Impactos Da Bioinvasão No Ecossistema Solo em Condições Semiáridas PDF
Impactos Da Bioinvasão No Ecossistema Solo em Condições Semiáridas PDF
Impactos Da Bioinvasão No Ecossistema Solo em Condições Semiáridas PDF
Editores
Edjane Oliveira de Lucena
Tancredo Souza
1ª Edição
UFPB – CCA – DSER – PPGCS
Areia, Paraíba
2018
© 2018 by Edjane Oliveira de Lucena e Tancredo Augusto Feitosa de Souza
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou
forma, sem a autorização escrita e prévia dos detentores do copyright
Direitos de publicação reservados aos editores/autores
ISBN: 978-85-920166-7-8
2
Impactos da bioinvasão no ecossistema solo
em condições semiárida:
Estudo de caso com a espécie Cryptostegia madagascariensis
Bojer ex Decne
Apresentação
condição.
3
Capítulo 2 Impactos da invasão biológica na interação solo-planta
do Bioma Caatinga
4
de sementes bem como interferir no processo de regeneração natural além
condições edáficas. Com isso, este último capítulo traz ao leitor a preocupação
recém identificados.
5
Prefácio
6
Autores
Edjane Oliveira de Lucena, natural de Patos, PB, Brasil. Possui graduação em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG);
Mestrado em Ciências Florestais pela UFCG. Atualmente, doutoranda em Ciência
do Solo pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (PPGCS) pela
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Área de pesquisa em ciclos
biogeoquímicos com ênfase em bioinvasão.
Tancredo Augusto Feitosa de Souza , natural de Esperança, PB, Brasil. Possui
graduação em Agronomia pela UFPB; Mestrado em Manejo do Solo e Água
pela UFPB; e Doutorado em Ciência do Solo pela UFPB/Universidade de
Coimbra, Portugal. Atualmente bolsista de Pós-Doutorado pelo PPGCS. Estuda
as interações existentes entre plantas exóticas e fungos micorrízicos arbusculares
e suas consequências sobre o processo de invasão biológica e diversidade de
plantas nativas no semiárido brasileiro.
Leonaldo Alves de Andrade, natural de Salgado de São Félix, PB, Brasil. Possui
Graduação em Agronomia pela UFPB, Mestrado e Doutorado em Ciência
Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é Professor Titular da
UFPB. Idealizador do Laboratório de Ecologia Vegetal lotado na UFPB. Tem
experiência na área de Botânica Aplicada, Caatinga e ecossistemas associados,
com ênfase em: fitossociologia, sucessão ecológica, invasão biológica por
espécies exóticas, viveirismo e silvicultura conservacionista, matas ciliares e
gestão ambiental.
7
8
Sumário
Resumo .............................................................................................................................. 12
1.3 Efeitos da ação antrópica sobre a diversidade florística do Bioma Caatinga ..... 16
Resumo .............................................................................................................................. 33
Resumo .............................................................................................................................. 64
9
3.3. Considerações finais ................................................................................................. 81
Os autores ......................................................................................................................... 87
10
1 Características bióticas e
abióticas da região semiárida
Djail Santos
11
Resumo
Espécies Vegetais.
12
1.1 Introdução
quase 12% de todo o território nacional (Medeiros et al. 2012). Nesta região,
13
1.2 Solos e vegetação da Caatinga
al. 2012).
14
O Bioma Caatinga caracteriza-se como um mosaico vegetacional de
15
1.3 Efeitos da ação antrópica sobre a diversidade
florística do Bioma Caatinga
ecossistema bem como suas práticas de uso vem causando a exaustão dos
conhecimento sobre sua dinâmica (Souto 2006), formada por muitas espécies
(Drummond et al. 2008). Sua diversidade florística é alta, com mais de 1.512
16
Tabela 1.1 Efeitos das ações antrópicas sobre a vegetação e os solos do Bioma Caatinga
Prática/ Alteração da vegetação Alteração das propriedades do solo Referência
Cultivo de plantas de cobertura/ Incremento dos teores de carbono
Supressão do crescimento e orgânico (COT) e nitrogênio total Souza et al.
produção de biomassa de plantas (NT) após um ano de cultivo de (2018)
espontâneas espécies de planta de cobertura
Ecossistemas naturais com Aumento no número de nódulos,
predominância de Geniesta saharae/ eficiência simbiótica, assimilação de Chaïch et al.
