Ciencias Dos Materiais 10

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Me.

LUIS HENRIQUE DE SOUZA

Nome negrito
Ciências
parte
dos sem negrito
Materiais
Ciências dos
Materiais
Me. Luis Henrique de Souza
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; SOUZA, Luis Henrique de. da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

Ciências dos Materiais. Luis Henrique de Souza.
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
288 p. Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
“Graduação - EAD”.
Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
1. Ciências. 2. Materiais. 3. Engenharia. 4. EaD. I. Título. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
Design Educacional Débora Leite; Head de
CDD - 22 ed. 620
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
Impresso por: F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo
Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina
Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo
de Produção de Materiais Nádila de Almeida
Toledo; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e
Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock.

Coordenador de Conteúdo Crislaine Rodrigues


Galan e Fabio Augusto Gentilin.
Designer Educacional Janaína de Souza Pontes e
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Yasminn Talyta Tavares Zagonel.
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação
Revisão Textual Érica Fernanda Ortega e Cíntia
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Prezoto Ferreira.
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Editoração Bruna Stefane Martins Marconato.
Ilustração Mateus Calmon, Marcelo Goto e Natalia
de Souza Scalassara.
Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro
Naldei e Thiago Surmani.
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
dos celulares.
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa-
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Prezado(a) aluno(a), este livro foi elaborado para um curso inicial sobre
Ciências dos Materiais e, no decorrer do estudo dessa disciplina, utilizando
esse material, percorreremos um trajeto que nos dará conhecimento sobre
os sólidos, suas estruturas e defeitos estruturais, suas propriedades, falhas,
diagramas de transformações e aplicações usuais das classes de materiais.
Iniciaremos esse trajeto na Unidade 1, em que será realizada uma intro-
dução aos materiais, seguida de uma explicação breve sobre a classificação
dos materiais e terminando com o estudo das suas estruturas cristalinas. Na
Unidade 2, veremos como é realizada a determinação de pontos, direções
e planos na célula unitária de um sólido cristalino, definiremos materiais
amorfos e cristalinos e estudaremos as imperfeições estruturais.
A difusão em sólidos, os mecanismos de difusão, a lei de Fick e os parâ-
metros que influenciam no processo de difusão serão abordados e aplicados
em exemplos na Unidade 3. Já na Unidade 4, você irá conhecer as proprieda-
des mecânicas dos materiais, tais como dureza, limite de resistência à tração
e ductilidade, que serão trabalhadas após uma conceituação básica para lhe
deixar mais confortável com o assunto. Continuando, na Unidade 5, você
vai conhecer as falhas típicas que ocorrem em projetos envolvendo mate-
riais, sendo elas a fratura, fadiga e fluência, e os mecanismos usuais delas.
Na Unidade 6, você vai estudar um tópico muito importante nas ciências
dos materiais, denominado diagrama de fases, e vai aprender a determinar
fases presentes em um sistema, quantidades relativas e composição dessas
fases aplicando esses conhecimentos no diagrama ferro-carbono. Nas Uni-
dades 7 e 8 serão abordadas outras propriedades dos materiais; na Unidade
7, você verá as propriedades elétricas, condução elétrica nos condutores
e isolantes, e as propriedades térmicas, condutividade térmica, expansão
térmica e capacidade calorífica. Já na Unidade 8, você vai conhecer as pro-
priedades ópticas, como a reflexão, absorção e refração; as propriedades
magnéticas, como o diamagnetismo e ferromagnetismo; e, concluindo a
unidade, você vai conhecer os tipos de corrosão que ocorrem em materiais
metálicos e a degradação em materiais poliméricos.
Concluiremos os nossos estudos da disciplina de Ciências dos Materiais
com a Unidade 9, na qual serão abordadas as classes dos metais, cerâmicas,
polímeros e compósitos, e onde você vai conhecer um pouco mais de cada
umas dessas classes apresentadas na Unidade 1 e mencionadas nas demais
unidades. Aqui, veremos alguns métodos de produção, materiais específicos
de cada uma dessas classes e aplicações deles.
Desejo a você uma ótima leitura.
CURRÍCULO DOS PROFESSORES

Me. Luís Henrique de Souza


Possui mestrado em Engenharia Química na área de modelagem e simulação de processos
fotocatalíticos pela Universidade Estadual de Maringá (2016) e graduação em Engenharia
Química pela Universidade Estadual de Maringá (2013). Tem experiência na área de Engenha-
ria Química, em Modelagem e simulação de reatores fotocatalíticos, síntese e avaliação do
desempenho de catalisadores bifuncionais e enzimáticos, tratamento de efluentes utilizando
processos oxidativos avançados e programação em Matlab; também tem experiência no
Ensino Superior nas disciplinas de Modelagem Matemática, Cálculo Numérico, Saneamento
Urbano, Programação para Engenharia e Física I. Atualmente, doutorando em Engenharia
Química na Universidade Estadual de Maringá.
Currículo Lattes disponível em:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4499456E7
Introdução a
Ciências dos
Materiais

13

Estruturas e
Imperfeições nos
Sólidos Cristalinos

41

Difusão em Sólidos

71
Propriedades
Elétricas e
Propriedades Propriedades
Mecânicas Térmicas dos
Materiais

101 193

Propriedades
Ópticas,
Falhas em Propriedades
Materiais Sólidos Magnéticas e
Corrosão dos
Materiais

131 223

Classes de
Diagrama de Fases Materiais e
Aplicações

159 253
29 Redes de Bravais
58 Discordância sem sólidos cristalinos

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Me. Luis Henrique de Souza

Introdução a
Ciências dos Materiais

PLANO DE ESTUDOS

Classificação
dos Materiais

Perspectiva Estruturas Cristalinas


Histórica dos Materiais

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Conhecer a importância dos materiais em nossas vidas • Introduzir a ideia de materiais cristalinos, sistemas crista-
e na evolução da humanidade e ter uma visão geral do linos e redes de Bravais.
ramo das ciências dos materiais.
• Apresentar as principais classes dos materiais e suas ca-
racterísticas gerais.
Perspectiva
Histórica

Antes de iniciarmos a nossa aventura no mundo


dos materiais, é importante que você tenha uma
perspectiva histórica sobre as ciências dos mate-
riais, essa perspectiva será apresentada a seguir, no
decorrer deste tópico. Além disso, vamos definir o
que são as ciências dos materiais, para deixá-lo(a)
mais confortável com o assunto.
Desde o início das civilizações, os materiais
e a energia são utilizados para melhorar a vida
dos seres humanos; por essa razão, eles estão in-
timamente ligados à existência e à evolução da
humanidade e acompanharam essas civilizações
no decorrer de todo o seu desenvolvimento desde
a pré-história, na Idade da Pedra, quando nossos
ancestrais lascavam pedras para produzir armas de
caça; passando pela Idade do Bronze, na qual foi
desenvolvida a base da metalurgia com as ligas de
cobre e estanho na produção de armas superiores;
até os dias atuais, com a produção de superligas,
grafeno, entre outros (SHACKELFORD, 2013).
Para que você possa perceber a importância dos materiais para a humanidade, imagine a sua vida
sem alguns deles, por exemplo, o plástico, o cimento, o vidro, o alumínio e o papel. É impossível imagi-
nar tal situação, não é? Isso deixa claro que os materiais estão presentes em todos os setores de nossas
vidas, seja na habitação, transporte, comunicação, indústria ou, ainda, no lazer.
A produção e a transformação desses materiais em bens acabados representa uma das atividades mais
importantes da economia moderna. Todo o conhecimento adquirido ao longo da nossa evolução acerca
dos materiais tornou possível o desenvolvimento de uma variedade enorme de materiais e moldagem das
propriedades desses materiais de acordo com o interesse e a necessidade da sociedade (SMITH; ROSA,
1998; CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

Ciência e Engenharia dos Materiais

A ciência e engenharia de materiais é um cam-


po de conhecimento interdisciplinar, que trata
do estudo e manipulação da composição e es-
trutura dos materiais, com o intuito de controlar O estudo da estrutura de um material pode ser
as propriedades destes por meio da síntese e do realizado em quatro níveis diferentes. O primeiro
processamento para a produção de bens de uso e é o nível subatômico que estuda o átomo indi-
consumo. A ciência dos materiais tem como obje- vidualmente e o comportamento de seu núcleo
tivo o estudo da estrutura interna, das proprieda- e elétrons. O segundo nível é o nível atômico,
des e do processamento dos materiais, enquanto que estuda a interação entre vários átomos e
a engenharia dos materiais dedica-se à aplicação a formação de ligações e moléculas. O terceiro
destes conhecimentos de modo a transformar os nível é o microscópico, que corresponde aos ar-
materiais em produtos úteis e/ou necessários à ranjos atômicos e moleculares e a formação de
sociedade; entretanto, não existe uma linha es- estruturas cristalinas, moleculares e amorfas. Por
tritamente definida separando esses dois ramos fim, o nível macroscópico relacionado ao com-
(SMITH; ROSA, 1998). Neste livro, serão abor- portamento do material em serviço.
dados tanto aspectos da ciência quanto da enge- Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013).
nharia dos materiais.

Na ciência e engenharia dos materiais, o termo composição refere-se à constituição química do


material, ou seja, aos átomos, moléculas ou íons que constituem esse material. Já o termo estrutura
refere-se à forma como esses átomos, moléculas ou íons se organizam (arranjam) para a formação do
material. Outros termos utilizados nesse âmbito são: o termo síntese, que se refere ao modo e às subs-
tâncias químicas necessárias para a produção de um material específico, e o termo processamento,
que remete ao modo como os materiais sintetizados são transformados em bens de uso e consumo
com propriedades adequadas a cada finalidade (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

UNIDADE 1 15
É importante saber que, quando falamos de ma-
teriais, devemos ter em mente que toda matéria é
um material em potencial, dependendo apenas que
suas propriedades (ópticas, mecânicas, elétricas
etc.) confiram-lhe alguma função especifica (ZAR-
BIN, 2007). Além disso, o desempenho do material
em uma aplicação é um fator determinante em
projetos. Portanto, pode-se notar que a ciência dos
materiais está embasada em quatro pilares: a sín-
tese e processamento; a composição e estrutura; as
propriedades; e o desempenho (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2013).
Em resumo, a partir da ciência e engenharia
dos materiais, é possível compreender a natureza
dos materiais e aplicar conceitos fundamentais e
empíricos que possibilitam relacionar a estrutu-
ra dos materiais, suas diversas propriedades e o
seu comportamento para a transformação desses
materiais em produtos.

16 Introdução a Ciências dos Materiais


Classificação
dos Materiais

Os materiais, por razões de conveniência, são se-


parados em classes com base na sua constituição,
arranjo de seus átomos e suas propriedades. Essas
classes, ou grupos, são:
• Metais ou materiais metálicos.
• Cerâmicas ou materiais cerâmicos.
• Polímeros ou materiais poliméricos.
• Compósitos ou materiais compósitos.

Cada uma dessas classes possui materiais com


estruturas e propriedades diferentes das outras
classes. A seguir, vamos conhecê-las e entender
suas características gerais.

Metais

Os materiais pertencentes à classe dos metais são


substâncias inorgânicas, constituídos por um ou
mais elementos químicos metálicos, podendo con-
ter elementos não metálicos em sua composição.
Dentre os materiais metálicos mais usuais estão o
aço, o ferro, o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata,
o bronze, o titânio, o ouro etc. Além disso, dentro da

UNIDADE 1 17
classe dos materiais metálicos, também existem as ligas metálicas, que são formadas pela mistura de um
metal com um ou mais metais ou não metais, alguns exemplos de materiais não metálicos que podem
estar presentes em ligas metálicas são o carbono, nitrogênio e oxigênio (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

A ligação do tipo iônica é uma ligação que ocorre entre dois íons de cargas opostas, um cátion e
um ânion, enquanto a ligação covalente é um tipo de ligação em que ocorre o compartilhamento
de elétrons entre os átomos envolvidos. Por fim, a ligação metálica é aquela que ocorre entre dois
átomos de metais e, nessa ligação, todos os átomos envolvidos perdem elétrons de suas camadas
mais externas, e esses elétrons se deslocam com grande mobilidade entre essas camadas, formando
uma nuvem eletrônica (também conhecida como “mar de elétrons”).
Fonte: adaptado Callister Jr. e Rethwisch (2013).

Alguns exemplos comuns, feitos de materiais metálicos, presentes no nosso dia a dia, podem ser vistos
na Figura 1.

Figura 1 - Objetos comuns feitos de metal e ligas metálicas

Eles possuem alto nível de organização espacial no arranjo de seus átomos, definido pelo termo “es-
trutura cristalina”. Em função dessa estrutura atômica organizada, os metais possuem boa resistência
mecânica, ductilidade, alta rigidez, resistência a choques e podem ser deformados sob a ação de forças
externas. Além disso, são bons condutores de eletricidade e de calor, devido às suas ligações metálicas.
Apesar dos metais puros serem pouco utilizados, as ligas possuem diversas aplicações, uma vez que
elas permitem combinações de propriedades melhores que os metais puros. Na fabricação de joias, por
exemplo, o ouro puro não é utilizado, pois ele é um material muito macio; para resolver esse problema,
os ourives misturam o ouro com cobre, com a finalidade de melhorar a sua resistência mecânica para
que a joia não seja danificada facilmente (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

18 Introdução a Ciências dos Materiais


A indústria moderna é altamente dependente dos metais, uma vez que seu uso ocorre em uma excep-
cional diversidade de segmentos, desde a indústria automotiva à microeletrônica.

Cerâmicas

A palavra cerâmica, na linguagem do dia a dia, tem um significado


diferente do que tem nas Ciências dos Materiais. Na linguagem
popular, cerâmicas são os objetos feitos de porcelana ou louça; no
âmbito das Ciências dos Materiais, a palavra “cerâmicas” tem uma
abrangência muito maior.
As cerâmicas são constituídas por elementos químicos metálicos
e não metálicos que se ligam por meio de ligações covalentes e iô-
nicas. O óxido de alumínio, ou alumina, é um exemplo de material
cerâmico composto por alumínio, que é um metal, juntamente com
o oxigênio, um não metal, cuja fórmula química é Al2O3. Outros
exemplos de materiais cerâmicos comuns são o dióxido de silício
(ou sílica, SiO2), dióxido de zircônio (ou zircônia, ZrO2), carbeto
de silício (SiC) e nitreto de silício (Si3N4).
Figura 2 - Objetos comuns feitos de
Na Figura 2, podemos ver alguns objetos feitos de materiais materiais cerâmicos
cerâmicos.

Os materiais cerâmicos são duros, possuem rigidez e resistência comparadas às dos metais, entretanto,
são frágeis, ou seja, apresentam baixa resistência a esforços de tração, torção, flexão etc. Contudo, as
cerâmicas são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes severos do que os polímeros e os me-
tais, e são materiais tipicamente isolantes térmicos e elétricos (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

No âmbito de ciência dos materiais, dureza é a uma das características dos materiais que está inti-
mamente vinculado com a ligação dos átomos que formam esse material. A grosso modo, a dureza
pode ser entendida como a facilidade que um material tem de riscar ou penetrar em outro.
Fonte: Durocontrol (2016, on-line)1.

Os usos mais comuns das cerâmicas são na produção de tijolos, vasos sanitários, refratários, entre
outros. Já as cerâmicas avançadas são aplicadas na produção das estruturas de chips de computadores,
capacitores, velas de ignição de automóveis, indutores elétricos etc. (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

UNIDADE 1 19
Polímeros

A classe dos polímeros é um ramo de produtos


da química orgânica, formados, principalmente,
por carbono e hidrogênio, podendo conter outros
elementos não metálicos. O processo de produção
dos polímeros é conhecido como polimerização.
Os polímeros são moléculas de cadeia longa, for-
mados pela união de várias (poli) unidades me-
nores (meros). O polietileno (C2H4)n é um exem-
plo de polímero formado apenas por carbono e
hidrogênio, pela união de 100 até 1000 moléculas
de etileno (C2H4). Entretanto, além do carbono e
hidrogênio, os polímeros podem conter oxigê-
nio, como o acrílico, nitrogênio, poliamidas ou
náilons, flúor, fluorocarbonos, silício e silicones.
A seguir, são apresentados, na Figura 3, alguns
Figura 3 - Objetos comuns feitos de polímeros
objetos feitos de polímeros.

Em geral, os materiais poliméricos possuem grande ductilidade e tem baixa densidade. Além disso,
esses materiais são isolantes elétricos, não magnéticos e, alguns polímeros, são altamente resistentes
a produtos químicos corrosivos. Suas desvantagens estão no fato de serem menos resistentes a defor-
mações que os metais, e de amolecer e/ou se decompor em temperaturas moderadas; contudo, mesmo
com essas limitações, eles ainda são uma opção altamente versátil e útil.
O avanço das tecnologias, na última década, no desenvolvimento de compostos poliméricos, tem
permitido a produção de polímeros com resistência e rigidez altas o suficiente para substituir alguns
metais em aplicações estruturais comuns em projetos (SHACKELFORD, 2013).

Compósitos

Os compósitos são formados pela combinação entre os materiais das classes apresentadas anteriormente
(metais, cerâmicas e polímeros). Essa união conduz a um material com propriedades superiores aos
dos componentes separadamente.
Existem vários tipos de compósitos, formados por diferentes combinações entre metais, cerâmicas
e polímeros, a maior parte deles e feita pelo homem; contudo, alguns materiais de ocorrência natural
também são considerados compósitos, como é o caso do osso e da madeira.
Um dos compósitos mais famosos é a fibra de vidro, constituída de pequenas fibras de vidro em-
butidas no interior de uma matriz polimérica. A união das fibras de vidro, material resistente e rígido
(porém frágil) com a matriz polimérica, material dúctil e flexível (porém fraco) resulta em um material
compósito flexível, dúctil, resistente e relativamente rígido (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

20 Introdução a Ciências dos Materiais


A partir dos compósitos, é possível obtermos materiais leves, robustos, dúcteis e resistentes a altas
temperaturas ou mesmo produzirmos ferramentas de corte, duras e resistentes a choques, que fratu-
rariam se fossem feitas com outros materiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
Na Tabela 1, pode-se observar alguns exemplos de materiais pertencentes aos grupos apresentados
anteriormente, suas aplicações e suas propriedades.
Tabela 1 - Aplicações e propriedades dos materiais

Classes Exemplos de aplicações Propriedades

Metais e Ligas

Alta condutividade elétrica,


Cobre Fios elétricos
boa conformabilidade

Fundibilidade, usinabilidade, amor-


Ferro fundido cinzento Blocos de motores para automóveis
tecimento de vibrações

Endurecibilidade por tratamento


Aços especiais Ferramentas, chassis de automóveis
térmico

Cerâmicas e vidros

Transparência ótica, isolamento


SiO2-Na2O-CaO Vidro para janelas
térmico

Refratários (revestimento resistente Isolamento térmico, refratarieda-


Al2O3, MgO, SiO2
ao calor para fornos de fusão) de, inércia química

Grande capacidade de armazena-


Titanato de bário Capacitores para microeletrônica
mento de cargas elétricas

Fibras óticas para a tecnologia da Índice de refração adequado, bai-


Sílica
informação xas perdas óticas

Polímeros

Facilidade de ser moldado para


Polietileno Embalagens para alimentos produzir filmes finos, flexibilidade
e hermetismo

Resinas de epóxi reforçada Encapsulamento de circuitos inte- Isolante elétrico e resistência à


com fibras de carbono grados umidade

Adesivos para união de camadas de


Resinas fenólicas Resistência mecânica e à umidade
compensado

Compósitos

Resina epóxi reforçada


Componentes para aviação Elevada razão resistência-peso
com fibras de carbono

Metal duro (liga de cobalto


Ferramentas de corte para usina- Elevada dureza conjugada com
reforçada com carbeto de
gem boa resistência a choques
tungstênio)

Baixo custo e associação de alta


Aço revestido com titânio Vasos para reatores resistência do aço com a elevada
resistência à corrosão do titânio

Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015). UNIDADE 1 21


Materiais avançados Biomateriais

Os materiais avançados são materiais que são Os biomateriais são materiais pertencentes às
aplicados na produção de componentes ou dis- classes de materiais anteriores (metais, polímeros,
positivos de alta tecnologia, cujo funcionamento cerâmicas e semicondutores). Esses materiais são
possui princípios intrincados ou sofisticados. Os utilizados na área da saúde para as mais diversas
materiais dessa categoria pertencem às classifica- finalidades, entre elas dispositivos biomédicos
ções descritas anteriormente e devemos entender (biosensores, tubos de circulação, sistemas de he-
o termo “alta tecnologia” como sendo relacionado modiálise), materiais implantáveis (suturas, subs-
a produtos e dispositivos, por exemplo, equipa- titutos ósseos, lentes, dentes, válvulas cardíacas),
mentos eletrônicos, computadores, aeronaves, órgãos artificiais (pulmões, coração, rim, pele),
sistemas de fibras ópticas, equipamentos médi- curativos, dentre outros.
cos etc. Devido à finalidade desses materiais, eles de-
vem ser materiais não tóxicos, pois eles entram
em contato com sistemas biológicos. Além disso,
Semicondutores eles devem ser compatíveis com os tecidos do
corpo, uma vez que muitos deles são implanta-
Os semicondutores são materiais com proprieda- dos como substitutos a órgãos e tecidos danifi-
des elétricas intermediárias entre os condutores cados do corpo humano (PIRES; BIERHALZ;
(metais) e os isolantes (polímeros e cerâmicas). MORAES, 2015).
Além disso, as propriedades elétricas desses ma- Dentre os materiais metálicos, o titânio e suas
teriais são extremamente sensíveis a pequenas ligas, por exemplo, têm sido usado por décadas na
concentrações de átomos de impurezas presentes fixação de fraturas e reconstrução de articulações
em sua composição. por ser resistente à corrosão, biocompatível e pela
O controle das concentrações de impurezas indução do crescimento ósseo (bioadesão). Além
em regiões definidas do material permite con- disso, alguns tipos de ligas de cobre são aplicados
trolar a condutividade elétrica nessas regiões do para artroplastia total de quadril, que consistem em
material, possibilitando sua aplicação em compo- uma haste femoral conectada a uma cabeça modular
nentes como, por exemplo, circuitos eletrônicos sujeita à articulação com o componente acetabular.
integrados. Já os materiais cerâmicos bioinertes possuem
Os semicondutores são, geralmente, feitos de aplicações biomédicas, principalmente nas áreas
silício, germânio e arsenato de gálio. Ao longo das de ortopedia e odontologia, com grande represen-
últimas décadas, os semicondutores revoluciona- tatividade de compostos, como a alumina (Al2O3),
ram a indústria de eletrônicos e de computadores, zircônia (ZrO2) e zircônia estabilizada com óxido
em decorrência de suas propriedades elétricas de ítrio (ZrO2(Y2O3)), devido à sua capacidade de
diferenciadas (CALLISTER JR.; RETHWISCH, não reagir com o tecido adjacente, resistência à
2013). Voltaremos a falar sobre os materiais semi- corrosão, grande resistência ao desgaste e alta re-
condutores mais adiante, na Unidade 7. sistência mecânica (BIOFABRIS, [2019], on-line)2.

22 Introdução a Ciências dos Materiais


Magnéticos

A palavra magnetismo está associada ao fenômeno de atração que um material exerce sobre outro
material. Sendo assim, os materiais magnéticos são materiais com a capacidade de exercer uma força
de atração ou repulsão sobre outros materiais.
Alguns materiais são capazes de se manterem magnetizados mesmo na ausência de um campo
magnético, eles são chamados de ferromagnéticos; outros materiais apresentam propriedades mag-
néticas apenas na presença de um campo magnético atuante.
Um exemplo de material ferromagnético é o imã em barra, apresentado na Figura 4a, que exibe dois
polos identificados (norte-sul); para um imã reto e um imã em formato de U, na Figura 4b, são visuali-
zadas as linhas de campo formadas pela limalha de ferro quando submetida a esses dois tipos de imãs.
a) Ímã de barra

b) Ímã em ferradura

Figura 4 - a) Representação das linhas de campo de um imã; b) O efeito do imã sobre a limalha de ferro

UNIDADE 1 23
Os materiais magnéticos possuem aplicações variadas, desde pequenos imãs para fechar portas de
armários, até componentes sofisticados utilizados na indústria de eletrônicos (RODRIGUEZ, 1998).
Os materiais magnéticos serão vistos com maior detalhamento na Unidade 8.

Nanotecnológicos

Os materiais nanotecnológicos são diferenciados As propriedades dos materiais que conhece-


em relação ao seu tamanho a nível nano, ou seja, mos são fortemente dependentes do tamanho das
suas partículas possuem dimensões da ordem de partículas que compõem esses materiais; dessa
nanômetros (10-9 metros). O estudo desses ma- forma, podemos modificar as propriedades de
teriais é chamado de nanotecnologia. Eles são de um determinado material por meio do controle
grande expectativa tecnológica, devido às suas do tamanho e da forma de suas partículas cons-
características fascinantes e, por essa razão, ga- tituintes e, com isso, obter novas possibilidades
nharam significativa importância a partir do final de aplicação para o mesmo material.
do século XX, com aplicações em nichos, como Portanto, a partir da nanotecnologia, materiais
eletrônica, biomedicina, esportes, produção de opacos podem se tornar transparentes em escala
energia, entre muitos outros. nanométrica, alguns sólidos tornam-se líquidos,
isolantes elétricos tornam-se condutores etc. Então,
tornou-se possível modificar propriedades físicas
e químicas dos materiais pertencentes a todas as
classes de materiais (metais, cerâmicas, polímeros,
compósitos) somente controlando o tamanho e o
formato de suas partículas, sem a necessidade de
alterar sua composição química (ZARBIN, 2007).
A Figura 5, a seguir, mostra a estrutura dos
nanotubos de carbono produzidos a partir da na-
notecnologia aplicada aos materiais. Esse material
possui um vasto campo de aplicações, por exemplo,
na fabricação de suportes para catalisadores, puri-
ficação e descontaminação de águas, em baterias de
íons de lítio, sensores e biosensores, entre muitas
outras aplicações (ZARBIN; OLIVEIRA, 2013).

Tenha sua dose extra de


conhecimento assistindo ao
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.
Figura 5 - Representação tridimensional
da estrutura de um nanotubo de carbono

24 Introdução a Ciências dos Materiais


Estruturas Cristalinas
dos Materiais

É fundamental conhecer o arranjo estrutural dos


átomos na formação dos materiais, uma vez que
esse arranjo determina muitas das propriedades
desses materiais. Para melhor aproveitamento
deste conteúdo, vamos introduzir alguns concei-
tos importantes, como o de estrutura cristalina,
rede cristalina e célula unitária. Além disso,
devemos saber que os átomos são formados por
um núcleo, com prótons e nêutrons, cercado por
elétrons que circulam ao redor desse núcleo. Para
a finalidade de descrever os arranjos nos sólidos,
adotaremos um sistema no qual os átomos que
compõem um material serão considerados esferas
rígidas, como bolas de pingue-pongue.
• Rede cristalina: é um conceito matemá-
tico e infinito em extensão. Em outras pa-
lavras, uma rede cristalina é um conjunto
de pontos dispostos de acordo com um
padrão periódico, ou seja, um arranjo tri-
dimensional de pontos cuja vizinhança é
idêntica. Portanto, essas redes são os esque-
letos sobre os quais as estruturas cristalinas
dos materiais são formadas e os átomos ou
grupo de átomos estão posicionados nos
pontos dessa rede ou próximos a eles.

UNIDADE 1 25
• Estrutura cristalina: é a estrutura forma- A célula unitária é o bloco estrutural básico, ou
da pelo arranjo dos átomos, íons ou mo- bloco construtivo da estrutura cristalina, que
léculas quando se organizam na formação ainda mantém as características gerais da rede,
de um material. Os cristais formados nesse portanto é possível descrever a estrutura cris-
processo podem ter as mais variadas for- talina de um sólido cristalino conhecendo sua
mas, desde estruturas mais simples – para célula unitária.
os metais – até estruturas complexas – para As células unitárias são, na maioria das vezes,
algumas cerâmicas e polímeros. paralelepípedos ou prismas. Na Figura 6, a seguir,
• Célula unitária: nos sólidos cristalinos, pe- podemos observar a célula unitária na forma de
quenos grupos de átomos se organizam de esferas reduzidas para alguns materiais comuns,
maneira periódica na formação da estrutura que são o sal de cozinha, o diamante, o gelo seco
cristalina de um material; por essa razão, é e o ferro metálico, todos com estrutura cúbica.
conveniente e prático dividir a estrutura cris-
talina nessas unidades menores e repetitivas,
que são denominadas células unitárias.

Iônico Atômico
Sal de Cozinha – NaCl Diamante – C

Molecular Metálico
Gelo seco – CO2 Ferro metálico - Fe

Figura 6 - Células unitárias de alguns materiais comuns

26 Introdução a Ciências dos Materiais


Sistemas Cristalinos

Como existem diversas estruturas cristalinas cionado com a aresta de comprimento b, e o eixo
diferentes, é conveniente agrupá-las de acordo z está relacionado com a aresta de comprimento
com a configuração de suas células unitárias. O c, como mostrado na Figura 7.
enfoque mais utilizado é fundamentado somen-
te na geometria da célula unitária, sem levar em
z
consideração as posições dos átomos nela.
Além disso, para que seja possível a aplicação
desse enfoque, definimos um sistema de coorde-
nadas cartesianas xyz, com a origem posicionada
em um dos vértices da célula unitária, e com cada
um dos eixos, x, y e z, coincidindo com uma das
arestas do paralelepípedo e estendendo-se a partir β α
do vértice de origem. y
c
A Figura 7 representa uma célula unitária ge-
nérica de um material qualquer; nela, os parâme- γ a
tros a, b, c, α, β e γ apresentados são denominados
parâmetros de rede cristalina ou simplesmente
parâmetros de rede, onde a, b e c são os compri- x b
mentos das arestas que compõem a célula unitá-
ria e α, β e γ são os ângulos formados entre essas
Figura 7 - Esquematização de uma célula unitária genérica
arestas. Por convenção, o eixo x está relacionado e seus parâmetros de rede
com a aresta de comprimento a, o eixo γ está rela- Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).

Existem sete combinações possíveis para os parâmetros a, b, c, α, β e γ, cada combinação dá origem a


uma geometria diferente para a célula unitária. Essas geometrias são denominadas sistemas cristalinos.
Os sete sistemas cristalinos são os sistemas cúbico, tetragonal, hexagonal, ortorrômbico, romboédrico,
monoclínico e triclínico.
Na Figura 8, podemos verificar as relações para os parâmetros de rede, assim como as representações
para as células unitárias de cada um dos sete sistemas cristalinos.

UNIDADE 1 27
Sistema Relações Ângulos entre Geometria da
Cristalino Axiais os Eixos Célula Unitária

Cúbico a=b=c α = β = γ = 90°


a a
a

Hexagonal a=b≠c α = β = 90°, γ = 120° c

a a a

Tetragonal a=b≠c α = β = γ = 90°


c a
a

Romboédrico
a=b=c α = β = γ ≠ 90° aa
(Trigonal)
a

Ortorrômbico a≠b≠c α = β = γ = 90°


c
a
b

Monoclínico a≠b≠c α = γ = 90° ≠ β° c β


a
b

Triclínico a≠b≠c α ≠ β ≠ γ ≠ 90° c β α


γ
b a

Figura 8 - Representação e caracterização dos parâmetros da célula unitária para os sete sistemas cristalinos
Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).

28 Introdução a Ciências dos Materiais


Dentro dos sete sistemas cristalinos, as estruturas cristalinas podem
se organizar em 14 formas únicas de arranjo dos pontos em sua rede
cristalina. Esses arranjos tridimensionais únicos dos pontos da rede
cristalina são denominados redes de Bravais – nome concedido em
homenagem ao cristalógrafo francês Auguste Bravais (1811-1863).
A seguir, podemos visualizar as 14 redes de Bravais na Figura 9
(CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

Cúbico
a
a

a de face centrada de corpo centrado

α
a c
 
a 
a a a
de corpo centrado a

Tetragonal Romboédrico Hexagonal

c
a

b de face centrada
Ortorrômbico
Redes de Bravais

β c β α
c β
a γ
a
b b
Monoclínico Triclínico

Figura 9 - Representação das 14 redes de Bravais


Fonte: adaptada de Centro de Informação Metal Mecânica ([2019], on-line)3.

UNIDADE 1 29
Polimorfismo e alotropia

Quando estudamos os materiais, não podemos deixar de mencionar um fenômeno conhecido como
polimorfismo; esse fenômeno ocorre, principalmente, em metais e alguns ametais. O polimorfismo
acontece quando um material possui mais do que uma estrutura cristalina, e esta que prevalece é depen-
dente da temperatura e pressão às quais o material é submetido. Em sólidos elementares, ou seja, em um
material formado apenas por um elemento químico, o mesmo fenômeno recebe o nome de alotropia.
Na Figura 10, a seguir, vemos quatro formas alotrópicas do carbono, ou seja, quatro arranjos cris-
talinos diferentes dos átomos de carbono e, por consequência, quatro compostos com propriedades
distintas, formados somente por carbono.
Geralmente, as transformações polimórficas são acompanhadas de mudanças nas propriedades
físicas do material, por exemplo, na massa específica. Um outro exemplo de alotropia acontece com
o estanho branco, que possui uma estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado nas condições
ambiente; porém, quando submetido à temperatura de 13,2 °C, transforma-se em estanho cinza, que
possui uma estrutura cristalina cúbica (semelhante à do diamante). A velocidade com que a transfor-

Grafite Grafite Diamante


Diamante

Figura 10 - Exemplos de compostos alotrópicos do carbono

30 Introdução a Ciências dos Materiais


mação ocorre é extremamente lenta, contudo, e conforme a temperatura diminui abaixo de 13,2 °C,
mais rapidamente a transformação acontecerá (Callister JR.; RETHWISCH, 2013).
Nesta primeira unidade do nosso livro da disciplina de Ciências dos Materiais, apresentamos a você,
caro(a) aluno(a), uma breve perspectiva histórica sobre as ciências dos materiais para que pudéssemos
entender qual a importância desta disciplina no desenvolvimento da humanidade, desde os tempos
antigos até a atualidade.
Além disso, foram abordados conceitos importantes sobre o que são as ciências dos materiais e, em
seguida, foi introduzida a classificação dos materiais em metais, cerâmicas, polímeros e compósitos,
além de uma abordagem dos materiais avançados, semicondutores, nanomateriais, magnéticos e bio-
materiais, apontando suas características principais e exemplos mais comuns de cada classe.
Encerramos a Unidade 1 com uma introdução à estrutura cristalina dos materiais, onde vimos
que os átomos, molécula ou íons que formam os materiais podem se arranjar de várias formas, dando
origem aos sistemas cristalinos.

Grafite Grafite Diamante


Diamante

Fulereno
Fulereno GrafenoGrafeno

UNIDADE 1 31
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. A rede cristalina é o arranjo cristalino in-


finito, tridimensional de pontos, no qual z

cada ponto possui vizinhanças idênti-


cas. Também sabe-se que essa rede
cristalina possui os pontos chamados
de nós, que podem estar arranjados de
14 diferentes formas, conhecidas como
β α
redes de Bravais. A seguir, é apresen-
c y
tada a célula unitária do enxofre; com
base nos conhecimentos sobre siste- γ a
mas cristalinos e redes de Bravais, jul-
gue as afirmativas apresentadas sobre o
x b
sistema cristalino e o nome da estrutura
para a célula unitária apresentada.

Sabendo que os parâmetros de rede são: a = 1 nm; b = 1,3 nm; c = 2,4 nm;
α = β = γ = 90°, analise as afirmativas a seguir:
I) Sistema ortorrômbico.
II) Estrutura tetraédrica de corpo centrado.
III) A célula unitária possui todas as arestas iguais.
IV) Sistema hexagonal.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I e II.
b) III e IV.
c) I e III.
d) Apenas I.
e) Apenas III.

32
2. Os materiais sólidos podem ser classificados em quatro grandes grupos, são
eles: metais, cerâmicas, polímeros e compósitos. A classificação destes mate-
riais é, principalmente, baseada na estrutura atômica e em suas composições
químicas; sendo assim, os materiais pertencentes a um grupo possuem cons-
tituintes e propriedades diferentes em relação aos materiais pertencentes aos
demais grupos.
Com base nas características estruturais e nas propriedades dos materiais,
analise as afirmações a seguir.
I) As propriedades dos materiais sólidos dependem da sua estrutura cristali-
na, ou seja, da maneira pela qual os átomos, moléculas ou íons se arranjam
espacialmente.
II) Os materiais metálicos e alguns materiais cerâmicos formam cristais quando
se solidificam, ou seja, seus átomos se arranjam em um modelo ordenado e
repetitivo chamado estrutura cristalina.
III) Os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas apenas por
elementos químicos metálicos. Dentre os materiais metálicos mais usuais,
estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro, o
aço, o ferro, entre outros.
IV) Os metais e suas ligas (como, por exemplo, o aço e o latão) são bons condu-
tores de eletricidade e de calor, resistentes e, em determinadas condições,
deformáveis, enquanto os materiais cerâmicos (porcelana, cimento) são duros
e quebradiços.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

33
3. Os materiais avançados são materiais de alto desempenho, sintetizados ou cujas
características foram aprimoradas por alguma técnica de processamento. São
materiais que podem pertencer à classe dos metais, cerâmica, polímeros ou
compósitos e são utilizados em aplicações de alta tecnologia.
Tomando como base os materiais avançados, avalie as afirmativas a seguir.
I) Biomateriais são empregados em componentes para implantes de partes
em seres humanos, por essa razão, esses materiais não devem produzir
substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com o tecido humano.
II) Os semicondutores são, geralmente, feitos de silício, germânio e arsenato
de gálio, são materiais com propriedades elétricas intermediárias entre os
condutores e os isolantes; além disso, as propriedades elétricas desses ma-
teriais são extremamente sensíveis a pequenas concentrações de átomos de
impurezas presentes em sua composição.
III) Nenhum material possui comportamento magnético naturalmente, esse
comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de
atração ou repulsão sobre outros materiais.
IV) A nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita modificar as
propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho
e da forma de suas partículas constituintes, contudo, isso não possibilita novas
aplicações para o mesmo material.

Estão corretas as alternativas:


a) Apenas I e II.
b) Apenas II e III.
c) Apenas III e IV.
d) Apenas II e IV.
e) Apenas I e IV.

34
WEB

O material complementar apresenta uma breve discussão a respeito do grafeno,


alótropo de carbono. Neste material, são apontadas algumas das características
promissoras desse material, os desafios envolvidos no processo e os centros
de pesquisas que trabalham no seu desenvolvimento.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

35
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

PIRES, A. L. R.; BIERHALZ, A. C. K.; MORAES, Â. M. Biomateriais: tipos, aplicações e mercado. Química nova,
On-line, v. 38, n. 7, p. 957-971, 2015. Disponível em: http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=6262.
Acesso em: 1 abr. 2019.

RODRIGUEZ, G. J. B. O porque de estudarmos os materiais magnéticos. Revista Brasileira de Ensino de Fısi-


ca, On-line, v. 20, n. 4, p. 315, 1998. Disponível em: http://www.ifba.edu.br/PROFESSORES/lissandro/arquivos/
importancia_magnetismo.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

SMITH, W. F.; ROSA, M. Princípios de ciência e engenharia de materiais. 3. ed. Portugal: Editora McGra-
w-Hill, 1998.

ZARBIN, A. J. G. Química de (nano) materiais. Química Nova, On-line, v. 30, n. 6, p. 1469, 2007. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n6/a16v30n6.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019.

ZARBIN, A. J. G.; OLIVEIRA, M. M. Nanoestruturas de carbono (nanotubos, grafeno): Quo Vadis. Química


Nova, São Paulo, v. 36, n. 10, p. 1533-1539, 2013.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: http://www.durocontrol.com.br/blog/dureza/. Acesso em: 28 maio 2019.
2
Em: http://biofabris.com.br/pt/biomateriais/. Acesso em: 28 maio 2019.
3
Em: https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6414-empacotamen-to-atomico-dos-cristais-intro-
ducao#.W43_pM4zqpp. Acesso em: 28 maio 2019.

36
1. D.

A partir dos parâmetros da célula unitária, temos:

a≠b≠c ; γ = β = α = 90°

Na Figura 8, esses parâmetros representam um Sistema Ortorrômbico.

A afirmativa II está incorreta porque a estrutura é ortorrômbica, contudo, não há como determinar a
estrutura ortorrômbica dentre as quatro possibilidades, pois nessa representação não temos os átomos
apresentados.

A afirmativa III está incorreta porque a célula unitária não possui nenhuma aresta igual. E a afirmativa IV
está incorreta porque o sistema é ortorrômbico.

2. D.

A afirmativa III está incorreta, pois os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas por
elementos químicos metálicos e podendo conter elementos não metálicos como o carbono, por exemplo.
Dentre os materiais metálicos mais usuais estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o
titânio, o ouro, o aço, o ferro entre outros.

3. A.

A afirmativa III está incorreta, pois alguns materiais possuem comportamento magnético naturalmente;
esse comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre
outros materiais

A alternativa IV também está incorreta, pois a nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita
modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho e da forma de
suas partículas constituintes e com isso obter novas possibilidades de aplicação para o mesmo material.

37
38
39
40
Me. Luis Henrique de Souza

Estruturas e Imperfeições
nos Sólidos Cristalinos

PLANO DE ESTUDOS

Materiais cristalinos
e não cristalinos

Pontos, direções e Imperfeições nos


planos cristalográficos materiais cristalinos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Aprender o que são e como determinar pontos, direções • Conhecer a técnica de difração de raios X.
e planos cristalográficos nas células unitárias. • Conhecer os tipos de defeitos em materiais cristalinos e
• Diferenciar materiais cristalinos e materiais não cristalinos. entender a importância deles nesses materiais.
Pontos, Direções e
Planos Cristalográficas

Caro(a) aluno(a), na Unidade 2, daremos continui-


dade ao assunto de estrutura cristalina dos mate-
riais introduzido na Unidade 1. Nesta unidade, es-
tabeleceremos a diferença entre material cristalino
e material amorfo (não cristalino), aprenderemos
a determinar as coordenadas de pontos, direções e
planos dentro das células unitárias e finalizaremos
a unidade com uma abordagem sobre os defeitos
cristalinos dos materiais.
Como vimos na Unidade I, os materiais cris-
talinos possuem uma organização regular e repe-
titiva dos átomos, moléculas ou íons que os com-
põem, cuja menor unidade representativa dessa
organização é chamada de célula unitária. Para
que se possa trabalhar com materiais cristalinos,
é interessante e necessário convencionar algumas
informações para as células unitárias.
As convenções tomadas em relação às células
unitárias dos materiais cristalinos estabelecem
um sistema de coordenadas cartesiano para essas
células unitárias, no qual a origem está localizada
em um dos vértices de uma célula unitária ar-
bitraria, e os eixos x, y e z coincidem com cada
aresta que parte desse vértice (origem), o sistema
descrito na Figura 1.
z (½) do comprimento da aresta a em x; na metade
(½) da aresta b em y; e na metade (½) da aresta
c em z. Como você pode perceber, a posição de
um ponto na célula unitária possui a forma geral
de três números separados por um espaço entre
eles, ou seja, as coordenadas de um ponto na cé-
lula unitária são q r s. Obs.: as coordenadas de
α um ponto podem, também, serem apresentadas
β separadas entre vírgulas: q, r, s.
y Na Figura 2, considere o ponto P, localizado no
c
interior da célula unitária. Podemos determinar
γ a a posição de P a partir do sistema cartesiano for-
mado pelos eixos x, y e z, cuja origem foi estabe-
lecida no vértice indicado em laranja, utilizando
 as coordenadas genéricas, q, r e s. Dessa forma,
x vemos que o ponto P se encontra a uma distância
Figura 1 - Esquematização de uma célula unitária genérica qa da origem em relação ao eixo x; rb em relação
e seus parâmetros de rede
Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). ao eixo y; e sc em relação ao eixo z. Portanto, as
coordenadas desse ponto serão q r s.
A partir desse sistema cartesiano, empregam-se três
números (índices) para determinar as posições de z
pontos, direções e planos dentro da célula unitá- b
ria de um material cristalino. Então, o que vamos a
estudar agora é o significado desses índices e a me-
todologia para a determinação de cada um deles.
qrs
P
Coordenadas dos pontos c
sc
qa y
Quando estudamos as estruturas cristalinas dos
rb
materiais, vez ou outra, é necessário localizarmos
pontos, como a posição de um átomo nas células x
unitárias desses materiais. Podemos localizar esses
Figura 2 - Esquematização da determinação de um ponto
pontos dentro de uma célula unitária, especifi- P utilizando um sistema cartesiano em uma célula unitária
cando suas coordenadas na forma de frações ou Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 47).
múltiplos dos comprimentos das arestas a, b e c
que formam essa célula, baseando-se no sistema Para que você possa entender melhor, vejamos
cartesiano estipulado para ela. Dessa forma, um um exemplo mais prático: desejamos localizar um
ponto que esteja exatamente no centro da célula ponto P de coordenadas q, r e s iguais a, respec-
unitária seria representado por ½ ½ ½, ou ½, ½, tivamente, ¼ 1 ½ na célula unitária apresentada
½, uma vez que esse ponto se encontra na metade na Figura 3.

UNIDADE 2 43
z z
0,46mm
m m
0,48

1 1
—,1,—
4 2
0,40mm P
y 0,20 nm
0,12nm M
N y
0,46nm O
x
x
Figura 3 - Exemplo da determinação de pontos em células Figura 4 - Resolução do exemplo de determinação de pontos
unitárias em células unitárias
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 48). Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 48).

Primeiramente, devemos determinar os valores uma distância qa = 0,12 nm, chegando ao ponto
dos parâmetros de rede a, b e c. Sabemos que a é a N. Em seguida, caminhamos na direção positiva
aresta que sai da origem e tem a mesma direção do do eixo y, uma distância rb = 0,46 nm, chegando
eixo x e, portanto, a vale 0,48 nm. De forma similar, ao ponto O. E, por fim, caminhamos na direção
as arestas b e c são as arestas que partem da origem positiva do eixo z, uma distância sc = 0,20 nm,
e tem a mesma direção, respectivamente, dos eixos chegando à posição exata do ponto P.
y e z, então temos que b = 0,46 nm e c = 0,40 nm.
A partir das coordenadas informadas sobre o
ponto P, sabemos que q = ¼ , r = 1 e s = ½ e, ao Direções cristalográficas
multiplicarmos cada um desses valores, respec-
tivamente, pelo comprimento das arestas a, b e As direções cristalográficas são vetores, definidos
c, obtemos as distâncias, qa, rb e sc desse ponto por linhas que ligam dois pontos da rede cristalina,
em relação a origem do sistema cartesiano dessa portanto, esses vetores indicam direções específicas
célula unitária. dentro da célula unitária de um material cristalino.
Calculando as distâncias qa, rb e sc obtemos: O conhecimento dessas direções é importan-
• qa = (¼)(0,48) = 0,12 nm te na determinação de algumas propriedades de
• rb = (1)(0,46) = 0,46 nm materiais cristalinos e, para determinarmos os
• sc = (½)(0,40) = 0,20 nm índices direcionais, devemos executar os seguintes
passos (ASKELAND; WRIGHT, 2015):
Finalmente, com esses resultados, podemos en- • A partir do sistema de coordenadas da célula
contrar a posição do ponto P na célula unitária; o unitária (Figura 1), são necessários dois pon-
processo esquematizado é apresentado na Figura tos para definir uma direção cristalográfica.
4. Para começar, devemos partir da origem (ponto Tome esses dois pontos em termos de suas
M) e caminharmos no sentido positivo do eixo x, coordenadas q, r e s.

44 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


• Subtraia, coordenada a coordenada, o ponto final do ponto inicial. O resultado obtido será um
conjunto com três números que representam os parâmetros de deslocamento em cada eixo do
sistema de coordenadas.
• Caso o resultado obtido no passo anterior tenha algum valor fracionário ou o conjunto obtido
possa ser reduzido a números inteiros menores, multiplique ou divida os valores obtidos, a fim
de obter os menores números inteiros para esses parâmetros.
• Coloque os números obtidos entre colchetes e sem espaçamento entre eles, da seguinte forma
[uvw], onde u, v e w correspondem às projeções da direção nos eixos x, y e z, respectivamente.
Obs: caso algum dos números obtidos seja negativo, retire o sinal negativo desse número e
inclua uma barra sobre ele.

Como você pode notar, as direções cristalográficas são sempre um conjunto de números menores
inteiros delimitado por colchetes. A Figura 5 apresenta uma célula unitária genérica, na qual são indi-
cadas três direções cristalográficas: a direção [111], em vermelho, a direção [110], em azul, e a direção
[100], em verde.
Para que você entenda melhor o processo de determinação das direções cristalográficas, vamos
resolver um exemplo. A Figura 6 apresenta uma célula unitária com três direções indicadas e os seus
respectivos pontos iniciais e finais. Seguindo a sequência de passos estipulados anteriormente, vamos
determinar os índices direcionais da direção A.

z 
0, 0, 1

1, 1, 1
B
[111] C

y
0, 0, 0 
[110]
1 , 1, 0
[100] A 2

1, 0, 0 1, 1, 0

x
Figura 5 - Representação de uma célula unitária com as Figura 6 - Exemplo de determinação das direções crista-
direções cristalográficas lográfica
Fonte: Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 49). Fonte: o autor.

UNIDADE 2 45
Tabela 1 - Resumo do exemplo de determinação dos índices
A partir da Figura 6, podemos observar que o da direção A
ponto inicial da direção A possui coordenadas ½
Eixo x y z
1 0 (ou ½, 1, 0) e o ponto final 1 0 0 (ou 1, 0, 0).
Com essas informações em mão, o primeiro passo Coordenadas ponto final 1 0 0
já está completo. Coordenadas ponto inicial ½ 1 0
No segundo passo, devemos subtrair o ponto
Subtração 1 -1 0
final do ponto inicial, então:
Pinicial - Pfinal = ½ -1 2(0)
[1, 0, 0] - [½, 1, 0] = Simplificação
1 -2 0
[½, -1, 0]
Índices Direcionais [uvw] [1 2 0]
Agora, o resultado ½, -1, 0 deve ser analisado para Fonte: o autor.
verificar se existe possibilidade de simplificação.
Faça você a determinação das direções B e C, o
Como você pode observar, existe uma fração, ½,
resultado esperado é 111 para a direção B e 111
então devemos multiplicar todo o resultado por
para a direção C.
um valor que transforme essa fração eu um nú-
mero inteiro, nesse caso o número é 2 e ele será
multiplicado por cada um dos números obtidos Planos Cristalográficos
no resultado anterior, ½, -1, 0.
Os materiais cristalinos possuem planos de áto-
1
2 2 0 = 1 -2 0 mos denominados planos cristalográficos e es-
2
tes têm como base o mesmo sistema cartesiano da
O resultado 1, -2, 0 é o conjunto de menores in- célula unitária, mencionado anteriormente, para
teiros possíveis, portanto, basta colocarmos esse os pontos e as direções cristalográficas. Eles são
resultado entre colchetes para termos os índices planos que cortam a célula unitária e suas orienta-
direcionais da direção A, lembrando que para o ções também são dadas por meio de índices. Com
índice -1 deve-se retirar o sinal negativo e incluir exceção dos sistemas cristalinos hexagonais, que
uma barra sobre o número. Dessa forma, os índi- não serão contemplados nesse tópico, os planos
ces direcionais de A são: cristalográficos são especificados por três índices,
conhecidos como índices de Miller, e representa-
[1 2 0] dos por (hkl).
Um fato importante a ser mencionado é que
O procedimento de determinação dos índices quaisquer dois planos paralelos entre si são planos
direcionais da direção A pode ser resumido na equivalentes e possuem índices idênticos.
Tabela 1, apresentada a seguir.

46 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Para a determinação dos índices de um plano Vamos exemplificar os passos para a determina-
cristalográfico (índices de Miller) em uma célula ção dos índices de Miller do plano A, apresentado
unitária, os seguintes passos devem ser seguidos: na Figura 7, para uma célula unitária genérica.
• Caso o plano analisado passe pela origem
z
do sistema de coordenadas da célula uni-
tária (ponto 0 0 0), devemos selecionar um
outro plano que seja equivalente (parale-
lo) ao primeiro, ou seja, deve-se deslocar
o plano para que ele não contenha o ponto
referente à origem do sistema cartesiano.
• Após verificado o passo anterior, o plano A
analisado (que não passe pela origem) po- y
derá ser paralelo a um ou dois eixos e in-
terceptar o(s) restante(s), ou poderá não ser
paralelo a nenhum dos eixos e interceptar
cada um deles. O intercepto do plano com x
cada um dos eixos deve ser determinado.
Obs.: para os eixos que forem paralelos ao Figura 7 - Exemplo da determinação dos índices de Miller
para um plano
plano, o intercepto ocorre no infinito (∞). Fonte: o autor.
• Para cada valor de intercepto obtido no
passo anterior, deve ser invertido (1/valor Analisando o plano A, percebemos que ele é para-
do intercepto). Obs.: o inverso do ∞ é zero. lelo aos eixos x e z e, além disso, esse plano passa
• Caso algum resultado obtido seja fracioná- pela origem do sistema cartesiano estabelecido.
rio ou o conjunto obtido possa ser reduzi- O primeiro passo do procedimento de determi-
do a números inteiros menores, multipli- nação dos índices de Miller para esse plano é es-
que ou divida os valores obtidos por um colher um plano equivalente ao plano A, que não
fator, a fim de se obter os menores números passe pela origem; uma escolha simples é o plano
inteiros para esses parâmetros. B, indicado na Figura 8. Uma vez que, os planos A
• Coloque os resultados menores inteiros e B são equivalentes, se determinarmos os índices
obtidos entre parênteses e sem espaça- de Miller do plano B, os índices de Miller do plano
mento algum entre eles, da seguinte forma A serão os mesmos.
(hkl), na qual h, k e l são os índices de Mil- É importante lembrar que as coordenadas dos
ler referentes aos eixos x, y e z, respectiva- pontos da célula unitária são sempre frações que
mente. Obs.: no caso de algum dos índices variam de 0 a 1, começando em 0 na origem e
obtidos ser negativo, retire o sinal negativo alcançando o valor 1 no extremo oposto da célula
desse número e inclua uma barra sobre ele unitária em relação a cada eixo, como visto na
(CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Figura 8.

UNIDADE 2 47
z
001 011

101 111

A B
000 010
y

100 110
x

Figura 8 - Exemplo da determinação dos índices de Miller para um plano


Fonte: o autor.

O próximo passo é determinar os interceptos do plano B com os eixos


x, y e z, que, nesse caso, são ∞ para o eixo x e para o eixo z, pois o plano
é paralelo a ambos eixos, e 1 para o eixo y.
Agora, devemos tomar o inverso de cada um dos interceptos (1/
valor do intercepto).
• Para o eixo x: 1/∞ = 0
• Para o eixo y: 1/1 = 1
• Para o eixo z: 1/∞ = 0

Na sequência, devemos verificar se é possível simplificar os resultados


obtidos, mas, como podemos observar, esses valores já são os menores
inteiros possíveis, por essa razão, não há necessidade de nenhuma ope-
ração para reduzi-los. Portanto, a representação dos índices de Miller
para o plano B e, por consequência, para o plano A, é (010).
O processo de determinação dos índices de Miller do plano B (e A)
está sintetizado na Tabela 2.
Tabela 2 - Resumo do exemplo de determinação dos índices de Miller do plano B (e A)

Eixo x y z

Interceptos ∞ 1 ∞

1/∞ 1/1 1/∞


Inverso do intercepto
0 1 0

- - -
Simplificação
- - -

Índices de Miller (hkl)  010 


Fonte: o autor.

