que
inf cA = c inf A se c > 0 e sup cA = c inf A se c < 0. 

Teorema 1.3 Sejam f, g : [a, b] R limitadas. Entao:


Zb Zb Zb Zb
(1) f(x) dx + g(x) dx (f(x) + g(x)) dx (f(x) + g(x)) dx
a a a a
Zb Zb
f(x) dx + g(x) dx .
a a

Zb Zb Zb Zb
(2) Quando c > 0, c f(x) dx = c f(x) dx e c f(x) dx = c f(x) dx .
a a a a

Zb Zb Zb Zb
Quando c < 0, c f(x) dx = c f(x) dx e c f(x) dx = c f(x) dx .
a a a a

Zb Zb Zb Zb
Em particular, f(x) dx = f(x) dx e f(x) dx = f(x) dx .
a a a a

(3) Se f(x) g(x) para todo x [a, b], entao



Zb Zb Zb Zb
f(x) dx g(x) dx e f(x) dx g(x) dx .
a a a a

Prova.
Zb Zb
(1) Ja sabemos que (f(x) + g(x)) dx (f(x) + g(x)) dx .
a a

Zb Zb Zb
Vamos provar que f(x) dx + g(x) dx (f(x) + g(x)) dx .
a a a

Sejam P = {t0 , t1 , . . . , tn } uma particao


de [a, b] e mi (f), mi (g), mi (f + g)
f, g e f + g no intervalo [ti1 , ti ], i = 1, . . . , n.
os nfimos das funcoes

Como, pelo corolario 1.2, mi (f + g) mi (f) + mi (g), temos que
s(f + g; P) s(f; P) + s(g; P)
P de [a, b].
para toda particao

274 J. Delgado - K. Frensel


Integral superior e integral inferior

Logo,
Zb
(f(x) + g(x)) dx s(f; P) + s(g; P) ,
a

P de [a, b].
para toda particao
Entao, P e Q arbitrarias
dadas particoes de [a, b], temos que
Zb
s(f; P) + s(g; Q) s(f; P Q) + s(g; P Q) (f(x) + g(x)) dx
a

Assim, pelo lema 1.2,


Zb Zb
f(x) dx + g(x) dx = sup{s(f; P) + s(g; Q) | P , Q particoes
de [a, b] }
a a
Zb
(f(x) + g(x)) dx .
a

A ultima

desigualdade de (1) mostra-se de modo analogo.
(2) Pelo lema 1.3, mi (c f) = c mi (f) e Mi (c f) = c Mi (f) se c > 0 , e
mi (c f) = c Mi (f) e Mi (c f) = c mi (f) se c < 0 .
pelo lema 1.3, novamente, temos
Entao,
Zb
c f(x) dx = sup s(c f; P) = sup c s(f; P)
P P
a
Zb
= c sup s(f; P) = c f(x) dx , se c > 0 ,
P a

Zb
c f(x) dx = inf S(c f; P) = inf c S(f; P)
P P
a
Zb
= c inf S(f; P) = c f(x) dx , se c > 0 ,
P a
Zb
c f(x) dx = sup s(c f; P) = sup c S(f; P)
a P P
Zb
= c inf S(f; P) = c f(x) dx , se c < 0 ,
P a

Zb
c f(x) dx = inf S(c f; P) = inf c s(f; P)
P P
a Zb
= c sup s(f; P) = c f(x) dx , se c < 0 ,
P a

(3) Como f(x) g(x) para todo x [a, b], temos que


Instituto de Matematica - UFF 275

Analise na Reta

mi (f) mi (g) e Mi (f) Mi (g)


P de [a, b].
para todo intervalo [ti1 , ti ] de uma particao
Logo,
s(f; P) s(g; P) e S(f; P) S(g; P)
P de [a, b].
para toda particao
Assim,
Zb Zb Zb Zb
f(x) dx g(x) dx e f(x) dx g(x) dx .
a a a a


Corolario 1.3 Se f(x) 0 para todo x [a, b], entao

Zb Zb
f(x) dx 0 e f(x) dx 0 .
a a

2.
Funcoes
integraveis

2.1 Uma funcao


Definicao limitada f : [a, b] R e integravel
quando
Zb Zb
f(x) dx = f(x) dx
a a

Zb Zb
Este valor comum, indicado por f(x) dx ou f , e chamado a integral
a a
de f.

Exemplo 2.1 Toda funcao


constante, f(x) = c e integravel
e
Zb
f(x) dx = c(b a) .
a

Exemplo 2.2 Toda funcao


escada f : [a, b] R e integravel
e
Zb X
n
f(x) dx = ci (ti ti1 ),
a i=1

onde f|(ti1 ,ti ) ci , i = 1, . . . , n, a = t0 < t1 < . . . < tn = b.

276 J. Delgado - K. Frensel


integraveis
Funcoes


0 , x [a, b] (R Q)
Exemplo 2.3 A funcao
f : [a, b] R, f(x) =
1 , x [a, b] Q
Zb Zb
e integravel,
nao pois f(x) dx = 0 6= 1 = f(x) dx .
a a

2.1 Suponhamos que f(x) 0 para todo x [a, b] e seja


Observacao
A = { (x, y) R2 | a x b e 0 y f(x) }
do plano limitada pelo grafico
a regiao de f, pelo segmento [a, b] e pelas
Zb
retas verticais x = a e x = b. Como em f(x) dx usamos areas de
a

por falta da area


polgonos contidos em A como aproximacao de A e em
Zb
A, isto e,
f(x) dx tomamos polgonos que contem aproximacoes
por
a
Zb
excesso, podemos dizer que
f(x) dx e a area interna do conjunto A e
a
Zb
f(x) dx e a area
externa de A.
a

que f e integravel,
Dizer, entao,
significa que a area
interna e a area ex-
Zb
terna de A sao iguais, ou seja, que A possui uma area
igual a f(x) dx.
a

2.2 Sejam f : [a, b] R limitada,


Observacao
= { s(f; P) | P particao
de [a, b] } e = { S(f; P) | P particao
de [a, b] } .

Como s S para todo s(f; P) e para todo S = S(f; P) , temos que


sup inf , ou seja,
Zb Zb
f(x) dx f(x) dx .
a a

que f e integravel,
Dizer, entao, significa afirmar que sup = inf .

Lema 2.1 Sejam , conjuntos limitados nao-vazios


de numeros
reais
tais que s S quaisquer que sejam s e S .
sup = inf se, e so se, para todo > 0 existem s e S tais
Entao,
que S s < .


Instituto de Matematica - UFF 277

Analise na Reta

Prova.
Ja sabemos que sup inf .
(=) Suponhamos que sup < inf e tomemos = inf sup > 0.
Como s sup inf S quaisquer que sejam s e S , temos
que S s inf sup = para todo S e todo s , o que contradiz

a hipotese.
existem s e
(=) Suponhamos que sup = inf . Seja > 0. Entao

S tais que s > sup e S < inf + .
2 2

 
Logo, S s < inf + sup = . 
2 2

2.2 Seja f : [a, b] R limitada. Sua oscilacao


Definicao no conjunto
X e definida por
(f; X) = sup f(X) inf f(X) .

Lema 2.2 Seja Y R limitado nao-vazio.


Se m = inf Y e M = sup Y,

entao
M m = sup{ |x y| | x, y Y }.

Prova.
Seja A = { |x y| | x, y Y }. Dados x, y Y, podemos supor que x y.

Entao,
|x y| = x y M m ,
ou seja, M m e uma cota superior de A.

disso, dado > 0, existem x, y Y tais que x > M
Alem e y < m+ .
2 2
Logo,

|x y| x y > M m = M m ,
2 2
ou seja, M m e a menor cota superior de A. Entao,
M m = sup A.


Corolario 2.1 Seja f : [a, b] R limitada. Entao,
para todo X [a, b]

nao-vazio tem-se
(f; X) = sup{ |f(x) f(y)| | x, y Y } .

2.3 Dadas f : [a, b] R limitada e uma particao


Observacao P de
de f no intervalo [ti1 , ti ].
[a, b], indicaremos por i = Mi mi a oscilacao

278 J. Delgado - K. Frensel


integraveis
Funcoes

Teorema 2.1 Seja f : [a, b] R limitada. As seguintes afirmacoes



equivalentes:
sao
(1) f e integravel.

P e Q de [a, b] tais que
(2) Para todo > 0 existem particoes
S(f; Q) s(f; P) < .
P de [a, b] tal que
(3) Para todo > 0 existe uma particao
S(f; P) s(f; P) < .
P = {t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b] tal que
(4) Para todo > 0 existe uma particao
X
n
i (ti ti1 ) < .
i=1

Prova.

Pelo lema 2.1, temos que (1)(2). E (3)(4), pois, pelo corolario
2.1,
X
n
S(f; P) s(f; P) = i (ti ti1 ).
i=1

E obvio
que (3)=(2), e (2)=(3), pois se S(f; Q) s(f; P) < , entao

S(f; P Q) s(f; P Q) < , ja que
s(f; P) s(f; P Q) S(f; P Q) S(f; Q) . 

2.4 Sejam f, g : [a, b] R funcoes


Observacao limitadas que dife-
f e integravel
rem apenas num subconjunto finito de [a, b]. Entao, se, e so
Zb Zb
se, g e integravel.
E, neste caso, tem-se f(x) dx = g(x) dx .
a a

De fato, seja X = { x [a, b] | f(x) 6= g(x) }. Entao


P = X {a, b} e uma
de [a, b] tal que f g e constante igual a zero no interior de cada
particao

intervalo dessa particao.
Zb
Logo, f g e integravel
e (f g) dx = 0, pois f g e uma funcao
escada.
a

Como f = g + f g, segue-se do Teorema abaixo, que f e integravel


se, e
so se, g e integravel
com
Zb Zb Z Zb
f(x) dx = g(x) dx + (f(x) g(x)) dx = g(x) dx .
a a a a


Instituto de Matematica - UFF 279

Analise na Reta

Teorema 2.2 Sejam f, g : [a, b] R integraveis.



Entao:
integraveis
(1) Para a < c < b, f|[a,c] e f|[c,b] sao e
Zb Zc Zb
f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx
a a c

integraveis,
Reciprocamente, se f|[a,c] e f|[c,b] sao f e integravel
entao e
vale a igualdade acima.
(2) Para cada c R, cf e integravel
e
Zb Zb
(cf(x)) dx = c f(x) dx .
a a

(3) f + g e integravel
e
Zb Zb Zb
(f(x) + g(x)) dx = f(x) dx + g(x) dx .
a a a

(4) Se f(x) g(x) para todo x [a, b], entao



Zb Zb
f(x) dx g(x) dx .
a a
Zb
Em particular, se f(x) 0 para todo x [a, b], entao
f(x) dx 0.
a

(5) |f(x)| e integravel


e
Zb Zb
f(x) dx |f(x)| dx .


a a

Segue-se de (4) e (5) que se |f(x)| K para todo x [a, b], entao

Zb

f(x) dx k(b a) .

a

(6) O produto f g e integravel.


Prova.
(1) Sejam
Zc Zb Zc Zb
= f(x) dx, = f(x) dx, A = f(x) dx, e B = f(x) dx.
a c a c

Zb Zb
Como f(x) dx = + , f(x) dx = A + B, A e B, temos que f
a a

e integravel,
ou seja, + = A + B, se, e so se, = A e = B, ou seja,
se, e so se, f|[a,c] e f|[c,b] sao
integraveis.

280 J. Delgado - K. Frensel


integraveis
Funcoes

E, neste caso,
Zb Zb Zc Zb Zc Zb
f(x) dx = f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx .
a a a c a c

pelo teorema 1.3,


(2) Seja c > 0. Entao,
Zb Zb Zb
cf(x) dx = c f(x) dx = c f(x) dx
a a a
Zb Zb Zb
e cf(x) dx = c f(x) dx = c f(x) dx .
a a a
Zb Zb
Logo, cf e integravel
e cf(x) dx = c f(x) dx .
a a


De modo analogo, se c < 0, temos que
Zb Zb Zb
cf(x) dx = c f(x) dx = c f(x) dx
a a a
Zb Zb Zb
e cf(x) dx = c f(x) dx = c f(x) dx .
a a a

Zb Zb
Logo, cf e integravel
e cf(x) dx = c f(x) dx .
a a

O caso c = 0 e trivial.
(3) Pelo teorema 1.3, temos que
Zb Zb Zb Zb Zb
f(x) dx + g(x) dx = f(x) dx + g(x) dx ( f(x) + g(x) ) dx
a a a a a
Zb Zb Zb
( f(x) + g(x) ) dx f(x) dx + g(x) dx
a a a
Zb Zb
= f(x) dx + g(x) dx .
a a

Logo,
Zb Zb Zb Zb
f(x) dx + g(x) dx = ( f(x) + g(x) ) dx = ( f(x) + g(x) ) dx ,
a a a a

Zb Zb Zb
ou seja, f + g e integravel
e ( f(x) + g(x) ) dx = f(x) dx + g(x) dx.
a a a

(4) Pelo teorema 1.3, temos


Instituto de Matematica - UFF 281

Analise na Reta

Zb Zb Zb Zb
f(x) dx = f(x) dx g(x) dx = g(x) dx ,
a a a a

Zb Zb
ou seja, f(x) dx g(x) dx .
a a

(5) Provaremos, primeiro, que |f| e integravel.


