Ciencias Dos Materiais 10
Ciencias Dos Materiais 10
Ciencias Dos Materiais 10
Nome negrito
Ciências
parte
dos sem negrito
Materiais
Ciências dos
Materiais
Me. Luis Henrique de Souza
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; SOUZA, Luis Henrique de. da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Ciências dos Materiais. Luis Henrique de Souza.
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
288 p. Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
“Graduação - EAD”.
Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
1. Ciências. 2. Materiais. 3. Engenharia. 4. EaD. I. Título. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
Design Educacional Débora Leite; Head de
CDD - 22 ed. 620
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
Impresso por: F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo
Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina
Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo
de Produção de Materiais Nádila de Almeida
Toledo; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e
Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock.
Prezado(a) aluno(a), este livro foi elaborado para um curso inicial sobre
Ciências dos Materiais e, no decorrer do estudo dessa disciplina, utilizando
esse material, percorreremos um trajeto que nos dará conhecimento sobre
os sólidos, suas estruturas e defeitos estruturais, suas propriedades, falhas,
diagramas de transformações e aplicações usuais das classes de materiais.
Iniciaremos esse trajeto na Unidade 1, em que será realizada uma intro-
dução aos materiais, seguida de uma explicação breve sobre a classificação
dos materiais e terminando com o estudo das suas estruturas cristalinas. Na
Unidade 2, veremos como é realizada a determinação de pontos, direções
e planos na célula unitária de um sólido cristalino, definiremos materiais
amorfos e cristalinos e estudaremos as imperfeições estruturais.
A difusão em sólidos, os mecanismos de difusão, a lei de Fick e os parâ-
metros que influenciam no processo de difusão serão abordados e aplicados
em exemplos na Unidade 3. Já na Unidade 4, você irá conhecer as proprieda-
des mecânicas dos materiais, tais como dureza, limite de resistência à tração
e ductilidade, que serão trabalhadas após uma conceituação básica para lhe
deixar mais confortável com o assunto. Continuando, na Unidade 5, você
vai conhecer as falhas típicas que ocorrem em projetos envolvendo mate-
riais, sendo elas a fratura, fadiga e fluência, e os mecanismos usuais delas.
Na Unidade 6, você vai estudar um tópico muito importante nas ciências
dos materiais, denominado diagrama de fases, e vai aprender a determinar
fases presentes em um sistema, quantidades relativas e composição dessas
fases aplicando esses conhecimentos no diagrama ferro-carbono. Nas Uni-
dades 7 e 8 serão abordadas outras propriedades dos materiais; na Unidade
7, você verá as propriedades elétricas, condução elétrica nos condutores
e isolantes, e as propriedades térmicas, condutividade térmica, expansão
térmica e capacidade calorífica. Já na Unidade 8, você vai conhecer as pro-
priedades ópticas, como a reflexão, absorção e refração; as propriedades
magnéticas, como o diamagnetismo e ferromagnetismo; e, concluindo a
unidade, você vai conhecer os tipos de corrosão que ocorrem em materiais
metálicos e a degradação em materiais poliméricos.
Concluiremos os nossos estudos da disciplina de Ciências dos Materiais
com a Unidade 9, na qual serão abordadas as classes dos metais, cerâmicas,
polímeros e compósitos, e onde você vai conhecer um pouco mais de cada
umas dessas classes apresentadas na Unidade 1 e mencionadas nas demais
unidades. Aqui, veremos alguns métodos de produção, materiais específicos
de cada uma dessas classes e aplicações deles.
Desejo a você uma ótima leitura.
CURRÍCULO DOS PROFESSORES
13
Estruturas e
Imperfeições nos
Sólidos Cristalinos
41
Difusão em Sólidos
71
Propriedades
Elétricas e
Propriedades Propriedades
Mecânicas Térmicas dos
Materiais
101 193
Propriedades
Ópticas,
Falhas em Propriedades
Materiais Sólidos Magnéticas e
Corrosão dos
Materiais
131 223
Classes de
Diagrama de Fases Materiais e
Aplicações
159 253
29 Redes de Bravais
58 Discordância sem sólidos cristalinos
Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Me. Luis Henrique de Souza
Introdução a
Ciências dos Materiais
PLANO DE ESTUDOS
Classificação
dos Materiais
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Conhecer a importância dos materiais em nossas vidas • Introduzir a ideia de materiais cristalinos, sistemas crista-
e na evolução da humanidade e ter uma visão geral do linos e redes de Bravais.
ramo das ciências dos materiais.
• Apresentar as principais classes dos materiais e suas ca-
racterísticas gerais.
Perspectiva
Histórica
UNIDADE 1 15
É importante saber que, quando falamos de ma-
teriais, devemos ter em mente que toda matéria é
um material em potencial, dependendo apenas que
suas propriedades (ópticas, mecânicas, elétricas
etc.) confiram-lhe alguma função especifica (ZAR-
BIN, 2007). Além disso, o desempenho do material
em uma aplicação é um fator determinante em
projetos. Portanto, pode-se notar que a ciência dos
materiais está embasada em quatro pilares: a sín-
tese e processamento; a composição e estrutura; as
propriedades; e o desempenho (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2013).
Em resumo, a partir da ciência e engenharia
dos materiais, é possível compreender a natureza
dos materiais e aplicar conceitos fundamentais e
empíricos que possibilitam relacionar a estrutu-
ra dos materiais, suas diversas propriedades e o
seu comportamento para a transformação desses
materiais em produtos.
Metais
UNIDADE 1 17
classe dos materiais metálicos, também existem as ligas metálicas, que são formadas pela mistura de um
metal com um ou mais metais ou não metais, alguns exemplos de materiais não metálicos que podem
estar presentes em ligas metálicas são o carbono, nitrogênio e oxigênio (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
A ligação do tipo iônica é uma ligação que ocorre entre dois íons de cargas opostas, um cátion e
um ânion, enquanto a ligação covalente é um tipo de ligação em que ocorre o compartilhamento
de elétrons entre os átomos envolvidos. Por fim, a ligação metálica é aquela que ocorre entre dois
átomos de metais e, nessa ligação, todos os átomos envolvidos perdem elétrons de suas camadas
mais externas, e esses elétrons se deslocam com grande mobilidade entre essas camadas, formando
uma nuvem eletrônica (também conhecida como “mar de elétrons”).
Fonte: adaptado Callister Jr. e Rethwisch (2013).
Alguns exemplos comuns, feitos de materiais metálicos, presentes no nosso dia a dia, podem ser vistos
na Figura 1.
Eles possuem alto nível de organização espacial no arranjo de seus átomos, definido pelo termo “es-
trutura cristalina”. Em função dessa estrutura atômica organizada, os metais possuem boa resistência
mecânica, ductilidade, alta rigidez, resistência a choques e podem ser deformados sob a ação de forças
externas. Além disso, são bons condutores de eletricidade e de calor, devido às suas ligações metálicas.
Apesar dos metais puros serem pouco utilizados, as ligas possuem diversas aplicações, uma vez que
elas permitem combinações de propriedades melhores que os metais puros. Na fabricação de joias, por
exemplo, o ouro puro não é utilizado, pois ele é um material muito macio; para resolver esse problema,
os ourives misturam o ouro com cobre, com a finalidade de melhorar a sua resistência mecânica para
que a joia não seja danificada facilmente (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
Cerâmicas
Os materiais cerâmicos são duros, possuem rigidez e resistência comparadas às dos metais, entretanto,
são frágeis, ou seja, apresentam baixa resistência a esforços de tração, torção, flexão etc. Contudo, as
cerâmicas são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes severos do que os polímeros e os me-
tais, e são materiais tipicamente isolantes térmicos e elétricos (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).
No âmbito de ciência dos materiais, dureza é a uma das características dos materiais que está inti-
mamente vinculado com a ligação dos átomos que formam esse material. A grosso modo, a dureza
pode ser entendida como a facilidade que um material tem de riscar ou penetrar em outro.
Fonte: Durocontrol (2016, on-line)1.
Os usos mais comuns das cerâmicas são na produção de tijolos, vasos sanitários, refratários, entre
outros. Já as cerâmicas avançadas são aplicadas na produção das estruturas de chips de computadores,
capacitores, velas de ignição de automóveis, indutores elétricos etc. (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
UNIDADE 1 19
Polímeros
Em geral, os materiais poliméricos possuem grande ductilidade e tem baixa densidade. Além disso,
esses materiais são isolantes elétricos, não magnéticos e, alguns polímeros, são altamente resistentes
a produtos químicos corrosivos. Suas desvantagens estão no fato de serem menos resistentes a defor-
mações que os metais, e de amolecer e/ou se decompor em temperaturas moderadas; contudo, mesmo
com essas limitações, eles ainda são uma opção altamente versátil e útil.
O avanço das tecnologias, na última década, no desenvolvimento de compostos poliméricos, tem
permitido a produção de polímeros com resistência e rigidez altas o suficiente para substituir alguns
metais em aplicações estruturais comuns em projetos (SHACKELFORD, 2013).
Compósitos
Os compósitos são formados pela combinação entre os materiais das classes apresentadas anteriormente
(metais, cerâmicas e polímeros). Essa união conduz a um material com propriedades superiores aos
dos componentes separadamente.
Existem vários tipos de compósitos, formados por diferentes combinações entre metais, cerâmicas
e polímeros, a maior parte deles e feita pelo homem; contudo, alguns materiais de ocorrência natural
também são considerados compósitos, como é o caso do osso e da madeira.
Um dos compósitos mais famosos é a fibra de vidro, constituída de pequenas fibras de vidro em-
butidas no interior de uma matriz polimérica. A união das fibras de vidro, material resistente e rígido
(porém frágil) com a matriz polimérica, material dúctil e flexível (porém fraco) resulta em um material
compósito flexível, dúctil, resistente e relativamente rígido (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).
Metais e Ligas
Cerâmicas e vidros
Polímeros
Compósitos
Os materiais avançados são materiais que são Os biomateriais são materiais pertencentes às
aplicados na produção de componentes ou dis- classes de materiais anteriores (metais, polímeros,
positivos de alta tecnologia, cujo funcionamento cerâmicas e semicondutores). Esses materiais são
possui princípios intrincados ou sofisticados. Os utilizados na área da saúde para as mais diversas
materiais dessa categoria pertencem às classifica- finalidades, entre elas dispositivos biomédicos
ções descritas anteriormente e devemos entender (biosensores, tubos de circulação, sistemas de he-
o termo “alta tecnologia” como sendo relacionado modiálise), materiais implantáveis (suturas, subs-
a produtos e dispositivos, por exemplo, equipa- titutos ósseos, lentes, dentes, válvulas cardíacas),
mentos eletrônicos, computadores, aeronaves, órgãos artificiais (pulmões, coração, rim, pele),
sistemas de fibras ópticas, equipamentos médi- curativos, dentre outros.
cos etc. Devido à finalidade desses materiais, eles de-
vem ser materiais não tóxicos, pois eles entram
em contato com sistemas biológicos. Além disso,
Semicondutores eles devem ser compatíveis com os tecidos do
corpo, uma vez que muitos deles são implanta-
Os semicondutores são materiais com proprieda- dos como substitutos a órgãos e tecidos danifi-
des elétricas intermediárias entre os condutores cados do corpo humano (PIRES; BIERHALZ;
(metais) e os isolantes (polímeros e cerâmicas). MORAES, 2015).
Além disso, as propriedades elétricas desses ma- Dentre os materiais metálicos, o titânio e suas
teriais são extremamente sensíveis a pequenas ligas, por exemplo, têm sido usado por décadas na
concentrações de átomos de impurezas presentes fixação de fraturas e reconstrução de articulações
em sua composição. por ser resistente à corrosão, biocompatível e pela
O controle das concentrações de impurezas indução do crescimento ósseo (bioadesão). Além
em regiões definidas do material permite con- disso, alguns tipos de ligas de cobre são aplicados
trolar a condutividade elétrica nessas regiões do para artroplastia total de quadril, que consistem em
material, possibilitando sua aplicação em compo- uma haste femoral conectada a uma cabeça modular
nentes como, por exemplo, circuitos eletrônicos sujeita à articulação com o componente acetabular.
integrados. Já os materiais cerâmicos bioinertes possuem
Os semicondutores são, geralmente, feitos de aplicações biomédicas, principalmente nas áreas
silício, germânio e arsenato de gálio. Ao longo das de ortopedia e odontologia, com grande represen-
últimas décadas, os semicondutores revoluciona- tatividade de compostos, como a alumina (Al2O3),
ram a indústria de eletrônicos e de computadores, zircônia (ZrO2) e zircônia estabilizada com óxido
em decorrência de suas propriedades elétricas de ítrio (ZrO2(Y2O3)), devido à sua capacidade de
diferenciadas (CALLISTER JR.; RETHWISCH, não reagir com o tecido adjacente, resistência à
2013). Voltaremos a falar sobre os materiais semi- corrosão, grande resistência ao desgaste e alta re-
condutores mais adiante, na Unidade 7. sistência mecânica (BIOFABRIS, [2019], on-line)2.
A palavra magnetismo está associada ao fenômeno de atração que um material exerce sobre outro
material. Sendo assim, os materiais magnéticos são materiais com a capacidade de exercer uma força
de atração ou repulsão sobre outros materiais.
Alguns materiais são capazes de se manterem magnetizados mesmo na ausência de um campo
magnético, eles são chamados de ferromagnéticos; outros materiais apresentam propriedades mag-
néticas apenas na presença de um campo magnético atuante.
Um exemplo de material ferromagnético é o imã em barra, apresentado na Figura 4a, que exibe dois
polos identificados (norte-sul); para um imã reto e um imã em formato de U, na Figura 4b, são visuali-
zadas as linhas de campo formadas pela limalha de ferro quando submetida a esses dois tipos de imãs.
a) Ímã de barra
b) Ímã em ferradura
Figura 4 - a) Representação das linhas de campo de um imã; b) O efeito do imã sobre a limalha de ferro
UNIDADE 1 23
Os materiais magnéticos possuem aplicações variadas, desde pequenos imãs para fechar portas de
armários, até componentes sofisticados utilizados na indústria de eletrônicos (RODRIGUEZ, 1998).
Os materiais magnéticos serão vistos com maior detalhamento na Unidade 8.
Nanotecnológicos
UNIDADE 1 25
• Estrutura cristalina: é a estrutura forma- A célula unitária é o bloco estrutural básico, ou
da pelo arranjo dos átomos, íons ou mo- bloco construtivo da estrutura cristalina, que
léculas quando se organizam na formação ainda mantém as características gerais da rede,
de um material. Os cristais formados nesse portanto é possível descrever a estrutura cris-
processo podem ter as mais variadas for- talina de um sólido cristalino conhecendo sua
mas, desde estruturas mais simples – para célula unitária.
os metais – até estruturas complexas – para As células unitárias são, na maioria das vezes,
algumas cerâmicas e polímeros. paralelepípedos ou prismas. Na Figura 6, a seguir,
• Célula unitária: nos sólidos cristalinos, pe- podemos observar a célula unitária na forma de
quenos grupos de átomos se organizam de esferas reduzidas para alguns materiais comuns,
maneira periódica na formação da estrutura que são o sal de cozinha, o diamante, o gelo seco
cristalina de um material; por essa razão, é e o ferro metálico, todos com estrutura cúbica.
conveniente e prático dividir a estrutura cris-
talina nessas unidades menores e repetitivas,
que são denominadas células unitárias.
Iônico Atômico
Sal de Cozinha – NaCl Diamante – C
Molecular Metálico
Gelo seco – CO2 Ferro metálico - Fe
Como existem diversas estruturas cristalinas cionado com a aresta de comprimento b, e o eixo
diferentes, é conveniente agrupá-las de acordo z está relacionado com a aresta de comprimento
com a configuração de suas células unitárias. O c, como mostrado na Figura 7.
enfoque mais utilizado é fundamentado somen-
te na geometria da célula unitária, sem levar em
z
consideração as posições dos átomos nela.
Além disso, para que seja possível a aplicação
desse enfoque, definimos um sistema de coorde-
nadas cartesianas xyz, com a origem posicionada
em um dos vértices da célula unitária, e com cada
um dos eixos, x, y e z, coincidindo com uma das
arestas do paralelepípedo e estendendo-se a partir β α
do vértice de origem. y
c
A Figura 7 representa uma célula unitária ge-
nérica de um material qualquer; nela, os parâme- γ a
tros a, b, c, α, β e γ apresentados são denominados
parâmetros de rede cristalina ou simplesmente
parâmetros de rede, onde a, b e c são os compri- x b
mentos das arestas que compõem a célula unitá-
ria e α, β e γ são os ângulos formados entre essas
Figura 7 - Esquematização de uma célula unitária genérica
arestas. Por convenção, o eixo x está relacionado e seus parâmetros de rede
com a aresta de comprimento a, o eixo γ está rela- Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).
UNIDADE 1 27
Sistema Relações Ângulos entre Geometria da
Cristalino Axiais os Eixos Célula Unitária
a a a
Romboédrico
a=b=c α = β = γ ≠ 90° aa
(Trigonal)
a
Figura 8 - Representação e caracterização dos parâmetros da célula unitária para os sete sistemas cristalinos
Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).
Cúbico
a
a
α
a c
a
a a a
de corpo centrado a
c
a
b de face centrada
Ortorrômbico
Redes de Bravais
β c β α
c β
a γ
a
b b
Monoclínico Triclínico
UNIDADE 1 29
Polimorfismo e alotropia
Quando estudamos os materiais, não podemos deixar de mencionar um fenômeno conhecido como
polimorfismo; esse fenômeno ocorre, principalmente, em metais e alguns ametais. O polimorfismo
acontece quando um material possui mais do que uma estrutura cristalina, e esta que prevalece é depen-
dente da temperatura e pressão às quais o material é submetido. Em sólidos elementares, ou seja, em um
material formado apenas por um elemento químico, o mesmo fenômeno recebe o nome de alotropia.
Na Figura 10, a seguir, vemos quatro formas alotrópicas do carbono, ou seja, quatro arranjos cris-
talinos diferentes dos átomos de carbono e, por consequência, quatro compostos com propriedades
distintas, formados somente por carbono.
Geralmente, as transformações polimórficas são acompanhadas de mudanças nas propriedades
físicas do material, por exemplo, na massa específica. Um outro exemplo de alotropia acontece com
o estanho branco, que possui uma estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado nas condições
ambiente; porém, quando submetido à temperatura de 13,2 °C, transforma-se em estanho cinza, que
possui uma estrutura cristalina cúbica (semelhante à do diamante). A velocidade com que a transfor-
Fulereno
Fulereno GrafenoGrafeno
UNIDADE 1 31
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
Sabendo que os parâmetros de rede são: a = 1 nm; b = 1,3 nm; c = 2,4 nm;
α = β = γ = 90°, analise as afirmativas a seguir:
I) Sistema ortorrômbico.
II) Estrutura tetraédrica de corpo centrado.
III) A célula unitária possui todas as arestas iguais.
IV) Sistema hexagonal.
32
2. Os materiais sólidos podem ser classificados em quatro grandes grupos, são
eles: metais, cerâmicas, polímeros e compósitos. A classificação destes mate-
riais é, principalmente, baseada na estrutura atômica e em suas composições
químicas; sendo assim, os materiais pertencentes a um grupo possuem cons-
tituintes e propriedades diferentes em relação aos materiais pertencentes aos
demais grupos.
Com base nas características estruturais e nas propriedades dos materiais,
analise as afirmações a seguir.
I) As propriedades dos materiais sólidos dependem da sua estrutura cristali-
na, ou seja, da maneira pela qual os átomos, moléculas ou íons se arranjam
espacialmente.
II) Os materiais metálicos e alguns materiais cerâmicos formam cristais quando
se solidificam, ou seja, seus átomos se arranjam em um modelo ordenado e
repetitivo chamado estrutura cristalina.
III) Os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas apenas por
elementos químicos metálicos. Dentre os materiais metálicos mais usuais,
estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro, o
aço, o ferro, entre outros.
IV) Os metais e suas ligas (como, por exemplo, o aço e o latão) são bons condu-
tores de eletricidade e de calor, resistentes e, em determinadas condições,
deformáveis, enquanto os materiais cerâmicos (porcelana, cimento) são duros
e quebradiços.
33
3. Os materiais avançados são materiais de alto desempenho, sintetizados ou cujas
características foram aprimoradas por alguma técnica de processamento. São
materiais que podem pertencer à classe dos metais, cerâmica, polímeros ou
compósitos e são utilizados em aplicações de alta tecnologia.
Tomando como base os materiais avançados, avalie as afirmativas a seguir.
I) Biomateriais são empregados em componentes para implantes de partes
em seres humanos, por essa razão, esses materiais não devem produzir
substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com o tecido humano.
II) Os semicondutores são, geralmente, feitos de silício, germânio e arsenato
de gálio, são materiais com propriedades elétricas intermediárias entre os
condutores e os isolantes; além disso, as propriedades elétricas desses ma-
teriais são extremamente sensíveis a pequenas concentrações de átomos de
impurezas presentes em sua composição.
III) Nenhum material possui comportamento magnético naturalmente, esse
comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de
atração ou repulsão sobre outros materiais.
IV) A nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita modificar as
propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho
e da forma de suas partículas constituintes, contudo, isso não possibilita novas
aplicações para o mesmo material.
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WEB
35
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
PIRES, A. L. R.; BIERHALZ, A. C. K.; MORAES, Â. M. Biomateriais: tipos, aplicações e mercado. Química nova,
On-line, v. 38, n. 7, p. 957-971, 2015. Disponível em: http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=6262.
Acesso em: 1 abr. 2019.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.
SMITH, W. F.; ROSA, M. Princípios de ciência e engenharia de materiais. 3. ed. Portugal: Editora McGra-
w-Hill, 1998.
ZARBIN, A. J. G. Química de (nano) materiais. Química Nova, On-line, v. 30, n. 6, p. 1469, 2007. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n6/a16v30n6.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: http://www.durocontrol.com.br/blog/dureza/. Acesso em: 28 maio 2019.
2
Em: http://biofabris.com.br/pt/biomateriais/. Acesso em: 28 maio 2019.
3
Em: https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6414-empacotamen-to-atomico-dos-cristais-intro-
ducao#.W43_pM4zqpp. Acesso em: 28 maio 2019.
36
1. D.
a≠b≠c ; γ = β = α = 90°
A afirmativa II está incorreta porque a estrutura é ortorrômbica, contudo, não há como determinar a
estrutura ortorrômbica dentre as quatro possibilidades, pois nessa representação não temos os átomos
apresentados.
A afirmativa III está incorreta porque a célula unitária não possui nenhuma aresta igual. E a afirmativa IV
está incorreta porque o sistema é ortorrômbico.
2. D.
A afirmativa III está incorreta, pois os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas por
elementos químicos metálicos e podendo conter elementos não metálicos como o carbono, por exemplo.
Dentre os materiais metálicos mais usuais estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o
titânio, o ouro, o aço, o ferro entre outros.
3. A.
A afirmativa III está incorreta, pois alguns materiais possuem comportamento magnético naturalmente;
esse comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre
outros materiais
A alternativa IV também está incorreta, pois a nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita
modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho e da forma de
suas partículas constituintes e com isso obter novas possibilidades de aplicação para o mesmo material.
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40
Me. Luis Henrique de Souza
Estruturas e Imperfeições
nos Sólidos Cristalinos
PLANO DE ESTUDOS
Materiais cristalinos
e não cristalinos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Aprender o que são e como determinar pontos, direções • Conhecer a técnica de difração de raios X.
e planos cristalográficos nas células unitárias. • Conhecer os tipos de defeitos em materiais cristalinos e
• Diferenciar materiais cristalinos e materiais não cristalinos. entender a importância deles nesses materiais.
Pontos, Direções e
Planos Cristalográficas
UNIDADE 2 43
z z
0,46mm
m m
0,48
1 1
—,1,—
4 2
0,40mm P
y 0,20 nm
0,12nm M
N y
0,46nm O
x
x
Figura 3 - Exemplo da determinação de pontos em células Figura 4 - Resolução do exemplo de determinação de pontos
unitárias em células unitárias
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 48). Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 48).
Primeiramente, devemos determinar os valores uma distância qa = 0,12 nm, chegando ao ponto
dos parâmetros de rede a, b e c. Sabemos que a é a N. Em seguida, caminhamos na direção positiva
aresta que sai da origem e tem a mesma direção do do eixo y, uma distância rb = 0,46 nm, chegando
eixo x e, portanto, a vale 0,48 nm. De forma similar, ao ponto O. E, por fim, caminhamos na direção
as arestas b e c são as arestas que partem da origem positiva do eixo z, uma distância sc = 0,20 nm,
e tem a mesma direção, respectivamente, dos eixos chegando à posição exata do ponto P.
y e z, então temos que b = 0,46 nm e c = 0,40 nm.
A partir das coordenadas informadas sobre o
ponto P, sabemos que q = ¼ , r = 1 e s = ½ e, ao Direções cristalográficas
multiplicarmos cada um desses valores, respec-
tivamente, pelo comprimento das arestas a, b e As direções cristalográficas são vetores, definidos
c, obtemos as distâncias, qa, rb e sc desse ponto por linhas que ligam dois pontos da rede cristalina,
em relação a origem do sistema cartesiano dessa portanto, esses vetores indicam direções específicas
célula unitária. dentro da célula unitária de um material cristalino.
Calculando as distâncias qa, rb e sc obtemos: O conhecimento dessas direções é importan-
• qa = (¼)(0,48) = 0,12 nm te na determinação de algumas propriedades de
• rb = (1)(0,46) = 0,46 nm materiais cristalinos e, para determinarmos os
• sc = (½)(0,40) = 0,20 nm índices direcionais, devemos executar os seguintes
passos (ASKELAND; WRIGHT, 2015):
Finalmente, com esses resultados, podemos en- • A partir do sistema de coordenadas da célula
contrar a posição do ponto P na célula unitária; o unitária (Figura 1), são necessários dois pon-
processo esquematizado é apresentado na Figura tos para definir uma direção cristalográfica.
4. Para começar, devemos partir da origem (ponto Tome esses dois pontos em termos de suas
M) e caminharmos no sentido positivo do eixo x, coordenadas q, r e s.
Como você pode notar, as direções cristalográficas são sempre um conjunto de números menores
inteiros delimitado por colchetes. A Figura 5 apresenta uma célula unitária genérica, na qual são indi-
cadas três direções cristalográficas: a direção [111], em vermelho, a direção [110], em azul, e a direção
[100], em verde.
Para que você entenda melhor o processo de determinação das direções cristalográficas, vamos
resolver um exemplo. A Figura 6 apresenta uma célula unitária com três direções indicadas e os seus
respectivos pontos iniciais e finais. Seguindo a sequência de passos estipulados anteriormente, vamos
determinar os índices direcionais da direção A.
z
0, 0, 1
1, 1, 1
B
[111] C
y
0, 0, 0
[110]
1 , 1, 0
[100] A 2
1, 0, 0 1, 1, 0
x
Figura 5 - Representação de uma célula unitária com as Figura 6 - Exemplo de determinação das direções crista-
direções cristalográficas lográfica
Fonte: Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 49). Fonte: o autor.
UNIDADE 2 45
Tabela 1 - Resumo do exemplo de determinação dos índices
A partir da Figura 6, podemos observar que o da direção A
ponto inicial da direção A possui coordenadas ½
Eixo x y z
1 0 (ou ½, 1, 0) e o ponto final 1 0 0 (ou 1, 0, 0).
Com essas informações em mão, o primeiro passo Coordenadas ponto final 1 0 0
já está completo. Coordenadas ponto inicial ½ 1 0
No segundo passo, devemos subtrair o ponto
Subtração 1 -1 0
final do ponto inicial, então:
Pinicial - Pfinal = ½ -1 2(0)
[1, 0, 0] - [½, 1, 0] = Simplificação
1 -2 0
[½, -1, 0]
Índices Direcionais [uvw] [1 2 0]
Agora, o resultado ½, -1, 0 deve ser analisado para Fonte: o autor.
verificar se existe possibilidade de simplificação.
Faça você a determinação das direções B e C, o
Como você pode observar, existe uma fração, ½,
resultado esperado é 111 para a direção B e 111
então devemos multiplicar todo o resultado por
para a direção C.
um valor que transforme essa fração eu um nú-
mero inteiro, nesse caso o número é 2 e ele será
multiplicado por cada um dos números obtidos Planos Cristalográficos
no resultado anterior, ½, -1, 0.
Os materiais cristalinos possuem planos de áto-
1
2 2 0 = 1 -2 0 mos denominados planos cristalográficos e es-
2
tes têm como base o mesmo sistema cartesiano da
O resultado 1, -2, 0 é o conjunto de menores in- célula unitária, mencionado anteriormente, para
teiros possíveis, portanto, basta colocarmos esse os pontos e as direções cristalográficas. Eles são
resultado entre colchetes para termos os índices planos que cortam a célula unitária e suas orienta-
direcionais da direção A, lembrando que para o ções também são dadas por meio de índices. Com
índice -1 deve-se retirar o sinal negativo e incluir exceção dos sistemas cristalinos hexagonais, que
uma barra sobre o número. Dessa forma, os índi- não serão contemplados nesse tópico, os planos
ces direcionais de A são: cristalográficos são especificados por três índices,
conhecidos como índices de Miller, e representa-
[1 2 0] dos por (hkl).
Um fato importante a ser mencionado é que
O procedimento de determinação dos índices quaisquer dois planos paralelos entre si são planos
direcionais da direção A pode ser resumido na equivalentes e possuem índices idênticos.
Tabela 1, apresentada a seguir.
UNIDADE 2 47
z
001 011
101 111
A B
000 010
y
100 110
x
Eixo x y z
Interceptos ∞ 1 ∞
- - -
Simplificação
- - -
Materiais Cristalinos
UNIDADE 2 49
Os monocristais acontecem naturalmente, como pode ser visto na Figura 9 (um monocristal de andra-
dita laranja), e também podem ser sintetizados pelo homem; contudo, essa síntese é um processo muito
delicado e requer um ambiente cuidadosamente controlado. Além disso, é interessante saber que a forma
de um monocristal é um indício da estrutura cristalina do material (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).
Nos últimos anos, os monocristais se tornaram muito importantes, principalmente no setor da tecno-
logia para a produção de microcircuitos eletrônicos a partir de microcristais de silício.
Entretanto, a maioria dos materiais cristalinos não é formada apenas por um cristal perfeito, mas
sim por vários cristais menores, os quais são chamados de grãos. Esses materiais formados por vários
cristais são denominados policristalinos. Isso ocorre durante a solidificação desses materiais, na qual se
formam pequenos cristais de orientação cristalográfica aleatória, e conforme a solidificação avança, esses
pequenos cristais vão crescendo pela adição sucessiva de átomos que passam da fase líquida para a sólida.
