Darius Tese PDF
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All content following this page was uploaded by Fábio Augusto Darius on 02 February 2017.
DOUTORADO EM TEOLOGIA
São Leopoldo
2014
FÁBIO AUGUSTO DARIUS
São Leopoldo
2014
BANCA EXAMINADORA
1º Examinador:
__________________________________________________
Prof. Dr. Wilhelm Wachholz (Presidente / EST - PPG)
2º Examinador:
__________________________________________________
Prof. Dr. Rudolf von Sinner (EST - PPG)
3ª Examinador:
__________________________________________________
4ª Examinador:
__________________________________________________
Profa. Dra. Lilian Blanck de Oliveira (FURB)
5ª Examinador:
__________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Flávio Teixeira (UNASP)
DARIUS, Fábio Augusto. De corpo, alma e espírito: apontamentos históricos
e teológicos acerca do tema santificação na obra holística de Ellen White.
SINOPSE
ABSTRACT
Agradecimentos…
Em 2008, ao deixar pela primeira vez o conforto e a alegria dos amigos, bem
como a comodidade e a beleza da minha cidade natal rumo a uma nova aura,
a dor pungente da despedida logo foi olvidada pelo ardor das perspectivas que
nasciam em minha alma. Afinal, assim como afirmou o profeta Samuel, “até
aqui Iahweh nos socorreu”. A misericórdia divina foi por mim rapidamente
percebida ao ser abraçado por inúmeras pessoas que tanto me ajudaram e me
ajudam no trajeto. Agradeço a Deus pelas maravilhosas oportunidades e por
Seu sempiterno amor: a Ele, deponho minha alma mortal e a Ele, pela graça
mediante a fé que Dele recebo, suplico pelo dom da imortalidade. Agradeço
aos meus pais Paulo e Célia e meus irmãos João Paulo e Flávia que nem
sempre alegremente, mas com ternura e amor aceitaram minhas tantas
ausências em virtude da participação em numerosos eventos no Brasil e
mesmo fora do país. Agradeço a minha futura esposa Rebeca por tão devotado
amor, carinho e admiração: foram muitas as horas que precisei abrir os livros e
não pude abrir meus braços para senti-la mais perto. Sou absolutamente grato
ao meu orientador, Prof. Dr. Wilhelm Wachholz, que desde meu primeiro dia na
Escola Superior de Teologia, lá em 2008, tão bondosa e alegremente me
atendeu, participando de forma ativa de meu desenvolvimento acadêmico: ao
senhor, que abriu meus olhos ao mundo eu desejo frutuosas bênçãos e vida
longa e próspera, extensivas aos seus! Agradeço aos meus colegas
professores e coordenadores do Centro Tecnológico da Universidade de
Caxias do Sul – CETEC/UCS que pacientemente entenderam que minha
mente e meu coração precisaram se dividir entre meus queridos alunos – a
quem também dedico este trabalho! – e as obrigações de acadêmico.
Obrigado, querida Diretora Ana Cristina Possap Cesa, Isabel Corrêa e Isabel
Galli: sem vocês, teria sido muito mais difícil e menos prazeroso. Sou e serei
grato também a minha primeira incentivadora, Profa. Dra. Maria Luiza Renaux,
que desde os primórdios acreditou em mim. Agradeço de forma especial a
Profa. Ms. Caroline de Siqueira pela leitura atenta e ajuda na formatação final
deste trabalho. Sou grato também a amiga Priscila Lubitz por todas as revisões
e traduções ao longo desses anos. Durante o período em que cursei o
Doutorado no Programa de Pós-Graduação, foi de imprescindível ajuda o
custeio dos estudos pela CAPES. Que muitos outros possam, a partir desta
ajuda, vivenciar o que vivenciei!
Sumário
INTRODUÇÃO
2
Há quase duas mil páginas de material desse evento, disponível em WHITE, Ellen. The Ellen G.
White 1888 Materials. Washington: Ellen G. White Estate, 1987.
3
A própria Ellen White conta em seu livro Christian Experience and Teachings of Ellen G White,
traduzido para o português como Vida e Ensinos (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira. 10. ed., 2000.
p. 13) o seguinte: “Sendo eu criança, meus pais se mudaram de Gorham para Portland (Maine). Aí,
na idade de nove anos sofri um acidente que iria me afetar a vida inteira. Em companhia de minha
irmã gêmea e de uma de nossas colegas, atravessava eu uma praça na cidade de Portland, quando
uma menina de treze anos aproximadamente, zangando-se por qualquer futilidade, atirou uma pedra
que me atingiu o nariz. Fiquei aturdida com o golpe e caí ao chão, desmaiada”. Sobre a agonia, ela
ainda relatou em WHITE, Ellen. Spiritual Gifts. Battle Creek: Seventh-day Adventist Publishing
Association, 1860. p. 9 e 30: “Os médicos acharam que era possível enfiar um fio de prata em meu
nariz para manter sua forma, mas me disseram que isso seria de pouca utilidade. Disseram que eu
havia perdido tanto sangue e sofrera abalo nervoso tão grande que meu restabelecimento era muito
improvável; disseram também que, ainda que eu melhorasse, não conseguiria viver muito tempo.
Fiquei quase reduzida a um esqueleto.” […] Minha saúde decaiu rapidamente. Eu só conseguia falar
em sussurros ou num tom de voz baixo. Certo médico disse que minha doença era uma tuberculose
hidrópica; que meu pulmão direito estava perdido, e o meu esquerdo afetado. Seu prognóstico era o
de que eu não viveria muito tempo, podendo até morrer subitamente. Eu sentia grande dificuldade em
respirar deitada. Passava as noites apoiada em um travesseiro, em uma posição quase sentada.
Despertava muitas vezes com a boca cheia de sangue.”
4
TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia na América – Livro II: Sentimentos e Opiniões. São
Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 43. O que que ele tem a dizer aqui?? Aqui, em breves linhas
19
Tocqueville deixa antever o pragmatismo estadunidense que soube, de forma sui generis trabalhar
questões “espirituais” e cotidianas sem qualquer prejuízo para nenhuma das duas esferas.
5
Ellen White negava totalmente a imediata santificação sendo que para ela “a santificação não é uma
obra instantânea, e, sim, progressiva, assim como a obediência é contínua”. WHITE, Ellen.
Obedience is sanctification. The Signs of the Times. Oakland. 19 de maio de 1890. p. 1. Para
Wesley, a santificação também deveria algo progressivo. Contudo, Ellen White discordaria da teoria
wesleyana da “segunda obra da graça”, que diz que depois da justificação o homem deveria procurar
por Deus para continuar o processo.
20
teoria dos escritos dos reformadores anteriores e também de Ellen White, pouco
mais de meio século depois. Contudo, a definição wesleyana de santificação em si
certamente abarca o conjunto do pensamento whiteano acerca do tema. Para ele,
santificação é a “pureza das intenções”, total entrega para Deus. Para Ellen White, a
diferença teórica entre justificação e santificação não seria clarificadora para seu
público original, afirmando que “é imputada a justiça pela qual somos justificados;
aquela pela qual somos santificados é comunicada. A primeira é nosso título para o
Céu; a segunda, nossa adaptação para ele”.6 Contudo, paradoxalmente, ela afirma
que “muitos cometem o erro de tentar definir minuciosamente os sutis pontos de
distinção entre justificação e santificação. Muitas vezes trazem eles para as
definições dos dois termos as suas próprias idéias e especulações.”7 Para White – e
talvez aqui esteja sua maior semelhança com John Wesley – a santificação deve ser
iminentemente prática e provavelmente seu melhor conceito seja aquele em que ela
simplesmente exemplifica o que a santificação venha a ser, a saber: “Isto é
verdadeira santificação. Não é meramente uma teoria, uma emoção ou uma forma
de expressão, mas um princípio vivo, ativo, permeando a vida diariamente”.
Segundo ela, isto “[...] requer que nossos hábitos no comer, beber e vestir sejam de
molde a assegurar a conservação da saúde física, mental e moral”.8
Eis, no exemplo explicitado na frase acima citada, a proposta do trabalho,
desde uma análise acurada das obras disponíveis em inglês da autora9: a partir de
6
WHITE, Ellen. Messages to Young People. Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing
Association, 1930. p. 35.
7
WHITE, Ellen. Manuscript Releases. Silver Spring, MD: Ellen G. White Estate, Vol. 3, 1981. p. 300.
8
WHITE, Ellen. Counsels on Diet and Foods. Washington, D.C.: Review and Herald Publishing
Association, 1976. p. 58.
9
Faz-se necessário clarificar que: 1) optou-se pelas obras da autora em inglês para evitar certos
problemas de tradução, pontuais, percebidos por este autor, como por exemplo: “Spirit” traduzido por
“espírito” (em letra minúscula) ou vice-versa, bem como “Nature” ora traduzido por “natureza” ou
“Natureza”, dentre outros casos raros. 2) Nem todas as obras de Ellen White encontram-se
publicadas em português (embora um grande número esteja disponível) e segundo o Ellen White
Estate, há porções de seus escritos ainda em análise. (Há disponível em CD-ROM todas as obras
publicadas em inglês pela autora, bem como artigos de periódicos, panfletos, obras de outros autories
adventistas do sétimo dia, livros protestantes clássicos que a influenciaram, a versão da Bíblia que
ela se utilizou, assim como seu dicionário, bem como obras contextuais e biográficas sobre ela. Trata-
se do “Ellen G. White, Comprehensive Research Edition CD-ROM 2008”, disponível para compra no
sítio http://www.adventistbookcenter.com/ellen-g-white-comprehensive-research-edition-cd-rom-2008-
pc.html. Também há versões disponívels para o sistema Apple (MAC e iPhone, iPod e iPad) e
Android. Os livros em português podem ser adquiridos diretamente pela editora dos Adventistas do
Sétimo Dia, a Casa Publicadora Brasileira. 3) Nos raros casos em que não foi possível buscar a obra
em inglês, fez-se a consulta em português. Metodologicamente, optou-se pela perspectiva histórica
da longa duração, tomando os textos de Ellen White, na maioria dos casos (mas sem desprezar seu
dom profético) enquanto escritos históricos, ora em harmonia com os ditames de seu tempo, ora não.
4) Visto a opção do autor pela obra em inglês de Ellen White e visando facilitar a pesquisa e leitura de
21
suas obras em português, o site do Centro de Pesquisas Ellen G. White disponibiliza uma relação
completa contendo o título em português e em inglês. O endereço encontra-se disponível em
http://centrowhite.org.br/ellen-g-white/relacao-de-titulos-portugues-ingles-dos-livros-de-ellen-g-white/.
Acessado em 28 de março de 2014.
10
Optou-se por se utilizar “corpo, alma e espírito”, nesta ordem, por um motivo em especial: dada a
perspectiva monista de Ellen White (e assim, sua leitura integralista do ser humano), classificar por
ordem de importância corpo e espírito não parece estar em linha com a teologia whiteana. Assim,
visto que para ela a alma é a união do ente físico e espiritual, deixar a “alma” no meio do “corpo” e do
“espírito” parece uma ideia razoável. Ainda: visto que neste trabalho alude-se ao espírito de forma
privilegiada partir da perspectiva do sábado para o adventista do sétimo dia, período que sintetiza a
união divino-humano e a percepção de criatura por parte do ser humano (e que precisamente esta
conteúdo ficou resevado para o final deste trabalho) manter os termos na ordem em que se
encontram segue uma certa sequência, que talvez para outro(a) autor(a) não necessariamente
precisaria ser seguida.
11
DARIUS, Fábio Augusto; WACHHOLZ, Wilhelm. Passos para Cristo: a construção do conceito de
"santificação" na obra de Ellen White legada à Igreja Adventista do Sétimo Dia. São Leopoldo, 2010.
119 f. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Teologia, Programa de Pós-graduação, São
Leopoldo, 2010. Disponível em: http://tede.est.edu.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=208.
Acessado em 9 de outubro de 2013.
22
e um PIB de mais de quinze trilhões e meio de dólares.15 Não é exagero afirmar que
o destino do mundo, para o bem ou para o mal, está visceralmente ligado ao destino
dos Estados Unidos.
1.1 Os pressupostos da religião nos Estados Unidos da América nos séculos XVII e
XVIII: revisão e aporte histórico
15
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, Divisão de Inteligência Comercial. Os dados
podem ser acessados a partir do endereço eletrônico http://www.brasilglobalnet.gov.br/
IndicadoresEconomicos/INDEstadosUnidos.pdf. Acessado em 22 de novembro de 2013.
16
Para contextualizar este primeiro capítulo, foi utilizada a perspectiva metodológica conhecida como
longa duração. A escolha não foi acidental: para melhor perceber as múltiplas matizes do século XIX
estadunidense, visualizar os dois séculos anteriores desde uma perspectiva social (dentre outras)
evidencia o que aquela nação chama de “destino manifesto” visto que, nas palavras de Braudel “[…]
a história é a soma de todas as histórias possíveis: uma coleção de ofícios e de pontos de vista, de
ontem, de hoje e de amanhã”. No caso específico, a soma destas histórias parece ter culminado, no
século XIX, uma espécie de “aurora de um novo tempo”, período este que Ellen White observaria
muito criticamente. BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. Lisboa: Editorial Presença,
1990. p. 17.
26
Mas em que sentido ele pode ser chamado de uma nação cristã? Não no
sentido de que o cristianismo é a religião estabelecida ou que as pessoas
estão de qualquer maneira obrigadas a apoiá-lo. Pelo contrário, a
Constituição prevê expressamente que "o Congresso não fará nenhuma lei
que respeita um estabelecimento da religião, ou proibindo o seu livre
exercício." Também não é cristã no sentido de que todos os seus cidadãos
são de fato ou cristãos de nome. Pelo contrário, todas as religiões têm um
âmbito livre dentro de nossas fronteiras. Muitos do nosso povo professam
outras religiões, e muitos rejeitam todas. Nem é cristã no sentido de que a
profissão do Cristianismo é uma condição de cargos ou engajamento no
serviço público ou essencial para o reconhecimento politico ou social. Na
verdade o governo como uma organização legal é independente de todas
as religiões. No entanto, estamos constantemente a falar desta república
como uma nação cristã de fato, como a nação líder do mundo cristão. Este
uso popular do termo certamente tem um significado. Não é uma mera
criação da imaginação. Não é um termo de escárnio, mas tem uma base
19
substancial que justifica seu uso.
20
MUELLER. J.J. Practical Discipleship: A United States Christology. The Liturgical Press:
Collegeville, 1992. p. 27. Conforme o original: “Essentially, then, the American way of life is a dream
always waiting to be realized. It is constantly being created, undone, and remade. Never will we be
able to say, "We have arrived; we are finished!" We will always say "We are arriving; we have more to
do." (A tradução, livre, é minha.)
21
De acordo com KARNAL, Leandro [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século
XXI.São Paulo: Contexto, 2008, p.33.
29
Cristo disse que seu reino não era deste mundo e personificou a mensagem
em seus ensinamentos. Seus seguidores, no entanto, tiveram de viver no
mundo, tentando, apesar deste aviso para trazê-lo sob Seu domínio, dobrar
seus preceitos quase irreconhecíveis, a fim de encaixá-los para os
caminhos do mundo. Ao longo dos séculos o cristianismo tem vibrado
desconfortavelmente entre o que seu fundador prescreveu e o que exige o
mundo. Quando a igreja torna-se demasiado gorda e confortável para com o
mundo, o contraste entre o meio e a mensagem sempre aponta para algum
profeta para chamar os verdadeiros crentes de modo que a instituição, a
23
vida e o culto mais se assemelhem a Cristo.
A vida da nova nação, ao menos nos séculos XVII, XVIII e XIX, apesar do
advento do racionalismo e de tantas teorias ditas anticristãs e mesmo, desde o final
do século XIX, do fundamentalismo incipiente, ao menos em princípios, tentou se
basear neste propósito, ou seja, manter sempre o pêndulo equilibrado. Com base
nessas crenças, ainda hoje, com orgulho muitas vezes exacerbado, os Estados
Unidos da América dizem ser efetivamente cristãos, justificando em grande medida
sua política externa, como exemplo máximo disso24. Dito isto, resta, sempre em
22
O “já” e o “ainda não” foram tomados emprestados de Bultmann, principalmente através da obra:
BULTMANN, Rudolf. Crer e Compreender: ensaios selecionados. Edição Revista e Ampliada.
Tradução de Walter Schlupp, Walter Altmann e Nélio Schneider. São Leopoldo: Sinodal, 2001.
23
MORGAN, Edmund. The World and William Penn. In: BUTLER, Jon; STOUT, Harry. Religion in
American History: a reader. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press, 1998. p. 43. Conforme o
original: “Christ said that his kingdom was not of this world and embodied the message in his other
teachings. His followers have nevertheless had to live in the world, trying in spite of this warning to
bring it under his dominion or else bending his precepts almost beyond recognition in order to fit them
to the ways of the world. Over the centuries Christianity has vibrated uneasily between what its
founder prescribed and what world demands. When the church becomes too fat and comfortable with
the world, the contrast between the medium and the message will always prompt some prophet to
summon true believers out of so unchristian an institution and into a way of life and worship that will
more closely resemble Christ's”. (A tradução livre, é de minha autoria.)
24
São quase antológicas as palavras do então presidente George Bush Jr., que ao declarar guerra
contra o então ditador o Iraque, Saddam Hussein, afirmou ser esta uma guerra do bem contra o mal.
Ainda mais icônico foi a entrada de missionários de múltiplas denominações em várias partes do
Iraque assim que os exércitos “do bem” conseguiram dominar certas posições. É possível, sem
dificuldade, encontrar aqui aquele espírito que levou milhares de cristãos às Cruzadas. Esse
pensamento norteia, sem embargo, toda a ideologia estadunidense e pode ser percebida já nos
primeiros anos do século XIX quando estes, ao baterem os ingleses em uma batalha naval na Guerra
de 1812, afirmaram que “O Todo-poderoso agradou-Se em conceder-nos uma vitória-sinal”. BLISS,
Sylvester. Memoirs of William Miller In: MAXWELL, C. Mervyn. História do Adventismo. Santo
André: Casa Publicadora Brasileira, 1982. p. 76.
30
27
O já citado teólogo Lindberg afirma que “a partir da perspectiva de Maria, a vocação dela era salvar
seu povo do pecado mortal restituindo-o à obediência papal. Ela optou realizar isso por meio de uma
política externa que aliou a Inglaterra com a Espanha.” LINDBERG, 2001. p. 385.
28
KARNAL, Leandro [et al.]. 2008. p. 34.
32
Os ingleses que vêm para a América trazem uma tradição cultural diversa
da espanhola ou portuguesa. Os colonos ingleses, por exemplo, convivem
com mais religiões. O senso do relativo que a história inglesa ajudara a
formar estabeleceria uma possibilidade de opção bem maior, uma visão de
mundo mais diversificada para nortear as escolhas de vida feitas na nova
terra. O Estado e a Igreja oficial, na verdade, não acompanharam os
colonos ingleses. Aqui eles teriam de construir muita coisa nova, inclusive a
29
memória.
35
WHITE, Ellen. The Great Controversy Between Christ and Satan, 1911 edition. Mountain View,
CA: Pacific Press Publishing Association, 1950. p. 291. Conforme o original: “In the midst of exile and
hardship their [the Pilgrim fathers] love and faith waxed strong. They trusted the Lord's promises, and
He did not fail them in time of need. His angels were by their side, to encourage and support them.
And when God's hand seemed pointing them across the sea, to a land where they might found for
themselves a state, and leave to their children the preciousheritage of religious liberty, they went
forward, without shrinking, in the path of providence”. (A tradução para o português é minha)
36
Observe-se para tanto, principalmente, os capítulos 5 e 6 de seu livro “O Grande Conflito”, onde ela
descreve acerca da saga dos antigos reformadores, desde Wycliffe. A esse respeito, prenunciando
todos os outros, escreveu que: “João Wycliffe foi o arauto da Reforma, não somente para a Inglaterra,
mas para toda a cristandade. O grande protesto contra Roma, que lhe foi dado proferir, jamais
deveria silenciar. Aquele protesto abriu a luta de que deveria resultar a emancipação de indivíduos,
igrejas e nações”. WHITE, Ellen. O Grande Conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 80.
37
Certamente afirmar que um século e meio antes da Revolução Francesa acontecer as Treze
colônias já almejavam os ideias revolucionários franceses é dar um salto inconsequente na História.
Contudo, a partir da leitura dos documentos do Mayflower pode-se auferir essa busca basilar, ainda
que incipientemente. Recentemente escrevi um artigo onde me detive mais focalmente nas relações
entre Estados Unidos e França, sob aspectos ideológicos e politicos, a partir da pena de Ellen White.
Sua visão era contrária aos ideias franceses sob a ótica europeia. Eis que “de acordo com a visão
cristã protestante de Ellen White, a Revolução Francesa simplesmentee não foi senão uma grande
guerra contra a Escritura Sagrada, iniciada já séculos antes pela opressão de Roma. Os rumos que
aquele país tomou deveriam ser estudados como exemplo a nunca ser seguido. Para ela (WHITE,
2004, p. 230) “quando a França rejeitou a dádiva do Céu, lançou as sementes da anarquia e ruína e a
inevitável operação de causa e efeito resultou na Revolução e no Reinado do Terror” (DARIUS, Fábio
Augusto. Interações culturais entre Europa e Estados Unidos no século XIX e suas perspectivas a
partir da análise de textos seletos de Ellen G. White. In: Numen: Revista de Estudos e Pesquisa da
Religião, v. 15, n. 1, p. 217-228, 2012).
37
40
Segundo o crítico literário Harold Bloom, Joseph Smith, Jr, o criador do mormonismo, a primeira
religião efetiva e indiscutivelmente estadunidense, “apesar dos erros, Smith foi um autêntico gênio
religioso, único em nossa história nacional”: BLOOM, Harold. La religión en los Estados Unidos: el
surgimiento de la nación poscristiana. México: Fondo de Cultura Económica, 1994. p. 85.
41
Como diria Niebuhr: “No início do período, no entanto, os protestantes não pensavam no reino em
termos idealistas e utópicos, como se tornou corrente depois.” De acordo com o original, traduzido
por mim: “In the early period, however, Protestants did not think of the kingdom in the idealistic and
utopic terms which became current later”. NIEBUHR. H. Richard. The Kingdom of God in America.
Willett, Clark & Company. Chicago / New York, 1937. p. 46.
42
Contudo, isso de deu processualmente, visto que a “fundação da teologia americana foi a teologia
européia, mas a teologia inicial na América diferiu do que veio mais tarde porque “era
desembaraçada de cultura”. (Aqui o leitor não deve interpretar de forma literal, visto que parece
impossível de fato isso acontecer e Tillich, em sua obra Teologia da Cultura deixa isso bem claro logo
em seu primeiro capítulo. Vide TILLICH, Paul; PINHEIRO, Jorge. Teologia da cultura. São Paulo:
Fonte Editorial, 2009). A diferença, em vez disso, estava nas circunstâncias alteradas pelos discursos
teológicos”. (NOLL, Mark. America’s God. From Jonathan Edwards to Abraham Lincoln. Oxford:
Oxford University Press, 2002. p. 20)
39
43
TOULOUSE, Mark G.; DUKE, James. O. Makers of Christian theology in America. Nashville:
Abingdon Press, 1997. p. 23. Seguindo o original: “Small in numbers and preoccupied with survival,
theses groups loyally sought to maintain their religious heritage, adapting their teaching of the faith as
occasion required. But they were in little position to engage as equal partners in churchwide debates
over theological doctrine.” (A tradução adaptada ao texto, é minha.)
40
44
Como atesta KREIDER, Glenn. Review of Jonathan Edwards: Philosophical Theologian. In: Ars
Disputandi, v. 4, n. ?, p. 1-7, 2004.
45
De acordo com a Enciclopédia Stanford de Filosofia, Jonathan Edwards, é “amplamente
reconhecido como o teólogo e filósofo mais importante e original da América”. Ou, conforme o original
“is widely acknowledged to be America's most important and original philosophical theologian”. De
acordo com sítio http://plato.stanford.edu/entries/edwards/, acessado em 15 de julho de 2011.
46
De acordo com SMITH, John; STOUT, Harry S.; MINKEMA, Kenneth. (Eds.) A Jonathan Edwards
Reader. New Haven e Londres: Yale University Press, 2003. P. Xi. Edwards buscava a face de Deus
nas plantas ou animais, física ou ótica, o que quer que fosse. Conforme o original: “Edwards the
student, however, encoutered in plants or animals, physics or optics, the face of God”. (A tradução é
minha). Indubitavelmente concordaria com ele Ellen White, ao afirmar que Natureza e revelação
igualmente testemunham do amor de Deus. Nosso Pai do Céu é a fonte de vida, de sabedoria e de
alegria. Vejam as coisas maravilhosas e belas da natureza. Pense em sua adaptação maravilhosa
para as necessidades e a felicidade, não só do homem, mas de todas as criaturas vivas. O sol e a
chuva, que alegram e refrescam a terra, as montanhas e mares e planícies, tudo nos fala do amor do
Criador”. WHITE, Ellen. Steps to Christ. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1956.
P. 9. Conforme o original: Nature and revelation alike testify of God’s love. Our Father in heaven is the
source of life, of wisdom, and of joy. Look at the wonderful and beautiful things of nature. Think of their
marvelous adaptation to the needs and happiness, not only of man, but of all living creatures. The
sunshine and the rain, that gladden and refresh the earth, the hills and seas and plains, all speak to us
of the Creator’s love”.
47
A seu respeito, a universidade de Yale dedica um centro de estudos e suas obras completas,
incluindo sermões e mais aspectos biográficos, podem ser encontradas digitalmente. O endereço é
41
Nascido em 1703, único filho homem dentre dez irmãs (foi o quinto a nascer),
cresceu na igreja. Seu pai, Timothy Edwards, era ministro da paróquia East Windsor
e sua mãe, uma distinta mulher da comunidade. Garoto prodígio e desde cedo
guiado por seu pai, aos seis anos de idade começou a aprender latim e aos 13, já
era fluente também no grego e no hebraico. Estudou em Yale e, antes de seu
vigésimo aniversário, assumiu, como pastor, uma igreja presbiteriana em Nova
Iorque, bem como o posto de professor assistente de sua universidade de origem.
Casado e pai de 11 filhos, morreu em 1758 após a aplicação de uma vacina contra
varíola.
Contudo, qual foi seu grande legado? Edwards, como poucos, equilibrou
teoria e prática e como grande mote definiu a teologia como simplesmente sendo “a
doutrina de vida de Deus por Cristo”. Contudo, as acepções de sua teologia ao longo
das décadas e séculos seguintes passam longe do equilíbrio. Poucos teólogos,
mesmo entre os contemporâneos, são ao mesmo tempo tão admirados e
combatidos. De acordo com Holifield:
assim foi particularmente com a humilhação e morte de Jesus Cristo, de modo que o cruz é realmente
o locus primário para a exibição das perfeições divinas, e, portanto, o nosso conhecimento sobre
elas. O culto cristão é a expressão central do amor da criação para o Criador”. Pelo original: “God’s
glory is the display and communication of His perfections, which are known and loved by His
creatures.It is clear that Edwards believed that God is known primarily through the gospel story, and
thus particularty throught the humiliation and death of Jesus Christ, so the Cross is indeed the primary
locus for the display of God’s perfections, and hence our knowledge of them. Christian worship is the
central expression of creation’s love for the Creator.” (A tradução é minha).
50
O adventismo do sétimo dia, pré-milenarista, de acordo com Braaten e Jenson, apesar dos autores
classificarem a denominação de sectária, traz uma cara contribuição ao cristianismo de forma geral.
Afirmam os autores que: “Na atualidade, o pensamento milenarista é advogado principalmente por
seitas, tais como as testemunhas de Jeová ou os adventistas do sétimo dia, e por grupos
fundamentalistas que têm como preocupação principal o pronunciamento da condenação imediata do
mundo e o livramento dos fiéis. Seríamos por demais precipitados se presumíssemos que grupos
milenaristas e entusiastas em nada contribuiriam para a fé cristã. Eles constituem, no mínimo, um
constante lembrete para a Igreja de que todo o seu envolvimento nas questões da atualidade e suas
tentativas de ganhar o mundo para Cristo precisam ser precedidos pela cláusula escatológica “até
que ele venha”. É claro que o retorno de Cristo jamais foi abandonado na Igreja. Não obstante, foi
muitas vezes relegado a um status secundário. Neste ponto, os grupos às margens da Igreja
prestaram um serviço valioso ao forçá-la a aguçar sua visão”; (BRAATEN, Carl E.; JENSON, Robert
W. Dogmática Cristã. Volume 2. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 511-512.)
51
Embora ele efetivamente não fosse um pós-milenarista e seu assunto preferido evidentemente não
fosse a volta de Cristo, o Céu ou mesmo o Inferno, ele popularmente é conhecido como sendo uma
das vozes do apocalipse, a partir de seu conhecido sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”,
largamente vendido, hoje, por lojas evangélicas de público pentecostal.
52
DEDEREN, Raoul. (Ed.) Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora
Brasileira, 2011. p. 1037. É importante notar que o adventismo do sétimo dia, inserido somente no
século XIX no universo estadunidense, por essa afirmação, é visto como um movimento leigo e
mesmo anti-intelectual, quando suas premissas básicas de fé são racionalizadas e minimizadas por
esse meio.
43
53
HOLIFIELD, 2003, p. 103.
54
Como pontos de ruptura, por exemplo, “Edwards quer ver toda a vida de Jesus como redentiva, e
não apenas Sua morte, além de insistir na racionalidade - ou adequação - da expiação”. HOLMES,
2001, p. 146.
55
Sob nenhuma hipótese há maiores alusões do pensamento de Edwards ao de White, além dos que
relatarei nas páginas imediatamente posteriores. Estas alusões, no entanto, parecem ser mais do que
suficientes para elencá-lo como um dos precursores do movimento adventista, pelo fato de preparar
“o espírito” da geração vindoura, ou seja, a que seria alvo das pregações de William Miller.
44
fim do mundo.”56 Portanto, ambas as obras tratam acerca do mesmo tema embora
sejam abordadas sob diferentes aspectos. Enquanto Edwards enfatiza o trabalho da
Trindade neste que foi um sermão, Ellen White trata de produzir uma obra linear –
que se expandiria para cinco volumosos livros onde no último descreveria o Céu
materializado.
No entanto, o tema que mais chamava a atenção dos dois era a questão da
santificação57, o que não parece surpreender, visto que um dos motes da religião do
século XVIII era justamente esse58, embora Edwards “profundamente acreditasse
que aqueles que são salvos o são apenas pela vontade arbitrária de um Deus
irado”,59 o que certamente contrariaria diretamente o pensamento arminiano de Ellen
White. Pode parecer surpreendente em um primeiro momento que o autor do
conhecido sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado” vivenciasse e pregasse
acerca da santificação e da beleza do mundo. Contudo:
Eles ficariam surpresos ao saber que Edwards foi obcecado pela beleza de
Deus, não a ira, e que, como o historiador Patrick Sherry recentemente
argumentou, Edwards fez da beleza o tema central para a teologia mais do
que ninguém na história do pensamento cristão, incluindo Agostinho e o
60
pensador católico do século XX Hans Urs von Balthasar.
56
SMITH; STOUT; MIKEMA, 2003, p. 127.
57
Segundo John Gerstner, era o tema mais recorrente de Edwards. GERSTNER, John. The Rational
Biblical Theology of Jonathan Edwards. Powhatan: Berea Publications. 1993. p. 224.
58
HOLIFIELD, 2003, p. 100.
59
FROOM, Le Roy Edwin. The Conditionalist Faith of Our Fathers: The Conflict of the Ages Over
the Nature and Destiny of Man, Volume II. Washington: Review and Herald, 1955. p. 273.
60
McDERMOTT, Gerald R. (Ed.). Understanding Jonathan Edwards: An introduction to America's
Theologian. Oxford: Oxford University Press, 2009. p. 4
61
Principalmente aqui: EDWARDS, Jonathan. Images or Shadows of Divine Things. New Haven:
Yale University Press, 1948. p.135-137.
62
WHITE, 1956, p. 8-12
45
[...] [a] santificação é para ser esperada, mas considerada como uma
realidade a longo prazo e parcial. Se a prática cristã é o principal sinal
positivo e através de afeições verdadeiramente graciosas é que [os cristãos]
podem ser identificados, ainda assim verdadeiros santos podem/poderãom
ser culpados de algum tipo e graus de infidelidade, podendo ser frustrados
por tentações específicas, e cair em pecado. Mas Edwards insiste que a
perseverança e crescimento na vida santa vai ser a marca de todos os
63
verdadeiros santos, até o final de suas vidas.
século seguinte”,66 embora o Grande Despertar não possa absolutamente ser visto
de forma monolítica.
Finalmente, em virtude da posição “não fundamentalista, nem liberal”67 de
Edwards, parece ser necessário fazer um rápido paralelo entre Edwards e White
com relação à Bíblia, no tocante a certas particularidades, a saber, a questão da
unidade do Livro e de sua interpretação. A partir dessa pequena análise, as linhas
gerais podem ser traçadas, deixando assim de lado as querelas doutrinárias que
certamente opõem arminianos e calvinistas.
Ambos percebiam a perfeita harmonia entre os dois testamentos, informação
capital para entendimento das doutrinas adventistas. Para Edwards, o texto sagrado
poderia ser divido em três partes:
66
CAIRNS, E. E. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja crista. São Paulo:
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1984. p. 23.
67
McDERMOTT, 2009, p. 202.
68
STEIN, Stephen J. (Ed.). Jonathan Edwards’s Writings: Text, Context, Interpretation.
Bloomington: Indiana University Press, 1996. p. 53. Conforme o original: “The first [part] considering
the prophecies of the Messiah, his redemption and kingdom; the evidences of their references to the
Messiah, etc. comparing them all one with another, demonstrating their agreement and true scope and
sense; also considering all the various particulars wherein these prophecies have their exact
fulfillment; showing the universal, precise, and admirable correspondence between predictions and
events. The second part: considering the types of the Old Testament, showing the evidence of their
being intended as representations of the great things of the gospel of Christ: and the agreement of the
type with the antitype. The third and great [largest] part, considering the harmony of the Old and New
Testament, as to doctrine and precept”. (A tradução é minha).
69
WHITE, Ellen. Counsels to Writers and Editors. Nashville: Southern Publishing Association,
1946. p. 26.
70
WHITE, Ellen. The Seventh-day Adventist Bible Commentary: Ellen G. White Comments,
Volume 7. Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1970. p. 1091.
