Determinantes Do Desenvolvimento Do Pinhal Bravo PDF
Determinantes Do Desenvolvimento Do Pinhal Bravo PDF
Determinantes Do Desenvolvimento Do Pinhal Bravo PDF
Imagem
Determinantes do
Desenvolvimento do Pinhal
Bravo em Áreas Dunares
(Dunas de Mira)
Dissertação de Doutoramento em Letras, na área de Geografia, especialidade
em Geografia, orientada pelos Senhores Professores Doutores António Campar
de Almeida e Manuel Fernando de Miranda Páscoa, apresentada ao departamento
de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
2014
Faculdade de Letras
Determinantes do
Desenvolvimento do Pinhal Bravo
em Áreas Dunares
(Dunas de Mira)
Ficha Técnica:
Tipo de trabalho Dissertação de Doutoramento
Título DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO DO PINHAL BRAVO EM ÁREAS
DUNARES - (DUNAS DE MIRA)
Autor Margarida Jesus Ribeiro Oliveira
Orientadores Doutor António Campar de Almeida
Doutor Manuel Fernando de Miranda Páscoa
Júri
Presidente: Doutor Luciano Fernandes Lourenço
Vogais:
Doutora Filomena Maria C. Pedrosa Ferreira Martins
Doutor Manuel Fernando Miranda Páscoa
Doutora Maria Filomena Figueiredo Nazaré Gomes
Doutor Lúcio José Sobral da cunha
Doutor António Campar de Almeida
Doutora Adélia de Jesus Nobre Nunes
Identificação do Curso Doutoramento em Letras
Área Científica Geografia
Especialidade Geografia
Data 12-03-2014
Nota Aprovada com Distinção e Louvor
O presente trabalho foi realizado com o apoio
da Fundação para a Ciência e Tecnologia,
através da Bolsa de Doutoramento com a
referência: SRFH/BD/45996/2008
Agradecimentos
As dunas litorais são áreas de grande pressão humana onde é difícil encontrar um
equilíbrio entre interesses económicos, sociais e ambientais. No passado, a florestação
do litoral, que já pôs em prática os métodos modernos de coabitação de espécies nativas
e exóticas, no sentido de promover o referido equilíbrio, foi a forma mais eficaz de
controlar o avanço das dunas para o interior. No entanto, esta florestação pode diminuir
a variedade das espécies dunares, uma vez que o crescimento do estrato arbóreo impede,
por vezes, o desenvolvimento dos estratos mais baixos, típicos de áreas mais
iluminadas. Feita a arborização das dunas na primeira metade do século passado, pode
agora verificar-se que o pinhal então instalado tem diferentes expressões de
desenvolvimento. Observam-se, em áreas muito próximas, estações com muito bom
desenvolvimento e outras em que o pinhal só muito dificilmente sobrevive. Foi a
procura da razão para estas diferenças que orientou este trabalho.
Os fatores analisados foram os relativos: (1) aos elementos de solo (pH, matéria
orgânica, fósforo, potássio, humidade e hidrofobia); aos (2) elementos de fisiografia
(altitude, diferença para o mínimo de altitude do transecto, profundidade da toalha
freática, exposição e distância ao mar) e (3) aos elementos do subcoberto vegetal
(riqueza específica, percentagem da espécie mais representativa do subcoberto vegetal,
percentagem de subcoberto total, percentagem de subcoberto arbustivo, altura média
do subcoberto arbustivo, percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo, altura
média do subcoberto herbáceo/subarbustivo, percentagem de acácias, percentagem de
líquenes, percentagem de musgos e volume aparente do subcoberto vegetal. Estes
fatores foram avaliados em nove transectos correspondentes a diferentes unidades
espaciais. O seu efeito no desenvolvimento do pinheiro (diâmetro à altura do peito,
altura média, densidade e altura dominante) foi estudado através do estabelecimento
dos testes estatísticos considerados adequados (testes Anova, testes de Tukey, testes de
Friedman, coeficientes de correlação bivariada de Pearson, coeficientes de regressão
linear múltipla, análise de componentes principais e análise de Clusters) (Field, 2005;
Grobe, 2005; Mota, 2007; Vilelas, 2009; Sato, 2011).
As correlações de Pearson e a regressão linear múltipla mostram que o
desenvolvimento do pinhal está significativamente relacionado de forma positiva com o
subcoberto arbustivo (altura e percentagem), com a percentagem de acácias, com a
percentagem de musgos, e com a hidrofobia em outubro. Está, ainda, negativamente
I
relacionado com a riqueza específica, o subcoberto herbáceo (altura e percentagem), a
percentagem de líquenes, a profundidade da toalha freática, a altitude, a diferença para
a altitude mínima do transecto, a exposição, a distância ao mar, o pH, o P2O5, e o K2O.
A análise de componentes principais, confirmada pela de clusters, explica entre
57,07% e 69,5% da variância total. O pinhal apresenta coeficientes: (1) positivos – com
a percentagem de acácias, o subcoberto arbustivo (altura e percentagem), o volume
aparente do subcoberto vegetal; (2) negativos – com a altitude, a percentagem da
espécie mais abundante do subcoberto vegetal, a percentagem de subcoberto total, o
pH, o P2O5 e o período húmido (coeficientes >0,70). A profundidade da toalha freática
e o K2O apresentam, consoante o método estatístico utilizado, resultados que são, por
vezes, contraditórios.
A matéria orgânica só apresenta alguns resultados consideráveis no último
método estatístico utilizado, a análise de clusters.
Os locais de menor altitude, menor profundidade da toalha freática e menor pH
são os que se mostraram mais favoráveis ao crescimento arbóreo. Estas árvores
realizarão elevados consumos do P2O5 e do K2O disponíveis.
Este estudo poderá ser útil no apoio a planos de ordenamento desta área,
indicando quais os locais favoráveis à manutenção do pinheiro bravo e identificando
aqueles onde será conveniente a instalação de outras espécies.
II
Abstract
Coastal sand areas are submitted to a huge human pressure. It’s all about
balancing economical, social and environmental interests. In the past, forestation has
already set into practice co-habitation trendy methods of native and exotic species,
aiming at the previously stated balance promotion, as the most efficient form to prevent
inward dune advances. Nevertheless, this one may not decrease the wide scope of dune
sorts, since that tree spreading sometimes forestalls the development of lower layers,
typical of brighter areas. Once having the tree planting completed, during the first half
of the previous century, it can be now checked that the maritime pine stands by then
settled reveals different developing expressions. In very close areas, sections of good
growth may be observed while in others only with difficulty does the maritime pines
survive. The aim of this research was, therefore, the search for such differences
emergence.
The analyzed variables were related with (1) soil elements (pH, organic matter,
phosphorus, potassium, soil moisture and hydrophobia); (2) elements of physiography
(altitude, the difference to the minimum transect altitude, the deepness of the phreatic
layer, the exposure and distance to the sea) and (3) understory - specific richness,
percentage of most representative species of the vegetal understory, percentage of total
understory, percentage of bush understory, its average height, percentage of herb sub-
bush understory, its average height, percentage of acacia trees, percentage of lichens,
moss percentage and apparent volume of vegetal understory. These variables have been
assessed in nine transects, corresponding to different special units. Their effect in the
growth of the maritime pine trees (diameter to the chest level, average height, density
and dominant height) has been studied through the application of statistical tests
considered adequate - Anova, Tukey and Friedman tests, coefficient of correlation of
Pearson, factors of multiple regression, analysis of principal components and cluster
analysis (Field, 2005; Grobe, 2005; Mota, 2007; Vilelas, 2009; Sato, 2011).
These statistical analysis shows that the growth of the maritime pine trees is
significantly correlated, in a positive way, with the bushy undercover (height and
percentage), with the percentage of acacias, the percentage of mosses, and the
hydrophobia in October. It’s, yet, negatively connected with the specific richness, the
herbaceous understory (height and percentage), the rate of lichens, the profundity of the
III
phreatic layer, the altitude, the difference to the minimal altitude of the transect, the
exposure, the seashore distance, the pH, the P2O5, and the K2O.
The analysis of the principal components, confirmed by the cluster analysis,
explains between 57,07% and 69,5% of the total variability. The explanation of the
growth of the maritime pine trees display coefficients: (1) positive ones - percentage of
acacias, bushy undercover (height and percentage), apparent volume of the vegetal
undercover; (2) negative ones – altitude, percentage of most frequent vegetal
undercover species, percentage of total undercover, pH, P2O5, wet season (coefficients
> 0,70). The depth of the phreatic layer and K2O reveal, having in mind employed
statistic method, results sometimes contradictory. Organic material only brings out
some considerable outcome in the last employed method, the cluster analysis.
Areas in lower altitude, lower values of the depth of the phreatic layer and of pH,
are the ones that reveal themselves as most likely towards the growth of trees. These
trees will accomplish high consumption of the P2O5 and K2O available levels.
This study will surely turn itself useful in the support of the future management
plans on this area, indicating the most suitable places for the maintenance of the
maritime pine and identifying those where the installing of other may be perceived as
convenient.
IV
ÍNDICE GERAL
Resumo I
Abstract III
Simbologia IX
ÍNDICE DE FIGURAS XI
ÍNDICE DE TABELAS XIV
CAPÍTULO I - APRESENTAÇÃO 1
I.1 INTRODUÇÃO 2
I.1.1 Objetivos 6
I.1.2 Localização da área de estudo 8
I.1.3 Metodologia geral 11
V
III.2 ESTRATO ARBÓREO 117
III.2.1 Diâmetro à altura do peito (DAP) 119
III.2.2 Altura média 120
III.2.3 Altura dominante 123
III.2.4 Densidade 123
VI
IV.1.5 Relação entre os diferentes elementos do coberto arbóreo
(correlações e regressão linear múltipla) 183
VII
IV.5.5 Análise de componentes principais e de clusters sobre as variáveis
dos diferentes grupos estudados 261
IV.5.5.1 Coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia 262
IV.5.5.2 Coberto arbóreo e solos 265
IV.5.5.3 Coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos 267
ANEXOS 323
VIII
Simbologia
(e respetivas unidades de medida)
Acácia Ac
Altitude Alt m
Altura dominante HDom m
Altura média H m
Altura Média do Subcoberto
Herbáceo/subarbustivo HSbcHerb m
Altura média do subcoberto arbustivo HSbcArbs m
Análise de componentes principais ACP
Análise de clusters AC
Análise de regressão linear múltipla ARLM
Análise de regressão linear univariada ARLU
Diâmetro à altura do peito DAP m
Diferença para a altitude mínima
do transecto ΔmAlt m
Dimensão da amostra n -
Distância ao mar de cada parcela DistMar m
Densidade Dens. -
Percentagem da espécie mais
representativa do subcoberto vegetal %EspAbSbc %
Exposição da parcela Exp -
Hectare Ha -
Matéria orgânica MO %
Modelo digital de terreno MDT -
Metros m -
Número n.º -
IX
Óxido de Potássio K2O mg/1000g
Pentóxido de Fósforo P2O5 mg/1000g
Percentagem de acácias %Ac %
Percentagem de líquenes %Líq %
Percentagem de Subcoberto
Herbáceo/subarbustivo %SbcHerb %
Percentagem de musgos %Musgo %
Percentagem de subcoberto arbustivo %SbcArbst %
Percentagem de subcoberto total %SbcTotl -
Percentagem % -
Período de reposição de humidade PrdRpHum -
Período húmido PrdHum -
Período seco PrdSec -
Hidrofobia ou repelência em outubro RepOut -
Hidrofobia ou repelência em dezembro RepDez -
Pinheiro bravo Pb -
Profundidade da toalha freática PrTFreat m
Riqueza específica RiqEsp -
Vegetal Veg -
Volume aparente do subcoberto vegetal VlApSbcVeg -
X
ÍNDICE DE FIGURAS
CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO
XI
Figura II.22 Mapa topográfico da Ria de Aveiro no ano de 1781 67
Figura II.23 Carte du Portugal, de Ambriose Tardieu (1802) 67
Figura II.24 Restinga de Norte para Sul, em 1874, desenvolvida a partir
do Molhe Norte da entrada da Barra 69
Figura II.25 Carta Physica de Portugal, de G. Pery (1875) 69
Figura II.26 Portugal político (anterior a 1924) 69
Figura II.27 Portugal geológico (anterior a 1924) 70
Figura II.28 Ilha da Vagueira (anterior a 1930) 70
Figura II.29 Carta topográfica de Aveiro (1904) 70
Figura II.30 Fotografia aérea da Barra de Aveiro (1933): acumulação de
areias em toda a entrada da Barra 71
Figura II.31 Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1976) 72
Figura II.32 Carta topográfica de Aveiro (1983) 72
Figura II.33 Fotografia aérea da Barra de Aveiro (1986) 73
Figura II.34 Evolução da Ria de Aveiro 74
Figura II.35 Esquemas representativos da evolução da Ria de Aveiro 74
Figura II.36 Ria de Aveiro atual (década de 90) 75
Figura II.37 Carta geológica do concelho de Mira 79
Figura II.38 Carta de declives do concelho de Mira 81
Figura II.39 Orientação das cristas das Dunas de Mira 82
Figura II.40 A situação de desequilíbrio da praia e do cordão dunar 84
Figura II.41 Degradação e posterior proteção do cordão dunar 88
Figura II.42 A situação da depressão interdunar 89
Figura II.43 Dunas interiores e processos erosivos identificados 91
Figura II.44 Rede hidrográfica do concelho de Mira 95
Figura II.45 Perfis do solo nas dunas interiores 101
Figura II.46 Espécies vegetais introduzidas pelos serviços florestais no
início do séc. XX nas dunas de Mira 108
Figura II.47 Evolução da população no concelho de Mira nas últimas
décadas 111
Figura II. 48 Evolução dos setores de atividade no concelho de Mira 113
XII
Figura III.12 Diferentes expressões de subcoberto vegetal existente nas
dunas de Mira 139
Figura III.13(a) Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais
foram selecionadas as parcelas para realização das análises
de solos (a - perfis 1 a 4) 155
Figura III.13(b) Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais
foram selecionadas as parcelas para realização das análises
de solos (b - perfis 5 a 8) 156
Figura III.13(c) Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais
foram selecionadas as parcelas para realização das análises
de solos (c - perfil 9) 157
Figura III.14 Recolha de amostras de solo no campo para posterior análise
em laboratório 158
Figura III.15 Esquema representativo das leituras de humidade do solo
efetuadas em cada perfil 165
Figura III.16 Preparação das amostras no laboratório de solos 166
Figura III.17 Determinação do pH em H2O pelo método potenciométrico 169
Figura III.18 Processo de determinação da matéria orgânica por (a)
queima direta de carbono e pelo (b) método de Tinsley 170
Figura III.19 Processo de determinação de K2O e P2O5 173
XIII
ÍNDICE DE TABELAS
CAPÍTULO I - APRESENTAÇÃO
XIV
Tabela IV.7 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à densidade 182
Tabela IV.8 Resultados do teste de Tukey relativamente à densidade 183
Tabela IV.9 Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para os
elementos do coberto arbóreo 184
Tabela IV.10 Regressão linear múltipla entre a altura dominante e as
restantes variáveis de coberto arbóreo 184
Tabela IV.11 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altitude de
cada parcela 186
Tabela IV.12 Resultados do teste de Tukey relativamente à altitude de cada
transecto 187
Tabela IV.13 Parâmetros estatísticos analisados para a diferença para a
altitude mínima do transecto 188
Tabela IV.14 Resultados do teste de Tukey relativamente à diferença para
a altitude mínima do transecto 188
Tabela IV.15 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à
profundidade da toalha freática obtida a partir do perfil
topográfico e de leitura de campo 189
Tabela IV.16 Resultados do teste de Tukey relativamente à profundidade
da toalha freática 190
Tabela IV.17 Parâmetros estatísticos analisados para a distância ao mar de
cada parcela 190
Tabela IV.18 Resultados do teste de Tukey relativamente à distância ao
mar de cada parcela 191
Tabela IV.19 Parâmetros estatísticos analisados para a exposição de cada
parcela 192
Tabela IV.20 Resultados do teste Tukey relativamente à exposição de cada
parcela 193
Tabela IV.21 Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para os
elementos fisiográficos 194
Tabela IV.22 Regressão linear multivariada entre a altitude e os restantes
elementos fisiográficos 195
Tabela IV.23 Regressão linear multivariada entre a profundidade da toalha
freática e os restantes elementos fisiográficos 196
Tabela IV.24 Regressão linear multivariada entre a posição relativamente
ao mínimo de altitude de cada transecto e os restantes
elementos fisiográficos 196
Tabela IV.25 Parâmetros estatísticos analisados para a riqueza específica
do subcoberto vegetal 197
Tabela IV.26 Resultados do teste de Tukey relativamente à riqueza
específica do subcoberto vegetal 198
Tabela IV.27 Parâmetros estatísticos analisados para a espécie mais
representativa do subcoberto vegetal 199
Tabela IV.28 Resultados do teste Tukey relativamente à percentagem
ocupada pela espécie mais representativa do subcoberto
vegetal 199
Tabela IV.29 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
subcoberto total 200
Tabela IV.30 Resultados do teste de Tukey relativamente percentagem de
ocupação de subcoberto total em cada parcela 201
XV
Tabela IV.31 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
subcoberto arbustivo do subcoberto vegetal 201
Tabela IV.32 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de subcoberto arbustivo em cada parcela 202
Tabela IV.33 Parâmetros estatísticos analisados para a altura média do
subcoberto arbustivo do subcoberto vegetal 203
Tabela IV.34 Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do
subcoberto arbustivo em cada parcela 203
Tabela IV.35 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
cobertura de subcoberto herbáceo/subarbustivo do
subcoberto vegetal 204
Tabela IV.36 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de subcoberto herbáceo/ subarbustivo em cada
parcela 204
Tabela IV.37 Parâmetros estatísticos analisados para a altura média do
subcoberto herbáceo/ subarbustivo em cada parcela 205
Tabela IV.38 Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do
subcoberto herbáceo/subarbustivo em cada parcela 206
Tabela IV.39 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
acácias 207
Tabela IV.40 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação da acácia em cada parcela 207
Tabela IV.41 Parâmetros estatísticos analisados a percentagem de musgos
presentes no subcoberto vegetal 208
Tabela IV.42 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de musgos em cada parcela 209
Tabela IV.43 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
líquenes do subcoberto vegetal 210
Tabela IV.44 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de líquenes em cada parcela 210
Tabela IV.45 Parâmetros estatísticos analisados para o volume aparente do
subcoberto vegetal total 211
Tabela IV.46 Resultados do teste de Tukey relativamente ao volume
aparente de subcoberto vegetal total em cada parcela 212
Tabela IV.47 Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para as
variáveis de subcoberto vegetal analisadas 214
Tabela IV.48 Regressão linear múltipla entre o volume aparente de
subcoberto vegetal e os restantes elementos de subcoberto 215
Tabela IV.49 Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao pH em
H2O 218
Tabela IV.50 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à matéria
orgânica 220
Tabela IV.51 Resultados do teste de Tukey relativamente à matéria
orgânica a 20 e 30cm de profundidade 221
Tabela IV.52 Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao P2O5 222
Tabela IV.53 Resultados do teste de Tukey relativamente ao P2O5 a 20cm
de profundidade 223
Tabela IV.54 Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao K2O 224
Tabela IV.55 Resultados do teste de Tukey relativamente ao K2O a 10 e a
20cm de profundidade 225
XVI
Tabela IV.56 Frequências relativas para a hidrofobia do solo registada em
outubro 226
Tabela IV.57 Resultados do teste de Tukey relativamente à hidrofobia em
outubro e em dezembro 227
Tabela IV.58 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo registados a 10cm de profundidade 229
Tabela IV.59 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo registados a 20cm de profundidade 230
Tabela IV.60 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo registados a 30cm de profundidade 231
Tabela IV.61 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo para os valores médios obtidos das três
profundidades registadas 232
Tabela IV.62 Média da humidade do solo registada nos diferentes meses 233
Tabela IV.63 Resultados do teste Friedman para os diferentes elementos
de solos 235
Tabela IV.64 Coeficientes de correlação estabelecidos entre os diferentes
elementos de solo 236
Tabela IV.65 Correlações estabelecidas para os valores médios dos
elementos de solos 239
Tabela IV.66 Regressão linear multivariada entre o pHMédio e, a
MOMédia, o P2O5Médio e o K2O 240
Tabela IV.67 Regressão linear multivariada estabelecida entre o pHMédio
e, a RepOut, a MOMédia e o P2O5Médio 241
Tabela IV.68 Correlações de Pearson estabelecidas para as variáveis do
grupo do coberto arbóreo com o subcoberto 243
TabelaIV.69 Correlações de Pearson estabelecidas para as variáveis do
grupo do coberto arbóreo com as variáveis do grupo
fisiografia 247
Tabela IV.70 Regressão linear multivariada estabelecida entre a altura
dominante e os elementos de fisiografia 247
Tabela IV.71 Regressão linear multivariada estabelecida entre a altura
média e os elementos de fisiografia 248
Tabela IV.72 Regressão linear multivariada estabelecida entre o DAP e os
elementos do grupo de fisiografia 248
Tabela IV.73 Regressão linear multivariada estabelecida entre a densidade
e os elementos de fisiografia 249
Tabela IV.74 Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo do
coberto arbóreo com o grupo de solos 252
Tabela IV.75 Regressão linear multivariada entre a altura dominante e os
elementos de solo analisados em laboratório 254
Tabela IV.76 Regressão linear multivariada entre a altura média e os
elementos de solo analisados em laboratório 254
Tabela IV.77 Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do
peito e os elementos de solo analisados em laboratório 255
Tabela IV.78 Regressão linear multivariada entre a altura média e os
elementos de solos significativos na análise de regressão
efetuada aos dois grupos de elementos de solos 256
XVII
Tabela IV.79 Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do
peito e elementos de solos significativos na análise de
regressão efetuada aos dois grupos de elementos de solos 257
Tabela IV.80 Resumo dos resultados das regressões estabelecidas para os
diferentes elementos de coberto arbóreo, tendo como
variáveis dependentes as significativas das análises
anteriores 260
Tabela IV.81 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia 262
Tabela IV.82 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo e de solos 265
Tabela IV.83 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos (a) 267
Tabela IV.84 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos (b) 269
Tabela IV.85 Correlações para as variáveis do grupo do subcoberto com o
grupo da fisiografia 272
Tabela IV.86 Regressão linear multivariada entre o volume aparente de
subcoberto vegetal e os elementos da fisiografia 272
Tabela IV.87 Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo do
subcoberto vegetal com o grupo de solos 275
Tabela IV.88 Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo da
fisiografia com o grupo de solos 279
XVIII
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
CAPÍTULO I
APRESENTAÇÃO
I.1 INTRODUÇÃO 2
I.1.1 Objetivos 6
I.1.2 Localização da área de estudo 8
I.1.3 Metodologia Geral 11
1
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
I.1 - INTRODUÇÃO
2
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
que importa conservar. Esta cobertura de pinhal contribui para a grande mancha
nacional de pinheiro bravo que, no total, ocupa cerca de 714 000ha, o que faz dele a
terceira espécie com área mais representativa em Portugal, com 23% da área florestal
nacional, depois de ter sido ultrapassa pelo eucalipto e pelo sobreiro (ICNF, 2013).
A ideia de que o “Equilíbrio Ambiental” se torna cada vez mais frágil com a
interferência do Homem tem sido generalizada pela divulgação de exemplos concretos
de degradação ambiental. É frequente a exploração desses exemplos, esquecendo-se
alguns que contribuíram e continuam a contribuir para que esse equilíbrio se verifique,
como foi o caso do trabalho de décadas realizado pela Câmara Municipal de Mira e pela
então Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas. No seu trabalho conjunto,
desenvolvido ao longo da primeira metade do século XX no âmbito do processo de
submissão das áreas baldias ao Regime Florestal, promoveram a recuperação de uma
grande área de terrenos arenosos e pântanos, muito instáveis devido ao regime de cheias
e de ventos, assegurando a sua estabilidade e cobertura vegetal. Com a realização dos
trabalhos – drenagem, plantação, estradas e caminhos florestais - e com a progressiva
estabilidade dos terrenos instáveis assegurada, promoveram o emprego local e o
aumento e a qualidade da área de uso agrícola, dois fortes instrumentos para o
desenvolvimento local e para a melhoria das condições de vida das populações pelos
efeitos que tiveram no aumento do seu rendimento familiar. Adaptando um velho
provérbio holandês à região, pode dizer-se que “Deus fez a Terra, e o Gandarês fez a
Gândara” (Miranda, 2005).
A adaptação da ação então desenvolvida às necessidades da época foi preciosa, no
sentido em que promoveu soluções para as dificuldades da sobrevivência da população
e do controlo do meio natural. Melhorou a capacidade produtiva das áreas agrícolas
(fixação das areias, regularização do sistema hidrográfico, fornecimento de matéria
orgânica), melhorou as vias de comunicação, e criou emprego (construção da rede
hidrográfica, florestação e construção da rede viária e divisional), com o resultado
imediato de aumentar o rendimento das famílias.
A submissão das áreas baldias do Concelho de Mira ao Regime Florestal no fim
da segunda década do século XX veio permitir realizar os investimentos para os quais a
Câmara Municipal de Mira não encontrava financiamento, e assim assegurar a
estabilização de uma imensa área de baldios através da sua arborização, e a melhoria da
qualidade de vida da sua população.
3
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
4
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
5
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
I.1.1 – Objetivos
Como mais adiante se verificará (capítulo II), os solos da região onde se insere a
área de estudo, pela fixação recente das areias, são muito pobres em nutrientes.
Sabendo-se que um dos principais fatores limitantes de desenvolvimento vegetal é
precisamente o acesso a esses nutrientes, um dos grupos analisados diz respeito aos
elementos do solo mais determinantes no desenvolvimento vegetal. Estes elementos
foram selecionados com ajuda do Laboratório de Solos da Escola Superior Agrária de
Coimbra (Professora Doutora Carmo Magalhães e Eng. Carlos Ribeiro) e do Instituto
Superior de Agronomia (Professor Doutor Manuel Madeira). Pormenorizando este
objetivo geral pretende-se, efetivamente, verificar a influência, no desenvolvimento do
pinhal, da variação de alguns elementos do solo, tendo-se selecionado o pH, a matéria
orgânica (M.O.), o Fósforo (P2O5), o Potássio (K2O), a hidrofobia em outubro
(RepOut), a hidrofobia em dezembro (RepDz) e a humidade do solo (Período seco -
6
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
7
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
(ΔmAlt, m); profundidade da toalha freática (PrTFreat, m); exposição da parcela (Exp)
e distância ao mar (DistMar, m) para servirem de suporte à análise.
A realização deste trabalho tem como base de estudo as Dunas de Mira. Mais
especificamente, o local de estudo corresponde às dunas recentes localizadas no litoral
do concelho de Mira (figura I.2).
Área
ardida
em
1987
Fonte: www. Igeo.pt
Dunas em 30/03/2014
de
Mira
Transecto 6
Transecto 5
Transecto 2
Transecto 1
Transecto 4
Legenda:
Transecto 9 Transecto 3 - Transectos
onde se instalaram as
Transecto 8
Transecto 7
estações estudadas
0 1Km
Fonte: Carta Militar de Portugal, folhas nº 16 e 19 na
escala 1:50000 de 1974 e 1963, respetivamente
8
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
9
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
10
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
11
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
N Legenda:
Transecto 3
Transecto 9
Transecto 8
Transecto 7
0 1Km
Figura I.3 – Localização dos transectos com base na foto interpretação do Inventário Florestal
Fonte: Adaptado de Inventário Florestal Nacional, 1965
12
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
13
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
14
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
15
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
16
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
17
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
18
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
19
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
como as lagoas que em tempos idos foram intervencionados pelos serviços florestais.
Mas a importância do local como um todo reflete-se pelo estatuto atribuído à Barrinha e
à Lagoa de Mira de Reserva de Caça Integral (portaria nº 725-C de 10 de Agosto de
1993). A partir de 1997, pelas portarias n.º 539 de 23 de Julho e 563 de 26 de Julho,
foram criadas duas Zonas de Caça Associativas, com uma área total de 3520ha
(Petronilho, 2001, p 15).
A Zona de Proteção Especial (ZPE) da Ria de Aveiro (ICN, 2006), onde se insere
a área de estudo, na sua apresentação, parece apresentar maior valorização da fauna, em
detrimento da flora. No que diz respeito à proteção da vegetação, classifica-a de forma
geral, promovendo a sua conservação por estratos e não por espécies concretas, como é
o caso da Ammophila arenaria (L.) Link e da Corema album (L.) D. Don., entre outras.
O facto de a área de estudo se encontrar nesta ZPE, faz com que fique submetida a
vários aspetos legislativos que se inserem entre outros no Decreto-Lei n.º 384-B/99 de
23 de Setembro de 1999, no Plano Nacional da Água - DL n.º 112/2002 de 17 de Abril,
no Plano de Bacia Hidrográfica do Vouga - Decreto Regulamentar n.º 15/2002 de 14 de
Março, no Plano de Ordenamento da Orla Costeira de Ovar - Marinha Grande
(Resolução do Conselho de Ministros n.º 142/2000. DR 243 SÉRIE I-B de 2000-10-20),
no PDM de Mira – ratificação - Resolução do Conselho de Ministros n.º 83/94, de 16 de
Setembro, na limitação de Nitratos de origem agrícola (Portaria n.º 557/2003 de 14 de
Julho, que limita a fertilização a fazer em áreas agrícolas e florestais), no Plano de
Desenvolvimento Rural/RURIS (áreas de incidência das diferentes medidas) - Regras
gerais de aplicação do RURIS - DL n.º 64/2004 de 22 de Março, Regulamento da
intervenção "Medidas Agroambientais" - Portaria n.º 360/2004de 7 de Abril, no
Regulamento da intervenção "Florestação de Terras Agrícolas" - Portaria n.º680/2004
de 19 de Junho, onde se inserem os baldios, alguns atualmente florestados naturalmente,
Regulamento da intervenção "Indemnizações Compensatórias" - Portaria n.º 193/2003
de 22 de Fevereiro, na Caça - zonas de caça sujeitas a diferentes regimes cinegéticos
(legislação já referida anteriormente), no Plano Regional de Ordenamento Florestal do
Centro Litoral (Decreto Regulamentar nº11/2006), Perímetros florestais e matas
nacionais (Regime Florestal total e parcial) (ICN, 2006).
O Perímetro Florestal das Dunas de Mira enquadra-se no Regime Florestal
Parcial, que é aplicado a terrenos baldios, a terrenos das autarquias subordinando a
existência de floresta a determinados fins de utilidade pública, permite que na sua
exploração sejam atendidos os interesses imediatos do seu possuidor, (parte IV, artigos
20
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
21
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Mas as árvores da principal espécie utilizada (Pinus pinaster Aiton) atingiram, na sua
maior parte, o seu limite de idade, e não há planos concretos de preparação do futuro
deste ecossistema.
As áreas litorais correspondem a ecossistemas muito frágeis (Santos et al., 2006),
e em muitos casos a sua proteção ainda é mantida através de florestamentos
monoespecíficos instalados na primeira metade do século XX. Hoje em dia, num mundo
em constante mudança em termos de conhecimento, de ameaças e de preferências, as
propostas de uso (sustentável) futuro dessas áreas merecem as mais sólidas bases
científicas, e uma discussão aberta entre os seus utilizadores finais. Na área das matas
de Mira muitos estudos já foram feitos, mas ninguém os utilizou numa forma mais
abrangente, com o cruzamento das informações de vários componentes do ecossistema.
É o que se propõe na elaboração deste projeto: obter as relações possíveis entre
diferentes componentes do ecossistema no que diz respeito quer a relações bióticas quer
abióticas. As referências a importantes pesquisas, elaboradas do ponto de vista da
importância para as populações locais, foram já efetuadas anteriormente. Passa-se então
à apresentação de alguns trabalhos de índole científica realizados no perímetro Florestal
das Dunas de Mira e que permitem, a quem os consultam, obter um conhecimento mais
aprofundado do local, nas suas diversas vertentes, que vão desde a vegetação arbórea,
ao subcoberto, às características dos solos e aos incêndios, entre outros.
Tavares (1989) estudou a expressão de crescimento do Pinus pinaster Aiton nas
Dunas de Mira, tendo colocado ênfase sobretudo no desenvolvimento radicular das
árvores, de acordo com as características físicas do local. Alcaide (1994) fez a
recuperação da história da arborização da área (1918 a 1950), e procedeu também a uma
descrição da situação atual das áreas florestais das Dunas de Mira. Ainda apresentou
algumas propostas para futuras pesquisas, nomeadamente a necessidade de criar
conhecimento que permita obter diferentes soluções de utilização para estas áreas.
Martins (1999) realizou um estudo fitossociológico da Região do Litoral Centro, com a
cartografia respetiva, onde a distribuição espacial das diferentes unidades é identificada.
Este trabalho traz um valor acrescentado no que diz respeito à vegetação local, por se
tratar de em estudo bastante pormenorizado no que diz respeito à biogeografia e à
fitossociologia, com identificação de diferentes unidades existentes nesta região. A
caracterização fitossociológica que efetua da vegetação dunar parece, no entanto,
efetuada com base nos locais de vegetação mais antiga, nomeadamente no que diz
respeito ao pinhal das Castinhas, da Videira, ou de Portomar. Saliente-se que nas 480
22
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
23
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
“Dantes, por estas paragens da Gândara mais chegadas ao litoral, tudo era mar.
Dantes por estes areais gandareses, o mar bramia espumas e raivas ou, estando de bom
grado, afagava a quilha dos barcos, suavemente, como se acarinhasse um
brinquedo…” (Cação, 2006, pp.104,105)
“ O mar, no seu recuo por milénios de vagares, foi deixando a descoberto areias
imensas, onde apenas cresciam a urze e o tojo, o panasco, o mato bravio e pouco mais.
Depois, lentamente, haveria de nascer uma imensa floresta de pinheiros”… “Ao tempo
em que a Gândara mais a litoral começou a ser povoada, aí por inícios do séc. XVII, os
seus domínios já eram floresta hirsuta e, ao darem começo ao seu aproveitamento
agrícola, tiveram os colonos empreitada de tomo.”. “Para além de desbravarem o tojo
e as árvores, houveram esses peregrinos… de arrotear a terra e melhorar-lhe o
subsolo, enterrando nele comédia de ramos verdes, caruma seca e outros chorumes”
(Cação, 2006, pp. 222-223). No séc. XX acrescentou-se moliço e caniços a estes
fertilizantes. Também Reigota (2000, pp. 77-78) refere a existência de densas florestas
24
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
antigas a cobrir o “espaço Gandarês, ao longo dos tempos, desde os tempos Pré-
históricos aos Históricos”
Segundo a Ata da sessão de 19 de Janeiro de 1879 da Câmara Municipal de Mira
(Miranda, 2008, pp. 57-65; Miranda, 2012, pp. 91-92), a construção da estrada Mira -
Praia de Mira terá levado mais de 57 anos a efetuar-se. Esta morosidade terá ficado a
dever-se não só a questões económicas, mas também não será alheia às características
físicas do local. Logo no primeiro lanço de Mira até a Lagoa de Mira, “houve atraso na
construção pelo facto de em Dezembro, Janeiro e Fevereiro ter ocorrido precipitação
intensa”.
