Determinantes Do Desenvolvimento Do Pinhal Bravo PDF

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Margarida Jesus Ribeiro Oliveira

Determinantes do
Desenvolvimento do Pinhal
Bravo em Áreas Dunares
(Dunas de Mira)
Dissertação de Doutoramento em Letras, na área de Geografia, especialidade
em Geografia, orientada pelos Senhores Professores Doutores António Campar
de Almeida e Manuel Fernando de Miranda Páscoa, apresentada ao departamento
de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

2014
Faculdade de Letras

Determinantes do
Desenvolvimento do Pinhal Bravo
em Áreas Dunares
(Dunas de Mira)

Ficha Técnica:
Tipo de trabalho Dissertação de Doutoramento
Título DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO DO PINHAL BRAVO EM ÁREAS
DUNARES - (DUNAS DE MIRA)
Autor Margarida Jesus Ribeiro Oliveira
Orientadores Doutor António Campar de Almeida
Doutor Manuel Fernando de Miranda Páscoa
Júri
Presidente: Doutor Luciano Fernandes Lourenço
Vogais:
Doutora Filomena Maria C. Pedrosa Ferreira Martins
Doutor Manuel Fernando Miranda Páscoa
Doutora Maria Filomena Figueiredo Nazaré Gomes
Doutor Lúcio José Sobral da cunha
Doutor António Campar de Almeida
Doutora Adélia de Jesus Nobre Nunes
Identificação do Curso Doutoramento em Letras
Área Científica Geografia
Especialidade Geografia
Data 12-03-2014
Nota Aprovada com Distinção e Louvor
O presente trabalho foi realizado com o apoio
da Fundação para a Ciência e Tecnologia,
através da Bolsa de Doutoramento com a
referência: SRFH/BD/45996/2008
Agradecimentos

Este trabalho não teria sido realizado, e não teria


tido um fim, se não tivesse a ajuda de várias
pessoas e entidades a quem deixo o meu
reconhecimento e agradecimento:

Ao meu pai, pela constante ajuda em todas as tarefas do trabalho de


campo, uma das etapas mais difíceis, mas também mais divertidas, de
realizar;

Ao Professor Doutor Fernando Páscoa, por ter aceitado ser orientador


deste trabalho e, acima de tudo, por ter sido presença constante ao
longo destes anos com todo o seu conhecimento e serenidade, pelo apoio
científico, perspetiva crítica e revisão cuidada do texto;

Ao Professor Doutor António Campar de Almeida, por ter aceitado ser


orientador deste trabalho, por me acompanhar desde o segundo ano da
licenciatura em Geografia, pelo apoio científico, perspetiva crítica e
revisão cuidada do texto;

À Autoridade Florestal Nacional, por permitir a realização do trabalho


de campo nas Dunas de Mira;

À Fundação para a Ciência e Tecnologia, pela Bolsa de Doutoramento


atribuída para a realização deste trabalho;

Ao Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade e à


Escola Superior Agrária de Coimbra por permitirem a utilização de
instalações e de equipamentos;

Ao Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade


de Coimbra e ao Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do
Território por permitirem a utilização de instalações e de
equipamentos;

Ao Professor Doutor Manuel Madeira, do Instituto Superior de


Agronomia, pela ajuda na seleção de parcelas para efetuar análises de
solos, assim como na definição dos elementos de solos a analisar;

À Professora Doutora Filomena Gomes, pela sua constante


disponibilidade e pela ajuda indispensável e incansável no tratamento
estatístico;

Ao Professor Doutor Alexandre Silva, Professor de Estatística no


Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra, pela
sua grande ajuda na organização do capítulo de Análise de Resultados
e na seleção de métodos e testes estatísticos a utilizar para este
estudo;

À Mestre Carla Ferreira, Engenheira do Ambiente do Centro de Estudos


de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade, pela ajuda na seleção da
metodologia utilizada na medição da humidade do solo e da hidrofobia;

À Mestre Paula Cristina Ferreira, Engenheira Florestal da Câmara


Municipal de Mira, pela informação e pelo apoio disponibilizados ao
longo de todo o trabalho;
À Engenheira Cláudia João, ao Professor Doutor José Aranha, à
Engenheira Oriana Afonso e ao Mestre Albano Figueiredo por me
ensinarem e ajudarem na utilização dos SIG;

À Engenheira Anabela Diogo e ao Sr. Ulisses Diogo por me ensinarem a


trabalhar com o AutoCAD e pela enorme ajuda na elaboração dos perfis
transversais dos transectos em estudo;

À Professora Doutora Anabela Ramos pela ajuda na elaboração da


cartografia;

Ao Engenheiro Carlos Ribeiro, pela grande ajuda na definição da


metodologia de determinação da profundidade da toalha freática;

À Professora Doutora Carmo Magalhães por ter permitido a realização


das análises de solos no Laboratório de solos da Escola Superior
Agrária de Coimbra e por ter ajudado, de forma determinante,
juntamente com o Doutor Manuel Madeira, na seleção de locais onde
realizar análises de solos, assim como nos elementos de solos a
analisar;

À Mestre Leonor Pato e Engenheira Ana Frias, pelo imprescindível


apoio dado durante todo o período em que realizei as análises de
solos;

À Professora Doutora Carmo Lopes, por ter permitido a realização das


tarefas de identificação de espécies vegetais no Laboratório de
Botânica da Escola Superior Agrária de Coimbra;

Ao Mestre José Maia pela enorme ajuda dada na identificação das


espécies vegetais das áreas dunares;

Aos senhores guardas florestais que me acompanharam no campo,


colaborando com preciosas informações e curiosidade acerca do
trabalho, bem como pela segurança transmitida;

Ao Diretor do Agrupamento de Escolas de Briteiros, Dr. Fernando


Silva, por autorizar a Licença Sabática para realização do trabalho
prático e elaboração da base de dados;

A todos os meus familiares que ajudaram na realização do trabalho de


campo, em especial ao Paulo Jorge;

Às professoras Fernanda Paula Silva e Ana Sílvia Laranjeiro pela


leitura e correção de textos;

A todos os que me esqueci de aqui mencionar e que me


ajudaram,… se lerem estes agradecimentos fiquem com a
certeza que sei que esta lista é bem maior!
Resumo

As dunas litorais são áreas de grande pressão humana onde é difícil encontrar um
equilíbrio entre interesses económicos, sociais e ambientais. No passado, a florestação
do litoral, que já pôs em prática os métodos modernos de coabitação de espécies nativas
e exóticas, no sentido de promover o referido equilíbrio, foi a forma mais eficaz de
controlar o avanço das dunas para o interior. No entanto, esta florestação pode diminuir
a variedade das espécies dunares, uma vez que o crescimento do estrato arbóreo impede,
por vezes, o desenvolvimento dos estratos mais baixos, típicos de áreas mais
iluminadas. Feita a arborização das dunas na primeira metade do século passado, pode
agora verificar-se que o pinhal então instalado tem diferentes expressões de
desenvolvimento. Observam-se, em áreas muito próximas, estações com muito bom
desenvolvimento e outras em que o pinhal só muito dificilmente sobrevive. Foi a
procura da razão para estas diferenças que orientou este trabalho.
Os fatores analisados foram os relativos: (1) aos elementos de solo (pH, matéria
orgânica, fósforo, potássio, humidade e hidrofobia); aos (2) elementos de fisiografia
(altitude, diferença para o mínimo de altitude do transecto, profundidade da toalha
freática, exposição e distância ao mar) e (3) aos elementos do subcoberto vegetal
(riqueza específica, percentagem da espécie mais representativa do subcoberto vegetal,
percentagem de subcoberto total, percentagem de subcoberto arbustivo, altura média
do subcoberto arbustivo, percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo, altura
média do subcoberto herbáceo/subarbustivo, percentagem de acácias, percentagem de
líquenes, percentagem de musgos e volume aparente do subcoberto vegetal. Estes
fatores foram avaliados em nove transectos correspondentes a diferentes unidades
espaciais. O seu efeito no desenvolvimento do pinheiro (diâmetro à altura do peito,
altura média, densidade e altura dominante) foi estudado através do estabelecimento
dos testes estatísticos considerados adequados (testes Anova, testes de Tukey, testes de
Friedman, coeficientes de correlação bivariada de Pearson, coeficientes de regressão
linear múltipla, análise de componentes principais e análise de Clusters) (Field, 2005;
Grobe, 2005; Mota, 2007; Vilelas, 2009; Sato, 2011).
As correlações de Pearson e a regressão linear múltipla mostram que o
desenvolvimento do pinhal está significativamente relacionado de forma positiva com o
subcoberto arbustivo (altura e percentagem), com a percentagem de acácias, com a
percentagem de musgos, e com a hidrofobia em outubro. Está, ainda, negativamente

I
relacionado com a riqueza específica, o subcoberto herbáceo (altura e percentagem), a
percentagem de líquenes, a profundidade da toalha freática, a altitude, a diferença para
a altitude mínima do transecto, a exposição, a distância ao mar, o pH, o P2O5, e o K2O.
A análise de componentes principais, confirmada pela de clusters, explica entre
57,07% e 69,5% da variância total. O pinhal apresenta coeficientes: (1) positivos – com
a percentagem de acácias, o subcoberto arbustivo (altura e percentagem), o volume
aparente do subcoberto vegetal; (2) negativos – com a altitude, a percentagem da
espécie mais abundante do subcoberto vegetal, a percentagem de subcoberto total, o
pH, o P2O5 e o período húmido (coeficientes >0,70). A profundidade da toalha freática
e o K2O apresentam, consoante o método estatístico utilizado, resultados que são, por
vezes, contraditórios.
A matéria orgânica só apresenta alguns resultados consideráveis no último
método estatístico utilizado, a análise de clusters.
Os locais de menor altitude, menor profundidade da toalha freática e menor pH
são os que se mostraram mais favoráveis ao crescimento arbóreo. Estas árvores
realizarão elevados consumos do P2O5 e do K2O disponíveis.
Este estudo poderá ser útil no apoio a planos de ordenamento desta área,
indicando quais os locais favoráveis à manutenção do pinheiro bravo e identificando
aqueles onde será conveniente a instalação de outras espécies.

Palavras-chave: litoral, dunas, pinheiro bravo, fisiografia, solos, subcoberto


vegetal.

II
Abstract

Coastal sand areas are submitted to a huge human pressure. It’s all about
balancing economical, social and environmental interests. In the past, forestation has
already set into practice co-habitation trendy methods of native and exotic species,
aiming at the previously stated balance promotion, as the most efficient form to prevent
inward dune advances. Nevertheless, this one may not decrease the wide scope of dune
sorts, since that tree spreading sometimes forestalls the development of lower layers,
typical of brighter areas. Once having the tree planting completed, during the first half
of the previous century, it can be now checked that the maritime pine stands by then
settled reveals different developing expressions. In very close areas, sections of good
growth may be observed while in others only with difficulty does the maritime pines
survive. The aim of this research was, therefore, the search for such differences
emergence.
The analyzed variables were related with (1) soil elements (pH, organic matter,
phosphorus, potassium, soil moisture and hydrophobia); (2) elements of physiography
(altitude, the difference to the minimum transect altitude, the deepness of the phreatic
layer, the exposure and distance to the sea) and (3) understory - specific richness,
percentage of most representative species of the vegetal understory, percentage of total
understory, percentage of bush understory, its average height, percentage of herb sub-
bush understory, its average height, percentage of acacia trees, percentage of lichens,
moss percentage and apparent volume of vegetal understory. These variables have been
assessed in nine transects, corresponding to different special units. Their effect in the
growth of the maritime pine trees (diameter to the chest level, average height, density
and dominant height) has been studied through the application of statistical tests
considered adequate - Anova, Tukey and Friedman tests, coefficient of correlation of
Pearson, factors of multiple regression, analysis of principal components and cluster
analysis (Field, 2005; Grobe, 2005; Mota, 2007; Vilelas, 2009; Sato, 2011).
These statistical analysis shows that the growth of the maritime pine trees is
significantly correlated, in a positive way, with the bushy undercover (height and
percentage), with the percentage of acacias, the percentage of mosses, and the
hydrophobia in October. It’s, yet, negatively connected with the specific richness, the
herbaceous understory (height and percentage), the rate of lichens, the profundity of the

III
phreatic layer, the altitude, the difference to the minimal altitude of the transect, the
exposure, the seashore distance, the pH, the P2O5, and the K2O.
The analysis of the principal components, confirmed by the cluster analysis,
explains between 57,07% and 69,5% of the total variability. The explanation of the
growth of the maritime pine trees display coefficients: (1) positive ones - percentage of
acacias, bushy undercover (height and percentage), apparent volume of the vegetal
undercover; (2) negative ones – altitude, percentage of most frequent vegetal
undercover species, percentage of total undercover, pH, P2O5, wet season (coefficients
> 0,70). The depth of the phreatic layer and K2O reveal, having in mind employed
statistic method, results sometimes contradictory. Organic material only brings out
some considerable outcome in the last employed method, the cluster analysis.
Areas in lower altitude, lower values of the depth of the phreatic layer and of pH,
are the ones that reveal themselves as most likely towards the growth of trees. These
trees will accomplish high consumption of the P2O5 and K2O available levels.
This study will surely turn itself useful in the support of the future management
plans on this area, indicating the most suitable places for the maintenance of the
maritime pine and identifying those where the installing of other may be perceived as
convenient.

Key-words: coastal areas, dunes, maritime pine, physiography, soils, understory

IV
ÍNDICE GERAL

Resumo I
Abstract III
Simbologia IX
ÍNDICE DE FIGURAS XI
ÍNDICE DE TABELAS XIV

CAPÍTULO I - APRESENTAÇÃO 1

I.1 INTRODUÇÃO 2
I.1.1 Objetivos 6
I.1.2 Localização da área de estudo 8
I.1.3 Metodologia geral 11

I.2 ESTADO DA ARTE 13


I.3 O PERÍMETRO FLORESTAL DAS DUNAS DE MIRA:
Breve descrição da sementeira e da evolução do coberto vegetal até à
atualidade 24
I.3.1 Início do séc. XX 27
I.3.2 Da década de 50 até à década de 90 do século XX 34
I.3.3 Da década de 90 de século XX até à atualidade 37

CAPÍTULO II - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 39

II.1 ENQUADRAMENTO FÍSICO 40


II.1.1 Clima 41
II.1.1.1 Bioclimatologia 53
II.1.2. Evolução da linha de costa onde se insere a área de estudo (Ria de
Aveiro) 56
II.1.3 Geologia e Litologia 76
II.1.4 Geomorfologia e processos morfogenéticos 79
II.1.4.1 Praia 82
II.1.4.2 Cordão dunar 84
II.1.4.3 Depressão pós-duna frontal (local de estudo) 88
II.1.4.4 Dunas interiores (local de estudo) 89
II.1.5 Hidrografia 92
II.1.6 Solos 98
II.1.7 Vegetação 101

II.2 ENQUADRAMENTO HUMANO 109


II.2.1 Evolução da população 110
II.2.2 Setores de atividade 112

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ESPECÍFICA 114

III.1 INSTALAÇÃO DOS TRANSECTOS E DAS PARCELAS 116

V
III.2 ESTRATO ARBÓREO 117
III.2.1 Diâmetro à altura do peito (DAP) 119
III.2.2 Altura média 120
III.2.3 Altura dominante 123
III.2.4 Densidade 123

III.3 FISIOGRAFIA 124


III.3.1 Altitude 125
III.3.1.1 Modelo digital de terreno (MDT) 128
III.3.2 Diferença para a altitude mínima do transecto 129
III.3.3 Profundidade da toalha freática 130
III.3.3.1 Elaboração de perfis dos transectos 132
III.3.4 Distância ao mar 136
III.3.5 Exposição 137

III.4 SUBCOBERTO VEGETAL 139


III.4.1 Riqueza específica 143
III.4.2 Espécie mais representativa (dominante) do subcoberto vegetal 143
III.4.3 Percentagem de subcoberto total 143
III.4.4 Percentagem de subcoberto arbustivo 144
III.4.5 Altura média do subcoberto arbustivo 144
III.4.6 Percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo 144
III.4.7 Altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo 145
III.4.8 Percentagem de área coberta por acácias 145
III.4.9 Percentagem de musgos 147
III.4.10 Percentagem de líquenes 148
III.4.11 Volume aparente de subcoberto vegetal 150

III.5 SOLOS 151


III.5.1 Seleção de parcelas para efetuar análises de solos 154
III.5.2 Recolha das amostras no campo 158
III.5.3 Leituras de variáveis no campo 159
III.5.3.1 Hidrofobia 159
III.5.3.2 Humidade do solo 163
III.5.4 Análises laboratoriais 166
III.5.4.1 pH 167
III.5.4.2 Matéria orgânica 169
III.5.4.3 Macronutrientes P2O5 e K2O assimiláveis em solos “ar livre” 172

CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS 175

IV.1 COBERTO ARBÓREO: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO E


CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A
TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 178
IV.1.1 Altura média 178
IV.1.2 Diâmetro à altura do peito 179
IV.1.3 Altura dominante 181
IV.1.4 Densidade 182

VI
IV.1.5 Relação entre os diferentes elementos do coberto arbóreo
(correlações e regressão linear múltipla) 183

IV.2 FISIOGRAFIA: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO E


CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A
TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 185
IV.2.1 Altitude 186
IV.2.2 Diferença para a altitude mínima do transecto 187
IV.2.3 Profundidade da toalha freática 189
IV.2.4 Distância ao mar 190
IV.2.5 Exposição 191
IV.2.6 Relação entre os diferentes elementos do grupo fisiografia
(correlações e regressão linear múltipla) 193

IV.3 SUBCOBERTO VEGETAL: TENDÊNCIA CENTRAL E


DISPERSÃO E CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS
RELATIVAMENTE A TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 197
IV 3.1 Riqueza específica 197
IV 3.2 Percentagem da espécie mais representativa do subcoberto vegetal 198
IV 3.3 Percentagem de subcoberto total 200
IV 3.4 Percentagem de subcoberto arbustivo 201
IV 3.5 Altura média do subcoberto arbustivo 202
IV 3.6 Percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo 204
IV 3.7 Altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo 205
IV 3.8 Percentagem de área coberta por acácias 206
IV 3.9 Percentagem de musgos 207
IV 3.10 Percentagem de líquenes 209
IV 3.11 Volume aparente de subcoberto vegetal 211
IV.3.12 Relação entre os diferentes elementos do subcoberto vegetal
(correlações e regressão linear múltipla) 212

IV.4 ELEMENTOS DO SOLO: TENDÊNCIA CENTRAL E DISPERSÃO


E CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A
TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 216
IV.4.1 pH do solo 217
IV.4.2 Matéria orgânica 218
IV.4.3 Fósforo 221
IV.4.4 Potássio 223
IV.4.5 Hidrofobia 225
IV.4.6 Humidade do solo 227
IV.4.7 Relação entre os diferentes elementos de solos nas suas diferentes
profundidades 234

IV. 5 RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE O COBERTO ARBÓREO E


OS RESTANTES GRUPOS DE VARIÁVEIS ANALISADOS 242
IV.5.1 Relação entre o coberto arbóreo e o subcoberto vegetal 242
IV.5.2 Relação entre o coberto arbóreo e a fisiografia 246
IV.5.3 Relação entre o coberto arbóreo e os elementos de solos 251
IV.5.4 Relação entre coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia 258

VII
IV.5.5 Análise de componentes principais e de clusters sobre as variáveis
dos diferentes grupos estudados 261
IV.5.5.1 Coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia 262
IV.5.5.2 Coberto arbóreo e solos 265
IV.5.5.3 Coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos 267

IV. 6 RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE O SUBCOBERTO


VEGETAL E OS RESTANTES GRUPOS DE VARIÁVEIS 271
IV.6.1 Relação entre o subcoberto vegetal e a fisiografia 271
IV.6.2 Relação entre o subcoberto vegetal e os solos 273
IV.6.3 Relação entre o subcoberto, fisiografia e solos em simultâneo 277

IV.7 RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE FISIOGRAFIA E SOLOS 278

CAPÍTULO V - SÍNTESE DOS RESULTADOS ESTATÍSTICOS E


CONSIDERAÇÕES FINAIS 283

V.1 SÍNTESE DOS RESULTADOS ESTATÍSTICOS 284

V.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS 294

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 299

CARTOGRAFIA E FOTOGRAFIA DE APOIO 322

ANEXOS 323

I.1 Legislação que condiciona o uso e a gestão do Perímetro Florestal


das Dunas de Mira 324
III.1 Ficha de campo 325
III.2 Valores atribuídos às diferentes exposições solares 326
III.3 Esquema representativo das leituras de hidrofobia em cada parcela 327

VIII
Simbologia
(e respetivas unidades de medida)

Alguma da simbologia utilizada na apresentação do trabalho é convencional, outra


foi adaptada e decorreu de limitações impostas, por exemplo, pelo software informático
utilizado.

Conceito Simbologia Unidade

Acácia Ac
Altitude Alt m
Altura dominante HDom m
Altura média H m
Altura Média do Subcoberto
Herbáceo/subarbustivo HSbcHerb m
Altura média do subcoberto arbustivo HSbcArbs m
Análise de componentes principais ACP
Análise de clusters AC
Análise de regressão linear múltipla ARLM
Análise de regressão linear univariada ARLU
Diâmetro à altura do peito DAP m
Diferença para a altitude mínima
do transecto ΔmAlt m
Dimensão da amostra n -
Distância ao mar de cada parcela DistMar m
Densidade Dens. -
Percentagem da espécie mais
representativa do subcoberto vegetal %EspAbSbc %
Exposição da parcela Exp -
Hectare Ha -
Matéria orgânica MO %
Modelo digital de terreno MDT -
Metros m -
Número n.º -

IX
Óxido de Potássio K2O mg/1000g
Pentóxido de Fósforo P2O5 mg/1000g
Percentagem de acácias %Ac %
Percentagem de líquenes %Líq %
Percentagem de Subcoberto
Herbáceo/subarbustivo %SbcHerb %
Percentagem de musgos %Musgo %
Percentagem de subcoberto arbustivo %SbcArbst %
Percentagem de subcoberto total %SbcTotl -
Percentagem % -
Período de reposição de humidade PrdRpHum -
Período húmido PrdHum -
Período seco PrdSec -
Hidrofobia ou repelência em outubro RepOut -
Hidrofobia ou repelência em dezembro RepDez -
Pinheiro bravo Pb -
Profundidade da toalha freática PrTFreat m
Riqueza específica RiqEsp -
Vegetal Veg -
Volume aparente do subcoberto vegetal VlApSbcVeg -

X
ÍNDICE DE FIGURAS

CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO

Figura I.1 Diferentes expressões de desenvolvimento vegetal do pinhal 6


Figura I.2 Localização da área de estudo 8
Figura I.3 Localização dos transectos com base no Inventário Florestal
Nacional 12
Figura I.4 Vegetação dunar semeada no início do século XX 30
Figura I.5 Sementeira das Dunas 32
Figura I.6 As Lagoas 34
Figura I.7 Diferentes densidades de povoamentos 38
Figura I.8 Manutenção das valas 38

CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

Figura II.1 Gráficos termopluviométricos de Mira e das estações


envolventes (Aveiro e Figueira da Foz) 43
Figura II.2 Número de dias com precipitações superiores a 0.1 e 10mm 44
Figura II.3 Variação das temperaturas máximas e mínimas ao longo do
ano 45
Figura II.4 Número de dias com temperaturas inferiores a 0 e superiores
a 25ºC 45
Figura II.5 Número de dias com ocorrência de geada 46
Figura II.6 Número de dias com ocorrência de nevoeiro 46
Figura II.7 Representação do número de observações mensais (em %)
para cada rumo de vento 47
Figura II.8 Representação da velocidade média mensal e por rumo do
vento (em km/h) 47
Figura II.9 Representação da evapotranspiração potencial e real, nas
estações analisadas 48
Figura II.10 Representação do excesso e deficiência de água, nas
estações analisadas 49
Figura II.11 Clima em Mira em 1961-88 49
Figura II.12 Evolução da Ria de Aveiro 57
Figura II.13 Fragmento do mapa de Portugal de Fernando Alvares Seco
(1560) 61
Figura II.14 Carta Náutica da Europa e Norte de África de Mateu Prunes
(1563) 62
Figura II.15 Planisfério de Angelus (1572) 63
Figura II.16 Planisfério de Angelus (1575) 63
Figura II.17 Carta Corográfica de Portugal – Anónimo (1640) (Excerto) 64
Figura II.18 Atlas da Costa de Portugal, de João Teixeira – Primeira
Carta 888 (1648) 64
Figura II.19 Atlas da Costa de Portugal, de João Teixeira – Quarta e
Quinta Carta (1648) 65
Figura II.20 Prática da Arte de Navegar, Anónimo (1673) 65
Figura II.21 Setor da Carta Regna de Portugal e Algarbiae cum
Adjacentibus Hispaniae Provincis (1762) 66

XI
Figura II.22 Mapa topográfico da Ria de Aveiro no ano de 1781 67
Figura II.23 Carte du Portugal, de Ambriose Tardieu (1802) 67
Figura II.24 Restinga de Norte para Sul, em 1874, desenvolvida a partir
do Molhe Norte da entrada da Barra 69
Figura II.25 Carta Physica de Portugal, de G. Pery (1875) 69
Figura II.26 Portugal político (anterior a 1924) 69
Figura II.27 Portugal geológico (anterior a 1924) 70
Figura II.28 Ilha da Vagueira (anterior a 1930) 70
Figura II.29 Carta topográfica de Aveiro (1904) 70
Figura II.30 Fotografia aérea da Barra de Aveiro (1933): acumulação de
areias em toda a entrada da Barra 71
Figura II.31 Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1976) 72
Figura II.32 Carta topográfica de Aveiro (1983) 72
Figura II.33 Fotografia aérea da Barra de Aveiro (1986) 73
Figura II.34 Evolução da Ria de Aveiro 74
Figura II.35 Esquemas representativos da evolução da Ria de Aveiro 74
Figura II.36 Ria de Aveiro atual (década de 90) 75
Figura II.37 Carta geológica do concelho de Mira 79
Figura II.38 Carta de declives do concelho de Mira 81
Figura II.39 Orientação das cristas das Dunas de Mira 82
Figura II.40 A situação de desequilíbrio da praia e do cordão dunar 84
Figura II.41 Degradação e posterior proteção do cordão dunar 88
Figura II.42 A situação da depressão interdunar 89
Figura II.43 Dunas interiores e processos erosivos identificados 91
Figura II.44 Rede hidrográfica do concelho de Mira 95
Figura II.45 Perfis do solo nas dunas interiores 101
Figura II.46 Espécies vegetais introduzidas pelos serviços florestais no
início do séc. XX nas dunas de Mira 108
Figura II.47 Evolução da população no concelho de Mira nas últimas
décadas 111
Figura II. 48 Evolução dos setores de atividade no concelho de Mira 113

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ESPECÍFICA

Figura III.1 Identificação das parcelas 117


Figura.III.2 Esquema da distribuição das parcelas sobre cada transecto 118
Figura III.3 Medição do DAP em diferentes situações de campo 119
Figura III.4 Medição do DAP no campo 120
Figura III.5 Medição da altura da árvore 121
Figura III.6 Medições da altura do coberto vegetal (arbóreo e arbustivo)
recorrendo ao Blume-Leiss 122
Figura III.7 Diferentes densidades arbóreas registadas no local de estudo 124
Figura III.8 Modelo Digital de Terreno da área de estudo com
sobreposição das parcelas de cada transecto 129
Figura III.9 Medição da profundidade da toalha freática no campo 131
Figura III.10(a) Perfis dos transectos - Perfil 1 a 4 133
Figura III.10(b) Perfis dos transectos - Perfis 4 a 8 134
Figura III.10(c) Perfis dos transectos - Perfil 9 135
Figura III.11 Exemplo da medição da distância de cada parcela ao mar 136

XII
Figura III.12 Diferentes expressões de subcoberto vegetal existente nas
dunas de Mira 139
Figura III.13(a) Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais
foram selecionadas as parcelas para realização das análises
de solos (a - perfis 1 a 4) 155
Figura III.13(b) Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais
foram selecionadas as parcelas para realização das análises
de solos (b - perfis 5 a 8) 156
Figura III.13(c) Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais
foram selecionadas as parcelas para realização das análises
de solos (c - perfil 9) 157
Figura III.14 Recolha de amostras de solo no campo para posterior análise
em laboratório 158
Figura III.15 Esquema representativo das leituras de humidade do solo
efetuadas em cada perfil 165
Figura III.16 Preparação das amostras no laboratório de solos 166
Figura III.17 Determinação do pH em H2O pelo método potenciométrico 169
Figura III.18 Processo de determinação da matéria orgânica por (a)
queima direta de carbono e pelo (b) método de Tinsley 170
Figura III.19 Processo de determinação de K2O e P2O5 173

CAPÍTULO IV - ANÁLISE DE RESULTADOS

Figura IV.1 Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo,


subcoberto vegetal e fisiografia, para os fatores 1 e 2 263
Figura IV.2 Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo,
subcoberto vegetal e fisiografia, para os fatores 1 e 3 263
Figura IV.3 Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo,
subcoberto vegetal e fisiografia 264
Figura IV.4 Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e dos
solos, para os fatores 1 e 2 266
Figura IV.5 Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo e de
solos 266
Figura IV.6 Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo,
subcoberto vegetal, fisiografia e solos para os fatores 1 e 2 268
Figura IV.7 Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo,
subcoberto vegetal, fisiografia e solos para os fatores 1 e 3 268
Figura IV.8 Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo,
subcoberto vegetal, fisiografia e solos 269
Figura IV.9 Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e de
solos para o fatores 1 e 2 270
Figura IV.10 Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e de
solos para os fatores 1 e 3 270

XIII
ÍNDICE DE TABELAS

CAPÍTULO I - APRESENTAÇÃO

CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

Tabela II.1 Balanço hidrológico de Thornthwaite na Estação


Meteorológica de Aveiro (Barra) 51
Tabela II.2 Balanço hidrológico de Thornthwaite na Estação
Meteorológica da Figueira da Foz 51
Tabela II.3 Balanço hidrológico de Thornthwaite na Estação
Meteorológica de Mira 52
Tabela II.4 Termotipos verificados nas estações de Aveiro/Barra, Mira e
Figueira da Foz 54
Tabela II.5 Índice de Continentalidade das Estações de Aveiro/Barra,
Mira e Figueira da Foz 54
Tabela II.6 Ombrotipos das estações de Aveiro/Barra, Mira e Figueira
da Foz 54
Tabela II.7 Classificação Bioclimática de Rivas-Martinez 55

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ESPECÍFICA

Tabela III.1 Tabela de Abundância-Dominância de Braun-Blanquet 142


Tabela III.2 Determinação das concentrações necessárias para realização
do teste MED (Molarity of Ethanol Droplet) 161
Tabela III.3 Grau de hidrofobia dos solos para infiltração da gota de água
até 3 segundos 162
Tabela III.4 Grau de hidrofobia dos solos, para infiltração da gota de
água até 5 segundos 162
Tabela III.5 Classificação do solo segundo a variação do seu pH 167
Tabela III.6 Classificação dos solos segundo os resultados obtidos para a
matéria orgânica 171
Tabela III.7 Classificação dos solos segundo os resultados obtidos para o
P2O5 e K2O 174

CAPÍTULO IV - ANÁLISE DE RESULTADOS

Tabela IV.1 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altura


média 178
Tabela IV.2 Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do
coberto arbóreo 179
Tabela IV.3 Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao diâmetro
à altura do peito 180
Tabela IV.4 Resultados do teste de Tukey relativamente ao diâmetro à
altura do peito 180
Tabela IV.5 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altura
dominante 181
Tabela IV.6 Resultados do teste de Tukey relativamente à altura
dominante 182

XIV
Tabela IV.7 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à densidade 182
Tabela IV.8 Resultados do teste de Tukey relativamente à densidade 183
Tabela IV.9 Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para os
elementos do coberto arbóreo 184
Tabela IV.10 Regressão linear múltipla entre a altura dominante e as
restantes variáveis de coberto arbóreo 184
Tabela IV.11 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altitude de
cada parcela 186
Tabela IV.12 Resultados do teste de Tukey relativamente à altitude de cada
transecto 187
Tabela IV.13 Parâmetros estatísticos analisados para a diferença para a
altitude mínima do transecto 188
Tabela IV.14 Resultados do teste de Tukey relativamente à diferença para
a altitude mínima do transecto 188
Tabela IV.15 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à
profundidade da toalha freática obtida a partir do perfil
topográfico e de leitura de campo 189
Tabela IV.16 Resultados do teste de Tukey relativamente à profundidade
da toalha freática 190
Tabela IV.17 Parâmetros estatísticos analisados para a distância ao mar de
cada parcela 190
Tabela IV.18 Resultados do teste de Tukey relativamente à distância ao
mar de cada parcela 191
Tabela IV.19 Parâmetros estatísticos analisados para a exposição de cada
parcela 192
Tabela IV.20 Resultados do teste Tukey relativamente à exposição de cada
parcela 193
Tabela IV.21 Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para os
elementos fisiográficos 194
Tabela IV.22 Regressão linear multivariada entre a altitude e os restantes
elementos fisiográficos 195
Tabela IV.23 Regressão linear multivariada entre a profundidade da toalha
freática e os restantes elementos fisiográficos 196
Tabela IV.24 Regressão linear multivariada entre a posição relativamente
ao mínimo de altitude de cada transecto e os restantes
elementos fisiográficos 196
Tabela IV.25 Parâmetros estatísticos analisados para a riqueza específica
do subcoberto vegetal 197
Tabela IV.26 Resultados do teste de Tukey relativamente à riqueza
específica do subcoberto vegetal 198
Tabela IV.27 Parâmetros estatísticos analisados para a espécie mais
representativa do subcoberto vegetal 199
Tabela IV.28 Resultados do teste Tukey relativamente à percentagem
ocupada pela espécie mais representativa do subcoberto
vegetal 199
Tabela IV.29 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
subcoberto total 200
Tabela IV.30 Resultados do teste de Tukey relativamente percentagem de
ocupação de subcoberto total em cada parcela 201

XV
Tabela IV.31 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
subcoberto arbustivo do subcoberto vegetal 201
Tabela IV.32 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de subcoberto arbustivo em cada parcela 202
Tabela IV.33 Parâmetros estatísticos analisados para a altura média do
subcoberto arbustivo do subcoberto vegetal 203
Tabela IV.34 Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do
subcoberto arbustivo em cada parcela 203
Tabela IV.35 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
cobertura de subcoberto herbáceo/subarbustivo do
subcoberto vegetal 204
Tabela IV.36 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de subcoberto herbáceo/ subarbustivo em cada
parcela 204
Tabela IV.37 Parâmetros estatísticos analisados para a altura média do
subcoberto herbáceo/ subarbustivo em cada parcela 205
Tabela IV.38 Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do
subcoberto herbáceo/subarbustivo em cada parcela 206
Tabela IV.39 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
acácias 207
Tabela IV.40 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação da acácia em cada parcela 207
Tabela IV.41 Parâmetros estatísticos analisados a percentagem de musgos
presentes no subcoberto vegetal 208
Tabela IV.42 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de musgos em cada parcela 209
Tabela IV.43 Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de
líquenes do subcoberto vegetal 210
Tabela IV.44 Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem
de ocupação de líquenes em cada parcela 210
Tabela IV.45 Parâmetros estatísticos analisados para o volume aparente do
subcoberto vegetal total 211
Tabela IV.46 Resultados do teste de Tukey relativamente ao volume
aparente de subcoberto vegetal total em cada parcela 212
Tabela IV.47 Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para as
variáveis de subcoberto vegetal analisadas 214
Tabela IV.48 Regressão linear múltipla entre o volume aparente de
subcoberto vegetal e os restantes elementos de subcoberto 215
Tabela IV.49 Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao pH em
H2O 218
Tabela IV.50 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à matéria
orgânica 220
Tabela IV.51 Resultados do teste de Tukey relativamente à matéria
orgânica a 20 e 30cm de profundidade 221
Tabela IV.52 Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao P2O5 222
Tabela IV.53 Resultados do teste de Tukey relativamente ao P2O5 a 20cm
de profundidade 223
Tabela IV.54 Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao K2O 224
Tabela IV.55 Resultados do teste de Tukey relativamente ao K2O a 10 e a
20cm de profundidade 225

XVI
Tabela IV.56 Frequências relativas para a hidrofobia do solo registada em
outubro 226
Tabela IV.57 Resultados do teste de Tukey relativamente à hidrofobia em
outubro e em dezembro 227
Tabela IV.58 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo registados a 10cm de profundidade 229
Tabela IV.59 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo registados a 20cm de profundidade 230
Tabela IV.60 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo registados a 30cm de profundidade 231
Tabela IV.61 Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade
do solo para os valores médios obtidos das três
profundidades registadas 232
Tabela IV.62 Média da humidade do solo registada nos diferentes meses 233
Tabela IV.63 Resultados do teste Friedman para os diferentes elementos
de solos 235
Tabela IV.64 Coeficientes de correlação estabelecidos entre os diferentes
elementos de solo 236
Tabela IV.65 Correlações estabelecidas para os valores médios dos
elementos de solos 239
Tabela IV.66 Regressão linear multivariada entre o pHMédio e, a
MOMédia, o P2O5Médio e o K2O 240
Tabela IV.67 Regressão linear multivariada estabelecida entre o pHMédio
e, a RepOut, a MOMédia e o P2O5Médio 241
Tabela IV.68 Correlações de Pearson estabelecidas para as variáveis do
grupo do coberto arbóreo com o subcoberto 243
TabelaIV.69 Correlações de Pearson estabelecidas para as variáveis do
grupo do coberto arbóreo com as variáveis do grupo
fisiografia 247
Tabela IV.70 Regressão linear multivariada estabelecida entre a altura
dominante e os elementos de fisiografia 247
Tabela IV.71 Regressão linear multivariada estabelecida entre a altura
média e os elementos de fisiografia 248
Tabela IV.72 Regressão linear multivariada estabelecida entre o DAP e os
elementos do grupo de fisiografia 248
Tabela IV.73 Regressão linear multivariada estabelecida entre a densidade
e os elementos de fisiografia 249
Tabela IV.74 Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo do
coberto arbóreo com o grupo de solos 252
Tabela IV.75 Regressão linear multivariada entre a altura dominante e os
elementos de solo analisados em laboratório 254
Tabela IV.76 Regressão linear multivariada entre a altura média e os
elementos de solo analisados em laboratório 254
Tabela IV.77 Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do
peito e os elementos de solo analisados em laboratório 255
Tabela IV.78 Regressão linear multivariada entre a altura média e os
elementos de solos significativos na análise de regressão
efetuada aos dois grupos de elementos de solos 256

XVII
Tabela IV.79 Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do
peito e elementos de solos significativos na análise de
regressão efetuada aos dois grupos de elementos de solos 257
Tabela IV.80 Resumo dos resultados das regressões estabelecidas para os
diferentes elementos de coberto arbóreo, tendo como
variáveis dependentes as significativas das análises
anteriores 260
Tabela IV.81 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia 262
Tabela IV.82 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo e de solos 265
Tabela IV.83 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos (a) 267
Tabela IV.84 Análise de componentes principais para os elementos de
coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos (b) 269
Tabela IV.85 Correlações para as variáveis do grupo do subcoberto com o
grupo da fisiografia 272
Tabela IV.86 Regressão linear multivariada entre o volume aparente de
subcoberto vegetal e os elementos da fisiografia 272
Tabela IV.87 Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo do
subcoberto vegetal com o grupo de solos 275
Tabela IV.88 Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo da
fisiografia com o grupo de solos 279

XVIII
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

CAPÍTULO I
APRESENTAÇÃO

I.1 INTRODUÇÃO 2
I.1.1 Objetivos 6
I.1.2 Localização da área de estudo 8
I.1.3 Metodologia Geral 11

I.2 ESTADO DA ARTE 13


I.3 O PERÍMETRO FLORESTAL DAS
DUNAS DE MIRA:
Breve descrição da sementeira e da evolução
do coberto vegetal até à atualidade 24
I.3.1 Início do séc. XX 28
I.3.2 Da década de 50 à década de 90 do século
XX 34
I.3.3 Década de 90 até à atualidade 37

1
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

I.1 - INTRODUÇÃO

A biodiversidade é alvo de constantes alterações naturais e antrópicas. Os estudos


de biodiversidade estão quase sempre relacionados com a ocorrência de espécies
endémicas, mas essa tendência tem vindo a alargar-se recentemente com a integração de
novas espécies de forma sustentada de modo a não perturbarem o ecossistema
preexistente. Mas existem investigadores que consideram que o estudo da
biodiversidade vai mais além e pode, por exemplo, procurar a implantação de novas
espécies, de forma equilibrada, para que não provoquem danos no meio existente
(Pereira et al., 2009). Este é um assunto que gera alguma polémica nos meios científicos
e acerca do qual não se pretende tomar partido.
A grande sementeira realizada na primeira metade do século passado nas Dunas
de Mira teve a preocupação de colocar em coabitação espécies típicas de litorais
arenosos - como a Ammophila arenaria (L.) Link e a Corema album (L.) D. Don - e
exóticas - como o Eucalyptus globulus Labill., a Acacia melanoxylon R. Br., o Populus
sp. e o Alnus glutinosa (L.) Gaertner - com o objetivo de retirar daí o melhor proveito
para o local, para a concretização das metas estabelecidas e para a produção de recursos
(matos, sobretudo) usados então intensivamente pelas populações (Rei,1924).
Poucos conceitos têm sido tão referidos nas duas últimas décadas como o de
desenvolvimento sustentável, num consenso da necessidade da sua utilização como um
pilar da evolução global. Este conceito, delineado como uma necessidade de resposta
aos hábitos de consumo que se foram estabelecendo ao longo do século XX,
principalmente da segunda metade, emerge da constatação do forte desequilíbrio entre o
desenvolvimento e a consequente delapidação dos recursos naturais (Albuquerque,
2005).
As áreas litorais tornam-se, a nível mundial, alvo de particular preocupação por
serem áreas sujeitas a fortes pressões ambientais naturais e, portanto, frágeis, uma vez
que se tratam de locais de interface entre meios de características bastante diferenciadas.
No caso em apreço – o caso que se estuda neste trabalho - tratando-se especificamente
de litorais arenosos, com materiais não agregados, qualquer ação exterior provoca, com
facilidade, o desequilíbrio do local. Acrescido destas vulneráveis características
naturais, torna-se particularmente preocupante a pressão humana exercida sobre estas
áreas já de si tão frágeis. André et al. (2009) refere que a “zona costeira de Portugal
apresenta extensos campos dunares eólicos, em grande parte com cobertura de pinhal”,

2
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

que importa conservar. Esta cobertura de pinhal contribui para a grande mancha
nacional de pinheiro bravo que, no total, ocupa cerca de 714 000ha, o que faz dele a
terceira espécie com área mais representativa em Portugal, com 23% da área florestal
nacional, depois de ter sido ultrapassa pelo eucalipto e pelo sobreiro (ICNF, 2013).
A ideia de que o “Equilíbrio Ambiental” se torna cada vez mais frágil com a
interferência do Homem tem sido generalizada pela divulgação de exemplos concretos
de degradação ambiental. É frequente a exploração desses exemplos, esquecendo-se
alguns que contribuíram e continuam a contribuir para que esse equilíbrio se verifique,
como foi o caso do trabalho de décadas realizado pela Câmara Municipal de Mira e pela
então Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas. No seu trabalho conjunto,
desenvolvido ao longo da primeira metade do século XX no âmbito do processo de
submissão das áreas baldias ao Regime Florestal, promoveram a recuperação de uma
grande área de terrenos arenosos e pântanos, muito instáveis devido ao regime de cheias
e de ventos, assegurando a sua estabilidade e cobertura vegetal. Com a realização dos
trabalhos – drenagem, plantação, estradas e caminhos florestais - e com a progressiva
estabilidade dos terrenos instáveis assegurada, promoveram o emprego local e o
aumento e a qualidade da área de uso agrícola, dois fortes instrumentos para o
desenvolvimento local e para a melhoria das condições de vida das populações pelos
efeitos que tiveram no aumento do seu rendimento familiar. Adaptando um velho
provérbio holandês à região, pode dizer-se que “Deus fez a Terra, e o Gandarês fez a
Gândara” (Miranda, 2005).
A adaptação da ação então desenvolvida às necessidades da época foi preciosa, no
sentido em que promoveu soluções para as dificuldades da sobrevivência da população
e do controlo do meio natural. Melhorou a capacidade produtiva das áreas agrícolas
(fixação das areias, regularização do sistema hidrográfico, fornecimento de matéria
orgânica), melhorou as vias de comunicação, e criou emprego (construção da rede
hidrográfica, florestação e construção da rede viária e divisional), com o resultado
imediato de aumentar o rendimento das famílias.
A submissão das áreas baldias do Concelho de Mira ao Regime Florestal no fim
da segunda década do século XX veio permitir realizar os investimentos para os quais a
Câmara Municipal de Mira não encontrava financiamento, e assim assegurar a
estabilização de uma imensa área de baldios através da sua arborização, e a melhoria da
qualidade de vida da sua população.

3
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

É geralmente aceite localmente que foram os trabalhos pioneiros da então


Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e dos seus técnicos, apoiados pelo
Instituto Superior de Agronomia, que permitiram o sucesso da implantação das matas
nas Dunas de Mira ao longo de todo o século XX (Miranda, 2005 e 2012). É também
evidente que a população local sente um grande orgulho por esta mancha florestal, que
contribui para a classificação, sempre positiva, atribuída a esta região da Gândara, e
considera-se também que é necessário ter dela o melhor conhecimento possível, para
que, quando se tornarem necessárias intervenções, elas possam ser concretizadas de
forma sustentada e em equilíbrio com a paisagem já instalada.
As Dunas de Mira foram já, ao longo do tempo, objeto de vários estudos pontuais,
com objetivos diversos, tendo em comum a procura de melhorar o conhecimento dos
equilíbrios dos sistemas dunares e poder sustentar futuras intervenções.
O presente trabalho, que tem em consideração os resultados obtidos e as
metodologias utilizadas nesses estudos, foi realizado no Perímetro Florestal das Dunas
de Mira e teve como objetivo geral verificar as condicionantes ao desenvolvimento do
pinhal instalado pela então Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas na
primeira metade do século XX.
Quando se pensou a realização do trabalho que agora se apresenta, procedeu-se de
imediato ao planeamento das tarefas a realizar, planeamento esse que ao longo dos anos
foi sofrendo alguns ajustamentos, alterações e acrescentos e que, na sua versão final,
corresponde à estrutura apresentada nesta dissertação. Estruturou-se o trabalho num
agrupamento de conteúdos, distribuídos por cinco capítulos principais, de forma a
permitir o acompanhamento do desenrolar da totalidade do trabalho, pois a organização
é feita segundo uma distribuição cronológica das tarefas realizadas.
O primeiro capítulo (Capítulo I – Apresentação) faz a apresentação do trabalho
que foi realizado nas suas diferentes fases e o enquadramento do tema escolhido. Como
se trata de um trabalho de investigação aplicada (num local específico - o Perímetro
Florestal das Dunas de Mira), apresenta-se a localização da área de estudo, os objetivos
a alcançar e a metodologia geral a utilizar (a metodologia específica de realização de
tarefas, pela sua complexidade, tem tratamento mais aprofundado no capítulo que lhe é
dedicado). Neste capítulo são ainda apresentadas as referências bibliográficas de
trabalhos efetuados neste local e ainda uma descrição pormenorizada das Dunas de
Mira, desde a época da sua sementeira até à atualidade, bem como das utilidades que lhe
estão associadas.

4
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O capítulo seguinte (Capítulo II - Caracterização da área de estudo) é uma


caracterização pormenorizada do local sob o ponto de vista fitofísico, pois alguns destes
elementos terão uma importância fundamental no desenvolvimento vegetal das Dunas
de Mira. Assim, procede-se a uma caracterização climática da área de estudo e da área
envolvente, no sentido de inferir acerca da importância do clima para o
desenvolvimento vegetal. Apresenta-se também uma descrição da vegetação existente,
quer do ponto de vista do seu cortejo florístico quer da fitossociologia local. Os solos
são outro elemento fundamental a ter em atenção no desenvolvimento vegetal, pelo que
se efetua também uma caracterização dos solos existentes. A geologia e geomorfologia
locais, assim como a rede hidrográfica, serão outros elementos a ter em linha de conta
quando se pretendem fazer inferências no que diz respeito ao desenvolvimento vegetal.
Feita a caracterização da área sob o ponto de vista do suporte ecológico, procede-
se no capítulo seguinte (Capítulo III - Metodologia Específica) a um alinhamento das
tarefas selecionadas e realizadas para recolha das variáveis escolhidas para o estudo em
causa. Este capítulo foi organizado com o intuito de proporcionar uma ordem
cronológica da realização das tarefas adequadas ao que será mais correto do ponto de
vista ecológico. Como introdução de cada uma das tarefas realizadas aparece a
justificação da utilização dessa mesma variável sob o ponto de vista ecológico.
O Capítulo IV – Apresentação e Análise de Resultados, é a parte central do
trabalho no que diz respeito ao seu objetivo principal. Experimentam-se diferentes tipos
de análise e retiram-se conclusões acerca da importância dos elementos biofísicos na
determinação do coberto vegetal das Dunas de Mira. Trata-se de um capítulo que, do
ponto de vista científico, será, sem dúvida, o mais apelativo e onde se encontra refletida
a grande diversidade de tarefas realizadas e das possibilidades experimentadas.
Está estruturado em quatro grandes grupos de variáveis. O primeiro grupo diz
respeito às variáveis do coberto arbóreo, o segundo às do subcoberto vegetal, o terceiro
às da fisiografia, incluindo as variáveis espaciais, e o quarto grupo diz respeito às
variáveis dos solos.
A organização deste capítulo é feita, numa primeira parte, segundo os testes
estatísticos aplicados a cada grupo de variáveis. Posteriormente procede-se a uma
análise multivariada, onde se cruzam as variáveis dos diferentes grupos, no sentido de
se poder inferir quais as que terão maior importância na explicação do desenvolvimento
do coberto arbóreo local.

5
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O Capítulo V (Síntese dos Resultados Estatísticos e Considerações Finais)


apresenta um resumo dos resultados e das conclusões obtidos e, em função deles,
algumas propostas para os futuros trabalhos de planeamento e de gestão desta área
florestal.

I.1.1 – Objetivos

Como objetivo geral pode referir-se a pretensão de identificar fatores que


justifiquem a diferenciação no desenvolvimento de pinheiro bravo em áreas dunares
(figura I.1).

Figura I.1 – Diferentes expressões de desenvolvimento vegetal do pinhal

Como mais adiante se verificará (capítulo II), os solos da região onde se insere a
área de estudo, pela fixação recente das areias, são muito pobres em nutrientes.
Sabendo-se que um dos principais fatores limitantes de desenvolvimento vegetal é
precisamente o acesso a esses nutrientes, um dos grupos analisados diz respeito aos
elementos do solo mais determinantes no desenvolvimento vegetal. Estes elementos
foram selecionados com ajuda do Laboratório de Solos da Escola Superior Agrária de
Coimbra (Professora Doutora Carmo Magalhães e Eng. Carlos Ribeiro) e do Instituto
Superior de Agronomia (Professor Doutor Manuel Madeira). Pormenorizando este
objetivo geral pretende-se, efetivamente, verificar a influência, no desenvolvimento do
pinhal, da variação de alguns elementos do solo, tendo-se selecionado o pH, a matéria
orgânica (M.O.), o Fósforo (P2O5), o Potássio (K2O), a hidrofobia em outubro
(RepOut), a hidrofobia em dezembro (RepDz) e a humidade do solo (Período seco -

6
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

PrdSec, período de reposição - PrdRep, período húmido - PrdHum) para posteriormente


verificar a sua relação com o desenvolvimento dos pinheiros.
Uma vez que o desenvolvimento vegetal global, nos seus diferentes estratos,
estará intimamente relacionado e pode condicionar-se mutuamente, pretende-se também
verificar a relação que existe com o desenvolvimento do subcoberto vegetal. Procedeu-
se à sua análise, com o levantamento de informação relativamente ao subcoberto vegetal
herbáceo/subarbustivo e arbustivo. Este levantamento de informação e seleção de
variáveis foi planeado com a ajuda do Laboratório de Botânica da Escola Superior
Agrária de Coimbra (Professora Doutora Carmo Lopes e Engenheiro José Maia). As
variáveis seleccionadas para este efeito foram a riqueza específica (Riq Esp), a
percentagem da espécie mais abundante de subcoberto vegetal (% EspAbSbcb), a
percentagem de subcoberto total (%SbcTotl), a percentagem de subcoberto arbustivo
(%SbcArbs), a altura média do subcoberto arbustivo (HSbcArbs), a percentagem de
subcoberto herbáceo (%SbcHerb), a altura média do subcoberto herbáceo (HSbcHerb),
a percentagem de acácias (%Ac), a percentagem de líquenes (%Liq), a percentagem de
musgos (%Musgo) e o volume aparente do subcoberto vegetal (VlApSbcVeg). Este
elevado número de variáveis ficou a dever-se ao facto de se pretender uma
caracterização que envolvesse as diferentes possibilidades de desenvolvimento, que vão
desde o grau de cobertura à altura nos diferentes estratos, assim como à influência de
algumas espécies, como é o caso das acácias.
Em termos de distribuição espacial também se pretendem verificar as diferenças
de desenvolvimento que possam existir no que diz respeito à proximidade/afastamento
do mar (transectos 1, 2, 4, 7 e 8). No sector central desta área as dunas apresentam um
padrão geográfico extremamente bem definido, pelo que também se tentará inferir
acerca das diferenças nos diversos pontos da duna (depressão, flanco e crista) –
instalação dos transectos 3 e 9. Os transectos 5 e 6 foram instalados com o objetivo de
verificar a influência da proximidade da Barrinha (menor profundidade da toalha
freática) no desenvolvimento do pinhal. Detalhando mais uma vez o objetivo geral,
pretende-se também verificar se existe influência espacial no desenvolvimento do
pinhal, pelo que outro grupo de variáveis selecionado foi a fisiografia do local que,
embora monótona, tem as suas particularidades quando submetida a uma análise de
pormenor. Aqui, tendo em atenção as especificidades da área na análise espacial de
pormenor, selecionaram-se as variáveis: altitude (Alt, m) de cada parcela retirada do
MDT (Modelo Digital de Terreno); diferença para a altitude mínima do transecto

7
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

(ΔmAlt, m); profundidade da toalha freática (PrTFreat, m); exposição da parcela (Exp)
e distância ao mar (DistMar, m) para servirem de suporte à análise.

I.1.2 – Localização da área de estudo

A realização deste trabalho tem como base de estudo as Dunas de Mira. Mais
especificamente, o local de estudo corresponde às dunas recentes localizadas no litoral
do concelho de Mira (figura I.2).

Dunas de Mira Concelho de


Locais de estudo N Mira

Área
ardida
em
1987
Fonte: www. Igeo.pt
Dunas em 30/03/2014
de
Mira

Transecto 6
Transecto 5
Transecto 2
Transecto 1
Transecto 4
Legenda:
Transecto 9 Transecto 3 - Transectos
onde se instalaram as
Transecto 8
Transecto 7
estações estudadas

0 1Km
Fonte: Carta Militar de Portugal, folhas nº 16 e 19 na
escala 1:50000 de 1974 e 1963, respetivamente

Figura I.2 – Localização da área de estudo

No interior do concelho ficam localizadas as dunas antigas que apresentam um


ambiente natural com características distintas do ponto de vista das propriedades dos
solos, assim como da vegetação. O concelho de Mira, no distrito de Coimbra, é o
concelho mais pequeno da Região Centro, com uma área de 122,04 km2 (Marques,
1993, p.7). Integrando a região natural da Gândara, situa-se entre as latitudes de 40º 22’
19” (N) e 40º 31’ 17” (N) e as longitudes de 8º 40’ 51” W (G) e 8º 49’ 32” W (G) (Carta
Militar de Portugal 1/25000, folhas 195, 206, 207, 217).

8
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O concelho de Mira é o único concelho que se encontra totalmente inserido na


região natural da Gândara, uma área de terras inóspitas, ou seja, pouco férteis, e que só à
custa de muito trabalho e investimento pode proporcionar rendimentos satisfatórios. No
entanto, em alguns locais, a prática agrícola não tem sido compensadora, pelo que se
tem procedido progressivamente à sua florestação.
Como as dunas de Mira acompanham todo o concelho de Norte a Sul, a latitude
corresponde à já referida. Quanto à longitude as dunas situam-se entre 8º44’21” W (G)
e 8º 49’ 32” W (G) (Cartas Militares de Portugal, folhas 195, 206, 207, 197, escala
1/25000) (Oliveira, 2005).
O local onde se realizou o trabalho de campo corresponde à área central e sul das
dunas de Mira onde, pela facilidade de acesso e pela observação direta nas dunas do
litoral centro, parece ser possível realizar um estudo acerca da diferenciação no
desenvolvimento de Pinus pinaster Aiton em áreas dunares.
A justificação para a seleção desta área está diretamente ligada ao facto de nela se
concentrar uma grande diversificação dunar e vegetal, e assim se tornar possível
relacionar os diferentes estádios de desenvolvimento do pinhal com algumas
diferenciações espaciais (como por exemplo a proximidade/afastamento do mar, a
presença de duna de ripado construída no setor leste das dunas e que apresenta
orientação ENE-WSW, etc.). Nesta área, as dunas apresentam um traçado (forma)
extremamente bem definido, com cristas/depressões paralelas.
Quando se faz um percurso por estas dunas, facilmente se observam alterações que
se podem extrapolar a todas estas dunas litorais.
Da informação retirada do cruzamento entre observação direta e indireta (carta
Militar e Inventário Florestal) com a colaboração de vários técnicos e investigadores
com um grande conhecimento do local, estabeleceram-se 9 transetos, quase todos com 2
a 3 Km, que passam por diferentes desenvolvimentos de pinheiros e que apresentam
diferenças espaciais significativas. O transecto 9 destaca-se pelo seu maior
comprimento, com aproximadamente 7 Km, enquanto o transecto 2 se destaca pela sua
reduzida dimensão, com cerca de 500 m (figura I.2).
O primeiro transecto apresenta orientação ENE-WSW e desloca-se de um local
próximo do mar para o interior numa zona que não ardeu desde a instalação do pinhal.
O segundo transecto localiza-se na continuação do primeiro, também com a
orientação ENE-WSW, mas percorre uma área ardida em 1987.

9
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O transecto 3 apresenta orientação NNW-SSE (sensivelmente perpendicular ao


desenvolvimento das cristas/depressões da dunas) e percorre uma área que permite
efetuar o estudo do desenvolvimento dos pinheiros nas diferentes componentes dunares
(crista, flanco e depressão).
O quarto transecto, de orientação WNW-ESE, percorre uma área não ardida mais
afastada do mar. O seu traçado ficou a dever-se à presença de diferentes fases de
desenvolvimento do pinhal no inventário florestal.
Os transectos 5 e 6 localizam-se numa área mais plana e mais próxima da Barrinha
de Mira, e percorrem manchas de pinhal com grande desenvolvimento. O transecto 5,
com orientação ENE-WSW, percorre a referida área na vertente mais próxima do litoral,
enquanto o transecto 6, também com orientação ENE-WSW percorre, na continuação
do transecto anterior, a área mais afastada do mar.
Os transectos 7 e 8 foram selecionados por percorrerem uma área de dunas mais
afastadas da Barrinha de Mira, e mais afastada da grande depressão interdunar e, por
isso, com maior altitude numa grande parte do seu percurso. O transecto 7, com
orientação ENE-WSW, representa esta área na sua parte mais próxima do mar. Por seu
lado, o transecto 8, com orientação WSW-ENE percorre a área mais afastada do mar.
Por último, o transecto 9, com orientação SSE-NNW, faz um traçado transversal das
dunas, desde o limite sul do concelho até ao limite central, junto ao Parque de
Campismo da Praia de Mira.
Em resumo, o método adoptado para a localização dos transectos para recolha dos
dados resultou:
da recolha de toda a informação acessível sobre a área de estudo (carta
militar, resultados da foto interpretação do inventário florestal de 1965,
fotografia aérea de 2003, outros estudos aí realizados);
de um aturado trabalho de reconhecimento prévio da área, com várias saídas
de campo, onde se puderam identificar os diferentes locais e situações com
interesse para o trabalho;
da troca de informação com investigadores e técnicos com um grande
conhecimento da área e dos problemas a abordar
Em resumo, no desenho do sistema de transectos a realizar no estudo foram
tomadas em consideração todas unidades espaciais identificadas no âmbito do trabalho
prévio de reconhecimento, que a seguir se caracterizam:

10
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Transecto 1 - área próxima do mar;


Transecto 2 - área ardida em 1987;
Transecto 3- corte transversal das dunas;
Transecto 4 - área mais afastada do mar;
Transecto 5 - área mais próxima do mar na grande depressão interdunar;
Transecto 6 – área mais afastada do mar na grande depressão interdunar;
Transecto 7 - área mais próxima do mar, mais distante da Barrinha;
Transecto 8 – área mais afastada do mar, mais distante da Barrinha;
Transecto 9 – corte transversal das dunas, com registos efetuados nos locais
de base, flancos e crista de duna, independentemente das distâncias entre
locais.

I.1.3 – Metodologia Geral

Para se descrever a litologia, assim como a hidrografia, recorreu-se apenas a


consulta bibliográfica, estando esses elementos bem caraterizados quer em cartografia à
escala nacional, quer em trabalhos recentes elaborados, entre outros, por Petronilho
(2001) e Grego (2010).
A geomorfologia apresentada fundamenta-se na consulta de trabalhos anteriores,
realizados, entre outros, por Rebelo (1975; 1983) e Almeida (1997), que foram
complementados com observações de campo, aquando dos muitos percursos efetuados
nas dunas.
Os resultados climatológicos e bioclimatológicos provêm da interpretação das
Normais Climatológicas e dos anuários climatológicos. Embora se tivesse procurado,
não foram encontrados trabalhos de climatologia local em escala de pormenor para o
concelho onde se insere a área de estudo. Todas as referências têm como base as
Normais Climatológicas dos Serviços de Meteorologia e Climatologia.
Relativamente ao estudo de solos, e conforme já referido anteriormente, foi
solicitada a colaboração do Laboratório de Solos da Escola Superior Agrária de
Coimbra para a definição das variáveis a considerar neste tipo de trabalho e de área,
bem como para a sistematização da localização das parcelas ao longo dos transectos
para recolha dos dados e das amostras de campo para posterior análise laboratorial e
interpretação dos resultados obtidos.

11
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A caracterização da vegetação, nomeadamente do pinheiro bravo, na procura das


causas determinantes do seu desenvolvimento, constitui o principal elemento deste
trabalho. Em cada um dos locais de amostra, começou-se com uma identificação breve
da flora, seguida por uma realização de inventários onde se procedeu à identificação de
espécies, respetivo grau de abundância-dominância e estratificação. Os inventários de
vegetação herbácea e arbustiva foram, como foi anteriormente referido, efetuados com o
apoio do Laboratório de Botânica da Escola Superior Agrária de Coimbra, enquanto
para o coberto arbóreo recorreu-se à colaboração do Departamento de Engenharia
Florestal, também da Escola Superior Agrária de Coimbra. Os locais selecionados, além
de pretenderem refletir várias unidades espaciais de características diferentes, tiveram
como base, além da distribuição espacial, o resultado da foto interpretação do Inventário
Florestal Nacional de 1965 (figura I.3), onde se pretendia que houvesse representação
dos diferentes estádios de desenvolvimento do estrato arbóreo, e que servirá como
referência ao longo de todo o trabalho aqui apresentado.

N Legenda:

Pb0 – Povoamento puro regular de Pb


(pinheiro bravo), na fase de novedio e
Transecto 6 nascedio
Transecto 5
Pb1 – Idem, na fase de bastio
Pbja – Povoamento puro irregular de
Pb, em que a área de ocupação está
Transecto 2 compreendida entre 10 e 40%
Pbjb – Idem, entre 40 e 70%

Transecto 4 Pbjc – Idem, superior a 70%


Transecto 1 Ic – Áreas incultas

Transecto 3

Transecto 9

Transecto 8

Transecto 7

0 1Km

Figura I.3 – Localização dos transectos com base na foto interpretação do Inventário Florestal
Fonte: Adaptado de Inventário Florestal Nacional, 1965

Sendo os espaços florestais ecossistemas que obrigam à consideração de diversas


variáveis dos grupos bióticos e abióticos, os estudos que procurem aprofundar o seu

12
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

conhecimento devem recorrer a métodos estatísticos multivariados (Santos et al.,2004).


Por isso, depois da recolha, do registo, da validação e da sistematização dos dados
recolhidos, a sua análise é feita progressivamente através do estabelecimento de
coeficientes de correlação linear simples, da análise de regressão múltipla, de
componentes principais e de clusters. Esta análise permite avaliar as interdependências
entre as variáveis das comunidades vegetais (Muellerdumbois e Ellenberg, 1974 apud
Mota, 2007). A regressão linear permite avaliar acerca das relações que se estabelecem
entre os diversos elementos que compõem o ecossistema (Harper et al., 2000). A análise
de componentes principais “indica as associações entre variáveis reduzindo, assim, a
dimensão do número de dados e agrupando aquelas com maior similaridade” (Santos
et al., 2008; Valladares et al., 2008, apud Kummer et al., 2010, p.470)
Um elemento a ter sempre em grande atenção no nosso estudo é a correcção da
caracterização do pinhal nos locais de recolha das amostras (diâmetros à altura do
peito, altura média, densidade e altura dominante), caracterização essa que constitui
como que a nossa “variável dependente”, uma vez que o objectivo principal deste
estudo é a identificação dos factores “determinantes do desenvolvimento do pinhal
bravo em áreas dunares”, e são aquelas variáveis que são os indicadores do seu gau de
desenvolvimento.
Da análise de resultados procurar-se-á inferir sobre a participação das diferentes
variáveis consideradas no estudo para a explicação da diferença de desenvolvimento
verificada nas diversas situações do pinhal, uma vez que este foi semeado nas mesmas
condições e com as mesmas técnicas, com material genético com a mesma origem, e
num relativamente curto intervalo de tempo.

I.2 – ESTADO DA ARTE

Em primeiro lugar, é de referir que é feita uma abordagem conjunta à mancha


florestal do concelho de Mira, às dunas, ao mar e à Ria de Aveiro, devido ao facto de
estes elementos naturais se encontrarem constantemente interligados e a floresta ter
surgido como uma tentativa, de sucesso, para controlar a instabilidade destes locais
naturais. No percurso efetuado na procura de referências bibliográficas úteis para este
trabalho, desde cedo se concluiu que seria necessário separá-las em dois grupos: um
primeiro onde se identificaram os autores que expõem os seus trabalhos acerca da área
de estudo em causa, neste caso a sub-região da Gândara, o concelho de Mira, as Dunas

13
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

de Mira, ou a Ria de Aveiro; e um segundo grupo, onde os autores reflectem não só


sobre os trabalhos realizados na área de estudo em concreto - as Matas das Dunas de
Mira – mas também sobre trabalhos que, não sendo realizados neste local, refletem de
algum modo a utilização de metodologias semelhantes ou que obtêm resultados que de
alguma forma possam ser importantes na ajuda da interpretação dos obtidos ao longo
deste trabalho.
Ainda é feita referência a alguma legislação que se aplica à área de estudo e que
pretende mostrar, por um lado, que existem medidas de defesa e de promoção de boas
práticas para o local e, por outro, mostrar a complexidade que podem ter os actos de
tomar medidas concretas, pois a extensa legislação aplicável pode também tornar-se
num entrave à sua concretização.
No primeiro caso, diversos foram os autores que, mesmo em trabalhos de índole
histórica, cultural, arqueológica e até poética, referem a identidade dum sítio natural
enraizado nas dunas, nas águas e na floresta.
A população do concelho sempre esteve muito ligada aos seus espaços naturais,
pois deles, do mar até à floresta, retirava a sua sobrevivência. É por isso frequente
encontrar referências a estes nos diversos aspetos culturais locais, onde se confirma a
devoção destes povos à área envolvente (Miranda, 2005; Cação, 2006; Nogueira, 2006;
Miranda, 2008; Frada, 2009). Pela dimensão e pelo respeito atribuído, o mar e a praia
são, talvez, os mais lembrados. Mas as lagoas, a agricultura e a floresta também não são
esquecidos. São estes povos que, na forma de poesia popular, chamam a atenção para a
necessidade de intervenção sobre algumas questões ambientais que urgem solução como
é o caso da necessidade de conservação da Barrinha de Mira: “Acudam à Barrinha sem
demora / Ó gente sensata e previdente,/ Amai a natureza e o ambiente /… Pelas belezas
naturais tão relevantes” (Nogueira, 2006, p.21-22). Mas indo mais além, espelham-se
as realidades locais: “Muito se fala em Turismo,/ Que nos traz altos proventos,/ Mas
ninguém perde uns momentos,/ A travar o anarquismo,/ Porque não existe amor,/ E
também não há temor,/ Rompe forte o vandalismo” (Nogueira, 2006, p.31). Conhece-se
da história e sabe-se que a realidade existente até à década de 90 do século passado não
voltará a repetir-se; o que também não seria desejável. Em tudo deve verificar-se
evolução, mas uma evolução positiva, onde as populações e os locais naturais sejam
respeitados. A atividade agrícola leva ao contacto diário das populações com os espaços
naturais e, abandonando-se esta actividade, é necessário promover novas formas de
contacto das gerações jovens com estes espaços naturais. O conhecimento do território

14
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

local deverá iniciar-se no princípio do percurso escolar, com a promoção do respeito


pela conservação do ambiente, promovendo formas de manutenção do interesse pelo
meio em redor. Realizar visitas in locus promove uma maior consciencialização para
este conhecimento. Nogueira (2004) (in Nogueira (2006), p.60: Tempos de criança:
décadas de 20 e 30 do século XX) confirma que este conhecimento perdura e que pode
até ser utilizado como fundamento de conhecimento da história recente, neste caso para
que se tenha uma ideia da realidade do local de estudo no início do século XX: “Essas
dunas que eu subi / Nos meus tempos de criança / Ainda estão como eu as vi / Vivas na
minha lembrança / De confrangedora aridez / Sem qualquer vegetação / Era patente a
nudez / Em constante convulsão?/ E em dias de temporal / Passar no imenso areal / Era
um grande sacrifício / Mas caminhar contra o vento / Era um flagelo, um tormento /
Um autêntico suplício”.
Mas, outros autores munidos de mais do que memórias e fundamentados em
aturada pesquisa bibliográfica, promovem opiniões que contribuem para um aumento do
conhecimento do local de estudo, quer por referência direta às dunas, quer por
referência indiretas que permitem inferir acerca dessa evolução.
No sentido de proteger os campos e pinhais de utilizações abusivas, Milheirão
(2009, p.17) refere a existência do “Guarda Campestre”. Contratado para fazer a guarda,
ele “zelava e tomava conta dos pinhais”. Este guarda campestre era considerado como
um agente da autoridade que “percorria os campos da região gandaresa” (Cupido,
2006, p.191).
Zelador do território natural da Gândara, pela denúncia que faz para o que
considera estar errado, Cação (2006, pp. 56-57) refere o mau estado actual das dunas
traduzido através da “extração de areias, incêndios, estradas intransitáveis, casas
florestais abandonadas e destruídas”. Apresenta um balanço negativo dum espaço
natural que considera ser de extremo interesse para os habitantes locais e para suporte
do turismo. Este autor propõe a prática de um turismo sustentável que permita o
usufruto da natureza, nomeadamente da floresta: “Férias ao ar livre têm o gosto a
giesta e o perfume da resina destes pinheiros” (Cação, 2006, p. 64); “no campismo
quem não quiser praia pode… ir às pinhas para grelhar o peixe. O campismo… instiga
ao convívio com a natureza” (Cação, 2006, pp. 66-67). Para promoção e valorização
desta natureza, Cação (2006, p. 57) questiona “Porque não se reflorestam os hectares
de mata ardida? (…) modernas tendências em casos semelhantes apontam para deixar
a natureza repor o equilíbrio destruído”. Ora dos intervenientes deste equilíbrio fazia

15
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

parte o trabalho do Homem que, com o abandono da agricultura, deixa o resultado da


fórmula do equilíbrio com menos uma variável. O que antes era “equilíbrio da mata =
pinhal + subcoberto vegetal + caruma + solo + ventos + geomorfologia + trabalho do
homem” e, resultava de uma gestão de utilização que se traduzia num território
ordenado, que culminava com a antiga paisagem conhecida, foi agora substituído por
um novo equilíbrio, onde a natureza tem o papel exclusivo e por isso se deixam crescer
todos os estratos vegetais até ser impossível ao Homem intervir. Trata-se de uma nova
ordem de equilíbrio. O que faz falta neste momento ao Perímetro Florestal das Dunas de
Mira (e vizinhas) é traçar uma estratégia onde esteja bem definida o que delas se
pretende: se um espaço exclusivamente natural, onde o homem não tenha intervenção, o
que nos parece desfavorável do ponto de vista de diversidade de utilização das matas,
ou um lugar onde se procure conciliar todas as vertentes possíveis, que podem ser
importantes do ponto de vista educativo, mas onde também haja organização de forma
que as matas continuem a servir de suporte a atividades económicas locais. Assim
preconiza Cação (2006, p.79): “O futuro da Gândara, se não mesmo de todo o país, há-
de ser uma enorme floresta de pinheiros e eucaliptos, de que apenas se hão-de salvar
os vinhedos …E o sol e as praias do litoral também hão-de ter boa cotação…”. “Os
míscaros …abundam pelos pinhais desta Gândara arenosa, sobretudo no perímetro
florestal que vai das dunas de Quiaios às dunas da Gafanha.” (Cação, 2006, p.128).
“Das suas rudes mãos saiu uma das maiores maravilhas da agricultura
portuguesa: a transformação paulatina, mas obstinada, de desertos areais estéreis em
fertilíssimas campinas. A esses homens se deve a definitiva conquista pela terra desses
velhos domínios marinhos. Eles semearam o pinhal que fixou a areia, lançaram à leiva
o milho, o feijão, e a batata, cozeram o adobe ao sol para fazer o seu lar” (Luís de
Magalhães, Portugália, tomo II, fasc. I, 1911, apud Frada, 2009, p. 25).
“Por estes sítios da Gândara, chão raso de pinheiros e areia, a paisagem será
pouco sedutora por isso mesmo…” (Cação, 2006, p.218). Neste concelho de Mira
cruza-se a sub-região da Gândara com a sub-bacia hidrográfica da Ria de Aveiro, dois
conceitos territoriais marcantes e que influenciaram durante muito tempo os habitantes
locais. É por isso inquestionável a sua referência em praticamente todos os trabalhos,
sejam eles apresentados do ponto de vista de caracterização humana ou da de
caracterização física do local.
A “Ria” é um acidente geográfico que resulta da evolução do litoral. A reentrância
de mar está bem patente no portulano de Petrus Visconti, de 1318. Até aos princípios da

16
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

nacionalidade portuguesa, o mar devia chegar a Esmoriz, Estarreja, Eirol, Cacia,


Esgueira, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira. Há documentos do séc. XI, 1059 e 1101, que
chamam à costa de Aveiro, costa marina, e seria aí a foz do rio Vouga, mas o cordão
litoral de areias começa a deslocar-se em direção a Mira e a formar a ria. O grande canal
dava passagem a naus e caravelas que, pela Cale de São João, iam atracar junto das
muralhas da cidade. Estas características terão colocado Aveiro como uma grande
cidade da época e terá sido daqui que em 1500 ou 1501 se realizaram as primeiras
campanhas de pesca do bacalhau à Terra Nova. O contínuo avanço do cordão litoral de
areias na direção de Mira, associado a um inverno muito rigoroso em 1575, obstruiu o
canal de comunicação com o mar e terá levado à ruina da frota pesqueira da cidade, até
ao ponto em que em 1611 Aveiro não possuiria nenhum navio. Em 1756 a barra já
estaria situada no concelho de Mira, no local chamado de Barra do Areão. Como para
Aveiro esta era uma situação indesejada, optou-se em 1802 pela construção de uma
barra artificial, utilizando a cantaria retirada das muralhas de Aveiro. Esta obra teve o
seu culminar em 1808, tendo sido aberta a barra (nova) a 3 de Abril do referido ano. As
restantes ligações da ria ao mar, existentes na Vagueira e na Barrinha de Mira, acabaram
por desaparecer (Frada, 2009, pp. 115-119; Miranda, 2005, pp. 28-29 e 2012, pp. 22-23;
Reigota, 2000, pp. 59-60).
Como escreve Cupido (2006, p. 154), “A sementeira das dunas só se verificou na
primeira metade do século XX, com trabalhos preparatórios de levantamentos
topográficos, de regularização de níveis do solo, de fixação de motas e margens de
lagos e lagoas, de drenagem de águas e de construção de valas e açudes, de fixação de
traçados para a abertura de caminhos e de estradas, de contenção dos avanços da duna
litoral com a construção de ripados, e, finalmente, com a sementeira do penisco e a
fixação das areias com estorno, tojo, e camarinheira.” Foi este grande trabalho de
engenharia que permitiu o controle de uma área até aí dominada pelas condições
naturais adversas, que iam dos constantes ataques do mar, do vento e das chuvas
abundantes da época, e que impedia a estabilidade desse mesmo local.
É frequente haver relatos de espanto no que se refere à implementação da floresta
neste local de condições adversas. A admiração é patente em Cortesão (2009, p. 31) que
refere a existência da “…estrada, orlada de umbrosas árvores, que hoje (1959-1960)
leva Mira-vila à praia de Mira. Árvores umbrosas, como fora possível?” Refere ainda
que existe na Gândara uma “Certa monotonia da paisagem de entre marnel e duna e

17
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

estradas retas, a perder de vista, é compensada pela impressão heroica da batalha


ganha” (Cortesão, 2009, p.29).
“E pela costa, outrora deserta e árida, como tudo mudou! O mar caótico das
dunas que invadia progressivamente as terras de cultivo foi semeado de penisco. Sobre
as altas vagas de areia nasceu a espuma verde do mato e os pinheiros escuros e
rugosos, afundam as raízes. Já os pinhais são cruzados por aceiros, alamedas
perpendiculares ao mar, e “arrifes”, ruas transversais e mais estreitas, uns e outros
orlados de rosmaninho. E assim os serviços florestais, trabalhando desde 1917,
conquistaram para Portugal um longo trato de árvores e hortedos” (Cortesão, 2009, p.
32).
Para Alfredo Fernandes Martins (1949, p.49 in Alves, 1990) “A Gândara
desenvolve-se a partir da Serra da Boa Viagem, sendo uma região arenosa e plana,
semeada de matas e pinheiros do lado do mar e cultivada para o interior nos campos
intercalados entre pinhais”.
Em 1920, Brandão (2009, p. 25-26) referia, relativamente à ria de Aveiro, que
“…noutro país, esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado. É um sítio para
contemplativos e poetas…porque a ria é lago e mar ao mesmo tempo”.
Alves (1990, p. 10), numa compilação dos principais ecossistemas de Mira, inclui
“As dunas, caracterizadas por diversa vegetação dunar e pinhal litorâneo, ao qual se
associam acácias, eucaliptos, samouco e camarinhas. O pinhal ali plantado serve a um
tempo à fixação das areias e defesa dos ventos marítimos e representam um bem
económico de inestimável valor. Também a fauna selvagem, constituída por diversas
espécies de aves insectívoras e de rapina, alguns mamíferos, como a geneta e a raposa
e alguns anfíbios, vive e faz guarida na mata”. É comum nestes locais confundir-se as
dunas com as matas. Afinal as primeiras terão sido aquelas que mais marcaram os
homens e, como a sua influência penosa ainda se encontra registada nas memórias de
alguns, torna-se por isso frequente a referência a dunas em vez de matas ou pinhal.
Figueiredo (in Alves, 1990, p. 11) refere que “As matas da região, para além do
importante papel que desempenham como fixadoras das areias, como formas de defesa
dos ventos, como habitat da fauna selvagem, servem ainda de cortina verde da
urbanização enquadrando o equipamento humano”.
De destacar também a referência que Thomé de Resende (in Marques, 1993, pp.
171-172), também referido por Miranda (2008, p. 32), faz à existência antiga de
arvoredo a Norte e a Poente, e algum motivo ainda não conhecido levou ao seu

18
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

desaparecimento. É comum atribuir a destruição deste arvoredo a incêndios levados a


cabo pelas invasões francesas (1807-11) (Reigota, 1992), o que, sabe-se agora, não pode
corresponder à realidade uma vez que Thomé de Resende lhe faz referência, em 1758,
cerca de meio século antes das invasões terem ocorrido. E mesmo no ano de 1758,
Thomé de Resende (in Marques 1993, pp. 171-172), também referido por Miranda
(2008, p. 32), refere-se a esta desarborização como tendo acontecido antes do referido
ano.
Ficando patente a importância dada ao sítio onde hoje se inserem as matas de
Mira, desde antes da existência destas, é percetível que algo era necessário fazer para
controlar as condições naturais adversas do local. Foi dessa necessidade que surgiram os
primeiros trabalhos tendo como objectivo o estabelecimento das referidas matas e das
rede hidrográfica envolvente.
Estabilizaram-se as áreas naturais, obtiveram-se produtos de ajuda à agricultura
e, mais tarde, condições para o turismo. Ainda hoje estas matas continuam a ser muito
importantes no que diz respeito ao apoio das atividades económicas do concelho, assim
como são extremamente importantes do ponto de vista de contacto e estudo da natureza.
Surgem assim autores que investigaram esta região mais na sua vertente natural e não
do ponto de vista de utilidade e do apoio a atividades humanas. É o caso de Petronilho
(2001), que apresenta uma visão diferente dos habitats das dunas de Mira. Sendo um
ornitólogo reconhecido pela dedicação no seu trabalho localizado no concelho de Mira,
valoriza as suas dunas, no seu estado atual, como habitats para as mais diversas
espécies animais. Este autor dá a conhecer uma vida selvagem que é desconhecida por
muitos e, ao fazer referência aos seus diferentes habitats, chama a atenção para a
necessidade da sua conservação, nomeadamente dos ambientes florestais e lagunares.
A importância da floresta, e da rede hidrográfica associada, agora como no
passado, prende-se também com a valorização da fauna selvagem. A biodiversidade
animal é mais extensa quanto maior for a diversidade dos ambientes locais e,
consequentemente, dos ecossistemas. Estes ambientes florestais são, numa ampla
escala, extremamente monótonos mas, quando se procede a uma análise de pormenor,
tornam-se bastante diversificados, e a isso se deverá a numerosa avifauna registada
nestas áreas, que depende também da complexidade e diversidade dos cortejos
florísticos representados. Embora neste trabalho se proceda a uma análise de pormenor
das áreas florestadas com pinheiro bravo, na realidade, existem outras áreas de interesse
que contribuem para a biodiversidade local, nomeadamente os locais de charcos, assim

19
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

como as lagoas que em tempos idos foram intervencionados pelos serviços florestais.
Mas a importância do local como um todo reflete-se pelo estatuto atribuído à Barrinha e
à Lagoa de Mira de Reserva de Caça Integral (portaria nº 725-C de 10 de Agosto de
1993). A partir de 1997, pelas portarias n.º 539 de 23 de Julho e 563 de 26 de Julho,
foram criadas duas Zonas de Caça Associativas, com uma área total de 3520ha
(Petronilho, 2001, p 15).
A Zona de Proteção Especial (ZPE) da Ria de Aveiro (ICN, 2006), onde se insere
a área de estudo, na sua apresentação, parece apresentar maior valorização da fauna, em
detrimento da flora. No que diz respeito à proteção da vegetação, classifica-a de forma
geral, promovendo a sua conservação por estratos e não por espécies concretas, como é
o caso da Ammophila arenaria (L.) Link e da Corema album (L.) D. Don., entre outras.
O facto de a área de estudo se encontrar nesta ZPE, faz com que fique submetida a
vários aspetos legislativos que se inserem entre outros no Decreto-Lei n.º 384-B/99 de
23 de Setembro de 1999, no Plano Nacional da Água - DL n.º 112/2002 de 17 de Abril,
no Plano de Bacia Hidrográfica do Vouga - Decreto Regulamentar n.º 15/2002 de 14 de
Março, no Plano de Ordenamento da Orla Costeira de Ovar - Marinha Grande
(Resolução do Conselho de Ministros n.º 142/2000. DR 243 SÉRIE I-B de 2000-10-20),
no PDM de Mira – ratificação - Resolução do Conselho de Ministros n.º 83/94, de 16 de
Setembro, na limitação de Nitratos de origem agrícola (Portaria n.º 557/2003 de 14 de
Julho, que limita a fertilização a fazer em áreas agrícolas e florestais), no Plano de
Desenvolvimento Rural/RURIS (áreas de incidência das diferentes medidas) - Regras
gerais de aplicação do RURIS - DL n.º 64/2004 de 22 de Março, Regulamento da
intervenção "Medidas Agroambientais" - Portaria n.º 360/2004de 7 de Abril, no
Regulamento da intervenção "Florestação de Terras Agrícolas" - Portaria n.º680/2004
de 19 de Junho, onde se inserem os baldios, alguns atualmente florestados naturalmente,
Regulamento da intervenção "Indemnizações Compensatórias" - Portaria n.º 193/2003
de 22 de Fevereiro, na Caça - zonas de caça sujeitas a diferentes regimes cinegéticos
(legislação já referida anteriormente), no Plano Regional de Ordenamento Florestal do
Centro Litoral (Decreto Regulamentar nº11/2006), Perímetros florestais e matas
nacionais (Regime Florestal total e parcial) (ICN, 2006).
O Perímetro Florestal das Dunas de Mira enquadra-se no Regime Florestal
Parcial, que é aplicado a terrenos baldios, a terrenos das autarquias subordinando a
existência de floresta a determinados fins de utilidade pública, permite que na sua
exploração sejam atendidos os interesses imediatos do seu possuidor, (parte IV, artigos

20
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

26.º e 27.º, do Decreto de 24 de Dezembro de 1901), (ICN, 2006). A extensa lista de


enquadramento legislativo (anexo I.1) é um indicador da complexidade inerente a
qualquer intervenção nestas áreas florestais do litoral, sendo certo no entanto que
existirá certamente mais legislação aplicável ao local e que não é aqui referida.
A resolução de Conselho de Ministros nº 76/2000, de 5 de Julho, inclui uma vasta
área do concelho de Mira na Rede Natura 2000. Da área selecionada destaca-se o
Perímetro Florestal das Dunas de Mira (Código PTCON0055). Esta inclusão vem
limitar a intervenção nas dunas e na floresta, pois implica a proteção de espécies quer
vegetais quer animais. Por outro lado, promove a existência de boas práticas ambientais
que se relacionam com a manutenção e conservação das referidas espécies. Qualquer
intervenção proposta terá sempre que ter em linha de conta a proteção da biodiversidade
(Pereira et al, 2009).
Uma grande parte da área total do concelho encontra-se ocupada por espécies
florestais. Esta área é distribuída pelo regime público e pelo regime privado, sendo que
este último é menos representativo. Esta distinção leva a que a biodiversidade seja
encarada de diferente forma. No regime privado, a preocupação é, essencialmente, de
tirar o máximo rendimento possível, sendo atribuído um valor nulo à conservação de
espécies que não tenham interesse económico rápido. A área do regime florestal
privado, embora pouco organizada, tem vindo a aumentar, resultado do abandono
agrícola registado no concelho. O investimento neste domínio efetua-se quase
exclusivamente ao nível de espécies de crescimento rápido, como o eucalipto, o choupo,
e o freixo. A proteção de espécies herbáceas e subarbustivas é nula neste regime privado
de ocupação florestal. Pelo contrário, no regime público, as intervenções efetuadas
fazem-se no sentido de recuperar microecossistemas destruídos, quer por pequenos ou
pelos grandes incêndios, ou pelo atingir do limite máximo de vida de alguns elementos
do estrato arbóreo (Petronilho, 2001). Aqui há uma preocupação em efetuar as
intervenções tendo em atenção a manutenção tanto do subcoberto arbustivo como do
herbáceo.
Sabe-se que algum dia este local será intervencionado e, quanto maior for o
conhecimento das condições naturais existentes, mais eficazes serão certamente as
intervenções realizadas.
Os objetivos de utilização da área (de finais do século XIX ao início do século
XXI) foram totalmente realizados: as dunas estão cobertas por vegetação, o regime
hídrico foi controlado, e as terras agrícolas foram protegidas contra invasões de areia.

