Jamile Baptista - Candomblé
Jamile Baptista - Candomblé
Jamile Baptista - Candomblé
CANDOMBLÉ EM LONDRINA:
INTERFACES ENTRE TERRITÓRIO, RACISMO E O
SAGRADO
Londrina
2015
JAMILE CARLA BAPTISTA
CANDOMBLÉ EM LONDRINA:
INTERFACES ENTRE TERRITÓRIO, RACISMO E O
SAGRADO
Londrina
2015
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática do Sistema de
Bibliotecas da UEL
Baptista, Jamile.
Candomblé em Londrina: : Interfaces Entre Território, Racismo e
Sagrado / Jamile Baptista. - Londrina, 2015.
129 f. : il.
1. Candomblé - Teses. 2. Londrina - Teses. 3. Racismo - Teses. 4. Território - Teses. I. Lanza, Fabio. II.
Universidade Estadual de Londrina. Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais. III. Título.
JAMILE CARLA BAPTISTA
CANDOMBLÉ EM LONDRINA:
INTERFACES ENTRE TERRITÓRIO, RACISMO E O SAGRADO
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Orientador: Prof. Dr. Fabio Lanza
Universidade Estadual de Londrina - UEL
______________________________________
Prof. Dr. Andreas Hofbauer
Universidade Estadual de São Paulo - UNESP
______________________________________
Profa. Dra.Margarida de Cassia Campos
Universidade Estadual de Londrina – UEL
À minha família, pois sem eles não teria conseguido realizar esta
pesquisa. Mãe, avô Alceu, avó Benedita, meu agradecimento sincero por me
fazerem ser quem eu sou. Em especial à minha mãe por nunca ter desistido da
minha educação, e respeitado sempre minhas decisões;
Ao meu pai, às minhas Tia Vera e Deva por terem participado na construção da
minha educação;
À Yá Mukumby, não só por ser uma fonte inesgotável de
conhecimento, mas também pelos anos que pude compartilhar uma amizade sincera
e que me deram subsídios para esta pesquisa, por ter plantado no meu coração a
vontade de acabar com o racismo e a desigualdade social;
À Olivia, por me ter ensinado em pouco tempo o quanto a vida é
importante e que devemos sempre ter sorriso no rosto e receber sempre as pessoas
no portão com um grande sorriso.
À Dona Allial, que em todo tempo me mostrou o quanto é importante
ser digna. E se orgulhar de quem nós somos.
Aos filhos e netos de Yá Mukumby: Vanessa, Victor, Gigi, Solana,
Iori, Adana, Solana, Italo, e a Seu Flávio.
À Fátima Beraldo, por me lembrar com seu olhar e seu carinho o
quanto aprendizado tínhamos no Ylê Ogum Megê.
Ao Programa de Mestrado de Ciências Sociais da Universidade
Estadual de Londrina;
Aos integrantes do NEAB, em especial às figuras da Dirce de Sá e
do Carlos Herrero por aguentarem minhas angústias; à equipe do PROPE, em
especial ao Nikolas e ao Maicon Guilherme pela parceria e pelo apoio para realizar
esta pesquisa, principalmente à Professora Doutora Maria Nilza pelo apoio e
estímulo;
À Mariana Panta pela amizade e paciência em não me deixar
desanimar e ao Deco D.Z., que com seus ensinamentos prova o que é ser um
verdadeiro descendente de Zumbi;
Aos meus entrevistados, Yá Ikandayô, Mãe Camila e Ogãn Robson,
meus sinceros agradecimentos pelos ensinamentos transmitidos.
À minha querida companheira Andréia Cruz, por sentar ao meu lado
e me motivar a terminar esta pesquisa, pois, nos momentos em que desanimei, se
não fosse sua presença não terminaria esta pesquisa;
Aos professores do Programa de Mestrado em Ciências Sociais e à
CAPES;
E por fim, ao meu orientador Fabio Lanza, por seu grande papel e
por acreditar nessa longa caminhada que começamos há alguns anos, em todas as
nossas dificuldades, tenho orgulho deste trabalho realizado e gratidão pela
orientação.
“MATU KANA MALEVELE KA
MALENDI LUTA NTU KO – Por mais
compridas que sejam, as orelhas não
podem ultrapassar a cabeça”
(Provérbio Bantu – idioma kikoongo)
BAPTISTA, Jamile Carla. Candomblé em Londrina: Interfaces entre Território,
Racismo e o Sagrado. 2015. 129f. Dissertação (Mestrado de Ciências Sociais) -
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2015.
RESUMO
ABSTRACT
This paper analyzes the historical and social issue of Candomblé terreiros in the city
of Londrina - Paraná. The survey was conducted by the demands requested in
recent years on the study of religions of African origin in Brazil. Assuming that the
city has studied its formation in the early twentieth century, more precisely in the 30s,
it is understood that Londrina was established in late colonial expansion, which
process is characterized by the black presence in its history. This black population
came to Londrina with propaganda carried out at the time in the country and
internationally by Compania de Northern Paraná Lands - CTNP to attract labor.
Notorious fact, it is necessary to point out that some blacks who arrived here brought
with them the religions of African origin, the Candomblé and Umbanda. This study
investigated through literature sources, document, electronic, interviews and field
observations in the homes of Candomblé Kaia Unde, Ya Mukumby, Yalorixá
Jambombori, Mother Omin and the Ogãn Carlos house, over the years 2009-2015
the historical process of structuring the Candomblé in Londrina and the interaction of
their homes with the space and the territory in which they operate. The analysis was
also performed in the context of racial issues: the relationship established by
Yalorixás and Babalorixás with the local community and the prejudice suffered by
them in relation to the territory, and also as a product of this research was formulated
an image of the geographical position of the terreiros of Candomblé in Londrina.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 16
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 99
INTRODUÇÃO 1
1
Os levantamentos aqui apontados fazem parte de estudos realizados desde 2008, sob a orientação
do Professor Doutor Fabio Lanza. E este trabalho é resultado desse acúmulo de pesquisa.
2
Maria Nilza da Silva nas obras O doutor Preto Justiniano Clímaco da Silva, Dona Vilma Cultura
Negra como Expressão de Luta e Vida, Negro em Movimento a trajetória do Doutor Oscar do
Nascimento; Fabio Lanza na obra Yá Mukumby a vida de Vilma Santos de Oliveira, Relações
etnicorraciais : saberes e experiências no cotidiano escolar. Sérgio Paulo Adolfo nos textos Mitos e
Ritos – a literatura de Candomblé em Londrina, O mito Cosmogônico e o Candomblé de Londrina.
17
inglês Paraná Plantations Ltda. Esse grupo criou a Companhia de Terras do Norte
do Paraná – CTNP, que loteou as terras que compreendem o universo das faixas de
terras entre os rios Paranapanema, Tibagi e Vale do Ivaí3.
Em busca do sucesso do loteamento da região, a CTNP precisava
fazer propaganda para que pudesse vender as terras. Tal propaganda tinha um
púbico alvo, os imigrantes europeus que vieram em grande número para o Brasil,
especialmente para o sul do país, com o intuito de se instalar e produzir riquezas no
começo do século XX4.
Foi nesse momento histórico da região norte do Paraná que ocorreu
o pontapé inicial na forte influência europeia na instalação do município e nas
relações raciais estabelecidas em Londrina, as quais este trabalho busca
compreender5.
A somatização das ideias eugênicas e higienistas 6 existentes no
mundo nesse tempo histórico contribuiu para a marginalização das populações
negras. Não fugindo da regra, na formação de Londrina7 também se encontra
presente essa ideologia. Sendo assim será apresentado neste trabalho que nem
sempre a relação entre Candomblé e a cidade produziu frutos positivos, pois o
ideário cristão e branco está enraizado nela, na sua formação e na construção de
sua história oficial.
Dentro do que foi justificado no parágrafo anterior, deve-se
compreender como os preconceitos e as discriminações permearam a história do
Candomblé nessa cidade e como isso também influenciou de maneira direta a sua
distribuição territorial, sobretudo definindo o que estaria presente nas regiões
centrais e o que estaria presente nas regiões periféricas cidades, entre outros
problemas relatados como se verá nos capítulos a seguir.
Neste trabalho, primeiramente, será apresentado o processo
histórico de como o Candomblé se desenvolveu no cenário nacional, utilizando-se
dados quantitativos sobre a construção da história da população negra no Brasil.
3
TOMAZI, 1997.
4
ALMEIDA, 2000.
5
SILVA, 2014.
6
Sugestão de leitura: DIWAN, Pietra. Raça Pura: Uma história da eugenia no Brasil e no mundo. 7
Sugestão de leitura: ARIAS NETO, José Miguel. O Eldorado: representação política em Londrina
(1930-1975).
18
7
Sérgio Paulo Adolfo (falecido em 2014) era Professor da Universidade Estadual de Londrina.
Possuía Pós-Doutorado em Letras pela USP, foi colaborador do NEEA-UEL que posteriormente
recebeu o nome de NEAB-UEL, e foi realizador das primeiras pesquisas sobre Candomblé em
Londrina (Informações retiradas da Plataforma Lattes).
