Pe Geraldo Pires de Sousa - Audi Filia - Páginas para Moças PDF
Pe Geraldo Pires de Sousa - Audi Filia - Páginas para Moças PDF
Pe Geraldo Pires de Sousa - Audi Filia - Páginas para Moças PDF
AU DI, FILIAI
PÁGINAS PARA MOÇAS
V EDIÇÃO
1953
EDITORA VOZES LTDA., PETRôPOLIS, R. J.
RIO DE JANEIRO - SÃO PAULO
I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO.
E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO
DA CUNHA CINTARA, BISPO DE PE
TRôPOLIS. FREI LAURO OSTERMANN,
O. F. M. PETRôPOLIS, 19-8-1953
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À jovem leitora
O A utor
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O coração que mudarás
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dono das vontades e dos corações anda com sua
graça a lhe cair das mãos. Oferece-a, distribui-a,
improvisa-a, e sempre está pronto a dar sem me
dir nem pensar. Como moça cristã, sobej am-te
recursos religiosos e morais de toda espécie.
Audi, filia . . .
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Dez minutos apenas - eis o tanto de tempo
que te peço para ouvires essas vozes numa refle
xão diária. Para ser útil a leitura, farás assim :
Primeiramente recolhe-te em Deus e pede
Ihe sua luz para tua inteligência.
Leitura calma e pausada vem depois disto.
De permeio com ela irás colocando
Perguntas sinceras: Que acabei de ler?
Que devo concluir de tudo isso ?
Que tenho feito neste assunto ?
Que farei no futuro ?
Ref/ele sobre as respostas, deixando-as des
cer bem no fundo da alma.
A bre o coração e apresenta teus afetos e sen
timentos a Deus.
Junta as mãos e reza, para que a força do Al
tíssimo renove tua alma, tua vida.
No fim de tudo coloca um bom propósito p a
ra o dia. - Escu ta, filha, as vozes que assim se te
a presentam. Verás dentro de ti transfigurações
abençoadas ; tua alma andará "cingida de reca
mos'', motivando um j usto interesse de Deus por
ela. Ouvindo-as, serão mais seguras essas horas
que a mocidade te oferece de ponteiros enfei
tados.
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1. À sombra de ciprestes . . .
Muita moça imaginativa improvisa urna ala
meda de c-iprestes e por ela caminha numa densa
sombra de tristeza. E' que se põe a pensar em
"muitas" coisas de sua vida passada, presente e
futura. Compara-se a outras mais felizes, cuj as
risadas e perene sorriso lhes atraem a felicidade.
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As outras têm tudo : carinho e conforto em
casa, amigas e festas, vestidos e passeios, s aúde
e sossego de espírito. Nem lhes falta um encan
tador amor.
Mas o segredo de tal tristeza não está na di
ferença de sorte ; está sàmente na lembrança que
de si mesma levanta a moça. As outras, se come
çarem a pensar em si próprias, acabarão tristes.
Pois é esta a lei : quando nos recordamos de nós
e nossas ambições, ficamos tristes. Alegres nos
tornamos à medida que nos lembramos de Deus.
Quando mais se alegra uma boa filha ? Quando
se lembra da felicidade de seus paizinhos. Serás
feliz, j ovem leitora, à medid a que te preocupa
res com Deus, com as coisas e interesses dele.
Por que essa contínua recordação das tuas
penas ? Não é prudente pegá-las e com elas for
mar um mosaico, pedrinha por pedrinha. Teu
Mestre e Amigo não sofreu muito mais do que
isso ? Por que, depois, essa insistente preocupa
ção com tuas faltas e teus pecados ? E' melhor
entregá-los à misericórdia de Deus, num sincero
e eficaz arrependimento. Então lucrarás, como
o filho pródigo, que viu sua tristeza ceder lugar
à festiva recepção que lhe fez o p ai, quando a
seu regaço voltou contrito.
A alegria é a lembrança que se tem de Deus.
"Senhor, eu estou ardendo em febre ; mas sei que
sois feliz ; eis que eu me sinto feliz convosco" -
exclama um pobre doente. - Trata de ser ale
gre e feliz, cristã. Farás o mais expressivo elo
gio daquele a quem amas. Corta teus ciprestes.
Nem a Igrej a, tua Mãe, aprova a tristeza. Ao
batizar-te, exprimiu um desej o a teu respeito :
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Que ela, Senhor, alegre te sirva na tua Igrej a !
Tens um direito à alegria cristã, mas tens igual
mente o dever de procurá-la pela pureza de cons
ciência e fiel cumprimento dos deveres.
2. De mãos vazias?
A fé coloca tesouros no coração e luzeiros na
inteligência de toda cristã. Passa com as mãos
de fada pelas fibras, pelas cordas da lira-coração,
e eis que a cristã é uma deslumbrada, é uma can
tora e poetisa no mundo em que Deus a colocou.
Queres te convencer disso ? Escuta o que a fé
te expõe sobre o mundo : E' a terra um templo
que o Criador levantou para sua glória. Nesse
templo pôs o homem como um sacerdote para
oferecer-lhe o sacrificio do louvor, pelo reto uso
das criaturas. Tem de lhe bendizer o poder di
vino, celebrar-lhe a bondade de Pai e os desve
los de Deus Providente. Pois no mundo o ho
mem encontra não só o necessário, mas t ambém
o conveniente, o útil e o agradável à vida. A arte,
por exemplo, procura surpreender a natureza e
se envaidece e se exibe quando consegue apa
nhar-lhe ao vivo os encantos mostrados numa
paisagem, numa cena da vida, nos traços de um
ser humano, no anfiteatro da natureza. Mas tu
do isso Deus espalhou com profusão pela terra,
num oceano de cores e de luzes, de matizes e de
contornos, para que a criatura humana se des
lumbre em sua presença.
"Percorri o céu e a terra . . . (vi tudo aos meus
p és, digamos) e ofereci a Deus meu sacrifício de
louvor" - canta David. Ora, j ovem cristã, há
quanto tempo vives percorrendo a terra, vendo a
sucessão de anos, a mudança de pessoas, a va-
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riedade de alegrias e de emoções ! E onde fica
o teu sacrificio de louvor? Eu sacrifiquei, imo
lei, diz o real cantor. E se tu não fizeres o mesmo,
leitora, és estátua muda no templo onde tudo
canta e engrandece ao Senhor. Sê grata, portanto,
até por um raio de sol, por uma brisa perfuma
da, por uma manhã soalheira, por uma nesga de
luar, por um saboroso fruto, por uma catita flor,
por uma silenciosa estrela.
De passagem lembrar-te-ei as três. normas
aconselhadas pelos homens de vida intensamen
te cristã: aceita, agradece, receia. Aceita a dádi
va do Senhor, agradece-lhe o presente das cria
turas, mas teme as contas que hás de dar sobre
o uso ou abuso delas.
3. Gente ruim . . .
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Mas só em parte tens razão, leitora. Justamen
te indignada contra a maldade humana, não se
jas má tu também. Eis uma exigência da mais
dementar lógica. Não sabes que é possível ao ho
mem indignar-se porque o próximo foi mau, e
ser ao mesmo tempo também mau para com ele ?
Na face recebe uma bofetada e com a mão dá
outra no próximo ; sofre o mal e pratica o mal.
Condenas, por exemplo, a companheira que foi
má e lhe "invej as a maldade tornando-te má.
Por isso nada de brados invocadores de chamas
do céu contra os maus siquemistas.
E, depois da lição que tiraste, terás então uma
atitude. Ei-la: tirarás consolo para tua alma. Aos
tiranos devemos os mártires, às maldades e hu
manas misérias devemos o heroísmo da caridade.
ódio de fariseus, vileza de Judas deram-nos um
Crucificado Redentor. Prova é isso de que do mal
pode nascer o bem. Consola-te com tal conside
ração e consola também a outros.
Um dia, ofensora e ofendida estarão diante de
Deus. Uma, nele terá o Juiz, e a outra, o Pai. N a
estrada d a vida não t e ajuntes aos salteadores,
mas caminha ao lado do samaritano caridoso ; sê
consoladora de quantas vítimas encontrares.
Protesta contra o mal, consola-te com o be1:1.1
que dele pode advir e lembra-te da p alavra de
Job, vendo em tudo a p ermissão de Deus e ben
dizendo-lhe o nome ( Bellouard, livremente citado ) .
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riedade de alegrias e de emoções ! E onde fica
o teu sacrifício de louvor? Eu sacrifiquei, imo
lei, diz o real cantor. E se tu não fizeres o mesmo,
leitora, és estátua muda no templo onde tudo
canta e engrandece ao Senhor. Sê grata, portanto,
até por um raio de sol, por uma brisa perfuma
da, por uma manhã soalheira, por uma nesga de
luar, por um saboroso fruto, por uma catita flor,
por uma silenciosa estrela.
De passagem lembrar-te-ei as três. normas
aconselhadas pelos homens de vida intensamen
te cristã : aceita, agradece, receia. A ceita a dádi
va do Senhor, agradece-lhe o presente das cria
turas, mas teme as contas que hás de dnr sobre
o uso ou abuso delas.
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Mas só em parte tens razão, leitora. Justamen
te indignada contra a maldade humana, não se
jas má tu também. Eis uma exigência da mais
dementar lógica. Não sabes que é possível ao ho
mem indignar-se porque o próximo foi mau, e
ser ao mesmo tempo também mau para com ele ?
N a face recebe uma bofetada e com a mão dá
outra no próximo ; sofre o mal e pratica o mal.
Condenas, por exemplo, a companheira que foi
má e lhe "invej as a maldade tornando-te má.
Por isso nada de brados invocadores de chamas
do céu contra os maus siquemistas.
E, depois da lição que tiraste, terás então uma
atitude. Ei-la: tirarás consolo para tua alma. Aos
tiranos devemos os mártires, às maldades e hu
manas misérias devemos o heroísmo da caridade.
ódio de fariseus, vileza de Judas deram-nos um
Crucificado Redentor. Prova é isso de que do mal
pode nascer o bem. Consola-te com tal conside
ração e consola também a outros.
Um dia, ofensora e ofendida estarão diante de
Deus. Uma, nele terá o Juiz, e a outra, o Pai. N a
estrada d a vida não t e ajuntes aos salteadores,
mas caminha ao lado do samaritano caridoso ; sê
consoladora de quantas vítimas encontrares.
Protesta contra o mal, consola-te com o bei;n
que dele pode advir e lembra-te da palavra de
Job, vendo em tudo a permissão de Deus e ben
dizendo-lhe o nome ( Bellouard, livremente citado ) .
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de família p ara resolver sobre a cor do chapéu,
sobre o combinado do vestido.
Queres saber, entretanto, o que mais importa
na vida ? Ei-lo:
Não é o que nós parecemos ser. -Iludem as
aparências a nós, que somos suj eitos ao erro.
Mas não iludem a Deus. Na escolha de um rei
para Israel, impressionou-se bem o profe t a quan
do diante de si viu a bela estampa do filho mais
velho de Isaí. Disse-lhe, contudo, o Senhor que
este não era o escolhido.
Não é o que imaginamo s ser. - Sonhamos
com perfeições que não possuímos, salvamos da
censura certas qualidades que convictamente re
conhecemos em nós. Muita moça se tem em con
ta de boa filha, de devotada irmã, de sincera
amiga, de esclarecida cristã. Enumera a list a de
suas conhecidas, aponta-lhes os defeitos e absol
ve-se deles. Oxalá a realidade correspondesse a
tap.ta imaginação! Quantas vezes é mais acerta
do aquilo que o Senhor disse : "Pois que me di
zes : Estou rico e cheio de bens, e de nada pre
ciso : e não conheces que és um infeliz, miserá
vel, pobre, cego e nu" ( Apoc 3, 17) !
Não é o que se , diz de nós. - Conforme os
olhos que nos encaram hão de sair nossas quali
dades na avaliação do p róximo. As outras pessoas
podem errar a teu respeito, ou por fragilidade e
apaixonamento, ou por malquerença e superfi
cialidade. Quantas vezes o bem que de ti afir
mam não passa de uma calculada adulação, ou
interesseiro fingimento!
Não é o que afirmamos de nós. - Tudo o que
dizemos de nós é poesia, afirma um escritor. Foi
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dl'licado cm classificar uma coisa que outros cha
mam de mentira. Em todo caso não quer o Sábio
<pie o homem sej a j uiz de si mesmo. Realmente,
a mentira, o orgulho, a ingenuidade, o amor pró
prio trazem cores irreais em suas p alhetas, quan
do pintam nossas qualidades.
O que mais importa é a moça conhecer-se a si
mesma e saber o que é na realidade. Pois aos
olhos de Deus valerá tão somente aquilo que
for rea!.
5. As filhas de Milton
Não, leitora ; nem p or nada te iguales a essas
afamadas moças que roubaram ao mundo um te
souro de poesia. Além disso, faltaram gravemente
ao carinho p ara com o pai cego. Milton, sacudido
.
de repente pelo gênio de asas velozes, erguia-se
de seu canto, vinha p ara a sala onde estavam
as filhas e recitava-lhes versos imortais, pedindo
que lhe escrevessem no p apel a inspiração. Mas
as moças punham-se a rir, a rir do pobre louco
e maníaco. Deixavam-no declamar.
Não sei se teu pai é um gênio de poesia, se é
cego também. Sei apenas que várias são as ma
neiras de assistir os p ais. E j ustamente da filha
eles esperam o auxílio carinhoso, onde os ares
da dadivosa alegria aj udam mais do que a habi
lidade das mãos, ou a reserva de forças físicas.
Muita moça bem podia ajudar mais aos seus pais.
Em geral, trabalham pouco a favor dos "paizi-1
nhos" Eu sempre ouvi, comovido, a história da
senhorita que, já pronta p ara um baile de gala;
deixou tudo e sentou-se ao lado do pai para lhe
servir de datilógrafa. Durante três horas ficou
escrevendo a conferência ditada.
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Sendo duas ou três as filhas em casa, é fácil
uma confiar na outra e o pai ficar à espera de
todas. Ou então vem logo a comparação. Uma
acha que ela é sempre a incomodada, a obriga
da a desvelos, quandó filhas são t ambém as ou
tras. A moça esclarecida não se impressiona com
esse argumento. Pois sabe que o dever é indivi
dual, é pessoal. Se ela o cumpre, está em paz
com a consciência, forma o coração, entesoura
bênçãos dos p ais. Mesmo sem igual dedicação
dns irmãs, o de v e r nada perde de sua feição e
de sua fecundidade para a vicia. As virgens pru
dentes nuo upagurum suus lâmpadas, pretextan
do 11ue ns outrus cinco virgens us tinham apaga
<l11H. .l uHt11mc11tc por isso figuram como modelo
11<� 111·1111<�11cin.
<:rido 1111e us filhu <lc Mil ton não se davam
1·011111 cl11 Hl'1·i1�d11de de sua obrigação diante de
11111 pui "gf�nio" e, portanto, incompreendido. Po-
1·(·111 nossas moças não se esqueçam da lição e
tragam cm vi v a chama o coração devotado.
6. Tal homem és tu . . .
Não foi, sem dúvida, pequeno o susto do rei,
quando o homem de Deus lhe atirou tais palavras
no rosto. Com elas indicava a David o autor de
um roubo cometido contra o pobre dono de uma
única ovelha.
Matar a ovelha a um pobre não está no mes
mo degrau de malícia como tirar a graça de Deus
a uma alma. Por isso, leitora, venho dizendo-te que
precisas ter zelo pela salvação do próximo. Não
basta amá-lo, é preciso aj udá-lo seriamente a se
salvar. Vai nisso um dever de j ustiça também.
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Pois, sem o saberes, talvez é possível que tenhas
feito mal ao próximo. Prej udicaste-lhe, quem sa
be, a alma por alguma palavra menos boa, por
algum olhar mais provocante, por algum vestido
menos modesto. E daí em diante ela vive le
sada, mas reclamando diante de Deus a graça
que lhe roubaram. Por exemplo, entre amigasj
são tão comuns conversas descaridosas, male
dicências habituais, e até, hoj e em dia, a moça
conta anedotas que j á não são meras e inocen
tes anedotas. Que a alma do próximo receba dano
nesse ambiente, é inegável.
Para reparar tanta inj ustiça, a leitora terá
zelo. Com ele irá fazendo a restituição que lhe
toca. David exclamou, logo, diante da berrante
inj ustiça : Esse homem terá que restituir quatro
vezes mais do que tirou! E tratava-se, na apre
ciação dele, tão somente de uma ovelha tirada
ao pobre. Alma e ovelha diferem muitíssimo no
valor. Portanto, cristã, restituirás mais do que
quatro vezes o roubo, o dano feito ao teu próximo.
O comodismo da moça que é cristã só para si ;
que reza só p ara as suas intenções ; que se sacri
fica unicamente em vista de seus interesses, pas
sa a ser inj ustiça. Se fechas tua boca, sonegando
um bom conselho, um amável convite a alguma
criatura esquecida de sua alma, estás retendo o
"alheio" - Tu és essa mulher! Que pena, se de
ti valesse o que na mente do profeta era também
triste verdade a respeito do rei!
Zelo, zelo, j ovem cristã! Que glória, se de ti
valer como elogio a sentença acima! Tu és essa
mulher, salvadora da alma alheia !
- 2
Audl filla 17
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7. Alma derramada
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rificará esse campo, p ara que nele só haja trigo
que o Filho do homem p lantou.
Sem vida interior, prezada j ovem, tua alma
assemelha-se a uma estrada batida na qual as
aves comem toda semente que Deus lhe confia.
Um bando de imaginações e devaneios atravessa
tua inteligência e distrai teu coração. A vaidade,
o amor próprio exagerado, o apego às comodi
dades, a afeição aos bens e às afeições de cria
turas - tudo isso faz da alma uma praça de
feira. Cada qual vai gritando e apregoando suas
boas qualidades, enquanto Deus vai s e retirando
de mansinho. E desce o crepúsculo e depois o es
fumado das coisas. Já não impressionam as ver
dades da religião àquela que vive "derramada co
mo torrente invasora da planície"
E desce em seguida a noite na qual não se
pode trabalhar, como no-lo assegura o Mestre.
Que erro, j ovem, pensar ser a vida interior
obrigação p ara religiosos do convento! Queres te
conhecer bem a fundo ? Leva e cultiva uma vida
de reflexão. Queres conhecer o próximo, tuas ami
gas, o coração humano, enfim ? Apega-te a essa vi
da de introspecção de ti mesma. Com ela serás
boa historiadora dos feitos de teu coração e boa
profetisa sobre o futuro dos que te cercam.
II
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gra, não para "os mercados de competições'', mas
p ara os países em que moram fadas. Ela é a fe
liz afilhada da Mãe d'água. Vê tanto castelo no
fundo das águas, de cada poça formada pela chu
va faz um lago para os seus naviozinhos de ·pa pel !
"E' nas praias dos mundos infinitos que se
reúnem as crianças. O azul sem fim paira imó
vel sobre elas, enquanto a água tece rendas a
seus pés. E' nas praias dos mundos infinitos que
as crianças se encontram para brincar. Fazem ca
sinhas de areia, divertem-se com as conchus; seus
barcos ( desej os) são folhas secas que, sem cui
dado, entregam ao mar profundo. Não sabem na
d,ar, nem deitar redes (fingir) . Enquanto o pes
cador de pérolas submerge para uch ú -l a s , e os
mercadores singram nos seus barcos t'lns brin
cam com seixos, j ogando-os, espulhando-os.
Vem .a marô, e us ondns, a)H'sar de 111orlífcras,
sobem can tando e a Jll"llÍa hl'ill111 sorridente. As
ondas sfi o como miit·s q111· c1111t11111 h11l11d11s pa ra
adormecer os filhos. Brinca o 11111r, l'olg11 e ri com
as crianças. As horrnscas cavalgam ns nu vens
pelo céu e pelos mures uivam uns ondus; navios
soçobram, anda a morte ils sollus... , mus us crian
ças continuam brincando nu pr uiu " (Tugore) .
Por que, senhorita, não po<lerús gunrdur e de
fender esse p atrimônio da inffrncin cm tua vida
de moç a ? Sê como a criança : colocn-tc sobrancei
ra às competições e "sempre ruma paru terras de
ideais, sem indagar dos mercados em que há lu
cros e interesses, danos e inj ustiças".
Até os céus apreciam essa alma infantil : "Se
não vos fizerdes pequenos como este pequeno
(que estava ao· lado do Mestre) , não entrareis
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no reino dos céus". Alma sonhadora, alma dó
cil, alma sem fel, alma sem cálculos, alma de
criança em manhã de primeira comunhão - oh !
bendita alma !
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3. Teu papel
"No fundo de todas as glórias do homem lê-se
o nome de uma mulher ; em toda casa que flo
resce acha-se o trabalho de uma mulher ; em toda
ação generosa e heróica está a mulher, e sempre
ela, inspiradora, amiga, guarda, arca-santa dos
povos" (Neera) . Concordo com esse elogio e as
sim ficarei com o direito de dizer depois "floridas"
verdades.
De fato, até na obra-prima de Deus - na Re
denção do gênero humano - figura a Bendita
entre todas as mulheres, Maria, a Mãe santíssima
de Jesus.
Mas como precisa ser grande, essa que é o
fundo azul de todas as áureas celebridades ! E
quem te garante, leitora, não ser idêntica a tua
missão, hoje ou amanhã ? Filha e irmã que és, j á
tens onde traçar tuas luminosas órbitas, arrastan
do contigo um satélite, alguém em casa. Expondo
sua miséria, dizendo-se órfão, sem fé e sem amor,
um poeta aj untou a última pincelada no quadro:
sou um órfão a quem falta até a irmã mais velha.
Que pena, se, vendo-te tão alheia à sua alma, ti
vesse teu irmão de dizer-me que lhe falta tam
bém uma irmã mais velha! E nota-te uma coisa:
irmã mais velha é a que toma ares de mãe devo
tada ao irmão, omissão feita dos anos a menos.
Noiva ou amiga, se és, tens como gravar o no
me da virtude, do ideal, no sensível coração de
quem te quer, de quem te obedece às ordens de
um olhar afetuoso, de um carinho discreto. Está
escrito que· o primeiro degrau pisado p or Deus,
quando desce à terra, é o coração de uma vir
gem. Não podes tolerar ao redor de ti estátuas
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roladas, flores fanadas, ações mesquinhas, rotei
ros triviais e voos rasteiros. Cristã <1uc ôs, her
deira de um nome e de uma tradição de sacrifí
cio, irmã de mártires de outras eras, seria triste
se, por falta de sacrifícios e imolações, se npn
gasse a glória e a graça de Cristo na almn de
quem está preso a teus encantos, ao fluido de
tua bondade.
Consolo te sej am estas palavras. Levam consi
go a chave para compreenderes a razão de muito
sacrifício tão inexplicável a teus olhos, nos dias
de tua mocidade radiosa. Não sabes qual o ce
nário preparado para o futuro. Deixa que Deus
mexa nos b astidores de tua vida. Ao abrir-se o
pano de boca, na hora marcada, ficarás deslum
brada e chorarás de contentamento. Espera só
mais um pouco.
4. Sempre pronta . . .
Das virgens prudentes afirmou o amável Mes
tre que estavam sempre prontas e de lâmpadas
acesas nas mãos. Não lhes faltava, portanto, nem
o óleo nem a luz, com que deviam ir ao encontro
do esposo para o festim.
Semelhante elogio há de merecer também a
moça esclarecidamente cristã. A luz da graça no
coração não é ainda tudo. E' preciso que a j o
vem sej a sempre pronta :
A servir - a Deus, o que é uma honra ; a ser
vir o próximo, o que é caridade e imitação daque
le que disse : Eu não vim p ara ser servido, mas
para servir. Hora por hora, vem escoando diante
de ti o dia e por elas te pedem um serviço, uma
dedicação em casa, p ar a com os pais, fora de
casa nos compromissos de trabalho ou de amor
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do prox1mo. Não deixes que as horas, mensagei
ras de Deus, fuj am de mãos vazias. Pois, nesse
caso, serão um dia tuas acusadoras diante do dono
do tempo e da eternidade. /
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nessa vereda do coração. Mais nobre será comba
ter, todos os dias, em alguma coisa, esse egoísmo
que lhes punge a alma.
A .devotar-se. - Os campos da devoção são
vastos e férteis. Sempre se colhe neles mais de
cem por um. E' verdade, a colheita tarda, às ve
zes ; é verdade, p arece haver no campo, que absor
ve nosso devotamento, a erva má da ingratidão.