21
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Mas as árvores da principal espécie utilizada (Pinus pinaster Aiton) atingiram, na sua
maior parte, o seu limite de idade, e não há planos concretos de preparação do futuro
deste ecossistema.
As áreas litorais correspondem a ecossistemas muito frágeis (Santos et al., 2006),
e em muitos casos a sua proteção ainda é mantida através de florestamentos
monoespecíficos instalados na primeira metade do século XX. Hoje em dia, num mundo
em constante mudança em termos de conhecimento, de ameaças e de preferências, as
propostas de uso (sustentável) futuro dessas áreas merecem as mais sólidas bases
científicas, e uma discussão aberta entre os seus utilizadores finais. Na área das matas
de Mira muitos estudos já foram feitos, mas ninguém os utilizou numa forma mais
abrangente, com o cruzamento das informações de vários componentes do ecossistema.
É o que se propõe na elaboração deste projeto: obter as relações possíveis entre
diferentes componentes do ecossistema no que diz respeito quer a relações bióticas quer
abióticas. As referências a importantes pesquisas, elaboradas do ponto de vista da
importância para as populações locais, foram já efetuadas anteriormente. Passa-se então
à apresentação de alguns trabalhos de índole científica realizados no perímetro Florestal
das Dunas de Mira e que permitem, a quem os consultam, obter um conhecimento mais
aprofundado do local, nas suas diversas vertentes, que vão desde a vegetação arbórea,
ao subcoberto, às características dos solos e aos incêndios, entre outros.
Tavares (1989) estudou a expressão de crescimento do Pinus pinaster Aiton nas
Dunas de Mira, tendo colocado ênfase sobretudo no desenvolvimento radicular das
árvores, de acordo com as características físicas do local. Alcaide (1994) fez a
recuperação da história da arborização da área (1918 a 1950), e procedeu também a uma
descrição da situação atual das áreas florestais das Dunas de Mira. Ainda apresentou
algumas propostas para futuras pesquisas, nomeadamente a necessidade de criar
conhecimento que permita obter diferentes soluções de utilização para estas áreas.
Martins (1999) realizou um estudo fitossociológico da Região do Litoral Centro, com a
cartografia respetiva, onde a distribuição espacial das diferentes unidades é identificada.
Este trabalho traz um valor acrescentado no que diz respeito à vegetação local, por se
tratar de em estudo bastante pormenorizado no que diz respeito à biogeografia e à
fitossociologia, com identificação de diferentes unidades existentes nesta região. A
caracterização fitossociológica que efetua da vegetação dunar parece, no entanto,
efetuada com base nos locais de vegetação mais antiga, nomeadamente no que diz
respeito ao pinhal das Castinhas, da Videira, ou de Portomar. Saliente-se que nas 480

22
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

parcelas existentes no presente trabalho nunca se registou a presença de Calluna


vulgaris (L.) Hull, o que contraria a caracterização efetuada pela referida autora. Esta
espécie existe com frequência nos referidos pinhais, mais antigos do que os existentes
na restante mancha dunar. Silva (2001) apresenta uma caracterização da paisagem das
dunas de Mira, numa perspetiva ecológica, mas sem contribuições para o futuro
ordenamento sustentável do território, uma vez que não apresenta propostas que
resultem da realização dessa análise. No entanto, o referido trabalho constitui um bom
suporte científico a futuros projectos que promovam a gestão sustentável da área, que
tenham como base as unidades de paisagem natural que, devido à homogeneidade do
relevo da Gândara, se ficam a dever, essencialmente, ao diferente uso do solo que, por
sua vez, se traduz em diferentes unidades vegetais. A importância da ocorrência de
fenómenos de hidrofobia do solo, nestas áreas, é estudada por Matias (2002). Esta
autora avalia as relações entre a presença de vegetação específica e a hidrofobia que lhe
está associada. Apresenta a relação entre diferentes locais da Gândara, nomeadamente
terrenos agrícolas e florestais. Os incêndios florestais locais, pela sua dimensão, foram
também objeto de estudo pormenorizado, quer através do relatório elaborado por Viegas
et al. (1987), quer de Lourenço et al. (1994) e, mais recentemente, nos trabalhos
elaborados por Ferreira (2006 e 2009). Em 2005 é apresentada uma proposta para
recuperação de uma área ardida (em 1987) no norte do concelho de Mira. Nesta
proposta destaca-se recomendação sobre a utilização de Pinus pinea L., espécie
selecionada para utilizar nas áreas de ausência de coberto arbóreo. Nas áreas próximas
das zonas ribeirinhas Ferreira (2006) optou por recomendar povoamentos mistos de
Salix arenaria L. e Salix atrocinerea Brot. No seu trabalho, Ferreira (2009) apresenta
simulações de situações que favoreceram a propagação do fogo nos incêndios ocorridos
no passado, como também apresenta algumas orientações a ter em atenção para
possíveis situações futuras.
A metodologia de trabalho concebida para aplicação a grandes áreas de estudo, de
modo a permitir uma avaliação nos diferentes padrões de distribuição de fatores de
diferentes suportes físicos, é descrita por Páscoa et al. (1997). No caso do presente
estudo, a escala da análise tem de ser diferente (mais detalhada), devido à
homogeneidade fisiográfica do local. Oliveira (2005) procedeu a uma abordagem
preliminar a este assunto que resultou da adaptação da metodologia desenhada por
Páscoa et al. (1997) para áreas de montanha. Os resultados do estudo de Oliveira (2005)
não foram conclusivos porque a dimensão do estudo não permitiu a integração da

23
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

totalidade das unidades espaciais identificadas e o número de parcelas não era o


suficiente para permitir conclusões "robustas". No entanto, algumas conclusões
importantes foram obtidas, de onde se destacam a identificação dos fatores que relevam
importância para serem continuados em estudos futuros assim como a importância
potencial de outros para serem incluídos, como é o caso da humidade do solo ou
hidrofobia.
As actividades do turismo e do lazer são agora uma questão principal para estas
áreas de floresta, e os planos de gestão futuros terão de incluir este tipo de uso como um
objetivo. As ações necessárias para a concretização destes objetivos são apresentadas
por Páscoa et al. (2001a e 2001b). Neste concelho de Mira, depois da praia, as “áreas
verdes” são os locais mais frequentados pelos turistas (Santos, 2008, p. 216). A
utilização da floresta como “recurso de atração turística”, aumenta a possibilidade de
desenvolvimento do “turismo ecológico” (Santos, 2008, p. 228).
A integração harmoniosa de conceitos como turismo, lazer, conservação e
sustentabilidade é o principal desafio para estas áreas florestais.

I.3 – O PERÍMETRO FLORESTAL DAS DUNAS DE MIRA: Breve


descrição da sementeira e da evolução do coberto vegetal ate à atualidade

“Dantes, por estas paragens da Gândara mais chegadas ao litoral, tudo era mar.
Dantes por estes areais gandareses, o mar bramia espumas e raivas ou, estando de bom
grado, afagava a quilha dos barcos, suavemente, como se acarinhasse um
brinquedo…” (Cação, 2006, pp.104,105)

“ O mar, no seu recuo por milénios de vagares, foi deixando a descoberto areias
imensas, onde apenas cresciam a urze e o tojo, o panasco, o mato bravio e pouco mais.
Depois, lentamente, haveria de nascer uma imensa floresta de pinheiros”… “Ao tempo
em que a Gândara mais a litoral começou a ser povoada, aí por inícios do séc. XVII, os
seus domínios já eram floresta hirsuta e, ao darem começo ao seu aproveitamento
agrícola, tiveram os colonos empreitada de tomo.”. “Para além de desbravarem o tojo
e as árvores, houveram esses peregrinos… de arrotear a terra e melhorar-lhe o
subsolo, enterrando nele comédia de ramos verdes, caruma seca e outros chorumes”
(Cação, 2006, pp. 222-223). No séc. XX acrescentou-se moliço e caniços a estes
fertilizantes. Também Reigota (2000, pp. 77-78) refere a existência de densas florestas

24
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

antigas a cobrir o “espaço Gandarês, ao longo dos tempos, desde os tempos Pré-
históricos aos Históricos”
Segundo a Ata da sessão de 19 de Janeiro de 1879 da Câmara Municipal de Mira
(Miranda, 2008, pp. 57-65; Miranda, 2012, pp. 91-92), a construção da estrada Mira -
Praia de Mira terá levado mais de 57 anos a efetuar-se. Esta morosidade terá ficado a
dever-se não só a questões económicas, mas também não será alheia às características
físicas do local. Logo no primeiro lanço de Mira até a Lagoa de Mira, “houve atraso na
construção pelo facto de em Dezembro, Janeiro e Fevereiro ter ocorrido precipitação
intensa”.
De acordo com a Ata da sessão de 7 de Maio de 1887 da Câmara Municipal
(Miranda, 2008, p. 62), desde 1875 (ano em que se fizeram os estudos para o traçado
Lagoa - Praia de Mira) verificaram-se muitas alterações no local “por as areias e as
aguas terem alterado muito o terreno por onde aqella estrada se achava estudada”.
Registe-se que estes acontecimentos de alterações constantes e rápidas do local se terão
registado por mais de um século, tendo em atenção o conteúdo destas atas e o
testemunho de Thomé de Resende em 1758 (in Miranda, 2008). Comparando as duas
descrições parece que o referido lanço de estrada Lagoa de Mira - Palheiros da Costa se
faria muito próximo da referida Vala da Cana (Miranda, 2008). Poderá ser a justificação
para o que parece ser uma abertura que interrompe a continuidade das dunas interiores
quando se observa o mapa de declives ou geomorfológico das dunas interiores do
concelho de Mira (figura II.). Em 1930 os Serviços Florestais construíram a estrada
Mira - Praia de Mira. Mas como anteriormente, a partir de 1919, já se havia procedido à
estabilização das valas por parte destes mesmos Serviços (Miranda, 2008, p. 32; 2012,
pp. 95-96), ter-se-á tornado mais fácil, desta vez, concluir a obra com sucesso. Não
interessando para este trabalho a descrição do ponto de vista de contexto histórico mas
sim do quadro natural, estes registos são de extrema importância na definição de
ambientes naturais da época que se podem traduzir numa área instável, de constante
mutação por ação de areias e ventos, e elevadas quantidades de precipitação durante o
Inverno, o que imprimiria características únicas a esta pequena região.
Segundo Miranda (2005, p. 79) a Câmara Municipal sempre teve grandes
preocupações com as “matas municipais”, que constituíam “praticamente toda a mancha
florestal concelhia”. Eram constantes os cuidados no que dizia respeito à fiscalização
das mesmas, assim como o cuidado nas “sementeiras de penisco como forma de

25
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

substituição de abates para reparação de pontes e outras obras municipais, bem como
dos derrubes provocados por temporais, o que acontecia quase todos os anos.”
As matas e os baldios tiveram papel fundamental na manutenção da agricultura do
concelho. A justificá-lo está a tentativa de venda das matas e baldios em hasta pública
em Agosto de 1889, e a posição então assumida pela Câmara Municipal: “Isto é uma
garantia de ordem pública, porque os povos d’este concelho, em negócio de baldios só
toleram que a Câmara os afore ou devida. Escusa pessoa alguma d’aqui ou de fora,
tratar Mira de qualquer assunto respeitante à venda de baldios e matas porque o povo
não lh’o tolera – corre-os e enxota-os e só consente que a Câmara os administre ou
afore” (Miranda, 2005, p. 38, Representação da Câmara de Mira ao Rei, em 13 de
Agosto de 1889).
O Perímetro Florestal das Dunas de Mira tem actualmente uma área de 4.962 ha, é
limitado a Norte pelo Perímetro Florestal das Dunas de Vagos, a Sul pelo Perímetro
Florestal das Dunas de Cantanhede, a Este por terrenos camarários e particulares e, a
Oeste, também por terrenos camarários e particulares e, em grande parte, pelo mar (Rei,
1924). Esta superfície terá sido coberta em tempos mais antigos por floresta de pinheiro
marítimo (Pinus pinaster Aiton), que depois terá sido destruída, em parte, pelos
invasores franceses que a terão incendiado e, outra parte pelos povos que a circundavam
e dela tiravam intensivamente lenhas e matos (Rei, 1924; Reigota, 1992).
Desta floresta restaram somente o pinhal das Castinhas (com uma superfície de
564ha), o pinhal do Fojo (116ha), o pinhal da Gândara de Portomar (57ha), e os pinhais
do sul e do norte da Videira (com 29ha e 75ha, respectivamente), ou seja, restou
aproximadamente apenas 1/5 da floresta que existia anteriormente (Rei, 1924, Reigota,
1992). A área devastada terá sido posteriormente coberta por areias que, não
encontrando nenhum obstáculo, avançaram bastante, para Este, fazendo desaparecer
parte dos terrenos agrícolas.
O Perímetro Florestal das Dunas de Mira, considerado um dos recursos mais
importantes do concelho, terá sido constituído até finais do século XVIII por carvalhos,
pinheiros mansos e pinheiros bravos. Após ser destruído pelas invasões francesas e, de
algum modo, pelos habitantes locais, restaram áreas desertas, de areias soltas que, por
ação dos ventos fortes marítimos, avançaram sobre os terrenos cultivados e sobre as
lagoas e outras linhas de água. Este avanço das areias levou à necessidade de
estabilização da área, através do repovoamento florestal, processo levado a cabo no
início do século XX pelos Serviços Florestais (Petronilho, 2001, p. 19).

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Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Miranda (2005, p. 83) refere que “embora fosse necessária a intervenção junto ao
mar para proteger a Barrinha e a Praia, a Câmara Municipal não tinha capacidade
técnica nem financeira para administrar os cerca de 60 Km2 de matas e baldios
existentes”. Além deste, acrescia outro problema: o povo e a Câmara Municipal não
queriam entregar os seus baldios e matas ao Estado e a solução encontrada foi um
acordo estabelecido entre o povo e a Câmara no sentido de as matas e os baldios de
Mira ficarem submetidos ao Regime Florestal (RF), mas a população continuar a
usufruir dos produtos destas matas. A decisão foi tomada em 10 de Março de 1917 e a
submissão ao Regime Florestal foi celebrada em 27 de Julho de 1917.
Segundo Miranda (2008, p. 87) “…a Câmara não tinha meios financeiros para
arborizar convenientemente a referida área de dunas”. “Tornava-se necessário fixar as
areias a fim de proteger as culturas constantemente ameaçadas e danificadas pelos
assoreamentos frequentes. Em 27 de Julho de 1917 foi decretada a submissão das
dunas e matas de Mira ao Regime Florestal” (Miranda (2008, p. 87). A integração foi
feita, inicialmente, na 3.ª Regência Florestal (Aveiro) e, em meados de 1919, deu-se a
transferência para a 5.ª Regência (Figueira da Foz) (Miranda, 2005, p. 83, Rei, 1924).
“As matas submetidas foram as seguintes: Castinhas, Manga, Montalvo,
Gândara de Portomar, Fojo, Videira do Norte e Videira do Sul. O início dos trabalhos
de arborização ocorreu em 11 de Agosto de 1919, (…)”. (Miranda (2008, p. 88).
Segundo Miranda (2008, p.105), em 1870 também o canal de Mira (o ramo da ria
de Aveiro com início no concelho), referido como “rio de Mira”, estaria integrado para
concessão a particulares para a criação de “Ostreiras artificiaes” e não estaria,
inicialmente, integrado na área submetida ao Regime Florestal. Ora os povos sabiam
que se assim acontecesse deixaria de poder utilizar esse “rio” e, juntamente com a
Câmara Municipal, tudo fizeram no sentido de contrariar esta concessão, pois no caso
de o “rio” ser integrado no Regime Florestal, poderia, mediante regras estabelecidas,
continuar a ser utilizado pelo povo.
Enquanto nesta altura os pinhais particulares se encontravam em manchas
regulares bem cuidadas e revestidas de arvoredos, os da Câmara Municipal
encontravam-se em estado caótico devido à sua exploração desordenada (Rei, 1924).
Antes da intervenção dos Serviços florestais, e desrespeitando as restrições
municipais, a população inutilizou e destruiu o arvoredo, que seria suposto vir a
constituir a floresta e que como consequência provocaria um aumento na fertilidade do
solo. As sementeiras novas não tinham qualquer tipo de organização: usavam-se

27
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

ancinhos de dentes de ferro (que removem mais o solo comparativamente aos de


madeira) e enxadas nas matas já quase inexistentes, o que fazia com que os pinheiros
novos não se desenvolvessem. Mas saliente-se que a população não agia por má-fé, mas
sim por desconhecimento e por necessidade e, talvez, por falta de alguém que andasse
no campo a aconselhar o que se deveria fazer (ibidem). Por exemplo os ancinhos de
ferro eram usados devido ao facto de serem mais duradouros, e não com o objetivo de
destruir os pinheiros. É que estes ancinhos até tinham a desvantagem de recolher
agulhas com areia, já em decomposição, que depois não duravam tanto tempo nas
“camas do gado”. Logo, mesmo para a população a utilização destes ancinhos
apresentava desvantagens.

I.3.1 - Início do séc. XX

As matas do Concelho de Mira foram instaladas, no início do Séc. XX, para a


estabilização das areias do litoral, constituindo uma das obras mais notáveis da
engenharia florestal do século. Protegendo casas e terrenos agrícolas de areias e ventos
salgados, e contribuindo de modo essencial para a valorização de importantes áreas
litorais - anteriormente áreas improdutivas - através do controlo das condições naturais
locais, as matas tornaram-se também um fornecedor de bens à população (Pinho, 2005).
Os trabalhos incluíram a regeneração artificial do pinhal, utilizando
essencialmente sementeira de pinheiro bravo, e a criação de infra-estruturas (rede viária,
rede divisional, sistemas de drenagem, etc.) (Direcção Geral dos Serviços Florestais e
Aquícolas, 1939).
Considerava-se que, no futuro, as matas deveriam fornecer, com as suas madeiras,
matéria-prima para a construção e para as indústrias regionais e assim tornar-se um
poderoso fator de progresso económico e de fixação e equilíbrio populacional (Direção
Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, 1939).
Em 1901, antes da implementação do Regime Florestal, a população tinha direito
à apanha de limos nos lagoeiros e lagoas, de matos, agulhas e lenhas mortas nos pinhais,
e ainda a apascentar os seus gados dentro dos pinhais, mediante licença passada pela
Câmara. Era proibido arrancar plantas e tirar areias dos baldios, sem autorização, assim
como apanhar rapão, estrumes ou quaisquer plantas nos baldios semeados de penisco. O
Município usufruía da venda da madeira (Rei, 1924). Nesta época, para controlo das
referidas utilizações, os guardas municipais restringiam a utilização dos pinhais. Até

28
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

1916 a Câmara tinha ao seu serviço cinco guardas municipais, que depois foram
desmobilizados, ficando somente os guardas florestais (Rei, 1924).
O penisco foi semeado juntamente com sementes de outras plantas silicícolas e de
crescimento mais rápido, como sejam a Ammophila arenaria (L.) Link, Ulex europaeus
L., Ulex densus Welw. ex Webb, Ulex nanus T. F. Forster ex Symons, Cytisus
pendulinus L. Fil., Corema album (L.) D. Don, Myrica faya Aiton, Acacia longifolia
(Andrews) Willd. e Acacia retinoides Schlecht., com o intuito de criar abrigo das
intempéries aos pequenos pinheiros (Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas,
1939).
De forma a aproveitar os terrenos mais fundos ou abrigados e as margens de valas
existentes, foram plantadas em alternativa as seguintes espécies: Acacia cyanophylla
Lindley, Acacia decurrens Willd., Acacia decurrens – var. dealbata, Acacia longifolia
(Andrews) Willd., Acacia melanoxylon R. Br., Acacia mollissima auct., non Willd.,
Acacia pycnantha Benth., Acacia retinodes Schlecht., Alnus glutinosa (L.) Gaertner,
Cupressus glauca Lam., Cupressus macrocarpa Hartweg, Eucalyptus globulus Labill.,
Fraxinus americana L., Populus alba L. e Populus nigra L. (Direção Geral dos
Serviços Florestais e Aquícolas, 1939).
Para a concretização do objetivo de arborização, primeiro procedeu-se à
construção de uma barreira de protecção (ripado) e, depois, ao abrigo dela ou
aproveitando as defesas naturais, semeou-se o penisco e outras sementes de plantas
arenárias e, finalmente, estabilizou-se a superfície das areias com uma cobertura de
mato. A sementeira do penisco foi feita em regos previamente abertos com uma
profundidade de cerca de 0.80 cm, com arado ou charrua, em linhas paralelas
perpendiculares à direção do vento dominante e distanciados entre si de cerca de 1.80
m. As sementes foram distribuídas pelos regos e cobertas com uma ligeira camada de
areia. À medida que se foi semeando, os regos foram sendo cobertos com mato (Direção
Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, 1939). O ripado era mantido (elevado) até à
fixação das areias na área semeada (Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas,
1939).
A figura I.4 mostra algumas espécies que ajudam a caracterizar a vegetação das
dunas. No que diz respeito à riqueza específica, ela encontra-se principalmente no
subcoberto herbáceo e arbustivo, uma vez que no arbóreo domina o pinheiro bravo.
Entre 1916 e 1919 foram feitas algumas intervenções técnicas nos pinhais
existentes que se encontravam em estado regular, mas onde também existiam algumas

29
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

árvores compreendidas entre os trinta e os noventa anos. As árvores mais velhas foram
cortadas e aproveitadas para madeira de ripados das novas sementeiras a realizar nas
dunas (Rei,1924).
Estas madeiras vieram principalmente do pinhal do Fojo e do pinhal da Gândara.
Ainda em 1919 passou-se à concretização do projeto da sementeira das dunas. Os
primeiros passos consistiram na colocação de ripados no cordão dunar litoral e na sua
plantação com estorno, para evitar que as areias avançassem para o interior.
Todos os pinhais e áreas a arborizar foram separados dos terrenos particulares
com valados de cedros. Os marcos de pedra nos vértices dos terrenos não foram
utilizados, pois seria demasiado dispendioso, uma vez que neste concelho não existe
pedra, logo esta teria que ser comprada longe e transportada.

1 2 3

4 5 6

7 8 9

Figura I.4 – Vegetação dunar semeada no início do século XX. 1 – Corema album (L.) Don,
EMPETRACEAE; 2 – Myrica faya Aiton, MYRICACEAE; 3 – Ulex europaeus L., LEGUMINOSAE;
4- Helichrysum angustifolium (Lam.) DC., COMPOSITAE; 5 - Ammophila arenaria (L.) Roth., GRAMINEAE;
6 - Lavandula sthoecas pedunculata L., LABIATAE; 7 - Halimium halimifolium (L) Willk), CISTACEAE;
8 - Cistus salvifolius L., CISTACEAE; 9 - Phragmites australis (Cav.) Steudel, GRAMINEAE

A primeira sementeira foi iniciada a Norte da estrada Mira-Palheiros de Mira


(1920), procedendo-se antes disso à drenagem das águas vindas da Lagoa do Palhal e
que aí se acumulavam na estação das chuvas, canalizando-se por meio de uma vala com
a largura de dez metros e uma extensão de aproximadamente cinco quilómetros ao

30
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

longo da referida estrada. Depois de abertas, as margens das valas foram fixadas com
estacaria, canas, salgueiros e mimosas (Rei, 1924).
Para assegurar o sucesso da sua germinação, o penisco necessitava mais do que
somente areias soltas. Assim, foram muitas as “carradas” de matos e moliço
transportadas para as dunas de modo a fertilizarem o solo. Este fertilizante era
distribuído pelos regos anteriormente abertos pelas “juntas” de bois. Praticamente todos
os homens das aldeias próximas da floresta lá trabalharam. E, curiosamente, numa
época em que as mulheres não trabalhavam fora dos seus terrenos, foi necessário
chamá-las, para ajudarem a fazer as sementeiras. Isto porque o conhecimento técnico
dos Serviços Florestais poderia ser muito elevado, mas, neste concelho, e possivelmente
em toda a Gândara, eram as mulheres que trabalhavam a terra, logo, elas melhor do que
ninguém sabiam o que lhe fazer. Eram as mulheres que semeavam: distribuíam o
penisco nos regos e cobriam-no com matos e uma fina camada de areia, para evitar que
fosse levado pelo vento (Rei,1924).
Simultaneamente com os trabalhos de sementeira, era feito o planeamento e a
sequente construção da rede viária que iria atravessar aquela área, facilitando na altura a
circulação dos recursos e permitindo no futura a circulação do trânsito.
Os trabalhos de sementeira foram realizados entre 1920 e 1938. Os trabalhos
posteriores consistiram principalmente na expansão da rede viária, na realização da rede
divisional, e na manutenção e melhoramento da rede hidrográfica.
A área arborizada foi dividida posteriormente em 242 talhões retangulares com
aproximadamente 24ha (600x400 m). A rede divisional é constituída por aceiros com
600 metros de intervalo e 10 metros de largura, e por arrifes, com um intervalo de 400
metros entre si e largura de 5 metros. Os aceiros têm uma orientação sensivelmente de
ENE-WSW, perpendicular aos ventos dominantes na época dos fogos, e os arrifes uma
orientação perpendicular aos primeiros, sensivelmente NNW-SSE, dando à área a
referida configuração geométrica, dividida em talhões iguais, o que permite uma gestão
mais eficiente da mata (Rei,1924).
No tempo da realização destes trabalhos, a “floresta” era considerada como uma
importante fonte de rendimento para quem trabalhava na sua concretização: homens,
mulheres e crianças (figura I.5) E os “Serviços Florestais” eram o maior, e praticamente
único, empregador da região.

31
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

1 2 3

Figura I.5 – Sementeira das Dunas 1 – Barreira de protecção: paliçada para fixação das dunas, 2 -
Abertura de regos de sementeira; 3 – Família de trabalhadores na sementeira da floresta
Fonte: Rei,1924

Terminadas as sementeiras, algumas pessoas continuaram os trabalhos de


construção das redes viária e divisional, e os restantes voltaram para o trabalho agrícola
nas suas aldeias. Nesta época já era possível retirar materiais das matas para uso
particular e municipal.
Miranda (2005, p.154) refere que em 1941 (segundo registo na ata da sessão da
Câmara Municipal de 22 de Fevereiro) ocorreu em Portugal um grande ciclone que
causou enormes prejuízos em todo o país. Em Mira registaram-se também grandes
danos “quer a nível particular quer nas matas municipais, quer nas administradas pelos
Serviços Florestais”. A destruição terá sido de tal forma que a “Câmara Municipal
mandou “aproveitar os pinheiros das matas municipais (…), os melhores, para
construção e conserto de pontes e outras obras (…)”. Os restantes seriam vendidos a
particulares e usados para a construção ou para combustível.
Na nova mata, concluída em 1943 (Perímetro Florestal das Dunas de Mira), a
espécie predominante escolhida para a sementeira foi novamente o Pinus pinaster
Aiton, exatamente por ser considerada a árvore própria das regiões litorais (Direção
Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, 1939).
Opiniões divergem quanto à origem natural desta espécie em Portugal continental.
Enquanto alguns autores a consideram introduzida tardiamente, outros referem a
existência de fósseis de pináceas no País. Almeida & Freitas (1998) referem a existência
de 7 espécies de pináceas exóticas no país. Não as identificando, não deixa de ser
importante o registo desta família no grupo de plantas exóticas do país.
Gómez_Orellana et. al., (2012, p.104) incluem a presença de “Pinus pinaster-type…nos
territórios litorais do NO ibérico no período compreendido entre 110000 e 18000BP.”
Também Mateus (2009) refere a existência de pólenes de Pinus na Lourinhã que datam
do Jurássico. Pais et al. (1999) já haviam referido também pináceas autóctones

32
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

presentes no país, que mais tarde terão praticamente desaparecido devido a alterações
climáticas intensas.
Fabião (1992, p.13) refere que o pinheiro bravo, provavelmente, seria típico dos
“locais de solos com poucas disponibilidades hídricas (areias recentes)… do centro e
norte do país.” Este estaria “associado a matos de composição variada, consoante a
região”.
Pimentel (1910), referido por Pedro (1993, p.10) refere que antes de D. Dinis ter
promovido o desenvolvimento do pinhal de Leiria, este já existiria na época de D.
Sancho I. Considera ainda que esta mata de Leiria se tenha formado “naturalmente
como outros grandes pinhais que antigamente cobriram o litoral e dos quais restam
ainda grandes vestígios”. Silva (1992) apud Pedro (1993), refere ter encontrado
vestígios de material de Pinus do Calcolítico (5000 anos?), o que leva a concluir que
não foram os romanos que trouxeram o Pinus L. (Teixeira, 1945, apud Pedro, 1993)
pois ele já existia em Portugal antes da sua chegada.
Também Aguiar e Capelo (2000, 2004), e Ganhão e Oliveira (2004), referem a
existência de Pinus pinaster Aiton antes do Holocénico. Durante este período terá
havido um decréscimo da espécie, que mais tarde foi, novamente, recuperada. Aguiar e
Pinto (2007) referem a existência de Pinus pinaster Aiton também no Holocénico,
nomeadamente no litoral da Península Ibérica. Sanches (2000, p. 158) considera que
“Do VI-III milénio A.C…” existiria já uma floresta “marcada por elementos atlânticos -
pinheiro bravo ou marítimo (Pinus pinaster Aiton)”, contribuindo assim para
intensificar a ideia de esta ser uma espécie muita antiga nestes territórios.
Leeuwaarden e Queiroz (2003, p.79) referem a existência de lenha de pinho (no
sítio da Ponta da Vigia, Torres Vedras) que confirma a existência de pinhais bravos no
Mesolítico, “provavelmente habitando os interflúvios de solo arenoso e planos de dunas
estabilizadas do litoral”.
Mateus et al. (1993) apresentam um exemplo de pormenor do estudo da presença
de Pinus em Portugal de forma intensiva, pretendendo assim contribuir para a
diminuição das dúvidas existentes acerca da sua presença em território nacional.
Pais (1992) conclui que o Pinus pinea L. é também uma espécie antiga em
Portugal, com registos de datações que apontam para os 1700 anos. No entanto, este
autor refere em 1987 (apud Pais, 1992) as suas datações para cerca de 5000 anos da
mesma espécie.

33
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Parecem não restar dúvidas quanto à antiguidade do Pinus pinaster Aiton em


Portugal, pelo que esta será sempre uma espécie a ter em linha de conta nas possíveis
arborizações a efetuar.
Voltando ao Pinhal de Mira, em concreto. No que se refere à construção da rede
divisional, apesar de esta já estar incluída no projeto inicial de arborização, só se iniciou
em 1946. Isto deve-se ao facto de as areias só nesta altura terem atingido a estabilidade
necessária e, ainda, por o estado de desenvolvimento dos povoamentos começar então a
requerer a existência da uma rede divisional como defesa preventiva e de eventual
combate a incêndios, bem como a facilitar as estratégias de gestão e de acesso para
outras operações.

I.3.2 - Da década de 50 à década de 90 do século XX

Das áreas das matas continuavam a ser retirados limos nos lagoeiros e lagoas
(figura I.6), agulhas e lenhas nos novos pinhais, em dias pré determinados (terças e
sextas) e após a compra de uma autorização passada pelos serviços florestais. Estes
trabalhos terminaram na década de setenta com o aparecimento regular dos fertilizantes
de síntese e a vulgarização do uso do gás. Das lagoas também era retirado peixe que
complementava a dieta de uma grande parte da população. Havia enguias, carpas,
barbos e tainhas, entre outros.

Figura I.6 – As Lagoas 1 – Lagoa de Mira, onde se apanhava moliço; 2 – Barco de colheita de
moliço; 3 – Pesca à fisga.
Fonte: Rei, 1924

Era proibido arrancar plantas e tirar areias das áreas arborizadas, bem como
remover rapão e estrumes. Às terças e às sextas, os agricultores que desejassem retirar
alguns dos produtos permitidos iam a casa do guarda florestal informar que tipo de
material pretendiam retirar (agulhas, matos ou lenha), e era-lhe destinado o local onde
poderiam fazer a sua recolha (o talhão ou a parcela) Este processo permitia fazer uma
gestão dos matos, uma vez que a sua limpeza era previamente planeada num plano de
gestão simplificado, onde eram identificados os talhões a limpar anualmente para

34
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

períodos de 5 anos. Assim, os Serviços Florestais prestavam um serviço às populações e


dispunham de mão-de-obra gratuita para a limpeza das matas, e os agricultores
obtinham os subprodutos florestais de que precisavam para complementar a sua
actividade agrícola. Aqui, a floresta desempenhava um papel determinante na economia
local, como criador de emprego e fornecedor público de outros bens e serviços.
Estes dias de ida à floresta, além de satisfazerem a grande necessidade de
produtos complementares à atividade agrícola, eram também muito significativos no
que dizia respeito ao convívio social. Num primeiro dia, o núcleo familiar ia sozinho
ancinhar as agulhas e arranjar a lenha, deixando tudo pronto para, num segundo dia,
poder transportar a maior quantidade possível dos resíduos lenhosos extraídos. Nestas
atividades participavam os familiares e os vizinhos/amigos mais próximos. Os produtos
retirados eram taxados de acordo com o tipo de transporte (carrada de bovino ou
molho), a preços simbólicos, à saída da mata junto da casa florestal.
Outra forma de convívio social dizia respeito à limpeza das valas. Até há poucos
anos, todas as valas do concelho apresentavam entre si características semelhantes, isto
porque os trabalhos de limpeza eram organizados regularmente, pelos Serviços
Hidráulicos, pela Direção Geral das Florestas, pela Câmara Municipal e pelos habitantes
que de alguma forma usufruíam delas. Os agricultores e os moleiros juntavam-se para
limparem determinados percursos das valas, com o objetivo de prevenirem as
inundações dos moinhos e dos terrenos agrícolas circundantes. Era um trabalho
exclusivamente feito no Verão.
Também no início do Verão, as populações locais juntavam-se ao domingo e num
são convívio iam colher camarinhas. Normalmente eram grandes grupos de jovens
acompanhados por senhoras mais idosas. Era uma forma de procurar/encontrar namoro.
No dia de Santa Marinha, 18 de Julho, Dia Santo de Guarda, novamente se
juntavam grupos para ir merendar à floresta. Nas populações mais pobres era a
substituição da ida à praia.
Concluindo, até finais da década de oitenta, a floresta funcionava como bem
público em diferentes vertentes, que iam do fornecimento de variados subprodutos à
população, até ao lazer, que é uma das atividades que se prolonga para a atualidade.
De 27 a 29 de Julho de 1987 as matas de Mira sofreram um intenso incêndio onde
ardeu cerca de um terço da sua área. Este incêndio começou a norte, no concelho de
Vagos e percorreu uma vasta área, tendo sido travado na localidade de Casal de São
Tomé (Miranda, 2012, pp. 380-381).

35
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

No dia 27 de Julho de 1987, à 1.00h, teve início um incêndio nas matas do


concelho de Vagos. Este incêndio foi detetado por um posto de vigia de Mira (Areão),
que logo deu o alerta. Inicialmente somente as corporações de bombeiros de Mira e de
Vagos tentaram combater o incêndio. Até às 2.30h existia uma frente de 1km de fogo
superficial. Tentou-se um contrafogo no Poço da Cruz, mas não se obteve o resultado
desejado, tendo-se o fogo dirigido para o concelho de Mira, tomando cada vez maiores
proporções, tornando-se incontrolável. Às 6.30h o fogo passou ao concelho de Mira e às
7.00h passou a fogo de copas. A partir daqui qualquer atuação dos bombeiros seria
ainda mais difícil do que quando o fogo era somente superficial. Em Mira, a progressão
do fogo terminou na zona do Casal de S. Tomé, cerca das 20.00h do dia 28, sendo
oficialmente dado como extinto às 14.00 do dia 29 de Julho. Ainda houve
reacendimento de áreas já ardidas mas que foram relativamente fáceis de controlar.
Saliente-se que este fogo terminou nesta zona porque a população decidiu desobedecer
às ordens das autoridades, e optou por cortar uma área relativamente grande de
pinheiros, para que o fogo não conseguisse passar. Se não tivesse sido tomada esta
atitude certamente que este não teria sido o fim do incêndio, sendo impossível prever
qual seria o local onde isso fosse acontecer. O total de área ardida no concelho de Mira
foi de 1400ha, tendo o prejuízo sido estimado na altura em 180 mil contos (cerca de 900
mil euros). Até esta data só tinham ocorrido incêndios com áreas máximas de 10ha
(Viegas et al., 1987; Ferreira, 2006 e 2009).
Quando ocorreu o incêndio, o coberto arbóreo encontrava-se pouco vigoroso. O
coberto arbustivo apresentava-se bastante heterogéneo, relativamente denso em algumas
depressões interdunares, onde havia mais água e acumulação de matéria orgânica
resultante da degradação vegetal. E era praticamente inexistente noutras, dando origem
a clareiras. Também os aceiros e os arrifes se encontravam invadidos por acácias e
matos. Resumindo, poder-se-á pensar que a falta de manutenção das matas de Mira terá
contribuído para a propagação do incêndio. Estes fatores, associados a condições
climáticas favoráveis, terão sido mais do que suficientes para o incêndio tomar as
proporções que atingiu, destruindo uma parte considerável das matas do concelho.
Como tudo, nos territórios naturais assim como nos construídos, é necessária
intervenção de manutenção e promover as alterações que se considerem pertinentes. Tal
tem acontecido no Perímetro Florestal das Dunas de Mira. Após o incêndio ocorrido em
1987, houve o cuidado de efetuar um novo planeamento para a área ardida (Alcaide,
1994) e, para a totalidade da área, foram pensados diferentes projetos. A norte do

36
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

concelho, no Seixo, instalou-se uma empresa de produção e acondicionamento de


arbustos e árvores. Seguidamente no centro, junto da Praia de Mira, optou-se por retirar
todos os pinheiros queimados e deixar que a natureza efetuasse o seu trabalho - nesta
área promoveu-se a regeneração natural. Junto aos aldeamentos Mira-Villas e Mira-
Oásis efetuaram-se sementeiras, com o objetivo de comparar estas áreas com as de
regeneração natural, e no futuro, quando necessário, saber quais as mais adequadas a
implementar nestas áreas.
Com o progressivo abandono a que esta área florestal está sujeita por parte da
população agrícola (que por sua vez é cada vez mais reduzida) e com o aumento da
pressão a que está sujeita por parte de outras necessidades da população, como as
turísticas e industriais, o papel protetor, produtor, ecológico e recreativo está, de alguma
forma, fortemente condicionado.

I.3.3 - Década de 90 até à atualidade

A 19 de Julho de 1993 voltou a ocorrer outro incêndio nas dunas de Mira. Desta
vez o foco foi a lixeira Municipal de Mira. Neste concelho arderam 160ha de mata, mas
o fogo prolongou-se para as dunas de Cantanhede e posteriormente para as de Quiaios.
Em Cantanhede arderam 2425ha e em Quiaios 367ha. Estes valores dizem respeito a
áreas administradas pelos Serviços Florestais. Em Mira e Cantanhede, em 1993,
arderam um total de áreas privadas de 590ha, enquanto em Quiaios arderam 806ha.
A espécie arbórea dominante, da área florestal total do concelho continua a ser o
Pinus pinaster Aiton, predominando em 90,0% da, seguindo-se outras folhosas (não
diferenciadas) (7,0%) e o eucalipto (3,0%) (CMDFCI, 2010).
O estrato arbustivo e subarbustivo continua constituído, basicamente, por espécies
como a Myrica faya Aiton, Ulex europaeus L., Corema album (L.) Don, Stauracanthus
genistoides (BROT.) (Samp.), Cytisus grandiflorus (Brot.) DC.. Por seu lado as espécies
predominantes no estrato herbáceo são nomeadamente: Helichrysum stoechas (L.)
Moench, Ammophila arenaria (L.) Roth., Cistus salvifolius L.,, Juncus acutus (L.). A
Cladonia furcata (Hudson) Schrader, por vezes confundida com uma planta, é um
líquen muito frequente nestas areias dunares. Também as acácias (Acacia dealbata
Link. e Acacia longifolia Andr. Willd) apresentam um elevado grau de cobertura,
entrando em competição com as espécies acima referidas, levando na quase totalidade
das situações ao seu desaparecimento.

37
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Com o contínuo abandono da atividade agrícola a partir dos anos noventa, vieram,
consequentemente, instalar-se problemas nas matas, que tinham sido pensadas, também,
para apoio à atividade agrícola. Nos problemas registados para estas matas são de
destacar:
a) A elevada densidade arbórea nos povoamentos;
b) A elevada densidade do subcoberto, quase sempre constituído
exclusivamente por acácias, criando uma continuidade de combustíveis
entre o solo e a copa das árvores (figura I.7);
c) Acumulação de detritos de exploração;
d) Negligência (domínio público e privado) (CMDFCI, 2010).

1 2 3

Figura I.7 – Diferentes densidades de povoamentos 1 – Aceiro ocupado por acácias, 2 – Elevada
densidade de subcoberto; 3 – Elevada densidade de Pinheiro Bravo

Também as valas estão atualmente em mau estado de conservação, pois eram


essencialmente os agricultores e os moleiros que com elas se preocupavam. Como o
número de agricultores é cada vez menor e o de moleiros tende a desaparecer, tornar-se-
ia necessária a existência de entidades que os substituíssem na referida preocupação de
manutenção das valas. Em algumas aldeias, limítrofes da floresta, grupos de homens
ainda se juntam para precederem às respetivas limpezas. Enquanto que até à atualidade
se procedia a estas limpezas com o objetivo de conservação dos moinhos e terrenos
agrícolas adjacentes, agora pretende-se sobretudo manter algumas atividades
tradicionais, onde além do trabalho se procede a um são convívio entre populações.
Estes trabalhos são realizados por diferentes grupos socioculturais (figura I.8).

Sendo frequente a contribuição de todos para


a manutenção dos espaços naturais do concelho,
este trabalho pretende, também, incluir-se nessa
contribuição.

Figura I.8 – Manutenção das valas


Fonte: Projeto gerido pela AAMARG

38
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

CAPÍTULO II
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

II.1 ENQUADRAMENTO FÍSICO 40


II.1.1 Clima 41
II.1.1.1 Bioclimatologia 53
II.1.2. Evolução da linha de costa onde se insere
a área de estudo (Ria de Aveiro) 56
II.1.3 Geologia e Litologia 76
II.1.4 Geomorfologia e processos morfogenéticos 79
II.1.4.1 Praia 82
II.1.4.2 Cordão Dunar 84
II.1.4.3 Depressão Pós-duna Frontal (Local de
Estudo) 88
II.1.4.4 Dunas Interiores (Local de Estudo) 89
II.1.5 Hidrografia 92
II.1.6 Solos 98
II.1.7 Vegetação 101

II.2 ENQUADRAMENTO HUMANO 109


II.2.1 Evolução da população 110
II.2.2 Setores de atividade 112

39
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

II.1 - ENQUADRAMENTO FÍSICO

A realização deste tipo de trabalhos pressupõe uma abordagem integrada, numa


perspetiva holística, onde a produção de dados e pré-análise inicial (caracterização da
área) é efetuada muitas vezes por equipas interdisciplinares, devido às distintas
metodologias a utilizar. Tudo isto deve inserir-se numa visão de política de partilha e
acessibilidade de dados a terceiros (Rodrigues, 2008). O que poderá parecer um mero
ato descritivo de caracterização da área de estudo é, na verdade, o ponto de partida para
a colocação das questões-chave da investigação, com a posterior definição das
metodologias que se considerem adequadas, tendo por base as especificidades do local.
É comum registarem-se trabalhos com análises geradas exclusivamente em
características físicas dos locais abrangidos. No entanto, cada vez mais se deve procurar
a influência do Homem na definição desse espaço físico, o que muitas vezes poderá ser
fundamental na interpretação correta dos dados, assim como na proposta de novas
estratégias.
As características físicas do local de estudo apresentadas neste capítulo levam a
que se perceba a atração de que estes espaços são alvo, pelo facto de serem recentes e,
por isso, ainda tão pouco consolidados do ponto de vista natural. As características
analisadas são indicadoras da fragilidade destes espaços que se tornam tão apelativos do
ponto de vista científico.
A dificuldade na interpretação, que se inicia com a própria formação do espaço -
ninguém sabe com certeza como foi a sua evolução - até à questão que se coloca para a
procura de respostas aos motivos que permitem um tão grande desenvolvimento vegetal
para áreas tão inóspitas, são desafios que se colocam a quem tem contacto com o espaço
natural in loco ou a quem, de alguma forma, tem acesso a bibliografia do espaço
gandarês, onde o concelho de Mira, na sua totalidade, se insere.

40
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

II.1.1 – Clima

«A sobrevivência da Humanidade depende de ser possível conseguir a devida


harmonia entre a Sociedade e a Natureza. E o clima não é mais do que uma
característica do ambiente natural que se deve usar de forma equilibrada. É que todos
os elementos exercem ações mútuas entre si, tanto localmente como à distância. A
degradação do meio ambiente em qualquer zona geográfica deve constituir uma grave
preocupação já que pode influir sobre o clima de outro local» (Declaração da
Conferência Mundial do Clima, Genebra, 1979 apud Peixoto, 1987).
O clima constitui o elemento chave na ecologia, contribuindo de forma
determinante para a distribuição geográfica das espécies animais e vegetais, afetando
profundamente as suas características morfológicas. O mesmo se passa com a paisagem
vegetal, visto que o tipo e a forma da vegetação são condicionados pelo clima. O clima
atua e modela todas as fases do ciclo hidrológico, determinando a intensidade da
circulação da água e as suas modificações. Atua direta e indiretamente sobre o relevo e
é um fator decisivo de toda a fisiografia do globo (Peixoto, 1987).
O clima de um determinado local é o conjunto das condições meteorológicas aí
predominantes durante um determinado intervalo de tempo. A sua descrição
quantitativa faz-se por meio dos valores médios simples ou ainda elementos climáticos
complexos, definidos a partir de dois ou mais elementos meteorológicos. Com os
elementos climáticos complexos pretende-se descrever o efeito climático de causas que
estão relacionadas entre si ou que atuam conjuntamente para produzir certos aspetos da
paisagem fisiográfica e biológica de que é exemplo a aridez do solo, rendimento de
culturas, etc (Peixoto, 1987).
Nem todos os elementos climáticos têm a mesma importância. É comummente
aceite que os mais importantes são a temperatura, a precipitação e a sua variação ao
longo do tempo.
O clima de Portugal inclui-se no domínio mediterrâneo, o que poderá parecer
relativamente estranho, uma vez que todo o litoral vai confinar com o Oceano Atlântico.
No entanto, é suficiente o conhecimento de certas características naturais,
nomeadamente da vegetação, para se entender a sua inclusão no mundo mediterrâneo,
embora não possa deixar de se referir também a influência do Atlântico, principalmente
no litoral Norte do País. Embora as duas influências (mediterrânea e atlântica) se
conjuguem, há locais de características acentuadamente mais atlânticas e outras

41
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

marcadamente mediterrâneas. Para a sua distribuição utiliza-se o Índice Xerotérmico de


Gaussen, com o objetivo de individualizar as áreas de clima mediterrâneo, em função
do período biologicamente seco na estação quente. Gaussen considera biologicamente
secos os meses em que a precipitação (em mm) é inferior a duas vezes o valor numérico
da temperatura (em ºC). À ausência de período biologicamente seco corresponde o
domínio atlântico, enquanto se o seu valor for menor do que 45 dias, é considerado sub-
húmido (NW de Portugal e montanhas do centro). À exceção do Vale do Douro, em
praticamente toda a restante área a Norte do Tejo o período biologicamente seco dura
em média 80 dias, o que corresponde a características meso mediterrâneas atenuadas.
Aqui incluem-se as dunas de Mira (Alcoforado, 1991).
A Sul do Tejo existem normalmente entre 80 a 100 dias biologicamente secos,
que correspondem a características meso mediterrâneas acentuadas. Estes dias secos vão
prolongar-se mais de três meses no vale do Guadiana e no Algarve, alcançando 200 dias
no Sotavento, correspondendo a características termomediterrêneas (Alcoforado, 1991).
Segundo Susanne Daveau (1998), os principais limites climáticos têm, em
Portugal continental, um traçado NE-SW quando a influência da distância ao litoral
ocidental é predominante. Nos climas de influência marítima as amplitudes térmicas
anuais são fracas (verão fresco a moderado e inverno tépido a moderado, embora frio a
norte do Douro). Distinguiu ainda as áreas de feição Setentrional, mais chuvosas, mais
recuadas para o oriente e protegidas por promontórios onde a temperatura estival é mais
elevada mesmo nas imediações do mar. No extremo oposto, onde predomina a
influência continental, os contrastes térmicos são intensificados no Norte do País pelas
baixas temperaturas de inverno. A sul dos relevos elevados de Portugal Central, assim
como no Vale do Douro, a grande amplitude térmica anual é comandada pelas elevadas
temperaturas do verão. Entre os locais francamente marítimos e os marcadamente
continentais existe uma área de transição, em que as duas influências se alternam.
Segundo esta distribuição, as dunas de Mira, pela sua localização, são alvo de influência
marítima o que se confirma pelas amplitudes térmicas relativamente baixas.
Ribeiro et al. (1994) pretenderam explicar a diferenciação do clima de Portugal,
salientando o contraste entre o Norte, mais chuvoso, e o Sul onde os valores de
precipitação muito baixos chegam a originar a existência de seis meses secos. Referem
também a distinção entre o litoral, alvo da humidade oceânica, e o interior mais seco,
com uma diminuição acentuada dos valores de precipitação. Dividem o País em
«Províncias Climáticas», da qual se salienta a «Província Atlântica do Norte» que se

42
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

verifica desde o Minho até ao Mondego e que é caraterizada por verões (frescos) com
temperaturas médias de 20ºC em agosto, e invernos (suaves) com 8ºC de temperatura
média em janeiro. Esta é a província climática de Lautensach onde se integram as
Dunas de Mira, que apresentam temperaturas médias de 19.1ºC e 9.8ºC em agosto e
janeiro, respetivamente.
O enquadramento climático das dunas de Mira é feito recorrendo a três estações
meteorológicas: Aveiro/Barra, Dunas de Mira e Figueira da Foz. Trata-se, portanto, de
três estações localizadas no litoral.
Os valores apresentados são relativos a observações realizadas no período de
1930-60. Trata-se do período de tempo recomendado pela Organização Meteorológica
Mundial (30 anos consecutivos). Serão ainda verificados os valores relativos à estação
das Dunas de Mira no período de 1961-88 no sentido de se verificar possíveis alterações
registadas nesta área.
A precipitação anual média da estação de Aveiro é de 913mm, a de Mira de
1002mm e a da Figueira da Foz de 627mm. Trata-se, portanto, duma região
moderadamente húmida, onde os valores de Mira registam a precipitação mais elevada.
Estas precipitações distribuem-se em maior quantidade pelos meses de inverno, quando
a temperatura é mais baixa. A temperatura média anual é de 14,6ºC em Aveiro, 14,8ºC
em Mira e 15ºC na Figueira da Foz, registando-se os seus máximos de junho a setembro
(figura II.1). Os valores médios de temperatura registados na estação de Mira durante o
período de 1934-60 diminuem 0,6ºC para 1961-88, enquanto na precipitação ocorreu
um decréscimo de 1002 para 854mm, ou seja, ocorreu uma diminuição de 148mm.

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60) Fig. da Foz (1931-60)


200 100 200 100 200 100
180 90 180 90 180 90
160 80 160 80 160 80
140 70 140 70 140 70
R (mm)

R (mm)
R( mm)

120 60 120 60 120 60


T ( ºC)

T ( ºC)
T( ºC)

100 50 100 50 100 50


80 40 80 40 80 40
60 30 60 30 60 30
40 20 40 20 40 20
20 10 20 10 20 10
0 0 0 0 0 0
J F MA M J J A S O N D J F MA M J J A S O N D J F MA M J J A S O ND
Mês Mês Mês

R (mm) T (ºC) R (mm) T (ºC)


R (mm) T (ºC)

Figura II.1 – Gráficos termopluviométricos de Mira e das estações envolventes


Fonte: O Clima de Portugal

43
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A precipitação é um indicador da água que estará disponível para aproveitamento


das plantas. A sua carência levará à secura dos solos e consequentemente à secura das
plantas existentes num determinado local. Um valor elevado de precipitação pode
conduzir, por outro lado, à saturação dos solos e à consequente destruição da vegetação.
O número de dias com precipitação superior a 10mm é mais significativo em Mira (39),
depois em Aveiro (30) e finalmente na Figueira (20). É também esta a ordem de dias
com ocorrência de precipitação (151, 114 e 106 dias) (figura II.2).

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60) Fig. da Foz (1931-60)


20 20 20
N. º de Dias

15

N. º de Dias
15 15
N. º de Dias

10 10 10

5 5 5

0 0 0
J F MA M J J A SO N D J F MA M J J A SO N D J FMA M J J A S O N D
Mês Mês Mês
Prec sup. a 0.1 mm Prec sup. a 0.1 mm Prec sup. a 0.1 mm
Prec. sup a 10 mm Prec. sup a 10 mm Prec. sup a 10 mm

Figura II.2 – Número de dias com precipitações superiores a 0.1 e 10mm


Fonte: O Clima de Portugal

A temperatura influencia o ciclo biológico e é determinante principalmente na


época de germinação de sementes e da floração das plantas. Temperaturas muito baixas
têm ação direta sobre a vegetação, levando à diminuição das funções vitais e à formação
de gelo nos tecidos. As baixas temperaturas atuam ainda indiretamente, provocando o
congelamento da água no solo. As temperaturas muito elevadas, por seu lado, vão
favorecer a evaporação, logo também passará a existir carência de água. Podem ainda
originar distúrbios diretos na planta como por exemplo a desnaturação de proteínas. As
temperaturas máximas atingidas em qualquer uma das estações ultrapassam os 20ºC em
todos os meses do ano. Os valores mais elevados ocorrem em julho e agosto,
ultrapassando os 35ºC. As temperaturas mínimas registadas apresentam valores abaixo
de 0ºC de novembro até março em Mira, e em janeiro e fevereiro na Figueira e em
Aveiro. Os valores máximos para as temperaturas mínimas não ultrapassam os 10ºC em
nenhuma estação (figura II.3).

44
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60) Fig. da Foz (1931-60)


50 50 50
40 40 40
30 30 30

T(ºC)

T (ºC)
T (ºC)

20 20 20
10 10 10
0 0 0
-10 -10 -10
J F MA M J J A SO N D J F MA M J J A SO N D J FMA M J J A S O ND
Mês
Mês Mês
T. máx. T. min. T. máx. T. min. T. máx. T. min.

Figura II.3 – Variação das temperaturas máximas e mínimas ao longo do ano


Fonte: O Clima de Portugal

A frequência de dias com temperatura abaixo de 0ºC é pouco significativa, sendo


de dois dias em Aveiro, nove em Mira, e na Figueira não são registados. Estas
temperaturas ocorrem normalmente de novembro a fevereiro. O número de dias com
temperaturas superiores a 25ºC é de quinze em Aveiro, trinta e oito em Mira e vinte e
nove na Figueira da Foz. Ocorrem normalmente de abril a outubro (figura II.4).

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60) Fig. da Foz (1931-60)


8 8 8

6 6 6
N. º de Dia s

N. º de Dias
N. º de Dias

4 4 4

2 2 2

0 0 0
J F MA M J J A S O N D J F MA M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês Mês
T. inf. a 0ºC T. sup. a 25ºC T. inf. a 0ºC T. sup. a 25ºC T. inf. a 0ºC T. sup. a 25ºC

Figura II.4 – Número de dias com temperaturas inferiores a 0 e superiores a 25ºC


Fonte: O Clima de Portugal

Outro elemento climático importante, principalmente devido às consequências


que pode ter sobre as plantas, é a geada. Esta resulta da sublimação do vapor de água
em cristais de gelo que recobrem a superfície das plantas expostas ao arrefecimento,
levando também à destruição dos tecidos destas (Lourenço, 1988). Em Aveiro, o
número registado é de cinco dias, em Mira de trinta e dois e na Figueira não são
registados quaisquer valores. Em Mira temos geadas desde novembro até abril, mas
mais acentuadamente de dezembro a fevereiro (figura II.5). Aqui, as geadas de março e
abril são um elemento que limita o desenvolvimento da agricultura, pois condicionam a
germinação das sementes ou, por outro lado, destroem os novos tecidos já formados.

45
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60)


10 10

8 8

N.º de Dias

N.º de Dias
6 6
4 4
2 2
0 0
J F MA M J J A SO N D J F MA M J J A SO N D
Mês Mês
Dias de Geada Dias de Geada

Figura II.5 – Número de dias com ocorrência de geada


Fonte: O Clima de Portugal

O nevoeiro resulta da suspensão de pequenas gotículas de água na camada inferior


da atmosfera e contribui para a diminuição da chegada de energia solar às plantas
(Lourenço, 1988). Apesar de ter um efeito negativo sobre o processo fotossintético,
possui um efeito positivo sobre o fornecimento de águas às plantas, por estas
conseguirem a interceção daquelas gotículas que acabam por cair sobre o solo, dando
origem à chamada precipitação oculta. O nevoeiro ocorre mais durante o verão, sendo
então um nevoeiro de advecção. Assim, os meses de mais nevoeiro são os de julho a
setembro. A estação meteorológica de Mira é a que regista valores mais elevados.
Todos os meses há mais de quatro dias com nevoeiro, à exceção do mês de janeiro (com
três dias). O mês de agosto apresenta nevoeiro em metade dos seus dias (figura II.6).

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60) Fig. da Foz (1931-60)


20 20 20
N. º de Dia s

N. º de Dia s

15 15
N. º de Dia s

15

10 10 10

5 5 5

0 0 0
J FMA M J J A SOND J FMA M J J A SOND J F MA M J J A SO N D
Mês Mês Mês

Dias de Nevoeiro Dias de Nevoeiro Dias de Nevoeiro

Figura II.6 – Número de dias com ocorrência de nevoeiro


Fonte: O Clima de Portugal

Quanto à direção dos ventos, em qualquer das três estações a predominância é de


Norte e Noroeste, principalmente nos meses mais quentes. As calmas (velocidade

46
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

inferior a 5km/h) são bastante representativas em Aveiro e na Figueira da Foz. Em Mira


representam 0,2% em dezembro e em janeiro (figura II.7).

Aveiro Mira Fig. da Foz

Figura II.7 - Representação do número de observações mensais (em %) para cada rumo de vento
Fonte: O Clima de Portugal

A intensidade do vento pode provocar a destruição da vegetação ou então condicionar o


seu desenvolvimento, como é o caso dos pinheiros que se situam imediatamente a
seguir ao cordão dunar. As velocidades médias mais elevadas registam-se na estação de
Aveiro, depois vem a da Figueira da Foz e por fim a de Mira, que regista o valor
máximo de 12,8 km/h no mês de fevereiro, com origem no quadrante Sul. Em Mira as
maiores velocidades ocorrem do quadrante Sul (figura II.8).

Aveiro Mira Fig. da Foz

Figura II.8 - Representação da velocidade média mensal e por rumo do vento (em km/h).
Fonte: O Clima de Portugal

A evapotranspiração potencial traduz a máxima perda de água, para a atmosfera,


que um solo completamente abastecido de água pode sofrer, quer por transpiração das

47
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

plantas, quer por evaporação direta. A evapotranspiração real é a quantidade de água


que o solo cede realmente por unidade de área e de tempo à atmosfera, quer por
transpiração das plantas, quer por evaporação direta. Esta última é muito importante na
medida em que apresenta uma influência no ciclo da água e no balanço da água no solo.
A passagem de água do estado líquido ao gasoso e o seu transporte para a atmosfera é
um processo físico que ocorre tanto na evaporação dos solos como na transpiração das
plantas (Lourenço,1988).
Durante a estação seca a evapotranspiração potencial registada nestas estações é
bastante elevada, comparativamente à evapotranspiração real. É a temperatura elevada
que leva a pressupor uma grande evapotranspiração (evapotranspiração potencial), mas
na realidade não há água para evapotranspirar, o que faz com que a evapotranspiração
real desça muito em relação à potencial nos meses de verão. Isto ocorre nas três
estações, mas mais na Figueira da Foz pois atingem-se temperaturas mais elevadas e
existe menos precipitação, havendo assim menos água para evapotranspirar (figura II.9).

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60) Fig. da Foz (1931-60)


120 120 120
100 100 100
Água ( mm)
Água ( mm)

Água ( mm)

80 80 80
60 60
60
40 40
40
20 20
20
0 0
0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
J F MA M J J A S O N D
Mês Mês
Mês
Evapot.Potencial Evapot. Real Evapot.Potencial Evapot. Real Evapot.Potencial Evapot. Real

Figura II.9 – Representação da evapotranspiração potencial e real, nas estações analisadas


Fonte: O Clima de Portugal

O défice de água resulta da diferença entre a evapotranspiração potencial e a real.


O excesso de água corresponde ao excesso da quantidade de precipitação sobre a soma
da evapotranspiração potencial com a quantidade de água cedida ao solo
(Lourenço,1988).
Nas estações consideradas temos défice de água de julho a setembro e, na Figueira
da Foz, também em junho. O excesso de água existe de novembro a abril em Aveiro e
em Mira, e de janeiro a março na Figueira da Foz (figura II.10).
Em 1961-88, nas Dunas de Mira, o excesso de água ocorre de novembro a abril e
o défice ocorre no período de julho a setembro (figura II.11).

48
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Aveiro (1931-60) Mira (1934-60) Fig. da Foz (1931-60)


150 150
Água (mm) 150

100

Água (mm)
100 100

Água (mm)
50 50 50

0 0 0
D J F M A M J J A S O N D D J F M A M J J A S O N D D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês
Mês
Excesso de Água Def. de Água Excesso de Água Def. de Água Excesso de Água Def. de Água

Figura II.10 – Representação do excesso e deficiência de água, nas estações analisadas


Fonte: O Clima de Portugal

Mira (1961-88) Mira (1961-88)


Mira (1961-88)
Gr. termopluviométrico 20 50
200 100
180 90 40
160 80 15
N.º de Dias

30

Temp. (º C)
140 70
R(mm)

120 60
T(º C)

10 20
100 50
80 40 10
60 30 5
40 20 0
20 10 -10
0
0 0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
J F MA M J J A SO N D
Mês Mês
Mês
Prec. Sup a 0,1mm Prec. Sup a 10mm Temp. Máx. Temp.mín.
R (mm) T (ºC)

Mira (1961-88) Mira (1961-88) Mira (1961-88)


12 12 20
10 10
15
N.º de Dias
N.º de Dias

N.º de Dias

8 8
6 6 10
4 4
5
2 2
0 0 0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês Mês
T. Inf. a 0ºC T. Sup a 25ºC Dias de Geada Dias de Nevoeiro

Mira (1961-88) - Evapotranspiração Mira (1961-88) Excesso/defic. de Água


120 150

100
Água (mm)

Água (mm)

80 100
60
40 50
20
0 0
J F M A M J J A S O N D D J F M A M J J A S O N D
Mês Mês
Evapot. Potencial (EP) Evapt. Real (ER) Excesso de Água Deficiência de Água

Figura II.11 – Clima em Mira em 1961-88


Fonte: Anuários de Climatologia

49
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Segundo a classificação de Thornthwaite (tabelas II.1, II.2 e II.3) temos na estação


de Aveiro um clima moderadamente húmido, mesotérmico, com moderada deficiência
de água no verão, sendo pequena a concentração da eficiência térmica no verão (B2 B’2
sa’).
A estação da Figueira da Foz regista um clima sub-húmido a seco, mesotérmico,
com grande défice de água no verão, sendo pequena a concentração da eficiência
térmica no verão (C2 B’2 s2a’).
A estação de Mira, segundo a classificação de Thornthwaite, apresenta um clima
húmido, mesotérmico, com grande deficiência de água no verão, sendo pequena a
concentração da eficiência térmica no verão (B3 B’2 sa’). No período de 1961-88,
devido à diminuição da precipitação, ocorreu uma alteração na classificação. Passou a
registar-se um clima moderadamente húmido, mesotérmico, com moderada deficiência
de água no verão, sendo pequena a concentração da eficiência térmica no verão (B2 B’2
sa’).
Como o que se pretendia era a confirmação da estação das Dunas de Mira, pode-
se dizer que não há variações significativas entre estas três estações. Embora registem,
segundo a classificação de Thornthwaite, tipos de clima diferentes, principalmente em
relação à precipitação, essa diferença não é tão relevante que permita distinguir
acentuadamente os três locais. Curiosamente, a alteração que se verifica em Mira para o
período de 1961-88, e que corresponde à caracterização de Aveiro no período anterior,
vem, de alguma forma, indicar que as diferenças registadas nesta área não serão
significativas.
Também a estação de Mira poderá apresentar alguns registos que, eventualmente,
não correspondam plenamente à realidade, salientando-se o caso dos ventos. Isto pode
ficar a dever-se ao facto de se encontrar protegida pela floresta, pois durante muitos
anos situou-se no seu limite Este.

50
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela II.1 – Balanço hidrológico de Thornthwaite na Estação Meteorológica de Aveiro (Barra)


Estação: Aveiro (Barra)
Latitude: 40º 39' N
Longitude: 8º 44' W (G)
Altitude: 3m

Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 9,9 10,2 12,8 14,4 15,6 17,5 18,2 18,4 18 16 13 10,6 14,6
Índice Calórico 2,81 2,94 4,15 4,96 5,6 6,66 7,07 7,19 6,95 5,82 4,25 3,12 61,52
Evapot. Pot. não Ajust. 32 33,5 46,6 55,4 62,3 73,6 78 79,2 76,7 64,6 47,7 35,4
Factor de Ajustamento 0,83 0,83 1,03 1,11 1,25 1,26 1,27 1,19 1,04 0,96 0,82 0,8

Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 27 28 48 61 78 93 99 94 80 62 39 28 737
Precipitação (R) 137 84 120 65 66 32 12 16 42 82 126 132 914
Var. Armaz. Água Útil 0 0 0 0 -12 -61 -27 0 0 20 80 0
Armaz. Água Útil 100 100 100 100 88 27 0 0 0 20 100 100
Evapot. Real (ER) 27 28 48 61 78 93 39 16 42 62 39 28 561
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 0 60 78 38 0 0 0 176
Excesso de Água 110 56 72 4 0 0 0 0 0 0 7 104 353

Índice de Aridez= 0,238 (24%)


Índice de Humidade= 0,479 (48%)
Índice Hidrico= 0,336 (34%)
Conc. Est. da Efic. Térmica= 0,37 (37%)

Fórmula Climática: B2 B'2 s a'


Classificação: Moderadamente húmido; Mesotérmico; Moderada deficiência de água no Verão
A concentração da eficiência térmica no Verão é pequena

Fonte: O Clima de Portugal

Tabela II.2 – Balanço hidrológico de Thornthwaite na Estação Meteorológica da Figueira da Foz


Estação: Figueira da Foz
Latitude: 40º 09' N
Longitude: 8º 51' W (G)
Altitude: 12m

Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 10,1 10,5 13,1 14,7 15,8 18 19 19,2 18,7 16,4 13,6 11,1 15
Índice Calórico 2,9 3,08 4,3 5,12 5,71 6,95 7,55 7,67 7,37 6,04 4,55 3,34 64,58
Evapot. Pot. não Ajust. 31,4 33,3 46,6 55,4 61,8 75,2 81,6 82,9 79,7 65,4 49,3 36,3
Factor de Ajustamento 0,84 0,83 1,03 1,11 1,25 1,25 1,27 1,18 1,04 0,96 0,83 0,81

Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 26 28 48 61 77 94 104 98 83 63 41 29 752
Precipitação (R) 93 61 84 47 44 17 5 9 29 67 81 89 626
Var. Armaz. Água Útial 0 0 0 -14 -33 -53 0 0 0 4 44 64
Armaz. Água Útil 100 100 100 86 53 0 0 0 0 4 44 100
Evapot. Real (ER) 26 28 48 61 77 70 5 9 29 63 41 29 483
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 24 99 89 54 0 0 0 266
Excesso de Água 67 33 36 8 0 0 0 0 0 0 0 0 136

Índice de Aridez= 0,35(35%)


Índice de Humidade= 0,18 (18%)
Índice Hidrico= 0,03 (3%)
Conc. Est. da Efic. Térmica= 0,378 (38%)

Fórmula Climática: C2 B'2 s a'


Classificação: Sub-húmido seco; Mesotérmico; Défice de água grande no Verão
A concentração da eficiência térmica no Verão é pequena

Fonte: O Clima de Portugal

51
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela II. 3 – Balanço hidrológico de Thornthwaite na Estação Meteorológica de Mira (1934-60 e


1960-88)
Estação: Dunas de Mira (1934-60)
Latitude: 40º 27' N
Longitude: 8º 45' W(G)
Altitude: 14m

Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 9,8 10,6 12,9 14,4 15,9 18 19 19,1 18,5 16,2 13,2 10,4 14,8
Índice Calórico 2,77 3,12 4,2 4,96 5,76 6,95 7,55 7,61 7,25 5,93 4,35 3,03 63,5
Evapot. Pot. não Ajust. 32,1 34,3 46 54,2 62,8 75,6 81,9 82,6 78,7 64,6 47,6 33,4
Factor de Ajustamento 0,84 0,83 1,03 1,11 1,25 1,25 1,27 1,18 1,04 0,96 0,83 0,81

Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 27 28 47 60 79 94 104 97 82 62 40 27 747
Precipitação (R) 144 105 133 68 75 27 11 19 49 107 114 150 1002
Var. Armaz. Água Útial 0 0 0 0 -4 -67 -29 0 0 45 55 0
Armaz. Água Útil 100 100 100 100 96 29 0 0 0 45 100 100
Evapot. Real (ER) 27 28 47 60 79 94 40 19 49 62 40 27 572
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 0 64 78 33 0 0 0
Excesso de Água 117 77 86 8 0 0 0 0 0 90 129 123 630

Índice de Aridez= 0.23 (23%)


Índice de Humidade= 0.84 (84%)
Índice Hidrico= 0.7 (70%)
Conc. Est. da Efic. Térmica=0.378 (38%)

Fórmula Climática: B3 B'2 s a'


Classificação: Húmido; Mesotérmico; Moderada deficiência de água no Verão;
A concentração da eficiência térmica no Verão é pequena
Fonte: O Clima de Portugal

Estação: Dunas de Mira (1960-88)


Latitude: 40º 27' N
Longitude: 8º 45' W(G)
Altitude: 14m

Mês J F M A M J J A S O N D Total
Temperatura 9,8 10,5 12,9 14,5 15,8 18 19 19,1 18,5 16,3 13,1 10,3 14,8
Índice Calórico 2,77 3,08 4,2 5,01 5,71 6,95 7,55 7,61 7,25 5,98 4,3 2,99 63,4
Evapot. Pot. não Ajust. 30,6 34,2 46,3 54,6 62 75,4 82 82,9 78,5 64,7 47,1 33,1
Factor de Ajustamento 0,84 0,83 1,03 1,11 1,24 1,25 1,27 1,18 1,04 0,96 0,83 0,81

Balanço Hídrico
Evapot. Potencial (EP) 26 28 48 61 77 94 104 98 82 62 39 27 746
Precipitação (R) 107 90 126 50 61 20 7 23 40 100 113 117 854
Var. Armaz. Água Útil 0 0 0 -11 -16 -73 0 0 0 38 62 0
Armaz. Água Útil 100 100 100 89 73 0 0 0 0 38 100 100
Evapot. Real (ER) 26 28 48 61 77 93 7 23 40 62 39 27 531
Deficiência de Água 0 0 0 0 0 1 97 75 42 0 0 0 215
Excesso de Água 81 62 78 0 0 0 0 0 0 0 12 90 323

Índice de Aridez= 0.29 (29%)


Índice de Humidade= 0.43 (43%)
Índice Hidrico= 0.26 (26%)
Conc. Est. da Efic. Térmica=0.378 (38%)

Fórmula Climática: B2 B'2 s a'


Classificação: Moderadamente húmido; Mesotérmico; Moderada deficiência de água no Verão;
A concentração da eficiência térmica no Verão é pequena
Fonte: Anuários de Climatologia

52
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

II.1.1.1 – Bioclimatologia

A bioclimatologia pretende prever a possibilidade de existência de determinadas


espécies relativamente a valores apresentados de elementos climáticos, principalmente
da temperatura e da precipitação. Ou seja, a partir de determinados valores de
temperatura e de precipitação pode tentar deduzir-se o tipo de vegetação aí existente.
Para tal recorre-se a diferentes índices bioclimáticos que, no seu conjunto,
contribuem para a verificação de determinado bioclima.
O método de Thornthwaite pretende dar uma contribuição para as potencialidades
de desenvolvimento da agricultura, nomeadamente através da água no solo. Uma vez
que não é normalmente referido como uma caracterização bioclimática, já foi
anteriormente apresentado. No entanto, este método não pode deixar de se referir
quando se pretendem efetuar estudos de vegetação.
Aqui será apresentada a classificação bioclimática de Rivas-Martinez (Rivas-
Martinez,1999). Este é o sistema de classificação bioclimático mais atual e pretende
relacionar a distribuição da vegetação com a precipitação e a temperatura (Rodriguez-
Echeverría, 2008).
A caracterização bioclimática permite melhorias de desenvolvimento vegetal, que
resultam do planeamento na prevenção de impactos negativos, ou então da promoção de
ações mitigantes relativamente a estes impactos (Souza et al., 2008).
O ambiente climático influencia o desenvolvimento vegetal, pelo que o seu
conhecimento permite a seleção adequada de espécies, assim como a realização de
tarefas na época mais conveniente (Souza e Borsato, 2012).

a) Índice de Termicidade (It)


Este índice pondera a intensidade do frio invernal, que pode ser um fator limitante
para muitas plantas e comunidades vegetais.
Este índice é calculado a partir da temperatura média anual, da média das mínimas
e da média das máximas do mês mais frio, sendo a correlação entre os seus resultados e
a vegetação bastante satisfatória para climas quentes e temperados.

It= (T+m+M)*10
T- Temperatura média anual
m- Temperatura média das mínimas do mês mais frio
M- Temperatura média das máximas do mês mais frio

53
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A partir deste índice é definido o andar bioclimático - termotipo.


A tabela II.4 traduz os termotipos para as estações em estudo.

Tabela II.4 - Termotipos verificados nas estações de Aveiro/Barra, Mira e Figueira da Foz
Estação T m M It Termotipo
Aveiro/Barra 15 5,2 14 344 Mesomediterrâneo
Mira 15 6,4 13 344 Mesomediterrâneo
Fig. da Foz 15 6,6 14 352 Termomediterrâneo

b)Índice de Continentalidade
Este índice traduz a amplitude ou contraste médio anual da temperatura de
determinado território.
Exprime a diferença, em ºC, entre a temperatura média do mês mais quente e a
temperatura média do mês mais frio do ano.

Ic= Tmáx – Tmín Tmáx – Temperatura média do mês mais quente


Tmín- Temperatura média do mês mais frio
A tabela II.5 representa o índice de continentalidade das estações em estudo.

Tabela II.5 - Índice de continentalidade das Estações de Aveiro/Barra, Mira e Figueira da Foz
Estação Tmáx Tmín Ic Macrotipo Tipo
Aveiro/Barra 18,4 9,9 8,5 Oceânico Pouco hiperoceânico
Mira 19,1 9,8 9,3 Oceânico Pouco hiperoceânico
Fig. da Foz 19,2 10,1 9,1 Oceânico Pouco hiperoceânico

c) Índice ombrotérmico
É o índice resultante do quociente entre a precipitação anual (em mm) dos meses
cuja temperatura média seja superior a 0ºC e o valor (em ºC) resultante da soma das
temperaturas médias mensais superiores a 0ºC.
Io= Pp/Tp
Pp – Precipitação anual (mm), dos meses cuja temperatura média seja superior a 0ºC
Tp – Soma das temperaturas médias mensais superiores a 0ºC
Este índice complementa a caracterização dos andares bioclimáticos no que se
refere ao seu ombrotipo (Tabela II.6).

Tabela II.6 - Ombrotipos das estações de Aveiro/Barra, Mira e Figueira da Foz


Estação Pp Tp Io Ombrotipo
Aveiro/Barra 913.5 177.6 5.1 Sub-húmido
Mira 1002.6 175.2 5.7 Húmido
Fig. da Foz 627.1 180 3.5 Sub-húmido

54
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

d) Temperatura Positiva Anual (Tp)


Valor resultante da soma das temperaturas médias dos meses de temperatura
média superior a 0ºC. Se todos os meses tiverem uma temperatura média superior a 0ºC,
como é o caso, Tp obtém-se multiplicando a temperatura média anual por 12.
Tp= T*12 T- Temperatura média anual

e) Precipitação Positiva Anual (Pp)


Valor resultante da soma da precipitação média dos meses cuja temperatura seja
superior a 0ºC. Como todos os meses, nestas estações, têm temperatura positiva, a
precipitação é igual à precipitação anual.
Pp= Precipitação Anual
A classificação bioclimática, segundo Rivas-Martinez et al. (2003) é a apresentada
na tabela II.7.
Tabela II. 7 - Classificação Bioclimática de Rivas-Martinez

Estação
Pisos Bioclimáticos
Termotipo Ombrotipo Bioclima
Aveiro/Barra Mesomediterrâneo Sub-húmido Mediterrâneo Pluvioestacional Oceânico
Mira Mesomediterrâneo Húmido Mediterrâneo Pluvioestacional Oceânico
Fig. da Foz Termomediterrâneo Sub-húmido Mediterrâneo Pluvioestacional Oceânico

A área de estudo apresenta um macro bioclima Mediterrâneo, cuja característica


principal é a existência de um período seco bem definido.
É também de registar que este clima é favorável ao desenvolvimento vegetal,
desde que os procedimentos se façam tendo em atenção esse período seco bem definido.
As sementeiras devem ser efetuadas em épocas do ano onde exista quantidade de
precipitação adequada a uma boa germinação. Isto acontece normalmente em situações
de fim de inverno (fevereiro e março) que, embora registem dias com geada, não
afetarão as sementes, pois estas encontram-se protegidas. Neste clima, as plantações
devem ser efetuadas após este período, de forma a que não se registe a sua destruição
pela geada. Normalmente estas plantações são feitas do mês de março até ao mês de
maio, período em que se verificam valores de temperatura e precipitação adequados, e
em que já não há destruições causadas por noites com registo de geada. Quando se
procede a sementeiras com sementes de invólucro duro, opta-se por realizá-las mais
cedo, em janeiro e fevereiro, para que no campo estas sementes possam absorver água,
tornando o invólucro mais mole e mais fácil de germinar quando a temperatura
aumentar.

55
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

II.1.2 – Evolução da linha de costa onde se insere a área de estudo (Ria de


Aveiro)

Podendo parecer desadequada a inclusão deste ponto na caracterização do local de


estudo, importa referir que é pela sua idade recente que a área apresenta características
que a tornam única. Alves (1990, p.9) refere que por alturas do século X a linha de costa
se encontraria onde atualmente se localizam as povoações de Portomar e Lagoa e,
assim, a área do Perímetro Florestal das dunas de Mira seria então ainda “submerso
pelas águas oceânicas”.
A sua ”juventude” implica que se trate de uma área ainda passível de sofrer
alterações com relativa facilidade. Assim, torna-se indispensável a inclusão deste ponto
de evolução do espaço natural em causa, por várias razões. Em primeiro lugar,
precisamente para que se tenha noção da sua recente existência. Em segundo, porque as
matas de Mira, que são o objeto de estudo, contribuem de forma decisiva para o
equilíbrio nessa evolução da costa. E por fim, porque com a intervenção adequada nos
espaços naturais, é possível usufruir destas áreas recentes com toda a segurança, do
ponto de vista de acidentes naturais, assim como da utilização humana.
Como já foi referido no Capítulo I, o Perímetro Florestal das Dunas de Mira
insere-se na bacia Hidrográfica do Vouga, concretamente na sub-bacia da Ria de Aveiro
e, por outro lado, na região natural da Gândara. Do ponto de vista de alterações no
espaço natural a influência da Ria predomina sobre o restante.
A Ria “é um acidente dos mais notáveis na Costa Portuguesa. Num passado
relativamente distante, o litoral tinha um aspeto muito diferente daquele que hoje se
apresenta; a partir do local em que está a Lagoa de Esmoriz, ou da Barrinha, seguia
mais pelo nascente, por Cabanães – donde provém a grande Vila (hoje cidade) de Ovar
– Estarreja, Salreu, Angeja, Cacia, Aveiro, Ílhavo, Vagos, Portomar, Mira, até ao Cabo
Mondego, formando uma extensa chanfradura com alguns recortes. Entre Angeja e
Cacia, jazia a embocadura do estuário, porto marítimo, nessa altura, onde desaguava o
Vouga; as enseadas de Portomar e Vagos ofereciam, também, um bom abrigo à
navegação” (Oliveira, 1988). Desde a descrição apresentada até à costa atual,
ocorreram muitas alterações. Essas alterações, que se tentarão aqui apresentar, são
determinantes nas características atuais da área de estudo, nomeadamente na
composição dos seus solos. Pela sua formação recente, conforme se pode verificar neste
ponto do trabalho, a composição de solos é ainda muito incipiente, o que será

56
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

determinante para o desenvolvimento vegetal do local. Por outro lado, o coberto vegetal
existente foi promovido pelo homem com o objetivo de controlar essa evolução natural
da linha de costa. A forma mais adequada de controlar o avanço do mar foi fixando as
areias com recurso à sua vegetação. O homem ajudou a fixar a duna primária com a
construção de ripados, e sua posterior sementeira; ajudou a criar dunas onde achou
necessário, nomeadamente pela construção de ripados para formar outra duna paralela à
duna primária, mas agora no limite interior das dunas secundárias, que por sua vez
também foram plantadas e semeadas. Isto terá acontecido numa fase tardia, que
resultará duma evolução que se pensa ser a evolução da Ria de Aveiro, onde o
assoreamento terá supostamente dado origem à evolução da bacia para a laguna por
acumulação de sedimentos (Martins, 1947; Rebelo, 2010) apresentada na figura II.12,
assoreamento que resultará da acumulação de areias depositadas essencialmente pelo
mar. O cordão litoral já estaria formado durante o período da “dominação Romana”
(Martins, 1947; Rebelo, 2010). No entanto, este cordão será o equivalente ao que
engloba hoje a localidade de Vagos. Era necessário controlar um espaço natural
inóspito, a Gândara, que os seus habitantes necessitavam para a prática agrícola.

Figura II.12 – Evolução da Ria de Aveiro. A -1200 ; B - 1500; C – Atualidade.


Fonte: Oliveira, O. (1988), Origens da Ria de Aveiro, Edição da Câmara Municipal de Aveiro

Segundo Cupido (2006, p.37), não são conhecidos documentos da região da


Gândara referentes ao período romano, visigótico ou árabe, e a arqueologia também não
permite contribuir para uma visão geral da Gândara nestas épocas. Marques (1993)
conta que o documento mais antigo que se refere a Mira data de 1095 e menciona a
doação da Vila de Mira feita a Zalema Godinho. No entanto Cupido (2006, p. 42) refere

57
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

que na Gândara pré-romana “a linha de costa, nesta região, chegaria até onde hoje se
situa a Vila de Mira, bordejando a terra que para sul da Igreja Matriz numa Calheta
que por alturas da Ermida era de águas repousadas onde desaguavam cursos de água.
(…) O lento recuo do mar teria deixado, pelo século XII, uma linha de costa que
passaria entre o local onde hoje se situa a vila de Mira e a povoação da Lagoa; para
norte, pelas Pedregueiras, a linha de costa seguiria para Portomar, Seixo, Calvão (…).
O Vouga lançaria as suas águas no mar por um único canal na zona de Aveiro; para
sul de Mira, águas fluviais e do mar alimentariam várias lagoas, as maiores das quais
seriam a da Ermida …”
A descrição de Cupido (2006, p. 153-154) da formação da região, quando afirma
que “ A Gândara nasceu da água. Restos do mar no seu recuo lento, foram deixando
extensas poças nos baixios areentos, acrescentados por lagos, lagoas e cursos de água
doce de caudal manso…” permite concluir acerca da influência marinha mais para o
interior. Segundo este autor “Esta região,…, era plana não havendo por aí rápidos nem
quedas. Por isso a água tinha natural tendência para se manter nos baixios, notando-se
apenas, um movimento vagaroso onde se faziam sentir os efeitos das marés. E assim
tem permanecido durante séculos.”(…) “No século VIII (…) a linda de costa era
bastante diferente do que é hoje. (…) sem grande rigor e apenas para ficar com uma
ideia aproximada, os areais que durante séculos se foram formando permaneceram
como dunas até neles ser semeado pinhal, e seriam um mar no tempo da ocupação
muçulmana.”
A descrição apresentada traduz não só o espaço físico de forma pragmática, mas
deixa implícita a importância da água na construção desse espaço e a identificação da
população local com essa imensidão de água.
Quando Cortesão (2009, p.29) refere que “há trinta e oito anos não tínhamos ido
a Mira e à sua praia. A vila, um tudo nada erma e triste, espalhada na planura da
beira-mar, tem aquele ar nostálgico de porto abandonado. Com efeito, nos começos da
monarquia, iãm ali os navios ou mais provavelmente ao povoado de Portomar, que lhe
está contíguo”, indica que a linha de costa se localizaria em Portomar no século XII.
Mas estas descrições, assim como outras, não são depois confirmadas com documentos
fiáveis.
Ainda por outro comentário de Cortesão (2009, p.30) - “Lembrava que há cerca
de quarenta anos se fazia o caminho em carro de bois ou a cavalo, sobre o areal
deserto, antes de encontrar sobre as dunas erguidos os primeiros palheiros” - conclui-

58
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

se que em 1918, quando este autor viveu nos Palheiros da Costa, hoje Praia de Mira,
todo o areal era móvel e não permitia a instalação de qualquer estrada pois nas épocas
de inverno tudo era destruído.
Também pela descrição que o mesmo autor faz acerca do pedido do Visconde de
Pierrefeu para trazer o hidroavião que amarou na “lagoa próxima da Barrinha”
(Cortesão, 2009, p.31), se conclui que o hoje chamado Lago de Mar já existiria nesta
época de 1918.
Por seu lado, Brandão (2009, p. 35) refere que “De Cantanhede a Mira são
quatro horas de caminho. Pinheiros, sempre pinheiros (…). Depois, num carro de bois,
a travessia do areal…e por fim Mira (Praia de Mira?), terra de pescadores, de
palheiros de madeira…Atravesso o charco por um pontilhão… Tudo isto foi um areal e
um charco. O charco secou reduzido à Barrinha; o areal, que vem do norte até onde a
vista alcança… dominam o azul, o verde e o ocre. É muito grande e muito simples.” É
possível concluir acerca dum eventual limite que separaria as zonas da Gândara interior
da Gândara litoral. De Cantanhede a Mira, região natural mais antiga, existiriam já
pinhais desenvolvidos, enquanto que para o litoral, ainda dominavam as areias a
descoberto, que ninguém conseguia controlar.
Fernandes Martins in Brito (1981, p.20) refere que “a” Lagoa “de Mira já existia
no século XV, distante do mar” e esta em 1774 era, segundo as Memórias Paroquiais do
tempo do Marquês de Pombal in Brito (1981, p.20) “pela parte do poente e norte, toda
cercada de areia e com a continuação dos ventos e areias a vão alagando, por lhe
faltar os resguardos que antigamente tinha, de matos e árvores de que estava povoado
tudo o que hoje são areias desde a dita lagoa até ao mar.”
Segundo Reigota (1992, p.22) “no Dicionário Popular dirigido por Manuel
Pinheiro Chagas, podia-se ler que ‘Mira está situada à beira da ria de seu nome, que
põe em comunicação a lagoa de Mira com o mar’”. Esta referência vem confirmar a
anterior de Fernandes Martins.
Por seu lado, Alves (1990, p.10) refere que “ Só por volta do século XV, a linha
de costa atinge uma configuração próxima da atual”. Ora sabe-se presentemente que
esta afirmação só poderá ser considerada correta se for entendida como uma análise de
escala alargada. Caso se pretenda uma análise de pormenor, no séc. XV a restinga mais
ocidental da Ria de Aveiro (onde se localizam a Praia da Costa Nova, Praia da Vagueira
e Praia de Mira) ainda não era conhecida. Também Marques (1993, p.17) considera que
um documento do século XII parece indicar Mira como “um porto de mar, numa costa

59
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

de configuração bem diferente da atual.” A mesma autora refere que a costa terá
“sofrido grande evolução até ao séc. XVII”.
No percurso que faz do Areão, limite Norte do Concelho de Mira, até Aveiro,
Marques (1993) faz referência a antigas barras - “Passo ao Cabeço da Capela, passo ao
Forte Velho – antiga barra”. Continuando a deslocar-se para norte, passa no “lago da
labrega” (atual Praia do Labrego, junto à Praia da Vagueira?) onde depois de o passar
de barco, “na antiga barra”, encalha. Depois da referência a estas barras, anteriores a
1920, ano em que Brandão escreveu os capítulos relativos à Ria de Aveiro, chegam à
Vagueira (Brandão, 2009, pp. 26-27). Estas descrições levam a concluir da existência
das sucessivas barras existentes na Ria de Aveiro, resultantes do desenvolvimento do
cordão litoral para sul.
Não é fácil fazer afirmações concretas da “história natural” da Ria de Aveiro e,
mais especificamente, da Gândara. Muitas vezes, só se chegaram a conclusões a partir
de documentos relativos a outras actividades, nomeadamente a partir de informações
acerca dos barcos da pesca do bacalhau, de atas das câmaras municipais ou até de
documentos da Igreja.
O documento cartográfico mais antigo, que merecerá verdadeiramente este nome
e do qual se poderá retirar informação útil, é o Portulano, de Petrus Visconte, datado de
1318. Não é aqui apresentado por não se ter encontrado nenhuma reprodução
suficientemente percetível. Das que se puderam observar, apenas se retira a ideia que
não existia ainda a Ria de Aveiro, formando a costa, a partir do que é hoje a Lagoa de
Esmoriz, uma grande chanfradura até ao Cabo Mondego. O Portulano apresenta a
antiga linha de costa, numa época em que o mar cobria toda a área da actual Ria.
Certamente que, se ela já fosse uma realidade, serviria de abrigo à navegação, e Petrus
Visconte teria com certeza conhecimento da sua existência. Reigota (2000, p.27)
confirma a descrição anterior quando refere, por análise da Carta Portulano de Petrus
Visconte (1318) “entre o Vouga e o Mondego a inexistência dos terrenos onde hoje
estão implantadas as terras litorais e a mata”.
Todos os dados antigos se referem unicamente ao Rio Vouga como único Porto
acessível à navegação. Nenhum escritor antigo se refere à Ria, o que não deixaria de
fazer se ela existisse.
Coloca-se então uma questão: de onde viriam os sedimentos que originaram a
atual Ria de Aveiro, e que colmataram a chanfradura apresentada em Portulano?

60
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Diz-se vagamente, em alguns trabalhos, que se trata de sedimentos de origem


setentrional, o que apenas reflete o sentido do transporte sem precisar a sua origem.
Algumas vezes apresentam-se como influência na deposição dos materiais os ventos
dominantes, o sentido das correntes oceânicas, e as marés. Ou seja, apresentam-se o mar
e os ventos como os principais agentes de depósito.
Os sedimentos transportados pela corrente marítima e depositados naquela
chanfradura foram convergindo ao longo da costa, formando dois grandes cabedelos:
um a Norte, onde hoje existe a Murtosa e outro a Sul, onde hoje se localiza a Gafanha.
Luís Gomes de Carvalho, no princípio do Século XIX, estudou os sedimentos dos
cabedelos e confirmou serem de origem marinha (Oliveira, 1988).
O movimento de fluxo e refluxo entre o mar e as águas do Vouga, os sedimentos
marinhos e fluviais, terão dado origem às ilhas no interior do cabedelo.
Esta é a descrição que corresponde à fase que parece ser anterior à que se observa
no mapa de Portugal de Fernando Alvares Seco (1560), onde já se verifica a formação
de um terceiro cabedelo, e que se pode confirmar na figura II.13.