De acordo com a Ata da sessão de 7 de Maio de 1887 da Câmara Municipal
(Miranda, 2008, p. 62), desde 1875 (ano em que se fizeram os estudos para o traçado
Lagoa - Praia de Mira) verificaram-se muitas alterações no local “por as areias e as
aguas terem alterado muito o terreno por onde aqella estrada se achava estudada”.
Registe-se que estes acontecimentos de alterações constantes e rápidas do local se terão
registado por mais de um século, tendo em atenção o conteúdo destas atas e o
testemunho de Thomé de Resende em 1758 (in Miranda, 2008). Comparando as duas
descrições parece que o referido lanço de estrada Lagoa de Mira - Palheiros da Costa se
faria muito próximo da referida Vala da Cana (Miranda, 2008). Poderá ser a justificação
para o que parece ser uma abertura que interrompe a continuidade das dunas interiores
quando se observa o mapa de declives ou geomorfológico das dunas interiores do
concelho de Mira (figura II.). Em 1930 os Serviços Florestais construíram a estrada
Mira - Praia de Mira. Mas como anteriormente, a partir de 1919, já se havia procedido à
estabilização das valas por parte destes mesmos Serviços (Miranda, 2008, p. 32; 2012,
pp. 95-96), ter-se-á tornado mais fácil, desta vez, concluir a obra com sucesso. Não
interessando para este trabalho a descrição do ponto de vista de contexto histórico mas
sim do quadro natural, estes registos são de extrema importância na definição de
ambientes naturais da época que se podem traduzir numa área instável, de constante
mutação por ação de areias e ventos, e elevadas quantidades de precipitação durante o
Inverno, o que imprimiria características únicas a esta pequena região.
Segundo Miranda (2005, p. 79) a Câmara Municipal sempre teve grandes
preocupações com as “matas municipais”, que constituíam “praticamente toda a mancha
florestal concelhia”. Eram constantes os cuidados no que dizia respeito à fiscalização
das mesmas, assim como o cuidado nas “sementeiras de penisco como forma de
25
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
substituição de abates para reparação de pontes e outras obras municipais, bem como
dos derrubes provocados por temporais, o que acontecia quase todos os anos.”
As matas e os baldios tiveram papel fundamental na manutenção da agricultura do
concelho. A justificá-lo está a tentativa de venda das matas e baldios em hasta pública
em Agosto de 1889, e a posição então assumida pela Câmara Municipal: “Isto é uma
garantia de ordem pública, porque os povos d’este concelho, em negócio de baldios só
toleram que a Câmara os afore ou devida. Escusa pessoa alguma d’aqui ou de fora,
tratar Mira de qualquer assunto respeitante à venda de baldios e matas porque o povo
não lh’o tolera – corre-os e enxota-os e só consente que a Câmara os administre ou
afore” (Miranda, 2005, p. 38, Representação da Câmara de Mira ao Rei, em 13 de
Agosto de 1889).
O Perímetro Florestal das Dunas de Mira tem actualmente uma área de 4.962 ha, é
limitado a Norte pelo Perímetro Florestal das Dunas de Vagos, a Sul pelo Perímetro
Florestal das Dunas de Cantanhede, a Este por terrenos camarários e particulares e, a
Oeste, também por terrenos camarários e particulares e, em grande parte, pelo mar (Rei,
1924). Esta superfície terá sido coberta em tempos mais antigos por floresta de pinheiro
marítimo (Pinus pinaster Aiton), que depois terá sido destruída, em parte, pelos
invasores franceses que a terão incendiado e, outra parte pelos povos que a circundavam
e dela tiravam intensivamente lenhas e matos (Rei, 1924; Reigota, 1992).
Desta floresta restaram somente o pinhal das Castinhas (com uma superfície de
564ha), o pinhal do Fojo (116ha), o pinhal da Gândara de Portomar (57ha), e os pinhais
do sul e do norte da Videira (com 29ha e 75ha, respectivamente), ou seja, restou
aproximadamente apenas 1/5 da floresta que existia anteriormente (Rei, 1924, Reigota,
1992). A área devastada terá sido posteriormente coberta por areias que, não
encontrando nenhum obstáculo, avançaram bastante, para Este, fazendo desaparecer
parte dos terrenos agrícolas.
O Perímetro Florestal das Dunas de Mira, considerado um dos recursos mais
importantes do concelho, terá sido constituído até finais do século XVIII por carvalhos,
pinheiros mansos e pinheiros bravos. Após ser destruído pelas invasões francesas e, de
algum modo, pelos habitantes locais, restaram áreas desertas, de areias soltas que, por
ação dos ventos fortes marítimos, avançaram sobre os terrenos cultivados e sobre as
lagoas e outras linhas de água. Este avanço das areias levou à necessidade de
estabilização da área, através do repovoamento florestal, processo levado a cabo no
início do século XX pelos Serviços Florestais (Petronilho, 2001, p. 19).
26
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Miranda (2005, p. 83) refere que “embora fosse necessária a intervenção junto ao
mar para proteger a Barrinha e a Praia, a Câmara Municipal não tinha capacidade
técnica nem financeira para administrar os cerca de 60 Km2 de matas e baldios
existentes”. Além deste, acrescia outro problema: o povo e a Câmara Municipal não
queriam entregar os seus baldios e matas ao Estado e a solução encontrada foi um
acordo estabelecido entre o povo e a Câmara no sentido de as matas e os baldios de
Mira ficarem submetidos ao Regime Florestal (RF), mas a população continuar a
usufruir dos produtos destas matas. A decisão foi tomada em 10 de Março de 1917 e a
submissão ao Regime Florestal foi celebrada em 27 de Julho de 1917.
Segundo Miranda (2008, p. 87) “…a Câmara não tinha meios financeiros para
arborizar convenientemente a referida área de dunas”. “Tornava-se necessário fixar as
areias a fim de proteger as culturas constantemente ameaçadas e danificadas pelos
assoreamentos frequentes. Em 27 de Julho de 1917 foi decretada a submissão das
dunas e matas de Mira ao Regime Florestal” (Miranda (2008, p. 87). A integração foi
feita, inicialmente, na 3.ª Regência Florestal (Aveiro) e, em meados de 1919, deu-se a
transferência para a 5.ª Regência (Figueira da Foz) (Miranda, 2005, p. 83, Rei, 1924).
“As matas submetidas foram as seguintes: Castinhas, Manga, Montalvo,
Gândara de Portomar, Fojo, Videira do Norte e Videira do Sul. O início dos trabalhos
de arborização ocorreu em 11 de Agosto de 1919, (…)”. (Miranda (2008, p. 88).
Segundo Miranda (2008, p.105), em 1870 também o canal de Mira (o ramo da ria
de Aveiro com início no concelho), referido como “rio de Mira”, estaria integrado para
concessão a particulares para a criação de “Ostreiras artificiaes” e não estaria,
inicialmente, integrado na área submetida ao Regime Florestal. Ora os povos sabiam
que se assim acontecesse deixaria de poder utilizar esse “rio” e, juntamente com a
Câmara Municipal, tudo fizeram no sentido de contrariar esta concessão, pois no caso
de o “rio” ser integrado no Regime Florestal, poderia, mediante regras estabelecidas,
continuar a ser utilizado pelo povo.
Enquanto nesta altura os pinhais particulares se encontravam em manchas
regulares bem cuidadas e revestidas de arvoredos, os da Câmara Municipal
encontravam-se em estado caótico devido à sua exploração desordenada (Rei, 1924).
Antes da intervenção dos Serviços florestais, e desrespeitando as restrições
municipais, a população inutilizou e destruiu o arvoredo, que seria suposto vir a
constituir a floresta e que como consequência provocaria um aumento na fertilidade do
solo. As sementeiras novas não tinham qualquer tipo de organização: usavam-se
27
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
28
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
1916 a Câmara tinha ao seu serviço cinco guardas municipais, que depois foram
desmobilizados, ficando somente os guardas florestais (Rei, 1924).
O penisco foi semeado juntamente com sementes de outras plantas silicícolas e de
crescimento mais rápido, como sejam a Ammophila arenaria (L.) Link, Ulex europaeus
L., Ulex densus Welw. ex Webb, Ulex nanus T. F. Forster ex Symons, Cytisus
pendulinus L. Fil., Corema album (L.) D. Don, Myrica faya Aiton, Acacia longifolia
(Andrews) Willd. e Acacia retinoides Schlecht., com o intuito de criar abrigo das
intempéries aos pequenos pinheiros (Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas,
1939).
De forma a aproveitar os terrenos mais fundos ou abrigados e as margens de valas
existentes, foram plantadas em alternativa as seguintes espécies: Acacia cyanophylla
Lindley, Acacia decurrens Willd., Acacia decurrens – var. dealbata, Acacia longifolia
(Andrews) Willd., Acacia melanoxylon R. Br., Acacia mollissima auct., non Willd.,
Acacia pycnantha Benth., Acacia retinodes Schlecht., Alnus glutinosa (L.) Gaertner,
Cupressus glauca Lam., Cupressus macrocarpa Hartweg, Eucalyptus globulus Labill.,
Fraxinus americana L., Populus alba L. e Populus nigra L. (Direção Geral dos
Serviços Florestais e Aquícolas, 1939).
Para a concretização do objetivo de arborização, primeiro procedeu-se à
construção de uma barreira de protecção (ripado) e, depois, ao abrigo dela ou
aproveitando as defesas naturais, semeou-se o penisco e outras sementes de plantas
arenárias e, finalmente, estabilizou-se a superfície das areias com uma cobertura de
mato. A sementeira do penisco foi feita em regos previamente abertos com uma
profundidade de cerca de 0.80 cm, com arado ou charrua, em linhas paralelas
perpendiculares à direção do vento dominante e distanciados entre si de cerca de 1.80
m. As sementes foram distribuídas pelos regos e cobertas com uma ligeira camada de
areia. À medida que se foi semeando, os regos foram sendo cobertos com mato (Direção
Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, 1939). O ripado era mantido (elevado) até à
fixação das areias na área semeada (Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas,
1939).
A figura I.4 mostra algumas espécies que ajudam a caracterizar a vegetação das
dunas. No que diz respeito à riqueza específica, ela encontra-se principalmente no
subcoberto herbáceo e arbustivo, uma vez que no arbóreo domina o pinheiro bravo.
Entre 1916 e 1919 foram feitas algumas intervenções técnicas nos pinhais
existentes que se encontravam em estado regular, mas onde também existiam algumas
29
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
árvores compreendidas entre os trinta e os noventa anos. As árvores mais velhas foram
cortadas e aproveitadas para madeira de ripados das novas sementeiras a realizar nas
dunas (Rei,1924).
Estas madeiras vieram principalmente do pinhal do Fojo e do pinhal da Gândara.
Ainda em 1919 passou-se à concretização do projeto da sementeira das dunas. Os
primeiros passos consistiram na colocação de ripados no cordão dunar litoral e na sua
plantação com estorno, para evitar que as areias avançassem para o interior.
Todos os pinhais e áreas a arborizar foram separados dos terrenos particulares
com valados de cedros. Os marcos de pedra nos vértices dos terrenos não foram
utilizados, pois seria demasiado dispendioso, uma vez que neste concelho não existe
pedra, logo esta teria que ser comprada longe e transportada.
1 2 3
4 5 6
7 8 9
Figura I.4 – Vegetação dunar semeada no início do século XX. 1 – Corema album (L.) Don,
EMPETRACEAE; 2 – Myrica faya Aiton, MYRICACEAE; 3 – Ulex europaeus L., LEGUMINOSAE;
4- Helichrysum angustifolium (Lam.) DC., COMPOSITAE; 5 - Ammophila arenaria (L.) Roth., GRAMINEAE;
6 - Lavandula sthoecas pedunculata L., LABIATAE; 7 - Halimium halimifolium (L) Willk), CISTACEAE;
8 - Cistus salvifolius L., CISTACEAE; 9 - Phragmites australis (Cav.) Steudel, GRAMINEAE
30
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
longo da referida estrada. Depois de abertas, as margens das valas foram fixadas com
estacaria, canas, salgueiros e mimosas (Rei, 1924).
Para assegurar o sucesso da sua germinação, o penisco necessitava mais do que
somente areias soltas. Assim, foram muitas as “carradas” de matos e moliço
transportadas para as dunas de modo a fertilizarem o solo. Este fertilizante era
distribuído pelos regos anteriormente abertos pelas “juntas” de bois. Praticamente todos
os homens das aldeias próximas da floresta lá trabalharam. E, curiosamente, numa
época em que as mulheres não trabalhavam fora dos seus terrenos, foi necessário
chamá-las, para ajudarem a fazer as sementeiras. Isto porque o conhecimento técnico
dos Serviços Florestais poderia ser muito elevado, mas, neste concelho, e possivelmente
em toda a Gândara, eram as mulheres que trabalhavam a terra, logo, elas melhor do que
ninguém sabiam o que lhe fazer. Eram as mulheres que semeavam: distribuíam o
penisco nos regos e cobriam-no com matos e uma fina camada de areia, para evitar que
fosse levado pelo vento (Rei,1924).
Simultaneamente com os trabalhos de sementeira, era feito o planeamento e a
sequente construção da rede viária que iria atravessar aquela área, facilitando na altura a
circulação dos recursos e permitindo no futura a circulação do trânsito.
Os trabalhos de sementeira foram realizados entre 1920 e 1938. Os trabalhos
posteriores consistiram principalmente na expansão da rede viária, na realização da rede
divisional, e na manutenção e melhoramento da rede hidrográfica.
A área arborizada foi dividida posteriormente em 242 talhões retangulares com
aproximadamente 24ha (600x400 m). A rede divisional é constituída por aceiros com
600 metros de intervalo e 10 metros de largura, e por arrifes, com um intervalo de 400
metros entre si e largura de 5 metros. Os aceiros têm uma orientação sensivelmente de
ENE-WSW, perpendicular aos ventos dominantes na época dos fogos, e os arrifes uma
orientação perpendicular aos primeiros, sensivelmente NNW-SSE, dando à área a
referida configuração geométrica, dividida em talhões iguais, o que permite uma gestão
mais eficiente da mata (Rei,1924).
No tempo da realização destes trabalhos, a “floresta” era considerada como uma
importante fonte de rendimento para quem trabalhava na sua concretização: homens,
mulheres e crianças (figura I.5) E os “Serviços Florestais” eram o maior, e praticamente
único, empregador da região.
31
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
1 2 3
Figura I.5 – Sementeira das Dunas 1 – Barreira de protecção: paliçada para fixação das dunas, 2 -
Abertura de regos de sementeira; 3 – Família de trabalhadores na sementeira da floresta
Fonte: Rei,1924
32
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
presentes no país, que mais tarde terão praticamente desaparecido devido a alterações
climáticas intensas.
Fabião (1992, p.13) refere que o pinheiro bravo, provavelmente, seria típico dos
“locais de solos com poucas disponibilidades hídricas (areias recentes)… do centro e
norte do país.” Este estaria “associado a matos de composição variada, consoante a
região”.
Pimentel (1910), referido por Pedro (1993, p.10) refere que antes de D. Dinis ter
promovido o desenvolvimento do pinhal de Leiria, este já existiria na época de D.
Sancho I. Considera ainda que esta mata de Leiria se tenha formado “naturalmente
como outros grandes pinhais que antigamente cobriram o litoral e dos quais restam
ainda grandes vestígios”. Silva (1992) apud Pedro (1993), refere ter encontrado
vestígios de material de Pinus do Calcolítico (5000 anos?), o que leva a concluir que
não foram os romanos que trouxeram o Pinus L. (Teixeira, 1945, apud Pedro, 1993)
pois ele já existia em Portugal antes da sua chegada.
Também Aguiar e Capelo (2000, 2004), e Ganhão e Oliveira (2004), referem a
existência de Pinus pinaster Aiton antes do Holocénico. Durante este período terá
havido um decréscimo da espécie, que mais tarde foi, novamente, recuperada. Aguiar e
Pinto (2007) referem a existência de Pinus pinaster Aiton também no Holocénico,
nomeadamente no litoral da Península Ibérica. Sanches (2000, p. 158) considera que
“Do VI-III milénio A.C…” existiria já uma floresta “marcada por elementos atlânticos -
pinheiro bravo ou marítimo (Pinus pinaster Aiton)”, contribuindo assim para
intensificar a ideia de esta ser uma espécie muita antiga nestes territórios.
Leeuwaarden e Queiroz (2003, p.79) referem a existência de lenha de pinho (no
sítio da Ponta da Vigia, Torres Vedras) que confirma a existência de pinhais bravos no
Mesolítico, “provavelmente habitando os interflúvios de solo arenoso e planos de dunas
estabilizadas do litoral”.
Mateus et al. (1993) apresentam um exemplo de pormenor do estudo da presença
de Pinus em Portugal de forma intensiva, pretendendo assim contribuir para a
diminuição das dúvidas existentes acerca da sua presença em território nacional.
Pais (1992) conclui que o Pinus pinea L. é também uma espécie antiga em
Portugal, com registos de datações que apontam para os 1700 anos. No entanto, este
autor refere em 1987 (apud Pais, 1992) as suas datações para cerca de 5000 anos da
mesma espécie.
33
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Das áreas das matas continuavam a ser retirados limos nos lagoeiros e lagoas
(figura I.6), agulhas e lenhas nos novos pinhais, em dias pré determinados (terças e
sextas) e após a compra de uma autorização passada pelos serviços florestais. Estes
trabalhos terminaram na década de setenta com o aparecimento regular dos fertilizantes
de síntese e a vulgarização do uso do gás. Das lagoas também era retirado peixe que
complementava a dieta de uma grande parte da população. Havia enguias, carpas,
barbos e tainhas, entre outros.
Figura I.6 – As Lagoas 1 – Lagoa de Mira, onde se apanhava moliço; 2 – Barco de colheita de
moliço; 3 – Pesca à fisga.
Fonte: Rei, 1924
Era proibido arrancar plantas e tirar areias das áreas arborizadas, bem como
remover rapão e estrumes. Às terças e às sextas, os agricultores que desejassem retirar
alguns dos produtos permitidos iam a casa do guarda florestal informar que tipo de
material pretendiam retirar (agulhas, matos ou lenha), e era-lhe destinado o local onde
poderiam fazer a sua recolha (o talhão ou a parcela) Este processo permitia fazer uma
gestão dos matos, uma vez que a sua limpeza era previamente planeada num plano de
gestão simplificado, onde eram identificados os talhões a limpar anualmente para
34
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
35
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
36
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A 19 de Julho de 1993 voltou a ocorrer outro incêndio nas dunas de Mira. Desta
vez o foco foi a lixeira Municipal de Mira. Neste concelho arderam 160ha de mata, mas
o fogo prolongou-se para as dunas de Cantanhede e posteriormente para as de Quiaios.
Em Cantanhede arderam 2425ha e em Quiaios 367ha. Estes valores dizem respeito a
áreas administradas pelos Serviços Florestais. Em Mira e Cantanhede, em 1993,
arderam um total de áreas privadas de 590ha, enquanto em Quiaios arderam 806ha.
A espécie arbórea dominante, da área florestal total do concelho continua a ser o
Pinus pinaster Aiton, predominando em 90,0% da, seguindo-se outras folhosas (não
diferenciadas) (7,0%) e o eucalipto (3,0%) (CMDFCI, 2010).
O estrato arbustivo e subarbustivo continua constituído, basicamente, por espécies
como a Myrica faya Aiton, Ulex europaeus L., Corema album (L.) Don, Stauracanthus
genistoides (BROT.) (Samp.), Cytisus grandiflorus (Brot.) DC.. Por seu lado as espécies
predominantes no estrato herbáceo são nomeadamente: Helichrysum stoechas (L.)
Moench, Ammophila arenaria (L.) Roth., Cistus salvifolius L.,, Juncus acutus (L.). A
Cladonia furcata (Hudson) Schrader, por vezes confundida com uma planta, é um
líquen muito frequente nestas areias dunares. Também as acácias (Acacia dealbata
Link. e Acacia longifolia Andr. Willd) apresentam um elevado grau de cobertura,
entrando em competição com as espécies acima referidas, levando na quase totalidade
das situações ao seu desaparecimento.
37
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Com o contínuo abandono da atividade agrícola a partir dos anos noventa, vieram,
consequentemente, instalar-se problemas nas matas, que tinham sido pensadas, também,
para apoio à atividade agrícola. Nos problemas registados para estas matas são de
destacar:
a) A elevada densidade arbórea nos povoamentos;
b) A elevada densidade do subcoberto, quase sempre constituído
exclusivamente por acácias, criando uma continuidade de combustíveis
entre o solo e a copa das árvores (figura I.7);
c) Acumulação de detritos de exploração;
d) Negligência (domínio público e privado) (CMDFCI, 2010).
1 2 3
Figura I.7 – Diferentes densidades de povoamentos 1 – Aceiro ocupado por acácias, 2 – Elevada
densidade de subcoberto; 3 – Elevada densidade de Pinheiro Bravo
38
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
CAPÍTULO II
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
39
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
40
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
II.1.1 – Clima
41
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
42
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
verifica desde o Minho até ao Mondego e que é caraterizada por verões (frescos) com
temperaturas médias de 20ºC em agosto, e invernos (suaves) com 8ºC de temperatura
média em janeiro. Esta é a província climática de Lautensach onde se integram as
Dunas de Mira, que apresentam temperaturas médias de 19.1ºC e 9.8ºC em agosto e
janeiro, respetivamente.
O enquadramento climático das dunas de Mira é feito recorrendo a três estações
meteorológicas: Aveiro/Barra, Dunas de Mira e Figueira da Foz. Trata-se, portanto, de
três estações localizadas no litoral.
Os valores apresentados são relativos a observações realizadas no período de
1930-60. Trata-se do período de tempo recomendado pela Organização Meteorológica
Mundial (30 anos consecutivos). Serão ainda verificados os valores relativos à estação
das Dunas de Mira no período de 1961-88 no sentido de se verificar possíveis alterações
registadas nesta área.
A precipitação anual média da estação de Aveiro é de 913mm, a de Mira de
1002mm e a da Figueira da Foz de 627mm. Trata-se, portanto, duma região
moderadamente húmida, onde os valores de Mira registam a precipitação mais elevada.
Estas precipitações distribuem-se em maior quantidade pelos meses de inverno, quando
a temperatura é mais baixa. A temperatura média anual é de 14,6ºC em Aveiro, 14,8ºC
em Mira e 15ºC na Figueira da Foz, registando-se os seus máximos de junho a setembro
(figura II.1). Os valores médios de temperatura registados na estação de Mira durante o
período de 1934-60 diminuem 0,6ºC para 1961-88, enquanto na precipitação ocorreu
um decréscimo de 1002 para 854mm, ou seja, ocorreu uma diminuição de 148mm.
R (mm)
R( mm)
T ( ºC)
T( ºC)
43
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
15
N. º de Dias
15 15
N. º de Dias
10 10 10
5 5 5
0 0 0
J F MA M J J A SO N D J F MA M J J A SO N D J FMA M J J A S O N D
Mês Mês Mês
Prec sup. a 0.1 mm Prec sup. a 0.1 mm Prec sup. a 0.1 mm
Prec. sup a 10 mm Prec. sup a 10 mm Prec. sup a 10 mm
44
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
T(ºC)
T (ºC)
T (ºC)
20 20 20
10 10 10
0 0 0
-10 -10 -10
J F MA M J J A SO N D J F MA M J J A SO N D J FMA M J J A S O ND
Mês
Mês Mês
T. máx. T. min. T. máx. T. min. T. máx. T. min.
6 6 6
N. º de Dia s
N. º de Dias
N. º de Dias
4 4 4
2 2 2
0 0 0
J F MA M J J A S O N D J F MA M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês Mês
T. inf. a 0ºC T. sup. a 25ºC T. inf. a 0ºC T. sup. a 25ºC T. inf. a 0ºC T. sup. a 25ºC
45
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
8 8
N.º de Dias
N.º de Dias
6 6
4 4
2 2
0 0
J F MA M J J A SO N D J F MA M J J A SO N D
Mês Mês
Dias de Geada Dias de Geada
N. º de Dia s
15 15
N. º de Dia s
15
10 10 10
5 5 5
0 0 0
J FMA M J J A SOND J FMA M J J A SOND J F MA M J J A SO N D
Mês Mês Mês
46
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura II.7 - Representação do número de observações mensais (em %) para cada rumo de vento
Fonte: O Clima de Portugal
Figura II.8 - Representação da velocidade média mensal e por rumo do vento (em km/h).
Fonte: O Clima de Portugal
47
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Água ( mm)
80 80 80
60 60
60
40 40
40
20 20
20
0 0
0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
J F MA M J J A S O N D
Mês Mês
Mês
Evapot.Potencial Evapot. Real Evapot.Potencial Evapot. Real Evapot.Potencial Evapot. Real
48
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
100
Água (mm)
100 100
Água (mm)
50 50 50
0 0 0
D J F M A M J J A S O N D D J F M A M J J A S O N D D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês
Mês
Excesso de Água Def. de Água Excesso de Água Def. de Água Excesso de Água Def. de Água
30
Temp. (º C)
140 70
R(mm)
120 60
T(º C)
10 20
100 50
80 40 10
60 30 5
40 20 0
20 10 -10
0
0 0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
J F MA M J J A SO N D
Mês Mês
Mês
Prec. Sup a 0,1mm Prec. Sup a 10mm Temp. Máx. Temp.mín.
R (mm) T (ºC)
N.º de Dias
8 8
6 6 10
4 4
5
2 2
0 0 0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês Mês
T. Inf. a 0ºC T. Sup a 25ºC Dias de Geada Dias de Nevoeiro
100
Água (mm)
Água (mm)
80 100
60
40 50
20
0 0
J F M A M J J A S O N D D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês
Evapot. Potencial (EP) Evapt. Real (ER) Excesso de Água Deficiência de Água
49
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
50
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 9,9 10,2 12,8 14,4 15,6 17,5 18,2 18,4 18 16 13 10,6 14,6
Índice Calórico 2,81 2,94 4,15 4,96 5,6 6,66 7,07 7,19 6,95 5,82 4,25 3,12 61,52
Evapot. Pot. não Ajust. 32 33,5 46,6 55,4 62,3 73,6 78 79,2 76,7 64,6 47,7 35,4
Factor de Ajustamento 0,83 0,83 1,03 1,11 1,25 1,26 1,27 1,19 1,04 0,96 0,82 0,8
Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 27 28 48 61 78 93 99 94 80 62 39 28 737
Precipitação (R) 137 84 120 65 66 32 12 16 42 82 126 132 914
Var. Armaz. Água Útil 0 0 0 0 -12 -61 -27 0 0 20 80 0
Armaz. Água Útil 100 100 100 100 88 27 0 0 0 20 100 100
Evapot. Real (ER) 27 28 48 61 78 93 39 16 42 62 39 28 561
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 0 60 78 38 0 0 0 176
Excesso de Água 110 56 72 4 0 0 0 0 0 0 7 104 353
Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 10,1 10,5 13,1 14,7 15,8 18 19 19,2 18,7 16,4 13,6 11,1 15
Índice Calórico 2,9 3,08 4,3 5,12 5,71 6,95 7,55 7,67 7,37 6,04 4,55 3,34 64,58
Evapot. Pot. não Ajust. 31,4 33,3 46,6 55,4 61,8 75,2 81,6 82,9 79,7 65,4 49,3 36,3
Factor de Ajustamento 0,84 0,83 1,03 1,11 1,25 1,25 1,27 1,18 1,04 0,96 0,83 0,81
Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 26 28 48 61 77 94 104 98 83 63 41 29 752
Precipitação (R) 93 61 84 47 44 17 5 9 29 67 81 89 626
Var. Armaz. Água Útial 0 0 0 -14 -33 -53 0 0 0 4 44 64
Armaz. Água Útil 100 100 100 86 53 0 0 0 0 4 44 100
Evapot. Real (ER) 26 28 48 61 77 70 5 9 29 63 41 29 483
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 24 99 89 54 0 0 0 266
Excesso de Água 67 33 36 8 0 0 0 0 0 0 0 0 136
51
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 9,8 10,6 12,9 14,4 15,9 18 19 19,1 18,5 16,2 13,2 10,4 14,8
Índice Calórico 2,77 3,12 4,2 4,96 5,76 6,95 7,55 7,61 7,25 5,93 4,35 3,03 63,5
Evapot. Pot. não Ajust. 32,1 34,3 46 54,2 62,8 75,6 81,9 82,6 78,7 64,6 47,6 33,4
Factor de Ajustamento 0,84 0,83 1,03 1,11 1,25 1,25 1,27 1,18 1,04 0,96 0,83 0,81
Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 27 28 47 60 79 94 104 97 82 62 40 27 747
Precipitação (R) 144 105 133 68 75 27 11 19 49 107 114 150 1002
Var. Armaz. Água Útial 0 0 0 0 -4 -67 -29 0 0 45 55 0
Armaz. Água Útil 100 100 100 100 96 29 0 0 0 45 100 100
Evapot. Real (ER) 27 28 47 60 79 94 40 19 49 62 40 27 572
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 0 64 78 33 0 0 0
Excesso de Água 117 77 86 8 0 0 0 0 0 90 129 123 630
Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 9,8 10,5 12,9 14,5 15,8 18 19 19,1 18,5 16,3 13,1 10,3 14,8
Índice Calórico 2,77 3,08 4,2 5,01 5,71 6,95 7,55 7,61 7,25 5,98 4,3 2,99 63,4
Evapot. Pot. não Ajust. 30,6 34,2 46,3 54,6 62 75,4 82 82,9 78,5 64,7 47,1 33,1
Factor de Ajustamento 0,84 0,83 1,03 1,11 1,24 1,25 1,27 1,18 1,04 0,96 0,83 0,81
Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 26 28 48 61 77 94 104 98 82 62 39 27 746
Precipitação (R) 107 90 126 50 61 20 7 23 40 100 113 117 854
Var. Armaz. Água Útil 0 0 0 -11 -16 -73 0 0 0 38 62 0
Armaz. Água Útil 100 100 100 89 73 0 0 0 0 38 100 100
Evapot. Real (ER) 26 28 48 61 77 93 7 23 40 62 39 27 531
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 1 97 75 42 0 0 0 215
Excesso de Água 81 62 78 0 0 0 0 0 0 0 12 90 323
52
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
II.1.1.1 – Bioclimatologia
It= (T+m+M)*10
T- Temperatura média anual
m- Temperatura média das mínimas do mês mais frio
M- Temperatura média das máximas do mês mais frio
53
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela II.4 - Termotipos verificados nas estações de Aveiro/Barra, Mira e Figueira da Foz
Estação T m M It Termotipo
Aveiro/Barra 15 5,2 14 344 Mesomediterrâneo
Mira 15 6,4 13 344 Mesomediterrâneo
Fig. da Foz 15 6,6 14 352 Termomediterrâneo
b)Índice de Continentalidade
Este índice traduz a amplitude ou contraste médio anual da temperatura de
determinado território.
Exprime a diferença, em ºC, entre a temperatura média do mês mais quente e a
temperatura média do mês mais frio do ano.
Tabela II.5 - Índice de continentalidade das Estações de Aveiro/Barra, Mira e Figueira da Foz
Estação Tmáx Tmín Ic Macrotipo Tipo
Aveiro/Barra 18,4 9,9 8,5 Oceânico Pouco hiperoceânico
Mira 19,1 9,8 9,3 Oceânico Pouco hiperoceânico
Fig. da Foz 19,2 10,1 9,1 Oceânico Pouco hiperoceânico
c) Índice ombrotérmico
É o índice resultante do quociente entre a precipitação anual (em mm) dos meses
cuja temperatura média seja superior a 0ºC e o valor (em ºC) resultante da soma das
temperaturas médias mensais superiores a 0ºC.
Io= Pp/Tp
Pp – Precipitação anual (mm), dos meses cuja temperatura média seja superior a 0ºC
Tp – Soma das temperaturas médias mensais superiores a 0ºC
Este índice complementa a caracterização dos andares bioclimáticos no que se
refere ao seu ombrotipo (Tabela II.6).
54
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Estação
Pisos Bioclimáticos
Termotipo Ombrotipo Bioclima
Aveiro/Barra Mesomediterrâneo Sub-húmido Mediterrâneo Pluvioestacional Oceânico
Mira Mesomediterrâneo Húmido Mediterrâneo Pluvioestacional Oceânico
Fig. da Foz Termomediterrâneo Sub-húmido Mediterrâneo Pluvioestacional Oceânico
55
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
56
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
determinante para o desenvolvimento vegetal do local. Por outro lado, o coberto vegetal
existente foi promovido pelo homem com o objetivo de controlar essa evolução natural
da linha de costa. A forma mais adequada de controlar o avanço do mar foi fixando as
areias com recurso à sua vegetação. O homem ajudou a fixar a duna primária com a
construção de ripados, e sua posterior sementeira; ajudou a criar dunas onde achou
necessário, nomeadamente pela construção de ripados para formar outra duna paralela à
duna primária, mas agora no limite interior das dunas secundárias, que por sua vez
também foram plantadas e semeadas. Isto terá acontecido numa fase tardia, que
resultará duma evolução que se pensa ser a evolução da Ria de Aveiro, onde o
assoreamento terá supostamente dado origem à evolução da bacia para a laguna por
acumulação de sedimentos (Martins, 1947; Rebelo, 2010) apresentada na figura II.12,
assoreamento que resultará da acumulação de areias depositadas essencialmente pelo
mar. O cordão litoral já estaria formado durante o período da “dominação Romana”
(Martins, 1947; Rebelo, 2010). No entanto, este cordão será o equivalente ao que
engloba hoje a localidade de Vagos. Era necessário controlar um espaço natural
inóspito, a Gândara, que os seus habitantes necessitavam para a prática agrícola.
57
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
que na Gândara pré-romana “a linha de costa, nesta região, chegaria até onde hoje se
situa a Vila de Mira, bordejando a terra que para sul da Igreja Matriz numa Calheta
que por alturas da Ermida era de águas repousadas onde desaguavam cursos de água.
(…) O lento recuo do mar teria deixado, pelo século XII, uma linha de costa que
passaria entre o local onde hoje se situa a vila de Mira e a povoação da Lagoa; para
norte, pelas Pedregueiras, a linha de costa seguiria para Portomar, Seixo, Calvão (…).
O Vouga lançaria as suas águas no mar por um único canal na zona de Aveiro; para
sul de Mira, águas fluviais e do mar alimentariam várias lagoas, as maiores das quais
seriam a da Ermida …”
A descrição de Cupido (2006, p. 153-154) da formação da região, quando afirma
que “ A Gândara nasceu da água. Restos do mar no seu recuo lento, foram deixando
extensas poças nos baixios areentos, acrescentados por lagos, lagoas e cursos de água
doce de caudal manso…” permite concluir acerca da influência marinha mais para o
interior. Segundo este autor “Esta região,…, era plana não havendo por aí rápidos nem
quedas. Por isso a água tinha natural tendência para se manter nos baixios, notando-se
apenas, um movimento vagaroso onde se faziam sentir os efeitos das marés. E assim
tem permanecido durante séculos.”(…) “No século VIII (…) a linda de costa era
bastante diferente do que é hoje. (…) sem grande rigor e apenas para ficar com uma
ideia aproximada, os areais que durante séculos se foram formando permaneceram
como dunas até neles ser semeado pinhal, e seriam um mar no tempo da ocupação
muçulmana.”
A descrição apresentada traduz não só o espaço físico de forma pragmática, mas
deixa implícita a importância da água na construção desse espaço e a identificação da
população local com essa imensidão de água.
