Versiculos Arminianos

Fazer download em rtf, pdf ou txt
Fazer download em rtf, pdf ou txt
Você está na página 1de 28

EZEQUIEL 18:23 E EZEQUIEL 33:11

Por Vincent Cheung

Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? – diz o SENHOR Deus; não desejo eu, antes, que
ele se converta dos seus caminhos e viva? (Ezequiel 18:23)

Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não tenho prazer na morte do perverso,
mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos
vossos maus caminhos; pois, por que haveis de morrer, ó casa de Israel? (Ezequiel 33:11)

Quando se trata da soberania divina e sua relação com a eleição, e escolha humana e
responsabilidade, é estranho que as pessoas tenham tido mais problemas com esses versos do
que com muitos outros na Bíblia. Eles são um dos versos mais fáceis de encaixar com um
entendimento coerente da soberania de Deus. Isso porque o contexto deles é tão elaborado, e o
contexto define o significado de um texto. Aqui, o contexto é tão completo, tão enfatizado, e tão
repetido, e então situado em um contexto mais completo da missão e mensagem do profeta
Ezequiel, que requer um esforço extraordinário para negligenciá-lo.

Ambos os arminianos e os calvinistas têm feito usos ridículos do texto. Os arminianos o


apresentam a um tópico que o verso não tem nenhum interesse, e eles freqüentemente moldam
a questão ao restringir o debate a apenas um verso em Ezequiel 18 e um verso em Ezequiel 33.
Os calvinistas são simplesmente tão tolos quanto, quando respondem aos arminianos ou quando
eles formulam sua própria doutrina na base desses versos. Eles também o apresentam a um
tópico que o texto não tem interesse, ou pelo menos não desafiam os arminianos por fazerem
isso, e então eles também restringem a consideração deles do texto a apenas um verso em cada
capítulo.

O resultado é que os calvinistas recorrem a teorias blasfemas, como instalar uma


personalidade complexa em Deus, tornando o evangelho em uma oferta sincera, e até mesmo
afirmando que há “duas vontades” em Deus. Dado todo esse lixo, mesmo se os calvinistas
alcançam uma teologia melhor no final, é somente levemente melhor que a teologia dos
arminianos. De fato, o produto é indiscutivelmente mais herético. Os arminianos torcem o texto
para seu próprio propósito, e os calvinistas respondem blasfemando Deus, e então se
parabenizam por sua ortodoxia, por serem heróis que defendem a soberania paradoxal de um
Deus esquizofrênico.

Para ilustrar a loucura, suponha que eu te mande uma carta que diz, “Tommy está
faminto, então ele saiu para almoçar. Ele tinha uma salada de frango que incluía muitos
ingredientes, mas visto que ele não gosta de berinjela, ele evitou”. Seria injusto para você
perguntar à carta, “Qual é o propósito de Tommy na vida?” e então insistir que a resposta é
“evitar berinjela”. Minha carta não tem nenhum interesse no propósito de Tommy na vida. Está
falando sobre seu almoço, e somente sobre seu almoço.

Consideremos um exemplo bíblico. Quando Abraão demonstrou sua boa vontade em


sacrificar Isaque, Deus disse, “Agora sei que temes a Deus” (Gênesis 22:12). Seria errado negar a
onisciência divina, baseado nesse verso, porque ele não está falando do quanto Deus sabe. Não
tem nenhum interesse nesse tópico. A declaração serve para reconhecer a demonstração da
obediência de Abraão. Além disso, quando a Bíblia aborda o tópico do quanto Deus sabe, ela diz
que ele sabe tudo (Hebreus 4:13, Jó 37:16, Isaías 46:10, etc.).

Você pensaria que não há necessidade de lembrar as pessoas de algo como isso, mas
quando se trata de teologia e interpretação bíblica, parece que as pessoas se tornam
supernaturalmente estúpidas. Agora, imagine dois grupos de tartarugas iniciando uma enorme
briga em torno do propósito de Tommy na vida na base da minha carta, e é assim como é o
absurdo dos argumentos arminianos e calvinistas em torno desses versos em Ezequiel.

Preceito vs. Decreto

A fim de entender esses versos, da perspectiva correta, nós devemos reconhecer a


distinção entre o preceito divino e o decreto divino. Nós selecionamos essas palavras para falar
sobre a distinção por uma questão de conveniência, mas a distinção em si é necessária porque
vem da Bíblia. O preceito de Deus é sua definição (do que é certo), e o decreto de Deus é sua
determinação (do que vai acontecer). Isso é visto em toda parte na Bíblia, e às vezes ambos
aparecem no mesmo texto.

Gênesis 50:20

Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; [preceito]

Deus, porém, o intentou para o bem, [decreto]

para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida.

Para José estar correto ao chamar a intenção ou ação deles de “má” (se livrarem dele, o
vendendo à escravidão, e fazendo isso por ódio e inveja), teria que ser definido como má por
Deus. A mesma intenção ou ação neles que foi “má” como definida por Deus, foi intentada para
o bem como decretada por Deus.

Mesmo calvinistas frequentemente dizem que Deus “usou” para o bem, mas o texto não
diz isso. Não foi como se Deus tivesse sido confrontado pela ação má das pessoas e então
descobriu como manipulá-la para o bem. Não, a Bíblia diz que Deus a intentou para o bem – ele
não respondeu o pecado deles pela sua própria ação, mas ele intentou o pecado deles para seu
próprio bom propósito. Ambas as partes da afirmação de José se referem à mesma ação. Era má
de acordo com o preceito de Deus, mas boa de acordo com o decreto de Deus.

1 Samuel 2:25

Entretanto, não ouviram a voz de seu pai, [preceito]

Porque o SENHOR os queria matar. [decreto]

Eli repreendeu seus filhos pelos seus pecados, mas eles não se arrependeram. Essa recusa
a se arrepender era contra o que Deus definiu como certo, de modo que eles estavam errados
conforme o preceito divino. Então, a explicação para essa recusa a se arrepender foi que, era o
que Deus decidiu que deveria acontecer, de modo que ocorreu conforme o decreto divino. Seu
decreto era para eles permanecerem em pecado, de forma que ele poderia determinar matá-los
(seu decreto) de acordo com seu próprio padrão (seu preceito).

A decisão de Deus de matá-los não foi uma resposta à recusa deles de se arrepender, mas
a mesma ação que era contra o preceito de Deus de fato seguiu o decreto de Deus. Ele não diz,
“Não se arrependam, pois eu quero matá-los”. Se ele dissesse a eles para recusarem a
arrependerem-se , então teria sido seu preceito para eles permanecerem em pecado, e teria
sido certo por definição para eles se recusarem. Ele os causou a realizar o que ele definiu como
errado, de maneira que ele poderia matá-los.

Atos 17:30

Notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam. [preceito]

2 Timóteo 2:25

A ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade. [decreto]

Paulo fez ambas as declarações. Primeiro, Deus manda todos os homens se


arrependerem. Isso se refere ao preceito de Deus, na qual ele define certo e errado, de forma
que todos os homens devem se arrepender, e seria errado para eles se recusarem. Então, o
mesmo apóstolo disse que Deus é aquele que concede arrependimento, e ele pode ou não
conceder. Isso se refere ao decreto de Deus, na qual ele decide o que aconteceria, de forma que
alguns homens obedeceriam ao preceito de se arrepender, e outros homens não obedeceriam.
A “Vontade” de Deus

Em seguida, devemos também reconhecer que a Bíblia às vezes usa as mesmas palavras
ou idéias para se referir a diferentes coisas. Nosso interesse presente é que a palavra ou idéia da
“vontade” de Deus é usada em dois jeitos diferentes na Bíblia, que correspondem ao preceito e
ao decreto de Deus.

Marcos 3:35

Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu filho, irmã e mãe.

Romanos 12:2

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para
que experimentais qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Romanos 15:32

A fim de que... pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me
convosco.

1 Pedro 3:17

Porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que
praticando o mal.

A “vontade” de Deus em Marcos 3 e em Romanos 12 se refere ao preceito divino. Se


refere ao que Deus define como certo, e não ao que ele decide que vai acontecer. Por outro lado,
a “vontade” em Romanos 15 e em 1 Pedro 3 se referem ao decreto divino. Se referem ao que
Deus decide que vai acontecer, e não ao que ele define como certo. Isso mostra que a Bíblia usa
o termo ou a idéia de dois jeitos diferentes, com dois diferentes significados. No entanto, não há
confusão, porque mesmo lendo apenas a cláusula ou a sentença oferece um contexto que torna
o significado inconfundível.