Figura II.13 – Fragmento do mapa de


Aveiro Portugal de Fernando Alvares Seco
(1560)
Fonte: Mapoteca do Instituto de Estudos
Geográficos da Faculdade de Letras da
Mira Universidade de Coimbra
*Embora sem pormenor, mais uma vez,
aparecem registados os braços internos da
Ria de Aveiro, onde no braço sul se pode
observar a referência a Vagos. Junto a Mira
pode observar-se a lagoa em contacto com o
mar

Este terá sido formado anteriormente a 1200 e terá avançado do Carregal para Sul,
até à barra da Torreira. Embora no braço Sul seja possível confirmar a existência de
Vagos, no braço Norte é lamentável que não exista qualquer informação de localidades
existentes. Estaria então formado o braço lagunar que se estende de Aveiro até Ovar.

61
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Marques (1993, p.16-18) refere que em 1560, no seu mapa de Portugal, Fernando
Álvares Seco apresenta a Lagoa de Mira em contacto com o mar. Ainda regista que o
assoreamento efetuado terá dado origem à lagoa, que “durante muitos séculos” se
encontraria “em comunicação direta com o mar, até ao estrangulamento final, com o
corte dessa ligação…pelo séc. XVII”.

Também (Reigota, 2000, p. 28-29) considera que, segundo Fernando Alvares


Seco (1561), não existia o braço da Ria de Mira e os terrenos litorais e, numa reedição
de 1600, “é visível a entrada, na antiga costa, de um braço de mar, a Norte ou Noroeste
da Vila de Mira, na Direção de Portomar”. Este mapa parece ser aquele que mais
informação traz acerca da linha de costa para o século XVII.
As figuras II.14 (Carta Náutica da Europa e Norte de África,1563), II.15
(Planisfério de Angelus, 1772), e II.16 (Planisfério de Angelus,1575) representam cartas
de pormenor e evidenciam a existência de uma reentrância na área da Ria, o que traduz,
para a navegação, a existência de uma barra de dimensões consideráveis. Salienta-se a
interpretação para a navegação, pois nesta época a maioria das cartas tinha como
objectivo apoiar a arte de navegar.

Figura II.14 – Carta Náutica da


Europa e Norte de África de Mateu
Prunes (1563)
Fonte: Atlas do Mundo (1492 – 1992),
Aveiro Ediclube, Edição e Promoção do Livro,
1992
*É possível observar, embora
sem pormenor, algo semelhante
aos braços interiores da Ria de
Aveiro

A figura II.14, que numa primeira análise não revela uma reentrância tão grande
como as restantes, quando observada ao pormenor, parece mesmo evidenciar a
existência dos braços interiores da laguna.
As figuras II.14, II.15 e II.16 correspondem a fragmentos retirados de cartas do
Mundo ou da Europa, pelo que a escala utilizada não permite a existência de grandes
pormenores.

62
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Aveiro

Figura. II.15 – Planisfério de Angelus


(1572)
Fonte: (Original encontra-se na Biblioteca
Nacional de Paris) – Copia obtida na
Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Univ. de Coimbra: Departamento de
Matemática

Fig. II.16 – Planisfério de Angelus


(1575)
Fonte: Copia obtida na Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Univ. de Coimbra:
Departamento de Matemática
Aveiro
*É possível observar a referência a Aveiro,
com o que parece ser a foz do rio Vouga.
Imediatamente a Sul não aparece qualquer
referência aos cordões de areia registados
noutros mapas contemporâneos analisados.

A figura II.17, Carta Corográfica de Portugal (1640), mostra com algum


pormenor, assim como a de Fernando Alvares Seco (figura II.13), a laguna. Pode ver-se
a localização de Ovar, o que vem confirmar o mapa referido. Esta figura II.17, parece
ainda mostrar a lagoa de Mira em contacto com o mar, o que comprovaria que a área
ocupada pelas Matas de Mira ainda não existiria por esta época.

63
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Fig. II.17 – Carta Corográfica de


Aveiro Portugal – Anónimo (1640) (Excerto)
Fonte: Alegria, M. F. (1977), Cartografia
Mira antiga de Portugal Continental, Separata de
Finisterra – Revista Portuguesa de
Geografia, Centro de Estudos Geográficos,
Lisboa.

A figura II.18, é a primeira carta do Atlas da Costa de Portugal, de João Teixeira.


Parece ter sido a primeira vez que houve a preocupação de mostrar em pormenor a costa
portuguesa. Esta primeira carta (figura II.18) é desenvolvida em pormenor em cartas
seguintes, onde cada carta apresenta um fragmento da costa portuguesa. Mas note-se a
importância que já nesta carta, de pouco pormenor, é dada à Ria de Aveiro, uma vez que
esta aparece com uma grande reentrância, onde, possivelmente, se chama a atenção para
os diferentes cordões litorais que aí se formaram.

Douro

Aveiro

Mondego
Figura II.18 – Atlas da Costa de
Portugal, de João Teixeira
– Primeira Carta (1648)
Fonte: Estampa 509, Portuggallae
Monumenta Cartographica, 1987

Para representar a Ria de Aveiro, é necessário recorrer às quarta e quinta cartas


deste atlas, que se juntaram, e cujo resultado se apresenta na figura II.19, Atlas da Costa
de Portugal, de João Teixeira – Quarta e Quinta Cartas (1648). Aqui, nesta carta de
pormenor, é possível observar o mar interior de Ovar e o cordão litoral que, nesta época,
já se encontrava a Sul de Aveiro. Este cordão litoral, ou terceiro cabedelo, como alguns
autores se lhe referem, vem representado muito levemente, por uma linha muito estreita,
e até pouco percetível, o que poderá traduzir a instabilidade a que estava sujeito durante
esta época.
A figura II.20, Prática da Arte de Navegar (1673), mostra, mais uma vez, a
situação da Ria. Também aqui se pode observar o cordão litoral, e o seu prolongamento
já para Sul de Aveiro. Saliente-se o facto de esta carta ter representado, na foz da Ria e

64
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

até no seu interior, o que parece ser a acumulação de areias, e que seria certamente uma
informação útil aos navegadores.

Figura II.19 – Atlas da Costa de Portugal,


de João Teixeira – Quarta e Quinta Carta
(1648)
Ovar Fonte: Estampa 509, Portuggallae Monumenta
Cartographica, 1987

Aveiro

Mira
Aveiro

Figura II.20 - Prática da Arte de Navegar,


Anónimo (1673)
Fonte: (Original: Biblioteca Nacional de Lisboa,
Iluminura n.º 156) - Copia obtida na Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Univ. de Coimbra:
Departamento de Matemática

Na figura II.21, Setor da Carta Regna de Portugal e Algarbiae cum Adjacentibus


Hispaniae Provincis (1762), parece haver um retrocesso entre a realidade e a
cartografia. Aqui, contrariamente ao que seria de esperar, o cordão litoral que nos
aparece diz respeito ao primeiro cabedelo, pois Ovar ainda aparece como uma
localidade do litoral. Como há informações cartográficas anteriores, e que aqui se
apresentaram relativamente à formação de um novo cordão litoral, a Oeste, as
informações desta carta estarão deslocadas no tempo.

65
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Aveiro

Figura II.21 – Setor da Carta


Mira Regna de Portugal e
Algarbiae cum Adjacentibus
Hispaniae Provincis (1762)
Fonte: Ribeiro, J. L. G. M.
(1999), Uma Perspectiva sobre a
Problemática do Ordenamento
Territorial do Estuário do
Mondego, Instituto de Estudos
Geográficos, Faculdade de
Letras, Universidade de Coimbra,
Tese de Mestrado.

Com a contínua progressão do cordão litoral, para Sul, este atingiu o litoral da
Vagueira em 1643 e o de Mira em 1756, tapando por completo a laguna. A posição do
cordão em 1756 é referida na figura II.22, Mapa topográfico da Ria de Aveiro (1781),
como sítio da Barra Antiga.
À medida que o cordão se deslocava para Sul, as profundidades do canal principal
diminuíam, progressivamente, de Aveiro até Mira. Diminuía assim a capacidade das
águas da vazante, dando lugar a cheias demoradas. Em 1756 essa cheia passou a ser
contínua porque não ocorria qualquer escoamento das águas, devido ao cordão dunar
não permitir qualquer ligação entre o mar e a água da laguna.
Estava assim terminado um período de aproximadamente seis séculos, em que
ocorreu a formação de todo o cordão litoral da Ria de Aveiro.
O fenómeno de fecho da laguna trouxe consequências extremamente negativas
para a população local: houve uma diminuição e até desaparecimento da pesca marinha
costeira e os barcos da pesca do bacalhau também não podiam entrar no porto de
Aveiro. A ruína da agricultura e das salinas provocou o empobrecimento geral, as
doenças aumentaram, e esta região tinha que encontrar uma solução para não definhar
completamente.
Em 1757, o capitão-mor João de Sousa Ribeiro, conhecedor das condições locais,
conseguiu abrir o regueirão da Vagueira, por onde se escoaram as águas represadas.

66
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Este é o local que aparece representado na figura II.22, como Barra de Aveiro. Esta
Barra artificial foi aberta junto ao Forte Velho, que corresponde ao local em que se
encontrava o cordão dunar em 1648, apresentado anteriormente na figura II.19.

Barra de
Aveiro Figura II.22 - Mapa
 topográfico da Ria de Aveiro
no ano de 1781
Fonte: Biblioteca Municipal do
Sítio da Barra Porto
Velha

A figura II.23, Carte du Portugal de Ambroise Tardieu (1802), mostra a Lagoa de Mira
com contacto com o mar o que, segundo a restante cartografia e textos consultados nesta
época, já não aconteceria pois já estaria ligada à Ria de Aveiro, então completamente
formada. Este mapa não será, portanto, uma referência que se possa crer importante para
a compreensão da evolução da ria, uma vez que se encontra desatualizado no tempo.

Aveiro

Mira

Figura II.23 – Carte du Portugal de Ambriose Tardieu (1802)


Fonte: Alegria, M. F. (1977), Cartografia antiga de Portugal Continental, Separata de Finisterra –
Revista Portuguesa de Geografia, Centro de Estudos Geográficos, Lisboa.

67
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Como a operação de abertura do regueirão da Vagueira, em 1757 não teve grande


eficácia, uma vez que não permitia a entrada de grandes barcos para o Porto de Aveiro,
era necessário encontrar outra solução. E para sul, também continuava a haver
movimentações de águas e areias, impedindo a utilização do local. Em Mira, as areias
litorais e as águas no inverno não deixavam fazer um bom aproveitamento do solo para
a agricultura.
Havia duas possibilidades, que eram defendidas pelos Engenheiros da época. A
primeira consistia na intervenção na região lagunar, a Sul da Ria, desde a Vagueira até
Mira, aceitando totalmente as condições impostas pela natureza. A segunda hipótese de
intervenção seria na região central da laguna, desde a Senhora das Areias até ao Forte
Novo, e que tinha como objetivo restituir à laguna a prosperidade económica de outrora.
Foi esta segunda hipótese que acabou por vingar, e em 1808 foi aberta a Barra que se
encontra no mesmo local até à atualidade. O primeiro molhe, a Norte, foi construído 10
anos depois, em 1818, e tinha que se situar a uma distância de 300metros de um molhe a
Sul. Sabendo da importância que as obras na Barra de Aveiro têm para o concelho de
Mira, conforme se confirma na Ata de 23 de Março de 1825 da Câmara Municipal de
Mira (Miranda, 2008, p.45), estes assuntos nunca deixaram de ser discutidos. “A
abertura da Barra “Nova”, em S. jacinto, ocorrera pouco tempo antes, em 1808. Faz
sentido chamarem “Barra Velha” à existente no concelho de Mira. Estava obstruída e
havia o velho hábito de nela navegar”. É portanto necessário efetuar obras constantes
nesta área de equilíbrio natural tão frágil, sendo o coberto florestal uma grande ajuda à
manutenção desse equilíbrio.
No final do século em que foi aberta, a Barra de Aveiro já apresentava uma
restinga formada a partir do molhe Norte, conforme se pode observar na figura II.24,
Planta que mostra a restinga de Norte para Sul, em 1874, desenvolvida a partir do
Molhe Norte da entrada da Barra. Surgiram aqui as primeiras dúvidas acerca do facto
de ter sido ou não a melhor opção tomada, quando se escolheu abrir a Barra junto a
Aveiro. Mas as obras já estavam prontas, e o investimento foi muito grande, pelo que é
necessário remediar o possível erro. Foi assim que se tornou imperativo retirar a
restinga que se tinha formado. Estas areias acumuladas a norte, que são, ainda hoje,
constantemente retiradas para permitir a navegação na entrada da Barra de Aveiro,
fazem falta na consolidação da frágil restinga que existe a sul (Miranda, 2008).

68
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Figura II.24 – Planta que mostra a restinga de Norte para Sul, em 1874, desenvolvida a partir
do Molhe Norte da entrada da Barra
Fonte: Exposição Histórico-documental do Porto de Aveiro, Edição Porto de Aveiro, 1998.

A Ria tinha nesta época duas entradas: a principal, junto a Aveiro, e o regueirão
da Vagueira, conforme se pode observar na figura II.25, Carta Physica de Portugal
(1875), e na figura II.26, Portugal político, embora com pouco pormenor. Até na carta
geológica de Portugal, figura II.27, Portugal Geológico, a ilha da Vagueira se encontra
bem representada.

Aveiro

Vagueira

Figura II.25 – Carta Physica de Portugal de G. Pery (1875)


Fonte: Alegria, M. F. (1977), Cartografia antiga de Portugal Continental, Separata de Finisterra – Revista
Portuguesa de Geografia, Centro de Estudos Geográficos, Lisboa.

Aveiro

Vagueira

Figura II.26 – Portugal Político (anterior a 1924)


Fonte: Monteiro, J; Schwalbach, L. (1941), Novo Atlas Universal de Geografia e História, Livrarias
Aillaud & Bertrand.

69
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Aveiro
Vagueira

Figura II.27 – Portugal Geológico (anterior a 1924)


Fonte: Monteiro, J; Schwalbach, L. (1941)

Na figura II.28, Ilha da Vagueira, pretendeu-se certamente dar um grande


destaque à ilha da Vagueira que aparece com um prolongamento até ao concelho de
Mira. Os limites administrativos poderiam ser outros, no entanto, não se encontraram
registos que afirmem que esta ilha tenha atingido o concelho de Mira.

Figura II.28 – Ilha da Vagueira (anterior a 1930)


Fonte: Costa, A. (1930), Dicionário Corográphico de Portugal

A figura II.29, Carta topográfica de Aveiro (1904), evidencia a desobstrução da


entrada da Barra, que foi efetuada entre 1874 e 1904. Como a restinga que se
apresentava na figura II.24 dificultava a entrada na Barra de Aveiro, ela foi retirada,
pois estava a afetar as atividades económicas da região.

Aveiro

Figura II.29 - Carta Topográfica de Aveiro, folha 9C, escala original - 1:50000, 1904
Fonte: Quatro Séculos de Imagens da Cartografia Portuguesa, 2.ª Edição

70
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Mais a Sul, junto a Mira, a Ria sofria outros problemas, como se pode inferir das
atas das reuniões da Câmara Municipal, de 1 de julho de 1877 à de 14 de janeiro de
1908 (Miranda, 2008, p. 67-69; 2012, pp. 97-100). A partir da sua consulta, é possível
deduzir que a Barrinha de Mira tinha ligação com o mar em 1877, pois a Câmara neste
ano quis celebrar contrato para o fechamento da mesma. Não havendo ninguém que
levasse a cabo a obra de fechamento da Barrinha, foi o próprio “governo que a tomou a
seu cargo” em 1881. Em 1886 há referências de que o marachão que protegia a
Barrinha correu grande perigo, e em 1888 houve mesmo o seu rebentamento. Esta obra
terá sido difícil de consolidar, e até 1908 a Barrinha teve ligação com o mar, o que se
pode confirmar pela referida ata de 14 de Janeiro em que “…os povos da Praia
reclamavam a tapagem da Barrinha que corre para o mar presentemente ao Sul”. Não
foi possível ter acesso à carta topográfica equivalente à figura II.29, imediatamente a
sul, e que incluísse o concelho de Mira, onde se pretendia confirmar a ligação da
Barrinha ao mar, como referido nas atas da Câmara Municipal.
A figura II.30, Fotografia aérea da Barra de Aveiro (1933), mostra a acumulação
de areia que voltou a ocorrer em redor de toda a entrada da Barra e até no seu interior.
Isto vem confirmar que, desde a sua abertura, a Barra de Aveiro teve problemas de
acumulação de areias em seu redor pois, poucos anos depois de ser limpa, as areias
voltam a ser um entrave à navegabilidade da barra e, portanto, à prosperidade
económica de Aveiro. Com grandes acumulações de areia, a entrada de grandes barcos é
dificultada e, consequentemente, a pesca do bacalhau diminuirá. Mais uma vez é
imprescindível arranjar uma solução para evitar que tal aconteça. E, essa solução passa
pela construção de novos molhes com grandes dimensões, para que a entrada da Barra
fique protegida das areias. E mais uma vez as areias que deviam seguir o seu percurso
para Sul, contribuindo para a consolidação da restinga junto a Mira e à Vagueira, vão
ficar retidas a Norte ou ser retiradas junto à Barra de Aveiro.

Aveiro

Figura II.30 – Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1933): Acumulação de areias em toda a
entrada da Barra
Fonte: Ministério da Defesa Nacional – Força Aérea 71
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Em 1937, foi apresentado um projeto que consistia na construção de dois molhes,


salientes em relação à linha de costa. Estas obras tiveram início em 1948 e foram
concluídas em 1958. A figura II.31, Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1976) e a
figura II.32, Carta Topográfica de Aveiro (1983), mostram os molhes que foram
construídos na década de 50. Nestas figuras já é nítida a acumulação de areias, no
cordão litoral, a Norte da Barra de Aveiro. Esta acumulação de areias a Norte coincide
com a acumulação de areias na entrada da Barra e a solução apresentada foi a que tinha
já sido aplicada na primeira metade do século. Voltou-se, assim, a prolongar os molhes
da Barra de Aveiro.

Aveiro

Figura II.31 – Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1976)


Fonte: Exposição Histórico-documental do Porto de Aveiro, Edição Porto de Aveiro, 1998.

Aveiro

Figura II.32 - Carta Topográfica de Aveiro, escala original – 1:50000, 1983


Fonte: Quatro Séculos de Imagens da Cartografia Portuguesa, 2.ª Edição, Comissão Nacional de
Geografia, Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Instituto Geográfico do Exército,
1999.

72
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A figura II.33, Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1986), mostra o


prolongamento que mais uma vez foi efetuado no molhe Norte, e que só veio a ser
terminado em 1987.
Antes do prolongamento dos molhes, terminado em 1987, já se registavam
problemas de erosão a Sul da Barra, pelo que não se pensou no agravar do problema
devido ao seu prolongamento. Aliás, o Porto de Aveiro afirma que os motivos da erosão
costeira verificados a Sul da Barra serão colmatados quando os sedimentos acumulados
a Norte já não se conseguirem aí depositar. Mas, será de prever, porque já aconteceu,
que a deslocação das areias para Sul, irá dificultar novamente a entrada dos barcos no
Porto de Aveiro e antes que elas se acumulem no cordão litoral a Sul, terá que ser
arranjada uma nova solução. Possivelmente voltará a aumentar-se o molhe Norte.

Figura II.33 – Fotografia Aérea da Barra de Aveiro (1986)


Fonte: Exposição Histórico-documental do Porto de Aveiro, Edição Porto de Aveiro, 1998.

A evolução da Ria de Aveiro aparece representada em muitos documentos. De


todos os que se encontraram, a figura II.34, Evolução da Ria de Aveiro, embora antigo,
parece ser o mais completo, e com cartografia de base mais adequada. Aqui aparecem
referenciados sobre uma carta, do fim do século XIX, as diferentes fases, que
corresponderam à evolução do cordão litoral. Houve também a preocupação de mostrar
a evolução anterior à do cordão litoral, que se pode ver no esquema número 1, 2 e 3
inseridos nesta mesma figura. Aqui é possível condensar, numa mesma carta,
informação relativa a um período muito mais abrangente de evolução da ria.
Os restantes documentos que se observaram, e foram alguns, são quase todos
iguais aos que se encontram na figura II.35 - Esquema representativo da Ria de Aveiro.
Tanto a figura II.34, como a figura II.35 (ou outras encontradas em diferentes
trabalhos), tornam-se incompletas, porque omitem a evolução anterior à formação do

73
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

cordão litoral. Não fazem referência aos cabedelos que se formaram anteriormente, o
que dará uma ideia incompleta da formação da Ria. Parecem tratar-se de esquemas algo
pobres, em relação à evolução da Ria, pois apenas remetem para a parte final dessa
evolução, ou seja a formação do cordão litoral.

Figura II.34 – Evolução


da Ria de Aveiro
Fonte: Exposição Histórico-
documental do Porto de
Aveiro, Edição Porto de
Aveiro, 1998.

Figura II.35 – Esquemas representativos da evolução da Ria de Aveiro


Fonte: a) Exposição Histórico-documental do Porto de Aveiro; b) Oliveira, O. (1988), Origens da Ria
de Aveiro

74
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

É a partir de todas as datas representadas nestes esquemas, e que foram recolhidas


em mapas ou em outros documentos escritos antigos, que se chegou à possível
reconstituição da evolução da ria e da sua área envolvente até à atualidade.
A figura II. 36 - Ria de Aveiro Atual, é um exemplo de esquemas da evolução da
Ria que se podem consultar em muitos trabalhos (Reigota, 1992; Alves, 1990). Registe-
se aqui a pouca preocupação que existe, muitas vezes, na construção destes documentos,
já que na data em que são apresentados é notório o alargamento do cordão litoral a
Norte da Barra de Aveiro e o seu estreitamento a Sul e, em nenhum deles (ou em outros
trabalhos) esta diferença, que já é relativamente grande, foi considerada. Estes esquemas
podem induzir em erro acerca da evolução atual do cordão dunar, pois quem nunca foi
alertado para os problemas da deposição de sedimentos a Norte da Barra de Aveiro, e
para a erosão costeira do mesmo cordão a Sul desta Barra, ficará com a ideia que se
trata de um cordão litoral homogéneo em toda a sua extensão. Ora esta homogeneidade
deixou de existir há mais de 100 anos, o que pode ser confirmado pela figura II.24,
relativa ao ano de 1874, onde, já nesta época, se pode ver a restinga desenvolvida a
partir do molhe Norte.

Matas de Mira
Figura II.36 – Ria de Aveiro atual (Década de 90)
Fonte: Boletim Cultural – Gafanha da Nazaré, Ano 2, N.º 2, 1986.

75
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Quando se faz referência à função de proteção atribuída às matas litorais, ela não é
muitas vezes entendida na sua plenitude. Considera-se normalmente a necessidade de
proteção dos ventos. Mas, mais do que isso, há a necessidade de proteção relativamente
à proximidade do mar e à imensidão de água interior existente até meados do século
XX. A evolução da Ria de Aveiro aqui apresentada pretende mostrar a importância dada
ao controlo das águas, mais do que ao controlo dos ventos. A função de proteção das
matas de Mira, assim como das de Vagos e de Cantanhede, está intimamente ligada às
características físicas do espaço no que diz respeito à sua proximidade do mar e à sua
inserção na bacia hidrográfica da Ria de Aveiro.
Conforme já foi apresentado, através de referências bibliográficas anteriores,
nomeadamente no Capítulo I, é de destacar a importância da relação entre a água e a
floresta na definição da identidade do espaço e da população da Gândara, assim como
das atividades que lhe estão associadas.

II.1.3 – Geologia e Litologia

O conhecimento da geologia e da litologia torna-se importante para qualquer


estudo agro-florestal, pois é a partir dos fenómenos com elas relacionados que se
desenvolvem os solos, nomeadamente a fração mineral.
A geologia e litologia do concelho de Mira são pormenorizadamente apresentadas
na Notícia Explicativa da Carta Geológica de Vagos (Folha 16-C) de Barbosa (1981).
Segundo Grego (2010, p. 67), todas as rochas do concelho de Mira “quer
aflorantes, quer do substrato” são do tipo “sedimentar detríticas”. Ainda segundo o
mesmo autor (p.10), mas também segundo a Carta Geológica de Portugal, os principais
tipos correspondem a areias, principalmente areias eólicas. Refere o mesmo autor que a
“As superfícies aplanadas são representadas pelos níveis de depósitos de praias antigas
e por um extenso campo de dunas e areias eólicas. Esta cobertura eólica assenta sobre
formações fundamentalmente do Cretácico e do Quaternário”.
Ainda segundo Grego (2010, p. 68) “apenas para o conglomerado de Mira, do
Campaniano (84,0 M.A.), pela fauna identificada, surgem indicações de uma maior
influência marinha,…”. Segundo o mesmo autor, “No Quaternário (a partir de 1,6
M.A.) depositaram-se coberturas arenosas, que ainda hoje cobrem grandes áreas do
concelho. Já em tempos mais recentes, históricos, começa a formar-se um cordão

76
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

litoral e as areias eólicas avançam para o interior formando o manto dunar atualmente
existente.”.
No concelho existem essencialmente Depósitos Modernos (Holocénico) e
Depósitos de Praias Antigas e Terraços Fluviais (Plistocénico). Mas também existe uma
formação mais antiga, do Cretácico (Campaniano Superior), que é o Conglomerado de
Mira.
a)- Depósitos Modernos (Holocénico)
Os Depósitos Modernos são constituídos por Aluviões, Areias de Praia, Dunas e
Areias Eólicas.
a1)- Aluviões (a)
Os depósitos de aluviões encontram-se nas margens do Canal de Mira. São
essencialmente constituídos por materiais de natureza arenosa-argilosa, com matéria
orgânica. Em algumas zonas devido à vegetação aparecem em zonas semipantanosas,
como acontece na Lagoa de Mira.
a2)- Areias de Praia (Ap);
Constituem o extenso e estreito cordão litoral ao longo de toda a costa do
concelho. São areias médias e grosseiras, por vezes com algum areão.
Junto ao mar temos as Areias de Praia e imediatamente a seguir, a Este, temos o
Cordão Dunar.
a3)- Dunas e Areias Eólicas ( d (a, b, c e d) e Ae);
Aqui podemos distinguir as dunas propriamente ditas (com quatro tipos de
orientação) e as Areias Eólicas, que constituem uma superfície plana entre os campos de
Dunas.
As Dunas e as Areias Eólicas constituem quase a totalidade do concelho, sendo
que as Areias Eólicas têm mais representatividade imediatamente a seguir ao Cordão
Dunar e, depois, na parte Este do concelho.
b)- Depósitos de Praias Antigas e Terraços Fluviais (Plistocénico)
Em Mira este grupo encontra-se representado pelo nível de 30-40m (Praias
antigas) e pelo nível 45-50m (Terraços Fluviais, Plistocénico).
b1)- Nível de 30-40m (Praias Antigas, Plistocénico);
Este nível encontra-se representado nos afloramentos da Presa até ao Corticeiro de
Baixo, e de Carromeu e Ramalheiro. Têm espessura situada entre dois e três metros e
foram, no passado, explorados para a construção civil. São constituídos
fundamentalmente por areias e cascalheiras bem roladas.

77
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

b2)- Nível dos 45-50m (Terraços Fluviais, Plistocénico);


Este nível está representado por pequenos retalhos, nas áreas da Gândara e Cabeço
e entre Mira e Lagoa. Surgem entre as Areias eólicas. Os sedimentos são geralmente
constituídos por arenitos muito finos.
c1)- Conglomerado de Mira (Cretácico - Campaniano)
Trata-se de um conglomerado bastante fossilífero, bem cimentado, de cor
amarelada, que ocorre no centro de Mira, no Colmeal, nas Cabeças Verdes, e
acompanha a linha de água que se estende desde o Cabeço Redondo até Portomar.
Ocorre ainda em Carromeu e na Lagoa, junto aos Moinhos do Ribeiro.
O Conglomerado de Mira, Cretácico- Campaniano, encontra-se atualmente
coberto por Areias Eólicas do Holocénico.
Toda a litologia existente no concelho de Mira, apresentada em Barbosa et al.
(1981) e em Grego (2010), leva a concluir que não haverá problemas de mobilização
para a prática agro-florestal. Pode ainda verificar-se que o interior do concelho
apresenta formações que, devido à sua antiguidade, contribuirão possivelmente para a
formação de solos com melhores aptidões agrícolas. Pelo contrário, o facto de os
depósitos litorais serem muito recentes, não terá ainda permitido o desenvolvimento de
verdadeiros solos, sendo a floresta a única hipótese de ocupação.
A figura II.37 mostra a localização das formações geológicas principais do
concelho de Mira.

78
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Quaternário
N
a
Aluviões......................................

Depósitos modernos
Areias de praias........................... Ap

Holocénico
Cordão dunar de praia.................

Dunas de orientação W-E...........

Dunas parabólicas.......................

Dunas de orientação NW-SE......

Ae Areais eólicas.............................. Ae
Fonte: Carta geológica de

Depósitos antigos e fluviais


Nível de 5-8 m--------------------- Q4b
Portugal, escala 1: 500000,
Nível de 15-20m......................... Q4a
Instituto Geológico e Mineiro,

Plistocénico
1992 Nível de 30-40m.........................
Ae
0 1Km Nível de 45-50m......................... Q2b

Nível de 60-70m......................... Q2a


Nível de 80-90m......................... Q1

Ae Cretácico
Argilas/Conglomerado de Mira..

Q2b

Ae
Q2a
Q1 Q1
Área de estudo

Figura II.37 – Carta Geológica do Concelho de Mira


Fonte: Carta Geológica de Portugal, Folhas 16-C e 19-A (1974 e 1963, respetivamente)

II.I.4 – Geomorfologia e processos morfogenéticos

“Pergunto ao Mar: Pergunto ao mar, que ameaça; com tanta desfaçatez, que
traz à praia a desgraça; e às dunas que o vento fez. Pergunto ao mar porque tira;
À’reia fina e dourada, desta praia que é de Mira; Por tanta gente adorada. Mas o mar
nunca responde, nem sequer diz para onde; levou à’reia “roubada”. E eu “penso” cá
pra mim; pode estar para breve, o fim; da praia limpa e dourada…”, (Nogueira, 2003,
in Nogueira 2006, p.41).

79
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A incorreta utilização dos sistemas dunares aumenta a sua vulnerabilidade, devido


a vários fatores, onde se destacam a “eliminação da vegetação existente ou a formação
de cortes e corredores que levam à posterior erosão da duna” (Leal, 2005, p.30). Como
se trata de locais recentes de materiais não agregados, este fenómeno, embora menos
comum, regista-se também nas dunas interiores quando a vegetação é escassa.
A utilização de vegetação é uma forma de controlar a fixação dos materiais não
agregados que compõem as unidades geológicas existentes na área de estudo e que
dizem respeito a areias eólicas (aplanadas), dunas interiores e cordão dunar. Na
realidade, embora com posterior movimentação eólica, os materiais aqui existentes
serão na sua totalidade de origem marinha. O mar fornece materiais à praia que, depois,
por ação do vento, se deslocarão para o interior até encontrar obstáculos e assim criar
novas modelações do relevo.
Conforme já foi referido no ponto II.1.2, a influência da água é determinante para
esta área de estudo e para os seus povos. A água e os ventos são os dois agentes
modeladores desta paisagem, e as matas do concelho ajudaram a minimizar os efeitos
dessa modelação. Ao longo de todo este litoral sul da Ria de Aveiro, é constante a
preocupação com o avanço do mar. Ele vem acontecendo ano após ano sem que seja
possível ao homem controlá-lo por longos períodos: surge o perigo, e atua-se para o
imediato. Não existe uma obra de grande amplitude na fixação do litoral. E para áreas
extensas, em termos de equilíbrio, ainda parece ser a vegetação o método mais eficaz na
fixação dos sedimentos não agregados.
O concelho de Mira situa-se na Orla Meso-Cenozoica Ocidental, na região natural
da Gândara. Segundo Grego (2010, p.68) “Do ponto de vista geomorfológico o
concelho de Mira é, de maneira geral, aplanado e de baixa altitude”.
Os processos erosivos apresentados resultam de pesquisa bibliográfica,
confirmada com a sua presença no campo. Pode descrever-se o concelho de Mira como
uma área plana, cuja altimetria varia entre os 0 e os 64m, encontrando-se esta maior
altitude a Sudeste do concelho.
Uma vez que o território é bastante aplanado, existindo apenas as ondulações das
dunas, os declives registados também não apresentam valores acentuados. Os declives
superiores a 16% não têm significado no concelho e a classe de valores máximos
atingidos situa-se entre os 24.1 e os 32%* (figura II.38). Aqui salienta-se o facto de as
areias apresentarem um ângulo máximo de estabilidade que se situa entre os 30 e os 35º
(Paskoff, 1933).

80
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Legenda:
- 0 a 8%
- 8 a 16%
- 16 a 24%
- 24 a 32%

Área de
estudo

0 1Km

Figura II.38– Carta de declives do Concelho de Mira


Fonte: Carta Militar de Portugal, Folhas 195, 206, 207, 217
(1974, 1975, 1992, 1982, respectivamente)
* 30% corresponde a aproximadamente 17º

As dunas (e consequentemente as ligeiras ondulações do relevo) apresentam as


seguintes orientações (figura II.39):
- Cordão Dunar com orientação NNE-SSW.
- Agrupamento dunar com orientação W-E, que se situa imediatamente a seguir ao
Cordão Dunar. Nas zonas baixas entre as dunas aparecem inúmeras lagoas nas épocas
de chuvas. As morfologias dunares mais comuns no litoral português são as alongadas
com orientação E-W a NW-SE, sendo classificadas de oblíquas por Almeida (1997) e
Dinis (1997), ou por transversas (André, 1996).
- Agrupamento dunar com forma geral mais ou menos parabólica, que se
desenvolve nas zonas mais baixas, fazendo barragem a algumas lagoas (Lagoa de Mira).
- Agrupamento dunar com orientação predominantemente WNW-ESE, que em
algumas zonas se encontram percorridas pela rede de drenagem.

81
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Legenda:

- Crista do cordão
dunar litoral

- Crista de dunas
interiores

- Depressão
interdunar alagada

Lagoa

Barrinha

Vala dos
Área de
Atlântico

Moinhos
Oceano

estudo

0 1Km

Figura II.39- Orientação das cristas das Dunas de Mira


Fonte: Fotografia aérea (1958)

Nas zonas das areias eólicas o relevo é praticamente plano.


A área de estudo, Dunas de Mira, é na sua totalidade formada por depósitos
Modernos, que correspondem a materiais de reduzidas dimensões, não agregados, e que
por isso são facilmente movimentados.
As dunas são resultado da deposição de areias de praia, que foram transportadas
pelo mar e mobilizadas pelo vento para o interior ou, então, por areia fornecida por
dunas preexistentes que se movimentaram ou foram destruídas.

II.1.4.1 – Praia

A praia encontrar-se-á acima e abaixo da superfície livre do mar. O limite do lado


de terra corresponde ao aparecimento de vegetação e coincide com a cota mais alta
atingida pelo espraiamento das ondas. As areias que a constituem encontram-se em
constante movimento, subindo e descendo essa praia. Este movimento é considerado
positivo se o transporte for maior no sentido da praia, e varia com as marés e com as
ondas.

82
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

As ondas são o agente principal da movimentação destas areias. Estas


movimentam-se quer em suspensão, quer por arrastamento junto ao fundo.
O espraiamento, o refluxo e a corrente de deriva são, usualmente, os principais
agentes transportadores de areia, combinando-se a última, muitas vezes, com a corrente
de compensação do transporte de massa. No caso do ataque frontal da praia, não existirá
a corrente de deriva e a movimentação das areias será condicionada pela influência
relativa do transporte de massa e da sua corrente de compensação, influência variável
com as características da ondulação. Conforme predomina a primeira ou a segunda, a
praia aumenta ou é erodida (Paskoff, 1993).
No caso do ataque oblíquo, a velocidade média da corrente de deriva será função
fundamentalmente do ângulo que a onda, ao rebentar, faz com a linha de costa, da altura
e do período da onda, e da inclinação da praia.
A quantidade de areia transportada por arrastamento ou em suspensão pela
corrente de deriva aumenta com a velocidade desta.
O transporte pode ser transversal ou longitudinal em relação à costa. O transporte
transversal é o reflexo de várias correntes, entre as quais a correspondente ao transporte
de massa em direção à costa, e a resultante corrente de compensação da costa para o
largo (Paskoff, 1993).
O transporte longitudinal é feito pela corrente de deriva, que aparece quando a
praia é atacada por ondas oblíquas.
O que interessa salientar é que as correntes transversais e longitudinais arrastam
ininterruptamente, de qualquer trecho da praia, quantidades consideráveis de areias,
maiores ou menores, consoante a sua intensidade, que são função das características das
ondas atuantes.
A partir daqui estas apresentam diferentes comportamentos quanto à sua evolução
morfológica. Numa praia suficientemente extensa, a erosão não se instala
simultaneamente em toda a sua extensão. Esta propaga-se gradualmente de barlamar
para sotamar, relativamente ao sentido predominante do transporte sólido. Isto porque
as faixas de praia mais a jusante são alimentadas à custa dos trechos de montante.
Normalmente a erosão das praias é atribuída à intervenção direta ou indireta do
Homem, uma vez que os fenómenos de erosão de praias devidos a causas naturais são
normalmente muito lentos, manifestando-se de forma menos aguda.
A construção de barragens ou açudes em cursos de água que impedirão muitas
areias fluviais de chegar ao mar (como é o caso do rio Douro), ou de proteções de portos

83
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

(como é o caso de Aveiro), são algumas das ações prejudiciais pois vão impedir que as
areias cheguem ao mar e sejam depois distribuídas por este na alimentação das praias.
Na tentativa de contornar estes problemas surgem-nos os esporões, que por seu
lado também têm as suas limitações. Se é verdade que a barlamar a erosão diminui,
imediatamente a sotamar vai aumentar.
Se a praia estiver a ser erodida e não se tomarem medidas para contrariar esta
erosão, com o decorrer do tempo esta passará a ocorrer também no cordão dunar, que se
situa imediatamente a seguir à praia e paralelo a esta, pois o mar começará a exercer a
sua ação sobre ele (figura II.40).

Acumulação de areia a barlamar,


com consequente erosão visível a Corredor de deflação
Ripados de Madeira
sotamar Duna Frontal Corte da duna frontal

Ripados de madeira
Duna frontal e
Depressão interdunar

Talude de erosão Talude de erosão


Duna frontal Dunas interiores/Floresta

Figura II. 40 – A situação de desequilíbrio da praia e do cordão dunar

II.1.4.2 – Cordão Dunar

O cordão dunar apresenta uma orientação geral NNE-SSW e resulta da


acumulação de areias paralelamente à praia. Este cordão dunar é, também, o resultado
de um equilíbrio mais ou menos dinâmico que depende normalmente da evolução da
praia.
As dunas, neste caso eólicas, são formações subaéreas que resultam da
acumulação de sedimentos transportados pelos ventos e que podem ter a sua origem nas
areias de praia ou em dunas preexistentes.
A duna frontal é formada pelos sedimentos que se movimentam da praia, com a
ajuda dos ventos, e se depositam a seguir a esta. Neste caso, tendo em atenção a origem
dos sedimentos, dizemos tratar-se da duna primária. Imediatamente a seguir,

84
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

paralelamente a ela, pode existir outra duna, normalmente com menor dimensão, e que
resulta de sedimentos provenientes da duna primária. Aqui estamos em presença da
duna secundária. Estas dunas formam, no seu conjunto, o cordão dunar.
No concelho de Mira, a duna secundária, paralela à primária, é mais acentuada na
sua parte central, junto à Praia de Mira.
Na formação da duna primária e também das secundárias, há vários fatores a ter
em atenção, nomeadamente o vento, como já foi referido.
A velocidade, a direção e a frequência do vento são os fatores predominantes, uma
vez que vão determinar a possibilidade da formação da duna (Paskoff, 1993).
A dimensão e peso dos sedimentos é outro fator a ter em consideração, pois deles
depende a possibilidade de o vento as poder movimentar (Paskoff, 1993).
A água também é um fator importante, pois pode dificultar a movimentação das
areias.
A vegetação também vai ser um fator limitante, pois é a sua presença que ajuda,
muitas vezes, a formar as dunas. Esta serve como barreira à movimentação dos
sedimentos. É muitas vezes plantada ou semeada pelo Homem para impedir a
movimentação das dunas, como aconteceu no concelho de Mira no início do século XX.
Mas, depois de formadas as dunas, o seu equilíbrio é muito frágil e há vários
processos que podem interferir negativamente nesse equilíbrio, provocando a sua
erosão.
Uma duna diz-se estável quando não existem movimentações consideráveis de
sedimentos, o que é conseguido com a ajuda da cobertura vegetal. A duna frontal,
apesar da proteção exercida pela vegetação natural aí existente, pode ser afetada pela
ação dos ventos (Paskoff, 1993). São as gramíneas, nomeadamente a Ammophila
arenaria, com a sua flexibilidade dos caules e das folhas, resistindo à ação dos ventos e
à salinidade, com a sua raiz fasciculada e o seu caule rizomatoso que, em conjunto com
outras herbáceas companheiras, vão evitar a erosão provocada pelos ventos.
A vegetação, que no cordão dunar é essencialmente herbácea e subarbustiva,
também evita a ação acentuada do splash. Este é um processo que terá maior relevância
em declives acentuados, mas que também aqui se verifica. Consiste na movimentação
de partículas por ação da gota de água. O impacto desta no solo provocará
movimentação centrífuga, e maior no sentido descendente do declive. É assim que,
lentamente, ocorre o movimento de partículas, sendo que em superfícies horizontais
estas são movimentadas de igual forma em todas as direções. A sua ação será mais

85
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

acentuada quanto menor for o estrato herbáceo existente. Por isso é bastante visível por
exemplo por baixo dos pinheiros, local onde o impacto é muito acentuado. Nos locais
onde existem alguns subarbustos, nomeadamente a Corema album, também é bastante
visível a ação do splash. Isto porque à sua volta, por vezes, existem áreas sem
vegetação. Onde as acácias predominam, o splash não é muito percetível porque a
densidade de vegetação é muito acentuada. Na duna primária, este é visível nos locais
onde não existe vegetação.
A quantidade de água existente no solo, assim como a existência de vegetação, vai
contrariar o efeito do splash, porque vai permitir a agregação de partículas, dificultando
a sua movimentação.
Mas quando se atingir a saturação do solo em água e a precipitação continuar a
ocorrer, a movimentação de materiais é facilitada. Este processo, o escorrimento
superficial, consiste no transporte de materiais à superfície por arrastamento, em
suspensão ou em solução, neste caso ao longo da vertente da duna, que vêm depois a ser
depositados na sua base, dando origem a leques de dejeção que são bastante visíveis.
Aqui também é percetível a influência da vegetação pois estes leques aparecem na base
da vertente em locais onde ela nunca existe em grandes quantidades.
Os movimentos de terreno são outro processo erosivo que, ocorrendo em
vertentes, neste caso não consolidadas, são influenciados por vários fatores, alguns dos
quais já foram referidos. Estes fatores podem ser intrínsecos, como por exemplo a
litologia, estrutura, cobertura vegetal, declive, etc. Como fatores extrínsecos aparecem
principalmente os de ordem climática, nomeadamente as características da precipitação
e do vento, e fatores antrópicos. A estabilidade depende mais acentuadamente do modo
como atuam os primeiros fatores, enquanto os segundos, por seu lado, atuam mais no
sentido de destruição dessa estabilidade. No entanto, é a conjugação de ambos os fatores
que vai levar às alterações que constantemente se verificam (Rebelo, 1983).
As formações detríticas não agregadas caracterizam-se por um comportamento
que não obriga a seguir uma direção preexistente, sendo que o comportamento
geomecânico dos materiais depende muito da existência de água no solo. A sua
existência, até um certo limiar, pode levar à aproximação de partículas, através do
estabelecimento de ligações químicas, por pontes de hidrogénio, promovendo uma
maior estabilidade da vertente. Quando a quantidade de água ultrapassa determinados
valores (ponto de saturação) a água passa a favorecer a maior separação das partículas e
a sua fácil movimentação (Rebelo, 1983).

86
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

No cordão dunar, devido estes fatores, aparecem-nos movimentos em massa,


bastante visíveis principalmente depois da ocorrência de grandes chuvadas, que são os
deslizamentos. São movimentos fundamentalmente gravitacionais, mas que também
estão associados à presença de água. Estão relacionados com um movimento relativo
que se estabelece entre um setor da vertente que permanece imóvel e um outro que se
movimenta relativamente ao primeiro. São movimentos do tipo translacional, que
ocorrem com uma movimentação do tipo espraiamento, ou seja, invasão dos terrenos
marginais (Rebelo, 1983).
Os desabamentos são processos de queda brusca da vertente. Este tipo de
processos está frequentemente relacionado com a existência de séries sedimentares onde
alternam bandas de materiais com características diferentes (Rebelo, 1983).
Este processo, é bem visível a Norte do concelho onde se verifica a destruição de
praticamente metade da duna primária devido à ação do mar, onde as areias ficam
sujeitas a erosão. Parte destas areias são removidas em banda, pelo vento, quando
diminui a sua concentração de água. As que ficam serão posteriormente removidas pelo
desabamento uma vez que deixou de haver o suporte inicial.
É ainda a Norte do concelho o local onde a ação do vento mais se faz notar sobre
as dunas pois, com a diminuição da vegetação, as areias que ficam expostas são
facilmente removidas por ele dando origem a corredores de deflação. Imediatamente a
seguir a estes corredores podem aparecer novas formas de dunas (blow-out dunes), que
resultam do alargamento e aprofundamento de corredores de deflação havendo uma
deposição da areia que foi removida imediatamente no início da vertente Este. Estes
corredores aparecem em toda a dimensão do cordão dunar, embora a sua existência não
seja tão acentuada na parte Sul do concelho. São muitas vezes originados e depois
aproveitados para criar acessos para uso dos veraneantes ou das companhas de pesca.
Por observação do cordão dunar do concelho pode dizer-se que este apresenta um
perfil sem variações consideráveis, se a sua vegetação característica não sofrer
destruição e se a área não foi atingida ainda pela vaga de erosão e respetivo recuo do
cordão que se está a verificar de Norte para Sul. Isto confirma-se pelo facto de que na
parte Sul, Palheirão, a duna não apresenta sinais visíveis de degradação, enquanto na
parte Norte se encontra praticamente destruída assim como a vegetação.
Na parte central do litoral do concelho, em volta e a sul da Praia de Mira, existe
uma área considerável do cordão dunar que se encontra praticamente destruído. Ou
porque se encontra completamente betonizado ou, por outro lado, porque a passagem

87
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

dos veraneantes no seu acesso à praia destrói completamente a vegetação deixando a


areia desprotegida e porque com o seu pisoteio contínuo acabam por arrastar as areias.
Na tentativa de contrariar a erosão do cordão dunar foram construídos ripados na
base da duna que está a ser destruída, paralelos a esta, que têm como objetivo impedir
que a areia continue a ser retirada e até promover a sua acumulação.
Os passadiços são outra das medidas tomadas no sentido de evitar a destruição da
duna, pois além de permitir um fácil acesso à praia, evita que as pessoas pisem a
vegetação contribuindo assim para a manutenção desta e consequentemente das dunas.
Estas medidas visam compatibilizar a conservação do sistema de dunas com as
necessidades das zonas urbanas (figura II.41).

Figura II. 41 – Degradação e posterior proteção do cordão dunar

II.1.4.3 – Depressão Pós-duna Frontal (Local de Estudo)

Imediatamente a Este do cordão dunar aparece uma grande depressão interdunar


que vai separá-lo das dunas secundárias que formam o campo dunar interior. Tratando-
se duma área completamente aplanada não se verificam grandes atuações de processos
morfogenéticos.
Trata-se de uma depressão maior do que o habitual, o que se pode tentar justificar
pelo facto de possivelmente corresponder aos antigos braços da Ria de Aveiro. Esta ter-
se-á formado a partir da restinga que resultou da deposição de areias de Espinho para
Sul, até ao Cabo Mondego. A Praia de Mira, onde a depressão atinge maiores
dimensões pode mesmo ter sido durante algum tempo o local da foz do rio Vouga.

88
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Como terá sido a última área a ficar seca não terão restado sedimentos que permitissem
a existência de grandes dunas. Assim, aqui aparecem apenas pequenos domos de areia
na transição para as dunas secundárias interiores (Almeida, 2001; Silva, 2001).
De salientar ainda que, além das areias finas que a formam, aparecem,
pontualmente, a coexistir com elas, sedimentos de maiores dimensões que terão sido
para aqui transportados aquando da ocorrência de galgamentos marinhos. O mar terá
chegado até esta depressão, depois de transpor o cordão dunar. Estes galgamentos
também contribuem para a destruição do cordão dunar.
A restrição no acesso à depressão interdunar pretende evitar a destruição das
pequenas formas dunares aí existentes, o que acontece com frequência, depois de
destruída a vegetação por pisoteio dos veraneantes (figura II.42).

Figura II. 42 – A situação da depressão interdunar

II.1.4.4 – Dunas Interiores (Local de Estudo)

Segundo André et al. (2009), no litoral ocidental português verifica-se um


predomínio de dunas lineares com cristas segundo WNW-ESE e "flancos de igual
inclinação, permite supor génese por ventos com rumos alternantes de NNW e WSW”.
Na região da Gândara, na atualidade, tendo em atenção a caracterização climática
efetuada acima, a movimentação de areias ocorre, essencialmente, com ventos de Norte
e de NW.
As dunas interiores, conforme já foi referido no Capítulo I, representaram uma
dificuldade na fixação da população na região da Gândara. Como não existia vegetação
que impedisse o vento de as movimentar, elas, frequentemente, avançavam sobre os
terrenos agricultados mais no interior. Foi na tentativa de contrariar a ação dos ventos
neste transporte que se procedeu à sua sementeira no início do século XX. Mas antes da
sementeira, construiu-se um ripado no cordão dunar, para evitar que este se

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Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

movimentasse para o interior/sul e assim destruísse as sementeiras de pinheiros que


depois foram efetuadas. Com o passar dos anos e com o desenvolvimento da vegetação
foi possível conseguir a estabilização destas dunas. No entanto, até se atingir esta
estabilização, terão ocorrido processos que levaram à sua diferenciação.
A Sul da Vala da Cana e a Norte do Poço da Cruz as dunas são lineares, paralelas,
com orientação WNW-ESE (figura II.39) e com altura relativamente elevada, chegando
a existir dunas com 20 metros de altura. No setor intermédio, as dunas apresentam-se
com disposição irregular, verificando-se o domínio das parabólicas, mas também há
espaços sem dunas. Aqui a altura das dunas não ultrapassa, em regra, os 10 metros. O
facto de as dunas serem menores e mais raras no setor intermédio pode ficar a dever-se
a corresponder à área onde se encontraria a laguna de Aveiro, logo, posteriormente, não
existiriam sedimentos disponíveis em quantidades suficientes para formar grandes
dunas. A vegetação existente nesta área poderá também ter tido influência na
movimentação e fixação das areias, pois existindo grandes quantidades de água,
certamente terá sido favorecido o desenvolvimento radicular próximo da superfície, o
que dificulta a movimentação das areias (Silva, 2001).
Nas dunas lineares também se verificam diferenças do setor Norte para o setor
Sul. Sendo o vento predominante de NW, facilmente se entende que as dunas do
primeiro setor apresentem a vertente de declive menos acentuado a Norte, resultado da
incidência do vento. A Sul acontece o contrário: a vertente de declive menos acentuado
verifica-se para Sul, pelo que será resultado da predominância de ventos de SW. Isto
acontece porque possivelmente o pinhal da Videira (muito anterior à plantação das
matas de Mira) pode ter servido de proteção, diminuindo a ação dos ventos de NW na
formação das dunas do quadrante Sul (Silva, 2001). Estas dunas, lineares quanto à sua
disposição, são oblíquas quanto à direção que apresentam relativamente à direção dos
ventos que estiveram na sua origem. No entanto, há processos erosivos que continuam a
atuar sobre elas, com maior ou menor intensidade. Alguns destes processos são os
mesmos que atuam no cordão dunar, só que essa atuação pode ser diferente e traduzir-se
em resultados distintos. O splash, que na duna primária atua em locais onde a vegetação
não existe, é aqui notório também em locais onde ela está presente, nomeadamente por
baixo dos pinheiros. A água concentra-se nas folhas e quando a gota cai provoca um
impacto maior. E a sua ação é mais acentuada se a gota de água incidir sobre materiais
que foram removidos pelos animais (por exemplo das toupeiras e coelhos), como se
pode verificar em imensos locais destas matas. Mas também há locais nestas dunas que

90
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

não têm a proteção da vegetação: os aceiros e os arrifes. Aqui o splash é bastante


notório, pois a gota de água incide diretamente sobre os sedimentos.
A escorrência superficial é outro processo que aqui pode ser observado. No
entanto, enquanto no cordão dunar ele ocorre em locais onde a vegetação é inexistente,
aqui vai aparecer também onde ela existe em menor quantidade, depositando os
materiais sobre as agulhas na base da duna. A concentração de água à superfície nas
estradas também vai depois provocar o escorrimento nos taludes. Este escorrimento vai
dar origem a ravinas que se podem ver com frequência. A estas vão depois seguir-se
desabamentos que acabam por destruir as estradas dificultando o acesso à praia. Estas
ravinas verificam-se sobretudo nos taludes expostos a Sul, que é onde existe vegetação
em menor quantidade. Nos taludes a Norte também se verificam ravinas, mas de
menores dimensões e às quais, por enquanto, ainda não se associaram desabamentos.
Isto, possivelmente, deve-se ao fato de a vegetação existir em maior quantidade nos
taludes a norte, provocando a fixação das areias. Os aceiros e os arrifes são também
locais onde se verifica escorrimento superficial, principalmente quando estes têm
direção perpendicular às dunas, pois os declives existentes favorecem a sua ocorrência.
Embora os desabamentos, como processo isolado, não sejam normalmente
referidos no caso das dunas secundárias, eles foram aqui encontrados. Resultam da
destruição das tocas dos coelhos feitas nas vertentes das dunas e nos taludes das
estradas Em alguns locais têm uma representatividade acentuada pois ocorrem
desabamentos muito próximos uns dos outros que vão alterar completamente a
morfologia da vertente da duna nesse local (figura II.43).

1 2 3

Figura II. 43 – Dunas interiores e processos erosivos identificados;


1 – Desabamentos; 2 – Splash; 3 - Escorrência

91
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

É ainda de referir a importância que o Homem tem na destruição das dunas


interiores, sem que muitas vezes tenha consciência disso. Nas dunas de Mira pode
salientar-se a extração excessiva de matos, deixando as areias a descoberto, facilitando
assim a erosão. Os incêndios são outro fator a ter em atenção, pois a vegetação
destruída, quando da sua ocorrência, demora anos a ser reposta, verificando-se
entretanto movimentações de areia que contribuem para o aplanamento da área.
A estas dunas que formam o campo dunar da Gândara foi atribuído o nome de
“baleiras” pela população local, havendo algumas que até lhes foi atribuído um nome
próprio como é o caso da “baleira do Zé do Padre”. As que recebem nome próprio
distinguem-se das restantes pelo facto de serem mais altas e de difícil transposição pelos
animais, ou ainda porque são as que têm pinheiros mais desenvolvidos.
São estes processos morfogenéticos que se referiram que contribuíram para a
formação do relevo existente e que atualmente estão na origem das modificações que
constantemente se verificam.
E se é verdade que o acesso ao cordão dunar e às dunas interiores se encontra
condicionado, também é verdade que muitas vezes poderá não ser essa a solução. É
necessário fazer-se a sensibilização da população em geral para saber agir nas dunas.
Não se pode proibir a população local de ir buscar as agulhas às matas, como já se tem
verificado. Mas, é necessário ensiná-la a escolher os locais e os utensílios adequados.
Deve ainda considerar-se que a exploração de areias dunares poderá causar
grandes prejuízos ao nível da morfologia do local.

II.1.5 – Hidrografia

Assim como a evolução da linha de costa teve alterações recentes, já apresentadas


anteriormente, a hidrografia do concelho, consequentemente, terá também sofrido
modificações, nomeadamente no que diz respeito ao número de linhas de água e
dimensão da rede.
Thome de Resende in Marques (1993, pp. 171-172), também referido por Miranda
(2008, p. 32; 2012, p. 49), refere que “Há, meio quarto de légua diztante desta vila para
a parte do mar, a celebre lagoa chamada lagoa de Mira, (…). Entrão nella dous rios,
(…) e juntos ambos tomão o nome de Veia, que conservão ahe chegar a dita lagoa
aonde se sepultão, perdendo ahy o dito nome de Veia. E outro, que taobem corre da
parte do nascente, (…) que vem escorrendo (…) athe ao lugar de Portomar, (…) e dahy

92
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

se mete em outra lagoa (…), chamada de lagoa de Portomar e dezta se vem meter na
dita lagoa de Mira pella prate Norte (…). Da mesma lagoa de Mira sahi outro rio que
correndo com o nome de cana, por entre juncaes e áreas, o discursso de huma boa
meya legoa, se vai sepultar no mar e, com suas aguas tãobem moem alguns moinhos.
Terá a dita lagoa quazi um quarto de legoa de largo e quazi meya legoa de comprido,
hinda que o mar so dista dela meya legoa, contudo não entra nela e hé toda de agoa
doce. Pella parte do poente e norte hé toda cercada de aréas que, com a continuação
dos ventos e cheas, a vam alagando por lhe faltar os resguardos que, antigamente,
tinha de matos e arvores de que estava povoado tudo o que hoje são áreas, desde a dita
lagoa athe o mar. (…). Não causou o terremoto nezta terra effeito algum que
necessitasse de reparo, ainda que foy grande, no anno de mil setecentos sincoenta e
sinco em que suçedeo. (…) (2 de Maio de 1758).”
Na atualidade o espaço físico apresentado sofreu grandes alterações no que diz
respeito às águas. A lagoa de Mira tem diminuído o seu tamanho e a lagoa de Portomar
desapareceu após a intervenção de 1919 levada a cabo pelos Serviços Florestais em que
a construção da vala do Regente Rei terá canalizado toda a água nela existente para o
canal de Mira (Miranda, 2008, p.32).
Do ponto de vista hidrogeológico, Grego (2010, p. 93) refere que “o concelho de
Mira se integra no sistema aquífero quaternário do Vouga…”. “O abastecimento
hídrico das populações do concelho é garantido através de furos pouco profundos (…).
(…) muitos são os particulares que têm os seus próprios furos e poços, destinados em
grande parte à rega das suas explorações agrícolas” e florestais. A grande densidade
de linhas de água temporárias existentes no concelho não permite a rega no período em
que esta é mais necessária, pelo que os agricultores se veem obrigados a construir
poços, principalmente para o interior, nos locais de maior altitude do concelho. Os
terrenos localizados próximo de linhas de água permanentes, em menor altitude, na
generalidade necessitam de menos água, por terem a toalha freática a menos
profundidade. Quando a rega se torna necessária os agricultores ou produtores florestais
abrem um “ladrão” temporário na mota da vala principal, que depois são responsáveis
por fechar e deixar segura a referida mota para que não se registem rebentamentos
destas nas épocas de maior precipitação. Os terrenos florestais são regados apenas nos
primeiros anos de instalação da exploração.
Mas a quantidade de água existente nas valas do concelho têm vindo a sofrer
diminuição, resultado de alterações do regime pluviométrico que, por seu lado, também

93
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

terá vindo a decrescer. “Nas valas da Gândara, logo no início do inverno era frequente
as águas excederem os leitos“. Depois, “sobretudo de Abril a Maio, que era o tempo
das águas novas, faziam-se grandes pescarias”. Após o terminus das “águas novas”, as
valas de enxugo secavam e nas maiores (Vala dos Moinhos e Vala da Cana) “diminuía a
quantidade de água que corria no seu leito” (Cação, 2006, pp. 206-207). Na atualidade,
na maior parte das valas de enxugo não corre qualquer quantidade de água, e as mães de
água (valas de enxugo de pequenas dimensões) praticamente deixaram de existir. As
azinhagas (caminhos), que tomavam o papel de vala de enxugo em épocas de elevadas
quantidades de precipitação, também já não acumulam esta dupla função.
A rede hidrográfica do concelho faz parte da sub-bacia da Ria de Aveiro que, por
seu lado, integra a bacia hidrográfica do Vouga.
A referida rede compreende um conjunto de valas que asseguram o escoamento da
água vinda das nascentes e da drenagem dos campos. Compreende, ainda, a Barrinha
(lagoa de barragem marinha) e a Lagoa de Mira (lagoa interdúnica) cuja ocupação
depende grandemente da sua proximidade aos aglomerados populacionais.
A Lagoa de Mira e a Barrinha sofrem uma utilização completamente desordenada.
As funções a que são destinadas nem sempre correspondem ao que seria adequado para
o espaço em causa. A primeira tem uma utilização menos intensa, o que fica a dever-se
à sua localização. Por outro lado, a Barrinha tem sofrido numerosas alterações que se
ligam à sua excessiva utilização, principalmente durante o verão.
No campo dunar não existem linhas de água naturais (ribeiras). Todas as que se
podem encontrar resultam da ação do Homem, que assim tentava controlar o excesso de
água existente em alguns locais, nomeadamente nos terrenos de cultivo e nas dunas
interiores onde se pretendia fazer o povoamento florestal. Mas no que respeita à zona de
estudo, o traçado das linhas de água efetuadas pelo Homem prende-se sobretudo com a
necessidade de controlar o excesso de água existente nas dunas que, de alguma forma,
prejudicava o seu povoamento.
Quanto às valas que compõem a rede hidrográfica podemos distinguir três tipos
diferentes e, apesar de todas elas desempenharem funções de escoamento das águas, a
intenção com que foram construídas foi distinta (figura II. 44).
Existem as valas principais, que são as mais largas. São construídas a partir das
linhas de drenagem natural e a sua principal função é receber a água das valas de
menores dimensões e conduzi-la até à “Ria de Aveiro”. As valas principais do concelho
são a Vala do Regente Rei, a Vala Real ou Vala da Cana e o Canal de Mira.

94
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Vala de Enxugo
(Barra de Mira)

Legenda:
- Vala Principal
- Vala de
Enxugo

0 1Km

Figura II.44 – Rede hidrográfica do Concelho de Mira


Fonte: Carta Geológica de Portugal, Folhas 16-C e 19-A (1974 e 1963, respetivamente)

Quando se optou por fazer o povoamento florestal, no início do século XX, houve
em primeiro lugar que controlar o alagamento das depressões interdunares. Isto foi
conseguido, a Norte, com a abertura da vala do Regente Rei, que tinha como objetivo
drenar as águas da Lagoa do Palhal, no Seixo de Mira. Esta lagoa recebia a água de todo
o Norte do concelho de Mira e ainda do concelho de Cantanhede. A abertura desta vala

95
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

permitiu a sementeira dos terrenos aplanados que anteriormente se encontravam


cobertos de água durante uma grande parte do ano. Partindo do Palhal, esta vala
apresenta uma orientação NE-SW e quando chega à Estrada Nacional n.º 334 (estrada
Mira-Praia de Mira) toma a direção ESE-WNW, que é também a direção da referida
estrada.
A Vala Real é a responsável pelo escoamento da maior parte das águas do Sul do
concelho, apresentando uma orientação SSE-NNW a montante da lagoa de Mira e ESE-
WNW a jusante desta lagoa. A parte Sul do concelho também sofria com o excesso de
água que vinha da nascente da Fervença (concelho de Cantanhede) e é daí que vem a
necessidade de abertura da Vala da Cana ou Vala Real, que pretendia controlar as zonas
alagadas a sul do concelho. A Vala Real e a Vala do Regente Rei constituem em grande
parte da sua extensão a separação entre as dunas interiores e os terrenos de cultivo.
O Canal de Mira resulta da ligação da Vala Real e da Vala do Regente Rei,
transportando as suas águas até à Ria de Aveiro, apresentando uma direção SSW-NNE.
É a vala de maior caudal pois, como se disse, reúne as águas das duas maiores valas do
concelho.
Quanto à constância do escoamento, as valas principais são equivalentes às linhas
de água perenes, ou seja, há escoamento de água durante todo o ano, não descendo o
lençol de água subterrâneo abaixo do leito do curso de água (Lencastre e Franco, 1984).
Existem ainda as valas dos moinhos que foram construídas a partir da Vala Real, à
qual se reúnem novamente depois de porem os moinhos a funcionar com a força motriz
das águas. Também servem para receber alguma água de escorrência no inverno e para
regar os terrenos que lhe estão próximos no verão, mas estas já são funções secundárias.
São mais estreitas que as valas principais, apresentando uma largura que pode variar
entre os três e os cinco metros. A mesma vala serve para alimentar vários moinhos que
se encontram ao longo do seu trajeto.
Por fim temos as valas de enxugo, de escoamento ou de drenagem, que se
destinam a recolher a água excedente dos terrenos agrícolas e florestais. Localizam-se
muitas vezes paralelas a alguns caminhos. Estas têm ligação às valas dos moinhos ou às
valas principais. São de pequenas dimensões, não ultrapassando os dois metros de
largura, servindo muitas vezes de separação entre os campos agrícolas.
Podendo parecer pouco importantes, na realidade estas valas de enxugo, que
muitas vezes se parecem mais com regos profundos, são indispensáveis pois são elas
que permitem a drenagem dos campos agrícolas evitando assim o seu alagamento.

96
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Também nas depressões interdunares foram abertas algumas valas de escoamento para
impedir o alagamento destas e assim se poder proceder a sementeiras. As valas de
enxugo são efémeras na sua função de escoamento. Ou seja, funcionam apenas durante,
ou imediatamente após, os períodos de precipitação, e só transportam as águas
resultantes do escorrimento superficial. A superfície freática nestes locais, encontra-se
sempre a um nível inferior ao do leito fluvial, não havendo portanto a possibilidade de
caudais subaéreos (Lencastre e Franco, 1984).
Até há poucos anos, todas as valas do concelho apresentavam entre si
características semelhantes, devido aos trabalhos de limpeza a que eram submetidas
regularmente pelos Serviços Hidráulicos, pela Direção Geral das Florestas, pela Câmara
Municipal e pelos habitantes que de alguma forma usufruíam delas.
Atualmente as valas estão em mau estado de conservação, pois todos os
intervenientes nestas tarefas de limpeza deixaram de a fazer. E sendo o número de
agricultores e de moleiros cada vez menor – e mais velhos - tornar-se-ia necessário a
existência de alguma entidade que os substituísse nessas tarefas de manutenção das
valas.
Nas depressões interdunares verifica-se, algumas vezes durante o inverno, a
acumulação de água, que origina pequenos lagos onde predomina a vegetação higrófila.
Atualmente a água disponível no concelho regista um decréscimo acentuado, o
que pode ficar a dever-se não só à sensível redução da pluviosidade - de 80mm na
média anual de 1934-60 para 1961-89 - mas também ao facto de grande quantidade da
que aqui antes afluía ficar agora retida no concelho de Cantanhede. A Lagoa do Palhal
já deixou de existir, o que leva a que a água drenada pela Vala do Regente Rei tenha
diminuído. Também na Vala da Cana a quantidade de água sofreu uma elevada redução,
aqui devido ao facto de grande parte da água da nascente da Fervença (que alimenta esta
vala) ser agora aproveitada para consumo do concelho de Cantanhede.
Se até há poucos anos o concelho se deparava com problemas constantes de
excesso de água, começa agora a sentir a sua carência em alguns dos seus setores. As
valas de enxugo que existiam nas dunas e que drenavam a sua água para as valas
principais encontram-se hoje, em grande número, permanentemente secas, o que levará
à destruição dos microecossistemas ripícolas aí existentes.
Com a diminuição da precipitação, diminui também a água acumulada nas
depressões e nas valas, e a vegetação sofrerá consequentemente alterações.

97
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A produção agrícola da região também terá que se adaptar às novas condições


naturais. E se tal poderá parecer irrelevante pense-se na produção de arroz que existia
até há 40 anos em alguns terrenos, próximos das valas, e que agora estão completamente
secos.
Numa consulta a Brandão (2009, p. 31), verifica-se que eram frequentes, no ano
de 1920, os campos de arroz na Ria de Aveiro onde “… os arrozais deslavados atiram
para o céu as hastes com os pés metidos na água”. Eram exemplo os campos de arroz
de Portomar e da Presa que, depois de efetuadas as obras de hidráulica pelos Serviços
Florestais, deixaram gradualmente de existir.

II.1.6 – Solos

O solo é o principal fornecedor de nutrientes e de água às plantas, dependendo o


nível de fertilidade das suas características físicas, químicas e biológicas. O solo é então
um dos principais fatores a ter em atenção quando se pretende analisar a capacidade
produtiva de uma determinada área.
Nas Dunas de Mira os solos não apresentam horizontes bem definidos porque a
rocha-mãe é de fixação relativamente recente. Há oitenta anos foi quando se procedeu à
plantação e sementeira destas dunas, com o objetivo de as fixar e não as deixar avançar
sobre os Depósitos de Praia Antigos, que já nesta época eram terrenos agricultados. As
Dunas de Mira podem então descrever-se como pertencentes à classe de solos não
evoluídos ou incipientes, mas que já apresentam uma cobertura vegetal considerável,
devido à facilidade de mobilização da rocha-mãe.
A diferenciação dos horizontes nos solos não evoluídos das Dunas de Mira é
extremamente difícil. No cordão dunar não é visível qualquer tipo de diferenciação
relativamente à distinção de horizontes.
Na depressão interdunar já é notória alguma acumulação de matéria orgânica
próximo da superfície. No entanto, não se verifica nenhum horizonte de acumulação.
É comum a referência a solos do tipo Podzol nas áreas dunares (André et al.,
2009; Almeida, 1997). Mas estes solos, já evoluídos, ocorrem em áreas dunares que se
encontram numa fase de estabilização considerada antiga, se comparando com as áreas
do litoral, de fixação recente.
Relativamente às dunas interiores pode observar-se que nas áreas não ardidas em
1987 a acumulação de matéria orgânica na parte superficial é mais intensa do que nas

98
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

áreas ardidas nesse ano. Aqui poderá pensar-se que nas áreas ardidas terá ocorrido
também diferenciação de horizontes, mas devido ao incêndio e posterior diminuição de
vegetação teria ocorrido uma alteração no processo de evolução do solo. Para confirmar
esta possibilidade a nível de horizontes seria indispensável que existissem informações
relativas ao período de tempo ocorrido entre 1987 (ano em que ocorreu o incêndio) e a
atualidade.
A consulta da Carta dos Solos III.1 do Atlas do Ambiente de Portugal (1978)
revela que as Dunas de Mira fazem parte da categoria Rd.1, Regossolos Dístricos. Os
regossolos constituem solos formados a partir da rocha-mãe não consolidada, com perfil
(A)C e em que o horizonte A se apresenta com fraco desenvolvimento. Os que ocorrem
nas Dunas de Mira fazem parte do grupo dos regossolos dístricos. Ou seja, trata-se de
solos não evoluídos existentes em materiais de estrutura não agregada, com complexo
adsorvente bastante dessaturado (saturação em bases inferior a 50%) e pH ácido
(Cardoso, 1973). Não há saturação em bases porque pode ainda não ter decorrido tempo
suficiente para a existência de bases de materiais arenáceos não consolidados ou então
estas bases já se perderam por lixiviação. Seria então de esperar, devido a esta
definição, encontrar pH ácido e o que acontece é que, como se poderá confirmar no
Capítulo IV ele apresenta, muitas vezes, valores superiores a 7.
No concelho de Mira ocorrem solos Podzóis Órticos, associados a Cambissolos
Dístricos. Aqui está-se perante uma situação de solos evoluídos, o que não acontece nas
dunas recentes, pois embora os Terraços Marinhos também sejam de natureza não
agregada, são mais antigos, o que permitiu que o solo se começasse a formar
anteriormente, possibilitando que na atualidade apresentem já um estado de
desenvolvimento onde se pode verificar a existência de todos os horizontes.
Outro tipo de classificação que também é frequentemente utilizado diz respeito à
capacidade de uso do solo, ou seja, a maior ou menor capacidade de mobilização e a
associação da respetiva fertilidade.
Segundo a Carta de Capacidade de Uso do Solo, III.3, do Atlas do Ambiente de
Portugal (1982), as Dunas de Mira incluem-se na categoria F, que se refere a um tipo de
utilização não agrícola, mas somente florestal. Como se trata de solos de grande
facilidade de mobilização podem por isso ser utilizados. Mas em contrapartida
apresentam um grau de fertilidade muito baixo, nomeadamente ao nível da matéria
orgânica existente, o que vai condicionar a sua utilização. Esta classificação tem como

99
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

base o “Esboço Geral do Ordenamento Agrário”, do SROA. Junto a Mira já se encontra


solo pertencente à classe A, ou seja, solos que já têm uma verdadeira aptidão agrícola.
Relativamente à pobreza do solo, Frada (2009, p. 33) refere que “Cada terra gera
os seus homens, do mesmo modo que as flores e os frutos… A vida dos nossos
antepassados torna-se mais compreensível, se formos capazes de entender o diálogo
travado entre o homem e a terra…Chão de areia, arrastada pelos ventos e aluviões,
esgota rapidamente os nutrientes, necessitando de contínuas adubações orgânicas. Solo
solto, embora com um lençol de água a pouca profundidade, exige ainda um trabalho
de rega permanente”. De forma resumida faz-se referência às principais características
do solo: não agregado, pobre em nutrientes, com grande capacidade de lixiviação, com
necessidade de rega devido à perda rápida da água devido à carência de matéria
orgânica.
A natureza do solo arenoso de formação no Plistocénico apresenta-se ainda hoje
pobre em húmus (Girão in Marques, 1993, p. 15). A figura II.45 apresenta vários perfis
de solo da área de estudo, podendo-se concluir que em alguns locais, nomeadamente
nos flancos e nas cristas de dunas, assim como nos locais muito próximos do mar, não é
visível a acumulação de matéria orgânica, que normalmente se traduz numa cor escura.
Em algumas depressões, nomeadamente naquelas que são alagadas no inverno já é
visível alguma acumulação mas, mesmo assim, em pequenas quantidades.
A pobreza dos solos será dos elementos que mais condicionará o desenvolvimento
vegetal neste local de estudo. O baixo teor em nutrientes e a dificuldade de retenção de
água dificultam a luta pela sobrevivência de qualquer espécie, mesmo aquelas que, de
algum modo, já estejam adaptadas a condições adversas. A diminuição da procura dos
matos para utilização agrícola poderá ser uma mais-valia na formação de solos com
características mais vantajosas para as plantas, pois a carência de nutrientes no solo é
um fator limitante ao desenvolvimento vegetal (Pillar, 2002).

100
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Figura II. 45 – Perfis do solo nas dunas interiores

II.1.7 – Vegetação

Marques (1993, p.16) refere que na ocupação histórica das terras de Mira deve
considerar-se a existência dum “ intenso revestimento vegetal” para o interior e uma
fraca densidade vegetal para o litoral. Para Norte do concelho esta autora refere um
documento de 1095, relativo à região de Ílhavo, onde existiria uma “densíssima floresta,
lugar de feras, desde tempos antigos”. Ainda referência à toponímia Carvalhais, na atual
Ponte de Vagos. Mais uma vez estas vegetações frondosas parecem localizar-se para o
interior de uma linha que passa pela localidade de Mira. A mesma autora (1993, p. 17)
refere ainda que o revestimento vegetal seria diferente do interior para o litoral. No
interior predominavam o pinheiro bravo e o carvalho caducifólio, o que é bem patente
nas referências ao “pinhal do Fojo, do Fidalgo, da Quinta das Castinhas, da Gândara
de Portomar”. O carvalho é confirmado pela existência da localidade Carvalhais a
Norte de Mira. Existiria ainda rosmaninho, confirmada pelo lugar rosmaninhal. A zona
marítima originaria uma vegetação mais rasteira de que é exemplo a “gelfa ou charneca
de Portomar”.
Almeida (1999 p. 16) aponta a monotonia da paisagem atual da área de estudo se
a análise for feita ao nível do estrato arbóreo. No entanto, aumentando o pormenor, e
passando a analisar os restantes estratos, esta monotonia desaparece, com o aumento na
riqueza específica dos diferentes locais. Também Costa (2001) pormenoriza a
diversidade vegetal da praia e das dunas ao nível dos estratos herbáceo e arbustivo,
destacando a sua importância no controlo da morfologia dunar.

101
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Dos principais habitats e comunidades associadas destacam-se com interesse para


a área de estudo a praia e duna frontal, a grande depressão interdunar, e a área de dunas
interiores. Deve, no entanto, permanecer a ideia que não se trata de áreas com
caraterísticas próprias com limites completamente definidos, mas que estes limites se
vão esbatendo pela aquisição de influências das áreas contíguas (Oliveira, 1999;
Almeida, 1997; Petronilho, 2001, Martins, 1999).
Para Cordazzo (2009) a evolução das dunas costeiras depende de vários fatores,
onde se destacam o grau de cobertura vegetal e as espécies presentes. Por exemplo, um
indicador de desenvolvimento das dunas é a presença de Senecio spp., que aparece num
estádio mais avançado, como é o caso destas dunas interiores onde se realiza o estudo,
em que já não há movimentação de areias. Nas Dunas de Mira o Senecio spp. aparece
também na duna primária, embora na vertente oposta à exposição marítima.
A fixação de vegetação tem início na praia alta, com especial destaque para o
Elymus farctus e a Calystegia soldanella. Trata-se de espécies que resistem aos
elevados teores de sal e aos ventos fortes que se fazem registar nestas áreas. São
espécies pioneiras que se instalam e ajudam a fixar areias e contribuem, muitas vezes,
para regenerar a duna frontal, quando esta sofre o ataque do mar nas épocas mais
adversas, como é o caso das marés vivas.
Passando às áreas da base de duna frontal voltada para o mar, aparece a
Ammophila arenaria (L.) Link, e a Euphorbia paralias L.. Aumenta a densidade destas
espécies quando se efetua o percurso no sentido da crista da duna e acrescenta-se ainda
maiores quantidades de Crucianella maritima L. como bordadura das manchas de
Ammophila arenaria. A quantidade de Elymus farctus (Viv.) Runemark ex Melderis
registada tem tendência a diminuir, talvez pela perda na competição pela luz,
relativamente à Ammophila arenaria. Começando a percorrer um caminho descendente
para o interior, aparecem novas espécies: o Pancratium maritimum L. e a Artemisia
crithmifolia L., e regista-se, em simultâneo, uma diminuição da presença da Ammophila
arenaria, à medida que se desce a duna frontal no sentido da grande depressão.
Chegando à grande depressão interdunar, que separa a duna frontal das dunas
interiores que lhe são transversais, regista-se um cortejo florístico mais aprimorado,
com a inclusão de novas espécies como o Medicago marina L., a Silene littorea Brot., a
Linaria caesia (Pers.) D.C. ex. Chav., o Antirrhinum majus L., entre outros. A Corema
album L., que começa a aparecer no flanco interior da duna frontal, regista aqui o seu
desenvolvimento máximo. A Seseli turtuosum L. que, assim como a Corema album L.,

102
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

aparece anteriormente, também aqui encontra o seu habitat preferido. O Eryngium


maritimum L., planta transversal a todos estes segmentos vegetais, atinge aqui o seu
maior desenvolvimento (Almeida, 1997; Martins, 1999; Oliveira, 1999; Petronilho,
2001). Na grande depressão interdunar começam a aparecer os pinheiros retorcidos por
ação dos ventos, normalmente com uma bordadura de Corema album L. em seu redor.
Entrando nas dunas interiores, o estrato arbóreo é, quase em exclusivo, formado
por pinheiro bravo, destacando-se nas depressões interdunares, por vezes, alguns
choupos (Populus spp.), que têm associados o Salix arenaria L. e o Salix atrocinerea
Brot.. Nestas depressões é frequente observar-se Juncus acutus L. ou Scirpus
holoschoenos (L.) Sójak, quando se trata de áreas inundadas no inverno. Nas depressões
não inundadas, regista-se a presença de Halimium halimifolium L., de alguma Corema
album L., de Lavandula stoechas ssp. pedunculata (Mill.) Cav., assim como de
Ammophila arenaria (L.) Link. No estrato arbustivo aparece a Acacia longifolia
(Andrews) Willd e, por vezes, a Myrica faya Aiton. Na vertente das dunas destaca-se a
presença de Cytisus grandiflorus Brot. (D.C.) e de Cistus salvifolius L.. Na crista de
dunas a vegetação é semelhante, embora normalmente, com menor densidade.
Mais afastado do mar estas dunas registam a presença de Erica scoparia L. e de
Calluna vulgaris (L.) Hull. No pinhal das Castinhas e no pinhal de Portomar, de Ulex
europaeus L., de Ulex minor Rothm., e de Halimium calycinum (L.) K. Koch Sin.. A
Acacia dealbata Link. aparece junto aos caminhos, enquanto que os musgos aparecem
nas vertentes de dunas. Por seu lado os líquenes, a quem se atribui o início da instalação
de vida vegetal (Carvalho, 2002; Rodrigues, 2005; Marques, 2008) parecem preferir as
depressões interdunares, com grande exposição solar.
As zonas húmidas, apresentadas por Petronilho (2001) sob o ponto de vista
faunístico, e por Silva (2000) sob o ponto de vista paisagístico, encontram-se bem
representadas pelas já referidas Lagoa de Mira, Barrinha, e ainda por caniçais e
salgueirais localizados na Ermida, no Casal de São Tomé, na Lagoa, na Barra de Mira,
em Portomar e no Seixo. Nestas zonas húmidas encontra-se vegetação extremamente
valorizada pelos habitantes locais, assim como pelas aves ou outros animais existentes
(Oliveira, 1999; Petronilho, 2001). Destacam-se o Iris pseudacorus (Lírio amarelo), a
Typha latifolia L. (tabúa, utilizada para arte floral e, antigamente, para encher
almofadas), a Phragmites australis (Cav.) Trin. ex Steud. (caniço, usado como
fertilizante agrícola), a Myriophyllum aquaticum (Vell.) Verdc. (erva pinheirinha) e
Arundo donax L. (Canas, utilizadas como tutores nas hortas familiares). A Eichornia

103
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

crassipes (Mart.) Solms (jacinto de água, utilizado como fertilizante agrícola), que tem
acentuado a eutrofização dos cursos de água do concelho, é uma infestante exótica que
tem sido alvo de controlo quer por parte das entidades locais, quer por parte da
população.
As áreas de uso agrícola, que têm vindo a diminuir drasticamente no concelho
pelo seu progressivo abandono, também têm a sua vegetação típica associada,
nomeadamente as infestantes Solanum nigrum (erva moira) e Polygonum persicaria
(rabo de galo ou erva pessegueira), constantemente controladas pelos agricultores. Do
ponto de vista produtivo, encontramos em áreas de regadio, o milho (Zea mays L.) e a
batata (Solanum tuberosum L.) como principais culturas. Como culturas secundárias
aparecem as hortícolas como feijão (Phaseolus vulgaris L.), abóbora (Cucurbita pepo
L.), couve (Brassica oleracea L.), beterraba (Beta vulgaris L.), tomate (Solanum
lycopersicum L.), nabo (Brassica rapa L.) ou alface (Lactuca sativa L.). Até à década
de 60 do século XX, produzia-se também arroz (Oryza sativa L.) nas áreas alagadas
junto às lagoas e às valas. Atualmente esta cultura já não existe no concelho. Nas áreas
de sequeiro, produz-se cevada (Hordeum vulgare L.) e centeio (Secale cereale L.). Após
a entrada do país na União Europeia na década de 80 do século XX, tentou-se
implementar novas espécies, como o sorgo (Sorghum vulgare Pers.) ou o triticale (x
Triticosecale Wittm. ex A. Camus) mas os agricultores, assim como rapidamente
aderiram, com a mesma rapidez abandonaram estas últimas espécies. Atualmente, com
as dificuldades que se fazem sentir no setor agrícola, a maior parte da sua área foi
abandonada ou substituída por espécies florestais de crescimento rápido, como o
eucalipto (Eucalyptus globulus Labill), o choupo (Populus alba L.), o Populus x
canescens Raf.) e o freixo (Fraxinus excelsior L.).
Os matagais, importantes zonas de matos existentes nas orlas dos espaços
florestais, são locais onde o estrato arbóreo é pouco representado e dominam espécies
do estrato herbáceo ou subarbustivo. Uma vez localizados nas orlas florestais,
imediatamente levam a concluir que se encontrarão mais próximos dos locais
residenciais, pelo que se trata de espaços que forneciam os bens imediatos às
populações. Enquanto a obtenção dos produtos florestais requeria o percurso de grandes
distâncias, os matagais (ou rebeiros) permitiam o acesso a esses mesmos materiais (com
exceção da caruma) mas em pequenas quantidades. Estes são essencialmente
compostos, nas áreas mais secas, por Cytisus grandiflorus (Brot.) DC., Cistus salvifolius
L., Ulex europaeus L., Lavandula stoechas ssp. pedunculata (Mill.) Cav., Corema

104
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

album L., Acacia cyanophylla (Mill) Lindley, Acacia dealbata Link. (mais apreciada
para fertilizante agrícola do que a Acacia longifolia (Andrews) Willd). Nestas áreas, os
agricultores instalaram as suas comunidades de colmeias durante muitos anos, pois a
diversidade florística permitia às abelhas o acesso imediato às flores. Atualmente, estas
espécies foram, quase na sua totalidade, substituídas por Acacia longifolia (Andrews)
Willd.. Junto a estes matagais na transição para as zonas húmidas era frequente
aparecerem grandes áreas de Thyfa latifolia L. que, atualmente, por diminuição da
humidade dos solos, se encontram substituídas por salgueirais. Estes representam
grupos de espécies que coabitam em harmonia entre si de acordo com as características
naturais do local. A caracterização/classificação desta vegetação corresponde à
fitogeografia do local.
O estudo da fitogeografia permite a compreensão de diferentes padrões de
distribuição das plantas, tentando compreendê-las a diferentes escalas espaciais e
temporais, e permite ainda entender como se processam as modificações morfológicas e
como isso aparece refletido no espaço geográfico. O estudo de áreas ocupadas por
diferentes táxones (espécie, género e família) facilita a compreensão do seu estado atual
e a problematização das causas que terão levado à sua existência.
A caracterização biogeográfica dos territórios é feita recorrendo a uma escala
taxonómica ou hierarquizada que, de forma decrescente, é formada pelo Reino, Região,
Província, Setor, Distrito e, por fim, a Tesela, que é a unidade elementar da tipologia
biogeográfica (Rivaz-Martinez et al., 2003). Este autor distingue 5 tipos de unidades
básicas ou macrobioclimas: Tropical, Mediterrâneo, Temperado, Boreal e Polar. Cada
um deles divide-se em vários bioclimas (Ariza, 2013, Rivas-Martinez et al., 2003)
Em Portugal, a vegetação natural encontra-se atualmente bastante alterada e não
constitui, na maior parte das vezes, o coberto que hoje se pode podia esperar. Variadas
intervenções ao longo do tempo, como a agricultura, o sobrepastoreio, o corte, o fogo e
a introdução de espécies exóticas, levaram à sua alteração. A ocupação humana na parte
ocidental da península Ibérica data do Neolítico, ou seja, de há cerca de 5000 anos. E,
desde que os primeiros povos se fixaram e começaram a praticar agricultura e pastoreio,
a floresta natural foi submetida a inúmeras alterações (Reigota, 1992).
Os bosques climácicos de Portugal continental são constituídos em maior
extensão e globalmente por Quercíneas, desde formações vegetais caducifólias
(Quercus robur, Quercus pyrenaica), marcescentes (Quercus faginea, Quercus
canariensis) e perenifólias (Quercus suber, Quercus rotundifolia), sucedendo-se de uma

105
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

forma gradual, no sentido Norte-Sul, segundo a predominância de um clima cada vez


mais quente e seco. As duas primeiras distribuem-se na região Euro siberiana e
Mediterrânea e a terceira somente na região Mediterrânea (Carvalho, 1994). A região
Mediterrânea é totalmente dominada pela classe Quercetea ilicis que representa o
clímax dos ecossistemas naturais desta região (Rivaz-Martinez et al., 1980). O Quercus
robur ocupa a região Euro siberiana (Minho, Douro Litoral e uma parte da Beira
Litoral), ocorrendo ainda em pequenos núcleos noutros locais onde a influência atlântica
é mais acentuada (Carvalho, 1994).
Quanto ao Pinus pinaster, inicialmente distribuído nas areias do centro Litoral,
existe praticamente por todo o País, principalmente na faixa litoral até ao Sado, onde a
influência atlântica se manifesta predominante, ocupando áreas que anteriormente
pertenciam ao carvalho. Mais recentemente tem-se verificado um rápido crescimento da
superfície ocupada pelo eucaliptal, principalmente com o Eucalyptus globulus Labill.,
que se tem expandido na faixa litoral, especialmente do centro, e ultimamente também
em regiões de influência continental como o Alentejo interior.
Embora a classe Quercetea ilicis seja a mais representativa na Península Ibérica,
ela tem vindo a ser substituída, em Portugal, por duas grandes classes, que são
atualmente a Calluno-Ulicetea e a Cisto-Lavanduletea (Braun-Blanquet, et al., 1961;
Rivaz-Martinez, 1979, in Carvalho, 1994). Esta destruição leva à formação das
primeiras etapas de substituição do bosque climácico por um coberto vegetal em que
normalmente se tornam dominantes as espécies arbustivas quase sempre presentes, com
maior ou menor abundância, na associação climácica.
A classe Calluno-Ulicetea ocorre sobretudo no Norte de Portugal, onde muitos
dos bosques climácicos dominados pelo Quercus robur e Quercus pyrenaica têm, ao
longo do tempo, sido destruídos pelo Homem, dando lugar a um revestimento vegetal
formado por espécies do género Erica spp., Ulex europaeus L., Halimium alyssoides
(Lam.) K. Koch e Calluna vulgaris (L.) Hull, entre outras (pertencentes a esta classe),
que aparecem hoje como parte integrante do sub-bosque de alguns pinhais aí existentes.
Esta classe, além de reunir espécies genuinamente atlânticas, engloba também as de
distribuição sub-atlântica e mediterrânea ibero-atlântica (Carvalho, 1994).
A classe Cisto-Lavanduletea, de caráter mediterrâneo, distribui-se essencialmente
no Sul, como etapas de degradação da floresta perenifólia mas também se verifica nas
Dunas de Mira. Nesta classe estão incluídas numerosas comunidades arbustivas
silicícolas mediterrâneas de carácter xerofílico, sendo substituídas pelas comunidades da

106
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Calluno-Ulicetea quando o clima se torna mais húmido. Como espécies características


referem-se o Cistus crispus L., Cistus ladanifer L., Cistus salvifolius L. e Lavandula
stoechas ssp. pedunculata (Mill.) Cav. (Carvalho, 1994). Mas, se estas são duas classes
extremamente representadas em Portugal, existem outras que, embora não ocupem áreas
tão significativas, são também objeto de estudo, nomeadamente a Ammophiletea, que é
típica do litoral e que caracteriza o cordão litoral de Mira (Carvalho, 1994; Martins,
1999; Oliveira, 1999).
Quando se pretende fazer uma caracterização pormenorizada da vegetação de uma
determinada área, tem que se ter em consideração todos os estratos e o maior número de
espécies possível. Isto porque, como já foi referido, muitas vezes não é o estrato arbóreo
que determina a classificação de uma determinada vegetação.
Nas Dunas de Mira, a vegetação do cordão dunar, constituída exclusivamente
pelos estratos herbáceo e subarbustivo, tem sido nos últimos anos alvo de destruição
devido à sua crescente utilização. Tem ainda sido alvo de introdução de espécies que
não lhe são características, nomeadamente o Carpobrotus edulis (L.) N.E. Br e a Acacia
longifolia (Andr.) Willd.. Também o cordão dunar do concelho de Mira tem sofrido
alterações de vegetação com a crescente disseminação destas espécies, assim como com
a erosão que se faz sentir principalmente a Norte, onde o Elymus farctus tem sido
destruído a Oeste daquele cordão.
A vegetação das dunas interiores tem sofrido alteração, não só devido aos
incêndios que se têm verificado nos últimos anos, mas também devido ao progressivo
abandono da agricultura. A dominância da Acacia longifolia sobre a restante vegetação
no pós-incêndio é visível na totalidade da área ardida. Por outro lado, também já existe
esta dominância da espécie nos locais que primeiro foram abandonados pelos
agricultores, nomeadamente nos mais próximos do mar, que pelas longas distâncias das
estradas principais deixaram de ser apelativos.
Quando se semearam as dunas de Mira, houve a preocupação de incluir um
subcoberto adequado ao local em causa (Rei, 1924). Ao pinheiro bravo, espécie
dominante, juntou-se todo um cortejo de espécies típicas de dunas que, inclusive,
contribuíram para a consolidação do relevo local (figura II.46).

