CRIMINOLOGIA
CRIMINOLOGIA
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7.5 Quanto ao concurso de agentes ........................................................ 35
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 49
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1 CONCEITO DE CRIMINOLOGIA
Fonte: www.eccc.mx/
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"A criminologia é a ciência causal-explicativa composta de quatro ramos
(antropologia criminal, psicologia criminal, sociologia criminal e penologia) e distinta
das ciências jurídico-repressivas (direito penal, direito processual penal e política
criminal), da ciência da investigação criminal (compreendendo política criminal,
medicina legal, penologia, psiquiatria forense, polícia judiciária científica, criminalís-
tica, psicologia judiciária e estatística criminal)".
É lícito afirmar que, como ciência unitária e interdisciplinar que é, a Criminologia
se interliga às ciências humanas. De fato, a Biologia, a Psicologia e a Psicanálise são
instrumentos essenciais à Criminologia Clínica,
Por outro lado e como já foi explanado, a Criminologia igualmente se relaciona
com as ciências criminais: o Direito Penal lhe delimita o objeto; o Direito Processual
Penal inquire a ocorrência do ato criminal e se interessa pelo exame da personalidade
do delinquente; o Direito Penitenciário, através de seus laboratórios de Biotipologia,
regula o programa de ressocialização; a Medicina Legal, a Polícia Judiciária e "a
Policiologia colaboram na investigação científica da materialidade do fato criminoso.
Pode perceber que os três elementos relacionados ao fenômeno penal - o
crime, o delinquente e a pena - constituem o centro das preocupações das ciências
penais no seu todo, ou seja, a denominada Enciclopédia das Ciências Penais, ciências
que assim são agrupadas e classificadas por Luis Jimenez de Asúa:
a) Ciências Histórico-Filosóficas: História do Direito Penal, Filosofia do Direito
Penal e Direito Penal Comparado;
b) Ciências Causal-Explicativas: Criminologia, Antropologia Criminal,
Sociologia Criminal, Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Psicanálise Criminal;
c) Ciências Jurídico-Repressivas: Direito Penal, Direito Processual Penal e
Direito Penitenciário;
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa: Penologia, Política Criminal, Medicina
Legal, Psiquiatria Forense, Polícia Judiciária Científica, Criminalística, Psicologia
Judiciária e Estatística Criminal.
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2 RAMOS E ATRIBUIÇÕES DA CRIMINOLOGIA
Fonte: psicologiajuridicaforense.files.wordpress.com
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Fonte: www.unipe.br/
Fonte: cursosonline.uol.com.br
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Utilizar-se-á, o criminologista, da experimentação direta e indireta. Por via da
experimentação direta, alcançada por intermédio de dados propiciados pelos sistemas
penitenciários, ele terá elementos de valia para indagar, verticalmente, a transição do
homem normal ao homem delinquente. Concernentemente à experimentação indireta,
ela será desenvolvida com o estudo dos fatos anormais naturalmente sucedidos.
Aqui, como ensina Roberto Lyra, o criminologia não poderá olvidar que "o crime
é um fato social de consequências jurídicas e não um fato jurídico de aspectos
sociais". Terá que saber o criminologista, por outro lado, que os fatos sociais são
processos de interação que envolve as pessoas, os grupos coletivos e as heranças
sociais, não havendo critérios infalíveis para diferenciar o homem que poderá delinquir
daquele que não poderá delinquir. Comporta, por oportuno, a afirmativa de Gabriel
Tarde que "nenhum de nós pode se gabar de não ser um criminoso nato relativamente
a um estado social determinado, passado, futuro ou possível". A ideia do crime,
verdadeiramente, é inata no homem, talvez preexistindo à sua própria consciência.
A Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as
determinantes endógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e
a conduta do delinquente, e os meios labor-terapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-
lo ao grupamento social.
Fonte: www.iaulas.com.br/
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Condutas que outrora eram atos normais e obrigatórios dos costumes da época,
com o tempo se tornaram crimes, e condutas que outrora eram crime, se tornaram
fatos normais, conforme vejamos a seguir:
Salienta Lombroso que a mesma dificuldade que se apresenta no estudo do
crime, dentre os animais em geral, observa-se em relação aos seres humanos
primitivos.
Certas práticas, mais tarde consideradas delituosas, eram, por assim dizer, a
regra geral; todavia, algumas dessas práticas confundem-se em suas origens com
ações menos criminosas.
Tais práticas, nos diversos idiomas, em sua origem, revelam que não há uma
diferença nítida entre ação e crime, surgindo logo depois a ideia de pecado, ou seja,
desobediência aos deuses.
Todas as línguas convergem no sentido de nos apresentar a rapina e o
assassinato como a primeira fonte da propriedade, aliás, um dos aspectos do
darwinismo social como verá oportunamente.
Algumas práticas comuns entre os selvagens foram criminalizadas no curso da
civilização, como, por exemplo, o aborto. Em certas épocas, a escassez de alimentos,
as dificuldades de vida e outros fatores constituíram motivos, entre os primitivos, para
a prática do abortamento.
O aborto premeditado, desconhecido dos outros animais, foi comum entre os
selvagens, tanto nas primitivas tribos orientais, como na América, através de
expedientes rústicos, tais como, pancadas redobradas no ventre.
Contemporaneamente, algumas tribos aborígenes brasileiras conservam a
prática do aborto da forma acima referida (in Direitos Humanos na Amazônia,
publicação do Inst. dos Ad. Brasileiros, ps. 226 e 227, RJ,1997).