47
Edwards, pastor, utilizou dos métodos de sua época para melhor levar a
Palavra a seus ouvintes. Assim sendo, não tentou fazer grandes elucubrações
teológicas e nem propôs interpretações diferentes de seu contexto. Ellen White, sem
o cabedal dos conhecimentos de Edwards, valia-se de seu alegado “poder sobre-
humano”, quando recebia visões e sonhos que serviriam de base para seus escritos.
Segundo ela:
O Espírito de Deus repousa sobre mim com poder, e não posso deixar de
falar as palavras que me foram dadas. Não ouso reter sequer uma palavra
do testemunho. Falo as palavras que me foram dadas por um poder sobre-
humano, e não posso, ainda que queira, revogar uma frase sequer. No
período da noite, o Senhor me dá instrução sob a forma de símbolos e
depois lhe explica o significado. Ele me dá a palavra, e não ouso recusar-
72
me a comunicá-la ao povo”.
Não parece ser uma atividade possível ou mesmo plausível falar sobre a
histórica primeva dos Estados Unidos da América – sob qualquer que seja o aspecto
– sem tocar, ainda que incidentalmente, na questão religiosa ou espiritual. Afinal, foi
sob a égide do cristianismo renovado a partir da Reforma Protestante do século XVI
que os primeiros imigrantes, também conhecidos como pais peregrinos, para lá
aportaram. Como foi visto e evidenciado nas linhas desse texto, logo no Primeiro
71
McDERMOTT, 2009, p. 77.
72
WHITE, 1987. p. 578- 579.
48
Artigo da Constituição dos Estados Unidos da América de 1776, que ainda hoje
vigora plenamente nos cinquenta Estados da Federação, há, indubitavelmente, uma
evocação ao Senhor, nos mesmos moldes do Mayflower Compact. Ou seja: a
nação, pelo menos sob o viés documental e cotidiano, nunca perdeu ou deixou de
divisar os píncaros dos montes celestiais, embora não hesite em talhar, em certas
montanhas de seu território, a imagem de seus salvadores terrestres, como pode ser
vislumbrado no Monte Rushmore, quando, em 1927, o escultor G. Borglun deixou
registrado o busto de quatro presidentes queridos da nação. Ainda hoje, esta obra
de arte é motivo de orgulho para o País.
Talvez essa imagem icônica, sem querer parecer prolixo e literal, possa dizer
um pouco da construção da identidade estadunidense fundada a partir de princípios
cristãos: a imagem dos ex-presidentes no Monte como ídolos de pedra
testemunham ao mundo inteiro que a intenção nunca foi a de simplesmente fundar
ou refundar o Reino de Deus na América73, mas utilizar os mesmos propalados
princípios cristãos para resolução de suas próprias questões terrenas. Como diria o
já citado Niebuhr:
Contudo, por isso mesmo, também não parece ser possível identificar nos
aspectos religiosos o fim último das expectativas desses homens, mulheres e
crianças, a maioria abandonada à própria sorte. Nem mesmo é prudente afirmar que
toda epopeia religiosa foi o “meio” utilizado por eles como escape diante das tensões
de toda uma vida dura a se reiniciar.
O mais prudente – e mesmo equilibrado – dos caminhos a seguir, talvez
73
Aqui há fortes referências de autores adventistas do sétimo que não necessariamente
concordariam com a afirmação, ou melhor colocando, ampliariam os debates acerca do que foi ou
não a instauração das colônias inglesas na América. Cito-os aqui para que o leitor possa concluir
autonomamente: DORNELES, Vanderlei. O Último Império: A Nova Ordem Mundial e a Contrafação
do Reino de Deus. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2013 (especialmente os capítulos 3 e 4) e
MOORE, Marvin. Apocalipse 13. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2013.
74
NIEBUHR, 1937, p. 9. Conforme o original: “The kingdom of God in America, so regarded, is the
American kingdom of God; it is not the individualization of a universal idea, but the universalization of
the particular. It represents not so much the impact of the gospel upon the New World as the use and
adaptation of the gospel by the new society for its own purposes”. (A tradução, livre, é de minha
autoria).
49
75
Novamente aqui, Dorneles discorda com fortes evidências históricas, dignas de leitura atenta, que
só não cito textualmente no trabalho por precisar, neste caso, elencar novo capítulo ou seção, saindo
do objeto desta pesquisa.
76
NIEBUHR, 1937, p. 5. De acordo com a edição consultada: “We see that the quarels about
antinomianism and determinism were really exhibitions of the class conflict between the latter and the
poor, or between frontier and settled community, or between early and late immigrations. Instead,
then, of looking to religious history for a pattern which will help us to make choices in the present we
must look for it in the economic or the total social history. (Novamente, a tradução é de minha autoria).
77
BUNYAN, John. The Pilgrim's Progress. Oxford: Oxford University Press, 2003. (principalmente
as páginas xiii e susequentes).
50
No fim do século XVIII, o rei inglês Jorge III estava à frente do país mais
poderoso do mundo, em absoluta expansão, enquanto os franceses viviam seu
período pré-revolucionário, ensaiando nos próprios campos de batalha dos Estados
Unidos o que iriam vivenciar menos de duas décadas posteriores. Quando da
Revolução Francesa, os Estados Unidos já estavam independentes havia treze
anos, depois de uma exaustiva guerra contra os ingleses, que, dois séculos depois
da fundação das treze colônias,79 passaram a olhar de forma interessada para as
suas possessões no outro lado do Atlântico. A França, inimiga histórica da
Inglaterra, em grande medida financiou e subsidiou intelectualmente os
estadunidenses, enviando soldados80 e provisões para “Columbia”.81 Assim sendo,
enquanto os ideais iluministas adentraram na América do Norte, os próprios
78
Mesmo não ignorando o delicado jogo de poder das casas europeias no final no século XVIII e
principalmente, na primeira metade do século XIX, a título de fluência textual, optou-se por abordar
apenas algumas características mais generalizadas da Revolução Francesa em comparação com os
Estados Unidos de então. Por isso, deixar-se-á de lado questões incidentais, como o Tratado de Paris
de 1763 e a questão da Guerra dos Sete Anos, onde o território do atual Canadá foi anexado a
Inglaterra.
79
Os primeiros estados eram: Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, New Hampshire, Nova
Jersey, Nova York, Pensilvânia, Delaware, Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e
Geórgia
80
O número de soldados franceses em solo estadunidense, provavelmente não chegou a 15 mil
homens, diante dos mais de 250 mil colonos nativos, contra 12 mil ingleses e 55 mil simpatizantes
dos mesmos. Ao lado dos Estados Unidos, lutaram prussianos, espanhóis e homens de Quebec.
81
"Columbia", de acordo com o Oxford English Dictionary, serve como um nome poético para a
América, especificamente os Estados Unidos e foi pela primeira vez utilizado em 1757, conforme
GROSECLOSE, Barbara. A History/Historiography of Representations of America. In: BARNEY,
William L. A companion to 19th-Century America. Malden: Blackwell Publishing, 2006. p. X-Y, à p.
347.
51
84
Segundo HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. p. 135:
“Por cem anos ou mais antes da Revolução, os camponeses compraram propriedades, de forma que,
quando o ano de 1789 chegou, cerca de um terço das terras da França estava em suas mãos. Isso,
porém, apenas os deixou mais descontentes do que antes. Por quê? Eram famintos de terra.
Puderam satisfazer um pouco dessa fome. Que impedia seu avanço? O peso esmagador que lhes
impunham o Estado e as classes privilegiadas. Passaram a ver, com maior clareza, que, se
atirassem fora o fardo, poderiam ficar eretos - elevar-se da situação de animal para a de homem. O
simples fato de ter sua posição melhorada um pouco abriu-lhes os olhos para o que poderiam ser,
se... Isso não queria dizer que os camponeses da França (e de outros países da Europa ocidental)
não tivessem pensado em acabar com os pagamentos e restrições feudais. Pensaram. Houve
revoltas camponesas, antes. Embora não tivessem conseguido derrubar todas as regulamentações
feudais, melhoraram a sorte dos camponeses. Mas para se libertarem totalmente, estes precisavam
de auxílio e liderança.”
85
A despeito dos ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade, a causa primeira da
Revolução Francesa foi, efetivamente, o aumento do preço do pão, em decorrência das estiagens
dos anos anteriores.
86
MICHELET, Jules. História da Revolução Francesa: Da queda da Bastilha à festa da Federação.
São Paulo: Companhia das Letras: Círculo do Livro, 1989. p. 154.
53
87
APTHEKER, Herbert. Uma nova história dos Estados Unidos: a revolução americana. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. p. 114.
88
Essa ideia fixa na crença de um poder divino à frente do país, guiando os soldados rumo à vitória,
fica clara, quando em nova luta contra a Inglaterra, no ano de 1812, um comandante declarou: “O
Todo-poderoso agradou-se em conceder-nos uma vitória-sinal”. BLISS, Sylvester. Memoirs of William
Miller In: MAXWELL, C. Mervyn. História do Adventismo. Santo André: Casa Publicadora Brasileira,
1982. p. 76.
54
Libertados do jugo inglês que já durava dois séculos, o futuro parecia não
somente promissor, mas abençoado e divinamente dirigido. Esse senso de
superioridade imbuiu os espíritos de tal sorte que, logo nos primeiros anos, tinham a
certeza que já constituíam a engrenagem mestra do novo mundo que divisava. É a
partir desse alto conceito próprio (que vez por outra é abalado por uma década ou
duas devido a uma crise ou abalo econômico) que se pode ler a história dos Estados
Unidos no século XIX.
89
LUKACS, John. Uma nova República: História dos Estados Unidos no século XX. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2006. p. 13.
55
90
O ano de 1776 foi, efetivamente, notável. Segundo o economista já citado: “1776 foi um ano de
revolta. Ano notável. Aos Norte-americanos, ele lembra a Declaração da Independência, a revolta
contra a política colonial mercantilista da Inglaterra; aos economistas de todo o mundo, lembra a
publicação da Riqueza das Nações, de Adam Smith - súmula da nascente rebelião contra a política
mercantilista - restrição, regulamentação, contenção. Um número cada vez maior de pessoas não
concordava com a teoria nem com a prática mercantilista. Não concordava porque sofria com elas.
Os comerciantes queriam uma parte dos enormes lucros das companhias monopolizadoras
privilegiadas. Quando tentaram participar delas, foram excluídos como intrusos. Os homens que
tinham 'dinheiro desejavam usá-lo como, quando e onde lhes aprouvesse. Queriam aproveitar todas
as oportunidades proporcionadas pela expansão da indústria e do comércio. Sabiam o poder que
lhes dava o capital e desejavam exercê-lo livremente. Estavam cansados do ‘podem fazer isso, não
podem fazer aquilo’. Estavam enojados das ‘Leis contra... Impostos sobre. ... Prêmios para ...’.
Queriam o comércio livre”. (HUBERMAN, 1981, p. 120.)
91
HOBSBAWM, Eric John. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Cia. das
Letras, 1995. Logo na introdução desta importante obra historiográfica, o autor explica os motivos de
sua escolha, afirmando que, até 1914, o mundo ainda vivia sob os auspícios da Belle Époque.
56
cada vez mais difíceis. Sérias aflições encontram-se perante nós; e sair das
94
cidades se tornará uma necessidade para muitas famílias.
Com esse intuito, imaginava Jefferson – que contava com o apoio irrestrito da
grande maioria dos cidadãos, incluindo os da Nova Inglaterra, mais propensos ao
conservadorismo em virtude de sua grande riqueza – construir os pilares morais de
sua nação, preparando-a para figurar, desde muito cedo, dentre as maiores do
mundo, ainda que sob frágeis ideias. A nação, que ainda fruía o gozo da vitória e
prospectava sobre si um mundo glorioso, nunca havia passado, unida
federativamente, por uma grande crise que abalasse minimamente sua fé na
perfeição, que, pouco a pouco, ganhava forma também no discurso religioso. O
sonho da república perfeita, em simbiose aperfeiçoada da proposta grega original,
mas em um contexto absolutamente novo e favorável, parecia plenamente possível.
Nesse sentido, o epíteto “Terra da Oportunidade” começava, ainda que
embrionariamente, a ganhar forma. Porém, seriam necessárias crises políticas e
ideológicas, bem como uma guerra civil para que, apenas no final do século,
efetivamente houvesse um terreno mais fértil para que essa crença pudesse ser
vivenciada por milhões de pessoas de todo o mundo, tornando aquele Estado, um
94
WHITE, Ellen. The Ministry of Healing. Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association,
1942. p.364. Pelo original: “Life in the cities is fake and artificial. The intense passion for money
getting, the whirl of excitement and pleasure seeking, the thirst for display, the luxury and
extravagance, all are forces that, with the great masses of mankind, are turning the mind from life's
true purpose. They are opening the door to a thousand evils. Upon the youth they have almost
irresistible power. One of the most subtle and dangerous temptations that assail the children and
youth in the cities is the love of pleasure. Holidays are numerous; games and horse racing draw
thousands, and the whirl of excitement and pleasure attracts them away from the sober duties of life.
Money that should have been saved for better uses is frittered away for amusements. Through the
working of trusts, and the results of labor unions and strikes, the conditions of life in the city are
constantly becoming more and more difficult. Serious troubles are before us; and for many families
removal from the cities will become a necessity”.
95
KARNAL, Leandro [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2 ed. São
Paulo: Contexto, 2008. p. 102.
58
96
Os objetivos da Santa Aliança, formados por Rússia, Áustria e Prússia (cujo soldados lutaram pela
independência americana) causaram apreensão aos Estados Unidos, visto que a ideia dos europeus,
após a derrocada de Napoleão, a partir de 1812, era retomar geopoliticamente o mapa-mundi aos
moldes do que estava posto antes da Revolução Francesa, o que poderia incluir a tentativa de
retomar o próprio país aos ingleses, no máximo, ou refrear as conquistas americanas ao sul, contra
os espanhóis, no mínimo. No entanto, nada disso aconteceu.
97
WHITE, Ellen. The Great Controversy Between Christ and Satan - Edition 1888. Mountain View,
CA: Pacific Press Publishing Association, 1907. p.441. Pelo original: “The oppressed and down-
trodden throughout Christendom have turned to this land with interest and hope. Millions have sought
its shores, and the United States has risen to a place among the most powerful nations of the earth”.
59
A nação mais forte sempre foi conquistando a fraca, por vezes mesmo
subjugando-a, mas sempre prevalecendo sobre ela. Cada conquista
intelectual, por assim dizer, que a nação possuía, desde os primeiros
100
tempos foi utilizada na guerra.
99
O estado, situado ao sul do país à beira do Golfo do México, era de importância vital ao jovem país
visto que o delta do mais importante dos rios dos Estados Unidos, o Mississippi, localiza-se lá. Em
1803, quando da anexação da Louisiana ao país, o estado vivia praticamente da agricultura com mão
de obra escrava.
100
BAGEHOT, Walter. Physics and Politics: Or thoughts on the application of the principles of
“natural selection and inheritance” to political society. International Scientific Series, 1872. p.19.
Disponível em http://www.davisonbooks.com/eBooks/Physics_And_Politics.pdf. Acessado em 28 de
novembro de 2010. Conforme o original: “The strongest nation has always been conquering
the weaker; sometimes even subduing it, but always prevailing over it. Every intellectual gain, so to
speak, that a nation possessed was in the earliest times made use of--was INVESTED and taken out -
- in war”. (A tradução, livre, é minha).
61
tomaram o atual estado da Flórida.101 Dessa vez, contudo, a conquista não foi
pacífica e se valeu do incipiente exército americano que agora, ao contrário do que
ocorreu durante as guerras pela independência, não era composto tão somente por
camponeses pouco treinados.
As conquistas via diplomacia ou via armas logo nos primeiros anos de
liberdade, provocaram uma onda ainda maior de otimismo no povo que agora tinha
certeza de que seus ensejos se estavam materializando.102 O Estado estava se
tornando forte e pujante, devido a uma série de fatores favoráveis. Ainda de acordo
com Bagehot:
Mas porque uma nação é mais forte do que outra? Em resposta a isso,
creio, reside a chave principal para o progresso da civilização, e alguns
dos progressos de toda a civilização. A resposta é que existem muitas
vantagens - algumas pequenas e algumas grandes - e cada uma das quais
intenciona fazer da nação que as tem uma superior em relação a nação que
não possui; que muitas dessas vantagens podem ser transmitidas às raças
subjugadas ou imitado por raças concorrentes, e que, apesar de algumas
dessas vantagens poderem ser perecíveis ou inimitáveis, ainda, no seu
conjunto, a energia da civilização cresce a união dos pontos fortes e pela
103
concorrência de forças.
Uma das vantagens claras sobre os espanhóis foi a organização e a luta por
101
A Espanha, dona de grandes territórios em todas as Américas, estava envolvida também com as
primeiras manifestações de independência de seus territórios nessas regiões, diretamente afetadas
pelas ideias libertárias da França. Com isso, o número de funcionários e soldados na Flórida diminuiu
e isso acabou facilitando o envio de tropas estadunidenses.
102
Ao falar acerca do expansionismo estadunidense, é preciso lembrar da Guerra Mexicano-
Americana do final da primeira metade do século XIX. Essa guerra, fundamental para os dois países,
aumentou em um quarto o tamanho dos Estados Unidos e diminuiu pela metade o tamanho do
México. A contenda foi iniciada pela anexação do estado do Texas aos Estados Unidos, não
reconhecido pelo México. A guerra serviu para aumentar ainda mais a moral e os desejos
expansionistas americos. Conforme Belohlavek: A Guerra Mexicano-Americana, em sua fase militar,
durou apenas um ano e meio (abril 1846 a setembro de 1847) e marcou um fluxo ininterrupto de
vitórias nos Estados Unidos. Americanos sofreram menos de 2.000 mortes campos de batalha,
embora a doença tenha ceifado mais de 10.000 soldados. Os mexicanos, ao contrário, perderam
mais de 50.000 soldados. BELOHLAVEK, John M. American Expansion, 1800-1867. In: BARNEY,
2006, p. 97. De acordo com o original: The Mexican-American War, in its military phase, lasted but a
year and half (April 1846 to September 1847) and recorded a stream of unbroken United States
victories. Americans suffered fewer than 2.000 battlefields deaths, although disease killed more than
10.000 soldiers. The Mexicans, in contrast, lost more than 50.000 troops. (A tradução é minha).
103
BAGEHOF, Walter. Physics and Politics. Nova Iorque: Cosimo, 2007, p. 19. Conforme o original:
“But why is one nation stronger than another? In the answer to that, I believe, lies the key to the
principal progress of early civilisation, and to some ofthe progress of all civilisation. The answer is that
there are very many advantages--some small and some great--every one of which tends to make the
nation which has it superior to the nation which has it not; that many of these advantages can be
imparted to subjugated races, or imitated by competing races; and that, though some of these
advantages may be perishable or inimitable, yet, on the whole, the energy of civilisation grows by the
coalescence of strengths and by the competition of strengths. (A tradução deste paragráfo para o
português, é minha).
62
105
Os Estados Unidos só se envolveriam efetivamente em conflitos em campos de batalhas
europeus no final da Primeira Guerra Mundial, em 1917. Portanto, mais de um século depois das
batalhas de 1812.
106
KARNAL, 2008, p.103.
107
KARNAL, 2008, p. 104.
64
108
O patriotismo estadunidense pode ser demonstrado nas primeiras linhas do texto de Davis, em
capítulo intitulado “O sentido da América na História”, que diz: “A história dos Estados Unidos é
americana. É parte significativa da história do Novo Mundo e encerra experiências comuns à história
de todas as nações americanas, além e acima das divergências evidentes nessas experiências. Em
seu próprio nome, os Estados Unidos da América anunciam esse caráter do Novo Mundo, e o seu
povo tem orgulho de chamar-se americano. Dois hinos nacionais não-oficiais, ‘America’ e ‘America
the Beautiful’, competem com ‘The Star-Spangled Banner’ em popularidade. DAVIS, Harold. Os
Estados Unidos na História. Rio de Janeiro: Zahar, 1965. p. 11.
109
BELOHLAVEK. In: BARNEY, 2006, p. 91. De acordo com o original: “The War of 1812 had its
roots in a variety of causes: national honor, territorial expansion, neutral rights, Indians problems, and
national insecurity.” (A tradução é minha).
110
Apesar de Ellen White ser uma típica filha de sua época, comentou contrariamente ao
nacionalismo, tão presente naquele momento, ao afirmar que: “As paredes do sectarismo e do
nacionalismo cairão quando o verdadeiro espírito missionário penetrar no coração dos homens. O
preconceito é dissipado pelo amor de Deus”. De acordo com o original: “The walls of sectarianism and
caste and race will fall down when the true missionary spirit enters the hearts of men. Prejudice is
melted away by the love of God”. WHITE, 1966, p. 55. Apesar da denominação por ela cofundada ser
tipicamente americana, sua forma de pensar e agir não é exclusivista.
111
De acordo com KAMMEN, Michael. People of Paradox: An inquiry concerning the origins of
65
American Civilization. Nova Iorque: Oxford University Press, 1980. p. 255: “Certamente os
americanos tinham diversas reflexões sobre os índios e como foram empurrados de forma constante
para o oeste. Eles penaram sua condição, mas reconheceram que fazendo assim “arruinariam” o
homem vermelho”. De acordo com o original: “Certainly Americans were of several minds about the
Indians as they pushed him steadily westward. They pitied his condition but recognized that doing so
would ‘ruin’ the red man”.(A tradução, livre, é minha).
112
A questão indígena, de fundamental importância da constituição da história americana, não será
abordada nessa monografia. Contudo, sugiro a leitura do artigo de Michael D. Green e Theda Perdue,
intitulado Native-American History, no compendio organizado por William Barney, citado nas
referências do presente trabalho.
113
Com a retaliação da França subjugada pela Santa Aliança e o Tratado de Versalhes, houve uma
reestruturação do mapa europeu para os mesmos contornos de 1789. Apenas em 1848, mesmo ano
da publicação do Manifesto Comunista por Karl Marx e Friedrich Engels, e do lançamento da pedra
fundamental para a construção do Monumento a Washington, na capital estadunidense, é que a
Europa – principalmente central e oriental – foi sacudida por uma série de revoluções conhecidas
como “Revoluções de 1848” ou “Primavera dos Povos”. Os motivos oscilaram entre os desmandos
dos regimes autocráticos, crises econômicas, falta de representatividade das classes médias (o que,
em alguma medida, foi um dos motivos da Revolução Francesa) e ascensão do nacionalismo em
algumas regiões.
114
Embora somente nos últimos vinte anos do século XIX esse número atingisse seu ápice, em
média 26 milhões de franceses, alemães, canadenses, irlandeses, ingleses, suecos, noruegueses e
italianos, chineses, coreanos, filipinos, indianos, poloneses e judeus entraram nos Estados Unidos
naquele século.
66
115
De acordo com McDonald, já em 1792, o Congresso votou cobrar apenas um centavo para
entregar um jornal dentro de um raio de uma centena de quilômetros da sua impressora e um centavo
e meio para enviá-lo para mais distante.” De acordo com o original: “In 1792, Congress voted to
67
Foi durante esses anos que o sistema gratuito de escola pública tomou
forma nos Estados Unidos. Começando em 1823, quando Samuel Hall
exigiu melhor treinamento para professores primários, a iniciativa para
aperfeiçoar as escolas financiadas publicamente ganhou impulso depois
que Massachusetts nomeou Horace Mann, em 1837, como o primeiro
116
inspetor estadual de educação.
fase da história dos Estados Unidos da América era determinar qual sistema
perduraria – o do Norte, com sua modernidade incipiente, ou o do Sul, conservador
e perdulário, em um momento de grande desenvolvimento intelectual na América e
na Europa, o que determinaria com que prisma os Estados Unidos olhariam para si
próprio e para o mundo. Mesmo com a resolução das questões meramente
econômicas, a do negro, mais cedo ou mais tarde, teria que ser sanada.
119
KAMMEN, 1980, p. 260. Pelo original: “The Jacksonian [1825-1844] democracy had two different
meanings: a realistic and another too romantic. The realistic democracy involved patterns of political
behavior, and force offices. The romantic democracy was composed by a set of assumptions and
ideas about the goodness of man and his natural rights, which together comprised a national faith” (A
tradução é minha).
69
1.6.3 A Secessão
120
Por se tratar de um tema tão vasto e delicado em tão poucas páginas, à título de resumo, cito
BURTON, Vernon. Civil War and Reconstruction, 1861-1877. In: Barney, 2008, p. 47: “À despeito do
interesse dos historiadores pela Guerra Civil [Secessão], e apesar do grande número de produções
acadêmicas, não existe um consenso sobre as causas ou conseqüências da guerra, exceto que todos
os historiadores sérios dão crédito à escravidão como sua raiz”. De acordo com o original: “Despite
historians' interest in the Civil War, and despite the mountains of scholarship which have been
produced, no consensus exists on the causes or consequences of the war, except that all serious
historians credit slavery as its underlying root”. (A tradução é minha).
121
É preciso enfatizar que a chamada depressão após um novo colapso econômico em 1837,
enfatizou a disparidade econômica entre as economias do Norte e do Sul. Antes e após a depressão,
a economia do Sul prosperou e seu algodão, comercializado no exterior totalizaram 57% do total das
exportações norte-americanos antes da guerra. O Pânico de 1857 devastou o Norte e deixou o Sul
praticamente intocado. O choque entre um rico sul agrícola e os mais pobres do Norte industrial foi
70
intensificado por abolicionistas que usaram a luta de classes para promover sua causa.
122
KARNAL, 2008, p. 131.
123
BARNEY, 2006, p. 1. De acordo com o original: “During the course of the century, localized
economics increasingly became integrated into a national market, and a political and religious order
anchored in deference to local elites gave way to mass-based political parties organized across the
nation and religious movement that responded to popular demands for spiritual equality. Divided by
race, ethnicity, and gender, new classes of wages laborers and salaried employees replaced
independent white farmers and enslaved black laborers as the dominant elements in a workforce
reshaped by emancipation and immigration and the rise of factories and cities”. (A tradução é minha.)
71
Seria necessário enfrentar uma guerra, que Lincoln não desejava, para que
os clamores dos mais exaltados partidários do Norte abolicionista fossem ouvidos.
Os combates apenas aconteceram pela aparente pujança dos estados do Sul, o que
logo ficou eclipsado pela tecnologia124 do Norte. Segundo Brown:
124
O desenvolvimento tecnológico no período, por permear todas as áreas temáticas desse recorte,
também não foi privilegiado neste trabalho, por questões de espaço. Contudo, o barco a vapor desde
o início do século imprimiu novas cores à paisagem, enquanto no campo das telecomunicações
Samuel Morse criou o telégrafo, as armas foram aprimoradas, bem como a medicina e as ciências
naturais receberam como contribuição máxima, os estudos de Darwin, o que causou muitos conflitos
nas mentes protestantes dos Estados Unidos. Para tão-somente resumir em um parágrafo, cito
Hobsbawm: “Começamos por passar em revista o estado do mundo em 1789. Concluamos com um
relance por ele cinquenta anos mais tarde, ao findar o mais revolucionário meio século da história até
então registrado. Foi uma época de superlativos. Os inúmeros novos compêndios de estatística em
que este período de contas e cálculos procurou historiar todos os aspectos do mundo conhecido
podiam concluir com justiça que praticamente todas as quantidades mensuráveis eram maiores (ou
menores) do que até aí. A área do mundo conhecido e cartografado era maior do que nunca. E as
comunicações incrivelmente mais rápidas. A população do mundo atingira o maior número de
sempre, ultrapassando em vários casos todas as previsões. As cidades multiplicavam-se a um ritmo
sem precedentes.” HOBSBAWM, Eric. J. A Era das Revoluções. Lisboa: Editorial Presença, 1962.
p. 404.
125
BROWN, Peter. The Triumph of Yankee Ingenuity. American History 45, no. 3, Agosto, 2010.
ABNT!!. p.41. Academic Search Premier, EBSCOhost (acessado em 18 de novembro de 2010). Pelo
original: “Samuel Colt's revolver became the Union soldier's favorite pistol. Henry Burden's ironworks
turned out 60 horseshoes a minute for the Union Army. [...], William Morton performed battlefield
operations with anesthetic ether on more than 2.000 wounded soldiers. And Samuel Morse's
telegraph proved indispensable to President Abraham Lincoln for keeping in touch with his field
commanders”. (A tradução é minha).
72
recursos para o conflito. Ainda assim, os sulistas pareciam dispostos a lutar até o fim
e eram mais habilidosos no manejo de armas. De acordo com Ellen White:
Em 1861, um ano após o início dos conflitos, foi aprovada a Lei do Confisco,
onde toda a terra conquistada no Sul seria imediatamente desapropriada e os
escravos, libertos. Com isso, uma miríade de escravos fugiu para terras
conquistadas, minando as forças produtivas do Sul e desequilibrando ainda mais os
confederados, que perdiam seus campos e trabalhadores. Foi por causa de ações
como essas que os abolicionistas, em nome da unidade nacional, iniciaram uma luta
pedindo o fim da escravidão. Portanto, não é exagero dizer que foi essa guerra que
efetivamente fundamentou e solidificou as bases que serviram como pressupostos
aos Estados Unidos que ditariam os rumos do próximo século.
Finalmente, em maio de 1864, os últimos ataques da União foram
perpetrados e o presidente confederado preso, finalizando os combates.
Indubitavelmente, grande parte da vitória nortista se deu pela Revolução Industrial
em curso no Norte e pelo colapso do Sul, de forma muito sucinta. As feridas
demorariam muito tempo para cicatrizar e mesmo nos anos 60 do século XX a
questão dos negros ainda não estava solucionada, do ponto de vista político.
Novamente Ellen White, comentando acerca da resolução das questões raciais,
mesmo com o fim da guerra, escreve:
126
WHITE, Ellen. Testimonies for the Church. Mountain View: Pacific Press Publishing Association,
Volume 1, 1948a. p. 266. Pelo original: The North and the South were presented before me. The
North have been deceived in regard to the South. They are better prepared for war than has been
represented. Most of their men are well skilled in the use of arms, some of them from experience in
battle, others from habitual sporting. They have the advantage of the North in this respect, but have
not, as a general thing, the valor and the power of endurance that Northern men have. (A tradução é
minha).
127
WHITE, Ellen. Special Instruction Relating to the Review and Herald Office, and the Work.
73
A religião era central para o significado da guerra civil, como a geração que
experienciou a guerra tentou entender. Religião deve também ser central
129
para nossos esforços para recuperar esse significado.
Além disso, por volta de 1860, foi percebido um acréscimo de pessoas que,
pela primeira vez na história daquele país, começaram a questionar a
autossuficiência das Escrituras.130 Esse grupo secularista crescente passou a dar
Battle Creek. 1896. p. 2. De acordo com o original: “The Lord is grieved at the indifference manifested
by His professed followers toward the ignorant and oppressed colored people. If our people had taken
up this work at the close of the Civil War, their faithful labor would have done much to prevent the
present condition of suffering and sin.” (A tradução é minha. A citada fonte não foi publicada e pode
ser acessada apenas por pesquisadores através de mídia magnética.)
128
CORNELL, Merritt. Facts for the times: extracts from the writings of eminent authors, ancient and
modern. Edição do Autor. Battle Creek, 1858. p.23-24.
129
McPHERSON, James. Battle for Freedom: The Civil War Era. Nova Iorque: Oxford University
Press, 1998, p. 63 apud NOLL, Mark. The Civil War as a Theological Crisis. Chapel Hill: The
University of North Carolina Press, 2006. p. 10. Conforme o original: “Religion was central to the
meaning of the Civil War, as the generation experiencied the war tried understand it. Religion should
alse be central to our efforts to recover that meaning”.
130
NOLL, 2006, p. 31.
74
mais atenção aos negócios do mundo sem mais nenhuma relação com as questões
espirituais, ao contrário do que o próprio Alexis de Tocqueville havia apontado
apenas duas décadas antes em sua viagem pela América.131 O grupo aqui
apontado, crescendo em uma sociedade pluralista – e, portanto, nortista - fiava-se
nos novos argumentos científicos contra o “atraso” da visão religiosa.132
Essa visão dialética que opôs o pensamento secular e teológico - no Norte a
visão do já citado Thomas Paine serviu para aprofundar a divisão - não foi a única.
Havia entre os cristãos do Norte e do Sul diferentes interpretações bíblicas
contrárias e favoráveis à escravidão. De forma geral “o poder da posição escravista
bíblica - especialmente em um mundo protestante da crença intuitiva generalizada
na inspiração plena de toda a Bíblia - reside na sua simplicidade”.133 Entre esses
escritores, destaca-se Thomas Thompson, que muito difundiu esta visão, que não
podia ser mais direta: simplesmente abra a Bíblia, leia e acredite nela. A partir dessa
leitura destituída de qualquer hermenêutica, trechos como os de Levítico 25.45-46a,
no Antigo Testamento, e Filemon, no Novo serviam para sua aprovação radical do
regime escravagista134. Enquanto isso, contrariamente a Thompson, do outro lado
do Atlântico, os direitos humanos foram abordados no Parlamento inglês. Conforme
Noll:
política via forças das armas. Ellen White escreveria dezenas de páginas
contrariamente à escravidão, demonstrando ao mesmo tempo sua identidade com a
ideologia dominante no Norte e a liberdade das mulheres, que se envolviam com
causas radicais.136
Este pequeno estudo acerca do século XIX e séculos anteriores tão somente
expõe tematicamente alguns dos assuntos mais preponderantes da historiografia
estadunidense durante o curso do período. Por certo, apenas evidenciou questões
que podem e devem ser aprofundadas. O objetivo principal, contudo, não foi o de
tecer uma intensa e volumosa análise das questões mais contundentes do período
no país em questão. Para este propósito, as referências utilizadas certamente serão
de preciosa ajuda. De fato, muitos tópicos importantes, como as questões de gênero
e do desenvolvimento material da nação foram apenas sucintamente abordadas.
