Gavetas Vazias
Gavetas Vazias
Gavetas Vazias
GAVETAS VAZIAS?
tituto de Es·tudos da L in
Campinas - 1987
Ao João, meu companheiro de inquietações~
AGRADECIMENTOS
propus:
Ao Professor Joaquim Brasil Fontes Jr~r pela orienta-
- do trabalho, ao mesmo tempo firme e doce, que sempre
çao soube
dosa e aguda;
que eu nunca 11
tinha t:empo para nada 11 ~
Walter Benjamin
!NDICE
l. 11
Vazio cultural"? • • ~ ~ •• ~~~ •• -~~ ••• ~. •*~. ~· ••• ~ •• ·~ ••• 4
3. Retratos do Brasil 24
····~····~············~····~·····~·
4. Literatura e realidade 29
6. Três narrativas 42
~···· ·········~······· . ·····~·········
L 4 ~ Um contador de histórias 99
2. O texto 105
3. A narraçao
2. O caleidoscópio 171
3. O caos 1 a desordem ................ ................
~ ~ ~
177
vimento, 28/7/75).
A questão colocada ainda hoje é pertinente, quando as
afirmava:
(Opinião, 21/3/75).
tl) Cabe aqu;L uma explicação sobre as fontes:a escolha destes foi
baseada no critério de sua penetração junto ao público lei-
tor, dai Veja, Y!são, !~to t, das poucas rev~stas não espe-
cializadas a ve1cular assuntos relacionados a cultura e a a-
presentar, entre elas, uma certa homogeneidade editorial.
Quanto aos jornais 1 além dos dois represEmtantes da imprensa
paulista (Folha de S.Paulo e o Estado de são Paulo), optei
por dois jornaiS'lalternativoS 11 (Movhnento e o;eini.ão) y pelo
7.
ryísão' 5/7/7 5) .
de fundo.
Nessa linha, pareceria correto pensar que, no Brasil 1 a
institucionalização da censura (ou de suas formas mais veladas,
dos por uma história básica; envolve também uma qualidade intrí~
escuro.
11.
2. Narrar e resistir
11
(l) A literatura brasileira em 1972", in Arte em Revista,n9 1,
1979, pag. 25.
12.
tivas 11 •
objetivos:
dicionamento~
11
(. ~ ~) por que só escassamen t.e surgem auto-
11
Não se responderá corretamente à pergunta di
ção".
existe mais uma linha que delimite essas três formas de cultura:
tanto a cultura popular quanto a erudita estão impregnadas deel~
cada vez menos possível sua realização num nível mais elevado e
rico em valores"~
va:
11
Supor que a produção da autopensação brasi-
leira se imobilize é, aos meus olhos, impen-
sãvel. Naturalmente que o processo vai com-
portar muito mais o aparecimento de formas
narcisisticas, de todas as formas escapistas~
11
lado, sobretudo, dos best-sellers 11 estrangeiros, que passaram a
dominar o mercado~
11
( 1} le cri tere le plus simple, en dehors de 1 f intui tio.n du
cri tique c:t de 1' examen systématique de toute la l.i ttéra turer
travail colossal et presque impossible à faire individuelle-
ment, parait être celui du tsuccês de librairie' et de. tsuc-
cês auprês des éditeurs 1 , ce qui 1 dans: certains pays oU la
vie inte1lectuelle est controlée par des organes gouvernamen
taux, a aussi son sens, car il indique quelle orientation lT
Et.at voudrait donner à la cu1ture nationalen. (Gramsci dans
le T~, Paris 1 Ed~ Sociales, 1975. p. 650.}
22.
_rém, a arte te.m outra função, que lhe é imposta pela classe dorni
3. Retratos do Brasil
ciência 11
catastrôf.ica 11 do subdesenvolvimento(l), já em pleno ca-
pi tal:Lsmo imperialista.
Dai a volta dos H retratos do Brasil 1! F em pinceladas c_s:
11
Isto porque servem ao mesmo senhor: ao in-
"
as preocupaçoes com a linguagem.
4 ~ Li ter a tu r a e realidade
locando -
em xeque a noçao substancialista de li·teratura, vital
para que esta mantenha seu estatuto tradicional, conferido pelas
real e não como reflexo dele. Não existe uma relaçã.o causal en-
tempo e das condições ern que nasceu* torna-se urn elemento consti-
ou ainda:
brota toda uma produção que escapa aos cânones estatuídos pelo
foco dominante 1 seletivor e que atua solidamente dentro da tradi
ção de uma literatura critica e democrática~ Basta lembrar Lima
Barreto, por exemplo~
70, pode ser encarada 1 a meu ver, como um instante em que o dado
local predomina na criação, não mais como resistência ao imperi~
11
Na literatura brasileira a·tual há uma ci:r-
agregou pois, mais que resíduo, ela chega a ser um signo gera-
dor fundamental e como tal deve ser levada em conta, em virtude
dos efeitos estéticos e ideológicos especificas que engendrou,
tanto a nível da produção quanto da recepção~ só assim poderá
ser encarada como totalidade concreta e nao como todo a que se
juntam ou do qual se subtraem partes, de acordo com um esquema
pré-estabelecido~
{1) CÂNDIDO, A~ 11
0S brasileiros e a literatura latino-americana 11 1
in Novos Estudos CE~RAP 1 São Paulo, vol~ 1, 1, dez. 81 1 p.68w
38.
5. Verdade, consciência~
~
De ac:orao ' ' (l)
com Ben]am:tn , o processo a 1 egor:tco
- ' tende
pecto do mundo é que- decide quem será Seu leitor e que, escolhEm
do seu leitor, escolhe seu tema~ "Assim, todas as obras do espí-
rito contêm em si próprias a imagem do lei to r a quem estão des ti
nadas 11 ~
11
(1/ ADOUN, J. E. 0 realismo de uma outra realidadeu, in América
Latina em sua literatura, cit.