Para x, y [a, b], temos |f(x)| |f(y)| |f(x) f(y)|.


Logo, para todo X [a, b],
(|f|, X) = sup{ | |f(x)| |f(y)| | | x, y X }
sup{ |f(x) f(y)| | x, y X }
= (f, X) .

P de [a, b], i (|f|) i (f) , i = 1, . . . , n.


dada uma particao
Entao,
Como f e integravel,
P de [a, b] tal que
dado > 0, existe uma particao
X
n

i (f)(ti ti1 ) < . Entao,
i=1

X
n X
n
i (|f|)(ti ti1 ) i (f)(ti ti1 ) < .
i=1 i=1

do teorema 2.1, que |f| e integravel.


Segue-se, entao,
disso, como |f(x)| f(x) |f(x)| para todo x [a, b], temos, por
Alem
(2) e (4), que
Zb Zb Zb Zb
|f(x)| dx = |f(x)| dx f(x) dx |f(x)| dx ,
a a a a

ou seja,
Zb Zb
f(x) dx |f(x) dx .


a a

limitadas no intervalo [a, b], existe K > 0 tal que


(6) Como f e g sao
|f(x)| K e |g(x)| K para todo x [a, b].
Seja P = {t0 , t1 , . . . , tn } uma particao
de [a, b]. Para x, y [ti1 , ti ] quais-
quer, temos

|f(x)g(x) f(y)g(y)| |f(x)| |g(x) g(y)| + |g(y)| |f(x) f(y)|


K ( |g(x) g(y)| + |f(x) f(y)| )
K ( i (f) + i (g) ) ,

282 J. Delgado - K. Frensel


integraveis
Funcoes

e, portanto,
i (f + g) K ( i (f) + i (g) ) ,
as oscilacoes
onde i (f+g), i (f), i (g) sao dessas funcoes
no intervalo
[ti1 , ti ].
integraveis,
Logo, como f e g sao P e Q de
dado > 0, existem particoes
[a, b], tais que

S(f; P) s(f; P) < e S(g; Q) s(g; Q) < .
2K 2k
sendo P 0 = P Q, temos que
Entao,

S(f; P 0 ) s(f; P 0 ) < e S(g; P 0 ) s(g; P 0 ) < .
2K 2K
P 0 = {t0 , t1 , . . . , tn },
Da, para a particao
X
n X
n X
n
i (f + g)(ti ti1 ) K i (f)(ti ti1 ) + K i (g)(ti ti1 )
i=1 i=1 i=1

= K ( S(f; P 0 ) s(f; P 0 ) ) + K ( S(g; P 0 ) s(g; P 0 ) )



< K +K = .
2K 2K

P 0 de [a, b] tal que


Provamos, assim, que dado > 0, existe uma particao
X
n
i (f + g)(ti ti1 ) < .
i=1

Logo, pelo teorema 2.1, f + g e integravel.



Zb Zc Zb
2.5 A igualdade
Observacao f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx so
a a c
tem sentido quando a < c < b.

Para torna-la verdadeira quaisquer que sejam a, b, c R, precisamos

fazer as seguintes convencoes:
Za
f(x) dx = 0
a
Zb Za
e f(x) dx = f(x) dx .
a b


Com essas convencoes, f integravel,
vale, para toda funcao a igualdade:
Zb Zc Zb
f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx , a, b, c Dom(f) R
a a c


Instituto de Matematica - UFF 283

Analise na Reta

Ha seis possibilidades:

a b c; a c b; b c a;

b a c; c a b; c b a.

Por exemplo, se a b c, entao



Zc Zb Zc
f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx.
a a b

Logo,
Zb Zc Zc Zc Zb
f(x) dx = f(x) dx f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx .
a a b a c


De modo analogo, podemos verificar a igualdade nos outros casos.

Teorema 2.3 Toda funcao


contnua f : [a, b] R e integravel.

Prova.
Como [a, b] e compacto, f e limitada e uniformemente contnua no in-
dado > 0, existe > 0 tal que
tervalo [a, b]. Entao,

x, y [a, b], |x y| < = |f(x) f(y)| < .
ba
ba
Seja n N tal que P = {t0 , t1 , . . . , tn },
< e considere a particao
n
i(b a)
onde ti = a + , i = 0, . . . , n.
n
ba
Para x, y [ti1 , ti ], temos |x y| |ti ti1 | = < .
n

Logo, |f(x) f(y)| < , para x, y [ti1 , ti ].
ba
Assim,

i (f) = sup { |f(x) f(y)| | x, y [ti1 , ti ] } , i = 1, . . . , n,
ba
X
n
e, portanto, i (f)(ti ti1 ) .
i=1

Logo, pelo teorema 2.1, f e integravel.




Teorema 2.4 Seja f : [a, b] R limitada. Se, para todo c [a, b),
f|[a,c] e integravel,
f e integravel.
entao

284 J. Delgado - K. Frensel


integraveis
Funcoes

Prova.
Seja K > 0 tal que |f(x)| K para todo x [a, b].

Dado > 0, tome c (a, b) tal que b c < .
4K
Como f|[a,c] e integravel,
{t0 , t1 , . . . , tn } de [a, c] tal que
existe uma particao
X
n

i (f)(ti ti1 ) < .
2
i=1

{t0 , t1 , . . . , tn , tn+1 } de [a, b] tal que


Pondo tn+1 = b, obtemos uma particao
X
n+1

i (f)(ti ti1 ) < , pois n+1 (f)(tn+1 tn ) < , ja que
2
i=1

n+1 (f) 2K e tn+1 tn = b c < .
4K
Logo, pelo teorema 2.1, f e integravel
no intervalo [a, b]. 

2.6 De modo analogo,


Observacao temos que se f : [a, b] R e
limitada e f|[c,b] e integravel
para todo c (a, b], entao
f e integravel.


Corolario 2.2 Seja f : [a, b] R limitada. Se, para a < c < d < b
quaisquer, f|[c,d] e integravel,
f e integravel.
entao

Prova.
Seja p (a, b) fixo. Como f|[q,p] e integravel
para todo q (a, p] e f|[p,r] e

integravel para todo r [p, b), temos, pela observacao
2.6 e pelo teorema
integraveis.
2.4, que f|[a,p] e f|[p,b] sao

Logo, pelo item (1) do teorema 2.2, f e integravel


em [a, b].


Corolario 2.3 Seja f : [a, b] R limitada com um numero
finito de
f e integravel.
descontinuidades. Entao,

Prova.
Seja {t0 , t1 , . . . , tn } = X {a, b}, onde t0 = a, tn = b e X e o conjunto
dos pontos de [a, b] onde f e descontnua.
pelo corolario
Entao, acima, f|[ti1 ,ti ] e integravel
para cada i = 1, . . . , n,
pois f e contnua e, portanto, integravel
em todo intervalo [c, d], com
ti1 < c < d < ti . Logo, pelo teorema 2.2, f e integravel
em [a, b].


Instituto de Matematica - UFF 285

Analise na Reta


sen 1 , se x 6= 0
Exemplo 2.4 A funcao
f : [1, 1] R , f(x) = x
0 , se x = 0 ,
e integravel,
pois f e limitada e descontnua apenas no ponto 0. 

2.7 A observacao
Observacao 2.4 nao
contem
o corolario
2.3, pois
pode ser descontnua num numero
uma funcao finito de pontos sem coin-
contnua fora desses pontos.
cidir com uma funcao

Exemplo 2.5 Seja f : [a, b] R definida por f(x) = 0 se x R Q ou


 
p 1 p
x=0ef = irredutvel com q > 0 e p 6= 0.
se e uma fracao
q q q

Ja provamos, anteriormente, que f e descontnua em todos os pontos do


conjunto [a, b] Q {0}. Alem
disso, f e limitada, pois f(x) [0, 1] para
todo x [a, b].
Zb
Mostraremos, agora, que f e integravel
e f(x) dx = 0.
a


De fato, dado > 0, o conjunto F = x [a, b] | f(x) e finito,
2(b a)
pois F e o conjunto das fracoes
irredutveis pertencentes a [a, b] cujos
2(b a)
>0e
denominadores sao .

P de [a, b] tal que a soma dos comprimen-
uma particao
Tomemos, entao,

tos dos intervalos de P que contem
algum ponto de F seja < .
2

Observe que se F [ti1 , ti ] = , entao
0 f(x) < para todo
2(b a)

x [ti1 , ti ] e, portanto, Mi (f) .
2(b a)

X
n
podemos decompor a soma superior S(f; P) =
Entao, Mi (ti ti1 )
i=1

P em duas parcelas:
relativa a` particao
X
n X X
S(f; P) = Mi (ti ti1 ) = Mi0 (ti0 ti1
0
)+ Mi00 (ti00 ti1
00
)
i=1

0
onde [ti1 , ti0 ] sao
os intervalos de P que contem
algum ponto de F e
00
[ti1 , ti00 ] sao
os intervalos de P disjuntos de F.

286 J. Delgado - K. Frensel



O teorema fundamental do Calculo

X X
Como, Mi0 (ti0 ti1
0
) (ti0 ti1
0
) < , pois Mi0 1 e
2
X
Mi00 (ti00 ti1
00
) (b a) ,
2(b a) 2

temos que 0 S(f; P) < .


Logo, 0 e a maior cota inferior do conjunto {S(f; Q) | Q particao
de [a, b]},
Zb
ou seja, f(x) dx = 0.
a

disso,
Alem
Zb Zb
0 f(x) dx f(x) dx = 0 .
a a

Zb
Logo, f e integravel
e f(x) dx = 0. 
a


3. O teorema fundamental do Calculo

Seja f : [a, b] R integravel.


Como, para todo x [a, b], f|[a,x] e

integravel, F : [a, b] R pondo
podemos definir a funcao
Zx
F(x) = f(t) dt
a

Seja K > 0 tal que |f(x)| K para todo x [a, b]. Entao,

Zy
|F(y) F(x)| = f(t) dt K|y x| .

x

Logo, F e lipschitziana e, portanto, uniformemente contnua no inter-


valo [a, b].

Exemplo 3.1 Seja f : [0, 2] R definida por f(t) = 0 se 0 t < 1 e


f(t) = 1 se 1 t 2. Entao,
f e integravel
e F : [0, 2] R e a funcao

Z x



f(t) dt = 0 , se x [0, 1]

0
F(x) =

Zx Zx Zx



f(t) dt = f(t) dt = 1 dt = x 1 , se x [1, 2] .
0 1 1


Instituto de Matematica - UFF 287

Analise na Reta

Logo, F e contnua em [0, 2] e derivavel


em [0, 2] {1}, onde x = 1 e o unico

ponto de descontinuidade de f. 

Zx
Note que: o processo de passar
de f para F melhora, ou amacia,
3.1 A funcao
Definicao F(x) = f(t) dt chama-se uma integral indefi-
a
f.
as qualidades da funcao
nida de f.

Teorema 3.1 Seja f : [a, b] R integravel.


Se f e contnua no ponto
Zx
c [a, b], entao F : [a, b] R , definida por F(x) =
a funcao f(t) dt, e
a

derivavel no ponto c com F 0 (c) = f(c).

Prova.
Sendo f contnua no ponto c, dado > 0 existe > 0 tal que
t [a, b], |t c| < = |f(t) f(c)| < .
se 0 < h < e c + h [a, b], temos
Entao,
Z c+h
F(c + h) F(c) 1
f(c) = f(t) dt h f(c)
h h c
Z c+h
1
= (f(t) f(c)) dt
h c
Z c+h
1 1
|f(t) f(c)| dt h = ,
h c h

pois |f(t) f(c)| < para todo t [c, c + h] [a, b].


Logo, F e derivavel
a` direita no ponto c e F 0 (c+ ) = f(c).
Analogamente, podemos provar que se < h < 0 e c + h [a, b], entao


F(c + h) F(c)
f(c) .
h

Logo, F e derivavel
a` esquerda no ponto c e F 0 (c ) = f(c).
Assim, F e derivavel
no ponto c e F 0 (c) = f(c). 

288 J. Delgado - K. Frensel



O teorema fundamental do Calculo


Corolario 3.1 Dada f : [a, b] R contnua, existe F : [a, b] R

derivavel tal que F 0 = f.

