LIVRO Petrologia e Mineralogia V1 PDF
LIVRO Petrologia e Mineralogia V1 PDF
LIVRO Petrologia e Mineralogia V1 PDF
Organizadores
Fabricia Benda de Oliveira
Rodson de Abreu Marques
Edgar Batista de Medeiros Júnior
Calvin Candotti
E MINERALOGIA
Volume 1
Organizadores
Fabricia Benda de Oliveira
Rodson de Abreu Marques
Edgar Batista de Medeiros Júnior
Calvin da Silva Candotti
Petrologia e Mineralogia
Volume 1
ALEGRE - ES
CAUFES
2018
CCENS-UFES Centro de Exatas Naturais e da Saúde, Universidade Federal do Espírito
Santo, Alto Universitário, s/n, Caixa Postal: 16, Guararema, Alegre-ES
Telefax: (28) 3552-8687
www.alegre.ufes.br
LISTA DE AUTORES
Capítulo 1 .................................................................................................................................. 9
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E LITOGEOQUÍMICA DO BATÓLITO
FORNO GRANDE, CASTELO, ESPÍRITO SANTO ...................................................... 9
Jorge Denis Costa Medeiros, Rodson de Abreu Marques ................................................ 9
Capítulo 2 ................................................................................................................................ 23
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E
MICROTECTÔNICA DOS CHARNOCKITÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO
PARAÍSO NA REGIÃO DE ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ .............................. 23
Deise Fernanda Alves de Moura, Rodson de Abreu Marques, Amanda Silva Abreu,
Marilane Gonzaga de Melo, Fernanda Setta Duarte ..................................................... 23
Capítulo 3 ................................................................................................................................ 43
PETROLOGIA DAS ROCHAS CHARNOCKÍTICAS NO SUL DA SERRA DO
CAPARAÓ, ENTRE OS DISTRITOS DE VARRE-SAI – RJ E ALEGRE – ES ........ 43
Giulia Fabri Rodrigues Prado Martins, Caroline Cibele Vieira Soares, Edgar Batista
de Medeiros Júnior........................................................................................................... 43
Capítulo 4 ................................................................................................................................ 57
CARACTERIZAÇÃO DO METAMORFISMO DAS ROCHAS PARADERIVADAS
DOCOMPLEXO ACAIACA, REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS .................. 57
Jéssica Bassini Ramiro, Edgar Batista de Medeiros Júnior, Hanna Jordt-Evangelista ..
............................................................................................................................................57
Capítulo 5 ................................................................................................................................ 69
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO ............................................................................................................ 69
Iago Mateus Lopes de Macêdo, Caroline Cibele Soares ................................................ 69
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
9
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA E LITOGEOQUÍMICA DO BATÓLITO
FORNO GRANDE, CASTELO, ESPÍRITO SANTO
O estado do Espírito Santo compete com Minas Gerais pela liderança no mercado interno
de Rochas Ornamentais, e um dos maiores exportadores mundiais. Deste modo, faz-se
importante agregar conhecimento técnico e geológico a tal área comercial, assim visando
diminuir os impactos ambientais em consequência do melhor aproveitamento do material
extraído (FILHO, 2009). Desde Almeida, 1977, a produção científica em cima do Orógeno
Araçuaí vem sendo representada relativamente por poucos autores. Quando há o aumento em
investimentos no conhecimento geológico, concomitantemente há maior aproveitamento dos
recursos naturais. No caso do município de Castelo, as rochas ornamentais são um dos
recursos naturais explotados (CPRM).
O presente trabalho visa à caracterização petrográfica, bem como a caracterização
litogeoquímica das fácies graníticas do batólito Forno Grande. Tem-se então a descrição
petrográfica das fácies amostradas durante a etapa de campo, com uma simples abordagem
litogeoquímica, podendo assim acrescentar dados e contribuir para o entendimento da
granitogênese pós-colisional denominada Suíte G5. (PEDROSA-SOARES et al., 2007).
10
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Orógeno Araçuaí
O Sistema Orogênico Araçuaí-Congo Ocidental edificou-se como resultado do evento
tectônico que culminou no fechamento da bacia oceânica Macaúbas (Pedrosa-Soares, 2007)
por consequência de esforços compressivos realizados pela migração das placas
Paranapanema-Amazônica e Kalahari contra o então Craton São Francisco-Oeste Congo, ao
longo do neoproterozóico (ALKMIN et al., 2006). Esta cadeia orogênica formou-se devido à
amalgamação de diversos blocos tectônicos (DE CAMPOS et al., 2004), onde, mais
especificamente em sua porção ocidental, tem como característica principal um padrão de
edificação tectônica distinta: a tectônica quebra-nozes, exibindo em mapa uma forma
côncava, e com vergências centrífugas. Tal evolução tectônica condicionou o escape lateral de
massas por grandes zonas de cisalhamento transcorrente com indicação cinemática
modalmente destral (ALKMIN, 2007).
11
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA E LITOGEOQUÍMICA DO BATÓLITO
FORNO GRANDE, CASTELO, ESPÍRITO SANTO
mantélico se misturasse ao magma crustal, quimicamente e mecanicamente, gerando plutons
zonados, com núcleos básicos a intermediários e bordas graníticas (Wiedemann-Leonardos et
al, 2002).
METODOLOGIA
I. Etapa pré-campo:
Revisão bibliográfica e preparação, em ambiente SIG, da base cartográfica, em escala
1:65.000, por meio do software TerraView. Utilizou-se da base de dados geográficos
GEOBASES, disponibilizada no endereço on-line do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A bibliografia existente serviu como apoio para o planejamento do campo
e dos locais de amostragens.
12
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Foi feita a realização da caracterização petrográfica e litogeoquímicas das litofácies definidas; onde, as
amostras foram descritas sob o microscópio petrográfico de luz polarizada, modelo Nikkon, do
labotatório de microscopia do Departamento de Geologia - Universidade Federal do Espírito Santo –
Campus Alegre. A descrição petrográfica foi realizada com base nos aspectos descritivos para rochas
magmáticas (Wernick, 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
13
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA E LITOGEOQUÍMICA DO BATÓLITO
FORNO GRANDE, CASTELO, ESPÍRITO SANTO
comprovando seu grau de deformação protomilonítico. Comum observar aglomerados de
quartzo e pórfiros de feldspato potássico dispersos em sua matriz.
Sob microscópio petrográfico, a encaixante é caracterizada como uma rocha maciça,
fanerítica, holocristalina, equigranular granoblástica, composta por aproximadamente 55% de
quartzo, 15% de plagioclásio, 10% de biotita, 10% de microclina, 3% de apatita, 3% de
opacos, e o restante titanita, zircão, moscovita e clorita.
14
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Mistura mecânica
As litofácies monzogranito porfiríritco e monzogranito fino exibem xenólitos máficos
geométricos e xenocristais em mistura mecânica inseridos em sua fábrica. Estes xenólitos
muitas vezes são bordejados por uma zona reacionária contendo cristais de anfibólio
euédricos, que podem chegar ao comprimento centimétrico.
Observam-se duas famílias de diques com diferença em idade relativa de intrusão e de
composição granítica cortando o monzogranito fino. Os diques e vênulas são compostos por
quartzo, feldspatos, biotita e sulfetos, apresentando uma pequena borda de reação no contato
com o granitóide. Os diques mais antigos apresentam uma finíssima, se não inexistente
corona de reação nas bordas; e maior conteúdo de biotita dispersa em sua matriz félsica
afanítica. Estes aparentam dobramento e se “desfazem” em meio à rocha encaixante. Os
diques posteriores têm menor conteúdo de máficos em matriz afanítica, porém apresentam
forma geométrica melhor definida. Também são observados xenólitos máficos, ricos em
biotita e anfibólio. Os xenólitos estão em contato abrupto com a rocha, formando auréolas de
reação em sua borda, onde há ocorrência de anfibólios idiomórficos centimétricos, e também
há presença de fenocristais de quartzo, pirita e plagioclásio, em meio à rocha. Xenólitos
graníticos também podem ser vistos em meio à fácies graníticas.
Sob microscópio petrográfico, caracteriza-se como uma rocha ígnea maciça, holocristalina,
fanerítica, equigranular, composta aproximadamente por 35% de hornblenda, 25% de quartzo,
10% de biotita, 7% de plagioclásio, 7% de titanita, 3% de zircão, 3% de ortoclásio, 2% de
apatita, e como acessório os minerais opacos, e epidoto.
15
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA E LITOGEOQUÍMICA DO BATÓLITO
FORNO GRANDE, CASTELO, ESPÍRITO SANTO
Figura 5. Diagrama A/CNK versus A/NK de Shand, 1943, mostrando o índice de alumina-
saturação das amostras.
Classificação geoquímica
O diagrama de De La Roche et al. (1980), faz uma correlação complexa entre os teores
atômicos de cálcio, magnésio e alumínio versus os teores de sílica, sódio, potássio, ferro e
titânio, assim o agrupamento das amostras, de acordo com a figura abaixo, projeta no campo
dos granitos, granodioritos e tonalitos; monzonitos a monzodioritos; e monzogabro (Figura 6).
Classificação geotectônica
Os diagramas em razão dos elementos Rb/Y+Nb e Nb/Y, mostram diferentes campos de
posicionamento tectônico, indicando que a ambiência geotectônica das rochas analisadas está
relacionada geneticamente a granitóides intra-placas (Figura 7) (PEARCE et al., 1984).
Observe no diagrama a da figura 7 o agrupamento das amostras em três conjuntos, com o
posicionamento da amostra de Granodiorito (círculo) numa posição intermediária aos outros
dois conjuntos. Na figura 7 b, duas amostras se distanciam levemente das demais.
16
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
a b
Figura 7. Diagrama proposto por Pearce et al. (1984), para classificação geotectônica de
granitóides.
O diagrama da figura 8 faz a correlação por meio da relação dos elementos descritos no
gráfico (R1 e R2) e posiciona as amostras de acordo com a ambiência tectônica.
Os diagramas da figura 9 exibem análises dos padrões de Elementos Terras Raras
normalizados ao condrito (NAKAMURA, 1974), e a comparação dos padrões de elementos
traço normalizados aos níveis crustais inferior, crustal médio e crustal superior.
A mistura de magmas com composição química e temperaturas contrastantes força o
sistema a buscar equilíbrio físico-químico, gerando texturas marcantes, associadas à diferença
dos líquidos presentes no batólito. Tais magmas, podendo ser imiscíveis, e possuírem
diferentes densidades, consequentemente adquiriram velocidades de fluxo distinto na câmara
magmática, o que pode explicar as estruturas no campo e texturas de mistura observadas sob
microscópio petrográfico.
No maciço então, foram identificadas duas litofácies de composição monzogranítica, e
duas litofácies de gênese por hibridação de magma félsico com magma básico. Os
monzogranito constantemente englobam cristais de plagioclásio zonados, devido à
diferenciação por cristalização fracionada do magma ao longo do tempo de resfriamento. No
17
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA E LITOGEOQUÍMICA DO BATÓLITO
FORNO GRANDE, CASTELO, ESPÍRITO SANTO
granodiorito ocorrem cristais de plagioclásio em forma ovóide, com agregados de minerais
máficos ao seu entorno. Hibbard (1994) caracteriza tal feição como produto da mistura dos
magmas máfico e félsico.