{2) ·s·.ARTBE, J.P., Que es la-literatura?!! Buenos Aires, Ed. Lesa-
da, 1976, pag. -sz:-·
41.
palavras de Adoun:
6. Três narrativas
pode {ou não} cumprir esse papel, o qual, na sua essência, pode
.
ção do país, refletido na l.tnguagem totalmente estilhaçada~A vio
-
lência toma conta do relato, explodindo a estrutura narrativa em
nelas
. '
armar1.os e gavetas. ~ .
plexidade.
Essas três narrativas foram eKtraídas de um conjunto
11
Mil vozes mais autorizadas que a
munha vão surgir 11 (pag. 25) •
por onde espiar um passado recente, tempo vivido 1 at.é então veda
gunda por ver colocada cmn nitidez suas fraquezas e sua dificul-
Gonçalves declara(l);
lhava, até o momento final, quando o avião alça vôo, rumo ao exí
lio~ Ele vai falando, com a tranqtlilidade que o distanciamento
no tempo lhe confere, das coisas ensinadas pela vivência e das
coisas que uma reflexão serena amadureceu no seu íntimo. Vai nar
rando a mágoa irreprimivel que ficou depois que Goulart caiu sem
um tiro sequer: a subseqüente perplexidade traduzida na incapac;h
-
Ou seja, o eu do tempo narrado nao e mais o mesmo eu
do tempo vi v ido; a que eu era outro que nao o mesmo eu de ago-
ra~ O caminho a percorrer (e percorrido) a partir de então se-
min ( 2 ) ,aquela história c:on·tada por alguém que fez uma viagem e,
por isso, tem alguma coisa a contar~ Ou ainda o relato daquele
conhecimento do passado, 11
como se o fere re ao sedentãrio 11 (sobre-
(1) "Quem ouve uma história está na. companhia do narrador; mesmo
quem lê participa dessa companhia"* BENJ'AMIN, W* op. cit~,
pag. 68.
(2) AS viagens de Gabeira'1 7 in Folhetim, 06/09/1981.
11
54.
tor.
11
Minha revolta se curtiu no triângulo fami-
(p~ 57).
11
( ••• ) se escapo de mais essa, escrevo um
vro ~ contando como foi tudo. 'l'udo? Apenas o
que se viu nesses dez anos de 68 para cá, ou
melhor, a fa·tia que me tocou viver e recor-
11
Vocês foram para o sul pensando que estavam
eles sao descritos com mais calma e riqueza de detalhes. Dos ca-
pí tu los cu r tos e rápidos do começo,· de duas ou três páginas ape-
to é, 11
a unidade do texto está apenas no ac·tus "Qur~~ da própria
- - - 11 (l) -
recordaçao, e nao na pessoa do autor e muito menos na açao :a
crito no livro.
11
Se eu fosse um bom rnilitante,faria urna pre-
Mas não o faz. Ele quer, agora, lutar numa outra fren-
11
Tudo é política 1 tinham razão~ Mas as verda
deiras dimensões da política do corpo, nao
podiam. captá-lasu (p~ 53)~
11
Não, toda a realidade rão era essa~ .F' alo ape
11
Até que ponto não fomos cúmplices disto 1 nÓs
da esquerda? Até que ponto não fomos simetr_!
camente injustos para aqueles que não perteQ
cem ao mercado de trabalho, que não são tra-
balhadores reais ou em potencial-?'1 (p~ 179).
.Mas essa vanidade vai mais fundo$ Ela reside sobretudo numa pro-
3. Lembrança ou memôria?
que, anos mais tarde, revela não ser pai de ninguém, mas sim um
militante comunista que desempenha o papel a mando do partido,
para que saia uma greve de estudantes (p. 26). Ou entã.o, o epi-
nhosa da 11
loura dos as sal tos 11 que esquecia s.u as nos apartame~
136) •
çao qu(~§ pelo enfoque subjetivo, fazem com que o depoimento su-
61.
(1) BENJA.MIN 1 W. 11
0 Narrador'1 , cit~, p~ 61.
62.
dia mostrar.
11
JI.1eu corpo as vezes transigia {~ ~ . ) ~ 'I'odos
11
Daí as apreensões: eu tinha medo que de um
lado ficassem aqueles que entendem de pes-
soas e do OMtro aqueles que entendem de poli
t.ica partidária 1' (p .. 52}.
A dor vai fundo~ Vai até o limite da culpa por nao ter
se apresentava na época.
'
liNão é necessário estipular uma cota de ti-
f: uma dialética sutil que representa mais uma vez a face real do
hoJuem enquanto indivíduo 1 cuja ânsia de vida é posta à prova pe-
rante a morte.
A presença da morte~ Outro tema que percor::re desde o
início o sub-texto, para emergir claramente quando Gabeira fale:.
'os hornens 11
1
•
11
Força é força . . Os homens eram muito for-
tes" (p. 31).
11
Quem eram aqueles garotos que avançavam de
jeans 1 com as camisas por cima das calças,
com os olhos atentos às ruas laterais, de o~
11
Pessoal 1 é por aqui~ Ma ta raro um estudante 1'
(p. 57).
çoes.
Nesse sentido é que o tema da tortura e da morte 1 no
texto em questão, extrapole o nível da denúncia 6 da informação,
para se elevar ao plano da narrativa perenizada.
(1) BENJAMIN, W~ 11
0 narradoru, ci t~, p~ 64.
69.
A visão que
. ele ·transmite agora 1 enquanto narrador ,con
-
têm a inflorescência das inquietações que o acometiam, em g€;rme 1
11
Como é que wn intelectual pode se negar tão
(p. 143).
