Daniel e Apocalipse Vol I - URIAS SMITH
Daniel e Apocalipse Vol I - URIAS SMITH
Daniel e Apocalipse Vol I - URIAS SMITH
1 – DANIEL
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TOMO 1
EL LIBRO DE DANIEL
EDICIÓN REVISADA
PUBLICACIONES INTERAMERICANAS
Pacific Press Publishing Association
Mountain View California
E.E. de N.A
Copyright © 1949, by
Pacific Press Publishing Association
Séptima edición
1979
OS EDITORES.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 3
PREFÁCIO DA EDIÇÃO CASTELHANA
OS EDITORES.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 4
ÍNDICE DOS CAPÍTULOS
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Capítulo 1: Um Cativo na Corte Real de Babilônia . . . . . . . . . . . . 8
Capítulo 2: O Rei Sonha Acerca Dos Impérios Mundiais . . . . . . 15
Capítulo 3: A Integridade Provada Pelo Fogo . . . . . . . . . . . . . . . 49
Capítulo 4: O Altíssimo Reina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Capítulo 5: A Escritura na Parede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Capítulo 6: Daniel na Cova dos Leões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Capítulo 7: A Luta Pelo Domínio Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Capítulo 8: O Mundo Diante do Tribunal Celestial . . . . . . . . . . 117
Capítulo 9: Uma Vara Profética Cruza os Séculos . . . . . . . . . . . 153
Capítulo 10: Deus Intervém nos Negócios do Mundo . . . . . . . . . 178
Capítulo 11: O Futuro Desdobrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Capítulo 12: Aproxima-se o Momento Culminante da História ... 242
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 5
INTRODUÇÃO
Já não há razão para duvidar que o livro de Daniel foi escrito pela
pessoa que tem o nome no título. Ezequiel, um dos contemporâneos de
Daniel, testemunha, pelo espírito de profecia, de sua piedade e retidão,
colocando-o ao nível de Noé e Jó: "Ou se eu enviar a peste sobre essa terra
e derramar o Meu furor sobre ela com sangue, para eliminar dela homens
e animais, tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, ainda que Noé,
Daniel e Jó estivessem no meio dela, não salvariam nem a seu filho nem
a sua filha; pela sua justiça salvariam apenas a sua própria vida" (Ezequiel
14:19, 20). Do que diz o mesmo autor se depreende que já nessa época era
proverbial a sabedoria de Daniel. O Senhor lhe ordenou dizer essas
palavras ao rei de Tiro: "Sim, és mais sábio que Daniel, não há segredo
algum que se possa esconder de ti" (Ezequiel 28:3). Mas acima de tudo, o
Senhor Jesus reconheceu Daniel como profeta de Deus, e ordenou que
Seus discípulos entendessem as predições feitas por meio dele para o
benefício de Sua igreja: "Quando, pois, virdes o abominável da desolação
de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê, entenda), então, os
que estiverem na Judéia fujam para os montes" (Mateus 24:15, 16).
Muito embora tenhamos um relato mais detalhado da primeira parte
da vida de Daniel do que o registro de qualquer outro profeta, seu
nascimento e sua linhagem são completamente deixados em obscuridade; e
só sabemos que ele era da linhagem real, provavelmente da casa de Davi,
que nesse tempo se tornara muito numerosa. Daniel se apresenta a
princípio de seu livro como um dos nobres cativos de Judá, levados a
Babilônia no início dos setenta anos do cativeiro, em 606 a. C. Ezequiel
começou seu ministério pouco depois e, um pouco mais tarde, Obadias;
mas todos estes concluíram sua obra anos antes da conclusão da longa e
brilhante carreira de Daniel. Apenas três profetas o sucederam: Ageu e
Zacarias, que exerceram o ofício profético contemporaneamente, por um
breve período, de 520-518 a. C., e Malaquias, o último dos profetas do
Antigo Testamento, que floresceu brevemente, por volta de 397 a.C.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 6
Durante os setenta anos de cativeiro dos judeus, de 606 a 536 a. C.,
predito por Jeremias (Jeremias 25:11), Daniel residiu na corte de
Babilônia, na maior parte do tempo como primeiro-ministro daquela
monarquia. Sua vida nos oferece a mais impressionante lição da
importância e vantagem de manter, logo desde o início da juventude,
estrita integridade para com Deus, e fornece notável exemplo de um
homem que manteve elevada piedade e cumpriu fielmente todos os
deveres pertinentes ao serviço de Deus, ocupando-se ao mesmo tempo nas
mais agitadas atividades, e desempenhando-se nos mais pesados encargos
e responsabilidades que possam cair sobre os homens nesta vida terrena.
Que repreensão sua conduta contém para muitos nos dias atuais, que
não têm, como Daniel, um centésimo dos encargos a lhes absorver o tempo
e ocupar a atenção, e entretanto procuram desculpar sua total negligência
dos deveres cristãos, com a declaração de não terem tempo para cumpri-
los! Que dirá a tais pessoas o Deus de Daniel, quando Ele vier
recompensar Seus servos imparcialmente, de acordo com o
aproveitamento ou negligência, por parte deles, das oportunidades que
lhes foram oferecidas?
Mas o que perpetua a lembrança de Daniel e honra o seu nome, não
é nem principalmente sua ligação com a monarquia caldaica. Do alto de
sua glória ele viu aquele reino declinar e passar a outras mãos. Tão breve
foi a supremacia de Babilônia e transitória sua glória, que o período de
maior prosperidade do reino esteve compreendido nos limites do tempo
de vida de um homem. Mas a Daniel foram conferidas mais duradouras
honrarias. Embora amado e honrado pelos príncipes e potentados de
Babilônia, desfrutou exaltação infinitamente mais elevada ao ser amado e
honrado por Deus e Seus santos anjos ao ser admitido a conhecer os
conselhos do Altíssimo.
Sua profecia é, em muitos aspectos, a mais notável de todas as
profecias contida no Livro Sagrado. É a mais abrangente. Foi a primeira
profecia a dar uma história em seqüência do mundo desde aquela época
até o fim. Situou a maior parte de suas predições dentro de períodos
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 7
proféticos bem definidos, embora atingindo muitos séculos no futuro.
Daniel ofereceu a primeira profecia cronológica definida da vinda do
Messias. Tão precisamente assinalou a data desse evento, que os judeus
chegaram a proibir qualquer tentativa de interpretar-lhe os números, pois
essa profecia lhes deixa sem escusas ao rejeitarem a Cristo. De fato, as
minuciosas e literais predições de Daniel se haviam cumprido com tanta
exatidão até a época de Porfírio, 250 d. C., que este filósofo declarou que
as predições não foram escritas na época de Babilônia, mas após o
transcurso dos acontecimentos. Esta foi a única saída que pôde conceber
para seu precipitado ceticismo. Porém este evasiva já não é possível;
porque cada século sucessivo tem trazido mais evidência de veracidade da
profecia, e exatamente agora, estamos nos aproximando do clímax de seu
cumprimento.
A história pessoal de Daniel nos leva a uma data alguns anos
posterior à derrocada do reino de Babilônia pelos medos e persas. Supõe-
se que Daniel tenha morrido em Susã, capital da Pérsia, por volta do ano
530 a. C., na idade aproximada de noventa e quatro anos; e sua idade foi
provavelmente a razão de ele não ter voltado a Jerusalém com outros
cativos hebreus, na proclamação de Ciro (Esdras 1:1), em 536 a. C., que
marcou o fim do cativeiro de setenta anos.
*
O amo 606 a.C. é a data apoiada por Ussher, Hales e outros autores de cronologias, mas as pesquisas
mais recentes dos arqueólogos favorecem a data 605 a.C. Esta data, aparentemente mais exata, não
afeta absolutamente o cômputo dos períodos proféticos apresentados pelo autor, porque se deve
lembrar que os judeus e outros povos antigos levavam em conta o primeiro e o último ano de um
período. – Comissão revisora.
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caldeus. Estes mataram os filhos do rei em sua presença, lhe arrancaram
os olhos, e ele foi levado para Babilônia. Assim se cumpriu a predição de
Ezequiel, a saber, que ele seria levado a Babilônia e ali morreria, mesmo
sem ver o lugar. (Ezequiel 12:13.) Nessa ocasião a cidade e o templo
foram completamente destruídos, e toda a população da cidade, com
exceção de alguns lavradores, foi levada cativa para Babilônia, em 586 A.
C.
Foi assim como Deus testemunhou contra o pecado, não porque
favorecesse os caldeus, mas Deus os utilizou para castigar as iniqüidades
do Seu povo. Se os israelitas tivessem sido fiéis a Deus e guardado Seu
sábado, Jerusalém teria permanecido para sempre. (Jeremias 17:2427.)
Mas se afastaram dEle, e Ele os abandonou. Profanaram os vasos
sagrados, introduzindo ídolos no templo; e portanto, Deus permitiu que
esses vasos fossem profanados da pior maneira e os deixou ir como troféus
ao templos pagãos no estrangeiro.
Cativos hebreus em Babilônia. Durante esses dias de angústia e
aflição sobre Jerusalém, Daniel e seus companheiros foram alimentados e
instruídos no palácio do rei de Babilônia. Embora fossem cativos em terra
estranha, estavam, sob certos aspectos, sem dúvida em melhor situação do
que se tivessem ficado em seus país natal.
Versículos 3-5: "Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que
trouxesse alguns dos filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres,
jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a
sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento e que fossem
competentes para assistirem no palácio do rei e lhes ensinasse a cultura e a
língua dos caldeus. Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas iguarias da
mesa real e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três
anos, ao cabo dos quais assistiriam diante do rei."
1
Veja Adão Clarke, "Commentary on the Old Testament", Vol. 4, págs. 564, 567, notas sobre Dan.
1:1; 2:1; Tomas Newton, "Dissertations on the Prophecies", Vol. 1, pág, 231; Alberto Barnes, "Notes
on Daniel", págs. 111, 112, comentário sobre Daniel 2:1.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 16
aqui mencionados eram uma seita de filósofos semelhantes aos magos e
astrólogos que se dedicavam ao estudo de ciências naturais e
adivinhações. Todas essas seitas ou profissões infestavam Babilônia. O
fim que cada uma buscava era o mesmo: explicar os mistérios e predizer
acontecimentos, sendo a principal diferença entre elas os meios pelos
quais procuravam alcançar seu objetivo. A dificuldade do rei situava-se
por igual na esfera de explicação de cada uma dessas profissões; por isso
ele convocou a todas. Para o rei era uma questão importante. Estava muito
perturbado, e por isso concentrou toda a sabedoria do seu reino na solução
de sua perplexidade.
Versículo 24 – Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha
constituído para exterminar os sábios de Babilônia; entrou, e lhe disse: Não
mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e revelarei ao
rei a interpretação.
Versículos 31-35 – Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande
estátua; esta, que era imensa e de extraordinário esplendor, estava em pé
diante de ti; e a sua aparência era terrível. A cabeça era de fino ouro, o peito
e os braços, de prata, o ventre e os quadris, de bronze; as pernas, de ferro,
os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro. Quando estavas olhando, uma
pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de
barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o
bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio,
e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra que feriu
a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra.