Figura 8. Diagrama de Batchelor & Bowden (1985) de ambiência tectônica para granitóides
orogênicos.
Figura 9. Diagramas spider plot para Elementos Terras Raras, em comparação ao condrito
normativo (NAKAMURA, 1974) (a); e elementos traço normalizados para comparação com a
média da crosta inferior (WEAVER & TARNEY, 1984) (b), média (WEAVER & TARNEY,
1984) (c) e superior (TAYLOR & MCLENNAN, 1985) (d).
18
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
indicando que o resultado aqui obtido mostra-se compatível com o resultado obtido por
Wiedemann-Leonardos et al. (2002).
Figura 10. Comparação dos resultados no diagrama de Batchelor & Bowder (1985) do
batólito Forno Grande, apresentado por Wiedemann-Leonardos et al. (2002) (a), e o
apresentado neste trabalho (b).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
19
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA E LITOGEOQUÍMICA DO BATÓLITO
FORNO GRANDE, CASTELO, ESPÍRITO SANTO
and Africa: Nutcracker tectonics during the Neoproterozoic assembly of
Gondwana.Precambrian Research 149 43–64. 2006.
HASUI, Y., CARNEIRO, C. D. R., COIMBRA, A. M. The Ribeira Fold Belt. Revista
Brasileira de Geociências, 5: 257-266. 1975.
MIDDLEMOST, E. A. K. Magmas And Magmatic Rocks: An Introduction To Igneous
Petrology. 1985.
VAUCHEZ, A., EGYDIO-SILVA, M., BABINSKI, M., TOMMASI, A., UHLEIN, A. &
LIU, D. Deformation of a pervasively molten middle crust: insights from the
Neoproterozoic Ribeira-Araçuaí orogen (SE Brazil).Terra Nova, 19: 278-286. 2007.
20
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
21
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Capítulo 2
Deise Fernanda Alves de Moura¹, Rodson de Abreu Marques1, Amanda Silva Abreu1,
Marilane Gonzaga de Melo1, Fernanda Setta Duarte2
INTRODUÇÃO
RJ, Brasil
23
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
O segmento central da Faixa Ribeira é constituído por quatro unidades tectônicas
principais, limitadas por empurrões ou zonas de cisalhamento dúcteis oblíquas de alto ângulo:
Terrenos Ocidental, Oriental, Paraíba do Sul, e Cabo Frio (HEILBRON et al., 2000, 2004). O
contexto tectônico da área estudada localiza-se na porção Central da Faixa Ribeira, mais
especificamente, está inserida no Domínio Cambuci, Terreno Oriental. Trata-se da Suíte São
João do Paraíso.
O magmatismo granítico é bastante expressivo por toda a Faixa Ribeira. A
caracterização adequada e o entendimento do significado desse magmatismo são parte
fundamental de qualquer modelo evolutivo para a Faixa. Nesse contexto, foram realizados
diversos trabalhos geológicos na área, abordando temas como petrologia, geoquímica,
geocronologia, tectônica, entre outros (MACHADO et al., 1996; TUPINAMBÁ, 1999;
VALLADARES et al., 2000).
Apesar da grande quantidade de trabalhos publicados sobre a Faixa Ribeira, as suítes
granitícas presentes na porção norte do estado do Rio de e sul do estado do Espírito Santo
apresentam baixa densidade de informações geológicas, sendo, portanto, necessários estudos
de maior detalhe a respeito das mesmas. Dessa forma, a análise microtectônica possui grande
importância, pois permite a reconstrução da história estrutural e metamórfica das rochas,
melhorando a compreensão da estruturação da Faixa em estudo.
O presente trabalho visou caracterizar um conjunto de granitóides sin-colisionais
denominado Suíte São João do Paraíso, justificando-se pela necessidade de trabalhos mais
detalhados a respeito desses granitóides e pela escassez de dados microtectônicos nos estudos
efetuados nessa região.
A área de estudo situa-se nas porções norte / noroeste do Estado do Rio de Janeiro e
sul do Espírito Santo, entre as coordenadas UTM aproximadas de 188000 e 240000 W e
7619000 e 7676000 S (Figura 1). Abrange parte dos municípios fluminenses de Bom Jesus do
Itabapoana, Itaperuna, São José de Ubá, Cambuci, Italva, São Fidélis, Cardoso Moreira e dos
municípios capixabas de São José do Calçado, Bom Jesus do Norte e Apiacá.
A partir da cidade do Rio de Janeiro, o acesso à região é feito pela BR-101 até o
município de Campos dos Goytacazes. Segue-se pela RJ-158 até os municípios de Cambuci e
São Fidelis. Pela RJ-234 até Italva e RJ-198 até São José de Ubá e Itaperuna.
24
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
25
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
de idade 595-565 Ma e de caráter pervasivo em todos os compartimentos tectônicos; b)
deformação D3, de idade ca. 535-510 Ma, que, embora não sendo a deformação mais
pervasiva, é responsável pelo arcabouço estrutural dos diferentes domínios do Terreno
Oriental na região de Itaperuna; c) deformação D4, de idade de ca. 510-480 Ma, claramente
tardia e de características semelhantes para todos os compartimentos tectônicos (HEILBRON
et al. 2000; DUARTE et al. 2012).
A deformação principal (D1 + D2), contemporânea com estágio metamórfico M1, é
consistente com um modelo de colisão oblíqua (NW / W com convergência para o SFC) com
o desenvolvimento das estruturas mais penetrantes e texturas (por exemplo, empurrões,
dobras, foliação principal, estiramento e lineações minerais) como consequência da pressão de
empilhamento dos diferentes domínios tectônicos (HEILBRON et al., 2000).
A deformação compressiva tardia (D3) gerou dobras subverticais e zonas de
cisalhamento transpressivas de trend NE com estágio metamórfico M2. Dobras D3 relevantes
em escala de mapa são: a sinforme Paraíba do Sul, a antiforme Rio de Janeiro e a zona de
cisalhamento transpressiva Paraíba do Sul, expressa por uma zona milonitizada ocorrendo ao
longo da zona de charneira da sinforme Paraíba Sul por dezenas de quilômetros (HEILBRON
et al. 2000).
A deformação (D4), provavelmente associada ao resfriamento e processo de colapso
do orógeno. Essa deformação gerou zonas de cisalhamento subverticais com trend NW-SE a
WNW-ESE, ortogonal à extensão do orógeno, associadas a dobras de arrasto que giram as
foliações previamente formadas. As espessuras dessas zonas variam desde a escala
milimétrica até dezenas de metros e sua extensão varia de 2 a 18 km, sendo, em média, de 5 a
6 km. Por estas características, considera-se que D4 desenvolveu-se em níveis crustais mais
rasos e sob condições mais frias do que aquelas das fases que a precederam (DUARTE et al.,
2012).
Os conjuntos de zonas de cisalhamento D3 e D4 atuaram como condutos magmáticos
para a ascensão de granitos tarde-colisionais a pós-tectônicos (HEILBRON et al., 2000)
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
26
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
27
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
28
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Petrografia
Charnockitoides
Charnockito
29
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
30
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Figura 4. A) Grãos de quartzo com contato interlobados (LP); B) Quartzo com extinção
ondulante (LP); C) Plagioclásio com macla evanescente parcialmente alterado para sericita
(LP); D) Cristais hipidiomórficos de biotita (LN); E) Cristal de ortopiroxênio (LP); F)
Epidoto associado a biotita (LP).
Enderbito
O enderbito é uma rocha inequigranular com granulação variando de fina a média (0,1
- 2,5 mm), possui textura granolepidoblástica marcada pelos cristais de quartzo
equigranulares intercalados aos cristais de biotita. A foliação é marcada pela orientação dos
cristais de biotita e piroxênio além de quartzo e granada estirados (Figura 5 A).
O quartzo compõe entre 22 e 30% da rocha, possui granulação fina (0,1 - 0,75 mm) e
forma xenoblástica. Os contatos entre grãos são principalmente interlobados (Figura 5 B),
mas também ocorrem contatos poligonais formando junções tríplices. É comum observar
extinção ondulante nos grãos de quartzo, principalmente em alguns que estão estirados.
O plagioclásio perfaz entre 28 e 32% da rocha, os cristais ocorrem com forma
xenoblástica a hipidioblástica e a granulação varia de fina a média (0,1 - 1 mm). Os contatos
são principalmente interlobados, além de poligonais, formando junções tríplices em 120º
(Figura 5 C). É comum encontrar macla polissintética evanescente (Figura 18 D). Presença de
subgrãos e novos grãos formados por mecanismo de rotação de subgrãos (Figura 5 E).
A biotita compõe entre 15 e 19% da rocha, possui granulação fina (<0,1 - 0,75 mm) e
forma hipidioblástica. O pleocroísmo varia deste amarelo claro até tons acastanhados ou
avermelhados. Os cristais estão levemente orientados na direção da foliação.
31
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
A granada compõe aproximadamente 5% da rocha, possui granulação variando de fina
a média (0,25 – 2,5 mm) e forma xenoblástica. Alguns cristais ocorrem estirados. A granada
exibe textura poiquiloblástica, representada pelas inclusões de biotita (Figuras 5 F e 6A).
O ortopiroxênio compõe entre 6 e 10% da rocha, os cristais são de granulação fina a
média (0,1 – 1 mm), com forma xenoblástica a hipidioblástica (Figura 6 B). Frequentemente
exibe fraco pleocroísmo variando de verde pálido a rosa acastanhado. Alguns grãos estão
alterando para biotita em suas bordas (Figura 6 D). Pelas características ópticas, esse
ortopiroxênio foi identificado como hiperstênio.
O clinopiroxênio perfaz entre 6 e 10% da rocha, possui pleocroísmo em tons
acastanhados a esverdeados. A granulação é fina a média (0,2 – 1,25 mm) e a forma dos
cristais varia de xenoblástica a hipidioblástica. Comumente ocorre associada à biotita (Figura
6 C).
Apatita, epidoto e minerais opacos constituem os minerais acessórios do enderbito. Todos
possuem graulação fina e forma xenoblástica. A apatita geralmente ocorre na forma de
inclusões.
32
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
33
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
MICROTECTÔNICA
34
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Figura 7. A) Bulging em cristal de quartzo (LP); B) Cristal de quartzo com feição tipo
bulging (LP); C) Bandas de deformação em cristal de quartzo (LP).
Segundo Passchier e Trouw (2005), a extinção ondulante nos cristais de quartzo ocorre
entre 250 a 400°C. As feições tipo bulging indicam que a deformação dessas rochas alcançou
temperaturas da ordem de 400º a 500º C.