Prova.
Zx
Basta tomar F(x) = f(t) dt.
a

3.2 Dizemos que uma funcao


Definicao F : [a, b] R e uma primitiva
f : [a, b] R quando F e derivavel
da funcao e F 0 = f.

3.1 Toda funcao


Observacao contnua num intervlao compacto possui
primitiva.
integravel
Mas nem toda funcao possui primitiva, pois se f = F 0 , para
F derivavel,
alguma funcao f nao
entao pode ter descontinuidades de pri-

meira especie.

Exemplo 3.2 A funcao


integravel
possui primitiva
f do exemplo 3.1 nao
o ponto 1 no seu interior, pois o ponto 1 e
em intervalo algum que contem

uma descontinuidade de primeira especie de f. 

1
Exemplo 3.3 A funcao
f : [1, 1] R, definida por f(x) = 2x sen
x
1 1
cos se x 6= 0 e f(0) = 0, possui a primitiva F(x) = x2 sen se x 6= 0 e
x x

F(0) = 0 e uma descontinuidade de segunda especie no ponto 0. 

3.2 Se f : [a, b] R possui uma primitiva F, entao


Observacao F+c
uma primitiva de f para todo c R.
e tambem
E, reciprocamente, se G e uma primitiva de f, entao
G = f + c para algum
c R, pois F 0 = G 0 = f em [a, b], ou seja, (F G) 0 = 0 em [a, b].

3.3 Se F : [a, b] R e de classe C1 , entao


Observacao
Zb
F 0 (t) dt = F(b) F(a) .
a
Zx
0
De fato, como F e contnua, a funcao
(x) = F 0 (t) dt e a funcao
F sao

a
0
ambas primitivas de F em [a, b]. Logo, (x)F(x) = c para todo x [a, b],
para algum c R.


Instituto de Matematica - UFF 289

Analise na Reta

Como (a) = 0, temos que F(a) = c, ou seja, (x) = F(x) F(a) para
todo x [a, b]. Em particular, para x = b,
Zb
(b) = F 0 (t) dt = F(b) F(a) .
a

e preciso supor F 0 contnua.


Mostraremos que nao

Teorema 3.2 (Teorema Fundamental do Calculo)



integravel
Se uma funcao f : [a, b] R tem uma primitiva F : [a, b] R,

entao
Zb
f(x) dx = F(b) F(a)
a

Isto e, F : [a, b] R possui derivada integravel,


se uma funcao
entao
Zb
F 0 (t) dt = F(b) F(a)
a

Prova.
Seja P = {t0 , t1 , . . . , tn } uma particao
de [a, b]. Pelo teorema do valor

medio, para todo i = 1, . . . , n, existe i (ti1 , ti ) tal que
F(ti ) F(ti1 ) = F 0 (i )(ti ti1 ).

Entao,
X
n X
n
F(b) F(a) = [ F(ti ) F(ti1 ) ] = F 0 (i )(ti ti1 ) .
i=1 i=1

Sendo
mi = inf { F 0 (x) | x [ti1 , ti ] } e Mi = sup { F 0 (x) | x [ti1 , ti ] } ,
temos que mi F 0 (i ) Mi para todo i = 1, . . . , n e, portanto,
s(F 0 ; P) F(b) F(a) S(F 0 ; P)
Logo,
Zb Zb
0
F (t) dt F(b) F(a) F 0 (t) dt ,
a a

ou seja,
Zb
F 0 (t) dt = F(b) F(a). 
a

290 J. Delgado - K. Frensel



O teorema fundamental do Calculo

3.4 Este teorema nos diz que as unicas


Observacao primitivas de uma
integravel
funcao f : [a, b] R, caso existam, sao
da forma
Zx
f(t) dt + Const ,
a
Zb
de
e reduz a avaliacao f(t) dt a` obtencao
de uma primitiva.
a

Exemplo 3.4 Determinemos, agora, o desenvolvimento de Taylor da


log em torno do ponto 1, ou de log(1 + x) em torno do ponto 0,
funcao

usando o teorema fundamental do Calculo.
Sendo
1 tn
1 + t = 1 (t) e = 1 + t + . . . + tn1 ,
1t
temos que
1 (1)n tn
= 1 t + t2 . . . + (1)n1 tn1 + , t 6= 1 .
1+t 1+t

1 ti+1
Como log(1 + t) e uma primitiva de e e uma primitiva de ti ,
1+t i+1
1
sendo e ti , i N , integraveis,
por serem contnuas, temos que:
1+t
Zx
1
log(1 + t) = dt
0 1+t
Zx  
2 n1 n1 (1)n tn
= 1 t + t . . . + (1) t + dt
0 1+t
Zx
x2 x3 xn tn
= x + + . . . + (1)n1 + (1)n dt ,
2 3 n 0 1+t

para todo x > 1.


Zx
n tn
Fazendo rn (x) = (1) dt , observamos que se:
0 1+t
Zx
xn+1
0 x = |rn (x) tn dt = , pois 1 + x 1 ;
0 n+1
Z0 Z0 Z0
|t|n (t)n (1)n tn
1 < x 0 = |rn (x)| = dt = dt
x 1+x x 1+x x 1+x

(1)n+1 xn+1 |x|n+1


= = ,
(1 + x)(n + 1) (1 + x)(n + 1)


Instituto de Matematica - UFF 291

Analise na Reta

rn (x)
pois 0 < 1 + x 1 + t para t [x, 0]. Logo lim = 0.
x0 xn

x2 x3 xn

Entao, pn (x) = x + . . . + (1)n1 e o polinomio
de Taylor
2 3 n
log(1 + x) em torno do ponto zero, ou, fazendo
de ordem n para a funcao

a mudanca de variavel
u = 1 + x, o polinomio p n (u) = pn (u 1), e o

polinomio log u em torno do ponto
de Taylor de ordem n para a funcao
1.
disso, como lim rn (x) = 0 para todo x (1, 1], o desenvolvimento
Alem
n

de Taylor
x2 x3 xn
log(1 + x) = x + . . . + (1)n1 + . . .
2 3 n
vale para todo x (1, 1].
Em particular, para x = 1, obtemos que:

1 1 (1)n1 X

(1)n1
log 2 = log(1 + 1) = 1 + . . . + +... = .
2 3 n n
n=1

4.
Formulas
classicas
do Calculo Integral

Teorema 4.1 (Mudanca de variavel)


Seka, f : [a, b] R uma funcao


contnua, g : [c, d] R uma funcao


derivavel, com g 0 integravel
e g([c, d]) [a, b]. Entao,

Z g(d) Zd

Formula
de mudanca de variavel. f(x) dx = f(g(t)) g 0 (t) dt
g(c) c

Prova.
Como f e contnua, f possui uma primitiva F : [a, b] R. Entao,
pelo

teorema fundamental do Calculo, temos:
Z g(d)
f(x) dx = F(g(d)) F(g(c)) .
g(c)

Por outro lado, usando a regra da cadeia, temos


(F g) 0 (t) = F 0 (g(t)) g 0 (t) = f(g(t)) g 0 (t) , t [c, d] .

292 J. Delgado - K. Frensel



Formulas
classicas
do Calculo Integral

Assim, F g : [c, d] R e uma primitiva da funcao


integravel

t 7 f(g(t)) g 0 (t) ,
pois f g e contnua e g 0 e integravel.

Logo, pelo teorema fundamental do Calculo, temos


Zd
f(g(t)) g 0 (t) dt = F g(d) F g(c) .
c

4.1 No teorema acima, nao


Observacao exigimos que para todo
t [c, d], o ponto g(t) pertenca ao intervalo cujos extremos sao
g(c) e
g fosse monotona,
g(d), o que ocorreria se a funcao por exemplo. Em
supomos f contnua.
compensacao,
usa apenas o fato de f ser integravel
Na realidade, a demonstracao e
possuir primitiva e que f g e g 0 sao
integraveis.

No exerccio 11, e dada uma outra versao


do teorema 4.1, onde supomos

f apenas integravel,
mas g monotona:

Seja f : [a, b] R integravel


e g : [c, d] R monotona,
com
g 0 integravel
tal que g([c, d]) [a, b]. Entao,

Z g(d) Zd
f(x) dx = f(g(t)) g 0 (t) dt
g(c) c

Zb Zb
4.2 A notacao
Observacao f(x) dx, em vez de f, encontra uma
a a
boa justificativa no teorema anterior, pois se tomarmos x = g(t), teremos
dx = g 0 (t) dt, x = g(c) e x = g(d) quando t assume os valores c e d,
respectivamente.
nos dao,
Essas substituicoes entao,
a formula

de mudanca de variavel.

Teorema 4.2 (Integracao


por partes)

Se f, g : [a, b] R possuem derivadas integraveis,



entao
Zb Zb
b
f(t) g (t) dt = (f g) a f 0 (t) g(t) dt
0
a a

b
onde f g a = f(b)g(b) f(a)g(a).


Instituto de Matematica - UFF 293

Analise na Reta

Prova.
Como (f g) 0 (t) = f 0 (t) g(t) + f(t) g 0 (t) para todo t [a, b], temos que
f g e uma primitiva de f 0 g + f g 0 . Alem
disso, como f 0 g e g 0 f, e, portanto,
f 0 g + fg 0 , sao
integraveis,

temos, pelo teorema fundamental do Calculo,
que
Zb
( f 0 (t) g(t) + f(t) g 0 (t) ) dt = (f g)(b) (f g)(a) .
a

Logo,
Zb Zb
0
b
f (t) g(t) dt + f(t) g 0 (t) dt = (f g) a . 
a a

Teorema 4.3 (Formulas



do valor medio para integrais)
dadas as funcoes
Sao f, p : [a, b] R, com f contnua. Entao:

Zb
A. Existe c (a, b) tal que f(x) dx = f(c)(b a) .
a

B. Se p e integravel
muda de sinal, existe c [a, b] tal que
e nao
Zb Zb
f(x) p(x) dx = f(c) p(x) dx.
a a

C. Se p e positiva, decrescente, com derivada integravel,


existe c [a, b]
Zb Zc
tal que f(x) p(x) dx = p(a) f(x) dx.
a a

Prova.
A. Como f e contnua, f possui uma primitiva F. Entao,
pelo teorema

do valor medio, existe c (a, b) tal que
Zb
f(x) dx = F(b) F(a) = F 0 (c)(b a) = f(c)(b a) .
a

B. Sendo m = inf{ f(x) | x [a, b] } e M = sup{ f(x) | x [a, b] }, temos


m f(x) M para todo x [a, b] e existem x0 , y0 [a, b] tais que
f(x0 ) = m e f(y0 ) = M.
Suponhamos que p(x) 0 para todo x [a, b]. Entao,

m p(x) p(x) f(x) M p(x) , x [a, b] .
Logo,

294 J. Delgado - K. Frensel



Formulas
classicas
do Calculo Integral

Zb Zb Zb
m p(x) dx p(x) f(x) dx M p(x) dx .
a a a
Zb Zb Zb
Se p(x) dx = 0, temos p(x) f(x) dx = 0, e se p(x) dx > 0, temos
a a a
Zb
f(x) p(x) dx
a
m Zb M.
p(x) dx
a

Em qualquer caso, existe d [m, M] tal que


Zb Zb
d p(x) dx = f(x) p(x) dx .
a a

E, como f e contnua, existe c entre x0 e y0 tal que f(c) = d, ou seja,


Zb Zb
f(x) p(x) dx = f(c) p(x) dx .
a a
Zx
C. Seja F : [a, b] R dada por F(x) = f(t) dt .
a

F 0 = f e F(a) = 0.
Entao,
Integrando por partes, obtemos
Zb Zb Zb
f(x) p(x) dx = F (x) p(x) dx = F(b) p(b) F(x) p 0 (x) dx .
0
a a a

Como p 0 (x) 0 para todo x [a, b] e p 0 e integravel,


temos, pelo item B,
que existe [a, b] tal que
Zb Zb
0
F(x) p (x) dx = F() p 0 (x) dx .
a a

Logo,
Zb Zb
f(x) p(x) dx = F(b) p(b) F() p 0 (x) dx
a a

= F(b) p(b) F() p(b) + F() p(a)


 
p(a) p(b) p(b)
= F() + F(b) p(a)
p(a) p(a)

= ( F() + F(b) ) p(a) ,


Instituto de Matematica - UFF 295

Analise na Reta

p(a) p(b) p(b)


onde = 0, = 0 e + = 1.
p(a) p(a)

F() e
Como F() + F(b) pertence ao intervalo cujos extremos sao
F(b) , temos, pela continuidade de F, que existe c [, b] [a, b] tal que
F() + F(b) = F(c) .
que existe c [a, b] tal que
Provamos, entao,
Zb Zc
f(x) p(x) dx = p(a) F(c) = p(a) f(x) dx.
a a

4.3 No item B, podemos sempre obter c (a, b).


Observacao
Zb Zb
0
De fato, como f(x) p(x) dx = f(c ) p(x) dx = 0 para um certo c 0
a a
Zb
[a, b], temos que, se
p(x) dx = 0, entao
a
Zb Zb
f(x) p(x) dx = f(c) p(x) dx , c (a, b) .
a a

Suponhamos que p(x) 0 para todo x [a, b].