3
Idem, pág. 217.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 27
ilimitados, esta cidade, encerrando tantas coisas que eram maravilha do
mundo, era ela mesma outra maravilha mais prodigiosa. Ali, com o mundo
inteiro prostrado a seus pés, como rainha de grandeza sem par, que recebeu
da própria pena inspirada este brilhante título: "a jóia dos reinos, glória e
orgulho dos caldeus", destacava-se esta capital condizente com o reino
representado pela cabeça de ouro dessa grande imagem histórica.
Tal era Babilônia, com Nabucodonosor na flor da idade, audaz,
vigoroso e realizado, sentado em seu trono, quando Daniel entrou por suas
portas para servir como cativo durante setenta anos em seus luxuosos
palácios. Ali os filhos do Senhor, oprimidos mais que alentados pela glória
e prosperidade de sua terra de cativeiro, penduravam suas harpas nos
salgueiros às margens do Eufrates, e choravam ao se lembrarem de Sião.
Ali começa o estado cativo da igreja num sentido mais amplo, pois
desde aquele tempo o povo de Deus tem estado submetido a potências
terrenas e por elas oprimido em maior ou menor medida. Assim continuará
até que todas as potências terrenas cedam finalmente Àquele que possui o
direito de reinar. E eis que rapidamente se apressa esse dia de libertação.
Em outra cidade, não só Daniel, mas todos os filhos de Deus, desde
o menor até o maior, do mais humilde ao mais elevado, vão logo entrar. É
uma cidade que não tem apenas 96 quilômetros de perímetro, mas 2.400;
cidade cujos muros não são de tijolos e betume, mas de pedras preciosas
e jaspe; cujas ruas não são pavimentadas com pedras como as de
Babilônia, por belas e lisas que fossem, mas com ouro transparente; cujo
rio não é o Eufrates, mas o rio da vida; cuja música não são os suspiros e
lamentos de quebrantados cativos, mas emocionantes cantos de vitória
sobre a morte e a sepultura, que multidões de remidos entoarão; cuja luz
não é a intermitente luz da Terra, mas a incessante e inefável glória de
Deus e do Cordeiro. Eles chegarão à cidade não como cativos que entram
num país estranho, mas como exilados que retornam à casa paterna; não
como a um lugar onde lhes venham a abater o ânimo palavras não cordiais
como "cativeiro", "servidão", e "opressão", mas onde as doces palavras
"lar", "liberdade", "paz", "pureza", "dita inefável" e "vida eterna" lhes
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deleitarão a alma para todo o sempre. Sim, nossa boca se encherá de riso
e nossa língua de cântico, quando o Senhor restaurar a sorte de Sião
(Salmos 126:1, 2; Apocalipse 21:1-27).
4
Jorge Rawlinson, The Seven Great Monarchies of the Ancient Eastern World, vol. 2, pág. 610. Nota 202.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 29
encerrados entre suas muralhas inexpugnáveis, com provisões para vinte
anos e terra suficiente dentro dos 1imites de sua ampla cidade para
fornecer alimentos seus habitantes e à guarnição por um período
indefinido. De suas altas muralhas zombavam de Ciro e ridicularizavam
seus esforços aparentemente inúteis para sujeitá-los. E segundo todo
cálculo humano, tinham bons motivos para se sentirem seguros. De acordo
com as probabilidades terrenas, a cidade nunca poderia ser tomada pelos
meios de guerra então conhecidos. Por isso dormiam tão livremente como
se nenhum inimigo lhes estivesse procurando destruir, espreitando ao
redor de suas muralhas sitiadas. Contudo, Deus decretara que a orgulhosa
e ímpia cidade desceria de seu trono de glória. E quando Ele fala, que
braço mortal pode derrotar Sua palavra?
O perigo dos babilônios se baseava em seu próprio sentimento de
segurança. Ciro resolveu realizar por estratagema o que não podia
executar pela força. Ao saber que se aproximava uma festa anual em que
a cidade inteira se entregaria às diversões e orgia, fixou esse dia como a
data para executar seu propósito.
Não havia meio de Ciro entrar naquela cidade a menos que o achasse
onde o rio Eufrates entrava e saía por baixo de suas muralhas. Resolveu
fazer do leito do rio seu caminho para a fortaleza do inimigo. Para isso, a
água tinha que ser desviada de seu leito que atravessava a cidade. De modo
que, na véspera do dia festivo acima referido, destacou três grupos de
soldados: o primeiro que numa determinada hora desviasse o rio para um
lago artificial situado a curta distância acima da cidade; o segundo, para
tomar posição no lugar onde o rio entrava na cidade; o terceiro, para
colocar-se 24 quilômetros abaixo, onde o rio saía da cidade. Estes dois
últimos grupos foram instruídos a entrar no leito do rio assim que o
pudessem vadear. Nas trevas da noite explorariam seu caminho sob as
muralhas e avançariam até o palácio real, onde deviam surpreender e
matar os guardas e capturar ou matar o rei. Tendo sido desviada a água
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 30
para o lago, o rio logo se tornou possível de vadear e os soldados seguiram
seu leito até o coração da cidade de Babilônia.5
Tudo isso, porém, teria sido em vão, se a cidade toda, naquela noite
fatídica, não se houvesse entregado à negligência, imprudência e
presunção, estado de coisas com que Ciro muito contava para a realização
de seu propósito. Em cada lado do rio a cidade era atravessada por
muralhas de grande altura e de espessura igual à dos muros exteriores.
Nessas muralhas havia enormes portas de bronze que, quando fechadas e
guardadas, impediam a entrada desde o leito do rio até qualquer das ruas
que atravessavam o rio. Se as portas estivessem fechadas nessa ocasião,
os soldados de Ciro poderiam ter penetrado na cidade pelo leito do rio e
por ele novamente saído, sem conseguirem subjugar a praça de guerra.
Mas na orgia e bebedeira daquela noite fatídica, as portas que davam
para o rio foram deixadas abertas, como fora predito, muito anos antes,
pelo profeta Isaías: "Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem
tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para
descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se
fecharão" (Isaías 45:1). A entrada dos soldados persas não foi percebida.
Muitos rostos haveriam empalidecido de terror, caso se houvesse notado
o repentino baixar das águas do rio e se houvesse compreendido o terrível
significado desse fato. Muitas línguas teriam propagado vibrante alarma
pela cidade se tivessem sido vistas as sombras dos inimigos armados
penetrar furtivamente na cidadela que os babilônios supunham segura.
Mas ninguém notou o súbito baixar das águas do rio; ninguém viu a
entrada dos guerreiros persas. Ninguém teve o cuidado de que as portas
que davam para o rio fossem fechadas e guardadas; ninguém tinha outra
preocupação senão de saber quão profunda e irresponsavelmente poderia
mergulhar na desenfreada orgia. Aquela noitada de dissipação custou aos
babilônios o reino e a liberdade. Entraram em sua embrutecedora
5
Ver Heródoto, págs. 67-71; Jorge Rawlinson, The Seven Great Monarchies of the Ancient World, vol.
2, págs. 254-259; Humphrey Prideaux, The Old and the New Testament C0nnected in the History of
the Jews, vol. 1, págs. 136,137.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 31
bebedeira como súditos do rei de Babilônia; dela despertaram como
escravos do rei da Pérsia.
Os soldados de Ciro fizeram saber sua presença na cidade caindo
sobre a guarda real no vestíbulo do palácio do rei. Belsazar logo percebeu
a causa do distúrbio, e morreu pelejando. Este festim de Belsazar é
descrito no quinto capítulo de Daniel, e o relato é encerrado com as
simples palavras: "Naquela mesma noite foi morto Belsazar, rei dos
caldeus. E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou
do reino."
O historiador Prideaux diz: "Dario, o medo, isto é, Ciáxares, o tio de
Ciro, tomou o reino porque Ciro lhe outorgou o título de todas as suas
conquistas enquanto viveu."6
Assim o primeiro império, simbolizado pela cabeça de ouro da
grande estátua, acabou melancolicamente. Seria natural supor-se que o
conquistador, ao tomar posse de uma cidade tão nobre como Babilônia,
que suplantava quanto houvesse no mundo, a tivesse escolhido para sede
do seu império e a houvesse conservado em seu esplendor. Mas Deus
havia dito que aquela cidade viria a ser um montão de ruínas e habitação
das feras do deserto; que suas casas se encheriam de corujas; que as hienas
uivariam nos seus castelos, e os chacais nos seus palácios luxuosos. (Isaías
13:19-22). Primeiro ficaria deserta. Ciro mudou a sede imperial para Susã,
célebre cidade da província de Elão, a leste de Babilônia, às margens do
rio Choaspes, afluente do Tigre. Isso aconteceu provavelmente no
primeiro ano em que Ciro reinou só.
Com o orgulho particularmente ferido por esse ato, os babilônios se
rebelaram no quinto ano de Dario Histaspes, em 517 a. C., e contra si
novamente atraíram todas as forças do império persa. Novamente a cidade
foi tomada por estratagema. Zópiro, um dos principais comandantes de
Dario, tendo cortado o próprio nariz e as orelhas e produzido vergões em
6
Humphrey Prideaux, The Old and the New Testament Connected in the History of the Jews, vol 1, pág.
137.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 32
todo o corpo com chicotadas, em tais condições debandou-se para os
sitiados aparentemente abrasado por desejo de ser vingado em Dario, por
sua grande crueldade de o mutilar dessa maneira. Conquistou assim a
confiança dos babilônios até que estes o tornaram comandante-chefe de
suas forças, e com isso ele entregou nas mãos de seu senhor a cidade. E
para impedi-los de uma vez por todas de se rebelarem, Dario empalou três
mil dos que tinham sido mais ativos na revolta, tirou as portas de bronze
e rebaixou as muralhas de duzentos para cinqüenta côvados. Foi o
princípio da destruição da cidade. Este ato a deixou exposta às pilhagens
de todos os bandos hostis. Xerxes, ao voltar da Grécia, despojou o templo
de Belo de sua imensa riqueza e deixou em ruínas a soberba estrutura.
Alexandre o Grande procurou reconstruí-la, mas depois de empregar dez
mil homens durante dois meses para remover o entulho, morreu de
excessiva embriaguez, e o trabalho foi suspenso. No ano 294 a. C.,
Seleuco Nicátor construiu uma nova Babilônia nas proximidades da
cidade velha e tomou muito material e muitos habitantes da velha cidade
para edificar e povoar a nova. Ficando assim quase esvaziada de
habitantes, a negligência e a decadência se fizeram sentir terrivelmente na
antiga cidade. Sua ruína foi apressada pela violência dos príncipes partos.
Por volta do quarto século, foi usada pelos reis persas como recinto de
feras. No fim do século XII, segundo um célebre viajante, as poucas ruínas
que restavam do palácio de Nabucodonosor estavam tão cheias de
serpentes e répteis venenosos que não podiam, sem grande perigo, ser
detidamente examinadas. Hoje apenas restam ruínas suficientes para
assinalar o lugar onde uma vez esteve a maior, mais rica e mais orgulhosa
cidade do mundo antigo.
Assim as ruínas da grande Babilônia nos mostram com que exatidão
Deus cumpre Sua palavra e tornam as dúvidas do ceticismo indícios de
cegueira voluntária.
"Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu." O emprego da
palavra "reino" aqui, demonstra que as diferentes partes da imagem
representavam reinos e não reis em particular. Portanto, quando foi dito a
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 33
Nabucodonosor: "Tu és a cabeça de ouro", embora se tenha empregado o
pronome pessoal, o designado era o reino e não o rei.