Alguns calvinistas afirmam que há duas “vontades” em Deus. Talvez não haja ninguém tão
estúpido para dizer que há duas “maçãs” – cujos significados são tão próximos, mas as
características são tão diferentes que elas geram um paradoxo – porque por um lado há uma
fruta com esse nome, e então por outro lado há a corporação com o mesmo nome. Mas esses
calvinistas são exatamente estúpidos assim. Não, elas significam tanto coisas diferentes que elas
são em efeito duas palavras diferentes, e de fato podem ser representadas por duas palavras
diferentes, como “fruta” ou “corporação.”. O mesmo é verdade com o uso, da Bíblia, da
“vontade” de Deus. Nós podemos chamar uma de “preceito” de Deus e a outra de “decreto” de
Deus.

Para usar o exemplo de Abraão novamente, “Agora sei que temes a Deus” (Gênesis
22:12), mas quando a Bíblia fala sobre o quanto Deus sabe, ela diz que ele sabe tudo (Hebreus
4:13, Jô 37:16, Isaías 46:10, etc.). Seria ridículo dizer que Deus tem duas mentes divinas, onde
uma sabe algo apenas depois que é informada, e a outra sabe todas as coisas.

A Bíblia também diz, “Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa
salvar (Isaías 59:1), mas quando fala sobre a natureza de Deus, ela diz que Deus é espírito (João
4:24), e que ele não tinha aparência quando se manifestou para Israel (Deuteronômio 4:12, 15).
Seria ridículo dizer que Deus tem duas natureza divinas, onde uma é física, hábil para fazer uso
de seu poder tão longe quanto seu braço pode alcançar, e a outra é espírito, não tendo
aparência corpórea ou dimensão.

De novo, seria ridículo dizer que Henry vai a duas igrejas todo domingo, porque há a
“igreja” que se refere às pessoas, e então há a “igreja” que se refere ao edifício. Não, elas
significam tanto coisas diferentes que são em efeito duas palavras diferentes, e de fato podem
ser representadas por duas palavras diferentes, como “pessoas” e “edifício”. Henry se encontra
com as “pessoas” no “edifício”.

O que, no mundo, estamos fazendo? Por que precisamos explicar isso? Quão estúpida
uma pessoa pode chegar a ser e ainda assim respirar? É incrível que pessoas estúpidas assim
consigam sobreviver à idade adulta. Como alguém pode ser um cessacionista, quando nós
vemos teólogos em todo lugar que são tão estúpidos para viver, mas ainda assim não morrem?
Eles estão andando em milagres, sinais e maravilhas. Seria isso o que Jesus quis dizer por “obras
maiores” porque ninguém era tão estúpido enquanto ele estava na terra?

De volta a Ezequiel

Agora, nós retornamos a Ezequiel. A discussão sobre como a Bíblia se refere à “vontade”
de Deus é relevante porque é comparável a como ela se refere ao “prazer” de Deus. De fato, é
apenas outra maneira de falar da sua “vontade”. Não obstante, há uma diferença maior entre os
versos acima sobre a “vontade” de Deus e os versos de Ezequiel. A diferença é que antes de
terem apenas uma cláusula ou uma sentença como em alguns de nossos exemplos, Ezequiel 18 e
33 oferecem cerca de 30 versos- em cada capítulo - para nos mostrar o contexto.

Leia os dois capítulos. Ambos obviamente se referem ao preceito de Deus para as pessoas
se arrependerem, que a sua “vontade” ou “prazer” não é pela morte do perverso mas pelo seu
arrependimento. Eles não falam sobre o que Deus causa, mas eles falam sobre o que ele define
como certo para as pessoas. Eles não falam da soberania divina, especialmente de como ela se
relaciona à salvação ou arrependimento. O tópico não é metafísica, ontologia, determinismo, ou
coisas assim.

Contudo, quando a Bíblia fala sobre o que Deus causa em relação ao arrependimento, diz
que alguns homens não ouviram porque Deu queria matá-los, que Deus escolhe quem amar ou
odiar, que Deus endurece os corações de alguns, que Deus faz os réprobos porque ele deseja
mostrar suaIRA e seu poder, e que ele concederia arrependimento para apenas algumas
pessoas. Essas outras passagens são aquelas que discutem o tópico que os arminianos e
calvinistas forçam Ezequiel 18 e 33 a abordar, mas Ezequiel 18 e 33 não abordam o tópico.

Suponha que eu sou o CEO da Hello Theology Corporation, e você é meu empregado.
Minha “vontade” ou “prazer” (meu preceito) é para você trabalhar duro (mas eu não estou te
causando a trabalhar), mas porque você não trabalha duro, então minha “vontade” ou “prazer”
(meu decreto) é te remover (agora estou te causando a ir embora). Mesmas palavras, grande
diferença. Apesar do contexto não ser elaborado, ainda é óbvio, de forma que não há confusão,
não há mistério, não há paradoxo. Entretanto, quando se trata de teologia, de repente as
pessoas ficam insanas e tudo isso se torna um enorme enigma que requer séculos de debate.
Por quê? Como Lutero disse, quando as pessoas confundem o indicativo (preceito) com o
causativo (decreto), é porque elas são estúpidas.

Aplicação à Doutrina

O contexto é essencial. Calvinistas freqüentemente introduzem confusão porque eles


partem para abordar um tópico que pertence à metafísica ou ontologia, mas então eles abordam
da perspectiva da soteriologia, ou de alguma outra que é logicamente secundária. Tudo é
primeiro uma questão de metafísica ou ontologia, ou da própria teologia. É, por exemplo, fútil
discutir a origem do mal antes de nós ou estabelecermos ou assumirmos que esse universo é tal
que pode haver algo como o mal. Que tipo de universo é esse determina o que o mal significa, se
pode haver tal coisa, e como ela opera. Uma vez que nós chegamos ao fato de que há um Deus
que cria, sustenta, e causa todas as coisas, e que é ele quem, então, chama algumas coisas de
“boas” e outra coisas de “más”, nós não podemos de repente alterar essa pressuposição quando
começamos a investigar o tópico do mal.

Por essa razão, calvinistas freqüentemente conseguem fazer pouco mais que enfurecer
seus oponentes. Nós poderíamos falar do poder e ser de Deus, obviamente da perspectiva da
metafísica ou ontologia, ou da própria teologia. Em seguida, uma pessoa pergunta, “Então, o
homem possui liberdade?”. Os calvinistas repentinamente oferecem uma resposta da
soteriologia: “Verdadeira liberdade é encontrada em retidão e serviço a Cristo!”. Isso é
verdadeiro em seu próprio contexto, mas a afirmação pertence completamente a outro tópico.
Mas o calvinistas permanecem hipocritamente alheios.

Uma vez que nós estabelecemos a questão da metafísica ou da ontologia (Há um Deus?
Que tipo de Deus? Que tipo de universo é esse?) – uma vez que nós construímos a teologia
adequadamente – soteriologia vem como um tópico subordinado. Uma vez que coisas como ser
e causa foram estabelecidas, soteriologia lida com o que o “causador” faz com seu poder em
relação à salvação. É uma consideração mais específica e estreita. Metafísica, ontologia, ou a
questão da mera soberania de Deus pode ser discutida mesmo se não há algo como pecado ou
salvação, mas salvação não pode ser discutida à parte da metafísica ou ontologia, que tipo de
Deus há e que tipo de mundo esse é. Alguém pode pensar que é piedoso lançar cristologia e
soteriologia em toda direção, independente do contexto ou tópico. Essa é uma falsa piedade.
Eles estão se escondendo atrás da soteriologia para evitar terem que abordar metafísica,
ontologia, ou teologia adequadamente.

Deus é poder – o Todo-poderoso. Ele é um poder universal, pelo qual nada pode existir e
nada pode acontecer sem ele. Todavia, esse poder não é uma força impessoal, mas um poder
inteligente – um espírito ou mente – e isso significa que tudo que existe e tudo que acontece é
assim porque ele decide e causa assim.

Com uma força impessoal como a eletricidade, poucas pessoas teriam algum problema
com o fato de que ela pode tanto salvar quanto matar, tanto ajudar quanto prejudicar. Mas dado
que Deus é um ser inteligente, é assumido que ele não pode ter uma relação assim com o mal,
caso contrário isso significa que ele é mau. Dessa forma, tem sido credo ortodoxo que Deus não
é o “autor” do pecado. Porém, isso de fato relega Deus ao nível de uma força impessoal, com a
única diferença de que ele está consciente do que está fazendo. Isto é, eletricidade que é
consciente ainda é eletricidade, e eletricidade que decide matar seria uma assassina, não apenas
uma força que mata. Então, é assumido que se Deus causa o mal, ele seria mau.

