Direito de Familia - Técio Spínola (2017.2)
Direito de Familia - Técio Spínola (2017.2)
Direito de Familia - Técio Spínola (2017.2)
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DIREITO DE FAMÍLIA
Prof. Técio Spínola
Ana Maria Cunha – 2017.2 2
A família pode formar-se por união estável, casamento, por mãe e seu filho,
por mais de uma mãe/pai, por irmãos que criam filhos, etc. Ou seja, pode
ocorrer de diversas formas.
Tal princípio é a ideia de que o Estado deve intervir o mínimo possível nas
relações familiares. Contudo, tal intervenção mínima pode se mostrar como
uma tutela forte, a exemplo do caso de violência doméstica e demais casos
onde isto se mostra necessário.
Introdução ao casamento
Evolução histórica
Até hoje são importantes para muitos as regras canônicas para o casamento,
a exemplo daqueles que buscam a anulação do casamento, haja vista não
ser possível o divórcio pelas regras católicas.
1962 – surge o Estatuto da Mulher Casada, que estabeleceu que a mulher era
capaz mesmo casada.
2011 - O STF (ADPF 132/RJ; ADin 4277/DF) e o STJ (RESp 183378/RS) decidiram
positivamente acerca das uniões homoafetivas (o STF, acerca da união
estável, o STJ acerca do casamento). É importante salientar que o STF decidiu
na contramão do texto constitucional o que, embora neste caso tenha tido
resultado louvável é temerário por criar perigoso precedente: dar ao Supremo
o poder de afrontar a Constituição.
Definição e requisitos
Ana Maria Cunha – 2017.2 4
Finalidades do casamento
Caracteres do casamento
Promessa de casamento
Escorço histórico
O dano moral não se confunde com abalo psicológico, mas sim se trata de
lesão a direitos da personalidade, a exemplo do nome, da honra, da
integridade moral.
Doações
É tênue a linha que separa o noivado da união estável, mas ainda assim é
possível de ser traçada. Quando vivem como companheiros (união estável),
há entre os consortes uma união pública, contínua e duradora com o objetivo
de constituir família. Isto é, a nota distintiva da união estável é sua finalidade.
Em assim sendo, a promessa de casamento, por si só, não configura a procura
por esta finalidade, comportamento que tingiria o enlace com o cariz da
união estável.
A sociedade de fato está prevista no art. 988 do CC, enquanto a união estável
é regida pelo art. 1723.
A união estável, por sua vez, ainda será tratada, mas faz-se necessário ao
menos citar o art. 1723.
Celebração do casamento:
(...)
CASAMENTO COLETIVO
CASAMENTO EM NAVIO
Prova do casamento
Ana Maria Cunha – 2017.2 14
Certidão
Introdução:
Ana Maria Cunha – 2017.2 15
Aqui há de se observar se há
consentimento e autoridade
celebrante competente.
Plano da Existência
Técio chama a atenção para o disposto no art. 1554 do CC, que soluciona
uma hipótese de casamento inexistente:
Plano da Validade
Impedimentos matrimoniais
Impedimentos
Para Técio, o ato nulo produz efeitos, assim como o anulável. O que diferencia
os dois vícios é o seu grau de gravidade e que tipo de providência será
Ana Maria Cunha – 2017.2 17
VI - as pessoas casadas;
Neste ponto cabe esclarecer que afins em linha reta são aquelas pessoas que
acabam por ser da família a partir do casamento, como enteada, sogra, etc.
Ana Maria Cunha – 2017.2 18
Ademais, quanto ao inciso IV, é Importante destacar que existe decreto que
permite que colaterais de 3º grau se casem a partir de parecer médico. Trata-
se do decreto 3200/41, art. 2º. É difícil precisar qual o exame médico que seria
aplicável, afinal não se sabe que situação objetiva, exatamente, se quer
atestar.
Oposição de impedimentos
Plano da Validade
Casamento nulo
O casamento produzirá efeitos até que desfeito, haja vista o vício não se
confundir com o próprio ato.
Casamento anulável
Ana Maria Cunha – 2017.2 19
Apesar disso, mesmo que nem todos os vícios do negócio jurídico possam ser
aplicados ao casamento (a exemplo do estado de perigo ou da fraude
contra credores), alguns deles podem, a exemplo da simulação.
Silvio Venosa acredita que admitir que o dolo, por exemplo, pudesse ser
alegado como razão de anulação de casamento, traria para o tecido social
uma grande situação de instabilidade, afinal vícios que poderiam ser
prontamente resolvidos na vida doméstica seriam trazidos para um processo
estatal e judicializados.
Técio, por sua vez, comenta que várias seriam as arguições possíveis, o que
geraria uma grande instabilidade.
O erro não se resume a uma simples ignorância sobre algo, mas sim se trata de
um falso estado de percepção, causado pela pessoa em si mesma sobre a
realidade. Isto é, não basta para a configuração desta espécie de vício da
vontade que uma das pessoas não saiba algo sobre o outra, deve também
acreditar que o outro ostenta uma característica que em verdade ele não
possui.