O reino Medo-Persa. O reino sucessor de Babilônia, isto é Medo-
Pérsia, correspondia ao peito e aos braços de prata da grande estátua. Seria
inferior ao reino precedente. Em que aspecto? Não em poder, pois ele
conquistou Babilônia. Não em extensão, pois Ciro subjugou todo o
Oriente, do mar Egeu ao rio Indo, e assim erigiu um império mais extenso.
Mas foi inferior em riqueza, luxo e magnificência.
Do ponto de vista bíblico o principal acontecimento durante o
Império Babilônico foi o cativeiro dos filhos de Israel. Sob o Império
Medo-Persa, o principal acontecimento foi a restauração de Israel a sua
terra. Após tomar Babilônia, Ciro, como ato de cortesia, destinou o
primeiro posto no reino a seu tio Dario, em 538 a.C. Mas dois anos depois,
em 536 a.C., Dario morreu, deixando Ciro como único monarca do
império. Nesse ano, que encerrou os setenta anos do cativeiro de Israel,
Ciro baixou seu famoso decreto para o regresso dos judeus e a reedificação
do seu templo. Foi esta a primeira parte do grande decreto para a
restauração e reconstrução de Jerusalém (Esdras 6:14), que se completou
no sétimo ano do reinado de Artaxerxes, em 457 a. C., data que tem grande
importância como será demonstrado mais tarde.
Depois de reinar sete anos, Ciro deixou o reino a seu filho Cambises,
que reinou sete anos e cinco meses, até 522 a.C. Oito monarcas, cujos
reinados variaram de sete meses a quarenta e seis anos cada um, ocuparam
o trono até ano 336 a. C. O ano 335 a. C, é assinalado como o primeiro
ano de Dario Codomano, o último dos antigos reis persas. Este, segundo
Prideaux, era de nobre estatura, de boa presença, de maior valor pessoal,
e de disposição branda e generosa. Teve a má sorte, porém, ter de
contender com um homem que agia em cumprimento da profecia e não
possuir qualidades naturais ou adquiridas que lhe pudessem dar êxito
nessa contenda desigual. Tão logo se instalou no trono, viu-se diante de
seu temível inimigo Alexandre que, à frente dos soldados gregos, se
preparava para o derribar.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 34
O estudo da causa e dos pormenores da contenda entre os gregos e
os persas, deixaremos às histórias especialmente dedicadas a tais assuntos.
Basta dizer que o ponto decisivo foi alcançado no campo de Arbelas, em
331 a. C., onde os gregos, embora tendo de pelejar com os persas na
proporção de um contra vinte, venceram decisivamente. Daí em diante
Alexandre se tornou senhor absoluto do império persa, em extensão jamais
atingida por nenhum de seus próprios reis.
O Império Grego. "E um terceiro reino, de bronze, ... terá domínio
sobre toda a Terra", havia dito o profeta. Tão poucas e breves palavras
inspiradas envolviam em seu cumprimento uma sucessão no governo
mundial. No sempre mutável caleidoscópio político, a Grécia entrou no
campo da visão para ser durante algum tempo o objeto que absorvia toda
a atenção como o terceiro dos chamados impérios universais.
Após a batalha que decidiu a sorte do império, Dario ainda procurou
reagrupar os derrotados remanescentes de seu exército e defender seu
reino e seus direitos. Mas de toda a sua hoste, que pouco antes era um
exército bem organizado e tão numeroso, não pôde reunir uma força com
a qual achasse prudente arriscar outro encontro com os gregos vitoriosos.
Alexandre o perseguiu nas asas do vento. Repetidas vezes Dario a duras
penas esquivou-se de seu veloz perseguidor. Finalmente três traidores,
Besso, Nabarzanes e Barsaentes, tomaram o infeliz príncipe, o encerraram
num carro e fugiram com ele como prisioneiro para Báctria. Seu propósito
era comprar sua própria segurança com a entrega de seu rei se Alexandre
os perseguisse. Ao saber da perigosa situação de Dario nas mãos dos
traidores, Alexandre imediatamente se pôs à frente da parte mais rápida
do seu exército, na perseguição em marcha forçada. Após vários dias de
marcha apressada, alcançou os traidores. Estes instaram Dario a montar a
cavalo para fugir mais rapidamente. Recusando-se Dario, infligiram-lhe
várias feridas mortais, e, deixando-o moribundo em seu carro, subiram em
seus corcéis e fugiram.
Quando Alexandre chegou, só pôde contemplar a forma inerte do rei
persa que, poucos meses antes, sentava-se no trono do império universal.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 35
Desastre, queda e deserção tinham sobrevindo subitamente a Dario. Seu
reino fora conquistado, seus tesouros tomados e sua família reduzida ao
cativeiro. Agora, brutalmente morto por mãos traidoras, jazia seu cadáver
ensangüentado num carro tosco. A vista do melancólico espetáculo
arrancou lágrimas do próprio Alexandre, embora ele já estivesse
familiarizado com todas as horríveis vicissitudes e cenas sangrentas da
guerra. Lançando seu manto sobre o corpo, mandou que o levassem às
senhoras da família real persa cativas em Susã, fornecendo ele próprio os
meios necessários para um régio funeral.
Quando morreu Dario, Alexandre viu o campo livre do seu último
terrível inimigo. Daí em diante podia empregar seu tempo como quisesse,
ora desfrutando descanso e prazer, ora prosseguindo em alguma conquista
menor. Empreendeu imponente campanha contra a Índia, porque, segundo
a fábula grega, Baco e Hércules, filhos de Júpiter, de quem também ele
alegava ser filho, tinham feito o mesmo. Com desdenhosa arrogância,
reclamou para si honras divinas. Sem provocação alguma, entregou
cidades conquistadas à mercê de sua soldadesca sanguissedenta e
licenciosa. Ele mesmo, com freqüência assassinava seus amigos favoritos
no frenesi de suas bebedeiras. De tal maneira estimulava os excessos
alcoólicos entre seus adeptos que certa ocasião vinte deles morreram
vítimas da embriaguez.
Finalmente, depois de se ter sentado por muito tempo a beber, foi
imediatamente convidado para outra orgia, na qual, após beber em honra
de cada um dos vinte hóspedes presentes, diz-nos a história que, por
incrível que pareça, bebeu duas vezes o conteúdo da taça de Hércules, que
comportava mais de cinco litros. Foi acometido de violenta febre, de que
morreu onze dias depois, em 13 de junho de 323 a. C., ainda no umbral da
maturidade, com apenas 32 anos.
Versículo 40 – O quarto reino será forte como ferro; pois, o ferro a tudo
quebra e esmiúça, como o ferro quebra todas as cousas, assim ele fará em
pedaços e esmiuçará.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 36
7
Tomas Newton, Dissertations on the Prophecies, vol. 1, pág. 240.
8
Edward Gibbon, The Decline and Fall of the Roman Empire, vol. 3, observações gerais que seguem o
capítulo 38, pág. 614. A obra de Gibbon aparece em muitas edições além da usada na preparação deste
livro. Para o estudante que possui uma edição diferente, foi incluído o capítulo com todas as
referências para facilitar a busca das citações.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 37
sul da Alemanha, a Hungria, a Turquia e a Grécia, sem falar de suas
possessões da Ásia e da África. Bem pode, portanto, Gibson dizer:
"O império dos romanos encheu o mundo. E quando esse império caiu
nas mãos de uma única pessoa, o mundo tornou-se uma prisão segura e
lúgubre para seus inimigos. ... Resistir era fatal, e era impossível fugir." 9
Nota-se que a princípio o reino é descrito irrestritamente forte como
o ferro. Este foi o período de sua força, durante o qual foi comparado a
um poderoso colosso que cava1gava sobre as nações, a tudo vencia e dava
leis no mundo. Mas isso não havia de continuar.
Versículos 41, 42 – Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte
de barro de oleiro e em parte de ferro, será isso um reino dividido; contudo
haverá nele alguma cousa da firmeza de ferro, pois que viste o ferro misturado
com barro de lodo. Como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte
de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil.
9
Idem, vol. 1, págs. 99,100.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 38
A imagem do capítulo 2 de Daniel tem seu paralelo exatamente na
visão dos quatro animais do capítulo 7. O quarto animal do capítulo 7
representa o mesmo que as pernas de ferro da imagem. Os dez chifres do
animal correspondem naturalmente aos dez dedos dos pés da imagem.
Declara-se plenamente serem esses chifres dez reis que surgiriam. São
reinos independentes como aqueles mesmos animais, pois deles se fala de
maneira exatamente igual, como de "quatro reis que se levantarão" (Dan.
7:17). Não representam uma série de reis, mas reis ou reinos que existiram
contemporaneamente, pois três deles foram arrancados pela ponta
pequena. Os dez chifres representam, indiscutivelmente, os dez reinos em
que Roma foi dividida.
Vimos que Daniel, na interpretação da imagem, emprega "rei" e
"reino" de forma intercambiável. No versículo 44 ele diz que "nos dias
destes reis, o Deus do céu suscitará um reino." Isto demonstra que no
momento em que se estabelecer o reino de Deus, haverá pluralidade de
reis. Não pode referir-se aos quatro reinos anteriores, pois seria absurdo
empregar tal linguagem para uma dinastia de reis sucessivos, visto que
somente nos dias do último rei, e não nos dias de qualquer dos reis
precedentes seria estabelecido o reino de Deus.
Os Dez Reis. Aqui se apresenta, portanto, uma divisão; e que nos indica
isso no símbolo? Somente os dedos dos pés da imagem. A menos que estas
a indiquem, ficaremos às escuras quanto à natureza e extensão da divisão que
a profecia revela. Questionar isso seria pôr seriamente em dúvida a própria
profecia. Somos forçados a concluir que os dez dedos dos pés da imagem
representam as dez partes em que o império romano foi dividido.
Esta divisão ocorreu entre os anos 351 d. C e 476 d. C. Este período
de dissolução abrangeu 125 anos, desde a metade do quarto século até o
último quarto do quinto. Nenhum historiador, pelo que sabemos, situa esta
obra de desmembramento do império romano antes de 351 d. C., e há
acordo geral quanto a situar o ano 476 d. C. como o final do processo.
Quanto às datas intermediárias, ou seja, a data precisa em que cada um
dos dez reinos surgiu das ruínas do império romano, há certa diferença de
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 39
opinião entre os historiadores. E isso não é de estranhar quando
consideramos que essa foi uma época de grande confusão, que o mapa do
império romano durante esse tempo sofreu muitas mudanças súbitas e
violentas, e que os caminhos de nações hostis que atacavam seu território
se entrecruzavam em confuso labirinto. Mas todos os historiadores
concordam que do território de Roma Ocidental dez reinos separados
finalmente se fundaram, e podemos situá-los entre as datas extremas, a
saber, 351 d. C e 476 d. C.
As dez nações que mais atuaram na fragmentação do império
romano, e que em alguma fase de sua história ocuparam as respectivas
partes da território romano como reinos separados e independentes,
podem ser enumeradas (não se considerando a época de sua fundação),
como segue: hunos, ostrogodos, visigodos, francos, vândalos, suevos,
burgúndios, hérulos, anglo-saxões e lombardos.* A relação existente entre
esses povos e algumas das nações modernas da Europa podem ser vista
nos nomes com Inglaterra, Borgonha, Lombardia, França, etc.