11
Sou apenas um guia que vai apontar para que
exorcismo do texto~
11
Aquele louco de macacão gritando coisas que
pertence a todos~ Sua confissão (pois seu relato é isso 1 rr~is que
74.
4~ ~arraqor e personagem.
11
.Este, portanto, é o livro de um homem cor-
11
Quando você.. é repórter e quer participar da
oposição, não pode usar juízos de valor nem
adjetivos como os grandes articulistas, que
têm um espaço à sua disposição. O que você
11
Mi:.ühor cortar o garçon vendo o processo de
68 de dentro de um bar,o con'ÔÍ1t1odo JB olhando
uma 11
nova subversão 11 que não repudiasse a anteriort mas que en-
globasse novos elementos 1 como a polftica do corpot a defesa das
minorias e dos marginalizados em relação ao mercado de trabalho~
da " "d a,
VlVl "d \:1 uma mane1.ra
" -l"d
so - " ,( 2 ) , transforman
- "1 e unlca
L a, ut1
(1) !!No f.im de contaS 1 a arte não é tão, tão importante; nao dá
soluções - como é sabido - mas faz perguntas; não dá explica
çôes, exige-as~ As grandes interrogações humanas imediatas -
não pedem respostas artísti.cas, mas uma fratura da história,
dolorosa e violenta, que não pode ser realizada pela litera-
tura". ADOUN, J~E., op~ cit.ff P~ 214~
(2) BENJAMIN, W~ "O narrador", cit~, p. 74~
(3) SARTRE,J.P., op. cit., pag. 58.
c. Veríssimo: a inesperada subversão~
1. o pretexto
11
mais de cem peças de teatro estão oficial-
mente proibidas em todo o território nacio
nal e cerca de 30 filmes se encontram désde
1968 sob a interdição da censura. Uma deze
na de artistas já foi punida com a suspen-
são de suas atividades no teatro, no rádio,
no cinema ou na televisão: 61 músicas não
podem ser executadas; posters e gravuras fo
ram retirados de bares e restaurantes do
R.io; inúmeros livros recolhidos aos depôs
11
(l} A crise da cultura brasileira 11 , Visão r 05/06/71.
{2) ver! BALIBAR 1 E~ e MACHEREY 1 P~ oP-:-Git., p. 44.
65.
Filho, além dos mais recentes Luís Villela, Nélida Pifíon 1 João
11
A·té fins de 1968, a concepçao dominante nos
somente.
As colocações de José Paulo Neto mostram-se um pouco
esquemáticas 1 pois essas duas tendências sempre estiveram pr~se_rr
11
0s eventos de dezembro de 1968 determinaram,
1 ~ 2. Um inciden·te i nu si ta do
menos do que 11
um dos mais importantes romances da literatura bra
sileira moderna" (Visão, 21/12/71) .
1
' Etn estreita ligação com a renovada riqueza
11
(~·~9 livro que apaixona pela dignidade com
mo, talvez por descrever uma situação mais global, como a da co-
munidade antarense e suas vicissi·tudes individuais e político-se
te clara;
volvem uma temática política que, embora não constitua uma inov~
o seu presente imediato, mas nem por isso podem ser considerados
cem.
11
A mediedade (não confundir com 'mediocrida--
de 1 ) dessa ficção nos deu figuras humanas re
presentativas, mas não rígidas 11 ~
11
Se (E. v.} tem atenuado sua concopçao no iní-
cio agressivamente burguesa da vida,está lO.Q
(2) r_1~Noto
que a maior.ia dos comentadores reage, não quer se entre
gar à leitura fácil, desconfia quando gosta,faz ginásticas -
incríveis para não se deixar pegar,cata motivos de restriç®1
desconversa 1 divaga.E mais de um crlti.co já disse que o meu
defeito pr.incipal é procu:rar escrever bem,ser claro e agradá
veL Você já viu besteira maior?Um croni.sta de são Paulo di.s=
se numa pEoquena nota que gosta ria de me ver mais desarrumado
e descuidado no estilo 11 * (Carta de !:rico Verlssimo a !4onteiro
Lobato,datadade 27/01/42; cópia gentilmente cedida pelaProfa.
Nartsa Lajolo.
93.
11
Ainda aqui 1 acho que essa. ·marcada. Superfic~
to de comunicação".
Bosi sobre o tema 1 quero citar um texto de Cortãzar (1) ,em que ele
L 3. História ou ficção?
ciências de todos.
A matéria narrada, aprofundando uma visão crítica que
já se fizera presente em livros anteriores, evidencia a. preocupa
96.
mais nesse mundo que criticam e sobre o qual, por."tanto~ não têm
resultado formal.
tradicionais.
98.
Dessa forma, O- 11
incidente 11 introduz na narrativa um
eixo de sismificação que rompe os limites da {H)história, em sua
real e a ficção, (ir) real, ( im} possi vel, ( im) provável~ Dois la-
dos da mesma moeda~ o direito e o avesso da História: grandes FE'E
(2) 'Aliás, depois que comecei a vender livros, a maioria dos crí-
1
11
0ra, no caso dos escritores latino-america-
nos, o lei to r na o desempenha aind-Et o papel
que lhe deveria caber, tendo em vista o es-
pantoso deserto cultural que reina em seu
país e no contexto do continente~ Em nossos
países, nesse teatro que ~ a literatura, a
sala fica metade vazia, e se de vez em qua~
se realiza.
(l)
gern .
