ASSOCIAÇÃO
SULINA DE CRÉDITO E
ASSISTÊNCIA RURAL
DESENVOLVIMENTO
RURAL SUSTENTÁVEL
ASCAR
Porto Alegre/RS
BRASIL
V.2, nº 1,
Jan/Mar 2001
Revista trimestral publicada pela Emater/RS
Dicas
Econotas
Eco Links
Resenhas
Agroecologia,
sustentabilidade e
alternativas ao Fórum Social
capitalismo global Mundial
Globalizar a solidariedade
é possível
Como produzir
milho variedade
Editorial
Globalização, identidade local e ética ambiental
Para a satisfação dos editores, este número processo de emancipação coletiva que reforce e
marca o início do segundo ano de circulação de amplie os diferentes tipos de movimentos sociais
Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. contrários à globalização, movimentos estes emer-
Neste curto período de tempo, os debates relati- gentes em todo o mundo. Demonstrando a exis-
vos aos fenômenos que haviam recomendado o tência de sustentação teórico-conceitual para
seu lançamento se mostraram crescentes, tanto aprofundamento da proposta de Fernández Durán
em abrangência como em profundidade de análi- sob o ponto de vista da agricultura e do rural, o
se, justificando, sobremaneira, a linha editorial artigo de Sevilla Guzmán aponta estratégias para
adotada. Não obstante, a Revista continua sendo promover processos de desenvolvimento rural
um dos poucos veículos abertos à discussão, teó- sustentável a partir da reconstrução do poder lo-
rica e prática, de conteúdos e propostas alternati- cal, em bases participativas. Idéias desta nature-
vas ao modelo de desenvolvimento rural conven- za vêm sendo praticadas no Estado através do
cional. Este, por sua vez, mantém perigosa inér- Orçamento Participativo, que orienta as priorida-
cia de avanço, em que pesem os muitos exem- des de ação da Secretaria da Agricultura e coloca
plos, cada vez mais dramáticos, das externalida- o poder público e a sociedade lado a lado na to-
des socioambientais negativas que oferece. Nes- mada de decisões estratégicas para a promoção
te contexto, o denso artigo assinado por do desenvolvimento rural do Rio Grande do Sul.
Fernández Durán avalia que a expansão do mo- Ainda, segundo Sevilla Guzmán, a recuperação das
delo hegemônico, em seu processo de desarticu- culturas locais, como mecanismo de resistência
lação das economias locais, já gerou uma onda de à pausterização global, pode se dar através da ade-
desgarrados qu e su pera os 120 milhões de quada utilização de características peculiares ao
migrantes, contra a qual o mundo que se preten- processo de desenvolvimento rural de base agro-
de desenvolvido tem, como defesa, as opções béli- ecológica. Sugerindo estes caminhos, o referido
cas. Segundo sua avaliação, o modelo neoliberal, autor sustenta que a Agroecologia "está assenta-
ao mesmo tempo em que força o êxodo, inviabiliza da na busca e identificação do local e sua identi-
o trânsito e a absorção da mercadoria trabalho, dade para, a partir daí, recriar a heterogeneidade
ampliando um potencial de conflito sem prece- do meio rural, através de diferentes formas de
dentes na história. Mesmo na hipótese descabi- ação social coletiva, de caráter participativo". Em
da de manutenção do crescimento econômico, o abordagem mais específica, na qual examina mo-
aprofundamento da crise se afigura inevitável, pois delos locais emergentes no sul do País, a partir
a capacidade de reforma endógena do capitalismo da introdução de estilos de Agricultura Orgânica
global se revelou nula, enquanto os limites eco- ou Ecológica, Schmidt oferece artigo coerente e
lógicos da autopreservação planetária já foram consistente com os pressupostos assumidos nos
rompidos. As simples evidências de que não mais demais artigos publicados neste número. Suge-
existem territórios e esferas da atividade huma- rindo que instrumentos de certificação poderão
na a serem submetidos à lógica mercantil, e de converter-se em importante reforço para a incor-
que a escassez de água para consumo humano e poração de agricultores familiares na linha de pro-
outros efeitos da ocidentalização do mundo estão dução ecológica, o autor enfatiza a dimensão éti-
multiplicando a fome e os conflitos armados, cujo ca como necessária e indispensável para susten-
limite é o dos armamentos nucleares, são sufici- tar "a construção de um meio rural vivo e mais
entes para sustentar sua tese de que a manu- equilibrado em termos sociais e ambientais". Fi-
tenção da vida exige não apenas acabar com o sub- nalmente, cabe destacar a reportagem sobre o
desenvolvimento da periferia como também, e Fórum Social Mundial. Resgatando os temas da
antes, acabar com o desenvolvimentodo centro. "Los globalização, das identidades locais e de novos
indivíduos desposeídos no tienen otra salida que valores solidários e éticos, mostra que, na per-
reinventar la totalidad de su mundo", afirma o cepção de importantes lideranças e organizações
autor. Para tanto, propõe a reconstrução das es- de diversos continentes, um outro mundo é possí-
truturas comunitárias, a partir da realidade lo- vel. Aliás, em consonância com esta perspectiva,
cal, pois o enfrentamento da crise ecológica exige a Via Campesina, considerada a mais importante
consonância com o meio ambiente e a recupera- federação de camponeses do mundo, propõe, a
ção de formas tradicionais de relação homem-na- partir de Porto Alegre, em oposição ao Fórum Eco-
tureza, com ênfase para valores de uso e não para nômico Mundial realizado em Davos (Suiça), que
valores de troca. Entendendo ser necessário mun- "globalizemos la lucha, globalizemos la esperanza".
dializar as resistências, com anteposição do cida- Mais uma vez, desejamos a todos uma boa leitu-
dão planetário, à ditadura global do capital, reco-
menda a construção de redes internacionais, em
ra destes e de outros temas que compõem a pre-
sente edição. 3
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
O pinião 11
Conselho Editorial: Ângela Felippi, Alberto Bracagioli, Ari
Henrique Uriartt, Dulphe Pinheiro Machado Neto, ErosMarion
Negociar com o clima? Mussoi, Fábio José Esswein, Francisco Roberto Caporal,
Caporal, Francisco Roberto Gervásio Paulus, Jaime Miguel Weber, João CarlosCanuto, João
CarlosCosta Gomes, Jorge Luiz Aristimunha, Jorge Luiz Vivan,
Relato de Experiência 14 José Antônio Costabeber, José Mário Guedes, Leonardo Alvim
Beroldt da Silva, Leonardo Melgarejo, Lino De David, Luiz
Adubação verde de verão Antônio Rocha Barcellos, Nilton Pinho de Bem, Renato dos
Müller, André SantosIuva, Rogério de Oliveira Antunes, Soel Antonio Claro.
Artigo 35
Periodicidade: Trimestral
Tiragem: 3.000 exemplares
Uma estratégia de sustentabilidade a partir da Agroecologia Impressão: Metrópole Indústria Gráfica Ltda.