8
Elena Maria Andrei (falecida em 2015) possuía Doutorado em Sociologia pela USP e foi, juntamente
com Sérgio Adolfo, umas das percursoras nos estudos de Candomblé em Londrina. Foi professora
do Departamento de Ciências Sociais da UEL (Informações retiradas da Plataforma Lattes).
9
Dona Vilma, também conhecida como Yá Mukumby, faleceu no dia 3 de agosto de 2013, em um ato
de intolerância religiosa. Esse fato será mais detalhado no quarto capítulo deste trabalho.
19
10
“As comunidades quilombolas são grupos étnicos – predominantemente constituídos pela
população negra rural ou urbana – que se auto definem a partir das relações com a terra, o
parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias. Estima-se que
em todo o País existam mais de três mil comunidades quilombolas. O Decreto nº 4.887, de 20 de
novembro de 2003, regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação,
demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos
de que trata o Artigo 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A partir do Decreto
4883/03, ficou transferida do Ministério da Cultura para o Incra a competência para a delimitação
das terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos, bem como a determinação de
suas demarcações e titulações. Conforme o Artigo 2º do Decreto 4887/2003, “consideram-se
remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-
raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações
territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à
opressão histórica sofrida”. Em 12 de março de 2004, o Governo Federal lançou o Programa Brasil
Quilombola (PBQ) como uma política de Estado para as áreas remanescentes de quilombos. O
PBQ abrange um conjunto de ações inseridas nos diversos órgãos governamentais, com suas
respectivas previsões de recursos, bem como as responsabilidades de cada órgão e prazos de
execução. Dessas ações, a política de regularização é atribuição do Incra.” Fonte:
http://www.incra.gov.br/estrutura acessado em 02/01/2015 às 19:30.
21
acabam sendo segregados pelo racismo e pela intolerância religiosa, o que, dá base
a uma parcela deste trabalho. A investigação aqui proposta relacionou a questão
histórica à luta do candomblecista para se afirmar no espaço, ou bairros, em quais
os adeptos do Candomblé estão situados, ou seja, seu local de profissão de fé.
23
11
População negra e parda é a maioria no país: 50,7% de um total de 190.732.694 pessoas. Fonte:
CENSO 2010 - http://www.censo2010.ibge.gov.br/Acessado em 25/03/2014 às 14:30.
12
FERNANDES, Florestan Brancos e Negros em São Paulo. São Paulo: Global, 2007.
13
A sociologia da ciência repousa no postulado de que a verdade do produto− mesmo em se tratando
desse produto particular que é a verdade científica −reside numa espécie particular de condições
sociais de produção; isto é, mais precisamente, num estado determinado da estrutura e do
funcionamento do campo científico. O universo "puro" da mais "pura" ciência é um campo social
como outro qualquer, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e estratégias, seus
interesses e lucros, mas onde todas essas invariantes revestem formas específicas (BOURDIEU,
1983). https://pt.scribd.com/doc/38608001/O-Campo-Cientifico-Pierre-Bourdieu. Acessado em
26/03/2015às12:30.
24
negro, tem-se como ponto inicial a formação de duas religiões que se alicerçam em
signos e significados oriundos de África: o Candomblé e a Umbanda.
O Candomblé é uma religião que se faz bastante evidente no
cenário das religiões brasileiras, tanto que atualmente o ataque midiático por parte
de uma parcela das religiões protestantes se torna cada vez mais forte, como se
verá nos capítulos a seguir. Essa religião tem uma cosmologia própria de entender e
designar aos seus seguidores uma forma de buscar o desconhecido pelo conhecido,
ou seja, o Candomblé é uma religião que liga os seus adeptos ao sagrado por meio
da sacralização de elementos encontrados na natureza (ADOLFO, 1997).
Sendo assim, compreender as relações das ligações dos
professantes dessa religião em interação com o espaço ao seu redor e também
como os seus praticantes se organizam com esse espaço para cultuar o sagrado
dessa religião é necessário para compreender e justificar esta pesquisa. Por
consequência dessa investigação, foi possível compreender também como uma
casa de Candomblé pode ser influenciada, em seu comportamento enquanto
instituição religiosa, por um determinado território ou como esse território pode ser
influenciado por essa roça14 de Candomblé.
As questões que envolvem o universo do Candomblé, já que este é
o objeto de estudo desta proposta, serão primeiramente trabalhadas em pontos
gerais e depois em particular na cidade de Londrina.
Segundo o pesquisador Reginaldo Prandi (1996), o Candomblé teve
sua constatação mais evidente após as últimas levas de negros oriundos do
continente africano que foram traficados para o Brasil com a finalidade de trabalhar
nas cidades e ocupações urbanas do século XVIII e XIX. Nesse sentido houve maior
aproximação entre os negros das mais diversas regiões de África. Eles traziam
consigo diferentes elementos culturais de suas várias regiões e essa aproximação
entre os grupos proporcionou a sistematização do culto às suas divindades. Dessa
forma, pode-se identificar com certa dificuldade algumas regiões de África que
deram as maiores influências ao Candomblé no Brasil.
14
A designação “terreiro” é dada ao local de realização do culto da maioria das religiões
afrobrasileiras, retratado por Sodré (1988) como a principal forma social do negro no Brasil. É
também conhecido como “roça”, certamente uma terminologia que faz remissão às condições dos
sítios onde os terreiros eram implantados no início da sua estruturação, em ambientes
caracterizados por suas grandes dimensões, composto de árvores frutíferas e afastados do grande
centro urbano, como observa o parecer técnico do Ministério da Cultura, com fins de tombamento
do Ilê Axé Opô Afonjá: Os candomblés mais antigos e tradicionais estão instalados em grandes
terrenos, denominados roças ou terreiros... (BRASIL, MINISTÉRIO DA CULTURA, 1999, p. 5).
25
15
Representação em cerâmica, louças e ferro que representam os Orixás para os adeptos. Em
especial o ferro é usado para a representação dos elementos de cada Orixá, juntamente com
búzios e demais elementos que compõem o sagrado da religião. Sendo assim cada divindade tem
sua forma em ferro. Por exemplo o assentamento de Ogum é composto por elementos de ferro e
várias ferramentas em ferro, como martelos, serrotes e etc que representam o Orixá que é da
guerra. Outro exemplo é o assentamento de Xangô, entidade da justiça, é composto por uma
gamela de madeira com uma ferramenta em forma de machado no centro. Dados coletadas
através de observação de campo da autora.
28
16
Palavra utilizada para designar a força vital dentro do Candomblé.
31
divindades, fato que ocorreu com diversas organizações negras pelo Brasil, que, em
algum momento de sua história, obtiveram um espaço para suas manifestações
religiosas e, tempo depois, foram abruptamente retiradas do local em questão:
17
Para maior compreensão, ver: NASCIMENTO, Abdias. O Genocídio do Negro Brasileiro. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1978.
36
adeptos não pudessem professar sua fé, ou seja, seus cultos sempre foram
perseguidos e negados pelo Estado brasileiro18.
Deve-se observar que o livro citado foi escrito pelo Pastor da Igreja
Universal do Reino de Deus, Edir Macedo. Seu conteúdo é extremamente ofensivo
aos praticantes dos cultos de matrizes africanas, pois nele todo e qualquer tipo de
orixás, voduns e inkises é assimilado ao demônio.
Aqui se faz necessária a discussão sobre o preconceito contra as
religiões de matriz africana. Sendo o Candomblé e a Umbanda religiões que têm seu
berço na cultura africana, deve-se atentar para o fato de que no Brasil tudo que foge
à regra ocidental, branca, cristã é considerado algo pecaminoso ou imbuído de
caráter negativo.
18
O Estado brasileiro justificava essas ações mediante a afirmação de que os cultos do Candomblé
eram ligados aos demônios e que o Candomblé era considerado uma seita. Vide ANEXO 1.
19
Edir Macedo, Bispo e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, tem se mostrado um dos
grandes perseguidores do Candomblé; produziu inúmeros livros que atacam de maneira direta as
religiões afro-brasileiras. Fonte: www.blogs.universal.org. Acessado em 20/04/2015 às 19:35.
37
20
No Censo 2010 não foi quantificado o número de adeptos de religiões de matriz africana, por isso
foram utilizados dados de 2000.
40
pesquisa de Carvalho (2006), das sete tendas citadas foram criadas outras 10.000
tendas. O criador da Umbanda Zélio Fernandino de Moraes, nunca utilizou os
fenômenos mediúnicos para adquirir bens ou riquezas; pelo contrário, muitas vezes,
conforme o texto, essas tendas eram consideradas albergues pelas características
das pessoas que frequentavam o lugar.
Como verificado, a Umbanda é uma “religião brasileira”24, portanto
deve-se pensar que nasceu em um período de bastante conflito e de profundas
transformações. Em 1988 havia acontecido a abolição da escravatura, e somente a
partir da década de 1920 essa religião ganha uma maior repercussão com a criação
das outras sete tendas e, depois, de outras 10.000. Conforme coloca o antropólogo
Luiz Assunção em seu livro O Reino Dos Mestres, pode-se entender que é nesse
momento, na década de 20, que a Umbanda surge enquanto movimento e se
desenvolve como um sistema de crenças e rituais. Essa religião se caracteriza por
elementos simbólicos de várias outras religiões, por exemplo: do Candomblé, os
cultos aos orixás; das religiões indígenas, constrói-se uma imagem do índio
expressa pela entidade do “caboclo”; do Catolicismo, o ritmo dos cantos, as rezas e
as venerações aos santos católicos; do Kardecismo, o discurso científico, a crença
na reencarnação e evolução espiritual.