Isso é, realmente, um insulto a Deus, porque ele não é simplesmente uma força que passa
a estar consciente. Ele é Deus - um poder inteligente e onipresente que está em uma categoria
por si mesmo. Ele não é simplesmente uma força que pode causar tanto o bem quanto o mal
quando passa a saber o que está fazendo, de maneira que teólogos devem explicar como ele
está distante do mal, mas sua própria natureza e vontade definem o que é bom e mau. Algo
como a eletricidade que passa a estar consciente ainda estaria inábil a fazer isso. Ele explicou
para nós muito mais na Bíblia, mas mesmo se ele não tivesse explicado, esse fato sozinho
deveria dissipar a noção de que ele não deve ser o autor do pecado da perspectiva metafísica ou
ontológica. Contanto que ele não tenha definido algo como mau para ele fazer, e contanto que
ele aprove a si mesmo, então, qualquer coisa que ele faça é reta por definição, porque ele faz a
definição. Por essa razão, aqueles que evitam chamá-lo de autor do pecado, ou qualquer termo
equivalente, não faz isso por causa de uma abundância de reverência, mas porque a visão deles
de Deus é muito baixa.

Eu freqüentemente teria gastado menos tempo nesse aspecto da soberania divina se não
fosse pelo fato de que tantas pessoas estão obcecadas em negá-lo, até ao ponto de
blasfemarem. A doutrina básica é “Deus é soberano”. Essa é a doutrina inteira, e não há
necessidade de qualificar ou listar as coisas sobre o qual ele érealmente soberano. Seria
desnecessário até mesmo mencionar bem e mal se não fosse pelo fato de que aqueles que
afirmam crer na doutrina estão tão interessados em restringi-la. Para aqueles que aceitam Deus
por quem ele é, ou pelo menos quem não está obcecado pela doutrina da soberania divina com
uma paixão demoníaca - alguns estão tão obcecados em debatê-la, mesmo que eles façam isso
deficientemente, sem recebê-la e se regozijarem nela – nós extraímos a mensagem da Escritura
em sua forte proporção. Essa é a teologia de que Deus é soberano sobre todas as coisas sem
restrição, que ele é cheio de compaixão, que ele sempre mantém sua palavra, que ele está
ansioso para perdoar nossos pecados e curar nossas doenças. De fato, é óbvio que muitos
daqueles que apresentam a si mesmos como defensores da soberania e bondade de Deus, ao
negar que ele é também o soberano autor do pecado, reconhecem essas qualidades divinas
apenas no papel. Na realidade, eles não acreditam nela – nenhuma delas; caso contrário, eles
esperariam Deus manifestar a si mesmo em glória e em poder em suas vidas.

Eles dizem que acreditam na soberania de Deus, apenas que ele não é o autor do pecado.
Mas eu digo que Deus é soberano sobre todas as coisas, e que ele usa sua soberania para
cumprir suas promessas – convertendo pecadores, curando o doente, respondendo orações por
libertação em face de aparentes impossibilidades, resgatando pessoas da fome, pobreza,
desastres, ao reformar suas vidas bem como ao operar milagres em meio delas. Ele derrama
suas bênçãos e milagres com tanta abundância, que eles freqüentemente transbordam para
afetar os incrédulos, de modo que eles são curados de cegueira, paralisia, e doenças terminais,
assim como cães consomem as migalhas que caem da mesa dos filhos. (Contudo, réprobos são
confirmados em sua condenação quando não se convertem e oferecem ações de graças a Deus).
Visto que Deus é soberano sobre todas as coisas, então ele pode desfazer o pecado, o mal, a
doença, a pobreza, o ódio, a luxuria, o ciúme, e todas as coisas do tipo nessa vida, em
conformidade com nossa fé e seu poder que opera em nós. Então, quem verdadeiramente crê e
honra a bondade de Deus? E quem é só um religioso hipócrita cujo as doutrinas consistem no
que Deus não faz, quem é só um deísta disfarçado, ou cujo a ortodoxia equivale ao ateísmo
prático?

Aplicação à Pregação

Nós afirmamos que Deus é soberano em um sentido absoluto, e quando o tópico é


metafísica e ontologia, ele é a causa direta e o poder de todas as coisas. Essa visão da soberania
divina evita o erro categórico feito por aqueles que abordam o tópico, sobretudo, no nível
soteriológico. Reconhece Deus como o absoluto metafísico ou como o poder ontológico, mesmo
antes de qualquer coisa poder ser logicamente considerada boa ou má. (Um evento, antes que
possa ser logicamente chamado de bom ou mau como definido pelo preceito de Deus, ou
mesmo antes de poder ser chamado de uma “ação” como realizada com intenção, é somente
um evento. O que causa esse evento, ou qualquer vento?). Então, isso é aplicado a outros
tópicos da teologia e filosofia, incluindo soteriologia.

Dito isso, na maioria das vezes a Bíblia não fala da perspectiva da metafísica ou da
ontologia, e nós também não. Todas as afirmações como, “Adão deu à sua mulher o nome de
Eva” e “Amy comeu ovos no café da manhã” se referem a “causas” relativas ou observadas, isto
é, a aparente relação entre Adão e Eva, e entre Amy e os ovos. Elas descrevem a relação como se
fosse uma de causa e efeito somente por causa de uma correlação observada, e não porque um
produz um efeito real no outro. Elas não têm a intenção de dizer que Adão teve soberania sobre
Eva no sentido metafísico, ou que Amy teve esse tipo de soberania sobre os ovos. As afirmações
não têm nenhum interesse em metafísica, ontologia, ou soberania divina, embora uma pessoa
que as faça pode assumir a visão correta da doutrina, quer ele tenha em mente enquanto fala ou
não.

Logo, não há nada de errado em dizer algo como Abraão ter dado luz a Isaque. De fato ele
deu, apesar de Abraão não ter criado Isaque do nada, e não ter feito seu espírito e corpo a partir
de materiais existentes. Não há nada de errado em dizer que o Diabo é o pai da mentira (João
8:44). Ele é um mentiroso, e o pai da mentira. Isso não contradiz a soberania de Deus. Nós não
estamos falando de uma causa ou poder, mas de uma relação. Não há nada de errado em dizer
que a doença vem do Diabo, e que Jesus veio para nos libertar dessa opressão (Lucas 13:16; Atos
10:38). Na verdade, vendo como a Bíblia fala desse assunto, seria uma doutrina falsa dizer que a
doença vem de Deus e não do Diabo, de maneira que nós devemos suportá-la “para a glória de
Deus” em vez de considerá-la como um inimigo e resisti-la pela fé. Tantas pessoas sofrem “para a
glória de Deus” desafiando todas as suas promessas de libertação. E eles nos contam sobre, para
que nós possamos admirá-los pela sua heróica incredulidade. Eles são enganadores religiosos.

Contanto que não seja intencionado como uma rejeição da soberania de Deus, não é
errado pregar, “Deus quer que você se arrependa. Creia em Jesus e seja salvo!”. Não há negação
da predestinação, e não há nenhuma “oferta sincera”. Há confusão somente porque as pessoas
vêm cometendo os erros que mencionei. Elas erroneamente restringem a questão a algo
diferente quando discutem. Também, elas estão obcecadas com suas doutrinas favoritas, de
forma que acham que a Bíblia está falando delas mesmo quando ela está se referindo a algo
diferente, e pensam que todo mundo deve estar falando em relação a essas doutrinas o tempo
todo senão são heréticos.

Se um homem louco que é obcecado por sushi tenta pedir por isso o tempo todo, mesmo
quando ele está em um restaurante que serve apenas hambúrgueres, tacos, curry, e outros itens
que tem pouco a ver com sushi, ele vai pensar que está comendo um sushi estranho. Se ele quer
sushi, ele deveria ir a um restaurante que serve sushi. Só porque ele gosta se sushi não quer
dizer que todo restaurante no mundo é um restaurante que serve sushi. Isso é tão simples, mas
parece que quando estamos falando sobre teologia, você precisa falar às pessoas como se elas
fossem criancinhas. Elas são tão enroladas por nenhuma boa razão.

A confusão vem sendo manufaturada por força, pela maquina teológica do homem.
Alguns têm erroneamente condenado outros por pregar assim. Quando eu digo, “Deus quer que
você se arrependa” ou mesmo, “A vontade de Deus é que você confie em Jesus para te salvar”,
eu declaro o preceito ou ordem de Deus para você. A Bíblia geralmente fala nesse plano. Nós
vimos um exemplo que se refere à “vontade de Deus” nesse sentido em Romano 12. Ou, como
Pedro pregou às pessoas, “Salvai-vos desta geração perversa” (Atos 2:40). Já que a Bíblia mesma
fala assim, e algumas vezes troca de um sentido para o outro, sem uma negação da soberania
divina, não há nada de errado quando eu faço o mesmo. Se nossa aplicação de uma doutrina nos
impede de acreditar e falar como a Bíblia, e se resulta em opressão ao invés de liberdade e
poder em sua apresentação, então nossa aplicação deve ser defeituosa.

Nós podemos declarar o mesmo ponto quanto àqueles que têm nos criticado por pregar,
“Deus te quer bem. A cura é a vontade de Deus. Creia em Jesus e receba cura!”. A Bíblia diz que
Jesus “tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças” (Mateus 8:17). Ela diz,
“E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará” (Tiago 5:15). Oposição contra esse
tipo de pregação surge de uma rejeição da Escritura e de um coração mau de incredulidade. Na
realidade, nós devemos criticar aquele que não pregam dessa maneira.