Gúzman, Eduardo Sevilla de Distribuição: Biblioteca da EMATER/RS
Tópico Especial 46
EMATER/RS
Rua Botafogo, 1051
Bairro Menino Deus
Econotas 57 90150-053 - Porto Alegre - RS
Telefone: (051) 233-3144
Dica Agroecológica 59
Fax: (051) 233-9598
E-mail: agroeco@emater.tche.br
Eco Links 61
A Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável é uma
Artigo 62
publicação da Associação Riograndense de Empreendimentos de
Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER/RS.
Agricultura orgânica: entre a ética e o mercado? Osartigospublicadosnesta Revista são de inteira responsabilidade
Schmidt,Wilson de seus autores.
Cartas
Resenha 74 Asinstituiçõesinteressadasemmanter permuta podemenviar cartas
paraabibliotecáriaMariléaFabião Borralho, EMATER/RS, Rua
Normas editoriais 82 Botafogo, 1051, 2°andar, Bairro Menino Deus, CEP 90.150.053
Porto Alegre/RS ou paraagroeco@emater.tche.br.
ISSN 1519-1060
Raf
Raf ael
ael Alegr
Alegr ia
ia em ato contr a os tr ansgê nicos em Nã o- Me- Toque
Os integrantes do acampamento dos povos de cada país, políticas públicas para as mu-
indígenas Confederação dos Tamoios, ocorri- lheres, o direito dos índios de patentear seus
do durante o FSM, aproveitaram o evento para conhecimentos e a consolidação da conven-
elaborar documento com propostas e reivin- ção 169 da Organização Internacional do Tra-
dicações dos povos indígenas. O relatório fi- balho (OIT), que se refere ao direito de posse
nal foi dividido entre aspectos mundiais e e utilização das terras por parte dos índios.
exigências nacionais. No aspecto nacional, as propostas buscam
Na questão internacional, a comunidade aprovar um novo Estatuto do Índio, a ser elabo-
indígena presente exige o direito a uma edu- rado a partir das opiniões dos próprios indíge-
cação diferenciada (bilíngüe e bicultural), po- nas, a formação e capacitação de professores
líticas de proteção ambiental em áreas indí- índios, o reconhecimento das escolas indíge-
genas, reconhecimento das organizações in- nas, que a saúde do índio seja também res-
dígenas constituídas, respeito à constituição ponsabilidade do governo federal, assim como
a elaboração de progra-
"Há que resgatar o saber popular. No altiplano peruano, em mas habitacionais, a im-
declividades onde qualquer agrônomo moderno juraria que a plantação de políticas
agrícolas, o reconheci-
atividade agrícola é impossível, os índios ergueram uma civili-
mento da convenção 169
zação que durou milhares de anos e alimentaram milhões de
pessoas com tecnologia que os cientistas modernos entendem da OIT e a conclusão das
demarcações das terras
atrasadas. Fizeram isso combinando terraços com rodízios de
cultivos e fertilização natural. Eles inventaram uma combinação indígenas nos próximos
cinco anos.
de cultivos que estamos abandonando e que, no entanto,
Cerca de 700 índios, de
toda ciência moderna ainda não conseguiu igualar. A simples
120 etnias, participaram
combinação de milho, feijão e abóbora, benéfica para o solo,
do acampamento. O docu-
completa nutricionalmente e barata." ".
mento foi entregue à co-
10 Jacques Chonchol
ordenação do fórum. A
A
C a p o r a l , Fr a n c i s c o R o b e r t o *
bio Climático (realizada em Haia, Holanda, de
13 a 24 de novembro de 2000) sabem que os
As evidências científicas e as projeções
efeitos maléficos do aquecimento global re-
sobre as mudanças climáticas e seus efeitos
cairão, principalmente, sobre os países mais
no presente e no futuro são, simplesmente,
pobres e sobre as populações mais pobres nes-
assustadoras. Não obstante, os países ricos,
tes países, de modo que para eles vale mais
industrializados e opulentos do Norte acabam
continuar com seus negócios e com sua de-
de boicotar mais uma tentativa de estabele-
senfreada corrida poluente.
cer limites às emissões contaminantes, es-
Os limites de emissões de CO2 estabeleci-
pecialmente de CO2, ainda que sabendo tra-
dos pelo Grupo Assessor das Nações Unidas
tar-se da principal causa do efeito estufa. E,
sobre Gases de Efeito Estufa já foram sobre-
mais uma vez, vão tratar de transferir a solu-
passados. E isto acontece não por um afã
ção do problema para os países periféricos do
poluidor do homem moderno, senão que por
Sul ou para as zonas periféricas destes países.
conseqüência inevitável do modo de produção
Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão,
capitalista, modelo cuja "Segunda Contradi-
os reis do boicote à VI Conferência sobre Cam-
ção" vem sendo analisada por especialistas,
à luz das Leis da Termodinâmica (em resu-
* O autor é Engenheiro Agrônomo, Diretor Técnico da
mo, estão sendo destruídas as bases de re-
EMATER/RS, Mestre em Extensão Rural pelo CPGER/
UFSM e Doutor em Agronomia pela Universidad de cursos naturais necessários para a continui-
Córdoba - Espanha. Escrito em Dez./2000. dade do modo de produção).
Email: caporal@emater.tche.br Este artigo foi elaborado Assim, diante do poder econômico que di-
com base em diferentes documentos, dentre os quais rige as decisões de congressos e governos
destacamos texto de José Santamarta, Diretor da nacionais, a questão climática parece que
Revista World Watch em Espanhol. continuará a ser tratada como mais uma
Email: worldwatch@nodo50.org "oportunidade de negócio", ainda que as ten- 11
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13
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
1 I nt r o d ução
O município de Porto Mauá
está situado na Região Noro-
este do Estado do Rio Grande
do Sul, junto à região costei-
ra do Rio Uruguai, fronteira
com a Argentina. Sua base
econômica é a atividade agro-
pecuária desenvolvida em cer-
ca de 550 propriedades rurais,
distribuídas em 10 comunida-
des rurais. Destacam-se a produção de grãos fertilidade do solo. A introdução de outras es-
(milho e soja) e a atividade leiteira. No en- pécies de cobertura de solo e para adubação
tanto, acompanhando as tendências do mo- verde, tais como a ervilhaca e o nab o
delo agrícola vigente, as pequenas proprieda- forrageiro, também vem assumindo importan-
des rurais têm enfrentado enormes dificul- te papel nesse processo, seja na redução dos
dades para a sua manutenção e sobrevivên- custos de adubação nitrogenada das lavouras
cia, devido não apenas ao alto custo dos insu- de grãos, seja na melhoria da estrutura dos
mos, mas também pela gradual desvaloriza- solos. Os resultados vêm se mostrando
ção dos preços dos produtos agrícolas tradicio- satisfatórios, o que pode ser constatado no
nais produzidos na região. Além disso, atual- aumento da produção de milho solteiro ou
mente se observa nessas propriedades uma mesmo na produção de milho e soja consorci-
diminuição da fertilidade das terras, uma vez ados. Existem, pois, perspectivas futuras po-
que a extração de nutrientes, que se dá atra- sitivas em relação ao programa de adubação
vés das colheitas, supera a adição de nutri- e cobertura verde em Porto Mauá. De qual-
entes via aplicação de insumos minerais e quer maneira, ainda se faz necessário supe-
orgânicos. rar problemas de manejo em algumas espéci-
Neste contexto, a prática da adubação ver- es, evitando-se competições por nutrientes
de vem sendo estimulada e difundida, com o com a cultura principal cultivada na área.