UNIDADE 2 51
Após sofrerem o efeito de dispersão, elas ficam fora de fase, mas permanecem com a mesma amplitude
A e o mesmo comprimento de onda λ (ondas 3’ e 4’). Nesse caso, não existe uma onda resultante, pois,
no processo, a onda 3’ cancela mutuamente a onda 4’, caracterizando uma interferência destrutiva. Por-
tanto, nesse caso, não ocorre a difração.
As situações apresentadas na Figura 11 são dois extremos do fenômeno de dispersão; existem situa-
ções intermediárias entre esses dois extremos nas quais a onda resultante sofre apenas um reforço parcial.
O Evento de
Onda 1 Onda 1’
λ dispersão λ
λ
A A
2A
Amplitude
λ λ +
A A
Onda 2 Onda 2’
O’
Posição
(a)
P Evento de
Onda 3 Onda 3’
λ dispersão λ
A A
Amplitude
λ +
A A
λ
Onda 4
P’ Onda 4’
Posição
(b)
Figura 11 - Demonstração do efeito de dispersão entre duas ondas de mesmo comprimento de onda
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 64).
em que n é um inteiro positivo que representa a Onde a é o tamanho da aresta da célula unitária
ordem da reflexão (geralmente n = 1), λ é o com- cúbica e os parâmetros h, k e l são os índices de
primento de onda dos raios X em Angstrom (Å), Miller para o plano cristalográfico. Existem rela-
dhkl é a distância entre os planos cristalográficos ções similares a essa para cada um dos outros seis
adjacentes e θ é o ângulo de incidência do feixe sistemas cristalinos, mas essas relações não serão
de raios X. Caso a lei de Bragg não seja satisfeita, tratadas neste material.
a interferência será não construtiva, gerando um
feixe difratado de intensidade muito baixa.
Na Figura 12, temos representados os planos A técnica de difração de raios X
cristalográficos de um material cristalino e sobre
esse material está incidindo um feixe de raios X A difração de raios X é uma das técnicas de análise
de mesmo comprimento de onda (λ), distância estrutural mais empregadas para identificar dife-
interplanar (d=dhkl) e ângulo de incidência (θ). rentes materiais cristalinos. Essa técnica se baseia
na presença de uma rede cristalina e na periodi-
Ambos
cidade do arranjo atômico, portanto, a técnica de
ixe o difração de raios X é aplicada em sólidos que pos-
Fe ent
in
em fase
Fe tad
cid
ixe e
UNIDADE 2 53
A análise se baseia no princí- deve ser colocada em um suporte plano, de modo a formar um
pio de que quando um feixe de pequeno filme uniforme de amostra nesse suporte.
raios X, com um mesmo com- Em seguida, o feixe de raios X é emitido da fonte T em direção
primento de onda λ, incide sobre à amostra, e as intensidades dos raios difratados são captadas no
um sólido cristalino, os planos detector C. A amostra, o emissor de raios X e receptor estão todos
de átomos que compõem esse no mesmo plano; além disso, o equipamento permite rotações ao
material dispersam uma fração redor do seu próprio eixo.
desse feixe em todas as direções;
nessa dispersão, poderão ocor-
rer interferências construtivas ou
destrutivas. No caso de ocorrer
uma dispersão com interferência
construtiva, dizemos que ocor-
reu uma difração de raios X. O
A amostra que será analisa- S θ
0º
160º
20º
0º
submetidas a um feixe de raios
14
40
º
(200) (311)
(220) (222)
(400) (331) (420) (422)
0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0 90.0 100.0
Ângulo de difração 2θ
Os materiais amorfos são caracterizados por possuírem estruturas que não formam arranjos atômicos
periódicos ao longo de grandes distâncias atômicas; portanto, não existe uma célula unitária definida
que possa produzir a estrutura completa desses materiais. Dentre os materiais amorfos mais comuns,
estão os vidros inorgânicos e muitos plásticos.
Um exemplo de material cerâmico que pode existir nos dois estados, cristalino e não cristalino,
é o dióxido de silício (SiO2). Na Figura 15(a), podemos perceber um padrão de repetição na forma
como se organizam espacialmente os átomos formadores do dióxido de silício. Na Figura 15(b), não é
possível identificar um padrão de repetição em toda a estrutura, pois a estrutura do material é formada
de maneira irregular e desordenada (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).
UNIDADE 2 55
Átomo de silício
Atomo de oxigênio
o
ênio
(a) (b)
(b)
UNIDADE 2 57
Defeitos pontuais
Os defeitos pontuais são caracterizados por des- O termo impureza em materiais representa
continuidades localizadas nos arranjos dos áto- elementos, geralmente átomos, estranhos ao
mos ou íons na estrutura cristalina do material, arranjo cristalino do material; e as impurezas
envolvendo, normalmente: presentes nos materiais são, geralmente, prove-
• A falta de um átomo ou íon em um ou mais nientes das matérias-primas utilizadas e/ou das
pontos da rede cristalina, chamado de la- etapas do processamento do material.
cuna ou vacância. Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).
• A substituição de um átomo ou íon da rede
cristalina por um tipo diferente de átomo
ou íon, denominado impureza substitu- Dentre os defeitos pontuais, temos as lacunas, que
cional. são formadas quando existe a falta de um átomo
• A adição de um átomo ou íon pequeno nos ou íon em alguns pontos da rede cristalina do
interstícios da rede cristalina, denominada material. A falta desse átomo ou íon causa um
impureza intersticial. aumento da entropia global do sistema, acarre-
tando no aumento da estabilidade termodinâmica
Mesmo que esses defeitos sejam pontuais, essas im- do material cristalino. É comum a formação de
perfeições afetam uma grande região ao redor delas. lacunas em metais e ligas metálicas por meio de
Os defeitos pontuais nos sólidos podem ser radiação ou solidificação a altas temperaturas,
originados por um aumento de energia provoca- sendo importantes no processo de difusão nesses
do pelo aquecimento do material durante o seu materiais.
processamento ou, ainda, pela adição, intencional Na Figura 16, a seguir, é apresentada uma es-
ou não, de impurezas a esse material. trutura cristalina bidimensional genérica. Nela
podemos observar que a lacuna causa um efeito
de distorção na rede cristalina próxima a ela.
a) b)
Na Figura 19, vemos a representação da discordância em espiral, na qual podemos observar que houve
um deslocamento parcial da porção superior da rede cristalina em relação à parte inferior no cristal,
equivalente a uma distância atômica.
O vetor de Burgers, b, representa o comprimento necessário para completar uma volta no plano
onde ocorreu a discordância, ou seja, representa o deslocamento da porção superior em relação à por-
ção inferior do cristal do material. A linha ao redor da qual traçamos a volta no plano onde ocorreu a
discordância em espiral é chamada de linha de discordância.
Outro tipo de defeito linear é a discordância em aresta, que ocorre quando existe um semiplano
adicional de átomos que termina no interior do cristal (grão) e, por essa razão, causa um deslocamento
(distorção) na rede cristalina do material. Podemos observar, na Figura 20, uma representação da dis-
cordância em aresta de uma estrutura cristalina tridimensional; nela, a linha sobre a qual o semiplano
extra de átomos está centralizado é conhecida como linha de discordância e é representada por ⊥.
Note que o vetor de Burgers, b, está presente mais uma vez, indicando o deslocamento necessário
para completar uma volta no plano onde ocorreu a discordância, dessa vez, em aresta.
A transição entre as duas discordâncias ocorre de forma gradual e observamos, também, em ambos
os casos, a presença do vetor de Burgers e das linhas de discordância em espiral e em aresta no centro
da volta nas faces à esquerda e à direita, respectivamente.
UNIDADE 2 61
As discordâncias são muito importantes, principalmente para O controle dos tamanhos de
os metais e ligas metálicas, uma vez que oferecem um mecanismo grãos que formam o material
para a deformação plástica nesses materiais. é um processo muito utilizado
no controle das propriedades de
um metal ou liga metálica, pois
Defeitos Superficiais uma diminuição nos tamanhos
de grãos de um metal gera um
O último tipo de imperfeições são os defeitos superficiais. Esses aumento na quantidade total
defeitos acontecem nos contornos de grãos que separam regiões dos contornos de grãos e isso
do material que possuem direções cristalográficas diferentes ou na limita a movimentação de dis-
superfície externa do material. O que acontece é que as estruturas cordâncias nesses materiais,
de muitos materiais, principalmente metais e cerâmica, são com- visto que elas irão se mover so-
postas de muitos grãos (materiais policristalinos); nesses grãos, o mente até encontrar um contor-
arranjo dos átomos é praticamente o mesmo, como já mencionado no de grão.
anteriormente, sendo monocristais. Além dos contornos de
Contudo, a orientação da estrutura cristalina é diferente para grãos, a superfície externa
cada grão que compõe o material policristalino, pois nas regiões também é um defeito superfi-
de encontro desses grãos, o “encaixe” não é perfeito, e a esse tipo de cial, pois é onde o cristal ter-
imperfeição damos o nome de contorno de grão. mina subitamente e, por essa
Na Figura 22, podemos observar a região de contorno de grão de razão, os átomos da superfície
um material. Note que o arranjo de cada um dos grãos é o mesmo; externa têm suas ligações rom-
contudo, quando nos aproximamos das fronteiras, percebemos que pidas e não possuem o número
esses grãos não estão alinhados (orientados na mesma direção) de coordenação característico
entre si, isso leva a um defeito de superfície. de sua estrutura. Além disso, as
superfícies externas podem ser
muito rugosas e, ainda, conter
entalhes, sendo, em geral, mais
quimicamente reativa que o in-
terior do material.
A superfície externa de al-
guns materiais é muito im-
portante, como na produção
de catalisadores para refino
Contorno
de grãos
de petróleo e outros processos
industriais. Esses catalisadores
devem possuir uma alta área
superficial externa, a fim de
aumentar as taxas de reação
Figura 22 - Representação do contorno de grãos em uma estrutura cristalina
Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 111).
química desses processos.
UNIDADE 2 63
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
64
2. A difração de raios X (DRX) é uma técnica utilizada para determinar a estrutura
de um cristal. Nessa análise, os átomos de planos cristalinos fazem com que um
feixe de raios X incidentes difrate em direções específicas e o feixe resultante
seja captado pelo sensor do equipamento. Sabe-se que a análise por difração
de raios X não é adequada para materiais amorfos, pois nesses materiais não
ocorrem interferências construtivas do feixe de raios X difratado. Por que tal
fato ocorre?
a) Porque os raios X são absorvidos pelos átomos em um material amorfo, não
havendo nenhuma dispersão desses raios.
b) Porque o tamanho dos átomos de um material amorfo é maior que o compri-
mento de onda dos raios X.
c) Porque o espaçamento atômico de um material amorfo é maior que o compri-
mento de onda dos raios X.
d) Porque em um material amorfo não existe um ordenamento atômico regular
e repetitivo.
e) Porque os raios X são espalhados em todas as direções, produzindo um feixe
difratado reforçado.
65
3. Numa estrutura cristalina é, por vezes, necessário fazer referência a determina-
dos planos de átomos ou, ainda, pode haver interesse em conhecer a orientação
cristalográfica de um plano ou conjunto de planos de uma rede cristalina. Por
essa razão foram definidos índices, conhecidos como índices de Miller, para
identificar planos específicos dentro de uma célula unitária. A figura a seguir
apresenta uma célula unitária cúbica na qual são apresentados dois planos, A
e B. A respeito dos planos cristalográficos, julgue as afirmativas a seguir.
1
1 2
3
A
1
2 1
2
B
1
2
66
WEB
67
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Materials Science and Engineering: An Introduction. 7. ed.
USA: Editora John Wiley & Sons, 2007.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência dos materiais. Trad. Ferrão, L. P. C. São Paulo: Edgard Blücher, 1970.
68
1. C.
A alternativa II está incorreta, pois quando o índice direcional de uma direção é igual a zero, essa direção
é perpendicular ao eixo correspondente a esse índice.
A alternativa IV está incorreta, pois num sistema cúbico, dois planos que tenham índices de mesmo valor
são paralelos.
2. D.
Para que um feixe incidente de raios X seja difratado, ou seja, sofra uma interferência construtiva, é ne-
cessário que o material analisado tenha um ordenamento regular e repetitivo, característica dos materiais
cristalinos.
3. B.
Plano A.
Plano B.
69
70
Me. Luis Henrique de Souza
Difusão em Sólidos
PLANO DE ESTUDOS
Taxa de difusão
e a Lei de Fick
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Entender o que é a difusão e conhecer os mecanismos • Conhecer os parâmetros que influenciam no processo
pelos quais esse fenômeno ocorre. difusivo e algumas aplicações da difusão na Ciência dos
• Aprender a calcular o fluxo difusivo em regime estacionário Materiais.
e em regime transiente.
Mecanismos
de Difusão
UNIDADE 3 73
de um ponto da rede cristalina para um ponto vazio dessa rede (lacuna), e quando esse átomo da rede
cristalina migra (difunde) para uma lacuna, ele deixa para trás uma lacuna em sua posição original.
A esse tipo de processo dá-se o nome de difusão por lacunas, e nota-se que a sua ocorrência está
diretamente ligada à existência de lacunas na rede cristalina do material.
A difusão por lacunas pode ocorrer por autodifusão, ou seja, os átomos que difundem são do
mesmo tipo que os átomos da rede, como no caso dos átomos de ouro difundindo entre as lacunas
da rede cristalina em uma barra de ouro puro. Contudo, a modalidade mais interessante para nós é
a difusão por lacunas, que ocorre por interdifusão, na qual as lacunas são ocupadas por átomos de
impureza (átomos diferentes dos átomos da rede), gerando um defeito substitucional.
Na Figura 2(a), podemos observar a representação de uma autodifusão por lacunas, uma vez que
a lacuna do material será ocupada por um átomo do mesmo tipo que os átomos da rede cristalina.
Esse processo ocorre pela migração de um átomo vizinho a essa lacuna, saindo de sua posição inicial
e ocupando a lacuna, e, como consequência, é formada uma nova lacuna na posição que esse átomo
ocupava anteriormente.
Na Figura 2(b), temos a representação de uma interdifusão por lacunas, pois o átomo que ocupará
a lacuna é um átomo de impureza, ou seja, é um átomo diferente dos átomos originais da rede. Esse
átomo de impureza tem a possibilidade de ocupar a lacuna vizinha e, com isso, formar uma lacuna na
posição que ele ocupava anteriormente.
Migração de um átomo
Lacuna
do mesmo tipo
Lacuna (a)
Migração de um átomo
Lacuna
de impureza da rede
(b)
Lacuna
74 Difusão em Sólidos
Difusão Intersticial
Além da difusão por lacunas, o processo difusivo em sólidos pode ocorrer por meio dos espaços vazios
entre os átomos que compõem a rede cristalina do material, chamados interstícios. A esse processo de
difusão, damos o nome de difusão intersticial.
Como esses interstícios são pequenos em relação ao tamanho dos
átomos da rede cristalina, os átomos que difundem em seu interior
devem ser átomos pequenos o suficiente para se encaixarem nessas
posições intersticiais, geralmente hidrogênio, carbono, nitrogênio e
oxigênio. Devido a essa limitação de tamanho, os átomos hospedeiros Átomo de impureza alojado no Átomo d
(átomos originais da rede) e de impurezas substitucionais (átomos de interstício da rede cristalina
impureza que substituem os átomos hospedeiros e têm a mesma ordem
de grandeza deles) raramente se difundem por meio dos interstícios.
A difusão intersticial ocorre com muito mais frequência que
a difusão por lacunas. Esse comportamento acontece por duas
razões, primeiro porque o número de interstícios é muito maior
que o número de lacunas nas estruturas cristalinas e, dessa forma,
Átomo
a probabilidade da difusão intersticial de impureza
é muito maior quealojado no
da difusão Átomo de impureza após
interstício da rede cristalina
por lacunas. Em segundo lugar, os átomos envolvidos na difusão a difusão
intersticial são menores e, por isso, têm uma maior mobilidade na
rede, facilitando a difusão intersticial.
Na Figura 3, a seguir, temos a representação do processo de
difusão intersticial de um átomo de impureza na rede cristalina de
um material genérico.
Ainda nessa figura, podemos observar que o átomo de impureza
já ocupa um interstício da rede cristalina do material; na sequência, Figura 3 - Representação do meca-
nismo de difusão intersticial para um
esse átomo migra (difunde) para um interstício vazio adjacente, ca- átomo de impureza
racterizando uma difusão intersticial (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Fonte: o autor.
UNIDADE 3 75
Produção de Lacunas
76 Difusão em Sólidos
Taxa de Difusão
e a Lei de Fick
M
J=
At
Nessa equação, J é o fluxo difusivo; M é a massa; A
é a área de seção transversal atravessada na difu-
são; e t é o tempo decorrido da difusão. O termo
J representa a quantidade de massa, mols, átomos,
íons ou moléculas que atravessam uma área uni-
tária de seção transversal por unidade de tempo.
Suas unidades são, geralmente, kg/m² ⋅ s, átomos/
m² ⋅ s, íons/m² ⋅ s ou mesmo moléculas/m² ⋅ s.
A unidade de M pode ser dada em quilogra-
mas (kg), átomos, íons ou moléculas, e as uni-
dades de A e t no SI (sistema internacional de
unidades) devem ser, respectivamente, m² e s.
Tomando-se a forma diferencial da equação
de fluxo, obtemos
1 dM
J=
A dt
UNIDADE 3 77
cujas unidades dos parâmetros são as mesmas da Agora que já sabemos o que é o perfil de con-
equação anterior: J em kg/m² ⋅ s, átomos/m² ⋅ s, centração e como calcular o gradiente de concen-
íons/m² ⋅ s ou mesmo moléculas/m² ⋅ s; M em qui- tração, podemos introduzir a equação do fluxo
logramas (kg), átomos, íons ou moléculas; A em difusivo, conhecida como a Primeira Lei de Fick:
m² e t em s. Essas equações podem ser utilizadas
dC
para determinar o fluxo difusivo de uma espécie J D
dx
quando conhecemos os parâmetros A, M e t ou a
relação de M com t. Na Primeira Lei de Fick, o termo D é um coe-
No entanto, é comum trabalharmos com si- ficiente de proporcionalidade, conhecido como
tuações nas quais o fluxo difusivo independe do difusividade ou coeficiente de difusividade
tempo. Nessas situações, dizemos que a difusão (m²/s), e dC/dx é o gradiente de concentração
ocorre em regime estacionário ou estado esta- (mol/m³ ⋅ m ou átomos/m³ ⋅ m). Em alguns ca-
cionário; um exemplo dessa situação é a difusão sos, a concentração pode ser expressa em por-
de um gás por meio de uma placa metálica e cujas centagem mássica, porcentagem molar, fração
concentrações desse gás sejam mantidas constantes de átomos ou, ainda, fração molar e, com isso, as
em ambas as superfícies da placa. Dessa forma, a unidades do gradiente de concentração e do fluxo
concentração da espécie em difusão é uma função mudam de forma correspondente com a unidade
da posição, x, em relação ao interior do sólido. da concentração.
A partir disso, obtemos o perfil de concen- O gradiente de concentração é a força motriz
tração da espécie em difusão, que é uma curva termodinâmica para o processo de difusão. Esse
na qual a concentração da espécie em difusão é gradiente de concentração normalmente é gerado
apresentada no eixo y, e a posição em relação ao quando dois materiais de composições diferentes
interior do sólido é apresentado no eixo x. Além são colocados em contato ou quando um fluido (gás
disso, podemos definir o gradiente de concen- ou líquido) está em contato com um material sólido.
tração no sólido, que é dado pela inclinação em O fluxo difusivo a uma determinada tempe-
um ponto do perfil de concentração (CALLISTER ratura será constante, caso o gradiente de con-
JR.; RETHWISCH, 2013). centração também seja constante. Entretanto, é
dC comum a variação das concentrações do processo
gradiente de concentração = difusivo com o decorrer da migração (difusão)
dx
das espécies, e isso acaba também alterando o
Muitas vezes, é possível aproximar o perfil de con- fluxo difusivo J.
centração para linear e, dessa forma, o gradiente
de concentração pode ser calculado pela relação
a seguir.
∆C Ca − Cb Tenha sua dose extra de
gradiente de concentração = = conhecimento assistindo ao
∆x xa − xb
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.
As concentrações Ca e Cb são da espécie em difu-
são nas posições xa e xb, respectivamente.
78 Difusão em Sólidos
Comumente, observamos que os processos difusivos começam com um fluxo elevado, que diminui
conforme o gradiente de concentração diminui com o avanço da difusão. Para deixar isso mais claro, vamos
ver o exemplo da situação apresentada na Figura 4(a), em que temos novamente uma placa de cobre e outra
de níquel. Essas placas estão em contato entre si e, antes do início da difusão, a placa da esquerda possuía
apenas átomos de cobre, e a placa da direita possuía apenas átomos de níquel (Figura 4(b)).
Cobre Níquel
Cu Ni
(a) (c)
Interface dos
Concentração, c materiais
Cobre Níquel
Distância, x
(b) (d)
UNIDADE 3 79
Difusão em Regime Estacionário
Primeiramente, vamos tratar da difusão em regime estacionário que, como foi mencionada anterior-
mente, trata-se do processo difusivo, independentemente do tempo. Para essa abordagem, utilizamos
a Primeira Lei de Fick, que é válida para processos em regimes estacionários e unidirecionais (uma
única direção, x), na qual o fluxo difusivo é proporcional ao gradiente de concentração na direção de x.
Um exemplo prático de aplicação da primeira Lei de Fick pode ser visualizado na purificação do
gás hidrogênio, utilizando uma lâmina fina do metal paládio. Um dos lados da lâmina do metal é
exposto ao gás “sujo” (com impurezas), cuja composição contém oxigênio, nitrogênio, vapor d’água
etc. A lâmina de paládio é seletiva ao hidrogênio; dessa forma, ele consegue se difundir entre ela, mas
os outros gases não.
O resultado desse processo é o gás hidrogênio livre de impurezas do outro lado da placa metálica
de paládio (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Vamos entender como calcular o fluxo difusivo em
regime estacionário no exemplo a seguir.
Placa metálica de ferro
01 EXEMPLO
Suponha uma placa de ferro separando
duas atmosferas, uma rica em carbono e
Gás com menor
a outra com baixa concentração de car- concentração de
bono. Considerando que a condição de Gás com maior carbono
a, A
regime estacionário foi atingida, calcule concentração de Áre
carbono
o fluxo difusivo do carbono por meio da
placa de ferro, sabendo que as concen-
trações de carbono em a = 3 mm e b = 7
mm são, respectivamente, 1,3 e 0,7 kg/
m³ e a difusividade D = 3 ⋅ 10-11 m²/s. Figura 5 - Esquematização do exemplo 1
Fonte: o autor.
Resolução
Essa é uma situação na qual podemos utilizar a Primeira Lei de Fick, pois trata-se de um processo
difusivo em uma única direção (x), em regime permanente.
dC
J D
dx
Nesse caso, o perfil de concentração é linear, então, podemos aproximar o gradiente de concentração
por uma diferença simples entre as concentrações em a e b da seguinte forma.
dC C Ca Cb Ca Cb
dt x xa xb a b
Portanto, a Primeira Lei de Fick para esse processo toma a forma:
Ca Cb
J D
a b
80 Difusão em Sólidos
Devemos converter as unidades de a e b de milímetros (mm) para metros (m), para ficarem coe-
rentes com as unidades de D e C.
1 m 1000 mm 1 m 1000 mm
a 3 mm b 7 mm
1000 a 1 3 1000 a 1 7
3 3
a b
1000 1000
a 0, 003 m b 0, 007 m
(1, 3 0, 7)kg / m3
J (3 1011 m2 / s )
(0, 003 0, 007)m
(1, 3 0, 7)kg / m 3
J (3 1011 m2 / s )
(0, 003 0, 007)m
(1, 3 0, 7)kg / m
J (3 1011 / s )
(0, 003 0, 007)m
(1, 3 0, 7)kg
J (3 1011 / s )
(0, 003 0, 007)m2
kg
J 4, 5 109 2
m s
Vimos, no tópico anterior, a difusão em regime estacionário, porém a maioria dos processos difusionais
em sólidos acontece em regime não estacionário. Isso significa dizer que a difusão é função do tempo;
em outras palavras, tanto o fluxo difusivo quanto o gradiente de concentração em um ponto específico
dentro do sólido variam com o tempo e, em decorrência disso, ocorre um acúmulo ou um esgotamento
da espécie em difusão.
Quando trabalhamos com a difusão em regime não estacionário, utilizamos a equação diferencial
mostrada a seguir.
C C
D
t x x
UNIDADE 3 81
Essa equação é conhecida como segunda Lei de Fick e é válida para processos difusivos unidirecionais,
em regime não estacionário. Contudo, existem situações em que podemos considerar a difusividade,
independentemente da concentração (C) e, dessa forma, a difusividade (D) pode ser tirada de dentro
da derivada e a equação se torna:
C 2C
D 2
t x
A resolução dessa equação diferencial depende das condições de contorno de cada situação. Para o
caso particular de um sólido semi-infinito, no qual a concentração na superfície é mantida constante,
a solução particular é:
Cs C x x
erf
Cs C0 2 Dt
L > 10 Dt
• O valor da coordenada x é zero na superfície do sólido e aumenta conforme se caminha em direção ao
interior do sólido.
• Antes da difusão ter início, todos os átomos da espécie em difusão que estiverem dentro do sólido estão
homogeneamente distribuídos por toda a extensão desse sólido.
• O tempo t = 0, é tomado exatamente no instante anterior ao início da difusão.
A função erf é denominada função erro de Gauss e seus valores são obtidos a partir de tabelas, como
a Tabela 1, entrando com o valor do argumento x para se obter o valor da função erro de Gauss
x
2 Dt
erf para esse argumento.
2 Dt
A interpolação deve ser realizada para situações nas quais os argumentos sejam valores inter-
mediários dos valores da Tabela 1. Para valores fora dos extremos da Tabela 1, pode ser realizada a
extrapolação dos dados, contudo é aconselhável procurar uma tabela com uma maior amplitude de
dados nesses casos.
82 Difusão em Sólidos
Tabela 1 - Dados para determinação do valor da função
erro de Gauss Resolução
Esse processo é uma difusão em regime não esta-
Valor da função cionário, pois, como foi dito no enunciado, a con-
Argumento
erro de Gaus centração de carbono varia com o passar do tempo
em uma mesma posição de x. Além disso, a con-
( )
centração de carbono na barra antes da difusão é
uniforme, e a barra pode ser considerada um sólido
0,00 semi-infinito, então, a equação que iremos utilizar é
0,0000
a solução particular da segunda lei de Fick:
0,10 0,1125
0,20 0,2227 Cs C x x
erf
0,30 0,3286 Cs C0 2 Dt
0,40 0,4284 Dados do exemplo:
0,50 0,5205 • C0 = 0,30%p
0,60 0,6039 • Cs = 1,10%p
0,70 0,6778 • Cx = 0,75%p
0,80 0,7421 • x = 0,4 mm
0,90 0,7969 • D = 1,6 ⋅ 10-11 m²/s
1,00 0,8427
Substituindo esses valores na equação, obtemos:
1,50 0,9661
2,00 0,9953 (1, 10 0, 75)% p x
erf
Fonte: o autor. (1, 10 0, 30)% p 2 Dt
Vamos resolver um exemplo para a aplicação des- O valor de x não foi substituído ainda, porque,
sa solução particular da difusão em regime não primeiramente, nós vamos determinar o valor do
estacionário. argumento x / 2 Dt , para isso, vamos calcular o
termo à esquerda da equação anterior:
02 EXEMPLO
(1, 10 0, 75) % p x
Considere uma barra de liga metálica (composta erf
por ferro e carbono), que contém uma concentra- (1, 10 0, 30) % p 2 Dt
ção inicial uniforme de carbono de 0,30%p. Caso x
a concentração na superfície seja aumentada e 0, 4375 erf
2 Dt
mantida em 1,10%p, qual será o tempo necessário
para que essa placa alcance uma concentração de Isto é, sabemos o valor da função erro de Gauss,
0,75%p, em uma posição x = 0,4 mm? que é de erf ( x / 2 Dt ) = 0, 4375 , e com esse va-
O processo é realizado a 950 °C, e o coeficiente lor é possível determinar o valor do argumento
de difusão do carbono no ferro nessas condições x / 2 Dt a partir da Tabela 1. Como esta não
é igual a 1,6 ⋅ 10-11 m²/s. Considere que a peça possui esse valor (mas ele está contido entre os va-
metálica seja semi-infinita. lores da tabela), devemos interpolar tal valor para
encontrarmos o valor aproximado de x / 2 Dt .
UNIDADE 3 83
Na Tabela 1, vemos que o valor de Difusão em Materiais
erf ( x / 2 Dt ) = 0, 4375 está entre 0,4284 e Poliméricos
0,5205, cujos valores de x / 2 Dt são, respec-
tivamente, 0,40 e 0,50. Fazendo a interpolação Em materiais poliméricos, a difusão envolve, em
linear, obtemos: geral, a movimentação de moléculas externas, como,
8, 31 J mol ⋅ K por exemplo, O2, H2O, CO2, CH4 etc., entre as ca-
deias moleculares do polímero, diferentemente dos
Tabela 2 - Dados para interpolação linear do exemplo 2
metais e das cerâmicas, nos quais a difusão envolve a
migração de átomos ou íons em sua rede cristalina.
( )
Em razão dessa diferença do processo de difu-
são, a difusão nos polímeros é tratada em termos
0,40 0,4284 da permeabilidade e absorção, em vez de coefi-
z 0,4375 ciente de difusão. Tanto a permeabilidade quanto
0,50 0,5205 a absorção estão relacionadas com a capacidade
de moléculas externas difundirem no polímero,
Fonte: o autor
conduzindo a um inchamento e/ou reações quí-
z 0, 40 0, 4375 0, 4284 micas com as moléculas que formam o polímero.
0, 50 0, 40 0, 5205 0, 4284 Vimos, na Unidade 1, que os polímeros, em ge-
z 0, 4099 ral, possuem uma estrutura parcialmente cristalina,
contendo regiões de cristalinidade e regiões amorfas
Assim sendo, em suas estruturas. As taxas de difusão por meio das
x regiões amorfas dos polímeros são maiores que as
=z
2 / Dt taxas de difusão nas regiões cristalinas. Outro ponto
x importante a se destacar é que a difusão nos políme-
= 0, 4099
2 / Dt ros ocorre de forma análoga à difusão intersticial, ou
seja, as moléculas migram por meio dos pequenos
Substituindo os valores de D e x (convertido em vazios presentes nas cadeias poliméricas.
metros, 0,4 mm = 0,0004 m), temos: A taxa de difusão é maior para moléculas pe-
quenas e também para moléculas quimicamente
0, 0004 inertes, difundindo em polímeros. O fluxo difusi-
0, 4099
11
2 / 1, 6 10 t vo em membranas poliméricas pode ser calculado
t 14879 s 4, 1h pela lei de Fick, escrita em termos do coeficiente
de permeabilidade, PM.
