Adi 2650
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Adi 2650
VOTO
o
Legislativa do Estado de Goiás dispositivo legal que vincula os
procedimentos que devem ser adotados pelos estados-membros e pelos
desmembramento de estados. sã
municípios nos casos de consultas plebiscitárias para criação, fusão ou
II - referendo;
III - iniciativa popular.”
o
ordinária”, como quer a requerente. Trata-se, como bem apontado nas
informações do Presidente da República, de processo de concretização da
sã
norma constitucional com o qual se visa explicitar significado de
expressão já contido no âmbito normativo do art. 18, § 3º, da Carta
Magna.
Com efeito, como será demonstrado a seguir, a lei questionada não
vi
conferiu “novo comando” ao § 3º do art. 18 da Carta Federal, limitando-se
a explicitar significado já contido no próprio texto constitucional. Trata-se
re
1991. p. 194).
Assim sendo, não procede a alegação de existência de vício de
natureza formal relativo à norma impugnada.
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ADI 2.650 / DF
o
substituir a consulta plebiscitária (idem); além de já se ter constatado o
cabal desprezo à consulta plebiscitária nos processos de redefinição de
sã
municípios (ADI nº 468/PR-MC, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ de 16/4/93;
ADI nº 2.812/RS, Rel. Min. Carlos Veloso, DJ de 28/11/03; ADI nº
2.632/BA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12/3/04, ADI nº 2.967/BA,
vi
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 19/3/04, e ADI nº 3.149/SC, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, DJ de 1/4/05).
O Tribunal, impressionado, ao mesmo tempo, com a inobservância
re
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criação.
Nesse fluxo de ideias, diante da nova situação jurídica, esta Corte
tem julgado prejudicadas as ações diretas de inconstitucionalidade que
versam sobre o tema quando as normas impugnadas atendem aos
requisitos da EC nº 57/2008 (Cf. ADI nº 3.097/SC, Rel. Min. Marco
Aurélio, DJ de 28/8/09; ADI nº 3.018/MS, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, DJ de 9/12/09; ADI 3.524/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, DJ de
10/2/11; ADI 2.381/RS-AgR, Rel. Min. Carmen Lúcia, DJ de 24/3/11; ADI
3.699/MT, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 15/4/11).
o
Por seu turno, o significado do termo “população diretamente
interessada” somente foi apreciado, na vigência da Constituição de 1988,
sã
em poucas oportunidades, e sob a óptica do art. 18, § 3º, da Carta Magna,
o qual versa sobre a criação e o desmembramento de municípios, mas
não de estados-membros. A mais destacada delas se deu quando do
vi
julgamento da ADI nº 733/MG, de relatoria do Ministro Sepúlveda
Pertence, que é precisamente o paradigma citado na petição inicial. Não
custa reproduzir trecho da respectiva ementa:
re
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Vide:
o
portanto, é que será chamada a participar do plebiscito.
Precedente do S.T.F.: ADIn 733-MG, Pertence, 17.06.92, 'DJ'
sã
16.06.95. Ressalva do ponto de vista pessoal do relator desta
no sentido da necessidade de ser consultada a população de
todo o município e não apenas a população da área a ser
vi
desmembrada (voto vencido na ADIn 733-MG). Ação não
conhecida, no ponto, tendo em vista a superveniência da EC nº
15, de 1996. (...).” (DJ de 28/2/97).
re
“Art. 18 (...).
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o
desmembramento de Municípios preservarão a continuidade e
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“Art. 18 (...)
o
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o
desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual,
sã
dentro do período determinado por Lei Complementar Federal,
e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às
populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados
vi
na forma da lei.”
18, § 3º), a redação não foi alterada. O texto permanece com a menção à
“população diretamente interessada”:
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o
interessadas”, referente ao desmembramento de municípios, pode não
mais ser mais viável. Ressalte-se, a esse respeito, a ponderação que fez o
sã
Ministro Sepúlveda Pertence em seu voto na ADI 2.381/RS-MC:
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o
Aurélio - aos quais rendo minhas homenagens –, a multiplicação
indiscriminada de novos municípios pelo país poderia ter sido evitada.
sã
Ressalte-se que foi, exatamente, com o intuito de enfrentar esse
problema que se alterou a redação desse dispositivo. Confira-se a
Justificação da Proposta de Emenda à Constituição nº 22, de 1996:
vi
“O aparecimento de um número elevado de municípios
novos, no País, tem chamado atenção para o caráter
re
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o
da exigência constitucional. A nova redação conferida pela emenda
constitucional, do mesmo modo que o art. 7º da Lei 9.709/98, apenas
sã
tornou explícito um conteúdo já presente na norma originária.