A escolha dos temas apresentados tem relevância direta com a vida de Ellen
White e da denominação de que ela seria cofundadora. A dinâmica dos
acontecimentos nos Estados Unidos da América ajudaram a moldar o caráter e as
visões de mundo de cada um dos pioneiros da futura Igreja Adventista do Sétimo
Dia em um período de expansão, pujança, crises, guerras internas e externas e a
busca constante de elementos psicológicos e materiais que fomentassem o sonho
da construção efetiva de um Novo Mundo. É a soma desses acontecimentos, com
seus respectivos avanços e retrocessos, que ao longo de sucessivas décadas de um
século de cento e trinta anos, construiu o caráter e a identidade desta nação que,
desde essa época, buscava a hegemonia mundial, hoje conquistada, embora tão
136
De acordo com Karcher: “O exemplo mais impressionante de mulheres escritores engajadas com
causas radicais é Lydia Maria Child. Não só ela dedicou boa parte de sua ficção curta início?? de
despertar a simpatia para os americanos nativos, mas por 1829, quando a cruzada contra a
expatriação dos Cherokees foi ficando em forma, ela já havia repudiado o mito da raça que
desaparece e chegou à conclusão de que era "definitivamente errado, falar da retirada ou extinção
dos índios como inevitável. De acordo com a minha tradução a partir do original: “The most
impressive example of women writers’ engagement with radical causes is Lydia Maria Child. Not only
did she devote much of her early short fiction to arousing sympathy for Native Americans, but by 1829,
when the crusade against the expatriation of the Cherokees was getting under way, she had already
repudiated the myth of the vanishing race and come to the conclusion that it was ‘decidedly wrong, to
speak of the removal, or extinction of the Indians as inevitable””. KARCHER, Carolyn L. Reconceiving
nineteenth-century American literature: The challenge of women writers. American Literature 66, no.
4, Dezembro, 1994. p.781. Academic Search Premier, EBSCOhost (acessado em 18 de novembro de
2010).
76
contestada.
Conhecer a história dos Estados Unidos no século XIX é retornar à história de
um povo que tinha consciência histórica de suas atribuições e aspirações em um
mundo em transformação, com uma ideologia paradoxalmente bucólica e ao mesmo
tempo conservadora, mas um tanto pragmática e moderna, que, de forma antitética,
mas projetada, modificou o mundo ao propor novos paradigmas que, seja pela força
da diplomacia ou das armas, foi submetido ao mundo em um período de tempo
muito pequeno, em comparação com tantos outros países europeus milenares.
O século XIX viu os Estados Unidos da América passarem da infância à
maturidade, deixando os pequenos vilarejos e povoados agrícolas rumo às grandes
cidades. Ao mesmo tempo em que cresceram, certamente perderam a pretensa
pureza de um mundo harmônico, democrático e igualitário. Nunca, porém, perderam
a fé fundamentalmente protestante herdada de seus pais pioneiros, ainda que essa
fé, que outrora apenas almejava tranquilidade na Terra e a busca pelo Céu,
oscilasse para incursões deveras inescrupulosas em um mundo capitalista militante
e por vezes desconectado das primeiras expectativas.
Mesmo diante de tamanhas ambivalências, o Estado progrediu e alcançou,
em grande medida, seus objetivos. Enquanto hodiernamente o futuro parece um
tanto sombrio, o início do século XX projetava a continuidade dos sonhos em
materialização graças ao frutuoso complexo de realizações perpetrado no século
anterior.
77
Enquanto o capítulo anterior serviu para constituir uma base histórica dos
acontecimentos sociais, econômicos e culturais dos séculos XVII, XVIII e
principalmente XIX tendo como base os comentários de Ellen White acerca dos
mesmos, o atual demonstrará que, como sugere o próprio título, a questão da
imortalidade condicional, ou a mortalidade ou sono da alma é uma das crenças
fundamentais dos adventistas do sétimo dia. A respectiva crença, que em si abarca
o mais distinto da própria teologia denominacional no que diz respeito a teoria e
prática, faz franca oposição ao pensamento platônico e neoplatônico, como será
aqui citado com o intuito de demonstrar o surgimento, a assimilação e o crescimento
destas doutrinas que, segundo White, são totalmente contrárias à Bíblia em todos os
seus múltiplos argumentos.
Ao demonstrar “inequivocamente” que o ser humano ao perecer e ser descido
à sepultura não mantém qualquer tipo de contato ou envolvimento com outros
mortos ou vivos, não sabendo de coisa alguma ou sentindo o que quer que seja, a
Igreja Adventista do Sétimo Dia desde seus primórdios rejeitou qualquer princípio
137
WHITE, Ellen. Acceptable Worship. Review and Herald. 30 de novembro de 1905. p. 15. Em
inglês: “Let man come on bended knee, as a subject of grace, a suppliant at the foot-stool of mercy.
Thus he is to testify that the whole soul, body, and spirit are in subjection to his Creator.” (Tradução
própria)
78
filosófico grego ou aporte considerado por eles não-bíblico, tomando a Bíblia e tão-
somente ela como única regra de fé e resposta a todos os problemas teológicos e
cotidianos. Mais do que isso: ao alegar contundentemente a não comunicação dos
mortos com os vivos e vice-versa, a denominação inequivocamente levantou uma
trincheira - que persiste até hoje, talvez ainda mais municiada - contra o
espiritualismo que hodiernamente deu seus primeiros passos, muito tímidos, nos
Estados Unidos, na casa das irmãs Fox, e hoje se constitui uma força “filosófico-
religiosa” de alcance não facilmente demonstrável, em virtude de sua aceitação em
muitas outras confissões, sem citar as miríades de pessoas que frequentam
paralelamente centros espíritas e suas igrejas de origem, sem destacar estes
centros oficialmente.138
Ainda, ao destacar a imortalidade condicional, percebe-se com clareza o
cuidado da Igreja Adventista do Sétimo Dia com a questão do corpo físico - o templo
do espírito. Nos numerosos escritos de Ellen White acerca do tema, ela alinhou
sempre a alimentação adequada, banhos regulares, luz solar e tantos outros
conselhos como pressupostos obrigatórios para uma vida espiritual equilibrada,
fazendo desses aportes uma “teologia do corpo”. Sem absolutamente deixar de
divisar a restauração completa do ser humano na eternidade, depois de um lento e
gradual processo de santificação, que justamente se solidifica com a renúncia do
“eu”, estágio que se evidencia claramente com a negação do apetite em uma vida de
temperança,139 ela abordou sob esses matizes, de forma privilegiada, o equilíbrio
entre corpo, alma e espírito. Neste capítulo, contudo, serão abordadas questões
pontuais sobre a importância da doutrina da mortalidade aos adventistas do sétimo
138
Conforme a apresentação oral e texto de DIAS, Agemir de Carvalho; LIMA, Fernando Raphael
Ferro de. A diversidade religiosa no Brasil - transformações recentes. In: OLIVEIRA, Kathlen Luana
de et al. (Orgs.). Religião, Política, Poder e Cultura na América Latina. São Leopoldo: Escola
Superior de Teologia, 2012.
139
Especificamente neste sentido, conforme Ellen White: “The law of temperance must control the life
of every Christian. God is to be in all our thoughts; His glory is ever to be kept in view. We must break
away from every influence that would captivate our thoughts and lead us from God. We are under
sacred obligations to God so to govern our bodies and rule our appetites and passions that they will
not lead us away from purity and holiness, or take our minds from the work God requires us to do”
WHITE, Ellen. Counsels on Health. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1957. p.
43. Em português: “A lei da temperança deve controlar a vida de cada cristão. Deus deve estar em
todos os nossos pensamentos; Sua glória deve ser mantida em vista. Temos que nos libertar de toda
a influência que cativa nossos pensamentos e leva-nos para longe de Deus. Estamos sob sagradas
obrigações a Deus para governar nossos corpos e governar nossos apetites e paixões para que eles
não nos levem para longe da pureza e santidade, ou tomar nossas mentes a partir do trabalho de
Deus requer que façamos.” (A tradução é minha)
79
dia bem como embates contra correntes contrárias, deixando-se para o próximo as
propostas whiteanas de prática a partir desses pressupostos.
Assim, “os rígidos pontos de vista sobre inspiração”, ou seja, focar os escritos
de Ellen White ao corpo doutrinário adventista do sétimo dia, além de sua marcante
142
Hoje, há na própria Igreja Adventista do Sétimo Dia uma tendência a relativizar esta visão,
conforme o já citado livro Adventists and Lutherans in conversation, ainda no primeiro capítulo deste
trabalho.
143
A expressão “sono da alma” aparece neste trabalho sempre entre aspas simplesmente porque os
adventistas do sétimo dia não creem desta forma. Contudo, grande parte dos autores aqui elencados
– não adventistas – se utilizam do termo, que indica, afinal de contas, que a alma não morre, mas
descansa. Para a denominação ora citada, efetivamente a alma morre para posteriormente
ressuscitar para a vida ou morte eternas.
144
KNIGHT, 2005, p. 29.
145
Embora existam várias vertentes dentro do adventismo do sétimo dia, há uma publicação que
desde os primórdios dos anos 70 aborda temáticas denominacionais de forma mais acadêmica.
Trata-se da Spectrum Magazine, que embora não aparente tendências liberais, em nada lembra o
conservadorismo institucional atribuido à Igreja Adventista do Sétimo Dia. A revista pode ser
acessada pelo endereço http://spectrummagazine.org/.
146
KNIGHT, 2005, p. 136.
81
escatologia fazem a denominação sui generis per si, ainda sequer tocando nos
pontos eminentemente “adventistas” do adventismo. O resultado dessa junção é um
sistema complexo de crenças, que, paradoxalmente atrai um número cada vez maior
de membros em todos os cantos da América Latina e do mundo - especialmente no
Brasil e na África, embora se perceba - sem amparo de nenhuma publicação - que a
maior parte dos novos membros se mostra ignorante quanto à totalidade de tal
sistema de crenças em virtude da denominação dos aspectos práticos de suas
doutrinas sem se demorar nos “cansativos” estudos bíblicos que supririam tal lacuna
teórica.147
147
Embora sem amparo nas publicações - na verdade, não há qualquer delas a esse respeito - pode-
se perceber nos estudos bíblicos impressos a diminuição das lições requeridas ao candidato ao
batismo. Por outro lado, é absolutamente visível, principalmente na última década, o enorme avanço
midiático da Igreja Adventista do Sétimo Dia nas mais diversas mídias. Talvez por esse motivo e dada
a urgência do “tempo do fim”, o foco atual seja o das questões práticas. Essa escolha, além de levar
mais membros a igreja, afasta decididamente de perto de si seu caráter fundamentalista, tão utilizado
pelos críticos até não muito tempo atrás.
148
Na verdade, os adventistas do sétimo dia de forma geral não se sentem bem ao serem
classificados como evangélicos, visto a multiplicidade denominacional e linhas doutrinárias que o
termo abrange hoje. Assim, prefere-se o termo protestantes históricos, adventistas ou, melhor ainda,
cristãos adventistas, enfatizando, como na nota anterior, o afastamento com qualquer traço
fundamentalista - embora a igreja o seja, no melhor dos sentidos, a saber, de acordo com os textos
editados por R.A. Torrey na famosa conferência Mundial sobre os Fundamentos Cristãos, dez anos
depois da publicação da famosa Scofield Reference Bible. Para maiores informações, vide TORREY,
R.A. Os fundamentos: a famosa coletânea de textos das verdades bíblicas fundamentais. São
Paulo: Hagnos, 2005. A despeito desta obra fundamental, paradoxalmente ao arrazoado acima, os
adventistas do sétimo dia desde sempre rejeitaram o “paganismo” infiltrado à Bíblia no tocante a
questão da imortalidade da alma, aporte órfico, ou na melhor das hipóteses, platônico associado ao
pensamento cristão forjadamente. Outro exemplo, desta vez sob o ponto de vista “fundamentalista”
da igreja, agora referindo-se a literalidade da Bíblia, neste caso acerca da semana da Criação pode
ser encontrado, dentre muitíssimos outros, nesta passagem: “Mas a admissão de que os
acontecimentos da primeira semana exigiram milhares de anos, fere diretamente a base do quarto
mandamento. Representa o Criador a ordenar aos homens observarem a semana de dias literais em
comemoração de vastos períodos, indefinidos. Isso não está conforme seu método de tratamento às
suas criaturas. É de demasiada incredulidade em sua mais vil forma, a mais perigosa de todas: seu
verdadeiro caráter se acha tão disfarçado que é tal opinião mantida por muitos que se acham
professos crentes na Bíblia”. Conforme o original: “But the assumption that the events of the first week
82
mensagens angélicas até hoje acabam por formar a identidade, motivação e razão
de ser da igreja151, que se percebe (agora sim, sempre agora, mais do que nunca)
no tempo do fim de todas as coisas tal como aqui se encontram.
153
Assim mesmo, Ellen White leu os clássicos. Em sua biblioteca pessoal (que possuia mais de 1500
volumes no ano de sua morte) ou em seu escritório, pôde ser encontrado dentre outros, o "History of
the Reformation of the Sixteenth Century", de J.H. Merle D'Aubigne, The Bible History e The Life and
Times of Jesus the Messiah de Alfred Edersheim, o Livro dos Mártires de John Fox, History of
Protestantism e The History of the Waldenses de James A. Wylie e inclusive o comentário de Lutero
aos Gálatas. Indubitavelmente, todos os livros e autores, em seu tempo ou transcendendo a eles,
foram e são contribuições que ainda hoje servem para contextualizar e instruir cristãos e estudiosos
das Escrituras.
154
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo,
Paulos, 2007. p. 153. Para os adventistas não há apenas a questão da oposição, mas de própria
separação entre os entes.
85
pode saber se viver não é o mesmo que morrer e morrer o mesmo que viver?”155
Sucintamente, para Ellen White,
[...] se fosse verdade que a alma passa diretamente para o Céu na hora do
falecimento, bem poderíamos anelar mais a morte que a vida. Por essa
crença, muitos têm sido levados a pôr termo à existência. Dominados por
dificuldades e desapontamentos, parece coisa fácil romper o fio da vida e
156
voar para as bênçãos do mundo eterno.
155
Platão. Gorgias. Filadélfia: The Penn State University Press, 19[--]. p. 112. (A tradução é minha).
156
WHITE, Ellen. O Grande Conflito: acontecimentos que mudarão seu futuro (Edição Condensada).
Tatuí: Casa Publicadora Brasileira. p. 236. (Eis aqui uma edição condensada em português. Por este
motivo, não apresentei traduções próprias de seus textos, como costumo fazer.)
157
WHITE, Ellen. Christian Education. Battle Creek: Internation Tract Society. 1894. p. 124. Coforme
o original: “Mind and body must both receive attention; and unless our youth are versed in the science
of how to care for the body as well the mind, they will not be successful students.
158
Como se verá adiante, para White, alma é a junção de corpo e espírito. Contudo, sendo fiel às
palavras do citado livro, mantive-as como estão.
159
REALE e ANTISERI, 2007, p. 154.
86
Ora, para poder conhecer tais coisas, ela deve possuir, como conditio sine
qua non, uma natureza dotada de afinidade com essas coisas. Caso
contrário, estas ultrapassariam as capacidades da alma.
Consequentemente, como as coisas que a alma conhece são imutáveis e
161
eternas, a alma também precisa ser imutável e eterna.
impossível que a alma receba o contrário do que ela traz sempre.”163 Então - e eis
aqui o trecho a ser sempre extensivamente combatido pela teologia adventista do
sétimo dia - é construído em grande medida o colossal edifício teórico que até hoje
vem a, de acordo com esta mesma teologia, enganar milhões de cristãos, desde
muitos séculos atrás. Diz Platão, pela boca de Sócrates:
nossos corpos vão acompanhar, literalmente, essa nova vida. Ao contrário de Platão
que não mencionou em seu texto acima citado a perenidade da verdadeira Terra, em
virtude de sua outra teoria que diz respeito a reencarnação, como também será visto
adiante, para White, não há nada para almejar além da continuidade eterna. Para
ela, acerca da corporeidade de Cristo e da humanidade:
165
WHITE, Ellen. The Seventh Day Adventist Bible Commentary. Washington: Review and Herald
Publishing Association, Volume 5, 1956. p. 1125. Segundo o original: “Jesus took the nature of
humanity, in order to reveal to man a pure, unselfish love, to teach us how to love one another. As a
man Christ ascended to heaven. As a man He is the substitute and surety for humanity. As a man He
liveth to make intercession for us. He is preparing a place for all who love Him”. (A tradução é minha)
166
WHIDDEN, Woodrow W. Ellen White e a Humanidade de Cristo: Cristo veio ao mundo com a
natureza de Adão antes ou depois da queda? Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 75.
89
167
Cabe aqui esta nota acerca das concepções dos testemunhas de Jeová, Mórmons e mesmo a
Ciência Cristã, denominação fundada também por uma mulher e que “namorava” com o racionalismo,
algo estranho às denominações aqui referenciadas. Esta comparação põe os escritos de Ellen White
- como explicitado no corpo do texto - em um outro escopo no que diz respeito à mortalidade da alma
e à questão da humanidade de Cristo, estando ela e os adventistas praticamente sozinhos nesta
seara. Para os mórmons, de acordo com o próprio Livro de Mórmon: “Ora, com relação ao estado da
alma entre a morte e a ressurreição - eis que me foi dado saber por um anjo que o espírito de todos
os homens, logo que deixa este corpo mortal, sim, o espírito de todos os homens, sejam eles bons
ou maus, é levado de volta pra aquele Deus que lhes deu vida. E então acontecerá que o espírito
daqueles que são justos será recebido num estado de felicidade que é chamado paraíso, um estado
de descanso, um estado de paz, onde descansará de todas as suas aflições e de todos os seus
cuidados e tristezas”. LIVRO DE MÓRMON. ; SMITH JR., Joseph. IGREJA DE JESUS CRISTO DOS
SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS. O livro de Mórmon: outro testamento de Jesus Cristo. Salt Lake
City, Utah: Igreja de Jesus dos Santos dos Últimos Dias, 1995. Já os testemunhas de Jeová seguem
algumas diretrizes adventistas do sétimo dia visto que são dissidência desta, embora não fizessem
parte da denominação. Segundo Charles Russel, o fundador, “rejeitava a doutrina que afirma que o
homem tem em si uma alma imortal; eis o que escreveu: ‘Não tendo percebido o significado do termo
‘alma’ muitos tomam a liberdade de usá-lo a seu agrado, transpondo a declaração bíblica, pelo que,
em lugar de falar do homem como sendo uma alma, falam dele como tendo uma alma (...) Mas sobre
que fundamento se apoia uma teoria tão extravagante? Nós respondemos: Nenhum, porque tem
origem no facto de o homem ter adoptado a sua própria concepção de uma vida futura e ter rejeitado
a concepção do Plano de Deus’, e também: ‘Aos que pensam que a Bíblia está cheia de expressões
como: alma imortal, alma eterna, alma que nunca morre, nós não podemos dar outro conselho melhor
que o de pegar uma concordância bíblica, e procurar nela estas expressões e outras da mesma
importância. Eles não encontrarão alguma delas.” As testemunhas de Jeová: a alma, o Hades e o
Geena. Disponível em: http://portoghese.lanuovavia.org/portoghese_conf_1_tdg_05.htm. Acessado
em 23 de julho de 2013. Finalmente, para Mary Baker Eddy, decididamente, “a verdadeira teoria
sobre o universo, inclusive o homem, não está na história material, mas no desenvolvimento
espiritual. O pensamento inspirado renuncia à teoria material, sensual e mortal sobre o universo, e
adota a espiritual e imortal. É essa percepção espiritual das Escrituras que eleva a humanidade
acima da moléstia e da morte e inspira a fé.” EDDY, Mary Baker. Ciência e Saúde com a chave das
escrituras - Edição Bilingue. Massachussetts: The First Church of Christ, Scientist, 1990. p. 547.
90
A razão pela qual os jovens, e até mesmo os de idade madura, são tão
facilmente induzidos à tentação e ao pecado é que eles não estudam a
palavra de Deus e meditam nela como deveriam. A falta de firme e decidida
força de vontade, que se manifesta na vida e no caráter, os resultados de
172
MILLER, Stephen; HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história: o surgimento e o impacto da Bíblia.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.
92
173
WHITE, Ellen. Testimonies for the Church. Mountain View: Pacific Press Publishing Association,
Volume 8, 1948d. p. 319. Conforme o original: “The reason why the youth, and even those of mature
years, are so easily led into temptation and sin is that they do not study the word of God and meditate
upon it as they should. The lack of firm, decided will power, which is manifest in life and character,
results from their neglect to that which would inspire pure, holy thought and divert it from that which is
impure and untrue” (A tradução é minha.)
174
Ellen White era contrária à sistemas filosóficos contrários à Bíblia, mas não necessariamente à
filosofia como estudo do conhecimento, visto que para ela, a “Bíblia contém simples e completo
sistema de teologia e filosofia”. (WHITE, 1894, p. 106)
175
WHITE, 1904, p. 319. Conforme o original: “Let me teach and write the precious things of the Holy
Scriptures. Let the thought, the aptitude, the keen exercise of brain power, be given to the study of the
thoughts of God. Study not the philosophy of man's conjectures, but study the philosophy of Him who
is truth. Other literature is of little value when compared with this”. (A tradução é minha.)
176
Além dos filósofos aqui citados, há um em especial, comentado no primeiro capítulo, que
desempenhou papel de suma importância durante o processo de Independência dos Estados Unidos.
Trata-se de Thomas Paine, a quem Ellen White escreveu duríssimas palavras citando sua conduta
que, segundo ela, era totalmente antirreligiosa e contrária aos desígnios bíblicos. Talvez seja Paine o
pensador mais clara e diretamente criticado pela pena de Ellen White.
93
não seja possível falar de plenitude original sabendo da construção pelo qual passou
o cristianismo mesmo em seus primeiros anos - deixando-se mostrar aqui um dos
fatores originalmente constitutivos do adventismo do sétimo dia, que é justamente o
seu caráter laico, como já posto. Ellen White quase não tinha formação acadêmica,
exceto a primária (em uma época em que pioneiramente as mulheres começavam a
ingressar em estudos avançados nos Estados Unidos177 e Europa); Miller era um
fazendeiro; Bates um marinheiro reformado e James White e Andrews,
simplesmente lenhadores. Ainda assim, a eles foi dada a luz e a pouca instrução que
tiveram acabou não sendo um fator preponderante para suas carreiras, lembradas
até hoje em livros e no púlpito. Paradoxalmente, J. N. Andrews que, oficialmente foi
o primeiro missionário adventista do sétimo dia a cruzar o Oceano Atlântico,178
vivendo uma penúria sem par. Era autodidata e, diz-se, poderia recitar o Novo
Testamento de cor, bem como grandes porções do Antigo Testamento, hoje dá
nome a uma grande universidade adventista nos Estados Unidos – considerada a
mais importante dentre as controladas pela instituição. Ainda assim, mesmo hoje
não é tão fácil aos pastores optarem pela vida acadêmica já que, prioritariamente,
como sempre foi, o objetivo principal da igreja não é buscar aquela erudição tida
como perigosa, se destituída da fé bíblica, mas levar a Cristo através do ensino da
Escritura e, quando possível, sob os pontuais comentários de Ellen White, que
escreveu seriadamente acerca de toda a Bíblia.
Dentre os alegados e citados “filósofos proscritos”, Tertuliano (160 – 220 d.C.)
costuma ser frequentemente citado por, além de ser considerado o fundador da
teologia latina, formular a doutrina do tormento eterno para aqueles considerados
ímpios, ao sugerir a doutrina platônica tanto para os salvos quanto aos não salvos.
Ensinava claramente Tertuliano - nascido em um lar pagão e convertido ao
177
A Oberlin School, famosa por ainda em 1844 receber mulheres e dar especial atenção a educação
física, sob os cuidados do reformador educacional Horace Man é apenas um dos mais vigorosos
exemplos, lembrando que ao tempo da Secessão, era muito comum homens e mulheres, incluindo
escravos, dominarem a leitura e a matemática básica, que despontava como moda que demarcou
fortemente o racionalismo do período. Esse foi um dos motivos por tantos seguirem as profecias de
William Miller...
178
Por vontade própria e com apenas relativo sucesso certo M. B. Czechowski foi o primeiro a se
aventurar na Europa. De acordo com Maxwell: “Aqui pode estar a grande diferença qualitativa entre
seu serviço missionário e o de M. B. Czechowsk. Em vista de Andrews ter deixado o país em
harmonia com as instruções de seus irmãos, a organização inteira, em certo sentido, seguiu com ele,
e num abrir e fechar de olhos a igreja como um todo se viu como um movimento missionário
internacional.” MAXWELL, C. Mervyn. História do Adventismo. Santo André: Casa Publicadora
Brasileira, 1982. p. 181.
94
179
HUDSON, C. F. Debt and Grace: The Doctrine of a Future Life. Boston: John P. Jewett and
Compay, 1858. p. 429-430. Parece ser impossível não notar que no presente capítulo da referida
obra, o XI, este chama-se “Paradoxes of Penalty” e o IX, “Philosophy of Error”!
180
TERTULLIAN. On The Ressurrection Of The Flesh. Whitefish: Kessinger Publishing, 19[--]. p. 11.
181
BACCHIOCCHI, 2012, p. 54.
182
BACCHIOCCHI, 2012, p. 55.
95
acordo com Ellen White, ele se afasta da misericordiosa graça de Deus concedida
ao pecador arrependido, assunto de toda a Bíblia. Diz White:
183
WHITE, 1958, p. 124. Conforme o original: “In the professedly Christian world many turn away from
the plain teachings of the Bible and build up a creed from human speculations and pleasing fables,
and they point to their tower as a way to climb up to heaven. Men hang with admiration upon the lips
of eloquence while it teaches that the transgressor shall not die, that salvation may be secured without
obedience to the law of God”.
184
WHITE, 1958, p. 124. Conforme o original: “If the professed followers of Christ would accept God's
standard, it would bring them into unity; but so long as human wisdom is exalted above His Holy
Word, there will be divisions and dissension. The existing confusion of conflicting creeds and sects is
fitly represented by the term "Babylon," which prophecy (Revelation 14:8; 18:2) applies to the world-
loving churches of the last days”.
96
185
Para mais esclarecimentos acerca da dissensão interna por parte dos adventistas do sétimo dia
com relação a salvação ser pela misericórdia divina ou pelas obras, vide: WHITE,1987, p. 1821. A
leitura dessa obra deixa patente as questões internas que durante os primeiro 40 anos fizeram com
que os adventistas não pudessem plenamente constituir o grupo de cristãos crentes na salvação pela
graça, como aceitam os protestantes históricos aos quais os adventistas do sétimo dia hoje fazem
parte.
186
A afirmação acima torna-se mais plausível de nota quando lê-se no capítulo primeiro do livro de
Allan Kardec nomeado “O Evangelho Segundo o Espiritismo” o seguinte, sobre Santo Agostinho:
“Santo Agostinho é um dos maiores vulgarizadores do Espiritismo. Manifesta-se quase por toda parte.
A razão disso, encontramo-la na vida desse grande filósofo cristão. Pertence ele à vigorosa falange
dos Pais da Igreja, aos quais deve a cristandade seus mais sólidos esteios. [...] Agora que o
Cristianismo se lhe mostra em toda a pureza, pode ele, sobre alguns pontos, pensar de modo diverso
do que pensava quando vivo, sem deixar de ser um apóstolo cristão. Pode, sem renegar a sua fé,
constituir-se disseminador do Espiritismo...” KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Brasília: Federação Espírita Brasileira, 90a edição traduzida de Guillon Ribeiro da 3a. edição francesa
revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866, 1985. p. 64-65.
187
AGOSTINHO. Ante-Nicene Fathers, 1995. p. 245, In: BACCHIOCCHI, 2012, p. 56
188
PESSANHA, José Américo Motta. Vida e Obra. In: AGOSTINHO. Os pensadores. São Paulo:
Nova Cultural, 2000. p. 15.
189
PESSANHA, José Américo Motta. Vida e Obra. In: Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p.
13. (Coleção “Os Pensadores”: Santo Agostinho)
97
190
WACHHOLZ, Wilhelm; DARIUS, Fábio Augusto. Sobre a Integralidade Humana e a Mortalidade da
Alma a partir dos escritos de Ellen White. Hermenêutica. Cachoeira, 2012, Vol. 12, n. 2, p. 12
191
WHITE, 1907, p. 551. Pelo original: “The doctrine of natural immortality, first borrowed from the
pagan philosophy, and in the darkness of the great apostasy incorporated into the Christian faith, has
supplanted the truth, so plainly taught in Scripture, that "the dead know not anything." Multitudes have
come to believe that it is spirits of the dead who are the "ministering spirits, sent forth to minister for
them who shall be heirs of salvation." And this notwithstanding the testimony of Scripture to the
existence of heavenly angels, and their connection with the history of man, before the death of a
human being”.
98
192
WHITE, Ellen. The Story of Redemption. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association,
1980, p. 332. Conforme o original: “Even before the establishment of the Papacy, the teachings of
heathen philosophers had received attention and exerted an influence in the church. Many who
professed conversion still clung to the tenets of their pagan philosophy, and not only continued its
study themselves but urged it upon others as a means of extending their influence among the
heathen. Thus were serious errors introduced into the Christian faith. Prominent among these was the
belief in man's natural immortality and his consciousness in death. This doctrine laid the foundation
upon which Rome established the invocation of saints and the adoration of the virgin Mary. From this
sprung also the heresy of eternal torment for the finally impenitent, which was early incorporated into
the papal faith”.
99
193
CULLMANN, Oscar. Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead? Nova York:
Macmillan. 1958.
194
BRUNNER, Emil. Man in Revolt: A Christian Anthropology. Londres: Lutterworth, 2002. p. 475. No
capítulo 16, seção 5 “Man and Creation” ele escreve: “This dying of the whole man must pass
throught an experience of annihilation which affects the whole man since the whole mans is a siiner”.
195
Em inglês, os termos mais frequentemente utilizados são “conditionalism” ou “soul sleep”, sono da
alma.
196
ROWELL, Geoffrey. Hell and the Victorians: A study of the nineteenth-century theological
controversies concerning eternal punishment and the future life. Oxford: Clarendon Press, 1974. p.
204.
197
ROWELL, 1974, p. 204.
100
maneira de agir de Satanás, contra Deus e Sua Palavra, não mudou. Ele ainda se opõe a que sejam
as Escrituras adotadas como guia da vida, tanto quanto o fez no século dezesseis. Pelo original: “Had
the Reformation, after attaining a degree of success, consented to temporize to secure favor with the
world, it would have been untrue to God and to itself, and would thus have insured its own destruction.
The experience of those noble reformers contains a lesson for all succeeding ages. Satan's manner of
working against God and his Word has not changed; he is still as much opposed to the Scriptures
being made the guide of life as in the sixteenth century.”
201
Para um dos mais conhecidos exemplos, leia-se: WYLIE, J. A. The History of the Waldenses.
London: Cassell and Company, 1860. A presente edição encontra-se (encontrava-se?) junto a
biblioteca de Ellen White.
202
Cabe aqui uma nota “antecipatória”: Embora alguns considerem o próprio Lutero como
descendente dos hussitas (POTTER, Charles Francis. História das Religiões: A Vida dos Líderes
Religiosos. São Paulo: Ediouro, 1968, p. 379) parece claramente não ser possível considerar esses
grupos “puros” como monolíticos. A própria palavra do Reformador pode nos dar algumas valiosas
pistas sobre isso: “Ouço, por fim, que ele forjou alguns comentários sobre certos artigos atribuídos a
mim por parte desses irmãozinhos irrequietos e desejosos de sua própria ruína e que, uma vez mais,
me descreveu perante os magnatas, com amor maravilhoso, como maniqueu, hussita, wyclifita e não
sei que outras espécies de herege.” LUTERO, Martinho. Comentários de Lutero sobre suas Teses
Debatidas em Leipzig. In: Obras selecionadas: Os primórdios - Escritos de 1517 a 1519. São
Leopoldo: Sinodal, Porto Alegre: Concórdia, Canoas: Ulbra, 2004. p. 345.
203
Conforme Wylie, 1860, p. 17: “A lâmpada que tinha estado a ponto de expirar começou, após este
sínodo, a queimar com o seu brilho. O antigo espírito dos valdenses foi revivido. Eles já não
praticavam as dissimulações e ocultações covardes a que tinha recorrido para evitar a perseguição.
Eles já não temiam a confessar sua fé. Daí em diante eles nunca mais foram vistos na missa, ou nas
igrejas papistas. Eles se recusaram a reconhecer os sacerdotes de Roma, como ministros de Cristo,
e sob nenhuma circunstância eles recebem qualquer benefício espiritual ou serviço em suas mãos.”
(Note-se aqui, novamente, o termo “papistas”). (A tradução acima é de minha autoria). No original
assim encontra-se: “ The lamp which had been on the point of expiring began, after this synod, to burn
with its former brightness. The ancient spirit of the Waldenses revived. They no longer practiced those
dissimulations and cowardly concealments to which they had had recourse to avoid persecution. They
no longer feared to confess their faith. Henceforward they were never seen at mass, or in the Popish
102
churches. They refused to recognize the priests of Rome as ministers of Christ, and under no
circumstances would they receive any spiritual benefit or service at their hands”.
204
De acordo com John Foxe em: FOXE, John. O livro dos mártires. São Paulo: Mundo Cristão,
2003. p. 53.
205
FROOM, 1959, p. 51.
206
Conforme LAND, Gary. The A to Z of the Seventh-Day Adventists. Lanham: The Scarecrow
Press, 2005. p. 68.
207
Conforme Froom, 1956, p. 51.
103
fardo.”211 Dessa forma, pode-se dar mais crédito aos textos whiteanos que afirmam a
prevalecência das doutrinas bíblicas por parte dos reformadores do passado.
Especificamente sobre William Tyndale, escreveu ela que:
211
BURNS, 1972, p. 35.
212
WHITE, 1950, p. 547. Conforme o original: “ The martyr Tyndale, referring to the state of the dead,
declared: "I confess openly, that I am not persuaded that they be already in the full glory that Christ is
in, or the elect angels of God are in. Neither is it any article of my faith; for if it were so, I see not but
then the preaching of the resurrection of the flesh were a thing in vain”.
213
Há certo número delas no: IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA. Questões sobre doutrina: o
clássico mais polêmico da história do adventismo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. p. 385-
387. No presente livro, há a citação de uma dissertação de mestrado de certo T. N. Ketola onde o
mesmo cita 125 referências de Lutero à morte como sono. É bem verdade que o autor “menciona um
grupo menor de referências mostrando que Lutero cria na consciência periódica de alguns.”
105
Resta ainda, para compor o quadro dos reformadores mais aludidos pela
teologia adventista do sétimo dia, o posicionamento de John Wesley, visto que
durante mais de quarenta anos a família White pertenceu ao metodismo, sendo
expulsa da comunidade quando de seu envolvimento com os correligionários do já
citado William Miller, na primeira metade do século XIX.
