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Magistratura Federal
CURSO EXTENSIVO
MATERIAL DE APOIO
coordenadores:
O fundamento constitucional do direito de ação está no art. 5º, XXXV, da CF/88: “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, que consagra o princípio da
inafastabilidade da jurisdição.
Tal princípio importa no poder-dever do Estado de dizer o direito. É poder, porque o Poder 1
Judiciário tem monopólio de dizer o direito, sendo a autotutela, em regra, vedada. Como exceções à
regra têm-se a legítima defesa e o estado de necessidade.
Além disso, vale dizer que, uma vez inerte o órgão ministerial na propositura da ação penal,
o ofendido toma para si o direito de, por conta própria, provocar o Poder Judiciário (ação penal
privada subsidiária da pública).
b) No curso do processo
1ª corrente – Com base no art. 564, II, do CPP, há doutrinadores que defendem a nulidade
absoluta do processo, com base no art. 564, II, do CPP, que, embora se refira à legitimidade da parte,
aplicar-se-ia às demais condições da ação.
2ª corrente – O processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, de acordo com a
aplicação analógica da teoria eclética de Liebman adotada pelo Código de Processo Civil.
A doutrina majoritária transita pela defesa de uma das duas últimas correntes.
É a pertinência subjetiva da ação, que deve ser estudada sob dois aspectos, a legitimidade
ativa (quem pode ocupar o polo ativo da ação penal) e a legitimidade passiva (quem pode ocupar o
polo passivo).
A legitimidade passiva recai sobre o suposto autor do fato delituoso. O fato de a pessoa se
dizer inocente é questão de mérito, e não de processo. Exemplo de ilegitimidade passiva: acusa-se
uma pessoa que tem o mesmo nome (homônimo) do verdadeiro autor do fato; falsa identidade
(alguém é detido pela prática de um crime, mas descobre-se que outra pessoa estava usando sua
identidade); denúncia oferecida contra uma testemunha.
→ Legitimação concorrente
Ocorre quando dois ou mais órgãos ou agentes estão igualmente legitimados para figurar no
polo ativo da demanda. São exemplos de legitimação concorrente: ação penal privada subsidiária da
pública (art. 29 do CPP) e ação penal em crime contra a honra praticado contra funcionário público
no exercício de suas funções (Súmula n. 714 do STF).
B. INTERESSE DE AGIR
A necessidade é sempre presumida no processo penal, pois não há pena sem processo.
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A adequação não tem tamanha relevância no processo penal, pois não há diferentes
espécies de ação penal condenatória. Cuidado, por outro lado, com as ações penais não
condenatórias, nas quais a adequação ganha maior importância. Exemplo disso verifica-se no
cabimento apenas de mandado de segurança (e não de habeas corpus) em caso de condenação por
pena de multa ou se a infração penal apenas prever pena pecuniária (Súmula 693 do STF).
Súmula 438/STJ: "É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal".
Para que se possa invocar do Estado a aplicação da pena, é preciso que o fato narrado na
denúncia ou queixa seja um fato típico, isto é, uma conduta definida em lei como sendo um ilícito
penal. Nesse sentido o teor do inc. III, do art. 397, do CPP, ao dispor que o juiz absolverá
sumariamente o acusado se o fato narrado não constitui crime. De sorte que, se o fato é atípico e,
apesar disso, se formula uma acusação, a ação penal conterá um pedido juridicamente impossível
e, por consequência, deverá ser rejeitada. Como exemplo poderia ser mencionado uma queixa-crime
ofertada pela prática de adultério (art. 240 do CP), sabidamente revogado pela Lei nº 11.106/2005,
tornando essa conduta um indiferente penal.
D. JUSTA CAUSA
Até a Lei n. 11.719/08, a doutrina afirmava que a justa causa não era uma condição autônoma
da ação, estando inserida no interesse de agir.
Após o advento de referida lei, o art. 395, inciso III, do CPP passou a tratar a justa causa
como condição autônoma da ação, consistente no suporte probatório mínimo para o oferecimento da
ação penal (indícios suficientes de autoria e prova da materialidade do delito).
