A Criação Do Mundo, Parashá Bereshit
A Criação Do Mundo, Parashá Bereshit
A Criação Do Mundo, Parashá Bereshit
A história bíblica da Criação do Mundo é causa de um dos maiores e mais tensos debates entre os que acreditam na bíblia e aqueles que
seguem as modernas teorias científicas. Realmente há discrepâncias entre a ciência e o relato bíblico da Criação.
Entretanto, o que devemos ter em mente é que o texto da Torá, no livro de אשׁית
ִ ְבּ ֵרBereshit (Gênesis 1) não foi escrito com a intenção de
trazer uma explicação científica para o ato da Criação do Mundo por Deus.
A אשׁית
ִ פָּ ָר ַשׁת ְבּ ֵרParashá Bereshit (um trecho, uma divisão do texto), foi primeiramente concebida para lidar e mesmo refutar as histórias
míticas da Criação do Mundo correntes na época de ֹשׁה ַרבֵּ נוּ
ֶ מMoshe Rabeinu – Moisés:
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31/08/2019 A Criação do Mundo, Parashá Bereshit
Portanto, ler o Gênesis com uma perspectiva de encontrar explicações que se adequem às teorias científicas atuais, não seria uma tarefa
fácil, visto que o texto bíblico não tinha essa intenção quando foi escrito.
Hoje em dia, o entendimento comum, ensinado nas escolas, provém da teoria da evolução geológica e do Big Bang, que dentre os seus
defensores mais ilustres podemos citar o Físico Teórico e Cosmólogo Stephen Hawking.
Mas não era assim na época em que o – – עם ישראלpovo de Israel estava saindo do Egito. Naquele momento, a crença comum estava em
torno dos contos míticos que citamos mais acima neste estudo.
Apesar de serem fundamentalmente diferentes, esses contos míticos da Criação do Mundo, trazem elementos que se aproximam do relato
da Criação contida no Gênesis. É como se todos eles tivessem sido extraídos de uma fonte comum, porém com inserções posteriores de
componentes próprios de cada religião.
A própria Enuma Elish (conto mítico babilônico) fala da existência de um oceano (face das águas) e caos primitivos, que seriam na
verdade corpos dos vários deuses mesopotâmicos. E da batalha entre esses deuses os demais elementos e o ser humano teriam sido
criados.
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Os egípcios acreditavam que o deus Amon-ra era o ordenador do caos e das trevas primitivas (havia trevas sobre a face do abismo). Por
isso, no seu templo em Karnak, a imagem de Amon-ra ficava em um santuário totalmente escuro (onde somente o Faraó e o Sumo
Sacerdote podiam entrar, e com o auxílio da luz de uma tocha).
Entretanto, mais do que ficarmos examinando as teorias científicas, e/ou os contos míticos para a Criação, neste estudo da Parashá
Bereshit, gostaria de abordar, de uma forma não muito específica, as principais palavras, mas no contexto proposto pelo nosso blog,
analisando o original hebraico e também o Aramaico do Targum Onkelos – uma tradução interpretada que nos traz muitos insights bons.
Se você não conhece o Hebraico Bíblico, não se preocupe. Vamos fazer uma análise geral das palavras, explicando o seu significado.
Vejamos, primeiramente, o texto em Hebraico.
ֹאמר
ֶ פּנֵי הַ ָמּיִם וַיּ-ל
ְ ַ ְמ ַרחֶ פֶ ת ﬠ,פּנֵי ְתהוֹם; וְרוּחַ אֱ ִהים-ל
ְ ַ ﬠ, וְחֹ ֶשׁ,ְתה תֹהוּ ָובֹהוּ ִ ְבּ ֵר
ָ הָ י, וְהָ אָ ֶרץ. וְאֵ ת הָ אָ ֶרץ, אֵ ת הַ ָשּׁ ַמיִם, בָּ ָרא אֱ ִהים,אשׁית
; וְלַ חֹ ֶשׁ ָק ָרא לָ יְלָ ה, וַיִּ ְק ָרא אֱ ִהים לָ אוֹר יוֹם. בֵּ ין הָ אוֹר וּבֵ ין הַ חֹ ֶשׁ,טוֹב; ַויּ ְַב ֵדּל אֱ ִהים- כִּ י,הָ אוֹר- ַויּ ְַרא אֱ ִהים אֶ ת.אוֹר- י ְִהי אוֹר; ַוי ְִהי,אֱ ִהים
יוֹם אֶ חָ ד,ב ֶֹקר-ﬠֶ ֶרב ַוי ְִהי- ַוי ְִהי.
וּבֵ ין הַ ַמּיִם אֲ ֶשׁר, ַ ַויּ ְַב ֵדּל בֵּ ין הַ ַמּיִם אֲ ֶשׁר ִמ ַתּחַ ת לָ ָר ִקיﬠ, ַהָ ָר ִקיﬠ- אֶ ת, ַויַּﬠַ שׂ אֱ ִהים. בֵּ ין ַמיִם לָ ָמיִם,ִיהי ַמ ְב ִדּיל
ִ ו, י ְִהי ָר ִקיﬠַ ְבּתוֹ הַ ָמּיִם,ֹאמר אֱ ִהים
ֶ וַיּ
יוֹם ֵשׁנִ י,ב ֶֹקר-ﬠֶ ֶרב ַוי ְִהי- ָשׁ ָמיִם; ַוי ְִהי, ַ וַיִּ ְק ָרא אֱ ִהים לָ ָר ִקיﬠ.כֵן-מﬠַ ל לָ ָר ִקיﬠַ ; ַוי ְִהי.