John (1703-1791) e Charles Wesley (1707-1788), fundadores do Metodismo,
eram adeptos de uma religião baseada em propostas pragmáticas, bem como fé
inabalável em Cristo, e recomendavam firmemente a leitura diária da Bíblia, assim
como incessante oração. Dessa forma, ou seja, preparados espiritualmente e
tentando viver uma vida semelhante à vida de Cristo, se dedicavam a obras sociais
como visitas a presídios e pregações públicas, algo até então inédito na Igreja da
Inglaterra. Afinal, ele não poderia ficar circunscrito a sua própria igreja, inclusive
218
ANDREASEN, Niels-Erik. Morte: Origem, Natureza e Erradicação. In: DEDEREN, Raoul. (Org.)
Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 381.
219
CALVIN, John. Tracts and Treatises in Defense of the Reformed Faith. Grand Rapids:
Eerdmans, 1958, vol. III, p. 490. Na obra, Calvino se utilizou do termo “Catabaptists”, sem uma
tradução confiável para a língua portuguesa. Assim, simplesmente traduzi por “catabatistas”. Ainda,
BURNS, 1972. p. 115, comenta que uma das perseguições de Calvino aos anabatistas se deu
especificamente com relação ao sono da alma.
107
Abrindo aqui uma lacuna de vários séculos, cabe, a título de citação, antes de
efetivamente elencar os pioneiros adventistas do sétimo dia que empreenderam
seus estudos na questão do sono da alma, o outrora comentado Oscar Cullmann
que em sua obra Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead? explana
brevemente acerca de Sócrates e Jesus, no primeiro capítulo, fazendo um paralelo
entre o entendimento hebraico e o cristão sobre a mortalidade da alma, sendo que
224
Conforme LEE, L. The Immortality of the Soul, Syracuse: Wesleyan Methodist Book Room.
1865.
225
“Practical religion seemed to be the harmonizing theme throughout Ellen White’s writings. She saw
a direct connection between doing church work and properly representing the character of God”.
DOUGLASS, H. Messenger of the Lord: The Prophetic Ministry of Ellen G. White. Mountain View:
Pacific Press Publishing Association, 1998. p. 97. “Religião prática parecia ser o tema harmonização
ao longo de escritos de Ellen White. Ela viu uma conexão direta entre fazer o trabalho de Igreja e
devidamente representando o caráter de Deus”.
109
227
Pode-se provar tal afirmação ao enumerar seus livros escatológicos...
228
A própria Ellen White conta em livro o episódio, que serve para dar luz ao seu contexto de vida,
tão comum a tantos que necessitavam de cuidados médicos no século XIX. Diz o seguinte: While I
was but a child, my parents removed from Gorham to Portland, Maine. Here, at the age of nine years,
an accident happened to me which was to affect my whole life. In company with my twin sister and
one of our schoolmates, I was crossing a common in the city of Portland, when a girl about thirteen
years of age, becoming angry at some trifle, threw a stone that hit me on the nose. I was stunned by
the blow, and fell senseless to the ground. WHITE, Ellen. Christian Experience and Teachings of
Ellen G. White. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1940, p. 13. Em português:
“Sendo eu criança, meus pais se mudaram de Gorham para Portland (Maine). Aí, na idade de nove
anos sofri um acidente que iria me afetar a vida inteira. Em companhia de minha irmã gêmea e de
uma de nossas colegas, atravessava eu uma praça na cidade de Portland, quando uma menina de
treze anos aproximadamente, zangando-se por qualquer futilidade, atirou uma pedra que me atingiu o
nariz. Fiquei aturdida com o golpe e caí ao chão, desmaiada”. Sobre a agonia, ela ainda relatou:
“Physicians thought that a silver wire could be put in my nose to hold it in shape, but said that it would
be of little use; that I had lost so much blood my recovery was doubtful; that if I should get better, I
could not live long. I was reduced almost to a skeleton. […] My health failed rapidly. I could only talk
in a whisper, or broken tone of voice. One physician said my disease was dropsical consumption; that
111
ideia acerca da religião, exceto quando conheceu Miller. O encontro dela com o
fazendeiro leigo que faria com que ela se sentisse incluída em um grupo nascente
ao renovar sua fé e dar origem ao seu ministério que duraria até seu perecimento,
mais de 70 anos depois, teve em Storrs, de acordo com a literatura o mesmo efeito.
Esses exemplos, ligados a própria vida de Miller e de tantos outros seguidores,
talvez seja um indicativo do caráter reavivamentista do movimento, a despeito de
suas predições históricas e escatológicas. Diz Ellen White, com seu pensamento
marcadamente vitoriano:
my right lung was gone, and my left affected. He thought I could not live long, might die very suddenly.
It was very difficult for me to breathe lying down, and nights was bolstered almost in a sitting posture,
and would often awake with my mouth full of blood.” WHITE, Ellen. Spiritual Gifts, Book II. Battle
Creek, MI: Seventh-day Adventist Publishing Association, 1945. 9 e 30. Em português: “Os médicos
acharam que era possível enfiar um fio de prata em meu nariz para manter sua forma, mas me
disseram que isso seria de pouca utilidade. Disseram que eu havia perdido tanto sangue e sofrera
abalo nervoso tão grande que meu restabelecimento era muito improvável; disseram também que,
ainda que eu melhorasse, não conseguiria viver muito tempo. Fiquei quase reduzida a um esqueleto.
Minha saúde decaiu rapidamente. Eu só conseguia falar em sussurros ou num tom de voz baixo.
Certo médico disse que minha doença era uma tuberculose hidrópica; que meu pulmão direito estava
perdido, e o meu esquerdo afetado. Seu prognóstico era o de que eu não viveria muito tempo,
podendo até morrer subitamente. Eu sentia grande dificuldade em respirar deitada. Passava as noites
apoiada em um travesseiro, em uma posição quase sentada. Despertava muitas vezes com a boca
cheia de sangue.”
229
WHITE, 1940, p. 24. Conforme os manuscritos originais de sua pena: “My sufferings of mind were
intense. Sometimes for a whole night I would not dare to close my eyes, but would wait until my twin
sister was fast asleep, then quietly leave my bed and kneel upon the floor, praying silently, with a
dumb agony that cannot be described. The horrors of an eternally burning hell were ever before me. I
knew that it was impossible for me to live long in this state, and I dared not die and meet the terrible
fate of the sinner. With what envy did I regard those who realized their acceptance with God! How
precious did the Christian's hope seem to my agonized soul! I frequently remained bowed in prayer
nearly all night, groaning and trembling with inexpressible anguish, and a hopelessness that passes all
description. "Lord, have mercy!" was my plea, and like the poor publican I dared not lift my eyes to
heaven, but bowed my face upon the floor. I became very much reduced in flesh and strength, yet
kept my suffering and despair to myself.
112
230
Até hoje existem miríades de sítios na internet com as mais variadas histórias de culto a morte no
período. Destaco aqui uma loja virtual que vende - a preços nada módicos - a indumentária da época,
sempre levando em consideração o referido tema. Trata-se do “Victorian Death Kult”, disponibilizado
em http://victoriandeathkult.bigcartel.com/. É dessa época as terríveis histórias da noite vitoriana com
os crimes de Jack, o estripador, que nem de longe chegou perto de sua contemporânea Amelia Dyer,
a pior serial killer de todos os tempos na Inglaterra, sendo acusada de matar mais de 400 bebês, de
acordo com matéria do periódico Daily News, disponível em: http://www.dailymail.co.uk/news/article-
2283302/Britains-worst-serial-killer-The-Victorian-angel-death-murdered-400-babies.html. A literatura
sobre o tema também é profícua. Destaco aqui JALLAND, Pat. Death in the Victorian Family.
Oxford: Oxford University Press, 1996, onde, na página 18 ela analisa o modelo protestante da “boa
morte” como prenúncio da salvação, modelo este posteriormente integrado ao movimento
evangelical. Ainda destaco a obra de CURL, James Stevens. The Victorian Celebration of Death.
Thrupp: Sutton Publishing, 2000, p. 176 onde o autor aborda o florescimento dos cemitérios públicos
e privados (pps. 69-80) e o desenvolvimento da cremação.
231
ROWELL, 1974, p. 7.
232
ROWELL, 1974, p. 2.
113
sentido, de acordo com Hofstadter “a religião foi o primeiro campo para o surgimento
de uma tendência antiintelectualista.”233
Paradoxalmente, porém, nota-se que foi precisamente nas congregações
americanas que surgiram os primeiros intelectuais e filósofos do calibre de Jonathan
Edwards. A questão é que essa precisão acadêmica equilibrada pela vida piedosa
não fazia parte integrante do movimento reavivamentista do qual Storrs e White
eram partes constituintes. Ainda de acordo com Hofstadter:
Foi justamente por causa desse embate, com exortantes leigos solapando o
clero profissional que Ellen White e sua família foram expulsos do seio metodista.
Contudo, mesmo na denominação, exige-se que cada pastor, como condição
obrigatória para sua ordenação, seja formado em seus seminários. Mais do que isso,
em muitos casos (e sem bibliografia, como se é esperado) é visto por certos quadros
como exagero. Dessa forma, até hoje (embora por parte de alguns e de forma cada
vez menos majoritária) mantém-se certa dinâmica antiintelectualista que outrora
fundamentou a igreja, com raras exceções que orgulham seus membros, sendo os
mesmos excessivamente citados.
Os jornais da época, quando não devidamente centralizados totalmente em
outros assuntos, visto que para muitos essas questões pertinentes ao céu e inferno
pertenciam aos séculos anteriores, tentavam da melhor forma possível
contemporizar ambas as discussões em debates acalorados. Neste sentido,
destaca-se o periódico The Church and the World com artigos de autores das mais
diversas linhas de pensamento, organizado pelo Rev. Orby Shipley. O periódico
pode ser tomado como um exemplo das tensões entre os teólogos (leigos ou não) e
233
HOFSTADTER, Richard. Antiintelectualismo nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1967. p. 69.
234
HOFSTADTER, 1967, p. 85.
114
os secularistas, onde se propõe que cada qual fique restrito à sua própria área, o
que era e ainda é algo simplesmente inimaginável para a Igreja Adventista do
Sétimo Dia com seu pensamento holístico que, por certo, também abrange a
chamada vida secular em todos os seus mais diferentes aspectos, indistintamente.
No referido jornal, lê-se, acerca dessas tensões, entre a igreja e o mundo, certo
artigo tenazmente denominado “Ciência e Oração” que diz o seguinte:
235
MACCOLL, Malcolm. Science and Prayer. In: Shipley, Orbey (Org.) The Church and the World:
Essays on questions of the day. Londres: Longmans, 1866. p. 412.
236
De acordo com HUNTER, Lyn. A Victorian Obsession With Death: Fetishistic Rituals Helped
Survivors Cope With Loss of Loved One. Berkeleyan Online. Volume 28, número 27. April 2000.
Disponível em http://www.berkeley.edu/news/berkeleyan/2000/04/05/death.html. Acessado em 25 de
julho de 2013.
237
POE, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias. São Paulo: Cia das Letras, 2012. p. 110.
238
MANGUEL, Alberto (Org.) Contos de Horror do Século XIX. São Paulo: Cia das Letras, 2005.
115
preocupado com o efeito que a morte tem sobre a pessoa ou pessoas que deixaram
para tudo para trás e explora os problemas que enfrentam em continuar a viver.”239
Como Poe, tantos outros,240 que não por acaso encheram as prateleiras das
bibliotecas daquele século deram tenebrosa e mortificante cor ao imaginário do
período, contribuindo para aumentar, mesmo nos púlpitos, o medo da morte e suas
consequências eternas. Também na poesia feminina encontramos as mais diversas
referências à “morte vitoriana”, indicando que as mulheres tinham relevância ao
menos em assuntos artísticos e espirituais,241 embora inclusive algumas poesias o
neguem.242
Contudo, apesar do clima tenebrosamente pesado da morte vitoriana em
todas as áreas da vida sobre o imaginário da população anglo-saxã, algumas
vertentes pouco a pouco começavam a se destacar ao perceber que a morte eterna
estava em franca desconexão com as novas teorias científicas, como a
evolucionista, que ao enfatizar a conexão entre o homem e o mundo animal,
“dificultou grandiosamente a doutrina da imortalidade como doutrina da religião
natural”.243 Ainda, a doutrina da imortalidade da alma, vista sem embargo com
grande pessimismo pelas consequencias eternas oriundas de uma vida impenitente
mostrava-se amplamente paradoxal ao potencial econômico sem paralelo da
Inglaterra e do nascente Estados Unidos. Assim, a doutrina condicionalista proposta
para a Igreja Adventista do Sétimo Dia e aceita pela denominação pouco depois -
em 1848, quatro anos depois de sua constituição informal244 - criou as bases para
239
SOVA, Dawn B. Critical Companion to Edgar Allan Poe: A literary Reference to his life and work.
Nova Iorque: Infobase Publishng, 2001, p. 25.
240
Para “não citar” Ann Radcliffe e H. P. Lovecraft.
241
Mark G. Toulouse a James O. Duke encontraram, desde os tempos colonais nos Estados Unidos,
mulheres proeminentes na religião e espiritualidade. Destaca-se Anne Hutchinson, Phoebe Palmer,
Margareth Fuller, Antoinette Brown, Lydia Maria Child, Georgia E. Harkness, Rosemary Radford
Ruether e Sallie McFague. Ellen White não é citada e para os autores, não constitui fonte para a
teologia daquele país, talvez precisamente por seu caráter antiintelectual. TOULOUSE, Mark; DUKE,
James. Sources of Christian Theology in America. Nashville: Abingdon Press, 1999.
242
Uma mulher anônima, simplesmente nomeada “a lady” escreveu por volta do início do século XIX
o bonito texto “Woman’s Hard Fate”, onde clama que “subject to man in every state, how can she then
be free from woes?” Especificamente sobre a morte, escreve Ellen Wilcox: “Why do I feel no fear”, I
asked, Meeting YOU here this way? For I have sinned, I know full well; And is there heaven, and is
there hell, And s ths the Judgment Day?”. BENNETT, Paula Bernat. Nineteenth-Century American
Women Poets: An Anthology. Massachusetts: Blackwell Publishers, 1998. p. 385 e 496.
243
ROWELL, 1974, p. 4. O espiritismo, filosofia que nasceu precisamente neste contexto, apesar de
adepta da teoria da evolução tem, como se sabe, a imortalidade da alma em seus fundamentos
inegociáveis.
244
Conforme ZACKRISON, Edwin. In the Loins of Adam: A Historical Study of original sin in
adventist theology. Nova Iorque: iUniverse, 2004. p. 156.
116
todo o sistema de crenças da denominação, que ao mesmo tempo que clamava aos
povos uma preparação para o “tempo do fim”, arrazoava acerca da necessidade
irrestrita de cuidados intensivos tanto do corpo quanto do espírito, a fim de que o ser
humano inteiro recebesse de Deus a salvação e o dom da imortalidade.
Esse cuidado da alma como um todo, fazendo da teologia adventista uma
“teologia integral”, aliado ao seu ímpeto antipapal e contrária a tudo o que a
denominação julgava antibíblica ao mesmo tempo que a tornou distinta da maioria
das outras existentes, ainda assim não a colocou totalmente distante da época
vitoriana sob termos teológicos. Na literatura da época, como oposição à ideia do
tormento eterno, era comum mesmo aos anglicanos a leitura de textos que falavam
sobre a materialidade e corporeidade do céu, aliado ao fato de uma boa morte ser
um claro sinal de santificação e, portanto, de salvação. O Príncipe Albert e a Rainha
leram juntos, nos seis meses imediatamente posteriores à morte da rainha mãe,
como forma de consolação, o livro Heaven our Home245, onde se encontra
textualmente a descrição de um céu sentimental e antropomórfico. Esse tipo de
literatura era extremamente comum em Ellen White. A diferença é que para ela e os
adventistas do sétimo dia, esses textos eram parte constitutiva de sua fé desde o
princípio, não sendo um paliativo diante das agruras da vida face à morte. Parece
ser impossível crer na literalidade da Parusia conforme as crenças adventistas do
sétimo dia sem efetivamente crer na literalidade do céu e na ressurreição da carne.
No âmago dessa esperança, indubitavelmente repousa a crença na imortalidade
condicional. Diz ela, sem sombra de dúvidas, que
[...] estamos a caminho de casa. Aquele que nos amou de tal maneira que
morreu por nós, construiu para nós uma cidade. A Nova Jerusalém é nosso
lugar de repouso. Não haverá tristeza na cidade de Deus. Nenhum véu de
infortúnio, nenhuma lamentação de esperanças frustradas e afeições
sepultadas serão jamais ouvidas. Logo as vestes da opressão serão
trocadas pela veste nupcial. Logo testemunharemos a coroação de nosso
246
Rei!
245
ROWELL, 1974, p. 10.
246
WHITE, Ellen. Heaven. Nampa. Pacific Press Publishing Association, 2003. p. 8. Conforme o
original: We are homeward bound. He who loved us so much as to die for us hath builded for us a city.
The New Jerusalem is our place of rest. There will be no sadness in the city of God. No wail of sorrow,
no dirge of crushed hopes and buried affections, will ever more be heard. Soon the garments of
heaviness will be changed for the wedding garment. Soon we shall witness the coronation of our King.
117
Dando crédito aos textos de Ellen White, além da vivência eterna dos justos
na Nova Jerusalém, também lá reconheceremos nossos conhecidos e amigos,
dando-se ênfase ao já destacado céu sentimental. A diferença - fazer aqui este
destaque parece salutar - reside nos pré-requisitos para a obtenção deste corpo
glorificado, ao contrário da categoria platônica que vê a alma em um constante
estado de crescimento e júbilo. Para ela, sem a necessidade de um Salvador:
247
WHITE, 1940, p. 804. Pelo original: “The countenance of the risen Saviour, His manner, His
speech, were all familiar to His disciples. As Jesus arose from the dead, so those who sleep in Him
are to rise again. We shall know our friends, even as the disciples knew Jesus. They may have been
deformed, diseased, or disfigured, in this mortal life, and they rise in perfect health and symmetry; yet
in the glorified body their identity will be perfectly preserved. Then shall we know even as also we are
known”.
118
248
FROOM, 1959, p. 807.
249
De acordo com BARRY, Hankins. The Second Great Awakening and the Transcendentalists.
Westport: Greenwood Press, 2004. p.137. Como John Wesley, Ellen White, Storrs, Miller e muitos
outros reavivamentistas, uma dramática e assimilada conversão fez parte de sua vida. A conversão
assinalada é ponto comum entre os membros desse grupo, de acordo com JOHNSON, James
E. Charles G. Finney and a Theology of Revivalism. In: Church History: Studies in Christianity &
Culture. Vol. 38, No. 3, Setembro, 1969, p. 338. Disponível em:
http://www.jstor.org/discover/10.2307/3163157
?uid=2134&uid=2&uid=70&uid=4&sid=21102182338873. Acessado em 26 de julho de 2013.
250
ZACKRISON, 2004, p. 133.
119
251
STORRS, George. Six Sermons on the inquiry Is There Immortality In Sin and Suffering?:
Also, a Sermon on Christ the Life-Giver: or, The Faith of the Gospel. Nova Iorque: Bible Examiner,
1855. p. 43. (A tradução é minha).
252
STORRS, 1855, p. 93.
120
pelo até então metodista Storrs, demonstrando a multiplicidade de fontes que deram
origem à denominação.
Roswell Fenner Cottrel (1814-1892) é outro adepto da doutrina condicionalista
que figura nos quadros da igreja, considerado pioneiro e ainda hoje lido. Aos 30
anos de idade assistiu a uma reunião pública de Miller e logo sentiu a experiência da
conversão típica das descritas entre os reavivalistas, definitivamente ingressando no
movimento. Logo passou a escrever prolificamente nas primeiras revistas
adventistas do sétimo dia sobre os mais distintos temas como “lições da Escola
Sabatina sobre a Lei de Deus, a Fé de Jesus, a Queda das Estrelas em 1833 e
problemas nacionais”.253 A multiplicidade de temas por ele redigidos, desde
questões soteriológicas, passando por escatologia e questões de cunho nacional
indicam, como já demonstrado, a carência de distintos autores que fossem
responsáveis por áreas de estudo e interesse.
Em relação ao seu pensamento condicionalista, Cottrel segue as linhas
mestras de Storrs. Conduto, Cottrel não mantém o caráter panfletário de Storrs ao
tornar a divulgação dessa doutrina como missão de vida. Cottrel, no entanto, coloca
a questão da mortalidade do ser humano em contraposição às glórias do futuro.
Segundo ele:
255
Temas polêmicos que “não deveriam ser escritos por mulheres”, como a pornografia e a
sexualidade, hoje publicados em um volume especial devidamente organizado pelos depositários dos
escritos de Ellen G. White.
256
WHITE, James. Appeal on Immortality. Seventh-day Adventist Publishing Association. Battle
Creek, 18[--]. p. 1.
257
WHITE, 18[--], p. 4.
122
obra criadora divina, possuindo mesmo uma fagulha Daquele que tudo criou. Dessa
forma, os componentes constituintes do ser humano trabalham em conjunto
formando uma totalidade inseparável: a separação do corpo como um ente distinto
vivendo longe da espiritualidade que o faz equilibrado pode ser indicativo de uma
vida que levará à morte eterna.258 Assim, a teologia adventista sob este ou qualquer
aspecto doutrinário - percebendo a unidade de sua doutrina sob o escopo principal
da imortalidade condicional da alma dentro do escopo ainda maior do grande conflito
cósmico259 - é uma doutrina também do corpo que afirma não existir uma segunda
chance de redenção, caso este se perca ou pereça sob o pó da terra sem espírito
quebrantado. Por essa associação, esta é uma teologia teleológica e marcadamente
processual, pois no fim de tudo aqui na Terra nesse estado, embora o fim não se dê
com o fim do corpo - afinal haverá imortalidade aos justos no céu literal. Essa
premissa faz com que o ser humano seja posto em foco com seu todo, pois que o
mesmo encerra dentro de si um espírito que sozinho não tem qualquer poder de sair
da carne viva ou podre e assim imiscuir-se em intrigas, sabores ou dissabores
humanos, visto que, com a morte, este não estará em qualquer plano acessável por
seres humanos. Eis, para o adventista do sétimo dia, a importância da real
percepção do destino do corpo e sua função para a salvação. Concordam os
adventistas do sétimo dia com as palavras de Parley Pratt, pioneiro da Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, acerca da integralidade entre corpo e
espírito que poeticamente escreveu que:
258
O “pode” da frase deve ser negritado em virtude dos adventistas do sétimo dia, como os cristãos
protestantes históricos, se considerarem crentes no Deus que salva pela graça, mediante a fé por Ele
mesmo imposta. Dessa forma, mesmo aqueles que tratarem seus corpos com desleixo e mesmo
duvidarem de Deus até seus momentos finais, ainda poderão ser salvos pela misericordiosa graça
divina, se tão-somente confessaram seus pecados e entregarem corpo e espirito Àquele que os criou.
A ênfase adventista se encontra precisamente no que esses homens e mulheres perdem, mesmo na
terra, ao assim tratarem seus corpos, ainda que posteriormente ganhem o céu. Para os adventistas,
em virtude da literalidade como veem as coisas celestiais, apregoam que aqui mesmo na Terra em
seu estado atual é possível viver, ainda que por momentos, como no Céu. Desse forma, obviamente,
o corpo saudável e equilibrado favorece esse sentimento.
259
O aporte material terrestre presentifica-se no conflito que começou no Céu terrestre e terminará na
terra. Assim, novamente, o corpo está aqui bastante demarcado.
123
e sagrado, que é mais puro, mais inteligente, mais refinado e ativo, mais
260
cheio de luz e vida , do que qualquer outra substância no universo.
2.2 A natureza e destino do ser humano e sua condição mortal segundo a teologia
whiteana legada à Igreja Adventista do Sétimo Dia
260
PRATT, Parley P. Key to the Science of Theology: an introduction to the first principles of
spiritual philosophy; religion; law and government. Liverpool: R.D. Richards, 1855. p. 81. (A tradução
é minha).
124
261
ZURCHER, J. R. The Nature and Destiny of Man: Essay on the problem of the Union of the Soul
and the Body in Relation to the Christian Views of Man. Nova Iorque: Philosophical Library, 1969. p.
147. (A tradução é minha). Concorda com ele, como não poderia deixar de ser, Froom, que escreveu
que: “O cristianismo primitivo era monista, afirmando que "tudo o que existe" foi derivado de uma
única origem - o absoluto, infinito Deus do Antigo e do Novo Testamento, de quem Paulo diz que só
Nele há imortalidade. FROOM, 1959, p. 860. Também o já aludido Jonathan Edwards - embora
Calvino fosse conscientemente contrário à concepção monística - concebia o corpo e a “alma” como
um só órgão, conforme McClymond e McDermott: Logo no início, Edwards havia determinado que a
única maneira de Deus estar em uma criatura era pelo Espírito Santo [...] dizendo que o Logos fala e
age usando a natureza humana de Cristo, sendo o corpo e a alma, como um único órgão.
MCCLYMOND, Michael James; MCDERMOTT, Gerald R. The Theology of Jonathan Edwards.
Oxford: University Press, 2012. p. 256. Conforme o original: “Early on, Edwards had determined that
the only way for God to be in a creature was by the Holy Spirit acting as a... by saying that the Logos
speaks and acts by using the human nature of Christ, both body and soul, as an organ.” (Traduzido
pelo autor). Ainda assim, analisou Edwards essa relação sob diferentes escopos: “Edwards
acreditava na unidade da pessoa humana, mas isso não o impediu de analisar diferentes aspectos do
que a unidade, como corpo e alma”. MCCLYMOND e MCDERMOTT, 2012, p. 468.
262
ZURCHER, 1969, p. 150.
125
Ao dizer que a glória divina resplandece na alma humana e que o ser humano
é dotado de corporeidade, clarifica Ellen White o que é o ser humano - pouco menor
em glória do que um anjo, mas totalmente dependente da misericórdia de Deus. Dá-
se assim uma cooperação divino-humana264 (cujo trabalho conjunto reside na base
de seus escritos sobre santificação), sem a qual, aí sim, o ser humano não passa de
263
WHITE, Ellen. The Medical Missionary, June 1904, 169, p. 170. Disponível em:
http://egwtext.whiteestate.org/publication.php?pubtype=Book&bookCode=IJWEGW&lang=en&collecti
on=6§ion=all&pagenumber=3¶graphReferences=1. Acessado em 26 de julho de 2013.
Conforme o original: “Man is a dual being, intellectually speaking. He is created with an intelligence
which is formed of his bodily, or, as we might say, his animal, propensities and desires. . . . This
department of human nature corresponds with the first compartment of the sanctuary. But man is also
endowed with an intelligence that is distinct from his animal nature, and infinitely superior to it. This is
called the 'inward' or 'inner man.'... When Christ comes to us in the merits of His own blood and as
High Priest enters into the heart, the holiest place, He speaks life and power to the dormant energies
of divine glory, and then from the human soul the glory shines forth.
264
Há realmente muitas citações whiteanas ao trabalho divino-humano como de valor imprescindível
para a salvação. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, de caráter arminiano, crê, portanto, no livre-
arbítrio, mas advoga que sem a cooperação com o divino não há chance de santificação e salvação.
Diz ela que: “The world is a workshop in which, through the cooperation of human and divine
agencies, Jesus is making experiments by His grace and divine mercy upon human hearts”. WHITE,
Ellen. Counsels for the Church. Nampa, ID: Pacific Press Publishing Association, 1991. p. 240. Em
português: “O mundo é uma oficina em que, através da cooperação de agências humanas e divinas,
Jesus está fazendo experimentos por Sua graça e misericórdia divina nos corações humanos.” Ainda:
“It is important that every worker should understand that conviction and conversion of souls follow the
cooperation of the human effort with the divine power.” WHITE, Ellen. Counsels on Sabbath School.
Washington: Review and Herald Publishing Association, 1938. p. 157. Em português: “É importante
que todos os trabalhadores devem entender que a convicção e conversão das almas siga a
cooperação do esforço humano com o poder divino”. Também encontramos que: “Christ is waiting for
the cooperation of human agencies, that He may impress the hearts of our children and youth. With
intense desire heavenly beings long to see parents making that preparation which is essential if they
and their children stand loyal to God in the coming conflict, and enter in through the gates to the city of
God.” WHITE, Ellen. In Heavenly Places. Washington: Review and Herald Publishing Association,
1967. p. 213. Em português: “Cristo está esperando a cooperação de agentes humanos, para que Ele
possa impressionar os corações de nossas crianças e jovens. Com desejo intenso seres celestiais há
muito querem ver os pais fazendo esse preparo que é essencial para que eles e seus filhos sejam
leais a Deus no conflito que vem, e entrar pelas portas da cidade de Deus”. Finalmente, diz White
que: “It must be line upon line, and precept upon precept, to guide and train the human moral agent to
work in cooperation with God. God works in the human agent by the light of His truth. The mind
enlightened by the truth, sees truth in distinction from error”. WHITE, Ellen. Mind, Character, and
Personality. Nashville: Southern Publishing Association, 1977. p. 350. Em português: “Deve ser linha
sobre linha, preceito sobre preceito, para orientar e treinar o agente moral humano para trabalhar em
cooperação com Deus. Deus trabalha com o agente humano à luz da Sua verdade. A mente
iluminada pela verdade, vê a verdade em distinção do erro”. (As traduções são de minha autoria).
126
um animal, visto que sua relação pessoal com Deus é nula. Sem Deus, o corpo não
cumpre seus propósitos e a alma se perde.265 Ellen White também aludiria às
palavras de Zucher e Froom ao pretender que a Bíblia inteira, indistintamente o
Antigo e o Novo Testamento estão imbuídos do mesmo poder visto que inspirada
pelo mesmo Autor266. Portanto, a dimensão judaica da totalidade humana - “o
espírito semítico” - é por ela afirmada inclusive ao aconselhar a alimentação descrita
no Antigo Testamento como a melhor também (e cada vez mais) em nossos dias.
Dessa forma, o ser humano encarnado não é um pecador tão-somente por
ser carnal, mas apenas e somente quando sua carne, comandada por sua mente, se
coloca em posição de rebelião contra Deus. Precisa o ser humano, dotado de forças
sobre-humanas e, portanto, divinas, receber o devido potencial para que o mesmo
tenha determinante poder para de forma ousada vencer as tentações que levam
inequivocadamente ao pecado e à morte. Contudo, em razão do pecado perpetrado
pelo primeiro casal criado por Deus, este entrou amplamente no mundo e resta ao
homem e à mulher de todas as épocas lutarem contra ele. O pecado, portanto, tem o
seu lugar privilegiado no corpo e, por isso, é a partir de uma mente equilibrada que
este mesmo corpo precisa estar devidamente habilitado para lutar contra o mal267. O
Grande Conflito cósmico é, sempre segundo a teologia adventista do sétimo dia,
corporal e sanguíneo, atingindo cada ser humano com maior ou menor intensidade,
dependendo de próprio autodomínio para se libertar do seu “eu” que ainda tem parte
com o pecado.
Note-se aqui a relevância grandiosa do corpo em estrita e indissociável
relação com a alma e seu cuidado para o destino final desta e a inquestionável
265
Conforme WHITE, 1958, p. 143: “[homens e mulheres] saem para o trabalho como o boi ou o
cavalo, sem um pensamento de Deus ou do Céu. Têm almas tão preciosas que, em vez de consentir
o Filho do homem ficassem elas desesperadamente perdidas, deu Ele a vida para resgatá-las; eles,
porém, têm pouco mais apreciação de Sua grande bondade do que a têm os animais que perecem”.
Conforme o original: “They have no time to offer prayer for divine help and guidance and for the
abiding presence of Jesus in the household. They go forth to labor as the ox or the horse goes,
without one thought of God or heaven. They have souls so precious that rather than permit them to be
hopelessly lost, the Son of God gave His life to ransom them; but they have little more appreciation of
His great goodness than have the beasts that perish.”
266
Isso pode ser visualizado em WHITE, Ellen. Selected Messages III. Washington: Review and
Herald Publishing Association, 1980. p. 88.
267
De acordo com ANDREASEN In: DEDEREN, 2011, p. 383. “Ellen White enfatizou que, como
consequência do pecado, a morte é causada pelo desrespeito humano à lei de Deus, inclusive a lei
da natureza e as leis da saúde. Esse discernimento, por sua vez combinado com sua concepção
holística do desenvolvimento humano, trouxe finalmente para os adventistas do sétimo dia o
compromisso com o cuidado da saúde e a educação.”
127
Dêem-se de corpo, alma e espírito a Deus, para ser empregados por Ele em
salvar almas. Eles não estão na liberdade de fazerem de si mesmos o que
lhes aprouver; pertencem a Deus; pois Ele os comprou com o sangue de
Seu Filho unigênito. E, à medida que eles aprenderem a permanecer em
Cristo, não restará no coração nenhum espaço para o egoísmo. Em Seu
270
serviço encontrarão a mais plena satisfação.
Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo
como a ti mesmo." Luc. 10:27. Estas palavras resumem todo o dever do
homem. Significam a consagração de todo o ser, corpo, alma e espírito, ao
serviço de Deus. Como podem os homens obedecer a essas palavras e ao
mesmo tempo comprometer-se a apoiar aquilo que priva seus vizinhos da
liberdade de ação? E como podem os homens obedecer a essas palavras e
formar combinações que roubam às classes mais pobres as vantagens que
270
WHITE, Ellen. Counsels to Parents, Teachers, and Students. Mountain View: Pacific Press
Publishing Association, 1943. p. 523. Pelo original: “Let them give themselves, body, soul, and spirit,
to God, to be used by Him in saving souls. They are not at liberty to do with themselves as they
please; they belong to God, for He has bought them with the lifeblood of His only-begotten Son. And
as they learn to abide in Christ, there will remain in the heart no room for selfishness. In His service
they will find the fullest satisfaction.” (Tradução do autor).