Quando Cortesão (2009, p.29) refere que “há trinta e oito anos não tínhamos ido
a Mira e à sua praia. A vila, um tudo nada erma e triste, espalhada na planura da
beira-mar, tem aquele ar nostálgico de porto abandonado. Com efeito, nos começos da
monarquia, iãm ali os navios ou mais provavelmente ao povoado de Portomar, que lhe
está contíguo”, indica que a linha de costa se localizaria em Portomar no século XII.
Mas estas descrições, assim como outras, não são depois confirmadas com documentos
fiáveis.
Ainda por outro comentário de Cortesão (2009, p.30) - “Lembrava que há cerca
de quarenta anos se fazia o caminho em carro de bois ou a cavalo, sobre o areal
deserto, antes de encontrar sobre as dunas erguidos os primeiros palheiros” - conclui-
58
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
se que em 1918, quando este autor viveu nos Palheiros da Costa, hoje Praia de Mira,
todo o areal era móvel e não permitia a instalação de qualquer estrada pois nas épocas
de inverno tudo era destruído.
Também pela descrição que o mesmo autor faz acerca do pedido do Visconde de
Pierrefeu para trazer o hidroavião que amarou na “lagoa próxima da Barrinha”
(Cortesão, 2009, p.31), se conclui que o hoje chamado Lago de Mar já existiria nesta
época de 1918.
Por seu lado, Brandão (2009, p. 35) refere que “De Cantanhede a Mira são
quatro horas de caminho. Pinheiros, sempre pinheiros (…). Depois, num carro de bois,
a travessia do areal…e por fim Mira (Praia de Mira?), terra de pescadores, de
palheiros de madeira…Atravesso o charco por um pontilhão… Tudo isto foi um areal e
um charco. O charco secou reduzido à Barrinha; o areal, que vem do norte até onde a
vista alcança… dominam o azul, o verde e o ocre. É muito grande e muito simples.” É
possível concluir acerca dum eventual limite que separaria as zonas da Gândara interior
da Gândara litoral. De Cantanhede a Mira, região natural mais antiga, existiriam já
pinhais desenvolvidos, enquanto que para o litoral, ainda dominavam as areias a
descoberto, que ninguém conseguia controlar.
Fernandes Martins in Brito (1981, p.20) refere que “a” Lagoa “de Mira já existia
no século XV, distante do mar” e esta em 1774 era, segundo as Memórias Paroquiais do
tempo do Marquês de Pombal in Brito (1981, p.20) “pela parte do poente e norte, toda
cercada de areia e com a continuação dos ventos e areias a vão alagando, por lhe
faltar os resguardos que antigamente tinha, de matos e árvores de que estava povoado
tudo o que hoje são areias desde a dita lagoa até ao mar.”
Segundo Reigota (1992, p.22) “no Dicionário Popular dirigido por Manuel
Pinheiro Chagas, podia-se ler que ‘Mira está situada à beira da ria de seu nome, que
põe em comunicação a lagoa de Mira com o mar’”. Esta referência vem confirmar a
anterior de Fernandes Martins.
Por seu lado, Alves (1990, p.10) refere que “ Só por volta do século XV, a linha
de costa atinge uma configuração próxima da atual”. Ora sabe-se presentemente que
esta afirmação só poderá ser considerada correta se for entendida como uma análise de
escala alargada. Caso se pretenda uma análise de pormenor, no séc. XV a restinga mais
ocidental da Ria de Aveiro (onde se localizam a Praia da Costa Nova, Praia da Vagueira
e Praia de Mira) ainda não era conhecida. Também Marques (1993, p.17) considera que
um documento do século XII parece indicar Mira como “um porto de mar, numa costa
59
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
de configuração bem diferente da atual.” A mesma autora refere que a costa terá
“sofrido grande evolução até ao séc. XVII”.
No percurso que faz do Areão, limite Norte do Concelho de Mira, até Aveiro,
Marques (1993) faz referência a antigas barras - “Passo ao Cabeço da Capela, passo ao
Forte Velho – antiga barra”. Continuando a deslocar-se para norte, passa no “lago da
labrega” (atual Praia do Labrego, junto à Praia da Vagueira?) onde depois de o passar
de barco, “na antiga barra”, encalha. Depois da referência a estas barras, anteriores a
1920, ano em que Brandão escreveu os capítulos relativos à Ria de Aveiro, chegam à
Vagueira (Brandão, 2009, pp. 26-27). Estas descrições levam a concluir da existência
das sucessivas barras existentes na Ria de Aveiro, resultantes do desenvolvimento do
cordão litoral para sul.
Não é fácil fazer afirmações concretas da “história natural” da Ria de Aveiro e,
mais especificamente, da Gândara. Muitas vezes, só se chegaram a conclusões a partir
de documentos relativos a outras actividades, nomeadamente a partir de informações
acerca dos barcos da pesca do bacalhau, de atas das câmaras municipais ou até de
documentos da Igreja.
O documento cartográfico mais antigo, que merecerá verdadeiramente este nome
e do qual se poderá retirar informação útil, é o Portulano, de Petrus Visconte, datado de
1318. Não é aqui apresentado por não se ter encontrado nenhuma reprodução
suficientemente percetível. Das que se puderam observar, apenas se retira a ideia que
não existia ainda a Ria de Aveiro, formando a costa, a partir do que é hoje a Lagoa de
Esmoriz, uma grande chanfradura até ao Cabo Mondego. O Portulano apresenta a
antiga linha de costa, numa época em que o mar cobria toda a área da actual Ria.
Certamente que, se ela já fosse uma realidade, serviria de abrigo à navegação, e Petrus
Visconte teria com certeza conhecimento da sua existência. Reigota (2000, p.27)
confirma a descrição anterior quando refere, por análise da Carta Portulano de Petrus
Visconte (1318) “entre o Vouga e o Mondego a inexistência dos terrenos onde hoje
estão implantadas as terras litorais e a mata”.
Todos os dados antigos se referem unicamente ao Rio Vouga como único Porto
acessível à navegação. Nenhum escritor antigo se refere à Ria, o que não deixaria de
fazer se ela existisse.
Coloca-se então uma questão: de onde viriam os sedimentos que originaram a
atual Ria de Aveiro, e que colmataram a chanfradura apresentada em Portulano?
60
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Este terá sido formado anteriormente a 1200 e terá avançado do Carregal para Sul,
até à barra da Torreira. Embora no braço Sul seja possível confirmar a existência de
Vagos, no braço Norte é lamentável que não exista qualquer informação de localidades
existentes. Estaria então formado o braço lagunar que se estende de Aveiro até Ovar.
61
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Marques (1993, p.16-18) refere que em 1560, no seu mapa de Portugal, Fernando
Álvares Seco apresenta a Lagoa de Mira em contacto com o mar. Ainda regista que o
assoreamento efetuado terá dado origem à lagoa, que “durante muitos séculos” se
encontraria “em comunicação direta com o mar, até ao estrangulamento final, com o
corte dessa ligação…pelo séc. XVII”.
A figura II.14, que numa primeira análise não revela uma reentrância tão grande
como as restantes, quando observada ao pormenor, parece mesmo evidenciar a
existência dos braços interiores da laguna.
As figuras II.14, II.15 e II.16 correspondem a fragmentos retirados de cartas do
Mundo ou da Europa, pelo que a escala utilizada não permite a existência de grandes
pormenores.
62
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Aveiro
63
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Douro
Aveiro
Mondego
Figura II.18 – Atlas da Costa de
Portugal, de João Teixeira
– Primeira Carta (1648)
Fonte: Estampa 509, Portuggallae
Monumenta Cartographica, 1987
64
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
até no seu interior, o que parece ser a acumulação de areias, e que seria certamente uma
informação útil aos navegadores.
Aveiro
Mira
Aveiro
65
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Aveiro
Com a contínua progressão do cordão litoral, para Sul, este atingiu o litoral da
Vagueira em 1643 e o de Mira em 1756, tapando por completo a laguna. A posição do
cordão em 1756 é referida na figura II.22, Mapa topográfico da Ria de Aveiro (1781),
como sítio da Barra Antiga.
À medida que o cordão se deslocava para Sul, as profundidades do canal principal
diminuíam, progressivamente, de Aveiro até Mira. Diminuía assim a capacidade das
águas da vazante, dando lugar a cheias demoradas. Em 1756 essa cheia passou a ser
contínua porque não ocorria qualquer escoamento das águas, devido ao cordão dunar
não permitir qualquer ligação entre o mar e a água da laguna.
Estava assim terminado um período de aproximadamente seis séculos, em que
ocorreu a formação de todo o cordão litoral da Ria de Aveiro.
O fenómeno de fecho da laguna trouxe consequências extremamente negativas
para a população local: houve uma diminuição e até desaparecimento da pesca marinha
costeira e os barcos da pesca do bacalhau também não podiam entrar no porto de
Aveiro. A ruína da agricultura e das salinas provocou o empobrecimento geral, as
doenças aumentaram, e esta região tinha que encontrar uma solução para não definhar
completamente.
Em 1757, o capitão-mor João de Sousa Ribeiro, conhecedor das condições locais,
conseguiu abrir o regueirão da Vagueira, por onde se escoaram as águas represadas.
66
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Este é o local que aparece representado na figura II.22, como Barra de Aveiro. Esta
Barra artificial foi aberta junto ao Forte Velho, que corresponde ao local em que se
encontrava o cordão dunar em 1648, apresentado anteriormente na figura II.19.
Barra de
Aveiro Figura II.22 - Mapa
topográfico da Ria de Aveiro
no ano de 1781
Fonte: Biblioteca Municipal do
Sítio da Barra Porto
Velha
A figura II.23, Carte du Portugal de Ambroise Tardieu (1802), mostra a Lagoa de Mira
com contacto com o mar o que, segundo a restante cartografia e textos consultados nesta
época, já não aconteceria pois já estaria ligada à Ria de Aveiro, então completamente
formada. Este mapa não será, portanto, uma referência que se possa crer importante para
a compreensão da evolução da ria, uma vez que se encontra desatualizado no tempo.
Aveiro
Mira
67
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
68
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura II.24 – Planta que mostra a restinga de Norte para Sul, em 1874, desenvolvida a partir
do Molhe Norte da entrada da Barra
Fonte: Exposição Histórico-documental do Porto de Aveiro, Edição Porto de Aveiro, 1998.
A Ria tinha nesta época duas entradas: a principal, junto a Aveiro, e o regueirão
da Vagueira, conforme se pode observar na figura II.25, Carta Physica de Portugal
(1875), e na figura II.26, Portugal político, embora com pouco pormenor. Até na carta
geológica de Portugal, figura II.27, Portugal Geológico, a ilha da Vagueira se encontra
bem representada.
Aveiro
Vagueira
Aveiro
Vagueira
69
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Aveiro
Vagueira
Aveiro
Figura II.29 - Carta Topográfica de Aveiro, folha 9C, escala original - 1:50000, 1904
Fonte: Quatro Séculos de Imagens da Cartografia Portuguesa, 2.ª Edição
70
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Mais a Sul, junto a Mira, a Ria sofria outros problemas, como se pode inferir das
atas das reuniões da Câmara Municipal, de 1 de julho de 1877 à de 14 de janeiro de
1908 (Miranda, 2008, p. 67-69; 2012, pp. 97-100). A partir da sua consulta, é possível
deduzir que a Barrinha de Mira tinha ligação com o mar em 1877, pois a Câmara neste
ano quis celebrar contrato para o fechamento da mesma. Não havendo ninguém que
levasse a cabo a obra de fechamento da Barrinha, foi o próprio “governo que a tomou a
seu cargo” em 1881. Em 1886 há referências de que o marachão que protegia a
Barrinha correu grande perigo, e em 1888 houve mesmo o seu rebentamento. Esta obra
terá sido difícil de consolidar, e até 1908 a Barrinha teve ligação com o mar, o que se
pode confirmar pela referida ata de 14 de Janeiro em que “…os povos da Praia
reclamavam a tapagem da Barrinha que corre para o mar presentemente ao Sul”. Não
foi possível ter acesso à carta topográfica equivalente à figura II.29, imediatamente a
sul, e que incluísse o concelho de Mira, onde se pretendia confirmar a ligação da
Barrinha ao mar, como referido nas atas da Câmara Municipal.
A figura II.30, Fotografia aérea da Barra de Aveiro (1933), mostra a acumulação
de areia que voltou a ocorrer em redor de toda a entrada da Barra e até no seu interior.
Isto vem confirmar que, desde a sua abertura, a Barra de Aveiro teve problemas de
acumulação de areias em seu redor pois, poucos anos depois de ser limpa, as areias
voltam a ser um entrave à navegabilidade da barra e, portanto, à prosperidade
económica de Aveiro. Com grandes acumulações de areia, a entrada de grandes barcos é
dificultada e, consequentemente, a pesca do bacalhau diminuirá. Mais uma vez é
imprescindível arranjar uma solução para evitar que tal aconteça. E, essa solução passa
pela construção de novos molhes com grandes dimensões, para que a entrada da Barra
fique protegida das areias. E mais uma vez as areias que deviam seguir o seu percurso
para Sul, contribuindo para a consolidação da restinga junto a Mira e à Vagueira, vão
ficar retidas a Norte ou ser retiradas junto à Barra de Aveiro.
Aveiro
Figura II.30 – Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1933): Acumulação de areias em toda a
entrada da Barra
Fonte: Ministério da Defesa Nacional – Força Aérea 71
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Aveiro
Aveiro
72
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
73
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
cordão litoral. Não fazem referência aos cabedelos que se formaram anteriormente, o
que dará uma ideia incompleta da formação da Ria. Parecem tratar-se de esquemas algo
pobres, em relação à evolução da Ria, pois apenas remetem para a parte final dessa
evolução, ou seja a formação do cordão litoral.
74
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Matas de Mira
Figura II.36 – Ria de Aveiro atual (Década de 90)
Fonte: Boletim Cultural – Gafanha da Nazaré, Ano 2, N.º 2, 1986.
75
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Quando se faz referência à função de proteção atribuída às matas litorais, ela não é
muitas vezes entendida na sua plenitude. Considera-se normalmente a necessidade de
proteção dos ventos. Mas, mais do que isso, há a necessidade de proteção relativamente
à proximidade do mar e à imensidão de água interior existente até meados do século
XX. A evolução da Ria de Aveiro aqui apresentada pretende mostrar a importância dada
ao controlo das águas, mais do que ao controlo dos ventos. A função de proteção das
matas de Mira, assim como das de Vagos e de Cantanhede, está intimamente ligada às
características físicas do espaço no que diz respeito à sua proximidade do mar e à sua
inserção na bacia hidrográfica da Ria de Aveiro.
Conforme já foi apresentado, através de referências bibliográficas anteriores,
nomeadamente no Capítulo I, é de destacar a importância da relação entre a água e a
floresta na definição da identidade do espaço e da população da Gândara, assim como
das atividades que lhe estão associadas.
76
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
litoral e as areias eólicas avançam para o interior formando o manto dunar atualmente
existente.”.
No concelho existem essencialmente Depósitos Modernos (Holocénico) e
Depósitos de Praias Antigas e Terraços Fluviais (Plistocénico). Mas também existe uma
formação mais antiga, do Cretácico (Campaniano Superior), que é o Conglomerado de
Mira.
a)- Depósitos Modernos (Holocénico)
Os Depósitos Modernos são constituídos por Aluviões, Areias de Praia, Dunas e
Areias Eólicas.
a1)- Aluviões (a)
Os depósitos de aluviões encontram-se nas margens do Canal de Mira. São
essencialmente constituídos por materiais de natureza arenosa-argilosa, com matéria
orgânica. Em algumas zonas devido à vegetação aparecem em zonas semipantanosas,
como acontece na Lagoa de Mira.
a2)- Areias de Praia (Ap);
Constituem o extenso e estreito cordão litoral ao longo de toda a costa do
concelho. São areias médias e grosseiras, por vezes com algum areão.
Junto ao mar temos as Areias de Praia e imediatamente a seguir, a Este, temos o
Cordão Dunar.
a3)- Dunas e Areias Eólicas ( d (a, b, c e d) e Ae);
Aqui podemos distinguir as dunas propriamente ditas (com quatro tipos de
orientação) e as Areias Eólicas, que constituem uma superfície plana entre os campos de
Dunas.
As Dunas e as Areias Eólicas constituem quase a totalidade do concelho, sendo
que as Areias Eólicas têm mais representatividade imediatamente a seguir ao Cordão
Dunar e, depois, na parte Este do concelho.
b)- Depósitos de Praias Antigas e Terraços Fluviais (Plistocénico)
Em Mira este grupo encontra-se representado pelo nível de 30-40m (Praias
antigas) e pelo nível 45-50m (Terraços Fluviais, Plistocénico).
b1)- Nível de 30-40m (Praias Antigas, Plistocénico);
Este nível encontra-se representado nos afloramentos da Presa até ao Corticeiro de
Baixo, e de Carromeu e Ramalheiro. Têm espessura situada entre dois e três metros e
foram, no passado, explorados para a construção civil. São constituídos
fundamentalmente por areias e cascalheiras bem roladas.
77
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
78
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Quaternário
N
a
Aluviões......................................
Depósitos modernos
Areias de praias........................... Ap
Holocénico
Cordão dunar de praia.................
Dunas parabólicas.......................
Ae Areais eólicas.............................. Ae
Fonte: Carta geológica de
Plistocénico
1992 Nível de 30-40m.........................
Ae
0 1Km Nível de 45-50m......................... Q2b
Ae Cretácico
Argilas/Conglomerado de Mira..
Q2b
Ae
Q2a
Q1 Q1
Área de estudo
“Pergunto ao Mar: Pergunto ao mar, que ameaça; com tanta desfaçatez, que
traz à praia a desgraça; e às dunas que o vento fez. Pergunto ao mar porque tira;
À’reia fina e dourada, desta praia que é de Mira; Por tanta gente adorada. Mas o mar
nunca responde, nem sequer diz para onde; levou à’reia “roubada”. E eu “penso” cá
pra mim; pode estar para breve, o fim; da praia limpa e dourada…”, (Nogueira, 2003,
in Nogueira 2006, p.41).
79
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
80
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Legenda:
- 0 a 8%
- 8 a 16%
- 16 a 24%
- 24 a 32%
Área de
estudo
0 1Km
81
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Legenda:
- Crista do cordão
dunar litoral
- Crista de dunas
interiores
- Depressão
interdunar alagada
Lagoa
Barrinha
Vala dos
Área de
Atlântico
Moinhos
Oceano
estudo
0 1Km
II.1.4.1 – Praia
82
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
83
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
(como é o caso de Aveiro), são algumas das ações prejudiciais pois vão impedir que as
areias cheguem ao mar e sejam depois distribuídas por este na alimentação das praias.
Na tentativa de contornar estes problemas surgem-nos os esporões, que por seu
lado também têm as suas limitações. Se é verdade que a barlamar a erosão diminui,
imediatamente a sotamar vai aumentar.
Se a praia estiver a ser erodida e não se tomarem medidas para contrariar esta
erosão, com o decorrer do tempo esta passará a ocorrer também no cordão dunar, que se
situa imediatamente a seguir à praia e paralelo a esta, pois o mar começará a exercer a
sua ação sobre ele (figura II.40).
Ripados de madeira
Duna frontal e
Depressão interdunar
84
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
paralelamente a ela, pode existir outra duna, normalmente com menor dimensão, e que
resulta de sedimentos provenientes da duna primária. Aqui estamos em presença da
duna secundária. Estas dunas formam, no seu conjunto, o cordão dunar.
No concelho de Mira, a duna secundária, paralela à primária, é mais acentuada na
sua parte central, junto à Praia de Mira.
Na formação da duna primária e também das secundárias, há vários fatores a ter
em atenção, nomeadamente o vento, como já foi referido.
A velocidade, a direção e a frequência do vento são os fatores predominantes, uma
vez que vão determinar a possibilidade da formação da duna (Paskoff, 1993).
A dimensão e peso dos sedimentos é outro fator a ter em consideração, pois deles
depende a possibilidade de o vento as poder movimentar (Paskoff, 1993).
A água também é um fator importante, pois pode dificultar a movimentação das
areias.
A vegetação também vai ser um fator limitante, pois é a sua presença que ajuda,
muitas vezes, a formar as dunas. Esta serve como barreira à movimentação dos
sedimentos. É muitas vezes plantada ou semeada pelo Homem para impedir a
movimentação das dunas, como aconteceu no concelho de Mira no início do século XX.
Mas, depois de formadas as dunas, o seu equilíbrio é muito frágil e há vários
processos que podem interferir negativamente nesse equilíbrio, provocando a sua
erosão.
Uma duna diz-se estável quando não existem movimentações consideráveis de
sedimentos, o que é conseguido com a ajuda da cobertura vegetal. A duna frontal,
apesar da proteção exercida pela vegetação natural aí existente, pode ser afetada pela
ação dos ventos (Paskoff, 1993). São as gramíneas, nomeadamente a Ammophila
arenaria, com a sua flexibilidade dos caules e das folhas, resistindo à ação dos ventos e
à salinidade, com a sua raiz fasciculada e o seu caule rizomatoso que, em conjunto com
outras herbáceas companheiras, vão evitar a erosão provocada pelos ventos.
A vegetação, que no cordão dunar é essencialmente herbácea e subarbustiva,
também evita a ação acentuada do splash. Este é um processo que terá maior relevância
em declives acentuados, mas que também aqui se verifica. Consiste na movimentação
de partículas por ação da gota de água. O impacto desta no solo provocará
movimentação centrífuga, e maior no sentido descendente do declive. É assim que,
lentamente, ocorre o movimento de partículas, sendo que em superfícies horizontais
estas são movimentadas de igual forma em todas as direções. A sua ação será mais
85
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
acentuada quanto menor for o estrato herbáceo existente. Por isso é bastante visível por
exemplo por baixo dos pinheiros, local onde o impacto é muito acentuado. Nos locais
onde existem alguns subarbustos, nomeadamente a Corema album, também é bastante
visível a ação do splash. Isto porque à sua volta, por vezes, existem áreas sem
vegetação. Onde as acácias predominam, o splash não é muito percetível porque a
densidade de vegetação é muito acentuada. Na duna primária, este é visível nos locais
onde não existe vegetação.
A quantidade de água existente no solo, assim como a existência de vegetação, vai
contrariar o efeito do splash, porque vai permitir a agregação de partículas, dificultando
a sua movimentação.
Mas quando se atingir a saturação do solo em água e a precipitação continuar a
ocorrer, a movimentação de materiais é facilitada. Este processo, o escorrimento
superficial, consiste no transporte de materiais à superfície por arrastamento, em
suspensão ou em solução, neste caso ao longo da vertente da duna, que vêm depois a ser
depositados na sua base, dando origem a leques de dejeção que são bastante visíveis.
Aqui também é percetível a influência da vegetação pois estes leques aparecem na base
da vertente em locais onde ela nunca existe em grandes quantidades.
Os movimentos de terreno são outro processo erosivo que, ocorrendo em
vertentes, neste caso não consolidadas, são influenciados por vários fatores, alguns dos
quais já foram referidos. Estes fatores podem ser intrínsecos, como por exemplo a
litologia, estrutura, cobertura vegetal, declive, etc. Como fatores extrínsecos aparecem
principalmente os de ordem climática, nomeadamente as características da precipitação
e do vento, e fatores antrópicos. A estabilidade depende mais acentuadamente do modo
como atuam os primeiros fatores, enquanto os segundos, por seu lado, atuam mais no
sentido de destruição dessa estabilidade. No entanto, é a conjugação de ambos os fatores
que vai levar às alterações que constantemente se verificam (Rebelo, 1983).
As formações detríticas não agregadas caracterizam-se por um comportamento
que não obriga a seguir uma direção preexistente, sendo que o comportamento
geomecânico dos materiais depende muito da existência de água no solo. A sua
existência, até um certo limiar, pode levar à aproximação de partículas, através do
estabelecimento de ligações químicas, por pontes de hidrogénio, promovendo uma
maior estabilidade da vertente. Quando a quantidade de água ultrapassa determinados
valores (ponto de saturação) a água passa a favorecer a maior separação das partículas e
a sua fácil movimentação (Rebelo, 1983).
86
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
87
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
88
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Como terá sido a última área a ficar seca não terão restado sedimentos que permitissem
a existência de grandes dunas. Assim, aqui aparecem apenas pequenos domos de areia
na transição para as dunas secundárias interiores (Almeida, 2001; Silva, 2001).
De salientar ainda que, além das areias finas que a formam, aparecem,
pontualmente, a coexistir com elas, sedimentos de maiores dimensões que terão sido
para aqui transportados aquando da ocorrência de galgamentos marinhos. O mar terá
chegado até esta depressão, depois de transpor o cordão dunar. Estes galgamentos
também contribuem para a destruição do cordão dunar.
A restrição no acesso à depressão interdunar pretende evitar a destruição das
pequenas formas dunares aí existentes, o que acontece com frequência, depois de
destruída a vegetação por pisoteio dos veraneantes (figura II.42).
89
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
90
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
1 2 3
91
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
II.1.5 – Hidrografia
92
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
se mete em outra lagoa (…), chamada de lagoa de Portomar e dezta se vem meter na
dita lagoa de Mira pella prate Norte (…). Da mesma lagoa de Mira sahi outro rio que
correndo com o nome de cana, por entre juncaes e áreas, o discursso de huma boa
meya legoa, se vai sepultar no mar e, com suas aguas tãobem moem alguns moinhos.
Terá a dita lagoa quazi um quarto de legoa de largo e quazi meya legoa de comprido,
hinda que o mar so dista dela meya legoa, contudo não entra nela e hé toda de agoa
doce. Pella parte do poente e norte hé toda cercada de aréas que, com a continuação
dos ventos e cheas, a vam alagando por lhe faltar os resguardos que, antigamente,
tinha de matos e arvores de que estava povoado tudo o que hoje são áreas, desde a dita
lagoa athe o mar. (…). Não causou o terremoto nezta terra effeito algum que
necessitasse de reparo, ainda que foy grande, no anno de mil setecentos sincoenta e
sinco em que suçedeo. (…) (2 de Maio de 1758).”
Na atualidade o espaço físico apresentado sofreu grandes alterações no que diz
respeito às águas. A lagoa de Mira tem diminuído o seu tamanho e a lagoa de Portomar
desapareceu após a intervenção de 1919 levada a cabo pelos Serviços Florestais em que
a construção da vala do Regente Rei terá canalizado toda a água nela existente para o
canal de Mira (Miranda, 2008, p.32).
Do ponto de vista hidrogeológico, Grego (2010, p. 93) refere que “o concelho de
Mira se integra no sistema aquífero quaternário do Vouga…”. “O abastecimento
hídrico das populações do concelho é garantido através de furos pouco profundos (…).
(…) muitos são os particulares que têm os seus próprios furos e poços, destinados em
grande parte à rega das suas explorações agrícolas” e florestais. A grande densidade
de linhas de água temporárias existentes no concelho não permite a rega no período em
que esta é mais necessária, pelo que os agricultores se veem obrigados a construir
poços, principalmente para o interior, nos locais de maior altitude do concelho. Os
terrenos localizados próximo de linhas de água permanentes, em menor altitude, na
generalidade necessitam de menos água, por terem a toalha freática a menos
profundidade. Quando a rega se torna necessária os agricultores ou produtores florestais
abrem um “ladrão” temporário na mota da vala principal, que depois são responsáveis
por fechar e deixar segura a referida mota para que não se registem rebentamentos
destas nas épocas de maior precipitação. Os terrenos florestais são regados apenas nos
primeiros anos de instalação da exploração.
Mas a quantidade de água existente nas valas do concelho têm vindo a sofrer
diminuição, resultado de alterações do regime pluviométrico que, por seu lado, também
93
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
terá vindo a decrescer. “Nas valas da Gândara, logo no início do inverno era frequente
as águas excederem os leitos“. Depois, “sobretudo de Abril a Maio, que era o tempo
das águas novas, faziam-se grandes pescarias”. Após o terminus das “águas novas”, as
valas de enxugo secavam e nas maiores (Vala dos Moinhos e Vala da Cana) “diminuía a
quantidade de água que corria no seu leito” (Cação, 2006, pp. 206-207). Na atualidade,
na maior parte das valas de enxugo não corre qualquer quantidade de água, e as mães de
água (valas de enxugo de pequenas dimensões) praticamente deixaram de existir. As
azinhagas (caminhos), que tomavam o papel de vala de enxugo em épocas de elevadas
quantidades de precipitação, também já não acumulam esta dupla função.
A rede hidrográfica do concelho faz parte da sub-bacia da Ria de Aveiro que, por
seu lado, integra a bacia hidrográfica do Vouga.
A referida rede compreende um conjunto de valas que asseguram o escoamento da
água vinda das nascentes e da drenagem dos campos. Compreende, ainda, a Barrinha
(lagoa de barragem marinha) e a Lagoa de Mira (lagoa interdúnica) cuja ocupação
depende grandemente da sua proximidade aos aglomerados populacionais.
A Lagoa de Mira e a Barrinha sofrem uma utilização completamente desordenada.
As funções a que são destinadas nem sempre correspondem ao que seria adequado para
o espaço em causa. A primeira tem uma utilização menos intensa, o que fica a dever-se
à sua localização. Por outro lado, a Barrinha tem sofrido numerosas alterações que se
ligam à sua excessiva utilização, principalmente durante o verão.
No campo dunar não existem linhas de água naturais (ribeiras). Todas as que se
podem encontrar resultam da ação do Homem, que assim tentava controlar o excesso de
água existente em alguns locais, nomeadamente nos terrenos de cultivo e nas dunas
interiores onde se pretendia fazer o povoamento florestal. Mas no que respeita à zona de
estudo, o traçado das linhas de água efetuadas pelo Homem prende-se sobretudo com a
necessidade de controlar o excesso de água existente nas dunas que, de alguma forma,
prejudicava o seu povoamento.
Quanto às valas que compõem a rede hidrográfica podemos distinguir três tipos
diferentes e, apesar de todas elas desempenharem funções de escoamento das águas, a
intenção com que foram construídas foi distinta (figura II. 44).
Existem as valas principais, que são as mais largas. São construídas a partir das
linhas de drenagem natural e a sua principal função é receber a água das valas de
menores dimensões e conduzi-la até à “Ria de Aveiro”. As valas principais do concelho
são a Vala do Regente Rei, a Vala Real ou Vala da Cana e o Canal de Mira.
94
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Vala de Enxugo
(Barra de Mira)
Legenda:
- Vala Principal
- Vala de
Enxugo
0 1Km
Quando se optou por fazer o povoamento florestal, no início do século XX, houve
em primeiro lugar que controlar o alagamento das depressões interdunares. Isto foi
conseguido, a Norte, com a abertura da vala do Regente Rei, que tinha como objetivo
drenar as águas da Lagoa do Palhal, no Seixo de Mira. Esta lagoa recebia a água de todo
o Norte do concelho de Mira e ainda do concelho de Cantanhede. A abertura desta vala
95
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
96
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Também nas depressões interdunares foram abertas algumas valas de escoamento para
impedir o alagamento destas e assim se poder proceder a sementeiras. As valas de
enxugo são efémeras na sua função de escoamento. Ou seja, funcionam apenas durante,
ou imediatamente após, os períodos de precipitação, e só transportam as águas
resultantes do escorrimento superficial. A superfície freática nestes locais, encontra-se
sempre a um nível inferior ao do leito fluvial, não havendo portanto a possibilidade de
caudais subaéreos (Lencastre e Franco, 1984).
Até há poucos anos, todas as valas do concelho apresentavam entre si
características semelhantes, devido aos trabalhos de limpeza a que eram submetidas
regularmente pelos Serviços Hidráulicos, pela Direção Geral das Florestas, pela Câmara
Municipal e pelos habitantes que de alguma forma usufruíam delas.
Atualmente as valas estão em mau estado de conservação, pois todos os
intervenientes nestas tarefas de limpeza deixaram de a fazer. E sendo o número de
agricultores e de moleiros cada vez menor – e mais velhos - tornar-se-ia necessário a
existência de alguma entidade que os substituísse nessas tarefas de manutenção das
valas.
Nas depressões interdunares verifica-se, algumas vezes durante o inverno, a
acumulação de água, que origina pequenos lagos onde predomina a vegetação higrófila.
Atualmente a água disponível no concelho regista um decréscimo acentuado, o
que pode ficar a dever-se não só à sensível redução da pluviosidade - de 80mm na
média anual de 1934-60 para 1961-89 - mas também ao facto de grande quantidade da
que aqui antes afluía ficar agora retida no concelho de Cantanhede. A Lagoa do Palhal
já deixou de existir, o que leva a que a água drenada pela Vala do Regente Rei tenha
diminuído. Também na Vala da Cana a quantidade de água sofreu uma elevada redução,
aqui devido ao facto de grande parte da água da nascente da Fervença (que alimenta esta
vala) ser agora aproveitada para consumo do concelho de Cantanhede.
Se até há poucos anos o concelho se deparava com problemas constantes de
excesso de água, começa agora a sentir a sua carência em alguns dos seus setores. As
valas de enxugo que existiam nas dunas e que drenavam a sua água para as valas
principais encontram-se hoje, em grande número, permanentemente secas, o que levará
à destruição dos microecossistemas ripícolas aí existentes.
Com a diminuição da precipitação, diminui também a água acumulada nas
depressões e nas valas, e a vegetação sofrerá consequentemente alterações.
97
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
II.1.6 – Solos
98
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
áreas ardidas nesse ano. Aqui poderá pensar-se que nas áreas ardidas terá ocorrido
também diferenciação de horizontes, mas devido ao incêndio e posterior diminuição de
vegetação teria ocorrido uma alteração no processo de evolução do solo. Para confirmar
esta possibilidade a nível de horizontes seria indispensável que existissem informações
relativas ao período de tempo ocorrido entre 1987 (ano em que ocorreu o incêndio) e a
atualidade.
A consulta da Carta dos Solos III.1 do Atlas do Ambiente de Portugal (1978)
revela que as Dunas de Mira fazem parte da categoria Rd.1, Regossolos Dístricos. Os
regossolos constituem solos formados a partir da rocha-mãe não consolidada, com perfil
(A)C e em que o horizonte A se apresenta com fraco desenvolvimento. Os que ocorrem
nas Dunas de Mira fazem parte do grupo dos regossolos dístricos. Ou seja, trata-se de
solos não evoluídos existentes em materiais de estrutura não agregada, com complexo
adsorvente bastante dessaturado (saturação em bases inferior a 50%) e pH ácido
(Cardoso, 1973). Não há saturação em bases porque pode ainda não ter decorrido tempo
suficiente para a existência de bases de materiais arenáceos não consolidados ou então
estas bases já se perderam por lixiviação. Seria então de esperar, devido a esta
definição, encontrar pH ácido e o que acontece é que, como se poderá confirmar no
Capítulo IV ele apresenta, muitas vezes, valores superiores a 7.
No concelho de Mira ocorrem solos Podzóis Órticos, associados a Cambissolos
Dístricos. Aqui está-se perante uma situação de solos evoluídos, o que não acontece nas
dunas recentes, pois embora os Terraços Marinhos também sejam de natureza não
agregada, são mais antigos, o que permitiu que o solo se começasse a formar
anteriormente, possibilitando que na atualidade apresentem já um estado de
desenvolvimento onde se pode verificar a existência de todos os horizontes.