Há uma diferença entre Ezequiel 18:23 e Tiago 5:15, excetuando que as pessoa tiveram fé
em um e não tiveram fé em outro? Como Jesus coloca, “Pois qual é mais fácil? Dizer: Estão
perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?” (Mateus 9:5). Agora, você entende?
Tiago entende, e então no mesmo verso ele diz, “E, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão
perdoados” (Tiago 5:15). Deus sempre colocou as duas coisas juntas (Salmo 103:3).

Aplicação à Oração

Enquanto estamos nessa, pode não haver nada de errado em dizer, “A oração muda as
coisas”. Tiago diz isso no verso 16: “A oração de um justo é poderosa e eficaz”. Embora seja
assumido que Deus é o que realiza a obra (v. 15), Tiago não vê nada de errado em dizer como se
o efeito fosse atribuído à oração. Isso não é uma negação da soberania divina, porque ele é o
mesmo que escreve, “Em vez isso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como
também faremos isto ou aquilo” (4:15). No entanto, ele não aplica isso à oração, mas diz isso
para repreender os que se “orgulham e se vangloriam” (4:16) quanto a si mesmos.

Ele traz a questão da soberania divina, e usa palavras como “se” e “o Senhor quiser”,
apenas para aqueles que confiam em si mesmos. Ele foca na responsabilidade cristã no resto da
carta. Ele começa com fé, em nada duvidando (1:6), e continua àquele que não culpa a Deus
(1:13) para aquele que revela a si mesmo em ações (1:19-26), para aquele que resiste o Diabo e
o faz fugir (4:7). E termina com fé que cura o doente, que é poderosa e eficaz para operar
milagres (5:15-18).

É verdade que o slogan pode soar imperfeito. A maioria das pessoas que o proferem sem
hesitação têm pouco entendimento - mas também aqueles que os criticam. Eles freqüentemente
têm uma visão deficiente da soberania divina - e também aqueles que os criticam. Os dois
grupos, ambos, são deficientes, apenas que de jeitos diferentes, e as diferenças são
freqüentemente não muito grandes. A questão realmente depende do que alguém quer dizer
com a afirmação. Seria certamente errado supor que a oração mesma muda as coisas. Se não há
um Deus para orar, então oração não mudaria nada. A afirmação seria aceitável somente se
significa que Deus mudaria coisas em reposta à oração.
Talvez, a pior coisa que alguém pode fazer é rejeitar a afirmação completamente, porque,
então, seria difícil não rejeitar Tiago 5:16 também. Uma resposta popular é que a oração muda
você, mesmo que nada mais. Tornou-se outro slogan popular, e um que causou muito mais dano
do que “oração muda as coisas” poderia infligir. Quando é dito que a oração muda você, não
quer dizer que a oração vai mudar qualquer coisa referente à sua situação, incluindo o seu corpo
ou a sua saúde, mas se refere apenas à condição de sua alma. Nesse contexto, isso é uma
evasiva. ISSO...É...UMA...EVASIVA! Tiago discorda disso. Ele diz que a oração de fé “salvará o
enfermo” (v. 15). Ele não está falando de aperfeiçoar a si mesmo, ou a sua condição espiritual,
mas de orar para mudar uma “coisa”, um corpo físico, até mesmo o corpo físico de outra pessoa.
Ele diz que a oração de um justo é poderosa e eficaz (v. 16). Então, ele usa Elias para ilustrar seu
ponto, e sua oração mudou o tempo. O tempo é muitíssimo uma coisa, não é? E ele era um
homem “semelhante a nós” (v. 17).

O slogan é às vezes declarado assim: “Oração não muda a Deus, mas muda você”. Isso é
lixo estufado, e um red herring. Não há necessidade de mudar a Deus a fim de mudar as coisas.
De fato, eu estou contando com que ele permaneça o mesmo - sempre - porque isso significa
que ele vai continuar a manter sua palavra e cumprir suas promessas, incluindo suas promessas
de mudar coisas quando eu oro. Deus é soberano, e esse é o porquê de não haver nada que
pode impedi-lo de manter sua palavra para mim.

A evasiva é freqüentemente usada para atacar cristãos que confiam em Deus para
“coisas”, mas que supostamente carecem de uma ênfase no arrependimento, santidade, e assim
vai. Todavia, se esses cristãos têm coceira no ouvido para um tipo de ensino, essa evasiva é só
uma teologia para um tipo diferente de coceira no ouvido, dessa vez para satisfazer uma
audiência de incredulidade. Ela assegura aqueles que são fracos na fé de que não há nada de
errado com eles, e que eles não precisam se arrepender de sua incredulidade. Se outros não
possuem em alguns jeitos, isso não te escusa a não possuir em outros jeitos. Para algumas
pessoas, o que elas pensam que estão fazendo bem é a parte mais importante da palavra de
Deus, e o que eles não estão fazendo bem é sempre heresia. Mas Jesus quer que acreditemos e
sigamos isso: “Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Lucas 11:42).

Tradução: Marcelo Flávio

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------
Postado por Clóvis Gonçalves em segunda-feira, novembro 25, 2013. Calvinismo,Chamada
eficaz,Exegese,Minha resposta,Perguntas e Respostas | 11 COMENTÁRIOS

“Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2.11)

Um dos recursos bíblicos mais utilizados contra o calvinismo é Tito 2:11. É tido como inexplicável
à luz da soteriologia calvinista. Por isso é citado contra a doutrina da eleição incondicional, da
graça irresistível e da expiação limitada. Mas será que é isso mesmo ou existe alguma explicação
que harmonize esse versículo com as doutrinas da graça como entendidas pelos reformados?
Comecemos considerando as palavras e expressões isoladas, depois as implicações da
declaração como um todo e, finalmente, a interpretação à luz do contexto.

“Graça de Deus” refere a tudo aquilo que o Senhor faz para redimir o homem do pecado e leva-
lo para o céu. Ela é livre - não devida a ninguém, e incondicional - não havendo nenhuma
condição prévia e nenhum pagamento posterior. Essa graça se manifestou (apareceu, brilhou) na
vinda de Jesus, pois se diz que “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17). Sem
dúvida, essa graça é salvífica, pois é qualificada como salvadora, no sentido de meio ou
instrumento que produz a salvação. Nas outras quatro ocorrência do termo é traduzida
simplesmente como salvação. “Todos os homens” é uma expressão comum na Bíblia, ora
significando todos os homens sem exceção, ora todos os tipos ou classes de homens. Em cada
caso, o sentido deve ser buscado no contexto.

A relação entre “a graça de Deus se manifestou salvadora” e “todos os homens” apresenta


dificuldades, exceto que se advogue o universalismo. Em geral, tanto calvinistas como não
calvinistas negam o universalismo, e para harmonizar “graça que salva” com “todos os homens”
precisam ponderar os lados da equação. Os não calvinistas atacam a graça, seja tornando-a
insuficiente e requerendo uma ação do homem para completa-la, seja diminuindo a sua eficácia,
tornando-a apenas potencialmente salvadora, podendo ser resistida e frustrada pela vontade do
homem. Os calvinistas, por sua vez, interpretam “todos os homens” à luz do contexto e chegam
à conclusão que se refere a toda classe de homens, e não a todos os homens sem exceção.

Notemos, primeiramente, que o versículo começa com a palavra “porquanto”, que é uma
conjunção exploratória lógica, ou seja, indica que o que segue é uma justificativa do que
precede. Em Tt 2:11-14 Paulo está justificando os imperativos éticos dos primeiros versículos.
Sendo assim, “porquanto” indica que devemos ler o que vem antes, no caso, Tito 2:1-10. Ao ler
esses versos, notamos algumas coisas. Primeiro, que Paulo está se referindo a pessoas crentes,
pois proclama uma ética que deriva da sã doutrina. Segundo, que se trata de pessoas de diversas
classes (homens, mulheres, idosos, jovens, escravos). Terceiro, que são gentios, em sua maioria,
pelo menos. Se fossem judeus, estariam familiarizados com uma ética derivada da doutrina e
não precisariam da justificativa de Paulo. Portanto, “todos os homens” é uma referência à toda
classe de homens salvos pela graça, ou seja, independente de etnia, sexo, idade, classe social,
todos os que são salvos pela graça devem adornar à sã doutrina com um modo de vida digno.