Outro fragmento retirado da pesquisa de Luiz Carvalho Assunção é
o fato de que, em 1939, é inaugurada a Federação Espírita de Umbanda no Rio de
Janeiro e, em 1941, é realizado o 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo de
Umbanda. Nesse momento a religião é reconhecida como uma organização religiosa
e, a partir daí, inicia-se um grande processo de expansão da religião, sendo hoje
uma religião bastante conhecida em todo o território nacional.
Neste capítulo foi abordado o surgimento do Candomblé e feitos
alguns apontamentos com relação à Umbanda. Mediante a discussão feita, chega-
se à conclusão que as duas se estruturam em um contexto histórico próximo,
correlacionam-se em vários momentos históricos e compartilham dificuldades.
24
Esta religião abarca grandes características de outras religiões, sendo considerada uma religião
brasileira.
42
25
http://www.cps.fgv.br/cps/bd/clippings/nc1481.pdf. Acessado em 15/04/2015às 19:40.
43
elaboradores está Francis Galton com sua teoria prática de eugenização das
sociedades ocidentais. Segundo Munanga:
Ainda no século XIX, os pensadores brasileiros utilizaram-se sem
qualquer dúvida do referencial teórico de cientistas europeus e
americanos para fundamentar suas concepções acerca dos negros e
dos mestiços que cresciam gradativamente em termos numéricos no
Brasil. Essas concepções estavam imbuídas do medo desses
cientistas com o futuro de uma sociedade predominantemente preta,
futuro esse compreendido pela elite brasileira como incerto e
degenerado (MUNANGA, 2004, p. 47).
26
Marco Feliciano é Deputado Federal pelo Estado de São Paulo pelo partido PSC-Partido Social
Cristão, e tem inúmeras declarações contra as religiões de matriz africana. Fonte:
www.marcofeliciano.com.br
48
27
Ver mais em:
http://www1.londrina.pr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=40&Itemid=58
http://debatepublico.com.br/node/2375 - Acessado em 18/03/2015 às 19:40.
50
28
Os Orixás são as divindades cultuadas pelas casas de Candomblé de Ketu.
29
O sentido da palavra territorialidade como sinônimo de pertencer àquilo que nos pertence... esse
sentimento de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde da existência de
Estado. Assim, essa idéia de territorialidade se estende aos próprios animais, como sinônimo de
área de vivência e de reprodução. Mas territorialidade humana pressupõe também a preocupação
com o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres vivos, é privilégio do homem
(SANTOS, 2001, p. 19).
51
30
Dados da Fundação Nacional de Saúde sobre a saúde da população negra retirados da obra As
Doenças da Pele, são cerca de 6 vezes maior para homens pretos quando comparada à taxa
apresentada para os homens brancos, situação estranhamente semelhante na relação entre as
taxas de mortalidade por Doenças Osteomusculares, quase quatro vezes maior para os pretos, as
Malformações Congênitas, cerca de 3,5 vezes. Em relação à morte por Causas Mal Definidas,
Doenças Mentais e Doenças Geniturinárias, a razão entre as taxas descritas para pretos e brancos
é mais que o dobro. As mulheres negras apresentaram menores chances de passar por consultas
ginecológicas completas e por consultas de pré-natal; menores chances de realizar a primeira
consulta de pré-natal em período igual ou inferior ao quarto mês de gravidez, receber informações
sobre os sinais do parto, alimentação saudável durante a gravidez e sobre a importância do
aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida do bebê (Fundação Nacional de Saúde. -
Brasília: Funasa, 2005) http://bvsms.saude.gov.br/bvs/pop_negra/pdf/saudepopneg.pdf Acessado
em 12/02/2015 às 23:30.
52
associações estão ligadas a uma imagem do negro construída por uma cultura
ocidental, branca e cristã, que refuta qualquer tipo de construção positiva da imagem
e da cultura do negro.
Em uma passagem do livro O terreiro e a cidade: a formação social
negro-brasileira, Muniz Sodré remete à questão de que os terreiros de Candomblé
têm um caráter significativo de luta, pois foi e é nos terreiros que o negro se coloca
em contraposição com a cultura dominante, ou seja, é nos terreiros que o negro
consegue se remeter à sua ancestralidade.
Nas palavras de Sodré: “O terreiro é o lugar que se contrapõe à
uniformização da chamada cultura dominante e serviu de suporte para a
continuidade e descontinuidade da cultura do antigo escravo”. Nesse sentido, faz-se
necessário entender e teorizar como ocorrem as relações do Candomblé e sua
interação com o território e como o povo transforma aquele território em espaço
sagrado (SODRÉ, 1988, P. 17).
De um modo geral entender essas relações nada mais é do que
tentar compreender uma lógica de resistência desse grupo. Resistência, pois, como
Munanga (2003) expõe em sua obra, O negro no Brasil de Hoje, o negro utilizou-se
de vários mecanismos para manter viva sua cultura, desde que ele foi trazido de
África para o Brasil, e o Candomblé e a Umbanda devem ser apreendidos como uma
dessas formas de resistência.
As formas de resistência do negro no passado oferecem subsídios
para entender e visualizar os problemas da época, porém alguns perduraram até
hoje, e pode-se encontrar isso na religião, por não fazer parte dos padrões brancos
e ocidentais. Evidentemente essas formas de resistência são um elemento de
grande incentivo para se estudar e compreender a dinamicidade e a pluralidade
dessa religião e dos seus professantes no âmbito da vida urbana.
A viabilidade desse trabalho está no fato de que Londrina conta com
uma comunidade candomblecista atuante no que diz respeito à questão do negro. É
possível afirmar que a comunidade que compõe essa religião na cidade tem grande
visibilidade nas lutas cotidianas dos movimentos sociais. De maneira qualitativa, os
adeptos são também integrantes e ocupam um importante espaço de reivindicação
no movimento negro da cidade.
A partir dos estudos do professor Sérgio Adolfo e, sobretudo, da
coleta de dados na observação participante, foi possível identificar que há três
53
maioria das vezes eram os negros que ocupavam esse setor de trabalho. No que
tange à religiosidade e à população negra, é necessário entender que nem todo
negro é candomblecista.
As primeiras casas de Candomblé em Londrina surgiram em 1950,
porém, como explica Adolfo (1997), os cultos aos Orixás já eram processados muito
antes:
O Candomblé parece ter presença segura em Londrina, como
atividade organizada, desde a década de 50, sendo provável, no
entanto, que pessoas ligadas a esta atividade religiosa a praticavam,
de maneira informal, já desde muitos anos antes (ADOLFO, 1997, p.
10).
32
Outro tipo de denominação para casas, terreiros, roças de Candomblé.
55
sobretudo porque ela inaugura uma fórmula de Casa de Santo que será quase um
padrão no decorrer dos anos seguintes (ADOLFO, 1997).
A Mãe Ciconchê é oriunda de São Paulo e traz de lá as influências
sobre professar a fé. Esse dado é importante, pois será notado que, em quase todas
as outras Casas de Santo, há uma forte tendência de professar o Candomblé nos
modelos de São Paulo.
A Mãe Mukumby também se encaixa na tendência seguida pela Mãe
Ciconchê. Seu Pai de Santo, Oyá Doessibelé, é oriundo do interior de São Paulo,
como apresenta a própria Mukumby no livro Yá Mukumby: a vida de Vilma Santos
de Oliveira. Sua feitura de Santo 33 ocorreu em Jacarezinho, cidade localizada na
divisa entre os estados de São Paulo e Paraná.
O Tata Meluango juntamente com Mãe Loiá Katu fundaram a Casa
de Santo da nação Angola da linhagem Viva Deus. Tatá Meluango e sua
companheira Mãe Loiá Katu são pessoas fundamentais para se compreender o
Candomblé em Londrina. Elas deram origem à linhagem de casas da família Viva
Deus, que está presente em grande número na cidade de Londrina. São filhas e
filhos dessa casa. Segundo Sergio Adolfo (1997):
Outro expoente dessa segunda geração é Pai Koifá que vem para
quebrar esse “monopólio” das casas de Angola de origem Viva Deus. Pai Koifá de
Logunedé é o precursor das casas da nação Ketu de origem Bate Folha em
Londrina. Segundo Pai Koifá de Logunedé, sua casa tem ligações diretas com a
casa de Mãe Menininha do Gantois (ADOLFO, 1997).
A terceira geração é composta por nomes como: Lufanha, Balecy,
Oiá-Baramim, Zazi ou Ayrá, Mãe Omin, Ominitá, Kaiá Suté, Kaiá Undê
(ADOLFO,1997). Essa geração é composta por Mães e Pais de Santo que são
33
Processo no qual o iniciado na religião passa pelos ritos de iniciação.
