Impugnação de Prova Documental No Processo Eletrônico
Impugnação de Prova Documental No Processo Eletrônico
Impugnação de Prova Documental No Processo Eletrônico
BR
UNIVERSIDADE SALVADOR
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS
PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Salvador
2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
Salvador
2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD:
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
TERMO DE APROVAÇÃO
Nome: _____________________________________________________________________
Nome: _____________________________________________________________________
Nome: _____________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
O medo de ser injusta com pessoas que tanto amo, e que tanto ajudaram, de vários modos, a
realização desta pesquisa, faz com que meus agradecimentos sejam extensos. E neste gesto
misto de reconhecimento, carinho, amor e devoção, começo dando graças a Deus e a minha
protetora, Santa Bárbara, pela saúde, física e mental, para conseguir concluir essa jornada.
A minha mãe, Maria Luiza, um agradecimento especial, por ser a melhor e mais
compreensiva mãe do mundo, cujo amor incondicional tanto me ampara e socorre, e a quem
credito minha escolha pelo Direito, pois sei que ser magistrada era seu sonho quando a
gravidez, justo de mim, mudou seus planos. Saiba que não conheço pessoa com maior senso
de justiça que a senhora. Muito obrigada por me incentivar a continuar, em todas as vezes que
pensei em desistir.
Ao meu marido, Luís Augusto, maior incentivador desta conquista, sou grata pelos tão felizes
anos juntos. Só um amor recheado de tanta cumplicidade, respeito, e amizade poderia
compreender e comemorar uma vitória dessas. Guto, nunca esqueça o quanto amo você.
A minha grande família, pilar do meu existir, em especial às minhas irmãs, Maria das Graças,
Débora, e Priscila: por serem exemplos de superação e felicidade. E às minhas sobrinhas,
Caroline e Lize: pela certeza de que nossa segunda geração também é vencedora.
Agradeço, ainda, a Lucas Pinto e Luciana Amorim Trindade, grandes amigos e compadres.
Ao primeiro, pela ajuda na pesquisa deste trabalho, com o envio de tantos e-mails, notícias e
entrevistas atinentes ao assunto. E à segunda, pela companhia, estímulo e incentivo ao longo
do curso juntas, especialmente quando Luís Fernando, recém nascido, tanto exigia de mim.
Aos meus mais que amigos, sócios; mais que sócios, companheiros, Ian Quadros e
Mariângela Espinheira, agradeço a colaboração e o apoio para que o tempo consumido pela
nossa advocacia não impedisse a finalização desta monografia.
Aos meus sogros, Alair e Rosa, agradeço pelas tantas noites de quintas feiras dedicadas a
cuidar de Nando na minha ausência, vocês também fazem parte desta caminhada vitoriosa.
Por derradeiro, mas de forma especial, agradeço aos professores Ricardo Malfati, Antonio
Adonias e Rodrigo Klippel, pela dedicação à turma, pelas aulas, debates, lições jurídicas e
discussões entusiasmadas, que deram verdadeiro sentido ao curso de pós graduação; e por me
fazerem lembrar de uma paixão antiga, adormecida há anos em mim: o Direito.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
Victor Hugo
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
RESUMO
ABSTRACT
The Eletronic Procedure Law, introduced in Brazilian legal system by the Law 11.419,
December, 19 of 2006, brought a new procedural scenarium to the Law users, which
abolished the use of paper, making the lawsuit no longer has physical acts, these replaced by
a composition of digital files, entered and stored in a computer system, administered by the
Judiciary courts. Faced this new dynamic, understandable and expected the emergence of
doubts inherent of technological innovations imposed by the procedural routine forthcome.
Thus, this research aims, showing the effects of the digital age on the law, to analyze the new
reality entered by the law cited, and considering the importance of evidence as a fundamental
institution of the procedure - because above it that way to convince the magistrate about the
factual reasons for the claim brought by the part of lawsuit - to understand the mechanisms to
refute the documentary evidence in the electronic procedure.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
MP – Medida Provisória
CF – Constituição Federal
CC – Código Civil
Chip – circuito integrado com suporte em pastilha de silício ou outro material, semicondutor,
no qual são gravados ou inseridos componentes eletrónicos que, em conjunto, desempenham
uma ou mais funções.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 PROCESSO ELETRÔNICO 23
6 CONCLUSÃO 101
REFERÊNCIAS 103
13
1 INTRODUÇÃO
Se o Direito como ciência social evolui conforme o próprio caminhar humano, inegável e
inexoravelmente será impactado por essa contínua, crescente e irreversível evolução
tecnológica que dita o ritmo do crescimento social moderno.
Não se tem dúvidas de que a era digital ou era da informação já influencia e modifica as
relações sociais e jurídicas, de um modo geral, na medida em que criou necessidades antes
inexistentes fazendo surgir a busca pela adaptação do Direito à dinâmica dessas relações,
exigindo, ainda, avanços rápidos dos legisladores e operadores para acompanhar tais
mudanças.
Sabe-se que, nesse sentir, tanto o Direito material quanto o processual clamam por maior
dedicação do legislador para a sua atualização com vistas a esta nova realidade social, desde
definições dos negócios jurídicos realizados virtualmente à proteção intelectual de marcas e
patentes de softwares; passando por regulação do setor de Internet, tipificação dos delitos
cibernéticos, chegando às regras processuais e procedimentais necessárias a essa nova
realidade.
A prática dos operadores do direito está diante de inúmeras mudanças, especialmente por
conta da implementação do processo eletrônico, disciplinado na Lei 11.419/06, que tornou
possível a criação dos inúmeros sistemas de procedimento digital, em que os atos processuais
antes praticados em meio físico foram transpostos para a internet.
Parece que o legislador pátrio, talvez pelo efeitos da Era Digital sobre o direito, promoveu a
Emenda Constitucional 45 de 2004, que inseriu o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Carta
Magna, garantido “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”
14
Não se olvida que tal advento legal é um marco legislativo processual sem precedentes,
conquanto faça desaparecer os autos na sua forma física, em volumes, em papel, o que,
tradicionalmente, sempre foram os instrumentos dos advogados, juízes, membros do
Ministério Público e serventuários.
Partindo da premissa evolutiva, cumpre conhecer o processo eletrônico, essa nova realidade
imposta aos operadores do Direito, e as nuances que o cerca, a fim de que, de posse da melhor
compreensão e entendimento de seus mecanismos, domine-se esse novo campo processual
que surge.
Como tudo o que é novo, resistências não vão faltar, muito menos discussões acaloradas, na
doutrina e na jurisprudência. E por ser um tema com tímida produção doutrinária – em função
da tenra idade do dispositivo legal que cria o processo eletrônico e do próprio período de
implantação nas mais diversas jurisdições – carece de estudos aprofundados sobre suas
nuances, aplicabilidade e (in)compatibilidade de aplicação com os demais regramentos
pátrios.
É natural, compreensível até, que o processo eletrônico, assim como o Direito Digital, desafie
conhecimentos multidisciplinares, especialmente no que diz respeito a sua inerente vinculação
com a ciência da computação. Possível e provavelmente, em pouco tempo, a informática
jurídica será matéria obrigatória em todos os cursos superiores de Direito.
Utilizando uma comparação temporal, vê- se hoje que o processo eletrônico está para o
processo físico, assim como o computador está para a máquina de datilografia. E não saber
manejar os recursos que esse novo procedimento processual equivale a permanecer
datilografando, quando se possui um computador à mão.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
15
Vencida a resistência cultural, não há porque não se debruçar sobre o processo eletrônico e
enfrentar as questões relevantes que o mesmo expõe e que carecem de aprofundamento e
estudo próprio.
Apenas no primeiro semestre de 2010, o STJ ganhou 30% (trinta por cento) de área útil com a
eliminação de processos em papel e armários, e o volume de processos que lá tramitam foi
reduzido pela metade, isto é, de 460 mil, em setembro de 2008, para cerca de 230 mil, no ano
passado. A empolgação com o uso do processo eletrônico não se limita a celeridade com que
os efeitos tramitam, mas também com a economia que o mesmo representa para os usuários.
1
Obtido por meio eletrônico. Disponível em: <www.tjba.jus.br>. Acesso em: 20 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
16
Enquanto o processo físico leva aproximadamente cem dias para ser distribuído, o
processo eletrônico chega ao gabinete do relator em apenas seis dias. A celeridade
ocorre porque são eliminadas as chamadas fases mortas do processo, como transporte,
armazenamento, carimbos e outros. “A remessa física dos processos tradicionais e,
em muitos casos, a sua localização implicava em perda de tempo que hoje pode ser
aproveitada em sua análise, permitindo melhor controle e, também, melhor qualidade
técnica das próprias decisões”, afirma o ministro Castro Meira.
A facilidade na consulta das peças também ajuda. O ministro Sanseverino observou
que nas sessões de julgamento, durante a sustentação oral, quando o advogado aponta
algo que deixa o relator em dúvida, em muitos casos não é mais necessário
interromper o julgamento com pedido de vista regimental. “É possível ir direto ao
ponto no processo. Tiro as dúvidas imediatamente e profiro o voto”, afirma o
ministro.
O processo eletrônico também proporcionou importantes benefícios para
administração do STJ. Houve expressiva redução de atestados médicos de servidores,
principalmente em decorrência alergias, problemas respiratórios e dores da coluna
provocadas pelo manuseio e transporte de pilhas de processos em papel. Diminuiu a
fabricação de armários e conserto de portas que eram danificadas pelos carrinhos que
transportavam processos. Centenas de estantes foram doadas a instituições de
caridade.
Apesar das vantagens, a ministra Nancy Andrighi tem outra percepção do processo
eletrônico. “É o fim do papel, mas não da cruel espera”, alerta. Para ela, a visão diária
dos autos físicos, com suas tarjas coloridas, chama constantemente a atenção do
magistrado para o dever de ir além do possível para sanar as angústias contidas em
cada processo.
Nancy Andrighi teme que a presença quase imperceptível dos processos virtuais no
gabinete prolongue as dores neles contidas. “A reflexão que convido todos a fazer
está longe do sentimento de aversão às novidades tecnológicas que infelizmente ainda
domina o Judiciário brasileiro. Ao contrário, o que se pretende é ativar intensa
vigilância para que não se retroceda na imprescindível jornada de humanização do
Judiciário”, explica a ministra.
Advocacia
O processo eletrônico afetou profundamente a forma de atuação dos advogados no
STJ. Como ocorre em toda mudança, houve muitas dúvidas, desconfianças e
resistência. Foi necessário um período razoável de adaptação. Primeiro os advogados
foram convencidos da segurança do sistema. Depois veio a necessidade de adquirir a
certificação digital – uma assinatura eletrônica necessária para ter acesso aos autos
virtuais e ajuizar petições eletrônicas.
Ultrapassado o impacto inicial, hoje os advogados celebram as vantagens da
inovação. “Com o passar do tempo, a utilização do processo eletrônico se revela
como um instrumento extremamente eficaz e eficiente, pois amplia a possibilidade de
trabalho na medida em que os prazos se ampliam. Os prazos que no processo físico
iam até as 19 horas hoje vão até meia-noite”, afirma o advogado Nabor Bulhões.
Guilherme Amorim Campos da Silva conta que o processo eletrônico melhorou sua
relação com os clientes. “Muitas vezes o cliente não entende a demora do processo e
chega a achar que o advogado não está trabalhando com empenho. Agora podemos
mostrar a ele tudo o que acontece com o caso, inclusive as petições da parte
contrária.”
O advogado Fernando Neves lamenta a perda do contato físico com os autos ao qual
estava tão acostumado ao longo de seus 35 anos de profissão. “Mas esse hábito já está
superado, pois as facilidades da nova ferramenta são enormes”, diz. Entre essas
facilidades, ele destaca o transporte, arquivamento, acesso remoto aos autos e a
agilidade na tramitação.
Se para um profissional que atua em Brasília, sede do STJ, o acesso eletrônico aos
autos é uma comodidade, para os de outros estados é uma enorme economia de tempo
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
17
18
autos físicos. Isso nos dá uma grande sobrecarga de trabalho porque temos que
transformar o meio físico em meio virtual e isso é feito pelos servidores e estagiários
do STJ com grande gasto de tempo e de dinheiro”, afirma Pargendler.
A integração também envolveu a Advocacia Geral da União e a Procuradoria Geral
da Fazenda Nacional (PGNF), que atuam em milhares de processos no STJ.
Justamente por conta do grande número de ações, Cláudio Seefelder, coordenador-
geral da Representação Judicial da PGNF, defende um tratamento diferenciado para
os entes públicos que agilize o acesso aos autos e o peticionamento eletrônico.
“Infelizmente existem picos de consulta em que o sistema fica muito lento e, às vezes,
inoperante”, reclama.
A Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) do STJ informa que a lentidão no
sistema é causada, em grande parte, pelo uso inadequado do processo eletrônico.
Muitos advogados fazem as peças no computador, imprimem o documento para
assinar e digitalizam para então enviá-lo ao STJ. “Com isso, um arquivo que
originalmente tinha em média 2 Kbytes, depois de digitalizado passa a ter 200
Kbytes, ou seja, muito mais pesado”, explica Carlos Leonardo Pires, responsável pelo
processo eletrônico na STI. “O ideal é que os documentos digitados no word ou outro
editor de texto sejam gerados diretamente em arquivo PDF a partir do próprio
documento eletrônico. O site do STJ traz orientação quanto a este procedimento.”
O STJ trabalha no constante aprimoramento de seu sistema eletrônico e na construção
de ferramentas para agilizar e facilitar operação do processo eletrônico. Além da
integração com entes públicos que permita a troca direta de arquivos eletrônicos - sem
digitalização - estão sendo instaladas novas tecnologias de armazenamento e tráfego
de rede que irão proporcionar mais velocidade de acesso.2 (grifos do autor)
O fato é que o Direito Processual Civil conta com alguma vantagem legislativa em relação aos
demais ramos, conquanto o advento da Lei 11.419 de 19 de dezembro de 2006 lançou as
bases e diretrizes do processo eletrônico já em uso. E tal dispositivo, de fato, trouxe intensas
modificações ao cotidiano dos operadores do Direito, eis que, na prática está a transformar o
mundo dos autos físicos, com imensos volumes e numerosas páginas, em outro, eletrônico,
digitalizado, virtual.
De plano, tal mudança, necessariamente requer novos hábitos e habilidades, considerando que
há uma natural resistência do ser humano ao que é novo, especialmente ao que tange o mundo
tecnológico, que, não há duvidas irá exigir, cada vez mais dos usuários e administradores do
Poder Judiciário como um todo.
2
STJ. Obtido em meio eletrônico. Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=101488> Acesso em: 21 out.
2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
19
Com toda nova dinâmica trazida pela Lei 11.419/06, incipiente, embora extremamente ativa, é
a produção doutrinária e jurisprudencial que gira acerca dos conceitos e práticas do processo
eletrônico, muitas vezes de difícil compreensão graças à intrínseca ligação com a ciência da
computação e seus, muitas vezes, específicos e complexos conceitos, nomenclaturas e
procedimentos.
Nesse sentido é que o presente trabalho pretende primeiramente traçar um escorço dos efeitos
da Era Digital sobre o Direito, procurando explicar a informatização do judiciário e seus
reflexos para os jurisdicionados.
Tais premissas darão lastro à introdução de maiores explicações sobre a Lei 11.419/96 em si,
e sobre o procedimento no processo eletrônico, tópico cuja abordagem procura situar o leitor
no modus operandi do sistema digital, para demonstrar que os diferentes tipos de programas
adotados no Brasil carecem de uma padronização, porquanto as divergências no uso de cada
procedimento eletrônico dão margem a questionamentos sobre segurança e integração, entre
cada um deles e de cada um com os dos tribunais superiores.
Apresentados os preâmbulos do estudo, incumbe relembrar breves notas sobre Teoria Geral
da Prova, para, estabelecendo o seu conceito e espécies, especialmente da prova documental,
ater-se às explicações sobre documento eletrônico e prova no processo eletrônico. Estes, por
demais importantes, onde se busca apontar as fragilidades de segurança no procedimento
digital.
Apenas após tais diferenciações é que se estará apto a melhor compreender a prova
documental no processo eletrônico, especialmente o que dispõe o artigo 11 da Lei 11.419/06.
Isto porque, lacunosa a legislação, e inédita a doutrina, sobre o tema, cumprindo indagar: qual
a forma e o procedimento processual cabível para impugnar a prova documental produzida no
processo eletrônico?
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
20
A resposta à indagação anterior, sem dúvidas, servirá, não apenas para elucidar o processo
eletrônico e a produção de prova no mesmo, mas também apontará, como via reflexa, a
responsabilidade pela produção da mesma.
Dentro dos contornos da legislação, na forma do citado artigo 11, pensa-se, inicialmente, que
tal responsabilidade é daquele operador do Direito que insere a prova aos autos do processo
eletrônico, sem, contudo, haver apontamento do dever da parte que a fornece ao dito
operador. Mais ainda, tal resposta tentará lançar luz ao §2º do supracitado artigo 11 da Lei
11.419, para, especificadamente, traçar a forma de impugnação da prova documental no
processo eletrônico, seu processamento, se nos autos eletrônico ou não.
Esclarecida o núcleo central da pesquisa, seus efeitos aos advogados e partes também são
pontuados ao final do trabalho, que se encerrará com a abordagem do tema pelo projeto do
novo Código de Processo Civil e a conclusão do trabalho.
De meados do corrente ano para cá o cenário jurídico do tema sofreu várias mudanças, como
o recebimento de um projeto de lei que cria o marco zero da internet, importantíssimo para as
relações de direito material, o Conselho Nacional de Justiça apresentou o programa do PJe,
um sistema de processo eletrônico, a ser implantado em todos os tribunais do país, e um
número grande de artigos e notícias sobre o tema foi publicado.
Talvez esta ebulição acerca do processo eletrônico tenha sido o maior obstáculo do trabalho
que se apresenta, conquanto, obrigou a sua revisão e atualização até o praticamente o
momento de sua entrega.
A visão do advogado como mero representante dos interesses da parte já não encontra mais
eco na simples apresentação de pedidos ao magistrado, passa, sem dúvida, por uma mudança
significativa a profissão.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
21
Na colheita do material de pesquisa desta monografia, a fala de Patrícia Peck (2009, p. 342-
347) fez sentido aos propósitos que deram margem à escolha do tema:
Ora, em uma sociedade onde o próprio sufrágio é eletrônico há mais de onze anos3, não faz
sentido inexistir marcos civil e penal em legislação sobre internet; não faz sentido o ensino do
Direito no país praticamente ignorar as relações jurídicas firmadas eletronicamente; e negar os
avanços sociais trazidos com a evolução digital é permanecer no escuro da falta de
conhecimento.
3
TSE. Disponível em: < http://tse.jus.br/internet/eleicoes/votoeletronico/informatizacao.htm> Acesso em: 20
out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
22
Se o presente estudo lançar qualquer feixe de luz sobre o processo eletrônico já terá alcançado
seu objetivo: demonstrar que o novo instalou-se no Direito pátrio, e que não apenas o
procedimento e o processo mudaram, mas também a advocacia, que não é, nem será, mais a
mesma.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
23
2 PROCESSO ELETRÔNICO
O processo eletrônico encontra sua exata definição no capítulo da Lei 11.419/06 que o
instituiu: é a informatização do processo judicial, isto é, a transposição dos atos processuais
praticados fisicamente para o mundo virtual.
Porém, para melhor compreender este fenômeno jurídico processual experimentado no país,
inclusive no que pertine ao objeto da pesquisa que se apresenta, é de suma importância
destacar a junção da informática com o Direito, e sua evolução, posto que esta combinação,
como reflexo da evolução social, dará o substrato ao surgimento do processo eletrônico como
conhecido hoje.
O que se pretende neste capítulo é, traçando um escorço histórico da influência da Era Digital
sobre o Direito, apresentar os reflexos da informatização do poder judiciário aos seus
jurisdicionados e usuários, a fim de compreender os motivos, quer fáticos quer jurídicos, que
conduziram o legislador a transpor para o mundo cibernético os atos processuais.