Mas o Filho do homem mandará seus anj os amea
lhar no celeiro o trigo do nosso sacrifício, grãozi
nho por grãozinho. Devotamentos nos pensamen
tos, nos desejos, nas p al avras, nas ações e sobre
tudo no sacrifício. "És um homem de desej o" -
foi o louvor que o anj o trouxe a Daniel.
A morrer. - E' das prontidões a mais impor
tante. Não se saíram bem aquelas virgens que, à
hora do banquete, tiveram ainda de comprar o
óleo. Mas se a leitora for cuidadosa em ser pronta
nos pontos que expusemos, sê-lo-á também neste
último. Nunca estará de luz apagada na morte,
quem em vida teve fulgores na alma, teve cinti
lações e virtudes.
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gas o mundo e medes as coisas e pesas as pessoas.
As vezes o próprio Deus fica entregue à definição
desse amigo.
Que amigo será esse ? me perguntarás curiosa.
E' o livro que lês, pretende ser. o livro que
agora estás lendo. Mas sobre esses amigos tenho
uma palavra bem séria a dizer-te. Dá muita im
portância às amizades com livros, e cerca-te de
muito cuidado em aceitá-los ! Pois um livro só
vale, quando hos leva a ver com clarividência o
que nos cerca, o que nos espera. Ele nada mais
é do que um instrumento de ótica intelectual
mais ou menos graduado, pelo qual examinamos
a vida. Tanto vale, quanto mais perto de Deus
te leva. Se não for assim, fecha-o. Não pode ser
bom amigo e em caso algum conselheiro apreciado.
6. Lógica simplista
Tenhamos sem p re medo 1'1 lógicn simplista,
inaplicúvcl i\ comph·x id1 1<k d<' cnl'IH'lcres e de cer
tas sitnnçõcs 11co11s1•1l111-11os conhec id o escri
tor patrício. E' um co11st•lho qtw lrnz cores de
Evang elho.
De fulo, n utilude do próximo nem sempre
cabe dentro de um simpfos rnciocínio que nivela
tudo sob a tesoura de um silogismo. São tantas
as atenuantes desconhecidas que enfraquecem um
princípio, que seria imprudência pôr no esqua
dro tudo que vemos nas pnlnvras e ações do
próximo. Fulana devia agir assim ; não agiu e po
dia agir; logo, errou, faltou. Mas as veredas trilha
das pela fulana, nos pensamen tos e nas ações, per
feitamente só a Deus ficam conhecidas. Para ti,
leitora, provàvelmente haverá muita encruzilhada
desnorteadora, se te meteres a julgá-las com a
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lógica simplista. Seria preciso que conhecesses a
fundo a alma de tua amiga, de teu próximo ; que
estivesses ao par de todas as imfluências e cama
das que a compõem e norteiam ; que pudesses apon
tar o que as heranças lhe deixaram na razão, no
coração, na fantasia, no senso prático da vida.
Por cima de tudo precisarias contar o número
e a medida de vozes interiores e de graças e de
tentações que a rodeiam. Podes realizar tanto
prodígio ? Se não o podes, és um tanto temerária
nas tuas condenações. Não é em vão que os Li
vros Santos dizem: Deus é misericordioso porque
.'labe de que barro somos feitos.
Nós, ao contrário, somos juízes e intérpretes
injustos, ignorantes e caprichosos. Muito influi o
sentimento na aplicação de certas conclusões.
Principalmente na tua vida, leitora. Como a tem
pestade carrega as folhas, assim também o senti
mento em ti é tempestuoso e precipita as senten
ças. O mais garantido remédio contra esse mal
está no sistema de cultivar os pensamento s bené
volos. O pensamento benévolo é o mais acertado
na vida, porque se avizinha mais do pensamento
de Deus. E, portanto, está com a verdade. Já,
mais de uma vez, temos julgado o próximo ao cla
rão de coisas e fatos inegáveis. Achámos que só
podia haver uma significação para este ou
aquele procedimento de alguém. Mas depois, de
repente, o mesmo fato teve uma explicação tão
diferente e tão óbvia, tão natural e tão simples,
que nos quedamos abobados por não o termos
achado antes. '
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Por isso acertadamente aconselhava um juris
ta! "Desconfiai dos casos muito simples". Coi
sas opacas tornam-se depois tão transpa'l'eutes,
que nelas vemos nosso erro.
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"Mulher formosa é livro de uma só pagma. Aque
la qu� é bondosa é livro de muitas, de inúmeras
folhas" ( Catilina).
Negou-te Deus a beleza ? Não maldigas a tua
sina. Em troca - do que não te deu, o Senhor cer
tamente te haverá concedido qualquer outra pren
.da. Ele faz como um pai bondoso: nunca deixa
uma filha sem algum mimo, quando reparte
presentes.
1. Penitência da Inteligência
Não é mau o termo acima, usado por muitos
para significar o exame de consciência. Realmen
te é uma penitência esse exame, porque custa
à natureza o recolher-se e refletir. Não é lá mui
to do agrado humano essa indagação da vida do
nosso mundo interno.
Acresce ainda que é doloroso para a vaidade
o inteirar-se de umas quantas misérias e faltas.
A consciência não adula, não disfarça, não faz
distinções e nem toma nota das qualidades e po
sição da cristã. Diz-lhe as coisas pelo nome, ao
menos quando ela não a violenta e contradiz com
teimosia, ou não a faz adormecer.
Mas tal exame de consciência, sendo peni tên
cia, é assim mesmo necessário. E' preciso que a
jovem se conheça a si mes:rp.a, saiba dos caminhos
que o coração trilha, possa dizer o nome de uns
quantos sentimentos que lhe caminham pelo mun
do interno. E' indispensável que se ponha diante
do dever de cada dia e indague do desempenho
que dá às suas disposições. Vitórias e derrotas,
surpresas e imprudências, reservas e ousadias
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tudo isso se mostrará aos olhos da cristã que é
fiel ao seu exame diário de consciência. "Sem exa
me, diz um autor, em dez anos, em vinte anos,
sereis o que sois agora, com os mesmos defeitos,
sem uma virtude a mais".
Por isso, leitora, toma nota desta penitência
tão útil quão necessária. Marca-lhe uma hora à
noite. A sós contigo e teus pensamentos, irás in
dagando da maneira de teu procedimento diante
de Deus, de ti mesma, de teu próximo. Em se
guida examinarás os deveres de teu estado na
quele dia. A moça fiel a tal exame livra-se de
se ver censurada por outros, porque descobre ela
mesma os próprios defeitos que tem. Livra-se de
figurar en tre as almas v ulga res e apáticas, inca
pazes de umn inicintivu, entregues à corrente do
tempo que as arrasta às margens da eternidade.
Vamos, lei tora, resolve te a ser uma peniten-
-
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- Achas graça? Pois são muito eufônicos.
- Mas não são cristãos.
- E donde vens e para onde vais ?
- Venho das catacumbas de Lucila. Passei a
noite na cripta com os meus irmãos. Só na solidão
e no silêncio da noite é que nos é possível, sem
perigo, adorar a Deus.
- E vais . . .
- Após pequeno descanso, visitar, na Suburra,
llilla escrava enferma, recolher o sangue e os
despojos de uns mártires sacrificados hoje no
Coliseu, cortar ramos de oliveira e apanhar flo
res para o seu túmulo. E tu?
- Volto de um baile social.
- De llil1 baile ? Como as meninas pagãs do
meu tempo ? E social ? Então a sociedade cristã
vive agora a bailar? E o grande perigo para tua
alma? !
- Isso mesmo pergunta meu confessor.
- E? . . .
- Digo-lhe sempre que nenhum. São todos
moços educados.
- Moços educados por fora e por dentro? ...
- Só posso ver-lhes o exterior.
- De sorte que te preocupas só com o que
aparece!
-· Sim, senhora.
- Olha, menina: na cripta, para adorarmos a
Deus, ficamos as mulheres de um lado, e os ho
mens do outro. Não te parece que deve ser assim?
- Pois nós, para dançarmos, temos os nossos
braços seguros por esses jovens da melhor so
ciedade.
- E tu, menina do século XX, te julgas como
Aquiles, invulnerável ? Donde está tua fortaleza?
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- Faço as nove primeiras sextas-feiras, co
mungando nesses dias.
- Nove primeiras sex l 11s-f<•ir11s para Jesus e
os demais dias do mês pal'll o mundo?
- ! ! . ..
- Nós comungamos lodus as noites . . . nas
catacumbas.
E' muito comungar.
E' amar muito a 11w-1so Sl•nhor.
Eu o amo também.
Sei, sim; nas novl' pri11wit·us sextas-feiras,
pela manhã.
- Vós viveis em tempos de perseguição. A
Eucaristia é que é n voss u for1_,'.u.
- E a vós, mcninm1 cristãs, ninguém vos
persegue'?
- Niíol
- - Niio ! E 11 vaidade ? . . . as amizades ? . . . as
leilnrns '!. os espetáculos e cinemas? . . .
Mas lu queres que me encerre num conven
to, como religiosa ?
- Sim, se tudo isso são verdadeiros perigos.
Se não o são . . .
- Há de tudo. Os costumes variam tanto ! . . .
- Olha, minha menina: os Mandamentos de
Deus são invariáveis. E por que te vestes assim,
com estes braços e colo tão despidos? Com estas
vestes tão . . . ?
- Mas ! . .. é a moda.
- E por que não há de haver moda cristã ?
- Achar-me-ão ridicula. Queres que me vis-
ta como tu, com uma túnica tão comprida e am
pla, com este véu dominical?
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- Só quero ver em ti menos transparências.
Sabes gramática ?
- Estudo para professora.
- Muito bem. Pois os verbos transparecer, des-
cobrir, adivinhar . . . não se devem aplicar aos tra
jes da mulher cristã, nas suas relações com o cor
po. Deve bastar-lhe o verbo cobrir. . . Tu me
compreendes.
- Perfeitamente.
- Não te alegres por te acharem de talhe
delgado, de . . . Rejubila-te quando te acharem
um anj o de pureza e de beleza sobrenatural.
Compreendes ?
j •
- S nn, snn.
- Pois medita sobre tudo isso, e adeus,
senhorita Mimi.
- Adeus, Cecília.
Que perfeito instantâneo religioso de muitas
j ovens ! ! E . . . teu também, leitora ? !
3. Coisas fugidias
Vai branca e fugidia, E toda resplandece
a nuvem pelo ar. no brilho do luar.
Roça de leve a lua, Mas pouco a pouco passa
embebe-se no luar. e perde-se no ar.
Audl filia - S 33
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vem que por ele passa. E' a vida que teve momen
tos, semanas, anos de felicidade. No fim de con
tas, nada mais foi senão um véu que a brisa car
regou, justamente quando ele se "embebia no
luar e todo resplandecia nesse brilho". A alegria
de uma festa profana, luar luminoso, é também
outra nuvem branca e fugidia. Roça de leve a
lua e depois se torna: um véu escuro, um luto.
E quando essa ventura com que sonhas não
passa porque te não foge, passa porque te cansa.
Só uma ventura existe que sacia, ventura
cujas águas não permitem voltar a sede. Dela falou
o Mestre: Quem beber da água que eu lhe der,
nunca mais terá sede. Sabes onde correm as
fontes dessa água ? Na palavra de Deus, na Eu
caristia, na amizade com Deus, acharás a água
fonte para a vida eterna. Então a vida não é mais
nuvem fugidia . . .
4. Lugares sempre risonhos . . .
Tais são os lugares onde deixamos um devo
tamento do coração. E' como raio de sol o coração
devotado. Deixa sempre a luz irradiar ao redor de
si e desconhece assim as trevas.
O primeiro beneficiado com o devotamento é
o próprio coração. Serás tu, leitora, a primeira pes
soa que lucra com o zelo apostólico de tua alma.
Aos méritos unes a alegria para tua alma. Quan
to mais ela se devotar, tanto maiores lhe são os
méritos e com estes a alégria. Gente egoísta é
sempre gente triste. E' como se os frutos apodre
cessem numa árvore que os não deixasse colher,
nem cair de seus ramos.
Dá muito, cristã, num devotamento de após
tola ! Dá teu tempo, teus encantos, tuas habilida-
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des, tua influência, teu dinheiro, tua oração, tua
paciência, teu bom exemplo. "Mas, em dando tu
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Entretanto, leitora, ainda que tua inteligência
não entenda o mistério da maldade humana, terá
teu coração intuições e cristãs generosidades a
respeito delas. O que a luz da inteligência não
ilwnina, há de queimá-lo o fogo do coração. Justa
mente aqui valerá o que se diz do coração: é cego
que tudo vê, surdo que tudo ouve, mudo que tudo
diz, mago que tudo pressente.
E ouvindo o coração terás clemências inespera
das. Sabe Deus o que anda a trás da maldade que
encontras na vida ! Quem sabe, numa palavra ve
nenosa, está o desabafo de uma dor; na inveja ca
luniadora, uma decepção que se vinga ; na injus
tiça ferina, uma fraqueza que se bate contra os
golpes da existência. Nessa maledicência perse
guidora é bem possível que ande disfarçado um
amor que desespera.
Mas seja como queres: a pessoa má é de fato
culpada de sua ma ld1uh�. Nes ta conjuntura eu te
lembraria a p a l a v ra e la grande alma que foi
Mme. Swctchin e: "Niío digas que não se deve ter
compaixão do culpado. Este dela necessita por
ser culpado. Pois o inocente, oprimido pela sorte
ou pelos homens, tem dois asilos que nunca se
lhe fecham: Deus é a própria consiência. Am
bos, porém, faltam ao culpado. Seu asilo, seu
único asilo, é a nossa compaixão".
E' mais vantajosa para ti uma jornada sob as
intuições de um coração cristão, do que conquis
tas e compreensões sob as luzes da inteligência
fria e insensível.
6. Conhecer o próximo
Teu coração traça diàriamente órbitas de devo
tamento, de ação. Nada mais j usto do que pro-
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curares conhecer o proxrmo que nessas órbitas se
encontra contigo. Pois não é possível ignorá-lo
com aplausos da caridade e tranquili<lade de
uma consciência nitidamente cristã. Nem a tal
ignorância se conforma uma alma que sente a
fascinação do apostolado.
Mais ainda. A tua felicidade, tua e dele, de
pende em parte do que sabes sobre o caráter, o
gênero de vida, o talento de quem te cerca. Com
tal conhecimento evitarás atritos desnecessários
nas relações cotidianas. As tão funestas "cinca
das" no trato com o próximo quase que se torna
rão com isso impossíveis. A leitora ficará sabendo
a que categoria pertence esta ou aquela criatu
ra. Sabendo-a urtiga, não irá procurar em seus
ramos uvas doces e convidativas. Sabendo-a es
pinheiro, não se admirará que lhe venham a fal
tar saborosos figos. Quem sabe ficará ciente de
que a companheira fulana de tal não passe de
leve caniço, à mercê de todas as brisas e impres
sões e de convites das amiguinhas. Nesse caso não
lhe exigirá palavra empenhada em coisas mais
importantes.
Mas para conhecer as boas e más qualidades,
as sombras e luzes da alma do próximo, há um
meio infalível e indispensável e primordial: o co
nhecimento de si mesmo. Se tu, j ovem leitora,
acompanhares teu coração por todas as veredas e
vielas da vida ; se lhe analisares todas as roupa
gens com que se apresenta ; se lhe medires todas
as audácias e covardias, todos os devotamentos e
todas as traições, por microscópicas que sejam,
então será ótima leitora dos corações alheios.
Não só leitora. Digo mais: passarás a verda
deira profetisa. Já escreveu ilustre senhora que
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nós somos profetas para os outros, porque somos
historiadores para nós mesmos.
Dois escolhos hão de se evitar neste ponto.
Nem tudo que se passa contigo acontece também
aos outros, como tão pouco só a ti sucede isso ou
aquilo na vida. - Queres saber quando é exata
a visão sobre teu próximo ? Quando o estudas sem
paixão, com vagar e sob os olhos de D eus . . .
7. Tanto quanto . . .
Eis a fórmula matemática, compêndio de toda
a ciência da salvação da alma. Tanto usarás d as
criaturas, quanto te levarem à posse de Deus.
Tanto as deixarás, quanto te estorvarem essa
gloriosa posse.
E não fogem desse princípio as mais insinuan
tes criaturas, nem as mais eloquentes na sua lin
guagem de amor. Tenham encantos, cantem melo
dias para êxtases, levem carícias e sedas nas mãos,
tragam sempre cheia a taça do prazer . . . mesmo
assim, leitora, aplica-lhes o "tanto quanto" e acer
tarás com o caminho que leva ao coração de Deus.
Tanto quanto é na tua vida o ritmo de um
pêndulo. Relógio que guarda o ritmo costuma ter
os seus ponteiros marcando as horas sem atraso
e sem adiantamento. Se a cristã tiver cuidado de
sempre balançar-se no tanto quanto, irá marcan
do com acerto as horas de sua vida e baterá acer
tadamente a hora da sua salvação. No uso e na
privação da criatura está essa abençoada ordem
que tem o nome de "ordem do amor", quando se
respeita a fórmula da salvação . .
Ora, j ustamente n a mocidade é tão difícil
guardar o ritmo do coração ! Há moça cristã que
inverte até a ordem e tanto abandona as criaturas,
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quanto mais perto de Deus elas se acham. Não
faltam as j ovens que tanto sacrificam a posse de
Deus e de seu agrado, quanto mais encantos e ven
turas esperam encontrar num ente criado. Nem
deixam de figurar aqui as lágrimas das que cho
ram a perda de uma criatura, apesar da nefasta
inversão que ela vinha motivando na vida da
cristã.
Observando-se a fórmula da salvação, põe o
Criador mais amores na vida de seus eleitos. O
coração acostumado a ver um limite não o ultra
passa imprudentemente, e com isso poupa-se do
lorosas chagas. As mãos também não se ferem
nos espinhos que nascem nas criaturas, quando
não se respeita a ordem estabelecida pelo Cria
dor, no uso e na privação do mundo criado.
Se uma cristã sustenta o "tanto quanto" até
um grau heróico, é uma santa, é um modelo p ara
outra. - Vamos, leitora : põe tua vida no ritmo
desse pêndulo, e ele prende teu coração irrequie
to ! Serás feliz e farás felizes a muitos.
IV
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tudes mais generosas. E ele poderá ir se exer
cendo na observação do carúlcr do homem, na
paciênci a diante de seus defeitos. Que belo, esse
amor de irmão e irmã ! Não en trou por portas
travessas, foi aceito sem i n l cressc. Surge e vive
sem luta, sem violência, s p m êxtases tolos e sem
e clipses inexplicú v e i s . Os d i scretos carinhos de
que usa p a r e c e q u e rd'ori,·11111 os direitos para mú
tuas verd ades q u e 1•l t•s se dizem, para mútuas
censuras que H<� -fu z1• 111 d i u n l c de erros próprios da
idade. "Eu q 1 1 p ro 110 ))(' i j o de minha noiva o en
canto que s1•1 1 l i 1111 d 1� m i nh a irmã"- escreve-nos
um j ovem p1H' l 1 1 p a l l'il' i o . De fato, é a irmã a pri
mcirn com p n 1 1 h 1· i r11 do i rmiio, snn primeira amiga,
n que lhe faz p rPss1• n l i r ns doçuras inocentes do
amor de mulher.
Tu, lci l orn, nüo deves ser tão somente uma
espécie de camareira do irmão (e muitas nem isso
o são) , dando-lhe o nó da gravata, apresentan
do-lhe o chapéu, as luvas, o cigarro, etc. Faze
te amar por ele. Sê pronta em atendê-lo, ainda
que sej a " ingrato e malcriado" Com j eito tenta
corrigir-lhe os defeitos. E olha : não faças troça
do irmão mais novo, quando começa a ser gente,
a olhar para os ternos, a falar mais grosso, a fa
zer sua corte às outras filhas de Eva . . . Não se
j as indiscreta, revelando coisas que te contou
numa hora de carinho. Mas também não te re
duzas à condição de "cúmplice e camarada" para
muita deslealdade, grande e pequena . Tanta mo
ça faz questão da companhia do irmão nos dias
de bailes e de cinemas. Entretanto, à mesa da co
munhão vemo-la sempre sozinha . . . Para refazer
a felicidade das irmãs, em Betânia, ressuscitou-
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lhes Jesus o irmão falecido. Tanto estimava a
fragrância dessas flores !
2. Todos os dias . . .
Há certas realidades de todos os dias. São reali
dades inegáveis, tangíveis, tremendas. Com elas
tens de contar. Viver no esquecimento delas é in
digno de uma cristã, máxime quando é j ovem
ainda.
Todos os dias Deus é ultraj ado, esquecido,
desprezado, blasfemado, odiado . . .
Todos os dias Jesus Cristo renova seu amo
roso sacrifício do Gólgota sobre o altar, sempre
que numa matriz ou capela se celebra a santa
Missa. Seus inimigos procuram crucificá-lo no
vamente maldizendo-lhe o Evangelho. "Como é
evidente que nosso Senhor, se voltasse ao mundo,
seria crucificado de novo e mais depressa do que
a primeira vez !" (Gay) .
Todos os dias a santa Igreja é atacada, criam
se leis que a perseguem, lhe cortam a indepen
d ência, a dignidade, a honra, a obediência de
seus filhos.
Todos os dias, oculto no Tabernáculo, o Di
vino Mestre pergunta-te : E' pouco o que tenho
feito por ti ? Nada me custou o amar-te ?
Todos os dias milhares ide vidas desapare
cem . . . Uma hora ! Que é isso ? E' um desfile de
sessenta minutos breves ? Um minuto ? Significa a
morte de cem pessoas e o nascimento de cem crian
ças. Uma centena de agonizantes e outra centena
de recém-nascidos. Numa hora : seis mil cadáve
res e seis mil berços ! E p ara quantos correu tal
vez em vão o sangue de nosso Senhor ! Até ao
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fim do mundo, disse alguém, nosso Senhor estará
em agonia.
Todos os dias milhares de almas deixam-se
talvez arrastar e seduzir pelo pecado e ofendem a
Deus, expõem-se ao inferno, ou, quem sabe,
nele caem.
E eu, entretanto, em que vivo pensando ? Pen
so em divertir-me, em distrair-me, em ofender a
Deus também ? Preocupa-me tão somente a fri
volidade, a futilidade, o prazer, o nada ?
Pobre coração, que passa insensível ao lado
de tanto amor, de tanta dor, de tanto risco, de
tanto ódio, sem sensibilizar-se.
Pobre cabeça que um nada distrai e que tanta
coisa não pode enchê-la (P. Plus) .
Por isso, leitora, grava em tua alma o "in
compreensível, o ser10 da vida humana" -
aconselha-te o P. Plus.
3. Leituras e aventuras
Nossa mocidade feminina l ê muito. Lê por
ocupação e lê por distração. Num e noutro caso a
·leitura exerce uma influência considerável em
sua vida. Que o alimento influa no organismo e
na saúde, ninguém o contesta. Muita moça, de
saúde fraca, vê-se constrangida a seguir uma dieta.
Ou, então, a que é de boa saúde, tem lá um ou outro
alimento que a prejudica. Os livros, senhorita, apre
sentam-nos idéias. Os capítulos são os vários pratos
de um banquete. As idéias entram pela inteligên
cia como o pão desce ao estômago, transubstan
ciam-se em nós, mudam-se em nós correm pelo
sangue "da alma", dão-lhe vitalidadé própria _ e
colorido especial. Uma boa leitura é suficiente
para vigorar a alma, como uma sadia refeição
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basta para restituir as forças depauperadas. Mas
na hipótese de uma alimentação malsã ou de uma
deficiente digestão, ou no caso de não possuírem
os alimentos a necessária força nutri tiva, que acon
tecerá ? Depois de algum tempo o organismo se
enfraquece, o sangue depaupera-se, a saúde tor
na-se fraca e o indivíduo anda sem energia para
o trabalho. E no caso de haver algum veneno no
alimento ? Sendo um tóxico ativo, a morte é ins
tantânea ; sendo de lenta atuação, o envenena
mento será progressivo e a morte chega devagar,
mas sem falta (Landriot) .
Por isso é uma verdadeira aventura de mau
gosto pegar a moça de qualquer livro e lê-lo. Só
porque ele vem recomendado por uma amigui
nha, ou muito falado, não deixa de ser alimento,
sobre o qual é necessário estar bem informada.