129
Aqui, a proposta holística whiteana transcende qualquer ser humano dentro
de si e o eleva a fazer aquilo que fez o próprio Cristo. Desta forma o corpo - embora
assim denominado porque se refere à materialidade do ser - não é apenas o corpo
individual, mas a totalidade dos filhos e filhas de Deus. Quando homens e mulheres
entregam-se de corpo, alma e espírito Àquele que os fez, o mundo inteiro, sem
restrições, passam a ser o corpo e a alma de Cristo, visto que todos os assim
envolvidos vivem em conformidade com Seu Espírito. As quase inumeráveis
propostas e conselhos dela em relação ao cuidado de cada parte do ser humano,
indiscutivelmente convergem para esta unidade e humanidade planetária. Eis porque
a teologia adventista do sétimo dia, em sua materialidade, é idílica ao pressupor a
tentativa de reconstrução do Éden em cada lar com o objetivo de expansão à
vizinhança e adiante. A integralidade whiteana tem início no ser humano individual,
mas objetiva-se por concretizar que, ainda que somente depois da Parusia, “Deus
será tudo em todos” - material e imaterialmente. Eis, nos mais diversos contextos,
textos whiteanos que, seguindo o modelo monista semítico, transcende a lógica
filosófica em suas pretensões metafísicas, ao buscar este ser a humanidade em
busca de si mesmo - um processo ontológico, portanto.
Até aqui foi visto acerca da relevância da concepção monista do ser humano
para o desenvolvimento prático e doutrinário da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Compete agora abordar suas definições de corpo, alma e espírito. Assim fazendo,
será percebido que a teologia da referida denominação - apesar de sempre revisada
- neste ponto, ou seja, nestas concepções, não mudou, atestando ela própria sua
centralidade bíblica ao afirmar desde seus inícios, a mortalidade da alma e seu
271
WHITE, Ellen. Country Living. Washington.: Review and Herald Publishing Association, 1946. p.
11. Pelo original: "Thou shalt love the Lord thy God with all thy heart, and with all thy soul, and with all
thy strength, and with all thy mind; and thy neighbor as thyself." These words sum up the whole duty
of man. They mean the consecration of the whole being, body, soul, and spirit, to God's service. How
can men obey these words, and at the same time pledge themselves to support that which deprives
their neighbors of freedom of action? And how can men obey these words, and form combinations that
rob the poorer classes of the advantages which justly belong to them, preventing them from buying or
selling, except under certain conditions?”
130
272
“Os adventistas do sétimo dia nem mesmo por um momento admitem a possibilidade de um
conflito entre a ciência e a religião”. GENERAL CONFERENCE. Belief and Work of Seventh-day
Adventists. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1937. p. 29.
273
CONKIN, Paul K. American Originals: homemade varieties of Christianity. Chapel Hill: The
University of North Caroline Press, 1997. p.115.
274
De acordo com Joel B. Green: “Para Escrituras de Israel, a morte nunca é uma questão
meramente de cessação biológica. [...] Estes incluem pelo menos três afirmações - em primeiro lugar,
a existência humana é marcada pela finitude, em segundo lugar, a morte é absoluta e, terceiro, a
morte é considerada como a esfera em que a comunhão com o Senhor está perdido.” GREEN, Joel
B. Body, Soul and Human Life: The Nature of Humanity in the Bible. Grand Rapids: Baker
Academic, 2008. p. 146. Original?
131
clara e harmônica entre si, sendo mediada pelo Espírito Santo e enriquecendo a vida
espiritual do próprio leitor-intérprete. Partindo desses pressupostos, os adventistas
do sétimo dia concordam com a declaração de Karl Barth (apesar de sua diferente
linha geral de pensamento), ao afirmar que “nós encontramos na Bíblia um novo
mundo”,275 um mundo de positivas possibilidades materiais e transcendentais, bem
com a “glória e o incompreensível amor de Deus”. Ao “escutar” a Palavra de Deus,
exclui-se qualquer possibilidade de salvação em outra fonte e por essa mesma
razão, como já aventado anteriormente, qualquer possibilidade de ruptura com a
Bíblia em razão da Ciência está previamente descartada.
Afinal, para estes, muitas vezes, a Bíblia tem sido afirmada à luz das mais
diferentes ciências, sendo uma questão de tempo e adequação para aquelas
questões ainda destoantes. Com esse pensamento, os adventistas do sétimo dia
tendem a se perceber como estudantes cientes da necessidade de beber apenas
daquela fonte. Deve o labor teológico, ainda que leigo, e a humildade, ser dois
distintivos do leitor bíblico, que sempre deve fazê-lo para ser engrandecido de fé e
espiritualidade, não por louvores de seus pares. Assim, novamente esses
concordam com o já citado Barth ao este afirmar que
A Bíblia nos diz não como devemos falar com Deus, mas o que ele nos diz,
não como nós encontramos o caminho para Ele, mas como ele procurou e
encontrou o caminho para nós, não a relação correta em que devemos nos
colocar diante Dele, mas o concerto que Ele fez com todos os que são filhos
espirituais de Abraão e que selou de uma vez por todas em Jesus Cristo. É
276
isto o que está na Bíblia.
Guiados por esse pensamento, ou seja, partir daquilo que Ele nos diz e não
aquilo que gostaríamos de ouvir, é que os adventistas do sétimo dia marcham contra
a grande e majoritária corrente doutrinária cristã (ainda que com aliados
contemporâneos famosos) no que diz respeito à unidade do ser humano e suas
definições de alma e espírito. Este é apenas exemplo da propalada “contracultura
adventista” perpetrada pelo grupo nos Estados Unidos do século XIX, como ainda
será abordado.
275
BARTH, Karl. The Word of God and the Word of Man. Gloucester: Peter Smith, 1978. p. 43.
Original?
276
BARTH, 1978, p. 45.
132
277
A BIBLIA, Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
278
THE HOLY BIBLE, King James Version. New York: American Bible Society: 1999. Disponível em:
www.bartleby.com/108/. Acessado em 31 de julho, 2013.
279
NEW AMERICAN STANDARD BIBLE. The Lockman Foundation: La Habra. Disponível em:
http://www.biblegateway.com/versions/New-American-Standard-Bible-NASB/#copy. Acessado em 31
de Julho, 2013.
280
EASTON, M.G. Easton's 1897 Bible Dictionary. Nova Iorque: Thomas Nelson, 1897.
281
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 353.
282
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 353.
283
Rudolf Bultmann é outro teólogo não-adventista contemporâneo que neste ponto concorda com os
adventistas do sétimo dia, conforme disposto em: BULTMANN, Rudolf. Theology of the New
Testament. Nova Iorque: Charles Scribner’s Sons, 1951, vol. 1, p. 194. Diz ele que o “homem não
tem um soma, ele é um soma” e continua ao afirmar que o “homem, sua pessoa como um todo, pode
ser denotado como um soma. Aliás, cabe ao citado autor o mérito pelo novo olhar ao ser humano de
acordo com a antropologia bíblica. De acordo com Green, “se, até o início do século XX, a
antropologia paulina foi entendida em termos dicotômicos (corpo-alma), ou mesmo tricotômica (corpo-
alma-espírito), o mesmo não pode ser dito em meados do século ou posteriormente”. GREEN, 2008,
p. 4. Ellen White e os adventistas do sétimo dia, longe dessas discussões e apegados ao texto
bíblico, sempre ficaram de fora das questões acadêmicas que concluiu o mesmo que ela, por outras
análises.
284
De acordo com o filósofo John W. Cooper, “quando morremos, há uma dicotomia entre o ego e o
organismo terrestre. Nós somos constituídos de tal forma que podemos sobreviver "vindo distante" no
momento da morte, como não natural, como pode ser.” COOPER, John W. Body, Soul, and Life
Everlasting: Biblical Anthropology and the Monism-Dualism Debate. Grand Rapids: Eerdmans,
2000, p. 163 In: Green, 2008, p. 140.
133
respondendo à questão conceitual proposta afirma que não se baseia nos antigos
moldes teológicos, mas nos novos modelos fisiológicos aludindo que:
Para eles, “psyche não é imortal, mas sujeita a morte (Apoc. 16.3) e pode ser
destruída (Mat. 10.28)”.286 Certamente aqui poderiam ser citados ainda outros
famosos autores adventistas como o já comentado Froom, mas em vista da aludida
relação de corpo e espírito, formando uma alma287, presentes em tantos textos de
Ellen White aqui fornecidos, a ideia é tão-somente complementar com literatura
bíblica fornecida por teólogos adventistas esse pensamento bíblico, fazendo um
paralelo histórico desde os primórdios da denominação e mesmo imediatamente
antes, com Georg Storrs, até os dias atuais.
Dando continuidade à conceituação proposta, por espírito tem-se no hebraico
ruach e no grego phantasma ou, como é muito mais comum, pneuma. Ruach pode
ser traduzida também por “fôlego”,288 “espírito”,289 “vento”,290 “ânimo”,291 “ira”292 e
descreve aquele princípio vital dos homens e animais. Conforme pensam os
adventistas do sétimo dia, “em nenhuma das 379 vezes de seu emprego no Antigo
Testamento ruach denota que no homem exista uma unidade separada [...] à parte
285
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 354.
286
LESSA, Rubens S.; GUARDA, Márcio; SCHEFFEL, Rubem M. Nisto Cremos: 27 ensinos dos
Adventistas do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003, p. 120. Segundo Bacchiocchi,
2012. p. 61, “as pessoas que leem as referências do Antigo Testamento a nephesh com uma
percepção dualista terão grandes dificuldades em entender a concepção bíblica de corpo e alma
como sendo a mesma pessoa vista de diferentes perspectivas. Enfrentarão problemas em aceitar o
significado bíblico de “alma” como o princípio que anima tanto a vida humana como a animal.
Também ficarão confusas em explicar passagens bíblicas que falam da pessoa morta como uma
nephesh-alma morte (Lv 19.28; 21.1; 22.4; Nm 5.2; 6.6; 11; 9.6-7) É inconcebível para elas que uma
alma imortal morra junto com o corpo.”
287
Sem que se pareça a ideia de um todo feito de partes, visto que estas, como já relatado, formam
um todo indivisível, monista.
288
Em Ezequiel 37.5, na passagem do vale de ossos secos lê-se que: “Assim diz o SENHOR Deus a
estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis”.
289
Em Juízes 15.19a, pode-se ler: “Então, o SENHOR fendeu a cavidade que estava em Leí, e dela
saiu água; tendo Sansão bebido, recobrou alento e reviveu.
290
Em Gênesis 8.1b, está escrito que “Deus fez soprar um vento sobre a terra, e baixaram as águas”.
291
Lê-se em Josué 2.11: “Ouvindo isto, desmaiou-nos o coração, e em ninguém mais há ânimo
algum, por causa da vossa presença; porque o SENHOR, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e
embaixo na terra.
292
Conforme Juízes 8.3b: “que pude eu fazer comparável com o que fizestes? Então, com falar-lhes
esta palavra, abrandou-se-lhes a ira para com ele.
134
293
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 355.
294
Aqui são muitas as definições, de sorte que não vamos citá-las textualmente, como feito com o
termo ruach, indicando suas principais acepções. Para tanto, vide: Ap. 11.11; Lc 8.55; 1Cor 4.21;
2Cor 12.18 e Mt 8.16, dentre outras.
295
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 355.
296
PIEPER, Josef. Death and Immortality. St. Augustine’s Press: South Bend, 2000, p. 29.
297
O assunto vez por outra vem à tona e novos textos são publicados em sua defesa. Para as
principais razões para críticas, vide BRAND, Leonard; MCMAHON, Don. The Prophet and her
critics. Nampa: Pacific Press Publishing Association, 2005. p. 11-14.
135
298
Além das muitas obras de Ellen White que serão citadas ao longo desta seção, bem como os
textos dos autores pioneiros e mesmo o já referido Bacchiocchi, cito também, da Casa Publicadora
Brasileira e de Casas Publicadoras de língua inglesa e espanhola (excluindo monografias), apenas as
obras mais frequentemente citadas: CHRISTIANINI, Arnaldo B. Subtilezas do Erro: Contradita ao
Sabatismo à luz da Palavra de Deus de R. Pitrowski e D. M. Canright. Santo André: Casa Publicadora
Brasileira, 1965; CHAIJ, Fernando. Forças Misteriosas que atuam sobre a mente humana. Santo
André: Casa Publicadora Brasileira, 1979; ANDERSON, Roy Allan. Secrets of the Spirit World.
Mountain View: Pacific Press, 1965; CHAIJ, Fernando. Potencias supranormales que actuam en
la vida humana. Moutain View: Pacific Press, 1964; WHELPLEY, Theresa A. Unmasking the Spirit.
Washington: Review and Herald, 1977; HAYNES, Carlyle B. Spiritualism and the Bible. Nashville:
Southern Publishing Association, 1931; FROOM, LeRoy Edwin. Spiritualism Today. Washington:
Review and Herald, 1963 e um dos mais divulgados no Brasil atualmente, sobre a conversão de um
ex-espírita: MORNEAU, Roger. Viagem ao Sobrenatural. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004.
A publicação e divulgação dessas obras não difere em muito do trabalho principalmente dos batistas
e presbiterianos.
136
fato, entre os adventistas do sétimo dia, não parece ser possível falar sobre uma de
suas mais distintas crenças fundamentais não citando, como exemplo contrário, os
“enganos do espiritismo”, que nasceu praticamente na mesma época e
geograficamente próximo do local de nascimento desses adventistas. Como
aconteceu com muitos grupos cristãos ao redor do mundo, ao refutar as doutrinas
espíritas tidas como espúrias, os adventistas do sétimo dia reafirmavam suas
próprias doutrinas299, principalmente ao distinguir as diferentes nuanças que opõem
Ellen White de Allan Kardec, apesar de os dois terem sido diretamente influenciados
de forma sobrenatural. Mais do que isso: para o adventista do sétimo dia, embora
não se aconselhe o estudo da doutrina espírita por questões óbvias, interpretar seu
desenvolvimento é chave para melhor exemplificar de forma inequívoca os
acontecimentos imediatamente anteriores à volta de Cristo300. Desta forma, mais do
que um emaranhado de questões doutrinárias, estudar o Espiritismo sob a ótica
adventista do sétimo dia evoca o senso de urgência escatológica tão presente nas
falas dos muitos quiliastas leigos ou profissionais da igreja.301
299
O processo se deu no Brasil com igrejas protestantes de missão, o caso da Igreja Adventista do
Sétimo Dia. Para informações acuradas, veja: MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir: A
.
inserção do protestantismo no Brasil. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
p. 75-79 e 121-140.
300
A leitura do segundo capítulo do citado livro exemplifica o referenciado. DOUGLASS, Herbert E.
Profecias Surpreendentes: Predições dramáticas de Ellen White sobre eventos mundiais. Tatuí:
Casa Publicadora Brasileira, 2012. pp. 20-41.
301
Enquanto o Espiritismo, visualizado por si mesmo como a "Terceira Revelação" inicia uma "nova
fase na humanidade", inicial rumo a plenitude infinita, Ellen White vê os tempos em situação
precisamente oposta: é a fase final do estado de coisas tal como ele se encontra, rumo a um novo lar,
físico, mas ainda assim espiritual. Para tanto, leia-se: “A Terceira Revelação é o Espiritismo
[precedida pelo Monoteísmo e Cristianismo], representação sintética apriorística da IDEIA que nos
vem da colocação premonitória do Monoteísmo, como centro de nossas reflexões filosóficas. É o
Consolador prometido, antes da volta de Jesus às plagas espirituais, que chega no cumprimento da
palavra dada. É o Parácleto que relembraria tudo o que seria esquecido do excelso acervo, e faria
acrescentamentos que a época revelatória não comportaria, e, por isso, foram transferidos para o
momento mais oportuno.” MARCOS, Manoel Pelicas São. Filosofia Espírita e seus temas. São
Paulo: Federação Espírita do Estado de São Paulo, 1993. p. 55. O próprio Kardec fala com grande
otimismo dos dias vindouros, que para Ellen White, seriam dias de angústia e perseguição ao povo
de Deus. Diz ele: “Quem se der ao trabalho de aprofundar a questão do Espiritismo, nele encontra
uma satisfação moral tão grande, a solução de tantos problemas que inutilmente havia pedido às
teorias vulgares; o futuro se desdobra à sua frente de maneira tão clara, tão precisa e tão lógica, que
a si mesmo confessa a impossibilidade de as coisas realmente não se passarem assim; já que um
sentimento íntimo lhe dizia que assim deveria ser, é de causar admiração que não as tenha
compreendido mais cedo”. KARDEC, Allan. Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita.
Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2005. p. 83.
137
304
As mesas girantes constituiram fenômeno bastante comum no século XIX. Eram intimamente
ligadas a efeitos mediúnicos. Allan Kardec foi um dos primeiros a estudá-las academicamente.
305
Conforme XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. O Espírito da Verdade: estudos e
dissertações em torno da obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec. Brasília:
Federação Espírita Brasileira, 19[--]. p. 113.
306
Muitas pesquisas foram feitas com o esqueleto encontrado através do contato das irmãs Fox com
essa mão invisível. Um artigo sobre ele e sua relação com as origens do espiritualismo
[distinguir/definir melhor espiritismo/Espiritismo/espiritualismo] pode ser encontrada em: NICKELL,
Joe. A Skeleton’s Tale: The origins of Modern Spiritualism. In: Investigative Files, Vol. 32, No. 4, de
julho/agosto de 2008, disponível em: http://www.csicop.org/si/show/skeletons_tale_the_origins_of
_modern_spiritualism/. Acessado em 5 de agosto de 2013. (White não distingue claramente
“espiritismo” de “espiritualismo”.
139
Também as próprias irmãs Fox, conforme livro dos primeiros anos do século
XX, foram grandes entusiastas do espiritismo, levando a nova crença aos maiores
auditórios dos Estados Unidos durante as duas décadas seguintes aos fenômenos
em sua casa. Os eventos, grandemente alardeados e fartamente publicizados,
atraíam grande público e alguma crítica. De acordo com Podmore, os primeiros anos
das irmãs Fox após as manifestações foram muito agitados:
A família Fox e suas três filhas praticaram sem parcimônia seus dons
espirituais. Ao longo dos anos 1849 e 1850, eles parecem ter dado
demonstrações de seu poder em várias cidades grandes ante públicos
consideráveis. Suas reivindicações de poder sobrenatural, é claro, não
escapavam de desafios. Uma e outra vez comitês foram designados para
310
examinar o assunto e tecer relatórios.
307
Uma imagem do citado obelisco, bem como a da localização da casa podem ser encontrados em:
http://www.waymarking.com/gallery/default.aspx?f=1&guid=9ea91292-4720-4ed2-9214-
e4db453c0f11&gid=2. Acessado em 5 de agosto de 2013.
308
DOYLE, Arthur Conan. The History of Spiritualism. London: Cassel and Company, Ltd, 1926. p.
70.
309
DOYLE, 1926, p. 124.
310
PODMORE, Frank. Modern Spiritualism: A History and a Criticism. London: Methuen, 1904. p.
183.
140
312
WHITE, 1945, p. 86. Conforme o original: “I saw the rapping delusion-what progress it was making,
and that if it were possible it would deceive the very elect. Satan will have power to bring before us the
appearance of forms purporting to be our relatives or friends now sleeping in Jesus. It will be made to
appear as if these friends were present; the words that they uttered while here, with which we were
familiar, will be spoken, and the same tone of voice that they had while living will fall upon the ear. All
this is to deceive the saints and ensnare them into the belief of this delusion.”
142
de forma genérica a todos e todas que ainda procuram ler a literatura espírita.
Segundo ela, seu grande problema foi o de ter dispendido muito tempo em estudo e
trabalhos mentais, deixando de lado a vida devocional e a oração. Afinal, para
White, a santificação não é um trabalho acadêmico.
Conclui-se, pelas palavras de White, que Hull simplesmente abandonou a fé
cristã por já antes vacilava, não sendo efetivamente um homem de Deus. De acordo
com ela:
313
WHITE, Ellen, 1948a, p. 433. De acordo com o original: “I was shown some things in regard to the
work of God and the spread of the truth. Preachers and people have too little faith, too little devotion
and true godliness. The people imitate the preacher, and thus he has a very great influence upon
them. Brother Hull, God wants you to come nearer to Him, where you can take hold of His strength,
and by living faith claim His salvation, and be a strong man. If you were a devotional, godly man, in the
pulpit and out, a mighty influence would attend your preaching. You do not closely search your own
heart. You have studied many works to make your discourses thorough, able, and pleasing; but you
have neglected the greatest and most necessary study, the study of yourself. A thorough knowledge
of yourself, meditation and prayer, have come in as secondary things. Your success as a minister
depends upon your keeping your own heart. You will receive more strength by spending one hour
each day in meditation, and in mourning over your failings and heart corruptions and pleading for
God's pardoning”. (A tradução é minha).
143
314
KARDEC, Allan. O que é espiritismo: noções elementares do mundo invisível, pelas
manifestações dos Espíritos, com o resumo dos princípios da Doutrina Espírita e resposta às
principais objeções que podem ser apresentadas. 54. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita
Brasileira, 2006. p. 206.
144
corpo, entra Kardec, segundo White, em descaminhos que levam à perda da fé, tal
como descreve o cristianismo. Refutando essa busca pelo conhecimento proibido,
escreve White que:
O ministério popular, não pode resistir com êxito ao espiritismo. Eles não
têm nada com que proteger seus rebanhos a partir de sua
influência funesta. Grande parte do triste resultado do
espiritismo irá repousar sobre os ministros desta época, pois eles pisaram a
verdade sob seus pés, e em seu lugar têm preferido fábulas. O sermão que
Satanás pregou a Eva sobre a imortalidade da alma - "Certamente
não morrerás" - eles têm reiterado a partir do púlpito, e as pessoas
recebem isso como verdade bíblica pura. É a base do espiritismo. A palavra
315
de Deus em nenhum lugar ensina que a alma do homem é imortal.
público e crítica318 . Ellen White, assim como Kardec, também previu certas
mudanças no mundo a partir da irrupção do espiritismo, mas com outro olhar,
afirmando que:
Vi que logo seria considerado blasfêmia falar contra as “pancadas”, que isso
se espalharia mais e mais, o poder de Satanás aumentaria, e alguns de
seus dedicados seguidores teriam poder para operar milagres, e mesmo
fazer descer fogo do céu à vista dos homens. Foi-me mostrado que, por
essas pancadas e pelo magnetismo, estes mágicos modernos procurariam
ainda explicar todos os milagres operados por nosso Senhor Jesus Cristo, e
muitos creriam que todas as poderosas obras do Filho de Deus, realizadas
319
quando esteve na Terra, foram executadas pelo mesmo poder.
318
Alguns filmes e novelas de cunho espírita, confirmando a "profecia" de Kardec acima citada: Antes
que Termine o Dia; Sempre ao seu Lado; Amor Além da Vida; Em Algum Lugar do Passado; Fernão
Capelo Gaivota; Minha Vida na Outra Vida; Minhas Vidas; O Último Espírito; Poder Além da Vida; Um
Amor para Recordar; Dr. Bezerra de Menezes - 0 Diário de um Espírito; As Cinco Pessoas que Você
encontra no Céu; Chico Xavier - O Filme; A Casa dos Espíritos; Paixão Eterna; Vozes do Além;
Depois de Partir; Voltar a Morrer; A Borboleta Azul e o óbvio Ghost: Do Outro Lado da Vida ou O
Espírito do Amor são apenas alguns poucos exemplos. Em relação a novelas, "Amor à Vida" trata de
uma personagem que morreu de algum tipo de câncer e volta repetidas vezes para azucrinar a
consciência de seus inimigos; sem falar em "Escrito nas Estrelas"; "Amor, Eterno Amor"; "A Viagem";
"O Profeta"; "O Sétimo Sentido"; "Anjo de Mim"; "Alma Gêmea" e possivelmente muitas outras. Talvez
muito maior seja a lista de romances espíritas. Quanto a isso, mais de uma vez, a conservadora Ellen
White alertou quanto aos perigos da literatura ficcional. Com relação ao assunto, vide a última parte
do artigo de GOMES, Marta B.; SOUZA, Solange de Fátima; LIMA; Neumar. Raízes Históricas,
Culturais e Ideológicas do Pensamento de Ellen G. White sobre romance ficcional e drama. Acta
Científica, Vol 2, No. 11, 2º. semestre, 2006, p. 16 sobre o conselho dela contra esse tipo de
literatura.
319
WHITE, 1940, p. 168 e 169. Segundo o original: “I saw that soon it would be considered
blasphemy to speak against the rapping, and that it would spread more and more, that Satan's power
would increase, and some of his devoted followers would have power to work miracles, and even to
bring down fire from heaven in the sight of men. I was shown that by the rapping and mesmerism,
these modern magicians would yet account for all the miracles wrought by our Lord Jesus Christ, and
that many would believe that all the mighty works of the Son of God when on earth were accomplished
by this same power”.
146
Ellen White recebeu neste mesmo sentido um sonho - afinal, ela era povoada
por sonhos e visões - de um grande trem pavorosamente lotado com miríades de
pessoas, quase o mundo inteiro, sendo Satanás o próprio maquinista, reunidos em
320
WHITE, 1940, p. 170.
321
Sua profecia é clara: quando espiritismo, catolicismo e protestantismo andarem juntos, o fim
estará efetivamente às portas. Quando ela escreveu essas palavras, em 1884, o Papado enfrentava
dias não tão promissores, o espiritismo ainda engatinhava e o protestantismo parecia inexpugnável
nos Estados Unidos. Segundo ela: “Por um decreto que terá por objetivo impor uma instituição papal
em contraposição à lei de Deus, a nação americana se divorciará por completo dos princípios da
justiça. Quando o protestantismo estender os braços através do abismo, a fim de dar uma das mãos
ao poder romano e a outra ao espiritismo, quando por infuência dessa tríplice aliança, os Estados
Unidos forem induzidos a repudiar todos os princípios de sua Constituição, que fez deles um governo
protestante e republicano, e adotar medidas para a propagação dos erros e falsidades do papado,
podemos saber que é chegado o tempo das operações maravilhosas de Satanás e que o fim está
próximo.” WHITE, Ellen. Testimonies for the Church. Mountain View, CA: Pacific Press Publishing
Association, Volume 5, 1948c. p. 451. Conforme o original: By the decree enforcing the institution of
the papacy in violation of the law of God, our nation will disconnect herself fully from righteousness.
When Protestantism shall stretch her hand across the gulf to grasp the hand of the Roman power,
when she shall reach over the abyss to clasp hands with spiritualism, when, under the influence of this
threefold union, our country shall repudiate every principle of its Constitution as a Protestant and
republican government, and shall make provision for the propagation of papal falsehoods and
delusions, then we may know that the time has come for the marvelous working of Satan and that the
end is near
322
KARDEC, 1985, p. 29.
147
feixes prontos para serem destruídos, “todos indo para a perdição, com a velocidade
do relâmpago323”. Eis para ela, os resultados dos enganos do Espiritismo. No
entanto, segundo a visão whiteana, é muito mais difícil distinguir os erros do
espiritismo para além da questão da mortalidade da alma, visto que ali a Bíblia tem
evidentes respostas. Questões como a virtude cristã em relação aos preceitos
espíritas exigem dos estudantes das Escrituras muito mais decidido cuidado, para
muito além do senso comum. Exemplifica Kardec, por exemplo, que a virtude, sendo
um dom de Deus, não pode ser ensinada. Ao que diz que “é quase a doutrina cristã
sobre a graça; mas se a virtude é um dom de Deus, é um favor, então pode
perguntar-se por que não é concedida a todos”. Mas emenda terminando que “o
Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a virtude a adquiriu por
seus esforços”.324 Assim, segundo a visão adventista do sétimo dia, ele põe em
dúvida o texto bíblico e afirma que o que conseguimos, conseguimos por nós
mesmos, sem qualquer ajuda do Espírito Santo, visto que em “nossas experiências
sucessivas” despojamo-nos de nossas imperfeições. Nesse sentido, absolutamente
toda a teologia whiteana legada à igreja sobre santificação cai por terra, visto que é
uma obra que apenas e tão somente o Espírito Santo pode fazer por nós e em nós.
Para White:
323
WHITE, 1945, p. 88.
324
KARDEC, 1985, p. 51.
325
WHITE, Ellen. Darkness Before Dawn. Nampa: Pacific Press Publishing Association, 1997. p. 19.
Pelo original: “The fact that they state some truths, and are able at times to foretell future events, gives
to their statements an appearance of reliability; and their false teachings are accepted by the
multitudes as readily, and believed as implicitly, as if they were the most sacred truths of the Bible.
The law of God is set aside, the Spirit of grace despised, the blood of the covenant counted an unholy
thing. The spirits deny the deity of Christ and place even the Creator on a level with themselves”.
326
Para ser mais claro do que isso, o próprio Kardec escreveu que: “A alma do homem sobrevive ao
corpo e conserva a sua individualidade após a morte deste. Se a alma não sobrevivesse ao corpo, o
homem só teria por perspectiva o nada, do mesmo modo que se a faculdade de pensar fosse produto
da matéria. Se não conservasse a sua individualidade, isto é, se se dissolvesse no reservatório
comum chamado o grande todo, como as gotas d’água no Oceano, seria igualmente, para o homem,
148
o nada do pensamento e as conseqüências seriam absolutamente as mesmas que se não houvesse
alma.” KARDEC, Allan. Obras Póstumas. São José do Rio Preto: Virtue, 2012. p. 57.
327
WHITE, Ellen. A maravilhosa graça de Deus. Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1974. p.
175.
328
Dentre os muitos textos de White a respeito desta renúncia, um deles mostra-se bem claro no
preciso escopo da discussão. Diz ela que: “Nenhuma cerimônia exterior pode substituir a simples fé e
a renúncia completa do eu. Todavia ninguém se pode esvaziar a si mesmo do eu. Somente podemos
consentir em que Cristo execute a obra. Então a linguagem da alma será: Senhor, toma meu coração;
pois não o posso dar. É Tua propriedade. Conserva-o puro; pois não posso conservá-lo para Ti.
Salva-me a despeito de mim mesmo, tão fraco e tão dessemelhante de Cristo. Molda-me, forma-me e
eleva-me a uma atmosfera pura e santa, onde a rica corrente de Teu amor possa fluir por minha
alma. Não é só no princípio da vida cristã que esta entrega do próprio eu deve ser feita. Deve ser
renovada a cada passo dado em direção do Céu. Todas as nossas boas obras dependem de um
poder que não está em nós. Portanto deve haver um contínuo almejar do coração após Deus, uma
contínua, fervorosa, contrita confissão de pecado e humilhação da alma perante Ele. Só podemos
caminhar com segurança por uma constante negação do próprio eu e confiança em Cristo”. De
acordo com o original: “No outward observances can take the place of simple faith and entire
renunciation of self. But no man can empty himself of self. We can only consent for Christ to
accomplish the work. Then the language of the soul will be, Lord, take my heart; for I cannot give it. It
is Thy property. Keep it pure, for I cannot keep it for Thee. Save me in spite of myself, my weak,
unchristlike self. Mold me, fashion me, raise me into a pure and holy atmosphere, where the rich
current of Thy love can flow through my soul.” WHITE, 1941, p. 186.
149
329
Vide KARDEC, 1985, p. 78-86 e WHITE, 1941, p. 191; WHITE, Ellen. The Act of the Apostles.
Mountain View: Pacific Press, 1911, p. 472; WHITE, Ellen. The Adventist Home. Hagerstown:
Review and Herald, 1980. p. 548, para citar apenas alguns.
330
WHITE, 1958, p. 684-686.
150
who have any just idea of the present and future work of Spiritualism 1. If Spiritualism be a deception
of Satan, we cannot expect that he will introduce it by announcing his real intention. 2. Spiritualists talk
of peace and oppose war, but the final object of the deception is to gather the nations to the battle of
the great day. See Rev. 16.3. Spiritualism loves popularity, but hates the Bible and its institutions;
therefore it may well be expected to oppose obedience to God's commandments”. (A tradução é
minha).
333
SMITH, Uriah. Man's Nature and Destiny: Or the State of the Dead, the Reward of the Righteous
and the End of the Wicked. Oakland: Pacific Press Publishing Company, 1884. p. 14-66. Para ele:
“Should we, without opening the Bible, endeavor to form an opinion of its teachings from the current
phraseology of modern theology we should conclude it to be full of declarations in the most explicit
terms that man is in possession of an immortal soul and deathless spirit; for the popular religious
literature of to-day, which claims to be a true reflection of the declarations of God's word, is full of
these expressions. Glibly they fall from the lips of the religious teacher. Broadcast they go forth from
the religious press. Into orthodox sermons and prayers they enter as essential elements. They are
appealed to as the all-prolific source of comfort and consolation in case of those who mourn the loss
of friends by death.” SMITH, 1884, p. 14. Em português: “Devemos, sem abrir a Bíblia, se esforçar
para formar uma opinião de seus ensinamentos da fraseologia corrente da teologia moderna e
concluir que ela seja cheia de declarações nos termos mais explícitos de que o homem está na posse
de uma alma imortal e do espírito imortal; para a literatura religiosa popular de hoje, que pretende ser
um verdadeiro reflexo das declarações da Palavra de Deus, está cheio dessas expressões.
152
Outros autores poderiam ser aqui citados, mas certamente a inserção destes
não acrescentaria nenhuma novidade substancial, visto que a mensagem de todos,
mesmo com as suas especificidades pessoais, são bastante claras e basicamente
dizem que o espiritismo é muito mais do que contraditório à Bíblia, mas enfraquece a
crença literal na volta de Cristo e a preparação para esta, que deve ser o objetivo
principal da vida do cristão. Por este motivo por si só, esta doutrina poderia ser
pessimamente considerada e não parece ser por outro motivo, além dos já citados,
que ela, muito mais do que as outras é amplamente condenada pelos adventistas do
sétimo dia, que ao identificar em outras denominações traços dessa chamada
334
SMITH, Uriah. Modern Spiritualism: A Subject of Prophecy and a Sign of the Times. Battle Creek:
Review and Herald Publishing Company, 1896. p. 79. Pelo original: “The Devil, through the serpent in
the garden, taught Adam and Eve that the soul is immortal, and has transfused the same idea very
successfully through paganism, Romanism, and Protestantism; but he also said, ‘Ye shall be as gods’;
and now, it seems, he is trying to make the world swallow this other leg of his falsehood; but by putting
it forth under the form of the old pagan pantheism, that everything is God, and God is everything, he
betrays the lie he uttered in Eden; for in that case, Adam and Eve were no more gods after they ate
than they were before.”
335
SNOW, Charles. On the Throne of Sin: Spiritism and the Nature of Man as Related to Demonism,
Witchcraft, and Modern Spiritualism. Washington: Review and Harold, 1927. p. 127.
153
“espúria doutrina”, avoluma seus apelos para que todos os crentes ou não crentes
se unam à “igreja verdadeira”, a saber, a que segue os mandamentos de Deus e tem
o testemunho de Cristo.
