MODULO
MODULO
MODULO
cosmologia
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 1
A história da Cosmologia
Presidente da República Equipe de realização
Dilma Vana Rousseff
Revisor de conteúdo e texto
Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação
Carlos Henrique Veiga
Aldo Rebelo
Secretário-Executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Projeto gráfico, editoração e capa
João Alberto De Negri Vanessa Araújo Santos
Ensino a Distância
Subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisas Front page (Web)
André Tortato Rauen Giselle Veríssimo
Diretor do Observatório Nacional
Colaboradores
João Carlos Costa dos Anjos
Ney Avelino B. Seixas
cosmologia
Observatório Nacional/MCTI (Site: www.on.br) Alex Sandro de Souza de Oliveira
Rua General José Cristino, 77
São Cristóvão, Rio de Janeiro - RJ
CEP: 20921-400 Este livro é dedicado a Antares Cleber Crijó
(1948 - †2009) que dedicou boa parte da sua
Criação, Produção e Desenvolvimento (Email: [email protected]) carreira científica à divulgação e popularização
da ciência astronômica.
2015
© 2015 Todos os direitos reservados ao
Observatório Nacional. (www.on.br) Da origem ao fim do universo
Coordenador: Carlos Henrique Veiga
Cosme Ferreira da Ponte Neto
Silvia da Cunha Lima
Vanessa Araújo Santos
Giulliana Vendramini da Silva
Giselle Veríssimo
Caio Siqueira da Silva
Módulo 1
A história da Cosmologia
Capa do Módulo 1: Nebulosa da Chama (Flame Nebula, NGC
2024). Nebulosas são nuvens de poeira e gás, de formação de
estrelas, conhecidas como “Berço das Estrelas”. Descoberta por
Willian Herschel, em 1786, a NGC 2024, localizada na conste-
lação de Orion, está a uma distância de 1500 anos-luz do Sis-
tema Solar.
Crédito: European Southern Observatory (ESO)
OBSERVATÓRIO NACIONAL Designado pelo Inmetro como Laboratório Primário de Tempo e Fre-
quência, o Observatório Nacional é responsável pela geração, distribuição e
O Observatório Nacional (ON), instituto de pesquisa vinculado ao Minis- conservação da Hora Legal Brasileira (HLB), popularmente conhecida como
tério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), atua em três grandes áreas do “Horário de Brasília”.
conhecimento – Astronomia, Geofísica e Metrologia em Tempo e Frequência, O Observatório Nacional, por meio da sua Divisão de Atividades Educa-
nas quais realiza pesquisa, desenvolvimento e inovação, com reconhecimento cionais, promove regularmente ações que despertem o interesse da sociedade
nacional e projeção internacional. para as ciências, utilizando elementos visuais e interativos, de forma a simpli-
Fundado pelo Imperador D. Pedro I em 15 de outubro de 1827, o Obser- ficar e esclarecer conceitos científicos. Uma de suas principais atividades são
vatório Nacional é uma das mais antigas instituições dedicadas à ciência no os cursos a distância, que desde 2003 tem atraído milhares de jovens e adultos
Brasil. No campus que ocupa desde a década de 1920, em São Cristóvão, no de todas as classes sociais. O seu principal objetivo é socializar o conhecimen-
Rio de Janeiro/RJ, o passado e o presente se encontram. to científico por meio de um veículo eletrônico que hoje é amplamente utili-
O ON preserva o seu patrimônio histórico e mantém modernas instalações zado, a internet. Levar a sociedade as razões pela qual a ciência deve ser uma
de pesquisa com equipamentos de última geração que acompanham a evolu- prioridade, esclarecendo o público de que modo o investimento governamen-
ção tecnológica de suas áreas. O conjunto arquitetônico, assim como o seu tal em ciência reverte a seu favor sob forma de cultura e tecnologia. Mostrar
acervo documental e de instrumentos científicos são tombados pelo Instituto de que modo a ciência faz parte do nosso dia-a-dia e como a utilizamos para
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). melhorar nossas condições de vida.
A biblioteca do ON conserva obras raras de riqueza inestimável, com pu- A Grande Luneta Equatorial de 46cm (imagem ao lado) tem importância
Conjunto Cúpula-Luneta montado em 1922 no
campus do Observatório Nacional. blicações dos séculos XVIII e XIX, além de uma coleção de documentos, foto- inegável para a Astronomia brasileira. A partir da sua instalação, em 16 de
grafias e iconografias de importância histórica para a ciência brasileira. fevereiro de 1922, muitos projetos foram realizados, permitindo ao Brasil in- Detalhe do conjunto de lentes da Grande Luneta
gressar nos programas internacionais de observação de estrelas duplas visuais, Equatorial de 46cm
Além da estrutura de sua sede, o ON mantém em funcionamento regular
os Observatórios Magnéticos de Vassouras/RJ (1915), de Tatuoca/PA (1957) e planetas, asteroides, cometas, eclipses solares e lunares.
do Pantanal/MT (2012). Também mantém em operação o Observatório Astro- Grande Luneta Equatorial, símbolo que representa uma importante parte
nômico do Sertão de Itaparica, instalado em Itacuruba/PE. da história da astronomia do Observatório Nacional.
O Observatório Nacional tem reconhecida tradição no campo da Astro- Ao longo dos seus 93 anos, a velha Luneta viu passar por suas lentes ima-
nomia e Astrofísica, com destaque nas subáreas de astronomia fundamental, gens de muitos fenômenos celestes e as registrou com precisão, ajudando a
ciências planetárias, astrofísica estelar, astrofísica galáctica, astrofísica extra- preparar e formar bons observadores. Foi o seu legado. Cumpriu a sua missão.
galáctica e cosmologia. A trajetória do ON acompanha a evolução teórica
e instrumental da astronomia, buscando sempre a cooperação científica na
fronteira do conhecimento.
Conheça em detalhes
Na área de geofísica, a atuação da instituição se estende às diversas espe- as dependências do
cialidades, como da geofísica da Terra sólida, geofísica aplicada e ambiental, Observatório Nacional
com a realização de pesquisa básica e prestação de serviços técnico-científicos.
Na cooperação com o setor produtivo, para execução de projetos de pesquisa
e desenvolvimento, destacam-se os levantamentos na área de petróleo e gás. Esta imagem é uma panorâmica da Grande
Campus do Observatório Nacional com seus Luneta Equatorial, símbolo que representa uma
instrumentos científicos e a natureza do seu espaço importante parte da história da astronomia
bucólico, patrimônio histórico e cultural do país. do Observatório Nacional.
cosmologia
das ciências exatas, estabelecendo uma conexão entre a pesquisa científica e incorretamente por algum problema de transmissão de dados da sua
o público. É a oportunidade de uma instituição federal de pesquisa colocar a rede internet.
2015
serviço da sociedade os conhecimentos que são produzidos por seus pesquisa-
Da origem ao fim do universo 5. A rede e o sistema de energia do Observatório Nacional são redundan-
dores, democratizando assim o seu acesso.
tes (duplicados), ou seja, o risco de falhas é bastante minimizado.
Como estudar a distância 6. Também recomendamos que os alunos evitem realizar a prova no últi-
Uma das grandes vantagens de um curso à distância é permitir a cada mo dia, pois o sistema poderá ficar lento ao acesso à prova, aumentan-
participante definir o seu ritmo de estudo, avaliando o seu tempo disponível, do assim os riscos de falhas (rede, energia elétrica, etc).
programando assim a sua dedicação ao curso. Para obter o certificado, o par- 7. Quando o aluno terminar a prova, deve, obrigatoriamente, clicar nos
Logotipo do curso a distância 2015. ticipante terá que fazer provas durante o curso e, certamente, se esforçar bem botões CONCLUIR e ENTREGAR PROVA, para que o sistema dê por
mais que os outros participantes. encerrado o evento com sucesso.
O curso não tem custos 8. Não haverá, em hipótese alguma, segunda chamada.
Os cursos a distância, oferecidos pelo Observatório Nacional, são inteira- IMPORTANTE: para realizar a prova, o aluno deverá utilizar obriga-
mente grátis. Nenhuma taxa é cobrada aos participantes. O material produ- toriamente o login (seu endereço e-mail) e a senha que receberá au-
zido, disponibilizado no site, pode ser copiado (download) e impresso, desde tomaticamente no ato da inscrição no curso. Caso esses dados sejam
que não seja publicado em outros meios, o que caracteriza crime de proprie- extraviados, o aluno poderá recuperá-los, sendo acessados pelo botão
dade intelectual. “Esqueci minha senha”.
O participante que receber qualquer mensagem ou sugestão que indique
custos, deve enviar imediatamente uma cópia para [email protected] para tomar-
Nota: Ao longo do curso o aluno não poderá mudar o seu endereço e-mail.
mos as providências cabíveis.
Caso isso ocorra, comunicar imediatamente a [email protected] .
Imagem do certificado do curso a distância 2015.
Duração do curso
O curso de “Cosmologia” terá duração de 05 (cinco) meses, sendo iniciado
Certificado do curso
no dia 03 de março de 2015 e encerrado no dia 03 de agosto de 2015. O curso é
Ao final do curso o certificado será emitido e disponibilizado na página
constituído de 10 (dez) módulos, num total de 73 capítulos.
do Observatório Nacional, sem qualquer custo. Não será emitido ou enviado
certificado impresso ou declarações. A divulgação das notas e o acesso ao cer-
Inscrição
tificado são restritos ao aluno.
Neste curso teremos uma nova forma de inscrição e emissão de certifica-
Cada dois módulos correspondem a um total de 24 horas de curso. No
dos. As inscrições serão abertas no dia 23/02/2015 e permanecerão abertas até
final do curso o certificado será emitido multiplicando-se o número de provas
o final do último dia de prova (03/08/2015).
realizadas, com nota média mínima igual a 7,0(sete), por 24 horas. Assim, o
aluno que tiver feito todas as cinco provas, tendo obtido a nota mínima em
Onde as aulas são apresentadas
cada uma delas, terá um certificado de 120 horas.
Os assuntos das aulas são apresentados em módulos na área de “Divulga-
ção Científica” da página do Observatório Nacional ( www.on.br ). O curso
tem carga horária equivalente ou estimada a 120 horas (não há registro do
número de horas durante o acesso ao site). Não disponibilizamos qualquer
material impresso, mesmo para os participantes inscritos, e não poderemos
atender a qualquer solicitação de envio de imagens, animações ou vídeos.
MÓDULO 1 - História da Cosmologia Iniciaremos nosso estudo de Cosmologia voltando à pré-história. Mas,
9 Capítulo 01-Cosmologia dos Povos Antigos para que recuar tanto no tempo? Precisamos realmente fazer isso? É claro que
27 Capítulo 02-Cosmologia Grega não precisamos mas, devemos. Se esse fosse um curso estritamente técnico,
49 Capítulo 03-O Universo da Idade Média começaríamos com a parte matemática necessária para estudar a “teoria da Cosmologia dos
60 Capítulo 04-Cosmologia Islâmica relatividade geral”, depois veríamos algumas de suas soluções exatas e os mo-
Povos Antigos
63 Capítulo 05-Os primeiros Sistemas Heliocêntricos delos cosmológicos. No entanto, esse é um curso de divulgação científica. Não
82 Capítulo 06-Grandes descobertas usaremos física e matemática como ferramenta principal, mas em seu lugar
84 Capítulo 07-O universo mecânico: René Descartes tentaremos fazer um grande discurso sobre como os filósofos do passado e os
85 Capítulo 08-Isaac Newton e a Gravitação Universal cientistas do presente desenvolveram o seu conhecimento sobre o Universo.
92 Capítulo 09-A teoria da gravitação de Newton Vamos iniciar o curso de Cosmologia falando sobre o desenvolvimento
94 Capítulo 10-O determinismo e Pierre-Simon Laplace de uma ideia. Uma ideia absurdamente ambiciosa: saber se, e consequen-
temente como, o universo se formou e quais são as leis que o governam.
MÓDULO 2
Nosso objetivo é apresentar os conceitos básicos sobre os quais se baseia a
95 Capítulo 01-História da Astronomia cosmologia moderna.
99 Capítulo 02-História da Astronomia Nossa abordagem seguirá, sempre que possível, a trilha histórica deixa-
100 Capítulo 03-História da Astronomia da por aqueles que se aventuraram por esse intrincado caminho. Tentaremos
106 Capítulo 04-História da Astronomia mostrar como foram desenvolvidas as ideias sobre as quais a teoria cosmoló-
gica foi crescendo até chegar ao que ela é hoje.
3 MÓDULO 3 No entanto, é preciso muito cuidado ao estudar a história da cosmologia,
7 Capítulo 01-História da Astronomia em particular da sua fase mais antiga. Certamente estaremos pisando num
10 Capítulo 02-História da Astronomia terreno minado, dominado por mitos religiosos e misticismo que nada têm
20 Capítulo 03-História da Astronomia a ver com a ciência moderna. O fato de alguém ter dito há milhares de anos
39 Capítulo 04-História da Astronomia que o universo era, por exemplo, infinito, de modo algum deve ser encarado
46 Capítulo 05-História da Astronomia como um conhecimento científico já estabelecido naqueles tempos remotos.
78 Capítulo 06-História da Astronomia Ao contrário, todas estas afirmações devem ser vistas como pura especulação.
88 Capítulo 07-História da Astronomia Durante todo o primeiro módulo do curso será visto que o estudo do uni-
90 Capítulo 08-História da Astronomia verso feito pelos antigos pensadores irá se limitar quase que exclusivamente à
93 Capítulo 09-História da Astronomia observação do Sistema Solar. Isto era motivado pelo fato de que somente a Lua, o
Sol, cinco planetas e as estrelas eram os objetos celestes capazes de serem obser-
93 MÓDULO 4 vados pelos antigos filósofos. Este era o universo observável dos povos antigos,
95 Capítulo 01-História da Astronomia o seu “universo local”. Ainda levaria muito tempo até que os cientistas tivessem
99 Capítulo 02-História da Astronomia uma visão correta (?) do Universo. Hoje sabemos que o Sistema Solar faz parte
100 Capítulo 03-História da Astronomia de uma galáxia, a nossa Galáxia, e que existem bilhões de galáxias em todo o
106 Capítulo 04-História da Astronomia Universo. Mesmo com a invenção do telescópio, ainda passariam alguns séculos
até que os cientistas soubessem que a nossa Galáxia não era o Universo. Vere-
3 MÓDULO 5 mos a enorme disputa que essas ideias geraram em grupos rivais, aquilo que
7 Capítulo 01-História da Astronomia hoje chamamos de “Grande Debate”. No momento nos preocuparemos com as
10 Capítulo 02-História da Astronomia descrições do “universo” feitas por aqueles que há milhares de anos tiveram a Imagem que ilustra os elementos que compõem
ousadia de olhar para o cosmos e pensar sobre ele. o Sitema Solar: a estrela Sol, em torno da qual
20 Capítulo 03-História da Astronomia
orbitam planetas, asteroides e cometas.
39 Capítulo 04-História da Astronomia
46 Capítulo 05-História da Astronomia
78 Capítulo 06-História da Astronomia
88 Capítulo 07-História da Astronomia
90 Capítulo 08-História da Astronomia
93 Capítulo 09-História da Astronomia
93 MÓDULO 6
95 Capítulo 01-História da Astronomia
99 Capítulo 02-História da Astronomia
100 Capítulo 03-História da Astronomia
106 Capítulo 04-História da Astronomia
BABILÔNIA
A cosmologia no Egito
As dinastias que floresceram no antigo Egito foram contemporâneas dos povos
que habitaram a mesopotâmia. Dentre outros aspectos, eles também desenvol-
veram uma cultura prática, destacando-se na arte, literatura, arquitetura e em
algumas ciências, como medicina e matemática. Uma das principais fontes de
informação sobre a matemática é o “papiro Rhind” (imagem à esquerda). Ele foi
feito por volta do ano 1650 a.C., mas seu autor, o escriba Ahmes, copiou-o de
um documento ainda mais antigo, (de 1800 a.C.). O papiro Rhind consiste de
uma tabela de números 1/n, onde n= 3, 5, 7,..., 101,. Além disso, inclui dezenas
de exercícios matemáticos acompanhados de soluções. Também é atribuída aos
Antigo papiro egípcio com cálculos matemáticos. egípcios a invenção do “cúbito”, uma “medida padrão de comprimento”, em sua
cultura antiga. Sem isso talvez suas grandes edificações não seriam possíveis.
• filha de Ra
• primeiro filho de Geb e Nut As características mais notáveis da visão Védica do universo eram:
Osiris deus da natureza e da vegetação
• a terra deve sua fertilidade a ele • o Universo é grande, cíclico e extremamente velho
Os Vedas falam de um universo infinito e os Brahmanas men-
No período denominado velho reinado, o entusiasmo astronômico-religio- cionam “yugas” (eras) muito grandes. A visão Védica recorrente do
so dos faraós chega ao ápice com a construção das pirâmides de Gizé. Elas universo exige que o próprio universo passe por ciclos de criação e
também simbolizavam um caminho para os deuses, sendo orientadas para as destruição. Esta visão cíclica se tornou parte da estrutura astronômica
estrelas circumpolares do norte. desenvolvida por eles e isso fez com que ciclos muito longos, de bilhões
de anos, fossem considerados. Os Puranas falam do universo passando
A COSMOLOGIA NA ÁSIA por ciclos de criação e destruição de 8,4 bilhões de anos embora tam-
bém existam ciclos mais longos.
Existia (a ainda existe) um certo desejo entre historiadores eurocêntricos Assim, na cosmologia hindu o universo tem uma natureza cíclica.
em retroceder a ciência e filosofia antigas somente até os gregos. Com isso A unidade de medida usada é a “kalpa”, que equivale a um dia na vida
esses importantes pilares do conhecimento humano, a ciência e a filosofia, de Brahma, o deus da criação. Uma kalpa tem aproximadamente 4,32
aparecem como algo totalmente criado no ocidente. Deste modo a pré-histó- bilhões de anos. O final de cada “kalpa”, realizado pela dança de Shiva,
ria asiática das ciências ocidentais, em particular a base asiática sobre a qual é também o começo da próxima kalpa. O renascimento segue à destrui-
se apóia uma parte da ciência e filosofia gregas, é absolutamente ignorada. ção. Shiva é representada tendo na mão direita um tambor que anuncia
Mais recentemente começou a haver um reconhecimento, com uma certa má a criação do universo e na mão esquerda uma chama que destruirá o
vontade, de que os Babilônios e os Egípcios podem ter contribuído para o de- universo. Muitas vezes Shiva é mostrada dançando num anel de fogo
senvolvimento das ideias científicas e filosóficas dos gregos. que se refere ao processo de vida e morte do universo.
O mais notável na cosmologia hindu, que lhe dá uma característica
A COSMOLOGIA NA ÍNDIA única, é o fato de que nenhuma outra cosmologia antiga usou períodos
de tempo tão longos nas suas descrições cosmológicas.
A literatura dos Vedas e a arqueologia indianas nos fornecem bastante evi- • um mundo atômico Visão hindu sobre a criação e
dências relacionadas com o desenvolvimento da ciência pelos povos que habita- De acordo com a doutrina de Kanada existem nove classes de destruição do Universo.
vam este país. Segundo alguns arqueólogos, existem registros que nos permitem substâncias:
acompanhar estes desenvolvimentos recuando no tempo até o ano 8000 a.C. ▶▶ éter, espaço e tempo, que são contínuas.
A mais antiga fonte textual destas narrativas históricas está no Rig Veda, o ▶▶ as quatro substâncias elementares, ou partículas, chamadas ter-
livro sagrado dos Hindus, que é uma compilação de material muito mais anti- ra, ar, água e fogo, que são atômicas.
go. A descoberta de que Sarasvati, o importante rio da época Rig Vedica, ficou ▶▶ dois tipos de mentes, uma onipresente e outra que é o indivíduo.
Detalhe do livro sagrado dos Hindus. seco por volta do ano 1900 a.C. devido a movimentos tectônicos, fortalece a A doutrina atômica de Kanada é, em certos aspectos bem mais inte-
ideia de que os hinos do Rig Veda recordam eventos anteriores a esta época. ressante do que aquela proposta pelo grego Demócrito.
De acordo com a história tradicional o Rig Veda é anterior a 3100 a.C.
no céu mas também, devido ao arrasto viscoso proveniente da Terra, pro- No século 4 a.C. desenvolveram a ideia que as estrelas eram fixas numa es-
duzia o movimento para trás do Sol, da Lua, dos cinco planetas visíveis e fera celeste, que girava em torno da Terra esférica a cada 24 horas.Os planetas,
das estrelas. o Sol e a Lua, se moviam no éter, um meio que permeava todo o espaço. Para a
Os chineses percebiam o céu como sendo arredondado. Ele tinha nove maioria dos astrônomos gregos a Terra era estacionária e tudo mais se movia.
níveis cada um dos quais separado por um portão e guardado por um ani-
mal particular. O nível mais alto era o “Palácio da Tenuidade Púrpura”. A mitologia grega e sua cosmologia primitiva
Era aí que o Imperador do Céu vivia, na constelação que hoje chamamos Os povos antigos foram capazes de notar que o Sol, a Lua e as estrelas se-
de Ursa Major. guem trajetórias, que mudam levemente conforme as estações do ano. Isso os
No centro do céu estava o Pólo Norte e a Estrela Polar. O pólo celeste era levou a evoluir na maneira de encarar o mundo à sua volta. Postularam que al-
Conceito dos chineses sobre a distribuição dos uma característica crítica da cosmologia chinesa. Para os chineses esse centro gum tipo de consciência deveria estar controlando os movimentos dos corpos
corpos celestes. era o ponto geográfico mais importante porque ele era o ponto mais próximo celestes e determinando as variações de clima que ocorriam ao longo do ano,
do firmamento. Eles acreditavam que o coração da civilização estava situado fundamentais para a sobrevivência das sociedades pastorais e agrárias daquela
no centro da Terra e à medida que a Terra se espalhava para fora deste centro época. Mas quem, ou o que, produziria essas variações tão importantes? Uma
as terras e seus habitantes se tornavam cada vez mais selvagens. consequência dessa indagação é o surgimento da mitologia.
• Durante os eclipses lunares a sombra lançada sobre a Lua pela Terra A ESCOLA DE ALEXANDRIA
parece circular
• Estrelas diferentes são visíveis em latitudes mais ao norte e mais ao sul. No ano 336 a.C. Alexandre o Grande (imagem a seguir), com apenas 20
Ele notou que, à medida que uma pessoa viaja para o norte, as estrelas anos, tornou-se rei do pequeno estado grego da Macedônia. Ele viria a se tor-
polares se colocam cada vez mais alto no céu e outras estrelas vão se nar um dos maiores líderes militares do mundo antigo.
40 Módulo 1 · A história da Cosmologia Cosmologia - Da origem ao fim do universo 41
No ano 331 a.C., as tropas de Alexandre o Grande invadiram a região que Os métodos geométricos de Aristarcos eram bastante corretos. Os erros
hoje é conhecida como Egito. Após conquistá-la Alexandre fundou uma cida- introduzidos são devidos ao fato de que as observações do instante exato do
de cujo nome o homenageava, Alexandria. primeiro e terceiro quarto da Lua e da duração do eclipse lunar, necessários
Ao contrário de outros conquistadores de sua época, Alexandre o Grande para os seus cálculos, estavam muito além da capacidade instrumental de
era um homem culto. Ele havia sido educado por Aristóteles e isto foi decisivo na sua época.
maneira como foram tratadas as culturas dos povos submetidos ao seu domínio. Por volta do ano 270 a.C. Aristarcus estava atarefado tentando calcular o
O desenvolvimento da região de Alexandria foi muito grande. O comércio tamanho do Sol e da Lua assim como a distância desses corpos à Terra. Aris-
era intenso e, com o acúmulo de riquezas, a cidade prosperou tanto economi- tarcos calculou que o Sol está, aproximadamente, 20 vezes mais afastado de
camente como culturalmente. nós do que a Lua. Além disso, ele calculou que o Sol é cerca de 20 vezes maior
Foi em Alexandria que o mundo antigo viu a construção de enormes mu- do que a Lua e 10 vezes maior do que a Terra.
seus e bibliotecas. A intensidade da vida cultural nesta região fez com que a ci- Por ter deduzido que o Sol era muitíssimo maior do que a Lua, ele concluiu
dade de Alexandria se tornasse a capital da erudição de todo o mundo antigo. que a Terra deveria, por conseguinte, girar em torno do Sol.
Certamente isto atraiu a atenção dos estudiosos da época que viram Aristarcus acreditava que a Terra estava em órbita em torno do Sol, muito
em Alexandria uma boa oportunidade para desenvolverem seus traba- ao contrário do que é evidente para qualquer um ver. Houve uma tentativa,
lhos. Nos séculos que se seguiram a maioria dos grandes estudiosos da que levou a nada, de fazer Aristarcus ser processado por irreverência. Sua ideia
região Mediterrânea deslocou-se para lá a fim de realizar seus trabalhos se junta a várias outras noções arrojadas e estranhas que estimulam a história
filosóficos-científicos. do pensamento humano. Até mesmo Copernicus mencionou esse heliocen-
Os pensadores gregos também participaram desta emigração. Foi em Ale- trismo em um antigo rascunho de seu importante livro, e citou Aristarcus
xandria que muitos pesquisadores gregos desenvolveram seus trabalhos mais como aquele que teve a ideia correta primeiro mas, após refletir, Copernicus
Alexandre o Grande (entre 356 a.C. e 323 a.C.).
importantes. tirou o nome de Aristarcus das versões posteriores do texto.
Um dado importante é que estes trabalhos, em geral, ficavam armazena- Infelizmente quase todo o trabalho de Aristarcos foi perdido no grande
dos na grande biblioteca que havia sido construída em Alexandria. Entretanto incêndio de Alexandria que arrasou a fabulosa biblioteca que existia nesta ci-
tudo isto foi perdido quando um incêndio de enormes proporções destruiu dade, destruindo todos os registros da ciência e cultura gregas que estavam
a cidade no século 4 da nossa era. Todo o acervo da biblioteca foi destruído. arquivados nela. Um dos poucos trabalhos de Aristarcus que sobreviveu é so-
Trabalhos que representavam a vida inteira de vários filósofos desapareceram. bre as medições dos tamanhos do Sol e da Lua, assim como de suas distâncias
Esta foi uma das maiores tragédias já ocorrida na ciência, principalmente para à Terra. Todas as descobertas de Aristarcos que conhecemos estão no livro
aqueles que se interessam pela história do pensamento. de astronomia escrito por ele, “Peri megethon kai apostematon heliou kai se-
Os grandes filósofos da Escola de Alexandria foram Aristarcos, Erastote- lenes” (Sobre os tamanhos e distâncias do Sol e da Lua). Este é o mais antigo
nes, Hiparcus e Ptolomeus. tratado completo sobre um assunto astronômico que chegou até nós vindo da
Grécia antiga.
Aristarcos (de Samos) (século 3 a.C.) Em reconhecimento às realizações de Aristarcos, uma cratera na lua pos-
Aristarcos viveu no período entre ~310 e 230 antes de Cristo. Ele foi uma sui o seu nome.
voz solitária na ilha grega de Samos e é o primeiro astrônomo famoso do con-
junto de filósofos naturais que formaram a Escola de Alexandria. Eratóstenes (de Cirene)
Geralmente dá-se a Aristarcos o crédito de ter sido o primeiro a propor O matemático e geógrafo Eratóstenes viveu no período entre 276 e 197 (ou
várias ideias importantes para a astronomia. 192 ou 194 ou 195) antes de Cristo.
Tudo indica que Aristarcos foi o primeiro astrônomo a realmente acreditar Entre as várias realizações científicas de Eratóstenes destaca-se o desenvol-
em um modelo heliocêntrico (o Sol no centro) para o universo. Isto nos é con- vimento de um mapa do mundo, um método para encontrar números primos,
tado por Arquimedes no seu livro “Psammites” onde ele descreve a teoria de chamado “A peneira de Eratóstenes”, e a estimativa do tamanho da circunfe-
Aristarcos, ou seja, que o Sol e as estrelas estão em repouso e que a Terra gira rência da Terra.
em um movimento circular com o Sol ocupando o centro do círculo. Na época de Eratóstenes, o tamanho da Terra ainda era um problema Eratóstenes (de Cirene).
