13 - Avaliação Da Tecnologia de Gesso Projetado PDF

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XIV ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - 29 a 31 Outubro 2012 - Juiz de Fora

AVALIAÇÃO DA TECNOLOGIA DE GESSO PROJETADO

Mariana Franco Pacheco(1); Camilla Pompêo de Camargo e Silva(2); Aline Valverde


Arrotéia(3); Helena Carasek(4); Maria Carolina Gomes de Oliveira Brandstetter(5)
(1) Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil, Escola de Engenharia
Civil, Universidade Federal de Goiás, e-mail: [email protected]
(2)PPGGECON/UFG, e-mail: [email protected]
(3) PPGGECON/UFG, e-mail: [email protected]
(4) PPGGECON/UFG, e-mail: [email protected]
(5) PPGGECON/UFG, e-mail: [email protected]

RESUMO
O gesso para revestimento interno, em substituição ao revestimento de argamassa, tem sido
bastante utilizado como material para acabamento de diversas edificações em construção.
Esse material propicia algumas vantagens como resistência ao fogo, isolamento térmico e
acústico, elevada aderência, facilidade nos acabamentos, entre outras, ressaltando-se
também quanto a grande disponibilidade dessa matéria-prima no país, sendo encontrado em
larga escala na região nordeste. Diante deste quadro, o presente artigo tem como objetivo
avaliar quantitativamente, por medição da produtividade das equipes executoras do processo
de projeção do gesso, e qualitativamente, por análise visual, o processo da tecnologia do
gesso projetado mecanicamente, utilizado como revestimento interno de paredes. Os dados
foram analisados em uma obra de um empreendimento residencial de médio padrão
localizado na cidade de Goiânia. Para a medição de produtividade cartões de produção
foram criados e adaptados ao cotidiano da obra para melhor acompanhamento e registro dos
dados, além de observações diretas, registros fotográficos e entrevistas com as equipes de
execução e com o corpo gerencial da obra. Entre os principais resultados, pode-se apontar o
efeito do aprendizado a partir da segunda semana da tecnologia na obra, tornando-se
vantajosa em termos de rapidez de execução. Quanto à análise qualitativa dos resultados,
foram observadas fissuras no revestimento em alvenarias, entre as etapas de sarrafeamento e
acabamento final. Além disso, observou-se a pequena quantidade de resíduos gerados pela
aplicação de gesso projetado.
Palavras-chave: Revestimento, Gesso, Projeção, Produtividade.
Abstract
The plaster lining, replacing the coat of mortar, has been widely used as material for
finishing several buildings under construction. This material provides some advantages such
as fire resistance, thermal and acoustic insulation, high grip, easy finish, among others, as
well as emphasizing the wide availability of this raw material in the country, found largely in
the Northeast. The process of projection is considered very important, since the machine
makes all the work necessary to prepare this material, making the mixture homogeneous and
easy projection. This paper aims to evaluate quantitatively, by measuring the productivity of
teams executing the process of projection of the plaster, and qualitatively by visual analysis,
the technology process of gypsum mechanically designed, used as lining. The data base were
analyzed from a residential building construction medium standard in the city of Goiânia. To
measure productivity, production cards were created and adapted to the routine of work for
better monitoring and recording of data, and direct observations, photographs and interviews
with staff and implementing team. Among the main results, we can point out the learning
effect from the second week of technology in the work, making it advantageous in terms of

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execution speed. As for the qualitative analysis, were observed cracks in the masonry coating,
between the process production stages. Furthermore, there was a small amount of waste
generated by the application of projected plaster.
Keywords: Plastering, Gypsum, Projection, Productivity.