O tempo necessário para que a concentração de
carbono na posição x = 0,4 mm seja 0,75%p é de P
J PM
4,1 horas. x
84 Difusão em Sólidos
Na expressão apresentada, J é o fluxo difusivo por meio da mem-
brana (cm³/cm² ∙ s); PM é o coeficiente de permeabilidade; ∆ x é a
espessura da membrana; e ∆ P é a diferença de pressão por meio da
membrana (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Em polímeros
não vítreos, com moléculas pequenas difundindo por meio deles,
a permeabilidade pode ser aproximada por:
PM = DS
PM
[× 10-13 (cm³ CNTP)(cm)/(cm² ⋅ sPa)]
Polietileno
(baixa massa LDPE 2,2 0,73 9,5 68
específica)
Polietileno
(alta massa HDPE 0,30 0,11 0,27 9,0
específica)
Cloreto de
PVC 0,034 0,0089 0,012 206
polivinila
Cloreto de
PVDC 0,0025 0,00044 0,015 7,0
polivinilideno
Poli(etileno
PET 0,044 0,011 0,23 -
tereftalato)
Poli(etil meta-
PEMA 0,89 0,17 3,8 2380
crilato)
UNIDADE 3 85
Parâmetros que
Influenciam na Difusão
86 Difusão em Sólidos
Tabela 4 - Dados de difusividade
A partir da Tabela 4, podemos perceber que, a 500 °C, o coeficiente de difusão do cobre (Cu) difundindo
em cobre (4,2 ⋅ 10-19 m²/s) é, aproximadamente, dez vezes menos do que a difusividade do zinco (Zn)
difundindo em cobre (4,0 ⋅ 10-18 m²/s). Ambos os casos são exemplos de difusão por lacunas; no primei-
ro caso do cobre difundindo em cobre, temos uma autodifusão por lacunas e, no segundo caso, zinco
difundindo em cobre, temos uma interdifusão por lacunas.
Outra situação observada é a do ferro (Fe) difundindo em ferro-alfa a Fe , cujo coeficiente de
difusão é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s a 500 °C, enquanto para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa a Fe , o
coeficiente de difusão vale 2,4 ⋅ 10-12 m²/s a 500 °C, quase um milhão de vezes maior. Esse contraste se
deve ao fato do mecanismo de difusão do ferro (Fe) no ferro-alfa a Fe ser por lacunas, enquanto
para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa a Fe ser intersticial, ou seja, entre os interstícios da
rede cristalina.
UNIDADE 3 87
Temperatura do Processo
Outro fator importante que influencia no valor do coeficiente de difusão é a temperatura, na qual o
processo de difusão acontece. Isso pode ser observado na Tabela 4, na qual vemos que a difusividade
do ferro (Fe) em ferro-alfa a Fe é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s, a 500 °C, enquanto a difusividade do mesmo par
espécie em difusão-material hospedeiro, ferro (Fe)-ferro-alfa a Fe , a 900 °C, é 1,8 ⋅ 10-15, ou seja,
o aumento da temperatura de 500 °C para 900 °C ocasionou um aumento do coeficiente de difusão
de, aproximadamente, 35 mil vezes.
A dependência do coeficiente de difusão em relação à temperatura é dada pela equação a seguir:
Q
D D0 exp d
RT
Na qual D0 é o termo pré-exponencial (m²/s); Qd é a energia de ativação para o par de difusão (J/mol ou
eV/átomo); R é a constante dos gases (J/mol ∙ K ou e V/átomo ∙ K); e T é a temperatura absoluta (K). Os
valores de D0 e Qd podem ser obtidos em tabelas, como a Tabela 4, por exemplo. A constante dos gases R vale:
03 EXEMPLO
Em um processo de difusão, no qual o magnésio está difundindo em alumínio, calcule o coeficiente de
difusão, D, sabendo que o processo ocorre a 600 °C. Os dados adicionais devem ser extraídos da Tabela 4.
Resolução
Da Tabela 4 para magnésio (Mg) difundindo em alumínio (Al), vemos que não existe o valor da
difusividade para a temperatura de 600 °C, então é necessário utilizar a correlação da difusividade
com a temperatura para calcularmos o valor de D a 600 °C. Na Tabela 4, para o par de difusão Mg
difundindo em Al, temos:
• D0 = 1,2 ⋅ 10-4 m²/s
• Qd = 131 kJ/mol =131.000 J/mol (foi realizada a conversão de kJ para J, onde 1kJ = 1000 J).
A constante R nessas unidades vale 8, 31 J mol ⋅ K .
A temperatura utilizada na equação deve estar sempre em Kelvin; nesse caso, a temperatura absoluta
(em Kelvin) é T = (600+273) = 873 K.
Para determinar o coeficiente de difusão D a T= 600 °C, utilizaremos a equação,
Q
D D0 exp d
RT
88 Difusão em Sólidos
Substituindo, na equação anterior, os valores determinados, obtemos:
131.000 J / mol
D (1, 2 104 m2 / s ) exp
(8, 31J / mol K )(873 K )
131.000 J / mol
D (1, 2 104 m2 / s ) exp
(8, 31 J / mol K )(873 K )
131.000
D (1, 2 104 m2 / s ) exp
(8, 31)(873)
D (1, 2 104 m2 / s ) exp 18, 057
D (1, 2 104 m2 / s ) 1, 4386 108
D 1, 73 1012 m2 / s
A migração de espécies na difusão pode ocorrer por três caminhos, o primeiro deles é a difusão em
volume, que consiste no tipo mais genérico; em outras palavras, essa é a difusão que ocorre no inte-
rior dos cristais que formam o material. O segundo tipo é a difusão pelos contornos de grãos; nesse
caso, a migração acontece na interface entre os cristais do material e ocorre mais facilmente que a
difusão em volume. Finalmente, o terceiro caminho é a difusão superficial; essa última é a mais fácil
de ocorrer, uma vez que a superfície externa do material possui menos restrições à movimentação.
Fonte: adaptado de Ciência dos Materiais ([2019], on-line)1.
Aplicações da Difusão
Uma das aplicações mais utilizada da difusão é a cementação. Essa técnica é utilizada para endure-
cimento de superfícies metálicas de peças que rodam ou escorregam, como rodas dentadas e engre-
nagens de aço, nas quais não é necessário o endurecimento da peça toda. A produção de uma peça de
aço cementada se inicia com a usinagem dessa peça e, após essa usinagem, a peça passa para a etapa
de cementação, que consiste na inserção de carbono por difusão na superfície da peça. As fontes de
carbono para o processo são pó de grafite ou uma fase gasosa rica em carbono (SMITH, 1998).
UNIDADE 3 89
Alguns componentes, como cilindros, pinos e Nesta unidade, vimos que os materiais sólidos
rotores, funcionam com risco de desgaste por atrito também sofrem o fenômeno da difusão de espé-
permanente e apresentam rupturas com facilidade; cies, assim como os fluidos; contudo, os mecanis-
por essa razão, eles devem possuir alta resistência mos para a difusão em sólidos dependem das la-
ao desgaste a uma temperatura relativamente alta cunas e interstícios presentes no arranjo estrutural
para essas aplicações mais exigentes. O processo desses materiais. Vimos, também, que os átomos
termoquímico, chamado nitretação, proporciona que se difundem podem ser átomos diferentes
a esses, e outros tipos de componentes, uma maior dos átomos constituintes da rede, interdifusão
dureza das suas superfícies externas, maior resis- ou difusão de impurezas e também podem ser
tência à fadiga externa e também à fricção, além átomos iguais aos átomos que compõem a rede,
de uma maior resistência à corrosão e ao calor. autodifusão.
A nitretação é realizada por meio da difusão de Definimos o que é o fluxo difusivo J e aprende-
nitrogênio na superfície externa do material, que mos a utilizar a lei de Fick para calcular esse fluxo.
pode ser conduzida em uma atmosfera gasosa rica Conhecemos a constante de proporcionalidade
em nitrogênio ou por banho em uma solução de da lei de Fick, chamada de difusividade ou coefi-
sais fundidos contendo nitrogênio. ciente de difusão. Além disso, vimos que a força
Outra típica aplicação da difusão está no re- motriz para o processo difusivo é o gradiente de
vestimento de barreira térmica para palhetas concentração, ou seja, a diferença de concentração
térmicas em turbinas. Nesse processo, as palhetas de uma espécie entre regiões do material.
de turbinas de motores de aeronaves são revestidas Vimos que, em certas situações, o processo
com óxidos cerâmicos, como a zircônia estabili- difusivo pode ser considerado independente do
zada por ítrio (YSZ). Estas palhetas são feitas de tempo (regime estacionário), enquanto em outras
superligas de níquel e os revestimentos cerâmicos o tempo é uma variável indispensável (regime
têm a função de protegê-las de temperaturas eleva- não estacionário). Para finalizar, vimos que al-
das. A difusão de oxigênio por meio deste revesti- guns fatores, como o mecanismo de difusão e a
mento cerâmico nas palhetas determina a vida útil temperatura, influenciam no processo difusivo, e
desses componentes, visto que o oxigênio oxida a algumas das aplicações mais comuns da difusão
superliga ao entrar em contato com ela. Portanto, na produção e processamento de materiais. Espe-
é imprescindível o conhecimento da difusão para ro que você tenha entendido bem os conceitos e
a determinação da durabilidade dessas turbinas cálculos envolvidos na difusão em materiais. Nos
(ASKELAND; WRIGHT, 2015). encontraremos na Unidade 4, até breve.
90 Difusão em Sólidos
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
91
3. A adição de nitrogênio aos aços austeníticos promove um aumento, simultâneo
da vida em fadiga, da resistência mecânica, da resistência ao desgaste e à cor-
rosão. Por essa razão, os aços inoxidáveis de alto teor de nitrogênio constituem
uma classe promissora de materiais de engenharia atualmente.
Deseja-se inserir nitrogênio em uma chapa de aço para melhorar suas proprie-
dades. Nesse processo, a chapa de aço será exposta a uma atmosfera concen-
trada com nitrogênio (N2) a 1200 °C, fornecendo uma concentração constante
de nitrogênio igual a 3,5 kg/m³ na superfície dessa chapa. Considerando que o
processo ocorra em regime estacionário e o fluxo difusivo seja igual a 1,1 · 10-7
kg/m², qual a profundidade, b, dessa chapa, na qual a concentração de nitrogê-
nio será de 1,5 kg/m³ ? A difusividade do nitrogênio no aço a essa temperatura
é 6 · 10-11 m²/s.
a) b = 1,58 mm.
b) b = 1,08 mm.
c) b = 2,08 mm.
d) b = 1,20 mm.
e) b = 0,58 mm.
92
WEB
WEB
93
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.
REFERÊNCIA ON-LINE
94
1. A difusão por lacunas ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) pelas lacunas,
que são defeitos pontuais dos materiais. Os átomos em difusão possuem tamanhos próximos ao tamanho
dos átomos originais da rede.
A difusão intersticial ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) por meio dos
interstícios presentes na rede cristalina. Os átomos em difusão possuem tamanhos muito menores em
relação ao tamanho dos átomos originais da rede.
2. A.
Esse processo é uma difusão em regime não estacionário, pois, como foi dito no enunciado, a concentração
de carbono varia com o passar do tempo. Além disso, a concentração de carbono na liga antes da difusão
é uniforme e vale 0,20%p.
Para a resolução, utilizaremos a equação a seguir, que é solução particular da segunda lei de Fick:
Cs C x x
erf
Cs C0 2 Dt
Dados do exercício:
C0 = 0,20%p
Cs = 1,30%p
Cx = 0,45%p
x = 2 mm = 0,002 m
Q
D D0 exp d
RT
Os dados necessários foram retirados da Tabela 4 para o ferro gama (Fe γ):
Qd = 148 kJ/mol = 148.000 J/mol (a energia de ativação deve ser convertida para J/mol).
R = 8,31 J/mol · K
95
Substituindo esses valores na equação, temos:
148.000 J / mol
D (2, 3 105 m2 / s ) exp
(8, 31J / mol K )(1273 K )
D 1, 9308 1011 m2 / s
(1, 30 0, 45)% p x
erf
(1, 30 0, 20)% p 2 Dt
x
0, 7727 erf
2 Dt
ou
x
erf 0, 7727
2 Dt
O valor de x não foi substituído ainda, porque, primeiramente, nós vamos determinar o valor do argumen-
to x ; para isso, vamos utilizar o termo erf x 0, 7727 calculado acima. Agora que sabemos que o
2 Dt 2 Dt
x x
valor da função erro de Gauss é erf 0, 7727 , é possível determinar o valor do argumento a
Dt
2 2 Dt
partir da Tabela 1. Como essa tabela não possui esse valor, mas ele está contido entre os extremos da
x
tabela, devemos interpolar tal valor para encontrarmos o valor aproximado de .
2 Dt
x x
Na Tabela 1, vemos que o valor de erf 0, 7727 está entre 0,7421 e 0,7969, cujos valores de
2 Dt 2 Dt
são, respectivamente, 0,80 e 0,90. Fazendo a interpolação linear destes valores, obtemos:
( )
z 0, 8 0, 7727 0, 7421
0, 90 0, 8 0, 7969 0, 7421
0,80 0,7421
z 0,7727 z 0, 8558
0,90 0,7969
Assim sendo,
x
=z
2 Dt
x
= 0, 8558
2 Dt
96
Substituindo os valores de D e x (convertido em metros, 2 mm = 0,002 m), temos:
0, 002m
0, 8558
2 (1, 9308 1011 m2 /s )(t )
t 70779s 19, 7h
O tempo necessário para que a concentração de carbono na posição x = 2 mm seja 0,45%p é de 19,7 horas.
3. B.
Esquematização:
ço
eA
1200 ºC
ad
ap
Ch
N2
Dados:
D = 6 ∙ 10 -11 m2/s
J = 1,1 ∙ 10-7 kg/m² ∙ s
a=0
ca = 3,5 kg/m³
cb = 1,5 kg/m³
³ ³
• Regime estacionário
• Material: aço
97
Cálculos:
Ca Cb C Cb
J D D a
xa xb a b
Isolar a variável b
Ca Cb
baD
J
Substituindo os valores
b 1, 08 103 m 1, 08mm
98
99
100
Me. Luis Henrique de Souza
Propriedades
Mecânicas
PLANO DE ESTUDOS
Deformação elástica
e Lei de Hooke
Conceituação Deformação
básica plástica
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Definir alguns conceitos básicos necessários ao estudo • Estudar a deformação plástica nos materiais e as proprie-
das propriedades mecânicas dos sólidos. dades mecânicas relacionadas a ela.
• Estudar a deformação elástica nos materiais e aplicar a
Lei de Hooke.
Conceituação
Básica
UNIDADE 4 103
(a) (b)
A0
T
F
(c) (d)
Figura 1 - Representação do efeito de uma carga de (a) tração, (b) compressão, (c) cisalhante e (d) de torção
Fonte: o autor.
0
b)
0 ∆
c)
0
Δ
Figura 2 - Esquematização de uma barra sendo deformada pela ação de uma força
Fonte: o autor.
Onde F é a força (carga) perpendicular aplicada à área de seção transversal da barra A0. No SI, as uni-
dades de F é N (newton), de A0 é m² e, portanto, a unidade da tensão σ é N/m² ou Pa (pascal).
UNIDADE 4 105
a)
Seção
b)
circular
Seção
c) quadrada
Seção
d) retangular
Nas Figura 3(b), 3(c) e 3(d) vemos, respectiva- deformação, porém voltam rapidamente ao es-
mente, as áreas de seção transversal circular, qua- tado inicial quando essa tensão deixa de existir.
drada e retangular e as equações de cálculo de Na deformação elástica não há quebra das li-
A0 para cada uma dessas geometrias, que são as gações químicas, ocorre apenas um alongamento
mais usuais. dessas ligações, decorrente da presença de uma
carga (tensão) adicional que se soma às forças
eletrostáticas existentes em equilíbrio no material,
Deformação Elástica e e por essa razão o material não sofre nenhuma
Deformação Plástica deformação permanente, pois, assim que a car-
ga adicional é removida, essas forças do material
A deformação elástica é uma deformação rever- retornam ao equilíbrio original.
sível resultante da aplicação de uma tensão. Essa Quando a deformação de um material é per-
deformação ocorre simultaneamente à aplicação manente, dizemos que esse material sofreu uma
de uma tensão, de forma que o material volta à for- deformação plástica, ou seja, quando a tensão
ma (tamanho) original assim que essa tensão cessa. é removida, o material não retorna a sua forma
Praticamente todos os materiais apresentam original. Como podemos perceber, o termo “de-
um certo grau de deformação elástica; entretanto, formação plástica”, nesse contexto, não se refere à
estas costumam ser muito pequenas e impercep- deformação de um material polimérico, mas sim
tíveis. Um exemplo da aplicação desse tipo de à deformação permanente de qualquer tipo de
deformação são as molas rígidas feitas de metais material. Um exemplo de deformação plástica é
que, quando submetidas a tensões, sofrem uma o amassado na panela, resultado de uma queda.
projetos de engenharia.
O processo consiste basica-
mente no tracionamento, até a
ruptura, de um corpo de prova.
O corpo de prova é colocado no
equipamento de teste, no qual
ele é tracionado por uma força
Região Região plástica
F que aumenta gradualmente. elástica
Essa força (ou carga) F é apli- Deformação
cada pelo equipamento sobre a
área de seção transversal inicial Figura 4 - Diagrama de tensão-deformação
Fonte: o autor.
do corpo de prova, A0.
UNIDADE 4 107
Várias propriedades mecânicas são determina- a deformação plástica (região plástica) que dura
das a partir de um diagrama tensão-deformação até a ruptura do material (JAMES, 2003). Essas e
do material. Na Figura 4, a tensão no ponto A cor- outras propriedades mecânicas serão explicadas
responde ao limite de proporcionalidade; a tensão com detalhes nos próximos tópicos.
no ponto B é o limite de escoamento; a tensão no Na Figura 5, vemos as curvas de tensão-defor-
ponto C é o limite de resistência à tração do mate- mação para alguns tipos de materiais, lembrando
rial; por fim, no ponto D, ocorre a ruptura do ma- que esses diagramas não seguem a mesma escala,
terial. Além disso, é importante ter em mente que, eles são simplesmente uma representação comum
primeiramente, ocorre uma deformação elástica do do comportamento tensão-deformação para esses
material (região elástica) e somente depois se inicia tipos de materiais.
Tensão
Deformação Deformação
Tensão
Deformação Deformação
Nos metais (Figura 5(a)), vemos que ocorre uma deformação elástica seguida de uma deformação
plástica até a ruptura do material, a tensão suportada por esses materiais é alta e, por essa razão, esses
materiais são bons materiais estruturais. Para os polímeros termoplásticos (Figura 5(b)), vemos que a
tensão máxima suportada é bem menor em relação aos metais, entretanto, esses materiais sofrem uma
grande deformação plástica antes de fraturar.
Os polímeros do tipo elastômeros (Figura 5(c)) exibem uma grande deformação do tipo elástica
(reversível) e suportam tensões maiores do que os termoplásticos antes de fraturar. Finalmente, as
cerâmicas (Figura 5(d)) apresentam uma pequena deformação elástica e pouca, ou nenhuma, defor-
mação plástica antes de fraturar.
Ensaio de Cisalhamento
F
Tensão de cisalhamento = τ =
A0
UNIDADE 4 109
Deformação Elástica
e Lei de Hooke
Módulo de Elasticidade
Tabela 1 - Módulo de elasticidade e de cisalhamento e coeficiente de Poisson para alguns metais à temperatura ambiente
Conversão: 1 GPa = 109 Pa
UNIDADE 4 111
Substituindo esses dados na equação de ∆ l :
01 EXEMPLO
sl0 (200.106 Pa)(300 mm)
Calcule a variação de comprimento (Δl) sofri- l
E (107.109 Pa)
da por uma peça de titânio, com comprimento
original de 300 mm, submetida a uma tensão de (200.106 Pa )(300 mm)
l
tração com intensidade 200 ⋅ 106 Pa. Considere a (107.109 Pa )
deformação completamente elástica. (200.106 )(300 mm)
l
(107.109 )
Resolução
Uma vez que a deformação é elástica e o material
deformado é um metal, podemos utilizar a Lei de l 0, 56 mm
Hooke para solucionar esse problema.
Para uma tensão de cisalhamento, um comporta-
s E mento similar é observado. Nesse caso, a deforma-
Além disso, sabemos que a deformação é dada por: ção cisalhante é proporcional à tensão cisalhante
aplicada dentro da região de deformação elástica.
l
A relação que descreve esse comportamento é
l0
similar a Lei de Hooke.
E, relacionando essas equações, obtemos:
τ = Gγ
l
sE Na relação acima, G é o módulo de cisalha-
l0
mento, que é a inclinação (coeficiente angular)
Isolando o termo Δl, temos? do gráfico de tensão cisalhante por deformação
cisalhante. Os valores para G para alguns metais
sl0
l podem ser encontrados na Tabela 1.
E
Os valores do comprimento original (l0) e da ten-
são de tração (σ) foram dados no enunciado do
problema.
Até o dado momento, consideramos que a de-
formação elástica ocorre instantaneamente, ou
seja, a tensão aplicada deforma o material ime-
O valor do módulo de elasticidade para o titânio diatamente após ser aplicada e da mesma forma
é obtido na Tabela 1, e vale: o material volta à sua forma original imediata-
mente após essa tensão ser retirada. Contudo,
9
=E 107
= GPa 107.10 Pa em muitos casos, ao retirarmos a tensão que
causou a deformação elástica em um material,
este leva um certo tempo para retornar a sua
forma original. Esse comportamento recebe o
nome de anelasticidade.
Até esse ponto, consideramos que a aplicação de uma tensão (de tração ou compressão) em um material
causa uma variação do comprimento (estiramento ou compressão) apenas na direção de aplicação
dessa tensão. Entretanto, quando uma tensão, seja de tração ou compressão, é aplicada em um material,
este sofre variações nas demais direções, além da direção da tensão.
Então, uma barra submetida a uma tensão de tração sofre um aumento de suas dimensões na
direção dessa tensão e, em contrapartida, sofre uma diminuição de suas dimensões nas demais di-
reções. No caso de uma tensão de compressão, a barra sofre uma diminuição na direção da tensão e
um aumento nas demais direções.
Esse comportamento é melhor definido em termos da deformação; nesse âmbito, dividimos o material
estudado nas direções dos eixos x, y e z. Assim, temos as respectivas deformações ∈x, ∈y e ∈z.
As deformações ∈x e ∈y nas direções de x e y podem ser determinadas se o material for isotrópico
e a tensão aplicada for uniaxial (somente na direção de z). Nesse caso ∈x = ∈y, pode-se definir um
parâmetro adimensional denominado coeficiente de Poisson.
lateral
Coeficiente de Poisson n
longitudinal
UNIDADE 4 113
Nesse caso, há um alongamento do material no sentido do eixo z equivalente a Δlz e a compressão
do material no sentido dos eixos x e y, equivalentes a Δlx e Δly, respectivamente. As relações para o
cálculo das deformações do material na direção de cada eixo encontram-se descritas na Figura 8.
02 EXEMPLO
Determine a força necessária para produzir uma mudança de 3.10-3 mm no diâmetro de um cilindro
de cobre, cujo diâmetro original mede 9 mm. Sabe-se que a tensão de tração aplicada é perpendicular à
área de seção transversal circular do cilindro e a deformação gerada é totalmente elástica.
Resolução
A representação da situação é a seguinte:
Após a aplicação de
Antes da aplicação de tensão de tração
tensão de tração
z
x
l0 x 9 mm
Dl x 3 103 mm
Observa-se que o valor de Dl x é negativo, pois a barra está sofrendo uma constrição no eixo x, ocasio-
nada pela tensão de tração aplicada no eixo z. Com essas informações, primeiramente, vamos calcular
a deformação na direção de x:
∆l x −3.10−3 mm
∈x = =
l0 x 9 mm
−3.10−3 mm
∈x =
9 mm
O sinal de negativo na deformação significa que ocorre uma constrição na direção do eixo x.
Considerando que o material seja isotrópico, podemos determinar a deformação na direção de z a partir
do coeficiente de Poisson, cujo valor para o cobre é ν = 0,34, obtido da Tabela 1. Da definição de ν, temos:
x
n
z
∈x (−3, 33.10−4 )
∈z = − =−
ν 0, 34
σ = E ∈z
σ = (110.109 Pa)(9, 79.10−4 )
Tensão de tração
na direção de z
σ = 107, 69.106 Pa
UNIDADE 4 115
E, finalmente, com o valor da tensão de tração na direção de z, podemos determinar a força F ne-
cessária para causar a constrição desse cilindro a partir da definição de tensão de engenharia:
F
s F s A0
A0
2
2 l
A área de seção transversal é circular, portanto, A0 pr p 0 x , então
2
2
l
F = σ A0 = σπ 0 x
2
2
6 9.10−3 m
F = (107, 69.10 Pa)(3, 1416) Pa equivale a N/m 2
2
2
9.10−3 m
F = (107, 69.106 N/m2 )(3, 1416)
2
F = (107, 69.106 N/ m2 )(3, 1416)(2, 025.10−5 m2 )
F = 6850, 9 N
F = 6851 N
UNIDADE 4 117
átomos em relação uns com os outros. Dessa for-
ma, mesmo que a tensão seja removida, os átomos
não voltarão a suas posições originais, consequen-
temente, o material permanecerá deformado.
O mecanismo da deformação plástica para
Tenha sua dose extra de
materiais cristalinos é baseado no processo de
conhecimento assistindo ao
escorregamento; em outras palavras, na movi- vídeo. Para acessar, use seu
mentação das discordâncias do material. Já para leitor de QR Code.
os materiais amorfos (não cristalinos), o mecanis-
mo de deformação plástica envolve o escoamento
viscoso desse material.
Limite de Escoamento
Tensão
se deformar plasticamente na
tensão do limite de escoamento
inferior; entretanto, a existência
de pequenos átomos ao redor Retas com a mesma
das discordâncias atrapalham inclinação
o deslizamento e, por conse-
0
quência, aumentam o limite de Deformação
escoamento do material (limite 0 0,002 Є
de escoamento superior) (AS- Figura 11 - Representação do comportamento elástico e plástico de um material
KELAND; WRIGHT, 2015). Fonte: o autor.
Ductilidade
A ductilidade é uma propriedade mecânica muito importante. Ela é a medida do grau de deformação
plástica suportado por um material antes da fratura. Sua importância se dá principalmente em projetos
de componentes que devem suportar esforços mecânicos, como no caso do processamento de barras,
fios, placas, vigas etc.
UNIDADE 4 119
Duas formas comuns de medir a ductilidade dulo de elasticidade diminuem com o aumento
são utilizadas, sendo uma delas o alongamento da temperatura, enquanto a ductilidade aumenta
percentual, que quantifica a deformação plástica com o aumento da temperatura.
sofrida pelo material até ocorrer a fratura, descon-
siderando a deformação elástica. Para esse cálculo,
são utilizados os valores das distâncias de referên- Resiliência
cia do corpo de prova antes da aplicação da tensão
de tração (l0) e depois da fratura do corpo de prova. A resiliência é a capacidade de um material per-
O cálculo do alongamento percentual pode mitir a recuperação da energia absorvida durante
ser escrito como o processo de deformação elástica, após a remo-
ção da carga. Essa propriedade está associada ao
l f l0 módulo de resiliência, simbolizado por Er, que
% Alongamento % Al 100
l0 é definido como a energia de deformação por
unidade de volume necessária para tensionar o
onde lf é a distância máxima entre os pontos de material desde um estado livre da aplicação de
referência do corpo de prova imediatamente antes cargas (tensões) até o seu limite de escoamento.
da fratura. O cálculo do módulo de resiliência pode ser
Outra forma comum de medida da ductilidade realizado para um corpo de prova submetido a
é a redução percentual de área, que descreve a uma carga de tração uniaxial (ensaio de tração),
redução percentual da área de seção transversal utilizando a seguinte equação
do corpo de prova antes da aplicação da tensão e
e
imediatamente antes da fratura. A equação para Er s d
0
o cálculo da redução percentual de área é:
Assumindo a região de deformação elástica com-
pletamente linear, a relação fica da seguinte forma
A0 − A f
%Redução de Área = % RA = ⋅ 100
A0 1
Er se e
2
onde A0 é a área de seção transversal do corpo de Nas quais σe e ∈e são, respectivamente, a tensão
prova antes do alongamento e Af é a área de se- de tração e a deformação no limite de escoamento
ção transversal do corpo de prova imediatamente (Figura 11). As unidades de Er no SI são J/m³, ou
antes da fratura. seja, energia por volume. Substituindo a Lei de
Os materiais que sofrem uma deformação Hooke na relação anterior, obtemos:
plástica muito pequena ou nenhuma deformação
1 1 se se 2
plástica antes da fratura são denominados frágeis. Er se e se
2 2 E 2E
O limite de escoamento, limite de resistência
à tração e ductilidade são propriedades sensíveis Com esse resultado, vemos que os materiais re-
à presença de impurezas, deformações anteriores silientes são aqueles que possuem módulos de
e tratamentos térmicos aos quais o material tenha elasticidade baixos e limite de escoamento altos.
sido submetido. Quanto à temperatura, o limite de Um exemplo do emprego de materiais resilientes,
escoamento, limite de resistência à tração e o mó- como algumas ligas metálicas, é a mola.