Outro tipo de classificação que também é frequentemente utilizado diz respeito à
capacidade de uso do solo, ou seja, a maior ou menor capacidade de mobilização e a
associação da respetiva fertilidade.
Segundo a Carta de Capacidade de Uso do Solo, III.3, do Atlas do Ambiente de
Portugal (1982), as Dunas de Mira incluem-se na categoria F, que se refere a um tipo de
utilização não agrícola, mas somente florestal. Como se trata de solos de grande
facilidade de mobilização podem por isso ser utilizados. Mas em contrapartida
apresentam um grau de fertilidade muito baixo, nomeadamente ao nível da matéria
orgânica existente, o que vai condicionar a sua utilização. Esta classificação tem como
99
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
100
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
II.1.7 – Vegetação
Marques (1993, p.16) refere que na ocupação histórica das terras de Mira deve
considerar-se a existência dum “ intenso revestimento vegetal” para o interior e uma
fraca densidade vegetal para o litoral. Para Norte do concelho esta autora refere um
documento de 1095, relativo à região de Ílhavo, onde existiria uma “densíssima floresta,
lugar de feras, desde tempos antigos”. Ainda referência à toponímia Carvalhais, na atual
Ponte de Vagos. Mais uma vez estas vegetações frondosas parecem localizar-se para o
interior de uma linha que passa pela localidade de Mira. A mesma autora (1993, p. 17)
refere ainda que o revestimento vegetal seria diferente do interior para o litoral. No
interior predominavam o pinheiro bravo e o carvalho caducifólio, o que é bem patente
nas referências ao “pinhal do Fojo, do Fidalgo, da Quinta das Castinhas, da Gândara
de Portomar”. O carvalho é confirmado pela existência da localidade Carvalhais a
Norte de Mira. Existiria ainda rosmaninho, confirmada pelo lugar rosmaninhal. A zona
marítima originaria uma vegetação mais rasteira de que é exemplo a “gelfa ou charneca
de Portomar”.
Almeida (1999 p. 16) aponta a monotonia da paisagem atual da área de estudo se
a análise for feita ao nível do estrato arbóreo. No entanto, aumentando o pormenor, e
passando a analisar os restantes estratos, esta monotonia desaparece, com o aumento na
riqueza específica dos diferentes locais. Também Costa (2001) pormenoriza a
diversidade vegetal da praia e das dunas ao nível dos estratos herbáceo e arbustivo,
destacando a sua importância no controlo da morfologia dunar.
101
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
102
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
103
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
crassipes (Mart.) Solms (jacinto de água, utilizado como fertilizante agrícola), que tem
acentuado a eutrofização dos cursos de água do concelho, é uma infestante exótica que
tem sido alvo de controlo quer por parte das entidades locais, quer por parte da
população.
As áreas de uso agrícola, que têm vindo a diminuir drasticamente no concelho
pelo seu progressivo abandono, também têm a sua vegetação típica associada,
nomeadamente as infestantes Solanum nigrum (erva moira) e Polygonum persicaria
(rabo de galo ou erva pessegueira), constantemente controladas pelos agricultores. Do
ponto de vista produtivo, encontramos em áreas de regadio, o milho (Zea mays L.) e a
batata (Solanum tuberosum L.) como principais culturas. Como culturas secundárias
aparecem as hortícolas como feijão (Phaseolus vulgaris L.), abóbora (Cucurbita pepo
L.), couve (Brassica oleracea L.), beterraba (Beta vulgaris L.), tomate (Solanum
lycopersicum L.), nabo (Brassica rapa L.) ou alface (Lactuca sativa L.). Até à década
de 60 do século XX, produzia-se também arroz (Oryza sativa L.) nas áreas alagadas
junto às lagoas e às valas. Atualmente esta cultura já não existe no concelho. Nas áreas
de sequeiro, produz-se cevada (Hordeum vulgare L.) e centeio (Secale cereale L.). Após
a entrada do país na União Europeia na década de 80 do século XX, tentou-se
implementar novas espécies, como o sorgo (Sorghum vulgare Pers.) ou o triticale (x
Triticosecale Wittm. ex A. Camus) mas os agricultores, assim como rapidamente
aderiram, com a mesma rapidez abandonaram estas últimas espécies. Atualmente, com
as dificuldades que se fazem sentir no setor agrícola, a maior parte da sua área foi
abandonada ou substituída por espécies florestais de crescimento rápido, como o
eucalipto (Eucalyptus globulus Labill), o choupo (Populus alba L.), o Populus x
canescens Raf.) e o freixo (Fraxinus excelsior L.).
Os matagais, importantes zonas de matos existentes nas orlas dos espaços
florestais, são locais onde o estrato arbóreo é pouco representado e dominam espécies
do estrato herbáceo ou subarbustivo. Uma vez localizados nas orlas florestais,
imediatamente levam a concluir que se encontrarão mais próximos dos locais
residenciais, pelo que se trata de espaços que forneciam os bens imediatos às
populações. Enquanto a obtenção dos produtos florestais requeria o percurso de grandes
distâncias, os matagais (ou rebeiros) permitiam o acesso a esses mesmos materiais (com
exceção da caruma) mas em pequenas quantidades. Estes são essencialmente
compostos, nas áreas mais secas, por Cytisus grandiflorus (Brot.) DC., Cistus salvifolius
L., Ulex europaeus L., Lavandula stoechas ssp. pedunculata (Mill.) Cav., Corema
104
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
album L., Acacia cyanophylla (Mill) Lindley, Acacia dealbata Link. (mais apreciada
para fertilizante agrícola do que a Acacia longifolia (Andrews) Willd). Nestas áreas, os
agricultores instalaram as suas comunidades de colmeias durante muitos anos, pois a
diversidade florística permitia às abelhas o acesso imediato às flores. Atualmente, estas
espécies foram, quase na sua totalidade, substituídas por Acacia longifolia (Andrews)
Willd.. Junto a estes matagais na transição para as zonas húmidas era frequente
aparecerem grandes áreas de Thyfa latifolia L. que, atualmente, por diminuição da
humidade dos solos, se encontram substituídas por salgueirais. Estes representam
grupos de espécies que coabitam em harmonia entre si de acordo com as características
naturais do local. A caracterização/classificação desta vegetação corresponde à
fitogeografia do local.
O estudo da fitogeografia permite a compreensão de diferentes padrões de
distribuição das plantas, tentando compreendê-las a diferentes escalas espaciais e
temporais, e permite ainda entender como se processam as modificações morfológicas e
como isso aparece refletido no espaço geográfico. O estudo de áreas ocupadas por
diferentes táxones (espécie, género e família) facilita a compreensão do seu estado atual
e a problematização das causas que terão levado à sua existência.
A caracterização biogeográfica dos territórios é feita recorrendo a uma escala
taxonómica ou hierarquizada que, de forma decrescente, é formada pelo Reino, Região,
Província, Setor, Distrito e, por fim, a Tesela, que é a unidade elementar da tipologia
biogeográfica (Rivaz-Martinez et al., 2003). Este autor distingue 5 tipos de unidades
básicas ou macrobioclimas: Tropical, Mediterrâneo, Temperado, Boreal e Polar. Cada
um deles divide-se em vários bioclimas (Ariza, 2013, Rivas-Martinez et al., 2003)
Em Portugal, a vegetação natural encontra-se atualmente bastante alterada e não
constitui, na maior parte das vezes, o coberto que hoje se pode podia esperar. Variadas
intervenções ao longo do tempo, como a agricultura, o sobrepastoreio, o corte, o fogo e
a introdução de espécies exóticas, levaram à sua alteração. A ocupação humana na parte
ocidental da península Ibérica data do Neolítico, ou seja, de há cerca de 5000 anos. E,
desde que os primeiros povos se fixaram e começaram a praticar agricultura e pastoreio,
a floresta natural foi submetida a inúmeras alterações (Reigota, 1992).
Os bosques climácicos de Portugal continental são constituídos em maior
extensão e globalmente por Quercíneas, desde formações vegetais caducifólias
(Quercus robur, Quercus pyrenaica), marcescentes (Quercus faginea, Quercus
canariensis) e perenifólias (Quercus suber, Quercus rotundifolia), sucedendo-se de uma
105
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
106
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
107
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10 11 12
13 14 15
LEGENDA:
1 – Eryngium maritimum L. 2 – Linaria caesia Pers.
3 – Acacia dealbata Link. 4 – Corema album (L.)
5 – Euphorbia paralias L. 6 – Silene littorea Brot.
7 – Halimium halimifolium L. 8 – Cytisus grandiflorus Brot. (D.C.)
9 – Ammophila arenaria (L.) Roth. 10 – Cistus salvifolius L.
11 – Lavandula sthoecas pedunculata L. 12 – Carpobrotus edulis (L.) N.E. Br
13 – Calystegia soldanela (L.) R.Br. ex Roem. & Schult. 14 – Iris pseudacorus L.
15 – Pancratium maritimum L.
Figura II.46- Espécies vegetais introduzidas pelos serviços florestais no início do séc. XX nas Dunas
de Mira
108
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Torna-se por isso necessário que qualquer proposta de intervenção que se faça
para esta área tenha implícita a manutenção do subcoberto herbáceo e algum arbustivo.
As utilizações de atividades de educação ambiental, derivadas do compromisso que a
população local tem para com a floresta, ligadas ao espaço natural em causa, a isso
obrigam. A compreensão deste coberto vegetal (arbóreo, arbustivo e herbáceo)
integrado nas restantes condições naturais, elemento principal do estudo aqui
apresentado, será sem dúvida o grande desafio a que se propõe este trabalho. A busca de
utilizações para as diferentes espécies vegetais existentes, assim como o controlo de
infestantes, poderia ser uma mais-valia na conservação do espaço florestal do litoral
centro. Mas, devido à idade avançada do coberto arbóreo, ao domínio de infestantes
arbustivas e até mesmo de infestantes herbáceas, torna-se urgente uma avaliação do
espaço para que se possam elaborar propostas de desenvolvimento sustentável da
vegetação dunar.
109
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A partir de 1835, os fluxos migratórios verificados terão dado origem aos lugares
da “Praia de Mira, Barra e Videira do Sul”, pois houve neste ano a primeira referência
a nascimentos na Costa do Mar (Praia de Mira) (Alves (1990, p. 24, Brito, 1960, apud
Cravidão, 1988).
Estes registos indicam um avanço na linha de costa ao longo dos tempos, com as
povoações do litoral a aparecer mais tardiamente. E são estas populações do litoral que
vão ajudar a consolidar as novas dunas, com a sementeira da floresta. São também elas,
quem mais vai depender deste espaço natural, através dos produtos que retira para a
agricultura.
110
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
16000
14000
Nr.º de Habitantes
12000
10000
8000
6000
4000
1864 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
Ano
O concelho de Mira teve, durante muitos anos, como base da sua atividade
socioeconómica, o setor primário e, em particular, a atividade agrícola. A tendência
atual tem correspondido a uma diminuição na representatividade deste setor.
As atividades económicas principais no concelho corresponderam a um grande
domínio de tudo o que era ligado à agricultura, à floresta e à pesca. A apanha do moliço
na “ria de Aveiro”, que depois era utilizado como fertilizante na agricultura e na floresta
“envolveu, particularmente, os homens do Seixo, Cabeças Verdes e Carapelhos”
(Miranda, 2012, p.68). Mais tarde, com a fixação de população na Praia de Mira e o
aparecimento dos lugares da Barra de Mira e da Videira, as atividades associadas à Ria
terão aumentado, devido à proximidade geográfica. Também a tentativa de fertilização
das areias para a agricultura e para a florestação terá sido um motivo acrescido da
procura.
De meados do século XX até à década de 80 do mesmo século, as atividades
agrícolas e a pesca começaram a perder significado no concelho, tendo-se registado um
período de intensa emigração para França e para o Canadá. Na década de 70 ter-se-á
iniciado a intensificação das atividades turísticas, em detrimento de outras atividades,
principalmente na Praia de Mira (Santos, 2008).
A década de setenta caracteriza-se em termos socioecónomicos, por um valor
muito elevado de população ativa no setor primário (54,2%), tendo este valor sofrido
um decréscimo até 1981 (42,2%), e novo decréscimo em 1991 (27%). Em 2001 já se
situa nos 13%. Esta descida representa a tendência atual de descida de população no
setor primário. No entanto, pode afirmar-se que o concelho tem ainda um elevado
número de população ativa ligada ao setor agrícola.
Ao nível do setor secundário, ocorre um crescimento muito importante. Assim, de
19% em 1970, passamos para 34,9% em 1981, tendo ocorrido depois uma ligeira
diminuição em 1991 (32,8%). Para 2001 a percentagem de população ligada a este setor
de atividade mantém-se igual a 1991.
Quanto ao setor terciário, este sofreu uma redução de 1970 (27,3%) para 1981
(24,4%). Em 1991 registou-se um aumento para 41,6%, tendo-se esta tendência
verificado também para 2001, com 53% da população ativa ligada a este setor.
Globalmente, o período de 1971-81 trouxe alterações sociais, económicas e
políticas, que levaram a uma melhoria global das condições de vida, determinadas por
112
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
90
80
S.Primário
70
60
50
%
S.Secundário
40
30
20
S. Terciário
10
0
1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
Ano
113
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
CAPÍTULO III
METODOLOGIA ESPECÍFICA
114
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
115
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
116
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
117
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Barrinha de Mira
N Parque Campismo
Orbitur
5.1
5.... 5.2
M
a
Casa Florestal
r Do Meio das Dunas
Centro da
parcela
50m Rotunda
50m 2.1 2.2 2...
.
1.1
1.... 1.2
4.1
4.2
4...
3.1 .
3.2
3...
.
7.1
7….... 7.2
9...
.
9.2
Estrada Florestal
9.1
118
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
1.30m 1.30m
1.30m
1.30m
119
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
concreto não foi necessário pois foi possível medir todos os diâmetros com uma suta
(figura III.4).
Depois da medição do DAP mede-se a altura total da árvore (m). Neste trabalho
foi medida a altura de todos os pinheiros bravos de cada parcela. A altura média diz
respeito ao valor que resulta da média aritmética das alturas de todos os pinheiros
registados em cada parcela.
Para estas medições podem usar-se dois tipos de aparelhos: o Blume – Leiss
(leitura indireta da altura) ou o Vértex (leitura direta da altura) (Páscoa e Salazar, 2001a,
2001b; Tomé, 2007).
120
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
H1
β
Ht α
Ht = D*tg(α + β)
H2
D
Diretamente no Blume–Leiss tem-se: Ht = H1+H2
Ht = D*tg (α – β)
Operador num plano
H1 β superior
α
Diretamente no Blume–Leiss tem-se:
Ht Ht = H2- H1
D
H2
H1
H2
β
D
Ht = D*tg(α – β)
Operador num plano
inferior
121
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
(h)
Ht
=
H1+
H2
122
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
III.2.4 – Densidade
123
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
coberto arbóreo em cada local. Como a recolha de dados é efetuada em 100m2, obtém-
se a densidade utilizando a fórmula seguinte:
III.3 – FISIOGRAFIA
124
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A fisiografia é, então, um grupo criado com base nas variáveis que se podem
registar relativamente a diferentes fatores geográficos que podem condicionar o
desenvolvimento vegetal. Neste trabalho registaram-se a altitude, a profundidade da
toalha freática, a distância ao mar e a exposição relativas a cada parcela. Estas
variáveis são, regra geral, recolhidas diretamente no campo. Posteriormente,
considerou-se pertinente criar mais uma variável indireta no âmbito deste grupo,
designada por diferença para a altitude mínima do transecto, o que poderá permitir
obter melhores comparações no que diz respeito à relação com a profundidade da
toalha freática.
A topografia dunar influencia indiretamente a distribuição da vegetação das
dunas. Por exemplo, as elevações de terreno servem de protecção à acção dos ventos
salgados sobre as plantas localizadas a sotavento (Oosting e Billings, 1942, apud
Cordeiro, 2005), enquanto a oscilação das elevações e depressões do terreno
estabelecem diferentes relações entre as plantas e a toalha freática (Earle e Kershaw
1989, apud Cordeiro, 2005).
III.3.1 – Altitude
125
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
auxílio dos osciladores atómicos existentes a bordo (Césio e Rubídio), realizar pequenas
manobras orbitais e efetuar os cálculos possíveis (Gaspar,1993; Castro, 2002).
O segmento de controlo é constituído por uma estação de controlo principal e
cinco “estações monitoras” que controlam todo o funcionamento dos satélites. Tem
como funções principais verificar o funcionamento dos satélites e as suas características
operacionais, determinar as correções aos relógios e as correções ionosféricas (presença
de diferentes concentrações de partículas), injetar os dados orbitais nos satélites, iniciar
as obras necessárias à substituição de um satélite inativo por um de reserva. O segmento
do utilizador representa o conjunto de todos os utilizadores (civis e militares), que
processam informação recebida nos recetores GPS para determinar as coordenadas no
sistema WGS84. Existem vários tipos de recetor, consoante os objetivos a satisfazer. A
informação é captada através da antena pré-amplificada e transferida através do cabo
desta para a unidade de receção. Na unidade de receção, a informação passa para um
processador sendo depois armazenada para futuro pós-processamento (Gaspar, 1993).
Para determinar a localização de um dado local são necessários, pelo menos, três
satélites em posição perfeita. No entanto, utilizando quatro satélites, uma correta
localização já não é tão exigente quanto à posição dos satélites, o que torna o sistema
mais eficaz para o cálculo das posições. Na realidade, o GPS utiliza os satélites como
pontos de referência na triangulação da nossa posição algures na Terra. Uma vez que
nem tudo decorre com exatidão matemática, podem verificar-se alguns erros devido à
passagem do sinal pela atmosfera. Esses erros também podem ficar a dever-se ao
ressaltar do sinal noutros objectos, chegando à antena do recetor depois de orbitar aos
zig-zags. Estes sinais interferem com o sinal em linha reta e levam o recetor a calcular
uma posição errada (Gaspar, 1993).
Com a utilização do GPS pretendem-se obter várias informações. Em primeiro
lugar, a posição exata do centro das áreas de amostragem, no que diz respeito às suas
três coordenadas geográficas (latitude, longitude e altitude). A altitude pode ser um fator
com interferência no desenvolvimento vegetal, como atrás foi referido.
Paralelemente referenciaram-se as posições das parcelas na topografia dunar, com
o objetivo de conseguir estabelecer um perfil topográfico correspondente aos transectos
em que se localizam as parcelas em estudo. Esta referência será útil mais tarde na
determinação de outras variáveis, nomeadamente a profundidade da toalha freática.
Esta tarefa tornou-se necessária, após se verificar que a informação relativa às Dunas de
Mira existentes na Carta Militar 206 (escala 1:25000) não permitem o pormenor
126
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
127
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
dimensões). Obtiveram-se, por isso, algumas altitudes que podem não corresponder
inteiramente à realidade.
Na tentativa de ultrapassar este problema, cruzou-se a informação da carta militar,
dos ortofotomapas e da leitura GPS corrigida, tendo-se verificado que os valores obtidos
são bastante aceitáveis no que diz respeito ao perfil topográfico dos transectos,
posteriormente confirmado no campo.
Não tendo sido possível estimar valores de altitude real (ou pelo menos
aproximada) com o GPS para todas as situações, não se poderia extrapolar outras
variáveis, como por exemplo os valores de profundidade da toalha freática para locais
onde não se lhe teve acesso através da sonda pedológica. Na tentativa de solucionar este
problema pensou-se na elaboração de um Modelo Digital do Terreno (MDT) e posterior
sobreposição dos valores obtidos por GPS.
Com esse objetivo recorreu-se à Carta Militar Digital de Mira (Folha 206, escala
1/25000), onde se localizam os transectos em estudo. Utilizando o programa ArcGIS
Version 9.3 elaborou-se o Modelo Digital de Terreno (MDT) a partir da informação
altimétrica retirada da referida carta militar. Este modelo não correspondia de forma
alguma à topografia real do terreno, pois não existe na carta informação altimétrica
suficiente. O modelo obtido corresponde a uma área completamente aplanada, onde não
é distinguível a topografia dunar. Na tentativa de solução deste problema procedeu-se à
sobreposição da informação obtida pelo GPS com a carta militar, e assim pôde
adicionar-se alguma informação à já existente nas referidas cartas, criando um modelo
de topografia aceitável para os fins em vista, confirmado com posterior observação no
campo (figura III.8).
Deste novo Modelo Digital de Terreno (resultado do cruzamento da cartografia
militar com as leituras reais) retirou-se informação altimétrica relativa a cada parcela
para depois poder ser utilizada nos cálculos exploratórios que se consideraram
adequados, assim como para se proceder à elaboração dos perfis topográficos de cada
transecto. A distância ao mar de cada parcela foi obtida a partir deste Modelo Digital de
Terreno. A profundidade da toalha freática foi também inferida, em alguns casos, a
partir dos referidos perfis topográficos que se elaboraram com esta informação.
128
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Transecto 6
Transecto5
Transecto 2
Transecto 1
Transecto 4
Transecto 3
Transecto 8
Transecto 7
Transecto 9
Figura III.8 – Modelo Digital de Terreno da área de estudo com sobreposição das parcelas de cada
transecto
129
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Entendeu-se que esta variável pode refletir uma relação de proximidade e reforçar
a homogeneidade entre as parcelas de cada transecto.
Com a criação de grupos de altitudes mais homogéneas entre as parcelas de cada
transecto, pretende-se verificar se estes resultados apresentam maiores correlações com
as variáveis do coberto arbóreo. Se tal acontecer poderá concluir-se que no que respeita
a esta variável se devem efetuar análises ao nível de pequenos espaços e não de grandes
áreas.
130
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
131
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Os perfis dos transectos, figura III.10 (a, b e c), foram elaborados no programa
AutoCAD 2009 a partir de informação horizontal obtida por GPS (distância entre
parcelas) e vertical obtida do MDT (altitude). Foi também acrescentada informação
relativa à altura média dos pinheiros em cada parcela e à profundidade da toalha
freática no fim do inverno. Estes perfis foram realizados com o objetivo principal de
deduzir a profundidade aproximada da toalha freática nos locais onde não foi possível
ter-lhe acesso com a sonda pedológica. Para isso foi tida em atenção a informação
recolhida junto do Prof. Carlos Ribeiro, do Departamento de Solos da Escola Superior
Agrária de Coimbra, de que a toalha freática, em áreas de solos arenosos, não subirá por
capilaridade mais do que um metro nos locais de maior altitude, relativamente aos de
menor altitude topográfica. Foi com base nesta informação, depois colocada à
apreciação de outros especialistas e aceite como base do procedimento a desenvolver,
que os perfis foram elaborados, tendo-se posteriormente procedido ao registo da toalha
freática para todas as parcelas de cada transecto. Embora não fosse o objetivo inicial,
optou-se pela adição dos elementos arbóreos, o que permitiu ter uma noção da realidade
da área estudada.
132
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
133
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
134
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
135
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
- Distância ao mar
136
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
III.3.5 – Exposição
137
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
desenvolvimento do coberto vegetal, e que a informação relativa a este assunto pode ser
determinante nas estratégias a adoptar para assegurar a sobrevivência e a regeneração
das espécies instaladas ou a instalar (Pires et al., 2002, Lorandi e Cançado, 2002, apud
Corrêa, 2008).
Para Morais (2003), apud Souza et al. (2008), a temperatura e a humidade são
fatores importantes para a regulação da fotossíntese, sendo que a “interação destes dois
fatores define um ambiente ótimo para o processo de fisiológico” e os diferentes locais
de instalação da vegetação influenciam o desenvolvimento vegetal.
A exposição obtém-se recorrendo a uma bússola, registando os pontos cardeais e
colaterais, devendo o operador posicionar-se “segundo a linha de maior declive e de
costas para a parte mais alta da parcela” (Tomé, 2007, p.4). Ainda segundo este autor,
a situação fisiográfica regista a “característica do terreno onde se localiza a parcela” e
é feita nas seguintes condições: “Vale (Vl), Encosta Inferior (EI), Encosta Superior
(ES), Cumeada (C), Meia Encosta (ME) e Planície (P)” (Tomé, 2007, p. 4). É uma
variável categórica ou qualitativa nominal, sendo que neste tipo de variável os valores
não têm uma relação de ordem entre si (Vilelas, 2009). No entanto, neste trabalho,
utilizando como referência Páscoa et al. (1982) e Corrêa (2008), foi possível atribuir
uma ordem aos diferentes tipos de exposição registados.
Neste trabalho a exposição foi registada a partir de observação de campo e serviu
posteriormente para confirmação do perfil topográfico. Para se tornar possível uma
análise estatística desta com as restantes variáveis efetuou-se uma conversão das
orientações obtidas em valores numéricos. A atribuição destes valores foi feita com base
no pressuposto que as maiores dimensões das árvores ocorreriam a mais baixas
altitudes, onde a toalha freática poderia ser um factor significativo para o seu
desenvolvimento, pelo que se destacam dois grupos de parcelas consideradas sem
exposição. Estas parcelas foram identificadas com os números 1 e 2. O número 1 no
caso de as parcelas estarem localizadas num espaço sem exposição da grande depressão
interdunar que existe no campo de Dunas de Mira e que se localiza imediatamente para
o interior do grande cordão litoral. É o local que corresponde a uma maior riqueza
específica do campo de dunas. O número 2, também sem exposição identificada, diz
respeito aos espaços interdunares interiores, onde existem, por vezes, pequenas
depressões com alguma dimensão e onde parece haver um desenvolvimento vegetal
específico e por vezes privilegiado. Depois apareceria o flanco Norte, com o número 3,
onde haverá uma melhor retenção de água, pois embora os ventos possam ser
138
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura III.12 – Diferentes expressões de subcoberto vegetal existente nas Dunas de Mira
139
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Além disso terá que se ter sempre presente a constituição do subcoberto, pois é
devido à presença de algumas espécies protegidas que as Dunas de Mira se inserem na
“Sítio da Rede Natura 2000” (ICN, 2006).
Para Pillar (2011, p.39), a variação da vegetação no espaço e no tempo é reflexo
da perceção e dependente da escala de observação. Neste trabalho, a preocupação em ter
um conhecimento exaustivo da vegetação existente leva à utilização de uma escala de
pormenor, onde além de uma análise quantitativa, pelo número de espécies ou pelo
número de indivíduos, se pretende concluir com uma análise qualitativa, identificando
locais preferenciais para determinada vegetação. Estes estudos de ecologia envolvem
regra geral fenómenos complexos que abarcam muitas variáveis, como é o caso deste
trabalho, que na totalidade engloba onze variáveis ligadas ao subcoberto vegetal. Esta
diversidade pretende ensaiar diferentes possibilidades do ponto de vista ecológico.
Devido à morosidade de recolha dos dados, a descrição da comunidade vegetal é quase
sempre incompleta (Pillar, 2002, p.6; 2011, p.40). Para compensar, a quantidade
avaliada pode ser efetuada através de estimativas visuais (Braun-Blanquet, 1964 apud
Pillar, 2011, p.39), nomeadamente através da densidade, frequência, cobertura, área
basal e biomassa, entre outros. Também aqui se optou por fazer essa análise de
estimativa.
O inventário integra ainda outras características ambientais relevantes para o
desenvolvimento da comunidade vegetal, nomeadamente “altitude, condições
climáticas do local, exposição solar, declive do terreno, posição no relevo, substrato
geológico, ação antrópica e recolha de amostras de solo para avaliação das suas
características físicas e químicas” (Pillar, 2002, p.6).
A sementeira efetuada pelos Serviços Florestais teve em linha de conta a
elaboração de corredores ecológicos distintos da restante mancha florestal. Com a
sementeira de espécies ripícolas próximo das linhas de água, acompanhando
constantemente o traçado das mesmas, criaram-se ambientes distintos da restante mata
que permitem a movimentação de espécies no seu interior, distanciando-se do seu
espaço original sem perderem contacto com o micro ecossistema onde estão inseridos.
Estas migrações ao longo dos corredores ecológicos acontecem com espécies animais e
vegetais, sendo preferidas pelas primeiras (Ayres et al., 2005). Neste trabalho não se
efetua uma análise dos corredores ripícolas existentes, o que poderia ser adequado, por
exemplo, como indicador de uma maior diversidade vegetal. Mas, por se considerar que
esta poderá ser uma análise muito interessante do ponto de vista do conhecimento do
140
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
ecossistema dunar e se saber que representa características específicas, poderá ser alvo
de um estudo de pormenor, num futuro projeto. Poderá ser importante, por exemplo, na
definição de estratégias de prevenção de incêndios. Neste momento, apenas se efetua a
caracterização do subcoberto vegetal dunar sem influência das linhas de água.
É aceite por todos que a vegetação é quem “controla a forma das dunas, a sua
destruição e a sua movimentação” (Hellemaa, 1998, p.3). A confirmá-lo, Zanella et al.
(2010) mencionam que, após a remoção da vegetação dunar, ocorre um processo de
“desestabilização da duna e a formação de corredores de deslizamento”. Antes da
sementeira das dunas, noutras regiões, é usual construir uma barreira de bambu para
evitar o soterramento das plantas e sementes. Em Portugal, também em tempos foi usual
a prévia criação de condições favoráveis às plantas e às sementes. Usavam-se pequenos
arbustos secos e matos para impedir o avanço das areias, pois a maior erosão ocorre
antes da estabilização do solo pela cobertura vegetal se fixar e se desenvolver
(MacDonald e Larsen, 2009).
A vegetação que reveste as dunas, instalada sobre sedimentos areno-quartzosos
recentes de origem marinha, possui características próprias, com formas variadas de
adaptação à água salgada, às temperaturas da areia, à escassez de água doce e à forte
ação dos ventos marinhos (Ecoplan, 1991 apud Silva et al. 2006).
Com a análise do subcoberto pretende-se quantificar a variação de alguns
parâmetros, nomeadamente a riqueza específica, a espécie dominante, diferentes
estratos e cobertura total.
Esta análise do subcoberto vegetal começou com a recolha de diferentes
exemplares no campo, posterior identificação, secagem e arquivo no Herbário do
Laboratório de Botânica da Escola Superior Agrária de Coimbra, onde atualmente
podem ser consultados. Após esta identificação, as primeiras saídas tiveram como
objetivo o treino visual da identificação destas espécies, para que quando se começasse
o registo efetivo de informação, este pudesse fazer da forma o mais fidedigna e célere
possível. Seguiu-se a caracterização da parcela com o registo das espécies, o grau de
abundância-dominância, a altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo, do
subcoberto arbustivo e a percentagem de subcoberto total.
A avaliação das comunidades vegetais pode fazer-se segundo os critérios
quantitativo e qualitativo. O primeiro relaciona-se com a abundância e densidade, a
cobertura, a biomassa e a dominância. O segundo relaciona-se com a composição
florística, sociabilidade, vitalidade, fisionomia e evolução no tempo (Carvalho, 1994).
141
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Atualmente, para caracterizar a vegetação tem sido mais utilizados os processos que
estimam conjuntamente a abundância e o grau de cobertura, sendo a mais utilizada a
escala de Braun-Blanquet, que se apresenta na tabela III.1.
142
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Mais difícil ainda seria incluir determinadas espécies nos estratos herbáceo e
subarbustivo, como é o caso do Ulex europaeus L., do Cistus salviifolius L. e do
Halimium calycinum (L.) K.Koch. Lu. Az. Ma., entre outros.
143
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
só observação pois, assim, embora não se atinja uma separação destes dois estratos o
erro que poderá surgir na análise geral será menor.
144
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
e ecológicos irreversíveis a curto prazo (Holmes et al., 2009, p.18). Isto acontece tanto
para as espécies arbustivas como para as herbáceas, existindo os dois exemplos nas
Dunas de Mira com a Acacia longifolia e o Carpobrotus edulis, que ocorrem nos
estratos arbustivo e herbáceo, respetivamente.
Na sementeira das dunas, no início do século XX, optou-se por espécies que se
consideravam de desenvolvimento rápido e que respondiam bem a ambientes difíceis,
como são os das dunas. Foram semeadas espécies autóctones de ambientes dunares, mas
também exóticas de rápido crescimento como a Acacia longifolia (Rei, 1940).
A utilização de leguminosas, como é o caso das acácias, permite, a curto prazo, a
melhoria do solo a baixo custo pois não é necessário utilizar fertilizantes na sementeira
nem, posteriormente, na manutenção da vegetação. A utilização de leguminosas
florestais noduladas e micorrizadas que formam simbiose com o Rhizobium, fixando
posteriormente o azoto atmosférico, e com outros fungos do tipo micorriza que
propiciam um melhor aproveitamento do fósforo e tornam a planta mais eficiente na
absorção de água e aumentando o pH, são uma solução pouco dispendiosa e, por isso,
muitas vezes selecionada (Witkowski, 1991, apud Heneghan et al., 2006). Podendo ser
consideradas em alguns casos alterações favoráveis, na realidade estão a alterar as
condições naturais do ecossistema em causa (Heneghan et al., 2006; Rasool, 2011;
Schradin e Cipollini, 2012).
O rápido crescimento e elevado grau de cobertura mesmo em condições adversas
são outro motivo que leva a optar pela sua seleção, como aconteceu no caso de Mira,
145
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
não se tomando em atenção que, por outro lado, poderia ser prejudicial, devido ao seu
carácter invasor (Franco et al., 1992 apud Barroso et al., 2001).
A Acacia longifolia foi semeada no início do século XX para fixar as dunas, tendo
posteriormente invadido áreas onde não havia sido semeada. Tal resultou, muitas vezes,
de incêndios ocorridos nas dunas (Marchante E. et al., 2011) e do abandono da
agricultura, pois anualmente efetuava-se um corte das acácias pelos agricultores. Estas
serviam de matos para utilizar nas camas dos animais e não havia, por isso, um grande
desenvolvimento destas espécies. Barroso et al. (2001) propõem que após a plantação e
crescimento de uma floresta de acácias, que se incluam espécies nativas. Será isto
possível? Propõem também a manutenção, como o corte das árvores em risco de queda
ou com necessidade de monda, para que outras espécies possam coabitar.
O período de invasão das acácias influencia o período de regeneração do
ecossistema para se adaptar novamente às condições ideais das plantas nativas
(Marchante E. et al, 2008). Por outro lado, os resultados obtidos por Jordan et al. (2008)
não mostram os efeitos negativos de pós utilização do solo por plantas invasoras.
A diminuição das plantas autóctones em função do aumento das exóticas é muitas
vezes atribuída à competição pela luz (Vitousek, 1986; Harrington et al., 1989; Webb
and Kaunzinger, 1993; e Woods, 1993, apud Andrew e Gorchov, 2000). No que diz
respeito aos arbustos nativos, estes também podem contribuir para a diminuição das
herbáceas (Hobbs and Mooney, 1986, Hobbs and Atkins, 1991 apud Andrew e
Gorchov, 2000).
Em muitos locais do mundo (África do Sul, Chile, Nova Zelândia, Austrália,
Espanha, Brasil, Israel e Portugal, entre outros) o género Acacia é considerado invasor,
levando a alterações da biodiversidade local, da disponibilidade em água, de solo, etc.
(Marques, 2010; Marchante H., 2011). Outra das preocupações apontadas à dominância
das acácias prende-se com o facto de estas serem muito apelativas para os polinizadores
e estes poderem abster-se de polinizar as plantas nativas, que não lhes oferecem as
mesmas vantagens, “como o bom caracter olfativo, néctar floral”, entre outros, como é
exemplo o apelo visual (Silva, 2012, p.75).