É ainda importante que o erro quanto a uma das pessoas dos cônjuges seja
uma falsa impressão de características que sejam essenciais da pessoa, isto é,
o casamento não se realizaria se não houvesse a distorção dos fatos.
Ademais, o erro deve ser escusável, isto é, não partiu de mero desleixo ou
afobação da parte que o cometeu: mesmo uma pessoa média, com
Ana Maria Cunha – 2017.2 21
Como terceiro requisito, temos que o erro torne a vida conjugal insuportável,
isto é, o erro deve ser grave, sério, não apenas um mero defeito de menor
importância. Inclusive, como se verá abaixo, o próprio Código Civil reitera este
requisito no seu texto diversas vezes.
O código busca apontar algumas hipóteses do que seja erro sério o suficiente
a ponto de caracterizar este tipo de vício, em seu artigo 1.557, vejamos:
Art. 1557
Em assim sendo, não se deve observar a gravidade objetiva do crime, mas sim
o peso que aquela conduta específica tem para cada pessoa.
Exemplo: Uma pessoa que foi condenada pelo crime de gestão fraudulenta.
Este tipo de conduta criminosa, para a linha média da moral social, é de
pouca gravidade, de modo que a extensa maioria das pessoas não se
importaria de convolar núpcias com este tipo de “criminoso”. Mas ao pensar
numa situação de uma pessoa que é membro da Comissão de Valores
Mobiliários e que se casa com indivíduo condenado por este tipo penal,
veremos que este crime tomará outra faceta: se revelará como conduta muito
mais grave e difamante, lançando em vergonha o outro cônjuge, que poderá
inclusive sofrer perseguições no local de trabalho em razão disto.
Este inciso foi inserido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, alterando os
dois anteriores. Foi inserida a partícula “que não caracterize deficiência” e foi
retirado o inciso que tratava a doença mental como hipótese de erro quanto
à pessoa de um dos cônjuges.
Coação
A ameaça feita deve ser séria e de mal grave o suficiente a causar fundado
temor na vítima. Estes critérios (gravidade e seriedade) serão analisados
levando-se em consideração características da pessoa que foi ameaçada
(idade, sexo, classe social, nível de escolaridade, por exemplo).
Ana Maria Cunha – 2017.2 23
Prazo
Legitimidade
A nulidade absoluta pode ser arguida por qualquer interessado e até mesmo
pelo Ministério Público, já a relativa é disciplinada pelos art. 1.552 e 1.559:
No casamento feito por erro ou coação: apenas a própria pessoa que errou
ou foi coagida, sendo que, se coabitar com seu cônjuge, sabendo do vício
fica este convalidado.
Natureza jurídica
Consequências da anulação
Ana Maria Cunha – 2017.2 25
Plano da eficácia
Técio questiona a ausência de critérios por parte do juiz para diversas decisões
que se enquadrem no Parágrafo Único.
Nome de casado
Planejamento familiar
Há que se observar o disposto no art. 226, §7º da CF, bem como no §2º do
Art. 226
Art. 1.565
I - fidelidade recíproca;
Ana Maria Cunha – 2017.2 28
Liberdade de escolha;
Variabilidade;
Mutabilidade: hoje é possível alterar o regime, desde que haja acordo e
autorização judicial.
Tem como marco a Lei 6515/1977, a lei do divórcio. Antes dela, o regime
utilizado era o universal. Ou seja, caso não fosse estabelecido nenhum pacto
antenupcial, o regime utilizado deveria ser o da comunhão universal de bens.
Com a lei do divórcio se estabeleceu que o regime supletivo institui a
comunhão parcial de bens, o que ocorre até hoje.
Art. 1.639
II UNIDADE
O art. 1.667 do Código Civil dita o que seria o regime da comunhão universal:
Bens incomunicáveis
Assim, um bem doado com esta cláusula pode ser alienado ou penhorado,
mas não participa do regime de bens do casal.
É hipótese deveras restrita no código atual, posto que apenas podem figurar
como fideicomissários os não concebidos ao tempo da morte do fiduciante.
Se já nascidos, o direito do fiduciário se converterá em usufruto até que
chegue o tempo de transferir os bens.
Frutos e rendimentos
Extinção da comunhão
Há, portanto:
Patrimônio Patrimônio
particular dos comum dos
cônjuges cônjuges
• Bens adquiridos antes do • Bens adquiridos
casamento; onerosamente na
• Bens adquiridos constância do casamento,
gratuitamente na incluindo-se as hipóteses
constância do matrimônio, legalmente previstas.
bem como as exceções
legalmente estabelecidas.
Bens Bens
particulares particulares
da esposa* do marido*
BENS COMUNS
Ana Maria Cunha – 2017.2 39
*meramente exemplificativo.
Aqui vale a regra geral de que os bens adquiridos antes do matrimônio não se
comunicam, apenas os adquiridos durante o casamento e de forma onerosa
(daí a exclusão dos bens havidos por doação ou sucessão).