Zb Zb
Assim, p(x) dx > 0 se p(x) dx 6= 0.
a a
Zb
Sejam L = p(x) dx > 0 e M 0 > 0 tal que 0 p(x) M 0 , x [a, b] .
a

ba L

Seja 0 < < min ,
. Entao,
2 4M 0
Z a+ Zb
0 L L
0 p(x) dx M < e 0 p(x) dx M 0 < .
a 4 b 4

Logo,
Zb Z a+ Z b Zb
L = p(x) dx = p(x) dx + p(x) dx + p(x) dx
a a a+ b
Z b
L
< + p(x) dx .
2 a+


Entao,
Z b
L
p(x) dx > .
a+ 2

296 J. Delgado - K. Frensel



Formulas
classicas
do Calculo Integral

Sejam
m = f(x0 ) = inf{ f(x) | x [a, b] } e M = f(y0 ) = sup{ f(x) | x [a, b] } ,
onde x0 , y0 [a, b].
Seja
Zb
f(x) p(x) dx
a
d= Zb .
p(x) dx
a

como foi provado no item B, m d M.


Entao,
Se m < d < M, existe, pela continuidade de f, um numero
c entre x0 e
y0 , e, portanto, c (a, b), tal que f(c) = d.
Suponhamos que d = m e f(x) 6= m para todo x (a, b), ou seja,
f(x) > m para todo x (a, b).

Entao,
Zb Zb
f(x) p(x) dx = m p(x) dx ,
a a

ou seja,
Zb
(f(x) m) p(x) dx = 0 .
a

Mas, como f e contnua em [a, b] e f(x) > m para x (a, b), existe K > 0
tal que f(x) K + m para todo x [a + , b ].
Logo,
Z b Z b
KL
(f(x) m) p(x) dx K p(x) dx > > 0.
a+ a+ 2

Assim, sendo (f(x) m)p(x) 0 para todo x [a, b],


Zb Z a+
0 = (f(x) m)p(x) dx = (f(x) m)p(x) dx
a a
Z b Zb
+ (f(x) m)p(x) dx + (f(x) m)p(x) dx > 0 ,
a+ b

o que e um absurdo.
Suponhamos, agora, que d = M e f(x) 6= M para todo x (a, b), ou
seja, f(x) < M para todo x (a, b).


Instituto de Matematica - UFF 297

Analise na Reta

Logo,
Zb Zb
f(x) p(x) dx = M p(x) dx ,
a a

e, portanto,
Zb
(M f(x))p(x) dx = 0 .
a

Como f e contnua em [a, b] e f(x) < M para todo x (a, b), existe K > 0
tal que f(x) < M K para todo x [a + , b ].
Z b
KL
Assim, (M f(x))p(x) dx > 0 e, portanto,
a+ 2
Zb Z a+
0 = (M f(x))p(x) dx = (M f(x))p(x) dx
a a
Z b Zb
+ (M f(x))p(x) dx + (M f(x))p(x) dx > 0 ,
a+ b

o que e um absurdo.
Deduziremos, agora, a Formula
de Taylor com resto integral, usando
por partes.
integracao

Lema 4.1 Seja : [0, 1] R uma funcao


que possui derivada de
ordem n + 1, n 1, integravel

em [0, 1]. Entao,
Z1
00 (0)
0 (n) (0) (1 t)n (n+1)
(1) = (0) + (0) + + ... + + (t) dt .
2! n! 0 n!

Prova.
sobre n.
Provaremos este lema por inducao
Caso n = 1: Seja : [0, 1] R uma funcao
que possui derivada de

ordem 2 integravel em [0, 1].
Z1
0
Como e contnua, temos que (1) = (0) + 0 (t) dt .
0

Fazendo f(t) = 1 t e g(t) = 0 (t), obtemos, integrando por partes, que


Z1 Z1 Z1
0
0
(t) dt = (f (t)g(t)) dt = f g 1 + f(t) g 0 (t) dt
0
0 0 0
Z1
= 0 (0) + (1 t) 00 (t) dt ,
0

298 J. Delgado - K. Frensel



Formulas
classicas
do Calculo Integral

ou seja,
Z1
(1) = (0) + (0) + 0
(1 t) 00 (t) dt
0

Caso geral: Suponhamos o resultado valido


que possuem
para funcoes
derivada de ordem n + 1, n 1, integravel
em [0, 1].

Seja : [0, 1] R uma funcao


(n + 2)vezes derivavel,
com (n+2)

integravel em [0, 1].

(1 t)n+1 (1 t)n
Sejam f(t) = e g(t) = (n+1) (t) . Entao,
f 0 (t) = e
(n + 1) ! n!
g 0 (t) = (n+2) (t) , para todo t [0, 1].
Como f 0 e g 0 sao
integraveis,
temos
Z1 Z1 Z1
(1 t)n (n+1) 0
(t) dt = f (t) g(t) dt = f g 1 + f(t) g 0 (t) dt
0
0 n ! 0 0
Z1
(n+1) (0) (1 t)n+1 (n+2)
= + (t) dt .
(n + 1) ! 0 (n + 1) !

disso, sendo (n + 1)vezes derivavel,


Alem com (n+1) integravel,
ob-

temos, pela hipotese que
de inducao,
Z1
0 (n) (0) (1 t)n (n+1)
(1) = (0) + (0) + . . . + + (t) dt .
n! 0 n!

Logo,
Z1
0 (n) (0) (n+1) (0) (1 t)n+1 (n+2)
(1) = (0)+ (0)+. . .+ + + (t) dt .
n! (n + 1) ! 0 (n + 1) !


Teorema 4.4 (Formula


de Taylor com resto integral)
Se f : [a, a + h] R possui derivada de ordem n + 1 integravel,

entao

f 00 (a) 2 f(n) (a) n


f(a + h) = f(a) + f 0 (a) h + h + ... + h
2! n!
 Z1 
Formula de Taylor com resto inte-
(1 t)n (n+1) gral.
+ f (a + th) dt hn+1
0 n!

Prova.
Seja : [0, 1] R definida por (t) = f(a + th), t [0, 1].


Instituto de Matematica - UFF 299

Analise na Reta

(j) (t) = f(j) (a + th)hj para todo 1 j n + 1. Logo, possui


Entao,

derivada de ordem n + 1 integravel
(por que?) e (j) (0) = f(j) (a)hj para
todo 1 j n + 1.
Assim, pelo lema anterior,
Z1
00 (0)
0 (n) (0) (1 t)n (n+1)
(1) = (0) + (0) + + ... + + (t) dt ,
2! n! 0 n!

ou seja,

f 00 (a) 2 f(n) (a) n


f(a + h) = f(a) + f 0 (a) h + h + ... + h
2! n!
 Z1 
(1 t)n (n+1)
+ f (a + th) dt hn+1 ,
0 n!

como queramos.

4.4 Ao usarmos a notacao


Observacao [a, a + h], estamos admitindo
h 0. Mas a mesma formula
de nao
vale para h < 0, pois a definicao
leva isto em conta.

4.5 Fazendo b = a+h e realizando a mudanca de variavel


Observacao
x = a + th, t [0, 1], obtemos que:

f(n) (a)
f(b) = f(a) + f 0 (a)(b a) + . . . + (b a)n
n!
Zb
(b x)n (n+1)
+ f (x) dx ,
a n!

ja que
Zb Z1
(b x)n (n+1) (b a th)n (n+1)
f (x) dx = f (a + th) h dt
a n! 0 n!
Z1
(h th)n (n+1)
= f (a + th) h dt
0 n!
Z1
(1 t)n (n+1)
= f (a + th) hn+1 dt .
0 n!

300 J. Delgado - K. Frensel


A integral como limite de somas

5. A integral como limite de somas

5.1 Seja P = {t0 , t1 , . . . , tn } uma particao


Definicao do intervalo [a, b].
Chamamos norma de P ao numero


|P| = max | ti ti1 | i = 1, . . . , n .

Mostraremos que
Zb
f(x) dx = lim S(f; P),
a |P|0

onde f : [a, b] R e uma funcao


limitada.

Teorema 5.1 Seja f : [a, b] R limitada. Entao,


para todo > 0,
existe > 0 tal que
Zb Zb
f(x) dx S(f; P) < f(x) dx + ,
a a

P com norma menor do que .


qualquer que seja a particao

Prova.
Suponhamos, primeiro, que f(x) > 0, para todo x [a, b].
Seja M = sup { f(x) | x [a, b] } > 0.
P0 = { t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b] tal que
Dado > 0, existe uma particao
Zb Zb

f(x) dx S(f; P0 ) < f(x) dx + .
a a 2

Tome 0 < < e seja P uma particao
arbitraria
de [a, b] com |P| < .
2Mn
Indiquemos por [r1 , r ] os intervalos de P contidos em algum intervalo
[ti1 , t1 ] de P0 , e escrevemos i para indicar que [r1 , r ] [ti1 , t1 ] .
Chamemos [r1 , r ] os intervalos restantes. Como cada um destes in-
pelo menos um ponto ti em seu interior, ha,
tervalos contem no maximo,

n 1 intervalos do tipo [r1 , r ].
X
Se i, entao
M Mi e (r r1 ) ti ti1 , onde
i

M = sup f(x) e Mi = sup f(x) .


x[r1 ,r ] x[ti1 ,ti ]

Portanto,


Instituto de Matematica - UFF 301

Analise na Reta

X
M (r r1 ) Mi (ti ti1 ) .
i

disso, M (r r1 ) M , pois M , M e Mi sao


Alem numeros

positivos.
Assim,
X X
S(f; P) = M (r r1 ) + M (r r1 )

X
n
Mi (ti ti1 ) + M(n 1)
i=1
Zb

< S(f; P0 ) + < f(x) dx + .
2 a

No caso geral, como f e limitada, existe c R tal que f(x) + c > 0 para
todo x [a, b].
Tomando g(x) = f(x) + c, temos que g(x) > 0 para todo x [a, b],
Mi (g) = Mi (f) + c , S(g; P) = S(f; P) + c(b a) ,
e, portanto,
Zb Zb
g(x) dx = f(x) dx + c(b a) .
a a

Logo, dado > 0, existe > 0 tal que


Zb
|P| < = S(g; P) < g(x) dx + ,
a

ou seja,
Zb
S(f; P) + c(b a) < f(x) + c(b a) + .
a


Entao,
Zb Zb
f(x) dx S(f; P) < f(x) dx + . 
a a

Zb

Corolario 5.1 Seja f : [a, b] R limitada. Entao,
f(x) dx = lim s(f, P),
a |P|0

ou seja: dado > 0, existe > 0 tal que


Zb Zb
|P| < = f(x) dx < s(f; P) f(x) dx .
a a

302 J. Delgado - K. Frensel


A integral como limite de somas

Prova.
Pelo teorema anterior, dado > 0, existe > 0 tal que |P| < , entao

Zb Zb
f(x) dx S(f; P) < f(x) dx + .
a a

Logo,
Zb Zb
f(x) dx < s(f; P) f(x) dx ,
a a

Zb Zb
pois S(f; P) = s(f; P) e f(x) dx = f(x) dx . 
a a

Vamos, agora, caracterizar as funcoes


integraveis
exprimindo suas inte-
grais em termos de limites de somas.

5.2 Seja P = {t0 , t1 , . . . , tn } uma particao


Definicao de [a, b]. Pontilhar
P e escolher um ponto i [ti1 , ti ] para todo i = 1, . . . , n.
a particao
Se f : [a, b] R e limitada e P ? e uma particao
pontilhada de [a, b],
chamamos
X
n
(f; P) = f()(ti ti1 )
i=1

pontilhada P ? de [a, b].


de soma de Riemann de f relativa a` particao

5.1 Seja qual for a maneira de pontilhar a particao


Observacao P,
temos s(f; P) (f; P ? ) S(f; P) , ja que i [ti1 , ti ] e, portanto,
mi f(i ) Mi para todo i = 1, . . . , n.

5.3 Dada f : [a, b] R limitada, dizemos que I R e o


Definicao
limite de (f; P ? ) quando |P| tende a zero e escrevemos

I = lim (f; P ? )
|P|0

quando, para tdo > 0, existe > 0, tal que |(f; P ? ) I| < , seja qual
pontilhada P ? de [a, b], com |P| < .
for a particao

Teorema 5.2 Seja f : [a, b] R limitada. Entao,


existe o limite
Zb
?
I = lim (f; P ) se, e so se, f e integravel.
Neste caso, I = f(x) dx .
|P|0 a


Instituto de Matematica - UFF 303

Analise na Reta

Prova.
(=) Seja f integravel.