1
{l) ' ( ~ .. ) só em teoria dá-se o confronto direto (O!Dtre urna forma
literária e uma estrutura social, já que I?Sta, por ser ao
mesmo tmnpo impalpável e real, não comparece em pessoa entre
as duas capas de um livro~ O fato de experiência, propriamen
te literário, é outro, e é a ele que a boa teoria deve che=
gar: está no acordo ou desacordo entre a forma e a matéria
que, esta sim, é marcada e formada pela sociedade real, de
cuja lógica passa a ser a representante, mais ou menos incô-
moda, no interior da literatura". SCliWARZ 1 R. !!Criando o ro-
mance brasileiro", Argurnent_of. n9'4-,fev.l974,p.34.
103.
11
(1) Do permanente e do inciden.tal 11 1 11 Suplemento Literário'; O Es
tado de são Paulo, 13/11/73, n? 815.
104.
pre igual de pessoas como q.quelas que pulalam nas pequenas cida-
des brasileiras~ são mesmo caricaturas_, em que pese o sentido p::_
jorativo 1 pois a situação narrada é caricatura~ reflexo deforma-
2. O texto:
Lour eiro
. Chav="'(l)
"'"'"" esc l arece:
11
Dm dia teremos todos os caminhos barrados.
tro, mostram seus medos, su~as poucas certezas e mui tas incer tez.a;;
leiro, fosse ela em são Paulo, Rio Grande 1 Ninas, Pernambuco. Po-
113.
nagem tem dele, isto é 1 o sentido particular que assume para ca-
da um esse espaço, descaracterizado na sua essência. Mais uma
vez 1 é o Prof~ Terra quem fornece essa visão, perguntando a cada
habitante o que pensa da sua cidade. A resposta de cada um vai
fornecendo dados que se encaixam como peças de um quebra-cabeças_,
formando pouco a pouco o retrato típico de uma cidadezinha medío
viduais~
11
Havia na última página do matutino uma no
11
figuração do. incidenteu real que mergulhou o pais numa situação
tros.
dos mortos.
De tal maneira, a narraçao não assume nunca um tom trá
gico, como seria de esperar pelo terna 1 mas sim de sátira morda;
ça.o.
fere para seus a tos e falas os comportamentos que lhe são peculi~
172) .
reacionária, moço ( .. ~)
11
Nâo pense que sou
178).
{p~
11
apesar de sua. risada de galpâo 1' 152} 1
11
parec.e um sacerdote
mem que_, como os líquidos l' ~toma a forma do vaso que os contém, is
to é, da pessoa com quem fala ou a quem serve 11 {p~ 156) ~ Recebeu,
na cidade, o apelido de Lucas Lesma, porque, como uma lesma, que
126.
bro de Antares. 'l'anto que ele não será acusado em praça pública
todo o !!julgamento''.
tica, é tanto mais terrível pelo fato de ser aplicada por um in-
divíduo a outro e que, por isso, está sujeita a injunções espec!
turo, simbolizada pela missão que ele 1 morto, delega a ela 1 vi-
va;
11
-Ãs vezes neste mundo é preciso mais cora-
(p. 289).
-----
(1) :E: evidente, no romance 1 o recurso aos nomes dos personagens
como elemento de efeito estético, numa associação Óbvia com o
universo significativo, que_acredito não ser necessário ex-
plorar.
129.
ta a bandeira da fé:
morte.
Dêssa forma é que os mortos na praça de Antares sao a
com extrema delicadeza pelo Prof* Terra, que lhe dedica dois ca-
pitules (LXXIV e LXXV), os quais são, na verdade, um pequeno con
to incrustrado no interior do romance~ Agitando atoleimadamente
'
as mãos, símbolo do seu fracasso, o pianista suicida perpassa to
da a trama dando a impressão, de não ser tocado por ela e de nem
11
ao menos participar do incidente 11 na praça~ Isolado dentro de
si :mesmo 1 ·tendo por companhia sua música e sua neurose, é um: in-
cujas cordas são manipuladas de fora, do alto, sem que eles pos.-
11
-Que é o povo? Um monstro com
muitas cabeças :mas sem miolos~ E
esse bicho tem memória cu r ta u.
(Vivaldino Brazão, p. 373).
dos como parte de uma ordem natural, dum ato divino irrevogáve.r',
11
Dentro de alguns minutos várias ~s~oas sa-
tos elementos, dos quais o povo 1 finalmentef ·bem uma parcela si2
11
A inassa humana agita-se num movimento de
11
E o olho sem pálpebra do sol castiga toda
aquela gente ali na praça - mais de mil al.-
sa no cheiro que ficou nos recantos escuros das casas, no que nro
'
apareceu na fotografia do velho Yaroslav~ ..
.inicie.
11
- Se somos mesmo cadáveres, como se explica
que estamos aqui falando, trocando opiniões
e idéias .•. com a memória funcionando~~.
11
(1) 0 policiamento da :;azao tem corno eixo a noção empírica de
mundo real, a opiniao corrente que temos das leis da causali
dade 1 do espaço e do tempo: os rios não invertem seus curso~
os desejos não se realizam à simples formulaçãoc os mortos
.não retornam para atormentar os vivos, as pai:-edes não se dei
xam atraw.:ossar, não se pode estar em dois lu9"ares ao mesmo
tempo 1 etc. Além dessas leis na t:.urais, a noção de mundo real
inclui o bom senso, a convenção social,de mOdo que, ao lado
do que é válido cientificamen±e para todas as épocas e imutã
vel em sentido trans-histórico e transcultural, há o 1'natu=
ra1 11 histórico, o qual é mutável e enquadrado em certo tempo
e espaç0 ~ CHIAMPI, I~, O :realismo maravilhoso, S.I?aulo,Pe::cs
11
2 48) •
11
Duma outra casa próxima parte um grito lan
alegórico~
11
Ao recobrar a voz, o padre acercou-se do rni
crofone, ergueu os braços e bradou: Sete
mortos acabam de ressuscitar e sair de seus
caixões. I!: o Juizo Final! Deus Todo Poderoso
vai começar o julgamento dos vivos e dos mor
tos (..~}H (Pe~ GerônCio, p. 253).
par~.