48 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Materiais Cristalinos
e não Cristalinos

Na Unidade 1, começamos a falar de materiais


cristalinos e introduzimos a ideia de célula unitá-
ria, sistemas cristalinos e redes de Bravais. Entre-
tanto, não foi, ainda, passado com formalidade a
você o que são os materiais ou sólidos cristalinos,
e tão importante quanto conhecer os materiais
cristalinos é saber que existem materiais não cris-
talinos. Neste tópico, vamos entender quais são os
materiais cristalinos e quais são os não cristalinos
e as diferenças entre eles.

Materiais Cristalinos

Os materiais cristalinos são sólidos que apresen-


tam um arranjo regular dos átomos que os com-
põem, ou seja, são materiais nos quais os átomos
estão dispostos de forma ordenada e repetitiva ao
longo de grandes distâncias atômicas.
Quando esse arranjo ordenado e repetitivo se
estende por todo o material, sem interrupções,
dizemos que o material é monocristalino ou um
monocristal. Nos monocristais, todas as células
unitárias se ligam da mesma maneira e possuem
a mesma orientação.

UNIDADE 2 49
Os monocristais acontecem naturalmente, como pode ser visto na Figura 9 (um monocristal de andra-
dita laranja), e também podem ser sintetizados pelo homem; contudo, essa síntese é um processo muito
delicado e requer um ambiente cuidadosamente controlado. Além disso, é interessante saber que a forma
de um monocristal é um indício da estrutura cristalina do material (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

Figura 9 - Fotografia de um monocristal de andradita laranja encontrado na Grécia

Nos últimos anos, os monocristais se tornaram muito importantes, principalmente no setor da tecno-
logia para a produção de microcircuitos eletrônicos a partir de microcristais de silício.
Entretanto, a maioria dos materiais cristalinos não é formada apenas por um cristal perfeito, mas
sim por vários cristais menores, os quais são chamados de grãos. Esses materiais formados por vários
cristais são denominados policristalinos. Isso ocorre durante a solidificação desses materiais, na qual se
formam pequenos cristais de orientação cristalográfica aleatória, e conforme a solidificação avança, esses
pequenos cristais vão crescendo pela adição sucessiva de átomos que passam da fase líquida para a sólida.

Quando a solidificação se aproxima do fim, os


grãos formados durante o processo são forçados
uns contra os outros. No entanto, as regiões de
encontro desses grãos não são uniformes e cons-
As superfícies planas dos cristais de algumas tituem um “defeito” na perfeição do cristal. Dessa
pedras preciosas são manifestações macroscó- forma, os materiais policristalinos são formados
picas de seus arranjos cristalinos internos, pois pela união de vários monocristais que não con-
são monocristais. Além disso, esses arranjos seguiram se encaixar perfeitamente durante a sua
cristalinos se mantêm intactos mesmo que as formação, existindo entre eles regiões de imper-
superfícies externas desses materiais sejam mo- feições chamadas de contornos de grão.
dificadas. Um exemplo disso é o quartzo, que Para entendermos melhor a formação de um
preserva sua estrutura cristalina mesmo quando material policristalino, imagine que a Figura 10(a)
se transforma em areia. representa a formação dos primeiros cristais du-
Fonte: adaptado de Van Vlack (1970). rante a solidificação de material cristalino, na qual
os quadrados representam as células unitárias
desse material.

50 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Em seguida, esses cristais vão crescendo com a adição de mais Difração de raios X
átomos que passam da fase líquida para a fase sólida (Figura 10(b)).
Quando a solidificação se aproxima do fim, os cristais crescidos Antes de falarmos dos raios X, é
(grãos) aproximam-se uns dos outros para a conclusão da solidifi- necessário entender o fenômeno
cação; entretanto, como podemos notar na Figura 10(c), o “encaixe” da difração, que ocorre quando
entre esses grãos não é perfeito, formando, assim, os contornos de uma onda encontra uma série
grãos (Figura 10(d)). de obstáculos com a capacida-
de de dispersar essa onda. Tal
fenômeno está relacionado com
as fases de duas ou mais ondas
dispersas pelos obstáculos, que
possuem espaçamentos com
magnitudes comparáveis às do
(a) (b)
comprimento dessa onda.
Para que você possa enten-
der, vamos observar a Figura
11(a), na qual temos duas ondas
em fase, que possuem a mesma
amplitude A e o mesmo com-
primento de onda λ (ondas 1
e 2); após sofrerem o efeito de
(c) (d) dispersão, elas continuam em
Figura 10 - Esquematização dos estágios na solidificação de um material poli- fase, com a mesma amplitude
cristalino A e o mesmo comprimento de
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 63).
onda λ (ondas 1’ e 2’).
Em monocristais, as direções e planos cristalográficos estão sempre A onda resultante desse pro-
ordenados por toda a extensão do material. Já em materiais policris- cesso é uma onda de compri-
talinos, essas direções e planos cristalográficos são aleatórios, pois os mento λ, com uma amplitude
grãos (monocristais) que formam esses materiais não estão com suas 2A, que é a soma das ondas 1’
orientações alinhadas entre si, como podemos ver na Figura 10(c). e 2’, caracterizando uma inter-
ferência construtiva. Esse tipo
de comportamento é uma ma-
nifestação da difração, ou seja,
a formação de uma onda resul-
Certas propriedades físicas de monocristais dependem da direção tante composta por um grande
cristalográfica na qual elas são medidas, por exemplo, o módulo número de ondas dispersas que
de elasticidade, condutividade elétrica e índice de refração. Esse se reforçam mutuamente.
tipo de comportamento é chamado de anisotropia. No caso das Na Figura 11(b), temos duas
propriedades não dependerem da direção de medição, o material ondas em fase, com a mesma
é dito isotrópico. amplitude A e o mesmo compri-
mento de onda λ (ondas 3 e 4).

UNIDADE 2 51
Após sofrerem o efeito de dispersão, elas ficam fora de fase, mas permanecem com a mesma amplitude
A e o mesmo comprimento de onda λ (ondas 3’ e 4’). Nesse caso, não existe uma onda resultante, pois,
no processo, a onda 3’ cancela mutuamente a onda 4’, caracterizando uma interferência destrutiva. Por-
tanto, nesse caso, não ocorre a difração.
As situações apresentadas na Figura 11 são dois extremos do fenômeno de dispersão; existem situa-
ções intermediárias entre esses dois extremos nas quais a onda resultante sofre apenas um reforço parcial.

O Evento de
Onda 1 Onda 1’
λ dispersão λ
λ
A A

2A
Amplitude

λ λ +

A A

Onda 2 Onda 2’
O’
Posição
(a)

P Evento de
Onda 3 Onda 3’
λ dispersão λ

A A
Amplitude

λ +

A A

λ
Onda 4
P’ Onda 4’
Posição
(b)

Figura 11 - Demonstração do efeito de dispersão entre duas ondas de mesmo comprimento de onda
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 64).

52 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


A lei de Bragg A distância interplanar (dhkl) é uma função direta
dos índices de Miller para o plano; para o caso de
Um indicativo para sabermos se acontecerão in- um sistema cúbico, o espaçamento entre os planos
terferências construtivas, pode ser dado utilizan- pode ser determinado pela seguinte relação:
do a lei de Bragg:
a
d hkl =
nλ  2d hkl  senθ h + k 2 + l2
2

em que n é um inteiro positivo que representa a Onde a é o tamanho da aresta da célula unitária
ordem da reflexão (geralmente n = 1), λ é o com- cúbica e os parâmetros h, k e l são os índices de
primento de onda dos raios X em Angstrom (Å), Miller para o plano cristalográfico. Existem rela-
dhkl é a distância entre os planos cristalográficos ções similares a essa para cada um dos outros seis
adjacentes e θ é o ângulo de incidência do feixe sistemas cristalinos, mas essas relações não serão
de raios X. Caso a lei de Bragg não seja satisfeita, tratadas neste material.
a interferência será não construtiva, gerando um
feixe difratado de intensidade muito baixa.
Na Figura 12, temos representados os planos A técnica de difração de raios X
cristalográficos de um material cristalino e sobre
esse material está incidindo um feixe de raios X A difração de raios X é uma das técnicas de análise
de mesmo comprimento de onda (λ), distância estrutural mais empregadas para identificar dife-
interplanar (d=dhkl) e ângulo de incidência (θ). rentes materiais cristalinos. Essa técnica se baseia
na presença de uma rede cristalina e na periodi-
Ambos
cidade do arranjo atômico, portanto, a técnica de
ixe o difração de raios X é aplicada em sólidos que pos-
Fe ent
in

em fase
Fe tad
cid
ixe e

fra suem algum nível de cristalinidade e não se aplica


di
a materiais sólidos totalmente amorfos, como os
vidros e polímeros de cristalinidade muito baixa.
θ θ
Os raios X, utilizados na técnica, é um tipo de
radiação eletromagnética com altas quantidades
de energia e de comprimentos de onda pequenos
d (de 10 nm a 0,1 nm), que são da ordem de grande-
za dos espaçamentos atômicos, possibilitando sua

sin θ =
λ aplicação na avaliação de estruturas cristalinas. A
2d
partir desse tipo de análise, é possível determinar
Figura 12 - Esquematização da difração de raios X pelos a estrutura cristalina de um material e até mesmo
planos de átomos de um material
Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 80).
a geometria e o tamanho de sua célula unitária.

UNIDADE 2 53
A análise se baseia no princí- deve ser colocada em um suporte plano, de modo a formar um
pio de que quando um feixe de pequeno filme uniforme de amostra nesse suporte.
raios X, com um mesmo com- Em seguida, o feixe de raios X é emitido da fonte T em direção
primento de onda λ, incide sobre à amostra, e as intensidades dos raios difratados são captadas no
um sólido cristalino, os planos detector C. A amostra, o emissor de raios X e receptor estão todos
de átomos que compõem esse no mesmo plano; além disso, o equipamento permite rotações ao
material dispersam uma fração redor do seu próprio eixo.
desse feixe em todas as direções;
nessa dispersão, poderão ocor-
rer interferências construtivas ou
destrutivas. No caso de ocorrer
uma dispersão com interferência
construtiva, dizemos que ocor-
reu uma difração de raios X. O
A amostra que será analisa- S θ

da por difração de raios X deve T


ser inserida no equipamento na 2θ
forma de sólido pulverizado,

160º
20º

composta por partículas muito


C
pequenas. Essas partículas são


submetidas a um feixe de raios

14
40
º

X monocromáticos e, como cada


60º 0º
partícula (grão) dessa amostra 12
80º 100º
possui um grande número de
orientações aleatórias, isso ga- Figura 13 - Esquematização do funcionamento de um difratômetro de raios X
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 66).
rante que algumas dessas partí-
culas estão orientadas de maneira O suporte e o detector estão acoplados mecanicamente de forma
correta e, por essa razão, possuem que uma variação no ângulo de incidência θ do suporte é acompa-
planos cristalográficos disponí- nhada de uma variação de 2θ, conhecido como ângulo de difração,
veis para difração desses raios X. no ângulo do detector, para garantir que os ângulos de incidência
O aparelho utilizado para e reflexão sejam iguais entre si.
esse tipo de análise chama-se Os resultados da análise são obtidos conforme o detector se
difratômetro e sua esquematiza- move a uma velocidade angular constante e um registrador plota
ção está representada na Figura automaticamente os valores da intensidade do feixe difratado em
13 a seguir. Primeiramente, a função do valor 2θ. Um exemplo de difratograma de raios X para
amostra de sólido pulverizado uma amostra de chumbo pode ser visto na Figura 14.

54 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Intensidade (relativa)
(111)

(200) (311)
(220) (222)
(400) (331) (420) (422)

0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0 90.0 100.0
Ângulo de difração 2θ

Figura 14 - Difratograma de raios X para uma amostra de chumbo pulverizada


Fonte: Callister Jr. e Rethwish (2007, p. 70).

Os picos observados no difratograma da amostra


de chumbo, apresentada na Figura 14, são resul-
tado da difração realizada por planos cristalinos,
cuja condição da lei de Bragg foi satisfeita. Os
índices acima de cada pico são os índices de Miller
dos planos cristalinos responsáveis pela difração. Tenha sua dose extra de
O tamanho e a geometria da célula unitária conhecimento assistindo ao
podem ser determinados a partir das posições vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.
dos picos de difração em relação ao ângulo de
difração 2θ; já a forma como os átomos estão ar-
ranjados está relacionada à intensidade relativa
dos picos difratados (CALLISTER JR.; RETH-
WISCH, 2013).

Materiais não Cristalinos ou Amorfos

Os materiais amorfos são caracterizados por possuírem estruturas que não formam arranjos atômicos
periódicos ao longo de grandes distâncias atômicas; portanto, não existe uma célula unitária definida
que possa produzir a estrutura completa desses materiais. Dentre os materiais amorfos mais comuns,
estão os vidros inorgânicos e muitos plásticos.
Um exemplo de material cerâmico que pode existir nos dois estados, cristalino e não cristalino,
é o dióxido de silício (SiO2). Na Figura 15(a), podemos perceber um padrão de repetição na forma
como se organizam espacialmente os átomos formadores do dióxido de silício. Na Figura 15(b), não é
possível identificar um padrão de repetição em toda a estrutura, pois a estrutura do material é formada
de maneira irregular e desordenada (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

UNIDADE 2 55
Átomo de silício
Atomo de oxigênio

o
ênio
(a) (b)

(b)

Figura 15 - Representação bidimensional das estruturas da


(a) sílica cristalina e (b) sílica não-cristalina
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 68).

Os materiais não cristalinos são formados quando


a estrutura atômica aleatória no estado líquido
não consegue se organizar durante o processo
de solidificação do material, dando origem a um
sólido cuja estrutura não possui um padrão or-
denado, ou seja, amorfo.
Os metais e ligas metálicas tendem a formar
sólidos cristalinos facilmente, enquanto os ma-
teriais cerâmicos podem exibir comportamen-
to cristalino ou amorfo. Já os polímeros exibem
graus de cristalinidade, ou seja, porções de sua
estrutura são cristalinas e outras são amorfas.

56 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Imperfeições nos
Materiais Cristalinos

Até o dado momento, nós tratamos os materiais cris-


talinos como estruturas cuja repetição do padrão de
átomos que os formam fosse perfeita; neste tópico,
vamos ver que os arranjos atômicos e iônicos dos
materiais apresentam imperfeições (defeitos) e, além
disso, essas imperfeições, geralmente, influenciam
as propriedades dos materiais cristalinos.
Vamos estudar brevemente os três tipos bási-
cos de imperfeições nos sólidos cristalinos, são
eles: os defeitos pontuais, defeitos lineares (tam-
bém conhecidos como discordâncias) e defeitos
superficiais. Vale ressaltar que, apesar da utiliza-
ção do termo “defeito”, tais imperfeições são consi-
deradas muito úteis no ponto de vista tecnológico
e abrem diversas possibilidades de aplicações no
campo dos materiais, sendo, muitas vezes, cria-
das intencionalmente com o intuito de produzir
propriedades magnéticas, ópticas e mecânicas de
interesse (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

UNIDADE 2 57
Defeitos pontuais

Os defeitos pontuais são caracterizados por des- O termo impureza em materiais representa
continuidades localizadas nos arranjos dos áto- elementos, geralmente átomos, estranhos ao
mos ou íons na estrutura cristalina do material, arranjo cristalino do material; e as impurezas
envolvendo, normalmente: presentes nos materiais são, geralmente, prove-
• A falta de um átomo ou íon em um ou mais nientes das matérias-primas utilizadas e/ou das
pontos da rede cristalina, chamado de la- etapas do processamento do material.
cuna ou vacância. Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).
• A substituição de um átomo ou íon da rede
cristalina por um tipo diferente de átomo
ou íon, denominado impureza substitu- Dentre os defeitos pontuais, temos as lacunas, que
cional. são formadas quando existe a falta de um átomo
• A adição de um átomo ou íon pequeno nos ou íon em alguns pontos da rede cristalina do
interstícios da rede cristalina, denominada material. A falta desse átomo ou íon causa um
impureza intersticial. aumento da entropia global do sistema, acarre-
tando no aumento da estabilidade termodinâmica
Mesmo que esses defeitos sejam pontuais, essas im- do material cristalino. É comum a formação de
perfeições afetam uma grande região ao redor delas. lacunas em metais e ligas metálicas por meio de
Os defeitos pontuais nos sólidos podem ser radiação ou solidificação a altas temperaturas,
originados por um aumento de energia provoca- sendo importantes no processo de difusão nesses
do pelo aquecimento do material durante o seu materiais.
processamento ou, ainda, pela adição, intencional Na Figura 16, a seguir, é apresentada uma es-
ou não, de impurezas a esse material. trutura cristalina bidimensional genérica. Nela
podemos observar que a lacuna causa um efeito
de distorção na rede cristalina próxima a ela.

Discordância em sólidos cristalinos Figura 16 - Representação de uma lacuna em uma estrutura


cristalina bidimensional
Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 92).

58 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Outro defeito pontual comum é o defeito intersticial, que acontece
quando um átomo ou íon ocupa uma região intersticial (regiões
entre os átomos que formam a estrutura) do material. Esses áto-
mos ou íons que ocupam os interstícios da estrutura cristalina
são, geralmente, menores que os átomos que ocupam os pontos da
rede cristalina e são denominados impurezas intersticiais. Entre-
tanto, essas impurezas podem ser maiores do que os interstícios
da estrutura cristalina e, por essa razão, eles geram distorções na
rede cristalina próxima a eles ao adentrar esses interstícios.
Em alguns materiais, átomos pequenos, como o hidrogênio,
podem estar presentes naturalmente como impurezas intersticiais. Figura 17 - Representação de um defeito
Em outros casos, impurezas intersticiais, como o carbono, por intersticial em uma estrutura cristalina
bidimensional
exemplo, são introduzidas propositalmente em pequenas quan- Fonte: adaptada de Askeland e Wright
tidades para melhorar a resistência mecânica de alguns metais, (2015, p. 92).
como é o caso do ferro.
Na Figura 17, vemos o efeito causado pela inserção de um átomo no interstício (defeito intersticial)
da estrutura cristalina bidimensional de um material genérico. Como você pode notar, a impureza
intersticial é menor que os átomos que compõem a rede cristalina, ainda assim, essa impureza causa
uma distorção na rede ao redor dela.
Por fim, vamos conhecer o defeito substitucional, que ocorre quando um átomo ou íon original da
rede cristalina é substituído por um outro átomo ou íon diferente (impureza substitucional). No defeito
substitucional, os átomos substitutos ocupam posições da rede, e não os interstícios dela.
Os átomos ou íons substitutos podem ser maiores ou menores que os da rede cristalina e, em ambos
os casos, eles perturbam a organização da estrutura cristalina (ASKELAND; WRIGHT, 2015), como
podemos observar na Figura 18, que mostra uma representação do defeito substitucional em uma
estrutura cristalina bidimensional de um material genérico, causado por um átomo menor (Figura
18(a)) e por um átomo maior do que os átomos da rede cristalina (Figura 18(b)); note que, em todos
os tipos de defeitos pontuais apresentados, podemos observar que a rede cristalina do material sofre
uma alteração na região próxima ao defeito.

a) b)

Figura 18 - Representação de um defeito substitucional em uma estrutura cristalina bidimensional


Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 92).
UNIDADE 2 59
O fósforo e o boro podem ser adicionados ao silício como impurezas substitucionais, a fim de lhe
ajustar propriedades elétricas para aplicações em eletrônica; esse processo é conhecido como dopagem.

Defeitos Lineares ou Discordâncias

As discordâncias são defeitos


unidimensionais (defeitos linea-
res) em torno dos quais os áto-
mos estão desalinhados, que são,
geralmente, formadas durante o
processo de solidificação do ma-
C
terial ou quando o material sofre
uma deformação permanente.
Existem três tipos de discordân-
cias, são elas: em espiral (ou héli-
ce), em aresta e mista. Linha de
discordância
A discordância em espiral Vetor de
Burgers b
é caracterizada por um deslo- (a)

camento parcial dentro da es-


Figura 19 - Representação de uma discordância em espiral em
trutura cristalina, equivalente a uma estrutura cristalina tridimensional
uma distância atômica. Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 86).

Na Figura 19, vemos a representação da discordância em espiral, na qual podemos observar que houve
um deslocamento parcial da porção superior da rede cristalina em relação à parte inferior no cristal,
equivalente a uma distância atômica.
O vetor de Burgers, b, representa o comprimento necessário para completar uma volta no plano
onde ocorreu a discordância, ou seja, representa o deslocamento da porção superior em relação à por-
ção inferior do cristal do material. A linha ao redor da qual traçamos a volta no plano onde ocorreu a
discordância em espiral é chamada de linha de discordância.
Outro tipo de defeito linear é a discordância em aresta, que ocorre quando existe um semiplano
adicional de átomos que termina no interior do cristal (grão) e, por essa razão, causa um deslocamento
(distorção) na rede cristalina do material. Podemos observar, na Figura 20, uma representação da dis-
cordância em aresta de uma estrutura cristalina tridimensional; nela, a linha sobre a qual o semiplano
extra de átomos está centralizado é conhecida como linha de discordância e é representada por ⊥.
Note que o vetor de Burgers, b, está presente mais uma vez, indicando o deslocamento necessário
para completar uma volta no plano onde ocorreu a discordância, dessa vez, em aresta.

60 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Podemos observar que a rede Vetor de Burgers
b
cristalina sofre uma distorção
próxima à linha de discordân-
cia, em que os átomos localiza-
dos acima da linha de discor-
dância estão comprimidos uns
Linha de
contra os outros, enquanto os discordância
átomos abaixo dela estão afas- aresta
tados, e esse comportamento
conduz à ligeira curvatura dos
planos verticais de átomos, ob-
servada na Figura 20. Quanto
mais afastado o plano vertical
de átomos estiver em relação à Figura 20 - Representação de uma discordância em aresta em uma estrutura
cristalina tridimensional
linha de discordância, menor Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 85).
será esse efeito de distorção.
Além dos dois tipos de dis-
cordância mencionados, temos
um terceiro tipo, que é a união
dos dois tipos anteriores, conhe-
cida como discordância mista.
Esse é o tipo mais comum que
ocorre em materiais e possui
componentes da discordância
em aresta e da discordância em b

espiral, com uma transição gra- B


A
dual entre elas.
b
Podemos ver um exemplo de
C
discordância mista na Figura 21.
Nela, vemos, na face à esquerda,
a ocorrência de uma discordân-
cia em espiral; ao mesmo tem-
po, verificamos a existência de
Figura 21 - Representação de uma discordância mista em uma estrutura cris-
uma discordância em aresta na talina tridimensional
face à direita. Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015).

A transição entre as duas discordâncias ocorre de forma gradual e observamos, também, em ambos
os casos, a presença do vetor de Burgers e das linhas de discordância em espiral e em aresta no centro
da volta nas faces à esquerda e à direita, respectivamente.

UNIDADE 2 61
As discordâncias são muito importantes, principalmente para O controle dos tamanhos de
os metais e ligas metálicas, uma vez que oferecem um mecanismo grãos que formam o material
para a deformação plástica nesses materiais. é um processo muito utilizado
no controle das propriedades de
um metal ou liga metálica, pois
Defeitos Superficiais uma diminuição nos tamanhos
de grãos de um metal gera um
O último tipo de imperfeições são os defeitos superficiais. Esses aumento na quantidade total
defeitos acontecem nos contornos de grãos que separam regiões dos contornos de grãos e isso
do material que possuem direções cristalográficas diferentes ou na limita a movimentação de dis-
superfície externa do material. O que acontece é que as estruturas cordâncias nesses materiais,
de muitos materiais, principalmente metais e cerâmica, são com- visto que elas irão se mover so-
postas de muitos grãos (materiais policristalinos); nesses grãos, o mente até encontrar um contor-
arranjo dos átomos é praticamente o mesmo, como já mencionado no de grão.
anteriormente, sendo monocristais. Além dos contornos de
Contudo, a orientação da estrutura cristalina é diferente para grãos, a superfície externa
cada grão que compõe o material policristalino, pois nas regiões também é um defeito superfi-
de encontro desses grãos, o “encaixe” não é perfeito, e a esse tipo de cial, pois é onde o cristal ter-
imperfeição damos o nome de contorno de grão. mina subitamente e, por essa
Na Figura 22, podemos observar a região de contorno de grão de razão, os átomos da superfície
um material. Note que o arranjo de cada um dos grãos é o mesmo; externa têm suas ligações rom-
contudo, quando nos aproximamos das fronteiras, percebemos que pidas e não possuem o número
esses grãos não estão alinhados (orientados na mesma direção) de coordenação característico
entre si, isso leva a um defeito de superfície. de sua estrutura. Além disso, as
superfícies externas podem ser
muito rugosas e, ainda, conter
entalhes, sendo, em geral, mais
quimicamente reativa que o in-
terior do material.
A superfície externa de al-
guns materiais é muito im-
portante, como na produção
de catalisadores para refino
Contorno
de grãos
de petróleo e outros processos
industriais. Esses catalisadores
devem possuir uma alta área
superficial externa, a fim de
aumentar as taxas de reação
Figura 22 - Representação do contorno de grãos em uma estrutura cristalina
Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 111).
química desses processos.

62 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos


Voltaremos a mencionar os defeitos dos só-
lidos nas próximas unidades, em que esses con-
ceitos serão necessários para o entendimento dos
conteúdos. É importante que tenha ficado claro
que os defeitos pontuais, lineares e superficiais
influenciam fortemente as propriedades mecâni-
cas, elétricas, ópticas e magnéticas dos materiais e
isso pode ser utilizado para o melhoramento dos
materiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
Nesta unidade, você, caro(a) aluno(a), pôde
entender as diferenças entre os materiais cristali-
nos e não cristalinos e viu que as células unitárias
possuem pontos, direções e planos em seu inte-
rior e estes podem ser determinados por meio
de índices.
Tivemos, também, uma discussão sobre a téc-
nica de difração de raios X, que é uma técnica
muito utilizada na avaliação da cristalinidade
em materiais sólidos em projetos de pesquisa na
área da tecnologia. Além disso, tivemos uma bre-
ve discussão sobre as imperfeições que ocorrem
nas estruturas dos sólidos cristalinos e como elas
podem ser utilizadas para o aprimoramento das
propriedades dos materiais.
Muitos dos temas abordados nesta unidade são
necessários para o entendimento das próximas
unidades, nas quais você verá uma abordagem
das propriedades, transformações e aplicações
dos materiais.

UNIDADE 2 63
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. O estudo de planos e direções cristalográficas são importantes para a deter-


minação da estrutura cristalina, o entendimento de muitas das propriedades
do material e também para determinar os parâmetros estruturais e analisar o
comportamento da deformação plástica de um material cristalino. Sobre esse
assunto, considere as afirmações apresentadas a seguir:
I) Num sistema cúbico, um plano e uma direção que tenham índices de mesmo
valor são perpendiculares.
II) Quando o índice direcional de uma direção é igual a zero, essa direção é
paralela ao eixo correspondente a esse índice.
III) Quando o índice de Miller de um plano é igual a zero, esse plano é paralelo
ao eixo cristalográfico correspondente a esse índice.
IV) Num sistema cúbico, dois planos que tenham índices de mesmo valor são
perpendiculares.

Pode-se dizer que:


a) As afirmações I, II e III estão corretas.
b) As afirmações I, II e IV estão corretas.
c) As afirmações I e III estão corretas.
d) As afirmações II e III estão corretas.
e) As afirmações II e IV estão corretas.

64
2. A difração de raios X (DRX) é uma técnica utilizada para determinar a estrutura
de um cristal. Nessa análise, os átomos de planos cristalinos fazem com que um
feixe de raios X incidentes difrate em direções específicas e o feixe resultante
seja captado pelo sensor do equipamento. Sabe-se que a análise por difração
de raios X não é adequada para materiais amorfos, pois nesses materiais não
ocorrem interferências construtivas do feixe de raios X difratado. Por que tal
fato ocorre?
a) Porque os raios X são absorvidos pelos átomos em um material amorfo, não
havendo nenhuma dispersão desses raios.
b) Porque o tamanho dos átomos de um material amorfo é maior que o compri-
mento de onda dos raios X.
c) Porque o espaçamento atômico de um material amorfo é maior que o compri-
mento de onda dos raios X.
d) Porque em um material amorfo não existe um ordenamento atômico regular
e repetitivo.
e) Porque os raios X são espalhados em todas as direções, produzindo um feixe
difratado reforçado.

65
3. Numa estrutura cristalina é, por vezes, necessário fazer referência a determina-
dos planos de átomos ou, ainda, pode haver interesse em conhecer a orientação
cristalográfica de um plano ou conjunto de planos de uma rede cristalina. Por
essa razão foram definidos índices, conhecidos como índices de Miller, para
identificar planos específicos dentro de uma célula unitária. A figura a seguir
apresenta uma célula unitária cúbica na qual são apresentados dois planos, A
e B. A respeito dos planos cristalográficos, julgue as afirmativas a seguir.


1
1 2
3
A

1
2 1
2
B


1
2


I) Ambos os plano A e B interceptam o eixo x em ½.


II) Os índices de Miller do plano A são (322).
III) Os índices de Miller do plano B são (101).
IV) O plano A intercepta o eixo y em ½, enquanto o plano B é paralelo ao eixo y.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I e II.
b) II, III e IV.
c) I, III e IV.
d) II e IV.
e) I, II e IV.

66
WEB

Neste site, é possível uma visualização de parte do conteúdo trabalhado nesta


unidade, em que constam muitas imagens e teoria simples e objetiva acerca
dos seguintes tópicos: noção de estrutura cristalina, coordenadas, direções e
planos cristalinos, monocristais e policristais e defeitos em cristais.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

67
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Materials Science and Engineering: An Introduction. 7. ed.
USA: Editora John Wiley & Sons, 2007.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência dos materiais. Trad. Ferrão, L. P. C. São Paulo: Edgard Blücher, 1970.

68
1. C.

A alternativa II está incorreta, pois quando o índice direcional de uma direção é igual a zero, essa direção
é perpendicular ao eixo correspondente a esse índice.

A alternativa IV está incorreta, pois num sistema cúbico, dois planos que tenham índices de mesmo valor
são paralelos.

2. D.

Para que um feixe incidente de raios X seja difratado, ou seja, sofra uma interferência construtiva, é ne-
cessário que o material analisado tenha um ordenamento regular e repetitivo, característica dos materiais
cristalinos.

3. B.

Plano A.

Os interceptos são 1/3, 1/2 e 1/2 em x, y e z, respectivamente.

Os inversos das interseções são:

1/(1/3) , 1/(1/2), 1/(1/2) = 3, 2, 2

Esses valores já são os menores inteiros possíveis.

Os índices desse plano cristalográfico são (322).

Plano B.

Os interceptos são 1/2, ∞ e 1/2 em x, y e z, respectivamente.

Os inversos das interseções são:

1/(1/2) , 1/(∞), 1/(1/2) = 2, 0, 2

Dividimos por 2 para determinar os menores inteiros possíveis.

2/2, 0/2, 2/2 = 1, 0, 1

Os índices desse plano cristalográfico são (101).

69
70
Me. Luis Henrique de Souza

Difusão em Sólidos

PLANO DE ESTUDOS

Taxa de difusão
e a Lei de Fick

Mecanismos Parâmetros que


de difusão influenciam na difusão

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Entender o que é a difusão e conhecer os mecanismos • Conhecer os parâmetros que influenciam no processo
pelos quais esse fenômeno ocorre. difusivo e algumas aplicações da difusão na Ciência dos
• Aprender a calcular o fluxo difusivo em regime estacionário Materiais.
e em regime transiente.
Mecanismos
de Difusão

Tratamentos térmicos são utilizados para o me-


lhoramento das propriedades dos materiais e,
geralmente, envolvem um fenômeno conhecido
como difusão, que é o fenômeno de transporte de
matéria (átomos, íons e moléculas). Um exemplo
de processo que envolve a difusão em sólidos é a
técnica de carbonetação, que consiste na inserção
de átomos de carbono na superfície de aços para
enrijecer essas superfícies.
Esse transporte de matéria envolve um fluxo
de átomos, íons ou moléculas de uma região de
maior concentração para uma região de menor
concentração dessas espécies. A tecnologia no
processamento de alguns materiais é altamente
dependente da taxa de difusão, de tal forma que o
sucesso, nesses processos, está intimamente ligado
ao controle da difusão.
Estudando o fenômeno de difusão, somos ca-
pazes de aplicar conceitos matemáticos e físicos
para estimar o tempo dos tratamentos térmicos
e as taxas de resfriamento e aquecimento desses
processos.
Vimos, na unidade anterior, que as imperfei-
ções estão presentes em todos os materiais e que
elas ocorrem naturalmente, mas também podem
ser introduzidas intencionalmente. Além disso, é Na Figura 1(c), observamos que, após decorri-
bom que você tenha em mente que tanto essas do um certo tempo de difusão, se resfriarmos as
imperfeições quanto os átomos, íons ou moléculas placas e fizermos uma análise química, observa-
que compõem o material estão em constante mo- remos que alguns átomos de cobre migraram para
vimento devido à energia térmica que possuem. a região da placa de níquel e, em contrapartida,
Como resultado disso, os átomos podem se mover alguns átomos de níquel migraram para a região
dentro da rede cristalina, ocupando uma lacuna da placa de cobre; podemos dizer, então, que, nesse
próxima a eles ou, ainda, ocupando interstícios caso, ocorreu uma interdifusão (CALLISTER JR.;
dessa rede próximos a eles, e devido à difusão, RETHWISCH, 2013).
esses átomos podem saltar contornos de grãos
causando o deslocando das fronteiras destes de-
feitos superficiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
O fenômeno de difusão acontece com mate- Cobre Níquel
Cu Ni
riais metálicos, poliméricos e também em mate-
riais cerâmicos, contudo, é mais complexo nesses
últimos devido às suas ligações do tipo iônicas.
(a)
Nos sólidos, a difusão consiste na migração passo
a passo dos átomos, íons ou moléculas, de uma po-
sição para outra, dentro da estrutura do material.
O processo difusivo pode ocorrer entre átomos
do mesmo tipo que os átomos da rede cristalina;
nesse caso, chamamos o processo de autodifu-
são. Por exemplo, dentro da estrutura cristalina de
uma barra de ouro puro existem lacunas e inters- (b)
tícios, em que os átomos de ouro podem migrar
o tempo todo. Essa migração dos átomos de ouro
dentro da sua estrutura cristalina caracteriza uma
autodifusão, uma vez que nenhum átomo diferen-
te do ouro está envolvido.
Entretanto, quando a difusão ocorre entre áto-
mos de diferentes tipos, chamamos o processo (c)
de interdifusão. Esse processo pode ser exem-
Figura 1 - Representação da interdifusão entre uma placa
plificado colocando-se em contato duas barras de cobre e uma placa de níquel
metálicas, uma de cobre puro e outra de níquel Fonte: o autor.
puro, como representado na Figura 1(a), a uma
temperatura elevada menor que a temperatura
de fusão desses metais. Como podemos observar Difusão por Lacunas
na Figura 1(b), a placa da esquerda possui apenas
átomos de cobre (círculos azul-claros), e a placa da Como vimos na Unidade 2, os materiais sólidos
direita possui apenas átomos de níquel (círculos possuem lacunas em suas estruturas cristalinas.
azul-escuros). Essas lacunas permitem que os átomos transitem

UNIDADE 3 73
de um ponto da rede cristalina para um ponto vazio dessa rede (lacuna), e quando esse átomo da rede
cristalina migra (difunde) para uma lacuna, ele deixa para trás uma lacuna em sua posição original.
A esse tipo de processo dá-se o nome de difusão por lacunas, e nota-se que a sua ocorrência está
diretamente ligada à existência de lacunas na rede cristalina do material.
A difusão por lacunas pode ocorrer por autodifusão, ou seja, os átomos que difundem são do
mesmo tipo que os átomos da rede, como no caso dos átomos de ouro difundindo entre as lacunas
da rede cristalina em uma barra de ouro puro. Contudo, a modalidade mais interessante para nós é
a difusão por lacunas, que ocorre por interdifusão, na qual as lacunas são ocupadas por átomos de
impureza (átomos diferentes dos átomos da rede), gerando um defeito substitucional.
Na Figura 2(a), podemos observar a representação de uma autodifusão por lacunas, uma vez que
a lacuna do material será ocupada por um átomo do mesmo tipo que os átomos da rede cristalina.
Esse processo ocorre pela migração de um átomo vizinho a essa lacuna, saindo de sua posição inicial
e ocupando a lacuna, e, como consequência, é formada uma nova lacuna na posição que esse átomo
ocupava anteriormente.
Na Figura 2(b), temos a representação de uma interdifusão por lacunas, pois o átomo que ocupará
a lacuna é um átomo de impureza, ou seja, é um átomo diferente dos átomos originais da rede. Esse
átomo de impureza tem a possibilidade de ocupar a lacuna vizinha e, com isso, formar uma lacuna na
posição que ele ocupava anteriormente.

Migração de um átomo
Lacuna
do mesmo tipo

Lacuna (a)

Migração de um átomo
Lacuna
de impureza da rede

(b)
Lacuna

Figura 2 - Representação do mecanismo de difusão por lacunas


Fonte: o autor.

74 Difusão em Sólidos
Difusão Intersticial

Além da difusão por lacunas, o processo difusivo em sólidos pode ocorrer por meio dos espaços vazios
entre os átomos que compõem a rede cristalina do material, chamados interstícios. A esse processo de
difusão, damos o nome de difusão intersticial.
Como esses interstícios são pequenos em relação ao tamanho dos
átomos da rede cristalina, os átomos que difundem em seu interior
devem ser átomos pequenos o suficiente para se encaixarem nessas
posições intersticiais, geralmente hidrogênio, carbono, nitrogênio e
oxigênio. Devido a essa limitação de tamanho, os átomos hospedeiros Átomo de impureza alojado no Átomo d
(átomos originais da rede) e de impurezas substitucionais (átomos de interstício da rede cristalina
impureza que substituem os átomos hospedeiros e têm a mesma ordem
de grandeza deles) raramente se difundem por meio dos interstícios.
A difusão intersticial ocorre com muito mais frequência que
a difusão por lacunas. Esse comportamento acontece por duas
razões, primeiro porque o número de interstícios é muito maior
que o número de lacunas nas estruturas cristalinas e, dessa forma,
Átomo
a probabilidade da difusão intersticial de impureza
é muito maior quealojado no
da difusão Átomo de impureza após
interstício da rede cristalina
por lacunas. Em segundo lugar, os átomos envolvidos na difusão a difusão
intersticial são menores e, por isso, têm uma maior mobilidade na
rede, facilitando a difusão intersticial.
Na Figura 3, a seguir, temos a representação do processo de
difusão intersticial de um átomo de impureza na rede cristalina de
um material genérico.
Ainda nessa figura, podemos observar que o átomo de impureza
já ocupa um interstício da rede cristalina do material; na sequência, Figura 3 - Representação do meca-
nismo de difusão intersticial para um
esse átomo migra (difunde) para um interstício vazio adjacente, ca- átomo de impureza
racterizando uma difusão intersticial (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Fonte: o autor.

O processo de endurecimento superficial de engrenagens de aço utilizadas nas transmissões de


automóveis é realizado por um tratamento térmico desses componentes, geralmente por cemen-
tação, no qual átomos de carbono se difundem na superfície da engrenagem de aço e essa in-
serção de átomos de carbono da engrenagem melhora a resistência superficial desses materiais.

UNIDADE 3 75
Produção de Lacunas

Os defeitos pontuais surgem como resultado das


vibrações térmicas dos átomos que formam o
material. Dessa forma, quando a temperatura do
material aumenta, a intensidade das vibrações
térmicas aumenta, e isso aumenta também a pro-
babilidade de ocorrer o rompimento estrutural e o
aparecimento de defeitos pontuais nesse material.
Em determinada temperatura, uma certa fra-
ção dos átomos de um material possui energia
térmica suficiente para a produção de defeitos do
tipo lacunas (ou vacâncias) e essa fração de áto-
mos aumenta exponencialmente com o aumento
da temperatura do material. A relação entre o nú-
mero de defeitos com a temperatura é:
Nv
 e (Qv )/ kT
N sítios
em que Nv/Nsítios é a razão entre a quantidade de
defeitos do tipo lacuna e a quantidade total de
sítios da rede cristalina do material com Nv e Nsítios
dados em nº de lacunas, ou nº de posições da rede,
por m³; Qv é a energia necessária para a formação
de uma lacuna na estrutura cristalina do material
dada em J/átomo ou em eV/átomo; k é a constante
de Boltzmann (1,38 ∙ 10-23 J/átomo ∙ K ou 8,62 ∙ 10-5
e V/átomo ∙ K); e T é a temperatura absoluta dada
em K (Kelvin) (SHACKELFORD, 2013).

76 Difusão em Sólidos
Taxa de Difusão
e a Lei de Fick

A difusão é um processo dependente do tempo,


ou seja, a quantidade de massa transportada por
difusão dentro de um material é função do tempo.
Por essa razão, a difusão é equacionada na forma de
uma taxa, e isso dá origem ao chamado fluxo difusi-
vo, que é definido como mostra a equação a seguir.

M
J=
At
Nessa equação, J é o fluxo difusivo; M é a massa; A
é a área de seção transversal atravessada na difu-
são; e t é o tempo decorrido da difusão. O termo
J representa a quantidade de massa, mols, átomos,
íons ou moléculas que atravessam uma área uni-
tária de seção transversal por unidade de tempo.
Suas unidades são, geralmente, kg/m² ⋅ s, átomos/
m² ⋅ s, íons/m² ⋅ s ou mesmo moléculas/m² ⋅ s.
A unidade de M pode ser dada em quilogra-
mas (kg), átomos, íons ou moléculas, e as uni-
dades de A e t no SI (sistema internacional de
unidades) devem ser, respectivamente, m² e s.
Tomando-se a forma diferencial da equação
de fluxo, obtemos
1 dM
J=
A dt

UNIDADE 3 77
cujas unidades dos parâmetros são as mesmas da Agora que já sabemos o que é o perfil de con-
equação anterior: J em kg/m² ⋅ s, átomos/m² ⋅ s, centração e como calcular o gradiente de concen-
íons/m² ⋅ s ou mesmo moléculas/m² ⋅ s; M em qui- tração, podemos introduzir a equação do fluxo
logramas (kg), átomos, íons ou moléculas; A em difusivo, conhecida como a Primeira Lei de Fick:
m² e t em s. Essas equações podem ser utilizadas
dC
para determinar o fluxo difusivo de uma espécie J  D
dx
quando conhecemos os parâmetros A, M e t ou a
relação de M com t. Na Primeira Lei de Fick, o termo D é um coe-
No entanto, é comum trabalharmos com si- ficiente de proporcionalidade, conhecido como
tuações nas quais o fluxo difusivo independe do difusividade ou coeficiente de difusividade
tempo. Nessas situações, dizemos que a difusão (m²/s), e dC/dx é o gradiente de concentração
ocorre em regime estacionário ou estado esta- (mol/m³ ⋅ m ou átomos/m³ ⋅ m). Em alguns ca-
cionário; um exemplo dessa situação é a difusão sos, a concentração pode ser expressa em por-
de um gás por meio de uma placa metálica e cujas centagem mássica, porcentagem molar, fração
concentrações desse gás sejam mantidas constantes de átomos ou, ainda, fração molar e, com isso, as
em ambas as superfícies da placa. Dessa forma, a unidades do gradiente de concentração e do fluxo
concentração da espécie em difusão é uma função mudam de forma correspondente com a unidade
da posição, x, em relação ao interior do sólido. da concentração.
A partir disso, obtemos o perfil de concen- O gradiente de concentração é a força motriz
tração da espécie em difusão, que é uma curva termodinâmica para o processo de difusão. Esse
na qual a concentração da espécie em difusão é gradiente de concentração normalmente é gerado
apresentada no eixo y, e a posição em relação ao quando dois materiais de composições diferentes
interior do sólido é apresentado no eixo x. Além são colocados em contato ou quando um fluido (gás
disso, podemos definir o gradiente de concen- ou líquido) está em contato com um material sólido.
tração no sólido, que é dado pela inclinação em O fluxo difusivo a uma determinada tempe-
um ponto do perfil de concentração (CALLISTER ratura será constante, caso o gradiente de con-
JR.; RETHWISCH, 2013). centração também seja constante. Entretanto, é
dC comum a variação das concentrações do processo
gradiente de concentração = difusivo com o decorrer da migração (difusão)
dx
das espécies, e isso acaba também alterando o
Muitas vezes, é possível aproximar o perfil de con- fluxo difusivo J.
centração para linear e, dessa forma, o gradiente
de concentração pode ser calculado pela relação
a seguir.
∆C Ca − Cb Tenha sua dose extra de
gradiente de concentração = = conhecimento assistindo ao
∆x xa − xb
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.
As concentrações Ca e Cb são da espécie em difu-
são nas posições xa e xb, respectivamente.

78 Difusão em Sólidos
Comumente, observamos que os processos difusivos começam com um fluxo elevado, que diminui
conforme o gradiente de concentração diminui com o avanço da difusão. Para deixar isso mais claro, vamos
ver o exemplo da situação apresentada na Figura 4(a), em que temos novamente uma placa de cobre e outra
de níquel. Essas placas estão em contato entre si e, antes do início da difusão, a placa da esquerda possuía
apenas átomos de cobre, e a placa da direita possuía apenas átomos de níquel (Figura 4(b)).

Cobre Níquel
Cu Ni

(a) (c)

Interface dos
Concentração, c materiais

Cobre Níquel

Distância, x
(b) (d)

Figura 4 - Representação do mecanismo de difusão para duas placas metálicas


Fonte: o autor.

Após algum tempo de contato, podemos observar


que alguns átomos de níquel migraram para a
placa de cobre e, em contrapartida, alguns áto-
mos de cobre migraram para a placa de níquel
(Figura 4(c)). O resultado desse processo pode ser É importante termos sempre em mente que um
observado na Figura 4(d), na qual temos os perfis par de difusão é sempre constituído pela espécie
de concentração de ambas as placas. Na Figura química que compõe a rede do material, mate-
4(d), podemos ver que a concentração de cobre rial hospedeiro, e pela espécie química que está
é máxima na lateral esquerda da placa e diminui migrando, espécie em difusão. Essas espécies
conforme caminhamos em direção à lateral direi- químicas podem ser átomos, íons ou moléculas.
ta dela. Um comportamento semelhante acontece Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013).
com o níquel, que tem sua concentração máxima
na lateral direita da placa, que diminui conforme
caminhamos para a esquerda dela.

UNIDADE 3 79
Difusão em Regime Estacionário

Primeiramente, vamos tratar da difusão em regime estacionário que, como foi mencionada anterior-
mente, trata-se do processo difusivo, independentemente do tempo. Para essa abordagem, utilizamos
a Primeira Lei de Fick, que é válida para processos em regimes estacionários e unidirecionais (uma
única direção, x), na qual o fluxo difusivo é proporcional ao gradiente de concentração na direção de x.
Um exemplo prático de aplicação da primeira Lei de Fick pode ser visualizado na purificação do
gás hidrogênio, utilizando uma lâmina fina do metal paládio. Um dos lados da lâmina do metal é
exposto ao gás “sujo” (com impurezas), cuja composição contém oxigênio, nitrogênio, vapor d’água
etc. A lâmina de paládio é seletiva ao hidrogênio; dessa forma, ele consegue se difundir entre ela, mas
os outros gases não.
O resultado desse processo é o gás hidrogênio livre de impurezas do outro lado da placa metálica
de paládio (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Vamos entender como calcular o fluxo difusivo em
regime estacionário no exemplo a seguir.
Placa metálica de ferro
01 EXEMPLO
Suponha uma placa de ferro separando
duas atmosferas, uma rica em carbono e
Gás com menor
a outra com baixa concentração de car- concentração de
bono. Considerando que a condição de Gás com maior carbono
a, A
regime estacionário foi atingida, calcule concentração de Áre
carbono
o fluxo difusivo do carbono por meio da
placa de ferro, sabendo que as concen-
trações de carbono em a = 3 mm e b = 7  
mm são, respectivamente, 1,3 e 0,7 kg/
m³ e a difusividade D = 3 ⋅ 10-11 m²/s. Figura 5 - Esquematização do exemplo 1
Fonte: o autor.

Resolução
Essa é uma situação na qual podemos utilizar a Primeira Lei de Fick, pois trata-se de um processo
difusivo em uma única direção (x), em regime permanente.

dC
J  D
dx
Nesse caso, o perfil de concentração é linear, então, podemos aproximar o gradiente de concentração
por uma diferença simples entre as concentrações em a e b da seguinte forma.

dC C Ca  Cb Ca  Cb
  
dt x xa  xb a b
Portanto, a Primeira Lei de Fick para esse processo toma a forma:
Ca  Cb
J  D
a b
80 Difusão em Sólidos
Devemos converter as unidades de a e b de milímetros (mm) para metros (m), para ficarem coe-
rentes com as unidades de D e C.
1 m  1000 mm 1 m  1000 mm
a  3 mm b  7 mm
1000  a  1  3 1000  a  1  7
3 3
a b
1000 1000
a  0, 003 m b  0, 007 m

Substituindo as informações dadas no exemplo na equação anterior, obtemos:

(1, 3  0, 7)kg / m3
J  (3  1011 m2 / s )
(0, 003  0, 007)m
(1, 3  0, 7)kg / m 3
J  (3  1011 m2 / s )
(0, 003  0, 007)m
(1, 3  0, 7)kg / m
J  (3  1011 / s )
(0, 003  0, 007)m
(1, 3  0, 7)kg
J  (3  1011 / s )
(0, 003  0, 007)m2
kg
J  4, 5  109 2
m s

Portanto, o fluxo difusional de carbono, nesse exemplo, é de 4, 5  109 kg m2  s .

Difusão em Regime não Estacionário

Vimos, no tópico anterior, a difusão em regime estacionário, porém a maioria dos processos difusionais
em sólidos acontece em regime não estacionário. Isso significa dizer que a difusão é função do tempo;
em outras palavras, tanto o fluxo difusivo quanto o gradiente de concentração em um ponto específico
dentro do sólido variam com o tempo e, em decorrência disso, ocorre um acúmulo ou um esgotamento
da espécie em difusão.
Quando trabalhamos com a difusão em regime não estacionário, utilizamos a equação diferencial
mostrada a seguir.
C   C 
 D 
t x  x 

UNIDADE 3 81
Essa equação é conhecida como segunda Lei de Fick e é válida para processos difusivos unidirecionais,
em regime não estacionário. Contudo, existem situações em que podemos considerar a difusividade,
independentemente da concentração (C) e, dessa forma, a difusividade (D) pode ser tirada de dentro
da derivada e a equação se torna:

C   2C 
 D 2 
t  x 
 

A resolução dessa equação diferencial depende das condições de contorno de cada situação. Para o
caso particular de um sólido semi-infinito, no qual a concentração na superfície é mantida constante,
a solução particular é:

Cs  C x  x 
 erf  
Cs  C0  2 Dt 

na qual Cs é a concentração da espécie em difusão na superfície do material, C0 é a concentração inicial


uniforme da espécie em difusão dentro do material e Cx é a concentração da espécie em difusão na
posição x do material após decorrido um tempo t.
As seguintes hipóteses foram feitas para a determinação dessa solução:
• Um sólido pode ser considerado semi-infinito quando nenhum dos átomos em difusão alcança a extremi-
dade desse sólido ao longo do tempo de difusão avaliado. Na prática, o comprimento da barra L deve ser:

L > 10 Dt
• O valor da coordenada x é zero na superfície do sólido e aumenta conforme se caminha em direção ao
interior do sólido.
• Antes da difusão ter início, todos os átomos da espécie em difusão que estiverem dentro do sólido estão
homogeneamente distribuídos por toda a extensão desse sólido.
• O tempo t = 0, é tomado exatamente no instante anterior ao início da difusão.

A função erf é denominada função erro de Gauss e seus valores são obtidos a partir de tabelas, como
a Tabela 1, entrando com o valor do argumento  x  para se obter o valor da função erro de Gauss
 x 
 2 Dt 
erf   para esse argumento.
 2 Dt 
A interpolação deve ser realizada para situações nas quais os argumentos sejam valores inter-
mediários dos valores da Tabela 1. Para valores fora dos extremos da Tabela 1, pode ser realizada a
extrapolação dos dados, contudo é aconselhável procurar uma tabela com uma maior amplitude de
dados nesses casos.

82 Difusão em Sólidos
Tabela 1 - Dados para determinação do valor da função
erro de Gauss Resolução
Esse processo é uma difusão em regime não esta-
Valor da função cionário, pois, como foi dito no enunciado, a con-
Argumento
erro de Gaus centração de carbono varia com o passar do tempo
em uma mesma posição de x. Além disso, a con-

( )
 
 centração de carbono na barra antes da difusão é
    uniforme, e a barra pode ser considerada um sólido
0,00 semi-infinito, então, a equação que iremos utilizar é
0,0000
a solução particular da segunda lei de Fick:
0,10 0,1125
0,20 0,2227 Cs  C x  x 
 erf  
0,30 0,3286 Cs  C0  2 Dt 
0,40 0,4284 Dados do exemplo:
0,50 0,5205 • C0 = 0,30%p
0,60 0,6039 • Cs = 1,10%p
0,70 0,6778 • Cx = 0,75%p
0,80 0,7421 • x = 0,4 mm
0,90 0,7969 • D = 1,6 ⋅ 10-11 m²/s
1,00 0,8427
Substituindo esses valores na equação, obtemos:
1,50 0,9661
2,00 0,9953 (1, 10  0, 75)% p  x 
 erf  
Fonte: o autor. (1, 10  0, 30)% p  2 Dt 
Vamos resolver um exemplo para a aplicação des- O valor de x não foi substituído ainda, porque,
sa solução particular da difusão em regime não primeiramente, nós vamos determinar o valor do
estacionário. argumento x / 2 Dt , para isso, vamos calcular o
termo à esquerda da equação anterior:
02 EXEMPLO
(1, 10  0, 75) % p  x 
Considere uma barra de liga metálica (composta  erf  
por ferro e carbono), que contém uma concentra- (1, 10  0, 30) % p  2 Dt 
ção inicial uniforme de carbono de 0,30%p. Caso  x 
a concentração na superfície seja aumentada e 0, 4375  erf  
 2 Dt 
mantida em 1,10%p, qual será o tempo necessário
para que essa placa alcance uma concentração de Isto é, sabemos o valor da função erro de Gauss,
0,75%p, em uma posição x = 0,4 mm? que é de erf ( x / 2 Dt ) = 0, 4375 , e com esse va-
O processo é realizado a 950 °C, e o coeficiente lor é possível determinar o valor do argumento
de difusão do carbono no ferro nessas condições x / 2 Dt a partir da Tabela 1. Como esta não
é igual a 1,6 ⋅ 10-11 m²/s. Considere que a peça possui esse valor (mas ele está contido entre os va-
metálica seja semi-infinita. lores da tabela), devemos interpolar tal valor para
encontrarmos o valor aproximado de x / 2 Dt .

UNIDADE 3 83
Na Tabela 1, vemos que o valor de Difusão em Materiais
erf ( x / 2 Dt ) = 0, 4375 está entre 0,4284 e Poliméricos
0,5205, cujos valores de x / 2 Dt são, respec-
tivamente, 0,40 e 0,50. Fazendo a interpolação Em materiais poliméricos, a difusão envolve, em
linear, obtemos: geral, a movimentação de moléculas externas, como,
8, 31 J mol ⋅ K por exemplo, O2, H2O, CO2, CH4 etc., entre as ca-
deias moleculares do polímero, diferentemente dos
Tabela 2 - Dados para interpolação linear do exemplo 2
metais e das cerâmicas, nos quais a difusão envolve a
migração de átomos ou íons em sua rede cristalina.
( )
 
 Em razão dessa diferença do processo de difu-
   
são, a difusão nos polímeros é tratada em termos
0,40 0,4284 da permeabilidade e absorção, em vez de coefi-
z 0,4375 ciente de difusão. Tanto a permeabilidade quanto
0,50 0,5205 a absorção estão relacionadas com a capacidade
de moléculas externas difundirem no polímero,
Fonte: o autor
conduzindo a um inchamento e/ou reações quí-
z  0, 40 0, 4375  0, 4284 micas com as moléculas que formam o polímero.