fim de favorecer o desenvolvimento das lavou-
ras de milho e soja. Entretanto, o manejo e 2 A d ub ação v e r d e d e v e r ão na
utilização destas espécies ainda devem ser r e g i ão co st e i r a d o Ri o Ur ug uai
aperfeiçoados visando melhorar o aproveita- A adubação verde de verão era praticamen-
mento das terras, assim como os níveis de te desconhecida na região. Tradicionalmen-
te, se empregavam no verão apenas o sorgo e
* Eng. Agr., Chefe do Escritório Municipal da EMA- o milheto como culturas forrageiras. Mais tar-
TER/RS de Carlos Barbosa. Relata o trabalho desenvol- de, espécies como crotalária, mucuna e
vido enquanto atuava como extensionista rural em Porto guandu, apesar de pouco conhecidas dos pro-
14 Mauá. Fone: 0 XX (54) 461-1505. dutores, despertaram a curiosidade de alguns
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
massa verde, cobertura de solo, competição do milho, facilitando assim a colheita deste.
com inços e aporte de nutrientes;
aRealização de Dias de Campo em comu- c) Consórcio com forrageiras
nidades ou em nível municipal e microrregi- A consorciação de milheto com crotalária
onal; juncea e guandu permite a obtenção de
silagem com um maior percentual de proteí-
4 Re sul t a d o s p a r c i a i s a l c a nça d o s na bruta quando comparado ao obtido a partir
Os trabalhos de adubação verde e de cober- da silagem de milheto isoladamente. Além
tura do solo em Porto Mauá têm abarcado prin- disso, animais leiteiros têm mostrado boa
cipalmente nos seguintes processos: aceitação dessa forragem, seja sob a forma
de silagem, seja como pasto fornecido direta-
a) Consórcio com frutíferas mente no cocho. No entanto, necessitam-se
O uso do feijão-de-porco, crotalária, mucuna mais testes sobre consorciação de pastagens,
e guandu (em cultivo solteiro ou em consórcio com vistas a adequar as proporções de cada
de espécies) proporcionou bons resultados, tan- espécie e, por conseguinte, alcançar uma
to na melhoria da fertilidade quanto na redu- melhor qualidade nutricional da forragem a
ção e controle de ervas invasoras, especial- ser obtida mediante consórcio.
mente nos citros. Observamos um papel im-
portante desempenhado pela mucuna-cinza d) Consórcio com outras culturas
na supressão, redução e/ou eliminação de Estão sendo obtidos bons resultados atra-
gramíneas indesejáveis. Nas frutíferas tropi- vés do uso de feijão-de-porco consorciado com
cais, como o abacaxi, em áreas de microcli- a cana-de-açúcar, visando ao suprimento de
ma na costa do Rio Uruguai, o uso do feijão- adubação nitrogenada, bem como a redução
de-porco nas entrelinhas pareadas reduziu a de inços (principalmente milhã, grama-fina
presença de inços e, por conseguinte, os re- e papuã). O uso de crotalária e feijão-de-porco
querimentos de adubação nitrogenada. como plantas de cobertura de solo em lavou-
ras de mamona, seja em sistema de plantio
b) Consórcio com milho direto ou em cultivo mínimo, também está
As diversas espécies de adubação verde fo- sendo experimentado e acompanhado com o
ram semeadas em épocas diferentes nas en- propósito de reduzir ou substituir a adubação
trelinhas da cultura: no plantio do milho, aos química convencional. Nos próximos anos,
40 dias (momento da enverga) e na floração. pretende-se incrementar o uso de espécies
Os melhores resultados foram obtidos na se- de gramíneas em consórcio com leguminosas,
gunda situação, pois a adubação verde não es- buscando-se atingir um melhor equilíbrio de
tabeleceu competição com o milho, aprovei- nutrientes para esta cultura.
tando-se, além disso, uma das operações de
trabalho na cultura do milho. Todas as espé- e) Produção de sementes em pequenas la-
cies apresentaram rendimentos relativos su- vouras
periores ao cultivo solteiro, destacando-se o Atualmente, existe pouca oferta de semen-
feijão-de-porco, pelo fato deste fornecer nitro- tes de algumas espécies e, por isso, seus pre-
gênio durante o ciclo do milho. As demais es- ços são elevados em Porto Mauá. Nesse sen-
pécies contribuíram com aporte de nutrien- tido, o acompanhamento no manejo, visando
tes para as culturas subseqüentes. Situação à produção de sementes, tem se revestido
especial ocorreu com a mucuna-cinza, a qual, num importante desafio para o incremento
por ser de ciclo longo e apresentar um rápido da adubação verde. Embora a região do Vale
16 crescimento, pode ser plantada após a dobra do Rio Uruguai apresente aspectos favoráveis
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
quanto ao clima, algumas espécies de ciclo tos tecnológicos por parte dos agricultores, em
médio a longo (crotalária juncea e mucunas especial nas áreas com fruticultura. No caso
cinza e preta, por exemplo) ainda necessitam da recuperação de áreas degradadas ou em
ser melhor estudadas quanto à época de plan- sistemas intercalares com culturas anuais,
tio. Ademais, é preciso estabelecer e/ou con- a adoção deverá ser ritmada pela visualização
solidar parcerias com instituições de pesqui- dos resultados práticos e pelo domínio do uso
sa e ensino, com o objetivo de aprimorar co- e manejo das espécies por parte dos agricul-
nhecimentos e técnicas de manejo para a pro- tores e técnicos.
dução de sementes em pequenas áreas. aUm aumento das áreas destinadas à pro-
dução de sementes. Devido ao alto custo das
f) Recuperação de áreas degradadas sementes de certas espécies, alguns agricul-
O uso da crotalária e da mucuna em áreas tores estão se especializando nessa produção
de baixa e média fertilidade, respectivamen- para a comercialização. Neste caso, o acom-
te, está permitindo a obtenção de excelentes panhamento técnico será fundamental, em
resultados. O uso da mucuna cinza tem per- função das dificuldades de ordem climática e
mitido a recuperação de áreas de pousio em dos problemas de manejo ainda existentes na
apenas um ou dois ano, representando uma produção de sementes com boa qualidade.
importante vantagem em relação ao sistema aA implantação de unidades de estudo e
tradicional de pousio utilizado na região, o de pesquisa na microrregião costeira, em par-
qual demanda um período médio de 3 a 4 anos, cerias ou convênios com universidades e ins-
ademais de diminuir a incidência de inços tituições de pesquisa, visando melhor avali-
na área em questão. ar os resultados práticos destas espécies,
Como conseqüência dos processos referi- aprofundando-se os conhecimentos sobre sua
dos acima alcançou-se, até o presente mo- adaptação nas condições edafo-climáticas lo-
mento, uma área cultivada de 150 ha com cais e, com isso, ampliando os registros bibli-
espécies de inverno, envolvendo 150 produto- ográficos existentes.
res. Para o período de verão, a área cultivada Em suma, as espécies para adubação ver-
foi de 50 ha (incluindo cultivos em consórcio de e cobertura de solo _ que vêm sendo estu-
entre plantas cultivadas e dadas e difundidas em
espécies de adubação ver- Porto Mauá _ possuem
de e cobertura do solo), com u m enorme espaço a
a participação de 50 agri- ser potencializado nas
cultores. pequenas e médias pro-
priedades do município.