11
No entanto, lá estávamos estarrecidos§
lisados como se na realidade o Juízo Final
tivesse chegado (. ~.) 11
(Lucas Faia, p. 329) ~
polargo declara:
to, exclama:
11
- Hipócritas! ,Simuladores! Impostores! Eis
dessa h.i.pocrisi_a que faz com que as pessoas assumam uma aparên
ciais~
11
( ••• ) k;rico Veríssimo aplicou à ficção a
.forma dessa história oficial, num procedime!l
to de inversão carnavalesca que lhe permi-
tiu revelar o avesso dessa históriat trazen-
do os :mortos ã praça pÚblica e fazendo-os ~
11
facta, tudo sob o 0lho ardente de um sol implacável" que confe-
re às coisas uma aura de 1niragem, enquanto o tempo, marcado no
soL
11
-Ora, que os vivos cuidem dos vivos. E en-
(1) 11
morte é a sanção de tudo o que o narrador pode relatar 11
A ~
BENJ'AMIN, . W~ "O narrador", cit~, pag~ 64.
149.
tas cabeças:
11
Sete anos apos aquela t:errlvel sexta-feira
13 de dezembro de 1963, pode-se afirmar,sem
risco de exagero 1 que Antares esqueceu seu
macabro incidente~ ou então sabe :~ingir mui
3. A narraçao:
o 1:1al e o Bem, que daria ao texto a sua função socia.l e/ou mo-
ral~ Colocando leitor e personagens em oontacto com os mortos,V~
ma:
jornal A Verdade~
des do falso: não, tendo sido ele a descrever tais elementos, re§_
ta sempre a possibilidade de se contestarem os eventos da praça,
desde que ele, autor, não conhece "pessoalmente 11
os que dela pa::
ticiparam. O jornal íntimo do professor, que seria o documento a
156.
11
Curioso: o romancista semi-anestesiado que
11
Sinto grande afeição e admiração pela figu-
ra histórica da Cristo ( .•. ) (. 312) .
11
Considero-me dentro do campo do ~umanismo
11
Sou um agnóstico~ Detesto essa palavra que
a rigor não exprime nada { ~ .. } 11 (p. 183) ~
11
0 Cristo hOIDI!IH é uma das minhas figuras fa-
11
Nossos políticos profissionais, gente pela
qual não tenho a menor simpatia, costumam a-
pelar periôdicamente ao Exército, a fim de
11
{1) Desde os romances iniciais até o. "diário 1' de Martim Francis
co Terra (.~~) a figura do escritor é incluída na própria
história narrada, propondo o tema do 1 1ivro dentro do livro\
CI~VES1 F~L~, op4 cit~, pag. 145.
159.
tema~
(1) '1 Não, temos dentro de nós dois eus mas uma legião deles~
# E
ninguém como o escritor de .ficção, - talvez apenas o ator - e
xerce .com mais freqilência essa faculdade de multiplicar-se":
VER!SSIMO, E~, Solo- d~ clarineta, cit~ pag~ 318. F
160.
ríssirno nem sequer sabe disso. Não é ele quem narra o encontro,
nem a fuga_, mas sim o padre. Mais uma vez o autor :se esconde,ma~
11
Tomando a, operação-borracha 11 como símbolo da censura
nelas e faz o possível, com seu texto, para que não desapareçam
tot.almen·te ~ AÍ reside seu compromisso com a História de seu tem
po.
'
11
EU tinha a sensação do Brasil despedaçado".
(I.L. Brandão, Foll1etim, 15/07/79)
164.
1. O uboom" de 75
(que§ como vimos, tiveram vida curta): ,!;.ê_2rita, ~' por exe.:!!}
de imprensa~
11
Como que cansados do confronto direto, des-
fazer '~
1
11
Quanto ao já citado boom 11 da literatura, em 75, ele a
parece como extremamente contraditório 1 pois, na medida em que
cresceu o mercado editoria1 1 decresceu o público leitor real(não
o virtual, criado a partir do maior número de escolarizados nos
di versos níveis~ Corno exemplo: só em 72, o Conselho Federal de
2. O caleidoscópio
11
Para Zero,. comecei formando um arquivo de documentos,
de noticias, de publicidades de jornais e revistas, fotos de
put-doorsM Recolhi fotografias, gravei depoimentos~ Saía à rua,
anotando descrições, cantos de são Paulo, detalhes curiosos. Co-
'
piei tras de música. Percorri privadas 1 tirando inscrições,fil
rnei (com uma Super 8) ruas e praças e gente. Então dividi os peE_
{1} uzero é começo, zero é fim: zero é o circulo fechado que en-
cerra, prende, sufoca; estamos rodeados por ele"~ BRANDÃO,I~
L., artigo citado~
(2) "Zero, per ovvie ragioni, non poteva vedere la luce in :srasi
f percio l 1 autore ha cercato spazio in Europa~ Questa e
dunque la prima edizione mondiale, in una lingua che non e
la sua, di un *romanzot~ che ci pare una nuova st:rada di ques
ta inesauribile narrativa latinoameiicana .. La critica dirã -
se abbl.amo avuto raggione a far evadere dal Brasile questa
~ocaliss~ popcreta ( ~ . ~) '' TABUCCHI, A* Il Ponte, XXX, 5, Ma_s-
gío 74.
174.
11
vas,na sua maioria pautadas pelas leis do mercado (os best-
sellers'1 ) com as quais as obras com um pouco mais de profundida-
de crítica (em número menor), disputavam espaço.