0, 50  0, 40 0, 5205  0, 4284 Vimos, na Unidade 1, que os polímeros, em ge-
z  0, 4099 ral, possuem uma estrutura parcialmente cristalina,
contendo regiões de cristalinidade e regiões amorfas
Assim sendo, em suas estruturas. As taxas de difusão por meio das
x regiões amorfas dos polímeros são maiores que as
=z
2 / Dt taxas de difusão nas regiões cristalinas. Outro ponto
x importante a se destacar é que a difusão nos políme-
= 0, 4099
2 / Dt ros ocorre de forma análoga à difusão intersticial, ou
seja, as moléculas migram por meio dos pequenos
Substituindo os valores de D e x (convertido em vazios presentes nas cadeias poliméricas.
metros, 0,4 mm = 0,0004 m), temos: A taxa de difusão é maior para moléculas pe-
quenas e também para moléculas quimicamente
0, 0004 inertes, difundindo em polímeros. O fluxo difusi-
 0, 4099
11
2 / 1, 6  10 t vo em membranas poliméricas pode ser calculado
t  14879 s  4, 1h pela lei de Fick, escrita em termos do coeficiente
de permeabilidade, PM.
O tempo necessário para que a concentração de
carbono na posição x = 0,4 mm seja 0,75%p é de P
J  PM
4,1 horas. x

84 Difusão em Sólidos
Na expressão apresentada, J é o fluxo difusivo por meio da mem-
brana (cm³/cm² ∙ s); PM é o coeficiente de permeabilidade; ∆ x é a
espessura da membrana; e ∆ P é a diferença de pressão por meio da
membrana (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Em polímeros
não vítreos, com moléculas pequenas difundindo por meio deles,
a permeabilidade pode ser aproximada por:
PM = DS

Em que D é a difusividade e S é a solubilidade da molécula em difusão


no polímero. Na Tabela 3, vemos os valores dos coeficientes de permea-
bilidade para algumas moléculas comuns difundindo em polímeros.
Tabela 3 - Coeficientes de permeabilidade a 25 °C para algumas moléculas
difundindo em polímeros

PM
[× 10-13 (cm³ CNTP)(cm)/(cm² ⋅ sPa)]

Polímero Acrônimo O2 N2 CO2 H2O

Polietileno
(baixa massa LDPE 2,2 0,73 9,5 68
específica)

Polietileno
(alta massa HDPE 0,30 0,11 0,27 9,0
específica)

Polipropileno PP 1,2 0,22 5,4 38

Cloreto de
PVC 0,034 0,0089 0,012 206
polivinila

Poliestireno PS 2,0 0,59 7,9 840

Cloreto de
PVDC 0,0025 0,00044 0,015 7,0
polivinilideno

Poli(etileno
PET 0,044 0,011 0,23 -
tereftalato)

Poli(etil meta-
PEMA 0,89 0,17 3,8 2380
crilato)

Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 478).

UNIDADE 3 85
Parâmetros que
Influenciam na Difusão

No processo de difusão, a magnitude do coefi-


ciente de difusão, D, é um importante indicativo
da taxa de difusão das espécies em um material,
e essa magnitude depende tanto da espécie em
difusão quanto do material hospedeiro, que é o
material no qual essa espécie será difundida. Na
Tabela 4, podemos observar valores do coeficiente
de difusão, ou difusividade, para alguns pares de
espécie em difusão e material hospedeiro.

86 Difusão em Sólidos
Tabela 4 - Dados de difusividade

Espécoe Material Energia de Ativação, Qd


em difusão hospedeiro D0(m2/s) kJ/mol eV/átomo T(oC) D(m2/s)
Fe D-Fe 2,8 x 10-4 251 2,60 500 3,0 x 10-21
(BCC) 900 1,8 x 10-15
Fe J-Fe 5,0 x 10-5 284 2,94 900 1,1 x 10-17
(FCC) 1100 7,8 x 10-16
C D-Fe 6,2 x 10-7 80 0,83 500 2,4 x 10-12
900 1,7 x 10-10
C J-Fe 2,3 x 10-5 148 1,53 900 5,9 x 10-12
1100 5,3 x 10-11
Cu Cu 7,8 x 10-5 211 2,19 500 4,2 x 10-19
Zn Cu 2,4 x 10-5 189 1,96 500 4,0 x 10-18
Al Al 2,3 x 10-4 144 1,49 500 4,2 x 10-14
Cu Al 6,5 x 10-5 136 1,41 500 4,1 x 10-14
Mg Al 1,2 x 10-4 131 1,35 500 1,9 x 10-13
Cu Ni 2,7 x 10-5 256 2,65 500 1,3 x 10-22
Fonte: adaptado de Callister Jr. e Rethwisch (2013).

Tipo do Mecanismo de Difusão

A partir da Tabela 4, podemos perceber que, a 500 °C, o coeficiente de difusão do cobre (Cu) difundindo
em cobre (4,2 ⋅ 10-19 m²/s) é, aproximadamente, dez vezes menos do que a difusividade do zinco (Zn)
difundindo em cobre (4,0 ⋅ 10-18 m²/s). Ambos os casos são exemplos de difusão por lacunas; no primei-
ro caso do cobre difundindo em cobre, temos uma autodifusão por lacunas e, no segundo caso, zinco
difundindo em cobre, temos uma interdifusão por lacunas.
Outra situação observada é a do ferro (Fe) difundindo em ferro-alfa  a  Fe , cujo coeficiente de
difusão é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s a 500 °C, enquanto para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa  a  Fe , o
coeficiente de difusão vale 2,4 ⋅ 10-12 m²/s a 500 °C, quase um milhão de vezes maior. Esse contraste se
deve ao fato do mecanismo de difusão do ferro (Fe) no ferro-alfa  a  Fe  ser por lacunas, enquanto
para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa  a  Fe  ser intersticial, ou seja, entre os interstícios da
rede cristalina.

UNIDADE 3 87
Temperatura do Processo

Outro fator importante que influencia no valor do coeficiente de difusão é a temperatura, na qual o
processo de difusão acontece. Isso pode ser observado na Tabela 4, na qual vemos que a difusividade
do ferro (Fe) em ferro-alfa  a  Fe  é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s, a 500 °C, enquanto a difusividade do mesmo par
espécie em difusão-material hospedeiro, ferro (Fe)-ferro-alfa  a  Fe  , a 900 °C, é 1,8 ⋅ 10-15, ou seja,
o aumento da temperatura de 500 °C para 900 °C ocasionou um aumento do coeficiente de difusão
de, aproximadamente, 35 mil vezes.
A dependência do coeficiente de difusão em relação à temperatura é dada pela equação a seguir:

 Q 
D  D0 exp   d 
 RT 
Na qual D0 é o termo pré-exponencial (m²/s); Qd é a energia de ativação para o par de difusão (J/mol ou
eV/átomo); R é a constante dos gases (J/mol ∙ K ou e V/átomo ∙ K); e T é a temperatura absoluta (K). Os
valores de D0 e Qd podem ser obtidos em tabelas, como a Tabela 4, por exemplo. A constante dos gases R vale:

R  8, 31J / mol  K R  8, 62eV / átomo  K


Para que você se familiarize com a utilização da equação da difusividade em função da temperatura,
vamos exercitar o uso dela em um exemplo.

03 EXEMPLO
Em um processo de difusão, no qual o magnésio está difundindo em alumínio, calcule o coeficiente de
difusão, D, sabendo que o processo ocorre a 600 °C. Os dados adicionais devem ser extraídos da Tabela 4.

Resolução
Da Tabela 4 para magnésio (Mg) difundindo em alumínio (Al), vemos que não existe o valor da
difusividade para a temperatura de 600 °C, então é necessário utilizar a correlação da difusividade
com a temperatura para calcularmos o valor de D a 600 °C. Na Tabela 4, para o par de difusão Mg
difundindo em Al, temos:
• D0 = 1,2 ⋅ 10-4 m²/s
• Qd = 131 kJ/mol =131.000 J/mol (foi realizada a conversão de kJ para J, onde 1kJ = 1000 J).
A constante R nessas unidades vale 8, 31 J mol ⋅ K .
A temperatura utilizada na equação deve estar sempre em Kelvin; nesse caso, a temperatura absoluta
(em Kelvin) é T = (600+273) = 873 K.
Para determinar o coeficiente de difusão D a T= 600 °C, utilizaremos a equação,
 Q 
D  D0 exp   d 
 RT 

88 Difusão em Sólidos
Substituindo, na equação anterior, os valores determinados, obtemos:

 131.000 J / mol 
D  (1, 2  104 m2 / s ) exp   
 (8, 31J / mol  K )(873 K ) 
 131.000 J / mol 
D  (1, 2  104 m2 / s ) exp   
 (8, 31 J / mol  K )(873 K ) 
 131.000 
D  (1, 2 104 m2 / s ) exp   
 (8, 31)(873) 
D  (1, 2 104 m2 / s ) exp  18, 057 
D  (1, 2  104 m2 / s )  1, 4386  108

D  1, 73  1012 m2 / s

A migração de espécies na difusão pode ocorrer por três caminhos, o primeiro deles é a difusão em
volume, que consiste no tipo mais genérico; em outras palavras, essa é a difusão que ocorre no inte-
rior dos cristais que formam o material. O segundo tipo é a difusão pelos contornos de grãos; nesse
caso, a migração acontece na interface entre os cristais do material e ocorre mais facilmente que a
difusão em volume. Finalmente, o terceiro caminho é a difusão superficial; essa última é a mais fácil
de ocorrer, uma vez que a superfície externa do material possui menos restrições à movimentação.
Fonte: adaptado de Ciência dos Materiais ([2019], on-line)1.

Aplicações da Difusão

Uma das aplicações mais utilizada da difusão é a cementação. Essa técnica é utilizada para endure-
cimento de superfícies metálicas de peças que rodam ou escorregam, como rodas dentadas e engre-
nagens de aço, nas quais não é necessário o endurecimento da peça toda. A produção de uma peça de
aço cementada se inicia com a usinagem dessa peça e, após essa usinagem, a peça passa para a etapa
de cementação, que consiste na inserção de carbono por difusão na superfície da peça. As fontes de
carbono para o processo são pó de grafite ou uma fase gasosa rica em carbono (SMITH, 1998).

UNIDADE 3 89
Alguns componentes, como cilindros, pinos e Nesta unidade, vimos que os materiais sólidos
rotores, funcionam com risco de desgaste por atrito também sofrem o fenômeno da difusão de espé-
permanente e apresentam rupturas com facilidade; cies, assim como os fluidos; contudo, os mecanis-
por essa razão, eles devem possuir alta resistência mos para a difusão em sólidos dependem das la-
ao desgaste a uma temperatura relativamente alta cunas e interstícios presentes no arranjo estrutural
para essas aplicações mais exigentes. O processo desses materiais. Vimos, também, que os átomos
termoquímico, chamado nitretação, proporciona que se difundem podem ser átomos diferentes
a esses, e outros tipos de componentes, uma maior dos átomos constituintes da rede, interdifusão
dureza das suas superfícies externas, maior resis- ou difusão de impurezas e também podem ser
tência à fadiga externa e também à fricção, além átomos iguais aos átomos que compõem a rede,
de uma maior resistência à corrosão e ao calor. autodifusão.
A nitretação é realizada por meio da difusão de Definimos o que é o fluxo difusivo J e aprende-
nitrogênio na superfície externa do material, que mos a utilizar a lei de Fick para calcular esse fluxo.
pode ser conduzida em uma atmosfera gasosa rica Conhecemos a constante de proporcionalidade
em nitrogênio ou por banho em uma solução de da lei de Fick, chamada de difusividade ou coefi-
sais fundidos contendo nitrogênio. ciente de difusão. Além disso, vimos que a força
Outra típica aplicação da difusão está no re- motriz para o processo difusivo é o gradiente de
vestimento de barreira térmica para palhetas concentração, ou seja, a diferença de concentração
térmicas em turbinas. Nesse processo, as palhetas de uma espécie entre regiões do material.
de turbinas de motores de aeronaves são revestidas Vimos que, em certas situações, o processo
com óxidos cerâmicos, como a zircônia estabili- difusivo pode ser considerado independente do
zada por ítrio (YSZ). Estas palhetas são feitas de tempo (regime estacionário), enquanto em outras
superligas de níquel e os revestimentos cerâmicos o tempo é uma variável indispensável (regime
têm a função de protegê-las de temperaturas eleva- não estacionário). Para finalizar, vimos que al-
das. A difusão de oxigênio por meio deste revesti- guns fatores, como o mecanismo de difusão e a
mento cerâmico nas palhetas determina a vida útil temperatura, influenciam no processo difusivo, e
desses componentes, visto que o oxigênio oxida a algumas das aplicações mais comuns da difusão
superliga ao entrar em contato com ela. Portanto, na produção e processamento de materiais. Espe-
é imprescindível o conhecimento da difusão para ro que você tenha entendido bem os conceitos e
a determinação da durabilidade dessas turbinas cálculos envolvidos na difusão em materiais. Nos
(ASKELAND; WRIGHT, 2015). encontraremos na Unidade 4, até breve.

90 Difusão em Sólidos
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Os materiais, assim como os fluidos, sofrem o fenômeno de difusão, contudo,


os mecanismos de difusão nos sólidos são diferentes dos mecanismos de di-
fusão em fluidos. Nos materiais, a difusão pode ocorrer por meio das lacunas
(difusão por lacunas) ou por meio dos interstícios da rede do material (difusão
intersticial). A respeito desse assunto, cite duas diferenças entre os mecanismos
de difusão por lacunas e difusão intersticial.

2. Uma barra constituída por uma liga de ferro-carbono é submetida a um processo


de carbonetação, com o intuito de se atingir uma concentração de carbono de
0,45%p a 2 mm da superfície. Sabe-se que, inicialmente, essa liga contém uma
concentração de carbono de 0,20%p e, durante o processo, a temperatura é
constante e vale 1000 °C e a superfície externa do material é mantida a uma
concentração de carbono de 1,30%p. Considerando os dados de difusão da Ta-
bela 4 para o Fe γ, o tempo necessário para que se finalize esse processo é de:
a) 19,7 h.
b) 18,0 h.
c) 15,5 h.
d) 21,8 h.
e) 16,9 h.

91
3. A adição de nitrogênio aos aços austeníticos promove um aumento, simultâneo
da vida em fadiga, da resistência mecânica, da resistência ao desgaste e à cor-
rosão. Por essa razão, os aços inoxidáveis de alto teor de nitrogênio constituem
uma classe promissora de materiais de engenharia atualmente.
Deseja-se inserir nitrogênio em uma chapa de aço para melhorar suas proprie-
dades. Nesse processo, a chapa de aço será exposta a uma atmosfera concen-
trada com nitrogênio (N2) a 1200 °C, fornecendo uma concentração constante
de nitrogênio igual a 3,5 kg/m³ na superfície dessa chapa. Considerando que o
processo ocorra em regime estacionário e o fluxo difusivo seja igual a 1,1 · 10-7
kg/m², qual a profundidade, b, dessa chapa, na qual a concentração de nitrogê-
nio será de 1,5 kg/m³ ? A difusividade do nitrogênio no aço a essa temperatura
é 6 · 10-11 m²/s.
a) b = 1,58 mm.
b) b = 1,08 mm.
c) b = 2,08 mm.
d) b = 1,20 mm.
e) b = 0,58 mm.

92
WEB

Esse site disponibiliza um texto explicativo sobre o processo de nitretação de


componentes.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Este link leva a um artigo científico relacionado ao estudo da aplicação da técnica


de nitretação a plasma para proteção contra corrosão de aços de baixo teor
de carbono.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

93
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

SMITH, W. F. Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais. Lisboa: MacGraw-Hill, 1998.

REFERÊNCIA ON-LINE

Em: <http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19&top=79>. Acesso em: 06 jun. 2019.


1

94
1. A difusão por lacunas ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) pelas lacunas,
que são defeitos pontuais dos materiais. Os átomos em difusão possuem tamanhos próximos ao tamanho
dos átomos originais da rede.

A difusão intersticial ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) por meio dos
interstícios presentes na rede cristalina. Os átomos em difusão possuem tamanhos muito menores em
relação ao tamanho dos átomos originais da rede.

2. A.

Esse processo é uma difusão em regime não estacionário, pois, como foi dito no enunciado, a concentração
de carbono varia com o passar do tempo. Além disso, a concentração de carbono na liga antes da difusão
é uniforme e vale 0,20%p.

Para a resolução, utilizaremos a equação a seguir, que é solução particular da segunda lei de Fick:

Cs  C x  x 
 erf  
Cs  C0  2 Dt 

Dados do exercício:

C0 = 0,20%p

Cs = 1,30%p

Cx = 0,45%p

x = 2 mm = 0,002 m

A difusividade deve ser calculada para a temperatura de 1000 °C.

 Q 
D  D0 exp   d 
 RT 
Os dados necessários foram retirados da Tabela 4 para o ferro gama (Fe γ):

D0 = 2,3 · 10-5 m/s²

Qd = 148 kJ/mol = 148.000 J/mol (a energia de ativação deve ser convertida para J/mol).

R = 8,31 J/mol · K

T = 1000 °C = 1273 K (a temperatura tem que ser convertida para kelvin).

95
Substituindo esses valores na equação, temos:

 148.000 J / mol 
D  (2, 3  105 m2 / s ) exp   
 (8, 31J / mol  K )(1273 K ) 
D  1, 9308  1011 m2 / s

Substituindo esses valores na segunda lei de Fick, obtemos

(1, 30  0, 45)% p  x 
 erf  
(1, 30  0, 20)% p  2 Dt 
 x 
0, 7727  erf  
 2 Dt 
ou
 x 
erf    0, 7727
 2 Dt 

O valor de x não foi substituído ainda, porque, primeiramente, nós vamos determinar o valor do argumen-
to x ; para isso, vamos utilizar o termo erf  x   0, 7727 calculado acima. Agora que sabemos que o
 
2 Dt  2 Dt 

 x  x
valor da função erro de Gauss é erf    0, 7727 , é possível determinar o valor do argumento a
 Dt 
2 2 Dt
partir da Tabela 1. Como essa tabela não possui esse valor, mas ele está contido entre os extremos da
x
tabela, devemos interpolar tal valor para encontrarmos o valor aproximado de .
2 Dt

 x  x
Na Tabela 1, vemos que o valor de erf    0, 7727 está entre 0,7421 e 0,7969, cujos valores de
 2 Dt  2 Dt
são, respectivamente, 0,80 e 0,90. Fazendo a interpolação linear destes valores, obtemos:

( )
 
 z  0, 8 0, 7727  0, 7421
    
0, 90  0, 8 0, 7969  0, 7421
0,80 0,7421
z 0,7727 z  0, 8558
0,90 0,7969
Assim sendo,

x
=z
2 Dt
x
= 0, 8558
2 Dt

96
Substituindo os valores de D e x (convertido em metros, 2 mm = 0,002 m), temos:

0, 002m
 0, 8558
2 (1, 9308  1011 m2 /s )(t )

0, 8558  2 (1, 9308  1011 m2 /s )(t )  0, 002m

(1, 9308  1011 m2 /s )(t )  1, 1688 103 m

t  70779s  19, 7h
O tempo necessário para que a concentração de carbono na posição x = 2 mm seja 0,45%p é de 19,7 horas.

3. B.

Esquematização:
ço
eA

1200 ºC 
ad
ap
Ch

N2

Dados:

D = 6 ∙ 10 -11 m2/s
J = 1,1 ∙ 10-7 kg/m² ∙ s
 a=0
ca = 3,5 kg/m³
  cb = 1,5 kg/m³
 
³ ³

• Perfil de concentração linear

• Regime estacionário

• Material: aço

97
Cálculos:

Equação da difusão em regime estacionário

Ca  Cb C  Cb
J  D  D a
xa  xb a b
Isolar a variável b

Ca  Cb
baD
J
Substituindo os valores

11 2 (3, 5  1, 5)kg/m3


b  0  (6  10 m /s )
(1, 1  107 )kg/m2  s
3
11 2 (3, 5  1, 5) kg / m
b  0  (6  10 m /s)
(1, 1  107 ) kg / m2  s
b  (6  1011 m)  (1, 8  107 )

b  1, 08  103 m  1, 08mm

98
99
100
Me. Luis Henrique de Souza

Propriedades
Mecânicas

PLANO DE ESTUDOS

Deformação elástica
e Lei de Hooke

Conceituação Deformação
básica plástica

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Definir alguns conceitos básicos necessários ao estudo • Estudar a deformação plástica nos materiais e as proprie-
das propriedades mecânicas dos sólidos. dades mecânicas relacionadas a ela.
• Estudar a deformação elástica nos materiais e aplicar a
Lei de Hooke.
Conceituação
Básica

Na Unidade 4, veremos as propriedades mecâni-


cas dos materiais, que são parâmetros importantes
na produção e destinação dos materiais para pro-
jetos de engenharia, a fim de garantir a eficácia,
a segurança e a funcionalidade desejada nesses
projetos. Começaremos com uma abordagem da
conceituação básica necessária para o entendi-
mento das propriedades mecânicas, e isso envol-
ve os termos: deformação elástica, deformação
plástica, tensão de tração, tensão de cisalhamento,
entre outros.
Será explicado o ensaio de tração, sua im-
portância e todas as informações que podem ser
extraídas dessa técnica. Além disso, serão deta-
lhados os processos de deformação elástica e de
deformação plástica dos materiais, juntamente
com suas curvas de tensão-deformação.
Finalmente, conheceremos os parâmetros me-
cânicos mais importantes nos projetos estruturais,
como limite de escoamento, limite de resistência
à tração, ductilidade, tenacidade e dureza. As pro-
priedades mecânicas são fundamentais em mui-
tas tecnologias atuais e tradicionais, por exemplo
na produção de ligas de alumínio ou mesmo de
compósitos reforçados com carbono usados em componentes aeronáuticos que precisam ser leves,
resistentes e capazes de suportar cargas mecânicas cíclicas (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
As propriedades mecânicas de um material dependem da sua composição química e da sua estru-
tura, incluindo os defeitos na sua estrutura cristalina. Como os materiais utilizados em projetos são,
quase sempre, submetidos a cargas, ou forças, é indispensável sabermos quais são as propriedades
importantes para certificar que o material escolhido atenda às necessidades mecânicas de um projeto
de engenharia.
Neste tópico, vamos nos preocupar em aprender sobre a conceituação básica envolvida no estudo
das propriedades mecânicas. Conheceremos os tipos de cargas, ou forças, que podem agir sobre um
material e esclareceremos o que é deformação plástica, deformação elástica, taxa de deformação e tensão.
Começaremos a nossa conceituação básica trazendo os conceitos de deformação elástica e de-
formação plástica, mas para entender esses conceitos, precisamos introduzir e definir os termos
tensão e deformação.
Primeiramente, vamos definir o que é deformação do ponto de vista de materiais. Sempre que uma
força aplicada em um material mudar a forma ou o tamanho desse material, dizemos que ele sofreu
uma deformação, e esta pode ser altamente notável, mas também pode ser imperceptível, necessitando
de um equipamento para medi-la precisamente. Uma tira de borracha sofrerá uma grande deformação
quando for esticada, já os elementos estruturais de um edifício sofrem deformações pequenas quando
há muitas pessoas dentro dele.
Em ciências dos materiais, tratamos a deformação como sendo a variação do comprimento, dividida
pelo comprimento inicial (antes da deformação) do material; portanto, a deformação é uma quantidade
adimensional (sem unidades) (HIBBELER, 2010).
As deformações são causadas por cargas mecânicas, denominadas tensões, que agem sobre a uni-
dade de área do material no qual estão sendo aplicadas. As tensões mecânicas podem ser de tração,
compressão ou de cisalhamento e a unidade da tensão mecânica no SI é Pa (pascal).
Na Figura 1, podemos observar quatro tipos de esforços que podem atuar nos materiais. Os esforços
de tração (Figura 1(a)) e compressão (Figura 1(b)) são tensões normais ao plano de atuação, ou seja,
perpendiculares à área sobre a qual atuam. A tensão de tração causa um alongamento do material na
direção do eixo no qual atua a força F e um estreitamento na direção dos outros eixos (Figura 1(a)). Já
no caso de uma tensão de compressão, o material sofre uma diminuição no comprimento na direção
do eixo no qual atua a força F e um alargamento na direção dos outros eixos (Figura 1(b)).
Quando a tensão atuante é do tipo cisalhante, a força F tem direção paralela à área na qual ela atua
e, por essa razão, ela causa um escorregamento do material na direção da força aplicada, formando,
assim, um ângulo de deformação θ, como podemos observar na Figura 1(c). Por fim, na Figura 1(d),
vemos a torção de um material, ocasionada pela aplicação de um torque T; nesse caso, ocorre o giro
do eixo longitudinal do material em uma das extremidades em relação à outra, com uma amplitude
de φ. É importante salientar que a magnitude dos esforços citados (tração, compressão, cisalhamento
e torção) podem ser constantes ou variar continuamente com o tempo.

UNIDADE 4 103
(a) (b)

A0
T
F

(c) (d)

Figura 1 - Representação do efeito de uma carga de (a) tração, (b) compressão, (c) cisalhante e (d) de torção
Fonte: o autor.

Tensão e Deformação de Engenharia

Agora, vamos introduzir formalmente os conceitos de tensão de engenharia e deformação de enge-


nharia. Na Figura 2(a), vemos a esquematização de uma barra feita de um material genérico livre de
qualquer esforço externo, e cujo comprimento inicial é l0. Imagine, agora, que essa barra seja submetida
a uma força F (Figura 2(b)). A aplicação dessa força gera um aumento do comprimento dessa barra
equivalente a Δl (Figura 2(c)), dessa forma, o comprimento total da barra com a aplicação da força F
é de li = l0 + Δl.

104 Propriedades Mecânicas


0
a)

0
b) 

0 ∆


c)
0
Δ


Figura 2 - Esquematização de uma barra sendo deformada pela ação de uma força
Fonte: o autor.

A partir disso, podemos definir a deformação de engenharia ∈ como:


∆l li − l0
Deformação de engenharia = ∈ = =
l0 l0

Onde l0 é o comprimento original da barra; li é o comprimento instantâneo da barra quando uma


tensão é aplicada sobre o material; e Δl é a variação do comprimento do corpo de prova ocasionada
pela tensão aplicada. No SI (Sistema Internacional), a unidade de l0, li e Δl é m (metros), portanto, a
deformação é adimensional (sem unidades).
Na Figura 3(a), temos a mesma barra apresentada na Figura 2, agora vamos observar o corte trans-
versal dessa barra; a área de seção transversal dessa barra, representada por A0, é importante para
definirmos a tensão de engenharia σ.
F
Tensão de engenharia = σ =
A0

Onde F é a força (carga) perpendicular aplicada à área de seção transversal da barra A0. No SI, as uni-
dades de F é N (newton), de A0 é m² e, portanto, a unidade da tensão σ é N/m² ou Pa (pascal).

UNIDADE 4 105

a)

Seção
b) 
circular




Seção
c) quadrada




Seção
d) retangular




Figura 3 - Esquematização das área de seção transversal de uma barra


Fonte: o autor.

Nas Figura 3(b), 3(c) e 3(d) vemos, respectiva- deformação, porém voltam rapidamente ao es-
mente, as áreas de seção transversal circular, qua- tado inicial quando essa tensão deixa de existir.
drada e retangular e as equações de cálculo de Na deformação elástica não há quebra das li-
A0 para cada uma dessas geometrias, que são as gações químicas, ocorre apenas um alongamento
mais usuais. dessas ligações, decorrente da presença de uma
carga (tensão) adicional que se soma às forças
eletrostáticas existentes em equilíbrio no material,
Deformação Elástica e e por essa razão o material não sofre nenhuma
Deformação Plástica deformação permanente, pois, assim que a car-
ga adicional é removida, essas forças do material
A deformação elástica é uma deformação rever- retornam ao equilíbrio original.
sível resultante da aplicação de uma tensão. Essa Quando a deformação de um material é per-
deformação ocorre simultaneamente à aplicação manente, dizemos que esse material sofreu uma
de uma tensão, de forma que o material volta à for- deformação plástica, ou seja, quando a tensão
ma (tamanho) original assim que essa tensão cessa. é removida, o material não retorna a sua forma
Praticamente todos os materiais apresentam original. Como podemos perceber, o termo “de-
um certo grau de deformação elástica; entretanto, formação plástica”, nesse contexto, não se refere à
estas costumam ser muito pequenas e impercep- deformação de um material polimérico, mas sim
tíveis. Um exemplo da aplicação desse tipo de à deformação permanente de qualquer tipo de
deformação são as molas rígidas feitas de metais material. Um exemplo de deformação plástica é
que, quando submetidas a tensões, sofrem uma o amassado na panela, resultado de uma queda.

106 Propriedades Mecânicas


Ensaio de Tração

A resistência de um material No corpo de prova, são marcados dois pontos de referência, a


depende da sua capacidade de distância entre esses pontos é chamada de comprimento original
suportar cargas (tensões) sem e é simbolizada por l0. Conforme se inicia a aplicação da força F
sofrer deformações excessivas no corpo de prova, o material começa a sofrer um aumento no seu
ou fratura. Essa e outras pro- comprimento. Essa variação do comprimento sofrida pelo material
priedades mecânicas são ine- é simbolizada por Δl (CALLISTER JR.; RETHWISH, 2013).
rentes ao material e devem ser O ensaio segue com o aumento gradual da intensidade da carga
determinadas experimental- F e, consequentemente, um aumento no valor de Δl, chegando ao
mente (HIBBELER, 2010). fim quando o material sofre a fratura (rompe-se).
O ensaio de tração é uma Os dados de F, A0 l0 e Δl obtidos no ensaio são convertidos para
técnica experimental bastante tensão de engenharia σ e deformação de engenharia ∈ pelo próprio
difundida, utilizada para de- equipamento, de acordo com as relações:
terminação dos parâmetros de
F
tensão-deformação. Nesse en- Tensão de engenharia = σ =
A0
saio, é medida a resistência de
um material a uma força (carga) ∆l li − l0
Deformação de engenharia =∈= =
de tração aplicada gradualmen- l0 l0
te em um único eixo.
Esse tipo de ensaio é mui- O resultado é, então, dado na forma gráfica de uma curva de σ- ∈
to utilizado em metais, ligas (tensão versus deformação), da qual são obtidas as propriedades
metálicas e polímeros. Para as mecânicas do material analisado. A seguir, é apresentado um dia-
cerâmicas, não é aconselhá- grama de tensão-deformação genérico na Figura 4.
vel devido à fragilidade desses
materiais. Os resultados obtidos
nos ensaios de tração permitem C
a determinação de muitas pro- D
priedades mecânicas importan-
B
tes, utilizados nos mais variados
A
Tensão

projetos de engenharia.
O processo consiste basica-
mente no tracionamento, até a
ruptura, de um corpo de prova.
O corpo de prova é colocado no
equipamento de teste, no qual
ele é tracionado por uma força
Região Região plástica
F que aumenta gradualmente. elástica
Essa força (ou carga) F é apli- Deformação
cada pelo equipamento sobre a
área de seção transversal inicial Figura 4 - Diagrama de tensão-deformação
Fonte: o autor.
do corpo de prova, A0.
UNIDADE 4 107
Várias propriedades mecânicas são determina- a deformação plástica (região plástica) que dura
das a partir de um diagrama tensão-deformação até a ruptura do material (JAMES, 2003). Essas e
do material. Na Figura 4, a tensão no ponto A cor- outras propriedades mecânicas serão explicadas
responde ao limite de proporcionalidade; a tensão com detalhes nos próximos tópicos.
no ponto B é o limite de escoamento; a tensão no Na Figura 5, vemos as curvas de tensão-defor-
ponto C é o limite de resistência à tração do mate- mação para alguns tipos de materiais, lembrando
rial; por fim, no ponto D, ocorre a ruptura do ma- que esses diagramas não seguem a mesma escala,
terial. Além disso, é importante ter em mente que, eles são simplesmente uma representação comum
primeiramente, ocorre uma deformação elástica do do comportamento tensão-deformação para esses
material (região elástica) e somente depois se inicia tipos de materiais.

(a) Metais (b) Polímeros termoplásticos acima da transição vítrea


Tensão

Tensão

Deformação Deformação

(c) Elastômeros (polímeros) (d) Cerâmicas, vidros e concreto


Tensão

Tensão

Deformação Deformação

Figura 5 - Curvas de tensão-deformação para alguns tipos de materiais


Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015).

Nos metais (Figura 5(a)), vemos que ocorre uma deformação elástica seguida de uma deformação
plástica até a ruptura do material, a tensão suportada por esses materiais é alta e, por essa razão, esses
materiais são bons materiais estruturais. Para os polímeros termoplásticos (Figura 5(b)), vemos que a
tensão máxima suportada é bem menor em relação aos metais, entretanto, esses materiais sofrem uma
grande deformação plástica antes de fraturar.
Os polímeros do tipo elastômeros (Figura 5(c)) exibem uma grande deformação do tipo elástica
(reversível) e suportam tensões maiores do que os termoplásticos antes de fraturar. Finalmente, as
cerâmicas (Figura 5(d)) apresentam uma pequena deformação elástica e pouca, ou nenhuma, defor-
mação plástica antes de fraturar.

108 Propriedades Mecânicas


Em materiais frágeis, é comum a utilização de ensaios de flexão
para a determinação das propriedades mecânicas. A forma mais
simples desse ensaio consiste na aplicação de uma força no centro
de um corpo de prova apoiado em dois pontos, a fim de fazer esse
corpo flexionar até a fratura.

Ensaio de Cisalhamento

Da mesma forma que definimos a tensão de tração no ensaio de


tração, podemos definir a tensão cisalhante no ensaio de torção,
calculada a partir da relação a seguir:

F
Tensão de cisalhamento = τ =
A0

No entanto, a força F, nesse caso, atua paralelamente à área de seção


transversal do corpo de prova (A0), ou seja, o corpo de prova sofre
escorregamento ao longo da direção da força F (Figura 6).



Figura 6 - Representação de uma tensão (carga) de cisalhamento sobre um


material
Fonte: o autor.

A deformação cisalhante, representada por γ, é definida como a


tangente do ângulo de deformação (θ).

Deformação de cisalhamento = γ = tg(θ )

UNIDADE 4 109
Deformação Elástica
e Lei de Hooke

Quando estudamos as propriedades mecânicas


dos materiais, devemos ter em mente que a defor-
mação observada em um material é dependente
da tensão aplicada a ele. Na maioria dos materiais
metálicos, a deformação e a tensão de tração (ou
compressão) são proporcionais entre si, para va-
lores de tensão relativamente baixos e dentro da
região elástica (faixa linear de deformação).

Módulo de Elasticidade

A proporcionalidade entre a tração e a deforma-


ção de engenharia é descrita pela Lei de Hooke.
s  E

A partir dessa relação, podemos perceber que a


tensão de engenharia s é igual à deformação de
engenharia ∈ multiplicada por E, que é a cons-
tante de proporcionalidade, conhecida como mó-
dulo de elasticidade ou módulo de Young, cuja
unidade no SI é GPa (gigapascal).
A determinação do módulo de elasticidade
pode ser feita a partir da curva de s- ∈ do mate-
rial, calculando-se a inclinação da curva E  s
na região elástica (inclinação da reta). 

110 Propriedades Mecânicas


Na Figura 7, vemos a região elástica da curva de Nos metais e ligas metálicas, o tamanho de
s- ∈ para um material genérico, o módulo de elas- grão e outras características microestruturais têm
ticidade é determinado dividindo-se a tensão pela pouca influência no módulo de elasticidade, por-
deformação, ou seja, o módulo de elasticidade do tanto o módulo de elasticidade nesses materiais
material é o coeficiente angular da reta que repre- é considerado insensível à microestrutura. Em
senta a região elástica do material na curva s- ∈ . contrapartida, o módulo de elasticidade nas ce-
râmicas é fortemente dependente da porosidade
de sua estrutura.
O módulo de elasticidade diminui com o au-
mento da temperatura. Para os metais e para as
cerâmicas, os valores do módulo de elasticidade
são próximos, já os polímeros possuem valores
Tensão

Inclinação = E bem menores.


Além disso, a rigidez de um componente está
relacionada com seu módulo de elasticidade e tam-
bém com as dimensões desse componente. Isso
Deformação significa que um componente feito de um material
com elevado módulo de elasticidade apresentará
Figura 7 - Região elástica da curva de tensão versus de-
formação uma deformação menor quando submetido a uma
Fonte: o autor. tensão que cause somente deformações elásticas,
do que um material com um módulo de elasticida-
O módulo de elasticidade E é uma propriedade de menor (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
mecânica estritamente ligada às energias de liga- Os valores do módulo de elasticidade para al-
ção atômicas do material, por essa razão, materiais guns metais à temperatura ambiente podem ser
com elevadas forças de ligação geralmente pos- encontrados na Tabela 1, dados em GPa e em psi,
suem valores elevados de módulo de elasticidade. outra unidade muito utilizada.

Tabela 1 - Módulo de elasticidade e de cisalhamento e coeficiente de Poisson para alguns metais à temperatura ambiente
Conversão: 1 GPa = 109 Pa

Módulo de Elasticidade Módulo de Cisalhamento Coeficiente


Liga Metálica Gpa 106 psi Gpa 106 psi de Poisson
Alumínio 69 10,0 25 3,6 0,33
Latão 97 14,0 37 5,4 0,34
Cobre 110 16,0 46 6,7 0,34
Magnésio 45 6,5 17 2,5 0,29
Níquel 207 30,0 76 11,0 0,31
Aço 207 30,0 83 12,0 0,30
Titânio 107 15,5 45 6,5 0,34
Tungstênio 407 59,0 160 23,2 0,28

Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwish (2013).

UNIDADE 4 111
Substituindo esses dados na equação de ∆ l :
01 EXEMPLO
sl0 (200.106 Pa)(300 mm)
Calcule a variação de comprimento (Δl) sofri- l  
E (107.109 Pa)
da por uma peça de titânio, com comprimento
original de 300 mm, submetida a uma tensão de (200.106 Pa )(300 mm)
l 
tração com intensidade 200 ⋅ 106 Pa. Considere a (107.109 Pa )
deformação completamente elástica. (200.106 )(300 mm)
l 
(107.109 )
Resolução
Uma vez que a deformação é elástica e o material
deformado é um metal, podemos utilizar a Lei de l  0, 56 mm
Hooke para solucionar esse problema.
Para uma tensão de cisalhamento, um comporta-
s  E mento similar é observado. Nesse caso, a deforma-
Além disso, sabemos que a deformação é dada por: ção cisalhante é proporcional à tensão cisalhante
aplicada dentro da região de deformação elástica.
l
 A relação que descreve esse comportamento é
l0
similar a Lei de Hooke.
E, relacionando essas equações, obtemos:
τ = Gγ
l
sE Na relação acima, G é o módulo de cisalha-
l0
mento, que é a inclinação (coeficiente angular)
Isolando o termo Δl, temos? do gráfico de tensão cisalhante por deformação
cisalhante. Os valores para G para alguns metais
sl0
l  podem ser encontrados na Tabela 1.
E
Os valores do comprimento original (l0) e da ten-
são de tração (σ) foram dados no enunciado do
problema.
Até o dado momento, consideramos que a de-
formação elástica ocorre instantaneamente, ou
seja, a tensão aplicada deforma o material ime-
O valor do módulo de elasticidade para o titânio diatamente após ser aplicada e da mesma forma
é obtido na Tabela 1, e vale: o material volta à sua forma original imediata-
mente após essa tensão ser retirada. Contudo,
9
=E 107
= GPa 107.10 Pa em muitos casos, ao retirarmos a tensão que
causou a deformação elástica em um material,
este leva um certo tempo para retornar a sua
forma original. Esse comportamento recebe o
nome de anelasticidade.

112 Propriedades Mecânicas


Coeficiente de Poisson

Até esse ponto, consideramos que a aplicação de uma tensão (de tração ou compressão) em um material
causa uma variação do comprimento (estiramento ou compressão) apenas na direção de aplicação
dessa tensão. Entretanto, quando uma tensão, seja de tração ou compressão, é aplicada em um material,
este sofre variações nas demais direções, além da direção da tensão.
Então, uma barra submetida a uma tensão de tração sofre um aumento de suas dimensões na
direção dessa tensão e, em contrapartida, sofre uma diminuição de suas dimensões nas demais di-
reções. No caso de uma tensão de compressão, a barra sofre uma diminuição na direção da tensão e
um aumento nas demais direções.
Esse comportamento é melhor definido em termos da deformação; nesse âmbito, dividimos o material
estudado nas direções dos eixos x, y e z. Assim, temos as respectivas deformações ∈x, ∈y e ∈z.
As deformações ∈x e ∈y nas direções de x e y podem ser determinadas se o material for isotrópico
e a tensão aplicada for uniaxial (somente na direção de z). Nesse caso ∈x = ∈y, pode-se definir um
parâmetro adimensional denominado coeficiente de Poisson.
lateral
Coeficiente de Poisson  n  
longitudinal

Ou, em termos dos eixos x e y:


x y
n  n 
z z

Os sinais negativos estão incluí-


dos nas fórmulas, pois as defor-
mações transversais (laterais) 


possuem sinais opostos às de- Relações para a deformação

formações longitudinais; dessa em cada eixo

forma, um material se contrai 
lateralmente quando sofre uma Є 

tensão de tração longitudinal e se

expande transversalmente quan- Є 

do sofre uma tensão de compres-

são longitudinal. Na Tabela 1, 
temos o valor do coeficiente de Є 

Poisson para alguns metais. 
Na Figura 8, podemos ver o 
efeito de constrição causado por
uma tensão de tração σ na di- 
reção do eixo z em um material Figura 8 - Representação da deformação elástica causada por uma tensão de tração
de seção transversal retangular. Fonte: o autor.

UNIDADE 4 113
Nesse caso, há um alongamento do material no sentido do eixo z equivalente a Δlz e a compressão
do material no sentido dos eixos x e y, equivalentes a Δlx e Δly, respectivamente. As relações para o
cálculo das deformações do material na direção de cada eixo encontram-se descritas na Figura 8.

02 EXEMPLO
Determine a força necessária para produzir uma mudança de 3.10-3 mm no diâmetro de um cilindro
de cobre, cujo diâmetro original mede 9 mm. Sabe-se que a tensão de tração aplicada é perpendicular à
área de seção transversal circular do cilindro e a deformação gerada é totalmente elástica.

Resolução
A representação da situação é a seguinte:

Após a aplicação de
Antes da aplicação de tensão de tração
tensão de tração



 

z

x 

Figura 9 - Esquematização do Exemplo 2


Fonte: o autor.
Δ  - 
Є   
 

Antes da aplicação da tensão de


Δ  -   
tração, o cilindro possui um diâ- Є   
 
metro l0 x=9 mm. Com a aplica-
ção de uma força F no sentido do
eixo z, o cilindro se expande no z
mesmo sentido e se contrai no
sentido do eixo x (direção radial). x
As deformações nos senti-
dos dos eixos x e z podem ser
determinadas a partir das rela- Figura 10 - Esquematização do Exemplo 2
Fonte: o autor.
ções apresentadas na Figura 10.

114 Propriedades Mecânicas


Do enunciado do problema, temos que:

l0 x  9 mm
Dl x  3  103 mm

Observa-se que o valor de Dl x é negativo, pois a barra está sofrendo uma constrição no eixo x, ocasio-
nada pela tensão de tração aplicada no eixo z. Com essas informações, primeiramente, vamos calcular
a deformação na direção de x:

∆l x −3.10−3 mm
∈x = =
l0 x 9 mm
−3.10−3 mm
∈x =
9 mm

∈x = −3, 33.10−4 Deformação no eixo x

O sinal de negativo na deformação significa que ocorre uma constrição na direção do eixo x.
Considerando que o material seja isotrópico, podemos determinar a deformação na direção de z a partir
do coeficiente de Poisson, cujo valor para o cobre é ν = 0,34, obtido da Tabela 1. Da definição de ν, temos:

x
n 
z

Isolando o termo da deformação em z e substituindo os dados encontrados:

∈x (−3, 33.10−4 )
∈z = − =−
ν 0, 34

∈z = 9, 79.10−4 Deformação no eixo z

Com o valor da deformação na direção de z e com o módulo de elasticidade E, podemos calcular o


valor da tensão de tração necessária a esse processo a partir da Lei de Hooke. O valor do módulo de
elasticidade E pode ser encontrado na Tabela 1, e para o cobre vale E = 110 GPa = 110.109 Pa.

σ = E ∈z
σ = (110.109 Pa)(9, 79.10−4 )
Tensão de tração
na direção de z
σ = 107, 69.106 Pa

UNIDADE 4 115
E, finalmente, com o valor da tensão de tração na direção de z, podemos determinar a força F ne-
cessária para causar a constrição desse cilindro a partir da definição de tensão de engenharia:

F
s  F  s A0
A0

2
2 l 
A área de seção transversal é circular, portanto, A0  pr  p  0 x  , então
 2 
2
l 
F = σ A0 = σπ  0 x 
 2 
2
6  9.10−3 m 
F = (107, 69.10 Pa)(3, 1416)   Pa equivale a N/m 2
 2
 
2
 9.10−3 m 
F = (107, 69.106 N/m2 )(3, 1416)  
 2
 
F = (107, 69.106 N/ m2 )(3, 1416)(2, 025.10−5 m2 )
F = 6850, 9 N

que pode ser arredondado para,

F = 6851 N

Os módulos de elasticidade E e de cisalhamento G podem ser relacionados entre si e com o coeficiente


de Poisson, em materiais isotrópicos, pela equação a seguir.
E  2G (1  n )

Os polímeros de estrutura amorfa, quando submetidos a cargas (tensões), podem se comportar,


em temperaturas baixas, como um vidro e, em temperaturas elevadas, como um líquido viscoso.
Já em condições intermediárias de temperatura (acima da transição vítrea), esses materiais apresen-
tam uma deformação elástica instantânea quando uma tensão é aplicada ou liberada subitamente.
Em contraste a isso, caso a tensão seja aplicada gradualmente, a deformação observada no material
é do tipo viscosa, o material parece um líquido altamente viscoso escoando. Esses materiais são
chamados de viscoelásticos.
Fonte: adaptado de Callister Jr. e Rethwish (2013).

116 Propriedades Mecânicas


Deformação
Plástica

Neste tópico, aprofundaremos nossos estudos,


conhecendo as propriedades mecânicas relacio-
nadas à deformação plástica dos materiais. Inicia-
remos o tópico com uma breve discussão sobre a
deformação plástica em materiais, seguindo com
os estudos do limite de resistência, ductilidade,
tenacidade e as demais propriedades mecânicas
envolvidas com a deformação plástica.
Os materiais metálicos e poliméricos sofrem
deformação elástica até um certo ponto; os me-
tais, por exemplo, sofrem deformação elástica até
valores de aproximadamente 0,005. Conforme es-
ses materiais ultrapassam a região de deformação
elástica, a Lei de Hooke não é mais válida, e a par-
tir desse ponto eles sofrem uma deformação irre-
versível, ou seja, uma deformação plástica. Nessa
situação, mesmo que a tensão que deu origem a
essa deformação cesse, o material não voltará a sua
forma original. Já os materiais cerâmicos, quase
sempre, fraturam antes mesmo de começarem a
sofrer uma deformação plástica.
Atomicamente, durante uma deformação
plástica, as ligações entre os átomos vizinhos que
formam o material são quebradas, em seguida,
são formadas novas ligações com novos átomos
vizinhos, conforme ocorre a movimentação dos

UNIDADE 4 117
átomos em relação uns com os outros. Dessa for-
ma, mesmo que a tensão seja removida, os átomos
não voltarão a suas posições originais, consequen-
temente, o material permanecerá deformado.
O mecanismo da deformação plástica para
Tenha sua dose extra de
materiais cristalinos é baseado no processo de
conhecimento assistindo ao
escorregamento; em outras palavras, na movi- vídeo. Para acessar, use seu
mentação das discordâncias do material. Já para leitor de QR Code.
os materiais amorfos (não cristalinos), o mecanis-
mo de deformação plástica envolve o escoamento
viscoso desse material.

Limite de Escoamento

Durante o planejamento de projetos de engenharia, é importante assegurar que as estruturas projetadas


sofram apenas deformações elásticas quando elas forem submetidas a cargas (tensões). Isso porque as
estruturas podem não funcionar da forma adequada como foram projetadas, caso sofram deformações
plásticas. Por essa razão, é importante conhecermos o limite entre a deformação elástica e a deforma-
ção plástica dos materiais utilizados em um projeto; em outras palavras, devemos saber qual é a carga
máxima que o material suporta sem sofrer uma deformação plástica (irreversível).
Em outros casos, a deformação plástica pode ser desejada, como é o caso da fabricação do chassi
de um automóvel, na qual é necessário a aplicação de tensões altas o suficiente para deformar perma-
nentemente as chapas metálicas que formarão o chassi desse automóvel.
Ao valor crítico de tensão necessário para causar a deformação plástica em um material dá-se o
nome de limite elástico. Estruturalmente, essa é a tensão necessária para dar início à movimentação
das primeiras discordâncias em materiais metálicos; enquanto nos materiais poliméricos, essa é a tensão
responsável pelo desembaraço das cadeias de moléculas poliméricas ou deslizamento dessas cadeias,
iniciando uma deformação plástica.
Outro termo comumente aplicado é o termo limite de proporcionalidade, que representa o valor
de tensão acima do qual a relação entre tensão e deformação não é mais linear. Para muitos materiais,
os valores do limite elástico e do limite de proporcionalidade são muito próximos; entretanto, ambos
os parâmetros são difíceis de serem determinados.
Para superar essas dificuldades, foi convencionado um outro parâmetro para definir o limite entre
a deformação elástica e a deformação plástica em materiais. Esse parâmetro é chamado de limite de
escoamento, representado por σe e determinado pela intersecção entre a curva de tensão por defor-
mação do material e uma reta paralela a ela na região elástica com origem no ponto (0,002, 0), como
representado na Figura 11, na qual podemos ver também o limite de proporcionalidade (tensão no
ponto P) e a deformação no limite de escoamento ∈e.

118 Propriedades Mecânicas


Alguns materiais, por exemplo
Linear Não linear
os aços de baixo teor de carbo-
no, apresentam uma transição
σ
marcante entre a região elástica
e a região plástica. Nesses casos,
o material apresenta dois limites Limite de
escoamento
de escoamento, um superior e P
um inferior. O que ocorre é
que esses materiais deveriam

Tensão
se deformar plasticamente na
tensão do limite de escoamento
inferior; entretanto, a existência
de pequenos átomos ao redor Retas com a mesma
das discordâncias atrapalham inclinação
o deslizamento e, por conse-
0
quência, aumentam o limite de Deformação
escoamento do material (limite 0 0,002 Є
de escoamento superior) (AS- Figura 11 - Representação do comportamento elástico e plástico de um material
KELAND; WRIGHT, 2015). Fonte: o autor.

Limite de Resistência a Tração

O limite de resistência à tração é a tensão máxima na curva de tensão-deformação do material


representado por LRT. Esse limite representa o valor máximo de tensão de tração suportada pelo
material, e caso uma tensão com essa intensidade seja aplicada e mantida sobre o material, ocorrerá a
fratura dele. Materiais com altos valores de limite de resistência à tração são ditos materiais resistentes.
Na maioria dos materiais dúcteis, a deformação não é uniforme, ocorrendo uma deformação maior
em uma região do que em outras, causando uma diminuição da área transversal do material a partir
do LRT. Esse fenômeno de formação de “pescoço” no material é conhecido como estricção ou empes-
coçamento. Como a força necessária para continuar a deformação diminui, devido à área transversal
do corpo de prova sofrer uma redução, e a área transversal A0 da tensão de engenharia ser constante,
a tensão de engenharia também diminui após o ponto do LRT.

Ductilidade

A ductilidade é uma propriedade mecânica muito importante. Ela é a medida do grau de deformação
plástica suportado por um material antes da fratura. Sua importância se dá principalmente em projetos
de componentes que devem suportar esforços mecânicos, como no caso do processamento de barras,
fios, placas, vigas etc.

UNIDADE 4 119
Duas formas comuns de medir a ductilidade dulo de elasticidade diminuem com o aumento
são utilizadas, sendo uma delas o alongamento da temperatura, enquanto a ductilidade aumenta
percentual, que quantifica a deformação plástica com o aumento da temperatura.
sofrida pelo material até ocorrer a fratura, descon-
siderando a deformação elástica. Para esse cálculo,
são utilizados os valores das distâncias de referên- Resiliência
cia do corpo de prova antes da aplicação da tensão
de tração (l0) e depois da fratura do corpo de prova. A resiliência é a capacidade de um material per-
O cálculo do alongamento percentual pode mitir a recuperação da energia absorvida durante
ser escrito como o processo de deformação elástica, após a remo-
ção da carga. Essa propriedade está associada ao
 l f  l0  módulo de resiliência, simbolizado por Er, que
% Alongamento  % Al     100
 l0  é definido como a energia de deformação por
unidade de volume necessária para tensionar o
onde lf é a distância máxima entre os pontos de material desde um estado livre da aplicação de
referência do corpo de prova imediatamente antes cargas (tensões) até o seu limite de escoamento.
da fratura. O cálculo do módulo de resiliência pode ser
Outra forma comum de medida da ductilidade realizado para um corpo de prova submetido a
é a redução percentual de área, que descreve a uma carga de tração uniaxial (ensaio de tração),
redução percentual da área de seção transversal utilizando a seguinte equação
do corpo de prova antes da aplicação da tensão e
e
imediatamente antes da fratura. A equação para Er   s d 
0
o cálculo da redução percentual de área é:
Assumindo a região de deformação elástica com-
pletamente linear, a relação fica da seguinte forma
 A0 − A f 
%Redução de Área = % RA =   ⋅ 100
 A0  1
Er  se e
2
onde A0 é a área de seção transversal do corpo de Nas quais σe e ∈e são, respectivamente, a tensão
prova antes do alongamento e Af é a área de se- de tração e a deformação no limite de escoamento
ção transversal do corpo de prova imediatamente (Figura 11). As unidades de Er no SI são J/m³, ou
antes da fratura. seja, energia por volume. Substituindo a Lei de
Os materiais que sofrem uma deformação Hooke na relação anterior, obtemos:
plástica muito pequena ou nenhuma deformação
1 1  se  se 2
plástica antes da fratura são denominados frágeis. Er  se e  se   
2 2  E  2E
O limite de escoamento, limite de resistência
à tração e ductilidade são propriedades sensíveis Com esse resultado, vemos que os materiais re-
à presença de impurezas, deformações anteriores silientes são aqueles que possuem módulos de
e tratamentos térmicos aos quais o material tenha elasticidade baixos e limite de escoamento altos.
sido submetido. Quanto à temperatura, o limite de Um exemplo do emprego de materiais resilientes,
escoamento, limite de resistência à tração e o mó- como algumas ligas metálicas, é a mola.

