O Testamento de André Vidal de Negreiros

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TESTAMENTO DE ANDR VIDAL DE NEGREIROS

Aps as frmulas cartoriais e religiosas de praxe: data a 14 de maio de 1678


Declaro que sou natural da Cidade da Paraba, filho de legtimo matrimnio de Francisco Vidal,
natural da Cidade de Lisboa, e de Catarina Ferreira, natural de Porto Santos, os quais so
falecidos da vida presente, e que sou solteiro, e nunca fui casado e nem fiz promessas de o ser.

Declaro que no tenho herdeiro nenhum forado que haja de herdar minha fazenda; pelo que
instituo por minha herdeira universas a minha alma, de todos os meus bens que se acharem me
pertenam lquido monte, cumprindo-se me tudo as dotaes que tenho feito minha Capela,
invocao de N.S. do Desterro, sita nos meus Currais, qual doei e dotei os bens nela
declarados; e dos que se acharem fora das ditas doaes, meus Testamenteiros disporo delas
na forma que em meu Testamento ordeno; porque minha ltima vontade que inteiramente se
guarde as ditas doaes e instituio da Capela; e se necessrio para sua validade por esta
minha ltima vontade, confirmo tudo que nas ditas escrituras tenho posto, e no mais que parecer
melhor a meus Testamenteiros que abaixo nomeio, os quais me faro os mais sufrgios que aqui
nomear.

Declaro que instituo por meus Testamenteiros os Revs. Padres Manuel Vidal de Negreiros e
Antnio de Souza Ferraz, Sacerdotes do hbito de S. Pedro, e em sua ausncia ao Procurador
da S. Casa de Lisboa, a quem peo e rogo pelo amor de Deus queiram aceitar serem meus
Testamenteiros, aos quais e a cada in solidum dou todo poder que em direito posso e for
necessrio, para dar dos meus bens, tomarem e acudirem o que necessrio for para o meu
enterramento e cumprimento dos meus legados e paga das minhas dvidas.

Declaro que tenho cinco engenhos, quatro d'gua com todas as terras, partidos, pastos, lenhas,
escravos, cobres, bois e tudo o mais necessrio; dois na Capitania da Paraba, da invocao S.
Joo Batista e Engenho Novo de S. Antnio; e assim mais outro Engenho Novo de S. Antnio
em Goiana e o Engenho S. Francisco na Vrzea de Capibaribe de Pernambuco, e assim mais
um Molinote na ribeira de Goiana, invocao de N.S. da Conceio, que tenho arrendado ao
sargento-maior Francisco Camelo Valcassar, por cada ano quatrocentos mil ris, pagos em
acar posto no Recife e como valer na praa.

Declaro mais que tenho vinte Currais de gado vacum com os escravos necessrios nestas terras
em que se podem pr mais Currais, os quais comprei a Manuel Correia Pestana e ao Dr. Simo
de Lapenha, como consta das escrituras e ttulos; assim mais tenho as terras de Caric que
comprei aos Arajos, onde tenho eu mais Currais com escravos e bois necessrios para
serrarem caixes e lavrarem mantimentos para maneio dos Engenhos; assim mais tenho uma
sorte de terras na ilha de Teriri em que tenho uma rede com um mulato e quatro ou cinco peas
de escravos.

Declaro que, alm destes Currais, deixei mais um junto Ermida de Nossa Senhora, que lhe dei
quando levantei a dita Capela, para a fbrica da dita Igreja.

Declaro que tenho comprado na ribeira de Mamanguape uma sorte de terras ao Capito Duarte
Gomes da Silveira, em que tenho uma serraria com escravos e bois.

Declaro que tenho uns chos no Recife, da banda do mar, junto s casas de Antnio Ferreira
Rabelo, que comprei ao Capito Andr Gomes Pena e a seu irmo o Cheira-dinheiro, por
alcunha; e assim mais uma sorte de terras na praia da Barreta que houve de Joo de Mendona
Furtado; assim mais trs braas de terra que comprei ao alferes Francisco Fernandes Beija e a
sua cunhada.

Junto s terras dos meus Currais comprei uma sorte de terras a lvaro Teixeira de Mesquita, o
Moambique, junto ao seu aude, em que est um curral de gado com seus escravos, que dei
ao Padre Manuel Vidal de Negreiros, para seu patrimnio.