Mas não são apenas os versos anteriores a Tt 2:11 que limitam a referência paulina aos crentes
de diversas classes. O verso 12 continua dizendo que a graça se manifestou “educando-nos para
que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa
e piedosamente” (Tt 2.12). A graça não se manifesta passivamente, potencialmente salvadora
apenas. Tampouco vem, nos salva e vai embora. Mas permanece conosco e efetivamente nos
educa quanto à maneira de viver neste mundo. A referência aqui, é óbviamente às classes de
crentes referida na parte inicial do capítulo, como os pronomes indicam. O verso 13,
“aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador
Cristo Jesus” (Tt 2.13), também limita a referência de Paulo aos crentes, únicos para os quais a
volta de Cristo se constitui numa “bendita esperança”. E, finalmente, o verso 14 declara “o qual a
si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um
povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). O pronome “nos” e a expressão “um
povo exclusivamente seu” deixam claro que Paulo tem em mente os crentes, tão somente.

Como vimos, advogar que “todos os homens” refere-se a todos os homens que viveram em
todos os tempos e lugares implica numa graça “salvadora que não salva” todos aqueles a quem é
manifestada. Por outro lado, o capítulo inteiro está falando de crentes, primeiro prescrevendo
um comportamento ético como resultado da sã doutrina, depois justificando esse
comportamento frente à manifestação da graça salvadora e finalmente apontando para os
resultados presentes e futuros de se viver de acordo com esses mandamentos. Tomar “todos os
homens” no sentido da humanidade inteira, sem excluir nenhuma pessoa, é tirar a frase do
contexto em que está inserida e dar-lhe um sentido baseado em nossos pressupostos.

Resta-nos observar o que diz o verso 15: “Dize estas coisas; exorta e repreende também com
toda a autoridade. Ninguém te despreze.” (Tt 2.15)
Soli Deo Gloria

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------

Breve comentário sobre 1 Timóteo 2.4

"...o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da
verdade" (1Tm 2.4).

Muitos utilizam este texto como prova de que Deus deseja a salvação de todos sem exceção.
Mas se observarmos o contexto da passagem veremos que não era isso que Paulo pretendia
dizer:

"Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de
graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos
de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é
bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos
e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (1Tm 2.1-4).

Paulo exorta Timóteo a orar por "todos os homens" no verso 1. E no verso 4 diz que Deus deseja
a salvação de "todos os homens". Ora, ambas as expressões estão no mesmo contexto e devem
ter necessariamente o mesmo significado. Se no verso 4 o significado é que Deus deseja que
todos os homens sem exceção sejam salvos, todos do passado, do presente e do futuro, então
no verso 1 Paulo deve ter pretendido o mesmo significado. Porém, como Timóteo poderia
cumprir esse dever? Orar por todos os homens sem exceção não só é impossível, como também
é antibíblico, pois não podemos orar pelos mortos.

Mas, então, qual é o significado de "todos os homens" no texto? Paulo mesmo explica: "em
favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de
autoridade" (vs.1-2). "Todos os homens" significa todos os tipos de homens, neste caso,
especialmente os governantes. Isso está em harmonia com o restante da Bíblia, que afirma que
pessoas de todos os povos, tribos, línguas, nações (Ap 7.9), classes sociais e sexos (Gl 3.28; Cl
3.11) serão salvas. Mas Deus não deseja a salvação de todos os homens sem exceção, assim
como Timóteo não poderia orar por todos os homens sem exceção.

André Aloísio

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------

Um Calvinista e um Arminiano
Discutem 1 Timóteo 2:4
Frank B. Beck
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
ARMINIANO: “O que você faz com 1 Timóteo 2:4,2 que diz Deus desejar
que todos os homens sejam salvos?”

CALVINISTA: “Considerando o contexto, ou o que o apóstolo já tinha


falado, o termo significa todas as classes de homens (vv. 1-2), mas aplica-se
especificamente a todos os eleitos daquelas classes, pela seguinte razão:
“Em 1 João 5:143 temos a promessa que, se pedirmos algo segundo a
vontade de Deus, teremos isso!
“Agora, se é a vontade de Deus, como você infere, salvar todos os homens,
eleitos e não-eleitos, então pediríamos isso imediatamente a Deus, e com a toda a
certeza seria feito, pois seria algo ‘segundo a sua vontade’.

“Contudo, sabemos que isso não será realizado, pois o Salvador nos ensinou
que muitos se perderão (Mt. 7:13-144). Portanto, sua interpretação arminiana desse
versículo não pode estar correta. Infelizmente, você ouve 9 dentre 10 pregadores
de rádio famosos e evangelistas nacionalmente conhecidos usarem 1 Timóteo 2:4
dessa forma, e muito mais pastores menos conhecidos seguindo em seu erro!
“Mas se eu oro para que Deus salve todos os Seus eleitos, estou certo que Ele
fará isso (Rm. 8:28-305), pois é algo que é ‘segundo a sua vontade’.
“Por conseguinte, o ‘todos os homens’ de 1 Timóteo 2:4 refere-se a todos os
tipos de homens que constituem os eleitos de Deus. São esses que Deus deseja
salvar.”

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------

A Presciência de Deus

Que controvérsias têm sido engendradas por este assunto no passado! Mas que verdade das
Escrituras Sagradas existe que não se tenha tornado em ocasião para batalhas teológicas e
eclesiásticas? A deidade de Cristo, Seu nascimento virginal, Sua morte expiatória, Seu segundo
advento; a justificação do crente, sua santificação, sua segurança; a Igreja, sua organização,
oficiais e disciplina; o batismo, a ceia do Senhor, e uma porção doutras preciosas verdades que
poderiam ser mencionadas. Contudo, as controvérsias sustentadas não fecharam a boca dos fiéis
servos de Deus; então, por que deveríamos evitar a disputada questão da presciência de Deus
porque, com efeito, há alguns que nos acusarão de fomentar contendas? Que outros se
envolvam em contendas, se quiserem; nosso dever é dar testemunho segundo a luz a nós
concedida.

Há duas coisas referentes à presciência de Deus que muitos ignoram: o significado do termo e o
seu escopo bíblico. Visto que esta ignorância é tão amplamente generalizada, é fácil aos
pregadores e mestres impingir perversões deste assunto, até mesmo ao povo de Deus. Só há
uma salvaguarda contra o erro: estar firme na fé. Para isso, é preciso fazer devoto e diligente
estudo, e receber com singeleza a Palavra de Deus infundida. Só então ficamos fortalecidos
contra as investidas dos que nos atacam. Hoje em dia existem os que fazem mau uso desta
verdade, com o fim de desacreditar e negar a absoluta soberania de Deus na salvação dos
pecadores. Assim como os seguidores da alta crítica repudiam a divina inspiração das Escrituras
e os evolucionistas a obra de Deus na criação, alguns mestres pseudo-bíblicos andam
pervertendo a presciência de Deus com o fim de pôr de lado a Sua incondicional eleição para a
vida eterna.

Quando se expõe o solene e bendito tema da preordenação divina, e o da eterna escolha feita
por Deus de algumas pessoas para serem amoldadas à imagem do Seu Filho, o diabo envia
alguém para argumentar que a eleição se baseia na presciência de Deus, e esta “presciência” é
interpretada no sentido de que Deus previu que alguns seriam mais dóceis que outros, que
responderiam mais prontamente aos esforços do Espírito e que, visto que Deus sabia que eles
creriam , por conseguinte, predestinou-os para a salvação. Mas tal declaração é radicalmente
errônea. Repudia a verdade da depravação total, pois defende que há algo bom em alguns
homens, Tira a independência de Deus, pois faz com que os Seus decretos se apóiem naquilo
que Ele descobre na criatura. Vira completamente ao avesso as coisas, porquanto ao dizer que
Deus previu que certos pecadores creriam em Cristo e, por isso, predestinou-os para a salvação,
é o inverso da verdade. As Escrituras afirmam que Deus, em Sua soberania, escolheu alguns para
serem recipientes de Seus distinguidos favores (Atos 13:48) e, portanto, determinou conferir-
lhes o dom da fé. A falsa teologia faz do conhecimento prévio que Deus tem da nossa fé a causa
da eleição para a salvação, ao passo que a eleição de Deus é a causa , e a nossa fé em Cristo, o
efeito .

Antes de continuar discorrendo sobre este tema, tão erroneamente interpretado, façamos uma
pausa para definir os nossos termos. Que se quer dizer por “presciência”? “Conhecer de
antemão”, é a pronta resposta de muitos. Mas não devemos tirar conclusões precipitadas, nem
tampouco apelar para o dicionário do vernáculo como o supremo tribunal de recursos, pois não
se trata de uma questão de etimologia do termo empregado. O que é preciso é descobrir como a
palavra é empregada nas Escrituras. O emprego que o Espírito Santo faz de uma expressão
sempre define o seu significado e escopo. Deixar de aplicar esta regra simples tem causado
muita confusão e erro. Muitíssimas pessoas presumem que já sabem o sentido de certa palavra
empregada nas Escrituras, pelo que negligenciam provar as suas pressuposições por meio de
uma concordância. Ampliemos este ponto.

