ALONSO, COSTA - Por Uma Sociologia Dos Conflitos Ambientais No Brasil
ALONSO, COSTA - Por Uma Sociologia Dos Conflitos Ambientais No Brasil
ALONSO, COSTA - Por Uma Sociologia Dos Conflitos Ambientais No Brasil
Introduo
N
as duas ltimas dcadas do sculo XX, a questo ambiental alcanou o
status de problema global e tem mobilizado no apenas a sociedade
civil organizada, os meios de comunicao, mas os governos de todas as
regies do planeta. Frank, Hironaga e Schofer (2000: 96-116) sustentam que o
processo de disseminao global de prticas e a adoo de instituies visando
proteo ambiental esto correlacionados com a difuso de concepes e
conhecimentos desenvolvidos por ONGs e organizaes cientficas vinculadas
perspectiva ambientalista. Frederick Buttel (2000: 117-121), outro importante
socilogo ambiental, contesta, no entanto, o otimismo da concluso anterior,
argumentando que a ampla difuso da preocupao de governos e setores da
sociedade civil com os problemas ambientais ou mesmo a extensa agenda de
discusses em fruns internacionais no resultou em um consenso em torno de
solues. Ao contrrio, medida que se ampliou e se aprofundou o debate, os
conflitos se tornaram mais agudos e as solues mais problemticas do que se
poderia imaginar 30 anos atrs.
*
Paper preparado especialmente para o Encontro do Grupo Meio Ambiente e Desenvolvimento da
Clacso Rio de Janeiro, 22 e 23 de novembro de 2000. Agradecemos os comentrios de todos os
membros do grupo e, particularmente, ao seu coordenador, Hector Alimonda, o incentivo publi-
cao.
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Doutora em Sociologia pela Universidade de So Paulo; professora da Escola de Sociologia e
Poltica de So Paulo. Pesquisadora do Cebrap, desde 1995onde atualmente coordena a rea de
Conflitos Ambientais. autora de artigos referentes cultura poltica e a conflitos ambientais no
Brasil. co-autora (com Srgio Costa e Srgio Tomioka) de Modernizao Negociada: expanso
viria e riscos ambientais no Brasil.
***
Doutor em Sociologia pela Universidade de So Paulo; professor do Departamento de Cincia
Poltica do IFCH / Unicamp, onde atualmente coordena o Programa de Mestrado em Cincia Poltica
e a rea de Doutorado em Estado, Polticas Pblicas e Processos Polticos Contemporneos. autor
de vrios artigos relativos consolidao da democracia e descentralizao poltico-administrativa
no Brasil.
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ideais, j que capazes de transitar nos dois nveis. Esses fatores ajudam a explicar
a fraqueza do partido verde no Brasil, vis--vis as ONGs ambientalistas.
A estrutura de oportunidades polticas e as estruturas de mobilizao
evidenciam que no so apenas elementos discursivos internos s arenas pblicas
que definem os conflitos ambientais. O acesso a recursos materiais e polticos
crucial. Todavia, a dimenso cultural est longe de ser irrelevante na definio da
problemtica ambiental. A respeito desse ponto, a aplicao da perspectiva
construtivista tem se mostrado bastante produtiva: sem a construo de uma
definio da natureza como meio ambiente e de certos problemas sociais
como ambientais, nenhum conflito ambiental se estabelece.
A partir do construtivismo, possvel entender melhor as estratgias de
mobilizao do ministrio pblico e dos cientistas ambientais: ambos fazem
uso poltico de suas especialidades. A nova configurao jurdico-legal franqueia
ao MPa posio de principal intrprete da lei ambiental. Seus membros recorrem
a uma srie de aes, recursos, processos, embargos, como recursos de
mobilizao poltica. Os peritos das cincias ambientais, igualmente,
recorrem a conceitos e formas de mensurao de valor cientfico que lhes
asseguram locuo privilegiada. Nos dois casos, a imprensa o recurso principal,
por meio da qual aparecem nas arenas polticas como autoridades.
O construtivismo ajuda, assim, a entender a agency e as operaes cognitivas,
simblicas, que lhe so inerentes, como a prpria autonomeao de certos grupos
como ambientalistas e de certos conflitos como ambientais. Tambm permite
reconstruir os processos pelos quais os agentes brasileiros reinterpretam a
tradio romntica de valorizao da natureza (Pdua, 1997) e aprendem com
seus congneres estrangeiros, incorporando seletivamente certas categorias e
interpretaes.