As mesmas causas do aborto tornaram frequente o infanticídio, entre os
primitivos; sacrificava-se aquele que vinha logo após o primogênito ou o segundo, e
de preferência as meninas, como ocorria na Austrália e na Melanésia.
Na Índia, do Ceilão ao Himalaia, infanticídio é consagrado pela religião.
No Japão e na China, segundo Marco Polo, o infanticídio era uma forma de
reduzir o crescimento populacional. Da mesma maneira, na América e na África.
Em algumas tribos da África Meridional, após o infanticídio a criança era utilizada
como isca para pegar leões; em certas regiões da Austrália matavam-se as crianças
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e sua gordura era utilizada em anzóis, para as pescarias.
Na América, dentre os tasmaiano, pele-vermelha e esquimó, a morte da mãe era
motivo para o infanticídio, porque o costume queria que as crianças fossem enterradas
com ela.
Havia outras causas para o infanticídio entre os primitivos: os preconceitos, por
exemplo, como a aversão aos gêmeos, encarados como prova da infidelidade da
mulher, pois entendia-se que o homem só podia produzir um filho de cada vez
(Lombroso, O HOMEM CRIMINOSO, págs. 30 e segs.)
Na África, quando as mulheres não podiam criar seus filhos, desesperadas pela
fome, jogavam-nos no rio.
O dever de assassinar os pais idosos, com mais de 70 anos, conservou-se, por
transmissão hereditária, como um ato de piedade, mesmo sem necessidade, e às
vezes, por acreditar-se que as qualidades e virtudes do sacrificado se transmitiriam
aos descendentes.
Algumas vezes ocorriam sepultamentos em vida; as vítimas achavam o fato
natural e elas próprias pediam a morte, caminhando deliberadamente em direção à
cova onde deviam repousar em definitivo, ou deixadas em abandono.
A religião ensinava que se entrava na vida futura no mesmo estado em que se
estava para deixar a Terra. O hábito de matar os velhos e os doentes foi praticado
na Europa, Ásia, África e América.
Além do assassinato dos velhos e doentes, ocorriam homicídios de crianças,
mulheres e homens sadios, seja por motivos religiosos, seja por instintos ferozes.
Às vezes, por ira, as disputas conjugais acabavam pelo assassinato da mulher;
o marido, após matá-la, comia o seu coração com um guisado de cabra.
As concepções lombrosianas, inspiradas na teoria de Darwin, sobre a
criminalidade dentre os animais:
Em síntese, no tocante à comparação entre o equivalente daquilo que se
considera crime, entre os homens, e certas ocorrências em relação às plantas,
Lombroso invocou as observações de Darwin e outros naturalistas:
As plantas insetívoras (que comem insetos), cometendo assim verdadeiros
assassinatos deles, atraindo-os por meio duma secreção viscosa, para em seguida os
devorar, como meio de se nutrir.
Outras plantas caçam os insetos à semelhança da maneira como os pescadores
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preparam armadilhas para os peixes.
Essas práticas sobressaem com muito mais evidência em relação ao mundo
animal, na ânsia de nutrição, por meio do sacrifício das outras espécies, e, algumas
vezes, através do canibalismo, quando então o ser humano, assim como outros
animais, devoram os da mesma espécie, não só levados por fome, como também por
outras motivações, tais como a ira.
Por sua vez, Ferri distinguiu, só para o assassinato, várias motivações entre os
animais em geral.
Certos animais, por exemplo, da mesma espécie, vivem em comum, mas os
mais fortes devoram os mais fracos; isso é comum dentre os peixes.
É frequente não só o canibalismo dentre os animais, como o infanticídio e o
parricídio, desmentindo-se assim os devaneios sobre o amor maternal e filial entre
eles.
A fêmea do crocodilo, às vezes, come seus filhotes, que não sabem nadar. As
abelhas defendem furiosamente as colmeias, onde armazenam o mel, produto do seu
labor. Há roedores - a fêmea do rato, por exemplo - que devoram seus filhotes, quando
molestados. A fêmea do sagui, às vezes, come a cabeça do filhote, ou esmaga-o
contra uma árvore, quando cansada de carregá-lo. Dentre os gatos, as lebres, os
coelhos, alguns comem seus filhotes. O canibalismo e o parricídio são encontrados
dentre as raposas, cujos filhotes se entredevoram, frequentemente, e às vezes
devoram a própria mãe. Certa perversidade, rebeldia e antipatia aparecem em animais
com de formações cranianas, determinando maus instintos e práticas criminosas. A
velhice toma os animais desconfiados, teimosos, perigosos, agressivos, por isso são
expulsos pelos companheiros e então, no isolamento, tomam-se mais perversos.
A fúria, a ira e a raiva são comuns em certos animais, que matam seus
semelhantes, sem nenhum motivo, violando os hábitos da maioria. Ocorrem também
delitos passionais, por paixões exacerbadas, sobre tudo pelo amor, pela cobiça, pelo
ódio. Dentre as aves e os pássaros, às vezes, o macho destrói o próprio ninho, num
acesso de fúria; aves domésticas atacam o ser humano. Durante o cio, as fêmeas,
dentre certos animais, tomam-se furiosas. Observou-se que um casal de cegonhas
fazia o ninho em um vilarejo; um dia, quando o macho estava caçando, outro mais
jovem veio cortejar a fêmea. Primeiro, ele foi rejeitado, depois tolerado, finalmente
acolhido. Posteriormente, os dois adúlteros voaram uma manhã para o prado, onde o
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marido caçava rãs, e o mataram a bicadas.