120 Propriedades Mecânicas


Tenacidade Dureza

A tenacidade, conhecida também como energia A última propriedade mecânica que iremos estu-
de fratura, representa a quantidade de energia ab- dar nesta unidade é a dureza. Essa propriedade
sorvida por um material antes dele fraturar; dessa é a medida da resistência de um material a uma
forma, em uma curva de tensão-deformação, po- deformação plástica localizada, por exemplo, ris-
demos determinar a tenacidade calculando a área cos em um material.
sob essa curva até o ponto de ruptura (fratura). É Diferentemente das propriedades anteriores,
uma das principais propriedades para os materiais a avaliação da dureza de um material é feita por
estruturais e suas unidades da resiliência, energia meio de ensaios de dureza, que consistem na ava-
por volume (J/m³). Para que um material seja te- liação da resistência da superfície de um material
naz, ele deve ser resistente (módulo de elasticidade à penetração por um objeto rígido. Existem vários
elevado) e dúctil ao mesmo tempo. ensaios de dureza, cada um possui uma metodo-
Na Figura 12, podemos ver a curva de ten- logia diferente de análise e escalas próprias de
são-deformação para um material frágil e para dureza. Por essa razão, os valores de dureza obti-
um material dúctil. Nesse caso, o material frágil dos para cada ensaio são relativos. Os dois mais
apresenta um maior limite de escoamento e limite populares são os ensaios de Brinell e de Rockwell,
de resistência à tração. Entretanto, a área abaixo da que são durezas do tipo penetração; existe ainda
curva para o material dúctil (área rosa) é maior do dureza do tipo risco e dureza do tipo choque ou
que a área abaixo da curva para o material frágil ressalto, que não serão abordadas neste material.
(área roxa), portanto a tenacidade do material No ensaio de Brinell, uma esfera rígida de aço
dúctil é maior do que a tenacidade do material endurecido (ou carbeto de tungstênio) é forçada
frágil. sobre a superfície do material que se deseja de-
terminar a dureza. A esfera de aço possui elevada
dureza (muito superior a 800 HB) e um diâmetro
Material D de 10 mm. O diâmetro da impressão (Di) cau-
Frágil Material sada pela esfera no material é medido, e a dureza
Dúctil
pode ser calculada a partir da equação:

2F
HB 
p D  D  D2  Di 2 
Tensão

 

Na qual F é a carga utilizada no ensaio dada em


quilogramas (kg), D é o diâmetro da esfera de
aço em milímetros (mm) e Di é o diâmetro da
impressão na superfície do material em milíme-
Deformação tros (mm). Portanto, a dureza de Brinell, HB, tem
unidades kg/mm².
Figura 12 - Curvas de tensão-deformação para dois mate- A Figura 13(a) mostra onde são medidos os
riais distintos diâmetros D, da esfera de aço, e Di, da impressão
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 143).
na superfície do material.

UNIDADE 4 121

 
Superfície do
material testado


Profundidade Profundidade


(a) (b)

Figura 13 - Representação da superfície de um material e dos penetradores para o (a) ensaio de Brinell e (b) ensaio de Rockwell
Fonte: o autor.

Para o ensaio de Rockwell, é utilizado, como material Concluímos aqui nossa Unidade 4, na qual
penetrador, uma esfera de aço para os materiais mais foram abordadas as propriedades mecânicas dos
macios e um cone de diamante para os materiais materiais. Pudemos observar que quase todos os
mais duros. A esfera de aço, ou o cone de diamante, equipamentos, estruturas e componentes proje-
são pressionados pela aplicação de uma determina- tados são submetidos a cargas, e que o ensaio de
da carga contra a superfície do material que se de- tração é um dos testes mais importantes no que
seja medir a dureza. Um esquema representativo do diz respeito a dados para projetos estruturais. Dele
ensaio de Rockwell pode ser visto na Figura 13(b). são retiradas muitas informações sobre as pro-
A dureza do material é determinada pelo equi- priedades mecânicas de um material.
pamento de teste de acordo com a profundidade Vimos que um material, quando submetido
atingida pelo material penetrador no corpo de a uma carga, sofre uma deformação, que pode
teste. A dureza de Rockwell é adimensional, ou ser temporária e cessar ao se retirar a carga que a
seja, não possui unidades. originou, deformação elástica, ou pode ser per-
A dureza de um material reflete bem sua resis- manente, persistindo mesmo após a retirada da
tência ao desgaste superficial, e dentre as classes carga que a originou, deformação plástica.
de materiais, os polímeros são os materiais menos A partir desse embasamento, conseguimos de-
duros (mais macios), os metais são intermediários finir, entender e calcular as propriedades mecâ-
na dureza e as cerâmicas são extremamente duras. nicas mais importantes para projetos estruturais,
A propriedade dureza é especialmente importan- são elas: limite de escoamento, limite de resistên-
te em casos nos quais o material empregado na fabri- cia à tração, ductilidade, resiliência e tenacidade
cação de um componente ou equipamento necessita e dureza. Espero que você tenha aproveitado esse
resistir ao desgaste causado durante sua operação, conteúdo, aguardo você na nossa próxima unidade.
por exemplo um moinho de grãos, um triturador de
minérios ou, ainda, os dentes de uma engrenagem
que precisam resistir ao seu uso constante.

122 Propriedades Mecânicas


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. (Adaptada de ENADE – 2011) Os ensaios mecânicos, como o ensaio de tração,


fornecem informações sobre as propriedades mecânicas dos materiais, quando
submetidos a esforços externos, expressos na forma de tensões e deformações.
Basicamente, o comportamento mecânico dos materiais depende da composição
química, da microestrutura, da temperatura e das condições de carregamento.
Tais informações são fundamentais para que o engenheiro projetista possa
selecionar os materiais que contemplem as especificações mecânicas estabe-
lecidas no projeto.
Considerando o exposto, analise as afirmações a seguir:
I) O módulo de tenacidade é uma medida da energia requerida para causar a
ruptura de um material.
II) A partir do ponto do limite de escoamento, o material entra em colapso e
deforma-se permanentemente, terminando com a fratura desse material.
III) O limite de resistência à tração é caracterizado como a tensão máxima na
curva de tensão-deformação do material, e caso uma tensão com essa in-
tensidade, ou superior, seja aplicada e mantida sobre o material, ocorrerá a
fratura dele.
IV) A capacidade de um material recuperar a energia absorvida, durante o pro-
cesso de deformação elástica, após a remoção da carga que gerou essa
deformação, é denominado ductilidade.

São corretas apenas as afirmativas:


a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) III e IV.
d) I e IV.
e) I, III e IV.

123
2. A dureza é uma propriedade importante na metalurgia, utilizada na especificação,
na comparação e nos estudos dos materiais. A respeito da propriedade dureza,
avalie as afirmativas a seguir.
I) Para o ensaio de dureza Rockwell, são utilizados dois penetradores; uma esfera
de aço para os materiais mais macios e um cone de diamante para os materiais
mais duros, que são pressionados contra a superfície do material avaliado.
II) Tanto a dureza Rockwell quanto a dureza Brinell são determinadas pelo
equipamento de teste de acordo com a profundidade atingida pelo material
penetrador no corpo de teste.
III) A dureza é a medida da resistência de um material a uma deformação plástica
localizada, por exemplo, riscos em um material, e ela é avaliada com ensaios
de dureza, que consistem na avaliação da resistência da superfície de um
material à penetração por um objeto rígido.
IV) No ensaio de dureza de Brinell, uma esfera rígida de aço é forçada sobre a
superfície do material que se deseja determinar a dureza e a dureza é cal-
culada de acordo com o diâmetro de impressão deixado por essa esfera na
superfície do material.

São corretas apenas as afirmativas


a) I, II e III.
b) I, II, IV.
c) II, III e IV.
d) I, III e IV.
e) I, II, III e IV.

124
3. Quando estudamos as propriedades mecânicas dos materiais, devemos ter em
mente que a deformação observada em um material é dependente da tensão
aplicada a esse material; na maioria dos materiais metálicos, por exemplo, a
deformação e a tensão de tração são proporcionais, entre si, para valores de
tensão relativamente baixos. Sabendo disso, qual seria a variação de comprimen-
to (Δl) sofrida por uma peça de cobre, com comprimento original de 400 mm,
causada por uma tensão de tração com intensidade 150 ⋅ 106 Pa, considerando
a deformação totalmente elástica?
a) 0,75 mm.
b) 0,54 mm.
c) 0,35 mm.
d) 0,64 mm.
e) 0,44 mm.

125
WEB

Esse site traz informações sobre o ensaio de tração e as propriedades mecânicas


obtidas a partir desse ensaio. Além disso, o site disponibiliza um vídeo de um
ensaio de tração sendo realizado em um metal.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

126
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson, 2010.

JAMES, M. G. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Editora Pioneira Thompson Learning, 2003.

127
1. A.

A alternativa IV está incorreta, pois a capacidade de um material de recuperar a energia absorvida, durante
o processo de deformação elástica, após a remoção da carga que gerou essa deformação, é denominado
resiliência.

2. D.

A alternativa II está incorreta, pois a dureza Rockwell é determinada pelo equipamento de teste de acordo
com a profundidade atingida pelo material penetrador no corpo de teste.

3. B.

Uma vez que a deformação é elástica e o material deformado é um metal, podemos utilizar a Lei de Hooke
para solucionar esse problema.

s  E
e

l

l0
Então

l
sE
l0
Isolando Δl:

sl0
l 
E
O módulo de elasticidade (E) do cobre pode ser encontrado na Tabela 1, e os demais dados foram forne-
cidos no enunciado do exercício:

E  110 GPa =110  10 9 Pa


l0  400 mm
s  150  10 6 Pa

Substituindo na equação, obtemos:

sl0 (150  10 6 Pa)( 400 mm)


l  
E (110  10 9 Pa)
(150  10 6 Pa )( 400 mm)
l 
(110  10 9 Pa )

l  0, 54 mm

128
129
130
Me. Luis Henrique de Souza

Falhas em
Materiais Sólidos

PLANO DE ESTUDOS

Fadiga

Fratura Fluência

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Entender o que é a falha nos materiais, bem como apre- • Entender o que é o mecanismo pelo qual ocorre a falha
sentar os tipos de fratura e a mecânica envolvida neles. por fluência em materiais.
• Estudar a falha por fadiga e o mecanismo pela qual essa
falha ocorre.
Fratura

Nesta unidade, será abordado o tema de falhas dos


materiais. Começaremos estudando o tópico rela-
cionado à fratura, no qual entenderemos o que é
uma fratura frágil e uma fratura dúctil, quais são os
fundamentos envolvidos nesses tipos de falhas que
podem ocorrer tanto em materiais frágeis quanto
dúcteis. Veremos que a existência de defeitos nos
materiais pode acabar concentrando tensões nes-
ses materiais e, dessa forma, ocasionar sua fratura.
Aprenderemos a determinar a tenacidade à
fratura em deformação plana e entender sua re-
lação com a temperatura, taxa de deformação e
tamanho dos grãos que compõem o material.
Quando mencionamos a palavra “falha”, enten-
demos que um evento ruim aconteceu. Na ciência
dos materiais, as falhas são eventos indesejáveis,
por razões como vidas humanas colocadas em
risco, prejuízo econômico e a interferência da dis-
ponibilidade de serviços e produtos.
Muitas vezes, o comportamento dos materiais
e as causas das falhas são conhecidas, mesmo as-
sim a prevenção contra elas é difícil de ser garan-
tida. Geralmente, as falhas estão relacionadas ao
processamento incorreto do material, a escolha
errada de materiais para um determinado projeto, bre o material, e o tipo de fratura está fortemente
a projetos mal elaborados ou, ainda, a má utiliza- relacionado com o mecanismo de propagação
ção de um componente. Além disso, os compo- das trincas.
nentes estruturais de um projeto podem sofrer Na fratura dúctil, é observada uma grande
danos durante a operação, que comprometam a deformação plástica na região de propagação de
sua integridade, por essa razão, é importante a uma trinca, que prossegue lentamente conforme
inspeção regular e o reparo ou substituição desses o comprimento da trinca aumenta. Ela é, muitas
componentes para a segurança do projeto. vezes, chamada de estável, pois resiste a qualquer
Como engenheiros, somos responsáveis pela aumento adicional, desde que não seja aumentada
segurança durante toda a vida útil de um projeto; a tensão.
sendo assim, devemos antecipar e considerar as Na fratura frágil, por outro lado, a propagação
possíveis falhas que possam ocorrer e, caso ocor- das trincas ocorre rapidamente e com pouca ou
ram, devemos avaliar a sua causa e tomar as devidas nenhuma deformação plástica. Além disso, após
medidas de prevenção contra futuros incidentes. formadas as trincas, elas se propagam continua-
mente mesmo que a tensão não seja aumentada.
Portanto, as fraturas dúcteis são preferíveis em
Fundamentos da Fratura relação às fraturas frágeis, pois uma fratura frá-
gil ocorre repentinamente, sem sinais de aviso, e
A fratura de um material consiste na separação de quase sempre seus resultados são catastróficos,
um corpo em duas ou mais partes como resultado ao passo que nas fraturas dúcteis a deformação
da aplicação de uma tensão contínua e de intensi- plástica observada serve de alerta para uma pos-
dade constante, ou por uma tensão contínua com sível fratura, permitindo que medidas preventivas
uma intensidade que varia lentamente ao longo do sejam tomadas.
tempo. Além disso, a fratura pode ser resultado, Os materiais que sofrem fratura dúctil sob
também, da fadiga do material, ou da fluência, a ação de uma tensão de tração são os metais e
ambos serão estudados ainda nesta unidade. suas ligas. As cerâmicas são materiais tipicamente
Apesar das tensões de tração, compressão, ci- frágeis, e os polímeros podem apresentar vários
salhamento e as torções serem capazes de originar comportamentos durante a fratura (CALLISTER
fraturas, concentraremos nossos estudos apenas JR.; RETHWISCH, 2013).
nas fraturas que ocorrem devido a tensões de tra-
ção que atuam em apenas um eixo (uniaxiais).
Dois modos de fraturas são possíveis nessas con- Fratura Dúctil
dições: a fratura dúctil e a fratura frágil. Na fratura
frágil, o material sofre pouca ou nenhuma deforma- Quando tratamos de fraturas dúcteis, existem
ção plástica antes de romper. Já na fratura dúctil, há dois perfis macroscópicos para a superfície do
uma deformação plástica significativa unida a uma material fraturado, ambos apresentados na Figura
grande absorção de energia antes da fratura. 1. Materiais extremamente dúcteis, por exemplo
Os processos de fratura envolvem duas etapas: metais puros, como o ouro e o chumbo, apresen-
uma etapa de formação de trincas no material e tam no pescoço uma diminuição da área de seção
outra etapa de propagação dessas trincas. Ambas transversal de até 100%, alcançando uma fratura
as etapas resultam da aplicação de uma tensão so- pontual, como podemos ver na Figura 1(a).

UNIDADE 5 133
A Figura 1(b) apresenta o perfil mais comum de fratura dúctil, na fície produzida na fratura frágil
qual uma quantidade moderada de empescoçamento é observada é relativamente plana, como po-
antes da fratura. Durante o início do processo de empescoçamento, demos observar na Figura 1(c),
várias cavidades se formam na seção transversal. Na sequência, essas na qual não há nenhuma defor-
cavidades aumentam de tamanho e se encontram umas com as ou- mação plástica apreciável nem
tras, formando uma trinca elíptica, cujo maior raio é perpendicular empescoçamento.
à direção de atuação da tensão. A trinca continua crescendo con- Na maioria dos materiais
forme novas cavidades a alcançam e, por fim, a fratura ocorre pela cristalinos frágeis, a propagação
propagação da trinca ao redor do perímetro externo do pescoço. da trinca é resultado da quebra
sucessiva e repetida de ligações
atômicas ao longo dos planos
cristalográficos no pescoço do
material; a esse processo dá-se o
nome de clivagem. Como as trin-
cas da fratura passam por meio
dos grãos que formam o material,
essa fratura é chamada de trans-
granular ou transcristalina.
Em outros materiais, a pro-
pagação das trincas ocorre ao
longo dos contornos de grãos,
e esse processo recebe o nome
de intergranular e acontece,
geralmente, com materiais que
(a) (b) (c) sofreram algum processo que
causou a baixa da resistência ou
Figura 1 - Representação do comportamento macroscópico de um material
sob fratura
a fragilização das regiões dos
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 202). contornos de grão.
Na temperatura ambiente,
Para um melhor detalhamento sobre o mecanismo de fratura de tanto as cerâmicas cristalinas
um material, deve-se recorrer a análises fractográficas, utilizando quanto as não cristalinas, quase
um microscópio eletrônico de varredura, nas quais é possível obter sempre fraturam antes de sofrer
as particularidades topográficas das superfícies de fratura. qualquer deformação plástica
(fratura frágil) quando subme-
tidas a uma tensão de tração.
Fratura Frágil Os polímeros termofixos, no
geral, também sofrem fratura
Como foi mencionado anteriormente, a fratura frágil ocorre sem frágil, e sua resistência à fratura
uma deformação plástica considerável do material; além disso, ela é menor em relação aos mate-
ocorre pela rápida propagação de uma trinca. O aumento da trinca é riais cerâmicos e metálicos. Já
praticamente perpendicular à direção da tensão aplicada, e a super- nos polímeros termoplásticos, é

134 Falhas em Materiais Sólidos


possível a ocorrência de fratura dúctil e também de fratura frágil. Alguns fatores que favorecem a fratura
frágil nos polímeros termoplásticos são a redução da temperatura, aumento da taxa de deformação, pre-
sença de entalhe afilado e modificações que aumentam a temperatura de transição vítrea do polímero
(CALLISTER, JR.; RETHWISCH, 2012).

A fratura frágil é tão perigosa que, certa vez, um navio-tanque fraturou ao meio como resultado da
ação da turbulência do mar sobre um pequeno entalhe no casco do navio. As tensões causadas pela
turbulência do mar foram amplificadas nas extremidades desse entalhe, o que gerou uma pequena
trinca que foi propagada rapidamente pelo casco e resultou na fratura completa do navio ao meio.
Fonte: adaptado Callister Jr. e Rethwisch (2013).

Mecânica da Fratura

A necessidade de compreender o mecanismo da fratura, para que se possa prever falhas e evitar aci-
dentes, é a motivação do campo da ciência dos materiais, denominado mecânica da fratura, que é o
campo que trata do comportamento dos materiais que contêm trincas, pequenos poros ou microtrin-
cas. Apesar dessas imperfeições estarem presentes nos materiais utilizados em engenharia, isso não
impede a utilização desses materiais. Vale salientar que as imperfeições mencionadas não se referem
aos defeitos dos materiais, como lacunas, discordâncias etc.
A partir da mecânica da fratura, é possível quantificar as relações entre as propriedades dos materiais,
níveis de tensão, presença de imperfeições que possam gerar trincas e entender os mecanismos pelos quais
elas se propagam. Então, durante o planejamento e execução de um projeto, seremos capazes de antecipar
e, dessa forma, prevenir falhas estruturais. Neste tópico, aprenderemos a calcular a tensão máxima que um
material pode suportar caso ele tenha imperfeições de tamanho e geometria conhecidas (ASKELAND;
WRIGHT, 2015).

Concentração de tensões

Quando trabalhamos com materiais, podemos observar que a resistência à fratura teórica calculada
é sempre maior do que a resistência à fratura medida efetivamente (real). Isso se deve ao fato de que,
na superfície e no interior de todos os materiais, existem cavidades ou trincas microscópicas, e elas
contribuem para a diminuição da resistência à fratura do material, visto que uma tensão aplicada sobre
esse material pode acabar amplificada ou mesmo se concentrando na extremidade delas.

UNIDADE 5 135
Esses defeitos (microcavidades e microtrincas) Na Figura 2, podemos verificar uma placa pla-
são, muitas vezes, chamados de concentradores de na com uma trinca no seu interior e uma trinca
tensão, já que são capazes de amplificar uma ten- na sua superfície.
são aplicada sobre eles. Contudo, a amplificação σ
de tensões não acontece somente nesses defeitos
microscópicos, ela também ocorre em desconti-
nuidades internas do material, como vazios ou
inclusões, em fendas, entalhes, arranhões etc.
O efeito de um concentrador de tensões é mais 
efetivo em materiais frágeis do que nos materiais 
dúcteis, pois em materiais dúcteis, a deformação
plástica começa apenas quando o limite de escoa-
mento é ultrapassado, ocasionando uma distribui-
ção de tensões mais uniforme na vizinhança do 
concentrador de tensões, diminuindo o efeito dos 
concentradores de tensão em materiais dúcteis. Esse
efeito não ocorre em materiais frágeis em nenhuma
extensão apreciável; por essa razão, os concentrado-
res de tensão têm uma maior influência nos mate-
riais frágeis (ASKELAND; WRIGHT, 2015). σ

Figura 2 - Representação dos parâmetros de trincas em


Tenacidade à fratura um material.
Fonte: o autor.

A tenacidade à fratura é uma propriedade que O fator geométrico Y vale 1,0 para o caso do
mede a resistência de um material a uma fratura material ser uma placa plana contendo trincas
quando uma trinca está presente. Ela é calculada de comprimentos muito menores que a largura
pela relação da placa. Já para o caso de uma trinca localiza-
da na borda (superfície) da placa, o valor de Y é
K c = Y σc π a aproximadamente 1,1. Além disso, existem várias
fórmulas complexas para o cálculo do fator geo-
na qual Kc é a tenacidade à fratura; Y é um fator métrico Y, que dependem da geometria da trinca
geométrico que depende do tamanho, da geome- e do material em questão, contudo não vamos nos
tria e da localização da trinca em relação à super- aprofundar nesse assunto.
fície do material; σc é a tensão crítica necessária Para o caso particular de placas cuja espessura
para a propagação de uma trinca; e α é o tamanho é muito maior que as dimensões da trinca, o pa-
da trinca, que é a metade do diâmetro maior da râmetro Kc é independente da espessura da placa;
trinca, como podemos observar na Figura 2. As essa condição recebe o nome de deformação pla-
unidade de Kc são MPa/ m ; Y é adimensional; na. Nesse caso, quando uma tensão atua em uma
e α possui unidade de m no SI. trinca, da forma como está representado na Figura

136 Falhas em Materiais Sólidos


2, não existe nenhum componente de deformação perpendicular
às faces, posterior e anterior da placa, e o valor de Kc é conhecido
como tenacidade à fratura em deformação plana, representado
por KIc e calculado por:

K Ic = Y σ πa (a) (b)

O subscrito I (“um” em algarismos romanos) indica que o modo de


deslocamento da trinca é de abertura ou tração (Figura 3(a)). Além
desse modo de deslocamento, existe o deslocamento II, modo de
cisalhamento (Figura 3(b)), e o deslocamento III, modo de rasga-
(a) (b) (c)
mento (Figura 3(c)).
Os valores de KIc são baixos para materiais frágeis, uma vez que
eles não apresentam uma deformação plástica apreciável frente a
uma trinca em propagação e, por essa razão, eles são mais suscetí-
veis a falhas catastróficas. Em contrapartida, os materiais dúcteis
apresentam valores de KIc relativamente (a)grandes. A mecânica (b)da (c)
fratura é especialmente importante para prever falhas catastróficas
em casos em que o material possui uma ductilidade intermediária. Figura 3 - Tipos de deslocamento
da superfície de uma trinca
Os valores de tenacidade à fratura em deformação plana para alguns Fonte: Callister Jr. e Rethwisch
materiais são apresentados na Tabela 1. (2013, p. 209).

Tabela 1 - Dados de tenacidade à fratura em deformação plana e limite de escoamento para alguns materiais à temperatura ambiente

Material KIc Limite de escoamento

Liga de alumínio (7075-T651) 24 495

Liga de alumínio (2024-T3) 44 345

Liga de titânio (Ti-6Al-4V) 55 910

Aço-liga (4340 revenido a 260°C) 50,0 1640

Aço-liga (4340 revenido a 425°C) 87,4 1420

Concreto 0,2-1,4 -

Vidro a base de cal e soda 0,7-0,8 -

Óxido de alumínio 2,7-5,0 -

Poliestireno (PS) 0,7-1,1 25,0-69,0

Poli(metil metacrilato) (PMMA) 0,7-1,6 53,8-73,1

Policarbonato (PC) 2,2 62,1


Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).

UNIDADE 5 137
A tenacidade à fratura em deformação plana, Nessa situação, na qual dois parâmetros são
KIc, é um parâmetro fundamental dos materiais, definidos, como os valores de KIc e α, o terceiro
especialmente em projetos estruturais, e ela de- parâmetro, nesse caso a tensão aplicada σ, é de-
pende de muitos fatores, dentre eles, os de maior pendente deles e obtido das equações
influência são a temperatura, a taxa de deforma-
ção e a microestrutura do material. K Ic = Y σ πa
O valor de KIc:
• Diminui com a diminuição da tempe- Então, isolando-se o parâmetro que deve ser
ratura. calculado, nesse caso a tensão aplicada σ, obtemos
• Diminui com o aumento da taxa de de-
K Ic
formação. σ=
Y πa
• Aumenta com a diminuição do tamanho
dos grãos que formam o material, desde Seguindo o mesmo raciocínio, se a tensão apli-
que as demais propriedades microestru- cada σ e a tenacidade à fratura em deformação
turais sejam mantidas constantes. plana KIc forem definidos no projeto, o tamanho
máximo da trinca admissível para esse projeto
De acordo com o que vimos até agora sobre a pode ser calculada pela relação
mecânica da fratura, pudemos perceber que a te- 2
1K 
nacidade à fratura (Kc) ou tenacidade à fratura em a   Ic 
π  σY 
deformação plana (KIc), a tensão aplicada (σ) e o
tamanho da trinca (α) são variáveis fundamentais Devido à importância do estudo sobre fraturas,
para projetos estruturais. principalmente na manutenção de equipamen-
Então, assumindo que o valor de Y já tenha tos já em serviço, muitas técnicas não destrutivas
sido determinado, é importante definir quais das de avaliação de defeitos (trincas), tanto internos
variáveis apresentam restrições à sua aplicação e quanto superficiais, foram desenvolvidas. A partir
quais serão controladas pelo projeto. Por exemplo, delas, é possível analisar componentes estruturais
os valores de KIc (ou Kc) dependem dos materiais que estão em serviço, na busca por defeitos que
selecionados para o projeto que, por sua vez, são possam ocasionar uma falha prematura. Algumas
escolhidos de acordo com fatores, como a massa dessas técnicas devem ser realizadas em laborató-
específica, para aplicações que exigem baixo peso; rio, contudo, muitas delas podem ser conduzidas
e resistência à corrosão, para situações em que o no próprio ambiente em que o componente en-
material ficará exposto a um ambiente severo etc. contra-se operando.
Além disso, o tamanho da trinca, α, do material A seguir, vamos ver um exemplo da aplicação
a ser estipulado ou medido. da equação da tenacidade à fratura em deforma-
ção plana para a determinação do tamanho má-
ximo da trinca para que o material não frature
(CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013; SHAC-
KELFORD, 2013).

138 Falhas em Materiais Sólidos


01 EXEMPLO
Uma chapa plana, de grandes dimensões, feita de
aço, será utilizada para a montagem de um reator
nuclear. Sabe-se que ela deverá suportar uma ten-
são de tração operacional igual a 310 MPa. Deter-
mine o tamanho limite da trinca na superfície da
chapa para que o material não frature, sabendo
que a tenacidade à fratura em deformação plana
para essa chapa vale 87,9 MPa.

Resolução
Como foi dito, a chapa de aço possui grandes di-
mensões, e a trinca está localizada na superfície
dessa chapa, portanto, podemos assumir o parâ-
metro Y = 1,1. Então, utilizaremos a relação
2
1K 
a   Ic 
π  σY 
Substituindo os valores do enunciado na equação,
obtemos
2
1  87, 9 MPa m 
a   
p  (310 MPa)(1, 1) 
2
1  87, 9 MPa m 
a   
p  (310 MPa )(1, 1) 
2
1  87, 9 m 
a   
p  (310)(1, 1) 
1
 
2
a 0, 2578 m
p

a  0, 021 m = 21 mm

Portanto, o tamanho máximo que uma trinca lo-


calizada na superfície dessa placa pode ter é
a = 21 mm .
Fadiga

Nos projetos estruturais, podem ocorrer falhas


(fraturas) devido a outros fenômenos, por exem-
plo, a fadiga. A falha por fadiga pode ocorrer em
níveis de tensão consideravelmente inferiores ao
limite de resistência à tração do material, pois o
componente é submetido a esforços repetitivos ou
mesmo cíclicos por um longo período de tempo
e, dessa forma, a durabilidade desse componente
fica seriamente comprometida.
Formalizando, dá-se o nome de fadiga à falha
de um componente devido à aplicação repetitiva
de tensões dinâmicas e variáveis, que podem ser
maiores ou menores que o limite de escoamento
desse material. Esse tipo de falha acontece, geral-
mente, em componentes sujeitos a carregamentos
dinâmicos, como em aviões, molas, virabrequins,
pás de turbinas, implantes biomédicos e até mesmo
sapatos. Todos esses componentes estão constante-
mente sujeitos a tensões repetitivas, como tensões
de tração, compressão e cisalhamento, flexão, vi-

140 Falhas em Materiais Sólidos


bração, dilatação térmica (veremos em outra uni- tenacidade à fratura. Por essa razão, as cerâmicas
dade) etc. Geralmente, essas tensões estão abaixo são, normalmente, projetadas para suportar car-
do limite de escoamento do material, porém quan- gas estáticas, e não cíclicas.
do se repetem um número de vezes suficiente, elas
são capazes de causar a fratura do material por
fadiga (BEER; JOHNSTON JR., 2009). Tensões Cíclicas
A falha por fadiga ocorre em três etapas. Na
primeira etapa, surge uma pequena trinca na As tensões aplicadas podem ser de natureza axial
superfície do material após um longo período (tração ou compressão), de torção ou de flexão (do-
de aplicação da tensão. Elas surgem em locais de bramento). Além disso, existem, basicamente, três
descontinuidade da superfície, como entalhes ou tipos de ciclos de tensão aos quais um componente
poros e, até mesmo, em contornos de grãos. pode estar sujeito. Na Figura 4, são apresentadas as
Na segunda etapa, essas trincas começam a curvas de tensão de tração/compressão por tempo
se propagar gradualmente, a cada novo carrega- para cada um dos três tipos de ciclos de tensão.
mento ao qual o componente é submetido. Por Na Figura 4(a), vemos o ciclo de tensões al-
fim, na terceira etapa, ocorre a fratura súbita do ternadas, cuja representação segue uma função
componente quando a seção resistente está muito senoidal.
reduzida para suportar mais um carregamento Nesse tipo de ciclo, as tensões máximas, por
do ciclo. Dessa forma, os componentes podem exemplo, um tracionamento, e mínimas, como
fraturar por fadiga, pois mesmo que a tensão total uma compressão, são iguais em magnitude; além
aplicada não supere o limite de escoamento do disso, elas se alternam uniforme e repetidamen-
material, essa tensão pode superar pontualmente te, formando ciclos de tensões alternadas. Grafi-
a resistência à tração do material devido à con- camente, observamos esse comportamento em
centração de tensões. curvas de tensão por tempo, cujas amplitudes de
O fenômeno da fadiga é mais comum em máximo e mínimo são simétricas em relação ao
materiais metálicos e poliméricos. Entretanto, nível zero de tensão.
o mecanismo de fadiga nos polímeros difere do Uma situação semelhante é visualizada na Fi-
mecanismo de fadiga observado nos metais, pois gura 4(b), na qual temos um ciclo de tensões
à medida que os polímeros são submetidos a ten- repetidas; nesse caso, as tensões máximas e mí-
sões cíclicas, eles experimentam um aquecimento nimas se alternam uniforme e repetidamente,
nas pontas das trincas, e esse aquecimento esti- mas suas magnitudes não são iguais. Portanto,
mula a ocorrência de outro fenômeno conhecido são formados ciclos cuja tensão de tração tem
como fluência, que veremos adiante. uma magnitude diferente da tensão de compres-
A fadiga é praticamente desconsiderada nos são. Esse tipo de ciclo é identificado como uma
materiais cerâmicos, uma vez que esses materiais, curva cujas amplitudes máximas e mínimas são
geralmente, falham em decorrência da sua baixa assimétricas em relação ao zero de tensão.

UNIDADE 5 141
σ
Além disso, temos o intervalo de
Compressão Tração tensões, simbolizado por σi, que
+
é a diferença entre a tensão má-
Tensão

0 xima e a tensão mínima, ou seja


-

σ
si  smáx  smín
Tempo
A amplitude de tensão, σa,
(a)
que equivale à metade do in-
σ
tervalo de tensões σi.
si smáx  smín
σ sa  
σ 2 2
Compressão Tração
+

σ
E, por fim, temos a razão de ten-
Tensão

0
σ sões, R, definida como a razão en-
tre as tensões máxima e mínima.
-

Tempo

(b) smáx
R=
smín
Compressão Tração

Por convenção, as tensões de


+
Tensão

tração são sempre positivas, e


as tensões de compressão são
-

sempre negativas, o que resulta


Tempo
em uma razão de tensões R = -1
para ciclos de tensões alternadas.
(c)

Figura 4 - Gráficos das curvas de tensão por tempo


Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 219). Ensaio de fadiga

Por fim, na Figura 4(c), podemos ver o último tipo de ciclo que é A resistência à fadiga, assim
o ciclo de tensões aleatórias; neste podemos ver que as tensões como outras propriedades me-
de máximo e mínimo variam de forma não regular o tempo todo cânicas, pode ser determinada a
a cada ciclo, não mantendo padrão algum. O estudo desse tipo de partir de ensaios de laboratório,
ciclo é complexo devido ao seu caráter totalmente aleatório. nos quais o aparato de laborató-
Especificamente para o ciclo de tensões repetidas (Figura 4(b)), rio utilizado simula as condições
alguns parâmetros são definidos: o primeiro deles é a tensão média de tensão em serviço nas quais
σm que é a média entre a tensão máxima, smáx , e a tensão mínima, o componente será submetido
smín , do ciclo. quando estiver em operação.
smáx  smín A avaliação do material con-
sm 
2 siste em uma série de ensaios

142 Falhas em Materiais Sólidos


em que um corpo de teste, feito do material que se deseja avaliar,
é submetido a um ciclo de tensões, com uma amplitude máxima
de tensão (σmáx), geralmente, na ordem de dois terços do limite de
resistência à tração do material, até que esse corpo de prova falhe,
então, o número de ciclos para a falha é contado.
Esse processo de avaliação é repetido utilizando-se outros corpos
de prova idênticos e aplicando-se uma amplitude máxima de tensão
gradativamente menor, novamente contando a quantidade de ciclos
até a falha. Com os dados de tensão e do número de ciclos até a falha
obtidos nos ensaios, são plotadas as curvas, conhecidas como curvas
S-N, para o material. Nessas curvas S-N, o S é a tensão; geralmente
utiliza-se o valor da amplitude de tensão σa (podendo, em algumas
situações, ser utilizadas as tensões máximas σmáx ou mínimas σmín),
e o N é o logaritmo do número de ciclos até a falha do material.
As curvas S-N indicam que quanto maior a magnitude da ten-
são, menor é o número de ciclos que o material suportará antes de
fraturar. Na Figura 4, estão representados dois tipos comuns de
comportamento para as curvas S-N.
O primeiro tipo de comportamento é de um material que apre-
senta um limite de resistência à fadiga (Figura 5(a)). Para esses ma-
teriais, existe uma tensão limite, denominada limite de resistência
à fadiga, e para tensões abaixo desse valor, a falha por fadiga do
material não acontecerá, mesmo após um número, praticamente, in-
finito de ciclos. Acima desse limite, o número de ciclos antes da falha
(vida em fadiga) diminui com o aumento da magnitude da tensão.
Já na Figura 5(b), vemos o comportamento de um material que
não possui um limite de resistência à fadiga, ou seja, independen-
temente da magnitude do ciclo de tensão, após um determinado
intervalo de tempo, ocorrerá a falha por fadiga do material. Nesse
caso, conforme a amplitude de tensão aumenta, o número de ciclos
do material até a falha diminui, e para esses materiais, definimos a
resistência à fadiga, Sf, que é o nível de tensão no qual a falha do
componente ocorrerá quando alcançar um número de ciclos especí-
ficos. Além disso, podemos também caracterizar a vida em fadiga,
Nf, de um material, que é o número de ciclos que o material suportará
até a sua falha, quando submetido a um certo nível de tensão.
Ainda na Figura 5(b), observamos dois pontos na curva S-N,
para o primeiro ponto dizemos que a resistência à fadiga do ma-
terial em N1 ciclos é igual a S1, e para o segundo ponto dizemos
que a vida em fadiga do material sob uma tensão de S2 é igual a N2
(CALLISTER, JR.; RETHWISCH, 2012; SHACKELFORD, 2013).

UNIDADE 5 143
Amplitude de tensão, S
Limite de
resistência à
fadiga

Normalmente, na literatura, as curvas S-N são valores médios, pois a dispersão de dados em ensaios
de fadiga é muito grande. Para corpos de prova idênticos sob o mesmo nível de tensão, os valores de
N podem variar amplamente, devido a vários fatores,10como 10 a 10
fabricação
10 10 do 10 corpo
10 de
10 teste, variáveis 3 4 5 6 7 8 9 10

metalúrgicas, alinhamento do corpo de prova no equipamentoCiclos de teste, entre outros. Por essa razão,
até a falha, N

(a)
são utilizados dados médios para as curvas S-N.

Amplitude de tensão, S
Amplitude de tensão, S

S1
Limite de
resistência à
fadiga S2

N1 N2
103 104 105 106 107 108 109 1010 103 104 105 106 107 108 109 1010
Ciclos até a falha, N Ciclos até a falha, N

(a) (b)

Figura 5 - Representação dos dois tipos de curvas S-N


Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).
Amplitude de tensão, S

EfeitosS do Ambiente 1

S2
O ambiente ao qual o componente está inserido Outra falha muito comum que pode ocorrer
influencia na vida em fadiga desse material. Nesse relacionada ao ambiente é a fadiga associada à
âmbito, temos a chamadaN
fadiga
N
térmica, que 1 2 corrosão, que é uma falha resultante da ação de
10 10 10 10 10 10 10 10 3 4 5 6 7 8 9 10

é ocasionada por tensões


Ciclos até oriundas
a falha, N de variações uma tensão cíclica aliada a um ataque químico.
térmicas no ambiente ao qual (b) o componente está Componentes expostos a ambientes corrosivos
inserido. Essas tensões são o resultado de restri- acabam tendo suas vidas em fadiga reduzidas, pois
ções às expansões e contrações que o componente esses ambientes favorecem a formação de pequenos
deveria sofrer quando submetido a variações na furos no componente devido a reações químicas
temperatura, relacionadas ao coeficiente de ex- que acontecem entre o ambiente e o material. Esses
pansão térmica αl do material. A tensão térmica furos, por sua vez, terão o papel de concentradores
sT , ocasionada por uma variação de temperatura de tensões e, por consequência, formarão trincas.
∆T , pode ser calculada pela relação a seguir Além disso, o contato da trinca com o ambiente
σT  αl E T corrosivo favorece sua propagação, diminuindo
ainda mais a vida em fadiga desses componentes.
Uma maneira de se evitar a fadiga térmica é eli- A fadiga associada à corrosão pode ser preve-
minar as restrições que possam existir à dilatação nida por diversas técnicas, entre elas com o uso
térmica do material; dessa forma, o material pode- de revestimentos de proteção na superfície do
rá sofrer expansões e/ou contrações sem que nada componente, seleção de materiais mais resistentes
impeça esse movimento. Veremos mais sobre esse à corrosão e, em alguns casos, até mesmo diminuir
assunto na Unidade 7. a corrosividade do ambiente.

144 Falhas em Materiais Sólidos


Fluência

Quando um componente opera em temperaturas


elevadas, mas abaixo da temperatura de fusão do
material, durante longos períodos de tempo, ele
pode sofrer uma deformação permanente devido a
uma tensão de magnitude abaixo do limite de escoa-
mento desse material. Essa deformação permanente
é dependente do tempo de exposição do material; a
essa tensão é dada o nome de fluência. Muitas das
situações de falha de componentes, que operam a
altas temperaturas, são resultado do fenômeno de
fluência, ou de uma combinação de fluência e fadiga.

Ensaio de Fluência

Uma forma simples de ensaio de fluência consiste


em submeter um corpo de prova a uma carga ou
tensão constante e a uma temperatura elevada cons-
tante ao mesmo tempo. Dessa forma, é avaliada, en-
tão, a deformação produzida no corpo de prova em
relação ao tempo decorrido do ensaio. Para a maio-
ria dos materiais metálicos, é comum os ensaios de
fluência serem conduzidos sob uma tensão de tração
uniaxial, com corpos de prova semelhantes aos dos
ensaios de tração mencionados na Unidade 4. Já
para materiais frágeis, é mais apropriado a utilização
de ensaios de fluência de compressão uniaxial, com
corpos de prova cilíndricos ou paralelepípedos.

UNIDADE 5 145
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Encruamento ou endurecimento é o fenômeno no qual um metal dúctil torna-se mais duro e resis-
tente conforme é deformado plasticamente. A maioria dos metais encrua a temperatura ambiente.
Recuperação é o processo no qual o material libera uma parcela da energia armazenada durante a
deformação (encruamento), tem a sua dureza reduzida e retém a sua habilidade de sofrer deformação.

A Figura 6 mostra o comporta- near da curva de deformação por tempo). A constância da taxa
mento de um metal em fluên- de deformação é resultado de um equilíbrio entre os processos
cia. Primeiramente, é observada concorrentes de encruamento e recuperação.
uma deformação instantânea,
Ruptura
totalmente elástica, do material, x
causada no instante inicial de
Deformação por fluência, э

aplicação da carga. Em seguida,


inicia-se o fenômeno da fluência, ∆t
Primária Terciária
cujo primeiro estágio, conhecido ∆э

como fluência primária ou tran-


Secundária
siente, é caracterizado por uma
diminuição na taxa de deforma-
ção, ou seja, uma diminuição na Deformação instantânea
inclinação da curva com o passar
Tempo,  
do tempo, o que sugere que o ma-
terial está aumentando sua resis- Figura 6 - Representação do comportamento típico de fluência para um material
tência à fluência (encruamento). sob a ação de uma tensão constante a uma temperatura elevada
Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).
O segundo estágio da fluên-
cia, conhecido como fluência Por fim, temos a fluência terciária, que é o estágio caracterizado por
secundária ou fluência esta- uma aceleração na taxa de deformação (aumento da inclinação da
cionária, é o estágio de maior curva) do material, seguida da sua falha (ruptura). Esse compor-
duração; nesse intervalo, a taxa tamento se deve a alterações microestruturais e/ou metalúrgicas,
de deformação do material é como separação de contornos de grãos e formação de trincas, ca-
constante (comportamento li- vidades e vazios internos.

146 Falhas em Materiais Sólidos


A inclinação da curva na região de fluência secundária (Δ∈/Δt), conhecida como taxa de fluência
estacionária ou taxa de fluência mínima e simbolizada por ∈r, é um parâmetro muito importante utili-
zado em projetos de engenharia, que levam em consideração aplicações do componente a longo prazo, por
exemplo um componente para uma usina de energia nuclear que é projetado para operar por várias décadas.
Em outras situações, o tempo para a ruptura ou tempo de vida até a ruptura, tr (Figura 6), é o
fator predominante no projeto, como na fabricação de palhetas de turbinas em aeronaves.

Efeito da Tensão e Temperatura

No fenômeno da fluência, podemos observar que tanto a temperatura quanto a tensão (carga) apli-
cada ao material influenciam no processo; dessa forma, um aumento da temperatura ou da tensão
acarretará:
• Um aumento na deformação instantânea (deformação elástica) resultante da aplicação da
tensão.
• Um aumento na taxa de fluência estacionária (Δ∈/Δt).
• Uma diminuição no tempo de vida até a ruptura por fluência.

Esses efeitos podem ser observados na Figura 7 a seguir, que apresenta o efeito da temperatura e da
tensão sobre o comportamento das curvas deformação por tempo para o fenômeno de fluência.

x  <   <  
σ < σ < σ
Deformação por fluência

 ou σ x

 ou σ x

 ou σ

 < 0.4

Tempo

Figura 7 - Representação dos efeitos da temperatura e tensão sobre o comportamento de fluência de um material
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 229).

Os resultados dos ensaios de fluência são comumente apresentados na forma de gráficos do logaritmo
da tensão por logaritmo do tempo de vida até a ruptura. Na Figura 8, temos três curvas do logaritmo
da tensão por logaritmo do tempo de vida até a ruptura de uma liga de carbono e níquel, para as tem-
peraturas de 427 °C, 538 °C e 649 °C.

UNIDADE 5 147
400 60
300 40
200 30
427ºC (800ºF)

Tensão (103 psi)


20
Tensão (MPa)
100 538ºC (1000ºF)
80
10
60 8
40 649ºC (1200ºF) 6
30 4
20 3
2
102 103 104 105
Tempo de vida até a ruptura (h)
Figura 8 - Gráfico da tensão (em escala logarítmica) em função do tempo de vida até a ruptura (em escala logarítmica)
para uma liga de carbono e níquel
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 229).

Tendo em mão essas curvas (como a da Figura 8) a falha de um componente pode acontecer, mesmo
para o material que se deseja utilizar, podemos quando o seu limite de escoamento não é ultrapas-
determinar o tempo de vida até a ruptura em uma sado, caso esse componente seja submetido a uma
determinada temperatura quando submetido a aplicação repetitiva de tensões dinâmicas e variáveis.
uma determinada tensão. Por fim, na falha por fluência, temos que um
Nesta unidade, nós iniciamos os nossos traba- componente operando a altas temperaturas pode
lhos a partir do estudo das falhas em componen- sofrer deformações permanentes quando subme-
tes, onde aprendemos a diferenciar uma fratura tido a uma tensão, mesmo que essa tensão seja
frágil de uma fratura dúctil. Além disso, vimos inferior ao limite de escoamento desse material.
que alguns fatores, como microtrincas, podem Todos esses tipos de falhas são importantes
acarretar a concentração de tensão aplicadas em durante o projeto de componentes, especialmente
componentes. no projeto de componentes estruturais. Essas fa-
Vimos, também, os fenômenos da fadiga e da lhas devem ser evitadas a todo custo, devido aos
fluência. Em relação à falha por fadiga, vimos que diversos prejuízos que elas podem causar.

A fluência deve ser considerada em projetos de reatores, caldeiras, motores e outros componentes
que operam a altas temperaturas por longos períodos de tempo. Contudo, materiais como o aço e
o concreto sofrem uma ligeira fluência mesmo em temperaturas próximas a ambiente.
Fonte: James (2003, p. 17).

148 Falhas em Materiais Sólidos


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. As falhas em componentes são sempre situações indesejáveis devido a diversos


motivos, entre eles as vidas humanas colocadas em risco. A respeito das falhas
por fadiga e fluência em materiais, avalie as alternativas:
I) A fadiga é a falha de um componente devido à aplicação repetitiva de tensões
dinâmicas e variáveis, mesmo que essa tensão não ultrapasse o limite de
escoamento desse material.
II) O ciclo de tensões alternadas é caracterizado por um ciclo de tensões má-
ximas e mínimas, iguais em magnitude, e que se alternam uniforme e repe-
tidamente.
III) Um aumento na temperatura do material acarretará uma diminuição na taxa
de fluência estacionária (Δ∈/Δt).
IV) A inclinação da fase de fluência secundária (Δ∈/Δt), conhecida como taxa de
fluência estacionária, é um parâmetro importante utilizado em projetos de
engenharia, que levam em consideração aplicações em longo prazo.

Assinale a alternativa cujos itens estão todos corretos:


a) I, II e III, apenas.
b) I, III e IV, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I, II e IV, apenas.

149
2. A fadiga é um tipo de falha que pode ocorrer nos materiais quando são subme-
tidos a esforços cíclicos. Sob essas condições, é possível que ocorra a fratura do
material mesmo que ele esteja submetido a uma tensão inferior ao seu limite
de escoamento.
A capacidade de resistir a esse tipo de falha é dada em termos do parâmetro
resistência à fadiga, que, por sua vez, dependente de algumas variáveis. Sobre
a falha por fadiga e a resistência à fadiga de um material, avalie as afirmações
a seguir:
I) A primeira etapa da falha por fadiga é o surgimento de uma pequena trinca
na superfície do material logo após o componente ser posto em serviço.
II) Na segunda etapa, as trincas formadas na primeira etapa começam a se pro-
pagar, gradualmente, a cada novo ciclo, ao qual o componente é submetido.
III) A trincas surgem em locais de descontinuidade da superfície do material,
como, por exemplo, em entalhes, poros e, até mesmo, em contornos de grãos.
IV) A terceira etapa da falha por fadiga corresponde à fratura súbita do com-
ponente, isso ocorre quando a seção resistente está muito reduzida para
suportar mais um ciclo de carregamento.

São corretas apenas as afirmativas:


a) I, II e III, apenas.
b) I, II, IV, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I e III, apenas.
e) III e IV, apenas.

150
3. A fratura é um tipo de falha que ocorre nos materiais sólidos e consiste na se-
paração do componente em duas ou mais partes como resultado da aplicação
de uma tensão contínua, cuja intensidade pode ser constante ou variável. Com
relação à teoria de falhas por fratura ocasionadas por uma tensão de tração,
leia as afirmativas a seguir.
I) Na fratura dúctil de um material, há uma deformação plástica significativa
antes do material fraturar.
II) Na fratura frágil de um material, há pouca, ou nenhuma, deformação plástica
antes do material fraturar.
III) Em materiais que sofrem fratura frágil, a deformação plástica observada serve
de alerta, permitindo medidas preventivas.
IV) Em materiais que sofrem fratura dúctil, após formadas as trincas, elas se
propagam continuamente mesmo que a tensão de tração que as gerou não
seja aumentada.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e IV, apenas.

151
LIVRO

Resistência dos Materiais


Autor: R. C. Hibbeler
Editora: Pearson; Edição: 7ª (2009)
Sinopse: esse tópico sugerido é uma leitura adicional sobre o conteúdo abor-
dado nesta unidade, trazendo o mesmo assunto com a abordagem de um
outro autor.
Comentário: Indico a leitura do tópico “Falha de materiais devida à fluência e
à fadiga”, página 76.

152
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

BEER, F. P.; JOHNSTON JR. E. R. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2009.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

JAMES, M. G. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Editora Pioneira Thompson Learning, 2003.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

153
1. E.

A alternativa III está incorreta, pois um aumento na temperatura do material acarretará um aumento na
taxa de fluência estacionária (Δ∈/Δt).

2. C.

A alternativa I está incorreta, pois a falha por fadiga ocorre em três etapas, sendo a primeira etapa o sur-
gimento de uma pequena trinca na superfície do material após um longo período de aplicação cíclica de
tensões.

3. A.

A alternativa III está incorreta, pois em materiais que sofrem fratura dúctil, a deformação plástica observada
serve de alerta, permitindo medidas preventivas.

A alternativa IV também está incorreta, pois materiais que sofrem fratura frágil, após formadas as trincas,
propagam-se continuamente mesmo que a tensão de tração que as gerou não seja aumentada.

154
155
156
157
158
Me. Luis Henrique de Souza

Diagrama de Fases

PLANO DE ESTUDOS

Diagrama
de fases binário

Conceituação Sistema
básica ferro-carbono

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Definir os termos comuns utilizados no estudo de diagra- • Conhecer o diagrama de fases do sistema ferro-carbeto de
mas de fases. ferro e identificar as transformações de fases que ocorrem
• Estudar os diagramas de fases para sistemas isomorfos nesse sistema.
e eutéticos e aprender a determinar as fases, suas quan-
tidades relativas e suas composições.
Conceituação
Básica

Nesta unidade, vamos nos dedicar ao estudo


das soluções sólidas e, para isso, é fundamental
entendermos o que são e como funcionam os
diagramas de fases dos componentes envolvidos
nessas soluções sólidas. Os diagramas de fases
estão relacionados às microestruturas (apresen-
tadas na Unidade 1) e propriedades mecânicas
(estudadas na Unidade 4) dos materiais. Além
disso, os diagramas de fases fornecem importan-
tes informações sobre os fenômenos de fusão,
fundição e cristalização, entre outros.
Vimos, nas unidades anteriores, que as pro-
priedades dos materiais são um reflexo de suas
microestruturas e, por essa razão, é importante
sabermos em quais condições elas são desenvol-
vidas, ou seja, estudar os diagramas de fases dos
materiais. Para que possamos entender melhor o
assunto, nesse tópico, faremos uma introdução
aos conceitos básicos que serão amplamente uti-
lizados nos estudos dos diagramas de fases.
Sistema: possui duas definições: pode se refe-
rir a um corpo específico feito de um determinado
material ou, então, pode referir-se ao conjunto das
possíveis fases formadas pelos mesmos compo-
nentes que estão sendo analisadas.
Fase: porção homogênea de um sistema que apresenta propriedades químicas e físicas uniformes.
São consideradas fases todo material puro e também todas as soluções homogêneas, sejam no estado
sólido, líquido ou gasoso. A água pura, por exemplo, pode apresentar as seguintes fases: sólida, líquida
e gasosa. Além disso, uma solução de água com açúcar também é uma fase, assim como o açúcar puro
constitui outra fase distinta. Toda fase apresenta as seguintes características:
• A mesma microestrutura (arranjo atômico).
• A mesma composição química e propriedades físicas.
• Uma interface de separação entre a fase e as fases da vizinhança (fronteira entre as fases).

Quanto à definição dos sistemas, dizemos que um sistema é homogêneo caso esse sistema seja com-
posto por apenas uma fase. Da mesma forma, um sistema é dito heterogêneo caso ele seja formado
por duas ou mais fases.
Componente: substância química distinta que forma a fase. Por exemplo, a fase água líquida pura
é formada apenas por um componente, a água; já a fase água com açúcar é formada por dois com-
ponentes, a água e o açúcar. Esses conceitos de fase se estendem aos sólidos; para uma barra de liga
cobre-níquel, por exemplo, temos uma única fase que é composta pelos componentes cobre e níquel.
Solubilidade ilimitada: para alguns sistemas, por exemplo níquel fundido (líquido) e cobre fundido
(líquido) ou água e álcool, para qualquer concentração de um componente no outro – níquel fundido
em cobre fundido ou água em álcool –, o sistema sempre apresentará apenas uma fase. Isso ocorre
porque a solubilidade do níquel em cobre e do álcool em água é ilimitada, ou seja, independente das
quantidades de um componente misturadas no outro, o sistema resultante apresentará apenas uma
fase, desde que os componentes envolvidos sejam completamente solúveis um no outro.
Para o caso de solidificação de componentes com solubilidade ilimitada (solidificação do sistema
níquel e cobre, por exemplo), o sólido formado constitui uma solução sólida, cujas propriedades
físicas, a estrutura e a composição são uniformes por toda a fase sólida formada.
Solubilidade limitada: entretanto, na maioria dos casos, a solubilidade de um componente em
outro não é ilimitada. Nesses casos, existe um limite de solubilidade de um componente no outro. Se
misturarmos esses componentes em concentrações que não ultrapassem esse limite de solubilidade,
ocorrerá a formação de apenas uma fase. Entretanto, quando a adição de um dos componentes ultra-
passa o limite de solubilidade, ocorre a formação de uma nova fase.
Um exemplo desse comportamento é a mistura dos componentes água e sal. Se adicionarmos uma
pequena quantidade de sal em água e agitarmos, o sistema formado possuirá apenas uma fase, água
salgada. Entretanto, se continuarmos a adicionar sal a esse sistema, após uma determinada quantidade,
ocorrerá a formação de uma nova fase nesse sistema, uma fase de sal sólido. Todo o sal que formou
essa nova fase do sistema é o sal excedente ao limite de solubilidade do sal em água.
Sendo assim, todo sistema formado por componentes de solubilidade limitada possui um limite
de solubilidade definido, que depende dos componentes que o formam. Além disso, o limite de solu-
bilidade é dependente da temperatura, ou seja, ele varia conforme a temperatura varia (ASKELAND;
WRIGHT, 2015).