Baseado no sistema heliocêntrico, ele supôs que o movimento diário das central.
estrelas era devido à rotação da Terra.
Além disso, Aristarcos criou métodos bastante engenhosos para estimar O TAMANHO E A FORMA DA TERRA
as distâncias e os tamanhos relativos do Sol, da Lua e da Terra. Embora estas
estimativas não tenham a precisão a que estamos acostumados hoje, elas re- Para nós, após termos acumulado milhares de anos de ciência e informa-
Aristarcos (de Samos) (século 310 a.C. e 230 a.C.). presentaram um importante avanço para a astronomia por terem produzido ções, pode parecer estranho que tanto tempo tenha passado sem que os filóso-
conhecimentos sobre o Sistema Solar que hoje sabemos serem verdadeiros. fos naturais gregos, tão sábios na sua época, tivessem conseguido determinar
Por exemplo, as medições de Aristarcos mostraram que o Sol é muito maior o tamanho e a forma da Terra. O erro está em olhar criticamente para o pas-
do que a Terra, que a Lua é muito menor que o nosso planeta e que o Sol está sado do alto de tanto conhecimento. Transporte-se para a época em que eles
muito mais afastado de nós do que a Lua. viveram e tente, somente com a geometria, resolver este problema.
Aristarcos concluiu que o Sistema Solar deveria ser heliocêntrico, a partir Conhecer o tamanho e a forma do nosso planeta era vital para o desenvol-
de suas estimativas geométricas dos tamanhos e distâncias relativas entre a vimento da astronomia. O primeiro vestígio de que a Terra não era plana veio
Terra, a Lua e o Sol. dos navegadores. Em terra firme, as irregularidades da superfície mascaram
Petrus Apianus
Petrus Apianus (1495-1552) (também chamado de Petrus Apian, ou Peter
Bienewitz ou Peter Bennewitz) foi um humanista alemão que ficou famoso por
seus trabalhos em matemática e em astronomia. Seu nome foi latinizado para
Apianus em virtude da palavra “abelha” (seu nome original continha a palavra
alemã Biene, que quer dizer abelha) ser “apis” em latim.
Apian realizou importantes trabalhos em matemática tendo, em 1527 pu- Esta visão do universo não era predominante nem amplamente comparti-
“Cosmographicus liber” de Apianus. blicado uma variação do chamado “triângulo de Pascal” assim como impor- lhada pelos membros educados da sociedade na Idade Média, que certamente
tantes textos de astronomia. tinham herdado muito do seu conhecimento astronômico a partir de docu-
Em 1531 Apianus observou um cometa e descobriu que sua cauda apontava mentos como o Almagesto e outros. No entanto, esta visão tinha uma certa
sempre na direção contrária à do Sol, mostrando isso em um desenho. influência entre os membros do público geral.
Suas principais obras sobre astronomia foram o livro que ele publicou em
1524, o “Cosmographicus liber” onde mostrava o universo segundo a des- UM RESUMO DA COSMOLOGIA DA IDADE MÉDIA
crição de Ptolomeu, e o livro publicado em 1540 chamado “Astronomicum
Caesareum”. • a ciência grega tinha estabelecido que Terra era o apex (o ponto mais
O “Cosmographicus liber” de Apianus (do qual vemos uma página na ima- alto) do Universo em um sentido físico.
gem abaixo) era um texto altamente respeitado sobre astronomia e navegação
que teve pelo menos 30 edições em 14 línguas, permanecendo popular até o fi- • a igreja institucional elaborou um significado desta interpretação nas
nal do século XVI. Na verdade ele faz uma pequena variação nas propostas de Sagradas Escrituras e adotou o esquema de Ptolomeus.
Ptolomeu, mostrando as “orbes” celestes de uma forma um pouco diferente.
58 Módulo 1 · A história da Cosmologia Cosmologia - Da origem ao fim do universo 59
04
• abaixo da Terra estava o inferno, evidenciado pelos vapores abrasado- Com o domínio dos árabes, o artesanato, as artes e as ciências mais uma
res que é lançado pelos vulcões. vez floresceram em todas as regiões por eles conquistadas. Foram fundadas
bibliotecas de manuscritos antigos e muitos sábios emigraram para Damasco,
• acima estavam sete esferas nas quais o Sol e os planetas giram em tor-
Bagdá, Córdoba e outros grandes centros da nova civilização islâmica. A lite-
no da Terra.
ratura grega, egípcia, persa, chinesa e indiana foi cuidadosamente reunida por
• a oitava esfera era uma abóbada imóvel sobre a qual as estrelas se pen- eles, traduzida, primeiro em siríaco e mais tarde em árabe, e então combinada
Cosmologia duravam como lâmpadas. por sábios que trabalhavam intensamente.
Islâmica Enquanto isto, na Europa, a Terra voltava a ser considerada redonda e o
• a nona, ou esfera cristalina, era a residência dos santos.
universo era mais uma vez geocêntrico.
• acima de tudo, na esfera número dez, estava a residência de Deus Todo
Pela preservação e transmissão do conhecimento antigo, que no fim das
Poderoso, chamada Paraíso ou o Firmamento.
contas despertou de novo a Europa, o mundo moderno possui uma grande
• esta teoria de cosmologia tendeu a ser cada vez mais aceita como fato. dívida com o Império Islâmico.
Ibn al-Haytham O termo “renascença” descreve o período da história européia que vai do
Abu Ali al-Hasan ibn al-Hasan ibn al-Haytham (965-1039), conhecido início do século XIV até o final do século XVI.
também como al-Basri ou pelo nome latinizado de Alhacen, foi um dos gran- O termo “renascença” se originou da palavra italiana “rinascita”, que lite-
Abu Ali al-Hasan ibn al-Hasan ibn al-Haytham des nomes da ciência islâmica. Ele escreveu mais de 200 trabalhos sobre vários ralmente significa “renascer”, e descreve as mudanças radicais que ocorreram
(965-1039) assuntos sendo que 50 destes sobreviveram (23 são sobre astronomia). na cultura européia durante estes séculos. É nesta época que vemos o desapa-
O trabalho mais importante de al-Haytham foi sobre óptica. Seu livro “Ki- recimento da idade média e, pela primeira vez, a incorporação à sociedade dos
tab al-Manazir” (Livro de Óptica), escrito entre 1011 e 1021, é considerado valores do mundo moderno.
como um dos mais importantes tratados de física escritos até hoje por iniciar Neste período vemos a exploração do globo terrestre com as grandes na-
uma revolução na óptica. Neste livro al-Haytham provou que as propostas vegações feitas por portugueses e espanhóis. Vemos também um incrível
de Euclides, Ptolomeus e Aristóteles estavam erradas e desenvolveu a teoria desenvolvimento da expressão artística, com Leonardo da Vinci, Rafael, Ti-
que explica o processo da visão por meio de raios de luz que atingem o olho ciano, Michelangelo e também das ciências com Copérnico, Tycho Brahe,
provenientes de cada ponto de um determinado objeto. Kepler e Galileu.
Os capítulos 15 e 16 do seu livro de óptica tratam da astronomia. Ibn al No entanto, este desenvolvimento não deve ser confundido com liberdade.
-Haytham foi o primeiro a dizer que as “esferas celestes” não consistiam de A Igreja Católica dominava fortemente o pensamento da época. As artes e
matéria sólida como se pensava na época. Ele também propôs que os “céus” a ciência passavam pelo crivo de seus censores. Cientistas como Copérnico
eram menos densos que o ar. e Galileu apresentaram suas ideias, e sofreram por causa delas, nesta época.
Entre os anos 1025 e 1028 Ibn al-Haytham escreveu o livro “Al-Shukuk Alguns como Giordano Bruno foram queimados por apresentarem interpre-
‘ala Batlamyus”, traduzido como “Dúvidas relativas a Ptolomeus”. Nele Ibn tações científicas diferentes daquelas apoiadas pela Igreja Católica.
As leis de Kepler Mais importante do que descrever órbitas ou posições de planetas, as leis
Usando as observações de alta qualidade, sem precedente, de Tycho Brahe, de Kepler são, na verdade, consequências de princípios muito mais fundamen-
Kepler pode fazer cálculos altamente precisos das órbitas planetárias. tais. Quando as leis de Newton, que descrevem o movimento dos corpos e a
Santo Ofício, sentenciado a aprisionamento ao prazer • também deve-se a Galileo a primeira teoria da relatividade, válida para
Sentenciamento de Galileo. velocidades muito menores do que a velocidade da luz. As transforma-
da Santa Congregação, ordenado, tanto na escrita ou
ções nesta teoria são conhecidas como “transformações galileanas” e
falando, a não tratar mais de qualquer maneira da relacionam as coordenadas espaciais e temporais de dois referenciais
mobilidade da Terra ou a estabilidade do Sol; ou caso que possuem uma velocidade relativa constante.
contrário ele sofrerá a punição de reincidência. O livro
realmente escrito por ele, cujo título é “Dialogo di Galileo Em 1638 Galileo ficou totalmente cego e o resto de sua vida foi gasto com
estudantes, incluindo Vincenzio Viviani e Evangelista Torricelli, e seu filho
Galilei Linceo”, deve ser proibido. Além disso, que estas
Vincenzio além de uma ampla correspondência científica.
coisas possam ser conhecidas por todos, ele ordenou A Inquisição impediu Galileo de publicar, no entanto ele continuava a es-
que cópias da sentença precedente devam ser enviadas crever. Seus assistentes salvaram dos censores seu último trabalho, o Discorsi,
Arcetri , próximo a Florença.
a todos os Núncios Apostólicos, a todos os inquisidores a culminação das pesquisas de uma vida sobre as leis da mecânica. Publicado
em Leiden em 1638 ele se tornou a pedra fundamental sobre a qual as ciências
contra a depravação herética, e especialmente ao da física, astronomia e cosmologia iriam se erguer.
Isaac Newton e a Gravitação Universal Com esta observação Newton introduziu o grande princípio unificador
O “Principia”, um dos mais influentes livros na história da ciência, teve sua da física clássica, capaz de explicar em uma lei matemática o movimento dos
origem nas especulações do jovem Newton sobre a trajetória da Lua duran- planetas, o movimento das marés e a queda de uma maçã.
te sua estadia em Woolsthorpe Manor duas décadas antes (a história de que Veja que a lei descrita acima nos fala de proporcionalidades. Em matemá-
Newton teria notado a existência da lei da gravitação a partir da queda de uma tica quando queremos passar de uma proporcionalidade para uma igualdade
maçã é, quase certamente, duvidosa). introduzimos uma “constante de proporcionalidade”. Esta constante de pro-
A pergunta que estimulou seus pensamentos era: o que impede a Lua de porcionalidade terá um determinado valor numérico além de unidades físicas.
sair de sua órbita em torno da Terra exatamente como acontece ao cortarmos Deste modo, podemos escrever a lei da gravitação universal como uma
a corda que prende uma bola que está sendo girada? igualdade se introduzirmos uma constante de proporcionalidade, que chama-
A bola em tal situação abandona sua trajetória circular e desloca-se em remos de constante universal da gravitação e que será sempre representada
uma tangente a essa órbita. pela letra G.
Vamos ver isso de uma outra maneira. Suponha que temos um canhão A Lei da Gravitação Universal pode ser escrita matematicamente como:
imaginário, muito poderoso, sobre a superfície da Terra. Vamos colocá-lo no
topo de uma montanha bastante alta e dispará-lo sempre horizontalmente.
Após um pequeno percurso a bala do canhão cairá sobre a superfície da Ter-
ra. Suponha agora que aumentamos bastante a capacidade do nosso projétil
e o disparamos de novo nas mesmas condições anteriores. Agora, com mais onde G é a “constante universal da gravitação” (ou apenas constante gra-
velocidade, ela percorrerá uma trajetória maior, mas voltará a cair sobre a vitacional), M e m são as massas dos corpos que estão interagindo gravitacio-
superfície. nalmente, e d é a distância entre estes mesmos corpos.
Seguindo esse raciocínio podemos imaginar que à medida que aumenta-
mos a velocidade do nosso projétil, ele se deslocará por distâncias cada vez
maiores antes de retornar à superfície da Terra. É fácil concluir que se o ca-
nhão projetasse sua bala com exatamente uma determinada velocidade, ela
se deslocaria em volta de todo o nosso planeta, sempre “caindo” mas nunca
alcançando a superfície da Terra. Podemos dizer que a superfície da Terra se
curva com a mesma taxa que a bala do canhão “cai”.
Essa analogia agora pode ser aplicada à Lua em seu movimento em torno A constante universal da gravitação tem o valor
da Terra. Newton raciocinou que a Lua pode ser vista como perpetuamente
Isaac Newton. caindo da tangente que ela descreveria em sua contínua órbita em torno da G = 6,67 x 10-8 dinas centímetro2/grama2
Terra se não fosse atraída pelo nosso planeta.
ou
Newton calculou matematicamente por quanto, em tal analogia, a Lua es-
taria caindo a cada segundo. Com esses valores ele calculou, com base no mes- G = 6,67 x 10 newtons metro2/quilograma
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2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 2
Conhecendo o Universo
em que vivemos
2015
Da origem ao fim do universo
100 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 101
O filósofo alemão Immanuel Kant argumentou contra os românticos insis- maior porte. O arranjo das estrelas poderia ser similar àquele dos planetas.
tindo que a metafísica não poderia fornecer uma explicação dos fundamentos Além disso, o sistema Newtoniano fornecia, por analogia, uma explicação
da natureza física, corpórea e que a questão da existência de Deus estava com- para uma estrutura de disco. A mesma causa que deu aos planetas seus movi-
pletamente divorciada da experiência sensorial direta. mentos e direcionou suas órbitas para um plano, poderia também ter dado às
Em 1775 Kant apresentou um modelo para descrever o Universo. Ele le- estrelas o poder de revolução e colocado suas órbitas em um plano.
vantou a seguinte questão: se as estrelas se movem, então porque elas pare- No final do século XVIII as observações entraram na cosmologia estelar
cem estar fixas no céu? Ele mesmo forneceu uma resposta bastante razoável. com um papel principal. Isso se deve ao astrônomo alemão Wilhelm Friedrich
Segundo Kant este movimento ou era excessivamente lento, tendo em vista Herschel que ao se naturalizar inglês assumiu o nome de William Herschel.
a grande distância entre as estrelas e o centro comum em torno do qual elas Suas descobertas se tornaram possíveis graças aos grandes telescópios que ele
giravam, ou essa falta de movimento era devida a uma mera incapacidade nos- mesmo construiu.
sa de percebê-lo, devido à grande distância existente entre o local onde elas Em 1773 Herschel, baseado em uns poucos livros existentes sobre astro-
estavam e aquele de onde as observávamos. nomia que ele havia comprado, mas dotado de grande habilidade em óptica
Para Kant o Sistema Solar Newtoniano fornecia um modelo para os siste- e mecânica, construiu alguns dos melhores (e maiores) telescópios existentes
mas estelares maiores. Kant raciocinou que a mesma causa que deu aos pla- na sua época. Isso culminou em 1789 quando Herschel construiu um enorme
netas sua força centrífuga, mantendo-os em órbita em torno do Sol, poderia telescópio refletor com comprimento focal de 40 pés e cujo espelho tinha o
também ter dado às estrelas o poder de realizar seus movimentos em círculo. diâmetro de 48 polegadas (imagem ao lado). Este telescópio refletor, uma das
E seja o que for que fez todos os planetas descreverem órbitas aproximada- maravilhas da época, não seria superado por décadas.
mente no mesmo plano, poderia ter feito o mesmo com as estrelas. Para ele o Os vários telescópios construídos por Herschel não somente revelaram
Universo tinha uma ordem similar àquela que vemos no Sistema Solar, mas mais satélites em órbita em torno de planetas como também revelaram algu-
Immanuel Kant (1724- 1804). em uma escala maior e envolvendo muito mais objetos. O Universo de Kant mas “nebulosas” de aspecto indistinto em aglomerados de estrelas. Eles tam-
era formado por uma multidão de estrelas que giravam em torno de um centro bém permitiram que Herschel registrasse objetos celestes situados a distâncias
comum estando todas, aproximadamente, no mesmo plano. muito além do alcance dos telescópios refratores existentes naquela época. Os
A maior contribuição de Kant foi a introdução, no seu modelo do Universo, telescópios refratores dependiam de uma grande lente, mas a arte de polimen-
das pequenas manchas luminosas elípticas observadas no céu pelos astrôno- to de lentes estava limitada a aberturas pequenas, bem menores do que os Ilustração de um dos telescópios construido
mos de sua época e que eram chamadas coletivamente de “estrelas nebulosas”. espelhos de 48 polegadas construídos por William Herschel. por Herschel.
Ele raciocinou que, se a Via Láctea tinha a forma de um disco de estrelas, não Com base em suas meticulosas observações, nas quais era ajudado por sua
seria viável existirem também outros planos agregados de estrelas espalhados irmã Caroline Lucretia Herschel (1750-1848), Herschel observou estrelas que
por todo o espaço? Kant também argumentou que se estes agregados, tendo pareciam estar situadas entre dois planos paralelos que se estendiam em linha
em vista os seus tamanhos, estavam tão distantes da Via Láctea, do mesmo reta por grandes distâncias. Isso o levou a concluir que a Via Láctea (a banda
modo como as estrelas individuais estão umas das outras, então eles deveriam luminosa de estrelas que parece envolver o céu em uma noite escura e que
aparecer para nós como pequenas manchas luminosas, manchas estas que hoje sabemos ser o plano da nossa Galáxia) é a manifestação da projeção das
teriam a forma mais ou menos elíptica dependendo de quanto elas estavam estrelas nessas camadas. Em 1784 Herschel afirmou que:
inclinadas em relação à nossa linha de visada.
Kant estava convencido da existência de “outros Universos” além da nossa “Uma circunstância muito notável que se aplica às
Via Láctea e foi ele quem propôs pela primeira vez, mas baseado apenas em
filosofia, que o Universo era formado por vários “Universos ilha” repletos de
nebulosas e aglomerados de estrelas é que elas estão
estrelas, semelhantes à Via Láctea, a bela faixa de estrelas que vemos atraves- organizadas em camadas, que parecem prosseguir
sada no céu em uma noite escura e que, insistimos, é apenas o plano da nossa por uma grande extensão; e algumas delas eu já fui
Galáxia e não ela toda.
capaz de seguir, de modo a supor muito bem suas
Assim, os objetos que pareciam nebulosos quando observados nos céus se
tornaram, na mente de Kant, “universos ilhas”, algo como colossais sistemas formas e direções. É muito provável que elas possam
solares formados por milhares de estrelas. circundar toda a esfera aparente dos céus, até mesmo a
Os pensamentos de Kant sobre o universo tinham pouco conteúdo obser- Via Láctea, que certamente é apenas uma camada de
vacional. Os fundamentos de suas hipóteses cosmológicas eram filosóficos e
teológicos. As observações entrariam pela primeira vez na cosmologia de um
estrelas fixas.”
modo marcante no final do século XVIII graças ao astrônomo amador ale-
Vemos ao lado o diagrama feito por Herschel em seu artigo publicado em
mão, naturalizado inglês, William Herschel.
1784 sobre a construção dos céus. Ele nos mostra como um observador loca-
lizado no centro de uma fina camada de estrelas verá as estrelas circundantes
DESCOBRINDO O CÉU: WILLIAN HERSCHEL
projetadas como um anel que as envolvem. Se a camada se divide, o anel tam-
bém se divide.
Herschel observa o Universo
Indo muito mais “longe” no espaço do que qualquer um havia consegui-
William Herschel (1738 - 1822). As equações de Newton permitiam que os cientistas descrevessem sob o
do antes com seus grandes telescópios, Herschel iniciou o primeiro levan-
ponto de vista matemático o nosso Sistema Solar. Logo especulou-se que elas
tamento sobre a forma e o tamanho do Universo ou seja, da estrutura da
também seriam capazes de oferecer um modelo para os sistemas estelares de
nossa Galáxia (que era o universo da época!). Usando métodos sistemáticos
102 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 103
ao invés de conjecturas, Herschel atacou o problema realizando contagens UMA CURIOSIDADE HISTÓRICA
de estrelas em 683 regiões do céu. Herschel raciocinou corretamente que
deveria registrar um número maior de estrelas nas contagens feitas na dire- Wilhelm Friedrich Herschel nasceu na cidade de Hanover, Alemanha,
ção do centro da nossa Galáxia e um número menor nas contagens feitas na em 1938. Sua profissão era músico, tocando na banda do regimento da
direção de sua borda. Guarda de Hanover. Em 1755 as coroas de Hanover e da Inglaterra foram
No entanto, Herschel encontrou aproximadamente o mesmo valor de den- unidas sob a liderança do rei inglês George II. A banda em que Herschel
sidade estelar (número de estrelas por área) em todas as direções examinadas. tocava foi enviada para a Inglaterra. Em 1757 ele naturalizou-se inglês e
Daí ele concluiu que o Sistema Solar deveria estar situado no centro da Galáxia mudou seu nome para Frederick William Herschel. Em solo inglês ele con-
(na época de Herschel os astrônomos ainda não sabiam que o espaço interes- tinuou a dar aulas (tocava violino, oboé e, mais tarde, órgão) e a compor
telar contém poeira e gás capazes de bloquear a luz emitida por estrelas). A músicas sendo o autor de 24 sinfonias, 7 concertos para violino e 2 concer-
partir dessas contagens Herschel chegou a uma forma grosseira do Universo tos para órgão. Em 1766 Herschel assumiu o posto de organista na cidade
que confirmava a especulação feita anteriormente por Kant, de que o Universo de Bath, Inglaterra, e começou a se interessar por astronomia. A música fez
tinha uma forma alongada. A imagem abaixo mostra o Universo ou seja, a com que Herschel se interessasse por harmonia, esta o levou à matemática
nossa Galáxia, descrito por Herschel e finalmente à astronomia. Para ele astronomia ainda era um passatempo
Herschel também se interessou pelas “estrelas nebulosas” mencionadas por mas, à medida que isso foi ficando mais sério, Herschel foi diminuindo
Kant e, ao longo de seus levantamentos do céu, descobriu muitas outras. Ao o número de seus estudantes de música de modo a poder dedicar mais e
iniciar suas observações nos primeiros anos da década de 1780, os astrôno- mais tempo à observação astronômica. Neste mesmo ano (1766) ele fez o
mos conheciam cerca de 100 “objetos nebulosos” no céu do hemisfério norte primeiro registro sobre astronomia em seu diário. A descoberta pela qual
que haviam sido catalogados pelo astrônomo francês Charles Messier. Em ele é mais conhecido ocorreu no dia 13 de março de 1781 quando Herchel
1786 Herschel publicou um catálogo com cerca de 1000 objetos nebulosos. observou um pequeno objeto, nebuloso e de brilho fraco, na constelação
Três anos mais tarde ele acrescentou mais mil objetos à sua lista e em 1802 Taurus que ele pensou ser um novo cometa. No final deste mesmo ano,
publicou uma terceira e última lista de mais 500 objetos nebulosos. Em 1811 Herschel já sabia que havia descoberto um novo planeta do Sistema Solar,
Herschel publicou na conceituada revista inglesa Philosophical Transactions situado além de Saturno. Com a descoberta do planeta Urano, situado além
of the Royal Society vários desenhos em que mostrava a rica variedade de do limite mais externo até então aceito que era a órbita de Saturno, Hers-
Imagem extraida da revista inglesa Philosophical objetos nebulosos que ele havia registrado. chel praticamente dobrou o tamanho do Sistema Solar conhecido. Embora
Transactions of the Royal Society.
oficialmente descobridor do planeta Urano, Herschel certamente não foi o
primeiro a vê-lo. Este planeta já estava registrado em pelo menos 20 cartas
celestes elaboradas no período entre 1690 e 1781. No entanto Herschel foi
o primeiro astrônomo a notar que aquele pequeno ponto luminoso era um
novo planeta.
Herschel quis agradar o rei da Inglaterra dando ao novo planeta o nome
de Georgium Sidus (Estrela de George), o que foi rejeitado por astrônomos de
muitos países. Os franceses passaram a chamar o novo planeta de “Herschel”,
mas o nome mais aceito foi “Urano”, dado pelo astrônomo alemão Johann
Elert Bode.
Com a fama conseguida, Herschel foi indicado astrônomo real pelo rei
George III da Inglaterra e passou a receber um grande auxílio financeiro que
desfrutou até o fim de sua vida.
104 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 105
12
Em 1845, o astrônomo irlandês William Parsons, terceiro conde de Rosse, ONDE ESTÃO AS “NEBULOSAS ESPIRAIS”?
construiu um telescópio de 72 polegadas no seu castelo em Parsonstown (mais
tarde conhecida como Birr), na Irlanda. Esta construção, monstruosa para a O problema principal para a astronomia naquela época era descobrir como
época, foi logo apelidada de “Leviathan of Parsonstown”. As três imagens ao poderíamos medir as distâncias até as chamadas “nebulosas espirais”. Somen-
lado mostram o “Leviathan” de Parsons. te assim ficaríamos sabendo se elas pertenciam ou não à nossa Galáxia e esse
Parsons conseguiu com a ajuda deste equipamento determinar que algu- era um ponto fundamental que precisava ser esclarecido para conhecermos o Medindo
mas destas “nebulosas” possuíam uma estrutura em forma de espiral. Em abril tamanho do universo.
de 1845 Parsons desenhou a “nebulosa” M51 (hoje conhecida como galáxia
distâncias
Entretanto, não havia nenhum método confiável para determinar distân-
Rodamoinho) mostrando sua forma espiral. Esta foi a primeira vez em que a cias a objetos astronômicos situados além das estrelas mais próximas. Isso não aos objetos
forma espiral foi identificada em uma “nebulosa”. O desenho de Parsons teve permitia que fosse respondida a pergunta: estavam as “nebulosas espirais” celestes
grande impacto no encontro da British Association for the Advancement of relativamente próximas a nós e eram apenas nuvens de gás em rodamoinho
Science realizado em junho deste mesmo ano. ou elas estavam muito longe de nós e eram extremamente grandes? É fácil ver
A imagem abaixo mostra a galáxia espiral M51 ou NGC 5194 ou galáxia como isso modificaria a nossa percepção do tamanho do universo.
Rodamoinho (Whirlpool Galaxy) fotografado pelo astrônomo Todd Boroson Para resolver este problema era necessário, em primeiro lugar, desenvolver
do National Optical Astronomy Observatory (NOAO). Ela está localizada a métodos que permitissem calcular distâncias às estrelas.
apenas 23 milhões de anos-luz de nós e possui 65000 anos-luz de diâmetro.
Esta galáxia é uma das mais brilhantes no céu, podendo ser vista com um MEDINDO DISTÂNCIAS AOS CORPOS CELESTES
simples binóculo na constelação Canes Venaciti. Compare esta imagem com o observação: Existem hoje vários métodos
desenho feito por William Parsons! de determinação de distância a objetos
Os primeiros astrônomos estimavam as distâncias às estrelas comparando
celestes. Só citaremos alguns métodos
seus brilhos. Para isso eles supunham que todas elas possuíam a mesma lumi- históricos. O leitor interessado no assunto
nosidade intrínseca. Assim, aquelas que pareciam ser mais brilhantes certa- deve procurar textos de Astrofísica.
mente estavam mais próximas.
Definição de luminosidade
A luminosidade de um corpo celeste é a quantidade de energia luminosa
total ou seja, em todos os comprimentos de onda, emitida por este corpo em
uma determinada unidade de tempo.
A primeira técnica direta de medição de distâncias às estrelas foi conheci-
da como paralaxe trigonométrica. Este método foi empregado em 1838 por
Friedrich Wilhelm Bessel para demonstrar que a Terra girava em torno do Sol.
Tendo em vista o movimento de translação que o nosso planeta faz em
torno do Sol, um observador sobre a superfície da Terra verá uma mudan-
ça contínua e periódica nas posições aparentes das estrelas no céu. Assim, as
estrelas mais próximas de nós, que chamamos de estrelas vizinhas, mudarão
suas posições aparentes em relação às estrelas mais distantes. A quantidade
medida deste deslocamento na posição aparente dessas estrelas é inversamen-
te proporcional à distância à estrela.