Entre as cegonhas, o macho leva muito a sério o amor conjugal; quando as
pessoas, por divertimento, colocam ovos de galinha em seu ninho, o macho, ao ver
aquele insólito produto, se enfurece e entrega a "esposa às outras cegonhas, que a
dilaceram”.
Têm sido observadas certas práticas, entre as formigas, semelhantes à violência
sexual, por parte dos machos adultos contra os menores, assim como entre certas
aves.
Algumas vacas substituem o touro junto às companheiras, da mesma forma que
entre algumas galinhas.
Ocorrem, também, práticas sexuais dentre animais de diferentes espécies, à
semelhança da bestialidade, em relação ao ser humano.
Às vezes, as cegonhas massacram os filhotes das companheiras, sob os olhos
de suas próprias mães; outras matam os membros do bando que no momento da
imigração se recusam ou não conseguem segui-las.
Dentre bois e cavalos selvagens é comum um macho enfurecer-se contra o
outro, para conseguir a supremacia sobre as fêmeas.
Há animais domésticos que têm o hábito de furtar objetos dos bolsos de quem
os acariciam.
Certos cães domésticos devoram aves ou carneiros, dissimulando e apagando
os vestígios de seu gesto.
As bebidas alcoólicas produzem nos animais sintomas semelhantes aos que
ocorrem com os homens: tomam-nos irritáveis, tontos e param de trabalhar, passando
sem escrúpulos, à pilhagem e ao latrocínio.
O consumo da carne, dentre os carnívoros, toma-os ferozes.
Embora sejam poucos os animais, dentre os gatos, cachorros, elefantes,
cavalos, que se mostram brigões, indomáveis, assassinos, isso, porém, tanto quanto
dentre os seres humanos, repugna aos demais.
A premeditação e a emboscada são comuns nas práticas criminosas dentre os
animais.
Os cinocéfalos (gênero de macacos de cabeça semelhante à do cão) são
perfeitos ladrões. Quando vão saquear uma plantação, colocam uma sentinela, para
que dê o alarme, no momento em que o homem se aproxima. Esta sentinela deve
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ficar muito atenta, porque sabe que se falhar, seus companheiros lhe infligirão a pena
de morte (Lombroso, O Homem Criminoso, ps. 4 a 25).
É importante para uma ciência que tenha um objeto e um método, exame de seu
conteúdo histórico. Na filosofia grega concebia-se a infração contrário a coisa pública,
e o delinquente responsável por sua ação, deveria sofrer uma pena como elemento
pedagógico.
Na Idade Média, mais precisamente no começo do século XVII, a filosofia e a
teologia influenciavam o Direito Penal, havendo uma enorme confusão entre delito e
pecado, delinquente e pecador.
No Código de Hamurabi, no século XVI e XVII A.C., tínhamos já as
responsabilidades distintas entre delinquente rico e delinquente pobre.
Não existe condições exatas de fornecer algo sistematicamente pronto antes do
início da escola clássica, pois o que em realidade havia eram trabalhos esparsos.
A expressão Criminologia teria sido usada pela primeira vez pelo antropólogo
francês Topinard, em 1883. Em 1885, Rafael Garofalo, apresenta uma obra científica
A Criminologia.
A base fundamental do pensamento iluminista foi a partir do reconhecimento do
estado natural. No estado natural, os homens gozam de igual liberdade e se perdem
pelo contrato social, que fazem ganhar sua liberdade civil e a propriedade de tudo que
possuem.
O delinquente que se coloca contra o contrato social é um traidor e, portanto, é
expungido do mesmo.
Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, é quem melhor coloca o problema do
delito e da pena. Adotam os iluministas posição crítica a respeito das coisas existentes
e também respeito ao Estado e sua estrutura.
A Escola Clássica considera a pena um mal que deva eliminar outro mal. Para a
Escola Carrariana, todos os homens são iguais, livres e racionais. Por tal fato, a pena
é eminentemente retribucionista, e seu fundamento está em ter o homem conspurcado
o social.
Nos positivistas, apesar de terem afrontado claramente os clássicos,
encontramos correntes utilitárias, além do racionalismo e do cientificismo.
Foi em 1876, aproximadamente um século após o livro de Beccaria, que tivemos
a primeira edição do Homem Criminoso, de Cesare Lombroso.
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Tínhamos aí as ciências do homem e a contribuição das Origens das espécies,
1859, de Darwin, e Descendentes do homem, 1871.
Foi Comte quem destacou a importância social da ciência, e com tal significação,
da sociedade social. Tudo isso implica a contradição de todo pensamento iluminista,
cujo alicerce é a metafísica.
4 EVOLUÇÃO DA CRIMINOLOGIA
Fonte:.bp.blogspot.com
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ser também a medida de defesa social, mas, principalmente, contribuir para a
regeneração do culpado.
Da mesma fonna, a Astrologia - conhecida desde a Antiguidade, entre os
chineses, hindus, egípcios e os maias -, sustentava que o comportamento se rege
pelos atos e seus movimentos, influenciando assim a conduta delituosa humana.
Aliás, desde a mais remota Antiguidade, a mitologia, a religião e Astrologia
estavam intimamente ligadas, servindo hoje de meios auxiliares para diversas
ciências. A Astrologia, por exemplo, é considerada vestíbulo da Astronomia. .
A Demonologia, por sua vez, estudava a situação dos indivíduos loucos, sujeitos
a ataques de toda ordem, considerando-os possuídos pelos demônios, o que permitiu
inomináveis crueldades e torturas, sob o manto de abusos da religião. Quando os
algozes e torturadores dos tribunais da Inquisição supliciavam o suspeito de heresia,
faziam-no na finne e fanática convicção de que, quebrantando as forças físicas da
vítima, estavam com isso enfraquecendo as resistências dos demônios, os quais
supostamente dominavam os suplicados.
