Práticas e Sentidos Da Aprendizagem Na Prostituição
Práticas e Sentidos Da Aprendizagem Na Prostituição
Práticas e Sentidos Da Aprendizagem Na Prostituição
Marina Frana**
Universidade Federal de Minas Gerais Brasil
Abstract: This paper analyzes the apprenticeship of sex work, observing the initiation
in the activity and the development of skills, from an approach developed by Jean Lave,
around the apprenticeship of social practices. The reconsideration of the data from a
previous research and the return to the field in the Bohemian zone, a red light district
of Belo Horizonte, with a focus on situated learning brought new contributions: it
highlighted the interaction of novices with the environment in order to adapt their
practices, as well as the importance of stories told among sex workers for learning
*
As primeiras verses deste texto foram apresentadas na Faculdade de Educao da Universidade Federal
de Minas Gerais, em maio de 2014, em encontro com a professora Jean Lave (UC Berkeley) e com o
grupo Aprendizagem e Cultura, coordenado pela professora Ana Gomes, e o grupo coordenado pelos
professores Francisco Antunes Lima e Rodrigo Ribeiro, do Departamento de Engenharia de Produo,
e no GT23 da 37 Reunio Nacional da ANPEd (Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em
Educao). O artigo conta assim com comentrios e sugestes dos(as) participantes, bem como de uma
segunda leitura de Jean Lave.
**
Em ps-doutoramento (bolsista Capes/PNPD Institucional). Contato: [email protected]
Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 23, n. 47, p. 325-349, jan./abr. 2017
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832017000100011
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ways of working, talking, behaving and dealing with customers. To think about con-
tinuities and differences in the modes of action of sex workers and the connections
between the different contexts through which they transit also pointed out the socio-
historical transformations of the practice of sex work in the Bohemian zone itself.
Introduo
Neste trabalho, trato da prtica da prostituio, dialogando principal-
mente com o trabalho de Jean Lave (2011; Lave; Wenger, 1991) sobre apren-
dizagem na prtica, considerando a aprendizagem de trabalhadoras do sexo
iniciantes,1 a circulao de saberes das prostitutas durante sua trajetria na
vida e as transformaes pelas quais a prpria prtica vai passando ao longo
das geraes de participantes. Fao isso atravs de uma releitura de dados
de uma pesquisa anterior2 sobre transaes afetivas e sexuais no mercado do
sexo, e de uma volta a campo na zona bomia de Belo Horizonte para aprofun-
dar as observaes sobre os processos de aprendizagem. Tal enfoque levanta
questes sobre o estudo das prticas sociais, a aprendizagem de prticas sexu-
ais e as conexes que as pessoas realizam entre diferentes contextos em que
transitam em sua vida cotidiana.
Em meu doutorado, abordei as trocas afetivas, sexuais e econmicas vi-
vidas por prostitutas dentro e fora do contexto de prostituio (Frana, 2011,
2014). Analisei como habilidades relacionais e um trabalho sobre suas pr-
prias emoes (Hochschild, 2003) so importantes para realizar bem a ati-
vidade, conquistar a clientela e manter uma boa distncia (Jeantet, 2003)
nas interaes, desenvolvendo afetuosidade e, ao mesmo tempo, evitando
demasiado envolvimento com os clientes. Tratei tambm de como algumas
1
Centrei-me nas narrativas e experincias de mulheres cisgnero, embora travestis tenham tambm parti-
cipado da pesquisa, j que na poca em que realizei a maior parte das entrevistas na zona bomia, apenas
mulheres cisgnero podiam alugar quarto nos hotis. Desde 2013, alguns hotis comearam a receber
travestis. Tais mudanas devem ser objeto de outra anlise.
2
Minha tese de doutorado (Frana, 2011) foi realizada na cole des Hautes tudes en Sciences Sociales
(Paris), baseada em trabalho de campo realizado na zona bomia de Belo Horizonte, principalmente
entre 2005 e 2009, mas tambm em outros espaos de prostituio de Belo Horizonte e no Bois de
Boulogne (Paris), em que convivi e entrevistei mulheres cisgnero e trans brasileiras.