56
Branca
2003 1875,19 1644,33 2704,03 1780,80 1853,34 1969,62 1466,41
2004 1858,43 1622,76 2589,50 1774,23 1838,33 1957,11 1473,53
2005 1903,28 1723,67 2429,72 1830,09 1918,53 2001,34 1454,34
2006 1960,69 1684,26 2534,58 1885,77 1948,84 2092,21 1506,10
2007 2039,54 1703,94 2555,53 1967,98 2076,56 2156,57 1579,73
2008 2103,88 1696,98 2734,98 1092,29 2186,29 2201,92 1617,00
2009 2170,31 1693,65 2742,73 2177,39 2253,73 2268,86 1680,08
2010 2248,81 1925,98 2779,09 2249,20 2448,26 2276,74 1797,26
2011 2295,08 1847,88 2893,18 2386,63 2571,61 2274,89 1847,47
2012 2361,92 1928,21 2998,31 2582,06 2591,43 2358,09 1881,36
2013 2396,74 1892,33 2523,49 2555,19 2656,86 2408,31 1975,26
Preta/parda
34
O sistema de cotas na Universidade Estadual de Londrina foi implementado em 2005, no entanto,
foi preciso uma ampla discussão na sociedade londrinense, essa demanda existe no interior do
movimento negro da cidade desde os anos de 1980. A UEL implementou essa demanda com
caráter provisório, a ser discutida novamente após cinco anos. Passados esses cinco anos, em
2010, o sistema de cotas foi novamente colocado na pauta do dia, gerando antigas discussões
acerca do “contra ou a favor”, ao invés de ser pensado seu aperfeiçoamento. Houve grande
mobilização do movimento negro com os estudantes, professores, diretores de centro e
departamentos pró-cotas da universidade. Essa mobilização pró-cotas garantiu tanto a
permanência do sistema de cotas para negros oriundos das escolas públicas, como seu
aperfeiçoamento (40% das vagas reservadas em todos os cursos da universidade, bem como a
“migração” – mesmo que o candidato tenha optado pelo sistema de cotas, se este atingir uma nota
superior ou igual à nota de corte do sistema universal, este candidato automaticamente ocupará as
vagas universais, possibilitando maior acesso de estudantes das escolas públicas).
Fonte:www.uel.br/prograd. Acessado em 13/01/2015às 18:20.
66
35
Orixá Exú: ligado a comunicação, interlocutor entre os Orixás e os homens (Fonte: pesquisas de
campo realizadas entre 2009 até 2015).
36
Nome dado as histórias dos Orixás. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009 até 2015).
75
37
Orixá Tempo: ligado ao tempo cronológico. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2013 até
2015).
38
Orixá Iansã do Tempo: uma qualidade de Iansã que fica no lado de fora das casas de Candomblé
da vertente Angola. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009 até 2015).
39
Orixá Oxumaré: ligado a saúde, fartura. Representado pela cobra e o arco-íris. (Fonte: pesquisas
de campo realizadas entre 2009 até 2015).
40
Orixá Ossain: ligado às folhas das árvores. Muito respeitado porque de todos os rituais do
Candomblé utilizam das folhas. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009 até 2015).
43
Orixá Omolu: ligado a doença e a cura. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009 até
2015).
76
Fonte: Arquivo pessoal da autora – Ylê Ogum Megê – Yá Mukumby ao centro. Orixás
Iansã do Tempo (Vermelho); Orixá Tempo (Branco); Orixá Ossain (Verde).
2012.
77
Fonte: Arquivo pessoal da autora – Ylê Ogum Megê – Comidas de Orixás com Azeite de
Dendê.2012
41
Orixá Ogum: ligado a guerra, popularmente conhecido no Brasil como São Jorge. (Fonte:
pesquisas de campo realizadas entre 2009 até 2015).
42
Orixá Xangô: ligado à justiça, rei da cidade de Oyó. Na mitologia Xangô foi esposo de Oxum, Iansã
e Obá. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009 até 2015).
43
Orixá Iansã: deusa ligada ao vento e aos raios. Temperamento forte. É responsável pelas
passagens dos mortos para o Orum (céu). (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009 até
2015).
44
Orixá Oxossi: Senhor das matas, pai de Logunedé. Rei da nação de Ketu. (Fonte: pesquisas de
campo realizadas entre 2009 até 2015).
45
Orixá Obá: deusa ligada a guerra. Uma das esposas de Xangô. (Fonte: pesquisas de campo
realizadas entre 2009 até 2015).
46
Orixá Ewá: deusa da pureza, mora no cemitério. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009
até 2015).
47
Orixá Oxalá: ligado a criação. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009 até 2015). 51
Orixá Oxalufan: versão velha do Orixá Oxalá. (Fonte: pesquisas de campo realizadas entre 2009
até 2015).
52
Orixá Oxaguian: versão nova do Orixá Oxalá, ligado a guerra. (Fonte: pesquisas de campo
realizadas entre 2009 até 2015).
53
Orixá Oxum: deusa da água doce, ligada a maternidade. (Fonte: pesquisas de campo realizadas
entre 2009 até 2015).
78
Fonte: Arquivo pessoal da autora – Ylê Ogum Megê – Comidas de Orixás sem Azeite de
Dendê. 2012.
.
Nesses quartos são feitas oferendas para os Santos. Quando há
necessidade de iniciar algum filho de Santo, é também nesses quartos que os filhos
são recolhidos para os ritos de iniciação na religião.
54
Orixá Iemanjá: deusa da água salgada, muito popular no Brasil. (Fonte: pesquisas de campo
realizadas entre 2009 até 2015).
55
Orixá Nanã: deusa da criação, a mais velha entre os Orixás (Fonte: pesquisas de campo realizadas
entre 2009 até 2015).
56
Orixá Logunedé: filho de Oxum e Oxossi, príncipe dos Orixás. (Fonte: pesquisas de campo
realizadas entre 2009 até 2015).
79
Figura 12 – Barracão
Fonte: Arquivo pessoal da autora – Ylê Ogum Megê – Festá de Erê 2011.
48
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa de LOPES (2012), Mãe-de-Santo recebe o
nome na nação Angola de Mametu Nkisi. Já para PARÉS (2006), observamos que Mãe-de-Santo
recebe o nome de Doné na nação Jejê.
49
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa de LOPES (2012): Pai-de-Santo recebe o
nome na nação Angola de Tata Nkisi. Já para PARÉS (2006), observamos que Pai-de-Santo
recebe o nome de Doté na nação Jejê.
50
Buzios: s.m. Concha do mar usada outrora, na África, como moeda, e hoje no Brasil, nas práticas
da tradição religiosa afro-brasileira LOPES (2012).
51
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa de LOPES (2012), Pai-Pequeno recebe na
nação Angola o nome de Tata Ndenge. Em relação a nação Jêje, não foi obtido nessa pesquisa
tradução para tal termo.
52
Termo utilizado para designar que as pessoas incorporam o Orixá.
53
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa LOPES (2012) Mãe-Pequena recebe na
nação Angola o nome de Mametu Ndenge. Em relação a nação Jejê, não foi obtido nessa pesquisa
tradução para tal termo.
54
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa de LOPES (2012), Ogãns recebe o nome
na nação Angola de Tata Ngnanga Lumbido ou Kombondos. Já para PARÉS (2006), obervamos
que Ogãns recebe o nome de Pajigan na nação Jejê.
55
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa de LOPES (2012), Ekedi recebe na nação
Angola o nome de Makota Já para PARÉS (2006), obervamos que Ekedi recebe o nome de Gaiaku
na nação Jejê.
56
Atabaques: instrumento musicais tocados pelos Ogãns.
81
Figura 13 – Atabaques
Fonte: Mãe Camila – Foto dos Atabaques (Rum, Rumpi e Lê). 2015.
57
Gira: nome dado a roda realizada de dança dos Orixás.
82
Figura 14 – Adja
58
Não encontrado tradução para as outras Nações.
59
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa de LOPES (2012), Agibonã recebe na
nação Angola o nome de Mametu Ndemburo. Em relação a nação Jejê, não foi obtido nessa
pesquisa tradução para tal termo.
60
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa de LOPES (2012) Yabassê recebe na
nação Angola o nome de Mametu Mukamba. Em relação a nação Jejê, não foi obtido nessa
pesquisa tradução para tal termo.
61
Nome dado em Ketu, utilizando como base de pesquisa LOPES (2012), Iaô recebe na nação
Angola o nome de Mona Nkisi. Em relação a nação Jejê, não foi obtido nessa pesquisa tradução
para tal termo.
62
Não foi encontrado tradução para as outras Nações.
83
Fonte: A autora.
Com base nessa fala percebe-se que a continuação não pode ser
definida antes do falecimento de seu líder, porém os adeptos já são preparados. É
importante ressaltar, ainda, que, além de todas as ações/funções apontadas, a
também o atendimento a “clientes”, pessoas que vão realizar jogos de búzios e
trabalhos. O dinheiro advindo desse serviço religioso é um forte braço para a
sustentação financeira dos Ylês.
84
33%
Babalorixá 8
Yalorixá 16
67%
Fonte: A autora.