Para observar a paralaxe de uma estrela os astrônomos utilizam o movi-
mento da Terra em torno do Sol. Eles observam uma estrela e cuidadosamente
medem sua posição contra as estrelas que estão no fundo do céu. Seis meses
após isso a Terra se moveu para o lado diametralmente oposto de sua órbita.
Essa distância é conhecida pois ela representa duas vezes a distância entre o
Sol e a Terra. Agora os astrônomos fazem uma nova medida e verificam que a
Galáxia espiral MS1 ou NGC5194 ou Parsons também conseguiu discernir estrelas individuais em várias “ne- estrela está em uma posição ligeiramente diferente daquela medida seis meses
Galáxia do Rodamoinho. bulosas” onde nem mesmo o poderoso telescópio de Herschel tinha obtido antes. O valor dessa diferença dependerá somente da distância entre a estrela e
sucesso. nós. Quanto mais próxima a estrela estiver de nós maior será essa diferença de
Tendo em vista sua forma peculiar, estes objetos nebulosos passaram a ser posição. No entanto, note que mesmo para as estrelas muito próximas a medida
chamados de “nebulosas espirais”. A natureza destas “nebulosas espirais” foi de paralaxe é extremamente pequena. Por esse motivo a paralaxe não e medida
assunto de intenso debate durante as várias décadas que se seguiram. Afinal, em graus mas sim frações de grau que têm o nome de “segundos de arco”.
estes objetos pertenciam ou não à nossa Galáxia? Note que, nesta época, mui- A paralaxe de uma estrela é a metade do valor do ângulo de deslocamento
tos cientistas acreditavam que a nossa Galáxia era todo o Universo: as estrelas aparente da estrela. Baseados nessa definição a distância a uma estrela é dada
que víamos eram únicas e mais além destas estrelas existia apenas a escuridão pelo inverso da paralaxe. Se medirmos a paralaxe em segundos de arco a dis-
de um espaço sem fim. tância será dada em parsecs.
106 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 107
Infelizmente esta técnica só podia ser aplicada às estrelas que estavam mais
1 próximas de nós, usualmente àquelas situadas a menos de 100 parsecs. Para as
d (em parsecs) = (em segundos de arco)
θ estrelas situadas a distâncias maiores que esta, o deslocamento angular é tão
Onde: d é a distância à estrela e θ é a pequeno que torna-se quase impossível medi-lo.
paralaxe medida.
No século XIX o refinamento das técnicas de astrometria, parte da astro-
nomia que se preocupa com medições de movimentos e posições estelares, fez
surgir uma técnica de medições de distâncias baseada no chamado movimen-
to próprio das estrelas.
108 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 109
mudam o valor do seu raio em cerca de 5% a 10% do valor que teriam em Hale), Ritchey sobreviveu vendendo limões e laranjas até ser contratado pelos
equilíbrio. As estrelas variáveis Cefeidas possuem, em média, períodos de franceses. No início dos anos de 1910, na França, Ritchey desenvolveu, junta-
variação entre 1 e 70 dias e, em geral, a amplitude de sua variação é de 0,1 a 2,0 mente com o astrônomo francês Henri Chrétien (1879–1956), um novo projeto
magnitudes. Ao lado mostramos o gráfico de variação de magnitude de uma óptico de telescópio que hoje tem o nome de “telescópio Ritchey-Chrétien”.
estrela variável Cefeida típica. Este modelo de telescópio foi tão bem sucedido que hoje importantes instru-
Hertzsprung logo notou que conhecendo o período de qualquer estrela mentos tais como os dois telescópios de 10 metros de abertura do Keck Obser-
variável Cefeida , sua luminosidade absoluta poderia ser determinada. Isso vatory, os quatro telescópios de 8,2 metros do Very Large Telescope do European
era muito bom pois os astrônomos sabiam como calcular distâncias a partir Southern Observatory (ESO), e até mesmo o telescópio de 2,4 metros do Hubble
das magnitudes absoluta e aparente das estrelas. Embora o método que usa a Space Telescope foram construídos segundo esse tipo de projeto óptico. Parte do conjunto de 4 telescópios do VLT.
relação período-luminosidade não fosse um método direto, ele era muito mais
preciso e versátil do que os métodos estatísticos anteriores que dependiam de
grandes números de estrelas para ter alguma precisão.
O método de determinação de distâncias baseado nas estrelas variáveis Ce-
feidas requer somente uma única Cefeida associada ao objeto em estudo para
permitir o cálculo de sua distância.
Em 1917, acidentalmente, o astrônomo norte-americano George Willis Ri-
tchey (imagem na página anterior) descobriu um dos melhores indicadores de
distância. Ritchey começou a fazer fotografias de longa exposição de algumas
das chamadas “nebulosas espirais” com o objetivo de descobrir se elas estavam
Telescópio refrator de 102cm de abertura do em rotação e qual o valor de seus movimentos próprios. No dia 19 de julho de
Yerkes Observatory e telescópio refletor de 1,5m 1917, na placa fotográfica da “nebulosa espiral” NGC 6946, Ritchey notou a
de abertura do espelho principal do Mount presença de uma “Nova”.
Wilson Observatory.
DEFINIÇÃO DE NOVA
Ao contrário do que possa parecer uma Nova não é uma estrela que sur-
giu recentemente no céu. Uma Nova é uma estrela que, de modo súbito, tem
sua luminosidade aumentada em cerca de 106 vezes. Este aumento abrupto
de luminosidade é seguido por um decréscimo gradual que pode levar vários
meses. Os astrônomos acreditam que a Nova ocorre em sistemas binários de
estrelas muito próximas uma da outra, sendo uma delas uma estrela comum
e a outra uma estrela anã branca. A continua transferência de hidrogênio da Um dos astrônomos que mais se interessou pelas “Novas” observadas nas
estrela comum para a anã branca faz com que este gás seja cada vez mais com- “nebulosas planetárias” foi Heber Doust Curtis.
primido na camada mais externas da anã branca. A temperatura nesta camada Comparando o brilho das “Novas” encontradas nas “nebulosas espirais”
externa de hidrogênio vai aumentando e quando chega a cerca de 107 K todo com o daquelas pertencentes à Via Láctea ele obteve valores aproximados para
este envoltório da estrela anã branca entra em queima nuclear de modo súbito. as distâncias a essas espirais. Segundo seus cálculos “as espirais que contém
Isto faz com que a luminosidade da estrela aumente violentamente. essas Novas estão muito afastadas do nosso sistema estelar”. Isso era um forte
Não podemos confundir Nova com Supernova. São fenômenos completa- impulso à ideia de que as “nebulosas espirais” eram objetos localizados fora
mente diferentes. da nossa Galáxia.
Analisando outra vez suas placas antigas Ritchey descobriu várias “Novas” Em 1916 o astrônomo holandês Adriaan van Maanen realizou medições
nas “nebulosas espirais” fotografadas anteriormente. Ao saberem desta desco- extremamente difíceis de movimentos próprios de vários pontos em uma “ne- Resultados obtidos por Adrian van Maanen de
bulosa espiral”. Seus resultados, mostrados na imagem abaixo, provavam que suas observações de movimentos próprios.
berta vários astrônomos reexaminaram suas placas fotográficas e, em apenas
dois meses, 11 “Novas” já haviam sido descobertas em “nebulosas espirais”. elas estavam em rotação. No entanto, os valores obtidos por van Maanen eram
muito grandes. Se eles estivessem corretos e se as “nebulosas espirais” estives-
UMA CURIOSIDADE HISTÓRICA sem tão distantes como alegado por Curtis, isso faria com que a velocidade
física das bordas dessas “nebulosas espirais” atingissem valores absurdamente
George Ritchey inicialmente era construtor de móveis e mestre carpinteiro grandes. Os resultados obtidos por van Maanen pareciam desacreditar a teo-
tendo mais tarde se interessado por óptica e construção de lentes e espelhos ria dos “Universos Ilhas”.
para telescópios. Ele foi um dos maiores responsáveis pela construção das Como pode ser notado, havia uma enorme contradição entre as conclusões
grandes lentes do telescópio do Yerkes Observatory (ao lado). obtidas por Curtis e por van Maanen. Nem mesmo os métodos observacionais pa-
Ele também colaborou ativamente com George Ellery Hale na construção reciam esclarecer a pergunta que todos os astrônomos faziam: as “nebulosas espi-
dos espelhos de 60 e 100 polegadas dos futuros grandes telescópios do Mount rais” estavam próximas a nós ou muito distante sendo, portanto, outras galáxias?
Wilson Observatory (a seguir). Demitido por Hale logo após a construção do A resposta a essa pergunta era fundamental para que pudéssemos ter uma
espelho de 100 polegadas (por motivos de ciúmes profissionais por parte de visão do que era o universo. Mas, apesar dos esforços, o impasse continuava.
110 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 111
13 12
SURGE A RELATIVIDADE DE POINCARÉ E EINSTEIN o campo eletromagnético se propagava com uma velocidade essencialmente
igual à velocidade da luz (essa velocidade já havia sido medida em 1676 pelo
Até 1905, os conceitos de espaço e tempo eram descritos pela chamada astrônomo dinamarquês Ole Roemer), Maxwell postulou que a própria luz era
“física newtoniana”. Isso quer dizer que os fenômenos da natureza, da simples um fenômeno eletromagnético.
queda de um corpo na superfície da Terra até a descrição dos movimentos dos Assim, a luz passou a ser entendida como uma onda eletromagnética cuja
Surge a Medindo
corpos celestes em suas órbitas, eram descritos pelas equações do movimento velocidade constante é representada pela letra “c”. Isso equivalia mostrar que
e pela teoria da gravitação universal estabelecidas por Isaac Newton. a luz se deslocava com uma velocidade que independia do movimento de
relatividade distâncias quem a estivesse observando assim como da velocidade da fonte que a estava
De acordo com as leis clássicas da física, formuladas por Isaac Newton
de Poincaré e no seu livro Principia em 1687, o movimento de uma aos objetos
partícula tinha que ser emitindo.
Einstein celestes
descrito em relação a um sistema de referência inercial. Nele a partícula não As leis físicas, propostas por Newton para o movimentos dos corpos, pre-
estava sujeita a forças externas e, portanto, se moveria com uma velocidade via o contrário: elas mostravam que a velocidade da luz dependia do movi-
constante e em uma linha reta. Segundo Newton dois referenciais inerciais mento do observador.
podiam ser relacionados desde que eles estivessem se movendo, um em relação
ao outro, em uma direção fixa e com velocidade constante. O tempo nesses re- Quem estava certo: Newton ou Maxwell?
ferenciais inerciais iria diferir por uma constante e todos os tempos poderiam E o éter? Como ele ficava nessa história? Maxwell escreveu um artigo sobre
ser descritos em relação a um tempo absoluto. o éter para a edição de 1878 da Encyclopaedia Britannica e propôs a existência
Essa teoria, criada no século XVII, não foi alterada até o século XIX quando de um único éter. Seu artigo narra sua própria tentativa, sem sucesso, em me-
os fenômenos elétricos e magnéticos passaram a ser estudados teoricamente. dir o efeito do arrasto do éter provocado pelo movimento da Terra no espaço.
No entanto, ao contrário do que muitos podem pensar, o próprio Newton Maxwell também propôs uma maneira astronômica pela qual poderíamos
tinha dúvidas em partes de sua teoria. Por exemplo, a física newtoniana nos verificar o arrasto do éter feito pelo nosso planeta. Para isso deveríamos medir
dizia que a ação entre dois corpos era descrita por uma lei da gravitação uni- a velocidade da luz usando os diferentes satélites de Júpiter quando eles esti-
versal que ocorria como uma ação a distância e cuja informação se propagava vessem em posições diferentes em relação a Terra.
com velocidade infinita. Impelido pelas ideias de Maxwell, o físico Albert Abraham Michelson
Vamos dar um exemplo: dois corpos estão em repouso no espaço. Subita- (nascido na Prússia e naturalizado norte-americano) iniciou uma série de ex-
mente um deles se desloca enquanto o outro permanece em repouso. Segundo periências sobre o éter. Em 1881, ele registrou:
a teoria de Newton o corpo que permaneceu em repouso sente imediatamen-
te o deslocamento do outro corpo. Aqui a palavra “imediatamente” quer dizer “O resultado da hipótese de um éter estacionário
“instantaneamente”, sem qualquer intervalo de tempo.
Isso implica que a informação de que “o primeiro corpo se moveu” se pro-
é mostrada ser incorreta, e segue a conclusão
paga com uma velocidade infinita. E isso entravam em contradição com ob- necessária de que a hipótese está errada.”
servações feitas em laboratório.
Em 1886 o físico holandês Hendrik Lorentz escreveu um artigo onde cri-
UM ÉTER QUE EVAPOROU ticava a experiência feita por Michelson. Ele declarou que, realmente, não es-
tava preocupado com o resultado experimental obtido por Michelson, que ele
Os físicos já sabiam há muito tempo que o som se propagava através de um desprezava considerando-o ter sido resultado de experiências realizadas sem Albert A. Michelson (1852 - 1931) e Edward
meio material. Isso naturalmente levou-os a postular, no final do século XIX, a precisão necessária. Williams Morley (1838 - 1923).
que também deveria existir um meio material no qual a luz se propagava. Tal Michelson foi persuadido por Thomson e outros a repetir sua experiência.
meio foi chamado de éter luminífero ou, simplesmente, éter. Ele assim o fez em 1887, dessa vez associando-se ao físico norte-americano
Grandes cientistas dessa época, tais como Cauchy, Stokes, Thomson e Edward Williams Morley. Os dois cientistas registraram, mais uma vez, que
Planck, aceitaram a hipótese da existência do éter e postularam suas várias nenhum efeito de arrasto havia sido encontrado. Parecia que a velocidade da
propriedades. No final do século XIX a luz, o calor, a eletricidade e o magne- luz era independente da velocidade do observador. Michelson e Morley refina-
tismo tinham seus respectivos éters. ram a experiência e a repetiriam várias vezes até 1929.
No entanto, à medida que os pesquisadores tentavam explicar o éter e es- A ideia da existência de um meio material chamado éter só foi abandonada
tabelecer suas propriedades, o que se viu foi o surgimento de uma substância quando as transformações Galileanas e a dinâmica Newtoniana foram modi-
quase mágica. Segundo as teorias correntes, o éter tinha que ser um fluido pois ficadas pelas transformações de Lorentz-FitzGerald e pela Teoria da Relativi-
era necessário que ele preenchesse o espaço. No entanto, ele também deveria dade Restrita de Albert Einstein.
ser milhões de vezes mais rígido do que o aço, pois precisava aguentar as altas
frequências das ondas luminosas. Ao mesmo tempo o éter não podia ter mas- AS TRANSFORMAÇÕES DE FITZGERALD-LORENTZ
sa, deveria ser completamente transparente, não dispersivo, incompressível,
contínuo e não ter viscosidade! Sabemos hoje que as equações que descrevem um dado fenômeno físico,
Nesta época o físico escocês James Clerk Maxwell mostrou que os fenôme- definidas em um determinado referencial, precisam permanecer inalteradas
nos eletromagnéticos se propagavam com velocidade finita. Matematicamente se as observamos em um outro referencial que se desloca com velocidade
ele mostrou que a onda eletromagnética se propagava no vácuo com a veloci- constante em relação ao primeiro. O conjunto de equações que associa es-
dade constante de cerca de 300000 quilômetros por segundo. Ao verificar que ses dois referenciais são conhecidas como transformações de Lorentz em
112 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 113
homenagem ao físico holandês Hendrik Antoon Lorentz que as apresentou Finalmente Lorentz escreveu por extenso as transformações que agora têm
mais claramente ao mundo científico. Na verdade, as transformações de o seu nome, sendo portanto a terceira pessoa a fazê-lo. Ele então, assim como
Lorentz possuem diversos descobridores. Larmor já havia feito, mostrou que a contração de FitzGerald-Lorentz era uma
O primeiro cientista a obter as importantes relações que hoje conhecemos consequência dessas transformações.
como transformações de FitzGerald-Lorentz foi o físico alemão Wolde-
mar Voigt (1850 - 1919), em 1887. Foi ele quem, pela primeira vez, as escre- A RELATIVIDADE ENGATINHA
veu por extenso e mostrou que certas equações eram invariantes sob essas
transformações. O mais importante artigo relacionado com a relatividade especial publi-
Hoje, com um fator de escala diferente, essas transformações são conhe- cado antes de 1900 foi de autoria do físico francês Jules Henri Poincaré, “La
cidas simplesmente como equações de Lorentz ou transformações de mesure du temps”, que apareceu em 1898. Nesse artigo Poincaré diz:
Lorentz. O grupo das transformações de Lorentz nos dá a geometria da rela-
tividade especial. Curiosamente, a importância dessas transformações para o “...não temos intuição direta sobre a igualdade de dois
desenvolvimento dos conceitos de espaço-tempo era totalmente desconhecida
por Voigt, que estava pesquisando o deslocamento Doppler quando as obteve.
intervalos de tempo. A simultaneidade de dois eventos
Embora Voigt tenha se correspondido com Lorentz sobre a experiência de ou a ordem de sua sucessão, assim como a igualdade
Michelson-Morley em 1887 e 1888 não parece que esse último tenha tomado de dois intervalos de tempo, deve ser definida de tal
conhecimento dessas transformações. Lorentz, nessa época, estava muito pre-
modo que as afirmações das leis naturais sejam tão
ocupado com a nova experiência de Michelson-Morley feita em 1887.
Em 1889 um pequeno artigo foi publicado pelo físico irlandês George Fit- simples quanto possível.”
Hendrik Antoon Lorentz (1853 - 1928).
zGerald na revista Science. O artigo, The ether and the earth’s atmosphere,
tinha menos de meia página e não é técnico. Nele FitzGerald mostrava que os Por volta de 1900 o conceito de éter como uma substância material estava
resultados da experiência de Michelson-Morley somente poderiam ser expli- sendo questionado. Paul Drude escreveu:
cados se:
“O conceito de um éter absolutamente em repouso é
“...o comprimento dos corpos materiais muda, o mais simples e o mais natural - pelo menos se o éter Jules Henri Poincaré (1854 - 1912).
dependendo se eles estão se movendo ao longo do éter é concebido como sendo não uma substância, mas
ou através dele, por uma quantidade que depende do meramente espaço dotado de certas propriedades
quadrado da razão entre suas velocidades e aquela físicas.”
da luz.”
Poincaré, em sua palestra de abertura no Congresso de Paris em 1900,
Lorentz não conhecia o artigo de FitzGerald e em 1892 propôs a existên- perguntou “O éter realmente existe?”. Em 1904 esse grande cientista se apro-
cia de uma “contração” quase idêntica em um artigo que agora considerava ximou bastante de uma teoria da relatividade especial em uma palestra no
muito seriamente a experiência de Michelson-Morley. Quando Lorentz ficou International Congress of Arts and Science, em Saint Louis. Ele mostrou que
sabendo, em 1894, que FitzGerald já havia publicado uma teoria similar à dele, observadores em diferentes sistemas de referência terão relógios que:
prontamente escreveu ao físico irlandês. FitzGerald replicou que realmente
havia enviado um artigo para a Science, mas “eu não sei se eles em algum “... marcarão o que podemos chamar de tempo
momento o publicaram”. Ele ficou feliz em saber que Lorentz concordava com local...como exigido pelo princípio da relatividade o
ele “pois eu tenho sido um tanto ridicularizado por aqui devido à minha
visão”. Depois disso Lorentz usou cada oportunidade que surgia para agrade-
observador não pode saber se ele está em repouso ou
cer a FitzGerald, que havia sido o primeiro a propor a ideia de contração dos em movimento absoluto.”
corpos materiais. Somente FitzGerald, que não sabia se seu artigo havia sido
publicado, acreditava que Lorentz tinha publicado primeiro. O ano em que a relatividade especial finalmente passou a existir foi 1905.
Em 1897, o físico norte-irlandês Joseph Larmor publicou as transformações O mês de junho desse ano foi muito importante para essa nova teoria. Em 5
de Lorentz na conceituada revista científica inglesa Philosophical Transactions de junho Poincaré apresentou um importante trabalho, “Sur la dynamique
of the Royal Society in 1897. Note que isso ocorreu dois anos antes de Hendrik de l’electron”, enquanto o primeiro artigo de Einstein sobre a relatividade foi
Lorentz e oito anos antes de Albert Einstein. Larmor também foi capaz de pre- recebido em 30 de junho. Poincaré estabeleceu que “parece que esta impossi-
ver o fenômeno da dilatação do tempo e também a contração do espaço. bilidade de demonstrar movimento absoluto é uma lei geral da natureza.”
Joseph Larmor (1857 - 1942). Depois de criar o nome de transformações de Lorentz em homenagem a
Larmor escreveu um livro chamado “Aether and matter” (1900) no qual
escreve por extenso as transformações de Lorentz, o que ainda não havia sido esse físico, Poincaré mostrou que essas transformações, junto com as rotações,
feito por Lorentz, assim como a contração do espaço e a dilatação do tempo. formam um grupo, uma estrutura algébrica muito importante.
Ele mostrou que a contração de Fitzgerald-Lorentz era uma consequência des- O artigo de Einstein possui uma abordagem completamente diferente. Ele
sas transformações. não tem como objetivo explicar resultados experimentais, mas sim mostrar a
beleza e simplicidade da teoria. Na introdução Einstein diz:
114 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 115
“...a introdução de um éter-luz provará ser supérflua terceiro sendo a contração de Fitzgerald-Lorentz. Na verdade Poincaré nun-
ca escreveu um artigo sobre relatividade no qual mencionasse Einstein. O
uma vez que, de acordo com a visão a ser desenvolvida próprio Einstein comportou-se de maneira similar e Poincaré é mencionado
aqui, nem um espaço em repouso absoluto dotado de apenas uma vez nos artigos de Einstein. Lorentz, entretanto, foi elogiado tan-
propriedades especiais será introduzido nem um vetor to por Einstein como por Poincaré e frequentemente foi citado nos trabalhos
desses dois grandes físicos.
velocidade será associado com um ponto do espaço
O próprio Lorentz nem sempre parecia aceitar as conclusões de Einstein.
vazio no qual processos eletromagnéticos ocorrem.” Em 1913 ele fez uma palestra advertindo que a teoria da relatividade havia sido
aceita muito rapidamente e que não estava tão seguro sobre a sua validade.
Referenciais inerciais são introduzidos os quais, por definição, estão em Lorentz disse:
movimento uniforme um em relação ao outro. A teoria inteira é baseada em
dois postulados:
“Até onde essa palestra diz respeito ele encontra
1. as leis da física tomam a mesma forma em todos os sistemas de refe- uma certa satisfação na interpretação mais antiga
rência inerciais. de acordo com a qual o éter possui pelo menos
2. em qualquer sistema de referência inercial a velocidade da luz c é a substancialidade, espaço e tempo podem ser
mesma independentemente da luz ser emitida por um corpo em re- rigorosamente separados, e a simultaneidade sem
pouso ou por um corpo em movimento uniforme.
especificação suplementar pode ser falada. Finalmente
Einstein deduziu as transformações de Lorentz a partir de seus dois postu-
deve ser notado que a temerária afirmação que nunca
lados e, como Poincaré, provou a propriedade de grupo dessas transformações. podemos observar velocidades maiores do que a
Ele também deduz a contração de FitzGerald-Lorentz e menciona o paradoxo velocidade da luz contém uma restrição hipotética do
do relógio. Einstein o chamou de teorema e afirma que se dois relógios síncronos
que é acessível a nós, uma restrição que não pode ser
C1 e C2 são sincronizados em um ponto A e C2 deixa A movendo-se ao longo de
uma curva fechada até retornar a A, então C2 marcará o tempo mais lentamente aceita sem algumas reservas.”
comparado com C1. Einstein afirma que isso não significa a existência de qual-
quer paradoxo, uma vez que C2 experimenta aceleração enquanto C1 não o faz. A despeito da cautela de Lorentz a teoria da relatividade especial foi rapida-
Em setembro de 1905 Einstein publicou um pequeno mas importante arti- mente aceita. Em 1912 Lorentz e Einstein foram propostos conjuntamente para
go no qual ele provou a famosa equação o Prêmio Nobel pelo seu trabalho na teoria da relatividade especial. A reco-
mendação foi feita por Wien, o ganhador do Prêmio Nobel de 1911, que disse:
E = mc2
“...Embora Lorentz deva ser considerado como o
O primeiro artigo sobre a relatividade especial não escrito por Einstein primeiro a ter encontrado o conteúdo matemático do
apareceu em 1908 e seu autor foi o físico alemão Max Planck. O fato da teoria
da relatividade ter sido aceita por alguém tão importante quanto Planck fez
princípio da relatividade, Einstein foi bem sucedido
com que ela fosse rapidamente aceita pelos físicos da época. Quando Einstein em reduzi-lo a um princípio simples. Devemos
escreveu seu artigo de 1905, ele ainda era um especialista técnico de terceira por conseguinte avaliar os méritos de ambos
classe no escritório de patentes de Berna. Também em 1908 Minkowski pu-
pesquisadores como sendo comparáveis.”
blicou um importante artigo sobre relatividade, apresentando pela primeira
vez as equações de Maxwell-Lorentz na forma tensorial. Ele também mostrou
Einstein nunca recebeu Prêmio Nobel pela relatividade. O comitê Nobel
que a teoria Newtoniana da gravitação não era consistente com a relatividade.
estava, a princípio, cauteloso e esperou por confirmações experimentais. Na
As principais contribuições para a relatividade especial foram feitas, sem
época em que tal confirmação estava disponível Einstein tinha se movido para
dúvida, por Lorentz, Poincaré e, certamente, pelo fundador da teoria, Eins-
trabalhos mais monumentais.
tein. É interessante ver suas respectivas reações em relação à formulação final
da teoria.
Embora Einstein tenha gasto vários anos pensando sobre como formular
O QUE É A TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL?
essa teoria, uma vez tendo, encontrou os dois postulados, que passaram ime-
diatamente a ser naturais para ele. Einstein sempre foi relutante em aceitar que Os postulados sobre os quais se apoia a teoria da
os resultados da experiência de Michelson-Morley tiveram qualquer influên- Relatividade Especial
cia na sua maneira de pensar. A teoria da Relatividade Especial proposta por Einstein em 1905 baseia-se
A reação de Poincaré ao artigo de Einstein de 1905 foi tão estranha quanto em dois postulados básicos:
a de Einstein em relação aos trabalhos do físico francês. Quando Poincaré deu
uma palestra em Göttingen em 1909 sobre relatividade, ele não mencionou • a velocidade da luz é a mesma para todos os observadores, não importa
Einstein de modo algum. Ele apresentou a relatividade com três postulados, o quais sejam suas velocidades relativas.
116 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 117
• as leis da física são as mesmas em qualquer sistema de referência to de cada um deles para podermos determinar sua velocidade relativa. Se eles
inercial. se afastam ao longo de uma mesma reta ou seja, se eles estão se deslocando em
sentidos opostos, sua velocidade relativa é a soma de suas velocidades particu-
Para entendermos melhor o que eles significam precisamos definir alguns
lares resultando, nesse caso, em 80 quilômetros por hora. Se eles estão se apro-
de seus termos.
ximando ao longo da mesma direção ou melhor, se eles estão se deslocando
no mesmo sentido, sua velocidade relativa é a diferença entre suas velocidades
O que é um postulado?
particulares ou seja, nesse exemplo, 20 quilômetros por hora.
O dicionário Aurélio define “postulado” como sendo uma “proposição
não evidente nem demonstrável, que se admite como princípio de um siste-
ma dedutível, de uma operação lógica ou de um sistema de normas práticas”.
E o que é aceleração?