As plantas invasoras têm reflexos negativos no desenvolvimento do estrato
herbáceo (Andrew e Gorchov, 2000; Heneghan et al., 2006; Jordan et al., 2008; Cronk e
Fuller 1995; Vitousek 1997, apud Silva, 2012). Sendo reconhecido por todos a
necessidade de controlo de invasoras, a União Europeia considera que as estratégias
deste controlo passam pela prevenção, não procedendo à sua plantação ou sementeira, e
146
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
147
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
148
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
parte da alga, que o fungo não consegue produzir sozinho, e fornecedor de água e sais
minerais por parte dos fungos. Os organismos que resultam dessas associações são
diferentes, quer da alga quer do fungo, quando estes vivem isoladamente, sendo também
diferentes as condições fisiológicas nas quais os líquenes podem sobreviver. As algas
que integram os líquenes também ocorrem de forma isolada, ao passo que os fungos só
aparecem fazendo parte do líquen.
Os líquenes têm necessidades específicas de substrato, exposição e localização
(Pelczar, 1980). A adaptação das espécies ao meio permite a sua utilização como
bioindicadores. Os líquenes vivem em todas as partes do globo, desde os desertos até às
regiões geladas, crescendo tanto no solo como nas árvores, rochas, etc.. Reproduzem-se,
na maioria dos casos, pelo desprendimento de fragmentos, que contêm simultaneamente
hifas de fungo e algumas algas (Pelczar, 1980; Carvalho et al., 2002, Rodrigues, 2005).
Os trabalhos florestais realizados nas dunas não referem normalmente
informações no que diz respeito à flora de líquenes. No entanto, nos percursos que se
efetuaram pelas áreas florestais litorais, observaram-se frequentemente extensas áreas
cobertas por líquenes e com ausência de outra vegetação. Por isso, optou-se por juntar
estes líquenes na análise de vegetação. Poderá causar alguma discussão pelo facto de
serem resultantes de uma associação de diferentes reinos, mas na realidade o reino
vegetal está presente. Também é frequente encontrar líquenes nos troncos dos pinheiros
adultos (forófitos).
A referência aos líquenes acontece normalmente nos trabalhos acerca da
qualidade ambiental, apresentando-os como bioindicadores (Rodrigues, 2005). Carvalho
et al. (2002, p.225) referem a “diminuição da riqueza florística” de líquenes em função
da “degradação de habitats e do aumento de poluentes”. Ainda consideram que a
distância ao mar e a altitude condicionam a distribuição de líquenes epífitos.
Os líquenes conseguem ocupar locais “inacessíveis a outros seres vivos”
(Marques, 2008, p.3). Estes são pioneiros na ocupação das dunas, locais inóspitos,
adversos ao desenvolvimento de vida (Carvalho et al., 2002).
Os líquenes terrícolas, que crescem sobre o solo - Cetraria aculeata, Cladonia
foliacea, Cladonia rangiferina e Collema sp.- são os mais frequentes nas dunas. As
espécies terrícolas são importantes para a estabilização do solo arenoso. O Collema sp. é
especialmente importante por fixar azoto atmosférico, tornando-o posteriormente
disponível para ser utilizado por outros seres vivos. Nenhuma das espécies referidas tem
estatuto de proteção em Portugal (Marques, 2008, p.12). A Cladonia rangiferina
149
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
150
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
III.5 - SOLOS
151
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
152
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
153
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
genéticos bem diferenciados, como é o caso da área de estudo (Rogado et al., 1993; p.
14). Nos perfis observados nas Dunas de Mira não há uma verdadeira separação entre os
horizontes.
Os solos são os fornecedores dos elementos fundamentais à nutrição das plantas,
quer pelos seus elementos naturais, quer muitas vezes através da sua correção, para
melhor se adaptarem à vegetação instalada (Varennes, 2003).
As suas características são influenciadas pelos usos que lhe vão sendo atribuídos
ao longo dos tempos, uma vez que as diferentes coberturas do solo também lhe
conferem características distintas (Sonneveld et al., 2003). Uma das características
típicas dos solos arenosos, que vai posteriormente limitar a disponibilidade dos
nutrientes, é a forte agregação das partículas de pequena dimensão (Jasinska et al,
2006).
Uma vez que a produtividade do solo corresponde à sua capacidade para satisfazer
as necessidades de desenvolvimento vegetal, esta advém da existência de determinadas
características físicas, ou componentes químicos, entre outros (Varennes, 2003;
Sonneveld et al., 2003).
No sentido de procurar identificar algumas dessas características específicas
existentes no solo que possam determinar a sua aptidão para o desenvolvimento vegetal,
optou-se pela realização de análises sobre as amostras de solo recolhidas nas parcelas de
estudo. A humidade, que é essencial para a formação da solução do solo e consequente
fertilidade deste, e a matéria orgânica, fornecedora de vários nutrientes, foram
elementos analisados, assim como o pH, pois no seu conjunto são quem define as
principais características de um solo (Pillar, 2011). As concentrações de fósforo e de
potássio são também dois elementos essenciais no desenvolvimento vegetal e, por isso,
foram também estudadas.
Santos et al. (2006), na sua metodologia de trabalho em dunas, apresentam
algumas variáveis comuns a este trabalho, nomeadamente no que diz respeito ao perfil
da duna (base, flancos e crista) e aos elementos de solo (comuns o fósforo, o potássio e
o pH).
154
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura III.13(a) – Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais foram
selecionadas as parcelas para realização das análises de solos
155
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura III.13 (b) – Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais foram selecionadas as
parcelas para realização das análises de solos
156
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura III.13 (c) – Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais foram
selecionadas as parcelas para realização das análises de solos
157
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura III.14 – Recolha de amostras de solo no campo para posterior análise em laboratório
158
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
III.5.3.1 - Hidrofobia
A hidrofobia reduz a afinidade do solo em relação à água de tal modo que pode
resistir à sua infiltração durante períodos variáveis de tempo, estando associada ainda ao
aumento da escorrência superficial (Doerr et al., 2000; Matias, 2002). É uma
característica do solo que tem sido alvo de atenção desde inícios do século XX, mas que
ainda não se tinha definido como característica independente. Somente a partir da
década de 90 do século passado se passou a dar a importância que lhe é devida na sua
influência sobre a fertilidade dos solos (DeBano, 2000). A hidrofobia afeta as
propriedades ecológicas dos solos florestais (Buczko et al., 2005)
Alguns solos apresentam como característica a repelência à água, ou seja, a água
não se infiltra com facilidade. Este fenómeno é frequente em solos (nus) expostos ao sol
por muito tempo (Pérez et al., 1998). A hidrofobia tem efeitos negativos na
produtividade e na sustentabilidade ambiental do solo, pois limita o desenvolvimento
vegetal de algumas espécies (DeBano, 2000; Wang et al., 2000)
A hidrofobia pode ser favorecida pela ocorrência de fogo (Kutiel at al., 1995;
Walker et al., 1984 apud Alauzis et al., 2004; Cerdá e Doerr, 2005; Alegre, 2007;
Faria, 2008; Gonçalves et al., 2008; Ferreira et al., 2010). É também conhecida a
propensão de determinadas espécies para provocar hidrofobia nos espaços onde se
inserem, como é o caso do Eucalyptus globulus Labill e as espécies de Pinus spp.
(Ferreira et al., 2010; Maia et al., 2008). A hidrofobia é também influenciada pelo tipo
de solos, sendo mais comum em solos arenosos, como é o caso da área de estudo (Pérez
et al., 1998; Harper et al., 2000; Wang et al., 2000; Maia et al., 2008; Ferreira et
159
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
160
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Existindo vários métodos possíveis para analisar o grau de hidrofobia dos solos,
destacam-se o Water Drop Penetration Time (WDPT) - tempo de penetração da gota de
água - e o Molarity of Ethanol Droplet (MED) - teste da molaridade com etanol - pelo
facto de se poderem realizar diretamente no campo. Optou-se pela utilização do
segundo (MED) em detrimento do primeiro teste (WDPT) porque este, embora
defendido por alguns autores pelo seu grau de precisão (Letey et al., 2000; Stoof, 2011),
é de execução muito morosa. O WDPT consiste na medição do tempo necessário à
infiltração de uma gota de água destilada (0,05ml) colocada na superfície do solo
(previamente limpo de manta morta). Quando o tempo de infiltração é inferior a cinco
segundos, o solo é considerado hidrófilo, ou seja, não hidrofóbico. Se o tempo de
infiltração é superior, utilizam-se então classes de tempo de infiltração estabelecidas por
cada autor, mas muitas vezes adaptadas de Ceballos et al. (1999) (Stoof, 2011; Ferreira,
2008). Como se verificou, em trabalhos realizados por outros autores, que o tempo de
infiltração podia chegar à dezena de horas (Stoof, 2011), optou-se no nosso caso por não
recorrer a este método. Um factor de perturbação identificado na utilização deste
método no campo, em situações de elevada temperatura do ar, é que é difícil distinguir a
contribuição da evaporação na extinção da gota de água colocada na superfície do solo.
No caso presente, a opção foi utilizar o método MED, que assenta no facto de o
etanol diminuir a tensão superficial das gotas de água, o que facilitará a sua penetração
no solo. Para o efeito são usadas diferentes diluições de etanol em água destilada (tabela
III.2). Rodriguez-Alleres at al. (2007b) referem que o método MED permitiu verificar
que nos solos florestais a repelência é muito forte. Referem ainda que, no caso do
pinhal, os valores de hidrofobia variam entre 6 e 8, com um valor médio de 6, sendo
mais forte nos locais de menor dimensão dos sedimentos.
Tabela III.2 – Determinação das concentrações necessárias para realização do teste MED (Molarity
of Ethanol Droplet
Volume de etanol (70%), (Ml) Volume de H2O destilada, (Ml) Concentração resultante (%)
1 69 1
1 22 3
2 26 5
3 22 8,5
5 22 13
8 23 18
10 19 24
20 19 36
Fonte: Doerr et al., 1998
161
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela III.3 – Grau de hidrofobia dos solos para infiltração da gota de água
até 3 segundos
162
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
163
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
164
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
10cm
10cm
Perfil
do 10cm
solo
100cm
Figura III.15 – Esquema representativo das leituras de humidade do solo efetuadas em cada perfil.
165
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Quando o solo não consegue reter a água, esta rapidamente se infiltra até ao
subsolo, diminuindo a humidade na sua parte mais superficial, ou levando-a para níveis
próximos do estado inicial, porque não houve capacidade de retenção por parte do solo
ao longo do seu perfil. As plantas ficam rapidamente sem água a que possam recorrer.
Também os solos que têm uma elevada hidrofobia originam um elevado escorrimento
superficiais nas vertentes e consequentemente não disponibilizam água em
profundidade para o desenvolvimento das plantas (Boulet et al., 2002). A hidrofobia,
como já foi referido anteriormente, é maior em solos arenosos e menor quando a
humidade do solo aumenta (Huffman et al., 2001 apud MacDonald e Larsen, 2009).
A fração inferior a 2 mm que passa através deste último crivo constitui a terra
fina, e é nela que se efetuam as determinações laboratoriais, tendo sempre em atenção a
166
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
II.5.4.1 – pH
167
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
planta. O intervalo de 5,5 a 7,0 favorece a absorção de nutrientes (Santos et al., 2006;
Ashman e Puri, 2002). A influência do pH é também importante na
agregação/desagregação da matéria orgânica (Hurraß e Schaumann, 2006).
O valor do pH poderá influenciar indiretamente a hidrologia dos solos, pois esta
está relacionada com a existência de seres vivos, que por seu lado influenciam os
processos hidrológicos, através da retenção de água ou da criação de canais no solo que
permitem a sua passagem. Mesmo quando já se encontra em decomposição, a matéria
orgânica (húmus) é um eficiente retentor de humidade e contribui para a alteração do
pH do solo, através do fornecimento de iões de enxofre e fósforo, entre outros,
provocando um aumento da propriedade de acidez (Santos, 1991, p.37; Varennes,
2003).
O pH elevado pode influenciar as propriedades do solo, no sentido de aumentar a
sua capacidade de infiltração da água (Hurraß e Schaumann, 2006).
A determinação da reação do solo (pH) pelo método potenciométrico, utilizado
neste trabalho, consiste na determinação potenciométrica da concentração do
hidrogenião em água e/ou numa solução normal (1N) de cloreto de potássio (KCl),
utilizando uma suspensão da amostra (solo água e/ou solo solução) na proporção de
1:2,5.
O procedimento para a realização da análise é o seguinte: são pesados 10g de terra
para um copo de vidro de 50ml. Juntam-se 25ml de água desionizada ou da solução
normal de KCl. Deixa-se em contacto durante uma hora, agitando várias vezes com uma
vareta de vidro. Neste caso apenas se utilizará a água desionizada, uma vez que em
experiência anterior (Oliveira, 2005) se verificou que a correlação extremamente forte
entre os dois tipos de análise permite dispensar uma delas, por trazer resultados
redundantes. Calibra-se o potenciómetro com duas soluções padrão: de pH 4,00 e 7,00
ou 7,00 e 9,00, conforme o pH do solo. Neste trabalho utilizou-se a última formulação
uma vez que era esperado um pH tendencialmente básico devido à constituição inicial
do solo, de que fazem parte as conchas que conferem um caráter alcalino pela adição de
cálcio ao solo.
Antes de introduzir o elétrodo na suspensão esta é novamente agitada.
Continuando a agitação, a leitura é efetuada quando a agulha do potenciómetro
estabilizar, normalmente cerca de um minuto depois da introdução (figura III.17).
168
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
169
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
O método mais utilizado para determinar a matéria orgânica total do solo consiste
em dosear o carbono orgânico total e multiplicar o valor que lhe corresponde por 1,724,
fator estabelecido admitindo que a matéria orgânica contém aproximadamente 58% de
carbono (Costa, 1999, apud Ferreira, 2008; ESAC, s/d).
Para determinação deste carbono orgânico recorrem-se normalmente a duas
formas, o método de Tinsley, ou a queima direta de carbono (Ibidem) (figura III. 18).
Figura III.18 – Processo de determinação da matéria orgânica por (a) queima direta de carbono e
pelo (b) método de Tinsley
170
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
171
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
O fósforo (P2O5) foi uma das variáveis do solo selecionadas porque se trata de um
elemento fundamental para o desenvolvimento vegetal. O fósforo é, depois do azoto, o
nutriente que mais limita o crescimento vegetal pois faz parte da estrutura de várias
moléculas orgânicas (nucleótidos, ácidos nucleicos e fosfolípidos). A sua carência no
solo é, por isso, associada a um menor desenvolvimento das plantas (Varennes, 2003).
A concentração de fósforo na solução do solo é sempre baixa, e o nutriente
aproxima-se das raízes por difusão. Mesmo quando se procede à fertilização de solos, o
que não é o caso deste trabalho, a quantidade disponível de fósforo depende da
capacidade de retenção que o solo apresenta para este elemento. A capacidade de
retenção de fósforo pelos solos depende de fatores como a quantidade e tipo de argila, o
pH e a quantidade de matéria orgânica, entre outros (Varennes, 2003, p.189). A maior
quantidade de fósforo em solução corresponde a valores de pH entre os 5,5 e os 7,5, e
fora deste intervalo, além de diminuir a quantidade deste elemento existente na solução,
também diminui a sua absorção pelas plantas (Varennes, 2003, p.190); o pH mais
favorável à disponibilidade deste nutriente pelos solos regista-se no intervalo entre 6 e 7
(Varennes, 2003, p.192). O fósforo também é retido pela matéria orgânica do solo,
sendo que a adsorção deste nutriente por ela acontece mais em condições de maior
acidez do solo. Como a matéria orgânica vai sendo constantemente decomposta, vai
também libertando este fósforo que adsorveu, disponibilizando-o assim para que faça
parte da solução do solo (Varennes, 2003, p.191).
O fósforo, o potássio e o enxofre (que não foi considerado no caso presente)
existentes na matriz são menos afetados pelo teor em água presente na solução do que
outros nutrientes (Varennes, 2003, p.51), daí que possam ser também disponibilizados
em condições de menor humidade do solo.
Quando as plantas e os organismos do solo consomem este nutriente através da
solução do solo, ela fica capaz de receber maior quantidade de fósforo do que aquela
que foi retirada (Varennes, p.191), o que nem sempre acontece devido à não existência
de elevadas quantidades do nutriente. Se, por outro lado, se acrescentar excessiva
quantidade de fósforo pela introdução de fertilizantes, corre-se o risco de perda para a
matriz em vez de inclusão na solução do solo.
Hellemaa (1998, p.3) considera que, nas dunas, a quantidade de fósforo é menor
quando o pH também é mais baixo, ou seja, em solos ácidos.
172
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Carneiro, Siqueira e Davide (2004), apud Homma (s/d), concluem, nos seus
resultados de recuperação de áreas florestais, que as menores concentrações de fósforo
coincidem com a maior taxa de sobrevivência de plantas instaladas. Também a
colonização micorrízica é mais acentuada nas menores concentrações de P2O5.
O potássio (K2O) é o terceiro macronutriente cuja falta mais limita o
desenvolvimento vegetal, sendo o catião mais abundante nas plantas. Não fazendo parte
da constituição de moléculas orgânicas, como acontece com o fósforo, não deixa no
entanto de ter um papel fundamental no desenvolvimento vegetal. Nomeadamente,
condiciona o potencial osmótico das células e regula a abertura e fecho dos estomas,
condicionando assim a tolerância das plantas ao frio, às geadas e às doenças. Existe em
pequenas quantidades nos solos ácidos devido à lixiviação que pode ocorrer (Varennes,
2003).
O método de uso mais comum para a determinação do teor dos solos em P2O5 e
de K2O é o método Egner-Riehm, pormenorizadamente apresentado em LQARS
(1977), e foi o aplicado neste trabalho (figura III.19).
K2O
P2O5
173
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
As amostras são depois agitadas a uma velocidade constante, inferior a 200rpm num
agitador horizontal. No final são filtradas para balões de Erlenmeyer de 250ml.
Para a determinação do teor de P2O5 pipetam-se 5ml do filtrado para balões
Erlenmeyer de 25ml ao qual se vão adicionar 20ml de Solução Diária de Ensaio (25ml
de Molibdato de Amónio + 10ml de Ácido Ascórbico, adicionando depois água
destilada até perfazer 100ml). Aguarda-se cerca de 30 minutos para que se dê a reação
(que se traduz no aparecimento da cor azul) e posteriormente passa-se à leitura em
transmitâncias a 65 nanómetros num espectrofotómetro visível (fotocolorímetro Pye
Unicam). Os resultados são obtidos em mg/1000g.
Para determinação do teor de K2O faz-se uma leitura diretamente no filtrado em
espectrofotómetro de absorção atómica. Os resultados também são apresentados em
mg/1000g mas, neste caso, tem que se multiplicar por 20 o resultado registado no
espectrofotómetro:
K2O (Egner-Riehm) = Leitura Direta* 20 (mg/1000g)
Para classificação dos solos relativamente aos resultados obtidos nas análises pode
recorrer-se à tabela III.7, utilizada pelo Laboratório de Solos da Escola Superior
Agrária de Coimbra.
174
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
CAPÍTULO IV
ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
175
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Para utilização neste trabalho, foram registados dados referentes a 177, 47, 396,
389, 35, 78, 279, 289 e 1399 pinheiros nos transectos 1 a 9, respetivamente, o que
perfez uma amostra com um total de 3089 unidades. Os pinheiros medidos naqueles 9
transectos foram registados em 38, 8, 44, 44, 15, 23, 59, 57 e 169 parcelas,
respetivamente, o que perfaz um total de 480 parcelas. Destas 480 parcelas foram
encontrados pinheiros em 457, cujos registos serão utilizados para análise no que diz
respeito aos elementos de coberto e subcoberto vegetal (arbóreo e
arbustivo/subarbustivo/herbáceo) e para os elementos fisiográficos. Nas restantes
parcelas (23) não existia coberto arbóreo mas apenas coberto arbustivo e herbáceo.
Como variáveis dependentes consideram-se as informações recolhidas
relativamente ao coberto arbóreo e que são a altura média (H, m), a altura dominante
(HDom, m), o diâmetro à altura do peito (DAP, m) e a densidade (Dens) do coberto
arbóreo de cada parcela estudada.
Como variáveis independentes consideraram-se três grupos: um que inclui as
variáveis que dizem respeito à fisiografia do local, outro onde constam os elementos de
solo analisados e outro grande grupo que diz respeito ao subcoberto vegetal. Este foi
tido em linha de conta uma vez que poderia vir a constituir-se como um indicador de
algumas das características dos elementos fisiográficos e dos solos. No grupo de
variáveis relativas à fisiografia incluiu-se a altitude (Alt, m) de cada parcela retirada do
MDT (Modelo Digital de Terreno), a diferença para a altitude mínima do transecto
(ΔmAlt, m), a profundidade da toalha freática (PrTFreat, m), a exposição da parcela
(Exp) e a distância ao mar (DistMar, m). No grupo de variáveis relativo aos solos,
foram considerados o pH, a matéria orgânica (M.O.), o óxido de potássio (K2O), o
pentóxido de fósforo (P2O5), a hidrofobia (RepOut e RepDz) e a humidade do solo
(Hum). Nas variáveis incluídas no grupo com a designação de subcoberto vegetal, foram
consideradas a riqueza específica (RiqEsp), a percentagem da espécie mais
representativa do subcoberto vegetal (%EspAbSbc), a percentagem de subcoberto total
(%SbcTotl), a percentagem de subcoberto arbustivo (%SbcArbs), a altura média do
subcoberto arbustivo (HSbcArbs), a percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo
(%SbcHer), a altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo (HSbcHerb), a
percentagem de acácias (%Ac), a percentagem de líquenes (%Liq), a percentagem de
musgos (%Musgo) e o volume aparente do subcoberto vegetal (VlApSbcVeg).
A primeira aproximação ao conjunto de dados foi feita com o recurso a técnicas
de análise estatística descritiva (de tendência central e dispersão: mínimo, máximo,
176
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
177
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Na tabela IV.1 estão registados os dados referentes às alturas médias (H) das
árvores dos transectos. Com exceção dos transectos 2 e 4, em todos os outros aparecem
parcelas sem pinheiros. Nos referidos transectos 2 e 4 verificaram-se como mínimas as
alturas de 12,3 e 5,5m, respetivamente.
Os valores máximos da altura foram superiores a 20m nos transectos 5, 6, 7 e 9,
com um máximo de 25,7m no transecto 6. Os valores máximos registados nos
transectos 5, 6 e 9 foram obtidos em locais muito próximos uns dos outros, e com
características fisiográficas semelhantes (altitude e exposição entre outras). A média das
alturas médias das parcelas não apresenta, na generalidade, valores muito elevados.
Mas são de destacar os transectos 2, 5 e 6, sendo que este último é mesmo o mais
homogéneo, com um desvio padrão bastante reduzido. O transecto 2 segue-se nesta
homogeneidade de alturas médias elevadas, e o transecto 5, embora com uma altura
média elevada, não apresenta homogeneidade de valores, pois também regista valores
de alturas médias muito baixas em algumas parcelas, uma vez que o seu desvio padrão
é elevado.
Os transectos 1, 5 e 7 são os que têm maior número de parcelas sem qualquer
pinheiro (12, 4 e 5, respetivamente), enquanto os 3 e 4, embora não tenham presentes
parcelas sem pinheiros, têm uma maior frequência de parcelas com pinheiros com
alturas médias relativamente baixas, entre os 8-9m. O transecto que apresenta maior
mediana relativamente à altura média é o 6, que já era o que apresentava a maior altura
média. A menor mediana verifica-se no transecto 3, com valores semelhantes aos
valores da altura média, a rondarem os 7m. Os transectos mais homogéneos são o 2, o 4
e o 6, onde o desvio padrão apresenta valores mais reduzidos.
Tabela IV.1 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altura média, n=457
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=38) 2,7 17,3 12,9 15,5 13,6 3,6
Transecto 2 (n=8) 12,3 19,0 14,7 - 14,2 2,1
Transecto 3 (n=44) 3,1 14,0 7,6 10,3 7,1 3,0
Transecto 4 (n=44) 5,5 15,2 9,2 11,2 8,5 2,5
Transecto 5 (n=15) 1,8 23,5 14,9 17,0 15,8 5,8
Transecto 6 (n=23) 18,4 25,7 21,8 22,0 21,8 1,9
Transecto 7 (n=59) 2,8 22,3 13,2 11,8 12,9 5,7
Transecto 8 (n=57) 6,1 19,1 11,3 7,8 10,7 3,3
Transecto 9 (n=169) 3,8 23,5 11,7 16,0 11,0 4,0
Total (n=457) 1,8 25,7 12,0 15,5 11,5 4,6
178
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.2 – Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do coberto arbóreo,
n=457
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -5,539* -3,735* 8,816*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -7,150* -5,526* 7,025*
2
Sig. 0,000 0,003 0,000
Mean Dif. 5,539* 7,150* 7,296* 14,175* 5,664* 3,701* 4,137*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 3,735* 5,526* 5,672* 12,551* 4,040* 2,513*
4
Sig. 0,000 0,003 0,000 0,000 0,000 0,002
Mean Dif. -7,296* -5,672* 6,879* -3,596* -3,159*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,017 0,029
Mean Dif. -8,816* -7,025* -14,175* -12,561* -6,879* -8,511* -10,474* -10,038*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -5,664* -4,040* 8,511*
7
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -3,701* 3,596* 10,474*
8
Sig. 0,000 0,017 0,000
Mean Dif. -4,137* -2,513* 3,159* 10,038*
9
Sig. 0,000 0,002 0,029 0,000
179
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
registam valores abaixo dos 0,20m, enquanto os restantes se situam todos no intervalo
que vai dos 0,20 até aos 0,37m, inclusive.
Tabela IV.3 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao diâmetro à altura do peito, n=457
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=38) 0,05 0,42 0,25 0,26 0,26 0,08
Transecto 2 (n=8) 0,18 0,29 0,23 0,19 0,24 0,04
Transecto 3 (n=44) 0,05 0,28 0,13 0,10 0,11 0,06
Transecto 4 (n=44) 0,08 0,26 0,16 0,13 0,15 0,04
Transecto 5 (n=15) 0,05 0,59 0,31 0,33 0,33 0,13
Transecto 6 (n=23) 0,30 0,46 0,37 0,33 0,37 0,05
Transecto 7 (n=59) 0,06 0,46 0,23 0,19 0,22 0,07
Transecto 8 (n=57) 0,08 0,34 0,19 0,15 0,17 0,06
Transecto 9 (n=169) 0,05 0,55 0,20 0,13 0,17 0,10
Total (n=457) 0,05 0,59 0,21 0,13 0,19 0,10
Tabela IV.4 – Resultados do teste de Tukey relativamente ao diâmetro à altura do peito, n=457
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -,11986* -,09122* ,11714* -,06386* -,04942*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,005 0,02
Mean Dif. -,10091* ,13609*
2
Sig. 0,033 0,002
Mean Dif. ,11986* ,10091* ,18028* ,23700* ,09837* ,05600* ,07044*
3
Sig. 0,000 0,033 0,000 0,000 0,000 0,017 0,000
Mean Dif. ,09122* ,15165* ,20836* ,06973*
4
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,001
Mean Dif. -,18028* -,15165* -,08192* -,12429* -,10985*
5
Sig. 0,000 0,000 0,010 0,000 0,000
Mean Dif. -,11714* -,13609* -,23700* -,20836* -,13863* -,18100* -,16656*
6
Sig. 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -,09837* -,06973* ,08192* ,13863*
7
Sig. 0,000 0,001 0,010 0,000
Mean Dif. ,06386* -,05600* ,12429* ,18100*
8
Sig. 0,005 0,017 0,000 0,000
Mean Dif. ,04942* -,07044* ,10985* ,16656*
9
Sig. 0,020 0,000 0,000 0,000
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.
180
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A realização do teste Anova one way permitiu também aqui concluir que há
diferenças significativas entre os transectos no que se refere aos valores registados para
esta variável, uma vez que o valor de p-value é inferior a 0,05 (0,000). A aplicação do
teste de Tukey permitiu pormenorizar essas diferenças (tabela IV.6).
Para esta variável, os testes de Tukey (tabela IV.6) refletem as diferenças
significativas encontradas entre a maioria dos transectos. Destacam-se os transectos 3, 4
e 6, com diferenças relativamente a quase todos os outros. Serão, portanto, aqueles que
registam maiores diferenças na totalidade da amostra estudada.
181
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
IV.1.4 – Densidade
A aplicação do teste Anova one way permitiu, mais uma vez, verificar a existência
de diferenças significativas nos valores registados para esta variável, uma vez que o
valor de p-value é também inferior a 0,05 (0,000).
182
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A posterior aplicação do teste de Tukey (tabela IV.8) permitiu mais uma vez
destacar a diferença significativa dos transectos 3, 4 e 9 relativamente aos restantes.
183
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.10 – Regressão linear múltipla entre a altura dominante e as restantes variáveis de coberto
arbóreo
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,949a 0,901 0,901 1,39257
a . Pre di ctors : (Cons ta nt), De ns i da de a rbóre a de ca da pa rce l a , Al tura mé di a dos pi nhe i ros e m
ca da pa rce l a ,
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 1,667 0,272 6,133 0
184
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
185
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
IV.2.1 – Altitude
A altitude (Alt) das parcelas apresenta muitas oscilações, uma vez que se está em
local de dunas, e existem parcelas representativas de áreas de cristas dunares, de
depressões interdunares e de flancos (ver tabela IV.11). Embora os valores sejam
sempre baixos, não é de desprezar algumas diferenças de altitude global de dunas do
Sul para o Norte do campo dunar, assim como de Este para Oeste. Estes situam-se entre
um mínimo de 5,8m e um máximo de 31,3m, ambos no mesmo transecto 9. Este
transecto, pela sua grande extensão, atravessa uma área que vai desde a Barrinha de
Mira, onde a altitude é mais baixa (5,76m), até ao limite Sul do concelho, onde as dunas
adquirem a sua máxima expressão de altitude (31,33m). Os transectos 5 e 6 são os que
apresentam altitudes mais baixas e também os mais homogéneos no que diz respeito a
esta variável, com desvios padrão muito baixos. Os desvios padrão mais elevados
registam-se nos transectos 1, 7 e 9, traduzindo assim as suas heterogeneidades em
termos de altitude. Os transectos 1 e 7 têm uma orientação Este-Oeste, entre o litoral, a
Oeste e a estrada florestal, a Este, vindo a altitude a aumentar neste sentido. O transecto
9, conforme já se referiu, atravessa uma grande parte do campo dunar, de Sul para Norte
com uma diminuição sensível da altitude neste sentido. Os transectos 3, 4, e 8 têm uma
localização muito próxima entre si e a sua caracterização é também muito semelhante
no que diz respeito à altitude. Estes últimos localizam-se na parte interior do campo de
dunas, um espaço muito homogéneo no que diz respeito a altitudes.
Tabela IV.11 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altitude de cada parcela, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 7,7 20,0 10,9 10,0 9,4 3,6
Transecto 2 (n=8) 17,1 23,0 19,5 - 19,1 2,2
Transecto 3 (n=45) 14,1 24,9 18,6 - 19,0 2,6
Transecto 4 (n=44) 12,3 22,9 17,1 - 17,3 2,7
Transecto 5 (n=19) 6,0 8,9 6,6 - 6,4 0,7
Transecto 6 (n=24) 7,0 8,4 7,9 8,4 7,9 0,4
Transecto 7 (n=64) 6,3 20,9 13,6 19,0 14,2 4,7
Transecto 8 (n=58) 14,5 24,7 18,4 16,0 18,6 2,2
Transecto 9 (n=172) 5,8 31,3 16,5 6,0 18,3 5,9
Total (n=480) 5,8 31,3 15,3 6,0 17,0 5,5
A aplicação do teste Anova one way aos dados permite concluir acerca da
existência de diferenças significativas entre transectos no que diz respeito à altitude,
uma vez que o p-value apresenta valor inferior a 0,05 (0,000).
Os testes de Tukey realizados para pormenorizar essas diferenças (tabela IV.12),
mostram que existem diferenças de altitude significativas entre todos os transectos. Os
186
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.12 – Resultados do teste de Tukey relativamente à altitude de cada transecto, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 8,582* 7,677* 6,191* -4,334* 2,726* 7,462* 5,601*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,009 0,034 0,000 0,000
Mean Dif. -8,582* -12,916* -11,629* -5,855*
2
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,011
Mean Dif. -7,677* -12,011* -10,725* -4,951*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -6,191* -10,524* -9,238* -3,464*
4
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,002
Mean Dif. 4,334* 12,916* 12,011* 10,524* 7,060* 11,796* 9,935*
5
Sig. 0,009 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 11,629* 10,725* 9,238* 5,774* 10,509* 8,648*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -2,726* 5,855* 4,951* 3,464* -7,060* -5,774* 4,736* 2,875*
7
Sig. 0,034 0,011 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -7,462* -11,796* -10,509* -4,736*
8
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -5,601* -9,935* -8,648* -2,875*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
187
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.13 – Parâmetros estatísticos analisados quanto à diferença para a altitude mínima do
transecto, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 0,0 12,3 3,2 2,3 1,7 3,6
Transecto 2 (n=8) 0,0 5,9 2,3 - 2,0 2,0
Transecto 3 (n=45) 0,0 8,8 4,6 - 4,8 2,2
Transecto 4 (n=44) 0,0 10,6 4,7 - 4,9 2,7
Transecto 5 (n=19) 0,0 2,9 0,6 - 0,4 0,7
Transecto 6 (n=24) 0,0 1,4 0,8 1,4 0,9 0,4
Transecto 7 (n=64) 0,0 14,7 7,4 12,8 7,9 4,7
Transecto 8 (n=58) 0,0 10,2 3,9 1,5 4,1 2,2
Transecto 9 (n=172) 0,0 25,6 10,8 0,2 12,6 5,9
Total (n=480) 0,0 25,7 11,4 0,0 11,1 5,2
A aplicação do teste Anova one way aos dados em análise permitiu também
concluir que há algumas diferenças significativas entre transectos quanto à diferença
para a altitude mínima do transecto, uma vez que alguns p-value apresentam, mais uma
vez, valores inferiores a 0,05 (0,000).
Esta variável não regista no entanto um tão elevado número de diferenças
significativas entre transectos como a altitude. Excetuando os transectos 7 e 9, que
registam diferenças significativas relativamente a todos os outros, os restantes são muito
homogéneos entre si. Os transectos 1, 2, 3 e 4 não registam diferenças significativas
entre si, pelo que se pode concluir que se localizam num espaço muito homogéneo no
que diz respeito a esta variável (tabela IV.14), o que não se verificava com a altitude,
onde o transecto 1 apresentava diferenças significativas relativamente à quase totalidade
dos transectos.