A Era Digital, ou Era da Informação, é o lapso temporal que se inicia após a Era Industrial,
com base apontada para a década de 1980, mas com verdadeiro início em meados do século
passado, com o surgimento dos primeiros microcomputadores, da própria rede mundial de
computadores, a Internet, e da tecnologia de fibra ótica.4
De fato, a disseminação do uso das novas tecnologias impactou, de um modo geral, a forma
das relações humanas, principalmente no que tange ao tempo e espaço. Note-se que as
4
Obtido por meio eletrônico. Disponível em
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_da_Informa%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 21 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
24
barreiras geográficas parecem não mais existir, e a comunicação entre as pessoas passou a ser
instantânea.
No inicio da década de 90, os usuários de computadores pessoais o tinham mais para uso de
ferramentas de editoração de texto e afins, mas já em meados daquela década, passaram às
descobertas da comunicação por e-mail e informações de outros lugares; culminando com a
explosão do uso do comércio eletrônico, e convivência em redes sociais, já nos dias atuais.
Fato notório e de conhecimento comum que, se em 2001 os ataques terroristas perpetrados por
extremistas islâmicos aos Estados Unidos da América eram transmitidos ao vivo, em uma
prova inequívoca da globalização da informação; os recentes levantes armados em países
árabes do oriente médio, que deram margem à destituição do poder de diversos regimes
opressores, demonstraram o uso das redes sociais como uma das ferramentas de interação e
arregimentação dos oposicionistas.
A Era da Informação – termo mais apropriado para definição deste contexto histórico – reflete
exatamente este contexto no qual as inovações tecnológicas tornaram-se instrumentos de
transmissão e disponibilização de informações, em uma velocidade e quantidade nunca antes
experimentada pelo ser humano, criando necessidades e experiências anteriormente
inexistentes, permitindo uma vivência e integração onde as distâncias físicas não mais
representam qualquer obstáculo.
Destarte, os reflexos dessa Era são incontáveis, e se tem, hoje, verdadeiramente, uma nova
dinâmica social, onde o individuo não conectado ao mundo virtual é considerado um excluído
digital que deve ser inserido no sistema, pois ele, de fato, é atingido, tocado, ainda que contra
sua vontade, pelo mundo digital.
25
Não seria diferente com as relações jurídicas, posto que as mesmas sejam reflexos das
relações humanas como um todo. Isto é, o Direito como ciência social surge para disciplinar
as relações conflituosas que não mais podem ser regidas, ou resolvidas, pela auto tutela. E se a
dinâmica na vida social evolui ou modifica-se, as leis que a regulam terão de também evoluir
e inovar, a fim de tutelá-las. E o legislador brasileiro vem, ainda que com certa lentidão para
alguns doutrinadores, acompanhando tal evolução.
Historicamente, pontua José Carlos de Araújo Almeida Filho, o uso de meios eletrônicos no
país encontrou receptividade do legislador em situações isoladas, como na Lei do Inquilinato
(BRASIL, Lei nº 8245/91), onde se admitiu pela primeira vez o uso do fac símile para a
prática de ato processual, desde que prevista contratualmente.
Destaca o mesmo autor avanços nos esforços legislativos nas décadas de 90 e nos anos 2000,
no sentido de implementar práticas processuais por meio eletrônico, com vistas a imprimir
celeridade aos feitos, muito mais ativa no processo civil e processo do trabalho, que nas
demais áreas do direito, especialmente a penal, onde as práticas processuais eletrônicas
cingem-se ao envio de determinadas peças processuais, havendo certa celeuma sobre a
possibilidade do interrogatório do acusado on line – defendida por Luiz Flávio Gomes, mas
repudiada por outros penalistas, que defendem o direito do réu de ser ouvido na presença da
autoridade judiciária. (2010, p. 24-37)
O advogado Omar Kaminski mantém um site5, denominado internet legal, no qual se pode ver
a evolução legislativa brasileira ao longo da Era da Informação, com uma lista de todos os
normativos criados em informática, telemática e internet no país.
Contudo, de simples leitura dos preceitos ali apontados, percebe-se que tais reflexos desta Era
sobre o direito parece ter se voltado muito mais para procedimentos e técnicas específicas,
tendo em vista ainda existir uma lacuna legislativa no âmbito de direito material. Neste sentir,
crê-se que o legislador – talvez até pelo próprio caminhar do sistema legislativo brasileiro –
não esteja conseguindo acompanhar os passos da evolução digital.
Apesar dos esforços, não há no Brasil, como já existem em outros países, normas específicas
que disciplinem, por exemplo, os crimes cibernéticos, as transações comerciais on line, ou
mesmo a responsabilidade civil dos provedores de acesso e provedores de conteúdo. Há, tão
somente, projetos de lei que tentam regular tais relações jurídicas, tipificando os crimes
5
Obtido por meio eletrônico. Disponível em <http://www.internetlegal.com.br/biblioteca/legislacao/> Acesso
em: 26 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
26
Esses esforços podem ser resumidos nos dois maiores Projetos de Lei em andamento hoje no
Poder Legislativo federal: o PL 84/1999 e o PL 2.126/2011. O primeiro seria o marco penal
da Internet brasileira, e o segundo o marco civil.6 Digno de nota que o ritmo legislativo a ser
impresso aos projetos desta natureza deve ser mais célere, a fim de acompanhar a própria
rapidez desenvolvida nessa área, sendo pouco crível que um projeto de lei, como o PL
84/1999, que já tem mais de 10 (dez) anos em tramitação, consiga estar atualizado com as
relações sociais que pretende tutelar, sob pena de o país estar sempre a um passo atrás da sua
própria evolução.
Com efeito, no ano de 2004, com a Emenda Constitucional nº 45, o artigo 5º da Carta Magna
ganhou o inciso LXXVIII, que assim determinou: “a todos, no âmbito judicial e
administrativo são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.” (Brasil, 2009)
Conclui-se, então, que o citado diploma, sem dúvidas, constitui o marco processual brasileiro
na Era da Informação, em um avanço tido como irreversível pelos doutrinadores e operadores
do direito de um modo em geral.
A implantação do processo eletrônico no país é, por ora, o maior reflexo da Era Digital sobre
o Direito Processual Civil, e seu estudo demanda maiores apresentações e elucidações, como
adiante ver-se-á na presente pesquisa.
6
CANÁRIO, Pedro. Marco civil enriquece debate de leis para internet.Obtido em meio eletrônico. Disponível
em <http://www.conjur.com.br/2011-ago-27/marco-civil-enriquece-debate-leis-internet-dizem-especialistas>
Acesso em: 26 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
27
Rui Barbosa no início da década de vinte do século passado, em um texto de discurso que
pretendia ler – acometido por uma doença não pode estar presente à cerimônia, cabendo o
discurso ao professo Reinaldo Porchat7 – para a turma de bacharéis que se graduava na
Faculdade de Direito de São Paulo, afirmara que: “Mas justiça atrasada não é justiça, senão
injustiça qualificada e manifesta.” (BARBOSA, 2003).
Destarte, se a Era Digital reflete-se nitidamente sobre as regras tanto de direito material
quanto de direito processual, ela também impacta a máquina do Judiciário, no sentido de que
faz surgir para a mesma a necessidade de informatizar suas atividades, não apenas como
reflexo da evolução social, mas também como requisito essencial para que seus mecanismos
possam dar conta, de maneira célere e eficaz, das demandas que se apresentam e acumulam
ano a ano, em uma efetiva prestação jurisdicional mais não apenas justa, mas célere.
Embora J.E. Carreira Alvim e Silvério Luiz Nery Cabral Junior (2008, p. 15) apontem a
informatização do Judiciário como significado ou tradução da Lei 11.419/06 e do Processo
Eletrônico, parece ser esta uma acepção estrita do tema. Isto porque, a informatização
mencionada não pode limitar-se à transposição dos atos processuais para o mundo eletrônico
– indiscutivelmente um avanço ímpar – conquanto ela engloba inúmeros outros fatores
inerentes à administração da máquina judiciária.
28
O jornalista Robson Pereira, em artigo escrito para o site Consultor Jurídico afirma que se
fosse criada uma associação representativa dos usuários da justiça, a mesma contaria com
aproximadamente vinte milhões de associados, e seria a maior entidade do país. E com tal
número de associados, a fictícia associação teria respaldo e voz altiva para exigir mais
rapidez, qualidade e menor custo na tramitação dos processos, argumentando que estes três
requisitos, aparentemente inconciliáveis, são fáceis de serem postos em prática, desde que o
Direito: “utilize-se do desenvolvimento tecnológico, para alcançar e igualar-se e alcance um
estágio de modernização compatível àquele já conquistado por praticamente todos os demais
segmentos da sociedade”.9 E vai além:
8
Obtido por meio eletrônico. Disponível em <
http://www5.tjba.jus.br/corregedoria/images/pdf/provimento200811.pdf>. Acesso em 26 out. 2011.
9
Obtido por meio eletrônico. Disponível em <http://www.conjur.com.br/2011-jul-04/letras-juricias-oracao-aos-
mocos-processo-judicial-eletronico> Acesso em: 21 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
29
prática, vai transportar para o ambiente digital rotinas hoje realizadas no ambiente
físico, eliminando várias tarefas processuais e, consequentemente, tornando mais ágil
a tramitação dos processos judiciais. É a Justiça 2.0.
Estima-se que os “atos meramente burocráticos e ordinatórios” chegam a consumir
70% do tempo gasto na tramitação de um processo. Assim, qualquer contribuição
tecnológica capaz de cortar tamanho desperdício terá reflexo significativo também no
PIB processual: a soma de todos os custos envolvidos, desde o ajuizamento até o
trânsito em julgado. Liberado da enfadonha e pouco produtiva burocracia processual,
acredita-se que o julgador poderá dedicar-se àquilo que a sociedade espera dele:
Justiça mais rápida e com qualidade.
O processo eletrônico traz algumas mudanças significativas na gestão dos tribunais.
No método antigo — o atual — um processo permanece mais tempo na secretaria do
que no próprio gabinete. Sem a camisa de força dos atos processuais e burocráticos,
essa situação se inverte, com ganhos significativos na atividade jurisdicional. Some a
isso o fato de o processo permanecer ao alcance dos operadores de Direito 24 horas
por dia, sete dias por semana, onde quer que estejam os seus personagens principais.
Claro que dúvidas surgirão e que não serão poucos aqueles que, diante do novo,
sempre manifestarão a preferência pelo conforto oferecido pelo método tradicional.
Mas quem já passou por isso sabe que, assim como é impossível deter a tecnologia,
mais dia menos dia se pegará perguntando como conseguiu passar tanto tempo sem
ela. Aos poucos, todas as peças vão se encaixando e o mosaico fica completo. Por que
não com o Direito? Por que não com a Justiça?
Neste sentido, o processo eletrônico disciplinado pela Lei 11.419/06, em qualquer dos
formatos ou versões que se apresente, parece significar a tradução de informatização do
judiciário, mas não pode, nem deve limitar-se a isto, eis que a prestação jurisdicional vai além
da tramitação processual célere e econômica, envolvendo outros serviços.
10
Obtido por meio eletrônico em www.tjba.jus.br e www.trf1.jus.br . Acesso em: 21 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
30
11
STJ. Obtido por meio eletrônico. Disponível em <
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=102402> Acesso em: 29 jun.
2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
31
Para atender, então, a este tipo de demanda, sem sombras de dúvidas, os Tribunais devem
possuir uma infraestrutura não apenas técnica para suportar as requisições inerentes da
atividade que lhe é exigida; mas também humana, devidamente capacitada, para alimentar os
sistemas de informação e operar o maquinário computacional necessário.
Nota-se, pois, que os reflexos da informatização do judiciário não podem limitar-se, ainda que
de suma importância e significado, ao marco e às disposições do processo eletrônico
disciplinado na Lei 11.419, porquanto compreende ainda a capacidade técnica e pessoal de
evoluir aquele trabalho desenvolvido pelo Estado.
Nos seus enxutos vinte e dois artigos, a lei citada, considerada como marco da informatização
judiciária por alguns doutrinadores, apresentou ao ordenamento jurídico pátrio uma nova
forma de forma de apresentação de lides ao judiciário: a digital.
O fruto da lei é o processo eletrônico, definido em seu artigo primeiro, como visto no inicio
deste capítulo, como a prática por meio eletrônico de todos os atos processuais conhecidos e
realizados antes em meio físico, ou seja, é a transposição, para o mundo digital, do processo
enquanto “relação jurídica processual em movimento” (KLIPPEL; BASTOS. 2011, p. 181).
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
32
Sem dúvidas, o conteúdo deste diploma legal representa a mais significativa alteração
processual havida no país, como reflexo, não apenas dos efeitos da Era Digital sobre a
sociedade, mas, principalmente, dos anseios da opinião pública carente de mais celeridade nas
decisões judiciais nos litígios em exame.
Com vistas a proporcionar esta tão buscada efetividade jurisdicional, a lei que institui o
Processo Eletrônico no país valeu-se do principio constitucional da razoável duração do
processo, erigido no inciso LXXVIII, do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, como seu
pilar de sustentação.
Apesar de inédita a lei, o princípio que lhe dá substrato não é tão inédito assim, posto que a
razoável duração do processo pode, facilmente, ser retirada das garantias de acesso à justiça,
ou mesmo das assertivas processuais de celeridade.
Não basta, entretanto, que a entrega da tutela seja célere, mas justa e garantidora dos direitos
fundamentais das partes. Na lição de Daniel Amorim Assumpção Neves (2010, p. 72-73):
Deve ser lembrado que a celeridade nem sempre é possível, como também nem
sempre é saudável para a qualidade da prestação jurisdicional. O legislador não pode
sacrificar direitos fundamentais das partes visando somente a obtenção da
celeridade processual, sob pena de criar situações ilegais e extremamente injustas.
(grifo do autor).
Isto porque a celeridade não pode ser apenas o norte do judiciário, mas sim uma dos seus
objetivos, pois rapidez sem qualidade ou em desrespeito a outras normas não refletirá um
estado democrático de direito.
Observa-se, contudo, que o viés da celeridade que tanto se almeja parece ser aquele em que o
judiciário, não mais consumindo tempo com trâmites burocráticos, utilize, ou melhor, dê ao
magistrado e a atividade judicante não apenas e tão somente horas livres para poder
apreciarem mais e mais processos, mas sim garantir a qualidade no exercício do judiciário.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
33
É verdade, igualmente, que o clamor social por uma justiça onde a entrega da tutela
pretendida não leve anos para ser efetivada, possui clara conotação e pendor para celeridade
do que pela qualidade dos julgados em si – preocupação esta, muito mais dos operadores do
direito, que, de um modo geral temem que esta justiça apressada venha a ser pobre em
qualidade jurídica e, muito mais perigoso, violadora de outros direitos e garantias
fundamentais.
Sem dúvidas, há inúmeros fatores que podem levar a lide a uma longa duração, desde o
comportamento dos litigantes e seus advogados, até mesmo a própria complexidade da causa.
E não é que o legislador processual não tenha pensado em soluções para imprimir maior
rapidez às demandas. Para tanto, ao longo dos últimos dez anos, o CPC sofreu alterações
significativas nesta intenção, tais como o julgamento prima facie previsto no art. 285-A; a lei
9.099/95 que instituiu os Juizados Especiais; a súmula impeditiva de recursos; a própria
comunicação processual por via eletrônica do artigo 154, §2º; o julgamento antecipado de
mérito do artigo 330 o processo sincrético, com a fase de cumprimento da sentença, entre
outros. (NEVES, Daniel. 2010, p. 74).
Não obstante os esforços legislativos processuais neste sentido, seja por falta de infraestrutura
física ou de pessoal, ou razões outras de ordem não jurídica, o fato é que, significativamente,
não se verificaram na prática a tão buscada celeridade.
A novidade jurídica, fez surgir uma pluralidade de sistemas processuais – cujas conseqüências
serão alvo de considerações mais adiante nesta pesquisa – para este tipo de procedimento, a
exemplo do PROJUDI e e-Proc, na vanguarda da implementação da nova legislação, trazendo
uma dinâmica processual, inicialmente, muito mais célere e cômoda para os usuários.
34
Celeridade e razoável duração do processo haviam sido cooptadas pela Lei 11.419, trazendo o
direito processual brasileiro, assim como a atividade judicante, para o século XXI.
Ao se ler o conteúdo de apresentação do PJe pelo CNJ, fica clara a noção de que os objetivos
da implementação deste sistema – que pretende unificar os sistemas de processo eletrônico no
país – pelo órgão é celeridade e redução de gastos, como ora se vê:
12
(grifo nosso)
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
35
Não há dúvidas, pois, que o espírito do legislador foi respeitado, e, de fato, por fazer
desaparecerem atos processuais que não mais fazem sentido à prática eletrônica, tais como,
distribuição, autuação, carga de autos, publicação em imprensa oficial, há clara redução do
tempo consumido para tais atos, bem como custos, a exemplo de papel e impressão.
A atrofia apontada pelo CNJ acima, em secretarias e cartórios, já ocorre em unidades com
sistemas de processo eletrônico implantados. Todavia, o deslocamento de pessoal para os
gabinetes, para a produção dos atos que justificam a existência do processo, tais como
decisões interlocutórias, sentenças e despachos de mero expediente parece ser uma prática
ainda a ser alcançada.
Neste ponto, então, o aparente sentido de celeridade perde força, conquanto – e aí crível a
afirmação de Daniel Amorim Assumpção Neves (2010, p. 73) ao afirmar que a morosidade do
judiciário possui razões que são estranhas ao processo civil – quando não há o deslocamento
13
(idem)
14
CNJ. Obtido por meio eletrônico. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/sistemas> Acesso
em: 26 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
36
Apenas a título exemplificativo, tome-se o quadro abaixo, no qual dois processos iniciados e
em tramitação no sistema PROJUDI, nos quais a autora deste trabalho atua como advogada da
parte autora, com competência de dois diferentes Juizados Especiais de Salvador. A simples
descrição dos andamentos, em cada um dos feitos, demonstra que o problema da celeridade,
de fato, pode não ser resolvido com a simples implantação do Processo Eletrônico.
Observe-se que não há justificativa, aparente ou plausível, para que a entrega da tutela
jurisdicional de primeiro grau possa consumir quantidades de dias tão díspares em feitos de
menor complexidade como são aqueles apreciados pelos Juizados Especiais.
15
TJBA. Disponível em: <https://projudi.tjba.jus.br/projudi/> e
<http://www5.tjba.jus.br/corregedoria/images/pdf/01_juizadosinterior.pdf> Acesso em: 27 out. 2011
16
Fonte: TJBA. Disponível em: <https://projudi.tjba.jus.br/projudi/> Acesso em: 26 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
37
Vê-se, pois, que fatores alheios ao processo eletrônico em si devem ser considerados para que
se justifique um comparativo deste tipo. Isto é, a simples transposição dos autos e atos para o
meio eletrônico, pura e simplesmente, não tem o condão de alavancar o judiciário em um
curto espaço de tempo.
É preciso, como de fato apontou o CNJ, que o recurso pessoal por trás do aparato eletrônico
seja, e esteja, apto a dar vazão ao volume de atos decorrente da eliminação de outros tantos
trazidos pela inovação legal.
Neste aspecto, este estreitamento trouxe, como tudo que é novo e desconhecido, uma imensa
reticência por parte daqueles advogados, magistrados, serventuários e jurisdicionados que não
possuíam conhecimento, ou mesmo não tinham experiência, com o mundo dos computadores,
periféricos (impressoras e scanners), internet, e-mail, etc. E até mesmo por parte daqueles
que, apesar de conhecerem e utilizarem dos mesmos, viram-se diante de novos conhecimentos
necessários à simples apresentação de uma petição inicial.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
38
Isto se deve ao fato de que, ao determinar em seu artigo 14 que: “Os sistemas a serem
desenvolvidos pelos órgãos do Poder Judiciário deverão usar, preferencialmente,
programas com código aberto, acessíveis ininterruptamente por meio da rede mundial de
17
computadores, priorizando-se a sua padronização.” abriu um vasta implantação de
sistemas diferenciados por todo o país, como os mais diversos requisitos de informática.
Do inicio da vigência da Lei para cá, na prática, cada tribunal adotou um sistema de
informatizado diferente, tanto para a prática de atos eletrônicos, quanto para a própria
implantação do processo eletrônico em si.
Esse cadastramento é necessário, não apenas para que o usuário utilize o sistema
disponibilizado pela aquela autoridade judiciária, mas também para que o mesmo seja citado
e/ou intimado, posteriormente, dos atos processuais praticados. De posse da assinatura digital,
o usuário poderá acessar o portal utilizado por aquela autoridade judiciária, dando inicio a
novos processos ou mesmo acompanhando os ali já existentes.