5 Pe r sp e c t i v a s p a r a Devemos, então, somar
a ad ub ação v e r d e esforços, consolidar par-
d e v e r ã o na r e g i ã o cerias, realizar experi-
Em face das ações rea- mentos com a participa-
lizadas e dos resultados até ção direta dos agriculto-
agora alcançados, existem res, ampliando assim as
perspectivas otimistas em possibilidades de êxito
relação ao programa. Espe- do programa em curso,
ra-se, pois: na perspectiva do De-
aUma adoção gradual senvolvimento Ru ral
das práticas e procedimen- Sustentável. A A
17
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
D u r á n , R a m ó n Fe r n á n d e z * * militares, qu e
bajaron cuando
cayó el Muro de
1 La i ng o b e r nab i l i d ad d e l nue v o Berlín. No hay
( d e s) o r d e n mund i a l que olvidar que
Los dos principales bloques del Centro, el en este amplio
espacio norteamericano (Estados Unidos y espacio geográfi-
Canadá) más el espacio europeo occidental (la co se u b ica el
Unión Europea y su área de influencia) han grueso del poder
consolidado una nueva estructura y estrate- económico
gia de la Organización del Tratado del Atlántico transnacional y
Norte (OTAN), bajo un firme y reforzado financiero, cuyos
liderazgo estadounidense, para defender sus agentes son los que más se benefician de los
intereses e intervenir en el mundo del capi- procesos de globalización en marcha, desta-
talismo global y de la post-guerra fría 1 , cando, en este sentido, especialmente Esta-
volviendo a incrementar sus presupuestos dos Unidos. Además, poseen las dos principa-
les monedas del planeta - el dólar y el euro -,
y una gran parte de sus poblaciones disfrutan
*Este artículo se ha confeccionado a partir de un texto más de un nivel de consumo que sería impensable
amplio del autor titulado: "Capitalismo Global, Resistencias sin una tremenda aportación de recursos de
Sociales y Estrategias del Poder. Un recorrido histórico por todo tipo del resto del mundo. Estos dos bloques,
los procesos antagonistas del siglo XX, y perspectivas para y muy en concreto Estados Unidos, son los que
el siglo XXI". Madrid, octubre de 2000. han salido más favorecidos de las crisis finan-
* * Miembro de Ecologistas en Acción y del cieras de la segunda mitad de los noventa,
Movimiento contra la Europa de Maastricht y la pues aparte de la expansión de sus mercados
18 Globalización Económica. financieros (los flujos de capital se han refu-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
30
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
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2 0 0 0 . (Boletim, 5)
Encyclopedie des N uisances. Barcelona: Ed.Virus,
1989. RAM O N ET, Ig n a ci o : El 2 0 0 0 . Le M o n d e
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Madrid, 2 0 0 0 . Inédito I ntelectua l y el Fa scismo Libera l. Desde las
montañas del sureste mexicano. México, abril,
H U N TIN G TO N , Sa m u el P. : Ch o q u e de 2000.
No t as
1
Japón, junto con otros países de la OCDE de oferta, provocando un probable brusco
(Nueva Zelanda, Australia...) de la cuenca del encarecimiento del crudo. "No es imaginable la
Pacífico, quedan bajo otros esquemas de sustitución en el tiempo que queda, del
"protección" y acción militar, en conjunción con transporte aéreo, marítimo o terrestre, o de la
Estados Unidos, que no alcanzan ni de lejos el agricultura mecanizada, por las energías eólica,
papel preeminente de la OTAN. solar nuclear que sólo producen electricidad
2
Piden acceso a los mercados del Centro, (Prieto, 2000).
4
recursos financieros y tecnología barata, el 0,7% En gran medida a costa de la pequeña y
del PIB de los países del Norte para ayuda al mediana actividad productiva, y de introducir
"desarrollo", reducción de la deuda externa, no en la esfera de la economía monetaria
inclusión de ningún tipo de normativa social, actividades hasta ahora al margen del mercado.
5
ambiental, laboral mínima mundial de obligado Q ue mantienen sus ahorros en divisas
cumplimiento, etc. (El País, 11.4.2000). fuertes, y en m uchos casos en acti vos e
3
En algún momento entre el 2004 y el 2010 instituciones financieras fuera de sus países, al
se alcanzará el pico máximo de producción, a abrigo de sacudidas financieras en relación con
partir de ese momento la producción decaerá. sus monedas respectivas.
La demanda entonces superará a la capacidad 6
Imposibles de materializar hoy debido a la
31
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
32
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
A l g uns e x e mp l o s
d e mi lho vari e d ad e
opção é realizar o plantio em diferentes épo- Existem variedades de milho tradicionais
cas, de maneira que se garanta um período conhecidas de muitos agricultores (por exem-
de aproximadamente um mês de diferença en- plo, caiano, cunha, dente-de-cão, palha roxa,
tre as épocas da floração do milho para se- etc), e outras que são resultado do melhora-
mente e do que está próximo deste. mento da pesquisa. Entre estas últimas cita-
Vale observar que o isolamento no espaço
mos a BR S Planalto, BR S Sol da Manhã, BR S
ou no tempo da lavoura de milho-semente so- 4150, BR 106, BR 451 QPM, BR 473 QPM, BR
mente é necessário se as variedades em tor- 5202 Pampa, AL 25, AL 30, AL 34, AL Mamdur,
no da área forem diferentes. Assim, uma al- FUNDACEP 34, FUNDACEP 35 e a RS 21
ternativa interessante é reservar a área cen- (lançada pela FEPAGRO no ano passado).
tral da lavoura para produzir sementes, pois
as plantas que estão em volta já funcionam
como uma barreira para evitar a mistura de Responsáveis técnicos:
pólen com outras variedades. Eng. Agr. Gervásio Paulus - Assessor Especial da
Diretoria da EMATER/RS.
Se l e ç ã o d e se me nt e s Eng. Agr. Dulphe Pinheiro Machado Neto - Chefe da
Uma vez garantida a não-contaminação da Divisão Técnica (DIT) da EMATER/RS.