Tabela IV.14 – Resultados do teste de Tukey relativamente à diferença para a altitude mínima do
transecto, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 4,177* 7,556
1
Sig. 0,000 0,000
Mean Dif. 5,072 8,451
2
Sig. 0,048 0,000
Mean Dif. -4,033* -3,777* 2,767* 6,146*
3
Sig. 0,020 0,017 0,029 0,000
Mean Dif. -4,141* -3,884* 2,659* 6,039*
4
Sig. 0,015 0,013 0,046 0,000
Mean Dif. 4,033* 4,141* 6,800 10,179*
5
Sig. 0,020 0,015 0,000 0,000
Mean Dif. 3,777* 3,884* 6,544* 9,923*
6
Sig. 0,017 0,013 0,000 0,000
Mean Dif. -4,177* -5,072* -2,767* -2,659* -6,800* -6,544* -3,514* 3,379*
7
Sig. 0,000 0,048 0,029 0,046 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 3,514* 6,893*
8
Sig. 0,000 0,000
Mean Dif. -7,556* -8451* -6,146* -6,039* -10,179* -9,923* -3,379* -6,893*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
188
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A aplicação do teste Anova one way aos dados permitiu mais uma vez concluir
que há diferenças significativas entre os transectos no que respeita aos valores desta
variável, uma vez que o p-value assume valores inferiores a 0,05 (0,000).
O teste de Tukey (tabela IV.16) confirma as diferenças registadas entre os
transectos 2, 6 e 9 com os outros. Os transectos 4 e 7 são aqueles que têm maiores
afinidades com os restantes. No entanto, a mancha observável na tabela permite
concluir que os transectos são bastante diferentes entre si no que diz respeito a esta
variável.
189
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.17 – Parâmetros estatísticos analisados para a distância ao mar de cada parcela, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 199 2379 1274 - 1256 663
Transecto 2 (n=8) 2512 2859 2690 - 2689 119
Transecto 3 (n=45) 2550 3447 3001 - 2998 265
Transecto 4 (n=44) 2523 4742 3622 - 3622 665
Transecto 5 (n=19) 239 1153 678 - 673 274
Transecto 6 (n=24) 1227 2341 1779 - 1771 343
Transecto 7 (n=64) 153 3142 1667 - 1682 888
Transecto 8 (n=58) 3283 5975 4613 - 4605 800
Transecto 9 (n=172) 774 3646 2282 3564 2331 836
Total (n=480) 153 5975 2494 2550 2550 1272
190
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A aplicação do teste Anova one way permitiu concluir, também aqui, que há
diferenças significativas no que diz respeito à distância das parcelas ao mar uma vez
que o p-value inferior a 0,05 (0,000) é muito frequente.
A distância ao mar é, das variáveis fisiográficas, aquela que apresenta maiores
diferenças significativas entre os diferentes transectos. Todos eles registam diferenças
com mais de 50% dos restantes, sendo que os transectos 4 e 8 apresentam mesmo
diferenças relativamente a todos os outros (tabela IV.18).
Tabela IV.18 – Resultados do teste de Tukey relativamente à distancia ao mar de cada parcela,
n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 1415,647* 1727,222* 2348,181* 3338,694* 1008185*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -1415,647* 932,543* -2012,099* -1022,422* 1923,047*
2
Sig. 0,000 0,027 0,000 0,007 0,000
Mean Dif. -1727,222* 620,959* -2323,674* -1221,95* -1333,997* 1611,472* -719,037*
3
Sig. 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -2348,181* -932,543* -620,959* -2944,633* -1842,909* -1954,956* 990,513* -1339,996*
4
Sig. 0,000 0,027 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 2012,099* 2323,674* 2944,633* 1101,724* 989,677* 3935,146* 1604,634*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 1221,95* 1842,909* -1101,724* 2833,422* 502,913*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,044
Mean Dif. 1022,422* 1333,997* 1954,956* -989,677* 2945,469* 614,959*
7
Sig. 0,007 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -3338,694* -1923,047* -1611,472* -990,513* -3935,146* -2833,422* -2945,469* -2330,509*
8
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -1008185* 719,037* 1339,996* -1604,634* -502,913* -614,959* 2330,509*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,044 0,000 0,000
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.
IV.2.5 – Exposição
191
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.19 – Parâmetros estatísticos analisados para a exposição de cada parcela (Exp), n=480
Frequência relativas (%)
Transecto Exp 1 Exp 2 Exp 3 Exp 4 Exp 5 Exp 6 Exp 7
Transecto 1 (n=46) 52 17 0 9 15 0 7
Transecto 2 (n=8) 0 75 0 13 0 0 13
Transecto 3 (n=45) 0 13 36 0 0 31 20
Transecto 4 (n=44) 0 41 0 21 14 0 25
Transecto 5 (n=19) 100 0 0 0 0 0 0
Transecto 6 (n=24) 100 0 0 0 0 0 0
Transecto 7 (n=64) 11 28 22 0 6 9 23
Transecto 8 (n=58) 0 66 17 2 3 2 10
Transecto 9 (n=172) 20 20 20 0 1 20 20
Total (n=480) 23 27 15 3 4 12 17
Frequências absolutas
Transecto Exp 1 Exp 2 Exp 3 Exp 4 Exp 5 Exp 6 Exp 7
Transecto 1 (n=46) 24 8 0 4 7 0 3
Transecto 2 (n=8) 0 6 0 1 0 0 1
Transecto 3 (n=45) 0 6 16 0 0 14 9
Transecto 4 (n=44) 0 18 0 9 66 0 11
Transecto 5 (n=19) 19 0 0 0 0 0 0
Transecto 6 (n=24) 24 0 0 0 0 0 0
Transecto 7 (n=64) 7 18 14 0 4 6 15
Transecto 8 (n=58) 0 38 10 1 2 1 6
Transecto 9 (n=172) 34 34 34 0 2 34 34
Total (n=480) 108 128 74 15 21 55 79
1 - Sem exposição (grande depressão interdunar); 2 - Sem exposição (base da duna, no campo de dunas interiores);
3 - Flanco norte; 4 - Flanco este; 5 - Flanco oeste; 6 - Flanco sul; 7 - Crista de duna (adaptado de Páscoa et al., 1982)
192
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Estabelecendo o teste Anova one way para os dados analisados, verificou-se que
há diferenças significativas no que diz respeito à exposição uma vez que em várias
situações os valores de p-value são inferiores a 0,05 (0,000) .
Os testes de Tukey realizados para esta variável apresentam valores muitíssimo
semelhantes aos de Scheffé (teste post-hoc para variáveis categóricas) (Vilelas, 2009),
pelo que foram selecionados os primeiros, para mais facilmente se poderem comparar as
tabelas com as outras variáveis. Os transectos 5 e 6 são os que apresentam maiores
diferenças significativas dos restantes (tabela IV.20). Estes resultados têm como
explicação a localização geográfica destes transectos, que são os dois que se localizam
exclusivamente na grande depressão interdunar.
Tabela IV.20 – Resultados do teste Tukey relativamente à exposição de cada parcela (Exp,
m), n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 2,165* 1,633* 1,409* 1,379*
1
Sig. 0,000 0,004 0,010 0,001
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. -2,165* -3,600* -3,600* -1,703*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,001
Mean Dif. -1,633* -3,068* -3,068*
4
Sig. 0,004 0,000 0,000
Mean Dif. 3,600* 3,068* 2,844* 1,897* 2,814*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,012 0,000
Mean Dif. 3,600* 3,068* 2,844* 1,897* 2,814*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,004 0,000
Mean Dif. -1,409* -2,844* -2,844*
7
Sig. 0,010 0,000 0,000
Mean Dif. 1,703* -1,897* -1,897*
8
Sig. 0,001 0,012 0,004
Mean Dif. -1,379* -2,814* -2,814*
9
Sig. 0,001 0,000 0,000
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.
193
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Após a análise das correlações entre as diferentes variáveis deste grupo, verificou-
se que estão todas altamente correlacionadas (p-value <0,01, Pearson corr.) (tabela.
IV.21). As correlações estabelecidas entre as diferentes variáveis do grupo com a
altitude (exposição = 0,707; distância ao mar = 0,662; profundidade da toalha freática
= 0,806 e diferença para a altitude mínima do transecto = 0,797), levou a que a
variável altitude (Alt) fosse a selecionada para o representar, uma vez que é a que
estabelece relações mais fortes com as restantes (Vilelas, 2009).
Diferença para a
Profundidade
altitude mínima do Altitude Exposição DistanciaMar
Toalha Freática
transecto
194
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.22 – Regressão linear multivariada entre a altitude e os restantes elementos fisiográficos
(PrfToalhFreat, Exp, DistMar, ΔmAlt)
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,936a 0,876 0,875 1,929
a . Predi ctors : (Cons ta nt), Di s tMa r, ΔmAl t, Exp, PrTFrea t
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 4,779 0,219 21,854 0,000
PrTFreat 0,538 0,050 0,293 10,686 0,000
ΔmAlt 0,359 0,026 0,364 13,910 0,000
Exp 0,263 0,052 0,115 5,451 0,000
DistMar 0,002 0,000 0,462 27,325 0,000
a. Dependent Variable: Altitude
Não fará sentido, em termos fisiográficos, pretender que a altitude seja função da
profundidade da toalha freática, bem como da diferença para altitude mínima do
transecto, obtida a partir de uma diferença de altitudes.
Em face disto, procedeu-se a uma nova análise, que se intui ser mais relevante em
termos fisiográficos, onde se procura explicar a variação de profundidade da toalha
freática em função das restantes variáveis consideradas neste grupo (Alt, ΔmAlt, Exp,
DistMar).
A profundidade da toalha freática influencia a humidade do solo, que é uma
variável determinante do desenvolvimento vegetal (Veihmeyer, 1950; Kowalczkyk,
1967; Pelczar, 1980) e que será analisada no grupo dos solos. O resultado da análise de
regressão linear múltipla realizada com os valores das variáveis deste grupo
explicitando como variável dependente a profundidade da toalha freática reflete uma
relação significativa e também positiva com todas as variáveis do grupo fisiografia. A
saber: com a altitude (b1= +0,360; Sig. 0,000), com a diferença para o mínimo de
altitude do transecto (b2= +0,138; Sig. 0,000), com a exposição (b3= +0,153; Sig.
0,000) e com a distância ao mar (b4= +0,001; Sig. 0,000), com um adjusted r2 de 0,772.
A tabela IV.23 regista os resultados da análise de regressão efetuada para os
valores apresentados anteriormente.
195
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.23 – Regressão linear multivariada entre a profundidade da toalha freática e os restantes
elementos fisiográficos (Alt, Ex, DistMar, ΔmAlt)
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,850a 0,722 0,72 1,57663
a . Predi ctors : (Cons ta nt), Di s tMa r, ΔmAl t, Exp, Al t
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) -1,478 0,244 -6,059 0,000
Alt 0,360 0,034 0,661 10,686 0,000
ΔmAlt 0,138 0,024 0,258 5,725 0,000
Exp 0,153 0,043 0,114 3,544 0,000
DistMar -0,001 0,000 -0,222 -5,652 0,000
a. Dependent Variable: Profundidade da toalha freática
Sendo a diferença para a altitude mínima do transecto uma variável obtida pela
diferença entre os valores de altitude de cada parcela e o valor de altitude mínima do
seu transecto, explorou-se também a relação entre esta variável (dependente) e as
variáveis DistMar, Alt, ΔmAlt e Exp. A relação resultante é a que se apresenta em
seguida na tabela IV.24. A exposição não é significativa na predição desta variável, uma
vez que apresenta valores de Sig. inferiores a 0,05 (Sig. =0,409). Ela é significativa e
negativa com a distância ao mar (b1= -0,002; Sig. 0,000), e significativa e positiva com
a altitude (b2= 0,807; Sig. 0,000) e a profundidade da toalha freática (b3= 0,466; Sig.
0,000). Um coeficiente maior para a altitude (b2) pode ser resultado do facto de esta
variável participar no cálculo da diferença para o mínimo de altitude do transecto.
Tabela IV.24 – Regressão linear multivariada entre a diferença para a altitude mínima do
transecto e os restantes elementos fisiográficos (Alt, Prof ToalhFreat, Exp e DistMar)
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,855a 0,73 0,728 2,89332
196
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.25 – Parâmetros estatísticos analisados para a riqueza específica do subcoberto vegetal,
n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 1 9 4 4 4 2
Transecto 2 (n=8) 1 5 3 3 3 1
Transecto 3 (n=45) 2 6 4 4 4 1
Transecto 4 (n=44) 1 8 6 5 6 1
Transecto 5 (n=19) 2 7 5 5 5 1
Transecto 6 (n=24) 1 4 2 2 2 1
Transecto 7 (n=64) 1 6 3 4 3 2
Transecto 8 (n=58) 2 7 4 4 4 1
Transecto 9 (n=172) 1 7 4 3 4 1
Total (n=480) 1 9 4 4 4 2
197
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
198
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Todas as parcelas instaladas têm um subcoberto vegetal presente, daí que nesta
variável se tenha um valor total de 480 recolhas, coincidente com o número total de
parcelas instaladas.
Tabela IV.27 – Parâmetros estatísticos analisados para a espécie mais representativa do subcoberto
vegetal, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 3 85 50 60 60 25
Transecto 2 (n=8) 15 60 39 35 35 15
Transecto 3 (n=45) 3 85 36 35 35 24
Transecto 4 (n=44) 15 85 40 35 35 20
Transecto 5 (n=19) 3 85 48 35 35 23
Transecto 6 (n=24) 3 85 44 35 35 21
Transecto 7 (n=64) 3 85 26 35 15 22
Transecto 8 (n=58) 3 85 26 15 25 14
Transecto 9 (n=172) 3 85 43 35 35 24
Total (n=480) 3 85 38 35 35 24
A aplicação do teste Anova one way a estes dados permitiu concluir que há
diferenças significativas entre os transectos no que respeita à percentagem da espécie
mais representativa do subcoberto vegetal, uma vez que também têm valores de p-value
inferiores a 0,05 (0,000).
A tabela IV.28, apresenta os resultados do teste de Tukey, e mostra que os
transectos 7 e 8 são os que apresentam mais diferenças significativas relativamente aos
restantes. Estes dois transectos apresentam valores médios mais baixos do que os
restantes. O transecto 1 também regista diferenças significativas com o transecto 3. No
transecto 1 existem muitas parcelas com uma grande cobertura de acácias, o que não se
verifica no transecto 3.
Tabela IV.28 – Resultados do teste Tukey relativamente à percentagem ocupada pela espécie mais
representativa do subcoberto vegetal em cada parcela, n= 480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -14,662* -24,633* -24,109*
1
Sig. 0,047 0,000 0,000
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 14,662*
3
Sig. 0,047
Mean Dif. -14,892* -14,368*
4
Sig. 0,020 0,036
Mean Dif. -22,490* -21,966*
5
Sig. 0,004 0,007
Mean Dif. -18,438* -17,914*
6
Sig. 0,017 0,028
Mean Dif. 24,633* 14,892* 22,490* 18,438* 16,972*
7
Sig. 0,000 0,020 0,004 0,017 0,000
Mean Dif. 24,109* 14,368* 21,966* 17,914* 16,449*
8
Sig. 0,000 0,036 0,007 0,028 0,000
Mean Dif. -16,972* -16,449*
9
Sig. 0,000 0,000
199
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.29 – Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de subcoberto total, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 6 100 67 100 70 27
Transecto 2 (n=8) 40 80 58 50 50 15
Transecto 3 (n=45) 10 100 48 30 40 25
Transecto 4 (n=44) 20 100 60 90 60 22
Transecto 5 (n=19) 30 100 75 80 80 18
Transecto 6 (n=24) 2 100 60 50 60 24
Transecto 7 (n=64) 5 90 45 50 50 27
Transecto 8 (n=58) 30 95 61 70 60 17
Transecto 9 (n=172) 4 100 71 80 80 24
Total (n=480) 2 100 62 80 70 26
200
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
201
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
202
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.33 – Parâmetros estatísticos analisados para a altura média do subcoberto arbustivo do
subcoberto vegetal (HSbcArbs, m), n= 322
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=35) 0,5 5,0 3,0 3,5 3,5 1,0
Transecto 2 (n=7) 2,0 3,5 2,9 3,0 3,0 0,5
Transecto 3 (n=10) 1,5 8,0 3,4 2,0 2,8 1,9
Transecto 4 (n=15) 1,0 4,5 2,3 1,0 2,5 1,0
Transecto 5 (n=14) 0,5 4,5 2,5 2,0 2,0 1,2
Transecto 6 (n=23) 0,8 7,0 4,7 7,0 4,0 2,1
Transecto 7 (n=62) 0,3 8,0 1,5 1,0 1,0 1,3
Transecto 8 (n=30) 0,6 6,0 1,8 1,0 1,1 1,4
Transecto 9 (n=126) 0,4 8,0 3,1 4,0 3,0 1,7
Total (n=322) 0,3 8,0 2,7 4,0 2,5 1,7
203
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A aplicação do teste Anova one way permite, mais uma vez, concluir que há
diferenças significativas no que diz respeito à percentagem de cobertura de subcoberto
herbáceo/subarbustivo nos diferentes transectos, pela verificação de valores de p-value
< 0,05 (0,000).
Dos transectos 1 a 5 não se registam, entre si, diferenças significativas no que diz
respeito à percentagem de subcoberto herbáceo. Os transectos 6 a 9, já apresentam uma
realidade diferente quanto a esta variável, pois já se registam diferenças significativas
entre este grupo (tabela IV.36).
Tabela IV.36 – Resultados do teste de Tukey relativamente percentagem de subcoberto herbáceo
/subarbustivo em cada parcela, n=462
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif.
1
Sig.
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 16,170
3
Sig. 0,012
Mean Dif. -24,886* -16,892*
4
Sig. 0,013 0,043
Mean Dif. -30,957* -22,963*
5
Sig. 0,008 0,034
Mean Dif. 24,886* 30,957* 24,290* 26,290*
6
Sig. 0,013 0,008 0,011 0,001
Mean Dif. 16,892* 22,963* 16,296* 18,782*
7
Sig. 0,043 0,034 0,030 0,000
Mean Dif. -24,290* -16,296*
8
Sig. 0,011 0,030
Mean Dif. -16,170* -26,776* -18,782*
9
Sig. 0,012 0,001 0,000
Aplicando o teste Anova one way conclui-se também neste caso que há diferenças
significativas relativas à altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo nos
diferentes transectos, pela verificação de valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000).
A realização do teste de Tukey permite verificar que os transectos apresentam, na
generalidade, diferenças significativas entre si, destacando-se o transecto 3 com
diferenças significativas com todos os restantes (tabela IV.38).
Quanto ao subcoberto herbáceo/subarbustivo é interessante registar que há mais
diferenças significativas no que diz respeito à percentagem de área coberta por este tipo
de vegetação do que à sua altura.
205
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
206
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
207
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
que correspondem a 30% do total de parcelas. Analisando a tabela IV.41, conclui-se que
o transecto 8 se destaca pela menor percentagem de musgos, o que se verifica quer
através do máximo obtido, quer através da média. Por outro lado, os transectos 1, 2 e 5
são os que registam maiores percentagens de musgos. Estes transectos localizam-se
mais na parte norte da área selecionada para o trabalho, ou seja, mais próximo da grande
depressão interdunar e com mais parcelas instaladas sobre ela. O transecto 6, embora
completamente inserido na grande depressão interdunar, não acompanha esta tendência
de elevada presença de musgos, o que se fica a dever à grande quantidade de manta
morta aí existente e que terá impedido o seu desenvolvimento.
Quando da realização do trabalho de campo observaram-se maiores quantidades
de musgo, para além da grande depressão interdunar, também nas vertentes voltadas a
Norte, ou então nas depressões com pouco sol, devido às grandes dimensões das copas
do coberto arbóreo.
A aplicação do teste Anova one way, permite verificar que há mais uma vez
diferenças significativas nas percentagens de musgos nos diferentes transectos, pela
ocorrência de valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000). A posterior realização do
teste de Tukey vem especificar as diferenças e confirma que os transectos 1 e 8 registam
diferenças relativamente a outros transectos. Enquanto o transecto 1 se distingue pela
maior percentagem de musgos, o transecto 8, pelo contrário, distingue-se pela baixa
quantidade de musgos. Os transectos restantes parecem não mostrar grandes diferenças
entre si, pois somente registam diferenças significativas com um transecto e no caso dos
transectos 2 e 6 não se registam diferenças relativamente a nenhum dos restantes (tabela
IV.42).
208
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
209
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
210
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.45 – Parâmetros estatísticos analisados para a o volume aparente do subcoberto vegetal
total, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 0,02 4,79 1,41 0,36 1,47 1,16
Transecto 2 (n=8) 0,82 1,83 1,36 - 1,35 0,35
Transecto 3 (n=45) 0,03 3,68 0,68 0,30 0,32 0,81
Transecto 4 (n=44) 0,02 2,04 0,54 0,20 0,42 0,43
Transecto 5 (n=19) 0,10 2,76 0,75 - 0,62 0,66
Transecto 6 (n=24) 0,01 5,62 2,17 - 2,07 1,72
Transecto 7 (n=64) 0,02 3,34 0,42 0,25 0,29 0,60
Transecto 8 (n=58) 0,05 1,32 0,43 0,48 0,44 0,21
Transecto 9 (n=172) 0,12 3,38 0,82 0,80 0,64 0,65
Total (n=480) 0,01 5,62 0,81 0,20 0,49 0,91
A realização do teste Anova one way permitiu concluir que também neste caso há
diferenças significativas relativas ao volume aparente do subcoberto vegetal nos
diferentes transectos, uma vez que se verificam valores de p-value inferiores a 0,05
211
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
(0,000). Mas essas diferenças não parecem estar concentradas em transectos específicos,
conforme se pode confirmar após a realização dos testes de Tukey (tabela IV.46). O
transecto 2 não apresenta quaisquer diferenças significativas relativamente aos restantes.
Por outro lado o transecto 6 é aquele que regista mais diferenças significativas, facto a
que não será alheia a existência da maior média de volume aparente de subcoberto
vegetal, que se pode observar na tabela anterior. Mas também os transectos 7 e 8,
registam diferenças significativas com alguns dos restantes transectos, o que se deverá a
motivos completamente opostos, ou seja, de existência de menor volume aparente de
subcoberto vegetal.
212
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
213
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
%EspAbSbc %Ac RiqEsp %Musgo %Líq %SbcTotl HSbcHer HSbcArbs %SbcHer %SbcArbs VlApSbcVeg
Correl. 1 ,451** 0 ,775** 0,044 ,774** ,129** ,309** ,505** ,419** ,472**
%EspAbSbc
Sig. 0 0,992 0 0,446 0 0,006 0 0 0 0
Correl. ,451** 1 -,287** -0,007 -,262** ,393** -,247** ,629** -,347** ,988** ,888**
%Ac
Sig. 0 0 0,911 0,001 0 0 0 0 0 0
Correl. 0 -,287** 1 0,08 0,054 ,175** ,229** -,240** ,288** -,295** -,272**
RiqEsp
Sig. 0,992 0 0,104 0,342 0 0 0 0 0 0
Correl. ,775** -0,007 0,08 1 -,232** ,588** 0,073 0,013 ,562** -0,006 ,118*
%Musgo
Sig. 0 0,911 0,104 0 0 0,138 0,826 0 0,921 0,016
Correl. 0,044 -,262** 0,054 -,232** 1 0,09 -0,005 -,175* ,195** -,289** -,206**
%Líq
Sig. 0,446 0,001 0,342 0 0,116 0,933 0,022 0,001 0 0
Correl. ,774** ,393** ,175** ,588** 0,09 1 ,186** ,281** ,738** ,358** ,430**
%SbcTotl
Sig. 0 0 0 0 0,116 0 0 0 0 0
Correl. ,129** -,247** ,229** 0,073 -0,005 ,186** 1 -0,092 ,368** -,269** -,114*
HSbcHer
Sig. 0,006 0 0 0,138 0,933 0 0,11 0 0 0,014
Correl. ,309** ,629** -,240** 0,013 -,175* ,281** -0,092 1 -,185** ,652** ,781**
HSbcArbs
Sig. 0 0 0 0,826 0,022 0 0,11 0,001 0 0
Correl. ,505** -,347** ,288** ,562** ,195** ,738** ,368** -,185** 1 -,379** -,141**
%SbcHer
Sig. 0 0 0 0 0,001 0 0 0,001 0 0,002
Correl. ,419** ,988** -,295** -0,006 -,289** ,358** -,269** ,652** -,379** 1 ,895**
%SbcArbs
Sig. 0 0 0 0,921 0 0 0 0 0 0
Correl. ,472** ,888** -,272** ,118* -,206** ,430** -,114* ,781** -,141** ,895** 1
VlApSbcVeg
Sig. 0 0 0 0,016 0 0 0,014 0 0,002 0
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).
214
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Na análise de regressão linear múltipla (tabela IV.48), salienta-se que esta apenas
apresenta como significativos os resultados para as variáveis altura média de
subcoberto herbáceo (b= +0,555; Sig. 0,000), altura média do subcoberto arbustivo
(b= +0,127; Sig. 0,000), percentagem de subcoberto herbáceo (b= +0,006; Sig. 0,000),
e percentagem de subcoberto arbustivo (b= -0,040,555; Sig. 0,000), o que é bastante
interessante, pois são as variáveis que ecologicamente mais representarão a totalidade
do subcoberto. Segundo estes resultados, a inclusão da percentagem de musgos e da
percentagem de líquenes não terá trazido alterações às análises preliminares efetuadas
sem a presença destas referidas variáveis. Já por outro lado, a não inclusão das acácias,
poderá parecer estranho, pois elas são muito importantes na predição do subcoberto
arbustivo (veja-se a elevada correlação estabelecida, com Pearson coef.= 0,988, sig.
0,000).
Tabela IV.48 – Regressão linear múltipla entre o volume aparente de subcoberto vegetal e os
restantes elementos de subcoberto (%SbcArbs, %Musgo, RiqEsp, %Líq, HSbcHer, HSbcArbs,
%SbcHer, %EspAbSbc, %SbcTotl, %Ac)
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,975a 0,950 0,946 1,8515
a . Predi ctors : (Cons ta nt), Ri qEs p, %Es pAbSbc, %SbcTotl , %SbcArbs , HSbcArbs , HSbcHer, %SbcHer,
%Ac, %Mus go , %Líq
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) -0,540 0,077 -6,983 0,000
215
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
216
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
obtidos para os meses de outubro e novembro não puderam ser aproveitados pelos
motivos que se apresentaram anteriormente no Capítulo III- Metodologia Específica.
IV.4.1 – pH do Solo
217
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
218
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
registadas pode assentar na idade das dunas dos diferentes locais analisados, pelo que as
dunas mais antigas terão eventualmente tendência a registar um pH mais ácido e as
dunas recentes um pH neutro.
219
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
próximos das populações e por isso mais explorados. A Oeste, é notório um menor
desenvolvimento do subcoberto, principalmente no que diz respeito ao herbáceo, mais
facilmente fornecedor de nutrientes utilizáveis, pela sua fácil decomposição (menos
celulose, hemicelulose e lenhina e mais açúcares solúveis) (Camarão et al., 2009).
220
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A realização dos testes Anova one way permite verificar a existência de diferenças
significativas para a matéria orgânica na totalidade da amostra, uma vez que apresenta
um valor de p-value inferior a 0,05 (0,000). Estas diferenças significativas verificam-se
para todas as profundidades.
Após a realização dos testes de Tukey concluiu-se que, quanto ao teor da matéria
orgânica a 10cm de profundidade, as diferenças que se registam para o total da amostra
não se observam por transecto. A 20cm de profundidade, conforme se pode observar na
tabela IV.51, já são registadas algumas diferenças significativas. E estas diferenças
significativas estabelecem-se todas com o transecto 3 (pares 3 e 1, 3 e 4, 3 e 8 e 3 e 9).
A 30cm de profundidade, as diferenças significativas aparecem novamente
estabelecidas com o transecto 3 (3 e 7, 3 e 8, 3 e 9). O transecto 3 será aquele que
registará mais diferenças no teor de matéria orgânica existente relativamente aos
restantes transectos. Será interessante destacar que estes resultados vêm salientar o que
não foi possível concluir na análise da tabela anterior onde, na estatística descritiva, os
diferentes transectos aparecem com resultados muito semelhantes entre si.
IV.4.3. – Fósforo
O fósforo (P2O5) existente nos solos analisados também apresenta valores médios
bastante baixos (tabela IV.52), o que corresponderá à justificação já apresentada para o
221
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
222
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
IV.4.4 – Potássio
Os níveis obtidos para o K2O (tabela IV.54), tal como os obtidos para o P2O5 e a
matéria orgânica, registam valores médios muito baixos, não sendo relevantes as
diferenças entre os transectos. Os transectos 8 e 3 apresentam valores ligeiramente
superiores, mas que não terão grande reflexo em termos de fertilidade em relação aos
restantes. Saliente-se que estes transectos são muito próximos entre si. Serão, segundo a
informação recolhida sobre a evolução da Ria de Aveiro (Costa, 1930; Oliveira, 1988;
Porto de Aveiro, 1998), dos locais de deposição de areias mais antigos no que diz
respeito às Dunas de Mira. O comportamento do teor de K2O em profundidade também
não apresenta um padrão. Em alguns transectos parece diminuir em profundidade, como
223
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.54 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao Óxido de Potássio (K2O, n=96
0-10cm de profundidade
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 9,6 23,0 14,7 12,4 13,9 3,2
Transecto 2 (n=4) 11,0 15,4 12,8 - 12,4 2,1
Transecto 3 (n=12) 10,6 28,4 20,5 - 20,2 5,5
Transecto 4 (n=17) 9,6 28,8 17,1 15,8 16,2 4,6
Transecto 5 (n=3) 8,2 15,8 12,8 - 14,4 4,0
Transecto 6 (n=4) 10,8 18,0 15,3 - 16,2 3,3
Transecto 7 (n=4) 13,4 22,0 16,3 - 14,9 3,9
Transecto 8 (n=9) 13,2 26,0 21,0 - 23,0 5,0
Transecto 9 (n=19) 12,4 30,0 18,3 15,2 16,8 4,5
Total (n=96) 8,2 30,0 17,1 13,6 16,1 4,8
10-20cm de profundidade
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 4,8 20,2 9,9 11,8 10,1 3,5
Transecto 2 (n=4) 8,0 11,6 10,2 - 10,6 1,5
Transecto 3 (n=12) 12,2 21,6 16,0 - 14,8 3,2
Transecto 4 (n=17) 9,6 20,2 14,0 15,8 13,2 3,1
Transecto 5 (n=3) 10,2 15,0 12,7 - 13,0 2,4
Transecto 6 (n=4) 8,8 17,2 13,3 - 13,5 3,6
Transecto 7 (n=4) 11,4 22,0 17,3 - 17,9 4,4
Transecto 8 (n=9) 14,2 24,8 18,9 20,6 19,8 3,3
Transecto 9 (n=19) 9,6 23,0 14,8 14,4 14,2 3,5
Total (n=96) 4,8 24,8 13,8 10,2 13,4 4,3
20-30cm de profundidade
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 5,4 15,2 10,6 13,6 10,2 3,3
Transecto 2 (n=4) 12,6 18,6 15,1 - 14,5 2,7
Transecto 3 (n=12) 9,8 24,8 15,0 14,6 14,6 3,6
Transecto 4 (n=17) 7,0 17,4 11,0 10,2 10,6 2,5
Transecto 5 (n=3) 13,0 19,6 15,6 - 14,2 3,5
Transecto 6 (n=4) 10,2 20,8 14,8 - 14,0 4,6
Transecto 7 (n=4) 13,6 24,0 18,7 - 18,5 5,1
Transecto 8 (n=9) 14,0 28,8 18,9 14,0 18,8 4,9
Transecto 9 (n=19) 9,4 33,0 15,4 16,0 14,2 5,3
Total (n=96) 5,4 33,0 13,8 14,2 13,4 4,8
Valores médios das 3 profundidades
Amostra Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 8,1 15,6 11,7 10,9 11,1 2,4
Transecto 2 (n=4) 10,8 14,8 12,7 - 12,6 1,6
Transecto 3 (n=12) 13,9 22,1 17,2 - 16,4 2,5
Transecto 4 (n=17) 8,7 17,4 14,1 - 13,7 2,2
Transecto 5 (n=3) 10,5 16,8 13,7 - 13,9 3,2
Transecto 6 (n=4) 12,9 16,3 14,4 - 14,3 1,6
Transecto 7 (n=4) 15,7 19,2 17,4 - 17,4 1,7
Transecto 8 (n=9) 15,6 24,8 19,6 - 18,7 3,2
Transecto 9 (n=19) 11,7 23,1 16,2 - 15,4 3,0
Total (n=96) 8,1 24,8 14,9 13,9 15,0 3,5
224
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
IV.4.5 – Hidrofobia
225
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
et al., 2000; Matias, 2002; Faria, 2008). O fenómeno foi apenas identificado nas
parcelas 6.2, 6.3, 8.19, 9.93 e 9.154, com valores de 2, 1, 1, 1 e 1, respetivamente. Estas
parcelas registam uma elevada cobertura do solo, motivo pelo qual a precipitação não o
terá atingido nestes locais, e a isso se deve provavelmente a verificação de repelência,
embora em baixo grau. A baixa humidade favorece a hidrofobia (King, 1981; Buczko et
al., 2005; Jarvis et al.,2008; Faria, 2008).
A tabela IV.56, permite verificar a ocorrência de elevada hidrofobia em outubro,
antes de ter começado o período de chuvas.
226
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
foram, na sua maioria, registados nas classes de maior hidrofobia. Para a hidrofobia em
dezembro, os valores registados já se traduzem em diferenças significativas, mas
exclusivamente entre o transecto 6 e os transectos 1, 4, 7, 8 e 9. Estes resultados
refletem o que se verifica no campo, ou seja, todos os transectos apresentam diferenças
significativas relativamente ao transecto 6, com exceção do 5. Os transectos 5 e 6 são
muito semelhantes entre si, e representam uma mancha de pinhal muito mais
homogénea e desenvolvida relativamente ao restante pinhal. A elevada espessura de
manta morta (A00) é uma característica exclusiva destes dois transectos, o que fará
manter a elevada hidrofobia (Doerr et al., 2006) mesmo durante o período das chuvas.