Os ribbons de quartzo estão presentes na maioria das amostras, e ocorrem
principalmente como grãos estirados na matriz (Figura 8 A). Alguns deles desenvolvem
subgrãos e até novos grãos com contatos interlobados entre si (Figura 8 B). Essa feição
caracteriza rochas formadas sob regime de metamorfismo dinâmico, possivelmente associadas
a zonas de cisalhamento.
Figura 8. A) Ribbon de quartzo com extinção ondulante (LP); B) Fita de quartzo com novos
grãos (LP).
Também ocorre recristalização dinâmica por rotação de subgrãos, que pode ser
evidenciada pelos novos grãos equidimensionais com formas similares ao subgrãos (Figura 9
A), além dos cristais com extinção ondulante e bandas de deformação.
Foi observada, com certa frequência, a ocorrência de cristais de quartzo com contatos
poligonais formando junções tríplices (Figura 9 B). Essa feição indica recristalização do
quartzo na ausência de deformação. Esse processo ocorre em temperaturas superiores a 300
oC (JORDT-EVANGELISTA, 2001).
35
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
Figura 9. A) Novos grãos de quartzo formados por rotação de subgrãos (LP); B) Cristais de
quartzo formados por processo de recristalização estática (LP).
Figura 10. A) Novos grãos de plagioclásio formados por rotação de subgrãos (LP); B)
Recristalização dinâmica por rotação de subgrãos em microclina (LP).
36
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Figura 11. A) Cristal de plagioclásio com extinção ondulante (LP); B) Cristais de microclina
formados por recristalização estática (LP).
Figura 12. A) Cristais de granada estirados com inclusões de biotita e quartzo (LN); B)
Cristais de granada estirados com inclusões de biotita e quartzo (LP).
ZONA DE CISALHAMENTO
37
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
Nas rochas descritas foram observadas algumas feições características de milonitos,
como cristais de quartzo (Figura 13 A) e granada estirados (Figura 12 A), além de cristais de
plagioclásio deformados com formas parecidas com sigmas (Figura 13 B).
Nos granitos associados a zonas de cisalhamento ocorrem transformações vistas
principalmente pelas desestabilizações do k-feldspato, plagioclásio e biotita. Uma
desestabilização comumente observada é a descalcificação dos cristais de plagioclásio e a
saussuritização dos cristais de feldspato. Segundo Nascimento (1998), a formação de
carbonato a partir do plagioclásio reflete a atuação de fluidos tardi-magmáticos com
considerável fCO2, enquanto que a saussuritização indica a introdução de uma fase rica em
H2O. Através da análise petrográfica nota-se que a biotita se altera para formação de clorita,
muscovita e opacos. Tal paragênese reforça a ideia de introdução de H2O e O2 no sistema
(NASCIMENTO, 1998). Os opacos são frequentes nessas reações, indicando perda de ferro
da biotita para a formação da clorita. Comparando-se a quantidade de matriz em relação aos
porfiroclastos, as rochas podem ser classificadas como protomilonitos.
METAMORFISMO
38
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
CONCLUSÃO
39
CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA, MINERALÓGICA E MICROTECTÔNICA
DOS CHARNOCKTÓIDES DA SUÍTE SÃO JOÃO DO PARAÍSO NA REGIÃO DE
ITAPERUNA – NOROESTE DO RJ
estudos como geocronologia e geoquímica, que aliados a microtectônica, permitem uma
caracterização mais completa desses granitóides oferecendo modelos mais robustos para a
compreensão da evolução do Domínio Cambuci e consequentemente da Faixa Ribeira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ECKERT, J. O., Jr, NEWTON, R. C., KLEPPA, 0. J.ΔH of reaction and recalibration of
garnet-pyroxene-plagioclase-quartz geobarometers in CMAS system by solution
calorimetry of stoichiometric mineral mixes: Am. Mineralogist, v. 76, no. 1-2, p. 148-160.
1991.
ELLIS, D. J.Osumilite-sapphirine-quartz granulites from Enderby Land, Antartica: P-T
conditions of metamorphism, implications for garnet-cordierite equilibria and the
evolution of the deep crust. Contrib. Mineral. Petrol., 74, 201-210. 1980.
ELLIS, D. J. & GREEN, D. H.An experimental study of the effect of Ca upon garnet-
clinopyroxene Fe-Mg exchange equilibria. Contrib. Mineral. Petrol., 71, 13-22. 1979.
HEILBRON M.; MOHRIAK, W.U.; VALERIANO, C.M.; MILANI, E.J.; ALMEIDA, J.;
TUPINAMBÁ, M.From Collision to Extension: The Roots of the Southeastern
Continental Margim of Brazil. In: MOHRIAK, W.U.; TALWANI, M. (eds) Atlantic Rifts
and Continental Margins. American. GeophysicalUnion, Geophysical Monographss, v(115),
(1-32), Washington, 2000.
HOLLAND, Y.t & BLUND, J. Non-Ideal interactions in calcic amphiboles and their bearing
on amphibole-plagioclase thermometry. Contrib. Miner. Petrol., 116;433-447. 1994.
40
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
41
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Capítulo 3
Giulia Fabri Rodrigues Prado Martins¹, Caroline Cibele Vieira Soares1, Edgar Batista de
Medeiros Júnior2
RESUMO. A área de estudo está situada na porção sul do Orógeno Araçuaí, parte da
Província Mantiqueira. Localiza-se entre os municípios de Alegre (Espírito Santo) e Varre-Sai
(Rio de Janeiro), onde afloram rochas charnockíticas intercaladas a gnaisses granatíferos.
Motivado pela falta de estudos dedicados a essas rochas, este trabalho teve como objetivo a
caracterização petrológica e a correlação com unidades já descritas na literatura, além de uma
melhor compreensão da relação entre os litotipos encontrados e sua evolução metamórfica. A
metodologia se baseou em estudos petrográficos, composição química mineral e
geotermobarometria. Foram identificados quatro litotipos na área, que são: granulito máfico,
granada gnaisse, meta charno-enderbito e dumortierita quartzo sienito. O granulito máfico
correlaciona-se com ortogranulitos do Complexo Juiz de Fora e tem paragênese principal
composta de ortopiroxênio + clinopiroxênio + biotita + ortoclásio + plagioclásio + quartzo ±
granada. Os estudos geotermobarométricos indicaram que essa rocha passou por um
metamorfismo de fácies granulito, sob condições de pressão entre 6 a 8 Kbar e de
temperaturas entre 750 a 800°C. O granada gnaisse pode ser correlacionado aos gnaisses
granatíferos do Complexo Paraíba do Sul e tem paragênese principal composta de quartzo +
plagioclásio + ortoclásio + biotita + granada, o que indica fácies granulito. Tanto o granulito
máfico quanto o granada gnaisse passaram por um metamorfismo dinâmico, que caracteriza a
zona de cisalhamento Guaçuí. O metacharno-enderbito exibe aspectos deformacionais, mas
mantém feições ígneas. É composto de plagioclásio, biotita, hornblenda, quartzo, ortoclásio,
ortopiroxênio e clinopiroxênio e pode ser correlacionado com a supersuíte G1. O dumortierita
quartzo sienito é composto de ortoclásio, plagioclásio, quartzo, biotita, dumortierita,
sillimanita e cianita. A ocorrência de dumortierita é um fato inédito no norte do Rio de
Janeiro, dentro do contexto da Faixa Ribeira. Esse litotipo pode ser interpretado como uma
apófise de um corpo da supersuíte G4, o que seria algo novo para a geologia do Espírito Santo
e do Rio de Janeiro, uma vez que essa supersuíte só é descrita em Minas Gerais. As rochas
metamórficas na área de estudo foram metamorfizadas durante a Orogenia Brasiliana, sob
condições de metamorfismo de fácies granulito.
43
PETROLOGIA DAS ROCHAS CHARNOCKTÓIDES NO SUL DA SERRA DO
CAPARAÓ, ENTRE OS DISTRITOS DE VARRE-SAI – RJ E ALEGRE – ES
A área de estudo está inserida entre os municípios de Alegre, na região sul do Espírito
Santo, e Varre-Sai, no noroeste do Rio de Janeiro.
A região na qual se localizam as rochas estudadas situa-se geotectonicamente no sul
da Faixa Araçuaí, parte da Província Estrutural Mantiqueira (HEILBRON et al., 2004;
HASUI, 2010). Esta região é formada por rochas paleoproterozoicas que compõem parte do
embasamento do Orógeno Araçuaí, além de rochas metassedimentares neoproterozoicas e
granitoides pré-orogênicos, que estão relacionadas ao Ciclo Brasiliano (HORN, 2007;
VIEIRA, 2013; VIEIRA, 2015).
Ao longo dos últimos anos, o Orógeno Araçuaí vem sendo cada vez mais estudado,
porém, apesar do conhecimento obtido, ainda existem lacunas a serem preenchidas, como é o
caso das rochas charnockíticas encontradas no sul do Espírito Santo.
As rochas charnockíticas são descritas na literatura como representantes do
embasamento paleoproterozoico do Orógeno Araçuaí e afloram na Serra do Caparaó e em
lentes estreitas na porção sul do estado. Na Serra do Caparaó é reconhecida a Suíte Caparaó,
unidade que se correlaciona ao Complexo Juiz de Fora (NOVO et al., 2011). Além disso,
intercalados aos charnockitos, são encontrados gnaisses granatíferos que também merecem
atenção, já que ainda não há um consenso sobre o significado tectônico ao qual esses gnaisses
podem ser correlacionados, muito pela falta de estudos petrológicos.
Os pontos selecionados para estudo estão localizados a sul e sudeste da Serra do
Caparaó. As rochas charnockíticas encontradas nesses pontos são possíveis candidatas a
representantes da Suíte Caparaó ou do Complexo Juiz de Fora. O estudo petrográfico e
petrológico dessas rochas ainda é superficial, assim como as suas correlações com as unidades
descritas na literatura. Nos pontos selecionados, associados ao charnockito, também são
encontrados o gnaisse granatífero e um dique de composição sienítica, indeformado e de
mineralogia peculiar, composta de dumortierita, cianita e sillimanita. A caracterização
petrológica desses litotipos se faz necessária para esclarecer as principais características
petrológicas, a distribuição espacial de unidades já descritas na literatura e contribuir para o
entendimento da evolução tectônica do Orógeno Araçuaí.
O objetivo do trabalho consiste em realizar a caracterização petrológica e
estrutural/microestrutural das rochas charnockíticas e do dique de composição sienítica
encontrados na região estudada. Procura-se estabelecer as condições metamórficas de geração
e evolução dos litotipos charnockíticos e a relação dessas rochas com os gnaisses granatíferos
e o sienito, com base na descrição macro e microscópica das rochas; identificação das
paragêneses minerais; análise da química mineral de fases minerais pertencentes aos litotipos
estudados e estudo geotermobarométrico convencional.