:t.: o boom de 75, englobando novos escritores, conzoli-
dando o conto como o gênero de repercussão maior, assistindo ao
aparecirnento do "romance-report.:agem" 1 que prioriza a objetivida-
te no 11
comportado '1 Inc ide.n te em Antares, devido à presença do
um estilo 11
bru talista 11 , 11
modo de escrever recente, que se for-
rnou nos anos 60 1 tempo em que o Erasi.l passou a viver uma nova
explosão do capitalismo selvage.m, tempo de rnassas, tempo de reno
de expressão~~ (1} •
3. O caos, a desordem.
xorâvel.
A relação espaço/personagem_.. dessa forma, fica evide.n-
te e é colocada desde o in!cio: dividida em duas colunas, a pri
meira pã.gina apresenta dados técnico-científicos sobre o 11
cosmo
ou universo", ao lado de uma descrição de José e de suas comezi-
nhas atividades de matador de ratos~ Posto no final de uma rela-
ção de números monumentais, com os quais se fornecem as medidas
da 'rerra, José apenas 11
pesa 70 quilos ou quilogramas 11 (p. 12) (l).
José, na imensidão, a insignificância~
11
José mata ratos num cinema poeira. t um ho-
mem comum, 28 anos, que come, dorrae, mija 1 a~
tam marmitas num fogão c-oletivo 1 naqueles que vão ao cinema nao
para ver o filme, mas para dormir { ugente que vinha dos cortiços,
-
Outros elementos vao. acentuando mais e mais a configu-
11
raçao dessa realidade tipicamente americo-la tíndia 11 : a presença
massiva de frases em inglês, sobretudo titules e letras de músi-
cas r indicando o imperialismo econôffiico e cultural: o consumismo
exacerbado como sequela desse imperialismo, o aparecimento inte~
3~1~ O bombardeio
11
0 Senhor precisa de uma cârne.ra fo
tográf::ica palt:'i regist.ra:ros momentos-
felizes qt:e está passa.ndo'1 (p~l50).
nação,não chegam a perceber que tanto uma como outra são frutos
adquJ"re maior força quando José passa a trabalhar sob sua égide,
escx:evendo dÍsticos nas tampinhas~
11
Luzes acesas 1 o triler, a a blalidade franc~
(p.44).
11
As comunicações oficiats vinham pela televi
teiro e engolir aquela lua seca 1 árida, de gesso" {id~). Mas 1 te_!
minada a transmissão, a reaLidade terrestre se impÕe de novo.
lutamente não contribui e de que nern tenta fugir pois dela nao
11
Rosa passou a mão pelo portão- ( ~ .. } girou a
3.2. o lixo.
11
Como havLa a Boca do Lixo e a
Boca do Luxo, o povo apelidara o
bairro de Boqueirão 11 (p~ 86).
11
Aquela tarde tinha visto a verdade: aleij~
11
são os 11
monstros da natureza", 11
raridades da vida u: 0
homem que só tem tronco e passa o dia numa bandeja em cima de uma
- -
coluna - homem com orgaos de mulher e homem junto, todos funcio-
nando - mulher sem bunda - criança sem rosto só com dois buraqui
"? E o senhor~
Assim~
? Qual e a graça.-
Sou um homem normal.
189.
José~
Ela age sem ser detida pela polícia que, completando o insólit.o
da situação~ delega o problema aos dentistas~ Boca escancarada
(boqueirão) r dentes agudos, representa também a miséria que cor
rói por dentro as estruturas apodrecidas do pais~
:metafórico que é Zero. Uma é Carlos Lopes que, com o filho mor_!
bundo nos braços, procura um médico, deambulando pelo labirinto
burocrático do atendimento de saúde numa clara alusão
kafkiana até que, o filho morto, é acusado de assassinato e tran
cafiado numa cela~ A outra é o operário Pedro. Pedro-povo, Pe-
190.
11
Ele tem falta de prote.ínas, vitaminas, sais
minerais e remédios contra infecção. Preci-
sa ao menos de 1.300 a 2~000 calorias por
dia. Sem isso toda a pessoa torna-se indife-
(p. 61).
3.3. Os sinais~
11
Hâ sinais, por toda parte e nin
guém percebe~ Em tudo. Abra a
vista com largueza, para o pre-
sente* E você tem o futuro prega
do, grudado. Não olhe baixo~ co=
mo todo ruundo 11 (p~ 29).
sonhos divinatõrios~
be-se uma iniciação sexual (p. 222}; a Matança dos Inocentes 1 ex_~
vagueiam os personagens.
O Homem, promovendo o auto-conhecimento de José, apon-
ta-lhe inúmeras portas de saída. Mas estas, ainbivalemtemente, tam
bém são portas de entrada~ Saída e entrada para onde? Não há res
postas.
11
correndo, José tem os olhos amarelos e o
gosto de sal na boca~ Correndo ele percebe
sé convive com ele duran·te todo o tempo, de uma forma tão extre-
mada, que chega a se sentir duplo 1 porque quer sair, mas nao o
ro.
11
(.~.) o homem só vai ser grande no dia em
que conquistar as estrelas~O que Ãtila achou
11
Queria subir, entrar na órbita da lua e não
sair mais. A terra estava impossível, a vida
revolucionário~
196.
que passa a matar pessoas sem nem sequ.er saber porque ,apenas obe
11
? o que adianta, perguntc>u Gê. Não adianta
em nada~
gado, vai parar nur~ cela asséptica, em meio aos E~tados Unidos,
cela que se ppresenta também como um labirinto de corredores dan
do para corredores~ salas dentro de saletas e mais celas dentro
de celas:
"( ... ) diante dele o espaço: a América termi-
3.4. O Poder.
11
Dizem que hâ um novo regi :me !'lx:n!,.
duro, cruel~ Se não for cruel,
não fizer sofrer, não arrebentar
com o que o homem tenha de bom
por·dentro, não é um regime que
se deva levar em consideração 11 ~
(p. 60).