Vale lembrar que o inquérito policial não é indispensável à propositura de ação penal,
mas denúncia desacompanhada de um mínimo de prova do fato e da autoria é denúncia sem justa
causa. 4
2.2. CONDIÇÕES ESPECÍFICAS
São condições exigidas expressamente pela lei para que o Ministério Público possa oferecer
a denúncia. Trata-se de condições de procedibilidade, consistentes na representação do ofendido
e na requisição do Ministro da Justiça, ambas indispensáveis ao oferecimento da ação penal
pública condicionada.
O titular da ação penal pública é o Ministério Público, nos termos do art. 129, inciso I, da
CF/8819.
ATENÇÃO!
De acordo com o art. 24, §2º, do CPP, seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio
ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será pública.
O titular da ação penal de iniciativa privada é o ofendido ou seu representante legal. A peça
acusatória é a queixa-crime (da mesma forma que a denúncia, deve ser apresentada junto ao Poder
Judiciário e não à autoridade policial). Existem três espécies:
O direito de queixa só pode ser exercido pelo ofendido. O representante legal não pode
exercer esse direito e não haverá sucessão processual. Exemplo: art. 236 do CP (induzimento a erro
essencial e ocultação de impedimento).
Na ação penal privada personalíssima, a morte da vítima extingue a punibilidade? Sabe-
se que a morte do acusado extingue a punibilidade. Quanto à morte da vítima, tratando-se de ação
penal privada personalíssima, não haverá sucessão processual. Se a vítima morre, o seu direito
morre com ela, razão pela qual, nessa hipótese excepcional, advirá a extinção da punibilidade do
acusado.
Se o ofendido for incapaz, seu direito será exercido por meio do seu representante legal. Além
disso, é plenamente possível a sucessão processual. Exemplos: dano; crimes contra a honra.
Esse tipo de ação penal só é cabível diante da inércia do Ministério Público. Ela funciona
como importante instrumento de controle da atividade exercida pelo MP.
ATENÇÃO!
O “processo judicialiforme”, instaurado através do auto de prisão em flagrante ou portaria do delegado ou do
juiz, com previsão no art. 26 do CPP, não foi recepcionado pela CF/88.
Cuidado! A ordem de habeas corpus pode ser concedida de ofício pelo magistrado (art. 654, §2º, CPP).
b) Princípio do ne bis in idem processual: ninguém pode ser processado duas vezes pela
mesma imputação, ou seja, pelo mesmo fato delituoso. Encontra-se previsto expressamente no
Pacto de São José da Costa Rica, art. 8º, §4º.
1. Transação penal (art. 76, Lei 9.099/9529): acordo entre o MP e o autor do delito; se este
aceitar, cumprirá uma medida equivalente a multa ou a pena restritiva de direitos, e o promotor
deixará de oferecer denúncia contra ele. Diz a doutrina que, nesse caso, aplica-se o princípio da
discricionariedade regrada (ou da obrigatoriedade mitigada).
A. CONCEITO
Como visto, a regra da decadência para representação é de 6 meses. A exceção fica por
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conta do crime do art. 236 do Código Penal (induzimento a erro essencial e ocultação de
impedimento). De acordo com o parágrafo único do referido dispositivo, o prazo só vai começar a
fluir a partir do trânsito em julgado da decisão que anular o casamento.
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe
impedimento que não seja casamento anterior:
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser
intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou
impedimento, anule o casamento.
A representação pode ser oferecida pelo ofendido com 18 anos completos ou mais (art. 5º,
Código Civil). Vale dizer que tanto o art. 34 do CPP quanto, para este efeito, a Súmula 594 do STF
estão ultrapassados, na medida em que, a partir dos 18 anos, a pessoa é plenamente capaz. Por
essa razão, não há necessidade de curador para o menor de 21 anos.
Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de queixa poderá ser exercido por
ele ou por seu representante legal.
Súmula 594. Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo
ofendido ou por seu representante legal.
Mas, sob outro aspecto, ainda pode ser possível invocar a súmula 594. Suponha-se um crime
perpetrado quando a vítima contava 15 anos de idade, sem capacidade, porque incapaz, de ingressar
com a queixa ou a representação. A legitimidade para fazê-lo, nesse caso, era de seu representante
legal que, porém, quedou-se inerte, deixando transcorrer o prazo decadencial de seis meses. Indaga-
se, então: atingindo a plena capacidade, ao completar 18 anos de idade, poderá o ofendido ajuizar
queixa-crime ou ofertar representação? Divide-se a doutrina.