Que pena não ter muita moça o mesmo "luxo" pa
ra ler, como o tem para comer ! N a comida repara
em tudo, de tudo tem medo, indaga "das mistu
ras que podem fazer mal" Mas não é de seu uso
tal luxo em se tratando dos pratos para o espírito,
dos livros. O manj ar de fino gosto, apresentado
pela fé, não é apreciado, porque a tal leitora tem
um paladar estragado. Estragaram-no as leitu
ras de . . . todos os temperos.
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num quarto de hora de meditação, esgarçam-se
como as nuvens da manhã, mal comece o sol das
ocupações e afazeres ?
Orvalho da madrugada . é a devoção de cer
tas senhoritas. Vão à missa, à comunhão, fazem
suas piedosas leituras, etc. Tudo forma um lindo
e irisado estendal de orvalho. Mas ao morrer a
madrugada, ao desaparecer a manhã, evapora-se
a piedade, a modéstia, o véu de gotas de bons
propósitos. Já ao meio dia nem se conhece a cria
tura piedosa, a dona do "orvalho da madruga
da". E' que, encontrando-se com o mundo e a so
ciedade, com a vida e seus rcvolutcios, a senho
rita deixou a piedade.
Por isso, leitora, cuida, antes de tudo, de teres
uma piedade convicta, arraigada, uma piedade
sol, uma piedade astro, que traça sua órbita se
rena e firmemente. A piedade que é apenas ex
terior, formalista, é piedade de boca, mas não
de coração. E' falsa e precária. Diga-se o mesmo
daquela que é pueril, agarrada a uma série de
atos que bem se prestam à malignidade de in
terpretações. Enche-se de escrúpulos pela omis
são de um conselho e perde o remorso na vio
lação de um preceito. Orvalho da madrugada é
uma piedade mundana das moças que querem ser
vir a Deus e ao mundo. Em suas mãos revezam-se
perfumados livros de rezas com duvidosos ro
mances ou folhetins e revistas. E a piedade sen
timental ? Parece-se muito eom as precedentes e
é falsa por isso. Pois Deus quer ser amado com
toda a seriedade de nossa vontade e de nosso
coração. Doçuras e contentamentos que nos der
ser-nos-ão sempre benvindos. Mas, se nos falta
rem, não faltemos também nós a Deus.
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Cristo censurou os j udeus que o procuraram
só porque comeram dos pães (Jo 6, 26) . Piedade
sentimental . quer só os pães de nosso Senhor.
5. Quem me consolará?
Célebre senhora fez esta pergunta e tentou
respondê-la. E acertou na sua resposta. Eis as
suas palavras :
"Quem me consolará ? - Só eu, disse o estudo
- pois tenho numerosos segredos para reanimar
a tua existência . . . Desde então os livros vieram
morar comigo, povoaram-me a soledade. Mas
com eles aprendi que tudo é pranto e p us-me a
·
chorar também.
Quem me consolará ? - Só eu, disse o luxo.
Então não tenho sedas e pérolas, colares e vesti
dos ? Experimentei o luxo, mas apenas notei que
andava vestida de . luto. E chorei.
Quem me consolará ? - Nós, disseram-me as
viagens; levar-te-emos a ver flores d esconhecidas
e distantes. Mas, vencidas pelas antigas sombras,
mal conseguiam as sombras de novas árvores
ocultar em mim o pranto.
Quem me consolará ? - Nada, nada que se
encontre neste mundo . . . Uma voz, entretanto,
me disse : Desce ao fundo de teu coração ; o se
gredo da felicidade não está fora, mas dentro de
ti. Deus o dá. Se não está Deus contigo, renuncia
para sempre à felicidade" (Mme. Valmore) .
E' bem possível que a nossa leitora j ulgue
ser diferente o seu coração. Na sua inexperiência,
não seria para estranhar que se considerasse um
caso de outra solução. Então pensa encontrar con
solo em prazeres, viagens, companhias, sports,
footings, etc. Mas no fim desse rosário de ilusões
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hú de exclamar, como a sra. Valrnore : Sem Deus
não há consolo e felicidade.
Para algumas, a n atureza torna-se cúmplice
desse erro. Favoreceu-as com excesso. Deu-lhes
formosura, riqueza, fino espírito ; armou um ce
nário ·de luxo e de admiração em redor desse
ídolo. Mas também essa chegará a mesma con
clusão : sem Deus e sem consolo são expressões
da mesma coisa, da mesma realidade. Tantas
outras j á o disseram dentro d a mesma miragem
de ventura. E por que será outra a solução para
a tua pergunta, j ovem, que te sentes iludid a ?
6. Tu és avara
- Não ; nunca. fui avara dirás diante d a mi
nha ufirmativa. Assim mesmo, creio que é mais
ousudu do que verdadeira a tua afirmação. Não
serú difícil mostrar como a avareza ainda exis
te, uté em bem formados corações femininos. Se
por uma exceção não se der isso contigo, fiquem
aqui meus sinceros parabéns e melhores votos
para a perseverança de tão bela virtude.
Mas são várias as formas de avareza.
Existe a aoora do dinheiro. - Muita moça
j ulga-se livre do demasiado apego ao dinheiro.
Mas por que então retarda tanto o pagamento das
pequenas ou grandes dívidas que tem ? Por que
é tão econômica em se tratando de tal despesa
reclamada pela caridade, e tão liberal em se tra
tando de outra ? Fulana é toda carinho para con
seguir um novo vestido de baile com os pais. E
se uma lista para pobres lhe vem pela segunda
vez à casa, alega que há tempos j á a subscre
veu . . . com pequena. importância. Não é uma
forma de avareza ?
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Existe a moça avara do tempo. -São as que
nunca o têm p ara os outros. Andam sempre ocupa
díssimas . . . consigo mesmas. Por isso não po
dem dar cinco minutos a um doente, nem uma
hora por mês para os interesses de alguma asso
ciação. Em se tratando de Deus, cresce-lhes a ava
reza do tempo. Sobej am-lhes noites e madruga
das para as festas e divertimentos. E onde está o
tempo quando a religião reclama por missas, co
munhões, etc ? Quantas nunca dispõe de tempo,
mas quem as procura tem de ouvir que não estão
em casa. Estão distribuindo o tempo em visitas e
exibições de vaidade. Está s livre dessa avareza ?
Existe a ,a vara do coração. - O coração só
se .abre para receber e não para dar. Nele encon
tram portas abertas as adulações, as palavras mei
gas, as deliciosas maledicências. Mas de suas por
tas trancadas nunca saem p alavras de simpatia,
de compaixão, de iniciativas caridosas, de per
dões generosos. Parece que a moça tem medo
de esvaziar esse cofre, à medida que lhe retira
as moedas da bondade . . . Nem agora crês que
tens um pouco de avareza na vida ? Tanto me
lhor se, de consciência tranquila, puderes respon
der-me negativamente. Em todo caso há lugar
aqui para uma boa resolução : Jamais serei avara.
7. O apostolado do sorriso
Existe tão simpático apostolado ?
Existe, sim, tão real como a tua pergunta, lei
tora. E' o sorriso um grandioso recurso de Deus
quando, de dentro de uma alma, quer falar a
outra. Aos nossos sentidos fala pelo aroma da
flor e pelos sons d a h armonia. E às almas fala
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também por essa melodia do coração, por essa
nota amável que é um sorriso.
Logo, é possível falar aos outros pelo sorriso.
Podes, então, leitora , dizei· com teu sorriso coisas
de p az, de inocência, de alegria, de felicidade,
de abnegação, de benevolência. E' um apostolado
silencioso, esse do 1-;orriso. Fala da luz e do dia,
como os raios da n u rora anunciam a tarefa da
manhã. E' ele lodo recordativo. Lembra às al
mas os di a s (� I l i q u e podiam sorrir. Apostolado
afável, discrc l o, l w 1 11 acei to, acariciador.
Em cc rl 11s oc11sil1es, cm determinados cená
rios, tem o so l ri so e i 1 1 l i l 11ções e convi les de estrela
'
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V
1. Exata comparação
A criança, j á o notaste, leitora, sorve como
uma flor todos os carinhos, afagos, sorrisos e mi
mos que lhe dão os pais, irmãos e amigos. Recebe
em abundância e por nada agradece, pois nem
tem consciência do que lhe dão com tanto amor.
E' uma indiferença que se lhe nota nos traços,
mesmo quando é objeto do maior arroubo' do
coração materno.
E nós nos braços de Deus somos outras tan
tas crianças. Há variações nessa infância, mas
nunca se lhe apagam os traços. Assim, leitora,
recebes mimos e afagos de Deus a cada hora.
O s beij inhos que te davam nos dias de criança
ainda existem nos lábios de Deus ; da Virgem Ma
ria, das santas d a tua devoção. Continua, porém,
a mesma inconsciência de tua parte. Vais sor
vendo tudo e por nada agradeces. Nem os santos,
assevera-nos criterioso autor, sabem agradecer
por quanto recebem do céu.
Está aí uma dívida que não podes negar.
Do contrário, farás algum sacrifício e logo ima
ginarás que Deus daí em diante j á te deve muito.
Está aí uma dívida que dificilmente pagarás
por completo.
Não há dia em que te vej a órfã dos carinhos
de Deus. A luz do sol, o encanto das manhãs e
das tardes, o sorriso de quem te ilumina a vida ,
as sedas que h á nas p alavras dos q u e t e deram
a existência, as inocentes satisfaçõe s do coração
moço de tuas primaveras - eis aí um pouco
desse carinho, na ordem natural. E agora •abre
se ainda o rico coração de Deu s p ara as carícias
Audl filia - 4 49
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da graça sobrenatural . Como .Jo ã o reclinou a ca
beça sobre o Coração do Mestre, assim tens a tua
continuamente reclin ada e apertada sobre o co
ração de Deus. Sempre de continua a ser Pai,
mesmo quando a fil ha o <leixa. Por que então
ser ingrata, esquccc1ulo tudo isso, ou exigindo a
s atisfação de desej os vãos, de caprichos inúteis,
como prova de que D eus é também teu Pai, e
não apenas Pai . das outras ? Por que tardar
em lhe volta r arrependida aos braços, quando
uma falta, um pecado, um erro dele te afastou ?
2. És moça moderna
Criatura com ares de rapaz, garota, um pou
co dona de si mesma e preocupada com qualquer
escândalozinho, a fim de que não p asse desperce
bida ; senta-se e coloca os pés à modern a ; entra
e sai como entende ; usa de camaradagens com
os amigos ; bate record de alguma coisa ; gasta o
coração em flertes ; há de ler tudo, tudo há de ou
vir e olhar : assim muitas moças entendem o mo
dernismo feminino. Erram e compromentem uma
atitude para as companheiras.
Entre t a n to, a moça tem o direito de ser mo
derna, de ser de seu tempo. O tempo é alguma coi
sa providencial cm n ossa vida, j á que Deus dirige
os povos e conta com as evoluções deles. O Cria
dor não gosta de formas envelhecidas e entregou
o mundo a uma sadia evolução e libertação de
coisas antigas. O amável Mestre e Senhor é apolo
gista de uma evolução razoável. Ninguém, como
ele, enxotou com velharias e tradições, das quais
algumas eram até milenárias. Ninguém, como ele,
rasgou novos leitos para o impetuoso caudal da
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vida. Reclama para o vinho novo o< ln•M l n m
bém novos.
Mas seria falta de critério j urur q 1 1 1 · 1 1 1 d o
presta, s ó por ser moderno. Que erro lamc11 li'1 vc l ,
se a moça fosse aceitando idéias, tomando u l i tu
des, copiando maneiras e moqos, tão somente pclu
razão de s erem modernos, dê hoj e ! Que falta de
critério, receber com bandeiras e festões em
triunfo toda e qualquer inovação !
Muita coisa, nos modos de uma moça razoà
velmente moderna, pode desagradar a outras que
se aferram ao antigo. Nascem daí censuras, discus
sões, infundadas antipatias. Mas por que não se
fica com a norma do Mestre e Senhor? "Ninguém,
bebendo vinho velho, quer logo do novo, porque
diz : o velho é o melhor". E vice-versa também. Es
tás acostumada ao vinho velho, l eitora ? Fica-te
com ele, se teu paladar por nada tolera o novo.
Mas não teimes em negar o vinho novo sua utili
dade, seu S"abor, seu oportunismo. Vinho novo em
odres novos, e remendo de pano novo em vestido
novo e . . . ambos se conservam, n a sentença do
Mestre. - Há um eritério fácil para acertar no
assunto : acompanhar a voz da Igrej a, ",a eterna
mente j ovem e bela esposa do Cordeiro".
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Assim, pois, a moça cristã terá que lutar pela
palma do espírito divino. Do contrário, será cris
tã de nome. Dominada por idéias e ambições deste
mundo, batizada e santificada p ela graça. Entre
gue ao espírito humano, calculista, e de visão re
duzida, ficará inerte, morta, estéril em frutos pa
ra a vida eterna. Só as almas cristãs cheias do es
pírito divino são belas, poderosas e tranquilas. E
só no meio delas é que deves figurar, leitora.
De fato, só vales o que vale o espírito que te
anima. Pergunta por ele num sincero exame de
teus desejos e planos, de tuas alegrias e tristezas,
de tuas repulsas e ofertas. "Não sabeis de que
espírito sois" - disse o Mestre aos d i scípulos, de
sej osos de o vin g are m nu cicl n d e de Siquém. E
certamente a sentcnçu de C risto te atinge. Não sa
bes do cspiri lo que lc move, quando procuras
servir a dois senhores .i un lamente : ao mundo e
a Deus. No templo, a Deus ; nos salões e na rua,
ao mundo. Na igrej a, à tua alma ; nos ócios ele
gantes, :'i tua srnsualidade. No pobre enxergas a
Deus que te pede esmola, mas não o vês no pró
ximo cheio de defeitos e ingratidões. Ao primei
ro dás uma moeda e ao outro o veneno de uma
maledicência.
Pergunta por ele, e verá s que o espírito huma
no j á tomou posse de tua alma, enfeitou-a, fez-se
dono, requereu "despej o" do espírito divino. Pois,
do contrário, como explicar essa estranheza que
mostras diante da doutrina cristã sobre a h umil
dade, a p aciência, a abnegação, o desapego d e
bens, a fome e a sede de j ustiça. O espírito divino
é fruto sazonado, mas tua vida cristã anda enfei
tada tão somente de folhagens viçosas e farfa-
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lhantes. Cuidado : lembra-te da figueira virente,
mas desprovida de frutos !
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mas de tua vida, nos gestos de teus sentimentos.
O mundo foi sempre falso, fingido ; sempre aplau
diu o fingimento e para ele educou seus adeptos.
A tal "sociedade" nunca viu florescer essas ár
vores primaveris da infância. Não queiras ser
grande, emancipada rle formas e atitudes que tanto
recordam os di as mais belos da vida.
Que p avor tem a mocidade feminina de enve
lhecer depressa 1 Mas das velhices a pior e mais
temível, n mais funesta também, é a velhice . : .
d a alma, d o corac.�iio. Dessa velhice Deus livra
os que o nm urn.
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lônia. Mas a cristã tem, quando não degenerada,
certas intuições hauridas da fé. E, assim sendo,
fica ao p ar de umas quantas verdades e por elas
se governa, como se lhe marcassem o roteiro de
sua alma. Vou lembrar-te uns pontos :
Teu corpo é uma casa para a alma. Por isso
pensa no hóspede que deve habitá-lo por "pouco
tempo"
E' teu corpo um instrumento . . . ; pensa, por
tanto, j ovem, no artista que de tal instrumento
se há de servir.
E' teu corpo um templo . . . ; lembra-te, por
conseguinte, da divindade que deve enchê-lo com
sua presença e maj estade.
Teu corpo é um criado . . . ; pensa no dono
que há de governá-lo, fiscalizá-lo.
Teu corpo é um j ardim de Deus . . . ; não es
tranhes quando nele desabrocharem as rubras
rosas das chagas e sofrimentos. - Como te dão
pouca honra os declamadores que louvam a casa
e se esquecem do seu dono !
6. Ordo amoris
Leva a vida de u m j usto e de um santo quem
sabe amar às direitas todas as coisas. Disse-o um
grande gênio e um grande santo : Agostinho de
Tagaste.
Amar às direitas significa amar segundo a or
dem, no respeito à j erarquia dos valores. Nisso
está também a mais formosa educação do cora
ção. Da inteligência se diz que é culta quando co
nhece as verdades. Tu, j ovem que lês, terás "um
coração culto'', se respeitares a ordem do amor.
No trono sentar-se-á Deus, teu Pai e Criador.
A direita dele estará teu Redentor, Mestre e Ir-
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mão, Cristo Senhor. Depois pelos degraus do tro
no, irão se assentar as criaturas, envolvidas to
das pelos raios divinos, transfiguradas pela vizi
nhança da eternidade.
Enfim, teu amor está suj eito ao princípio es
tabelecido por Santo Agostinho : Tudo o que ama
res, ou serás tu mesma, ou estará acima ou abaixo
de ti. Amas o ouro, a riqueza, as honras, os de
leites da terra ? Cuidado : não te prendas a tais
coisas, porque tu mesma és muito mais do que
tudo isso. O ouro é "uma terra brilhante", en
quanto tu brilhas na luz de Deus, feita à sua ima
gem. Por que, moça, descerás os degraus desse
trono, amando ap aixonadamente vestidos e futili
dades? Ama aquilo que, ao menos, ombreia con
tigo, que é da mesma altura e valor.
Já o Senhor traçou a ascensão p ara teu co
ração : amar o próximo como , a ti mesma, e a
D eus acima de todas as coisas. Quanto importa
à moça saber amar a si mesm a ! Sem tal amor
próprio ordenado, não saberá como amar a seu
próximo.
Já leste como deves amar a ti mesma e o que
em ti existe hoj e e existirá amanhã. Guardando
a ordem, não inverterás a escala dos valores.
Quem é uma j ovem virtuosa ? Aquela que obser
va o ordo amoris, a ordem do amor. Possui, de
fato, genuína e áurea virtude.
Agora, vem a propósito uma observação de
Agostinho, o astrônomo que descobriu as órbi
tas do astro rei, que é o coração humano. "Não
vês a Deus, por enquanto. Ama, por isso, o pró
ximo para mereceres vê-lo ; amando ao próximo
"limpas os olhos" para veres a Deus" - Vamos,
leitora : não sej as "uma desordeira em coisas do
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coração". Já basta a desordem que talvez exista
nas tuas gavetas e guarda-vestidos . . .
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Mais. Quando alguém pode fazer o que enten
de, entrega-se logo àquilo que atrai. E esse atraen
te não é o dever, mas sim o prazer. Acompanhar
a correnteza é mais convidativo do que enfrentá-la.
Há na vida urna lei elementar que diz : Quem
não se suj eita a exigências mais nobres há de
servir a imposições mais vis. Por isso seremos
sempre dependentes, ou da autoridade moral dos
superiores, ou dos nossos caprichos e das nossas
paixões, e de quan tos sabem explorá-las. Em com
paração com a tirania das últimas, é até um rei
n a do a dependência aceita com amor. - Deus,
para nos dar a liberdade de filhos seus, que fez ?
Deu-nos mandamentos que nos livram de escra
vidões e dependências vergonhosas.
VI
1. Amigas que escolherás a dedo . . .
Quais são ? As páginas dos livros que queres
ler. Pois a influência dessas amigas é terrível. Pró
prio é da amizade encontrar semelhantes ou fa
zê-los tais. E' ilusão pensar a senhorita que um
livro não lhe fará mal, ainda que mau sej a. Deva
gar, ela tornar-se-á cúmplice de certas atitudes
citadas no livro, depois aceitar-lhe-á as idéias,
lhe provará as descrições. Finalmente, entregar
se-á ao livro como ele j á se entregou à sua leitora.
E então acontece aquilo que Perreyve chama
de "magno ilogismo" Vemos muita leitora ser ami
ga de livros, conviver com eles, quando não teria
,
coragem de ser amiga e conviver com . . . auto
res desses livros. O autor passa por ser inconve
niente por causa das coisas que escreve. Entre
tanto, essas coisas que ele escreveu tornam-se ín-
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timas confidentes da candíssima leitora ! A moça
escusa-se de uma má companhia, porque o povo
falaria dessa duvidosa companhia. Fecha a porta
da sua casa a tal pessoa, mas aceita-lhe o livro
mau de que é autor !
Queres a amizade de umas p áginas ? Aceita
aquelas que te fazem melhor, que te entusias
mam por um nobre e possível ideal, que te levam
para mais perto de Deus. Se te causarem o contrá
rio, larga-as. Não são de Deus ; vêm do demô
nio. Disse Lacordaire : "E' o demônio que inspira
todos os livros que não são inspirados por Deus".
Indaga primeiro se o livro merece tua intimidade.
Pois que é a leitura senão uma íntima conversa,
de alma a alma, no silêncio de um canto, à luz
de uma lâmpada, à noite calm a ? Mesmo que tua
melhor amiga viesse te apresentar uma pessoa
desconhecida, não a aceitarias logo de coração es
cancarado, não lhe porias nas mãos todas as cha
ves de teus cofres. E por que és tão sem cerimô
nia em aceitar e ler, em relatar e em recomen
dar as páginas de um livro ? ! - Outra coisa : re
flete bem na responsabilidade que assumes, quan
do aconselhas um livro a uma amiguinha. Ficarás
responsável pelo mal que lhe provier da leitura.
2. Desejando asas
E' esse um desej o real do cantor de Deus nos
salmos. Suspira pelas asas das pombinhas para
voar até perto de Deus. Muita moça parece vi
ver suspirando pelas asas para qualquer eleva
mento do nível em que paira. Mas nem todas sa
bem o que desej am.
A sas de mariposas - assim chamemos às de
sej adas por certos grupos de j ovens. Nelas há ful-
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gores de sol, matizes de flor ; agradam, encan
tam. Em troca, são asas fragílimas, delicadíssi
mas e nada abrigam. Imagens elas são dos pra
zeres, de cuj a taça j á tantas vezes os lábios hu
manos se retiraram desiludidos.
A sas de andorinhas - demos-lhe tal nome às
desej adas por outro grupo de moças. São asas
ligeiras, irrequietas, em contínuo movimento, eter
nas desenhistas de caprichosos arabescos. Bem
representam a vida que se move, que vai a toda
parte. Na atividade febril de seus voos desco
nhecem a p az.
A sas de águia - �uj o destino é buscar as nu
vens, e pairar nas alturas, como se desprezassem
o resto do mundo. Parecem agitá-las aquelas j o
vens desej osas de glória, de honras, de aplausos.
Mas também essas não servem para a felicidade.
Asas de . . . galinha. - Delas falou o Salva
dor, referindo-se ao agasalho que oferece aos pin
tinhos. Simbolizam esse meio tão singelo e comum
em que se vive na família. São asas para a vida
cotidiana, p ara a monotonia dessa vida caseira,
com a repetição dos mesmos deveres, dos mesmos
sacrifícios pouco avaliados e aplaudidos.
Que farias, leitora, com tuas asas de mariposa,
de andorinha, de águia ? Deixarias a órbita desses
deveres diários. Procurarias um ambiente mais
cheio de emoções, porém mais b aldo de paz e sos
sego. Fica-te com as asas dessa ave doméstica,
belo símbolo do devotamento, da tolerância, d a
calma d e quem vive sob u m sorriso d e Deus.
De tudo que expusemos conclua-se quanto er
ram as j ovens que sempre desej am outras pes
soas ao redor de si, outras esferas p ara a ativi-
60
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dade das suas ânsias. Cada planta cresce bem no
lugar que os céus lhe destinam .
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4. Questões do coração
Eis aí o título com que se comentam certas tra
gédias da vida. E' a expressão mais acertada que
há para muitas atitudes inexplicáveis na vida.
Pois na ordem do bem, do h eróico, há de se di
zer a mesma coisa. Diante de uma santa, d e uma
mártir, de uma puríssima virgem, terás de dizer
o mesmo, leitora : questão de coração.
Tens aí a chave para explicar o devotamento
de uma mãe, o carinho de uma filha, as lutas de
uma moça que não quer andar corrente abaixo
com as outras. Tudo é ques tão de corações fiéis a
Deus, ao dever. Até nossas rusgas, nossos ressen
timentos, nossas "zangas" com Deus, tudo se re
duz a uma questão de coração.
Assim, pois, nisso vem dar o pleno desenvol
vimento do programa de cristã em tua vida. Re
conhecidamente valerás o que amares. Já o disse
Santo Agostinho : "Amas a terra ? serás terra.