107
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

1 2 3

4 5 6

7 8 9

10 11 12

13 14 15

LEGENDA:
1 – Eryngium maritimum L. 2 – Linaria caesia Pers.
3 – Acacia dealbata Link. 4 – Corema album (L.)
5 – Euphorbia paralias L. 6 – Silene littorea Brot.
7 – Halimium halimifolium L. 8 – Cytisus grandiflorus Brot. (D.C.)
9 – Ammophila arenaria (L.) Roth. 10 – Cistus salvifolius L.
11 – Lavandula sthoecas pedunculata L. 12 – Carpobrotus edulis (L.) N.E. Br
13 – Calystegia soldanela (L.) R.Br. ex Roem. & Schult. 14 – Iris pseudacorus L.
15 – Pancratium maritimum L.

Figura II.46- Espécies vegetais introduzidas pelos serviços florestais no início do séc. XX nas Dunas
de Mira

108
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Torna-se por isso necessário que qualquer proposta de intervenção que se faça
para esta área tenha implícita a manutenção do subcoberto herbáceo e algum arbustivo.
As utilizações de atividades de educação ambiental, derivadas do compromisso que a
população local tem para com a floresta, ligadas ao espaço natural em causa, a isso
obrigam. A compreensão deste coberto vegetal (arbóreo, arbustivo e herbáceo)
integrado nas restantes condições naturais, elemento principal do estudo aqui
apresentado, será sem dúvida o grande desafio a que se propõe este trabalho. A busca de
utilizações para as diferentes espécies vegetais existentes, assim como o controlo de
infestantes, poderia ser uma mais-valia na conservação do espaço florestal do litoral
centro. Mas, devido à idade avançada do coberto arbóreo, ao domínio de infestantes
arbustivas e até mesmo de infestantes herbáceas, torna-se urgente uma avaliação do
espaço para que se possam elaborar propostas de desenvolvimento sustentável da
vegetação dunar.

II.2 - ENQUADRAMENTO HUMANO

Alves (1990, p. 24) apresenta os números de habitações existentes nos diferentes


locais do concelho de Mira e, tendo como referência o ano de 1527, faz referência à
existência da “Corujeira, da Póvoa da Ermida, de Mira e de Portomar”. Relativamente
a 1758, este autor já apresenta referências para “Aldeia do Arieiro, Arneiro, Atalho,
Cabeço de Portomar, Carromeu de Cima, Carromeu de Baixo, Cavadas, Colmeal,
Corticeiro, Corugeira, Ermida, Leitões, Lentisqueira, Mira, Moinhos de São Tomé,
Ponte do Sobrado, Portomar, Preza de Baixo, Seixo de Baixo, Seixo de Cima”, tendo-se
assim verificado um aumento de 17 lugares (aldeias) em aproximadamente 230 anos. Os
lugares apresentados permitem fazer uma inferência acerca da localização da linha de
costa por estes séculos, parecendo que esta se encontraria junto a Portomar e ao Casal
de São Tomé (Moinhos de São Tomé?). A ser assim, a afirmação de existência de matas
antigas, tantas vezes referidas, que se situariam no local do atual Perímetro Florestal das
Dunas de Mira necessita de ser repensada, ou convenientemente fundamentada. Dos
documentos escritos encontrados, tudo indica que o povoamento florestal do início do
século XX seria o primeiro a efetuar-se nesta área e, quando se fala dos incêndios dos
pinhais das dunas provocados pelas invasões francesas, a possibilidade é que se trataria
de pinhais localizados mais para o interior e na época mais próximos do litoral.

109
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A partir de 1835, os fluxos migratórios verificados terão dado origem aos lugares
da “Praia de Mira, Barra e Videira do Sul”, pois houve neste ano a primeira referência
a nascimentos na Costa do Mar (Praia de Mira) (Alves (1990, p. 24, Brito, 1960, apud
Cravidão, 1988).
Estes registos indicam um avanço na linha de costa ao longo dos tempos, com as
povoações do litoral a aparecer mais tardiamente. E são estas populações do litoral que
vão ajudar a consolidar as novas dunas, com a sementeira da floresta. São também elas,
quem mais vai depender deste espaço natural, através dos produtos que retira para a
agricultura.

II.2.1 – Evolução da população

A dinâmica demográfica do município verificada nos últimos anos revela um


envelhecimento tendencial da população, associado a uma diminuição significativa do
crescimento natural e a uma cada vez mais acentuada tendência migratória. Se nas
décadas de 1960 e 1970 se verificaram migrações internacionais acentuadas, na
atualidade as migrações continuam a verificar-se. Somente se regista uma diferença:
agora estamos sobretudo perante um fenómeno migratório interno, ou seja, uma grande
parte da população deste concelho desloca-se para outros concelhos, com o objetivo de
aí alcançar melhores condições de vida. Curiosamente, quando se refere o facto de o
litoral português estar a aumentar a sua população, deve fazer-se referência à exceção
verificada no concelho de Mira que, embora sendo um concelho do litoral, não oferece
grandes condições para a fixação de população. Aqui importa talvez referir que Mira
tem vindo a crescer se for considerada a vertente de dormitório de concelhos vizinhos.
Principalmente as localidades mais próximas do mar têm aumentado a sua área
residencial, devido à população que procura habitação que seja satisfatória tanto no
inverno como no verão (devido à proximidade da praia).
Deste modo, não se prevê portanto a incidência de fenómenos demográficos de
relevo em termos da dinâmica populacional local, ressalvando-se, no entanto, que a
manifestação ou desenvolvimento de fenómenos económicos de grande magnitude,
influenciam a realidade demográfica. Neste contexto, é fundamental referir que o
programado desenvolvimento turístico do concelho poderá induzir/reforçar o
crescimento populacional (através de novos mecanismos migratórios ou mesmo gerando
uma dinâmica natural). A população do concelho encontra-se fixada, em maioria, na

110
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

parte nascente do concelho, particularmente a NE (Carapelhos, Seixo, Cabeço,


Portomar, Presa...). Na faixa mais litoral encontram-se, pontualmente, alguns
aglomerados, dos quais se destaca a Praia de Mira. Em cada aglomerado, a distribuição
da população faz-se de forma linear, apoiada nos eixos viários principais, com especial
relevância para aqueles que têm ligação à E.N.109.
Para a referida distribuição a NE, contribuíram inicialmente fatores naturais,
nomeadamente a produtividade dos solos. É no interior do concelho que a atividade
agrícola tem maior relevância. No litoral, além de não existirem tantos pontos de
fixação populacional, os que existem são essencialmente dedicados ao turismo.
A dinâmica demográfica do concelho de Mira reflete o que se passa na quase
totalidade do País. Deste modo, identificam-se fenómenos de decréscimo populacional
durante a década de 60, derivado do elevado fluxo migratório e acréscimos
populacionais na década seguinte (Santos, 2008).
No concelho de Mira a população era de 6012 residentes em 1864, 7969 em 1900,
8510 em 1911, 9158 em 1920, 9627 em 1930, 11571 em 1940, 13099 em 1950, 13384
em 1960, 13149 em 1970, 13299 em 1981 e 13700 em 1991 (INE; Alves, 1990;
Albuquerque, 2005; Oliveira, 2005). Em 2001 contrariou-se a tendência de aumento da
população que se registava desde a década de 70 e voltou-se a verificar um decréscimo
com a confirmação de 12872 habitantes (figura II.47). O decréscimo verificado na
década de 60-70 pode ter-se ficado a dever à emigração para diversos países da Europa.
Desta vez poderá estar relacionado com migrações internas, pois muitas vezes as
pessoas optam por fixar residência nos concelhos onde trabalham. Além disso, Mira não
tem conseguido criar postos de trabalho satisfatórios para a sua população, o que obriga
as pessoas a partir, já que os trabalhos de verão não são suficientes para a sobrevivência
de todo o ano.

16000
14000
Nr.º de Habitantes

12000
10000
8000
6000
4000
1864 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
Ano

Figura II. 47 – Evolução da população no concelho de Mira nas últimas décadas


Fonte: Anuários Estatísticos, INE; Alves, 1990; Albuquerque (2005); Oliveira (2005)
111
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

II. 2.2 – Setores de atividade

O concelho de Mira teve, durante muitos anos, como base da sua atividade
socioeconómica, o setor primário e, em particular, a atividade agrícola. A tendência
atual tem correspondido a uma diminuição na representatividade deste setor.
As atividades económicas principais no concelho corresponderam a um grande
domínio de tudo o que era ligado à agricultura, à floresta e à pesca. A apanha do moliço
na “ria de Aveiro”, que depois era utilizado como fertilizante na agricultura e na floresta
“envolveu, particularmente, os homens do Seixo, Cabeças Verdes e Carapelhos”
(Miranda, 2012, p.68). Mais tarde, com a fixação de população na Praia de Mira e o
aparecimento dos lugares da Barra de Mira e da Videira, as atividades associadas à Ria
terão aumentado, devido à proximidade geográfica. Também a tentativa de fertilização
das areias para a agricultura e para a florestação terá sido um motivo acrescido da
procura.
De meados do século XX até à década de 80 do mesmo século, as atividades
agrícolas e a pesca começaram a perder significado no concelho, tendo-se registado um
período de intensa emigração para França e para o Canadá. Na década de 70 ter-se-á
iniciado a intensificação das atividades turísticas, em detrimento de outras atividades,
principalmente na Praia de Mira (Santos, 2008).
A década de setenta caracteriza-se em termos socioecónomicos, por um valor
muito elevado de população ativa no setor primário (54,2%), tendo este valor sofrido
um decréscimo até 1981 (42,2%), e novo decréscimo em 1991 (27%). Em 2001 já se
situa nos 13%. Esta descida representa a tendência atual de descida de população no
setor primário. No entanto, pode afirmar-se que o concelho tem ainda um elevado
número de população ativa ligada ao setor agrícola.
Ao nível do setor secundário, ocorre um crescimento muito importante. Assim, de
19% em 1970, passamos para 34,9% em 1981, tendo ocorrido depois uma ligeira
diminuição em 1991 (32,8%). Para 2001 a percentagem de população ligada a este setor
de atividade mantém-se igual a 1991.
Quanto ao setor terciário, este sofreu uma redução de 1970 (27,3%) para 1981
(24,4%). Em 1991 registou-se um aumento para 41,6%, tendo-se esta tendência
verificado também para 2001, com 53% da população ativa ligada a este setor.
Globalmente, o período de 1971-81 trouxe alterações sociais, económicas e
políticas, que levaram a uma melhoria global das condições de vida, determinadas por

112
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

uma diminuição da importância relativa do setor primário (em particular da agricultura)


e, consequentemente uma valorização do peso relativo dos setores secundário e
terciário. Essas alterações vêm a ter reflexo nas alterações de atividades na década
seguinte. Conforme se pode observar na figura II.48, esta situação global foi também o
que caracterizou o concelho de Mira, pois ocorreu uma diminuição do peso do trabalho
na agricultura. Além de ocorrer uma diminuição do setor agrícola, o que se manteve foi
motivado para uma maximização da produção, pois somente assim os agricultores
conseguiriam, economicamente, sobreviver.
O decréscimo da atividade primária e a alteração nos fatores de produção, pela
utilização cada vez mais generalizada de fertilizantes de síntese, terá contribuído para
uma diminuição drástica na limpeza das matas, uma vez que os matos e as agulhas dos
pinheiros eram os produtos do subcoberto que eram tradicionalmente usados nas camas
dos animais e na fertilização dos terrenos. Até aos finais da década passada, a população
local não terá dedicado muito do seu tempo às matas de Mira, e apenas as utilizava
como espaço de lazer. Atualmente, com a conjuntura económica desfavorável, já é
notória uma nova procura dos produtos florestais, nomeadamente as pinhas, a lenha e os
cogumelos.

90
80
S.Primário
70
60
50
%

S.Secundário
40
30
20
S. Terciário
10
0
1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011

Ano

Figura II. 48 – Evolução dos setores de atividade no concelho de Mira


Fonte: Anuários Estatísticos, INE; Alves, 1990; Albuquerque (2005); Oliveira (2005)

A informação aqui apresentada, relativamente ao enquadramento humano, foi


resultado da consulta de várias fontes, onde merece particular destaque o trabalho de
Cravidão (1988), pioneiro - pela escala de pormenor utilizada - na caracterização da
população da Gândara.
Este capítulo II foi realizado com o objetivo de integrar a área de estudo no aspeto
físico e humano, e servir de suporte à tomada de decisões relativamente aos elementos a
analisar e às metodologias a utilizar e que se apresentam no capítulo seguinte.

113
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

CAPÍTULO III
METODOLOGIA ESPECÍFICA

III.1 INSTALAÇÃO DOS TRANSECTOS E DAS


PARCELAS 116

III.2 ESTRATO ARBÓREO 117


III.2.1 Diâmetro à altura do peito (DAP) 119
III.2.2 Altura média 120
III.2.3 Altura dominante 123
III.2.4 Densidade 123

III.3 FISIOGRAFIA 124


III.3.1 Altitude 125
III.3.1.1 Modelo digital de terreno (MDT) 128
III.3.2 Diferença para a altitude mínima do transecto 129
III.3.3 Profundidade da toalha freática 130
III.3.3.1 Elaboração de perfis dos transectos 132
III.3.4 Distância ao mar 136
III.3.5 Exposição 137

III.4 SUBCOBERTO VEGETAL 139


III.4.1 Riqueza específica 143
III.4.2 Espécie mais representativa (dominante) do subcoberto
vegetal 143
III.4.3 Percentagem de subcoberto total 143
III.4.4 Percentagem de subcoberto arbustivo 144
III.4.5 Altura média do subcoberto arbustivo 144
III.4.6 Percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo 144
III.4.7 Altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo 145
III.4.8 Percentagem de área coberta por acácias 145
III.4.9 Percentagem de musgo 147
III.4.10 Percentagem de líquenes 148
III.4.11 Volume aparente de subcoberto vegetal 150

III.5 SOLOS 151


III.5.1 Seleção de parcelas para efetuar análises de solos 154
III.5.2 Recolha das amostras no campo 158
III.5.3 Leituras de variáveis no campo 159
III.5.3.1 Hidrofobia 159
III.5.3.2 Humidade do solo 163
III.5.4 Análises laboratoriais 166
III.5.4.1 pH 167
III.5.4.2 Matéria orgânica 169
III.5.4.3 Macronutrientes P2O5 e K2O assimiláveis em solos “ar
livre” 172

114
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O capítulo III - Metodologia Específica, visa apresentar, organizado por grupos de


variáveis e, sempre que possível, por ordem cronológica, os trabalhos efetuados no
campo e no laboratório, assim como as adaptações feitas ao planeamento inicial, quando
se considerou serem pertinentes. Um trabalho de cariz essencialmente prático, que se
iniciou pela seleção de variáveis após uma aturada pesquisa bibliográfica no que diz
respeito às condições ecológicas, implica a necessidade de uma organização detalhada e
que aqui se deixa registada.
A seleção dos descritores para uma abordagem ecológica deve ter em conta
indicadores físico-químicos, como é o caso das análises de solos, e indicadores
biológicos que mais não são do que respostas às forças atuantes num sistema. Estes
indicadores são representações do estado anterior, do presente, e até do futuro desse
sistema. Por isso, quando os indicadores são usados corretamente podem permitir prever
padrões futuros e, deste modo, podem apoiar o planeamento, a gestão e as tomadas de
decisão para os locais estudados (Marques, I., 2010).
Na definição das variáveis foi tida em linha de conta a sua relevância ecológica.
Quando se pretende recolher informações de indicadores que se integrem no sistema a
longo prazo, a relevância metodológica é também tida em linha de conta, pois
certamente que um extenso trabalho de campo só é viável quando selecionada a
metodologia mais acessível e, em simultâneo, o mais baixo custo possível. Estes
indicadores selecionados devem ainda ter interesse científico e ser facilmente
compreendidos pelos decisores políticos e terem, como já se referiu, um papel
importante na gestão do território (Marques, I., 2010).
A abordagem deve ser integrada, numa perspetiva holística, onde há a produção
de dados, muitas vezes de forma interdisciplinar, a fim de se obterem resultados que
permitam a partilha e utilização concreta da informação. As zonas costeiras incluem-se
nos exemplos concretos de necessidade absoluta destas abordagens multidisciplinares,
para que os planos de ordenamento propostos sejam integrados nas realidades e
necessidades ambientais e humanas (Marques, I., 2010).
Pretendendo-se identificar elementos que influenciem o desenvolvimento vegetal
nesta área das Dunas de Mira passou-se, após o planeamento das tarefas, ao trabalho de
campo, com uma primeira fase de instalação das parcelas ou estações.
No sentido de se integrarem neste estudo parcelas que representem diferentes
ambientes, conforme se justificou no capitulo I, as áreas foram selecionadas tendo como
suporte o facto de “a qualidade de uma estação, relativamente a uma determinada

115
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

espécie florestal,” se referir à “produtividade potencial, tanto presente como futura…”


nessa estação. “O termo estação (site), de acordo com a terminologia da Society of
American Foresters, refere-se a uma área considerada em termos do seu ambiente, na
medida em que este determina o tipo e qualidade da vegetação que a área pode
suportar” (Avery e Burkhart, 1983, in Tomé, 2007, p.198). “A medição direta da
qualidade da estação, através dos diversos fatores que afetam a produtividade florestal
(disponibilidade em nutrientes e água no solo, elementos do clima, luz, topografia, etc),
embora teoricamente possível, é bastante difícil de efetuar em termos práticos, pelo que
se recorre geralmente à avaliação indireta da qualidade da estação”(Tomé, 2007, p.
200)”. A qualidade da estação é normalmente avaliada indiretamente através da
medição da classe de qualidade dos povoamentos (altura dominante para uma idade de
referência) em parcelas de amostragem.

III.1 – INSTALAÇÃO DOS TRANSECTOS E DAS PARCELAS

Como já se havia decidido que não se recorreria ao método de estudo típico do


transecto (somente análise da vegetação que se localizasse na linha do percurso
escolhido), pois poderia não ser representativo de todas as diferentes características
previamente identificadas, optou-se pela instalação de parcelas de amostragem de 50 em
50m ao longo destes transectos. Esta distância pareceu ser a adequada para obter uma
caracterização satisfatória em termos de transecto e uma boa informação sobre a
variação da qualidade da estação. Considerou-se que uma distância inferior a 50m daria
origem a um número muito elevado de parcelas, o que tornaria este trabalho ainda mais
moroso e, por isso, difícil de concretizar. Quando o centro de uma parcela recai sobre
um aceiro ou um arrife avança-se ou recua-se para a mancha de vegetação mais próxima
dentro do transecto. Cada parcela é identificada por um primeiro número referente ao
transecto a que pertence e por um segundo número que indica a sua ordem dentro de
cada transecto (Páscoa e Salazar, 2001a) (figura III.1). Para cada uma das parcelas
organizou-se uma ficha de campo, devidamente identificada, onde consta toda a
informação que deverá ser recolhida no local. Na organização da ficha para registo de
informação deve sempre ter-se em linha de conta toda a informação que se pretende
registar, assim como possíveis leituras ao longo do tempo. Esta ficha deve estar
organizada de forma a permitir um fácil manuseamento no campo (anexo III.I).

116
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Raio da parcela: 5,64m

Distância entre parcelas: 50m

Figura III. 1 – Identificação das parcelas

As parcelas localizam-se sobre os transectos, sendo estes paralelos aos aceiros ou


arrifes. Estes transectos distam 20m dos aceiros ou arrifes, para que não haja influências
rupícolas, ou efeito bordadura, nas informações recolhidas. Por efeito bordadura
entende-se, por exemplo, as alterações em relação às características existentes no
interior dos talhões da floresta (Tomé, 2007). Os transectos 1 a 4 têm início na rotunda
da “casa florestal do Meio das Dunas”. O transecto 4 localiza-se a 20m da estrada da
Ermida, por se considerar que já não há efeito de bordadura. Os transectos 5 e 6
localizam-se a norte desta área de estudo inicial, próximos da Barrinha de Mira. Os
transectos 7 e 8 localizam-se a sul da área inicial de estudo, perto do limite sul da área
das Dunas de Mira. O transecto 9 percorre as dunas no sentido transversal (SSE-NNW).
Inicia-se no limite sul das dunas e termina junto ao parque de campismo da Orbitur, na
Praia de Mira (figura III.2).

III.2 – ESTRATO ARBÓREO

A primeira informação a recolher, após a instalação da parcela, é a identificação


da espécie florestal mais representativa. Embora todas as espécies arbóreas sejam
identificadas, neste estudo interessa, sobretudo, a informação detalhada relativa ao
pinheiro bravo.

117
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Barrinha de Mira
N Parque Campismo
Orbitur

6.1 6.2 6....

5.1
5.... 5.2

M
a
Casa Florestal
r Do Meio das Dunas

Centro da
parcela

50m Rotunda
50m 2.1 2.2 2...
.
1.1
1.... 1.2
4.1
4.2

4...
3.1 .

3.2

3...
.

8.1 8.2 8....

7.1
7….... 7.2

9...
.

9.2

Estrada Florestal
9.1

Limite sul das Dunas de Mira

Figura. III.2 – Esquema da distribuição das parcelas sobre cada transecto

As medições a efetuar nos pinheiros, no campo, são as relativas ao diâmetro à


altura do peito (DAP) e à altura, “as variáveis dendrométricas mais vulgarmente
medidas numa árvore. Nos trabalhos de medição florestal (…) a variável diâmetro
desempenha um papel preponderante” (Tomé, 2007).

118
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

III.2.1. – Diâmetro à altura do peito (DAP)

Por diâmetro à altura do peito (DAP) considera-se o diâmetro do tronco a 1,30m


do solo, sendo esta uma variável obtida de forma direta, medida em centímetros com
aparelho de medição, a suta (Páscoa e Salazar, 2001a, 2001b; Tomé, 2007).
Para que as medições sejam fidedignas e possam ser comparadas com outros
trabalhos, exige-se que se obedeça a certas regras estabelecidas consoante as diferentes
situações que possam surgir no campo e que se apresentam na figura III.3.
Os resultados das medições dos DAP apresentados neste trabalho foram,
posteriormente, convertidos em metros.

1.30m 1.30m

Árvores direitas em terreno plano Árvores inclinadas em terreno plano

1.30m
1.30m

Árvores inclinadas em terreno com


Árvores direitas em terreno com declive declive

Figura III. 3 – Medição do DAP em diferentes situações de campo (Tomé, 2007)

São medidos os DAP de todos os pinheiros da parcela. No Manual de Instruções


para o Trabalho de Campo da Federação dos Produtores Florestais de Portugal (Páscoa
e Salazar, 2001a) refere-se que apenas se medem os DAP superiores a 7,5cm. Os DAP
de valor inferior serão apenas contados. Como para a realização deste trabalho é
necessária informação o mais exata possível, consideramos todos os valores de DAP,
inclusive, os inferiores à medida referida. No caso de existirem árvores onde não seja
possível utilizar a suta devido ao elevado DAP recorre-se à fita de diâmetros. Neste caso

119
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

concreto não foi necessário pois foi possível medir todos os diâmetros com uma suta
(figura III.4).

Figura III. 4 – Medição do DAP no campo

Depois de registado o diâmetro e a altura, a árvore é marcada e numerada


sequencialmente. A árvore que se encontra no centro (ou mais próxima do centro da
parcela) será também marcada mas de forma a destacar esta característica. Neste
trabalho a informação registada é igual para todas as árvores mas recorreu-se à
utilização de uma fita mais larga para identificar a árvore do centro da parcela. Todas
são marcadas com fita cor de laranja fluorescente onde com uma caneta de acetato se
registam as informações necessárias. Optou-se por este tipo de fitas para que pudessem
ser facilmente observadas a alguma distância, uma vez que algumas parcelas são muito
difíceis de localizar e sendo necessário retornar várias vezes ao campo, torna-se assim
mais fácil visualizá-las.

II.2.2 – Altura média

Depois da medição do DAP mede-se a altura total da árvore (m). Neste trabalho
foi medida a altura de todos os pinheiros bravos de cada parcela. A altura média diz
respeito ao valor que resulta da média aritmética das alturas de todos os pinheiros
registados em cada parcela.

Altura média (H) = (H1+H2+ …+Hn) /n

Para estas medições podem usar-se dois tipos de aparelhos: o Blume – Leiss
(leitura indireta da altura) ou o Vértex (leitura direta da altura) (Páscoa e Salazar, 2001a,
2001b; Tomé, 2007).

120
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

No campo, na realização das medições, o operador deve posicionar-se a uma


distância equivalente à altura da árvore, de modo a ver com clareza a ponta (flecha) da
árvore. Se esta não existir deve recorrer-se à ponta do ramo que a substitui. O operador,
sempre que possível, deve localizar-se juntamente com a árvore num mesmo plano
horizontal) (Páscoa e Salazar, 2001a, 2001b; Tomé, 2007). Para a medição e posterior
cálculo a efetuar são necessárias duas leituras, uma para a parte superior da árvore e
outra para a base.

H1

β
Ht α

Ht = D*tg(α + β)
H2
D
Diretamente no Blume–Leiss tem-se: Ht = H1+H2

a) – Medição da altura da árvore: Árvore e operador num mesmo plano horizontal

Ht = D*tg (α – β)
Operador num plano
H1 β superior

α
Diretamente no Blume–Leiss tem-se:
Ht Ht = H2- H1
D
H2

H1

Diretamente no Blume–Leiss tem-se:


Ht = H1- H2
Ht α

H2
β
D
Ht = D*tg(α – β)
Operador num plano
inferior

b) – Medição da altura da árvore: Árvore e operador em diferentes planos

Figura III.5 - Medição da altura da árvore (Páscoa e Salazar, 2001a)

121
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Quando a base da árvore não é visível devido à altura da vegetação envolvente (o


que neste trabalho acontece inúmeras vezes) deve ser imaginado o ponto onde o tronco
encontra a terra e ser feita uma mirada nesse local. Páscoa e Salazar (2001a, 2001b)
referem que alternativamente pode mirar-se a 1,30m e adicionar este valor à altura total
obtida. Como no campo isto nem sempre foi possível já que, por vezes, a vegetação
envolvente apresentava alturas muito superiores a 1,30m, recorreu-se a um valor
conhecido (medido previamente) que se adicionava à altura total obtida. Depois de
efetuadas as duas medidas passa-se imediatamente ao cálculo da altura real da árvore
(Ht) que é obtida a partir da adição entre a altura da parte superior (H1) e a altura da
base (H2).
Quando não é possível estabelecer um mesmo plano horizontal para o operador e
a árvore a medir, podem surgir duas situações: a árvore situar-se num plano superior ou
inferior aos olhos do observador. O procedimento é semelhante, mas os cálculos a
efetuar são diferentes. Consoante a situação existente no campo opta-se por uma das
operações apresentadas, anteriormente, na figura III.5.

(h)
Ht
=
H1+
H2

Figura III.6 – Medições da altura da recorrendo ao Blume-Leiss

Neste trabalho, o aparelho utilizado foi o Blume-Leiss, com a metodologia


referida anteriormente. É conveniente fazer estas medições com uma equipa de dois
operadores, para que um possa colocar a “mira” adequadamente na árvore a medir,

122
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

enquanto o outro se ajusta à distância certa para as realizar corretamente. A distância


adequada verifica-se quando o operador observa a sobreposição dos traços horizontais
da “mira” (figura III.6). Se no grupo de trabalho houver um terceiro elemento, a
facilidade de efetuar as tarefas aumenta, pois a este último corresponderia apenas a parte
de registo da informação na ficha de campo relativa a cada parcela.

III.2.3 - Altura dominante

Depois de medido o DAP e a altura para cada árvore da parcela é possível


determinar a altura dominante de cada parcela.
O conhecimento da altura dominante é bastante importante pois, qualquer que
seja o método para a seleção das árvores dominantes, é uma variável independente da
gestão anterior do povoamento (Páscoa e Salazar, 2001a, 2001b; Tomé, 2007). É, por
isso mesmo, um bom indicador da qualidade da estação. É utilizada também para
caracterizar a potencialidade produtiva da estação, uma vez que traduz o
desenvolvimento que se verificou desde o início da sementeira ou plantação do
povoamento, onde mais tarde se instala a parcela em estudo (Tomé, 2007).
Para este trabalho utiliza-se o conceito de altura dominante com a definição usada
em Portugal. A altura dominante é, no nosso caso, a “altura média das 100 árvores
mais grossas por hectare” o que equivale, no caso de parcelas com 100m2, à altura da
árvore mais grossa (Páscoa e Salazar, 2001; Tomé, 2007, p.202). Como as parcelas de
estudo utilizadas têm 100m2 utilizou-se como referência para este efeito a árvore de
maior diâmetro. Quando à árvore de maior diâmetro corresponde uma altura inferior à
altura média (por defeito ou quebra do topo da árvore mais grossa) utilizou-se o valor
desta última como representante da altura dominante.

III.2.4 – Densidade

A densidade do povoamento representa uma “medida quantitativa do material


lenhoso por unidade de área”, sendo de extrema importância para “avaliar a
necessidade … e a intensidade de desbaste” (Tomé, 2007, p. 186).
Como as parcelas instaladas têm uma área de 100m2 e nela são registados os
valores de todos os pinheiros bravos, é possível posteriormente inferir a densidade do

123
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

coberto arbóreo em cada local. Como a recolha de dados é efetuada em 100m2, obtém-
se a densidade utilizando a fórmula seguinte:

Dens. = nr. de Pb* 100

A densidade arbórea torna-se importante na medida em que a existência de grande


número de pinheiros num pequeno espaço implicará uma grande competição não só pela
luz, mas também pela água e pelos nutrientes do solo. Pelo contrário, uma baixa
densidade permitirá um mais fácil aproveitamento das condições naturais do local onde
se encontram os pinheiros (figura III.7).

Figura III. 7 – Diferentes densidades arbóreas registadas no local de estudo

Depois de realizada a recolha de dados relativamente ao coberto arbóreo da


parcela, passa-se a outro tipo de recolha de informação: a que diz respeito à fisiografia
local. Esta poderá, segundo as suas diferentes características, promover o
desenvolvimento arbóreo, ou limitá-lo.

III.3 – FISIOGRAFIA

A caracterização fisiográfica diz respeito à exposição, à altitude, ao declive e à


situação fisiográfica da parcela (Tomé, 2007). Estes elementos são estudados em
povoamentos florestais que apresentam características muito diversas no espaço em
causa. Neste trabalho, nas Dunas de Mira, não se considerou a variável declive, uma vez
que nas dunas os valores não ultrapassam, na generalidade, os 15%, conforme se pode
observar no capítulo II. A exposição e a situação fisiográfica são englobadas numa só
variável (exposição) uma vez que a amplitude da situação geográfica (perfil
topográfico) não apresenta grandes variações como as que se registam, por exemplo, em
regiões de montanha.

124
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A fisiografia é, então, um grupo criado com base nas variáveis que se podem
registar relativamente a diferentes fatores geográficos que podem condicionar o
desenvolvimento vegetal. Neste trabalho registaram-se a altitude, a profundidade da
toalha freática, a distância ao mar e a exposição relativas a cada parcela. Estas
variáveis são, regra geral, recolhidas diretamente no campo. Posteriormente,
considerou-se pertinente criar mais uma variável indireta no âmbito deste grupo,
designada por diferença para a altitude mínima do transecto, o que poderá permitir
obter melhores comparações no que diz respeito à relação com a profundidade da
toalha freática.
A topografia dunar influencia indiretamente a distribuição da vegetação das
dunas. Por exemplo, as elevações de terreno servem de protecção à acção dos ventos
salgados sobre as plantas localizadas a sotavento (Oosting e Billings, 1942, apud
Cordeiro, 2005), enquanto a oscilação das elevações e depressões do terreno
estabelecem diferentes relações entre as plantas e a toalha freática (Earle e Kershaw
1989, apud Cordeiro, 2005).

III.3.1 – Altitude

A altitude é um dos elementos que, juntamente com outras características locais,


influencia o desenvolvimento vegetal. Os locais de altitude elevada podem ter influência
na temperatura, assim como os de altitude muito baixa podem condicionar o
desenvolvimento vegetal, por exemplo, devido a encharcamentos (Pillar, 2011).
Também os líquenes, primeiros colonizadores das dunas, condicionam o seu
desenvolvimento segundo diferentes altitudes (Carvalho et al., 2002).
A altitude é “obtida pelo recetor GPS e quando este não existe é efetuada pela
transposição do centro da parcela para a carta militar” (Tomé, 2007, p.4). Tratou-se
do primeiro elemento fisiográfico recolhido, tendo-se no nosso caso recorrido à
utilização do Sistema de Posicionamento Global (GPS). O método escolhido deveu-se
ao facto de permitir uma grande simplicidade operacional (Castro, 2002, p. 19). O
sistema é formado por uma constelação de 32 satélites distribuídos por seis planos
orbitais girando em torno da Terra com órbitas aproximadamente circulares. Das
funções dos satélites salientam-se a de receber, armazenar e transmitir aos utilizadores a
informação recebida do segmento de controlo, manter a escala de tempo precisa com o

125
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

auxílio dos osciladores atómicos existentes a bordo (Césio e Rubídio), realizar pequenas
manobras orbitais e efetuar os cálculos possíveis (Gaspar,1993; Castro, 2002).
O segmento de controlo é constituído por uma estação de controlo principal e
cinco “estações monitoras” que controlam todo o funcionamento dos satélites. Tem
como funções principais verificar o funcionamento dos satélites e as suas características
operacionais, determinar as correções aos relógios e as correções ionosféricas (presença
de diferentes concentrações de partículas), injetar os dados orbitais nos satélites, iniciar
as obras necessárias à substituição de um satélite inativo por um de reserva. O segmento
do utilizador representa o conjunto de todos os utilizadores (civis e militares), que
processam informação recebida nos recetores GPS para determinar as coordenadas no
sistema WGS84. Existem vários tipos de recetor, consoante os objetivos a satisfazer. A
informação é captada através da antena pré-amplificada e transferida através do cabo
desta para a unidade de receção. Na unidade de receção, a informação passa para um
processador sendo depois armazenada para futuro pós-processamento (Gaspar, 1993).
Para determinar a localização de um dado local são necessários, pelo menos, três
satélites em posição perfeita. No entanto, utilizando quatro satélites, uma correta
localização já não é tão exigente quanto à posição dos satélites, o que torna o sistema
mais eficaz para o cálculo das posições. Na realidade, o GPS utiliza os satélites como
pontos de referência na triangulação da nossa posição algures na Terra. Uma vez que
nem tudo decorre com exatidão matemática, podem verificar-se alguns erros devido à
passagem do sinal pela atmosfera. Esses erros também podem ficar a dever-se ao
ressaltar do sinal noutros objectos, chegando à antena do recetor depois de orbitar aos
zig-zags. Estes sinais interferem com o sinal em linha reta e levam o recetor a calcular
uma posição errada (Gaspar, 1993).
Com a utilização do GPS pretendem-se obter várias informações. Em primeiro
lugar, a posição exata do centro das áreas de amostragem, no que diz respeito às suas
três coordenadas geográficas (latitude, longitude e altitude). A altitude pode ser um fator
com interferência no desenvolvimento vegetal, como atrás foi referido.
Paralelemente referenciaram-se as posições das parcelas na topografia dunar, com
o objetivo de conseguir estabelecer um perfil topográfico correspondente aos transectos
em que se localizam as parcelas em estudo. Esta referência será útil mais tarde na
determinação de outras variáveis, nomeadamente a profundidade da toalha freática.
Esta tarefa tornou-se necessária, após se verificar que a informação relativa às Dunas de
Mira existentes na Carta Militar 206 (escala 1:25000) não permitem o pormenor

126
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

desejado para a investigação em causa. Nesta carta não se pode observar/pormenorizar a


crista nem a depressão interdunar, que são elementos indispensáveis ao estabelecimento
do perfil topográfico transversal da duna. Os resultados obtidos não coincidiam muitas
vezes com a informação disponível nas cartas militares ou nos ortofotomapas das dunas
na escala 1: 25000.
Para obter resultados de uma maior precisão pode recorrer-se a uma variedade de
técnicas, mas o mais usual é fazer médias. A média tem o efeito de compensar os erros,
ou pelo menos de os minimizar. O agrupamento (média dos sinais) permite minimizar
os erros de leitura que possam ter ocorrido para cada sinal registado. Estes erros podem
ficar a dever-se a alterações de receção do sinal. O sistema GPS utilizado foi o
Pathfinder da Trimble Navigation (GPS Pathfinder System). Depois de recolhidos os
100 sinais em cada parcela transferiram-se os ficheiros do segmento do utilizador para
um computador recorrendo ao programa Pathfinder Office 2.10. Seguidamente efetuou-
se a média (agrupamento) dos pontos de cada parcela para depois passar à correção
diferencial. No nosso caso recorreu-se à estação fixa de Coimbra tendo os dados sido
obtidos no sítio www.igeoe.pt. Para se fazer a correção diferencial é necessário haver
dois recetores a trabalhar ao mesmo tempo, um deles fixo numa posição referenciada
com precisão e o outro a recolher dados até um raio de 50Km do primeiro. Os dois
recebem informação dos mesmos satélites, sendo o fixo afetado pelos mesmos erros que
afetam os sinais que chegam ao recetor móvel (Gaspar, 1993). A correção diferencial
corrige quase todos os erros do sistema GPS, visto que o aparelho fixo compara as
posições que calcula, através da informação recebida dos satélites, com a sua verdadeira
posição. Estas diferenças são contabilizadas e computorizadas juntamente com a hora a
que foram estabelecidas. Esta informação serve para corrigir os erros que afectaram as
leituras realizadas pelo aparelho móvel.
Neste trabalho, a correção diferencial foi feita depois de se ter efetuado o
agrupamento dos 100 sinais recolhidos no centro de cada parcela, bem como em locais
onde se verificava a alteração na topografia.
Quando se sobrepôs a informação de localização das parcelas à carta militar do
local, comparando as distâncias dos pontos, não se registaram erros consideráveis na
localização horizontal. Mas a correção diferencial não decorreu da melhor forma para a
localização vertical, pois muitos pontos foram corrigidos somente a duas dimensões ou
então com um misturado de correção diferencial (uns pontos a duas e outros a três

127
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

dimensões). Obtiveram-se, por isso, algumas altitudes que podem não corresponder
inteiramente à realidade.
Na tentativa de ultrapassar este problema, cruzou-se a informação da carta militar,
dos ortofotomapas e da leitura GPS corrigida, tendo-se verificado que os valores obtidos
são bastante aceitáveis no que diz respeito ao perfil topográfico dos transectos,
posteriormente confirmado no campo.

III.3.1.1 – Modelo digital de terreno (MDT)

Não tendo sido possível estimar valores de altitude real (ou pelo menos
aproximada) com o GPS para todas as situações, não se poderia extrapolar outras
variáveis, como por exemplo os valores de profundidade da toalha freática para locais
onde não se lhe teve acesso através da sonda pedológica. Na tentativa de solucionar este
problema pensou-se na elaboração de um Modelo Digital do Terreno (MDT) e posterior
sobreposição dos valores obtidos por GPS.
Com esse objetivo recorreu-se à Carta Militar Digital de Mira (Folha 206, escala
1/25000), onde se localizam os transectos em estudo. Utilizando o programa ArcGIS
Version 9.3 elaborou-se o Modelo Digital de Terreno (MDT) a partir da informação
altimétrica retirada da referida carta militar. Este modelo não correspondia de forma
alguma à topografia real do terreno, pois não existe na carta informação altimétrica
suficiente. O modelo obtido corresponde a uma área completamente aplanada, onde não
é distinguível a topografia dunar. Na tentativa de solução deste problema procedeu-se à
sobreposição da informação obtida pelo GPS com a carta militar, e assim pôde
adicionar-se alguma informação à já existente nas referidas cartas, criando um modelo
de topografia aceitável para os fins em vista, confirmado com posterior observação no
campo (figura III.8).
Deste novo Modelo Digital de Terreno (resultado do cruzamento da cartografia
militar com as leituras reais) retirou-se informação altimétrica relativa a cada parcela
para depois poder ser utilizada nos cálculos exploratórios que se consideraram
adequados, assim como para se proceder à elaboração dos perfis topográficos de cada
transecto. A distância ao mar de cada parcela foi obtida a partir deste Modelo Digital de
Terreno. A profundidade da toalha freática foi também inferida, em alguns casos, a
partir dos referidos perfis topográficos que se elaboraram com esta informação.

128
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Transecto 6
Transecto5

Transecto 2

Transecto 1

Transecto 4

Transecto 3

Transecto 8

Transecto 7

Transecto 9

Figura III.8 – Modelo Digital de Terreno da área de estudo com sobreposição das parcelas de cada
transecto

III.3.2 – Diferença para a altitude mínima do transecto

Considerou-se pertinente criar uma variável indireta, no âmbito do grupo


fisiografia, designada por diferença para a altitude mínima do transecto. Esta variável
foi obtida subtraindo o valor de altitude de cada parcela, pelo mínimo de altitude do
transecto de que faz parte essa mesma parcela. O objetivo é obter uma nova variável
altimétrica que reflita a ligação interna da altitude de cada parcela ao transecto a que
pertence.

129
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

ΔmAlt = Alt da parcela – Alt mínima do transecto onde se insere a parcela

Entendeu-se que esta variável pode refletir uma relação de proximidade e reforçar
a homogeneidade entre as parcelas de cada transecto.
Com a criação de grupos de altitudes mais homogéneas entre as parcelas de cada
transecto, pretende-se verificar se estes resultados apresentam maiores correlações com
as variáveis do coberto arbóreo. Se tal acontecer poderá concluir-se que no que respeita
a esta variável se devem efetuar análises ao nível de pequenos espaços e não de grandes
áreas.

III.3.3 – Profundidade de toalha freática

A disponibilidade em água é um elemento essencial ao desenvolvimento de


qualquer organismo vivo, porque é constantemente utilizada por estes e por isso a sua
presença ou carência tem uma grande influência no seu desenvolvimento (Pelczar,
1980).
A distribuição da vegetação das dunas pode ser influenciada, entre outros fatores,
pela profundidade da toalha freática (Earle e Kershaw, 1989, apud Cordeiro, 2005).
Considerou-se relevante verificar a profundidade da toalha freática em duas
épocas distintas: fim de inverno e fim de verão. Isto porque é suposto que nestas duas
épocas referidas se encontrem os picos de toalha freática a menor e maior
profundidade, respetivamente. A profundidade da toalha freática de fim de inverno
pode condicionar o desenvolvimento vegetal pois é imediatamente a seguir, na
primavera, que a vegetação procede ao seu desenvolvimento máximo e a
disponibilidade em água é um elemento fundamental. Alguns locais, como as
depressões interdunares de menor altitude, podem condicionar negativamente o
desenvolvimento vegetal, devido a longos períodos de encharcamento no inverno. No
final de verão, a profundidade da toalha freática estará a um nível muito inferior, o que
poderá provocar a carência de água às plantas, principalmente aquelas que apresentem
um desenvolvimento radicular menos profundo, como é o caso do estrato herbáceo.
Segundo Arbel et al. (2005), a capacidade de campo da areia ronda os 10% e,
existindo perdas por evaporação, a humidade do solo não ultrapassará,
aproximadamente, um metro de profundidade. A restante humidade, a existir, provirá da
proximidade da toalha freática.

130
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Considerando que as raízes dos pinheiros poderão atingir vários metros de


profundidade mas que é na parte mais superficial que se localiza a sua maior densidade
e onde ocorre a maior absorção de água, mediu-se a presença de água até um metro de
profundidade, recorrendo a uma sonda pedológica.
No inverno de 2008 procedeu-se às medições que se repetiram no fim de verão do
mesmo ano hidrológico. Como nas últimas medições não foi possível ter acesso à toalha
freática até um metro de profundidade, optou-se por repetir a operação depois de
ocorrerem as primeiras chuvas, o que aconteceu no início de novembro de 2009. Como
mais uma vez a toalha freática ainda se encontrava, na quase totalidade dos locais, a
mais de um metro de profundidade, repetiu-se novamente a operação no início de
dezembro de 2009, pois até aí já tinham ocorrido vários dias de precipitação (figura
III.9). No fim do verão nunca se obtiveram registos de profundidade de toalha freática
inferiores a um metro.

Figura III.9 – Medição da profundidade da toalha freática no campo

No campo foi registada a profundidade da toalha freática a menos de 1 metro da


superfície em 75 parcelas. Em mais 23 parcelas foi possível registar também medições
da profundidade da toalha freática porque esta se encontrava a.menos de 1,20m da
superfície, obtendo-se assim um total de 98 parcelas com leituras diretas efetuadas, o
que se traduz numa informação muito escassa (20,5% do total de parcelas) para se
poderem efetuar análises estatísticas robustas.
A metodologia para obter valores de profundidade da toalha freática de forma
indireta – que se apresenta no ponto a seguir - não se encontra fundamentada em

131
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

quaisquer referências bibliográficas pesquisadas. No entanto, a discussão de um


processo com vários especialistas e a integração das suas experiências, conduziu a uma
metodologia que foi aceite como uma via alternativa e experimental para suprir a falta
de dados relativamente à profundidade da toalha freática em locais onde o seu acesso
direto não é possível.

III.3.3.1 – Elaboração de perfis dos transectos

Os perfis dos transectos, figura III.10 (a, b e c), foram elaborados no programa
AutoCAD 2009 a partir de informação horizontal obtida por GPS (distância entre
parcelas) e vertical obtida do MDT (altitude). Foi também acrescentada informação
relativa à altura média dos pinheiros em cada parcela e à profundidade da toalha
freática no fim do inverno. Estes perfis foram realizados com o objetivo principal de
deduzir a profundidade aproximada da toalha freática nos locais onde não foi possível
ter-lhe acesso com a sonda pedológica. Para isso foi tida em atenção a informação
recolhida junto do Prof. Carlos Ribeiro, do Departamento de Solos da Escola Superior
Agrária de Coimbra, de que a toalha freática, em áreas de solos arenosos, não subirá por
capilaridade mais do que um metro nos locais de maior altitude, relativamente aos de
menor altitude topográfica. Foi com base nesta informação, depois colocada à
apreciação de outros especialistas e aceite como base do procedimento a desenvolver,
que os perfis foram elaborados, tendo-se posteriormente procedido ao registo da toalha
freática para todas as parcelas de cada transecto. Embora não fosse o objetivo inicial,
optou-se pela adição dos elementos arbóreos, o que permitiu ter uma noção da realidade
da área estudada.

132
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Figura III.10 (a) – Perfis dos transectos – Perfil 1 a 4

133
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Figura III.10 (b) – Perfis dos transectos - Perfis 4 a 8

134
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Figura III.10 (c) – Perfis dos transectos – Perfil 9

135
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

III.3.4 – Distância ao mar

A distância ao mar é um elemento que influencia o desenvolvimento vegetal,


quer porque os solos terão maior presença de sais junto ao mar, quer porque a exposição
aos ventos salgados também aumenta com esta aproximação. Qualquer destes factos
condiciona o desenvolvimento vegetal (Oosting e Billings, 1942, apud Cordeiro, 2005).
Pelas razões apresentadas a distribuição da vegetação nas dunas “faz-se segundo
uma distribuição em faixas paralelas ao mar, determinadas pela distância em relação a
este” (Rawitscher, 1944 e Dansereau, 1947, apud Cordeiro, 2005). As espécies mais
bem adaptadas ao sal, como o Elymus farctus, encontram-se numa primeira faixa, junto
ao litoral, desaparecendo depois para o interior. Também os primeiros pinheiros,
localizados na grande depressão interdunar se apresentam normalmente retorcidos, facto
que se atribui à violenta ação do vento (Almeida e Freitas, 2000). Os que se encontram
em posição vertical são de baixa altura e baixo diâmetro.
A distância ao mar foi obtida a partir das medições efetuadas, em linha reta, no
Modelo Digital de Terreno, entre a localização da parcela e a presença do mar (figura
III.11).

- Distância ao mar

Figura III.11 – Exemplo da medição da distância ao mar de cada parcela

136
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

III.3.5 – Exposição

Para Kunz et. al (2007, p. 1511) a radiação solar é “fundamental para o


desenvolvimento e o crescimento vegetal efetuado pelos processos foto morfogenéticos
e fotossintéticos”, sendo a radiação solar que chega ao solo influenciada pela exposição
do local. Essa exposição pode influenciar o desenvolvimento vegetal (Cordazzo e Costa,
1989, apud Cordeiro, 2005), entre outros motivos porque a radiação solar é um grande
determinante da produtividade vegetal (Gaucher, 1968).
No Hemisfério Sul, as encostas voltadas a Sul, Sudoeste e Sudeste recebem
menor intensidade de radiação, e as voltadas a Norte, Nordeste e Noroeste recebem
maior intensidade de radiação solar (Corrêa, 2008). Para este autor, a intensidade da
incidência da radiação solar nas diferentes exposições é o produto da orientação das
formas de relevo e influencia o processo de regeneração da vegetação natural. No
Hemisfério Norte a situação é inversa, e são as encostas orientadas a Sul, Sudoeste e
Sudeste que recebem a maior intensidade da radiação incidente. Para o referido autor, a
análise da orientação das encostas permite estimar o grau de insolação que recebem e o
potencial nível de humidade, permitindo perspectivar os locais mais adequados para a
instalação de vegetação tendo em atenção as características das espécies a utilizar. O
trabalho de Corrêa (2008) confirma as conclusões de Sá e Filho (2007), apud Corrêa
(2008), e integra as áreas planas nas exposições que potencialmente também recebem
mais radiação. No entanto, não refere qualquer distinção entre as situação das áreas
planas com protecção dos ventos dominantes (como acontece entre nós nas depressões
interdunares) em relação às cristas das dunas, a eles completamente expostas.
Transpondo as conclusões de Neves (1989), apud Corrêa (2008), para a situação
do Hemisfério Norte, que confirmam por sua vez as conclusões de Páscoa et al. (1982),
as encostas voltadas a Este apresentam um “conforto térmico” positivo, favorável ao
desenvolvimento vegetal, em virtude de a radiação incidente ocorrer durante a manhã,
com menos calor e sobre superfícies mais frescas e húmidas. Ao contrário, as
exposições orientadas a Oeste são menos favoráveis ao desenvolvimento vegetal, pois
recebem a radiação à tarde, quando a temperatura do ar e das superfícies é mais elevada
e a concentração de humidade é consequentemente mais baixa.
A metodologia adoptada para a realização deste trabalho assentou nas conclusões
destes autores, admitindo que a grande amplitude na variação da radiação solar
incidente – em virtude da exposição e da energia do relevo – é relevante para o nível de

137
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

desenvolvimento do coberto vegetal, e que a informação relativa a este assunto pode ser
determinante nas estratégias a adoptar para assegurar a sobrevivência e a regeneração
das espécies instaladas ou a instalar (Pires et al., 2002, Lorandi e Cançado, 2002, apud
Corrêa, 2008).
Para Morais (2003), apud Souza et al. (2008), a temperatura e a humidade são
fatores importantes para a regulação da fotossíntese, sendo que a “interação destes dois
fatores define um ambiente ótimo para o processo de fisiológico” e os diferentes locais
de instalação da vegetação influenciam o desenvolvimento vegetal.
A exposição obtém-se recorrendo a uma bússola, registando os pontos cardeais e
colaterais, devendo o operador posicionar-se “segundo a linha de maior declive e de
costas para a parte mais alta da parcela” (Tomé, 2007, p.4). Ainda segundo este autor,
a situação fisiográfica regista a “característica do terreno onde se localiza a parcela” e
é feita nas seguintes condições: “Vale (Vl), Encosta Inferior (EI), Encosta Superior
(ES), Cumeada (C), Meia Encosta (ME) e Planície (P)” (Tomé, 2007, p. 4). É uma
variável categórica ou qualitativa nominal, sendo que neste tipo de variável os valores
não têm uma relação de ordem entre si (Vilelas, 2009). No entanto, neste trabalho,
utilizando como referência Páscoa et al. (1982) e Corrêa (2008), foi possível atribuir
uma ordem aos diferentes tipos de exposição registados.
Neste trabalho a exposição foi registada a partir de observação de campo e serviu
posteriormente para confirmação do perfil topográfico. Para se tornar possível uma
análise estatística desta com as restantes variáveis efetuou-se uma conversão das
orientações obtidas em valores numéricos. A atribuição destes valores foi feita com base
no pressuposto que as maiores dimensões das árvores ocorreriam a mais baixas
altitudes, onde a toalha freática poderia ser um factor significativo para o seu
desenvolvimento, pelo que se destacam dois grupos de parcelas consideradas sem
exposição. Estas parcelas foram identificadas com os números 1 e 2. O número 1 no
caso de as parcelas estarem localizadas num espaço sem exposição da grande depressão
interdunar que existe no campo de Dunas de Mira e que se localiza imediatamente para
o interior do grande cordão litoral. É o local que corresponde a uma maior riqueza
específica do campo de dunas. O número 2, também sem exposição identificada, diz
respeito aos espaços interdunares interiores, onde existem, por vezes, pequenas
depressões com alguma dimensão e onde parece haver um desenvolvimento vegetal
específico e por vezes privilegiado. Depois apareceria o flanco Norte, com o número 3,
onde haverá uma melhor retenção de água, pois embora os ventos possam ser

138
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

desfavoráveis haverá menos evapotranspiração do que no flanco Sul que aparecerá


como um dos locais de mais baixo desenvolvimento dos quatro selecionados, pois tendo
as temperaturas mais elevadas, favorece a evapotranspiração. Assim, depois foram
selecionados os flancos Este, com o número 4, que se seguirá como local de menor
evapotranspiração e posteriormente o Oeste com o número 5, que embora com uma
elevada radiação solar a atingi-lo já começa a ter uma maior dissipação energética, o
que provocará uma menor evapotranspiração. Finalmente, o Sul aparece com o número
6 que traduzirá um local de grande incidência de radiação solar, mas também, de uma
elevada evapotranspiração, o que neste aspeto dificultará um bom ambiente para o
desenvolvimento vegetal. Por último, o local sem exposição, na crista da duna será
aquele, que embora com elevada radiação solar incidente, tem como aspetos negativos
corresponder aos locais de maior altitude, de maior distância à toalha freática, de
exposição contínua aos ventos constantes e com menor espaço de fixação das raízes,
pois normalmente, há uma maior erosão do solo. Logo, implica uma menor
concentração de nutrientes e por isso será o local mais desfavorável ao desenvolvimento
vegetal (Páscoa et al, 1982).
Resumindo, os valores atribuídos às diferentes exposições (anexo III.2)
correspondem a menores valores de exposição para o maior desenvolvimento vegetal e
maiores valores de exposição para o menor desenvolvimento vegetal, ou seja atribuiu-
se-lhes uma gradação inversa

III.4 – SUBCOBERTO VEGETAL

Depois de realizada a recolha dos dados relativamente ao coberto arbóreo da


parcela e à fisiografia local, passou-se à recolha de informação relativa ao subcoberto
vegetal. Este poderá em algumas fases ajudar o desenvolvimento arbóreo, ou limitá-lo, e
é sempre um indicador que, certamente, acrescentará informações relevantes para o
estudo em causa (figura III.12).

Figura III.12 – Diferentes expressões de subcoberto vegetal existente nas Dunas de Mira

139
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Além disso terá que se ter sempre presente a constituição do subcoberto, pois é
devido à presença de algumas espécies protegidas que as Dunas de Mira se inserem na
“Sítio da Rede Natura 2000” (ICN, 2006).
Para Pillar (2011, p.39), a variação da vegetação no espaço e no tempo é reflexo
da perceção e dependente da escala de observação. Neste trabalho, a preocupação em ter
um conhecimento exaustivo da vegetação existente leva à utilização de uma escala de
pormenor, onde além de uma análise quantitativa, pelo número de espécies ou pelo
número de indivíduos, se pretende concluir com uma análise qualitativa, identificando
locais preferenciais para determinada vegetação. Estes estudos de ecologia envolvem
regra geral fenómenos complexos que abarcam muitas variáveis, como é o caso deste
trabalho, que na totalidade engloba onze variáveis ligadas ao subcoberto vegetal. Esta
diversidade pretende ensaiar diferentes possibilidades do ponto de vista ecológico.
Devido à morosidade de recolha dos dados, a descrição da comunidade vegetal é quase
sempre incompleta (Pillar, 2002, p.6; 2011, p.40). Para compensar, a quantidade
avaliada pode ser efetuada através de estimativas visuais (Braun-Blanquet, 1964 apud
Pillar, 2011, p.39), nomeadamente através da densidade, frequência, cobertura, área
basal e biomassa, entre outros. Também aqui se optou por fazer essa análise de
estimativa.
O inventário integra ainda outras características ambientais relevantes para o
desenvolvimento da comunidade vegetal, nomeadamente “altitude, condições
climáticas do local, exposição solar, declive do terreno, posição no relevo, substrato
geológico, ação antrópica e recolha de amostras de solo para avaliação das suas
características físicas e químicas” (Pillar, 2002, p.6).
A sementeira efetuada pelos Serviços Florestais teve em linha de conta a
elaboração de corredores ecológicos distintos da restante mancha florestal. Com a
sementeira de espécies ripícolas próximo das linhas de água, acompanhando
constantemente o traçado das mesmas, criaram-se ambientes distintos da restante mata
que permitem a movimentação de espécies no seu interior, distanciando-se do seu
espaço original sem perderem contacto com o micro ecossistema onde estão inseridos.
Estas migrações ao longo dos corredores ecológicos acontecem com espécies animais e
vegetais, sendo preferidas pelas primeiras (Ayres et al., 2005). Neste trabalho não se
efetua uma análise dos corredores ripícolas existentes, o que poderia ser adequado, por
exemplo, como indicador de uma maior diversidade vegetal. Mas, por se considerar que
esta poderá ser uma análise muito interessante do ponto de vista do conhecimento do

140
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

ecossistema dunar e se saber que representa características específicas, poderá ser alvo
de um estudo de pormenor, num futuro projeto. Poderá ser importante, por exemplo, na
definição de estratégias de prevenção de incêndios. Neste momento, apenas se efetua a
caracterização do subcoberto vegetal dunar sem influência das linhas de água.
É aceite por todos que a vegetação é quem “controla a forma das dunas, a sua
destruição e a sua movimentação” (Hellemaa, 1998, p.3). A confirmá-lo, Zanella et al.
(2010) mencionam que, após a remoção da vegetação dunar, ocorre um processo de
“desestabilização da duna e a formação de corredores de deslizamento”. Antes da
sementeira das dunas, noutras regiões, é usual construir uma barreira de bambu para
evitar o soterramento das plantas e sementes. Em Portugal, também em tempos foi usual
a prévia criação de condições favoráveis às plantas e às sementes. Usavam-se pequenos
arbustos secos e matos para impedir o avanço das areias, pois a maior erosão ocorre
antes da estabilização do solo pela cobertura vegetal se fixar e se desenvolver
(MacDonald e Larsen, 2009).
A vegetação que reveste as dunas, instalada sobre sedimentos areno-quartzosos
recentes de origem marinha, possui características próprias, com formas variadas de
adaptação à água salgada, às temperaturas da areia, à escassez de água doce e à forte
ação dos ventos marinhos (Ecoplan, 1991 apud Silva et al. 2006).
Com a análise do subcoberto pretende-se quantificar a variação de alguns
parâmetros, nomeadamente a riqueza específica, a espécie dominante, diferentes
estratos e cobertura total.
Esta análise do subcoberto vegetal começou com a recolha de diferentes
exemplares no campo, posterior identificação, secagem e arquivo no Herbário do
Laboratório de Botânica da Escola Superior Agrária de Coimbra, onde atualmente
podem ser consultados. Após esta identificação, as primeiras saídas tiveram como
objetivo o treino visual da identificação destas espécies, para que quando se começasse
o registo efetivo de informação, este pudesse fazer da forma o mais fidedigna e célere
possível. Seguiu-se a caracterização da parcela com o registo das espécies, o grau de
abundância-dominância, a altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo, do
subcoberto arbustivo e a percentagem de subcoberto total.
A avaliação das comunidades vegetais pode fazer-se segundo os critérios
quantitativo e qualitativo. O primeiro relaciona-se com a abundância e densidade, a
cobertura, a biomassa e a dominância. O segundo relaciona-se com a composição
florística, sociabilidade, vitalidade, fisionomia e evolução no tempo (Carvalho, 1994).

141
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Atualmente, para caracterizar a vegetação tem sido mais utilizados os processos que
estimam conjuntamente a abundância e o grau de cobertura, sendo a mais utilizada a
escala de Braun-Blanquet, que se apresenta na tabela III.1.

Tabela III.1 - Tabela de Abundância-Dominância de Braun-Blanquet (Carvalho, 1994)

Símbolo Abundância Grau de Cobertura

5 Qualquer número de indivíduos 75-100%


4 Qualquer número de indivíduos 50-75%
3 Qualquer número de indivíduos 25-50%
2 Qualquer número de indivíduos 5-25%
Abundante com baixa cobertura ou pouco
1 abundante mas com maior cobertura Menos de 5%

+ Pouco abundante e baixa cobertura Presente

A fim de obter o máximo de informação possível, fizeram-se duas leituras desta


tabela: uma relativa à sua simbologia, que varia de + até 5, desde a simples presença
duma espécie até ao máximo de cobertura, respetivamente; outra, pretendendo obter
resultados mais precisos, resultou da mesma recolha recorrendo a valores percentuais do
grau de cobertura, uma vez que os símbolos representam intervalos, que podem
significar diferenças consideráveis para o mesmo símbolo registado. Os registos
relativos ao subcoberto foram feitos na ficha de campo respetiva de cada parcela e são
apresentados no anexo III.1.
A estratificação do andar vegetal diz respeito ao tipo de vegetação segundo a sua
distribuição em altura. A classificação de Hult (1881) distingue quatro estratos: arbóreo,
arbustivo, subarbustivo e herbáceo. O estrato arbóreo corresponde às plantas com mais
de 6m de altura. De 2 a 6m situa-se o estrato arbustivo e, imediatamente a seguir, entre
os 2m e os 80cm vem o subarbustivo. O estrato herbáceo corresponde à vegetação até
aos 80cm (Quer, 1985). Muitas vezes considera-se herbáceo por oposição a lenhoso, o
que pode gerar alguma dificuldade de classificação. Neste trabalho os estratos foram
considerados respeitando a regra referida anteriormente (alturas), mas também foram
feitas algumas adaptações. Nomeadamente, manteve-se sempre a mesma espécie no
mesmo estrato, o que corresponderá a uma classificação onde prevalece o facto de se
considerar lenhoso por oposição a herbáceo. É o exemplo da Acacia spp. e da Myrica
faya Aiton (Willbur), que aparecem sempre como representantes do subcoberto
arbustivo, uma vez que terão sempre maior quantidade de celulose e lenhina, mesmo
quando por vezes não se enquadram nos padrões de altura da classificação referida.

142
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Mais difícil ainda seria incluir determinadas espécies nos estratos herbáceo e
subarbustivo, como é o caso do Ulex europaeus L., do Cistus salviifolius L. e do
Halimium calycinum (L.) K.Koch. Lu. Az. Ma., entre outros.

III.4.1 – Riqueza específica

No campo, relativamente à caracterização do subcoberto, a primeira tarefa a


realizar em cada parcela foi identificar as espécies presentes. Isto dá-nos a riqueza
específica de cada local, que corresponde ao número de espécies presente numa dada
área, que será tanto maior quanto maior for o número de diferentes espécies.
A riqueza e diversidade de espécies é um indicador da compatibilidade
interespecífica existente num determinado local. Podendo ser analisada de forma
simples, pelo número de espécies presentes no local estudado, pode posteriormente ser
alvo de transformação, quando se pretendem comparar diferentes ecossistemas
(Rodrigues, 2008). Neste trabalho optou-se por utilizar o número absoluto de espécies,
como indicador de riqueza específica ou riqueza de espécies (Rodrigues, 2008).

III.4.2 - Espécie mais representativa (dominante) do subcoberto vegetal

A dominância de espécies, como o próprio nome indica, refere-se à existência de


dominância de uma ou mais espécies numa determinada área analisada (Rodrigues,
2008).
A existência de uma espécie dominante é, muitas vezes, sinónima de uma baixa
riqueza específica (Rodrigues, 2008).
Após a identificação de todas as espécies presentes no subcoberto, passou-se à
pesquisa da espécie que está representada com maior grau de cobertura em cada parcela,
ou seja, aquela que é mais representativa. Para isso utilizou-se a tabela de Abundância-
Dominância de Braun-Blanquet, anteriormente referida.

III.4.3 - Percentagem de subcoberto total

A quantidade de subcoberto, medida em percentagem e usando a tabela de Braun-


Blanquet, foi registada sob diferentes aspetos. Efetuou-se a medição do estrato herbáceo
e do estrato arbustivo e, posteriormente, optou-se por englobar estes dois estratos numa

143
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

só observação pois, assim, embora não se atinja uma separação destes dois estratos o
erro que poderá surgir na análise geral será menor.

III.4.4 - Percentagem de subcoberto arbustivo

A presença de arbustos influencia o desenvolvimento do coberto herbáceo


(Hollister et al., 2010). Quanto maior for a quantidade de arbustos, menor será a
quantidade de subcoberto herbáceo. Essa quantidade foi determinada em percentagem
de cobertura em cada parcela, para cada um dos pontos selecionados.

III.4.5 - Altura média do subcoberto arbustivo

Os arbustos aqui dominantes têm, normalmente, um carácter invasor (Baltsavias


et al., 2007). A Acacia longifolia é um exemplo destas espécies com carácter invasor.
A altura média do subcoberto arbustivo torna-se importante a partir do momento
em que este estrato limita o acesso à luz por parte do estrato que lhe fica abaixo, o
herbáceo. Normalmente, uma maior altura do subcoberto arbustivo está associada a um
coberto contínuo de acácias, ou então, a presenças pontuais de Myrica faya Aiton. O
subcoberto de baixa altura corresponde, normalmente a locais de ocupação recente deste
estrato.
A medição do coberto arbustivo foi efetuada com uma fita métrica ou, quando era
muito elevada, com o Blume-Leiss.

III.4.6 - Percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo

As espécies herbáceas são semelhantes às dominantes (maior biomassa) no que


diz respeito a cumprir funções de equilíbrio no ecossistema. No entanto, no que diz
respeito à capacidade de resposta a distúrbios e alterações ambientais, estas espécies
herbáceas ressentem-se com mais facilidade. Embora com menos importância na
produção de biomassa, não deixam de contribuir para a resiliência na comunidade onde
se inserem (Walker et al., 1999).
As espécies herbáceas aparecem com maior intensidade, normalmente, onde o
coberto arbustivo tem menos representatividade. Embora a maioria das espécies
introduzidas seja “relativamente inócua”, algumas espécies causam efeitos económicos

144
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

e ecológicos irreversíveis a curto prazo (Holmes et al., 2009, p.18). Isto acontece tanto
para as espécies arbustivas como para as herbáceas, existindo os dois exemplos nas
Dunas de Mira com a Acacia longifolia e o Carpobrotus edulis, que ocorrem nos
estratos arbustivo e herbáceo, respetivamente.

III.4.7 - Altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo

As espécies menores são tão importantes como as maiores em termos de funções a


desempenhar no ecossistema onde se inserem. Mas são diferentes no que diz respeito à
capacidade de resposta em termos de situações de stress e de distúrbios pontuais, como
é o caso dos incêndios (Elison e Farnsworth, 1997). Neste caso, as primeiras espécies a
aparecer são as pequenas herbáceas. A curto prazo, o estrato herbáceo não é afetado
pelos arbustos invasores, mas isso irá acontecer inevitavelmente a longo prazo (Miller e
Gorchov, 2004).

III.4.8 – Percentagem de área coberta por acácias

Na sementeira das dunas, no início do século XX, optou-se por espécies que se
consideravam de desenvolvimento rápido e que respondiam bem a ambientes difíceis,
como são os das dunas. Foram semeadas espécies autóctones de ambientes dunares, mas
também exóticas de rápido crescimento como a Acacia longifolia (Rei, 1940).
A utilização de leguminosas, como é o caso das acácias, permite, a curto prazo, a
melhoria do solo a baixo custo pois não é necessário utilizar fertilizantes na sementeira
nem, posteriormente, na manutenção da vegetação. A utilização de leguminosas
florestais noduladas e micorrizadas que formam simbiose com o Rhizobium, fixando
posteriormente o azoto atmosférico, e com outros fungos do tipo micorriza que
propiciam um melhor aproveitamento do fósforo e tornam a planta mais eficiente na
absorção de água e aumentando o pH, são uma solução pouco dispendiosa e, por isso,
muitas vezes selecionada (Witkowski, 1991, apud Heneghan et al., 2006). Podendo ser
consideradas em alguns casos alterações favoráveis, na realidade estão a alterar as
condições naturais do ecossistema em causa (Heneghan et al., 2006; Rasool, 2011;
Schradin e Cipollini, 2012).
O rápido crescimento e elevado grau de cobertura mesmo em condições adversas
são outro motivo que leva a optar pela sua seleção, como aconteceu no caso de Mira,

145
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

não se tomando em atenção que, por outro lado, poderia ser prejudicial, devido ao seu
carácter invasor (Franco et al., 1992 apud Barroso et al., 2001).
A Acacia longifolia foi semeada no início do século XX para fixar as dunas, tendo
posteriormente invadido áreas onde não havia sido semeada. Tal resultou, muitas vezes,
de incêndios ocorridos nas dunas (Marchante E. et al., 2011) e do abandono da
agricultura, pois anualmente efetuava-se um corte das acácias pelos agricultores. Estas
serviam de matos para utilizar nas camas dos animais e não havia, por isso, um grande
desenvolvimento destas espécies. Barroso et al. (2001) propõem que após a plantação e
crescimento de uma floresta de acácias, que se incluam espécies nativas. Será isto
possível? Propõem também a manutenção, como o corte das árvores em risco de queda
ou com necessidade de monda, para que outras espécies possam coabitar.
O período de invasão das acácias influencia o período de regeneração do
ecossistema para se adaptar novamente às condições ideais das plantas nativas
(Marchante E. et al, 2008). Por outro lado, os resultados obtidos por Jordan et al. (2008)
não mostram os efeitos negativos de pós utilização do solo por plantas invasoras.
A diminuição das plantas autóctones em função do aumento das exóticas é muitas
vezes atribuída à competição pela luz (Vitousek, 1986; Harrington et al., 1989; Webb
and Kaunzinger, 1993; e Woods, 1993, apud Andrew e Gorchov, 2000). No que diz
respeito aos arbustos nativos, estes também podem contribuir para a diminuição das
herbáceas (Hobbs and Mooney, 1986, Hobbs and Atkins, 1991 apud Andrew e
Gorchov, 2000).
Em muitos locais do mundo (África do Sul, Chile, Nova Zelândia, Austrália,
Espanha, Brasil, Israel e Portugal, entre outros) o género Acacia é considerado invasor,
levando a alterações da biodiversidade local, da disponibilidade em água, de solo, etc.
(Marques, 2010; Marchante H., 2011). Outra das preocupações apontadas à dominância
das acácias prende-se com o facto de estas serem muito apelativas para os polinizadores
e estes poderem abster-se de polinizar as plantas nativas, que não lhes oferecem as
mesmas vantagens, “como o bom caracter olfativo, néctar floral”, entre outros, como é
exemplo o apelo visual (Silva, 2012, p.75).
As plantas invasoras têm reflexos negativos no desenvolvimento do estrato
herbáceo (Andrew e Gorchov, 2000; Heneghan et al., 2006; Jordan et al., 2008; Cronk e
Fuller 1995; Vitousek 1997, apud Silva, 2012). Sendo reconhecido por todos a
necessidade de controlo de invasoras, a União Europeia considera que as estratégias
deste controlo passam pela prevenção, não procedendo à sua plantação ou sementeira, e

146
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

pela rápida sinalização, com um diagnóstico adequado e consequente ação no terreno.


Para permitir uma homogeneização na abordagem deste tipo de problemas, foram
desenvolvidos documentos que podem ser consultados em http://circa.europa.eu/Public
/irc/env/ias/library?l=/general_information/working_prevention/final_working_groups
&vm=detailed&sb=Title (Marchante, E., 2011, p.82).
A Acacia longifolia (Andrews) Willd., em particular, é conhecida como uma
planta exótica, de caráter invasor, que promove a diminuição da diversidade biológica,
com maiores impactes negativos em Portugal, principalmente nas áreas dunares
(Marques, 2010, Marchante H., 2011). A grande capacidade de adaptação da acácia aos
ecossistemas pobres em nutrientes devido à sua elevada capacidade de fixação de azoto
atmosférico e elevada eficiência na utilização dos recursos disponíveis, identifica-a
como invasora em detrimento das outras espécies envolventes. O seu grande
desenvolvimento, que se traduz na referida capacidade de fixação de azoto, permite
também a sua utilização por outras plantas. A grande capacidade de produção de folhas
e consequente camada folhosa no solo, fazem dela a vegetação dominante do
ecossistema com grande impacto e alterações na estrutura da comunidade vegetal
(Elton, 1958, apud Forgaty e Facelli, 1999; Carvalho et al., 2010; Marques, 2010;
Marchante H., 2011; Rasool, 2011).
A invasão por Acacia spp. parece influenciar negativamente outras espécies
arbustivas como é o caso da Myrica faya Aiton, sendo também a conclusão a que
chegam outros autores (Midgley et al., 1992 apud Andrew e Gorchov, 2000). A
remoção de invasoras favorece o desenvolvimento futuro das espécies nativas
(Westman, 1990 apud Andrew e Gorchov, 2000), pelo que talvez seja de considerar o
seu inventário para posterior possibilidade de intervenção.
Os efeitos das espécies de carácter invasor são muitas vezes estimados por
comparação, mas são raramente quantificados (Miller e Gorchov, 2004). Neste trabalho,
a ocorrência de acácias foi quantificada com recurso ao método de Braun Blanquet já
referido anteriormente, para que depois se pudesse efetuar a análise estatística que se
considerasse adequada.

III.4.9 – Percentagem de musgos

Os musgos, corretamente denominados por briófitas, estarão entre os primeiros


grupos de plantas existentes na Terra. São representadas por cerca de 14.000 espécies, o

147
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

que corresponde a aproximadamente 5% das espécies existentes na Terra (Hespanhol et


al., 2008).
São plantas muito dependentes do grau de humidade ambiente (solos e atmosfera)
mas, por outro lado, são as primeiras a colonizar solos nus, fixando-o e estabilizando-o,
levando à produção e deposição de húmus e facilitando a chegada de outros grupos de
plantas (Hespanhol et al., 2008).
Os musgos têm uma grande capacidade de retenção e armazenamento de água,
levando à criação de ambientes (ecossistemas) mais húmidos, o que favorecerá o
desenvolvimento de outras espécies (Hespanhol et al., 2008; Marques, 2008).
Nas dunas, as briófitas distribuem-se por manchas mais ou menos paralelas à
linha de costa, com as mais tolerantes a aparecerem em primeiro lugar, devido à sua
maior resistência à salinidade e às movimentações constantes das areias. Nas dunas
secundárias aparecem as briófitas mais desenvolvidas e adaptadas a solos arenosos
estáveis. A existência de briófitas no ambiente dunar está muito relacionada com as
constantes perturbações típicas destes substratos não agregados (Hespanhol et al.,
2008).
Inicialmente não se considerou a possibilidade de efetuar registos individuais
relativos aos musgos presentes nas diferentes parcelas. Entretanto, quando da realização
do trabalho de campo, pareceu existir um padrão na distribuição da presença e
quantidade de musgos. Parecia que os musgos se registavam mais nas vertentes Norte
das dunas e nas áreas mais húmidas (ou, em alternativa, que contribuíam para a
existência dessas áreas mais húmidas). Optou-se então por registar a percentagem da
parcela coberta com musgos.
Não houve qualquer preocupação na classificação dos musgos, uma vez que é
conhecida a complexidade dessa classificação e, por isso, uma análise mais exaustiva
poderá constituir um projeto futuro.

III.4.10 – Percentagem de líquenes

Os líquenes são organismos resultantes de uma “associação de caráter


permanente entre um fungo e um simbionte fotossintético” (uma alga verde unicelular
ou uma cianobactéria, ou ambas em simultâneo) (Associação Internacional de
Liquenologia apud Marques, 2008, p.3). Os papéis atribuídos a cada um dos
componentes são normalmente de fornecedor de nutrientes (hidratos de carbono), por

148
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

parte da alga, que o fungo não consegue produzir sozinho, e fornecedor de água e sais
minerais por parte dos fungos. Os organismos que resultam dessas associações são
diferentes, quer da alga quer do fungo, quando estes vivem isoladamente, sendo também
diferentes as condições fisiológicas nas quais os líquenes podem sobreviver. As algas
que integram os líquenes também ocorrem de forma isolada, ao passo que os fungos só
aparecem fazendo parte do líquen.
Os líquenes têm necessidades específicas de substrato, exposição e localização
(Pelczar, 1980). A adaptação das espécies ao meio permite a sua utilização como
bioindicadores. Os líquenes vivem em todas as partes do globo, desde os desertos até às
regiões geladas, crescendo tanto no solo como nas árvores, rochas, etc.. Reproduzem-se,
na maioria dos casos, pelo desprendimento de fragmentos, que contêm simultaneamente
hifas de fungo e algumas algas (Pelczar, 1980; Carvalho et al., 2002, Rodrigues, 2005).
Os trabalhos florestais realizados nas dunas não referem normalmente
informações no que diz respeito à flora de líquenes. No entanto, nos percursos que se
efetuaram pelas áreas florestais litorais, observaram-se frequentemente extensas áreas
cobertas por líquenes e com ausência de outra vegetação. Por isso, optou-se por juntar
estes líquenes na análise de vegetação. Poderá causar alguma discussão pelo facto de
serem resultantes de uma associação de diferentes reinos, mas na realidade o reino
vegetal está presente. Também é frequente encontrar líquenes nos troncos dos pinheiros
adultos (forófitos).
A referência aos líquenes acontece normalmente nos trabalhos acerca da
qualidade ambiental, apresentando-os como bioindicadores (Rodrigues, 2005). Carvalho
et al. (2002, p.225) referem a “diminuição da riqueza florística” de líquenes em função
da “degradação de habitats e do aumento de poluentes”. Ainda consideram que a
distância ao mar e a altitude condicionam a distribuição de líquenes epífitos.
Os líquenes conseguem ocupar locais “inacessíveis a outros seres vivos”
(Marques, 2008, p.3). Estes são pioneiros na ocupação das dunas, locais inóspitos,
adversos ao desenvolvimento de vida (Carvalho et al., 2002).
Os líquenes terrícolas, que crescem sobre o solo - Cetraria aculeata, Cladonia
foliacea, Cladonia rangiferina e Collema sp.- são os mais frequentes nas dunas. As
espécies terrícolas são importantes para a estabilização do solo arenoso. O Collema sp. é
especialmente importante por fixar azoto atmosférico, tornando-o posteriormente
disponível para ser utilizado por outros seres vivos. Nenhuma das espécies referidas tem
estatuto de proteção em Portugal (Marques, 2008, p.12). A Cladonia rangiferina

149
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

(fungo) ou a Cladonia rangiformis Hoffm existem predominantemente em “zonas


expostas, como clareiras de bosque…” (Marques, 2008, p.12). São os líquenes
dominantes nas dunas de Mira, e aparecem preferencialmente em clareiras de depressão
interdunar.
Os líquenes e briófitos devem ser objeto de estudo pelo facto de, devido à sua
sensibilidade à alteração de habitats e à poluição atmosférica, serem bons indicadores de
alterações dos ecossistemas onde se inserem.

III. 4.11 – Volume aparente do subcoberto vegetal

“A avaliação da biomassa do sub-bosque no estrato florestal, ( …) é feita a partir


da determinação, para cada espécie presente na parcela, do fito-volume ou volume
aparente, o qual é definido como produto da área coberta pela espécie multiplicada
pela correspondente altura média” (Tomé, 2007, p.12).
Embora se tenha feito um inventário com a identificação por espécie da altura
média e da área coberta, considerou-se mais eficaz trabalhar, neste ponto, com a
identificação de estratos e suas respetivas alturas médias e área de cobertura.
Na tentativa de encontrar uma variável que pudesse representar o grupo de
variáveis do subcoberto vegetal das dunas, e partindo da definição apresentada
anteriormente, criou-se uma nova variável - volume aparente de subcoberto vegetal.
Para o cálculo desta variável consideraram-se a totalidade de variáveis de subcoberto
que pudessem de alguma forma traduzir um valor final de volume, embora a variável
criada seja adimensional. Entram, assim, as variáveis relativas ao grau de cobertura da
vegetação, assim como da altura, tendo o cuidado de não inserir variáveis que pudessem
repetir a informação, como é o caso da quantidade de acácias, que já está refletida na
quantidade de subcoberto arbustivo. A nova variável criada representa-se pela fórmula
apresentada a seguir, onde VlApSbcVeg é o volume aparente do subcoberto vegetal,
HSbcHerb é a altura média do subcoberto herbáceo, %SbcHerb é a percentagem de
subcoberto herbáceo, HSbcArbs é a altura média do subcoberto arbustivo, %SbcArbs é a
percentagem de subcoberto arbustivo, HMusgo é a altura do musgo, %Musgo é a
percentagem de musgo. HLíq é a altura dos líquenes e a %Líq corresponde à
percentagem de líquenes.

VlApSbcVeg = [ (HSbcHerb * % SbcHerb) + (HSbcArbst * % SbcArbst) +


+ (HMusgo * % Musgo) + (HLíq * % Líq) ] / 100 *

150
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Os musgos e os líquenes foram, inicialmente, alvo de registo em separado


relativamente ao coberto herbáceo e subarbustivo, pois devido à especificidade do seu
desenvolvimento poderiam enviesar os resultados, no que diz respeito ao estrato
herbáceo.
As alturas dos musgos e dos líquenes foram consideradas homogéneas, e
resultantes das observações de campo e de algumas medições. Optou-se por lhes atribuir
o valor médio de 10cm.
A opção de se dividir por 100 os resultados dos valores obtidos ficou a dever-se
ao facto de os resultados iniciais apresentarem intervalos de amplitudes muito elevadas
quando não se procedia a esta divisão para homogeneizar os volumes aparentes.
Assim, este volume aparente de subcoberto representa essencialmente a
quantidade do subcoberto herbáceo e do subcoberto arbustivo existente em cada parcela.
Os musgos e os líquenes são pouco representativos pois, mesmo que existam em
quantidades muito elevadas, têm alturas pouco relevantes na determinação deste volume
aparente do subcoberto vegetal.

III.5 - SOLOS

As características do solo constituem outro grupo de variáveis objecto da nossa


atenção, porque a concentração de nutrientes tem uma ação direta na distribuição da
vegetação (Varennes, 2003; Menezes e Araújo, 2000, apud Cordeiro, 2005).
Os fenómenos de alteração, desagregação e migração numa rocha, provocados
pelo ar, pela água e pelos seres vivos durante um determinado período de tempo,
constituem o processo de formação de um solo. Como se trata de processos ocorridos à
superfície ou próximo desta, pode dizer-se que o solo representa uma camada, com
determinada espessura, e relativamente instável, da superfície da crosta terrestre
(Cordeiro, 2005).
A sua formação passa por três fases (Costa, 1985). A primeira corresponde à
desagregação e alteração da rocha (dura ou branda). Nesta área de estudo, não se regista
esta primeira fase, uma vez que a rocha mãe corresponde a areias de dunas, que já estão,
ou ainda estão, desagregadas. A segunda fase corresponde ao desenvolvimento da
matéria orgânica. É a fase em que começa a desenvolver-se vegetação e a fixarem-se
animais, bem como outros seres vivos de outros reinos. Estes promovem a formação do
húmus e vão, em conjunto com os elementos climáticos, contribuir para a contínua

151
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

evolução do solo. Em muitos locais da área estudada, esta é a fase de desenvolvimento


do solo que se pode observar. Registam-se algumas dificuldades na instalação da
vegetação e, mesmo a já existente é recente, com menos de um século de existência. A
terceira fase corresponde à migração de substâncias no solo com a ajuda da vegetação
(por exemplo com a troca iónica por variação na pressão osmótica) ou por processos de
lixiviação e de lavagem, ou de evaporação. Esta fase de desenvolvimento do solo pode
ser observada em locais de dunas mais antigas, mas não corresponde à mancha de
floresta contínua que está aqui a ser estudada. Esta está implantada em dunas recentes e,
por isso, não chegou ainda a esta fase de desenvolvimento. A sementeira da floresta teve
também como objectivo, na altura, promover um maior desenvolvimento vegetal nestes
locais, vegetação essa que podia ser depois aproveitada pelos agricultores locais.
O solo é, então, formado por uma fração sólida, outra líquida (que forma a
solução do solo) e uma fração gasosa, a atmosfera do solo.
A parte sólida divide-se nos elementos minerais (ou constituintes mecânicos) e
nos elementos orgânicos (ou matéria orgânica). Os constituintes mecânicos incluem,
normalmente em proporções variáveis, fragmentos de rocha-mãe, minerais primários e
ainda minerais secundários, ou seja, de síntese a partir dos primários. Estes constituintes
mecânicos apresentam dimensões tão variadas que vão desde a pedra e do cascalho até
aos materiais de reduzidas dimensões (ao ponto de formar substâncias coloidais, como é
o caso das argilas). Estes constituintes já têm influência na fertilidade do solo.
No local de estudo existe principalmente terra fina (< 2mm), o que por si,
representa uma facilidade no desenvolvimento vegetal, embora a argila seja muito
escassa ou quase inexistente.
A matéria orgânica do solo é formada por restos de plantas e outros organismos
em estado de maior ou menor alteração, devido principalmente à atividade de micro-
organismos. Num estado de maior degradação encontram-se também substâncias
coloidais. A matéria orgânica aparece na segunda fase de desenvolvimento dos solos,
depois de se começar a desenvolver a atividade macro e microbiana (Costa, 1985).
Os constituintes orgânicos dividem-se em vários grupos consoante a sua origem e
evolução. Em primeiro lugar aparecem os seres vivos pertencentes aos cinco reinos
(animal, vegetal, fungi, protista e monera). Posteriormente aparece a matéria orgânica
em decomposição, que é também muitas vezes referida como “produto transitório”
(Soltner, 1986 e 1987). Finalmente, a fase de ataque da matéria orgânica corresponde à
formação de húmus, fração coloidal e estável que consiste na degradação dos produtos

152
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

transitórios em moléculas de reduzidas dimensões. Esta é uma fase extremamente lenta,


que depende essencialmente da quantidade de água e de oxigénio que existe no solo.
A solução do solo é formada pela água do solo e pelos elementos solúveis que
nela se encontram. No entanto, há elementos que têm capacidade de formar solução mas
que não o fazem devido à saturação da solução existente, não fazendo parte, nesse
momento, da solução do solo. Estes elementos solúveis provêm de moléculas orgânicas
e moléculas minerais.
O solo define-se principalmente pela composição, características e
comportamento dos seus constituintes sólidos. No entanto, para estudar a relação entre o
solo e as plantas, é indispensável considerar a água e a atmosfera do solo assim como
outros elementos, nomeadamente a temperatura.
Quando os solos são formados por mais de 20% de matéria orgânica (e
apresentam textura grosseira), ou mais de 30% de matéria orgânica (e apresentam
textura média ou fina), são considerados solos orgânicos (Varennes, 2003). Com valores
de matéria orgânica inferiores aos referidos aparecem os solos minerais, que é onde se
inserem os solos da nossa área de estudo.
Para se fazer a classificação de solos relativamente à sua composição torna-se
necessário ter em atenção vários fatores, dos quais se pode destacar a evolução do solo.
Para que exista elevada quantidade de matéria orgânica é exigido que o solo tenha
passado por uma grande evolução no tempo.
Um corte vertical efetuado no solo revela, geralmente, uma variação de
características, mais ou menos acentuadas, com o aumento da profundidade. As faixas,
mais ou menos regulares, paralelas à superfície, e que apresentam características
semelhantes, denominam-se horizontes do solo. Estas diferenciações ficam a dever-se,
até determinada profundidade, à ação conjunta do clima e da atividade biológica
verificados no local em que o solo se encontra.
A diferenciação dos horizontes dá-se essencialmente como resultado da evolução
do solo (Costa, 1985, p. 19). Geralmente é possível distinguir os horizontes no campo,
devido a características observadas diretamente (textura, estrutura, cor), mas é
necessário também a realização de análises laboratoriais para que se possa estabelecer
uma caracterização pormenorizada de cada um deles.
A expressão “génese do solo” usa-se geralmente como sinónimo de diferenciação
de horizontes (Costa, 1985, p. 21). Considera-se como solo incipiente ou pouco
evoluído aquele que se encontra numa fase inicial, ou seja, que não tem horizontes

153
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

genéticos bem diferenciados, como é o caso da área de estudo (Rogado et al., 1993; p.
14). Nos perfis observados nas Dunas de Mira não há uma verdadeira separação entre os
horizontes.
Os solos são os fornecedores dos elementos fundamentais à nutrição das plantas,
quer pelos seus elementos naturais, quer muitas vezes através da sua correção, para
melhor se adaptarem à vegetação instalada (Varennes, 2003).
As suas características são influenciadas pelos usos que lhe vão sendo atribuídos
ao longo dos tempos, uma vez que as diferentes coberturas do solo também lhe
conferem características distintas (Sonneveld et al., 2003). Uma das características
típicas dos solos arenosos, que vai posteriormente limitar a disponibilidade dos
nutrientes, é a forte agregação das partículas de pequena dimensão (Jasinska et al,
2006).
Uma vez que a produtividade do solo corresponde à sua capacidade para satisfazer
as necessidades de desenvolvimento vegetal, esta advém da existência de determinadas
características físicas, ou componentes químicos, entre outros (Varennes, 2003;
Sonneveld et al., 2003).
No sentido de procurar identificar algumas dessas características específicas
existentes no solo que possam determinar a sua aptidão para o desenvolvimento vegetal,
optou-se pela realização de análises sobre as amostras de solo recolhidas nas parcelas de
estudo. A humidade, que é essencial para a formação da solução do solo e consequente
fertilidade deste, e a matéria orgânica, fornecedora de vários nutrientes, foram
elementos analisados, assim como o pH, pois no seu conjunto são quem define as
principais características de um solo (Pillar, 2011). As concentrações de fósforo e de
potássio são também dois elementos essenciais no desenvolvimento vegetal e, por isso,
foram também estudadas.
Santos et al. (2006), na sua metodologia de trabalho em dunas, apresentam
algumas variáveis comuns a este trabalho, nomeadamente no que diz respeito ao perfil
da duna (base, flancos e crista) e aos elementos de solo (comuns o fósforo, o potássio e
o pH).