Tomemos a palavra “carne”. Seu significado parece tão óbvio, que muitos achariam perda de
tempo examinar as suas várias significações nas Escrituras. Depressa se presume que a palavra é
sinônima de corpo físico e, assim, não se faz pesquisa nenhuma. Mas, de fato, nas Escrituras
“carne” muitas vezes inclui muito mais que a idéia de corpo. Tudo que o termo abrange, só pode
ser verificado por uma diligente comparação de cada passagem em que ocorre e pelo estudo de
cada contexto, separadamente.
Tomemos a palavra “mundo”. O leitor comum da Bíblia imagina que esta palavra equivale a “raça
humana” e, conseqüentemente, muitas passagens que contêm o termo são interpretadas
erroneamente. Tomemos a palavra “imortalidade”. Certamente esta não requer estudo! É óbvio
que se refere à indestrutibilidade da alma. Ah, meu leitor, é uma tolice e um erro fazer qualquer
suposição, quando se trata da Palavra de Deus. Se o leitor se der ao trabalho de examinar
cuidadosamente cada passagem em que se acham “mortal” e “imortal”, verá que estas palavras
nunca são aplicadas à alma, porém sempre ao corpo.

Pois bem, o que acabamos de dizer sobre “carne”, “mundo”, e “imortalidade”, aplica-se com
igual força aos termos “conhecer” e “pré-conhecer”. Em vez de imaginar que estas palavras não
significam mais que simples cognição, é preciso ver que as diferentes passagens em que elas
ocorrem exigem ponderado e cuidadoso exame. A palavra “presciência” (pré-conhecimento) não
se acha no Velho Testamento. Mas “conhecer” (ou “saber”) ocorre ali muitas vezes. Quando esse
termo é empregado com referência a Deus, com freqüência significa considerar com favor,
denotando não mera cognição, mas sim afeição pelo objeto em vista. “... te conheço por nome”
(Êxodo 33:17). “Rebeldes fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci ”
(Deuteronômio 9:24). “Antes que te formasse no ventre te conheci ... “ (Jeremias 1:5). “...
constituíram príncipes, mas eu não o soube ...” (Oséias 8:4). “De todas as famílias da terra a vós
somente conheci ...” (Amos 3:2). Nestas passagens, “conheci” significa amei ou designei .

Assim também a palavra “conhecer” é empregada muitas vezes no Novo Testamento no mesmo
sentido do Velho Testamento. “E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci ...” (Mateus
7:23). “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido ” (João
10:14). “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” (1 Coríntios 8:3). “... o Senhor
conhece os que são seus...” (2 Timóteo 2:19).

Pois bem, a palavra “presciência”, como é empregada no Novo Testamento, é menos ambígua
que a sua forma simples, “conhecer”. Se cada passagem em que ela ocorre for estudada
cuidadosamente, ver-se-á que é discutível se alguma vez se refere apenas à percepção de
eventos que ainda estão por acontecer. O fato é que “presciência” nunca é empregada nas
Escrituras em relação a eventos ou ações; em lugar disso, sempre se refere a pessoas . Pessoas é
que Deus declara que “de antemão conheceu” (pré-conheceu), não as ações dessas pessoas.
Para provar isto, citaremos agora cada uma das passagens em que se acha esta expressão ou sua
equivalente.

A primeira é Atos 2:23. Lemos ali: “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e
presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. Se se
der cuidadosa atenção à terminologia deste versículo, ver-se-á que o apóstolo não estava
falando do conhecimento antecipado que Deus tinha do ato da crucificação, mas sim da Pessoa
crucificada: “A este (Cristo) que vos foi entregue”, etc.

A segunda é Romanos 8:29-30. “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho; a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou”, etc. Considere-se bem o pronome aqui
empregado. Não se refere a algo , mas a pessoas , que ele conheceu, de antemão. O que se tem
em vista não é a submissão da vontade, nem a fé do coração, mas as pessoas mesmas .

“Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu...” (Romanos 11:2). Uma vez mais a clara
referência é a pessoas, e somente a pessoas.

A última citação é de 1 Pedro 1:2: “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai...” Quem são
“eleitos segundo a presciência de Deus Pai”? O versículo anterior nô-lo diz: a referência é aos
“estrangeiros dispersos”, isto é, a Diáspora, a Dispersão, os judeus crentes. Portanto, aqui
também a referência é a pessoas, e não aos seus atos previstos.

Ora, em vista destas passagens (e não há outras mais), que base bíblica há para alguém dizer que
Deus “pré-conheceu” os atos de certas pessoas, a saber, o seu “arrependimento e fé”, e que
devido a esses atos Ele as elegeu para a salvação? A resposta é: absolutamente nenhuma. As
Escrituras nunca falam de arrependimento e fé como tendo sido previsto ou pré-conhecido por
Deus. Na verdade, Ele sabia desde toda a eternidade que certas pessoas se arrependeriam e
creriam ; entretanto, não é a isto que as Escrituras se referem como objeto da “presciência” de
Deus. Esta palavra se refere uniformemente ao pré-conhecimento de pessoas; portanto,
conservemos “... o modelo das sãs palavras. . .” (2 Timóteo 1:13).

Outra coisa para a qual desejamos chamar particularmente a atenção é que as duas primeiras
passagens acima citadas mostram com clareza e ensinam implicitamente que a “presciência” de
Deus não é causativa , pelo contrário, alguma outra realidade está por trás dela e a precede, e
essa realidade é o Seu decreto soberano . Cristo “... foi entregue pelo (1) determinado conselho
e (2) presciência de Deus” (Atos 2:23). Seu “conselho” ou decreto foi a base da Sua presciência.
Assim também em Romanos 8:29. Esse versículo começa com a palavra “porque”, conjunção que
nos leva a examinar o que o precede imediatamente. E o que diz o versículo anterior? “... todas
as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles... que são chamados por seu decreto”.
Assim é que a “presciência” de Deus baseia-se em Seu decreto (ver Salmo 2:7).

Deus conhece de antemão o que será porque Ele decretou o que há de ser . Portanto, afirmar
que Deus elege pessoas porque as pré-conhece é inverter a ordem das Escrituras, é pôr o carro
na frente dos bois. A verdade é esta: Ele as “pré-conhece” porque as elegeu . Isto retira da
criatura a base ou causa da eleição, e a coloca na soberana vontade de Deus. Deus Se propôs
eleger certas pessoas, não por haver nelas ou por proceder delas alguma coisa boa, quer
concretizada quer prevista, mas unicamente por Seu beneplácito. Quanto ao por que Ele
escolheu os que escolheu, não sabemos, e só podemos dizer: “Sim, ó Pai, porque assim te
aprouve” (Mateus li :26). A verdade patente em Romanos 8:29 é que Deus, antes da fundação
do mundo, elegeu certos pecadores e os destinou para a salvação (2 Tessalonicenses 2:13). Isto
se vê com clareza nas palavras finais do versículo: “... os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho”, etc. Deus não predestinou aqueles que “dantes conheceu” sabendo que
eram “conformes”, mas, ao contrário, aqueles que Ele “dantes conheceu” (isto é, que Ele amou e
elegeu), “predestinou para serem conformes”. Sua conformidade a Cristo não é a causa, mas o
efeito da presciência e predestinação divina.

Deus não elegeu nenhum pecador porque previu que creria, pela razão simples, mas suficiente,
de que nenhum pecador jamais crê enquanto Deus não lhe dá fé; exatamente como nenhum
homem pode ver antes que Deus lhe dê a vista. A vista é dom de Deus, e ver é a conseqüência
do uso do Seu dom. Assim também a fé é dom de Deus (Efésios 2:8-9), e crer é a conseqüência
do uso deste Seu dom. Se fosse verdade que Deus elegeu alguns para serem salvos porque no
devido tempo eles creriam, isso tornaria o ato de crer num ato meritório e, nesse caso, o
pecador salvo teria motivo para gloriar-se, o que as Escrituras negam enfaticamente (veja Efésios
2:9).

Certamente a Palavra de Deus é bastante clara ao ensinar que crer não é um ato meritório.
Afirma ela que os cristãos vieram a crer “pela graça” (Atos 18:27). Se, pois, eles vieram a crer
“pela graça”, absolutamente não há nada de meritório em “crer”, e, se não há nada de meritório
nisso, não poderia ser o motivo ou causa que levou Deus a escolhê-los. Não; a escolha feita por
Deus não procede de coisa nenhuma existente em nós , ou que de nós provenha, mas
unicamente da Sua soberana boa vontade.

Mais uma vez, em Romanos 11:5 lemos sobre “... um resto, segundo a eleição da graça”. Eis aí,
suficientemente claro; a eleição mesma é “da graça”, e a graça é favor imerecido , coisa a que
não tínhamos direito nenhum diante de Deus.