Amas a Deus ? E responde-te a Escritura : Sois
deuses e filhos do Altíssimo" ( SI 81, 6) . Mas amas
com o coração. E' ele quem escreve a tua história
e de algum modo antecipa os j uízos de Deus. Com
a lanterna na mão, o Altíssimo sondará se teu
coração o amou. Teresinha de Jesus vivia conven
cida desta verdade. Repetia que Deus nos j ulga
ria sobre o amor.
Ora, diante de tal realidade, importa muitís
simo resolver as questões do coração. Hão de ser
tais que os céus possam aplaudi-las, que Deus as
possa recompensar. Muita moça cristã tem mui
tas dessas questões. Mas a que se reduzem, en
fim ? A ninharias, a futilidades. Não é trigo e sim
palha que anda lá pelo moinho do coração. Ques-
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tões de egoísmo estreito, de amor próprio con
trariado, preferido, ferido. Outras vezes é o des
peito que se apoderou do coração e lhe suscita
um rol de questõezinhas. - Entretanto, prezada
leitora, está escrito com todos os clarões do sol :
Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração.
Eis a grande, a única e verdadeira questão do
coração, questão de vida e de morte.
Dize-me : Como estás resolvendo esta questão ?
5. Não te reconheces?
Finíssimas são as habilidades do amor pró
prio em distinguir entre cada um de nós e os ou
tros. Sabe ambientar-se tão bem, que chega a pas
sar despercebido a muita gente. Vê, leitora, se te
reconheces no confronto que se segue :
"Assim julgamos os ou- Assim julgamos a nós
tros : mesmos :
Fracassaram por- Fiz o que pude,
que não fizeram o que mas as circunstâncias
deviam; foram mais poderosas ;
Piedosas como são, Ninguém é perfei-
não deveriam ter esse to neste mundo, e j á é
defeito, que tanto pre- muito ter piedade, e o
j u dica à religião ; resto não se deve re-
parar;
Ao se ouvir N., pa Se todos me aj udas
rece que no mundo só sem, quanta coisa eu
é importante o que ela conseguiria !
faz ; Está-se obrigado a
Com o dever nin atender às circunstân
guém discute ; cias ;
Com muita simpli
Mais simplicidade, e cidade me arrisco a
perderiam essa "pose" ; não ser distinta;·
63
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Um pouco mais de Com muita paciên
paciência, e evitariam cia cedo terreno aos
muitas bobagens ; a trevidos ;
S e n h o r, elas vos Eu, se preciso for,
abandonarão ! darei minha vida por
vós; morrerei por vós,
A culpa é toda e Senhor.
somente dela ; Errei, porque a ser
pente me enganou ;
E' preciso escolher Saber conciliar tu
entre Cristo e o mundo. do é uma espécie de
caridade" (Bellouard) .
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Tua vida de 15, de 17 ou de mais anos, é tam
bém ela uma inutilidade desfolhada, despetalada,
sem fragrância e sem cores ? não fuj as à resposta !
Vê : o mundo, a sociedade, com seus salões e
divertimentos, com suas elegâncias e viagens, não
servem para a haste de tua vida . Há tempo que
notaste tudo isso. E' daí que te vem esse vazio
que sentes na alma, mesmo diante dos triunfos
para o amor próprio. Tua vida, rubra pelo san
gue de um Redentor, não quer florir na ponta
de semelhante haste.
Mas queres saber quando se torna flor e fruto
e sabor, essa vida de primavera ? Ouve, guarda,
realiza o conselho do Mestre : Permanecei em
mim e eu permanecerei em vós. Eu sou a videi
ra e vós sois o sarmento. Se ele não ficar com a vi
deira, secará . . . Unido à videira, dará fruto.
Muita moça revolta-se contra tal realidade.
Clama e brada contra tal desígnio da Providência.
E depois ? Depois perguntar-se-á como Ardigó : Pa
ra que serviu a capitosa flor, a rubra rosa da mo
cidade, da vida ? E também por esse valor pergun
tará o Juiz na outra vida. Está escrito : Não apare
cerás de mãos vazias diante de mim !
Logo, leitora, o tempo, o tempo é de valor ra
ríssimo. E que fazes dele ?
7. Tua história?
O castelo de sonho, onde eu vivia,
e que erguera com tanto enlevamento,
veio a rolar por terra, enfim, um dia,
num doloroso d esmoronamento.
Culpa foi minha ! Como poderia
resistir o castelo, um só momento,
se era tão falsa a areia em que se erguia,
e se era assim tão poderoso o v ento ? (A. Amaral)
VII
1. Muito obrigada . . .
Assim falas, até quando uma criança te es
tende a mão com uma flor singela. E teu sorriso é
fundo azul para essas áureas palavras. Mas, leito
ra, vale aqui a verdade do aforismo oriental :
Agradecemos por uma vela e não agradecemos
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pelo sol que Deus nos dá. Quero lembrar-te um
tesouro dado pelo Criador : a inteligência.
És criatura racional, dona de uma inteligên
cia que o s pais e mestres cultivaram, que a convi
vência com o próximo vai aperfeiçoando. In teli
gência, que é ? E' rédea de ouro que segura a exal
tada fantasia ; é fio de luz que em feixes vai li
gando os pensamentos ; é mão hábil que consegue
reunir, num col�r de pérolas, as palavras indó
ceis ; é atmosfera onde giram em ordem as idéias,
como se fossem átomos agrupando-se por uma
recôndita atração. Das letras da natureza pode
fazer um poema, um hino ao Criador. Dos cla
rões dos astros pode tirar claridade para as sen
das que levam ao Pai das luzes. Da n atureza ar
ranca os segredos ; d a arte surpreende as aqua
relas e os mágicos senários. Luz misteriosa, ei-la
que desce aos abismos do coração humano, des
venda-lhes arcanos, canta-lhe melodias, conquista
lhe um feudo. E de tudo faz uma torrente de ven
tura na qual vai carregando o homem.
Já te encontraste com gente abobada, com es
ses ceguinhos de espírito, privados da luz da ver
dade, do raciocínio ? Quanta alegria lhes fica rou
bada, quanto palácio de fada lhes está fechado,
quanta palavra do céu lhes é letra misteriosa !
Bendito sej a Deus, leitora, que não te privou
da inteligência. Mais ainda sej a louvado, se per
mitiu e facilitou aos teus o amanho deste terreno,
a lapidação desta j óia. Searas que vierem, cinti
lações que s e desprenderem desta inteligência, se
j am outros tantos hinos a Deus. Pois nossa inte
ligência nada mais é que uma fagulha do Sol Di
vino. Respeita-a por isso, e engrandecerás o
au tor de tanta luz.
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2. Olhai e vede . . .
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Mas, isto posto, fica de p é uma verdade : nem
a todos é fácil entender esta misteriosa linguagem
da criação. Há quem mal lhe soletre as letras.
Há os que ficam deslumbrados dela, como os
curiosos ante os hieroglifos das sepulturas dos
faraós. Por estarem acostumados a decifrar os
sinais aos ímpe tos de um coração corrompido,
transformam em fórmulas mágicas a escrita de
Deus. Não chegam assim ao reino do Senhor, mas
vão perder-se nos domínios do demônio. - Só ao
espírito purificado e inteiramente possuído de
Deus, revela-se o Criador na vida e natureza, que
para outros se mudam em nuvens misteriosas.
Outra verdade importante, senhorita. O Divino
Mestre não está com os que dizem "olhe-se tudo,
tudo se conheça e aprecie". Pelo contrário, afir
ma : Se o teu olho te escandaliza, arranca-o !
Primeiro, pois, aprenderás, cristã, como achar
a Deus, abstraindo-o do mundo visível. Mais tarde
te será dado contemplar a natureza ao lado do
Criador. Nada de exageros no caso, porque é bem
clara a fórmula dentro da qual Cristo Senhor es
tabelece a relação entre o mundo dos sentidos e
o mundo do espírito. Não desprezarás o mundo,
mas, sim, o transfigurarás. Então a linguagem do
Senhor é compreensível : Olhai, vede as aves, os
lírios, o homem que ara, que planta, que deita as
redes, que faz um b anquete, etc.
De um livro para professoras, escrito por Co
hausz, tomei, em livre citação, os p ensamentos
acima. São todos ele s para ti, que vives neste mun
do, aos clarões de uma idade primaveril, leitora.
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3. C omparações que são programas
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poucos. Entretanto, que poder têm as palavras
benévolas, leitora ! Preciosas amizades nasceram
porque as ouviram. Velhos e musgoso s preconcei
tos desfizeram-se diante delas. Até inimizades qua
se mumificadas não lhes resistiram ao sol aquece
dor. Na inimizade o silêncio é muitas vezes ,alimen
to a robustecê-la ; novas explicações geram com
plicações, novos mal-entendidos. Só resta entregar
a solução à p alavra benévola. Devagar ela irá
desfazendo enredos, preconceitos, ressentimen tos.
Certamente queres que a felicidade estej a a
teu lado e te acomp anhe por onde fores. Pois bem.
Sê benévola em tuas p al avras, que são outros tan
tos acenos de mãos para que a ventura se apro
xime. E' sabido que a felicidade tem força de
produzir a santidade. Com tua p alavra benévola
farás feliz a muita gente, e de gente feliz D eus
modela seus santos.
A benevolência apressa as conversões, expul
s a as melancolias e até exorciza a Satanás, bane-o
p ara longe das almas. Por isso Faber acha que
p aga a pena p assar pelo fogo, só p ara se ter opor
tunidade e conquistar o direito de pronunciar
p alavras benévolas. Mas, graças a Deus, não pre
cisas atravessar fogueiras em busca de ensej as
p ara tuas benevolências.
Onde cai a sombra de teu próximo, está com
isso traçado um campo p ara a p alavra benévola.
Portanto, em toda a parte e em todos os tempos te
sobej am oportunidades. E o sacrifício de pro
nunciá-la é bem pouco. Que sacrifício faz a fonte
ao entregar sua água em borbotões ?
Palavras benévolas - diz Faber - fazem-nos
felizes, diminuem nossa irritação, afugentam nos-
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sos aborrecimentos, avizinham-nos de Deus, ele
vam a t em pera tura do nosso amor, dão-nos a
paz no Senhor. De D e u s nos obtêm muitas gra
ças, inclusive a graça da pureza.
E nota-te uma preciosi d a de, leitora. Elas te al
cançam a graça da contrição. Pois tudo que nos
enternece a alma leva-nos à contrição, a qual
n a d a mais é do que uma ternura do coração
para com D e u s.
A benevol ência faz-nos verazes, inimigos da
falsidade, sinceros em tudo. Já leste que a be
nevolência é o prisma pelo qual Deus olha o mun
do, e o modo de Deus ver as coisas é sempre o
modo verdadeiro.
5. Levante-se, senhorita . .
porque a filha de seu rei vai beber ! - intimava
a j ovem pricesa Luísa, à criada, que ficara as
sentada nesse momento.
- Não s ah e vossa Alteza que eu sou filha do
seu D eus ? - respondeu-lhe a criada. E acertad a
mente lembrou à vaidade daquela criatura um
título bem nobre. E' possível que a senhorita te
nha em casa criadas e empregadinhas. Então não
se esqueça que tem a servi-la "uma filha de Deus"
Não poderá tratá-la como uma peça, como um
manequim. Respeite-lhe a dignidade, sem feri-la
com p alavras e olhares desprezivos. Poupe-lhe des
necessários vexames, porque é de carne o coração
que a criatura traz no p eito. E por que não reco
nhecer, às vezes, a nobreza de alma de uma cria
da que "se emprega e aguenta a dona de casa e
mocinha vaidosa", só p orque p recisa amparar
uma mãe j á velha, ou irmãos ainda novos ?
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Se a criada contraria os j ustos desej os da lei
tora, ou lhe faz mal os trabalhos designados, fa
ça-lhe ver o erro, mas sem aqueles ares de des
prezo de sobranceria ofensiva. Quem a está ser
vindo é, no seu posto e na sua condição, imagem
de Cristo. Como então tratá-la fora dessa moldura
divina ? A princesa Luísa reconheceu seu orgu
lho e corrigiu-se. Não és princesa, leitora ; deixa
o orgulho, a exigência, a sobranceria.
6. Proibição de mãe
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Também aqueles que, sem a devida aprovação,
p ropagam e popularizam revelações, visões, pro
fecias, milagres recém-dados, devoções novas. Nem
menos severa é a Igrej a a respeito das Bíblias
mutiladas, falsificadas, desfiguradas, que os pro
testantes espalham com tanto zelo.
D epois ela te proíbe os livros nocivos à pureza
e santidade dos costumes cristãos.
Tais são as páginas que celebram os vícios,
mostram em quadros realistas o "encanto" do pra
zer e o apontam corno a única felicidade neste
mundo. Por isso não se admitem livros que fa
zem a a pologia do duelo, do suicídio, do divór
.
cio, ou de outros crimes. Os enaltecedores e defen
sores de sociedades condenadas ( maçonaria, es
piritismo, teosofismo ) te silo igualmen te interdi
tos. Depois seguem-se os cscri los obscenos, dos
quais muitas vczrs só o t i tulo diz <lo conteúdo.
Proihiçii.o e n n :' d c m as 11 l gl'('.i 11 tem contra quem
publica, vc n d ( , l'<' l (� m . dú c m p r('slado livro de tal
'
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res para encanto dos seus. Faz amorosamente o
dom do coração, o dom dos lábios, o dom das mãos.
Dom do coração é a simp atia radiosa, com
passiva e sincera, um que de ternura e de bondade.
O dom de outra coisa é sempre algo estranho a
ti mesma, não é um pedaço de teu ser. Até o
pobre da rua sente que a ternura de um olhar o
sossega, que o nutre a simpatia e o s acia a com
paixão. E' curioso : o próprio D eus pede-nos, pri
meiramente, o coração. Queixa-se que o honram
com os lábios e as mãos, quando o coração está
longe dele.
Dom dos lábios é a palavra que, ouvida, faz
bem, porque é leal como a verdade. Nem sequer
a criatura irada pode fazer pouco dessa boa p a
lavra que lhe é dada em resposta. Pois está es
crito "que a boa p alavra é como um bei j o nos
lábios" ( Prov 24, 26 ) . Tem, portanto, a seda de um
íntimo carinho. Para quem sofre, ouvir essa boa
palavra é como sentir o bálsamo e o óleo nas cha
gas doloridas. E' como se sentisse uma gota de
orvalho sobre a ressecada corola d e sua alma. Que
grande dom, esse dos lábios ! Principalmente quan
do o silêncio significa uma desdenhosa indife
rença por tua p arte.
"O dom das mãos é o complemento do sorriso
e das palavms e muitas vezes a prova de sua sin
ceridade. Enquanto a mão está estendida, os lá
bios deixam cair a p alavra e o coração desprende
a fragrância de sua ternura. E' então total a tua
caridade. E' total a união entre quem dá e quem
recebe"
Assim fazendo, serás tu . a abelha que trou-
xe mais perfume à colmeia .
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vm
j . Escreves muito?
Dia por dia, noite por noite, Deus nos d á as
:folhas da vida. Dá-no-las p ara que escrevamos ne
Jas sem lacunas e sem p reocupações sobre o nú
jllero das que ainda lhe ficam nas mãos. Teus anos
j á viram, por conseguinte, muita folha sair da
jUão do Altíssimo. Já viram teu rosto inclinado
5obre elas, enchendo-as com feitos e atos.
Há quem tão somente escreve futilidades nes
eas folhas. São as j ovens que fazem de tudo uma
futilidade. Desde os vestidos até aos atos de c ari
dade, desde as atenções sociais até às exigências
da piedade. Na família lhes é fútil o dia, o cari
pho com os seus. Na sociedade só têm uma preo
cupação : de elegantes futilidades.
Há quem escreva inutilidades nessas folhas.
São essas ações de cada dia, ou de determinadas
ocasiões, fcitas todas sob uma rotina de alma fria,
de coração "de fogos ap agados", pois não há em
tudo um pouquinho de amor de Deus. São a s pro
sas inúteis, as visitas inúteis, as leituras inúteis,
os devaneios inúteis, os propósitos inúteis.
Mas, louvado seja Deus, há quem nelas escre
va coisas que os céus aplaudem. Assim escrevem
::ilmas amigas de Deus, revestidas d a candura da
graça, com os méritos de boas açõe�. São as j o
vens que escrevem p ara a eternidade, " para o
livro d � vida".
Tu, leitora, não s abes quantas folhas tem D eus
em mãos. Pouco importa sabê-lo. Mai s importa
estar de alerta para não lhe entregares folhas
em branco, folhas borradas, folha s amassadas,
folhas . . . que ele não possa ler, que n em possam
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os anj os levar. Pouco importa que tuas comp a
nheiras não liguem para essas folhas, essas fo
lhinhas que são os dias. A cristã esclarecida vai
escrevendo o que o dever lhe dita, o que a fé lhe
impõe, o que a caridade lhe inspira. Ao lado das
linhas, acompanhando-as, iluminando-as, lhe ca
minha o coração. Ou, melhor, ele vai à frente,
com amor, com a intuição que só ele possui, den
tro de um peito de moça cristã e generosa. Nes
sas folhas até uma letra pode valer por frases.
Basta que haj a muito amor divino em seus traços.
2. A liturgia do trabalho
Quem enobreceu e elevou o trabalho, deu-lhe
também uma liturgia a ser copiada por quantos
o imitam por dever e amor. Na oficina de Na
zaré o Mestre entrava como num templo. Enquan
to as mãos manej avam os instrumentos do ofício,
ia-lhe a alma erguendo suas intenções santifica
doras e redentoras. Olhos no céu, coração afeito à
vontade do Pai, Cristo Senhor trabalhava de sol a
sol. Cansava-se, suava, feria às vezes suas mãos
numa l asca de madeira. Trinta anos de oficina e
apenas três anos de vida pública e agitada ! Trin
ta anos de exemplo e três somente de doutrinação
que nos deixou ! Trinta anos de trabalho silencio
so e unicamente três anos de p alavras.
Hoj e, para ser uma cristã às direitas, há de
a moça não só trabalhar, mas também santifi
car esse trabalho, dentro de uma liturgia. Há de
torná-lo perseverante, recolhido, paciente, preso à
vontade de Deus, guiado pelas preocupações su
periores da alma e da religião. E' sabido que Cris
to se estampa nos seus irmãos e nas suas irmãs.
Perpetua-lhe, por exemplo, a santidade, a bon-
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dade, o espírito de verdade, a cristã que é vir
tuosa, generosa, estu di osa . E a que trabalha está
p erpetuando o trabalho de J esus em Nazaré. Mas
porque o Me stre " trabalha sempre'', e até ao fim
do mundo isso fará, segue-se que a sua imitadora
há de trabalhar a vida toda. Por isso , leitora, en
quanto durar o dia e tiveres luz, tens de traba
lh ar. Descansarás no . "sétimo dia", a p ós tua
morte.
Trabalhando, cuidarás em fazer do teu traba
lh o uma prece efetiva. D ar-lhe-ás um ritmo de
exercício de pie d ad e , um reeolhimento de quem
está fazendo a vontade do Pai do céu. As portas
do céu batem nossos corações e nossos quefaze
res. Trabalhando e rezando chamamos a vida.
Em ambos os casos a yida responde-nos, porque
se vê respeitad a . E assim tornam-se plenos e fér
teis os nossos dias, embora continuem com as
feições de uma monotonia irritante.
Acreditas, agora, minha j ovem cristã, que tua
agulha, tu a vassoura, tua tesoura, tua máquina
de costurar ou de escrever; teus livros, teu pia
no, teu tear na fábrica, teu livro-caixa - enfim,
todos os instrumentos de teu lidar, podem tornar
s e outros tantos "livros de reza"?
Se o acreditas, aprende então a rezar nesses
livros inigualáveis !
3. Já há de sobra
Manzoni descoloriu a descrição do amor no
seu livro "Os noivos". Sabemo-lo pelas correturas
que foram eneontradas no seu original. O afama
do literato recolheu as tintas muito vivas, tirou a
roupagem muito sedutora com que vestira o
amor. Mas se o fez, j ustificou-se com muita sa-
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bedoria. Tu, j ovem, que ouves tanta melodia no
coração, poderá s lucrar com a exposição.
Manzoni diz : "Concluo dizendo que ao mun
do o amor é necessário, mas que também j á exis
te em abundância e nem é precisso que outros lhe
estimulem a cultura. Fàcilmente, isso se inten
tando, desperta-se onde não precisa existir ain
da. Há outros sentimentos de que o mundo pre
cisa igualmente, e que um escritor deve procurar
despertar, com vivo empenho e com todos os re
cursos de sua pena : a comiseração, a caridade,
a mansidão, a clemência, a abnegação. Oh ! disto
não há fartura! Glória a quem os cultivar ! Mas
o amor, em geral, existe 600 vezes maior do que é
necessário para a conservação da nossa ilustre
esp é cie. Acho imprudência cultivá-lo, alimentá-lo
por escrito s : estou convencido de que não entre
garei ao p apel as mais belas inspirações que so
bre este tema possa ainda ter qualquer dia. Pois
tenho certeza de uma coisa: se o fizesse, me ar
rependeria mais tarde"
Que pena ficar a voz de Manzoni tão esque
cida no meio dos bardos de um sentimento, do
qual há excesso prej udicial e mesmo precoce ! Por
aí pode a leitora tirar uma conclusão prática p a
ra a sua vida. Qual ? A de cultivar, primeiro, ou
tros sentimentos que podem fazer a moldura e o
fundo azul para o amor, quando soar a hora de
amar como cristã e irmã das virgens e mártires
de eras remotas e gloriosas.
1. Só amizade?
De coração bem sensível e generoso costuma
ser toda moça bem formada. Dentro do peito o
1-{uarda, dele reparte afeições, como quem de uma
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barra de ouro cunha moedas. Assim ap arecem
as moedinhas das amizades. Amizades com outras
moças, companheiras de colégio, de trabalho.
Amizades com rap azes, parentes ou admiradores
conhecidos desde a infância ou aceitos após a
primeira impressão.
Algumas j á perderam até o número dos ami
gos. São tantos ! Alguns elas se escolheram e os re
servaram para si. A outros aceitaram como per
tencentes às amiguinhas. Soma feita de tudo, não
lhes cabem as moedas no áureo cofre do coração.
Mas escuta uma coisa, leitora. A moedinha
" amigo" tem ares de ser falsa. Foi cunhada, hoj e
circula de mão e m mão como legítima . Sê-lo-á
na realidade ? Há gent e sisuda que em tal ami
zade vê, se não o sinônimo, ao menos o começo
de um outro sentimento. Descobre no eufemismo
um prelúdio sinf ônico do amor. Entre rapaz e
moça dificilmente pode haver uma simples e mera
amizade. Exceção é feita somente em casos es
peciais e raros, quando eles se conhecem desde
crianças, não podem nem pensam em casar-se. J á
tentaram suas experiências rapazes e moças bem
intencionados. Queriam apenas a fragrância d e
lírios, a facilidade de uma mútua compreensão
que os a j udasse na vida. Mas tiveram de de
sistir diante das urtigas da afeição sensual que
lhes invadiu o j ardim. A mais equivocada no
caso é sempre a moça. CompreendE!-se. Pois nela
a tendência natural vive mais calada, enquanto a
inclinação da alma entoa seus hinos ao cavalheiro
desconhecido. Por isso não percebe nem entende a
diferença desse sentimento no rapaz, no qual a na
tureza tem outra voz e canta em outra tonalidade.
Com muita graça observa um escritor que, na geo-
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grafia dos sentimentos, essas duas reg10es, "amor
e amizade'', não têm limites precisos, múxime na
mocidade. E a leitora quererá ter uma questão de
limites dentro do coração ?
Um outro acha que, sendo a senhorita dona
ainda de todos os seus dentes, fàcilmente poderú
picar a alma do rapaz. O melhor é desconfiar d a
moedinha . . .
Audi filia - 6 81
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Pôs todas as outras numa sombra, muito embora
seus dotes físicos não fossem mais do que me
díocres. Dá-se com a virtude o mesmo que se p as
sa com o espírito. Coração virtuoso anda sempre
de cetro e coroa, a v assalando outros que apenas
são bons por mero dote da natureza e influência
do meio.
Sê, antes de tudo, boa e virtuosa, leitora. Serás
livro de muita s páginas ricas em emoções para o
coração de quem te conhecer, de quem te amar.
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é coisa bem triste, e mais ainda : é uma dolorosa
e aflitiva ameaça. Há tantas histórias de cora
ções que se deformaram, e todas tão cheias de
luto, de lágrimas ! Judas Iscariotes - eis aí um
coração que se deformou. Do puro entusiasmo
pelo Mestre, foi descendo os degraus da miséria,
até ao amor pelo dinheiro. Quem sabe, em dias
que j á se foram, notavas nobreza, pureza e devo
tamento dentro do teu coração. E hoj e ? Não es
tará mudado o semblante de tua alma ?