Manutenção da comunidade de nitrogênio e bactérias da família (2017)
arbustos e herbáceas nativas rhizobiaceae
Redução da temperatura do solo,
Diferentes usos da terra/ Não incremento da respiração edáfica e Zhai et al.
reportado teores de NT no solo nos (2017)
tratamentos com adubação orgânica
Cultivo de pastagens/ Redução de Redução na produtividade primária
Zhang et al.
100% na diversidade de espécies líquida após 10 meses da instalação
(2017)
nativas para instalação dos pasto da pastagem
Invasão biológica (Eupatorum Incremento nos valores de pH, COT
adenophorum)/ Redução de 60% da e comunidade de bactérias Zhu et al.
diversidade de plantas nativas do (Brukholderia, Rhizobium, (2017)
sudoeste da China Nitrossomonas, Pseudomonas)
Invasão biológica (Reynoutria Redução na entrada de COT,
japonica)/ Redução do crescimento e inibição da colonização micorrízica e Zubek et al.
produção de biomassa da espécie alteração nas propriedades fisíco- (2016)
nativa Plantagum lanceolata química do solo
Monocultivo de trigo/ Redução de Redução na umidade do solo, na
Zhang et al.
100% na diversidade de espécies distribuição radicular e retenção de
(2015)
nativas do nordeste da China água
Redução da agregação, do COT,
Cultivo de pastagem do capim
glomalina e diversidade de Carneiro et
Braquiária/ Redução da produção de
micorrízas no solo após 6 anos de al. (2015)
biomassa do capim Braquiária
cultivo
Diferentes manejos no solo e
Redução da colonização micorrízica,
aplicação de fungicida/ A longo
do número de esporos e da Castelli et
prazo aplicação de fungicida
frequência relativa do gênero al. (2014)
promoveu redução da biomassa e
Gigaspora
da produtividade de plantas de milho
Redução na comunidade de
Remoção dos resíduos da superfície Cleveland et
bactérias edáficas, respiração do
do solo/ Não reportado al. (2014)
solo e taxa de decomposição
17
Fig. 1.4 Espécies presentes na Caatinga. (A) Ziziphus joazeiro Mart., (B) Anadenanthera
columbrina, (C) Aspidosperam pyrifolium (D) Tacinga palmadora, (E) Pilosocereus pachycladus
e (F) Cereus jamacaru, (G) Tabebuia aurea, (H) Erythrina verna Vell., (I) Ceiba glaziovii
(Kuntze K.Schum.), (J) Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett, (L) Melocactus bahiensis,
(M) Área de Caatinga no período chuvoso e (N) Área de Caatinga no período seco. Fonte:
Imagens (Lucena 2018).
18
Tabela 1.2 Principais espécies de plantas nativas do Bioma Caatinga e suas respectivas
famílias botânicas.
Espécie Família Referências
19
Segundo Souza et al. (2017) o uso desordenado dos recursos naturais
Tabela 1.3 Efeito da retirada de vegetação sobre a diversidade de espécies de plantas nativas
do Bioma Caatinga
Prática Impactos na diversidade florística Referência
Área de Floresta Redução de 100% da diversidade florística através da
Spain et al.