Outra corrente doutrinária entende que são dois os prazos: o primeiro conferido ao
representante legal enquanto a vítima não completar 18 anos e, um segundo, concedido a esta
última, ao atingir a maioridade. Há quem sustente esta segunda solução porque, afinal, antes de
completar 18 anos a vítima não possuía legitimidade para o exercício da ação penal e, portanto, não
há que se falar na perda de um direito, pela decadência, da qual ela não era titular. É dizer: se a
vítima estava impedida de exercer um direito, não pode ser penalizada com o reconhecimento da
decadência, que importa exatamente em uma sanção aplicada ao inerte. Nesta esteira, se a súmula
594 não tem mais aplicação no que se refere ao art. 34 do CPP, continua válida para enfrentar a
indagação aqui proposta.
E se o incapaz não possuir representante legal? Nesse caso, a lei prevê a nomeação de
curador especial pelo juiz (art. 33 do CPP). Ressalte-se que o curador especial não é obrigado a
oferecer queixa. A ele cabe proceder ao juízo de conveniência e oportunidade sobre o assunto.
D. DESTINATÁRIOS
F. RETRATAÇÃO
A retratação significa “voltar atrás”, ou seja, arrepender-se de um direito que foi exercido. De
acordo com o CPP, a retratação da representação é possível até oferecimento da denúncia (≠
recebimento). É o que dispõe o seu art. 25 do CPP:
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata
esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
o Ministério Público.
Logo, a retratação da representação nos crimes praticados mediante violência doméstica e
familiar contra a mulher pode ser feita até o recebimento da denúncia. Cuidado! Há doutrinadores
que reproduzem esse dispositivo, porém não atentam para um detalhe. O art. 16 da Lei 11.340/06
não fala em retratação, mas em “renúncia”. Ocorre que, quando alguém renuncia, está-se abrindo
mão de um direito que ainda não foi exercido. Ora, mas se a denúncia foi recebida, como diz a norma,
é porque o MP já a ofereceu, o que somente pode ser feito se a vítima tiver representado
anteriormente. Assim, podemos concluir que a “renúncia” a que se refere o art. 16, em verdade, é
uma retratação. Ressalte-se, ainda, que esta retratação não pode se dar de qualquer forma, mas
somente perante o juiz, em audiência especialmente designada para essa finalidade.
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CESPE, TJDFT, 2013: Uma vez apresentada, a representação de crime de ação penal pública somente pode
ser retirada antes do oferecimento da denúncia, não se admitindo retratação da retratação.
ERRADO
Por outro lado, feita a representação em relação a apenas um delito, o MP não pode oferecer
denúncia em relação a outros crimes que não foram objeto de representação. Nesse caso, se algum
crime não foi objeto de representação, deve o MP provocar o chamamento da vítima para manifestar
o seu interesse na persecução penal.
A. CONCEITO
É ato de conveniência política, a cargo do Ministro da Justiça, autorizando a persecução penal
nas infrações que a exijam. Essa requisição está sujeita à discricionariedade (conveniência e
oportunidade) do Ministro da Justiça.
No silêncio da lei, não há prazo para formulá-la. Logo, a requisição não está sujeita à
decadência, podendo ser ofertada a qualquer tempo, enquanto a punibilidade não for extinta.
C. DESTINATÁRIO
A palavra “requisição”, neste ponto, não é sinônimo de “ordem”, uma vez que o Ministério
Público continua sendo o titular da ação penal pública. Assim, por mais que o Ministro da Justiça
tenha apresentado a requisição, o MP não é obrigado a oferecer denúncia se entender que não
houve crime.