Vê-se, pois, como é importante para nós, termos idéias claras e bíblicas sobre a “presciência” de
Deus. Os conceitos errôneos sobre ela, inevitavelmente levam a idéias que desonram em
extremo a Deus. A noção popular da presciência divina é inteiramente inadequada. Deus não
somente conheceu o fim desde o princípio, mas planejou, fixou, predestinou tudo desde o
princípio. E, como a causa está ligada ao efeito, assim o propósito de Deus é o fundamento da
Sua presciência. Se, pois, o leitor é um cristão verdadeiro, é porque Deus o escolheu em Cristo
antes da fundação do mundo (Efésios 1:4), e o fez não porque previu que você creria , mas
simplesmente porque Lhe agradou fazê-lo; você foi escolhido apesar da tua incredulidade
natural. Sendo assim, toda a glória e louvor pertence a Deus somente. Você não tem base
nenhuma para arrogar-se crédito algum. Você creu “pela graça” (Atos 15:27), e isso porque a tua
própria eleição foi “da graça” (Romanos 11:5).

Fonte: Arthur W. Pink. Os Atributos de Deus. Editora PES.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------

Hebreus 6:4-6 e a Possibilidade de


Apostasia

por Dr. Sam Storms

Esta é indubitavelmente uma das mais controversas e freqüentemente debatidas passagens em


toda a Escritura. Não seria errado dizer que aqueles que crêem que um crente genuíno pode
perder sua salvação apelam a esta passagem com mais freqüência que qualquer outra. Leia a
passagem atentamente.

“Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se
tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do
século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a
eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.”

Quem são aquelas pessoas que uma vez foram iluminadas, provaram do dom celestial, se
tornaram participantes do Espírito Santo, provaram da boa Palavra de Deus e dos poderes do
século futuro, e então recaíram? É importante que saibamos, pois é impossível renová-las outra
vez para o arrependimento, uma vez que elas novamente crucificaram o Filho de Deus e o
expuseram ao vitupério.

Existem provavelmente mais de doze opções interpretativas a essa passagem, que podem ser
encontradas em comentários ou periódicos. Não é meu propósito interagir com eles. Pelo
contrário, estou focando somente na questão de se a terminologia nos versos 4 e 5 nos levaria a
concluir que estes indivíduos são nascidos de novo, justificados, crentes.

Estas pessoas são homens e mulheres cristãos nascidos de novo? Se forem, destrói-se a doutrina
da segurança eterna. Ou é possível para alguém experimentar alguma forma de iluminação
espiritual, provar bênçãos espirituais, partilhar do Espírito Santo e ainda assim nunca ter
conhecido Jesus de um modo salvífico? Creio que a resposta para esta última questão é Sim.
Deixe-me começar dando seis razões do próprio livro de Hebreus para mostrar que as pessoas
que apostataram não são nascidas de novo.

Primeiramente, a situação descrita nos versos 4-6 é ilustrada nos versos 7-8. Lá nós lemos,
“Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela [este beber chuvas
freqüentes refere-se às bênçãos dos versos 4-5: iluminação, participar do Espírito, provar
bênçãos espirituais, etc.], e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a
bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos [isto corresponde à queda do v.6a], é
reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.

A chuva cai em todos os tipos de solo, mas não se pode dizer, apenas com base nisso, que tipo
de vegetação, se haverá alguma, aparecerá. A figura aqui não é de um solo que recebe chuva
freqüente, dá vida e vegetação, e então a perde. A figura é sobre dois tipos de solo juntos. Um
responde à chuva [bênçãos e oportunidades espirituais] por produzir vegetação abundante,
enquanto o outro é estéril, sem vida e, assim condenado. Da mesma forma, pessoas que ouvem
o evangelho e respondem com fé salvífica manifestam vida. Outras, entretanto, que sentam na
igreja, ouvem a verdade e são abençoadas pelo ministério do Espírito Santo mas que
eventualmente viram suas costas a tudo isso, são como um campo em que nunca floresce
vegetação e assim vão a julgamento.

Como Wayne Grudem nota,

A idéia de terra que uma vez deu bons frutos e agora traz espinhos não é compatível com esta
figura. A implicação é esta: enquanto as experiências positivas listadas nos versos 4-6 não nos
dão informação suficiente para saber se as pessoas são verdadeiramente salvas ou não, a atitude
de apostasia e expor Cristo à vergonha revelam a verdadeira natureza daqueles que caíram:
todos eles são como um solo ruim que pode dar apenas frutos maus. Se a metáfora da terra de
espinhos explica os versos 4-6 (como certamente o faz), então sua queda mostra que
primeiramente eles nunca foram salvos (Perseverance of the Saints: A Case Study from Hebrews
6:4-6 and the Other Warning Passages in Hebrews, in Still Sovereign, Baker; 156-57).

Segundo: em 6.9 lemos um contraste significante: Mas de vós, ó amados, esperamos coisas
melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. As coisas melhores
em vista são listadas em 10-12, coisas como trabalho, amor, serviço, diligência, completa certeza
da salvação e fé, paciência, herança das promessas. Estas coisas são melhores que as
experiências dos versos 4-6 precisamente porque elas pertencem à ou são acompanham a
salvação . Em outras palavras, o autor diz que está confiante de que muitos de seus leitores têm
coisas melhores que as pessoas descritas nos versos 4-6, e estas coisas são melhores, pois seus
leitores têm coisas que pertencem à salvação. Isto implica que as bênçãos nos versos 4-6 não
são coisas que pertencem à salvação (Grudem, 159).

Antes de seguir adiante, vamos resumir os versos 7-12. Os versos 7-8 descrevem as pessoas nos
versos 4-6 como terra infrutífera que repetidamente produz espinhos e abrolhos, e, portanto
indica que elas nunca foram salvas. Versos 9-12 dizem que os leitores, em geral, têm coisas
melhores que as experiências temporárias dos versos 4-6, e que estas coisas melhores incluem a
salvação. Portanto, tanto os versos 7-8 como verso 9 indicam que as pessoas nos versos 4-6, que
caíram, nunca tiveram salvação (Grudem, 160).

Terceiro, de acordo com Hebreus 3.14 (e 3.6), nós nos tornamos participantes de Cristo, se
retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim. Note bem: ele diz que nós nos
tornamos participantes de Cristo, não que nos tornaremos ou somos agora participantes, se
perseverarmos na fé. Em outras palavras, se reter firmemente a fé, i.e., perseverar, isto prova
que você se tornou parceiro de Cristo no passado. Falhar em sustentar a fé, u.e., apostatar da fé,
prova que você nunca foi um participante de Cristo. Apostasia ou cair (6.6a) não significa que
uma vez você estava, mas agora caiu da participação em Cristo. Significa que você nunca foi ou
nunca se tornou um participante.

Quarto, lemos em Hebreus 10.14 que pelo sacrifício único Cristo aperfeiçoou para sempre
aqueles que são santificados. Aqui nos é contado que aqueles que agora estão sendo
santificados (i.e., habitados pelo Espírito Santo, crescendo em santidade pela fé), o sacrifício de
Cristo na cruz aperfeiçoou esta pessoa para sempre. Para sempre! Em outras palavras, tornar-se
um beneficiado da obra aperfeiçoadora, justificadora, de Cristo na cruz é ser aperfeiçoado ao
lado de Deus eternamente. Isto sugere que Hebreus 6.6 não significa que quem re-crucifica
Cristo foi uma vez justificado pelo sangue de Jesus e foram realmente santificados em um
sentido espiritual (John Piper, Sermon, 5).

Quinto, nosso autor conclui sua carta com uma oração relatando a plenitude em nós das
bênçãos da Nova Aliança. Ele ora para que Deus vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para
fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo Jesus (13.20-
21). A promessa da nova e eterna aliança é que Deus colocará em seu povo um novo coração e
os levará a andar em Seus caminhos, e não deixará de fazê-los bons (veja Ez 11.19,36.27; Jr
24.7,32.40). Portanto, Piper conclui que

No verso 21, ele diz que não depende de nós se perseveraremos na fé e frutificaremos. Isto é
ultimamente dependente de Deus: Ele está trabalhando em nós naquilo que é agradável a seus
olhos. Ele está completando a promessa da nova aliança de nos preservar. Isto significa que
Hebreus 6.6 contradiria a nova aliança se significasse que as pessoas poderiam ser
verdadeiramente membros justificados na nova aliança, e então cometer apostasia e ser
rejeitadas. Isto significaria que Deus não completaria sua promessa de trabalhar neles o que é
agradável aos seus olhos. Ele teria quebrado sua promessa da nova aliança (Piper, 5).