UNIDADE 6 161
Equilíbrio de Fases

Um sistema é dito em equilíbrio quando sua energia livre é mínima para uma combinação específica
de temperatura, pressão e composição. Essa energia livre é uma função termodinâmica relacionada à
energia interna do sistema e ao grau de desordem dos seus átomos ou moléculas constituintes (entropia).
Macroscopicamente, observa-se, em um sistema em equilíbrio, que as características desse sistema
não mudam ao longo do tempo, isto é, elas permanecem as mesmas indefinidamente, o sistema é
estável. Contudo, qualquer alteração, seja na temperatura, pressão ou composição desse sistema em
equilíbrio, resultará num aumento na energia livre e o sistema buscará um novo estado de equilíbrio.
Os sistemas trabalhados quase sempre são constituídos de duas ou mais fases (sistemas heterogê-
neos) e, nesse âmbito, empregamos o termo equilíbrio de fases para nos referirmos ao equilíbrio entre
as diversas fases que constituem um sistema a uma temperatura, pressão e composição determinadas.
Pense em um sistema formado por açúcar dissolvido em água e, também, açúcar sólido como corpo
de fundo devido ao limite de solubilidade ter sido ultrapassado. Esse sistema possui duas fases distintas,
açúcar + água e açúcar sólido no fundo, que estão em equilíbrio a uma certa temperatura, pressão e
composição (concentração). Caso seja aumentada a temperatura desse sistema, este sairá do estado
de equilíbrio, pois esse aumento da temperatura aumentará o limite de solubilidade do açúcar na água
e, consequentemente, uma quantidade maior de açúcar pode ser dissolvida na água. Em decorrência
dessa perturbação do equilíbrio, o sistema buscará um novo estado de equilíbrio que será alcançado
quando parte do açúcar sólido do fundo se dissolver na fase água + açúcar, até que o novo limite de
solubilidade, nessa nova temperatura, seja alcançado.
Esse exemplo ilustra bem o princípio do equilíbrio de fases para sistemas líquido-sólido. Já em sis-
temas metalúrgicos e de outros materiais, o estado de equilíbrio do sistema é também um reflexo das
microestruturas envolvidas, ou seja, dos arranjos espaciais dos átomos e quantidades relativas das fases.
O equilíbrio de fases para sistemas sólidos é dito metaestável, pois, muitas vezes, o equilíbrio propria-
mente dito nunca é alcançado. Contudo, esse equilíbrio metaestável pode persistir por um período de
tempo longo o suficiente para que as alterações do sistema sejam praticamente imperceptíveis durante
a vida útil da peça ou componente. Além disso, em muitos casos, as estruturas metaestáveis são mais
importantes que estruturas em equilíbrio, como é o caso de alguns tipos de aço e ligas de alumínio
nos quais suas resistências dependem do desenvolvimento de estruturas metaestáveis em tratamentos
térmicos cuidadosamente projetados.
Portanto, além do conhecimento dos estados de equilíbrio e das estruturas, é importante sabermos
também da velocidade (taxa) com a qual essas estruturas são estabelecidas e os fatores que influenciam
essa velocidade (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).

162 Diagrama de Fases


Diagrama de Fases de um Componente

Veremos, nesta unidade, os dia-


gramas de fases, que são repre- 1.000

sentações gráficas (curvas) que 100
relacionam variáveis de estado Líquido
10 Sólido B
(temperatura, pressão, compo-

Pressão (atm)
(Água) 
(Gelo)
2 A 3
sições etc.) e as microestruturas 1
C D
de um sistema por meio da re-
0,1
gra de fases de Gibbs (SHAC-
O Gás
KELFORD, 2013). 0,01
(Vapor d’água)

O diagrama de fases é uma 0,0001
-20 0 20 40 60 80 100 120
ferramenta extremamente útil
quando se trabalha com o con- Temperatura (ºC)
trole de estruturas de um sis- Figura 1 - Diagrama de fases pressão-temperatura para a água pura
tema para a produção de um Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).
material. Como vimos anterior-
mente, o estado de equilíbrio de um sistema é definido para uma combinação de temperatura, pressão e
composição; dessa forma, os diagramas de fases são mapas construídos a partir de várias combinações
desses parâmetros uns com os outros na forma de diagramas. Neste tópico, iniciaremos os estudos dos
diagramas de fases, começando pelo diagrama de fases de um componente.

Na Figura 1, podemos observar o diagrama de pura à pressão de 1 atm e à temperatura de 20 °C,


fases da água pura. Esse tipo de diagrama é o mais a partir do ponto referente a essas coordenadas no
simples, pois envolve apenas um componente e é diagrama (ponto A na Figura 1) saberemos que esse
chamado de diagrama de fases unário. Em um sistema possui apenas a fase líquida (água).
diagrama de fases unário, a composição é cons- Além disso, para qualquer ponto sob as curvas
tante (só existe um componente, então esse com- do diagrama, coexistem as duas fases separadas
ponente representa 100% do sistema), as variáveis por essa curva. No sistema representado pelo
de equilíbrio são apenas a temperatura e a pressão, ponto B (Figura 1) a 10 atm e 0 °C, por exemplo,
por essa razão, podemos também chamá-lo de coexistem em equilíbrio as fases sólida (gelo) e
diagrama pressão-temperatura. líquida (água).
No diagrama de fases da água pura (Figura Quando cruzamos uma fronteira (uma curva do
1), vemos três regiões definidas: a região de água diagrama), seja por uma variação na temperatura,
sólida, a região de água líquida e a região de água pressão ou uma combinação de ambas, uma fase
gasosa, delimitadas pelas curvas do diagrama. se transforma em outra. Por exemplo, caso o nosso
Para cada par de variáveis pressão-temperatu- sistema esteja a -20 °C e 1 atm (ponto C na Figura
ra, podemos marcar um ponto no diagrama, e a 1), teremos água na fase sólida, se aquecermos esse
posição desse ponto define a(s) fase(s) presente(s) sistema até 110 °C, mantendo a sua pressão cons-
nessas condições de pressão e temperatura. Assim tante de 1 atm. Primeiramente, vamos verificar o au-
sendo, se tivermos um sistema constituído por água mento da temperatura até pouco antes de 0 °C sem

UNIDADE 6 163
qualquer mudança de fase. Quando alcançamos a
temperatura de 0 °C (fronteira entre a fase sólida e
líquida), inicia-se a transformação da água da fase
sólida para fase líquida, e durante esse processo a
temperatura permanece constante em 0 °C.
Após toda a água passar da fase sólida para a
fase líquida, a temperatura dessa água na fase líqui-
da volta a subir até 100 °C. Nesse ponto, ela toca a
curva de equilíbrio entre a fase líquida e a fase ga-
sosa e, novamente, acontece uma mudança de fase,
agora, da água na fase líquida para a água na fase
gasosa, à temperatura constante de 100 °C. Após
toda a água da fase líquida ter se transformado
em água na fase gasosa, a temperatura do sistema
volta a subir até alcançar os 110 °C à 1 atm, ponto
D (Figura 1), no qual existe água na fase gasosa
(vapor d’água).
Um fato interessante mostrado no diagrama é o
ponto de intersecção das três curvas, chamado de
ponto triplo (ponto O na Figura 1). No ponto tri-
plo, as três fases – sólida, líquida e gasosa – coexis-
tem em equilíbrio. Esse ponto é invariável e fixado
por valores definidos de pressão e temperatura.

A temperatura da água pura em uma panela


comum no fogão aumenta até 100 °C, quando
a água ferve (a 1 atm), e essa temperatura se
mantém constante, mesmo com a chama do fo-
gão acesa, enquanto houver água na panela. Já
em uma panela de pressão, a água pode atingir
valores entre 1,44 e 2,0 atm de pressão, e esse
aumento na pressão conduz a temperaturas de
ebulição entre 110 °C e 120 ºC. Por essa razão,
os alimentos cozinham muito mais rápido em
uma panela de pressão do que em uma panela
comum.

164 Diagrama de Fases


Diagrama de
Fases Binário

Por uma questão prática, os diagramas mais uti-


lizados por engenheiros em ciência dos materiais
são os diagramas de fases binários, que represen-
tam sistemas compostos por dois componentes,
no qual as variáveis de estado são a temperatura
e a composição. A pressão é mantida constante
nesses diagramas, geralmente em 1 atm.
Esse tipo de diagrama é uma ferramenta im-
portante para prever as transformações de fases
e as microestruturas resultantes dessas transfor-
mações (SHACKELFORD, 2013).

Sistemas Isomorfos Binários

Para compreendermos o que são os sistemas


isomorfos binários, vamos estudar o diagrama
binário do sistema cobre-níquel, como podemos
ver na Figura 2(a). O diagrama de fases binário é
composto pela temperatura no eixo das ordenadas
e pela concentração em porcentagem de peso para
o níquel (%p Ni) no eixo das abcissas que repre-
senta a composição do sistema (liga metálica).

UNIDADE 6 165
É importante lembrarmos que todos os dia- Os sistemas isomorfos são caracterizados de-
gramas binários estão relacionados a sistemas vido ao fato da completa solubilidade dos seus
com apenas dois componentes, e o eixo das ab- componentes entre si (solubilidade ilimitada) nos
cissas (eixo horizontal, ou eixo x) sempre estará estados líquido e sólido. Esse comportamento é
relacionado a um dos componentes. Na Figura 2, resultado desses componentes terem a mesma
por exemplo, o sistema é composto por cobre e estrutura cristalina, possuírem raio atômico e ele-
níquel, entretanto, o eixo horizontal diz respeito à tronegatividade praticamente iguais e valências
concentração de níquel (de 0%p Ni até 100%p Ni) semelhantes.
no sistema. Uma vez que os sistemas binários são No diagrama de cobre-níquel (Figura 2), po-
sempre compostos por apenas dois componentes, demos ver claramente três regiões distintas: a re-
a soma das concentrações dos dois componentes gião superior, que é a região de líquido (L); a re-
tem, obrigatoriamente, que ser 100%, então, um gião entre as curvas, que é uma região bifásica
sistema cobre-níquel com uma concentração de (duas fases) de coexistência da fase sólida alfa e
40%p Ni, necessariamente, terá uma concentração da fase líquida ( a +L); e a região inferior, que é a
de 60%p Cu, cuja soma dá 100%. região da fase sólida alfa ( a ).

Composição %p Ni

0 20 40 60 80 100
1600

2800
1500
Líquido 1453 ºC

2600
1400
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)

Linha Liquidus Linha Solidus 2400


1300 α+

1200 α 2200


1100 2000
1085 ºC

1000
0 20 40 60 80 100

(Cu) Composição %p Ni (Ni)

Figura 2 - Diagrama de fases binário para o sistema isomorfo cobre-níquel à pressão de 1 atm
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246).

166 Diagrama de Fases


A fase líquida (L) é composta por uma solução líquida homogênea de cobre e níquel, enquanto a fase
sólida alfa ( a ) é composta por uma solução sólida substitucional, que contém átomos de cobre e ní-
quel em sua estrutura cristalina do tipo CFC (cúbica de face centrada). É comum a utilização de letras
gregas ( a , b , g etc.) para a designação das fases sólidas em ligas metálicas.
A curva que separa a região da fase L da região da fase a +L é chamada de linha liquidus (curva
superior), e a curva que separa a região da fase a +L da região da fase a é chamada de linha solidus
(curva inferior).
As linhas liquidus e solidus se interceptam nas duas extremidades da composição, ou seja, quando o
sistema é composto por cobre puro (0%p Ni) e quando o sistema é composto por níquel puro (100%p
Ni). As temperaturas desses interceptos são também as temperaturas de fusão do cobre puro (1085 °C)
e do níquel puro (1453 °C).
Quando o sistema for composto por uma mistura de cobre e níquel, a fusão dessa liga ocorrerá no
intervalo vertical de temperatura entre as linhas liquidus e solidus para a composição da liga. Portanto,
para uma liga no estado sólido contendo 40%p/p Ni e 60%p/p Cu, a fusão tem início em uma tem-
peratura de, aproximadamente, 1230 °C, e se completa em uma temperatura de, aproximadamente,
1270 °C. Conforme a temperatura aumenta, de 1230 °C até 1270 °C, há uma diminuição gradual da
quantidade da fase sólida a e, por consequência, um aumento gradual na quantidade da fase líquida
L, até que toda fase a seja transformada na fase L a 1270 °C.

Interpretação do Diagrama de Fases

Em um sistema binário em equilíbrio, ou seja, a uma temperatura e composição global definidas, é


possível extrair, do diagrama de fases desse sistema, as seguintes informações:
• As fases presentes no sistema.
• As composições de cada uma dessas fases.
• As porcentagens de cada fase no sistema.

Fases presentes no sistema

Para determinar quais fases estão presentes, devemos, primeiramente, localizar no diagrama de fases o
ponto de estado referente à temperatura e composição do sistema estudado e observar em qual região
encontra-se esse ponto. Em sistemas formados por cobre e níquel (diagrama da Figura 3(a)), pontos
acima da linha liquidus representam sistemas formados somente pela fase líquida (L), da mesma forma
que pontos abaixo da linha solidus representam sistemas formados somente pela a fase sólida alfa ( a ).
Por exemplo, para um sistema de composição 60%p Ni - 40%p Cu, a 1100 °C, representado pelo
ponto A no diagrama de fases (Figura 3(a)), vemos que o ponto se encontra abaixo da linha solidus
no diagrama; portanto, esse sistema apresenta apenas uma fase, a fase sólida a .
Para pontos localizados entre as linhas liquidus e solidus, coexistirão, em equilíbrio no sistema,
ambas as fases que circundam a região a +L, ou seja, a fase sólida alfa e a fase líquida.

UNIDADE 6 167
Quantidades relativas de cada fase

Quando o sistema estudado cai nas regiões de • Passo 3: dividir a linha de amarração em
uma única fase (monofásica), as quantidades re- duas exatamente no ponto que representa
lativas são sempre 100% da fase, assim, se o pon- o sistema. A parte à direita chamará S e a
to que representa o sistema está localizado na parte à esquerda chamará R, como pode-
região de líquido (L), esse sistema possui uma mos ver na Figura 3(b), e os valores de S e
quantidade relativa de 100% da fase L. Da mesma R são calculados:
forma, se o ponto que representa o sistema está
S = CS - C0 R = C0 - CR
localizado na região sólida a , esse sistema possui
S + R = CS - C R
uma quantidade relativa de 100% da fase a .
Contudo, quando o ponto estiver na região • Passo 4: a quantidade relativa (em fração) da
entre as curvas (região a + L), vimos que existi- fase à esquerda, Wesquerda, (para o ponto B, a
rão ambas as fases, a e L, em equilíbrio. Nesse fase líquida L) é calculada dividindo o com-
caso, é importante determinarmos as quantidades primento S pelo comprimento total da linha
relativas de cada uma dessas fases em equilíbrio. de amarração, ou seja, S+R. E a quantidade
Esse cálculo pode ser realizado a partir do dia- relativa (em fração) da fase à direita, Wdireita
grama de fases dos componentes. Para os pontos (para o ponto B, a fase a ) é calculada divi-
na região bifásica, devemos utilizar a regra da ala- dindo o comprimento R pelo comprimento
vanca para determinar as quantidades relativas de total da linha de amarração S+R.
cada fase. Supondo que o sistema em estudo seja
S C -C
o representado pelo ponto B (Figura 3(b)), cuja Wesquerda = = S 0
S + R CS - C R
temperatura é 1250 °C, e a composição global do
sistema (ou simplesmente composição do siste- R C -C
Wdireita = = 0 R
ma) é de 35%p Ni, os passos para a utilização da S + R CS - C R
regra da alavanca são:
• Passo 1: marcar no diagrama o ponto que • Passo 5: as quantidades relativas em por-
representa o sistema analisado. No caso centagem de cada fase são obtidas pela
do ponto B, as coordenadas são 1250 °C multiplicação das frações das fases por 100.
e 35%p Ni. CS - C0
• Passo 2: criar uma linha horizontal, cha- % da fase à esquerda= Wesquerda × 100 = × 100
CS - C R
mada linha de amarração, que liga o ponto
marcado no passo anterior às curvas mais C0 - CR
% da fase à direita= Wdireita × 100 = × 100
próximas a ele. Essa linha de amarração é CS - C R
uma isoterma (linha de temperatura cons-
tante) cuja temperatura é a temperatura do As linhas de amarração não são utilizadas em re-
sistema. Nesse caso, a linha de amarração giões monofásicas, pois, não existem duas fases
liga o ponto às linhas liquidus e solidus. para serem unidas.

168 Diagrama de Fases


Composição %p Ni

0 20 40 60 80 100
1600

2800
1500
Líquido 1453 oC

2600
1400
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)
Linha Liquidus Linha Solidus 2400
1300 α+

1200 2200
α


1100 2000
1085 oC

1000
0 20 40 60 80 100

(Cu) Composição %p Ni (Ni)


(a)

Líquido
1300
Temperatura (ºC)

Linha de
amarração α + Líquido


α + Líquido α
1200
 

20 30 40 50
  
Composição %p Ni
(b)
Figura 3 - Diagrama com pontos representando sistemas cobre-níquel à pressão
de 1 atm
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246).

UNIDADE 6 169
Os comprimentos R e S utilizados na regra da alavanca (passo 3) podem, também, ser determinados
medindo-se as linhas R e S no diagrama de fases com uma régua. E esses valores obtidos podem ser
utilizados para calcular as frações Wesquerda e Wdireita do sistema.

Na Figura 3(b), temos o exemplo de uma liga de composição global 35%p Ni- 65%p Cu a 1250 °C
(Passo 1), cujo ponto que representa essas coordenadas é o ponto B, que se encontra na região entre as
linhas liquidus e solidus (região bifásica a +L); portanto, esse sistema possui duas fases, a fase líquida
L e a fase a , em equilíbrio.
Para a determinação das quantidades relativas de cada fase para esse exemplo, devemos utilizar a
regra da alavanca. Então (Passo 2), traçamos a linha de amarração ligando o ponto B às linhas liquidus
e solidus, na temperatura do sistema (1250 °C).
Na sequência (Passo 3), dividimos a linha de amarração em duas partes, R e S, separadas pelo ponto
B. Os valores de R, S e R+S são:

S = CS - C0 = 43 - 35 R = C0 - CR  35  31
S + R = CS - CR  43  31

Então,
S=8 R=4
S + R = 12

(Passo 4) Para o sistema representado pelo ponto B, a fase à esquerda é a fase líquida L, e a fase à direita
é a fase sólida a, então:
S 8
Wesquerda = WL = 
S  R 12

R 4
Wdireita = Wa = 
S  R 12

Portanto, as frações de cada fase são:

S
WL =  0, 6667
SR

R
Wa =  0, 3333
SR

170 Diagrama de Fases


(Passo 5) Em porcentagem:

% L  WL  100  0, 6667  100  66, 67%

%a  Wa  100  0, 3333  100  33, 33%

Esse resultado indica que o sistema representado pelo ponto B possui duas fases, e 66,67% desse sis-
tema está na fase líquida L e os 33,33% estão na fase sólida a .

Composição das fases

Além das quantidades relativas das fases, é importante determinarmos a composição dessas fases,
ou seja, a concentração ou porcentagem de cada componente dentro de cada fase. Para que isso seja
possível, primeiramente, devemos encontrar o ponto temperatura-composição, no diagrama de fases,
que representa o sistema analisado.
Caso esse ponto esteja localizado em uma região monofásica, a composição ou porcentagem dos
componentes na fase são determinados pela concentração global C0, para o sistema representado pelo
ponto A na Figura 3(a), por exemplo, a C0 é lida diretamente no ponto A e vale 60%p Ni. Portanto, a
composição da fase sólida a para o ponto A é a própria composição global do sistema, que é 60%p Ni.
E como só temos dois componentes constituindo esse sistema (níquel e cobre), o restante será cobre,
ou seja, 40%p Cu.
Já para um ponto localizado em uma região bifásica, a determinação da composição das fases é
feita utilizando os interceptos da linha de amarração criada no Passo 2 descrito anteriormente. O
intercepto da linha de amarração com a curva à direita fornece a concentração CS e o intercepto da
linha de amarração com a curva à esquerda fornece a concentração CR. Essas concentrações CS e CR
são, respectivamente, as composições das fases à direita e à esquerda.
Para o sistema representado pelo ponto B, na Figura 3(b), CS=43%p Ni é a composição de níquel
na fase sólida a (à direita), e CR=31%p Ni é a composição de níquel na fase líquida L (à esquerda).
Então, para o ponto B, dizemos que a composição da fase a é 43%p Ni – 57%p Cu e a composição da
fase líquida L é 31%p Ni – 69%p Cu.

Sistemas Eutéticos Binários

O diagrama de fases eutético binário é outro tipo de diagrama de fases binário muito comum, cuja
característica principal é que os componentes do sistema possuem solubilidade limitada na fase sólida.
O sistema cobre-prata (Figura 4) representa bem o comportamento eutético.

UNIDADE 6 171
Esse diagrama é um pouco mais complexo, pois nele existem três regiões monofásicas e três regiões
bifásicas. As regiões monofásicas são as regiões das fases sólidas a e b e a região da fase líquida L. A
fase a é uma fase sólida rica em cobre de estrutura CFC, contendo prata como soluto. Já a fase b é rica
em prata, com estrutura CFC também, e cobre como soluto. Além disso, a fase a pode ser constituída
puramente de cobre (0%p Ag) e a fase b puramente de prata (0%p Cu). A última região monofásica
é a região da fase líquida L, na qual o sistema prata-cobre encontra-se fundido.
As três regiões de coexistência de duas fases em equilíbrio (bifásicas) são as regiões a +L (fase a
e fase líquida), b +L (fase b e fase líquida) e a + b (fase a e fase b ). As quantidades relativas das
fases e as composições dessas fases podem ser determinadas utilizando os mesmos procedimentos
descritos para os diagramas de fases isomorfos.
No diagrama eutético do cobre-prata (Figura 4), a curva AB que separa a fase a da fase a +L é
chamada de linha solidus, assim como a linha FG que separa a fase b da fase b +L. As linhas BC e
GH que separam, respectivamente, as fases a da fase a + b e a fase b da fase a + b são denomina-
das linhas solvus. Por fim, temos as linhas liquidus, AE e EF, que separam a fase líquida L da fase a
+L e a fase líquida da fase b +L. As linhas liquidus se encontram no ponto E, conhecido como ponto
invariante e determinado pelas coordenadas de temperatura TE e composição CE, que para o sistema
cobre-prata valem, respectivamente, 779 °C e 71,9%p/p Ag.

1200 2200

 2000
Liquidus Líquido

1000
1800
Solidus 

α + 1600
α 779 ºC () β+

Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)
800 

8,0 71,9 91,2 β 1400
(α) () (β)
1200
600
Solvus 1000

α+ β 800
400

600


200 400
0 20 40 60 80 100
(Cu) Composição (%p Ag) (Ag)

Figura 4 - Diagrama de fases binário cobre-prata à pressão de 1atm


Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 254).

172 Diagrama de Fases


No ponto E ocorre uma importante reação quando uma liga com composição CE sofre uma alteração
na sua temperatura, passando por TE. Essa reação é escrita como
resfriamento

L(CE )  
 α (Cα E )  β (Cβ E )
aquecimento

na qual, C aE e C b E são as concentrações respectivas das a e b na temperatura TE.

Em uma reação eutética, um sistema de composição CE, na fase líquida, transforma-se em um


sistema com duas fases sólidas α e β ; conforme é resfriado abaixo da temperatura eutética TE, o
processo pode ser revertido pelo aquecimento do sistema.
A reação eutética, no sentido do resfriamento, ocorre à temperatura constante TE até que toda a
fase líquida se solidifique (assim como em componentes puros), e o sólido formado é sempre com-
posto por duas fases.
Fonte: adaptado de Shackelford (2013).

A reação eutética para o sistema cobre-prata (Figura 4) segue a reação:


resfriamento

L(71, 9% p Ag )  
 α (8, 0% p Ag )  β(91, 2% p Ag )
aquecimento

Outra característica interessante dos sistemas eutéticos é que, ao longo de toda a curva BEG (chamada
de isoterma eutética), as três fases ( a , b e L) coexistirão em equilíbrio no sistema (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2013).
Os sistemas eutéticos existem, também, nos materiais cerâmicos e são muito importantes nesses
materiais; a sílica (SiO2) e a alumina (Al2O3), por exemplo, constituem um sistema com uma reação
eutética à temperatura de 1587 °C. A partir do diagrama Al2O3- SiO2, é possível a fabricação de produtos
como os vidros VycorTM e Pyrex®.

Regra de Fases de Gibbs

Os diagramas de fases e os princípios que regem o equilíbrio entre as fases é ditado pelas leis da ter-
modinâmica. Para o nosso estudo, é importante conhecer uma dessas leis, em especial, a regra de fases
de Gibbs, que dita o número de fases que podem coexistir em um sistema em equilíbrio. A regra de
fases de Gibbs é matematicamente expressa pela equação
N C  F  P

UNIDADE 6 173
em que P representa o número de fases presentes, Portanto, para que esse sistema esteja completa-
F é o número de graus de liberdade (número de mente definido, é necessário estabelecermos, além
variáveis controladas externamente, por exemplo da composição global, a sua temperatura.
temperatura, pressão e composição), C é a quanti- Para as regiões bifásicas do diagrama binário
dade de componentes que compõem o sistema, e N cobre-prata (Figura 4), P vale 2, pois em cada uma
é o número de variáveis que não são relacionadas delas coexistem duas fases em equilíbrio, logo
à composição, por exemplo, temperatura e pressão.
N C  F  P
2 1  F  2
F 1
Tenha sua dose extra de
conhecimento assistindo ao Portanto, nesse caso, o sistema (a liga) é com-
vídeo. Para acessar, use seu pletamente especificado utilizando apenas um
leitor de QR Code. parâmetro, que pode ser a temperatura ou a com-
posição de uma das fases. Por exemplo, para uma
liga a 900 °C na região bifásica a +L. Sabendo a
Vamos analisar o diagrama de fases binário mos- temperatura (900 °C, por exemplo), as compo-
trado na Figura 4, nele sabemos que a pressão é sições estarão estabelecidas pela linha de amar-
constante e vale 1 atm, portanto, a única variável, ração nessa temperatura e, aplicando os passos
independente da composição, é a temperatura, ensinados anteriormente, poderemos determinar
nesse caso N = 1. O número de componentes no que as composições da fase a são, aproximada-
diagrama binário é dois; no nosso caso, a prata e mente, 8%p Ag - 92%p Cu, e da fase L são 42%p
o cobre, então C = 2. Ag - 58%p Cu.
Para as regiões monofásicas do diagrama bi- Vamos imaginar, agora, um sistema trifásico,
nário cobre-prata (Figura 4), P vale 1, pois temos contendo as fases L, a e b , isso só ocorre sobre
apenas uma fase, logo a linha BEG do diagrama (isoterma eutética) da
N C  F  P Figura 4. Na isoterma eutética, a temperatura já
2 1  F 1 está definida e, no nosso exemplo, vale 779 °C
(além da pressão constante do diagrama, 1 atm);
F 2
portanto o valor de N é igual a 1, pois a única
Isso significa dizer que, nessas condições, o sistema variável do diagrama que não depende da compo-
(a liga) é completamente especificado utilizando sição continua sendo a temperatura. Já sabemos
dois parâmetros: a temperatura e a composição que a quantidade de fases presentes é três, então
global. Imagine uma liga na fase L, com composi- o valor de P é 3 e a quantidade de componentes
ção de 60%p Ag, somente com essas informações o continua sendo C = 2 (cobre e prata). Com essas
sistema ainda não estará completamente definido, informações, temos:
pois essa liga poderá estar, por exemplo, a 1000 °C,
N C  F  P
1100 °C etc. e ainda estar na região de líquido (L).
2 1  F  3
F 0

174 Diagrama de Fases


Esse resultado mostra que não existem graus de liberdade para uma liga trifásica no diagrama de fases
binário; em outras palavras, significa dizer que, para qualquer sistema localizado sobre a isoterma eutética,
as composições das fases a , b e L, e a temperatura já estão todas fixadas e, no caso do sistema cobre-prata
(Figura 4), valem, respectivamente, CaE = 8%p Ag, CaE = 91,2%p Ag, CLE = 71,9%p Ag e TE = 779 °C.

Endurecimento por Solução Sólida

Em materiais metálicos, existe um comportamento importante, chamado de endurecimento por solução


sólida. Esse comportamento é caracterizado pelo aumento da resistência mecânica como consequência
do aumento da restrição à movimentação de discordâncias do material. Essa é a razão pela qual o latão,
liga de cobre e zinco, é mais resistente do que o cobre puro. Outro exemplo de aplicação desse compor-
tamento é feito pelos joalheiros, que não
fabricam joias com ouro e prata puros, pois
276
são metais muito macios e se deformam

facilmente, contudo a adição de cobre ao
ouro ou à prata eleva a resistência mecâ-
nica dessas ligas e permite a produção de
joias de alta durabilidade. 207

A intensidade do endurecimento por


Limite de escoamento (MPa)


solução sólida depende de dois fatores: o 
primeiro é a diferença de tamanho dos
átomos do metal de base (metal original 138 
da rede) e o metal adicionado (soluto); 

nesse caso, quanto maior a diferença de 

tamanho, maior o efeito de endurecimen-


to, pois, grandes diferenças criam uma 69
distorção elástica na estrutura cristalina
do material e dificulta o deslizamento das
discordâncias (Figura 5).
O segundo fator é a quantidade do
0
elemento de liga, quanto maior for a 0 10 20 30
quantidade desse elemento, maior será Porcentagem do elemento de liga
o endurecimento. Na Figura 5, podemos
Figura 5 - Efeito de endurecimento por solução sólida no cobre para
observar que o cobre com 20%p Zn é mais vários elementos de liga
resistente do que o cobre com 10%p Zn. Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015).

UNIDADE 6 175
Quando a adição de elementos de liga, de maior ou de menor tamanho, ultrapassa o limite de solu-
bilidade, ocorre o endurecimento do material, chamado de endurecimento por dispersão. Nesse
mecanismo, a interface entre a fase de maior quantidade, chamada de matriz, e a fase de reforço,
chamada de precipitada ou fase dispersa, atua como uma barreira que dificulta a movimentação
das discordâncias e, consequentemente, aumenta a resistência mecânica da liga. Na maioria das
ligas, esse endurecimento é alcançado por transformações de fase, como as reações eutéticas e as
reações eutetoides.
Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).

Os efeitos do endurecimento por solução sólida nas propriedades mecânicas dos metais são descritos
a seguir.
O limite de escoamento, limite de resistência à tração e à dureza das ligas metálicas são maiores
do que dos metais puros. Esse é um dos motivos pelos quais é frequente o uso de ligas metálicas em vez
do metal puro. Na fabricação de latas de alumínio para bebidas, por exemplo, são utilizadas pequenas
quantidades de magnésio (Mg) para aumentar a resistência dessas latas.
A ductilidade é, quase sempre, reduzida pelo endurecimento por solução sólida. Contudo, exis-
tem exceções, como é o caso das ligas de cobre-zinco, que têm sua resistência mecânica e ductilidade
aumentadas pelo endurecimento por solução sólida.
A condutividade elétrica (assunto que será tratado na Unidade 7) dos metais puros é muito maior
do que a da liga. Esse comportamento é explicado pelo fato dos elétrons serem mais espalhados pelos
átomos de elementos de liga do que pelos átomos da matriz (átomos originais da rede).
Por último, a resistência à fluência, de ligas é maior do que em metais puros, ou seja, ela aumenta
devido ao endurecimento por solução sólida. Este é um dos motivos da seleção de materiais utilizados
em altas temperaturas: levar em consideração a possibilidade de endurecimento por solução sólida.
Nos materiais cerâmicos, a formação de uma solução sólida não tem um efeito significativo no
aumento da resistência, uma vez que a resistência mecânica nesses materiais se deve, principalmente,
à distribuição de defeitos na estrutura do material e não pela propagação e interação de linhas de
discordâncias (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

176 Diagrama de Fases


Sistema
Ferro-Carbono

Dentre as diversas possibilidades de diagramas de


fases que podemos estudar, devido à restrição de
tempo e ao objetivo deste material, vamos nos ater
ao estudo do sistema ferro-carbono que é, inclu-
sive, um dos mais importantes dentre os sistemas
de ligas binárias. A gama de materiais compostos
por ferro e carbono vai desde os aços até os ferros
fundidos, que estão entre os principais materiais
estruturais da nossa cultura.

Diagrama de Fases
Ferro-Carbeto de Ferro

Para o estudo deste tópico, vamos utilizar parte do


diagrama ferro-carbono, representado na Figura
6, conhecido como diagrama do ferro-carbeto
de ferro. Neste diagrama, vemos que o ferro puro
passa por duas transformações da sua estrutura
cristalina antes da fusão a 1538 °C (eixo vertical à
esquerda do diagrama). À temperatura ambiente,
encontramos a primeira fase cristalina do ferro
que é chamada de ferrita ou ferro a , cuja estru-
tura é do tipo CCC (cúbica de corpo centrado) e
se mantém até uma temperatura 912 °C. Quando

UNIDADE 6 177
essa temperatura é alcançada, o ferro a sofre uma fases ricas em carbono, vamos nos ater à parte do
transformação polimórfica da estrutura cristalina diagrama mostrada na Figura 6 (diagrama fer-
CCC para uma estrutura cristalina CFC (cúbica ro-carbeto de ferro), uma vez que todos os aços
de face centrada), chamada de austenita ou ferro e ferros fundidos possuem teores de carbono
g . A estrutura do ferro g persiste até a tempera- inferiores a 6,7%p C.
tura de 1394 °C, a partir da qual o ferro g sofre O carbono é uma impureza intersticial no ferro
outra transformação em sua estrutura e volta a e forma soluções sólidas com as fases a , g e d .
ter estrutura cristalina CCC chamada de ferrita d Observamos que as fases a e d existem apenas
que persiste até a temperatura de 1538 °C, quando, em baixas concentrações de carbono (máximo de
finalmente, sofre a fusão (torna-se líquido). 0,022%p C para o ferro a a 727 °C e 0,025%p C
No diagrama da Figura 6, vemos que a con- para a ferrita d à 1493 °C). Isso se deve ao fato de
centração de carbono (eixo horizontal) estende- que as posições intersticiais na estrutura CCC são
-se até um máximo de concentração de 6,7%p C, pequenas e dificultam a acomodação dos átomos
na qual forma-se um composto intermediário de carbono. Embora as concentrações de carbo-
chamado carbeto de ferro ou cementita (Fe3C), no no ferro a e na ferrita d sejam baixas, elas
representado por uma linha vertical no diagra- influenciam fortemente nas propriedades mecâ-
ma de fases (eixo vertical à direita do diagrama). nicas desses materiais, a fase a , por exemplo, é
Apesar do diagrama completo do ferro-carbono relativamente macia e pode ser transformada em
estender-se além da composição de 6,7%p C, até magnética em temperaturas inferiores a 768 °C.
1600
1538 ºC
1493 ºC

δ 
1400
2500
1394 ºC +

1200
1147 ºC
Temperatura (ºC)

2,14 4,30 Temperatura (ºF)


, Austenita 2000

1000
912 ºC
 + Fe3C
α 1500
800 +
 727 ºC
0,76
0.022
600 α, Ferrita α +,Fe3c
Cementita (Fe3C) 1000

400
0 1 2 3 4 5 6 6,70
(Fe) Composição(%p/pC)

Figura 6 - Diagrama ferro-carbeto de ferro


Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 272).

178 Diagrama de Fases


Na austenita (ferro d ), a concentração máxima de carbono é de 2,14%p C a uma temperatura de 1147 °C,
praticamente 100 vezes maior do que o ferro a , devido aos interstícios maiores da estrutura CFC.
Finalmente, a cementita (Fe3C) é um material muito duro e frágil e sua presença aumenta a resis-
tência em alguns tipos de aços. Ela é formada quando o limite de solubilidade do carbono no ferro a
é excedido abaixo de 727 °C ou quando o limite de solubilidade do carbono no ferro g é excedido
entre as temperaturas de 727 °C e 1147 °C. Os nomes, símbolos, estrutura cristalina, porcentagem
máxima de carbono e temperatura na solubilidade máxima de cada fase estão dispostos na Tabela 1.
Tabela 1 - Informações sobre as fases do sistema ferro-carbeto de ferro

Símbolo Estrutura Porcentagem Temperatura na solubilidade


Nome da fase
(fase) Cristalina máxima (%p C) máxima (°C)

Ferrita ou
a CCC 0,022 727
Ferro alfa

g Austenita ou
CFC 2,14 1147
Ferro gama

Ferro delta ou
d CCC 0,10 1493
Ferrita delta

Cementita ou
Fe3C Ortorrômbica 6,70 -
Carbeto de ferro
Fonte: o autor.

No diagrama ferro-carbeto de ferro, vemos também a ocorrência de uma reação eutética (assim como
nos sistemas eutéticos) na concentração 4,3%p C a 1147 °C, na qual há a transformação da fase líqui-
da L nas fases sólidas ferro g e cementita, representada a seguir.
resfriamento

L 
 g  Fe3C
aquecimento

Existe uma reação eutetoide nesse diagrama, de extrema importância para os tratamentos térmicos
dos aços, ela ocorre em 0,76%p C, e a 727 °C a transformação pode ser representada por

resfriamento

γ (0, 76%p C )  
 α (0, 022%p C)  Fe3C (6, 7%p C )
aquecimento

na qual vemos que o resfriamento do ferro g conduz a formação do ferro a e da cementita (Fe3C).
Quanto à classificação das ligas ferrosas, temos três tipos:
• Ferro: possui concentrações de carbono inferiores a 0,008%p.
• Aço: possui concentrações de carbono entre 0,008%p e 2,14%p.
• Ferro fundido: possui concentrações de carbono entre 2,14%p e 6,7%p.

Embora essas sejam as classificações das ligas ferrosas, os aços, na prática, raramente ultrapassam con-
centrações 1,0%p C, e os ferros fundidos comerciais geralmente possuem concentrações de carbono
inferiores a 4,5%p.

UNIDADE 6 179
Microestruturas em Ligas de Ferro-Carbono

Como foi dito anteriormente, a reação eutetoide nas ligas de ferro-carbono, que ocorre em 0,76%p C a
727 °C, é muito importante, pois representa as transformações de fases que acontecem nos tratamentos
térmicos de aços. Por essa razão, vamos tratar das reações resultantes do resfriamento lento dos aços,
considerando que o equilíbrio é mantido constantemente durante todo o processo.
Apesar da simplicidade da reação eutetoide, as mudanças de fases que ocorrem durante esse processo
são relativamente complexas. Tomemos como exemplo uma liga de composição eutetoide 0,76%p C a
uma temperatura inicial de 850 °C; nessas condições, existe somente a fase austenita em equilíbrio no
sistema. Essa liga é, então, resfriada lentamente, mantendo-se a sua composição constante. Durante o
resfriamento até a temperatura de 727 °C, não há mudança de fase na liga, ou seja, a fase austenita se
mantém até o sistema alcançar a temperatura eutética de 727 °C. Nessa temperatura, então, o sistema
sofre a transformação de acordo com a reação eutetoide.
resfriamento

γ (0, 76%p C )  
 α (0, 022%p C)  Fe3C (6, 7%p C )
aquecimento

A transformação da austenita ( g ), pelo resfriamento lento, dá origem a uma microestrutura formada


por camadas alternadas das duas fases presentes (a fase a e a fase Fe3C) abaixo da isoterma eutética
de 727 °C, e essa microestrutura formada recebe o nome de perlita.
A perlita apresenta propriedades mecânicas intermediárias entre o ferro a e a cementita (Fe3C), ou
seja, é um intermediário entre a maciez e a ductilidade do ferro a e a dureza e fragilidade da cementita.

Ligas hipoeutetoides

No resfriamento lento de ligas de ferro-carbono fora da composição eutetoide (em concentrações


diferentes de 0,76%p C), temos duas situações: as ligas hipoeutetoides, as quais possuem a composi-
ção abaixo da composição eutetoide (menores que 0,76%p C), e as ligas hipereutetoides, nas quais a
concentração de carbono está acima da composição eutetoide (maiores que 0,76%p C).
Vamos considerar, primeiramente, uma liga hipoeutetoide (concentração de carbono entre 0,022%p
e 0,76%p) a uma temperatura de 1000 °C e com uma composição de 0,38%p C, nessas condições,
temos somente a fase austenita.
Essa liga é, então, resfriada lentamente, mantendo-se sua composição global constante (0,38%p C),
o que é representado no diagrama por uma reta vertical com sentido para baixo. Abaixo de 800 °C, essa
reta cruza a curva do diagrama e, nesse momento, a liga entra numa região bifásica ( a + g ), onde parte
da austenita começa a se transformar em ferro a . A determinação das quantidades e das composições
das fases a e g para qualquer temperatura dentro da região bifásica a + g pode ser feita utilizando
a metodologia estudada no tópico quantidades relativas de cada fase.
Se continuarmos o resfriamento dessa liga dentro da região bifásica a + g , ocorrerá uma diminui-
ção da quantidade da fase g e, por consequência, um aumento da quantidade da fase a ; além disso, a

180 Diagrama de Fases


composição de ambas as fases sofre um aumento ce constante em 6,7%p durante todo o processo.
na concentração de carbono, sutil para a fase a e Quando a temperatura da liga cruza a isoterma
mais intenso na fase g ; entretanto a composição eutética, toda a fase g restante transforma-se em
global permanece constante. perlita. Portanto, essa liga abaixo da temperatura
Se o resfriamento prosseguir até que seja cru- eutética é composta de perlita e cementita proeu-
zada a isoterma eutetoide (a 727 °C), ocorrerá a tetoide.
transformação de toda a fase g em perlita, e nesse As transformações envolvendo ferro e carbono
momento teremos uma fase a originada antes da são muitas, contudo o intuito do nosso curso é
temperatura eutetoide, chamada ferrita proeute- fornecer apenas uma introdução a esse assunto,
toide, e outra fase a formada junto com a perlita por essa razão, vamos encerrar os nossos estudos
na temperatura eutetoide, chamada ferrita eute- dos diagramas de fases por aqui.
toide. Portanto, em todas as ligas hipoeutetoides Caro(a) aluno(a), nesta unidade, entramos na
de ferro-carbono, resfriadas lentamente abaixo da discussão sobre diagramas de fases, começando
temperatura eutetoide, estarão presentes a perlita com uma conceituação básica sobre os termos
e a ferrita proeutetoide. importantes envolvidos neles. Em seguida, foi
apresentado o diagrama de fases unário da água
pura, no qual pudemos observar as três fases da
Ligas hipereutetoides água, sólida, líquida e gasosa, as interfaces entre
elas e também o seu ponto triplo.
De maneira análoga, existem as transformações Aprofundamos os estudos com os diagramas
das ligas hipereutetoides, cuja concentração de de fases binários, começando pelo estudo dos
carbono do sistema está entre 0,76%p até 2,14%p, sistemas isomorfos, onde identificamos as fases
que acontecem quando essas ligas são resfriadas presentes, líquida e sólida alfa, as linhas solidus
lentamente, a partir da região monofásica da fase e liquidus, e também aprendemos a calcular as
g (austenita) até abaixo da temperatura eutetoide. quantidades presentes de cada fase e a composi-
Vamos considerar uma liga hipereutetoide a ção dessas fases em um sistema.
1000 °C, cuja composição global é 1,5%p C. Nes- Vimos o diagrama de fases binário para siste-
sas condições, a liga apresenta somente a fase g ; mas eutéticos, no qual observamos a existência de
ao resfriarmos essa liga, lentamente, até ela alcan- três regiões monofásicas e três regiões bifásicas.
çar a região bifásica g +Fe3C observaremos que Além disso, vimos que existe uma isoterma eu-
parte da fase g se transformará em cementita tética nesse diagrama, onde ocorre uma reação
(Fe3C), denominada cementita proeutetoide, uma importante para esses sistemas.
vez que é formada antes da temperatura eutetoide. Finalizamos a unidade com uma abordagem
Conforme o resfriamento da liga prossegue introdutória do diagrama de fases do ferro-car-
na região bifásica, é observada uma diminuição beto de ferro, na qual estudamos algumas mi-
gradual na quantidade da fase g e, em contra- croestruturas e transformações importantes desse
partida, um aumento na quantidade da fase Fe3C. sistema.
Além disso, a concentração de carbono na fase Espero que você tenha entendido o assunto e
g diminui durante esse resfriamento, porém a aproveitado esse tempo de estudo. Nos vemos na
concentração de carbono na cementita permane- próxima unidade, até breve.

UNIDADE 6 181
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Os diagramas de fases binários são curvas que representam as relações entre a


temperatura e as composições, bem como a quantidade de fases em equilíbrio
para uma liga binária. A seguir, é apresentado o diagrama binário eutético para
cobre-prata.

1200 2200

 2000
Liquidus Líquido

1000
1800
Solidus 
α+ 1600
α 779 ºC () β+
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)
800  

8,0 71,9 91,2 β 1400
() (β)
(α)
1200
600
Solvus 1000

α+β 800
400

600


200 400
0 20 40 60 80 100
(Cu) Composição (%p Ag) (Ag)

Em relação ao diagrama cobre-prata, assinale a opção correta.


a) Na composição de 71,9% em peso de prata, o ponto eutetoide ocorre a 780 °C e é
caracterizado pela transformação em duas fases sólidas durante o resfriamento.
b) A curva CBA estabelece o limite de solubilidade da solução sólida rica em cobre.
c) A linha BEG também pode ser considerada uma curva liquidus e representa
a temperatura mais baixa, em que o líquido pode existir para quaisquer das
concentrações.
d) Na construção dos diagramas binários, as regiões monofásicas estão sempre
separadas umas das outras por outra região monofásica.
e) A curva HGF delimita a região da solução sólida rica em cobre.

182
2. O diagrama de fases Fe-Fe3C (ferro – cementita) é a base dos estudos de trata-
mentos térmicos para ligas ferrosas como os aços. A seguir, é apresentado um
diagrama ferro – cementita.
1600
1538 ºC
1493 ºC

δ 
1400
2500
1394 ºC +

1200
1147 ºC
Temperatura (ºC)

Temperatura (ºF)
, Austenita 2,14 4,30
2000

1000
912 ºC

800 1500
 727 ºC
0,76
0.022
600 α, Ferrita α + ,Fe3c
Cementita (Fe3C) 1000

400
0 1 2 3 4 5 6 6,70
(Fe) Composição(%p/pC)

Com base no diagrama de fases do Fe-Fe3C apresentado, assinale a alternativa


correta.
a) Um ponto localizado na região I corresponde a um sistema monofásico.
b) O diagrama apresenta uma transformação de fases em 727 °C, denominada
eutetoide, com o sólido ferro-gama decompondo-se em ferro-alfa e cementita,
por resfriamento.
c) Um ponto localizado na região II corresponde a um sistema bifásico composto
por ferrita + cementita.
d) A quantidade máxima de carbono na fase ferrita é superior à quantidade má-
xima de carbono na fase austenita.
e) Durante o aquecimento do ferro puro, da temperatura ambiente até a tempe-
ratura de 1600 °C, o ferro sofrerá as seguintes transformações: ferro-alfa →
ferro-delta e de ferro-delta → ferro-gama.

183
3. Os diagramas de fases são mapas termodinâmicos em que se podem prever
quais são fases que coexistem em condições de equilíbrio termodinâmico. Esses
diagramas também auxiliam na previsão dos mecanismos de endurecimento
permitidos. A figura a seguir apresenta o diagrama de fases em equilíbrio do
sistema Cu-Ni.

1500.0
1450.0

1400.0
1350.0
temperatura (ºC)

1300.0
+α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
1050.0
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni

Considerando o resfriamento em condições de equilíbrio de uma liga Cu-40%p Ni


no estado líquido, conclui-se que:
a) O primeiro sólido terá composição em massa maior que 40%p Ni e o último
terá composição de 40%p Ni.
b) O primeiro sólido terá composição em massa maior que 40%p Ni e o último
terá composição maior que 40%p Ni.
c) O primeiro sólido terá composição em massa menor que 40%p Ni e o último
terá composição maior que 40%p Ni.
d) O primeiro sólido terá composição em massa menor que 40%p Ni e o último
terá composição menor que 40%p Ni.
e) O primeiro e o último sólido terão composição em massa de 40%p Ni.

184
LIVRO

Princípios de Ciência dos Materiais


Autor: Lawrence H. Van Vlack
Editora: Blucher
Sinopse: material suplementar para o estudo dos sistemas e diagramas de fases.
Comentário: indico a leitura do capítulo 09 “Materiais Polifásicos e Relações
de Equilíbrio”.

185
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

186
1. B.

A alternativa (a) está incorreta, pois na composição de 71,9% em peso de prata, o ponto eutetoide ocorre
a 779 °C e é caracterizado pela transformação em duas fases sólidas durante o resfriamento.

A alternativa (c) está incorreta, pois a linha BEG também pode ser considerada uma curva solidus e repre-
senta a temperatura mais baixa em que o líquido pode existir para quaisquer das concentrações.

A alternativa (d) também está incorreta, pois, na construção dos diagramas binários, as regiões monofásicas
estão sempre separadas umas das outras por regiões bifásicas.

E a alternativa (e) está incorreta, pois a curva HGF delimita a região da solução sólida rica em prata.

2. B.

A alternativa (a) está incorreta, pois um ponto localizado na região I corresponde a um sistema bifásico,
ferro-alfa + ferro-gama.

A alternativa (c) está incorreta, pois um ponto localizado na região II corresponde a um sistema bifásico
composto por Austenita (ou ferro-gama) + cementita.

A alternativa (d) está incorreta, pois a quantidade máxima de carbono na fase ferrita (0,022%) é inferior à
quantidade máxima de carbono na fase austenita (2,14%).

E a alternativa (e) está incorreta, pois, durante o aquecimento do ferro puro, da temperatura ambiente
até a temperatura de 1600 °C, o ferro sofrerá as seguintes transformações: ferro-alfa → ferro-gama e de
ferro-gama → ferro-delta.

187
3. A.

Como o primeiro sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva liquidus, a concentração
de Ni na fase L é 40%p (ponto amarelo) e na fase sólida é 54%p (ponto verde), ou seja, maior que 40%p.

1500.0
1450.0
Resfriamemto


1400.0
1350.0
temperatura (ºC)

1300.0 +α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
Primeiro
1050.0 sólido
formado
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni

Já o último sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva solidus, a concentração de Ni na
fase L é 26%p (ponto amarelo) e na fase sólida alfa será exatamente 40%p.

1500.0
1450.0
Resfriamemto


1400.0
1350.0
Temperatura (ºC)

1300.0
+α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
Último
1050.0 sólido
formado
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni

188
189
190
191
192
Me. Luis Henrique de Souza

Propriedades Elétricas e
Propriedades Térmicas
dos Materiais

PLANO DE ESTUDOS

Propriedades elétricas
- condução elétrica em Propriedades térmicas -
cerâmicas e polímeros condutividade térmica

Propriedades elétricas - Propriedades térmicas


condução elétrica - capacidade calorífica e
em metais expansão térmica

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Estudar a condução elétrica nos materiais condutores • Compreender o que é e a importância da capacidade
e entender como funciona o mecanismo da condução. calorífica e da expansão térmica em sólidos.
• Apresentar os materiais dielétricos e suas características. • Entender como funciona o mecanismo de condução tér-
• Conhecer os materiais condutores poliméricos e saber o mica nos materiais.
que é polarização.
Propriedades
Elétricas - Condução
Elétrica em Metais

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, exploraremos


outras propriedades importantes nos projetos de
engenharia, diferentes das propriedades mecâni-
cas que foram abordadas na Unidade 4. Começa-
remos o nosso estudo pelas propriedades elétricas,
onde veremos o que é condutividade elétrica e
como ela se aplica em materiais, que podem se
comportar como condutores, isolantes ou semi-
condutores. Dentre os materiais semicondutores,
estudaremos os do tipo p e do tipo n para diferen-
ciarmos o funcionamento de cada um, além disso,
será discutido um tópico sobre o comportamento
dielétrico de materiais isolantes.
Após o estudo das propriedades elétricas, dare-
mos continuidade com o estudo das propriedades
dos materiais envolvidas com a temperatura. A pri-
meira delas será a capacidade calorífica, relaciona-
da à energia térmica absorvida por um corpo; em
seguida, veremos a expansividade térmica que trata
das variações de volume sentidas pelos materiais
quando submetidos ao aumento ou à diminuição de
temperatura. Finalizaremos a unidade com o estudo
da condução térmica, que consiste na transferência
da energia térmica realizada pelo material. Desejo a
você uma ótima experiência de aprendizado.
Condução Elétrica

Quando trabalharmos com materiais sólidos, uma das mais importantes propriedades elétricas a ser
avaliada é a condutividade elétrica, que consiste na facilidade com que o material conduz eletricidade.
Essa condução elétrica está relacionada ao movimento de espécies individuais do material em escala
atômica, chamadas portadores de carga.
O tipo mais simples de portador de carga é o elétron, cuja carga é negativa e equivale a -1,6.10-19 C
(coulombs). Um conceito um pouco mais abstrato e de fundamental importância, principalmente nos
semicondutores, é o de lacuna eletrônica, que é formada pela ausência de um elétron na nuvem eletrônica.
Essa ausência do elétron, carregado negativamente, concede à lacuna uma carga positiva efetiva de 1,6 ⋅
10-19 C, em relação à sua vizinhança. Em materiais iônicos, os cátions e os ânions são portadores de carga,
e a movimentação deles pode gerar o fenômeno denominado condução iônica (SHACKELFORD, 2013).
Essa facilidade em conduzir a corrente elétrica é representada pela equação conhecida como Lei
de Ohm, apresentada a seguir:
V = IR

Nela V é a diferença de potencial elétrico (tensão elétrica), cuja unidade é volts (V); I é a intensidade
de corrente elétrica (ou taxa de passagem de cargas ao longo do tempo), cuja unidade é ampère (A); e
R é a resistência elétrica do material, cuja unidade é ohm (Ω). A unidade ampère equivale a coulombs
por segundo (1 A = 1 C/s).
O valor da resistência R de um material depende da geometria da amostra analisada. Para um fio no
formato cilíndrico, por exemplo (Figura 1), a resistência aumenta com o aumento do comprimento do fio,
l, e diminui com o aumento da área de seção transversal, A, essa relação é conhecida como 2ª lei de Ohm.

rl
R=
A

Com a 2ª lei de Ohm, definimos uma propriedade elétrica importante, chamada de resistividade
elétrica (ou simplesmente resistividade), ρ, cujas unidades são Ω ∙ m.

Diferentemente da resistência R, a resistividade elétrica ρ, é uma propriedade independente da geo-


metria da amostra analisada. A resistividade elétrica depende somente do tipo do material utilizado.

UNIDADE 7 195




Figura 1 - Representação da condução elétrica em um material de formato cilíndrico
Fonte: o autor.

Relacionando a 1ª e a 2ª lei de Ohm, temos: A partir dos valores de condutividade elétrica


Isolando R V dos materiais, eles são classificados como:
1ª lei de Ohm: V = IR 
→R =
I Condutores: possuem condutividades entre
ρl Isolando ρ RA
2ª lei de Ohm: R =  →ρ = 10 e 107 (Ω ∙ m)-1, por exemplo a maioria dos
4
A l
metais.
Se substituirmos a equação obtida de R na equa- Semicondutores: possuem condutividades
ção para ρ, obtemos: intermediárias, entre 10-7 e 104 (Ω ∙ m)-1.
Isolantes: possuem condutividades entre 10-20
V substituindo R por V / I em RA
R  r  e 10-10 (Ω ∙ m)-1, como acontece com a maioria das
I l
VA cerâmicas e polímeros.
r
Il

A última equação relaciona a resistividade elétrica Bandas de Energia


de uma amostra de material com a tensão elétrica nos Sólidos
e com a corrente elétrica.
A partir da resistividade elétrica, podemos de- Apesar dos íons também serem condutores de
finir outra propriedade importante, a condutivi- corrente, nos materiais condutores, semicon-
dade elétrica, σ, que é simplesmente o inverso da dutores e na maioria dos materiais isolantes, a
resistividade elétrica. Assim como a resistividade corrente é conduzida majoritariamente a partir
elétrica, a condutividade elétrica não depende da dos elétrons nesses materiais. Contudo, devemos
geometria da amostra, depende somente do tipo entender que nem todos os elétrons que formam
de material utilizado. o material estão disponíveis para a condução de
corrente elétrica.
1
σ= Para a formação de um material sólido, é ne-
ρ
cessário o agrupamento de um número muito
Ela representa a facilidade em conduzir corrente grande de átomos, conduzindo a formação da
elétrica que um material específico possui e é estrutura cristalina desse material. Esse grande
o parâmetro utilizado na classificação elétrica número de átomos, próximos uns aos outros, cau-
dos materiais. As unidades de σ são Ω-1 ∙ m-1 ou sam uma interferência nos elétrons de um átomo
(Ω ∙ m)-1. pelos elétrons e núcleos dos átomos vizinhos a ele.