O construtivismo parece, porm, pouco habilitado para explicar a partir do
qu os agentes constroem e reconstroem suas percepes, seus valores e
interpretaes. Para tanto, a noo de repertrio nos parece mais adequada:
permite detectar a existncia de um estoque social de smbolos e valores que
podem ser mobilizados pelos agentes na construo de suas percepes. O
repertrio ambientalista brasileiro composto em parte por influncia externa,
como argumenta Viola (1987; 1995[a]; 1995[b]; 1997), uma vez que a
constituio de uma questo ambiental aqui tardia em comparao com a
Europa e os Estados Unidos6. De outra parte, o repertrio tambm se compe de
categorias e preocupaes relacionadas natureza, desde h muito presentes no
pensamento poltico brasileiro, como demonstra Carvalho (1998).
Acreditamos que a estrutura de oportunidades polticas, as estruturas de
mobilizao e o repertrio contencioso so os elementos fundamentais para
compreender o processo de constituio dos conflitos ambientais e explicar sua
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Bibliografia
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Notas
1 Este item se baseia largamente em um review paper (Alonso & Costa,
2001) sobre a literatura ambiental brasileira, elaborado no mbito do
Development Research Centre on Citizenship, Participation and
Accountability, sediado no Institute of Development Studies (IDS),
University of Sussex.
2 Em outro texto, Viola e Leis (1995[a]) falam em oito setores. H, inclusive,
um termo derivado na bibliografia, o transetorialismo (Crespo et al., 1998).
3 Nos ltimos anos, tm surgido vrios estudos acerca de conflitos. Veja-se,
por exemplo, Costa (1996), Neder (1990.), Alexandre (1999).
4 (...) dimenses consistentes -mas no formais ou permanentes- do
ambiente poltico que fornece incentivos para pessoas se engajarem em aes
coletivas por afetarem suas expectativas de sucesso ou fracasso (Tarrow,
1994: 85).
5 A Ao Popular (Lei 4.717/65) permite a qualquer cidado requisitar a
anulao de ato lesivo ao meio ambiente e a Ao Civil Pblica (Lei 7.347/85)
estabelece responsabilidade por danos causados fruio de qualquer direito
difuso, instituindo assim a categoria de crimes ambientais (Senado Federal,
1996). J a Lei 7.347/85, art. 5, II, converteu a esfera de ao do Ministrio
Pblico de modalidade de defesa de interesses individuais para interesses
difusos.
6 A dimenso social da questo ambiental muito maior na pauta brasileira
que na estrangeira, marcada na origem por valores ps-materiais (Inglehart,
1981).
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La Ecologa Poltica de la Integracin:
reconstruccin de la ciudadana y
regionalismo autnomo *
Eduardo Gudynas**
E
n Amrica Latina han tenido lugar importantes cambios en la integracin
regional y la vinculacin econmica. Bajo la forma de acuerdos de libre
comercio o mercados comunes, se ha avanzado en nuevas formas de vin-
culacin entre los pases. Uno de los casos destacados es el Mercado Comn del
Sur (Mercosur), que se inici en 1991 con la firma del Tratado de Asuncin en-
tre Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay. Ms recientemente se han sumado
Bolivia y Chile como miembros asociados a nivel del libre comercio.
Los acuerdos regionales, y entre ellos el Mercosur, representan un proceso
de integracin basado esencialmente en el plano econmico, sin constituir una
opcin diferente a los estilos de desarrollo actuales, los cuales poseen variados
impactos sociales y ambientales. A pesar de la proliferacin de estudios sobre el
Mercosur y otros acuerdos de integracin, existen muy pocas evaluaciones des-
de el punto de vista de la ecologa poltica. En las lneas que siguen se analiza la
poltica ambiental de la integracin en el Mercosur, y las limitaciones que sta
impone para la generacin de una estrategia de desarrollo. Seguidamente se dis-
cute una propuesta alternativa considerando el concepto de ciudadana, la demo-
cratizacin de la integracin y la construccin de una estrategia de desarrollo sos-
tenible para el Cono Sur.
*
El presente artculo es parte del programa en Ecologa, Desarrollo y Democracia en la Integracin
Regional realizado con apoyo de la Fundacin C. S. Mott.
**
Magister en Ecologa Social. Investigador del CLAES (Centro Latinoamericano de Ecologa So-
cial): [email protected]
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