Nas suas andanças pela cidade, José vai parar num ve-
lho casarão abandonado, onde encontra a mística figura do Astrô-
alienígena.
11
Vamos nos lançar numa grande campanha, num
movimento mónstro, para que a moda seja mais
11
Âs 23 horas, como faz todos os dias, o Pre-
sidente apareceu na televisão, cortando a
que, mais tarde, vai explodir corno terna :marcante nas narrativas-
depoimento que surgiram no fim da década, ê uma das pedras-de-tQ
que de Z~ro~ Isso explica, entre outras coisas, o porquê de ele
(1) 11
Sistematizada a partir da criação da "Operação Bandeirantes",
a prática da tortura 3 como formá de arrancar informações e
cçnf.issões, ou simplesmente humilhar prisioneiros políticos,
ja era um mal em processo de :franco desenvolvimento em julho
de 1969 ~ De forma in·t.ermitente 1 entretanto, ela nunca deixou
de ser usada, desde a sua introdução no arsenal à disposição
da poLítica brasileira durante o Estado Novo"i in: FONrA. C~,
~'ortura, a História da Re:2ress_~o Politi~no Brasil! Global
Ed~:r SP, 1919, P~ 32.
(2) Hâ menções inequívocas a torturadores conhecidos e a casos
comprovados de tortura: uAquele era o delegado que chefiava o
Esquadrão da Operação Antiterror~ Um homem. imenFo, de ombros
largos e olhos azuis de criança" {p. 202), (Fleury?). "Eu ad-
mirava o cara. Fosse eu 1 tava morto, enlouquecido 1 suicidado
como aquele padre (.~.l Esse interrogador foi o que provocou
o suicídio do padre {~ .. } Esse .interrogador. Aquele que abafa
ram" (p~ 255) (Frei Tito?)~
204.
limpa.r~
11
a tortura aos subversivos 11 pretende e salvar o re
e
il p ço
da
s. (p. 273)
206.
4, Os títeres.
11
Meu afeiçoado. Precisa-se, usar
por completo, sua cabeça.~ urna
cabeça boa, pronta a receber,mui
to. Você não faz nada, afeiçoab:
Nada por você nada pelos oui::ros 11
(p. 28).
11
Mas a deseroização completa ocorreria em Ze
ro, de Ignácio de Loyola Brandão 1 que leva
-----
(l) NUNES r B., 11 Reflexões sobre o Moderno Romance Brasileiro' 1 1
in: O Livro do Seminário, São Paulo, L. R. Editores, 1983,
p.
207.
ro.
Perdidos nesse labirinto, resta-lhes apenas a .inação e
angulo
- ( ~ * ~ ) H (p. 23).
11
Quando estendeu a mao 1 José percebeu o ama-
fortes(~
11
havia a menina morena de braços .. )
(p. 68).
vas*
dra torna-se acessível, comum, pedra pretar não mais mágica. Des
faz-se a premonição.
(l) O signo rosa pode ser asslm decifrado, devido à sua vincula-
ção espec:tfica à temática do romance e pela associação com
_E~sa-de.-jericó, espécime que 11 depois de florecer, as folhas
caem e os ramos, tornados lenhosos 8 enrolam-se em novelo~ o
vento desenterra a p~anta e fá-la rola--, a longas distânc.ias,
pelo deserto: vinda a chuva, abrem-se os ramos e soltam-se
os frutos. t, pois, espécie que seca, parecendo morta e que
revive mais tardeu ~ Aurélio Buarque de Holanda, Novo Dicíonã
rio da L~ngua_fortuguesa~
210.
c.lzar.
11
Havia na olu-lilá muita fumaça, barulho,gen
(p. 250).
-
Uma Enviada so na o basta mais; seriam necessários muitos
11
0 coração da 1nenina nas mãos da velha, que
gen:Lia baixinho. Perto de um ·trator amarelo,
a velha parou~ Um dos auxiliares abriu a tam
-· d eserol."z a d 0
rol 1 apenas J ose~
- Como di sse Bene clit
·o Nunes ll) , J ose
-
levar sem sequer saber disso, José, de alguma forma, sente in-
11
0 mundo inteiro pensa igual, aceitou 1 tem
d~.
11
tando se livrar do. a.rame farpado" que tem na garganta. Hesmo
'
1
Nâo há pinto qtJ.e aguente quando estas coi-
sas estão acontecendo a nossa volta~ tocar.do,
213.
mo, de ter medo dos outros 11 ; P~ 180), mas que entende muito bem:
11
(?O que anda querendo esse ai.) Se bem que
dentro dele, José soubesse~ O atirador soli-
tário não tinha a minima chance, mas conse-
guira um grande final. Apoteose {p. 185)~
o seu corpo e para o outro corpo que tem em si. Mas é aí que se
'
1
Correu pelos corredores brancos. Corredores
be-lambe entregara a Rosa por engano (p. 73); quando seu rosto
anda espalhado em cartazes pela cidade,nem a própria polícia o
reconhece \p. 201). Seu passado de pequena l"JU.rguesia não lhe ser
ve de anteparo ou de consolo (identifica-se com Scott Fitzgerald);
cerado 1 porque está sempre tentando escapar dos fios que o enre-
216.
t.e absurda e sem sentido 4 sem nunca terem entendido porque vive-
ram.
~ '1d e .l""!e
.t:rl 11 o Re a 1'1 a f':trma (l) , a respe.1' t o d e J os e- ,que
11
uma vez que se trata de um herói passivo, a sua definição póde
existência lite-rária".