Teu coração é transformável. - E nisso vai
um doce consolo p ara todos. Não há confirmação
no mal p ara o coração de quem vive. Assim não
h á também lugar para o desespero de quem luta
e não vê os louros da vitória. Achaste muita
feição de miséria, de egoísmo, de insensibilidade
no teu coração ? Diante de tal realidade repete-te
sempre que o coração é transformável. Se antes
era como deserto, torna-se j ardim florido, de fon
tes borbulhantes, de fragrâncias convidativas, se
a graça de Deus o toca, se tua cooperação e tra
balho com ela trabalham.
Tudo que transforma para melhor teu coração
sej a-te, pois, benvindo. Dor, humilhação, injusti
ça, ingratidão, orfandade - Deus as manej a como
artista da "expressão"
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possível que o mundo tenha as labaredas de teu
coração, teus caprichos e vontades tenham suas
compaixões e o próximo fique com o duro bronze
d a indiferença, do egoísmo cruel, do ódio e d a
vingança.
Tanta cristã é vagarosa em se aquecer pelas
coisas de Deus, ou tão teimosa em ficar tíbia
diante dos convites divinos. Se de fato tivesse
um coração em chamas por Deus, iria inegàvel
mente receber o braseiro de amor que é Deus n a
hóstia consagrada.
Almas suaves para consigo - eis como o Es
pírito Santo chama as criaturas que fogem dos
sacrifícios onde quer ' que os encontrem, mesmo
n a sombra do dever de cada dia. Entretanto, esse
coração de carne, senhorita, o deves empregar n a s
relações c o m o próximo, que reclama tua benevo
lência e teu perdã o ; que abusa da tua paciência,
que exige heroísmo de tua p a rte, com uma sem
cerimônia alarmante. P a r a teus caprichos e "sua
vidades" hús ele contar com o coração de bronze .
Nada de ter mu i la pen a de ti mesma, n a d a de
enternecer teu corncii o dian te d e algum sacrifí
cio, nada de lhe lembrar sofrimentos passados,
ingratidõcs suportadas, amizades traídas.
E nota-te uma coisa : esse coração de carne, es
se coração b e névolo e compassivo p ara com o pró
ximo, é um sol fecundo na sociedade. Pois toda
ação compassiva conduz a outra. Um só ato des
se gênero deita raízes em toda parte e das raí
zes brotam novas plantinhas. Um só ato benigno
não morre, mas estende as ondas invisíveis de
sua influência através de séculos.
Tendo no coração fogo p ara Deus, carne p ara
o próximo e bronze p ara ti mesma, serás feliz
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e farás felizes a inúmeros seres. E a felicidade,
o contentamento interno é a atmosfera n a qual
se fazem grandes coisas por Deus.
IX
1. Eis a vida . . .
seguir umas quiméreas vagas ;
lançando a mão em sangue aos cardos e aos espinhos;
rolar no p ó ; gemer; deixar pelos caminhos
mil farrapos de carne e o sangue de mil chagas.
(Amadeu Amaral)
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J oia, um rico tesouro. Trata-se somente de en
gastar essa j óia, de escondê-la num cofre, de
a d aptá-la ao meio. As chagas que Deus abre na
vida cicatrizam depressa ou cessam de pungir.
"Eu chego a pensar q�e Deus se esqueceu de
mim, porque sou feliz em tudo e na<la tenho
para sofrer", dizia-nos esclarecida j ovem. Pela
manhã, o sol se anuncia pela púrpura de seu b er
ço no horizonte. Pela tarde, fala-nos de seu p alá
cio por rubra rosa que desfolha sobre as monta
nhas. E na vida, Deus fala da sua presença quan
do o sangue do sofrimento tinge nossos caminhos.
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nunca sonega aquilo que, antes, nós mesmos lhe
não havemos negado.
Entretanto é bem possível que contigo se dê
coisa semelhante à do poeta : colheram-te tormen
tas, quando apenas semeaste brisas. O primeiro
que colhe tormentas é o próprio Deus. E quantas
j á não vieram de tua vida !
Há pelo mundo afora uma nefanda seara de
tormentas, para a qual, dia por dia, cada um de
nós vai con tribuindo. Há até heranças nesse pon
to. lngratidões sobej am, que vão p assando de ge
ração para geração.
Por que então te queixas que "as outras são
ingratas" ? Por que não queres esquecer a ine
gável ingratidão com que se pagou a "tua como
vida bondade" ?
Não contando nem esperando por demais com
a precária gratidão humana, terás menores com
pensações para teu amor próprio, e mais pura se
rá tua intenção no semeares a bondade sem deva
neios com possíveis colheitas . . .
3. Justificando leituras . . .
Leio para conhecer a vida. - No p araíso Eva
seguiu o mesmo princípio : queria conhecer o
bem e o mal, ao pé da árvore da vida. E perdeu
se. Teu livro, leitora, é talvez outra árvore d a
ciência d o b e m e d o m a l . Mas tão somente para
te abrir os olhos, com os quais verificarás que não
(� i nocente. Conhecer a vida é conhecer as suas
leis básicas. E uma delas afirma que ninguém po
de contar consigo nas horas difíceis. Da leitura p o
d c rú soar uma hora dificílima para ti, e, nesse
ewm, que farás ?
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Mais: a vida não é uma paisagem, um tabu
leiro onde os homens se movem com seus pen
samentos, desej os e atos. E' uma realidade com
plexa que tem suas meadas ligadas a um outro
mundo, invisível por enquanto. Tem duas faces:
a do temp o e a da eternidade. De acordo com
a convicção sobre este princípio, sairá a respos
ta do interrogado autor dos livros que lês.
A leitura não me prejudica. - Tenho para
mim que é temerária essa afirmação. De que tro
féus é dona a leitora, para garantir que está
"blindada" contra o fogo das paixões e de encan
tos de um livro ? Onde pesou a força das suas
reservas morais ? Só o soldado que volta do fogo
pode saber se é de fato coraj oso.
E' verdade que até com o veneno o organismo
se costuma, pelo menos em doses pequenas. Lon
ge de mim, porém, supor que tu sej as do número
das insensíveis ao veneno, por vício j á antigo de
tomá-lo em leituras prej udiciais.
Além disso, vale aqui a frase de Gillet : uma
j ovem nunca lê rnn romance sem ao mesmo
tempo vivê-lo. Essa facil idade em sentir as emo
ções alheias é que conslilui o perigo dos romances,
dos livros insi n u a n tes,_ nas mãos de uma moça.
Tudo isso n ão proíhe por completo a leitura.
Previne apenas, para que não se tomem muito
a fácil certas verdades, nem se lhes enfraqueça
a força de princípio. Urge que a moça sej a boa
observadora de si mesma, e sempre sincera reve
ladora dos flagrantes erri que se surpreende ao
ler as p áginas de uma ficção, ou de uma crua
realidade, imprópria para a delicadeza d e sua
idade e frescor de seus sentimentos.
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4. Bênção roubada . . .
Aproveitando-se da cegueira do pai, roubou
lhe J acob a bênção, seguindo à risca os conselhos
que lhe dera a mãe. Era, portanto, dono de uma ri
quíssima bênção, à qual os carinhos d a Providên
cia preparavam dias de ventura.
Foi feliz ? Sofreu menos na vid a ? Não ; essa
lhe deu golpes formidáveis. Colocou-lhe diante dos
olhos o ódio do irmão mais velho, encheu-lhe os
ouvidos com o pranto de Raquel, enlutou-lhe a
velhice com a túnica ensanguentada do filho ido
latrado, José. Por fim, ao menos para prová-lo,
arrancou-lhe do lado Benj amim.
Convém que a leitora se note esse conexo dos
fatos. Assim não se inscreverá entre as que rou
bam bênçãos maternas e paternas, por meio de
falsos carinhos, de falazes promessas, de fingidas
atitudes. As desobediências ocultas, as companhias
que põem em sobressalto o coração materno, tudo
isso pode ser esquecido pela filha que ilude e
obtém uma bênção. Mas será bênção semelhante
à semente caída sobre . . . pedra. Não medra.
Há outras moças que experimentam roubar a
bênção de Deus. São a s que praticam uma tal
qual vida piedosa. De manhã, vão à comunhão,
de dia, às companhias, de noite, ao divertimen
tos e mundanismos perigosos. São partidárias de
modas e extravagâncias, de leituras e de princí
pios liberais, mas ao mesmo tempo não dispen
sam a bênção de Deus. Até na confissão pouco
sincera, pouco eficaz no propósito, vão buscar
a graça de Deus. Com ela se retiram, ao menos
na aparência. Mas é bênção roubada. Por quê ?
Porque o exterior, as a parências são de uma cria
tura, quando a voz é d e outra.
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- As mãos são de Esaú, mas a voz é de J a1cob,
observou o cego Isaac antes de abençoar ao filho
que o iludia. Entretanto, Deus não se deixa ilu
dir, nem tão pouco lhe leva a b ênção quem pro
cura a falsida·d e.
Sobre tua mãe, j ovem leitora, uma coisa é
certa : quando a vires morta diante de ti, hás de
te lembrar das bênçãos furtadas a seu bondoso e
ingénuo coração. Sentirás desej o de acordá-la, de
lhe falar a verdade sobre teus carinhos . Será
tarde demais para semelhante confissão e emen
da. Emenda-te agora ; não lhe roubes bênçãos de
coração iludido. Dize-me : tens merecido as que
j á te foram dadas?
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de uma alma fraca ou má. Mas esse choro há de
ser como o choro diante de uma beleza mutilada.
Todos nós choramos diante dela, sem contudo des
crermos do ideal da beleza, que ainda nos pode
surpreender com esplêndidas indenizações. E' às
vezes sobre a ruína de seu coração que a vida re
ergue mais tarde uma ventura sólida e durável.
De outro lado urge meditar no seguinte : A
fonte da infidelidade em nossa vida é o lado hu
mano que nela trazemos. Quanto mais "divini
zar-se" nossa vida, quanto mais unida estiver a
Deus e mais p autada ipelos princípios do Evan
gelho, menores lhe serão as desilusões, menos vio
lentas lhes serão as tormentas.
Por que, enfim, te sentes bem, leitora, ao lado
de uma alma verdadeiramente virtuosa ? E' por
que sabes que nela predomina o lado divino, a
face luminosa de nossa vida de cristãos.
Por isso, buscar amigas e confidentes no mun
do fútil dos salões, dos footings, das soirées e ve
raneios, é estender as velas para caçar vendavais.
Enquanto nesse quadrante uivam todas as tormen
tas, há serenos espelhos pela face de outros ma
res. Em vez de descrer dos homens, procura a
cristã prudente outros céus e outras terras em que
cintilam estrelas e viçam mimosas flores de co
rações amigos.
6. Estás de mal com a vida?
A vida é um "bluff" Assim estava escrito num
papel cor de rosa de perfumada carta. Oxalá o
caráter da senhorita, que a escreveu, fosse firme
como o talhe de sua letra !
Como esta, muitas moças acusam a vida. Cha
mam-na de falsa, de fingida, de fileira. Dizem que
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ela não passa de um logro, que o melhor é mor
rer logo . . . Entretanto, não faz tempo, essas mo
ças andavam de braço dado com a vidinha de seus
18 anos. E riam - elas e a vida - como boas
amigas ; diziam-se até gracinhas. Gente séria in
comodava-se com a algazarra desse "pessoal".
E tu, leitora, não a chamaste <tb criatura neu
rastênica ? Disseram-te amigas que a vida era uma
luta, urna preparação para o futuro temporal e
eterno. Mas tu inventaste um nome mais bonito
p ara essa amiguinha : que era um feitiço, uma
dança, uma alegria, uma lenda, uma surpresa
diária, um romance . . . E agora ?
Novamente exageras. A vida nii.o te pregou
mentira alguma. Tu, sim, te enganaste. Nela não
houve engano, mas houve e rro no teu procedi
mento. Pediste-lhe o qu e niío poc l i n te dar e por
isso recebeste um não cnlc!-(úrico. Entretanto é
de ou t r a form a q u e d c v c·s fazer a pergunta e as
sin alar 11 csperniH,'.11 .
D ize-mc : E' con formar-se com
n v i d a q u e d e ve
t eu s dcsc,i os, 011 que com ela hão de
são esses
combinar ? E' a vida que seguirá tuas ilusões, tuas
inexperiências, ou és tu quem precisa seguir-lhe
as leis e máximas e esperar por seus frutos?
Dizia o Mestre amado que em espinhos não se
colhem figos, nem em urtigas se procuram uvas.
E a inteligente leitora foi tão ingênua, que nos
espinheiros, nas urtigas da vida, procurou por sa
horosos figos e doces uvas ! Mas por que ralhar
com a urtiga, em nada aparentada com a videira ?
Por que ficar de mal com a vida, que em tudo se
gue as normas de Deus, que produz os frutos cor
respondentes ao clima e solo deste mundo, que
j á não é o paraíso de outrora ?
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Vamos, faze as pazes com a vida e não te mos
tres emburrada com ela, com os dias que a com
põem nos numerosos anos.
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do coração, da alma, da dádiva de ti mesma ? En
tão és fiel, fiel como essas estrelinhas de Deus
que, vistas ou não, aparecem n a nesga de céu
que o Senhor lhes destinou.
E' grande e bela virtude essa fidelidade a um
dever que não escolheste, apesar de nascidas sim
p atias por um outro. Não é grande o soldado
que enfrenta mudo e heróico o perigo, no ponto
em que o colocarem ? Escuta, moça cristã : Deus
te colocou em pequenas t rincheiras ( que são os
dias e suas obrigações ) e espera que sustentes o
fogo das obrigações de teu estado, que sej as fiel
nessa guerrilha de cada dia. Se deixares a posi
ção, nela não te encontrará a glória, quando pas
sar revista às almas fiéis. Dize-me : estás agora
na tua posição de alma fiel ?
X
1. O -poço é fundo . . .
Que sede sentem as criaturas, sequiosas da
fonte da felici dade e v en t u r a 1
Não és, por sinal,
daquelas q u e quere m viver de si mesmas, bebendo
em fonte pró p ri a 't Ne sse caso, leitora, não sà
mente co n s e g u i rá s embriagar-te com as águas do
amor próprio ou com elas te envenenarás.
Há moças que imitam a samaritana e saem
para fora de casa, pelo mundo e por suas praças
em demanda de alguma ·fonte que lhes sacie a
sede. De cântaro na mão, entram nos salões, en
tregam-se às viagens, aos passeios, às visitas, às
amizades. Aguas turvas e salobras, porém, é o
que conseguem retirar desses poços. Entretanto,
j unto à fonte· está sentado o Mestre que conver
teu e ainda converte a samaritana de Siquém e
suas irmãs de hoj e.
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- O poço é fundo - observou a samaritana a
nosso Senhor. Diga-se o mesmo de todos os poços
que o mundo oferece. E' preciso cavar muito, de
sentufüar muita terra para dar com pobre veio de
água. Quanto tem de cavar o avarento para encon
trar "a água" que lhe desaltere a sede de ouro !
Quanto se esforça e cansa a vaidosa para chegar
às águas de um triunfo efêmero ! . . O poço é fun
.
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5 anos às idas e vindas 6 anos às leituras
3 anos às p alestras
24 anos ao sono . E' tudo. Onde fica, porém,
o tempo consagrado ao dono da vida, a Deus ?
E' verdade, tudo que se ffiz com pura intenção,
pode tornar-se elevação da alma a Deus, suposto
que se viva na graça santificante.
Mas isto não basta. Deus tem direito a momen
tos que oficialmente lhe são consagrados. Por
exemplo, os minutos da missa aos domingos e dias
santos lhe pertencem e n ão lhe podem ser rou
bados. Os instantes reservados aos a los dn cul
to, da oração, igualmente caem sob esta lei. A
quantos anos j á sobe o tempo que a leitora de
dicou a Deus ? Somando todos os instantes que
j á tens entregue à oração da manhã e da noite,
aos terços, às visitas ao SS. Sacramento, às missas
e comunhões, etc., alcançarias tu um elevado
número de anos, ou caberia tudo dentro de uma
sem an a ?
Faltar a esse serviço é faltar à finalidade da
vida. Vida assim é inversão da ordem, é como as
tro fora de sua órbita. Vida só com folhas e flores
é figueira que Deus amaldiçoa porque, ao pro
curar-lhe os frutos não os encontrou.
Não digas : Mais tarde servirei a Deus. O fu
turo é incerto e não te pertence ; o presente é a
única moeda que tens no áureo cofre de um co
ração devotado. Por isso, desde j á cuida em
seres "uma serva de Deus".
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Hás de viver no mundo e lidar com ele. Será
preferível colher flores nessa floresta tão sombria,
vivendo uma contínua ingenuidade e simplici
dade, que não crê na malícia humana, nem conta
com a corrupção das coisas ? Ou melhor ficarú a
desconfiança, a atenção, a prudência da serpente
diante de princípios e fatos da sociedade ?
Tenho para mim que é mais acertado estar
convicto de que o mundo só tem uma definição :
corrompe e quer ser corrompido. Por isso não
convém acariciar sonhos sobre um mundo aonde
não vão as penas, as cobardias, as misérias e cor
rupções humanas. Dirá a senhorita que na sua
idade é melhor ter uma ilusão e por ela viver
embalada. Ao que respondo com o poeta :
Uma ilusão ?
Antes vê-la fugir como uma luz perdida,
que possuí-la na mão como um pouco de lama.
-
Audi filia 7 97
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ciente mun do e contra ela se pre
da ruindade do
caver.Esquece um a verdade : nossa vontade nem
sempre acompanlta as in tu içõ es da inteligência.
Podemos conhecer o mal e continuar quere ndo e
amando es se mal.
4. Dedinho queimado
São Francisco de Sales saiu-se com tal expres
s ão ,ao responder às l amúrias de certa pessoa ví
tima de uma inj ustiça. Achou que ela não devia
fazer tanto barulho, tanta gritaria, a exemplo das
crianças que só se aquietam quando a mamãe
assopra o de dinho queimado".
"
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tantíssima circunstâcia no caso. Os tais dedinhos
queimados - sofrimentos pequenos e frequen
tes - servem-lhe muitíssimo para as j ornadas
de apóstola. Acreditam-na no céu j unto ao te
souro das graças, purificam-lhe a intenção, ex
piam-lhe as faltas e oferecem energias para a
alma que se vê trabalhada para se converter.
Tenho até receio que as páginas deste livro
haj am queimado algum dedo que por elas passou.
Mas então reconheça a vítima que sua pele é por
demais sensível e muito a impedirá na ascensão
do Calvário da vida, sem o qual não amanhece o
dia da gloriosa ressurreição.
5. Assi m procedem na família
Na família tudo é contagioso. Das moléstias j á
o sabes, sem dúvida. Passa fàcilmente de uma pa
ra outra pessoa em casa. Mas diga-me o mesmo dos
estados da alma. Contagiam muito e ràpidamente.
Nervosia, mau humor, manhas e caprichos com
encantadora facilidade aninham-se nas várias cria
turas que formam a casa. Se de manhã a irmãzi
nha amanhece emburrada, não tarda a mesma ex
pressão de malcriação no rosto e nas atitudes dos
outros. Se a mãe levanta-se nervosa, se a filha dá
para gritar naquele dia, horas depois do apareci
mento de tudo isso j á se notam gritos e nervos
por todos os cantos. O fecho do tempo é claro e
ameaçador.
Tenha por isso a moça por lei não dar largas
a seus sentimentos anti-sociais. Coíba o mau hu
mor, abafe as explosões de nervos, não apregoe
o que lhe dói. Do contrário, a casa . . . é de loucos.
Não deixa de ser um fato curiosíssll:no a pose
que se tem fora de casa. Vistas em reuniões, pa-
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recem encarnações de bondade, de delicadeza,
muitas moças que, na realidade, nada disso pos
suem. Diante de estranhos sabem dominar-se.
Mas em casa são sombrias, entregam-se a movi
mentos de mau humor, respondem, gritam, dis
cutem, regateiam sacrifícios, desentendem, nada
"adivinham". Nenhum esforço j á empregaram
para serem amáveis e encantadoras.
Que esquisita aberração essa, de reservar to
dos os encantos para desconhecidos ou especta
dores e de guardar para os de casa todos os de
feitos do caráter !
Mas não é difícil encontrar o motivo. E' in
vencionice do amor próprio o tomar belas rou
pagens e sedas, quando estranhos nos observam.
Desej amos ser vistos pelo lado luminoso da vida.
Queremos deslumbrar os observadores, o que j á
não nos p reocupa em casa. Na família é-nos im
possível fazer uma tão bela figura. Ninguém aplau
dirá nossa habilidade de comediante. Lá dirão
pelo nome os defeitos que temos, as ilusões que
nutrimos. Daí então esse descuido de tanta mo
ça, que só quer ser vista e aplaudida quando está
enganando a humanidade incauta. - Assim não
farás, leitora. O melhor de teu coração, os en
cantos da virtude, pertencem, antes de tudo, aos
teus . . .
6. Pesando as responsabilidades . . .
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Aí está, leitora: não podes construir sobre areia,
levando uma vida de mil futilidades e cuidados
que nada têm que ver com "o único necessário".
Por isso j á agora, com flóridas prima veras, tens
de construir para o futuro. Pois muitas vezes n
vida toda se prende à senda trilhada na moci
dade. Colheitas de ventura ou de tristezas têm
suas sementeiras nessas horas que parecem en
feitadas, cada qual com flores mais garridas.
Não pretendas figurar entre as moças que tão
sàmente querem divertir-se na mocidade, contan
do com a seriedade para os dias de amanhã. Com
flertes, danças e frivolidades atrevem-se a frequen
tar "o curso preparatório" para a vida. Preten
dem saber amanhã o que hoj e não estudaram.
Contam com improvisações de caráter, de renún
cia, de sacrifício, quando hoj e nadam à mercê de
todas as correntes. E estão certas de que serão
esposas fiéis, castas, devotadas, vivendo por en
quanto como j ovens egoístas, levianas, sensuais...
Alicerces de areia . . . vida vazia.
Não ; respeita em ti o que serás amanhã. Res
peita o amor, o casamento, a maternidade, a vida
religiosa, o estado livre. Curva-te respeitosa diante
da vida, tal como Deus a fez com as suas gran
dezas, suas funções, seus mistérios.
A entrada do coração de toda j ovem seriamen
te cristã há de estar um querubim com flamej an
te espada para afugentar o mal que entra por meio
de voluntária e pequenas cobardias, vilanias,
impurezas, pensamentos de orgulho e de egoís
mo. Os pais costumam ter filhos que se parecem
com seus próprios e mais secretos pensamentos
- afirmou célebre moralista. Amanhã terás de
formar consciências e corações, almas e caracte-
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res, leitora. Misteriosamente os seres nascidos de
ti retirarão o que tens de melhor ou de pior.
A j ovem que hoje luta contra seus defeitos, que
escalar a senda do ideal, está acumulando energias
para as vontades que dependerem da sua no futuro.
Ninguém quer a morte do riso, do contenta
mento, ida alegria na vida da moça. Mas que ao
lado disso haja um programa baseado no prin
cípio : A mocidade não foi criada para o prazer,
mas para o . . h eroísmo.
A moça muitas vezes atira-se loucamente às
diversões, porque não lhe "confiam" alguma coi
sa grande, cheia de responsabilidades. Por isso,
toma tua vida - urna repleta de responsabilida
des - e carrega-a com alma ·coraj osa, confiante,
resoluta. Assim procedendo, não constróis alicer
ces sobre areia . . .
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No amor virginal existe, sem dúvida, uma j óia
de raríssimo valor; mas no amor penitente há
um perfume que inebria o céu. E de tal modo,
que um penitente d á-lhe tanta alegria, como 99
j ustos que perseveram no bem.
E', sem dúvida, bela e encantadora a inocên
cia ilibada. Mas a inocência recuperada com ge
nerosidade e guardada sem vacilação traz em si
um que de mais .delicado, de mais forte, de mais
comovente. Pedro negou ao Mestre, três vezes.
Depois, por três vezes, repetiu que o amava. E
mereceu a confiança do Mestre, dele recebendo
as chaves do reino de Deus na terra.
Cristã, sê generosa depois da queda ; sê mais
delicada, mais amorosa, mais zelosa para com
Deus - e "ele terá confiança em ti".