A área de estudo situa-se na região sul do Espírito Santo e região noroeste do Rio de
Janeiro. Abrange parte dos munícipios de Alegre (ES), Guaçuí (ES) e Varre-Sai (RJ). O
acesso a partir de Cachoeiro de Itapemirim é feito pela rodovia ES-482 até o município de
Alegre, seguindo pela ES-482 até Guaçuí. A partir daí, segue-se pela ES-482 até a RJ-230,
seguida pela RJ-214 e RJ-198, até Varre-Sai. A distância percorrida de Cachoeiro de
Itapemirim até Varre-Sai é de 117 km. A Figura 1 exibe as principais vias de acesso e os
municípios que a área estudada abrange.
44
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Ao longo dos anos, o termo granulito foi usado para caracterizar as mais variadas
rochas (MORAES et al., 2004). Porém, atualmente, a SCMR (Subcommission on the
Systematics of Metamorphic Rocks) recomenda que os granulitos sejam nomeados
basicamente de acordo com sua composição mineral e características macroscópicas. Dessa
maneira, define-se granulito como uma rocha metamórfica de alto grau, cujos silicatos de Fe-
Mg são anidros, cuja presença de feldspato e ausência de muscovita primária são importantes
e cordierita pode ocorrer. Rochas com mais de 30% de minerais máficos (dominantemente
piroxênio) podem ser chamadas de granulitos máficos, já aquelas com menos de 30% de
minerais máficos podem ser chamadas de granulitos félsicos (FETTES & DESMONS, 2014).
Os limites P-T da fácies granulito estão intimamente relacionados às paragêneses
consideradas diagnósticas. Embora algumas das paragêneses dependam da composição da
rocha e da pressão do metamorfismo, é importante saber a temperatura mínima para a fácies
granulito (MORAES, 2013). Considerando o ortopiroxênio como mineral-índice da fácies
granulito, a temperatura mínima deve ser a do início de estabilidade desse mineral que,
segundo alguns estudos, está entre 800 e 850°C, sendo que a pressão deve ser levada em
consideração (MORAES, 2013).
As paragêneses diagnósticas da fácies granulito variam de acordo com o protólito. Em
rochas máficas, a passagem da fácies anfibolito para a fácies granulito é marcada pela
formação dos piroxênios às custas da hornblenda e se dá pelas seguintes reações (BUCKER &
FREY, 1994):
45
PETROLOGIA DAS ROCHAS CHARNOCKTÓIDES NO SUL DA SERRA DO
CAPARAÓ, ENTRE OS DISTRITOS DE VARRE-SAI – RJ E ALEGRE – ES
A área de estudo está situada geotectonicamente na Faixa Araçuaí, que faz parte da
Província Mantiqueira (Figura 2) (HEILBRON et al., 2004). A região está próxima à zona de
transição entre as Faixas Araçuaí e Ribeira (WIEDEMANN-LEONARDOS et al., 2000).
O Orógeno Araçuaí foi definido por Almeida (1977) como a faixa de dobramentos
formada paralelamente à margem sudeste do Cráton do São Francisco, durante a Orogênese
Brasiliana. O orógeno se estende do Cráton do São Francisco ao litoral atlântico,
aproximadamente entre os paralelos 15º e 21º (PEDROSA-SOARES et al., 2007). Mesmo
estando próxima à zona de transição entre as Faixas Araçuaí e Ribeira, a região sul do
Espírito Santo está inserida no contexto da Faixa Araçuaí, pois se encontra no paralelo 20°.
46
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
METODOLOGIA
47
PETROLOGIA DAS ROCHAS CHARNOCKTÓIDES NO SUL DA SERRA DO
CAPARAÓ, ENTRE OS DISTRITOS DE VARRE-SAI – RJ E ALEGRE – ES
as condições de pressão e temperatura atingidas durante o metamorfismo que gerou as rochas
estudadas, com base em assembleias minerais que se encontram em equilíbrio.
A geotermobarometria pode ser subdividida em três técnicas diferentes: a
geotermobarometria convencional, a geotermobarometria otimizada e o cálculo de
pseudosseções. Neste trabalho foi utilizada a geotermobarometria convencional, que utiliza
geotermômetros e geobarômetros calibrados por diversos autores diferentes, a partir da
química mineral e o equilíbrio das reações (POWELL & HOLLAND, 1994). O estudo foi
desenvolvido com o uso do software GPT (RECHE & MARTINEZ, 1996), através de dois
diferentes geotermômetros e um geobarômetro, adequados à associação mineral principal da
amostra analisada.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram identificados quatro litotipos diferentes nos três pontos de estudo: granulito
máfico, granada gnaisse, meta charno-enderbito e dumortierita quartzo sienito. A Tabela 1
apresenta dados de campo e relaciona os litotipos, coordenadas e amostras referentes a cada
um dos pontos visitados.
Granulito Máfico
Esse litotipo foi denominado granulito máfico pois a soma da porcentagem modal de
minerais máficos (ortopiroxênio, clinopiroxênio, biotita e granada) varia de 31 a 41%, o que
obedece as recomendações de nomenclatura de granulitos da SCMR (FETTES & DESMONS,
2014).
Nos afloramentos, o granulito máfico está intercalado ao granada gnaisses. Quanto a
sua estrutura, pode ser encontrado mais maciço (Figura 4a), sendo a foliação restrita a certas
porções do afloramento, mas também pode ser encontrado com uma foliação milonítica bem
marcada em toda a exposição (Figura 4b).
48
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
49
PETROLOGIA DAS ROCHAS CHARNOCKTÓIDES NO SUL DA SERRA DO
CAPARAÓ, ENTRE OS DISTRITOS DE VARRE-SAI – RJ E ALEGRE – ES
O granulito máfico apresenta textura inequigranular, predominantemente granoblástica
e subordinadamente lepidoblástica. A foliação varia de incipiente a uma foliação
protomilonítica paralela a um bandamento composicional (Figuras 5a, 5b). Quartzo constitui
ribbons com notáveis evidências de deformação, como subgrãos e novos grãos. Plagioclásio
tem composição que varia de andesina a bytownita e ocorre como xenoblastos de até 4 mm
que podem apresentar exsolução de antipertita. Ortopiroxênio ocorre como grãos
subidioblásticos a xenoblásticos de até 5,5 mm, cuja composição equivale a ferro-hiperstênio
e hiperstênio, e, frequentemente, é possível observar substituição por hornblenda nas bordas
de seus grãos. Biotita é castanho avermelhada, o que indica a presença de Ti na sua
composição, comprovada pelos dados químicos de MEV. Ortoclásio constitui xenoblastos
grossos de até 7,5 mm e pode exibir microestrutura do tipo núcleo-manto. Granada ocorre
como porfiroblastos que contêm inclusões de biotita e feldspatos muito finos.
A paragênese mineral do metamorfismo em fácies granulito é formada por
ortopiroxênio + clinopiroxênio + biotita + ortoclásio + plagioclásio + quartzo ± granada.
Esses minerais se encontram em equilíbrio e alguns apresentam características diagnósticas de
condições de fácies granulito: biotita com forte pleocroísmo em tons avermelhados e rica em
Ti, ortoclásio predominando sobre microclina, plagioclásio antipertítico e, principalmente,
ortopiroxênio de origem metamórfica.
As condições P-T do metamorfismo foram calculadas no software GPT, a partir de
dados químicos da amostra GF-P1A2. As condições de pressão giram em torno de 6 e 8 Kbar
e de temperatura entre cerca de 750 e 800°C.
Granulitos máficos compostos por uma paragênese que contém granada +
ortopiroxênio + clinopiroxênio são típicos de média pressão (DE WAARD, 1965). A
associação mineral constituída de ortopiroxênio + clinopiroxênio + hornblenda + plagioclásio
+ granada pode ter sua formação descrita pelas reações (1) e (2). A primeira retrata o
consumo de hornblenda para o aparecimento de ortopiroxênio a temperaturas próximas de
800°C (SPEAR, 1995). O surgimento da granada pode ser descrito por meio da reação (2),
que, embora possa ocorrer nas mesmas condições de temperatura, necessita de pressões acima
de 6 Kbar (O’BRIEN & ROTZLER, 2003).
Granada Gnaisse
50
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Figura 6. (a) Foliação milonítica expressiva, com destaque para níveis granatíferos; (b)
Porfiroclasto de granada com cauda de recristalização (LPX, aumento de 40x). Abreviações:
Bt = biotita; Gt = granada; Qz = quartzo.
Meta Charno-enderbito
51
PETROLOGIA DAS ROCHAS CHARNOCKTÓIDES NO SUL DA SERRA DO
CAPARAÓ, ENTRE OS DISTRITOS DE VARRE-SAI – RJ E ALEGRE – ES
mm. Ortopiroxênio é subidiomórfico e associa-se à biotita e clinopiroxênio, por vezes sendo
alterado para hornblenda.
Aspectos ígneos estão bem preservados, como a textura ígnea e cristais de feldspato
com forma predominantemente subédrica, o que não ocorre em rochas metamórficas.
Entretanto, esse litotipo exibe algumas feições deformacionais, como extinção ondulante,
subgrãos e novos grãos. Em grãos de feldspato podem ocorrer extinção ondulante e macla
torta e evanescente, o que indica um processo deformacional dúctil em alta profundidade.
Por suas feições ígneas preservadas, mas com a ocorrência concomitante de evidências
deformacionais, esse litotipo pode ser correlacionado com rochas da supersuíte G1 (Pedrosa-
SOARES et al., 2011).
52
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
CONCLUSÃO
53
PETROLOGIA DAS ROCHAS CHARNOCKTÓIDES NO SUL DA SERRA DO
CAPARAÓ, ENTRE OS DISTRITOS DE VARRE-SAI – RJ E ALEGRE – ES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
54
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
55
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Capítulo 4
RESUMO. Opresente trabalho consiste no estudo metamórfico das condições de geração das
rochas paraderivadas do Complexo Acaiaca, na região sudeste de Minas Gerais.A
metodologia baseou-se em estudos petrográficos, de composição química mineral e
geotermobarometria. As rochas estudadas neste trabalho foram denominadas: sillimanita-
granada granulitos e cianita-biotita xisto, por conta das diferentes paragêneses e mudanças
texturais. A partir dos estudos de química mineral e de geotermobarometria convencional e
otimizada, constatou-se que essas rochas teriam atingido o pico do processo metamórfico em
condições de fácies granulito com temperaturas superiores a 700ºC e pressões médias, em
torno de 5 a 6 kbar e que teriam sofrido processo de retrometamorfismo. A trajetória P-T-t
construída para essas rochas descreve um caminho horária e caracterizada por um
metamorfismo progressivo dado pelo aumento de temperatura e uma despressurização. O
modelo de evolução tectônica com base nos resultados deste trabalho, pressupõe que as
rochas desse Complexo foram metamorfizadas durante a Orogenia Transamazônica, que
também seria o evento responsável pela exumação do Complexo Acaiaca, imediatamente
após sua formação.