336
BULL, Malcolm; LOCKHART, Keith. Seeking a Sanctuary: Seventh-day Adventism and the
American Dream. Bloomington: Indiana Press, 2007. p. 244.
337
De acordo com ela, supostamente a esse episódio: “On one occasion, when in New York City, I
was in the night season called upon to behold buildings rising story after story toward heaven. These
buildings were warranted to be fireproof, and they were erected to glorify their owners and builders.
The scene that next passed before me was an alarm of fire. Men looked at the lofty and supposedly
fireproof buildings and said: ‘They are perfectly safe.’ But these buildings were consumed as if made
of pitch. The fire engines could do nothing to stay the destruction. The firemen were unable to operate
the engines.” Em português: “Em uma ocasião, quando em Nova York, eu estava no período noturno
chamados a contemplar os edifícios que se erguiam, andar sobre andar, para o céu. Estes edifícios
foram garantidos à prova de fogo, e eles foram construídos para glorificar seus proprietários e
construtores. A cena que em seguida passou perante mim foi um alarme de incêndio. Os homens
olharam para os prédios à prova de fogo elevados e, supostamente, e disse: ‘Eles são perfeitamente
seguros’. Mas esses edifícios foram consumidos como se fossem feitos de piche. Os bombeiros não
podiam fazer nada para deter a destruição. Os bombeiros não podiam fazer funcionar os motores.”
(Tradução própria). WHITE, Ellen. Last Day Events. Boise: Pacific Press Publishing Association,
1992. p. 113.
338
A partir do disposto na página oficial relacionada a Ellen White: “Contrary to unsubstantiated
reports, Ellen White made no prediction concerning the destruction of a twin-towered building in New
York or any other place in the world. She did foresee great disasters of various kinds resulting in the
loss of magnificent buildings and many lives in the large cities before Jesus' return. She spoke of
demonic forces exercising their power in earthquakes, fires, and other calamities. She also warned
that the time will come when defiant rejection of God's Spirit will result in the complete removal of His
restraining power over such destructive elements in the earth.” Disponível em:
http://www.whiteestate.org/issues/conflicts.asp. Acessada em 14 de agosto de 2013.
155
Ora, crer na mortalidade da alma mesmo sob o fogo cruzado da camada tida
por educada, seja de outras igrejas, seja dos intelectuais racionalistas e acreditar na
volta de Cristo literalmente nas nuvens de céu constituia - e ainda constitui - um
grande esforço de fé em um mundo cada vez menos predisposto a acreditar nas
manifestações espirituais. Na verdade, como já bastante comentado acima, a crença
na mortalidade da alma tal como abordada pela instituição é sem par: se a isso se
aliar a ideia da Parusia, exatamente como pressupõem os adventistas - literal,
depois de uma série de drásticos acontecimentos, dentre os quais um sistema
político-religioso dominado pelos Estados Unidos em união com o Vaticano -
efetivamente o posicionamento da igreja em questão é único.
Complementando as questões acima expostas, no que diz respeito à
santificação, a Igreja Adventista do Sétimo Dia parece ser a única hodiernamente,
de acordo com seus próprios estatutos, a incentivar seus membros a viverem (ou ao
menos fazerem grandes esforços nesse sentido) uma vida santificada desde uma
perspectiva monista. Embora a prerrogativa sem dúvida pareça ser das mais
pretensiosas e mesmo ousadas, a resposta não poderia surgir muito longe do
próprio modus vivendi da denominação em sua estreita relação com os
mandamentos de Deus. Ellen White afirma de forma categórica que “obediência à
Lei de Deus é santificação”.339 Portanto, sob essa ótica, não é possível afirmar
buscar santificação ao abandonar a explícita guarda de um dos mandamentos.
Dessa forma, para citar dois exemplos, nem mesmo a Igreja Luterana em quaisquer
de suas vertentes ou a Igreja Metodista, seja ela a histórica ou a pentecostal ainda
hoje “verdadeiramente” buscam pela santificação conforme os desígnios bíblicos
propalados pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, ainda que as ideias acerca da
mesma tenham influenciado a escrita e vivência de Ellen White e seus
339
WHITE, 1890, p. 3. Assim ela continua o texto, afirmando que ‘há muitos que têm idéias erradas a
respeito dessa obra na vida, mas Jesus orou que Seus discípulos fossem santificados pela verdade,
e acrescentou: ‘A Tua Palavra é a verdade’. [João 17:17]. A santificação não é uma obra instantânea,
mas progressiva, assim como a obediência é contínua. Enquanto Satanás nos importunar com suas
tentações, a batalha pela vitória sobre o próprio eu terá de ser travada reiteradas vezes; mas pela
obediência, a verdade santificará a alma. Os que são leais à verdade irão, pelos méritos de Cristo,
vencer toda debilidade de caráter que tem feito com que sejam moldados por toda e multiforme
circunstância da vida’. De acordo com o original: “There are many who have erroneous ideas in
regard to this work in the soul, but Jesus prayed that his disciples might be sanctified through the
truth, and added, ‘Thy word is truth.’ Sanctification is not an instantaneous but a progressive work, as
obedience is continuous. Just as long as Satan urges his temptations upon us, the battle for self-
conquest will have to be fought over and over again; but by obedience, the truth will sanctify the soul.
Those who are loyal to the truth will, through the merits of Christ, overcome all weakness of character
which has led them to be moulded by every varying circumstance of life”.
156
Concordando com Towns, a questão da graça para Lutero era tão absorvente
que, para ele, conceituar e vivenciar a santificação não necessitava estar em
primeiro plano, visto que o “Espírito Santo torna-nos santos”,341 opinião da qual não
discordaria Ellen White ao escrever que “a santificação da alma pela operação do
Espírito Santo é a implantação da natureza de Cristo na humanidade”.342 Aliás,
concordaria White em muito com Lutero, visto que para ele, de acordo com os
subtítulos do artigo de Towns, santificação significa a habitação do Espírito Santo no
homem, pela fé, sendo que essa habitação o purifica e o liberta para fazer boas
obras, sendo este crescimento diário e no contexto da igreja. Por esses prismas,
pode-se perceber inclusive o caráter prático da santificação, irrevogável para
White.343 Contudo - volto a afirmar - esta santificação não pode ser completa tão-
somente porque não pressupõe a obediência irrestrita à Lei de Deus, incluindo as
delicadas minúcias alimentares e toda e qualquer que diga respeito ao ser humano a
partir dos moldes escriturísticos. Assim, de acordo com a doutrina adventista, até
1844, quando do início do Juízo Investigativo, todos os crentes estariam salvos por
fazer todas as coisas para o corpo e espírito que até então entendiam como
corretas, visto que ainda não tinham a luz mais completa, ou seja, a compreensão
clara dos mandamentos e a obrigatoriedade de cumpri-los. Diante desta imperiosa
340
TOWNS, Elmer L. Martin Luther on Sanctification. Bibliotecha Sacra, Abril, 1969. p. 115-122.
Pelo original: “This misunderstanding of Luther's concept of sanctification might have arisen because
he uses Paul's first-century message of grace as opposed to works to attack legalistic salvation found
in the sixteenth-century church. Because of Luther's emphasis on grace and liberty, many might
accuse him of a weak concept of sanctification”
341
TOWNS, 1969, p. 118.
342
WHITE, 1941, p. 384. Pelo original: “The sanctification of the soul by the working of the Holy Spirit
is the implanting of Christ's nature in humanity”.
343
WHITE, 1941, p. 384. De acordo com ela, “the principles of the gospel cannot be disconnected
from any department of practical life. Every line of Christian experience and labor is to be a
representation of the life of Christ”.
157
344
WHITE, Ellen. Conflict and Courage. Washington: Review and Herald Publishing Association,
1970. p. 239. Conforme o original: “Today the enemies of the true church see in the little company
keeping the Sabbath commandment, a Mordecai at the gate. The reverence of God's people for His
law is a constant rebuke to those who have cast off the fear of the Lord and are trampling on His
Sabbath.”
345
WHITE, 1907, p. 64. De acordo com o original: “Among the leading causes that had led to the
separation of the true church from Rome, was the hatred of the latter toward the Bible Sabbath. As
foretold by prophecy, the papal power cast down the truth to the ground. The law of God was trampled
in the dust, while the traditions and customs of men were exalted. The churches that were under the
rule of the papacy were early compelled to honor the Sunday as a holy day.
158
própria). WHITE, Ellen. Christ Triumphant Hagerstown: Review and Herald Publishing Association,
1999, p. 150. O Professor de História e Teologia da Reforma da Escola Superior de Teologia de São
Leopoldo, Wilhelm Wachholz, é ainda mais claro e conciso ao detectar a impossibilidade de
separação, mas distinção entre justificação e santificação ao afirmar que “a pessoa cristã precisa de
constante justificação e santificação, operadas pelo Espírito Santo. Justificação e santificação não
devem ser separadas, mas distinguidas. Ambas, como obras de Deus no ser humano, são operadas
paralelamente. A justificação, assim como a santificação, não é um ato inicial, mas contínuo”.
WACHHOLZ, Wilhelm. História e Teologia da Reforma: Introdução. São Leopoldo: Sinodal, 2010, p.
99.
351
WHITE, Ellen. Christian Service. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 1947.
p. 41. Diz ela: “It is a solemn statement that I make to the church, that not one in twenty whose names
are registered upon the church books are prepared to close their earthly history, and would be as
verily without God and without hope in the world as the common sinner. They are professedly serving
God, but they are more earnestly serving mammon. This half-and-half work is a constant denying of
Christ, rather than a confessing of Christ”. Para o português: “É uma declaração solene que eu faço à
igreja, que não um em cada vinte cujos nomes estão registrados nos livros da igreja está preparado
para finalizar sua história terrestre, e estão verdadeiramente sem Deus e sem esperança no mundo,
como o pecador comum. Eles estão declaradamente servindo a Deus, mas servem a Mamom. Este
trabalho ‘pela metade’ é uma constante negação de Cristo, ao invés de uma confissão de
Cristo.”(Tradução do autor)
160
353
TAMAYO, Juan José. A Ecologia como lugar de encontro no diálogo inter-religioso. In: SUSIN,
Luiz Carlos; SANTOS, Joe Maçal G. dos (Orgs.). Nosso Planeta, Nossa Vida: Ecologia e Teologia.
São Paulo: Paulinas. 2011. p. 122.
354
O rabino Meir Matzliah Melamed ao comentar o livro de Gênesis capítulo 2, verso 3, escreve que:
“a observância do Shabat é o sinal que testemunha que o Eterno é o Criador do Universo e que
completou seu trabalho no sétimo dia. Nós, entretanto, devemos abster-nos de todo trabalho criativo
no sábado para demonstrar que não somos os donos deste mundo, mas somente os servidores de
Deus para cumprir Seus mandamentos.” TORÁ. São Paulo: Sêfer. 2001. p. 4.
355
DOUGLASS, 1998, p. 256, afirma que o tema unificador dos escritos de Ellen White é o “tema do
grande conflito” (brevemente citado no tópico 2.1 deste trabalho). Contudo, para vencer o conflito, é
necessário que o Espírito Santo em íntima conexão com o ser humano atue no processo de
santificação. Assim, advogo que sem santificação, obviamente não há possibilidade de êxito no
grande conflito e para melhor preparação e vivência do cotidiano que por si só é conflituoso é que
Ellen White tanto escreveu acerca dos temas aqui abordados.
164
356
DARIUS; WACHHOLZ, 2010. (Vide nota 11)
165
Finney, dentre muitos outros. Ora, o que Miller fez foi, a seu modo, pregar acerca da
santificação ao falar de profecias357. O resultado foi que, imediatamente antes da
data marcada por seus correligionários para a volta de Jesus, muitas pessoas
fizeram as pazes entre si e com Deus, enchendo seus auditórios a ponto de não
servir mais ninguém358. Isso é santificação na prática, ao menos sob os moldes
whiteanos.
Ao analisar alguns dos principais escritos de Joseph Bates, também pioneiro
adventista do sétimo dia, não mais do que duas vezes foi percebido o termo. Ainda
357
Entre 1843-44 e 1847, houve um grandissíssimo fervor em torno da volta de Jesus, tanto nos
Estados Unidos, como, com menos fervor, na Europa. Ao menos 700 sacerdotes anglicanos
anunciaram a volta de Cristo na Inglaterra em 1844. FROOM, Le Roy Edwin. The Prophetic Faith of
our Fathers: the historical development of prophetic interpretation. Book III. Washington: Review and
Herald, 1946. p. 704-705.
358
Essas informações podem ser auferidas a partir de leituras de James White e Joseph Bates,
pioneiros adventistas do sétimo dia. Segundo James White, acerca de uma de suas reuniões
escreveu que: “Mr. William Miller, the celebrated writer and lecturer on the second advent of our
Saviour, and the speedy destruction of the world, has recently visited our city, and delivered a course
of lectures to an immense concourse of eager listeners in the First Methodist Church. It is estimated
that not less than three thousand persons were in attendance at the church, on each evening, for a
week; and if the almost breathless silence which reigned throughout the immense throng for two or
three hours at a time is any evidence of interest in the subject of the lectures, it cannot be said that our
community are devoid of feeling on this momentous question”. WHITE, James. Life Incidents:
Connection With the Great Advent Movement, as Illustrated by the Three Angels of Revelation XIV.
Battle Creek: Steam Press: Seventh-day Adventist Publishing Association, 1868. p. 68. Em português:
“Mr. William Miller, o célebre escritor e conferencista sobre a segunda vinda de nosso Salvador, e a
breve destruição do mundo, recentemente visitou a nossa cidade, e fez um ciclo de palestras para
uma imensa multidão de ávidos ouvintes na Primeira Igreja Metodista. Estima-se que pelo menos três
mil pessoas estavam presentes na igreja, em cada noite, durante uma semana, e se o silêncio quase
sem fôlego, que reinou durante toda a imensa multidão por duas ou três horas evidencia interesse no
assunto das palestras, não se pode dizer que a nossa comunidade é desprovida de sentimento sobre
esta questão momentosa. (Tradução própria). Ou ainda o interessante trecho que confirma a
presença da aristocracia, onde pode ser lido que: “His next course of lectures commenced the next
week, in the North Christian meeting-house, in the city of New Bedford, about two miles distant. It was
supposed that here he had about fifteen hundred hearers, the number that the house would
accommodate at one time. A large portion of the aristocracy and ministers were in attendance. No
such religious excitement for the time was ever heard of there. The interest seemed deep and wide-
spread. At the close of the last meeting, Bro. Miller affectionately addressed the ministers, and
exhorted them to faithfulness in their responsible work, and said, "I have been preaching to your
people on the soon-coming of our Lord Jesus Christ, as I understand it from the Scriptures," and
added that, if they thought he was right, it was highly important that they should teach it to their
respective congregations”. WHITE, James. The Early Life and Later Experience and Labors of
Elder Joseph Bates. Battle Creek: Steam Press: Seventh-day Adventist Publishing Association,
1877, p. 263 e 264. Em português: “Seu próximo ciclo de palestras começou na semana seguinte, na
casa de reunião cristã do Norte, na cidade de New Bedford, cerca de dois quilômetros de distância.
Supunha-se que aqui ele tinha cerca de mil e quinhentos ouvintes, o número que a casa iria
acomodar ao mesmo tempo. Uma grande parte da aristocracia e os ministros estavam presentes.
Tanta excitação religiosa nunca foi ouvido de lá. O interesse parecia profunda e generalizada. No final
da reunião passada, Irmão Miller carinhosamente dirigiu aos ministros, e exortou-os a fidelidade em
seu trabalho responsável, e disse: ‘Tenho pregado ao seu povo sobre a breve vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo, como eu entendo das Escrituras’, e acrescentou que se eles achavam que ele estava
certo, era muito importante que eles ensinassem às suas respectivas congregações”. (Tradução do
autor).
166
362
Grande parte dos livros da autora podem ser encontrados on-line por um sítio subsidiado pela
Igreja Adventista do Sétimo Dia. Trata-se do endereço http://www.ellenwhitebooks.com. Acessado em
11 de outubro de 2012. Contudo, o referido acervo digital foi disponibilizado em CD-ROM, conforme
nota de rodapé número 9. Sobre isto (situação das fontes) deverás dizer mais na introdução.
363
DARIUS e WACHHOLZ, 2010, p. 104.
364
WHITE, 1991, p. 51. Conforme o original: “Sanctification is not the work of a moment, an hour, or a
day. It is a continual growth in grace”. (Tradução própria).
168
Tão caro era para Ellen White o tema da santificação que em 1889 ela
escreveu um pequenino livro (hoje vendido em formato de bolso contendo não muito
mais do que 100 páginas) nomeado The Sanctified Life ou literalmente
“Santificação”, título da obra em português. Eis nesse diminuto volume um resumo
extendido acerca de seu entendimento sobre o assunto. Em seus onze capítulos, ela
comenta sobre o que considera a “verdadeira” santificação em comparação com a
falsa e logo dedica os dois capítulos seguintes a falar sobre princípios de
temperança e controle dos apetites e paixões. A partir dos exemplos dos
personagens bíblicos Daniel e João, ela termina sua obra discorrendo sobre o
caráter e o privilégio do cristão.
371
De acordo com G. A. Roberts “os seguidores dessa doutrina reuniam-se num porão vazio da igreja
e um grande número deles dançavam em grande círculo gritando e levantando as mãos. Em seus
cultos na igreja pregavam e gritavam até que alguém da congregação caísse do assento,
inconsciente. Um ou dois homens andavam para cima e para baixo nos corredores, esperando
justamente essa demonstração e pegavam a pessoa que havia caído, arrastando-a literalmente pela
fila e colocando-a no estrado. Então certo número, talvez uma dúzia, reunia-se ao redor do corpo
prostrado, alguns gritando, outros cantando, e alguns orando. Finalmente o indivíduo revivia, e então
era contado entre os fiéis que haviam passado pelo jardim [visto que] o aspecto essencial da doutrina
era que quando Jesus passou pelo jardim do Getsêmani, teve uma experiência que todos os que O
seguem devem ter.” G. A. Roberts. O Fanatismo da Carne Santa. In: Notas e Manuscritos de E.G.
White. Capão Redondo: Centro de de Pesquisa E.G. White, 19[--]. p. 185.
372
WHITE, 1976, p. 57. Pelo original: “This is true sanctification. It is not merely a theory, an emotion,
or a form of words, but a living, active principle, entering into the everyday life. It requires that our
habits of eating, drinking, and dressing be such as to secure the preservation of physical, mental, and
moral health, that we may present to the Lord our bodies,--not an offering corrupted by wrong habits,
but ‘a living sacrifice, holy, acceptable unto God’." (Tradução própria).
171
Nesta obra, fica bastante claro que White, como sempre foi defendido ao
longo deste trabalho, critica a teorização da religião ou de qualquer área e defende a
Bíblia como única regra de fé, bem como, novamente, une espírito, físico e moral. O
primeiro capítulo do livro é iniciado com as seguintes palavras:
373
WHITE, Ellen. The Sanctified Life. Washington: Review and Herald Publishing Association, 1956,
p. 7. No original lê-se que “The sanctification set forth in the Sacred Scriptures has to do with the
entire being--spirit, soul, and body. Here is the true idea of entire consecration. Paul prays that the
church at Thessalonica may enjoy this great blessing. "The very God of peace sanctify you wholly;
and I pray God your whole spirit and soul and body be preserved blameless unto the coming of our
Lord Jesus Christ" (1 Thessalonians 5:23). There is in the religious world a theory of sanctification
which is false in itself and dangerous in its influence. In many cases those who profess sanctification
do not possess the genuine article. Their sanctification consists in talk and will worship. Those who
are really seeking to perfect Christian character will never indulge the thought that they are sinless.”
(Tradução própria)
374
Hoje em dia, essa ideia de perfeição possível aqui na Terra parece totalmente abandonada.
Conforme Standish: “Often perfection and perfectionism are confounded. Scores of times Sister White
uses the word ‘perfect’. She consistently upholds it as a God-given gift to every submitted Christian.
Further, she states that God not only imputes perfection but He also imparts it.” Em nossa língua,
“Muitas vezes, perfeição e perfeccionismo são confundidos. Dezenas de vezes Irmã White usa a
palavra ‘perfeito’. Ela consistentemente defende como um dom dado por Deus a todos os cristãos
submissos. Além disso, ela afirma que Deus não apenas imputa a perfeição, mas Ele também a dá”.
Ainda: “While good works contribute nothing to the basis or merit of man’s salvation, good works
provide the condition of salvation. Good works are the fruit of a holy life.” Em português: “Embora as
boas obras não contribuam em nada para a base ou mérito da salvação do homem, as boas obras
fornecem a condição de salvação. As boas obras são o fruto de uma vida santa.” STANDISH, Colin
D. Perfection. Rapidan: Hartland Publications, 2009. p. 49 e 249. (Tradução própria.)
172
378
WHITE, 1958, p. 33 em comparação com WHITE, 1907, p. 678.
379
WHITE, 1941, p. 560. Pelo original, lê-se que “True sanctification comes through the working out of
the principle of love. "God is love; and he that dwelleth in love dwelleth in God, and God in him." 1
John 4:16. The life of him in whose heart Christ abides, will reveal practical godliness. The character
will be purified, elevated, ennobled, and glorified. Pure doctrine will blend with works of righteousness;
heavenly precepts will mingle with holy practices.” (Tradução própria)
380
Aquilo que Ellen White chama de glorificação, outros autores contemporâneos a ela consideravam
ainda santificação. Para Samuel Chadwick, ministro metodista nascido em 1860 e bastante popular
no início do século XX, escreveu que “Sanctification in its beginnings, process, and final issues, is the
full eradication of the sin itself, which reigning in the unregenerate co-exists with the new life in the
regenerate, is abolished in the wholly sanctified”. Em português: “Santificação em seus primórdios,
processos e questões finais, é a erradicação completa do próprio pecado, que reina no regenerado
co-existe com a nova vida no regenerado, e é abolida nos santificados”. CHADWICK, Samuel. The
Call to Christian Perfection. London: Epworth Press, 1936. p. 59. Para White, a erradicação do
pecado e a santificação completa, ou seja, a glorificação, se dará apenas no fim do Grande Conflito.
174
da Terra para o Céu, fazendo com que a Terra se torne parte daquela outra morada,
ainda que não plenamente, por ora. Portanto, enquanto resumo geral dos conceitos
até aqui colhidos, talvez este abarque de forma mais completa o pensamento
whiteano neste tocante:
381
WHITE, 1941, p. 565. No original, encontra-se: “True sanctification means perfect love, perfect
obedience, perfect conformity to the will of God. We are to be sanctified to God through obedience to
the truth. Our conscience must be purged from dead works to serve the living God. We are not yet
perfect; but it is our privilege to cut away from the entanglements of self and sin, and advance to
perfection. Great possibilities, high and holy attainments, are placed within the reach of all.” (Tradução
própria).
382
De acordo com BULL e LOCKHART, 2007, p. xiii, “de todas as alternativas de estilo de vida norte-
americano, o adventismo do sétimo dia é uma das mais habilmente diferenciadas, sistematicamente
desenvolvidas e institucionalmente bem-sucedidas.”
383
BALMER, Randall. White, Ellen Gould (née Harmon). In: Encyclopedia of Evangelicalism.
Westminster: John Knox Press, 19[--]. p. 614–615.
175
384
BARBOSA, Maria Raquel; MATOS, Paula Mena; COSTA, Maria Emília. Um olhar sobre o corpo: o
corpo ontem e hoje. Psicologia & Sociedade, volume 23, número 1, 2011, p. 25. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/psoc/v23n1/a04v23n1.pdf. Acessado em 14 de outubro de 2013.
385
Le GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. Uma história do corpo na Idade Média. 2. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 11-12.
386
DUARTE, Bárbara Nascimento. O corpo da modernidade: lugar da condenação e da salvação do
indivíduo. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, volume 9, número 26, Agosto 2010, p. 532-
579. Dispoinvel em http://www.cchla.ufpb.br/rbse/BarbaraArt.pdf. Acessado em 14 de outubro de
2013.
387
BÍBLIA, 2012, p.1077.
176
A Reforma não acabou, como muitos supõem, com Lutero. Ele deve ser
continuado até ao fim da história deste mundo. Lutero tinha um grande
trabalho a fazer, transmitindo a outros a luz que Deus havia permitido brilhar
sobre ele, mas ele não recebeu toda a luz que deveria ser dada ao mundo.
Desde aquele tempo até hoje, nova luz tem sido continuamente brilhando
sobre as Escrituras, e novas verdades têm sido constantemente se
390
desdobrando.
388
Seguindo os dados do Censo dos Estados Unidos (United States Census Bureau). Disponível em
http://quickfacts.census.gov/qfd/states/36/36077.html. Acessado em 13 de outubro de 2013.
389
WHITE, 1976, p. 481.
390
WHITE, 1980, p. 353.
177
391
WHITE, 1948a, p. 450-455.
392
WHITE, Arthur. The Ellen G. White Biography. Hagerstown: Review and Herald Publishing
Association, 1982. p. 49. Deve-se notar também aqui que ela conclama às leis de Deus e a
consciência. Segundo ela: “Foi-me mostrado que o povo de Deus, Seu tesouro peculiar, não pode se
envolver nesta guerra desconcertante, pois é contrário a todos os princípios de sua fé. No exército
eles não podem obedecer à verdade e ao mesmo tempo obedecer às exigências de seus oficiais.
Haveria contínua violação da consciência. Os homens do mundo são regidos por princípios
mundanos. Mas o povo de Deus não pode ser governado por estes motivos. Aquele que ama os
mandamentos de Deus estará de acordo com toda a boa lei da terra. Mas se as exigências dos
governantes são tais que entrem em conflito com as leis de Deus, a única questão a ser resolvida é:
Devemos obedecer a Deus, ou o homem?”. Conforme o original: “I was shown that God's people, who
are His peculiar treasure, cannot engage in this perplexing war, for it is opposed to every principle of
their faith. In the army they cannot obey the truth and at the same time obey the requirements of their
officers. There would be continual violation of conscience. Worldly men are governed by worldly
principles. But God's people cannot be governed by these motives. Those who love God's
commandments will conform to every good law of the land. But if the requirements of the rulers are
such as conflict with the laws of God, the only question to be settled is: Shall we obey God, or man?”
(Tradução própria). Julguei necessário inserir neste momento esta nota para clarificar que a Igreja
Adventista do Sétimo Dia desde os seus primórdios foi contrária ao envolvimento de seus membros
em qualquer tipo de combate ou guerra. Isso a distingue de outras “igrejas adventistas”, como a Igreja
Adventista do Sétimo Dia da Reforma, de vertente alemã, que por este particular se separou da mãe.
Eis um dos motivos para escrever o nome por completo da denominação, criada no ano da visão da
reforma da saúde.
393
DOUGLASS, 1998, p. 288.
394
DOUGLASS, 1998, p. 288.
178
dirigido a Gaio, onde se lê: “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade
e saúde, assim como é próspera a tua alma” (3 Jo 1,2).395 Os dois autores fazem
absoluta questão de deixar “saúde” em caixa alta, destacando-o totalmente ao
colocar o tema em íntima relação com a alma, novamente ressaltando o caráter
holístico da doutrina adventista e, principalmente, de Ellen White. Ao comentar
acerca desse versículo, ela não se furta de fazer alusões à reforma de saúde. Diz
ela que:
Nosso trabalho inclui muito mais do que de ficar de pé diante das pessoas e
pregar a eles. Em nosso trabalho estamos a ministrar às enfermidades
físicas daqueles com quem somos postos em contato. Estamos a
apresentar os princípios da reforma de saúde, impressionando nossos
ouvintes com o pensamento de que eles têm uma parte a desempenhar em
manter-se na área da saúde. O corpo deve ser mantido em uma condição
saudável, a fim de que a alma possa estar saudável. O estado do corpo
atinge o estado da alma. Ele, que teria a força física e espiritual deve educar
seu apetite nas linhas certas. Ele deve ter cuidado para não sobrecarregar a
alma por sobrecarregar seus poderes físicos ou espirituais. Fidelidade aos
princípios corretos do comer, beber e vestir-se é um dever que Deus impôs
aos seres humanos. O Senhor deseja que obedeçamos às leis da saúde e
da vida. Ele detém cada um responsável para cuidar adequadamente de
396
seu corpo, que pode ser mantido com saúde.
cenário religioso dos Estados Unidos) bem como o médico Diocletian Lewis, um dos
mais conhecidos líderes do movimento de temperança dos Estados Unidos397.
James e Ellen White citam também nomes hoje menos conhecidos, como John C.
Gunn. Este último, ainda nos anos 50 do século XIX colocou-se contra o uso do
tabaco, alertando acerca de seus malefícios. (Sobre ele, há um interessante artigo
onde o autor compara frases de outros autores utilizadas por Ellen White em seus
textos398 .) As palavras desses autores, mais uma vez comprovam a importância
capital do contexto histórico para a recepção dos textos de Ellen White, servindo
como eco às dificuldades absurdas enfrentadas pelos estadunidenses no século XIX
no que diz respeito à saúde básica.
Ao adentrar nesses e outros autores, faz-se necessário melhor caracterizar as
condições médicas e sanitárias dos Estados Unidos. Assim, ao citá-los, bem como a
pesquisadores que remetem à história médica daquele país, poderão ser melhor
percebidas as nuanças presentes nos escritos whiteanos sobre o assunto, bem
como suas fontes diretas e indiretas. Percebe-se dessa forma que, embora as linhas
gerais de seus escritos sobre o tema em si mesmo não contenham grandes
novidades, sua alusão à santificação a partir da temperança mostra-se bastante
distinta.
397
Dr. Lewis praticou ao longo de parte de sua vida, a medicina homeopática, largamente condenada
pela Igreja Adventista do Sétimo Dia atualmente, embora Ellen White, em sua postura equilibrada
fosse contrária ao uso exagerado dos medicamentos alopáticos e homeopáticos. Segundo ela: “Em
sua prática, os médicos devem procurar cada vez mais diminuir o uso de drogas, em vez de
aumentá-la. Quando o Dra. “A” veio para o Retiro de Saúde, ela deixou de lado seu conhecimento e
prática de higiene, e administrou pequenas doses homeopáticas para quase todos os males. Esta era
contra a luz que Deus havia dado. Assim, o nosso povo, que havia sido ensinado a evitar as drogas
em quase todas as formas, recebiam uma educação diferente. Conforme o original: “In their practice,
the physicians should seek more and more to lessen the use of drugs instead of increasing it. When
Dr. A came to the Health Retreat, she laid aside her knowledge and practice of hygiene, and
administered the little homeopathic doses for almost every ailment. This was against the light God had
given. Thus our people, who had been taught to avoid drugs in almost every form, were receiving a
different education. WHITE, Ellen. Selected Messages. Volume Três. Washington: Review and
Herald Publishing Association, 1980. p. 282. (Tradução própria).
398
Conforme OLSON, Robert W. Ellen White’s Denials. Disponível em
https://www.ministrymagazine.org/archive/1991/02/ellen-whites-denials. Acessado em 13 de outubro
de 2013. Aliás, ao longo de toda a sua vida e posteriormente, Ellen White foi diversas vezes acusada
de plágio. No entanto, essas acusações podem ser relativizadas se levar em conta as “frouxas”
normas de seus dias. Para mais informações, recomendo a leitura de um artigo onde o caso é
apresentado. Trata-se de FORTIN, Denis; MOON, Jerry. Borrowing and Plagiarism. Disponível em
http://www.andrews.edu/~fortind/EGWPlagiarism-Encyclopedia.htm. Acessado em 14 de outubro de
2013.
180
Hospitais não surgiram na Nova Inglaterra [...] até o século 19. Vários
fatores contribuíram para esse atraso. Apenas as grandes cidades poderiam
dar ao luxo de manter um hospital, e durante o período colonial a Nova
Inglaterra permaneceu predominantemente rural. Além disso, a maioria dos
imigrantes veio da Inglaterra provincial e, portanto, ao contrário de
moradores de Londres, não estavam acostumados à presença de hospitais.
As famílias e os municípios assumiram a responsabilidade pela caridade
médica. Finalmente, o sistema de aprendizagem de formação de médicos
399
incentivou a prática nas casas de seus pacientes.
399
CHRISTIANSON, Eric. H. Medicine in New England. In: LEAVITT, Judith Walzer; NUMBERS;
Ronald L. Sickness and Health in America: Readings in the History of Medicine and Public Health.
Madison: The University of Wiscosin Press, 1997, p. 61. Conforme o original: “Hospitals did not
appear in New England, however, until the 19th century. Several factors contributed to this delay. Only
large towns and cities could afford to maintain a hospital, and during the colonial period New England
remained predominantly rural. Besides, most immigrants came from provincial England and thus,
unlike London residents, were unaccustomed to the presence of hospitals. Families and municipalities
assumed responsibility for medical charity. Finally, the apprenticeship system of training doctors
encouraged practice in the homes of their patients.” (Tradução própria)
181
dolorosa e restrita a vida da grande maioria dos habitantes daquele país. Como
exemplos, pode-se perceber John Herbert White, um dos filhos de Ellen e James,
nascido e morto em 1860 tendo como causa mortis a eripsela. A eripsela é uma
erupção cutânea causada por bactérias que penetram a partir de um diminuto
ferimento, geralmente frieira ou picada de inseto. A doença basicamente pode ser
evitada pela higiene corporal. Ainda, Henry, seu filho mais velho, veio a falecer aos
dezesseis anos de idade, vítima de pneumonia, em grande medida provocada por
sua baixa imunidade, decorrência de hábitos intemperantes aliado ao inóspito clima
de Michigan.
A morte do primogênito Henry por pneumonia no frescor da juventude, fato
infelizmente comum à época naquela região mesmo em face às grandes
dificuldades subsistenciais, expõe a ausência de condições médicas mínimas, tanto
em termos estruturais como em desenvolvimento e pesquisa de uma forma geral. A
eripsela, que vitimou John Herbert era potencialmente fatal antes do advento dos
antibióticos. Sabe-se que nos Estados Unidos, apenas em 1876 é que antibióticos
foram utilizados pela primeira vez.400
Enquanto as condições médicas reinantes nos Estados Unidos eram
preocupantes, os hábitos alimentares da maioria da população seriam
absolutamente não recomendáveis em nossos dias. Praticamente sem a presença
de frutas e legumes e com a ingestão de grandes quantidades de comida pesada
aliado a falta das horas saudáveis de sono e trabalho braçal pesado (com banhos
raros), a morte prematura por indigestão era provavelmente corriqueira, bem como
frequentes problemas estomacais. Basicamente, o estadunidense médio do século
XIX não mantinha em equilíbrio seu corpo em relação a sua alma, embora o
400
PARASCANDOLA. John. The Introduction of Antibiotics into Therapeutics. In: LEAVITT e
NUMBERS, 1997. p. 102. Ao longo do século XIX, a relação entre médico e paciente foi pouco a
pouco sendo modificada. De acordo com Warner: “A exposição terapêutica e prática médica nos
Estados Unidos, foi alterada fundamentalmente ao longo do século 19. As práticas tradicionais,
fundadas em pressupostos sobre a doença compartilhada pelo médico e paciente e orientado para
alterar visivelmente os sintomas de indivíduos doentes, começou a ser suplantado por estratégias
terapêuticas baseadas em ciência experimental […], minimizando as diferenças entre os pacientes”.