Pelo teorema 5.1 e pelo corolario 5.1, temos:
Zb
f(x) dx = lim S(f; P) = lim s(f; P) .
a |P|0 |P|0

Mas, como s(f; P) (f; P ? ) S(f; P) para toda particao pontilhada P ?


Zb
?
de [a, b], temos que o limite lim (f; P ) existe e e igual a f(x) dx.
|P|0 a

(=) Suponhamos que existe o limite I = lim (f; P ? ).


|P|0

P = {t0 , t1 , . . . , tn } tal que


Dado > 0, existe uma particao

|(f; P ? ) I| < ,
4
seja qual for a maneira de pontilhar P.
Vamos pontilhar P de duas maneiras:
Em cada intervalo [ti1 , ti ], existe i tal que

f(i ) < mi + .
4n(ti ti1 )

pontilhada P ? tal que


Isto nos da uma particao
X
n X
n

?
(f; P ) = f(i )(ti ti1 ) < mi (ti ti1 ) + = s(f; P) + .
4 4
i=1 i=1

Em cada intervalo [ti1 , ti ], existe i tal que



f(i ) > Mi .
4n(ti ti1 )

pontilhada P # tal que


Isto nos da uma particao
X
n X
n

#
(f; P ) = f(i )(ti ti1 ) > Mi (ti ti1 ) = S(f; P) .
4 4
i=1 i=1

Logo,

(f; P ? ) < s(f; P) S(f; P) < (f; P # ) + .
4 4

 
Mas, como (f; P ? ) e (f; P # ) pertencem ao intervalo I ,I + ,
4 4
temos que

I < s(f; P) S(f; P) < I + ,
2 2
e, portanto, S(f; P) s(f; P) < .

304 J. Delgado - K. Frensel


A integral como limite de somas

f e integravel
Entao, e, pela parte ja provada do teorema,
Zb
f(x) dx = lim (f; P ? ) . 
a |P|0

Exemplo 5.1 Seja f : [a, b] R uma funcao


integravel.
dada
Entao,

uma sequ encia (Pn? ) de particoes
pontilhadas com lim |Pn? | = 0, temos
n
que
Zb
f(x) dx = lim (f; Pn? ) .
a n

1
f : [1, 2] R dada por f(x) =
Consideremos, por exemplo, a funcao .
x
f e integravel,
Entao, pois f e de classe C , e, como veremos depois,
Z2
dx
= log 2.
1 x

n+1 n+2 n+n

Para cada n N, seja Pn = 1, , ,..., que
a particao
n n n
subdivide o intervalo [1, 2] em n intervalos, cada um com comprimento
1
hn + i 1 n + ii
. Pontilhemos Pn tomando em cada intervalo , o ponto
n n n
n+i
i = , i = 1, . . . , n.
n
n + i n 1
Como f(i ) = f = , temos que f(i )(ti ti1 ) = e,
n n+i n+i
portanto,
1 1 1
(f; Pn? ) = + + ... +
n+1 n+2 2n
pontilhada Pn? .
e a soma de Riemann da particao
Logo,
Z2
dx 1 1 1
 
log 2 = = lim (f; Pn? ) = lim = lim + + ... + .
1 x n n n n + 1 n+2 2n


Exemplo 5.2 Valor medio


num intervalo
de uma funcao
Seja f : [a, b] R uma funcao
integravel.
Dividindo o intervalo [a, b]
Pn = {a, a + h, . . . , a + nh}, onde
em n partes iguais, obtemos a particao
ba
h= .
n


Instituto de Matematica - UFF 305

Analise na Reta


A media
aritmetica dos n numeros
f(a + h), f(a + 2h), . . .,f(a + nh) = f(b)
1X
n
e indicada pela notacao
M(f; n) = f(a + ih). E definimos o valor
n
i=1


medio de f no intervalo [a, b] como sendo o limite

M(f; [a, b]) = lim M(f; n)


n

Escolhendo o ponto a + ih em cada intervalo [a + (i 1)h, a + ih],


pontilhada Pn? tal que
i = 1, . . . , n, obtemos uma particao
X
n
ba X
n
(f; Pn? ) = f(a + ih)h = f(a + ih) = (b a) M(f; n) ,
n
i=1 i=1

ou seja,
1
M(f; n) = (f; Pn? ) .
ba
Logo,
Zb
1 1
M(f; [a, b]) = lim (f; Pn? ) = f(x) dx .
n b a ba a

Em particular, se f esta definida no intervalo [a, a + 1], seu valor medio



Z a+1
nesse intervalo e f(x) dx . 
a

6. das funcoes
Caracterizacao
integraveis

Indiquemos com |I| = b a o comprimento de um intervalo I cujos


a e b.
extremos sao

6.1 Seja X R. Dizemos que X tem conteudo


Definicao nulo e escre-
finita de
vemos c(X) = 0, quando, para todo > 0, existe uma colecao
abertos I1 , . . . , Ik tal que

X
k
X I1 I2 . . . Ik e |Ij | <
j=1

6.1 Na definicao
Observacao acima, nao
foi exigido que os intervalos
abertos Ii , . . . , Ik sejam disjuntos.

306 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

Mas, o conjunto aberto I1 . . .Ik pode ser expresso, de modo unico,


como
finita de intervalos abertos disjuntos J1 , . . . , Jr , com r k.
uma reuniao
De fato, como I1 . . . Ik e um conjunto aberto, existe uma unica

colecao

(Jn ) enumeravel de intervalos abertos disjuntos tais que

[
I1 . . . Ik = Jn .
n=1


[
Como, para todo j = 1, . . . , k, Ij = Ij Jn e Ij Jn e vazio ou e um
n=1

intervalo aberto, temos que existe um unico


nj tal que Ij Jnj 6= , pois,

caso contrario, de dois
o intervalo aberto Ij se escreveria como reuniao

conjuntos abertos disjuntos e nao-vazios.
Logo, Ij Jnj , e, portanto,
I1 . . . Ik = Jn1 . . . Jnk .
(Jnk ) e finita e tem no maximo
Assim, a colecao k elementos, pois podem
existir j 6= `, j, ` = 1, . . . , k, tais que Jnj = Jn` .

existe r k tal que


Entao,
I 1 . . . I k = J1 . . . Jr ,
intervalos abertos disjuntos.
onde J1 , . . . , Jr sao

Lema 6.1 Sejam I1 , . . . , Ik e J1 , . . . , Jr intervalos abertos, tais que os in-


dois a dois disjuntos
tervalos Ji sao
Se I1 . . . Ik = J1 . . . Jr , entao

|J1 | + . . . + |Jr | |I1 | + . . . + |Ik | ,
tambem
ocorrendo a igualdade somente quando os intervalos Ij sao dois
a dois disjuntos. Nesse caso, k = r e os intervalos I1 , . . . , Ik coincidem

com os intervalos J1 , . . . , Jk a menos da enumeracao.

Prova.
Seja X : R R a funcao
caracterstica de um conjunto X R, ou

1 se x X
seja X (x) =
0 se x
6 X.


Instituto de Matematica - UFF 307

Analise na Reta

X
k
Y
1: Se Y = X1 . . . Xk , entao
Afirmacao X , ocorrendo a
j
j=1

igualdade se, e so se, os conjuntos Xj sao


dois a dois disjuntos.

De fato, se x Y, existe j {1, . . . , k} tal que x Xj .

X
k
Logo, Y (x) = 1 = Xj (x) X (x), pois X (y) 0 para todo y R.
i i
i=1

x 6 Xj para todo j = 1, . . . , k. Assim, Y (x) =


Se x 6 Y, entao X (x) = 0
j

para todo j = 1, . . . , k, ou seja,


X
k
Y (x) = X (x) = 0 .
j
j=1

dois a dois disjun-


Suponhamos, agora, que os conjuntos X1 , . . . , Xk sao
para todo x Y, existe um unico
tos. Entao, j = 1, . . . , k tal que x Xj .
X
k
Logo, Y (x) = 1 = Xj (x) = X (x), ja que X (x) = 0 para todo i 6= j.
i i
i=1

X
n
Suponhamos que Y = X . j
os conjuntos Xj sao
Entao, disjuntos,
j=1

pois se existisse x Xj Xi , j 6= i, teramos que


X
k
2 = Xj (x) + Xi (x) X (x) = Y (x) = 1 ,
`
`=1

o que e absurdo.
No caso em que X e um intervalo contido no intervalo [a, b], temos que
X : [a, b] R e uma funcao
escada e, portanto,
Zb
X(x) dx = |X|
a

Logo, se [a, b] e um intervalo tal que Y = I1 . . .Ik = J1 . . .Jr [a, b],


intervalos abertos, sendo os intervalos Ji
onde I1 , . . . , Ik e J1 , . . . , Jr sao

dois a dois disjuntos, entao
X
r X
k
Y = J i
I J
,
i=1 i=1

308 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

e, portanto,
X
r r Zb
X Z X
r Zb X
k k Zb
X X
k
|Ji | = J i
= J i
I j
= I j
= |Ij | .
i=1 i=1 a a i=1 a j=1 j=1 a j=1

Suponhamos, agora, que existem i 6= j , i, j {1, . . . , k}, tais que Ii Ij 6= .


existe um intervalo aberto I0 = (c, d) Ii Ij .
Entao,

X
k X
k
Logo, Y (x) < I (x) para todo x I0, ou seja,
`
I (x) Y (x) 1
`
`=1 `=1

para todo x I0 .
Assim,
X
k X
` Zb X
k X
r
!
|I` | |Js | = I (x)
`
J (x)
s
dx
`=1 s=1 a `=1 s=1
Zb X
k
! Zc X
k
!
= I (x) Y (x)
`
dx = I (x) Y (x)
`
dx
a `=1 a `=1
Zd X
k
! Zb X
k
!
+ I (x) Y (x)
`
dx + I (x) Y (x)
`
dx
c `=1 d `=1
Zd
1 dx = d c = |I0 | > 0 .
c

que se os intervalos abertos I1 , . . . , Ik nao


Provamos, entao, sao
disjuntos,
X
k X
r

entao |I` | > |Js | . 
`=1 s=1


Corolario 6.1 Seja X [a, b] um conjunto de conteudo

nulo. Entao,
P de [a, b] tal que a soma dos compri-
dado > 0, existe uma particao
mentos dos intervalos de P que contem
algum ponto de X e < .

Prova.
Dado > 0, existem intervalos abertos I1 , . . . , Ik tais que X I1 . . . Ik
X
k
e |Ij | < . Pela observacao
6.1 e pelo lema 6.1, existem intervalos
j=1

abertos J1 , . . . , Jr , r k, disjuntos tais que X I1 . . . Ik = J1 . . . Jr


Xr
e |Ji | < .
i=1


Instituto de Matematica - UFF 309

Analise na Reta

As extremidades dos Ji contidas em [a, b], juntamente com os pontos a e


P = {t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b].
b, formam uma particao
Seja i = 1, . . . , n, tal que X [ti1 , ti ] 6= . Entao,
existe x X [ti1 , ti ]
e, portanto, existe ` = 1, . . . , r tal que x J` .
Suponhamos que 0 < b a. Assim, uma das extremidades de J` esta

contida em [a, b], pois, caso contrario, teramos |J` | > b a , ja que
J` [a, b] 6= .
Logo, se:
ti1 = a = [a, t1 ) J` e t1 e a extremidade superior de J` .

ou
ti1 6= a e ti 6= b = (ti1 , ti ) = J` .

ti = b = (tn1 , b] J` e tn1 e a extremidade inferior de J` .

ou
Em qualquer caso, temos que ti ti1 |J` |. Entao,

X X
r
|ti ti1 | |Js | < . 
X[ti1 ,ti ]6= s=1

6.2 Os conjuntos de conteudo


Observacao nulo gozam das seguintes
propriedades:
X e limitado.
1. Se c(X) = 0, entao
De fato, como X esta contido numa uniao
finita de intervalos limitados,
temos que X e limitado.
2. Se c(X) = 0 e Y X, entao
c(Y) = 0.
c(X1 . . . Xn ) = 0.
3. Se c(X1 ) = c(X2 ) = . . . = c(Xn ) = 0, entao
De fato, dado > 0, existem, para cada k = 1, . . . , n, intervalos abertos
Ik1 , . . . , Ikjk tais que

310 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

X
jk

Xk Ik1 ... Ikjk e |Iki | < .
n
i=1

Logo,
jk
n [
[ X
n X
jk

X1 . . . Xn Iki e |Iki | < n = .
n
k=1 i=1 k=1 i=1

4. Se para cada > 0 existem intervalos abertos I1 , . . . , Ik e um subcon-


junto finito F X tais que
X F Ii . . . Ik e |I1 | + . . . + |Ik | < ,
c(X) = 0 .
entao
De fato, dado > 0, existem intervalos abertos I1 , . . . , Ik e F X finito tais
que

X F Ii . . . Ik e |I1 | + . . . + |Ik | < .
2

 
Sejam F = {x1 , . . . , xr } e Ik+i = xi , x i +
, i = 1, . . . , r. Entao,
4r 4r
r
[ X
r
2r
F Ik+i e |Ik+i | = = .
4r 2
i=1 i=1

X
k+r

Logo, X I1 . . . Ik Ik+1 . . . Ik+r e |Ij | < + = .
2 2
j=1

5. c(X) = 0 dado > 0, existem intervalos fechados J1 , . . . , Jk tais


X
k
que X J1 . . . Jk e |Ji | < .
i=1

De fato, se c(X) = 0, dado > 0, existem intervalos abertos I1 , . . . , Ik tais


X
k
que X I1 . . . Ik e |Ii | < . Seja Ji = Ii , ou seja, Ji = [ai , bi ]
i=1

|Ji | = |Ii |, i = 1, . . . , k. Logo, X J1 . . . Jk e


se Ii = (ai , bi ). Entao,
X
k X
k
|Ji | = |Ii | < .
i=1 i=1

Reciprocamente, dado > 0, existem intervalos fechados Ji = [ai , bi ],


X
k
i = 1, . . . , k , tais que X J1 . . . Jk e |Ji | < .
i=1


Instituto de Matematica - UFF 311

Analise na Reta

Sejam F = {a1 , b1 , a2 , b2 , . . . , an , bn } e Ii = (ai , bi ), i = 1, . . . , n.