Resta claro que os bens de uso mais íntimo e pessoal de fato não se
comunicam (roupas, sapatos, escova de dentes, etc.). Entretanto, quanto aos
livros e instrumentos de profissão, esta regra merece ser matizada.
Ana Maria Cunha – 2017.2 41
É que se tais bens foram conseguidos com patrimônio conjunto do casal, não
os colocar na meação faria o cônjuge que os recebeu incorrer em
enriquecimento ilícito, situação vedada por nosso ordenamento.
Bens comunicáveis
Benfeitorias são acréscimos a uma coisa que não criam nada novo ou
ampliam seu volume, apenas melhoram o que já é existente. No dispositivo
transcrito, o que se quer vedar é o enriquecimento sem causa de um dos
cônjuges. É só se pensar em um cônjuge que auxilia significativamente na
Ana Maria Cunha – 2017.2 43
reforma do imóvel do outro. Terá ele, por justiça, direito à meação pelo valor
acrescido ao bem.
Importante frisar, entretanto, que apenas se aplica tal enunciado a quem tem
regime de separação obrigatória ou legal, jamais na hipótese da separação
convencional.
UNIÃO ESTÁVEL
Desde o Império Romano a ideia de união estável já existia através da lex julia
e lex poppea.
Técio destaca o fato de que o prazo para a união estável não é de 2 anos. Já
foi de 5 anos com a lei 9278 de 1996, mas nunca foi de 2 anos.
Natureza jurídica
Requisitos
Impedimentos
As pessoas que são impedidas, pelo código civil, de casarem (art. 1.521) não
podem ter a união estável reconhecida. A sua relação cairá sob o rótulo – e
regime jurídico – do concubinato. É o que disciplina o parágrafo primeiro do
artigo 1.723.
Conversão em casamento
Art. 226
(...)
Dissolução
DIVÓRCIO
Devemos ainda dizer que a ação de divórcio apenas tem uma finalidade
específica: o desfazimento do vínculo matrimonial por vontade. Inobstante
isto, pode ela ser cumulada com pedidos diversos, tais como o de guarda dos
filhos, alimentos, etc.
O divórcio pela via direta somente foi alcançado com a EC 66/2010, que
alterou o texto constitucional para a seguinte redação:
(...)
Como se vê, apenas é dito que o casamento pode ser dissolvido pelo divórcio,
não estabelecendo, para isso, qualquer requisito ou condição.
Poder Familiar
Ana Maria Cunha – 2017.2 53
É ideia não somente de poder, mas também de dever, dever este de conduzir
bem os filhos, para que cresçam e se desenvolvam enquanto menores e
incapazes.
I - os filhos;
II - os herdeiros;
Ou seja, para tudo aquilo que foge da simples administração dos bens faz-se
necessária a autorização judicial.
Por fim, insta dizer que o divórcio ou a contração de novo matrimônio não
altera os direitos e deveres dos pais quanto a seus filhos. A lógica que o código
procurou abrigar é a da filiação como um direito de todos os filhos,
independentemente da relação que os vincula aos pais.
Extinção
IV - pela adoção;
Suspensão
Destituição
Alienação Parental
Tem como base legal a Lei 12.318/2010, cujo art. 2º é destacado por Técio:
Filiação
Fica estabelecido, portanto, que independe se o filho tem como genitora uma
amante, uma mulher divorciada, etc.
Presunção de paternidade
I - no registro do nascimento;
Importante atentar para a regra de que os filhos maiores não podem ser
reconhecidos sem o seu consentimento, e os menores podem impugnar isto
Ana Maria Cunha – 2017.2 61
No que diz respeito à paternidade sócio afetiva, Técio explica que esta é a
paternidade de criação. Uma vez consolidado o estado de pai na prática,
mesmo advindo posteriormente uma verdade biológica diversa, a
jurisprudência do STJ considera que a paternidade sócio afetiva deve ser
preferida.
Ademais, a ideia de parto anônimo é trazida por Técio. A mulher aqui poderia
optar por não ser mãe, não havendo qualquer registro do nascimento da
criança no momento do parto. No Brasil esta ideia foi proposta com o Projeto
de Lei 3320/2008.
Alimentos
No entanto, Técio chama atenção para o fato de que alimentos não são só
comida, mas as diversas necessidades.
Ana Maria Cunha – 2017.2 62
Art. 1.694
Ademais, Técio chama atenção para o fato de que os alimentos não podem
servir de estímulo para a ociosidade. Tal fundamentação fora utilizada
inclusive no RESP. 440.192/RJ. Através dessa decisão o STJ definiu que a pensão
para ex-cônjuge é temporária e excepcional. Neste mesmo sentido decidiu o
STJ no RESP 1025769/MG.
No que diz respeito a prisão civil, esta funciona como forma coercitiva e
ocorre pelo prazo de 1 a 3 meses.
A revisão pode ocorrer a qualquer tempo, desde que haja uma alteração das
condições fáticas.