III.5.1 – Seleção de parcelas para efetuar análises de solos

Sendo impossível recolher e analisar amostras de solo em todas as parcelas (tempo


e custo), a seleção de parcelas para efetuar essa recolha e análise foi feita, em primeiro
lugar, com base nos registos do desenvolvimento dos pinheiros (figura III.13a,b,c). Em

154
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

segundo, incluir locais de acordo com a sua distribuição geográfica, nomeadamente a


proximidade/afastamento do mar e a posição na duna (depressão, flanco ou crista).
Nos perfis três e nove selecionou-se uma parte contínua do transecto, uma vez que
também se pretendia respeitar o aspeto da topografia do terreno (crista de duna e
depressão interdunar). Esta seleção foi feita com base no resultado do trabalho de
biometria (altura média dos pinheiros de cada parcela) já efetuado anteriormente (figura
III.13, a, b, c).

- Parcelas selecionadas para


análises de pH, M.O, P2O5
e K2O

- Parcelas selecionadas para


análises de pH, M.O, P2O5
e K2O, Hidrofobia e
Humidade do solo

Figura III.13(a) – Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais foram
selecionadas as parcelas para realização das análises de solos
155
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

- Parcelas selecionadas para análises


de pH, M.O, P2O5 e K2O

- Parcelas selecionadas para análises


de pH, M.O, P2O5 e K2O, Hidrofobia
e Humidade do solo

Figura III.13 (b) – Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais foram selecionadas as
parcelas para realização das análises de solos

156
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

- Parcelas selecionadas para


análises de pH, M.O, P2O5
e K2O

- Parcelas selecionadas para


análises de pH, M.O, P2O5
e K2O, Hidrofobia e
Humidade do solo

Figura III.13 (c) – Gráficos de altura média dos pinheiros a partir dos quais foram
selecionadas as parcelas para realização das análises de solos

157
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A intenção inicial de fazer recolha e análise de solos em todas as parcelas


rapidamente se alterou uma vez que tal trabalho se mostrou impossível de realizar no
tempo e com o orçamento disponíveis. Como foram instaladas 480 parcelas e efetuadas
recolhas a 10, 20 e 30 cm de profundidade, seria necessário recolher 1440 amostras. Em
termo de análises, este valor seria multiplicado por 6, uma vez que se pretendem
análises de 6 parâmetros. Seriam assim necessárias pelo menos 8640 análises, uma vez
que algumas teriam que ser repetidas. Tentando ultrapassar a situação, realizaram-se
recolhas e análises de solo apenas nos locais onde se verificassem casos de maiores e
menores crescimentos, respeitando a característica de proximidade e afastamento do
mar e a posição na duna.

III.5.2 – Recolha das amostras no campo

Em cada parcela selecionada pelo processo descrito no ponto anterior, foram


recolhidas amostras a 10, 20 e 30cm de profundidade. Na quase totalidade das situações
encontradas as areias eram muito soltas, e a utilização da sonda não permitia a sua
diferenciação nas diferentes profundidades. Assim, a solução foi substituir a sonda pela
abertura de uma sanja (cova) no local de recolha, seguindo-se a recolha do material com
um frasco de volume equivalente ao da sonda. Os frascos foram em seguida recolhidos
num saco de plástico previamente identificado com o número da parcela e a respetiva
profundidade. No seu interior junta-se um duplicado da identificação para que não se
corra o risco de se perder essa referência. Efetuado este procedimento para as três
profundidades em cada parcela, os sacos são juntos num maior onde se identifica mais
uma vez a parcela (figura III.14).

Figura III.14 – Recolha de amostras de solo no campo para posterior análise em laboratório

As amostras serviram para caracterizar 6 variáveis de solo que se considera


geralmente que influenciam o desenvolvimento vegetal, com realce para a hidrofobia e

158
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

a humidade do solo que foram recolhidas diretamente no campo. Em laboratório foram


depois realizadas análises para determinação do pH e das concentrações de matéria
orgânica, K2O e P2O5.

III.5.3 – Leitura de variáveis no campo

Para recolha de informação sobre algumas das variáveis consideradas, foi


necessário fazer recolhas diretas no campo. Trata-se de uma forma muito eficiente de
obter os resultados pretendidos, mas que implica o transporte de equipamento, por vezes
muito difícil devido ao seu peso, dimensão ou fragilidade.

III.5.3.1 - Hidrofobia

A hidrofobia reduz a afinidade do solo em relação à água de tal modo que pode
resistir à sua infiltração durante períodos variáveis de tempo, estando associada ainda ao
aumento da escorrência superficial (Doerr et al., 2000; Matias, 2002). É uma
característica do solo que tem sido alvo de atenção desde inícios do século XX, mas que
ainda não se tinha definido como característica independente. Somente a partir da
década de 90 do século passado se passou a dar a importância que lhe é devida na sua
influência sobre a fertilidade dos solos (DeBano, 2000). A hidrofobia afeta as
propriedades ecológicas dos solos florestais (Buczko et al., 2005)
Alguns solos apresentam como característica a repelência à água, ou seja, a água
não se infiltra com facilidade. Este fenómeno é frequente em solos (nus) expostos ao sol
por muito tempo (Pérez et al., 1998). A hidrofobia tem efeitos negativos na
produtividade e na sustentabilidade ambiental do solo, pois limita o desenvolvimento
vegetal de algumas espécies (DeBano, 2000; Wang et al., 2000)
A hidrofobia pode ser favorecida pela ocorrência de fogo (Kutiel at al., 1995;
Walker et al., 1984 apud Alauzis et al., 2004; Cerdá e Doerr, 2005; Alegre, 2007;
Faria, 2008; Gonçalves et al., 2008; Ferreira et al., 2010). É também conhecida a
propensão de determinadas espécies para provocar hidrofobia nos espaços onde se
inserem, como é o caso do Eucalyptus globulus Labill e as espécies de Pinus spp.
(Ferreira et al., 2010; Maia et al., 2008). A hidrofobia é também influenciada pelo tipo
de solos, sendo mais comum em solos arenosos, como é o caso da área de estudo (Pérez
et al., 1998; Harper et al., 2000; Wang et al., 2000; Maia et al., 2008; Ferreira et

159
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

al.,2010). Esta característica do solo é normalmente considerada negativa, pois além da


diminuição da infiltração da água, pode levar ao aumento do escorrimento superficial e
da consequente erosão (Faria, 2008; Jarvis et al., 2008; Maia et al., 2008).
Perez et al. (1998) referem que a hidrofobia seria provocada pela existência no
solo de partículas orgânicas hidrofóbicas, mas que tal não significa que a hidrofobia
esteja diretamente correlacionada com o teor de matéria orgânica pois, segundo Wallis
et al. (apud Pérez et al., 1998), existem vários trabalhos em que o maior grau de
repelência à água está nos solos com menores teores de compostos orgânicos. Isto
mostra que não é a quantidade de matéria orgânica que influencia diretamente a
hidrofobia, mas sim o tipo de matéria orgânica (Rodriguez-Alleres et al., 2007,b;
Buczko, 2005). Doerr et al. (2006) referem que para solos com teores de matéria
orgânica superiores a 2-3%, um aumento da temperatura implicará um aumento na
hidrofobia.
Rodriguez-Alleres at al. (2007b), Ashman e Puri (2002) e Harper et al. (2000)
referem também a influência do pH na hidrofobia, admitindo que valores de pH
superiores a 6,5 contribuiriam para a diminuição da repelência. Mas este aumento de pH
fica a dever-se muitas vezes à diminuição do teor de ácidos húmicos, um dos prováveis
responsáveis pela repelência à água (Adhikarie Chakrabarti, 1976, apud Pérez et
al.,1998, p.198)
A hidrofobia é uma característica do solo que, sendo possível, deve ser recolhida
no campo para que corresponda a uma situação real de solo não alterado. No entanto,
quando se utilizam métodos que exigem um grande investimento em termos de tempo,
só podem ser realizados em laboratório.
A hidrofobia, entendida com um fenómeno de repelência à água, é determinante
em termos de disponibilidade de água para a vegetação instalada, e influencia o espaço
sob os pontos de vista geomorfológico, hidrológico e ecológico (Nunes, 2007, p.57). A
ocorrência de casos de hidrofobia em solos arenosos é menor na época de inverno e
aumenta na época de verão, o que corresponde a épocas de maior e menor humidade do
solo, respetivamente (Greiffenhagen et al.,2006, Doerr et al., 2006).
Não sendo consensual a inclusão desta variável como elemento de caracterização
dos solos ou da fisiografia, optou-se no nosso caso por incluí-la como uma variável dos
solos, uma vez que, como se referiu, se trata de repelência dos solos à água (Doerr et al.,
2000).

160
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Existindo vários métodos possíveis para analisar o grau de hidrofobia dos solos,
destacam-se o Water Drop Penetration Time (WDPT) - tempo de penetração da gota de
água - e o Molarity of Ethanol Droplet (MED) - teste da molaridade com etanol - pelo
facto de se poderem realizar diretamente no campo. Optou-se pela utilização do
segundo (MED) em detrimento do primeiro teste (WDPT) porque este, embora
defendido por alguns autores pelo seu grau de precisão (Letey et al., 2000; Stoof, 2011),
é de execução muito morosa. O WDPT consiste na medição do tempo necessário à
infiltração de uma gota de água destilada (0,05ml) colocada na superfície do solo
(previamente limpo de manta morta). Quando o tempo de infiltração é inferior a cinco
segundos, o solo é considerado hidrófilo, ou seja, não hidrofóbico. Se o tempo de
infiltração é superior, utilizam-se então classes de tempo de infiltração estabelecidas por
cada autor, mas muitas vezes adaptadas de Ceballos et al. (1999) (Stoof, 2011; Ferreira,
2008). Como se verificou, em trabalhos realizados por outros autores, que o tempo de
infiltração podia chegar à dezena de horas (Stoof, 2011), optou-se no nosso caso por não
recorrer a este método. Um factor de perturbação identificado na utilização deste
método no campo, em situações de elevada temperatura do ar, é que é difícil distinguir a
contribuição da evaporação na extinção da gota de água colocada na superfície do solo.
No caso presente, a opção foi utilizar o método MED, que assenta no facto de o
etanol diminuir a tensão superficial das gotas de água, o que facilitará a sua penetração
no solo. Para o efeito são usadas diferentes diluições de etanol em água destilada (tabela
III.2). Rodriguez-Alleres at al. (2007b) referem que o método MED permitiu verificar
que nos solos florestais a repelência é muito forte. Referem ainda que, no caso do
pinhal, os valores de hidrofobia variam entre 6 e 8, com um valor médio de 6, sendo
mais forte nos locais de menor dimensão dos sedimentos.

Tabela III.2 – Determinação das concentrações necessárias para realização do teste MED (Molarity
of Ethanol Droplet
Volume de etanol (70%), (Ml) Volume de H2O destilada, (Ml) Concentração resultante (%)
1 69 1
1 22 3
2 26 5
3 22 8,5
5 22 13
8 23 18
10 19 24
20 19 36
Fonte: Doerr et al., 1998

161
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Feitas as diferentes diluições, e a respetiva identificação nos frascos conta-gotas


que as contêm, procede-se às análises no campo e à recolha e registo dos resultados,
usando como referência a tabela III.3 se se pretender um elevado grau de precisão, ou a
tabela III.4 quando se pretender uma análise mais generalista.

Tabela III.3 – Grau de hidrofobia dos solos para infiltração da gota de água
até 3 segundos

Etanol (%) Grau de Hidrofobia


1 Bastante hidrófilo
3 Hidrófilo
5 Ligeiramente hidrofóbico
8,5 Moderadamente hidrofóbico
13 Muito hidrofóbico
18
24 Fortemente hidrofóbico
36 Extremamente hidrofóbico
Fonte: Ceballos et al., 1999

Tabela III.4 – Grau de hidrofobia dos solos, para infiltração da gota de


água até 5 segundos

Etanol (%) Grau de Hidrofobia


0 Hidrófilo
≤5 Ligeiramente hidrofóbico
≤ 13 Bastante hidrofóbico
≤ 24 Fortemente hidrofóbico
≤ 36 Extremamente hidrofóbico
Fonte: Doerr et al., 1998

Antes de se iniciar o processo de análise deve limpar-se o solo de toda a manta-


morta (se existir) e depois selecionar uma área que, pelas suas características, seja
representativa da parcela. A área selecionada deve ter aproximadamente um metro
quadrado, e devem fazer-se dez leituras (anexo III.3). Cada leitura é feita sobre o tempo
de infiltração de 3 gotas de cada uma das concentrações, que são colocadas sobre o solo.
Posteriormente, o valor de hidrofobia do local será calculado através do valor médio das
dez leituras efetuadas em cada parcela (Matias, 2002).
No caso em estudo, os valores relativos à hidrofobia foram recolhidos em
outubro, antes do início do período das chuvas, quando ainda se registavam todas as

162
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

características de verão. Posteriormente, efetuaram-se novas recolhas em dezembro,


após um longo período de chuvas.

III.5.3.2 – Humidade do solo

A humidade do solo é influenciada por diversos factores, como a precipitação, a


temperatura, a textura do solo, a quantidade de matéria orgânica e o coberto vegetal,
entre outros (Dekker et al., 1999; Nunes, 2010).
A humidade do solo diminui com o aumento da temperatura e é menor em solos
arenosos, o que leva a um menor desenvolvimento vegetal por exemplo nas dunas
recentes (Tardif et al., 2007).
A capacidade que o solo possui para armazenar água e a sua capacidade de
drenagem são características muito importantes e que influenciam todo o ciclo
hidrológico (Santos et al., 2006, p.33). A capacidade máxima para a água traduz a
percentagem máxima de água que um solo pode conter e corresponde ao preenchimento
total do espaço intersticial. Por outro lado, a capacidade de campo refere-se à
quantidade máxima de água disponível para absorção pelas plantas, uma vez que reflete
a ocupação de todos os micróporos do solo com água (Santos et al., 2006).
A humidade do solo é reconhecida não só pela sua importância para os processos
ecológicos, sendo determinante na própria evolução do solo, mas também para as
plantas, na realização de fotossíntese, da respiração e da circulação de nutrientes (Band
et al., 2003, apud Nunes, 2007, p.59). Esta tem um papel fundamental para a fixação
das raízes, absorção de nutrientes e, consequentemente, para a composição florística de
determinado local. Isto porque a água é indispensável para a vida no solo, por participar
em grande parte das suas reações químicas (Varennes, 2003, p.48). É através da solução
do solo (água + nutrientes), que os nutrientes chegam às diversas partes das plantas
onde são necessários (Varennes, 2003, p.51). A humidade é portanto um elemento de
grande influência na fertilidade de um solo. Se houver nutrientes disponíveis mas não
existir água para promover a solução, estes não serão disponibilizados às plantas e sabe-
se ainda que os nutrientes absorvidos pela vegetação não são repostos na solução à
mesma velocidade com que são “consumidos” pelas plantas (Varennes, p.51). A
humidade é ainda importante na determinação do grau de hidrofobia do solo, pois
quanto maior o grau de humidade menor é o grau de hidrofobia (Dekker at al., 1999;
Hurraß e Schaumann, 2006)

163
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Segundo Nunes (2007) e Santos et al. (2006), o teor de humidade num


determinado local é influenciado por um conjunto de fatores, entre os quais se destacam
a precipitação e a temperatura antecedentes. Neste sentido, procurou-se selecionar um
período de tempo que representasse as diferentes situações hidrológicas registadas ao
longo do ano. Optou-se, por isso, por iniciar as recolhas de humidade do solo no mês de
outubro, início do ano hidrológico, anteriormente à estação das chuvas, e a partir daí
foram efetuadas leituras mensais consecutivas até ao mês de Junho, com uma leitura
adicional no mês de agosto.
Para fazer a recolha de dados sobre a humidade do solo foram selecionados 53
locais a partir da figura III.13 (a, b, c). Este número de parcelas foi selecionado em
função do equipamento disponível na altura, que permitia efetuar 53 registos. Para cada
uma das 53 parcelas selecionadas seria possível efetuar diversas leituras até um metro
de profundidade, através do Gopher Soil Moisture Profiling System.
Procedeu-se, por isso, à instalação de tubos de PVC nas parcelas selecionadas e
quando se efetuaram as primeiras leituras, os resultados destas revelaram-se incoerentes
com os testes feitos em amostras secas em estufa. Após várias fases de calibração do
equipamento nos solos das dunas, foi possível obter a informação que este equipamento
é de fácil calibração e de ótima precisão, mas apenas para solos com teores de matéria
orgânica superiores a 3%. Como a matéria orgânica em solos dunares raramente chega a
estes valores, teve que se procurar outra forma de determinação da humidade do solo.
Das entre as várias técnicas possíveis para determinação desta variável, optou-se
pelo TDR (Time Domain Reflectrometry), pois apresenta valores satisfatórios para
qualquer tipo de solo e permite a mensuração em tempo real, sendo de fácil
manuseamento (Lacerda et al., 2005).
O TDR é um método de medição de humidade rápido e pouco dispendioso e
apresenta características satisfatórias nas medições de humidade do solo, desde que não
se registem grandes variações na caracterização dos locais onde se efetuam as medições
ou nos perfis de medição (Greco e Guida, 2008)
A importância do conhecimento da quantidade de água no solo relaciona-se com a
“facilidade na dinâmica de solutos, nutrientes, calor…,” que vão posteriormente
influenciar a fertilidade. O recurso ao TDR Trime FM é uma das formas mais simples de
medir a humidade do solo (Lacerda et al., 2005).
A humidade do solo é superior nos níveis mais próximos da superfície
(Rodriguez-Alleres et al., 2007a). A variação da humidade do solo é mais acentuada à

164
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

superfície, reflexo das diferentes coberturas do solo. Em profundidade esta humidade


apresenta características mais homogéneas, o que fica a dever-se ao facto de esta
humidade ser resultado de períodos de precipitação mais longos (Coelho et al., 2000). A
profundidade de leituras de humidade do solo é a mesma para todos os elementos
relativos aos solos, ou seja 10, 20 e 30 cm de profundidade, já referida anteriormente.
Em cada perfil, e para cada profundidade, efetuaram-se 10 medições, sendo considerado
o valor médio destas (figura III.15). O procedimento foi o mesmo para cada
profundidade.

10cm

10cm
Perfil
do 10cm
solo

100cm

Leitura com o TDR Trime FM

Figura III.15 – Esquema representativo das leituras de humidade do solo efetuadas em cada perfil.

Mantiveram-se as 53 parcelas que já tinham sido selecionadas para as leituras de


humidade com o Gopher Soil Moisture Profiling System. Inicialmente pretendeu-se
fazer a medição da humidade a partir de outubro de 2008, início do ano hidrológico.
Mas como no mês de outubro e novembro não acorreram precipitações significativas,
estas leituras tiveram início apenas em dezembro, e prolongaram-se, mensalmente, até
abril, mês em que o resultado das leituras foi já praticamente nulo. Em agosto efetuou-
se nova leitura de humidade do solo, tendo-se dado por concluído o ciclo hidrológico,
pois os valores registados continuaram a ser muito baixos e em setembro não se registou
precipitação que fizesse prever uma subida.
A humidade do solo é superior na base da duna em detrimento do topo (Arbel et
al., 2005), pelo que alguns dos locais selecionados para efetuar leituras dizem respeito a
esta diferenciação topográfica.

165
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Quando o solo não consegue reter a água, esta rapidamente se infiltra até ao
subsolo, diminuindo a humidade na sua parte mais superficial, ou levando-a para níveis
próximos do estado inicial, porque não houve capacidade de retenção por parte do solo
ao longo do seu perfil. As plantas ficam rapidamente sem água a que possam recorrer.
Também os solos que têm uma elevada hidrofobia originam um elevado escorrimento
superficiais nas vertentes e consequentemente não disponibilizam água em
profundidade para o desenvolvimento das plantas (Boulet et al., 2002). A hidrofobia,
como já foi referido anteriormente, é maior em solos arenosos e menor quando a
humidade do solo aumenta (Huffman et al., 2001 apud MacDonald e Larsen, 2009).

II.5.4 – Análises laboratoriais

Todas as análises de solos foram realizadas no Laboratório de Solos da Escola


Superior Agrária de Coimbra, seguindo os procedimentos aí adotados para
quantificação das variáveis em causa.
Antes de serem trabalhadas, as amostras de solo são abertas e secas ao ar, ao
abrigo do sol, em ambiente aquecido ou numa estufa a uma temperatura inferior a 40ºC
(por um período aproximado de 48 horas). Depois de secas, devem passar-se por um
crivo (com aberturas de 1cm) onde se obtém a terra bruta. O material resultante deve ser
passado de novo por um crivo de 2mm de orifícios circulares. Neste trabalho somente se
efetuou esta segunda operação, uma vez que todas as amostras eram constituídas por
partículas de reduzidas dimensões e o principal objetivo era separar algumas impurezas
que estivessem incluídas na amostra e que seriam de rejeitar, nomeadamente a presença
de pequenos ramos e folhas (figura III.16).

Figura III.16 – Preparação das amostras no laboratório de solos

A fração inferior a 2 mm que passa através deste último crivo constitui a terra
fina, e é nela que se efetuam as determinações laboratoriais, tendo sempre em atenção a

166
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

homogeneidade da amostra. As análises realizadas tiveram como objectivo a


determinação de pH em água, e das concentrações de matéria orgânica (M.O.), fósforo
(P2O5) e potássio (K2O).

II.5.4.1 – pH

O pH corresponde à concentração de iões de hidrogénio (H+) que existe na


solução do solo. A medida desta concentração é dada pela escala de pH, que varia entre
0 e 14, distribuindo os solos por três tipos, ácido, neutro e alcalino, consoante o seu pH.
Os solos ácidos apresentam um valor de pH inferior a 6,5, o que resulta duma elevada
concentração de hidrogeniões (H+). Os solos básicos ou alcalinos apresentam valores de
pH entre 7,5 e 14, que resultam de uma elevada concentração de iões OH-, em
detrimento dum decréscimo de H+. Os solos com pH próximo de 7, normalmente entre
6,5 e 7,5 são classificados como solos neutros. Esta classificação corresponde à
utilizada no Laboratório de Solos da Escola Superior Agrária de Coimbra (tabela III.5).

Tabela III.5 – Classificação do solo segundo a variação do seu pH


P2O5 e K2O
M.O (%) pH (H2O) (mg/1000g)
MÁc –(Egner-Riehm)
Muito Ácido;
5 MB < 4.5 MÁc <Ác –26
Ácido; MB
1.5 B 4.5 - 5.5 Ác 26 - 50
Pác – Pouco Ácido; B
5.0 M 5.6 - 6.5 PÁc 51 - 100
N – Neutro; M
10.0 A 6.5 - 7.5 N 101 - 200 A
PAlc – Pouco Alcalino;
.1 MA 7.6 - 8.5 PAlc >200 MA
Alc – Alcalino;
8.6 - 9.5 Alc
MAlc – Muito Alcalino
> 9.5 MAlc
Fonte: Laboratório de Solos da Escola Superior Agrária de Coimbra

A água pura, a 25ºC, contém igual quantidade de iões H+ e OH-, o que


corresponde a um pH de 7. Quando na solução entram outros elementos, com
capacidade de conferir características ácidas ou básicas, o pH vai modificar-se.
O pH de um determinado solo não apresenta valores constantes, sendo frequentes
as oscilações devidas sobretudo ao teor de água no solo e à natureza dos sais em
solução.
O valor do pH é considerado a mais importante propriedade química do solo, pois
contribui para a determinação do comportamento das suas componentes químicas
intrínsecas, assim como para o grau de desenvolvimento dos seres vivos presentes. É
muito importante na influência que tem na disponibilidade de nutrientes do solo à

167
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

planta. O intervalo de 5,5 a 7,0 favorece a absorção de nutrientes (Santos et al., 2006;
Ashman e Puri, 2002). A influência do pH é também importante na
agregação/desagregação da matéria orgânica (Hurraß e Schaumann, 2006).
O valor do pH poderá influenciar indiretamente a hidrologia dos solos, pois esta
está relacionada com a existência de seres vivos, que por seu lado influenciam os
processos hidrológicos, através da retenção de água ou da criação de canais no solo que
permitem a sua passagem. Mesmo quando já se encontra em decomposição, a matéria
orgânica (húmus) é um eficiente retentor de humidade e contribui para a alteração do
pH do solo, através do fornecimento de iões de enxofre e fósforo, entre outros,
provocando um aumento da propriedade de acidez (Santos, 1991, p.37; Varennes,
2003).
O pH elevado pode influenciar as propriedades do solo, no sentido de aumentar a
sua capacidade de infiltração da água (Hurraß e Schaumann, 2006).
A determinação da reação do solo (pH) pelo método potenciométrico, utilizado
neste trabalho, consiste na determinação potenciométrica da concentração do
hidrogenião em água e/ou numa solução normal (1N) de cloreto de potássio (KCl),
utilizando uma suspensão da amostra (solo água e/ou solo solução) na proporção de
1:2,5.
O procedimento para a realização da análise é o seguinte: são pesados 10g de terra
para um copo de vidro de 50ml. Juntam-se 25ml de água desionizada ou da solução
normal de KCl. Deixa-se em contacto durante uma hora, agitando várias vezes com uma
vareta de vidro. Neste caso apenas se utilizará a água desionizada, uma vez que em
experiência anterior (Oliveira, 2005) se verificou que a correlação extremamente forte
entre os dois tipos de análise permite dispensar uma delas, por trazer resultados
redundantes. Calibra-se o potenciómetro com duas soluções padrão: de pH 4,00 e 7,00
ou 7,00 e 9,00, conforme o pH do solo. Neste trabalho utilizou-se a última formulação
uma vez que era esperado um pH tendencialmente básico devido à constituição inicial
do solo, de que fazem parte as conchas que conferem um caráter alcalino pela adição de
cálcio ao solo.
Antes de introduzir o elétrodo na suspensão esta é novamente agitada.
Continuando a agitação, a leitura é efetuada quando a agulha do potenciómetro
estabilizar, normalmente cerca de um minuto depois da introdução (figura III.17).

168
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Figura III.17 –Determinação do pH em H2O pelo método potenciométrico

5.4.2 – Matéria orgânica

A matéria orgânica é tida como uma componente química determinante para a


qualidade do solo que integra, e é indispensável na formação de agregados no solo e no
aumento da sua porosidade, através da ação das substâncias húmicas e de células
microbianas, contribuindo assim para o melhor desenvolvimento vegetal (Santos, 1991,
p.38; Bacchewar e Gajbhiye, 2011).
A cobertura das sementeiras com palhas de outras plantas ou com matos, para
evitar o seu soterramento por ação do vento, é em simultâneo um fornecedor de matéria
orgânica ao solo (Rei, 1924; Silva et al.,2006).
Os teores de matéria orgânica diminuem com a profundidade (Kummer et al.,
2010) embora nem sempre de forma uniforme para todos os locais, pois as correlações
registam valores baixos e não significativos (Rodriguez-Alleres et al.,2007,b).
O conhecimento da quantidade de matéria orgânica do solo, assim como de
algumas características específicas desta matéria orgânica, são importantes para
conhecer outras características que influenciam as propriedades do solo, nomeadamente
a hidrofobia e a capacidade de retenção de água (Hurraß e Schaumann, 2006, Jasinska
et al., 2006, Jarvis et al., 2008, Urbanek et al., 2007).
A matéria orgânica representa usualmente 1 a 6% da massa total da camada
arável dum solo mineral. Parte da matéria orgânica perde-se na forma de dióxido de
carbono. A que fica no solo aumenta a sua capacidade de retenção de água e nutrientes
e, ainda, fornece nutrientes como o azoto, o fósforo e o enxofre à medida que vai
sofrendo degradação (Varennes, 2003, p33; Santos, 1991, p.38). A quantidade de
matéria orgânica (assim como de argilas) pode também diminuir na presença de um
fogo, desaparecendo totalmente quando a temperatura atinge valores próximos dos
460ºC (Giovannini et al., 1988, apud Kutiel et al., 1995)

169
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O método mais utilizado para determinar a matéria orgânica total do solo consiste
em dosear o carbono orgânico total e multiplicar o valor que lhe corresponde por 1,724,
fator estabelecido admitindo que a matéria orgânica contém aproximadamente 58% de
carbono (Costa, 1999, apud Ferreira, 2008; ESAC, s/d).
Para determinação deste carbono orgânico recorrem-se normalmente a duas
formas, o método de Tinsley, ou a queima direta de carbono (Ibidem) (figura III. 18).

Figura III.18 – Processo de determinação da matéria orgânica por (a) queima direta de carbono e
pelo (b) método de Tinsley

Os métodos atrás referidos foram ambos utilizados neste trabalho. Tendo-se


verificado inicialmente que para as mesmas amostras os resultados eram praticamente
iguais, a utilização dos dois métodos permitiu a realização de mais análises de solo em
simultâneo.
O método de Tinsley consiste, basicamente, na oxidação da matéria orgânica por
digestão com um agente oxidante (dicromato de sódio 0,4M) durante duas horas em
ebulição moderada e constante. A titulação final do excesso do agente oxidante é feita
recorrendo a um agente redutor (sulfato de ferro-amoniacal ou sal de Mohr 0,4M) na
presença de um indicador de oxirredução (difenilamina) (ESAC, s/d). Pesam-se 0,5g da
amostra para um balão de Erlenmeyer de 250ml a que se vão adicionar 20ml de solução
de dicromato de sódio (medidos rigorosamente). Agita-se a solução durante um minuto.
Leva-se à placa de aquecimento a ferver moderadamente (aproximadamente a 30% de
capacidade da placa) durante duas horas para digestão com refrigeração simultânea.
Deixa-se arrefecer depois deste processo, após o que se adicionam 100ml de água

170
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

destilada (medidos com uma proveta) e 4ml do indicador. Titula-se em seguida o


excesso de dicromato com a solução de sal de Mohr. De início a solução apresenta uma
coloração castanho escura, passa para o azul-escuro acinzentado e, ao aproximar-se o
final da reação observa-se, uma coloração azul esverdeada, sendo o final da titulação
indicado pelo aparecimento da tonalidade verde esmeralda. Regista-se a quantidade de
sal de Mohr gasta na titulação.
Posteriormente passa-se ao cálculo da matéria orgânica, cujos resultados são
obtidos em termos percentuais (%):

Matéria Orgânica (M.O) = [ (Branco - titulação)/ Peso(0.5g) ]*0.12*1.724

Para o método de queima direta de carbono pretende-se obter a determinação do


carbono orgânico a partir da determinação do dióxido de carbono libertado pela
combustão de uma amostra de um grama de solo submetida a 1200ºC, efetuada num
aparelho específico, no nosso caso da marca Strohlein Instruments (Leco sc-144DR).
Neste método o teor de matéria orgânica é calculado diretamente através da
multiplicação do teor de carbono orgânico pelo fator 1,724 já anteriormente referido
(Costa, 1999 apud Ferreira, 2008). O aparelho utilizado efetua estes cálculos depois de
queimar e pesar o resultado dos detritos minerais resultantes. A diferença para o valor
inicial dar-nos-á a quantidade de carbono orgânico que se multiplica pelo fator
considerado. No final, estes resultados são projetados no ecrã associado ao referido
aparelho de medição.
A classificação de solos consoante o teor de matéria orgânica é o que se apresenta
na tabela III.6.
Tabela III.6 – Classificação dos solos segundo os resultados
obtidos para a matéria orgânica
P2O5 e K2O
M.O (%) pH (H2O) (mg/1000g)
MB – Muito Baixo; (Egner-Riehm)
< 0.5 MB < 4.5 MÁc < 26 MB
B – Baixo;
0.6 - 1.5 B 4.5 - 5.5 Ác 26 - 50 B
1.6 - 5.0 M M – Médio;
5.6 - 6.5 PÁc 51 - 100 M
5.1 - 10.0 A A – -Alto;
6.5 7.5 N 101 - 200 A
> 10.1 MA 7.6 - 8.5
MA – Muito Alto. PAlc >200 MA
8.6 - 9.5 Alc
> 9.5 MAlc
Fonte: Laboratório de Solos da Escola Superior Agrária de Coimbra

171
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

II.5.4.3 – Macronutrientes - P2O5 e K2O assimiláveis em Solos “ar livre”

O fósforo (P2O5) foi uma das variáveis do solo selecionadas porque se trata de um
elemento fundamental para o desenvolvimento vegetal. O fósforo é, depois do azoto, o
nutriente que mais limita o crescimento vegetal pois faz parte da estrutura de várias
moléculas orgânicas (nucleótidos, ácidos nucleicos e fosfolípidos). A sua carência no
solo é, por isso, associada a um menor desenvolvimento das plantas (Varennes, 2003).
A concentração de fósforo na solução do solo é sempre baixa, e o nutriente
aproxima-se das raízes por difusão. Mesmo quando se procede à fertilização de solos, o
que não é o caso deste trabalho, a quantidade disponível de fósforo depende da
capacidade de retenção que o solo apresenta para este elemento. A capacidade de
retenção de fósforo pelos solos depende de fatores como a quantidade e tipo de argila, o
pH e a quantidade de matéria orgânica, entre outros (Varennes, 2003, p.189). A maior
quantidade de fósforo em solução corresponde a valores de pH entre os 5,5 e os 7,5, e
fora deste intervalo, além de diminuir a quantidade deste elemento existente na solução,
também diminui a sua absorção pelas plantas (Varennes, 2003, p.190); o pH mais
favorável à disponibilidade deste nutriente pelos solos regista-se no intervalo entre 6 e 7
(Varennes, 2003, p.192). O fósforo também é retido pela matéria orgânica do solo,
sendo que a adsorção deste nutriente por ela acontece mais em condições de maior
acidez do solo. Como a matéria orgânica vai sendo constantemente decomposta, vai
também libertando este fósforo que adsorveu, disponibilizando-o assim para que faça
parte da solução do solo (Varennes, 2003, p.191).
O fósforo, o potássio e o enxofre (que não foi considerado no caso presente)
existentes na matriz são menos afetados pelo teor em água presente na solução do que
outros nutrientes (Varennes, 2003, p.51), daí que possam ser também disponibilizados
em condições de menor humidade do solo.
Quando as plantas e os organismos do solo consomem este nutriente através da
solução do solo, ela fica capaz de receber maior quantidade de fósforo do que aquela
que foi retirada (Varennes, p.191), o que nem sempre acontece devido à não existência
de elevadas quantidades do nutriente. Se, por outro lado, se acrescentar excessiva
quantidade de fósforo pela introdução de fertilizantes, corre-se o risco de perda para a
matriz em vez de inclusão na solução do solo.
Hellemaa (1998, p.3) considera que, nas dunas, a quantidade de fósforo é menor
quando o pH também é mais baixo, ou seja, em solos ácidos.

172
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Carneiro, Siqueira e Davide (2004), apud Homma (s/d), concluem, nos seus
resultados de recuperação de áreas florestais, que as menores concentrações de fósforo
coincidem com a maior taxa de sobrevivência de plantas instaladas. Também a
colonização micorrízica é mais acentuada nas menores concentrações de P2O5.
O potássio (K2O) é o terceiro macronutriente cuja falta mais limita o
desenvolvimento vegetal, sendo o catião mais abundante nas plantas. Não fazendo parte
da constituição de moléculas orgânicas, como acontece com o fósforo, não deixa no
entanto de ter um papel fundamental no desenvolvimento vegetal. Nomeadamente,
condiciona o potencial osmótico das células e regula a abertura e fecho dos estomas,
condicionando assim a tolerância das plantas ao frio, às geadas e às doenças. Existe em
pequenas quantidades nos solos ácidos devido à lixiviação que pode ocorrer (Varennes,
2003).
O método de uso mais comum para a determinação do teor dos solos em P2O5 e
de K2O é o método Egner-Riehm, pormenorizadamente apresentado em LQARS
(1977), e foi o aplicado neste trabalho (figura III.19).

K2O

P2O5

Figura III.19 – Processo de determinação de K2O e P2O5

Para determinação da concentração de P2O5 e de K2O pesam-se 2g de solo para um


frasco de polietileno de 250ml, aos quais se adicionam 40ml de solução extrativa. Cada
série de amostras deve conter um branco e outra de padrão. O branco consiste somente
em 40ml de solução extrativa e o padrão consiste na realização de uma amostra
recorrendo a 2g de um solo padrão, ou seja onde já é conhecido o resultado da análise.

173
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

As amostras são depois agitadas a uma velocidade constante, inferior a 200rpm num
agitador horizontal. No final são filtradas para balões de Erlenmeyer de 250ml.
Para a determinação do teor de P2O5 pipetam-se 5ml do filtrado para balões
Erlenmeyer de 25ml ao qual se vão adicionar 20ml de Solução Diária de Ensaio (25ml
de Molibdato de Amónio + 10ml de Ácido Ascórbico, adicionando depois água
destilada até perfazer 100ml). Aguarda-se cerca de 30 minutos para que se dê a reação
(que se traduz no aparecimento da cor azul) e posteriormente passa-se à leitura em
transmitâncias a 65 nanómetros num espectrofotómetro visível (fotocolorímetro Pye
Unicam). Os resultados são obtidos em mg/1000g.
Para determinação do teor de K2O faz-se uma leitura diretamente no filtrado em
espectrofotómetro de absorção atómica. Os resultados também são apresentados em
mg/1000g mas, neste caso, tem que se multiplicar por 20 o resultado registado no
espectrofotómetro:
K2O (Egner-Riehm) = Leitura Direta* 20 (mg/1000g)

Para classificação dos solos relativamente aos resultados obtidos nas análises pode
recorrer-se à tabela III.7, utilizada pelo Laboratório de Solos da Escola Superior
Agrária de Coimbra.

Tabela III.7 – Classificação dos solos segundo


os resultados obtidos para o P2O5 e K2O
P2O5 e K2O
M.O (%) pH (H2O) (mg/1000g)
(Egner-Riehm)
MB < 4.5 MÁc < 26 MB MB – Muito Baixo;
.5 B 4.5 - 5.5 Ác 26 - 50 B B – Baixo;
.0 M 5.6 - 6.5 PÁc 51 - 100 M M – Médio;
0.0 A 6.5 - 7.5 N 101 - 200 A A – Alto;
MA 7.6 - 8.5 PAlc >200 MA MA – Muito Alto.
8.6 - 9.5 Alc
> 9.5 MAlc
Fonte: Laboratório de Solos da Escola Superior
Agrária de Coimbra

A metodologia selecionada possibilitou obter os resultados que permitiram efetuar


a análise estatística, recorrendo ao programa SPSS Statistics 18, que se apresenta no
capítulo seguinte.
Na realização desta análise estatística utilizou-se metodologia já referida no
capítulo I, ponto 1.1.3 – Metodologia Geral, nas páginas 12 e 13 e, referida, também,
seguidamente no capítulo IV, na página 177.

174
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

CAPÍTULO IV
ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

IV.1 COBERTO ARBÓREO: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO E CORRELAÇÕES


ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 178
IV.1.1 Altura média 178
IV.1.2 Diâmetro à altura do peito 179
IV.1.3 Altura dominante 181
IV.1.4 Densidade 182
IV.1.5 Relação entre os diferentes elementos do coberto arbóreo (correlações e regressão linear
múltipla) 183

IV.2 FISIOGRAFIA: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO E CORRELAÇÕES


ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 185
IV.2.1 Altitude 186
IV.2.2 Diferença para a altitude mínima do transecto 187
IV.2.3 Profundidade da toalha freática 189
IV.2.4 Distância ao Mar 190
IV.2.5 Exposição 191
IV.2.6 Relação entre os diferentes elementos do grupo fisiografia
(correlações e regressão linear múltipla) 193

IV.3 SUBCOBERTO VEGETAL: TENDÊNCIA CENTRAL E DISPERSÃO E CORRELAÇÕES


ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 197
IV 3.1 Riqueza específica 197
IV 3.2 Percentagem da espécie mais representativa do subcoberto vegetal 198
IV 3.3 Percentagem de subcoberto total 200
IV 3.4 Percentagem de subcoberto arbustivo 201
IV 3.5 Altura média do subcoberto arbustivo 202
IV 3.6 Percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo 204
IV 3.7 Altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo 205
IV 3.8 Percentagem de área coberta por acácias 206
IV 3.9 Percentagem de musgos 207
IV 3.10 Percentagem de líquenes 209
IV 3.11 Volume aparente de subcoberto vegetal 211
IV.3.12 Relação entre os diferentes elementos do subcoberto vegetal 212

IV.4 ELEMENTOS DO SOLO: TENDÊNCIA CENTRAL E DISPERSÃO E CORRELAÇÕES


ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS 216
IV.4.1 pH do solo 217
IV.4.2 Matéria orgânica 218
IV.4.3 Fósforo 221
IV.4.4 Potássio 223
IV.4.5 Hidrofobia 225
IV.4.6 Humidade do solo 227
IV.4.7 Relação entre os diferentes elementos de solos nas suas diferentes profundidades
(correlações e regressão linear múltipla) 234

IV. 5 RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE O COBERTO ARBÓREO E OS RESTANTES


GRUPOS DE VARIÁVEIS ANALISADOS 242
IV.5.1 Relação entre o coberto arbóreo e o subcoberto vegetal 242
IV.5.2 Relação entre o coberto arbóreo e a fisiografia 246
IV.5.3 Relação entre o coberto arbóreo e os elementos de solos 251
IV.5.4 Relação entre coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia (correlações e regressão
linear múltipla) 258
IV.5.5 Análise de componentes principais e de clusters sobre as variáveis dos diferentes grupos
estudados 261
IV.5.5.1 Coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia 262
IV.5.5.2 Coberto arbóreo e solos 265
IV.5.5.3 Coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos 267

IV. 6 RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE O SUBCOBERTO VEGETAL E OS


RESTANTES GRUPOS DE VARIÁVEIS 271
IV.6.1 Relação entre o subcoberto vegetal e a fisiografia 271
IV.6.2 Relação entre o subcoberto vegetal e os solos 273
IV.6.3 Relação entre o subcoberto, fisiografia e solos em simultâneo 277

IV.7 RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE FISIOGRAFIA E SOLOS 278

175
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Para utilização neste trabalho, foram registados dados referentes a 177, 47, 396,
389, 35, 78, 279, 289 e 1399 pinheiros nos transectos 1 a 9, respetivamente, o que
perfez uma amostra com um total de 3089 unidades. Os pinheiros medidos naqueles 9
transectos foram registados em 38, 8, 44, 44, 15, 23, 59, 57 e 169 parcelas,
respetivamente, o que perfaz um total de 480 parcelas. Destas 480 parcelas foram
encontrados pinheiros em 457, cujos registos serão utilizados para análise no que diz
respeito aos elementos de coberto e subcoberto vegetal (arbóreo e
arbustivo/subarbustivo/herbáceo) e para os elementos fisiográficos. Nas restantes
parcelas (23) não existia coberto arbóreo mas apenas coberto arbustivo e herbáceo.
Como variáveis dependentes consideram-se as informações recolhidas
relativamente ao coberto arbóreo e que são a altura média (H, m), a altura dominante
(HDom, m), o diâmetro à altura do peito (DAP, m) e a densidade (Dens) do coberto
arbóreo de cada parcela estudada.
Como variáveis independentes consideraram-se três grupos: um que inclui as
variáveis que dizem respeito à fisiografia do local, outro onde constam os elementos de
solo analisados e outro grande grupo que diz respeito ao subcoberto vegetal. Este foi
tido em linha de conta uma vez que poderia vir a constituir-se como um indicador de
algumas das características dos elementos fisiográficos e dos solos. No grupo de
variáveis relativas à fisiografia incluiu-se a altitude (Alt, m) de cada parcela retirada do
MDT (Modelo Digital de Terreno), a diferença para a altitude mínima do transecto
(ΔmAlt, m), a profundidade da toalha freática (PrTFreat, m), a exposição da parcela
(Exp) e a distância ao mar (DistMar, m). No grupo de variáveis relativo aos solos,
foram considerados o pH, a matéria orgânica (M.O.), o óxido de potássio (K2O), o
pentóxido de fósforo (P2O5), a hidrofobia (RepOut e RepDz) e a humidade do solo
(Hum). Nas variáveis incluídas no grupo com a designação de subcoberto vegetal, foram
consideradas a riqueza específica (RiqEsp), a percentagem da espécie mais
representativa do subcoberto vegetal (%EspAbSbc), a percentagem de subcoberto total
(%SbcTotl), a percentagem de subcoberto arbustivo (%SbcArbs), a altura média do
subcoberto arbustivo (HSbcArbs), a percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo
(%SbcHer), a altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo (HSbcHerb), a
percentagem de acácias (%Ac), a percentagem de líquenes (%Liq), a percentagem de
musgos (%Musgo) e o volume aparente do subcoberto vegetal (VlApSbcVeg).
A primeira aproximação ao conjunto de dados foi feita com o recurso a técnicas
de análise estatística descritiva (de tendência central e dispersão: mínimo, máximo,

176
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

média, moda, mediana e desvio padrão), e a técnicas de análise univariada, bivariada e


multivariada (Vilelas, 2009). Na análise bivariada de dados, segundo Santos (2006), a
correlação é um bom método para utilizar e que oferece resultados bastante
satisfatórios. A análise multivariada (Pillar, 2011; Jiaju, 1998 apud Sato et al., 2011, p.
696) é considerada um método eficaz na investigação de ciências florestais, em vários
ramos, nomeadamente no desenvolvimento de culturas. Relativamente a cada um dos
três grupos de variáveis independentes considerados, é apresentada uma análise
descritiva de tendência central e de dispersão para cada uma das variáveis que os
integram.
Para cada variável é ainda efetuada uma análise de significância para semelhança/
diferença existentes entre variâncias das diferentes parcelas que compõem a amostra
(testes Anova one way, Vilelas, 2009). Esta análise apresenta resultados significativos
para a totalidade da amostra e, por isso, passa-se depois à realização dos testes post-hoc
e Tukey para as variáveis quantitativas (Scheffé, para o caso das variáveis ordinais),
onde se avaliam as diferenças significativas entre transectos. O teste Tukey é o mais
indicado para comparar valores médios entre amostras de igual (ou muito semelhante)
dimensão, quando a igualdade das variâncias não é rejeitada. Este teste gera intervalos
de confiança com menor amplitude, portanto, mais precisos. Quando é efetuada a
comparação de grupos (amostras) estes entram alternadamente e são testadas todas as
combinações possíveis de comparação entre grupos até esgotar as possibilidades. No
caso em que só existem dois grupos (amostras), primeiro compara-se A com B, e depois
B com A. Irá obter-se um mesmo valor mas com diferença de sinal (+ ou -) consoante o
valor de média que é considerado primeiro para o cálculo da diferença de médias, como
se pode observar nas tabelas que se apresentam ao longo deste capítulo (Harper et al.,
2000; Urbanek et al., 2007; Vilelas, 2009). Posteriormente estabelecem-se, para cada
um dos 3 grandes grupos, as correlações de Pearson e faz-se a análise de regressão
linear entre as diferentes variáveis que os compõem (Field, 2005).
Após esta primeira fase de análise pormenorizada dentro de cada grupo de
variáveis, passa-se a uma análise conjunta recorrendo novamente à análise de regressão
linear múltipla, complementada com a análise de componentes principais e de clusters,
com o objetivo de pormenorizar o mais possível as possíveis relações existentes entre as
variáveis consideradas (Field, 2005; Grobe, 2005; Mota, 2007). A abordagem
quantitativa no estudo de comunidades vegetais culmina quase sempre com a análise
multivariada, onde os dados são tratados de forma simultânea e em grupo (Mota, 2007).

177
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.1 – COBERTO ARBÓREO: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO E


CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS
AS VARIÁVEIS CONSIDERADAS
IV.1.1 – Altura média

Na tabela IV.1 estão registados os dados referentes às alturas médias (H) das
árvores dos transectos. Com exceção dos transectos 2 e 4, em todos os outros aparecem
parcelas sem pinheiros. Nos referidos transectos 2 e 4 verificaram-se como mínimas as
alturas de 12,3 e 5,5m, respetivamente.
Os valores máximos da altura foram superiores a 20m nos transectos 5, 6, 7 e 9,
com um máximo de 25,7m no transecto 6. Os valores máximos registados nos
transectos 5, 6 e 9 foram obtidos em locais muito próximos uns dos outros, e com
características fisiográficas semelhantes (altitude e exposição entre outras). A média das
alturas médias das parcelas não apresenta, na generalidade, valores muito elevados.
Mas são de destacar os transectos 2, 5 e 6, sendo que este último é mesmo o mais
homogéneo, com um desvio padrão bastante reduzido. O transecto 2 segue-se nesta
homogeneidade de alturas médias elevadas, e o transecto 5, embora com uma altura
média elevada, não apresenta homogeneidade de valores, pois também regista valores
de alturas médias muito baixas em algumas parcelas, uma vez que o seu desvio padrão
é elevado.
Os transectos 1, 5 e 7 são os que têm maior número de parcelas sem qualquer
pinheiro (12, 4 e 5, respetivamente), enquanto os 3 e 4, embora não tenham presentes
parcelas sem pinheiros, têm uma maior frequência de parcelas com pinheiros com
alturas médias relativamente baixas, entre os 8-9m. O transecto que apresenta maior
mediana relativamente à altura média é o 6, que já era o que apresentava a maior altura
média. A menor mediana verifica-se no transecto 3, com valores semelhantes aos
valores da altura média, a rondarem os 7m. Os transectos mais homogéneos são o 2, o 4
e o 6, onde o desvio padrão apresenta valores mais reduzidos.
Tabela IV.1 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altura média, n=457
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=38) 2,7 17,3 12,9 15,5 13,6 3,6
Transecto 2 (n=8) 12,3 19,0 14,7 - 14,2 2,1
Transecto 3 (n=44) 3,1 14,0 7,6 10,3 7,1 3,0
Transecto 4 (n=44) 5,5 15,2 9,2 11,2 8,5 2,5
Transecto 5 (n=15) 1,8 23,5 14,9 17,0 15,8 5,8
Transecto 6 (n=23) 18,4 25,7 21,8 22,0 21,8 1,9
Transecto 7 (n=59) 2,8 22,3 13,2 11,8 12,9 5,7
Transecto 8 (n=57) 6,1 19,1 11,3 7,8 10,7 3,3
Transecto 9 (n=169) 3,8 23,5 11,7 16,0 11,0 4,0
Total (n=457) 1,8 25,7 12,0 15,5 11,5 4,6
178
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A aplicação do teste Anova one way permite verificar que há diferenças


significativas entre os valores registados para a altura média nos diferentes transectos,
uma vez que apresentam um p-value inferior a 0,05 (0,000) e, por isso, realizaram-se
também testes de Tukey, que permitem especificar as localizações das referidas
diferenças pelos diferentes transectos.
Os resultados do teste de Tukey para a altura média (tabela IV.2) confirmam a
existência de diferenças significativas entre os diferentes transectos, destacando-se o
transecto 6 numa situação de diferenças significativas com todos os outros, e os
transectos 3 e 4 que também registam diferenças significativas com quase todos os
restantes transectos. Isto leva a concluir que nenhum transecto é representativo do total
da área de estudo, no que diz respeito à altura média, uma vez que todos registam
diferenças entre si.

Tabela IV.2 – Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do coberto arbóreo,
n=457
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -5,539* -3,735* 8,816*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -7,150* -5,526* 7,025*
2
Sig. 0,000 0,003 0,000
Mean Dif. 5,539* 7,150* 7,296* 14,175* 5,664* 3,701* 4,137*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 3,735* 5,526* 5,672* 12,551* 4,040* 2,513*
4
Sig. 0,000 0,003 0,000 0,000 0,000 0,002
Mean Dif. -7,296* -5,672* 6,879* -3,596* -3,159*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,017 0,029
Mean Dif. -8,816* -7,025* -14,175* -12,561* -6,879* -8,511* -10,474* -10,038*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -5,664* -4,040* 8,511*
7
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -3,701* 3,596* 10,474*
8
Sig. 0,000 0,017 0,000
Mean Dif. -4,137* -2,513* 3,159* 10,038*
9
Sig. 0,000 0,002 0,029 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.1.2. – Diâmetro à altura do peito

No que respeita ao diâmetro à altura do peito (DAP, m, tabela IV.3), distinguem-


se dois grupos de transectos. Um primeiro grupo, com valores máximos acima de 0,40m
que integra os transectos 1, 5, 6, 7 e 9, e um segundo grupo que reúne os que
apresentam valores máximos abaixo de 0,40m, e que inclui os transectos 2, 3, 4 e 8.
Deve também destacar-se que, em termos de valores médios, os transectos 3, 4 e 8

179
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

registam valores abaixo dos 0,20m, enquanto os restantes se situam todos no intervalo
que vai dos 0,20 até aos 0,37m, inclusive.

Tabela IV.3 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao diâmetro à altura do peito, n=457
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=38) 0,05 0,42 0,25 0,26 0,26 0,08
Transecto 2 (n=8) 0,18 0,29 0,23 0,19 0,24 0,04
Transecto 3 (n=44) 0,05 0,28 0,13 0,10 0,11 0,06
Transecto 4 (n=44) 0,08 0,26 0,16 0,13 0,15 0,04
Transecto 5 (n=15) 0,05 0,59 0,31 0,33 0,33 0,13
Transecto 6 (n=23) 0,30 0,46 0,37 0,33 0,37 0,05
Transecto 7 (n=59) 0,06 0,46 0,23 0,19 0,22 0,07
Transecto 8 (n=57) 0,08 0,34 0,19 0,15 0,17 0,06
Transecto 9 (n=169) 0,05 0,55 0,20 0,13 0,17 0,10
Total (n=457) 0,05 0,59 0,21 0,13 0,19 0,10

O teste de Anova one way permitiu concluir que também há diferenças


significativas entre os transectos no que se refere aos valores de diâmetro médio à
altura do peito, uma vez que o p-value apresenta valores inferiores a 0,05 (0,000). Os
testes de Tukey aplicados refletem as localizações dessas diferenças na tabela IV.4.
A análise da tabela dos resultados do teste Tukey para o diâmetro à altura do peito
confirma que há diferenças significativas entre os transectos relativamente a este
elemento. O transecto 2 será o que apresenta menos diferenças significativas em relação
aos restantes e, mais uma vez, são os transectos 3 e 6 aqueles que apresentam uma
maior diferença em comparação com os outros. Também aqui não haveria nenhum
transecto que pudesse ser representativo da área de estudo no que diz respeito a esta
variável, pois o mais próximo de ser semelhante a todos é o transecto 2, que mesmo
assim regista diferenças significativas relativamente aos transectos 3 e 6.

Tabela IV.4 – Resultados do teste de Tukey relativamente ao diâmetro à altura do peito, n=457
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -,11986* -,09122* ,11714* -,06386* -,04942*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,005 0,02
Mean Dif. -,10091* ,13609*
2
Sig. 0,033 0,002
Mean Dif. ,11986* ,10091* ,18028* ,23700* ,09837* ,05600* ,07044*
3
Sig. 0,000 0,033 0,000 0,000 0,000 0,017 0,000
Mean Dif. ,09122* ,15165* ,20836* ,06973*
4
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,001
Mean Dif. -,18028* -,15165* -,08192* -,12429* -,10985*
5
Sig. 0,000 0,000 0,010 0,000 0,000
Mean Dif. -,11714* -,13609* -,23700* -,20836* -,13863* -,18100* -,16656*
6
Sig. 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -,09837* -,06973* ,08192* ,13863*
7
Sig. 0,000 0,001 0,010 0,000
Mean Dif. ,06386* -,05600* ,12429* ,18100*
8
Sig. 0,005 0,017 0,000 0,000
Mean Dif. ,04942* -,07044* ,10985* ,16656*
9
Sig. 0,020 0,000 0,000 0,000
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

180
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.1.3 – Altura dominante

A altura dominante (HDom, tabela IV.5) é considerada na literatura florestal


(Tomé, 2007, p.198; Páscoa e Salazar, 2001a) como a variável mais utilizada para
caracterizar o potencial do desenvolvimento arbóreo da espécie considerada, e é a partir
dela que se definem as classes de qualidade das estações. Registaram-se valores
máximos entre os 17 e os 25,7m. Os valores médios registados localizam-se no
intervalo dos 9,8 aos 16,6m, com exceção do transecto 6 que se salienta por apresentar
um valor médio destacado de 22,4m.
Os desvios padrão mais acentuados verificam-se nos transectos 5 e 7, cujas
parcelas têm desenvolvimentos muito distintos, aparentemente em função da maior ou
menor aproximação ao mar. Os transectos 2 e 6 são os que traduzem uma maior
aproximação entre as parcelas que os compõem, apresentando por isso os desvios
padrão mais reduzidos.

Tabela IV.5 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altura dominante, n=457


Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=38) 2,9 19,0 13,9 14,5 14,5 3,6
Transecto 2 (n=8) 14,0 19,5 16,6 17,5 16,8 1,7
Transecto 3 (n=44) 5,0 19,0 9,8 6,5 9,0 3,4
Transecto 4 (n=44) 6,0 17,0 11,0 10,5 10,5 2,9
Transecto 5 (n=15) 2,0 24,0 15,6 17,0 17,0 5,7
Transecto 6 (n=23) 19,0 25,7 22,4 22,0 22,0 1,8
Transecto 7 (n=59) 3,0 23,0 15,0 11,0 14,5 4,2
Transecto 8 (n=57) 7,0 21,5 13,2 12,0 12,8 3,4
Transecto 9 (n=169) 5,0 23,5 13,6 12,5 5,1 3,7
Total (n=457) 2,0 25,7 13,7 17,0 13,5 4,4

A realização do teste Anova one way permitiu também aqui concluir que há
diferenças significativas entre os transectos no que se refere aos valores registados para
esta variável, uma vez que o valor de p-value é inferior a 0,05 (0,000). A aplicação do
teste de Tukey permitiu pormenorizar essas diferenças (tabela IV.6).
Para esta variável, os testes de Tukey (tabela IV.6) refletem as diferenças
significativas encontradas entre a maioria dos transectos. Destacam-se os transectos 3, 4
e 6, com diferenças relativamente a quase todos os outros. Serão, portanto, aqueles que
registam maiores diferenças na totalidade da amostra estudada.

181
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.6 – Resultados do teste de Tukey relativamente à altura dominante, n=457


Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -4,088* -2,941* 8,482*
1
Sig. 0,000 0,009 0,000
Mean Dif. -6,733* -5,585* 5,838*
2
Sig. 0,000 0,003 0,004
Mean Dif. 4,088* 6,733* 5,795* 12,570* 5,204 3,258* 3,812*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 2,941 5,585* 4,648* 11,423* 4,057* 2,665*
4
Sig. 0,009 0,003 0,001 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -5,795* -4,648* 6,775*
5
Sig. 0,000 0,001 0,000
Mean Dif. -8,482* -5,838* -12,570* -11,423* -6,775* -7,366* -9,312* -8,758*
6
Sig. 0,000 0,004 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -5,204* -4,057* 7,366*
7
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -3,258* 9,312*
8
Sig. 0,000 0,000
Mean Dif. -3,812* -2,665* 8,758
9
Sig. 0,000 0,001 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.1.4 – Densidade

A densidade (Dens, tabela IV.7) apresenta os maiores valores médios nos


transectos 3, 4 e 9, com valores de 898, 884 e 830 Pb/ha, respetivamente. Nos transectos
5 e 6 aparecem os valores com 219 e 339 Pb/ha, respetivamente. Estes são os transectos
onde o desenvolvimento arbóreo é maior.
Em termos de homogeneidade das densidades, são os transectos 5 e 6 que se
destacam. Os baixos desvios-padrão destes transectos, para esta variável, permitem
concluir acerca da semelhança entre as parcelas que os compõem.

Tabela IV.7 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à densidade, n=457


Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=38) 100 1500 461 400 400 297
Transecto 2 (n=8) 300 1200 588 400 500 290
Transecto 3 (n=44) 200 2100 898 600 900 461
Transecto 4 (n=44) 300 1300 884 1000 900 249
Transecto 5 (n=15) 100 400 219 200 200 98
Transecto 6 (n=23) 200 600 339 300 300 120
Transecto 7 (n=59) 100 900 473 400 400 194
Transecto 8 (n=57) 100 900 507 500 500 153
Transecto 9 (n=169) 100 3500 830 800 700 608
Total (n=457) 100 3500 674 400 600 471

A aplicação do teste Anova one way permitiu, mais uma vez, verificar a existência
de diferenças significativas nos valores registados para esta variável, uma vez que o
valor de p-value é também inferior a 0,05 (0,000).

182
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A posterior aplicação do teste de Tukey (tabela IV.8) permitiu mais uma vez
destacar a diferença significativa dos transectos 3, 4 e 9 relativamente aos restantes.

Tabela IV.8 – Resultados do teste de Tukey relativamente à densidade, n=457


Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 437,201* 423,565* 369,059*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. -437,201* -678,977* -558,597* -424,846* -390,710*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -423,565* -665,341* -544,960* -411,210* -377,073*
4
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 678,977* 665,341* 610,836*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 558,597* 544,96* 490,455*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 424,846* 411,210* 356,704*
7
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 390,71* 377,073* 322,568*
8
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -369,059* -610,836* -490,455* -356,704* -322,568*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.1.5 – Relação entre os diferentes elementos do coberto arbóreo (correlação


e regressão linear múltipla)

Na tentativa de estabelecer relações entre os diferentes elementos registados para


o coberto arbóreo, procedeu-se à elaboração de uma tabela de correlações de Pearson
(tabela IV.9) entre as variáveis. Esta tabela mostra a forte relação entre a altura média e
as restantes variáveis do coberto.
A variável selecionada para caracterizar o potencial do crescimento do coberto
arbóreo deveria ser, segundo as correlações obtidas, a altura média do coberto arbóreo.
Mas como na quase totalidade dos estudos florestais a variável utilizada para representar
esse potencial é a altura dominante (Tomé, 2007, p. 202), e como as correlações desta
variável com as restantes não variam muito da anterior, optou-se também no nosso caso
pela escolha da altura dominante para caracterizar o coberto arbóreo. A altura
dominante passará assim a ser considerada a nossa variável dependente na análise
multivariada que se vai fazer mais adiante neste trabalho.

183
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.9 – Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para os


elementos do coberto arbóreo, n=457
DAP H HDom Dens
Correl. 1,000 ,937** ,843** -,697**
DAP
Sig. . ,000 ,000 ,000
Correl. ,937** 1 ,931** -,564**
H
Sig. ,000 . ,000 ,000
Correl. ,843** ,931** 1 -,456**
HDom
Sig. ,000 ,000 . ,000
Correl. -,697** -,564** -,456** 1
Dens
Sig. ,000 ,000 ,000 .
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Pearson Correlation. Sig. (2-tailed)

A expressão do desenvolvimento do coberto arbóreo, obtida a partir das variáveis


intrínsecas, é reflexo dos resultados da análise de regressão linear múltipla efetuada para
as variáveis do coberto arbóreo (tabela IV.10). Quando se efetuou uma regressão inicial,
o DAP, talvez por razões de colinearidade (Field, 2005), apresenta resultados
enviesados, pelo que foi abandonado em detrimento da densidade e da altura média.
Verifica-se que os resultados da regressão para a altura dominante refletem
relações significativas positivas com a altura média e com a densidade, com um adj.
r2=0,901 e com b=+0,952; b=+0,001 (sig.0,000; 0,000; 0,005, respetivamente, e
n=458).

Tabela IV.10 – Regressão linear múltipla entre a altura dominante e as restantes variáveis de coberto
arbóreo
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,949a 0,901 0,901 1,39257
a . Pre di ctors : (Cons ta nt), De ns i da de a rbóre a de ca da pa rce l a , Al tura mé di a dos pi nhe i ros e m
ca da pa rce l a ,
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 1,667 0,272 6,133 0

Altura média dos pinheiros


0,952 0,016 0,945 58,801 0
em cada parcela
Densidade arbórea de cada
0,001 0 0,1 5,924 0
parcela
a. Dependent Variable: Altura dominante

184
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A nível de análise geral, relativamente às variáveis de coberto arbóreo, destacam-


se os transectos 5 e 6 com uma maior homogeneidade interna e também com um maior
desenvolvimento global. O transecto 6 destaca-se pelas diferenças que regista
relativamente aos restantes, o que não é de estranhar, uma vez que é um transecto muito
homogéneo com um coberto arbóreo bastante desenvolvido, o que não se passa com os
restantes.
Os transectos 3 e 4 também se destacam pelas diferenças registadas com os
restantes, e são transectos que, em alguns segmentos, têm pinheiros bastante atrofiados
no que diz respeito ao seu desenvolvimento.
Verificou-se que a variação da densidade tem uma influência inversa na variação
das restantes variáveis deste grupo (DAP, altura média e altura dominante), conforme
verificado noutros trabalhos (Oliveira, 2005; Tomé, 2007). Uma explicação para esta
influência inversa é encontrada pela competição promovida pelas altas densidades
(resultantes da sementeira), competição pela luz, pela água e pelos nutrientes, com
consequências no crescimento em diâmetro e em altura.

IV.2 – FISIOGRAFIA: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO E


CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS AS
VARIÁVEIS CONSIDERADAS

A fisiografia designa, no caso presente, um conjunto de variáveis que se podem


registar relativamente a diferentes fatores geográficos. Neste grupo incluiu-se a altitude,
a profundidade da toalha freática, a distância ao mar e a exposição de cada parcela.
Estas variáveis foram registadas diretamente no campo. Considerou-se pertinente criar
mais uma variável indireta no âmbito deste grupo, designada por diferença para a
altitude mínima do transecto. O objetivo da sua criação foi o estabelecimento de uma
nova variável altimétrica que refletisse a ligação interna da altimetria de cada parcela ao
transecto em que se insere (standardização), o que não acontece com a altitude. Esta
variável foi obtida subtraindo ao valor de altitude de cada parcela o valor mínimo de
altitude do transecto que integra.

185
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.2.1 – Altitude

A altitude (Alt) das parcelas apresenta muitas oscilações, uma vez que se está em
local de dunas, e existem parcelas representativas de áreas de cristas dunares, de
depressões interdunares e de flancos (ver tabela IV.11). Embora os valores sejam
sempre baixos, não é de desprezar algumas diferenças de altitude global de dunas do
Sul para o Norte do campo dunar, assim como de Este para Oeste. Estes situam-se entre
um mínimo de 5,8m e um máximo de 31,3m, ambos no mesmo transecto 9. Este
transecto, pela sua grande extensão, atravessa uma área que vai desde a Barrinha de
Mira, onde a altitude é mais baixa (5,76m), até ao limite Sul do concelho, onde as dunas
adquirem a sua máxima expressão de altitude (31,33m). Os transectos 5 e 6 são os que
apresentam altitudes mais baixas e também os mais homogéneos no que diz respeito a
esta variável, com desvios padrão muito baixos. Os desvios padrão mais elevados
registam-se nos transectos 1, 7 e 9, traduzindo assim as suas heterogeneidades em
termos de altitude. Os transectos 1 e 7 têm uma orientação Este-Oeste, entre o litoral, a
Oeste e a estrada florestal, a Este, vindo a altitude a aumentar neste sentido. O transecto
9, conforme já se referiu, atravessa uma grande parte do campo dunar, de Sul para Norte
com uma diminuição sensível da altitude neste sentido. Os transectos 3, 4, e 8 têm uma
localização muito próxima entre si e a sua caracterização é também muito semelhante
no que diz respeito à altitude. Estes últimos localizam-se na parte interior do campo de
dunas, um espaço muito homogéneo no que diz respeito a altitudes.

Tabela IV.11 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à altitude de cada parcela, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 7,7 20,0 10,9 10,0 9,4 3,6
Transecto 2 (n=8) 17,1 23,0 19,5 - 19,1 2,2
Transecto 3 (n=45) 14,1 24,9 18,6 - 19,0 2,6
Transecto 4 (n=44) 12,3 22,9 17,1 - 17,3 2,7
Transecto 5 (n=19) 6,0 8,9 6,6 - 6,4 0,7
Transecto 6 (n=24) 7,0 8,4 7,9 8,4 7,9 0,4
Transecto 7 (n=64) 6,3 20,9 13,6 19,0 14,2 4,7
Transecto 8 (n=58) 14,5 24,7 18,4 16,0 18,6 2,2
Transecto 9 (n=172) 5,8 31,3 16,5 6,0 18,3 5,9
Total (n=480) 5,8 31,3 15,3 6,0 17,0 5,5

A aplicação do teste Anova one way aos dados permite concluir acerca da
existência de diferenças significativas entre transectos no que diz respeito à altitude,
uma vez que o p-value apresenta valor inferior a 0,05 (0,000).
Os testes de Tukey realizados para pormenorizar essas diferenças (tabela IV.12),
mostram que existem diferenças de altitude significativas entre todos os transectos. Os

186
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

transectos 1, 5, 6 e 7 são os que apresentam maiores diferenças relativamente aos


restantes, mas a mancha espelhada na tabela reflete as grandes diferenças globais
registadas ao nível desta variável.
Os transectos 2, 3, 4, 8 e 9 são os que ainda registam algumas semelhanças de
variação entre si.

Tabela IV.12 – Resultados do teste de Tukey relativamente à altitude de cada transecto, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 8,582* 7,677* 6,191* -4,334* 2,726* 7,462* 5,601*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,009 0,034 0,000 0,000
Mean Dif. -8,582* -12,916* -11,629* -5,855*
2
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,011
Mean Dif. -7,677* -12,011* -10,725* -4,951*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -6,191* -10,524* -9,238* -3,464*
4
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,002
Mean Dif. 4,334* 12,916* 12,011* 10,524* 7,060* 11,796* 9,935*
5
Sig. 0,009 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 11,629* 10,725* 9,238* 5,774* 10,509* 8,648*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -2,726* 5,855* 4,951* 3,464* -7,060* -5,774* 4,736* 2,875*
7
Sig. 0,034 0,011 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -7,462* -11,796* -10,509* -4,736*
8
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -5,601* -9,935* -8,648* -2,875*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.2.2 – Diferença para a altitude mínima do transecto

A diferença para a altitude mínima do transecto (ΔmAlt) é obtida pelo valor


resultante da subtração do mínimo de altitude do transecto em que a parcela se insere e
a altitude de cada uma das parcelas. O objetivo da sua criação é estabelecer uma nova
variável altimétrica, standardizada, que reflita a ligação interna da altimetria de cada
parcela ao transecto em que se insere.

ΔmAlt = Alt da parcela – Alt mínima do transecto onde se insere a parcela

Se considerarmos a diferença para a altitude mínima do transecto, os valores


absolutos da variável descem significativamente e, em termos médios, não apresentam
diferenças significativas de proporcionalidade relativamente à variável altitude (tabela
IV.13). O mínimo não terá qualquer sentido de análise, uma vez que corresponde à
parcela de menor altitude.

187
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.13 – Parâmetros estatísticos analisados quanto à diferença para a altitude mínima do
transecto, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 0,0 12,3 3,2 2,3 1,7 3,6
Transecto 2 (n=8) 0,0 5,9 2,3 - 2,0 2,0
Transecto 3 (n=45) 0,0 8,8 4,6 - 4,8 2,2
Transecto 4 (n=44) 0,0 10,6 4,7 - 4,9 2,7
Transecto 5 (n=19) 0,0 2,9 0,6 - 0,4 0,7
Transecto 6 (n=24) 0,0 1,4 0,8 1,4 0,9 0,4
Transecto 7 (n=64) 0,0 14,7 7,4 12,8 7,9 4,7
Transecto 8 (n=58) 0,0 10,2 3,9 1,5 4,1 2,2
Transecto 9 (n=172) 0,0 25,6 10,8 0,2 12,6 5,9
Total (n=480) 0,0 25,7 11,4 0,0 11,1 5,2

A aplicação do teste Anova one way aos dados em análise permitiu também
concluir que há algumas diferenças significativas entre transectos quanto à diferença
para a altitude mínima do transecto, uma vez que alguns p-value apresentam, mais uma
vez, valores inferiores a 0,05 (0,000).
Esta variável não regista no entanto um tão elevado número de diferenças
significativas entre transectos como a altitude. Excetuando os transectos 7 e 9, que
registam diferenças significativas relativamente a todos os outros, os restantes são muito
homogéneos entre si. Os transectos 1, 2, 3 e 4 não registam diferenças significativas
entre si, pelo que se pode concluir que se localizam num espaço muito homogéneo no
que diz respeito a esta variável (tabela IV.14), o que não se verificava com a altitude,
onde o transecto 1 apresentava diferenças significativas relativamente à quase totalidade
dos transectos.

Tabela IV.14 – Resultados do teste de Tukey relativamente à diferença para a altitude mínima do
transecto, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 4,177* 7,556
1
Sig. 0,000 0,000
Mean Dif. 5,072 8,451
2
Sig. 0,048 0,000
Mean Dif. -4,033* -3,777* 2,767* 6,146*
3
Sig. 0,020 0,017 0,029 0,000
Mean Dif. -4,141* -3,884* 2,659* 6,039*
4
Sig. 0,015 0,013 0,046 0,000
Mean Dif. 4,033* 4,141* 6,800 10,179*
5
Sig. 0,020 0,015 0,000 0,000
Mean Dif. 3,777* 3,884* 6,544* 9,923*
6
Sig. 0,017 0,013 0,000 0,000
Mean Dif. -4,177* -5,072* -2,767* -2,659* -6,800* -6,544* -3,514* 3,379*
7
Sig. 0,000 0,048 0,029 0,046 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 3,514* 6,893*
8
Sig. 0,000 0,000
Mean Dif. -7,556* -8451* -6,146* -6,039* -10,179* -9,923* -3,379* -6,893*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

188
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.2.3 – Profundidade da toalha freática

A profundidade da toalha freática (PrTFreat) sofre grandes oscilações ao longo


dos locais analisados (tabela IV.15). Não se tendo observado à superfície em nenhum
dos locais de estudo, registou, no entanto, valores muito próximos desta nos transectos 6
e 9, onde os mínimos de profundidade corresponderam a 30 cm. Os valores de
profundidade máxima registaram-se nos transectos 2 e 9, em locais de crista de duna. Os
transectos 5 e 6 são aqueles que apresentam valores mais homogéneos. Os transectos 2 e
9 apresentam os maiores valores de profundidade de toalha freática. Mais uma vez, a
grande extensão deste último transecto pode justificar a grande oscilação de valores para
esta variável. O transecto 6, por seu lado, regista valores com uma grande
homogeneidade em todo o seu percurso. A referida homogeneidade pode referir-se
também, embora não de forma tão acentuada, ao transecto 5, cujos valores também se
apresentaram sempre muito próximo da superfície.

Tabela IV.15 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à profundidade da toalha freática


obtida a partir do perfil topográfico e de leitura de campo, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 0,4 9,7 3,1 - 1,6 2,9
Transecto 2 (n=8) 8,6 11,4 9,7 8,6 9,5 1,0
Transecto 3 (n=45) 1,0 8,9 4,9 4,9 4,9 1,8
Transecto 4 (n=44) 0,5 7,1 3,4 3,4 3,4 1,8
Transecto 5 (n=19) 0,8 3,6 1,4 - 1,2 0,6
Transecto 6 (n=24) 0,3 1,1 0,5 0,3 0,4 0,3
Transecto 7 (n=64) 0,7 9,5 4,2 0,9 2,7 3,1
Transecto 8 (n=58) 0,8 9,8 3,7 3,1 3,3 1,8
Transecto 9 (n=172) 0,3 13,9 5,1 0,9 5,0 3,3
Total (n=480) 0,3 13,9 4,2 0,3 3,6 3,0

A aplicação do teste Anova one way aos dados permitiu mais uma vez concluir
que há diferenças significativas entre os transectos no que respeita aos valores desta
variável, uma vez que o p-value assume valores inferiores a 0,05 (0,000).
O teste de Tukey (tabela IV.16) confirma as diferenças registadas entre os
transectos 2, 6 e 9 com os outros. Os transectos 4 e 7 são aqueles que têm maiores
afinidades com os restantes. No entanto, a mancha observável na tabela permite
concluir que os transectos são bastante diferentes entre si no que diz respeito a esta
variável.

189
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.16 – Resultados do teste de Tukey relativamente à profundidade da toalha freática,


n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 6,577* 1,743* -2,615* 1,976*
1
Sig. 0,000 0,450 0,003 0,000
Mean Dif. -6,577* -4,834* -6,319* -8,316* -9,192* -5475* -5,965* -4,601*
2
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -1743* 4,834* -3,482* -4,359*
3
Sig. 0,450 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 6,319* -2,872* 1,719*
4
Sig. 0,000 0,001 0,004
Mean Dif. 8,316* 3,482 2,841* 2,351* 3,715*
5
Sig. 0,000 0,000 0,001 0,023 0,000
Mean Dif. 2,615* 9,192* 4,359* 2,872 3,717* 3,227* 4,591
6
Sig. 0,003 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 5,475* -2,841* -3,717*
7
Sig. 0,000 0,001 0,000
Mean Dif. 5,965* -2,351* -3,227* 1,364
8
Sig. 0,000 0,023 0,000 0,020
Mean Dif. -1,976* 4,601* 1,719* -3,715* -4,591* -1,364*
9
Sig. 0,000 0,000 0,004 0,000 0,000 0,020

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.2.4 – Distância ao mar

A distância ao mar (DistMar) de cada parcela corresponde à distância obtida em


linha reta do centro da parcela até ao mar, e foi obtida a partir do modelo digital de
terreno (tabela IV.17). Devido à sua localização e reduzida dimensão, o transecto 5 é o
que apresenta valores médios mais baixos, o que traduz uma maior proximidade ao mar
na totalidade das suas parcelas. Seguem-se-lhe os transectos 1, 7 e 6 que também
possuem muitas das suas parcelas próximas do mar. Estes são os quatro transectos
localizados mais a oeste da área estudada. O transecto 8 é aquele que se localiza, na sua
totalidade, mais afastado do mar.

Tabela IV.17 – Parâmetros estatísticos analisados para a distância ao mar de cada parcela, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 199 2379 1274 - 1256 663
Transecto 2 (n=8) 2512 2859 2690 - 2689 119
Transecto 3 (n=45) 2550 3447 3001 - 2998 265
Transecto 4 (n=44) 2523 4742 3622 - 3622 665
Transecto 5 (n=19) 239 1153 678 - 673 274
Transecto 6 (n=24) 1227 2341 1779 - 1771 343
Transecto 7 (n=64) 153 3142 1667 - 1682 888
Transecto 8 (n=58) 3283 5975 4613 - 4605 800
Transecto 9 (n=172) 774 3646 2282 3564 2331 836
Total (n=480) 153 5975 2494 2550 2550 1272

190
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A aplicação do teste Anova one way permitiu concluir, também aqui, que há
diferenças significativas no que diz respeito à distância das parcelas ao mar uma vez
que o p-value inferior a 0,05 (0,000) é muito frequente.
A distância ao mar é, das variáveis fisiográficas, aquela que apresenta maiores
diferenças significativas entre os diferentes transectos. Todos eles registam diferenças
com mais de 50% dos restantes, sendo que os transectos 4 e 8 apresentam mesmo
diferenças relativamente a todos os outros (tabela IV.18).

Tabela IV.18 – Resultados do teste de Tukey relativamente à distancia ao mar de cada parcela,
n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 1415,647* 1727,222* 2348,181* 3338,694* 1008185*
1
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -1415,647* 932,543* -2012,099* -1022,422* 1923,047*
2
Sig. 0,000 0,027 0,000 0,007 0,000
Mean Dif. -1727,222* 620,959* -2323,674* -1221,95* -1333,997* 1611,472* -719,037*
3
Sig. 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -2348,181* -932,543* -620,959* -2944,633* -1842,909* -1954,956* 990,513* -1339,996*
4
Sig. 0,000 0,027 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 2012,099* 2323,674* 2944,633* 1101,724* 989,677* 3935,146* 1604,634*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 1221,95* 1842,909* -1101,724* 2833,422* 502,913*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,044
Mean Dif. 1022,422* 1333,997* 1954,956* -989,677* 2945,469* 614,959*
7
Sig. 0,007 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -3338,694* -1923,047* -1611,472* -990,513* -3935,146* -2833,422* -2945,469* -2330,509*
8
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -1008185* 719,037* 1339,996* -1604,634* -502,913* -614,959* 2330,509*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,044 0,000 0,000
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.2.5 – Exposição

Na tabela IV.19 apresenta-se uma análise para a variável exposição (Exp)


diferente das anteriores, uma vez que se trata de uma variável categórica, ou qualitativa
nominal. Neste tipo de variável os valores não têm uma relação de ordem entre si
(Vilelas, 2009). No entanto, neste trabalho, utilizando como referência Páscoa et al.
(1982), foi possível atribuir uma ordem aos diferentes tipos de exposição registados.
A exposição, resultante da orientação das vertentes, diz respeito à relação que se
estabelece entre a topografia e a radiação solar que atinge o solo, que é mais acentuada
nas vertentes Sul, no Hemisfério Norte. Assim as vertentes voltadas a Sul recebem mais
energia em relação às vertentes Norte, tendo como consequência uma maior

191
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

evapotranspiração potencial, menor humidade, e portanto uma menor aptidão para o


desenvolvimento vegetal (Corrêa, 2008, p.1,4).
Tomaram-se como base as exposições que potenciam um melhor desenvolvimento
vegetal e atribuiu-se-lhe um valor quantitativo (Exp.1). A partir desta, estabeleceram-se
mais 6 tipos de exposição, com potencial de crescimento progressivamente reduzido
(ver conceitos e definição de categoria de exposição no ponto III.3.5). Mesmo assim, só
fará sentido efetuar uma análise de frequências para este tipo de variável e não proceder
a análises de tendência central ou de dispersão (Vilelas, 2009).
Conforme se pode concluir pela análise à tabela IV.19, os transectos 5 e 6
localizam-se exclusivamente na grande depressão interdunar (Exp.1 - sem exposição).
No transecto 1, também predomina a grande depressão interdunar. O transectos 2, 4 e 8
aparecem com uma grande percentagem de parcelas localizados essencialmente na base
das dunas interiores (Exp2). No transecto 3 a exposição a Norte e a Sul são as
predominantes, o que se justifica pelo facto de este transecto apresentar uma orientação
transversal à das dunas, que é WSW-ENE. A exposição a Este aparece com registos
muito baixos, o que se fica a dever à já referida orientação predominante das dunas. De
destacar é também a homogeneidade do transecto 9 no que diz respeito à equidade na
distribuição das parcelas pelas diferentes exposições.

Tabela IV.19 – Parâmetros estatísticos analisados para a exposição de cada parcela (Exp), n=480
Frequência relativas (%)
Transecto Exp 1 Exp 2 Exp 3 Exp 4 Exp 5 Exp 6 Exp 7
Transecto 1 (n=46) 52 17 0 9 15 0 7
Transecto 2 (n=8) 0 75 0 13 0 0 13
Transecto 3 (n=45) 0 13 36 0 0 31 20
Transecto 4 (n=44) 0 41 0 21 14 0 25
Transecto 5 (n=19) 100 0 0 0 0 0 0
Transecto 6 (n=24) 100 0 0 0 0 0 0
Transecto 7 (n=64) 11 28 22 0 6 9 23
Transecto 8 (n=58) 0 66 17 2 3 2 10
Transecto 9 (n=172) 20 20 20 0 1 20 20
Total (n=480) 23 27 15 3 4 12 17
Frequências absolutas
Transecto Exp 1 Exp 2 Exp 3 Exp 4 Exp 5 Exp 6 Exp 7
Transecto 1 (n=46) 24 8 0 4 7 0 3
Transecto 2 (n=8) 0 6 0 1 0 0 1
Transecto 3 (n=45) 0 6 16 0 0 14 9
Transecto 4 (n=44) 0 18 0 9 66 0 11
Transecto 5 (n=19) 19 0 0 0 0 0 0
Transecto 6 (n=24) 24 0 0 0 0 0 0
Transecto 7 (n=64) 7 18 14 0 4 6 15
Transecto 8 (n=58) 0 38 10 1 2 1 6
Transecto 9 (n=172) 34 34 34 0 2 34 34
Total (n=480) 108 128 74 15 21 55 79
1 - Sem exposição (grande depressão interdunar); 2 - Sem exposição (base da duna, no campo de dunas interiores);
3 - Flanco norte; 4 - Flanco este; 5 - Flanco oeste; 6 - Flanco sul; 7 - Crista de duna (adaptado de Páscoa et al., 1982)

192
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Estabelecendo o teste Anova one way para os dados analisados, verificou-se que
há diferenças significativas no que diz respeito à exposição uma vez que em várias
situações os valores de p-value são inferiores a 0,05 (0,000) .
Os testes de Tukey realizados para esta variável apresentam valores muitíssimo
semelhantes aos de Scheffé (teste post-hoc para variáveis categóricas) (Vilelas, 2009),
pelo que foram selecionados os primeiros, para mais facilmente se poderem comparar as
tabelas com as outras variáveis. Os transectos 5 e 6 são os que apresentam maiores
diferenças significativas dos restantes (tabela IV.20). Estes resultados têm como
explicação a localização geográfica destes transectos, que são os dois que se localizam
exclusivamente na grande depressão interdunar.

Tabela IV.20 – Resultados do teste Tukey relativamente à exposição de cada parcela (Exp,
m), n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 2,165* 1,633* 1,409* 1,379*
1
Sig. 0,000 0,004 0,010 0,001
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. -2,165* -3,600* -3,600* -1,703*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,001
Mean Dif. -1,633* -3,068* -3,068*
4
Sig. 0,004 0,000 0,000
Mean Dif. 3,600* 3,068* 2,844* 1,897* 2,814*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,012 0,000
Mean Dif. 3,600* 3,068* 2,844* 1,897* 2,814*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,004 0,000
Mean Dif. -1,409* -2,844* -2,844*
7
Sig. 0,010 0,000 0,000
Mean Dif. 1,703* -1,897* -1,897*
8
Sig. 0,001 0,012 0,004
Mean Dif. -1,379* -2,814* -2,814*
9
Sig. 0,001 0,000 0,000
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.2.6 – Relação entre os diferentes elementos do grupo fisiografia


(correlação e regressão linear múltipla)

Depois da análise pormenorizada que se realizou para cada variável do grupo


designado por fisiografia, procedeu-se à sua análise conjunta, no sentido de tentar
identificar uma variável deste grupo que o possa representar na análise geral que se
pretende.

193
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Após a análise das correlações entre as diferentes variáveis deste grupo, verificou-
se que estão todas altamente correlacionadas (p-value <0,01, Pearson corr.) (tabela.
IV.21). As correlações estabelecidas entre as diferentes variáveis do grupo com a
altitude (exposição = 0,707; distância ao mar = 0,662; profundidade da toalha freática
= 0,806 e diferença para a altitude mínima do transecto = 0,797), levou a que a
variável altitude (Alt) fosse a selecionada para o representar, uma vez que é a que
estabelece relações mais fortes com as restantes (Vilelas, 2009).

Tabela IV.21 – Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para os elementos


fisiográficos, n=480

Diferença para a
Profundidade
altitude mínima do Altitude Exposição DistanciaMar
Toalha Freática
transecto

Profundidade Correl. 1 ,807** ,806** ,715** ,411**


Toalha Freática . 0 0 0 0
Sig.
Diferença para a ,807** 1 ,797** ,696** ,357**
Correl.
altitude mínima do
transecto Sig. 0 . 0 0 0
Correl. ,806** ,797** 1 ,707** ,662**
Altitude
Sig. 0 0 . 0 0

Correl. ,715** ,696** ,707** 1 ,387**


Exposição
Sig. 0 0 0 . 0

Correl. ,411** ,357** ,662** ,387** 1


Distancia Mar
Sig. 0 0 0 0 .
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).

Escolhida esta variável para representar este grupo, procedeu-se ao


estabelecimento de uma regressão linear múltipla entre ela e as outras variáveis da
fisiografia.
A análise dos resultados obtidos (tabela IV.22), com um adjusted r2=0,875,
apresenta uma relação positiva entre a altitude e a profundidade da toalha freática, a
diferença para o mínimo de altitude, a exposição e a distância ao mar (com b1=+0,538,
b2=+ 0,359, b3=+0,263 e b4=+ 0,002; Sig. 0,000 para todos os casos).

