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Vincenzo et al.
Introduo
A autoestima se reflete na forma como as pessoas aceitam a si mesmas,
valorizam o outro e projetam suas expectativas.1
A autoestima se evidencia nas respostas dadas pelos indivduos s diferentes
situaes ou eventos da vida.2 Corresponde ao somatrio de valoraes que
o indivduo atribui ao que sente e pensa, avaliando seu comportamento como
positivo ou negativo, a partir desse quadro de valores.3
A autoestima est relacionada ao quanto o sujeito est satisfeito ou
insatisfeito em relao s situaes vividas.4 Quando sua manifestao
positiva geralmente o indivduo se sente confiante, competente e possuidor
de valor pessoal.
Vrios estudos e pesquisas tratam da manifestao da autoestima em
diversos tipos de pacientes, como o caso de portadores de: patologias
oncolgicas e onco-hematolgicas5; doenas crnico-degenerativas6;
carcinomas de pele7; neoplasia mamria8; lcera crnica9, entre outras.
A autoestima tambm considerada um importante indicador da sade
mental por interferir nas condies afetivas, sociais e psicolgicas dos
indivduos.10 Interfere, portanto, na sade, no bem estar e na qualidade de
vida da populao em geral.
Autoconceito
O autoconceito est diretamente relacionado autoestima. A autoestima
uma forma de medir o autoconceito. O autoconceito diz respeito s diversas
faces da imagem do indivduo. J a autoestima corresponde sua
autoavaliao, isto , como o indivduo se coloca frente ao mundo e os
sentimentos como se v.17
Na Psicologia Social, Bernardo e Matos21 relacionam o autoconceito
autodescrio, percepo pessoal ou autopercepo, ou seja, como o sujeito
percebe a si mesmo. Silva e Vendramini22 referem-se a aspectos do
comportamento, tais como: o sentir, o fazer e o falar em relao a si mesmo.
Cavalett-Mengarelli23 afirma que o autoconceito e o self se mesclam, embora
considere que o self apresente uma estrutura mais ampla e abrangente que o
autoconceito. O self define o indivduo como um todo, enquanto o
autoconceito corresponde forma como o indivduo pensa e se sente em
relao sua prpria pessoa. Uma abrangente pesquisa em Psicologia da
Personalidade, realizada por Brown et al.24, relaciona o autoconceito
condio do indivduo de estar bem consigo e em relao ao meio social
mais amplo.
Neri25 refere-se ao autoconceito, autoconhecimento, autodescrio e
autodefinio com o mesmo significado, pois esto ligados ao self, que filtra
os dados recebidos e permite pessoa estabelecer prioridades em sua vida e
atuar de acordo com elas em seu meio social e segundo as possibilidades
referentes ao sexo e idade.
A autora lembra que pesquisas sobre o autoconceito em pessoas do sexo
feminino so menores que em relao ao sexo masculino. Lembra ainda que
as mulheres so mais suscetveis e mais influenciadas pelo baixo
autoconceito. Dependendo da classe social a que pertencem e da educao
recebida, as mulheres acabam apresentando um desgaste fsico e emocional
maior que os homens. Em funo da gravidez ou da menopausa, o sexo
feminino enfrenta um envelhecimento mais rpido, o que faz com que no se
sinta mais atraente. Alm disso, algumas mulheres so mantenedoras do
oramento familiar, alm da obrigao da realizao de tarefas domsticas,
entre outras atividades. Como a vida se limita, muitas vezes famlia, essas
mulheres se deparam com a solido e, em algumas vezes, sem perspectivas
futuras, quando os filhos esses saem de casa ou quando enfrentam a viuvez.
Em consequncia, a solido estabelecida interfere negativamente em seu
autoconceito.25
Altafi e Troccoli 26 utilizam o conceito de "self estendido como uma
extenso do autoconceito. Essa abordagem, vinda da Psicologia
Organizacional, tem sido muito utilizada na rea de marketing e em estudos
de mercado. Segundo os autores, o que faz com que o indivduo tenha um
autoconceito maior ou menor est relacionado posse de bens materiais. O
sujeito se define a partir do que possui materialmente, como se suas
aquisies expressassem parte de sua personalidade ou de sua
autoidentidade.