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Frequentei reunies com prostitutas no Grupo de Apoio AIDS de Minas Gerais (Gapa-MG) em 2005,
em 2007 e em 2009. Alm disso, participei de reunies na Associao de Prostitutas de Minas Gerais en-
tre 2012 e 2016. Realizei entrevistas formais com mais de 30 prostitutas durante os perodos de trabalho
de campo, e com vrias delas repeti os encontros, acompanhando parte de suas trajetrias.
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Uma boa parte das prostitutas e dos clientes provm de classes desfavorecidas.
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pode ser considerada um fast foda, uma modalidade que exige a realizao de
muitos programas para ser lucrativa e demanda menos envolvimento social
e/ou emocional entre a prostituta e o cliente (Blanchette; Silva, 2009, p. 45).
Mas esse no o nico lado do que acontece na zona bomia. Existe uma srie
de diversificaes de tempo, prticas e intimidades no programa, que envol-
vem outras modalidades de interao e de afetos.
importante ressaltar que as relaes na zona bomia de Belo Horizonte
so marcadas por uma cultura emocional brasileira, que valoriza o cari-
nho e a pessoalidade, mesmo em interaes comerciais. Prostitutas e clien-
tes dos hotis afirmam que as qualidades mais importantes para o sucesso
de uma prostituta so a simpatia, a educao e a afetuosidade. Em contextos
internacionais em que h a presena de prostitutas brasileiras, nota-se, alis,
que essas, mais que prostitutas de outras nacionalidades, tentam conquistar
os clientes atravs da afetuosidade (cf. Piscitelli, 2007; Ribeiro et al., 2005).
Alm disso, a fidelizao de clientes muito comum e alguns clientes
frequentam a mesma prostituta durante anos. Essas relaes podem envolver
carinho, companhia (em diferentes settings, no hotel, no motel, no shopping
para fazer compras, em bares ou restaurantes e mesmo na casa da famlia da
prostituta ou do cliente), amizade, seduo, asco, prazer, considerao
(Piscitelli, 2011), trocas de informaes, amor. As diversificaes dependem
dos limites de cada mulher e das interaes que ela desenvolve com clientes
especficos. Mudanas nas prticas implicam muitas vezes modificaes nas
trocas econmicas.
Tendo uma interao breve ou duradoura com a prostituta, h clientes
que procuram especialmente por uma autenticidade demarcada, buscando
uma forma autntica e significativa de intercmbio interpessoal (Bernstein,
2008, p. 341), com fronteiras precisas. Bernstein identifica essa tendncia com
o paradigma ps-industrial da prostituio, especialmente na prostituio de
classe mdia e de luxo em grandes cidades da Europa do Leste e dos Estados
Unidos. Esse paradigma ligado transio de um modelo econmico ba-
seado na produo para um modelo baseado no consumo, estendido esfera
privada. Remete girlfriend experience, que, como se pode ver no filme de
mesmo nome de Steven Soderbergh,5 propicia uma iluso momentnea de
5
Cf. The girlfriend experience (2009).
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com clientes e prostitutas de origem social mais elevada que na zona bomia.
Como aponta Wendy Chapkins (1997), diferenas de classe e status no ape-
nas dividem os lugares ocupados pelas trabalhadoras no comrcio do sexo,
como criam distintas experincias, inclusive em relao ao valor e respeito
com que so tratadas. A prostituio reproduz hierarquias sociais e as pr-
prias trabalhadoras dividem e atribuem valores diferentes s modalidades de
comrcio do sexo. No mercado do sexo da cidade, a mulher de zona mais
estigmatizada.