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E. RETRATAÇÃO
A maioria da doutrina entende que é possível a retratação da requisição por parte do Ministro
da Justiça, que deve ser feita até o oferecimento da denúncia (Luiz Flávio Gomes). Ressalte-se,
contudo, que não se trata de posição francamente pacífica, pois há também forte entendimento no
sentido de que não cabe retratação da requisição, por ausência de previsão legal, além de ser um
ato de natureza política que exige serenidade e ponderação antes de ser exercido (Tourinho Filho).
b) Princípio do ne bis idem processual: ninguém pode ser processado duas vezes pela
mesma imputação, ou seja, pelo mesmo fato delituoso. Encontra-se previsto expressamente no
Pacto San José da Costa Rica, art. 8º, §4º.
5.2. RENÚNCIA
A renúncia é o ato unilateral e voluntário por meio do qual o ofendido abre mão do seu direito
de queixa. Não é necessário, portanto, ouvir o acusado, pois não depende de sua concordância.
Quanto à natureza jurídica da renúncia, temos que ela funciona como causa extintiva da
punibilidade (art. 107, inciso V, do CP), mas apenas nos casos de ação penal exclusivamente privada
e ação penal privada personalíssima. A renúncia não atinge a ação penal privada subsidiária da
pública, pois ela, na sua essência, tem natureza pública. Assim, ainda que a vítima não queira exercer
o seu direito a propor a ação penal subsidiária, não haverá extinção da punibilidade, pois o Ministério
pode oferecer a denúncia a qualquer tempo.
Observação!
Segundo Rogério Sanches, não obstante a renúncia seja instituto próprio da ação penal privada,
excepcionalmente, cabe também renúncia na ação penal pública condicionada à representação, desde que 15
a infração seja de menor potencial ofensivo (art. 74, p. único, da Lei 9.099/95). É que nesses casos há
disciplina própria na Lei nº 9.099/95 estabelecendo que o acordo homologado entre o agente e o ofendido
(composição civil dos danos) acarreta a renúncia do direito de queixa e de representação.
Quanto ao modo de exercício da renúncia, diz a doutrina que ela pode ser tácita ou expressa.
Renúncia expressa: é aquela feita através de uma declaração inequívoca, ou seja, o ofendido declara
de maneira inequívoca (sem qualquer dúvida) que está abrindo mão do direito de queixa. Renúncia
tácita: vislumbra-se quando o ofendido pratica um ato incompatível com a vontade de processar. Ex.:
a vítima convida o agente para ser padrinho do seu casamento.
Trata-se de um ato bilateral e voluntário por meio do qual o querelante perdoa o acusado,
acarretando a extinção do processo. Ao contrário da renúncia, o perdão é um ato bilateral, o que
significa dizer que depende de aceitação.
Pode ser que o acusado não aceite o perdão, pois deseja ver proclamada a sua inocência.
Ressalte-se, entretanto, que o fato de o acusado aceitar o perdão não significa que ele está admitindo
que é culpado.
É correto dizer, então, que o perdão extingue a punibilidade? Não. Conforme o art. 107,
V, do CP, a aceitação do perdão é que extingue a punibilidade, justamente porque se trata de ato 16
bilateral.
Apenas é válido nos casos de ação penal exclusivamente privada e ação penal privada
personalíssima. Não se aplica aos casos de ação penal privada subsidiária da pública pelos mesmos
motivos acima expostos.
Destaque-se que o perdão do ofendido não se confunde com o perdão judicial (ex.: art. 121,
§5º, do CP). Este último, inclusive, é concedido pelo juiz e não pelo ofendido.
Quanto ao modo de exercício, o perdão pode ser concedido de maneira expressa (declaração
inequívoca) ou tácita (prática de ato incompatível com a vontade de processar). Vale dizer que, aqui,
a aceitação também pode ser expressa ou tácita; a própria lei prevê, inclusive, que o silêncio do
acusado implica a aceitação tácita (art. 58 do CPP).
Por fim, também se aplica ao perdão o princípio da indivisibilidade, de modo que o perdão
concedido a um dos coautores estende-se aos demais, desde que haja aceitação. Se um dos
coautores não aceitar o perdão, o processo irá prosseguir com relação a ele. Ademais, o perdão
concedido por um dos ofendidos não prejudica os demais, pois eles possuem direitos autônomos.
RENÚNCIA PERDÃO
Conceito: ato unilateral e voluntário por meio do Conceito: ato bilateral e voluntário por meio do qual o
qual o ofendido abre mão do seu direito de querelante perdoa o acusado, acarretando a extinção do
queixa. processo.