XI
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cer ao fundo d a alma e lhe verificar a -beleza ou
deformidade, num exame sério ?
Por ambição, por necessidade, por amor a "al
guma criat u ra , suportas mil fadigas, aborreci
"
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- Mas por que procede a sra. deste modo ?
Está correndo perigo sua alma, diz-lhe o sacerdote.
- Pode ficar tranquilo, reverendo ; não me
fazem o menor mal tais leituras. Leio só para me
distrair.
E disso está absolutamente certa ?
- Perfeitamente certa.
- Assim sendo, continue a ler, minha sra.
Apenas, de vez em quando, antes de tais leituras,
ponha-se de j oelhos e diga : Meu Senhor, vou ler
este romance para vos agradar; sei que nele en
contrarei doutrinas errôneas, maus exemplos e
conselhos perversos. Mas pouco importa. Vou lê-lo
para cumprir minhas promessas de batismo, para
aumentar a vossa glória e garantir a salvação de
minha alma.
- Ora, reverendo, o sr. compreende : eu não
posso fazer uma oração como essa.
- E por que não ? Pois se a leitura é boa, a
sra. pode e deve rezar assim.
- Mas . ?
- Então, minha sra., a tal leitura não é tão
inofensiva como me diz ; diga logo com franque
za : em tempos idos, quando era mais piedosa,
não teria gosto por ela, não é ?
- Sim, devo confessá-lo.
- E continuará com suas leiturinhas inocen-
tes ?! Em tempos idos a sra. tinha mais gosto pelos
trabalhos sérios, pelos exercícios de piedade, era
mais exata em tudo. Hoj e .
- Concordo com tudo o que diz, reverendo.
- Muito bem ; a sra. acaba de confessar o seu
ledo engano� acaba de condenar a sua conduta
como perigosa para a salvação. Escolha então
entre a vida e a morte . . .
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E o seu aparte, senhorita de romances e folhe
tins? Já sei : não dá, porque não passa de urna
desculpa convencional.
3. Coração luminoso
Pois quando o coração vai adiante
Como urna lâmpada, e alumia a senda,
Muitas coisas aclaram-se, que em treva
Ocultas ficam, aliás (Longfellow) .
Aqui há mais do que poesia. De fato, põe o
coração luz no que pensas, no que dizes e fazes.
Até no gesto da tua mão há transparências, quan
do bom e formado é o coração. Vai-se a austera
carranca do dever, se a luz do coração o ilumi
na. Transfigura-se o sacrifício desconhecido, se
sobre ele caem os fulgores desse pequeno coração
que tens no peito.
Por isso Deus o cobiça tanto. Por isso diz-lhe
o mundo galanterias. Eis o motivo por que às
portas do coração vêm bater criaturas. Daí o em
penho das verdadeiras cristãs em palmilhar as
sendas da vida, tendo ao lado a chama votiva
do coração. E não ouves como todos os dias a lgre
j a, tua mãe, exclama no sacrifício da eucaristia :
Para cima os corações ?
Mas, não o esqueças, pode também o coração
deitar sombras, escurecendo a razão, amedron
tando a vontade, transviando a consciência. Quan
ta palavra de bondade ficou despronunciada, por
que o coração fechou os lábios da j ovem que
ia dizê-la ! Quanto olhar de compaixão não foi dei
tado a alguma criatura, porque o coração fez bai
xar as pálpebras num frio egoísmo ! E mais de
uma moeda de carinho e meiguice foi falsificada,
porque, ao cunhá-la, o coração negou a sua liga
de ouro.
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Para tal desventura basta deixá-lo entregue
:'is paixões. Permita-se-lhe uma longa série de pe
t(Uenas cobardias, de insignificantes traições, de
"anódinas" infidelidades, -e está feito o mal.
Compreendes agora qual o motivo que leva o
Súbio a mandar vigiar as portas do coração. Es
tú nele a fonte da vida. Erram as que pretendem
clarear as águas, tornando atitudes de improvi
sada bondade, mas deixam a descoberto a fonte
que é o coração. Não caias nesse erro. Põe um
anj o ao lado do teu coração. E escuta uma ver
dade : onde reina o pecado, o coração perde sua
luminosidade . . .
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for que perdeu e procura a ovelha, e a mulher
<[UC perdeu um dinheiro, das 10 dracmas que pos
suía. Vê o homem correndo pelas matas à pro
cura da ovelha, e a mulher varrendo a casa e
olhando por debaixo dos móveis, à cata d a moe
da perdida. Fala-nos dos homens de Nínive que
fizeram penitência e se levantarão co:qtra os ou
vintes (do Mestre) , e lembra a rainha de Sabá
que virá depor contra as mulheres que o não aten
diam. Recorda o leproso nos dias de Eliseu, e
a viúva pobre nos dias de Elias, em Israel.
Vê daí, leitora, como estás no mesmo plano
moral com o homem, em face das normas dadas
por nosso Senhor. Ele quer que o homem sej a
operário no campo de seu reino, e conta contigo
como "mulher que deita o fermento para o pão".
Conta com o homem como pastor por vales e
montes atrás de ovelhas, mas faz questão de tua
lida tranquila, "da luz que acendes" p ara acha
res a moeda, a alma perdida de teu próximo,
num apostolado compatível com a tua natureza,
posição e recursos. - O grande Faulhaber, no
seu livro "Tipos de senhoras da Escritura", apre
seiita-te o que acabaste de ler.
Só resta amares muito 'o Mestre que tão de
perto olhou a vida da mulher, que nela foi bus
car imagens para suas verdades, j óias para os
modelos que propunha. Foi tão gentil que ·até
comparou tuas lides com a vida da flor mais cas
ta que conhecemos : do lírio. Pois ao lírio empres
tou afazeres femininos : "Vêde os lírios ! Não tra
balham, nem fiam . . . mas nem Salomão, na sua
glória, se vestiu j amais como um destes".
E isso fez, quando conjuntamente às aves do
cfa1 entregou o denotarem o trabalho do homem.
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"Vede as aves do céu, que não semeiam, nem
ceifam, nem recolhem em celeiros . . . " .
Logo, leitora, não faças pouco do teu trabalho,
não o desprezes porque é humilde e singelo, pou
co aplaudido. Aos olhos dele não fica esquecida
nem uma luz que acendes.
5. As três peneiras . . .
O que o poeta conta de um pequeno é aplicá
vel a muita gente grande. Pois a miséria humana
é de toda a idade. Trazemos no peito a fonte
perene de onde manam as águas salobras, de on
de brotam os erros e as paixões. Vai aqui um con
to mimoso, leitora. Depois de lido o enredo, per
gunta-te a ti mesma se não és parecida com o
pequeno Raul.
"O pequeno Raul entrou em casa a correr e,
muito excitado, disse :
- Sabes, minha mãe, lá nã escola dizem que
Antônio .
- Espera um pouco, meu filho ; antes de me
contares tudo isso, lembra-te das três peneiras.
- Mas quais peneiras, minha mãe ?
- Sim ; a primeira chama-se Verdade. Tens
certeza de que é certo o que vais dizer-me ?
- Se é certo, não sei . . .
- E a segunda chama-se Benevolência. Será
benevolente essa notícia ?
- Não, minha mãe, não é . . .
- E a terceira chama-se Necessidade. Enten-
des que é necessário dizer o que te disseram desse
teu camarada ?
- Não, minha mãe, também não é necessário.
- Pois, se não é necessário, nem benevolente,
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nem, talvez, certo, será preferível, meu filho,
calares a tua boca"
6. Quebrando estátuas . . .
No templo de tua alma, no decorrer dos anos,
mãos piedosas colocaram vária s estátuas. Algu
mas datam dos dias da infância. Outras vieram
depois. Infelizmente é tão humano quebrar as es
tátuas do santuário do coração, que ·receio te sintas
tentada a fazer o mesmo.
Uma estátua que muita moça reduz a pedaços
é a da fidelidade. Corações j uvenis, uma vez
desiludidos, põem-se a descrer desse ideal. É-lhe
a vida a pura negação da fidelidade, batizam de
ingênuas as almas que ainda lhe rendem culto.
Mas, por inegáveis que sej am a s traições huma
nas, nunca por isso se há de quebrar a bela estátua
dessa virtu de. E' raro encontrar almas fiéis, mas
a raridade não obsta à sua realidade.
Queres, leitora, responder às amargas dúvi
das do coração ? Abre as páginas da história de
todos os tempos, Acharás essas esplêndidas ter
nuras, cuj a fidelidade foi até à morte, numa assi
natura de lágrimas, de devotamentos, de imola
ções e de sangue.
Que é um santo, que é uma santa ? Um cora
ção fiel, heroicamente fiel aos homens, a D eus,
durante a vida toda. Mas os santos vivem ainda
em plêiades luminosas, mesmo agora nos tempos
·
modernos
Cuidado com as conversas d e amigas que zom
bam e descrêem da fidelidade. Tais conversas per
tencem ao rol das prosas proibidas. Cautela com
os romances e escritores que "analisam" o coração
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humano, e terminam dizendo que ele é capaz só
de traições, hipocrisias e fingimentos.
Se assim fora, por que ordenaria o Senhor que
o amássemos de todo o coração ? Estaria nesse
caso pedindo o impossível. E por que louvam os
Livros Sagrados "o amigo fiel, o coração fiel" e
bendizem quem os encontra, se tudo é tão so
mente um sonho irrealizável ? De outro lado, é
certo, seria loucura lançar-se pela vida na con
vicção de que as flores do coração não murcham,
nem lhe conhecem ocaso os raios da fidelidade ;
de que toda p alavra humana é verdadeira e es
tável todo sorriso, toda promessa.
�
7. Os romances e o coração
Não diz o título que se falará dos romances
do coração. Tão somente tem em vista a leitura
de romances e suas consequências para o cora
ção. São eles fatores de muita transformação na
vida de uma j ovem. Quem está com a palavra é
a senhorita Paula H., acadêmica e fiel obser
vadora ·de suas companheiras.
"E' fácil - diz ela - o extravio da sensibili
dade na leitura dos romances. A todas as aspira
ções vagas do coração o romance dá um nome ;
para todos os desej os dele acha uma resposta :
o amor. Quer ser resposta para tudo, solução de
tudo ; segredo de tudo é o amor na frase dos roman
ces. Pois, se não falassem do amor, seriam tão
lidos os romances clássicos e prosaicos ?
E está nisso o perigo dessas ficções. Captam
todas as forças do coração e imobilizam-nas so
bre este único sentimento. Para o coração que
procura dissipar seus sonhos, ou saciar sua fome,
só têm uma palavra, sempre a mesma : o amor.
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Repetem-nas a cada página, a cada folha. Não há
romance que não faça do amor uma terra pro
metida. Se lhe descreve os sofrimentos, fá-lo com
tais cores que até desperta o desej o de suportá
los. Prefere-se experimentá-los a desconhecer os
horiz01:1tes onde a vid a torna um tal acento de
exaltação.
Daí então as ilusões. Muitas moças fitam seus
olhos num horizonte quimérico, à espera de algu
ma revelação. Passam perto da verdade corno so
nâmbulas, porque não estavam acostumadas a
vê-la com a legítima feição".
Ora, por mais que o romance deslumbre com
suas cores e luzes, uma coisa é inegável : não há
sentimento humano capaz de encher e felicitar o
coração humano. Só Deus é maior que o coração hu
mano e por isso só Ele pode lhe dar a plenitude da
ventura. Quanto mais depressa a jovem cristã com
preender isso, ou, pelo menos, crer nessa verdade,
tanto mais próxima está da verdadeira felicidade.
Qu anto ao amor humano, que tanto os roman
ces exploram, hás <le pensar como o grande Man
zoni : Já se falou muito dele, e no mundo existe
com abundância e sobra ; urge falar de outros sen
timentos, igualmente indispensáveis à humanidade.
xn
1. Da tua altura . . .
Conchita foi uma santa j ovem espanhola, fa
lecida em 1927. Esteve em Lisieux, corno piedosa
peregrina. Rezou muito para a santinha das ro
sas e nesse mesmo dia notou que Teresinha a
atendera : começaram os sintomas de doença.
Visitou o museu da santa : casa da família, os
livros, o uniforme de colegial, os cadernos, os sa-
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patinhos, as sandálias. E escreveu : "Quanto há
para uma meditação, à vista de tudo isso ! Uma
santa que leva a vida quase igual à nossa ; que
vive numa "vila", rodeada do carinho de seu pai,
de suas irmãs ; que come, j oga, estuda, passeia e
se traj a, tendo o coração em chamas de amor !
E por isso deixava labaredas de amor divino em
tudo. Não fez a mesma coisa que nós fazemos ?
Mas com que diferença, meu Deus !"
Eis aí, leitora, uma consideração muito acer
tada. De fato, a santa fez coisas comuns, mas de
um modo extraordinário. Trata-se, pois, em tua
vida, do "extraordinário no modo" com que fazes
tuas ações de cada dia. Deus quer teus atos singe
los e modestos, mas praticados de um jeito copia
do à Teresinha, aos santos, a Cristo Senhor.
Palavras comuns, como se revestem de encan
to nos lábios de quem as pronuncia com jeito todo
seu! Não é daí que nascem tantas satisfações na
vida de todos os dias ? Com a virtude e o ideal dá
se o mesmo. Formam-se da elevação com que a
alma encara as tarefas diárias e do "extraordiná
rio" sentimento que põe em tudo. Em linguagem
cristã chamamos de boa intenção o primeiro re
quisito para ser invulgar nos deveres vulgares .
Tcresinha quis apenas ser "qual criança que deita
fl ores diante de seu pai".
Admiras, agora, que o Pai celeste haj a conce
cl ido à santinha o privilégio de nos mandar rosas
do céu ?
Da tua altura foi . . . a amada flor de Lisieux.
Por conseguinte, seus braços, seu s passos, seus
gPs l os são da altura e largura dos teus. Imita-a ;
s(� "l• x:traordinária" nas coisas corriqueiras de
c udu diu l
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"As palavras compostas são um favo de mel, a
doçura da alma, a saúde dos ossos" (Prov 16, 23) .
Assim o Sábio se manifesta nos Provérbios. Infe
lizmente, nem sempre a prosa e a tagarelice da
j uventude se assemelha ao chafariz que deita
água limpa na praça pública. Nem tão pouco é
como a prosa de suas companh eiras ·de Rama,
apressadas informantes do simpático Saul.
Eu quisera que a leitora examinasse a limpi
dez desta fonte que lhe brota do coração. Mais
adiante voltarei a ajudá-la neste ponto.
3. Um ambiente prejudicial . . .
E' comum desej ar-se a moça uma vida sem
sofrimentos, sem contrariedades, sem dores e
amarguras. Compreende-se que tudo isso se apre
sente ao coração. Mas convém lembrar à leitora
umas verdades, que também fazem parte do sím
bolo a crer e professar.
Filhos de sangue, filhos de dor, não podemos
salvar-nos entre as delícias. Ninguém poderá con
testar a certeza deste princípio. Sem o sofrimen
to o coração humano afeiçoa-se d a terra e sente
peso em elevar-se até o céu. Só o sofrimento
pode destruir o enganoso encanto que nos atrai
para a terra. E' ele um remédio violento, mas
indispensável para que os venenos da vida e, mes
mo, os seus manás mais saborosos não alterem nos
so organismo. E' a dor que impede a alma de am-
1 l icntar-s.e no mundo e sentir-se bem aqui. Quan
l o lucra a virtude n as labaredas do sofrimento !
Nós todos temos por suspeita a valentia do solda
do que não cheirou a pólvora dos combates. E tu,
l1•ilora, deves suspeitar de tuas virtudes e de tua re
l i f.(iiio, se ainda não a viste debaixo do fogo dos pe-
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sares. Quanta piedade é ilusória, porque, colocada
no meio de contratempos, deserta das igrej as,
descrê de Deus e maldiz os homens !
Um dia Pedro viu o Mestre entre nuvens de
glória e felicidade, no Tabor. E logo achou que
"seria bom ficar ali" para sempre. Mas o Espí
rito Santo faz notar "que Pedro não sabia o
que dizia". Ora, não queira a leitora pertencer
ao número dos que não sabem o que estão dizen
do. Entre eles figuraria, se quisesse estranhar o
sofrimento, como um intruso neste . . . paraíso
terrestre, neste Tabor de transfiguração. Nossa
mãe, a Igrej a, nos dá o amável nome de "dester
rados num vale de lágrimas".
O mais acertado, por isso, é não deixar que o
coração viva ferido, enquanto os espinhos vão
rasgando as mãos. Tal se faz, quando se abraça
o sofrimento em união com o de Cristo para
obedecer à vontade do Pai celeste. Outro não
foi o procedimento de Paulo apóstolo. Vem daí
aquela alegria na qual vivia submerso, apesar
das dores que dele fizeram um mártir.
4. Bonum verbum . . .
A boa palavra é a cada passo louvada, reco
mendada e abençoada por Deus nos Livros San
tos. Gestos de bênção ela provoca igualmente em
quantos a ouvem. A boa palavra é ouro precioso,
e desse ouro a leitora tem a mina, tem os veios,
tem as pepitas à disposição. E' dona de tudo.
Pode cunhar moedas e com elas enriquecer-se.
E afortunar também aos outros.
A boa palavra - afetuosa ou amável - é pa
ra almas sofredoras qual bálsamo que lhes pene
tra pelas fibras mais profundas do coração, lhes
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acalma as penas mais vivas, lhes cicatriza as mais
dolorosas chagas. Para almas robustas e vigoro
sas é qual aragem refrescante e perfumada a lhes
aumentar a alegria de viver e de agir. Para al
mas transviadas é luminosa e convidativa esteira
na demanda da verdade. E quando uma alma
frouxa, vacilante em face do dever, intimidada pe
rante dificuldades, se encontra com o "verbum bo
num", que acontece ? Ei-la resoluta, firme e dis
posta, como que despertada por um choque elétrico.
Compreende-se por que o Sábio censura quem
esconde essa riqueza, fecha esse ouro numa arca
de silêncio mal colocado. Fique a senhorita con
vencida_ de que mais numerosos são os pobres
que procuram uma boa palavra, do que os men
digos que buscam uma moeda à porta das casas.
Acontece, porém, que tais pobres são quase sem
pre "pobres envergonhados". Não gostam que se
lhes note a indigência ; não a confessam. Pelo con
trário, procuram disfarçá-la. Ostentam um luxo
de sentimentos, de coragem e resolução, de ideais
e de energia em persegui-los. Nada de ilusão,
leitora. Atrás de tudo isso pode haver muita ne
cessidade acanhada. Por isso, poupando os justos
melindres de cada um, faze tua esmola do bo
num verbum, deixa em toda parte o ouro dessa
mina inesgotável. Cuida s empre em melhorar o
teu coração, pois assim o ouro da palavra será
puríssimo, de valioso quilate. Não sabes que está
escrito "que do seu coração o j usto tira os seus
l <'souros" ?
ã. Teus encontros . . .
Todas as manhãs te encontras com a luz e a
bendizes. E' possível que nem tomes em conta essa
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aurora de cada dia, novo sorriso de Deus. Quan
do estiveres pensando em intérminas noites de do
res, saberás então o que é a luz da alvorada.
Todos os dias te encontras com os teus. Serão
os pais, os irmãos, os superiores, as amigas, que
vão encher esta lista. Grande virtude é saber tra
tá-los ao mesmo tempo com o coração na boca e
a dedicação nas mãos e o respeito em tudo.
Todos os dias te encontras com ·desconhecidos,
com indiferentes. E eles, ao passarem por ti, de
veriam levar alguma coisa para a vida. Devias ser
como a árvore em flor, a árvore umbrosa. Sempre
ela dá alguma coisa a quem lhe passa por perto :
ou p erfume, ou sombra, ou a melodia de suas fron
des. Tua modéstia, teu contentamento, um que de
virtude a desprender-se de ti, há de ser essa "al
guma coisa" que o próximo levou.
Quem sabe, todos os dias te encontras com
uma inimiga, urna desafeta, uma . rival. Não
basta seguir então as normas ele uma esmerada
educação. E' preciso mais. E' indispensável ter
no encontro fidalguia de cristã, a té nos sentimen
tos mais escondidos no recôndito do coração. In
tuições de alma eucarística ; eis, numa palavra, o
que terás no encontro com o próximo, que tam
bém é outro Cristo.
Um dia te encontrarás com a esperança, "que
tem olhos azuis de criança'', com a felicidade,
"sombra toda em ouro acesa" E nesse dia não te
esqueças de Deus, nem dos deserdados <la ven
tura. Tão pouco olvides a fragilidade do teu sol
e de seus raios.
Um encontro, porém, é indispensável e também
de suma importância : o da solidão. Pois na so-
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lidão pode a alma encontrar-se consigo e rever
se de perto, diz o poeta ; pode, como num j ardim,
passear sua longa tristeza. Só a solidão nos permi
te reconhecer e aperfeiçoar o nosso Eu,
arrancá-lo à torrente onde se dissipava
e restituir-lhe os traços que perdeu . . .
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11 dol i rn , o conj u n to do vestido, hão de louvar-lhe
w1 1 1 n · s <le graça ou de bondade que vai dando de si.
Esse fraco é explorado e nunca desaparecem
o s ex ploradores, porque sempre há de sobra " ter-
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alegria. Já é ex1g1r atitudes de santos prendados.
Mas, analisando essa tristeza, a j ovem conclua
sempre : ela não é minha . . . , é que de certo
minha alma estava distraída
e como as janelas abertas sobre a
noite recebem o vento frio
XIII
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de Cristo, mas do Crucificado também. "O Mes
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dai-me as consolações do vosso Espírito : nisso
está o verdadeiro sentido do cristianismo
2. O segredo da mocidade
Dizem as más línguas que as senhoritas não
envelhecem. Se a mãe da minha leitora estiver
viva, não duvido em concordar com a sentença
que prolonga a mocidade às moças. Pois enquanto
nos vive a mãe somos moços; só envelhecemos,
após a sua morte - escreve Pie.
De fato, a mãezinha viva é uma voz evocativa
da infância. Desde os nomes com que nos chama,
até aos olhares com que aprova ou desaprova
alguma coisa ; desde os cuidados de que nos cer
ca, até às perguntas que nos faz, às coisas que
nos conta, às lembranças que nos desperta -
tudo isso disfarça a idade. Compreende-se que a
moça sinta estar perto de si o berço, a infância.
De outro lado é fato também que a ausência da
mãe nos envelhece depressa. Sentimos mais de
pressa o peso dos trabalhos. Já não têm as mesmas
harmonias, os encantos que o mundo oferece.
Agora uma p ergunta : a alma da moça católi
ca sente que tem uma mãe na lgrej a ? Por outra :
é a leitora uma boa filha da lgrej a ? Amor, res
peito e obediência e devotamento definem a bon
dade de uma filha. Se a j ovem que lê estas linhas
nem obedece, nem ama, nem respeita as ordens
e normas da Igrej a, então não lhe dá carinhos de
filha. Se nem conhece os cinco preceitos dessa
mãe, provando está a ausência da afeição filial.
E tudo com enorme prej uízo para a sua vida. Pois
a mocidade da alma somente esta mãe a sabe con
servar. Seus filhos obedientes e carinhosos des
conhecem crepúsculos p ara a alma.
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Viver com a Igrej a e com ela sentir - eis um
belo programa para o idealismo de tuas prima
veras, leitora. Antes de tudo tens de te ufanar
dessa filiação. Mais do que nunca, o deves hoj e
em dia. Em tempos idos não havia tantas apósta
tas da fé, tantas fujonas da casa materna, como
agora infelizmente se vêern. Ser uma católica às
direitas, e, por conseguinte, zelosa apóstola, há
de ser tua primeira preocupação. E depois disso
j á se poderá dizer que a senhorita não envelhe
ce, mas fica sempre "cada vez mais moça"
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do espírito sobre o corpo. Esta lei presidirá tunto
às funções elevadas da alma como ils minúcias
dos vestidos. Até nas dobras do vestido devemos
glorificar e enaltecer a D eus. E' isso trazê-lo glo
rificado em nosso corpo, na frase do apóstolo.
O Mestre de todos naturalmente devia deixar
te também uma palavra neste assunto. Deixou-a,
de fato. Fez uma escala de valores e quer que
te governes por ela. Queres ouvi-la ? Ei-la aqui :
Porventura não é mais a alma do que a comida,
e o corpo mais que o vestido? (Mt 6, 25) . Alma,
alimento, corpo e no fim o vestido : nisso está a
j erarquia dos valores cristãos.