Conquanto esse conteúdo tenha sido reforçado somente na redação
do § 4º do art. 18 da Lei Maior, ao contrário do que afirma a requerente,
vi
não vejo como se possa interpretar de forma diversa a expressão
“população diretamente interessada” contida no § 3º do mesmo art. 18,
relativa à alteração territorial dos estados-membros.
re
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municípios. A mim parece que esse tipo de problema deve ser evitado por
intermédio de uma interpretação que dê a mesma solução para ambos os
casos, sob pena de, caso contrário, se ferir, inclusive, a isonomia entre os
entes da federação, conferindo-se maior facilidade para o
desmembramento de um estado do que para o desmembramento de um
município, o que a meu ver, Senhores Ministros, levaria a uma situação
absurda.
Entendo que o tema requer, portanto, para além de uma
interpretação gramatical, uma interpretação sistemática da Constituição,
o
tal que se leve em conta a sua integralidade e a sua harmonia, sempre em
busca da máxima da unidade constitucional, de modo que a interpretação
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o
18 da Constituição, o significado de que, para a hipótese de
desmembramento, deve ser consultada, mediante plebiscito, toda a
desmembrada. sã
população do estado-membro, e não apenas a população da área a ser
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o
sofreria. Em conclusão, não vislumbrando no ato atacado
afronta às normas legais pertinentes, o parecer opina pelo
sã
indeferimento da segurança, por inexistir qualquer direito
líquido e certo a ser ampara pelo 'writ'.”
vi
Note-se que o conteúdo de tal argumento coincide com parte da
fundamentação adotada pela requerente, quando sustenta que, com o
desmembramento, “[a]penas uma (ou mais) partes do Estado quer a redivisão
re
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manifestar a sua vontade, tanto quanto aqueles que são favoráveis. Essa
é a razão do plebiscito. Na precisa definição de José Cretella Jr., em seus
Comentários à Constituição Brasileira de 1988, “[e]m nossos dias, plebiscito
é a consulta ao povo para que este, mediante pronunciamento, manifeste
livremente sua opinião sobre assunto de interesse relevante”.
Ora, não há como simplesmente excluir da consulta plebiscitária, em
virtude da simples pressuposição de que esta será contrária à divisão
territorial, os interesses da população da área remanescente, população
essa que também será inevitavelmente afetada pelo desmembramento.
o
Senhores Ministros, também não vejo como se possa admitir que, no
caso de desmembramento, a população da área remanescente tenha
apenas um interesse indireto.
sã
Tratando-se o desmembramento de uma divisão territorial, de uma
separação, com o desfalque de pedaço de seu território e de parte da sua
vi
população, como afirmar que a parte interessada nessa separação é
apenas a que se retira? Então quer dizer que a retirada da parte de um
todo não interessa diretamente àquela parte remanescente?
re
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o
interesse indireto. Certamente, não se pode dizer, jamais, que diretamente
interessada é somente a população da parte a ser desmembrada.
sã
Isso foi, aliás, o que salientou o Ministro Marco Aurélio, ao firmar
posição, à época minoritária, no julgamento da ADI nº 733 – relativo ao
desmembramento de municípios:
vi
“Indaga-se: a população da área que, uma vez feito o
desmembramento, será a área remanescente, não é diretamente
re
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o
lembram os representantes. Em linha de princípio, o interesse
na incorporação, fusão ou desmembramento de município é de
sã
todos os munícipes, por isso que 'há uma unidade, um todo, em
cuja preservação, manutenção e até desenvolvimento há
interesse de todos e de cada cidadão', como acentuado na
vi
representação, mesmo porque a Constituição Federal estabelece
que a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento
'preservarão a continuidade e a unidade histórico-cultural do
re
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o
atributo do povo, são prerrogativas de povo, que se constitui
em Município (este define-se como 'associação de vizinhos',
juridicamente).
sã
Pode-se dizer que cada cidadão habitante do Município
tem direito à integridade territorial daquele no qual habita, da
vi
mesma forma que tem direito, como todos os demais a ver o
Município exercitar todos os atributos que a Constituição lhe
confere, no art. 15.
re
(...)