X
k
X F I1 . . . Ik e
Entao, |Ii | < . Logo, pela propriedade 4,
i=1

c(X) = 0.
Em particular, vale a recproca do corolario
6.1: Se X [a, b] e, para
P de [a, b] tal que a soma dos comprimen-
cada > 0 existe uma particao
tos dos intervalos de P que contem
pontos de X e < , entao
c(X) = 0.

Exemplo 6.1 Seja X = Q [a, b], com a < b. Entao,


X e enumeravel,

tem conteudo
mas nao nulo.
P
dado 0 < < b a, existiria uma particao
De fato, se c(X) = 0, entao,
de [a, b] tal que a soma dos comprimentos dos intervalos de P contendo
pontos de P seria < . Mas, como Q [ti1 , ti ] 6= para todo i, teramos
X
que (ti ti1 ) = b a, o que e um absurdo. Logo, X nao tem
[ti1 ,ti ]X6=

conteudo
nulo. 

Exemplo 6.2 Todo intervalo nao-degenerado


tem conteudo
nao nulo.

De fato, os intervalos do tipo (a, +), [a, +), (, b) e (, b] nao
conteudo
tem ilimitados.
nulo, pois sao
tem conteudo
E os intervalos do tipo (a, b) e [a, b] nao nulo, pois (a, b)Q
tem
nao conteudo
nulo e (a, b) Q (a, b) [a, b]. 

Exemplo 6.3 Se X tem conteudo


X tem interior vazio.
nulo, entao
De fato, se x0 int X, existiria um intervalo aberto I tal que x0 I X.
Logo, como c(X) = 0, I teria conteudo
nulo, o que e um absurdo. 

Exemplo 6.4 Seja K [0, 1] o conjunto de Cantor. Entao


K nao
e enu-

meravel e tem conteudo
nulo.

De fato, depois da nesima do conjunto de Cantor,
etapa da construcao
foram omitidos intervalos abertos cuja soma dos comprimentos e
1 X 2 i
n1    2 n
1 2 22 2n1
+ 2 + 3 + ... + n = =1 .
3 3 3 3 3 3 3
i=0

312 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

finita de 2n intervalo fechados, cada um


K esta contido numa uniao
Entao,
1
de comprimento n . Como a soma dos comprimentos desses intervalos
3
 2 n  2 n
fechados e , dado > 0, basta tomar n N tal que < .
3 3
Portanto, c(X) = 0. 

Sejam f : [a, b] R uma funcao


limitada e X [a, b]. A oscilacao
de f
no conjunto X e
(f; X) = sup f(X) inf f(X) = sup{ |f(x) f(y)| | x, X } .
Logo, se X Y, entao
(f; X) (f; Y) .
de f num ponto x [a, b]:
Definiremos, agora, a oscilacao
Para cada > 0, escrevemos
x () = (f; (x , x + ) [a, b]) .
se a < x < b, existe 0 > 0 tal que (x 0 , x + 0 ) [a, b]. Logo,
x (0 ) = (f; (x 0 , x + 0 )) .
x (0 ) = (f; [a, a + 0 )) .
Se x = a e 0 < 0 b a, entao
x (0 ) = (f; (b 0 , b]) .
Se x = b e 0 < 0 b a, entao
Entao : (0, 0 ) R e monotona
a funcao
nao-decrescente e e
limitada, pois f e limitada.
Existe, portanto, o limite
(f; x) = lim+ x () = inf { () | (0, 0 ) }
0

de f no ponto x .
que chamamos a oscilacao

6.3 Seja V (x) = (x , x + ) ( [a, b] {x} ).


Observacao
se 0 < < 0 , temos que V (x) = (x , x + ) {x} quando
Entao,
a < x < b, V (a) = (a, a + ) e V (b) = (b , b) .
Como ja provamos, as funcoes

`x : (0, 0 ) R
7 `x = inf(0,0 ) f(V )


Instituto de Matematica - UFF 313

Analise na Reta

Lx : (0, 0 ) R
7 Lx = sup(0,0 ) f(V ) ,

monotonas
sao
nao-crescente
e nao-decrescente, respectivamente,
L(x) = lim Lx e o limite superior de f no ponto x e `(x) = lim `x e o
0 0

limite inferior de f no ponto x.


levamos em conta
Observe que, ao calcularmos os limites `(x) e L(x), nao
se tem, em geral, (f; x) igual a
o valor de f no ponto x. Por isso, nao
L(x) `(x).
Mas, como () = max { Lx , f(x) } min { `x , f(x) }, temos que

Lx + f(x) + |Lx f(x)| `x + f(x) |`x f(x)|


(f; x) = lim+ x = lim+ lim+
0 0 2 0 2
L(x) + f(x) + |L(x) f(x)| `(x) + f(x) |`(x) f(x)|
=
2 2

= max { L(x), f(x) } min { `(x), f(x) } .

disso, temos que f e contnua em x se, e so se, lim f(t) = f(x), ou


Alem
tx

seja, se, e so se, L(x) = `(x) = f(x). Logo,


f e contnua em x se, e so se, (f; x) = 0 .
De fato, se f e contnua em x, entao
(f; x) = 0, pois
max { L(x), f(x) } min { `(x), f(x) } = 0 ,
ja que L(x) = `(x) = f(x).
que (f; x) = 0.
Suponhamos, entao,
Se f(x) `(x) L(x), entao

0 = (f; x) = max { L(x), f(x) } min { `(x), f(x) } = L(x) f(x) ,
ou seja, L(x) = f(x), e, portanto, f(x) = `(x) = L(x).
Se `(x) L(x) f(x), entao

0 = (f; x) = max { L(x), f(x) } min { `(x), f(x) } = f(x) `(x) ,
ou seja, `(x) = f(x), e, portanto, `(x) = L(x) = f(x) .
Se `(x) f(x) L(x), entao

0 = (f; x) = max { L(x), f(x) } min { `(x), f(x) } = L(x) `(x) ,
ou seja, `(x) = L(x), e, portanto, `(x) = f(x) = L(x) .

314 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

Em qualquer caso, temos que L(x) = `(x) = f(x). Logo, f e contnua em x


se (f; x) = 0.

deste resultado, sem usar


Daremos, agora, uma outra demonstracao
de limite superior e inferioir de uma funcao
as nocoes num ponto x.

Teorema 6.1 Seja f : [a, b] R limitada. Entao,


f e contnua no ponto
x0 [a, b] se, e so se, (f; x0 ) = 0 .

Prova.
(=) Suponhamos f contnua no ponto x0 [a, b]. Dado > 0, existe
> 0 tal que

x [a, b] , |x x0 | < = f(x0 ) < f(x) < f(x0 ) + .
2 2
|f(x) f(y)| < quaisquer que sejam x, y [a, b] (x0 , x0 + )
Entao,
e, portanto, 0 .
Logo, (f; x0 ) = lim+ = 0.
0

(=) Suponhamos, agora, que (f; x0 ) = lim+ = 0 .


0

Dado > 0, existe > 0 tal que 0 < , ou seja, |f(x) f(y)| <
quaisquer que sejam x, y (x0 , x0 + ) [a, b].
Em particular,
x [a, b] , |x x0 | < = |f(x) f(x0 )| < .
Logo, f e contnua no ponto x0 . 

O proximo
x 7 (f; x) e uma funcao
teorema diz que a oscilacao se-

micontnua superiormente no intervalo [a, b], e os corolarios estabelecem
semicontnuas superiormente.
propriedades gerais das funcoes

Teorema 6.2 Seja f : [a, b] R limitada. Dado x0 [a, b], para todo
> 0, existe > 0, tal que
x [a, b] , |x x0 | < = (f; x) < (f; x0 ) + .

Prova.
Dado > 0 existe > 0 tal que x0 () < (f; x0 ) + , pois
lim x0 () = (f; x0 ).
0


Instituto de Matematica - UFF 315

Analise na Reta

Como
x0 () = (f; (x0 , x0 + ) [a, b]),
temos que para todo x X = (x0 , x0 + ) [a, b] , existe x > 0 tal
que (x x , x + x ) [a, b] X .
Logo,
(f; (x x , x + x ) [a, b]) (f; X) = x0 () < (f; x0 ) + .
Mas, como
(f; x) (f; (x x , x + x ) [a, b]),
ja que
(f; x) = lim x 0 = inf { x ( 0 ) | 0 > 0 },
0 0

onde x ( 0 ) = (f; (x 0 , x+ 0 )[a, b]), temos que (f; x) < (f; x0 )+.



Corolario 6.2 Se (f; x0 ) < entao
existe > 0 tal que
x [a, b] , |x x0 | < = (f; x) < .

Prova.
Pelo teorema acima, dado = (f; x0 ) > 0, existe > 0 tal que
x [a, b] , |x x0 | < = (f; x) < (f; x0 ) + = . 


Corolario 6.3 Para todo > 0, o conjunto
E = { x [a, b] | (f; x) }
e compacto.

Prova.
Seja
A = [a, b] E = { x [a, b] | (f; x) < } .

Pelo corolario anterior, para todo x A , existe x > 0, tal que (x x , x +
x ) [a, b] A .
Logo,
[
A = [a, b] (x x , x + x ) = [a, b] U ,
xA
[
onde U = (x x , x + x ) e aberto.
xA

316 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

E = [a, b] (R U ) e fechado e limitado, pois [a, b] e R U sao


Entao,
fechados e [a, b] e limitado. Portanto, E e compacto. 


Corolario 6.4 Seja (xn ) uma sequ encia
de pontos de [a, b] que con-
L (f; x), ou seja
verge para x. Se o lim (f; xn ) = L existe, entao
n

lim (f; xn ) (f; lim xn ) .


n n

Prova.
L (f; x)
Suponhamos, por absurdo, que (f; x) < L e seja = > 0,
2
(f; x) + = L . Pelo teorema 6.2, existe > 0 tal que
isto e,
y [a, b] (x , x + ) = (f; y) < (f; x) + = L .
Mas, como xn x, existe n0 N tal que xn [a, b] (x , x + ) para
todo n n0 .
Logo, (f; xn ) < L para todo n n0 , o que e um absurdo, pois
lim (f; xn ) = L. 
n

x
Exemplo 6.5 Seja a funcao
f : R R dada por f(x) = , x 6= 0, e
|x|
(f; x) = 0 para todo x 6= 0, pois f e contnua nesses
f(0) = 0. Entao,
pontos, e (f; 0) = 2, pois 0 = sup { |f(x) f(y)| | x, y (, ) } = 2,
para todo > 0. 

Exemplo 6.6 Seja g : R R definida por g(x) = 0 se x (R Q) {0}


 
p 1 p
eg = se e irredutvel e q > 0.
q q q

Como lim g(x) = 0 para todo x0 R, temos que L(x0 ) = `(x0 ) = 0,


xx0

onde L(x0 ) e `(x0 ) e o limite superior e o limite inferior de g no ponto x0 ,


respectivamente.
(g; x0 ) = 0 para todo x0 (R Q) {0} e (g; x0 ) = g(x0 ) para
Entao,
todo x0 Q {0}, ja que, pela observacao
6.3,

(g; x0 ) = max { L(x0 ), g(x0 ) } min { `(x0 ), g(x0 ) } . 