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Estas cinco propriedades juntas os tornam a nós todos. Independentemente de onde vi-
muito perigosos. vemos, provavelmente estaremos contamina-
A aleatoriedade aparente da ameaça se dos por certas quantidades de COP. Estão nos
agrava pelo fato de que a lesão, via de regra, alimentos e na água; provavelmente também
demora em aparecer ou é indireta. Os produ- no ar que respiramos; provavelmente de vez
tos químicos extremamente tóxicos podem em quando entre em contato com nossa pele
esperar seu tempo, envenenando suas víti- se, por exemplo, manipulamos pinturas,
mas de maneiras tais que são muito difíceis dissolventes ou combustíveis.
de se perceber. O benzeno, por exemplo, é um Atualmente, 140 países estão negociando
dissolvente comum. É um ingrediente de al- um tratado para eliminar 12 COP específicos.
gumas tintas, em produtos desengordurados, Esta “dúzia suja” compreende nove agrotóxi-
gasolinas e em vários outros contaminantes cos, um grupo de contaminantes industriais
industriais e comerciais. É cancerígeno e afe- conhecidos como bifenilas policloradas (PCBs),
ta os descendentes de pessoas contaminadas, e dois tipos de subprodutos industriais, as
inclusive os homens, pois a exposição fetal dioxinas e furanos industriais. O tratado se
não é a única maneira pela qual o benzeno chama “Instrumento Legalmente Vinculante
pode envenenar as crianças; também pode para levar a cabo a Ação Internacional em
afetar os cromossomos e prejudicar os genes Certos Contaminantes Orgânicos Persisten-
que seu filho herdará. O benzeno pode preju- tes” e, como seu nome sugere, é um esforço
dicar sem tocar diretamente a criança. louvável, mas tímido. Seus partidários espe-
Os COP são também potentes venenos eco- ram que servirá no futuro como um meca-
lógicos. E, como no corpo humano, seus efei- nismo para eliminar dúzias de outros COP.
tos ecológicos, via de regra, seguem caminhos Mas, ao menos em sua forma atual, não se
tortuosos. Nos EUA, nos anos 60, por exemplo, afronta o problema fundamental. Se quiser-
os biólogos começaram a encontrar evidênci- mos reduzir os riscos do imenso e crescente
as de que o inseticida DDT (diclorodifeniltri- número de produtos químicos sintéticos que
cloretano) e outros produtos químicos simila- estão sendo liberados no ambiente, teremos
res eram perigosos. Mas a evidência não pro- que repensar algumas das noções básicas do
veio dos organismos que haviam absorvido o desenvolvimento industrial.
inseticida diretamente. Veio das águias e fal- Ainda que se desconheça que muitos dos
cões que estavam sofrendo fracassos repro- organoclorados são perigosos, um número
dutivos generalizados. substancial deles apresenta grandes riscos.
Embora os COP sejam tóxicos por defini- Na maioria, esses riscos são o resultado de
ção, seus efeitos à saúde e os impactos ambi- três características comuns. Os organoclora-
entais a longo prazo, em grande parte, são dos são muito estáveis, daí o atrativo de sua
desconhecidos. Mais complexa do que a aná- fabricação, e é por isso também que não nos
lise de um COP individual é a necessidade de livramos deles facilmente. Tendem a ser so-
entender que tipos de interações sinérgicas lúveis nas gorduras, significando que se bio-
são produzidas pela exposição a vários COP acumulam. Muitos têm uma toxicidade crô-
ou a um COP junto com outros produtos quí- nica, significando que, embora a exposição a
micos. A contaminação múltipla é a regra, em curto prazo não seja freqüentemente perigo-
vez da exceção, mas, efetivamente, não se sa, a longo prazo o é. (As razões para a
conhecem seus efeitos. O que sabemos é que toxicidade variam. Alguns organoclorados po-
a maioria dos organismos vivos estão expos- dem imitar substâncias químicas naturais,
tos a uma mistura difusa de COP. E isto afeta como os hormônios, e podem perturbar os pro- 47
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cessos químicos dos organismos vivos; alguns porém a toxicidade destes continua crescen-
debilitam o sistema imunológico, outros afe- do. As formulações atuais dos agrotóxicos são
tam o desenvolvimento dos órgãos e muitos de 10 a 100 vezes mais tóxicas do que em
promovem o câncer e assim sucessivamen- 1975.
te). Estabilidade, solubilidade em graxas e Hoje, os fabricantes de agrotóxicos querem
toxicidade crônica: o mesmo que os COP. Cer- que seus produtos tenham uma toxicidade
tamente não é necessário que um produto aguda alta e uma toxicidade crônica baixa.
tenha cloro para que seja um COP. Entre os Buscam contaminantes que matem rapida-
COP sem cloro há vários organometais (usa- mente, mas que não permaneçam no campo
dos, por exemplo, em pinturas de barcos) e indefinidamente, como os organoclorados, que
organobrometos (usados como agrotóxicos e com suas toxicidades crônicas substanciais,
como isolantes líquidos em equipamentos elé- já não têm o atrativo universal de antes. Os
tricos). Entretanto, a maioria dos COP conhe- mais novos agrotóxicos provavelmente não
cidos, inclusive a “dúzia suja”, são organoclo- contenham cloro. Isto evidentemente é bom,
rados. mas não o bastante, por duas razões: os agro-
Os agrotóxicos organoclorados são os COP tóxicos que não são organoclorados, às vezes,
mais notórios. Não é surpreendente que os também podem resultar em COP, e quase to-
agrotóxicos sejam dos produtos químicos mais dos os produtos velhos, ainda estão conosco.
perigosos, pois têm sido concebidos para se- Persistem no ambiente e a maioria ainda é
rem tóxicos e são produzidos em grandes quan- usada nos países em desenvolvimento.
tidades. Desde 1945, a produção global de agro- Uma série mais obscura de COP é da famí-
tóxicos tem se multiplicado por 26 (de 0,1 mi- lia de organoclorados que tem sido usada como
lhão de toneladas para 2,7 milhões), apesar isolantes líquidos, como fluidos hidráulicos e
do crescimento ter se rarefeito nos últimos como aditivos em plásticos, pinturas, incluso
15 anos, já que os efeitos à saúde e as preo- em papel decalque sem carbono. Estas são as
cupações ambientais têm inspirado um nú- bifenilas policloradas ou PCBs. Durante dé-
mero crescente de proibições, principalmen- cadas, a estab ilidade extrema, a b aixa
te nos países industrializados. Estas restri- inflamabilidade e a baixa condutividade das
ções têm reduzido a quantidade total de agro- PCBs fizeram-nas o isolante líquido normal
48 tóxicos usados nos países industrializados, nos transformadores. E, considerando que
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001
estas são um componente essencial das re- noclorados como o DDT (diclorodifenilcloroe-
des de distribuição de eletricidade, a conta- tano) prejudicam a capacidade reprodutiva de
minação de PCBs é onipresente. Nos países inúmeras aves, as PCBs (bifenilas policlora-
industrializados, foram fabricadas PCBs en- das) afetam todas as espécies de peixes e
tre os anos 20 e finais dos 70; entretanto, são mamíferos marinhos, o Pentaclorofenol (PCP)
fabricadas na Rússia e ainda são usadas em provoca a atrofia da medula óssea, cirrose
muitos países em desenvolvimento. Os cien- hepática e desordens nervosas. As dioxinas
tistas estimam que 70% de todas as PCBs causaram, em 1976, a catástrofe de Seveso
fabricadas ainda estão em uso, ou no meio (escape de 34 a 120 kg de dioxinas na fábrica
ambiente, principalmente nos depósitos de de Hoffman La Roche) e os efeitos tóxicos do
lixo de onde gradualmente vão contaminando agente laranja, usado na Guerra do Vietnã,
os aqüíferos. O Programa das Nações Unidas persistem e continuam matando, 25 anos após
para o Meio Ambiente (PNUMA) recentemen- o término da guerra.