196 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais


Essa interferência leva à formação de estados eletrônicos espaçados, mas próximos entre si, formando
o que são denominadas bandas de energia eletrônica.
Em cada banda eletrônica, existe um estado de energia, e a diferença entre estados adjacentes é
muito pequena. As propriedades eletrônicas de um material são um reflexo das bandas de energia
eletrônicas desse material.
Na temperatura 0 K (-273,15 °C), existem quatro diferentes tipos de bandas possíveis representados
na Figura 2:
a) Banda mais externa, parcialmente preenchida com elétrons. Característica de alguns metais
(condutores), em particular de metais com apenas um elétron de valência, por exemplo o cobre.
b) Superposição de uma banda vazia com uma banda preenchida. Também característica em
metais (condutores), como é o caso do magnésio.
c) Banda de valência, completamente preenchida com elétrons, separada de uma banda de
condução vazia. Essas bandas são separadas por um espaçamento entre as bandas de energia
de grande magnitude. Os materiais isolantes apresentam esse comportamento.
d) Banda de valência, completamente preenchida com elétrons, separada de uma banda de con-
dução vazia. Essas bandas são separadas por um espaçamento entre as bandas de energia
de pequena magnitude. Os materiais semicondutores apresentam esse comportamento.

Banda de
Banda Banda condução Banda de
vazia vazia vazia condução
vazia

Espaçamento Espaçamento Espaçamento


entre as bandas entre as bandas entre as bandas

Estados vazios Banda Banda de Banda de


preenchida valência valência
Estados preenchida preenchida
preenchidos
a) b) c) d)

Figura 2 - Tipos de bandas eletrônicas nos sólidos


Fonte: adaptada Callister e Rethwisch (2013).

O estudo aprofundado desses conceitos foge do escopo da nossa disciplina, contudo, devemos saber
que somente elétrons livres participam do processo de condução elétrica. Para que um elétron se torne
livre, ele deve ser excitado ou promovido para uma das bandas de energia vazias, ou seja, o elétron
deve migrar para uma banda vazia ou estado vazio, no caso da Figura 2(a).
Além disso, em materiais isolantes e semicondutores, as lacunas eletrônicas também participam da
condução elétrica. Inclusive, a diferença entre os semicondutores e os isolantes reside na quantidade
dos elétrons livres e das vacâncias presentes nesses materiais, devido à diferença do espaçamento entre
as bandas desses dois tipos de materiais (CALLISTER; RETHWISCH 2013).

UNIDADE 7 197
Condutores (Metais)

Os metais são os materiais que melhor representam a classe dos condutores, pois pouca ou nenhuma
energia é necessária para promover um elétron do estado ou banda preenchido para um estado ou
banda vazio adjacente nos condutores; geralmente, a energia térmica do material já é o suficiente para
a promoção de elétrons livres nesses materiais. Por essa razão, a quantidade de elétrons livres é, relati-
vamente, alta, sendo assim, a condutividade elétrica desses materiais também é alta.

Isolantes e semicondutores Mobilidade dos elétrons

Quando se trata de isolantes e semicondutores, Quando um material, que contenha elétrons


não existem estados vazios adjacentes para que livres, é submetido a um campo elétrico, esses
o elétron possa migrar facilmente. As bandas de elétrons livres são acelerados na direção oposta
valência desses materiais são totalmente preenchi- desse campo devido a suas cargas negativas. Dessa
das e, além disso, a banda de condução é separada forma, os elétrons livres acelerados dão origem a
da sua banda de valência por um espaçamento um fluxo ordenado de elétrons; entretanto, apesar
entre bandas. Para que um elétron seja promovido destes serem acelerados, a corrente elétrica gerada
a elétron livre, ele deve receber energia suficien- nesse processo não aumenta com o decorrer do
te para migrar da banda de valência até a banda tempo. Esse comportamento se deve ao fato de
de condução, na qual ele terá a mobilidade para que existem forças que se contrapõem a essa ace-
conduzir corrente elétrica. A energia necessária leração (forças de fricção), mantendo a magnitude
para essa promoção é, geralmente, de uma fonte da corrente elétrica constante.
térmica ou de uma fonte luminosa. As forças de fricção são resultado das imper-
Nos materiais isolantes, o espaçamento entre feições presentes na rede cristalina do material,
as bandas de valência e de condução é relativa- como lacunas, átomos de impureza, discordân-
mente grande, portanto, a energia necessária para cias, átomos intersticiais e também das vibrações
a promoção do elétron da banda de valência para térmicas dos próprios átomos da rede.
a banda de condução também é muito grande, e A esse fluxo de elétrons constante, resultante
esse material dificilmente possuirá elétrons livres de todos os fatores mencionados, de direção opos-
para a condução de corrente elétrica. ta ao campo elétrico aplicado, é dado o nome de
Em materiais semicondutores, a distância en- corrente elétrica (I).
tre as bandas de valência e de condução é menor, Visto que os defeitos na estrutura cristalina do
o que significa que a energia para a promoção de material interferem negativamente na magnitude
elétrons livres é menor em relação aos materiais da corrente elétrica que passa por ele, podemos
isolantes. Por essa razão, os semicondutores pos- analisar a resistividade elétrica com base nesses
suem uma quantidade de elétrons livres muito defeitos. Para os metais, por exemplo, a resistivi-
maior que os isolantes, nas mesmas condições dade elétrica total pode ser escrita como:
energéticas, ou seja, eles possuem condutivida-
des elétricas intermediárias entre os isolantes e rtotal  rt  ri  rd
os condutores.

198 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais


Onde, Em um semicondutor intrínseco, a condução
• ρt representa a resistividade resultante das elétrica depende tanto dos elétrons promovidos
vibrações térmicas do material. quanto dos buracos produzidos nessa promoção.
• ρi representa a resistividade resultante das
impurezas presentes no material.
• ρd representa a resistividade resultante da Semicondutor extrínseco
deformação plástica.
Os semicondutores comercializados são, geral-
mente, extrínsecos, fabricados para utilizações es-
Semicondutividade pecíficas, geralmente em dispositivos eletrônicos
que operam à temperatura ambiente e possuem
Os condutores possuem uma condutividade mui- condutividades elétricas altas nessas condições.
to superior aos semicondutores, contudo, outras Nos semicondutores extrínsecos, o compor-
características elétricas fazem dos semicondutores tamento elétrico do material é ditado por áto-
materiais de extrema importância, principalmen- mos de impurezas presentes nesses materiais, que
te no âmbito tecnológico. Uma dessas caracterís- mesmo em concentrações pequenas, conduzem
ticas é a sensibilidade elétrica a impurezas, mes- a um excesso de elétrons e lacunas. Existem dois
mo em concentrações muito pequenas. A seguir, tipos de semicondutores extrínsecos, os do tipo
abordaremos os semicondutores intrínsecos e os n e os do tipo p. No primeiro, os elétrons são os
semicondutores extrínsecos. responsáveis pela condução da corrente elétrica;
no segundo, são os buracos que desempenham o
papel de condutores de corrente elétrica.
Semicondutor intrínseco

O comportamento elétrico dos semicondutores


intrínsecos se deve à estrutura eletrônica inerente A dopagem é o processo no qual pequenas
do material puro. Como foi dito anteriormente, os quantidades de impurezas, com propriedades
semicondutores são constituídos por uma banda adequadas, são adicionadas propositalmente
de valência totalmente preenchida e separada de e de forma controlada ao cristal intrínseco do
uma banda de condução por um espaçamento material semicondutor, de forma que o com-
relativamente pequeno. Nos semicondutores in- portamento elétrico deste seja modificado da
trínsecos, cada elétron promovido para a banda maneira desejada. Existem elementos dopantes
de condução deixa para trás uma lacuna (buraco) receptores, como boro, alumínio, gálio, índio e tá-
nas ligações covalentes do material. lio, permitindo a constituição de semicondutores
Essa lacuna pode ser tratada como uma partí- do tipo p, e dopantes doadores, como o fósforo,
cula carregada positivamente de mesma magni- arsênio, antimônio e bismuto, permitindo a cons-
tude que o elétron, porém de sinal oposto. Então, tituição de semicondutores do tipo n.
na presença de um campo elétrico, os elétrons Doadores e receptores dão origem, respectiva-
excitados (promovidos para a banda de condu- mente, a semicondutores tipo n e tipo p.
ção) e as lacunas movem-se em direções opostas.

UNIDADE 7 199
Semicondutor do tipo n

Para entendermos como funciona um semicondutor do tipo n, vamos tomar o exemplo do silício puro
(Si). Os átomos de silício se ligam a partir de quatro ligações covalentes (quatro elétrons de valência),
nas quais cada átomo de silício compartilha um elétron com o átomo de silício vizinho. Caso seja in-
troduzido um átomo de impureza substitucional, contendo cinco elétrons de valência, por exemplo o
fósforo (P), somente quatro elétrons desse átomo de fósforo poderão participar das ligações covalentes
com os átomos de silício adjacentes. Dessa forma, o elétron de valência do fósforo, que não está ligado
aos átomos de silício vizinhos, ficará fracamente preso ao redor desse átomo de fósforo e, por essa ra-
zão, ele pode ser facilmente promovido para a banda de condução, ou seja, tornar-se um elétron livre.
A impureza, nesses casos, é denominada doadora, pois fornece elétrons que podem ser facilmente
promovidos a elétrons livres e, geralmente, a energia térmica à temperatura ambiente é o suficiente
para a promoção de vários desses elétrons das impurezas doadoras. Além disso, é importante notar
que a promoção dos elétrons dessas impurezas não deixa um buraco para trás na banda de valência,
como nos semicondutores intrínsecos.

Semicondutor do tipo p

Para entendermos os semicondutores extrínsecos do tipo p, vamos voltar ao exemplo do silício puro
(Si), mas, dessa vez, vamos introduzir um átomo de impureza substitucional contendo três elétrons de
valência, por exemplo, o alumínio (Al). Os três elétrons desse átomo de alumínio poderão participar
das ligações covalentes com três átomos de silício adjacentes, faltando um elétron para completar a
ligação com o quarto átomo de silício. Esse déficit de elétron pode ser visto como um buraco, que está
fracamente ligado ao átomo de alumínio. Portanto, esse buraco pode migrar facilmente para outras
posições da rede, simplesmente pela transferência de um elétron de ligações adjacentes ao buraco.
Esses buracos em movimento são considerados em estado excitado e conduzem corrente elétrica.
As impurezas desse tipo são denominadas receptoras, pois são capazes de receber elétrons da banda
de valência, deixando para trás um buraco, contudo, não são criados elétrons livres nesse processo.
O processo de produção de materiais semicondutores extrínsecos p ou n, denominado dopagem,
é realizado utilizando-se materiais com purezas extremamente elevadas, contendo concentrações de
átomos de impurezas da ordem de 10-7%. A esses materiais de pureza elevada, são introduzidos átomos
de impureza, em concentrações controladas, utilizando diferentes técnicas.

Dispositivos semicondutores

O estudo das propriedades elétricas dos materiais permitiu o desenvolvimento de dispositivos que
desempenham funções eletrônicas fundamentais nos dias atuais. Alguns exemplos desses dispositivos
são os diodos e os transistores, que têm dimensões pequenas, consomem pouca energia e praticamente
não aquecem em comparação à tecnologia utilizada antes desses dispositivos. Por essas e outras razões,
os semicondutores promoveram o desenvolvimento acelerado da tecnologia nas últimas décadas.

200 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais


Um diodo (ou retificador) é um dispositivo eletrônico que per-
mite que a corrente elétrica passe em apenas uma direção, ou seja,
ele é capaz de transformar uma corrente alternada em corrente
contínua. Os diodos são constituídos de um material cujo um lado
é dopado em um semicondutor do tipo n, e o outro lado é dopado
em um semicondutor do tipo p.
Nos circuitos microeletrônicos, um dispositivo extremamente
importante é o transistor. Ele é capaz de amplificar um sinal elétrico
e, além disso, eles também servem de “interruptores” em computa-
dores com o intuito de processar e armazenar informações.
Os diodos e os transistores são amplamente utilizados em com-
putadores para a realização das lógicas e aritméticas, além do arma-
zenamento de informações. Os computadores funcionam no sistema
binário, ou seja, os números são escritos na base 2, sendo cada nú-
mero uma série de 0 e 1. Os transistores e diodos funcionam como
interruptores e possuem duas funções atribuídas por esses números
no sistema binário: 0, desligado (não conduz); 1, ligado (conduz).
Uma das tecnologias de armazenamento mais populares é a
memória flash. Ela pode ser programada e apagada eletricamente,
além disso, ela é não volátil, ou seja, não necessita de energia para
manter as informações armazenadas. A memória flash é muito
durável e capaz de suportar grandes variações de temperatura e,
até mesmo, a imersão em água.
O último dispositivo eletrônico importante que vamos men-
cionar são os circuitos eletrônicos. Eles estão presentes em vários
equipamentos utilizados em nossas vidas, desde uma simples cal-
culadora até os computadores de bordo de aviões mais sofisticados.
Atualmente, já possuímos tecnologia para criar circuitos eletrônicos
cada vez menores e com eficiência melhores. Os circuitos eletrô-
nicos são produzidos a partir do silício de alta pureza em proces-
sos de difusão controlada de impurezas nesses materiais, criando
regiões localizadas do tipo n e do tipo p nessas placas de circuito
(CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

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UNIDADE 7 201
Propriedades Elétricas -
Condução Elétrica em
Cerâmicas e Polímeros

A maioria dos materiais poliméricos e cerâmicos


iônicos são isolantes, ou seja, a banda de valência é
separada da banda de condução por grandes espa-
çamentos, produzindo poucos elétrons livres para
a condução de corrente elétrica em condições am-
biente, e por essa razão esses materiais apresentam
valores baixos de condutividade elétrica.

Condução Iônica (cerâmicas)

Os íons (cátions e ânions) presentes nos materiais


iônicos são capazes de conduzir corrente elétrica,
assim como os elétrons nos condutores. Na presen-
ça de um campo elétrico, cátions e ânions migram
em direções opostas, gerando uma corrente elétri-
ca, que é adicional à corrente gerada pela migração
de elétrons, como mostra a equação a seguir
stotal  seletrônica  siônica

Podemos verificar que a condutividade elétrica


total ( stotal ) em um material iônico é composta
de uma parcela de condutividade devido aos elé-
trons livres ( seletrônica ) e outra parcela devido à
movimentação dos íons nesse material ( siônica ).
Entretanto, apesar das duas contribuições para a condutividade elétrica, a maioria dos materiais
iônicos permanece isolante mesmo em altas temperaturas.

Condução em Polímeros

Apesar dos polímeros, em sua maioria, serem materiais isolantes, existem alguns materiais poliméricos
sintetizados que possuem condutividades elétricas próximas às dos metais. Estes são denominados
polímeros condutores e são produzidos pelo processo de dopagem com impurezas apropriadas.
Assim como nos semicondutores dopados, os polímeros condutores podem ser do tipo p ou do tipo
n, dependendo apenas da impureza utilizada na dopagem; entretanto, essas impurezas não substituem
nem repõem nenhum dos átomos do polímero.
Os polímeros condutores têm potencial para serem utilizados em um vasto campo de aplicações,
uma vez que apresentam baixa massa específica, alta flexibilidade e são facilmente produzidos. Eles
já são utilizados na fabricação de baterias recarregáveis, eletrodos poliméricos, diodos e transistores
e, até mesmo, na fiação de aeronaves.

Comportamento dielétrico

Um dielétrico é um material isolante que exibe um dipolo elétrico, ou seja, ele apresenta, a nível mo-
lecular ou atômico, uma separação entre as entidades com cargas positivas e negativas do material.
Nesse âmbito, vamos definir uma propriedade muito utilizada em eletrônica, chamado capacitância.
Quando uma diferença de potencial V é aplicada por meio de um capacitor (Figura 3), uma placa fica
carregada positivamente, enquanto a outra fica carregada negativamente. O campo elétrico corresponden-
te tem direção da carga positiva para a carga negativa. Nessas condições, a capacitância está relacionada
à quantidade de cargas armazenadas, Q, em cada uma das placas, de acordo com a equação a seguir:

Q
C=
V
na qual V é a diferença de potencial entre as placas (diferença de potencial do capacitor). A unidade da
quantidade de cargas, Q, é coulomb (C), e da diferença de potencial V é volts (V), portanto as unidades
da capacitância, C, são coulomb por volt (C/V) ou farad (F).
Para um capacitor de placas separadas por vácuo, como o apresentado na Figura 3(a), vemos que a
capacitância depende da área das placas, A, e da distância entre elas, l, de acordo com a relação

A
C 0
l
Onde ∈0 é a permissividade do vácuo, que vale 8,85 ∙ 10-12 F/m (farad por metro).

UNIDADE 7 203
Polarização
0 = є0E

 Outro comportamento elétrico importante verifi-


cado em alguns materiais é a polarização. Quando
falamos em polarização, estamos nos referindo ao
 Vácuo E=
 alinhamento dos momentos de dipolo atômicos

ou moleculares que ocorrem quando um campo
(a)
elétrico externo a esse material é aplicado sobre
ele, sendo esses momentos de dipolos induzidos
0 = є0E + 
ou permanentes.

Todos os materiais dielétricos possuem, pelo
menos, um tipo de polarização, podendo ser ele-
Dielétrico
trônica, iônica ou de orientação, dependendo ape-
 E
nas do material e do modo como o campo elétrico
(b) externo é aplicado.
Figura 3 - (a) Capacitor de placas separadas por vácuos; (b) A polarização eletrônica acontece quando
Capacitor de placas separadas por um material dielétrico a aplicação de um campo elétrico faz com que
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 646). o centro da nuvem eletrônica, carregada nega-
Caso seja introduzido um material dielétrico tivamente, desloque-se em relação ao núcleo do
(isolante) no espaço entre as placas do capacitor átomo, carregado positivamente. Esse tipo de po-
(Figura 3(b)), a relação para o cálculo da capaci- larização pode ser induzida em qualquer átomo e
tância fica da seguinte forma: é muito encontrada em materiais dielétricos. Os
A efeitos dessa polarização duram somente enquan-
C  to o campo elétrico estiver ativo.
l
Quando um campo elétrico é aplicado sobre
Onde ∈ é a permissividade do meio dielétrico materiais iônicos, acontece a polarização iônica
em farad por metro (F/m). A permissividade do desses materiais, em que os íons (cátions e ânions)
meio dielétrico, ∈ , é sempre maior que a permis- deslocam-se em sentidos opostos, gerando um
sividade no vácuo, ∈0 . momento de dipolo resultante.
A razão entre a permissividade do meio dielé- Por fim, existe, ainda, a polarização de orien-
trico e a permissividade no vácuo é definida pela tação, que é encontrada somente em materiais
constante dielétrica, ∈r , mostrada na equação que apresentam momentos de dipolo permanen-
a seguir. tes. Esse tipo de polarização se dá pela rotação dos
momentos de dipolo permanentes do material

r  na direção do campo elétrico aplicado. A orga-
0
nização destes sofre interferência negativa das
A constante dielétrica é o principal parâmetro no vibrações térmicas do material, ou seja, a orien-
projeto de capacitores e seus valores podem ser tação dos dipolos tende a ser menor, conforme a
encontrados em tabelas, para uma ampla gama temperatura do material aumenta.
de materiais dielétricos (CALLISTER; RETH-
WISCH, 2013).

204 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais


Um material pode sofrer mais de um efeito de polarização simultâneo, dessa forma, a polarização
total, P, experimentada por um material quando submetido a um campo elétrico, é dada por:

P  Pe  Pi  Po

Onde Pe, Pi e Po são, respectivamente, as componentes de polarização eletrônica, iônica e de orientação.


Os materiais dielétricos possuem um limite de campo elétrico que eles podem suportar sem sofrer
danos; esse limite é avaliado em termos da resistência dielétrica, e quando esse campo elétrico tem
magnitude igual ou superior a essa resistência dielétrica, um número muito grande de elétrons pode
ser excitado para a banda de condução e, assim, a corrente dentro do dielétrico aumenta drasticamente,
levando a uma fusão, queima ou vaporização localizada e danificando permanentemente o material
dielétrico, ou mesmo causando a falha dele.
Em termos de aplicação dos materiais cerâmicos dielétricos, podemos dizer que eles são aplicados
em isolamento elétrico, linhas de transmissão de energia, bocais de lâmpadas, bases de interruptores,
na produção de capacitores etc. Dentre as cerâmicas dielétricas, temos o vidro, a porcelana, a steadita
e a mica, que apresentam constantes dielétricas altas, além de uma boa resistência mecânica.
Já dentre os polímeros dielétricos, temos o náilon 6,6, o poliestireno, o polietileno, o politetrafluo-
retileno, entre outros, com aplicações em isolamento de fios, cabos, motores e geradores, por exemplo.

Ferroeletricidade e Piezoeletricidade

Um grupo de materiais dielétricos apresenta uma característica elétrica interessante: eles são capazes
de sofrer polarização espontânea na ausência de um campo elétrico; esses materiais são denomina-
dos ferroelétricos. Eles possuem um dipolo elétrico permanente, que interagem entre si alinhando-se
mutuamente, todos na mesma direção. As constantes dielétricas desses materiais são, em geral, muito
grandes, por essa razão eles costumam ser utilizados para a produção de capacitores de tamanho re-
duzido, em relação aos capacitores produzidos com os outros materiais dielétricos.
Esses materiais ferroelétricos são capazes de armazenar carga, possibilitando aplicações na forma
de filmes de espessura muito pequena em dispositivos de memória não volátil. Alguns exemplos de
materiais ferroelétricos são o dihidrogenofosfato de potássio (KH2PO4), niobato de potássio (KNbO3),
titanato de bário (BaTiO3) e o zirconato-titanato de chumbo (Pb[ZrO3, TiO3]).
Outra característica elétrica interessante e muito importante do ponto de vista tecnológico é a
piezoeletricidade, que é observada em uma pequena gama de materiais cerâmicos. Os materiais pie-
zoelétricos, quando submetidos a tensões, sofrem uma polarização e estabelecem um campo elétrico.
Caso a tensão aplicada mude de sinal, ou seja, tração para compressão, por exemplo, o campo elétrico
também terá sua direção invertida.
Componentes cuja função é receber um sinal elétrico e transformá-lo em deformações mecânicas
(transdutores) utilizam materiais piezoelétricos. Além dos transdutores, os materiais piezoelétricos
são utilizados em microfones, alto-falantes, alarmes sonoros etc. A piezoeletricidade é observada em
materiais que possuem uma estrutura cristalina complexa e com baixo grau de simetria.

UNIDADE 7 205
Propriedades Térmicas
- Capacidade Calorífica
e Expansão Térmica

Quando falamos em propriedades térmicas dos


materiais, estamos nos referindo ao comporta-
mento observado quando esse material recebe
ou perde calor. Por exemplo, uma barra metálica,
quando recebe calor, tem suas dimensões e sua
temperatura aumentadas devido a essa energia
térmica recebida. Neste tópico, discutiremos sobre
a capacidade calorífica e a expansão térmica.

Capacidade Calorífica

Quando aquecemos um material sólido, estamos


fornecendo energia a ele na forma de calor. Essa
energia é absorvida pelo material, fazendo com
que a sua temperatura aumente. A propriedade que
mede a quantidade de energia que certo material
absorve de sua vizinhança é a capacidade calorífica,
C, que é definida como a quantidade de energia
necessária para aumentar em um grau a tempe-
ratura de um material, Matematicamente, temos:

Q
C=
DT
onde Q é a energia necessária para produzir uma variação igual a ΔT na temperatura do material. As
unidades de Q são J/mol, de ΔT é K, consequentemente C é dado em J/mol ∙ K no SI. Nesse caso, a
quantidade de energia Q está relacionada à quantidade do material em mols.
Em situações nas quais o calor está relacionado com a quantidade do material em massa (kg por
exemplo), a capacidade calorífica é representada por c e suas unidades são J/kg ∙ K e, nesse caso, Q é
dado em J/kg, contudo a equação é a mesma apresentada anteriormente.

Q
c=
DT
Existem duas formas de mensurar a capacidade calorífica de materiais, uma delas é avaliando o pro-
cesso a volume constante e, dessa forma, obtemos Cv. A outra forma é avaliando o processo da pressão
constante, onde obtemos Cp. Entretanto, para materiais sólidos em temperaturas próxima ou inferiores
ao ambiente, a diferença entre Cv e Cp é muito pequena.
Os átomos que compõem os materiais sólidos estão vibrando constantemente, em frequências altas,
porém com amplitudes baixas. A forma mais comum de absorção de energia térmica por materiais
sólidos é o aumento dessa energia vibracional dos átomos constituintes. Como os átomos que formam
o material estão ligados entre si, esse aumento na energia vibracional do material gera vibrações coor-
denadas na forma de ondas (às vezes chamadas de fônons), que se propagam pela rede cristalina do
material. Essas ondas são responsáveis pelo espalhamento térmico dos elétrons durante a condução
elétrica e também pelo transporte de energia durante a condução térmica.
A capacidade calorífica a volume constante, Cv, é igual para sólidos cristalinos relativamente simples
a 0 K, entretanto, ela aumenta rapidamente com o aumento da temperatura para temperaturas baixas
(próximas a 0 K). Contudo, para a maioria dos materiais sólidos, a capacidade calorífica a volume
constante, Cv, estabiliza-se antes da temperatura ambiente (25 °C ou 298 K), podendo ser considerado
independentemente da temperatura, para temperaturas próximas e acima de 25 °C.
Como, geralmente, trabalhamos com materiais à pressão constante atmosférica (1 atm), utilizare-
mos os valores da capacidade calorífica à pressão constante, Cp. Os valores de Cp para vários materiais
sólidos à temperatura ambiente podem ser encontrados tabelados, inclusive em alguns dos materiais
referenciados neste livro.

Expansão Térmica

O comportamento térmico observado na maioria dos materiais quando submetidos ao aquecimento é a


expansão em suas dimensões. De forma análoga, os materiais sofrem uma contração em suas dimensões
quando submetidos a um resfriamento. A esse comportamento térmico, damos o nome de expansão
térmica. A variação de comprimento (variação unidirecional), l, de um material é dada por:

l f  l0
 al (T f  T0 )
l0

UNIDADE 7 207
na qual lf e l0 são, respectivamente, os comprimentos final (depois da expansão) e inicial (antes da
expansão) do material; Tf e T0 são, respectivamente, as temperaturas final e inicial do processo; e αl é o
coeficiente linear de expansão térmica, que é uma propriedade específica do material, cuja unidade no SI é
(°C)-1. Sejam:

Dl  l f  l0 e DT  T f  T0

A equação da expansão linear pode ser escrita da seguinte forma:

Dl
= al (DT )
l0
Além disso, sabemos que a expansão térmica não ocorre apenas em uma dimensão do material sólido,
mas sim em todo o volume desse sólido; por essa razão, definimos também a equação para o cálculo
da variação de volume sofrida por esse material devido à sua expansão térmica.

DV
= aV (DT )
V0
Com DV  V f  V0 e DT  T f  T0

Nas equações citadas Vf e V0 são, respectivamente, os volumes final (depois da expansão térmica)
e inicial (antes da expansão térmica) do material. O parâmetro aV é o coeficiente volumétrico de
expansão térmica, que também é uma propriedade específica do material, cujas unidades no SI são
(°C)-1. Para materiais isotrópicos, o valor de aV é, aproximadamente, igual a 3al .
A expansão térmica observada nos materiais sólidos é um reflexo do aumento das distâncias médias
entre os átomos que formam esse material a um nível muito aprofundado do conteúdo, que não é o
objetivo deste material.
Vamos verificar a expansão térmica para cada classe de materiais, começando pela classe dos metais,
cujos coeficientes lineares de expansão térmica variam entre 5 ∙10-6 (°C)-1 e 25 ∙ 10-6 (°C)-1. Entretanto,
já foram desenvolvidas algumas ligas metálicas, com baixos coeficientes de expansão térmica, para
serem utilizadas em situações em que não é desejável variações das dimensões devido à temperatura.
Na classe das cerâmicas, o comportamento térmico de expansão é bem variado. Os coeficientes de ex-
pansão térmica são relativamente menores nas cerâmicas, variando entre 0,5 ∙ 10-6 (°C)-1 e 15 ∙ 10-6 (°C)-1,
isso se deve ao fato de que as forças interatômicas (entre os átomos que compõem o material), na maioria
das cerâmicas, são relativamente fortes.
Outro comportamento interessante é observado nas cerâmicas anisotrópicas (não isotrópicas), as
quais, quando aquecidas, podem sofrer expansão em uma de suas direções cristalográficas e contrair-
-se nas demais. Além disso, os vidros inorgânicos possuem um coeficiente de expansão térmica que

208 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais


dependente de sua composição, a sílica fundida
(vidro constituído praticamente de sílica pura),
por exemplo, apresenta um coeficiente de expan-
são de 0,4 ∙ 10-6 (°C)-1. Contudo, para as cerâmicas
não cristalinas e as cristalinas de estrutura cúbica,
o coeficiente αl é isotrópico.
Em projetos de componentes que devem su-
portar mudanças acentuadas de temperatura, de-
ve-se buscar cerâmicas com coeficientes de ex-
pansão térmica, pequenos e isotrópicos, para que
se possa evitar a ocorrência do choque térmico,
que é a fratura do componente devido a variações
não uniformes de suas dimensões.
Por fim, na classe dos polímeros, encontra-
mos coeficientes de expansão térmica muito
grandes, variando entre 50 ∙ 10-6 (°C)-1 e 400 ∙
10-6 (°C)-1.

Termômetros são instrumentos usados para me-


dir a temperatura, seja a temperatura corporal
ou mesmo a temperatura em um ambiente. O
princípio de funcionamento dos termômetros
de mercúrio é a expansão térmica volumétrica.
Quando o termômetro está em um ambiente
quente, o mercúrio aquecido se expande devido
ao calor recebido e sobe no tubo, de forma aná-
loga; em ambientes frios, o mercúrio se contrai
e desce no tubo. Para sabermos a temperatura
correta, o termômetro é calibrado e, dessa for-
ma, são feitas marcações em várias alturas do
tubo para que se possa ler a temperatura.

UNIDADE 7 209
Propriedades Térmicas -
Condutividade Térmica

Neste tópico final, concluiremos a unidade es-


tudando a condutividade térmica nos materiais.

Condutividade térmica

O fenômeno da condutividade térmica nos sóli-


dos é análogo ao fenômeno da difusão em sólidos,
estudado na Unidade 3. Em ambos os casos, exis-
te uma força motriz que causa o transporte. Na
difusão, a diferença de concentrações (gradiente
de concentração, dc/dx) causa o transporte de
espécies no material, e na condução térmica, a di-
ferença de temperaturas (gradiente de temperatu-
ras, dT/dx) causa o transporte de energia térmica.
Portanto, a condução térmica é o processo de
transferência de calor de uma região de maior
temperatura para uma região de menor tempe-
ratura; para um processo que ocorre em regime
estacionário (o fluxo de calor não varia com o
tempo), esse fenômeno é equacionado como:

dT
q  k
dx
onde q é o fluxo de calor (quantidade de calor transportado por tempo por unidade de área); dT/dx é
o gradiente de temperatura através do meio de condução; e k é a condutividade térmica. As unidades
de q são W/m2, k são W/m ⋅ K, dessa forma, o gradiente de temperatura dT/dx deve ser dado em °C/m
ou K/m, uma vez que a variação de 1 °C é igual a variação de 1 K.

Mecanismos da condução de calor

A condução de calor em materiais sólidos se dá a partir de dois mecanismos, por meio das ondas de
vibração da rede (fônons) e por meio dos elétrons livres no material. Portanto, a condutividade térmica
total, k, para um material, é dada por:
k  k r  ke

Onde kr e ke são, respectivamente, as condutivida- diminui devido ao fato dos átomos de impureza
des térmicas devido às ondas de vibração da rede atuarem como centros de espalhamento que re-
e devido aos elétrons livres. A predominância de duzem a eficiência dos elétrons livres responsáveis
uma em relação à outra depende do material. A pela condução de calor.
contribuição kr é devido ao movimento das on- Nas cerâmicas, a condutividade térmica é mui-
das de vibração das regiões de altas temperaturas to baixa, são geralmente isolantes térmicos, devido
para as regiões de baixas temperaturas por meio à quantidade pequena de elétrons livres para a
do material. condução de calor. Nesses materiais, os fônons
Já a contribuição ke é devido aos elétrons livres são o principal mecanismo que contribui para a
que, conforme recebem energia térmica, aumen- condutividade térmica (kr>>ke), e os fônons não
tam sua energia cinética e migram para regiões são tão eficientes quanto os elétrons livres no
mais frias, onde transferem parte dessa energia transporte de calor. Por essas razões, os materiais
cinética para os átomos dessas regiões por meio de cerâmicos exibem condutividades térmicas entre
colisões. Portanto, conforme aumenta o número 2 W/m ∙ K e 50 W/m ∙ K à temperatura ambiente.
de elétrons livres, maior é a contribuição ke na Quanto às temperaturas relativamente bai-
condutividade térmica global do material. xas, é observado que a condutividade térmica da
Em metais de alta pureza, a condutividade maioria das cerâmicas diminui com o aumento da
térmica, devido aos elétrons livres, é muito mais temperatura. Entretanto, ela começa a aumentar
efetiva que a condutividade térmica referente aos em temperaturas elevadas, contudo, esse compor-
fônons, uma vez que os elétrons se encontram tamento se deve ao calor transferido por radiação
em grandes quantidades nesses materiais. Além por meio do material cerâmico, pois a eficiência
disso, os elétrons livres têm velocidades maiores do processo de transporte de calor por radiação
que os fônons, deixando o processo de condução aumenta com o aumento da temperatura.
mais rápido. Por essas razões, os metais possuem Outro fator determinante na condutividade
condutividades térmicas altas, entre 20 W/m∙K e térmica das cerâmicas é a porosidade do material,
400 W/m ∙ K à temperatura ambiente. ou seja, a quantidade de espaços vazios dentro
Já nas ligas, formadas pela adição de impu- do material. Esses volumes dos poros dificultam
rezas aos metais puros, a condutividade térmica a condução de calor por meio do material, resul-

UNIDADE 7 211
tando na diminuição da sua condutividade tér- expansão térmica em todas as direções e, caso ela
mica. Inclusive, muitos dos materiais cerâmicos esteja livre para sofrer a expansão, nenhum dano
utilizados como isolantes térmicos são porosos, será causado a ela. Entretanto, caso algo restrinja a
pois esses poros contêm ar estagnado que possui expansão térmica da barra, por exemplo, suportes
uma condutividade térmica extremamente baixa. rígidos nas suas extremidades, tensões térmicas
Para a maioria dos polímeros, as condutivi- se formarão nela. A magnitude dessas tensões tér-
dades térmicas são da ordem de 0,3 W/m ∙ K, as micas pode ser calculada pela equação a seguir:
mais baixas dentre as classes de materiais. Isso
acontece porque a condução de calor nesses ma- σ  Eαl (T0  T f )  Eαl DT
teriais é devido à rotação e vibração das molécu-
las que formam a cadeia do polímero. Polímeros na qual, E e αl são, respectivamente, o módulo
que apresentam cristalinidade elevada e ordenada de elasticidade e o coeficiente linear de expansão
possuem condutividade térmica maior que polí- térmica do material da barra. Quando a barra for
meros amorfos, uma vez que a vibração coorde- aquecida T0 < Tf, então a tensão resultante σ é com-
nada das moléculas é mais eficiente em cadeias pressiva (σ <0), quando a barra é resfriada Tf < T0,
moleculares cristalinas. então a tensão resultante σ é trativa (σ >0).
Devido à sua baixa condutividade térmica, os Outra situação que podemos encontrar é a de
polímeros são, geralmente, utilizados como isolantes tensões resultantes de gradientes de temperatura.
térmicos e podem ter sua condutividade térmica Para entendermos esse tipo de tensões, vamos
ainda mais reduzida com a inserção de poros em sua imaginar um prato de cerâmica, cujo centro está
estrutura, assim como acontece com as cerâmicas; sendo aquecido sobre uma chama; após pouco
um exemplo muito comum é o poliestireno expan- tempo sobre a chama, o prato se rompe. Esse com-
dido (isopor), que é utilizado em caixas térmicas portamento ocorre, pois, no prato de cerâmica,
para armazenamento de bebidas e alimentos. aquecido rapidamente apenas na região central,
são gerados gradientes de temperatura que geram
tensões térmicas ao longo do prato. Essas tensões
Tensões Térmicas são resultado de uma maior expansão na região
aquecida (região central do prato) em relação à
As variações de temperaturas experimentadas parte mais externa do material (as bordas do pra-
pelos materiais podem acabar causando tensões to) que está fria, então são induzidas tensões de
neles. Essas tensões térmicas precisam ser leva- compressão no centro do prato e tensões de tração
das em conta, uma vez que podem causar uma nas bordas do prato.
deformação plástica indesejável ou, até mesmo, a Por último, podemos também observar a fratu-
fratura de um componente. ra de um componente devido ao choque térmico.
Podemos ter tensões resultantes da restrição Esse comportamento é observado em materiais
à expansão ou contração térmica de um compo- frágeis, cuja distribuição não uniforme da tempe-
nente. Vamos exemplificar essa situação: imagine ratura gera uma dilatação pontual que acarreta a
uma barra sólida homogênea e isotrópica. Se ele- formação de tensões internas no material, e a falta
varmos a temperatura dessa barra, ela sofrerá uma de ductilidade desses materiais conduz à fratura.

212 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais


Concluímos nossos estudos da Unidade 7, na qual conhecemos muitas propriedades importantes
dos materiais, começamos pelas propriedades elétricas, em que estudamos a condutividade elétrica
e definimos o que são materiais condutores, isolantes e também semicondutores. Vimos que muitas
cerâmicas apresentam comportamento dielétrico e, com isso, definimos o parâmetro permissividade
elétrica. Além disso, conhecemos os materiais piezoelétricos, que exibem o comportamento interessante
de sofrer polarização quando submetidos a tensões de tração ou compressão.
Seguimos o nosso estudo pelas propriedades térmicas, iniciando pela capacidade calorífica, que
mede a quantidade de energia necessária para que um componente tenha sua temperatura variada em
um grau. Vimos que os materiais, quando aquecidos ou resfriados, sofrem um aumento ou diminuição
nas suas dimensões, e a grandeza relacionada a esse processo é o coeficiente linear de expansão térmica.
Finalizamos com a abordagem da propriedade térmica da expansão térmica.

Átomos

Condução

UNIDADE 7 213
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Os fenômenos ligados às propriedades elétricas dos materiais, como condução


elétrica, resistência elétrica, semicondutividade, entre outras, são muito impor-
tantes para determinar as aplicações dos materiais em projetos envolvendo o
comportamento elétrico. A respeito desse assunto, leia as afirmativas a seguir.
I) A condução elétrica está relacionada ao movimento das partículas neutras
do material.
II) O módulo (valor) da corrente elétrica pode ser calculado pela Lei de Ohm,
conhecendo-se o valor da resistência elétrica e a tensão elétrica.
III) Os metais são bons condutores de corrente elétrica, pois pouca energia é
necessária para a promoção de elétrons livres nesses materiais.
IV) Nos materiais isolantes, a energia necessária para a promoção do elétron é
muito grande, portanto, esses materiais dificilmente possuirão elétrons livres
para a condução de corrente elétrica.

É correto, apenas o que se afirma em:


a) I, II e III, apenas.
b) II, III e IV, apenas.
c) I, II e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I e IV, apenas.

214
2. Uma das características elétricas mais importantes dos materiais é a facilidade
com que esse material transmite corrente elétrica. A lei de Ohm relaciona a
corrente elétrica e a tensão elétrica aplicada sobre um material. Com o conhe-
cimento sobre o comportamento elétrico dos materiais, analise as afirmativas
a seguir.
I) Um fio de cobre de resistividade elétrica igual a 1,7.10−6 Ω ⋅ cm, comprimen-
to de 20 m e um diâmetro de 0,2 cm possui uma resistência elétrica igual a
0,108 Ω.
II) A corrente elétrica em um fio de cobre, cuja diferença de potencial é de 3
volts e a resistência elétrica é de 0,100 Ω, é igual a 30 amperes.
III) Os condutores possuem os maiores valores de condutividade elétrica, en-
quanto os semicondutores possuem os menores valores de condutividade
elétrica, e os isolantes, por sua vez, possuem condutividades intermediarias.
IV) A condutividade elétrica do ouro é 4,3.107 (Ω·m)-1 e a da prata é 6,8.107 (Ω·m)-1,
portanto o ouro possui uma maior resistividade elétrica do que a prata.

É correto, apenas o que se afirma em:


a) I, II e III, apenas.
b) II, III e IV, apenas.
c) I, II e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I e IV, apenas.

215
3. A capacidade térmica, expansão térmica e condutividade térmica são proprie-
dades dos materiais. As propriedades térmicas estão relacionadas ao compor-
tamento dos materiais quando submetidos a estímulos térmicos, por exemplo,
receber ou perder calor. Em relação a isso, avalie as afirmações a seguir.
I) A capacidade calorífica de um material é a propriedade relacionada à quan-
tidade de energia que esse material absorve para se fundir.
II) A expansão térmica é observada como sendo o comportamento térmico no
qual os materiais, quando submetidos ao aquecimento, sofrem uma retração
de suas dimensões, e quando resfriados, não modificam suas dimensões.
III) A condução térmica é o processo de transferência de calor em um com-
ponente de uma região de maior temperatura para uma região de menor
temperatura, cuja força motriz é o gradiente de temperatura.
IV) A falta de ductilidade em alguns materiais pode ocasionar o choque térmico,
que é a fratura frágil do material devido a tensão térmicas originadas por um
aquecimento ou resfriamento muito rápido desse material.

É correto, apenas, o que se afirma em:


a) I, II e III, apenas.
b) II, III e IV, apenas.
c) I, II e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I e IV, apenas.

216
LIVRO

Fundamentos da Moderna Engenharia e Ciência dos Materiais


Autor: James Newell
Editora: LTC
Sinopse: livro sobre ciência dos materiais que trata o conteúdo com forte aplica-
ção em engenharia. O conteúdo indicado é uma abordagem do conteúdo tratado
nesta unidade, com alguns pontos mais aprofundados, caso seja o interesse do
aluno entender mais a fundo as propriedades elétricas dos materiais.
Comentário: Leitura do capítulo 8, do tópico 8.1 até o 8.10.

217
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

218
1. B.

A afirmativa I está incorreta, pois a condução elétrica está relacionada ao movimento dos elétrons ou íons
do material.

2. C.

Correta: I - Um fio de cobre de resistividade elétrica igual a 1,7 · 10−6 Ω · cm, comprimento de 20 m e um
diâmetro de 0,2 cm possui uma resistência elétrica igual a 0,108 Ω.

A resistência elétrica, em termos da resistividade elétrica, é dada por:

R = ρ · l/A

Devemos converter o comprimento de metros para centímetros para que seja compatível com a uni-
dade da resistividade elétrica.

1 m = 100 cm

20 m = 2000 cm

Cálculo da área transversal A:

A = π · (d/2)2 = A = π · (0,2/2)2 = A = π · (0,1)2 = A = π · 0,01

A = 0,0314 cm2

Então,

R = ρ · l/A

R = (1,7 · 10−6 Ω · cm)(2000 cm)/( 0,0314 cm2)

R = (3,4 · 10−3 Ω)/( 0,0314)

R = 0,108 Ω

Correta: II – A corrente elétrica em um fio de cobre, cuja diferença de potencial é de 3 volts e a resistência
elétrica é de 0,100 Ω, é igual a 30 amperes.

Obs.: o símbolo V (itálico) é relativo à variável diferença de potencial (tensão elétrica). Já o símbolo V é
relativo à unidade da diferença de potencial, ou seja, V equivale a volts.

A resistência elétrica é dada pela Lei de Ohm:

V=I·R

Então, isolando a corrente elétrica I, obtemos:

I = V/R = (3 V)/(0,100 Ω)

219
Como Ω = V/A, temos que a relação anterior pode ser reescrita como:

I = V/R = (3 V)/(0,100 V/A)

I = 30 A.

Errada III,

Correta seria: Os condutores possuem os maiores valores de condutividade elétrica, enquanto os isolan-
tes possuem os menores valores de condutividade elétrica, e os semicondutores, por sua vez, possuem
condutividades intermediárias.

Correta: IV – A condutividade elétrica do ouro é 4,3 · 107 (Ω · m)-1 e a da prata é 6,8 · 107 (Ω · m)-1, portanto
o ouro possui uma maior resistividade elétrica do que a prata.

A relação entre a condutividade elétrica σ e a resistividade elétrica ρ é:

σ = 1/ρ

Isolando ρ, temos

ρ = 1/σ

Para o ouro (símbolo Au):

ρAu = 1/(4,3 · 107 (Ω·m)-1)

ρAu = 2,325 · 10-8 Ω · m

Para a prata (símbolo Ag):

ρAg = 1/(6,8 · 107 (Ω · m)-1)

ρAg = 1,470 · 10-8 Ω · m

Então:

ρAu = 2,325·10-8 Ω · m > ρAg = 1,470 · 10-8 Ω · m

Isto é, a resistividade elétrica do ouro é maior que a resistividade elétrica da prata.

3. D.

A afirmativa I está incorreta, pois a capacidade calorífica de um material é a propriedade relacionada à


quantidade de energia que esse material absorve de sua vizinhança para variar a sua temperatura.

A afirmativa II também está incorreta, pois a expansão térmica é observada como sendo o comportamento
térmico no qual os materiais, quando submetidos ao aquecimento, sofrem uma expansão de suas dimen-
sões, e quando resfriados, sofrem uma contração em suas dimensões.

220
221
222
Me. Luis Henrique de Souza

Propriedades Ópticas,
Propriedades Magnéticas
e Corrosão dos Materiais

PLANO DE ESTUDOS

Propriedades magnéticas

Propriedades ópticas Corrosão

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Estudar as propriedades da refração, reflexão, transmis- • Conhecer os tipos de corrosão que ocorrem em metais e
são, absorção, cor e luminescência nos materiais. alguns métodos de prevenção. Estudar a degradação que
• Aprender sobre magnetismo nos materiais e conhecer atinge materiais poliméricos.
aplicações das propriedades magnéticas.
Propriedades
Ópticas

Iniciaremos esta unidade com uma abordagem a


respeito do comportamento óptico dos materiais
frente à luz visível (radiação eletromagnética).
Neste tópico, veremos alguns fenômenos da luz,
como é o caso da refração, no qual a luz é desvia-
da de sua orientação; a absorção; a reflexão; e a
transmissão. Além disso, faremos uma aborda-
gem sobre como são formadas as cores que vemos
nos corpos. Será abordado, também, o fenômeno
da luminescência, no qual alguns materiais ab-
sorvem energia e emitem luz. Finalizaremos a
unidade com uma discussão introdutória sobre
a tecnologia de transmissão de dados por meio
de fibras óticas.
Continuaremos nossos estudos com as pro-
priedades magnéticas, as quais são muito im-
portantes em dispositivos de armazenamento
de dados, como os HDDs e as fitas magnéticas.
Veremos o fenômeno da magnetização e que os
materiais podem exibir uma magnetização fraca
e temporária, como é o caso dos materiais pa-
ramagnéticos e diamagnéticos ou, então, exibir
uma magnetização forte e que persiste mesmo na
ausência de campos externos, como é o caso dos
materiais ferromagnéticos.
Fecharemos a unidade com o estudo da corrosão e degradação dos materiais. A corrosão é um fenômeno
que ocorre com os materiais metálicos; enquanto a degradação afeta os materiais poliméricos.
Neste primeiro tópico, abordaremos as propriedades ópticas dos materiais, as quais são a resposta
de um material quando submetidos a uma radiação eletromagnética, dentre elas, especialmente a luz
visível. Portanto, discutiremos alguns conceitos básicos importantes para esse estudo e veremos as
propriedades ópticas da refração, reflexão, absorção, cor, entre outras.

Refração

Quando a luz incide na superfície de um material transparente e é, então, transmitida para o seu interior,
ela sofre uma diminuição em sua velocidade e é desviada em relação à sua direção de incidência. Esse
fenômeno de desvio da luz observado na interface do material com o meio externo, ou outro material
diferente, é chamado de refração.
A intensidade do fenômeno de refração em um material é dada em termos do índice de refração,
simbolizado por n, que é definido como a razão entre a velocidade da luz no vácuo, c = 3.108 m/s, e a
velocidade da luz no meio (material), v, conforme mostra a equação:

c
n=
v
O índice de refração n também tem relação com a
fração da luz incidente que é refletida na superfí-
cie, além de mudar a trajetória da luz incidente. A
intensidade da refração está relacionada, também, Feixe incidente
com o tamanho dos átomos e íons que constituem
o material refrator e, quanto maior forem esses θ
átomos ou íons, maior será a redução da veloci-
dade da luz quando atravessar a interface e, con-
Vácuo (ou ar)
sequentemente, maior será o índice de refração
(CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
O índice de refração pode ser escrito em fun- Vidro
ção do seno dos ângulos de incidência e de refra-
ção, representados, respectivamente por θi e θ r : θ

sen i
n
sen  r
Feixe refratado
A partir dessa equação, é possível determinar o ân-
gulo de refração da luz em um material específico, Figura 1 - Esquematização da refração da luz na interface
conhecendo-se o índice de refração desse material de dois meios distintos: vácuo e o vidro
e o ângulo de incidência da luz sobre ele (Figura 1). Fonte: Shackelford (2013, p. 374).

UNIDADE 8 225
Na Tabela 1, são fornecidos os índices de refração Reflexão
de alguns materiais cerâmicos e poliméricos. Os
materiais metálicos são opacos à luz visível, por- Nem toda a luz que incide sobre um material
tanto, a luz não atravessa esses materiais. transparente é refratada. Quando a luz incide em
uma interface entre dois meios, cujos índices de
refração são diferentes, e parte dessa radiação lu-
Índice de minosa é dispersa (refrata) na interface dos meios
Material refração médio
e uma parcela é refletida nessa interface, o fenô-
Quartzo (SiO2) 1,55
Mulita ( 3Al2O3 2SiO2) 1,64 meno é conhecido como reflexão.
Ortoclásio (KAlSi3O8) 1,525 A fração da luz incidente que é refletida é cha-
Albita (NaAlSi3O8) 1,529 mada de refletividade (ou refletância) R, e pode
Coríndon (Al2O3) 1,76
ser calculada pela seguinte relação:
Periclásio (MgO) 1,74
Espinélio (MgO Al2O3) 1,72 IR
Vidro de sílica (SiO2) 1,458 R=
Vidro de borossilicato 1,47 I0
Vidro de sílica de cal de soda 1,51-1,52
Vidro de ortoclase 1,51 Na qual IR é a intensidade do feixe de luz refletido
Vidro de albita 1,49 e I0 é a intensidade do feixe de luz incidente.
Polímeros termoplásticos Para o caso particular da luz incidir perpen-
Polietileno dicularmente na superfície (normal à superfície)
Alta densidade 1,545
Baixa densidade 1,51 i  0 , então a refletividade pode ser calculada
Cloreto de polivinila 1,54-1,55 utilizando-se a equação:
Polipropileno 1,47
2
Poliestireno 1,59  n n 
Celuloses 1,46-1,50 R 2 1
Poliamidas (náilon 66) 1,53  n2  n1 
Politetrafluoretileno (Teflon) 1,35-1,38
Polímeros termofixos Na qual n1 e n2 são, respectivamente, os índices de
Fenólicos (fenol-formaldeído) 1,47-1,50 refração dos meios 1 e 2 envolvidos na reflexão.
Uretanos 1,5-1,6
Epóxis 1,55-1,60 Se a luz estiver sendo transmitida do vácuo ou
Elastômeros do ar (meio 1) para um material sólido (meio 2),
Copolímero de polibutadieno/ 1,53
poliestireno considerando que o índice de refração do ar é
Poliisopreno (borracha natural) 1,52 praticamente igual a 1, a relação fica simplificada,
Policloropreno 1,55-1,56 conhecida como fórmula de Fresnel:
2
 n 1 
Tabela 1 - Índices de refração n para alguns materiais cerâ- R S 
micos e alguns materiais poliméricos  nS  1 
Fonte: Shackelford (2013, p. 374 e 375).
Em que ns é o índice de refração do material sóli-
O “brilho” característico de diamantes e obras do. Analisando essa equação, podemos perceber
de arte feitas de vidro é devido ao alto índice que a refletividade é maior para materiais sólidos
de refração desses materiais que permite múlti- com índices de refração grandes, e menor para
plas reflexões da luz no interior desses materiais materiais que apresentam índices de refração pe-
(SHACKELFORD, 2013). quenos (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

226 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Absorção

Dentre as cerâmicas e os polímeros, existem materiais opacos e materiais transparentes à luz visível. Os
materiais transparentes, geralmente, exibem uma aparência colorida. Esse comportamento se deve a
absorção da luz visível na forma de energia (fóton de luz) que pode ocorrer devido à promoção de um
elétron da banda de valência do átomo para a banda de condução, dessa forma, são criados elétrons
livres na banda de condução e, consequentemente, buracos positivos na banda de valência, como
podemos observar na Figura 2.

Elétron

condução

condução
Espaçamento Banda de

Banda de
excitado
(livre)

Espaçamento
Energia

entre as
bandas

entre as
bandas
Eg ΔE ΔE
Buraco
Banda de

Banda de
valência

valência

Fóton Fóton
absorvido Emitido
(a) (b)

Figura 2 - Representação do mecanismo de absorção de fótons e promoção de elétrons em materiais


Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013).

Entretanto, para que essa promoção aconteça, a energia dos fótons deve ser maior que a energia Eg que
separa as bandas de valência e de condução desse material. Isto é, a condição para que haja a promoção
de elétrons da banda de valência para a banda de condução é que
hv > Eg

Onde hv é a quantidade de energia do fóton; v é a velocidade da luz no material e h é a constante de


Planck, que vale 4,13.10-15 eV∙s (elétron-Volt-segundo). A equação anterior pode ser escrita em termos
do comprimento de onda λ da radiação luminosa.
hc
> Eg
l

No espectro eletromagnético, o comprimento de onda mínimo para a luz visível é de, aproximada-
mente, λ = 0,4 μm (400 nm) e o máximo é de λ = 0,7 μm (700 nm), como podemos ver na Figura 3.