A tenacidade, conhecida também como energia A última propriedade mecânica que iremos estu-
de fratura, representa a quantidade de energia ab- dar nesta unidade é a dureza. Essa propriedade
sorvida por um material antes dele fraturar; dessa é a medida da resistência de um material a uma
forma, em uma curva de tensão-deformação, po- deformação plástica localizada, por exemplo, ris-
demos determinar a tenacidade calculando a área cos em um material.
sob essa curva até o ponto de ruptura (fratura). É Diferentemente das propriedades anteriores,
uma das principais propriedades para os materiais a avaliação da dureza de um material é feita por
estruturais e suas unidades da resiliência, energia meio de ensaios de dureza, que consistem na ava-
por volume (J/m³). Para que um material seja te- liação da resistência da superfície de um material
naz, ele deve ser resistente (módulo de elasticidade à penetração por um objeto rígido. Existem vários
elevado) e dúctil ao mesmo tempo. ensaios de dureza, cada um possui uma metodo-
Na Figura 12, podemos ver a curva de ten- logia diferente de análise e escalas próprias de
são-deformação para um material frágil e para dureza. Por essa razão, os valores de dureza obti-
um material dúctil. Nesse caso, o material frágil dos para cada ensaio são relativos. Os dois mais
apresenta um maior limite de escoamento e limite populares são os ensaios de Brinell e de Rockwell,
de resistência à tração. Entretanto, a área abaixo da que são durezas do tipo penetração; existe ainda
curva para o material dúctil (área rosa) é maior do dureza do tipo risco e dureza do tipo choque ou
que a área abaixo da curva para o material frágil ressalto, que não serão abordadas neste material.
(área roxa), portanto a tenacidade do material No ensaio de Brinell, uma esfera rígida de aço
dúctil é maior do que a tenacidade do material endurecido (ou carbeto de tungstênio) é forçada
frágil. sobre a superfície do material que se deseja de-
terminar a dureza. A esfera de aço possui elevada
dureza (muito superior a 800 HB) e um diâmetro
Material D de 10 mm. O diâmetro da impressão (Di) cau-
Frágil Material sada pela esfera no material é medido, e a dureza
Dúctil
pode ser calculada a partir da equação:
2F
HB
p D D D2 Di 2
Tensão
UNIDADE 4 121
Superfície do
material testado
Profundidade Profundidade
(a) (b)
Figura 13 - Representação da superfície de um material e dos penetradores para o (a) ensaio de Brinell e (b) ensaio de Rockwell
Fonte: o autor.
Para o ensaio de Rockwell, é utilizado, como material Concluímos aqui nossa Unidade 4, na qual
penetrador, uma esfera de aço para os materiais mais foram abordadas as propriedades mecânicas dos
macios e um cone de diamante para os materiais materiais. Pudemos observar que quase todos os
mais duros. A esfera de aço, ou o cone de diamante, equipamentos, estruturas e componentes proje-
são pressionados pela aplicação de uma determina- tados são submetidos a cargas, e que o ensaio de
da carga contra a superfície do material que se de- tração é um dos testes mais importantes no que
seja medir a dureza. Um esquema representativo do diz respeito a dados para projetos estruturais. Dele
ensaio de Rockwell pode ser visto na Figura 13(b). são retiradas muitas informações sobre as pro-
A dureza do material é determinada pelo equi- priedades mecânicas de um material.
pamento de teste de acordo com a profundidade Vimos que um material, quando submetido
atingida pelo material penetrador no corpo de a uma carga, sofre uma deformação, que pode
teste. A dureza de Rockwell é adimensional, ou ser temporária e cessar ao se retirar a carga que a
seja, não possui unidades. originou, deformação elástica, ou pode ser per-
A dureza de um material reflete bem sua resis- manente, persistindo mesmo após a retirada da
tência ao desgaste superficial, e dentre as classes carga que a originou, deformação plástica.
de materiais, os polímeros são os materiais menos A partir desse embasamento, conseguimos de-
duros (mais macios), os metais são intermediários finir, entender e calcular as propriedades mecâ-
na dureza e as cerâmicas são extremamente duras. nicas mais importantes para projetos estruturais,
A propriedade dureza é especialmente importan- são elas: limite de escoamento, limite de resistên-
te em casos nos quais o material empregado na fabri- cia à tração, ductilidade, resiliência e tenacidade
cação de um componente ou equipamento necessita e dureza. Espero que você tenha aproveitado esse
resistir ao desgaste causado durante sua operação, conteúdo, aguardo você na nossa próxima unidade.
por exemplo um moinho de grãos, um triturador de
minérios ou, ainda, os dentes de uma engrenagem
que precisam resistir ao seu uso constante.
123
2. A dureza é uma propriedade importante na metalurgia, utilizada na especificação,
na comparação e nos estudos dos materiais. A respeito da propriedade dureza,
avalie as afirmativas a seguir.
I) Para o ensaio de dureza Rockwell, são utilizados dois penetradores; uma esfera
de aço para os materiais mais macios e um cone de diamante para os materiais
mais duros, que são pressionados contra a superfície do material avaliado.
II) Tanto a dureza Rockwell quanto a dureza Brinell são determinadas pelo
equipamento de teste de acordo com a profundidade atingida pelo material
penetrador no corpo de teste.
III) A dureza é a medida da resistência de um material a uma deformação plástica
localizada, por exemplo, riscos em um material, e ela é avaliada com ensaios
de dureza, que consistem na avaliação da resistência da superfície de um
material à penetração por um objeto rígido.
IV) No ensaio de dureza de Brinell, uma esfera rígida de aço é forçada sobre a
superfície do material que se deseja determinar a dureza e a dureza é cal-
culada de acordo com o diâmetro de impressão deixado por essa esfera na
superfície do material.
124
3. Quando estudamos as propriedades mecânicas dos materiais, devemos ter em
mente que a deformação observada em um material é dependente da tensão
aplicada a esse material; na maioria dos materiais metálicos, por exemplo, a
deformação e a tensão de tração são proporcionais, entre si, para valores de
tensão relativamente baixos. Sabendo disso, qual seria a variação de comprimen-
to (Δl) sofrida por uma peça de cobre, com comprimento original de 400 mm,
causada por uma tensão de tração com intensidade 150 ⋅ 106 Pa, considerando
a deformação totalmente elástica?
a) 0,75 mm.
b) 0,54 mm.
c) 0,35 mm.
d) 0,64 mm.
e) 0,44 mm.
125
WEB
126
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
JAMES, M. G. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Editora Pioneira Thompson Learning, 2003.
127
1. A.
A alternativa IV está incorreta, pois a capacidade de um material de recuperar a energia absorvida, durante
o processo de deformação elástica, após a remoção da carga que gerou essa deformação, é denominado
resiliência.
2. D.
A alternativa II está incorreta, pois a dureza Rockwell é determinada pelo equipamento de teste de acordo
com a profundidade atingida pelo material penetrador no corpo de teste.
3. B.
Uma vez que a deformação é elástica e o material deformado é um metal, podemos utilizar a Lei de Hooke
para solucionar esse problema.
s E
e
l
l0
Então
l
sE
l0
Isolando Δl:
sl0
l
E
O módulo de elasticidade (E) do cobre pode ser encontrado na Tabela 1, e os demais dados foram forne-
cidos no enunciado do exercício:
l 0, 54 mm
128
129
130
Me. Luis Henrique de Souza
Falhas em
Materiais Sólidos
PLANO DE ESTUDOS
Fadiga
Fratura Fluência
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Entender o que é a falha nos materiais, bem como apre- • Entender o que é o mecanismo pelo qual ocorre a falha
sentar os tipos de fratura e a mecânica envolvida neles. por fluência em materiais.
• Estudar a falha por fadiga e o mecanismo pela qual essa
falha ocorre.
Fratura
UNIDADE 5 133
A Figura 1(b) apresenta o perfil mais comum de fratura dúctil, na fície produzida na fratura frágil
qual uma quantidade moderada de empescoçamento é observada é relativamente plana, como po-
antes da fratura. Durante o início do processo de empescoçamento, demos observar na Figura 1(c),
várias cavidades se formam na seção transversal. Na sequência, essas na qual não há nenhuma defor-
cavidades aumentam de tamanho e se encontram umas com as ou- mação plástica apreciável nem
tras, formando uma trinca elíptica, cujo maior raio é perpendicular empescoçamento.
à direção de atuação da tensão. A trinca continua crescendo con- Na maioria dos materiais
forme novas cavidades a alcançam e, por fim, a fratura ocorre pela cristalinos frágeis, a propagação
propagação da trinca ao redor do perímetro externo do pescoço. da trinca é resultado da quebra
sucessiva e repetida de ligações
atômicas ao longo dos planos
cristalográficos no pescoço do
material; a esse processo dá-se o
nome de clivagem. Como as trin-
cas da fratura passam por meio
dos grãos que formam o material,
essa fratura é chamada de trans-
granular ou transcristalina.
Em outros materiais, a pro-
pagação das trincas ocorre ao
longo dos contornos de grãos,
e esse processo recebe o nome
de intergranular e acontece,
geralmente, com materiais que
(a) (b) (c) sofreram algum processo que
causou a baixa da resistência ou
Figura 1 - Representação do comportamento macroscópico de um material
sob fratura
a fragilização das regiões dos
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 202). contornos de grão.
Na temperatura ambiente,
Para um melhor detalhamento sobre o mecanismo de fratura de tanto as cerâmicas cristalinas
um material, deve-se recorrer a análises fractográficas, utilizando quanto as não cristalinas, quase
um microscópio eletrônico de varredura, nas quais é possível obter sempre fraturam antes de sofrer
as particularidades topográficas das superfícies de fratura. qualquer deformação plástica
(fratura frágil) quando subme-
tidas a uma tensão de tração.
Fratura Frágil Os polímeros termofixos, no
geral, também sofrem fratura
Como foi mencionado anteriormente, a fratura frágil ocorre sem frágil, e sua resistência à fratura
uma deformação plástica considerável do material; além disso, ela é menor em relação aos mate-
ocorre pela rápida propagação de uma trinca. O aumento da trinca é riais cerâmicos e metálicos. Já
praticamente perpendicular à direção da tensão aplicada, e a super- nos polímeros termoplásticos, é
A fratura frágil é tão perigosa que, certa vez, um navio-tanque fraturou ao meio como resultado da
ação da turbulência do mar sobre um pequeno entalhe no casco do navio. As tensões causadas pela
turbulência do mar foram amplificadas nas extremidades desse entalhe, o que gerou uma pequena
trinca que foi propagada rapidamente pelo casco e resultou na fratura completa do navio ao meio.
Fonte: adaptado Callister Jr. e Rethwisch (2013).
Mecânica da Fratura
A necessidade de compreender o mecanismo da fratura, para que se possa prever falhas e evitar aci-
dentes, é a motivação do campo da ciência dos materiais, denominado mecânica da fratura, que é o
campo que trata do comportamento dos materiais que contêm trincas, pequenos poros ou microtrin-
cas. Apesar dessas imperfeições estarem presentes nos materiais utilizados em engenharia, isso não
impede a utilização desses materiais. Vale salientar que as imperfeições mencionadas não se referem
aos defeitos dos materiais, como lacunas, discordâncias etc.
A partir da mecânica da fratura, é possível quantificar as relações entre as propriedades dos materiais,
níveis de tensão, presença de imperfeições que possam gerar trincas e entender os mecanismos pelos quais
elas se propagam. Então, durante o planejamento e execução de um projeto, seremos capazes de antecipar
e, dessa forma, prevenir falhas estruturais. Neste tópico, aprenderemos a calcular a tensão máxima que um
material pode suportar caso ele tenha imperfeições de tamanho e geometria conhecidas (ASKELAND;
WRIGHT, 2015).
Concentração de tensões
Quando trabalhamos com materiais, podemos observar que a resistência à fratura teórica calculada
é sempre maior do que a resistência à fratura medida efetivamente (real). Isso se deve ao fato de que,
na superfície e no interior de todos os materiais, existem cavidades ou trincas microscópicas, e elas
contribuem para a diminuição da resistência à fratura do material, visto que uma tensão aplicada sobre
esse material pode acabar amplificada ou mesmo se concentrando na extremidade delas.
UNIDADE 5 135
Esses defeitos (microcavidades e microtrincas) Na Figura 2, podemos verificar uma placa pla-
são, muitas vezes, chamados de concentradores de na com uma trinca no seu interior e uma trinca
tensão, já que são capazes de amplificar uma ten- na sua superfície.
são aplicada sobre eles. Contudo, a amplificação σ
de tensões não acontece somente nesses defeitos
microscópicos, ela também ocorre em desconti-
nuidades internas do material, como vazios ou
inclusões, em fendas, entalhes, arranhões etc.
O efeito de um concentrador de tensões é mais
efetivo em materiais frágeis do que nos materiais
dúcteis, pois em materiais dúcteis, a deformação
plástica começa apenas quando o limite de escoa-
mento é ultrapassado, ocasionando uma distribui-
ção de tensões mais uniforme na vizinhança do
concentrador de tensões, diminuindo o efeito dos
concentradores de tensão em materiais dúcteis. Esse
efeito não ocorre em materiais frágeis em nenhuma
extensão apreciável; por essa razão, os concentrado-
res de tensão têm uma maior influência nos mate-
riais frágeis (ASKELAND; WRIGHT, 2015). σ
A tenacidade à fratura é uma propriedade que O fator geométrico Y vale 1,0 para o caso do
mede a resistência de um material a uma fratura material ser uma placa plana contendo trincas
quando uma trinca está presente. Ela é calculada de comprimentos muito menores que a largura
pela relação da placa. Já para o caso de uma trinca localiza-
da na borda (superfície) da placa, o valor de Y é
K c = Y σc π a aproximadamente 1,1. Além disso, existem várias
fórmulas complexas para o cálculo do fator geo-
na qual Kc é a tenacidade à fratura; Y é um fator métrico Y, que dependem da geometria da trinca
geométrico que depende do tamanho, da geome- e do material em questão, contudo não vamos nos
tria e da localização da trinca em relação à super- aprofundar nesse assunto.
fície do material; σc é a tensão crítica necessária Para o caso particular de placas cuja espessura
para a propagação de uma trinca; e α é o tamanho é muito maior que as dimensões da trinca, o pa-
da trinca, que é a metade do diâmetro maior da râmetro Kc é independente da espessura da placa;
trinca, como podemos observar na Figura 2. As essa condição recebe o nome de deformação pla-
unidade de Kc são MPa/ m ; Y é adimensional; na. Nesse caso, quando uma tensão atua em uma
e α possui unidade de m no SI. trinca, da forma como está representado na Figura
K Ic = Y σ πa (a) (b)
Tabela 1 - Dados de tenacidade à fratura em deformação plana e limite de escoamento para alguns materiais à temperatura ambiente
Concreto 0,2-1,4 -
UNIDADE 5 137
A tenacidade à fratura em deformação plana, Nessa situação, na qual dois parâmetros são
KIc, é um parâmetro fundamental dos materiais, definidos, como os valores de KIc e α, o terceiro
especialmente em projetos estruturais, e ela de- parâmetro, nesse caso a tensão aplicada σ, é de-
pende de muitos fatores, dentre eles, os de maior pendente deles e obtido das equações
influência são a temperatura, a taxa de deforma-
ção e a microestrutura do material. K Ic = Y σ πa
O valor de KIc:
• Diminui com a diminuição da tempe- Então, isolando-se o parâmetro que deve ser
ratura. calculado, nesse caso a tensão aplicada σ, obtemos
• Diminui com o aumento da taxa de de-
K Ic
formação. σ=
Y πa
• Aumenta com a diminuição do tamanho
dos grãos que formam o material, desde Seguindo o mesmo raciocínio, se a tensão apli-
que as demais propriedades microestru- cada σ e a tenacidade à fratura em deformação
turais sejam mantidas constantes. plana KIc forem definidos no projeto, o tamanho
máximo da trinca admissível para esse projeto
De acordo com o que vimos até agora sobre a pode ser calculada pela relação
mecânica da fratura, pudemos perceber que a te- 2
1K
nacidade à fratura (Kc) ou tenacidade à fratura em a Ic
π σY
deformação plana (KIc), a tensão aplicada (σ) e o
tamanho da trinca (α) são variáveis fundamentais Devido à importância do estudo sobre fraturas,
para projetos estruturais. principalmente na manutenção de equipamen-
Então, assumindo que o valor de Y já tenha tos já em serviço, muitas técnicas não destrutivas
sido determinado, é importante definir quais das de avaliação de defeitos (trincas), tanto internos
variáveis apresentam restrições à sua aplicação e quanto superficiais, foram desenvolvidas. A partir
quais serão controladas pelo projeto. Por exemplo, delas, é possível analisar componentes estruturais
os valores de KIc (ou Kc) dependem dos materiais que estão em serviço, na busca por defeitos que
selecionados para o projeto que, por sua vez, são possam ocasionar uma falha prematura. Algumas
escolhidos de acordo com fatores, como a massa dessas técnicas devem ser realizadas em laborató-
específica, para aplicações que exigem baixo peso; rio, contudo, muitas delas podem ser conduzidas
e resistência à corrosão, para situações em que o no próprio ambiente em que o componente en-
material ficará exposto a um ambiente severo etc. contra-se operando.
Além disso, o tamanho da trinca, α, do material A seguir, vamos ver um exemplo da aplicação
a ser estipulado ou medido. da equação da tenacidade à fratura em deforma-
ção plana para a determinação do tamanho má-
ximo da trinca para que o material não frature
(CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013; SHAC-
KELFORD, 2013).
Resolução
Como foi dito, a chapa de aço possui grandes di-
mensões, e a trinca está localizada na superfície
dessa chapa, portanto, podemos assumir o parâ-
metro Y = 1,1. Então, utilizaremos a relação
2
1K
a Ic
π σY
Substituindo os valores do enunciado na equação,
obtemos
2
1 87, 9 MPa m
a
p (310 MPa)(1, 1)
2
1 87, 9 MPa m
a
p (310 MPa )(1, 1)
2
1 87, 9 m
a
p (310)(1, 1)
1
2
a 0, 2578 m
p
a 0, 021 m = 21 mm
UNIDADE 5 141
σ
Além disso, temos o intervalo de
Compressão Tração tensões, simbolizado por σi, que
+
é a diferença entre a tensão má-
Tensão
σ
si smáx smín
Tempo
A amplitude de tensão, σa,
(a)
que equivale à metade do in-
σ
tervalo de tensões σi.
si smáx smín
σ sa
σ 2 2
Compressão Tração
+
σ
E, por fim, temos a razão de ten-
Tensão
0
σ sões, R, definida como a razão en-
tre as tensões máxima e mínima.
-
Tempo
(b) smáx
R=
smín
Compressão Tração
Por fim, na Figura 4(c), podemos ver o último tipo de ciclo que é A resistência à fadiga, assim
o ciclo de tensões aleatórias; neste podemos ver que as tensões como outras propriedades me-
de máximo e mínimo variam de forma não regular o tempo todo cânicas, pode ser determinada a
a cada ciclo, não mantendo padrão algum. O estudo desse tipo de partir de ensaios de laboratório,
ciclo é complexo devido ao seu caráter totalmente aleatório. nos quais o aparato de laborató-
Especificamente para o ciclo de tensões repetidas (Figura 4(b)), rio utilizado simula as condições
alguns parâmetros são definidos: o primeiro deles é a tensão média de tensão em serviço nas quais
σm que é a média entre a tensão máxima, smáx , e a tensão mínima, o componente será submetido
smín , do ciclo. quando estiver em operação.
smáx smín A avaliação do material con-
sm
2 siste em uma série de ensaios
UNIDADE 5 143
Amplitude de tensão, S
Limite de
resistência à
fadiga
Normalmente, na literatura, as curvas S-N são valores médios, pois a dispersão de dados em ensaios
de fadiga é muito grande. Para corpos de prova idênticos sob o mesmo nível de tensão, os valores de
N podem variar amplamente, devido a vários fatores,10como 10 a 10
fabricação
10 10 do 10 corpo
10 de
10 teste, variáveis 3 4 5 6 7 8 9 10
metalúrgicas, alinhamento do corpo de prova no equipamentoCiclos de teste, entre outros. Por essa razão,
até a falha, N
(a)
são utilizados dados médios para as curvas S-N.
Amplitude de tensão, S
Amplitude de tensão, S
S1
Limite de
resistência à
fadiga S2
N1 N2
103 104 105 106 107 108 109 1010 103 104 105 106 107 108 109 1010
Ciclos até a falha, N Ciclos até a falha, N
(a) (b)
EfeitosS do Ambiente 1
S2
O ambiente ao qual o componente está inserido Outra falha muito comum que pode ocorrer
influencia na vida em fadiga desse material. Nesse relacionada ao ambiente é a fadiga associada à
âmbito, temos a chamadaN
fadiga
N
térmica, que 1 2 corrosão, que é uma falha resultante da ação de
10 10 10 10 10 10 10 10 3 4 5 6 7 8 9 10
Ensaio de Fluência
UNIDADE 5 145
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
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Encruamento ou endurecimento é o fenômeno no qual um metal dúctil torna-se mais duro e resis-
tente conforme é deformado plasticamente. A maioria dos metais encrua a temperatura ambiente.
Recuperação é o processo no qual o material libera uma parcela da energia armazenada durante a
deformação (encruamento), tem a sua dureza reduzida e retém a sua habilidade de sofrer deformação.
A Figura 6 mostra o comporta- near da curva de deformação por tempo). A constância da taxa
mento de um metal em fluên- de deformação é resultado de um equilíbrio entre os processos
cia. Primeiramente, é observada concorrentes de encruamento e recuperação.
uma deformação instantânea,
Ruptura
totalmente elástica, do material, x
causada no instante inicial de
Deformação por fluência, э
No fenômeno da fluência, podemos observar que tanto a temperatura quanto a tensão (carga) apli-
cada ao material influenciam no processo; dessa forma, um aumento da temperatura ou da tensão
acarretará:
• Um aumento na deformação instantânea (deformação elástica) resultante da aplicação da
tensão.
• Um aumento na taxa de fluência estacionária (Δ∈/Δt).
• Uma diminuição no tempo de vida até a ruptura por fluência.
Esses efeitos podem ser observados na Figura 7 a seguir, que apresenta o efeito da temperatura e da
tensão sobre o comportamento das curvas deformação por tempo para o fenômeno de fluência.
x < <
σ < σ < σ
Deformação por fluência
ou σ x
ou σ x
ou σ
< 0.4
Tempo
Figura 7 - Representação dos efeitos da temperatura e tensão sobre o comportamento de fluência de um material
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 229).
Os resultados dos ensaios de fluência são comumente apresentados na forma de gráficos do logaritmo
da tensão por logaritmo do tempo de vida até a ruptura. Na Figura 8, temos três curvas do logaritmo
da tensão por logaritmo do tempo de vida até a ruptura de uma liga de carbono e níquel, para as tem-
peraturas de 427 °C, 538 °C e 649 °C.
UNIDADE 5 147
400 60
300 40
200 30
427ºC (800ºF)
Tendo em mão essas curvas (como a da Figura 8) a falha de um componente pode acontecer, mesmo
para o material que se deseja utilizar, podemos quando o seu limite de escoamento não é ultrapas-
determinar o tempo de vida até a ruptura em uma sado, caso esse componente seja submetido a uma
determinada temperatura quando submetido a aplicação repetitiva de tensões dinâmicas e variáveis.
uma determinada tensão. Por fim, na falha por fluência, temos que um
Nesta unidade, nós iniciamos os nossos traba- componente operando a altas temperaturas pode
lhos a partir do estudo das falhas em componen- sofrer deformações permanentes quando subme-
tes, onde aprendemos a diferenciar uma fratura tido a uma tensão, mesmo que essa tensão seja
frágil de uma fratura dúctil. Além disso, vimos inferior ao limite de escoamento desse material.
que alguns fatores, como microtrincas, podem Todos esses tipos de falhas são importantes
acarretar a concentração de tensão aplicadas em durante o projeto de componentes, especialmente
componentes. no projeto de componentes estruturais. Essas fa-
Vimos, também, os fenômenos da fadiga e da lhas devem ser evitadas a todo custo, devido aos
fluência. Em relação à falha por fadiga, vimos que diversos prejuízos que elas podem causar.
A fluência deve ser considerada em projetos de reatores, caldeiras, motores e outros componentes
que operam a altas temperaturas por longos períodos de tempo. Contudo, materiais como o aço e
o concreto sofrem uma ligeira fluência mesmo em temperaturas próximas a ambiente.
Fonte: James (2003, p. 17).
149
2. A fadiga é um tipo de falha que pode ocorrer nos materiais quando são subme-
tidos a esforços cíclicos. Sob essas condições, é possível que ocorra a fratura do
material mesmo que ele esteja submetido a uma tensão inferior ao seu limite
de escoamento.
A capacidade de resistir a esse tipo de falha é dada em termos do parâmetro
resistência à fadiga, que, por sua vez, dependente de algumas variáveis. Sobre
a falha por fadiga e a resistência à fadiga de um material, avalie as afirmações
a seguir:
I) A primeira etapa da falha por fadiga é o surgimento de uma pequena trinca
na superfície do material logo após o componente ser posto em serviço.
II) Na segunda etapa, as trincas formadas na primeira etapa começam a se pro-
pagar, gradualmente, a cada novo ciclo, ao qual o componente é submetido.
III) A trincas surgem em locais de descontinuidade da superfície do material,
como, por exemplo, em entalhes, poros e, até mesmo, em contornos de grãos.
IV) A terceira etapa da falha por fadiga corresponde à fratura súbita do com-
ponente, isso ocorre quando a seção resistente está muito reduzida para
suportar mais um ciclo de carregamento.
150
3. A fratura é um tipo de falha que ocorre nos materiais sólidos e consiste na se-
paração do componente em duas ou mais partes como resultado da aplicação
de uma tensão contínua, cuja intensidade pode ser constante ou variável. Com
relação à teoria de falhas por fratura ocasionadas por uma tensão de tração,
leia as afirmativas a seguir.
I) Na fratura dúctil de um material, há uma deformação plástica significativa
antes do material fraturar.
II) Na fratura frágil de um material, há pouca, ou nenhuma, deformação plástica
antes do material fraturar.
III) Em materiais que sofrem fratura frágil, a deformação plástica observada serve
de alerta, permitindo medidas preventivas.
IV) Em materiais que sofrem fratura dúctil, após formadas as trincas, elas se
propagam continuamente mesmo que a tensão de tração que as gerou não
seja aumentada.
151
LIVRO
152
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
BEER, F. P.; JOHNSTON JR. E. R. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2009.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
JAMES, M. G. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Editora Pioneira Thompson Learning, 2003.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.
153
1. E.
A alternativa III está incorreta, pois um aumento na temperatura do material acarretará um aumento na
taxa de fluência estacionária (Δ∈/Δt).
2. C.
A alternativa I está incorreta, pois a falha por fadiga ocorre em três etapas, sendo a primeira etapa o sur-
gimento de uma pequena trinca na superfície do material após um longo período de aplicação cíclica de
tensões.
3. A.
A alternativa III está incorreta, pois em materiais que sofrem fratura dúctil, a deformação plástica observada
serve de alerta, permitindo medidas preventivas.
A alternativa IV também está incorreta, pois materiais que sofrem fratura frágil, após formadas as trincas,
propagam-se continuamente mesmo que a tensão de tração que as gerou não seja aumentada.
154
155
156
157
158
Me. Luis Henrique de Souza
Diagrama de Fases
PLANO DE ESTUDOS
Diagrama
de fases binário
Conceituação Sistema
básica ferro-carbono
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Definir os termos comuns utilizados no estudo de diagra- • Conhecer o diagrama de fases do sistema ferro-carbeto de
mas de fases. ferro e identificar as transformações de fases que ocorrem
• Estudar os diagramas de fases para sistemas isomorfos nesse sistema.
e eutéticos e aprender a determinar as fases, suas quan-
tidades relativas e suas composições.
Conceituação
Básica
Quanto à definição dos sistemas, dizemos que um sistema é homogêneo caso esse sistema seja com-
posto por apenas uma fase. Da mesma forma, um sistema é dito heterogêneo caso ele seja formado
por duas ou mais fases.
Componente: substância química distinta que forma a fase. Por exemplo, a fase água líquida pura
é formada apenas por um componente, a água; já a fase água com açúcar é formada por dois com-
ponentes, a água e o açúcar. Esses conceitos de fase se estendem aos sólidos; para uma barra de liga
cobre-níquel, por exemplo, temos uma única fase que é composta pelos componentes cobre e níquel.
Solubilidade ilimitada: para alguns sistemas, por exemplo níquel fundido (líquido) e cobre fundido
(líquido) ou água e álcool, para qualquer concentração de um componente no outro – níquel fundido
em cobre fundido ou água em álcool –, o sistema sempre apresentará apenas uma fase. Isso ocorre
porque a solubilidade do níquel em cobre e do álcool em água é ilimitada, ou seja, independente das
quantidades de um componente misturadas no outro, o sistema resultante apresentará apenas uma
fase, desde que os componentes envolvidos sejam completamente solúveis um no outro.
Para o caso de solidificação de componentes com solubilidade ilimitada (solidificação do sistema
níquel e cobre, por exemplo), o sólido formado constitui uma solução sólida, cujas propriedades
físicas, a estrutura e a composição são uniformes por toda a fase sólida formada.
Solubilidade limitada: entretanto, na maioria dos casos, a solubilidade de um componente em
outro não é ilimitada. Nesses casos, existe um limite de solubilidade de um componente no outro. Se
misturarmos esses componentes em concentrações que não ultrapassem esse limite de solubilidade,
ocorrerá a formação de apenas uma fase. Entretanto, quando a adição de um dos componentes ultra-
passa o limite de solubilidade, ocorre a formação de uma nova fase.
Um exemplo desse comportamento é a mistura dos componentes água e sal. Se adicionarmos uma
pequena quantidade de sal em água e agitarmos, o sistema formado possuirá apenas uma fase, água
salgada. Entretanto, se continuarmos a adicionar sal a esse sistema, após uma determinada quantidade,
ocorrerá a formação de uma nova fase nesse sistema, uma fase de sal sólido. Todo o sal que formou
essa nova fase do sistema é o sal excedente ao limite de solubilidade do sal em água.
Sendo assim, todo sistema formado por componentes de solubilidade limitada possui um limite
de solubilidade definido, que depende dos componentes que o formam. Além disso, o limite de solu-
bilidade é dependente da temperatura, ou seja, ele varia conforme a temperatura varia (ASKELAND;
WRIGHT, 2015).
UNIDADE 6 161
Equilíbrio de Fases
Um sistema é dito em equilíbrio quando sua energia livre é mínima para uma combinação específica
de temperatura, pressão e composição. Essa energia livre é uma função termodinâmica relacionada à
energia interna do sistema e ao grau de desordem dos seus átomos ou moléculas constituintes (entropia).
Macroscopicamente, observa-se, em um sistema em equilíbrio, que as características desse sistema
não mudam ao longo do tempo, isto é, elas permanecem as mesmas indefinidamente, o sistema é
estável. Contudo, qualquer alteração, seja na temperatura, pressão ou composição desse sistema em
equilíbrio, resultará num aumento na energia livre e o sistema buscará um novo estado de equilíbrio.
Os sistemas trabalhados quase sempre são constituídos de duas ou mais fases (sistemas heterogê-
neos) e, nesse âmbito, empregamos o termo equilíbrio de fases para nos referirmos ao equilíbrio entre
as diversas fases que constituem um sistema a uma temperatura, pressão e composição determinadas.