A aceleração também é uma grandeza vetorial. Ela também precisa de mais
Postulado é um fato ou preceito reconhecido sem prévia demonstração. Isso
que um número para ser descrita. Ela precisa de um número e de uma direção.
nos diz que as duas afirmações feitas acima não são demonstráveis. Elas foram
Por isso nos referimos sempre ao “vetor aceleração”. Para a física, a aceleração
estabelecidas por Einstein e colocadas sobre sua teoria sem terem sido deduzi-
é definida como a variação do vetor velocidade. Note que não foi dito que a
das, calculadas ou inferidas a partir de experiências.
aceleração é a variação da velocidade, mas sim do “vetor velocidade”. Como
um “vetor” é descrito por um número e uma direção, basta que um desses
O que é preciso para definir repouso e movimento?
fatores varie para que se tenha uma variação do próprio vetor. Isso quer dizer
Na nossa vida diária comumente nos referimos a um determinado corpo
que a aceleração pode ser provocada tanto pela variação do valor numérico da
dizendo se ele está em repouso ou em movimento. Para nós essas palavras
velocidade como também pela variação de sua direção. Assim é possível ter
bastam, pois são bastante óbvias. No entanto, isso não é visto de modo tão
aceleração pelo simples fato de mudar a direção do seu movimento.
simples pelos físicos.
Vemos então que um corpo que se desloca em linha reta será acelerado se
Quando um físico se refere a “repouso” ou “movimento” ele precisa defi-
ele variar o valor numérico da sua velocidade, mas mantiver a mesma trajetó-
nir em relação a que sistema de referência isso está relacionado. Duas pessoas
ria. No entanto, se o corpo começa a descrever uma curva, ele estará acelerado
paradas em um ponto de ônibus estão em repouso uma em relação à outra
uma vez que, mesmo mantendo o valor numérico de sua velocidade, ele estará
se considerarmos que o nosso sistema de referência é o ponto de ônibus. Os
variando a direção da velocidade!
ônibus que passam estão em movimento para essas duas pessoas. No entanto,
se você está dentro de um ônibus e considera que o sistema de referência é o
ANALISANDO OS POSTULADOS DA RELATIVIDADE ESPECIAL
ônibus, você está parado e as duas pessoas que estão no ponto de ônibus estão
em movimento.
Isso nos mostra que “repouso” e “movimento” não são conceitos absolutos
mas sim relativos que precisam da definição de uma sistema de referência para
Primeiro postulado:
que possam ser perfeitamente entendidos pelos físicos.
“a velocidade da luz é a mesma para todos os
E o que é movimento? observadores, não importa qual seja a sua velocidade
Definimos velocidade como sendo a variação da posição de um corpo ao
relativa.”
longo de um determinado intervalo de tempo. Por isso sempre estamos co-
mentando que um carro nos ultrapassou a mais de 100 quilômetros por hora.
Este postulado nos diz que independente da velocidade que o observador
No entanto, para os físicos a definição de movimento não é tão simples. Ao
possua em valor. Vimos anteriormente que a velocidade relativa entre dois
dizermos que um determinado corpo está em movimento é preciso que fique
corpos que se deslocam ao longo de uma mesma direção podia ser dada pela
claro que tipo de movimento ele tem. O corpo mantém uma direção de movi-
soma ou subtração de suas velocidades particulares, dependendo se eles estão
mento retilínea ou sua trajetória é curva? Sua velocidade é constante ou varia
se deslocando no mesmo sentido ou não. No caso do feixe luminoso isso não
em intervalos de tempo?
ocorre.
Quando falamos de velocidade não basta citar um número. Para o físico a
Ao se aproximar de um feixe luminoso será verificado que ele possui uma
velocidade é definida por um valor numérico e por uma direção. Quando uma
velocidade c. Ao se afastar do feixe, será constatada a mesma velocidade c. Seja
grandeza física, tal como a velocidade, precisa de um número e uma direção
qual for a velocidade e seja qual for a direção, o deslocamento sempre irá me-
para ser definida, dizemos que ela é uma grandeza vetorial. Assim, a veloci-
dir a mesma velocidade c para o feixe luminoso. A velocidade da luz no vácuo
dade é uma grandeza vetorial e nos referimos a ela como o “vetor velocidade”.
é independente do movimento de todos os observadores e possui o mesmo
Agora podemos definir “velocidade relativa”. Esse termo nos informa a
valor constante de 300000km/s.
diferença de velocidade existente entre dois corpos. Se um corpo está em re-
pouso em relação a um referencial, sua velocidade é zero. Ao compararmos
Segundo postulado:
isso com um outro corpo que se desloca a uma velocidade de 10 quilômetros
por hora nesse mesmo referencial dizemos que a velocidade relativa entre esses
dois corpos é de 10 quilômetros por hora. “As leis da física são as mesmas em qualquer sistema de
Por outro lado, se um corpo se desloca a 30 quilômetros por hora e um se- referência inercial.”
gundo corpo se desloca a 50 quilômetros por hora, ambas medidas em relação
ao mesmo sistema de referência, precisamos conhecer a direção do movimen-
118 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 119
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Vamos supor que um pesquisador observa uma partícula em um determi- Um outro fenômeno explicado pela teoria da relatividade é o deslocamento
nado referencial inercial ou seja, um sistema de referência não acelerado que mais lento do tempo quando medido em um referencial que está se movendo.
neste caso consideramos estar se movendo com uma determinada velocidade Ela nos diz que cada observador inercial tem seu próprio tempo pessoal que é
constante v. Esse postulado de Einstein nos diz que as leis da física observadas chamado de tempo próprio. O tempo próprio é o valor temporal medido por
por esse pesquisador serão exatamente as mesmas que aquelas observadas por um relógio que está “acoplado” a um observador inercial ou seja, no mesmo
um outro pesquisador que esteja em repouso ou melhor, parado, em relação a referencial que ele. Isso nos leva a situações tipicamente relativísticas na qual
esse sistema de referência. dois observadores, que inicialmente têm as mesmas idades como registradas
A teoria da
Ao dizer que as leis da física são as mesmas para todos os observadores que por seus tempos próprios, terão idades diferentes quando se encontrarem de gravitação é
não estão acelerados (ou de outra forma, que estão descrevendo um fenôme- novo depois de viajarem por diferentes trajetórias no espaço-tempo. relativística:
no em um sistema de referência inercial), este postulado explica vários Dizemos em relatividade que cada um de nós descreve durante sua vida Hilbert e
fenômenos da nossa vida diária: porque conseguimos beber um copo de água uma trajetória no espaço-tempo que é uma linha do universo. Cada um de Einstein
em um veículo que se move com velocidade constante e nos molhamos todo nós (que é o mesmo que dizer “todo e qualquer evento físico no universo”)
se ele acelera? A teoria da relatividade restrita nos mostra que se algo é feito possui uma “linha do universo”, a descrição temporal de todos os fatos que
em um veículo em movimento retilíneo e uniforme (velocidade constante) o acontece com o objeto. A cada um dos fatos que ocorrem durante a nossa
resultado obtido será o mesmo se fizermos a ação em um veículo que está em existência (o que é o mesmo que dizer “qualquer fato que ocorre a qualquer
repouso (parado). momento no mundo físico) damos o nome de evento.
No entanto, se o veículo acelera (e isso pode ocorrer tanto mudando o valor
de sua velocidade como mudando a direção em que ele se desloca) as duas SURGE A TEORIA RELATIVÍSTICA DA GRAVITAÇÃO
experiências já não darão o mesmo resultado. Agora sabemos porque quando
se está em pé dentro de um ônibus que se move com velocidade constante Einstein e a gravitação
não é necessário segurar naquele ferro que fica no teto do ônibus. No entanto, A teoria da gravitação universal apresentada por Isaac Newton funcionava
quando o motorista acelera o coletivo, você é lançado para a frente. extremamente bem nos problemas apresentados pela mecânica clássica. Havia
muito pouco motivo para questioná-la. No entanto uma pergunta permanecia
OBJETOS RELATIVÍSTICOS E NÃO RELATIVÍSTICOS na mente dos cientistas: no processo de interação gravitacional entre dois cor-
pos como podemos explicar que cada um deles saiba que o outro está presente?
Para os físicos é mais comum usar o termo “partículas” do que “objetos” e Além disso, qual seria o comportamento das equações que descrevem os
é isso que faremos a partir desse momento. fenômenos físicos da natureza se o processo descrito estivesse ocorrendo não
Afinal, o que diferencia um corpo relativístico de um não relativístico? Para em um sistema inercial mas sim num sistema arbitrário de coordenadas?
os cientistas todas as partículas (ou objetos) cujas velocidades sejam compará- Como vimos acima, as leis da física conhecidas até agora, e que eram des-
veis à velocidade da luz são consideradas “relativísticas”. Isso quer dizer que ao critas tanto pela física Newtoniana como pela teoria da relatividade especial
dividirmos a velocidade v do corpo pela velocidade c da luz o resultado deve somente eram válidas em um conjunto restrito de sistemas de coordenadas
ser bem próximo a 1. Dizemos então que um objeto é relativístico se (v/c) ~ 1. conhecido como sistemas de referência inerciais.
No entanto, as partículas cujas velocidades são muito menores do que a ve- Em 1900 Hendrik Antoon Lorentz conjecturou que a gravitação pode-
locidade da luz são consideradas “não-relativísticas”. Nesse caso a razão entre ria ser atribuída a ações que se propagavam com a velocidade da luz. Henri
essas duas velocidades é bem menor que 1 ou seja (v/c) também é bem menor Poincaré, em um artigo de julho de 1905 enviado para a revista alguns dias
que 1. antes do trabalho de Einstein sobre a relatividade restrita, sugeriu que todas
as forças deviam se transformar de acordo com as chamadas “transformações
A MUDANÇA NOS CONCEITOS DE ESPAÇO E TEMPO de Lorentz-Fitzgerald”. Ele também afirmou que, se essa regra é verdade, a lei
de Newton da Gravitação não é mais válida pois ela não a obedece. Poincaré
Os dois postulados da teoria da relatividade modificam radicalmente também propôs a existência de ondas gravitacionais que se propagavam com
nossa concepção de espaço e tempo. Deixamos para trás os conceitos New- a velocidade da luz.
tonianos de espaço e tempo como entidades separadas e passamos a pensar Em 1907, dois anos após ter apresentado sua teoria da relatividade restrita,
o espaço e tempo como entidades que funcionam conjuntamente. Não há Einstein estava preparando um artigo de revisão sobre essa teoria. Durante
mais espaço e tempo na física relativística mas sim “espaço-tempo”, uma esse trabalho ele ficou curioso em saber como a gravitação Newtoniana te-
entidade única. ria que ser modificada para se ajustar dentro da estrutura da sua teoria da
A introdução do “espaço-tempo” como algo único significa que os dois relatividade especial. Neste momento ocorreu a Einstein o que ele mesmo
conceitos não devem (e não podem) ser examinados separadamente. Isso nos descreveu como “o mais feliz pensamento de minha vida” ou seja, que um
Existe uma completa equivalência
traz alguns fenômenos curiosos. Por exemplo, ao contrário do que Newton observador que está caindo do telhado de uma casa não sente o campo gravi- física entre um campo gravitacional e a
dizia, eventos que ocorrem simultaneamente para um observador podem tacional. Como consequência disso ele propôs então o chamado princípio da correspondente aceleração do sistema
ocorrer em momentos diferentes para um outro observador. O conceito de equivalência: de referência. Esta suposição estende o
“simultaneidade”, que era um conceito absoluto na teoria Newtoniana, passa a O princípio da equivalência é o responsável pela sensação que temos quan- princípio da relatividade para o caso de
movimento uniformemente acelerado do
ser “relativo” na teoria de Einstein. Isso nos leva a fenômenos intrigantes tais do estamos dentro de um elevador que desce em grande velocidade. Todos sistema de referência.
como a “contração do espaço” e a “dilatação do tempo”. sentimos como se estivéssemos sendo puxados para cima, como se fossemos
ser tirados do chão do elevador. Na verdade, se o elevador romper seus cabos
120 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 121
e despencar em queda livre por uma distância suficientemente longa, a pessoa ainda errada, pela primeira vez a gravitação era descrita por um tensor métri-
irá flutuar dentro dele e, no final, irá cair com violência no poço do elevador. co, o que significava um grande avanço.
Depois de criar o princípio da equivalência em 1907, um importante passo, Em outubro de 1914 Einstein escreveu um artigo em que metade dele é um
Einstein não publicou nada mais sobre gravitação até 1911. Ele sabia desde tratado sobre análise tensorial e geometria diferencial. Esse artigo fez com que
1907 que um raio luminoso se curvaria na presença de um campo gravita- fosse iniciada uma correspondência entre Einstein e Levi-Civitta na qual o
cional forte. Esse encurvamento da luz era uma consequência do princípio grande matemático italiano apontou erros técnicos no trabalho sobre tensores
da equivalência, mas era difícil fazer uma verificação experimental disso por apresentado por Einstein. Einstein estava maravilhado em ser capaz de trocar
meio de observações terrestres. ideias com Levi-Civitta, um matemático muito mais receptivo às suas ideias
Em 1911 Einstein compreendeu que a curvatura do raio luminoso em sobre a relatividade do que um grande número de seus colegas físicos.
um campo gravitacional poderia ser verificada por meio de observações Na segunda metade de 1915 Einstein finalmente aprontou sua teoria. En-
astronômicas. tretanto, o passo final para a teoria da relatividade geral foi tomado por Eins-
Também foi discutido nessa época o deslocamento para o vermelho gra- tein e David Hilbert quase ao mesmo tempo.
vitacional, o “redshift” gravitacional, que ocorre quando o comprimento de Ambos haviam reconhecido falhas no trabalho de Einstein publicado em
onda da luz que sai de um corpo de grande massa (uma estrela por exemplo) é outubro de 1914. Uma correspondência entre estes dois cientistas ocorreu em
deslocado na direção do vermelho devido à perda de energia necessária para novembro de 1915. É difícil saber quanto um deles aprendeu com o outro mas
escapar do campo gravitacional do corpo. o fato de ambos descobrirem a mesma forma final das equações do campo
Einstein publicou outros artigos sobre gravitação em 1912. Nestes ele com- gravitacional e publicarem seus artigos com um intervalo de apenas alguns
preendeu que as transformações de Lorentz não se aplicariam na estrutura dias, certamente indica que a troca de ideias entre eles foi valiosa. David Hilbert (1826 - 1943).
mais geral que ele estava desenvolvendo. Ele também notou que as equações No dia 20 de novembro de 1915 David Hilbert submeteu seu artigo, com
do campo gravitacional estavam limitadas a não ser lineares e o princípio da o título “Os fundamentos da física”, (“Die Grundlagen der Physik”, Nachr.
equivalência parecia ocorrer somente localmente. Königl. Gesellsch. Wiss. Göttingen, math.-phys. Kl. 1915, Heft 3, p. 395), a
Nessa época Einstein verificou que se todos os sistemas acelerados são publicação. Nesse artigo Hilbert obtinha as equações de campo corretas
equivalentes, então a geometria Euclidiana não pode ser usada em todos eles. para a gravitação. Cinco dias depois de Hilbert, no dia 25 de novembro de
Lembrando o estudo da teoria das superfícies de Gauss que havia feito quando 1915, Albert Einstein submeteu seu artigo, “Die Feldgleichungen der Gravi-
estudante, Einstein logo compreendeu que os fundamentos da geometria ti- tation”, sobre a teoria da gravitação. Em 1916 Einstein publicou outro arti-
nham significado físico. go, “Die Grundlage der allgemeinen Relativitätstheorie” (Ann. Phys.
(Leipzig), 49, 769, 1916), onde ampliava sua discussão sobre o assunto. A
teoria relativística da gravitação era apresentada ao mundo científico em
duas brilhantes versões.
Marcell Grosmann (1878 - 1936), Georg Friedrich Ele consultou seu amigo, o grande matemático húngaro Marcell Gros-
Bernhard Riemann (1826 - 1866), Elwin Christoffel
(1829 - 1900) e Sophus Lie (1842 - 1899). mann, que prontamente lhe mostrou os importantes desenvolvimentos
que haviam sido feitos em geometria pelos alemães Bernhard Riemann e
Elwin Christoffel, o norueguês Sophus Lie e os italianos Gregorio Ric-
ci-Curbastro e Tullio Levi-Civita, alguns dos nomes mais importantes da O artigo de Hilbert contém algumas importantes contribuições à rela-
matemática naquela época. Pode-se dizer que foi Marcell Grossmann quem tividade não encontradas no artigo de Einstein. Hilbert aplicou o princípio
descobriu a importância que o cálculo tensorial desenvolvido por esses mate- variacional à gravitação e atribuiu a Emmy Noether (imagem a seguir) a
máticos teria para a futura teoria da relatividade geral de Einstein. descoberta de um dos principais teoremas que dizem respeito a identidades
Em 1913 Einstein e Grosmann publicaram um artigo juntos (“Entwurf que aparece no seu artigo.
einer verallgemeinerten Relativitätstheorie und der Theorie der Gravitation”, Na verdade o teorema de Emmy Noether só foi publicado com uma de-
Zs. Math. und Phys., 62, 225 (1913)) onde o cálculo tensorial desenvolvido monstração em 1918 em um artigo que ela escreveu sob seu próprio nome
por Ricci e Levi-Civita é empregado. Grosmann mostrou a Einstein o tensor (nessa época mulheres não tinham acesso à Academia de Ciências e Emmy
de Riemann-Christoffel, ou tensor de curvatura, que junto com o tensor de Noether entregava seus artigos para serem lidos perante os acadêmicos por
Ricci, que é deduzido a partir dele, iriam se tornar ferramentas importantes na algum de seus colegas homens). O teorema proposto por Noether se tornou
futura teoria relativística da gravitação. Embora a teoria apresentada estivesse uma ferramenta vital na física teórica. Um caso especial do teorema de Noe-
122 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 123
ther foi escrito por Hermann Weyl (1885-1955) em 1917 quando o utilizou Essas leis relativísticas gerais conectam matéria e energia com a estrutura
para deduzir identidades que, mais tarde foi verificado, já haviam sido inde- geométrica do espaço-tempo. A TRG é uma teoria matematicamente muito
pendentemente descobertas por Ricci em 1889 e por Luigi Bianchi, aluno do mais complexa do que a teoria clássica da gravitação, aquela proposta por
matemático alemão Felix Klein (1849-1925), em 1902. Isaac Newton e que permaneceu intocada por tanto tempo. Enquanto a te-
oria Newtoniana é descrita por uma única equação, a teoria relativística da
PENSANDO ALÉM DE NEWTON gravitação, devido às suas características matemáticas, é descrita por um
conjunto de 10 equações.
Após dez anos de intenso trabalho intelectual, Einstein conseguiu com su- Apesar das dificuldades matemáticas, logo depois dos artigos de Einstein
cesso traduzir sua intuição física sobre o comportamento da natureza em uma e Hilbert com as equações de campo corretas, o físico alemão Karl Schwar-
teoria matemática que nos descrevia o movimento livre em espaços-tempo zschild obteve, em 1916, uma solução matemática para as equações que
curvos. Nascia então a teoria da relatividade geral que por ser na verdade corresponde ao campo gravitacional de um objeto compacto esfericamente
uma teoria da gravitação iremos chamá-la de teoria relativística da gra- simétrico. Pela primeira vez era obtida uma solução exata das equações de
vitação (TRG). campo da gravitação relativística para surpresa de Einstein que não acreditava
Nosso “problema” em aceitar o conceito de espaço curvo é derivado do que isso pudesse ocorrer tão cedo.
fato de que nossa vida diária está associada a uma geometria plana, a cha- Na época o resultado apresentado por Schwarzschild foi considerado
mada “geometria Euclidiana”. É ela que aprendemos nos cursos mais básicos como um exercício puramente teórico. No entanto, anos mais tarde, veri-
e usamos na vida diária: quem não sabe que a soma dos ângulos internos de ficou-se que esta solução descrevia uma estrela relativística e, deste modo,
um triângulo é igual a 180o? Um mestre de obras dirá que isso é verdade sem inaugurava-se uma nova área de pesquisa em astrofísica, a astrofísica re-
fazer qualquer menção à geometria Euclidiana. Ele sabe, pela sua prática diá- lativística. Todos os trabalhos que hoje vemos sobre estrelas de nêutrons, Observação feita pelo Hubble Space Telescope de
ria, que “isso é verdade”. Em uma geometria curva (ela existe e foi construída pulsares e buracos negros se apoiam inteiramente nas soluções obtidas por uma estrela de nêutron.
Emmy Amelie Noether (1882-1935).
por Bolyai, Lobatchevsky, Riemann e outros geniais matemáticos) a soma dos Karl Schwarzschild.
ângulos de um triângulo pode ser maior ou menor que 180o! Hoje conhecemos muitas soluções das equações relativísticas do campo
Mas porque Einstein complicou a história? Porque ele não fez sua teoria gravitacional. Algumas dessas soluções estão associadas a estranhos corpos
usando a geometria Euclidiana? Esse é o ponto mais nobre da TRG. Para Eins- celestes. Por exemplo, a própria solução obtida por Schwarzschild nos intro-
tein o espaço-tempo descrito pela TRG se torna curvo em resposta aos efeitos duz o conceito de buracos negros. Uma outra solução, conhecida como “solu-
da matéria que existe no universo. Vamos usar como exemplo o nosso Sistema ção de Kerr” nos descreve buracos negros em rotação.
Solar. A TRG nos diz que um corpo com massa como, por exemplo, o nosso Logo os cientistas começaram também a investigar se a TRG poderia ser
Sol, faz com que o espaço-tempo em torno dele se curve. Essa curvatura, por usada para descrever o universo. Haveria alguma solução das equações da
sua vez, afeta o movimento dos planetas obrigando-os a descrever órbitas em TRG que pudessem ser cosmológicas ou seja, descrever a estrutura geométrica
torno do Sol. global do espaço-tempo?
Essa é uma abordagem completamente diferente daquela usada por Isaac Muitas soluções das equações relativísticas do campo gravitacional nos
Newton para descrever os efeitos da gravitação universal e que foi aceita dão as chamadas “soluções cosmológicas”, ambiciosos resultados que descre-
como verdadeira e única até o século XX. Newton descrevia a gravidade vem possíveis estruturas geométricas para o Universo.
como uma força. Isso quer dizer que dois corpos massivos, independentes
dos valores relativos de suas massas, por exemplo a Terra e uma maçã, exer-
ciam uma ação mútua, um sobre o outro: a Terra atraia gravitacionalmente teoria da relatividade geral = teoria da gravitação de einstein =
a maçã e essa atraia gravitacionalmente a Terra. Isso resultava da maneira teoria relativística da gravitação
como Newton apresentou sua lei da gravidade. Se a maçã estivesse em re-
pouso no galho da macieira e, por um motivo qualquer esse equilíbrio fosse
rompido ou seja, a maçã caísse, ela seria atraída na direção do centro da A EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE GRAVITAÇÃO
Terra e pararia na sua superfície. Ela só não atingiria o centro da Terra por
ser impedida durante o seu percurso (a crosta e toda a estrutura interior do Ao contrário do que muitos declaram, a teoria relativística da gravi-
nosso planeta). Como já vimos as leis de Newton explicavam em detalhes tação não surgiu do nada. Sua elaboração é uma longa história de erros e
não apenas a queda de maçãs mas também os movimentos dos planetas em acertos que se alternaram até que, em um determinado momento, cien-
Luigi Bianchi (1856-1928). torno do Sol e dos satélites em torno dos planetas. tistas conseguiram estabelecer a forma correta final que ela deveria ter.
Em resumo, a TRG é uma teoria que nos diz que o espaço e o tempo são Como qualquer outra teoria descoberta na física, a construção da teoria
quantidades dinâmicas que podem se curvar em resposta aos efeitos da maté- da relatividade geral se apoiou em conhecimentos previamente estabeleci-
ria. Por outro lado, o espaço-tempo pode alterar o comportamento da matéria. dos ou, como disse muito bem Isaac Newton, ela foi criada “sobre os om-
bros de gigantes”. Isso de modo algum é uma tentativa de tirar o mérito
AS PRIMEIRAS SOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES científico de Albert Einstein, mas é preciso desmistificar a história e acei-
RELATIVÍSTICAS DA GRAVITAÇÃO tar que muitos outros grandes nomes da física participaram do problema
e contribuíram para a sua solução.
As leis da teoria relativística da gravitação são formuladas de uma ma-
neira que as torna igualmente válidas em qualquer sistema de referência.
124 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 125
15
A PROIBIÇÃO DA DINÂMICA: UNIVERSOS DE SITTER E O UNIVERSO ESTÁTICO SEM MATÉRIA
ESTÁTICOS
No mesmo ano em que Einstein apresentou seu modelo de universo está-
Desde os tempos mais antigos os pensadores que ousaram descrever o tico, o astrônomo holandês Willem de Sitter também propôs um modelo de
universo acreditavam que ele era essencialmente imutável. Até mesmo New- universo, completamente diferente daquele apresentado por Einstein.
O universo ton acreditava que o universo era sempre o mesmo se o estudássemos não O universo de de Sitter era isotrópico e, para ser estático, não podia conter
localmente, porém sob o ponto de vista mais amplo possível. É claro que qualquer quantidade de matéria!
estático
ocorriam fenômenos no universo que mudavam coisas, mas isso o afetava O universo de de Sitter poderia ter sido considerado uma mera curiosida-
de Einstein apenas localmente e não o perturbava de um modo geral. O nascimento ou de matemática pelos astrônomos (ele exigia a não existência de matéria, no
e de Sitter morte dos seres vivos na Terra, o movimento dos astros e até mesmo a explo- entanto todos sabemos que o universo é preenchido por matéria na forma de
são de uma estrela eram vistos como fenômenos locais. O universo permane- nebulosas, estrelas, galáxias, etc.) se não fosse por uma propriedade muito in-
cia inalterado, exatamente como ele sempre foi. Isso era descrito dizendo-se teressante. Se fosse lançado um punhado de partículas dentro desse universo
que o universo era estático. elas se comportavam de uma maneira estranha: elas pareciam estar se afas-
As equações da teoria relativística da gravitação descrevem a natureza do tando umas das outras. Isso foi interpretado como tendo alguma relação com
espaço-tempo e isso logo levou os pesquisadores a perguntar o que elas pode- os resultados de redshift obtidos por Slipher e por muito tempo foi chamado
riam dizer sobre a estrutura do próprio universo ou seja, a estrutura do espa- de “efeito de Sitter”.
ço-tempo sob o maior ponto de vista possível. Isso é o domínio da Cosmologia. Os argumentos parecem se contradizer, pois foi dito que o universo é o
todo de matéria e energia existentes e agora é dito que é possível jogar algo
O UNIVERSO ESTÁTICO DE EINSTEIN “dentro” do universo? Onde estava essa matéria até agora? Pior ainda, para
jogar alguma coisa dentro do universo é preciso estar do lado de “fora” dele, o
Tanto Albert Einstein como outros pesquisadores logo se dedicaram que é um absurdo!
a essa tarefa ambiciosa. Em 1917, um ano após Einstein ter divulgado as
equações da TRG em sua forma final, para sua surpresa, verificou-se que as
equações da TRG não tinham soluções estáticas quando estudadas em esca-
las cosmológicas. Dito de outro modo, as equações da TRG previam que o
universo não era estático: ele era dinâmico e deveria estar ou se expandindo
ou se contraindo.
A conclusão de que o universo deveria ser dinâmico e não estático de-
sagradou Einstein. Mas havia um problema com o modelo de universo
estático: a TRG mostrava que modelos contendo matéria não podiam ser es-
táticos. Se o universo fosse estático desde o seu início, a atração gravitacional
da matéria faria todos os corpos existentes colapsarem sobre si mesmos. Isso
parecia ridículo, pois não havia qualquer razão que justificasse um espaço
tão instável.