Via de regra, as peças processuais são arquivos de computador, com um limite máximo de
tamanho (pré estipulado na unidade de medida computacional denominada megabytes) – em
sua maioria no formato pdf, a fim de garantir maior segurança, já que esta modalidade de
arquivo digital não admite inserção/alteração de dados posterior – que são inseridos nos
17
(grifo nosso)
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
39
As intimações possuem regra própria, definida no artigo 4º da lei 11.419/06, podendo ou não
o usuário receber comunicação prévia da mesma via e-mail, avisando-lhe que há uma
intimação para ele no portal dedicado. A leitura do e-mail não inicia a contagem dos prazos,
que se dá a partir do momento em que o usuário abre a intimação no portal dedicado, ou,
acaso não aberta, automaticamente após dez dias da disponibilização da mesma no sistema.
Os prazos podem ser cumpridos até as 24h (vinte e quatro horas) do último dia de seu
vencimento. E não sendo possível o seu protocolo, com a inserção no portal, por motivos de
inoperância do sistema, o próprio normativo legal determina que o ato pode ser praticado no
primeiro dia útil subsequente.
40
Parece que zelo e cautela são as primeiras respostas ao problema, posto que o cumprimento
dos prazos pelo advogado seja uma obrigação processual e ética, logo não deve ser deixada
para o último minuto do dia fatal par ao seu cumprimento.
18
Obtido por meio eletrônico. Disponível em: <http://blog.viasdefato.com/2010/03/indisponibilidade-do-
sistema-de.html> Acesso em: 27 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
41
Logo abaixo, a título ilustrativo, vê-se quadro disponibilizado pelo STJ com os períodos de
indisponibilidade dos seus sistemas eletrônicos20:
19
Fonte: ITI. Disponível em: <www.iti.gov.br> Acesso em: 27 out.2011
20
Fonte: STJ. Obtido por meio eletrônico. Disponível em: <
https://ww2.stj.jus.br/out/in/indisponibilidade/lista/> Acesso em: 27 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
42
O que deveria ser uma facilidade, especialmente para aqueles advogados com atuação em
diversos estados, uma série de dificuldades, não apenas pela necessidade de conhecimento dos
diferentes tipos de sistemas, mas também pela diferença dos requisitos computacionais
exigidos por cada tribunal, alguns deles incompatíveis entre si.
A pluralidade de sistemas cria, ainda, outro obstáculo: a não integração entre eles. Ou seja,
como os portais são diferentes, muitas vezes, um recurso extraordinário para o STF, por
exemplo, originado no sistema PROJUDI não segue automaticamente para aquele Pretório,
porque o e-STF não aceita a codificação daquele sistema onde tramitou o processo eletrônico.
A padronização dos sistemas de processo eletrônico pretendida pelo CNJ, através do PJe, tem
o louvável ideal de permitir a integração entre todos os tribunais, inclusive em graus de
jurisdição diferentes. Além disso, representará significativa economia para os tribunais,
considerando que o software foi criado em open source, ou seja, fonte livre, pelo próprio
Conselho, sem custos de contratação de empresas de tecnologia da informação, nem com
pagamento de licenças de uso.
Cumpre destacar, ainda, que o domínio de um sistema de processo judicial eletrônico único,
facilitará o uso pelos operadores do direito, de sobremodo daqueles mais reticentes às
inovações, já que esta habilidade, inclusive alvo do julgado abaixo transcrito, evitará que o
desconhecimento do procedimento cause algum dano processual à parte:
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
43
Destarte, um procedimento unificado por um sistema padrão para todos os estados e tribunais
do país, como tenciona o CNJ com o PJe, seguramente permitirá maior facilidade na
compreensão do uso daquele sistema pelos usuários do mesmo, além, claro, de maior controle
e aferição de validade e idoneidade não apenas do usuário, mas também dos documentos e
provas por ele produzido dentro do processo eletrônico.
Digno de nota, ainda, que a proposta do PJe do CNJ parece interessar ao direito processual, no
que pertine a sua integração com outros órgãos públicos, como é o caso da SRF. Decerto,
estar-se-ia diante da possibilidade de troca de informações muito úteis ao andamento do feito
eletrônico, tais como endereços do réu que se oculta, assim como localização de seus bens.
Aliás, tais contribuições revestem-se de força argumentativa junto a qualquer advogado, ou
parte, para fins de convencimento de uso de uma nova tecnologia, pois qualquer um deles que
já tenha experimentado a demora na efetivação da tutela jurisdicional, por falta de tais
informações, com certeza preferirá um processo eletrônico deste tipo.
No que tange ao objeto do estudo deste trabalho, a questão que o procedimento no processo
eletrônico apresenta como de interesse à pesquisa, dizem respeito aos requisitos de segurança,
autenticidade e validade, exigidas tanto dos usuários quanto da inserção de documentos.
21
Grifos nosso.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
44
Observe-se que as diferenças existentes entre cada um dos sistemas hoje utilizados no país,
interferem naqueles requisitos, dando margem ao questionamento e mesmo à impugnação dos
atos praticados sem conformidade com cada um dos sistemas existentes. Ou seja,
compreender a condição de validade de cada um deles importará ao usuário o domínio
intelectual imprescindível para contestar a prova documental nos autos eletrônicos, que, é o
núcleo central da presente pesquisa.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
45
22
"A acusação é apenas um infortúnio enquanto não verificada pela prova.” , dizia Rui
Barbosa, (1892, p. 113-114). A frase, dita em um dos discursos do citado autor, parece bem
resumir a importância do instituto para o processo civil. É ela quem irá fundamentar o
convencimento do magistrado acerca das razões fáticas que cada parte na lide aduz em seu
favor.
Embora alguns autores afirmem que a prova não seria um direito fundamental, a melhor
doutrina defende o contrário. Por ser decorrente do princípio constitucional do devido
processo legal, a prova é, pois, direito fundamental, conquanto inservível o direito de acesso à
justiça, se aos litigantes não fossem permitida a produção da prova em seu favor Destaca-se,
ainda, que na qualidade de signatário do Pacto de San Jose23, o Brasil confirma a prova como
direito fundamental, e como tal possui todas as prerrogativas do regime das garantias
constitucionais da Carta Magna.
c) Vedação do uso da prova ilícita – o sistema jurídico brasileiro (art. 5º, LVI, da CF) não
admite o uso de prova obtida por meio ilícito, a exemplo da escuta telefônica não autorizada
por decisão judicial.
22
Grifo nosso.
23
Pacto de San Jose. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm> Acesso em: 29
out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
46
Relembre-se aqui que a prova ilícita é tão repudiada pelo ordenamento jurídico, que em
recentes decisões, o STJ determinou a anulação de vários inquéritos policiais e ações penais
decorrentes de operações realizadas pela Polícia Federal – estas de grande repercussão social
e política – em função da ilicitude na colheita das provas que deram margem às mesmas:
47
odiosa perda da imparcialidade. Ele não deve, jamais, perder de vista a importância da
democracia e do Estado Democrático de Direito.
6. Portanto, inexistem dúvidas de que tais provas estão irremediavelmente maculadas,
devendo ser consideradas ilícitas e inadmissíveis, circunstâncias que as tornam
destituídas de qualquer eficácia jurídica, consoante entendimento já cristalizado pela
doutrina pacífica e lastreado na torrencial jurisprudência dos nossos tribunais.
7. Pelo exposto, concedo a ordem para anular, todas as provas produzidas, em
especial a dos procedimentos nº 2007.61.81.010208-7 (monitoramento telefônico), nº
2007.61.81.011419-3 (monitoramento telefônico), e nº 2008.61.81.008291-3 (ação
controlada), e dos demais correlatos, anulando também, desde o início, a ação penal,
na mesma esteira do bem elaborado parecer exarado pela douta Procuradoria da
República.
(HC 149.250/SP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em
07/06/2011, DJe 05/09/2011) – (grifos nossos)
O julgado acima parece não coadunar com a celeuma doutrinária acerca da admissão de prova
ilícita – a exemplo dos casos em que a mesma beneficia o réu – com a mitigação do princípio
constitucional que a veda, reafirmando o contrário, ser aquela previsão absoluta não
admitindo sua relativização.
Quanto ao objeto, a prova tem por regra a comprovação dos fatos controvertidos para as
partes, relevantes para o juiz, e determinados. A exceção aos fatos é a prova do direito, que
ocorre quando a lide disser respeito a direito internacional ou municipal.
Assim, o elenco de argumentos de cada parte no processo representa o conjunto fático que
envolve a pretensão resistida de cada um deles, e a aferição da verdade de cada contexto
proposto é o objeto da prova.
O exame das provas é feito pela cognição do processo, posto que através do mesmo é que se
formará o convencimento, desenvolvido através das atividades de percepção e juízo. Para o
direito italiano, que fortemente influenciou o ordenamento pátrio, a cognição divide-se em
duas fases: a inspeção e avaliação das provas.
48
A presunção pode ser legal, ato de raciocínio realizado pelo legislador, de modo absoluto ou
relativo. Como também pode ser judicial, quando o ato daquela avaliação e valoração é
praticado pelo magistrado em cada caso concreto. Cumpre notar que o magistrado pode
prolatar sentença baseada em indícios, conquanto fundamente a sua decisão e a lógica que o
levou àquela conclusão de presumir tais indícios, até porque, como já visto, vale no
ordenamento pátrio o princípio do livre convencimento motivado.
Ainda dentro do procedimento, cumpre lembrar que no direito pátrio não há hierarquia entre
provas, tendo todas elas a mesma força, e não há uma que sobressaia em relação à outra. O
Princípio do Livre Convencimento Motivado, lembra Patrícia Peck, vem da CF e reflete na
legislação processual). E assim o art. 131 do CPC diz que “o juiz apreciará livremente a
prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes nos autos, ainda que não alegados pelas
partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento”
(2009, p. 157). Nesse mesmo sentido, a legislação penal, a princípio mais rigorosa, acresce:
Nesta senda, não há que se confundir prova com indícios ou presunções. Os indícios não são
prova são um norte, uma orientação de algo que possa ter ocorrido, dando o ponto de partida
para a possibilidade da ocorrência de fato. Já a presunção é ato de inteligência praticado pelo
magistrado, com base em indícios avaliados e valorados.
Noutro giro, o sistema americano, conforme destaca Patrícia Peck (2009. p. 157), há uma
hierarquia na valorização das provas dentre os tipos de prova:
a) Real evidence: evidências materiais, objetos físicos que podem ser levados à
corte, como, por exemplo, a arma de um crime;
b) Documentary evidence: evidência documental, contendo duas regras:
- best evidence rule: o documento original deve ser sempre apresentado em juízo;
- parol rule: quando a prova é um documento assinado por duas partes, é valido
somente o que está escrito, e nenhum acordo verbal poderá modificá-lo.
c) Testimonial evidence: testemunha de fatos.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
49
Apesar da valoração hierárquica não estar prevista no ordenamento pátrio, forçoso relembrar
que a simples separação entre documentos públicos e privados, parece assim o fazer, dando
maior destaque àqueles que estes últimos.
Quanto à finalidade da prova, não se fale mais em verdade real ou absoluta, posto que se saiba
que essa pretensão é utópica e inalcançável, conquanto a simples atuação de vários sujeitos
sobre determinados fatos, torna impossível a sua obtenção, como afirma Daniel Amorim
Assumpção Neves: “Atualmente considera-se a verdade como algo meramente utópico e
ideal, jamais alcançada, seja qual for a ciência que estiver analisando o conhecimento humano
dos fatos.” (2010, p.379).
Para o autor citado, no processo resta a evidenciada tal impossibilidade, diante da atuação de
diversos sujeitos, das partes que apresentam seus fatos e provas do modo que lhes forem mais
favoráveis; dos auxiliares, que ao reconstituírem os mesmos não o farão de forma exata; e, do
próprio magistrado, que não participou dos mesmos e os analisará de acordo com suas
próprias considerações.
Sobre o assunto, Luiz Guilherme Marinoni e Sergio Cruz Arenhart (2009, p. 37-38)
manifestam-se:
Tem-se, assim, ser impossível atingir-se a verdade sobre certo evento histórico. Pode-
se ter uma elevada probabilidade sobre como ele se passou, mas nunca a certeza da
obtenção de verdade. E isso se torna ainda mais evidente no processo. Aqui se está
diante de uma controvérsia. Os litigantes, ambos, acreditam ter razão, e suas versões
sobre a realidade dos fatos são, normalmente, diametralmente antagônicas. Sua
contribuição para a pesquisa da realidade dos fatos é parcial e tendenciosa. O juiz,
deve portanto, optar por uma das verdades dos fatos apresentadas, o que nem sempre
é fácil e (o que é pior) demonstra a fragilidade da operação de descoberta da verdade
realizada. As provas são geralmente distoantes. Mesmo a confissão é argumento
perigoso, já que pode representar, como, aliás, não é raro, distúrbio psíquico do seu
autor, ou mera tentativa de acobertamento dos fatos.
Se essa busca é utópica e inalcançável, o que se deve procurar? A verdade mais próxima
possível daqueles fatos apresentados em juízo, como definiu Daniel Assumpção:
50
Os meios para o magistrado chegar próximo da verdade possível são a produção da mesma
através do modelo dispositivo, em que apenas a parte a realiza, ou pelo modelo inquisitivo,
onde o magistrado pode determinar a produção de algum ato probante, este adotado no Brasil.
Note-se que não bastando dialética fática existente entre autor e réu na lide, agregam-se à
prova no processo eletrônico, necessidades inerentes ao procedimento na forma digital, cuja
inobservância, quer por ignorância ou dolo, afetará, ainda mais, o resultado pretendido.
24
Citando: Cambi, 2001, p. 46; Garcia, Prova civil, 6.1, p. 28.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
51
Nesse sentido, “a prova, em direito processual, é todo meio retórico, regulado pela lei, e
dirigido, dentro dos parâmetros fixados pelo direito e de critérios racionais, a convencer o
Estado-juiz da validade das proposições, objeto de impugnação, feitas no processo.”
(MARINONI; ARENHART, 2009, p. 57).
Esse conjunto de atos tendentes à comprovação da verdade dos fatos, dirigido ao juiz como
meio de o mesmo convencer-se das razões que cada parte aduz em seu favor, é o conceito que
melhor se adequa ao estudo pretendido, considerando as circunstâncias que envolvem o
procedimento no processo eletrônico.
Apesar de o Código de Processo Civil, no seu Capítulo VI, elencar os tipos de provas, em
espécie, notadamente o depoimento pessoal, a confissão, a exibição de coisa ou documento, a
documental, a testemunhal, a pericial e a inspeção judicial, o artigo 332 afirma que: “Todos os
meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código,
são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.”
Segundo Rodrigo Klippel e Antonio Adonias Bastos (2011, p. 395) o rol ali exposto é:
Numerus apertus (enumerativo), visto que é possível que outros, ali não prvistos,
sejam criados devido ao avanço da sociedade e utilizados pelo julgador para julgar a
veracidade ou não das alegações pertinentes à causa (em regras fáticas, mas
excepcionalmente referentes à existência do direito – art. 337 do CPC). (grifos dos
autores)
25
Daniel Amorim Assumpção Neves citando: Amaral Santos; Alexandre Câmara; Vicente Greco Filho e
Cândido Dinamarco.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
52
A junção da prova documental com o permissivo legal do artigo 332 do CPC é que irá dar
margem à compreensão do que seja produção de prova em meio eletrônico, e produção de
prova documental no processo eletrônico, para, a partir daí, responder o problema chave da
presente pesquisa, qual seja, a impugnação da prova documental no processo eletrônico.
Quando se fala em prova documental, imediatamente tem-se em mente a idéia de papel, coisa
palpável, física. Crê-se que essa associação direta decorra da dificuldade humana em pensar
no abstrato, no imaterial como inexistente ou invisível.
Porém esta definição torna-se inservível no que diz respeito ao conceito de prova documental
a que se pretende o estudo em comento, primeiramente porque ao atrelar-se a prova
documental a documento escrito, seu meio físico será sempre o papel, que não encontra
correspondência ou existência na forma eletrônica, onde também não existe distinção entre
originais e cópias. Contudo, mais adiante ver-se-á a conceituação de documento eletrônico.
Não obstante inexistir hierarquia entre as provas no ordenamento pátrio, até por força do
princípio do livre convencimento motivado do magistrado, inegável é o impacto e efeitos da
prova documental no processo, que, Carnelutti, (2000, p. 646): “Sem prova ao contrário, o
juiz deve considerar como verdadeiro o fato representado”.
53
Em seu livro Direito Digital, Patrícia Peck Pinheiro (2009, p.149-150) pontua as razões da
natural resistência que o ser humano tem ao novo, ao inédito, ao desconhecido, o que, de fato,
não é – e nem poderia ser – diferente no mundo jurídico, onde os operadores são ensinados a
pensar em papel, na segurança que ele proporciona, mas essa é uma questão cultural,
porquanto, o próprio Código Civil ensina que os pactos podem ser orais e a manifestação de
vontade expressada por qualquer meio. Aponta a citada autora:
Quem disse que porque está no papel é o documento original? Afinal, todo fax é cópia, apesar
de estar em papel. Já o e-mail eletrônico é o original e sua versão impressa é cópia.
Logo, na verdade, percebemos que o ser humano é um ser material por natureza, tendo apenas
a espiritualidade como elemento imaterial. Todo o resto necessita de representação física para
se poder ter o sentimento de posse, de propriedade. Esse sentimento não será resolvido nem
mudado pelo Direito tradicional nem pelo Direito Digital. O que se tem de fazer é encontrar
caminhos em que a tecnologia possibilite da esta impressão de materialidade aos documentos
eletrônicos.
Esta associação imediatista pode, ainda, ter como causa a terminação que lhe é dada pelo
CPC, quando fala em documento às vezes como papel escrito, e às vezes como representação
de acontecimento fático. O certo é que, em verdade, a materialidade física da prova
documental, como sinônimo de documento, é apenas um dos meios em que um documento
reveste-se.
Deixar de lado a premissa de que nem toda prova documental tem como meio o papel é pré
requisito para a compreensão de que este universo engloba outras tantas formas de
apresentação, especialmente quando se considera o meio eletrônico.
54
Coadunando tal entendimento, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2009, p.
529-530), apud Comoglio, Ferri e Taruffo:
A prova documental que aqui se propõe o estudo é exatamente esta: tudo aquilo que tenham
aparência de idoneidade, e que sirva a documentar um fato, seja para narrá-lo, representá-lo
ou a reproduzi-lo, mas de maneira eletrônica.
Isto é, a prova documental que interessa compreender é ela enquanto documento eletrônico,
que no próximo item se busca explicar. Neste ponto, surgem as naturais indagações acerca da
validade do documento eletrônico como prova, quando esta é originada (cópia de disco rígido
de um computador, por exemplo), produzida (v.g., qualquer impresso scaneado) ou mesmo
transmitida em meio eletrônico (e-mails enviados ou recebidos), para a finalidade convectiva
quer em um procedimento físico ou digital.
Como já visto no item anterior, documento é o meio físico no qual se apresenta ou armazena
uma informação, um fato, seja para narrar, representar ou mesmo reproduzir, de forma que
impeça, ou permita detectar, a eliminação ou alteração. No dizer de Chiovenda, (1998, p.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
55
Pode-se, então, concluir que documento eletrônico pode ser conceituado como aquele registro
cujo meio físico é, em verdade, um suporte eletrônico, desde que apto ao armazenamento de
informações, e impeça alterações, ou viabilize a detecção de eliminação ou adulteração de seu
conteúdo.
Nesse sentido, existem vários meios para a produção de documento eletrônico, a exemplo de
textos, planilhas, bancos de dado, arquivos de som e vídeo, imagens – não apenas fotografias
–mensagens eletrônicas de e-mail, mensagens de texto enviadas pelo celular; interrogatório de
réu preso via videoconferência, e, até mesmo, procuração eletrônica26. Infere-se daí que o
documento eletrônico é uma das espécies de prova documental.