Pense em um sistema formado por açúcar dissolvido em água e, também, açúcar sólido como corpo
de fundo devido ao limite de solubilidade ter sido ultrapassado. Esse sistema possui duas fases distintas,
açúcar + água e açúcar sólido no fundo, que estão em equilíbrio a uma certa temperatura, pressão e
composição (concentração). Caso seja aumentada a temperatura desse sistema, este sairá do estado
de equilíbrio, pois esse aumento da temperatura aumentará o limite de solubilidade do açúcar na água
e, consequentemente, uma quantidade maior de açúcar pode ser dissolvida na água. Em decorrência
dessa perturbação do equilíbrio, o sistema buscará um novo estado de equilíbrio que será alcançado
quando parte do açúcar sólido do fundo se dissolver na fase água + açúcar, até que o novo limite de
solubilidade, nessa nova temperatura, seja alcançado.
Esse exemplo ilustra bem o princípio do equilíbrio de fases para sistemas líquido-sólido. Já em sis-
temas metalúrgicos e de outros materiais, o estado de equilíbrio do sistema é também um reflexo das
microestruturas envolvidas, ou seja, dos arranjos espaciais dos átomos e quantidades relativas das fases.
O equilíbrio de fases para sistemas sólidos é dito metaestável, pois, muitas vezes, o equilíbrio propria-
mente dito nunca é alcançado. Contudo, esse equilíbrio metaestável pode persistir por um período de
tempo longo o suficiente para que as alterações do sistema sejam praticamente imperceptíveis durante
a vida útil da peça ou componente. Além disso, em muitos casos, as estruturas metaestáveis são mais
importantes que estruturas em equilíbrio, como é o caso de alguns tipos de aço e ligas de alumínio
nos quais suas resistências dependem do desenvolvimento de estruturas metaestáveis em tratamentos
térmicos cuidadosamente projetados.
Portanto, além do conhecimento dos estados de equilíbrio e das estruturas, é importante sabermos
também da velocidade (taxa) com a qual essas estruturas são estabelecidas e os fatores que influenciam
essa velocidade (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013).
Pressão (atm)
(Água)
(Gelo)
2 A 3
sições etc.) e as microestruturas 1
C D
de um sistema por meio da re-
0,1
gra de fases de Gibbs (SHAC-
O Gás
KELFORD, 2013). 0,01
(Vapor d’água)
O diagrama de fases é uma 0,0001
-20 0 20 40 60 80 100 120
ferramenta extremamente útil
quando se trabalha com o con- Temperatura (ºC)
trole de estruturas de um sis- Figura 1 - Diagrama de fases pressão-temperatura para a água pura
tema para a produção de um Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013).
material. Como vimos anterior-
mente, o estado de equilíbrio de um sistema é definido para uma combinação de temperatura, pressão e
composição; dessa forma, os diagramas de fases são mapas construídos a partir de várias combinações
desses parâmetros uns com os outros na forma de diagramas. Neste tópico, iniciaremos os estudos dos
diagramas de fases, começando pelo diagrama de fases de um componente.
UNIDADE 6 163
qualquer mudança de fase. Quando alcançamos a
temperatura de 0 °C (fronteira entre a fase sólida e
líquida), inicia-se a transformação da água da fase
sólida para fase líquida, e durante esse processo a
temperatura permanece constante em 0 °C.
Após toda a água passar da fase sólida para a
fase líquida, a temperatura dessa água na fase líqui-
da volta a subir até 100 °C. Nesse ponto, ela toca a
curva de equilíbrio entre a fase líquida e a fase ga-
sosa e, novamente, acontece uma mudança de fase,
agora, da água na fase líquida para a água na fase
gasosa, à temperatura constante de 100 °C. Após
toda a água da fase líquida ter se transformado
em água na fase gasosa, a temperatura do sistema
volta a subir até alcançar os 110 °C à 1 atm, ponto
D (Figura 1), no qual existe água na fase gasosa
(vapor d’água).
Um fato interessante mostrado no diagrama é o
ponto de intersecção das três curvas, chamado de
ponto triplo (ponto O na Figura 1). No ponto tri-
plo, as três fases – sólida, líquida e gasosa – coexis-
tem em equilíbrio. Esse ponto é invariável e fixado
por valores definidos de pressão e temperatura.
UNIDADE 6 165
É importante lembrarmos que todos os dia- Os sistemas isomorfos são caracterizados de-
gramas binários estão relacionados a sistemas vido ao fato da completa solubilidade dos seus
com apenas dois componentes, e o eixo das ab- componentes entre si (solubilidade ilimitada) nos
cissas (eixo horizontal, ou eixo x) sempre estará estados líquido e sólido. Esse comportamento é
relacionado a um dos componentes. Na Figura 2, resultado desses componentes terem a mesma
por exemplo, o sistema é composto por cobre e estrutura cristalina, possuírem raio atômico e ele-
níquel, entretanto, o eixo horizontal diz respeito à tronegatividade praticamente iguais e valências
concentração de níquel (de 0%p Ni até 100%p Ni) semelhantes.
no sistema. Uma vez que os sistemas binários são No diagrama de cobre-níquel (Figura 2), po-
sempre compostos por apenas dois componentes, demos ver claramente três regiões distintas: a re-
a soma das concentrações dos dois componentes gião superior, que é a região de líquido (L); a re-
tem, obrigatoriamente, que ser 100%, então, um gião entre as curvas, que é uma região bifásica
sistema cobre-níquel com uma concentração de (duas fases) de coexistência da fase sólida alfa e
40%p Ni, necessariamente, terá uma concentração da fase líquida ( a +L); e a região inferior, que é a
de 60%p Cu, cuja soma dá 100%. região da fase sólida alfa ( a ).
Composição %p Ni
0 20 40 60 80 100
1600
2800
1500
Líquido 1453 ºC
2600
1400
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºF)
1200 α 2200
1100 2000
1085 ºC
1000
0 20 40 60 80 100
Figura 2 - Diagrama de fases binário para o sistema isomorfo cobre-níquel à pressão de 1 atm
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246).
Para determinar quais fases estão presentes, devemos, primeiramente, localizar no diagrama de fases o
ponto de estado referente à temperatura e composição do sistema estudado e observar em qual região
encontra-se esse ponto. Em sistemas formados por cobre e níquel (diagrama da Figura 3(a)), pontos
acima da linha liquidus representam sistemas formados somente pela fase líquida (L), da mesma forma
que pontos abaixo da linha solidus representam sistemas formados somente pela a fase sólida alfa ( a ).
Por exemplo, para um sistema de composição 60%p Ni - 40%p Cu, a 1100 °C, representado pelo
ponto A no diagrama de fases (Figura 3(a)), vemos que o ponto se encontra abaixo da linha solidus
no diagrama; portanto, esse sistema apresenta apenas uma fase, a fase sólida a .
Para pontos localizados entre as linhas liquidus e solidus, coexistirão, em equilíbrio no sistema,
ambas as fases que circundam a região a +L, ou seja, a fase sólida alfa e a fase líquida.
UNIDADE 6 167
Quantidades relativas de cada fase
Quando o sistema estudado cai nas regiões de • Passo 3: dividir a linha de amarração em
uma única fase (monofásica), as quantidades re- duas exatamente no ponto que representa
lativas são sempre 100% da fase, assim, se o pon- o sistema. A parte à direita chamará S e a
to que representa o sistema está localizado na parte à esquerda chamará R, como pode-
região de líquido (L), esse sistema possui uma mos ver na Figura 3(b), e os valores de S e
quantidade relativa de 100% da fase L. Da mesma R são calculados:
forma, se o ponto que representa o sistema está
S = CS - C0 R = C0 - CR
localizado na região sólida a , esse sistema possui
S + R = CS - C R
uma quantidade relativa de 100% da fase a .
Contudo, quando o ponto estiver na região • Passo 4: a quantidade relativa (em fração) da
entre as curvas (região a + L), vimos que existi- fase à esquerda, Wesquerda, (para o ponto B, a
rão ambas as fases, a e L, em equilíbrio. Nesse fase líquida L) é calculada dividindo o com-
caso, é importante determinarmos as quantidades primento S pelo comprimento total da linha
relativas de cada uma dessas fases em equilíbrio. de amarração, ou seja, S+R. E a quantidade
Esse cálculo pode ser realizado a partir do dia- relativa (em fração) da fase à direita, Wdireita
grama de fases dos componentes. Para os pontos (para o ponto B, a fase a ) é calculada divi-
na região bifásica, devemos utilizar a regra da ala- dindo o comprimento R pelo comprimento
vanca para determinar as quantidades relativas de total da linha de amarração S+R.
cada fase. Supondo que o sistema em estudo seja
S C -C
o representado pelo ponto B (Figura 3(b)), cuja Wesquerda = = S 0
S + R CS - C R
temperatura é 1250 °C, e a composição global do
sistema (ou simplesmente composição do siste- R C -C
Wdireita = = 0 R
ma) é de 35%p Ni, os passos para a utilização da S + R CS - C R
regra da alavanca são:
• Passo 1: marcar no diagrama o ponto que • Passo 5: as quantidades relativas em por-
representa o sistema analisado. No caso centagem de cada fase são obtidas pela
do ponto B, as coordenadas são 1250 °C multiplicação das frações das fases por 100.
e 35%p Ni. CS - C0
• Passo 2: criar uma linha horizontal, cha- % da fase à esquerda= Wesquerda × 100 = × 100
CS - C R
mada linha de amarração, que liga o ponto
marcado no passo anterior às curvas mais C0 - CR
% da fase à direita= Wdireita × 100 = × 100
próximas a ele. Essa linha de amarração é CS - C R
uma isoterma (linha de temperatura cons-
tante) cuja temperatura é a temperatura do As linhas de amarração não são utilizadas em re-
sistema. Nesse caso, a linha de amarração giões monofásicas, pois, não existem duas fases
liga o ponto às linhas liquidus e solidus. para serem unidas.
0 20 40 60 80 100
1600
2800
1500
Líquido 1453 oC
2600
1400
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºF)
Linha Liquidus Linha Solidus 2400
1300 α+
1200 2200
α
1100 2000
1085 oC
1000
0 20 40 60 80 100
Líquido
1300
Temperatura (ºC)
Linha de
amarração α + Líquido
α + Líquido α
1200
20 30 40 50
Composição %p Ni
(b)
Figura 3 - Diagrama com pontos representando sistemas cobre-níquel à pressão
de 1 atm
Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246).
UNIDADE 6 169
Os comprimentos R e S utilizados na regra da alavanca (passo 3) podem, também, ser determinados
medindo-se as linhas R e S no diagrama de fases com uma régua. E esses valores obtidos podem ser
utilizados para calcular as frações Wesquerda e Wdireita do sistema.
Na Figura 3(b), temos o exemplo de uma liga de composição global 35%p Ni- 65%p Cu a 1250 °C
(Passo 1), cujo ponto que representa essas coordenadas é o ponto B, que se encontra na região entre as
linhas liquidus e solidus (região bifásica a +L); portanto, esse sistema possui duas fases, a fase líquida
L e a fase a , em equilíbrio.
Para a determinação das quantidades relativas de cada fase para esse exemplo, devemos utilizar a
regra da alavanca. Então (Passo 2), traçamos a linha de amarração ligando o ponto B às linhas liquidus
e solidus, na temperatura do sistema (1250 °C).
Na sequência (Passo 3), dividimos a linha de amarração em duas partes, R e S, separadas pelo ponto
B. Os valores de R, S e R+S são:
S = CS - C0 = 43 - 35 R = C0 - CR 35 31
S + R = CS - CR 43 31
Então,
S=8 R=4
S + R = 12
(Passo 4) Para o sistema representado pelo ponto B, a fase à esquerda é a fase líquida L, e a fase à direita
é a fase sólida a, então:
S 8
Wesquerda = WL =
S R 12
R 4
Wdireita = Wa =
S R 12
S
WL = 0, 6667
SR
R
Wa = 0, 3333
SR
Esse resultado indica que o sistema representado pelo ponto B possui duas fases, e 66,67% desse sis-
tema está na fase líquida L e os 33,33% estão na fase sólida a .
Além das quantidades relativas das fases, é importante determinarmos a composição dessas fases,
ou seja, a concentração ou porcentagem de cada componente dentro de cada fase. Para que isso seja
possível, primeiramente, devemos encontrar o ponto temperatura-composição, no diagrama de fases,
que representa o sistema analisado.
Caso esse ponto esteja localizado em uma região monofásica, a composição ou porcentagem dos
componentes na fase são determinados pela concentração global C0, para o sistema representado pelo
ponto A na Figura 3(a), por exemplo, a C0 é lida diretamente no ponto A e vale 60%p Ni. Portanto, a
composição da fase sólida a para o ponto A é a própria composição global do sistema, que é 60%p Ni.
E como só temos dois componentes constituindo esse sistema (níquel e cobre), o restante será cobre,
ou seja, 40%p Cu.
Já para um ponto localizado em uma região bifásica, a determinação da composição das fases é
feita utilizando os interceptos da linha de amarração criada no Passo 2 descrito anteriormente. O
intercepto da linha de amarração com a curva à direita fornece a concentração CS e o intercepto da
linha de amarração com a curva à esquerda fornece a concentração CR. Essas concentrações CS e CR
são, respectivamente, as composições das fases à direita e à esquerda.
Para o sistema representado pelo ponto B, na Figura 3(b), CS=43%p Ni é a composição de níquel
na fase sólida a (à direita), e CR=31%p Ni é a composição de níquel na fase líquida L (à esquerda).
Então, para o ponto B, dizemos que a composição da fase a é 43%p Ni – 57%p Cu e a composição da
fase líquida L é 31%p Ni – 69%p Cu.
O diagrama de fases eutético binário é outro tipo de diagrama de fases binário muito comum, cuja
característica principal é que os componentes do sistema possuem solubilidade limitada na fase sólida.
O sistema cobre-prata (Figura 4) representa bem o comportamento eutético.
UNIDADE 6 171
Esse diagrama é um pouco mais complexo, pois nele existem três regiões monofásicas e três regiões
bifásicas. As regiões monofásicas são as regiões das fases sólidas a e b e a região da fase líquida L. A
fase a é uma fase sólida rica em cobre de estrutura CFC, contendo prata como soluto. Já a fase b é rica
em prata, com estrutura CFC também, e cobre como soluto. Além disso, a fase a pode ser constituída
puramente de cobre (0%p Ag) e a fase b puramente de prata (0%p Cu). A última região monofásica
é a região da fase líquida L, na qual o sistema prata-cobre encontra-se fundido.
As três regiões de coexistência de duas fases em equilíbrio (bifásicas) são as regiões a +L (fase a
e fase líquida), b +L (fase b e fase líquida) e a + b (fase a e fase b ). As quantidades relativas das
fases e as composições dessas fases podem ser determinadas utilizando os mesmos procedimentos
descritos para os diagramas de fases isomorfos.
No diagrama eutético do cobre-prata (Figura 4), a curva AB que separa a fase a da fase a +L é
chamada de linha solidus, assim como a linha FG que separa a fase b da fase b +L. As linhas BC e
GH que separam, respectivamente, as fases a da fase a + b e a fase b da fase a + b são denomina-
das linhas solvus. Por fim, temos as linhas liquidus, AE e EF, que separam a fase líquida L da fase a
+L e a fase líquida da fase b +L. As linhas liquidus se encontram no ponto E, conhecido como ponto
invariante e determinado pelas coordenadas de temperatura TE e composição CE, que para o sistema
cobre-prata valem, respectivamente, 779 °C e 71,9%p/p Ag.
1200 2200
2000
Liquidus Líquido
1000
1800
Solidus
α + 1600
α 779 ºC () β+
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºF)
800
8,0 71,9 91,2 β 1400
(α) () (β)
1200
600
Solvus 1000
α+ β 800
400
600
200 400
0 20 40 60 80 100
(Cu) Composição (%p Ag) (Ag)
Outra característica interessante dos sistemas eutéticos é que, ao longo de toda a curva BEG (chamada
de isoterma eutética), as três fases ( a , b e L) coexistirão em equilíbrio no sistema (CALLISTER JR.;
RETHWISCH, 2013).
Os sistemas eutéticos existem, também, nos materiais cerâmicos e são muito importantes nesses
materiais; a sílica (SiO2) e a alumina (Al2O3), por exemplo, constituem um sistema com uma reação
eutética à temperatura de 1587 °C. A partir do diagrama Al2O3- SiO2, é possível a fabricação de produtos
como os vidros VycorTM e Pyrex®.
Os diagramas de fases e os princípios que regem o equilíbrio entre as fases é ditado pelas leis da ter-
modinâmica. Para o nosso estudo, é importante conhecer uma dessas leis, em especial, a regra de fases
de Gibbs, que dita o número de fases que podem coexistir em um sistema em equilíbrio. A regra de
fases de Gibbs é matematicamente expressa pela equação
N C F P
UNIDADE 6 173
em que P representa o número de fases presentes, Portanto, para que esse sistema esteja completa-
F é o número de graus de liberdade (número de mente definido, é necessário estabelecermos, além
variáveis controladas externamente, por exemplo da composição global, a sua temperatura.
temperatura, pressão e composição), C é a quanti- Para as regiões bifásicas do diagrama binário
dade de componentes que compõem o sistema, e N cobre-prata (Figura 4), P vale 2, pois em cada uma
é o número de variáveis que não são relacionadas delas coexistem duas fases em equilíbrio, logo
à composição, por exemplo, temperatura e pressão.
N C F P
2 1 F 2
F 1
Tenha sua dose extra de
conhecimento assistindo ao Portanto, nesse caso, o sistema (a liga) é com-
vídeo. Para acessar, use seu pletamente especificado utilizando apenas um
leitor de QR Code. parâmetro, que pode ser a temperatura ou a com-
posição de uma das fases. Por exemplo, para uma
liga a 900 °C na região bifásica a +L. Sabendo a
Vamos analisar o diagrama de fases binário mos- temperatura (900 °C, por exemplo), as compo-
trado na Figura 4, nele sabemos que a pressão é sições estarão estabelecidas pela linha de amar-
constante e vale 1 atm, portanto, a única variável, ração nessa temperatura e, aplicando os passos
independente da composição, é a temperatura, ensinados anteriormente, poderemos determinar
nesse caso N = 1. O número de componentes no que as composições da fase a são, aproximada-
diagrama binário é dois; no nosso caso, a prata e mente, 8%p Ag - 92%p Cu, e da fase L são 42%p
o cobre, então C = 2. Ag - 58%p Cu.
Para as regiões monofásicas do diagrama bi- Vamos imaginar, agora, um sistema trifásico,
nário cobre-prata (Figura 4), P vale 1, pois temos contendo as fases L, a e b , isso só ocorre sobre
apenas uma fase, logo a linha BEG do diagrama (isoterma eutética) da
N C F P Figura 4. Na isoterma eutética, a temperatura já
2 1 F 1 está definida e, no nosso exemplo, vale 779 °C
(além da pressão constante do diagrama, 1 atm);
F 2
portanto o valor de N é igual a 1, pois a única
Isso significa dizer que, nessas condições, o sistema variável do diagrama que não depende da compo-
(a liga) é completamente especificado utilizando sição continua sendo a temperatura. Já sabemos
dois parâmetros: a temperatura e a composição que a quantidade de fases presentes é três, então
global. Imagine uma liga na fase L, com composi- o valor de P é 3 e a quantidade de componentes
ção de 60%p Ag, somente com essas informações o continua sendo C = 2 (cobre e prata). Com essas
sistema ainda não estará completamente definido, informações, temos:
pois essa liga poderá estar, por exemplo, a 1000 °C,
N C F P
1100 °C etc. e ainda estar na região de líquido (L).
2 1 F 3
F 0
solução sólida depende de dois fatores: o
primeiro é a diferença de tamanho dos
átomos do metal de base (metal original 138
da rede) e o metal adicionado (soluto);
UNIDADE 6 175
Quando a adição de elementos de liga, de maior ou de menor tamanho, ultrapassa o limite de solu-
bilidade, ocorre o endurecimento do material, chamado de endurecimento por dispersão. Nesse
mecanismo, a interface entre a fase de maior quantidade, chamada de matriz, e a fase de reforço,
chamada de precipitada ou fase dispersa, atua como uma barreira que dificulta a movimentação
das discordâncias e, consequentemente, aumenta a resistência mecânica da liga. Na maioria das
ligas, esse endurecimento é alcançado por transformações de fase, como as reações eutéticas e as
reações eutetoides.
Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).
Os efeitos do endurecimento por solução sólida nas propriedades mecânicas dos metais são descritos
a seguir.
O limite de escoamento, limite de resistência à tração e à dureza das ligas metálicas são maiores
do que dos metais puros. Esse é um dos motivos pelos quais é frequente o uso de ligas metálicas em vez
do metal puro. Na fabricação de latas de alumínio para bebidas, por exemplo, são utilizadas pequenas
quantidades de magnésio (Mg) para aumentar a resistência dessas latas.
A ductilidade é, quase sempre, reduzida pelo endurecimento por solução sólida. Contudo, exis-
tem exceções, como é o caso das ligas de cobre-zinco, que têm sua resistência mecânica e ductilidade
aumentadas pelo endurecimento por solução sólida.
A condutividade elétrica (assunto que será tratado na Unidade 7) dos metais puros é muito maior
do que a da liga. Esse comportamento é explicado pelo fato dos elétrons serem mais espalhados pelos
átomos de elementos de liga do que pelos átomos da matriz (átomos originais da rede).
Por último, a resistência à fluência, de ligas é maior do que em metais puros, ou seja, ela aumenta
devido ao endurecimento por solução sólida. Este é um dos motivos da seleção de materiais utilizados
em altas temperaturas: levar em consideração a possibilidade de endurecimento por solução sólida.
Nos materiais cerâmicos, a formação de uma solução sólida não tem um efeito significativo no
aumento da resistência, uma vez que a resistência mecânica nesses materiais se deve, principalmente,
à distribuição de defeitos na estrutura do material e não pela propagação e interação de linhas de
discordâncias (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
Diagrama de Fases
Ferro-Carbeto de Ferro
UNIDADE 6 177
essa temperatura é alcançada, o ferro a sofre uma fases ricas em carbono, vamos nos ater à parte do
transformação polimórfica da estrutura cristalina diagrama mostrada na Figura 6 (diagrama fer-
CCC para uma estrutura cristalina CFC (cúbica ro-carbeto de ferro), uma vez que todos os aços
de face centrada), chamada de austenita ou ferro e ferros fundidos possuem teores de carbono
g . A estrutura do ferro g persiste até a tempera- inferiores a 6,7%p C.
tura de 1394 °C, a partir da qual o ferro g sofre O carbono é uma impureza intersticial no ferro
outra transformação em sua estrutura e volta a e forma soluções sólidas com as fases a , g e d .
ter estrutura cristalina CCC chamada de ferrita d Observamos que as fases a e d existem apenas
que persiste até a temperatura de 1538 °C, quando, em baixas concentrações de carbono (máximo de
finalmente, sofre a fusão (torna-se líquido). 0,022%p C para o ferro a a 727 °C e 0,025%p C
No diagrama da Figura 6, vemos que a con- para a ferrita d à 1493 °C). Isso se deve ao fato de
centração de carbono (eixo horizontal) estende- que as posições intersticiais na estrutura CCC são
-se até um máximo de concentração de 6,7%p C, pequenas e dificultam a acomodação dos átomos
na qual forma-se um composto intermediário de carbono. Embora as concentrações de carbo-
chamado carbeto de ferro ou cementita (Fe3C), no no ferro a e na ferrita d sejam baixas, elas
representado por uma linha vertical no diagra- influenciam fortemente nas propriedades mecâ-
ma de fases (eixo vertical à direita do diagrama). nicas desses materiais, a fase a , por exemplo, é
Apesar do diagrama completo do ferro-carbono relativamente macia e pode ser transformada em
estender-se além da composição de 6,7%p C, até magnética em temperaturas inferiores a 768 °C.
1600
1538 ºC
1493 ºC
δ
1400
2500
1394 ºC +
1200
1147 ºC
Temperatura (ºC)
1000
912 ºC
+ Fe3C
α 1500
800 +
727 ºC
0,76
0.022
600 α, Ferrita α +,Fe3c
Cementita (Fe3C) 1000
400
0 1 2 3 4 5 6 6,70
(Fe) Composição(%p/pC)
Ferrita ou
a CCC 0,022 727
Ferro alfa
g Austenita ou
CFC 2,14 1147
Ferro gama
Ferro delta ou
d CCC 0,10 1493
Ferrita delta
Cementita ou
Fe3C Ortorrômbica 6,70 -
Carbeto de ferro
Fonte: o autor.
No diagrama ferro-carbeto de ferro, vemos também a ocorrência de uma reação eutética (assim como
nos sistemas eutéticos) na concentração 4,3%p C a 1147 °C, na qual há a transformação da fase líqui-
da L nas fases sólidas ferro g e cementita, representada a seguir.
resfriamento
L
g Fe3C
aquecimento
Existe uma reação eutetoide nesse diagrama, de extrema importância para os tratamentos térmicos
dos aços, ela ocorre em 0,76%p C, e a 727 °C a transformação pode ser representada por
resfriamento
γ (0, 76%p C )
α (0, 022%p C) Fe3C (6, 7%p C )
aquecimento
na qual vemos que o resfriamento do ferro g conduz a formação do ferro a e da cementita (Fe3C).
Quanto à classificação das ligas ferrosas, temos três tipos:
• Ferro: possui concentrações de carbono inferiores a 0,008%p.
• Aço: possui concentrações de carbono entre 0,008%p e 2,14%p.
• Ferro fundido: possui concentrações de carbono entre 2,14%p e 6,7%p.
Embora essas sejam as classificações das ligas ferrosas, os aços, na prática, raramente ultrapassam con-
centrações 1,0%p C, e os ferros fundidos comerciais geralmente possuem concentrações de carbono
inferiores a 4,5%p.
UNIDADE 6 179
Microestruturas em Ligas de Ferro-Carbono
Como foi dito anteriormente, a reação eutetoide nas ligas de ferro-carbono, que ocorre em 0,76%p C a
727 °C, é muito importante, pois representa as transformações de fases que acontecem nos tratamentos
térmicos de aços. Por essa razão, vamos tratar das reações resultantes do resfriamento lento dos aços,
considerando que o equilíbrio é mantido constantemente durante todo o processo.
Apesar da simplicidade da reação eutetoide, as mudanças de fases que ocorrem durante esse processo
são relativamente complexas. Tomemos como exemplo uma liga de composição eutetoide 0,76%p C a
uma temperatura inicial de 850 °C; nessas condições, existe somente a fase austenita em equilíbrio no
sistema. Essa liga é, então, resfriada lentamente, mantendo-se a sua composição constante. Durante o
resfriamento até a temperatura de 727 °C, não há mudança de fase na liga, ou seja, a fase austenita se
mantém até o sistema alcançar a temperatura eutética de 727 °C. Nessa temperatura, então, o sistema
sofre a transformação de acordo com a reação eutetoide.
resfriamento
γ (0, 76%p C )
α (0, 022%p C) Fe3C (6, 7%p C )
aquecimento
Ligas hipoeutetoides
UNIDADE 6 181
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
1200 2200
2000
Liquidus Líquido
1000
1800
Solidus
α+ 1600
α 779 ºC () β+
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºF)
800
8,0 71,9 91,2 β 1400
() (β)
(α)
1200
600
Solvus 1000
α+β 800
400
600
200 400
0 20 40 60 80 100
(Cu) Composição (%p Ag) (Ag)
182
2. O diagrama de fases Fe-Fe3C (ferro – cementita) é a base dos estudos de trata-
mentos térmicos para ligas ferrosas como os aços. A seguir, é apresentado um
diagrama ferro – cementita.
1600
1538 ºC
1493 ºC
δ
1400
2500
1394 ºC +
1200
1147 ºC
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºF)
, Austenita 2,14 4,30
2000
1000
912 ºC
800 1500
727 ºC
0,76
0.022
600 α, Ferrita α + ,Fe3c
Cementita (Fe3C) 1000
400
0 1 2 3 4 5 6 6,70
(Fe) Composição(%p/pC)
183
3. Os diagramas de fases são mapas termodinâmicos em que se podem prever
quais são fases que coexistem em condições de equilíbrio termodinâmico. Esses
diagramas também auxiliam na previsão dos mecanismos de endurecimento
permitidos. A figura a seguir apresenta o diagrama de fases em equilíbrio do
sistema Cu-Ni.
1500.0
1450.0
1400.0
1350.0
temperatura (ºC)
1300.0
+α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
1050.0
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni
184
LIVRO
185
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.
186
1. B.
A alternativa (a) está incorreta, pois na composição de 71,9% em peso de prata, o ponto eutetoide ocorre
a 779 °C e é caracterizado pela transformação em duas fases sólidas durante o resfriamento.
A alternativa (c) está incorreta, pois a linha BEG também pode ser considerada uma curva solidus e repre-
senta a temperatura mais baixa em que o líquido pode existir para quaisquer das concentrações.
A alternativa (d) também está incorreta, pois, na construção dos diagramas binários, as regiões monofásicas
estão sempre separadas umas das outras por regiões bifásicas.
E a alternativa (e) está incorreta, pois a curva HGF delimita a região da solução sólida rica em prata.
2. B.
A alternativa (a) está incorreta, pois um ponto localizado na região I corresponde a um sistema bifásico,
ferro-alfa + ferro-gama.
A alternativa (c) está incorreta, pois um ponto localizado na região II corresponde a um sistema bifásico
composto por Austenita (ou ferro-gama) + cementita.
A alternativa (d) está incorreta, pois a quantidade máxima de carbono na fase ferrita (0,022%) é inferior à
quantidade máxima de carbono na fase austenita (2,14%).
E a alternativa (e) está incorreta, pois, durante o aquecimento do ferro puro, da temperatura ambiente
até a temperatura de 1600 °C, o ferro sofrerá as seguintes transformações: ferro-alfa → ferro-gama e de
ferro-gama → ferro-delta.
187
3. A.
Como o primeiro sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva liquidus, a concentração
de Ni na fase L é 40%p (ponto amarelo) e na fase sólida é 54%p (ponto verde), ou seja, maior que 40%p.
1500.0
1450.0
Resfriamemto
1400.0
1350.0
temperatura (ºC)
1300.0 +α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
Primeiro
1050.0 sólido
formado
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni
Já o último sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva solidus, a concentração de Ni na
fase L é 26%p (ponto amarelo) e na fase sólida alfa será exatamente 40%p.