194
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.22 – Regressão linear multivariada entre a altitude e os restantes elementos fisiográficos
(PrfToalhFreat, Exp, DistMar, ΔmAlt)
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,936a 0,876 0,875 1,929
a . Predi ctors : (Cons ta nt), Di s tMa r, ΔmAl t, Exp, PrTFrea t
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 4,779 0,219 21,854 0,000
PrTFreat 0,538 0,050 0,293 10,686 0,000
ΔmAlt 0,359 0,026 0,364 13,910 0,000
Exp 0,263 0,052 0,115 5,451 0,000
DistMar 0,002 0,000 0,462 27,325 0,000
a. Dependent Variable: Altitude

Não fará sentido, em termos fisiográficos, pretender que a altitude seja função da
profundidade da toalha freática, bem como da diferença para altitude mínima do
transecto, obtida a partir de uma diferença de altitudes.
Em face disto, procedeu-se a uma nova análise, que se intui ser mais relevante em
termos fisiográficos, onde se procura explicar a variação de profundidade da toalha
freática em função das restantes variáveis consideradas neste grupo (Alt, ΔmAlt, Exp,
DistMar).
A profundidade da toalha freática influencia a humidade do solo, que é uma
variável determinante do desenvolvimento vegetal (Veihmeyer, 1950; Kowalczkyk,
1967; Pelczar, 1980) e que será analisada no grupo dos solos. O resultado da análise de
regressão linear múltipla realizada com os valores das variáveis deste grupo
explicitando como variável dependente a profundidade da toalha freática reflete uma
relação significativa e também positiva com todas as variáveis do grupo fisiografia. A
saber: com a altitude (b1= +0,360; Sig. 0,000), com a diferença para o mínimo de
altitude do transecto (b2= +0,138; Sig. 0,000), com a exposição (b3= +0,153; Sig.
0,000) e com a distância ao mar (b4= +0,001; Sig. 0,000), com um adjusted r2 de 0,772.
A tabela IV.23 regista os resultados da análise de regressão efetuada para os
valores apresentados anteriormente.

195
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.23 – Regressão linear multivariada entre a profundidade da toalha freática e os restantes
elementos fisiográficos (Alt, Ex, DistMar, ΔmAlt)
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,850a 0,722 0,72 1,57663
a . Predi ctors : (Cons ta nt), Di s tMa r, ΔmAl t, Exp, Al t
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) -1,478 0,244 -6,059 0,000
Alt 0,360 0,034 0,661 10,686 0,000
ΔmAlt 0,138 0,024 0,258 5,725 0,000
Exp 0,153 0,043 0,114 3,544 0,000
DistMar -0,001 0,000 -0,222 -5,652 0,000
a. Dependent Variable: Profundidade da toalha freática

Sendo a diferença para a altitude mínima do transecto uma variável obtida pela
diferença entre os valores de altitude de cada parcela e o valor de altitude mínima do
seu transecto, explorou-se também a relação entre esta variável (dependente) e as
variáveis DistMar, Alt, ΔmAlt e Exp. A relação resultante é a que se apresenta em
seguida na tabela IV.24. A exposição não é significativa na predição desta variável, uma
vez que apresenta valores de Sig. inferiores a 0,05 (Sig. =0,409). Ela é significativa e
negativa com a distância ao mar (b1= -0,002; Sig. 0,000), e significativa e positiva com
a altitude (b2= 0,807; Sig. 0,000) e a profundidade da toalha freática (b3= 0,466; Sig.
0,000). Um coeficiente maior para a altitude (b2) pode ser resultado do facto de esta
variável participar no cálculo da diferença para o mínimo de altitude do transecto.

Tabela IV.24 – Regressão linear multivariada entre a diferença para a altitude mínima do
transecto e os restantes elementos fisiográficos (Alt, Prof ToalhFreat, Exp e DistMar)
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,855a 0,73 0,728 2,89332

a . Pre di ctors : (Cons ta nt), Di s tMa r, Al t, Exp, PrfToa l hFre a t


Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) -3,774 0,431 -8,754 0,000

Exp 0,066 0,080 0,026 0,826 0,409

DistMar -0,002 0,000 -0,381 -10,571 0,000

Alt 0,807 0,058 0,795 13,910 0,000

PrfToalhFreat 0,466 0,081 0,250 5,725 0,000

a. Dependent Variable: Posição relativamente ao mínimo de altitude de cada transecto

196
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Conclui-se, como um resumo para esta análise, que as variáveis do grupo


fisiografia estabelecem entre si algumas relações significativas, nomeadamente as
relações positivas entre a altitude e a distância ao mar, e entre a profundidade da toalha
freática, a altitude (Braun et al., 2004) e a diferença para o mínimo de altitude do
transecto.
A distância ao mar é a variável que apresenta correlações mais baixas com os
restantes elementos da fisiografia.

IV.3 – SUBCOBERTO VEGETAL: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO


E CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS AS
VARIÁVEIS CONSIDERADAS

O subcoberto vegetal é um grupo que integra 11 variáveis, 10 das quais cuja


informação se recolheu diretamente no trabalho de campo, e a décima primeira foi
obtida indiretamente a partir de outras das 10 variáveis - o volume aparente.
As variáveis consideradas neste grupo são tratadas individualmente, apresentando-
se seguidamente os resultados.

IV.3.1 – Riqueza específica

A riqueza específica (RiqEsp) diz respeito ao número de espécies vegetais


identificadas no subcoberto e, neste caso, reflete o grau de fitodiversidade existente nas
áreas de dunas (Almeida, 2000; Martins, 1999). O grau de fitodiversidade registado na
área de estudo é bastante baixo, na medida em que apenas 9 diferentes espécies foram
identificadas no total das 480 parcelas instaladas (tabela IV.25). O transecto 6 é aquele
que regista uma menor riqueza específica, o que poderá ficar a dever-se à elevada
quantidade de acácias aí existente. O transecto 4 é aquele que apresenta maior
fitodiversidade.

Tabela IV.25 – Parâmetros estatísticos analisados para a riqueza específica do subcoberto vegetal,
n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 1 9 4 4 4 2
Transecto 2 (n=8) 1 5 3 3 3 1
Transecto 3 (n=45) 2 6 4 4 4 1
Transecto 4 (n=44) 1 8 6 5 6 1
Transecto 5 (n=19) 2 7 5 5 5 1
Transecto 6 (n=24) 1 4 2 2 2 1
Transecto 7 (n=64) 1 6 3 4 3 2
Transecto 8 (n=58) 2 7 4 4 4 1
Transecto 9 (n=172) 1 7 4 3 4 1
Total (n=480) 1 9 4 4 4 2

197
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A aplicação do teste Anova one way permite concluir acerca da existência de


diferenças significativas entre transectos relativamente à riqueza específica, com valores
de p-value inferiores a 0,05 (0,000).
A realização do teste de Tukey confirma as diferenças significativas nos diferentes
transectos no que diz respeito a esta variável (tabela IV.26). Os transectos 4, 6, 7 e 8 são
os que estabelecem mais diferenças significativas relativamente aos restantes.
O transecto 6 distingue-se dos restantes pela baixa riqueza específica nas suas
parcelas, seguindo-se o transecto 7, que também tem um baixo grau de fitodiversidade.
O transecto 8 parece ser mais homogéneo, com os valores da moda, média e mediana a
coincidirem. Estes serão os motivos que levarão estes transectos a oferecerem maiores
diferenças significativas relativamente aos restantes espaços em estudo.

Tabela IV.26 – Resultados do teste de Tukey relativamente à riqueza específica do subcoberto


vegetal, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 1,508* -2,132* -0,924*
1
Sig. 0,000 0,000 0,031
Mean Dif. 3,057* 2,007* 1,841*
2
Sig. 0,000 0,032 0,025
Mean Dif. 1,726* -1,914*
3
Sig. 0,000 0,000
Mean Dif. -1,508* -3,057* -1,726* -3,640* -2,432* -1,216* -2,083*
4
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000
Mean Dif. -2,007* -2,590* -1,382*
5
Sig. 0,032 0,000 0,010
Mean Dif. 2,132* 1,914* 3,640* 2,590* 1,208* 2,424* 1,557*
6
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,017 0,000 0,000
Mean Dif. 0,924* 2,432* 1,382* -1,208* 1,216*
7
Sig. 0,031 0,000 0,010 0,017 0,000
Mean Dif. -1,841* 1,216* -2,424* -1,216* -0,867*
8
Sig. 0,025 0,001 0,000 0,000 0,003
Mean Dif. 2,083* -1,557* 0,867*
9
Sig. 0,000 0,000 0,003

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.3.2 – Percentagem da espécie mais representativa do subcoberto vegetal

A percentagem da espécie mais representativa do subcoberto vegetal


(%EspAbSbc) é uma variável que se apresenta em termos de grau de ocupação da
espécie vegetal dominante em cada parcela (tabela IV.27). A vegetação dominante
corresponde, na maioria das parcelas, aos musgos, aos líquenes ou às acácias. Nos
transectos 1 e 7 predomina a Acacia longifolia Willd.

198
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Todas as parcelas instaladas têm um subcoberto vegetal presente, daí que nesta
variável se tenha um valor total de 480 recolhas, coincidente com o número total de
parcelas instaladas.

Tabela IV.27 – Parâmetros estatísticos analisados para a espécie mais representativa do subcoberto
vegetal, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 3 85 50 60 60 25
Transecto 2 (n=8) 15 60 39 35 35 15
Transecto 3 (n=45) 3 85 36 35 35 24
Transecto 4 (n=44) 15 85 40 35 35 20
Transecto 5 (n=19) 3 85 48 35 35 23
Transecto 6 (n=24) 3 85 44 35 35 21
Transecto 7 (n=64) 3 85 26 35 15 22
Transecto 8 (n=58) 3 85 26 15 25 14
Transecto 9 (n=172) 3 85 43 35 35 24
Total (n=480) 3 85 38 35 35 24

A aplicação do teste Anova one way a estes dados permitiu concluir que há
diferenças significativas entre os transectos no que respeita à percentagem da espécie
mais representativa do subcoberto vegetal, uma vez que também têm valores de p-value
inferiores a 0,05 (0,000).
A tabela IV.28, apresenta os resultados do teste de Tukey, e mostra que os
transectos 7 e 8 são os que apresentam mais diferenças significativas relativamente aos
restantes. Estes dois transectos apresentam valores médios mais baixos do que os
restantes. O transecto 1 também regista diferenças significativas com o transecto 3. No
transecto 1 existem muitas parcelas com uma grande cobertura de acácias, o que não se
verifica no transecto 3.

Tabela IV.28 – Resultados do teste Tukey relativamente à percentagem ocupada pela espécie mais
representativa do subcoberto vegetal em cada parcela, n= 480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -14,662* -24,633* -24,109*
1
Sig. 0,047 0,000 0,000
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 14,662*
3
Sig. 0,047
Mean Dif. -14,892* -14,368*
4
Sig. 0,020 0,036
Mean Dif. -22,490* -21,966*
5
Sig. 0,004 0,007
Mean Dif. -18,438* -17,914*
6
Sig. 0,017 0,028
Mean Dif. 24,633* 14,892* 22,490* 18,438* 16,972*
7
Sig. 0,000 0,020 0,004 0,017 0,000
Mean Dif. 24,109* 14,368* 21,966* 17,914* 16,449*
8
Sig. 0,000 0,036 0,007 0,028 0,000
Mean Dif. -16,972* -16,449*
9
Sig. 0,000 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

199
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.3.3 - Percentagem de subcoberto total

A percentagem de subcoberto total (%SbcTotl), tabela IV.29, engloba as


quantidades, em termos percentuais, de todas as áreas cobertas pelas espécies do
subcoberto arbustivo, subarbustivo e herbáceo, existentes em cada parcela. É no
transecto 5 que se encontra uma maior cobertura das parcelas, com uma média de 75%
de cobertura do total das parcelas, enquanto os transectos 3 e 7 são aqueles em que se
registaram os menores valores, com 48 e 45%, respetivamente. A maior percentagem de
cobertura registada no transecto 5 pode ficar a dever-se ao facto de ser um dos locais
que a população agrícola primeiro deixou de utilizar para a recolha dos matos. Os
transectos 2, 5 e 8 parecem ser os mais homogéneos no que diz respeito à quantidade de
subcoberto total, pois além de terem os desvios padrão mais baixos, apresentam
menores variações entre os seus mínimos e máximos.
Também aqui se tem um número total de 480 observações, pois todas as parcelas
instaladas apresentam subcoberto vegetal.

Tabela IV.29 – Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de subcoberto total, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 6 100 67 100 70 27
Transecto 2 (n=8) 40 80 58 50 50 15
Transecto 3 (n=45) 10 100 48 30 40 25
Transecto 4 (n=44) 20 100 60 90 60 22
Transecto 5 (n=19) 30 100 75 80 80 18
Transecto 6 (n=24) 2 100 60 50 60 24
Transecto 7 (n=64) 5 90 45 50 50 27
Transecto 8 (n=58) 30 95 61 70 60 17
Transecto 9 (n=172) 4 100 71 80 80 24
Total (n=480) 2 100 62 80 70 26

A aplicação do teste Anova one way aos dados relativos à percentagem de


subcoberto total reflete a existência de diferenças significativas entre transectos no que
diz respeito a esta variável, uma vez que, mais uma vez, se verificam valores de p-value
inferiores a 0,05 (0,000).
O teste de Tukey confirma que existem diferenças significativas em relação à
percentagem de subcoberto total, mas essas diferenças não permitem destacar nenhum
transecto em particular (tabela IV.30). Com exceção dos transectos 2 e 6, que não
apresentam diferenças significativas relativamente a nenhum dos restantes, todos os
outros registam diferenças significativas entre si.

200
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.30 – Resultados do teste de Tukey relativamente percentagem de subcoberto total em


cada parcela, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -19,418* -22,118*
1
Sig. 0,004 0,000
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 19,418* 26,959* 23,030*
3
Sig. 0,001 0,000
Mean Dif. -14,808*
4
Sig. 0,041
Mean Dif. -26,959* -29,659*
5
Sig. 0,001 0,000
Mean Dif.
6
Sig.
Mean Dif. 22,118* 14,808* 29,659* 15,612* 25,730*
7
Sig. 0,000 0,041 0,000 0,010 0,000
Mean Dif. -15,612*
8
Sig. 0,010
Mean Dif. -23,030* -25,730*
9
Sig. 0,000 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.3.4 - Percentagem de subcoberto arbustivo

A percentagem de subcoberto arbustivo (%SbcArbs) (tabela IV.31) é


caracterizado na sua maioria pela ocorrência de Acacia longifolia Willd. A Myrica faya
Aiton, outra espécie arbustiva a considerar como elemento de subcoberto, está pouco
representada na área estudada.
Relativamente a esta variável, a constituição de três grandes grupos facilitará a sua
análise. Um primeiro, com uma maior área de subcoberto que ronda os 40%, integra os
transectos 1, 2 e 6. Um segundo grupo, com valores intermédios e que ronda os 30 % de
subcoberto, engloba os transectos 3, 5 e 9. E, finalmente, um terceiro grupo, onde se
inserem os transectos com um grau mais baixo de cobertura arbustiva e junta os
transectos 4, 7 e 8.
A existência de subcoberto arbustivo não está assegurada na totalidade da área de
estudo, tendo sido registada apenas em 322 parcelas, sendo que nas restantes 158 apenas
se verifica a presença de subcoberto herbáceo e subarbustivo.
Tabela IV.31 – Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de subcoberto arbustivo do
subcoberto vegetal, n=322
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=35) 5 100 43 60 50 27
Transecto 2 (n=7) 30 50 43 40 40 7
Transecto 3 (n=10) 5 80 27 15 15 26
Transecto 4 (n=15) 1 50 19 20 15 16
Transecto 5 (n=14) 5 60 31 10 30 18
Transecto 6 (n=23) 5 80 39 50 50 23
Transecto 7 (n=62) 1 80 13 5 10 14
Transecto 8 (n=30) 1 50 10 5 5 13
Transecto 9 (n=126) 2 100 29 5 15 31
Total (n=322) 1 100 26 5 15 26

201
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A aplicação do teste Anova one way permite verificar que há diferenças


significativas entre os transectos em termos de percentagem de subcoberto arbustivo,
uma vez que se verificam valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000).
A realização do teste de Tukey, tabela IV.32, revela no entanto que não há a referir
diferenças significativas relativamente a esta variável entre os diferentes transectos. Os
transectos 3 e 5 não registam nenhuma diferença significativa para nenhum dos
transectos em estudo. Dos restantes transectos também não se destaca nenhum com
elevado número de diferenças significativas relativamente aos restantes.

Tabela IV.32 – Resultados do teste de Tukey relativamente percentagem de subcoberto arbustivo


em cada parcela, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -24,467* -30,242* -33,167*
1
Sig. 0,036 0,000 0,000
Mean Dif. -29,742* -32,667*
2
Sig. 0,036 0,025
Mean Dif.
3
Sig.
Mean Dif. 24,467*
4
Sig. 0,036
Mean Dif.
5
Sig.
Mean Dif. -26,155* -29,080*
6
Sig. 0,001 0,001
Mean Dif. 30,242* 29,742* 26,155* 16,099*
7
Sig. 0,000 0,036 0,001 0,001
Mean Dif. 33,167* 32,667* 29,080* 19,024
8
Sig. 0,000 0,025 0,001 0,005
Mean Dif. -16,099* -19,024*
9
Sig. 0,001 0,005

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.3.5 - Altura média do subcoberto arbustivo

A altura média do subcoberto arbustivo (HSbcArbs) apresenta valores com


diferenças acentuadas nos diferentes transectos, destacando-se os casos dos transectos 7
e 8, onde a altura média não chega a atingir 2m e, por oposição, aparece o transecto 6,
com uma altura média de subcoberto arbustivo de quase 5m (tabela IV.33).
Nos transectos 3 e 4, mais de 50% das parcelas apresentam ausência de
subcoberto arbustivo, conforme se pode verificar pelo valor de parcelas consideradas
para a análise desta variável (10 e 15, respetivamente).

202
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.33 – Parâmetros estatísticos analisados para a altura média do subcoberto arbustivo do
subcoberto vegetal (HSbcArbs, m), n= 322
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=35) 0,5 5,0 3,0 3,5 3,5 1,0
Transecto 2 (n=7) 2,0 3,5 2,9 3,0 3,0 0,5
Transecto 3 (n=10) 1,5 8,0 3,4 2,0 2,8 1,9
Transecto 4 (n=15) 1,0 4,5 2,3 1,0 2,5 1,0
Transecto 5 (n=14) 0,5 4,5 2,5 2,0 2,0 1,2
Transecto 6 (n=23) 0,8 7,0 4,7 7,0 4,0 2,1
Transecto 7 (n=62) 0,3 8,0 1,5 1,0 1,0 1,3
Transecto 8 (n=30) 0,6 6,0 1,8 1,0 1,1 1,4
Transecto 9 (n=126) 0,4 8,0 3,1 4,0 3,0 1,7
Total (n=322) 0,3 8,0 2,7 4,0 2,5 1,7

A realização do teste Anova one way permite concluir que há diferenças


significativas relativas à altura média do subcoberto arbustivo nos diferentes transectos,
uma vez que se obtiveram valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000).
Passando depois à aplicação do teste de Tukey, pode verificar-se que os primeiros
transectos analisados (1,2,3,4 e 5) serão semelhantes entre si no que diz respeito à altura
do subcoberto arbustivo (tabela IV.34). Por outro lado, parece formar-se um segundo
grupo em que, por oposição, os transectos 6, 7, 8 e 9 já apresentam diferenças
significativas com vários dos restantes transectos em estudo.

Tabela IV.34 – Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do subcoberto


arbustivo em cada parcela, n= 322
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 1,637* -1,541* -1,272*
1
Sig. 0,002 0,000 0,022
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. -1,913*
3
Sig. 0,007
Mean Dif. 2,399*
4
Sig. 0,000
Mean Dif. 2,165*
5
Sig. 0,001
Mean Dif. -1,637* -2,399* -2,165* -3,178* -2,909* -1,539*
6
Sig. 0,002 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 1,541* 1,913* 3,178* 1,639*
7
Sig. 0,000 0,007 0,000 0,000
Mean Dif. 1,272* 2,909* 1,370*
8
Sig. 0,022 0,000 0,000
Mean Dif. 1,539* -1,639* -1,370*
9
Sig. 0,000 0,000 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

203
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.3.6 - Percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo

A percentagem de subcoberto herbáceo/subarbustivo (%SbcHerb) traduz


informação sobre a ocorrência de espécies vegetais de menor porte e maior fragilidade.
O subcoberto herbáceo apresenta, como seria de esperar, maiores valores do que o
arbustivo. Todos os transectos apresentam valores médios acima dos 30% e há mesmo
um grupo de transectos (1, 4, 5, 8 e 9) onde o subcoberto herbáceo ultrapassa os 50% de
cobertura (tabela IV.35).

Tabela IV.35 – Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de subcoberto


herbáceo/subarbustivo do subcoberto vegetal, n=462
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=44) 6 100 50 70 45 29
Transecto 2 (n=7) 5 80 41 5 40 30
Transecto 3 (n=45) 10 100 43 30 40 25
Transecto 4 (n=44) 15 100 58 40 50 25
Transecto 5 (n=19) 10 100 64 80 70 25
Transecto 6 (n=22) 5 80 33 20 20 25
Transecto 7 (n=61) 1 90 41 50 40 27
Transecto 8 (n=58) 5 95 57 70 60 20
Transecto 9 (n=162) 2 100 60 70 70 30
Total (n=462) 1 100 53 70 50 28

A aplicação do teste Anova one way permite, mais uma vez, concluir que há
diferenças significativas no que diz respeito à percentagem de cobertura de subcoberto
herbáceo/subarbustivo nos diferentes transectos, pela verificação de valores de p-value
< 0,05 (0,000).
Dos transectos 1 a 5 não se registam, entre si, diferenças significativas no que diz
respeito à percentagem de subcoberto herbáceo. Os transectos 6 a 9, já apresentam uma
realidade diferente quanto a esta variável, pois já se registam diferenças significativas
entre este grupo (tabela IV.36).
Tabela IV.36 – Resultados do teste de Tukey relativamente percentagem de subcoberto herbáceo
/subarbustivo em cada parcela, n=462
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif.
1
Sig.
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 16,170
3
Sig. 0,012
Mean Dif. -24,886* -16,892*
4
Sig. 0,013 0,043
Mean Dif. -30,957* -22,963*
5
Sig. 0,008 0,034
Mean Dif. 24,886* 30,957* 24,290* 26,290*
6
Sig. 0,013 0,008 0,011 0,001
Mean Dif. 16,892* 22,963* 16,296* 18,782*
7
Sig. 0,043 0,034 0,030 0,000
Mean Dif. -24,290* -16,296*
8
Sig. 0,011 0,030
Mean Dif. -16,170* -26,776* -18,782*
9
Sig. 0,012 0,001 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.


204
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.3.7 - Altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo

A altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo (HSbcHerb, tabela IV.37) é


mais elevada no transecto 3 (0,90m), e menor nos transectos 5 e 6, com 0,20m. Os
valores médios mais elevados do transecto 3 ficam a dever-se à forte presença de
Corema album (L.) D. Don. Até há alguns anos a população agrícola colhia uma grande
parte do subcoberto das matas mas deixava a referida espécie proliferar pois a Corema
album (L.) D. Don. tinha um elevado significado social. Era frequente as pessoas
juntarem-se em grupos aos fins-de-semana de verão para irem colher camarinhas.

Tabela IV.37 – Parâmetros estatísticos analisados para a altura média do subcoberto


herbáceo/subarbustivo, n= 462
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=44) 0,1 1,0 0,4 0,3 0,4 0,3
Transecto 2 (n=7) 0,2 0,4 0,3 0,2 0,3 0,1
Transecto 3 (n=45) 0,3 2,0 0,9 1,0 0,8 0,4
Transecto 4 (n=44) 0,1 1,2 0,6 0,6 0,6 0,2
Transecto 5 (n=19) 0,1 0,8 0,2 0,2 0,2 0,2
Transecto 6 (n=22) 0,1 0,8 0,2 0,1 0,1 0,2
Transecto 7 (n=61) 0,1 0,8 0,3 0,2 0,3 0,2
Transecto 8 (n=58) 0,0 0,8 0,6 0,7 0,6 0,2
Transecto 9 (n=162) 0,0 2,0 0,6 0,8 0,5 0,3
Total (n=462) 0,0 2,0 0,5 0,4 0,5 0,3

Aplicando o teste Anova one way conclui-se também neste caso que há diferenças
significativas relativas à altura média do subcoberto herbáceo/subarbustivo nos
diferentes transectos, pela verificação de valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000).
A realização do teste de Tukey permite verificar que os transectos apresentam, na
generalidade, diferenças significativas entre si, destacando-se o transecto 3 com
diferenças significativas com todos os restantes (tabela IV.38).
Quanto ao subcoberto herbáceo/subarbustivo é interessante registar que há mais
diferenças significativas no que diz respeito à percentagem de área coberta por este tipo
de vegetação do que à sua altura.

205
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.38 – Resultados do teste de Tukey relativamente à altura média do subcoberto


herbáceo/subarbustivo em cada parcela, n= 462
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -0,4638* 0,1705* -0,2318* 0,1529* 0,1319*
1
Sig. 0,000 0,028 0,008 0,044 0,037
Mean Dif. 0,6219* 0,3286* 0,3110*
2
Sig. 0,000 0,025 0,037
Mean Dif. 0,4638* -0,6219* -0,2933* -0,6460* -0,6956* -0,5589* -0,3109* -0,3319*
3
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -0,1705* -0,3286* 0,2933* -0,3526* -0,4023* -0,2656*
4
Sig. 0,028 0,025 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 0,6460* 0,3526* 0,3351* 0,3141*
5
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 0,2318* 0,6956* 0,4023* 0,3847* 0,3637*
6
Sig. 0,008 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 0,5589* 0,2656* 0,2480* 0,2270*
7
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -0,1529* -0,3110* 0,3109* -0,3351* -0,3847* -0,2480*
8
Sig. 0,044 0,037 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -0,1319* 0,3319* -0,3141* -0,3637* -0,2270*
9
Sig. 0,037 0,000 0,000 0,000 0,000
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.3.8 – Percentagem da área coberta por acácias

As Dunas de Mira apresentam em geral uma elevada presença de acácias,


representando a variável percentagem de acácias (%Ac) a área coberta por esta espécie
no total da parcela (tabela IV.39). A média total da percentagem de acácias nos
transectos chega quase aos 40%, o que é um valor muito elevado e que prejudica a
riqueza específica das parcelas. A presença de acácias implica um menor
desenvolvimento do subcoberto herbáceo/subarbustivo (Marchante E, 2001; Marchante
H, 2011). Os transectos 4, 7 e 8 apresentam menor percentagem de acácias, uma vez
que a moda é de 5% e os seus valores médios não ultrapassam os 20%. Nestes
transectos registam-se 50% de parcelas (mediana) com valores abaixo dos 20%. Os
transectos 7 e 8 representam os locais localizados na parte Sul das dunas de Mira. O
transecto 9 tem também uma parte localizada no sul das dunas. Conforme nos
deslocamos para norte, a quantidade de acácias aumenta na generalidade dos transectos
(1, 2 e 6). O transecto 5 é uma exceção, pois parte das suas parcelas localizam-se em
áreas de grande depressão interdunar, onde a vegetação dominante é, regra geral, a
herbácea e a pressão humana exercida sobre este transecto também é elevada, inclusive
com a deposição de lixos, conforme se pode observar no campo.

206
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.39 – Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de acácias, n= 315


Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=45) 5 100 43 60 50 27
Transecto 2 (n=8) 30 50 43 40 40 7
Transecto 3 (n=9) 5 80 29 15 15 26
Transecto 4 (n=13) 1 50 20 5 15 17
Transecto 5 (n=14) 5 60 31 10 30 18
Transecto 6 (n=23) 5 80 39 50 50 23
Transecto 7 (n=61) 5 80 13 5 10 14
Transecto 8 (n=17) 5 50 15 5 5 16
Transecto 9 (n=125) 2 100 28 5 15 31
Total (n=315) 1 100 37 5 15 27

A aplicação do teste Anova one way permitiu concluir que há diferenças


significativas relativamente à percentagem da área coberta por acácias existente nos
diferentes transectos, com valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000).
Os testes de Tukey refletem que os transectos 7, 8 e 9 são os únicos que
apresentam diferenças significativas com os restantes (tabela IV.40). Conforme foi
verificado na tabela anterior, dois dos transectos referidos (7 e 8) são aqueles que mais
se distinguem por ter baixa percentagem de acácias nas suas parcelas.
Tabela IV.40 – Resultados do teste de Tukey relativamente à percentagem de acácias em cada
parcela, n= 315
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -30,295* -28,000* -15,136*
1
Sig. 0,000 0,006 0,044
Mean Dif. -29,795*
2
Sig. 0,044
Mean Dif.
3
Sig.
Mean Dif.
4
Sig.
Mean Dif.
5
Sig.
Mean Dif. -26,208*
6
Sig. 0,001
Mean Dif. 30,295* 29,795* 26,208* 15,159*
7
Sig. 0,000 0,044 0,001 0,004
Mean Dif. 28,000
8
Sig. 0,006
Mean Dif. 15,136* -15,159*
9
Sig. 0,044 0,004

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.3.9 – Percentagem de musgos

A percentagem de musgos (%musgo) reflete a área coberta por musgos em relação


à área total da parcela (tabela IV.41).
Registaram-se 10, 2, 3, 31, 5, 1, 3, 41 e 47 parcelas sem musgo, respetivamente,
nos transectos 1 a 9, o que perfaz um total de 143 parcelas sem a ocorrência de musgos,

207
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

que correspondem a 30% do total de parcelas. Analisando a tabela IV.41, conclui-se que
o transecto 8 se destaca pela menor percentagem de musgos, o que se verifica quer
através do máximo obtido, quer através da média. Por outro lado, os transectos 1, 2 e 5
são os que registam maiores percentagens de musgos. Estes transectos localizam-se
mais na parte norte da área selecionada para o trabalho, ou seja, mais próximo da grande
depressão interdunar e com mais parcelas instaladas sobre ela. O transecto 6, embora
completamente inserido na grande depressão interdunar, não acompanha esta tendência
de elevada presença de musgos, o que se fica a dever à grande quantidade de manta
morta aí existente e que terá impedido o seu desenvolvimento.
Quando da realização do trabalho de campo observaram-se maiores quantidades
de musgo, para além da grande depressão interdunar, também nas vertentes voltadas a
Norte, ou então nas depressões com pouco sol, devido às grandes dimensões das copas
do coberto arbóreo.

Tabela IV.41 – Parâmetros estatísticos analisados a percentagem de musgos presentes no


subcoberto vegetal, n=337
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=36) 3 85 43 35 35 28
Transecto 2 (n=6) 35 60 43 35 35 13
Transecto 3 (n=42) 3 85 23 15 15 24
Transecto 4 (n=44) 3 85 33 15 35 25
Transecto 5 (n=14) 3 85 43 60 35 25
Transecto 6 (n=23) 3 85 26 3 15 25
Transecto 7 (n=61) 3 85 23 3 15 23
Transecto 8 (n=17) 3 35 12 3 3 11
Transecto 9 (n=125) 0 85 31 35 35 26
Total (n=337) 0 85 28 3 15 25

A aplicação do teste Anova one way, permite verificar que há mais uma vez
diferenças significativas nas percentagens de musgos nos diferentes transectos, pela
ocorrência de valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000). A posterior realização do
teste de Tukey vem especificar as diferenças e confirma que os transectos 1 e 8 registam
diferenças relativamente a outros transectos. Enquanto o transecto 1 se distingue pela
maior percentagem de musgos, o transecto 8, pelo contrário, distingue-se pela baixa
quantidade de musgos. Os transectos restantes parecem não mostrar grandes diferenças
entre si, pois somente registam diferenças significativas com um transecto e no caso dos
transectos 2 e 6 não se registam diferenças relativamente a nenhum dos restantes (tabela
IV.42).

208
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.42 – Resultados do Teste de Tukey relativamente percentagem de musgos em cada


parcela, n= 337
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -20,869* -20,530* -31,789*
1
Sig. 0,004 0,003 0,000
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 20,869*
3
Sig. 0,004
Mean Dif. -21,713*
4
Sig. 0,000
Mean Dif. -31,685*
5
Sig. 0,000
Mean Dif.
6
Sig.
Mean Dif. 20,530*
7
Sig. 0,003
Mean Dif. 31,789* 21,713* 31,685* 18,963*
8
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. -18,963*
9
Sig. 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.3.10 – Percentagem de líquenes

Os líquenes espuma do mar existem em grandes quantidades em algumas das


parcelas instaladas. Como estes são considerados indicadores de existência de pouca
água e de locais ensolarados (Carvalho et al., 2002; Marques, 2008), pareceu-nos
pertinente fazer uma análise à percentagem de líquenes (%Liq) existentes nas parcelas
instaladas (tabela IV.43).
Registaram-se 9, 6, 3, 1, 15, 0, 32, 12 e 74 parcelas sem líquenes, respetivamente,
nos perfis 1 a 9, o que perfaz um total de 160 parcelas sem ocorrência de líquenes, que
correspondem a 33% do total das parcelas. No transecto 6 não foram registados
líquenes, o que ficará eventualmente a dever-se à elevada quantidade de agulhas e de
carrasca existente no solo. No campo verificou-se que os líquenes aparecem
preferencialmente em locais sem cobertura de solo e com muito sol a atingir o
subcoberto.
Os transectos 1 e 2 aparecem com menores percentagens de líquenes, o que não é
de estranhar uma vez que eles apresentam maiores quantidades de musgos e o seu
desenvolvimento, segundo o que se observou no campo, parece ser inversamente
proporcional. Os transectos 4 e 5 são os que registam maiores percentagens de líquenes.
Poderá parecer estranho, mas na realidade estes transectos têm uma parte com coberto
arbóreo muito desenvolvido que é onde predominam grandes quantidades de musgo e,

209
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

depois, quando se efetua um deslocamento no sentido Oeste, diminui o coberto arbóreo


na grande depressão dunar, e começam então a observar-se grandes quantidades de
líquenes.

Tabela IV.43 – Parâmetros estatísticos analisados para a percentagem de líquenes do subcoberto


vegetal, n= 320
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=35) 3 35 7 3 3 7
Transecto 2 (n=3) 3 3 3 3 3 0
Transecto 3 (n=42) 3 35 11 3 9 10
Transecto 4 (n=44) 3 60 17 15 15 16
Transecto 5 (n=14) 3 85 35 - 25 36
Transecto 6 (n=0) - - - - - -
Transecto 7 (n=32) 3 60 18 3 15 16
Transecto 8 (n=46) 3 35 18 3 15 14
Transecto 9 (n=98) 3 60 12 3 3 12
Total (n=320) 3 85 14 3 15 14

A aplicação do teste Anova one way permite concluir que há diferenças


significativas entre os diferentes transectos, no que diz respeito à percentagem de
líquenes, pela ocorrência de valores de p-value inferiores a 0,05 (0,000). A realização
dos testes Tukey especifica essas diferenças, mostrando na tabela IV.44 que o transecto
1 é aquele que regista mais diferenças significativas relativamente aos restantes. Quanto
aos restantes parece não haver diferenças significativas, sendo que o transecto 6 não
regista parcelas com líquenes.

Tabela IV.44 - Resultados do teste de Tukey relativamente percentagem de líquenes em cada


parcela, n= 320
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 9,908* 27,068* 10,255* 10,350*
1
Sig. 0,026 0,004 0,040 0,014
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 23,119*
3
Sig. 0,027
Mean Dif. -9,908*
4
Sig. 0,026
Mean Dif. -27,068* -23,119* -22,673*
5
Sig. 0,004 0,027 0,026
Mean Dif.
6
Sig.
Mean Dif. -10,255*
7
Sig. 0,040
Mean Dif. -10,350*
8
Sig. 0,014
Mean Dif. 22,673*
9
Sig. 0,026

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

210
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.3.11 – Volume aparente de subcoberto vegetal

O volume aparente do subcoberto vegetal (VlApSbcVeg) é uma variável composta


criada a partir de algumas das anteriores. É resultado da fórmula que se considerou
representar as diferentes medições efetuadas no campo e que se traduz pela expressão
que aqui se apresenta:
VlApSbcVeg = (HSbcHerb * %HSbcHerb) + (HSbcArbst * %HSbcArbst) +
+ (HMusgo * %Musgo) + (HLíq * % Líq) ] / 100
As alturas dos musgos e dos líquenes foram consideradas homogéneas em
resultado das observações de campo. Após efetuadas algumas observações e medições,
optou-se por lhes atribuir o valor de 10 cm. A opção de dividir por 100 os resultados dos
valores obtidos ficou a dever-se ao facto de os valores iniciais apresentarem amplitudes
muito elevadas, resultando assim uma variável standardizada.
Assim, este volume aparente do subcoberto vegetal representa essencialmente o
volume combinado do subcoberto herbáceo e do subcoberto arbustivo existente em cada
parcela. Os musgos e os líquenes são pouco representativos, pois, mesmo que existam
em quantidades muito elevadas, têm alturas pouquíssimo relevantes na determinação
deste volume aparente de subcoberto vegetal. Os transectos 1, 2 e 6 são os que
apresentam maior quantidade de volume aparente do subcoberto vegetal enquanto os
transectos 7 e 8 são os que, pelo contrário, apresentam os valores mais baixos (tabela
IV.45).

Tabela IV.45 – Parâmetros estatísticos analisados para a o volume aparente do subcoberto vegetal
total, n=480
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=46) 0,02 4,79 1,41 0,36 1,47 1,16
Transecto 2 (n=8) 0,82 1,83 1,36 - 1,35 0,35
Transecto 3 (n=45) 0,03 3,68 0,68 0,30 0,32 0,81
Transecto 4 (n=44) 0,02 2,04 0,54 0,20 0,42 0,43
Transecto 5 (n=19) 0,10 2,76 0,75 - 0,62 0,66
Transecto 6 (n=24) 0,01 5,62 2,17 - 2,07 1,72
Transecto 7 (n=64) 0,02 3,34 0,42 0,25 0,29 0,60
Transecto 8 (n=58) 0,05 1,32 0,43 0,48 0,44 0,21
Transecto 9 (n=172) 0,12 3,38 0,82 0,80 0,64 0,65
Total (n=480) 0,01 5,62 0,81 0,20 0,49 0,91

A realização do teste Anova one way permitiu concluir que também neste caso há
diferenças significativas relativas ao volume aparente do subcoberto vegetal nos
diferentes transectos, uma vez que se verificam valores de p-value inferiores a 0,05

211
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

(0,000). Mas essas diferenças não parecem estar concentradas em transectos específicos,
conforme se pode confirmar após a realização dos testes de Tukey (tabela IV.46). O
transecto 2 não apresenta quaisquer diferenças significativas relativamente aos restantes.
Por outro lado o transecto 6 é aquele que regista mais diferenças significativas, facto a
que não será alheia a existência da maior média de volume aparente de subcoberto
vegetal, que se pode observar na tabela anterior. Mas também os transectos 7 e 8,
registam diferenças significativas com alguns dos restantes transectos, o que se deverá a
motivos completamente opostos, ou seja, de existência de menor volume aparente de
subcoberto vegetal.

Tabela IV.46 – Resultados do teste de Tukey relativamente ao volume aparente de subcoberto


vegetal total em cada parcela, n=480
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. -0,875* -0,991* -0,979*
1
Sig. 0,009 0,000 0,001
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 1,486*
3
Sig. 0,000
Mean Dif. 0,875* 1,635* 0,723*
4
Sig. 0,009 0,000 0,006
Mean Dif. 1,424*
5
Sig. 0,002
Mean Dif. -1,486* -1,635* -1,424* -1,750* -1,739* -0,912*
6
Sig. 0,000 0,000 0,002 0,000 0,000 0,008
Mean Dif. 0,991* 1,750* 0,838*
7
Sig. 0,000 0,000 0,000
Mean Dif. 0,979* 1,739* 0,828*
8
Sig. 0,001 0,000 0,000
Mean Dif. -0,723* 0,912* -0,838* -0,828*
9
Sig. 0,006 0,008 0,000 0,000

*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.3.12 – Relação entre os diferentes elementos do subcoberto vegetal


(correlação e regressão linear múltipla)

A correlação estabelecida entre os diferentes elementos do subcoberto vegetal


(tabela IV.47) permite verificar que, de um modo geral, os maiores valores de
correlação se registam com a percentagem de subcoberto arbustivo. No entanto, há
exceções a registar, como é o caso da espécie mais representativa do subcoberto vegetal
(em que é de considerar a sua relação com a percentagem de acácia (0,451, sig. 0,000) e
de percentagem de musgo (0,775, sig. 0,000). A percentagem de líquenes não apresenta

212
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

correlações elevadas, nem significativas, com a espécie mais representativa do


subcoberto vegetal, pois em poucas parcelas eles são muito relevantes (0,044, sig.
0,446). E, quando tal acontece, foi possível verificar no campo que isso ocorre sempre
nas parcelas mais soalheiras, ou seja, com menos sombra provocada pelo coberto
arbóreo.
A percentagem de acácia apresenta correlações mais fortes com a percentagem de
subcoberto arbustivo (0,988, sig. 0,000) e só depois com o volume aparente do
subcoberto vegetal (0,888, sig. 0,000). Tal ficará a dever-se ao facto de na determinação
do volume aparente de subcoberto vegetal entrar também o coberto herbáceo, enquanto
o subcoberto arbustivo é, quase na sua totalidade, representado pela acácia.
A riqueza específica apresenta valores de correlação muito baixos com as outras
variáveis. Talvez fosse de esperar uma correlação negativa mais forte com a
percentagem de acácia, uma vez que esta variável apresenta valores maiores quando
domina sobre as outras espécies, levando ao seu desaparecimento no que diz respeito a
coabitação (Marchante E., 2001; Marchante H., 2011). A baixa correlação da riqueza
específica com o volume aparente do subcoberto vegetal ficará a dever-se ao facto de
este ser essencialmente expressão do subcoberto arbustivo, diminuindo assim o coberto
herbáceo, que representa um maior número de espécies.
A percentagem de musgo é a variável que apresenta maior correlação com a
percentagem da espécie mais representativa do subcoberto vegetal (0,775, sig. 0,000).
Também regista uma correlação significativa com a percentagem de subcoberto
herbáceo, pois conforme se pode verificar no campo, o subcoberto arbustivo,
representado na maioria pela acácia, não permite o desenvolvimento de musgos em
grandes quantidades.
A percentagem de líquenes apresenta valores muito baixos de correlação com os
restantes elementos do subcoberto vegetal. Os líquenes aparecem em poucas
quantidades, quando comparados com os restantes elementos de subcoberto. As
correlações negativas com a percentagem de subcoberto arbustivo (-0,289, sig. 0,000) e
com a percentagem de acácia (-0,262, sig. 0,000) eram previsíveis pois no campo, os
líquenes existem em maiores quantidades quando se registam menores quantidades dos
outros elementos, principalmente dos que não permitem a chegada da luz até ao solo
(Carvalho et al., 2002; Marques, 2008)

213
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A percentagem de subcoberto arbustivo é o elemento que estabelece maior


correlação com o volume aparente do subcoberto vegetal (0,895, sig. 0,000), o que é
natural uma vez que é uma componente importante para o seu cálculo.
Tabela IV.47 – Coeficientes de correlação de Pearson estabelecidos para as variáveis de subcoberto
vegetal analisadas, 171≤ n ≤480

%EspAbSbc %Ac RiqEsp %Musgo %Líq %SbcTotl HSbcHer HSbcArbs %SbcHer %SbcArbs VlApSbcVeg

Correl. 1 ,451** 0 ,775** 0,044 ,774** ,129** ,309** ,505** ,419** ,472**
%EspAbSbc
Sig. 0 0,992 0 0,446 0 0,006 0 0 0 0

Correl. ,451** 1 -,287** -0,007 -,262** ,393** -,247** ,629** -,347** ,988** ,888**
%Ac
Sig. 0 0 0,911 0,001 0 0 0 0 0 0

Correl. 0 -,287** 1 0,08 0,054 ,175** ,229** -,240** ,288** -,295** -,272**
RiqEsp
Sig. 0,992 0 0,104 0,342 0 0 0 0 0 0

Correl. ,775** -0,007 0,08 1 -,232** ,588** 0,073 0,013 ,562** -0,006 ,118*
%Musgo
Sig. 0 0,911 0,104 0 0 0,138 0,826 0 0,921 0,016

Correl. 0,044 -,262** 0,054 -,232** 1 0,09 -0,005 -,175* ,195** -,289** -,206**
%Líq
Sig. 0,446 0,001 0,342 0 0,116 0,933 0,022 0,001 0 0

Correl. ,774** ,393** ,175** ,588** 0,09 1 ,186** ,281** ,738** ,358** ,430**
%SbcTotl
Sig. 0 0 0 0 0,116 0 0 0 0 0

Correl. ,129** -,247** ,229** 0,073 -0,005 ,186** 1 -0,092 ,368** -,269** -,114*
HSbcHer
Sig. 0,006 0 0 0,138 0,933 0 0,11 0 0 0,014

Correl. ,309** ,629** -,240** 0,013 -,175* ,281** -0,092 1 -,185** ,652** ,781**
HSbcArbs
Sig. 0 0 0 0,826 0,022 0 0,11 0,001 0 0

Correl. ,505** -,347** ,288** ,562** ,195** ,738** ,368** -,185** 1 -,379** -,141**
%SbcHer
Sig. 0 0 0 0 0,001 0 0 0,001 0 0,002

Correl. ,419** ,988** -,295** -0,006 -,289** ,358** -,269** ,652** -,379** 1 ,895**
%SbcArbs
Sig. 0 0 0 0,921 0 0 0 0 0 0

Correl. ,472** ,888** -,272** ,118* -,206** ,430** -,114* ,781** -,141** ,895** 1
VlApSbcVeg
Sig. 0 0 0 0,016 0 0 0,014 0 0,002 0
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

Para se efetuar a análise de regressão múltipla para o subcoberto vegetal


considerou-se numa primeira aproximação o volume aparente de subcoberto vegetal
como variável dependente. Isto porque, como já foi referido, embora esta variável
apresente menores valores de correlação com os restantes elementos do que a
percentagem de subcoberto arbustivo, é a variável que se obtém a partir de todas as
informações recolhidas no campo, em percentagem e em altura, e que por isso melhor
representará a existência de subcoberto em cada parcela estudada. Além disso, o volume
aparente de subcoberto apresenta correlações significativas com todas as outras
variáveis do grupo.

214
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Na análise de regressão linear múltipla (tabela IV.48), salienta-se que esta apenas
apresenta como significativos os resultados para as variáveis altura média de
subcoberto herbáceo (b= +0,555; Sig. 0,000), altura média do subcoberto arbustivo
(b= +0,127; Sig. 0,000), percentagem de subcoberto herbáceo (b= +0,006; Sig. 0,000),
e percentagem de subcoberto arbustivo (b= -0,040,555; Sig. 0,000), o que é bastante
interessante, pois são as variáveis que ecologicamente mais representarão a totalidade
do subcoberto. Segundo estes resultados, a inclusão da percentagem de musgos e da
percentagem de líquenes não terá trazido alterações às análises preliminares efetuadas
sem a presença destas referidas variáveis. Já por outro lado, a não inclusão das acácias,
poderá parecer estranho, pois elas são muito importantes na predição do subcoberto
arbustivo (veja-se a elevada correlação estabelecida, com Pearson coef.= 0,988, sig.
0,000).

Tabela IV.48 – Regressão linear múltipla entre o volume aparente de subcoberto vegetal e os
restantes elementos de subcoberto (%SbcArbs, %Musgo, RiqEsp, %Líq, HSbcHer, HSbcArbs,
%SbcHer, %EspAbSbc, %SbcTotl, %Ac)
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,975a 0,950 0,946 1,8515
a . Predi ctors : (Cons ta nt), Ri qEs p, %Es pAbSbc, %SbcTotl , %SbcArbs , HSbcArbs , HSbcHer, %SbcHer,
%Ac, %Mus go , %Líq

Coefficients(a)

Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) -0,540 0,077 -6,983 0,000

%EspAbSbc 0,002 0,002 0,062 1,397 0,165

%Ac -0,006 0,004 -0,166 -1,506 0,134

RiqEsp -0,021 0,011 -0,039 -1,868 0,064

%Musgo -0,002 0,001 -0,061 -1,558 0,122

%Líq 0,001 0,001 0,014 0,600 0,550

%SbcTotl -0,001 0,002 -0,027 -0,583 0,561

HSbcbHer 0,550 0,083 0,150 6,609 0,000

HSbcbArbs 0,127 0,012 0,226 10,356 0,000

%SbcHer 0,006 0,001 0,170 4,116 0,000

%SbcArbs -0,040 0,004 1,067 9,025 0,000

a. Dependent Variable: VlApSbcVeg

215
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Da análise feita à informação relativa ao subcoberto vegetal é possível verificar


que, embora no campo tudo possa parecer mais ou menos homogéneo, na realidade essa
homogeneidade não é confirmada pelos resultados estatísticos obtidos. Embora exista
uma baixa fitodiversidade, com um máximo de 9 espécies registada por parcela, essa
baixa fitodiversidade aparece distribuída de forma heterogénea (Marchante H., 2001).
Existem parcelas instaladas em áreas onde há um subcoberto pouco representado e, por
outro lado, existem outras parcelas que registam uma cobertura quase total da parcela
com subcoberto. E isto acontece não só com o subcoberto herbáceo, mas também com o
subcoberto arbustivo, este normalmente representado por Acacia longifolia Willd
(Marchante E., 2001; Marchante H., 2011).
Verifica-se, através das correlações obtidas, que o subcoberto arbustivo é quem
tem uma maior relação com o subcoberto total, e que este subcoberto arbustivo parece
limitar o desenvolvimento do subcoberto herbáceo.
Também é possível concluir que os subcobertos herbáceo e arbustivo são os
principais elementos determinantes do subcoberto total. Os musgos e os líquenes
acrescentados neste estudo não têm grande significado para a predição da totalidade do
volume aparente do subcoberto vegetal.

IV.4 – ELEMENTOS DO SOLO: TENDÊNCIA CENTRAL, DISPERSÃO E


CORRELAÇÕES ESTABELECIDAS RELATIVAMENTE A TODAS AS
VARIÁVEIS CONSIDERADAS

As variáveis selecionadas para a caracterização do solo foram, como referido


anteriormente, o pH, a matéria orgânica (MO), o Pentóxido de Fósforo (P2O5), o Óxido
de Potássio (K2O), a hidrofobia ou repelência à água (RepDz, RepOut) e a humidade do
solo.
Para a determinação do pH, da matéria orgânica, do P2O5 e do K2O foram feitas
análises de amostras de solo recolhidas a 10, 20 e 30cm de profundidade. A hidrofobia
foi medida no campo em situação de fim de verão (início de outubro, RepOut) e em
situação de inverno (dezembro, RepDez). A humidade do solo foi medida também no
campo a partir do mês de dezembro e repetida todos os meses até ao mês de abril,
inclusive. Como os registos das leituras obtidas no final do mês de abril foram
extremamente baixos, optou-se por não se fazerem registos relativos aos meses de maio,
junho e julho, procedendo-se a nova recolha somente no mês de agosto. Os registos

216
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

obtidos para os meses de outubro e novembro não puderam ser aproveitados pelos
motivos que se apresentaram anteriormente no Capítulo III- Metodologia Específica.

IV.4.1 – pH do Solo

Devido às elevadas correlações positivas registadas em trabalho anterior entre os


resultados obtidos pelos dois métodos habitualmente usados para a determinação do pH
(H2O ou KCl) (Oliveira, 2005), optou-se por não se fazer a análise de pH em KCl.
Assim, só se efetuaram análises de pH em H2O.
As análises de pH efetuadas mostram que o transecto 1 regista valores médios
ligeiramente mais elevados em todas as profundidades consideradas (tabela IV.49). Na
realidade, na totalidade de transectos, nenhum destes se destaca com valores muito
diferenciados. Notória é a variação de pH em profundidade, sendo possível observar o
seu aumento nos diferentes casos.
Fazendo a análise de comparação do pH entre as médias da totalidade das parcelas
utilizando os testes Anova One Way, verifica-se que há diferenças significativas entre
elas para a totalidade das profundidades, pois os valores de p-value obtidos foram
sempre inferiores a 0,05 (0,000).
Passando posteriormente a uma análise pormenorizada por transecto, no caso do
pH a 10cm de profundidade não se registam quaisquer diferenças significativas. No pH
a 20cm de profundidade registam-se diferenças significativas apenas entre os transectos
1 e 2 (Tukey, mean dif. -1,17500, sig. 0,032). O pH a 30cm regista diferenças
significativas apenas entre os transectos 1 e 6 (Tukey, mean dif. -1,094, sig. 0,029).
Pelos resultados obtidos, conclui-se que, embora se registem diferenças
significativas quando efetuada uma análise à totalidade das parcelas em conjunto, essas
diferenças significativas deixam de existir quando se procede a uma análise de
pormenor para identificar diferenças entre os transectos. Pelo exposto, conclui-se que as
diferenças registadas para a totalidade da amostra se refletem também pelos diferentes
transectos, sem exceção.

217
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.49 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao pH em H2O, n=96


0-10cm de profundidade
Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 5,8 8,2 7,1 6,1 7,0 0,8
Transecto 2 (n=4) 5,0 7,5 6,1 - 6,0 1,1
Transecto 3 (n=12) 6,0 7,4 6,7 6,4 6,8 0,4
Transecto 4 (n=17) 5,8 7,4 6,9 6,5 6,9 0,4
Transecto 5 (n=3) 5,8 7,1 6,5 - 6,7 0,6
Transecto 6 (n=4) 5,4 6,9 6,1 - 6,3 0,7
Transecto 7 (n=4) 6,4 7,1 6,8 - 6,9 0,3
Transecto 8 (n=9) 5,2 7,5 6,9 7,3 7,3 0,8
Transecto 9 (n=19) 5,6 7,7 7,0 7,0 7,1 0,5
Total (n=96) 5,0 8,2 6,8 6,9 7,0 0,7
10-20cm de profundidade
Amostra Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 6,2 8,5 7,5 7,1 7,5 0,7
Transecto 2 (n=4) 5,1 7,8 6,3 6,2 6,2 1,1
Transecto 3 (n=12) 6,4 8,0 7,3 7,4 7,4 0,6
Transecto 4 (n=17) 6,2 8,0 7,1 7,6 7,1 0,5
Transecto 5 (n=3) 7,0 7,1 7,0 7,0 7,0 0,1
Transecto 6 (n=4) 5,2 7,1 6,4 - 6,7 0,9
Transecto 7 (n=4) 6,4 7,2 6,8 7,2 7,0 0,4
Transecto 8 (n=9) 5,3 8,0 7,2 - 7,3 0,7
Transecto 9 (n=19) 5,1 7,6 7,1 7,3 7,3 0,6
Total (n=96) 5,1 8,5 7,2 7,1 7,2 0,7
20-30cm de profundidade
Amostra Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 5,9 8,7 7,7 8,2 7,8 0,7
Transecto 2 (n=4) 7,1 7,8 7,4 - 7,4 0,3
Transecto 3 (n=12) 6,5 7,9 7,3 7,8 7,4 0,6
Transecto 4 (n=17) 6,4 8,3 7,3 7,1 7,3 0,5
Transecto 5 (n=3) 7,0 7,1 7,1 - 7,1 0,0
Transecto 6 (n=4) 5,6 7,2 6,6 - 6,9 0,7
Transecto 7 (n=4) 6,8 7,2 7,0 - 7,1 0,2
Transecto 8 (n=9) 5,7 7,5 7,2 7,5 7,4 0,6
Transecto 9 (n=19) 5,2 8,0 7,2 7,4 7,4 0,6
Total (n=96) 5,2 8,7 7,3 7,1 7,3 0,6
Valores médios das 3 profundidades
Amostra Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 6,0 8,4 7,4 7,0 7,5 0,7
Transecto 2 (n=4) 5,7 7,7 6,6 - 6,5 0,8
Transecto 3 (n=12) 6,4 7,7 7,1 6,4 7,2 0,5
Transecto 4 (n=17) 6,2 7,9 7,1 7,2 7,1 0,4
Transecto 5 (n=3) 6,6 7,0 6,9 - 7,0 0,2
Transecto 6 (n=4) 5,4 7,0 6,4 - 6,6 0,7
Transecto 7 (n=4) 6,5 7,1 6,9 - 7,0 0,3
Transecto 8 (n=9) 5,4 7,5 7,1 - 7,3 0,7
Transecto 9 (n=19) 5,3 7,6 7,1 7,3 7,3 0,6
Total (n=96) 5,3 8,4 7,1 7,6 7,2 0,6

Os valores de pH registados mostram que a área de estudo tem de um modo geral


um pH essencialmente neutro ou próximo da neutralidade. À superfície estes valores
denotam uma ligeira acidez. No entanto, a tendência é de que estes valores deslizem no
sentido da alcalinidade com o aumento da profundidade. Deve no entanto prevalecer a
informação de que estes valores de acidez ou alcalinidade são muito próximos da
neutralidade. Relativamente ao pH de áreas dunares, vários autores (Martins, 1999;
Matias, 2002) referem a sua acidez em detrimento da alcalinidade. No entanto Oliveira
(2000 e 2005) obteve valores de pH neutro e alcalino em análises efetuadas em
diferentes locais destas dunas recentes. Uma possível justificação para as diferenças

218
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

registadas pode assentar na idade das dunas dos diferentes locais analisados, pelo que as
dunas mais antigas terão eventualmente tendência a registar um pH mais ácido e as
dunas recentes um pH neutro.

IV.4.2 – Matéria orgânica

O teor de matéria orgânica (MO.) regista regra geral valores médios


extremamente baixos em todas as profundidades analisadas, não se verificando qualquer
tendência de variação com o aumento da profundidade (tabela IV.50). Ferreira (2008)
registou no entanto uma diminuição com o aumento de profundidade equivalente (0 a
30cm). Esta não diferenciação em profundidade para as Dunas de Mira pode ficar a
dever-se aos baixos valores existentes também à superfície (0-10cm).
Estes baixos valores de matéria orgânica poderão ficar a dever-se ao facto de a
consolidação de materiais minerais e o consequente desenvolvimento vegetal, que é
consumidor mas também fornecedor deste nutriente, ser bastante recente. Somente a
sementeira das dunas, no início do século XX, permitiu a fixação das mesmas e o
consequente desenvolvimento vegetal, que é o principal fornecedor de matéria
orgânica. Também o facto de estas dunas terem sido alvo de exploração da manta morta
durante muitos anos, para fertilização dos terrenos agrícolas e para as camas dos
animais, terá impedido uma maior acumulação deste elemento. Os matos dos talhões
eram explorados em regime de rotação, onde havia sempre alguns que não eram
submetidos a qualquer exploração durante alguns anos, mas isso não era suficiente para
que se desse tempo de compostagem suficiente a fim de que a matéria orgânica pudesse
ser decomposta e utilizada pelo coberto vivo.
Nunes (2007) refere que o baixo teor de matéria orgânica existente nos solos
florestais de pinhal pode ficar a dever-se ao facto de, apesar da abundância de biomassa,
poder existir uma elevada razão carbono/azoto, associada à lenta mineralização dos
resíduos resinosos e à fraca libertação de azoto mineral.
Quando se analisa a variação da matéria orgânica por transecto, conclui-se que
não há alterações nas diferentes áreas das dunas, nem no sentido Sul para Norte, o que
poderia esperar-se pelo facto de a Norte os pinhais serem mais desenvolvidos, mas
também os mais apetecíveis para retirar todos os materiais passiveis de serem
decompostos. A mesma situação acontecia no sentido Oeste-Este, onde a Este se
encontravam os locais com maior desenvolvimento de pinhal, mas também mais

219
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

próximos das populações e por isso mais explorados. A Oeste, é notório um menor
desenvolvimento do subcoberto, principalmente no que diz respeito ao herbáceo, mais
facilmente fornecedor de nutrientes utilizáveis, pela sua fácil decomposição (menos
celulose, hemicelulose e lenhina e mais açúcares solúveis) (Camarão et al., 2009).

Tabela IV.50 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à matéria orgânica, n=96)


0-10cm de profundidade
Transecto Mínim o Máxim o Médio Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 0,0 1,7 0,3 0,2 0,2 0,3
Transecto 2 (n=4) 0,1 0,3 0,2 - 0,2 0,1
Transecto 3 (n=12) 0,1 0,5 0,3 0,3 0,3 0,1
Transecto 4 (n=17) 0,1 0,5 0,2 0,1 0,2 0,1
Transecto 5 (n=3) 0,3 0,4 0,3 - 0,3 0,0
Transecto 6 (n=4) 0,3 0,4 0,3 - 0,3 0,1
Transecto 7 (n=4) 0,2 0,7 0,3 - 0,2 0,3
Transecto 8 (n=9) 0,1 0,4 0,2 - 0,2 0,1
Transecto 9 (n=19) 0,1 0,5 0,2 0,2 0,2 0,1
Total (n=96) 0,0 1,7 0,3 0,2 0,2 0,2
10-20cm de profundidade
Transecto Mínim o Máxim o Médio Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 0,0 0,3 0,2 0,1 0,2 0,1
Transecto 2 (n=4) 0,2 0,3 0,2 0,3 0,3 0,0
Transecto 3 (n=12) 0,1 0,5 0,3 0,4 0,3 0,1
Transecto 4 (n=17) 0,1 0,5 0,2 0,2 0,1 0,1
Transecto 5 (n=3) 0,2 0,4 0,3 - 0,2 0,1
Transecto 6 (n=4) 0,1 0,4 0,2 - 0,2 0,1
Transecto 7 (n=4) 0,1 0,4 0,2 - 0,1 0,1
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,2 0,1 0,1 0,1 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,1 0,4 0,2 0,2 0,2 0,1
Total (n=96) 0,0 0,5 0,2 0,3 0,2 0,1
20-30cm de profundidade
Transecto Mínim o Máxim o Médio Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 0,0 0,4 0,2 0,3 0,2 0,1
Transecto 2 (n=4) 0,1 0,4 0,3 - 0,3 0,1
Transecto 3 (n=12) 0,1 0,4 0,3 0,3 0,3 0,1
Transecto 4 (n=17) 0,1 0,5 0,2 0,3 0,2 0,1
Transecto 5 (n=3) 0,1 0,2 0,2 - 0,2 0,0
Transecto 6 (n=4) 0,1 0,2 0,2 0,1 0,2 0,1
Transecto 7 (n=4) 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,1 0,2 0,1 0,1 0,1 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,3 0,1 0,1 0,1 0,1
Total (n=96) 0,1 0,5 0,2 0,2 0,2 0,1
Valores médios das 3 profundidades
Am ostra Mínim o Máxim o Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 0,1 0,7 0,2 0,2 0,2 0,1
Transecto 2 (n=4) 0,1 0,3 0,2 - 0,2 0,1
Transecto 3 (n=12) 0,2 0,4 0,3 0,4 0,3 0,1
Transecto 4 (n=17) 0,1 0,4 0,2 0,1 0,2 0,1
Transecto 5 (n=3) 0,2 0,3 0,3 - 0,2 0,0
Transecto 6 (n=4) 0,2 0,3 0,2 - 0,2 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,1 0,4 0,2 - 0,1 0,1
Transecto 8 (n=9) 0,1 0,2 0,1 - 0,1 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,1 0,3 0,2 0,2 0,2 0,1
Total (n=96) 0,1 0,7 0,2 0,2 0,2 0,1

O subcoberto arbustivo, representado essencialmente por acácias, não é um bom


fornecedor de matéria orgânica, pois demora muito tempo a decompor-se (Marchante,
H., 2001).

220
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A realização dos testes Anova one way permite verificar a existência de diferenças
significativas para a matéria orgânica na totalidade da amostra, uma vez que apresenta
um valor de p-value inferior a 0,05 (0,000). Estas diferenças significativas verificam-se
para todas as profundidades.
Após a realização dos testes de Tukey concluiu-se que, quanto ao teor da matéria
orgânica a 10cm de profundidade, as diferenças que se registam para o total da amostra
não se observam por transecto. A 20cm de profundidade, conforme se pode observar na
tabela IV.51, já são registadas algumas diferenças significativas. E estas diferenças
significativas estabelecem-se todas com o transecto 3 (pares 3 e 1, 3 e 4, 3 e 8 e 3 e 9).
A 30cm de profundidade, as diferenças significativas aparecem novamente
estabelecidas com o transecto 3 (3 e 7, 3 e 8, 3 e 9). O transecto 3 será aquele que
registará mais diferenças no teor de matéria orgânica existente relativamente aos
restantes transectos. Será interessante destacar que estes resultados vêm salientar o que
não foi possível concluir na análise da tabela anterior onde, na estatística descritiva, os
diferentes transectos aparecem com resultados muito semelhantes entre si.

Tabela IV.51– Resultados do teste de Tukey relativamente à matéria orgânica a 20 e 30cm de


profundidade, n=96 MO_20cm
Transeto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 0,138*
1
Sig. 0,001
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. -0,119* -0,198* -0,117*
3
Sig. 0,021 0,000 0,021
Mean Dif.
4
Sig.
Mean Dif.
5
Sig.
Mean Dif.
6
Sig.
Mean Dif. 0,199*
7
Sig. 0,021
Mean Dif. 0,157*
8
Sig. 0,015
Mean Dif. 0,1439*
9
Sig. 0,005
MO_30cm
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.4.3. – Fósforo

O fósforo (P2O5) existente nos solos analisados também apresenta valores médios
bastante baixos (tabela IV.52), o que corresponderá à justificação já apresentada para o

221
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

teor de matéria orgânica. Os solos precisam de um longo período de tempo para se


tornarem ricos em nutrientes que promovam o desenvolvimento vegetal (Varennes,
2003; ESAC, s/d).
Os valores obtidos não permitem identificar áreas específicas diferenciadas quanto
aos valores de P2O5 uma vez que, embora existam algumas diferenças nos valores
médios deste nutriente nos diferentes transectos, a realidade é que, tratando-se de
valores tão baixos, qualquer conclusão teria pouco significado. Saliente-se que os
valores médios de fósforo rondam geralmente os 180mg/1000g de solo (Varennes,
2003). A carência de fósforo, um nutriente que é determinante para o desenvolvimento
radicular (Varennes, 2003), não permitirá um grande desenvolvimento do coberto
vegetal das dunas.
Tabela IV.52 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao Pentóxido de Fósforo (P2O5),
n=96
0-10cm de profundidade
Trans ecto Mínim o Máxim o Média Moda Mediana Des vio padrão
Trans ecto 1 (n=24) 2,5 17,0 8,6 10,2 9,0 3,5
Trans ecto 2 (n=4) 8,7 12,0 10,5 - 10,6 1,4
Trans ecto 3 (n=12) 4,8 13,7 7,3 5,6 6,0 2,8
Trans ecto 4 (n=17) 3,0 10,0 5,9 3,2 5,6 2,4
Trans ecto 5 (n=3) 3,0 5,0 3,9 - 3,9 1,0
Trans ecto 6 (n=4) 2,8 6,3 4,1 - 3,9 1,6
Trans ecto 7 (n=4) 4,1 5,2 4,5 - 4,4 0,5
Trans ecto 8 (n=9) 5,8 10,7 7,8 - 7,2 1,8
Trans ecto 9 (n=19) 4,3 19,6 8,3 4,3 7,6 3,6
Total (n=96) 2,5 19,6 7,4 8,0 7,2 3,2
10-20cm de profundidade
Trans ecto Mínim o Máxim o Média Moda Mediana Des vio padrão
Trans ecto 1 (n=24) 3,0 20,2 12,4 17,2 13,5 5,6
Trans ecto 2 (n=4) 17,0 21,5 19,2 - 19,2 2,1
Trans ecto 3 (n=12) 6,3 24,8 10,5 8,3 8,4 5,3
Trans ecto 4 (n=17) 3,4 13,9 6,8 4,8 6,1 2,9
Trans ecto 5 (n=3) 3,4 5,0 4,2 - 4,3 0,8
Trans ecto 6 (n=4) 3,0 4,5 3,8 - 3,8 0,8
Trans ecto 7 (n=4) 5,0 6,3 5,7 5,8 5,8 0,5
Trans ecto 8 (n=9) 4,1 15,5 8,0 6,1 6,3 3,8
Trans ecto 9 (n=19) 3,2 13,7 7,4 6,7 6,7 2,8
Total (n=96) 3,0 24,8 9,2 5,0 7,3 5,2
20-30cm de profundidade
Trans ecto Mínim o Máxim o Média Moda Mediana Des vio padrão
Trans ecto 1 (n=24) 3,4 12,8 7,5 11,1 7,7 2,7
Trans ecto 2 (n=4) 5,6 11,3 8,1 - 7,8 2,4
Trans ecto 3 (n=12) 5,4 12,0 8,0 8,0 7,8 2,0
Trans ecto 4 (n=17) 2,5 13,3 7,3 8,5 7,6 2,7
Trans ecto 5 (n=3) 3,9 8,2 5,8 - 5,4 2,2
Trans ecto 6 (n=4) 3,0 7,2 4,3 - 3,5 1,9
Trans ecto 7 (n=4) 2,8 8,2 6,0 - 6,5 2,5
Trans ecto 8 (n=9) 4,5 13,7 8,3 8,9 8,9 3,0
Trans ecto 9 (n=19) 3,0 12,2 6,9 10,4 6,3 2,6
Total (n=96) 2,5 13,7 7,3 9,3 7,6 2,6
Valores médios das 3 profundidades
Am os tra Mínim o Máxim o Média Moda Mediana Des vio padrão
Trans ecto 1 (n=24) 3,1 14,8 9,5 11,4 11,1 3,6
Trans ecto 2 (n=4) 11,6 14,9 12,6 - 12,0 1,6
Trans ecto 3 (n=12) 6,1 13,3 8,6 - 8,4 2,2
Trans ecto 4 (n=17) 3,0 11,5 6,7 8,4 7,2 2,1
Trans ecto 5 (n=3) 3,9 6,1 4,7 - 4,0 1,2
Trans ecto 6 (n=4) 3,1 4,8 4,1 - 4,2 0,7
Trans ecto 7 (n=4) 4,1 6,3 5,4 - 5,6 1,0
Trans ecto 8 (n=9) 5,3 12,6 8,0 - 7,4 2,5
Trans ecto 9 (n=19) 3,9 12,5 7,5 5,5 7,5 2,4
Total (n=96) 3,0 14,9 7,9 4,0 7,5 3,1

O P2O5 a 10cm de profundidade, não apresenta diferenças significativas entre


nenhum dos pares de transectos.

222
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Aos 20cm de profundidade, o transecto 1 apresenta diferenças significativas com


os transectos 4, 5, 6 e 9, enquanto o transecto 2 apresenta diferenças significativas com
todos os transectos à exceção do 1 (tabela IV.53). O transecto 2 é aquele que apresenta
valores mínimos muito mais elevados que os restantes, e os seus valores médios,
embora muito baixos, também se salientam dos restantes por serem os mais elevados da
área de estudo. Aos 30cm de profundidade existe uma grande semelhança com os
resultados aos 20cm.

Tabela IV.53 – Resultados do teste de Tukey relativamente ao P2O5 a 20cm de profundidade,


n=96 P2O5_10cm
Transeto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif.
1
Sig.
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif. 8,702*
3
Sig. 0,010
Mean Dif. 5,602* 12,392*
4
Sig. 0,005 0,000
Mean Dif. 8,219* 15,008*
5
Sig. 0,036 0,000
Mean Dif. 8,695* 15,485*
6
Sig. 0,005 0,000
Mean Dif. 13,512*
7
Sig. 0,000
Mean Dif. 11,257*
8
Sig. 0,000
Mean Dif. 5,034* 11,823*
9
Sig. 0,004 0,000
P2O5_20cm
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.4.4 – Potássio

Os níveis obtidos para o K2O (tabela IV.54), tal como os obtidos para o P2O5 e a
matéria orgânica, registam valores médios muito baixos, não sendo relevantes as
diferenças entre os transectos. Os transectos 8 e 3 apresentam valores ligeiramente
superiores, mas que não terão grande reflexo em termos de fertilidade em relação aos
restantes. Saliente-se que estes transectos são muito próximos entre si. Serão, segundo a
informação recolhida sobre a evolução da Ria de Aveiro (Costa, 1930; Oliveira, 1988;
Porto de Aveiro, 1998), dos locais de deposição de areias mais antigos no que diz
respeito às Dunas de Mira. O comportamento do teor de K2O em profundidade também
não apresenta um padrão. Em alguns transectos parece diminuir em profundidade, como

223
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

por exemplo no 3 e no 4, enquanto noutros casos (5 e 6) parece sofrer um aumento. Os


valores médios gerais, quando nos deslocamos em profundidade, também não permitem
estabelecer quaisquer relações, devido aos valores muitíssimo baixos do seu teor.

Tabela IV.54 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente ao Óxido de Potássio (K2O, n=96
0-10cm de profundidade
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 9,6 23,0 14,7 12,4 13,9 3,2
Transecto 2 (n=4) 11,0 15,4 12,8 - 12,4 2,1
Transecto 3 (n=12) 10,6 28,4 20,5 - 20,2 5,5
Transecto 4 (n=17) 9,6 28,8 17,1 15,8 16,2 4,6
Transecto 5 (n=3) 8,2 15,8 12,8 - 14,4 4,0
Transecto 6 (n=4) 10,8 18,0 15,3 - 16,2 3,3
Transecto 7 (n=4) 13,4 22,0 16,3 - 14,9 3,9
Transecto 8 (n=9) 13,2 26,0 21,0 - 23,0 5,0
Transecto 9 (n=19) 12,4 30,0 18,3 15,2 16,8 4,5
Total (n=96) 8,2 30,0 17,1 13,6 16,1 4,8
10-20cm de profundidade
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 4,8 20,2 9,9 11,8 10,1 3,5
Transecto 2 (n=4) 8,0 11,6 10,2 - 10,6 1,5
Transecto 3 (n=12) 12,2 21,6 16,0 - 14,8 3,2
Transecto 4 (n=17) 9,6 20,2 14,0 15,8 13,2 3,1
Transecto 5 (n=3) 10,2 15,0 12,7 - 13,0 2,4
Transecto 6 (n=4) 8,8 17,2 13,3 - 13,5 3,6
Transecto 7 (n=4) 11,4 22,0 17,3 - 17,9 4,4
Transecto 8 (n=9) 14,2 24,8 18,9 20,6 19,8 3,3
Transecto 9 (n=19) 9,6 23,0 14,8 14,4 14,2 3,5
Total (n=96) 4,8 24,8 13,8 10,2 13,4 4,3
20-30cm de profundidade
Transecto Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 5,4 15,2 10,6 13,6 10,2 3,3
Transecto 2 (n=4) 12,6 18,6 15,1 - 14,5 2,7
Transecto 3 (n=12) 9,8 24,8 15,0 14,6 14,6 3,6
Transecto 4 (n=17) 7,0 17,4 11,0 10,2 10,6 2,5
Transecto 5 (n=3) 13,0 19,6 15,6 - 14,2 3,5
Transecto 6 (n=4) 10,2 20,8 14,8 - 14,0 4,6
Transecto 7 (n=4) 13,6 24,0 18,7 - 18,5 5,1
Transecto 8 (n=9) 14,0 28,8 18,9 14,0 18,8 4,9
Transecto 9 (n=19) 9,4 33,0 15,4 16,0 14,2 5,3
Total (n=96) 5,4 33,0 13,8 14,2 13,4 4,8
Valores médios das 3 profundidades
Amostra Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio padrão
Transecto 1 (n=24) 8,1 15,6 11,7 10,9 11,1 2,4
Transecto 2 (n=4) 10,8 14,8 12,7 - 12,6 1,6
Transecto 3 (n=12) 13,9 22,1 17,2 - 16,4 2,5
Transecto 4 (n=17) 8,7 17,4 14,1 - 13,7 2,2
Transecto 5 (n=3) 10,5 16,8 13,7 - 13,9 3,2
Transecto 6 (n=4) 12,9 16,3 14,4 - 14,3 1,6
Transecto 7 (n=4) 15,7 19,2 17,4 - 17,4 1,7
Transecto 8 (n=9) 15,6 24,8 19,6 - 18,7 3,2
Transecto 9 (n=19) 11,7 23,1 16,2 - 15,4 3,0
Total (n=96) 8,1 24,8 14,9 13,9 15,0 3,5

A realização dos testes de Tukey mostra que o K2O, a 10cm de profundidade,


apenas apresenta diferenças significativas para os pares de transectos 1 e 3, 1 e 8 e 2 e 8.
Regista-se portanto uma grande semelhança entre os resultados obtidos para a totalidade
das análises de solos a esta profundidade.

224
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A 20cm, destacam-se as diferenças registadas entre o transecto 1 e os 3, 4, 7, 8 e


9. Os transectos 2 e 4 também registam diferenças significativas relativamente ao
transecto 8 (tabela IV.55). O transecto 8 aparece com diferenças significativas em
relação ao 2 e ao 4, o que poderá parecer estranho, uma vez que todos representam áreas
semelhantes no que se refere ao afastamento do mar. O transecto 2 apresenta
características de grande desenvolvimento do pinhal, o que difere dos transectos 4 e 8,
que têm uma expressão de menor desenvolvimento. A 30cm, os resultados obtidos são
muito semelhantes aos obtidos a 20cm de profundidade.

Tabela IV.55 – Resultados do teste de Tukey relativamente ao K2O a 10 e a 20cm de


profundidade, n=96 K2O_10cm
Transeto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif. 5,850* 6,311*
1
Sig. 0,006 0,008
Mean Dif. 8,178*
2
Sig. 0,049
Mean Dif. -6,075*
3
Sig. 0,000
Mean Dif. -4,155*
4
Sig. 0,006
Mean Dif.
5
Sig.
Mean Dif.
6
Sig.
Mean Dif. -7,408*
7
Sig. 0,003
Mean Dif. -9,019* -8,711* -4,864*
8
Sig. 0,000 0,001 0,019
Mean Dif. -4,919*
9
Sig. 0,000
K2O_20cm
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.4.5 – Hidrofobia

A hidrofobia, ou repelência à água, não foi recolhida nos transectos 2 e 3. Tal


ficou a dever-se ao facto de se considerar que havia outros transectos onde a informação
a obter seria semelhante: o transecto 2, devido ao seu reduzido número de parcelas e por
ser a continuação do transecto 1; e o transecto 3 pelo facto de ter parte das suas parcelas
numa área muito semelhante ao transecto 4, em que esta variável foi analisada.
Não se apresentam aqui tabelas de resultados de hidrofobia em dezembro
(RepDz), pois nesta recolha obtiveram-se muito poucos registos da sua verificação,
devido ao facto de estas medições terem sido efetuadas em período pós-chuvas (Coelho

225
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

et al., 2000; Matias, 2002; Faria, 2008). O fenómeno foi apenas identificado nas
parcelas 6.2, 6.3, 8.19, 9.93 e 9.154, com valores de 2, 1, 1, 1 e 1, respetivamente. Estas
parcelas registam uma elevada cobertura do solo, motivo pelo qual a precipitação não o
terá atingido nestes locais, e a isso se deve provavelmente a verificação de repelência,
embora em baixo grau. A baixa humidade favorece a hidrofobia (King, 1981; Buczko et
al., 2005; Jarvis et al.,2008; Faria, 2008).
A tabela IV.56, permite verificar a ocorrência de elevada hidrofobia em outubro,
antes de ter começado o período de chuvas.

Tabela IV.56 – Frequências relativas para a ocorrência de hidrofobia do solo registada em


outubro, n=53 Frequências absolutas
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8
Transecto 1 (n=7) 0 0 0 0 0 0 6 1
Transecto 2 (n=0) 0 0 0 0 0 0 0 0
Transecto 3 (n=) 0 0 0 0 0 0 0 0
Transecto 4 (n=7) 0 0 0 0 1 3 0 3
Transecto 5 (n=3) 0 0 0 0 0 1 1 1
Transecto 6 (n=4) 0 0 0 0 0 0 3 1
Transecto 7 (n=4) 0 0 0 0 0 3 1
Transecto 8 (n=9) 0 0 0 0 2 3 3 1
Transecto 9 (n=19) 1 0 0 0 3 9 3 3
Total (n=53) 1 6 19 17 10
Frequência relativas (%)
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8
Transecto 1 (n=7) 0 0 0 0 0 0 86 14
Transecto 2 (n=0) 0 0 0 0 0 0 0 0
Transecto 3 (n=0) 0 0 0 0 0 0 0 0
Transecto 4 (n=7) 0 0 0 0 14 43 0 43
Transecto 5 (n=3) 0 0 0 0 0 33 33 33
Transecto 6 (n=4) 0 0 0 0 0 0 75 25
Transecto 7 (n=4) 0 0 0 0 0 75 25 0
Transecto 8 (n=9) 0 0 0 0 22 33 33 11
Transecto 9 (n=19) 5 0 0 0 16 47 16 16
Total (n=53) 2 0 0 0 11 36 32 19
Frequências acumuladas (%)
Transecto 1 2 3 4 5 6 7 8
Transecto 1 (n=7) 0 0 0 0 0 0 86 100
Transecto 2 (n=0) 0 0 0 0 0 0 0 0
Transecto 3 (n=) 0 0 0 0 0 0 0 0
Transecto 4 (n=7) 0 0 0 0 14 57 0 100
Transecto 5 (n=3) 0 0 0 0 0 33 67 100
Transecto 6 (n=4) 0 0 0 0 0 0 75 100
Transecto 7 (n=4) 0 0 0 0 0 75 100
Transecto 8 (n=9) 0 0 0 0 22 56 89 100
Transecto 9 (n=19) 5 0 0 0 21 68 84 100
Total (n=53) 2 0 0 0 13 49 81 100

Nesta oportunidade, registaram-se na maioria dos locais valores de hidrofobia


compreendidos entre 6 e 8, resultados que vão ao encontro aos obtidos por Rodriguez-
Alleres et al. (2007b), que registaram também valores entre 6 e 8, com valores médios
de 6.
Os testes de Tukey mostram que a hidrofobia em outubro não apresenta diferenças
significativas para nenhum par de transectos (tabela IV.57). Não é de estranhar, uma vez
que, nesta época, antes das primeiras chuvas, os valores obtidos para a hidrofobia

226
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

foram, na sua maioria, registados nas classes de maior hidrofobia. Para a hidrofobia em
dezembro, os valores registados já se traduzem em diferenças significativas, mas
exclusivamente entre o transecto 6 e os transectos 1, 4, 7, 8 e 9. Estes resultados
refletem o que se verifica no campo, ou seja, todos os transectos apresentam diferenças
significativas relativamente ao transecto 6, com exceção do 5. Os transectos 5 e 6 são
muito semelhantes entre si, e representam uma mancha de pinhal muito mais
homogénea e desenvolvida relativamente ao restante pinhal. A elevada espessura de
manta morta (A00) é uma característica exclusiva destes dois transectos, o que fará
manter a elevada hidrofobia (Doerr et al., 2006) mesmo durante o período das chuvas.

Tabela IV.57 – Resultados do teste de Tukey relativamente à hidrofobia em outubro e em dezembro,


n=53 RepOut
Transeto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Mean Dif.
1
Sig.
Mean Dif.
2
Sig.
Mean Dif.
3
Sig.
Mean Dif.
4
Sig.
Mean Dif.
5
Sig.
Mean Dif. -0,750* -0,750*
6
Sig. 0,018 0,018
Mean Dif. 0,750*
7
Sig. 0,049
Mean Dif. 0,639*
8
Sig. 0,048
Mean Dif. 0,645*
9
Sig. 0,021
RepDz
*. The mean difference is significant at the 0.05 level.

IV.4.6 – Humidade do solo

A humidade do solo, elemento indispensável para a absorção de nutrientes por


parte das plantas - uma vez que a limita ou a favorece (Costa, 1985; Varenes, 2003;
Vertessey et al. apud Nunes, 2010) - é extremamente baixa nas Dunas de Mira. Os solos
arenosos apresentam sempre teores de humidade muito baixos (Tardif et al. (2007). De
todos os locais analisados não se destaca nenhum transecto, a nenhuma profundidade,
pela verificação de valores mais elevados de humidade (tabelas IV.58, IV.59 e IV.60).

227
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O valor máximo de humidade registado no mês de janeiro aos 10cm de


profundidade é uma exceção aos restantes valores medidos no campo noutras
oportunidades. Mas é no mês de janeiro que, de um modo geral, se verificam os maiores
valores de humidade no solo. Ao longo do ano os valores variam, regra geral, entre os 0
e 1%, correspondendo por isso a um muito baixo teor de humidade. Estes baixos teores
não favorecem a absorção de nutrientes pelas plantas e, por outro lado, também não
favorecem o processo de compostagem da manta morta (Varennes, 2003). A principal
razão deste baixo teor de humidade é devida à baixa capacidade de retenção do solo,
causada, por sua vez, pelo seu baixíssimo teor de matéria orgânica.
Com o abandono da agricultura, e o consequente abandono do uso da floresta
como fornecedor de matos para o composto, verifica-se, em alguns locais, um aumento
de manta morta. Este fator poderá ser positivo se houver água disponível para permitir a
degradação destes materiais. As análises efetuadas mostraram no entanto que a
existência destas camadas impede que a humidade chegue a camadas mais profundas.
Será difícil e moroso trazer melhores características de retenção de humidade a
estes solos. Tal só acontecerá se a quantidade de precipitação for suficiente para que não
fique retida nas copas do coberto arbóreo, consiga posteriormente favorecer a
degradação da matéria orgânica, e chegue também aos componentes minerais, para que
se possa então proceder à absorção dos nutrientes por parte da vegetação arbórea,
arbustiva e herbácea.
A incorporação de composto vegetal no solo poderia ser uma solução para
promover o aumento do teor de humidade. Para a sua concretização será necessário que
quando se efetuem trabalhos de beneficiação, como os cortes de subcoberto, estes sejam
triturados e deixados no local.