1. INTRODUÇÃO
A busca pela redução de custos e otimização de processos construtivos no mercado da
construção civil permite o conhecimento de novas técnicas ou métodos que visem trabalhos
mais eficientes, melhorando o prazo das obras, com menor custo e que possam ser utilizados
em larga escala. O revestimento interno com gesso projetado mecanicamente constitui uma
das tecnologias que estão sendo empregadas nas construções em substituição ao sistema de
revestimento de argamassa (ANTUNES et al, 1999; JOHN, CINCOTTO, 2010).
A utilização do gesso como revestimento aplicado mecanicamente substitui, com uma única
aplicação, as etapas de chapisco, emboço, reboco e massa corrida do sistema de revestimento
de argamassa, comumente encontrado nas obras, e propicia uma maior produtividade da mão
de obra, devido ao seu sistema de aplicação mecanizado. Entretanto, a utilização dessa
tecnologia ainda é relativamente pequena, principalmente devido à falta de mão de obra
especializada e ao baixo conhecimento sobre tal tecnologia.
Diante deste quadro, o presente artigo tem como objetivo avaliar quantitativamente, por
medição de produtividade da mão de obra, e qualitativamente, por análise visual, o processo
da tecnologia do gesso projetado mecanicamente, utilizado como revestimento interno em
uma obra na cidade de Goiânia, por meio de seu acompanhamento e registro, além de
entrevistas e observações realizadas.

2. GESSO PROJETADO: PROCESSO EXECUTIVO


A execução do gesso projetado para o revestimento de tetos e paredes é iniciado mediante a
projeção mecânica do material, por um equipamento específico para o processo de produção
que realiza a mistura, o bombeamento e a aplicação do material por meio da mangueira
projetora. A argamassa de gesso é um produto industrializado embalado em sacos, preparado
na obra com o auxílio de um equipamento que faz a dosagem da água necessária de forma
automática e homogeneíza a argamassa para ser aplicada diretamente ao substrato, em
substituição ao sistema tradicional aplicado manualmente. Esta técnica proporciona maior
economia na obra, pois reduz o desperdício e aumenta a produtividade da mão de obra.
Porém, não se recomenda a aplicação do gesso em áreas molhadas, porque o material não
apresenta boa resistência à umidade.
O revestimento não tem função de corrigir as imperfeições do substrato, tais como
irregularidades superficiais, desvios de planicidade, de alinhamento e de prumo da alvenaria e
estrutura. Sendo assim, é necessário que se tenha o controle no processo de execução,
obedecendo às tolerâncias recomendadas para não implicar no aumento da espessura do
revestimento. Um possível superdimensionamento das espessuras do revestimento leva ao
consumo desnecessário do material, bem como ao aumento do tempo gasto na execução, em
razão das várias camadas de projeção. De acordo com Farinho e Barros (2002), é necessário
que se faça a checagem de alguns procedimentos anteriormente ao processo de execução do
gesso projetado: suprimento de água e energia elétrica; transporte e estocagem dos materiais;
andaimes; segurança e disponibilidade de ferramentas.
Além do equipamento de projeção, a tecnologia de produção de gesso projetado exige outras
ferramentas igualmente importantes para a qualidade do revestimento final. Essas ferramentas

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com funções específicas são: a régua de alumínio H, a desempenadeira de aço, a espátula, o


carril e o facão, as quais deverão estar disponíveis para o início dos serviços. O método de
execução do gesso projetado pode ser dividido de acordo com o fluxograma da Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma com etapas do processo executivo de gesso projetado

3. METODOLOGIA DE PESQUISA
Para a realização da pesquisa, houve um acompanhamento do processo de aplicação do gesso
projetado mecanicamente em uma obra na cidade de Goiânia, a qual o utilizou como
revestimento interno nas áreas secas, substituindo o sistema de revestimento de argamassa. De
forma a avaliar qualitativamente o processo, utilizou-se como instrumentos registros
fotográficos, entrevistas e observações participantes, que permitiram a avaliação, por meio de
análises visuais, de aspectos de qualidade, perdas, limpeza e organização da tecnologia.
Para avaliar quantitativamente essa tecnologia, o instrumento utilizado foi um cartão de
medição de produção, permitindo a análise do desempenho da mão de obra, a partir da
geração do indicador RUP (Razão Unitária de Produção), expresso na razão matemática que
relaciona a quantidade de homens horas demandados para uma determinada produção física.
O trabalho utiliza três tipos de RUPs: diária, cumulativa e potencial. A diária é calculada a
partir dos valores de homem-hora e quantidades de serviços relativos ao dia em análise. A
cumulativa é calculada a partir dos valores de homem-hora e quantidades de serviços relativos
ao período que vai do primeiro dia em que se estudou a produtividade até o dia em questão. A
potencial é definida matematicamente como a mediana das RUPs diárias cujos valores
estejam abaixo do valor da RUP cumulativa ao final do período de estudo (SOUZA, 2006). A
coleta de dados ocorreu em vinte e quatro dias consecutivos, englobando quatro pavimentos
do empreendimento. A mão de obra envolvida variou entre duas e quatro pessoas por equipe.