Eu atendo faz bastante tempo, eles avisaram que ia ter, quando fui
ver, já tinha 12 filhos aqui. De 11 foi para 20, eu me apavorei, eu
tinha 19 anos, e eu fiquei louca apavorada, e não tinha jeito, mesmo
assim fui agente comunitária de saúde 3 anos. Eu trabalhava das 7
às 4, dava 7 horas da noite eu estava incorporada para dar
atendimento pro povo. Era gente que nem formiga, dava 4 horas da
manhã eu estava desincorporando. Quando dava 7 horas eu estava
no posto trabalhando. Batendo cartão, isso eu aguentei 3 anos
(CAMILA, 2015).
Minha família é toda católica, porém eu quis dar uma fugidinha, então
fui para Igreja Presbiteriana, e aí conheci a Umbanda e fiquei
vagando entre Umbanda e Igreja Presbiteriana. Entre essa fusão de
Igreja Católica e Igreja Presbiteriana estava nessa fusão nessa
busca do sagrado. Aí acabei entendendo que Cristo não é meu
sagrado, aí acabei indo para o Candomblé. A gente costuma falar
que o Candomblé não é para qualquer um, o Candomblé é quem
escolhe e não a gente que escolhe o Candomblé. E eu acredito, se
eu cheguei lá é porque o Orixá me encaminhou. E lá eu esperei que
o sagrado me chamasse para a iniciação. Fiquei quase quatro anos
frequentando o terreiro, esperando ser chamado. Então eu era um
Ogãn apontado eu não participava de rituais, enfim várias coisas.
Que você não pode participar enquanto não teve sua iniciação,
acabei sendo iniciado no Candomblé, em noventa e alguma coisa, e
fiquei um tempo como Ogãn apreendendo um pouquinho de tudo.
Nós falamos que o Ogãn tem que ser o braço da Yalorixá e do
Babalorixá. Aí à medida que você vai conquistando respeito,
confiança, os cargos vão sendo apontados. Fiquei 10 anos
aprendendo quem eram meus ancestrais (ROBSON, 2015).
de Yá Ikandayô, na Vila Brasil e que, por isso, sofre com vários problemas, por
exemplo, um processo judicial que já dura mais de seis anos, como se verá
posteriormente.
Outro ponto merecedor de destaque é que a maioria dos terreiros
localizam-se na região norte, onde atua o terreiro de Mãe Omin, o único seguimento
que tem projetos em parceria com órgãos públicos.
A zona norte de Londrina é uma região considerada periférica,
consequentemente com grandes problemas socioeconômicos para ajudar a
transformar essa condição, Mãe Omin trabalhou e trabalha com diversos projetos
voltados à população menos favorecida do local, onde os serviços públicos
oferecidos pelo Estado, geralmente, são de baixa qualidade.
Esse trabalho de Mãe Omin destacado pelo pesquisador Carlos
Guimarães em sua pesquisa de 2009.
63
Entidades crianças.
90
Ogãn Robson, são atuantes no papel de líder religioso, pois todos participam do
Conselho de Promoção da Igualdade Racial de Londrina.
de intolerância religiosa. Esse caso talvez tenha sido o que mais ganhou visibilidade
na cidade pelo fato de Yá Mukumby 64 estar ligada à militância política e ter sido
figura importante na Universidade Estadual de Londrina. O caso dela, porém, não é
único e muito menos o primeiro, conforme se pode conferir pelo relato de Ogãn
Robson.
Após a realização desta entrevista com o Ogãn, outros fatos
ocorreram em relação à intolerância religiosa em Londrina. No dia 19 de outubro de
2015, em uma reunião do Grupo de Estudos de Combate ao Racismo promovido
pelo promotor público Paulo Tavares em parceria com a Professora Doutora Maria
Nilza da Silva e o Movimento Social Negro, o Ogãn relatou um caso de intolerância
religiosa sofrido por seu Ylê, que se localizado no bairro Ernani Moura Lima: todo o
telhado da casa de Santo foi quebrado por pedras. É possível depreender desse
caso que a intolerância em Londrina se faz cada vez mais evidente65.
Entrevista feita com Mãe Camila também traz o relato de um caso de
violência física sofrida por seus Filhos de Santo em sua casa:
Sim eu só tive problema uma vez, com uns meninos que passaram aí
na frente, e jogaram uma bomba caseira em cima da casa, estavam
o Carlos e o menino dele. Cortaram a mão do Carlos e a cabeça do
filho dele. E a gente tem uma ligação policial aqui na casa, tenho
filhos policiais, aí a gente conseguiu descobrir quem era (CAMILA,
2015).
Eles fizeram agora, tem seis meses, eles fazem o culto. Como eu
toco de segunda e quarta e nos finais de semana, então eles fazem o
culto na terça-feira. Eles perceberam que aqui era segunda e quarta
e colocaram os deles na terça. Não me incomodam. Só no começo,
os filhos de santo chegavam e eles iam panfletando. Sabe, fazendo a
mídia deles, agora não temos problemas com eles não (CAMILA,
2015).
Analisando pela óptica dos ataques simbólicos, observa-se que
existe uma efetiva “guerra santa” instaurada contra as religiões de matriz africana, já
quem não existe o respeito à diferença religiosa nem nos espaços de culto.
64
Para melhor compreensão: COSTA, Guilherme S. Imediatismo versus Perseguição: a cobertura do
assassinato de Yá Mukumby na Imprensa.
65
A autora estava presente na reunião em que foi relatado o fato.
93
Aqui, pra mim é calmo, embora nós temos problemas com apenas
uma vizinha por problema religioso, estamos enfrentando um
processo já há seis anos, né, por conta de uma só vizinha, mas fora
o restante da comunidade, eles aceitam e respeitam muito. Na
realidade, o advogado tá tentando provar e caracterizar preconceito,
é, religioso por conta que a vizinha da frente faz festas, faz encontro
com amigos, e a vizinha dos fundos nunca se indispôs. Então a partir
do momento que a minha companheira foi pedir pra ela, comunica-la
que haveria um trabalho, uma festa aqui religiosa, né, estava
comunicando pra não ter problemas, a partir desse dia ela entrou
com um processo na justiça dizendo, alegando que nós estávamos,
é, prejudicando ela, né, o sono, perturbação de ordem e de paz, e
entrou com esse processo (CLÁUDIA, 2015).
66
Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=IompIMkV1SM.
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
67
Para melhor compreensão: http://www.geledes.org.br/por-que-nao-me-respeitam-indaga-
meninaagredida-por-ser-do-candomble/#gs.s8P=f3E
98
REFERÊNCIAS
______O candomblé da Bahia: rito nagô. São Paulo, Nacional, 1978. Nova edição:
São Paulo: Companhia das Letras, 2001.4 Sugestões didáticas de ensino de
sociologia.
BETTIOL, Líria Maria; LANZA, Fabio. Fundamentos para investigações com fontes
orais: contribuições epistemológicas para a pesquisa em ciências humanas e
sociais. In: Religião e Política: Teologia da Libertação, Ditadura Militar e Discurso
Religioso. (Org.). Religião e Política: Teologia da libertação, Ditadura Militar e
Discurso Religioso. 1. ed. Londrina, 2013, v. 1, p. 1-15.
CUTI, F. E disse o velho militante José Correa Leite. Secretaria Municipal de São
Paulo: Cultura, 1992.
PRANDI, Reginaldo. As religiões negras no Brasil: para uma sociologia dos cultos
afro-brasileiros. Revista USP, São Paulo, n. 28, dez/fev., 1996.
______ O espaço dividido. Livraria Editora Francisco Alves: Rio de Janeiro, 1978.
SANTOS, Nágila Oliveira. Do Calundo colonial aos primeiros terreiros de
candomblé no Brasil: de culto doméstico à organização político-social-religiosa.
Revista África e Africanidades, nº1, maio 2008.
APÊNDICES
105
Apêndice A
Figura 1 - http://bahia320102myblog.wordpress.com/perseguicao-aos-terreiros-de-candomble-na-
decadade-1920/
Figura 2 - http://bahia320102myblog.wordpress.com/perseguicao-aos-terreiros-de-candomble-na-
decadade-1920/
106
Apêndice B
Figura 3 - http://abassadeogum.blogspot.com.br/2011/04/igreja-universal-e-condenada-
por_20.html
107
Apêndice C
108
Apêndice D
Dissertação de mestrado
ROTEIRO DE ENTREVISTA.
A) Dados pessoais.
Nome completo.
Ano de nascimento.
Cidade de origem.
B) Dados religiosos
Território
Hoje quando você vai fazer festa para (Usar o dado citado
acima: o Orixá, Voduns ou Nkisis) existe algum contato ou
relação com outros líderes do Candomblé?
APÊNDICE E
Eu,___________________________,(nacionalidade)
____________________, possuidor da carteira de identidade número
___________ - ___, declaro para os devidos fins que cedo os direitos de
minha entrevista, concedida no dia ___ de ____de _____, à pesquisadora
Jamile Carla Baptista sub orientação do Professor Dr. Fabio Lanza,
vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – Mestrado,
ao projeto de pesquisa “Candomblé em Londrina: interfaces de território” e
ao Laboratório de Estudos sobre Religião e Religiosidades para usarem-na
integralmente ou em partes, sem restrições de prazos e citações. Da
mesma forma, autorizo a terceiros a sua audição e o uso do texto final
oriundo da transcrição que estará registrado e disponível no CDPH (Centro
de Documentação e Pesquisa Histórica) da UEL.