227
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
228
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
229
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
230
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
231
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.61 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade do solo para os valores
médios obtidos das três profundidades registadas, n=53
Mínimo
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,6 1,1 0,1 0,0 0,5 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) 1,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Máximo
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,6 0,4 0,1 0,4 0,3 0,0 0,6
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,6 0,7 0,8 1,8 0,4 0,0 1,8
Transecto 5 (n=3) 1,1 2,8 1,8 0,4 1,1 0,0 2,8
Transecto 6 (n=4) 1,9 1,8 2,2 2,4 2,2 0,0 2,4
Transecto 7 (n=4) 1,8 0,4 0,4 0,5 0,4 0,0 1,8
Transecto 8 (n=9) 1,4 0,3 2,3 2,3 1,0 0,3 2,3
Transecto 9 (n=19) 2,7 9,4 1,8 2,6 2,5 0,3 9,4
Total (n=53) 2,7 9,4 2,3 2,6 2,5 0,3 9,4
Média
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,3 0,2 0,0 0,1 0,1 0,0 0,1
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,2 0,3 0,5 0,1 0,0 0,2
Transecto 5 (n=3) 0,9 1,7 0,7 0,1 0,9 0,0 0,7
Transecto 6 (n=4) 1,5 1,1 0,9 0,8 1,1 0,0 0,9
Transecto 7 (n=4) 0,7 0,1 0,2 0,1 0,3 0,0 0,2
Transecto 8 (n=9) 0,4 0,1 0,8 0,8 0,3 0,0 0,4
Transecto 9 (n=19) 0,8 1,1 0,4 0,3 0,8 0,0 0,6
Total (n=53) 0,7 0,7 0,4 0,4 0,5 0,0 0,4
Moda
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 - - 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) - - - - - 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) - - - - - 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) - 0,0 0,0 0,0 - 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 - 0,0 - 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 - 0,0 0,0 - 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Mediana
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,1 0,3 0,1 0,0 0,0 0,1
Transecto 5 (n=3) 0,9 1,2 0,2 0,1 1,0 0,0 0,5
Transecto 6 (n=4) 1,5 1,3 0,7 0,4 1,0 0,0 0,8
Transecto 7 (n=4) 0,4 0,0 0,2 0,0 0,3 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,3 0,1 0,3 0,9 0,2 0,0 0,2
Transecto 9 (n=19) 0,7 0,7 0,2 0,0 0,5 0,0 0,2
Total (n=53) 0,6 0,3 0,2 0,0 0,3 0,0 0,1
Desvio Padrão
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,2 0,0 0,1 0,1 0,0 0,2
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,2 0,3 0,7 0,2 0,0 0,4
Transecto 5 (n=3) 0,3 0,9 1,0 0,2 0,4 0,0 0,8
Transecto 6 (n=4) 0,4 0,8 1,0 1,1 1,0 0,0 0,8
Transecto 7 (n=4) 0,8 0,2 0,2 0,2 0,1 0,0 0,4
Transecto 8 (n=9) 0,5 0,1 0,8 0,7 0,3 0,1 0,6
Transecto 9 (n=19) 0,7 2,0 0,5 0,6 0,7 0,1 1,0
Total (n=53) 0,6 1,3 0,6 0,6 0,6 0,1 0,8
232
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
A análise das médias dos valores dos teores da humidade do solo nas diferentes
profundidades e nos diferentes meses (tabela IV.62) levou à identificação de três
períodos temporais. Um período de reposição - correspondente aos valores da humidade
do solo em dezembro, em que os valores médios aumentam em profundidade; um
período húmido – que agrega os valores médios registados de janeiro a abril, e onde o
comportamento e valor das médias diminui com a profundidade; e por fim um período
seco – correspondente aos baixíssimos valores registados em agosto em todas as
profundidades. Fica-se assim, com três novas variáveis, que correspondem ao período
de reposição de humidade (PrRpHum), ao período húmido (PrHum) e ao período seco
(PrSec).
Tabela IV.62 – Média da humidade do solo registada nos diferentes meses (%)
Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Agosto
Prf_10 0,364 0,991 0,519 0,508 0,642 0,004
Prf_20 0,677 0,583 0,404 0,443 0,494 0,019
Prf_30 0,932 0,393 0,349 0,221 0,372 0,025
233
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Feita a análise descritiva para cada uma das variáveis do grupo de solos, assim
como a comparação do seu comportamento nas diferentes profundidades e entre os
diferentes transectos, dá-se continuidade a essa análise com a aplicação dos testes de
Friedman para os elementos de solos, uma vez que se pretende comparar as variáveis
deste grupo nas suas diferentes profundidades a fim de poder diminuir o número de
variáveis em causa. O teste de Friedman é um teste que deve ser utilizado quando uma
variável é sujeita a três ou mais situações (Pocinho e Figueiredo, s/d, p.92; Vilelas,
2009; Field, 2005). Considerou-se que era adequado no caso em estudo uma vez que se
pretende avaliar o comportamento de quatro variáveis (pH, M.O., P2O5 e K2O) nas
diferentes profundidades em que foram recolhidas.
A análise das tabelas dos resultados da aplicação do teste de Friedman às
variáveis consideradas (tabela IV.63) mostra que foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas (p-value <0,05, Friedman) para todas, com exceção do
P2O5 às profundidades de 10 e 30cm, e para o K2O entre as profundidades de 20 e de
30cm. Estes resultados permitem, numa primeira hipótese, substituir os valores das duas
profundidades de P2O5 pelo valor médio correspondente ou, numa segunda hipótese,
optar por continuar a utilizar apenas uma das profundidades que não apresentam
diferenças significativas entre si. O mesmo acontece para o K2O nas profundidades de
20 e de 30cm. Deve calcular-se a média das duas profundidades ou selecionar uma
delas. Neste trabalho optou-se por selecionar uma das profundidades que não apresenta
diferenças significativas. No caso do P2O5 optou-se por excluir a profundidade de 30cm
e manter a de 10cm. Para o K2O excluiu-se também a profundidade 30cm, optando-se
pela manutenção dos valores da profundidade de 20cm. Desta forma, ao excluir as
234
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
*A symp.Sig. (pH) =0,000 *A symp.Sig. (M .O).= 0,000 *A symp.Sig. (P 205)= 0,001 *A symp.Sig. (K2O)= 0,000
235
PrdRpHum PrdRpHum PrdRpHum PrdHum_ Prduúm_ PrdHum_ PrdSec_ PrdSec_ PrdSec_
pH_10 pH_20 pH_30 MO_10 MO_20 MO_30 P2O5_10 P2O5_20 K2O_10 K2O_20 RepOut RepDz
_10 _20 _30 10 20 30 10 20 30
Correl. 1 ,863** ,720** -,206* -,205* -0,024 ,342** ,262** 0,11 -0,158 -,389** -0,11 0,053 0,213 0,099 0,137 0,107 0,23 0,124 -0,049 0,185
pH_10
Sig. 0 0 0,044 0,045 0,815 0,001 0,01 0,287 0,125 0,004 0,433 0,707 0,125 0,481 0,328 0,444 0,097 0,378 0,726 0,186
Correl. ,863** 1 ,837** -0,196 -0,137 0,044 ,326** ,279** 0,048 -0,169 -,323* -0,077 0,049 0,179 0,07 0,123 0,182 0,26 0,269 0,108 0,21
pH_20
Sig. 0 0 0,056 0,185 0,673 0,001 0,006 0,641 0,101 0,018 0,584 0,727 0,199 0,62 0,381 0,193 0,06 0,051 0,44 0,131
Correl. ,720** ,837** 1 -,320** -0,099 0,198 ,395** ,507** 0,009 -,286** -,398** -0,061 0,127 ,321* 0,076 0,254 ,286* ,364** 0,141 0,083 ,284*
pH_30
Sig. 0 0 0,001 0,335 0,053 0 0 0,929 0,005 0,003 0,666 0,365 0,019 0,589 0,067 0,038 0,007 0,314 0,556 0,039
Correl. -,206* -0,196 -,320** 1 0,101 0,111 -0,173 -,241* -0,047 0,052 0,128 0,077 -0,059 -0,067 0,1 -0,091 -0,118 -0,129 -0,11 -0,079 -0,071
MO_10
Sig. 0,044 0,056 0,001 0,329 0,282 0,091 0,018 0,648 0,617 0,359 0,584 0,677 0,635 0,476 0,515 0,402 0,357 0,434 0,576 0,612
Correl. -,205* -0,137 -0,099 0,101 1 ,275** 0,051 0,091 0,166 0,039 ,277* 0,175 0,139 0,022 -0,035 0,102 0,067 -0,104 -0,171 -0,01 -0,159
MO_20
Sig. 0,045 0,185 0,335 0,329 0,007 0,623 0,376 0,106 0,706 0,045 0,211 0,32 0,876 0,803 0,466 0,636 0,459 0,221 0,946 0,255
Correl. -0,024 0,044 0,198 0,111 ,275** 1 0,078 ,272** 0,038 -0,151 0,247 ,279* -0,041 -0,001 0,242 -0,144 0,052 -0,081 -0,232 -0,061 -0,216
MO_30
Sig. 0,815 0,673 0,053 0,282 0,007 0,448 0,007 0,711 0,143 0,074 0,043 0,773 0,996 0,081 0,305 0,711 0,563 0,094 0,662 0,121
Correl. ,342** ,326** ,395** -0,173 0,051 0,078 1 ,558** 0,161 -0,196 -0,269 -0,043 0,011 0,123 0,08 0,044 0,084 0,065 0,091 0,115 0,101
P2O5_10
Sig. 0,001 0,001 0 0,091 0,623 0,448 0 0,117 0,056 0,052 0,758 0,935 0,378 0,569 0,757 0,551 0,641 0,518 0,411 0,472
Correl.
Correl. -0,049 0,108 0,083 -0,079 -0,01 -0,061 0,115 -0,053 0,221 -0,036 0,002 0,13 0,115 0,091 0,104 0,12 0,072 0,148 ,764** 1 ,385**
PrdSec_20
Sig. 0,726 0,44 0,556 0,576 0,946 0,662 0,411 0,705 0,111 0,799 0,988 0,353 0,41 0,519 0,458 0,392 0,608 0,291 0 0,004
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Correl. 0,185 0,21 ,284* -0,071 -0,159 -0,216 0,101 -0,033 0,019 -0,135 -,582** -0,063 -0,032 ,668** 0,263 ,746** ,480** ,677** 0,211 ,385** 1
PrdSec_30
Sig. 0,186 0,131 0,039 0,612 0,255 0,121 0,472 0,815 0,894 0,335 0 0,652 0,822 0 0,057 0 0 0 0,13 0,004
236
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
237
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
a recolha de solos para ensaios de fertilidade devem ser recolhidas amostras compósitas
(Varennes, 2003, p.322), conduziu à opção pela utilização dos valores médios das
variáveis na análise de regressão múltipla. Não se optou na altura da recolha pela
homogeneização das amostras no campo, homogeneização que é agora sugerida pelos
resultados estatísticos obtidos.
A humidade do solo afeta a atividade biológica e, consequentemente, a matéria
orgânica no que respeita à sua quantidade e à sua degradação (Vertessey et al., apud
Nunes, 2010). Para Greiffenhagen et al. (2006), quando a humidade do solo aumenta, a
matéria orgânica também aumenta. Os dados recolhidos neste trabalho não permitiram
confirmar essa relação, pois a matéria orgânica não parece estabelecer relações
significativas com a variação da humidade do solo em nenhuma das épocas
consideradas.
Após se decidir utilizar valores médios de algumas variáveis para a análise de
regressão linear múltipla, optou-se também por efetuar novas correlações, desta vez
com os valores médios das três profundidades das variáveis relativas aos solos. Nesta
nova análise às correlações verifica-se que os períodos de humidade registam sempre
correlações positivas e significativas entre si, o que se justifica pelo facto de estes
dependerem da mesma variável: a existência de humidade no solo (tabela IV.65). A
correlação negativa (e significativa) verificada entre os diferentes períodos de humidade
estabelecidos para a hidrofobia justifica-se pelo facto de os locais mais secos registarem
uma maior hidrofobia em todos os períodos, mesmo no período húmido. O teor de
humidade do solo influencia a hidrofobia, pois um valor elevado de humidade leva à
diminuição da hidrofobia, havendo portanto uma correlação negativa (Doerr et al, 2000;
Faria, 2008; Thompson, 2010, p.4). A correlação estabelecida entre a hidrofobia e a
humidade do solo, em solos florestais, apresenta geralmente valores muito baixos
(Buczko et al., 2005). O mesmo se verifica neste trabalho, onde os valores da
correlação, apesar de baixos, são na generalidade significativos. O pH regista
correlações negativas (significativas) com a matéria orgânica e a hidrofobia em
outubro. Estes valores são justificados pelo facto de a matéria orgânica ser um fator
acidificante dos solos. A hidrofobia também é maior nos locais mais ácidos, pois é onde
existe maior quantidade de matéria orgânica, que é um fator que a favorece (Harper et
al., 2000; Ashman, 2002); Matias, 2002; Rodriguez-Alleres et al., 2007b). Por outro
lado, Faria (2008) não encontra relação entre matéria orgânica e repelência, facto que
238
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.65 – Correlações estabelecidas para os valores médios dos elementos de solos
PrdRepHu MO P2O5 K2O
PrdHum Prd Sec pHMédio RepOut RepDz
m Média Médio Médio
239
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
240
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
241
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
242
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.68– Correlações de Pearson estabelecidas para as variáveis do grupo do coberto arbóreo
com o subcoberto
%EspAbSbc %Ac RiqEsp %Musgo %Líq %SbcTotl HSbHer HSbcArbs %SbcHer %SbcArbst VlApSbcVeg
DAP Correl. ,128** ,441** -,289** 0,08 -,260** 0,028 -,448** ,365** -,318** ,468** ,482**
Sig. 0,006 0,000 0,000 0,109 0,000 0,545 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
H Correl. ,123** ,349** -,368** ,150** -,313** 0,012 -,451** ,318** -,268** ,378** ,400**
Sig. 0,008 0,000 0,000 0,002 0,000 0,797 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Hdom Correl. ,101* ,322** -,369** ,153** -,344** -0,001 -,435** ,307** -,255** ,352** ,369**
Sig. 0,031 0,000 0,000 0,002 0,000 0,990 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Dens Correl. 0,019 -,256** 0,073 0,073 0,036 0,051 ,342** -,117* ,246** -,260** -,215**
Sig. 0,678 0,000 0,119 0,145 0,536 0,273 0,000 0,038 0,000 0,000 0,000
243
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
244
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
245
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
246
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Model Summary
Model R R Square Adjus ted R Square Std. Error of the Es timate
1 ,444a 0,197 0,188 3,98825
a. Predictors : (Cons tant), Dis tMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 20,109 0,655 30,683 0,000
PrTFreat 0,204 0,118 0,138 1,726 0,085
ΔmAlt 0,140 0,064 0,176 2,180 0,030
Alt -0,563 0,097 -0,692 -5,820 0,000
Exp -0,070 0,116 -0,035 0,608 5,440
DistMar 0,000 0,000 0,083 1,180 0,239
a. Dependent Variable: Hdom
247
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.71 – Regressão linear multivariada estabelecida entre a altura média e os elementos de
fisiografia (DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt), n=457
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,519a 0,27 0,262 3,97462
a . Predi ctors : (Cons ta nt),Di s tMa r, ΔmAl t, Exp, PrTFrea t, Al t
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 19,710 0,653 30,177 0,000
PrTFreat 0,319 0,117 0,206 2,713 0,007
ΔmAlt 0,105 0,064 0,126 1,636 0,103
Alt -0,662 0,096 -0,778 -6,861 0,000
Exp -0,083 0,115 -0,040 -0,742 0,469
DistMar 0,000 0,000 -0,079 1,174 0,241
a. Dependent Variable: H
Tabela IV.72 – Regressão linear multivariada estabelecida entre o DAP e os elementos do grupo
de fisiografia (DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt), n=457
Model Summary
Model R R Square Adjusted R Square Std. Error of the Estimate
1 ,627a 0,393 0,386 0,07489
a. Predictors: (Constant), DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 0,390 0,012 31,685 0,000
PrTFreat 0,006 0,002 0,184 2,649 0,008
ΔmAlt 0,000 0,001 0,029 0,408 0,683
Alt -0,013 0,002 -0,757 -7,314 0,000
Exp -0,002 0,002 -0,050 -1,004 0,316
DistMar 0,000 0,000 0,012 0,200 0,842
a. Dependent Variable: DAP
248
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
249
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
coberto arbóreo. E, mais uma vez, assim como na profundidade da toalha freática, estes
resultados contrariam os que eram perspetivados das correlações que expressaram
resultados significativos para as diferentes variáveis do coberto arbóreo.
Face a estes resultados optou-se por fazer uma análise de regressão linear
univariada (ARLU) entre as variáveis do coberto arbóreo e estas duas variáveis
independentes, e os resultados foram semelhantes aos das correlações, com a influência
destas variáveis a ser determinada no mesmo sentido da correlação. Obtiveram-se
resultados significativos (de sinal negativo) na regressão linear simples estabelecida,
considerando a exposição como variável independente, para o diâmetro à altura do
peito, a altura dominante e a altura média e significativos positivos para a densidade
arbórea (linear regression: b = -0,017; b = -0,525; b = -0,647; b = 72,372 e sig. 0,000;
0,000; 0,000; 0,000, respetivamente).
Quando se efetuou a ARLU com a profundidade da toalha freática como variável
independente obtiveram-se resultados negativos significativos para o diâmetro a altura
do peito, a altura dominante e a altura média, e significativos positivos para a
densidade (linear regression: b = -0,013; b= -0,391; b = -0,473; b=50,138 e sig. 0,000;
0,000; 0,000; 0,000, respetivamente).
Quaisquer dos valores de adj. r2 obtidos não refletem uma elevada explicação da
variação das variáveis dependentes (coberto arbóreo) pelas variáveis independentes,
uma vez que estes se localizam num intervalo com um valor máximo de adj. r2 = 0,168.
Como síntese deste ponto, verifica-se que o maior desenvolvimento do pinhal
ocorre em locais de menor altitude, onde a profundidade da toalha freática é menor e
em locais onde a distância ao mar é menor. Estes locais de maior proximidade ao mar
são também, regra geral, os de menor altitude, conforme se pode concluir no ponto
IV.2.6. Os pinheiros que se localizam muito próximo da duna primária são, regra geral,
muito retorcidos, mas os seus diâmetros são elevados e o seu crescimento geral também,
embora, quase sempre, aconteça na horizontal (André, 1996; Almeida, 2000). Quanto à
exposição, esta análise permite concluir que os locais de depressão favorecem o
desenvolvimento do pinhal, sendo as cristas de duna os locais menos propícios à sua
instalação.
A profundidade da toalha freática e a exposição aparecem com resultados
inversos, considerando os relativos à correlação e à ARLM. Mas quando se passa a uma
análise de regressão linear simples ou “passo a passo”, conclui-se que os resultados são
coerentes.
250
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Como já foi referido anteriormente, para o grupo de variáveis do solo não foi
possível identificar uma que pudesse caracterizar o grupo, pois nenhuma se destacou
com correlações significativas fortes com as restantes variáveis. Quando se
correlacionam as variáveis do coberto arbóreo com as dos solos, destacam-se o pH, o
P2O5 a todas as profundidades, o K2O a 10cm e a hidrofobia em outubro como as que
estabelecem mais relações significativas com vários elementos do coberto arbóreo. Os
resultados obtidos para as correlações com os valores médios dos elementos de solos
aproximam-se dos resultados das correlações obtidas para as diferentes profundidades
(tabela IV.74).
As correlações com sinal negativo estabelecidas entre o pH nas suas diferentes
profundidades e os elementos do coberto arbóreo confirmam a preferência do pinheiro
bravo por ambientes acidófilos (Varennes, p.99, 2003), ambientes acidófilos que por sua
vez também promove, ou seja, os pinheiros mais desenvolvidos encontram-se nos locais
de menor pH (Nunes, 2007; Ferreira, 2008).
A matéria orgânica (MO) apresenta correlações pouco significativas com as
variáveis do coberto arbóreo. Estas só se registam para a MO a 20cm de profundidade
com o DAP, e a 10cm de profundidade com a altura média. As restantes correlações,
embora não significativas, vêm confirmar a existência de um maior desenvolvimento do
pinhal nos locais com maior teor de matéria orgânica, como se regista em Nunes (2007).
Quanto ao P2O5, regista-se uma correlação negativa significativa com todos as
variáveis do coberto arbóreo. Esta correlação significará que o coberto arbóreo mais
desenvolvido existe nos locais de menor P2O5 extraível, o que poderá significar que os
pinheiros já consumiram as quantidades disponíveis deste elemento no solo
(Bacchewar, e Gajbhiye.,2011).
Quanto aos valores de K2O, as correlações estabelecidas com as variáveis do
coberto arbóreo são significativas apenas para os 10cm de profundidade. E trata-se de
uma correlação negativa que, tal como para o P2O5, poderá significar uma maior
absorção nos locais de maior desenvolvimento. Também se pode ficar a dever ao facto
de os locais de maior desenvolvimento de coberto arbóreo apresentarem um pH mais
baixo e, consequentemente, uma menor disponibilidade em fósforo (Hellemaa, 1998,
p.3).
251
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Correl. -,450** -,437** -,383** 0,177 ,232* 0,159 -,431** -,350** -,239* 0,068
DAP
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,085 0,023 0,122 0,000 0,000 0,019 0,510
Correl. -,518** -,524** -,471** ,226* 0,165 0,097 -,487** -,413** -,275** 0,142
H
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,027 0,108 0,347 0,000 0,000 0,007 0,166
Correl. -,458** -,437** -,331** 0,141 0,204 0,043 -,385** -,322** -,370** -0,039
HDom
Sig. 0,000 0,000 0,002 0,188 0,055 0,689 0,000 0,002 0,000 0,716
Correl. -0,088 -0,175 -,220* 0,104 -0,163 -0,005 -0,100 -0,155 ,232* ,281**
Dens
Sig. 0,394 0,089 0,031 0,314 0,112 0,962 0,333 0,131 0,023 0,006
Correl. ,491** 0,204 0,017 -0,009 -0,137 -0,047 -0,108 -0,14 -0,078 -0,073 -,317*
DAP
Sig. 0 0,142 0,902 0,948 0,327 0,738 0,44 0,317 0,58 0,603 0,021
Correl. ,425** 0,173 0,06 0,03 -0,084 -0,012 -0,109 -0,139 -0,091 -0,126 -,280*
H
Sig. 0,002 0,214 0,671 0,833 0,548 0,934 0,438 0,319 0,519 0,367 0,042
Correl. ,422** 0,158 0,093 0,174 -0,035 0,099 -0,026 -0,087 -0,163 -0,085 -0,247
HDom
Sig. 0,002 0,265 0,511 0,217 0,807 0,487 0,856 0,538 0,247 0,549 0,078
Correl. -0,219 -0,191 0,038 -0,165 -0,102 -,297* -0,241 -,277* 0,013 -0,184 -0,081
Dens
Sig. 0,114 0,17 0,786 0,239 0,465 0,031 0,082 0,045 0,926 0,187 0,564
PrdRpHum PrdHúm PrdSec
pHMédio MOMédia P2O5Médio K2OMédio
Médio Médio Médio
252
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
253
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Para a altura média, os resultados obtidos (tabela IV.76) são muito semelhantes
aos da altura dominante, com valores de predição significativos apenas para o pHMédio
(b= -3,851; Sig. 0,000) e o P2O5Médio (b= -0,364; Sig. 0,023). Só se acrescenta aqui o
facto de o K2O ter valores muito próximos da significância aceitável. A matéria
orgânica continua muito distante de obter resultados significativos (sig. 0,259). O
adjusted r2, embora aumentando ligeiramente relativamente à altura dominante,
continua a apresentar valores muito baixos na representação da determinação do coberto
arbóreo (adj. r2= 0,346).
Tabela IV.76 – Regressão linear multivariada entre a altura média e os elementos de solo
analisados em laboratório (pHMédio, MOMédia, P2O5Médio, K2OMédio), n= 88
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,613a 0,376 0,346 3,99606
a . Predi ctors : (Cons ta nt),pHMédi o, MOMédi a , P2O5Médi o, K2OMédi o
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 44,184 6,051 7,303 0,000
a. Dependent Variable: H
254
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.77 – Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do peito e os elementos de
solo analisados em laboratório (pHMédio, MOMédia, P2O5Médio, K2OMédio), n= 88
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,557a 0,31 0,278 0,07766
255
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.78 – Regressão linear multivariada entre a altura média e os elementos de solos
significativos na análise de regressão efetuada aos dois grupos de elementos de solos (RepOut, P2O5,
pHMédio), n=51
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,707a 0,500 0,469 3,91893
a . Predi ctors : (Cons ta nt),pHMédi o, P2O5Médi o, RepOut
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 35,498 10,265 3,458 0,001
a. Dependent Variable: H
256
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.79 – Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do peito e elementos de
solos significativos na análise de regressão efetuada aos dois grupos de elementos de solos (RepOut,
PhMédio e K2OMédio), n=51
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,668a 0,447 0,412 0,07911
a . Predi ctors : (Cons ta nt),pHMédi o, K2OMédi o, RepOut
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 0,682 0,208 3,273 0,002
257
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
258
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
259
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.80 – Resumo dos resultados das regressões estabelecidas para os diferentes elementos
de coberto arbóreo, tendo como variáveis dependentes as significativas das análises anteriores, n=
144
Hdom %SbTotl; %Líq; Alt 0,020; -0,087; -0,167 0,016; 0,000; 0,001
260
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
261
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
60% da variância total das características analisadas. Aqui também os três primeiros
componentes explicam valores semelhantes, que vão desde os 57,1% até aos 69,5%.
262
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
vegetal
-0,4
Subcoberto
-0,6 vegetal
m h
Subcoberto
vegetal
-0,8 e
j
-1,0
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1
Figura IV.1 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia,
para os fatores 1 e 2 *
0,4
d c l fn
b f
n
o
0,2 t
Factor 3
a
Coberto arbóreo
0,0 k
e
h j
-0,2 i
m
-0,4 g
-0,6
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1
Figura IV.2 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia,
para os fatores 1 e 3
263
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Figura IV.3 – Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo, subcoberto vegetal e
fisiografia
264
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
265
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
ah x
0,0
ai u
wv
-0,2
Solos
am
-0,4
ao an
-0,6
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1
Figura IV.4 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e dos solos, para os fatores 1 e
2
Quanto à análise de clusters (figura IV.5), distinguem-se dois grandes grupos. Um
grupo engloba a altura média, a altura dominante, o diâmetro à altura do peito, a
hidrofobia em outubro e em dezembro (RepOut e RepDez) e os elementos respeitantes à
matéria orgânica. No outro grupo destaca-se um subcluster onde aparece a densidade
arbórea associada ao K2O. Grobe (2005) obteve resultados onde aparecem o K2O, o
P2O5 e o pH num mesmo cluster, com uma distância euclidiana de 3 enquanto que a
matéria orgânica aparece num cluster distinto com uma distância média de 6.
266
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
267
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
ad
al
0,6
ak ac z
aa ae
Subcoberto
0,4 Solos ab af ah
Subcoberto
vegetal
Solos y vegetal
aiuw i aj l
0,2 v am ocnf
ag a
Coberto b
x arbóreo
an Coberto
Factor 2
0,0 d
k ao arbóreo
t g
q
-0,2 r ps
Fisiografia
-0,4 fisiografia
j
m
-0,6 Subcoberto e
vegetal
h
-0,8
-1,0
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1
Figura IV.6 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e
de solos para os fatores 1 e 2
0,4 ae
d
p sal Coberto
r t arbóreo
af x aj cb
0,2 Fisiografia i a
g y
qk ad
m z
ab h
0,0 ak ac
aa
Factor 3
Solos Subcoberto
vegetal
ah
-0,2 e
j lf
n
o
Solos
u
v
-0,4 ai
w
ao
-0,6
am
an
Solos
-0,8
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1
Figura IV.7 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal,
fisiografia e de solos para os fatores 1 e 3
268
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
14
12
Linkage Distance
10
K2O_30
K2O_20
K2O_10
P2O5_30
P2O5_20
P2O5_10
VlApSbcVeg
Exp
MO_10
MO_30
MO_20
%SbcTotl
%EspAbSbc
K2OMédio
PrSec
P2O5Médio
PrfToalhFreat
N trans
RepOut
DAP
%Ac
Alt
%SbcArbs
pH_30
pH_20
pH_10
%Musgo
MOMédia
HSbcArbs
%Liq
RiqEsp
%SbcHerb
Dens
HSbcHerb
PrHum
DmAlt
pHMédio
DistMar
RepDez
HDom
PrRepHum
Figura IV.8 – Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo, subcoberto vegetal,
fisiografia e solos
Tabela IV.84 – Análise de componentes
principais para os elementos de coberto arbóreo,
fisiografia e de solos (b)
Factor Loadings (Unrotat ed) (Guida290613_all.sta)
Extraction: Principal com ponents Realizou-se uma nova análise de
(Marked loadings are > ,700000)
Factor Factor Factor componentes principais, desta vez para o
Variable 1 2 3
DA P -0,868985 0,046576 0,186369 coberto arbóreo, variáveis de fisiografia
H -0,832562 -0,009534 0,234788
HDom -0,806086 0,061467 0,241480 consideradas significativas em análises
%EspAbSbc -0,373104 -0,431945 -0,746795
%Ac -0,838298 0,296189 -0,188678 anteriores, e procedendo-se de igual forma
%Musgo 0,000923 -0,637974 -0,573827
%SbcTotl -0,202623 -0,293249 -0,759425 para o subcoberto vegetal e os solos,
HS bcA rbs -0,802267 0,348643 -0,124326
%SbcArbs -0,817671 0,301746 -0,187439 obtiveram-se os resultados que se
VlA pSbcVeg -0,821285 0,312858 -0,213089
PrfT oalhFreat 0,523738 -0,463523 0,041624 apresentam na tabela IV.84.
DmA lt 0,641352 -0,298643 -0,051004
Alt 0,760852 -0,424071 0,067362 Estes resultados não são muito
pH_10 0,756016 0,440293 -0,197156
pH_20 0,741990 0,419011 -0,245618
pH_30 0,727172 0,462544 -0,286250
diferentes dos obtidos anteriormente, pois
pHMédio 0,779322 0,461954 -0,253431
P2O5Médio 0,688518 0,289449 0,161539
conforme se pode observar nas figuras IV.9
K2OMédio 0,370557 0,200710 0,437356
PrRepHum 0,015121 0,506303 -0,345565
e IV.10 continua a destacar-se a relação
PrHum 0,074494 0,392942 -0,503746
Expl.Var 9,107711 2,899296 2,588260
negativa entre os elementos do coberto
Prp.T otl 0,433701 0,138062 0,123250
Eigenvalues (Guida290613_all.sta) arbóreo com elementos do solo e da
Extraction: Principal compo nents
Eigenvalue % Total Cumulative Cumulative fisiografia.
Value variance Eigenvalue %
1 9,107711 43,37005 9,10771 43,37005
2 2,899296 13,80617 12,00701 57,17622
3 2,588260 12,32505 14,59527 69,50127
269
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
-0,2
j q
-0,4 e r
p
Fisiografia
-0,6 h
-0,8
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1
Figura IV.9 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e de solos para o fatores 1 e 2
bc
a ak
0,2 Fisiografia
p r
0,0 q
l
Factor 3
fon u
-0,2 v ai
w
am Solos
Subcoberto
-0,4 vegetal
an
h
-0,6
e j
-0,8 Subcoberto
vegetal
-1,0
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1
Figura IV.10 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e de solos para os fatores 1 e
3
A análise que se efetua daqui em diante procura confirmar e estruturar as relações
estabelecidas entre os diferentes aspetos do desenvolvimento do coberto arbóreo com as
variáveis independentes adotadas nos diferentes grupos. Mas, sabe-se que, em ecologia
270
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
271
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
No final deste ponto interessa registar que a uma maior distância ao mar se
verifica, na generalidade, um menor desenvolvimento de subcoberto arbustivo. Mas,
pelo contrário, há mais desenvolvimento de coberto herbáceo, mais líquenes e mais
riqueza específica, o que parece ser o esperado, uma vez que o coberto arbustivo é
constituído quase em exclusivo por acácias (Marchante E. et al., 2011). Será então mais
longe do mar que tem que se pensar em espécies arbóreas (em detrimento do avanço das
acácias) que permitam a continuidade de multiplicação das espécies herbáceas
protegidas pela Rede Natura 2000. Barroso et al. (2001) propõe que as acácias sejam
alternadas com espécies nativas, para que não se verifiquem impactos negativos tão
fortes como num povoamento contínuo.
A exposição vem confirmar o exposto anteriormente e ainda acrescentar o facto
de nenhum subcoberto, nem mesmo as acácias, terem apetência pelas cristas das dunas e
que as depressões são mais favoráveis ao seu desenvolvimento (André, 1996; Almeida,
2000). Maior desenvolvimento do subcoberto ocorre em altitudes mais baixas em
detrimento dos pontos mais elevados.
Maior profundidade da toalha freática corresponde a locais com maior
desenvolvimento do subcoberto herbáceo. Pelo contrário, o subcoberto arbustivo é mais
desenvolvido onde a toalha freática é menos profunda (Cordeiro, 2005). Poderia
esperar-se o contrário, mas o coberto herbáceo, pela sua fragilidade na composição
bioquímica (grande quantidade de açucares solúveis e menos quantidade de celulose,
hemicelulose e lenhina) será mais sensível à competição que lhe é promovida pelo
subcoberto arbustivo em condições de maior disponibilidade de água (Camarão et al.,
2009).
A análise de regressão confirma que existe um maior volume de subcoberto total
em áreas de depressão e de menor altitude. A profundidade da toalha freática regista
influências diferentes quando analisada individualmente ou em grupo, com outras
variáveis dependentes.
273
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
permite concluir que o subcoberto vegetal das dunas, à semelhança do pinhal, tem
preferência por valores mais baixos de pH (Almeida, 1990 e 1997; Martins, 1999).
Passando à matéria orgânica, esta apresenta poucas correlações significativas
com o subcoberto vegetal, enquanto o P2O5 e o K2O, apresentam algumas correlações
significativas. Destaca-se que estas correlações são essencialmente negativas para o
volume aparente de subcoberto vegetal, o que traduzirá o facto de a um maior
desenvolvimento de subcoberto total corresponder uma menor quantidade destes
elementos, talvez pelo facto de serem assimilados com maior intensidade, e por isso não
estarem disponíveis no solo.
A hidrofobia não parece ter qualquer relação com a percentagem de musgos e de
líquenes existentes. Mas estabelece correlações positivas com o volume aparente de
subcoberto vegetal, o que pode ficar a dever-se ao facto de este ser, em grande parte,
constituído por acácias que, por seu lado, também estabelecem a mesma correlação. As
acácias são um potencial elemento promotor de repelência (Marchante E., 2007). Pelo
contrário, é de destacar a correlação inversa, significativa, estabelecida com a
percentagem de subcoberto herbáceo, o que permite concluir que este subcoberto se
desenvolverá melhor em locais de baixo grau de hidrofobia.
Quanto à humidade do solo, esta não apresenta valores de correlações
significativos que se possam destacar. Poderá concluir-se que a esperada grande
influência da humidade do solo não se regista, e que por isso não será o maior promotor
do desenvolvimento do subcoberto, até porque ocorre, na maioria dos casos, abaixo dos
3% em solos arenosos (Greiffenhagen et al., 2006). Heneghan et al. (2006) consideram
que a humidade é maior em locais com maior estrato arbustivo, o que não se pode
concluir neste trabalho.