3.1. Caracterização do empreendimento


A obra acompanhada para a realização desse estudo de caso é de um empreendimento
residencial, localizado na cidade de Goiânia (Figura 2). A planta baixa do apartamento é
apresentada na Figura 3 onde são demonstradas as paredes com este revestimento.

Figura 2 – Empreendimento do
estudo de caso Figura 3 - Planta baixa do apartamento com a demarcação das
paredes que recebem o revestimento

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O empreendimento possui 4 torres com 24 pavimentos cada, sendo 2 torres com apartamentos
de 2 quartos, com 1 suíte e outras 2 torres com apartamentos de 3 quartos, com 1 suíte,
somando um total de 384 unidades. A medição de produção do gesso projetado foi realizada
na torre 1, a qual possui apartamentos com área de 67 m², de 2 quartos.

3.2. Cartão de medição de produção


Para a medição de produtividade da mão de obra dessa tecnologia, foi criado um cartão de
medição de produção, o qual possuía como dados de entrada as horas diárias destinadas à
realização desse serviço, bem como a quantidade de pessoas envolvidas na tarefa e a área
executada pela equipe, em metros quadrados, com o intuito de se obter como dados de saída a
produção diária das equipes destinadas ao serviço de projeção do gesso. Esse cartão possuía
ainda um espaço destinado ao registro de eventuais acontecimentos, os quais poderiam
influenciar a produtividade ou impedir a execução do serviço, como a falta de materiais. A
medição foi realizada no primeiro semestre de 2011.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Os resultados apresentam as análises quantitativa e qualitativa do serviço de gesso projetado.

4.1. Análise quantitativa do processo


A análise quantitativa pode ser visualizada pelo gráfico da Figura 4 que apresenta a medição
da produtividade segundo o cálculo da RUP (medições diárias, cumulativa e potencial) e
referem-se à produtividade média diária incluindo todas as equipes.

Figura 4 – Gráfico de RUPs relativas às equipes de execução do gesso projetado


Por meio da análise do gráfico da Figura 4, pode-se inferir que houve uma curva de
aprendizagem com o passar do tempo. A RUP cumulativa no início da medição era
0,12Hh/m2 e a partir do quinto dia teve uma tendência de queda chegando a 0,06 Hh/m2, no
final do período observado, se aproximando do indicador de RUP potencial de 0,05 Hh/m2.
Pelas RUPs diárias percebem-se paradas na produção em seis dias da medição. Esse fato foi
explicado por falta de material ou água. Algumas quedas na produtividade, que não duraram
um dia inteiro, mas que influenciaram no desempenho da equipe foram ocasionadas em geral
devido à falta de energia, o que impossibilitava o uso da máquina. Outro fator que foi

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observado é que na decorrência de falta de água, além da paralização da projeção, a máquina


entupia, atrasando ainda mais o serviço, pois a equipe precisava esperar o abastecimento de
água para desentupir o equipamento e, por fim, voltar a projetar o gesso.

4.2. Análise qualitativa do processo


De forma qualitativa observou-se o processo da aplicação do gesso projetado em aspectos de
organização, limpeza e desperdícios gerados por essa tecnologia. Na realização do processo
de aplicação, observou-se que a realidade da obra é um pouco diferente da vista na
bibliografia, pois algumas etapas descritas na literatura do tema não foram realizadas pela
equipe da obra visitada, como a execução das mestras.
Durante o processo, também foram observadas fissuras no revestimento (Figura 5) entre as
etapas de sarrafeamento e o acabamento final, o que pode ser explicado pela possível
absorção da água da pasta de gesso pelo substrato, no caso de bloco cerâmico, pois essas
fissuras não foram encontradas em áreas de elementos estruturais de concreto, como vigas e
pilares, e sim somente nas de alvenaria; porém estudos aprofundados para maiores
esclarecimentos são necessários. Quanto aos aspectos de qualidade do processo, observou-se
que a aplicação de gesso projetado gera uma quantidade pequena de resíduos (Figura 6).