UNIDADE 8 227
Comprimento de onda
Ondas de
radio
Micro-ondas

Infravermelho

Luz
visível
Ultravioleta

Raios X

Raios gama

Figura 3 - Espectro com os comprimentos de onda da luz visível

Nessas condições, a energia máxima e mínima dos fótons da luz visível são, respectivamente:

hc (4, 13.1015 eV  s )(3.108 m/s )


  3, 1 eV
l( mín ) 4.107 m

e
hc (4, 13.1015 eV  s )(3.108 m/s )
  1, 8 eV
l( máx ) 7.107 m

Dessa forma, materiais não metálicos (polímeros e cerâmicas) com Eg maiores que 3,1 eV não absor-
vem nenhum fóton de energia do espectro de luz visível e, portanto, esses materiais, se tiverem pureza
elevada, serão visivelmente transparentes e incolores.
De forma similar, em materiais cuja energia entre as bandas, Eg, é menor que 1,8 eV, toda a energia
da radiação luminosa é absorvida pelo material, e esses materiais são visualmente opacos.
Finalmente, para materiais com energia entre as bandas, Eg, entre 1,8 eV e 3,1 eV, apenas uma parte
do espectro visível é absorvida e, portanto, esses materiais são coloridos.
Apesar dessa abordagem simples sobre absorção de energia ser verdade, existem outros fatores
e mecanismos que ocorrem em muitos materiais envolvendo a energia fornecida pela luz, mas essa
abordagem mais aprofundada não será tratada nesse material (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

Transmissão

Muitas cerâmicas, vidros e polímeros são materiais nos quais a luz pode atravessar de forma eficaz. O
grau de atravessamento da luz é indicado pelos termos:
• Transparência: capacidade de transmitir uma imagem clara através do material.
• Translucidez: transmissão de uma imagem difusa através do material.
• Opacidade: nenhuma transmissão de imagem através do material.

228 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


A transmissão é o fenômeno observado quando a luz atinge um sólido e atravessa toda a extensão desse
sólido. Esse fenômeno está relacionado com os fenômenos da reflexão e absorção, vistos anteriormente.
Para um feixe de luz, de intensidade I0, que incide sobre um material transparente de comprimento l,
como mostrado na Figura 4, a intensidade do feixe transmitido, IT, é dada por

IT  I 0 (1  R)2 ebl

Onde R é a refletividade da luz na interface e β é o coeficiente de absorção que depende do material


específico e varia com o comprimento de onda incidente.

Feixe incidente
Feixe
 transmitido

Rβ
Feixe refletido
R

Figura 4 - Esquematização do fenômeno de transmissão da radiação luminosa através de um material sólido


Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013).

Conforme podemos observar na Figura 4, a in-


tensidade de luz transmitida em um material
transparente depende das quantidades perdidas
por reflexão e por absorção. Podemos definir a
absortividade A e a transmissividade T do mate-
rial, que representam, respectivamente, a fração Os painéis solares de geração de energia (painéis
da radiação incidente que foi absorvida e a que fotovoltaicos) funcionam a partir do princípio de
foi transmitida. Sendo assim: absorção da energia luminosa do Sol por meio
de painéis feitos normalmente de silício. Material
IA IT
=A = T que, ao absorver essa energia, promove elétrons
I0 I0
da banda de valência para a banda de condução,
Onde IA é a intensidade de luz absorvida pelo ma- deixando buracos positivos para trás e, como
terial e, dessa forma, a soma das frações de radia- consequência, esses elétrons e esses buracos
ção luminosa refletidas, absorvidas e transmitidas dão origem a uma corrente elétrica.
tem que ser igual a 1 (unidade) (CALLISTER;
RETHWISCH, 2013).

R  AT 1

UNIDADE 8 229
Cor

As cores que enxergamos nos materiais transparentes são resultado da absorção seletiva de compri-
mentos de onda específicos da luz, o que significa dizer que a cor é o resultado da combinação dos
comprimentos de onda transmitidos através do material. Por essa razão, os materiais como diamante
e os vidros inorgânicos são incolores, pois eles absorvem igualmente todos os comprimentos de onda
da luz visível.
Já o sulfeto de cádmio, por exemplo, possui um Eg de 2,4 eV, então ele só absorve comprimentos
de onda com energias superiores a 2,4 eV, ou seja, da luz visível ele não absorve os comprimentos de
onda correspondentes à faixa de energia que vai de 1,8 eV até 2,4 eV, e nessa faixa de comprimentos
de ondas estão as cores amarelo, laranja e vermelho. Portanto, o sulfeto de cádmio apresenta coloração
amarelo alaranjado, que representa a composição de comprimentos de onda do feixe de luz transmitido
por esse material.
Os vidros coloridos são o resultado da inserção de íons de impureza ao vidro ainda no estado fun-
dido. São eles: íons de Cu2+ (dão coloração azul esverdeado), Co2+ (dão coloração azul violeta), Mn2+
(dão coloração amarela) entre outros mais.

Luminescência

Uma característica muito interessante que alguns materiais apresentam é a capacidade de absorver
energia e, então, reemitir essa energia na forma de radiação luminosa. A essa característica, damos o
nome de luminescência.
O que acontece nos materiais luminescentes é que eles absorvem a energia do fóton e, com isso,
ocorre a promoção do elétron da banda de valência (estado fundamental) para a banda de condução
(estado excitado). Quando esse elétron promovido sofre um decaimento para um estado de menor
energia (estado fundamental), ele libera um fóton de energia. Se esse fóton liberado possuir energia
entre 1,8 eV e 3,1 eV (energia dos fótons da luz visível), ele será visível.
A energia absorvida pelos materiais luminescentes para a excitação dos elétrons pode ser de origem
eletromagnética (luz, ultravioleta etc.) ou pode ser de outras fontes, como energia térmica, mecânica,
química etc.
Os materiais luminescentes são classificados com relação ao tempo de resposta, como:
• Fluorescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree-
missão dos fótons é muito curto, geralmente menores que 10 nanosegundos (praticamente
instantâneo).
• Fosforescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree-
missão dos fótons são maiores.

Dentre as aplicações mais comuns da luminescência estão as lâmpadas fluorescentes, detecção de


radiações X e γ, pois certos materiais são fosforescentes quando submetidos a essas radiações (ASKE-
LAND; WRIGHT, 2015).

230 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Fibras óticas

Certamente uma das maiores revoluções no campo a potência do sinal em longas distâncias, muitas
das comunicações foi a utilização das fibras óticas vezes, são utilizados repetidores que amplificam
para a transmissão de dados. Enquanto a transmis- e regeneram o sinal transmitido.
são de dados por meio de condutores, como fios Quanto à constituição, as fibras óticas são forma-
de cobre, dá-se por meio da condução elétrica (por das por um núcleo por onde os pulsos de luz viajam,
elétrons), a transferência de dados nas fibras óticas um recobrimento em torno do núcleo limita a traje-
acontece por transporte eletromagnético (fótons) tória dos pulsos dentro do núcleo, e um revestimen-
que é um processo muito mais veloz. Com isso, os to externo, que protege o núcleo e o recobrimento
sistemas de comunicação e transmissão de dados contra os possíveis danos que o cabo possa sofrer,
experimentaram uma melhora enorme na veloci- como podemos ver na Figura 5, a seguir.
dade e na densidade das informações transmitidas
após a implantação das fibras óticas.
O processo de transmissão de informações por
fibra ótica se inicia com as informações alimenta-
das, sendo transformadas em um sinal eletrônico
em bits (“zeros” e “uns”) por um codificador. Em
Recobrimento
seguida, esse sinal elétrico é convertido em um
sinal óptico (fótons), utilizando um conversor elé-
trico óptico. A saída do conversor elétrico óptico Núcleo Revestimento

são pulsos de luz, de alta potência para os “uns” e


de baixa potência para os “zeros”. Esses pulsos são
Figura 5 - representação do corte transversal de um cabo
transportados pelos cabos de fibra ótica até o seu
de fibra ótica
destino final, em que são convertidos novamente Fonte: Callister e Rethwisch (2013).
em sinais eletrônicos e, então, decodificados.
As fibras óticas têm como função guiar os pul- As fibras óticas são feitas de vidro de sílica de
sos de luz ao longo de distâncias enormes sem que pureza extremamente elevada, além disso, o diâ-
haja perda da qualidade desses pulsos, ou seja, metro dessas fibras é muito pequeno para garan-
as fibras ópticas devem manter a potência dos tir a produção de fibras isentas de defeitos e, por
pulsos e não podem distorcê-los. Para garantir consequência, altamente resistentes.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
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UNIDADE 8 231
Propriedades
Magnéticas

Magnetismo é o fenômeno no qual os materiais,


ditos magnéticos, exercem uma força ou influên-
cia de atração ou repulsão sobre outros materiais.
Alguns exemplos de materiais magnéticos natu-
rais são: o ferro, alguns tipos de aço e a magnetita.
É importante o estudo do magnetismo, uma vez
que muito dos dispositivos que utilizamos nos
dias atuais advêm da aplicação de materiais mag-
néticos. Neste tópico, abordaremos o que é campo
magnético, os parâmetros magnéticos, além de
alguns fenômenos envolvendo esses materiais.

Conceitos básicos

As forças magnéticas têm sua origem no movi-


mento de partículas carregadas eletricamente.
Essas forças magnéticas são melhores entendidas
como sendo linhas de força que formam um cam-
po, e essas linhas de força (linhas de fluxo magné-
tico) são traçadas indicando a direção dessa força
magnética nas vizinhanças da fonte do campo.
Nos materiais magnéticos, encontramos dipo-
los magnéticos, que são compostos por um polo
norte e um polo sul, como podemos observar na
representação do dipolo norte-sul da Figura 6. Os
dipolos magnéticos são afetados por campos mag- onde μ é o parâmetro chamado permeabilidade,
néticos, assim como os dipolos elétricos são afe- que é uma propriedade do meio específico no qual
tados por campos elétricos. Dentro de um campo o campo H passa e onde B é medido. As unidades
magnético, a própria força desse campo exerce um de μ são H/m (henry por metro) e de B é o T (tesla)
torque que tende a orientar os dipolos em relação que equivale a Wb/m2 (weber por metro-quadra-
a ele. A bússola é um exemplo desse efeito, onde a do), ou seja, 1 T = 1 Wb/m2. Caso o meio seja o
agulha alinha-se com o campo magnético da Terra. vácuo, utiliza-se a permeabilidade do vácuo μ0, que
O campo magnético é caracterizado, em dire- é igual a 4.10-7 H/m (ou 1,257.10-6 H/m).
ção e magnitude em qualquer ponto próximo a Lembrando que um Henry (1 H) é equivalente
esse campo magnético, pela grandeza vetorial H, a um weber por ampère (H = Wb/A). A relação en-
denominada intensidade do campo magnético, tre a permeabilidade de um meio μ e a permeabili-
definida para uma bobina cilíndrica (solenoide) dade do vácuo μ0 é denominada permeabilidade
como sendo: relativa μr, que pode ser conveniente, uma vez que
é uma grandeza adimensional (sem unidades).
NI
H=
l µ
µr =
Onde N é o número de espiras com espaçamento
µ0
compacto e l é o comprimento total em metros
(m), que conduz uma corrente de intensidade Diamagnetismo e
igual a I, em ampères (A), portanto H é dado em Paramagnetismo
ampère/metro (A/m) (CALLISTER; RETHWIS-
CH, 2013). Os materiais sólidos altamente condutores, como
os metais ouro e cobre, possuem permeabilidades
relativas (μr) menores, porém muito próximas,
ao valor unitário (1), por volta de 0,99995. Esses
materiais são chamados de diamagnéticos, que é
uma forma de magnetismo, não permanente, que
S N persiste apenas enquanto um campo magnético
está sendo aplicado.
Os materiais diamagnéticos, em geral, são
constituídos de átomos cujas camadas eletrônicas
são fechadas, dessa forma, não há momento de di-
polo magnético atômico resultante. Todos os ma-
teriais apresentam comportamento diamagnético,
Figura 6 - Representação das linhas de força de um campo
magnético em um ímã uma vez que os átomos que os compõem sempre
terão camadas eletrônicas fechadas. Contudo, de-
Na região ao redor de um gerador de campo mag- vido à fraca intensidade do sinal diamagnético,
nético, podemos definir a indução magnética ou esse efeito só será dominante em sistemas que
densidade do fluxo magnético, simbolizada por não possuam átomos com momento de dipolo
B, definida como: magnético permanente.
B =µH

UNIDADE 8 233
O diamagnetismo é uma forma muito fraca apresenta dipolos. Já na presença de um campo
de magnetismo, que ocorre quando um campo magnético, há a geração de dipolos e a orientação
magnético causa uma mudança no movimento deles no sentido oposto a esse campo.
do orbital dos elétrons do material, gerando um Na Figura 7(b), vemos o comportamento de
pequeno campo oposto. A magnitude da indução um material paramagnético, que na ausência de
magnética B em materiais diamagnéticos é menor um campo exibe dipolos magnéticos, porém es-
que no vácuo, e quando esses materiais são coloca- ses dipolos são orientados aleatoriamente. Quan-
dos entre os polos de um eletroímã forte, eles são do esse material é colocado sobre a ação de um
atraídos para as regiões onde o campo é mais fraco. campo magnético, os dipolos são orientados na
Por outro lado, existem materiais com permea- direção desse campo.
bilidades relativas maiores, mas também muito Entretanto, tanto os materiais diamagnéti-
próximas à unidade, variando entre 1,00 e 1,01, e cos quanto os paramagnéticos só apresentam
esses materiais apresentam momentos de dipolo magnetização quando submetidos a um campo
permanentes, os quais, na ausência de um campo magnético externo, ambos são considerados não
magnético externo, orientam-se de forma aleatória. magnéticos, além de que a densidade de fluxo
Entretanto, quando é aplicado um campo magnético magnético B presente nesses materiais é quase a
externo nesses materiais, os momentos de dipolo mesma que existiria no vácuo.
permanentes se alinham de acordo com esse campo,
esses materiais são chamados de paramagnéticos.
Ambos os comportamentos diamagnéticos e Ferromagnetismo
paramagnéticos são representados na Figura 7.
(a) Os materiais ferromagnéticos são caracterizados
=0 
por exibirem magnetizações muito grandes, es-
pontâneas e que persistem mesmo na ausência de
um campo magnético, diferente das substâncias
paramagnéticas que só apresentam magnetização
enquanto um campo magnético estiver presente.
Os materiais que exibem comportamento fer-
(b) romagnético são materiais magnéticos. Alguns
=0 
exemplos são os metais de transição, como o ferro,
o cobalto, o níquel e outros materiais (CALLIS-
TER; RETHWISCH, 2013).

Armazenamento magnético
Figura 7 - Disposição dos dipolos magnéticos na ausência
e na presença de um campo magnético externo
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 687). A importância dos materiais magnéticos se dá,
também, pela sua aplicação como componentes
A Figura 7(a) representa o comportamento de um de armazenamento de informações. É notável a
material diamagnético, na qual podemos observar importância dos dispositivos de armazenamento
que, na ausência de um campo magnético, não magnético no setor da tecnologia; a partir des-

234 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


ses dispositivos, foi possível o desenvolvimento então, processados e convertidos nas informa-
de aparelhos, como iPods, reprodutores de mp3, ções originais, de som e imagem.
HDD (drives de disco rígido), os cartões de crédito Atualmente, com o desenvolvimento dos dis-
de tiras magnéticas (precursores dos que utilizam positivos de armazenamento SSD (solid-state
chips), entre muitas outras aplicações. Apesar dos drive), os drives discos rígidos vêm tornando-se
semicondutores apresentarem uma velocidade menos utilizados. Isso se deve ao fato de que os
muito superior para o armazenamento e leitura de SSDs utilizam a memória flash que possui veloci-
informações, os dispositivos de armazenamento dades de armazenamento e leitura muito superio-
magnéticos podem armazenar quantidades de res aos HDD; além disso, os SSD são muito mais
informações bem maiores que os semicondutores resistentes que os HDDs. No entanto, as unidades
e com um custo muito menor. de armazenamento SSD ainda apresentam custo
O processo de armazenamento magnético elevado em relação aos HDDs, e além disso pos-
funciona da seguinte forma: os sons e as imagens suem capacidades de armazenamento menores.
são gravados magneticamente, na forma de sinais
elétricos, em pedaços pequenos do disco ou fita Fitas magnéticas
magnética. Vamos, agora, conhecer dois disposi-
tivos de armazenamento magnético: os drives de As fitas magnéticas são as precursoras dos discos
disco rígido e as fitas magnéticas. magnéticos que mencionamos no tópico anterior.
Elas possuem capacidades de armazenamento bem
Drivers de Disco Rígido (HDD) menores que os discos magnéticos; contudo, o ar-
mazenamento em fitas magnéticas é mais barato
Esses dispositivos são compostos por discos magné- que o armazenamento em disco magnético. Essas
ticos rígidos circulares com diâmetros entre 65 mm fitas possuem dimensões padrões de 12,7 mm de
a 95 mm. Quando os drives de disco rígido estão largura e longos comprimentos (alguns modelos de
em processo de gravação ou leitura de informações, até 1000 m), enrolados na forma de carretéis com
eles costumam alcançar velocidades de rotação de proteção externa para preservação.
até 5400 rpm ou 7200 rpm. A gravação e a leitura dessas fitas são realizadas
É possível alcançar densidades de armaze- por meio de um sistema contendo dois carretéis
namento incrivelmente altas nos HDDs, e esse conectados à fita. Quando estão em operação, a
armazenamento é realizado por meio de um ca- fita é desenrolada de um carretel e enrolada em
beçote de gravação indutivo. O armazenamen- outro com velocidades de até 10 m/s. Entre os
to digital das informações, em sistema binário carretéis, a fita passa por um sistema de cabeçotes,
(conjunto de “zeros” e “uns”), é feito em uma semelhantes ao dos discos magnéticos, de grava-
pequena região do disco magnético, na qual o ção/leitura para a transcrição das informações.
padrão de “zeros” e “uns” dessas informações,
por meio da presença ou ausência de inversões
na direção magnética entre pontos adjacentes, é Supercondutividade
induzido pelo cabeçote de gravação. Já a leitura é
realizada por outro cabeçote, que “sente” o campo A supercondutividade é um fenômeno elétrico
magnético do disco e, com isso, gera variações que ocorre em um estado supercondutor que
na resistência elétrica. Esses sinais elétricos são, pode ser alcançado por alguns materiais. O que

UNIDADE 8 235
acontece é que a resistividade elétrica da maioria cuja movimentação torna-se ordenada e, dessa
dos metais puros (condutores) diminui gradual- forma, os defeitos por átomos de impurezas e as
mente, conforme sua temperatura é reduzida, até vibrações térmicas não causam mais dispersões
alcançar um valor finito muito baixo, que é carac- significativas nesse transporte elétrico, portanto,
terístico para cada metal, na temperatura de 0 K. a dispersão dos elétrons é nula e a condutividade
No entanto, existem materiais que, quando têm é máxima.
sua temperatura reduzida a valores muito baixos, Algumas cerâmicas isolantes elétricas nas
têm sua resistividade elétrica reduzida de valores condições ambientes foram descobertas como
finitos até, aproximadamente, zero, permanecen- supercondutoras a temperaturas críticas TC rela-
do nesse valor conforme a temperatura continua tivamente elevadas. Entre elas está o óxido de ítrio,
a diminuir. A esses materiais específicos, damos bário e cobre (YBa2Cu3O7), cuja temperatura críti-
o nome de supercondutores quando atingem a ca é de, aproximadamente, 92 K. Do ponto de vista
temperatura TC, denominada temperatura crítica, tecnológico, esses materiais são fantásticos, pois
na qual a sua resistividade elétrica é, aproximada- uma vez que eles possuem temperaturas críticas
mente, zero. Para uma melhor compreensão do acima de 77 K, podem ser utilizados como super-
comportamento dos semicondutores frente aos condutores, cujo resfriamento é feito utilizando o
condutores comuns, podemos observar o gráfico nitrogênio líquido, que é muito mais barato que
de resistividade em função da temperatura (Figu- utilizar o hidrogênio líquido ou mesmo o hélio
ra 8) para esses dois tipos de materiais. líquido. Contudo, os supercondutores cerâmicos
têm a desvantagem de serem frágeis, o que difi-
culta a sua aplicação em componentes como em
cabos de instalações elétricas.
Esses tipos de materiais têm um amplo campo
Resistividade elétrica

de aplicações, já são aplicados em aparelhos de


Supercondutor
ressonância magnética no campo da medicina,
em aparelhos de espectroscopia de ressonância
Metal Normal
magnética no campo da química, além de outras
diversas aplicações, como em ímãs de acelera-
dores de partículas, trens de ultra velocidades,
0
0 TC utilizando levitação magnética, transmissão de
Temperatura (K)
energia elétrica praticamente sem perdas etc. O
Figura 8 - Dependência da resistividade elétrica com a tem- obstáculo para essas e muitas outras aplicações é
peratura para materiais condutores para supercondutores o alto custo para manter as temperaturas extrema-
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 707).
mente baixas, necessárias desses supercondutores.
O estado supercondutor pode ser explicado como Para superar esse problema, estão sendo estuda-
sendo o resultado das interações de atração entre dos materiais que possam ser supercondutores a
os pares de elétrons livres (elétrons condutores), temperaturas razoavelmente mais elevadas.

236 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Corrosão

O conhecimento dos tipos de corrosão, a com-


preensão dos mecanismos e as causas da corro-
são e da degradação de materiais constituem o
instrumento para a prevenção desses fenômenos.
Essa prevenção pode ser realizada alterando-se a
natureza do ambiente de utilização do material, se-
lecionando materiais adequados (não reativos) ou,
ainda, proteção do material contra a deterioração.

Corrosão em Metais

Nos metais, a corrosão é um ataque eletroquímico


destrutivo que se inicia na superfície do material.
É extremamente importante que esse aspecto seja
levado em consideração, pois, segundo Callister e
Rethwisch (2013), em uma nação industrializada
são gastos aproximadamente 5% das receitas em
prevenção, manutenção ou substituição de com-
ponentes devido ao fenômeno da corrosão. Alguns
exemplos familiares de corrosão em metais são a
ferrugem em carrocerias, radiadores e exaustores
de automóveis (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

UNIDADE 8 237
Reações eletroquímicas

A corrosão em materiais metálicos é um processo A reação de redução depende do meio ao qual o


eletroquímico, ou seja, consiste em reações quími- metal está exposto, então, existem muitas reações
cas nas quais há transferências de elétrons entre de redução, além da redução em solução ácida
espécies químicas. Nessas reações, os metais são mostrada anteriormente. Em soluções aquosas
os que cedem elétrons (doadores) e esse processo neutras ou alcalinas (básicas) com oxigênio dis-
é chamado de reação de oxidação. Uma reação solvido, por exemplo, a reação de redução seria:
de oxidação genérica é mostrada a seguir.
O2  2 H 2O  4e  4(OH ) 
M  M n  ne 
Além disso, é importante sabermos que qualquer
Onde M é um metal qualquer, M é o cátion me-
n+
íon metálico presente em uma solução pode sofrer
tálico (íon carregado positivamente) de carga n+ redução e retornar ao seu estado neutro:
formado na oxidação, n é o número de elétrons
cedidos pelo metal e e- é o elétron cedido. M n  ne   M
O local onde ocorre a reação de oxidação é
chamado de ânodo, e cada metal possui um nú- Como mencionamos, o local onde ocorre a reação
mero característico de elétrons que ele pode doar de oxidação é chamado de ânodo; já o local onde
na reação de oxidação. O ferro e o alumínio, por ocorre a reação de redução é chamado de cátodo.
exemplo, possuem quantidades diferentes de Tanto as reações de oxidação como as reações de
elétrons a serem doados, como podemos ver nas redução são denominadas semirreações, e a rea-
reações a seguir. ção eletroquímica global é sempre constituída de,
pelo menos, uma reação de oxidação e uma reação
Fe  Fe2  2e de redução. Além disso, na reação eletroquímica
global, não pode existir qualquer acúmulo de
Al  Al 3  3e cargas, ou seja, todos os elétrons gerados na reação
(ou semirreação) de oxidação devem ser consu-
Quando os metais perdem (doam) seus elétrons, midos na reação (ou semirreação) de redução.
outra espécie química deve receber esses elétrons, Um exemplo de reação eletroquímica global é
esse processo de recebimento de elétrons é cha- apresentado na equação dada:
mado de reação de redução. Então, se um metal
sofrer oxidação em solução ácida, com concentra- Zn  2 H   Zn2  H 2 ( gás )
ções altas de H+, os íons H+ receberão os elétrons
doados pelo metal como na reação: Essa reação química ocorre quando uma barra
de zinco é mergulhada em uma solução ácida
2 H   2e   H 2 contendo íons H+. A barra de zinco é o ânodo e
sofrerá oxidação (corrosão) segundo a reação de
oxidação:
Zn  Zn2  2e

238 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


Os elétrons gerados nessa oxidação serão consumidos pelos íons H+ (cátodo) segundo a reação de redução:

2 H   2e  H 2 ( gás )

Sendo essas as únicas reações de oxidação e redução que ocorrem no processo, o balanço global (soma das
reações) dá origem à reação eletroquímica global do zinco em solução ácida apresentada anteriormente.

Zn  Zn2  2e
2 H   2e   H 2 ( gás )
Zn  2 H   Zn2  H 2 (ggás)

Outro exemplo comum de corrosão ocorre com o ferro na água (que contém oxigênio dissolvido), dan-
do origem à ferrugem. Esse processo ocorre em duas etapas, na primeira o ferro metálico Fe é oxidado
a ferro Fe2+ cuja forma é Fe(OH)2. Na segunda etapa, o Fe(OH)2 é oxidado novamente e transforma-se
na conhecida ferrugem de fórmula Fe(OH)3, cujo íon ferro é Fe3+.

1
Primeira etapa: Fe  O2  H 2O  Fe2  2OH   Fe(OH )2
2
1
Segunda etapa: 2 Fe(OH )2  O2  H 2O  2 Fe(OH )3
2

Taxas de corrosão

Em sistemas reais, a corrosão é um processo que não está no equilíbrio, afortunadamente, na perspec-
tiva da engenharia, e estamos interessados em estimar as taxas nas quais os componentes corroem.
Essa taxa de corrosão é consequência da ação química e é um parâmetro importante de engenharia.
Podemos expressar a taxa como sendo a taxa de penetração da corrosão (TPC) ou a perda de espessura
do material por unidade de tempo.

KW
TPC =
r At

Onde W é a perda de peso, em miligramas (mg), após um tempo de exposição t em horas (h), ρ é a
massa específica em gramas por centímetro cúbico (g/cm³), A é a área exposta da amostra em cen-
tímetros quadrados (cm²) e K é uma constante. Para uma TPC dada em milímetros por ano (mm/
ano), a constante K é igual a 87,6. Uma estimativa aceitável de TPC em projetos é que ela seja menor
que 0,50 mm/ano.

UNIDADE 8 239
Além disso, pode-se definir a taxa de corrosão em toda a superfície exposta do material, geralmente
termos da corrente elétrica como mostra a relação: formando um depósito ou incrustação nessa su-
i perfície. A ferrugem generalizada em aços e no
r= ferro, e também o escurecimento de pratarias, são
nF
exemplos de corrosão por ataque uniforme.
A taxa r é dada em mols por metro quadrado Em situações nas quais dois metais ou ligas
(mol/m²), i é a corrente elétrica dada em ampe- de composições diferentes são colocadas juntas
res (A), n é o número de mols associados à ioni- e em contato com um eletrólito, pode ocorrer a
zação de cada átomo metálico e F é a constante corrosão galvânica. Nesse tipo de corrosão, o
de Faraday que vale 96500 C/mol (ASKELAND; metal mais reativo sofrerá oxidação (corrosão),
WRIGHT, 2015). enquanto o metal menos reativo estará protegi-
do da corrosão. Em ambientes marinhos (água
salgada é o eletrólito), parafusos de aço (ânodo)
Passividade correm em contato com latão (cátodo) devido à
corrosão galvânica. Além disso, a taxa de corro-
A passividade é um fenômeno exibido por metais, são galvânica aumenta conforme a razão entre
como o cromo, ferro, níquel, titânio e muitas ligas a área do cátodo e do ânodo aumenta, ou seja,
desses metais. Esse fenômeno é caracterizado pela para uma dada área do cátodo conforme a área
perda da reatividade química exibida por alguns do ânodo diminui (aumentando a razão), maior
materiais em alguns ambientes específicos. será a corrosão.
Esse comportamento é, possivelmente, devido A corrosão galvânica pode ser reduzida sig-
à formação de um filme de óxido muito fino e nificativamente:
aderente sobre a superfície do metal, e esse filme • Escolhendo metais (os ligas) próximos na
funciona como uma barreira que protege esse série galvânica para produção de junções.
metal contra uma corrosão adicional. Os aços • Utilizando uma área do ânodo tão grande
inoxidáveis são exemplos de ligas metálicas ex- quanto o possível.
tremamente resistentes à corrosão em diversos • Isolando eletricamente metais (ou ligas)
ambientes devido ao fenômeno da passividade. diferentes.

Formas de corrosão

Neste tópico, vamos elencar algumas formas de


corrosão em materiais metálicos de acordo com a O termo eletrólito refere-se a uma solução capaz
maneira pela qual ocorrem. As causas e os meios de conduzir energia elétrica, ou seja, elétrons,
de prevenção desses tipos de corrosão serão dis- que trafegam na forma de íons, de uma região
cutidos sucintamente. doadora de elétrons até uma região receptora de
O primeiro tipo de corrosão discutido é o elétrons. Uma solução de cloreto de sódio (sal de
ataque uniforme, que consiste na corrosão que cozinha) é um eletrólito.
ocorre com intensidade equivalente ao longo de

240 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


• Conectando eletricamente um terceiro metal com características anódicas, em relação aos outros
dois, para servir de proteção catódica.

A corrosão pode ocorrer na forma de pites, uma forma muito localizada de ataque corrosivo que for-
ma pequenos buracos no material. Os pites podem ter origem em um defeito superficial, como um
arranhão ou mesmo uma pequena variação na composição. Esse tipo de corrosão é muito traiçoeira,
muitas vezes não detectada, e que acarreta pequenas perdas do material e posterior falha.
Os aços inoxidáveis são razoavelmente susceptíveis a pites, entretanto, a resistência a esse tipo de
corrosão aumenta significativamente com uma adição de, aproximadamente, 2% de molibdênio a
esses aços.
Outro tipo de corrosão muito comum é a erosão-corrosão, uma ação combinada de um ataque
químico e da abrasão mecânica causada pelo movimento de um fluido. No geral, todas as ligas metálicas
são susceptíveis, em maior ou menor grau, a esse tipo de corrosão. Em ligas passivadas, o revestimento
protetor pode ser erodido pela ação abrasiva do fluido e, caso essa barreira não seja recomposta rapi-
damente pelo material, a corrosão pode ser severa.
A erosão-corrosão é frequentemente encontrada em tubulações, principalmente em curvas, cotovelos
e em grandes mudanças de diâmetro, rotores, válvulas, bombas e palhetas de turbinas, que são situações
onde há um escoamento turbulento e colisão do fluido. Por essa razão, uma das formas de reduzir a
erosão-corrosão é modificar o projeto para reduzir ou eliminar efeitos da turbulência e a colisão do
fluido. A escolha de um material resistente à erosão e à remoção de bolhas e partículas do fluido, redu-
zindo sua capacidade de erosão, é outra forma de reduzir a erosão-corrosão.

Ambientes corrosivos e prevenção à corrosão

Dentre os ambientes ditos corrosivos estão a atmosfera (ar úmido contendo oxigênio dissolvido), so-
luções aquosas, solos, ácidos, base, solventes inorgânicos, metais líquidos, sais fundidos e, até mesmo,
o corpo humano. A escolha do material adequado depende do ambiente ao qual ele será exposto, a
seguir são mencionados alguns materiais comumente aplicados a alguns tipos de ambientes:
• Atmosfera: ligas de alumínio e de cobre e aço galvanizado.
• Água doce: ferro fundido, aço, alumínio, cobre, latão e alguns aços inoxidáveis.
• Água salgada: titânio, latão, alguns bronzes, ligas de cobre-níquel e ligas de cobre-cromo-mo-
libdênio.
• Solos: ferro fundido e aços-carbono comuns.

Existem diversas formas de lidar com a corrosão, sendo a mais simples a seleção criteriosa do material
utilizado no projeto, após o detalhamento do ambiente ao qual ele será inserido. Entretanto, o fator
econômico, algumas vezes, pode ser determinante e o material “ideal” seja economicamente inviável
ao projeto. Nesses casos, deve-se empregar outras medidas para lidar com a corrosão.

UNIDADE 8 241
Caso seja possível, a mudança do ambiente, Em virtude dessa resistência extrema à cor-
como a diminuição da temperatura do fluido ou rosão, os materiais cerâmicos possuem diversas
da sua velocidade, pode reduzir efeitos de corro- aplicações, como em recipientes de vidro para
são. Além disso, é muito comum a adição de subs- armazenamento de líquidos, cerâmicas refratárias
tâncias em concentrações relativamente baixas em aplicações onde é necessário um isolamento
ao ambiente para diminuir a corrosividade desse térmico e, ainda, resistência a ataques em tempe-
ambiente. Essas substâncias são denominadas raturas elevadas ou em aplicações em ambientes
inibidores, e sua escolha depende tanto da liga corrosivos e pressões acima da atmosférica. Os
metálica quanto do ambiente. materiais cerâmicos são muito mais recomen-
Alguns inibidores funcionam eliminando uma dados que os metais para suportar a maioria dos
espécie quimicamente ativa do ambiente, outros ambientes corrosivos por longos períodos.
fixam-se na superfície que está sendo corroída e
a protegem. Sua utilização se dá, principalmen-
te, em sistemas fechados, como em caldeiras de Degradação dos Polímeros
vapor ou radiadores de automóveis.
Um dos meios mais eficaz de proteção contra Assim como os materiais metálicos, os polímeros
os diversos tipos de corrosão é a proteção catódi- também sofrem deterioração devido à interação
ca. Esse tipo de proteção consiste em fornecer um com o ambiente. Entretanto, o modo como essa
suprimento de elétrons, por uma fonte externa, ao interação ocorre é diferente: nos metais, ocorre
metal que se deseja proteger, transformando esse um processo eletroquímico, enquanto nos po-
metal em um cátodo. límeros os fenômenos são físico-químicos, por
Outra forma de proteção catódica é acoplar essa razão, a deterioração nos polímeros devido
um metal mais reativo ao metal que se deseja pro- ao ambiente é chamada de degradação.
teger. O metal mais reativo funcionará como um Em geral, os polímeros podem deteriorar-se
ânodo de sacrifício, e será oxidado no lugar do por inchamento, dissolução ou por ruptura de
outro metal. O magnésio e o zinco são os metais suas ligações covalentes. Entretanto, devido à
mais utilizados como ânodo de sacrifício devido complexidade química da classe dos polímeros,
aos seus altos potenciais de oxidação. Um exemplo os seus mecanismos de degradação não são com-
de proteção catódica muito conhecido é a galva- pletamente entendidos.
nização, que consiste na aplicação de uma cama- O inchamento ocorre quando um polímero,
da de zinco na superfície do aço, com a finalidade exposto a um líquido, absorve esse líquido, ou
de proteger o aço contra a corrosão. um soluto desse líquido, e as pequenas moléculas
absorvidas ajustam-se no interior do polímero
e forçam a separação das suas macromoléculas,
Corrosão em Cerâmicas resultando em uma redução das forças de liga-
ção intermoleculares e, consequentemente, em
Os materiais cerâmicos são extremamente imunes uma redução da resistência e um aumento da
à corrosão em quase todos os ambientes. Quando ductilidade do polímero. Pode, ainda, ocorrer a
ocorre nesses tipos de materiais, é uma simples diminuição da temperatura de transição vítrea do
dissolução química, diferente dos processos ele- polímero, e caso essa temperatura seja menor que
troquímicos que ocorrem na corrosão dos metais. a temperatura ambiente, o material, que antes era

242 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais


resistente, pode perder essa resistência e tornar- Concluímos a Unidade 8 falando sobre as pro-
-se borrachoso. Já a dissolução ocorre quando o priedades óticas dos materiais, ou seja, do com-
polímero é completamente solúvel no líquido ao portamento de alguns materiais frente à radiação
qual ele está exposto, podendo ser considerada luminosa (luz visível). Dentre essas propriedades,
uma continuação do inchamento. estudamos a refração, que é a mudança da direção
Os polímeros podem também sofrer degra- da luz quando muda de meio, a absorção da ener-
dação devido à ruptura de ligações em suas gia luminosa pelos materiais, a transmissão, que é
cadeias moleculares, causando uma diminuição observada quando a luz consegue atravessar um
do tamanho das moléculas e da massa molar do material mesmo que com perdas de energia, entre
polímero. A massa molar é um fator determinante outras. Foi abordado, também, de forma introdu-
nas propriedades dos polímeros, como resistência tória, as fibras óticas e como as suas propriedades
mecânica e resistência a ataques químicos, então, são revolucionárias para o setor de comunicação.
variações na massa molar acarretam variações nas Além disso, vimos que alguns materiais, quan-
propriedades dos polímeros. do submetidos a um campo externo, sofrem uma
A ruptura de ligações em polímeros pode ser magnetização fraca que dura apenas enquanto
resultante da exposição à radiação, ao calor ou, esse campo estiver presente; esses materiais são
ainda, devido a reações químicas (CALLISTER; denominados diamagnéticos. Por outro lado, te-
RETHWISCH, 2013). mos os materiais paramagnéticos que apresentam
dipolos permanentes e também sofrem uma mag-
netização fraca quando submetidos a um cam-
po externo. Já os materiais ferromagnéticos são
materiais magnéticos que apresentam uma forte
magnetização quando submetidos a um campo
Muitos materiais poliméricos utilizados em apli- externo, que se mantém mesmo que o campo ces-
cações em ambientes externos sofrem um tipo se. Fechamos esta unidade conhecendo algumas
de degradação denominado intemperismo, que aplicações de materiais magnéticos no nosso dia
pode ser uma combinação de vários processos a dia, como os HDDs e as fitas magnéticas.
distintos. A principal causa dessa deterioração é Fechamos a unidade com uma abordagem dos
a oxidação iniciada pela radiação ultravioleta do tipos de corrosão em materiais metálicos e dos
sol. Além disso, alguns polímeros absorvem água, métodos de prevenção deles, além disso, vimos
reduzindo, assim, sua dureza e rigidez, como é o que os materiais poliméricos sofrem degradação
caso do náilon e da celulose. Entretanto, alguns em alguns ambientes e essa degradação pode
polímeros como os fluorocarbonos são, pratica- comprometer seriamente a funcionalidade des-
mente, inertes ao intemperismo. ses materiais.
Fonte: Callister e Rethwisch (2013).

UNIDADE 8 243
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. O magnetismo é uma característica importante observada em alguns materiais,


uma vez que muitos dos dispositivos modernos aplicam materiais magnéticos
em sua construção. O fenômeno do magnetismo é observado como sendo uma
força ou influência de atração ou repulsão que um material exerce sobre outros
materiais. Com base nos conhecimentos sobre as propriedades magnéticas dos
materiais, leia as afirmativas a seguir.
I) Nos materiais magnéticos, são encontrados dipolos magnéticos, compostos
por um polo norte e um polo sul, em vez de cargas elétricas positivas e ne-
gativas.
II) O ferro (na forma ferrita α), o cobalto e o níquel exibem comportamento
diamagnético, ou seja, exibem momento magnético permanente mesmo na
ausência de um campo magnético externo.
III) A importância dos materiais magnéticos se dá, também, pela sua aplicação
como componentes de armazenamento de informações, sons e imagens por
exemplo, na forma de sinais elétricos em discos ou fitas magnéticas.
IV) Existem materiais, que, quando têm sua temperatura reduzida a valores
muito baixos, têm sua resistividade elétrica reduzida até, aproximadamente,
zero; nessas condições, esses materiais são chamados de supercondutores.

É correto o que se afirma em:


a) I, II e III, apenas.
b) I, II e IV, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) III e IV, apenas.

244
2. Vimos, neste tópico, as propriedades ópticas dos materiais, as quais são a respos-
ta de um material quando submetidos a uma radiação eletromagnética, dentre
elas, especialmente, a luz visível. Portanto, discutimos alguns conceitos básicos
importantes e vimos as propriedades ópticas da refração, reflexão, absorção,
cor, entre outras. Analise as afirmativas a seguir.
I) O fenômeno no qual a luz incide na superfície de um material transparente e
é transmitida para o seu interior, sofrendo uma modificação da sua direção
de propagação em relação à direção de incidência, é chamado de refração.
II) O fenômeno da reflexão acontece quando a luz incide em uma interface entre
dois meios, cujos índices de refração são diferentes, e parte dessa radiação
luminosa é refletida nessa interface, ou seja, parte da radiação luminosa toca
a interface e é devolvida.
III) Uma parcela da luz incidente em um material sólido transparente atravessa
completamente o material; esse fenômeno é chamado de cor e está relacio-
nado com o fenômeno da reflexão.
IV) Os materiais fluorescentes e fosforescentes possuem a capacidade de ab-
sorver a energia que incide sobre eles e reemitir essa energia na forma de
fótons (energia luminosa).

É correto o que se afirma em:


a) I, II e III, apenas.
b) I, II e IV, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) III e IV, apenas.

3. A deterioração nos metais é um processo eletroquímico, no qual pode ou não


ocorrer a formação de produtos sólidos (óxidos, sulfetos, hidróxidos). Esse
fenômeno é denominado corrosão e causa grandes transtornos em compo-
nentes metálicos. Sobre a corrosão em materiais metálicos, cite duas formas de
prevenção que podem ser adotadas contra a corrosão nesse tipo de materiais.

245
WEB

Texto sobre uma forma de magnetização da matéria utilizando a luz de forma


instantânea.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

246
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

247
1. C.

A afirmativa II está incorreta, pois o ferro (na forma ferrita α), o cobalto e o níquel exibem comportamento
ferromagnético, ou seja, exibem momento magnético permanente mesmo na ausência de um campo
magnético externo.

2. B.

A afirmativa III está incorreta, pois uma parcela da luz incidente em um material sólido transparente atra-
vessa completamente o material; esse fenômeno é chamado de transmissão e está relacionado com os
fenômenos da reflexão e absorção.

3. Prevenção de corrosão em metais:

• Seleção criteriosa do material adequado, conhecendo-se o ambiente ao qual ele será inserido.

• Proteção catódica ou Galvanização.

• Diminuição da corrosividade do ambiente, como diminuição da temperatura do fluido ou da sua velocidade.

• A adição de inibidores para diminuir a corrosividade do ambiente.

248
249
250
251
252
Me. Luis Henrique de Souza

Classes de
Materiais e Aplicações

PLANO DE ESTUDOS

Cerâmicas Compósitos

Metais e
ligas metálicas Polímeros

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Conhecer os tipos de ligas metálicas e as aplicações • Abordar e aprender sobre a classificação dos polímeros
comuns de cada uma delas. de acordo com as suas finalidades.
• Aprender sobre as classes dos materiais cerâmicos e as • Estudar os materiais compósitos e entender as funções
aplicações delas. da matriz e da fase reforço nesses materiais.
Metais e
Ligas Metálicas

Seja bem-vindo à Unidade 9. Nesta unidade final,


você vai concluir a sua trajetória na ciência dos
materiais. Começaremos estudando os materiais
metálicos e as ligas formadas por eles, que têm
uma grande importância na área dos materiais
estruturais. Vamos estudar as ligas ferrosas, que
são as ligas metálicas cujo ferro é o componente
principal da liga, e dentro desse grupo de ligas,
temos os aços, que são compostos por ferro com
adição de concentrações muito baixas de carbo-
no. Além dos aços, temos os ferros fundidos que,
assim como os aços, são formados por ferro com
adição de concentrações baixas de carbono e pos-
suem ponto de fusão menor que os aços. Veremos
as ligas não ferrosas, que são as ligas formadas
por outros metais diferentes do ferro, dentre elas,
temos as ligas de cobre, as ligas de alumínio, as
ligas de titânio, superligas e os metais refratários.
Na sequência, estudaremos as cerâmicas e fala-
remos sobre os vidros inorgânicos e as vidrocerâ-
micas, suas aplicações e propriedades. Saberemos
sobre a importância dos materiais refratários e
como a porosidade influencia as características
desses materiais. Também temos os materiais
abrasivos, que são utilizados para processos de
lixamento e polimento de outros materiais, as ce-
râmicas de argila, que são tão comuns em nossas Neste primeiro tópico, veremos algumas ligas
casas na forma de louças ou mesmo nos tijolos metálicas importantes, como aço e ferro fundido,
das paredes. Finalizaremos falando das cerâmicas ligas de alumínio, ligas de cobre, suas aplicações
avançadas, que são tão importantes do ponto de usuais e suas limitações. Desejo a você bons estudos.
vista tecnológico.
Partindo para os polímeros, que são os mate-
riais formados por moléculas cuja cadeia molecu- Tipos de Ligas Metálicas
lar é muito grande, estudaremos os plásticos que
são os materiais mais versáteis dentre essa classe, Classificamos as ligas metálicas em duas catego-
podendo ser usados nas mais diversas aplicações. rias: as ligas metálicas ferrosas – são aquelas
Além deles, temos os elastômeros (borrachas), que nas quais o constituinte principal é o ferro, sendo
exibem uma excepcional elasticidade, e as fibras, elas os aços e ferros fundidos, já mencionados na
que são polímeros cujo comprimento é muito Unidade 6 – e as ligas metálicas não ferrosas –
maior do que o seu raio, e por essa e outras razões não têm sua composição baseada no ferro.
essas fibras (fios) são muito utilizadas na indústria Quando estudamos ligas metálicas, um con-
têxtil. Finalizaremos o tópico com os polímeros ceito importante que devemos conhecer é o de
avançados, entre eles estão os cristais líquidos po- elementos de liga, que são elementos químicos
liméricos, que encontramos nas telas dos relógios adicionados a uma matriz visando à formação de
digitais, celulares, televisores e computadores. ligas metálicas. A adição de elementos de liga a
Finalizaremos a Unidade 9 falando sobre uma matriz tem como objetivo promover mudan-
a classe dos compósitos, que são os materiais ças na microestrutura do material, aprimorando
multifásicos formados pela união de materiais propriedades macroscópicas físicas e mecânicas,
pertencentes às classes dos metais, cerâmicas permitindo aplicações específicas desse material.
e polímeros. Dentro da classe dos compósitos,
serão abordados os compósitos reforçados com
partículas, reforçados com fibras e também os Ligas ferrosas
compósitos estruturais. Veremos cada um deles
e suas aplicações mais usuais. As ligas ferrosas são ligas cujo constituinte princi-
Conforme vimos na Unidade 1, os metais pu- pal é o ferro, elas integram mais de 90% em peso
ros e, principalmente, as ligas metálicas desempe- dos materiais metálicos usados pelos seres huma-
nham um papel fundamental na engenharia e na nos, a própria história do homem é marcada pela
tecnologia. Contudo, os metais são, geralmente, importância desses materiais e é devido a essa
utilizados na forma de ligas metálicas, que são importância que existe um período denominado
misturas de dois ou mais elementos químicos dos idade do ferro.
quais pelo menos um é metal. A seleção desses e No âmbito da engenharia, as ligas ferrosas têm
de outros tipos de materiais é muito importante, especial importância devido a três fatores, são eles:
pois dentro de uma mesma classe de materiais en- • Os compostos de onde se extrai o ferro são
contramos, muitas vezes, propriedades distintas. abundantes na crosta terrestre.
Portanto, é fundamental que o engenheiro tenha • As técnicas de extração, beneficiamento e
conhecimento de algumas das opções disponíveis fabricação do ferro metálico e de ligas de
para um dado projeto. aço são pouco onerosas.

UNIDADE 9 255
• As propriedades físicas e mecânicas dos variados tipos de ligas de ferro são muito variadas, o
que faz com que essas ligas sejam muito versáteis em aplicações de engenharia.

Muitas dessas ligas ferrosas, no entanto, têm a desvantagem de serem mais suscetíveis à corrosão (tra-
tada na Unidade 8). A seguir, conheceremos os dois tipos de ligas ferrosas: os aços e os ferros fundidos.
Para tornar mais simples a utilização das ligas ferrosas e não ferrosas, visto que existem tantas, foi feita
a indexação dessas ligas em um sistema de numeração unificado (UNS - unified numbering system).
A classificação de cada liga específica é responsabilidade da AISI (American Iron and Steel Institute),
SAE (Society of Automotive Engineers) e da ASTM (American Society for Testing and Materials). O
número AISI/SAE para aços comuns e aços liga é formado por quatro dígitos:
• 10xx - aços-carbono.
• 11xx - aços-carbono com muito enxofre e pouco fósforo.
• 12xx - aços-carbono com muito enxofre e muito fósforo.
• 13xx - manganês (1,75%).
• 23xx - níquel (3,5%).
• 25xx - níquel (5%).
• 31xx - níquel (1,5%), cromo (0,6%).
• 33xx - níquel (3,5%), cromo (1,5%).
• 40xx - molibdênio (0,2 ou 0,25%).
• 41xx - cromo (0,5; 0,8 ou 0,95%), molibdênio (0,12; 0,2 ou 0,3%).
• 43xx - níquel (1,83%), cromo (0,5 ou 0,8%), molibdênio (0,25%).
• 44xx - molibdênio (0,53%).
• 46xx - níquel (0,85 ou 1,83%), molibdênio (0,2 ou 0,25%).
• 47xx - níquel (1,05%), cromo (0,45%), molibdênio (0,25%).
• 48xx - níquel (3,50%), molibdênio (0,25%).
• 50xx - cromo (0,28% ou 0,40%).
• 51xx - cromo (0,80, 0,90, 0,95, 1,00 ou 1,05%).
• 61xx - cromo (0,80 ou 0,95%), vanádio (0,10 ou 0,15%).
• 86xx - níquel (0,55%), cromo (0,50 ou 0,65%), molibdênio (0,20%).
• 87xx - níquel (0,55%), cromo (0,50%), molibdênio (0,25%).
• 92xx - manganês (0,85%), silício (2,00%).
• 93xx - níquel (3,25%), cromo (1,20%), molibdênio (0,12%).
• 94xx - manganês (1,00%), níquel (0,45%), cromo (0,40%), molibdênio (0,12%).
• 97xx - níquel (0,55%), cromo (0,17%), molibdênio (0,20%).
• 98xx - níquel (1,00%), cromo (0,80%), molibdênio (0,25%).

Os dois últimos dígitos (xx) indicam a concentração (porcentagem em peso multiplicada por 100) de
carbono da liga. Exemplo: o aço 1060 é um aço carbono comum com concentração de 0,60%p de carbono.

256 Classes de Materiais e Aplicações


A codificação dada pelo sistema de numeração unificado (UNS) para aços é composta por uma
única letra seguida por um número composto por cinco dígitos. A letra simboliza a família de metais
à qual a liga pertence; essa letra, para os aços, é G. Os quatro primeiros dígitos é o número AISI/SAE
do aço e o quinto digito é 0 para aços comuns e aços liga. Dessa forma, o número UNS do aço 1060
(aço carbono comum com concentração de 0,60%p de carbono) é G10600.

Aços

Os aços são produzidos essencialmente de duas maneiras, a partir da redução de minérios de ferro
ou pela reciclagem de sucata de aço. Os aços são ligas ferrosas que, na teoria, contêm concentrações
de carbono entre 0,08%p e 2,14%p, entretanto, na prática são quase sempre inferiores a 1%p C. As
propriedades mecânicas dos aços são sensíveis a variações na concentração de carbono dessas ligas.
Existem milhares de ligas de aço, podendo conter quantidades significativas de outros diferentes
elementos de liga, com composições e tratamentos térmicos distintos. Na Figura 1, a seguir, vemos
a utilização do aço na produção de barras extremamente resistentes utilizadas na construção civil.
Quanto às classes dos aços, eles são ainda divididos em aços de baixo, médio e alto teor de carbono,
de acordo com as suas concentrações de carbono, como veremos a seguir.

Aço de baixo teor de carbono

Esse tipo de aço possui concentrações de carbono inferiores a 0,25%p e são os mais produzidos em
quantidade dentre os aços. Normalmente, não são tratáveis termicamente para endurecimento, um
aumento na resistência pode ser alcançado a frio. Por essa razão, em relação à resistência mecânica, eles
são extremamente dúcteis e tenazes, além de serem usináveis e soldáveis; são os mais baratos para serem
produzidos dentre o grupo dos aços, entretanto, são, relativamente, pouco resistentes e pouco duros.

Figura 1 - Barras de aço reforçado utilizadas em armaduras de construções

UNIDADE 9 257
Entre as suas aplicações típicas, estão os componentes de carcaças de automóveis, perfis estruturais
(vigas, canaletas e cantoneiras) e chapas utilizadas na fabricação de tubos, construção civil e latas de
folhas-de-flandres.

Aço de médio teor de carbono

Nesse grupo, encontram-se os aços com teores de carbono entre 0,25%p e 0,60%p. Os aços perten-
centes a esse grupo possuem uma quantidade de carbono suficiente que torna possível a realização
de tratamento térmico de têmpera e revenido para melhorar suas propriedades mecânicas. Contudo,
os aços comuns de médio teor de carbono possuem baixa temperabilidade, portanto seu tratamento
térmico é efetivo apenas em seções muito finas e a altas taxas de resfriamento. Em geral, os aços de
médio teor de carbono possuem maior resistência e dureza e menor tenacidade e ductilidade do que
os aços de baixo carbono.
São utilizados na fabricação de rodas e equipamentos ferroviários (como as rodas dos trens),
engrenagens, virabrequins e outros componentes de máquinas que necessitem de uma combinação
razoável entre resistência mecânica e o desgaste, além de tenacidade.

Aço de alto teor de carbono

Os aços de alto teor de carbono possuem concentrações entre 0,60%p C e 1,4%p C, por essa razão, são
mais duros e mais resistentes que os anteriores, mas também são menos dúcteis que eles.
São comumente utilizados na condição endurecida e revenida, o que os torna especialmente
resistentes ao desgaste e capazes de manter um bom fio de corte. Por isso, possuem aplicações em
componentes, como talhadeiras, folhas de serrote e facas, além de martelos, molas, rodas de trem e
arames de alta resistência (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).

Aços-liga

Os aços que possuem teores significativos de elementos de liga, além do carbono, são chamados de
aços-liga. Para um aço se enquadrar em aço-liga, ele deve possuir uma concentração de um ou mais
elementos de liga, superior ao padrão definido pela AISI que é de:
• ≥1,65%p Mn (manganês).
• ≥0,6%p Si (silício).
• ≥0,6%p Cu (cobre).