__________________________.
Assinatura do entrevistado
112
APÊNDICE F - Entrevista
Dia 15 de junho de 2015, casa do Ogãn, estavam presentes nessa entrevista Jamile
Baptista, Ogãn Robson, Andréia Cruz. Entrevista concedida para a dissertação de
mestrado, com a temática dos terreiros de Candomblé em Londrina/ território e
preconceitos.
Ogãn: A gente costuma falar que o Candomblé não é para qualquer um, o
Candomblé é quem escolhe e não a gente que escolhe o Candomblé. E eu acredito
113
Ogãn: Ketu.
Entrevistadora: Em relação a sua vida no Candomblé qual foi o motivo que levou
você a abrir esse terreiro ou casa? Como foi esse processo?
Dificuldade aqui no Sul, quando vamos cultuar Iboiça, eu percebo que minha raiz
não é Ketu, minha raiz é Angola. A minha mãe foi iniciada na Angola, pela finada
Ominitá, que foi iniciada pelo finado Tata Meluango, ainda lá em São Paulo, ele
ainda não tinha casa aqui ainda. Sendo assim a Ominitá acabou iniciando minha
Yalorixá, minha Yá foi iniciada por diversos problemas de saúde. Ela era
considerada louca. Ela foi pela dor. Ela era evangélica. Ela foi para o terreiro “bolou”
e lá mesmo tomou “obrigação”. Sem conhecer a nação sem ter escolhido. Porém no
primeiro ano de obrigação ela migrou para o Ketu, nas mãos de Pai Koifá. Tomou
suas obrigações com ele até os 7 anos. Depois ela vai para o Axé do finado Pérsio
de Xangó que também faleceu. E quando Pércio morre quem cuida do santo dela é
Pai Carlinhos de Iansã, do Axé do Ofabebe do Gantoais. Toda nossa metodologia
de ensino do Orixá é muito claro do Axé Opo Ofonja. No sentindo de compressão de
ritual. Tenho uma aproximação muito forte. Todo mês estou lá. Opo Ofonja do Rio de
Janeiro.
precisa pensar quando se constrói uma casa. Antes de colocar o chão, você assenta
o Orixá no chão. Depois que assento o chão, você assenta o Orixá na cabeça. A
“cumeeira” da casa. Uma casa tem Orixá assentado em todos os cantos.
Entrevistadora: sobre a relação que seu terreiro tem com a comunidade, o que você
pode descrever?
Ogãn: pelo tempo que ela está aqui no bairro, no Ernani I. Então as pessoas
crescendo com aquela casa ali. Alguns vizinhos que chegam e não conhecem
estranham. E fazem alguma ação para tentar inibir, e tentar impedir. Mas por conta
desse contato com a comunidade não vai pra frente, penso que aqui é menos pior.
Tem lugar que você está tocando Candomblé de repente um tijolo cai no chão.
Porque alguém tacou. Está tocando Candomblé a polícia aparece na porta.
Entrevistadora: hoje quando você vai fazer festa para o Orixá e dentro da lógica da
sua casa, quais são os Orixás que sempre são festejados anualmente?
Ogãn: as festas que são feitas, publicas, geralmente começamos o ano com Ogum e
Oxóssi. Depois a festa de Xangô, e depois Olubajé, e as Yabás, estas festas
ocorrem todo ano. Algum tempo a Aguas de Oxalá, que são bem interna.
Entrevistadora: Quantos filhos de santo sua Mãe tem?
Ogãn: olha eu tive olhando um livro de “orunkó”, que anota tudo no livro de “orunkó”
ela tinha aproximadamente 380 a 400 filhos iniciados em todos esses períodos.
Ogãn: A Associação de Ogãns surgiu em 2003 ou 2004 por aí. Não sabemos
quantos membros atualmente, pois não somos associativos. A nossa ideia não é
formativa, nem representativa, não queremos formar Ogãn. Queremos conversar e
trocar ideias e ver quais são as demandas da nossa religião.
Entrevistadora: em relação a projeto social?
Ogãn: aonde vou eu levo o Candomblé e aí essa interferência na sociedade, ela fica
clara. Se eu vou dar aula eu vou levar meu Candomblé, se eu vou para periferia eu
vou levar meu Candomblé. Enfim, aonde eu estou eu levo o Candomblé, e agora
essa possibilidade de criar um partido político. Temos uma proposta da primeira
Universidade Popular que está em tramitação. Fomentação de Vilas Culturais. Até a
própria capoeira, tentamos resgatar um pouco dessa tradição Afro-Brasileira, não
Afro-Brasileira, mas africana que os próprios capoeiristas estão deixando de lado.
115
dos pentecostais e dos neopentecostais, mas isso começou com a Igreja Católica.
Não sei se instituição, mas enfim. Vemos mudanças com os novos Papas, mas
estivemos lá, não teríamos uma Bula Papal, autorizando a matar enfim a escravizar
os negros, a igreja católica assinou embaixo, a nossa elite. Mas algumas pessoas
falam na África também tinha escravo, eu digo, tinha sim mais o processo era
totalmente diferente. Mas o entendimento era diferente, estava ais ligado ao servo,
do que foi feito aqui.
Entrevistadora: qual o tipo de racismo que você já enfrentou?
Ogãn: eu fiquei 14 anos no município como pedagogo, não trabalhando na educação
formal. É sempre do zero. Porém é engraçado, quando começamos a fazer algumas
analogias, falando: se sabia que essa folha, sabia que esse chazinho é ligado ao
Candomblé. Se sabia que esse nome é africano. A pessoas começam a perceber
que também a cultura africana faz parte da vida dela e ela nem tem noção. Porém
existe a intolerância, a exclusão ainda é muito forte. E um dos motivos que me
fizeram deixar 14 anos na assistência social foi isso. Não dei mais conta. Não estou
desistindo, porém não quero ter vínculos para ter que pensar no que vou falar por
estar em tal lugar. Hoje se eu quiser mandar alguém ir catar coquinho eu posso.
Ninguém vai me falar sou seu chefe e você não vai falar. Não só aonde eu
trabalhava. Na própria rua. Mas se eu colocar um fio de conta no pescoço, a gente
encontra. Tivemos um caso agora dentro do ônibus. O motorista não deixou a Mãe
de Santo entrar no ônibus porque estava com fio de conta e o pano de cabeça, isso
aqui em Londrina. Então é frequente, a gente fala do caso da Yá Mukumby, mas
tivemos casos antes, tivemos casos depois, finada Mãe Oromin morreu tentando,
morreu com uma briga com o Estado, porque o médico disse que não atender se ela
não tirasse as contas. Né. Esse caso tão explicado do Sergio Adolfo, será que foi
homofobia mesmo?!. Esses questionamentos.
quero isso pro meu filho. Aí indagávamos se é bom para você é bom para seu filho.
Temos que pensar como vamos educar essa criança. Pensar exemplos das igrejas
evangélicas, escolas dominicais. Hoje podemos fazer representação de Buri com as
crianças, a gente brinca de rituais. Quando ela passa a entender o ritual dela.
Quando ela entende que não estou matando bicho para diabo. Quando ela entende
o que a gente sacrifica é para a gente comer. O Orixá é uma energia viva que
depende do homem para se manifestar. Quando a criança começa a entender, que
Exu não é o diabo. E quando a professora falar isso, a criança terá um
conhecimento para rebater assim: a Senhora está errada.
APÊNDICE G - Entrevista
que tinha para fazer, fazer um exorcismo. O pastor falou para mim, você tem que
seguir com a sua vó.
Entrevistadora: Você pode falar nome da Igreja?
Yá Camila: Posso, Igreja Batista da Graça.
Entrevistadora: E qual a sua função no terreiro?
Yá Camila: Eu sou a Yalorixá da casa, eu sou a Mãe de santo.
Entrevistadora: Em que ano você se iniciou no Candomblé?
Yá Camila: Aos 14 anos eu fui feita, aos 11 anos, comecei a trabalhar mesmo, mas
aos meus 7 anos meu caboclo me pegou, aí minha vó ficou com medo e não deixou
voltar mais, porém aos 14 anos fui iniciada.
Entrevistadora: Agora vamos perguntar um pouquinho sobre as questões da casa,
dentro do Candomblé qual Nação você segue?
Yá Camila: Eu sou de Ketu.
Entrevistadora: A sua família ela tem origem aqui em Londrina ou de outro estado?
Yá Camila: É de São Paulo, de São Bernardo, Axé Batistinha
Entrevistadora: Do falecido Pai Pércio? E hoje em dia ele é dirigido por?
Yá Camila: Zé Dedos.
Entrevistadora: Em relação a você abrir esse terreiro, você tomou todas as suas
obrigações e resolveu abrir ou foi a pedido do Orixá?