Para Einstein tudo isso era implausível e ele imediatamente decidiu mo-
dificar sua teoria a fim de obrigar a existência de uma solução cosmológica
estática mas estável. Para isso Einstein alterou as equações de campo da TRG
introduzindo um termo que foi chamado de constante cosmológica e repre- Einstein e Sitter discutindo cosmologia.
sentada pela letra grega lambda maiúscula (Λ). Sua função era fornecer solu- Podemos supor então que um grupo de partículas é criado, bem próximas
ções cosmológicas estáticas estáveis. Essa constante cosmológica agia como umas das outras em um determinado ponto do universo.
uma força repulsiva que se opunha à ação da força gravitacional. Ajustando o De novo vem a dúvida: então podemos criar partículas a partir do “nada”?
valor dessa constante cosmológica era possível contrabalançar a ação da gra- De repente essas partículas surgem e pronto! Está explicado! Isso é uma viola-
vidade que resulta de uma distribuição uniforme de matéria. Se essa constante ção do princípio de conservação de energia!
fosse diferente de zero, o modelo estático com matéria não colapsaria sob sua A explicação vem do fato que as partículas surgiram a partir de uma flutu-
própria gravidade. ação quântica do vácuo.
Einstein considerava que essa “constante cosmológica” era somente “um Logo foi mostrado que a natureza estática do universo de de Sitter era
termo hipotético”. Segundo ele, essa constante “não era exigida pela teoria um artifício puramente matemático. Seu modelo de universo se compor-
nem parecia natural de um ponto de vista teórico”. Ele declarou que “esse ter- tava de modo estático somente devido ao fato dele não conter matéria. A
mo é necessário somente para o propósito de tornar possível uma distribuição presença de matéria fazia com que ele exibisse suas características dinâ-
quase-estática de matéria”. micas. O astrônomo norte-americano Howard Robertson mostrou, mais
Em resumo, o modelo proposto por Einstein para o universo continha ma- tarde, que o modelo de universo proposto por de Sitter era homogêneo e
téria uniformemente distribuída. A geometria do espaço era esférica ou seja, o isotrópico e que nessa forma ele também era espacialmente plano, infinito
espaço era uniformemente curvado. Seu universo era de natureza estática: ele e estava se expandindo.
não estava se alterando, nem expandindo e nem colapsando.
126 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 127
16
Uma distinção pode ser feita agora entre os modelos de universo propostos
por Einstein e por de Sitter. O universo de Einstein era “matéria sem movi-
mento” enquanto que o universo de de Sitter era “movimento sem matéria”.
O UNIVERSO EM EXPASÃO
O universo
Surge o Universo em expansão de Friedmann
em expansão Em 1922 o matemático e meteorologista russo Alexander Friedmann (ou
Friedman) publicou um conjunto de soluções matemáticas possíveis das equa-
ções de campo da teoria relativística da gravitação. A análise dos resultados
obtidos mostrava um comportamento não estático para o Universo! Ao con-
trário do que havia sido previsto por Einstein, Friedmann apresentava uma
solução das equações relativísticas nas quais o universo estava em expansão.
A importância do trabalho de Friedmann está no fato de que ele propõe
três modelos que descrevem espaços cujas geometrias possuem curvaturas
positiva, zero e negativa. Isso foi feito uma década antes que o astrônomo nor-
te-americano Howard Robertson e seu companheiro Walker publicassem os
mesmos resultados.
Nesta época, nem Einstein nem qualquer outro cientista teve qualquer No encontro da Royal Astronomical Society, ocorrido em Londres no iní- George Lemaître (1894- 1966).
interesse no trabalho apresentado por Friedmann. Para os poucos que tive- cio de 1930, de Sitter admitiu que nenhuma das soluções propostas às equa-
ram contato com esse trabalho, as conclusões apresentadas pareciam ser me- ções do campo gravitacional relativístico, nem a sua solução cosmológica nem
ramente uma curiosidade teórica bem abstrata, sem qualquer contato com a aquela proposta por Einstein, poderiam representar o universo observado.
realidade do universo. A maioria dos astrônomos continuavam a considerar Quando Lemaître viu o resumo desse encontro, prontamente escreveu para o
que o universo real era estático. astrofísico inglês Arthur Eddington (que havia sido seu professor) relembran-
Foi grande o sentimento de desprezo com que os astrônomos trataram do a ele o artigo que havia publicado em 1927 no qual propunha um universo
essa descoberta de Friedmann, quando, em 1924, ele publicou novamente em expansão (até mesmo Eddington que havia lido o artigo de Lemaître na
o seu trabalho “Über die Möglichkeit einer Welt mit konstanter negativer época de sua publicação já o havia esquecido!).
Krümmung des Raumes” (Sobre a possibilidade de um universo com espaço Eddington prontamente reconheceu o valor do estudo feito por Lemaître e,
de curvatura negativa constante - Zeitschrift für Physik, vol. 21, páginas 326 sem perda de tempo, entrou em contato com de Sitter apresentando a ele esse
-332), o artigo foi visto como uma questão puramente da teoria da relativi- artigo fundamental, mas quase desconhecido. A existência do artigo de Lemaî-
dade, sem qualquer interesse astronômico. O artigo escrito por Friedmann tre foi aos poucos se espalhando entre os nomes célebres da época. Logo depois
nem mesmo apareceu no levantamento anual de artigos científicos sobre de tomar conhecimento da existência do artigo de Lemaître, de Sitter escreveu
tópicos de astronomia. para Harlow Shapley, que estava em Harvard, Estados Unidos, dizendo:
Infelizmente Friedmann não pode nem mesmo defender suas ideias, pois
um ano mais tarde ele morreu de febre tifóide, com apenas 37 anos de idade. “Eu encontrei a solução verdadeira, ou pelo menos
Pior ainda, hoje o trabalho pioneiro de Friedmann é simplesmente des-
uma solução possível, que deve estar aproximadamente
prezado por escritores, em particular norte-americanos, que se referem às so-
luções clássicas das equações de campo da TRG que descrevem um universo próxima da verdade, em um artigo... de Lemaître...que
homogêneo e isotrópico com sendo “métrica de Robertson-Walker”. Ninguém tinha escapado de minha atenção na época.”
Alexander Friedmann (1888- 1925).
se refere a isso como “métrica de Friedmann” e alguns poucos a chamam de
“métrica de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker” ou “métrica FLRW”. Einstein também logo confirmou que o trabalho apresentado por Lemaître
Georges Lemaître e o “nascimento” do Universo “se ajusta bem na teoria da relatividade geral”
Poucos anos após a publicação do trabalho de Alexander Friedmann, que
Arthur Eddington (1882- 1944).
mostrava pela primeira vez um universo em expansão, o astrofísico belga Ge- Em 1931, publicamente, de Sitter elogiou a “brilhante descoberta” de Le-
orges Lemaître chegou às mesmas conclusões. maître, o “universo em expansão”. Neste mesmo ano, Lemaître avançou mais
Lemaître era um padre católico que durante praticamente toda sua vida se ainda suas ideias propondo que o universo atual é formado pelas
interessou pela ciência. Em 1927 ele publicou na revista científica Annals of
the Brussels Scientific Society, um modelo de um universo que se expandia.
“cinzas e fumaça de fogos de artifício brilhantes mas
Como essa revista era pouco lida pela maioria dos grandes cientistas da época,
a contribuição científica de Lemaître não causou qualquer impacto nos meios muito rápidos. “
científicos. Sua teoria não foi amplamente conhecida e rapidamente esquecida
até mesmo por aqueles que leram o seu artigo. Hoje vemos esta “teoria de fogos de artifício”, como ela ficou sendo co-
nhecida em sua época, como uma primeira versão da “teoria do Big Bang” da
origem do Universo.
128 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 129
17 18
O GRANDE DEBATE: SHAPLEY E CURTIS HUBBLE E A CLASSIFICAÇÃO DAS GALÁXIAS
Por volta de 1920 os astrônomos discordavam em vários assuntos que di- Quando estava escrevendo sua tese de doutorado em 1917, o astrônomo
ziam respeito à forma e tamanho da nossa Galáxia. A razão disso era o fato norte-americano Edwin Hubble notou que os catálogos já incluíam cerca de
de que eles ainda não dispunham de conhecimento para resolver um dos pro- 17000 objetos nebulosos, fracos e pequenos, que poderiam, no fim das contas,
O grande blemas fundamentais da astronomia: a determinação precisa das distâncias a serem resolvidos em agrupamentos de estrelas. Talvez 150000 destes objetos Hubble e a
corpos celestes. estivessem dentro do alcance dos telescópios então existentes.
debate: Shapley classificação
Esse desconhecimento levou a intensas discussões e desacordos sobre dois Hubble escreveu:
e Curtis pontos extremamente importantes para o conhecimento do Universo: das galáxias
Pouquíssimo é conhecido sobre a natureza das nebulosas
• Qual era a estrutura da nossa Galáxia? Quais eram seus limites? e nenhuma classificação importante foi sugerida até
• Qual era a verdadeira natureza das chamadas “nebulosas espirais”? agora; nem mesmo uma definição precisa foi formulada.”
Dois eminentes astrônomos norte-americanos, Harlow Shapley, traba-
A CLASSIFICAÇÃO DE HUBBLE
lhando então no Mount Wilson Observatory, e H. D. Curtis, do Lick Observa-
tory, tornaram-se os mais ardentes defensores de ideias bastante antagônicas
Os trabalhos desenvolvidos por Edwin Hubble foram muito significativos.
quanto às questões acima.
Prosseguindo no seu estudo das galáxias, Hubble desenvolveu um esquema de
Shapley acreditava que as “nebulosas espirais” eram partes distantes da
classificação para elas o qual, com pequenas revisões, permanece em uso hoje.
nossa Galáxia enquanto que Curtis dizia que elas eram galáxias inteiramente
Hubble dividiu as galáxias em duas categorias principais, galáxias elípticas
independentes da nossa.
e galáxias espirais com uma terceira categoria, as galáxias irregulares, utili-
Tal fato culminou com um debate entre eles, no dia 26 de abril de 1920,
zada para agrupar todas aquelas galáxias que, de algum modo, desafiavam a
patrocinado pela National Academy of Sciences dos Estados Unidos e que en-
classificação regular, não mostrando as características morfológicas marcan-
traria para a história da astronomia como o “Debate Shapley-Curtis” ou “O
tes das galáxias elípticas ou espirais.
Grande Debate”.
Eles iniciaram uma intensa discussão sobre este assunto: as “nebulosas es-
Galáxias Elípticas
pirais” pertenciam ou não à nossa Galáxia?
As galáxias elípticas, como o próprio nome indica, são galáxias que pos-
suem a forma de um elipsoide de revolução, uma figura que se obtém fazendo
O GRANDE DEBATE: A ESCALA DO UNIVERSO uma elipse girar em torno do seu eixo maior.
shapley curtis As galáxias elípticas não possuem características externas marcantes sen-
do, essencialmente, formadas por uma região central onde há uma enorme
O diâmetro de nossa Galáxia é de cerca de
O diâmetro de nossa Galáxia é de cerca de 10 kpc. densidade de estrelas. A esta região damos o nome de bojo nuclear. Para
100 kpc.
melhor estudar as galáxias elípticas, os astrônomos as subdividiram em sete
As “nebulosas espirais” não são comparáveis classes de elipticidades. Estas classes variam de E0 (circular) a E7 (forma de
As “nebulosas espirais” são galáxias semelhantes à nossa.
em tamanho à nossa Galáxia. um charuto).
As “nebulosas espirais” estão localizadas a distâncias que variam Numericamente calculamos a elipticidade de uma galáxia deste tipo usan-
As “nebulosas espirais estão localizadas do uma equação bastante simples, veja ao lado.
de 150 kpc para a “nebulosa” Andrômeda até mais de 3000 kpc
relativamente próximas à nossa Galáxia.
para aquelas mais distantes.
elipticidade = 10(a-b)/a
130 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 131
As galáxias elípticas possuem as seguintes características físicas: sequência paralela às galáxias espirais e, devido à presença desta “barra” são
chamadas de galáxias espirais barradas. As galáxias espirais barradas são
• estrutura central: as galáxias elípticas são formadas apenas por bojo.
classificadas como:
Elas não possuem qualquer forma de disco.
• SBa
• braços espirais: não possuem qualquer vestígio de braço espiral.
• SBb
• presença de gás: quase nenhum gás é observado nas galáxias elípticas. • SBc
• presença de estrelas jovens e regiões HII (regiões onde o hidrogênio
está ionizado): praticamente não possuem. EXEMPLOS DE GALÁXIAS ESPIRAIS BARRADAS
• estrelas: as galáxias elípticas são formadas por estrelas quase todas
A galáxia M 95 é classificada como A galáxia M 91 é classificada como A galáxia M 61 é classificada como
velhas, com idade aproximada de 1010 anos. Estas estrelas são do tipo
uma galáxia espiral barrada do uma galáxia espiral barrada do uma galáxia espiral barrada
espectral G-K e muito vermelhas.
tipo SBa. tipo SBb. tipo SBc.
• massa: as galáxias elípticas se distribuem em um intervalo de massa
que vai de 108 a 1013 massas solares
• luminosidade: a luminosidade das galáxias elípticas varia entre 106 a
1011 luminosidades solares.
Galáxias Espirais
As galáxias espirais, como o próprio nome diz, são galáxias que apresen-
tam uma estrutura externa espiral. Estas galáxias mostram braços espirais
que se enrolam em torno de uma região central que é o seu núcleo. Em torno
desta grande estrutura de braços e núcleo temos toda uma região aproxima-
damente esférica, que envolve totalmente a galáxia, e que chamamos de halo.
No entanto, as galáxias espirais não são todas iguais. Algumas apresentam
braços espirais muito abertos enquanto que em outras os braços são muito
apertados em torno do núcleo. Algumas delas têm núcleos muito grandes en-
quanto que em outras a região central é bastante pequena.
Muitas vezes é difícil perceber a presença da barra em uma galáxia espiral,
Para ajudar no estudo das propriedades físicas das galáxias espirais, Hubb-
só conseguindo detectá-la após um estudo detalhado. Abaixo mostramos a
le as dividiu em três classes com a seguinte denominação:
galáxia NGC 6782 que é uma espiral barrada embora isso não seja tão claro no
exame da imagem. No entanto podemos ver com clareza a espetacular e com-
• Sa
plexa estrutura de um anel que esta galáxia possui em torno da sua barra e,
• Sb
obviamente, do seu núcleo. A presença deste anel é bastante marcante em al-
• Sc
gumas galáxias barradas embora não seja exclusividade delas. A galáxia NGC
EXEMPLOS DE GALÁXIAS ESPIRAIS 6782, com 80000 anos-luz de diâmetro, está localizada na constelação Pavo, a
180 milhões de anos-luz de distância. Copyright: Rogier Windhorst (ASU) e
colaboradores, Hubble Heritage Team, NASA
A galáxia M 94 é uma galáxia espiral A galáxia M 81 é uma galáxia espiral A galáxia M 101 é uma galáxia espiral
classificada como sendo do tipo Sa. classificada como sendo do tipo Sb. classificada como sendo do tipo Sc.
132 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 133
Para classificar as galáxias espirais, barradas ou não, em cada uma destas • estrelas: as estrelas das galáxias lenticulares são estrelas velhas de tipo
classes, Sa, Sb, Sc, SBa, SBb, SBc, usamos vários critérios. Aqui estão alguns espectral G-K, vermelhas.
deles:
134 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 135
A CLASSIFICAÇÃO GERAL DE HUBBLE: O Ficamos então com uma nova classificação de Hubble com a seguinte forma:
“DIAGRAMA DIAPASÃO” Sa Sb Sc Sd
Sab Sbc Scd
S0
E0 E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7
SB0
SBa SBb SBc SBd
SBab SBbc SBcd
NGC4013 M51
136 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 137
ALGUMAS GALÁXIAS INTERESSANTES ALGUMAS GALÁXIAS INTERESSANTES
138 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 139
ALGUMAS GALÁXIAS INTERESSANTES ALGUMAS GALÁXIAS INTERESSANTES
Um objeto estranhamente distorcido que foi Fotografada pelo Hubble Space Telescope, ela está localizada a cerca de 150 milhões de anos-luz de nós, na
observado pelo Hubble Space Telescope. Esta galáxia constelação Hydra do hemisfério sul. Tem esse nome por ter sido observada pela primeira vez pelos telescópios
está localizada a 165 milhões de anos-luz de nós, na Localizada em Coma Berenices a 60 milhões de anos- do European Southern Observatory (ESO), um conglomerado de observatórios europeus localizados no Chile.
constelação Centaurus, no hemisfério sul. luz, esta é a galáxia espiral NGC 4414. As galáxias espirais normais, tais como a nossa Galáxia, quando são observadas de perfil mostram seus braços
Este sistema complexo parece ser composto por Esta galáxia mostra vários aspectos clássicos de uma espirais e sua poeira com uma forma bem achatada, uma faixa estreita que se distribui ao longo da galáxia. A
pelo menos duas partes. Existe um disco achatado galáxia espiral, incluindo faixas espessas de poeira, forma da galáxia ESO 510-G13 é bastante estranha. Ela também está de perfil, mas mostra que o seu disco de
de estrelas com uma região central brilhante e uma região central rica em estrelas vermelhas velhas poeira está retorcido.
densa. Existe também um anel, fortemente inclinado, e braços espirais desenrolados brilhando com suas Este disco retorcido nos indica que a galáxia ESO 510-G13 colidiu com uma galáxia vizinha no passado. Neste
formado por gás, poeira e estrelas distribuídas estrelas azuis jovens. momento ela está “engolindo” a galáxia menor. Daqui a milhões de anos a galáxia ESO 510-G13 estabilizará
de modo esparso. Apesar de possuir muitas estrelas variáveis Cefeidas, assumindo a forma de uma galáxia espiral de aparência normal.
As observações mostram que as estrelas que estão os astrônomos ainda têm dúvidas sobre a verdadeira Nas regiões mais externas da galáxia ESO 510-G13, especialmente no lado direito da imagem, vemos que o disco
no disco e as estrelas e gás que estão no anel distância em que ela se encontra. retorcido contém não somente poeira escura mas também nuvens brilhantes de estrelas azuis. Isto mostra que
realmente se movem em dois planos diferentes, A estrela brilhante que aparece no lado direito da estrelas jovens e quentes estão sendo formadas no seu disco.
aproximadamente perpendiculares. imagem detalhada pertence à nossa Galáxia.
Acredita-se que esta distribuição seja resultante de
uma colisão de galáxias ocorrida no passado.
GALÁXIAS “STARBURSTS”
140 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 141
ALGUMAS GALÁXIAS “STARBURSTS” ALGUMAS GALÁXIAS “STARBURSTS”
Esta é a galáxia starburst NGC 3310, localizada a cerca Esta galáxia, NGC 4214, está localizada a cerca de 13 milhões de anos-luz de nós. Esta nossa vizinha está, neste
de 50 milhões de anos-luz de nós na constelação momento, formando aglomerados de novas estrelas a partir do seu gás e poeira interestelares.
Ursa Major e tem 20000 anos-luz de diâmetro. Nesta Nesta imagem, obtida pelo Hubble Space Telescope, podemos ver as regiões em que as estrelas estão sendo
galáxia espiral está sendo produzida uma enorme formadas. A imagem é dominada por nuvens de gás brilhante que circunda aglomerados estelares muito
quantidade de estrelas. luminosos. Os aglomerados mais jovens estão localizados no lado direito, em baixo, da imagem. Eles aparecem
As novas estrelas desta galáxia são muito luminosas como cerca de meia dúzia de amontoados de gás muito brilhante. Estas nuvens gasosas brilham intensamente
Galáxia espiral que está situada na constelação Canes e tão quentes que fazem a galáxia inteira brilhar não devido à forte radiação ultravioleta emitida pelas estrelas que recentemente se formaram dentro deles. Estas
Venatici, a cerca de 15 milhões de anos-luz de nós, e apenas na luz azul mas também na região ultravioleta estrelas jovens, com temperaturas que vão de 10000 a cerca de 50000 Kelvins, aparecem com uma cor entre o
tem cerca de 30000 anos-luz de diâmetro. Nota-se que do espectro eletromagnético, que os nossos olhos não esbranquiçado e o azulado.
o centro desta galáxia é muito brilhante. Circundando são capazes de detectar. Vemos também a impressionante região central de NGC 4214, um aglomerado de centenas de estrelas azuis de
o seu núcleo vemos destacar-se um anel de estrelas Esta imagem no ultravioleta foi obtida pelo Hubble grande massa, cada uma delas mais de 10000 vezes mais brilhante que o Sol.
recentemente formadas, as responsáveis pelo forte Space Telescope. Alguns astrônomos acreditam que a
brilho que tem o seu interior. galáxia colidiu, há cerca de 50 milhões de anos, com
uma galáxia anã sua companheira. Como consequência
desta fusão ondas de densidade varreram o seu
disco espiral, fazendo com que várias nuvens
moleculares gigantes iniciassem o processo de colapso
gravitacional. Estas regiões se transformaram em
locais de intensa formação de estrelas.
GALÁXIAS EM COLISÃO
142 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 143
que fazer é estudar as colisões que estão acontecendo. Os astrofísicos estudam
com atenção as regiões onde esta interação parece estar provocando fenôme- GALÁXIAS EM COLISÃO
nos que podem ser detectados pelos seus equipamentos, na Terra ou em saté-
NCG 4038
lites. Uma grande possibilidade é estudar estas colisões na região espectral do
ultravioleta, uma vez que as estrelas que se formam durante a colisão são gi- Esta imagem foi obtida em 20 de janeiro de 1996 por Brad Whitmore, do Space Telescope Science Institute
gantescas, muito quentes, e emitem muita radiação ultravioleta. Outro proces- (Estados Unidos), usando a Wide Field Planetary Camera 2 do Hubble Space Telescope, um projeto
so para estudar a colisão entre galáxias é por meio de simulações destas conjunto NASA/ ESA. Ela nos mostra o processo de colisão que está ocorrendo entre as galáxias Antennae,
colisões feitas em computadores. formalmente conhecidas como NGC 4038 e NGC 4039. Estas galáxias foram chamadas de “antena” por causa
das longas caudas de matéria luminosa que as acompanham, parecendo as antenas de um inseto. Estas
GALÁXIAS EM COLISÃO caudas foram formadas pelas intensas forças gravitacionais que atuam entre as galáxias.
Estas duas galáxias estão localizadas a 63 milhões de anos-luz de nós, na constelação Corvus do
NGC 2207 e IC 2163 hemisfério sul.
No lado esquerdo da imagem vemos as galáxias Antennae fotografadas por um telescópio situado na Terra.
A imagem obtida pela Wide Field Planetary Camera 2 do Hubble Space Telescope, mostra o processo de No lado direito está a imagem obtida pelo Hubble Space Telescope. Ela fornece detalhes do brilhante show
colisão entre duas galáxias espirais situadas na constel ação Canis Major. de “fogos de artifício” que está ocorrendo no centro da colisão destas galáxias. Estes “fogos” revelam a
A galáxia maior, com mais massa, mostrada à esquerda desta imagem, é a NGC 2207 e a menor delas, situada formação de mais de 1000 aglomerados estelares nesta região devido ao processo de colisão.
à direita da imagem, é IC 2163. As regiões centrais destas galáxias são as “bolhas” de cor laranja situadas a direita e a esquerda do centro
O processo de interação entre elas é tão forte que intensas forças de maré produzidas por NGC 2207 da imagem. Estas regiões estão riscadas por filamentos de matéria escura. Uma larga banda de poeira,
modificaram a forma de IC 2163, produzindo os rastros de estrelas e gás que vemos se espalhando por distribuída de maneira caótica, se espalha entre as regiões centrais das duas galáxias. Os braços espirais são
centenas de milhares de anos-luz na direção da borda direita da imagem. marcados pelos brilhantes aglomerados de estrelas azuis que resultam do intenso processo de formação
Os estudos feitos sobre esta colisão mostram que a galáxia IC 2163 está passando atrás da galáxia NGC 2207 estelar desencadeado por esta colisão.
movendo-se em uma direção contrária à dos ponteiros do relógio. A maior aproximação entre elas ocorreu
há 40 milhões de anos. Entretanto, devido à sua pequena massa, a galáxia IC 2163 não conseguirá escapar do
puxão gravitacional exercido pela galáxia NGC 2207. O destino de IC 2163 é, no futuro, ser puxada de volta
na direção de NGC 2207 e, de novo, passar por ela em outro processo de colisão. Este processo de interação
entre elas, mantendo-as aprisionadas nesta estranha órbita mútua, em que uma gira em torno da outra,
resultará na contínua distorção de ambas. Daqui há bilhões de anos elas se fundirão em uma única galáxia
com muita massa.
144 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 145
Quando queremos localizar galáxias no universo utilizamos um outro
GALÁXIAS EM COLISÃO sistema de coordenadas chamado sistema de coordenadas galácticas. Este
sistema de coordenadas nos permite ver de que modo os objetos celestes estão
NGC 6745
distribuídos em relação ao plano da nossa Galáxia.
Este é o estado em que ficou a galáxia espiral NGC 6745 após colidir com outra galáxia durante centenas No sistema de coordenadas galácticas o grande círculo fundamental é o
de milhões de anos. A galáxia NGC 6745 tem 80000 anos-luz de diâmetro e está localizada a cerca de 200 equador galáctico. O equador galáctico é definido como a interseção do plano
milhões de anos-luz de nós. galáctico com a esfera celeste. Em relação a este equador galáctico podemos
A galáxia que causou esta deformação na NGC 6745 quase não aparece na imagem. Ela é uma galáxia definir pólos galácticos, exatamente do mesmo modo como definimos os pó-
pequena, que mostra uma pequena parte no lado direito, em baixo, da imagem e que está se afastando. los celestes em relação ao equador celeste.
A interação gravitacional entre as duas galáxias distorceu suas formas. Na parte de baixo, na direita, vemos Definimos o pólo norte galáctico como o pólo que está no mesmo hemis-
uma região gasosa que foi arrancada da galáxia maior e está formando estrelas. fério que o pólo celeste norte. As posições dos pólos galácticos foram determi-
nadas pela União Astronômica Internacional (IAU) em 1959.
Para definir a posição de um objeto por meio de coordenadas galácticas
usamos:
O nosso Sol está localizado a cerca de 34,56 ± 0,56 parsecs acima do plano
da nossa Galáxia, o que equivale a cerca de 112,7 ± 1,8 anos-luz.
COORDENADAS ASCENSÃO
DECLINAÇÃO OBSERVAÇÕES
GALÁCTICAS RETA
COMO LOCALIZAMOS UMA GALÁXIA NO CÉU O pólo norte galáctico está localizado na constelação
Coma Berenices, próximo à estrela Arcturus.
pólo norte
Existe uma quantidade formidável de estrelas na nossa Galáxia. Para 12h 51m 26,282s 27o 07’ 42,01”
galáctico
localizá-las no céu precisamos utilizar um sistema de coordenadas. Para as O pólo sul galáctico está localizado na constelação
estrelas, usamos o chamado sistema de coordenadas equatorial, mostrado Sculptor.
a seguir, que nos fornece a ascensão reta e a declinação da estrela. Isso é sufi- ponto de longitude
ciente para que qualquer astrônomo, amador ou profissional, possa localizar o zero o ângulo de posição do ponto de longitude zero,
17h 45m 37,224s -28o 56’ 10,23”
objeto a ser observado no céu. (sobre o equador medido a partir do pólo norte galáctico, é de 122,932o
galáctico)
146 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 147
19
A NATUREZA EXTRAGALÁCTICA DAS “NEBULOSAS
ESPIRAIS”
150 Módulo 2 · Conhecendo o Universo em que vivemos Cosmologia - Da origem ao fim do universo 151
to para o vermelho). Humason mais tarde explicou que tal deslocamento era o
que “deveria ser esperado na teoria de espaço-tempo curvo de de Sitter”.
Humason obteve as velocidades e Hubble obteve as distâncias. Eles encon-
traram uma relação linear que nos dizia, aproximadamente, que quanto maior
fosse a velocidade de recessão de uma “nebulosa” maior seria a distância até ela.
A figura abaixo mostra os dados relacionando distância e velocidade obtidos
por Hubble e Humason para 46 “nebulosas”. Os pontos pretos e a linha contí-
Ensino a Distância
nua representam a solução obtida para as 24 nebulosas para as quais distâncias
individuais haviam sido obtidas separadamente. Os pontos claros e a linha pon-
tilhada mostram a solução obtida quando as “nebulosas” foram combinadas em
grupos. A cruz mostra a velocidade média calculada para um conjunto de 22
cosmologia
“nebulosas” cujas distâncias não puderam ser estimadas individualmente.