Além disso, a soma das concentrações de carbono e dos elementos de liga do aço-liga não ultrapassam
5%p. São considerados aços-liga, também, os aços cuja concentração dos elementos Ni (níquel), Cr
(cromo), Mo (molibdênio) ou Ti (titânio) esteja especificada rigorosamente.
A adição de elementos de liga melhora a temperabilidade e a tenacidade dos aços. Esses materiais
são muito utilizados na fabricação de ferramentas, como machados e martelos e também na fabricação
de engrenagens e eixos (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

258 Classes de Materiais e Aplicações


Aços de alta liga – Aços inoxidáveis

Os aços inoxidáveis são ligas ferrosas extrema- uma contração moderada durante a solidificação.
mente resistentes à corrosão em diversos am- Portanto, pode-se utilizar a fundição como téc-
bientes, principalmente na atmosfera ambiente. nica de fabricação de componentes dessas ligas,
Possuem, em sua composição, pelo menos, 12%p sendo a etapa final da produção a conformação
Cr (cromo), que é responsável pela formação de da liga líquida em um molde com a forma do
uma camada uniforme de óxido que protege o componente desejado (SHACKELFORD, 2013).
aço (passivação) da corrosão em atmosfera con-
tendo oxigênio. Além disso, adições de níquel e Ferro cinzento
molibdênio podem ser utilizadas para aumentar
a resistência à corrosão dos aços inoxidáveis. Os ferros cinzentos são ferros fundidos constituí-
Devido à variedade extremamente ampla de dos de carbono e silício, cujas concentrações desses
propriedades mecânicas, aliada à excepcional componentes variam entre 2,5%p C a 4,0%p C e
resistência à corrosão, essas ligas encontram um 1,0%p Si a 3,0%p Si. Estão entre os materiais mais
horizonte enorme de aplicações, desde aplicações baratos dentre os materiais metálicos e são ligas
em ambientes severos a altas temperaturas, como ferrosas tipicamente pouco resistentes e frágeis a
em turbinas a gás e caldeiras, até componentes, tensões de tração.
como facas, instrumentos cirúrgicos e molas. Uma das características mais importantes do
ferro cinzento é a sua capacidade de amorteci-
Ferros fundidos mento de energia vibracional, sendo utilizado
nas bases que dão sustentação a equipamentos e
Chamamos de ferros fundidos as ligas ferrosas máquinas pesadas expostas a vibrações durante
cuja concentração de carbono está acima de sua utilização. Outra característica importante é a
2,14%p C. Essas ligas ferrosas tornam-se total- alta fluidez observada no ferro cinzento fundido,
mente líquidas em temperaturas entre 1150 °C e que possibilita a produção de peças com geome-
1300 °C, valores consideravelmente mais baixos trias complexas por meio de fundição. Além disso,
que as temperaturas de fusão dos aços, além disso, os ferros cinzentos possuem boa resistência ao
elas não formam filmes superficiais indesejáveis desgaste e à fadiga térmica, alta resistência à com-
quando derramados em moldes e sofrem somente pressão e são materiais com boa usinabilidade.

Os ferros fundidos são ligas ternárias, ou seja, elas apresentam três elementos químicos principais,
que são o ferro, o carbono (entre 2%p a 4%p) e o silício (entre 0,5%p a 3%p).
Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).

UNIDADE 9 259
Ferro dúctil

O ferro dúctil, também chamado de nodular, é formado pela adição de magnésio e/ou cério ao ferro
fundido cinzento antes dele ser fundido. Esse processo de adição antes da fundição leva a um material
com uma microestrutura diferente do ferro cinzento e, consequentemente, com propriedades mecâni-
cas diferentes também. O ferro dúctil possui propriedades mecânicas próximas de alguns aços, como
boa resistência à tração e alta ductilidade comparado ao ferro cinzento (de onde vem o nome deles).
Esse tipo de liga ferrosa encontra aplicações na produção de equipamentos, como corpo de bom-
bas, válvulas, virabrequins, engrenagens e vários outros componentes de máquinas e de automóveis.

Ferro branco

O ferro branco é um ferro fundido com baixo teor de silício em sua composição, estando em concentrações
inferiores a 1,0%p Si. Essa liga é extremamente dura, contudo, é muito frágil, o que impossibilita sua usi-
nagem. Portanto, suas aplicações são limitadas, sendo utilizado, principalmente, em aplicações que exigem
uma superfície de elevada dureza e resistência ao desgaste abrasivo e que não necessitam muita ductilidade.

Ligas não ferrosas

Mesmo as ligas ferrosas sendo usadas em maior proporção nas aplicações que utilizam materiais me-
tálicos, as ligas não ferrosas desempenham um papel fundamental nos avanços tecnológicos na área
de materiais. Essa importância se dá, principalmente, por três fatores, que são:
• As ligas ferrosas possuem massa específica relativamente alta, ou seja, relação massa/volume alta.
• As ligas ferrosas têm condutividades elétricas baixas frente a outros materiais metálicos.
• As ligas metálicas são inerentemente suscetíveis à corrosão em alguns ambientes comuns.

Esses fatores são o estímulo ao uso de ligas metálicas diferentes (ligas não ferrosas) em aplicações nas
quais as ligas ferrosas não se encaixam.
As ligas não ferrosas são classificadas de acordo com o seu componente metálico básico ou de
acordo com alguma característica específica do grupo ao qual pertence. Alguns exemplos são as ligas
de alumínio, cobre, magnésio, metais refratários, superligas etc.
Neste tópico, abordaremos algumas dessas ligas não ferrosas e suas características gerais. As possibili-
dades de ligas não ferrosas são imensas, por essa razão descreveremos apenas algumas delas neste material.

Ligas de cobre

O cobre e as suas ligas são utilizados desde a antiguidade e possuem diversas aplicações até hoje devido
a suas propriedades superiores. Primeiramente, eles são excelentes condutores de corrente elétrica e,
por essa razão, encontram-se como principal material de instalações elétricas. Além disso, são ótimos
condutores térmicos, sendo muito utilizadas em trocadores de calor e radiadores.

260 Classes de Materiais e Aplicações


Eles são, ainda, muito resistentes à corrosão em ambientes marinhos e outros ambientes corrosivos.
O cobre puro é um metal muito macio e dúctil, por essa razão, ele tem a capacidade de ser trabalhado
a frio, contudo, é quase impossível de ser usinado na forma pura.
O cobre na forma de liga com zinco como elemento de liga predominante, como impureza substi-
tucional, forma a liga metálica chamada latão. Os latões com concentrações até 35%p Zn são macios
e dúcteis e podem ser facilmente trabalhados a frio. Acima dessa concentração de zinco, os latões são
mais duros e resistentes e costumam ser trabalhados a quente.
Na classe dos latões, encontramos o latão amarelo, latão naval, metal de muntz, metal de douradura
etc. Cada um possui suas aplicações específicas; os usos mais comuns dos latões são na fabricação de
bijuterias, cartuchos de munição, alguns instrumentos musicais, moedas e placas de equipamentos
eletrônicos.
Outro grupo muito importante das ligas de cobre é o bronze, que são as ligas de cobre contendo
vários elementos de liga, entre eles alumínio, estanho, silício e níquel. Os bronzes são modestamente
mais resistentes que os latões, e ainda têm alto nível de resistência à corrosão, sendo preferíveis em
aplicações que exigem tanto a resistência à corrosão quanto uma boa resistência à tração.
As ligas de cobre-berílio apresentam alta resistência à tração, boas propriedades elétricas e, ainda,
resistência à corrosão e à abrasão, quando bem lubrificadas.
Além disso, essas ligas podem ser trabalhadas a frio ou a quente e podem ter sua resistência au-
mentada com tratamento térmico de endurecimento por precipitação.
Contudo, são ligas mais caras devido à adição do metal berílio em concentrações entre 1,0%p e
2,5%p. As ligas de cobre-berílio são usadas na fabricação de instrumentos cirúrgicos e odontológicos,
além disso, também são utilizadas em mancais e buchas de trens de pouso de aeronaves a jato.

Ligas de alumínio

O alumínio é o terceiro elemento mais abundante na Terra, vindo depois do oxigênio e do silício. É um
metal não tóxico e reciclável, gastando-se cerca de 5% da energia necessária para produzi-lo a partir
da alumina (óxido de alumínio – Al2O3).
A principal característica das ligas de alumínio é sua massa específica
relativamente baixa, por exemplo 2,8 g/cm3 frente ao aço que possui
uma massa específica na faixa de 8,0 g/cm3. As ligas de alumínio
possuem elevada condutividade térmica e elétrica, e resistência à
corrosão em atmosfera ambiente e outros ambientes comuns.
Contudo, o alumínio puro não é indicado para utilizações
em temperaturas elevadas devido à sua baixa tempera-
tura de fusão, além disso, ele apresenta baixa resistência
à fadiga, de modo que as trincas por fadiga podem
ocorrer em condições de baixa tensão.
Os principais elementos de liga nas ligas
de alumínio são cobre, silício, manganês,
magnésio e zinco. As ligas de alumínio que

UNIDADE 9 261
possuem apenas uma fase não são passíveis de predominantes na liga. Adicionalmente a es-
tratamentos térmicos, contudo, elas podem ter sua ses elementos predominantes, tem-se a adição
resistência aumentada por processos de endure- de elementos de liga como nióbio, molibdênio,
cimento por solução sólida (descrito da Unidade tungstênio, cromo, titânio e tântalo. As superligas
6). Contudo, existem ligas de alumínio que são podem ser forjadas ou fundidas e são aplicadas
termicamente tratáveis (endurecidas por preci- em muitos equipamentos industriais como no
pitação), devido a elementos de liga específicos, setor petroquímico e nuclear.
como o zinco e o magnésio.
As aplicações mais comuns das ligas de alu- Metais refratários
mínio são na produção de peças estruturais de
aeronaves, latas de bebidas, algumas peças de au- Os elementos metálicos com pontos de fusão extre-
tomóveis, entre outras. mamente altos são classificados como metais refra-
tários, alguns exemplos são o nióbio, molibdênio,
Ligas de titânio tungstênio e tântalo, e suas temperaturas de fusão
variam de 2468 °C, para o nióbio, até 3410 °C, para
As ligas de titânio apresentam uma combinação de o tungstênio.
propriedades muito interessante do ponto de vista Esses metais possuem aplicações variadas, por
da engenharia. São ligas excepcionalmente resisten- exemplo o tântalo e o tungstênio são utilizados
tes, além disso, são muito dúcteis e podem ser forja- como elementos de ligas na produção de aço ino-
das e usinadas com muita facilidade. Algumas ligas xidável. Ligas de molibdênio são usadas em peças
de titânio com alumínio e estanho são ideias para estruturais de veículos espaciais, enquanto o tungs-
utilizações a temperaturas elevadas, pois são ligas tênio é utilizado nos filamentos de lâmpadas in-
muito resistentes à fluência, contudo sua capacidade candescentes, eletrodos de solda e tubos de raios X.
de forjamento é inferior às demais ligas de titânio.
O titânio reage quimicamente com os outros Fabricação de Metais
materiais a temperaturas elevadas, por essa razão,
as ligas de titânio são muito caras, uma vez que A fabricação de metais é precedida, geralmente,
as técnicas utilizadas para o seu refino e fundição por processos de refino, formação de ligas e trata-
devem ser diferenciadas. Apesar dessa reatividade mento térmico, o que conduz a um produto (ligas)
a altas temperaturas, as ligas de titânio são muito com características desejáveis.
resistentes à corrosão em ambientes atmosféricos, Os métodos de conformação comuns são a
marinhos e industriais, em temperaturas normais fundição, metalurgia de pó e a soldagem. A esco-
e anormalmente elevadas também. lha do método depende de vários fatores, dentre
eles as propriedades do metal, o tamanho e a for-
Superligas ma da peça a ser criada e o custo de produção.
As operações de conformação envolvem a de-
As superligas são ligas metálicas que possuem formação plástica (irreversível) da peça metálica,
uma combinação excepcional de boas proprie- utilizando uma força ou tensão externa que ex-
dades. Elas são classificadas em três grupos: cede o limite de escoamento do material. Alguns
ferro-níquel, níquel e cobalto, que são os metais exemplos de operações de conformação são o

262 Classes de Materiais e Aplicações


forjamento, a laminação, a extrusão e a trefilação. A maioria dos metais é suscetível a procedimentos
de conformação, sendo capazes de sofrer uma moderada deformação plástica sem trincar ou fraturar.
A fundição é outro método utilizado na fabricação de ligas metálicas. Nesse processo de fabricação,
o metal é totalmente fundido e derramado em um molde com a forma desejada do componente que
se deseja fabricar, dessa forma, o metal é resfriado e se solidifica na forma do molde. As técnicas de
fundição são empregadas quando a forma do componente é muito complexa ou muito grande, tor-
nando inviável a aplicação de outra técnica, ou quando a liga possui baixa ductilidade, tornando difícil
o processo de conformação, ou, ainda, quando o processo de fundição for o mais economicamente
viável dentre todas as técnicas aplicáveis à liga.
A metalurgia em pó consiste na técnica de fabricação por meio da compactação de pós-metálicos
seguida por um tratamento térmico para produzir uma peça mais densa. Essa técnica possibilita a pro-
dução de componentes virtualmente sem poros com propriedades praticamente iguais às do material
completamente compactado (denso). Para metais com alto ponto de fusão (de difícil derretimento),
essa técnica possibilita a fabricação de componentes mais facilmente.
Por fim, temos a soldagem, que é uma técnica que pode ser considerada de fabricação de compo-
nentes metálicos. Na soldagem, duas ou mais peças são unidas com o intuito de formar uma única
peça. Essa técnica é utilizada quando a fabricação da peça como inteira é muito cara ou inconveniente.
A ligação entre as peças soldadas é metalúrgica (envolvendo difusão) e pode unir metais iguais ou
distintos. No processo de soldagem, as peças que serão unidas e o material de enchimento são aque-
cidos a uma temperatura suficiente para que ambas se fundam e, dessa forma, a solidificação conduz
a uma junção fundida entre as peças (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

UNIDADE 9 263
Cerâmicas

As cerâmicas são materiais inorgânicos, compos-


tos por elementos metálicos e não metálicos por
meio de ligações iônicas, covalentes ou, ainda,
uma combinação entre elas. A palavra cerâmica
vem do grego keramikos, que significa “matéria
queimada”, o que nos induz a pensar que o seu
processamento ocorre a altas temperaturas.
Popularmente, as cerâmicas conhecidas são
as ditas “cerâmicas tradicionais”, como é o caso
da porcelana de louças, vidro, tijolos, telhas etc.
Contudo, o progresso na pesquisa e desenvolvi-
mento de materiais trouxe outro patamar para os
materiais cerâmicos, resultante do entendimento
da natureza fundamental desses materiais e dos
fenômenos que ocorrem neles, responsáveis por
suas propriedades exclusivas.
As cerâmicas são compostas por, pelo menos,
dois elementos, sendo ainda mais comuns as cerâ-
micas compostas por mais de dois elementos; por
essa razão, suas estruturas cristalinas costumam
ser mais complexas que as estruturas cristalinas
dos metais, sendo assim, as estruturas cristalinas
das cerâmicas não serão abordadas neste material.

264 Classes de Materiais e Aplicações


Os materiais cerâmicos são utilizados em diversas aplicações tecnológicas, como em refratários,
velas de ignição, dielétricos de capacitores, sensores, abrasivos, entre outros. Existem, também, diversas
cerâmicas de ocorrência natural; em nossos ossos e dentes, por exemplo, existe uma cerâmica chamada
hidroxiapatita, que é produzida pelos nossos organismos (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

Vidros e Vitrocerâmicas

Os vidros, propriamente ditos, são materiais cerâmicos amorfos (não cristalinos) comumente utilizados
na fabricação de objetos, como lentes, recipientes, fibras de vidros etc. O vidro é um material metaestável
que foi super-resfriado e solidificou-se sem cristalizar. Eles são constituídos de altas concentrações de
sílica (SiO2) e possuem uma estrutura amorfa.
Além da sílica, os vidros contêm outros óxidos, como o Na2O, K2O, CaO e outros. Esses outros óxidos
influenciam nas propriedades do vidro. As principais características dos vidros são a sua transparência
ótica e a sua facilidade de fabricação.
Grande parte dos vidros inorgânicos pode ser transformada de um estado amorfo para um estado
cristalino, para isso ele deve ser submetido a um tratamento térmico apropriado, conduzido a tempe-
raturas elevadas, e a esse processo de transformação é dado o nome de cristalização. O produto final
do processo de cristalização é um material policristalino, formado por vários grãos finos e leva o nome
de vitrocerâmica.
Esses materiais possuem propriedades, tais como resistência mecânica relativamente elevada, baixa
expansão térmica (o que diminui muito as chances de choques térmicos); além disso, eles possuem
características que possibilitam sua utilização em ambientes de temperatura elevada, são dielétricos
e também podem ser aplicados como biomateriais devido à sua compatibilidade biológica. Quanto
às características óticas, algumas vitrocerâmicas são opacas, no entanto, outras são transparentes de-
pendendo do processo de fabricação.
Esse grupo de materiais é comumente aplicado na fabricação de peças para casa, como travessas
que vão ao forno, portas de fornos, pois são muito resistentes a choques térmicos e altas temperaturas.
Também são utilizados como isolantes elétricos, revestimento de trocadores de calor, como base de
placas de circuitos impressos e em dispositivos ópticos.

A sílica (SiO2) é, provavelmente, o material cerâmico de maior gama de aplicações, que constitui a
base de quase todos os vidros e vitrocerâmicas. Os materiais à base de sílica são muito utilizados em
aplicações de isolamento térmico (refratários) em fibras para reforço em compósitos, em vidrarias
de laboratório e na produção de fibras ópticas. Além disso, a sílica também é aplicada na forma de
partículas finas em pigmentos de tintas.
Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).

UNIDADE 9 265
Cimentos

Os cimentos são materiais cerâmicos que são ca- sidade também causa a diminuição da resistência,
pazes de ser consolidados por um ligante sem da capacidade de suportar cargas e da resistência à
a necessidade de queima ou sinterização. A esse corrosão, portanto, a porosidade é um parâmetro
processo é dado o nome de cimentação, e ele que deve ser definido de acordo com o projeto no
ocorre quando se mistura o cimento com água, qual o refratário será utilizado.
formando uma pasta com pega que, posterior- Dentre as aplicações dos refratários, as mais
mente, endurece. Alguns exemplos de cimentos usuais são na forma de tijolos refratários para a
inorgânicos são o gesso, o cimento Portland e o construção de fornos em forjas de metais e de
cal, que são produzidos em quantidades muito produção de vidro, fornos de tratamento térmico
grandes. e na geração de energia.
O cimento Portland é produzido em grandes
quantidades e é composto de argila e minerais que
contêm cal moídos e misturados, em proporções Abrasivos
definidas, que passam por um longo processo de
produção industrial. Esse cimento tem sua dureza Os materiais cerâmicos denominados abrasivos
desenvolvida por meio de reações químicas com a são aqueles que têm como finalidade desgastar,
água, por essa razão, é, muitas vezes, chamado de cortar ou polir outros materiais. Por essa razão, es-
cimento hidráulico e é utilizado, principalmente, ses materiais têm que possuir uma dureza elevada,
em argamassas e concreto, com a função de aglu- além disso, eles devem ser resistentes ao desgaste
tinar e formar uma massa com areia e cascalho. e também ter um alto grau de tenacidade.
Materiais como o diamante, natural e sintético,
são ótimos abrasivos, contudo são materiais mui-
Refratários to caros. Os mais comuns e baratos são carbeto
de silício, oxido de alumínio, areia e carbeto de
As cerâmicas refratárias são materiais muito utili- tungstênio.
zados. Esses materiais resistem a altas temperatu- As cerâmicas abrasivas podem ser aplicadas co-
ras, sem sofrer fusão ou mesmo decomposição e ladas a discos, na forma de revestimento ou como
possuem a capacidade de não reagir e nem sofrer grãos soltos. Os abrasivos colados a discos são fixa-
corrosão mesmo quando expostos a ambientes dos a um disco por meio de uma resina orgânica ou
severos. Além disso, eles possuem a característica uma matriz cerâmica vítrea. Já os de revestimento
de serem ótimos isolantes térmicos, o que os torna são aplicados na forma de pó abrasivo em um mate-
muito mais interessantes. A qualidade dos mate- rial, papel ou tecido, sendo a lixa de papel o exemplo
riais refratários depende muito da sua composição. mais comum desse tipo de abrasivo.
Um dos parâmetros mais importantes de se Por fim, os grãos soltos são dispersos em um
atentar durante a produção de um refratário é meio aquoso ou em óleo, que é, então, aplicado à
a porosidade, uma vez que um aumento na po- superfície que se deseja polir e/ou lixar, geralmen-
rosidade acarreta um aumento na resistência a te utilizando um equipamento para exercer a força
choques térmicos e também um aumento no iso- mecânica necessária ao processo (CALLISTER;
lamento térmico. Entretanto, o aumento da poro- RETHWISCH, 2013).

266 Classes de Materiais e Aplicações


Cerâmicas à Base de Argila

Os produtos feitos de argila são muito populares, visto que a argila é uma matéria-prima muito barata,
encontrada em abundância na natureza e de fácil extração, não necessitando de qualquer processo de
beneficiamento. Além disso, a produção de produtos de argila é muito simples, pois é só misturar a
argila com água para que se forme uma massa plástica de fácil manuseio, a qual é moldada, secada ao
ambiente e, posteriormente, cozida em temperatura elevada para melhorar sua resistência mecânica
(consolidação).
As cerâmicas de argila podem ser classificadas em louças brancas e produtos à base de argila. As
louças brancas são cerâmicas à base de argila que ficam brancas após o cozimento a altas temperaturas.
Esse grupo inclui as porcelanas e as louças de barro, sanitárias e vitrificadas.
Já nas cerâmicas à base de argila estão inclusos os tijolos de construção, tubulações de esgoto, uten-
sílios de cozinha e também os azulejos, aplicações nas quais é imprescindível a integridade estrutural
do componente (ASKELAND; WRIGHT, 2015).

Cerâmicas Avançadas

A maior parte dos materiais cerâmicos produzidos estão entre os grupos discutidos anteriormente,
contudo, existe ainda o grupo das cerâmicas avançadas que tem notável importância visto que elas
são utilizadas em tecnologias de ponta, principalmente devido às suas propriedades elétricas, ópticas
e magnéticas.
UNIDADE 9 267
Sistemas Rolamentos de
microeletromecânicos esferas cerâmicas

Os sistemas microeletromecânicos, também co- Os rolamentos consistem em uma pista na qual


nhecidos como MENS (Microelectromechanical as esferas estão em contato entre si e com a pista
Systems), são compostos por uma base de silício, e atritam-se quando estão sendo utilizadas. Até
sobre a qual estão dispostos uma enorme quanti- certo tempo atrás, os rolamentos eram todos feitos
dade de dispositivos mecânicos integrados a ele- com aço, tanto as pistas quanto as esferas. Con-
mentos elétricos. Esses componentes mecânicos tudo, atualmente, é comum vermos rolamentos
são microsensores e também microatuadores. Os híbridos, que consistem em pistas feitas de aço
microsensores captam informações de fenômenos e esferas feitas de esferas cerâmicas, cujas pro-
do ambiente (térmicos, elétricos, mecânicos, quí- priedades são superiores às do aço para essas
micos, óticos e/ou magnéticos) e processam essa aplicações.
informação, enquanto os microatuadores geram Um material muito utilizado para produção
ações como resposta às informações processadas. das esferas cerâmicas é o nitreto de silício (Si3N4)
Um exemplo prático de aplicação de sistemas devido às seguintes vantagens:
microeletromecânicos é na fabricação de acelerô- • Sua densidade é menor que a do aço, sendo
metros (sensores de aceleração e desaceleração), assim, os rolamentos têm seu peso reduzido.
que são utilizados nos sistemas de airbag de carros • Os rolamentos suportam velocidades
para definir o momento de ativação do airbag. maiores, pois as cargas centrífugas são
Além disso, os MENS têm potencial para apli- menores com as esferas cerâmicas devido
cações em detectores de produtos químicos, dis- ao seu peso reduzido.
positivos de conversão de energia, unidades de • Elas deformam muito menos que as esferas
armazenamento de dados, entre muitas outras. de aço, pois seu módulo de elasticidade é
maior que o do aço.
• A vida útil dos rolamentos com esferas de
Fibras óticas nitreto de silício é muito maior (de três a
cinco vezes maior) que a dos rolamentos
Um material muito utilizado, principalmente em com esferas de aço.
sistemas de comunicação, é a fibra ótica (tratada • O aquecimento no rolamento com esferas
na Unidade 8). Ela é fabricada a partir da síli- de nitreto de silício é menor, em relação ao
ca pura, além disso, essa sílica não pode conter com aço, o que leva uma maior duração da
contaminantes nem defeitos que possam atenuar, graxa aplicada nesses rolamentos.
absorver ou espalhar o feixe de luz transportado • As esferas de nitreto de silício são isolantes
por ela. Para garantir uma fibra ótica de qualidade, elétricas, por essa razão, elas são imunes a
é necessário o uso de técnicas avançadas e sofisti- danos por descargas elétricas.
cadas para a produção desses materiais. • São muito resistentes à corrosão.

268 Classes de Materiais e Aplicações


Polímeros

Os polímeros são compostos orgânicos formados


pela união de estruturas de repetição chamadas
meros, daí o nome polímeros, que simboliza mui-
tos meros. A Figura 2 mostra as moléculas livres
na fase gasosa ou líquida, denominadas monô-
meros. Esses monômeros, quando submetidos a
certas condições (temperatura, pressão, catalisa-
dor e/ou ativadores), unem-se (reagem) e formam
moléculas maiores. Moléculas formadas por pou-
cos meros são chamadas de oligômeros, já as mo-
léculas formadas por muitos meros são chamadas
polímeros, os quais serão o foco deste tópico. A
série de reações químicas que dão origem a um
polímero a partir de monômeros recebe o nome
de polimerização.

UNIDADE 9 269
Monômero Polímero
(gás / líquido) (sólido)

temperatura
pressão
ativadores
catalisadores

Monômero Polímero
(gás / líquido) (sólido) MONÔMERO = molécula pequena
MERO = unidade (estrutura química) de repetição da molécula
temperatura
pressão OLIGÔMERO = molécula com poucos meros
ativadores
catalisadores POLÍMERO = macromolécula com muitos meros

MONÔMERO = molécula pequena


Figura 2MERO
- Esquematização da formação
= unidade (estrutura de umdepolímero
química) repetição da molécula

OLIGÔMERO = molécula com poucos meros


POLÍMERO = macromolécula com muitos meros
Existem muitos tipos de compostos diferentes Finalmente, a forma mais comum de classificação
dentro da classe dos polímeros, muitos deles são utilizada para os polímeros é feita em relação à
familiares e possuem uma ampla variedade de sua aplicação final, dessa forma, temos os plásti-
aplicações. Essa gigantesca variedade de compos- cos, elastômeros (borrachas), fibras, revestimentos,
tos poliméricos pode ser classificada em relação espumas, adesivos e filmes. Vamos abordar as ca-
à sua estrutura como sendo: racterísticas e aplicações desses polímeros a seguir.
• Polímeros termoplásticos – possuem
cadeias lineares flexíveis (ramificadas ou
não), alta massa molar, são moldáveis com Plásticos
o aumento da temperatura e são recicláveis.
Ex.: polietileno. O grupo dos plásticos é, provavelmente, o maior
• Polímeros termofixos – possuem es- grupo de enquadramento dos materiais polimé-
trutura molecular tridimensional rígida, ricos. Eles apresentam pouca rigidez estrutural
baixa massa molar, são resistentes (fixos) quando submetidos a cargas e são materiais uti-
ao aquecimento e não são recicláveis. Ex.: lizados para as mais diversas aplicações de uso
poliuretanos, epóxis e poliésteres. geral. Alguns materiais classificados no grupo dos
polímeros são o cloreto de polivinila, polietileno,
Além disso, os polímeros são também classifica- polipropileno, epóxis, poliestireno, entre muitos
dos em relação à sua ocorrência (origem) como: outros.
• Polímeros naturais – de ocorrência natu- Quanto às propriedades, os plásticos apre-
ral, como a celulose, algodão, lã de carneiro sentam uma grande variedade de combinações.
e a seda do bicho-da-seda. Alguns plásticos apresentam uma alta rigidez e
• Polímeros sintéticos – produzidos em também fragilidade. Já outros exibem uma boa
laboratórios ou indústrias, são a grande flexibilidade a deformações plásticas e elásticas
maioria dos polímeros aplicados em pro- quando submetido a tensões, muitas vezes, de-
jetos. Ex.: acrílico, isopor, teflon e PVC. formando muito antes de fraturar.

270 Classes de Materiais e Aplicações


Os fluorcarbonos, por exemplo, são utilizados na fabricação de revestimentos
antiaderentes de utensílios domésticos, além disso, em mancais, buchas e tam-
bém componentes eletrônicos que operam a altas temperaturas. Na Figura
3, podemos ver a aplicação do Teflon (fluorcarbono) no revestimento
de uma panela antiaderente devido a seu baixo coeficiente de atrito.
As poliamidas (náilons) são utilizadas em revestimentos para
cabos, engrenagens e puxadores, já os acrílicos são
usados em lentes, janelas de aeronaves, equi-
pamentos de desenho etc. Como você deve
ter percebido, as aplicações dos plásticos
são extremamente variadas, estenderiam-se
a muito mais que uma unidade, contudo,
vamos nos limitar a esse conhecimento in- Figura 3 - Exemplo de aplicação de fluorcarbonos no
trodutório. revestimento antiaderente de utensílios domésticos

Elastômeros

Os materiais elastoméricos são polímeros amorfos particularmente interessantes na ciência dos ma-
teriais devido à sua elasticidade, ou seja, eles têm a capacidade de se deformarem elasticamente em
quantidade significativa quando submetidos a tensões e, então, retornarem completamente à forma
original após essas tensões cessaram.
Das suas propriedades, podemos dizer que existem elastômeros que são resistentes a temperaturas
altas e baixas, resistentes mecanicamente e com boas propriedades elétricas, como é o caso dos polissilo-
xanos (silicones). Já os policloroprenos (Neoprene) são resistentes a ambientes sujeitos a intempéries ou
em presença de ozônio, e também são resistentes a óleo e a chamas, e são utilizados como revestimento
de tanques de produtos químicos, vedações, gaxetas, fios, mangueiras e isolamento de cabos.
Dentre as aplicações mais comuns dos elastômeros estão a produção de pneus, bolas de golfe, solas
de calçados, tubos e juntas, utilizando poli-isopreno. Na fabricação de pneus também é comum a
utilização do copolímero de butadienoestireno (borracha de SBR ou BS).

Fibras

Os polímeros pertencentes à classe das fibras são capazes de ser esticados (tensionados) em uma razão
(comprimento do fio/diâmetro do fio) de, pelo menos, 100:1 (cem por um). O uso mais comum das
fibras poliméricas é na indústria têxtil para a confecção de panos e tecidos, contudo, para essa utilização,
é necessário que essa fibra atenda uma série de requisitos químicos e físicos.

UNIDADE 9 271
As fibras são submetidas a vários tipos de Existem, também, adesivos feitos de polímeros
deformações mecânicas, como estiramentos, termoplásticos ou elastômeros termoplásticos,
torções e abrasão, portanto, é indispensável que que quando são submetidos ao aquecimento (por
elas tenham valores altos de limite de resistência volta de 80 a 110 °C) fundem-se e unem os ma-
à tração (LRT) e de módulo de elasticidade (E), teriais durante a sua solidificação (ASKELAND;
e essas propriedades são controladas tanto pela WRIGHT, 2015).
estrutura química das cadeias que formam esse
polímero quanto pelo processo de estiramento
dessas fibras. Polímeros Avançados
Outra característica importante das fibras é a
de que elas devem ser estáveis quimicamente, não A síntese de novos materiais poliméricos com
reagindo facilmente em ambientes ligeiramente combinações de propriedades únicas e desejá-
ácidos, básicos, como na presença de alvejantes, veis vem se desenvolvendo aceleradamente nos
solventes de lavagem a seco ou mesmo à luz do últimos anos, principalmente em detrimento
sol. Além disso, elas têm que ser não inflamáveis e, do nicho tecnológico. Agora vamos conhe-
de preferência, que possam ser secadas sem sofrer cer o polietileno de ultra-alta massa molar, os
deformações ou perda de suas propriedades. cristais líquidos poliméricos e os elastômeros
termoplásticos, que são materiais poliméricos
avançados.
Adesivos

Os adesivos são polímeros utilizados para unir Polietileno de ultra-alta massa


outros polímeros, metais, cerâmicas ou compó- molar
sitos. Existe um mercado forte desses materiais
nas áreas automotiva, aeroespacial, eletrônica, de O polietileno de ultra-alta massa molar, conhe-
eletrodomésticos e de equipamentos esportivos. cido como UHMWPE (Ultra-highmolecular-
Existem adesivos poliméricos quimicamente -weight polyethylene), é o polietileno de cadeia
reativos, como os de poliuretano, epóxi, silicone, linear com uma massa molar extremamente alta,
fenólicos e poli-imidas. Esses adesivos reativos com valores de, aproximadamente, 4.106 g/mol, e
sofrem o processo de cura quando expostos à que na forma de fibras recebe o nome comercial
umidade e/ou calor e, no caso dos epóxis, quando de Spectra. As características mais interessantes
as duas resinas são misturadas. desse material são:
Os adesivos condutores são constituídos por • Sua resistência excepcionalmente alta ao
polímeros com cargas (material particulado ou impacto.
fibroso). As cargas podem ser partículas de prata, • Sua resistência extremamente elevada ao
cobre ou alumínio, que servem para aumentar a desgaste e à abrasão.
condutividade elétrica e térmica do adesivo. • Coeficiente de atrito muito baixo.

272 Classes de Materiais e Aplicações


• Possui uma superfície autolubrificante e Em geral, esses materiais exibem boa estabi-
antiaderente. lidade térmica até por volta de 230 °C, resisten-
• É isolante elétrico. tes frente a ácidos, solventes e alvejantes, rigidez,
• É um dielétrico excelente. resistência à tração e boa resistência a impactos.
• Possui características excepcionais de As principais aplicações dos cristais líquidos
amortecimento acústico. poliméricos são em telas de LCD (Liquid Crystal
• Resistência química elevada. Display) de relógios digitais, celulares, monitores
de televisão e monitores de computador, entre
Apesar de o polietileno de ultra-alta massa molar outras aplicações, como na fabricação de carcaças
apresentar ótimas propriedades mecânicas, ele de relés, capacitores e suportes, na indústria de
tem uma temperatura de fusão baixa e, por essa eletrônicos, também em fotocopiadoras e com-
razão, conforme sua temperatura aumenta, essas ponentes fibras óticas.
propriedades diminuem.
Já o campo de aplicações para esse mate-
rial é imenso, sendo utilizado na fabricação de Elastômeros termoplásticos
linhas de pesca, superfície inferior de esquis,
superfície de pistas de boliche, núcleos de bolas Os elastômeros termoplásticos, de sigla TPE ou
de golfe, em coletes à prova de bala e capacetes TE (Thermoplastic Elastomer), são polímeros
militares. No campo de biomateriais, ele é usado que, em condições ambiente de temperatura, exi-
para fabricar próteses biomédicas e filtros para bem um comportamento elastomérico, entretan-
hemodiálise. to, de natureza termoplástica. A principal vanta-
gem dos elastômeros termoplásticos em relação
aos elastômeros termofixos é que o TPE, quando
Cristais líquidos poliméricos aquecido acima de uma certa temperatura, fun-
de-se e pode ser processado utilizando-se técnicas
Os cristais líquidos poliméricos, cuja sigla em in- para a conformação de materiais termoplásticos.
glês é LCP (Liquid Crystal Polymer), são materiais Essa característica é muito importante, pois esses
de estrutura química muito complexa, portanto, materiais podem ser reprocessados dando novas
não entraremos nessa discussão, vamos apenas conformações para eles, ou seja, eles são reciclá-
nos atentar a uma abordagem mais superficial veis. Além disso, todo o material perdido durante
sobre os LCP. Esses materiais podem ser conside- a conformação de um componente de TPE pode
rados um outro estado da matéria, podendo ser ser reaproveitado (reciclado) para a produção do
chamado de estado líquido cristalino, visto que componente seguinte.
eles não se assemelham aos materiais cristalinos, Em relação às aplicações, primeiramente, de-
nem aos amorfos, nem semicristalinos no estado vemos saber que os elastômeros termoplásticos
líquido. O que acontece é que os cristais líquidos substituíram, em um grande número de aplica-
poliméricos, quando estão no estado líquido (fun- ções, os elastômeros termofixos. Dentre as aplica-
didos), exibem configurações extremamente or- ções mais comuns dos TPE, estão a fabricação de
ganizadas de suas moléculas, enquanto os demais para-choques, solas e saltos de sapatos, bolas de
polímeros fundidos exibem um perfil aleatório de futebol, em materiais de vedação, adesivos, entre
suas moléculas. muitos outros.

UNIDADE 9 273
Compósitos

Devido à necessidade de materiais com proprieda-


des não encontradas isoladamente em nenhuma
das classes de materiais (metais, cerâmicas e polí-
meros), foram criados materiais que são a junção
de materiais pertencentes as três classes de mate-
riais estudados anteriormente e que apresentam
um conjunto de propriedades aprimorados, como
os polímeros reforçados com fibras de vidro.
A demanda pelos compósitos é alta, princi-
palmente nos setores de alta tecnologia, como na
indústria submarina e aeroespacial, na bioenge-
nharia e também no setor de transporte. Muitas
vezes, as combinações de características desejadas
em um projeto são muito complexas, por exem-
plo, na indústria aeronáutica, na qual querem um
material que seja resistente à abrasão e a impac-
tos, tenha massa específica baixa e, ao mesmo
tempo, seja resistente, rígido e não sofra corrosão
facilmente, o que, para os materiais comuns, não
é possível, visto que quase sempre um aumento
da rigidez ou mesmo da resistência leva a uma
diminuição da tenacidade do material. Dessa for-
ma, uma alternativa a essa demanda específica é
a criação de compósitos.

274 Classes de Materiais e Aplicações


Vamos à definição formal desses materiais: Nesses compósitos, a matriz transfere parte
os compósitos são materiais multifásicos que da tensão sofrida por ela, devido a uma carga ou
exibem uma proporção significativa das melho- tensão aplicada às partículas da fase dispersa, e
res características dos materiais que compõem essas partículas, por sua vez, suportam uma fração
suas fases. dessa tensão. O grau de intensidade desse reforço
Existem compósitos naturais, como a madeira está ligado ao nível de interação entre a matriz e
que é composta por fibras de celulose, resistentes as partículas que compõem a fase dispersa.
e também flexíveis, que são envolvidas por lig-
nina, que é um material muito rígido. Contudo,
os compósitos sintéticos são o foco de interesse Compósitos
da engenharia. Neste tópico, trataremos como Reforçados com Fibras
compósitos os materiais multifásicos produzi-
dos artificialmente (sintéticos), além disso, as O projeto dos compósitos reforçados com fibras,
fases que constituem esses compostos devem geralmente, tem por objetivo produzir materiais
ser quimicamente distintas e devem estar sepa- com elevada rigidez e/ou resistência em relação ao
radas por uma interface. Em geral, os materiais seu peso. Por essa e outras razões, do ponto de vista
compósitos são constituídos por apenas duas tecnológico, os compósitos reforçados com fibras
fases, uma delas é denominada matriz, que é a são os mais importantes dentre os compósitos.
fase que envolve a outra fase presente, chamada Além das propriedades dos materiais que com-
de fase dispersa. põem as fibras, as propriedades mecânicas destes
As propriedades apresentadas pelos compósi- compósitos dependem, também, da forma como
tos são um reflexo das propriedades das fases que a tensão aplicada no material é transmitida para
os constituem, da quantidade relativa delas, assim essas fibras, e a intensidade da ligação entre elas e
como da geometria da fase dispersa. Estudaremos, a matriz é um fator importante nessa transmissão
agora, três grupos de compósitos: os compósitos de tensão nas fibras.
reforçados com partículas, os compósitos reforça- Outro fator importante nesse tipo de compó-
dos com fibras e os compósitos estruturais. sito é a concentração e a orientação das fibras na
matriz, que refletem diretamente na resistência e
em outras propriedades desses materiais. Em re-
Compósitos Reforçados lação à orientação das fibras na matriz do compó-
com Partículas sito, são possíveis duas configurações limites, em
uma delas as fibras estão todas alinhadas em uma
Para a maioria dos compósitos pertencentes a das direções do material; na outra, essas fibras se
esse grupo, a fase constituída pelas partículas dispõem em direções totalmente aleatórias. Para
(fase particulada) é mais rígida e mais dura que a fibras contínuas, geralmente a orientação é feita
matriz, portanto, essas partículas desempenham de forma alinhada em uma só direção. Já para
o papel de reforço para a matriz, restringindo o as fibras descontínuas, essa orientação pode ser
movimento da matriz ao redor de cada partícula aleatória ou alinhadas como podemos observar
da fase dispersa. na Figura 4.

UNIDADE 9 275
Direção
Os whiskers são compostos por monocris-
longitudinal
tais extremamente finos e de razão comprimento/
diâmetro muito grandes. Por esse motivo, eles
exibem um grau de cristalinidade elevado e são
praticamente livres de defeitos, o que os torna
Direção extremamente resistentes.
transversal
Contudo, sua utilização é delimitada devido
ao seu custo extremamente oneroso, além disso,
são materiais de difícil incorporação, às vezes im-
possível, a uma matriz.
(a) (b) (c)
As fibras, por sua vez, são feitas de materiais
Figura 4 - Representação esquemática das fibras em um policristalinos ou de materiais amorfos, possuem
compósito reforçado com fibras
Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013). diâmetros pequenos, contudo, maiores que os
diâmetros dos whiskers. São feitas de materiais
Podemos observar um compósito reforçado com cerâmicos ou poliméricos, por exemplo, carbono,
fibras na Figura 4(a), um compósito reforçado boro, óxido de alumínio, aramidas poliméricas etc.
com fibras contínuas e alinhadas na Figura 4(b) e, Os arames utilizados nesses compósitos têm
por fim, um compósito reforçado com fibras des- diâmetros bem maiores que os anteriores, e são
contínuas e orientadas aleatoriamente na Figura geralmente utilizados para reforçar pneus de
4(c). Além disso, observou-se que os compósitos carros, carcaças de foguetes, mangueiras de alta
constituídos de fibras distribuídas uniformemen- pressão etc., e eles são, geralmente, feitos de aço
te costumam ter propriedades gerais melhores. e tungstênio, entre outros.

Fibras

As fibras são feitas de materiais com valores altos Existem compósitos que utilizam dois ou mais
de limite de resistência à tração (LRT). Mesmo tipos diferentes de fibras, como reforço, deno-
assim, um fato interessante é que a maioria dos minados compósitos híbridos, dessa forma, é
materiais, especialmente os que costumam ser possível projetar materiais com um conjunto de
frágeis, quando na forma de fibras, costumam ser propriedades melhores e mais específico que
mais resistentes do que quando estão em uma com um tipo só de fibra.
forma mais volumosa. Isso se deve ao fato de que,
em uma fibra, a probabilidade de existência de um
defeito que possa levar o material rapidamente Matriz
à fratura é muito menor que em uma peça mais
volumosa desse material. Nos compósitos reforçados com fibras, a fase
As fibras utilizadas são classificadas em whis- matriz, ou simplesmente a matriz, desempenha
kers, fibras e arames, cujo critério de classificação a função de ligar as fibras umas às outras, além
é baseado na origem e no diâmetro da fibra. de ser o meio pelo qual a tensão aplicada é trans-

276 Classes de Materiais e Aplicações


mitida e distribuída a essas fibras; dessa forma, Compósitos laminados
apenas uma pequena fração da tensão aplicada é
suportada pela matriz do compósito, o restante é Os compósitos laminados são compostos por vá-
todo transferido para as fibras. rias lâminas (placas bidimensionais) de alta re-
A matriz também tem como função a proteção sistência e com direção alinhada. Essas lâminas
das fibras contra qualquer tipo de abrasão mecâni- são, por sua vez, dispostas uma sobre a outra na
ca ou corrosão química devido ao meio externo. E, forma de uma pilha e, posteriormente, são unidas.
finalmente, a matriz funciona como uma barreira Cada camada de placa na pilha deve estar com a
que impede a propagação de trincas, que possam orientação de alinhamento diferente da placa logo
surgir, de uma fibra para outra e, dessa forma, pro- acima dela, e assim sucessivamente, como pode-
tege o compósito de sofrer uma fratura frágil. mos ver na Figura 5. Dessa forma, os compósitos
Durante o projeto de um compósito reforça- laminados possuem alta resistência em todas as
do com fibras, é importante atentar-se ao fato de direções, contudo, essa resistência é menor do que
que a matriz e as fibras devem estar intimamente seria a resistência na direção de alinhamento caso
ligadas para que a transmissão da tensão aplicada todas estivessem alinhadas.
da matriz para as fibras seja a maior possível, pois
a resistência máxima desse compósito depende
fortemente dessa interação matriz-fibras.
As matrizes desses tipos de compósitos podem
ser de materiais cerâmicos, mas são preferíveis os
materiais metálicos e os poliméricos por serem
mais dúcteis. Quanto às fibras, o módulo de elas-
ticidades delas deve ser bem maior que o módulo
de elasticidade da matriz.

Compósitos Estruturais

Os compósitos estruturais são, normalmente, com-


postos tanto por materiais homogêneos quanto por
compósitos, e suas propriedades são dependentes
das formas geométricas dos elementos estruturais Figura 5 - Representação de uma placa de compósito la-
minado
que compõem esse compósito estrutural, além de Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013).
dependerem, também, dos materiais constituintes.

Painéis-sanduíche

Tenha sua dose extra de Os painéis-sanduíches são projetados para exerce-


conhecimento assistindo ao rem a função de vigas ou painéis com baixo peso,
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.
pois eles possuem resistência e rigidez elevadas.
O painel-sanduíche é composto por duas lâminas

UNIDADE 9 277
externas, que são unidas (adesivadas) a um núcleo de grande espessura em relação às placas. A função
das placas é conferir alta rigidez e resistência ao compósito; por essa razão, elas são, geralmente, feitas
de um material bem rígido e resistente, que pode ser uma liga de alumínio, um plástico reforçado com
fibras, madeira compensada ou, ainda, titânio, entre outros. Enquanto o núcleo deve ser leve e possuir
um baixo módulo de elasticidade, então, ele é composto por madeira, espumas poliméricas rígidas ou,
ainda, colmeias (mostrada na Figura 6).

Lâmina da Face

Colmeia
Adesivo

Painel-sanduíche
finalizado
Lâmina da Face

Figura 6 - Representação de um compósito painel-sanduíche, cujo núcleo é do tipo colmeia


Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013).

Das funções desempenhadas pelo núcleo, a principal é servir de sustentação continuamente para as
lâminas externas. Além disso, ele deve ser resistente a tensões de cisalhamento transversais e também
deve ser espesso o suficiente para não sofrer flambagem, ou seja, não encurvar quando submetido a
uma tensão cisalhante. Esses painéis-sanduíche são, usualmente, aplicados em telhados, paredes de
edifícios e, até mesmo, na indústria aeronáutica e aeroespacial.
Encerramos a Unidade 9 e nela vimos que os metais têm grande importância no projeto de com-
ponentes estruturais, visto que são materiais que, em geral, apresentam valores altos de resistência
à tração, dureza e ductilidade, dentre eles se destacam os aços. Além disso, quando se deseja outras
características, como massa específica menor, maior resistência à corrosão ou mesmo uma maior
condutividade elétrica, deve-se investir em ligas não ferrosas, como as de alumínio e as de cobre.
Em relação às cerâmicas, vimos que são materiais inorgânicos formados por elementos metálicos e
não metálicos ligados por meio de ligações covalentes, iônicas ou combinações entre elas. As cerâmicas
apresentam propriedades bem variadas, como a transparência ótica nos vidros inorgânicos, a capaci-
dade de formar pastas e de endurecimento dessa pasta apresentada pelos cimentos, a capacidade de
suportar temperaturas elevadas e a resistência a choques térmicos dos refratários, entre muitas outras.
Além disso, temos também as cerâmicas avançadas, como as fibras óticas que são capazes de transmitir
informações com extrema rapidez devido à sua propriedade de transportar a luz.

278 Classes de Materiais e Aplicações


No tópico de polímeros, abordamos os mais
usuais, que são os plásticos que possuem infinitas
aplicações em nosso cotidiano. Além deles, temos
as fibras que desempenham um papel importan-
tíssimos na fabricação de tecido e panos na indús-
tria têxtil. Finalizamos com os polímeros avan-
çados, em que pudemos conhecer o UHMWPE,
cuja massa específica é elevadíssima e apresenta
um conjunto de propriedades fantástico. Outro
polímero avançado importante que vimos foi o
elastômero termoplástico que tem a capacidade
de substituir os elastômeros termofixos e, além de
tudo, é um polímero reciclável.
Finalizamos com a abordagem dos materiais
compósitos, dentre eles, vimos os compósitos
que têm suas propriedades aprimoradas com a
inserção de partículas sólidas em sua matriz, e
essas partículas servem de suporte para as car-
gas sofridas por esses materiais. Já nos materiais
reforçados com fibras, o reforço é resultado da
transferência das tensões aplicadas para as fibras,
aumentando significativamente a resistência do
compósito. Por fim, nos compósitos estruturais,
vimos que as suas propriedades são dependentes
das estruturas geométricas dos seus elementos
integrantes, como nos compósitos laminados e
nos painéis-sanduíche.
Foi um prazer acompanhar você nessa cami-
nhada pela disciplina de Ciências dos Materiais.

UNIDADE 9 279
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Os materiais metálicos são constituídos por, pelo menos, um tipo de elemento


químico metálico, e os átomos se ligam por meio de ligações químicas denomi-
nadas ligações metálicas. Devido à natureza de grande mobilidade eletrônica
das ligações metálicas, essa classe de materiais possui propriedades típicas,
como alta condutividade térmica e elétrica. Além disso, de maneira geral, os
materiais metálicos são bastante resistentes às solicitações mecânicas e podem
ser conformados nas mais variadas formas. A respeito da classe de materiais
metálicos, analise as afirmativas apresentadas a seguir.
I) O materiais metálicos classificados como aços inoxidáveis são ligas ferrosas
altamente resistentes à corrosão e possuem, em sua composição, o cromo
como elemento de liga.
II) Os aços de baixa concentração de carbono, até no máximo 0,25%p C, são
materiais de elevada dureza, entretanto possuem menor ductilidade e tena-
cidade em relação aos aços com maiores teores de carbono.
III) O ferro branco é uma liga ferrosa muito dúctil e, por essa razão, muito frágil
também, então, sua aplicabilidade fica limitada ao revestimento de superfícies
que necessitam pouca resistência à abrasão e ductilidade sem necessitar
qualquer dureza.
IV) Os ferros fundidos são ligas ferrosas que apresentam, em sua composição,
concentrações de carbono superiores a 2,14%p, além disso, esses materiais
apresentam a característica de se fundir facilmente em temperaturas entre
1150 °C e 1300 °C.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I, II e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e IV.
e) I, II e IV.

280
2. Muitas vezes, um conjunto de propriedades complexas são necessárias a um
projeto, tornando impossível a escolha de um material dentre as classes dos
metais, cerâmicas ou polímeros que supra todas as necessidades desse projeto
ao mesmo tempo. Devido a essa necessidade, foram criados materiais que são
a união de materiais pertencentes a essas três classes e que apresentam as
melhores propriedades dos materiais que os compõem. A respeito dos materiais
compósitos, analise as afirmativas apresentadas a seguir.
I) Os materiais compósitos são importantes, pois eles reúnem as melhores
características de cada material que os compõe.
II) A demanda dos materiais compósitos é alta, principalmente, nos setores de
alta tecnologia, como na indústria submarina e aeroespacial, na bioengenharia
e também no setor de transporte.
III) Os materiais utilizados na fabricação das fibras, em compósitos reforçados
com fibras, devem possuir altos limites de resistência à tração.
IV) A fase matriz desempenha apenas o papel de unir as fibras umas às outras
sem nenhuma outra função nos compósitos reforçados com fibras.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I, II e III.
b) I e IV.
c) I, III e IV.
d) II e IV.
e) I e II.

281
3. As cerâmicas são constituídas por elementos metálicos e não metálicos que,
na maioria das vezes, apresentam ligações de natureza iônica. Estão incluídos
nessa classe de materiais os refratários, cimentos, vidros, abrasivos e cerâmicas
à base de argila. Devido à natureza de suas ligações químicas, esses materiais
normalmente são isolantes térmicos e elétricos, além de, no geral, serem duros
e frágeis e resistirem a elevadas temperaturas. A respeito dos materiais cerâ-
micos, analise as afirmativas dadas a seguir.
I) As cerâmicas estruturais à base de argila são materiais cerâmicos feitos à
base de argila, um insumo barato e abundante. Os tijolos de construção,
tubulações de esgoto e os azulejos são exemplos desses materiais.
II) O diamante é um exemplo de material cerâmico classificado como abrasivo
natural, que possui elevada dureza, entretanto, não é resistente ao desgaste
e possui um baixo grau de tenacidade.
III) Os rolamentos de esferas cerâmicas apresentam vantagens frente aos rola-
mentos de esferas de aço com menor densidade, menor aquecimento durante
operação, maior resistência à corrosão e maior vida útil.
IV) Os sistema microeletromecânicos são sistemas “inteligentes” em miniatura,
que consistem em um grande número de dispositivos mecânicos integrados
a uma grande quantidade de elementos elétricos em um substrato de silício.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) II e III.
d) II e IV.
e) I, III e IV.

282
LIVRO

Ciência e Engenharia dos Materiais


Autor: Donald R. Askeland e Wendelin J. Wright
Editora: Trilha
Sinopse: o texto trata brevemente sobre processamento e a reciclagem de
polímeros.
Comentário: página 543-547, terceira edição, copyright © 2015, título
“Processamento de polímeros e reciclagem”

283
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.

SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.

284
1. B.

A afirmativa II está incorreta, pois os aços de baixa concentração de carbono, até, no máximo 0,25%p C,
são materiais muito dúcteis e tenazes em relação aos aços com maiores teores de carbono.

A afirmativa III está incorreta, pois o ferro branco é uma liga ferrosa extremamente dura e, por essa razão,
muito frágil também, então sua aplicabilidade fica limitada ao revestimento de superfícies que necessitam
resistência à abrasão e dureza sem necessitar de ductilidade.

2. A.

A afirmativa IV está incorreta, pois a fase matriz desempenha o papel de unir as fibras umas às outras,
de distribuição das tensões aplicadas sobre o material compósito para as fibras e de proteção das fibras
contra corrosão e abrasão ocasionadas pelo meio externo.

3. E.

A afirmativa II está incorreta, pois o diamante é um exemplo de material cerâmico classificado como abrasivo
natural, que possui elevada dureza, é resistente ao desgaste e também tem um alto grau de tenacidade.

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286
287
CONCLUSÃO

Chegamos ao término dos estudos da nossa disciplina de Ciências dos Materiais


e espero que você tenha aprendido muito e assimilado da melhor forma os temas
abordados neste livro e nas aulas da disciplina. Acredito que esse conhecimento
vai expandir seus horizontes no tocante aos projetos com materiais e assuntos
relacionados. Na Unidade 1, você teve o seu primeiro contato com os materiais
a partir de uma breve perspectiva histórica sobre eles, conheceu as classes prin-
cipais e estudou a estrutura interna deles.
Na Unidade 2, vimos como é feita a determinação de pontos, direções e planos
nas estruturas de materiais cristalinos e aprendemos sobre as imperfeições nesses
materiais. A difusão nos sólidos e seu mecanismo foram vistos na Unidade 3.
Já na Unidade 4, estudamos as propriedades mecânicas e o ensaio de tração, de
onde são retiradas várias dessas propriedades mecânicas. Vimos, também, que
os materiais podem falhar devido a diversos fatores e situações na Unidade 5.
O tipo mais comum de falha é a fratura, mas pode ocorrer também devido à
fluência ou à fadiga.
A abordagem dos diagramas de fase foi realizada na Unidade 6, onde você
aprendeu a realizar a determinação das fases presentes, quantidade relativa e com-
posição de um sistema a uma temperatura definida, e estudou alguns diagramas,
como o do sistema ferro-carbono. Na Unidade 7, você estudou as propriedades
elétricas, onde vimos as bandas de condução e de valência, condução elétrica,
materiais isolantes, condutores e semicondutores e comportamento dielétrico.
Além disso, vimos as propriedades térmicas, condutividade térmica, expansão
térmica e capacidade calorífica.
Na Unidade 8, concluímos o estudo das propriedades dos materiais estudando
as propriedades ópticas e magnéticas e a corrosão e degradação nos materiais.
Encerramos o livro com o estudo da produção, tipos e aplicações de materiais
das classes dos metais, cerâmicas, polímeros e compósitos na Unidade 9.
Agradeço a você, caro(a) aluno(a), pela dedicação no decorrer do curso e
espero que você tenha compreendido bem os conteúdos tratados neste material.
Desejo a você muito sucesso.

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