INTRODUÇÃO
57
CARACTERIZAÇÃO DO METAMORFISMO DAS ROCHAS PARADERIVADAS
DO COMPLEXO ACAIACA, REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS
A área de estudo está inserida na região centro-sudeste de Minas Gerais, disposta entre
os municípios de Mariana, Barra Longa, Acaiaca e Diogo Vasconcelos. O principal acesso se
dá pela rodovia MG-262 tendo como ponto de partida, o município de Ouro Preto no sentido
Ponte Nova, seguindo por Mariana até o trevo de Acaiaca e Diogo Vasconcelos, tendo o
trajeto por volta de 50 km. Na Figura 1 pode-se observar as principais vias de acesso e os
municípios que estão localizados próximos a área de estudo.
GEOLOGIA REGIONAL
58
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
METODOLOGIA
59
CARACTERIZAÇÃO DO METAMORFISMO DAS ROCHAS PARADERIVADAS
DO COMPLEXO ACAIACA, REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS
paraderivadasdisponibilizados pelo autor supracitado. Esses dados foram utilizados para o
estudo geotermobarométrico. Utilizaram-se os seguintes geotermômetros convencionais:
granada-biotita, granada-cordierita e granada-estaurolita. E os geobarômetros utilizados foram
o granada–Al2SiO5–quartzo–plagioclásio (GASP) e o granada–cordierita–quartzo–Al2SiO5
(GCQA).Na geotermobarometria otimizada foi utilizado o software THERMOCALC 3.33
(POWELL e HOLLAND, 1994) em que foram obtidas as condições de pressão e temperatura
envolvidas no metamorfismo, assim como seus erros associados.A partir dos dados obtidos
foi possível produzir a construção da trajetória gráfica P-T-t das rochas estudadas, além da
caracterização das reações possivelmente envolvidas neste processo e das possíveis condições
do pico do processo metamórfico e do retrometamorfismo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
60
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
com maclas em cunha. Possuem inclusões de zircão facilmente distinguíveis pelos halos
pleocróicos presentes e nas bordas ocorrem palhetas de sillimanita.A sillimanita é incolor, de
relevo moderado e ocorre na forma de finas palhetas inclusas em granada e cordierita e na
matriz da rocha encontra-se associada a feldspato e biotita.
O litotipo cianita-biotita xisto são texturalmente inequigranulares, contendo grãos de
até 5mm, comumente granolepidoblásticos, evidenciado por grãos de biotita orientados e
grãos de quartzo e plagioclásio equidimensionais, sendo que os grãos de quartzo apresentam
feições de recristalização. Os contatos dos grãos são geralmente interlobados e em algumas
amostras ainda pode-se observar uma textura poiquiloblástica dos porfiroblastos de granada.
Possuem uma grande quantidade de filossilicatos identificados como biotitaorientados em
uma direção preferencial em algumas porções. As rochas são compostas por biotita (15-30%),
cordierita (8-20%), plagioclásio (12-15%), quartzo (10-12%) e cianita (5-8%). Também
podem conter granada (0-20%), Mg-clorita (10-18%) e sericita (2-10%), esporadicamente,
sendo este último produto de sericitização de plagioclásio e cordierita. Ainda pode-se
encontrar minerais opacos, zircão, monazita, rutilo, estaurolita e hornblenda em menores
proporções.A biotita ocorre sob a forma de grãos lamelares orientados segundo uma direção
preferencial, são finos com pleocroísmo que varia do castanho ao verde pálido, possuem
relevo baixo, extinção mosqueada e cores de interferencia de 2ª ordem. Comumente possuem
halos pleocróicos gerados por inclusões de rutilo, zircão e/ou monazita. A cordierita
apresenta-se como grãos xenoblásticos que englobam diferentes fases minerais (e.g. cianita,
biotita, plagioclásio, granada e estaurolita) que frequentemente possuem formas irregulares ou
arredondadas, às vezes, esqueléticas. Em algumas seções a cordierita encontra-se substuída
por grãos de Mg-clorita e sericita. Possui halos pleocróicos preservados de zircão e/ou
monazita e maclas em cunhas que geralmente se encontram mal-formadas. O plagioclásio
varia de subidioblástico a xenoblástico, incolore, relevo baixo e alguns possuem feições de
sericitização. Quando os grãos são finos conferem juntamente com os grãos de quartzo a
textura granoblástica da rocha com maclas polissintéticas e quando são médios não se
encontram maclados.A granada não ocorre em todos os litotipos, são grãos porfiroblásticos
poiquiloblásticos chegando a ter até 1,3 cm, se encontram intensamente fraturados e com uma
grande quantidade de inclusões de variados minerais como estaurolita, rutilo e cianita.A
cianita ocorre como grãos tabulares finos a médios levemente orientados, relevo alto,
incolores e apresentam clivagem característica. Geralmente encontra-se englobada por
cordierita e algumas vezes inclusa em granada. A Mg-clorita se apresenta intercrescida com
biotita ou como produto de substituição de cordierita, é incolor a levemente esverdeada,
possui cores de interferência cinza de 1º ordem e ocorre sob a forma de finas palhetas
conferindo uma textura decussada. A Estaurolita ocorre como mineral acessório, representada
por menos de 5% desses litotipos, com grãos subidioblásticos finos, amarelados, ocorrendo
prerencialmente inclusos em granada.
Com base nos aspectos petrográficos descritos, os sillimanita-granada granulitos
apresentam como paragênese principal sillimanita + granada + ortoclásio + biotita +
plagioclásio + quartzo ± cordierita sugerindo condições de fácies granulito (WHITE et al.,
2007). O retrometamorfismo é evidenciado pela paragênese Mg-clorita + sericita, que
possivelmente indica condições de fácies xisto verde. O litotipo caracterizado como cianita-
biotita xisto apresenta uma textura caracterizada pelo desequilíbrio estrutural das fases
minerais, evidenciado principalmente pela forma de ocorrência dos grãos de cordierita, que se
dispõem englobando outros grãos sugerindo que estejam corroendo-os e/ou crescendo as suas
custas.Com base na análise microestrutural é possivel indicar três paragêneses distintas:
cianita ± granada + biotita + plagioclásio + quartzo ± estaurolita + rutilo, cordierita ± granada
+ quartzo e Mg-clorita + sericita. A primeira indica condições de fácies anfibolito, o que é
marcado pela coexistência de estaurolita e cianita. As características texturais evidenciam que
61
CARACTERIZAÇÃO DO METAMORFISMO DAS ROCHAS PARADERIVADAS
DO COMPLEXO ACAIACA, REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS
essa paragênese é relíctica, ou seja, representa o registro do metamorfismo progressivo. A
segunda sugere que o aparecimento de cordierita ocorreu na fácies granulito e com isso essa
associação pode ser considerada como a representante do pico do processo metamórfico. A
última caracteriza a paragênese retrometamórfica gerada em condições de fácies xisto-verde.
Uma característica interessante dessa rocha é a ausência de k-feldspato na associação
mineral,o que difere do sillimanita-granada granulito. Isso provavelmente pode refletir em um
baixo conteúdo de potássio para essas rochas, o que as deixaria com composição química e
mineralógica semelhantes aos kinzigitos da Floresta Negra (FETTES e DESMONS, 2007).
Com isso, essas rochas poderiam representar porções restíticas de um processo anatético.
Com base nos dados petrográficos obtidos, verifica-se que os dois litotipos
(sillimanita-granada granulito e cianita-biotita xisto) apresentam diferentes aspectos que
permitem a distinção de ambos, além da característica principal que seria a presença de
sillimanita no primeiro, e cianita no segundo, pois ambas as fases não ocorrem juntamente.
No caso dos sillimanita-granada granulito, as características principais são evidenciadas pela
textura granoblástica da rocha, que possuem uma pequena quantidade de biotita, se
comparada ao outro litotipo, que não apresenta qualquer tipo de orientação preferencial, e que
a cordierita além de não ocorrer em todas as amostras estudadas, possui uma forma mais
quadrática em que os grãos são bem formados e parece estar em equilíbrio textural com os
demais minerais da rocha. Este litotipo também apresenta feldspato potássico que não ocorre
no cianita-xisto. Este último, é caracterizado pela grande abundância de biotita e pela
orientação desses minerais em uma direção preferencial conferindo a rocha xistosidade. Além
disso, neste litotipo a cordierita ocorre de forma xenoblástica englobando e parecendo corroer
grãos de outros minerais como biotita e cianita, evidenciando um desequilibrio textural entre
essas fases minerais. A granada não ocorre em todas as amostras, porém apresenta grãos de
vários minerais inclusos, como estaurolita e cianita, preservando-os. Ainda se observa uma
grande quantidade de minerais acessórios como rutilo, monazita e zircão.
A paragênese de ambos os litotipos também apresenta diferenças, no sillimanita-
granada granulito foram identificadas apenas duas paregêneses, uma do pico do
metamorfismo apresentando minerais como granada, cordierita, quartzo, ortoclásio e
plagioclásio e uma do retrometamorfismo, com a presença dos minerais secundários. Nos
cianita-biotita xistos são identificadas três paragêneses, por conta do desequilíbrio textural
evidenciado nessas rochas, sendo uma paragênese do metamorfismo progressivo, uma do pico
metamórfico e uma do retrometamorfismo.
O sillimanita-granada granulito é caracterizado pela paragênese do pico metamórfico
dada por sillimanita + granada + ortoclásio + biotita + plagioclásio + quartzo ± cordierita
indicando condições de fácies granulito. O surgimento dessa associação mineral pode ter se
dado pela desidratação de muscovita, conforme descrito pela reação (1). Essa reação é
descontínua e se processa a partir de 730ºC e 6,0 kbar (SPEAR et al., 1999). Durante o
desenvolvimento dessa reação têm-se a formação de líquido, o que pode ser evidenciado pela
forma subédrica dos feldspatos. Isso indica uma natureza peritética para essa fase mineral.
62
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
O cianita-biotita xisto são caracterizados por três paragêneses distintas, que indicam
condições do metamorfismo progressivo, do pico metamórfico e do retrometamorfismo. A
primeira paragênese verificada é dada por cianita ± granada + biotita + plagioclásio + quartzo
± estaurolita + rutilo. O aparecimento de estaurolita para a paragênese em questão pode ser
sugerido com base na reação (4) que descreve a desestabilização do cloritóide na passagem da
fácies xisto verde para anfibolito (YARDLEY, 2004). Como os grãos de estaurolita estão
inclusos em granada, a formação de granada pode ser explicada com base na reação (5) que
descreve a desidratação de estaurolita e a geração de cianita. Com base nos aspectos texturais
e mineralógicos do cianita-biotita xisto, as condições termobáricas mais prováveis para essa
reação estão entre 600ºC e 700ºC de temperatura e entre 6 e 9 kbar (BUCHER e FREY,
1994). A existência do plagioclásio na paragênese pode ser explicada pela reação (6) que
marca seu consumo e a formação de cianita em condições de fácies anfibolito e pressões de
no mínimo 4 kbar (SPEAR et al., 1999). Vale ressaltar, que essa reação pressupõe a formação
de K-feldspato, que é inexistente na rocha. Isso pode indicar que houve a formação de líquido
durante o processo de consumo dessa fase. De acordo com as reações (4), (5) e (6) as
condições de fácies anfibolito superior seriam as mais adequadas para a formação dessa
paragênese.