Sem dúvidas, a simples idéia de documento não físico, ou melhor, em meio de suporte que
não seja papel é, à primeira vista, desafiador, sendo este o grande obstáculo na compreensão e
aceitação dos documentos eletrônicos, cujo termo em si foi definido no Brasil, pela Medida
Provisória 2.200-2, de 24 de Agosto de 2001, em vigor até hoje, já que expedida
anteriormente à Emenda Constitucional nº32:
Destarte, do teor da norma acima transcrita vê-se que o ordenamento garantiu ao documento
eletrônico a presunção de verdadeiro quanto aos signatários, o que, mais adiante, indicará o
primeiro problema a ser enfrentado quanto a prova no processo eletrônico
Cumpre dizer, ainda, que o texto da MP citada faz referência ao artigo 131 do antigo CC de
1916, substituído pelo artigo 219 do novo Código Civil, que o manteve na íntegra:
26
Obtido por meio eletrônico. Disponível em: <http://www.documentoeletronico.com.br/procuracao-
eletronica.asp> Acesso em: 28 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
56
Inicialmente, o ITI, autarquia federal ligada à Casa Civil, que administra o ICP-Brasil, define,
de forma palatável a quem é avesso à tecnologia – inclusive possui um glossário27 que integra
o anexo desta pesquisa – conceitos necessários ao entendimento do assunto, sendo importante
destacar as relevantes ao tema:
Certificação Digital
A certificação digital é uma ferramenta de segurança que permite ao cidadão
brasileiro realizar transações no meio eletrônico, que necessitem de segurança, como
assinar contratos, obter informações sensíveis do governo e do setor privado, entre
outros exemplos.
O Brasil conta com um Sistema Nacional de Certificação Digital que é mantido pelo
Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. Aqui você encontra a tradução das
siglas dos órgãos e dos processos que compõe esse Sistema e assim pode entender o
seu funcionamento.
ICP-Brasil
A Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil é uma cadeia hierárquica
e de confiança que viabiliza a emissão de certificados digitais para identificação do
cidadão quando transacionando no meio virtual, como a Internet.
Observa-se que o modelo adotado pelo Brasil foi o de certificação com raiz única,
sendo que o ITI além de desempenhar o papel de Autoridade Certificadora Raiz - AC
Raiz, também, tem o papel de credenciar e descredenciar os demais participantes da
cadeia, supervisionar e fazer auditoria dos processos.
Certificado Digital
O certificado digital da ICP-Brasil, além de personificar o cidadão na rede mundial de
computadores, garante, por força da legislação atual, validade jurídica aos atos
praticados com seu uso. A certificação digital é uma ferramenta que permite que
aplicações, como comércio eletrônico, assinatura de contratos, operações bancárias,
iniciativas de governo eletrônico, entre outras, sejam realizadas. São transações feitas
de forma virtual, ou seja, sem a presença física do interessado, mas que demandam
identificação inequívoca da pessoa que a está realizando pela Internet.
Tecnicamente, o certificado é um documento eletrônico que por meio de
procedimentos lógicos e matemáticos asseguraram a integridade das informações e a
autoria das transações. Esse documento eletrônico é gerado e assinado por uma
terceira parte confiável, ou seja, uma Autoridade Certificadora que, seguindo regras
27
Disponível em: <http://www.iti.gov.br/twiki/pub/Certificacao/Legislacao/Glossario_ICP-Brasil_-
_Versao_1.2.pdf> Acesso em: 27 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
57
emitidas pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil e auditada pelo ITI, associa uma entidade
(pessoa, processo, servidor) a um par de chaves criptográficas.
Os certificados contêm os dados de seu titular, tais como: nome, número do registro
civil, assinatura da Autoridade Certificadora que o emitiu, entre outros, conforme
detalhado na Política de Segurança de cada Autoridade Certificadora.
AC- Raiz
A Autoridade Certificadora Raiz da ICP-Brasil é a primeira autoridade da cadeia de
certificação. Executa as Políticas de Certificados e normas técnicas e operacionais
aprovadas pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil. Portanto, compete à AC-Raiz emitir,
expedir, distribuir, revogar e gerenciar os certificados das autoridades certificadoras
de nível imediatamente subseqüente ao seu.
A AC-Raiz também está encarregada de emitir a lista de certificados revogados e de
fiscalizar e auditar as autoridades certificadoras, autoridades de registro e demais
prestadores de serviço habilitados na ICP-Brasil. Além disso, verifica se as
Autoridades Certificadoras - ACs estão atuando em conformidade com as diretrizes e
normas técnicas estabelecidas pelo Comitê Gestor.
AC - Autoridade Certificadora
Uma Autoridade Certificadora é uma entidade, pública ou privada, subordinada à
hierarquia da ICP-Brasil, responsável por emitir, distribuir, renovar, revogar e
gerenciar certificados digitais. Desempenha como função essencial a responsabilidade
de verificar se o titular do certificado possui a chave privada que corresponde à chave
pública que faz parte do certificado. Cria e assina digitalmente o certificado do
assinante, onde o certificado emitido pela AC representa a declaração da identidade
do titular, que possui um par único de chaves (pública/privada).
Cabe também à AC emitir listas de certificados revogados - LCR e manter registros
de suas operações sempre obedecendo às práticas definidas na Declaração de Práticas
de Certificação - DPC. Além de estabelecer e fazer cumprir, pelas Autoridades
Registradoras a ela vinculadas, as políticas de segurança necessárias para garantir a
autenticidade da identificação feita.
AR - Autoridade de Registro
Entidade responsável pela interface entre o usuário e a Autoridade Certificadora.
Vinculada a uma AC que tem por objetivo o recebimento, validação,
encaminhamento de solicitações de emissão ou revogação de certificados digitais às
AC e identificação, de forma presencial, de seus solicitantes. É responsabilidade da
AR manter registros de suas operações. Pode estar fisicamente localizada em uma AC
ou ser uma entidade de registro remota.
Assinatura Digital
A assinatura digital é uma modalidade de assinatura eletrônica, resultado de uma
operação matemática que utiliza criptografia e permite aferir, com segurança, a
origem e a integridade do documento. A assinatura digital fica de tal modo vinculada
ao documento eletrônico que, caso seja feita qualquer alteração no documento, a
assinatura se torna inválida. A técnica permite não só verificar a autoria do
documento, como estabelece também uma “imutabilidade lógica” de seu conteúdo,
pois qualquer alteração do documento, como por exemplo a inserção de mais um
espaço entre duas palavras, invalida a assinatura.
Assinatura Digitalizada
A assinatura digitalizada é a reprodução da assinatura de próprio punho como imagem
por um equipamento tipo scanner. Ela não garante a autoria e integridade do
documento eletrônico, porquanto não existe uma associação inequívoca entre o
assinante e o texto digitalizado, uma vez que ela pode ser facilmente copiada e
inserida em outro documento. (grifo nosso)
Criptografia
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
58
A ICP-OAB29, por seu turno, tenta explicar em uma linguagem mais palatável aos advogados
estes conceitos:
Documentos Eletrônicos
Um dos grandes desafios de nossos tempos é a possibilidade de substituir documentos
em papel por documentos eletrônicos. O documento eletrônico nada mais é do que
uma seqüência de números binários (isto é, zero ou um) que, reconhecidos e
traduzidos pelo computador, representam uma informação. Um arquivo de
computador contendo textos, sons, imagens ou instruções é um documento eletrônico.
O documento eletrônico tem sua forma original em bits, ou seja, não é impresso ou
assinado em papel: sua circulação e verificação de autenticidade se dão em sua forma
original, eletrônica. São evidentes as vantagens quanto ao armazenamento,
transmissão e recuperação de documentos eletrônicos, se comparados com o papel.
(grifo nosso)
A dificuldade em portar os documentos para o meio eletrônico reside em atribuir-lhes
segurança comparável à que se obtém dos documentos físicos. Diversamente do que
ocorre com o documento em papel, não há como lançar uma assinatura manuscrita em
um documento eletrônico como forma de demonstrar a sua autoria; além disso,
documentos eletrônicos podem ser facilmente alterados, sem deixar vestígios físicos
apuráveis. É necessário, pois, utilizar um mecanismo técnico que possa permitir
conferir a autenticidade e a integridade de um documento eletrônico. Por
autenticidade, quer-se designar a certeza quanto à pessoa que criou o documento
que, em termos jurídicos, presta a declaração nele constante. Por integridade,
entende-se a não adulteração de um documento, posteriormente à sua criação.
A única maneira reconhecidamente segura de atribuir autenticidade e a integridade a
documentos eletrônicos é o uso de assinaturas digitais produzidas por criptografia
assimétrica. (grifos nossos).
28
Grifos nossos.
29
Obtido em meio eletrônico. Disponível em: <http://cert.oab.org.br/cert_assin.htm> Acesso em: 20 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
59
Certificados Eletrônicos
Como o par de chaves não mantém qualquer vínculo com o corpo de seu titular, é
necessário algum mecanismo que permita atestar que a chave pública utilizada na
conferência da assinatura realmente pertença a uma dada pessoa, já que é fácil gerar
chaves e atribuir-lhes o nome de outrem. As operações matemáticas só podem atestar
que a assinatura digital foi produzida com a chave privada que faz par com a chave
pública utilizada na conferência. Algum elemento outro deve servir para convencer o
destinatário da mensagem que a chave pública em questão realmente pertence ao
sujeito nela indicado. Uma das formas de se fazer isso é por meio dos certificados
eletrônicos.
Os certificados eletrônicos consistem assim em uma declaração, de um ente
certificante, acerca da titularidade das chaves de uma outra pessoa, que está sendo
certificada. Esse ente é também conhecido como "terceiro de confiança" porque sua
declaração deve ser tendente a gerar, para o destinatário da informação que nele
confie, a certeza quanto à sua autoria.
Um certificado eletrônico contém a chave pública da pessoa certificada, os dados
pessoais que a identificam, que devem ter sido conferidos pelo ente certificante ao
expedir o certificado, e a assinatura digital do ente certificante.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
60
A conferência do certificado, por sua vez, deve ser feita com o uso da chave pública
do ente certificante. Isso normalmente produz outra dúvida: e como saber se a chave
pública que assinou o certificado é realmente do ente certificante? Uma infra-
estrutura de chaves públicas pressupõe que os usuários do sistema acreditem na
autenticidade de uma chave inicial, a chamada chave raiz, que é auto-assinada, isto é,
o seu certificado é assinado com a própria chave privada do par. Algum fato deve
induzir no usuário a crença de que esta chave é verdadeira. No caso da ICP-OAB, por
exemplo, a chave raiz será declarada por ato formal do Conselho Federal, publicado
no Diário Oficial. A confiança na chave raiz produz confiança nas chaves de entes
certificantes que tenham sido certificados pela raiz e, abaixo destes, dos usuários que
tenham sido certificados pelos entes certificantes. A confiança na chave raiz produz
confiança das chaves de entes certificantes por ela certificadas, e, abaixo desse entes,
dos usuários que estes vieram a certificar. A essa seqüência de certificações se dá o
nome de "caminho de certificação", que pode ser verificado no próprio certificado.
Impende consignar, ainda, aqui que, embora muitas vezes confundido com assinatura digital e
assinatura digitalizada, o conceito de assinatura eletrônica é diverso daqueles, constituindo,
em verdade, qualquer mecanismo, não necessariamente criptografado, capaz de
identificar o emitente de um documento digital. Em geral, assinatura eletrônica é entendida
como a combinação de nome de usuário e senha, sem uso de criptografia.
Por que estas definições são tão importantes? Porque somente o somatório destes
conhecimentos é capaz de definir documento eletrônico, bem como dar a exata compreensão
de que os atos praticados dentro do processo eletrônico também vão constituir
documentos eletrônicos, a fim de compreender onde residem os problemas na impugnação
dos mesmos.
Todo documento eletrônico deve possuir dois pressupostos para ter força probante, quais
sejam:
Autenticidade: É um processo idôneo por meio do qual se possa garantir a real autoria
dos termos de um documento eletrônico. O documento autêntico é aquele que não
permite a dúvida quanto à identificação de seu autor. Nos documentos físicos a
autenticidade é comprovada através da firma ou da assinatura, e ainda existe a
possibilidade de ser reconhecida por um tabelião que atestará sua legitimidade.
Integridade: É a possibilidade de atestar a inteireza do documento eletrônico após sua
transmissão, bem como apontar eventual alteração irregular de seu conteúdo. Em
outras palavras o documento íntegro é aquele que dá certeza de que permanece
inalterado.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
61
Com efeito, vê-se que documento eletrônico pode ser definido como qualquer instrumento
capaz de armazenar um conteúdo informativo fático, cuja alteração ou eliminação seja de
difícil prática ou de fácil demonstração.
A sua utilização como prova encontra respaldo no anteriormente citado artigo 332 do CPC,
que admite qualquer meio lícito como tal, mas cite-se aqui, também, o artigo 225 do Código
Civil, ao dizer que “as reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e,
em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem
prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.”
Como visto no intróito deste trabalho, sabe-se que a existência de vários sistemas criados para
implantar o processo eletrônico no país, deu margem a procedimentos operacionais distintos
entre si, que, de fato, podem ser questionados.
30
Obtido em meio eletrônico. Disponível em:
<http://uj.com.br/publicacoes/doutrinas/3410/DOCUMENTO_ELETRONICO_E_A_PROVA_ELETRONICA>
Acesso em: 27 out. 2011.
31
STF. Disponível em: <www.stf.jus.br> Acesso em: 27 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
62
Perceptível que a idéia de simples assinatura eletrônica – tais como as exigidas pelo
PROJUDI e pelo e-Proc – descomplica a vida do usuário, especialmente daqueles sem muitas
habilidades computacionais, e, sem dúvida, custa-lhe nada frente aos valores de R$ 100,00
(cem reais) a R$ 200,00 (duzentos reais), considerando o hardware necessário à utilização,32
cobrados pela AC-OAB para emissão do certificado digital no chip da carteira da Ordem.
Aqui se abra um parêntese para os fundamentos jurídicos que legitima, a OAB a ser
autoridade certificadora:
32
Fonte: Autoridade Certificadora OAB. Disponível em: < http://www.acoab.com.br/acoab/site/compre> Acesso
em: 28 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
63
[...]
Art. 13. O documento de identidade profissional, na forma prevista no Regulamento
Geral, é de uso obrigatório no exercício da atividade de advogado ou de estagiário e
constitui prova de identidade civil para todos os fins legais.
[...]
Art. 54. Compete ao Conselho Federal:
[...]
X - dispor sobre a identificação dos inscritos na OAB e sobre os respectivos símbolos
privativos;
[...]
Art. 58. Compete privativamente ao Conselho Seccional:
[...]
VI - realizar o Exame de Ordem;
VII - decidir os pedidos de inscrição nos quadros de advogados e estagiários;
VIII - manter cadastro de seus inscritos;
Observe-se que o simples uso de senha e login de usuário combinados é um sistema por
demais arriscado para se aferir a veracidade de um documento ou de seu produtor. Tome-se,
por exemplo, os serviços de internet banking dos mais diversos bancos do país. Apesar de não
exigirem (ainda) certificado digital de seus clientes, também não mais praticam apenas o uso
de assinatura eletrônica simples, exigindo em conjunto de medidas de segurança que vão
desde a instalação de programas específicos de proteção nos computadores dos clientes, ao
uso de chip33 nos cartões magnéticos, senhas diferenciadas para internet e tokens34 para acesso
às contas e realização de transações bancárias on line.
Assim, é no mínimo curioso, indagar por quais motivos os sistemas de processo eletrônico (e-
STJ e e-STF) não são realizados mediante assinatura eletrônica sem certificação? Muito
certamente porque as duas mais altas cortes do país não se atreveriam a valer-se de sistemas
de processo eletrônico sem a mínima garantia de autenticidade, validade e segurança para os
usuários e documentos ali indicados e processados.
33
Obtido em meio eletrônico. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/lingua-
portuguesa/chip;jsessionid=ahvoQ6C38UEBBMMQg+f4Hw__> Acesso em: 15 out. 2011
34
Glossário da ICP-Brasil. Anexo B deste trabalho.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
64
Diante da fragilidade que envolve o tem da segurança dos documentos eletrônicos, Luiz
Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, citando doutrina francesa, apresentam um
quadro com os meios de autenticação digital mais utilizados hodiernamente, para sugerir,
inclusive, o uso misto deles, a fim de que eventual falha de uma técnica, possa ser
compensada por outra, “o que pode outorgar aos documentos eletrônicos fiabilidade
semelhante àquela hoje desfrutada pelos documentos obtidos pelas vias tradicionais.”.
CONFIDENCIALIDADE
Criptografia simétrica Sim Sim Não Sim ?
Criptografia assimétrica Não Sim Sim Sim ?
simples
Criptografia assimétrica
Sim Sim Sim Sim ?
com dupla cifragem
PESSOAS
Código Secreto (PIN) Sim Não Não Não Sim
Cartas passivas Sim Não Não Não Sim
Cartas Ativas Sim Não Não Não Sim
Reconhecimento físico Sim Não Não Não Sim
Assinatura dinâmica Sim Não Não Não Sim
DOCUMENTOS
Assinatura Eletrônica Sim (Sim) Sim Sim Sim
Fonte: ANTOINE, Mireille; ELOY, Marc; BRAKELAND, Jean-François, Le droit de La preuve face aux
nouvelles tecnologies de l´information, p.63. (MARINONI; ARENHART, 2009, p.546).
65
A certeza da Autenticidade deve ser uma característica que diga respeito à pessoa do
signatário do Documento e não de um equipamento que este utilize. É necessário que,
no Processo Judicial Eletrônico, tenha-se absoluta certeza de que o remetente
indicado seja efetivamente o signatário daquele Documento eletronicamente
produzido e transmitido. Essa garantia relativa à autoria do Documento leva ao
Princípio do não-repúdio, que significa que o autor do Documento não poderá alegar
sua autoria.
Não se pode imaginar um processo eletrônico sem certificado digital, conquanto, os atos ali
praticados nada mais são senão documentos eletrônicos. A petição inicial, a sentença, as
decisões, etc., produzidas nos sistemas que assim trabalham, a exemplo do PROJUDI e e-
Proc, são documentos eletrônicos e como tais deveriam, de fato, ter a mínima segurança –
estabelecida, diga-se, pela própria MP que conceituou documento eletrônico – respeitada.
A situação imaginária possível, por exemplo, seria a de inserção de uma sentença ou mesmo
uma penhora on line através do sistema BACENJUD, realizada por outro usuário que não o
magistrado. Como provar que aquele documento eletrônico não foi emitido pelo juiz, se para
tal ato, em alguns sistemas de processo digital basta a assinatura eletrônica? Difícil, mas
completamente plausível, por exemplo, no PROJUDI.
35
Obtido por meio eletrônico. Disponível em: < http://cert.oab.org.br/uso_seg.htm> Acesso em: 29 out. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
66
OAB guarda prova da solicitação, quanto o advogado guarda prova em meio físico
sobre os dados do certificado que efetivamente lhe pertence.
Como mais uma medida de segurança, os certificados da ICP-OAB serão expedidos
por prazo nunca superior a três anos, prazo dentro do qual novo certificado deve ser
requerido.
O uso seguro de certificados eletrônicos pelos advogados
É opinião comum, na comunidade de segurança da informação, que o ataque mais
fácil a assinaturas digitais consiste em tentar-se apropriar da chave privada do
usuário. Aliás, exatamente na ponta do usuário encontra-se a posição mais frágil do
processo de emissão e conferência de assinaturas eletrônicas.
A OAB, assim, não tem preocupação apenas com a segurança de sua própria chave
privada e com a expedição e controle dos certificados que emite. Tem, igualmente,
preocupação em informar a seus inscritos dos riscos existentes e soluções necessárias
para controlá-los, no trato desse novo e tão importante instrumento, a assinatura
digital.
O ponto mais sensível na segurança do usuário é o da guarda de sua chave privada.
Esta chave deve ficar em poder exclusivo do seu titular, portanto, somente a ele
compete guardá-la com segurança. Se um terceiro conseguir acesso à sua chave
privada, poderá gerar assinaturas digitais em seu nome, sem nenhuma possibilidade
técnica de demonstrar-se a falsidade. Além disso, o invasor estará habilitado a
decifrar toda a sua correspondência privada que tiver sido codificada com a
correspondente chave pública.