Yá Camila: Eu atendo faz bastante tempo, eles avisaram que ia ter, quando fui ver,
já tinha 12 filhos aqui. De 11 foi para 20, eu me apavorei, eu tinha 19 anos, e eu
fiquei louca, apavorada, e não tinha jeito, mesmo assim fui agente comunitária de
saúde 3 anos. Eu trabalhava das 7 às 4, dava 8 horas da noite eu estava
incorporada para dar atendimento pro povo. Era gente que nem formiga, dava 4
horas da manhã eu estava desincorporando. Quando dava 7 horas eu estava no
posto trabalhando. Batendo cartão, isso eu aguentei 3 anos.
Entrevistadora: E porque sua casa está localizada aqui?
Yá Camila: É, minha vó tem essa casa desde que se iniciou esse bairro, o Ernani,
então eles escolheram aqui, foi aqui que eu nasci, já ganharam terreno, não querem,
é aqui. Oxaguiãn quer aqui.
Entrevistadora: Agora um pouquinho sobre a comunidade o bairro. Tem algum
problema, alguma coisa, a comunidade aceita o fato daqui ser um terreiro de
Candomblé?
120
Yá Camila: Sim eu só tive problema uma vez, com uns meninos que passaram aí na
frente, e jogaram uma bomba caseira em cima da casa, estavam o Carlos e o
menino dele na porta. Cortou a mão do Carlos e a cabeça do filho dele. E a gente
tem uma ligação policial aqui na casa, tenho filhos policiais, aí a gente conseguiu
descobrir quem era.
Entrevistadora: E em relação a polícia, a polícia nunca veio bater aqui na porta, por
conta de barulho?
Yá Camila: Já, tenho um vizinho que foi fazer abaixo assinado para tirar o terreiro,
mas os vizinhos mesmos vêm avisar a gente que aquele está fazendo.
Entrevistadora: E aqui no terreiro você tem algum projeto social? É alguma coisa?
Yá Camila: Eu sou até titular da igualdade racial, eu tenho uma cadeira lá, uma é
minha outra do Robson Ogã, mas por alguns motivos, eu tenho outro terreiro lá no
Rio Grande do Sul, eu atendo um pessoal em Santa Catarina, eu viajo muito. Não
tenho tempo para estar muito atuante não. Entrevistadora: Aqui nessa rua tem
alguma Igreja?
Yá Camila: Tem uma igreja ai do lado. Eles fizeram agora, tem seis meses, eles
fazem o culto. Como eu toco de segunda e quarta e nos finais de semana, então
eles fazem o cultuo na terça feira. Entrevistadora: Mais foi um acordo isso?
Yá Camila: Eles perceberam que aqui era segunda e quarta e colocaram os deles na
terça. Mas também não me incomodam. Só no começo, os filhos de santo chegavam
e eles iam panfletando. Sabe, fazendo a mídia deles, agora não temos problemas
com eles não.
Entrevistadora: Aqui vocês fazem quantas festas no ano, que acontecem todo ano?
Yá Camila: São, é eu faço as Águas de Oxalá, festa pra Xangô, as Yabás, a festa de
Ere, a festa de Ogum e o Olubajé.
Entrevistadora: Abertas ao público?
Yá Camila: Todas são abertas ao público. Mas essas são as que mais tem agenda.
Entrevistadora: Você avisa aqui na rua que vai ter festa? Para não ter problema.
Yá Camila: Eu não aviso não. Porque eles nunca me incomodaram, o que sobra de
comida, porque sobra muita comida então a gente dá para os vizinhos, sai na
comunidade entregando.
Entrevistadora: Em relação aos outros pais de santo, vem bastante gente para
festa?
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Yá Camila: É assim, os que são amigos vem. Conheço todos os pais de santo de
londrina, me dou bem com todos eles, vou visitar a casa de todos. Mas é assim,
como eu viajo muito, não consigo em ir em todas as festas que fazem. A gente
dentro do Candomblé temos uma coisa de pagar a visita, mesmo que você não vai.
Entrevistadora: Hoje você tem quantos filhos de santo?
Yá Camila: Eu tô com mais ou menos uns 53 filhos.
Entrevistadora: E ekedi?
Yá Camila: Eu tenho aproximadamente umas 14 ekedis.
Entrevistadora: E ogãns?
Yá Camila: Ogãns 4 ou 5.
Entrevistadora: Você é muito jovem, mais estou fazendo essa pergunta para todos
que estou entrevistando, sobre a sequência da sua casa de Axé, existem herdeiros
pré-existentes?
Yá Camila: Orixá aponta minha filha Ingrid como herdeira, não é um cargo cantado,
mas ela está trabalhando isso. Pra ver se realmente ver se vai ser ela, até porque
cargo vivo não se dá. Depois que a gente vai embora pro Orixá realmente cantar.
Entrevistadora: Em relação a sua cor, você se autodeclara?
Yá Camila: Negra.
Entrevistadora: Qual a sua compreensão sobre o racismo, uma pergunta bem
fechada, mas você pode falar o que você quiser.
Yá Camila: Como assim?
Entrevistadora: Você já sofreu alguma intolerância religiosa?
Yá Camila: Já várias sofri intolerância religiosa, várias vezes.
Entrevistadora: E como você viaja muito pro Rio Grande do Sul, Paraná ou Rio
Grande que você sofreu mais?
Yá Camila: Eu viajo muito pro Rio Grande, mas no Paraná é o local que mais sofri
preconceito. Lá no Rio Grande tem muito terreiro. Lá é normal.
Entrevistadora: O que você já passou, que você pode relatar?
Yá Camila: Em Londrina, posso relatar o preconceito que minha filha sofre na
escola, eu também quando estava na escola. Eu sofria bastante. Hoje na rua entro
em banco como estou vestida. As pessoas abrem alas, parece que a gente está
doente. Mas eu adoro, eu gosto de aparecer, então eu não me importo.
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Entrevistadora: Então na escola você acha que é um grande problema? Você tem
criança iniciada aqui? Eles relatam alguma coisa?
Yá Camila: Eu tenho criança iniciadas, é bem complicado, os amiguinhos tiram
sarro, na escola da Ingrid, o Panico, o diretor dali é maravilhoso, ele abriu muito
espaço para nós, eu sempre vou lá, dou palestra na escola, eu sempre vou lá. Eu
tenho uma influência grande no colégio dela, eu chego lá as professoras querem
que ensina a pôr o turbante.
Entrevistadora: Você conhece a Lei 10.639/03?
Yá Camila: Sim.
Entrevistadora: Então você vai na escola para falar dela?
Yá Camila: para falar dela.
Entrevistadora: Você vê que mudou alguma coisa?
Yá Camila: Pelo menos aqui, na nossa região leste.
Entrevistadora: Você relata que vê diferença de quando você era criança para hoje.
Yá Camila: sim e muito Fim.
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APÊNDICE H - Entrevista
Yá Ikandayô: De fato, no dia 30/08/1996 foi quando, a minha saída, foi quando eu
me iniciei dentro do santo, que eu raspei, mas dentro do candomblé eu tenho trinta e
seis anos.
Entrevistadora: Uhum, você já nasceu então dentro de um terreiro?
Yá Ikandayô: Já nasci dentro de um terreiro.
Entrevistadora: Sua mãe é?
Yá Ikandayô: Minha vó é mãe de santo em São Paulo, e por certo, pelo, por direito
eu sou herdeira do Ilê Axé Odé Matamba.
Entrevistadora: Uma pergunta, esse sotaque do Rio vem de onde?
Yá Ikandayô: Eu nasci em São, porque a minha mãe, ela morava no Rio, e como a
minha mãe diz que carioca não presta então todos os filhos que ela engravidava ela
saía do Rio de Janeiro pra ter em São Paulo, porque ela é paulista.
Entrevistadora: Ah, entendi.
Yá Ikandayô: Então ela ficava sete dias com a gente em São Paulo pra ter certeza
que não ia ter problema e depois voltava pro Rio de Janeiro.
Entrevistadora: Ah, entendi.
Yá Ikandayô: Então eu sou parioca.
Entrevistadora: Ah, entendi, porque esse sotaque aí não nega. Dentro do candomblé
que que á a sua nação?
Yá Ikandayô: Eu fui iniciada no Jêje Nagô Vodum pelo Yalori, pelo Babalorixá César
de Iansã, hoje falecido, e depois que ele faleceu eu tomei os meus direitos no Ilê
Axé ... com o Pai Jorge de Kibanazambi, então hoje eu sou de Ketu.
Entrevistadora: Entendi. É, aqui em Londrina tem alguma casa ligada ao seu pai de
santo, você tem irmãos de santo aqui ou não?
Yá Ikandayô: Eu iniciei a minha companheira na casa de meu pai, eu levei, iniciei
modo de dizer, eu a levei, eu fui a ponte pra ela pra ser iniciada na casa de meu pai.
Então o único vínculo que eu tenho com a minha casa, com o Axé ... , é com a
minha companheira.
Entrevistadora: Uma dúvida só dentro disso, o teu pai de santo é de Ketu?
Yá Ikandayô: Meu pai de santo é de Ketu.
Entrevistadora: O Jorge é de Ketu, ele é de Curitiba se eu não me engano.
Yá Ikandayô: Ele está em Curitiba, mas ele também é carioca.
Entrevistadora: Ele também é carioca.