Mas pode alguém perguntar: Por que não supor que as duas pernas
denotam divisão tanto como os dedos dos pés? Não seria tão incoerente
dizer que os dedos dos pés denotam divisão, e não as pernas, como dizer
que as pernas denotam divisão, e os dedos dos pés não? Respondemos que
a própria profecia deve reger nossas conclusões nesta matéria; e embora
nada diga sobre divisão em relação às pernas, introduz o tema da divisão
quando chegamos aos pés e seus dedos. Diz a profecia: "Quanto ao que
viste dos pés e seus dedos, em parte de barro de oleiro e em parte de ferro,
será isso um reino dividido." Nenhuma divisão podia ocorrer, ou pelo
menos nenhuma se diz ter ocorrido, até se apresentar o elemento
enfraquecedor que é o barro; e isso não encontramos antes de chegarmos
aos pés e seus dedos. Mas não devemos entender que o barro denote uma
divisão e o ferro a outra; porque depois de se quebrantar a unidade do reino
*
O autor, em harmonia com sete comentadores principais, inclui os hunos como um dos dez reinos.
Outros, porém, com fundamentos históricos, colocam os alamanes em lugar dos hunos.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 40
que por longo tempo existia, nenhum dos fragmentos foi tão forte como o
ferro original, mas todos ficam num estado de fraqueza denotado pela
mistura de ferro e barro.
Portanto, a conclusão inevitável é que o profeta apresentou aqui a
causa do efeito. A introdução da fragilidade do elemento barro, quando
chegamos aos pés, resultou na divisão do reino em dez partes,
representada pelos dez dedos dos pés; e este resultado ou divisão é mais
do que indicado na repentina menção de uma pluralidade de reis
contemporâneos. Portanto, ao passo que não encontramos provas de que
as pernas signifiquem divisão, mas sim objeções graves contra essa
opinião, achamos bons motivos para admitir que os artelhos denotam
divisão, como aqui se afirma.
Além disso, cada uma das quatro monarquias tinha seu território
particular, que era o do próprio reino, e ali devemos procurar os principais
eventos de sua história que o símbolo anunciava. Não devemos, pois,
buscar as divisões do império romano no território antes ocupado por
Babilônia, Pérsia ou Grécia, mas no território do reino romano, que
finalmente se conheceu como o Império Ocidental. Roma conquistou o
mundo, mas o reino de Roma propriamente dito ficava a Oeste da Grécia.
Este reino é o representado pelas pernas de ferro. Portanto, ali buscamos
os dez reinos e ali os encontramos. Não estamos obrigados a mutilar ou
deformar o símbolo para que represente com exatidão os acontecimentos
históricos.
10
William Newton, Lectures on the First Two Visions of the Book of Daniel, págs. 34-36.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 43
Em meio à confusão, o naufrágio das nações, a destruição das
instituições, o sacrifício dos tesouros resultantes de séculos de frugalidade,
através de olhos marejados pelo pesar que lhes ocasionaram a perda da
flor de sua juventude, o envelhecimento de suas mulheres, a matança de
seus filhos e anciãos, através das nuvens que se erguiam sobre o sangue
humano, um mundo angustiado busca ansiosamente indícios de que
poderá sobreviver. Será que a ilusão da paz baseada na confiança de uma
solidariedade européia, resultado das boas intenções irracionais, teria
levado os homens a esquecer a declaração da Palavra de Deus: "Não se
ligarão um ao outro!"?
Podem realizar-se alianças, e pode parecer que o ferro e o barro dos
pés e dos dedos da grande estátua vão finalmente fundir-se, mas Deus
disse: "Não se ligarão." Pode parecer que desapareceram as velhas
animosidades e que os "dez reinos" seguiram o caminho de toda a terra,
mas, "a Escritura não pode falhar" (João 10:35).
Concluiremos com as palavras de William Newton: "E, contudo, se
em resultado destas alianças ou de outras causas esse número é por vezes
alterado, isso não nos deve surpreender. Na verdade, é justamente o que a
profecia parece exigir. O ferro não se misturava com o barro. Por certo
tempo não se podia distingui-los na estátua. Mas não permaneceriam
assim. 'Não se ligarão um ao outro'. Por um lado, natureza das substâncias
as impede de fazê-lo; por outro, a palavra profética impede. Contudo,
haveria tentativa de misturá-los; até houve aparência de mistura em ambos
os casos. Mas seria infrutífera. E com que assinalada ênfase a história
afirma esta declaração da Palavra de Deus!" 11
Versículos 44, 45 – Mas nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará
um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo:
esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para
sempre. Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sela auxílio de
mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande
11
Idem, pág. 36.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 44
Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel a
sua interpretação.
12
Hipólito, "Tratado Sobre Cristo e o Anticristo", Ante-Nicene Fathers, vol. 5, pág. 210, par. 28.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 46
já passaste ao descanso? Quem te instruiu para anunciar estas coisas, senão
Aquele que te formou no seio de tua mãe? É Deus, dizes. Falaste a verdade,
e não falsamente. O leopardo se levantou; veio o bode; feriu o carneiro;
quebrou seus chifres e o pisou aos pés. Exaltou-se por sua queda; os quatro
chifres brotaram sob o primeiro. Alegre-se, bem-aventurado Daniel, não
estiveste em erro; todas estas coisas aconteceram.
"Depois disso também me falaste do animal terrível e espantoso, 'o qual
tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos
pés o que sobejava'. Já reina o ferro; já subjuga e esmiúça tudo; já põe em
sujeição os rebeldes; nós mesmos já vemos estas coisas. Agora glorificamos
a Deus pelo fato de sermos instruídos por ti." 13
A parte da profecia que se cumprira naquele tempo era clara para os
cristãos primitivos. Viam também que surgiriam dez reinos do Império
Romano, e que o Anticristo apareceria entre eles. Aguardavam com
esperança a grande consumação, o momento em que a segunda vinda de
Cristo acabaria com todos os reinos terrestres, e se estabeleceria o reino
de justiça.
O reino vindouro! Este deve ser o tema dominante na geração atual.
Você está pronto para o reino? O que nele entrar não ficará para
simplesmente viver por um período como as pessoas no estado atual; não
para vê-lo degenerar, nem ser derribado por outro reino mais poderoso que
o suceda. Entrará para participar de todos os seus privilégios e bênçãos e
compartilhar suas glórias para sempre, pois este reino "não passará a outro
povo".
Voltamos a perguntar: Estão preparados? As condições para herdá-
lo são muito liberais: "E, se sois de Cristo, também sois descendentes de
Abraão, e herdeiros segundo a promessa." Gálatas 3:29. Vocês são amigos
de Cristo, o Rei vindouro? Apreciam Seu caráter? Estão procurando andar
humildemente em Suas pisadas e obedecer aos Seus ensinos? Em caso
contrário, leiam seu destino nos casos das pessoas da parábola, acerca das
quais se diz: "Quanto, porém, a esses Meus inimigos, que não quiseram
que Eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na Minha
13
Idem, par. 32, 33.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 47
presença." Lucas 19:27. Não haverá reino rival onde vocês possam achar
asilo se continuam inimigo deste, pois o reino de Deus há de ocupar todo
o território que todos os reinos deste mundo, passados ou presentes, já
tenham possuído. Encherá toda a Terra. Felizes aqueles a quem o legítimo
Soberano, Rei totalmente vencedor, possa dizer afinal: "Vinde, benditos
de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo." Mateus 25:34.
O ALTÍSSIMO REINA
Daniel 4
Versículos 1-3 – O rei Nabucodonosor a todos os povos, nações e
homens de todas as línguas, que habitam em toda a terra. Paz vos seja
multiplicada! Pareceu-me bem fazer conhecidos os sinais e maravilhas que
Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo. Quão grandes são os sinais, e quão
poderosas as Suas maravilhas. O Seu reino é reino sempiterno, e o Seu
domínio de geração em geração.
1
Adão Clarke, Commentary on the Old Testament, vol. 4, pág. 582, nota sobre Daniel 4:1.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 56
Devíamos igualmente estar dispostos a contar o que Deus tem feito por
nós tanto na humilhação como no castigo, Nabucodonosor nos deu um
bom exemplo a esse respeito, como veremos nas partes subseqüentes deste
capítulo. Confessa francamente a vaidade e o orgulho de seu coração e
fala abertamente dos meios que Deus empregou para humilhá-lo. Com
sincero espírito de arrependimento e humilhação achou por bem revelar
estas coisas a fim de que a soberania de Deus fosse exaltada e Seu nome
adorado. Nabucodonosor já não pede imutabilidade para o seu próprio
reino, mas se entrega plenamente a Deus, reconhecendo que só o Seu reino
é eterno e Seu domínio de geração em geração.
2
Ver Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, livro 10, cap. 10, seção 6.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 59
e eles devem humildemente colocar-se na dependência dEle. Um homem
pode ser um governante de êxito, mas não se deve orgulhar disso, pois se
o Senhor não o tivesse permitido, ele jamais teria alcançado essa posição
de honra.
Nabucodonosor reconhece a supremacia do verdadeiro Deus sobre
os oráculos pagãos. Solicita a Daniel que resolva o mistério. "Tu podes" –
disse ele "pois há em ti o espírito dos deuses santos."
Conformou se observou ao tratar Daniel 3:25, Nabucodonosor volta
agora à sua maneira habitual de mencionar os deuses no plural, embora a
Septuaginta traduz assim: "O espírito do Deus santo está em ti."
A ESCRITURA NA PAREDE
Daniel 5
Versículo 1 – O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus
grandes, e bebeu vinho na presença dos mil.
Versículos 30, 31 – Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos
caldeus. E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou
do reino.
1
The Cambridge Ancient History, vol. 6, págs. 425,426. Por autorização dos editores dos Estados
Unidos, Macmillan Company.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 82
a Trácia e partes da Ásia que estão no Helesponto e o Bósforo ao norte.
Ptolomeu obteve o Egito, a Lídia, a Arábia e a Palestina ao sul; e Seleuco
recebeu a Síria e o resto dos domínios de Alexandre no oriente. E no ano
301 a.C., com a morte de Antígono, os generais de Alexandre
completaram a divisão do reino em quatro partes2, que indicavam as
quatro cabeças do leopardo.
As palavras do profeta se cumpriram com exatidão. Já que Alexandre
não deixou sucessor disponível, por que o colossal império não se partiu
em pequenos fragmentos? Por que se dividiu apenas em quatro partes?
Simplesmente porque a profecia previu e predisse. O leopardo tinha quatro
cabeças, o bode tinha quatro chifres, o reino havia de ter quatro divisões;
e assim aconteceu. (Ver os comentários mais completos sobre Daniel 8).
2
Idem, págs. 461-504.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 83
ao animal que temos diante de nós! Pelo espanto e terror que inspirava e
por sua grande força, Roma correspondeu admiravelmente à descrição
profética. Nunca dantes o mundo tinha visto coisa igual. Devorava como
com dentes de ferro, e despedaçava tudo o que se lhe opunha. Reduzia ao
pó as nações sob seus pés de bronze. Tinha dez chifres que, segundo se
explica no versículo 24, seriam dez reis, ou reinos, que surgiriam desse
império. Como já se notou nos comentários sobre Daniel 2, Roma foi
dividida em dez reinos. Estas divisões são desde então mencionadas como
as dez divisões do império romano.