Por isso, conforme explicitado nas instruções fornecidas, é imperioso que: a) o
certificado seja gerado em computadores pessoais do advogado; b) o certificado não
seja instalado em computadores de uso público; c) que a proteção com senha seja
utilizada, adotando-se senha complexa. Diante destes cuidados, para praticar uma
fraude, o invasor precisaria obter a chave privada que está gravada no disco rígido do
seu computador e conhecer a senha utilizada na proteção, sem a qual a chave não
poderá ser violada. Existem programas de computador especialistas em violar senhas,
realizando diversos tipos de ataque, por isso é conveniente conhecer as instruções
sobre a escolha de senha segura.
É também seriamente recomendável que o usuário não instale "softwares" de
procedência desconhecida ou duvidosa no computador onde está armazenado o seu
certificado, e tome a mais completa precaução contra ataques de vírus ou cavalos-de-
tróia. A possibilidade técnica de um vírus, ou cavalo-de-tróia, adentrar seu
computador, capturar a chave gravada no disco, "observar" sua digitação no teclado
para aprender a senha, para, após, enviar tudo isso a um criminoso, sem que o usuário
sequer perceba, é concreta e real.
É altamente recomendável aos usuários a instalação de softwares anti-vírus, que
impeçam a infecção por esses programas malignos, bem como a utilização de um
sistema de proteção contra acesso indevido em seus computadores, conhecido no
jargão técnico por "firewall". Há várias opções disponíveis desses sistemas, a baixos
custos, ou mesmo gratuitas.
Outra observação relevante diz respeito ao tamanho das chaves. Atualmente, os
"browsers" disponibilizados ao grande público geram chaves de 1024 bits, que podem
ser consideradas seguras por mais alguns anos. No atual estágio de desenvolvimento
da ciência e da tecnologia, considera-se não existir poder computacional instalado que
seja suficiente para quebrar chaves de 1024 bits. Versões de "browsers" mais antigas,
sujeitas a anteriores restrições de leis norte-americanas que controlavam exportação
de produtos e tecnologia de criptografia forte, não permitiam a criação de chaves com
mais de 512 bits. Embora exija certo poder computacional para fazê-lo, já foi
demonstrado que é possível fraudar chaves desta magnitude. Neste caso, a atualização
do "browser" é também seriamente recomendável.
Desnecessário dizer que o certificado contendo a chave privada (que, em princípio,
está instalado no computador que fez a requisição, e armazenado na cópia de
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
67
segurança que foi gerada) deve ser de uso pessoal e exclusivo do seu titular, não
devendo ser cedido ou emprestado em hipótese alguma. A entrega da chave privada a
um terceiro é ato de ainda maior risco do que a entrega de cartões bancários ou de
crédito; a "restituição" da chave privada ao titular não assegura que uma cópia exata e
idêntica não possa ter sido feita, vez que se trata apenas de um arquivo eletrônico,
fácil e prontamente duplicável. Nunca, sob qualquer pretexto, permita ou conceda
acesso de terceiros à sua chave privada. (grifos nosso)
Havendo suspeita de que a chave privada tenha caído em poder de terceiros, deve-se
prontamente requerer a revogação do certificado eletrônico junto à OAB.
Certificados eletrônicos contendo tão somente a chave pública são livremente
distribuídos, estando inclusive disponíveis para acesso online. Estes certificados são
utilizados somente para conferir a assinatura ou para enviar mensagens eletrônicas
criptografadas ao titular. Não se assuste em vê-los circulando.
Somados todos estes fatores, e considerando que esta será certamente a primeira
experiência de cada um de nós advogados no uso operacional de chaves criptográficas
assimétricas, firmamos a posição de limitar o uso dos certificados a fins profissionais,
evitando que o advogado possa ser alvo de ataques criminosos tendentes a subtrair-lhe
a chave privada para causar-lhe prejuízo patrimonial. Certamente, ficando restrito à
prática de atos profissionais, o uso indevido de certificados subtraídos ou forjados fica
mais fácil de ser detectado, corrigido e apurado, bem como pode afastar o interesse
daqueles que possam querer obter nossas chaves para cometer outros tipos de fraude.
Registre-se o que Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart afirmam (2009, p. 543-
544):
Muito pior, parece que o descrédito dos próprios advogados aos sistemas de processo
eletrônico em nada contribui para a solução dos problemas atinentes à segurança do
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
68
Injustiça digital
Segundo o presidente do Conselho Federal da OAB, Ophir Cavalcante, no entanto,
os números da Certisign são "injustos". Ele explica que alguns tribunais criaram
sistemas de cadastro, por meio de login e senha, sem exigir certificados digitais, e
muitos advogados os usam. E esses não são computados nos dados da companhia
certificadora.
Mesmo assim, Ophir reconhece que a advocacia anda a passos lentos em direção à
inclusão digital. Ele aponta dois fatores principais: resistência cultural e falta de
estrutura do Judiciário e dos tribunais. O último motivo, diz, é técnico e passa pela
falta de "maquinário adequado" da maior parte dos tribunais brasileiros, que não têm
condições de armazenamento de arquivos, ou computadores suficientes. "Há sistemas
que não aguentam processos com mais de mil páginas, por exemplo."
Paulo Cristóvão, do CNJ, entretanto, afirma que a maioria dos tribunais faz isso
propositadamente. Eles impõem limites de tamanhos de documentos que podem ser
peticionados eletronicamente, como é o caso do Supremo Tribunal Federal, que
permite 10 MB por documento. "Imagine que você peticiona um arquivo mil páginas,
ou uns 20 MB, mas a pessoa que vai receber tem uma conexão de internet discada. Os
tribunais fazem isso para garantir o direito de defesa, para que todos possam ter
acesso a todos os documentos."
36
Conjur. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2011-set-24/advocacia-ainda-nao-preparada-processo-
eletronico.> Acesso em: 29 set. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
69
Quanto à resistência cultural, Ophir Cavalcante, da OAB, explica que a maior parte
dos advogados vem de gerações que não estão acostumadas com o computador.
Passaram toda sua vida profissional lidando com processo em papel, e de repente têm
de lidar com documentos digitais, em telas de computadores. Isso, inclusive, exige
uma série de investimentos "anormais" aos advogados, como scanner, ou a máquina
leitora de certificados digitais.
"Falta de sensibilidade"
Esses investimentos, continua Ophir, são outro motivo importantíssimo para o atraso
dos advogados, em relação ao Judiciário, no processo eletrônico. "Pessoas físicas não
têm a mesma velocidade de investimento que o Estado, que já gastou milhões de reais
com diversas versões diferentes de programas", explica.
Parte desses investimentos foi nos chips das carteirinhas, onde vêm inscritos os
certificados digitais. Ophir Cavalcante informa que, há dois anos, o Instituto de
Tecnologia da Informação do governo federal (ITI) optou por uma tecnologia de
certificação. Ano que vem, porém, essa tecnologia-padrão vai mudar, de novo por
determinação do ITI, segundo o presidente do Conselho da OAB.
Ou seja: "os advogados tiveram de gastar dinheiro com esses chips, para refazer suas
carteirinhas [um certificado digital custa R$ 120], e agora vão ter de gastar de novo
por essa falta de sensibilidade do governo com o assunto", reclamou o advogado.
Desigualdade regional
Os estados também são diferentes em relação à inclusão digital dos advogados. O
Paraná é o estado mais conectado, com 54% de seus profissionais com registros na
Certisign — ou 20,8 mil pessoas, dos quase 40 mil advogados do estado.
O paranaense José Ricardo Cavalcanti de Albuquerque, da Comissão de Direito
Eletrônico do Conselho Federal da OAB, defende a teoria de que os advogados não
têm certificados digitais porque não são obrigados. Ele explica que o alto índice de
advogados com certificado de seu estado se dá por conta da Justiça do Trabalho local.
Lá, conta, quase 80% dos tribunais trabalhistas já são inteiramente digitais. Além
disso, todos os Juizados Especiais Federais já são adeptos do processo eletrônico.
Além disso, a OAB paranaense começou, em 2009, a criar centros de inclusão digital
para ajudar os advogados a entrar no mundo da tecnologia. Nesses lugares há
computadores, leitoras de certificados e profissionais qualificados a ajudar quem
ainda não conseguiu se entender com o peticionamento eletrônico.
José Ricardo Albuquerque era o coordenador da Comissão de Direito Eletrônico da
OAB-PR na época. Ele lembra que o programa surgiu por causa da falta de estrutura
fornecida pelo Judiciário para que os advogados passassem a se certificar.
"Infelizmente, os tribunais não se concentram tanto em dar essa estrutura, e aí a OAB
arcou com o custo dessa responsabilidade."
A OAB do Rio de Janeiro teve idéia semelhante. Decidiu, por iniciativa da Caixa de
Assistência dos Advogados do Rio (Caarj), no fim do ano passado, criar os centros de
inclusão digital e dar aulas gratuitas para os advogados. As mesmas aulas foram
gravadas em vídeo e hoje são transmitidas no site da entidade. Além disso, vendem a
certificação pelos R$ 120 exigidos pela Certisign e fornecem as leitoras
gratuitamente.
O resultado foi um salto na quantidade de advogados com certificados digitais. No
ano passado, eram 1,3 mil certificados, e só até agosto deste ano, a cifra já pulou para
10,7 mil. Hoje, 11% dos advogados fluminenses têm a certificação da OAB, fornecida
pela Certisign.
Dois pesos
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
70
Já São Paulo, pelos dados da Certisign, é praticamente um estado no papel. Dos 226
mil advogados registrados na OAB, apenas 5,9 mil têm a certificação da companhia.
Ou seja: 89% dos advogados paulistas não têm condições de peticionar
eletronicamente.
Acontece que a maiorias das certificações digitais do estado é feita pela Associação
dos Advogados de São Paulo (Aasp), por meio da Imprensa Oficial de SP. A entidade
tem 17 mil de advogados certificados. Levando em conta que a Aasp tem 90 mil
advogados cadastrados.
Mas não é a obrigatoriedade que explica São Paulo, e sim a concorrência. Enquanto, a
certificação da Certisign custa R$ 120, fora os custos da leitora, a Aasp oferece um
pacote que sai mais de R$ 100 mais barato. O advogado pode, em SP, comprar a
certificação, a carteirinha (no caso da Aasp, a certificação não fica na carteirinha da
OAB, mas num documento separado) e a leitora saem por R$ 99.
Segundo o CNJ, é, sem dúvida, o preço mais barato do mercado. Onde não há
pacotes, o advogado é obrigado a gastar, em média, R$ 240 para se certificar.
A matéria acima discorre bem sobre o tema e ainda ilustra bem a situação da certificação
digital dos advogados quando apresenta os quadros a seguir:
Fonte: Conjur37
37
Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2011-set-24/advocacia-ainda-nao-preparada-processo-eletronico.>
Acesso em: 29 set. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
71
Fonte: Conjur38
De fato, parece que o problema não está só na questão financeira dos certificados, mas passa
também pela obrigatoriedade do advogado possuir tal assinatura digital. É que enquanto essa
necessidade for dispensável pelos sistemas de processo eletrônico que dispensam o seu uso,
comodamente não se verá aumento desses números.
Digno de nota, ainda, que a certificação digital é inservível para fins de compartilhamento nas
bancas jurídicas. Não se trata de software ou hardware compartilhável, mas sim de uso
personalíssimo e individual, tal qual a própria carteira da Ordem.
Pode-se mesmo dizer que o certificado digital é o documento que atesta, no mundo virtual, ser
o advogado quem é no mundo real. E se no mundo real não há “empréstimo” da Carteira da
OAB, também não existe tal prática na internet.
Sobre o tem o próprio STJ em recente posicionamento deu a exata dimensão da necessidade
da assinatura digital – e não a eletrônica, mais comum e barata – no processo quando assim
pontuou:
38
Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2011-set-24/advocacia-ainda-nao-preparada-processo-eletronico.>
Acesso em: 29 set. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
72
Observe-se que o recurso sequer existiu, não se tratando de requisito ou condição no plano da
validade ou eficácia, mas sim da existência. Seria forçoso concluir daí que os atos eletrônicos
praticados sem certificado digital no PROJUDI ou e-Proc também inexistem, pois que se
estaria diante de um prejuízo maior aos jurisdicionados que já obtiveram a tutela pretendida,
mas nota-se a importância da segurança proporcionada pela assinatura digital ao documento
eletrônico, seja como peça processual, seja como prova.
Com efeito, nota-se que a prova no processo eletrônico, necessariamente passa pelo conceito
de documento eletrônico. Este, por seu turno, exige pré-requisitos tecnológicos, a fim de que
se possa aferir sua autoria (seja do usuário que o inseriu, seja daquele que efetivamente
produziu), autenticidade e integralidade, posto que sem os mesmos o risco e insegurança
permeará o procedimento.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
73
Inegável e indubitável que o processo eletrônico em si, bem como o uso do documento
eletrônico. Rechaçando qualquer dúvida sobre existência e utilização de ambos, Alexandre
Atheniense39, em um breve artigo pontua:
39
Obtido por meio eletrônico. ATHENIENSE, Alexandre Rodrigues. Documentos eletrônicos no processo
digital. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 06 mar. 2009. Disponivel em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.23320>. Acesso em: 30 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
74
As provas obtidas por meio eletrônico diferem das demais apenas quanto à forma de
armazenamento, já que acompanhando o avanço da tecnologia da informação, o
armazenamento das informações passaram do papel para os bits, substituindo a grafia
tradicional e o uso do papel pelos impulsos eletrônicos.
A aceitação das provas, nesta modalidade, pelo ordenamento jurídico brasileiro
é garantida pela regra genérica, prevista no artigo 332, do Código de Processo
Civil, segundo a qual os "meios legais" equivalem aos "moralmente legítimos"
considerando todos "hábeis para provar a verdade dos fatos em que se funda a
ação ou a defesa" ainda que não previstos expressamente no Código. Pelo artigo
225 do Código Civil, é ainda possível afirmar que “quaisquer reproduções
eletrônicas” fazem prova plena desde que não haja impugnação pela sua
exatidão. Portanto, o aspecto essencial a ser analisado quanto às provas é o seu
conteúdo, se este viola ou não norma material ou constitucional. O formato da
prova não deve ser questionado, pois o conteúdo probatório terá valor seja
armazenado em papel, ou em meio eletrônico.
Um aspecto relevante que poderá ser questionado em relação aos meios de prova
informatizados, é quanto à idoneidade dos dados, pois apesar de todos os meios de
proteção disponíveis a esse tipo de armazenamento de dados, estes ainda poderão ser
passíveis de modificações. Tendo em vista esse aspecto torna-se conveniente o
emprego de meios eletrônicos de autenticação, capazes de oferecer aferir maior
confiabilidade, com uso da certificação digital, diante da possibilidade de
identificação se um determinado documento eletrônico teve a seqüência binária
alterada.
A certificação digital e a assinatura eletrônica são regulamentadas pela MP-
2.200-2 que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-
Brasil). Sua finalidade é garantir a autenticidade, a integridade e a validade
jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das
aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização
de transações eletrônicas seguras, que se refere a qualquer mecanismo, não
necessariamente criptográfico. Os documentos assinados digitalmente, podem
ser considerados como prova inequívoca e têm valor probante erga omnes. Mas
ainda que o documento eletrônico não tenha sido assinado é possível verificar a
autenticidade e integridade através da devida perícia técnica.
Entre as provas obtidas por meio eletrônico podemos citar as mensagens de correio
eletrônico, textos veiculados em sites, as gravações de áudio, vídeo e imagem, fotos
digitais, e outros dados armazenados em computadores ou outra mídia eletrônica, que
podem ser utilizados para provar o fato alegado pela parte no processo. Uma das
maiores dificuldades relacionadas com as provas obtidas na Internet é o seu
perecimento, já que, por exemplo, um site que veicula informações denegrindo a
honra de alguém, pode sair do ar de uma hora para a outra. Neste caso, a pessoa
atingida poderia imprimir a página no momento que percebeu a ofensa, mas esse
documento poderia gerar dúvidas. Cumpre destacar que nesse caso é possível a
elaboração de uma ata notarial em relação a um ambiente eletrônico. Basta para isso,
que a parte requeira a um Tabelião que relate os fatos que presenciou diante do
monitor, comprovando a existência e todo o conteúdo visualizado, arquivando os
endereços acessados, imprimindo as imagens coletadas no próprio instrumento
notarial.
Por último, podemos realçar que, embora a lei não determine requisitos de aceitação
do documento eletrônico, temos percebido que em algumas regulamentações está
sendo limitado o tamanho dos documentos eletrônicos enviados, por questões de
armazenamento, ou ainda, por ocupação das bandas de download e de upload. Tal
questão é merecedora de futuras discussões para evitarmos o cerceamento de defesa
que pode ocorrer nesta limitação imposta.
Desta forma, concluímos que o valor probante das provas obtidas por meio eletrônico
é o mesmo dos meios tradicionais e a forma em que estão armazenados os dados em
nada influi na licitude desta, podendo apenas existir graduação quanto à autenticidade
dos dados gravados, interferindo assim no critério de caracterização sobre idoneidade
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
75
Sem dúvidas, a simples divisão dos documentos, em públicos e privados, demonstra uma
diferença em relação à força probante de cada um deles, mormente o principio do livre
convencimento motivado do juiz, tal divisão ainda hoje é relevante na valoração das provas,
por ainda imprimir aos documentos públicos mais valor, na busca da verdade processual
possível.
Destarte, a regra do artigo 373 do CPC é no sentido de que: “o documento particular, de cuja
autenticidade se não duvida, prova que o seu autor fez a declaração, que lhe é atribuída”,
presumindo-se verdadeira a declaração feita pelo documento particular.
O que se objetiva com uma impugnação de uma prova documental, aqui incluso o documento
eletrônico, é a sua falsidade ou sua autenticidade. De acordo com Castro (2000, p. 255): “É,
em geral, indispensável, para que os documentos particulares façam prova em juízo, que a
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
76
parte que deles quer servir-se prove a verdade do seu objeto, se a parte contrária nega a sua
veracidade”.
Para o CPC, em seu artigo 387, a falsidade consiste em formar um documento não verdadeiro,
ou alterá-lo, e a forma de sua impugnação é aquela prevista nos artigos 390 e seguintes do
mesmo diploma legal:
Art. 390. O incidente de falsidade tem lugar em qualquer tempo e grau de jurisdição,
incumbindo à parte, contra quem foi produzido o documento, suscitá-lo na
contestação ou no prazo de 10 (dez) dias, contados da intimação da sua juntada aos
autos.
Art. 391. Quando o documento for oferecido antes de encerrada a instrução, a parte o
argüirá de falso, em petição dirigida ao juiz da causa, expondo os motivos em que
funda a sua pretensão e os meios com que provará o alegado.
Art. 392. Intimada a parte, que produziu o documento, a responder no prazo de 10
(dez) dias, o juiz ordenará o exame pericial.
Parágrafo único. Não se procederá ao exame pericial, se a parte, que produziu o
documento, concordar em retirá-lo e a parte contrária não se opuser ao
desentranhamento.
Art. 393. Depois de encerrada a instrução, o incidente de falsidade correrá em apenso
aos autos principais; no tribunal processar-se-á perante o relator, observando-se o
disposto no artigo antecedente.
Art. 394. Logo que for suscitado o incidente de falsidade, o juiz suspenderá o
processo principal.
Art. 395. A sentença, que resolver o incidente, declarará a falsidade ou autenticidade
do documento (grifo nosso).
Mister ainda destacar a questão da aferição temporal para a impugnação da prova documental
no processo eletrônico. A relevância do tempo aqui pode ser crucial em inúmeros documentos
eletrônicos, a exemplo da comprovação de propriedade intelectual, ou do cumprimento de um
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
77
prazo processual no sistema da Lei 11.419/06, que admite a sua entrega até as 24h (vinte e
quatro horas) do dia fatal do protocolo.
Seria possível a aplicação do art. 370 do CPC para os problemas em relação a um documento
particular não datado?:
Art. 370. A data do documento particular, quando a seu respeito surgir dúvida ou
impugnação entre os litigantes, provar-se-á por todos os meios de direito. Mas, em
relação a terceiros, considerar-se-á datado o documento particular:
I - no dia em que foi registrado;
II - desde a morte de algum dos signatários;
III - a partir da impossibilidade física, que sobreveio a qualquer dos signatários;
IV - da sua apresentação em repartição pública ou em juízo;
V - do ato ou fato que estabeleça, de modo certo, a anterioridade da formação do
documento.