(4) Cloritóide + cianita = estaurolita + quartzo + H2O
63
CARACTERIZAÇÃO DO METAMORFISMO DAS ROCHAS PARADERIVADAS
DO COMPLEXO ACAIACA, REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS
pressões entre 8 e 12 kbar para o núcleo, o que é mais condizente com as condições térmicas
esperadas. Entretanto, as condições de pressão são um pouco mais elevadas. Os dados obtidos
para as bordas dos minerais alcançaram as mesmas temperaturas do núcleo, porém as pressões
obtidas ficaram entre 6 e 9 kbar, o que a princípio pressupõe uma despressurização do sistema
a temperaturas praticamente constantes.
Os cianita-biotita xistos estudados a partir da amostra PAC-211, com base no
programa THERMOCALC 3.33 (POWELL e HOLLAND, 1994), forneceu temperaturas em
torno de 618ºC e pressões de 7,9 kbar, com base em estudos das porções mais centrais do
núcleo das fases minerais. Já as temperaturas obtidas para a porção mais intermediária do
núcleo foram de 609ºC e 5,8 kbar, e nas bordas dos minerais os dados obtidos de pressão
foram os mesmos que os últimos, porém a temperatura obtida foi de 603ºC. Esses dados
foram obtidos fundamentados na paragênese relíctica da fácies anfibolito e reafirmam essas
condições metamórficas para a formação do litotipo. A associação granada-cordierita
forneceu por meio da geotermobarometria convencional valores entre 595ºC a 724ºC, o que
sugere uma grande dispersão dos valores e a possibilidade de temperaturas um pouco mais
altas que as obtidas para a associação anterior. Embora isso não possa ser garantido com base
nesses dados sabe-se que a associação granada + cordierita necessita de pelo menos 750ºC de
temperatura para a sua formação. O geotermômetro granada-estaurolita também indica
condições de temperatura mais altas (>700ºC) o que de certa forma é incompatível para o
campo de estabilidade conhecido para estaurolita. Entretanto, segundo Ashworth (1975) e
García-Casco et al., (2003), o conteúdo de Zn presente na estaurolita estudada poderia
explicar a sobrevivência desta fase mineral em condições de fácies granulito.
A partir dos dados obtidos para ambos os litotipos foi possível a construção gráfica de
parte da trajetória P-T-t dessas rochas (Figura 3). De acordo com os resultados obtidos pelos
geotermômetros convencionais para a amostra PAC-09A (sillimanita-granada granulito),
verifica-se que essa rocha é caracterizada por uma trajetória horária, cujas condições do pico
estão ao redor de 725ºC de temperatura e em torno de 10 kbar de pressão, representando
condições de fácies granulito. O processo retrometamórfico teria ocorrido com o descréscimo
da pressão em condições quase isotérmicas, pois verifica-se uma diminuição insignificante da
temperatura e valores de pressão ao redor de 7 kbar. Como se sabe que os
geotermobarômetros convencionais possuem uma grande margem de erro e não possuem
consistência estatística, fez-se o mesmo estudo com sillimanita-granada granulito da amostra
PAC-101A, com base em dados do THERMOCALC. Não foi possível traçar a trajetória a
partir dos dados obtidos, pois só foram trabalhados para o núcleo das fases minerais
envolvidas. Com isso, é possível verificar que as condições de pressão obtidas para a amostra
PAC-101A são mais baixas do que as registradas pela geobarometria convencional realizada
na amostra PAC-09A, marcando valores entre 5 kbar e 6 kbar para o pico do processo
metamórfico. Constata-se que provavelmente as condições de temperatura do pico do
processo metamórfico teriam sido obliteradas pelo processo de retrometamorfismo
experimentado por essas rochas.
Os resultados obtidos para os cianita-biotita xistos, através do estudo no programa
THERMOCALC 3.33 (POWEL & HOLLAND, 1994) para amostra PAC-211 revela uma
despressurização do sistema do núcleo das fases minerais para as bordas, mas diferente do
observado para o sillimanita-granada granulito, isso ocorre com aumento de temperatura para
as porções intermediárias do grão e posterior diminuição. Nos dados de núcleo têm-se
temperaturas entre 603ºC e pressões em torno de 7,9 kbar, nas porções intermediárias do
mineral obteve-se 613ºC e 5,8 kbar e nas bordas, os valores são de 609ºC e 5,8 kbar. Isto
poderia indicar que o pico do processo metamórfico teria ocorrido em maiores pressões e que
para as condições do retrometamorfismo teria ocorrido uma despressurização do sistema a
temperaturas constantes. Estes dados associados aos dados texturais e mineralógicos obtidos
64
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
por meio do estudo das lâminas delgadas indicam uma possível geração de rocha na fácies
anfibolito sob condições de pressão mais altas, conforme já foi relatado por Medeiros-Júnior
(2009). Isso pode ser sugerido com base na preservação da paragênese relíctica do
metamorfismo progressivo nesses litotipos. Com isso, o pico do processo metamórfico seria
caracterizado pela geração da associação granada + cordierita, que teria se formado em
condições de temperatura mais altas e pressões bem mais baixas. Isso justificaria a presença
de cianita e cordierita na mesma rocha, pois se sabe que nas condições de temperatura
encontradas essas fases são incompatíveis do ponto de vista bárico, portanto não formam uma
paragênese, o que confirma o que a proposição original de Jordt-Evangelista (1984). Com
isso, a trajetória P-T-t dessas rochas seria caracterizada por um metamorfismo progressivo
dado pelo aumento de temperatura e diminuição brusca de pressão no pico do processo
metamórfico. Os dados do retrometamorfismo dos cianita-biotitas xistos não marcam nenhum
processo de despressurização, parecendo descrever um simples processo de resfriamento.
Figura 3. Diagrama das trajetórias P-T-t dos litotipos estudados, em vermelho temos os
sillimanita-granada granulitos e em azul os cianita-biota xistos.
65
CARACTERIZAÇÃO DO METAMORFISMO DAS ROCHAS PARADERIVADAS
DO COMPLEXO ACAIACA, REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS
metamorfizadas em condições de fácies granulito durante a Orogenia Transamazônica.
Diferentemente do que foi descrito pelo autor supracitado, os dados obtidos pelo estudo das
rochas metapelíticas no presente trabalho sugerem que o evento tectônico responsável pela
exumação do Complexo Acaiaca também está relacionado a Orogenia Transamazônica.
Segundo Medeiros-Júnior (2016) os granulitos do Complexo Acaiaca registramuma trajetória
retrometamórfica caracterizada por resfriamento isobárico, com isso seria mais passível supor
que a exumação de tais rochas provavelmente teria ocorrido por processos erosionais e/ou por
um processo tectônico bem mais jovem que o metamorfimo que as gerou, no caso a Orogenia
Brasiliana. Porém, vale ressaltar que a ênfase dos estudos do autor supracitado foi relacionada
aos resultados obtidos por granulitos máficos do Complexo, que não foram abordados no
presente trabalho.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
66
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
SPEAR, F.S., KOHN, M.J. & CHENEY, J.T. P-T paths from anatectic pelites.
Contributions to Mineralogy and Petrology, 134:17-32. 1999.
WHITE, R.W., POWELL, R. & HOLLAND, T.J.B. Progress relating to calculation of
partial melting equilibria for metapelites.Journal of Metamorphic Geology, 25:511-527.
2007.
67
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Capítulo 5
INTRODUÇÃO
69
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
O Orógeno Araçuaí é definido por Almeida (1977) como um cinturão de dobramentos
e cavalgamentos brasilianos, e desde então, busca-se detalhar o conhecimento em relação aos
componentes geotectônicos do orógeno, portanto este trabalho justifica-se no intuito de
enriquecer informações petrológicas acerca de uma das suítes magmáticas que compõe uma
das inúmeras componentes geotectônicas do Orógeno Araçuaí.
O trabalho tem o intuito de contribuir para a pesquisa científica onde aflora o maciço
intrusivo Alto Chapéu, considerando que de maneira geral a região sul do Espírito Santo
possui notável escassez de estudos geológicos em escala de detalhe e semi-detalhe, de
maneira que os mapas geológicos mais recentes de maior detalhe estão na escala de
1:100.000, com pouquíssimos trabalhos na escala de 1:50.000, o que inclui os maciços
intrusivos presentes na região. Busca-se também esclarecer questões pertinentes a intrusão, no
que diz respeito a petrografia de seus litotipos, suas relações de contato com a encaixante,
buscando um paralelo com eventos anteriores para assim contribuir com o entendimento geral
dos plútons pós colisionais no contexto do sistema orogênico Araçuaí.
70
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
71
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
mantiveram parcialmente conectados desde o Paleoproterozóico até a abertura do Atlântico
Sul, no Cretáceo. Assim, a bacia de Macaúbas, que é tratada como a bacia precursora do
orógeno, teria sido um golfo parcialmente oceanizado e ligados a aulacógenos. Logo, em
função do seu confinamento o mecanismo adotado para sua evolução seria semelhante ao do
fechamento de um quebra-nozes, impulsionados por colisões a distância, onde os aulacógenos
teriam facilitado o alargamento e oceanização do setor meridional da bacia precursora e
acomodar a deformação no interior do cráton (ALKMIM et al., 2006; ALKMIM et al., 2007;
PEDROSA-SOARES et al., 2007).
No Orógeno Araçuaí são reconhecidos quatro estágios orogênicos denominados pré-
colisional (ca. 630 - 580 Ma), sin-colisional (ca. 580 - 560 Ma), tardicolisional (ca. 560 - 530
Ma) e pós-colisional (ca. 530 - 490 Ma). Estes estágios são caracterizados com base nas
relações estruturais, assinaturas geoquímicas e isotópicas, e idades U-Pb das rochas que os
representam (PEDROSA-SOARES & WIEDEMANN-LEONARDOS, 2000).
O estágio pré-colisional, conhecido como Supersuíte G1 representa a fase
acrescionária onde foi edificado o arco magmático do Orógeno Araçuaí (PEDROSA-
SOARES et al., 2007, 2011). Nesta supersuíte estão inclusos as seguintes suítes e batólitos:
Alto Capim, Brasilândia, Derribadinha, Divino, Estrela-Muniz Freire, Galiléia, Guarataia,
Manhuaçu, Mascarenhas-Baixo Guandu, Muriaé, Rio Doce, São Vitor, Teófilo Otoni e
Valentim. Na área de estudo a estão presentes as suítes Estrela e Muniz Freire.
As rochas da supersuíte G1 consistem em batólitos e stocks de tonalito a granodiorito,
com fácies e autólitos de máficas e dioritos, que sofreram uma profunda deformação regional
durante o ciclo brasiliano (PEDROSA-SOARES et al., 2011).