te publicou um guia para ajudar os funcioná- Segundo a OMS, a cada ano ocorrem de 30
rios de países em desenvolvimento a identifi- mil a 40 mil mortes por intoxicação por agro-
car as PCBs. Porém, devido a seus múltiplos tóxicos organoclorados e organofosforados em
usos e os mais de 90 nomes comerciais, só grande parte, e meio milhão de pessoas so-
encontrá-las é uma tarefa ingente e não fa- frem envenenamento por ingestão ou inala-
lamos em eliminá-las. ção. A produção de Lindano deixou uma he-
A maioria dos COP não é produzida inten- rança de 185 mil toneladas de resíduos em
cionalmente, mas são subprodutos, como as Vizcaya e Huesca. Desde a Antártida ao Pólo
dioxinas e furanos, duas classes de COP que Norte, desde o Mar Báltico ou o Mediterrâneo
são resultantes, principalmente, da produção à estratosfera (onde destroem a camada de
de organoclorados, do branqueamento das pas- Ozônio), nenhum rincão do planeta se livra
tas papeleiras e da incineração de resíduos da presença mortal dos mais de 11 mil orga-
sólidos urbanos. Um inventário de emissões, noclorados que são produzidos hoje, compos-
de 1995, realizado pelo PNUMA em 15 países, tos que praticamente não existiam até que
contabilizou cerca de 7 mil quilos de dioxinas nos últimos 80 anos se criou e se expandiu
e furanos emitidos pelos incineradores, que uma nova indústria, a química do cloro.
representavam 69% das emissões totais des- O cloro na natureza está em forma de
sas substâncias, nesses países (sete mil qui- cloretos, retido através de fortes enlaces e,
logramas podem parecer pouco, mas tenha- uma vez livre, é extremamente reativo, ligan-
se em conta que essas substâncias extrema- do-se a átomos de Carbono formando organo-
mente tóxicas são produzidas em quantida- clorados, compostos inexistentes na nature-
des ínfimas). Conhecem-se 210 dioxinas e za, razão pela qual os seres vivos não são ca-
furanos. Entre os subprodutos da fabricação e pazes de decompô-los. Os organoclorados são
uso de organoclorados, é possível que hajam substâncias tóxicas, persistentes e bio-
milhares de COP a descobrir. acumulativas e constituem um grave risco
para as pessoas e para o meio ambiente. Os
Cl o r o organoclorados permanecem no meio ambi-
A química do cloro é a causa de muitos pro- ente dezenas de anos, alguns durante sécu-
blemas ambientais. Gases que contêm cloro, los e, como são muito estáveis e não se dis-
como os Clorofluorcarbonos (CFCs) e os HCFs, solvem em água, acabam por entrar na ca-
destroem o Ozônio estratosférico e são poten- deia trófica, depositando-se nos tecidos graxos
tes gases de efeito estufa, agrotóxicos orga- dos seres vivos. 49
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balagens de vidro. Em caso de incêndio, o PVC como vidro, borracha, metal, madeira ou ou-
é um material extremamente perigoso, pois tros plásticos menos tóxicos, com o PET
a fumaça contém cloreto de Hidrogênio, pro- (Polietilenotereftalato), o prolipopileno ou o
dutos organoclorados, furanos e dioxinas. Os polietileno. O PVC passará à triste história
brinquedos de PVC não são nada recomendá- junto ao DDT, PCB, PCT e CFCs. O debate so-
veis para as crianças devido aos perigos dos bre os desreguladores endócrinos e os conta-
plastificadores, como o Di-2-etil-hexilftalato minantes orgânicos persistentes deveria ser-
(DEHP). vir para avançar até uma produção industrial
Quatorze por cento de 1,6 milhão de tone- limpa, na qual o cloro não tenha lugar.
ladas de plásticos que vão ao lixo são incine-
rados. Uma parte dos plásticos que vai ao lixo De sr e g ul a d o r e s e nd ó c r i no s
são PVC, em torno das 290 mil toneladas anu- Um grande número de substâncias quími-
ais e cerca de 50 mil toneladas de PVC são cas artificiais que têm sido despejadas ao meio
incinerados na Espanha. Especialmente gra- ambiente, assim como algumas naturais, têm
ve é a incineração de produtos com PVC nos potencial para perturbar o sistema endócrino
hospitais. A incineração de 1 quilo de PVC pro- dos animais, inclusive os seres humanos.
duz até 50 quilos de dioxinas, quantidade ca- Entre eles encontram-se as substâncias per-
paz de provocar câncer em 50 mil animais de sistentes, bioacumulativas e organo-halóge-
laboratório. A incineração do PVC forma nas que incluem alguns agrotóxicos (fungici-
cloreto de Hidrogênio, substância venenosa e das, herbicidas e inseticidas) e as substânci-
corrosiva, de difícil e dispendiosa eliminação as químicas industriais, outros produtos sin-
e, ao final, sempre restam as cinzas com téticos e alguns metais pesados.
metais pesados e outros aditivos, cinzas que Muitas populações animais têm sido afe-
devem ir parar nos desaguadouros especiais tadas por estas substâncias. Entre as reper-
para resíduos tóxicos e perigosos. cussões figuram a disfunção da tireóide em
A produção mundial de PVC é de aproxima- aves e peixes; a diminuição da fertilidade em
damente 20 milhões de toneladas. Na Euro- aves, peixes, crustáceos e mamíferos; a di-
pa, 8% do PVC é consumido em garrafas de minuição do êxito da incubação em aves, pei-
azeite e água mineral; 17,4%, em filmes e xes e tartarugas; graves deformidades de nas-
lâminas; 27%, em tubagem; 21%, em perfis e cimento em aves, peixes e tartarugas; anor-
mangueiras; 8,4%, em cabos; 5,1%, em solos; malidades metabólicas em aves, peixes e
4,1%, em revestimentos; 0,3%, em discos e mamíferos; anormalidades de comportamen-
7,9%, em outros usos. Na Espanha, em 1995, to em aves; desmasculinização e feminização
o consumo foi de 421.485 toneladas. As em- de peixes, aves e mamíferos machos; desfe-
presas fabricantes são três: Hispavic Indus- minização e masculinização de peixes e aves
trial (filial da Solvay) com uma fábrica com fêmeas; e perigo para os sistemas imunológi-
capacidade para produzir 130 mil toneladas co em aves e mamíferos.