Versículos 21, 22 – Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra
os santos e prevalecia contra eles, até que veio o Ancião de Dias e fez justiça
aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 89
DECÁLOGO ORIGINAL
Êxodo 20:1-17, Segundo A Bíblia de Jerusalém
I
Não terás outros deuses diante de mim.
II
Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe
lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas, que estão debaixo da terra.
Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, Yahweh teu
Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a
terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a
milésima geração para aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
III
Não pronunciarás o nome de Yahweh teu Deus, porque Yahweh não deixará
impune aquele que pronunciar em vão o seu nome.
IV
Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias, e
farás toda a tua obra. O sétimo dia, porém, é o sábado de Yahweh teu Deus. Não
farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem
tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro que está em tuas portas. Porque em
seis dias Yahweh fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou
no sétimo dia; por isso Yahweh abençoou o dia de sábado e o santificou.
V
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra
que Yahweh teu Deus, te dá.
VI
Não matarás.
VII
Não cometerás adultério.
VIII
Não roubarás.
XI
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo.
X
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 106
Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a sua mulher, nem o seu
escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma
que pertença a teu próximo.
DECÁLOGO POPULAR
O leitor precisa apenas lembrar que a lei dos dez mandamentos foi
escrita pelo dedo de Deus sobre tábuas de pedra, enquanto que as leis
cerimoniais foram escritas por Moisés em um livro. Ademais, o Decálogo
foi escrito antes que as cerimoniais fossem dadas a Moisés. Creremos que
Deus fosse capaz de misturar um mandamento cerimonial com os nove da
lei moral, e confiar a correção a um corpo eclesiástico arrogante? Na
verdade o motivo pelo qual se devia repousar no sétimo dia era, segundo
é indicado no próprio mandamento, porque o próprio Criador descansou
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 110
nesse dia, e o separou como monumento comemorativo de sua obra
criadora, sem a menor implicação de que pudesse ser “sombra das coisas
vindouras” em Cristo, a quem apontavam todos os ritos e ordenanças
cerimoniais.
Mais uma citação do Catecismo Romano merece ser considerada,
pois contém sugestões que ainda hoje se repetem com freqüência:
“Por esta razão determinarão os apóstolos consagrar ao culto divino o
primeiro daqueles sete dias, e o chamarão Domingo. Do dia de Domingo faz
menção João em seu Apocalipse (a). E o apóstolo manda que se façam as
coletas no primeiro dia da semana (b) que é o Domingo: segundo o explica
São João Crisóstomo (c). Para que entendamos que já então era tido na Igreja
o dia de Domingo como Santo.” (Idem, p. 258).
Além de acusar falsamente os apóstolos de ter mudado o dia de
repouso, quer-se dizer aqui que os cálculos comerciais referentes às contas
da pessoa no primeiro dia da semana constituem um motivo para observá-
lo como dia de repouso contrariamente à imutável lei de Deus.
Esta citação também revela o fato de que se confia mais na práticas
e interpretações dos pais, como “São Cristóvão”, mencionado aqui, em
vez das próprias Escrituras para provar que o sábado da lei de Deus foi
mudado para o domingo.
Mais uma observação deve fazer-se aqui, especialmente para ser
considerada pelos clérigos e leigos protestantes. Neste Catecismo
Romano, composto por ordem do papa Pio V em meados do século XVI,
apresentam-se quase todos os argumentos que os protestantes empregam
em nossa época para apoiar a mudança do dia de repouso do sétimo dia
para o primeiro dia da semana. Notem-se os seguintes:
Assumem sem nenhuma prova que o mandamento do sábado era
parte da lei cerimonial (embora incorporado no próprio coração da lei
moral escrita pelo dedo de Deus), e afirmam que portanto foi eliminado
por Cristo.
Declaram ousadamente que os apóstolos ordenaram que se
observasse o primeiro dia da semana em vez do sétimo, e citam o emprego
que João faz do termo “dia do Senhor” em Apoc. 1:10, apesar do fato de
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 111
que o único dia que Deus alguma vez separou como santo e reclamou
como seu, tendo ele próprio repousado nele, foi o sétimo dia do quarto
mandamento.
Sustentam que a lei do dia de repouso “concorda com a lei da
natureza” ao exigir que cessem os trabalhos e se observe um dia de
meditação e culto; mas declaram que o dia que se deve observar “pode ser
mudado”, visto que, segundo seu argumento, “não pertence à lei moral e
sim à cerimonial”, e que foi efetivamente mudado pelos apóstolos, pelos
pais e pela igreja, e transferido ao primeiro dia da semana.
Os argumentos que apresentam a favor de tal mudança são: que a luz
brilhou pela primeira vez sobre o mundo no primeiro dia da semana; a
ressurreição de Cristo ocorreu nesse dia; o Espírito Santo desceu sobre os
apóstolos nesse mesmo dia da semana; Paulo aconselhou os cristãos que
fizessem seus cálculos comerciais no primeiro dia e separassem algo para
o Senhor. Todos estes argumentos são inventados pelos homens e não há
autoridade bíblica para justificar a mudança. As únicas razões
apresentadas pelo Criador e Senhor do sábado, são que ele criou o mundo
em seis dias, descansou no sétimo, e o separou para uso santo, da mesma
forma permanente e inalterável em que criou todas as coisas durante os
outros dias da semana da criação.
Talvez os protestantes não se dêem conta de que, ao defender o
domingo como dia de repouso, empregam os argumentos católicos
romanos contidos no catecismo do concílio de Trento, publicado no século
XVI; mas o fato é que cada um dos que são mencionados se encontram
naquela obra. Para ser conseqüentes, os protestantes devem separar-se
completamente do papado, e aferrar-se à Bíblia e à Bíblia só em sua fé e
prática.
"Um tempo, tempos e metade de um tempo." O pronome “eles”
relacionado com esta frase abrange os santos, os tempos e a lei acima
referidos. Por quanto tempo haveriam de ser entregues nas mãos dessa
potência? Um tempo, como vimos em Daniel 4:23, é um ano; dois tempos,
o mínimo que poderia ser denotado pelo plural, dois anos; e a metade de
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 112
um tempo é meio ano. Temos assim três anos e meio como duração dessa
potência. O vocábulo caldeu traduzido por "tempo" no texto que
consideramos é iddan, que Gesênio define como tempo e acrescenta:
"Empregado em linguagem profética para designar um ano. Daniel 7:25."
É preciso considerar que estamos estudando uma profecia simbólica,
e por isso esta medida de tempo não é literal, mas simbólica. Surge então
a pergunta: Qual é a duração do período denotado por três anos e meio de
tempo profético? A norma dada na Bíblia é que quando um dia se usa
como símbolo, representa um ano. (Ezequiel 4:6; Números 14:34). Quanto
à palavra hebraica yom, que significa dia, Gesênio observa o seguinte,
referindo-se ao seu plural : "As vezes yamin denota um prazo definido de
tempo; por exemplo, um ano; como também em siríaco e caldeu, iddan,
iddan significa tanto tempo como ano.
Os estudantes da Bíblia têm reconhecido este princípio através dos
séculos. As seguintes citações revelam como concordam os diversos
autores a respeito. Joaquim, abade de Calábria, uma das grandes figuras
eclesiásticas do século XII, aplicou este princípio de dia-ano ao período
de 1.260 anos. “A mulher, vestida de sol, que representa a igreja,
permaneceu no deserto oculta da vista da serpente, sendo aceito
indubitavelmente um dia por um ano e 1.260 dias pelo mesmo número de
anos.” (Joaquim de Flores, “Concordantia”, livro 2, cap. 16, p. 12b).
“Três tempos e meio, quer dizer, 1.260 anos solares, calculando um
tempo como ano calendário de 360 dias, e um dia como um ano solar. Depois
do qual ‘assentar-se-á o juiz, e lhe tirará o domínio’, não em seguida, senão
por graus, para consumi-lo, e destruí-lo até o fim.” (Sir Isaac Newton,
Observations Upon the Prophecies of Daniel, págs. 127, 128).
O ano bíblico, que se deve empregar como base de cálculo, continha
360 dias. (Ver comentários sobre Apoc. 11:3). Três anos e meio continham
1.260 dias. Como cada dia representa um ano, temos que a duração da
supremacia desse chifre é de 1.260 anos. Possuiu o papado domínio nesse
período? A resposta é: Sim. O edito do imperador Justiniano, datado de
533, fazia o bispo de Roma cabeça de todas as igrejas. Mas esse edito não
pôde entrar em vigor antes que os ostrogodos arianos, o último dos três
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 113
chifres que deveriam ser arrancados para dar lugar ao papado, fossem
expulsos de Roma; e isso não se realizou, como já foi mostrado, antes de
538. O edito não teria tido efeito se este último acontecimento não tivesse
ocorrido; por isso temos de contar do ano 538, pois foi a partir deste ponto
que em realidade os santos estiveram nas mãos dessa potência. Mas,
exerceu o papado a supremacia durante 1.260 anos a partir daquela data?
Exatamente. Porque 538+1260 = 1798; e no ano de 1798 o general
Berthier, comandando um exército francês, entrou em Roma, proclamou
a República, aprisionou o papa e infligiu uma ferida mortal ao papado.
Embora desde então não voltou a ter todos os privilégios e imunidades que
antes possuía, estamos presenciando atualmente a restauração gradual de
seu poder anterior.
O Juiz Se assentou. Após a descrição da espantosa carreira do chifre
pequeno e a afirmação de que os santos serão entregues na sua mão por
1.260 anos, o que nos leva até 1798, o versículo 26 declara: "Mas depois
se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o
consumir até o fim." No versículo 10 do mesmo capítulo encontramos
essencialmente a mesma expressão acerca do juízo: "Assentou-se o
tribunal [ou, noutras versões, "Assentou-se o juízo" ou "O Juiz se
assentou"]. Parece apropriado supor que em ambos os casos faz referência
ao mesmo juízo. Mas a cena sublime descrita no versículo 10 é a abertura
do juízo investigativo no santuário celestial, como se verá nas observações
referentes a Daniel 8:14 e 9:2527. A profecia situa esta cena de abertura
do juízo no fim do período profético de 2.300 anos, que terminou em 1844.
(Ver os comentários a Daniel 9:25-27).
Quatro anos depois disso, em 1848, a grande revolução que abalou
tantos tronos da Europa, expulsou também o papa de seus domínios. Sua
restauração, efetuada pouco depois, o foi pela força de baionetas
estrangeiras, que o mantiveram até ele sofrer, em 1870, a perda final de
seu poder temporal. A queda do papado em 1798 assinalou a conclusão do
período profético de 1260 anos, e constituiu a "ferida mortal" profetizada
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 114
em Apocalipse 13:3, como havendo de sobrevir a essa potência; mas sua
ferida mortal seria "curada".
A cura da ferida mortal. Em 1800 foi eleito outro papa; seu palácio
e domínio temporal lhe foram restituídos, e como diz Jorge Croly, célebre
comentador britânico, recuperou toda prerrogativa, exceto a de ser
perseguidor sistemático, porque a “ferida mortal” começava a curar-se.
Como é possível ver-se esta “ferida mortal” curar-se e as
especificações de Daniel 7:26 cumprir-se: “Para lhe tirar o domínio, para
o destruir e o consumir até ao fim”? Como podemos explicar este aparente
paradoxo: Quaisquer que sejam as dificuldades exegéticas, subsiste o fato
de que na história do papado são vistas estas duas especificações.