Tropical após queimada, substituição da vegetação nativa de floresta tropical por
(2018)
Austrália plantio de Eucalipto após um ano de queimada
Retirada da vegetação Redução de 20,4% da vegetação; Substituição da
Batista et al.
de mata ciliar em área vegetação progressiva das áreas de caatinga densa por
(2016)
de Caatinga, Brasil áreas de caatinga rala e antropizada
Antropização de mata Redução de 80% da vegetação com ação antrópica em AlvesMedeiros
ciliar na Caatinga, Brasil trecho de mata ciliar na bacia do rio Espinharas (2016)
Restauração Ecológica Aumento da riqueza (50,83%), abundância (13,41%) e
Alignan et al.
em Floresta uniformidade (54,54%) da comunidade de plantas nativas
(2018)
Mediterrânica, França após três anos de restauração ecológica
Adubação nitrogenada Adubação nitrogenada em diferentes sistemas florestais
em Sistemas Florestais em diversas partes do mundo a curto prazo promoveu
(Bangladesh, Brasil, incrementos na produção de biomassa da parte e do Singh (2018)
China, Egito, Malásia, sistema radicular, enquanto que a longo prazo, apenas
Marrocos e Vietnã) apresentou efeito positivo na biomassa radicular
Aplicação de Biochar em Aumento da resistência ao frio e redução na taxa de Palviainen et
Floresta nativa, Finlândia mortalidade de plantas nativas al. (2018)
Conversão de Florestas Redução de 100% da diversidade de plantas, aumento
Rajaei et al.
nativas em área nos teores de nitrogênio e fósforo no solo e impactos
(2018)
agrícola, Irã negativos na qualidade da água
Revegetação de áreas Após dois anos de manejo nas áreas antropizadas
Qingyin et al.
antropizadas do observou-se melhoria das propriedades hidrológicas do
(2018)
Nordeste da China solo e na produção de biomassa seca das plantas
20
Além dessas intervenções antrópicas, soma-se a introdução de espécies
21
Fig. 1.5 Vias principais de modificação da vegetação natural em função
de intervenções antrópicas
associado a atividade pecuária intensiva, uma vez que estas áreas servem
típica das matas ciliares (tabela 1.4) até a atualidade tem sido removida para
22
Tabela 1.4 Principais espécies nativas de matas ciliares do Bioma Caatinga
Espécie Gênero Família
No ano de 2012 foi aprovado o novo Código Florestal Brasileiro baseado na Lei n.
12.651, de 25 de maio de 2012. Neste mesmo ano, foi formulada a Lei n. 12.727, que
faz complemento a referida Lei. Este complemento da Nova Legislação Florestal
estabelece proteção para as APP’s, Área de Preservação Permanente, sendo essas áreas
protegidas com ou sem vegetação nativa, objetivando preservar os recursos hídricos, bem
como a manutenção da biodiversidade, da flora e fauna, a estabilidade geológica, proteção
dos solos e assegurar o bem estar das futuras gerações”.
23
O aumento do desmatamento de áreas de mata ciliar para atender às
24
último, merece destaque os ambientes de mata ciliares que ocorrem na
1.6 Referências
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31
2 Impactos da invasão biológica na
interação solo-planta do Bioma
Caatinga
Djail Santos
32
Resumo
algumas plantas exóticas vêm ganhando destaque quanto aos seus impactos
regiões semiáridas.
33
2.1 Invasão Biológica
sendo esta capaz de dispersar seus descendentes para locais mais distantes
34
Como observado na fig. 2.1 as espécies de plantas exóticas ao
35
Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) descreve as espécies exóticas
do turismo.
36
2014). Outra forma de introdução de espécies pode ocorrer através do
(Sousa, 2014). Nas últimas décadas, a invasão biológica tem sido referenciada
37
que ao passar do tempo conseguem estabilizar seus impactos (Andrade,
2.3).
38
Após se estabelecerem, as invasoras tornam-se transformadoras do
Tabela 2.1 Alterações no ambiente por espécies exóticas em áreas de Caatinga no Nordeste
do Brasil.
39
2.2. A perturbação antrópica contribui para invasão
biológica?
b) Alterações climáticas;
c) Alterações atmosféricas;
d) Extração de madeira/Desmatamento;
e) Prática da caça.