ֵ
E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam
sobre a expansão; e assim foi.
E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
Gênesis 1:1-8
ִ ְבּ ֵרbereshit não significa exatamente “no princípio”, mas isso é um assunto para o nosso próximo artigo –
É interessante notar que , אשׁית
Traduzindo a Criação do mundo – onde trataremos especificamente desta palavra. Por agora, vamos ficar com esta tradução – que é boa.
Mas se bereshit não é exatamente “no princípio”, por que é assim traduzida? Bom, isso decorre do exílio babilônico, quando os Judeus
foram levados cativos por Nabucodonosor. Lá na Babilônia, o povo de Deus passou a falar a língua daquela cidade – o Aramaico.
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Assim, resumindo, quando os Judeus voltaram para Jerusalém, a maioria do povo já não entendia mais o Hebraico das Escrituras
Sagradas, a Torá. Esdras (o Escriba) traduziu a Torá para o Aramaico (esta língua ainda era falada em Israel na época de Yeshua
haMashiach e seus תלמידםTalmidim – Discípulos), porém essa tradução se perdeu.
Onkelos, um Judeu convertido, também fez um Targum, uma tradução da Torá para o Aramaico. E é desse Targum que vem a tradição de
ler “bereshit” como “no princípio”, pois “no princípio” é uma tradução interpretada do Aramaico “ ְבּ ַק ְד ִמיןbekadmin” – “No Princípio”.
CRIOU – Nachmanides, (mais conhecido Rambam), e os Rabinos ibn Kaspi e Sforno, sustentam que a palavra “ בָּ ָראBara”, “criou”,
denota a criação de algo que vem “do nada”. Eles acreditaram que a Torá está fazendo uma afirmação Teológica de que o Mundo foi
criado ex nihilo, “do nada”.
Bara (lê-se bará), é um verbo divino, sempre atribuído a Deus, pois somente Ele tem o poder de Criar do Nada.
A tradução para o Aramaico foi precisa e literal, pois o Targumista (tradutor) usou a palavra ְבּ ָראBero, “Criou”.
Deus – אֱ ִהים, Elohiym – A Tradução Aramaica substitui o original hebraico Elohiym pelo Tetagrama – o nome sagrado do Eterno,
composto pelas letras יyod, הhei, וvav, הhey, que é geralmente traduzido como “Senhor”.
Michael J. Alter em seu livro “Why The Torah Begins With the Letter Beit”, ensina que cada letra do nome Sagrado do Eterno corresponde
a um dos quatro mundos que foram criados por Ele – Atzilut (Emanação – Domínio Divino), Beriah (Criação – Trazer do Nada à Existência),
Yetzirah (Formação – Formou o homem do Pó da Terra) ,e Asiyah (Mundo Constituído pelas Ações).
A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei (Beriah) para a minha glória (Atzilut): eu os formei
(Yetzirah), e também eu os fiz (Asiyah).
Isaías 43:7
Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi
feito do que é aparente.
Hebreus 11:3
Uma vez que a tradução para o Aramaico visava ajudar a grande massa da população judaica que não era “letrada” no hebraico bíblico, o
targumista (tradutor) queria evitar a forma plural do nome Elohiym que literalmente quer dizer “deuses”. O singular seria אלוהEloah.
Mas se Deus é um, (como na leitura da Shemá: “Adonay Echad”), como o seu nome aparece no plural, e bem no início da Torá?
Há a explicação do plural majestático, como por exemplo quando falamos com uma autoridade, um Senador da República: É chamado
de Vossa Excelência, e não de Sua Excelência, portanto um pronome de tratamento plural, majestático, que indica a importância dessa
autoridade.
Ainda assim, para nós que cremos em Yeshua haMashiach, e em sua divindade, sabemos que o Eterno é um, mas ao mesmo tempo é um
ser (se é que pode ser assim definido) majestaticamente plural.
E esse nome Elohiym vai aparecer novamente no Evangelho de יוֹחָ נָןYochanan – João 1:1 – que afirma que o Elohiym do Princípio
era Yeshua haMashiach.
וֵא ִהים הָ יָה הוּא הַ ָדּבָ ר, וְהוּא הַ ָדּבָ ר הָ יָה אֵ צֶ ל הָ אֱ ִהים,אשׁית הָ יָה הַ ָדּבָ ר
ִ בּ ֵר.
ְ
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
João 1:1
Os Céus e a Terra – Aqui são as palavras הַ ָשּׁ ַמיִם, Hashamayim “os Céus” e הָ אָ ֶרץHaaretz “a Terra”. Há discordâncias entre estudiosos
sobre se a Terra e os Céus, no Princípio, formavam uma unidade, ou se eram já elementos separados um do outro, uma vez que as
águas – הַ ָמּיִםHamayim – foram separadas posteriormente deixando uma “expansão”.
Sem Forma e Vazia – (do hebraico “ תֹהוּ ָובֹהוּtohu vavohu”) – Como é perceptível na sua sonoridade, estas duas palavras formam um
tipo de “wordplay”, ou seja, um jogo de palavras para estabelecer relações entre a sonoridade, a escrita e facilitar a sua memorização.
É uma técnica muito frequente na Bíblia, e Yeshua haMashiach se utilizava muito da sonoridade das palavras em suas mensagens.
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