H nos prprios hotis uma diversidade de perfis socioeconmicos,
raciais, educacionais e geracionais. Ainda hoje, hotis mais caros, com
melhor infraestrutura, so ocupados principalmente por mulheres jovens, de
pele mais clara e dentro dos padres estticos socialmente valorizados. Tm
mais mulheres de classe mdia que os hotis chamados de sacolo (feira
em que se encontram produtos mais baratos) ou das tias. Nos mais baratos,
encontra-se maior quantidade de mulheres acima de 40 anos, mulheres ne-
gras e mulheres com sobrepeso.
Mas profissionais circulam entre os hotis e h tambm contato entre
funcionrios e donos dos diferentes estabelecimentos. Mesmo se os preos
dos programas e do aluguel e a qualidade do quarto variam de um estabeleci-
mento a outro, as regras de aluguel e dos programas costumam ser as mesmas,
fazendo com que as prticas da zona bomia estejam interconectadas. Assim,
outra caracterstica da zona bomia a existncia de um ambiente familiar.
Mulheres trabalham ali h mais de 15 anos e conhecem, com mais ou menos
intimidade, muitas colegas de trabalho, funcionrios, donos de hotis, clientes
e comerciantes do entorno.
Podemos identificar, observando a histria da zona bomia e seguindo
os paradigmas da prostituio traados por Bernstein, um modelo central de
prtica que teria passado pelo modelo dos cabars como local de socializao
masculina e iniciao sexual; em seguida por um modelo de delimitao de
tarifas e prticas sexuais e por uma demarcao mais rgida entre as esferas
privada e profissional, que poderamos chamar de mais taylorizado; e mais
recentemente, por uma nova valorizao da intimidade e por uma diversifica-
o de prticas sexuais. As prticas da Guaicurus tm uma continuidade e, ao
mesmo tempo, esto em transformao, conectadas ao conjunto da vida so-
cial. No ltimo sculo, diferentes experincias e modalidades de intercmbio
vm coexistindo e ocupando os quartos dos hotis.
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Iniciando a prtica
Em Situated learning: legitimate peripheral participation, Jean Lave e
Etienne Wenger (1991) propem uma anlise descentrada da aprendizagem,
que tire o foco da relao aprendiz-mestre e das noes de destreza e de peda-
gogia, e atente para a circulao de informaes, assim como para as relaes
de aprendizagem entre participantes de determinada prtica social. Os autores
entendem que a aprendizagem ela mesma uma prtica improvisada (Lave;
Wenger, 1991, p. 93, traduo minha),6 organizada pelas prticas de trabalho e
pelas possibilidades de engajamento dos participantes na atividade.
Na prostituio, a problemtica da aprendizagem leva reflexo sobre
a iniciao e sobre o aprimoramento de tcnicas e habilidades. Muitas vezes,
no h uma etapa especfica voltada para a aprendizagem ou uma relao sis-
temtica de aprendiz-mestre com algum mais experiente. Em minha pesqui-
sa, apenas uma prostituta, Sara, de 27 anos, passou por uma preparao antes
do primeiro programa, pois comeou atravs da mediao de uma agncia.
Na Guaicurus, alguns gerentes do explicaes bsicas quando sabem que a
mulher est iniciando ou percebem que no est agindo de acordo com o script
das outras profissionais. Mas eles no sabem necessariamente se a mulher que
chega ao hotel pela primeira vez j realizou programas e no fazem muitas
perguntas, procurando no ser invasivos.
Assim, acontece de novatas no saberem regras bsicas do trabalho.
Acompanhando monitoras de sade do Gapa, j encontrei iniciantes que no
sabiam que deveriam usar preservativo para realizar sexo oral. Catarina, de
30 anos, me de dois filhos, que entrevistei duas vezes junto a uma colega,
conta rindo que no primeiro dia no hotel trabalhou sem cobrar dos clientes,
acreditando que eles acertavam o programa na gerncia. Outra jovem negra
que entrou na prostituio quando se tornou viva deixou a porta de seu quar-
to fechada todo o dia, esperando os clientes baterem. Viviane, uma veterana,
branca, mesmo sendo filha de uma prostituta, disse que ningum lhe ensinou
nada, fechou-se entre quatro paredes e foi aprendendo na marra.