Revista Equilbrio Corporal e Sade, 2013;5(1):36-48 40
Autoimagem
A autoimagem tambm constitui uma atitude diretamente relacionada
autoestima. Estudo clssico de Erthal27 considera o conceito do self
importante para a compreenso da autoimagem. A maneira do indivduo se
ver em relao ao mundo servir de bssola para todos os seus
comportamentos, durante a vida. Dessa forma, uma ansiedade pode decorrer
da divergncia entre a imagem que o indivduo tem de si e aquela que na
realidade ele expressa. Segundo o autor, pode-se negar a realidade externa a
ttulo de manuteno da autoimagem ou aceitar as evidncias e reformular
tal percepo. Da utilizar o chamado self fenomenal como sinnimo de
autoimagem. A autoimagem acaba por ser uma forma do indivduo se ver,
posto que apreende as informaes que lhe so fornecidas e, muitas vezes,
impostas ao seu comportamento, sua aparncia fsica e sua produo
cognitiva.
A autoimagem tem funo adaptativa e reguladora uma vez que incorpora
memrias episdicas e semnticas, traos e valores que concorrem para a
manuteno e estabilidade do self, permitindo s pessoas fazerem projees
para suas vidas e se autoavaliarem, planejando e avaliando o desempenho de
seus papis, entre outros.28
Considerado Pai da psicanlise, Freud constri a teoria do "ideal do eu",
apoiando-se em sua "teoria do narcisismo", que considera um processo
permanente, que se estrutura e se reestrutura, no decorrer do tempo e das
vivncias, permitindo ao indivduo se relacionar com o meio externo e tomar
conscincia de seu existir" no mundo. Freud considera narcisismo primrio
aquele que herdado dos pais. s crianas caberia refazer o "caminho que
seus pais, por motivos prprios, no percorreram. Os filhos retomariam o elo
que se perdeu quando seus pais abriram mo de seus sonhos e realizaes,
fazendo com que esses sonhos fossem, agora, realizados.29
Ainda, segundo Freud, no incio da vida psquica, o "eu" investido por
pulses ou cargas de energia que devero ser satisfeitas para o indivduo se
manter vivo. A esse "eu", cabe introjetar o que agradvel e prazeroso
(narcisismo) e expulsar o desagradvel e penoso. 29 Freud considera que o
narcisismo primrio poder eventualmente expressar as escolhas de objetos
narcsicos pelos indivduos.30 Lembra que a me corresponde ao objeto
primrio (narcsico) de amor do indivduo e enfatiza que, com o passar dos
anos, o sujeito elege em sua vida amorosa algum merecedor de seu afeto,
no tendo necessariamente a figura materna como modelo. O narcisismo se
desloca para este novo eu ideal sobre o qual recai, agora, o amor de "si
mesmo." Esse processo continua durante a fase adulta e est vinculado aos
valores da sociedade em geral. 29
Em artigo recente, Meurer, Benedetti e Mazo31 resgatam estudos sobre a
autoimagem, lembrando que a autoimagem est relacionada imagem que o
indivduo tem sobre a aparncia e o funcionamento de seu prprio corpo.
Estudos realizados por Carl Rogers32, um dos precursores da psicologia
humanista, com o objetivo de esclarecer a compreenso do ser e do eu
mesmo indicam que o corpo uma das partes constituintes do self e, como
tal, apresenta caractersticas herdadas que proporcionam ao indivduo o
sentimento de pertencimento a um grupo social e culturalmente definido. O
sujeito se percebe frente ao universo que o rodeia como se fosse uma rocha
incrustada de corais.