40
Por degradação de solo entende-se o processo capaz de reduz e/ou eliminar a
capacidade atual ou potencial do solo de gerar bens ou serviços, e, em
consequência disso, causar ameaças aos ciclos hidrológicos e biogeoquímicos, à
biodiversidade bem como a produtividade primária (Marchetti et al. 2012). A
Convenção de Combate à desertificação das Nações Unidas (UNCCD), criada em
1994, conceitua “degradação dos solos” como a redução da produtividade biológica
ou econômica como resultado do uso do solo por ações antrópicas, e como
principal componente multifuncional, e em decorrência dessa característica a
resistência as alterações são variadas de acordo com suas propriedades. Apesar
disso, o solo apresenta capacidade de recuperação às formas antigas, o que o
denomina de resiliente, e esta característica é influenciada diretamente pelo teor
matéria orgânica presente no solo (Martins e Fernandes 2017). Como resultados
da degradação dos solos podemos elucidar a utilização do solo sem práticas de
manejo adequado, a retirada da vegetação e exposição do solo à ação das chuvas
e ventos, agricultura com emprego de maquinas pesadas, aplicação de defensivos
químicos e o pastejo animal (Alves 2010).
1993; Wolfe, 2002; BØhn et al. 2004). Simberloff (1992) corrobora dessa
41
interferências antrópicas são os principais fatores que contribuem para a
2011).
42
invasão é a ausência de interações entre a vegetação nativa e a nova espécie,
43
comprovado danos a plantas em estágios de desenvolvimento mais tardios,
para uma espécie invasora estabelecer sua população, esta precisa romper
Callaway, 2009).
44
a elevada susceptibilidade desses organismos nos novos ambientes bem como
Fig. 2.5. Modificações causadas por espécies exóticas invasoras no soo. Adaptado
de Horowitz et al. (2007), Callaway (2002), Costa (2010)
(Godoy et al. 2008). Em grande parte das espécies exóticas invasoras sua
45
2.3. Espécies exóticas e seus efeitos nas
interações solo-planta
das invasoras (Ehrenfeld, Korurtev, Huang 2001; Souza et al. 2016). Essas
46
tempo essa biota do solo transforma-se em patogênica, causando uma
potencial invasor, das quais 26 espécies são descritas abaixo (Tabela 2.2).
Alves 2008; 2010, Oliveira et al. 2012, Gonçalvez et al. 2015). No estado de
47
Tabela 2.2. Levantamento de espécies exóticas com potencial invasor identificadas em área
de Caatinga no Nordeste brasileiro.
Calotropis procera W.T. Ailtoon AL, BA, PB, PE Fabricante e Siqueira Filho (2012)
Melinis repens (Willd.) Zizka AL, BA, PB, PE Fabricante e Siqueira Filho (2012)
P. pallida Humb. & Bonpland AL, BA, PB, PE Fabricante e Siqueira Filho (2012)
48
Outra espécie identificada como invasora na Caatinga é a Calotropis
Filho, 2013). A espécie Sesbania virgata (Cav.) Press. também compõe a lista
ciliares no estado do Ceará, ao passo que causa a morte das espécies nativas
49
Em uma revisão de 57 pesquisas ecológicas, Ehrenfeld (2010),
van Kleunen et al. (2015), mais de 15.000 espécies vegetais foram introduzidas
fora do seu ambiente nativo. E esse número tende a crescer com o comércio
2017).
50
espécie de palmeira nativa, a Copernicia prunifera (carnaúba) (Lorenzi 1992).
Entretanto, ainda não se tenha dimensão total dos impactos gerados pela
região nordeste, com preferência por ambientes sem vegetação nativa e/ou
solos alagados bem como matas ciliares no qual formam densas populações
abundante de C. madagascariensis.
