Resenha - Herbart - Pedagogia Geral - Odair Neitzel
Resenha - Herbart - Pedagogia Geral - Odair Neitzel
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http://dx.doi.org/10.5335/rep.v23i2.6548
de de Passo Fundo. Docente de Filosofia da Educação na Universidade Federal Fronteira Sul – Campus Chapecó.
E-mail: [email protected]
423 ESPAÇO PEDAGÓGICO v. 23, n. 2, Passo Fundo, p. 423-429, jul./dez. 2016 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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de Wilhelm von Humboldt. Nesse local, que era a sua casa, juntamente com sua
esposa, desenvolve um conjunto de procedimentos educativos que servirão de base
para sistemas educativos em vários lugares do mundo. Herbart não foi somente um
teórico, estava envolvido diretamente com o desenvolvimento de uma pedagogia e
da educação.
Após 25 anos de trabalho em Königsberg, em 1833, Herbart retorna a Göttin-
ger, onde continuará oferecendo aulas de filosofia e pedagogia até sua morte, em 14
de agosto de 1841. Desse período, resultam duas obras importantes: Umriβ päda-
gogischer Vorlesungen e Pädagogischen Briefe über die Anwendung der Psychologie
auf die Pädagogik.
Herbart viveu em uma época extraordinária, envolvida no espírito do Au-
fklärung e na crença no progresso humano. Época ímpar na produção cultural
humana, com nomes como Bach e Beethoven na música; Schiller, Hegel, Kant,
Fichte e Rousseau na filosofia; Pestalozzi e Fröbel na educação. Herbart exerceu,
principalmente, suas atividades em Berna, na Suíça, de 1797 a 1800, em Bremen,
de 1800 a 1802, em Göttingen, de 1802 a 1809, em Königsberg, de 1809 a 1833, e,
de novo, em Göttingen, de 1833 a 1841.
A obra Pedagogia Geral, depois de 210 anos de sua publicação, continua sendo
fundamental para o pensamento pedagógico, representando a guinada do pensa-
mento pedagógico no século XIX, colocando a ação pedagógica no centro das refle-
xões educacionais. Pode ser considerada a obra mais significativa da filosofia da
educação do século XIX.
Publicada originalmente em 1806, a obra é composta de uma introdução, se-
guida de três livros, divididos em vários capítulos, organizados em parágrafos. Essa
sistematização ocupa-se de três tarefas da educação: o governo das crianças (Re-
gierung der Kinder), a constituição de um interesse múltiplo (vielseitgen Interesses)
e o desenvolvimento da força moral do caráter (Charalterstärke der Sittlichkeit).
A introdução possui três momentos distintos. Primeiramente, pretende lançar
os horizontes gerais da prática educativa e da pedagogia, segue-se, então, uma
argumentação do significado de uma prática educativa para a transformação e a
constituição humana e, por fim, apresenta o conceito de instrução educativa como
meio em torno do qual se organizará a ação pedagógica. Na introdução, Herbart
ocupa-se em destacar a importância do conhecimento teórico para a formação do
educador, que não deve se guiar meramente pela experiência e pelas circunstân-
cias. Só pode haver uma educação autêntica à medida que a experiência é cortejada
pelo trabalho intelectual, que permite aproximar as vivências de mundo e os sabe-
res tematizados e legados pela humanidade.
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aspectos específicos da disciplina (Blicke auf das Spezielle der Zucht), todos agru-
pados em torno de temas comuns. De modo mais específico, nos dois primeiros
capítulos, Herbart ocupa-se com a definição e conceituação do que possa ser en-
tendido pela força do caráter da moralidade. No terceiro capítulo, trata sobre como
se materializa a força do caráter da moralidade. No quarto capítulo, apresenta o
decurso natural da formação do caráter. No quinto e no sexto capítulo, versa sobre
as medidas da disciplina ou criação (Zucht).
No primeiro capítulo, o autor procura definir melhor o que é caráter. Define-
-o como “a forma da vontade” (2010, p. 145). Seguindo Kant, Herbart distingue a
parte subjetiva, que diz respeito à moral, da parte objetiva, à qual a educação deve
dar atenção especial. A vontade apresenta-se sob quatro momentos fundamen-
tais: a memória da vontade (Gedächtnis des Willens), a escolha (Wahl), o princípio
(Grundsatz) e a luta (Kampf). Esses quatro momentos da vontade correspondem
aos graus de instrução e também aos graus da disciplina.
No segundo capítulo, Herbart ocupa-se, especificamente, com o conceito de
moralidade. Faz distinção entre a parte positiva e a negativa da formação do ca-
ráter. A censura em si é positiva em relação à formação, mas censurar é uma ação
negativa (2010, p. 153). Trata ainda dos conceitos de juízo moral (Sittliche Beur-
teilung), de entusiasmos (Wärme), de decisão (Endtschiessung) e de autocoação
(Selbstnötigung).
O terceiro capítulo busca elucidar como “se revela o caráter moral” (2010,
p. 156). A decisão moral “se situa entre aquilo sobre que determina e aquilo pelo
que se deixa determinar” (2010, p. 156, grifo do autor). Determinável é “O que se
pode tolerar, ter e praticar”, e as ideias determinantes são o “Sentido de justiça,
Bondade, Liberdade Interior” (2010, p. 157). São essas ideias que Herbart procura
na filosofia prática. Esses conceitos correspondem aos do segundo livro, ordenados
com o conceito de conhecimento e participação.
O quarto capítulo trata sobre o curso natural da formação do caráter, que
para a sua compreensão, para além da instrução, não pode deixar de considerar a
influência da experiência e da vivência social. A formação do caráter, nesse sentido,
concorre com os desejos humanos, advindos de sua natureza e também de interes-
ses intelectuais, por um lado, e pelas capacidades individuais e impedimentos exte-
riores à sua formação, por outro. A formação do caráter é influenciada pelo círculo
de ideias (Gedankenkreis), pelas disposições e oportunidades e pelo ritmo de vida.
O quinto capítulo trata da disciplina (Zucht). Assemelha-se ao governo (Regie-
rung), destinado a manter a ordem e que deve desaparecer o mais cedo possível. O
governo e a disciplina têm em comum a característica de atuar diretamente sobre
a alma. Já em relação à instrução, a disciplina tem em comum a formação como
finalidade.
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Herbart: sobre a Pedagogia Geral
Referência
HERBART, Johann Friedrich. Pedagogia geral: deduzida da finalidade da educação. Tradução de
Ludwig Scheidl. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
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