274
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.87 – Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo do subcoberto vegetal com as do
grupo de solos
pH_10 pH_20 pH_30 MO_10 MO_20 MO_30 P2O5_10 P2O5_20 K2O_10 K2O_20
Correl. -,312** -,211* -0,149 0,095 0,019 0,065 -,266** -0,159 -,257* -0,034
%EspDom
Sig. 0,002 0,039 0,147 0,357 0,853 0,532 0,009 0,121 0,012 0,742
Correl. -,249* -,268** -,230* 0,165 0,135 0,076 -0,158 -0,135 -,300** -0,155
%Ac
Sig. 0,014 0,008 0,024 0,108 0,191 0,461 0,125 0,191 0,003 0,132
Correl. 0,02 0,127 0,192 -,251* 0,021 0,169 0,126 0,113 0,156 -0,067
RiqEsp
Sig. 0,845 0,219 0,061 0,013 0,837 0,101 0,22 0,275 0,128 0,516
Correl. -,293** -,222* -0,157 0,063 0,042 -0,024 -,211* -0,13 -,212* 0,024
%Musg
Sig. 0,004 0,03 0,126 0,544 0,688 0,817 0,039 0,208 0,038 0,819
Correl. ,262** 0,148 0,103 -0,142 -,212* 0,103 ,245* 0,024 ,331** 0,12
%Líq
Sig. 0,01 0,151 0,319 0,168 0,038 0,32 0,016 0,819 0,001 0,245
Correl. -,269** -,250* -,249* 0,026 -0,129 -0,117 -,242* -,277** -0,182 0,138
%SbcTotl
Sig. 0,008 0,014 0,015 0,803 0,211 0,257 0,017 0,006 0,076 0,179
Correl. -0,035 0,096 0,137 -0,015 0,091 ,203* -0,033 0,001 ,222* ,223*
HSbcHerb
Sig. 0,734 0,355 0,183 0,887 0,38 0,048 0,753 0,989 0,03 0,029
Correl. -,259* -,266** -,225* 0,196 0,161 0,089 -,205* -0,199 -,303** -0,132
HSbcArbs
Sig. 0,011 0,009 0,028 0,055 0,117 0,388 0,046 0,052 0,003 0,199
Sig. -0,059 -0,022 -0,055 0,019 -,243* -0,159 -0,064 -0,135 0,008 ,221*
%SbcHerb
Sig. 0,57 0,83 0,596 0,852 0,017 0,121 0,534 0,189 0,94 0,031
Sig. -,241* -,258* -,229* 0,163 0,12 0,066 -0,152 -0,136 -,293** -0,15
%SbcArbst
Sig. 0,018 0,011 0,025 0,112 0,244 0,525 0,139 0,185 0,004 0,145
VolApSbc Correl. -,287** -,275** -,253* 0,195 0,134 0,076 -,226* -,212* -,209* -0,062
Totl Sig. 0,005 0,007 0,013 0,057 0,194 0,462 0,027 0,038 0,041 0,548
PrdReposç PrdReposç PrdReposç
RepOut RepDez PrdHúm_10 PrdHúm_20 PrdHúm_30 PrdSec_10 PrdSec_20 PrdSec_30
Hum_10 Hum_20 Hum_30
Correl. -0,073 -0,019 -0,043 0,099 -0,096 0,161 0,017 0,056 -0,168 -0,058 0,146
%EspDom
Sig. 0,603 0,895 0,759 0,483 0,495 0,251 0,907 0,691 0,23 0,678 0,296
Correl. ,314* ,301* 0,002 0,073 0,13 -0,011 0,028 -0,093 -0,137 0,047 -0,14
%Ac
Sig. 0,022 0,028 0,988 0,602 0,353 0,936 0,84 0,506 0,326 0,738 0,317
Correl. -0,068 -,281* -0,078 -0,17 -0,216 -0,019 -0,051 -0,095 0,023 -0,043 -0,021
RiqEsp
Sig. 0,627 0,042 0,578 0,222 0,121 0,89 0,719 0,497 0,868 0,76 0,882
Correl. -0,19 -0,233 -0,149 0,09 -0,129 0,11 -0,077 0,024 -0,08 -0,117 0,163
%Musg
Sig. 0,172 0,093 0,287 0,524 0,357 0,432 0,585 0,866 0,57 0,405 0,245
Correl. -0,208 -0,041 -0,054 -0,086 -0,055 -0,115 0,048 0,138 0,019 -0,029 -0,071
%Líq
Sig. 0,135 0,771 0,701 0,54 0,697 0,411 0,735 0,325 0,895 0,837 0,614
Correl. 0,031 -0,002 -0,183 0,039 -0,113 0,186 0,124 0,138 -0,15 -0,033 0,128
%SbcTotl
Sig. 0,825 0,99 0,19 0,782 0,419 0,182 0,376 0,324 0,283 0,816 0,363
Correl. -0,244 -0,225 -0,052 0,179 0,065 0,126 0,118 0,232 0,083 0,03 0,227
HSbcHerb
Sig. 0,078 0,105 0,711 0,2 0,642 0,37 0,401 0,094 0,554 0,829 0,101
Correl. ,286* ,469** 0,1 0,154 ,283* 0,047 0,111 0,001 -0,093 0,014 -0,124
HSbcArbs
Sig. 0,038 0 0,476 0,271 0,04 0,74 0,427 0,996 0,509 0,919 0,375
Sig. -0,259 -,318* -0,182 0,028 -0,103 0,105 0,024 0,177 -0,029 -0,108 0,201
%SbcHerb
Sig. 0,061 0,02 0,193 0,841 0,462 0,454 0,865 0,206 0,834 0,441 0,148
Sig. ,303* ,347* 0,003 0,063 0,106 -0,008 0,041 -0,094 -0,141 0,039 -0,139
%SbcArbst
Sig. 0,027 0,011 0,983 0,653 0,45 0,957 0,77 0,505 0,314 0,784 0,322
VolApSbc Correl. ,318* ,531** -0,016 0,087 0,176 0,082 0,143 0,019 -0,138 0,091 -0,077
Totl Sig. 0,02 0 0,908 0,536 0,208 0,561 0,306 0,895 0,324 0,519 0,585
275
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
276
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
semelhante tem o coberto arbóreo. Marchante E. (2007) refere que o K2O é maior nas
áreas de acácias mais antigas, e menor no local onde não há acácias.
Quanto à repelência, registe-se que esta é maior onde o subcoberto é mais
desenvolvido, principalmente com acácias, o que não quer dizer obrigatoriamente que o
subcoberto prefira de solos hidrofóbicos, mas sim que poderá promover a hidrofobia
(Pérez et al., 1998; Rodriguez-Alleres et al.,2007b; Buczko et al, 2005).
Mais uma vez, assim como no coberto arbóreo, não é visível a influência dos
diferentes períodos de humidade do solo no desenvolvimento do subcoberto vegetal.
Esta influência poderá ter sido no entanto determinante em fases iniciais de
consolidação da vegetação dunar (Varennes, 2003; Nunes, 2007; Santos, 2008).
As ARL realizadas confirmam, na generalidade, os resultados perspectivados
pelas correlações previamente estabelecidas.
277
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
278
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tabela IV.88 – Correlações de Pearson (Corr. Spearman para a hidrofobia) estabelecidas para as
variáveis do grupo da fisiografia com o grupo de solos, n=95 e n=52
pH_10 pH_20 pH_30 MO_10 MO_20 MO_30 P2O5_10 P2O5_20 K2O_10 K2O_20
PrfToalh Correl. -0,109 -0,058 0,006 -0,035 -0,055 -0,088 0,016 -0,013 -0,014 0,156
Freat Sig. 0,291 0,574 0,953 0,736 0,595 0,392 0,877 0,900 0,890 0,129
Correl. 0,092 0,083 -0,001 -0,035 -0,17 -,281** 0,012 -,261* 0,096 ,239*
PosMinAlt
Sig. 0,373 0,423 0,990 0,735 0,097 0,005 0,909 0,010 0,352 0,019
Correl. -0,037 -0,001 -0,04 -0,061 -0,035 -0,026 0,049 -0,087 ,261* ,376**
Alt
Sig. 0,717 0,993 0,701 0,555 0,731 0,799 0,633 0,398 0,010 0,000
Correl. -0,015 0,119 0,028 -0,056 0,112 -0,036 -0,096 -,207* ,210* ,245*
Exp
Sig. 0,882 0,249 0,783 0,588 0,278 0,726 0,353 0,043 0,040 0,016
Correl. -0,153 -0,193 -,244* -0,067 -0,159 -0,093 -0,107 -,262** ,287** ,514**
DistMar
Sig. 0,136 0,059 0,017 0,513 0,122 0,370 0,299 0,010 0,005 0,000
PrdReposç PrdReposç PrdReposç PrdHúm_ PrdHúm_ PrdHúm_ PrdSec_ PrdSec_ PrdSec_
RepOut RepDez
Hum_10 Hum_20 Hum_30 10 20 30 10 20 30
PrfToalh Correl. -0,072 -0,205 0,151 -0,118 -,301* -0,257 -,350* -,308* 0,15 0,038 0,004
Freat Sig. 0,610 0,141 0,279 0,402 0,029 0,064 0,010 0,025 0,283 0,787 0,980
Correl. -,349* -0,179 0,184 0,17 -0,189 -0,003 -0,081 0,003 0,183 0,047 0,153
PosMinAlt
Sig. 0,010 0,200 0,186 0,223 0,174 0,985 0,563 0,985 0,189 0,739 0,273
Sig. -,308* -0,209 -0,012 -0,057 -0,247 -0,094 -0,167 -0,045 0,235 0,08 0,171
Alt
Sig. 0,025 0,133 0,930 0,686 0,075 0,503 0,231 0,751 0,091 0,570 0,220
Sig. 0,015 -0,156 -0,012 -0,153 -0,165 -0,23 -0,218 -0,267 0,151 0,07 0,001
Exp
Sig. 0,913 0,265 0,931 0,274 0,239 0,097 0,117 0,053 0,279 0,619 0,997
Correl. -0,166 -0,166 -0,215 -0,149 -0,172 0,008 -0,04 0,081 0,2 0,1 0,177
DistMar
Sig. 0,234 0,235 0,123 0,287 0,217 0,956 0,775 0,564 0,151 0,477 0,204
279
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
280
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
distância ao mar, o que terá sentido se for relacionado com os primeiros locais a serem
alvo de cobertura vegetal que é consumidor mas também uma fonte de nutrientes.
A análise do P2O5 em relação às variáveis (independentes) da fisiografia (n = 95;
adj. r2 = 0,221) continua a apresentar um baixo valor de adj. r2 e de coeficientes, e
estabelece relações significativas com a diferença para a altitude mínima do transecto,
a altitude e a distância ao mar (b1 = -0,323; sig. 0,001; b2 = 0,728; sig. 0,000; b3 = -
0,002;sig. 0,000, respetivamente). Os maiores valores de P2O5 ocorrerão nos locais de
depressão dunar, ou seja, nos de menor altitude, o que se deverá a uma maior
acumulação de nutrientes nestes locais. Os locais de maior altitude, que se encontram
mais afastados do mar e, como foi dito anteriormente, cobertos de vegetação mais cedo,
apresentam, como seria de esperar, maiores valores de P2O5.
No que respeita à humidade do solo, agrupada em três grupos, registou valores
muito baixos de adjusted r2 para qualquer dos períodos e, no caso do período seco e do
período de reposição de humidade, a regressão não é significativa, pois nenhuma
variável apresenta valores significativos. No caso do período húmido, a única variável
explicativa significativa parece ser a profundidade da toalha freática (linear regression:
n= 52; adj. r2 = 0,159; b = -0,157 e sig. 0,027), onde segundo a regressão linear
estabelecida a humidade do solo, neste período, aumenta quando diminui a
profundidade da toalha freática.
A hidrofobia em dezembro (variável dependente) não apresenta quaisquer valores
significativos nos resultados da regressão linear múltipla com as variáveis da fisiografia.
A hidrofobia em outubro, embora com um adjusted r2 baixo, apresenta a profundidade
da toalha freática e a altitude como significativas na sua predição, e a distância ao mar
apresenta valores muito próximos da significância nesta determinação (n= 95; adj. r2 =
0,292; b1 = 0,407 e sig. 0,003; b2 = -0,341 e sig. 0,021; b3= 0,001 e sig. 0,055,
respetivamente). Uma maior hidrofobia existe nos locais com maior profundidade da
toalha freática, o que seria o expectável, uma vez que a presença de água diminui a
hidrofobia do solo. O facto de a hidrofobia ser mais baixa em locais de maior altitude
não terá uma razão facilmente percetível, pois de certa forma contraria o que acontece
com a profundidade da toalha freática. Mas por outro lado o subcoberto vegetal e o
coberto arbóreo são menos desenvolvidos nestes locais, logo não promoverão a
esperada hidrofobia mais elevada. Tal aconteceria se não se conjugassem vários fatores
a influenciar os valores de hidrofobia (proximidade da toalha freática e quantidade de
coberto arbóreo e de subcoberto vegetal, por exemplo).
281
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
282
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
CAPÍTULO V
SÍNTESE DOS RESULTADOS ESTATÍSTICOS
E CONSIDERAÇÕES FINAIS
283
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
284
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
285
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
a estrutura, a composição e o estado sanitário dos espaços florestais, bem como das
características fisiográficas básicas das “estações”, são ferramentas essenciais para
avaliação do seu potencial (sob os diferentes pontos de vista em relação ao seu uso) e
para a definição de estratégias para o seu planeamento (Mota, 2007; Rodrigues, 2008).
Pillar (2011) refere a importância do conhecimento de variáveis como a altitude,
exposição solar/posição no relevo e características dos solos, entre outras, para
avaliação de propostas de gestão dos espaços florestais e naturais. Arbel et al. (2005)
salientam a importância de a florestação poder ser utilizada, em muitos casos, para
reduzir a movimentação das areias soltas, que se traduz no avanço das dunas para locais
de culturas agrícolas ou de habitações.
Tendo em atenção as variáveis que este estudo identificou como sendo as que
estabelecem relações diretas com o desenvolvimento do pinhal, considera-se que devem
ser objeto de especial atenção na definição de futuras propostas de restauração de
ecossistemas, no sentido de, sempre que possível, se promover a utilização de espécies
nativas em detrimento das exóticas ou não nativas que, fora da sua área natural, revelam
por vezes comportamentos atípicos e de invasão. Pretende-se, depois de criadas as
condições para um suporte mais eficiente à tomada de decisões no que se refere à gestão
destes espaços dunares, que as medidas a adotar promovam o reequilíbrio e a resiliência
do ecossistema dunar, sem recurso a espécies de caráter invasor, de que é um exemplo
flagrante o caso da Acacia longifolia (Assis, 2012).
Tendo como objetivo contribuir para a concretização – a médio/longo prazo - do
reequilíbrio e da resiliência do ecossistema dunar nos seus múltiplos usos, atrevemo-nos
a fazer algumas sugestões que cremos corretas e aplicáveis, ou simples considerações,
suportadas não só pelas conclusões deste trabalho, mas também pelos trabalhos
realizados sobre esta zona ou em zonas análogas.
286
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
melanoxylon), deveria tentar-se alargá-los pelo menos até aos 30m, pois foi até esta
distância que foi possível obter os maiores valores de humidade, aproveitando-se assim
melhor estas zonas com características específicas. O Programa Regional de
Ordenamento Florestal (PROF) do Centro Litoral prevê ainda corredores ecológicos que
devem contribuir para a definição da estrutura ecológica municipal. Estes devem ser
compatibilizados com as redes regionais de defesa da floresta contra incêndios.
O Fraxinus angustifolia Vahl, ou outras espécies que se considerem adequadas,
poderia ser utilizado numa segunda faixa paralela à primeira (de ripícolas) conforme
acontece na atualidade, mas agora de uma forma mais contínua e não em manchas
pontuais.
287
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
288
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
variação da humidade e da temperatura, e da ação de ventos fortes. Mas, por outro lado,
uma boa manutenção do coberto vegetal origina melhores condições de solo no que diz
respeito ao arejamento, ao pH, à matéria orgânica e a outros nutrientes (Stevenson,
2010).
A existência de diferentes graus de cobertura estará dependente dos referidos
fatores e, se forem selecionadas plantas mais adequadas ao conjunto das características
em causa, o sucesso no grau de cobertura será maior.
É difícil conseguir uma cobertura vegetal homogénea significativa em áreas
dunares, pelas razões já apresentadas anteriormente por Silva et al. (2006). A confirmá-
lo, Zanella et al. (2010), num estudo sobre repovoamento vegetal de dunas, verificam
que num período de dez anos apenas se conseguiu uma cobertura de cerca de 53% para
o topo de duna, com utilização de vegetação herbácea. Nos flancos laterais, utilizando-
se vegetação arbustiva, obteve-se uma cobertura vegetal de 90%. No entanto esta
cobertura tem uma dominância de três espécies arbustivas, diminuindo a riqueza
específica relativamente ao topo de duna, que apresenta uma maior biodiversidade pelo
elevado número de espécies do coberto herbáceo. Estas espécies terão sido protegidas
pelos elementos de coberto arbóreo instalados no topo de duna.
É necessário manter, nos primeiros anos, um esforço constante de repovoamento
(arbóreo, arbustivo e herbáceo) para consolidar as dunas, uma vez que a destruição da
cobertura vegetal implica movimentos da areia que vai sendo transportada pelo vento
(Moura, 2009b). A vegetação das dunas protege-as da ação dos ventos e do mar e deve
ser reposta sempre que estiver em risco (Moura, 2009a). Além disso, a existência de
vegetação contribui de forma determinante para o aumento da humidade do solo
registada nos flancos e no topo das dunas, pois contribui para a regulação da
temperatura do solo e assim da evaporação (Arbel et al., 2005). A degradação do
subcoberto vegetal leva à perda de sedimentos e à diluição de declives acentuados, com
a migração do solo para a base, dificultando a implantação de novo coberto vegetal.
Estudos efetuados anteriormente mostram que em termos comparativos, a degradação é
menor em estações com implantação de coníferas, se comparado com outras na mesma
situação mas sem coberto arbóreo (Santiago et. al, 2003).
O reconhecimento da existência de uma baixa riqueza específica poderá ser
contrariado pela inclusão de mais espécies herbáceas/subarbustivas que exibam
características da vegetação mediterrânea, como por exemplo as cistáceas, uma vez que
o clima com verões quentes e secos e em que a estação húmida coincide com o período
289
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
mais frio lhes é favorável (Pais et al., 1999). O subcoberto do pinhal é ainda muitas
vezes constituído por Corema album (L.) D. Don e por Stauracanthus genistoides
Samp. Estas são espécies características da associação Stauracantho-Coremetum albi. A
associação Stauracantho-Coremetum albi aparece nas áreas mais secas, em que o
pinheiro bravo (Pinus pinaster Aiton) é pouco desenvolvido. Assim, o estrato arbóreo
torna-se bastante permeável à passagem da radiação solar, e permite o desenvolvimento
desta comunidade arbustiva constituída por alguns heliófitos (plantas que vivem em
meios ensolarados).
Zamith e Scarano (2006), apud Zanella et al. (2006), consideram que para a
restauração de áreas de dunas é necessário o controlo de espécies exóticas e posterior
plantação de espécies herbáceas e arbóreas nativas. Por seu lado, Tavares (1989)
considera que a melhor opção para o repovoamento destas áreas com pinheiro bravo é a
sementeira, uma vez que desde cedo as plântulas ficam adaptadas ao meio que as espera
no futuro. Talvez o indicado seja uma conjugação dos dois modelos, onde umas
espécies podem ser plantadas (conforme se tem feito no cordão litoral com a
Ammophila arenaria (L.) Link) e outras possam voltar a ser semeadas, como se tem
feito com o Pinus pinaster Aiton.
290
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
locais de menor profundidade da toalha freática que, conforme já foi referido, ocorrem
nos locais de menor altitude (14). A presença de toalha freática mais próximo da
superfície será um indicador de maior disponibilidade de solução do solo para ser
absorvida pela vegetação. Estes locais onde a toalha freática se encontra mais próximo
da superfície são locais que, regra geral, apresentam um maior desenvolvimento do
coberto herbáceo (em detrimento do coberto arbóreo) que deve ser mantido de forma a
contribuir para uma maior diversidade de espécies, destacando-se nestes locais o
Scirpus holoschoenus (L.) Soják, o Juncus acutos L., Salix arenaria L. e o Salix
atrocinerea Brot.
Estes pequenos habitats põem em destaque a função conservacionista da floresta,
ao interromperem uma continuidade florística de características mais secas. Não são
bons locais para a instalação de pinheiro, que tolera mal os locais encharcados (Centro
Pinus, 1999).
As menores altitudes (14) correspondem aos locais de maior desenvolvimento do
pinhal, o que se justificará pela maior proximidade da toalha freática e,
consequentemente pela maior disponibilidade em água e em nutrientes para absorção
pela vegetação.
A diferença para o mínimo de altitude do transecto (15), que foi uma variável
criada para permitir a homogeneização dos valores da altitude dentro de um mesmo
transecto, também estabelece, assim como a altitude, uma relação inversa com o
desenvolvimento do pinhal. A menores altitudes, dentro do transecto, corresponderão os
locais de maior desenvolvimento do pinhal (se não ocorrerem fenómenos de
encharcamento).
Passando à exposição (16), e conforme já foi referido, nesta variável é importante
a relação que se estabelece entre a topografia e a consequente diferenciação na radiação
solar que atinge o solo, que é mais acentuada nas vertentes sul (no hemisfério norte).
Assim, as vertentes voltadas a sul recebem mais energia em relação às vertentes norte,
tendo como consequência uma maior evapotranspiração potencial, um menor humidade,
e logo um menor desenvolvimento vegetal (Corrêa, 2008, p.1,4). A relação inversa
estabelecida entre a exposição e o desenvolvimento do pinhal ficará a dever-se à
gradação de valores atribuída a esta variável, em que os números mais baixos
corresponderiam a locais de maior desenvolvimento potencial. Quando se efetuam as
análises estatísticas adequadas, estes resultados estabelecem por isso relações
291
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
292
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
adubo orgânico, uma vez que as dunas móveis, arenosas e pouco protegidas, não retêm
nutrientes nem água que promovam o desenvolvimento de espécies vegetais (Silva et
al., 2006, p.31), a referida fertilização poderia ser substituída com vantagem pela
implementação de mais espécies enriquecedoras do solo como a tremocilha (Lupinus
luteus L.) ou a ervilhaca (Vicia sativa L.)). Nas sementeiras efetuadas nos últimos
tempos tem-se recorrido ao jacinto de água (Eichhornia crassipes (Mart.) Solms-Laub.
como fertilizante natural.
293
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
menor altitude, será maior do que no topo (Arbel et al., 2005). E já se verificou
anteriormente que esses locais de menor altitude são os que promovem melhor
desenvolvimento do coberto arbóreo, com exclusão dos locais com períodos de
encharcamento.
Muitos destes locais de encharcamento encontram-se, como foi referido, nas
depressões interdunares. Outros, porém, encontram-se junto às linhas de água onde a
florestação é utilizada como barreira de proteção da rede hidrográfica, contribuindo para
a fixação de areias e evitando o assoreamento destas.
294
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
295
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
296
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
297
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
através de actos conformados às características dessa flora e dessa fauna. (…) o centro
(…) não está a paisagem, mas sim na força que têm todos os elementos que a integram,
abióticos e bióticos, acrescidos de outros elementos geofísicos (…,clima,…). Isto é, o
que …interessa é o ambiente como primordial fator condicionante da cultura, ou seja,
da maneira de agir e da maneira de pensar da população da Gândara”, ao que o autor
acrescenta “…assim como de todos aqueles que usufruam desses ambientes naturais,
mesmo não sendo gandareses”.
---------------------------------------------
Com a realização desta dissertação pretendeu-se contribuir para um melhor
conhecimento dos espaços naturais do Perímetro Florestal das Dunas de Mira, nas suas
relações com o desenvolvimento florestal e, através das propostas aqui efetuadas, dar
um contributo para eventuais futuros projetos de ordenamento, e para a manutenção
dessa identidade cultural que também assenta nos espaços verdes locais.
É necessário criar condições para o desenvolvimento de um turismo sustentável
(Albuquerque, 2005, p.80), o que é também corroborado por Miranda (2012, p.391),
acrescentando o facto de ser necessário “…valorizar todos os recursos naturais e
culturais existentes no concelho”. Os espaços naturais existentes permitem criar
condições para que o turismo deixe de ser exclusivamente sazonal e se possa distribuir
ao longo de todo o ano.
A multifuncionalidade das áreas florestais deve continuar a ser promovida, pois é
a única forma de se constituírem como suporte do desenvolvimento local e nacional
(Guiomar e Fernandes, 2011).
Depois de apresentadas as principais funções exercidas por esta mancha florestal,
formada quase exclusivamente por pinhal, depois de identificadas as características
deste ecossistema e apontadas algumas propostas, consideram-se cumpridos os
objetivos propostos no início do trabalho, e espera-se que ele seja um contributo para o
conhecimento relativo às florestas litorais.
298
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, A.C. (1990), “Os Solos na Paisagem das Dunas de Quiaios”, Cadernos
de Geografia, N.º 9, Instituto de Estudos Geográficos, Coimbra, pp. 151-162;
299
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
André, J.N.; Cunha, P.P.; Dinis, J.; Dinis, P.; Cordeiro, F., (2009),
Características geomorfológicas e interpretação da evolução do campo dunar eólico na
zona costeira entre a Figueira da Foz e a Nazaré, Publicações da Associação
Portuguesa de Geomorfólogos, volume VI, APGEOM, Braga, pp.39-44;
Arbel, Y., Yair, A. e Oz, S. (2005), “Effect of topography and water repellent
layer on the non-uniform development of planted trees in a sandy arid area (Israel)”,
Journal of Arid Environments, nr. 60, pp.67-81;
300
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Ayres, J. M., Fonseca, G., Rylands, A. B., Queiroz, H. L., Pinto, L.P.,
Masterson, D. e Cavalcanti, R. (2005), Os corredores ecológicos das florestas
tropicais do Brasil, Sociedade Civil Mamiratuá, Brasil;
Baltsavias, E., Eisenbeiss, H., Akca, D., Waser, L.T., Kuchler, M., Ginzler, C.
e Thee, P. (2007), Modeling fractional shrub/tree cover and multi-temporalbchanges
using high-resolution digital surface models and CIR-aerial images, DGPF
Tagungsband 16 – Dreiländertagung SGPBF, DGPF und OVG, Switzerland;
Barbosa, B.P. (1981), Notícia Explicativa da Folha 16-C (Vagos), Direção Geral
de Geologia e Minas, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa;
Blach. C.A., (1965), Methods of Soil Analysis, Part II, American Society of
Agronomy. Madison Wisconsin, USA;
Boulet, A. K., Alegre, S.P., Ferreira, A. e Coelho, C., (2002), Estudo dos
padrões espaciais e temporais dos processos de infiltração e evapotranspiração à escla
da vertente para vários tipos de maneio de eucaliptais, Projeto Silvaqua
(POCTI/MGS/49210/2002), Universidade de Aveiro, Escola Superior Agrária de
Coimbra;
301
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Braun, C.L., Eberts, S.M., Jones, S.A. e Harvey, G.J. (2004), Water level
variations and their effects on tree growth and mortality and on the biogeochemical
system at the phytoremediation demonstration site in Forth Worth- Texas-1996-2003,
Scientific Investigation Report, U.S. Department of the Interior, U.S. Geological
Survey;
Buczko, U., Bens, O. e Huttl, R.F. (2005), “Variability of soil water repellency
in sandy forest soils with different stand structure under Scots pine (Pinus sylvestris)
and beech (Fagus sylvatica)”, Geodema, nr. 126, pp.317-336;
Buczko, U., Bens, O. e Huttl, R.F. (2007), “Changes in soil water repellency in a
pine–beech forest, transformation chronosequence: Influence of antecedent rainfall and
air temperatures”, Ecological Engineering, nr. 31, pp 154-164;
302
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Carvalho, P., Figueira, R., Jones, M., Sérgio M. e Sim-Sim, J., (2002),
“Biodiversidade da vegetação epífita liquénica no litoral alentejano – Área de Sines”,
Portugaliae Acta Biol., Vol.20, pp.225-248;
Coelho, C. O. A., Boulet, A-K., Ferreira, A. J. D., Tomé, M., Tomé, J.A.,
Soares, P., Cortiçada, A., Páscoa, F., Salas, R. e Amaral, A. (2000), Avaliação dos
impactes das alterações climáticas sobre os recursos hídricos e a fixação de CO2 por
povoamentos florestais de crescimento rápido em Portugal, Silvaqua Project;
303
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Dekker, L. W., Ritsema, C. J., Wendroth, O., Jarvis, N., Oostindie, K., Pohl,
W., Larsson, M. e Gaudet, J.P. (1999), “Moisture distributions and wetting rates of
soils at experimental fields in the Netherlands, France, Sweden and Germany”, Journal
of Hydrology, Nr. 215, pp. 4–22;
304
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Doerr, S.H. e Thomas, A.D. (2000), “The role of soil moisture in controlling
water repellency: new evidence from forest soils in Portugal”, Journal of Hydrology, nr
231, pp.134-147;
Doerr, S.H., Shakesby, F.A. e Walsh, R.P.D. (2000). “Soil water repellency: its
causes, characteristics and hydro-geomorphological significance”, Earth-Science
Review. 51, pp. 33–65;
305
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
306
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
307
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Heneghan, L., Fatemi, F., Umek, L., Grady, K., Fagen, K. e Workman, M.
(2006), “The invasive shrub European buckthorn (Rhamnus cathartica, L.) alters soil
properties in Midwestern U.S. woodlands”, Applied Soil Ecology, nr 32, pp. 142–148,
www.elsevier.com/locate/apsoil;
308
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Holmes, T. P., Aukema, J. E., Von Holle, B., Liebhold, A. e Sills, E. (2009),
“Economic impacts of invasive species in forest: past, present and future”, Annals of
New York Academy of Science, n.º 1162, pp. 18-38;
ICNF, 2013. IFN6 – Áreas dos usos do solo e das espécies florestais de Portugal
continental. Resultados preliminares, 34 pp, Instituto da Conservação da Natureza e das
Florestas, Lisboa;
309
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Kutiel, P., Lavee, H., Segev, M. e Benyamini, Y. (1995), “The effect of fire-
induced surface heterogeneity on rainfall-runoff-erosion relationships in an eastern
Mediterranean ecosystem”, Israel, Catena, Nr. 25, pp. 77-87;
310
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Lourenço, L., Nunes, A., Rebelo, F. (1994), “Os grandes incêndios florestais
registados em 1993 na fachada costeira ocidental de Portugal Continental”, Territorium
I-Revista de geografia física aplicada no ordenamento do território e gestão de riscos
naturais, Minerva, Coimbra, pp.43-61.
Marchante, E., Kjoller, A., Struwe, S. e Freitas, H. (2008), Soil recovery after
removal of the N2-fixing invasive Acacia longifolia: consequences for ecosystem
restoration, Original paper, Biol invasions, Springer Science+Business Media B.V.;
311
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
312
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Milheirão, V. (2009), Histórias Mirenses, Edição Jornal Voz de Mira, Mira, p.17;
Miranda, M. (2008), Mira nos séculos XVIII e XIX, Edição do autor com apoio
da Csa do Povo de Mira, Mira;
313
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Pais, J., Pais, C., Pereira, V. e Barbosa, B. (1999), “Areias de Vale de Santarém
– Estratigrafia e Palinologia”, Ciências da Terra (Universidade Nova de Lisboa), nr. 13,
pp.23-34;
Páscoa, F., Fidalgo, B., Bento, J., Marques, C. e Ribeiro, T. (1997), Estudo da
Floresta da Região Centro: Proposta para o seu Ordenamento (Concelho de Arganil,
Comissão de Coordenação da Região Centro, Coimbra;
314
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
315
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Rasool, N. (2011), Effect of Some Alien Invasive Plant Species on Soil Microbial
Structure and Function, Thesis Submitted to the University of Kashmir in fulfillment of
the requirements for the award of Doctor of Philosophy in Botany, Department of
Botany, Faculty of Biological Sciences, University of Kashmir;
316
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
317
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Santos, A., Teixeira, A., Anjos, O., Simões, R., Nunes, L., Machado, J. S. e
Tavares, M. (2007), “Utilização Potencial do Lenho de Acacia melanoxylon - a Crescer
em Povoamentos Puros ou Mistos com Pinus pinaster – pela Industria Florestal
Portuguesa”, Silva Lusitana 15(1), Estação Florestal Nacional, Lisboa, pp57-77;
318
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Silva, M. A., Lima, P. G., Luz, L. N., Araújo, M. E. T., Oliveira, I.G. e Lima,
F. G, (2006), “Plantas herbáceas fixadoras de dunas – Extremoz, Rio Grande do Norte-
Brasil”, Cadernos de Cultura e Ciência, Vol.1, Nr.1, Universidade Regional do Cariri,
Brasil;
Sousa, E., Naves, P., Bonifácio, L. e Inácio, L. (2011), Boas práticas fitossani
tárias em pinhal, Edição Centro PINUS – Associação para a valorização da floresta do
Pinho;
319
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Tardif, L. M., Basara, J. B., Kustas, B. e Illston, B. G. (2007), The Spatial and
Temporal Variability of the Evaporative Fraction and Soil Moisture During a Period of
Historic Precipitation, Oklahoma Climatological Survey, University of Oklahoma;
Urbanek, E., Hallett, P., Feeney, D. e Horn, R. (2007), “Water repellency and
distribution of hydrophilic and hydrophobic compounds in soil aggregates from
different tillage systems”, Geoderma, nr.140, pp. 147-155;
320
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Viegas, D. X., Lourenço, L., Neto, L. P. C., Pais, M. T. S., Reis, J. F., Ferreira,
J. e Almerindo, D. (1987), Análise do Incêndio Florestal ocorrido em Vagos / Mira 27
/ 29 de Julho de 1987. Relatório Técnico.G.M.F. – IF. – 8703, p.47;
Wang, Z., Wu, Q. J., Ritsema, C. J., Dekker, L. W. e Feyen, J. (2000), “Effects
of soil repellency on infiltration rate and flow instability”, Journal of Hydrology, Nr.
231–232, pp. 265–276;
321
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Carta Geológica de Portugal, Folha 16-C, Vagos (1981), Direção Geral de Geologia e
Minas, Lisboa. (1/50000)
Carta Militar de Portugal, Folha 195, Vagos, (1974), Serviço Cartográfico do Exército,
Lisboa. (1/25000)
Inventário Floresta Nacional (IFN)1, Folhas 195, 206 e 217, (1965), Direção Geral dos
Serviços Florestais e Aquícolas, Ministério da Agricultura e Pescas (período 1964-
1965), Lisboa.
Inventário Floresta Nacional 4, Folhas 195, 206 e 217, (1999), Direção Geral dos
Serviços Florestais e Aquícolas, Ministério da Agricultura e Pescas (período 1995-
1998), Lisboa. (1/25000)
Estação de receção de sinal GPS fixa de Coimbra, www.igeoe.pt. (Usada para correção
diferencial)
322
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
ANEXOS
Capítulo I
Capítulo III
323
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
Anexo I.1– Legislação que condiciona o uso e a gestão do Perímetro Florestal das Dunas de Mira
Decreto de 24 de Dezembro de 1901- Parte IV, artigos 26.º e 27.º - O Perímetro Florestal das
Dunas de Mira enquadra-se no Regime Florestal Parcial;
Portarias n.º 539 de 23 de Julho e 563 de 26 de Julho de 1997 – Criação de duas Zonas de Caça
Associativas, com uma área total de 3.520ha;
Decreto-Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de 1999 – Cria diversas Zonas de Proteção Especial;
Resolução do Conselho de Ministros n.º 83/94, de 16 de Setembro, DR 243 SÉRIE I-B de 2000-
10-20) - Ratificação no PDM de Mira, na limitação de Nitratos de origem agrícola;
324
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
325
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
* Uma vez que o caracter “sem exposição” poderia corresponder a locais de diferente desenvolvimento,
optou-se por dividi-lo em três: grande depressão interdunar, base da duna no campo de dunas e crista de
dunas, que se juntam aos flancos cardeais. A inclusão destes caracteres na variável exposição deve-se ao facto
de não ter sido contemplada nenhuma variável que contemplasse a posição das parcelas relativamente à duna.
326
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)
327