Teste 3 Saga
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Teste 3 Saga
Margarida Alvarinhas
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1. Indica se as afirmações seguintes são verdadeiras (V) ou falsas (F). (1x6=6 pt)
2. Para responderes a cada item (2.1. a 2.3.), seleciona a única opção que te permite obter
uma afirmação adequada ao sentido do texto. (1x3=3 pt)
2.1. Este projeto visou desenvolver nos jovens participantes…
a. a capacidade de reflexão.
b. o conhecimento de dramaturgos portugueses.
c. o contacto com a língua italiana.
2.2. O espetáculo teatral levado a público baseia-se…
a. num texto dramático definido.
b. em personagens criadas pelos atores.
c. num facto real, passado na Urbanização Fonte do Castanheiro.
2.3. A personagem representada por Leonor Picareto tem patente uma dimensão…
a. coletiva.
b. interativa.
c. estética.
3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido
do texto. (1 pt)
a. “isso” (l. 2) refere-se a “aceitaram o desafio proposto pelo Teatrão”.
b. “lhe” (l. 31) refere-se a “jovem de 16 anos”.
c. “onde” (l. 44) refere-se a “da cidade”.
GRUPO II – Educação Literária (30 pontos)
Não tinha nome: era o Papagaio, e parecia-me, porque falava, um ser maravilhoso. Depois, e a chegada desse outro
eu recordo, meu pai trouxe das Áfricas um papagaio cinzento. O papagaio por excelência passou a chamar-se o
Papagaio Verde, e vivia de gaiola pendurada numa das varandas em que, por um tapume de madeira, estava
dividida a varanda das traseiras da minha casa, cabendo uma parte à cozinha e outra à sala de jantar. Uma das
reivindicações políticas da minha infância foi a troca de uma situação injusta que confinava o Papagaio Verde à
5 «varanda da cozinha». Na da sala de jantar, a que era mais próxima da rua, vivia o Papagaio Cinzento. Este, menos
esplendoroso e menos corpulento, menos vaidoso também das suas cores baças, morreu depois do Verde, ave
grande, vistosa, transbordante de presunção e dignidade; e, apesar de ter tido muito mais do que o Verde o dom da
palavra (usando-o, todavia, com menos humor involuntário), não o recordo tão distintamente como a imagem do
outro, à qual a sua viera sobrepor-se à maneira de um negativo1, uma sombra, um apagado duplo, na imprecisão
10 focal da memória a desfocar-se por ele. De resto, o Cinzento era sujeito retraído e friorento, que ficava encolhido a
resmonear2 o reportório variado, sem manifestar por alguém qualquer predileção afetiva; tinha apenas de simpático
o olhar nostálgico, melancólico, e a mansidão muito dócil do resignado e acorrentado escravo.
O Verde, pelo contrário, era exuberante, de amizades apaixonadas e de ódios vesgos, sem continuidade nem
obstinação. Minto: essas amizades e ódios, não continuados nem firmes, faziam parte do seu carácter expansivo e
15 espetacular. Mas, com o andar do tempo, começaram a refinar numa aversão coletiva, azeda e ruidosa, ou
concretizada num bico de respeito, que, traiçoeiramente, na frente de uma adejada revoada3 verde, se apoderava
cerce4 de um dedo, uma canela, uma madeixa de cabelo. A contrapartida deste crescente pessimismo em relação ao
género humano (no qual ele incluía, com um desprezo que raiava o absurdo, o Cinzento) foi uma dedicada e
veemente5 amizade por mim. No mundo hostil dos adultos que me cercavam de solicitude6 e clausura7, o Papagaio
Verde, afinal, não me revelou apenas o que era carácter: ensinou-me também o que a amizade é.
20 Que o Papagaio Verde era brasileiro, como angolano o Cinzento, foi dos primeiros axiomas8 de biologia que
aprendi. Era sempre repetido, categórica e sacramentalmente, por meu pai ou por minha mãe, quando, em jantares
de família, se discutiam as graças relativas dos dois bichos, e havia sempre um tio meu para condenar, em nome dos
perigos da psitacose9, a posse de seres tão exóticos, portadores prováveis e espontâneos de uma doença estranha,
mortalíssima, que eu, criança à espera de vez para a carne assada, imaginava como a instalação crónica10, no
organismo dos adultos, daquela tendência manifesta para falarem de cor e a despropósito, coisa que os papagaios
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quase não faziam.
3. Explicita o contraste que se estabelece entre os dois papagaios, considerando o modo como se relacionam com as
pessoas. Justifica a tua resposta com duas expressões do texto que evidenciem esse contraste. (2+3=5 pt)
4. Indica de que modo se manifesta o «crescente pessimismo» (linha 21) do Papagaio Verde. (2+3=5 pt)
5. Explica o sentido que «psitacose» (linha 27) tinha para o narrador, em criança, referindo a sua opinião em relação aos
adultos. (2+3=5 pt)
1
negativo – imagem inversa, na qual as partes luminosas estão representadas por manchas escuras e vice-versa
2
resmonear – resmungar
3
adejada revoada – forte bater de asas
4
cerce – rente
5
veemente – intensa
6
solicitude – cuidado; zelo
7
clausura – condição ou estado de quem está encerrado
8
axiomas – verdades evidentes e inquestionáveis
9
psitacose – doença que afeta predominantemente certas aves, como os papagaios, e que pode transmitir-se ao homem
10
crónica – persistente; de longa duração.
6. “É evidente a preferência do narrador pelo Papagaio Verde”.
6.1. Apresenta dois argumentos a favor desta opinião. Ilustra cada argumento com uma expressão retirada do texto.
(2+3=5 pt)
3. Lê as frases seguintes e reescreva-as, substituindo a expressão sublinhada pela forma adequada do pronome pessoal.
Faz apenas as alterações necessárias. (1x4=4 pt)
3.1. Pus as bagagens no porão.
3.2. O menino comprará um papagaio verde.
3.3. O rapaz teria desobedecido à sua mãe.
3.4. As criadas alimentavam os papagaios.