Natureza jurídica: causa extintiva da Natureza jurídica: com sua aceitação, é causa extintiva
punibilidade (ação penal exclusivamente privada da punibilidade (ação penal exclusivamente privada e
e ação penal privada personalíssima). ação penal privada personalíssima).
5.4. PEREMPÇÃO
A perempção corresponde à perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal privada
em virtude da negligência do querelante (ou dos sucessores). Perceba que o direito de queixa já foi
exercido, mas, durante o processo, o ofendido mostrou-se negligente, razão pela qual a própria lei o
pune com a perempção.
Assim como a renúncia e o perdão, a perempção também funciona como causa extintiva da
punibilidade (art. 107, inciso IV, do CP), mas apenas na ação penal exclusivamente privada e na
ação penal privada personalíssima. Não se aplica à ação penal privada subsidiária da pública,
pois, neste caso, ocorrendo a negligência do ofendido, caberá ao Ministério Público retomar
o processo como parte principal.
5.5. DECADÊNCIA
Destaque-se que o curso do prazo decadencial será obstado com o exercício do direito de
queixa ou de representação, pouco importando se a queixa foi proposta perante o juízo
incompetente. O que interessa não é a competência do juízo, mas se o direito foi exercido ou não. 19
5.6. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA
Vem prevista na Constituição Federal (art. 5º, inc. LIX), e nos arts. 29 do CPP e 103, § 3º, do
CP. É cabível apenas nas situações em que o crime for de ação penal pública e quando se verificar
a inércia do Ministério Público. Tomemos o exemplo de um crime de roubo. Recebido o inquérito
policial, abrem-se três alternativas para o Ministério Público: ou oferta a denúncia, ou pede o
arquivamento ou requer a devolução dos autos à delegacia de polícia para novas diligências. Ora,
se passado o prazo legal de 5 dias, estando preso o indiciado, ou 15 dias, estando ele solto, nenhuma
dessas alternativas for adotada pelo promotor de justiça, está configurada sua inércia e, por
consequência, pode a vítima (ou seus sucessores, representante legal ou curador), apresentar a
queixa que irá, exatamente, substituir a denúncia do Ministério Público. Repita-se, esta espécie de
ação (raramente vista na prática) só é possível quando o crime, na sua origem, é de ação penal
pública, como o roubo no nosso exemplo. Se o crime é de ação penal privada, o titular já é o ofendido
(querelante) e, portanto, a queixa por ele apresentada jamais irá substituir a denúncia do Ministério
Público, que no caso é incabível.
O prazo para oferta da queixa pela vítima continua sendo de seis meses, conforme previsto
no art. 38 do CPP. O termo a quo, porém, se inicia após o prazo concedido ao Ministério Público,
isto é, no 6º dia (se preso o indiciado), ou no 16º dia (se solto o indiciado), sob pena de decadência.
Findo o prazo para o parquet, e com sua inércia, tem início a contagem do prazo para o particular
ajuizar a queixa-crime subsidiária.
AÇÃO PENAL PRIVADA EXCLUSIVA → 6 meses, contados do dia do conhecimento da autoria do delito.
AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA → 6 meses, contados do fim do prazo para o
oferecimento da denúncia pelo MP.
A qualquer momento pode o Ministério Público ofertar a denúncia, enquanto não apresentada
a queixa pelo ofendido, já que para o parquet não se opera a decadência. Demais disso, eventual
inobservância do prazo, pelo “parquet”, configura mera irregularidade, sem qualquer consequência
para o processo propriamente dito.
b) Pode aditar a queixa-crime, tanto para incluir elementos secundários (ex.: lugar do crime,
modus operandi etc.), como também para incluir novos fatos delituosos, coautores e partícipes.
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c) Deve intervir em todos os termos do processo – atua como interveniente adesivo
obrigatório.
e) No caso de negligência (desídia) do querelante, deve retomar a ação como parte principal
(a ação privada subsidiária é indisponível). É a chamada ação penal indireta.
ATENÇÃO!