Os dados obtidos por Hubble e Humason eram insuficientes e a interpreta-
ção era duvidosa nos detalhes. De fato, mais tarde foi descoberto que os valores
das distâncias às nebulosas apresentadas por Hubble eram somente metade dos
valores das distâncias reais. Os números apresentados por Hubble discordavam
2015
com o que os cientistas já sabiam sobre a idade do universo. Não obstante, a
relação velocidade-distância foi uma extrapolação corajosa e brilhante.
Entre 1925 e 1929 Hubble publicou três longos artigos nos quais tratava as
antigas “nebulosas espirais” como “Universos ilha” e demonstrava que elas es-
Da origem ao fim do universo
tavam a enormes distâncias de nós, que variavam de 240000 a 275000 parsecs.
No entanto, somente no parágrafo final do seu artigo publicado em 1929
é que Hubble menciona de Sitter! Hubble simplesmente diz que a relação-
distância velocidade poderia representar o “efeito de Sitter” e poderia ser de
interesse na discussão cosmológica. Hubble enfatizou o aspecto observacio-
nal, empírico de seu trabalho. Seu principal objetivo era convencer os leitores
céticos que a “relação velocidade-distância” realmente existia.
Somente em 1935, quando Hubble provou que os cálculos feitos por outros
astrônomos estavam errados, é que seus resultados foram amplamente aceitos.
Agora os astrônomos acreditavam que o universo estava se expandindo, um
resultado que já havia sido demonstrado por Carl Wirtz em 1922. Com muita
certeza podemos dizer que Hubble, em 1929, consolidou com bases observacio-
nais firmes, a lei de expansão do Universo, mas de modo algum pode ser atri-
buído a ele a descoberta da expansão do universo como é costume aparecer em
Dados obtidos por Hubble e Humason muitos livros, em particular livros de divulgação de autores norte-americanos.
Módulo 3
A Teoria da Gravitação e a nova
visão do conteúdo do universo
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 3
A Teoria da Gravitação e a nova
visão do conteúdo do universo
Divisão de Atividades
Educacionais - ON/MCTI
20
O “DESLOCAMENTO PARA O VERMELHO” (REDSHIFT) ou então
• efeito Doppler
Se uma fonte luminosa está se afastando de um observador dize-
Também podemos escrever estas equações como:
mos que está ocorrendo um “redshift” (z > 0).
z= (comprimento de onda observado) / (comprimento de onda emitido)
Se uma fonte luminosa está se deslocando na direção do observa-
- (comprimento de onda emitido) / (comprimento de onda emitido) = (com-
dor dizemos então que está ocorrendo um “blueshift” (z < 0).
primento de onda observado) / (comprimento de onda emitido) - 1
Isto é verdade para todos os tipos de ondas eletromagnéticas e é
ou seja,
explicado pelo efeito Doppler. Consequentemente este tipo de redshift
também é chamado de “redshift Doppler”.
Se a fonte está se afastando do observador com uma velocidade v,
então, ignorando os efeitos relativísticos, o redshift é dado por
• gravitacional
onde v é a velocidade de afastamento da galáxia medida a partir do seu
A teoria da Relatividade Geral mostra que quando a radiação ele- redshift e tipicamente expressa em km/s. A letra D é a distância que a radiação
tromagnética se desloca através de fortes campos gravitacionais o seu eletromagnética gerada pela galáxia viajou até chegar ao referencial inercial do
comprimento de onda sofre ou um deslocamento para o vermelho observador. A distância D é medida em megaparsecs (Mpc).
(redshit) ou um deslocamento para o azul (blueshift). Isto é conhecido
como redshift gravitacional. Referencial inercial de um observador é aquele no qual o observador está
Este efeito é muito pequeno, mas mensurável, na Terra usando o em repouso.
chamado efeito Mössbauer. Entretanto ele é bastante significativo pró- O observador em repouso é aquele que não tem forças atuando sobre ele:
ximo a um buraco negro e à medida que um objeto se aproxima do ele está ou parado ou em movimento retilíneo uniforme. O observador em
horizonte de eventos o redshift se torna infinito. Ele também é a causa repouso não está sofrendo qualquer forma de aceleração
principal das flutuações de temperatura em grande escala angular que Hoje escrevemos a expressão acima como
observamos na radiação de fundo de microonda cósmica.
OS MAIORES “REDSHIFTS” ATÉ AGORA onde Ho é a chamada constante de Hubble. Na verdade a expressão mais
DETECTADOS geral deve ser escrita como
Paschen 3
O modelo de Bohr para o átomo
Brackett 4 Em nossa discussão das propriedades mais importantes da estrutura atô-
Pfund 5 mica e molecular empregaremos um modelo muito simplificado para descre-
ver o átomo, proposto em 1915 pelo prêmio Nobel dinamarquês Niels Bohr.
Vemos pela tabela acima que a maior parte da massa dos átomos reside nos O símbolo representa o hidrogênio enquanto que os outros dois sím-
prótons e nêutrons que ocupam a região central mais densa chamada núcleo bolos representam seus isótopos.
atômico ou, simplesmente, núcleo. O isótopo de massa 2 do hidrogênio, , é chamado de deutério ou hi-
Se os átomos são formados por partículas positivas (prótons) e negativas drogênio pesado enquanto que o isótopo de massa 3, , é chamado de
(elétrons) qual é a sua carga total? Os átomos têm carga positiva ou negativa? trítio ou trício.
Na verdade os átomos são eletricamente neutros por que o número de elétrons, Observa-se que o núcleo do hidrogênio é formado por um próton apenas, o
carregados negativamente, que ele possui é exatamente igual ao número de núcleo do deutério é formado por um próton e um nêutron e o do trítio inclui
As séries mostradas acima são fundamentais para a astrofísica. Na verdade ... ... ... ...
as séries do átomo de hidrogênio, que representam transições entre níveis atô- XVI 15 vezes ionizado Fe XVI
micos, nos dão informações sobre a composição química das estrelas, como
... ... ... ...
veremos mais tar
Fica fácil entender esta notação ao percebermos que o número romano que
26.2 IONIZAÇÃO E PLASMA acompanha o símbolo do elemento químico tem uma unidade a mais do que
o seu grau de ionização. Por exemplo, Fe XIV significa que o elemento ferro
Já vimos que os átomos são eletricamente neutros uma vez que sua carga
está ionizado (14 - 1)= 13 vezes.
total negativa, fornecida pelos seus elétrons, é exatamente igual à sua carga
Um outro ponto a notar é que o maior grau de ionização possível de um de-
positiva dada pelos prótons que formam seus núcleos. Uma grande parte da
terminado átomo é dado pelo número de elétrons que ele possui. Deste modo,
F=ma todos estes fenômenos aparecem em processos físicos que determinam a exis-
tência dos corpos celestes.
Sabemos que existem apenas quatro forças, ou interações, fundamentais
Observações:
na natureza. Todos os fenômenos físicos que ocorrem na natureza são produ-
zidos por estes quatro tipos de forças, ou interações, fundamentais e cada uma
• não confundir massa com peso: massa é a quantidade de matéria em delas é descrita por uma teoria física. Elas são:
um corpo. Massa é uma grandeza fundamental da física. Peso é a ação
da gravidade sobre um corpo de massa m. Deste modo, o peso de um
corpo na Terra é dado pela massa do corpo multiplicada pela acelera- interação interação interação interação
ção da gravidade na superfície do nosso planeta. gravitacional eletromagnética fraca forte
• o conceito de “força” não está associado apenas a algo externo a um
corpo. Também existem forças atuando no interior de todos os corpos. AÇÃO À DISTÂNCIA E CAMPOS
Terceira Lei de Newton Para que haja uma interação entre corpos é preciso que cada um deles saiba
Também é conhecida como Lei da Ação e Reação. o que está acontecendo, ou o que foi mudado, no outro. É preciso que haja
uma troca de informações entre eles. Por exemplo, um deles se move e, de al-
gum modo, esta informação é levada até o outro corpo que então reage a esta
Quando um corpo A exerce uma força sobre um corpo mudança de acordo com as leis físicas correspondentes.Antigamente os físicos
B, o corpo B exercerá uma força igual e em sentido pensavam que esta informação era instantânea. Isto quer dizer que a propa-
oposto sobre o corpo A. gação da informação se dava com velocidade infinita. Este era, basicamente, o
conceito de ação-à-distância.
Se chamarmos de F AB
a força que um corpo A exerce sobre um corpo B
No entanto, a partir do fato de que existe uma velocidade máxima para os
corpos materiais, que é a velocidade da luz, os cientistas concluíram que esta
então a terceira lei de Newton nos assegura que o corpo B exercerá uma força
informação não podia se propagar com velocidade infinita mas sim com esta
de mesmo valor e de sentido contrário sobre o corpo A, que representamos
por -FBA
.
velocidade máxima. Foi então introduzido o conceito de campo.
O conceito de campo é muito fácil de ser entendido. Segundo a física atual
O sinal negativo caracteriza o sentido contrário que esta força tem em re-
todo corpo cria no espaço à sua volta uma perturbação que é o campo gerado
lação à primeira força.
por alguma propriedade intrínseca que ele possui. Por exemplo, todo corpo
que tem massa gera um campo gravitacional à sua volta, todo corpo que tem
A Terceira Lei de Newton, é escrita como
carga elétrica cria um campo elétrico à sua volta, etc. É este campo que irá
FAB = - FBA
interagir com o campo criado pelo outro corpo de modo que informações
sejam trocadas entre eles.
O conceito de campo é fundamental para a física. O conceito de força, ou
Esta terceira lei, na verdade, nos revela como é conservado o momentum interação, está intimamente associado ao conceito de campo. Todas as intera-
de um corpo. Momentum (também chamado de “momentum linear”) é defi- ções fundamentais se revelam por meio da ação dos campos, por elas gerados,
nido como o produto da massa do corpo pela sua velocidade. sobre outros corpos.
É com base na Terceira Lei de Newton que explicamos porque um foguete Mas, como se dá a interação entre os campos? Para a física moderna um
consegue voar. campo interage com outro por intermédio da troca de partículas chamadas
mediadores. Assim, duas partículas que possuem cargas elétricas criam cam-
AS FORÇAS FUNDAMENTAIS DA NATUREZA pos à sua volta e estes campos interagem por meio da troca de partículas me-
A partir das definições acima das três leis de Newton poderíamos facil-
quarks _
anti-strange
(cada quark existem em três s
“cores” diferentes) charm c
(TOTAL = 36 quarks)
_
anti-charm
c
bottom b
_
anti-bottom
b
top t
_
anti-top
t
fóton
γ
(mediador das interações eletromagnéticas)
W+
mediadores
(mediadores das interações eletrofracas) W-
(TOTAL = 12 mediadores)
Zo
gluons (8 tipos diferentes de
(mediadores das interações fortes) gluons)
bóson de Higgs
• em agosto de 2006 foi publicado que, pela primeira vez, astrônomos Que tipo de matéria seria o componente principal da matéria escura? Sa-
haviam conseguido observar matéria escura separada da matéria or- bemos que uma pequena porção da matéria escura é formada por matéria ba-
dinária. Isso foi conseguido estudando o Bullet Cluster, na verdade riônica, difícil de detectar mas, falando de uma maneira mais ampla, a ciência
dois aglomerados de galáxias vizinhos que colidiram há cerca de 150 desconhece o que é a matéria escura. Muitas propostas surgiram, incluindo
milhões de anos. Durante a colisão os gases quentes interagiram e per- neutrinos ordinários e pesados, novos tipos de partículas elementares tais
maneceram próximos ao centro do aglomerado. como WIMPS e Axions, uma grande quantidade de pequenos corpos astro-
As galáxias individuais e a matéria escura não interagiram e fica- nômicos bariônicos tais como anãs marrons e planetas (que são coletivamente
ram distribuídas longe do centro. A imagem abaixo mostra a distribui- chamados de MACHOs), buracos negros primordiais e até mesmo nuvens de
ção de matéria ordinária (determinada a partir das emissões de raios gás não luminoso.
X dos gases quentes que formam o aglomerado) na cor vermelha e a Algumas soluções ainda mais radicais foram propostas para esse proble-
massa total do aglomerado em azul. ma. Por exemplo, os defensores de algumas teorias de cosmologia de “branes”
• em 2005 astrônomos da Cardiff University descobriram uma galá- propuseram que a matéria existente em outro universo poderia afetar o nosso
xia feita quase inteiramente de matéria escura. Ela está a 50 milhões universo por meio da interação gravitacional.
de anos-luz da Terra, no Aglomerado Virgo, e foi chamada de VIR- As evidências obtidas pela astronomia favorecem atualmente modelos
GOHI21. De modo bastante estranho essa galáxia não parece conter cosmológicos no qual a principal componente da matéria escura são novas
quaisquer estrelas visíveis (ela foi descoberta a partir de observações partículas elementares conhecidas coletivamente como “matéria escura não
em radio frequência do hidrogênio), contém aproximadamente 1000 bariônica”. Isso quer dizer que a matéria escura não seria formada por bárions
vezes mais matéria escura do que hidrogênio e sua massa é cerca de (prótons, nêutrons, etc) mas sim por um outro tipo de matéria que ainda não
1/10 daquela apresentada pela nossa Galáxia. foi detectado em laboratório.
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 4
A Teoria da Gravitação e a nova
visão do conteúdo do universo
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cosmologia
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29
AS CONSEQUÊNCIAS DE UM “UNIVERSO EM
EXPANSÃO”
LEMAÎTRE E SEU “ÁTOMO PRIMORDIAL” George Gamow nasceu no dia 4 de março de 1904 na cidade de Odessa,
Lemaître e na época pertencente ao Império Russo e hoje parte da Ucrânia. Seu nome
Já vimos que em 1922 o matemático russo Alexander Alexandrovich Fried- original era Georgiy Antonovich Gamov.
seu “Átomo mann abriu caminho para a noção de que o Universo teria tido um início ao Gamow iniciou sua formação científica na Universidade de Leningrado
Primordial” propor uma solução cosmológica das equações da teoria relativística da gravi- sob a supervisão do famoso cosmólogo Alexander Friedmann. Ele também es-
tação (ou teoria da relatividade geral) na qual o raio do Universo variava com tudou na Universidade de Göttingen, Alemanha, na época um dos principais
o tempo, ou seja, havia a possibilidade do Universo sofrer uma expansão ou centros científicos do mundo. Mais tarde Gamow trabalhou no Instituto de Fí-
contração. O termo “contração” aponta para um modelo de Universo com um sica Teórica da Universidade de Copenhagen, Dinamarca, e por um pequeno
início. O trabalho de Friedmann, entretanto, teve pouco impacto e suas ideias tempo com o físico neozelandês Ernest Rutherford no Cavendish Laboratory,
seriam novamente apresentadas por outros autores alguns anos mais tarde. em Cambridge, Inglaterra.
Em 1927 o padre católico belga Georges Lemaître publicou na revista cien- Até 1933 Gamow trabalhou na Rússia, quando então fugiu para o ocidente
tífica “Annales de la Société Scientifique de Bruxelles” um artigo com o títu- pedindo asilo político nos Estados Unidos em 1934, naturalizando-se norte
lo “Un Univers homogène de masse constante et de rayon croissant rendant -americano em 1940, passando a usar o nome pelo qual é mais conhecido,
compte de la vitesse radiale des nébuleuses extragalactiques” (Um Universo George Gamow.
homogêneo de massa constante e raio crescente explicando a velocidade radial Durante sua permanência nos Estados Unidos, na George Washington
das nebulosas extragalácticas), no qual apresentava novamente a ideia já pro- University, Gamow produziu importantes artigos científicos em parceria com
posta anteriormente por Friedmann de que o raio do Universo variava com o renomados físicos da época tais como Edward Teller, o pai das bombas de
tempo. Ambos os trabalhos foram muito pouco divulgados e, embora Einstein fissão e fusão dos Estados Unidos, o brasileiro Mario Schönberg e o norte-a-
tivesse conhecimento de ambos, manteve-se fiel à ideia de que o Universo era mericano Ralph Alpher.
estático ou melhor, tinha um raio constante no tempo. Gamow realizou importantes descobertas e trabalhos fundamentais que se
Em 1930 o astrofísico inglês Arthur Eddington publicou na revista cien- espalham por vários campos da física e astrofísica. Deve-se a ele a descoberta
tífica inglesa “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” um longo do decaimento alfa via tunelamento quântico, além de trabalhos fundamen-
comentário sobre o artigo escrito por Lemaître em 1927. Em 1931 o artigo ori- tais sobre o decaimento radioativo dos núcleos atômicos, formação estelar,
ginal de Lemaître foi publicado, de forma resumida, na Inglaterra juntamente nucleossíntese estelar, nucleossíntese no Big Bang, e cosmologia.
com a resposta de Lemaître aos comentários feitos por Eddington. George Gamow morreu no dia 19 de agosto de 1968 em Boulder, Colorado,
Lemaître foi então convidado a participar, em Londres, de um encontro Estados Unidos
que debateria a possível relação existente entre o Universo físico e a espiritu-
alidade (Lemaître era padre). Foi nesse encontro que Lemaître, ao apresentar A COSMOLOGIA DE GEORGE GAMOW
a ideia de que o Universo se expandia, propôs que ele teria começado a partir
de um “átomo primordial”, que teria dado origem a tudo que existe hoje no Um dos mais importantes trabalhos apresentados por George Gamow foi
Universo. desenvolvido em colaboração com seu estudante Ralph Alpher. Esse trabalho,
Logo em seguida a esse encontro, Lemaître publicou na conceituada revista “The Origin of Chemical Elements” foi publicado na revista científica Physical
científica inglesa Nature um artigo (Lemaître, G. “The beginning of the world Review (Phys. Rev., april 1, 1948) e é considerado fundamental no estudo de
from the point of view of quantum theory.”, Nature (9 maio 1931) vol. 127, como podemos explicar os atuais níveis dos elementos químicos hidrogênio e
pág. 706) no qual desenvolvia sua “teoria do átomo primordial”. Nesse artigo hélio no Universo.
Lemaître propunha que um evento de criação do Universo deveria ter ocorri- Poucos físicos tinham interesse nas observações astronômicas durante os
do em um determinado momento. Segundo Lemaître o Universo primordial anos das décadas de 1930 e 1940. A expansão observada do Universo levava
seria muitíssimo denso, algo semelhante a um “grande núcleo atômico radioa- alguns cientistas, tal como Lemaître, a acreditar que o universo poderia ter
tivo”. Esse núcleo cósmico, ou átomo primordial, teria explodido e lançado os tido um começo de existência a partir de uma “sopa” densa e quente de par-
fragmentos que mais tarde se tornaram as galáxias. Em suas próprias palavras tículas onde estavam misturados prótons, nêutrons e elétrons. Mas isso era
“o Ovo Cósmico explodindo no momento da criação”. considerado “esotérico” demais por muitos cientistas da época.
Por esse motivo, a origem cósmica, que havia sido chamada inicialmente Havia, entretanto, um outro problema. As estrelas são constituídas essen-
por Lemaître de “átomo primordial” logo passou a ser conhecida por vários cialmente de hidrogênio (~75%) e de hélio (~25%). Como o material que for-
outros nomes, entre eles “ovo cósmico” e “big squeeze” (“squeeze” significa ma as estrelas (e, obviamente, as galáxias) poderia ter sido criado a partir de
aperto, esmagamento, compressão). reações nucleares que ocorreram nessa “sopa” primordial de partículas? Era
Vemos então que foi o padre católico belga George Lemaître o primeiro necessário ou encontrar o processo físico que deu origem a esses elementos
cientista a propor o que mais tarde viria a ser chamado de “Teoria do Big ou descartar a teoria de uma “sopa” primordial de partículas na origem do
Universo.
Na década de 1940, Gamow se interessou pelo problema. Entender a exis-
tência do hidrogênio a partir da “sopa” primordial de partículas era fácil: os
MAS, PORQUE A POLÊMICA EM TORNO DA “Por que o céu é escuro? Se o número de estrelas é
“TEORIA DO BIG BANG”?
infinito, um disco estelar deveria cobrir todos os trechos
Embora sendo uma teoria estritamente científica, e, portanto, continua- do céu”
mente submetida a testes observacionais que visam ou confirmá-la ou mostrar
que ela é errada, essa teoria mexe com algo que sempre esteve ligado ao meio Chéseaux tentou resolver o problema argumentando que uma pequena di-
religioso ou filosófico: a criação do Universo. minuição na luz emitida pelos corpos celestes seria suficiente para resolver o
Muitos cientistas viram a ideia de um começo para o Universo com grande problema.
desconfiança. Para eles aceitar um começo do espaço e do tempo significa- Ocorre que esta explicação não é correta. Vamos supor que a luz emiti-
va trazer para a física conceitos religiosos que deveriam permanecer fora da da pelas estrelas fosse suficientemente absorvida por algum tipo de matéria
ciência. Mais ainda, a ideia original de uma teoria física que justificava um existente entre elas e nós. Isto necessariamente faria com que essa matéria
começo para o Universo foi apresentada por um padre da Igreja Católica Ro- fosse aquecida e, consequentemente, emitisse luz na mesma taxa na qual ela
mana, Monsenhor Georges Lemaître. Isso levantou suspeitas em vários meios foi absorvida. Isto é garantido pelo princípio de conservação de energia e é
filosóficos, notadamente grupos ateus ou marxistas, que viam com suspeita este processo que faz com que o céu fique brilhante durante o dia pois a luz
esse “casamento” entre um padre e a apresentação de ideias sobre a criação do solar incidente sobre a nossa atmosfera é espalhada pelas moléculas de ar ou
Universo. Como alguns livros religiosos, em particular a Bíblia, apresentava gotas de água ai existentes. O processo descrito por Chéseaux faria o céu ser
ideias sobre a criação do mundo, esses críticos viram a sugestão de Lemaître brilhante o tempo todo.
com suspeita, achando que ela era, meramente, uma tentativa de dar caráter Muitos anos mais tarde o assunto chamou a atenção de Heinrich Wilhelm
científico a postulados religiosos. Matthäus Olbers (1758 - 1840), um astrônomo alemão que, após praticar a
Quando surgiu a chamada “Teoria do Estado Estacionário”, criada pelos medicina durante o dia, dedicava o seu tempo noturno à astronomia. Esse
físicos Herman Bondi e Thomas Gold e mais tarde defendida e ampliada pelo trabalho observacional fez com que ele descobrisse o asteroide Pallas no dia 28
físico inglês Fred Hoyle, e que concorria com a Teoria do Big Bang quanto à de março de 1802 e o asteroide Vesta no dia 29 de março de 1807.
melhor descrição do Universo, críticas desse tipo (mistura da religião com a Olbers colocou o problema da seguinte forma:
física) ficaram ainda mais evidentes. Os defensores da Teoria do Estado Esta-
cionário acusavam abertamente os defensores da Teoria do Big Bang de pro- Por que o céu é escuro à noite? A intensidade da luz
porem uma teoria com o escancarado propósito de se adaptarem a preceitos
religiosos.
diminui com o quadrado da distância ao observador. Se
a distribuição das estrelas é uniforme no espaço, então o
Homogeneidade e Isotropia
Temos agora duas maneiras de identificar propriedades iguais no Universo:
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 5
Os modelos cosmológicos
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 5
Os modelos cosmológicos
Divisão de Atividades
Educacionais - ON/MCTI
35
O QUE É GEOMETRIA?
A GEOMETRIA EUCLIDIANA
• uma dimensão:
a distância entre dois pontos será dada por ds
onde G é a constante gravitacional, M é a massa de um corpo, m é a massa
do outro corpo, e d é a distância entre esses dois corpos.
Chama-se a atenção para o fato de que constante universal da gravitação,
G, não é o mesmo que aceleração da gravidade, g. Esta última varia, por exem-
ds2 = dt2 + dx12 + dx 22 + dx32 ds2 = c2dt2 - dr2 - r2 (dθ2 + sen2 θ dφ2)
Mas isso está errado! Lembre-se que dx1, dx 2 e dx3 são coordenadas de Como dissemos antes, essa é a expressão da distância entre dois pontos em
espaço, respectivamente dx, dy e dz, e, portanto, só podem somadas a outras um espaço-tempo quadri-dimensional em coordenadas esféricas. Ela é inva-
coordenadas com dimensões de espaço. Como dt tem dimensão temporal, nós riante por uma transformação de Lorentz e, portanto, satisfaz às exigências
o multiplicamos pela velocidade da luz para que o primeiro termo do elemen- da teoria da relatividade especial. Essa expressão é o elemento de linha de
to de linha acima também fique com as dimensões de espaço (lembre-se que Minkowski ou métrica de Minkowski em coordenadas esféricas.
espaço = velocidade x tempo). Um outro ponto a considerar é que se você compara a assinatura da métri-
Se chamarmos o termo cdt de dx0, para mantermos a mesma forma das ca Euclidiana em um espaço-tempo quadri-dimensional qualquer com a mé-
expressões usadas para as coordenadas do espaço, ficamos então com trica de Minkowski, nota imediatamente a diferença de sinal que existe entre
elas. A métrica Euclidiana tem assinatura (+ + + +) enquanto que a métrica de
ds2 = dx02 + dx12 + dx 22 + dx32 Minkowski, por satisfazer às transformações de Lorentz, tem assinatura (+ - -
-) ou (- + + +). A uma métrica que possui assinatura semelhante à métrica de
Essa seria a generalização quadri-dimensional da expressão que nos dá a Minkowski ou seja, com sinais diferentes em seus termos não importando se é
distância entre dois pontos muito próximos no espaço Euclidiano. (+ - - -) ou (- + + +), damos o nome de métrica pseudo-euclidiana.
Esse elemento de linha de um espaço-tempo com quatro dimensões está
correto sob o ponto de vista de dimensões físicas (todos os termos tem dimen- O FATOR “GAMA”
sões de comprimento). No entanto, ele não é adequado para descrever o espa-
ço-tempo quadri-dimensional, pois não é invariante por uma transformação Em quase todas as relações matemáticas obtidas por Einstein na sua teoria
de Lorentz! da relatividade restrita surge um termo bastante característico. Ele é:
Foi Minkowski quem mostrou que o “elemento de linha” invariante por
uma transformação de Lorentz para um espaço-tempo com 4 dimensões de-
veria ser escrito como
ou, equivalentemente,
onde c é a velocidade da luz e v é a velocidade de um objeto.
ds2 = - dx02 + dx12 + dx 22 + dx32 Quando a velocidade de um objeto é muito menor do que a velocidade da
luz teremos que a divisão v/c dá um resultado pequeno demais para ser consi-
Com esse elemento de linha podemos falar de uma “geometria do espa- derado. Neste caso, o termo GAMA é aproximadamente igual a 1 e dizemos,
ço-tempo” do mesmo modo como falamos da geometria do espaço somente. então, que estamos em uma situação não relativística ou seja, Newtoniana.
Essa expressão é o elemento de linha ou métrica de um espaço-tempo plano
4-dimensional, também conhecido como espaço-tempo de Minkowski. O conceito de energia relativística
O conjunto de sinais (+ - - -) ou (- + + +) que antecedem os termos que Einstein mostrou que a expressão relativística correta para a energia total
formam as expressões acima é chamado de assinatura da métrica. Ambos os de uma partícula de massa de repouso m0 e momentum p é:
conjuntos de sinais são corretos. Os dois elementos de linha descritos acima,
com as duas assinaturas de métrica diferentes, são válidos para descrever o E2= p2c2 + m02c4
espaço-tempo de Minkowski e esse espaço-tempo plano é onde definimos a
• suponha que estamos estudando uma partícula que se desloca com A contração do espaço
velocidade v diferente de zero. Nesse caso, a equação acima se aplica Considere dois observadores cada um deles em um laboratório de uma es-
sem qualquer problema pois o momentum p é dado pelo produto da paçonave distinta. Nesses laboratórios eles possuem barras de medição. Uma
massa do corpo pela sua velocidade ou seja, p = mv.