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Yá Ikandayô: Ele começou a casa dele no Rio Grande do Sul, do Rio Grande do Sul
ele foi transportado pra Curitiba e está lá.
Entrevistadora: E qual o motivo que levou você a abrir o terreiro aqui?
Yá Ikandayô: Sentimental. Conheci a minha esposa num candomblé em Cambé, ela
se apaixonou por mim, foi atrás de mim, e consequentemente posterior nós nos
conhecemos, eu fechei o meu barracão em Curitiba, que eu tinha já o meu barracão,
e só transportei, fiz o transporte de lá pra cá.
Entrevistadora: E o motivo de estar nesse bairro é porque ela já tinha casa aqui em
Londrina?
Yá Ikandayô: Já tinha casa aqui.
Entrevistadora: Qual que é a sua opinião aqui sobre a Vila Brasil?
Yá Ikandayô: Aqui, pra mim é calmo, embora nós temos problemas com apenas uma
vizinha por problema religioso, estamos enfrentando um processo já há seis anos,
né, por conta de uma só vizinha, mas fora o restante da comunidade, eles aceitam e
respeitam muito.
Entrevistadora: Então como você disse seu terreiro era localizado em Curitiba e você
trouxe pra cá.
Yá Ikandayô: Trouxe meus assentamentos pra cá.
Entrevistadora: E lá em Curitiba, o fato da gente saber que Curitiba é uma cidade um
pouco que o índice de preconceito é um pouco maior do que Londrina, você sofria
alguma coisa?
Yá Ikandayô: Nunca tive nenhum tipo, em relação à minha religião não. Curitiba é
uma cidade extremamente preconceituosa em relação às pessoas que vem de fora,
né, um preconceito social, sexual, mas com a religião eu nunca fui atacada lá.
Entrevistadora: Não?
Yá Ikandayô: Nunca!
Entrevistadora: E, e você falou que tem um processo aqui, não sei se você pode
falar, qual seria essa dificuldade com a vizinhança?
Yá Ikandayô: Na realidade, o advogado tá tentando provar e caracterizar
preconceito, é, religioso por conta que a vizinha da frente faz festas, faz encontro
com amigos, e a vizinha dos fundos nunca se indispôs. Então a partir do momento
que a minha companheira foi pedir pra ela, comunica-la que haveria um trabalho,
uma festa aqui religiosa, né, estava comunicando pra não ter problemas, a partir
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desse dia ela entrou com um processo na justiça dizendo, alegando que nós
távamos, é, prejudicando ela, né, o sono, perturbação de ordem e de paz, e entrou
com esse processo.
Entrevistadora: Entendi. E em relação à autoridade, a vir polícia aqui, isso já
aconteceu, ou em Curitiba já?
Yá Ikandayô: Só por conta do processo dela mesmo, que daí ela vai, todas as vezes
que nós fazíamos alguma coisa ela descia até a delegacia, é, registrava a queixa,
boletim de ocorrência, e os policiais vinham aqui apenas pra entregar a notificação.
Entrevistadora: Mas nada truculento, nada violento?
Yá Ikandayô: Não, não, nunca!
Entrevistadora: Aqui, o terreiro tem alguma, algum projeto, alguma coisa relacionada
à comunidade, vocês aqui?
Yá Ikandayô: Nós tamos tentando fazer o PROMIC esse ano, que nós participamos
ao ano passado, mas, na Alma Brasil, e esse ano a minha filha tá tentando colocar o
terreiro dentro do PROMIC.
Entrevistadora: Em Curitiba você não tinha nenhuma, nenhum projeto social? Yá
Ikandayô: Eu tinha, e faço parte dele até hoje, que agora, atualmente estou aqui e
não posso, que é o Grupo Obatalá que nós damos aula e curso de dança afro.
Entrevistadora: Hum, você pretende transformar isso aqui em Londrina?
Yá Ikandayô: Com certeza.
Entrevistadora: Ah, entendi.
Yá Ikandayô: Por que Londrina é muito carente disso.
Entrevistadora: Sim, com certeza. É, aqui nessa rua existe alguma outra igreja, ou
algum outro centro, qualquer outra coisa?
Yá Ikandayô: Não, aqui nesta rua não.
Entrevistadora: Ah, entendi. É, aqui no seu terreiro quais festas vocês realizam todo
ano assim aberta ao público?
Yá Ikandayô: Festa de boiadeiro, que nós chamamos de Tumba Jussara, outros
caracterizam toré de caboclo; a festa do marujo, da minha companheira, que é
aberta; festa de preto velho; festa de Cosme e Damião; e festa de exu e pombo gira.
Isso por enquanto, que a partir do ano que vem já está programado para ter uma
entrada de iaô já em fevereiro, e a partir do ano que vem esse calendário será muito
mais extenso, porque daí a partir do ano que vem começa com a primeira festa que
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é águas de Oxalá janeiro e fevereiro, depois festa de Ogum, festa de Oxossi, Xangô,
Olubajé, Erê, festa de, e festa das Yabás.
Entrevistadora: E em aos outros pais de santos aqui de Londrina, você tem alguma
ligação, você costuma frequentar a casa?
Yá Ikandayô: A gente que é do candomblé, nós temos que frequentar as outras
casas não só pelo social, porque nós já vivemos numa sociedade que super
discrimina, numa sociedade que nós estamos voltando à época da, daqui a pouco
nós estamos voltando à época da Santa Inquisição, entende?! Então eu frequento
sim outras casas, outras comunidades de axé até mesmo para estar fortalecendo e
criando um vínculo maior.
Entrevistadora: Entendi. Hoje a senhora tem quantos filhos de santo?
Yá Ikandayô: Aqui?
Entrevistadora: Aham.
Yá Ikandayô: Quinze
Entrevistadora: Dentre ogãns e ekedis?
Yá Ikandayô: Dezessete.
Entrevistadora: Dezessete ogãns, perdão.
Yá Ikandayô: Dezessete ao todo, é que eu esqueci da ekedi e dos ogãns.
Entrevistadora: Ao todo?
Yá Ikandayô: Dezessete.
Entrevistadora: Entendi, um ogãn e uma ekedi?
Yá Ikandayô: Não, são dois ogãns, e agora tá entrando mais uma ekedi, então são
vinte no total.
Entrevistadora: Vinte no total. É, eu sei que a senhora é super jovem, mas eu tô
fazendo essa pergunta pra todo mundo, é, existe um herdeiro apontado já?
Yá Ikandayô: Ainda não.
Entrevistadora: Ainda não?
Yá Ikandayô: Embora eu tenha um filho carnal já em idade de assumir qualquer tipo
de responsabilidade, idade dentro do santo, que é o Leonardo, dentro da religião ele
tem dez anos de santo, ainda não tomou seus direitos, mas ainda não há um
herdeiro apontado.
Entrevistadora: Ainda não existe um herdeiro apontado. E em relação aos
movimentos sociais aqui de Londrina, a senhora participa de algum?
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soco, pra pontapé, porque eu tive que me fazer ser respeitada na raça, no soco. No
Rio de Janeiro nunca sofri nenhum tipo de preconceito, nenhum! Em Curitiba, eu
conheci o preconceito muito mais assim à flor da pele, por problemas profissionais
que daí eu ainda era muito nova, e comecei a trabalhar como empregada doméstica.
Infelizmente os primeiros empregos foram em casa de pessoas polonesas,
holandesas e alemãs, então a filha de uma das minhas patroas chegou a cuspir no
meu prato quando eu tinha dezessete anos de idade, né, então eu também parti pro,
pro confronto. É, depois eu fui trabalhar numa loja de turco, a mulher chegou, e me
viu e falou que “não, que preto ali não servia nem como pano de chão”, então em
Curitiba eu sofri muito mais.
Entrevistadora: Você já tinha consciência que era por causa da cor?
Yá Ikandayô: Da minha cor.
Entrevistadora: Entendi. E em relação aqui ao terreiro cê tem crianças iniciadas?
Yá Ikandayô: Por mim não, mas tem o meu filho.
Entrevistadora: Tem o seu filho?
Yá Ikandayô: Que é hoje pré-adolescente, ele foi iniciado aos quatro anos de idade.
Entrevistadora: Ele já ia na escolinha nesse período?
Yá Ikandayô: Já, nunca teve problema.
Entrevistadora: Nunca teve problema?
Yá Ikandayô: Não, mesmo porque eu já tinha meu centro lá em Curitiba, então ele foi
na escolinha desde a idade de oito meses, eu já ia caracterizada como Mãe de
Santo, então todo já mundo sabia, eles nasceram e cresceram no bairro na região
metropolitana, então todos eles sabiam que eu era do candomblé.
Entrevistadora: Em relação a Lei 10639, você já ouviu falar?
Yá Ikandayô: Sou obrigada, né?! [risos].
Entrevistadora: É, [risos], e você trabalha com ela nas escolas, você já deu alguma
palestra sobre?
Yá Ikandayô: É, em escolas aqui eu ainda não tive oportunidade.
Entrevistadora: Essa de, do Villanueva lá em Rolândia vai ser a primeira?
Yá Ikandayô: Vai ser a primeira.
Entrevistadora: Ah, entendi, que bom. Fim.