Em 1844, o juízo começou no santuário celestial. (v. 10) No verso
11, é-nos dito que “por causa da voz das insolentes palavras que o chifre
proferia . . . o animal foi morto.” Em 8 de dezembro de 1854, o papa
promulgou o dogma da Imaculada Conceição. Os exércitos de Vítor
Manuel tiraram do papa o poder temporal em 1870, o mesmo ano em que
o vigésimo concílio ecumênico decretou que o papa é infalível quando fala
ex cáthedra, quer dizer, quando, como pastor e doutor de todos os cristãos,
define uma doutrina referente à fé ou à moral. Mas apesar das recentes
honras acumuladas pelo clero sobre o cargo de bispo de Roma, perdeu
completamente o poder temporal. Desde então os papas se encerraram
como prisioneiros no Vaticano de Roma até que em 1929 foi assinado com
a Itália a concordata que devolvia ao papa o domínio sobre a Cidade do
Vaticano, pequena seção da cidade de Roma.
Versículos 13, 14 – Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo
àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício diário e da
transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a
fim de serem pisados? Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e
manhãs; e o santuário será purificado.
Versículos 20-22 – Aquele carneiro com dois chifres, que viste, são os
reis da Média e da Pérsia; mas o bode peludo é o rei da Grécia; o chifre grande
entre os olhos é o primeiro rei; o ter sido quebrado, levantando-se quatro em
lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão deste povo, mas não com
força igual à que ele tinha.
*
O vocábulo hebraico “chattah”, que se traduz “pecado” em Daniel 9:24, denota o pecado ou a oferta
pelo pecado. Em Levítico 4:3 há um exemplo do emprego da mesma palavra em ambos sentidos no
mesmo versículo: “oferecerá pelo seu pecado um novilho . . . como oferta pelo pecado.” Usa-se a
mesma palavra hebraica para ambas as expressões “pecado” e “oferta pelo pecado”. Tal uso é comum
em todo o Levítico, inclusive no capítulo 16 e outras partes do Antigo Testamento. É claro, pois, que
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 161
grande Oferta no Calvário. Ia ser provida uma reconciliação para a
iniqüidade. Seria pela morte expiatória do Filho de Deus. Ia ser
introduzida a justiça eterna, a que nosso Senhor manifestou em Sua vida
sem pecado. A visão e a profecia iam ser seladas, ou asseguradas.
A profecia ia ser provada pelos eventos que iam ocorrer nas setenta
semanas. Com isto fica determinada a aplicação de toda a visão. Se os
eventos deste período se cumprem com exatidão, a profecia é de Deus e
tudo se cumprirá. Se estas setenta semanas se cumprem como semanas de
anos, então os 2.300 dias, dos quais elas são uma parte, são outros tantos
anos.
Um dia em profecia significa um ano. Ao iniciar o estudo das setenta
semanas ou 490 dias, será bom lembrar que na profecia bíblica um dia
representa um ano. E na pág. 113 apresentamos provas de que esta
interpretação é um princípio aceito. Só acrescentaremos mais duas
citações:
“Assim foi revelado a Daniel de que modo o último aviltamento se
produzirá depois que o santuário for purificado e a visão for cumprida; e estes
2.300 dias desde a hora em que saísse a ordem, . . . de acordo com o número
predito resolvendo um dia por um ano, segundo revelação feita a Ezequiel.”
(Nicolau de Cusa, Conjectures of Cardinal von Cusa Concerning the Last
Days, pág. 934).
“É um fato singular que a grande maioria dos intérpretes do mundo inglês
e americano tem habitualmente, desde muitos anos, entendido que os dias
mencionados em Daniel e Apocalipse representam ou simbolizam anos. Foi-
me difícil rastrear a origem deste costume geral, e poderia dizer quase
universal.” (Moisés Stuart, Hints on the Interpretation of Prophecy, pág. 934).
se pode usá-la em Dan. 9:24 como ofertas pelo pecado, porque certamente concluíram as ofertas pelo
pecado quando o grande sacrifício na cruz foi oferecido. – Comissão revisora.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 162
principais expositores modernos. (Eduardo B. Elliot, Horae
Apocalypticae, vol. 3, pág. 234, notas 2-6).
Assim os eventos das setenta semanas fornecem as chaves de toda a
visão.
“Ungir o Santo dos santos”. De acordo com a profecia o Santo dos
santos devia ser ungido. A frase qodesh qodashim, traduzida aqui “Santo
dos santos”, é um termo usado com freqüência em Levítico para
caracterizar lugares e coisas, mas em nenhuma passagem se aplica a
pessoas. Embora se use no Antigo Testamento, e seu equivalente no Novo,
para distinguir o lugar santíssimo do santuário, não se limita a este uso de
maneira nenhuma. Emprega-se também para caracterizar muitos objetos
relacionados com o serviço santo do santuário, como o altar de bronze, a
mesa, o candelabro, o incenso, os pães asmos, a oferta pelo pecado,
qualquer objeto consagrado e coisas pelo estilo, mas jamais a pessoas
relacionadas com esse serviço. (Ver Êxo. 29:37; 30:10, 29, 36; Lev. 6:17,
29; 7:1; 27:28).
Por outro lado, no caso da unção para o serviço, o termo se aplica ao
próprio santuário, assim como a todos os seus vasos (Êxo. 30:26-29). Em
Daniel 9:24 a profecia especifica um caso de unção. De acordo com os
usos aplicados ao “Santo dos santos” ou “santíssimo” que já se
assinalaram, temos suficientes motivos para crer que este versículo prediz
a unção do tabernáculo celestial. Para o serviço típico, o tabernáculo foi
ungido; e é bem apropriado crer que, de acordo com isso, o santuário
celestial foi ungido para o serviço antitípico, ou real, quando nosso Sumo
sacerdote iniciou Sua obra misericordiosa de ministrar em benefício dos
pecadores.
*
Os anos do reinado de Artaxerxes estão entre as datas históricas que se estabelecem com mais
facilidade. O Cânon de Ptolomeu, com sua lista de reis e de observações astronômicas, as Olimpíadas
dos gregos e as alusões aos assuntos persas na história grega são coisas que se combinam para
determinar de modo definitivo o sétimo ano de Artaxerxes. Ver Sir Isaac Newton, Observations Upon
the Prophecies of Daniel, págs. 154-157. – Comissão Revisora.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 165
4. A comissão que o mesmo rei deu a Neemias em seu vigésimo ano,
444 a. C. (Neemias 2).
Se fossem datadas dos dois primeiros decretos, as setenta semanas,
ou 490 anos literais, não chegariam à era cristã. Além disso, esses decretos
se referiam principalmente à restauração do templo e de seu culto pelos
judeus e não à restauração de seu estado civil e político, todo o qual deve
estar incluído na expressão "para restaurar e edificar Jerusalém."
Aqueles primeiros dois decretos iniciaram a obra. Eram preliminares
ao que mais tarde se realizou. Mas por si mesmos não bastavam para
satisfazer os requisitos da profecia, nem por suas datas nem por sua
natureza. Sendo assim deficientes, não podem considerar-se como ponto
de partida para as setenta semanas. A única questão que nos resta é
referente aos decretos que foram concedidos a Esdras e a Neemias
respectivamente.
Os fatos entre os quais havemos de decidir são em resumo os
seguintes: Em 457 a. C., o imperador persa Artaxerxes Longímano
concedeu a Esdras um decreto para que subisse a Jerusalém com tantos
representantes de seu povo quantos quisessem ir. A permissão lhe
outorgava ilimitada quantidade de tesouros, para embelezar a casa de
Deus, para proporcionar oferendas para seu serviço e fazer tudo o mais
que bem lhe parecesse. Facultava-lhe ordenar leis, estabelecer
magistrados e juízes e executar punições até de morte. Em outras palavras,
restaurar o estado judeu no civil e eclesiástico, de acordo com a lei de
Deus e os antigos costumes daquele povo. A Inspiração achou apropriado
conservar este decreto; e achamos uma cópia perfeita e exata em Esdras
7. Este decreto não está escrito em hebraico, como o resto do livro de
Esdras, mas em caldaico oficial, ou aramaico oriental. Assim podemos
consultar o documento original que autorizou Esdras a restaurar e edificar
Jerusalém.
Treze anos mais tarde, no vigésimo ano do mesmo rei, em 444 a. C.
Neemias procurou e obteve permissão para subir a Jerusalém. (Nee. 2).
Mas não temos evidência de que fosse outra coisa mais que uma permissão
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 166
oral. Era para ele individualmente e nada se diz sobre os outros que
houvessem de subir com ele. O rei lhe perguntou quanto duraria a viagem
e quando voltaria. Neemias recebeu cartas para os governadores de além
do rio, para que o ajudassem em sua viagem à Judéia e uma ordem para
que o guarda-florestal do rei lhe fornecesse madeira.
Quando chegou a Jerusalém, encontrou príncipes e sacerdotes,
nobres e povo, já empenhados na obra de edificar Jerusalém. (Nee. 2:16).
Agiam, sem dúvida, de acordo com o decreto dado a Esdras treze anos
antes. Finalmente, tendo chegado a Jerusalém, Neemias concluiu em 52
dias a obra que foi ali realizar. (Nee. 6:15).
Portanto, qual destas comissões, a de Esdras ou a de Neemias,
constitui o decreto para a restauração de Jerusalém, que há de assinalar o
início das setenta semanas? Parece difícil haver dúvida a este respeito.
Se o cálculo inicia com a comissão a Neemias, em 444 a. C, ficam
deslocadas todas as datas que se encontrarem nesse período; porque desde
o ano 444 a. C. os tempos angustiosos que acompanhariam a construção
da praça e do muro não durariam sete semanas, ou 49 anos. Se partimos
daquela data, as 69 semanas, ou 483 anos, que haviam de estender-se até
o Messias, o Príncipe, nos levam até o ano 40 de nossa era. Mas Jesus foi
batizado por João no Jordão, ouvindo-se a voz do Pai declará-Lo Seu
Filho, no ano 27, ou seja treze anos antes. (Ver S. Bliss, Analyses of Sacred
Chronology, págs. 180, 182; Karl Wieseler, A Chronology Synopsis of the
Four Gospels, págs. 164-247). De acordo com este cálculo, a metade da
última ou septuagésima semana, que seria assinalada pela crucifixão,
cairia no ano 44 de nossa era; mas sabemos que a crucifixão ocorreu em
31 d. C., treze anos antes. E, finalmente, as setenta semanas, ou 490 anos,
se forem datadas do vigésimo ano de Artaxerxes, se estenderiam ao ano
47 de nossa era, durante o qual nada sucedeu que assinale o término desse
período. Assim, se o ano 444 a. C. em concessão a Neemias fosse o evento
que inicia as setenta semanas, a profecia seria falha. Em realidade, ela só
prova ser um fracasso a teoria que inicia as setenta semanas a partir da
comissão dada a Neemias no vigésimo ano de Artaxerxes.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 167
Fica evidente que o decreto outorgado a Esdras no sétimo ano de
Artaxerxes, em 457 a.C., é o ponto de partida das setenta semanas. Então
se produzia a saída do decreto no sentido que a poesia requer. Os dois
decretos anteriores eram preparatórios ou preliminares. De fato, Esdras os
considera partes do terceiro, e considera os três como um todo, pois em
Esdras 6:14 lemos: “Edificaram a casa e a terminaram segundo o mandado
do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes,
rei da Pérsia.” É de notar-se que aqui se fala dos decretos desses três reis
como se fossem um só “o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes”. Isto
demonstra que esses diferentes decretos eram considerados uma unidade,
pois não foram senão os passos sucessivos na execução da obra. Não
poderia dizer-se que havia saído esse decreto como o exigia a profecia,
antes que a última permissão requerida pela profecia estivesse nele
incorporado e revestido com a autoridade do império. Esta condição foi
cumprida com a concessão outorgada a Esdras, e não antes. Com isto o
decreto assumiu as devidas proporções e abrangeu tudo o que a profecia
exigia, e desde esse momento deve datar-se a sua “saída”.