As
das espaçonaves está se movendo em relação à outra a uma velocidade bem
próxima à velocidade da luz. A teoria da relatividade especial nos diz que:
Transformações
• e se a partícula estiver em repouso ou seja, tiver velocidade nula? Nesse
caso v = 0 e consequentemente p= mv= 0. Nesse caso o primeiro termo
de Lorentz
da equação é nulo e ela se reduz à relação cada observador verá a barra de medição do outro
observador mais curta do que a sua por um fator gama.
E0= m0c2
A isso se dá o nome de “contração do espaço”.
onde E0 é a energia de repouso da partícula e m0 a massa que a partí-
A dilatação do tempo
cula possui quando está em repouso (v= 0). Note que essa equação nos
Considere dois observadores cada um deles em um laboratório de uma
diz que, mesmo em repouso, todo objeto possui uma energia residual
espaçonave distinta. Em cada laboratório existe relógios para a medição de
não nula.
tempo. Uma das espaçonaves está se movendo em relação à outra a uma velo-
• e se a partícula não tiver massa? No caso em que m= 0 a equação acima
cidade bem próxima à velocidade da luz. A teoria da relatividade especial nos
também se aplica. Só que agora o segundo termo da equação, m02c4,
diz que:
fica igual a zero. Temos então, como expressão final, que
E2= p2c2 + m02c4 Um dos mais importantes trabalhos surgidos nessa época tratavam das
transformações existentes entre dois sistemas de coordenadas que estavam em
que relaciona a energia de repouso e a energia cinética de um corpo fre- movimento. Esse trabalho foi apresentado pelo físico Lorentz e sobre ele Eins-
quentemente é escrita na forma tein se baseou para estabelecer os princípios da relatividade restrita.
relacionando a energia total e massa relativística m do corpo. Durante séculos os físicos falaram de uma geometria aplicada ao espaço
Podemos então resumir as possíveis expressões de energia da seguinte somente. Isso só veio a ser mudado com os trabalhos que levaram ao surgi-
maneira: mento da teoria da relatividade restrita em 1905.
As transformações de Lorentz nos dizem como podemos unir as medições
de espaço com medições de tempo. Foi ele que nos mostrou como podemos
MASSA VELOCIDADE EQUAÇÃO DE ENERGIA
estender as regras da geometria de Euclides, estabelecidas para medições
E2= p2c2 + m02c4 espaciais apenas, de modo a incluir também medições temporais. Em 1905
ou Minkowski mostrou que isso podia ser feito e que era possível falar de uma
v>0
E= mc2 “geometria do espaço-tempo” do mesmo modo como falamos da geometria
m>0 (E é a energia total, m0 é massa de repouso edomespaço
é massa relativística)
somente. As transformações de Lorentz relacionam, desse modo,
E0= m0c2 medições geométricas feitas por observadores inerciais diferentes.
v=0
(E0 é a energia de repouso)Mas a geometria de Minkowski não é realizável na prática porque a força
da gravidade proíbe a existência de observadores inerciais capazes de usar tal
m=0 v>0 E= pc
O CONCEITO DE ESPAÇO-TEMPO É claro que um conceito tão revolucionário como a introdução de quatro
dimensões para descrever os fenômenos físicos relativísticos logo despertou
Definimos espaço-tempo como uma estrutura que combina as três dimen- a curiosidade do mundo científico e dos místicos de plantão. Como sempre
sões do espaço com a dimensão única de tempo. Essa junção nos fornece uma acontece, algumas pessoas, embora sem entender possivelmente uma única li-
descrição única para o espaço e tempo que identificamos com o nome de con- nha dos trabalhos de Einstein e das propostas de Minkowski sobre um assunto
tinuum do espaço-tempo. É bastante claro que a estrutura do espaço-tempo tão técnico, imediatamente se adiantaram e passaram a “explicar” os chama-
é quadri-dimensional. dos “fenômenos sobrenaturais” usando o conceito de “quarta dimensão”. Era
O tratamento do espaço e tempo como sendo duas propriedades físicas que fácil justificar “fantasmas” ou qualquer outra coisa do gênero alegando que
podem ser unificadas foi uma criação do físico Hermann Minkowski logo de- estes pertenciam a uma quarta dimensão e que a teoria da relatividade nada
pois da teoria da relatividade restrita ter sido apresentada por Poincaré e Eins- mais era do que a comprovação matemática de que esses fenômenos realmente
tein em 1905. Minkowski apresentou esse novo e surpreendente conceito em existiam. O termo “quarta dimensão” foi introduzido pelo escritor inglês de
um trabalho publicado em 1908 no qual ele ampliava o trabalho de Einstein ficção científica H. G. Well em 1895 na sua novela “A Máquina do Tempo”.
sobre a teoria da relatividade restrita. Foi Minkowski o primeiro a mostra que Sem querer entrar no mérito da existência ou não de fantasmas, almas do
o conceito de espaço e tempo como uma entidade única ou seja, espaço-tempo, outro mundo, mula sem cabeça, ou qualquer outra coisa, é bom ficar bem
permitia um melhor entendimento dos fenômenos relativísticos. claro que a formulação da teoria da relatividade, restrita ou geral, em quatro
É importante notar que na teoria da relatividade restrita assim como na dimensões é apenas um belíssimo artifício matemático usado para melhor
teoria da relatividade geral a descrição do espaço e do tempo por meio de explicar fenômenos relativísticos. Talvez você não saiba, mas outras teorias fí-
uma única estrutura, o espaço-tempo, é absolutamente fundamental. Não é sicas descrevem seus fenômenos em espaços com mais de três dimensões. Por
possível separar espaço e tempo quando analisamos fenômenos físicos nessas exemplo, a teoria que trata do movimento de fluidos, chamada teoria cinética
teorias, como fazíamos na teoria Galileana e Newtoniana, e um descuido pode dos gases, trabalha nos chamados espaços de fase que possuem seis dimen-
nos levar a interpretações absolutamente erradas. sões. Como dito acima a teoria de Kaluza-Klein descreve o universo em cinco
Poderíamos perguntar de que modo unificar grandezas com propriedades dimensões. As novas teorias de superstrings precisam de mais de 10 dimen-
tão distintas. Sabemos que tempo é medido em segundos, horas, etc enquan- sões para descrever sua estrutura matemática. Nenhuma delas traz espíritos
to que espaço ou seja, comprimento, é medido em metros, quilômetros, etc. do outro mundo para o nosso. O que elas nos trazem é uma belíssima, mas
Como fazer essa união matematicamente? Isso é feito multiplicando-se o ter- muito difícil, matemática para a mesa de trabalho.
mo associado ao tempo pela velocidade da luz, o que dá uma medida de espaço Para aqueles que acreditam nos chamados “fenômenos paranormais”
uma vez que espaço= velocidade x tempo. certamente não será o estudo da teoria da relatividade que irá comprovar
Para a física, o espaço-tempo é a arena onde todos os eventos físicos acon- qualquer coisa nessa área. É melhor deixar a teoria relativística quieta no seu
tecem. No entanto, cabe ressaltar que existem vários tipos de espaços-tempo e canto, tratando apenas dos fenômenos ou com velocidades próximas à da luz
fenômenos diferentes que podem ocorrer em diferentes espaços-tempo. ou em espaços-tempo com curvatura.
Tanto a teoria da relatividade restrita como a teoria da relatividade geral
trabalham com um espaço-tempo que possui quatro dimensões, três espa- OS ELEMENTOS BÁSICOS DO ESPAÇO-TEMPO
ciais e uma temporal. Por que é assim e não, por exemplo, duas dimensões
espaciais e duas temporais? Ocorre que a nossa percepção exige que tenhamos Os elementos básicos do espaço-tempo são os eventos. Um evento é qual-
três dimensões espaciais para descrever a posição de um corpo no espaço. O quer fenômeno que ocorre no espaço-tempo. Uma estrela explodir em uma
ds2 = c2dt2 - dx 2 - dy2 - dz2 Sempre que, em uma das formas típicas da equação de uma hipérbole,
substituirmos o termo constante por zero a nova equação nos mostrará que a
Vamos considerar inicialmente o caso em que c2dt2 > (dx 2 + dy2 + dz2). Isso figura vai se reduzir a um par de retas. Essas retas são chamadas de assíntotas
significa que ds2 vai ter um valor positivo ou seja ds2 > 0. Como a parte que da hipérbole. Assim, as assíntotas da hipérbole
envolve tempo, que chamaremos aqui de “parte temporal”, é maior do que a
“parte espacial” dizemos que o elemento de linha é do tipo-tempo. b2x 2 - a2y2 = c2
Vimos anteriormente que, num espaço tridimensional (dx 2 + dy2 + dz2)
corresponde ao comprimento de um vetor x qualquer. Podemos então escrever são as retas b2x 2 - a2y2 = 0, ou seja
que c2dt2 > dx 2, onde dx 2 representa dx 2 + dy2 + dz2. Consequentemente c > dx/
dt. Como dx/dt nos diz de que modo a coordenada espacial varia no tempo, bx + ay = 0
isso representa velocidade (lembre que espaço = velocidade x tempo e então bx - ay = 0
espaço/tempo = velocidade). Daí, para um intervalo tipo-tempo, c > v. Esse
importante resultado nos diz que a região do espaço-tempo onde o elemento duas retas que passam pela origem e formam os ângulos - b/a e b/a com o
de linha é tipo-tempo a velocidade da luz, c, é maior do que aquela desenvol- eixo dos x.
vida por qualquer outro objeto físico. Uma das propriedades das hipérboles é que seus ramos se aproximam in-
Considere agora o caso em que c2dt2 < (dx 2 + dy2 + dz2). Isso significa que definidamente de suas assíntotas ao mesmo tempo em que o ponto que des-
ds2 vai ter um valor negativo ou seja ds2 < 0. Como a parte que envolve coorde- creve a curva se afasta para o infinito. Além disso, duas hipérboles conjugadas
nadas espaciais, a “parte espacial”, é maior do que a “parte temporal” dizemos têm as mesmas assíntotas como vemos na figura acima.
que o elemento de linha é do tipo-espaço. Uma outra propriedade é que quando os eixos de uma hipérbole são iguais
Considerando o que foi dito no caso anterior, temos que c2dt2 < dx 2. Con- ou seja, a= b, diz-se que a hipérbole é equilátera. Nesse caso suas assíntotas
sequentemente c < dx/dt. Então, para um intervalo tipo-espaço, c < v. Esse
Campo
junto com três tipos de operações
Um campo F é um conjunto de elementos fo, f1, f2, f3,... sobre os quais defi-
nimos duas operações, uma adição (+) e uma multiplicação escalar (.), de tal
modo que
268 Módulo 1 · A história da Cosmologia Cosmologia - Da origem ao fim do universo 269
• adição vetorial (+) definem a semi-reta pelo símbolo R1. O número 1 está indicando que a semi
-reta possui uma única dimensão. E o plano? Se deslocarmos uma semi-reta,
• multiplicação escalar (.)
desde que não seja ao longo de sua direção, formaremos um semi-plano. Os
• multiplicação vetorial (X) pontos nesse semi-plano são identificados por conjuntos de pares de pontos,
do tipo (x,y) onde x e y são números reais. Ao semi-plano os matemáticos
tal que as seguintes propriedades ocorrem dão o nome de R 2 por ser definido em duas dimensões. Como já vimos, a
matemática não está preocupada com objetos e sim com números. Além dis-
• todas as propriedades de espaço vetorial são obedecidas e so a matemática não permanece limitada pelo número de dimensões que nós
• v1, v2 pertencem a V então v1 X v2 também pertence a V percebemos ou seja, 3 dimensões. A matemática sempre procura tornar os
seus resultados os mais gerais possíveis e, portanto, procura estudar espaços
• (v1 + v2) X v3 = v1 X v3 + v2 X v3 com dimensão qualquer. A esses espaços que se caracterizam por possuir um
• v1 X (v2 + v3) = v1 X v2 + v1 X v3 número qualquer de dimensões os matemáticos dão o nome de espaço n-di-
mensionais e os chamam de R n. Note que, num espaço n-dimensional cada
Diferentes variedades de álgebras podem ser obtidas dependendo de quais ponto será representado por conjuntos de n números reais, algo como (x1, x 2,
postulados adicionais são também satisfeitos x3, x4, ....xn).
Um outro conceito importante que precisamos conhecer é o de conjunto
• (v1 X v2) X v3 = v1 X (v2 X v3) aberto. Se considerarmos uma semi-reta podemos definir um intervalo aber-
to (a,b) como sendo o conjunto de todos os pontos x (na verdade, números
• v1 X 1 = v1
reais) tais que a < x < b. Veja que os pontos extremos não são considerados
• v1 X v2 = ± v2 X v1 e por esse motivo o intervalo é chamado de “aberto”. Um conjunto aberto é
• v1 X (v2 X v3) = (v1 X v2) X v3 + v2 X (v1 X v3) definido como sendo qualquer união de intervalos abertos. Qualquer região
de um espaço limitada por uma curva fechada, mas excluindo pontos situados
sobre essa curva, é um conjunto aberto. A união de conjuntos abertos também
Resumindo... é um conjunto aberto. O conjunto vazio, ou seja aquele que não possui elemen-
Pelas definições mostradas acima vemos que as estruturas algébricas têm tos, é definido como sendo um conjunto aberto.
sua complexidade aumentada à medida que vamos de conjuntos para álgebras. Objetos com buracos podem ser classificados topologicamente como:
A estrutura seria como abaixo:
k = 8 π G/ c4
Como estamos trabalhando em um espaço-tempo quadri-dimensional, espessas ainda seríamos capazes de descobrir sua rotação usando o pêndulo
cada um dos índices desses tensores varia de 0 a 3. Isso faz com que tenha- de Foucault. Um pêndulo no pólo norte da Terra gira seu plano gradualmen-
mos um conjunto de 256 componentes do tensor de Riemann-Christoffel para te, em relação à Terra, uma vez que seu plano é mantido fixo em relação às
calcular. Felizmente este tensor possui simetrias que reduzem bastante esse estrelas distantes. Se nenhuma outra estrela existisse no Universo, além da
número. No final, após utilizarmos os recursos dessas simetrias, ficamos com Terra, de acordo com o princípio de Mach o plano do pêndulo permaneceria
apenas 20 componentes independentes para calcular. constante em relação à Terra. Por conseguinte de algum modo a matéria dis-
conhecendo as componentes do tensor de Riemann-Christoffel, é fácil cal- tante no Universo tem consequências que dizem respeito ao comportamento
cular o Tensor de Ricci, Rαμ = R λαλμ. Esse tensor é dado por da matéria em torno de nós. Einstein tentou incorporar este princípio em sua
depois disso só falta calcular o escala de curvatura R = Rαμ gαμ teoria da relatividade geral.
Agora é só substituir esses termos organizadamente montando os sistemas O princípio de Mach e sua implicação de que a inércia não é uma proprie-
de equações de campo de Einstein. Bastante difícil não acha? Brincadeira! dade intrínseca da matéria, mas é devida ao fundo de estrelas distantes, rece-
Antigamente você tinha que fazer isso na ponta do lápis e um pequeno erro beu uma recepção mista no mundo da física teórica. Alguns físicos tomaram
no início dos cálculos se propagava em cascata, uma vez que todos os termos as ideias com certas restrições argumentando que elas estão todas baseadas
seguintes, por estarem vinculados pelo cálculo, possivelmente também esta- em uma coincidência de observações. Outros físicos, incluindo Einstein, fica-
vam errados. Era apagar e começar tudo de novo. Hoje existem programas de ram impressionados pelo princípio de Mach e tentaram incorporá-lo no resto
computador que fazem todos esses cálculos em apenas alguns segundos, desde da física.
que você saiba montar os sistemas de equações. Moleza! Einstein tinha esperança que sua teoria da relatividade geral incorporasse
Tudo isso dito acima é apenas a preparação para o verdadeiro trabalho do o princípio de Mach. Estabelecendo uma íntima conexão entre a geometria do
pesquisador que começa após terem sido montadas as equações de campo. espaço-tempo e as propriedades físicas da matéria e energia, Einstein obteve
Ocorre que essas são equações diferenciais parciais de segunda ordem o que pareceu ser um passo preliminar na direção dos conceitos Machianos.
não lineares elíptica-hiperbólica acopladas e isso pode ser traduzido como Entretanto, investigações posteriores provaram o contrário.
“são muito difíceis de resolver”! Mesmo assim o trabalho tem que ser feito e o Uma explicita demonstração de que a relatividade geral não incorpora o
físico relativista se debruça sobre elas procurando alcançar o seu objetivo final princípio de Mach foi mostrada pelo físico alemão Kurt Gödel em 1949. A
que é resolver este sistema de equações diferenciais para uma métrica dada partir das equações de Einstein ele construiu um modelo do Universo no qual
que descreve um determinado espaço-tempo. o referencial inercial local não era o mesmo que o referencial da matéria dis-
tante que não está em rotação. O modelo de Gödel de um Universo em rotação
AS EQUAÇÕES DE CAMPO DE EINSTEIN E O obtido a partir das equações de Einstein mostram que o princípio de Mach
PRINCÍPIO DE MACH não está inteiramente incorporado na teoria da relatividade geral.
As equações de campo de Einstein constituem uma aplicação especial do AS SOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES DE CAMPO DE
chamado “princípio de Mach”. De acordo com esse princípio as propriedades EINSTEIN
inerciais da matéria são produzidas pela distribuição da matéria existente no
resto do Universo. Se o tensor energia-matéria Tμν das equações de campo de Einstein é igual a
Ernst Mach (1838-1916) foi um filósofo e cientista austríaco do século XIX zero em todos os lugares ou seja, se não há matéria no universo, estas equações
que, em 1893, postulou esse princípio. são escritas como
A observação básica feita por Ernst Mach era que a velocidade e a acelera-
ção de uma partícula não teria significado se a partícula estivesse sozinha no Gμν = 0
Universo. Somente podemos falar de acelerações em relação a outros corpos
do mesmo modo que falamos de velocidades em relação a outros corpos. O Uma das possíveis soluções desta equação é o espaço-tempo “plano” de
conceito de velocidade relativa conduziu à relatividade restrita. O conceito de Minkowski. Isso não é surpresa, pois se é a matéria que provoca a curvatura do
aceleração relativa é o importante ingrediente do princípio de Mach que levou espaço-tempo e, no caso considerado não existe matéria, a curvatura só pode
Einstein a desenvolver sua teoria geral da relatividade. ser zero. Isto obriga que o tensor de Einstein Gμν que está no lado esquerdo das
Vamos tomar como exemplo a rotação da Terra em torno do seu eixo. A
Terra gira, não em relação a qualquer espaço absoluto, mas em relação às estre-
Esta “métrica de Schwarzschild” ou “elemento de linha de Schwarzschild” A expressão para energia apresentada acima também pode ser escrita
é que nos trouxe o conceito de buraco negro. O termo 1 - 2GM/c2r tem um como E = mc2, onde m é a massa relativística da partícula. Ela nos mostra que
comportamento estranho quando 2GM/c2 = r pois, neste caso, ele é igual a matéria e energia são indistinguíveis no que diz respeito às suas propriedades
zero. Como este termo está no denominador de uma fração ficamos com 1 inerciais.
dividido por zero que sabemos tender para infinito. Vemos então que há um Como consequência disso tanto podemos falar de massa como de energia,
limite em 2GM/c2 = r. Esse limite é o chamado “raio de Schwzarzschild” e o que justifica parcialmente o nome do tensor energia-momentum. Por outro
marca o chamado de “horizonte de eventos” de um buraco negro. lado, os corpos no universo estão em movimento e, portanto, possuem uma
dinâmica que pode ser caracterizada pelo seu momentum, uma vez que esse
conceito está associado à velocidade dos corpos.
Além disso, devemos ter em mente que ao tratarmos com o espaço que não
está vazio temos que reunir todo o conteúdo de energia do espaço. Isso nos
obriga a considerar todas as possíveis formas de energia ou seja, matéria, ener-
gia radiante, energia elástica, etc., no tensor energia-momentum. No entanto,
Capítulo 40 – O conteúdo de matéria do Universo este tensor não inclui a energia gravitacional. Lembre-se que ela é a respon-
sável pela curvatura do espaço-tempo e, portanto, está sendo considerada no
O CONTEÚDO DE MATÉRIA DO UNIVERSO lado esquerdo da equação de Einstein.
A expressão do tensor energia-momentum é dada pela teoria da relativi-
Vimos que a equação fundamental da teoria relativística da gravitação é dade especial. Para isso imaginamos que o universo está preenchido por um
fluido de partículas. Cada uma dessa partículas é um aglomerado de galáxias.
(geometria do espaço-tempo) = (conteúdo de energia do espaço-tempo) Para tratarmos com um problema tão complicado é necessário fazer algu-
mas simplificações. No caso do tensor de energia-momentum vamos supor
Vimos que o Universo possui um complexo conjunto de objetos que vão que as partículas que compõem esse fluido não interagem. Isso quer dizer que
hierarquicamente desde estruturas bem pequenas, tais como os asteroides, até não há colisões entre elas, o que simplifica enormemente nosso trabalho. A um
estruturas gigantescas como os superaglomerados de galáxias. Como a cos- fluido com essa característica damos o nome de fluido perfeito.
mologia trata essa matéria? Cada uma dessas partículas desloca-se no espaço ao longo do tempo com
A equação da gravitação relativística vale em qualquer tipo de sistema de uma velocidade característica. Como estamos trabalhando no espaço-tempo
coordenadas sendo, portanto, uma equação escrita na forma tensorial. O lado descrito por quatro dimensões, nossa velocidade também será uma grandeza
esquerdo é o chamado tensor de Einstein, que envolve a estrutura geométrica quadri-dimensional que representaremos por uμ. É claro que o índice μ varia
do espaço-tempo, enquanto que o lado direito é dado por uma expressão geral, de 0 a 3 pois estamos tratando com um espaço quadri-dimensional. Nova-
tensorial, que chamamos de tensor energia-momentum. mente chama-se a atenção para o fato de que μ é apenas um índice e seus “va-
lores” 0,1,2,3 estão associados às correspondentes coordenadas que estamos
usando. Temos então um vetor velocidade descrito pelas coordenadas uμ = (uo,
geometria do espaço-tempo conteúdo de energia-matéria u1, u2, u3) onde uo é a componente da velocidade ao longo do eixo temporal e
=
(tensor de Einstein) (tensor energia-momentum)
u1, u2, u3 são as componentes espaciais da velocidade.
Se estamos pensando no conteúdo de matéria do universo como um fluido,
Por que tensor energia-momentum? Na teoria relativística não podemos temos que levar em conta as grandezas que os descrevem. Um fluido possui
falar simplesmente de densidade de matéria no espaço. Precisamos incluir a densidade e então definimos que o fluido que permeia o Universo tem uma
Ensino a Distância
vermos o conteúdo de matéria existente no universo por meio de um fluido
perfeito, ou seja, considerando que os aglomerados de galáxias são partículas
que não interagem, o tensor energia-momento será dado por:
cosmologia
Tμν = (ρ + p/c2) uμ uν - (p/c2) gμν
2015
por exemplo, uma nuvem de poeira, um gás molecular, um gás de fótons, etc.
No nosso caso, cosmologia, as partículas que formam o fluido perfeito são os
aglomerados de galáxias. Estamos considerando os aglomerados de galáxias
como sendo as moléculas de um gás que preenche o espaço. Isso não é estra-
Da origem ao fim do universo
nho! Lembramos que qualquer aglomerado de galáxias é muitíssimo menor
que o tamanho do universo! Veremos mais tarde que na época em que as galá-
xias não existiam, quando o universo era muito condensado, ele era preenchi-
do por um gás de fótons, que também se comporta como um fluido perfeito.
Módulo 6
Conceitos fundamentais sobre a
estrutura da matéria
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 6
Conceitos fundamentais sobre a
estrutura da matéria
Divisão de Atividades
Educacionais - ON/MCTI
42
AS SOLUÇÕES COSMOLÓGICAS DAS EQUAÇÕES DE
EINSTEIN
Veja que a expressão acima é uma consequência direta da expansão uni- ou então
forme do universo.
Definimos “período de Hubble” como sendo a idade que o universo teria Temos que, substituindo isso na expressão da aceleração de recessão,
atingido se ele tivesse se expandido a uma taxa constante R igual à sua taxa
atual de expansão que chamaremos de Ro.
Vemos que o período de Hubble é uma medida de tempo, uma idade, e é
dada por
ou seja
CONSTANTE DE
TEM UMA ANIMAÇÃO PARÂMETRO DE DESACELERAÇÃO GEOMETRIA
CURVATURA
O universo de de Sitter tem um passado infinito e um futuro infinito e ele q > 1/2 esférico k = + 1 (fechado)
acelera a uma taxa constante de q = -1, como mostra a figura. q = 1/2 plano k = 0 (aberto)
O universo de Einstein, que contém matéria mas não tem movimento, e
o universo de de Sitter, que tem movimento mas não tem matéria, foram os q < 1/2 hiperbólico k = - 1 (aberto)
primeiros modelos cosmológicos propostos. A imagem abaixo compara o uni-
verso de Einstein com o proposto por de Sitter. Na cosmologia que surge a partir das equações relativísticas da gravitação
a curvatura do espaço é definida pela expressão
TEM UMA ANIMAÇÃO
K = k/R2
O UNIVERSO DE FRIEDMAN
Nessa equação k é a conhecida constante de curvatura e R é o fator de
Alexander Friedmann nasceu na Rússia em 1888. Embora sua família te- escala do universo.
O significado desses três valores diferentes é mostrado na tabela abaixo. TEM UMA ANIMAÇÃO
Nesse modelo de universo de Friedmann o universo em expansão
CONSTANTE DE ÓRBITAS NO ESPAÇO é hiperbólico,
ESPAÇO RELATIVÍSTICO infinito e não limitado. Ele se expande continuamente e
CURVATURA K NEWTONIANO dura por um período infinito de tempo no futuro.
EM EXPANSÃO
+1 elípticas Esse modelo de universo foi descoberto por Friedmann em 1924 e
esférico
foi investigado em 1932 pelo cosmólogo alemão Otto Heckmann.
0 parabólicas plano
Pensando em uma descrição Newtoniana do universo, esse modelo
-1 hiperbólicas hiperbólico
de Friedmann corresponderia a uma bola que se expande continua-
mente. Nesse universo as partículas em queda livre seguem órbitas
Vejamos alguns detalhes desses modelos de Friedman. hiperbólicas e têm velocidades maiores do que suas velocidades de
escape.
• k=0
As soluções de Friedman também nos permitem concluir algo sobre a pos-
TEM UMA ANIMAÇÃO sível idade do universo. Temos que:
Neste tipo de universo o espaço-tempo que se expande é plano, in-
finito e não limitado. Esse universo se expande continuamente e é do
PARÂMETRO DE DESACELERAÇÃO IDADE
tipo “grande explosão” - oscilante.
q > 1/2 menor do que 2/3 do período de Hubble
Como podemos facilmente notar esse modelo de universo dura um
período infinito de tempo no futuro. q = 1/2 igual a 2/3 do período de Hubble
O modelo de universo que estamos descrevendo é o mais simples q < 1/2 maior do que 2/3 do período de Hubble
de todos os universos conhecidos mas não foi considerado nem por
Friedmann nem por Lemaître sendo primeiro proposto por Einstein TEM UMA ANIMAÇÃO
e de Sitter em 1932. Mesmo assim ele é conhecido ou como universo
de Friedmann de curvatura zero ou universo de Einstein - de Sitter. Note que, para as soluções obtidas por Friedman consideradas com o mes-
mo H mas q diferente, quanto mais alto é o valor de q mais curta é a idade do
Pensando em uma descrição Newtoniana do universo, esse modelo
universo.
de Friedmann corresponderia a uma bola que se expande continua-
As soluções de Friedman também nos dizem algo sobre a densidade do
mente. Nesse universo as partículas em queda livre seguem órbitas
universo. Vemos que:
parabólicas e têm velocidades iguais às suas velocidades de escape.
• k=+1
PARÂMETRO DE DESACELERAÇÃO DENSIDADE
TEM UMA ANIMAÇÃO
q > 1/2 maior que a densidade crítica
Nesse tipo de universo o espaço-tempo que se expande é esférico,
q = 1/2 igual à densidade crítica
finito e não limitado.
q < 1/2 menor que a densidade crítica
Esse universo se expande até um tamanho máximo e então colapsa.