em Martorell (Barcelona); Elf Atochem com Os desreguladores endócrinos interferem
uma planta de 75 mil t em Miranda de Ebro no funcionamento do sistema hormonal me-
(Burgos) e outra de 25 mil t em Hernani diante algum destes três mecanismos: alte-
(Guipúzcoa) e Aiscondel com 145 mil t de ca- rando os hormônios naturais; bloqueando sua
pacidade, e duas fábricas, uma em Monzón ação ou aumentando ou diminuindo seus ní-
(Huesca) e outra em Vilaseca (Tarragona). veis. As substâncias químicas desreguladoras
A totalidade dos usos do PVC é facilmente endócrinas não são venenos clássicos, nem
substituível por outros produtos e materiais, carcinogênicos típicos. Limitam-se a regras 53
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diferentes. Algumas substâncias químicas tes, entre elas, muitas que têm sido identifi-
hormonalmente ativas parecem expor a pou- cadas como desreguladores endócrinos. Por
cos riscos de câncer. outro lado, as carregamos em concentrações
Nos níveis em que se encontram normal- que multiplicam por vários milhares os níveis
mente no entorno, as substâncias químicas naturais dos estrógenos livres, ou seja, es-
desreguladoras hormonais não matam célu- trógenos que não estão envolvidos por proteí-
las, nem atacam o ADN. Seu objetivo são os nas sangüíneas e são, portanto, biologicamen-
hormônios, os mensageiros químicos que se te ativos.
movem constantemente dentro da rede de Descobriu-se que quantidades insignifi-
comunicação do corpo. As substâncias quími- cantes de estrógeno livre podem alterar o cur-
cas sintéticas hormonalmente ativas são “de- so do desenvolvimento no útero; tão insigni-
linqüentes” da auto-estrada da informação ficante como uma décima parte por bilhão. As
biológica que sabotam comunicações vitais, substâncias químicas desreguladoras endó-
atacam os mensageiros ou os alteram. Mu- crinas podem atuar juntas, e quantidades
dam os sinais de lugar. Revolvem as mensa- pequenas, aparentemente insignificantes de
gens. Semeiam desinformação. Causam todo substâncias químicas individuais, podem ter
tipo de estragos. Considerando que as men- um importante efeito acumulativo.
sagens hormonais organizam muitos aspec- Causa grande preocupação a crescente fre-
tos decisivos do desenvolvimento, desde a di- qüência de anormalidades genitais nas cri-
ferenciação sexual até a organização do cé- anças, como testículos retidos (criptorquidia),
rebro, as substâncias químicas desregulado- pênis extremamente pequenos e hipospadias,
res hormonais representam um especial pe- um defeito onde a uretra que transporta a uri-
rigo antes do nascimento e nas primeiras eta- na, não se prolonga até o final do pênis. Nas
pas da vida. Os desreguladores endócrinos po- zonas de cultivo intensivo na Província de Gra-
dem pôr em perigo a sobrevivência de espéci- nada e Almería, onde se usa o endossulfan e
es inteiras, quiçá a longo prazo, inclusive a outros agrotóxicos, foram registrados cerca de
espécie humana. 500 casos de criptorquidias. Alguns estudos
A espécie humana carece de experiência com animais indicam que a exposição à subs-
evolutiva com estes compostos sintéticos. tâncias químicas hormonalmente ativas no
Estes imitadores artificiais dos estrógenos di- período pré-natal ou na idade adulta aumen-
ferem em aspectos fundamentais dos estró- ta a vulnerabilidade a cânceres sensíveis a
genos vegetais. Nosso organismo é capaz de hormônios, como os tumores malignos da
decompor e excretar os imitadores naturais mama, próstata, ovários e útero.
dos estrógenos, porém muitos dos compostos Entre os efeitos dos desreguladores endócri-
artificiais resistem aos processos normais de nos está o aumento dos casos de câncer de tes-
decomposição e se acumulam no corpo, sub- tículo e de endometriose. O sinal mais espeta-
metendo os humanos e animais a uma expo- cular e preocupante de que os desreguladores
sição de baixo nível, mas de longa duração. endócrinos já podem ter cobrado um preço im-
Este modelo de exposição crônica a substân- portante, encontra-se nos informes indicando
cias hormonais não tem precedentes em nos- que a quantidade e mobilidade dos espermato-
sa história evolutiva e, para se adaptar a este zóides têm despencado no último meio século.
novo perigo, seriam necessários milênios não O estudo inicial, realizado por uma equipe
décadas. encabeçada pelo Dr. Niel Skakkebaek e publi-
A maioria de nós carrega no corpo várias cado em 1992, descobriu que a quantidade mé-
54 centenas de substâncias químicas persisten- dia de espermatozóides masculinos havia caí-
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Re f e r ê nc i a s Bi b l i o g r á f i c a s
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n.1,n.3,
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Obs:
Em frutíferas, aplicar no inverno. Controla também musgos, liquens, ácaros e cochonilhas.
(1)Para os Citros, aplicar quando não houver ramos novos.
(2)No caso de aplicação em figo, evitar altas temperaturas.
O BSERV A ÇÕ ES:
® Não misturar calda sulfocálcica com
emulsões oleosas e esperar, pelo me-
nos, três semanas nas aplicações en-
tre uma e outra.
® Recomenda-se todo o cuidado no
preparo e aplicação da calda. Con-
vém usar óculos, chapéu e luvas;
® Usar pulverizadores de latão ou
estanhados interiormente para aplica-
ção, pois a calda ataca o cobre. Caso
necessário, lavá-lo muito bem após ser
usado.
® A calda é aplicada somente com
água e espalhaste adesivo.
Resumo
A agricultura orgânica (AO)
tem sido apontada como um
meio para a construção de um
novo padrão de produção agro-
pecuária e para a reconstrução
da cidadania no campo. Para
isso, é necessário ampliar for-
temente e em um prazo relati-
vamente curto o número de
agricultores que a praticam; o
que, na prática, exige a mudan-
ça dos circuitos de comerciali-
zação. O artigo procura discutir
se, com isso, a AO fica imedia-
tamente submetida aos mes-
mos modos de organização e co-
mercialização da agricultura
convencional, perdendo o seu
conteúdo ético e o seu caráter
contestatório. Inicialmente, ele
trabalha a passagem da AO de uma situação lisa as mudanças nos circuitos de comercia-
de marginalidade para outra em que é vista lização e no perfil do consumidor dos produtos
como elemento estratégico. Em seguida, ana- da AO. Depois, discute como a AO pode ser
* Este artigo se beneficiou dos comentários e sugestões feitos por Vanice D. B. Schmidt, coordenadora técnica, até fins
de 2000, do Programa Desenvolver - Desenvolvimento da Agricultura Familiar Catarinense pela Verticalização da
Produção. Atualmente, ela realiza, na França, estudos sobre os "sinais oficiais de qualidade" utilizados na agricultura.