Parece que essas considerações, mostram a violação, seja
da Constituição Federal, seja do preceituado na Lei
complementar nacional 1, quando faz referência às populações
Em
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possibilidade de redefinição, mas impôs, em contrapartida, rigoroso
procedimento, que conjuga a manifestação pela Casa Legislativa estadual
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o
“A reunião de dois ou mais Estados para constituir em um
sã
só (incorporação), a divisão de algum deles quer para anexação
de uma parte do seu território ao de outro, quer para da porção
separada formar-se um novo Estado, são operações políticas,
que não só entendem com o direito dos cidadãos dos Estados a
vi
que acrescerem ou de que se desmembrarem partes ou que se
reduzirem a um só, mas também interessam à União, de que
re
federativo.
Há, em todos os casos deste artigo, a submissão de
cidadãos, de povo, a autoridades a que antes não estavam
sujeitos e também perda ou acréscimo de território. E isto
envolve ato de soberania; pelo que, torna-se necessária
manifestação afirmativa da vontade popular. Essa manifestação
a Constituição proporcionou fosse feita por intermédio dos
corpos legislativos dos Estados interessados, e pelo Congresso
Federal.
Mas se nisso entra em causa a sorte política dos
indivíduos existentes nessas porções de território a desmembrar
para agregar a outro ou para constituir novo estado, parece que
não bastam a aquiescência da legislatura do Estado a que eles
pertencem e a homologação da União. A índole e essência do
regime democrático não se compadece com essa mudança e
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exigido por expressa cláusula constitucional, o voto dos
interessados, além da aquiescência dos parlamentos estadual e
sã
federal. Por lei ordinária se poderá prover (Const. Arts. 4 e 34,
§§ 33 e 34) quanto ao meio prático de verificar-se esse voto”
(Constituição Federal Brasileira, 1891: comentada. Brasília:
vi
Senado Federal, 2002. p. 16).
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novos Estados e Territórios dependerá de lei complementar'. A
desconstitucionalização converteu o Congresso Nacional,
sã
através da lei complementar, na via da legislação ordinária, em
juiz derradeiro e único sobre alterações territoriais dos Estados.
As Assembleias Legislativas perderam sua participação em
matéria do direto interesse de cada uma delas. Suprimiu-se o
vi
plebiscito das populações diretamente interessadas,
desqualificando a soberania popular. A alteração territorial,
para os casos constitucionalmente previstos, que deflagrava
re
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o
Finalmente, com a Carta da República de 1988, restabeleceu-se o
status constitucional da matéria, de forma que o art. 18, § 3º, previu o
sã
procedimento de alterações territoriais dos estados-membros, exigindo a
aprovação da população diretamente interessada, por meio de plebiscito,
e do Congresso Nacional, mediante lei complementar. Em regra mais
vi
adiante (art. 48, VI), corrigindo-se omissão da redação do § 3º do art. 18,
incluiu-se a necessidade de oitiva das respectivas Assembleias
Legislativas.
re
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indispensável e essencial para a existência do Estado. Não existe estado-
membro sem território, e a autonomia dos entes federativos se dá
sã
exatamente sobre essa determinada base territorial sob a qual incidirá sua
capacidade política. No magistério de Oswaldo Trigueiro:
vi
“(...) O regime federativo tem em mira o self government
das comunidades locais, através da outorga de certa margem de
autonomia efetiva. Explica-se, assim, que as garantias
re
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Essa advertência é ainda mais especial em relação a esta Suprema
Corte, em virtude da sua qualidade de Tribunal da Federação, guardião
sã
do pacto federativo que mantém unidos, ainda que na diversidade, os
entes federados. Na clássica advertência de Hans Kelsen, “é certamente no
Estado federativo que a jurisdição constitucional adquire a mais considerável
vi
importância. Não é excessivo afirmar que a ideia política do Estado federativo só
é plenamente realizada com a instituição de um tribunal constitucional”
(Jurisdição constitucional. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 182).
re
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