Pelo original: “Medical therapeutic explanation and practice in the United States were altered
fundamentally over the course of the 19th century. Traditional practices, founded upon assumptions
about disease shared by doctor and patient and oriented toward visibly altering the symptoms of sick
individuals, began to be supplanted by therapeutic strategies grounded in experimental science that
objectified disease while minimizing the differences among patients.” WARNER, John Harley. From
Specificity to Universalism in Medical Therapeutics: Transformation in the 19th-Century United States.
In: LEAVIT; NUMBERS, 1997, p. 87.
182
conceito hoje tão comentado simplesmente não existisse ainda para as grandes
massas. De acordo com Numbers:
Por toda a sua vitalidade aparente, a América no início do século XIX era
uma nação doente e suja. O saneamento público era manifestamente
insuficiente, e higiene pessoal, praticamente inexistente. A grande maioria
dos norte-americanos raramente, ou nunca, se banhava. Seus hábitos
alimentares, incluía o consumo de quantidades gigantescas de carne, o
suficiente para manter a maioria dos estômagos continuamente
perturbados. Frutas e vegetais verdes raramente apareciam em cima da
mesa, e a comida era muitas vezes foi saturada com manteiga ou banha de
porco. Um desjejum "comum" consistia em "pão quente, feito com banha e
sais fortes, e embebido com manteiga e bolos quentes, coberto com
manteiga e xarope; carnes fritas com gordura, batata pingando gordura;
presunto e ovos frito cheios de gordura em uma indigestibilidade complicada
401
- tudo regado com muitas xícaras de café brasileiro.
Diante dessa questão que hoje nos Estados Unidos é tema de estudos na
área de saúde pública402, surgiram vários pesquisadores e escritores,
estadunidenses e europeus que se embrenharam nessa luta a favor de melhores
condições sanitárias e alimentares. Além dos destacados por Ellen e James White
em seus panfletos, há outros cujos trabalhos até hoje são marcos não apenas para o
desenvolvimento do tema entre os adventistas do sétimo dia, mas para os
americanos de forma geral. Alguns extrapolaram a questão dietética, como, por
exemplo, Sylvester Grahan, que
401
NUMBERS, Ronald L. Prophetess of Health: A study of Ellen G. White. Grand Rapids e
Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Company, 2008. p. 95.Conforme o original: “For all its
apparent vitality, America in the early nineteenth century was a sick and dirty nation. Public sanitation
was grossly inadequate, and personal hygiene, virtually nonexistent. The great majority of Americans
seldom, if ever, bathed. Their eating habits, including the consumption of gargantuan amounts of
meat, were enough to keep most stomachs continually upset. Fruits and green and leafy vegetables
seldom appeared on the table, and the food that did appear was often saturated with butter or lard. A
"common" breakfast consisted of "Hot bread, made with lard and strong alkalies, and soaked with
butter; hot griddle cakes, covered with butter and syrup; meats fried in fat or baked in it; potatoes
dripping with grease; ham and eggs fried in grease into a leathery indigestibility - all washed down with
many cups of strong Brazil coffee”. (Tradução própria)
402
Há literalmente centenas de artigos sobre o tema disponíveis em bibliotecas digitais. Dentre essas,
destaca-se um pequeno que em linhas gerais analisa a questão de forma crítica e honesta: NESTLE,
Marion. Toward More Healthful Dietary Patterns - A Matter Of Policy. Public Health Reports,
Setembro/Outubro de 1998, volume 113. Disponível em http://www.foodpolitics.com/wp-
content/uploads/diet-policy.pdf. Acessado em 14 de outubro de 2013.
183
para ela’. Grande número de doenças destrutivas, seria fácil provar por
405
numerosas autoridades”.
O povo precisa que se lhes ensine que as drogas não curam as doenças. É
verdade que elas por vezes proporcionam temporário alívio, e o paciente
parece restabelecer-se em resultado de havê-las usado; isso acontece
porque a natureza possui bastante força vital para expelir o veneno, e
corrigir as condições ocasionadoras do mal. A saúde é recuperada a
despeito da droga. Mas na maioria dos casos ela apenas muda a forma e o
local da doença. Muitas vezes o efeito do veneno parece ser vencido por
algum tempo, mas os resultados permanecem no organismo, operando
posteriormente grande dano. [...] A única esperança de coisas melhores
está na educação do povo nos verdadeiros princípios. Ensinem os médicos
ao povo que o poder restaurador não se encontra em drogas, porém na
natureza. A doença é um esforço da natureza para libertar o organismo de
condições resultantes da violação das leis da saúde. Em caso de doença,
convém verificar a causa. As condições insalubres devem ser mudadas, os
maus hábitos corrigidos. Então se auxilia a natureza em seu esforço para
406
expelir as impurezas e restabelecer as condições normais no organismo.
408
WHITE, 1957, p. 90.
409
WHITE, 1980, p. 272. Com relação ao cigarro, White escreveu, em carta destinada a um jovem de
nome Victory Jones. “Se você tivesse deixado o fumo completamente e nunca mais tocado naquela
erva imunda depois que começou da última vez, você poderia ter vencido mais prontamente o apetite
pela bebida forte.” DOUGLASS, Herbert. Testemunhas Oculares. Tatuí: Casa Publicadora
Brasileira, 2008. p. 57.
410
DOUGLASS, 1998, p. 280.
411
WHITE, 1976, p. 495. De acordo com o original: “The Lord also knew how to introduce to His
waiting people the great subject of health reform, step by step, as they could bear it, and make a good
186
use of it, without souring the public mind. It was twenty two years ago the present autumn, that our
minds were called to the injurious effects of tobacco, tea, and coffee through the testimony of Mrs.
White. God has wonderfully blessed the effort to put these things away from us, so that we as a
denomination can rejoice in victory, with very few exceptions, over these pernicious indulgences of
appetite.” (Tradução própria)
412
WHITE, 1976, p.16. Pelo original: “In His written word and in the great book of nature He has
revealed the principles of life. It is our work to obtain a knowledge of these principles, and by
obedience to cooperate with Him in restoring health to the body as well as to the soul.” (Tradução
própria).
413
WHITE, 1976, p. 23. Pelo original: “He has provided for them, and that by exercising temperance in
daily life, they may be sanctified through the truth”. (Tradução própria).
187
414
WHITE, 1976, p. 23. Pelo original: “Let it ever be kept before the mind that the great object of
hygienic reform is to secure the highest possible development of mind and soul and body.” (Tradução
própria).
415
WHITE, 1976, p. 29. De acordo com o texto em inglês: “Nature's God will not interfere to preserve
men from the consequences of violating nature's laws. There is much sterling truth in the adage,
"Every man is the architect of his own fortune." (Tradução própria)
416
WHITE, 1976, p. 44. Pelo vernáculo original: “A diseased body and disordered intellect, because of
continual indulgence in hurtful lust, make sanctification of the body and spirit impossible.” (Tradução
do autor.)
417
Não se deve, no entanto, imaginar que ao propor banhos regulares ela tenha se colocado tão a
frente de seu tempo. Isso deve ser percebido no texto em que comenta que “as pessoas que têm
saúde não devem, de modo algum, negligenciar o banho. Devem, de tôda maneira, banhar-se (pelo
menos) duas vezes por semana. [...] A pele necessita ser cuidada e inteiramente limpa, para que os
poros possam fazer seu trabalho livrando o corpo das impurezas. Portanto, as pessoas fracas e
enfêrmas necessitam com certeza as vantagens e bênçãos de um banho (pelo menos) duas vêzes
por semana, e, muitas vêzes, ainda mais do que isto é positivamente necessário.” WHITE, Ellen. Lar
Ideal. São Paulo: MVP, 1968. p. 125.
188
medieval acerca do corpo, fazendo com que o mesmo deixe de ser vergonha ao
glorificar integralmente o Criador.
Muito mais poderia ser descrito acerca da questão da alimentação em
contexto indissociável com a espiritualidade, incluindo aqui inúmeros testemunhos
da pena de Ellen White, bem como conselhos específicos e individuais de pessoas
que foram reestabelecidas – no passado e no presente – depois de experimentarem
uma vida mais saudável, equilibrada e frugal. Poder-se-ia também descrever outros
aspectos diversos da questão da saúde (a reforma do vestuário, tratada na
sequência, assim como outras matizes da reforma alimentar são apenas mais duas
de suas múltiplas facetas neste sentido) como a sexualidade humana418, abordada
de forma honesta e bastante direta para os rígidos padrões vitorianos, mas em todos
os casos – sob a perspectiva whiteana – as conclusões seriam as mesmas: qualquer
atitude contra o corpo é uma atitude contra o espírito, sendo a recíproca verdadeira.
Não há nada de diferente no espírito de seus escritos daquilo encontrado na Bíblia
Sagrada. Ela apenas esmiuça e compartimenta para depois juntar todas as partes,
mostrando que indubitavelmente o corpo é templo do espírito. Nos dias atuais, há
vários autores de múltiplas denominações escrevendo sobre comida419 (e saúde
418
Há um livro sobre conduta sexual, também de autoria de Ellen White, onde fica claro, novamente,
a relação entre corpo e espírito quando do desrespeito ao sétimo mandamento. Diz
ela: “Ninguém
será capaz de glorificar a Deus em seu corpo, conforme Ele pede, enquanto viver em transgressão da
lei de Deus. Se o corpo viola o sétimo mandamento, ele o faz a partir da direção da mente. Se ela for
impura, o corpo naturalmente se envolverá em atos impuros. É impossível que exista pureza na
mente de alguém que entrega o corpo à prática de ações impuras.”. WHITE, Ellen. Testemunhos
sobre abuso, homossexualidade, adultério e divórcio. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2013. p.
73.
419
Em minhas pesquisas, várias vezes me deparei com textos de Norman Wirzba, Professor
Pesquisador de Teologia, Ecologia e Vida Rural da Duke Divinity School, na Carolina do Norte. Em
um de seus artigos nomeado “Food for Theologians” escreve Wirzba que “when we turn to Scripture,
we discover a deepening of the understanding that food is the material medium of love”. Na introdução
deste mesmo artigo, argumenta que “food is now on the agenda for a growing number of theologians.
An increasing number of books and articles are being written that consider what we eat, how food is
grown and distributed, how we eat it, and with whom, all from a distinctly Christian point of view”.
WIRZBA, Norman. Food for Theologians. Interpretation: A Journal of Bible and Theology, volume
67, número 4, p. 378 e 374. Em português: “quando nos voltamos para as Escrituras, descobrimos
um aprofundamento da compreensão de que a comida é o meio material de amor”. Ainda: “a comida
está agora na agenda de um número crescente de teólogos. Um grande número de livros e artigos
estão sendo escritos considerando o que nós comemos, como os alimentos e são produzidos e
distribuídos, como comemos e com quem, tudo a partir de um ponto de vista cristão, distintamente.”
(A tradução é minha). Sob outra perspectiva, Kristin Johnston Largen, Professora Associada de
Teologia Sistemática no Lutheran Theological Seminary, em Gettysburg, fala sobre um racionalidade
cristã que preza pelo vegetarianismo a partir de uma ética equilibrada entre criaturas. Segundo ela:
“developing a theological rationale for vegetarianism is not new, and its roots extend deep into the
Christian tradition, with some arguing persuasively that a case for vegetarianism can be made from
Scripture”. Em português: “O desenvolvimento de uma razão teológica para o vegetarianismo não é
nova e suas raízes se estendem profundamente na tradição cristã, com alguns argumentando
189
física de um modo geral) e espiritualidade. É uma boa indicação que atesta que os
textos whiteanos – neste e em muitas outras áreas – se mantém atuais, 170 anos
depois de seus primeiros escritos.
Não satisfeita com essa reforma física fez Ellen White ainda mais, ao também
propor uma modificação nas vestimentas das mulheres, algo praticamente
impensável naqueles tempos, em que basicamente se buscava a estética medieval.
Essa estética era preferida em virtude da idealização do imaginário fantástico dos
tempos medievos, com toda a sorte de príncipes salvadores e donzelas e princesas
em perigo quase sempre encarceradas em lúgubres castelos, idealização esta
proporcionada através do quase irresistível teatro do século XIX420. Há fartos
exemplos na literatura de escritores de vida quase efêmera, que longe de uma vida
saudável421, eram quase sempre pálidos e tristes. As roupas, sempre muito
apertadas - com o uso de acessórios como o espartilho - dificultavam em muito
praticamente qualquer trabalho feminino. A reforma também no vestuário
basicamente não teria o propósito principal de dar às mulheres maior liberdade física
ou sexual, mas permitira que seus corpos, menos modelados por pesadas roupas
pudessem ser melhor cuidados. Ellen White foi estrita ao afirmar que a reforma de
persuasivamente que o vegetarianismo pode ser vivenciado a partir das Escrituras”. (Tradução
própria). LARGEN, Kristin Johnston. A Christian Rationale for Vegetarianism. Dialog: A Journal of
Theology, Volume 48, Número 2, junho de 2009, p. 151.
420
Certamente que a moralista Ellen White também escreveu contra os teatros, bem como as danças
de salão e as casas de jogos. Lugares como este jamais deveriam ser frequentados por cristãos à
espera de Jesus, visto que ali sob hipótese alguma seu nome poderia ser reverenciado. Condenou
também toda a literatura espetacular e demasiado romântica que fizesse com que os leitores
abandonassem suas próprias realidades. A esse respeito, pode-se pensar que certamente White
condenaria com veemência as novelas atuais. De acordo com ela: “Foi-me mostrado que nos
defrontaremos com todas as espécies de experiências e que os homens procurarão introduzir
representações estranhas na obra de Deus. Já nos encontramos com tais em muitos lugares. No
início de meu trabalho, recebi a mensagem de que todas as representações teatrais, em conexão
com a pregação da verdade presente, fossem desaconselhadas e proibidas. Os homens que
pensavam ter um admirável trabalho a fazer procuraram adotar uma estranha atitude e manifestavam
esquisitices ao movimentar seus corpos. Eis a instrução que me foi dada: ‘Não aproveis tal coisa.’
Estas atitudes, com sabor teatral, não devem ocorrer na proclamação das solenes mensagens que
nos foram confiadas.” WHITE, 1970, p. 137-138. Pelo original: “I am instructed that we shall meet with
all kinds of experiences and that men will try to bring strange performances into the work of God. We
have met such things in many places. In my very first labors the message was given that all theatrical
performances in connection with the preaching of present truth were to be discouraged and forbidden.
Men who thought they had a wonderful work to do sought to adopt a strange deportment and
manifested oddities in bodily exercise. The light given me was, "Give this no sanction." These
performances, which savored of the theatrical, were to have no place in the proclamation of the
solemn messages entrusted to us. The enemy will watch closely and will take every advantage of
circumstances to degrade the truth by the introduction of undignified demonstrations. None of these
demonstrations are to be encouraged. The precious truths given us are to be spoken in all solemnity
and with sacred awe.” (Tradução própria).
421
Retomo o exemplo de E.A.Poe como imagem de sua época.
190
saúde passa também pela modificação e melhora no uso das roupas. Isso pode ser
evidenciado pelo fato que o comentário se dá no pampleto How to Live, já citado -
que é um dos mais evidentes acerca dessa reforma. Sobre este assunto neste
panfleto, escreveu Ellen White que
Uma vez que o artigo sobre o vestido apareceu em How to Live, tem havido
um mal-entendido com algumas das idéias que eu queria transmitir. Eles
tomaram o sentido extremo do que eu escrevi em relação ao comprimento
do vestido, e evidentemente houve momentos muito duros sobre o assunto.
Com suas visões distorcidas do assunto, discutiram a questão de encurtar o
vestido até a sua visão espiritual e tornou-se tão confuso que eles só podem
422
ver as pessoas como árvores andando.
422
WHITE, 1948a, p. 462. Pelo original: “Since the article on dress appeared in How to Live, there has
been with some a misunderstanding of the idea I wished to convey. They have taken the extreme
meaning of that which I have written in regard to the length of the dress, and have evidently had a very
hard time over the matter. With their distorted views of the matter they have discussed the question of
shortening the dress until their spiritual vision has become so confused that they can only see men as
trees walking”. (Tradução própria).
191
Ellen White propõe uma reforma radical ao corpo - tanto interna, pela alimentação,
quanto externa, pelas roupas - ao propor um regime alimentar sem porco e o mais
frugal possível, afastando-se das tradições de seu próprio país que já naqueles
tempos se alimentava de bacon logo no café da manhã423 (substituindo-o aos
poucos por flocos de milho ou sucrilhos, invenção atribuída a John Kellogg424, por
muitos anos adventista do sétimo dia e em consonância aos escritos whiteanos). E
também ao se vestir, rompendo com os costumes cotidianos de seu povo. Sobre
esta última questão, ela escreveu que:
Alguns dos que acreditam que na verdade poderiam pensar que seria mais
saudável para as irmãs adotar o costume americano, digo que esse modo
de se vestir deixaria aleijada nossa influência entre os incrédulos, de tal
modo que não poderíamos tão facilmente ter acesso a eles, devendo de
425
modo nenhum adotá-lo, embora soframos muito em conseqüência.
Contudo, essa sua propalada reforma foi muito mal recebida, servindo como
fonte de amargura para ela. Ainda hoje, poucos são, mesmo dentro da Igreja
Adventista do Sétimo Dia, que estão familiarizados com esses escritos em particular.
Em 1873, ela comentou que “a reforma do vestuário é tratada por alguns com
grande indiferença e por outros com desprezo, porque há uma cruz ligada a eles.”426
Sem olhar para a cruz de Cristo e fazer Sua vontade em todos os aspectos, não há
possibilidade de santificação plena derramada pelo Espírito Santo. Enquanto não
houvesse total separação entre os cristãos em preparação para a vinda de Cristo e
423
O dicionário Oxford considera atualmente que o café da manhã tipicamente americano pode ser
composto tanto de cerais como de ovos com bacon. Disponível em:
http://oald8.oxfordlearnersdictionaries.com/dictionary/american-breakfast. Acessado em 16 de outubro
de 2013
424
Conforme o obituário de John Kellog publicado em 16 de dezembro de 1943 pelo The New York
Times Dsiponvel em http://www.nytimes.com/learning/general/onthisday/bday/0226.html. Acessado
em 16 de outubro de 2013. “John Kellog inventou os flocos de milho para um paciente com problemas
dentários. Charles Post inventou um cereal matinal (com uva-passa) chamado Grape Nuts. O Dr.
Kellog era o gerente de um spa (clínica de tratamento) e Post era um paciente. Esse spa foi fundado
por Sylvester Grahan, inventor dos biscoitos integrais Grahan, e pioneiro do movimento do início de
1800 que visava incentivar as pessoas a comer mais fibras de cereais. Visionário Teen On-line:
Revista Eletrônica do Patrimônio Literário Ellen G. White, volume I, número 2, abril-junho 2008, p. 3.
Disponível em http://www.centrowhite.org.br/visionario/arquivos/visionario_teen2.pdf. Acessado em
16 de outubro de 2013.
425
WHITE, 1948a, p. 456. De acordo com o original: “Some who believe the truth may think that it
would be more healthful for the sisters to adopt the American costume, yet if that mode of dress would
cripple our influence among unbelievers so that we could not so readily gain access to them, we
should by no means adopt it, though we suffered much in consequence”. (Tradução própria). Eis aqui,
mais um caso da “contracultura” adventista do sétimo dia.
426
WHITE, 1948a, p. 171. No vernáculo original, lê-se: “The dress reform is treated by some with
great indifference and by others with contempt, because there is a cross attached to it.”. (Tradução
própria).
192
427
WHITE, Ellen. The Dress Reform: An Appeal to the People in Its Behalf. Battle Creek: Seventh-
Day Adventist Publishing, 1868. p.1 (Panfleto). Pelo original: “We are not Spiritualists. We are
Christian women, believing all that the Scriptures say concerning man's creation, his fall, his sufferings
and woes on account of continued transgression, of his hope of redemption thro' Christ, and of his
duty to glorify God in his body and spirit which are his, in order to be saved. We do not wear the style
of dress here represented to be odd, - that we may attract notice. We do not differ from the common
style of woman's dress for any such object. We choose to agree with others in theory and in practice,
if we can do so, and at the same time be in harmony with the law of God, and with the laws of our
being.” (Tradução do autor).
428
WHITE, 1907, p. 554.
193
oralmente, pela ingestão de determinado fruto proibido, o que para Ellen White
aconteceu de fato e não metaforicamente. Essa ingestão foi a causa originária para
a deterioração gradual do corpo e do intelecto humano, que pode ser verificado pela
continuidade do registro do livro de Gênesis. Eis a original causa, portanto, de
desequilíbrio entre corpo e mente. Para redimir essa falha, a primeira tentação de
Cristo quando Este se encontrou no deserto imediatamente após Seu batismo nas
águas do Jordão foi também física e alimentar, algo muito bem frisado por White.
Sendo Cristo o antítipo de Adão e Restaurador da Humanidade, é altamente
significativo que Ele tenha vencido seu apetite (bem como Satanás), por primeiro em
seu ministério, exatamente o ponto causador da queda do primeiro homem. Nos
textos sinópticos, em Mt. 4.3 e Lc. 4.3 (Marcos é bastante sucinto, de forma geral)
evidencia-se que a primeira tentação de Cristo foi uma luta aberta contra seu apetite,
em virtude da fraqueza de Seu corpo ocasionado pelo prolongado jejum - a
purificação corporal para fins espirituais, grandemente aludida por Ellen White429.
Nota-se que na sequência dos textos dos evangelistas citados, há disparidade com
relação à ordem das outras tentações, indicando positivamente que esta tentação
forjada pelo alimento foi sem dúvida a primeira delas, ao menos segundo os textos
escriturísticos.
Do acima exposto temos que, para ela, a condescendência com o apetite
constitui o primeiro e mais difícil dos pecados a serem evitados, ruína do corpo e da
alma e perdição eterna da raça humana - caso não seja dominada. Eis mais uma
vez a sua relevância para o processo de santificação. Por conseguinte, para ela:
Da mesma forma, embora sob outros meios, o que fez efetivamente Ellen
White, assim como muitas mulheres moderadas (mas atuantes) de sua
geração, foi participar ativamente em causas consideradas femininas por
excelência, como as de temperança – mas sem deixar de escrever sobre
aquilo que não convinha a uma mulher clarificar, mesmo que sejam
assuntos tão díspares como excessos sexuais – onde nesse caso ela
considerava o homem “mais animal do que humano” e no tocante à
remuneração das mulheres – que segundo ela deve ser a mesma do
homem. Contudo, o fim último de sua causa como um todo foi o de
promover o equilíbrio integral entre todos os membros da família e da igreja
em relação a todos os aspectos do ser e, especificamente, proteger a
família e o bem-estar social e espiritual. Assim, embora a seu modo
elevasse o papel feminino na família e na sociedade, ela não fez mais,
ainda que sob outras formas, que destacar o papel da mulher como –
essencialmente, mas não somente – mãe e dona de casa, protetora e
Redeemer, in whom both the human and the divine were united, stood in Adam's place and endured a
terrible fast of nearly six weeks. The length of this fast is the strongest evidence of the great sinfulness
of debased appetite and the power it has upon the human family.” (Tradução própria)
431
EPSTEIN, Barbara Leslie. The Politics of Domesticity: Women, Evangelism and Temperance in
Nineteenth-Century America. Middletown: Wesleyan University Press, 1981. p. 115.
432
WHITE, Ellen. Special Testimonies for Ministers and Workers. Battle Creek: Seventh-Day
Adventist Publishing, 1897, p.46 (Panfleto). Nestas páginas lê-se que “Great good will result from
bringing these books to the attention of the leaders of the Woman's Christian Temperance Union. We
should invite these workers to our meetings, and give them an opportunity to become acquainted with
our people”. Em português: “Grande bem resultará de trazer esses livros a atenção dos líderes da
Christian Women Temperance Union. Devemos convidar os trabalhadores para as nossas reuniões, e
dar-lhes a oportunidade de se familiarizar com o nosso povo.” (Tradução própria).
433
EPSTEIN, 1981, p. 120-122.
195
mas há também - sempre - grande intransigência de sua parte ao afirmar que não
existe educação sem a Bíblia e o “livro da natureza”, a despeito de muitos homens
das letras que davam à História e à Filosofia a maior das pertinências.
Deve-se conhecer um pouco da história educacional estadunidense no século
XIX para melhor compreender o grande valor para aqueles dias - e mesmo para os
nossos - do pensamento de Ellen White acerca dessa importantíssima área, sempre
levando em conta que ela mesma não teve a oportunidade de terminar seus estudos
fundamentais, sendo uma autodidata. Ainda assim, sua vivência, percepção e
inspiração divina a tornam também neste quesito, referência para os adventistas do
sétimo dia, sendo seus escritos basilares à educação adventista, que hodiernamente
é uma das maiores redes educacionais cristãs do mundo438.
438
De acordo com a confederação das Uniões Brasileiras da Igreja Adventista do Sétimo Dia,
“atualmente, a Educação Adventista contribui para a formação de crianças e jovens, da Educação
Básica ao Ensino Superior, através de 6500 instituições, em cerca de 145 países, onde estudam
1.200.000 alunos”. CONFEDERAÇÃO DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA DO
SÉTIMO DIA. Pedagogia Adventista. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 11. (Note-se que o
número é certamente bem maior, visto que a obra é de 2004).
439
DARIUS, Fábio Augusto; PANCOTTE, Rebeca Pizza. Princípios educacionais em Ellen White.
Kerygma, Engenheiro Coelho, volume 8, número 1, 1o sem. de 2012, p. 113 - 114.
197
A partir de anos 1820 uma destacada mudança educacional teve início, com o
ímpeto nos Estados Unidos. Homens impetuosos, como o caso de Samuel Hall - que
em 1823 fundou sua própria escola lecionando, além das disciplinas tradicionais,
matérias como “Filosofia Moral”, “Filosofia Mental” e “Criticismo Geral” - e de ideais
como Horace Mann, primeiro inspetor escolar - no estado de Massachussets
mudaram a realidade educacional daquele país. De acordo com Greenleaf e
Schwarz:
Foi durante esses anos que o sistema gratuito de escola pública tomou
forma nos Estados Unidos. Começando em 1823, quando Samuel Hall
exigiu melhor treinamento para professores primários, a iniciativa para
aperfeiçoar as escolas financiadas publicamente ganhou impulso depois
que Massachusetts nomeou Horace Mann, em 1837, como o primeiro
440
inspetor estadual de educação.
440
GREENLEAF, F.; SCHWARZ, R. W. Portadores de Luz: história da Igreja Adventista do Sétimo
Dia. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2009, p. 19.
441
FRASER, James W. The School in the United States: A Documentary History. New
York/London: Routledge, 2010, p. 44.
442
A biografia de Finney certamente condiz com o “novo espírito” de seu tempo e aqui merece ser
citada em virtude de suas múltiplas facetas. “Considerado um dos maiores pregadores evangelicais
dos Estados Unidos, Finney (Warren, 1792 – Oberlin, 1875), dotado de grande estatura, olhar
profundo, pendor musical e senso de liderança nato foi professor, evangelista, teólogo e abolicionista.
Antes contudo, sonhou em ser advogado, profissão que largou logo após sua conversão. Em sua
carreira docente, dirigiu o Oberlin College, famoso por ser a primeira instituição de ensino
estadunidense a aceitar mulheres e negros – protópito do progresso, ainda que em face a fortíssimas
resistências. Enquanto evangelista e teólogo – formado ministro pela Igreja Presbiteriana, é lembrado
por seus discursos de improviso, censura nominal de membros e aceitação de mulheres nos cultos.
Ainda, é reconhecido por “seus” feitos durante o grande reavivamento de 1857 e 1858, que sacudiu
mais de dez mil cidades nos Estados Unidos levando à conversão de aproximadamente um milhão de
pessoas. Pela causa abolicionista, já em 1821 passou a negar a comunhão a traficantes de escravos
em suas igrejas. Antes de sua conversão, foi ativo maçom – grupo que atacou duramente em seus
escritos cristãos, comprovando o quão perigosa esta era ao governo civil. Evangelical, pregava a
necessidade de conversão ou renascimento, respeitava a autoridade da Bíblia, expressando e
compartilhando vivamente o evangelho. Embora Jonathan Edwards e Charles Finney partilhassem de
concepções teológicas diferentes, Finney foi compelido a reclamar conexões com Edwards e sua
teologia, tal o respeito e grandiloquência deste. O fato é que inquestionvalmente ambos contribuíram
e ainda hoje contribuem para a conversão de incontáveis almas.” DARIUS, Fábio Augusto. Charles
Grandison Finney. In: Jonathan Edwards Encyclopedia. Yale University Press: New Haven, 2014.
Na prensa.
198
Horace Mann, que na famosa Oberlin College passaram a recebê-las a partir dos
anos 1840443.
Contudo, desde os tempos coloniais as escolas existem naquele país, ainda
que depois da revolução americana tenham recebido novo direcionamento. Se antes
sua base era aquela ditada pela tríade “família, igreja e comunidade”, o período
constituído entre 1812 e 1865, ou seja, os anos entre a Segunda Guerra de
Independência americana e o final da Guerra Civil, foi chamado de “Age of Common
School Revival”444, ou “Idade do Renascimento da Escola”, em tradução livre. Para
que esse renascimento efetivamente fosse levado à termo, muitas implementações
deveriam ser conduzidas, desde as estruturais até as metodológicas propriamente
ditas.
Horace Mann, já citado, também e principalmente no campo educacional, foi
um dos grandes reformadores nos Estados Unidos. Sua vida estudantil facilmente
retrata o cotidiano da nação e evidencia a formação que o protestantismo achava
exemplar. Fez seus estudos iniciais em uma típica escola aos moldes do ideário do
Presidente Benjamin Franklin, que longe de almejar grandes e agitadas cidades,
prezava por lugares menores vicejados de verde, aludindo sempre à uma vida rural.
Nessas escolas, basicamente o objetivo era ensinar às crianças que lessem e
escrevessem. Logo, elas deveriam findar o tempo de aprendizado formal para que
iniciassem seus labores no campo. Contudo, escolas como estas, eram quase
sempre dirigidas ou controladas de perto por algum ministro eclesiástico. No colégio
em que estudou Mann, na cidade de Franklin, reinava a ortodoxia teológica e a
severidade do ministro de sua própria igreja. O cotidiano escolar que permeou a
infância de Mann era basicamente aquele encontrado em todo o país. De acordo
com Wayne J. Urban e Jennings L. Wagoner Jr.:
443
KNIGHT, George R. Ellen White’s World: A fascinating look at the times in which she lived.
Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 1998. p. 41.
444
De acordo com PULLIAM, John D.; PATTEN, James J. van. History of Education in America.
Upper Saddle River/Columbus: Pearson, 2007. p. 138.
199
Esse cotidiano escolar dos séculos XVIII e parte dos XIX, diretamente ou não,
pode ser considerado oriundo ainda da Reforma protestante, que afirmava “o
princípio do direito à Escola”, indicando assim a responsabilidade do poder público
no processo de formação do homem moderno”,446 ainda que, até a juventude de
Mann, o Estado não estivesse diretamente responsabilizado pela gerência dos
conteúdos formativos. Assim, embora gratuitas e públicas, eram escolas
profundamente moldadas por uma forma religiosa que não necessariamente trazia
em seu bojo os interesses formativos necessários para um Estado
desenvolvimentista447 e pragmático, o caso dos Estados Unidos a partir daquele
momento da história. Ainda assim, praticamente todas as crianças, incluindo as
negras mesmo nos estados do Sul eram devidamente instruídas e podiam
seguramente ler na língua vernácula e efetuar cálculos básicos. Isso se deve à ótica
pedagógica protestante, e, segundo Cambi:
Provavelmente este período de sua vida foi capital para que, adiante,
resolvesse alterar de forma profunda o status quo educacional estadunidense. Ao
terminar seus anos de colégio, foi rápida a sua ascensão: aprendeu depressa os
445
URBAN, Wayne J.; WAGONER Jr, Jennings L. American Education: a History. Nova
Iorque/Londres: Routledge, 2009, p. 119. De acordo com o original: “The school day in these
‘common’ schools typically began with the Lord’s Prayer and readings from the King James version of
the Bible, usually read without comment. To most Protestants, this approach seemed right, good and
proper. Those who could no abide by this ‘non-denominational open-mindedness’ were seen as less
Christian and certainly less American than those who supported common schools with a Christian
[Protestant] bias.” (Tradução livre do autor.)
JARDINO, José Rubens L. Lutero & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. p. 49.
446
447
Atrevo-me aqui a utilizar o termo “desenvolvimentista”, tão usual no Brasil pós-ditadura militar
amparado por: GONÇALVES, Reinaldo. Novo Desenvolvimentismo e Liberalismo Enraizado. Serv.
Soc. Soc, São Paulo, n. 112, Out-Dez, 2012, p. 639, disponível em
http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n112/03.pdf e acessado em 24 de novembro de 2013 e BASTOS,
Carlos Pinkusfeld M. Mais além do desenvolvimentismo. Economia e Sociedade, Campinas, n.15,
Dez. 2000, p. 183.
448
CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. p. 248. In: Jardino, 2009, p. 50.
200
Não por acaso, Horace Mann foi um adepto da Educação Física e integral do
ser humano, sendo também um grande incentivador da feminização do ensino, outra
das novidades de Pestalozzi451. Em virtude do já aludido movimento de temperança
e diversas manifestações feministas nos Estados Unidos, embora com dificuldade,
em algumas décadas as garotas já estavam matriculadas em grande número nos
colégios adeptos da reforma de Mann e nas décadas seguintes, algumas estariam
atuando como professoras por excelência. Para ele, educação é:
pelos quais ele pode resistir ao egoísmo dos outros homens. Ela faz melhor
do que desarmar os pobres de sua hostilidade para com os ricos: impede-os
de serem pobres. [...] Se esta educação deve ser universal e completa, ela
faria mais do que todas as outras coisas para obliterar distinções fictícias na
452
sociedade.