228
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.58 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade do solo registada a


10cm de profundidade, n=53
Mínimo
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,0 1,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Máximo
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,5 0,7 0,3 0,0 0,7 0,0 0,7
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 1,1 1,7 3,9 0,4 0,0 3,9
Transecto 5 (n=3) 0,8 3,8 2,7 0,6 0,8 0,0 3,8
Transecto 6 (n=4) 2,2 2,3 3,9 3,1 2,7 0,0 3,9
Transecto 7 (n=4) 2,7 0,8 1,0 1,1 1,2 0,0 2,7
Transecto 8 (n=9) 1,2 0,6 1,8 3,9 1,0 0,1 3,9
Transecto 9 (n=19) 1,3 20,1 1,5 1,5 2,8 0,1 20,1
Total (n=53) 2,7 20,1 3,9 3,9 2,8 0,1 20,1
Média
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,1 0,2 0,0 0,0 0,2 0,0 0,1
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,3 0,5 1,0 0,1 0,0 0,3
Transecto 5 (n=3) 0,5 2,7 0,9 0,2 0,5 0,0 0,8
Transecto 6 (n=4) 0,7 1,3 1,5 1,1 1,0 0,0 0,9
Transecto 7 (n=4) 1,0 0,2 0,3 0,3 0,7 0,0 0,4
Transecto 8 (n=9) 0,2 0,1 0,6 1,1 0,3 0,0 0,4
Transecto 9 (n=19) 0,4 1,8 0,5 0,2 1,1 0,0 0,7
Total (n=53) 0,4 1,0 0,5 0,5 0,6 0,0 0,5
Moda
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,8 - 0,0 0,0 - 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Mediana
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,4 0,3 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,8 2,6 0,0 0,0 0,7 0,0 0,3
Transecto 6 (n=4) 0,4 1,4 1,1 0,6 0,6 0,0 0,5
Transecto 7 (n=4) 0,7 0,0 0,1 0,0 0,7 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,1 0,2 1,3 0,2 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,4 0,6 0,1 0,0 0,8 0,0 0,1
Total (n=53) 0,0 0,3 0,1 0,0 0,4 0,0 0,0
Desvio Padrão
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,3 0,1 0,0 0,3 0,0 0,2
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,1 0,5 0,6 1,4 0,1 0,0 0,7
Transecto 5 (n=3) 0,5 1,1 1,5 0,3 0,4 0,0 1,1
Transecto 6 (n=4) 1,0 1,0 1,7 1,4 1,2 0,0 1,2
Transecto 7 (n=4) 1,3 0,4 0,5 0,5 0,4 0,0 0,7
Transecto 8 (n=9) 0,4 0,2 0,7 1,3 0,4 0,0 0,7
Transecto 9 (n=19) 0,4 4,5 0,6 0,5 0,9 0,0 2,0
Total (n=53) 0,6 2,8 0,8 0,9 0,8 0,0 1,3

229
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.59 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade do solo registada a


20cm de profundidade, n=53
Mínimo
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,6 0,6 0,4 0,0 0,2 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Máximo
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,3 0,9 0,0 0,8 0,2 0,0 0,9
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,7 0,8 0,8 1,2 0,6 0,0 1,2
Transecto 5 (n=3) 0,8 3,5 1,6 0,1 1,1 0,0 3,5
Transecto 6 (n=4) 2,6 2,2 2,0 2,5 2,8 0,0 2,8
Transecto 7 (n=4) 1,3 0,1 0,2 0,4 0,2 0,0 1,3
Transecto 8 (n=9) 0,7 0,4 2,7 2,3 1,0 0,4 2,7
Transecto 9 (n=19) 6,1 5,4 2,0 4,0 3,3 0,3 6,1
Total (n=53) 6,1 5,4 2,7 4,0 3,3 0,4 6,1
Média
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,3 0,0 0,1 0,1 0,0 0,1
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,2 0,3 0,5 0,1 0,0 0,2
Transecto 5 (n=3) 0,7 1,9 0,8 0,0 0,7 0,0 0,7
Transecto 6 (n=4) 1,5 1,2 0,9 0,8 1,3 0,0 0,9
Transecto 7 (n=4) 0,5 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,1
Transecto 8 (n=9) 0,2 0,1 0,8 0,9 0,2 0,0 0,4
Transecto 9 (n=19) 1,2 0,9 0,3 0,4 0,8 0,0 0,6
Total (n=53) 0,7 0,6 0,4 0,4 0,5 0,0 0,4
Moda
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,6 - - 0,0 - 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) - - - - - 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Mediana
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,1 0,3 0,1 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,6 1,4 0,5 0,0 0,9 0,0 0,5
Transecto 6 (n=4) 1,7 1,3 0,8 0,3 1,1 0,0 0,6
Transecto 7 (n=4) 0,3 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,3 1,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,9 0,4 0,0 0,0 0,6 0,0 0,1
Total (n=53) 0,4 0,2 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0
Desvio Padrão
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,4 0,0 0,3 0,1 0,0 0,2
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,3 0,3 0,3 0,6 0,2 0,0 0,3
Transecto 5 (n=3) 0,1 1,5 0,7 0,1 0,5 0,0 0,9
Transecto 6 (n=4) 1,2 0,9 0,9 1,2 1,2 0,0 1,0
Transecto 7 (n=4) 0,6 0,1 0,1 0,2 0,0 0,0 0,3
Transecto 8 (n=9) 0,3 0,1 1,1 0,8 0,3 0,1 0,6
Transecto 9 (n=19) 1,4 1,3 0,5 0,9 0,9 0,1 1,0
Total (n=53) 1,0 1,0 0,7 0,8 0,7 0,1 0,8

230
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.60 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade do solo registada a


30cm de profundidade, n=53
Mínimo
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,3 0,0 0,0 0,0 1,1 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Máximo
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 1,4 0,4 0,0 0,4 0,1 0,0 1,4
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0
Transecto 5 (n=3) 2,0 1,0 1,2 0,4 1,9 0,0 2,0
Transecto 6 (n=4) 3,4 1,6 0,7 1,6 2,0 0,0 3,4
Transecto 7 (n=4) 1,5 0,4 1,0 0,0 0,0 0,0 1,5
Transecto 8 (n=9) 2,4 0,5 2,3 1,2 1,0 0,3 2,4
Transecto 9 (n=19) 2,2 2,5 2,4 3,6 1,5 0,8 3,6
Total (n=53) 3,4 2,5 2,4 3,6 2,0 0,8 3,6
Média
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,6 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,1
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,4 0,2 0,2 0,1 0,1 0,0 0,2
Transecto 5 (n=3) 1,4 0,5 0,4 0,2 1,4 0,0 0,7
Transecto 6 (n=4) 2,3 0,8 0,3 0,6 0,9 0,0 0,8
Transecto 7 (n=4) 0,5 0,1 0,3 0,0 0,0 0,0 0,1
Transecto 8 (n=9) 1,0 0,1 0,9 0,3 0,3 0,1 0,4
Transecto 9 (n=19) 0,9 0,6 0,3 0,3 0,4 0,0 0,4
Total (n=53) 0,9 0,4 0,4 0,2 0,4 0,0 0,4
Moda
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 - 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) ´- - 0,0 ´- ´- 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) ´- - ´- ´- ´- 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Mediana
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,5 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 1,9 0,6 0,0 0,2 1,3 0,0 0,4
Transecto 6 (n=4) 2,8 0,8 0,2 0,4 0,9 0,0 0,5
Transecto 7 (n=4) 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,8 0,1 0,6 0,0 0,2 0,0 0,1
Transecto 9 (n=19) 1,2 0,5 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0
Total (n=53) 0,7 0,2 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Desvio Padrão
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,2 0,0 0,1 0,1 0,0 0,3
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,2 0,3 0,7 0,2 0,0 0,3
Transecto 5 (n=3) 0,3 0,9 1,0 0,2 0,4 0,0 0,7
Transecto 6 (n=4) 0,4 0,8 1,0 1,1 1,0 0,0 1,0
Transecto 7 (n=4) 0,8 0,2 0,2 0,2 0,1 0,0 0,4
Transecto 8 (n=9) 0,5 0,1 0,8 0,7 0,3 0,1 0,7
Transecto 9 (n=19) 0,7 2,0 0,5 0,6 0,7 0,1 0,7
Total (n=53) 0,6 1,3 0,6 0,6 0,6 0,1 0,7

231
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.61 – Parâmetros estatísticos analisados relativamente à humidade do solo para os valores
médios obtidos das três profundidades registadas, n=53
Mínimo
Transecto Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=0) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) 0,6 1,1 0,1 0,0 0,5 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) 1,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Máximo
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,6 0,4 0,1 0,4 0,3 0,0 0,6
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,6 0,7 0,8 1,8 0,4 0,0 1,8
Transecto 5 (n=3) 1,1 2,8 1,8 0,4 1,1 0,0 2,8
Transecto 6 (n=4) 1,9 1,8 2,2 2,4 2,2 0,0 2,4
Transecto 7 (n=4) 1,8 0,4 0,4 0,5 0,4 0,0 1,8
Transecto 8 (n=9) 1,4 0,3 2,3 2,3 1,0 0,3 2,3
Transecto 9 (n=19) 2,7 9,4 1,8 2,6 2,5 0,3 9,4
Total (n=53) 2,7 9,4 2,3 2,6 2,5 0,3 9,4
Média
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,3 0,2 0,0 0,1 0,1 0,0 0,1
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,2 0,3 0,5 0,1 0,0 0,2
Transecto 5 (n=3) 0,9 1,7 0,7 0,1 0,9 0,0 0,7
Transecto 6 (n=4) 1,5 1,1 0,9 0,8 1,1 0,0 0,9
Transecto 7 (n=4) 0,7 0,1 0,2 0,1 0,3 0,0 0,2
Transecto 8 (n=9) 0,4 0,1 0,8 0,8 0,3 0,0 0,4
Transecto 9 (n=19) 0,8 1,1 0,4 0,3 0,8 0,0 0,6
Total (n=53) 0,7 0,7 0,4 0,4 0,5 0,0 0,4
Moda
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,0 - - 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 5 (n=3) - - - - - 0,0 0,0
Transecto 6 (n=4) - - - - - 0,0 0,0
Transecto 7 (n=4) - 0,0 0,0 0,0 - 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,0 0,0 - 0,0 - 0,0 0,0
Transecto 9 (n=19) 0,0 - 0,0 0,0 - 0,0 0,0
Total (n=53) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Mediana
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,1 0,3 0,1 0,0 0,0 0,1
Transecto 5 (n=3) 0,9 1,2 0,2 0,1 1,0 0,0 0,5
Transecto 6 (n=4) 1,5 1,3 0,7 0,4 1,0 0,0 0,8
Transecto 7 (n=4) 0,4 0,0 0,2 0,0 0,3 0,0 0,0
Transecto 8 (n=9) 0,3 0,1 0,3 0,9 0,2 0,0 0,2
Transecto 9 (n=19) 0,7 0,7 0,2 0,0 0,5 0,0 0,2
Total (n=53) 0,6 0,3 0,2 0,0 0,3 0,0 0,1
Desvio Padrão
Amostra Dezembro Janeiro Março Abril Maio Agosto Total
Transecto 1 (n=7) 0,2 0,2 0,0 0,1 0,1 0,0 0,2
Transecto 2 (n=0) - - - - - - -
Transecto 3 (n=) - - - - - - -
Transecto 4 (n=7) 0,2 0,2 0,3 0,7 0,2 0,0 0,4
Transecto 5 (n=3) 0,3 0,9 1,0 0,2 0,4 0,0 0,8
Transecto 6 (n=4) 0,4 0,8 1,0 1,1 1,0 0,0 0,8
Transecto 7 (n=4) 0,8 0,2 0,2 0,2 0,1 0,0 0,4
Transecto 8 (n=9) 0,5 0,1 0,8 0,7 0,3 0,1 0,6
Transecto 9 (n=19) 0,7 2,0 0,5 0,6 0,7 0,1 1,0
Total (n=53) 0,6 1,3 0,6 0,6 0,6 0,1 0,8

232
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A análise das médias dos valores dos teores da humidade do solo nas diferentes
profundidades e nos diferentes meses (tabela IV.62) levou à identificação de três
períodos temporais. Um período de reposição - correspondente aos valores da humidade
do solo em dezembro, em que os valores médios aumentam em profundidade; um
período húmido – que agrega os valores médios registados de janeiro a abril, e onde o
comportamento e valor das médias diminui com a profundidade; e por fim um período
seco – correspondente aos baixíssimos valores registados em agosto em todas as
profundidades. Fica-se assim, com três novas variáveis, que correspondem ao período
de reposição de humidade (PrRpHum), ao período húmido (PrHum) e ao período seco
(PrSec).

Tabela IV.62 – Média da humidade do solo registada nos diferentes meses (%)
Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Agosto
Prf_10 0,364 0,991 0,519 0,508 0,642 0,004
Prf_20 0,677 0,583 0,404 0,443 0,494 0,019
Prf_30 0,932 0,393 0,349 0,221 0,372 0,025

Os valores de humidade do solo extremamente baixos identificados para cada um


dos meses estudados entra em contradição com Ferreira (2008), que também efetuou
medições de humidade dos solos em área de pinhal. Com o mesmo equipamento, mas
em solos com maiores quantidades de matéria orgânica, obteve resultados que variam
entre os 10 e os 30%. No entanto, Jarvis et al. (2008) consideram que em solos arenosos
a humidade apresenta valores que vão até um máximo de 2%, o que coincide com os
resultados deste trabalho. Por outro lado, Greiffenhagen et al. (2006) obtiveram
resultados até um máximo de 3% de humidade em solos arenosos, o que pode ficar a
dever-se a uma maior quantidade de matéria orgânica presente. Arbel et al. (2005)
obtiveram valores de humidade em solos arenosos entre os 0,1% e os 7% em
profundidades até aos 50cm, sendo estes últimos valores pouco representativos uma vez
que a maioria dos resultados obtidos eram inferiores a 4%.
A análise dos testes de Tukey para os diferentes períodos de humidade refletem
uma grande homogeneidade entre os transectos em todos os períodos e a todas as
profundidades. No período de reposição de humidade a 10cm e a 20cm de profundidade
não há qualquer diferença significativa entre os diferentes transectos. A 30cm de
profundidade só se registam diferenças significativas entre os transectos 4 e 6 (Tukey,
mean dif. 1,846, sig. 0,020). Relativamente ao período húmido não se registam também
diferenças significativas entre os transectos a 10 e a 30cm de profundidade. A 20cm

233
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

registam-se diferenças significativas entre os transectos 6 com o 1 e o 7 (Tukey, mean


dif. 0,921, sig. 0,016 e 0,955, sig. 0,038, respetivamente). Quanto ao período seco, não
se registam mais uma vez quaisquer diferenças significativas: todos os valores
registados são próximos de 0%. Conclui-se que o transecto 6 é o único que apresenta
algumas diferenças significativas, embora poucas, relativamente aos restantes. A média
dos valores de humidade do solo de todos os meses, a todas as profundidades, embora
muitíssimo baixa, é superior no transecto 6 (tabela IV.61).

IV.4.7 – Relação entre os diferentes elementos de solos nas suas diferentes


profundidades

Feita a análise descritiva para cada uma das variáveis do grupo de solos, assim
como a comparação do seu comportamento nas diferentes profundidades e entre os
diferentes transectos, dá-se continuidade a essa análise com a aplicação dos testes de
Friedman para os elementos de solos, uma vez que se pretende comparar as variáveis
deste grupo nas suas diferentes profundidades a fim de poder diminuir o número de
variáveis em causa. O teste de Friedman é um teste que deve ser utilizado quando uma
variável é sujeita a três ou mais situações (Pocinho e Figueiredo, s/d, p.92; Vilelas,
2009; Field, 2005). Considerou-se que era adequado no caso em estudo uma vez que se
pretende avaliar o comportamento de quatro variáveis (pH, M.O., P2O5 e K2O) nas
diferentes profundidades em que foram recolhidas.
A análise das tabelas dos resultados da aplicação do teste de Friedman às
variáveis consideradas (tabela IV.63) mostra que foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas (p-value <0,05, Friedman) para todas, com exceção do
P2O5 às profundidades de 10 e 30cm, e para o K2O entre as profundidades de 20 e de
30cm. Estes resultados permitem, numa primeira hipótese, substituir os valores das duas
profundidades de P2O5 pelo valor médio correspondente ou, numa segunda hipótese,
optar por continuar a utilizar apenas uma das profundidades que não apresentam
diferenças significativas entre si. O mesmo acontece para o K2O nas profundidades de
20 e de 30cm. Deve calcular-se a média das duas profundidades ou selecionar uma
delas. Neste trabalho optou-se por selecionar uma das profundidades que não apresenta
diferenças significativas. No caso do P2O5 optou-se por excluir a profundidade de 30cm
e manter a de 10cm. Para o K2O excluiu-se também a profundidade 30cm, optando-se
pela manutenção dos valores da profundidade de 20cm. Desta forma, ao excluir as

234
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

profundidades de 30cm para o P2O5 e para o K2O, mantêm-se os valores obtidos a 10 e a


20cm de profundidade para todas as variáveis. Posteriormente, na análise entre os
diferentes grupos de variáveis, as referentes aos solos foram, quando se revelou
apropriado, representadas pelos seus valores médios. Os resultados obtidos pelo teste de
Friedman são utilizados na análise interna das variáveis do grupo dos solos.

Tabela IV.63 – Resultados do teste Friedman para os diferentes elementos de solos, n= 96

Ranks Ranks Ranks Ranks


Mean Rank Mean Rank Mean Rank Mean Rank
pH_10cm *1,25 MO_10cm *2,39 P2O5_10cm 1,82 K2O_10cm *2,52
pH_20cm *2,13 MO_20cm *1,98 P2O5_20cm *2,30 K2O_20cm 1,77
pH_30cm *2,62 MO_30cm *1,63 P2O5_30cm 1,88 K2O_30cm 1,72

*A symp.Sig. (pH) =0,000 *A symp.Sig. (M .O).= 0,000 *A symp.Sig. (P 205)= 0,001 *A symp.Sig. (K2O)= 0,000

Depois de efetuada esta análise, passou-se ao cálculo e análise das correlações. A


correlação de Pearson é aplicada usualmente a variáveis quantitativas, mas as variáveis
categóricas ordinais requerem normalmente um outro tipo de tratamento, para o qual é
normalmente considerado adequada a correlação de Spearman (Pocinho e Figueiredo,
s/d, p. 98; Field, 2005, pp.125-129) por oferecer em princípio uma maior segurança.
Depois de se realizarem os dois tipos de correlações, verificou-se que, invulgarmente,
os coeficientes eram mais elevados nas correlações de Pearson, pelo que acabou por ser
esta a preferida.
Os coeficientes de correlação obtidos indicam que há correlações fortes e
significativas entre os valores de pH nas diferentes profundidades. Também estabelece
correlações significativas, embora de baixo coeficiente, para a matéria orgânica às
profundidades 10 e 20cm, o que será justificado pelo carácter acidificante da matéria
orgânica que se encontra em maior quantidade próximo da superfície (Tabela IV.64). A
relação inversa deve-se ao facto de o pH diminuir (o solo torna-se mais ácido) com o
aumento da matéria orgânica do solo. Os baixos coeficientes de correlação verificados
neste estudo assemelham-se aos obtidos por Bacchewar e Gajbhiye (2011), embora
estes autores tenham registado correlações positivas, não tendo apresentado possíveis
justificações para o facto.

235
PrdRpHum PrdRpHum PrdRpHum PrdHum_ Prduúm_ PrdHum_ PrdSec_ PrdSec_ PrdSec_
pH_10 pH_20 pH_30 MO_10 MO_20 MO_30 P2O5_10 P2O5_20 K2O_10 K2O_20 RepOut RepDz
_10 _20 _30 10 20 30 10 20 30
Correl. 1 ,863** ,720** -,206* -,205* -0,024 ,342** ,262** 0,11 -0,158 -,389** -0,11 0,053 0,213 0,099 0,137 0,107 0,23 0,124 -0,049 0,185
pH_10
Sig. 0 0 0,044 0,045 0,815 0,001 0,01 0,287 0,125 0,004 0,433 0,707 0,125 0,481 0,328 0,444 0,097 0,378 0,726 0,186
Correl. ,863** 1 ,837** -0,196 -0,137 0,044 ,326** ,279** 0,048 -0,169 -,323* -0,077 0,049 0,179 0,07 0,123 0,182 0,26 0,269 0,108 0,21
pH_20
Sig. 0 0 0,056 0,185 0,673 0,001 0,006 0,641 0,101 0,018 0,584 0,727 0,199 0,62 0,381 0,193 0,06 0,051 0,44 0,131
Correl. ,720** ,837** 1 -,320** -0,099 0,198 ,395** ,507** 0,009 -,286** -,398** -0,061 0,127 ,321* 0,076 0,254 ,286* ,364** 0,141 0,083 ,284*
pH_30
Sig. 0 0 0,001 0,335 0,053 0 0 0,929 0,005 0,003 0,666 0,365 0,019 0,589 0,067 0,038 0,007 0,314 0,556 0,039
Correl. -,206* -0,196 -,320** 1 0,101 0,111 -0,173 -,241* -0,047 0,052 0,128 0,077 -0,059 -0,067 0,1 -0,091 -0,118 -0,129 -0,11 -0,079 -0,071
MO_10
Sig. 0,044 0,056 0,001 0,329 0,282 0,091 0,018 0,648 0,617 0,359 0,584 0,677 0,635 0,476 0,515 0,402 0,357 0,434 0,576 0,612
Correl. -,205* -0,137 -0,099 0,101 1 ,275** 0,051 0,091 0,166 0,039 ,277* 0,175 0,139 0,022 -0,035 0,102 0,067 -0,104 -0,171 -0,01 -0,159
MO_20
Sig. 0,045 0,185 0,335 0,329 0,007 0,623 0,376 0,106 0,706 0,045 0,211 0,32 0,876 0,803 0,466 0,636 0,459 0,221 0,946 0,255
Correl. -0,024 0,044 0,198 0,111 ,275** 1 0,078 ,272** 0,038 -0,151 0,247 ,279* -0,041 -0,001 0,242 -0,144 0,052 -0,081 -0,232 -0,061 -0,216
MO_30
Sig. 0,815 0,673 0,053 0,282 0,007 0,448 0,007 0,711 0,143 0,074 0,043 0,773 0,996 0,081 0,305 0,711 0,563 0,094 0,662 0,121
Correl. ,342** ,326** ,395** -0,173 0,051 0,078 1 ,558** 0,161 -0,196 -0,269 -0,043 0,011 0,123 0,08 0,044 0,084 0,065 0,091 0,115 0,101
P2O5_10
Sig. 0,001 0,001 0 0,091 0,623 0,448 0 0,117 0,056 0,052 0,758 0,935 0,378 0,569 0,757 0,551 0,641 0,518 0,411 0,472
Correl.

*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).


,262** ,279** ,507** -,241* 0,091 ,272** ,558** 1 0,016 -,283** -0,181 -0,13 0,097 0,043 -0,041 0,029 0,088 0,081 0,002 -0,053 -0,033

**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).


P2O5_20
Sig. 0,01 0,006 0 0,018 0,376 0,007 0 0,878 0,005 0,196 0,354 0,487 0,757 0,772 0,835 0,529 0,564 0,986 0,705 0,815
Correl. 0,11 0,048 0,009 -0,047 0,166 0,038 0,161 0,016 1 ,353** -0,232 0,129 0,045 -0,159 -0,02 -0,056 -0,04 -0,035 0,109 0,221 0,019
K2O_10
Sig. 0,287 0,641 0,929 0,648 0,106 0,711 0,117 0,878 0 0,095 0,356 0,748 0,255 0,888 0,689 0,778 0,804 0,439 0,111 0,894
Correl. -0,158 -0,169 -,286** 0,052 0,039 -0,151 -0,196 -,283** ,353** 1 -0,069 -0,056 -0,197 -,285* -0,065 -0,187 -0,122 -0,111 -0,013 -0,036 -0,135
K2O_20
Sig. 0,125 0,101 0,005 0,617 0,706 0,143 0,056 0,005 0 0,626 0,688 0,158 0,038 0,645 0,181 0,383 0,429 0,925 0,799 0,335
Correl. -,389** -,323* -,398** 0,128 ,277* 0,247 -0,269 -0,181 -0,232 -0,069 1 0,13 0,042 -,525** -0,218 -,435** -0,264 -,493** 0,002 0,002 -,582**
RepOut
Sig. 0,004 0,018 0,003 0,359 0,045 0,074 0,052 0,196 0,095 0,626 0,353 0,764 0 0,117 0,001 0,056 0 0,991 0,988 0
Correl. -0,11 -0,077 -0,061 0,077 0,175 ,279* -0,043 -0,13 0,129 -0,056 0,13 1 0,046 0,098 0,135 0,104 0,149 0,038 -0,06 0,13 -0,063
RepDz
Sig. 0,433 0,584 0,666 0,584 0,211 0,043 0,758 0,354 0,356 0,688 0,353 0,746 0,487 0,334 0,46 0,285 0,786 0,668 0,353 0,652
PrdRpHum Correl. 0,053 0,049 0,127 -0,059 0,139 -0,041 0,011 0,097 0,045 -0,197 0,042 0,046 1 0,232 0,147 0,183 0,245 0,132 0,202 0,115 -0,032
_10 Sig. 0,707 0,727 0,365 0,677 0,32 0,773 0,935 0,487 0,748 0,158 0,764 0,746 0,094 0,294 0,19 0,076 0,346 0,147 0,41 0,822
PrdRpHum Correl. 0,213 0,179 ,321* -0,067 0,022 -0,001 0,123 0,043 -0,159 -,285* -,525** 0,098 0,232 1 ,442** ,710** ,544** ,672** 0,004 0,091 ,668**
_20 Sig. 0,125 0,199 0,019 0,635 0,876 0,996 0,378 0,757 0,255 0,038 0 0,487 0,094 0,001 0 0 0 0,975 0,519 0
PrdRpHum Correl. 0,099 0,07 0,076 0,1 -0,035 0,242 0,08 -0,041 -0,02 -0,065 -0,218 0,135 0,147 ,442** 1 0,238 ,305* ,347* 0,13 0,104 0,263
_30 Sig. 0,481 0,62 0,589 0,476 0,803 0,081 0,569 0,772 0,888 0,645 0,117 0,334 0,294 0,001 0,087 0,027 0,011 0,353 0,458 0,057
Correl. 0,137 0,123 0,254 -0,091 0,102 -0,144 0,044 0,029 -0,056 -0,187 -,435** 0,104 0,183 ,710** 0,238 1 ,827** ,817** -0,003 0,12 ,746**
PrdHum_10
Sig. 0,328 0,381 0,067 0,515 0,466 0,305 0,757 0,835 0,689 0,181 0,001 0,46 0,19 0 0,087 0 0 0,981 0,392 0
Correl. 0,107 0,182 ,286* -0,118 0,067 0,052 0,084 0,088 -0,04 -0,122 -0,264 0,149 0,245 ,544** ,305* ,827** 1 ,877** 0,021 0,072 ,480**
PrdHum_20
Sig. 0,444 0,193 0,038 0,402 0,636 0,711 0,551 0,529 0,778 0,383 0,056 0,285 0,076 0 0,027 0 0 0,883 0,608 0
Correl. 0,23 0,26 ,364** -0,129 -0,104 -0,081 0,065 0,081 -0,035 -0,111 -,493** 0,038 0,132 ,672** ,347* ,817** ,877** 1 0,071 0,148 ,677**
PrdHum_30
Sig. 0,097 0,06 0,007 0,357 0,459 0,563 0,641 0,564 0,804 0,429 0 0,786 0,346 0 0,011 0 0 0,615 0,291 0
Correl. 0,124 0,269 0,141 -0,11 -0,171 -0,232 0,091 0,002 0,109 -0,013 0,002 -0,06 0,202 0,004 0,13 -0,003 0,021 0,071 1 ,764** 0,211
PrdSec_10
Sig. 0,378 0,051 0,314 0,434 0,221 0,094 0,518 0,986 0,439 0,925 0,991 0,668 0,147 0,975 0,353 0,981 0,883 0,615 0 0,13
Tabela IV.64 – Coeficientes de correlação estabelecidos entre os diferentes elementos de solo

Correl. -0,049 0,108 0,083 -0,079 -0,01 -0,061 0,115 -0,053 0,221 -0,036 0,002 0,13 0,115 0,091 0,104 0,12 0,072 0,148 ,764** 1 ,385**
PrdSec_20
Sig. 0,726 0,44 0,556 0,576 0,946 0,662 0,411 0,705 0,111 0,799 0,988 0,353 0,41 0,519 0,458 0,392 0,608 0,291 0 0,004
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Correl. 0,185 0,21 ,284* -0,071 -0,159 -0,216 0,101 -0,033 0,019 -0,135 -,582** -0,063 -0,032 ,668** 0,263 ,746** ,480** ,677** 0,211 ,385** 1
PrdSec_30
Sig. 0,186 0,131 0,039 0,612 0,255 0,121 0,472 0,815 0,894 0,335 0 0,652 0,822 0 0,057 0 0 0 0,13 0,004

236
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O fósforo e o potássio são também nutrientes acidificantes, sendo por vezes


utilizados para diminuir o pH dos solos (Varennes, 2003, p.106). Daqui a justificação
para a verificação de correlações significativas negativas entre os teores de K2O a 20cm
e o pH, pois um valor mais baixo de pH (ácido) sugere um valor mais elevado de K2O.
O P2O5, sendo também um elemento acidificante, aparece no entanto com valores
de correlação significativos e positivos com o pH o que, de acordo com exposto no
parágrafo anterior, não seria de esperar. No entanto, o resultado da consulta de alguns
trabalhos vem confirmar a possibilidade de esta correlação ser também correta
(Bacchewar e Gajbhiye, 2011). O P2O5 mais elevado nos locais de pH mais elevado
pode ficar a dever-se ao facto de ainda não ter sido absorvido pelas plantas, pois em
locais de pH mais elevado a assimilação deste nutriente é dificultada (Varennes, 2003).
O facto de os valores dos coeficientes de correlação obtidos para os valores do pH
nas diferentes profundidades serem sempre superiores a 0,7 significa que apresentam
uma forte multicolinearidade, o que sobrevaloriza a importância do pH na análise
multivariada que se apresenta numa fase mais adiantada deste capítulo. A
multicolinearidade existe quando se verifica uma forte correlação entre duas ou mais
variáveis que se pretendam utilizar numa análise de regressão múltipla e que, por isso,
levarão à sobrevalorização desse grupo altamente correlacionado em detrimento das
restantes variáveis. Esta multicolinearidade apresenta problemas apenas para a regressão
múltipla, uma vez que a regressão simples utiliza apenas uma variável independente de
cada vez (Field, 2005, p.174). As correlações são fortes quando apresentam um
coeficiente superior a 0,7, pelo que se pode considerar que as variáveis que estabelecem
correlações superiores a este valor promovem a existência de multicolinearidade (Field,
2005). A opção a tomar será, como no teste de Friedman, optar pelos valores recolhidos
para apenas uma das profundidades para representar o pH, ou utilizar valores médios de
pH às três profundidades. O mesmo acontece com os valores dos teores de humidade no
período húmido, que também apresentam sempre correlações superiores a 0,7 nas
diferentes profundidades, pelo que também se utilizarão valores médios quando se fizer
a análise de regressão múltipla. Como o período húmido a 10cm também estabelece
correlações fortes (≥0,7) com as variáveis período de reposição de humidade a 20cm e
com o período seco a 30cm, opta-se por utilizar valores médios das variáveis de solos,
quando se fizer a análise de regressão múltipla.
Estes resultados, que obrigam a tomar de decisões quanto à seleção de
profundidades ou a optar pelo uso dos seus valores médios, e a consideração de que para

237
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

a recolha de solos para ensaios de fertilidade devem ser recolhidas amostras compósitas
(Varennes, 2003, p.322), conduziu à opção pela utilização dos valores médios das
variáveis na análise de regressão múltipla. Não se optou na altura da recolha pela
homogeneização das amostras no campo, homogeneização que é agora sugerida pelos
resultados estatísticos obtidos.
A humidade do solo afeta a atividade biológica e, consequentemente, a matéria
orgânica no que respeita à sua quantidade e à sua degradação (Vertessey et al., apud
Nunes, 2010). Para Greiffenhagen et al. (2006), quando a humidade do solo aumenta, a
matéria orgânica também aumenta. Os dados recolhidos neste trabalho não permitiram
confirmar essa relação, pois a matéria orgânica não parece estabelecer relações
significativas com a variação da humidade do solo em nenhuma das épocas
consideradas.
Após se decidir utilizar valores médios de algumas variáveis para a análise de
regressão linear múltipla, optou-se também por efetuar novas correlações, desta vez
com os valores médios das três profundidades das variáveis relativas aos solos. Nesta
nova análise às correlações verifica-se que os períodos de humidade registam sempre
correlações positivas e significativas entre si, o que se justifica pelo facto de estes
dependerem da mesma variável: a existência de humidade no solo (tabela IV.65). A
correlação negativa (e significativa) verificada entre os diferentes períodos de humidade
estabelecidos para a hidrofobia justifica-se pelo facto de os locais mais secos registarem
uma maior hidrofobia em todos os períodos, mesmo no período húmido. O teor de
humidade do solo influencia a hidrofobia, pois um valor elevado de humidade leva à
diminuição da hidrofobia, havendo portanto uma correlação negativa (Doerr et al, 2000;
Faria, 2008; Thompson, 2010, p.4). A correlação estabelecida entre a hidrofobia e a
humidade do solo, em solos florestais, apresenta geralmente valores muito baixos
(Buczko et al., 2005). O mesmo se verifica neste trabalho, onde os valores da
correlação, apesar de baixos, são na generalidade significativos. O pH regista
correlações negativas (significativas) com a matéria orgânica e a hidrofobia em
outubro. Estes valores são justificados pelo facto de a matéria orgânica ser um fator
acidificante dos solos. A hidrofobia também é maior nos locais mais ácidos, pois é onde
existe maior quantidade de matéria orgânica, que é um fator que a favorece (Harper et
al., 2000; Ashman, 2002); Matias, 2002; Rodriguez-Alleres et al., 2007b). Por outro
lado, Faria (2008) não encontra relação entre matéria orgânica e repelência, facto que

238
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

se verifica também neste trabalho. No entanto, Buczko et al. (2005) identificam em


solos florestais correlações que podem ser consideradas fortes para estas variáveis.
A correlação positiva do pH com o P2O5, conforme já foi referido, não era
esperada, devido ao caráter acidificante deste último. O K2O e a hidrofobia em
dezembro não apresentam correlações significativas com os restantes elementos dos
solos. Registe-se ainda que na tabela anterior (IV.64), quando da análise de pormenor
nas diferentes profundidades, o K2O aparece com relação negativa (significativa) com o
pH a 20cm de profundidade.

Tabela IV.65 – Correlações estabelecidas para os valores médios dos elementos de solos
PrdRepHu MO P2O5 K2O
PrdHum Prd Sec pHMédio RepOut RepDz
m Média Médio Médio

Corre l . 1 ,578** ,406** 0,2 0,03 0,086 -0,113 -,380** 0,135


PríRpHum
Si g. 0 0,003 0,15 0,834 0,541 0,422 0,005 0,336

Corre l . ,578** 1 ,550** 0,222 -0,093 0,062 -0,104 -,432** 0,116


PrdHum
Si g. 0 0 0,11 0,507 0,657 0,458 0,001 0,408

Corre l . ,406** ,550** 1 0,203 -0,155 0,071 -0,046 -,400** 0,005


PrdSec
Si g. 0,003 0 0,144 0,268 0,615 0,743 0,003 0,971

Corre l . 0,2 0,222 0,203 1 -,211* ,463** -0,185 -,388** -0,088


pHMédio
Si g. 0,15 0,11 0,144 0,039 0 0,071 0,004 0,533

Corre l . 0,03 -0,093 -0,155 -,211* 1 -0,051 0,02 0,234 0,168


MOMédia
Si g. 0,834 0,507 0,268 0,039 0,619 0,844 0,092 0,228

Corre l . 0,086 0,062 0,071 ,463** -0,051 1 -0,085 -0,228 -0,081


P2O5Médio
Si g. 0,541 0,657 0,615 0 0,619 0,412 0,1 0,564

Corre l . -0,113 -0,104 -0,046 -0,185 0,02 -0,085 1 -0,163 0,05


K2OMédio
Si g. 0,422 0,458 0,743 0,071 0,844 0,412 0,243 0,724

Corre l . -,380** -,432** -,400** -,388** 0,234 -0,228 -0,163 1 0,13


RepOut
Si g. 0,005 0,001 0,003 0,004 0,092 0,1 0,243 0,353

Corre l . 0,135 0,116 0,005 -0,088 0,168 -0,081 0,05 0,13 1


RepDez
Si g. 0,336 0,408 0,971 0,533 0,228 0,564 0,724 0,353

**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).


*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

No seguimento da análise feita e apresentada, passou-se à análise de regressão


linear múltipla (ARLM) para os vários elementos do solo. Em primeiro lugar fez-se a
ARLM para as variáveis de solo obtidas em laboratório. Assim, relacionou-se em
primeiro lugar o pH a 10cm de profundidade com a matéria orgânica em todas as
profundidades e o P2O5 e o K2O a 10cm e 20cm de profundidade. Isto porque se
considerou que os elementos fósforo, potássio e matéria orgânica têm influência na
variação do pH e, de acordo com os testes de Friedman realizados devem ser estas as
profundidades utilizadas. Por outro lado, não se excluíram aqui as situações registadas

239
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

de multicolinearidade (Field, 2005), porque se procede primeiro a uma ARLM para as


diferentes hipóteses que se colocam: pH com matéria orgânica, P2O5 e K2O nas
diferentes profundidades e, posteriormente, a uma nova ARLM relativamente aos
valores médios obtidos para estas variáveis, onde a referida situação de
multicolinearidade já foi excluída. Saliente-se ainda que o pH a 10cm de profundidade
pode ser facilmente medido no campo, o que poderá ser mais uma justificação para a
sua utilização neste tipo de trabalhos.
No primeiro caso a ARLM mostrou que para a explicação da variável dependente
pH a 10cm de profundidade (linear regression: n=95; adj. r2=0,147) apenas são
significativos os valores da matéria orgânica a 20cm de profundidade (b= -1,486; sig.
0,024), e os de P2O5 a 10cm de profundidade (b= 0,48; sig. 0,048). Estabeleceu-se
posteriormente uma ARLM entre os valores médios obtidos para estas variáveis. Os
resultados confirmam os obtidos na ARLM anterior: o pH médio das três profundidades
analisadas apresenta coeficientes de regressão significativos com a matéria orgânica
média (b=-1,248; Sig. 0,04) e com o P2O5 médio (b=0,089; Sig. 0,00) (tabela IV.66),
respetivamente negativo e positivo.

Tabela IV.66 – Regressão linear multivariada entre o pHMédio e, a MOMédia, o P2O5Médio e


o K2O, n = 96
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,520a 0,27 0,246 0,53554

a . Pre di ctors : (Cons ta nt), K2OMé di o, MOMé di a , P2O5Mé di o


Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 7,046 0,318 22,161 0

MOMédia -1,248 0,6 -0,185 -2,078 0,04

P2O5Médio 0,089 0,018 0,441 4,933 0

K2OMédio -0,025 0,016 -0,144 -1,609 0,111

a. Dependent Variable: pHMédio

O valor negativo do coeficiente obtido na ARLM para a matéria orgânica vem


confirmar a relação negativa entre estas duas variáveis do solo, significando que, no
pinhal, os valores mais baixos de pH (mais ácidos) se registam em locais com teores
mais altos de matéria orgânica, conforme também se regista em Ferreira (2008) e

240
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Nunes (2007). Também Hurraß e Schaumann (2006) referem a importância da relação


que se estabelece entre o pH e a matéria orgânica.
Por outro lado, o valor positivo do coeficiente relativo ao P2O5 vem mais uma vez
confirmar a relação identificada anteriormente e que não se esperava, como foi referido
antes, mas que coincide com os resultados apresentados por Bacchewar e Gajbhiye
(2011).
Numa segunda fase estabeleceu-se uma ARLM para o pH a 10cm de profundidade
com os diferentes períodos de humidade e a hidrofobia (linear regression: n= 52; adj.
r2=0,61), e os resultados refletem que apenas a hidrofobia em outubro é significativa
(b= -0,179; sig. 0,025). Os valores mais baixos de pH correspondem a locais de maior
hidrofobia no outono, ou seja, antes do início das chuvas. Quando se repete esta
operação com os valores médios de pH, os resultados são semelhantes.
Procedendo depois à ARLM do pH médio com todas as variáveis significativas
anteriores (RepOut, P2O5 médio e M.O. média) (tabela IV.67), obtêm-se alterações nas
relações significativas. Aqui invertem-se os valores dos coeficientes relativos à matéria
orgânica, que passa a ser positivo (b=1,319; Sig. 0,039), e ao P2O5 (b=-0,1; Sig. 0,000),
que passa a ser negativo, resultado com tendência semelhante ao obtido por Bacchewar
e Gajbhiye (2011). O tamanho da amostra total diminuiu porque só existem valores de
hidrofobia registados em 53 parcelas.

Tabela IV.67 – Regressão linear multivariada estabelecida entre o pHMédio e, a RepOut, a


MOMédia e o P2O5Médio, n=52
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,660a 0,435 0,401 0,415228
a . Pre di ctors : (Cons ta nt), MOMé di a , P2O5Mé di o, Re pOut
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 7,217 0,399 18,104 0,000

RepOut -0,102 0,05 -0,229 -2,039 0,047

MOMédia 1,319 0,621 0,239 -2,122 0,039

P2O5Médio -0,1 0,025 -0,451 4,014 0,000

a. Dependent Variable: pHMédio

241
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Como conclusão deste ponto destacam-se as relações positivas estabelecidas entre


os diferentes períodos de humidade e o facto de os locais de pH mais baixo
corresponderem aos locais com mais elevado teor de matéria orgânica (Santos, 2008,
p.37; Varennes, 2003). E também o facto de a hidrofobia em outubro apresentar valores
mais elevados nos locais com menor valor de pH e, portanto, e de acordo com os
resultados obtidos, também com maior concentração de matéria orgânica (Hurraß e
Schaumann., 2006; Jasinska et al, 2006; Urbanek et al., 2007; Jarvis et al., 2008).
Algumas das análises efetuadas não refletiram de imediato estes resultados, pelo que
somente depois de efetuados os rearranjos propostos a partir dos resultados preliminares
dos testes se passou a análises com valores médios, que permitiram chegar às
conclusões apresentadas.

IV.5 – RELAÇÃO ENTRE O COBERTO ARBÓREO E OS RESTANTES


GRUPOS DE VARIÁVEIS ANALISADOS

Feita a análise das variáveis individualmente e pelos grupos onde se integram,


passa-se à análise que procura encontrar as relações que possam explicar os diferentes
estados de desenvolvimento do pinheiro bravo em função das variáveis dos diferentes
grupos considerados (fisiografia, subcoberto vegetal e solos).
A altura dominante, pelas razões oportunamente expostas, é variável selecionada
para caracterização do coberto arbóreo. No entanto, para não deixar de lado outras
possibilidades, foram feitas outras ARLM com a participação, como variáveis
dependentes, das restantes variáveis do coberto arbóreo.

5.1 – Relação entre o coberto arbóreo e o subcoberto vegetal

As relações estabelecidas entre o coberto arbóreo e o subcoberto (tabela IV.68)


mostram a correlação negativa estabelecida entre a Hdom e a percentagem e a altura
média do subcoberto herbáceo. Este precisa de luz para se desenvolver e, como em
simultâneo a correlação também estabelecida com a percentagem e a altura média do
subcoberto arbustivo é significativa e positiva, constituem situações em que a
penetração de luz até às camadas mais baixas de subcoberto, que corresponde ao
herbáceo, é reduzida. Acrescenta-se o facto de o subcoberto arbustivo ser
essencialmente constituído por Acacia longifolia Willd, e de esta espécie dificultar o
desenvolvimento do subcoberto (Marchante, H., 2001; Marchante, E., 2007). Por outro

242
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

lado é de destacar a correlação positiva (significativa) estabelecida entre a percentagem


de acácias e as variáveis do coberto arbóreo. Há somente uma correlação negativa para
o caso da densidade do pinhal, o que normalmente corresponde a árvores menos
desenvolvidas.
De destacar também a correlação negativa (significativa) verificada entre as
variáveis do coberto arbóreo e a percentagem de líquenes, ou seja, um coberto arbóreo
mais desenvolvido não promoverá o desenvolvimento de líquenes. Isto poderá
justificar-se pela diminuição de luz que chega ao solo (Carvalho et al., 2002; Marques,
2008). No campo parece que as parcelas que registam maiores percentagens de líquenes
apresentam, em simultâneo, pinheiros pouco desenvolvidos e em grande número.
A percentagem de musgos verifica correlações positivas (significativas) com a
altura média e a altura dominante. Os musgos preferem áreas de sombra para o seu
desenvolvimento, o que existe predominantemente nos locais de coberto arbóreo mais
desenvolvido, com grandes copas a não permitirem a passagem de luz, e que são
normalmente mais húmidos (Hespanhol et al, 2008; Marques, 2008).

Tabela IV.68– Correlações de Pearson estabelecidas para as variáveis do grupo do coberto arbóreo
com o subcoberto
%EspAbSbc %Ac RiqEsp %Musgo %Líq %SbcTotl HSbHer HSbcArbs %SbcHer %SbcArbst VlApSbcVeg

DAP Correl. ,128** ,441** -,289** 0,08 -,260** 0,028 -,448** ,365** -,318** ,468** ,482**
Sig. 0,006 0,000 0,000 0,109 0,000 0,545 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

H Correl. ,123** ,349** -,368** ,150** -,313** 0,012 -,451** ,318** -,268** ,378** ,400**
Sig. 0,008 0,000 0,000 0,002 0,000 0,797 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Hdom Correl. ,101* ,322** -,369** ,153** -,344** -0,001 -,435** ,307** -,255** ,352** ,369**
Sig. 0,031 0,000 0,000 0,002 0,000 0,990 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Dens Correl. 0,019 -,256** 0,073 0,073 0,036 0,051 ,342** -,117* ,246** -,260** -,215**
Sig. 0,678 0,000 0,119 0,145 0,536 0,273 0,000 0,038 0,000 0,000 0,000

**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).


*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

Quando se fez a ARLM sobre os dados recolhidos, esperavam-se resultados


significativos para vários dos elementos de subcoberto. Na entanto, a quase totalidade
das variáveis do subcoberto não revelaram relações significativas com quaisquer
elementos do coberto arbóreo.
A ARLM a apresentar neste ponto foi aquela em que se considerou a altura
dominante como variável dependente e as variáveis do subcoberto como independentes.
Os resultados mostraram que apenas existe uma relação significativa da Hdom com a
percentagem de líquenes (linear regression: n=15; r2adj.=0,154;b=-0,56; sig. 0,010). E
esta relação corresponde a um menor desenvolvimento de líquenes em locais de maior

243
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

desenvolvimento do pinhal. Depois desta, a variável que mais se aproxima de ser


significativa é o volume aparente de subcoberto vegetal (b= -2,124; sig. 0,092). Seria de
esperar que este coeficiente fosse positivo, uma vez que a correlação de Pearson entre a
altura dominante e o volume aparente é positiva.
Com os resultados anteriores tão pouco significativos, tentou-se em seguida a
altura média do coberto arbóreo como variável dependente. Os resultados mostraram
que nenhuma variável de subcoberto apresenta valores significativos nesta ARLM.
O diâmetro à altura do peito apresenta valores de regressão significativos para a
percentagem de subcoberto total (linear regression: b = -0,01; sig. 0,030), não havendo
qualquer outra variável com valores de significância perto de 0,05.
A densidade arbórea também não apresenta valores significativos na ARLM com
qualquer dos elementos do subcoberto, sendo que o valor mais próximo é a altura
média do subcoberto herbáceo (b = 362,029; sig. 0,092). Este valor, positivo, traduz o
facto de nas parcelas de maior densidade arbórea os pinheiros apresentarem um baixo
desenvolvimento, o que promove o desenvolvimento de herbáceas.
As variáveis do subcoberto selecionadas na sua totalidade e usadas em simultâneo
na ARLM poderiam enviesar os resultados, pelo que se excluíram a riqueza específica, a
percentagem da espécie mais representativa do subcoberto, a percentagem de
subcoberto total e a percentagem de acácias. Esta exclusão assenta no facto de terem
revelado boas correlações com as restantes variáveis do grupo mas baixas correlações
com as variáveis dependentes do coberto arbóreo, e de poderem de alguma forma repetir
informação. Mantiveram-se na ARLM as variáveis associadas à altura média do coberto
herbáceo e arbustivo, à percentagem de subcoberto herbáceo e arbustivo, à
percentagem de líquenes, à percentagem de musgos e ao volume aparente do
subcoberto vegetal. Procedeu-se então a uma nova ARLM “passo a passo” com a pré-
seleção de variáveis de subcoberto, mas os resultados obtidos não melhoraram
consideravelmente para a regressão estabelecida com a altura dominante, tendo-se
mantido significativa a percentagem de líquenes e acrescentado a percentagem de
musgos (linear regression: b= 0,28; sig. 0,011). Considerando a altura média como
variável dependente, retêm-se como significativa apenas a percentagem de musgo
(linear regression: b = 0,031; sig. 0,003). Com o diâmetro à altura do peito como
variável dependente nenhuma das variáveis do subcoberto revela uma relação
significativa e, quando a variável dependente é a densidade arbórea, a relação revela-se

244
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

significativa apenas com a altura média do subcoberto herbáceo (linear regression: b =


406,789; sig. 0,039).
Considerando os resultados obtidos na análise das diferentes variáveis em relação
às do grupo do subcoberto arbóreo, optou-se por se proceder em seguida a uma ARLM
apenas com as variáveis do subcoberto que se revelaram com um relacionamento
significativo com elas.
Para a altura dominante revelaram-se significativas a percentagem de líquenes
(b= 0,076; Sig. 0,000) e a percentagem de musgos com (b= 0,026; sig. 0,001). Mas,
embora com um n relativamente elevado (292), o adjusted r2 é muito baixo (0,145).
Para a altura obteve-se como significativa apenas a percentagem de musgos (b=
0,026; sig. 0,003). Mas sendo agora o n mais elevado (402), o adjusted r2 continua a ser
muito baixo (0,19).
Para a densidade, revelou-se significativa apenas a relação com a altura média do
subcoberto herbáceo (b= 0,549; sig. 0,000). Mas embora com um n também elevado
(402), o adjusted r2 continua a ser muito baixo (0,113).
Com o diâmetro à altura do peito, quando realizada a regressão linear simples
com a percentagem de subcoberto total, obtiveram-se valores não significativos.
Como síntese deste ponto, refere-se que o maior desenvolvimento do coberto
arbóreo coincide com locais de menor percentagem de líquenes, pois são os locais de
maior ensombramento (Carvalho et al., 2002; Rodrigues, 2005; Marques, 2008).
Também se verifica que o desenvolvimento do pinhal promove o desenvolvimento de
musgos, pois estes preferem locais de sombra, promovida pelos pinheiros possuidores
de grandes copas (Hespanhol et al, 2008; Marques, 2008). Ainda é possível inferir que o
coberto herbáceo se desenvolve mais nos locais de pinhal menos desenvolvido, onde
terão acesso a mais luz. Este subcoberto herbáceo não é muito representativo em termos
de quantidade de biomassa mas pode ter um papel importante no equilíbrio do
ecossistema, nomeadamente no controle da evapotranspiração (Walker et al., 1999). Por
fim, regista-se que o desenvolvimento das acácias é diretamente proporcional ao do
pinhal.
Devido aos resultados obtidos no estabelecimento das correlações, esperava-se
um maior número de relações significativas nas ARLM que se fizeram, o que não veio a
verificar-se. Mas estes resultados, embora não significativos, mostram que a tendência
de relacionamento entre as variáveis consideradas, positiva ou negativa, é sempre a mais
lógica sob o ponto de vista ecológico.

245
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.5.2 – Relação entre o coberto arbóreo e a fisiografia

Quando se estabelecem as correlações entre as variáveis do coberto arbóreo e as


da fisiografia da estação, os valores mais fortes dizem respeito à relação estabelecida
entre o coberto arbóreo (H, HDom, DAP e Dens) e a altitude (tabela IV.69). As relações
estabelecidas são negativas para a H, HDom e DAP, traduzindo o facto de nas altitudes
mais elevadas os pinheiros apresentarem um menor desenvolvimento geral. Por outro
lado, a correlação positiva estabelecida entre a altitude e a densidade refletem o facto de
a maior densidade arbórea existir em locais de maior altitude.
Importa salientar que todas as correlações que foram estabelecidas entre as
variáveis do coberto arbóreo e as da fisiografia são significativas, algumas no entanto
com valores relativamente baixos. Da análise feita à correlação entre os elementos do
coberto arbóreo com a profundidade da toalha freática, pode concluir-se que os valores
negativos traduzem o facto de o maior desenvolvimento arbóreo aparecer nos locais de
água a menor profundidade, uma vez que o pinheiro, como qualquer árvore, precisa de
ter água disponível para realizar um maior crescimento (Tardif et al. 2007; Nunes,
2007; Souza et al., 2008).
Uma grande distância ao mar também parece não ser um dos fatores mais
indicados para o desenvolvimento do pinheiro, pois as maiores distâncias correspondem
a valores de desenvolvimento mais baixos (Cordeiro, 2005). A densidade arbórea longe
do mar é mais elevada do que quando há uma aproximação à duna primária.
A exposição, obtida a partir do método adaptado de Páscoa et al. (1982), revela
que o resultado esperado acaba por confirmar-se com os coeficientes de correlação
negativos obtidos. Os pinheiros apresentam valores de menor desenvolvimento na crista
da duna, por serem alvo de maior ação do vento (André, 1996; Almeida, 2000) e
estarem mais distantes da toalha freática, e na exposição sul, devido ao seu menor teor
de humidade (Corrêa, 2008). O maior desenvolvimento do pinhal ocorrerá na grande
depressão interdunar e nas depressões entre dunas no campo de dunas interiores. A
maior quantidade de radiação solar que atinge o solo nas áreas de planície acaba por ser
favorável nas depressões interdunares, locais onde a elevada temperatura associada a
uma maior disponibilidade de água também será favorável ao desenvolvimento vegetal
(Kunz, et al., 2007). A observação da orientação das vertentes (exposição) é uma forma
de estimar o grau de insolação e o nível de humidade potenciais dessas áreas,
permitindo avaliar os locais mais favoráveis ao desenvolvimento vegetal (Corrêa, 2008).

246
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

TabelaIV.69 – Correlações de Pearson estabelecidas para as variáveis do grupo do


coberto arbóreo com as variáveis do grupo fisiografia

PrTFreat ΔmAlt, Alt Exp DistMar

Correl. -,412** -,426** -,616** -,395** -,429**


DAP
Sig. ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Correl. -,306** -,308** -,497** -,309** -,349**
H
Sig. ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Correl. -,265** -,243** -,421** -,263** -,297**
HDom
Sig. ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Correl. ,318** ,442** ,467** ,340** ,290**
Dens
Sig. 0 0 0 0 0

Para a realização da ARLM considerou-se em primeiro lugar, e pelas razões já


invocadas anteriormente, a variável dependente altura dominante (tabela IV.70). Estes
resultados permitem concluir que a altura dominante é expressão (para um adjusted
r2=0,188) da diferença para a altitude mínima do transecto (b=0,140; Sig.0,030) e da
altitude (b=-0,563; Sig.0,000). Assim confirma-se que o pinhal bravo prefere os locais
de menores altitudes de dunas.

Tabela IV.70 – Regressão linear multivariada estabelecida entre a altura dominante e os


elementos de fisiografia (DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt), n=457

Model Summary
Model R R Square Adjus ted R Square Std. Error of the Es timate
1 ,444a 0,197 0,188 3,98825
a. Predictors : (Cons tant), Dis tMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 20,109 0,655 30,683 0,000
PrTFreat 0,204 0,118 0,138 1,726 0,085
ΔmAlt 0,140 0,064 0,176 2,180 0,030
Alt -0,563 0,097 -0,692 -5,820 0,000
Exp -0,070 0,116 -0,035 0,608 5,440
DistMar 0,000 0,000 0,083 1,180 0,239
a. Dependent Variable: Hdom

247
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A ARLM estabelecida para a altura média (com um adjusted r2=0,262), tabela


IV.71, permite identificar a profundidade da toalha freática (b=0,319; Sig.0,007) e a
altitude (b=-0,662; Sig.0,000) como significativas na sua predição.
A ARLM estabelecida para diâmetro à altura do peito com os elementos de
fisiografia (com um adjusted r2=0,386), tabela IV.72, apresenta valores significativos
com a profundidade da toalha freática (b=0,006; Sig.0,008) e com a altitude (b=-
0,013; Sig.0,000).

Tabela IV.71 – Regressão linear multivariada estabelecida entre a altura média e os elementos de
fisiografia (DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt), n=457

Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,519a 0,27 0,262 3,97462
a . Predi ctors : (Cons ta nt),Di s tMa r, ΔmAl t, Exp, PrTFrea t, Al t
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 19,710 0,653 30,177 0,000
PrTFreat 0,319 0,117 0,206 2,713 0,007
ΔmAlt 0,105 0,064 0,126 1,636 0,103
Alt -0,662 0,096 -0,778 -6,861 0,000
Exp -0,083 0,115 -0,040 -0,742 0,469
DistMar 0,000 0,000 -0,079 1,174 0,241
a. Dependent Variable: H

Tabela IV.72 – Regressão linear multivariada estabelecida entre o DAP e os elementos do grupo
de fisiografia (DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt), n=457
Model Summary
Model R R Square Adjusted R Square Std. Error of the Estimate
1 ,627a 0,393 0,386 0,07489
a. Predictors: (Constant), DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 0,390 0,012 31,685 0,000
PrTFreat 0,006 0,002 0,184 2,649 0,008
ΔmAlt 0,000 0,001 0,029 0,408 0,683
Alt -0,013 0,002 -0,757 -7,314 0,000
Exp -0,002 0,002 -0,050 -1,004 0,316
DistMar 0,000 0,000 0,012 0,200 0,842
a. Dependent Variable: DAP

248
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Por último, a ARLM estabelecida para a densidade arbórea (com um adjusted


r2=0,258), tabela IV.73, permite verificar que, neste caso, não aumenta muito as
significâncias das variáveis. A profundidade da toalha freática aparece como um valor
negativo (b=-42,759; Sig.0,000), ou seja, maior profundidade da toalha freática
corresponde à existência de menor densidade de pinhal.
A altitude e a diferença para o mínimo de altitude do transecto também aqui se
revelam significativas (b= 26,284 e 30,301; Sig. 0,008 e 0,000, respetivamente),
conforme já ocorria na análise feita da relação com as restantes variáveis de coberto
arbóreo.
Tabela IV.73 – Regressão linear multivariada estabelecida entre a densidade e os elementos de
fisiografia (DistMar, ΔmAlt, Exp, PrTFreat, Alt), n=457
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,516a 0,266 0,258 406,222
a . Predi ctors : (Cons ta nt), Di s tMa r, ΔmAl t, Exp, PrTFrea t, Al t
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 104,667 66,753 1,568 0,118
PrTFreat -42,759 12,007 -0,272 -3,561 0,000
ΔmAlt 30,301 6,554 0,357 4,623 0,000
Alt 26,284 9,861 0,303 2,665 0,008
Exp 18,412 11,775 0,086 1,564 0,119
DistMar 0,031 0,026 0,081 1,198 0,231
a. Dependent Variable: Dens

O valor associado à profundidade da toalha freática aparece aqui com sinal


contrário ao registado nas ARLM feitas para as outras variáveis do coberto arbóreo e ao
registado também na correlação de Pearson.
Os valores associados à variável altitude são, pelo contrário, confirmados nesta e
nas outras ARLM´s, em relação aos resultados obtidos na correlação de Pearson.
A distância ao mar não regista, segundo as ARLM realizadas, qualquer tipo de
influência no desenvolvimento do pinhal, contrariamente ao que os resultados obtidos
com as correlações perspetivavam.
Também a exposição não aparece, nesta ARLM, com importância para a
explicação do desenvolvimento do pinhal, uma vez que não regista a sua influência
como significativa para a explicação da variabilidade de nenhuma das variáveis do

249
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

coberto arbóreo. E, mais uma vez, assim como na profundidade da toalha freática, estes
resultados contrariam os que eram perspetivados das correlações que expressaram
resultados significativos para as diferentes variáveis do coberto arbóreo.
Face a estes resultados optou-se por fazer uma análise de regressão linear
univariada (ARLU) entre as variáveis do coberto arbóreo e estas duas variáveis
independentes, e os resultados foram semelhantes aos das correlações, com a influência
destas variáveis a ser determinada no mesmo sentido da correlação. Obtiveram-se
resultados significativos (de sinal negativo) na regressão linear simples estabelecida,
considerando a exposição como variável independente, para o diâmetro à altura do
peito, a altura dominante e a altura média e significativos positivos para a densidade
arbórea (linear regression: b = -0,017; b = -0,525; b = -0,647; b = 72,372 e sig. 0,000;
0,000; 0,000; 0,000, respetivamente).
Quando se efetuou a ARLU com a profundidade da toalha freática como variável
independente obtiveram-se resultados negativos significativos para o diâmetro a altura
do peito, a altura dominante e a altura média, e significativos positivos para a
densidade (linear regression: b = -0,013; b= -0,391; b = -0,473; b=50,138 e sig. 0,000;
0,000; 0,000; 0,000, respetivamente).
Quaisquer dos valores de adj. r2 obtidos não refletem uma elevada explicação da
variação das variáveis dependentes (coberto arbóreo) pelas variáveis independentes,
uma vez que estes se localizam num intervalo com um valor máximo de adj. r2 = 0,168.
Como síntese deste ponto, verifica-se que o maior desenvolvimento do pinhal
ocorre em locais de menor altitude, onde a profundidade da toalha freática é menor e
em locais onde a distância ao mar é menor. Estes locais de maior proximidade ao mar
são também, regra geral, os de menor altitude, conforme se pode concluir no ponto
IV.2.6. Os pinheiros que se localizam muito próximo da duna primária são, regra geral,
muito retorcidos, mas os seus diâmetros são elevados e o seu crescimento geral também,
embora, quase sempre, aconteça na horizontal (André, 1996; Almeida, 2000). Quanto à
exposição, esta análise permite concluir que os locais de depressão favorecem o
desenvolvimento do pinhal, sendo as cristas de duna os locais menos propícios à sua
instalação.
A profundidade da toalha freática e a exposição aparecem com resultados
inversos, considerando os relativos à correlação e à ARLM. Mas quando se passa a uma
análise de regressão linear simples ou “passo a passo”, conclui-se que os resultados são
coerentes.

250
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.5.3 – Relação entre o coberto arbóreo e os elementos de solos

Como já foi referido anteriormente, para o grupo de variáveis do solo não foi
possível identificar uma que pudesse caracterizar o grupo, pois nenhuma se destacou
com correlações significativas fortes com as restantes variáveis. Quando se
correlacionam as variáveis do coberto arbóreo com as dos solos, destacam-se o pH, o
P2O5 a todas as profundidades, o K2O a 10cm e a hidrofobia em outubro como as que
estabelecem mais relações significativas com vários elementos do coberto arbóreo. Os
resultados obtidos para as correlações com os valores médios dos elementos de solos
aproximam-se dos resultados das correlações obtidas para as diferentes profundidades
(tabela IV.74).
As correlações com sinal negativo estabelecidas entre o pH nas suas diferentes
profundidades e os elementos do coberto arbóreo confirmam a preferência do pinheiro
bravo por ambientes acidófilos (Varennes, p.99, 2003), ambientes acidófilos que por sua
vez também promove, ou seja, os pinheiros mais desenvolvidos encontram-se nos locais
de menor pH (Nunes, 2007; Ferreira, 2008).
A matéria orgânica (MO) apresenta correlações pouco significativas com as
variáveis do coberto arbóreo. Estas só se registam para a MO a 20cm de profundidade
com o DAP, e a 10cm de profundidade com a altura média. As restantes correlações,
embora não significativas, vêm confirmar a existência de um maior desenvolvimento do
pinhal nos locais com maior teor de matéria orgânica, como se regista em Nunes (2007).
Quanto ao P2O5, regista-se uma correlação negativa significativa com todos as
variáveis do coberto arbóreo. Esta correlação significará que o coberto arbóreo mais
desenvolvido existe nos locais de menor P2O5 extraível, o que poderá significar que os
pinheiros já consumiram as quantidades disponíveis deste elemento no solo
(Bacchewar, e Gajbhiye.,2011).
Quanto aos valores de K2O, as correlações estabelecidas com as variáveis do
coberto arbóreo são significativas apenas para os 10cm de profundidade. E trata-se de
uma correlação negativa que, tal como para o P2O5, poderá significar uma maior
absorção nos locais de maior desenvolvimento. Também se pode ficar a dever ao facto
de os locais de maior desenvolvimento de coberto arbóreo apresentarem um pH mais
baixo e, consequentemente, uma menor disponibilidade em fósforo (Hellemaa, 1998,
p.3).

251
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A hidrofobia em outubro aparece com correlações significativas (positivas) para a


maioria das variáveis do coberto arbóreo. A exceção regista-se apenas para a densidade
arbórea, com a qual estabelece uma correlação negativa (e não significativa). Estes
resultados traduzem o facto de o pinhal ser mais desenvolvido nos locais com maior
hidrofobia. Tal não tem que significar, obrigatoriamente, que o pinhal tem preferência
por locais de maior hidrofobia. Pelo contrário, poderá significar que o maior
desenvolvimento do pinhal favorece a hidrofobia dos solos (Rodriguez-Alleres et
al.,2007,b; Buczko et al., 2005; Doerr et al., 2006).
A hidrofobia em dezembro não estabelece quaisquer correlações significativas
com as variáveis do coberto arbóreo.
Quanto aos diferentes períodos de humidade do solo, também não apresentam, de
um modo geral, valores significativos nas correlações que estabelecem com o coberto
arbóreo. Stähli (1999) considera que a humidade em solos arenosos não é aproveitada
pelas plantas a baixas temperaturas, pois não ocorre a formação de soluções com os
nutrientes. Então uma grande quantidade de humidade pode não significar uma maior
fertilidade do solo e consequente maior desenvolvimento vegetal. Nunes (2007)
considera que o pinhal adulto regista menor humidade do solo, o que pode ficar a dever-
se à menor quantidade de água que chega ao solo devido às grandes dimensões das
copas.
Tabela IV.74 – Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo do coberto arbóreo com o
grupo de solos
pH_10 pH_20 pH_30 MO_10 MO_20 MO_30 P2O5_10 P2O5_20 K2O_10 K2O_20

Correl. -,450** -,437** -,383** 0,177 ,232* 0,159 -,431** -,350** -,239* 0,068
DAP
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,085 0,023 0,122 0,000 0,000 0,019 0,510
Correl. -,518** -,524** -,471** ,226* 0,165 0,097 -,487** -,413** -,275** 0,142
H
Sig. 0,000 0,000 0,000 0,027 0,108 0,347 0,000 0,000 0,007 0,166
Correl. -,458** -,437** -,331** 0,141 0,204 0,043 -,385** -,322** -,370** -0,039
HDom
Sig. 0,000 0,000 0,002 0,188 0,055 0,689 0,000 0,002 0,000 0,716
Correl. -0,088 -0,175 -,220* 0,104 -0,163 -0,005 -0,100 -0,155 ,232* ,281**
Dens
Sig. 0,394 0,089 0,031 0,314 0,112 0,962 0,333 0,131 0,023 0,006

PrdRpHum_ PrdRpHum_ PrdRpHum_


RepOut RepDz PrdHúm_10 PrdHúm_20 PrdHúm_30 PrdSec_10 PrdSec_20 PrdSec_30
10 20 30

Correl. ,491** 0,204 0,017 -0,009 -0,137 -0,047 -0,108 -0,14 -0,078 -0,073 -,317*
DAP
Sig. 0 0,142 0,902 0,948 0,327 0,738 0,44 0,317 0,58 0,603 0,021
Correl. ,425** 0,173 0,06 0,03 -0,084 -0,012 -0,109 -0,139 -0,091 -0,126 -,280*
H
Sig. 0,002 0,214 0,671 0,833 0,548 0,934 0,438 0,319 0,519 0,367 0,042
Correl. ,422** 0,158 0,093 0,174 -0,035 0,099 -0,026 -0,087 -0,163 -0,085 -0,247
HDom
Sig. 0,002 0,265 0,511 0,217 0,807 0,487 0,856 0,538 0,247 0,549 0,078
Correl. -0,219 -0,191 0,038 -0,165 -0,102 -,297* -0,241 -,277* 0,013 -0,184 -0,081
Dens
Sig. 0,114 0,17 0,786 0,239 0,465 0,031 0,082 0,045 0,926 0,187 0,564
PrdRpHum PrdHúm PrdSec
pHMédio MOMédia P2O5Médio K2OMédio
Médio Médio Médio

Correl. -,599** 0,189 -,345** ,-225* 0,04 0,148 -0,066


DAP
Sig. 0,000 0,077 0,000 0,034 0,777 0,294 0,64 **. Correlation is significant at the
Correl. -,493** 0,164 -0,403** -0,146 0,149 0,143 -0,116 0.01 level (2-tailed).
H
Sig. 0,000 0,125 0,000 0,174 0,293 0,311 0,411
*. Correlation is significant at the
0.05 level (2-tailed).
Correl. -,391** 0,155 -,375** -0,125 0,196 0,160 -0,16
HDom
Sig. 0,000 0,147 0,000 0,242 0,164 0,258 0,256
Correl. 0,005 -0,109 -0,014 0,134 -0,121 -0,134 -0,051
Dens
Sig. 0,964 0,309 0,898 0,211 0,392 0,342 0,719

252
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

As ARLM foram estabelecidas com a separação das variáveis do solo em dois


grupos, o que permite um aproveitamento mais racional dos dados. Uma vez que foram
recolhidos dados sobre nutrientes, matéria orgânica e pH em 96 parcelas, e dessas só
foi possível recolher dados sobre a humidade em 53, optou-se por criar dois grupos de
dados: um primeiro, com 92 parcelas, que reúne todos os dados recolhidos sobre pH,
MO, P2O5 e K2O; um segundo, com 53 parcelas, que inclui todos os dados recolhidos
sobre a humidade e a hidrofobia em outubro e em dezembro, cujos valores foram
registados diretamente no campo. Optou-se por esta separação inicial com o objetivo de
permitir uma análise mais robusta para os elementos obtidos em laboratório. O seu
maior número permitirá a obtenção de resultados mais consistentes pois, segundo
Kerlinger (1992) in Vilelas (2009, p.253), num estudo estatístico devem utilizar-se
“amostras de grande dimensão, pois amostras pequenas têm mais probabilidade de
fornecer resultados enviesados”.
Após a realização das ARLM entre as variáveis do estrato arbóreo com as relativas
ao grupo de variáveis do solo, nas suas diferentes profundidades ou com os seus valores
médios, optou-se por se apresentar apenas os relativos aos valores médios, uma vez que
refletem os resultados das diferentes profundidades e os resultados obtidos pelas duas
vias são muito semelhantes. Conforme se pode observar na tabela IV.75, considerando a
altura dominante como variável dependente (para um adjusted r2=0,29), somente o
pHmédio (b= -3,459; Sig. 0,000) e o P2O5médio (b= -0,329; Sig. 0,041) aparecem como
significativos na sua predição. Estes resultados vêm confirmar os resultados obtidos, e
já justificados anteriormente na análise dos coeficientes de correlação de Pearson.
A matéria orgânica, assim como o K2O, não apresentam quaisquer resultados
significativos. Quanto à primeira, os resultados confirmam a não significância registada
na quase totalidade das correlações. Quanto ao K2O, os valores médios serão mais
influenciados pela profundidade de 20cm, que era aquela que também não registava
quaisquer resultados significativos.

253
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.75 – Regressão linear multivariada entre a altura dominante e os elementos de


solo analisados em laboratório (pHMédio, MOMédia, P2O5Médio, K2OMédio), n= 88
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,568a 0,322 0,29 4,03477
a . Pre di ctors : (Cons ta nt),pHMé di o, MOMé di a , P2O5Mé di o, K2OMé di o
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 42,406 6,109 6,941 0,000

pHMédio -3,459 0,814 -0,422 -4,251 0,000

MOMédia 5,057 4,803 0,096 1,053 0,295

P2O5Médio -0,329 0,158 -0,204 -2,075 0,041

K2OMédio -0,199 0,128 -0,141 -1,556 0,123

a. Dependent Variable: Hdom

Para a altura média, os resultados obtidos (tabela IV.76) são muito semelhantes
aos da altura dominante, com valores de predição significativos apenas para o pHMédio
(b= -3,851; Sig. 0,000) e o P2O5Médio (b= -0,364; Sig. 0,023). Só se acrescenta aqui o
facto de o K2O ter valores muito próximos da significância aceitável. A matéria
orgânica continua muito distante de obter resultados significativos (sig. 0,259). O
adjusted r2, embora aumentando ligeiramente relativamente à altura dominante,
continua a apresentar valores muito baixos na representação da determinação do coberto
arbóreo (adj. r2= 0,346).

Tabela IV.76 – Regressão linear multivariada entre a altura média e os elementos de solo
analisados em laboratório (pHMédio, MOMédia, P2O5Médio, K2OMédio), n= 88
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,613a 0,376 0,346 3,99606
a . Predi ctors : (Cons ta nt),pHMédi o, MOMédi a , P2O5Médi o, K2OMédi o
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 44,184 6,051 7,303 0,000

pHMédio -3,851 0,806 -0,455 -4,779 0,000

MOMédia 5,402 4,757 0,099 1,136 0,259

P2O5Médio -0,364 0,157 -0,219 -2,317 0,023

K2OMédio -0,237 0,126 -0,162 -1,872 0,065

a. Dependent Variable: H

254
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

O diâmetro à altura do peito regista algumas diferenças de resultados


relativamente aos da altura dominante e da altura média. Aqui, o P2O5 deixa de ser
significativo (mas está muito próximo de o ser, sig. 0,056), enquanto o K2O passou a sê-
lo (b=-0,006; sig. 0,012), contrariamente ao que se verificava na regressão efetuada
para a altura dominante e para a altura média. O pHMédio é significativo (b= -0,058;
Sig. 0,000), tal como nas ARLM realizadas com a altura dominante e a altura média. A
matéria orgânica, de forma semelhante à relação com a altura dominante e a altura
média, também não é significativa na explicação da variabilidade do diâmetro à altura
do peito (tabela IV.77).
O adj. r2, embora ligeiramente, diminui relativamente aos encontrados para a
altura dominante e a altura média (adj. r2= 0,278).

Tabela IV.77 – Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do peito e os elementos de
solo analisados em laboratório (pHMédio, MOMédia, P2O5Médio, K2OMédio), n= 88
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,557a 0,31 0,278 0,07766

a . Predi ctors : (Cons ta nt),pHMédi o, MOMédi a , P2O5Médi o, K2OMédi o


Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 0,728 0,118 6,194 0,000

pHMédio -0,058 0,016 -0,371 -3,711 0,000

MOMédia 0,130 0,092 0,129 1,408 0,163

P2O5Médio -0,006 0,003 ,-192 -1,941 0,056

K2OMédio -0,006 0,002 -0,235 -2,578 0,012

a. Dependent Variable: DAP

Quanto à densidade, não há nenhum elemento de solo que apresente valores


significativos na sua predição.
Passando posteriormente a uma análise para estimar a contribuição das restantes
variáveis do solo resultantes de leituras no campo para o desenvolvimento do estrato
arbóreo - os diferentes períodos de humidade e a hidrofobia em outubro - conclui-se que
estes elementos não são muito relevantes na predição de qualquer variável relativa ao
coberto arbóreo.
Para a altura dominante (linear regression: n = 52; b = 2,515, sig. 0,001), altura
média (linear regression: n = 52; b = 2,409, sig. 0,003) e para o DAP (linear regression:

255
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

n = 52; b = 0,053, sig. 0,001), só a hidrofobia em outubro se revela como significativa


em todos os casos. Os períodos estruturados para caracterizar a humidade do solo
(PrdRpHum, PrdHum e PrdSec) não apresentam qualquer valor significativo,
aproximando-se, no entanto, de valores significativos o período de reposição de
humidade e o período seco no caso da altura dominante (linear regression: n =52; sig.
0,076 e 0,062, respetivamente).
Relativamente à densidade arbórea, não se regista nenhum valor de variáveis de
solos que seja significativo para a análise em causa.
Depois de feita uma análise em separado para os elementos recolhidos no campo
(humidade e hidrofobia) e para os de laboratório (pH, M.O., P2O5 e K2O), elaborou-se
uma ARLM para os elementos de solos significativos nos dois grupos, relativamente a
cada elemento do coberto arbóreo.
Das ARLM estabelecidas para a altura dominante, apenas o P2O5 é significativo
(linear regression: n =51; adj. r2 = 0,391; b= -,691; sig. 0,016,). O pHMédio (linear
regression: n =51; adj. r2 = 0,291; b= -2,555; sig. 0,056) e a repelência em outubro
(linear regression: n =51; adj. r2 = 0,291; b= 1,221; sig. 0,064) apresentam no entanto
valores próximos da significância. Estas três variáveis do solo foram as únicas a
estabelecer relações significativas quando feita a análise em separado.
Para a altura média, a ARLM efetuada conjuntamente (tabela IV.78) revela o
P2O5Médio e o pHMédio como significativos na sua predição (b= -0,824 e -3,400; Sig.
0,004 e 0,011, respetivamente).

Tabela IV.78 – Regressão linear multivariada entre a altura média e os elementos de solos
significativos na análise de regressão efetuada aos dois grupos de elementos de solos (RepOut, P2O5,
pHMédio), n=51
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,707a 0,500 0,469 3,91893
a . Predi ctors : (Cons ta nt),pHMédi o, P2O5Médi o, RepOut
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 35,498 10,265 3,458 0,001

RepOut 0,918 0,637 0,159 1,441 0,156

P2O5Médio -0,824 0,275 -0,375 -2,998 0,004

pHMédio -3,400 ,1,290 -0,337 -2,635 0,011

a. Dependent Variable: H

256
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A regressão linear realizada para as variáveis do solo consideradas significativas


nas análises anteriores (adjusted r2=0,412) veio confirmar a significância da hidrofobia
em outubro (b=0,031; Sig. 0,023) e do pHMédio (b=-0,092; Sig. 0,000) na predição do
diâmetro à altura do peito (tabela IV.79).
Menores valores de pH e de K2O médio correspondem a maiores valores de DAP,
uma vez que apresentam relações inversas. Isto reflete que os maiores diâmetros
existirão em locais de pH mais baixo, ou seja, solos mais ácidos, que se adequa mais ao
desenvolvimento do pinhal bravo, ou este maior desenvolvimento também promoveu
um ambiente mais acídico (Nunes, 2007; Ferreira, 2008). O coeficiente associado ao
K2O, com valor negativo, pode também refletir um maior consumo por parte dos
pinheiros com maior diâmetro.

Tabela IV.79 – Regressão linear multivariada entre o diâmetro à altura do peito e elementos de
solos significativos na análise de regressão efetuada aos dois grupos de elementos de solos (RepOut,
PhMédio e K2OMédio), n=51
Model Summa ry
Model R R Squa re Adjus ted R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 ,668a 0,447 0,412 0,07911
a . Predi ctors : (Cons ta nt),pHMédi o, K2OMédi o, RepOut
Coefficients(a)
Standardized
Unstandardized Coefficients
Model Coefficients t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 0,682 0,208 3,273 0,002

RepOut 0,031 0,013 0,283 2,356 0,023

pHMédio -0,092 0,023 -0,475 -4,052 0,000

K2OMédio -0,002 0,003 -0,078 -0,675 0,503

a. Dependent Variable: DAP

Em síntese, pode concluir-se que um maior desenvolvimento do pinhal ocorre


em locais de pH mais baixo (ácido), e que o pinheiro bravo gosta e promove a
existência de ambientes acídicos. Esta conclusão confirma os resultados obtidos por
Ritsema (1998), apud Ferreira (2008), e por Foth (1980), Wolf (1999), Mengel e Kirby
(2000) apud Varennes (2003, p.99) em que os valores de pH entre 4,5 e 6 são os
preferidos do pinheiro bravo.
A matéria orgânica estabelece correlações pouco significativas com o coberto
arbóreo, mas quase sempre no sentido positivo, pois este elemento dos solos é

257
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

imprescindível ao bom desenvolvimento vegetal. Os baixos valores encontrados para os


coeficientes relativos a esta variável confirmam a conclusão de Ferreira (2008), que
refere existirem baixos teores de matéria orgânica em áreas de pinhal bravo adulto.
Destacam-se também as correlações inversas das variáveis do coberto arbóreo
com o P2O5 e o K2O, o que pode ficar a dever-se a um maior consumo destes nutrientes
por parte do pinhal mais desenvolvido. Santos et al. (2006) consideram que o P2O5 é
importante no desenvolvimento vegetal das árvores adultas.
Por fim registam-se as correlações positivas das variáveis do coberto arbóreo
com a hidrofobia em outubro, o que não quererá dizer obrigatoriamente que o pinhal
prefere locais de elevada hidrofobia, mas que pode ser o maior desenvolvimento do
pinhal a promover essa mesma hidrofobia (Rodriguez-Alleres et al.,2007,b). A
hidrofobia em dezembro e a relativa aos diferentes períodos de humidade do solo
considerados não parecem estabelecer relações que contribuam para promover ou
limitar o desenvolvimento do pinhal. Mas, segundo Santos et al. (2006), a baixa
humidade do solo será o fator que mais limita o desenvolvimento vegetal. A este
elemento associa-se o baixo teor de matéria orgânica.

IV.5.4 – Relação entre coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia

Considerando-se a altura dominante como variável dependente, e independentes


as restantes variáveis do “grupo” coberto arbóreo bem como todas as dos “grupos”
subcoberto vegetal e fisiografia para a realização de uma ARLM, obteve-se um adj.r2 de
0,701 para n= 144. As restantes variáveis do coberto arbóreo (DAP, H e Dens) assumem
naturalmente uma elevada participação na predição da altura dominante, uma vez que
este valor é o mais elevado até agora registado. As variáveis significativas são, neste
caso, a altura média, a densidade arbórea e a profundidade da toalha freática (linear
regression: n =144; adj. r2 = 0,701; b1= 0,997, sig. 0,016; b2=0,001, sig. 0,025; b3= -
1,777, sig, 0,044, respetivamente). Todas as restantes variáveis do grupo de fisiografia e
do grupo de subcoberto, assim como o DAP, não apresentam valores significativos nesta
predição.
Uma vez que a utilização simultânea de variáveis internas ao grupo coberto
arbóreo e de variáveis externas (grupos subcoberto e fisiografia) como variáveis
dependentes não é correto sob os pontos de vista ecológico e estatístico devido a
possíveis problemas de multicolinearidade (Field, 2005, p.174; Byrman, Cramer e

258
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Cardoso in Pocinho e Figueiredo, s/d, pp.109,110), procedeu-se em seguida a novas


ARLM onde as variáveis do coberto arbóreo foram excluídas.
Em primeiro lugar, efetuou-se uma ARLM para as diferentes variáveis do coberto
arbóreo com todas as variáveis dos grupos fisiografia e subcoberto, em simultâneo. Os
resultados obtidos mostram que poucos são os elementos dos grupos subcoberto e
fisiografia que são significativos. Considerando a altura dominante como variável
dependente, obtiveram-se resultados significativos apenas para a riqueza específica, a
percentagem de líquenes e a distância ao mar (linear regression: n = 144; adj. r2 =
0,218; (RiqEsp: b1 = -0,376; sig. 0,031; %Liq: b2 = -0,060; sig. 0,005); DistMar: b3 =
0,001; sig. 0,012)).
Quando se efetuou a ARLM para a predição da altura média, os resultados de
significância não melhoraram e apenas se registam como significativos a percentagem
de líquenes e a altitude (linear regression: n = 144; adj. r2 = 0,260; %Líq: b1 = -0,046;
sig. 0,019; Alt: b2 = -0,330; sig. 0,009). Próximos de valores significativos registaram-se
os coeficientes relativos à percentagem de subcoberto total (sig. 0,07) e à distância ao
mar (sig. 0,093).
Considerando posteriormente os resultados para a ARLM estabelecida para o
diâmetro à altura do peito, obtiveram-se a percentagem de subcoberto total e a altitude
como significativas (linear regression: n = 144; adj. r2 = 0,333; %SbcTotl: b1 = -0,001;
sig. 0,014; Alt: b2 = -0,008; sig. 0,004)). Próximos de serem significativos encontram-se
a percentagem de ocupação da espécie dominante e a percentagem de líquenes (sig.
0,065 e 0,085, respetivamente).
Quando se efetuou a regressão linear para a densidade arbórea não se obteve
nenhuma variável do grupo fisiografia ou do grupo subcoberto que fosse significativa,
nem que apresentasse valores aproximados.
Seguidamente efetuou-se uma ARLM entre os diferentes elementos do grupo
coberto arbóreo e os elementos dos grupos fisiografia e subcoberto que obtiveram
resultados significativos na totalidade das análises anteriores - percentagem de líquenes,
percentagem de subcoberto total, altitude e distância ao mar. Os resultados obtidos na
totalidade de regressões lineares efetuadas (para HDom, H, DAP e Dens como variáveis
dependentes) mostraram que a distância ao mar nunca apresenta valores significativos,
e que a altitude apresenta sempre valores significativos para todos os elementos do
coberto arbóreo analisados (tabela IV.80), merecendo portanto ser um elemento a
considerar no desenvolvimento do pinhal (Pillar, 2011).

259
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.80 – Resumo dos resultados das regressões estabelecidas para os diferentes elementos
de coberto arbóreo, tendo como variáveis dependentes as significativas das análises anteriores, n=
144

Variável dependente Variáveis significativas B, respetivamente sig., respetivamente

Hdom %SbTotl; %Líq; Alt 0,020; -0,087; -0,167 0,016; 0,000; 0,001

H %SbTotl; %Líq; Alt 0,019; -0,073; -0,233 0,014; 0,000; 0,000


Dap %Líq; Alt -0,001; -0,007 0,000; 0,000

Como síntese deste ponto pode concluir-se que o maior desenvolvimento do


coberto arbóreo se verifica onde também existe um maior desenvolvimento de
subcoberto total. Ainda de registar que um coberto arbóreo mais desenvolvido
condiciona negativamente a existência de líquenes. O maior desenvolvimento do
coberto arbóreo ocorre em locais de menor altitude, o que pode ficar a dever-se, por
exemplo, à proximidade de água (Pillar, 2011).
Na consulta bibliográfica realizada com o objetivo de procurar trabalhos que
estudassem este assunto com a amplitude que se pretendia usar aqui - com inclusão das
variáveis relativas aos solos - não foi possível encontrar nenhum onde se estabelecessem
relações entre variáveis do coberto arbóreo e todas variáveis independentes aqui
consideradas, em simultâneo.
Para a determinação desta relação procedeu-se a uma ARLM entre as variáveis
(dependentes) do coberto arbóreo e as variáveis (independentes) do subcoberto, da
fisiografia e dos solos, em simultâneo.
Na regressão linear múltipla ensaiada com os três grupos de variáveis
independentes, os resultados mostram que não é possível estabelecer qualquer regressão
linear pois não se regista qualquer variável independente como significativa.

260
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.5.5 – Análise de componentes principais e de grupos sobre as variáveis


dos diferentes grupos estudados

Nos estudos florestais, a análise estatística multivariada é indispensável uma vez


que “… a floresta é um ecossistema que obriga à entrada de diversas variáveis dos
grupos bióticos e abióticos” (Santos et al., 2004; Grobe, 2005; Mota, 2007). A
adequação deste método de análise para estudo dos ecossistemas florestais é também
defendido por Jiaju (1998), apud Sato et al. (2011, p.696), onde a diversidade da sua
utilização integra a deteção remota de incêndios, de inundações, ou o desenvolvimento
de culturas.
Neste estudo, a utilização de um elevado número de variáveis torna muito
complexa a análise de correlações, permitindo a análise multivariada analisar as
características de todas em simultâneo (Mota, 2007).
A utilização de duas metodologias multivariadas permite aprofundar, comparar e
confirmar (ou não) os resultados de cada uma individualmente, ou então pode fornecer
um acréscimo de informação na interpretação ecológica de diferentes áreas florestais
(Mota, 2007; Grobe, 2005). Mota (2007) utilizou a análise de grupos (clusters) e de
componentes principais nesta comparação, tendo sido estes os métodos também
selecionados para este trabalho, onde se pretende comparar locais com diferentes tipos
de desenvolvimento vegetal.
Grobe (2005, p.28) refere que a Análise de Componentes Principais “é uma
técnica que transforma um conjunto de variáveis…em um conjunto menor…de
variáveis aleatórias. Estas parcelas explicam uma parcela substancial das informações
do conjunto original”. Considera ainda que dos diferentes métodos estatísticos
multivariados utilizados para análise de fatores ambientais, a análise de componentes
principais oferece resultados credíveis e facilmente interpretáveis a nível global. “A
interpretação das componentes principais é feita com base nas relações entre variáveis
originais e as componentes principais e nos coeficientes dados pelas combinações
lineares que levam às componentes principais. Quando se tem 80% até 90% do total
das variâncias da população, para um p (variáveis) grande, pode-se atribuir 1, 2 ou 3
componentes. Estas componentes podem representar a p variáveis originais com pouca
perda de informação” (Grobe, 2005, p.31).
Nos seus estudos florestais, Splechtna e Klinka (2001), apud Kummer et. al.,
(2010), verificaram que os três primeiros componentes principais estudados explicam

261
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

60% da variância total das características analisadas. Aqui também os três primeiros
componentes explicam valores semelhantes, que vão desde os 57,1% até aos 69,5%.

IV.5.5.1 – Coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia

Tabela IV.81 – Análise de componentes


principais para os elementos de coberto
arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia
Em primeiro lugar fez-se a análise de
Factor Loadings (Unrotated) (dados after PhD_170314.sta)
Extraction: Principal components
(Marked loadings are > ,700000)
componentes principais para as variáveis dos
Factor Factor Factor grupos coberto arbóreo, subcoberto e fisiografia
Variable 1 2 3
DAP 0,803406 0,086397 0,120810 (figura IV.81). Nestas três componentes, que
H 0,730540 0,045276 0,244211
HDom 0,663305 0,021960 0,306374 explicam 60,36% da variância, aparecem como
Dens -0,476905 -0,276508 0,282782 significativos o diâmetro à altura do peito,
%EspAbSbc 0,284783 -0,843978 -0,135503
%Ac 0,825930 -0,227974 0,235828 juntamente com a altura média, que estabelecem
RiqEsp -0,371233 -0,174560 -0,434137
%Musgo -0,005086 -0,706779 -0,201040 uma relação no mesmo sentido com a
%Liq -0,407619 -0,052670 -0,239306
percentagem de acácias, a altura média do
%SbcTotl 0,170809 -0,890623 -0,207474
HSbcHerb -0,573756 -0,293501 -0,066647 subcoberto arbustivo, a percentagem de
HSbcArbs 0,728551 -0,232928 0,301400
%SbcHerb -0,426707 -0,686879 -0,336509 subcoberto arbustivo e o volume aparente do
%SbcArbs 0,832019 -0,223590 0,231179
subcoberto vegetal. Também a profundidade da
VlApSbcVeg 0,746289 -0,371692 0,200796
PrfT oalhFreat -0,480155 -0,267855 0,690324 toalha freática e a diferença para a altitude
DmAlt -0,503233 -0,289508 0,658304
Alt -0,706429 -0,193231 0,577957 mínima do transecto aparecem com variação no
Exp -0,488855 0,017045 0,621130
mesmo sentido das anteriores, mas agora no
DistMar -0,546145 -0,020383 0,170742
Expl.Var 6,754344 3,170671 2,612431 fator 3. Com sinal contrário ao dos elementos do
Prp.T otl 0,337717 0,158534 0,130622
Eigenvalues (Guida290613_all.sta) coberto arbóreo significativos aparece a altitude
Extraction: Principal components
Eigenvalue % Total Cumulative Cumulative
(fator 1), a percentagem da espécie mais
Value variance Eigenvalue % abundante do subcoberto vegetal (fator 2), e a
1 6,758401 32,18286 6,75840 32,18286
2 3,177591 15,13139 9,93599 47,31425 percentagem de subcoberto total (fator 2),
3 2,739234 13,04397 12,67523 60,35822
figuras IV.1 e IV.2.

262
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Factor Loadings, Factor 1 vs. Factor 2


Rotation: Unrotated
Extraction: Principal components
0,2
Coberto
a
arbóreo b
s c
t
0,0 i
Fisiografia
r g
-0,2 l nf fn
k qp
d dp
Subcoberto
o
Factor 2

vegetal
-0,4

Subcoberto
-0,6 vegetal
m h
Subcoberto
vegetal
-0,8 e
j

-1,0
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1

Figura IV.1 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia,
para os fatores 1 e 2 *

* As letras indicam diferentes variáveis: a/DAP; b/H; c/HDom; d/Dens; e/%EspAbSbc;


f/%Ac; g/RiqEsp; h/%Musgo; i/%Liq; j/%SbcTotl; k/HSbcHerb; l/HSbcArbs;
m/%SbcHerb; n/%SbcArbs; o/VlApSbcVeg; p/PrfToalhFreat; q/DmAlt; r/Alt; s/Exp;
t/DistMar; u/pH_10; v/pH_20; w/pH_30; x/MO_10; y/MO_20; z/MO_30; aa/P2O5_10; ab/
P2O5_20; ac/ P2O5_30; ad/K2O_10; ae/ K2O_20; af/ K2O_30; ag/RepOut; ah/RepDez;
ai/pHMédio; aj/MOMédia; ak/P2O5Médio; al/K2OMédio; am/PrRepHum; na/PrHum;
ao/PrSec. As variáveis estão agrupadas de acordo com a sua relação de significância, i.e. ,
com um coeficiente superior a 0,70 (linhas a cheio) ou, ainda, com coeficientes próximos
de 0,70 (linhas a tracejado, sendo esta interpretação, e equivalência entre letra e variável
aplicada a todas as figuras relativas a Análise de Componentes Principais.