-
- e um herói passivo, no sen
Ora 1 parece-me que José nao
por uma antena de TV (p. 283)& E uma imagem banal que, no entan-
to, encerra um simbolismo lógico no eixo semântico da narrativa~
nha lidou:
~
11
( •• ) descobrir um mOdo de lutar e organi-
11
Ele era consti tuido de corredo-
res dando para outros corredores,
um dentro do outro, um quarto
dentro do corredor claro, límpi-
do, iluminadoAA Labirintos em zi-
gue-zague, salas, salinhas, sa-
lÕes" (p. 29.)".
11
Era isso o que eu queriar mas nao naquela
confusão complexa, incompreensível. Eu que-
ria uma confusão organizada, proposital{ .. J
11
10 da noite~ José debaixo do Elevado~ Entra
por uma alameda, passa na antiga estação de
irritantes~ atordoantes:
autores~
11
Por exemplo, Glâuber Rocha, com sua estêtica da fome e
da violência 11 e Fellini, na sua sintaxe pecuLiar das passagens
11
{ ••• ) a técnica do fragmentário é conseqtiê-
cia coerente dos temas escolhidos e da mane.i
ra de abordá-los (~.~) O experimento ficcio-
nal é nele uma necessidade que nasce da p.rg
de aparente neutralidade.
Alguns exemplos do primeiro tipo:
11
José não toma atitude~ porque nao quer. O
mal dele é não se definir, é de deixar atra-
vessar, é não gri·tar ~ Tenho r ai v a de
(p. 83).
Do segundo tipo:
11
Que coincidência. Parece coisa de ficção,de
11
Frase de legenda de filme, mal traduzida.
Ninguém diz: Que garota! n (p. 95).
~ ~)
11
vros existem aqui (* (p. 53).
11
E aqui me despeço, esperando ter sua atenção
nas próximas páginas. Espero tê-lo agradado~
1
~.Era fácil ver mortes e revoluções nos cine-
rária) de libertação.
Partindo do duplo zero, o da página em branco e o da
realidade destruída, Loyola, através da forma ficcional_, questi;?
na a forma do real, tentando resgatar o homem da "pré-história"
em direção a um futuro incerto e, na ruptura com a forma tradí-
1~ Gavetas vazias?.~.
lhos?
eles não são simples testemunhas realJ.stas pois, através da. lin-
guagem mediadora que se introduz qual instrumento pontiagudo no
coração da realidade, acusam e condenam~ Literatura como função,
11
(1) A tradição dosoprim.idos nos ensina qu.e o festado de excegi:l'-
em que vevemos é na verdade a regra geral. Precisamos cons-
truir um conceito de história que corresponda a essa verdade 11 ~
BENJ'AMIN, W~ "Sobre o conceito de história 11
,cit~ 1 pag~ 226~
231.
parte, inclusive no drama~ Que urna reflexão sobre esse fato leva
dão, o homem que não pode mais falar exemplarmente sobre suas
---·---
(1) BENJ1\MIN, W~ 1 A crtse do romance" 1 in Obras escolhidc:-.§Jcit.,
pag. 54.
233.
próprio seio~
l .'
l terar.:ta
''(2) .
Dessa forma, Gabeira, Loyola e Veríssimo estão alinha-
mo texto cuja nmissão não é relatar, mas combater, não ser espes:._
tador, ruas participante ativo", na medida e:m que sua tendência
literária consiste num avanço da técnica literária. Nessa linha$
'f ais transformações devem ser repensadas em tunção dos f a tlJs téc
r1as de hoje; 11
estamos no centro de um grande processo de fusão
de formas literárias, no qual muitas oposições habituais poderiam
perder sua força 11 ( 2 } *
(l) 11
Acredito 'que a emergência da pós-modernidade es estreita-
mente relacionada ã emergência desta nova fase do capitalis-
mo avançado, multinacional e de consumo~ Acredito também que
seus traços formais expressam de muitas mane.iras a lóo:.ica
mais profunda do próprio sistema social 11 • J"AMESON,l?~, ""artigo
c i t.
238.
nas uma chave que abre portas para o que veio antes e o que virã
depois.
são narradores que, nessas obras estudadas, reconhecem
a impotência das convenções usuais da narrativa ante o poder in
comensurável do mundo reificado e :.recriam uma outra linguagent ej
junto ao público~
mem comum que viveu o pedaço da História que 1he coube e que bus
espécie de 11
terceira via<~ 1 o mergulho no coletivo, que pode recu
sente e turo.
tra ordem;:r.xc.~ 2
pedem uma outra ordem de interpret:ação ( ) ~
A narrativa de cunho polltico da década passada estabe
lece, então, uma relação entre a realidade e o discurso narrati-
vo, no qual a experiência histórica se inco1:pora como elemento
diretamente forruador 1 que permite definir o que é especifico do
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J.JivroS
ArtiGOS
., " ·~ , Fo l~:
( s. a. ) . " Loyo.l a, para cad a 1..l vro u:m conu.c.LO l .
t~, 15-7-79~
{<L a.) . 11
Pegando o lei to r à unha 11
f Folhetim, 13-1-80.
2Sl.
34 Fernando Gabe
Livro
23/12/79.
24/2/80.
26/4/SL
10/5/BL
25-l.l-79.
(s.a.). 11
0 polÍtico do prazer~'t Vt:ii::~ 21-11·-79.
refresco'~,
11
(s.a.). Sem sorribra para o 'l'ribrma da a, 3-llr79.
11
(s.a.). 0 encont:ro cmn um personagem: Gabeira", Ç'olhc:t::im, 6-9-81.
(s.a~).
11
0 melhor Gabeira, entre espantos e transformações", Jor
11
O Estado de s. Paulo- Suplemento Literãrion, 1971, J972, 1973,
1974' 1975.