456
WHITE, Ellen. Education. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1952. p. 13. Pelo
original: “True education means more than the pursual of a certain course of study. It means more
than a preparation for the life that now is. It has to do with the whole being, and with the whole period
of existence possible to man. It is the harmonious development of the physical, the mental, and the
spiritual powers. It prepares the student for the joy of service in this world and for the higher joy of
wider service in the world to come.” Utilizou-se no corpo do texto a versão brasileira de 1977,
publicada pela Casa Publicadora Brasileira.
457
KNIGHT, George R. The Transformation of Education. In: LAND, Gary. The World of Ellen White.
Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 1987. p. 166. Conforme o original: “By the
early 1840s most Oberlinites were following the health teachings of Sylvester Graham, who advocated
a vegetarian diet, the avoidance of rich foods, abstinence from stimulants, the use of whole-grain
foods, plain cooking, regular exercise in the open air, adequate sleep in well-ventilated rooms,
frequent bathing, and abstinence from eating between meals. Oberlin, with its emphasis on the whole
man in his physical, mental, and spiritual aspects, stood for total educational reform within the context
of evangelical Christianity. Unfortunately, from the perspective of those who advocated educational
reform, Oberlin (along with many of its sister institutions) did not persevere in the path of reform. By
203
O Oberlin College, que até hoje ainda funciona – embora sem suas
prerrogativas saudáveis originais – talvez tenha sido o máximo que a educação não-
confessional estadunidense do período produziu em termos holísticos. Enquanto
isso, as escolas ainda lutam para convencer os pais e estudantes a abandonar más
práticas saudáveis, demonstrando talvez, que o fervor religioso daquela parte do
século XIX dificilmente foi outra vez percebido.
Finalizando esta rápida conjuntura histórica educacional, deve-se ainda levar
em conta os gêneros literários em voga naquele país. Sabe-se que o realismo e o
romantismo chegaram a seus ápices naquele período, além de toda a literatura
fantástica ou de terror legada a nós pelos vitorianos, já descrito no segundo capítulo.
Na verdade, foi um período de muitas descobertas literárias e o instruído povo
estadunidense (para a época...), ainda muitas décadas distante do advento da luz
elétrica e de todo o entretenimento oriundo desta inovação, gastava muitas horas
em teatros e junto aos livros. Não por acaso grandes escritores, hoje clássicos,
surgiram tanto naquele país quanto na Europa, destacando-se Nathaniel Hawthorne,
escritor do “A Letra Escarlate”, Ralph Waldo Emerson com seu Representative Men,
Herman Melville com o bastante conhecido “Moby Dick”, Henry David Thoreau com
seu “Walden” (ou Vida nos Bosques, que em nada tem conexão com a obra de Ellen
White “Vida no Campo” – muito pelo contrário...) e Walt Whitman com seu Leaves of
Grass, apenas para citar as obras que o mundo ganhou nos anos 1850. Segundo
Davis:
Evidentemente que para Ellen White os únicos livros deveriam ser aqueles
que levassem ao único livro verdadeiramente livre de toda a sorte de erros: a Bíblia
Sagrada. A maior parte de sua vasta biblioteca era composta de comentários
bíblicos, em muitos casos sob a forma de livros de histórias, que tantas vezes
serviram como subsídios aos seus próprios textos. Nos dias atuais, a Igreja
Adventista do Sétimo Dia costuma manter-se firme aos ditames originais propostos
por ela, continuando a afirmar que a Bíblia deve ser o livro por excelência sendo que
os próprios livros de Ellen White são permitidos sem nenhuma ressalva para
romantics agreed, resided in a world beyond and behind the surface material distractions of everyday
existence.” (Tradução própria).
459
TILLICH, 2010, p. 105.
460
WHITE, Ellen. Messages to Young People. Hagerstown: Review and Herald, 1930. p. 272.
Conforme o original: “Love stories, frivolous and exciting tales, and even that class of books called
religious novels — books in which the author attaches to his story a moral lesson — are a curse to the
readers. Religious sentiments may be woven all through a storybook, but, in most cases, Satan is but
clothed in angel-robes, the more effectively to deceive and allure. None are so confirmed in right
principles, none so secure from temptation, that they are safe in reading these stories”. (Tradução livre
própria)
205
461
Basicamente, fora os escritos indiretos sobre o tema, ela deixou cinco obras, todas publicadas
pela Casa Publicadora Brasileira, nos mais diversos anos e edições. São elas: “Educação”,
“Fundamentos da Educação Cristã”, “Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes”, “Conselhos
sobre Educação” e “Orientação da Criança”.
462
DARIUS; PANCOTTE, 2012, p. 116.
206
O que contém essa obra de 1903, que, a julgar pelo título, corresponde ao
compêndio educacional da autora? Afinal, como dizem os próprios depositários das
publicações de Ellen White na introdução da obra, “é muito raro que um livro
dedicado ao assunto da educação seja lido tão amplamente, ou resista tão bem à
prova dos tempos em constante mutação, como tem sucedido esta obra”.463 Ao se
analisar o conteúdo do pequeno volume, começando pelo seu final, observa-se um
vigoroso índice escriturístico: ela se utiliza de 56 dos 66 livros bíblicos, mantendo o
mesmo vigor e equilíbrio de citação ao longo dois testamentos em praticamente 500
transcrições bíblicas em um texto de pouco mais de 290 páginas corridas. Por 99
vezes ela cita textualmente o nome de “Cristo” – “Deus” ela cita mais de 360 –, e em
85 casos, aparece “Natureza” ou “natureza”. A palavra “vida” consta nada menos
que 250 vezes enquanto a própria palavra “educação” surge em mais de 90
oportunidades. Conhecendo-se o estilo e a centralidade da autora, pode-se
corretamente julgar tratar-se de um livro indubitavelmente cristocêntrico. A Bíblia –
fica muito claro no livro citado – é pré-requisito e condição absoluta para a educação
proposta por ela. Sem o Livro Sagrado, toda e qualquer tentativa educacional será
vã. Porém, apesar das ressalvas apresentadas, de acordo com Douglass:
Fazer da Bíblia “a base da educação” não significa que ela deva ser o único
livro didático para aulas de aritmética, línguas e geografia. A Bíblia não foi
dada à família humana para ser sua enciclopédia máxima, mas para
transmitir uma visão global que ajudasse a interpretar e aplicar as
informações. Ellen White chamou a atenção para o fato de que todas as
disciplinas acadêmicas, cada área do pensamento, assumem novo
significado quando vistas à luz do Tema do Grande Conflito. Ela queria dizer
que todas as aulas devem ser ministradas dentro da estrutura da visão
global bíblica, que cada aula deve refletir o grandioso propósito da
464
educação cristã.
463
WHITE, 1952, p. 7.
464
DOUGLASS, 1998, p. 347. Conforme o original: “Bible “the basis of education” does not mean that
it is to be the only textbook for classes such as arithmetic, languages, and geography. The Bible was
not given to the human family to be its best encyclopedia, but it does give a worldview that helps to
interpret and apply information. Ellen White noted that all academic disciplines, every area of thought,
take on “new significance” when seen in the light of the Great Controversy Theme. She meant that all
classes must be taught within the framework of the Biblical worldview, that every class should reflect
the grand purpose of Christian education”.
207
pode ser auferido ao Criador465. Aliás, em outras obras capitais da autora, como no
livro “Caminho a Cristo”, fica patente a união indissociável entre a Bíblia e a
466
Natureza ao afirmar que “natureza e Revelação testificam o amor de Deus” e,
para ela, autocomplementam a obra da educação.
Por seu termo, a palavra “vida” (humana), “em provação”, “em preparação”,
ou “eterna”, para citar apenas três casos de uso na obra é o objeto da pena
whiteana, que vê o ser humano sempre em processo e em condições de
aprendizado até que se finde sua existência. Curiosamente, apenas em cinco
oportunidades no livro White se utiliza do termo “filosofia467” e mesmo assim, em
duas vezes, ela fala da “filosofia da história”, ao afirmar que “a Bíblia revela a
verdadeira filosofia da história”, no sentido de indicar o sentido da vida do cristão. As
outras 3 indicam que a filosofia enquanto disciplina do conhecimento pouco ou
nenhum valor tem se distante do conhecimento das Escrituras468 . Em realidade, ante
o conhecimento teórico proporcionado pela filosofia, ela sempre e de novo frisava a
necessidade do ser humano entrar em contato com a natureza para que possa sem
465
“O estudo da natureza certamente enriquece o entendimento humano de seu ambiente. Também
fornece respostas para algumas das muitas questões que não são tratadas na Bíblia.” KNIGHT,
George. Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva cristã. Engenheiro Coelho: Imprensa
Universitária Adventista, 2001. p. 181. Vide também a importante citação de WHITE, 1958, p. 592 que
afirma que “as grandes verdades da providência de Deus e da vida futura foram impressionadas na
mente jovem. Ele foi treinado para ver a Deus tanto nas cenas da natureza quanto nas palavras da
revelação. As estrelas do céu, as árvores e flores do campo, as altas montanhas, os riachos
ondulantes - todos falavam do Criador”. Conforme o original: “The great truths of God's providence
and of the future life were impressed on the young mind. It was trained to see God alike in the scenes
of nature and the words of revelation. The stars of heaven, the trees and flowers of the field, the lofty
mountains, the rippling brooks--all spoke of the Creator.” (Tradução própria).
466
WHITE, 1956, p. 9. Conforme o original: “Nature and revelation alike testify of God’s love.”
(Tradução própria.)
467
A autora não parece ver com bons olhos o estudo da filosofia sem qualquer conexão com a
religião. São muitos os textos em que ela vê com ressalvas o estudo “do conhecimento
humano” em
face do conhecimento de Deus. Para ela, ao falar dos clássicos, “os gregos acreditavam que não
havia necessidade de elevar a raça humana, mas eles consideravam o estudo da filosofia e da
ciência como o único meio de alcançar a verdadeira elevação e honra.” (WHITE, 1911, p. 244.) Ainda,
escreveu que “O Autor desta vida espiritual é invisível, e o método exato pelo qual a vida é
transmitida e sustentada, que está além do poder da filosofia humana explicar. No entanto, as
operações do Espírito estão sempre em harmonia com a palavra escrita.” (WHITE, 1911, p. 284).
Segundo o original: “The Greeks believed that there was need of elevating the human race, but they
regarded the study of philosophy and science as the only means of attaining to true elevation and
honor” e “The Author of this spiritual life is unseen, and the exact method by which that life is imparted
and sustained, it is beyond the power of human philosophy to explain. Yet the operations of the Spirit
are always in harmony with the written word”. (Tradução própria). Na verdade, muitos anos depois da
morte de Ellen White, “os adventistas viam com desconfiança o credenciamento oficial, pois achavam
que isso poderia descaracterizar as instituições educacionais de sua filosofia adventista. Cursos de
doutorado eram considerados desnecessários e até mesmo perigosos”. (VYHMEISTER, Nancy. In:
DEDEREN, Raoul. (Ed.), 2011, p. 20.
WHITE, 1952, p. 173.
468
208
Satanás, tendo como base irrenunciável o infinito amor de Deus. Para ela, a vida
inteira tem como propósito primeiro educar o ser humano para as mansões celestiais
em uma árdua tarefa, que sequer será completada neste plano. Ao longo da
existência humana, caberá a este futuro cidadão e cidadã do Céu estar em linha
com os propósitos divinos a partir de uma vida de constante negação do “eu” e
aceitação dos ditames escriturísticos em uma vida de equilíbrio e plenitude. É só
através da educação que este nobre propósito, seguindo o pensamento de Ellen
White, será cumprido. Precisamente por isso, ela rejeitava com todas as suas forças
quaisquer influências não cristãs na formação pedagógica, como já anteriormente
descrito. Deste modo, pela observação do vestuário, música, literatura entre outros,
face o estudo bíblico, as suspeitas com relação à educação “do mundo” se tornam
concretas. É tão-somente para melhor acepção de todas as múltiplas peculiaridades
a serem vencidas ao longo do processo de santificação que a educação deve ser
baseada, mediada e concluída, tendo como fonte principal e original a Bíblia
Sagrada, único livro que inquestionavelmente leva à redenção. Segundo Ellen
White, com o auxílio da Bíblia:
470
WHITE, 1952, p. 30. Conforme o original: “In the highest sense the work of education and the work
of redemption are one, for in education, as in redemption, "other foundation can no man lay than that
is laid, which is Jesus Christ." "It was the good pleasure of the Father that in Him should all the
fullness dwell." 1 Corinthians 3:11; Colossians 1:19.” (Tradução própria).
471
WHITE, 1958, p. 595. Conforme o original: “The true object of education is to restore the image of
God in the soul.” (Tradução do autor).
210
Céu é uma escola; seu campo de estudo, o universo, o seu professor, o Ser
infinito. Uma filial desta escola foi estabelecida no Éden, e, com o plano de
redenção realizada, a educação será novamente retomado na escola
473
Éden
[A] educação iniciada aqui não vai ser concluída nesta vida, que vai ser
daqui para frente por toda a eternidade - sempre progredindo, nunca
concluída. Mais e mais completa será revelada a sabedoria e o amor de
Deus no plano da redenção. O Salvador, como Ele leva seus filhos para as
fontes das águas vivas, compartilhará ricos suprimentos de
474
conhecimento.
472
WHITE, 1952, p. 15. Conforme o original: “To restore in man the image of his Maker, to bring him
back to the perfection in which he was created, to promote the development of body, mind, and soul,
that the divine purpose in his creation might be realized--this was to be the work of redemption. This is
the object of education, the great object of life. Love, the basis of creation and of redemption, is the
basis of true education.” (Tradução própria.)
473
WHITE, 1980, p. 547. Conforme o original: “Heaven is a school; its field of study, the universe; its
teacher, the Infinite One. A branch of this school was established in Eden; and, the plan of redemption
accomplished, education will again be taken up in the Eden school.” (Tradução própria).
474
WHITE, Ellen. Child Guidance. Washington: Review and Herald Publishing Association, 1954, p.
298. Conforme o original: “education begun here will not be completed in this life; it will be going
forward through all eternity--ever progressing, never completed. More and more fully will be revealed
the wisdom and love of God in the plan of redemption. The Saviour, as He leads His children to the
fountains of living waters, will impart rich stores of knowledge.”
475
A partir de CONFEDERAÇÃO DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA DO
SÉTIMO DIA, 2004, p. 70-75
476
Nesse sentido, já dizia Ellen White que: “Os professores devem induzir os alunos a pensar e a
compreender de forma a verdade por si mesmos. Não basta ao professor explicar, ou ao aluno crer;
cumpre despertar o espírito de investigação, e o aluno ser atraído a buscar a verdade em sua própria
linguagem, tornando assim evidente que lhe vê a força e aplica o que soube. Por trabalhosos
esforços, as verdades vitais devem assim ser gravadas no espírito.” (WHITE, 2002, p. 140 In:
CONFEDERAÇÃO DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2004,
p. 70) A esse respeito, muito posteriormente escreveu Paulo Freire que “a construção ou a produção
211
do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de “tomar
distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua
aproximação metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar. (FREIRE, Paulo. Pedagogia da
Autonomia. 28. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. p. 85.)
477
Sempre tendo a natureza como pressuposto. Segundo ela, “em seus ensinos, Cristo tirava
ilustrações do grande tesouro dos laços e afeições de família, bem como da natureza. O
desconhecido era ilustrado pelo conhecido; sagradas e divinas verdades, pelas coisas naturais e
terrestres, com as quais o povo se achava mais familiarizado. Estas foram as coisas que iriam falar
ao coração, e fazer a impressão mais profunda em suas mentes”. (WHITE, 1943, p. 178). Conforme o
original: “In His teaching, Christ drew His illustrations from the great treasury of household ties and
affections, and from nature. The unknown was illustrated by the known; sacred and divine truths, by
natural, earthly things, with which the people were most familiar. These were the things that would
speak to their hearts, and make the deepest impression on their minds.” (Tradução própria).
478
“Cristo não tratou de teorias abstratas, mas naquilo que é essencial para o desenvolvimento do
caráter, o que vai ampliar a capacidade do homem para conhecer a Deus, e aumentar a sua
eficiência para fazer o bem. Ele falou aos homens daquelas verdades que se relacionam com a
conduta da vida, e que tomam conta sobre a eternidade.” (WHITE, 1941, p. 23 IN: CONFEDERAÇÃO
DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2004, p. 72). Conforme o
original: “Christ did not deal in abstract theories, but in that which is essential to the development of
character, that which will enlarge man's capacity for knowing God, and increase his efficiency to do
good. He spoke to men of those truths that relate to the conduct of life, and that take hold upon
eternity.” (Tradução própria).
479
Eis aqui, uma das mais conhecidas e citadas frases de toda a obra de Ellen White: “A verdadeira
educação não desconhece o valor dos conhecimentos científicos ou aquisições literárias, mas acima
da instrução aprecia a capacidade, acima da capacidade a bondade, e acima das aquisições
intelectuais, o caráter. O mundo não necessita tanto de homens de grande intelecto, como de nobre
caráter. Necessita de homens cuja habilidade seja dirigida por princípios firmes.” (WHITE, 1952, p.
225). De acordo com o original: “True education does not ignore the value of scientific knowledge or
literary acquirements; but above information it values power; above power, goodness; above
intellectual acquirements, character. The world does not so much need men of great intellect as of
noble character. It needs men in whom ability is controlled by steadfast principle.”
480
Ainda de acordo com White, “a cooperação deve ser o espírito da sala de aula, a lei de sua vida.”
(WHITE, 1952, p. 285 In CONFEDERAÇÃO DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA
DO SÉTIMO DIA, 2004, p. 74). Pelo original: “Co-operation should be the spirit of the schoolroom, the
law of its life.” (Tradução própria)
481
“Cristo ligava Seu coração pelos laços de amor e devoção, e pelos mesmos laços Ele ligava seus
semelhantes. Com Ele o amor estava na vida, e a vida era serviço.” (WHITE, 1952, p. 80). Pelo
original: “Christ bound them to His heart by the ties of love and devotion; and by the same ties He
bound them to their fellow men. With Him love was life, and life was service.”
212
Deus, com vistas à formação do caráter “a obra mais importante que já foi
comunicada a seres humanos”482. Segundo ela:
482
WHITE, 1952, p. 225. Conforme o original: “Character building is the most important work ever
entrusted to human beings.”
483
WHITE, 1952, p. 225-226. Conforme o original: “At such a time as this, what is the trend of the
education given? To what motive is appeal most often made? To self-seeking. Much of the education
given is a perversion of the name. In true education the selfish ambition, the greed for power, the
disregard for the rights and needs of humanity, that are the curse of our world, find a
counterinfluence.”
484
WHITE, 1952, p. 227: “No estudo das ciências, como geralmente é feito, há perigos igualmente
grandes. A evolução e seus erros conexos são ensinados nas escolas de todas as categorias, desde
o jardim de infância até às escolas superiores. Destarte, o estudo da ciência, que deveria comunicar o
conhecimento de Deus, acha-se tão misturado com as especulações e teorias humanas que
propende para a incredulidade.” Conforme o original: “In the study of science, as generally pursued,
there are dangers equally great. Evolution and its kindred errors are taught in schools of every grade,
from the kindergarten to the college. Thus the study of science, which should impart a knowledge of
God, is so mingled with the speculations and theories of men that it tends to infidelity”. Ellen White,
como não poderia deixar de ser – e nas páginas seguintes em que condena o Evolucionismo - ataca
novamente a doutrina espírita ao afirmar que, segundo esses, “não importa o que façais; vivei como
vos aprouver, o Céu é vosso lar.” (WHITE, 1952, p. 228).
213
sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali. Pouca atenção é dada à Bíblia, e o
Senhor deu uma luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior”485. Sua pena
tão-somente ajudou a reencetar homens e mulheres à plenitude educacional,
holística, restauracionista e eterna contida nas páginas da Bíblia.
Foi-me mostrado o modo por que o povo remanescente de Deus obteve seu
nome. Duas classes de pessoas me foram apresentadas. Uma abrangia as
grandes corporações de cristãos professos. Estes tripudiavam sobre a lei
divina, inclinando-se diante de uma instituição papal. Observavam o
primeiro dia da semana em vez do sábado do Senhor. A outra classe, posto
que em pequeno número, tributava obediência ao grande Legislador. Estes
guardavam o quarto mandamento. As feições peculiares e preeminentes de
sua fé são a observância do sétimo dia e a expectativa da volta de Cristo
487
nas nuvens do céu.
485
WHITE, Ellen. Colporteur Ministry. Mountain View: Pacific Press Publishing Association, 1953, p.
125. Segundo o original: “The Lord has sent His people much instruction, line upon line, precept upon
precept, here a little, and there a little. Little heed is given to the Bible, and the Lord has given a lesser
light to lead men and women to the greater light.” (Tradução própria).
486
O termo “sábado do sétimo dia”, aparece repetidas vezes na literatura adventista para que se frise
que, entre eles, o sábado ou Shabat não é simplesmente o dia de descanso, mas sim, o descanso
naquele dia específico da semana, como aparece no corpo do texto bíblico.
487
WHITE, Ellen. A Igreja Remanescente. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005. p. 65.
214
e a restauração do ser humano, assim existindo uma forte evidência entre aquele dia
e a santificação. Por esses motivos, a doutrina do Sábado, entre os adventistas,
pode ser compreendida enquanto materialidade e integralidade da união entre Deus
e os seres humanos, memorial por excelência da criação.
Enquanto os princípios de saúde podem equivaler – dentro da relação integral
entre corpo e espírito enquanto alma – ao corpo e os princípios educacionais à alma,
a doutrina do Sábado serve como metáfora ao espírito, visto que em Deus este dia
especial dá ânimo e esperança ao adventista. O santo dia de guarda, que
proporciona especificamente um tempo privilegiado de repouso e adoração a esse
cristão, lembra-o constantemente da perfeição do Éden nos áureos e primevos
tempos da criação e o leva esperançosamente a um futuro, aguardado
proximamente – onde a maravilhosidade daquele tempo será a realidade eterna e
“de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar”488 reverente diante do Senhor.
simplesmente por deixar a questão de lado, já que com o novo advento de Cristo, de
uma forma ou de outra o dia passaria a ser vivenciado sem embargo. Conforme
Knight:
Seja como for, pelo teor das discussões percebe-se que a igreja desde seus
primeiros tempos estava profundamente interessada na discussão a respeito do
sábado, que para Ellen White, é imperioso sinal que distingue as pessoas que
reconhecem a soberania de Deus das que não. Segundo ela:
494
WHITE, Ellen. Testimonies for the Church. Mountain View: Pacific Press Publishing Association,
Volume 6, 1948d, p. 349. De acordo com o original: “Great blessings are enfolded in the observance
of the Sabbath, and God desires that the Sabbath day shall be to us a day of joy. There was joy at the
institution of the Sabbath. God looked with satisfaction upon the work of His hands. All things that He
had made He pronounced "very good." Genesis 1:31. Heaven and earth were filled with rejoicing.
"The morning stars sang together, and all the sons of God shouted for joy." Job 38:7. Though sin has
entered the world to mar His perfect work, God still gives to us the Sabbath as a witness that One
omnipotent, infinite in goodness and mercy, created all things. Our heavenly Father desires through
the observance of the Sabbath to preserve among men a knowledge of Himself. He desires that the
Sabbath shall direct our minds to Him as the true and living God, and that through knowing Him we
may have life and peace.” (Tradução própria).
495
TIMM, Alberto. O Sábado na Bíblia: Por que Deus faz questão de um dia. Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 2011. p. 109.
496
WHITE, 1970, p. 289. Conforme a citação completa: “Purified by obedience to the law of God,
sanctified by a perfect observance of His holy Sabbath, [trusting, believing, patiently waiting, and
earnestly working out our own salvation with fear and trembling,] we shall learn that it is God that
worketh in us to will and to do of His good pleasure.” (Tradução própria).
217
497
ANDREWS, John. History of the Sabbath. United States: Clear Words, 2010. p. 25.
498
WHITE, 1945, p. 34. Em inglês: “And when the never-ending blessing was pronounced on those
who had honored God in keeping His Sabbath holy, there was a mighty shout of victory over the beast
and over his image.” (Tradução própria)
218
Lutero”499 , sem contar os valdenses e outros tantos que, geração após geração
atenderam a proposta integral contida nos mandamentos de Deus. Para os
adventistas reafirmar a mensagem do sábado coroará o reestabelecimento completo
daquele trabalho iniciado por homens da grandeza de Lutero500.
O Sábado em sua correta acepção, ou seja, dentro da perspectiva da
salvação pela graça mediante a fé, portanto, deve ser apreciado indistintamente por
todos os cristãos, visto ser decididamente fundamental para a salvação, expressão
de uma vida santificada. Conforme White:
É neste momento que o verdadeiro sábado deve ser levado diante do povo
tanto pela pena e pela voz. Como o quarto mandamento do Decálogo e
aqueles que o observam são ignorados e desprezados, os poucos fiéis
sabem que é a hora de não esconder o seu rosto, mas de exaltar a lei de
Jeová ao desfraldar a bandeira em que está inscrita a mensagem do
501
terceiro anjo
499
ANDREWS, 2010, p. 274.
500
Para Haynes, “pode-se notar que a mensagem da segunda vinda de Cristo e a guarda dos
mandamentos de Deus não são apenas a mensagem final do evangelho, mas a complementação da
Reforma do século dezesseis, a qual foi retardada até agora e paralisada pela formação de credos
denominacionais.” HAYNES, Carlyle. Do sábado para o domingo: exames dos aspectos históricos
da questão do sábado mostrando como, quando e por quem foi feita a mudança do sétimo para o
primeiro dia da semana. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006. p. 131.
501
WHITE, 1970. Conforme o original: “It is at this time that the true Sabbath must be brought before
the people both by pen and by voice. As the fourth commandment of the Decalogue and those who
observe it are ignored and despised, the faithful few know that it is the time not to hide their face but to
exalt the law of Jehovah by unfurling the banner on which is inscribed the message of the third angel.”
(Tradução própria).
502
BACCHIOCCHI, Samuele. Divine Rest for Human Restlessness: a theological study of the Good
News of the Sabbath for today. Rome: The Pontifical Gregorian University Press, 1980. p. 15.
503
STRAND, Kenneth A. O Sábado. In: DEDEREN, 2011, p. 568.
219
Sendo o memorial da Criação, revela as razões pelas quais Deus deve ser
adorado: Ele é o Criador, e nós Suas criaturas. O sábado, portanto,
representa a própria base da adoração divina, pois ensina essa grande
verdade do modo mais impressionante, como nenhuma outra instituição faz.
A verdadeira base de toda adoração a Deus, não apenas aquela praticada
no sétimo dia, senão toda a adoração, encontra-se na distinção entre o
Criador e Suas criaturas. Esse grandioso fato jamais se poderá tornar
obsolte, nem jamais deve ser esquecido. Foi para conservar essa verdade
504
para sempre diante da raça humana que Deus instituiu o Sábado.
504
LESSA; GUARDA; SCHEFFEL, 2003, p. 331.
220
cristã desde o primeiro século até o início do século 19 havia dado tanta ênfase ao
sabatismo quanto os puritanos”.505.
Dentro desse escopo, e sabendo que White viveu em uma região de
cristianismo enfático, (como abordado no capítulo 1) é de se esperar que ela
abordasse a questão minuciosamente, ao colocar o sábado como ponto de salvação
ao ser marco distintivo entre os adoradores de Deus ou da besta. Seja como for,
para os adventistas do sétimo dia, assim como para os judeus, “desde o princípio o
sábado foi criado com o propósito de que o homem pudesse gozar de comunhão
santificadora com Deus.”506
Para Ellen White, a cotidiana comunhão com Deus é também evidente sinal
de santificação. A guarda do sábado, para longe de um legalismo engessado e
totalmente desprovido da graça divina, é perceptivamente um “agrado” humano ao
Deus do Céu, que por esse ato é reconhecido, honrado e amado. Assim, sábado e
santificação se completam visto que:
505
KNIGHT, 2005, p. 34.
506
LaRONDELLE, Hans K. O que é salvação: o que Deus faz por nós e em nós. Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 1998. p. 104.
507
WHITE, Ellen. The Divine Standard of Character. Review and Herald. Battle Creek, p. 20-20. mar.
1906. Pelo original: “He is well pleased when we urge past mercies and blessings as a reason why he
should bestow on us higher and greater blessings. He is honored when we love him, and bear
testimony to the genuineness of our love by keeping his commandments. He is honored when we set
apart the seventh day as sacred and holy. To those who do this the Sabbath is a sign, "that they might
know," God declares, "that I am the Lord that sanctify them." Sanctification means habitual
communion with God. There is nothing so great and powerful as God's love for those who are his
children.” (Tradução própria). A partir de conversas privadas com seu marido, nesse mesmo sentido
ela escreveu que “Meu marido falou sobre esse ponto, como o que constitui santificação Bíblia,
afirmando que aqueles que afirmavam estar sendo santificados, enquanto viver em oposição ao
sábado do quarto mandamento, são espúrios. Ele citou as palavras do apóstolo na definição de
‘pecado’, como a ‘transgressão da lei’. Conforme o original: “My husband spoke on that point, as to
‘what constituted Bible sanctification, stating that those who claimed to be enjoying sanctification while
living in opposition to the Sabbath of the fourth commandment, had the spurious article. He quoted the
words of the apostle in defining ‘sin’ as the ‘transgression of the law’. WHITE, Ellen. Our camp-
meeting in Wisconsin. The Signs of the Times. Battle Creek, p. 10-11. 22 jul. 1875.
221
508
WHITE, Ellen. The glory of God revealed in mercy. The Signs of the Times. Battle Creek, p. 1, 22
abr, 1896. Conforme o original: “If this man had really had conscientious scruples in regard to the true
observance of the Sabbath, he would have discerned the nature and character of the work that Christ
had performed. If he had cultivated truth and righteousness in his heart, he would have given an
entirely different interpretation of the work which was performed on the Sabbath day, and which he
said belonged to the six working days. The work that Christ had done was in harmony with the
sanctification of the Sabbath day”. (Tradução própria).
509
WHITE, Ellen. Fé e Obras. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008, p. 46.
222
A Palavra fez a declaração: "Eu sou o Senhor que vos santifica" se você
observar o sábado. Esta é a verdadeira santificação encontrada apenas nas
Escrituras - o que vem de Deus por causa da obediência aos Seus
mandamentos. Então, podemos saber que as pessoas que foram juntas
para adorar o Senhor no dia que Ele abençoou e santificou, têm o direito de
reclamar as ricas bênçãos de Jeová. As horas do sábado são sagradas,
santificadas e santas, e cada adorador verdadeiro que mantém o santo
sábado, deve reivindicar a promessa: "Para que saibais que eu sou o
512
Senhor, que vos santifica. "
510
WHITE, Ellen. The Sabbath of the Lord. The Signs of the Times. Battle Creek, p. 9, 31 mar,
1898. De acordo com o original: “Sanctification is claimed by professed Christians who ignore God's
holy rest day for a spurious sabbath. But God declares that the sanctification coming from Him is
bestowed on those only who honor Him by obeying His commands. The sanctification claimed by
those who continue in transgression is a spurious sanctification. Thus the religious world is deceived
by the enemy of God and man.” (Tradução própria)
511
Para os adventistas do sétimo dia, o genuíno ecumenismo só pode existir com base expressa dos
textos bíblicos, como Atos 1-3, por exemplo.
512
WHITE, Ellen. WHITE, Ellen. Manuscript Releases. Silver Spring: Ellen G. White Estate, Vol. 4,
1981, p. 347. Conforme o original: “The Word has made the statement, "I am the Lord that do sanctify
you" IF you observe the Sabbath. This is the only true sanctification in the scriptures - that which
comes from God because of obedience to His commandments. Then we may know that the little
companies assembled together to worship the Lord on the day which He has blessed and made holy,
have a right to claim the rich blessings of Jehovah. . . . It is the hours of the Sabbath that are sacred
and sanctified and holy, and every true worshiper who keeps holy the Sabbath, should claim the
promise, "That ye may know I am the Lord that doth sanctify you." (Tradução própria).
223
513
WHITE, 2008, p. 10.
514
WHITE, 1991, p. 262. Conforme o original: “All through the week we are to have the Sabbath in
mind and be making preparation to keep it according to the commandment. We are not merely to
observe the Sabbath as a legal matter. We are to understand its spiritual bearing upon all the
transactions of life. All who regard the Sabbath as a sign between them and God, showing that He is
the God who sanctifies them, will represent the principles of His government. They will bring into daily
practice the laws of His kingdom. Daily it will be their prayer that the sanctification of the Sabbath may
rest upon them. Every day they will have the companionship of Christ and will exemplify the perfection
of His character. Every day their light will shine forth to others in good works.” (Tradução própria).
224
A divina aliança, fruto do imutável amor e infinito caráter de Deus, para White
estará para sempre presente apenas para aqueles que guardarem seu santo dia
com temor e tremor, em reconhecimento Àquele que tudo criou e logo vai voltar.
Assim, a santificação do sábado necessariamente tem relação direta e irrevogável
da santificação como um todo, visto ser impossível falar de santificação sem falar
sobre o sábado, assim como é impossível falar sobre um corpo vivo sem um
espírito.
515
WHITE, 1958, p. 307.
225
CONCLUSÃO
516
São 13,75 milhões de judeus no mundo, segundo (o jornalista do periódico judeu) SILVERMAN,
Annav. Jews Less than 0.2% of World Population. The Jewish Press. 20 set. 2012. Disponível em:
http://www.jewishpress.com/news/jewish-news/jews-less-than-0-2-of-world-population/2012/09/20/.
Acessado em 24 de novembro de 2013. O número oficial de adventistas do sétimo dia é de
17.479.890, de acordo com a estatística dessa igreja, disponível em
http://www.adventist.org/information/statistics/, acessado em 24 de novembro de 2013.
517
Segundo KNIGHT, 1998, p. 141, “Basta pensar em suas idéias, em áreas como saúde e educação
para perceber o que ela estava mais em harmonia com os reformadores sociais do seu tempo do que
ela estava com os próprios tempos.” Segundo o original: “One has only to think of her ideas in such
228
areas as health and education to realize the she was more in harmony with the social reformers of her
times than she was with the times themselves.”
229
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