Harmonia das subdivisões. Estarão harmonizadas estas datas se
fizermos a contagem a partir do decreto dado a Esdras? Vejamos. Nesse
caso, 457 a. C. é nosso ponto de partida. Concediam-se 49 anos para a
edificação da cidade e do muro. Sobre este ponto, Prideaux diz: "No ano
XV de Dario Noto terminaram as primeiras sete semanas das setenta
mencionadas na profecia de Daniel. Porque então a restauração da Igreja
e do Estado dos judeus em Jerusalém e na Judéia ficou plenamente
concluída naquele último ano de reforma registrado no capítulo 13 de
Neemias, do versículo 23 até o fm do capítulo, exatamente 49 anos depois
que Esdras a iniciou no sétimo ano de Artaxerxes Longímano."
(Humphrey Prideaux, The Old and New Testament Connected in the
History of the Jews, vol. 1, pág. 322). Isto sucedeu em 408 a. C.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 168
*
Abundam as provas históricas que autorizam a adoção do ano 27 de nossa era como a data do batismo
de Cristo. Ver S. Bliss, Sacred Chronology, pág. 180; New International Encyclopedia, art. Jesus
Christ; Karl Wieseler, A Chronology Synopsis of the Four Gospels, págs. 164-247.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 169
Lucas declara que Jesus "começava a ser de quase trinta anos" por ocasião
de seu batismo (Lucas 3:23); e quase imediatamente depois, Ele iniciou Seu
ministério. Como, então, pôde Seu ministério começar no ano 27 a. D. e Ele ainda
ser da idade mencionada por Lucas? A resposta a esta pergunta se encontra no fato
de que Cristo nasceu entre três e quatro anos antes do início da era cristã, ou seja,
antes do ano assinalado como o primeiro de tal era. O erro de datar o início da era
cristã, de mais de três anos depois de atraso, em vez de datá-la do ano de Seu
nascimento, surgiu desta maneira: Uma das eras antigas mais importantes era
contada a partir da fundação da cidade de Roma “ab urbe condita”, expressa pela
abreviação A. U. C., ou mais ainda assim, U. C. No ano 532 a. D., Dionísio Exíguo,
cita de nascimento e abade romano, que viveu no reinado de Justiniano, inventou a
era cristã. De acordo com os melhores dados de que dispunha, colocou o nascimento
de Cristo em 753 U. C. Mas Cristo nasceu antes da morte de Herodes e a morte de
Moisés ocorreu em abril, 750 U. C. Deduzindo-se alguns meses para os eventos
relatados na vida de Cristo antes da morte de Herodes, a data do Seu nascimento é
levada para a última parte de 749 U. C., ou seja um pouco mais de três anos antes
do ano 1 a.C. Cristo, pois, tinha 30 anos de idade no ano 27 a. C.
“A era vulgar [comum] começou a vigorar no ocidente pela época de Carlos
Martel e do Papa Gregório II, em 730 d. C.; mas não foi sancionada por quaisquer
atos ou escritos públicos até o primeiro Sínodo Germânico, no tempo de Carlomano,
duque dos francos, sínodo que no prefácio se declara congregado no ‘Anno ab
Incarnatione Dom. 742, II Calendas Maii’. Mas essa era não foi estabelecida antes
do tempo do Papa Eugênio IV, em 1431, que ordenou fosse seguida nos registros
públicos, segundo Mariana e outros." Guilherme Hales, A New Analysis of
Chronology, vol. I, pág. 84. (Veja-se também Samuel J. Andrews, Life o four Lord
Upon the Earth, págs. 29, 30).
Quando se descobriu o erro, a era cristã se tornara tão bem estabelecida que
não se intentou corrigi-la. Não faz diferença alguma, visto que não afeta o cálculo das
datas. Se a era se iniciasse com o ano exato do nascimento de Cristo, contaria com
quatro anos menos e a anterior a Cristo, com quatro anos mais. Ilustrando: Se um
período de vinte anos abrange dez antes da era cristã e dez nela, dizemos que
começou no ano 10 a. C. e terminou no ano 10 da era cristã. Mas se colocamos o
ponto de partida da era realmente no nascimento de Cristo, não mudará o término do
período. Este começará no ano 6 a. C. e chegará até 14 da era cristã. Quer dizer que
quatro anos serão tirados da época anterior a Cristo e se acrescentarão quatro anos
ao corrente, para dar-nos o verdadeiro ano da era cristã. Assim seria se o cálculo
partisse da data real do nascimento de Cristo. Mas tal não é o caso, pois o ponto de
partida se situa três ou quatro anos mais tarde. – Comisión Revisora.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 170
Aqui, novamente, encontramos harmonia indiscutível. Mas além
disso, o Messias ia confirmar o concerto com muitos por uma semana.
Esta seria a última semana das setenta, ou os últimos sete anos dos 490.
Na metade da semana, informa-nos a profecia, Ele faria cessar o sacrifício
e a oferta de manjares. Os ritos judaicos, que apontavam a morte de Cristo,
não cessariam antes da crucifixão. Nessa ocasião, quando o véu do templo
se rasgou, chegaram ao fim, embora se mantivessem a observância até a
destruição de Jerusalém no ano 70 de nossa era. Depois de sessenta e duas
semanas, segundo o registro, o Messias seria sacrificado. Era como se
dissesse: Depois de 62 semanas, na metade da septuagésima, o Messias
será tirado e fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares. Portanto, a
crucifixão fica definitivamente situada no meio da septuagésima semana.
Data da crucifixão. Torna-se agora importante determinar em que
ano ocorreu a crucifixão. É inquestionável que nosso Salvador assistiu a
cada páscoa que houve durante Seu ministério público, mas encontramos
mencionadas apenas quatro de tais ocasiões antes de Sua crucifixão.
Encontram-se nas seguintes passagens: João 2:13; 5:1; 6:4; 13:1. Durante
a última páscoa mencionada Jesus foi crucificado. Com base nos fatos já
estabelecidos, vejamos onde isto colocaria a crucifixão. Como Ele
começou Seu ministério no outono do ano 27, Sua primeira páscoa ocorreu
na primavera do ano 28; a segunda no ano 29; a terceira no ano 30; e a
quarta e última, no ano 31. Isto nos dá três anos e meio para Seu ministério
público e corresponde exatamente à profecia de que Ele seria tirado na
metade da septuagésima semana. Como essa semana de anos começou no
outono do ano 27, a metade da semana ocorreria três anos e meio mais
tarde, na primavera do ano 31, quando ocorreu a crucifixão.
O Dr. Hales cita Eusébio, que viveu no ano 300: "Registra-se na
história que todo o tempo em que nosso Salvador ensinou e operou
milagres foi três anos e meio, que é metade de uma semana [de anos]. Isto
João, o evangelista, representará aos que prestam crítica atenção ao seu
Evangelho."
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 171
Acerca das trevas sobrenaturais que ocorreram na crucifixão, Hales
assim fala:
"Por aqui se depreende que as trevas que 'cobriram toda a terra da
Judéia' por ocasião da crucifixão de nosso Senhor foram sobrenaturais, 'da
hora sexta até a hora nona', ou do meio-dia até as três da tarde, em sua
duração, e também em seu momento, quase no plenilúnio, quando a lua não
podia eclipsar o Sol. O momento em que isso ocorreu e o próprio fato estão
registrados numa curiosa e valiosa passagem de um respeitável cônsul
romano, Aurélio Cassiodoro Senator, por volta do ano 514 de nossa era: 'No
consulado de Tibério César Augusto V e Aelio Sejano (U. C. 584, ou 31 d. C.)
nosso Senhor Jesus Cristo padeceu, na oitava das calendas de abril (25 de
março), quando ocorreu um eclipse do Sol tal como nunca se viu antes nem
depois.
"Acerca do ano e do dia concordam também o concílio de Cesaréia (196
ou 198 d. C), a Crônica Alexandrina, o monge Máximo, Nicéforo Constantino,
Cedreno; e acerca do ano, mas com dias diferentes, concorre Eusébio e
Epifânio, seguidos por Kepler, Bucher, Patino e Petávio, apontando alguns a
décima das calendas de abril, outros a décima-terceira." (Ver os comentários
sobre Daniel 11:22). (Guilherme Hales, A New Chronology, vol. 1, pág. 94).
Versículos 15-17 – Ao falar ele comigo estas palavras, dirigi o olhar para
a terra e calei. E eis que uma como semelhança dos filhos dos homens me
tocou os lábios; então, passei a falar e disse àquele que estava diante de mim:
meu senhor, por causa da visão me sobrevieram dores, e não me ficou força
alguma. Como, pois, pode o servo do meu senhor falar com o meu senhor?
Porque, quanto a mim, não me resta já força alguma, nem fôlego ficou em
mim.
O FUTURO DESDOBRADO
Daniel 11
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 183
Versículos 1, 2 – Mas eu, no primeiro ano de Dario, o medo, me levantei
para o fortalecer e animar. Agora, eu te declararei a verdade: eis que ainda
três reis se levantarão na Pérsia, e o quarto será cumulado de grandes
riquezas mais do que todos; e, tornado forte por suas riquezas, empregará
tudo contra o reino da Grécia.
Xerxes foi o último rei da Pérsia que invadiu a Grécia; de modo que
a profecia passa por alto nove príncipes menores para introduzir o “rei
poderoso”, Alexandre, o Grande.
Após derribar o império persa, Alexandre "tornou-se monarca
absoluto daquele império, em extensão jamais possuída por qualquer dos
reis persas." (Humphrey Prideaux, The Old and New Testament
Connected in the History of the Jews, vol. 1, pág. 378). Seu domínio
abrangia "a maior parte do mundo habitado de então". Com quanta
exatidão foi descrito como “rei poderoso, que reinará com grande domínio
e fará o que lhe aprouver”. Mas esgotou suas energias nas orgias e
bebedices, e ao morrer em 323 a. C., seus projetos vangloriosos e
ambiciosos foram repentina e totalmente eclipsados. O Império Grego não
foi herdado pelos filhos de Alexandre. Poucos anos depois de sua morte,
toda sua posteridade caiu vítima do ciúme e da ambição de seus generais,
que desgarraram o império em quatro partes. Tão breve é o trânsito do
mais elevado pináculo da glória terrena às mais baixas profundezas do
esquecimento e da morte. Os quatro mais hábeis generais de Alexandre –
Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu – tomaram posse do império.