Ele é, portanto, do tipo “grande explosão” - “grande explosão” (“big
bang” - “big bang”). Portanto esse universo existe somente por um pe- O UNIVERSO DE LEMAÎTRE
ríodo finito de tempo.
George Lemaître nasceu em 1894 e foi ordenado padre em 1922. Em 1927,
Esse modelo de universo foi descoberto por Alexander Friedmann
no mesmo ano em que obteve seu Ph.D pelo Massachusetts Institute of Tech-
em 1922 e posteriormente redescoberto pelo abade francês Georges
nology nos Estados Unidos, Lemaître publicou seu principal trabalho sobre a
Lemaître em 1927.
expansão do universo.
Pensando em uma descrição Newtoniana do universo, esse modelo Como já dissemos, Lemaître redescobriu as equações cosmológicas que
de Friedmann corresponderia a uma bola que se expande e em seguida haviam sido desenvolvidas anteriormente por Friedmann.
colapsa. Nesse universo as partículas em queda livre seguem órbitas No meio da discussão sobre o significado e o mérito dos universos de Eins-
tein e de de Sitter, o trabalho de Lemaître não foi notado até que o físico inglês
Arthur Eddington chamou a atenção para ele, três anos mais tarde, e fez com
que ele fosse traduzido para o inglês.
Lemaître foi o primeiro a advogar a existência de um estado inicial de alta
densidade, que ele chamou de “átomo primitivo”. Por esse motivo ele é consi-
Os outros cinco possíveis modelos são abandonados pelo fato de que eles
Ensino a Distância
não prevêm períodos de expansão. São eles:
cosmologia
Classificação dinâmica
2015
valor dessa constante de curvatura k a constante cosmológica Λ pode ter dois
valores específicos significantes, podendo ser igual a zero ou igual ao valor
proposto por Einstein, ΛE. Além disso a constante cosmológica Λ pode ter três
intervalos significantes de valores podendo ser menor que zero, maior do que
Da origem ao fim do universo
zero, porém menor do que o valor de Einstein ΛE, e maior do que o valor de
Einstein ΛE. Temos então 15 possíveis classes de modelos cosmológicos.
Tirando o caso óbvio quando Λ = 0, nos casos quando Λ é igual ao valor de
Einstein ΛE, ou está no intervalo em que é maior do que zero e menor do que
o valor de Einstein ΛE, ou então é maior do que o valor de Einstein ΛE, a força
Λ é repulsiva e se opõe à gravidade. No caso em que Λ é menor do que zero, a
força Λ é atrativa e aumenta a gravidade.
No entanto quando Λ é igual ao valor de Einstein ΛE, ou maior do que
zero e menor do que o valor de Einstein ΛE, ou então é maior do que o valor
de Einstein ΛE, nos casos em que k = 0 ou k = -1 eles são dinamicamente
equivalentes.
Ficamos então com apenas 11 classes distintas:
Note que nem todas as descrições cinemáticas são possíveis de acordo com
o ESQUEMA DE CLASSIFICAÇÃO DINÂMICO MOSTRADO
ACIMA.
Módulo 7
A história térmica
do Universo
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 7
A história térmica
do Universo
Divisão de Atividades
Educacionais - ON/MCTI
45
A HISTÓRIA TÉRMICA DO UNIVERSO
• não houve explosão nenhuma, pelo menos no sentido usual que damos
a esse termo.
• ninguém poderia assistir à criação do universo por ser parte integran-
te dele, estar sendo formado ao mesmo tempo que ele. Em linguagem
início da ERA GUT 10 -43 segundos 1032 1019 GeV • nêutrons ligados em
núcleos formação de
Transição de fase da GUT: inflação, de- energia
10 -35 segundos 1027 1014-16 GeV • prótons e nêutrons for-
feitos topológicos; Início da ERA QUARK mam gás
~ 3 minutos (=
~ 0,1 MeV
Transição Eletrofraca Início da ERA 180 segundos) • não existem pares elé-
10 -10 segundos 1015 300 GeV a matéria
HÁDRON tron-pósitron
“conhecida” é
Transição Quark-Hádron: quebra de • pares elétron-pósitron principalmente os “três
simetrial chiral e confinamento de cor 10 -5 segundos 100-300 MeV em equilíbrio com fótons leptônica mas primeiros
(formação de bárions e mésons) e prótons há evidência da minutos”
~ 15 segundos ~ 0,3 MeV
• os neutrinos desacoplam existência de
Início da ERA LÉPTON 1013 10 matéria “escura”
de outras formas de
Desacoplamento do neutrino Início da matéria
1 segundo 1010 10 -3
ERA FÓTON-PLASMA • neutrinos em equilíbrio
Aniquilação elétron-pósitron 4 segundos 5 x 10 -4 com a matéria
~ 1 segundo ~ 1 MeV • não existem hádrons ex-
NUCLEOSSÍNTESE do Big Bang: ori- ceto prótons e nêutrons
10 -2 segundos a 102
gem do He4, He3, Deutério e Lítio (física 10 a 0,1 MeV
segundos
nuclear)
~ 10-3 segundo ~ 30 MeV • hádrons instáveis
Igualdade matéria-radiação Início da
5 x 10 segundos
11
10 5
10 -9
LIMITE DA FÍSICA “CONVENCIONAL”
ERA DE MATÉRIA
Recombinação do Hidrogênio (íons e ~ 5 x 10-5 segundo ~ 150 MeV os hádrons formam gás
elétrons se combinam para formar áto- transição de fase hadrônica (grande diminuição de energia e densidade de entropia)
mos: física atômica) 1013 segundos 3000 3 x 10 -10
Desacoplamento entre matéria e radia-
ção (fóton)
Formação de estruturas não lineares 1017 segundos 3 6 x 10 -13
A primeira conclusão que podemos tirar da radiação de fundo cósmica é Como a física consegue explicar o começo do universo? Na verdade a física
que o universo primordial deve ter sido muito quente. O universo se expande que conhecemos hoje não consegue. Quando voltamos no tempo, na direção
e isso nos diz que a temperatura da radiação no universo está sempre caindo. daquilo que teria sido o chamado Big Bang, deparamos com uma barreira ao
Portanto, quanto mais primitivo for o instante cósmico considerado, mais alta nosso conhecimento, até agora intransponível, e que chamamos de era Plan-
deve ter sido sua temperatura. ck. O mais importante é que essa barreira não será superada apenas aprofun-
A temperatura da radiação é inversamente proporcional ao fator de escala dando o que já sabemos de física. Na verdade precisamos de uma nova teoria
do universo ou seja física para descrever o que deve ter acontecido nesses primeiros momentos do
universo.
Tr proporcional 1/R Ocorre que à medida que vamos para dimensões muito pequenas, o domí-
nio da física quântica fica estabelecido. Os conceitos de tempo e de espaço não
Veja que quando R é muito pequeno, isto é, no universo primordial, Tr têm mais os significados normais que nos são dados pela física clássica. Nessas
pode ser muito alta. condições, a Teoria Relativística da Gravitação não pode ser usada: ela perten-
Deve ser enfatizado que Tr é somente a temperatura da componente de ce ao domínio da física clássica ou seja, ela não descreve os processos quânti-
radiação. Então, um Tr alto não é equivalente à alta temperatura do universo cos. Precisamos de uma teoria que descreva os fenômenos gravitacionais que
inteiro. ocorrem dentro do domínio quântico. Precisamos de uma Teoria Quântica da
Cálculos nos mostram que quando a temperatura da radiação era mais Gravitação e esta ainda não é conhecida. Várias tentativas têm sido feitas para
alta do que 300 K, o universo estava preenchido principalmente com radiação, desenvolver uma teoria desse tipo, mas os princípios envolvidos são bastante
com partículas salpicadas aqui e ali. Este período é chamado de era radiativa complexos.
do universo. Há ainda um outro problema: para descrever esses momentos iniciais do
Durante essa fase radiativa não existiam estrelas. Essas foram formadas universo é necessário que as interações fundamentais que conhecemos este-
quando as partículas se gruparam por meio de atração gravitacional mútua. jam unificadas em uma única teoria. Por interações fundamentais queremos
A ação da radiação é “soprar” estas aglomerações de matéria, impedindo que dizer as forças que atuam na natureza, no nosso dia-a-dia, e são as responsá-
elas se formem. Durante a era de radiação o seu vento era muito mais forte do veis pelos diversos fenômenos que ocorrem ao nosso redor. Para descrever os
que a gravitação entre as partículas e, dessa maneira, ela conseguia impedir fenômenos eletromagnéticos temos a eletrodinâmica quântica. Os processos
qualquer acumulação de matéria. que ocorrem no interior da matéria, no núcleo dos átomos, são descritos pela
Desse modo, na época quando Tr > 3000 K, as várias partículas materiais cromodinâmica quântica, enquanto que os processos de emissão radioativa,
do universo estavam quase que uniformemente distribuídas no espaço, sem responsáveis pela transmutação de alguns elementos químicos, são produzidos
acumulações, ou aglomerações e sem formar de modo algum estruturas pela chamada interação fraca. A unificação das teorias eletromagnética e fraca
complicadas. deu origem à chamada teoria eletrofraca ou teoria de Glashow - Weinberg -
Salam. Procura-se hoje, e até agora não foi achada, uma teoria que englobe os
Os hádrons devem ser agregados em um fluido contínuo e denso formado ERA DE NUCLEOSSÍNTESE
de quarks, antiquarks e gluons chamado de “plasma quark-gluon”.
A nucleossíntese primordial
Podemos obter plasma quark-gluon de duas maneiras: O problema da abundância do elemento químico hélio no universo só é
solucionado na cosmologia.
• Comprimindo a matéria nuclear por um fator 20, teremos uma densi- De acordo com a tabela cronológica da história térmica do universo que
dade de quark de ~ 20 x 3 x 0,17 fm-3 ~ 10 fm-3 vimos anteriormente, o intervalo entre as idades cósmicas de 1 segundo e 100
• Aquecendo matéria a T ~ 500 MeV ~6 x 1012 K segundos é aquele no qual a escala de energia coincide com aquela do pro-
cesso nuclear. Este é outro meio ambiente adequado para a nucleossíntese. A
Um gás de pion ideal teria ~ 6 pions/fm3 ou seja, uma densidade quark-an- nucleossíntese que ocorre durante estes dois ou três minutos é chamada de
tiquark de ~ 12 fm-3. nucleossíntese primordial.
Sob tais condições a existência do plasma quark-gluon seria inevitável. De acordo com os três critérios dados anteriormente, quando a idade cós-
mica t ~ 1 segundo, a temperatura cósmica T ~ 1010 K, a energia kT ~ 1 MeV,
ERA LEPTÔNICA o universo tem grandes quantidades de elétrons e pósitrons, porque a massa
de repouso deles é mec2 ~ 0,5 MeV. Nesse instante não pode haver muitos nêu-
Imediatamente precedendo a era de radiação, existe o que é frequentemen- trons (n) ou prótons (p) porque a massa de repouso deles é mpc2 aproximada-
te chamado de era leptônica. Este é o período situado entre 7 x 10-5 segundos, mente igual 1 GeV. Em um meio ambiente desse tipo, nenhum núcleo atômico
quando a temperatura era de cerca de 1,6 x 1012 K, e 5 segundos, quando a poderia também existir porque a temperatura é tão alta que todos os núcleos
temperatura era de 6 x 109 K. seriam separados em nêutrons e prótons, do mesmo modo como uma alta
Podemos então dizer que a era leptônica começa quando o universo tem temperatura ionizará todos os átomos em elétrons e núcleos.
1/10.000 de segundo de idade, quando a temperatura é de 1 trilhão de graus e Embora nêutrons e prótons sejam poucos em número e colisões diretas
possui uma densidade de 1.000 toneladas para um volume semelhante a um entre eles não ocorram facilmente, os seguintes processos acontecem frequen-
dedal. Este período dura até o começo da era de radiação, quando o universo temente por causa do grande número de elétrons e pósitrons. O efeito desses
tem 1 segundo de idade e uma temperatura de 10 bilhões de graus. processos faz o número de nêutrons e prótons alcançarem equilíbrio térmico.
Na era leptônica a temperatura é bastante alta para permitir a produção de Depois que o universo se expandiu ainda mais e a temperatura caiu abaixo
pares elétron - pósitron. Esses pares são continuamente criados e aniquilados de 1010 K, os elétrons e os pósitrons não existirão mais em grandes quanti-
e há uma crescente troca de energia entre fótons, pares de elétrons e neutrinos. dades. Os pósitrons serão aniquilados. Então os processos acima não mais
Tudo está em equilíbrio térmico e existem aproximadamente números iguais ocorrerão com facilidade e os nêutrons e prótons cessarão de estar em equi-
de fótons, elétrons, pósitrons e neutrinos. líbrio. A razão entre as densidades de números deles não variará mais com a
Enterrados nesse denso meio formado por fótons e léptons ferventes estão temperatura e ao invés disso se manterá congelada no valor alcançado para o
os núcleons - nome coletivo que damos aos prótons e nêutrons - e para cada estado ~ 1010 K.
núcleon existe aproximadamente um bilhão de fótons, um bilhão de elétrons Quando a temperatura cai ainda mais, de modo que T é aproximadamente
e um bilhão de neutrinos. igual a 109 K, os nêutrons e os prótons começam a se fundir em outros núcleos.
Cada núcleon colide continuamente com os léptons. Quando o núcleon é O primeiro processo de fusão é a formação de deutério (2H ou D).
um nêutron ele captura um pósitron e se torna um próton. Quando o núcleon
Ensino a Distância
TEORIAS DE FORMAÇÃO DE GALÁXIAS A PARTIR
DO COLAPSO DE PROTOGALÁXIAS
cosmologia
A formação de protogaláxias que discutimos acima foi somente o primei-
ro estágio na formação de galáxias. Na verdade as protogaláxias eram bolhas
amorfas de matéria muito maiores do que as galáxias atuais e o problema ago-
ra é explicar como as galáxias, tais como as vemos hoje, se formaram a partir
dessas bolhas de gás e matéria. Isso é particularmente importante para expli-
car os vários tipos morfológicos de galáxias que mencionamos nos módulos
2015
Da origem ao fim do universo
anteriores, explicando porque algumas galáxias são elípticas, outras espirais,
e outras irregulares.
A explicação mais simples para a formação de galáxias a partir de protoga-
láxias está baseada no colapso das protogaláxias. Isto é, a matéria nas protoga-
láxias, seja ela estrelas ou gás, se move rapidamente na direção do centro sem
quaisquer forças de oposição. O chamado “tempo de colapso” é igual ao cha-
mado “tempo de queda livre” para a matéria nas galáxias. Estima-se que esse
tempo é de aproximadamente 300.000.000 anos para uma galáxia ordinária.
Esta escala de tempo poderia ser maior se as protogaláxias fossem significan-
temente maiores em tamanho.
Existem dois cenários que descrevem o colapso de protogaláxias para a for-
mação de galáxias. No primeiro as protogaláxias são basicamente feitas de gás
enquanto que no segundo elas consistem principalmente de estrelas. Vejamos
o primeiro caso.
Nesta teoria o físico Larson considerou uma protogaláxia formada por gás
que colapsa. O gás consiste de nuvens que colidem inelasticamente ou seja,
que perdem energia durante cada colisão. Durante essas colisões de nuvens
foram formadas concentrações particularmente densas de matéria que sub-
sequentemente evoluíram para estrelas. Temos assim uma formação estelar
continua durante o colapso. A taxa de formação de estrelas depende da densi-
dade inicial e dos movimentos aleatórios que existem dentro da protogaláxia.
Quanto mais alta é a densidade e os movimentos aleatórios, mais estrelas são
formadas. As galáxias que formam estrelas rapidamente se transformam em
elípticas na classificação de Hubble. Depois do colapso destas galáxias muito
pouco gás é deixado para trás, o que é visto nas observações.
Protogaláxias que não eram muito densas colapsaram mais lentamente.
Parte do gás não teve tempo suficiente para formar estrelas durante o estágio
de colapso e se acumulou no plano perpendicular ao eixo de rotação da galá-
xia, o plano de simetria. Deste modo foi formada uma camada relativamente
Módulo 8
fina de gás, o chamado “disco” da galáxia. As estrelas no disco foram formadas Nem todos aceitam o Big Bang:
muito mais tarde e a uma taxa mais lenta. Essas seriam as estrelas de popula- as teorias alternativas
ção I que são relativamente jovens. Por outro lado as estrelas que se formaram
durante o colapso são as mais velhas da galáxia e são chamadas de estrelas de
população II. Este seria o processo de formação das galáxias espirais.
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 8
Nem todos aceitam o Big Bang:
as teorias alternativas
Divisão de Atividades
Educacionais - ON/MCTI
48
A COSMOLOGIA DE MILNE
3. quando a tensão é igual a 1/3 da densidade de energia (p= - (1/3) ρ c2), TEORIA DE HOYLE-NARLIKAR
a gravidade se torna ineficiente e o universo é controlado por outras
coisas, tais como a constante cosmológica Λ. Como vimos, Hoyle usou a teoria escalar-tensor para criar matéria em
4. quando a tensão é menor que a densidade de energia mas maior do que um universo em estado estacionário que se expandia. A taxa de criação C foi
1/3, existem universos que oscilam em tamanho sem Big Bang. Suas ajustada de modo que a densidade permanecesse constante. Entretanto, uma
oscilações são lentamente amortecidas, e eles se tornam universos es- pequeníssima modificação poderia muito facilmente fazer com que a taxa de
táticos de Einstein estáveis. criação ficasse ou rápida demais ou lenta demais. Em ambos os casos a situa-
ção de estado estacionário seria perdida.
5. quando a tensão é maior do que a densidade de energia encontramos
A teoria do estado estacionário foi superada por descobertas observacio-
aqueles incríveis universos nos quais a densidade aumenta com a ex-
nais que seus criadores não previram. Hoyle ganhou notoriedade como seu
pansão, os quais começam com nada e se expandem até se tonarem
mais ativo defensor e trabalhando com o físico indiano Jayant Narlikar pro-
big bangs, e aqueles nos quais a densidade diminui com a contração,
curou incessantemente por modificações da teoria do estado estacionário que
os quais colapsam para nada.
a poriam em conformidade com as novas descobertas.
A figura abaixo mostra exemplos de tipos diferentes de universos em ten- A última ideia de Hoyle-Narlikar foi que partículas não são criadas; em vez
são. A pressão é p= ( γ - 1) ρ c2, onde ρ é a densidade de massa. Vejamos sua disso, devido a uma interação universal, suas massas mudam com o tempo.
descrição: Como resultado, “os mistérios usuais que dizem respeito à chamada origem
do universo começam agora a dissolver”, escreveu Hoyle em 1975. O uni-
• letra A: universo oscilante fechado com γ >0 mas < 2/3 verso é suposto ser estático, e átomos, seres humanos, e estrelas, diminuem
• letra B: universo estável, estático, fechado com γ >0 mas < 2/3 lentamente em tamanho por causa do crescimento na massa das partículas
subatômicas. O universo em expansão com átomos de massa constante foi
• letra C: universo oscilante, fechado, de densidade constante com γ= 0 transformado em um universo estático de átomos que encolhem. O Big Bang,
• letra D: universo em estado estacionário, plano, com densidade cons- ou “criação do universo”, que Hoyle detestava, foi banido e se tornou um mo-
tante e γ= 0 mento quando todas as massas estavam próximas a zero. De acordo com essa
descrição a radiação cósmica de fundo de 3 graus não é um produto do Big
• letra E: universo com γ < 0 que se expande para se tornar um Big Bang
Bang mas, na verdade, luz estelar proveniente de uma fase muito primitiva do
Consideraremos a seguir o efeito da pressão negativa no universo. universo e que foi termalizada pelo espalhamento feito por átomos, de enor-
William McCrea apresentou a ideia alternativa de que a criação contínua é mes tamanhos, na época de massa zero.
o resultado de uma pressão cósmica negativa. Tal tensão cósmica, quando Essa teoria do “átomo que encolhe”, considerada e rejeitada pelo astrofísico
igual à densidade de energia, mantém um estado de densidade constante. A inglês Arthur Eddington, mantinha a idade infinita do universo do estado
teoria de McCrea não explica porque a tensão tem esse valor e, assim como estacionário mas abandonava a ideia de criação contínua.
a teoria de Hoyle, ela falha em explicar porque matéria, e não a antimatéria,
é criada.
344 Módulo 1 · A história da Cosmologia Cosmologia - Da origem ao fim do universo 345
54 55
TEORIA DE BRANS-DICKE TEORIA DE ALFVÉN-KLEIN
Robert Dicke (imagem a esquerda) e Carl Brans (imagem a direita) usaram Em 1963 o físico sueco Oskar Klein apresentou um novo modelo cosmoló-
a teoria escalar-tensorial como base para investigar o princípio de Mach. Esse gico juntamente com seu compatriota, o físico Hannes Alfvén.
princípio é uma lei puramente conjectural e vários cientistas se esforçaram Em 1937 Hannes Olof Gösta Alfvén (imagem ao lado) declarou que se
para dar a ela um fundamento teórico mais seguro. existe plasma em todo o universo ele poderia transportar correntes elétricas
Teoria de Teoria de
O problema é encontrar uma maneira na qual o valor da constante gra- capazes de gerar um campo magnético na nossa Galáxia. Conhecido por suas
Brans-Dicke vitacional G é determinado pelo Universo. Uma vez que o universo está se opiniões ortodoxas em vários campos da física, Alfvén era um feroz crítico da
Alfvén-Klein
expandindo, essa variação contínua deve retroagir sobre o valor de G de modo “teoria do Big Bang” que, para ele, não passava de um mito científico criado
que ele também varie continuamente. O princípio de Mach, dentro da estru- para explicar a criação bíblica.
tura de um universo que expande, sugere então que G não pode ser constante O modelo cosmológico proposto por Alfvén e Klein é conhecido como
no tempo. “cosmologia de plasma” e foi por muitos considerado um modelo alternativo
Brans e Dicke usaram a teoria escalar-tensorial porque ela permite G va- tanto à teoria do Big Bang como à teoria do estado estacionário.
riar com a expansão. Segundo eles esse acoplamento da variação de G com a A cosmologia de plasma tenta explicar o desenvolvimento do universo
expansão do universo está em acordo com o princípio de Mach e é a justifica- visível por meio da interação de forças eletromagnéticas sobre o plasma que
tiva para usar a teoria escalar-tensor. permeia todo o universo.
Ninguém está muito certo do que o princípio de Mach realmente significa Para Alfvén o universo estava preenchido pelo “ambiplasma”, uma mistura
e cada cientista (ou filósofo) tem uma interpretação diferente. Qualquer va- em iguais proporções de matéria e anti-matéria ionizadas. Esses dois compo-
riação no valor de G, não importa quão pequena seja, pode ser olhada como nentes se separaram naturalmente à medida que ocorreram reações de aniqui-
evidência de um efeito machiano. lação entre a matéria e a antimatéria. Isso foi acompanhado por uma liberação
de energia incrivelmente grande.
As origens da cosmologia de plasma foram apresentadas por Alfvén em seu
PRINCÍPIO DE MACH livro Worlds-Antiworlds, publicado em 1956. Ele se baseou em algumas ideias
propostas pelo físico Oskar Klein de que os plasmas astrofísicos desempenha-
Ernst Mach acreditava que a massa inercial é resultado de uma partícula “sentir”
a presença de todas as outras partículas existentes no Universo. Partículas ram um importante papel na formação de galáxias. Em 1971, Klein ampliou as
distantes, localizadas além do comprimento de Hubble L, não são observáveis e, propostas de Alfvén desenvolvendo o que passou a ser conhecido como “mo-
por isso, não contribuem para a determinação da massa inercial local. delo cosmológico de Alfvén-Klein”.
Lembre também que:
• A massa gravitacional, mgrav, de uma partícula é determinada pela sua
resposta à gravidade.
• A massa inercial, minerc de uma partícula é determinada pela sua
resposta ao movimento acelerado.
Tanto na física Newtoniana como na Teoria da Relatividade Geral essas
duas massas são consideradas iguais e podemos escrever apenas m para
representá-las.
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 9
Gravitação quântica e os problemas
do espaço e do tempo
Ensino a Distância
cosmologia
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 9
Gravitação quântica e os problemas
do espaço e do tempo
Divisão de Atividades
Educacionais - ON/MCTI
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A ENERGIA ESCURA
QUINTESSÊNCIA
Ensino a Distância
previsto pela constante cosmológica.
O nome “quintessência” vem do “quinto elemento” puro, o éter que segun-
do os filósofos gregos permeava todo o Universo.
cosmologia
AS TEORIAS DE “ENERGIA FANTASMA” (“PHANTOM
ENERGY THEORIES”)
2015
Da origem ao fim do universo
w < -1.
CONCLUSÕES
Módulo 10
Novas ideias sobre o Universo
2015
Da origem ao fim do universo
Módulo 10
Novas ideias sobre o Universo
Divisão de Atividades
Educacionais - ON/MCTI
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NOVAS TEORIAS SOBRE O UNIVERSO
A INFLAÇÃO CAÓTICA
1. O modelo de Steinhardt-Turok
No seu modelo cíclico duas branas paralelas colidem periodicamente
em um espaço de dimensão mais alta. O universo 4-dimensional visí-
vel está situado em uma dessas “branas”. As colisões correspondem a
uma reversão entre contração e expansão do próprio universo. Nesse
modelo a “energia escura” corresponde à força entre as branas. Como
consequência o universo “surge” e “desaparece” repetidas vezes. Existe, entretanto, um modo mais indireto de determinar se a expansão
do universo está destinada a parar e iniciar um caminho reverso de contra-
2. O modelo do Tempo Cíclico de Lynds
ção. Sabe-se que a interação gravitacional mantém a ligação entre os corpos
O cientista Peter Lynds propôs um modelo no qual o tempo é cíclico
celestes. Aliás, a interação gravitacional mantém todos os corpos, até mesmo
e o universo se repete exatamente do mesmo modo num número infi-
as menores partículas, em contato umas com as outras. Se dois asteroides co-
nito de vezes. Uma vez que é exatamente o mesmo ciclo que se repete,
lidem seus resíduos se espalham pelo espaço vizinho, mas o comportamento
podemos interpretá-lo como ocorrendo apenas uma vez!
desses resíduos dependerá muito da velocidade com que eles se espalham. Se
ela for muito grande, eles se perdem no espaço sideral sendo, possivelmente,
O FIM DO UNIVERSO atraídos futuramente por outros corpos maiores. Se esses resíduos possuem
baixa velocidade de escape, eles podem ser novamente atraídos por um dos
Muitos cosmólogos se preocupam hoje em apresentar o fascinante cenário corpos que o originou. Nesse caso a expansão dos resíduos seria parada, sendo
de como teria sido a possível origem do nosso universo. Ele está aí. Nós o atraídos novamente na direção do corpo original.
observamos tanto com os pequenos telescópios como com os grandes equipa- Algo semelhante a isso é projetado pela teoria relativística da gravitação.
mentos profissionais mantidos por observatórios de todo o mundo. As galáxias são os “resíduos” do nosso universo, fragmentos de um processo
Mas o que podemos dizer quanto ao seu futuro? Existirá um fim para o de expansão que começou a bilhões de anos. Sabemos qual a velocidade de ex-
universo ou ele é eterno? Como interpretar o conceito de um universo eterno pansão que elas possuem. Poderíamos então calcular facilmente se o universo
em relação à nossa própria existência? E como aceitar que em algum momento em algum momento irá recolapsar. No entanto nos falta um dado fundamen-
ele possa “desaparecer”? O que significa isso? tal. Até o momento os cientistas não sabem precisamente qual é a quantidade
Para discutirmos esses temas precisamos, mais uma vez, especular usando de matéria real que existe no universo e que poderia parar essa expansão. Eles
a física que conhecemos. E tudo depende da massa do universo, que é quem já calcularam qual a quantidade de matéria suficiente para parar a expansão:
determina se ele se expande para sempre ou sofre um colapso final. cerca de 3 átomos por metro cúbico, que seria a densidade crítica do universo.