51
baixa disponibilidade de luz. Souza, Andrade e Xavier (2016), avaliando a
C. madagascariensis.
52
extrativismo, as queimadas, o superpastejo e manejo do solo sem práticas de
2.6. Referências
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3 Efeitos da invasão biológica por
Cryptostegia madagascariensis
Bojer ex Decne no ecossistema
solo: alterações físicas, químicas e
biológicas em solos arenosos
Djail Santos
63
Resumo
pela referida espécie de planta exótica, tanto no que diz respeito aos efeitos
64
3.1. Introdução
Ilhas Maurício, Ilhas Fiji, Índia, México e Marrocos (Andrade, 2013), e foi
empreguem seu látex com finalidade nociva, para cometer suicídio (Choux,
65
foi explorada durante a Segunda Guerra Mundial com um elevado potencial
comercial para extração de látex (Tomley e Evans, 2004), e devido sua rápida
como espécie ornamental e tem ganhado destaque por estar causando sérios
Forster, 1991).
66
Harris e Gallagher (2011), afirmam que plantas exóticas de porte
afirmativas, como Starr et al. (2003), que mencionam que esta exótica
seu sucesso pode ser explicado pela ampla adaptação aos mais diversos tipos
67
que envolvem parcialmente ou totalmente troncos e copa de plantas
com ausência de luz ocasionando sua morte (Sousa, Andrade e Xavier, 2016).
manejo para seu crescimento, como também por apresentar floração abundante
68
produzindo uma grande quantidade de sementes que são dispersas por
três metros de altura, no qual ganham vantagem competitiva por luz sob
distribui, forma áreas com maciços populacionais nos mais variados nichos da
69
o que pode resultar na supressão da vegetação autóctone atingida (Sousa,
2014). Consegue se manter verde, com flores e frutos quase todo o ano, com
se observa perda total das folhas. Contudo, quando a invasora perde suas
(2013).
70
carnaúba, espécie de elevado valor econômico para o estado do Ceará, que
áreas degradadas (Silva et al. 2008). Na figura 3.3 ilustra-se detalhes das
71
Seu elevado poder de invasão pode ser explicado pela sua plasticidade
dos recursos disponíveis no local (Brito et al. 2015), sendo que a invasão
pode ser comum em áreas sob estresse ambiental de forma isolada assim
ecológicas.
72
comunidade de microbiota do solo no mesmo ambiente descrito acima,
a diversidade local.
73
3.2.1. Alterações físicas do solo
De modo geral, espécies vegetais com porte trepador são mais comuns
áreas com maior disponibilidade hídrica como margem de rios e/ou áreas
al. 2016).
contra a desagregação.
74
Na tabela 3.2.1 constam alguns resultados encontrados por Rodrigues
do solo, porém este último em seu benefício. Quanto aos aspectos positivos,
pelo fator negativo podem esgotar os nutrientes e água do solo assim como
Mehrabi e Tuck, 2015). Kourtev et al. (2003), relatam que plantas exóticas
75
espécie exótica invasora Bromus tectorum (L.) realizando estudos em uma
no ambiente invadido.
pelas plantas (Bohlen, 2006). Algumas invasoras por apresentarem maior área
(Silva, 2015).
nativas que mantiveram-se com pH ácido; e (II) Carbono orgânico total (COT):
76
de COT (9,9 g.Kg-1, 8,8 g.Kg-1 e 9,7 g.Kg-1), para as espécies respectivamente,
77
Rodrigues (2016), constatou aumento nos teores de carbono orgânico
respectivamente de 0-5, 5-10, 10-20 e 20-30 cm, o que pode estar relacionado
1995). Entretanto, estudos recentes tem voltado a atenção para o papel das
78
Fato também comprovado em estudo desenvolvido por Kulmatiski et al. (2008),
após a invasão.
79
material orgânico e melhores condições de umidade, e consequentemente,
no novo ambiente.
microfauna além dos efeitos negativos na flora. Outro ponto discutido sobre
80
observaram efeitos do táxon invasor no qual a abundância de fungos
81
naturais ou antrópicas, contribuem para estabelecimento e dispersão da
entre outras, o que provavelmente, lhes permite habitar tanto ambientes com
e semiáridas.
3.4 Referências
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