As interlocutoras de Jos Miguel Olivar (2013) em Porto Alegre que en-
traram na quadra pelos ou com seus gigols, aprenderam com eles o que
6
No original: Learning itself is an improvised practice.
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e ter maestria sobre as prticas sexuais. Espera-se das mulheres que sejam
mais passivas, mas que expressem prazer e reaes ao longo da interao.
As prostitutas devem ento, aos poucos, aprender a fazer sexo de outra
maneira. Com a repetio (Gomes et al., 2012) do programa, elas distanciam
seu modelo de atuao de uma relao romntica para enquadr-lo de maneira
comercial. A quantidade de homens que recebem, a percepo de suas prprias
aes e os retornos dos clientes ajudam a adequar a prtica. Aprendem a colocar
limites corporais, temporais e afetivos na interao. A narrativa ento muda;
habilitando-se no ofcio e em suas tcnicas, so as prostitutas que guiam o pro-
grama, administram as demandas dos clientes e negam prticas incmodas.7
Como aparece no livro Devir puta: polticas da prostituio de rua na experi-
ncia de quatro mulheres militantes, de Olivar (2013), a diferena entre pros-
tituta e mulher que a primeira sai do lugar de passividade/comida/presa
e controla a situao, estabelece regras, desconfia, pensa adiante. A prostituta
corporifica a caadora, impe sua perspectiva e realiza uma dessubjetivao
do cliente. Assim, as relaes de poder hegemnicas na heterossexualidade
so afetadas.
Quando lhe pedi para me contar o desenrolar do programa, Barbara, ne-
gra, de 23 anos, explicitou que desenvolveu sua percepo das reaes dos
clientes e tambm que ela que costuma guiar o programa.
7
Na pesquisa de Sousa e Oliveira (2012), uma prostituta de So Carlos conta que aprendeu que no devia
aceitar todos os clientes e suas solicitaes com suas colegas.
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Participando
As relaes sociais dos aprendizes dentro da comunidade mudam atravs de seu
envolvimento direto em atividades; no processo, as habilidades dos aprendizes
de conhecer e de compreender se desenvolvem. (Lave; Wenger, 1991, p. 94,
traduo minha).8
8
No original: The social relations of apprentices within a community change through their direct invol-
vement in activities; in the process, the apprentices understanding and knowledgeable skills develop.
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9
talico no original.
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Fazendo programa voc vai vendo muito, aprendendo muito, voc vai se sol-
tando mais. aprendendo a conhecer si prpria, porque tem muita mulher,
mulheres casadas ou solteiras, que no se conhecem, no se tocam, no sabem
onde o ponto em que ela tem mais teso, onde ela sente mais a sensao.
Entende? E aqui, geralmente, a mulher querendo ou no, ela acaba se tocando,
ou o homem acaba tocando pontos assim, que ela vai descobrindo: Nossa, ali!
Ali que eu sinto mais teso, se fizer isso, eu vou sentir mais teso! Entendeu?
E assim voc vai aprendendo muitos anos de estrada! (Daniela, branca, em
torno de 40 anos).
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Histrias de prticas
Na zona bomia, embora haja concorrncia e disputa entre prostitutas,
h cooperao entre elas no desenvolvimento de competncias, circulao de
informaes e ajuda com clientes-problemas. Vitor Costa (2013) nota que a
transmisso de repertrios10 e a socializao de nefitas so mais facilitadas
na zona bomia que na prostituio de rua ou em boates de Belo Horizonte.
H uma cultura de transmisso de conhecimentos, que se expande inclusive
aos clientes; as prostitutas os orientam na preveno de doenas sexualmente
transmissveis e do conselhos conjugais.