Figura 5 – Fissuras no revestimento entre as etapas Figura 6 – Resíduo gerado pela aplicação da
de sarrafeamento e acabamento final tecnologia em um pavimento inteiro

A Figura 7 apresenta o resíduo gerado pela aplicação da tecnologia em uma parede e a Figura
8 ilustra o aspecto liso da superfície no acabamento final.

Figura 7 – Resíduo gerado pela aplicação da Figura 8 – Aspecto da superfície no acabamento


tecnologia em uma parede final

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Cabe ressaltar-se que aspectos de organização, limpeza e desperdício dependem da equipe e


sua capacidade de aproveitar o material, bem como das condições oferecidas a ela, levando a
percepção de que o treinamento dessa mão de obra é importante e necessário para a realização
da técnica com eficiência. Quanto ao acabamento final, o aspecto da superfície é bem liso,
porém tal característica também depende da equipe e do seu conhecimento da técnica, pois
conforme os resultados obtidos, a aplicação de massa corrida e pintura se tornam
desnecessárias. Esse foi outro ponto encontrado na obra em divergência com a literatura
(MAEDA; SOUZA, 2000), pois após o acabamento do gesso, nesse caso, ainda há a aplicação
de massa PVA e pintura acrílica, o que pode ser explicado pela possibilidade do aumento da
durabilidade e proteção desse revestimento. Outro aspecto do acabamento final observado na
obra foi quanto à sua necessidade de corrigir imperfeições da base, no caso, falta de prumo
das alvenarias, não sendo essa sua função, o que pode prejudicar o seu acabamento final.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do gesso projetado como revestimento é de grande valia para o mercado da
construção civil, pois possui algumas vantagens como a rapidez da execução do serviço,
qualidade de acabamento final e redução de custos e desperdícios. Porém, como ainda é uma
tecnologia recente no Brasil, há a necessidade, primeiramente, de aceitação dessa tecnologia
por parte da mão de obra tradicional, bem como a de treinamento da mesma, já que o
conhecimento da técnica permite a qualidade do processo de aplicação e do acabamento final
desse revestimento, garantindo assim o objetivo de sua utilização.
Outro aspecto que precisa ser revisto para garantir a eficiência desse sistema é o fornecimento
de condições favoráveis às equipes, como o de abastecimento de materiais e ferramentas
adequado, pois como observado, a falta de materiais e de água e energia prejudicam a
execução. A qualidade de serviços precedentes também é outro ponto de fornecimento de
condições favoráveis, como exemplo o prumo das alvenarias, já que não é função do
revestimento corrigir tais imperfeições, levando à perda de produtividade e aumento do
consumo e desperdício de materiais.
Por último, há ainda a necessidade de estudos das consequências dessa tecnologia a curto,
médio e longo prazo, como o possível aparecimento de manifestações patológicas, sendo esse
um campo aberto ao desenvolvimento de novas pesquisas e estudos, e necessário para a
análise de desempenho e eficiência dessa tecnologia.

REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. P. do N.; JOHN, V. M.; ANDRADE, A. C. de. Produtividade dos revestimentos em gesso:
influência das propriedades do material. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO DA QUALIDADE E
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, 1., 1999, Recife. Anais... Recife, 1999. 9 p.
FARINHO, F. T.; BARROS, M. M. S. B. de. Revestimento de gesso projetado. Revista Techné, n. 60, mar.
2002. p. 59-63.
JOHN, V. M.; CINCOTTO, M. A. Gesso de Construção Civil. In: ISAIA, G. C. (Ed.). Materiais de Construção
Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. 2. ed. São Paulo: IBRACON, 2010. p. 727-759. v.1.
MAEDA, F. M.; SOUZA, U. E. L. Produtividade da mão-de-obra e materiais na execução de revestimento
em pasta de gesso aplicado sobre paredes internas de edificações. In: ENCONTRO NACIONAL DE
TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 8., 2000, Salvador. Anais... Salvador, 2000. v.1, p.611-618.
SOUZA, U. E. L. Como aumentar a eficiência da mão de obra – Manual de gestão da produtividade na
construção civil. São Paulo: Pini, 2006.

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