De Acordo com Silva (1993) as suítes Estrela e Muniz Freire possuem contato
transicional pois há um incremento de porfiroblastos de feldspato no ortognaisse Muniz Freire
ao se aproximar do ortognaisse Estrela. A rocha que predomina majoritariamente no
ortognaisse Estrela e no ortognaisse Muniz Freire é um granito gnaisse que varia de leuco a
mesocrático com presença de porfiroblastos, granulação média a grossa e foliação bem
marcada.
O estágio sin-colisional englobas as suítes G2 e G3. As unidades presentes na suíte G2
são denominadas Ataléia, Carlos Chagas, Montanha, Nanuque, Pescador, Urucum e Lobo,
enquanto as suítes G3 que ocorre inexoravelmente associada a suíte G2, recebe as seguintes
denominações: Água Branca, água Boa, ALMENARA, Barro Branco, Itaobim e Poranga
(PEDROSA-SOARES & WIEDEMANN-LEONARDOS, 2000).
As rochas da suíte G2 incluem os granitos peraluminosos do tipo S, que vão de
granada- biotita granito a leucogranitos como a suíte Ataléia e o Batólito Carlos Chagas
associados a migmatitos do Complexo Nova Venécia. Essas rochas são ricas em megacristais
de K-feldspato e possuem enclaves cálciossilicáticas ou de granada-biotita gnaisse. Outra
característica desses corpos a é a deformação que estes sofreram, relacionados a orogenia
Brasiliana (GRADIM, 2014).
A suíte G3 formada a partir da fusão parcial dos corpos G2, corresponde a
sienogranitos ricos em granada e cordierita, sillimanita e monazita. Correspondem a corpos
isotrópicos de forma irregular, de cor escura, extremamente ricos em minerais peraluminosos,
maficos e refratários, que representam o material residual do processo de fusão parcial
(GRADIM, 2014).
A suíte G4 representa corpos que ocorrem na porção centro-norte do Orógeno Araçuaí
e que são conhecidos como: Campestra, Caraí, Córrego do Fogo, Itapore, Laje Velha,
Mangabeiras, Piauí, Santa Rosa e Teixerinha. Essas rochas são classificadas como
leucogranitos cobertos por pegmatitos, exibindo xenólitos e roof pendants e fluxo magmático.
Também é possível observar a foliação regional que ficou marcada durante a colocação e
acomodação dos plútons (PEDROSA-SOARES et al., 2011).
72
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
73
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Utilizando a ortofoto da área de estudo foram definidas três zonas homólogas como
visto na figura 3.
74
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
75
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
A zona homóloga 3 é caracterizada como a região acima do maciço (porções nordeste,
leste e sudeste) onde é cartografado o migmatito e ortognaisse. Na porção próxima ao maciço
predomina as altas amplitudes com relevo fortemente estruturado e alta amplitude que vai
diminuindo cada vez mais a nordeste da área onde começa a predominar os morros meia
laranja e as áreas rebaixadas. Na parte sul do maciço outra porção apresenta-se fortemente
estruturada, com altas amplitudes e orientação NE próxima a zona urbana de Castelo. A
vegetação se apresenta mais densa nas porções próxima ao maciço, e à medida que se afasta
vai predominando o tipo rasteiro e as culturas, também próxima a zona urbana de Castelo
nota-se esse tipo de vegetação.
No que diz respeito à drenagem foram definidas também quatro zonas homólogas
(Figura 4) que se assemelham com as definidas pela ortofoto.
76
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
Figura 5: Mapa de contagem total para o Maciço Alto Chapéu. Fonte: Geobases.
77
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
Os dados de campo foram tratados na descrição petrográfica das fácies ígneas
encontradas no maciço. Na etapa de campo e controle petrográfico foram identificados uma
litofácies de granito porfirítico, uma fácie diorítica e por fim a porção migmatítica encontrada
na borda leste do plúton. A litofácies ortognaisse relacionada ao embasamento foi reconhecida
em campo, mas não será caracterizada no presente trabalho.
No maciço Alto Chapéu, as rochas encontram-se dispostas em afloramentos do tipo
lajedo, paredões, pães de açúcar, encostas de morro, cachoeiras de drenagem e matacões. A
disposição dos pontos foi adequada para um breve conhecimento da relação ígnea do maciço
e com suas encaixantes.
O granito porfirítico predomina na porção central do maciço e aflora em lajedos,
riachos, cortes de estrada e paredões Devido ao intemperismo diferencial atuante nas rochas
da região, é nítido o desnível geomorfológico do encaixante em relação às rochas graníticas
do maciço.
Macroscopicamente a rocha se apresenta majoritariamente leucocrática, mas
subordinadamente também ocorre mesocrática, de coloração branca a cinza, com pórfiros de
feldspato potássico, grãos médios de quartzo e plagioclásio, e biotita de fina a média na
matriz. Os pórfiros de feldspato potássico representam em média 25% e a matriz os 75 %
restantes. É comum observar aglomerados de cristais de feldspato potássico nos afloramentos.
Do ponto de vista microscópico a rocha caracteriza-se como maciça, fanerítica, holocristalina,
inequigranular porfirítica. Mineralogicamente a rocha é composta em média por 35 a 30% de
microclina, 20 a 10% de ortoclásio, 25 a 20% de quartzo, 15 a 10% de plagioclásio, 15 a 10%
de biotita, 5% de titanita e subordinadamente de opacos, apatita, zircão, muscovita, sericita,
epidoto e clorita.
Em alguns casos é possível observar a presença de aglomerados máficos, lenticulares,
centimétricos muitas vezes e subordinadamente milimétricos com presença maciça de biotita,
em menor proporção quartzo e pórfiros de feldspato potássico. Especificamente em um
afloramento foi avistado um grande bolsão máfico de proporções métricas que equivalia com
a proporção porfirítica. É possível ainda observar contatos com a rocha encaixante de forma
abrupta e com o granito equigranular fino.
O diorito aflora em uma pequena porção do maciço, normalmente em porções de
relevo mais arrasadas, na forma de lajedos em contato com o granito porfirítico em formas de
bolsão e majoritariamente em blocos rolados. A rocha que representa esta fácies apresenta
coloração escura com porções esverdeadas. As rochas desta fácies ocorrem sempre associadas
ao granito porfirítico, por vezes até assimilando alguns pórfiros, ou então estão associadas ao
ortognaisse migmatítico.
A rocha macroscopicamente é maciça, holocristalina, fanerítica, melanocrática e
equigranular de granulação fina, mas podendo ocorrer com pórfiros de feldspato potássico.
Mineralogicamente a rocha é formada por plagioclásio, biotita, anfibólio e quartzo.
Microscopicamente esta rocha apresenta-se maciça, fanerítica, holocristalina, inequigranular
porfirítica. Mineralogicamente a rocha é composta, em média por 25% a 30% de hornblenda,
25 % a 30 % de biotita, 5% de quartzo, 15 a 25% de plagioclásio, 5% a 10% de ortoclásio, 5%
de titanita e subordinadamente sericita e opacos.
O migmatito é encontrado em afloramentos do tipo lajedo e cortes de estrada. A principal
característica deste litotipo é a interação entre partes mesocráticas e leucocráticas, ambas de
granulação mais fina. Essa unidade predomina na porção leste do maciço e subordinadamente
no interior do maciço.
Em muitos pontos é observado um isolamento de bolsões mesocráticos dentro das partes
leucocráticas, e vice-versa. A parte mesocrática é rica em anfibólio interpretada como um
paleossoma enquanto a parte leucocrática é um granitoide também rico em anfibólio
interpretado como neossoma. Estruturalmente é possível observar estrutura de veio (vein-
78
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
structured migmatite) onde veios leucocráticos são abundantes com grande presença de
anfibólio. Nos locais que afloram essa unidade é possível sempre observar a relação desta
com o granito porfirítico e com a encaixante, as porções mais leucocráticas interagem de
forma gradacional por muitas vezes com a porção porfirítica. As porções leucocráticas
preferencialmente apresentam granulação fina, porém em alguns casos há grãos maiores de
feldspato e anfibólio. Já a porção mesocrática varia de fina a média principalmente pela
presença de anfibólio. Outra particularidade dessa unidade é a semelhança com a rocha
encaixante, apresentando feições que realçam anatexia.
Dentro da unidade migmatito, em um dos pontos de estudo encontrou-se feições de
fusão parcial que se assemelham a um mingling entre magmas. As feições encontradas nesse
ponto sugerem que há uma mistura de magmas contrastantes. Enclaves máficos foram
observados isolados dentro de porções leucocráticas e vice-versa, sendo possível notar uma
pequena zona de reação entre as duas porções existentes. Ambos possuem granulação fina
sendo difícil a distinção mineralógica entre os dois. Normalmente se encontram dobrados e
vão esmaecendo ao longo do afloramento. Essa unidade não foi caracterizada como uma
unidade por apenas ser encontrada em um ponto.
O ortognaisse é encontradoem afloramentos do tipo lajedo e encostas de morros pão-
de-açúcar, por vezes é possível uma observação clara, mas em geral existe um fino manto de
alteração presente. Cabe salientar que não é objetivo do presente trabalho caracterizar esta
unidade.A rocha em questão apresenta-se normalmente com coloração acizentada, com
presença de porções mais escuras frequentemente.
Outro aspecto observado nessa unidade são estruturas como foliação marcada por
bandamento composicional, dobras abertas e fechadas, injeções de veios de quartzo
principalmente e também pegmatitos. A foliação é a feição mais vista e às vezes se apresenta
de forma incipiente enquanto as injeções pegmatíticas ocorrem localmente. Localmente
apresenta feições de metatexito com presença de schlierens de biotita. Outra marca dessa
unidade é a presença de muitos pórfiros de feldspato potássico assemelhando-se em muitos
casos com o granito porfirítico presente na região e em contato com o diorito. Nas porções em
que se apresentam muito porfiríticas essa rocha apresenta leve foliação marcada pelos cristais
de biotita, outra particularidade é que feições de fluxo magmático também são observadas
marcadas por pórfiros de feldspato potássico.
Na tentativa de contribuir para melhorar os contatos geológicos do mapa geológico de
Cachoeiro de Itapemirim (1:100000) (SILVA, 1993) foram feitas algumas discussões sobre os
pontos cartografados.
A maior parte do maciço é constituida pelo Granito Porfirítico, nas áreas onde esse
litotipo predomina também afloram parte do migmatito, do diorito e do ortognaisse. A
coexistência de diferentes litotipos no mesmo afloramento dificultou a delimitação dos corpos
que foi distinguida pela predominâcia de uma dessas rochas. O granito porfirítico é
encontrado em contato abrupto com o ortognaisse e com o migmatito, sendo que não foi
possível estabelecer relações genéticas entre eles.
Foram descritos afloramentos de rochas porfíricas que deixaram dúvida em relação a
se tratar do embasamento ou da fácies porfirítica do maciço, já que são mineralógicamente e
texturalmente muito semelhantes e muitas vezes o embasamento é pouco foliado, preservando
as estruturas ígneas. A presença da foliação foi um critério determinante para definir como
embasamento, assim, em algumas áreas do granito porfirítico de Silva (1993) foram
redefinidas como ortognaisse.