Assim, a Demonologia, tentando estabelecer a relação entre o corpo e a alma
humana - o orgânico e o psíquico -, preocupa-se com a "natureza e as qualidades dos
demônios"; ela tem antecedentes muito antigos, como na religião do Irã, onde se
adorava um deus bom (Ormuz) e um mau (Ahra-Mani).
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VIII.
Em sua obra Utopia Morus descreve a enorme onda de criminalidade que
assolava a Inglaterra, na época em que ele viveu, época essa marcada pela
truculência oficial, com a aplicação sumária da pena de morte. Aliás, o próprio Morus
acabou sendo decapitado por determinação de Henrique VIII.
A Utopia representa a primeira crítica, fundamentada, ao regime burguês em
ascensão e uma análise profunda das particularidades inerentes ao feudalismo em
decadência.
A primeira parte da obra é o espelho fiel das injustiças e misérias da sociedade
feudal; é, em particular, o martirológico do povo inglês sobre o reinado de Henrique
VIII, um tirano avarento. Eram, porém, várias as causas da opressão e sofrimento do
povo: a nobreza e o clero possuíam a maior parte do solo e das riquezas públicas;
estes bens permaneciam estéreis, enquanto a fome atormentava a população.
Além disso, nessa época, os grandes senhores mantinham na multidão de
vassalos, seja por amor ao fausto, seja para - como polícia particular, capangas -
assegurar a impunidade dos crimes praticados pelos seus amos, ou ainda para utilizar
ditos vassalos como instrumentos de violência contra os habitantes da vila. Essa
vassalagem era o terror do camponês e dos trabalhadores em geral.
Por outro lado, o comércio e a indústria, na Inglaterra não tinham muita expansão
antes das descobertas de Vasco da Gama e Colombo. Assim, as gerações se.
sucediam sem finalidade, sem trabalho, sem pão. A agricultura estava em ruínas,
desde que a nascente indústria da lã, prometendo lucros espantosos, fez com que
terras imensas fossem transformadas em pastagens para carneiros. Em
consequência disto, a multidão de camponeses viu-se reduzida à miséria, provocando
a multiplicação da mendicidade, vagabundagem, roubos e assassínios.
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Sob certo aspecto, as discussões estiveram centradas, em parte, no enfoque
filosófico acerca do binômio livre arbítrio e determinismo, em relação às condutas
delituosas do ser humano, e de outro lado na questão antropológica, no ativismo.
Malgrado a vulnerabilidade de suas teorias, acerca do criminoso-nato, Cesar
Lombroso (1835-1909) desenvolveu uma série de estudos e pesquisas, que
polarizaram as atenções do mundo científico de então, quando, em 1876, ele publica
o seu momentoso livro o Homem Delinquente, onde aborda, inclusive, aspectos
relacionados à criminalidade em geral, dentre as diversas espécies animais, como
vimos anteriormente.
Dentre os fundadores da Escola Positiva, em Direito Penal, considera-se
Lombroso o antropólogo, Garofalo o jurista e Ferri o sociólogo.
Incontestavelmente, Lombroso teve o mérito de contribuir para a sistematização
científica da Antropologia Criminal, com o que desviou a atenção do fato criminoso -
até então a preocupação máxima dos criminalistas - abrindo o caminho para o
surgimento da Escola Positiva, em oposição à Escola Clássica.
Fonte: www.viu.es/
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Este período evolutivo da Criminologia se confunde com o nome de escola
Francesa ou de Lyon, ou das teorias do meio ambiente. Estas teorias compreendem
todas as concepções sociais e ambientais que se levantaram contra as concepções
lombrosianas, as quais se centravam na ideia de que fatores endógenos, ou seja
individuais, predominavam na conduta do indivíduo, como decorrência do atavismo,
resultando no criminoso-nato.
Para a Escola Francesa, ao contrário, eram os fatores exógenos, isto é,
ambientais, os mais importantes em relação à conduta do indivíduo, levando-o ao
crime, em determinadas circunstâncias.
Para essas teorias contribuíram as ideias de Augusto Comte (798-1857), os
estudos de Quetelet, Emílio Ducpétiot (1804-1868).
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comportamentos humanos considerados maus, em si, apenados em virtudes de
normas que são, supostamente, produto de um consenso coletivo, segundo as
concepções da democracia burguesa, o liberalismo político-econômico.
Em suma, a Criminologia Tradicional ou Criminologia Clássica se revela
estacionária, imobilista. Não atenta para o fundamental: a permanente crise crônica
do sistema capitalista, decorrente dos antagonismos e contradições insuperáveis,
inerentes ao próprio sistema.
Fonte: litreactor.com/
Fonte: www.prensa.umich.
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Psicologia Criminal é o ramo da Psicologia que estuda as manifestações
psíquicas, através do estudo e da classificação dos processos psíquicos do homem
delinquente.
Psicanálise Criminal é o ramo da Psicanálise que se dedica ao estudo da
personalidade do delinquente, partindo das angústias e dos complexos de culpa que
o afligem, levando-o à procura da bebida, da droga, enveredando pelos caminhos do
crime, para a solução dos seus problemas íntimos.
Sociologia Criminal é a ciência que estuda o fenômeno criminal do ponto de vista
da influência do meio social sobre a conduta humana criminosa.
Fonte: encrypted-tbn1.gstatic.com
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Em suma, os quatro elementos acima elencados constituem o centro das
preocupações das ciências penais, sob as diferentes angulações, próprias de cada
uma delas, como veremos oportunamente.