1500.0
1450.0
Resfriamemto
1400.0
1350.0
Temperatura (ºC)
1300.0
+α
1250.0
1200.0
1150.0
1100.0 α
Último
1050.0 sólido
formado
1000.0
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0
Cu Composição (wt%) Ni
188
189
190
191
192
Me. Luis Henrique de Souza
Propriedades Elétricas e
Propriedades Térmicas
dos Materiais
PLANO DE ESTUDOS
Propriedades elétricas
- condução elétrica em Propriedades térmicas -
cerâmicas e polímeros condutividade térmica
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Estudar a condução elétrica nos materiais condutores • Compreender o que é e a importância da capacidade
e entender como funciona o mecanismo da condução. calorífica e da expansão térmica em sólidos.
• Apresentar os materiais dielétricos e suas características. • Entender como funciona o mecanismo de condução tér-
• Conhecer os materiais condutores poliméricos e saber o mica nos materiais.
que é polarização.
Propriedades
Elétricas - Condução
Elétrica em Metais
Quando trabalharmos com materiais sólidos, uma das mais importantes propriedades elétricas a ser
avaliada é a condutividade elétrica, que consiste na facilidade com que o material conduz eletricidade.
Essa condução elétrica está relacionada ao movimento de espécies individuais do material em escala
atômica, chamadas portadores de carga.
O tipo mais simples de portador de carga é o elétron, cuja carga é negativa e equivale a -1,6.10-19 C
(coulombs). Um conceito um pouco mais abstrato e de fundamental importância, principalmente nos
semicondutores, é o de lacuna eletrônica, que é formada pela ausência de um elétron na nuvem eletrônica.
Essa ausência do elétron, carregado negativamente, concede à lacuna uma carga positiva efetiva de 1,6 ⋅
10-19 C, em relação à sua vizinhança. Em materiais iônicos, os cátions e os ânions são portadores de carga,
e a movimentação deles pode gerar o fenômeno denominado condução iônica (SHACKELFORD, 2013).
Essa facilidade em conduzir a corrente elétrica é representada pela equação conhecida como Lei
de Ohm, apresentada a seguir:
V = IR
Nela V é a diferença de potencial elétrico (tensão elétrica), cuja unidade é volts (V); I é a intensidade
de corrente elétrica (ou taxa de passagem de cargas ao longo do tempo), cuja unidade é ampère (A); e
R é a resistência elétrica do material, cuja unidade é ohm (Ω). A unidade ampère equivale a coulombs
por segundo (1 A = 1 C/s).
O valor da resistência R de um material depende da geometria da amostra analisada. Para um fio no
formato cilíndrico, por exemplo (Figura 1), a resistência aumenta com o aumento do comprimento do fio,
l, e diminui com o aumento da área de seção transversal, A, essa relação é conhecida como 2ª lei de Ohm.
rl
R=
A
Com a 2ª lei de Ohm, definimos uma propriedade elétrica importante, chamada de resistividade
elétrica (ou simplesmente resistividade), ρ, cujas unidades são Ω ∙ m.
UNIDADE 7 195
Figura 1 - Representação da condução elétrica em um material de formato cilíndrico
Fonte: o autor.
Banda de
Banda Banda condução Banda de
vazia vazia vazia condução
vazia
O estudo aprofundado desses conceitos foge do escopo da nossa disciplina, contudo, devemos saber
que somente elétrons livres participam do processo de condução elétrica. Para que um elétron se torne
livre, ele deve ser excitado ou promovido para uma das bandas de energia vazias, ou seja, o elétron
deve migrar para uma banda vazia ou estado vazio, no caso da Figura 2(a).
Além disso, em materiais isolantes e semicondutores, as lacunas eletrônicas também participam da
condução elétrica. Inclusive, a diferença entre os semicondutores e os isolantes reside na quantidade
dos elétrons livres e das vacâncias presentes nesses materiais, devido à diferença do espaçamento entre
as bandas desses dois tipos de materiais (CALLISTER; RETHWISCH 2013).
UNIDADE 7 197
Condutores (Metais)
Os metais são os materiais que melhor representam a classe dos condutores, pois pouca ou nenhuma
energia é necessária para promover um elétron do estado ou banda preenchido para um estado ou
banda vazio adjacente nos condutores; geralmente, a energia térmica do material já é o suficiente para
a promoção de elétrons livres nesses materiais. Por essa razão, a quantidade de elétrons livres é, relati-
vamente, alta, sendo assim, a condutividade elétrica desses materiais também é alta.
UNIDADE 7 199
Semicondutor do tipo n
Para entendermos como funciona um semicondutor do tipo n, vamos tomar o exemplo do silício puro
(Si). Os átomos de silício se ligam a partir de quatro ligações covalentes (quatro elétrons de valência),
nas quais cada átomo de silício compartilha um elétron com o átomo de silício vizinho. Caso seja in-
troduzido um átomo de impureza substitucional, contendo cinco elétrons de valência, por exemplo o
fósforo (P), somente quatro elétrons desse átomo de fósforo poderão participar das ligações covalentes
com os átomos de silício adjacentes. Dessa forma, o elétron de valência do fósforo, que não está ligado
aos átomos de silício vizinhos, ficará fracamente preso ao redor desse átomo de fósforo e, por essa ra-
zão, ele pode ser facilmente promovido para a banda de condução, ou seja, tornar-se um elétron livre.
A impureza, nesses casos, é denominada doadora, pois fornece elétrons que podem ser facilmente
promovidos a elétrons livres e, geralmente, a energia térmica à temperatura ambiente é o suficiente
para a promoção de vários desses elétrons das impurezas doadoras. Além disso, é importante notar
que a promoção dos elétrons dessas impurezas não deixa um buraco para trás na banda de valência,
como nos semicondutores intrínsecos.
Semicondutor do tipo p
Para entendermos os semicondutores extrínsecos do tipo p, vamos voltar ao exemplo do silício puro
(Si), mas, dessa vez, vamos introduzir um átomo de impureza substitucional contendo três elétrons de
valência, por exemplo, o alumínio (Al). Os três elétrons desse átomo de alumínio poderão participar
das ligações covalentes com três átomos de silício adjacentes, faltando um elétron para completar a
ligação com o quarto átomo de silício. Esse déficit de elétron pode ser visto como um buraco, que está
fracamente ligado ao átomo de alumínio. Portanto, esse buraco pode migrar facilmente para outras
posições da rede, simplesmente pela transferência de um elétron de ligações adjacentes ao buraco.
Esses buracos em movimento são considerados em estado excitado e conduzem corrente elétrica.
As impurezas desse tipo são denominadas receptoras, pois são capazes de receber elétrons da banda
de valência, deixando para trás um buraco, contudo, não são criados elétrons livres nesse processo.
O processo de produção de materiais semicondutores extrínsecos p ou n, denominado dopagem,
é realizado utilizando-se materiais com purezas extremamente elevadas, contendo concentrações de
átomos de impurezas da ordem de 10-7%. A esses materiais de pureza elevada, são introduzidos átomos
de impureza, em concentrações controladas, utilizando diferentes técnicas.
Dispositivos semicondutores
O estudo das propriedades elétricas dos materiais permitiu o desenvolvimento de dispositivos que
desempenham funções eletrônicas fundamentais nos dias atuais. Alguns exemplos desses dispositivos
são os diodos e os transistores, que têm dimensões pequenas, consomem pouca energia e praticamente
não aquecem em comparação à tecnologia utilizada antes desses dispositivos. Por essas e outras razões,
os semicondutores promoveram o desenvolvimento acelerado da tecnologia nas últimas décadas.
UNIDADE 7 201
Propriedades Elétricas -
Condução Elétrica em
Cerâmicas e Polímeros
Condução em Polímeros
Apesar dos polímeros, em sua maioria, serem materiais isolantes, existem alguns materiais poliméricos
sintetizados que possuem condutividades elétricas próximas às dos metais. Estes são denominados
polímeros condutores e são produzidos pelo processo de dopagem com impurezas apropriadas.
Assim como nos semicondutores dopados, os polímeros condutores podem ser do tipo p ou do tipo
n, dependendo apenas da impureza utilizada na dopagem; entretanto, essas impurezas não substituem
nem repõem nenhum dos átomos do polímero.
Os polímeros condutores têm potencial para serem utilizados em um vasto campo de aplicações,
uma vez que apresentam baixa massa específica, alta flexibilidade e são facilmente produzidos. Eles
já são utilizados na fabricação de baterias recarregáveis, eletrodos poliméricos, diodos e transistores
e, até mesmo, na fiação de aeronaves.
Comportamento dielétrico
Um dielétrico é um material isolante que exibe um dipolo elétrico, ou seja, ele apresenta, a nível mo-
lecular ou atômico, uma separação entre as entidades com cargas positivas e negativas do material.
Nesse âmbito, vamos definir uma propriedade muito utilizada em eletrônica, chamado capacitância.
Quando uma diferença de potencial V é aplicada por meio de um capacitor (Figura 3), uma placa fica
carregada positivamente, enquanto a outra fica carregada negativamente. O campo elétrico corresponden-
te tem direção da carga positiva para a carga negativa. Nessas condições, a capacitância está relacionada
à quantidade de cargas armazenadas, Q, em cada uma das placas, de acordo com a equação a seguir:
Q
C=
V
na qual V é a diferença de potencial entre as placas (diferença de potencial do capacitor). A unidade da
quantidade de cargas, Q, é coulomb (C), e da diferença de potencial V é volts (V), portanto as unidades
da capacitância, C, são coulomb por volt (C/V) ou farad (F).
Para um capacitor de placas separadas por vácuo, como o apresentado na Figura 3(a), vemos que a
capacitância depende da área das placas, A, e da distância entre elas, l, de acordo com a relação
A
C 0
l
Onde ∈0 é a permissividade do vácuo, que vale 8,85 ∙ 10-12 F/m (farad por metro).
UNIDADE 7 203
Polarização
0 = є0E
P Pe Pi Po
Ferroeletricidade e Piezoeletricidade
Um grupo de materiais dielétricos apresenta uma característica elétrica interessante: eles são capazes
de sofrer polarização espontânea na ausência de um campo elétrico; esses materiais são denomina-
dos ferroelétricos. Eles possuem um dipolo elétrico permanente, que interagem entre si alinhando-se
mutuamente, todos na mesma direção. As constantes dielétricas desses materiais são, em geral, muito
grandes, por essa razão eles costumam ser utilizados para a produção de capacitores de tamanho re-
duzido, em relação aos capacitores produzidos com os outros materiais dielétricos.
Esses materiais ferroelétricos são capazes de armazenar carga, possibilitando aplicações na forma
de filmes de espessura muito pequena em dispositivos de memória não volátil. Alguns exemplos de
materiais ferroelétricos são o dihidrogenofosfato de potássio (KH2PO4), niobato de potássio (KNbO3),
titanato de bário (BaTiO3) e o zirconato-titanato de chumbo (Pb[ZrO3, TiO3]).
Outra característica elétrica interessante e muito importante do ponto de vista tecnológico é a
piezoeletricidade, que é observada em uma pequena gama de materiais cerâmicos. Os materiais pie-
zoelétricos, quando submetidos a tensões, sofrem uma polarização e estabelecem um campo elétrico.
Caso a tensão aplicada mude de sinal, ou seja, tração para compressão, por exemplo, o campo elétrico
também terá sua direção invertida.
Componentes cuja função é receber um sinal elétrico e transformá-lo em deformações mecânicas
(transdutores) utilizam materiais piezoelétricos. Além dos transdutores, os materiais piezoelétricos
são utilizados em microfones, alto-falantes, alarmes sonoros etc. A piezoeletricidade é observada em
materiais que possuem uma estrutura cristalina complexa e com baixo grau de simetria.
UNIDADE 7 205
Propriedades Térmicas
- Capacidade Calorífica
e Expansão Térmica
Capacidade Calorífica
Q
C=
DT
onde Q é a energia necessária para produzir uma variação igual a ΔT na temperatura do material. As
unidades de Q são J/mol, de ΔT é K, consequentemente C é dado em J/mol ∙ K no SI. Nesse caso, a
quantidade de energia Q está relacionada à quantidade do material em mols.
Em situações nas quais o calor está relacionado com a quantidade do material em massa (kg por
exemplo), a capacidade calorífica é representada por c e suas unidades são J/kg ∙ K e, nesse caso, Q é
dado em J/kg, contudo a equação é a mesma apresentada anteriormente.
Q
c=
DT
Existem duas formas de mensurar a capacidade calorífica de materiais, uma delas é avaliando o pro-
cesso a volume constante e, dessa forma, obtemos Cv. A outra forma é avaliando o processo da pressão
constante, onde obtemos Cp. Entretanto, para materiais sólidos em temperaturas próxima ou inferiores
ao ambiente, a diferença entre Cv e Cp é muito pequena.
Os átomos que compõem os materiais sólidos estão vibrando constantemente, em frequências altas,
porém com amplitudes baixas. A forma mais comum de absorção de energia térmica por materiais
sólidos é o aumento dessa energia vibracional dos átomos constituintes. Como os átomos que formam
o material estão ligados entre si, esse aumento na energia vibracional do material gera vibrações coor-
denadas na forma de ondas (às vezes chamadas de fônons), que se propagam pela rede cristalina do
material. Essas ondas são responsáveis pelo espalhamento térmico dos elétrons durante a condução
elétrica e também pelo transporte de energia durante a condução térmica.
A capacidade calorífica a volume constante, Cv, é igual para sólidos cristalinos relativamente simples
a 0 K, entretanto, ela aumenta rapidamente com o aumento da temperatura para temperaturas baixas
(próximas a 0 K). Contudo, para a maioria dos materiais sólidos, a capacidade calorífica a volume
constante, Cv, estabiliza-se antes da temperatura ambiente (25 °C ou 298 K), podendo ser considerado
independentemente da temperatura, para temperaturas próximas e acima de 25 °C.
Como, geralmente, trabalhamos com materiais à pressão constante atmosférica (1 atm), utilizare-
mos os valores da capacidade calorífica à pressão constante, Cp. Os valores de Cp para vários materiais
sólidos à temperatura ambiente podem ser encontrados tabelados, inclusive em alguns dos materiais
referenciados neste livro.
Expansão Térmica
l f l0
al (T f T0 )
l0
UNIDADE 7 207
na qual lf e l0 são, respectivamente, os comprimentos final (depois da expansão) e inicial (antes da
expansão) do material; Tf e T0 são, respectivamente, as temperaturas final e inicial do processo; e αl é o
coeficiente linear de expansão térmica, que é uma propriedade específica do material, cuja unidade no SI é
(°C)-1. Sejam:
Dl l f l0 e DT T f T0
Dl
= al (DT )
l0
Além disso, sabemos que a expansão térmica não ocorre apenas em uma dimensão do material sólido,
mas sim em todo o volume desse sólido; por essa razão, definimos também a equação para o cálculo
da variação de volume sofrida por esse material devido à sua expansão térmica.
DV
= aV (DT )
V0
Com DV V f V0 e DT T f T0
Nas equações citadas Vf e V0 são, respectivamente, os volumes final (depois da expansão térmica)
e inicial (antes da expansão térmica) do material. O parâmetro aV é o coeficiente volumétrico de
expansão térmica, que também é uma propriedade específica do material, cujas unidades no SI são
(°C)-1. Para materiais isotrópicos, o valor de aV é, aproximadamente, igual a 3al .
A expansão térmica observada nos materiais sólidos é um reflexo do aumento das distâncias médias
entre os átomos que formam esse material a um nível muito aprofundado do conteúdo, que não é o
objetivo deste material.
Vamos verificar a expansão térmica para cada classe de materiais, começando pela classe dos metais,
cujos coeficientes lineares de expansão térmica variam entre 5 ∙10-6 (°C)-1 e 25 ∙ 10-6 (°C)-1. Entretanto,
já foram desenvolvidas algumas ligas metálicas, com baixos coeficientes de expansão térmica, para
serem utilizadas em situações em que não é desejável variações das dimensões devido à temperatura.
Na classe das cerâmicas, o comportamento térmico de expansão é bem variado. Os coeficientes de ex-
pansão térmica são relativamente menores nas cerâmicas, variando entre 0,5 ∙ 10-6 (°C)-1 e 15 ∙ 10-6 (°C)-1,
isso se deve ao fato de que as forças interatômicas (entre os átomos que compõem o material), na maioria
das cerâmicas, são relativamente fortes.
Outro comportamento interessante é observado nas cerâmicas anisotrópicas (não isotrópicas), as
quais, quando aquecidas, podem sofrer expansão em uma de suas direções cristalográficas e contrair-
-se nas demais. Além disso, os vidros inorgânicos possuem um coeficiente de expansão térmica que
UNIDADE 7 209
Propriedades Térmicas -
Condutividade Térmica
Condutividade térmica
dT
q k
dx
onde q é o fluxo de calor (quantidade de calor transportado por tempo por unidade de área); dT/dx é
o gradiente de temperatura através do meio de condução; e k é a condutividade térmica. As unidades
de q são W/m2, k são W/m ⋅ K, dessa forma, o gradiente de temperatura dT/dx deve ser dado em °C/m
ou K/m, uma vez que a variação de 1 °C é igual a variação de 1 K.
A condução de calor em materiais sólidos se dá a partir de dois mecanismos, por meio das ondas de
vibração da rede (fônons) e por meio dos elétrons livres no material. Portanto, a condutividade térmica
total, k, para um material, é dada por:
k k r ke
Onde kr e ke são, respectivamente, as condutivida- diminui devido ao fato dos átomos de impureza
des térmicas devido às ondas de vibração da rede atuarem como centros de espalhamento que re-
e devido aos elétrons livres. A predominância de duzem a eficiência dos elétrons livres responsáveis
uma em relação à outra depende do material. A pela condução de calor.
contribuição kr é devido ao movimento das on- Nas cerâmicas, a condutividade térmica é mui-
das de vibração das regiões de altas temperaturas to baixa, são geralmente isolantes térmicos, devido
para as regiões de baixas temperaturas por meio à quantidade pequena de elétrons livres para a
do material. condução de calor. Nesses materiais, os fônons
Já a contribuição ke é devido aos elétrons livres são o principal mecanismo que contribui para a
que, conforme recebem energia térmica, aumen- condutividade térmica (kr>>ke), e os fônons não
tam sua energia cinética e migram para regiões são tão eficientes quanto os elétrons livres no
mais frias, onde transferem parte dessa energia transporte de calor. Por essas razões, os materiais
cinética para os átomos dessas regiões por meio de cerâmicos exibem condutividades térmicas entre
colisões. Portanto, conforme aumenta o número 2 W/m ∙ K e 50 W/m ∙ K à temperatura ambiente.
de elétrons livres, maior é a contribuição ke na Quanto às temperaturas relativamente bai-
condutividade térmica global do material. xas, é observado que a condutividade térmica da
Em metais de alta pureza, a condutividade maioria das cerâmicas diminui com o aumento da
térmica, devido aos elétrons livres, é muito mais temperatura. Entretanto, ela começa a aumentar
efetiva que a condutividade térmica referente aos em temperaturas elevadas, contudo, esse compor-
fônons, uma vez que os elétrons se encontram tamento se deve ao calor transferido por radiação
em grandes quantidades nesses materiais. Além por meio do material cerâmico, pois a eficiência
disso, os elétrons livres têm velocidades maiores do processo de transporte de calor por radiação
que os fônons, deixando o processo de condução aumenta com o aumento da temperatura.
mais rápido. Por essas razões, os metais possuem Outro fator determinante na condutividade
condutividades térmicas altas, entre 20 W/m∙K e térmica das cerâmicas é a porosidade do material,
400 W/m ∙ K à temperatura ambiente. ou seja, a quantidade de espaços vazios dentro
Já nas ligas, formadas pela adição de impu- do material. Esses volumes dos poros dificultam
rezas aos metais puros, a condutividade térmica a condução de calor por meio do material, resul-
UNIDADE 7 211
tando na diminuição da sua condutividade tér- expansão térmica em todas as direções e, caso ela
mica. Inclusive, muitos dos materiais cerâmicos esteja livre para sofrer a expansão, nenhum dano
utilizados como isolantes térmicos são porosos, será causado a ela. Entretanto, caso algo restrinja a
pois esses poros contêm ar estagnado que possui expansão térmica da barra, por exemplo, suportes
uma condutividade térmica extremamente baixa. rígidos nas suas extremidades, tensões térmicas
Para a maioria dos polímeros, as condutivi- se formarão nela. A magnitude dessas tensões tér-
dades térmicas são da ordem de 0,3 W/m ∙ K, as micas pode ser calculada pela equação a seguir:
mais baixas dentre as classes de materiais. Isso
acontece porque a condução de calor nesses ma- σ Eαl (T0 T f ) Eαl DT
teriais é devido à rotação e vibração das molécu-
las que formam a cadeia do polímero. Polímeros na qual, E e αl são, respectivamente, o módulo
que apresentam cristalinidade elevada e ordenada de elasticidade e o coeficiente linear de expansão
possuem condutividade térmica maior que polí- térmica do material da barra. Quando a barra for
meros amorfos, uma vez que a vibração coorde- aquecida T0 < Tf, então a tensão resultante σ é com-
nada das moléculas é mais eficiente em cadeias pressiva (σ <0), quando a barra é resfriada Tf < T0,
moleculares cristalinas. então a tensão resultante σ é trativa (σ >0).
Devido à sua baixa condutividade térmica, os Outra situação que podemos encontrar é a de
polímeros são, geralmente, utilizados como isolantes tensões resultantes de gradientes de temperatura.
térmicos e podem ter sua condutividade térmica Para entendermos esse tipo de tensões, vamos
ainda mais reduzida com a inserção de poros em sua imaginar um prato de cerâmica, cujo centro está
estrutura, assim como acontece com as cerâmicas; sendo aquecido sobre uma chama; após pouco
um exemplo muito comum é o poliestireno expan- tempo sobre a chama, o prato se rompe. Esse com-
dido (isopor), que é utilizado em caixas térmicas portamento ocorre, pois, no prato de cerâmica,
para armazenamento de bebidas e alimentos. aquecido rapidamente apenas na região central,
são gerados gradientes de temperatura que geram
tensões térmicas ao longo do prato. Essas tensões
Tensões Térmicas são resultado de uma maior expansão na região
aquecida (região central do prato) em relação à
As variações de temperaturas experimentadas parte mais externa do material (as bordas do pra-
pelos materiais podem acabar causando tensões to) que está fria, então são induzidas tensões de
neles. Essas tensões térmicas precisam ser leva- compressão no centro do prato e tensões de tração
das em conta, uma vez que podem causar uma nas bordas do prato.
deformação plástica indesejável ou, até mesmo, a Por último, podemos também observar a fratu-
fratura de um componente. ra de um componente devido ao choque térmico.
Podemos ter tensões resultantes da restrição Esse comportamento é observado em materiais
à expansão ou contração térmica de um compo- frágeis, cuja distribuição não uniforme da tempe-
nente. Vamos exemplificar essa situação: imagine ratura gera uma dilatação pontual que acarreta a
uma barra sólida homogênea e isotrópica. Se ele- formação de tensões internas no material, e a falta
varmos a temperatura dessa barra, ela sofrerá uma de ductilidade desses materiais conduz à fratura.
Átomos
Condução
UNIDADE 7 213
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
214
2. Uma das características elétricas mais importantes dos materiais é a facilidade
com que esse material transmite corrente elétrica. A lei de Ohm relaciona a
corrente elétrica e a tensão elétrica aplicada sobre um material. Com o conhe-
cimento sobre o comportamento elétrico dos materiais, analise as afirmativas
a seguir.
I) Um fio de cobre de resistividade elétrica igual a 1,7.10−6 Ω ⋅ cm, comprimen-
to de 20 m e um diâmetro de 0,2 cm possui uma resistência elétrica igual a
0,108 Ω.
II) A corrente elétrica em um fio de cobre, cuja diferença de potencial é de 3
volts e a resistência elétrica é de 0,100 Ω, é igual a 30 amperes.
III) Os condutores possuem os maiores valores de condutividade elétrica, en-
quanto os semicondutores possuem os menores valores de condutividade
elétrica, e os isolantes, por sua vez, possuem condutividades intermediarias.
IV) A condutividade elétrica do ouro é 4,3.107 (Ω·m)-1 e a da prata é 6,8.107 (Ω·m)-1,
portanto o ouro possui uma maior resistividade elétrica do que a prata.
215
3. A capacidade térmica, expansão térmica e condutividade térmica são proprie-
dades dos materiais. As propriedades térmicas estão relacionadas ao compor-
tamento dos materiais quando submetidos a estímulos térmicos, por exemplo,
receber ou perder calor. Em relação a isso, avalie as afirmações a seguir.
I) A capacidade calorífica de um material é a propriedade relacionada à quan-
tidade de energia que esse material absorve para se fundir.
II) A expansão térmica é observada como sendo o comportamento térmico no
qual os materiais, quando submetidos ao aquecimento, sofrem uma retração
de suas dimensões, e quando resfriados, não modificam suas dimensões.
III) A condução térmica é o processo de transferência de calor em um com-
ponente de uma região de maior temperatura para uma região de menor
temperatura, cuja força motriz é o gradiente de temperatura.
IV) A falta de ductilidade em alguns materiais pode ocasionar o choque térmico,
que é a fratura frágil do material devido a tensão térmicas originadas por um
aquecimento ou resfriamento muito rápido desse material.
216
LIVRO
217
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.
218
1. B.
A afirmativa I está incorreta, pois a condução elétrica está relacionada ao movimento dos elétrons ou íons
do material.
2. C.
Correta: I - Um fio de cobre de resistividade elétrica igual a 1,7 · 10−6 Ω · cm, comprimento de 20 m e um
diâmetro de 0,2 cm possui uma resistência elétrica igual a 0,108 Ω.
R = ρ · l/A
Devemos converter o comprimento de metros para centímetros para que seja compatível com a uni-
dade da resistividade elétrica.
1 m = 100 cm
20 m = 2000 cm
A = 0,0314 cm2
Então,
R = ρ · l/A
R = 0,108 Ω
Correta: II – A corrente elétrica em um fio de cobre, cuja diferença de potencial é de 3 volts e a resistência
elétrica é de 0,100 Ω, é igual a 30 amperes.
Obs.: o símbolo V (itálico) é relativo à variável diferença de potencial (tensão elétrica). Já o símbolo V é
relativo à unidade da diferença de potencial, ou seja, V equivale a volts.
V=I·R
I = V/R = (3 V)/(0,100 Ω)
219
Como Ω = V/A, temos que a relação anterior pode ser reescrita como:
I = 30 A.
Errada III,
Correta seria: Os condutores possuem os maiores valores de condutividade elétrica, enquanto os isolan-
tes possuem os menores valores de condutividade elétrica, e os semicondutores, por sua vez, possuem
condutividades intermediárias.
Correta: IV – A condutividade elétrica do ouro é 4,3 · 107 (Ω · m)-1 e a da prata é 6,8 · 107 (Ω · m)-1, portanto
o ouro possui uma maior resistividade elétrica do que a prata.
σ = 1/ρ
Isolando ρ, temos
ρ = 1/σ
Então:
3. D.
A afirmativa II também está incorreta, pois a expansão térmica é observada como sendo o comportamento
térmico no qual os materiais, quando submetidos ao aquecimento, sofrem uma expansão de suas dimen-
sões, e quando resfriados, sofrem uma contração em suas dimensões.
220
221
222
Me. Luis Henrique de Souza
Propriedades Ópticas,
Propriedades Magnéticas
e Corrosão dos Materiais
PLANO DE ESTUDOS
Propriedades magnéticas
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Estudar as propriedades da refração, reflexão, transmis- • Conhecer os tipos de corrosão que ocorrem em metais e
são, absorção, cor e luminescência nos materiais. alguns métodos de prevenção. Estudar a degradação que
• Aprender sobre magnetismo nos materiais e conhecer atinge materiais poliméricos.
aplicações das propriedades magnéticas.
Propriedades
Ópticas
Refração
Quando a luz incide na superfície de um material transparente e é, então, transmitida para o seu interior,
ela sofre uma diminuição em sua velocidade e é desviada em relação à sua direção de incidência. Esse
fenômeno de desvio da luz observado na interface do material com o meio externo, ou outro material
diferente, é chamado de refração.
A intensidade do fenômeno de refração em um material é dada em termos do índice de refração,
simbolizado por n, que é definido como a razão entre a velocidade da luz no vácuo, c = 3.108 m/s, e a
velocidade da luz no meio (material), v, conforme mostra a equação:
c
n=
v
O índice de refração n também tem relação com a
fração da luz incidente que é refletida na superfí-
cie, além de mudar a trajetória da luz incidente. A
intensidade da refração está relacionada, também, Feixe incidente
com o tamanho dos átomos e íons que constituem
o material refrator e, quanto maior forem esses θ
átomos ou íons, maior será a redução da veloci-
dade da luz quando atravessar a interface e, con-
Vácuo (ou ar)
sequentemente, maior será o índice de refração
(CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
O índice de refração pode ser escrito em fun- Vidro
ção do seno dos ângulos de incidência e de refra-
ção, representados, respectivamente por θi e θ r : θ
sen i
n
sen r
Feixe refratado
A partir dessa equação, é possível determinar o ân-
gulo de refração da luz em um material específico, Figura 1 - Esquematização da refração da luz na interface
conhecendo-se o índice de refração desse material de dois meios distintos: vácuo e o vidro
e o ângulo de incidência da luz sobre ele (Figura 1). Fonte: Shackelford (2013, p. 374).
UNIDADE 8 225
Na Tabela 1, são fornecidos os índices de refração Reflexão
de alguns materiais cerâmicos e poliméricos. Os
materiais metálicos são opacos à luz visível, por- Nem toda a luz que incide sobre um material
tanto, a luz não atravessa esses materiais. transparente é refratada. Quando a luz incide em
uma interface entre dois meios, cujos índices de
refração são diferentes, e parte dessa radiação lu-
Índice de minosa é dispersa (refrata) na interface dos meios
Material refração médio
e uma parcela é refletida nessa interface, o fenô-
Quartzo (SiO2) 1,55
Mulita ( 3Al2O3 2SiO2) 1,64 meno é conhecido como reflexão.
Ortoclásio (KAlSi3O8) 1,525 A fração da luz incidente que é refletida é cha-
Albita (NaAlSi3O8) 1,529 mada de refletividade (ou refletância) R, e pode
Coríndon (Al2O3) 1,76
ser calculada pela seguinte relação:
Periclásio (MgO) 1,74
Espinélio (MgO Al2O3) 1,72 IR
Vidro de sílica (SiO2) 1,458 R=
Vidro de borossilicato 1,47 I0
Vidro de sílica de cal de soda 1,51-1,52
Vidro de ortoclase 1,51 Na qual IR é a intensidade do feixe de luz refletido
Vidro de albita 1,49 e I0 é a intensidade do feixe de luz incidente.