Ora, em nossa vida tudo é solidário e conexo.
O predomínio de um elemento é prejuízo para
os outros.
Está o teu vestido em pri�Tfjo lugar? Então
fizeste de eixo de tua vida, . •·'>iu ilo que a traça
come" Como de dentro da álma a intensa vida
do espírito transborda para fora, da mesma for
ma tua frivolidade leva seus estragos para o fun
do da tua alma. Ela então só terá um cuidado :
brilhar.
Nesta altura, leitora, passas a figurar entre
uma classe de gente severamente censurada pelo
Mestre. "Tudo fazem (os fariseus) p ara serem
vistos. Por isso usam filactérias mais largas e
franj as mais compridas" (Mt 23, 5) . - Como
era observador nosso amável Senhor e Mestre ! E
como saberá ele te observar com tuas mangas e
franjas e plissês e transparências e larguras e
aperturas !
Continuando na inversão da escala que Cristo
te deu - alma, alimento, corpo e vestido - se
rás uma frívola. E oxalá não sej as merecedora
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1 1 1 1 1 ·1 1 1 1 1 p 1 1 1·1 1 1;i10 do l\l(•sl 1·(� : por fo ra sois vós (fa-
1fo1• 1 1s ) :w p u lcms cn i ndos e por dentro estais
d 11•ios dl' ll li( l lll't'osi c ladc . . .
·1 . l�ndcrcço ermdo . .
'l'udo Isto h á de passar . . .
IH· nnco uonho de amor, passará como pass a,
polns ondus em fúria, uma garça de neve. . . (A. A.) .
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um tanto admirado. De que greves ? Das tuas
greves, leitora. Vou provar que és bem grevista,
em se dando oportunidade. Se errar, dar-me-ei
por feliz em registar o erro.
Já não fizeste a greve . (J.o silêncio ? Fcchou
se tua boca e ninguém em casa ouviu as palavras
que, de teu coração, deviam sair quentinhas co
mo de ninhos de beij a-flores. Antes tua voz en
chia a casa, era um som de sino pondo festa lá
dentro. Muitas vezes cantavas até. Diluías e re
partias em sons o contentamento de tua alma.
Mas lá um dia a mãezinha censurou-te, o pai
negou-te um pedido, alguém te contradisse com
teimosia . . . e a cigarra cantora calou-se. Nem
canta nem fala. Incomoda com seu silêncio, mor
tifica a irmãzinha que mora no mesmo quarto,
aborrece os que se sentam à mesma mesa. Eis
a senhorita emburrada. Ou não responde, ou re
truca com monossílabos que ferem como ponta
das de alfinetes. A greve dura dias. As vezes é
caprichosa, e só "para o uso de casa", porque
com estranhos a senhorit a é cascata de prosa e
tagarelice.
Já não fizeste a greve de . .fom e ? Disseram
.
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da a não ser nos castelos que tu mesma levantas
e mobilias. Por causa disso estás distraída, tran
cada em casa, esquiva a tudo e a todos, com
olheiras de criatura culpada.
Mas com que direito fazes tantas greves? E
que pouca elegância há nesse rosto de preço fixo,
onde se lê quanto custou uma desilusão , uma
censura !
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Tua alegria não conheça minguantes. Sej a as
sim uma . "alegria de asas abertas, borboleta
que sem esforço no ar se libra" Ter um sorriso
assim . que "cintila no olhar, cintila nos den
tes e vai iluminando, em pouco, o rosto inteiro,
como a alma doura o céu das manhãs transparen
tes". No seu enlevo, o pai via sorrisos até nos de
dos da filha : "sorris com todo o rosto, e com os
dedos também . . . " .
XIV
1. Experiências inegáveis . . .
Cada um de nós recebe golpes na vida que dei
xam cicatrizes. Nem a pele fina de teus 18 anos
ficará isenta .de uns tantos arranhões da vida.
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Eles formarão tua exper1encia. E essa irá aumen
tando com os anos, formando, por assim dizer, as
rugas da alma.
-Por exemplo, um dia creste numa amizade
desinteressada, num amor sincero e límpido como
a luz das manhãs de nossos dias. Depois . . . , fe
chada em teu quarto, desfeita em pranto, confes
saste que houve engano da tua parte. Iludiram-te,
brincaram com a candura de tua fé. Outra vez
confiaste numa amiga de anos e em suas mãos en
tregaste uma j óia oculta, segredo de sete chaves
lá no teu coração. E ela traiu-te o segredo e com
isso afugentou a felicidade que rondava por perto.
Agora, então, que farás ? Maior do que o pri
meiro seria o segundo erro : o de _ descrer da fi
delidade na vida humana. Não. A lição deve ape
nas pôr a teu lado, na j ornada da mocidade, um
espírito prevenido. O símbolo d a vida não é o
da j ustiça que tem os olhos vendados. A vida
precisa ter os olhos bem abertos diante dos pe
rigos nascidos ou da maldade ou fragilidade hu
manas. Já não te disse o Mestre no Evangelho
que "é preciso ter a simplicidade das pombinhas
e a prudência da serpente" ? Erro foi de tua par
te, leitora, pretender voar pela vida batendo asas
de branca e ingênua pombinha.
Muitíssimo auxilia neste ponto o exame do
próprio coração. Enumera uma vez as grandes e
pequenas traições, as falsas ou imprudentes j uras
que ele inspirou na tua vida, e compreenderás
melhor os arabescos de corações alheios. Recorda
u ma vez a espantosa habilidade de teu coração
em interpretar subtilmente compromissos assumi
dos, ou dourar com desculpas atitudes dúbias ou
reprováveis no teu agir com relação ao p róximo.
o• 131
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Não estranhes que outros descrevam com seus
corações as mesmas órbitas, tão conhecidas do
teu. - Sobretudo nada de inj ustiças para com
esse coração. Muita, muita coisa pode-se pedir a
esse pobre coração humano. Pois j á escreveu, na
sua história, com a mesma tinta, páginas magní
ficas e páginas vergonhosas. Podes lhe pedir muita
coisa, mas não lhe deves pedir tudo.
Avalia agora que tesouro nós temos no Cora
ção fidelíssimo do mais amável e poderoso amigo
e Mestre, Cristo Senhor !
Além disso, a desilusão é, de certo modo, las
tro p·ara o coração. Ai dele se for como palha no
oceano da vida !
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falecimentos que não se explicam, mas que tam
bém não se negam. Vive de alerta contra 'ªs sur
presas, as conspirações das circunstâncias do am
biente. Não sabes que anda alguém como leão,
procurando devorar-te ? Não ouviste falar de um
es p írito que, expulso de uma casa, procura sete
companheiros piores do que ele e volta à antiga
morada ? E depois, tua alma tem mudanças brus
cas na sua atmosfera interior. A pobrezinha co
nhece o frio repentino, o calor enervante, a tor
menta desorientadora, as geadas assassinas de
muita florada e colheita.
Não disse o Mestre que devíamos vigiar, "por
que o espírito é pronto, mas a carne é fraca" ?
Pi r todos os poros da pele podem entrar as incons
tâncias e cobardias diante do dever e da virtude.
Vigia, pois, as pequenas infidelidades ; repete
diante das tentações veniais a p alavra de uma
alma nobre : Elas são mortais p ara o meu coração.
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Ni'ío vús aonde não quererias que Deus te
encontrasse ;
Nunca empregues o tempo de maneira que
receies ouvir Deus te perguntar : Que
fazes ?
Assim, com tal programa, viverás ao l ado de
Deus ; ou, melhor ainda : dentro de seu coração.
E que belo ponto para exame de consciência não
te oferece o acima exposto !
4. Coração porta-alfinetes
H á nos toucadores umas pequenas almofadas
chamadas porta-alfinetes. Guardam-nos sem sen
ti-los sequer. E pelas casas, dentro do peito de
muitas j ovens, há corações que guardam muito
amor, recebem muito carinho, sem senti-lo tam
bém. Tanto não os sentem que os desconhecem, não
os agradecem, não os retribuem. Coração porta
alfinetes ! Muita mãezinha poderia me contar a
história de algum deles. Muitos irmãos, muitas ir
mãs ou amigas, poderiam encher horas dizendo :
Era uma vez um coração de irmã, d e amiga . . .
E, quem sabe, até o Deus de amor está lembra
do de corações :que dele receberam tudo, exigiram
tudo, provaram tudo, mas continuam sem lhe sen
tir a bondade, como as almofadas os alfinetes.
Num ponto convém que tenhas um coração
porta-alfinetes. E' no sofrimento. Já escreveu al
guém que toda mulher tem de viver crivada de
sofrimentos pequenos e grandes, como uma al
mofada carrega alfinetes. Mas levará tudo sem
dizer nada, sem reclamar, quieta como o porta
nlfinetes de teu toucador.
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5. Nada simpático
Inegàvelmente, à primeira vista não é nada
simpático o d ever. Apresenta-se com are s de pou
cos amigos. Não traz "o ,melhor dos seus sorrisos"
nos lábios com que dita uma obrigação. Vários
motivos lhe dão essa fisionomia.
E' obrigatório . . e por isso não pede, nem
.
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Mas assim mesmo, leitora, o dever é sagrai/o
por ser a expressão d a vontade de Deus. E' aben
çoado porque melhora e dignifica o homem que
o cumpre. O que faz a água fria com o ferro em
brasa, faz o dever com a vontade do homem fiel :
tempera-a, enrij a-a, dá-lhe resistência.
O dever é como uma fornalha. Devora por isso
a ferrugem d a vontade que se entrega às suas cha
mas, tornando-a incandescente na presença do
ideal.
Pobre moça que foge dos seus deveres, que os
sonega, que os ilude, que os regateia e deles se
esquece ! Pois a vida não tem bens suficientes para
indenizar do esquecimento de um só dever . . .
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à quilha de tua vontade, j ovem cristã. Procura
trazer, de todos os quadrantes, brisas impulsoras
para a tua nau. Volta e meia se te depara uma
p alavra que vem de D eus. Mas desta vale a fra
se : não pode voltar sem frutos à presença do
Senhor. Diante dela hás ·de ser, necessàriamente,
ou pedra que lhe veda a germinação, ou estrada
que a entrega às aves ·do céu, ou espinheiro que
a sufoca, ou terra boa que produz na razão de
cem por um.
Pouco adiantarás n a vida com a contemplação
de "aquarelas e paisagens para o espírito". Que
lucra o marinheiro que sonha com brisas favorá
veis quando murchas e fechadas lhe estão as ve
l as da nau, adormecida no porto ?
Devaneios e veleida des matam o homem e j á
mataram o preguiçoso - n o dizer d a Escritura.
Resolver e agir, avançar e empurrar a meta, à
proporção que se avança - eis a reta para tua
grandeza, leitora.
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apariçao da pessoa por quem é amada e a quem
ama por sua vez. Culpada de tanta mentira é a
fantasia. Deram-lhe por isso entendidos o nome
de "louca de casa" Com essa louca muita moça
tem amizade. E' frequente entre a s jovens a ex
clamação : Mas eu tenho uma .imaginação !
A propósito lembro os perigos que tal fantasia
de rédeas soltas pode acarretar. Conta-se de uma
louca que, pela manhã, descia ·ao rio e nele la
vava algumas tantas peças de roupa. Deixava-as
numa alvura de causar invej a. Depois, ao voltar,
atirava-as ao ·chão, sapateava sobre elas, j ogava-as
na lama e ·atirava-as pelo campo afora. Olha,
senhorita, essa louca é a tua fantasia. De repente
te apronta uma das suas. Se não a vigias, ela anda
devaneando por toda parte e isso chama-se perder
o tempo. Mais. Nos seus devaneios caminha à
beira do pecado. Do campo romântico, cai para
o sentimental e deste passa com facilidade para
um terreno malsão.
Durante meses a cristã trouxe sem mancha a
túnica da graça. Agora põe-se a fazer como a
louca das roupas : atira ao chão a candura da al
ma, os pensamentos brancos, a graça santifican
te. E tudo porque não vigiou a louca imaginação.
Entendes a presente linguagem, que nada mais é
senão um outro modo de discorrer sobre os tais
pensamentos maus. - Vejo os homens como ár
vores ! E a moça de fantasia deixa-se levar num
arrebatamento de paixão e aumenta as pequenas
boas qualidades da pessoa querida ; ou, então,
na exagerada antipatia, faz da criatura com pe
quenas falhas uma "árvore", cuj as folhas repre
sentam os numerosos e variados erros e defeitos
da antipática.
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8. Abelha ou mosca?
E' bem diferente a atividade de uma e de ou
tra. Uma vive entre p étalas, entre perfumes, à
busca de uma doçura que lhe forme o favo sa
boroso. A outra é impertinente no seu voej ar,
sabe apenas pousar sobre chagas e feridas. Causa
noj o, é temida, é perseguida, é de fato uma fonte
de contágio em muitos casos.
A moça cristã torna-se abelha quando é cari
dosa nas suas conversas. E' mosca, se de pref e
rência pousar sobre as chagas de erros e faltas na
vida do próximo. Fica-lhe tão bem ser abelha,
procurar o que há de doce e agradável nos atos
do próximo, o que há de belo e nobre no seu
procedimento 1 Entretanto, não é enxame de abe
lhas que se reúne, mas bando de moscas que se
aj unta sobre feridas, essa roda de moças que es
tão conversando e rindo e fazendo suas críticas
sobre o próximo.
Falam mal dos seus superiores, das suas mes
tras, das suas amigas, das suas rivais, das desco
nhecidas e conhecidas. Nem a religião, nem Deus
e os seus santos lhes escapam . . . Essa maledicên
cia nasce ou da invej a e perversidade, ou da vai
dade e leviandade, ou da conivência pusilânime.
Em falando do próximo, leitora, presume an
tes de tudo o bem. Presumi-lo não é ainda crer ce
gamente nele, sem razão ; pois a bondade não ex
clui a prudência que proíbe a confiança indis
creta. Significa apenas aceitar a honestidade e
bondade do próximo, até ·que venham as provas
em contrário. Depois desculpa-o nos erros e nas
faltas. Pois a cristã condenará sempre o erro,
mas terá pena de quem erra. Todas as circuns-
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tâncias que podem inocentá-lo ou a tenuar lhe -
XV
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lhe é o coração um mar profundíssimo, mas sim,
em geral, um lago sereno e transparente. Muito
a ajuda neste ponto a prática integral da reli
gião, as luzes vivas d a piedade. Assim fugirá de
toda hipocrisia que desvia as vistas dos que a pro
curam compreender e surpreender com amor e
bondade.
De outro lado, é inegável, quem procura com
preender o seu eleito é fàcilmente compreendida
por ele. Há uma permuta de impressões, de des
vendamentos. Parece haver até uma mútua re
flexão de almas.
Diz a Escritura que mesmo das pedras pode o
S enhor tirar seus eleitos e pregadores d e suas gló
rias. Ora, será então um erro forj ar uns quan
tos ideais numa costelinha de A,dão ? Andará mal
o moço que tiver uma lista das qualidades que
necessàriamente há de exigir de sua noiva ? E
por que p o derá essa mesma costelinha exigir uns
quantos ideais do rapaz ? Nesse mútuo exigir há
não poucas vezes um amável plano da Providên
cia, desejosa de levar os homens à p erfeição pe
las veredas do coração. Por isso, vivam as exi
gências e b em-aventurados os exigentes!
2. Sétima sensível . . . .
Não sei se a leitora estuda música e j á se en
controu com a sétima sensível. Basta-lhe, em todo
caso, saber que se trata de uma dissonância, ansio
sa de ser resolvida numa consonância agradável.
Ora, alguém comparou a moça, antes <lo casa
men.to, a uma sétima sensível. Afirmou que, en
quanto solteira, sente a jovem a ânsia de algu
ma felicidade, de algo a lhe resolver a dolorosa
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dissonância. Teria ele acertado, se tal houvesse
afirmado com referência à escolha de qualquer
estado de vida. Pois a j ovem que não se casa, e
vai servir a nosso Senhor no convento, não é dis
sonância. Tão bela consonância é, que os peque
nos, os pobres, os velhos, os necessitados de uma
harmonia na vida, se sentem agasalhados e con
fortados perto dela. Aquela que permanece vir
gem, sem família própria, tem muitas vezes a
beleza de uma canção. Vive isolada, mas como
árvore frondosa, acolhedora e com os frutos que
lhe são peculiares.
Quantas vezes, após um casamento feliz, a
moça continua uma dissonância ! Continua irri
tante sétima sensível, incapaz de descer para a
agradável consonância que lhe está tão próxima?
E por quê ? Porque a primeira missão da mulher é
o devotamento. Só ele lhe resolve as desarmo
nias da alma. Com este devotamento conta o Cria
dor, contam as criaturas, conta a própria felici
dade da j ovem. E' a mulher uma chama que se
apaga quando não tem o que iluminar e aquecer.
A cristã sabe que a Deus compete lhe indiear
o cantinho no qual tem de luzir como estrela pro
videncial e meiga. Nesse cantinho há de dar lar
gas ao seu coração, numa dedicação constante,
sobrenatural, paciente, imoladora. Isto fazendo,
j á resolveu a sétima sensível na sua existência. Já
é uma linda consonância. Ao ouvi-la, os homens
caminham mais confortados pelas sendas deste exí
lio . . . Longe de ti, leitora, a idéia de prenderes a
tua felicidade tão somente ao casamento. Ela está,
antes de tudo, dentro de ti e nas esferas de teu
devotamento a Deus, ao próximo, à tua alma . . .
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3. Essa inconstância !
Ontem dizias e cantavas, em todas as tonalida
des, que a vida era uma festa constante e perene.
Hoj e exclamas que é uma farsa sinistra. Ontem
tinhas cores vivas p ara lhe colorir todos os por
menores. Hoj e nem sabes como denegri-la sufi
cientemente. Mas ontem como hoj e exageravas.
Ontem falavas como uma tonta e hoj e monoÍo
gas como uma desesperada. Vendo-se a tonta,
tem-se pena da desesperada e vice-versa.
De onde te vem tal inconstância ? Da falta de
uma convicção serena sobre a vida e sua finali
dade. Há um livro que define muito bem a vida,
muito bem lhe traça os horizontes e limites, as
perspectivas e normas, as finalidades e os deve
res. E' o Evangelho. Ali vês tua vida comparada a
um campo . Há nele um tesouro oculto. Cumpre
guardá-lo p ara g arantir o tesouro. Mais adiante
ele te diz que a vida é uma seara, que deve ser
vigiada p ara que não lhe semeiem de p ermeio
a cizânia e o j oio. Verás, depois, como a compa
ram a uma árvore que ocupa lugar, sem dar fru
tos por algum tempo. E ainda o Mestre te falará
de uns talentos confiados à vida, em cuj o fim ele
exigirá outros tantos talentos equivalentes aos que
entregou. Por fim lerás que essa vida se iguala
à prontidão do servo que fica vigiando, até que
chegue inesperadamente o amo.
A isso aj unta a palavra de teu catecismo -
coitado, j á vive esquecido ! - no qual leste um dia,
com alma crente : Estamos neste mundo p ara co
nhecer, servir e amar a Deus, p ara depois ser
feliz com ele na glória . . . Até hoj e não apareceu
filosofia que nos desse definição m ais bela, mais
cabal, mais abençoada, do que a do catecismo.
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A vida não tem, portanto, a missão de realizar
teus sonhos de mariposa deslumbrada com a luz,
ou chorosa pelas asas que perdeu. É-lhe missão
conduzir-te para mais perto de Deus . . . Diante
dela os ingratos não se lembram de agradecê-la,
os gozadores a maldizem ou profanam, e só os
santos sabem bendizê-la. Não a insultam por cau
sa dos sofrimentos que traz ou pelas alegrias
que lhes rouba e recusa. Com tal base é impos
sível a inconstância de ventarola.
4. Fruto proibido . . .
Prová-lo é sentir-lhe depois o travo. Várias
podem ser as formas e aparêndas desse fruto,
mas o sabor final é sempre o mesmo. Já o disse
ram aquelas que sempre colheram esses frutos,
aquelas que j amais deixaram a sombra de árvo
res de tais pomos.
Mas a alegria que me oferece um fruto proi
bido ? ! Essa alegria é bilhete branco. Não traz a
sorte grande da alegria verdadeira e completa e
saudosa. Pois não p assa de uma ilusão tentadora
mente vestida, fingidamente acariciadora.
E' uma alegria breve. - Tem ares de um
compasso "allegro", escoa como as notas de uma
valsa apressada. Deixa ao invés sulcos de remor
sos, de vergonha, de desânimo, e mesmo se atre
ve a abalar os alicerces da crença.
E' uma alegria falsa. - Foi abatida, foi aba
fada a voz da consciência p ara se possuí-la. Mas
alegria é harmonia de sen timentos, de vozes in
ternas. Como tê-la, se a consciência está berran
do, está protestando ?
E' uma alegria vã. - Queres uma p rova ? Ei
la no afã com que a pecadora procura outra <listra-
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ção, outro narcótico. Pois percebeu que foi lo
grada. Deu muito mais e muito pouco recebe u
de volta.
E' uma alegria louca. - Tod a culpa merece
castigo, no grau de sua grandeza. Este virá -cedo
ou tarde, neste ou no outro mundo. O que motiva
o erro neste ponto é a distância do tempo de aj us
te das contas. Para nós, cristãos, essa distância
não existe, visto os termos claros e ameaçadores
do nosso Mestre : Eu virei à hora em que menos
esperais. E depois d a morte vem o j ulgamento e
depois dele a pena a ser paga pela loucura de
alegrias estouvadas.
Por isso, leitora, escolhe tuas alegrias e exa
mina-as ao clarão da lâmpada do santuário, à
sombra das asas de teu anj o da guarda. Já são
tão poucas as alegrias nesta vida, e queres ain
da ser iludida e errar ao es-colhê-las?
Do berço à tumba - há u m caminho
Que todos têm de transpor:
- De passo a passo - um espinho,
De légua em légua - uma flor!
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malícia, a bobagem, a inveja, o despeito de quem
nos cerca. Nesse caso não impedem que sej am
retas nossas intenções e reais nossas qualidades.
O louvor com ·que nos incensam pode nascer
de uma culpável complacência, de um secreto de
sej o de receber louvores em retribuição, ou mes
mo, às vezes, provém de uma perniciosa cumpli
cidade no mal. Tal louvor nada significa. E' an
tes uma amostra da bondade do próximo, do que
j ustiça aos nossos méritos.
Assim, leitora, não percas o equilíbrio de tua
alma, nem a linha de tua conduta diante do que
os outros dizem. Pergunta-te às vezes : Que dirá
de mim o Deus dos céus ? (Segundo Bellouard) .
6. Felicidade, onde moras?
Felicidade? Hei de atingi-la ! Salto muralha
por muralha, ergo-me, voo, agito todas as asas
da alma, atrás desse enganoso mito . . . (H. Fontes)
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Depois . . . Lá em baixo, os homens represam
lhe as águas e obrigam-no a cantar baixip.ho a
toada dos humildes, a entrar silencioso em casa
pelos canos em que o conduzem.
Há vidas que são assim : correntezas, corredei
ras encachoeiradas, estonteantes. Há moça cuj a
existência é um rUinor contínuo, llill esbravejar
sem tréguas, um arrebatamento habitual. Quem
entrega sua vida às paixões vem dar nisso. De
pois inculpa o gênio, os nervos, o caráter, o am
biente, os outros, as outras . Para que tal não
aconteça, leitora, grava na memória o seguinte :
Sob o regime das paixões tem se uma vida
-
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quando Deus nos governa e as paixões lhe ouvem
a voz, seguem-lhe as normas e respeitam-lhe a s
proibições . . . Se deixares tuas paixões, bravias
como uma corredeira, alguém um dia ira apro
veitar-se delas, escravizando-te, cristã e leitora.
XVI
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servi-lo, possui nela uma cristã que se cansa de
pressa" (Bellouard) .
Dize-me, leitora ; não está cansada . por ho
. .
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possível que ·determinada felicidade, a surgir em
dia tal e tal, se perca no horizonte para nunca
mais voltar. Quanta moça, com todos os ·defeitos
que tem, é ainda um raio de sol dentro de casa !
Nele se aquecem os velhos pais, ou brincam as
singelas esperanças da irmãzinha.
Que é melhor : enxugar uma lágrima, mesmo
com as mãos a sangrar, ou ter o repouso da des
caridade ?