A propósito, convencionalmente, o termo penalista serve para designar o
estudioso, professor, tratadista de Direito Penal, enquanto o vocábulo criminalista se
aplica ao causídico, advogado que se dedica às causas criminais, cujo sucesso
profissional costuma proporcionar-lhe larga fama.
Fonte: www.nadinemuller.org.uk
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Há, por exemplo, disposições natas e predisposições, em função das
disposições herdadas ou disposição germinal; disposição adquirida ou personalidade
do sujeito, em determinado momento.
Em suma, há concorrência duma série de aspectos, englobando causas e
fatores, que culminam com o desencadeamento do delito (Mezger, Criminologia, ps.
249 e segs.).
Assim, pode verificar-se a ocorrência duma série de causas e fatores
criminógenos, propícios à prática delituosa, mas a interveniência ou incidência de
outros aspectos ou circunstâncias - as chamadas variáveis - acabam influindo no
sentido de impedir a conduta antissocial, fazendo com que os freios inibitórios
prevaleçam, ou seja, ocorra o predomínio daquilo que Benigno Di Tullio denominou
forças crimino-repelentes, contra as forças crimino-impelentes (Tratado de
Antropologia Criminal, ps. 13 e 209).
Fonte: ndarc.med.unsw.edu.
Quanto à intenção
Quanto à materialidade
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a) simples: modalidade que não apresenta elementos acidentais, como o
homicídio simples;
b) materiais ou de resultado: são os que se tomam perfeitos com a positivação
do resultado, como característico do tipo legal, com a inequívoca lesão do bem jurídico
protegido, como no caso do furto da coisa comum, na violação do domicílio, a extorsão
mediante sequestro;
c) de lesão ou dano: aqueles que só se consideram consumados, quando ocorre,
no mais das vezes, uma lesão efetiva de um bem ou interesse penalmente tutelado;
neles o dolo é de dano, por exemplo, a calúnia, a difamação, a injúria, o
constrangimento ilegal;
d) de perigo: aqueles em que não é necessário que ocorra um dano efetivo e
concreto, bastando a simples existência da ação criminosa, como o fato de ter em
depósito substância entorpecente, ilegalmente;
e) instantâneos: aqueles em a atividade delituosa termina no momento preciso
em que o seu efeito se produz, como no furto, nas ofensas físicas;
f) permanentes ou contínuos: aqueles em que o ato deles constitutivos não sofre
interrupção, permanecendo o agente em estado de criminalidade ou de violação
ininterrupta da lei penal; em tais casos, a consumação se protrai ou interrompe,
dependendo da vontade do agente, ou de flagrante, como o cárcere privado, a
ocultação de menor. É claro que, se o agente se livrar do flagrante, nem por isso estará
isento de responsabilidade criminal, a ser apurada através de inquérito criminal e
subsequente ação penal;
g) instantâneos de efeitos permanentes: aqueles cuja atividade delituosa se
configura em determinado ato, cujos efeitos perduram, como a bigamia;
h) complexos: quando uma infração penal envolve outra, distinta, alheia à
intenção do agente, como a morte da pessoa visada e ferimento de outra; ,
i) continuados ou sucessivos: aqueles em que o autor pratica vários atos
sucessivos e conexos, materialmente distintos, com uma só intenção e resolução
dolosa, como o agente que furta dum mesmo porta-talheres, várias peças, em dias
diferentes, dentro de breve espaço de tempo;
j) transeuntes: aqueles que não deixam vestígios, como a injúria verbal, a
violação de domicílio;
k) não transeuntes: aqueles que deixam vestígios, como o homicídio, a lesão
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corporal;
l) privilegiados: aqueles cometidos em virtude de relevante valor social ou moral
(delictum privilegiatum ou delictum exceptum), como o homicídio privilegiado; o crime
consistente em receber de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, e a
restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade;
m) qualificados: aqueles que se revestem duma forma mais grave, em virtude de
ocorrerem circunstâncias que assim o qualificam, como o homicídio qualificado, o
aborto qualificado;
n) distanciados: aqueles cuja ação e o resultado se separam no tempo ou
espaço, como a sonegação ou destruição de correspondência, a extorsão, a extorsão
mediante sequestro;
o) formais: quando a intenção do agente se presume do seu próprio ato, que se
reputa consumado independentemente do resultado que possa produzir, como a
falsificação de moeda, seja ou não posta em circulação;
p) putativos ou imaginários: aqueles em que o agente considera erroneamente
que sua conduta constitui crime, quando, na verdade não é, como no caso em que
alguém pensa ter alvejado certa pessoa, quando na verdade foi outrem que o fez;
q) putativos por obra do agente provocador: quando, de forma insidiosa, uma
pessoa provoca o agente, levando-o a praticar o crime, ao mesmo tempo que adota
providências com a finalidade de evitar a consumação do mesmo; são os casos de
flagrante preparado;
r) de sangue: aqueles cuja execução causa derramamento de sangue, com o
emprego de arma de fogo, instrumento perfuro cortante;
s) hediondos: aqueles que se revestem das características dos qualificados e
de sangue.