Esta regra parece ser suficiente para prova documental física, mas ao processo eletrônico não,
considerando que os dispositivos computacionais de data e hora, tanto de criação quanto de
modificação de um arquivo, por exemplo, refere-se às mesma informações do computador em
que é criado, cuja alteração trata-se de uma das mais simples modificações ao usuário.
Neste sentido, a certificação digital é de extrema importância ao processo eletrônico, uma vez
que a mesmo imprime maior segurança ao quesito tempo, tanto para o documento eletrônico
em si, quanto a sua inserção nos autos do procedimento digital.
Noutro giro, além da autenticidade, importa à prova documental eletrônica, ainda, a sua
autoria, isto porque o próprio CPC determinar que se a autoria de um documento não é
explícita, considerar-se-á autor aquele que o assinou ou, acaso apócrifo, aquele que
determinou sua realização, a exemplo dos livros comerciais e registros domésticos.
Ora, se os documentos cujo meio físico é o papel a assinatura de próprio punho define seu
autor, o documento eletrônico terá por “assinatura” o certificado digital de quem o criou,
apresentando sua procedência e dando a credibilidade necessária àquele documento.
Neste aspecto, impende consignar que o artigo 388 do CPC determina que se a veracidade da
assinatura não puder ser comprovada, o documento particular perderá a sua fé:
78
Parágrafo único. Dar-se-á abuso quando aquele, que recebeu documento assinado,
com texto não escrito no todo ou em parte, o formar ou o completar, por si ou por
meio de outrem, violando o pacto feito com o signatário.
Crê-se perfeitamente aplicável à regra acima exposta aos documentos eletrônicos e à prova no
processo eletrônico, sendo certo que os documentos e atos ali praticados sem assinatura
digital hão de cessar a sua fé, já que esta deveria constitui requisito mínimo para a autoria do
mesmo.
Patricia Peck Pinheiro (2009, p. 155) afirma que: “além de não existir nenhum óbice jurídico,
o documento eletrônico assinado digitalmente torna factível a visualização de qualquer
tentativa de modificação do documento por meio da alteração da sequência binária”.
Não há, quer virtualmente, quer fisicamente, garantias de segurança ou de certeza absoluta de
qualquer documento, a exemplo dos inúmeros golpes noticiados diuturnamente, com uso de
CPF´s, certidões de óbito, e contratos sociais de empresas fantasmas. Contudo, a exigência da
assinatura digital, assim como outros dispositivos de segurança, permitem ampliar essa
segurança para limites adequados à manutenção da paz social, devendo cada um,
individualmente, zelar e ser responsável pela segurança de suas senhas de modo a ajudar a
coibir tais práticas, cada vez mais comuns (PINHEIRO, 2009, p. 164).
79
eletrônica a data e hora em que foi gerada. Aqui não temos qualquer diferença em
relação ao documento físico: tanto um como outro podem ser falsamente datados
pelos seus signatários. No caso da data constante da assinatura eletrônica, basta
modificar a data do sistema (i.e., a data assumida pelo computador que está sendo
utilizado para gerar a assinatura) e, em seguida, assinar o documento eletrônico. Por
isso, aplicam-se integralmente ao documento eletrônico as disposições do art. 370 do
CPC, com ressalva feita ao inciso III, pois a impossibilidade física que impede de
assinar graficamente pode não impedir o sujeito de assinar eletronicamente32-A.
Até que algum sistema seja juridicamente reconhecido como apto a provar - também
por vias eletrônicas - a data dos documentos eletrônicos, pode-se pensar em publicar
em jornal as suas assinaturas digitais. Ou, quem sabe, imprimi-las em uma folha de
papel a ser apresentada ao Registro de Títulos e Documentos32-B. Sendo as assinaturas
únicas para aquele documento, a certeza quanto à data daquelas prova a deste.
Se somente podemos assegurar a integridade do documento eletrônico mediante sua
conferência com a correspondente assinatura, disto resulta que documentos não
assinados são irremediavelmente suscetíveis de alteração. Como conseqüência, a
previsão contida no CPC quanto a documentos não assinados é inaplicável aos
documentos eletrônicos, pois é impossível provar-lhes a autoria e a veracidade.
Do mesmo modo, inexiste neste campo a possibilidade do documento ser assinado em
branco e abusivamente preenchido. Qualquer preenchimento posterior, abusivo ou
não, invalida a assinatura eletrônica.
Os pontos fracos do sistema residem basicamente na eventual apropriação indevida da
chave privada e na autenticidade da chave pública. E isto traz repercussões no estudo
da falsidade dos documentos eletrônicos.
Quanto a este primeiro problema, ele pode ser evitado na medida em que o titular da
chave tome cautelas para sua proteção. Entretanto, nenhuma cautela é suficiente para
evitar situações em que, mediante alguma forma de coação física, o sujeito seja
obrigado a fornecer a sua chave privada e a “frase-senha”33. Mas o problema, aqui, é
o mesmo do mundo físico: alguém poderia coagi-lo a subscrever um documento ou
um cheque. De qualquer modo, é importante lembrar que se terceiros tiverem acesso à
chave privada, poderão subscrever documentos como se fossem o seu verdadeiro
titular, sem que isto deixe qualquer vestígio. Se por outros meios de prova puder ser
demonstrado que houve a apropriação e uso ilícito da chave privada, deverá o juiz
levar isto em conta, negando valor ao documento eletrônico.
Analisemos, agora, a questão da autenticidade da chave pública. Por autenticidade da
chave pública queremos dizer a certeza de que ela provém do seu titular. Qualquer um
poderia gerar um par de chaves e atribuir-lhe o nome de qualquer pessoa, existente ou
imaginária33-A. A autenticidade do documento eletrônico é conferida sem dificuldade
por qualquer usuário de computador, com o uso do programa de criptografia e de
posse da chave pública do seu subscritor. Mas, e se a própria chave pública não for
autêntica? Esta conferência o programa não tem como realizar. O que fazer, então,
para contornar o problema?
Para solucionar controvérsias acerca da autenticidade de chaves públicas, podemos
nos valer de uma série de procedimentos, que adiante proponho, e que permitirão
relacionar uma dada chave pública a seu titular. Disto será tratado no próximo tópico.
Por ora, continuemos com a problemática da falsidade de documentos eletrônicos.
Diante das linhas acima traçadas, é possível afirmar que, quanto a um documento
assinado eletronicamente pelo uso de criptografia assimétrica, a argüição de falsidade
só poderá ser baseada em “falsidade de assinatura”. Isto porque a adulteração do
conteúdo do documento é inviável, vez que faz perder o vínculo entre este e a
assinatura. Dentro deste prisma, é de se dizer que o documento eletrônico assim
assinado é dotado de um maior grau de confiabilidade que o próprio documento
tradicional. O próprio software de criptografia, ao conferir a assinatura, acusa que o
documento adulterado não corresponde a ela. Já o documento cartáceo necessita de
um exame pericial para constatar-se eventual alteração; e, com o evoluir da técnica,
certamente surgem meios mais e mais poderosos para alterar documentos físicos.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
80
81
82
83
futuro tratamento legislativo será bem-vindo, para o fim de definir com clareza qual a
eficácia e a validade de assinaturas e documentos eletrônicos, que requisitos eles
deverão conter, ou quais os direitos e deveres daqueles que criam, certificam, ou se
utilizam de chaves eletrônicas. Por isso, embora o Projeto de lei nacional acima
mencionado tenha seus méritos pelo pioneirismo e iniciativa, é de se reconhecer sua
carência no trato de vários aspectos juridicamente relevantes.
Além de permitir um regime uniforme e de normatizar uma série de novas situações
que advirão da popularização dos documentos eletrônicos, uma futura lei ainda
servirá para pôr abaixo eventuais resistências e desconfianças que ainda possam
subsistir quanto ao seu uso e valor probante.
e) Considerações finais sobre a prova por documentos eletrônicos.
Diante de tudo o que foi acima exposto, claro está que existe, nos dias de hoje,
técnica hábil a tornar o documento eletrônico algo no mínimo tão seguro quanto
os documentos tradicionais. E, principalmente, o uso de documentos eletrônicos
e assinaturas criptográficas pode ser plenamente recepcionado pela nossa ordem
jurídica.
[...]
Hoje em dia, disseminou-se intenso comércio por meio da Internet, em que contratos
são firmados mediante um simples clicar do mouse, considerado este ato como
aceitação das cláusulas estabelecidas em uma página da World Wide Web. O usuário
simplesmente preenche alguns campos com seus dados pessoais, escolhe o produto ou
serviço que deseja e, ao final, “aperta” um botão virtual que remete todas estas
informações à outra parte, manifestando, com este ato, a sua vontade.
É evidente que um contrato assim firmado é plenamente válido, condicionado apenas
à observância das mesmas disposições que regem os contratos em geral e as relações
de consumo. Discussões acerca do momento do seu perfazimento, da lei aplicável, do
local do pagamento, da tributação, ou outras mais, certamente podem surgir no plano
do direito material e devem ser motivo de estudo por parte dos civilistas,
comercialistas ou tributaristas. Não é este o objetivo deste meu estudo e, por isso,
restringir-me-ei a abordar o problema da prova destes contratos.
Ora, em nenhum momento, no perfazimento destes contratos, é exarado qualquer
sinal que possa ser considerado como assinatura, ou seja, um identificador único e
exclusivo de seu titular. Por isso, qualquer um poderia tê-lo enviado, que não a pessoa
ali declarada. De outro lado, os termos em que o contrato é firmado também não estão
documentalmente provados: os dizeres que contém uma página da WWW podem ser
instantaneamente alterados; o que estava escrito ontem pode não ser o mesmo que ali
encontramos hoje, sem que isto deixe vestígios materiais.
Assim, não se pode atribuir força documental a qualquer registro que tenha sido
gerado no servidor que recebeu esta proposta. O registro, em poder de uma parte, e
sem a inalterabilidade conferida pela assinatura criptográfica da outra parte, é
amplamente suscetível a modificações. Além disso, não se tem a menor certeza acerca
da identidade da pessoa com quem se contratou. Não se quer dizer com isso que tais
contratos não existam, que sejam inválidos, nem que não possam ser provados. O que
temos em mãos, porém, é um contrato cuja forma se assemelha à forma verbal (ou,
mais próximos ainda, do contrato verbal firmado por telefone, em que os contratantes
sequer se põem face à face). Por isso, tal contrato se perfaz do mesmo modo que um
contrato verbal, e poderá ser provado por todos os meios admitidos em direito. O que
não teremos, todavia, é a prova documental do negócio jurídico efetuado. Convém
mencionar que aqui incluo os chamados “sites seguros”. Nestes, são utilizados
processos criptográficos tão somente para conferir sigilo aos dados inseridos, de
modo que as informações pessoais do usuário não possam ser interceptadas e lidas
por um intruso. A criptografia aplicada nestas páginas eletrônicas serve apenas para
dar privacidade à transmissão, mas não gera uma assinatura digital, que torne
imutável o conteúdo do documento eletrônico, ou permita alguma conclusão sobre a
autoria da mensagem.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
84
Outro aparente “registro” merece ser aqui desnaturado como documento. O software
de correio eletrônico mantém arquivados no computador do usuário todas as
correspondências recebidas ou enviadas, ao menos até que sejam por ele
voluntariamente apagadas. Como a maioria dos softwares de correio eletrônico não
permite editar estes registros, isto pode dar ao usuário de computador menos
experiente a falsa sensação de que são seguros ou não adulteráveis.
Igualmente, afirmo que se a correspondência recebida não estiver assinada
eletronicamente, por processo criptográfico, difícil será emprestar-lhe a força de
prova documental, ou mesmo atribuir-lhe qualquer força probante. Isto porque estes
registros podem ser unilateralmente alterados de modo extremamente fácil.
Em primeiro lugar, há alguns softwares de correio eletrônico que editam seus
registros. Basta que se utilize um destes programas, para que qualquer usuário
iniciante altere todo o conteúdo, data, ou mesmo remetente da mensagem enviada ou
recebida que esteja arquivada no seu próprio computador. Em segundo lugar, é
possível editar os registros com um editor hexadecimal, caso o próprio programa não
tenha função de edição. O editor hexadecimal é um tipo de programa de computador
que acredito ser desconhecido pela maioria dos profissionais do Direito e, por isso,
teço aqui algumas considerações a seu respeito, a fim de facilitar a compreensão da
fragilidade dos registros. Lembro, porém, que qualquer profissional da área técnica,
bem como alguns usuários mais experientes, conhecem este tipo de programa,
comumente utilizado por programadores de computador. Um editor hexadecimal
permite editar qualquer arquivo eletrônico, byte por byte. Assim, não deve o leitor se
iludir com o fato de que o programa de correio eletrônico não edite seus próprios
registros: um editor hexadecimal, nas mãos de quem saiba operá-lo, pode editá-los
com a mesma facilidade com que um processador de textos altera seus documentos.
Assim, sem grande dificuldade, pode um missivista adulterar todo o conteúdo dos
seus registros, incluindo-se, aqui, a indicação do remetente. Tanto se pode adulterar a
mensagem recebida como se pode fraudar a autoria de uma mensagem contida nos
registros. E tudo sem deixar marcas. E não se diga que poderíamos confrontar os
registros dos dois contratantes, pois, diante da disparidade, não temos condições de
dizer qual dos dois é o registro falseado, e qual é o verdadeiro, o que torna a
constatação algo inócuo como meio de prova.
Concluo, pois, que sem o uso de assinatura criptográfica, nenhum valor probante têm
os registros dos e-mails enviados ou recebidos arquivados no computador do usuário.
Menos sujeitos a adulterações tão simples, mas também não invioláveis, são os
sistemas em que se tem cadastro de senhas de acesso. E, na Internet, tais sistemas têm
proliferado bastante, para uso de serviços disponibilizados aos consumidores, entre os
quais o próprio acesso ao provedor. Nem sempre estes sistemas são seguros. E, além
disso, não vejo aqui, igualmente, a formação de uma prova eletrônica confiável, para
ser exibida em juízo. Isto porque a senha não é de conhecimento exclusivo do seu
titular. Alguém, que tenha - ou ilicitamente obtenha - acesso privilegiado ao sistema
poderá se apropriar da senha alheia e utilizá-la indevidamente. Uma grande
preocupação na Internet é a invasão de sistemas por hackers, que astuciosamente, e
com boa experiência em informática, volta e meia logram descobrir a senha de acesso
de algum usuário cadastrado, sem que este tenha minimamente contribuído para isso.
Ou, se o próprio sistema autoriza a seus administradores ou operadores o acesso às
senhas alheias, a idoneidade destes funcionários pode ser um ponto fraco na
segurança.
Sobre tais problemas, são dignos de menção dois acórdãos que enfrentaram questões
semelhantes:
No primeiro, apreciou-se ação de anulação de débito movida em face da TELESP,
envolvendo dívidas contraídas mediante contrato de financiamento de contas
telefônicas, conhecido por “Telecard”. Por este sistema, o usuário pode efetuar
ligações para qualquer lugar do mundo, de qualquer linha telefônica, bastando indicar
o número e senha do seu cartão de acesso ao sistema. Diante de número excessivo de
ligações - que se constatou terem sido feitas a partir de telefones públicos - ingressou
o usuário em juízo, negando tê-las feito. Decidindo pela procedência do pedido, a
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
85
sentença de primeiro grau foi mantida pelo E. Tribunal de Justiça de São Paulo, em
acórdão da lavra do Des. Pereira Calças, que, entre outros fundamentos, asseverou
que:
“Não há dúvida, como bem ressaltou o nobre sentenciante, que ao apelado competia
zelar pelo sigilo de sua senha. O apelado sustenta que não foi ele o responsável pelo
“vazamento” do número de sua senha, atribuindo o fato à falha do próprio sistema
ou à possibilidade de em eventual cruzamento de linhas telefônicas, terceiro tê-lo
ouvido quando fornecia sua senha à telefonista.
A prova produzida evidencia a possibilidade de ocorrer cruzamento de linhas
telefônicas, bem como a possibilidade de funcionários da própria TELESP ou de
empresas que trabalham para ela interceptarem ligações telefônicas e, desta forma,
ter acesso à senha sigilosa do apelado”47.
Um segundo acórdão que trago à apreciação foi proferido pelo E. Tribunal de Justiça
de Pernambuco. Ali, correntista de instituição bancária, vítima do “conto do cartão”,
foi ludibriado por terceiro que dele obteve o cartão magnético e a respectiva senha.
Entretanto, o gatuno logrou não apenas sacar o dinheiro que havia na conta corrente,
como, via ligação telefônica, conseguiu transferir mais dinheiro da caderneta de
poupança da vítima para a conta corrente, de onde pôde efetuar outras retiradas.
Reconhecendo o direito do correntista ao ressarcimento, o acórdão, relatado pelo Des.
Napoleão Tavares, tinha a seguinte ementa oficial:
“Sendo de pleno conhecimento do banco a prática corriqueira do “conto do cartão
magnético”, constitui negligência o atendimento, via telefônica, sem perfeita
identificação do cliente, mediante rigorosa exigência do uso da senha pessoal.
Tratando-se de modalidade de atendimento visando a facilitar a operacionalidade do
serviço, a empresa que o instituiu para melhorar o seu comércio há de suportar os
riscos decorrentes dessa rendosa atividade”48.
O que se pode extrair destes dois acórdãos é que, no primeiro, ao justificar o
julgamento diante da mera possibilidade de que tenha havido o vazamento da senha,
houve, implicitamente, reconhecimento de que o ônus da prova das ligações
continuava a cargo da Telesp, não se reconhecendo como tal as declarações desta
acerca de acesso supostamente feito com o cartão do usuário. Não vejo aqui inversão
do ônus da prova em favor do consumidor49, mas sim, numa leitura mais aberta do
artigo 333 do CPC, a mera aplicação do princípio segundo o qual cada parte deve
provar a existência dos fatos que lhe aproveitam, sendo indiferente a posição que
ocupam no processo. Assim, por exemplo, a existência de um crédito deve ser
provada pelo credor, independentemente da posição processual que ocupe: autor, face
ao pedido de cobrança, ou réu, quanto à declaração de inexistência da obrigação.
Havendo, então, a mera possibilidade de que o sistema possa ser quebrado, os
registros por si não servem como prova, competindo ao credor demonstrar por outras
vias que o acesso foi efetivamente feito pela parte contrária.
Do segundo julgado, por seu turno, pode-se extrair um importante princípio: diante de
falhas das facilidades proporcionadas pela tecnologia, estas devem ser suportadas
pelo operador do serviço, que deles se vale para expandir seu negócio. Por isso,
concluo que a ele compete produzir prova cabal, desconsiderando-se como tal
registros gerados por sistemas em que exista a possibilidade concreta de falha.
Enfim, nestas situações todas acima aludidas - páginas da Web, e-mail, ou sistemas
controlados por senha -, é de se descartar que quaisquer registros possam ser
considerados como prova documental. Pendendo controvérsia, competirá à parte que
tem o ônus da prova demonstrar a verdade pelos meios de prova que dispuser; quando
muito, e dependendo das peculiaridades do caso concreto, tais registros poderão ser
considerados indícios ou começo de prova. Eventualmente, uma perícia pode
demonstrar o grau de inviolabilidade do sistema trazendo mais elementos de
convicção ao magistrado. Jamais, porém, podemos equipará-los à prova documental,
nem, muito menos, havê-los por expressão absoluta e infalível da verdade.
Com relação a estes sistemas que utilizam senhas de acesso, anota Tito Livio Ferreira
Gomide que:
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
86
“A aplicação dos códigos nos meios informatizados envolve, no mínimo, três fontes
de conhecimento: 1) o criador do código ou conjunto de códigos do programa; 2) a
máquina que contém o programa de leitura dos códigos; e 3) o operador que detém o
código.
Todo código, portanto, depende de um criador, de um leitor e de um operador para
poder ser utilizado.
O sigilo desse registro depende da confiança dessas três fontes de conhecimento,
motivo da vulnerabilidade de sua segurança.
.............
As práticas fraudulentas consistem na ‘fabricação’ de dublês de cartões com tarjas
magnéticas gravadas com o mesmo código eletrônico original ou a decifração das
senhas ‘secretas’ por hackers, ou ainda através do roubo dos cartões (carteiros) e
senhas (‘conto do cartão’)”50.