Tenho mais uma data de terras de dez lguas em quadro na Paraba, dada pelo Conde de
Atouguia, e outras datas mais, que partem com elas, que me deu o Capito-mor que foi da
Capitania da Paraba, Luiz Nunes de Carvalho.

Tambm tenho para a parte da Paraba uma sorte de terras em Jurupiranga para gado que
comprei com o Engenho Novo de Santo Antnio de Goiana, que pertence Capela.
Declaro que tenho na Cidade da Paraba umas casas de sobrado e uns chos juntos delas, e
uma pedreira com um forno de cal com toda terra que vai correndo at o rio Paraba.

Declaro que destes bens que possuo tenho dado e vinculado instituio da Capela de N. S .
do Desterro dos meus Currais, onde me hei de recolher com alguns Sacerdotes, o Engenho Novo
de S. Antnio de Goiana, com todas as suas terras, parte dos cobres, bois e peas de escravos,
e tudo o mais pertencente ao dito Engenho; e assim mais terras do Caric que comprei aos
Arajos, onde tenho uma serraria e lavouras de roas com todas as peas d'escravos, bois e
carros; e assim mais lhe doei os vinte Currais de gado vacum que nos limites de Terra Nova e
Tirite na Capitania de Itamarac e rio da Paraba, com todos os escravos e terras em que se
podem pr mais Currais, como tudo se acha nas escrituras.

Declaro que tambm tenho dado e doado dita Capela o Engenho S. Joo, sito na Capitania da
Paraba, com todas as terras, partidos, cobres, escravos e bois, e tudo o mais pertencente a ele;
e assim mais as terras de Mamanguape que comprei retro aberto ao Capito Duarte Gomes da
Silveira, onde tenho uma serraria com peas e bois para maneio dos ditos Engenhos doados
Capela.

Declaro que tenho dado minha afilhada D. Catarina Vidal de Negreiros o Engenho de S.
Francisco, sito nesta Vrzea de Capibaribe com todas as terras e partidos, cobres, bois e peas;
e tudo o mais pertencente a ele; como tambm as terras que comprei ao Capito Antnio
Cavalcanti de Albuquerque, junto ao aude de lvaro Teixeira; o que tudo lhe dou pelo amor de
Deus, para bem de seu casamento, assim por ser minha afilhada de batismo, como pela ter
criado; com as condies e clusulas na escritura que lhe fiz da doao do dito Engenho de So
Francisco.

Declaro que, do dito Engenho, deixei que de seus reditos se dessem dois mil cruzados ao alferes
Francisco de Freitas Vidal, pelo amor de Deus, os quais se lhe daro ainda que D. Catarina Vidal
de Negreiros no case e nem seja Freira, de qualquer sorte ordeno aos meus Testamenteiros
lhe dem dois mil cruzados dos rendimentos do dito Engenho de S. Francisco; e no caso de que
a dita D. Catarina no tome estado, porque tomando-o ela, ou seu marido lhe satisfaro a
duzentos mil ris em cada ano, em acar e como valer nesta praa do Recife.

Deixo duzentos mil ris em cada ano a Matias Vidal de Negreiros, enquanto for vivo, os quais lhe
deixo pelo amor de Deus, e por se achar criado em minha casa; os quais duzentos mil ris
pagaro meus Testamenteiros do rendimento do dito Molinote N.S. da Conceio.

Deixo e ordeno ao Padre Manuel Vidal de Negreiros, como meu Testamenteiro, pelo trabalho
que h de ter nas disposies dos meus legados, que tome para si duzentos mil ris em cada
ano, enquanto ele viver, do rendimento do dito Molinote da invocao de N.S. da Conceio, os
quais duzentos mil ris, alm do seu trabalho, deixo pelo amor de Deus, pelo haver criado em
minha casa; e por sua morte e de Matias Vidal de Negreiros, passar o dito Molinote Capela
que tenho institudo de N.S. do Desterro dos meus Currais, para o administrador da mesma
Capela repartir o rendimento dele, na forma em que ordeno na escritura da instituio respectiva.

