Entrevista Com Marcelo Zelic
Entrevista Com Marcelo Zelic
Entrevista Com Marcelo Zelic
DOI: 10.5433/2176-6665.2017v22n2p347
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universidade e fui trabalhar em uma favela e comecei um trabalho social por
lá, na Favela do Autódromo. Trabalhei com vários militantes que atuavam
na região de Santo Amaro, nas favelas. Ao mesmo tempo, militava em
direitos humanos, e militava também no Serviço de Justiça e Não Violência.
Depois disso parei um tempo, quando eu casei. E em 2001 eu voltei, quando
deu o quebra pau com a ALCA. Aí eu me dei conta de que faltava pensar a
questão da memória. Foi aí que comecei a pensar na construção do Armazém
da Memória. No começo eu liguei para a Clara Chaves, que era mulher do
Marighela, liguei para ela todo animado dizendo que queria entrevistá-
la. Estava todo animado, e ela, que me ajudou muito nesse começo, falou:
“eu acabei de dar entrevista a outro jornalista...pega com ele”. Ai eu fiquei
meio chateado, pensei: “será que ela não vai dar entrevista para mim?”.
No outro dia eu pensei: “ela está certa, por que ela daria outra entrevista
se alguém já tem?”. Foi aí que surgiu o conceito do Armazém. A ideia não
era refazer o trabalho todo, mas trazer e concentrar todas as informações
que estavam dispersas. Fazia bem mais sentido isso do que ir lá e gravar de
novo as mesmas perguntas que outro já tinham feito. Foi aí, nesse primeiro
momento, que entrei nesse projeto de construção do Armazém da Memória.
Então viajei para Pernambuco, onde encontrei membros do Grupo Tortura
Nunca Mais. Eles que me mostraram os arquivos e me encaminharam para
o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. Foi aí que comecei a entrar nessa
discussão.
Mediações: Mas você acha que os dois não têm a intenção inicial
de fazer a temática indígena alcançar um público maior, e quem sabe mais
aliados?
Marcelo Zelic: Nisso eu precisava avaliar melhor qual é a
abordagem. Mas o fato objetivo é que a pessoa que quer tratar da redução e
desqualificação dos números da CNV já joga o livro dele em um limbo feio,
porque ele entra em uma contramão total do que está se buscando. Porque
esse livro, com essa tese, vem a negar o pouco de história e de verdade que a