Sexto, devemos tomar nota não só do que é dito destas pessoas nos versos 4-6, mas o que não é
dito delas, mas que é usualmente dito dos cristãos. Termos típicos usados para descrever os
crentes, como regeneração, conversão, justificados, adotados, eleitos, crentes em Jesus, estão
obviamente ausentes. Isto é mais que meramente um argumento proveniente do silêncio
quando consideramos a forma como os cristãos são descritos no próprio livro de Hebreus. Aqui
está uma lista do que é verdadeiro sobre o verdadeiro crente, tudo o que está ausente na
descrição daqueles que apostataram em 6.4-6:

(1) Deus perdoou seus pecados (10.17; 8.12)

(2) Deus limpou suas consciências (9.14; 10.22)

(3) Deus escreveu sua lei em seus corações (8.10; 10.16)

(4) Deus está produzindo santidade na vida deles (2.11; 10.14; 13.21)

(5) Deus deu a eles um reino inabalável (12.28)

(6) Deus tem prazer neles (cap.11; 13.16,21)

(7) Eles têm fé (4.3; 6.12; 10.22,38,39;12.2; 13.7, etc.)

(8) Eles têm esperança (6.11,18; 7.19; 10.23)

(9) Eles têm amor (6.10; 10.33-34;1 3.1)

(10) Eles adoram e oram (12.28; 13.15; 4.16; 10.22)

(11) Eles obedecem a Deus (5.9; 10.36; 12.10,11,14)

(12) Eles perseveram (3.6,14; 6.11; 10.23)

(13) Eles entram no descanso de Deus (4.3,11)

(14) Eles conhecem a Deus (8.11)

(15) Eles são a casa de Deus, seus filhos, seu povo (3.6; 2.10,13; 8.10)

(16) Eles são participantes de Cristo (3.14)

(17) Eles receberão a salvação futura (1.14; 7.25; 5.9; 9.28)

Alguém talvez faça uma objeção, ao dizer: OK, descrições típicas dos salvos não são encontradas
em 6.4-6, mas também descrições típicas dos perdidos são encontradas lá! Grudem responde:
eu concordo que as frases [em 6.4-6] sozinhas não batem com as descrições do autor sobre os
perdidos, e elas não indicam que essas pessoas são perdidas (antes que cometam apostasia).
Mas isto é justamente o ponto. Antes que elas cometam apostasia seu estado espiritual é
incerto. Fica a questão de se eles estão entre os salvos ou os perdidos. Eles não deram
indicações decisivas sobre qualquer caminho. Esta é a razão para que o autor os avise para que
não voltem atrás se eles ainda estão em um ponto onde a decisão entre estar entre os salvos ou
os perdidos deva ser feita (171).
O que dizer dos termos usados em 6.4-5 (iluminação, provar, participantes, etc.). Por um lado, é
certo o caso de que todos os cristãos experimentam estas realidades. Mas somente cristãos
experimentam elas? Ou é possível que essas experiências também sejam verdadeiras para
pessoas que são repetidamente expostas ao Evangelho e aos benefícios que este traz, ainda que
pessoalmente elas não abracem a pessoa de Cristo como Senhor ou Salvador? Vamos observar
cada uma delas.

Eles foram uma vez iluminados. Verdadeiros cristãos foram iluminados? Sim. Mas este termo
não precisa significar mais que ouvir o Evangelho, aprender ou entendê-lo. Certamente um
entendimento intelectual dos fatos do Evangelho é um passo importante para a fé salvífica, mas
por si só não constitui o elemento de confiança pessoal em Cristo, que é essencial à fé
(Grundem, 142-43). Todos conhecemos pessoas, talvez membros de família, que foram
repetidamente expostos à verdade do Evangelho, entenderam o que significa, podem articular
as afirmações de Cristo com uma precisão incrível, mas ainda assim recusam-se a colocar sua
confiança nEle como Senhor e Salvador. Portanto, embora todos os verdadeiros cristãos tenham
sido iluminados, nem todos que foram iluminados são verdadeiros cristãos.

Eles provaram do dom celestial, da boa palavra de Deus e dos poderes do século futuro. Isto
certamente aponta para uma genuína experiência espiritual. Mas nós devemos concluir que foi
uma genuína experiência salvífica ? Eles não são estranhos ao Evangelho e à igreja. Existem
pessoas que chegam a ter convicção do Espírito Santo e que experimentaram algum tipo de
bênção, por meio da graça comum e por seu íntimo contato com verdadeiros crentes. Talvez elas
tenham sido curadas. Talvez um demônio tenha sido expulso. Elas ouviram a Palavra de Deus e
vieram a provar, sentir e se beneficiar de algo de seu poder, beleza e verdade. Elas ouvem as
palavras do Espírito Santo e viram grandes e maravilhosas coisas no corpo de Cristo. Aqueles em
Mateus 7.22-23 pregaram, profetizaram, operaram milagres e expulsaram demônios no nome de
Cristo... mas não foram salvos. Jesus disse a eles: eu nunca vos conheci, apartai-vos de mim,
vocês que praticam a iniqüidade (v.23). Estes, portanto, provaram do poder e bênçãos da nova
aliança, mas pessoalmente não são atraídos, ligados, abraçaram, amaram, guardaram, confiaram
ou foram salvos pela morte expiatória de Jesus como sua única esperança de vida eterna.

Eles se tornaram participantes do Espírito Santo . Mesmo que a palavra traduzida como
participante possa certamente se referir a uma participação salvífica em Cristo (cf. Hb 3.14),
também pode referir-se a uma associação ou participação sem união. Veja Lc 5.7; Hb 1.9
(companheiros ou companhia). Estas pessoas vieram de certa forma a compartilhar algum
aspecto do Espírito Santo e seu ministério. Mas com base em que devemos concluir que foi de
uma forma salvífica? Por que nosso autor não usa uma terminologia que colocaria a questão de
seus estados espirituais sem dúvidas, como cheios de, batizados no, ou habitados pelo Espírito
Santo?

Eles em algum sentido se arrependeram. Existe uma tristeza pelos pecados e arrependimento
deles que mesmo incrédulos podem experimentar. Isto é claro a partir de Hb 12.7, em referência
a Esaú, também foi assim com o arrependimento de Judas Iscariotes em Mateus 27.3. Paulo
refere-se a um arrependimento sem a tristeza que leva a salvação. A implicação parece ser que
existe um arrependimento que não leva à salvação. Como crença e fé, da mesma forma com o
arrependimento, devemos sempre distinguir entre o que é substancial e salvífico por um lado, e
por outro, o que é espúrio.

Wayne Grudem traz este resumo útil:

O que aconteceu a essas pessoas? Elas eram pelo menos pessoas que estiveram afiliadas, de
uma forma muito próxima, à comunhão da igreja. Elas tiveram alguma tristeza pelo pecado e
uma decisão de abandoná-lo ( arrependimento ). Elas claramente entenderam o Evangelho e
tiveram alguma concordância com isto (elas foram iluminadas ). Eles vieram a apreciar a beleza
da vida cristã e a mudança que vem sobre a vida das pessoas que se tornam cristãs, elas
provavelmente tiveram orações respondidas em suas próprias vidas e sentiram o poder do
Espírito Santo trabalhar, talvez mesmo usaram alguns dons espirituais (elas se tornaram
associadas do trabalho do Espírito Santo, ou se tornaram participantes do Espírito Santo e
provaram o dom celestial e os poderes do século futuro). Elas foram expostas à verdadeira
pregação da Palavra e apreciaram muitos de seus ensinos (elas provaram a boa Palavra de Deus).
Estes fatores são todos positivos, e estas pessoas que experimentaram estas coisas podem ser
genuínos cristãos. Mas estes fatores sozinhos não são o bastante para nos dar uma evidência
conclusiva de qualquer dos estágios iniciais decisivos da vida cristã (regeneração, fé salvífica e
arrependimento para a vida, justificação, adoção, santificação inicial). De fato, essas experiências
são todas preliminares para aqueles estágios iniciais decisivos da vida cristã. O estado espiritual
real daqueles que experimentaram essas coisas não é ainda claro (153).

Eu concluo que as pessoas descritas em 6.4-5 que, de acordo com v.6, caíram, não são agora, e
nunca foram crentes nascidos de novo. Não são cristãos que perderam sua salvação.

Eu acredito que o estado e experiência espiritual daqueles descritos em Hebreus 6.4-6 é


virtualmente idêntico aos três primeiros dos quatro solos da parábola do semeador (veja Mateus
13.3-23; Marcos 4.1-9; Lucas 8.4-15). Nesta parábola, somente o quarto solo é chamado de bom
e, conseqüentemente, produz fruto. Os outros três representam aqueles que ouviram o
Evangelho e respondem com graus variantes de entendimento, alegria e interesse. Nenhum
deles, entretanto, produziu fruto que testificaria uma vida espiritual genuína. Isto é dizer que
eles experimentaram a iluminação, provaram da excelência e poder do ministério do Espírito e
das bênçãos do reino. Ainda assim deram suas costas à verdade quando dificuldades, problemas
ou tentações apareceram em seus caminhos. Sua apostasia foi a prova da falsidade de sua fé
inicial (veja especialmente João 8.31; Hebreus 3.6,14; 1 João 2.19).

Traduzido por: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.

Revisado por: Felipe Sabino de Araújo Neto

03 de Abril de 2005.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------

Você também pode gostar