Revista Equilbrio Corporal e Sade, 2013;5(1):36-48 41
Avaliao da autoestima
Durante algum tempo, a avaliao da autoestima enfrentou srias crticas em
funo da inexistncia de instrumentos especficos para sua medio.33 No
decorrer dos anos de 1990, uma nova gerao de psiclogos modificou e
refinou a instrumentao destinada avaliao da autoestima.34
Outros instrumentos
Alm desses instrumentos, existem outros que, mesmo no sendo especficos
para avaliao de autoestima, fornecem importantes subsdios para sua
mensurao, como o caso do Inventrio de Depresso de Beck e dos
instrumentos para aferio de qualidade de vida: WHOQOL 100 e sua
verso abreviada WHOQOL-BREF.
O Inventrio de Depresso de Beck constitudo por 21 (vinte e um) grupos
de afirmaes de mltipla escolha com o objetivo de avaliar episdios
depressivos que indiretamente podero estar relacionados autoestima.
Trata-se de um questionrio de auto-retrato com trs verses: a BDI original,
publicada em 1961 e revisada em 1978; a BDI-1A; e a BDI-II, publicada em
1996. largamente utilizada como ferramenta por profissionais de sade e
outros estudiosos em uma variedade de contextos clnicos e de pesquisa.13
O WHOQOL-100 e WHOQOL- BREF foram elaborados com base no
conceito de qualidade de vida propagado pela Organizao Mundial da
Sade (OMS), qual seja: "a percepo do individuo de sua posio na vida,
no contexto de sua cultura e dos sistemas de valores em que vive e em
relao as suas expectativas, seus padres e suas preocupaes".43
O WHOQOL-100 foi desenvolvido segundo uma metodologia transcultural,
que contou com a participao de 15 centros de localizao geogrficas
diferentes, alm de situaes sociais, econmicas e culturais diversificadas.
Inclui 6 domnios: fsico, psicolgico, nvel de independncia, relaes
sociais, meio ambiente e aspectos espirituais. O item autoestima e as
questes correlacionadas integram o domnio psicolgico.
O WHOQOL-100 revelou-se adequado e potente para avaliaes
individuais, mas longo para determinadas situaes, como o caso de
levantamentos epidemiolgicos. Por essa razo, a OMS desenvolveu uma
verso abreviada do instrumento: o WHOQOL- BREF, que utilizado
internacionalmente, respeitando a cultura do pas ou regio de aplicao.
O WHOQOL-BREF reduz de 6 para 4 domnios: fsico, psicolgico,
relaes sociais e meio ambiente. A autoestima foi mantida no domnio
psicolgico. A adaptao transcultural para o portugus do WHOQOL-100
e do WHOQOL- BREF, amplamente utilizado no Brasil, foi realizada por
Fleck e colaboradores44, no Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1996.
Consideraes finais
As atitudes, crenas e valores que integram a autoestima no so fceis de
medir, pois so propriedades intrnsecas ao ser humano, ou seja, referem-se
s caractersticas psicolgicas, muitas vezes, no passveis de visualizao.
Por outro lado, essas caractersticas no so estveis. Podem sofrer variaes
durante a vida dos indivduos, dependendo de seu grau de conhecimento, de
sua compreenso dos fenmenos, de suas experincias e vivncias
prazerosas e/ou desagradveis.
Por sua vez, as respostas s questes dos instrumentos tambm dependem do
entendimento do respondente a seu respeito, isto , a forma como a questo
formulada pode influenciar as respostas dos indivduos.
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Abstract
Self-esteem corresponds to intrinsic valuation that the individual makes of
himself/herself in different situations and life events from a given set of
values chosen by himself/herself as positive or negative. This article presents
an extract from the literature review on the construction of self-esteem and
some of its correlated concepts: self-concept and self-image. It also includes
some comments on the importance of self-esteem evaluation because it
interferes with physical and mental health of individuals and affects their
social and emotional lives, their well-being and quality of life. The
Coopersmith Inventory and Rosenberg Scale are also featured, considered
traditional instruments for evaluation of self-esteem and widely used. The
surveys on the concept of self-esteem and correlated concepts were made
in bases BVS, LILACS and MEDLINE , among other databases, and queries
to Google Scholar.
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