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de pessoas, pressupondo no agente qualidade pessoal e particular condição jurídica,
como os crimes falimentares, que só podem ser praticados pelo devedor comerciante;
os crimes praticados por funcionários públicos;
c) de mão própria: aqueles em que todos os elementos do tipo penal devem ser
realizados pessoalmente pelo agente, sendo assim impossível a figura do concurso
de agentes. São semelhantes aos delitos próprios, pois também aqui apenas as
pessoas tipicamente referidas podem ser autoras. Todavia, nos delitos próprios é
possível a participação de terceiro, enquanto nos delitos de mão própria tal não
acontece. Assim, são delitos próprios e simultaneamente de mão própria o infanticídio,
o abandono ou exposição de infante, causa honoris, o peculato;
d) unis subjetivos ou individuais: aqueles em que a totalidade dos atos típicos
podem ser praticados por um único autor, como a injúria verbal;
e) plurissubjetivos ou coletivos: aqueles em que são dois ou mais os autores,
distinguindo-se, porém, duas subdivisões, ou seja, os unilaterais ou convergentes ou
de conduta convergente, nos quais as várias participações se orientam em um mesmo
sentido, como no crime de quadrilha ou bando, e os bilaterais ou plurilaterais em que
as várias participações são contrapostas, como no caso de rixa;
f) de mão morta: aqueles que só podem ser praticados pela pessoa indicada, em
função do próprio tipo, como no caso do adultério, do abandono material;
g) funcionais: aqueles cometidos por quem se acha investido de um oficio, ou
função pública, quando no exercício desta e relativamente a esta, como os crimes
praticados por funcionários públicos;
h) especiais: aqueles que exigem como elemento integrativo uma qualidade ou
condição especial do agente, como no caso dos crimes funcionais, falimentares,
militares;
i) multitudinários ou coletivos: aqueles que são praticados por multidão em
tumulto, contra pessoas ou coisas, por ocasião de manifestações públicas, greves;
j) bilaterais: aqueles para cuja consumação se exige o encontro de vontades de
dois agentes, como a receptação;
k) habituais: os que são praticados seguidamente pelo mesmo autor, com a
mesma uniformidade e o mesmo objetivo, como a falsa identidade, o exercício ilegal
da profissão de médico, dentista, advogado;
l) passionais: aqueles em que o agente é impulsionado por uma paixão ou
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emoção violenta e irreprimível: o ciúme, um amor egoístico ou contrariado, um ultraje
à honra.
Fonte: www.blogdomadeira.com.br
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em si mesma incriminada, pois o que caracteriza a responsabilidade penal é ter o
agente faltado a um dever jurídico de agir para impedir o resultado, como o caso da
mãe que, por privar o filho, recém-nascido, de alimentação, deixa-o morrer;
d) comissivos e omissivos: também chamados delitos de conduta mista, pois se
expressam necessariamente em duas formas, isto é, positiva e negativa, ambas
cooperantes, como o parto suposto (comportamento comissivo no ato de apresentar
o filho de outrem a registro e omissivo na ocultação da filiação verdadeira);
e) necessários: aqueles que são praticados em estado de necessidade, em
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito;
f) de ímpeto: também chamado ex impetu, caracterizam-se pelo desígnio
delituoso instantâneo ou repentino, motivado por cólera, paixão ou terror, sem
preceder deliberação, determinação ou raciocínio, ou seja, per moto imprevisto.
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imprescindíveis à sua existência real, e em cuja execução, até sua consumação, a
intenção direta do agente foi inteiramente satisfeita.
Fonte: www.efetividade.blog.
a) conexos: são aqueles praticados -1) ao mesmo tempo, por diversas pessoas
reunidas; 2) em consequência de um pacto previamente estabelecido, embora o delito
seja perpetrado em diferentes tempos e lugares; 3) como meio de execução de outros,
ou como expediente para procurar a impunidade; 4) quanto têm com outra infração
uma estreita interdependência, ou nexo de tal natureza que se torna impossível
apreciá-Ios isoladamente, cindindo a prova;
b) de concurso facultativo ou simplesmente coautoria: são os crimes em que a
participação de dois ou mais agentes não constitui elemento fundamental para
configuração do delito;
c) de concurso necessário: são os crimes que exigem para a sua configuração o
concurso de duas ou mais pessoas, quer dizer, a própria descrição típica exige o
concurso, como nos crimes coletivos (caso da quadrilha OU bando) ou nos bilaterais,
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sendo que nestes uma das pessoas pode não ser culpável, como nos crimes de
adultério e bigamia.
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Daí a denominação adotada pelos Códigos Penais, ou seja, Parte Especial, que
estabelece a classificação dos crimes em espécie, compreendendo-se como espécies
as partes do gênero, sendo que este abrange várias daquelas, conforme os critérios
jurídicos, políticos, filosóficos, sociológicos e econômicos, adotados pelo legislador.
Nessa ordem de ideias, o Código Penal (1940) estabeleceu, em sua Parte
Especial, a sequência de Títulos em que classifica os crimes em espécie, com as
respectivas rubricas, a saber: Titulo I - Dos Crimes Contra a Pessoa (arts. 121 a 154);
Titulo II - Dos Crimes Contra o Patrimônio (arts. 155 a 183); Título III - Dos Crimes
Contra a Propriedade Imaterial (arts. 184 a 196); Título IV - Dos Crimes Contra a
Organização do Trabalho (arts. 197 a 207); Título V - Dos Crimes Contra o Sentimento
Religioso e Contra o Respeito aos Mortos (arts. 208 a 212); Título VI - Dos Crimes
Contra os Costumes (arts. 213 a 234); Título VII - Dos Crimes Contra a Família (arts.
235 a 249); Título VIII - Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública (arts. 250 a 285);
Título IX - Dos Crimes Contra a Paz Pública (arts. 286 a 288); Título X - Dos Crimes
Contra a Fé Pública (arts. 289 a 311); Título XI - Dos Crimes Contra a Administração
Pública (arts. 312 a 359).