“Depois da morte de Antígono [301 a.C.], os quatro príncipes
confederados repartiram seus domínios; e assim todo o império de Alexandre
ficou dividido em quatro reinos. Ptolomeu teve o Egito, Lídia, Celesíria e
Palestina; Cassandro recebeu Macedônia e Grécia; Lisímaco, a Trácia, Bitínia
e alguma das outras províncias que havia mais além do Helesponto e o
Bósforo; e Seleuco todo o resto. Estes quatro foram os quatro chifres do bode
mencionado nas profecias do profeta Daniel, os quais cresceram após ter-se
quebrado o primeiro chifre. Esse primeiro chifre era Alexandre, rei da Grécia,
que conquistou o reino dos medos e persas; e os outros quatro chifres foram
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 185
esses quatro reis, que surgiram depois dele, dividindo entre si o império.
Foram também as quatro cabeças do leopardo, das quais se fala noutro lugar
das mesmas profecias. E seus quatro reinos foram as quatro partes em que,
segundo o mesmo profeta, o ‘domínio’ do ‘rei poderoso’ ia ser ‘repartido para
os quatro ventos do céu’, entre esses quatro reis ‘fora de seus descendentes’,
pois nenhum deles pertencia à sua posteridade. Portanto, com esta última
repartição do império de Alexandre, cumpriram-se exatamente todas estas
profecias.” (Idem, pág. 415).
Versículo 5 – O rei do Sul será forte, como também um de seus príncipes; este
será mais forte do que ele, e reinará, e será grande o seu domínio.
Este reino saído da mesma linhagem com Berenice, foi seu irmão,
Ptolomeu Evergetes. Sucedeu seu pai no trono do Egito, e tão logo se
instalou, ardendo de vingança pela morte de sua irmã Berenice, reuniu um
imenso exército e invadiu o território do rei do norte, ou seja, de Seleuco
Calínico que, com sua mãe, Laodice, reinava na Síria. Prevaleceu contra
ele aponto de conquistar a Síria, Cilícia, as regiões mais além do Eufrates
e para o leste até Babilônia. Mas ao saber que se levantou no Egito uma
sedição, exigindo sua volta, saqueou o reino de Seleuco, tomando 40.000
talentos de prata e 2.500 imagens dos deuses. Entre elas estavam as
imagens que Cambises havia anteriormente levado do Egito a Pérsia. Os
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 188
egípcios, inteiramente entregues à idolatria, concederam a Ptolomeu o
título de Evergetes, ou o Benfeitor, como agradecimento por ele ter
devolvido seus deuses que estiveram tantos anos cativos.
“Ainda temos escritos que confirmam vários desses detalhes – diz
Tomás Newton. – Apiano informa-nos que Laodice, tendo mandado matar
Antíoco, e depois dele a Berenice e seu filho, Ptolomeu, o filho de Filadelfo,
para vingar esses homicídios, invadiu a Síria, matou Laodice e prosseguiu até
Babilônia. De Políbio sabemos que Ptolomeu, de sobrenome Evergetes,
enfurecido pelo tratamento recebido por sua irmã Berenice, entrou na Síria
com um exército e tomou a cidade de Selêucia, que foi mantida alguns anos
pelas guarnições dos reis do Egito. Assim ele entrou ‘nas fortalezas do rei do
Norte’ [Dan. 11:7, Almeida RC]. Poliênio afirma que Ptolomeu se fez dono de
toda a região desde o Monte Tauro até a Índia, sem guerra ou batalha, mas
por engano ele atribui isso ao pai em vez de ao filho. Justino afirma que se
Ptolomeu não tivesse sido chamado de volta ao Egito por uma sedição interna,
teria possuído todo o reino de Seleuco. Assim o rei do sul entrou no reino do
norte e voltou à sua própria terra. E ele também continuou mais anos que o
rei do norte, pois Seleuco Calínico morreu no exílio, de uma queda de cavalo.
Ptolomeu Evergetes sobreviveu por quatro ou cinco anos.” (Tomás Newton,
Dissertations on the Prophecies, vol. 1, págs. 345, 346).
Versículo 16 – O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e
ninguém poderá resistir a ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas
mãos.
Versículo 25 – Suscitará a sua força e o seu ânimo contra o rei do Sul, à frente
de grande exército; o rei do Sul sairá à batalha com grande e mui poderoso exército,
mas não prevalecerá, porque maquinarão projetos contra ele.
Versículo 28 – Então, o homem vil tornará para a sua terra com grande riqueza,
e o seu coração será contra a santa aliança; ele fará o que lhe aprouver e tornará
para a sua terra.
Versículo 30 – Porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão
tristeza; voltará, e se indignará contra a santa aliança, e fará o que lhe aprouver; e,
tendo voltado, atenderá aos que tiverem desamparado a santa aliança.
Cremos ter deixado claro que o contínuo foi tirado em 508. Isso
ocorreu como preparatório para o estabelecimento do papado, que foi um
evento separado e subseqüente, do que a narrativa profética agora nos leva
a falar.
O papado estabelece uma abominação. ". . . estabelecendo a
abominação desoladora". Tendo mostrado plenamente o que constituía a
remoção do contínuo ou paganismo, agora indagamos: Quando foi
estabelecida a abominação desoladora, ou o papado? O chifre pequeno que
tinha olhos como os olhos de homem não tardou a ver quando estava
preparado o terreno para seu avanço e elevação. Desde o ano 508 seu
progresso para a supremacia universal foi sem paralelo.
Quando Justiniano estava para começar a guerra contra os vândalos,
em 533, empresa de não pequena magnitude e dificuldade, desejou
assegurar a confiança do bispo de Roma, que havia chegado a uma posição
que em sua opinião tinha grande peso em grande parte da cristandade.
Justiniano, portanto, se encarregou de decidir a contenda que havia muito
existia entre as sedes de Roma e Constantinopla quanto a qual deve ter a
precedência. Deu a preferência a Roma em uma carta que dirigiu
oficialmente ao papa, declarando, nos termos mais plenos e inequívocos,
que o bispo daquela cidade seria a cabeça de todo o corpo eclesiástico do
império.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 218
A carta de Justiniano diz:
"Justiniano, vencedor, piedoso, afortunado, notável, triunfante, sempre
Augusto, a João, o santíssimo arcebispo e patriarca da nobre cidade de Roma.
Prestando honra à sede apostólica e a Vossa Santidade, como tem sido
sempre e é nosso desejo, e honrando Vossa Beatitude como pai, apressamo-
nos a levar ao conhecimento de Vossa Santidade todas as questões relativas
ao estado das igrejas, visto que tem sido em todos os tempos nosso grande
desejo preservar a unidade de vossa Sede Apostólica e a posição das santas
igrejas, que agora prevalece e permanece segura sem distúrbio
"Portanto, temos exercito diligência em sujeitar e unir todos os
sacerdotes de todo o oriente à sede de Vossa Santidade. Quaisquer questões
em disputa atualmente, temos crido necessário pô-las em conhecimento de
Vossa Santidade, por claras e indubitáveis que sejam, mesmo quando
firmemente sustentadas e ensinadas por todo o clero de acordo com a
doutrina da Vossa Sede Apostólica; mas não podemos admitir que coisa
alguma referente ao estado da Igreja, por mais manifesta e inquestionável, no
que concerne ao estado das igrejas, deixe de ser dado a conhecer a Vossa
Santidade, como cabeça de todas as igrejas. Porque, como já declaramos,
ansiamos por aumentar a honra e autoridade de vossa sede em todo
respeito." – Codex Justiniani, lib. 1, tit. 1; tradução por R.F. Littledale, em The
Petrine Claims, pág. 293.
"A carta do Imperador deve ter sido enviada antes de 25 de março de
533, pois em sua carta daquela data dirigida a Epifânio, fala ter sido ela já
despachada e repete sua decisão de que todos os assuntos tocantes à igreja
sejam submetidos ao papa, 'cabeça de todos os bispos e o verdadeiro e
eficiente corregedor de heréticos." (Jorge Croly, The Apocalypse of St. John,
pág. 170.
“No mesmo mês do ano seguinte, 534, o Papa, em sua resposta, repete
a linguagem do imperador, aplaudindo sua homenagem à sede e adotando os
títulos do mandato imperial. Observa que, entre as virtudes de Justiniano,
‘uma brilha como estrela: sua reverência pela cadeira apostólica, à qual se
sujeitou e uniu todas as igrejas, sendo ela verdadeiramente a cabeça de
todas, como o atestam as regras dos Pais, as leis dos Príncipes e as
declarações da piedade do Imperador.
“A autenticidade do título recebe uma prova incontestável dos editos
encontrados nas ‘Novellae’ do código de Justiniano. O preâmbulo da nona
declara que ‘como a Roma mais antiga foi a fundadora das leis, não se deve
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 219
questionar que nela estava a supremacia do pontificado.’ A 131ª, sobre os
títulos e privilégios eclesiásticos, capítulo II, declara: ‘Decretamos, portanto,
que o santíssimo Papa da Roma mais antiga é o primeiro de todo o
sacerdócio, e que o beatíssimo Arcebispo de Constantinopla, a nova Roma,
ocupará o segundo lugar após a santa sede apostólica da velha Roma.’ ”
(Idem, págs. 170, 171).
Pelo fim do século VI, João de Constantinopla negou a supremacia
romana, e assumiu o título de bispo universal, ao que Gregório, o Grande,
indignado com a usurpação, denunciou João e declarou, sem compreender
a verdade de sua declaração, que aquele que assumisse o título de bispo
universal era o Anticristo. Em 606, Focas suprimiu a pretensão do Bispo
de Constantinopla e justificou a do Bispo de Roma. Mas Focas não foi o
fundador da supremacia papal.
"Que Focas reprimiu a pretensão do Bispo de Constantinopla é fora de
dúvida. Mas as mais altas autoridades dos civis e analistas de Roma, rejeitam
a idéia de que Focas foi o fundador da supremacia de Roma. Remontam a
Justiniano como a única fonte legítima, e corretamente datam o título no
memorável ano 533." (Idem, págs. 172, 173).
Jorge Croly declara ainda:
"Com referência a Barônio, a autoridade estabelecida entre os analistas
católicos romanos, encontrei que a questão a concessão de supremacia que
Justiniano fez ao papa, fixava-se formalmente nesse período. . . . A transação
toda foi da espécie mais autêntica e regular e concorda com a importância da
transferência." (Idem, págs. 12, 13).
Versículo 37 – Não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao desejo de
mulheres, nem a qualquer deus, porque sobre tudo se engrandecerá.
"O confisco de dois terços das terras do reino, ordenado pelos decretos
da Convenção contra os emigrantes, o clero e as pessoas acusadas nos
tribunais revolucionários . . . pôs à disposição do governo fundos superiores a
700 milhões de libras esterlinas." (Archibald Alison, History of Europe, Vol. 3,
págs. 25, 26).
Versículo 40 – No tempo do fim, o rei do Sul lutará com ele, e o rei do Norte
arremeterá contra ele com carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará nas suas
terras, e as inundará, e passará.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 230
Versículos 5-7 – Então, eu, Daniel, olhei, e eis que estavam em pé outros
dois, um, de um lado do rio, o outro, do outro lado. Um deles disse ao homem
vestido de linho, que estava sobre as águas do rio: Quando se cumprirão estas
maravilhas? Ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do
rio, quando levantou a mão direita e a esquerda ao céu e jurou, por aquele
que vive eternamente, que isso seria depois de um tempo, dois tempos e
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 254
metade de um tempo. E, quando se acabar a destruição do poder do povo
santo, estas coisas todas se cumprirão.