Exemplo 6.7 Seja h : R R dada por h(x) = 0 para x Q e h(x) = 1


para x R Q. Entao,
(h; x) = 1 para todo x R, pois


Instituto de Matematica - UFF 317

Analise na Reta

x () = sup { |h(y) h(z)| | y, z (x , x + ) } = 1


para todo > 0. 

Teorema 6.3 Seja f : [a, b] R uma funcao


limitada. Se (f; x) <
para todo x [a, b], entao P de [a, b] tal que
existe uma particao

i = Mi mi < em todos os intervalos [ti1 , ti ] da particao.

Prova.
Como (f; x) = lim+ x () = inf {x () | > 0 } < , para todo x [a, b],
0

existe x > 0 tal que x (x ) = (f; (x x , x + x ) [a, b] } < .



  [
Seja Ix = x x , x + x , x [a, b]. Como [a, b] Ix e uma cober-
2 2
x[a,b]

tura aberta do compacto [a, b], existem x1 , . . . , xn [a, b], pelo teorema
de Borel-Lebesgue, tais que [a, b] Ix1 . . . Ixn .
Os pontos a, b, juntamente com as extremidades dos intervalos Ixj que
P = {t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b].
pertencem a [a, b], deterrminam uma particao

i = (f; [ti1 , ti ]) < , i = 1, . . . , n.


Afirmacao:
i = 1: Como [a, t1 ] Ix1 . . . Ixn , existe j {1, . . . , n}, tal que a
extremidade inferior de Ixj e < a e sua extremidade superior e t1 e,
portanto, [a, t1 ) Ixj . Assim, [a, t1 ] (xj xj , xj + xj ), e
1 = (f; [a, t1 ]) (f; (xj xj , xj + xj ) [a, b]) < .

i 6= 1, n: Como [ti1 , ti ] Ix1 . . . Ixn , existe j {1, . . . , n} tal que a


extremidade inferior de Ixj e < ti1 e sua extremidade superior e ti , ou
seja, (ti1 , ti ) Ixj . Assim, [ti1 , ti ] (xj xj , xj + xj ) e
i = (f; [ti1 , ti ]) (f; (xj xj , xj + xj ) [a, b]) < .

i = n: Como [tn1 , b] Ix1 . . . Ixn , existe j {1, . . . , n}, tal que a


extremidade superior de Ixj e > b e sua extremidade inferior e tn1 , ou
seja, (tn1 , b] Ixj . Assim, [tn1 , b] (xj xj , xj + xj ) e

n = (f; [tn1 , b]) (f; (xj xj , xj + xj ) [a, b]) < .

Teorema 6.4 Uma funcao


limitada f : [a, b] R e integravel
se, e so
se, para todo > 0, o conjunto E = { x [a, b] | (f; x) } tem conteudo

nulo.

318 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

Prova.
(=) Sejam f integravel

e > 0. Dado > 0, existe uma particao
X
n
P = {t0 , . . . , tn } de [a, b] tal que i (ti ti1 ) < .
i=1

Se (ti1 , ti ) E 6= , existe x (ti1 , ti ) E e x > 0 tal que


(x x , x + x ) (ti1 , ti ).
Logo,
i = (f; [ti1 , ti ]) (f; (x x , x + x )) (f; x) .
Seja I = { i {1, . . . , n} | E (ti1 , ti ) 6= }.

Entao,
X X
(ti ti1 ) i (ti ti1 ) < .
iI iI


Isto e,
X
(ti ti1 ) <  ,
iI

ou seja, a soma dos comprimentos dos intervalos de P que contem


algum
ponto de E em seu interior e < .
[ X
Portanto, E ( E P ) (ti1 , ti ) e (ti ti1 ) < .
iI iI

Assim, como E P e finito, temos que c(E ) = 0.

(=) Suponhamos que c(E ) = 0 para todo > 0.



Dado > 0, tomemos 0 = .
2(b a)

Como E0 [a, b] e c(E0 ) = 0, temos, pelo corolario


6.1, que existe uma
P0 de [a, b] tal que a soma dos comprimentos dos intervalos de
particao

P0 que contem
algum ponto de E0 e < , onde M = sup f e
2(M m)
e constante.
m = inf f. Observe que M m > 0 se f nao
Nos outros intervalos, onde [tk1 , tk ] E0 = , temos que (f; x) < 0
para todo x [tk1 , tk ]. Logo, pelo teorema anterior, podemos subdividir
intersectam E0 de modo a se
cada um dos intervalos [tk1 , tk ] que nao
P que e um refinamento de P0 , com i < 0 nos
obter uma particao
contem
intervalos que nao pontos de E0 .


Instituto de Matematica - UFF 319

Analise na Reta

Relativamente a P, podemos escrever


X X X
i (ti ti1 ) = i0 (ti0 ti1
0
)+ i00 (ti00 ti1
00
),


onde o primeiro somatorio refere-se aos intervalos de P que contem
um
ponto de E0 .

Entao,
X
i0 M m e (ti0 ti1
0
)< .
2(M m)
X
Logo, i0 (ti0 ti1
0
)< .
2

O segundo somatorio corresponde aos intervalos de P que nao
contem

pontos de E0 . Logo, i00 < 0 e, portanto,
X
i00 (ti00 ti1
00
) < 0 (b a) = .
2
X
Assim, i (ti ti1 ) < e f e integravel.

Vamos introduzir agora a nocao
de conjunto de medida nula para obter-
integraveis.
mos a forma definitiva de caracterizar as funcoes

6.2 Dizemos que um conjunto X R tem medida nula (a`


Definicao
Lebesgue) e escrevemos m(X) = 0, quando, para todo > 0, existe
enumeravel
uma colecao de intervalos abertos I1 , I2 , . . . , In , . . . tais que
X

X I1 I2 . . . In . . . e |In | < .
n=1

Em particular, se X tem conteudo


X tem medida nula.
nulo, entao
Valem as seguintes propriedades:
1. Se m(X) = 0 e Y X entao
m(Y) = 0. Em particular m() = 0.

2. Se X e compacto e m(X) = 0, entao


c(X) = 0.

De fato, dado > 0, existe uma colecao enumeravel de intervalos


X

abertos I1 , . . . , In , . . . tais que X I1 . . . In . . . e |In | < .
n=1

Pelo teorema de Borel-Lebesgue, existem k1 , . . . , kn N tais que


X Ik1 . . . Ikn .

320 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis

X
n X

Logo, |Iki | |Ij | < e, portanto, c(X) = 0.
i=1 j=1

3. Se Y = X1 X2 . . . Xn . . ., onde m(X1 ) = m(X2 ) = . . . =


m(Y) = 0. Ou seja, uma reuniao
m(Xn ) = . . . = 0, entao, enumeravel
de
conjuntos de medida nula tem medida nula.
De fato, para cada n N, existe uma colecao
(In,j )jN de intervalos
[ X
abertos tal que Xn In,j e |In,j | < n .
2
jN jN
[
Logo, Y In,j , onde
n,jN

XX X


|In,j | < = .
2n
n j n=1

Assim, m(Y) = 0.
Em particular, como um conjunto formado por um unico
ponto tem me-

dida nula, todo conjunto enumeravel tem medida nula.
Assim, m(Q) = 0 e, portanto m(Q [a, b]) = 0, mas, como ja vimos,
Q [a, b] nao
tem conteudo
nulo.
4. Se, para cada > 0, existem intervalos abertos I1 , . . . , In , . . . e
[ X

um subconjunto enumeravel E X tais que X E In e |In | < ,
nN nN

m(X) = 0.
entao
De fato, dado > 0, existem intervalos abertos I1 , . . . , In , . . . e E X
[ X

enumeravel tais que X E In e |In | < .
2
nN nN

Mas, como E tem medida nula (por ser enumeravel), existem inter-
[ X
valos abertos J1 , . . . , Jn , . . . tais que E Jn e |Jn | < .
2
nN nN
[ [ X X
Logo, X In Jk e |In | + |Jk | < e, portanto, X tem
nN kN nN kN

medida nula.
5. m(x) = 0 para todo > 0, existe uma colecao enumeravel
de
[ X
intervalos fechados F1 , F2 , . . . , Fn , . . . tal que X Fn e |Fn | < .
nN nN


Instituto de Matematica - UFF 321

Analise na Reta

(In )nN de
De fato, se m(X) = 0, dado > 0, existe uma colecao
intervalos abertos tal que
[ X
X In e |In | < .
nN nN

Fn = In e um intervalo fechado tal que |Fn | = |In | e In Fn


Entao,
para todo n N.
[ X
Logo, X Fn e |Fn | < .
nN nN

(Fn )nN de interva-


Reciprocamente, dado > 0, existe uma colecao
[ X
los fechados tal que X Fn e |Fn | < .
nN nN

int(Fn ) = In e um intervalo aberto e |In | = |Fn | para todo


Entao,
n N, e o conjunto E das extremidades dos intervalos Fn e enumeravel.

[ X
Logo, X E In e |In | < e, portanto, pela propriedade 4,
nN nN

X tem medida nula.

Teorema 6.5 Uma funcao


limitada f : [a, b] R e integravel
se, e so
se, o conjunto D dos seus pontos de descontinuidade tem medida nula.

Prova.
Para cada > 0, seja E = {x [a, b] | (f; x) }.
[ [
D=
Entao, E = E1/n , ja que f e contnua num ponto x [a, b] se,
>0 nN

e so se, (f; x) = 0.

(=) Se m(D) = 0 entao


m(E ) = 0 para todo > 0. Como E e

compacto, pelo corolario 6.3, temos que c(E ) = 0 para todo > 0. Logo,
pelo teorema 6.4, f e integravel.

(=) Se f e integravel,
pelo teorema 6.4, para todo n N,
entao,
c(E1/n ) = 0 e, portanto, m(E1/n ) = 0.
[
Logo, D tem medida nula, pois D = E1/n e uma reuniao
enumeravel

nN

de conjuntos de medida nula. 

322 J. Delgado - K. Frensel


das funcoes
Caracterizacao integraveis


Corolario 6.5 Se f, g : [a, b] R sao
integraveis,
o produto f g
entao
1
e integravel.
disso, f(x) 6= 0 para todo x [a, b] e
Se, alem e limitada,
f
1

entao e integravel.

f

Prova.
limitadas, existem K > 0 e M > 0 tais que |f(x)| K e
Se f e g sao
|g(x)| M para todo x [a, b] e, portanto, |f(x) g(x)| KM para todo
x [a, b], ou seja, f g e limitada.
disso, como D(f g) D(f) D(g), temos que m(D(f g)) = 0, pois
Alem
m(D(f)) = m(D(g)) = 0.
Logo, f g e integravel.

1 1
Se f(x) 6= 0 para todo x [a, b] e e limitada, temos que e integravel,

f f
ja que D(1/f) = D(f) e m(D(f)) = 0. 


Corolario 6.6 Seja f : [a, b] R limitada. Se o conjunto dos seus
pontos de descontinuidade e enumeravel,
f e integravel.
entao


Corolario 6.7 Seja f : [a, b] R limitada. Se existem os limites laterais
de f em todos os pontos de [a, b], ou seja, se f so possui decontinuidades

de primeira especie, f e integravel.
entao

Prova.
de primeira especie,
Se todas as descontinuidades de f sao D e
entao

enumeravel e, portanto, tem medida nula. 


Corolario 6.8 Se f : [a, b] R e monotona,
f e integravel.
entao

Prova.
Se f e monotona
f e limitada e todas as suas descon-
em [a, b], entao
de primeira especie.
tinuidades sao
Logo, pelo corolario anterior, f e in-

tegravel. 


Instituto de Matematica - UFF 323

Analise na Reta

7. Logartmos e exponenciais

Logartmo e a partir dela a funcao


Vamos definir primeiro a funcao
Exponencial como sendo sua inversa, pois , desta maneira, as proprieda-
sao
des de ambas funcoes provadas de forma mais simples.
tambem
O contrario pode ser feito, mas torna as coisas mais difceis
(ver exerccios 2 e 60 da parte 2 e exerccios 11 e 12 da parte 5).

7.1 Seja R+ o conjunto dos numeros


Definicao reais positvos. Defini-
real log : R+ R pondo, para cada x > 0,
mos a funcao
Zx
1
log x = dt
1 t

O numero
log x e chamado o logartmo natural de x ou o logartmo de x.