Estas advertências, tão bem colocadas, não se aplicam, porém, ao sistema de
assinatura por criptografia de chave pública. Isto porque, neste sistema, o próprio
usuário cria o par de chaves e somente a ele compete manter em sigilo a chave
privada. Criador e operador, então, se confundem na mesma pessoa do próprio titular
da chave. E terceiros, para conferir a assinatura, só se utilizam da chave pública, sem
jamais terem acesso à chave privada. Isto encerra uma vantagem e uma desvantagem.
A vantagem é que ninguém mais tem acesso à sua chave privada. Só este fato permite
perceber que a criptografia de chave pública chega a ser mais segura do que o mais
desenvolvido dos sistemas, em que, em algum lugar, por mais protegida que esteja, a
senha do usuário está cadastrada. A desvantagem é que não teremos a quem culpar,
pela eventual negligência em manter a chave privada segura, já que a apropriação
indevida desta chave pode ser considerado o maior risco que afeta a segurança do
sistema. Diria, então, como importante recomendação, que toda a cautela possível
deve ser tomada na proteção da chave privada pelo seu titular.
Seria o caso, então, para finalizar estas linhas, de fazermos uma distinção entre uma
“segurança técnica” e uma “segurança jurídica”. Alguns métodos técnicos
permitem que as partes - mas somente elas - saibam que estão verdadeiramente se
comunicando com a pessoa declarada, desde que, evidentemente, um terceiro não
tenha conseguido fraudar o sistema. A criptografia simétrica é uma delas. Senhas de
acesso a sistemas também estão neste nível de segurança. A prática de enviar um
retorno ao remetente do e-mail pode permitir conferir se ele é de fato a pessoa que
pensamos ser. Uma coisa, porém, é a parte, no seu íntimo, saber que o seu interlocutor
é de fato a pessoa que afirma ser; outra coisa é a confiabilidade destes interlocutores e
a possibilidade de demonstrar esta certeza a um terceiro. Faria aqui, para melhor
explicar, uma comparação com uma conversa telefônica entre dois contratantes.
Imaginem que os dois sujeitos reconheceram um a voz do outro e cada qual anotou à
mão os dizeres do outro interlocutor, ou a avença final a que chegaram. A certeza que
se tem quanto à identidade do outro, ao reconhecer-lhe a voz, esgota-se no âmbito da
relação pessoal que se estabelece, não se permitindo transferir a mesma certeza a um
terceiro. E não há qualquer força probante nas anotações por eles tomadas, porque
feitas unilateralmente. Vindo amanhã a juízo, estes dois interlocutores, um negando
ter participado da conversa, ou então narrando versões díspares do seu teor e exibindo
cada qual suas anotações manuscritas, o magistrado só terá uma conclusão: um dos
dois está mentindo, o problema será saber qual!
Muitas empresas assumem o risco de realizar negócios desta maneira, por exemplo,
em páginas da WWW, pois a redução de custos e a potencial expansão que a Internet
proporciona deverão compensar eventuais prejuízos causados por pessoas maliciosas,
fato cuja incidência deve ser bem reduzida em comparação com o número de
transações firmadas e honradas. Para confirmar que o seu interlocutor é mesmo quem
diz ser - principalmente no que diz respeito à titularidade do cartão de crédito! - pede-
se a indicação de dados pessoais que um terceiro em tese não saberia informar. Esta
cautela consiste apenas num potencial freio - diria eu, no nível de segurança técnica -
a que criminosos tentem se fazer passar por outrem. Mas não podemos atribuir à
correta indicação de tais dados qualquer certeza quanto à identidade da pessoa que
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
87
O futuro legislativo que há treze anos escrevia o citado autor chegou, e a segurança jurídica
conferido por chaves públicas de criptografia é exatamente aquilo a que se pretende a ICP-
Brasil, cuja norma disciplinadora já foi aqui tratada. E este futuro veio acrescido da Lei
11.419/06, que em seu art. 11, à primeira leitura, parece não requerer maiores esforços para
sua compreensão quando diz:
88
Sandro D´Amato Nogueira (NOGUEIRA, 2009, p. 135) repisando o próprio texto da Lei
11.419/2006, corrobora a tese de que os documentos digitalizados, de fato, tem a mesma força
probante dos originais, e que, não obstante a responsabilidade daqueles operadores que os
inserirem no processo eletrônico, a argüição de falsidade será cabível e processada na forma
da lei processual em vigor:
Carlos Henrique Abrão (2009, p. 129-130) ensina que a dinâmica do processo eletrônico
exige um comportamento e responsabilidades maiores das partes, por conta das naturais
exigências deste tipo de procedimento, como prévio cadastramento, utilização de senhas e
inserção de documentos digitalizados, destacando:
Questão relevante traz Jose Carlos de Araújo Almeida Filho, ao afirmar que:
Ainda que não diretamente sobre o tema em si, posto que delimitado o tema em impugnação
da prova documental no processo eletrônico partindo da premissa de que a mesma também se
encontre em meio eletrônico, o mesmo doutrinador aproxima-se do que se pretende aqui
discutir para acrescentar:
89
J.E Carreira Alvim e Silvério Luiz Nery Cabral Júnior, (2008, p. 49-50), citando Augusto
Marcacini e Livia Dias de Azevedo, ao analisarem o citado artigo 11 da Lei 11.419/06,
afirmam:
Assim, afirma que incidente de falsidade surgirá no curso do processo eletrônico na forma dos
arts. 390 a 395 do CPC, tanto para apuração da falsidade material quanto ideológica.
Outrossim, destacam que se a argüição for da chave publica da assinatura digital, ter-se-ia a
incidência do art. 389, II do mesmo diploma, como contestação de assinatura de documento.
Eis então que surge a verdadeira problemática do art. 11 da Lei citada. Isto porque, de pronto,
vê-se que os conceitos de documento eletrônico e documento digitalizado estejam ainda
muito pouco compreendidos pelos operadores do Direito. Muito certamente porque a
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
90
No item 2.4 deste trabalho, ao falar sobre o procedimento no processo eletrônico, viu-se que,
via de regra, o procedimento mais comum no procedimento digital é o scaneamento de
documentos impressos, ou seja, sua digitalização, e inserção nos autos eletrônicos mediante
assinatura eletrônica ou digital (com ou sem certificado digital).
Não se tem dúvidas quando o documento produzido eletronicamente, como se refere o artigo
11 em apreço, é aquele meio físico (papel) convertido em meio eletrônico (arquivo com
extensão .pdf), cuja impugnação e comprovação de autenticidade não parece apresentar
qualquer problema, eis que nada mais é que uma cópia digital de um documento impresso. A
simples apresentação do documento original em meio físico, seria suficiente à prova, quer de
seu conteúdo, autenticidade ou mesmo assinatura.
Contudo, não há de ser este o espírito do legislador, posto que limitar o normativo legal a
garantir previsão tão somente quanto à conversão do meio, de físico para digital, do
documento apresentado, vai de encontro à própria finalidade da norma.
Carlos Leonardo Pires, responsável pelo processo eletrônico na STI. “O ideal é que
os documentos digitados no word ou outro editor de texto sejam gerados
diretamente em arquivo PDF a partir do próprio documento eletrônico. O site
do STJ traz orientação quanto a este procedimento.” (grifos nosso)41
41
STJ. Obtido em meio eletrônico. Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=101488> Acesso em: 21 out.
2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
91
Como a maioria dos portais de processo digital exige requisitos máximos de tamanho dos
arquivos que se pretende inserir e formar os autos eletrônicos, é muito mais simples, prático e
rápido criar o documento a partir do próprio computador, através de programas geradores de
arquivos extensão .pdf.
Nesse mister, crê-se que os documentos eletrônicos, quer originalmente produzidos, quer
aqueles convertidos ao mundo digital, gozam da presunção de veracidade contida no art. 11
da Lei 11.419/06. E, mais, ousa-se discordar, ainda, de J.E Carreira Alvim e Silvério Luiz
Nery Cabral Júnior, no que tange a afirmação de que a impugnação dos documentos assinados
digitalmente, com certificado digital, estaria limitada à veracidade de sua assinatura.
Ora, se o arquivo é gerado em meio digital, a exemplo de uma petição inicial, digitada em
qualquer editor de texto, convertida em arquivo .pdf no próprio computador onde fora escrita,
é assinada digitalmente pelo advogado e inserida em um processo eletrônico qualquer, não
pode ser impugnada quanto a seu conteúdo? Claro que sim. A bem da verdade, é muito pouco
provável que aquela peça tenha sido produzida por outra pessoa, posto que seja dever do
causídico guardar a sua assinatura digital com zelo e responsabilidade, mas sim, o conteúdo
da peça pode ter sofrido adulteração.
Este raciocínio deve valer para qualquer documento eletrônico, ou seja, a sua impugnação –
ainda que tornada mais difícil quando verificada a sua autenticidade por meio da criptografia
de uma assinatura digital – permite a contestação de sua validade, conteúdo e assinatura, por
ser este o espírito do legislador.
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, (MARINONI; ARENHART, 2009, p.545),
não obstante dediquem-se a uma obra inteira sobre prova, afirmam que, de fato, há enorme
carência de dispositivos que disciplinem a questão da força probante do documento eletrônico
em si, e, até mesmo do próprio documento digitalizado.
92
A priori, não tendo a Lei do Processo Eletrônico fixado prazo diverso para a arguição de
falsidade, e, ao contrário, afirmado que o processamento do incidente dar-se-á na forma da
legislação processual em vigor, vence-se, facilmente o primeiro questionamento apresentado.
Atrito maior parece encontrar o artigo 11 da Lei 11.419/06 quando a falsidade suscitada der-
se em autos eletrônicos que tramitem em seara de Juizados Especiais. Isto porque, a Lei
9.099/95, que rege aqueles juízos, em seu artigo 3º afirma que:
Art. 3º. O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e
julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:"
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado
no inciso I deste artigo.
Logo, em principio, haveria vedação da alegação do incidente de falsidade junto aos feitos
dos juizados especiais, conquanto a produção de prova pericial acabasse por tornar complexa
a causa.
93
Nesse sentir, a simples necessidade de produção da prova pericial não daria margem à
impossibilidade de arguição da falsidade documental no processo eletrônico. Resta imaginar,
contudo, se os magistrados destes juízos, habituados a feitos relativamente simples, assim
prosseguiriam, especialmente se a impugnação fosse de um documento eletrônico em si, e não
de mero documento digitalizado.
A facilidade encontrada nas respostas aos quesitos propostos até aqui não se mantém quando
o enfrentamento diz respeito à impugnação do documento eletrônico por dúvidas no uso das
chaves criptográficas. Mormente a pesquisa realizada aponte para que o documento eletrônico
assinado digitalmente, com certificado digital, garanta a autenticidade de seu emitente, não há
dispositivo legal que preveja ou determine qualquer obrigação às partes envolvidas neste
sentido, nem, tampouco, de quem seria o ônus da comprovação.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
94
As soluções talvez sejam as apontadas pelos textos dos Projetos de Lei 1.589/99, fundido ao
PL 4.906/200142, respectivamente:
42
Obtido por meio eletrônico. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2685/Proposta_e_Estudo_CTS-
FGV_Cibercrimes_final.pdf?sequence=1> Acesso em: 04 mar. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
95
Do quanto observado, vê-se que a impugnação da prova documental não pode ser
compreendida apenas como uma contestação aos documentos digitalizados, postos que quanto
a estes a simples guarda e exibição do meio físico que os contém são suficientes à
contraprova, inclusive para fins de ação rescisória.
O grande cerne da questão, ainda sem solução aparente pelo legislador pátrio, diz respeito à
impugnação do documento eletrônico, assim compreendido como aquele produzido em meio
digital, conquanto mais difíceis sejam as definições que o compreende, bem como os pré-
requisitos ao seu uso – com valor probante – nos autos do processo eletrônico, passando,
então, necessariamente, pelo uso de assinaturas digitais criptografadas, a fim de que se possa
garantir a integridade, autenticidade e validade daquele documento eletrônico.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
96
Isto porque, é preciso ter em mente, os diversos atores do processo eletrônico. Observe-se
que, em um Juizado Especial Federal, em ação previdenciária de menor complexidade que
tramite pelo sistema e-Proc, não necessariamente terá atos processuais praticados pelo
advogado ou pela parte. Dadas as circunstâncias daquele tipo de lide.
É possível imaginar que a parte requerente seja intimada a colacionar aos autos algum
documento, e, faltando-lhe conhecimento técnico, compareça à Secretaria do Juizado Federal
e apresente uma cópia impressa daquele documento. Este será digitalizado, por meio de
sanner, e inserido nos autos do processo eletrônico respectivo.
97
Faltou ao legislador, muito certamente por conta da tão citada dificuldade em compreender os
mecanismos que envolvem todas essas evoluções tecnológicas, uma especial atenção aos
sujeitos atores do processo eletrônico, a fim de, identificando as participações de cada um –
parte, advogado, serventuário, auxiliares do juízo, membro do Ministério Público e
magistrado – para daí, sim, poder especificar e determinar as responsabilidades de cada um,
em eventual cometimento de infração nos autos digitais.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
98
Importantes avanços na seara processual se avizinham, e o simples fato do projeto ter aberto
oportunidade de discussões e debates públicos, como a Conferência estadual, realizada em
Salvador, em 24 de outubro próximo passado43, demonstra que a o Compêndio deverá
traduzir as expectativas por inovações legais que permitam, de fato, um processo civil mais
rápido, efetivo e eficaz.
Ao acessar os sítios da Câmara e Senado, vê-se que o tema processo eletrônico fez-se presente
em quase todas as audiências e debates públicos sobre o Novo CPC. Sem dúvidas, a maior
preocupação é quanto à unificação dos sistemas de procedimento digital, dando maior
segurança aos usuários, o que, de fato, poderá ser resolvido antes mesmo da vigência da nova
lei processual – e assim parece ser mais lógico – através da implantação do PJe do CNJ em
todo país.
43
Mensagem eletrônica pessoal recebida pela autora.
44
Obtido por meio eletrônico. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITO-E-
JUSTICA/203681-AGU-E-STJ-SUGEREM-AVANCOS-NO-PROCESSO-ELETRONICO-NO-NOVO-
CPC.html> Acesso em: 22 out. 2011
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
99
Cumpre destacar que com respeito aos objetos desta pesquisa, os artigos do Anteprojeto45
visualizados mais demonstram um retrocesso que um avanço:
Crê-se, da leitura dos três artigos propostos que o legislador brasileiro continua a não
compreender a dinâmica e acepções da ciência computacional, cujo entrelaçamento com o
Direito não é mais mera modernidade dos jovens, mas sim uma necessidade decorrente das
próprias relações humanas, modificadas por mundo tecnologicamente distinto e em plena
evolução.
Diz-se isto porque condicionar a utilização de documentos eletrônicos à “sua forma impressa”
parece ir pelo caminho da involução! Primeiramente, porque o dispositivo, novamente em
crasso equívoco, dá entender que documento eletrônico é papel scaneado, ou seja, mais uma
vez confunde documento eletrônico com documento digitalizado. Em segundo lugar, porque
se não fez tal confusão, tornou impossível a própria realização da prova.
Note-se que converter, por exemplo, um documento eletrônico do tipo arquivo de voz ou
música, para papel impresso é impossível. A não ser que se pretenda transcrever no papel as
falas do áudio ou a letra da música. Pior, se for uma mídia de imagem? Como é que se
translada para o papel uma imagem? Imprime-se todas as cenas? E as falas inerentes?
Transcreve-se também? Não parece razoável.
45
Obtido por meio eletrônico. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=490267> Acesso em: 29 out.
2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
100
É preciso que o novo CPC inove, com a segurança que o documento e o processo eletrônico
requerem, mas sem o apego ao físico, ao material, ao papel. O mundo mudou, a forma de
pensá-lo, vivê-lo, senti-lo e legislá-lo também.
Urge que o Anteprojeto seja revisto para disciplinar corretamente o uso do documento
eletrônico, a prova no processo digital, os efeitos da impugnação no curso da lide não física, a
fim de que a celeridade processual experimentada com o advento da Lei 11.419/06 seja
corretamente compreendida e legislada.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
101
6 CONCLUSÃO
Pode-se inferir da pesquisa em apreço que a o Direito, por ser ciência social que disciplina as
relações havidas em comunidade, é afetada diretamente pelas revoluções que a sociedade
experimenta.
Neste sentido, as mudanças trazidas como conseqüência da Era Digital são marcantes e
encontram-se em processo irreversível de diuturnas modificações, lançando, a cada dia, novos
conceitos e vivências que precisam ser tuteladas, na medida em que os conflitos delas
decorrentes importa à ciência jurídica.
102
Esta definição de um sistema único e suas garantias de segurança são, como visto, necessárias
à produção de prova do documento eletrônico, quer no processo de autos físicos, quer no
processo eletrônico.
Por tal razão, impugnar o documento eletrônico é medida cabível, valendo-se das regras do
CPC já existentes, tanto no que diz respeito às provas digitalizadas – cuja apuração da
verdade processual parece ser mais simples, graças à possibilidade de mera exibição do meio
físico que a contiver – quanto a prova cujo meio é eletrônico na sua origem. Nesta, sem
dúvidas, a assinatura digital fará diferença para uma apuração mais segura da falsidade
apontada.
Por derradeiro demonstrou-se que o legislador ainda pode caminhar muito acerca do tema,
delimitando a responsabilidade civil e penal de cada sujeito do processo eletrônico, em cada
ato por ele praticado – se de mera inserção ou de produção intelectual.
O caminhar, com efeito, é para o futuro, esperando-se que o novo Código de Processo Civil,
suprindo as lacunas apontadas, trilhe um caminho evolutivo, e não retrocedendo, arraigando-
se a velhos conceitos e experiências.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
103
REFERÊNCIAS
ABRÃO, Carlos Henrique. Processo Eletrônico. 2ª Edição. São Paulo. Editora Revista dos
Tribunais. 2009.
ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. Processo Eletrônico e Teoria Geral do Processo
Eletrônico: a informatização Judicial no Brasil. 3ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Forense.
2010.
ALVIM, J.E. Carreira; JUNIOR, Silvério Luiz Nery Cabral. Processo Judicial Eletrônico.
Curitiba. Editora Juruá. 2008.
104
BARBOSA, Rui. Oração aos Moços. São Paulo. Editora Martin Claret. 2003.
105
CARVALHO, Paulo Roberto Lima de. Prova Cibernética no Processo. Curitiba. Editora
Juruá. 2009.
CASTRO, Francisco Augusto Neves e. Teoria das Provas e suas Aplicações aos Atos Civis.
2ª ed., anotada por Pontes de Miranda. Campinas. Editora Servanda. 2000.
KLIPPEL, Rodrigo; BASTOS, Antonio Adonias. Manual de Processo Civil. Volume único.
2ª edição. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris. 2011.
LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos: Validade Jurídica dos
Contratos via Internet. São Paulo: Atlas, 2007. 225 p.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
106
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Prova. 1ª Edição. 2ª Tiragem. São
Paulo. Editora Revista dos Tribunais. 2009.
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil. 5ª ed. v. I, São Paulo:
Atlas, 2009. 570 p
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. Volume único. 2ª
Edição. São Paulo. Editora Método. 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Provas no Processo Penal. São Paulo. Editora Revista dos
Tribunais, 2009.
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 3ª Edição. São Paulo. Editora Saraiva. 2009.
STJ. Balanço revela menos processos em tramitação, menos consumo de energia e mais
área útil disponível no STJ. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97958&tm
p.area_anterior=44&tmp.argumento_pesquisa=eletr%F4nico> Acesso em: 20 abr. 2011.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
107
STJ. Informação veiculada em site da Justiça tem valor oficial. Disponível em <
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=102402>
Acesso em: 29 jun. 2011.
STJ. Processo eletrônico conquista magistrados e advogados, mas ainda tem desafios.
Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=101488>
Acesso em: 21 out. 2011
STJ. REsp 1205956/SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA. Brasília.
DJe 01 dez 2010. Disponível em <www.stj.jus.br> Acesso em: 29 out. 2011.