Pode-se imaginar que nem tudo falado s colegas, pela concorrncia
econmica, por uma questo de autoestima, ou pela reprovao pela comuni-
dade de algumas prticas, como fazer programa sem preservativo ou cobrar
menos que o mnimo estipulado. Mas j presenciei muitas vezes as prostitutas
contando s outras suas tcnicas de trabalho e de seduo dos clientes. Uma
veterana que tem fama de estar sempre com o quarto ocupado contou a duas
colegas que para fazer seus clientes se sentirem especiais, fala a eles que teve
um orgasmo, mesmo se uma tcnica que, disseminada, perde seu efeito.
10
Costa percebe que a Aprosmig colabora tambm na difuso de repertrios de segurana.
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11
Maria Filomena Gregori (2011, p. 3) assinala tambm a presena forte de risos em entrevistas sobre a
utilizao de sex toys: Falar sobre o sexo constrange, ainda mais se o convite sugere discorrer sobre pre-
dilees e fantasias que envolvem ou articulam a imaginao s convenes normativas, ao corpo e suas
sensaes e fluidos. Percebe tambm diferentes tipos de risos, nervosos ou de relaxamento. Segundo
Molinier (2005), o riso pode tirar a carga ansiognica de questes delicadas, como a sexualidade, tornan-
do os casos tragicmicos.
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corredores e recomendavam que sassem dos hotis bem vestidas. Uma an-
tiga gerente, D. Leda, lembrada por muitas pessoas. Pregava na parede
da gerncia dez mandamentos e era rigorosa quanto aos bons modos
das prostitutas. Levava, ao mesmo tempo, as mulheres a economizar, de-
positar diariamente o dinheiro ganho no banco e as ajudava a alugar ou
comprar imveis. Alm disso, aconselhava as mulheres a no serem rudes
com clientes mais humildes, j que eles podiam ser mais generosos que
clientes abastados o que continua sendo repetido por prostitutas na zona
bomia. Outra advertncia antiga que ainda circula entre algumas pessoas
de no desenvolver amizade muito prxima com outras trabalhadoras do
sexo, desconfiar.
As histrias contadas na zona ajudam as prostitutas a criar repertrios de
ao, transmitem valores, posturas e linguagens. As iniciantes se familiarizam
com as prticas e seus sentidos, guiam-se por um modelo de profissional (por
exemplo, mais carinhosa ou safada) e, ao mesmo tempo, desenvolvem um
estilo prprio, de acordo com suas prprias particularidades e com a percep-
o de seus efeitos sobre os clientes. Alteram sua forma de participao e isso
no acontece em contexto esttico (Lave; Wenger, 1991); as prticas sexuais
e relacionais esto em transformao na comunidade da zona bomia e no
mundo em geral.
A zona bomia de Belo Horizonte, com seus prdios histricos, equi-
pados agora com detectores de metal, televisores e mquinas de carto de
crdito, abrigam diversas interaes, novas e velhas prticas, novatas, mulhe-
res de passagem rpida e veteranas com mais de trs dcadas de experincia.
Coexistem distintas prticas nos hotis e a diversidade de geraes, de perfis
e de projetos torna a zona uma interessante comunidade de prtica (Lave;
Wenger, 1991). Valores e prticas vo sendo reproduzidos e modificados, sen-
do afetados por mudanas relativas a questes de gnero, sexualidade, poltica
e economia. Pensar a aprendizagem no mercado do sexo implica olhar para a
prtica como um todo, para as participantes acurando seus movimentos cor-
porais, suas habilidades relacionais e seus repertrios; para os usos e sentidos
atribudos s prticas; para as construes e reformulaes de relaes; e para
as conexes com outros contextos.
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Referncias
ANDRADE, L.; TEIXEIRA, A. A territorialidade da prostituio em Belo
Horizonte. Cadernos Metrpole, So Paulo, n. 11, p. 137-157, 2004.
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