Polímeros termoplásticos Para o caso particular da luz incidir perpen-
Polietileno dicularmente na superfície (normal à superfície)
Alta densidade 1,545
Baixa densidade 1,51 i 0 , então a refletividade pode ser calculada
Cloreto de polivinila 1,54-1,55 utilizando-se a equação:
Polipropileno 1,47
2
Poliestireno 1,59 n n
Celuloses 1,46-1,50 R 2 1
Poliamidas (náilon 66) 1,53 n2 n1
Politetrafluoretileno (Teflon) 1,35-1,38
Polímeros termofixos Na qual n1 e n2 são, respectivamente, os índices de
Fenólicos (fenol-formaldeído) 1,47-1,50 refração dos meios 1 e 2 envolvidos na reflexão.
Uretanos 1,5-1,6
Epóxis 1,55-1,60 Se a luz estiver sendo transmitida do vácuo ou
Elastômeros do ar (meio 1) para um material sólido (meio 2),
Copolímero de polibutadieno/ 1,53
poliestireno considerando que o índice de refração do ar é
Poliisopreno (borracha natural) 1,52 praticamente igual a 1, a relação fica simplificada,
Policloropreno 1,55-1,56 conhecida como fórmula de Fresnel:
2
n 1
Tabela 1 - Índices de refração n para alguns materiais cerâ- R S
micos e alguns materiais poliméricos nS 1
Fonte: Shackelford (2013, p. 374 e 375).
Em que ns é o índice de refração do material sóli-
O “brilho” característico de diamantes e obras do. Analisando essa equação, podemos perceber
de arte feitas de vidro é devido ao alto índice que a refletividade é maior para materiais sólidos
de refração desses materiais que permite múlti- com índices de refração grandes, e menor para
plas reflexões da luz no interior desses materiais materiais que apresentam índices de refração pe-
(SHACKELFORD, 2013). quenos (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
Dentre as cerâmicas e os polímeros, existem materiais opacos e materiais transparentes à luz visível. Os
materiais transparentes, geralmente, exibem uma aparência colorida. Esse comportamento se deve a
absorção da luz visível na forma de energia (fóton de luz) que pode ocorrer devido à promoção de um
elétron da banda de valência do átomo para a banda de condução, dessa forma, são criados elétrons
livres na banda de condução e, consequentemente, buracos positivos na banda de valência, como
podemos observar na Figura 2.
Elétron
condução
condução
Espaçamento Banda de
Banda de
excitado
(livre)
Espaçamento
Energia
entre as
bandas
entre as
bandas
Eg ΔE ΔE
Buraco
Banda de
Banda de
valência
valência
Fóton Fóton
absorvido Emitido
(a) (b)
Entretanto, para que essa promoção aconteça, a energia dos fótons deve ser maior que a energia Eg que
separa as bandas de valência e de condução desse material. Isto é, a condição para que haja a promoção
de elétrons da banda de valência para a banda de condução é que
hv > Eg
No espectro eletromagnético, o comprimento de onda mínimo para a luz visível é de, aproximada-
mente, λ = 0,4 μm (400 nm) e o máximo é de λ = 0,7 μm (700 nm), como podemos ver na Figura 3.
UNIDADE 8 227
Comprimento de onda
Ondas de
radio
Micro-ondas
Infravermelho
Luz
visível
Ultravioleta
Raios X
Raios gama
Nessas condições, a energia máxima e mínima dos fótons da luz visível são, respectivamente:
e
hc (4, 13.1015 eV s )(3.108 m/s )
1, 8 eV
l( máx ) 7.107 m
Dessa forma, materiais não metálicos (polímeros e cerâmicas) com Eg maiores que 3,1 eV não absor-
vem nenhum fóton de energia do espectro de luz visível e, portanto, esses materiais, se tiverem pureza
elevada, serão visivelmente transparentes e incolores.
De forma similar, em materiais cuja energia entre as bandas, Eg, é menor que 1,8 eV, toda a energia
da radiação luminosa é absorvida pelo material, e esses materiais são visualmente opacos.
Finalmente, para materiais com energia entre as bandas, Eg, entre 1,8 eV e 3,1 eV, apenas uma parte
do espectro visível é absorvida e, portanto, esses materiais são coloridos.
Apesar dessa abordagem simples sobre absorção de energia ser verdade, existem outros fatores
e mecanismos que ocorrem em muitos materiais envolvendo a energia fornecida pela luz, mas essa
abordagem mais aprofundada não será tratada nesse material (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
Transmissão
Muitas cerâmicas, vidros e polímeros são materiais nos quais a luz pode atravessar de forma eficaz. O
grau de atravessamento da luz é indicado pelos termos:
• Transparência: capacidade de transmitir uma imagem clara através do material.
• Translucidez: transmissão de uma imagem difusa através do material.
• Opacidade: nenhuma transmissão de imagem através do material.
IT I 0 (1 R)2 ebl
Feixe incidente
Feixe
transmitido
Rβ
Feixe refletido
R
R AT 1
UNIDADE 8 229
Cor
As cores que enxergamos nos materiais transparentes são resultado da absorção seletiva de compri-
mentos de onda específicos da luz, o que significa dizer que a cor é o resultado da combinação dos
comprimentos de onda transmitidos através do material. Por essa razão, os materiais como diamante
e os vidros inorgânicos são incolores, pois eles absorvem igualmente todos os comprimentos de onda
da luz visível.
Já o sulfeto de cádmio, por exemplo, possui um Eg de 2,4 eV, então ele só absorve comprimentos
de onda com energias superiores a 2,4 eV, ou seja, da luz visível ele não absorve os comprimentos de
onda correspondentes à faixa de energia que vai de 1,8 eV até 2,4 eV, e nessa faixa de comprimentos
de ondas estão as cores amarelo, laranja e vermelho. Portanto, o sulfeto de cádmio apresenta coloração
amarelo alaranjado, que representa a composição de comprimentos de onda do feixe de luz transmitido
por esse material.
Os vidros coloridos são o resultado da inserção de íons de impureza ao vidro ainda no estado fun-
dido. São eles: íons de Cu2+ (dão coloração azul esverdeado), Co2+ (dão coloração azul violeta), Mn2+
(dão coloração amarela) entre outros mais.
Luminescência
Uma característica muito interessante que alguns materiais apresentam é a capacidade de absorver
energia e, então, reemitir essa energia na forma de radiação luminosa. A essa característica, damos o
nome de luminescência.
O que acontece nos materiais luminescentes é que eles absorvem a energia do fóton e, com isso,
ocorre a promoção do elétron da banda de valência (estado fundamental) para a banda de condução
(estado excitado). Quando esse elétron promovido sofre um decaimento para um estado de menor
energia (estado fundamental), ele libera um fóton de energia. Se esse fóton liberado possuir energia
entre 1,8 eV e 3,1 eV (energia dos fótons da luz visível), ele será visível.
A energia absorvida pelos materiais luminescentes para a excitação dos elétrons pode ser de origem
eletromagnética (luz, ultravioleta etc.) ou pode ser de outras fontes, como energia térmica, mecânica,
química etc.
Os materiais luminescentes são classificados com relação ao tempo de resposta, como:
• Fluorescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree-
missão dos fótons é muito curto, geralmente menores que 10 nanosegundos (praticamente
instantâneo).
• Fosforescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree-
missão dos fótons são maiores.
Certamente uma das maiores revoluções no campo a potência do sinal em longas distâncias, muitas
das comunicações foi a utilização das fibras óticas vezes, são utilizados repetidores que amplificam
para a transmissão de dados. Enquanto a transmis- e regeneram o sinal transmitido.
são de dados por meio de condutores, como fios Quanto à constituição, as fibras óticas são forma-
de cobre, dá-se por meio da condução elétrica (por das por um núcleo por onde os pulsos de luz viajam,
elétrons), a transferência de dados nas fibras óticas um recobrimento em torno do núcleo limita a traje-
acontece por transporte eletromagnético (fótons) tória dos pulsos dentro do núcleo, e um revestimen-
que é um processo muito mais veloz. Com isso, os to externo, que protege o núcleo e o recobrimento
sistemas de comunicação e transmissão de dados contra os possíveis danos que o cabo possa sofrer,
experimentaram uma melhora enorme na veloci- como podemos ver na Figura 5, a seguir.
dade e na densidade das informações transmitidas
após a implantação das fibras óticas.
O processo de transmissão de informações por
fibra ótica se inicia com as informações alimenta-
das, sendo transformadas em um sinal eletrônico
em bits (“zeros” e “uns”) por um codificador. Em
Recobrimento
seguida, esse sinal elétrico é convertido em um
sinal óptico (fótons), utilizando um conversor elé-
trico óptico. A saída do conversor elétrico óptico Núcleo Revestimento
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
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UNIDADE 8 231
Propriedades
Magnéticas
Conceitos básicos
UNIDADE 8 233
O diamagnetismo é uma forma muito fraca apresenta dipolos. Já na presença de um campo
de magnetismo, que ocorre quando um campo magnético, há a geração de dipolos e a orientação
magnético causa uma mudança no movimento deles no sentido oposto a esse campo.
do orbital dos elétrons do material, gerando um Na Figura 7(b), vemos o comportamento de
pequeno campo oposto. A magnitude da indução um material paramagnético, que na ausência de
magnética B em materiais diamagnéticos é menor um campo exibe dipolos magnéticos, porém es-
que no vácuo, e quando esses materiais são coloca- ses dipolos são orientados aleatoriamente. Quan-
dos entre os polos de um eletroímã forte, eles são do esse material é colocado sobre a ação de um
atraídos para as regiões onde o campo é mais fraco. campo magnético, os dipolos são orientados na
Por outro lado, existem materiais com permea- direção desse campo.
bilidades relativas maiores, mas também muito Entretanto, tanto os materiais diamagnéti-
próximas à unidade, variando entre 1,00 e 1,01, e cos quanto os paramagnéticos só apresentam
esses materiais apresentam momentos de dipolo magnetização quando submetidos a um campo
permanentes, os quais, na ausência de um campo magnético externo, ambos são considerados não
magnético externo, orientam-se de forma aleatória. magnéticos, além de que a densidade de fluxo
Entretanto, quando é aplicado um campo magnético magnético B presente nesses materiais é quase a
externo nesses materiais, os momentos de dipolo mesma que existiria no vácuo.
permanentes se alinham de acordo com esse campo,
esses materiais são chamados de paramagnéticos.
Ambos os comportamentos diamagnéticos e Ferromagnetismo
paramagnéticos são representados na Figura 7.
(a) Os materiais ferromagnéticos são caracterizados
=0
por exibirem magnetizações muito grandes, es-
pontâneas e que persistem mesmo na ausência de
um campo magnético, diferente das substâncias
paramagnéticas que só apresentam magnetização
enquanto um campo magnético estiver presente.
Os materiais que exibem comportamento fer-
(b) romagnético são materiais magnéticos. Alguns
=0
exemplos são os metais de transição, como o ferro,
o cobalto, o níquel e outros materiais (CALLIS-
TER; RETHWISCH, 2013).
Armazenamento magnético
Figura 7 - Disposição dos dipolos magnéticos na ausência
e na presença de um campo magnético externo
Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 687). A importância dos materiais magnéticos se dá,
também, pela sua aplicação como componentes
A Figura 7(a) representa o comportamento de um de armazenamento de informações. É notável a
material diamagnético, na qual podemos observar importância dos dispositivos de armazenamento
que, na ausência de um campo magnético, não magnético no setor da tecnologia; a partir des-
UNIDADE 8 235
acontece é que a resistividade elétrica da maioria cuja movimentação torna-se ordenada e, dessa
dos metais puros (condutores) diminui gradual- forma, os defeitos por átomos de impurezas e as
mente, conforme sua temperatura é reduzida, até vibrações térmicas não causam mais dispersões
alcançar um valor finito muito baixo, que é carac- significativas nesse transporte elétrico, portanto,
terístico para cada metal, na temperatura de 0 K. a dispersão dos elétrons é nula e a condutividade
No entanto, existem materiais que, quando têm é máxima.
sua temperatura reduzida a valores muito baixos, Algumas cerâmicas isolantes elétricas nas
têm sua resistividade elétrica reduzida de valores condições ambientes foram descobertas como
finitos até, aproximadamente, zero, permanecen- supercondutoras a temperaturas críticas TC rela-
do nesse valor conforme a temperatura continua tivamente elevadas. Entre elas está o óxido de ítrio,
a diminuir. A esses materiais específicos, damos bário e cobre (YBa2Cu3O7), cuja temperatura críti-
o nome de supercondutores quando atingem a ca é de, aproximadamente, 92 K. Do ponto de vista
temperatura TC, denominada temperatura crítica, tecnológico, esses materiais são fantásticos, pois
na qual a sua resistividade elétrica é, aproximada- uma vez que eles possuem temperaturas críticas
mente, zero. Para uma melhor compreensão do acima de 77 K, podem ser utilizados como super-
comportamento dos semicondutores frente aos condutores, cujo resfriamento é feito utilizando o
condutores comuns, podemos observar o gráfico nitrogênio líquido, que é muito mais barato que
de resistividade em função da temperatura (Figu- utilizar o hidrogênio líquido ou mesmo o hélio
ra 8) para esses dois tipos de materiais. líquido. Contudo, os supercondutores cerâmicos
têm a desvantagem de serem frágeis, o que difi-
culta a sua aplicação em componentes como em
cabos de instalações elétricas.
Esses tipos de materiais têm um amplo campo
Resistividade elétrica
Corrosão em Metais
UNIDADE 8 237
Reações eletroquímicas
2 H 2e H 2 ( gás )
Sendo essas as únicas reações de oxidação e redução que ocorrem no processo, o balanço global (soma das
reações) dá origem à reação eletroquímica global do zinco em solução ácida apresentada anteriormente.
Zn Zn2 2e
2 H 2e H 2 ( gás )
Zn 2 H Zn2 H 2 (ggás)
Outro exemplo comum de corrosão ocorre com o ferro na água (que contém oxigênio dissolvido), dan-
do origem à ferrugem. Esse processo ocorre em duas etapas, na primeira o ferro metálico Fe é oxidado
a ferro Fe2+ cuja forma é Fe(OH)2. Na segunda etapa, o Fe(OH)2 é oxidado novamente e transforma-se
na conhecida ferrugem de fórmula Fe(OH)3, cujo íon ferro é Fe3+.
1
Primeira etapa: Fe O2 H 2O Fe2 2OH Fe(OH )2
2
1
Segunda etapa: 2 Fe(OH )2 O2 H 2O 2 Fe(OH )3
2
Taxas de corrosão
Em sistemas reais, a corrosão é um processo que não está no equilíbrio, afortunadamente, na perspec-
tiva da engenharia, e estamos interessados em estimar as taxas nas quais os componentes corroem.
Essa taxa de corrosão é consequência da ação química e é um parâmetro importante de engenharia.
Podemos expressar a taxa como sendo a taxa de penetração da corrosão (TPC) ou a perda de espessura
do material por unidade de tempo.
KW
TPC =
r At
Onde W é a perda de peso, em miligramas (mg), após um tempo de exposição t em horas (h), ρ é a
massa específica em gramas por centímetro cúbico (g/cm³), A é a área exposta da amostra em cen-
tímetros quadrados (cm²) e K é uma constante. Para uma TPC dada em milímetros por ano (mm/
ano), a constante K é igual a 87,6. Uma estimativa aceitável de TPC em projetos é que ela seja menor
que 0,50 mm/ano.
UNIDADE 8 239
Além disso, pode-se definir a taxa de corrosão em toda a superfície exposta do material, geralmente
termos da corrente elétrica como mostra a relação: formando um depósito ou incrustação nessa su-
i perfície. A ferrugem generalizada em aços e no
r= ferro, e também o escurecimento de pratarias, são
nF
exemplos de corrosão por ataque uniforme.
A taxa r é dada em mols por metro quadrado Em situações nas quais dois metais ou ligas
(mol/m²), i é a corrente elétrica dada em ampe- de composições diferentes são colocadas juntas
res (A), n é o número de mols associados à ioni- e em contato com um eletrólito, pode ocorrer a
zação de cada átomo metálico e F é a constante corrosão galvânica. Nesse tipo de corrosão, o
de Faraday que vale 96500 C/mol (ASKELAND; metal mais reativo sofrerá oxidação (corrosão),
WRIGHT, 2015). enquanto o metal menos reativo estará protegi-
do da corrosão. Em ambientes marinhos (água
salgada é o eletrólito), parafusos de aço (ânodo)
Passividade correm em contato com latão (cátodo) devido à
corrosão galvânica. Além disso, a taxa de corro-
A passividade é um fenômeno exibido por metais, são galvânica aumenta conforme a razão entre
como o cromo, ferro, níquel, titânio e muitas ligas a área do cátodo e do ânodo aumenta, ou seja,
desses metais. Esse fenômeno é caracterizado pela para uma dada área do cátodo conforme a área
perda da reatividade química exibida por alguns do ânodo diminui (aumentando a razão), maior
materiais em alguns ambientes específicos. será a corrosão.
Esse comportamento é, possivelmente, devido A corrosão galvânica pode ser reduzida sig-
à formação de um filme de óxido muito fino e nificativamente:
aderente sobre a superfície do metal, e esse filme • Escolhendo metais (os ligas) próximos na
funciona como uma barreira que protege esse série galvânica para produção de junções.
metal contra uma corrosão adicional. Os aços • Utilizando uma área do ânodo tão grande
inoxidáveis são exemplos de ligas metálicas ex- quanto o possível.
tremamente resistentes à corrosão em diversos • Isolando eletricamente metais (ou ligas)
ambientes devido ao fenômeno da passividade. diferentes.
Formas de corrosão
A corrosão pode ocorrer na forma de pites, uma forma muito localizada de ataque corrosivo que for-
ma pequenos buracos no material. Os pites podem ter origem em um defeito superficial, como um
arranhão ou mesmo uma pequena variação na composição. Esse tipo de corrosão é muito traiçoeira,
muitas vezes não detectada, e que acarreta pequenas perdas do material e posterior falha.
Os aços inoxidáveis são razoavelmente susceptíveis a pites, entretanto, a resistência a esse tipo de
corrosão aumenta significativamente com uma adição de, aproximadamente, 2% de molibdênio a
esses aços.
Outro tipo de corrosão muito comum é a erosão-corrosão, uma ação combinada de um ataque
químico e da abrasão mecânica causada pelo movimento de um fluido. No geral, todas as ligas metálicas
são susceptíveis, em maior ou menor grau, a esse tipo de corrosão. Em ligas passivadas, o revestimento
protetor pode ser erodido pela ação abrasiva do fluido e, caso essa barreira não seja recomposta rapi-
damente pelo material, a corrosão pode ser severa.
A erosão-corrosão é frequentemente encontrada em tubulações, principalmente em curvas, cotovelos
e em grandes mudanças de diâmetro, rotores, válvulas, bombas e palhetas de turbinas, que são situações
onde há um escoamento turbulento e colisão do fluido. Por essa razão, uma das formas de reduzir a
erosão-corrosão é modificar o projeto para reduzir ou eliminar efeitos da turbulência e a colisão do
fluido. A escolha de um material resistente à erosão e à remoção de bolhas e partículas do fluido, redu-
zindo sua capacidade de erosão, é outra forma de reduzir a erosão-corrosão.
Dentre os ambientes ditos corrosivos estão a atmosfera (ar úmido contendo oxigênio dissolvido), so-
luções aquosas, solos, ácidos, base, solventes inorgânicos, metais líquidos, sais fundidos e, até mesmo,
o corpo humano. A escolha do material adequado depende do ambiente ao qual ele será exposto, a
seguir são mencionados alguns materiais comumente aplicados a alguns tipos de ambientes:
• Atmosfera: ligas de alumínio e de cobre e aço galvanizado.
• Água doce: ferro fundido, aço, alumínio, cobre, latão e alguns aços inoxidáveis.
• Água salgada: titânio, latão, alguns bronzes, ligas de cobre-níquel e ligas de cobre-cromo-mo-
libdênio.
• Solos: ferro fundido e aços-carbono comuns.
Existem diversas formas de lidar com a corrosão, sendo a mais simples a seleção criteriosa do material
utilizado no projeto, após o detalhamento do ambiente ao qual ele será inserido. Entretanto, o fator
econômico, algumas vezes, pode ser determinante e o material “ideal” seja economicamente inviável
ao projeto. Nesses casos, deve-se empregar outras medidas para lidar com a corrosão.
UNIDADE 8 241
Caso seja possível, a mudança do ambiente, Em virtude dessa resistência extrema à cor-
como a diminuição da temperatura do fluido ou rosão, os materiais cerâmicos possuem diversas
da sua velocidade, pode reduzir efeitos de corro- aplicações, como em recipientes de vidro para
são. Além disso, é muito comum a adição de subs- armazenamento de líquidos, cerâmicas refratárias
tâncias em concentrações relativamente baixas em aplicações onde é necessário um isolamento
ao ambiente para diminuir a corrosividade desse térmico e, ainda, resistência a ataques em tempe-
ambiente. Essas substâncias são denominadas raturas elevadas ou em aplicações em ambientes
inibidores, e sua escolha depende tanto da liga corrosivos e pressões acima da atmosférica. Os
metálica quanto do ambiente. materiais cerâmicos são muito mais recomen-
Alguns inibidores funcionam eliminando uma dados que os metais para suportar a maioria dos
espécie quimicamente ativa do ambiente, outros ambientes corrosivos por longos períodos.
fixam-se na superfície que está sendo corroída e
a protegem. Sua utilização se dá, principalmen-
te, em sistemas fechados, como em caldeiras de Degradação dos Polímeros
vapor ou radiadores de automóveis.
Um dos meios mais eficaz de proteção contra Assim como os materiais metálicos, os polímeros
os diversos tipos de corrosão é a proteção catódi- também sofrem deterioração devido à interação
ca. Esse tipo de proteção consiste em fornecer um com o ambiente. Entretanto, o modo como essa
suprimento de elétrons, por uma fonte externa, ao interação ocorre é diferente: nos metais, ocorre
metal que se deseja proteger, transformando esse um processo eletroquímico, enquanto nos po-
metal em um cátodo. límeros os fenômenos são físico-químicos, por
Outra forma de proteção catódica é acoplar essa razão, a deterioração nos polímeros devido
um metal mais reativo ao metal que se deseja pro- ao ambiente é chamada de degradação.
teger. O metal mais reativo funcionará como um Em geral, os polímeros podem deteriorar-se
ânodo de sacrifício, e será oxidado no lugar do por inchamento, dissolução ou por ruptura de
outro metal. O magnésio e o zinco são os metais suas ligações covalentes. Entretanto, devido à
mais utilizados como ânodo de sacrifício devido complexidade química da classe dos polímeros,
aos seus altos potenciais de oxidação. Um exemplo os seus mecanismos de degradação não são com-
de proteção catódica muito conhecido é a galva- pletamente entendidos.
nização, que consiste na aplicação de uma cama- O inchamento ocorre quando um polímero,
da de zinco na superfície do aço, com a finalidade exposto a um líquido, absorve esse líquido, ou
de proteger o aço contra a corrosão. um soluto desse líquido, e as pequenas moléculas
absorvidas ajustam-se no interior do polímero
e forçam a separação das suas macromoléculas,
Corrosão em Cerâmicas resultando em uma redução das forças de liga-
ção intermoleculares e, consequentemente, em
Os materiais cerâmicos são extremamente imunes uma redução da resistência e um aumento da
à corrosão em quase todos os ambientes. Quando ductilidade do polímero. Pode, ainda, ocorrer a
ocorre nesses tipos de materiais, é uma simples diminuição da temperatura de transição vítrea do
dissolução química, diferente dos processos ele- polímero, e caso essa temperatura seja menor que
troquímicos que ocorrem na corrosão dos metais. a temperatura ambiente, o material, que antes era
UNIDADE 8 243
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
244
2. Vimos, neste tópico, as propriedades ópticas dos materiais, as quais são a respos-
ta de um material quando submetidos a uma radiação eletromagnética, dentre
elas, especialmente, a luz visível. Portanto, discutimos alguns conceitos básicos
importantes e vimos as propriedades ópticas da refração, reflexão, absorção,
cor, entre outras. Analise as afirmativas a seguir.
I) O fenômeno no qual a luz incide na superfície de um material transparente e
é transmitida para o seu interior, sofrendo uma modificação da sua direção
de propagação em relação à direção de incidência, é chamado de refração.
II) O fenômeno da reflexão acontece quando a luz incide em uma interface entre
dois meios, cujos índices de refração são diferentes, e parte dessa radiação
luminosa é refletida nessa interface, ou seja, parte da radiação luminosa toca
a interface e é devolvida.
III) Uma parcela da luz incidente em um material sólido transparente atravessa
completamente o material; esse fenômeno é chamado de cor e está relacio-
nado com o fenômeno da reflexão.
IV) Os materiais fluorescentes e fosforescentes possuem a capacidade de ab-
sorver a energia que incide sobre eles e reemitir essa energia na forma de
fótons (energia luminosa).
245
WEB
246
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.
247
1. C.
A afirmativa II está incorreta, pois o ferro (na forma ferrita α), o cobalto e o níquel exibem comportamento
ferromagnético, ou seja, exibem momento magnético permanente mesmo na ausência de um campo
magnético externo.
2. B.
A afirmativa III está incorreta, pois uma parcela da luz incidente em um material sólido transparente atra-
vessa completamente o material; esse fenômeno é chamado de transmissão e está relacionado com os
fenômenos da reflexão e absorção.
• Seleção criteriosa do material adequado, conhecendo-se o ambiente ao qual ele será inserido.
248
249
250
251
252
Me. Luis Henrique de Souza
Classes de
Materiais e Aplicações
PLANO DE ESTUDOS
Cerâmicas Compósitos
Metais e
ligas metálicas Polímeros
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Conhecer os tipos de ligas metálicas e as aplicações • Abordar e aprender sobre a classificação dos polímeros
comuns de cada uma delas. de acordo com as suas finalidades.
• Aprender sobre as classes dos materiais cerâmicos e as • Estudar os materiais compósitos e entender as funções
aplicações delas. da matriz e da fase reforço nesses materiais.
Metais e
Ligas Metálicas
UNIDADE 9 255
• As propriedades físicas e mecânicas dos variados tipos de ligas de ferro são muito variadas, o
que faz com que essas ligas sejam muito versáteis em aplicações de engenharia.
Muitas dessas ligas ferrosas, no entanto, têm a desvantagem de serem mais suscetíveis à corrosão (tra-
tada na Unidade 8). A seguir, conheceremos os dois tipos de ligas ferrosas: os aços e os ferros fundidos.
Para tornar mais simples a utilização das ligas ferrosas e não ferrosas, visto que existem tantas, foi feita
a indexação dessas ligas em um sistema de numeração unificado (UNS - unified numbering system).
A classificação de cada liga específica é responsabilidade da AISI (American Iron and Steel Institute),
SAE (Society of Automotive Engineers) e da ASTM (American Society for Testing and Materials). O
número AISI/SAE para aços comuns e aços liga é formado por quatro dígitos:
• 10xx - aços-carbono.
• 11xx - aços-carbono com muito enxofre e pouco fósforo.
• 12xx - aços-carbono com muito enxofre e muito fósforo.
• 13xx - manganês (1,75%).
• 23xx - níquel (3,5%).
• 25xx - níquel (5%).
• 31xx - níquel (1,5%), cromo (0,6%).
• 33xx - níquel (3,5%), cromo (1,5%).
• 40xx - molibdênio (0,2 ou 0,25%).
• 41xx - cromo (0,5; 0,8 ou 0,95%), molibdênio (0,12; 0,2 ou 0,3%).
• 43xx - níquel (1,83%), cromo (0,5 ou 0,8%), molibdênio (0,25%).
• 44xx - molibdênio (0,53%).
• 46xx - níquel (0,85 ou 1,83%), molibdênio (0,2 ou 0,25%).
• 47xx - níquel (1,05%), cromo (0,45%), molibdênio (0,25%).
• 48xx - níquel (3,50%), molibdênio (0,25%).
• 50xx - cromo (0,28% ou 0,40%).
• 51xx - cromo (0,80, 0,90, 0,95, 1,00 ou 1,05%).
• 61xx - cromo (0,80 ou 0,95%), vanádio (0,10 ou 0,15%).
• 86xx - níquel (0,55%), cromo (0,50 ou 0,65%), molibdênio (0,20%).
• 87xx - níquel (0,55%), cromo (0,50%), molibdênio (0,25%).
• 92xx - manganês (0,85%), silício (2,00%).
• 93xx - níquel (3,25%), cromo (1,20%), molibdênio (0,12%).
• 94xx - manganês (1,00%), níquel (0,45%), cromo (0,40%), molibdênio (0,12%).
• 97xx - níquel (0,55%), cromo (0,17%), molibdênio (0,20%).
• 98xx - níquel (1,00%), cromo (0,80%), molibdênio (0,25%).
Os dois últimos dígitos (xx) indicam a concentração (porcentagem em peso multiplicada por 100) de
carbono da liga. Exemplo: o aço 1060 é um aço carbono comum com concentração de 0,60%p de carbono.
Aços
Os aços são produzidos essencialmente de duas maneiras, a partir da redução de minérios de ferro
ou pela reciclagem de sucata de aço. Os aços são ligas ferrosas que, na teoria, contêm concentrações
de carbono entre 0,08%p e 2,14%p, entretanto, na prática são quase sempre inferiores a 1%p C. As
propriedades mecânicas dos aços são sensíveis a variações na concentração de carbono dessas ligas.
Existem milhares de ligas de aço, podendo conter quantidades significativas de outros diferentes
elementos de liga, com composições e tratamentos térmicos distintos. Na Figura 1, a seguir, vemos
a utilização do aço na produção de barras extremamente resistentes utilizadas na construção civil.
Quanto às classes dos aços, eles são ainda divididos em aços de baixo, médio e alto teor de carbono,
de acordo com as suas concentrações de carbono, como veremos a seguir.
Esse tipo de aço possui concentrações de carbono inferiores a 0,25%p e são os mais produzidos em
quantidade dentre os aços. Normalmente, não são tratáveis termicamente para endurecimento, um
aumento na resistência pode ser alcançado a frio. Por essa razão, em relação à resistência mecânica, eles
são extremamente dúcteis e tenazes, além de serem usináveis e soldáveis; são os mais baratos para serem
produzidos dentre o grupo dos aços, entretanto, são, relativamente, pouco resistentes e pouco duros.