Factor Loadings, Factor 1 vs. Factor 3


Rotation: Unrotated
Extraction: Principal com ponents
0,8
p
Fisiografia q
s
0,6 r

0,4
d c l fn
b f
n
o
0,2 t
Factor 3

a
Coberto arbóreo

0,0 k
e
h j
-0,2 i
m
-0,4 g

-0,6
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1

Figura IV.2 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal e fisiografia,
para os fatores 1 e 3
263
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

A figura IV.3, um diagrama referente a uma análise de clusters, permite concluir


acerca da formação de dois grandes grupos no que diz respeito ao coberto arbóreo,
subcoberto vegetal e fisiografia. Destaca-se um grupo onde a convergência dos
elementos arbóreos altura média, altura dominante e diâmetro à altura do peito se
apresenta duma forma mais forte (juntam-se a uma distância menor), reunindo a uma
distância superior as variáveis percentagem de acácias, percentagem de subcoberto
arbustivo, volume aparente do subcoberto vegetal e altura do subcoberto arbustivo. Os
elementos de fisiografia reúnem-se num grupo destacado dos elementos do coberto
arbóreo, com exceção da densidade.
O outro grupo é formado pelas variáveis do grupo fisiografia, pela densidade
arbórea e pelos restantes elementos de subcoberto vegetal. Destaca-se, no seu âmbito,
um subgrupo, que relaciona a densidade arbórea com as variáveis altitude, exposição,
diferença para altitude mínima e profundidade da toalha freática.

Figura IV.3 – Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo, subcoberto vegetal e
fisiografia

264
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.5.5.2 – Coberto arbóreo e solos


Tabela IV.82 – Análise de componentes
principais para os elementos de coberto arbóreo
e de solos
Factor Loadings (Unrotated) (Guida290613_all.sta)
Depois da aproximação às relações Extraction: Principal com ponents
(M arked loadings are > ,700000)
entre o coberto arbóreo, o subcoberto Factor Factor Factor
Variable 1 2 3
vegetal e a fisiografia, passou-se à análise DA P 0,839967 0,154538 0,203722
H 0,841804 0,167175 0,184579
de componentes principais para as HDom 0,790902 0,201291 0,157107
Dens -0,371847 0,179501 -0,469246
variáveis do coberto arbóreo e do solo pH_10 -0,817638 -0,156902 0,045965
pH_20 -0,798012 -0,191872 0,071193
(tabela IV.82). Aqui aparecem os pH_30 -0,810325 -0,171973 0,207877
M O_10 0,421688 0,118176 0,266638
elementos do coberto arbóreo, altura
M O_20 0,420281 0,292179 0,426885
média, altura dominante e diâmetro à M O_30 0,351748 0,309968 0,439480
P2O5_10 -0,668864 0,233710 0,155756
altura do peito com uma relação inversa P2O5_20 -0,687269 0,360372 0,059676
P2O5_30 -0,656032 0,352670 0,190869
ao pHMédio e pH nas diferentes K2O_10 -0,537298 0,493371 0,154600
K2O_20 -0,362000 0,628764 -0,021909
profundidades, assim como o P2O5Médio. K2O_30 -0,169420 0,510099 0,225592
RepOut 0,513524 0,366589 -0,234114
Numa análise de componentes RepDez 0,168353 0,106200 0,420675
pHM édio -0,849062 -0,182146 0,110209
principais Grobe (2005) obteve um M OM édia 0,532246 0,242517 0,427071
P2O5M édio -0,797071 0,371864 0,158777
primeiro componente que engloba o pH, K2OM édio -0,468658 0,715164 0,173134
PrRepHum -0,132171 -0,422136 0,665040
a matéria orgânica, o P2O5 e o K2O como PrHum -0,191154 -0,514192 0,589984
PrS ec -0,269963 -0,506320 0,374231
significativos e que explica 73% da sua Expl.Var 8,694767 3,205166 2,368740
Prp.T otl 0,347791 0,128207 0,094750
amostra inicial. Aqui obtiveram-se Eigenvalues (Guida290613_all.sta)
Extraction: Principal compo nents
resultados menos satisfatórios, com a Eigenvalue % Total Cumulative Cumulative
Value variance Eigenvalue %
matéria orgânica e o K2O excluídos, e 1 8,694767 34,77907 8,69477 34,77907
2 3,205166 12,82066 11,89993 47,59973
com uma menor percentagem explicativa
3 2,368740 9,47496 14,26867 57,07469
(34,8%), mas que não deixam de ser interessantes comparativamente aos deste autor.
A figura IV.4 permite visualizar a informação da tabela IV.82, onde é nítida a
relação inversa do coberto arbóreo com os elementos de solo, indicando que o P2O5 e o
K2O, existirão em menor quantidade nos locais de maior desenvolvimento arbóreo, o
que poderá ser mais uma vez indicador do seu maior consumo por parte do referido
coberto. Ainda é de destacar a relação negativa estabelecida com pH, que indica o
carácter acidificante do pinheiro e a sua preferência por pH ácido.

265
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Factor Loadings, Factor 1 vs. Factor 2


Rotation: Unrotated
Extraction: Principal components
0,8
al
Solos ae
0,6
ad af
Solos
0,4 ak abac ag Coberto
z y arbóreo
aa aj
d c
0,2 b
a
Factor 2

ah x

0,0

ai u
wv
-0,2
Solos
am
-0,4
ao an

-0,6
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1

Figura IV.4 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e dos solos, para os fatores 1 e
2
Quanto à análise de clusters (figura IV.5), distinguem-se dois grandes grupos. Um
grupo engloba a altura média, a altura dominante, o diâmetro à altura do peito, a
hidrofobia em outubro e em dezembro (RepOut e RepDez) e os elementos respeitantes à
matéria orgânica. No outro grupo destaca-se um subcluster onde aparece a densidade
arbórea associada ao K2O. Grobe (2005) obteve resultados onde aparecem o K2O, o
P2O5 e o pH num mesmo cluster, com uma distância euclidiana de 3 enquanto que a
matéria orgânica aparece num cluster distinto com uma distância média de 6.

Figura IV.5 – Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo e de solos

266
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.5.5.3 – Coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e solos

Tabela IV.83 – Análise de componentes


principais para os elementos de coberto arbóreo,
subcoberto vegetal, fisiografia e de solos (a)
Quando se efetua uma análise de
Factor Loadings (Unrotated) (Guida290613_all.sta)
Extraction: Principal com ponents componentes principais com todas as
(M arked loadings are > ,700000)
Factor Factor Factor variáveis estudadas neste trabalho (tabela
Variable 1 2 3
DA P 0,87559 0,125193 0,135433 IV.83) obtém-se uma confirmação da
H 0,84470 0,096278 0,199136
HDom 0,81583 0,151250 0,193008 análise que já foi efetuada em separado,
Dens -0,46150 -0,084976 0,318550
%EspAbSbc 0,35323 -0,653272 -0,238789 com uma particularidade: a humidade
%Ac 0,83761 0,167037 -0,255124
RiqE sp -0,42046 -0,167420 0,085239 aparece agora como significativa, o que
%M usgo 0,00794 -0,771578 -0,015401
%Liq -0,57616 0,183077 0,140673 não se tinha verificado anteriormente. Os
%SbcTotl 0,15527 -0,563420 -0,298707
HS bcHerb -0,57876 -0,125556 0,035442 elementos significativos de subcoberto
HS bcA rbs 0,81153 0,214017 -0,277125
%SbcHerb -0,50595 -0,599458 0,015972 vegetal continuam a registar uma relação
%SbcArbs 0,81871 0,179548 -0,260560
VlA pSbcVeg 0,80725 0,168590 -0,305163 no mesmo sentido enquanto os da
PrfT oalhFreat -0,46318 -0,288142 0,279006
Dm A lt -0,59468 -0,220796 0,058971
fisiografia e de solos continuam, por sua
Alt -0,77316 -0,277530 0,242753
Exp -0,43011 -0,270769 0,262810
vez, a estabelecer uma ligação inversa,
DistM ar -0,65950 -0,175232 0,236602
pH_10 -0,70797 0,187486 -0,385305
conforme se pode observar nas figuras
pH_20 -0,69030 0,135518 -0,411580
IV.6 e IV.7. Os períodos de humidade
pH_30 -0,67629 0,192649 -0,483566
M O_10 0,38457 0,040965 0,172673 aparecem com sentido inverso ao coberto
M O_20 0,45266 0,230410 0,097763
M O_30 0,43182 0,450883 0,037571 arbóreo, o que poderia relacionar-se com
P2O5_10 -0,61036 0,405938 -0,061464
P2O5_20 -0,62884 0,328537 0,006726 o facto de os locais com maior humidade
P2O5_30 -0,57990 0,460743 -0,029423
K2O_10 -0,44050 0,600859 0,070595 corresponderem a locais de
K2O_20 -0,36957 0,414642 0,376849
K2O_30 -0,15315 0,333741 0,179720 encharcamento e por isso registarem um
RepOut 0,45376 0,099113 0,468489
RepDez 0,29475 0,343140 -0,205181 menor desenvolvimento (Pillar, 2011).
pHM édio -0,72665 0,179984 -0,446052
M OM édia 0,52782 0,189867 0,174942
P2O5M édio -0,72125 0,470555 -0,033786
K2OM édio -0,41874 0,598030 0,262976
PrRepHum 0,01818 0,145635 -0,677088
PrHum -0,07180 -0,023993 -0,721804
PrS ec -0,20495 -0,117948 -0,550365
Expl.Var 13,35050 4,567237 3,560238
Prp.T otl 0,32562 0,111396 0,086835
Eigenvalues (dados
Eigenvalues (Guida290613_all.sta)
after PhD_so numeradas_170314.sta)
Extraction: Principal
Extraction: Principal compo nents
Eigenvalue %
Eigenvalue % Total
Total Cumulative Cumulative
Value
Value variance Eigenvalue
variance Eigenvalue %
%
11 6,758401 32,56220
13,35050 32,18286 6,75840
13,35050 32,18286
32,56220
22 3,177591 15,13139
4,56724 11,13960 9,93599
17,91774 47,31425
43,70180
33 2,739234
3,56024 13,04397
8,68351 12,67523
21,47798 60,35822
52,38531

267
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Factor Loadings, Factor 1 vs. Factor 2


Rotation: Unrotated
Extraction: Principal components
0,8

ad
al
0,6
ak ac z
aa ae
Subcoberto
0,4 Solos ab af ah
Subcoberto
vegetal
Solos y vegetal
aiuw i aj l
0,2 v am ocnf
ag a
Coberto b
x arbóreo
an Coberto
Factor 2

0,0 d
k ao arbóreo
t g
q
-0,2 r ps
Fisiografia

-0,4 fisiografia

j
m
-0,6 Subcoberto e
vegetal
h
-0,8

-1,0
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1

Figura IV.6 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal, fisiografia e
de solos para os fatores 1 e 2

Factor Loadings, Factor 1 vs. Factor 3


Rotation: Unrotated
Extraction: Principal com ponents
0,6
ag

0,4 ae
d
p sal Coberto
r t arbóreo
af x aj cb
0,2 Fisiografia i a
g y
qk ad
m z
ab h
0,0 ak ac
aa
Factor 3

Solos Subcoberto
vegetal
ah
-0,2 e
j lf
n
o
Solos
u
v
-0,4 ai
w
ao
-0,6
am
an
Solos
-0,8
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1

Figura IV.7 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo, subcoberto vegetal,
fisiografia e de solos para os fatores 1 e 3

Na análise de clusters, dos dois grupos formados já numa altura euclidiana


elevada, um deles permite verificar a maior associação do coberto arbóreo em primeiro
lugar com o subcoberto vegetal, e depois com a hidrofobia e a matéria orgânica (figura

268
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.8). O segundo grupo engloba os restantes elementos, sendo notória a maior


proximidade entre as variáveis do solo.
Tree Diagram for Variables
Complete Linkage
Euclidean distances
16

14

12
Linkage Distance

10

K2O_30
K2O_20

K2O_10
P2O5_30
P2O5_20
P2O5_10
VlApSbcVeg

Exp
MO_10

MO_30
MO_20

%SbcTotl
%EspAbSbc

K2OMédio
PrSec

P2O5Médio
PrfToalhFreat

N trans
RepOut

DAP
%Ac

Alt
%SbcArbs

pH_30
pH_20
pH_10
%Musgo
MOMédia

HSbcArbs

%Liq
RiqEsp
%SbcHerb

Dens
HSbcHerb

PrHum
DmAlt

pHMédio
DistMar
RepDez

HDom

PrRepHum
Figura IV.8 – Análise de Clusters para as variáveis de coberto arbóreo, subcoberto vegetal,
fisiografia e solos
Tabela IV.84 – Análise de componentes
principais para os elementos de coberto arbóreo,
fisiografia e de solos (b)
Factor Loadings (Unrotat ed) (Guida290613_all.sta)
Extraction: Principal com ponents Realizou-se uma nova análise de
(Marked loadings are > ,700000)
Factor Factor Factor componentes principais, desta vez para o
Variable 1 2 3
DA P -0,868985 0,046576 0,186369 coberto arbóreo, variáveis de fisiografia
H -0,832562 -0,009534 0,234788
HDom -0,806086 0,061467 0,241480 consideradas significativas em análises
%EspAbSbc -0,373104 -0,431945 -0,746795
%Ac -0,838298 0,296189 -0,188678 anteriores, e procedendo-se de igual forma
%Musgo 0,000923 -0,637974 -0,573827
%SbcTotl -0,202623 -0,293249 -0,759425 para o subcoberto vegetal e os solos,
HS bcA rbs -0,802267 0,348643 -0,124326
%SbcArbs -0,817671 0,301746 -0,187439 obtiveram-se os resultados que se
VlA pSbcVeg -0,821285 0,312858 -0,213089
PrfT oalhFreat 0,523738 -0,463523 0,041624 apresentam na tabela IV.84.
DmA lt 0,641352 -0,298643 -0,051004
Alt 0,760852 -0,424071 0,067362 Estes resultados não são muito
pH_10 0,756016 0,440293 -0,197156
pH_20 0,741990 0,419011 -0,245618
pH_30 0,727172 0,462544 -0,286250
diferentes dos obtidos anteriormente, pois
pHMédio 0,779322 0,461954 -0,253431
P2O5Médio 0,688518 0,289449 0,161539
conforme se pode observar nas figuras IV.9
K2OMédio 0,370557 0,200710 0,437356
PrRepHum 0,015121 0,506303 -0,345565
e IV.10 continua a destacar-se a relação
PrHum 0,074494 0,392942 -0,503746
Expl.Var 9,107711 2,899296 2,588260
negativa entre os elementos do coberto
Prp.T otl 0,433701 0,138062 0,123250
Eigenvalues (Guida290613_all.sta) arbóreo com elementos do solo e da
Extraction: Principal compo nents
Eigenvalue % Total Cumulative Cumulative fisiografia.
Value variance Eigenvalue %
1 9,107711 43,37005 9,10771 43,37005
2 2,899296 13,80617 12,00701 57,17622
3 2,588260 12,32505 14,59527 69,50127

269
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Factor Loadings, Factor 1 vs. Factor 2


Rotation: Unrotated
Extraction: Principal com ponents
0,6
am
wuai
Subcobert v
an
0,4 o vegetall
fo
n ak Solos
al
0,2 Coberto
arbóreo
a c
b
0,0
Factor 2

-0,2
j q

-0,4 e r
p
Fisiografia
-0,6 h

-0,8
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1

Figura IV.9 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e de solos para o fatores 1 e 2

Factor Loadings, Factor 1 vs. Factor 3


Rotation: Unrotated
Extraction: Principal components
0,6
Coberto al
0,4 arbóreo

bc
a ak
0,2 Fisiografia
p r
0,0 q
l
Factor 3

fon u
-0,2 v ai
w
am Solos
Subcoberto
-0,4 vegetal
an
h
-0,6
e j
-0,8 Subcoberto
vegetal
-1,0
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Factor 1

Figura IV.10 – Posição dos diferentes elementos de coberto arbóreo e de solos para os fatores 1 e
3
A análise que se efetua daqui em diante procura confirmar e estruturar as relações
estabelecidas entre os diferentes aspetos do desenvolvimento do coberto arbóreo com as
variáveis independentes adotadas nos diferentes grupos. Mas, sabe-se que, em ecologia

270
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

os sistemas podem apresentar relações em vários sentidos (Santos et al.,2004; Grobe,


2005; Mota, 2007). Procura-se por isso, com as análises seguintes, acrescentar alguma
consistência ao que se tem vindo a apresentar como conclusões até aqui. Procura-se
ainda trazer mais informação no que diz respeito à identificação dos melhores espaços
para manutenção da cobertura de pinhal, e daqueles em que poderão ser ensaiados
outros cobertos arbóreos ou arbustivos mais adequados.

IV.6 – RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE O SUBCOBERTO


VEGETAL E OS RESTANTES GRUPOS DE VARIÁVEIS

Para o grupo de variáveis do subcoberto vegetal apresentam-se agora as relações


estabelecidas com as dos grupos da fisiografia e do solo, uma vez que com o grupo do
coberto arbóreo já foram apresentadas anteriormente.

IV.6.1 – Relação entre o subcoberto vegetal e a fisiografia

A correlação estabelecida entre as variáveis do grupo de subcoberto vegetal e as


variáveis do grupo da fisiografia (tabela IV.85) apresenta resultados interessantes no
que diz respeito, por exemplo, ao facto de todos os elementos de fisiografia
estabelecerem correlações negativas com o volume aparente de subcoberto vegetal. Da
análise destes resultados pode concluir-se que as maiores altitudes implicam um menor
desenvolvimento do subcoberto vegetal. Também um aumento na distância ao mar
traduz uma redução do volume aparente de subcoberto vegetal. Como a percentagem de
acácias é o maior contributo para a quantidade do subcoberto vegetal, conclui-se que as
acácias existem em maior quantidade perto do mar, o que corresponde à realidade
observada no campo e que se pode justificar por serem os locais que primeiro foram
abandonados pelos agricultores para a recolha de matos, e cujo desenvolvimento se
sobrepôs às restantes espécies de subcoberto (Andrew e Gorchov., 2000; Heneghan et
al., 2006; Jordan et al., 2008; Marques, 2010, Marchante H., 2011; Cronk e Fuller 1995,
Vitousek 1997 apud Silva, 2012). Também se conclui que existe maior quantidade de
subcoberto vegetal nos locais de menor profundidade de toalha freática, pois esta
variável permitirá uma maior humidade do solo, necessária à absorção de nutrientes por
parte das plantas (Earle e Kershaw, 1989, apud Cordeiro, 2005; Tardif et al., 2007;
Santos, 2008).

271
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.85 – Correlações de para as variáveis do grupo do subcoberto com o grupo


da fisiografia
PrfToalh
Pos MinAlt Alt Exp Dis tMar
Freat
Corre l . -0,01 -0,021 -,122** -,195** -,192**
%Es pDom
Si g. 0,828 0,641 0,008 0,000 0,000
Corre l . -,172** -,245** -,396** -,249** -,402**
%Ac
Si g. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Corre l . -0,015 -0,048 ,104* -0,015 ,226**
RiqEs p
Si g. 0,745 0,291 0,023 0,737 0,000
Corre l . 0,086 0,087 0,008 -,093* -0,087
%Mus g
Si g. 0,061 0,056 0,866 0,042 0,056
Corre l . 0,047 0,061 ,196** 0,059 ,253**
%Líq
Si g. 0,305 0,180 0,000 0,195 0,000
Corre l . 0,006 0,047 -0,068 -,237** -0,064
%SbcTotl
Si g. 0,893 0,302 0,137 0,000 0,163
Corre l . ,227** ,235** ,429** ,231** ,415**
HSbcHerb
Si g. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Corre l . -,105* -,095* -,295** -,178** -,339**
HSbcArbs
Si g. 0,021 0,038 0,000 0,000 0,000
Si g. ,165** ,244** ,238** -0,021 ,206**
%SbcHerb
Si g. 0,000 0,000 0,000 0,654 0,000
Si g. -,179** -,251** -,404** -,256** -,404**
%SbcArbs t
Si g. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Corre l . -,165** -,201** -,335** -,236** -,322**
VolApSbcTotl
Si g. 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

A ARLM estabelecida para o volume aparente de subcoberto vegetal (variável


dependente) e as variáveis (independentes) da fisiografia permite destacar que, embora
com um adjusted r2 muito baixo (0,144), a maioria das variáveis do grupo fisiografia
são significativas na predição do volume aparente de subcoberto total, que foi a variável
selecionada para caracterizar o grupo de subcoberto vegetal (tabela IV.86). O
desenvolvimento vegetal é influenciado pela altitude (b1= -0,075; Sig.0,001),
profundidade da toalha freática (b2= 0,005; Sig.0,001), exposição (b3= -0,074;
Sig.0,019) e distância ao mar (b4= -0,000; Sig.0,033) (Gaucher, 1968; Cordeiro, 2005;
Nunes, 2007; Tardif et al., 2007; Souza et al., 2008).

Tabela IV.86 – Regressão linear multivariada entre o volume aparente de subcoberto


total e os elementos da fisiografia
Mode l Summa ry
Mode l R R Squa re Adjus te d R Squa re Std. Error of the Es ti ma te
1 0,389a 0,151 0,144 1,13381
a . Pre di ctors : (Cons ta nt),Al t, prfToa l hFre a t, Exp, Di s tMa r
Coefficients(a)
Standardi zed
Uns tandardi zed Coeffi ci ents
Model Coeffi ci ents t Sig.
B Std. Error Beta
(Constant) 2,321 0,169 13,739 0,000

Alt -0,075 0,023 -0,334 -3,297 0,001

PrfToalhFreat 0,090 0,032 0,218 2,812 0,005

Exp -0,074 0,031 -0,134 -2,358 0,019

DistMar 0,000 0,000 -0,137 -2,139 0,033

PosMinAlt - Colinearity - -0,036 -0,444 0,657


a. Dependent Variable: VolApSbcTotl
272
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

No final deste ponto interessa registar que a uma maior distância ao mar se
verifica, na generalidade, um menor desenvolvimento de subcoberto arbustivo. Mas,
pelo contrário, há mais desenvolvimento de coberto herbáceo, mais líquenes e mais
riqueza específica, o que parece ser o esperado, uma vez que o coberto arbustivo é
constituído quase em exclusivo por acácias (Marchante E. et al., 2011). Será então mais
longe do mar que tem que se pensar em espécies arbóreas (em detrimento do avanço das
acácias) que permitam a continuidade de multiplicação das espécies herbáceas
protegidas pela Rede Natura 2000. Barroso et al. (2001) propõe que as acácias sejam
alternadas com espécies nativas, para que não se verifiquem impactos negativos tão
fortes como num povoamento contínuo.
A exposição vem confirmar o exposto anteriormente e ainda acrescentar o facto
de nenhum subcoberto, nem mesmo as acácias, terem apetência pelas cristas das dunas e
que as depressões são mais favoráveis ao seu desenvolvimento (André, 1996; Almeida,
2000). Maior desenvolvimento do subcoberto ocorre em altitudes mais baixas em
detrimento dos pontos mais elevados.
Maior profundidade da toalha freática corresponde a locais com maior
desenvolvimento do subcoberto herbáceo. Pelo contrário, o subcoberto arbustivo é mais
desenvolvido onde a toalha freática é menos profunda (Cordeiro, 2005). Poderia
esperar-se o contrário, mas o coberto herbáceo, pela sua fragilidade na composição
bioquímica (grande quantidade de açucares solúveis e menos quantidade de celulose,
hemicelulose e lenhina) será mais sensível à competição que lhe é promovida pelo
subcoberto arbustivo em condições de maior disponibilidade de água (Camarão et al.,
2009).
A análise de regressão confirma que existe um maior volume de subcoberto total
em áreas de depressão e de menor altitude. A profundidade da toalha freática regista
influências diferentes quando analisada individualmente ou em grupo, com outras
variáveis dependentes.

IV.6.2 – Relação entre o subcoberto vegetal e os solos

As correlações estabelecidas entre as variáveis do subcoberto vegetal e as do solo


(tabela IV.87) refletem a importância da relação do pH (principalmente a 10cm de
profundidade) com a quase totalidade de elementos de subcoberto analisados (excetua-
se apenas a riqueza específica como não significativa). A relação negativa estabelecida

273
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

permite concluir que o subcoberto vegetal das dunas, à semelhança do pinhal, tem
preferência por valores mais baixos de pH (Almeida, 1990 e 1997; Martins, 1999).
Passando à matéria orgânica, esta apresenta poucas correlações significativas
com o subcoberto vegetal, enquanto o P2O5 e o K2O, apresentam algumas correlações
significativas. Destaca-se que estas correlações são essencialmente negativas para o
volume aparente de subcoberto vegetal, o que traduzirá o facto de a um maior
desenvolvimento de subcoberto total corresponder uma menor quantidade destes
elementos, talvez pelo facto de serem assimilados com maior intensidade, e por isso não
estarem disponíveis no solo.
A hidrofobia não parece ter qualquer relação com a percentagem de musgos e de
líquenes existentes. Mas estabelece correlações positivas com o volume aparente de
subcoberto vegetal, o que pode ficar a dever-se ao facto de este ser, em grande parte,
constituído por acácias que, por seu lado, também estabelecem a mesma correlação. As
acácias são um potencial elemento promotor de repelência (Marchante E., 2007). Pelo
contrário, é de destacar a correlação inversa, significativa, estabelecida com a
percentagem de subcoberto herbáceo, o que permite concluir que este subcoberto se
desenvolverá melhor em locais de baixo grau de hidrofobia.
Quanto à humidade do solo, esta não apresenta valores de correlações
significativos que se possam destacar. Poderá concluir-se que a esperada grande
influência da humidade do solo não se regista, e que por isso não será o maior promotor
do desenvolvimento do subcoberto, até porque ocorre, na maioria dos casos, abaixo dos
3% em solos arenosos (Greiffenhagen et al., 2006). Heneghan et al. (2006) consideram
que a humidade é maior em locais com maior estrato arbustivo, o que não se pode
concluir neste trabalho.

274
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.87 – Correlações estabelecidas para as variáveis do grupo do subcoberto vegetal com as do
grupo de solos
pH_10 pH_20 pH_30 MO_10 MO_20 MO_30 P2O5_10 P2O5_20 K2O_10 K2O_20

Correl. -,312** -,211* -0,149 0,095 0,019 0,065 -,266** -0,159 -,257* -0,034
%EspDom
Sig. 0,002 0,039 0,147 0,357 0,853 0,532 0,009 0,121 0,012 0,742
Correl. -,249* -,268** -,230* 0,165 0,135 0,076 -0,158 -0,135 -,300** -0,155
%Ac
Sig. 0,014 0,008 0,024 0,108 0,191 0,461 0,125 0,191 0,003 0,132
Correl. 0,02 0,127 0,192 -,251* 0,021 0,169 0,126 0,113 0,156 -0,067
RiqEsp
Sig. 0,845 0,219 0,061 0,013 0,837 0,101 0,22 0,275 0,128 0,516
Correl. -,293** -,222* -0,157 0,063 0,042 -0,024 -,211* -0,13 -,212* 0,024
%Musg
Sig. 0,004 0,03 0,126 0,544 0,688 0,817 0,039 0,208 0,038 0,819
Correl. ,262** 0,148 0,103 -0,142 -,212* 0,103 ,245* 0,024 ,331** 0,12
%Líq
Sig. 0,01 0,151 0,319 0,168 0,038 0,32 0,016 0,819 0,001 0,245
Correl. -,269** -,250* -,249* 0,026 -0,129 -0,117 -,242* -,277** -0,182 0,138
%SbcTotl
Sig. 0,008 0,014 0,015 0,803 0,211 0,257 0,017 0,006 0,076 0,179
Correl. -0,035 0,096 0,137 -0,015 0,091 ,203* -0,033 0,001 ,222* ,223*
HSbcHerb
Sig. 0,734 0,355 0,183 0,887 0,38 0,048 0,753 0,989 0,03 0,029
Correl. -,259* -,266** -,225* 0,196 0,161 0,089 -,205* -0,199 -,303** -0,132
HSbcArbs
Sig. 0,011 0,009 0,028 0,055 0,117 0,388 0,046 0,052 0,003 0,199
Sig. -0,059 -0,022 -0,055 0,019 -,243* -0,159 -0,064 -0,135 0,008 ,221*
%SbcHerb
Sig. 0,57 0,83 0,596 0,852 0,017 0,121 0,534 0,189 0,94 0,031
Sig. -,241* -,258* -,229* 0,163 0,12 0,066 -0,152 -0,136 -,293** -0,15
%SbcArbst
Sig. 0,018 0,011 0,025 0,112 0,244 0,525 0,139 0,185 0,004 0,145

VolApSbc Correl. -,287** -,275** -,253* 0,195 0,134 0,076 -,226* -,212* -,209* -0,062
Totl Sig. 0,005 0,007 0,013 0,057 0,194 0,462 0,027 0,038 0,041 0,548
PrdReposç PrdReposç PrdReposç
RepOut RepDez PrdHúm_10 PrdHúm_20 PrdHúm_30 PrdSec_10 PrdSec_20 PrdSec_30
Hum_10 Hum_20 Hum_30

Correl. -0,073 -0,019 -0,043 0,099 -0,096 0,161 0,017 0,056 -0,168 -0,058 0,146
%EspDom
Sig. 0,603 0,895 0,759 0,483 0,495 0,251 0,907 0,691 0,23 0,678 0,296
Correl. ,314* ,301* 0,002 0,073 0,13 -0,011 0,028 -0,093 -0,137 0,047 -0,14
%Ac
Sig. 0,022 0,028 0,988 0,602 0,353 0,936 0,84 0,506 0,326 0,738 0,317
Correl. -0,068 -,281* -0,078 -0,17 -0,216 -0,019 -0,051 -0,095 0,023 -0,043 -0,021
RiqEsp
Sig. 0,627 0,042 0,578 0,222 0,121 0,89 0,719 0,497 0,868 0,76 0,882
Correl. -0,19 -0,233 -0,149 0,09 -0,129 0,11 -0,077 0,024 -0,08 -0,117 0,163
%Musg
Sig. 0,172 0,093 0,287 0,524 0,357 0,432 0,585 0,866 0,57 0,405 0,245
Correl. -0,208 -0,041 -0,054 -0,086 -0,055 -0,115 0,048 0,138 0,019 -0,029 -0,071
%Líq
Sig. 0,135 0,771 0,701 0,54 0,697 0,411 0,735 0,325 0,895 0,837 0,614
Correl. 0,031 -0,002 -0,183 0,039 -0,113 0,186 0,124 0,138 -0,15 -0,033 0,128
%SbcTotl
Sig. 0,825 0,99 0,19 0,782 0,419 0,182 0,376 0,324 0,283 0,816 0,363
Correl. -0,244 -0,225 -0,052 0,179 0,065 0,126 0,118 0,232 0,083 0,03 0,227
HSbcHerb
Sig. 0,078 0,105 0,711 0,2 0,642 0,37 0,401 0,094 0,554 0,829 0,101
Correl. ,286* ,469** 0,1 0,154 ,283* 0,047 0,111 0,001 -0,093 0,014 -0,124
HSbcArbs
Sig. 0,038 0 0,476 0,271 0,04 0,74 0,427 0,996 0,509 0,919 0,375
Sig. -0,259 -,318* -0,182 0,028 -0,103 0,105 0,024 0,177 -0,029 -0,108 0,201
%SbcHerb
Sig. 0,061 0,02 0,193 0,841 0,462 0,454 0,865 0,206 0,834 0,441 0,148
Sig. ,303* ,347* 0,003 0,063 0,106 -0,008 0,041 -0,094 -0,141 0,039 -0,139
%SbcArbst
Sig. 0,027 0,011 0,983 0,653 0,45 0,957 0,77 0,505 0,314 0,784 0,322
VolApSbc Correl. ,318* ,531** -0,016 0,087 0,176 0,082 0,143 0,019 -0,138 0,091 -0,077
Totl Sig. 0,02 0 0,908 0,536 0,208 0,561 0,306 0,895 0,324 0,519 0,585

275
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Mais uma vez, assume-se como variável dependente, caracterizadora do


subcoberto, o volume aparente de subcoberto vegetal.
Efetuou-se em primeiro lugar uma ARLU para o volume aparente de subcoberto
vegetal em função de cada uma das variáveis (independentes) do solo obtidas em
laboratório - pHMédio, MOMédia, P2O5Médio, K2OMédio. A regressão só é
significativa com o pH (linear regression: n = 95; adj. r2 = 0,075; b = -0,524, sig.
0,004), com a matéria orgânica (linear regression: n = 95; adj. r2 = 0,038; b = 2,653,
sig. 0,032) e com o P2O5 (linear regression: n = 95; adj. r2 = 0,059; b = -0,096, sig.
0,010) quando analisados individualmente e, mesmo assim, com um adjusted r2 muito
baixo. Conforme se pode verificar, a real importância destes resultados não é
confirmada pois o adjusted r2 é baixíssimo em cada um dos casos. O K2OMédio não é
significativo em nenhuma das circunstâncias analisadas.
Posteriormente, na análise de regressão em que foram consideradas as variáveis
independentes hidrofobia (em outubro e em dezembro) e períodos de humidade, em
simultâneo, na definição da variável dependente volume aparente de subcoberto
vegetal, os resultados são significativos apenas para a hidrofobia em outubro e para a
hidrofobia em dezembro (linear regression: n = 95; adj. r2 = 0,316; b = 0,375, sig. 0,011
e b = 11,523, sig. 0,000, respetivamente). Quando se efetua uma análise individual para
cada uma destas variáveis, os resultados para os diferentes períodos de humidade
continuam não significativos.
Quando se juntam as variáveis (independentes) do solo na sua totalidade numa só
regressão (n=51; adj.r2=0,113) para a previsão da variável dependente volume aparente
de subcoberto vegetal, os resultados obtidos apenas registam valores significativos para
a hidrofobia em dezembro (b = 1,642, sig. 0,000), para o P2O5 (b = -0,135, sig. 0,042) e
para o PHMédio (b = -0,588, sig. 0,050).
Como balanço deste ponto registe-se que o subcoberto vegetal estabelece
correlações negativas com o pH, ou seja, o subcoberto tem preferência pelos locais das
dunas com pH mais baixo. Marchante E. (2007) considera que o pH é mais elevado nas
áreas onde as acácias têm implantação recente mas, onde estas existem há mais tempo, o
pH tem tendência a baixar.
O mesmo acontece com o P2O5 e com o K2O, que existe em maior quantidade
onde o subcoberto é menos desenvolvido. Poderá ser um indicador do consumo destes
nutrientes onde existe maior desenvolvimento do subcoberto. Comportamento

276
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

semelhante tem o coberto arbóreo. Marchante E. (2007) refere que o K2O é maior nas
áreas de acácias mais antigas, e menor no local onde não há acácias.
Quanto à repelência, registe-se que esta é maior onde o subcoberto é mais
desenvolvido, principalmente com acácias, o que não quer dizer obrigatoriamente que o
subcoberto prefira de solos hidrofóbicos, mas sim que poderá promover a hidrofobia
(Pérez et al., 1998; Rodriguez-Alleres et al.,2007b; Buczko et al, 2005).
Mais uma vez, assim como no coberto arbóreo, não é visível a influência dos
diferentes períodos de humidade do solo no desenvolvimento do subcoberto vegetal.
Esta influência poderá ter sido no entanto determinante em fases iniciais de
consolidação da vegetação dunar (Varennes, 2003; Nunes, 2007; Santos, 2008).
As ARL realizadas confirmam, na generalidade, os resultados perspectivados
pelas correlações previamente estabelecidas.

IV.6.3 – Relação entre o subcoberto, fisiografia e solos em simultâneo

Começou-se por estabelecer uma ARLM entre o volume aparente do subcoberto


vegetal e os elementos da fisiografia e do solo em simultâneo, utilizando o método de
regressão linear stepwise (n=51; adj. r2=0,650). A análise dos resultados mostra que o
volume aparente de subcoberto vegetal apresenta relações significativas com três
variáveis: inversa com a altitude (b1 = -0,121; sig.0,000); positiva com a hidrofobia em
dezembro (b2 = +1,446; sig.0,000); e novamente inversa com K2OMédio (b3 = -0,089;
sig.0,005).
Utilizando o método de entrada de todas as variáveis em simultâneo (n=51; adj.
r2=0,670), obteve-se com relação significativa: a hidrofobia em dezembro (b1=+1,268;
sig.0,000) e a distância ao mar (b2=-0,001; sig.0,027).
Estes resultados poderão parecer estranhos uma vez que, normalmente, a variável
que aparece como significativa é a hidrofobia em outubro e não a hidrofobia em
dezembro. A influência do K2O e da hidrofobia é semelhante aos resultados já obtidos
anteriormente. A distância ao mar tem pouca influência na distribuição do subcoberto
(b= -0,001).
Embora se registem alguns resultados significativos na predição do subcoberto,
parecem mais interessantes os resultados obtidos parcialmente pelos diferentes grupos
de variáveis (fisiografia e solo), analisados em separado.

277
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

IV.7 – RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE FISIOGRAFIA E SOLOS

Após terem sido estabelecidas todas as correlações possíveis com os elementos


vegetais (coberto arbóreo e subcoberto) estabeleceu-se uma nova tabela de correlação
para verificar a relação entre elementos da fisiografia e do solo (tabela IV.88).
Nestas correlações, são de destacar em primeiro lugar o baixo número de
correlações significativas estabelecidas. E também o baixo valor absoluto das
correlações. Seria de esperar, por exemplo, uma correlação inversa mais forte entre a
distância ao mar e o pH. Isto porque se considera que as areias cuja distância ao mar é
maior seriam as primeiras a acumular matéria orgânica e esta conduziria à observação
de um pH mais baixo. Esta correlação só é significativa para a profundidade do solo de
20-30cm e, mesmo assim, muito baixa. A própria matéria orgânica não estabelece
qualquer valor significativo com a distância ao mar. O fósforo (P2O5) estabelece
correlações negativas com a distância ao mar, o que poderá justificar-se pela maior
migração em profundidade, ou pela maior utilização pelo coberto arbóreo que é mais
desenvolvido. Por seu lado, o teor de potássio (K2O) regista maior valor quando
aumenta a distância ao mar, o que se pode justificar pela maior fornecimento aos solos
através da decomposição da vegetação.
Outra relação interessante de analisar, embora com baixos valores, é a relação
estabelecida entre a profundidade da toalha freática e os períodos de humidade
estabelecidos. A profundidade da toalha freática aparece correlacionada negativamente
com os períodos húmido e de reposição. Isto quer dizer que, quanto mais profunda se
encontra a toalha freática, mais baixos são os valores de humidade nestes períodos, o
que parece estabelecer uma relação perfeitamente justificada com a quantidade de água
disponível. Quando chove, a toalha freática é menos profunda (valores mais baixos) e a
humidade do solo à superfície, sobe.

278
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Tabela IV.88 – Correlações de Pearson (Corr. Spearman para a hidrofobia) estabelecidas para as
variáveis do grupo da fisiografia com o grupo de solos, n=95 e n=52
pH_10 pH_20 pH_30 MO_10 MO_20 MO_30 P2O5_10 P2O5_20 K2O_10 K2O_20
PrfToalh Correl. -0,109 -0,058 0,006 -0,035 -0,055 -0,088 0,016 -0,013 -0,014 0,156
Freat Sig. 0,291 0,574 0,953 0,736 0,595 0,392 0,877 0,900 0,890 0,129
Correl. 0,092 0,083 -0,001 -0,035 -0,17 -,281** 0,012 -,261* 0,096 ,239*
PosMinAlt
Sig. 0,373 0,423 0,990 0,735 0,097 0,005 0,909 0,010 0,352 0,019
Correl. -0,037 -0,001 -0,04 -0,061 -0,035 -0,026 0,049 -0,087 ,261* ,376**
Alt
Sig. 0,717 0,993 0,701 0,555 0,731 0,799 0,633 0,398 0,010 0,000
Correl. -0,015 0,119 0,028 -0,056 0,112 -0,036 -0,096 -,207* ,210* ,245*
Exp
Sig. 0,882 0,249 0,783 0,588 0,278 0,726 0,353 0,043 0,040 0,016
Correl. -0,153 -0,193 -,244* -0,067 -0,159 -0,093 -0,107 -,262** ,287** ,514**
DistMar
Sig. 0,136 0,059 0,017 0,513 0,122 0,370 0,299 0,010 0,005 0,000
PrdReposç PrdReposç PrdReposç PrdHúm_ PrdHúm_ PrdHúm_ PrdSec_ PrdSec_ PrdSec_
RepOut RepDez
Hum_10 Hum_20 Hum_30 10 20 30 10 20 30
PrfToalh Correl. -0,072 -0,205 0,151 -0,118 -,301* -0,257 -,350* -,308* 0,15 0,038 0,004
Freat Sig. 0,610 0,141 0,279 0,402 0,029 0,064 0,010 0,025 0,283 0,787 0,980
Correl. -,349* -0,179 0,184 0,17 -0,189 -0,003 -0,081 0,003 0,183 0,047 0,153
PosMinAlt
Sig. 0,010 0,200 0,186 0,223 0,174 0,985 0,563 0,985 0,189 0,739 0,273
Sig. -,308* -0,209 -0,012 -0,057 -0,247 -0,094 -0,167 -0,045 0,235 0,08 0,171
Alt
Sig. 0,025 0,133 0,930 0,686 0,075 0,503 0,231 0,751 0,091 0,570 0,220
Sig. 0,015 -0,156 -0,012 -0,153 -0,165 -0,23 -0,218 -0,267 0,151 0,07 0,001
Exp
Sig. 0,913 0,265 0,931 0,274 0,239 0,097 0,117 0,053 0,279 0,619 0,997
Correl. -0,166 -0,166 -0,215 -0,149 -0,172 0,008 -0,04 0,081 0,2 0,1 0,177
DistMar
Sig. 0,234 0,235 0,123 0,287 0,217 0,956 0,775 0,564 0,151 0,477 0,204

Passando à ARLM, procurou-se definir a relação das variáveis dos solos


(dependentes) com as variáveis da fisiografia estudadas. Posteriormente poderão retirar-
se algumas ilações para o desenvolvimento vegetal (Gaucher, 1968; Carvalho et al,
2002; Pillar, 2011).
Num primeiro momento, quando se efetuaram as análises de correlação, pareceu
interessante analisar pormenorizadamente, a diferentes profundidades, os elementos de
solos. Como os resultados obtidos foram muito semelhantes para as diferentes
profundidades, utilizaram-se agora os valores médios obtidos nas diferentes
profundidades.
A ARLM ajustada para o pHMédio (n = 95; adj. r2 = 0,094) revelou-se
significativa a sua relação com a altitude, a distância ao mar e a profundidade da toalha
freática. O valor do adjusted r2 é muito baixo, pelo que a influência destas variáveis no
seu conjunto não é muito relevante (b1 = 0,074; sig.= 0,027; b2 = 0,000; sig.= 0,001; b3 =
-0,092 sig.= 0,013, respetivamente). Realça-se o facto de se poder concluir que o pH
tem tendência a aumentar com a altitude, o que reflete que menores altitudes
apresentam solo tendencialmente mais ácido, talvez por apresentarem maior quantidade

279
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

de matéria orgânica. O aumento do pH em função da distância ao mar, também aqui


registado, poderá colocar algumas dúvidas pois supunha-se que o aumento da distância
ao mar levaria à existência de solos mais desenvolvidos, logo com pH mais ácido
devido à presença de maior quantidade de matéria orgânica. A hipótese alternativa será
a de que a matéria orgânica fornecida por espécies como as acácias, sendo
leguminosas, ajudem a tornar o solo menos ácido. A profundidade da toalha freática
apresenta uma evolução inversa ao pH, o que traduz um aumento deste como
consequência da diminuição da profundidade da toalha freática. Serão os locais em que
a água se apresenta mais próxima da superfície os que apresentam um pH mais elevado.
Quando se toma a matéria orgânica como variável dependente (n = 95; adj. r2 =
0,077), os valores do adj. r2 e dos coeficientes continuam a ser muito baixos, embora se
identifiquem como significativos os valores dos coeficientes relativos à diferença para
a altitude mínima do transecto, a altitude e a distância ao mar (b1 = -0,009 e sig. 0,005;
b2 = 0,012 e sig. 0,019; b3 = -3,80E-05 e sig. 0,010, respetivamente). Um aumento no
valor da diferença para a altitude mínima do transecto explicará uma ténue diminuição
da quantidade de matéria orgânica, o que parece ser a relação mais esperada, uma vez
que a estes valores mínimos de posição corresponderão aos de depressão dunar. A
altitude, pelo contrário, regista valores diretamente proporcionais, o que traduz a ideia
de um aumento de matéria orgânica correspondente a um aumento de altitude. Será
estranho se for considerado que as altitudes gerais são homogéneas em todo o campo de
dunas e então estes resultados contrariariam os anteriores. Mas na realidade a altitude
geral do campo de dunas aumenta conforme há a deslocação no sentido das dunas mais
antigas, o que corresponderá a um primeiro desenvolvimento coberto vegetal, e logo a
uma acumulação de matéria orgânica mais duradoura. A distância ao mar, mais uma
vez, reflete resultados não esperados quando comparados com as restantes variáveis do
grupo, pois a uma maior acumulação de matéria orgânica corresponderia uma menor
distância ao mar, e aqui os solos são menos desenvolvidos. Esta matéria orgânica não
estará disponível para ser assimilada pelas plantas.
O K2O não é exceção aos elementos do solo já analisados como variável
dependente (n = 95; adj. r2 = 0,17), e o valor do adjusted r2, embora com um ligeiro
aumento em relação aos anteriores, continua a registar, tal como os coeficientes, valores
muito baixos, sendo que se encontram valores significativos apenas para a distância ao
mar (b1 = 0,001; sig. = 0,012). O aumento de K2O registar-se-ia com o aumento da

280
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

distância ao mar, o que terá sentido se for relacionado com os primeiros locais a serem
alvo de cobertura vegetal que é consumidor mas também uma fonte de nutrientes.
A análise do P2O5 em relação às variáveis (independentes) da fisiografia (n = 95;
adj. r2 = 0,221) continua a apresentar um baixo valor de adj. r2 e de coeficientes, e
estabelece relações significativas com a diferença para a altitude mínima do transecto,
a altitude e a distância ao mar (b1 = -0,323; sig. 0,001; b2 = 0,728; sig. 0,000; b3 = -
0,002;sig. 0,000, respetivamente). Os maiores valores de P2O5 ocorrerão nos locais de
depressão dunar, ou seja, nos de menor altitude, o que se deverá a uma maior
acumulação de nutrientes nestes locais. Os locais de maior altitude, que se encontram
mais afastados do mar e, como foi dito anteriormente, cobertos de vegetação mais cedo,
apresentam, como seria de esperar, maiores valores de P2O5.
No que respeita à humidade do solo, agrupada em três grupos, registou valores
muito baixos de adjusted r2 para qualquer dos períodos e, no caso do período seco e do
período de reposição de humidade, a regressão não é significativa, pois nenhuma
variável apresenta valores significativos. No caso do período húmido, a única variável
explicativa significativa parece ser a profundidade da toalha freática (linear regression:
n= 52; adj. r2 = 0,159; b = -0,157 e sig. 0,027), onde segundo a regressão linear
estabelecida a humidade do solo, neste período, aumenta quando diminui a
profundidade da toalha freática.
A hidrofobia em dezembro (variável dependente) não apresenta quaisquer valores
significativos nos resultados da regressão linear múltipla com as variáveis da fisiografia.
A hidrofobia em outubro, embora com um adjusted r2 baixo, apresenta a profundidade
da toalha freática e a altitude como significativas na sua predição, e a distância ao mar
apresenta valores muito próximos da significância nesta determinação (n= 95; adj. r2 =
0,292; b1 = 0,407 e sig. 0,003; b2 = -0,341 e sig. 0,021; b3= 0,001 e sig. 0,055,
respetivamente). Uma maior hidrofobia existe nos locais com maior profundidade da
toalha freática, o que seria o expectável, uma vez que a presença de água diminui a
hidrofobia do solo. O facto de a hidrofobia ser mais baixa em locais de maior altitude
não terá uma razão facilmente percetível, pois de certa forma contraria o que acontece
com a profundidade da toalha freática. Mas por outro lado o subcoberto vegetal e o
coberto arbóreo são menos desenvolvidos nestes locais, logo não promoverão a
esperada hidrofobia mais elevada. Tal aconteceria se não se conjugassem vários fatores
a influenciar os valores de hidrofobia (proximidade da toalha freática e quantidade de
coberto arbóreo e de subcoberto vegetal, por exemplo).

281
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Relativamente à relação entre a fisiografia e os solos conclui-se, pelos resultados


das correlações estabelecidas, que quando a toalha freática é menos profunda a
humidade no solo é maior. Conclui-se ainda que as vertentes Norte são mais húmidas,
as vertentes Sul são mais secas e as depressões também registam maior valor de
humidade.
Para as ARLM estabelecidas, conclui-se que o pH é mais elevado nas maiores
altitudes, assim como nas maiores distâncias ao mar. No primeiro caso deduz-se que o
facto pode ficar a dever-se a uma maior concentração de matéria orgânica nas zonas
mais baixas, que é acidificante. Relativamente a serem encontrados maiores valores de
pH em locais afastados do mar pode parecer algo estranho e só parece compreensível se
for considerada a origem da matéria orgânica. O pH mais baixo ocorre em locais de
menor profundidade da toalha freática, o que vem ao encontro da sua ocorrência em
locais de menor altitude.
Quanto à matéria orgânica não se conseguem inferir interpretações, pois por
vezes parece que os resultados obtidos contradizem os de outros elementos analisados.
O K2O existe em maiores quantidades nos locais mais afastados do mar.
O P2O5 existe em maior quantidade nos locais de menor altitude e mais
afastados do mar.
Os locais com maior hidrofobia em outubro correspondem a maior profundidade
da toalha freática, uma vez que a presença de água diminui a hidrofobia.
No capítulo seguinte apresenta-se uma síntese dos resultados e discussão que aqui
foram desenvolvidos.

282
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

CAPÍTULO V
SÍNTESE DOS RESULTADOS ESTATÍSTICOS
E CONSIDERAÇÕES FINAIS

V.1 SINTESE DOS RESULTADOS


ESTATÍSTICOS 284

V.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS 294

283
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

V.1 – SÍNTESE DOS RESULTADOS ESTATÍSTICOS

Os resultados obtidos, apresentados e discutidos no Capítulo IV, e que aqui se


estruturam e sintetizam, traduzem várias relações obtidas a partir da análise estatística
multivariada, que se consideram importantes sob os pontos de vista biótico e abiótico
para o ecossistema dunar em estudo (Santos et al., 2006).
Os resultados obtidos evidenciaram uma forte carência do solo das dunas em
relação aos nutrientes analisados, o que se constitui como um limite de particular
importância ao desenvolvimento vegetal desta área (Costa, 2001; Silva et al., 2006).
Oliveira (2005) e Santos et al. (2006) registam igualmente a usual forte carência das
áreas dunares em nutrientes.
Das correlações lineares estabelecidas é possível verificar que o desenvolvimento
do coberto arbóreo estabelece relações positivas com o subcoberto arbustivo (altura e
percentagem), a percentagem de acácias, a percentagem de musgos e a hidrofobia em
outubro. Por outro lado, estabelece relações inversas com o subcoberto herbáceo
(altura e percentagem), a percentagem de líquenes, a profundidade da toalha freática, a
altitude, a diferença para a altitude mínima do transecto, a exposição, a distância ao
mar, o pH, o P2O5 e o K2O.
A partir dos resultados da Análise de Regressão Linear Múltipla (ARLM) é
possível concluir que o desenvolvimento do coberto arbóreo estabelece relações
positivas (e significativas) com a percentagem de musgos e a hidrofobia em outubro,
mas também relações negativas (e significativas) com a riqueza específica, a
percentagem de líquenes, a altitude, a profundidade da toalha freática, o pH, o P2O5, e
o K2O.
A Análise de Componentes Principais (ACP) revela que o coberto arbóreo
estabelece relações positivas (e significativas) com a percentagem de acácias, o
subcoberto arbustivo (altura e percentagem) e o volume aparente do subcoberto
vegetal.
Esta ACP permite também verificar as relações inversas (e significativas)
estabelecidas entre o coberto arbóreo e a altitude, a percentagem da espécie mais
abundante do subcoberto vegetal, a percentagem de subcoberto total, o pH, o P2O5, e o
período húmido.
Nestas análises verifica-se também que as variáveis profundidade da toalha
freática e K2O apresentam, consoante o tipo de análise utilizado, resultados que são por

284
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

vezes contraditórios na explicação do comportamento em ternos de desenvolvimento do


coberto arbóreo.
O teor de matéria orgânica só apresenta alguns resultados a considerar no último
método utilizado, a análise de clusters (AC). Também Faria (2008) não encontrou
resultados significativos para o papel desempenhado pela matéria orgânica do solo na
definição do comportamento do coberto arbóreo. Nos seus ensaios sobre fertilizantes
utilizados em vegetação dunar, Silva et al. (2006) concluíram que a aplicação de
serradura na superfície do solo permitiu um melhor desenvolvimento vegetal, em
detrimento do uso de fertilizantes de origem animal, o que indica que o ecossistema
vegetal dunar poderá ser autossuficiente após atingir um grau de cobertura satisfatório.
A teoria deste autor leva a que se faça a proposta de aproveitamento dos desperdícios
das limpezas (uma prática de adoção já generalizada em alguns países), triturando-os e
distribuindo-os na superfície do solo para que mais facilmente sejam degradados, e os
nutrientes e matéria orgânica daí resultantes sejam utilizados pela vegetação local. É
uma forma natural e promotora da incorporação de matéria orgânica no solo.

Em jeito de balanço podem apresentar-se as variáveis (1) percentagem de acácias,


(2) altura do subcoberto arbustivo, (3) percentagem do subcoberto arbustivo, (4)
percentagem de musgos, (5) volume aparente do subcoberto vegetal e (6) hidrofobia em
outubro, como variáveis que estabelecem relações positivas, e significativas, com o
desenvolvimento do pinhal caracterizado no nosso caso pela altura dominante. Por
outro lado, há um outro conjunto de variáveis cuja relação com a altura dominante do
pinhal se revelou inversa (e também significativa): (7) a altura do subcoberto herbáceo;
(8) a percentagem do subcoberto herbáceo; (9) a percentagem de líquenes; (10) a
riqueza específica; (11) a percentagem da espécie mais abundante do subcoberto
vegetal; (12) a percentagem de subcoberto total; (13) a profundidade da toalha freática;
(14) a altitude; (15) a diferença para a altitude mínima do transecto; (16) a exposição;
(17) a distância ao mar; (18) o pH; (19) o P2O5; (20) o K2O e o (21) período húmido.
Um dos principais fatores na composição florística e estrutura das florestas é a
heterogeneidade ambiental, resultante da diversidade de variáveis que interagem nas
comunidades, e a resposta das espécies a esses fatores faz com que cada local tenha
características próprias mas que são também características que são comuns a outros
locais. O elevado grau de heterogeneidade das florestas dificulta o seu aproveitamento,
pelos impactes que pode provocar. A informação recolhida através dos inventários sobre

285
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

a estrutura, a composição e o estado sanitário dos espaços florestais, bem como das
características fisiográficas básicas das “estações”, são ferramentas essenciais para
avaliação do seu potencial (sob os diferentes pontos de vista em relação ao seu uso) e
para a definição de estratégias para o seu planeamento (Mota, 2007; Rodrigues, 2008).
Pillar (2011) refere a importância do conhecimento de variáveis como a altitude,
exposição solar/posição no relevo e características dos solos, entre outras, para
avaliação de propostas de gestão dos espaços florestais e naturais. Arbel et al. (2005)
salientam a importância de a florestação poder ser utilizada, em muitos casos, para
reduzir a movimentação das areias soltas, que se traduz no avanço das dunas para locais
de culturas agrícolas ou de habitações.
Tendo em atenção as variáveis que este estudo identificou como sendo as que
estabelecem relações diretas com o desenvolvimento do pinhal, considera-se que devem
ser objeto de especial atenção na definição de futuras propostas de restauração de
ecossistemas, no sentido de, sempre que possível, se promover a utilização de espécies
nativas em detrimento das exóticas ou não nativas que, fora da sua área natural, revelam
por vezes comportamentos atípicos e de invasão. Pretende-se, depois de criadas as
condições para um suporte mais eficiente à tomada de decisões no que se refere à gestão
destes espaços dunares, que as medidas a adotar promovam o reequilíbrio e a resiliência
do ecossistema dunar, sem recurso a espécies de caráter invasor, de que é um exemplo
flagrante o caso da Acacia longifolia (Assis, 2012).
Tendo como objetivo contribuir para a concretização – a médio/longo prazo - do
reequilíbrio e da resiliência do ecossistema dunar nos seus múltiplos usos, atrevemo-nos
a fazer algumas sugestões que cremos corretas e aplicáveis, ou simples considerações,
suportadas não só pelas conclusões deste trabalho, mas também pelos trabalhos
realizados sobre esta zona ou em zonas análogas.

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas à variável 1


O género Acacia que existe nas mais diversas espécies (longifolia, melanoxylon e
dealbata, entre outras) e é comum em muitas parcelas (percentagem de acácias) deverá
ser alvo de controlo, permitindo-se apenas a sua existência em áreas controladas como
eventual amostra da sua diversidade inicial. O seu caráter invasor não é adequado e
desaconselha à manutenção de grandes manchas.
Nas margens das valas, onde existem corredores arbóreos de espécies ripícolas,
nomeadamente de Alnus glutinosa L. (muitas vezes em coabitação com a Acacia

286
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

melanoxylon), deveria tentar-se alargá-los pelo menos até aos 30m, pois foi até esta
distância que foi possível obter os maiores valores de humidade, aproveitando-se assim
melhor estas zonas com características específicas. O Programa Regional de
Ordenamento Florestal (PROF) do Centro Litoral prevê ainda corredores ecológicos que
devem contribuir para a definição da estrutura ecológica municipal. Estes devem ser
compatibilizados com as redes regionais de defesa da floresta contra incêndios.
O Fraxinus angustifolia Vahl, ou outras espécies que se considerem adequadas,
poderia ser utilizado numa segunda faixa paralela à primeira (de ripícolas) conforme
acontece na atualidade, mas agora de uma forma mais contínua e não em manchas
pontuais.

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas às variáveis


2e3
O restante coberto arbustivo (altura e percentagem) também tem uma relação
positiva com o coberto arbóreo, quer em quantidade, quer em altura. Será por isso de se
promover a continuidade de espécies existentes e até a inclusão de novas espécies.
A Myrica faya Aiton deve ser promovida pela sua produção de fruto, pois pode
ser utilizado em infusões, para alimentação e para fins medicinais. A “revalorização da
planta pode trazer benefícios económicos e ambientais” para o espaço em causa
(Rodrigues et al., 2009, p.23-45). Estes autores referem que a Myrica faya Aiton pode
ser utilizada em infusões da medicina convencional, os frutos podem ser utilizados para
adicionar à aguardente, pode ser usada como combustível, como estacaria para as hortas
ou vinhas, e como sebe de proteção dos campos.
Também se devem fazer ensaios para verificar a possibilidade de desenvolvimento do
medronheiro nestes locais, pois é uma espécie com viabilidade económica (Gomes,
2011).

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas à variável 4


A presença de musgos é maior onde se regista o maior desenvolvimento do
pinhal, e parece corresponder a locais de maior retenção de humidade, pelo que se
propõe que estes sejam implementados antes das sementeiras, por exemplo, através de
transplantação e incorporação nos novos locais a plantar. Seria assim possível contribuir
com a promoção de uma maior retenção de humidade, tão necessária à germinação de
sementes e à fixação inicial de novas plântulas.

287
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas à variável 5


O volume aparente do subcoberto vegetal é maior quando o pinhal é mais
desenvolvido, o que ficará a dever-se à grande influência que o subcoberto arbustivo
tem na sua determinação. As justificações apresentadas nos parágrafos anteriores
fundamentam também esta variável.

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas à variável 6


A hidrofobia é a única variável relacionada com a fisiografia que,
constantemente, aparece com relação positiva com o desenvolvimento do pinhal.
A elevada hidrofobia não é típica de um só clima, uma determinada latitude ou de
um tipo de solos. Esta tem sido encontrada nas regiões intertropicais, nas
mediterrânicas, em areias dunares holandesas e em solos orgânicos suecos (Buczko et
al., 2005). Os estudos de pormenor sobre hidrofobia em solos florestais são necessários
para que se possam fazer inferências acerca das propriedades dos solos e da vegetação
que a possam influenciar (Buczko et al., 2005). Neste trabalho, a relação positiva que se
estabelece com a hidrofobia e o desenvolvimento do pinhal não será um indicador em
que aquela favorece o desenvolvimento do pinhal, mas sim que o pinhal promove a
hidrofobia. Além disso, a baixa humidade também será justificação para a existência de
maior hidrofobia (Doerr et al, 2000, Buczko et al., 2005; Faria, 2008; Thompson,
2010).

Depois de apresentadas as propostas e as considerações relativas às variáveis que


estabelecem relações diretas com o desenvolvimento do pinhal, passa-se à análise e
consideração das variáveis que, pelo contrário, com ele estabelecem relações inversas.

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas às variáveis


7, 8, 9, 10, 11 e 12
O subcoberto herbáceo (percentagem (7) e altura (8)), a percentagem de
líquenes (9), a riqueza específica (10), a percentagem da espécie mais abundante do
subcoberto vegetal (11) e a percentagem de subcoberto total (12) estabelecem relações
inversas com o desenvolvimento do pinhal.
Maun (1994), apud Silva et al. (2006), refere que nos ecossistemas dunares as
espécies vegetais estão sujeitas a consideráveis níveis de stress, como resultado
conjunto da deficiência de nutrientes, do baixo teor de matéria orgânica, da ampla

288
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

variação da humidade e da temperatura, e da ação de ventos fortes. Mas, por outro lado,
uma boa manutenção do coberto vegetal origina melhores condições de solo no que diz
respeito ao arejamento, ao pH, à matéria orgânica e a outros nutrientes (Stevenson,
2010).
A existência de diferentes graus de cobertura estará dependente dos referidos
fatores e, se forem selecionadas plantas mais adequadas ao conjunto das características
em causa, o sucesso no grau de cobertura será maior.
É difícil conseguir uma cobertura vegetal homogénea significativa em áreas
dunares, pelas razões já apresentadas anteriormente por Silva et al. (2006). A confirmá-
lo, Zanella et al. (2010), num estudo sobre repovoamento vegetal de dunas, verificam
que num período de dez anos apenas se conseguiu uma cobertura de cerca de 53% para
o topo de duna, com utilização de vegetação herbácea. Nos flancos laterais, utilizando-
se vegetação arbustiva, obteve-se uma cobertura vegetal de 90%. No entanto esta
cobertura tem uma dominância de três espécies arbustivas, diminuindo a riqueza
específica relativamente ao topo de duna, que apresenta uma maior biodiversidade pelo
elevado número de espécies do coberto herbáceo. Estas espécies terão sido protegidas
pelos elementos de coberto arbóreo instalados no topo de duna.
É necessário manter, nos primeiros anos, um esforço constante de repovoamento
(arbóreo, arbustivo e herbáceo) para consolidar as dunas, uma vez que a destruição da
cobertura vegetal implica movimentos da areia que vai sendo transportada pelo vento
(Moura, 2009b). A vegetação das dunas protege-as da ação dos ventos e do mar e deve
ser reposta sempre que estiver em risco (Moura, 2009a). Além disso, a existência de
vegetação contribui de forma determinante para o aumento da humidade do solo
registada nos flancos e no topo das dunas, pois contribui para a regulação da
temperatura do solo e assim da evaporação (Arbel et al., 2005). A degradação do
subcoberto vegetal leva à perda de sedimentos e à diluição de declives acentuados, com
a migração do solo para a base, dificultando a implantação de novo coberto vegetal.
Estudos efetuados anteriormente mostram que em termos comparativos, a degradação é
menor em estações com implantação de coníferas, se comparado com outras na mesma
situação mas sem coberto arbóreo (Santiago et. al, 2003).
O reconhecimento da existência de uma baixa riqueza específica poderá ser
contrariado pela inclusão de mais espécies herbáceas/subarbustivas que exibam
características da vegetação mediterrânea, como por exemplo as cistáceas, uma vez que
o clima com verões quentes e secos e em que a estação húmida coincide com o período

289
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

mais frio lhes é favorável (Pais et al., 1999). O subcoberto do pinhal é ainda muitas
vezes constituído por Corema album (L.) D. Don e por Stauracanthus genistoides
Samp. Estas são espécies características da associação Stauracantho-Coremetum albi. A
associação Stauracantho-Coremetum albi aparece nas áreas mais secas, em que o
pinheiro bravo (Pinus pinaster Aiton) é pouco desenvolvido. Assim, o estrato arbóreo
torna-se bastante permeável à passagem da radiação solar, e permite o desenvolvimento
desta comunidade arbustiva constituída por alguns heliófitos (plantas que vivem em
meios ensolarados).
Zamith e Scarano (2006), apud Zanella et al. (2006), consideram que para a
restauração de áreas de dunas é necessário o controlo de espécies exóticas e posterior
plantação de espécies herbáceas e arbóreas nativas. Por seu lado, Tavares (1989)
considera que a melhor opção para o repovoamento destas áreas com pinheiro bravo é a
sementeira, uma vez que desde cedo as plântulas ficam adaptadas ao meio que as espera
no futuro. Talvez o indicado seja uma conjugação dos dois modelos, onde umas
espécies podem ser plantadas (conforme se tem feito no cordão litoral com a
Ammophila arenaria (L.) Link) e outras possam voltar a ser semeadas, como se tem
feito com o Pinus pinaster Aiton.

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas às variáveis


13, 14, 15, 16 e 17
Os elementos do grupo fisiografia estudados neste trabalho, estabelecem também
na sua totalidade relações inversas com o desenvolvimento do pinhal.
O pinhal apresenta um maior desenvolvimento nos locais de mais baixa altitude
(14), uma vez que a altitude influencia outras variáveis que condicionam o
desenvolvimento vegetal. A humidade obtida na base da duna correspondente a locais
de menor altitude, e é maior que no topo da duna ao longo do ano (Arbel et al., 2005).
Esta humidade está relacionada com a profundidade da toalha freática que é maior no
topo da duna, situação que apresenta menor desenvolvimento do pinhal. Mesmo com a
altitude a estabelecer uma relação inversa com o desenvolvimento da vegetação, a
florestação/vegetação das dunas contribui para uma regulação da temperatura do solo
assim como para a diminuição da evaporação (Arbel et al., 2005), pelo que tem que ser
muito cuidada, principalmente nestes locais.
A profundidade da toalha freática (13) estabelece também uma relação inversa
com o desenvolvimento do pinhal. O maior desenvolvimento do pinhal acontece nos

290
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

locais de menor profundidade da toalha freática que, conforme já foi referido, ocorrem
nos locais de menor altitude (14). A presença de toalha freática mais próximo da
superfície será um indicador de maior disponibilidade de solução do solo para ser
absorvida pela vegetação. Estes locais onde a toalha freática se encontra mais próximo
da superfície são locais que, regra geral, apresentam um maior desenvolvimento do
coberto herbáceo (em detrimento do coberto arbóreo) que deve ser mantido de forma a
contribuir para uma maior diversidade de espécies, destacando-se nestes locais o
Scirpus holoschoenus (L.) Soják, o Juncus acutos L., Salix arenaria L. e o Salix
atrocinerea Brot.
Estes pequenos habitats põem em destaque a função conservacionista da floresta,
ao interromperem uma continuidade florística de características mais secas. Não são
bons locais para a instalação de pinheiro, que tolera mal os locais encharcados (Centro
Pinus, 1999).
As menores altitudes (14) correspondem aos locais de maior desenvolvimento do
pinhal, o que se justificará pela maior proximidade da toalha freática e,
consequentemente pela maior disponibilidade em água e em nutrientes para absorção
pela vegetação.
A diferença para o mínimo de altitude do transecto (15), que foi uma variável
criada para permitir a homogeneização dos valores da altitude dentro de um mesmo
transecto, também estabelece, assim como a altitude, uma relação inversa com o
desenvolvimento do pinhal. A menores altitudes, dentro do transecto, corresponderão os
locais de maior desenvolvimento do pinhal (se não ocorrerem fenómenos de
encharcamento).
Passando à exposição (16), e conforme já foi referido, nesta variável é importante
a relação que se estabelece entre a topografia e a consequente diferenciação na radiação
solar que atinge o solo, que é mais acentuada nas vertentes sul (no hemisfério norte).
Assim, as vertentes voltadas a sul recebem mais energia em relação às vertentes norte,
tendo como consequência uma maior evapotranspiração potencial, um menor humidade,
e logo um menor desenvolvimento vegetal (Corrêa, 2008, p.1,4). A relação inversa
estabelecida entre a exposição e o desenvolvimento do pinhal ficará a dever-se à
gradação de valores atribuída a esta variável, em que os números mais baixos
corresponderiam a locais de maior desenvolvimento potencial. Quando se efetuam as
análises estatísticas adequadas, estes resultados estabelecem por isso relações

291
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

significativas e inversas, o que indicará que a opção na gradação de locais selecionados


terá sido a adequada.
A distância ao mar (17), que intuitivamente parecia vir a constituir-se como uma
variável com uma relação positiva com o desenvolvimento do pinhal (a influência do
mar seria um fator negativo ao crescimento), acabou por surpreender, ao revelar uma
relação inversa. Ou seja, o pinhal mais desenvolvido aparece em áreas mais próximas
do mar. Este facto pode estar relacionado, indiretamente, com outras variáveis - a
altitude e a profundidade da toalha freática - que também estabelecem uma relação
inversa com o desenvolvimento do pinhal, mas que estabelecem relações positivas entre
si. É necessário ter um particular cuidado nos locais mais próximos do mar, pois o papel
de proteção tem aqui o seu maior destaque, juntando a proteção do mar e dos ventos em
simultâneo. Na duna primária e na grande depressão interdunar é de extrema
importância a manutenção de uma mancha contínua de vegetação, que deverá ser
mantida de cada vez que esteja em risco, como acontece por vezes com a ocorrência de
alguns galgamentos.

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas à variável 18


Relativamente às variáveis relativas ao solo - com exceção da hidrofobia que,
conforme já se referiu e justificou, estabelece uma relação positiva com o
desenvolvimento do pinhal e com o teor da matéria orgânica em que não foi possível
encontrar um padrão satisfatório - estabelecem na sua maior parte relações inversas com
o desenvolvimento do pinhal. Em primeiro lugar destaca-se a existência de pH (18) mais
baixo em locais de maior desenvolvimento do pinhal. Já foi referida várias vezes ao
longo deste trabalho a preferência do pinheiro bravo pelos ambientes acídicos, assim
como a contribuição para a promoção desses mesmos ambientes acídicos (Ritsema,
1998 in Santos, 2008).
As características do solo são indispensáveis ao bom desenvolvimento vegetal,
sendo o pH (18) e a matéria orgânica os principais indicadores químicos para a
caracterização de um solo (Bacchewar e Gajbhiye, 2011). A acidez dos solos tende a ter
mais ocorrência de fenómenos de hidrofobia do que os alcalinos. No caso de se
pretender corrigir o pH do solo (para favorecer a instalação de espécies menos
acidófilas) pode adicionar-se NaOH para diminuir a acidez. Quando tal acontece,
também se tem verificado uma diminuição da hidrofobia (Karnok et al., 1993, apud
Thompson, 2010, p.4). Se se revelar necessária, conforme já se referiu, a utilização de

292
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

adubo orgânico, uma vez que as dunas móveis, arenosas e pouco protegidas, não retêm
nutrientes nem água que promovam o desenvolvimento de espécies vegetais (Silva et
al., 2006, p.31), a referida fertilização poderia ser substituída com vantagem pela
implementação de mais espécies enriquecedoras do solo como a tremocilha (Lupinus
luteus L.) ou a ervilhaca (Vicia sativa L.)). Nas sementeiras efetuadas nos últimos
tempos tem-se recorrido ao jacinto de água (Eichhornia crassipes (Mart.) Solms-Laub.
como fertilizante natural.

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas às variáveis


19 e 20
Nas dunas, o teor de fósforo (P2O5) (19) é menor quando o pH (18) também é
mais baixo, ou seja, em solos ácidos (Hellemaa, 1998, p.3; Bacchewar e Gajbhiye,
2011). Também neste trabalho foi esta a relação encontrada. A baixa disponibilidade de
fósforo, que também poderá ocorrer devido a uma maior absorção deste nutriente, assim
como do potássio (K2O) (20), poderá ser minorada pela adição localizada de fertilizante
granulado e rico nestes nutrientes. Desta forma não há perdas para locais onde o
nutriente não seja necessário, assim como se promove uma degradação e
disponibilidade lenta, o que implicará uma maior quantidade disponível para a solução
do solo e absorção pelo pinheiro (Varennes, 2003).

Propostas e considerações suportadas pelas conclusões relativas à variável 21


A humidade do solo é regra geral baixa, o que pode ser justificado, em alguns
locais, pelo facto de as areias hidrofóbicas não permitirem a infiltração de água e pela
baixa capacidade de retenção das areias, tornando-se um fator limitante ao
desenvolvimento vegetal (Wang et al., 2000; Urbanek et al., 2007). Por outro lado os
locais encharcados também são um fator limitante ao desenvolvimento vegetal, desta
vez, por excesso de humidade.
Também o período húmido (21) apresenta uma relação inversa com o
desenvolvimento do pinhal. O período húmido corresponde aos meses de janeiro a abril,
época que sucede ao período de reposição de humidade, de outubro a dezembro. Neste
período de reposição de humidade toda a água disponível será útil para equilibrar o
período seco anterior. Depois de esta reposição de humidade já estar satisfeita em
alguns locais, a humidade excessiva, que pode corresponder a locais de encharcamento,
prejudica o crescimento. A humidade obtida na base da duna, normalmente locais de

293
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

menor altitude, será maior do que no topo (Arbel et al., 2005). E já se verificou
anteriormente que esses locais de menor altitude são os que promovem melhor
desenvolvimento do coberto arbóreo, com exclusão dos locais com períodos de
encharcamento.
Muitos destes locais de encharcamento encontram-se, como foi referido, nas
depressões interdunares. Outros, porém, encontram-se junto às linhas de água onde a
florestação é utilizada como barreira de proteção da rede hidrográfica, contribuindo para
a fixação de areias e evitando o assoreamento destas.

V.2 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do que foi apresentado anteriormente como conclusões e considerações


associadas aos resultados obtidos neste trabalho, apresentam-se mais algumas ações a
ter em linha de conta para o futuro nas Dunas de Mira.
Propõe-se que os planos de (re)arborização que se vão elaborando prevejam a
realização de ensaios com outras espécies arbóreas, nomeadamente de Cupressus spp.
(que já existe, embora unicamente como espécie de bordadura, e por isso pouco
significativa), uma vez que a constituição de povoamentos monoespecíficos traz
desvantagens, como o caso atual de ataque da processionária (Thaumetopoea
pityocampa) que se estende à quase totalidade do povoamento de pinheiro bravo das
dunas. Se houvesse descontinuidades na atual constituição do coberto arbóreo, poderia
reduzir-se o impacte deste avanço no espaço.
Propõe-se que na linha de costa se mantenha o pinhal bravo, devido à sua
resistência comprovada a situações de extremas agressões de ventos e de salinidade (que
aqui não foram analisados) e de solos extremamente pobres.
Refere-se também a importância do pinheiro manso nas áreas litorais,
considerando que “…o seu porte, a sua folhagem condensada, tornam-na uma árvore
adaptada ao litoral açoitado pelos ventos”, e que “…a forma esférica da sua copa é
bem a de uma árvore xerófila de beira-mar” (Chodat, 1913, apud Pedro, 1993, p.10).
Um século depois, embora sem grandes manchas contínuas, como acontece com o
pinheiro bravo, o pinheiro manso continua a ser associado às dunas litorais, pelo que a
sua expansão é uma das propostas para aumentar a diversidade arbórea local. Trata-se,
para além disto, de uma espécie que tem reconhecida importância económica.

294
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

As sementeiras e realizar devem ser efetuadas no fim do outono, de modo a que as


sementes possam usufruir da água disponível durante o período de reposição, e no
período húmido já estejam preparadas para germinar, após o amolecimento das cascas.
Uma outra espécie que poderia ser recuperada na faixa mais litoral pela sua
aparente maior adaptação às adversidades do meio, é o zimbro (Juniperus phoenicea L.)
e que era frequente na costa ocidental portuguesa.
Uma área tão extensa como a das dunas de Mira poderia ser objeto de propostas
de turismo de natureza por parte de empresas especializadas, de implementação de
projetos de ecoturismo, numa perspetiva de utilização sustentada.
Tendo em atenção a atual situação de desenvolvimento da sociedade e a sua cada
vez menor ligação aos espaços rurais, seria de propor uma maior utilização deste espaço
pelas escolas locais. É necessário voltar a trazer os jovens aos espaços rurais,
nomeadamente à floresta. No caso de não se realizar esta sensibilização para os espaços
florestais, quem irão ser no futuro os seus cuidadores? Defensores existem muitos,
teoricamente, nos artigos de opinião. Mas quem continuará a tomar conta destes espaços
se a sociedade não conhecer as florestas e se não for educada neste sentido? E, para
defender e criar opiniões válidas, é preciso conhecer e trabalhar nos locais, nem que seja
inicialmente por brincadeira ou lazer, como se começava em tempos antigos.
Sabendo que um grande problema dos espaços florestais se prende com o
dispêndio de verbas na sua limpeza e manutenção, por que não implementar novamente
o sistema pastoril nas Dunas de Mira, sistema este que foi proibido quando da sua
sementeira uma vez que os animais comiam toda a vegetação recém-nascida, não
deixando desenvolver-se os estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo.
Todos os espaços precisam de ter a sua utilidade reconhecida, sob pena de serem
votados ao abandono, conforme se tem verificado com as florestas públicas nos últimos
anos. Ninguém considera a utilidade de proteção da floresta, uma vez que esta não é
percetível pelo comum dos cidadãos.
As pressões ambientais causadas pelo Homem têm levado a uma progressiva
contestação à utilização de espécies florestais de crescimento intensivo, e pretendem
regressar aos métodos de produção que respeitem a “preservação ambiental” (Guerra,
2007, p.41). Entre os maiores problemas ambientais da atualidade, a OCDE aponta,
entre outros, a perda de biodiversidade (OCDE, 2001, p.8 apud Guerra, 2007), que é o
que se tem vindo a verificar nas Dunas de Mira com o constante avanço das acácias em
detrimento do restante coberto herbáceo e arbustivo.

295
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Entendendo que o projeto de florestação realizado pelos Serviços Florestais ao


longo da primeira metade do século passado nas Dunas de Mira incluía a sua constante
utilização pelo povo, estava-se em presença de um dos primeiros projetos de ecologia
humana, onde o Homem é entendido como parte integrante do ecossistema de forma
positiva e não como um fator externo prejudicial ao meio onde está inserido (Nazareth,
1993, pp. 881). A utilização sustentável das áreas florestais pelo povo faz dele um
regulador interno do ecossistema, que contribui para a conservação da biodiversidade
dunar.
O ambiente natural é indispensável à qualidade de vida dos cidadãos, sendo de
extremo interesse os projetos que tenham como objetivo a conservação ou o
melhoramento do ambiente (Oliveira e Montesuma, 2010).
No litoral devem ser elaborados planos de gestão e desenvolvimento que tenham
como base um bom conhecimento científico dos locais, para que possam propor boas
práticas ambientais, nomeadamente na consolidação das dunas através do recurso a
vegetação, da proteção da vegetação já existente e da sua reposição quando necessário,
assim como a utilização, acentuadamente turística atualmente, deverá coabitar em
sintonia com o meio envolvente (Nunes e Tavares, 2008).
Os espaços florestais são um pilar fundamental para o desenvolvimento do
concelho de Mira, pois “…os pinhais mantêm relações simbólicas muito fortes com os
habitantes de Mira” (Santos, 2008, p.212). Estes espaços, por se localizarem
principalmente nas áreas costeiras, são alvo de grande atração sob o ponto de vista
estético, social e económico e, por isso, existe uma grande competição com as áreas de
localização das atividades humanas (Martins, 1989; Albuquerque, 2005).
Na vertente de utilização direta dos recursos florestais seria necessária a
intervenção de técnicos especializados em micologia, que sensibilizassem a população
para uma produção e colheita equilibrada das espécies utilizadas para alimentação ou
para farmacologia. Em virtude de os espaços florestais ocorrerem sobretudo na região
dunar mais recente do concelho, esta poderia constituir-se como uma significativa fonte
de rendimento para a população local. No entanto, essa gestão teria que ser assegurada,
tal como a gestão das matas, por uma entidade gestora com capacidade técnica e
científica, e meios, para o fazer, uma vez que a população não tem formação nem
organização para isso.
Quanto às limpezas das matas, uma das atividades inerentes à sua gestão, seria
necessário uma atuação mais eficaz, uma vez que no seu interior existem muitas zonas

296
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

onde é impossível a entrada: a Acacia longifolia (Andrews) Willd ocupou todo o


espaço, não permitindo o desenvolvimento de qualquer outra espécie. Por vezes são
efetuados cortes neste estrato arbustivo mas, passados 3 anos, é novamente impossível a
penetração nesse espaço. Soluções concretas e completamente eficazes não se apontam.
Mas poderia ser parte da solução a criação de uma unidade transformadora destes
resíduos, quer pela sua transformação em substrato, quer pelo seu aproveitamento para
energia, por exemplo, no aquecimento das escolas do concelho. Outra proposta
considerada exequível baseia-se em intervenções ao nível do estrato arbóreo no
perímetro florestal, tendo em conta a idade avançada do arvoredo e as consequências do
seu envelhecimento, fazendo cortes faseados em manchas, ou linhas de plantação
seguidos de uma rearborização, de forma a nunca pôr em risco este valioso património.
Note-se que, no passado, o objetivo desta arborização era, para além da
estabilização do espaço dunar, o fornecimento de madeira, matéria-prima para a
construção e a indústria, e de lenhas à população, criando emprego e tornando-se num
fator de desenvolvimento local.
Considera-se que com medidas eficazes e concretas se conseguem minimizar os
principais problemas verificados ao nível deste concelho, promovendo a
sustentabilidade da utilização dos recursos como um bem essencial e público, e deste
modo disponível a todos. A proteção de espécies vegetais por si só pode ser considerada
por muitos como uma forma pouco atrativa de agir sobre as dunas pois, como já se
referiu, cada vez mais os agentes económicos têm uma influência preponderante na
tomada de decisões.
Parece que o mais correto será encontrar um equilíbrio entre interesses
económicos e ambientais, que quase sempre aparecem em polos opostos. É necessário
encontrar plataformas de entendimento entre eles para que a sua coexistência seja
possível. Neste trabalho não se pretendeu refletir sobre essas possíveis soluções, mas na
certeza que o desenvolvimento do concelho passa também pela gestão eficaz das suas
áreas florestais, que o uso múltiplo deverá ser uma mais-valia a considerar no futuro,
uma vez que já o foi no passado, e é neste conceito que se encontra centrado o trabalho
que aqui se apresentou.
Cupido (2006, p.33) refere que a “A realidade abiótica da Gândara só interessará
na medida em que os acidentes orográficos e hidrográficos aí existentes condicionarem
o comportamento dos indivíduos aí fixados. A sua flora e a sua fauna também
interessarão apenas quando a satisfação das necessidades desses indivíduos se realizar

297
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

através de actos conformados às características dessa flora e dessa fauna. (…) o centro
(…) não está a paisagem, mas sim na força que têm todos os elementos que a integram,
abióticos e bióticos, acrescidos de outros elementos geofísicos (…,clima,…). Isto é, o
que …interessa é o ambiente como primordial fator condicionante da cultura, ou seja,
da maneira de agir e da maneira de pensar da população da Gândara”, ao que o autor
acrescenta “…assim como de todos aqueles que usufruam desses ambientes naturais,
mesmo não sendo gandareses”.
---------------------------------------------
Com a realização desta dissertação pretendeu-se contribuir para um melhor
conhecimento dos espaços naturais do Perímetro Florestal das Dunas de Mira, nas suas
relações com o desenvolvimento florestal e, através das propostas aqui efetuadas, dar
um contributo para eventuais futuros projetos de ordenamento, e para a manutenção
dessa identidade cultural que também assenta nos espaços verdes locais.
É necessário criar condições para o desenvolvimento de um turismo sustentável
(Albuquerque, 2005, p.80), o que é também corroborado por Miranda (2012, p.391),
acrescentando o facto de ser necessário “…valorizar todos os recursos naturais e
culturais existentes no concelho”. Os espaços naturais existentes permitem criar
condições para que o turismo deixe de ser exclusivamente sazonal e se possa distribuir
ao longo de todo o ano.
A multifuncionalidade das áreas florestais deve continuar a ser promovida, pois é
a única forma de se constituírem como suporte do desenvolvimento local e nacional
(Guiomar e Fernandes, 2011).
Depois de apresentadas as principais funções exercidas por esta mancha florestal,
formada quase exclusivamente por pinhal, depois de identificadas as características
deste ecossistema e apontadas algumas propostas, consideram-se cumpridos os
objetivos propostos no início do trabalho, e espera-se que ele seja um contributo para o
conhecimento relativo às florestas litorais.

298
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

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Ambiente, Secretaria de Estado do Ambiente, 1982. (1/100000)

Carta Geológica de Portugal, Folha 16-C, Vagos (1981), Direção Geral de Geologia e
Minas, Lisboa. (1/50000)

Carta Geológica de Portugal, Folha 19-A, Cantanhede (1988), Direção Geral de


Geologia e Minas, Lisboa. (1/50000)

Carta Militar de Portugal, Folha 16 (1974), Instituto Geográfico e Cadastral, Lisboa.


(1/100000)

Carta Militar de Portugal, Folha 19 (1963), Instituto Geográfico e Cadastral, Lisboa.


(1/100000)

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Lisboa. (1/25000)

Carta Militar de Portugal, Folha 206,Mira (1975), Serviço Cartográfico do Exército,


Lisboa. (1/25000)

Carta Militar de Portugal, Folha 207,Anadia (1992), Serviço Cartográfico do Exército,


Lisboa. (1/25000)

Carta Militar de Portugal, Folha 217,Cantanhede (1982), Serviço Cartográfico do


Exército, Lisboa. (1/25000)

Fotografia Aérea de Portugal de 1958 (1/26000)

Inventário Floresta Nacional (IFN)1, Folhas 195, 206 e 217, (1965), Direção Geral dos
Serviços Florestais e Aquícolas, Ministério da Agricultura e Pescas (período 1964-
1965), Lisboa.

Inventário Floresta Nacional 4, Folhas 195, 206 e 217, (1999), Direção Geral dos
Serviços Florestais e Aquícolas, Ministério da Agricultura e Pescas (período 1995-
1998), Lisboa. (1/25000)

Estação de receção de sinal GPS fixa de Coimbra, www.igeoe.pt. (Usada para correção
diferencial)

322
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

ANEXOS

Capítulo I

Anexo I.1– Legislação que condiciona o uso e a gestão do Perímetro Florestal


das Dunas de Mira

Capítulo III

Anexo III.1 – Ficha de campo


Anexo III.2 – Valores atribuídos às diferentes exposições solares
Anexo III.3 – Esquema representativo das leituras de hidrofobia em cada
parcela

323
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Anexo I.1– Legislação que condiciona o uso e a gestão do Perímetro Florestal das Dunas de Mira

 Decreto de 24 de Dezembro de 1901- Parte IV, artigos 26.º e 27.º - O Perímetro Florestal das
Dunas de Mira enquadra-se no Regime Florestal Parcial;

 Portaria nº 725-C de 10 de Agosto de 1993 - Estatuto de Reserva de Caça Integral atribuído à


Barrinha e à Lagoa de Mira;

 Portarias n.º 539 de 23 de Julho e 563 de 26 de Julho de 1997 – Criação de duas Zonas de Caça
Associativas, com uma área total de 3.520ha;

 Decreto-Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de 1999 – Cria diversas Zonas de Proteção Especial;

 Decreto-Lei n.º 112/2002 de 17 de Abril - Plano Nacional da Água;

 Decreto Regulamentar n.º 15/2002 de 14 de Março - Plano de Bacia Hidrográfica do Vouga;

 Resolução de Conselho de Ministros nº 76/2000, de 5 de Julho - Inclui uma vasta área do


concelho de Mira na Rede Natura 2000. Da área selecionada destaca-se o Perímetro Florestal
das Dunas de Mira (Código PTCON0055);

 Resolução do Conselho de Ministros n.º 142/2000 - Plano de Ordenamento da Orla Costeira de


Ovar - Marinha Grande;

 Resolução do Conselho de Ministros n.º 83/94, de 16 de Setembro, DR 243 SÉRIE I-B de 2000-
10-20) - Ratificação no PDM de Mira, na limitação de Nitratos de origem agrícola;

 Portaria n.º 193/2003 de 22 de Fevereiro - Regulamenta a intervenção de "Indemnizações


Compensatórias" na Caça - zonas de caça sujeitas a diferentes regimes cinegéticos (legislação já
referida anteriormente);

 Portaria n.º 557/2003 de 14 de Julho - Limita a fertilização a fazer em áreas agrícolas e


florestais;

 Decreto-Lei n.º 64/2004 de 22 de Março - Regulamento da intervenção "Medidas


Agroambientais";

 Portaria n.º 360/2004 de 7 de Abril - Regulamento da intervenção "Florestação de Terras


Agrícolas";

 Portaria n.º680/2004 de 19 de Junho - Inserem-se os baldios, alguns atualmente florestados


naturalmente, nos terrenos florestais;

 Decreto Regulamentar nº11/2006 - Plano Regional de Ordenamento Florestal do Centro Litoral,


Perímetros florestais e matas nacionais (Regime Florestal total e parcial).

324
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Anexo III.1 – Ficha de campo

325
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Anexo III.2 – Valores atribuídos às diferentes exposições solares

Exposição solar Valores atribuídos

Sem exposição (grande depressão inter-dunar) 1


Sem exposição (base da duna, no campo de dunas interiores) 2
Flanco Norte 3
Flanco Este 4
Flanco Oeste 5
Flanco Sul 6
Sem exposição (Crista de duna) 7

Adaptado de Páscoa et al., 1982

* Uma vez que o caracter “sem exposição” poderia corresponder a locais de diferente desenvolvimento,
optou-se por dividi-lo em três: grande depressão interdunar, base da duna no campo de dunas e crista de
dunas, que se juntam aos flancos cardeais. A inclusão destes caracteres na variável exposição deve-se ao facto
de não ter sido contemplada nenhuma variável que contemplasse a posição das parcelas relativamente à duna.

326
Determinantes do desenvolvimento do pinhal bravo em áreas dunares (Dunas de Mira)

Anexo III.3 – Esquema representativo das leituras de hidrofobia em cada parcela

327

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