Zx
1 x1
7.1 log x =
Observacao dt > 0 para todo x > 1, ja que,
1 t x
1 1
para todo t [1, x].
t x

Z1
1
7.2 log 1 =
Observacao dt = 0 e
1 t
Zx Z1
1 1
log x = dt = dt (1 x) = x 1 < 0 ,
1 t x t

1
para todo 0 < x < 1, pois 1 para todo t [x, 1].
t

1
7.3 Como (log) 0 (x) =
Observacao
> 0 para todo x > 0, a funcao
x
log : R+ R e monotona
crescente.
1
disso, log C , ja que a funcao
Alem x 7 e de classe C .
x

7.4 Quando x > 1, log x e a area


Observacao
da faixa de hiperbole

1

Hx1 = (t, y) 1 t x e0y
t

E quando 0 < x < 1, logx e a area


da faixa H1x com o sinal trocado.

324 J. Delgado - K. Frensel


Logartmos e exponenciais

1
Fig. 1: Area Hx
1 delimitada pelo grafico de x
no intervalo [1, x] .

Teorema 7.1 Sejam x, y R+ . Entao,


log xy = log x + log y.

Prova.
Temos
Z xy Zx Z xy
1 dt dt
log xy = dt = +
1 t 1 t x t
Zy Zy
x ds
= log x + ds = log x +
1 xs 1 s

= log x + log y ,
Z xy
dt
onde, na integral
, realizamos a mudanca de variavel t = xs. 
x t


Corolario 7.1 Seja x > 0. Entao,
log(xr ) = r log x para todo r Q.

Prova.
Seja n N. Entao,
podemos provar, por inducao,
usando o teorema
acima, que log(xn ) = n log x , ja que log x = log(x1 ) = 1 log x e, se
log(xn ) = n log x , entao

log(xn+1 ) = log(xn x) = log(xn ) + log x = n log x + log x = (n + 1) log x .

Como xn xn = x0 = 1, temos
0 = log 1 = log(xn xn ) = log(xn ) + log(xn ) ,
e, portanto, log(xn ) = log(xn ) = n log x.
Provamos, assim, que log(xr ) = r log x para todo r Z.


Instituto de Matematica - UFF 325

Analise na Reta

p
No caso geral, r = , p Z e q Z? . Como por definicao,
(xp/q )q = xp ,
q
temos que
p log x = log(xp ) = log((xp/q )q ) = q log(xp/q ) .
p
Assim, log(xp/q ) = log x . 
q


Corolario 7.2 A funcao
log : R+ R e um homeomorfismo de R+
sobre R .

Prova.
Ja sabemos que a funcao
log e contnua e crescente, donde injetiva.

Como, pelo corolario 3.2 da parte 6, log(R+ ) e um intervalo, para provar
que log(R+ ) = R, basta mostrar que
lim log x = + e lim log x = .
x x0+

Sendo lim log(2n ) = lim n log 2 = + e a funcao


log crescente, temos
n n

que limx log x = +, ja que dado A > 0 existe B = 2n0 > 0, onde
A
n0 > , tal que
log 2
x > B = log x > log(2n0 ) = n0 log 2 > A .

Temos, tambem, que lim+ log x = , pois, dado A > 0, existe
x0
A
= 2n0 > 0, onde n0 > , tal que
log 2
0 < x < = log x < log(2n0 ) = n0 log 2 < A .
disso, como log : R+ R e uma bijecao
Alem contnua definida no
intervalo R+ = (0, ), temos, pelo teorema 3.2 da parte 6, que sua funcao

inversa log1 : R R+ e contnua em R. 

7.5 O teorema acima, juntamente com o teorema 7.1, nos


Observacao
da que log : R+ R e um isomorfismo contnuo do grupo multiplica-
tivo R+ sobre o grupo aditivo R e que seu isomorfismo inverso tambem
e
contnuo.

Exemplo 7.1 Os unicos


homomorfsmos contnuos f : R+ R sao
os
da forma f(x) = c log x, onde c R (exerccio 33 do livro). 

326 J. Delgado - K. Frensel


Logartmos e exponenciais

7.6 Sendo log R+ R uma bijecao,


Observacao existe um unico

numero
real, indicado pelo smbolo e, cujo logartmo e 1, ou seja, log e = 1.
O numero
e e chamado de base dos logartmos naturais.
Mostraremos, depois, que
 1
n
e = lim 1+
n n

7.2 A funcao
Definicao exponencial exp : R R+ e,
por definicao,
a
logartmo, ou seja,
inversa da funcao
exp(x) = y log y = x .
Em particular, exp(log y) = y e log(exp x) = x .

Teorema 7.2 A funcao


exponencial e uma bijecao
crescente de R sobre
R+ . Ela e infinitamente diferenciavel,
com (exp) 0 (x) = exp(x). Alem
disso,
exp(x + y) = exp(x) exp(y) , x, y R e exp(r) = er , r Q .

Prova.
exp : R R+ e uma bijecao
A funcao contnua crescente de R sobre
R+ , pois ela e a inversa de uma bijecao
contnua crescente de R+ sobre
R.
disso, pela regra de derivacao
Alem da funcao
inversa, temos que exp e
1

derivavel, exp e contnua e (log) 0 (y) =
ja que a funcao 6= 0 para todo
y
y > 0, e
1 1
(exp) 0 (x) = 0 = = exp(x) , x R .
log (exp x) 1
exp(x)

de classe C .
Logo, exp e uma funcao
Sejam x, y R e x 0 = exp(x), y 0 = exp(y). Entao,

log(x 0 ) = x e log(y 0 ) = y.
Assim
exp(x + y) = exp(log(x 0 ) + log(y 0 )) = exp(log(x 0 y 0 )) = x 0 y 0 = exp(x) exp(y) .
Seja, agora, r Q. Entao,
pelo corolario
7.2,
exp(rx) = exp(r log(x 0 )) = exp(log((x 0 )r )) = (x 0 )r = (exp(x))r .
Em particular, se x = 1, temos que exp(r) = exp(r 1) = (exp(1))r = er .


Instituto de Matematica - UFF 327

Analise na Reta

7.7
Observacao
lim exp x = + .
x

De fato, dado A > 0, existe D = max{log A, 1} > 0, tal que


x > D = exp x > exp D exp log A = A.
lim exp x = 0
x

1

De fato, dado > 0, existe D = max log , 1 > 0, tal que

1
 
x < D = 0 < exp x < exp(D) exp log = exp log = .

7.8 A igualdade exp r = er , quando r Q, juntamente


Observacao
exp(x + y) = exp x exp y, nos indicam que exp x se com-
com a relacao

porta como uma potencia de base e e expoente x.
Portanto, vamos escrever
exp x = ex .
temos
Com a nova notacao,
1
ex+y = ex ey , e0 = 1 , ex = ,
ex
x < y ex < ey , log(ex ) = x e elog x = x .

7.9 Como y = ex e y = log x sao


Observacao funcoes
inversas uma

da outra, os seus graficos simetricos
sao relativamente a` diagonal y = x .


Fig. 2: Simetria entre os graficos de y = ex e y = log x em relacao
a` diagonal y = x .


Pelos graficos, ex tende mais rapida-
podemos observar que a funcao

328 J. Delgado - K. Frensel


Logartmos e exponenciais

x 7 x, e que a
mente para +, quando x +, do que a funcao
log x tende mais lentamente para +, quando x +, do que
funcao
x 7 x.
a funcao
p(x)
De fato, ja provamos, na parte 7, exemplo 2.7, que lim = 0 para
x+ ex

todo polinomio p(x). E provaremos, agora, o seguinte resultado com res-
peito ao crescimento logartmico.

log x
Teorema 7.3 x+
lim = 0.
x

Prova.

Pelo teorema do valor medio, para todo x > 1, existe cx (1, x) tal que
x1
log x = log x log 1 = log 0 (cx ) (x 1) = .
cx
1 1
Logo, log x < x para todo x > 1 e, portanto, 0 < log(x 2 ) < x 2 para todo
x > 1.
1 1
Assim, como log(x 2 ) = 2
log x , temos, elevando ao quadrado a ultima

(log x)2 log x 4
desigualdade, que 0 < < x , ou seja, 0 < < para todo
4 x log x
x > 1.
log x 4
Logo, lim = 0, pois lim = 0. 
x+ x x+ log x


Corolario 7.3 lim+ (x log x) = 0 .
x0

Prova.
1
Fazendo x = , temos
y

log(1/y) log y
lim+ x log x = lim = lim = 0. 
x0 y+ y y+ y

7.10 Se c, k R, a funcao
Observacao f(x) = c ekx tem como deri-
vada f 0 (x) = k c ekx = k f(x) para todo x R, ou seja, a derivada de f e

proporcional a si propria.
Mostraremos, agora, que tal propriedade e exclusiva das funcoes
do tipo
acima.


Instituto de Matematica - UFF 329

Analise na Reta

Teorema 7.4 Seja f : R R uma funcao


derivavel
tal que
f 0 (x) = k f(x) para todo x R. Se f(x0 ) = c , para um certo x0 R,
f(x) = c ek(xx0 ) para todo x R.
entao

Prova.
Seja : R R definida por (x) = f(x) ek(xx0 ) .

Entao
0 (x) = f 0 (x)ek(xx0 ) kf(x)ek(xx0 ) = kf(x)ek(xx0 ) kf(x)ek(xx0 ) = 0
para todo x R.
Logo, como (x) e constante e (x0 ) = c, temos que (x) = c para todo
x R , ou seja, f(x) = cek(xx0 ) para todo x R. 

7.3 Sejam a > 0 e x R. Definimos a potencia


Definicao ax por

ax = ex log a

ou seja, ax e o unico
numero
real cujo logartmo e x log a.

f : R R definida por f(x) = ax :


Propriedades da funcao
p
(1) Se x = Q entao f(x) = q ap .
q
p
q
De fato, f(x) = e q log a = elog ap
= q
ap .
(2) ax+y = ax ay .

De fato, ax+y = e(x+y) log a = ex log a ey log a = ax ay .


(3) a0 = 1 .
De fato a0 = e0 log a = e0 = 1 .
1
(4) ax = .
ax
1
De fato, 1 = a0 = axx = ax ax , ou seja, ax = .
ax
(5) (ax )y = axy .

De fato, (ax )y = (ex log a )y = exy log a = axy , ja que


log(ex log a )y = y log ex log a = yx log a e log(exy log a ) = xy log a .
f : x 7 ax e derivavel
(6) A funcao com f 0 (x) = (log a) ax .

330 J. Delgado - K. Frensel


Logartmos e exponenciais

De fato, como f(x) = exp(x log a), temos que


f 0 (x) = log a exp 0 (x log a) = log a exp(x log a) = (log a) ax .
f : x 7 ax e de classe C .
(7) A funcao
f : x 7 ax e crescente se a > 1, decrescente se
(8) A funcao
0 < a < 1 e constante se a = 1.
De fato, sendo f 0 (x) = (log a)ax > 0, temos f 0 (x) > 0 se a > 1,
f 0 (x) < 0 se 0 < a < 1 e f 0 (0) = 0 se a = 1, para todo x R.
(9) lim ax = + e lim ax = 0 quando a > 1.
x+ x

De fato, lim ax = lim ex log a = +, pois lim x log a = + e


x+ x+ x+

lim ax = lim ex log a = 0 , ja que lim x log a = .


x x x

De modo analogo,
podemos provar que lim ax = 0 e lim ax = +
x+ x

quando 0 < a < 1.


f : x 7 ax e uma bijecao
(10) Para todo a > 0, a 6= 1, a funcao
contnua de R sobre R+ .

7.4 A funcao
Definicao f : R R+ , f(x) = ax ,
inversa da funcao
a 6= 1, indica-se com loga : R+ R e o seu valor num ponto x > 0
chama-se o logartmo de x na base a.

Assim, loga x = y ay = x.

7.11 Quando a = e, loga x = log x coincide com o


Observacao
logartmo natural.

7.12 Para todo x > 0, temos que


Observacao
elog x = x = aloga x = eloga x log a , se a 6= 1 ,
e, portanto, log x = loga x log a, ou seja,
log x
loga x =
log a

entre o logartmo de base a e o logartmo natural, resultam


Desta relacao

propriedades para loga x analogas ` de log x.
as
Por exemplo,


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Analise na Reta

(1) loga (xy) = loga x + loga y .


(2) loga (1) = 0 .
loga e de classe C e
(3) A funcao
1
(loga ) 0 (x) = .
x log a

7.13 Mostraremos, agora, que


Observacao
lim (1 + x)1/x = e
x0

1
De fato, como log 0 (x) = log no ponto 1 e igual a
, a derivada da funcao
x
1, ou seja,
log(1 + x) log 1 log(1 + x)
lim = lim = 1.
x0 x x0 x


Entao,
lim log(1 + x)1/x = 1 ,
x0

e, portanto,
lim (1 + x)1/x = lim exp(log(1 + x)1/x ) = e .
x0 x0

1
Fazendo y = , temos
x
 y
1
lim 1+ =e
y+ y

e, em particular, se n N, temos
1 n
 
lim 1 + =e
n+ n

332 J. Delgado - K. Frensel

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