108
CONSELHO
NACIONAL
DE JUSTIÇA
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
EXPEDIENTE
Porta voz do CNJ Pedro Del Picchia
Sumário
A p r e s e n ta ç ã o 5
O p r o c e ss o e l e t r ô n i co 6
Efeitos d o p r o c e ss o e l e t r ô n i co 7
História do PJ e 8
A gerência do projeto 8
O cronograma 9
O que muda? 10
F l u xo s 10
Atos ou movimentos? 11
P r o c e ss o c r i m i n a l e m f o co 12
Segurança e liberdade 13
Ser u m o u s e r m u i t o s , e i s a q u e s tã o 14
M o d e lo s de documentos 14
Produç ão d e d o c u m e n t o s n o s i s t e m a , e n ã o pa r a o s i s t e m a 15
A v i s u a l i z a ç ã o d o p r o c e ss o 16
Ajuda e m co n t e x t o e e d i táv e l 17
P e s q u i sa textual 17
Registro d as a lt e r a çõ e s 18
T a b e l as u n i f i c a d as 18
Distribuiç ão m a i s t r a n s pa r e n t e e j u s ta 19
Uso d e ass i n at u r a d i g i ta l co m c e r t i f i c a d o 19
Replic aç ão au t o m át i c a d e i n f o r m a çõ e s d e g e s tã o 20
Integr aç ão co m t e r c e i r o s 20
P r e pa r a ç ã o do tribunal 21
E s co l ha d a e s t r at é g i a d e i m p l a n ta ç ã o 21
P r e pa r a ç ã o dos recursos humanos 21
P r e pa r a ç ã o d o a m b i e n t e d e t e c n o lo g i a d a i n f o r m a ç ã o 22
Ambientes dos usuários 22
Ambiente d o s e q u i pa m e n t o s s e r v i d o r e s 22
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
CONSELHO
NACIONAL
DE JUSTIÇA
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
A p r e s e n taç ão
5
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
O p r o c e ss o e l e t r ô n i c o
O processo judicial eletrônico, tal como o processo ju- eslocando a força de trabalho dedicada às ativida-
d
dicial tradicional, em papel, é um instrumento utilizado des suprimidas para as remanescentes, aumentando
para chegar a um fim: a decisão judicial definitiva capaz a força de trabalho na área fim;
de resolver um conflito. A grande diferença entre um e
outro é que o eletrônico tem a potencialidade de redu- a utomatizando passos que antes precisavam de uma
zir o tempo para se chegar à decisão. intervenção humana;
6 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
Efeitos d o p r o c e ss o e l e t r ô n i c o
Embora seja apenas um meio, o processo eletrônico se verão repletos de processos em um curto espaço de
traz algumas mudanças significativas na gestão dos tribu- tempo. Há a necessidade, portanto, de deslocar a força
nais. Há uma verdadeira revolução na forma de trabalhar de trabalho das secretarias e cartórios para os gabinetes
o processo judicial. A essa revolução deve corresponder dos magistrados. Essa é uma mudança que demonstra
uma revisão das rotinas e práticas tradicionais, porquanto de forma cristalina como o processo eletrônico pode
o que havia antes deve adaptar-se à nova realidade. levar a uma melhoria na atividade jurisdicional, já que é
lá, no gabinete, que são produzidos os atos que justifi-
A primeira grande mudança é relativa à guarda do pro- cam sua existência.
cesso. No regime tradicional, o processo judicial fica nas
mãos e sob a responsabilidade do diretor de secretaria, O terceiro grande impacto ocorre na cultura estabe-
do escrivão, do magistrado e dos advogados. Com o pro- lecida quanto à tramitação do processo judicial. Embo-
cesso eletrônico, essa responsabilidade recai sobre quem ra ainda não tenham ocorrido mudanças legislativas a
tem a atribuição de guardar os dados da instituição – a respeito, é certo que o processo eletrônico, em razão de
área de tecnologia da informação. O processo eletrônico sua ubiquidade, dispensa práticas até hoje justificáveis
passa a poder estar em todos os lugares, mas essa facili- e presentes nos códigos de processo, como a obrigato-
dade vem acompanhada da necessidade de ele não estar riedade de formação de instrumento em recursos. Mais
em qualquer lugar, mas apenas naqueles lugares apro- que isso. Não há mais a necessidade de uma tramita-
priados – a tela do magistrado, do servidor, dos advoga- ção linear do processo, o qual, podendo estar em vários
dos e das partes. Isso faz com que a área de tecnologia da lugares ao mesmo tempo, retira qualquer justificativa
informação se torne estratégica, pareando-se, do ponto para a concessão de prazos em dobro em determinadas
de vista organizacional, com as atividades das secretarias situações. Não bastasse isso, como se verá adiante, o
e dos cartórios judiciais. PJe inova substancialmente a própria forma de trabalho
utilizada.
A segunda grande mudança deve ocorrer na distri-
buição do trabalho em um órgão judiciário. Em varas de Finalmente, há o impacto do funcionamento ininter-
primeiro grau e em órgãos que processam feitos origi- rupto do Judiciário, com possibilidade de peticionamen-
nários, boa parte do tempo do processo é despendido to 24 horas, 7 dias por semana, permitindo uma melhor
na secretaria, para a realização de atos processuais de- gerência de trabalho por parte dos atores externos e in-
terminados pelos magistrados. Suprimidas as atividades ternos. Além disso, a disponibilidade possibilita que se
mecânicas, haverá uma atrofia de secretarias e cartórios, trabalhe de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, o
ao que corresponderá uma redução do tempo neces- que também causará gigantescas modificações na forma
sário para que um processo volte aos gabinetes, que como lidamos com o processo.
DEZEMBRO/2010 CNJ 7
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
História do PJ e
O projeto PJe – Processo Judicial Eletrônico – foi ini- Após a celebração do convênio inicial com o CJF e com
ciado no Conselho Nacional de Justiça, em setembro de os cinco regionais federais, o sistema foi apresentado para
2009. Esse começo, na verdade, foi uma retomada dos tra- a Justiça do Trabalho e para muitos tribunais de justiça. A
balhos realizados pelo CNJ junto com os cinco tribunais Justiça do Trabalho aderiu em peso por meio de convênio
regionais federais e com o Conselho da Justiça Federal firmado com o Conselho Superior da Justiça do Trabalho
(CJF). Naquele momento, foram reunidas as experiências (CSJT) e com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), os quais
dos tribunais federais e, quando o projeto foi paralisado, firmaram, por sua vez, convênios com todos os tribunais
o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) deu início, regionais do trabalho. Aderiram também 16 tribunais de
por conta própria, à execução. justiça e o Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais.
O CNJ e os demais tribunais, ao terem conhecimento O sistema foi instalado em abril em 2010 na Subseção
de tais circunstâncias, visitaram o TRF5 para conhecer os Judiciária de Natal/RN, pertencente ao TRF5, sendo aper-
procedimentos e concluíram que aquele era o projeto feiçoado desde então, assim como instalado em outras
que atendia às restrições mais críticas com grande poten- seções judiciárias daquele tribunal. Em dezembro de 2010,
cial de sucesso, atentando especialmente para a necessi- será instalada a versão nacional no Tribunal de Justiça de
dade de uso de software aberto, para a conveniência de Pernambuco e no Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
o conhecimento ficar dentro do Judiciário e para o fato a partir do que será validada a versão a ser disponibilizada
de se observar as demandas dos tribunais. para os demais tribunais que aderiram ao projeto.
A gerência do projeto
O projeto é coordenado pela Comissão de Tecnologia Sob esse comitê, há a gerência técnica do projeto, forma-
da Informação e Infraestrutura do Conselho Nacional de da por três servidores do Judiciário capacitados em gestão
Justiça, presidida pelo Ministro Cezar Peluso e integrada de projetos, um grupo gerenciador de mudanças e o grupo
também pelos conselheiros Walter Nunes e Felipe Locke. de interoperabilidade. O grupo gerenciador de mudanças
tem a responsabilidade de tratar das solicitações de mu-
Na gestão direta, o projeto conta com um comitê for- danças a partir do momento da implantação da versão
mado por dois juízes auxiliares da Presidência do Conse- nacional. O grupo de interoperabilidade, por estabelecer
lho Nacional de Justiça e nove magistrados, três de cada as diretrizes de troca de informação entre o Judiciário e os
um dos principais segmentos do Judiciário que fazem outros participantes da administração da Justiça. Em razão
parte do projeto. disso, esse grupo é formado por representantes do Con-
selho Nacional do Ministério Público, do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil, da Advocacia-Geral da
União, da Defensoria Pública da União, de Procuradores de
Estado e de Procuradores de Município.
8 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
O cronograma
2.0 dezembro/2011 Revisão da forma de gravação de documentos processuais, permitindo um maior controle da atuação.
DEZEMBRO/2010 CNJ 9
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
O que muda?
Fluxos
O PJe já está fazendo uso de fluxos para a definição à tramitação ou ao acompanhamento da tramitação dos
de como o processo judicial deverá tramitar. É possível processos judiciais.
atribuir um fluxo diferente para cada uma das classes pro-
cessuais existentes. Quanto mais específico o fluxo, mais De um lado, temos o engessamento total: o sistema
fácil será automatizar tarefas de gabinete e secretaria. tem em seu código os passos passíveis de serem pratica-
dos e alteração dessa via reclama reescrever o programa
À primeira vista, pode ser que pensemos que essa é em algum grau.
uma característica dispensável. A experiência mostra, no
entanto, que ela é essencial. Do outro lado, temos a liberdade absoluta: o sistema
permite que o usuário pratique qualquer ato. Não há li-
Com honrosas exceções, a grande maioria dos sistemas mites e, em razão disso, surge o problema dos erros rei-
processuais trabalha em dois extremos no que concerne terados: sem freio, uma desatenção momentânea pode
fazer com que um processo siga um tortuoso caminho, in-
clusive com a possibilidade da anulação da decisão. Mais
que isso, a liberdade total não vem sem outro custo: uma
imensa dificuldade em automatizar procedimentos, já que
sempre é necessária uma intervenção humana para, fa-
zendo uso da inteligência, informar à máquina qual deve
ser o próximo passo.
10 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
Atos ou movimentos?
DEZEMBRO/2010 CNJ 11
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
P r o c e ss o criminal em foco
12 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
Segurança e liberdade
DEZEMBRO/2010 CNJ 13
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
Ser u m o u s e r m u i to s , e i s a q u e s tão
Modelos de documentos
14 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
DEZEMBRO/2010 CNJ 15
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
A v i s u a l i z a ç ã o d o p r o c e ss o
Um dos grandes calcanhares dos No PJe, isso é facilitado pelo uso de nificativo de produtividade, chegando
sistemas processuais eletrônicos é um novo visualizador capaz de mostrar próximo ao uso direto dos autos.
a visualização do processo. Sair de as peças sequencialmente, sem a ne-
um encarte de peças processuais cessidade de abrir novas janelas e com Mais à frente, com a inclusão de
sequenciais para uma sequência de a apresentação simultânea de alguns marcadores personalizados nos do-
cliques e janelas múltiplas é doloro- metadados sobre a peça sob visualiza- cumentos, esse ganho se tornará
so para quem lida tradicionalmente ção. Essa nova forma de ver o processo, ainda maior, muito provavelmente
com processos judiciais. combinada com o uso de dois moni- tornando o processo eletrônico subs-
tores nos computadores de quem vai tancialmente mais fácil de examinar
operar o sistema, permitirá ganho sig- que os processos tradicionais.
16 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
Ajuda e m co n t e x to e e d i táv e l
P e s q u i sa textual
DEZEMBRO/2010 CNJ 17
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
Registro d as a l t e r a ç õ e s
Já obedecendo a requisito previsto no MoReq-Jus apro- A medida, em vez de ser mero preciosismo, é imprescin-
vado pela Resolução n. 91, o PJe armazena registros de dível em um momento em que o processo sai do campo
todas as alterações ocorridas no sistema para eventual físico, no qual temos a sensação de segurança quanto à
necessidade de posterior auditoria. imutabilidade dos atos processuais, para o campo do vir-
tual, no qual a sensação mais comum é a de imaterialidade.
T a b e l as u n i f i c a d as
18 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
Distribuição m a i s t r a n s pa r e n t e e j u s ta
Uso d e ass i n a t u r a d i g i t a l c o m c e r t i f i c a d o
DEZEMBRO/2010 CNJ 19
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
20 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
sistema Processo Judicial eletrônico (PJe)
Preparação do tribunal
A instalação de novo sistema processual não é algo Em razão disso, apresentamos a seguir um guia rápido,
simples. Como se viu no transcorrer do texto, há muitas mas não exaustivo, do que deve ser feito. Ele deve ser
mudanças e o ser humano naturalmente é avesso a elas. complementado considerando as características próprias
Além disso, é imprescindível a preparação da infraestru- de cada tribunal.
tura do tribunal para receber o sistema a fim de evitar
surpresas no futuro.
E s c o l ha d a e s t r at é g i a d e i m p l a n taç ão
O primeiro passo para a instalação do sistema é es- as que têm maior tendência de colaborar com a implanta-
colher uma estratégia de implantação. A instalação em ção. Essa boa vontade é imprescindível para que a comu-
múltiplas frentes tem a desvantagem de potencializar o nicação seja estabelecida e as soluções para os inevitáveis
efeito de problemas simples, já que este se reproduzirá problemas sejam alcançadas.
em vários pontos ao mesmo tempo. Por outro lado, ins-
talar em apenas um ponto pode ocultar a emergência de Do ponto de vista da competência, a utilização em pi-
desafios que seriam localizados em outras varas. loto reclama delimitação clara para evitar confusões com
os atores externos. Além disso, é fundamental ter planos
O ideal é partir para a implantação em sistema de piloto, de contingência para os casos em que seja impossível o
após breve homologação e treinamento dos usuários da tratamento dos casos via sistema.
unidade piloto, que também deverá ser escolhida entre
Para a instalação de novo sistema, o primeiro passo é do sistema. Além dessa capacitação, é importante que ao
preparar os recursos humanos. São os servidores do Judi- menos dois servidores de TI acompanhem a configuração
ciário que darão vida ao sistema e, na falta deles e da sua do sistema para tirarem dúvidas dos servidores da área
boa vontade, qualquer iniciativa fracassará. judiciária e busquem neles o esclarecimento daquelas
relativas ao que se quer na configuração.
É necessário, portanto, que sejam abertas duas frentes
para essa preparação: treinamento do pessoal da área de Na área judiciária, devem ser preparados servidores para
tecnologia da informação e treinamento de servidores da as seguintes áreas: administração do sistema; administra-
área fim quanto à configuração e uso do sistema. ção de órgão julgador e uso em geral. A configuração
da administração do sistema, por ocasião da instalação
O pessoal da área de TI deve estar preparado para ins- do PJe pelo CNJ, deve ser acompanhada pelos servidores
talar e manter o sistema, assim como encontrar, reparar da área responsável, o que dará uma substancial base de
e reportar erros. Nesse ponto, a comunicação é o grande conhecimento. A administração de órgão julgador deve-
fator determinante. O CNJ ofertou e prosseguirá oferecen- rá ser preparada para multiplicadores, preferencialmente
do cursos para que o pessoal de TI se prepare para o uso a começar pelos órgãos que funcionarem como piloto.
Igual estratégia deve ser adotada quanto aos usuários.
DEZEMBRO/2010 CNJ 21
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
IV ENCONTRO NACIONAL DE JUDICIÁRIO
Um ambiente de tecnologia da informação ade- to do ponto de vista de quem provê o sistema quanto
quadamente preparado tem significativo impacto de quem o utiliza.
sobre as impressões a respeito do sistema. Falhas,
quedas e indisponibilidades podem dar a impressão Em razão disso, a Diretoria de Tecnologia de Infor-
de que um sistema é instável ou imprestável. mação do Conselho Nacional de Justiça, juntamente
com os servidores líderes técnicos do projeto elabo-
A equipe de tecnologia da informação do tribunal raram as seguintes características para uma instala-
deve, portanto, preparar o ambiente de execução, tan- ção ótima do sistema, sem embargo de ele poder
funcionar em contextos mais modestos.
Recurso Descrição
Microcomputadores • Processador de 2 núcleos com 2.0 GHz/núcleo; • 2GB de memória RAM; • 2 adaptadores de vídeo (para utilização de dois monitores)
2 monitores de vídeo com resolução mínima de 1024x768; • Leitora de cartão inteligente (smartcard) ou entrada USB para token criptográfico,
conforme o hardware de certificados dos magistrados, servidores e auxiliares; • Navegadores: Mozilla Firefox 3.5 ou superior; Microsoft Internet
Explorer 8.0 ou superior; quanto aos demais, recomenda-se testar a versão mais recente. O uso em sistemas operacionais outros que não o MS
Windows será liberado na versão 1.2.
Scanners A quantidade de scanners e sua configuração devem ser estudadas de acordo com a demanda prevista de documentos a serem digitalizados nos
ambientes dos tribunais.
Sala de atendimento Instalação de sala para autoatendimento dos advogados que praticarão atos diretamente nas dependências do órgão julgador, inclusive com
equipamentos para digitalização. Este equipamento deverá ter tanto a leitura de cartão inteligente quanto a entrada USB para token criptográfico
Links de comunicação Recomenda-se a adoção, por ambiente, de link de 2Mbps, conforme a Resolução 90 do CNJ
Certificados A3 ICP-Br Os usuários do sistema obrigatoriamente devem utilizar certificados ICP-Brasil A3 para assinaturas de documentos no sistema. Os certificados têm
validade de 3 anos.
Recurso Descrição
Servidores de aplicação 2 servidores de aplicação, cada um com a seguinte configuração; • 2 processadores quad-core com 2.0GHz/núcleo; • 32 GB de memória RAM; • 75 GB
de espaço em disco, preferencialmente em RAID 1 ou 5; • 2 interfaces SAN HBA de 8Gbps; • 2 interfaces de rede de 1Gbps; • Sistema operacional linux
ou unix-like; • Java Runtime Environment versão 1.6;• JBoss Application Server versão 5.0.1.GA e • Certificado A1 ICP-Brasil
Servidores de banco de dados 2 servidores de bancos de dados, configurados como master e slave, instalados, cada um, com a seguinte configuração:; • 2 processadores quad-core
com 2.0GHz/núcleo; • 32 GB de memória RAM; • 75 GB de espaço em disco do sistema operacional, preferencialmente em RAID 1 ou 5; • 2 x 2 TB
de espaço em disco para os arquivos do sistema gerenciador de banco de dados, um para cada banco de dados do PJe, preferencialmente em RAID 5;
• 2 interfaces SAN HBA de 8Gbps; • 2 interfaces de rede de 1Gbps; • Sistema operacional linux ou unix-like; • Java Runtime Environment versão 1.; •
PostgreSQL 8.4.1 ou, na versão de março, Oracle 11g
Links entre os equipamentos O ideal é que os equipamentos servidores estejam interligados em rede de altíssima velocidade, se possível por meio de barramento de fibra ótica.
servidores
22 CNJ DEZEMBRO/2010
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
www.cnj.jus.br
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
132
GLOSSÁRIO ICP-BRASIL
Versão 1.2
03.10.2007
Plano de Auditoria Roteiro que descreve, pelo menos, como a auditoria pretende proceder à
verificação da Política de Certificação, PC, da Declaração de Práticas de
Certificação, DPC e da Política de Segurança, PS e recomendar providências
quanto às observações levantadas.
Plano de Contingência É um plano para situações de emergência, que visa a garantir a disponibilidade
dos recursos e serviços críticos e facilitar a continuidade de operações de uma
organização. Deve ser regularmente atualizado e testado, para ter eficácia
caso necessária sua utilização. Sinônimo de plano de desastre e plano de
emergência.
Plano de Continuidade Plano cujo objetivo é manter em funcionamento os serviços e processos
de Negócios críticos das entidades integrantes da ICP-Brasil, na eventualidade da
ocorrência de desastres, atentados, falhas e intempéries.
Plano de Plano elaborado pela Empresa de Auditoria Independente, que especifica de
Desenvolvimento e maneira clara e objetiva cada etapa do trabalho, procedimentos e técnicas a
Implantação dos serem adotadas em cada atividade, prazo de execução e pontos de
Trabalhos de Auditoria homologação, bem como tabelas indicativas do número de horas de auditoria e
o número de auditores a serem alocados nos serviços que serão realizados em
entidades da ICP-Brasil.
Plano de Recuperação Conjunto de procedimentos alternativos, a serem adotados após um desastre,
de Desastres visando a reativação dos processos operacionais que tenham sido paralisados,
total ou parcialmente, ainda que com alguma degradação.
Política de Carimbo de Conjunto de normas que indicam a aplicabilidade de um carimbo de tempo
Tempo (PCT) para uma determinada comunidade e/ou classe de aplicação com requisitos
comuns de segurança.