Foi cartografada por Silva (1993), uma falha trancorrente de direção NW-SE
delimitando o Granito Porfirítico das demais unidades, mas não foram encontradas evidências
dessa falha durante a execução desse trabalho.
79
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
O migmatito de acordo com Silva (1993) é limitado do granito porfirítico e do
ortognaisse por duas transcorrências de sentido NW-SE. Entretanto, foi constatado que a
distribuição areal dessa unidade é maior do que a descrita, além das interpretações geológicas
de imagens, as observações de campo mostraram que essa unidade é maior e que as
transcorrências não delimitam os contatos com outras unidades mapeadas. O leucossoma
desse migmatito é constituído por um granitoide de textura fina composto por quartzo,
feldspato e anfibólio. Estas características mineralógicas são compatíveis com o que foi
cartografado por Silva (1993) como migmatito de borda de intrusão.
Dentro da porção migmatítica foi individualizada uma unidade que não foi
caracterizada no escopo deste trabalho. Esta unidade caracerizada como granito híbrido foi
observada apresentando granulação fina e interação entre as partes leucocráticas e
mesocráticas muita das vezes dobradas e apresentando uma zona de reação entre as duas.
A porção diorítica encontrada estava sempre em contato com as duas litologias
supracitadas, normalmente na forma enclaves e matacões. Quando este se encontra em
contato com granito porfirítico é possível notar a presença de pórfiros de feldspato potássico
também no diorito. Com todas essas restrições considera-se que esta fácies seja realmente
menor do que foi definida por trabalhos anteriores.
Levando em consideração as observações de campo, imagens de sensor
(aerogamaespectometria) e ortofoto foi proposto um novo mapa geológico com novas
delimitações para o Maciço Intrusivo Alto Chapéu (Figura 6). Os limites do maciço Alto
Chapéu foram definidos principalmente pelas associações litológicas observadas em campo,
como petrografia e relações de contato, comparando-os com trabalhos anteriores para chegar
ao modelo atual. As imagens aerogamaespectométricas e a caracterização geomorfológica
mostraram respostas bem semelhantes para o plúton. O alto radiométrico da contagem total é
o mesmo que a classificação geomorfológica para o maciço o que contribui para a nova
configuração do mapa geológico da área. Entretanto, o alto radiométrico na porção SE carece
de uma densidade maior de pontos o que pode servir de incentivo para futuros trabalhos a fim
de caracterizar ainda mais os limites dessas unidades.
Figura 6. Novo mapa geológico proposto para o maciço Alto Chapéu. Fonte: Geobases.
80
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
CONCLUSÃO
No maciço Alto Chapéu foram definidas no total quatro litofácies, sendo duas delas
referentes ao embasamento- ortognaisse e ortognaisse migmatítico- e duas litofácies
plutônicas, uma diorítica e outra de granito porfirítico.
O Maciço Intrusivo Alto Chapéu apresenta uma gênese complexa, envolvendo
magmas de propriedades contrastantes e interações com as rochas ao redor de difícil
entendimento. Outro ponto que cerne as questões deste maciço se dá em relação a sua
delimitação. Portanto, a caracterização petrográfica aliada a interpretação geológica de
imagens permite obter profícuo avanço nas informações sobre a evolução magmática, sobre
os limites do maciço além do entendimento de outros plútons presentes no estado Espírito
Santo.
A região de estudo é composta por quatro litofácies: Granito Pofirítico, Diorito,
Migmatito e Ortognaisse. O maciço Alto Chapéu é composto por uma série de granitoides que
variam de sienogranito a monzogranito sem exibir membros intermediários. Texturalmente
esses granitoides são porfiríticas com fenocristais de feldspato potássico com até 6 mm de
tamanho. Do ponto de vista descritivo essa rocha apresenta-se majoritariamente leucocrática,
mas subordinadamente também ocorre mesocrática, de coloração branca a cinza, com pórfiros
de feldspato potássico, grãos médios de quartzo e plagioclásio, e biotita de fina a média na
matriz. Os pórfiros de feldspato potássico representam em média 25% e a matriz os 75 %
restantes. Correlacionando assim a ambiente geotectônico do plutón de acordo com
Wiedemann (2002) o maciço encontra-se no grupo dos granitóides tipo I, de gênese pós-
colisional gerados durante o ciclo Brasiliano, intra-placa continental, alojado em profundidade
crustal inferior à média.
O diorito é classificado como quartzo-monzodiorito. Texturalmente apresentam
pórfiros de feldspato potássico de até 4 mm. A unidade em questão apresenta-se é maciça,
holocristalina, fanerítica, melanocrática e equigranular de granulação fina. Mineralogicamente
a rocha é formada por em média 40% de plagioclásio, 50 % de biotita, 5 % de anfibólio e 5 %
de quartzo.
O migmatito apresenta uma interação entre as porções leucocráticas interpretadas
como um granitoide sendo assim correlacionada ao neossoma e porções mesocráticas
referentes ao paleossoma. As porções leucocráticas preferencialmente apresentam granulação
fina, porém em alguns casos há grãos maiores de feldspato e anfibólio. Já a porção
mesocrática varia de fina a média principalmente pela presença de anfibólio.
O granito híbrido não individualizado nesse trabalho apresenta-se dentro da porção
migmatítica. Esta unidade não foi individualizada no presente trabalho pela falta de uma
maior densidade de pontos na porção SE da área. Esta área caracteriza-se por uma alta
resposta radiométrica no canal de contagem total podendo ser melhor individualizada em
trabalhos futuros e representar até uma maior extensão deste corpo.
O ortognaisse apesar de não fazer parte do escopo principal do trabalho foi
reconhecido apresentando normalmente coloração acizentada, com presença de porções mais
escuras frequentemente, foliação marcada por bandamento composicional, dobras abertas e
fechadas, injeções de veios de quartzo principalmente e também pegmatitos.
A fácies granito porfirítico é encontrada em todas as altitudes na região apresentando
pequenas diferenças no que diz respeito ao grau de intemperismo. Em geral, possui feição de
fluxo magmático marcada pela orientação dos pórfiros e com direção preferencial NW.
O diorito se encontra mais restrito do que cartografado em trabalhos anteriores,
normalmente aparecendo na forma de matacões ou então em contato direto com o granito
porfirítico na forma de enclaves que variam de tamanho.
81
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
O migmatito possui distribuição espacial maior do que o cartografado anteriormente,
prevalecendo na borda leste do maciço e adentrando este. A sua composição mineralógica
tanto para neossoma e paleossoma são compatíveis com o que é colocado na bibliografia.
De acordo com o mapeamento realizado por Silva (1993) o maciço Alto Chapéu
possui uma área total de 37 km², porém utilizando-se da interpretação geológica de imagens e
das observações de campo, propõem-se uma área menor para o maciço.
Por fim é necessário salientar a importância de trabalhos futuros que poderão vir a
complementar o estudo preliminar realizado nesta monografia. Omapeamento em escala de
1:50.000 ou 1:25.000 possibilitaria maior conhecimento e entendimento das relações e
comportamento das litologias ígneas e do embasamento observadas em campo. Além disso,
análises de geoquímica e informações geocronológicas podem contribuir para o entendimento
de modelos mais bem definidos de ambientação tectônica, bem como modelos petrogenéticos
e idades modelos, assim como os processos que norteiam ao magmatismo bimodal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITO NEVES B.B. & CORDANI U.G. Tectonic evolution of South America during the
Late Proterozoic. Precambrian Research, v. 53, p. 23-40, 1991.
82
Petrologia e Mineralogia - Volume 1
GRADIM, C., RONCATO, J., PEDROSA-SOARES, A.C., CORDANI, U., DUSSIN, I.,
ALKMIN, F.F., QUEIROGA, G., JACOBSON, T., DA SILVA, L.C., And BABINSKI, M.
2014. The hot back-arc zone of the Araçuaí orogen, Eastern Brazil: from sedimentation
to granite generation. Braz. J. Geol. 44.
LIMA, M.I.C., SILVA, J.M.R., SIGA JR, O.In:Projeto RadamBrasil, Folha SD 24,
Salvador: Geologia. Rio de Janeiro, 1981, 624p. (Levantamento de Recursos Minerais, 24),
p. 25 - 192.
MACHADO FILHO, L., RIBEIRO, M.W., GONZALES, S, R., SCHENINI, C, A., SANTOS
NETO, A., PALMEIRA, R.C.B., PIRES, J. L., TEIXEIRA, W., CASTRO, H.E.F. Geologia.
In: Brasil – Ministério de Minas e Energia. Projeto RADAMBRASIL, Folhas SF. 23/2,
Rio de Janeiro/Vitória, geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, uso potencial da
terra. Rio de Janeiro, MME,1983, p. 27 – 304.
PEDROSA-SOARES, A.C. & WIEDEMANN, C.M. 2000. Evolution of the Araçuaí Belt
and its connection to the Ribeira Belt, Eastern Brazil. U. Cordani, E. Milani, A. Thomaz-
Filho & D. A. Campos (eds), Tectonic Evolution of South America. São Paulo, Sociedade
Brasileira de Geologia.
PEDROSA-SOARES, A.C.; CASTEÑEDA, C.; QUEIROGA, G.; GRADIM, C.; BELÉM, J.;
RONCATO, J; NOVO, T.; DIAS, P.; GRADIM, D.; MEDEIROS, S.; JACOBSOHN, T.;
BABINSKI, M.; VIEIRA, V. Magmatismo e tectônica do Orógeno Araçuaí no Extremo
Leste de Minas Gerais e Norte do Espírito Santo (180 –190S, 410 – 41030´W). Geonomos,
Belo Horizonte, v. 14, p. 97- 111. 2006.
83
CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA DO MACIÇO ALTO CHAPÉU, CASTELO,
ESPÍRITO SANTO
CORDANI, U., CASTAÑEDA, C. 2007. Orógeno araçuaí: síntese do conhecimento 30
anos após Almeida 1977. Revista geonomos 15(1): 1 – 16.
PEDROSA-SOARES, A.C., ALKMIN, F.F., TACK, L., NOCE, C.M., BABINSKI, M.,
SILVA, L.C., MARTINS-NETO, M.A. Similarities and differences between the Brazilian
and African counterparts of the Neoproterozoic Araçuaí-West- Congo orogen.
Geological Society, London, Special Publications, v. 294, p. 153-172, 2008.
VAUCHEZ, A., EGYDIO-SILVA, M., BABINSKI, M., TOMMASI, A., UHLEIN, A. &
LIU, D. 2007. Deformation of a pervasively molten middle crust: insights from the
Neoproterozoic Ribeira-Araçuaí orogen (SE Brazil). Terra Nova, 19: 278-286.
VIEIRA, V.S & MENESES, R.G. 2015. Programa Geologia do Brasil. Mapas Geológicos
Estaduais. Mapa Geológico do Espírito Santo. Escala 1:400.000. Belo Horizonte, CPRM.
84