Lembre-se de que, no caso da ação penal privada, cabe ao MP fiscalizar o princípio da indivisibilidade,
contudo, ele não poderá aditar a queixa-crime, devendo, pois, apelar, para que a parte proceda ao devido
aditamento. Já na ação privada subsidiária da pública, por sua vez, o MP poderá aditar a queixa-crime,
já que a ação penal continua sendo pública de qualquer forma.
Saliente-se, por último, que somente é cabível essa espécie de ação quando se verificar,
como já dito, a inércia do Ministério Público. Assim, se o órgão promove o arquivamento do inquérito
policial, não há inércia e, portanto, não se admite a queixa subsidiária. O mesmo ocorre quando
requer novas diligências de fato necessárias.
Trata-se de ação penal que pode ser ajuizada por qualquer pessoa do povo. A doutrina cita
dois exemplos em que isso é possível: no habeas corpus e no art. 14 da Lei n. 1.079/50.
1º exemplo: o habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa, capaz ou incapaz,
física ou jurídica. Frise-se que o HC não constitui uma ação penal condenatória. Trata-se de um
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remédio constitucional, com ampla legitimidade, que visa proteger a liberdade de locomoção.
É aquela ajuizada com o objetivo de se aplicar medida de segurança a inimputável do art. 26,
caput, do CP, através de uma sentença absolutória imprópria.
No Direito Alemão, é possível que o Ministério Público ingresse com a ação penal pública
mesmo em relação aos crimes sujeitos à ação penal provada, desde que haja um interesse público.
Neste caso, o querelante poderá constituir-se em parte acessória, o que equivale ao instituto
brasileiro do assistente do Ministério Público.
Para Denílson Feitosa é possível que o MP ofereça denúncia em crimes de ação penal
privada, desde que visualize a presença de interesse público. Nesse caso, o ofendido pode se
habilitar como acusador subsidiário, como se fosse uma espécie de ação penal adesiva ou ação
penal acessória.
Para Fernando da Costa Tourinho Filho esse tipo de ação existe no ordenamento alemão,
porém não é propriamente uma ação penal, haja vista o objetivo de se obter a satisfação do dano ex
delicto no juízo criminal. Quanto ao ordenamento pátrio, Tourinho observa o art. 268, CPP que
permite ao ofendido o direito de ingressar no processo penal, ao lado do Ministério Público, como
assistente. Trata-se de intervenção adesiva facultativa. Não há pois, ação penal autônoma. (Renato 22
Brasileiro, pág. 283-284)
Ocorre quando as circunstâncias do crime fazem variar a espécie de ação penal. Exemplo:
crimes contra a honra; dano.
7. PEÇA ACUSATÓRIA
Lembre-se que a peça acusatória é chamada de denúncia, na ação penal pública. Na ação
penal privada, de queixa-crime. Tanto a denúncia quanto a queixa, em regra, devem ser
apresentadas por escrito, através de uma petição.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
a) Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias: quanto mais simples
a peça acusatória, melhor. Ela serve para narrar uma história. No processo penal, o acusado
defende-se dos fatos que lhe são imputados, independentemente da classificação formulada. Frise-
se que não pode o promotor, simplesmente, reproduzir o tipo penal (ex.: não se deve falar “João
subtraiu coisa alheia móvel para si”, mas sim “João subtraiu a carteira de Gustavo para si”). Quanto
à deficiência da narrativa do fato delituoso, há quem chame de “criptoimputação”. Segundo a doutrina
e a jurisprudência, trata-se de causa de inépcia formal da peça acusatória, sendo que a inépcia é
apontada como uma das causas de rejeição desta (art. 395, inciso I, do CPP).
Além disso, a 2ª Turma do STF também decidiu que o vício na procuração outorgada pelo
querelante ao seu advogado somente pode ser corrigido durante o prazo decadencial, ou seja, até o
período máximo de 6 meses contados do dia em que se veio a saber quem é o autor do crime. (RHC-
105920/RJ). Note, assim, que agora não mais se admite a correção do vício na procuração a qualquer
tempo, mas apenas até antes de ocorrer a decadência.
Estamos totalmente à disposição para quaisquer críticas ou sugestões. Sua contribuição é fundamental para nós. Eventuais
apontamentos podem ser enviados para [email protected].
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