Cabe ressaltar que, além dessas espécies de crimes, existem outras, constantes
da legislação penal extravagante, ou seja, previstas em leis específicas, elencando
determinados tipos penais, em decorrência do processo de desenvolvimento político,
econômico e social.
Haja vista, dentre outros textos legais, a Lei n° 4.898, de 09.12.1965Regula o
direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal,
nos casos de abuso de autoridade; Lei n° 5.726, de 29.10.1971 - Dispõe sobre
medidas preventivas e repressivas ao tráfico e uso de substâncias entorpecentes ou
que determinem dependência física ou psíquica, e dá outras providências; Lei n°
8.072, de 25.07.1990, com alterações introduzi das pelas Lei n° 8.930, de 06.09.1994
e Lei n° 9.695, de 20.08.1998, dispondo sobre os crimes hediondos; Lei n° 9.455, de
07.04.1997 - Define os crimes de tortura.
Com efeito, a miséria e a pobreza não constituem causas ou fatores de-
terminantes, fatais, para que o indivíduo se tome delinquente, bandido, assaltante,
narcotraficante, haja vista que, se assim fosse, a maioria da população mundial
enveredaria por essas práticas delituosas, posto que dita maioria é carente, excluída,
de acordo com as estatísticas existentes a respeito.
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Por outro lado, era de se esperar que, dentre as pessoas pertencentes às
famílias abastadas, e que recebem esmerada educação, jamais ocorressem desvios
de comportamento, práticas criminosas; entretanto, isso não se verifica, pois muitas
delas cometem não só delitos típicos do "colarinho branco", como também infração
penais comuns, ou seja, aquelas que os juristas burgueses e pequeno-burgueses
consideram peculiares às "classes subalternas" da sociedade, isto é, o proletariado.
8 A PATOLOGIA SOCIAL
Fonte: www.calicultural.net/
39
nos jovens.
Diante desse quadro, conclui que existe uma relação direta entre o progresso
tecnológico e o desenvolvimento da agressividade humana, invocando a opinião de
Arnold Toynbee: "O processo atual, em aceleração desordenada da tecnologia,
aumentou agora em grau alarmante a brecha as camadas consciente e inconsciente
da psique humana" (Psicopatologia Forense, ps. 463,465,481 e 482).
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as denominadas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).
A propósito, a Corte de Justiça de Los Angeles condenou o espólio do ator Rock
Hudson, ao pagamento da importância de US$ 14,5 milhões de dólares (NCz$ 14,5
milhões), em favor do ex-amante dele, Marc Christian, com quem conviveu durante
cerca de dois anos, a partir de 1982. Em 1984, o relacionamento entre eles começou
a deteriorar-se porque Marc revelou ao seu amante, que se prostituíra com outro
indivíduo. Diante da iminência de um rompimento, o amante de Hudson ameaçou
revelar publicamente o homossexualismo do galã, arruinando assim sua máscula
reputação, construída ao longo de muitos beijos, trocados com mocinhas, nas telas
dos cinemas.
Os membros do júri daquela Corte norte-americana entenderam que Marc
Christian "sofreu um choque emocional", porque, até pouco antes da morte de Hudson
(1985), ignorava ser este portador de AIDS, sujeitando-o, assim, ao perigo de contágio
(O Globo, 17.02.1989).
Por outro lado, em 1987, na Califórnia (EUA), o cidadão Joseph Markowski foi
denunciado, por tentativa de homicídio, por ter doado sangue, mediante pagamento,
sendo portador de AIDS, além do fato de manter relações sexuais com cinco pessoas.
Surgiu então a polêmica, acerca da violação do princípio da reserva legal, visto que
não há lei penal específica sobre a matéria, em que se pudesse amparar tal imputação
penal (Fantástico, 19.07.l987).
Quid juris, em face dos princípios jurídicos brasileiros?
Versando sobre o ressarcimento, José de Aguiar Dias não deixa dúvida acerca
do caráter ilícito e do dever de indenizar, no caso de transmissão de doença venérea,
em face dos princípios que regem o ordenamento jurídico pátrio, nessa esfera (Da
Responsabilidade Civil, voI. lI, p. 445).
Recorrendo-se à opinião de Nélson Hungria, verifica-se que nosso Código Penal
de 1940 não previu "a hipótese de superveniência da morte da vítima, consequente
ao efetivo contágio. Como resolver tal hipótese? Se o agente procedeu com dolo de
perigo ou dolo de dano, o fato ser-lhe-á imputado a título de "lesão corporal seguida
de morte" ou "homicídio preterintencional" (art. 129, § 1°). Se o antecedente, porém,
era simplesmente culposo, responderá por homicídio culposo (art. 121, § 3°)"
(Comentários ao Código Penal, voI. V, p. 396).
Até que ponto a falta de condições higiênicas essenciais, a promiscuidade
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sexual, debilitamento orgânico, estresse e outros aspectos, são responsáveis pelos
elevados índices de incidência da AIDS, nos diversos países?
Segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde, a China, por
exemplo, com mais de um bilhão de habitantes, não registrava casos de AIDS, salvo
os de 13 estrangeiros, lá residentes, que se encontravam então sob tratamento,
hospitalizados (Jornal do Brasil, 02.03.1988).
Fonte: luzzianesoprani.com.br
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sendo que esta queima". Desesperada, a vítima procurou uma clínica, onde foi
atendida, cujo clínico de plantão diagnosticou apenas: "forte estado de excitação".
Pouco depois, falecia a vítima (Estudos de Psicologia Criminal, voI. lI, ps. 9 e segs.).