Declaro que, sendo o caso que Deus faa de mim alguma coisa antes da minha afilhada D.
Catarina Vidal de Negreiros tomar estado, ordeno que meus Testamenteiros lhe deem todo o
necessrio dos rendimentos do Engenho S. Francisco, para seu sustento e vestir, at o tomar,
com toda a largueza; e se Deus a tomar para si antes de o fazer, meus testamenteiros lhe faro
bem por sua alma, e daro a sua me Isabel Rodrigues, quatro peas de escravos pelo amor de
Deus e pelos bons servios que tenho recebido dela, alm do negro Rodrigo Sapateiro, que lhe
dei quando casou.

Declaro que Fr. Francisco Vidal ou da Madalena, Religioso Carmelitano, que serviu de Prior no
Convento do Carmo da Vila de Olinda, e agora est servindo de Provincial de sua Religio,
filho de Ins Barroso, pessoa que era naquele tempo casado com Gaspar Nunes, e quando
nasceu era ainda vivo o dito Gaspar Nunes; e viveu ainda depois muitos anos, como consta das
provaes que da Majestade lhe mandasse tirar quando lhe fez merc do hbito de Cristo,
dizendo na Proviso que supria nos impedimentos dele Fr. Francisco Vidal, ser filho de mulher
casada, como consta tambm por um sumrio de testemunhas que a meu requerimento se
tiraram ad perpetuam rei memoriam. Os meus Testamenteiros daro clareza de tudo, e suposto
que

se dizia que ele era meu filho, nunca o tive por esse; e se que fora, nunca podia ele nem a Ordem
herdar de mim, assim por ser filho adulterino, como porque quando ele nasceu, era eu Capito
de Infantaria na cidade da Bahia, e havia sido Alferes e Ajudante da mesma Infantaria muitos
anos; alm de eu ser nobre e viver sempre na Lei da nobreza; mas por se haver criado em minha
casa o dito Padre Fr. Francisco ordeno a meus Testamenteiros lhe deem cem mil ris todos os
anos enquanto ele for vivo somente; os quais lhe pagaro do rendimento do Engenho Novo de
S. Antnio da Paraba, que comprei ao Capito Duarte Gomes da Silveira.

Deixo ao meu sobrinho Antnio Curado Vidal, as Comendas que S. Majestade me tem dado,
assim a de S. Pedro do Sul em que estou encartado, como as demais que tem feito merc e
promessa; e assim mais meus servios, e peo a S. Alteza que, atendendo aos muitos e bons
servios que tenho feito Coroa de Portugal, lhe faa todas estas mercs e o queira honrar com
outras muitas mais avantajadas; e assim lhe deixo mais dois mil cruzados, que lhe pagaro da
venda ou rendimentos do Engenho Novo de S. Antnio da Paraba, que comprei a Duarte Gomes
da Silveira, em acares a duzentos mil ris cada ano, e como valer na praa do Recife; e lhe
deixo mais meu espadim de prata.

Deste modo houve eu por acabado este Testamento, e esta a ltima e verdadeira minha
vontade; e revogo e hei por revogados quaisquer outros Testamentos e Codicilos que antes deste
tenha feito, os quais no quero que tenham fora ou vigor, e s este quero que valha; e peo e
rogo s Justias de S. Alteza, assim eclesisticas como seculares, faam cumprir e guardar este
meu Testamento, assim e da maneira que nele se contm, que fiz e assinei com a minha prpria
mo, sendo testemunhas as pessoas abaixo nomeadas, e assim em dia e era acima. Andr Vidal
de Negreiros.

Declaro que tenho mais uma sorte de terras em Goiana, entre o Engenho do Jacar e terras de
Joo Pacheco, e que comprei aos Morenos, que tambm deixo Capela. Andr Vidal de
Negreiros.

Maximiano Lopes Machado, Histria da Provncia da Paraba,

v.1, p.313-322

Publicado no blog de Alfredo Cabral de Melo

http://alfredocabral.blogspot.com.br//testamento-de-andre-

Foto: Quadro original pertencente ao Museu do Estado de Pernambuco.

Restos mortais localizados na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, no Morro dos Guararapes,
Prazeres, Jaboato dos Guararapes.

075 992492456

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