UNIDADE 9 257
Entre as suas aplicações típicas, estão os componentes de carcaças de automóveis, perfis estruturais
(vigas, canaletas e cantoneiras) e chapas utilizadas na fabricação de tubos, construção civil e latas de
folhas-de-flandres.
Nesse grupo, encontram-se os aços com teores de carbono entre 0,25%p e 0,60%p. Os aços perten-
centes a esse grupo possuem uma quantidade de carbono suficiente que torna possível a realização
de tratamento térmico de têmpera e revenido para melhorar suas propriedades mecânicas. Contudo,
os aços comuns de médio teor de carbono possuem baixa temperabilidade, portanto seu tratamento
térmico é efetivo apenas em seções muito finas e a altas taxas de resfriamento. Em geral, os aços de
médio teor de carbono possuem maior resistência e dureza e menor tenacidade e ductilidade do que
os aços de baixo carbono.
São utilizados na fabricação de rodas e equipamentos ferroviários (como as rodas dos trens),
engrenagens, virabrequins e outros componentes de máquinas que necessitem de uma combinação
razoável entre resistência mecânica e o desgaste, além de tenacidade.
Os aços de alto teor de carbono possuem concentrações entre 0,60%p C e 1,4%p C, por essa razão, são
mais duros e mais resistentes que os anteriores, mas também são menos dúcteis que eles.
São comumente utilizados na condição endurecida e revenida, o que os torna especialmente
resistentes ao desgaste e capazes de manter um bom fio de corte. Por isso, possuem aplicações em
componentes, como talhadeiras, folhas de serrote e facas, além de martelos, molas, rodas de trem e
arames de alta resistência (CALLISTER; RETHWISCH, 2013).
Aços-liga
Os aços que possuem teores significativos de elementos de liga, além do carbono, são chamados de
aços-liga. Para um aço se enquadrar em aço-liga, ele deve possuir uma concentração de um ou mais
elementos de liga, superior ao padrão definido pela AISI que é de:
• ≥1,65%p Mn (manganês).
• ≥0,6%p Si (silício).
• ≥0,6%p Cu (cobre).
Além disso, a soma das concentrações de carbono e dos elementos de liga do aço-liga não ultrapassam
5%p. São considerados aços-liga, também, os aços cuja concentração dos elementos Ni (níquel), Cr
(cromo), Mo (molibdênio) ou Ti (titânio) esteja especificada rigorosamente.
A adição de elementos de liga melhora a temperabilidade e a tenacidade dos aços. Esses materiais
são muito utilizados na fabricação de ferramentas, como machados e martelos e também na fabricação
de engrenagens e eixos (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
Os aços inoxidáveis são ligas ferrosas extrema- uma contração moderada durante a solidificação.
mente resistentes à corrosão em diversos am- Portanto, pode-se utilizar a fundição como téc-
bientes, principalmente na atmosfera ambiente. nica de fabricação de componentes dessas ligas,
Possuem, em sua composição, pelo menos, 12%p sendo a etapa final da produção a conformação
Cr (cromo), que é responsável pela formação de da liga líquida em um molde com a forma do
uma camada uniforme de óxido que protege o componente desejado (SHACKELFORD, 2013).
aço (passivação) da corrosão em atmosfera con-
tendo oxigênio. Além disso, adições de níquel e Ferro cinzento
molibdênio podem ser utilizadas para aumentar
a resistência à corrosão dos aços inoxidáveis. Os ferros cinzentos são ferros fundidos constituí-
Devido à variedade extremamente ampla de dos de carbono e silício, cujas concentrações desses
propriedades mecânicas, aliada à excepcional componentes variam entre 2,5%p C a 4,0%p C e
resistência à corrosão, essas ligas encontram um 1,0%p Si a 3,0%p Si. Estão entre os materiais mais
horizonte enorme de aplicações, desde aplicações baratos dentre os materiais metálicos e são ligas
em ambientes severos a altas temperaturas, como ferrosas tipicamente pouco resistentes e frágeis a
em turbinas a gás e caldeiras, até componentes, tensões de tração.
como facas, instrumentos cirúrgicos e molas. Uma das características mais importantes do
ferro cinzento é a sua capacidade de amorteci-
Ferros fundidos mento de energia vibracional, sendo utilizado
nas bases que dão sustentação a equipamentos e
Chamamos de ferros fundidos as ligas ferrosas máquinas pesadas expostas a vibrações durante
cuja concentração de carbono está acima de sua utilização. Outra característica importante é a
2,14%p C. Essas ligas ferrosas tornam-se total- alta fluidez observada no ferro cinzento fundido,
mente líquidas em temperaturas entre 1150 °C e que possibilita a produção de peças com geome-
1300 °C, valores consideravelmente mais baixos trias complexas por meio de fundição. Além disso,
que as temperaturas de fusão dos aços, além disso, os ferros cinzentos possuem boa resistência ao
elas não formam filmes superficiais indesejáveis desgaste e à fadiga térmica, alta resistência à com-
quando derramados em moldes e sofrem somente pressão e são materiais com boa usinabilidade.
Os ferros fundidos são ligas ternárias, ou seja, elas apresentam três elementos químicos principais,
que são o ferro, o carbono (entre 2%p a 4%p) e o silício (entre 0,5%p a 3%p).
Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).
UNIDADE 9 259
Ferro dúctil
O ferro dúctil, também chamado de nodular, é formado pela adição de magnésio e/ou cério ao ferro
fundido cinzento antes dele ser fundido. Esse processo de adição antes da fundição leva a um material
com uma microestrutura diferente do ferro cinzento e, consequentemente, com propriedades mecâni-
cas diferentes também. O ferro dúctil possui propriedades mecânicas próximas de alguns aços, como
boa resistência à tração e alta ductilidade comparado ao ferro cinzento (de onde vem o nome deles).
Esse tipo de liga ferrosa encontra aplicações na produção de equipamentos, como corpo de bom-
bas, válvulas, virabrequins, engrenagens e vários outros componentes de máquinas e de automóveis.
Ferro branco
O ferro branco é um ferro fundido com baixo teor de silício em sua composição, estando em concentrações
inferiores a 1,0%p Si. Essa liga é extremamente dura, contudo, é muito frágil, o que impossibilita sua usi-
nagem. Portanto, suas aplicações são limitadas, sendo utilizado, principalmente, em aplicações que exigem
uma superfície de elevada dureza e resistência ao desgaste abrasivo e que não necessitam muita ductilidade.
Mesmo as ligas ferrosas sendo usadas em maior proporção nas aplicações que utilizam materiais me-
tálicos, as ligas não ferrosas desempenham um papel fundamental nos avanços tecnológicos na área
de materiais. Essa importância se dá, principalmente, por três fatores, que são:
• As ligas ferrosas possuem massa específica relativamente alta, ou seja, relação massa/volume alta.
• As ligas ferrosas têm condutividades elétricas baixas frente a outros materiais metálicos.
• As ligas metálicas são inerentemente suscetíveis à corrosão em alguns ambientes comuns.
Esses fatores são o estímulo ao uso de ligas metálicas diferentes (ligas não ferrosas) em aplicações nas
quais as ligas ferrosas não se encaixam.
As ligas não ferrosas são classificadas de acordo com o seu componente metálico básico ou de
acordo com alguma característica específica do grupo ao qual pertence. Alguns exemplos são as ligas
de alumínio, cobre, magnésio, metais refratários, superligas etc.
Neste tópico, abordaremos algumas dessas ligas não ferrosas e suas características gerais. As possibili-
dades de ligas não ferrosas são imensas, por essa razão descreveremos apenas algumas delas neste material.
Ligas de cobre
O cobre e as suas ligas são utilizados desde a antiguidade e possuem diversas aplicações até hoje devido
a suas propriedades superiores. Primeiramente, eles são excelentes condutores de corrente elétrica e,
por essa razão, encontram-se como principal material de instalações elétricas. Além disso, são ótimos
condutores térmicos, sendo muito utilizadas em trocadores de calor e radiadores.
Ligas de alumínio
O alumínio é o terceiro elemento mais abundante na Terra, vindo depois do oxigênio e do silício. É um
metal não tóxico e reciclável, gastando-se cerca de 5% da energia necessária para produzi-lo a partir
da alumina (óxido de alumínio – Al2O3).
A principal característica das ligas de alumínio é sua massa específica
relativamente baixa, por exemplo 2,8 g/cm3 frente ao aço que possui
uma massa específica na faixa de 8,0 g/cm3. As ligas de alumínio
possuem elevada condutividade térmica e elétrica, e resistência à
corrosão em atmosfera ambiente e outros ambientes comuns.
Contudo, o alumínio puro não é indicado para utilizações
em temperaturas elevadas devido à sua baixa tempera-
tura de fusão, além disso, ele apresenta baixa resistência
à fadiga, de modo que as trincas por fadiga podem
ocorrer em condições de baixa tensão.
Os principais elementos de liga nas ligas
de alumínio são cobre, silício, manganês,
magnésio e zinco. As ligas de alumínio que
UNIDADE 9 261
possuem apenas uma fase não são passíveis de predominantes na liga. Adicionalmente a es-
tratamentos térmicos, contudo, elas podem ter sua ses elementos predominantes, tem-se a adição
resistência aumentada por processos de endure- de elementos de liga como nióbio, molibdênio,
cimento por solução sólida (descrito da Unidade tungstênio, cromo, titânio e tântalo. As superligas
6). Contudo, existem ligas de alumínio que são podem ser forjadas ou fundidas e são aplicadas
termicamente tratáveis (endurecidas por preci- em muitos equipamentos industriais como no
pitação), devido a elementos de liga específicos, setor petroquímico e nuclear.
como o zinco e o magnésio.
As aplicações mais comuns das ligas de alu- Metais refratários
mínio são na produção de peças estruturais de
aeronaves, latas de bebidas, algumas peças de au- Os elementos metálicos com pontos de fusão extre-
tomóveis, entre outras. mamente altos são classificados como metais refra-
tários, alguns exemplos são o nióbio, molibdênio,
Ligas de titânio tungstênio e tântalo, e suas temperaturas de fusão
variam de 2468 °C, para o nióbio, até 3410 °C, para
As ligas de titânio apresentam uma combinação de o tungstênio.
propriedades muito interessante do ponto de vista Esses metais possuem aplicações variadas, por
da engenharia. São ligas excepcionalmente resisten- exemplo o tântalo e o tungstênio são utilizados
tes, além disso, são muito dúcteis e podem ser forja- como elementos de ligas na produção de aço ino-
das e usinadas com muita facilidade. Algumas ligas xidável. Ligas de molibdênio são usadas em peças
de titânio com alumínio e estanho são ideias para estruturais de veículos espaciais, enquanto o tungs-
utilizações a temperaturas elevadas, pois são ligas tênio é utilizado nos filamentos de lâmpadas in-
muito resistentes à fluência, contudo sua capacidade candescentes, eletrodos de solda e tubos de raios X.
de forjamento é inferior às demais ligas de titânio.
O titânio reage quimicamente com os outros Fabricação de Metais
materiais a temperaturas elevadas, por essa razão,
as ligas de titânio são muito caras, uma vez que A fabricação de metais é precedida, geralmente,
as técnicas utilizadas para o seu refino e fundição por processos de refino, formação de ligas e trata-
devem ser diferenciadas. Apesar dessa reatividade mento térmico, o que conduz a um produto (ligas)
a altas temperaturas, as ligas de titânio são muito com características desejáveis.
resistentes à corrosão em ambientes atmosféricos, Os métodos de conformação comuns são a
marinhos e industriais, em temperaturas normais fundição, metalurgia de pó e a soldagem. A esco-
e anormalmente elevadas também. lha do método depende de vários fatores, dentre
eles as propriedades do metal, o tamanho e a for-
Superligas ma da peça a ser criada e o custo de produção.
As operações de conformação envolvem a de-
As superligas são ligas metálicas que possuem formação plástica (irreversível) da peça metálica,
uma combinação excepcional de boas proprie- utilizando uma força ou tensão externa que ex-
dades. Elas são classificadas em três grupos: cede o limite de escoamento do material. Alguns
ferro-níquel, níquel e cobalto, que são os metais exemplos de operações de conformação são o
UNIDADE 9 263
Cerâmicas
Vidros e Vitrocerâmicas
Os vidros, propriamente ditos, são materiais cerâmicos amorfos (não cristalinos) comumente utilizados
na fabricação de objetos, como lentes, recipientes, fibras de vidros etc. O vidro é um material metaestável
que foi super-resfriado e solidificou-se sem cristalizar. Eles são constituídos de altas concentrações de
sílica (SiO2) e possuem uma estrutura amorfa.
Além da sílica, os vidros contêm outros óxidos, como o Na2O, K2O, CaO e outros. Esses outros óxidos
influenciam nas propriedades do vidro. As principais características dos vidros são a sua transparência
ótica e a sua facilidade de fabricação.
Grande parte dos vidros inorgânicos pode ser transformada de um estado amorfo para um estado
cristalino, para isso ele deve ser submetido a um tratamento térmico apropriado, conduzido a tempe-
raturas elevadas, e a esse processo de transformação é dado o nome de cristalização. O produto final
do processo de cristalização é um material policristalino, formado por vários grãos finos e leva o nome
de vitrocerâmica.
Esses materiais possuem propriedades, tais como resistência mecânica relativamente elevada, baixa
expansão térmica (o que diminui muito as chances de choques térmicos); além disso, eles possuem
características que possibilitam sua utilização em ambientes de temperatura elevada, são dielétricos
e também podem ser aplicados como biomateriais devido à sua compatibilidade biológica. Quanto
às características óticas, algumas vitrocerâmicas são opacas, no entanto, outras são transparentes de-
pendendo do processo de fabricação.
Esse grupo de materiais é comumente aplicado na fabricação de peças para casa, como travessas
que vão ao forno, portas de fornos, pois são muito resistentes a choques térmicos e altas temperaturas.
Também são utilizados como isolantes elétricos, revestimento de trocadores de calor, como base de
placas de circuitos impressos e em dispositivos ópticos.
A sílica (SiO2) é, provavelmente, o material cerâmico de maior gama de aplicações, que constitui a
base de quase todos os vidros e vitrocerâmicas. Os materiais à base de sílica são muito utilizados em
aplicações de isolamento térmico (refratários) em fibras para reforço em compósitos, em vidrarias
de laboratório e na produção de fibras ópticas. Além disso, a sílica também é aplicada na forma de
partículas finas em pigmentos de tintas.
Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015).
UNIDADE 9 265
Cimentos
Os cimentos são materiais cerâmicos que são ca- sidade também causa a diminuição da resistência,
pazes de ser consolidados por um ligante sem da capacidade de suportar cargas e da resistência à
a necessidade de queima ou sinterização. A esse corrosão, portanto, a porosidade é um parâmetro
processo é dado o nome de cimentação, e ele que deve ser definido de acordo com o projeto no
ocorre quando se mistura o cimento com água, qual o refratário será utilizado.
formando uma pasta com pega que, posterior- Dentre as aplicações dos refratários, as mais
mente, endurece. Alguns exemplos de cimentos usuais são na forma de tijolos refratários para a
inorgânicos são o gesso, o cimento Portland e o construção de fornos em forjas de metais e de
cal, que são produzidos em quantidades muito produção de vidro, fornos de tratamento térmico
grandes. e na geração de energia.
O cimento Portland é produzido em grandes
quantidades e é composto de argila e minerais que
contêm cal moídos e misturados, em proporções Abrasivos
definidas, que passam por um longo processo de
produção industrial. Esse cimento tem sua dureza Os materiais cerâmicos denominados abrasivos
desenvolvida por meio de reações químicas com a são aqueles que têm como finalidade desgastar,
água, por essa razão, é, muitas vezes, chamado de cortar ou polir outros materiais. Por essa razão, es-
cimento hidráulico e é utilizado, principalmente, ses materiais têm que possuir uma dureza elevada,
em argamassas e concreto, com a função de aglu- além disso, eles devem ser resistentes ao desgaste
tinar e formar uma massa com areia e cascalho. e também ter um alto grau de tenacidade.
Materiais como o diamante, natural e sintético,
são ótimos abrasivos, contudo são materiais mui-
Refratários to caros. Os mais comuns e baratos são carbeto
de silício, oxido de alumínio, areia e carbeto de
As cerâmicas refratárias são materiais muito utili- tungstênio.
zados. Esses materiais resistem a altas temperatu- As cerâmicas abrasivas podem ser aplicadas co-
ras, sem sofrer fusão ou mesmo decomposição e ladas a discos, na forma de revestimento ou como
possuem a capacidade de não reagir e nem sofrer grãos soltos. Os abrasivos colados a discos são fixa-
corrosão mesmo quando expostos a ambientes dos a um disco por meio de uma resina orgânica ou
severos. Além disso, eles possuem a característica uma matriz cerâmica vítrea. Já os de revestimento
de serem ótimos isolantes térmicos, o que os torna são aplicados na forma de pó abrasivo em um mate-
muito mais interessantes. A qualidade dos mate- rial, papel ou tecido, sendo a lixa de papel o exemplo
riais refratários depende muito da sua composição. mais comum desse tipo de abrasivo.
Um dos parâmetros mais importantes de se Por fim, os grãos soltos são dispersos em um
atentar durante a produção de um refratário é meio aquoso ou em óleo, que é, então, aplicado à
a porosidade, uma vez que um aumento na po- superfície que se deseja polir e/ou lixar, geralmen-
rosidade acarreta um aumento na resistência a te utilizando um equipamento para exercer a força
choques térmicos e também um aumento no iso- mecânica necessária ao processo (CALLISTER;
lamento térmico. Entretanto, o aumento da poro- RETHWISCH, 2013).
Os produtos feitos de argila são muito populares, visto que a argila é uma matéria-prima muito barata,
encontrada em abundância na natureza e de fácil extração, não necessitando de qualquer processo de
beneficiamento. Além disso, a produção de produtos de argila é muito simples, pois é só misturar a
argila com água para que se forme uma massa plástica de fácil manuseio, a qual é moldada, secada ao
ambiente e, posteriormente, cozida em temperatura elevada para melhorar sua resistência mecânica
(consolidação).
As cerâmicas de argila podem ser classificadas em louças brancas e produtos à base de argila. As
louças brancas são cerâmicas à base de argila que ficam brancas após o cozimento a altas temperaturas.
Esse grupo inclui as porcelanas e as louças de barro, sanitárias e vitrificadas.
Já nas cerâmicas à base de argila estão inclusos os tijolos de construção, tubulações de esgoto, uten-
sílios de cozinha e também os azulejos, aplicações nas quais é imprescindível a integridade estrutural
do componente (ASKELAND; WRIGHT, 2015).
Cerâmicas Avançadas
A maior parte dos materiais cerâmicos produzidos estão entre os grupos discutidos anteriormente,
contudo, existe ainda o grupo das cerâmicas avançadas que tem notável importância visto que elas
são utilizadas em tecnologias de ponta, principalmente devido às suas propriedades elétricas, ópticas
e magnéticas.
UNIDADE 9 267
Sistemas Rolamentos de
microeletromecânicos esferas cerâmicas
UNIDADE 9 269
Monômero Polímero
(gás / líquido) (sólido)
temperatura
pressão
ativadores
catalisadores
Monômero Polímero
(gás / líquido) (sólido) MONÔMERO = molécula pequena
MERO = unidade (estrutura química) de repetição da molécula
temperatura
pressão OLIGÔMERO = molécula com poucos meros
ativadores
catalisadores POLÍMERO = macromolécula com muitos meros
Elastômeros
Os materiais elastoméricos são polímeros amorfos particularmente interessantes na ciência dos ma-
teriais devido à sua elasticidade, ou seja, eles têm a capacidade de se deformarem elasticamente em
quantidade significativa quando submetidos a tensões e, então, retornarem completamente à forma
original após essas tensões cessaram.
Das suas propriedades, podemos dizer que existem elastômeros que são resistentes a temperaturas
altas e baixas, resistentes mecanicamente e com boas propriedades elétricas, como é o caso dos polissilo-
xanos (silicones). Já os policloroprenos (Neoprene) são resistentes a ambientes sujeitos a intempéries ou
em presença de ozônio, e também são resistentes a óleo e a chamas, e são utilizados como revestimento
de tanques de produtos químicos, vedações, gaxetas, fios, mangueiras e isolamento de cabos.
Dentre as aplicações mais comuns dos elastômeros estão a produção de pneus, bolas de golfe, solas
de calçados, tubos e juntas, utilizando poli-isopreno. Na fabricação de pneus também é comum a
utilização do copolímero de butadienoestireno (borracha de SBR ou BS).
Fibras
Os polímeros pertencentes à classe das fibras são capazes de ser esticados (tensionados) em uma razão
(comprimento do fio/diâmetro do fio) de, pelo menos, 100:1 (cem por um). O uso mais comum das
fibras poliméricas é na indústria têxtil para a confecção de panos e tecidos, contudo, para essa utilização,
é necessário que essa fibra atenda uma série de requisitos químicos e físicos.
UNIDADE 9 271
As fibras são submetidas a vários tipos de Existem, também, adesivos feitos de polímeros
deformações mecânicas, como estiramentos, termoplásticos ou elastômeros termoplásticos,
torções e abrasão, portanto, é indispensável que que quando são submetidos ao aquecimento (por
elas tenham valores altos de limite de resistência volta de 80 a 110 °C) fundem-se e unem os ma-
à tração (LRT) e de módulo de elasticidade (E), teriais durante a sua solidificação (ASKELAND;
e essas propriedades são controladas tanto pela WRIGHT, 2015).
estrutura química das cadeias que formam esse
polímero quanto pelo processo de estiramento
dessas fibras. Polímeros Avançados
Outra característica importante das fibras é a
de que elas devem ser estáveis quimicamente, não A síntese de novos materiais poliméricos com
reagindo facilmente em ambientes ligeiramente combinações de propriedades únicas e desejá-
ácidos, básicos, como na presença de alvejantes, veis vem se desenvolvendo aceleradamente nos
solventes de lavagem a seco ou mesmo à luz do últimos anos, principalmente em detrimento
sol. Além disso, elas têm que ser não inflamáveis e, do nicho tecnológico. Agora vamos conhe-
de preferência, que possam ser secadas sem sofrer cer o polietileno de ultra-alta massa molar, os
deformações ou perda de suas propriedades. cristais líquidos poliméricos e os elastômeros
termoplásticos, que são materiais poliméricos
avançados.
Adesivos
UNIDADE 9 273
Compósitos
UNIDADE 9 275
Direção
Os whiskers são compostos por monocris-
longitudinal
tais extremamente finos e de razão comprimento/
diâmetro muito grandes. Por esse motivo, eles
exibem um grau de cristalinidade elevado e são
praticamente livres de defeitos, o que os torna
Direção extremamente resistentes.
transversal
Contudo, sua utilização é delimitada devido
ao seu custo extremamente oneroso, além disso,
são materiais de difícil incorporação, às vezes im-
possível, a uma matriz.
(a) (b) (c)
As fibras, por sua vez, são feitas de materiais
Figura 4 - Representação esquemática das fibras em um policristalinos ou de materiais amorfos, possuem
compósito reforçado com fibras
Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013). diâmetros pequenos, contudo, maiores que os
diâmetros dos whiskers. São feitas de materiais
Podemos observar um compósito reforçado com cerâmicos ou poliméricos, por exemplo, carbono,
fibras na Figura 4(a), um compósito reforçado boro, óxido de alumínio, aramidas poliméricas etc.
com fibras contínuas e alinhadas na Figura 4(b) e, Os arames utilizados nesses compósitos têm
por fim, um compósito reforçado com fibras des- diâmetros bem maiores que os anteriores, e são
contínuas e orientadas aleatoriamente na Figura geralmente utilizados para reforçar pneus de
4(c). Além disso, observou-se que os compósitos carros, carcaças de foguetes, mangueiras de alta
constituídos de fibras distribuídas uniformemen- pressão etc., e eles são, geralmente, feitos de aço
te costumam ter propriedades gerais melhores. e tungstênio, entre outros.
Fibras
As fibras são feitas de materiais com valores altos Existem compósitos que utilizam dois ou mais
de limite de resistência à tração (LRT). Mesmo tipos diferentes de fibras, como reforço, deno-
assim, um fato interessante é que a maioria dos minados compósitos híbridos, dessa forma, é
materiais, especialmente os que costumam ser possível projetar materiais com um conjunto de
frágeis, quando na forma de fibras, costumam ser propriedades melhores e mais específico que
mais resistentes do que quando estão em uma com um tipo só de fibra.
forma mais volumosa. Isso se deve ao fato de que,
em uma fibra, a probabilidade de existência de um
defeito que possa levar o material rapidamente Matriz
à fratura é muito menor que em uma peça mais
volumosa desse material. Nos compósitos reforçados com fibras, a fase
As fibras utilizadas são classificadas em whis- matriz, ou simplesmente a matriz, desempenha
kers, fibras e arames, cujo critério de classificação a função de ligar as fibras umas às outras, além
é baseado na origem e no diâmetro da fibra. de ser o meio pelo qual a tensão aplicada é trans-
Compósitos Estruturais
Painéis-sanduíche
UNIDADE 9 277
externas, que são unidas (adesivadas) a um núcleo de grande espessura em relação às placas. A função
das placas é conferir alta rigidez e resistência ao compósito; por essa razão, elas são, geralmente, feitas
de um material bem rígido e resistente, que pode ser uma liga de alumínio, um plástico reforçado com
fibras, madeira compensada ou, ainda, titânio, entre outros. Enquanto o núcleo deve ser leve e possuir
um baixo módulo de elasticidade, então, ele é composto por madeira, espumas poliméricas rígidas ou,
ainda, colmeias (mostrada na Figura 6).
Lâmina da Face
Colmeia
Adesivo
Painel-sanduíche
finalizado
Lâmina da Face
Das funções desempenhadas pelo núcleo, a principal é servir de sustentação continuamente para as
lâminas externas. Além disso, ele deve ser resistente a tensões de cisalhamento transversais e também
deve ser espesso o suficiente para não sofrer flambagem, ou seja, não encurvar quando submetido a
uma tensão cisalhante. Esses painéis-sanduíche são, usualmente, aplicados em telhados, paredes de
edifícios e, até mesmo, na indústria aeronáutica e aeroespacial.
Encerramos a Unidade 9 e nela vimos que os metais têm grande importância no projeto de com-
ponentes estruturais, visto que são materiais que, em geral, apresentam valores altos de resistência
à tração, dureza e ductilidade, dentre eles se destacam os aços. Além disso, quando se deseja outras
características, como massa específica menor, maior resistência à corrosão ou mesmo uma maior
condutividade elétrica, deve-se investir em ligas não ferrosas, como as de alumínio e as de cobre.
Em relação às cerâmicas, vimos que são materiais inorgânicos formados por elementos metálicos e
não metálicos ligados por meio de ligações covalentes, iônicas ou combinações entre elas. As cerâmicas
apresentam propriedades bem variadas, como a transparência ótica nos vidros inorgânicos, a capaci-
dade de formar pastas e de endurecimento dessa pasta apresentada pelos cimentos, a capacidade de
suportar temperaturas elevadas e a resistência a choques térmicos dos refratários, entre muitas outras.
Além disso, temos também as cerâmicas avançadas, como as fibras óticas que são capazes de transmitir
informações com extrema rapidez devido à sua propriedade de transportar a luz.
UNIDADE 9 279
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
280
2. Muitas vezes, um conjunto de propriedades complexas são necessárias a um
projeto, tornando impossível a escolha de um material dentre as classes dos
metais, cerâmicas ou polímeros que supra todas as necessidades desse projeto
ao mesmo tempo. Devido a essa necessidade, foram criados materiais que são
a união de materiais pertencentes a essas três classes e que apresentam as
melhores propriedades dos materiais que os compõem. A respeito dos materiais
compósitos, analise as afirmativas apresentadas a seguir.
I) Os materiais compósitos são importantes, pois eles reúnem as melhores
características de cada material que os compõe.
II) A demanda dos materiais compósitos é alta, principalmente, nos setores de
alta tecnologia, como na indústria submarina e aeroespacial, na bioengenharia
e também no setor de transporte.
III) Os materiais utilizados na fabricação das fibras, em compósitos reforçados
com fibras, devem possuir altos limites de resistência à tração.
IV) A fase matriz desempenha apenas o papel de unir as fibras umas às outras
sem nenhuma outra função nos compósitos reforçados com fibras.
281
3. As cerâmicas são constituídas por elementos metálicos e não metálicos que,
na maioria das vezes, apresentam ligações de natureza iônica. Estão incluídos
nessa classe de materiais os refratários, cimentos, vidros, abrasivos e cerâmicas
à base de argila. Devido à natureza de suas ligações químicas, esses materiais
normalmente são isolantes térmicos e elétricos, além de, no geral, serem duros
e frágeis e resistirem a elevadas temperaturas. A respeito dos materiais cerâ-
micos, analise as afirmativas dadas a seguir.
I) As cerâmicas estruturais à base de argila são materiais cerâmicos feitos à
base de argila, um insumo barato e abundante. Os tijolos de construção,
tubulações de esgoto e os azulejos são exemplos desses materiais.
II) O diamante é um exemplo de material cerâmico classificado como abrasivo
natural, que possui elevada dureza, entretanto, não é resistente ao desgaste
e possui um baixo grau de tenacidade.
III) Os rolamentos de esferas cerâmicas apresentam vantagens frente aos rola-
mentos de esferas de aço com menor densidade, menor aquecimento durante
operação, maior resistência à corrosão e maior vida útil.
IV) Os sistema microeletromecânicos são sistemas “inteligentes” em miniatura,
que consistem em um grande número de dispositivos mecânicos integrados
a uma grande quantidade de elementos elétricos em um substrato de silício.
282
LIVRO
283
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage
Learning, 2015.
CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC, 2013.
SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013.
284
1. B.
A afirmativa II está incorreta, pois os aços de baixa concentração de carbono, até, no máximo 0,25%p C,
são materiais muito dúcteis e tenazes em relação aos aços com maiores teores de carbono.
A afirmativa III está incorreta, pois o ferro branco é uma liga ferrosa extremamente dura e, por essa razão,
muito frágil também, então sua aplicabilidade fica limitada ao revestimento de superfícies que necessitam
resistência à abrasão e dureza sem necessitar de ductilidade.
2. A.
A afirmativa IV está incorreta, pois a fase matriz desempenha o papel de unir as fibras umas às outras,
de distribuição das tensões aplicadas sobre o material compósito para as fibras e de proteção das fibras
contra corrosão e abrasão ocasionadas pelo meio externo.
3. E.
A afirmativa II está incorreta, pois o diamante é um exemplo de material cerâmico classificado como abrasivo
natural, que possui elevada dureza, é resistente ao desgaste e também tem um alto grau de tenacidade.
285
286
287
CONCLUSÃO