Nesse contexto se inserem sadismo (perversão sexual em que a satisfação
erótica advém da prática de atos de violência ou crueldade), o masoquismo (perversão
sexual em que a pessoa só tem prazer ao ser maltratada física e moralmente) e o
sadomasoquismo (perversão sexual que consiste na conjugação do sadismo e do
masoquismo), podendo em consequência resultar lesões corporais ou morte, temas
esses que abordamos noutro trabalho (Sexologia Forense, ps. 140 e segs.).
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ser batida. Mas pessoas menos cultas como regra geral, nas pessoas
intelectualmente mais elevadas como fenômeno ocasional e patológico - o amor, em
vez de diminuir, aumenta com as sevícias e os maus-tratos, e assim, as misérias do
masoquismo levam às violências do sadismo, que são as doenças do amor e a sua
gangrena."
Prossegue:
"O amor nasceu com a violência. Nas florestas da humanidade primitiva, o
macho impunha-se, violentamente, à fêmea esquiva e possuía-a pela força. E só a
lenta e tormentosa elevação moral, de geração para geração, do Oriente místico até
a Grécia bela, até a poderosa Roma, conseguiu purificar e imprimir uma certa
delicadeza ao sentimento do amor, no qual, porém, palpita sempre, bem viva, a
recordação nostálgica da violência primitiva" (Discursos de Defesa, ps. 12 e 22).
Fonte: nossacausa.com
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indivíduo que, quando interrogado, encerra-se em impenetrável mutismo ou passa a
exibir para respostas ("respostas ao lado"), como se estivera acometido de um estado
deficitário orgânico, não raro acompanhado de sintomas depressivos ou catatônicos
(FERNANDES, 2002, p.
225).
A personalidade psicopática é caracterizada por uma distorção do caráter do
indivíduo. Os indivíduos acometidos por tal personalidade geralmente apresentam o
seguinte quadro característico: são inteligentes, amorais, inconstantes, insinceros;
faltam-lhes vergonha e remorso; são egocêntricos, inclinados a condutas mórbidas.
Citamos como tipos, dentre outros: os explosivos ou epileptoides, os perversos ou
amorais, os fanáticos e os mitomaníacos.
Os explosivos ou epileptoides são indivíduos que manifestam em seu
comportamento a habitualidade de um estado colérico, raivoso, agressivo, tanto
verbalmente como fisicamente. Os perversos ou amorais são maldosos, cruéis,
destrutivos. Tais características revelam-se precocemente em crianças, nas
tendências à preguiça, inércia, indocilidade, impulsividade, indiferença, propensos à
criminalidade infanto-juvenil. Na fase adulta, o indivíduo possui grau elevado de
inteligência, podendo ser observadas mentiras, calúnias, delações, furtos, roubos.
Encontram-se no rol dos amorais os incendiários, os vândalos, os "vampiros" e os
envenenadores (FERNANDES, 2002, p. 209)
Os fanáticos tendem a um ânimo constante de euforismo, extrema exaltação
daquilo que desejam. Lutam por seus ideais de forma impulsiva, sem limites, sem
controle. São capazes de praticar qualquer ato delinquente na busca incessante por
seus objetivos. Os mitomaníacos, por sua vez, são acometidos de um desequilíbrio
da inteligência no tocante à realidade. São propensos à mentira, à simulação, à
fantasia. Conseguem distorcer, de forma quase convincente, a realidade dos fatos,
podendo chegar a extremos de delírios e devaneios.
O estudo da sexualidade anômala ou transtornos da sexualidade interessa à
medicina legal, são distúrbios caracterizados por degeneração psíquica ou por fatores
orgânicos glandulares. Citamos como exemplo o sadismo, o masoquismo, a pedofilia,
o vampirismo e a necrofilia. O sadismo, também chamado algolagnia ativa, é
transtorno sexual em que o indivíduo inflige sofrimentos físicos à parceria para obter
o prazer sexual. O termo tem origem no nome do Marquês de Sade (1740), que
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acometido do mal, o relatou em seus romances Justina e Julieta. O marquês sentia
prazer em cortar as carnes de suas parceiras e em tratar as chagas das prostitutas
(GOMES, 2004, p. 471).
Já o masoquismo é algolagnia passiva, isto é, o indivíduo só consegue sentir
prazer sexual ao sofrer, ao ser humilhado. Jean Jacques Rousseau, filósofo francês
que viveu nos idos anos de 1712 a 1778, bastante conhecido por sua obra Do Contrato
Social (onde trabalha a formação e desenvolvimento da sociedade civil e do próprio
Estado), em um de seus livros publicados após sua morte, Confissões, revela ser
acometido deste transtorno da sexualidade: "Ajoelhar-se aos pés de uma amante
imperiosa, obedecer às suas ordens, pedir perdão de faltas que cometera eram para
mim gozos divinos" (GOMES, 2004, p. 471).
A pedofilia é parafilia caracterizada pela atração por parceiros sexuais crianças
ou adolescentes. O vampirismo é a aberração venérea na qual a gratificação é
alcançada com o degenerado sugando obsessivamente o sangue de seu parceiro
sexual (CROCE; CROCE JÚNIOR,2004, p. 681)
A necrofilia, por sua vez, trata-se de transtorno caracterizado por prática de
relações sexuais com cadáver. "Alguns necrófilos chegam a violar covas, retirar
corpos em decomposição para satisfazerem seu instinto" (GOMES, 2004, p. 474).
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BIBLIOGRAFIA
BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia: Freitas Bastos, 1998.
------------- O Medo na cidade de Rio de Janeiro: Dois tempos de uma história. Rio
de Janeiro: Revan. Tese de doutoramento IMS/UERJ, RU, 2003.
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