* * Doutor, Professor do Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina
(PGAGR/UFSC). Atualmente, é Bolsista da CAPES - Brasília/Brasil, para realização de Pós-Doutorado no CRBC/
EHESS (Centre de Recherches sur le Brésil Contemporain - Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales), em Paris.
Dentro das atividades de extensão do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da UFSC, tem assessorado,
nos últimos anos, a Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral - Agreco, que tem sede em
Santa Rosa de Lima, Santa Catarina.
62 E-mail: wschmidt@mbox1.ufsc.br
Ou seja, pode se pensar em uma aprendiza- pode estabelecer com o seu ambiente técni-
gem técnica coletiva. As externalidades da co, são praticamente ausentes na AO. As difi-
rede se referem principalmente ao efeitos do culdades ainda existentes de relacionamen-
aumento do número de produtores em uma to entre os técnicos que trabalham com a AO
região. Normalmente, ela induz a uma me- e os técnicos da pesquisa agrícola, já mencio-
nor dispersão geográfica dos produtores e, por- nadas neste artigo, explicam esse fato.
tanto, a uma diminuição de custos de trans- O que se pode deduzir desta análise é que
porte para a distribuição de insumos e de aces- o desenvolvimento da AO necessita do cresci-
so ao mercado, ou, ainda, para os trabalhos mento do número de agricultores familiares
de assistência técnica e de certificação. Essa envolvidos e de organizações regionais des-
menor dispersão favorece, da mesma forma, tes produtores. Essa organização deve se dar
a criação de estruturas associativas para o também a jusante da produção _ beneficiamen-
beneficiamento ou transformação e para a co- to, transformação e comercialização _ o que
mercialização dos produtos. Essas atividades vai permitir a redução das margens aplica-
constituirão outra fonte de RCA: as economi- das ao longo do circuito de comercialização e
as de escala. Os rendimentos crescentes em uma baixa no preço ao consumidor, ao mes-
informação se manifestam quando da adoção mo tempo que favorece a adoção da AO por
da AO, como conseqüência da circulação de um número maior de produtores. E, nestas
informações sobre a agricultura orgânica en- condições, os agricultores orgânicos podem se
tre os próprios produtores. Estudos mostram inserir nos circuitos de comercialização já
que a principal influência sobre um agricul- estabelecidos. Para isso, será necessário que
tor, para a passagem propriamente dita à AO, os atores da AO passem a conhecer o merca-
é a de outros agricultores que a praticam. A do, a entender de comercialização e a traba-
norma de avaliação econômica da técnica na lhar informações econômicas. De outra for-
AO _ que é diferente daquela da agricultura ma, ter-se-á, mais uma vez, a transferência
convencional: a produtividade física ou ren- das fontes de poder para os agentes a jusante
dimento (Kg/ha) _ é o preço de venda dos pro- da AO. Dizendo de outra forma, deve-se pen-
dutos e, fundamentalmente, o valor agrega- sar em maneiras de criar efetivamente, a
do, ou seja, a parte que fica efetivamente com montante da cadeia, um poder de negociação
o agricultor. As inter-relações tecnológicas, que permita que os agricultores se apropriem
que se referem às relações que uma técnica dos resultados da qualidade por eles produzi-
67
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7 . Re f e r ê nc i a s b i b l i o g r á f i c a s
71
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No t as
1
Por isso, considerado por alguns como todos os países europeus. N a origem, se
"consumidor-cidadão" ou "consum-ator". encontra uma rede que orientou sua política
2
O caso do Rio Grande do Sul mereceria de comunicação para os produtos de
uma análise específica, que foge aos objetivos qualidade superior e/ ou para a inovação. Um
deste artigo, com a ocupação de importantes segundo grupo de redes fortemente
cargos das instituições públicas voltadas à majoritário segue aquela primeira. Suas
política agrícola estadual e ao desenvolvimento motivações são diferentes. Tendo observado
rural por quadros das ONGs (ver, por exemplo, uma sensibilização crescente da população
Pelaez e Schmidt, 2000). Este fato não invalida pelos produtos mais sadios e, sobretudo, mais
nosso argum ento, m as, ao contrári o, o respeitosos do meio ambiente, elas desejam,
reforça. antes de tudo, mediar a importância real dessa
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Esses ar gu m en to s basei am - se em demanda latente e verificar em que medida esta
di scussão sem el hante presente em Inra nova atitude do consumidor se traduzirá em
(2000). uma modificação do seu comportamento de
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O Brasil ainda não conta com um tipo de compra. Em outros termos, esses distribuidores
estrutura intermediária: os supermercados dão seus primeiros passos para uma possível
especializados em produtos orgânicos, adaptação da oferta e da demanda. E eles não
também chamados de "supérettes". Ele é hesitarão em suprimir os produtos orgânicos
diferente das feiras, julgados, pelos de suas prateleiras se o mercado se mostrar
consumidores, como "lugares míticos de troca" marginal demais. Finalmente, um terceiro grupo
e de encontro. Mas é diferente, também, dos que, mantendo seu ceticismo ou sua reticência
hipermercados, associados a uma imagem à agricultura orgânica, introduz os produtos
negativa, mas nos quais a venda de produtos dela em suas lojas unicamente sob a pressão
orgânicos é vista como inelutável. Na verdade, do mercado, procurando evitar que a sua
as supérettes conseguem as vantagens do clientela se desloque para os seus concorrentes.
supermercado com a qualidade transacional (Hatrival, 1993)
da compra das feiras. Ou seja, elas aparecem 6
Como contraponto ao "velho consumidor"
mais como um lugar onde vai se viver uma de circuitos curtos.
experiência de consumo e menos como um 7
Trata-se de estudar os processos pelos
lugar onde vai se comprar produtos. Por isso, quais uma tecnologia vem a ser superior às
mais do que vantagens objetivas, o ambiente outras. Nesta problemática, os desempenhos
deste tipo de loja é o que é preferido pelos (as capacidades de rendimento) das diversas
clientes. Ao mesmo tempo, no entanto, elas tecnologias presentes não são dadas, mas
oferecem uma riqueza de mercadorias construídas. São os processos de construção
(algumas com mais de 4 mil referências- que o conceito de RCA se propõe a descrever.
produto), uma ótima apresentação dos O ponto de partida da análise consiste em
produtos (embalagens a vácuo, refrigeração, supor que não é porque uma tecnologia tem
conservação), uma qualidade dos materiais desempenho superior que ela é adotada, mas,
utilizados e, sobretudo, credibilidade. Este tipo ao contrário, que uma tecnologia passa a
de loja aparece ao consumidor como capaz terum desempenho maior que uma outra
de garantir a ideologia original da produção porque ela é adotada. (Pernin, 1994)
e do consumo orgânico. (Pontier, 1998) 8
Trata-se do Regulamento CEE 2092/ 91, de
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Segundo esta autora, o itinerário da 24 de junho de 1991, que diz respeito "ao
aparição de produtos orgânicos nas redes de modo de produção orgânico de produtos
supermercados é globalmente o mesmo em agrícolas e a sua apresentação sobre os
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82 ainda não publicados, assim como aqueles que estejam importantes para o melhor entendimento do texto.