Pois aí podemos medir da nobreza do desej o
daquela também que só suspira por se ver livre
de sacrifícios, embora queira viver num vale de
lágrimas. Longe com tais desej os. Procuremos a
felicidade apesar dos cardos e abrolhos deste mun
do. Faremos assim o mais doce e expressivo elo
gio daquele a quem amamos. Por demasiado se
esquecem as boas cristãs que ao próximo devem
não somente o ensino de suas virtudes, como tam
bém o exemplo de sua felicidade, de seu contenta
mento, não obstante as chagas dolorosas, as penas
cruciantes e teimosas da vida.
Se sofres, não precisas te "fechar na alva túni
ca ondeante dos sonhos" Orna-te com a estrela
da veste de um ideal cristão, com a rubra túnica
que o Crucificado te legou na cruz.
3. Região desconhecida
Sabes qual é a região mais desconhecida ? Não
é aquela que nem os mapas geográficos assina
lam, ou mencionam apenas como terra de índios
e florestas virgens. Essa região desconhecida não
fica nos gelos dos polos. Fica pertinho de ti, den
tro de ti mesma.
Tal se dá porque, em geral, o homem não co
nhece a si mesmo. Estuda muita coisa, fica ao par
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da vida do seu próximo, mas desconhece a si mes
mo. Tão triste realidade não derruba a verdade
do princípio, que a ciência mais necessária é o
conhecimento de si próprio.
O grande Bossuet afirmava convictamente :
"A ciência mais necessária é o conhecimento de si
mesmo. Mais vale conhecer todos os defeitos que
temos, do que estar ao par dos segredos do Es
tàdo, dos enigmas da natureza" Os gênios des
cobriram segredos da natureza, enquanto os santos
descobriram os defeitos que tinham e os comba
teram galhardamente. Foram maiores por isso do
que os sábios. A prece mais bela de Agostinho,
gênio e santo, é aquela em que diz : Senhor, fazei
que eu me conheça a mim e a vós !
Quanto erras, moça, quando ficas querendo
mal a quem te ajuda nesse conhecimento, por
críticas e exatíssimas observações ! Olhos estra
nhos vêem melhor e são meno s interessados do
que os teus, tão benignos em apontar os defeitos
próprios. To da verdade que entra em tua alma é
saudada pelo anj o que se aj oelha à sua soleira.
Ele venera-a como um raio de luz saído de Deus.
Pois é uma verdade que te vai corrigir, melhorar,
aproximar de Deus. A ilusão a nosso respeito
nunca nos melhora ou nos torna mais queridos
a Deus e aos homens.
Pràpriamente, se pensasses bem, terias horror
às amigas que te cobrem os defeitos, ou lhes dão
nomes muito bonitos, e muito quererias às "anti
páticas", que rasgam a tela onde te estampas num
colorido lindo, mas irreal.
E se neste livro alguma página espelhou tua
alma e teus defeitos, não lhes faças por isso uma
careta, nem passes adiante, amuada. No dia do
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j uízo o grande ledor dos corações porá tudo às
claras. Ficarás menos surpreendida, se de ante
mão souberes os nomes das falhas que te serão
lembradas.
4. Calotes do mundo
Não é de hoj e que o mundo promete coisas
de fadas e paga com surpresas de bruxas. Linda,
inteliaente, querida pela Áustria inteira, Maria
Antonieta corria pelos corredores do palácio, al
voroçando a todo mundo : Felicitem-me : sou noi
va do rei de França, serei rainha da França !
Realmente, era noiva, e depois esposa de Luís
XVI. E depois, era a prisioneira da revolução, com
parecia à Assembléia Nacional e era guilhotinada
na praça pública, sob as pragas da multidão.
Que mundo caloteiro e cruel ! Que crepúsculo
de sangue preparou para os lindos sonhos de uma
noivinha boa e feliz !
Maria Baschkiseff era j ovem e endeusada pe
la mãe, por ser bela e artista na pintura. Ganhou
renome ; seus quadros entraram p ara o Salão de
Paris. Conquistou o segundo lugar na lista dos
prêmios. Depois veio o grande prêmio dado por
um pastel apreciadíssimo. Enquanto esperava por
ele, martirizou-se, passou as noites em febre, deli
rando com a glória. Veio o diploma e com ele o
louvor, a menção honrosa, a glória de um renome.
Mas - que dura realidade ! - não encheu o cora
ção da j ovem. Despeitada, desiludida na sua espe
rança, Maria toma do diploma e, num gesto de
criança travessa, amarra-o à cauda de um cão
zinho. Teve mais alegria em ver o animal divertir
se com o tal canudo, do que em expô-lo na sala.
E sempre o mundo é assim caloteiro, e nega-
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ceador ao mesmo tempo. Entretanto, o erro é nos
so. Dá-nos o mundo o que tem, ell}- toda a insu
ficiência que lhe é natural. Nós é que j á d evía
mos estar ensinados no assunto. Fomos feitos
para outras aventuras e sentimos o logro quando
procuramos narcóticos.
Amável recurso da Providência é essa desilu
são, esse logro. "Vieste ao mundo para deixá-lo",
observa Agostinho, o santo e o filósofo. Por isso
tenha-se n a conta de feliz quem não chega a ter
ilusões sobre as "belezas e alegrias da vida" O
canto de alegria deve ser apenas para consolo no
trabalho e não para o deleite de quem descansa.
Quando a j o vem cristã não quer "acreditar" nessa
realidade, Deus se encarrega de fazê-la "sentir"
esse martírio.
5. Ânsias e brisas
Dentro do peito trazemos, na frase do poeta,
um oceano de vagas e brisas. Justamente a alma
feminina é ninho de ânsias, de agitações. Preci
samente na mocidade encrespam essas brisas de
ânsias o sereno espelho da alma. Importa por isso
saber apanhar essas brisas, com elas enfunar as
velas do veleiro da vida e assim velej ar por
imensidões.
Muita moça entrega-se ao cismar futuros e
coordenar devotamentos. Parece que a felicidade
passou por ela e lhe disse b aixinho ao ouvido
alguma coisa. Eis agora nossa j ovem toda en
tregue a sondar rumos e consultar o coração com
seu poder divinatório.
Mas, cuidado, leitora. Nada de pôr bem longe
a meta de tuas ânsias. Olha, teus deveres estão
a teu lado. Os de hoj e precedem aos de amanhã,
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e quem larga o presente não pode ·alcançar o fu
turo. Nada de atropelos : as horas do dia suce
dem-se com suas particularidades de sossego, de
agitação, e sonho, e. repouso. Assim também
vão soando as horas de teu coração.
E' uma arte difícil, porém necessária, o saber
esperar pelos minutos que te separam de uma
felicidade, de um divertimento, de um sacrifício,
de uma alegria. Nem tudo se pode ter a cada mo
mento. O que é antecipado é como fruto que não
amadureceu sob o fogo do sol, como flor que não
se abriu no viço de cores e fragrância. Queres por
ventura pertencer ao número das que não com
preendem esse misterioso sentido da vida ? Nunca 1
Pois então resolve-te a adotar o princípio : Cada
palavra, cada livro, cada oração, cada cruz, cada
sorriso - tudo, enfim, tem sua hora de chegar, de
apresentar-se, de te dizer alguma coisa. Até o
Deus da eternidade tem "sua hora e seu dia".
Quando, por conseguinte, lá dentro do coração
houver atropelo de perguntas e respostas impõe
silêncio a tais vozes. E' a ilusão de muita moça
pensar que o ruído das palestras e festas pode
abafar o vozerio do mundo interno. Pelo contrá
rio. O mundo só traz para as praias do coração
o escachoar de seus vagafüões fugidios.
6. E assim serás fiel
Tudo se adquire, mas nada se obtém sem luta.
Ciência, virtude, caráter - são louros de pelej as.
Entra na lista das conquistas a fidelidade. Quan
tas j uras faz a mocidade 1 E' tão fácil em dar sua
palavra de honra 1 Mas também raramente se
vê pelej ando pela fidelidade nos compromissos.
Para seres fiel, leitora, observa o seguinte :
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Cultiva sempre o ideal da fidelidade . . . Nada
enobrece tanto corno um ideal luminoso. Nele crê,
porque, do contrário, não o procurarás. Nele fita
os olhos, embora ao redor de ti haj a tanta infi
delidade à p a l avra. Não significa essa fé que se
j as, entretanto, cega às inegáveis realidades e
traições que te cercam, que observas dia por dia,
às vezes até com dolorosa surpresa.
Não te entregueis aos cegos instintos ido cora
ção . . . E' certo, algumas espontaneidades fogem
ao controle da razão. Borbulham e brotam à tona
da alma, antes que a consciência possa intervir.
Ora, j á sabes que, de tudo que nasce em nós, só
pode vingar e viver aquilo que é aprovado pela
consciência. Tentarás em vão caminhar atrás des
se ceguinho de nascença, que é o coração. O po
brezinho envereda logo por trilhos proibidos e
desmancha num relance a seriedade de tua pala
vra empenhada.
Escolhe tuas ternuras . . . Há moças que que
rem colher braçadas de flores no j ardim da ami
zade. Mas a amizade vicej a com raridade de edel
weiss dos Alpes. Disse um pensador que cada sé
culo, quando muito, pode apontar três casos
de verdadeira amizade. Pode haver pessimismo
no aforismo, sim. Não obstante, é certo que não
é possível fazer de teu coração uma colmeia,
onde todas as abelhas da vizinhança possam
encontrar favos de mel.
Tem em alta conta os compromissos ,do cora
ção . . . Por isso não pronuncies sem reflexão pa
lavras "que comprometem seriamente na amizade
e solenemente no amor". Do contrário, tua fideli
dade será como o fiel da balança : pende sem-
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pre para a concha mais pesada� mais atraente
e sedutora.
7. Múmia perfumada . . .
Dentro das milenárias pirâmides repousam
as múmias dos faraós do Egito. Silenciosas, per
fumadas, recamadas de ouro e j óias, lá se que
dam tranquilas e . . . sem vida. Ao lado delas
um grãozinho de trigo vale mais.
Discordas ou duvidas ? De um grãozinho de
trigo poderá n ascer uma loura espig a ; desta virá
a cândida farinha e depois o pão, a vida. Sim.
O grãozinho é uma coisa viva ; a múmia é um
cadáver enfeitado.
O mundo, leitora, tem princípios enfeitados, e.
antigos, vistosos e . . . mortos como as múmias.
Comparados a uma palavrinha do Evangelho -
grãozinho de trigo - que valem ? Fica, portanto,
com o que lês no livro de Deus e não queiras mor
rer de fome, com as mãos cheias de j qias de múmias.
O mundo quer que a mocidade se enfeite, sej a
garrida. Inventa modas, promove exibições, canta
e celebra, em prosa e verso, em sons, em estátuas,
a beleza feminina. Mas, que adianta ser uma mú
mia festej ada e inútil? E' preferível ter a modés
tia e a pequenez do insignificante grãozinho de
trigo, mas, como ele, ter a vida em si.
Receio que alguma leitora pertença ao número
das múmias, porque traz um corpo ornado, perfu
mado, vistoso, mas arrasta-se como inutilidade
p ara Deus. Não tem a vida da graça santificante.
Perdeu-a por graves descuidos e desamorosas de
sobediências :'i lei do Pai celeste. Para os céus é
múmia sem vida. Nada lhe valem suas ações, não
há méritos eternos no que faz e no que diz.
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Vamos, leitora, trata de ser alguma coisa viva,
unida à Vida, unida à Videira ! Trata da tua vi
talidade cristã, como criatura santificada e santifi
cadora do que faz. Por p equena e insignificante
que sej as, terás a fecundidade do grãozinho de
trigo. És vida e trazes a vida contigo e a suscitas
e alimentas em outros. - Já ouviste falar no cam
po-santo ? E' nome dado ao cemitério. E nome
muito bem escolhido e fortemente expressivo. Pois
para ele irá teu corpo de cristã, mas como grão de
trigo entra n a covinha que lhe destinaram, para
ser o berço de uma colheita. Há de ser calcado
aos pés, desfaz-se na terra, mas ressuscita gracioso
e abençoado. Assim teu corpo não pode baixar à
sepultura como a múmia ; irá como princípio de
vida, destinado a ressuscitar imortal, impassível,
luminoso, glorioso. Mas agora tens de tratá-lo como
se trata o grãozinho de trigo : esconde-o, guar
dando-o na modéstia, na mortificação. Faze de
teu corpo um digno sacrúrio de nosso Senhor, a
quem recebes n a Eucaristia. Pois ele diz : O que
come a minha carne e bebe o meu sangue tem
a vida eterna e cu o ressuscitarei no último dia
(Jo 6, 55) . - Despede-te, logo e para sempre, das
múmias perfumadas, tu que és grãozinho de trigo
nas mãos de Jesus Cristo . . .
XVII
1. Dirigida . . .
Quem é uma dirigida ? E' uma criatura que
tem um diretor. Assim a definiu com ironia La
Bruyere. Não diz que essa j ovem ou senhora sej a
mais humilde, mais suj eita, menos apegada às
comodidades da vida. Tão somente se nota e se
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sabe que é dirigida porque tem um diretor. Já
isso, leitora, é um mal, porque mostra o pouco
esforço em melhorar seu caráter e seu gênio, em
vencer os defeitos. Serás também tu uma diri
gida . . . , só porque tens um diretor?
O fado sobrenatural deve prevalecer na esco
lha do diretor. Há quem o escolha porque é céle
bre, porque as amiguinhas falam dele, porque é
espirituoso, porque é chie lembrar-lhe o nome em
certas rodas. Pois não há modas para a alma?
Simplicidade e sinceridade é o outro elemento
para uma direção frutificante. Isso de aj untares
nas tuas confissões cores e contornos, palavras e
rodeios, turvam a clareza da idéia que sobre ti de
ve fazer o sacerdote. De todo o ouro de desculpas,
de circunstâncias atenuantes que aj untas, sai ape
nas num ídolo de ouro p ara tua vaidosa adoração.
Sobriedade não falte nesse assunto. Necessitas
mais de ação do que de palavras. Precisas andar
e não perderás o tempo conversando sobre o ca
minho j á velho conhecido, j á tantas vezes indi
cado. Depois . . . por que demorar tanto e falar
,tanto no confessionário ? As almas são como as
árvores. Não crescem aos saltos, aos arrancos vi
síveis, de semana em semana. E' lenta a evolu
ção, a floração, a frutificação. Quanto tempo rou
bas ao sacerdote ocupado, se dele exiges que te
ouça inutilmente !
159
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ma desculpa, que reuniu muitos homens e os levou
ao poço, a cuj a borda se assentava Cristo Senhor.
Que por doze apóstolos valha uma mulher re
soluta, afirmou criterioso autor. E ainda ajuntou
que até para pregar sobre os telhados valia a pro
porção. E por que a leitora não há de valer por
doze, trabalhando como apóstol a ? Para aliviar a
pobreza dos pequenos e dos grandes, é comum a
moça desdobrar-se em muitas atividades, repartir
entre várias associações o seu tempo, o seu di
nheiro, a sua generosidade. Mas o maior pobre é
aquele cuj a alma anda faminta, sedenta da j us
tiça, cega pelas paixões, pelo respeito humano.
Se é preceito da caridade aj udá-lo na miséria,
dando do supérfluo que se tem, quanto mais não
o será valê-lo na indigência espiritual, dando do
muito que se tem em auxílios religiosos. Senta
da à mesa do Pai de família, saboreando todas
as graças que ele, com carinho e com amor, lhe
oferecc, poderá a moça esquecer-se do lázaro,
cuj a alma mendiga uma migalha do banquete
espiritual ?
E depois, leitora, é velha tradição de glória
esse apostolado feminino. Com o apóstolo dos po
vos - São Paulo - trabalharam "auxiliares no
Evangelho". Nos primeiros dias da Igrej a figu
ram nomes de Lídia, Prisca, Tabita, Priscila. E'
um veio de ouro que vem atravessando toda a his
tória da Igrej a, o tão fecundo apostolado femi
nino. Hoj e em dia a Igrej a apela para "suas fi
lhas'', organiza-as, orienta-lhes o trabalho, mos
tra-lhes searas infindas. Faz questão de ver "as
mãos que respigam no campo do Senhor", mas
no valor de doze segadores apostólicos . . . E tu
quererás perder o teu tempo só com teus chapéus
160
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e vestidos, com tuas visitas e modas, com tuas
leituras e ocupações exclusivamente pessoais ?
3. Gênio atropelado . . .
- Lucas, vamos depressa ! asshn dizia o
pai do célebre Giordano, mal o filho começava a
enamorar-se das lindas cores da tela que plasma
va. Mal temperava as tintas e se enlevava no som
das cores, na meditação profunda de seus ideais
a serem reproduzidos numa linguagem colorida,
j á soava a voz do pai : Lucas, va.mos com isso !
- Por fim o povo lhe deu o apelido de Luca
Fapresto.
Esse pai tão apressado nós o temos perto de
nós. Tu o tens a teu lado, leitora. Mal começas a
refletir, a meditar, a consagrar uns minutos ao re
colhimento, e j á alguma coisa te atropela. Ou é a
lembrança do trabalho que vem depois, ou é a re
cordação de algum compromisso. Começas a pre
parar as tintas para colorir tua alma numa flora
ção de atos de virtude, e eis que soa a voz do mun
do, "essa cachoeira barulhenta", e te espanta os
belos pensamentos, faz das tuas cores um borrão.
Por isso toma-te o tempo para a introvisão
de tua alma. Hoj e em dia muitíssimo se aconse
lha o refletir, o meditar. A ninguém é hnpossí
vel a meditação singela, e para todos é de uma
fertilidade espantosa a reflexão calma e serena.
Não me digas que não sabes meditar. Oh ! como
és experimentada na meditação de uma palavra
que alguém pronunciou e trouxe alvoradas em
teu coração ! Como sabes tirar todo fel de um vo
cábulo, com que te mimosearam num momento
de cólera ou de despeito ! Chegas até ao grau de
4. Encanto desfeito
Muita coisa é bela e singela na criatura hu
mana, enquanto lhe passa despercebida, ou en
quanto só existe para a sua imediata vizinhança.
A consciência do que ela possui j á muitas vezes lhe
altera os modos e o procedimento. Só em Deus
a consciência das próprias perfeições nada desfaz.
De certo a leitora concordará com essa obser
vação. Pois talvez j á tenha visto 'ª realidade do
conceito das atitudes das amiguinhas. Eram tão
boas, tão niveladas com as outras, enquanto nin
guém lhes citou as prendas. Depois, cônscias de
quanto possuía111, foram perdendo aquela frescura
infantil nas expressões de suas vidas. Miséria é,
bem humana, essa fragilidade de encantos. Pare
ce fazer p arte daquela "ciência do bem e do mal'',
162
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na qua:l Eva nos instruiu por própria iniciativu
e responsabilidade.
Fulana sabe que é elegante, que é bela, que
tem ares de fada - diz-se frequentemente para ca
racterizar a vaidade ou exibição de certas senho
ritas. Não há negar, a humildade cristã pode cor
rigir esse fraco, embora reconheça e não desfaça
os dotes dados por Deus. Mas fá-lo j ustamente
combatendo a preocupação com as prendas na
turais que uma cristã possa trazer consigo.
Por aí, j ovem leitora, verás como é importante
não provocar os tolos elogios da sociedade, de ra
pazes deslumbrados. Concordarás ser prudente
não dar crédito às adulações de quem com isso
te há de tirar aquela doce ignorância sobre teus
encantos.
Feliz, sem dúvida, é a moça que explora seus
encantos, mas para semeá-los pelas vizinhanças
que a cercam, que se banha · n a luz d e seus devo
tamentos, que mede o tempo pelo sino de suas
cristalinas risadas. Com razão diria, pois, o poe
ta : "Ela por aqui andou . . . ; eu sei, andou, sim",
se passasse por qualquer recanto da casa que a
agasalha com amor. O raio de sol não precisa di
zer-nos que passou sobre as corolas das flores. De
quem teriam elas, então, o viço e o colorido e a
\
fragrância ?
Há tudo isso na vizinhança que te cerca, em
casa, na igrej a, na sociedade ?
5. Um amor desamoroso
Não há, nos termos, uma contradição. Como
existe um amor sem obras de amor, existem obras
de amor sem um amor verdadeiro. Disse-o cla
ramente o homem que em vida foi uma chama
1 6:J
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de caridade : E ainda que distribua todos os meus
bens para o sustento dos pobres, se não t iver ca
ridade, nada sou ( 1 Cor 13, 3 ).
Em muita caridade de moça anda uma boa
porção de vaidade e exibição. Caridade social,
então, é muito tentadora para certos espíritos.
Recorrer a bailes, a garden-party, aos chás para
moldura da caridade, não deixa de ser perigosís
sima cilada para a retidão de intenção indispen
sável a toda virtude.
Poucos são os benfeitores (e menos ainda as
benfeitoras) que, m ais ou menos, não dizem co
mo o demônio : Tudo isso te darei, se, prostran
do-te, me adorares. Quer-s� que o pobre bendiga o
benfeitor, que o louve e reconheça, que o con
sidere como um semideus.
E depois, não é elegante, cm certas rodas, abo
toar rosas, com dedos rosados, em quantos tran
seuntes se apresen tam ? Essa caridade elegante,
praticada d i n n t e de rep órtere s e fotógrafos ! Ir à
casa do pobre , subir-lhe as escadas pobres e em
pinadas, sentir o "perfume" du pobreza, para de
pois notar o contraste do ambiente confortável,
ao voltar para casa, p ara a "vila" luxuosa . . . ,
quem mo garante não ser tentador revezamento
para os nervos de certàs criaturas ?
Mas o pobre não se ilude. A esmola do amor
próprio, da vaidade que se exibe, é-lhe uma hu
milhação. Aceita o auxílio e odeia o doador. De
onde vem, senhorita, que os deserdados da sorte
tão comumente se revoltam contra os "capita
listas", apesar d a "caridade" que deles recebe
ram? Não ; caridade de manto não é bálsamo p ara
chagas do infortúnio. E' preciso que ela tenha
mãos e coração de genuína virtude. Deus tão
164
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pouco se ilude com aparências. Por isso deixou o
conselho apostólico : Quem dá esmola, faça-o na
simplicidade ( Rom 12, 8 ) .
6. Foi por esbanjar
Deus nos havia dado algo com que alimentar
nosso coração e nosso espírito até à velhice mais
adiantada. A provisão está bem calculada para
o caminho todo. Mas nós a gastamos nesciamen
te, acabando com ela antes do tempo.
Não deixou de ser p rofunda na sua observa
ção a autora deste conceito. De fato é assim nossa
vida. Para cada idade Deus mediu as alegrias,
pesou as amáveis surpresas. Até o tempo tão di
fícil de suj eição, dos castelos e das esperanças, dos
receios e das apreensões nos dias da mocidade,
estava repartido entre o alimento para o coração
e para o espírito.
Entretanto, quis a jovem cristã buscar a liber
dade, sorver o mel de flores de outros j ardins,
adiantando-se, atacando a reserva que Deus lhe
havia preparado para outros dias. Que lhe acon
tecerá ? O que acontece a quem tirou e gastou o
dinheiro que "estava em caixa para os tempos
vindouros". Muita moça pede "dinheiro adianta
do'', "satisfação adiantada" e depois desanima no
trabalho, no cumprimento do dever, porque tem
de aguentar o peso d as obrigações sem mais
recompensas.
Outra coisa não fez o filho pródigo, clássica
figura da parábola do Senhor. "Pai, dai-me a
a parte que me cabe na herança !" E partiu. e es
banjou sua fortuna. O melhor, leitora, é deixar
a fortuna nas mãos de Deus, esperando que te dê
<'m troco miúdo as pequenas satisfações, os amá-
165
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veis deslumbramentos para o coração e para o
espírito. Lá, quando menos esperas, a Providên
cia te fará uma surpresa de sorte grande, mas
sem tocar n o fundo de reserva que j á possuis.
E', pois, tolice e imprudênda andar invej an
do as companheiras que esbanj am a provisão p ara
a vida ; já é loucura e insensatez pretender imi
tá-las, ou revoltar-se contra quem te impede
semelhante erro.
Mandou-nos o Senhor lhe pedir o pão de cada
dia, e não o de cada semana ou de cada mês.
A massa desse pão pertencem as alegrias e con
tentamentos d e cada dia. Não digas : Preciso apro
veitar a mocidade para gozar. Olha, estás adian
tando o gasto. No plano de Deus tudo está cal
culado, até para os dias dos cabelos brancos . . .
166
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p ara baixo, a descer; a razão tem a ânsia da cha
ma : quer subir.
Porque . . em si os instintos são todos merece
.
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E porque . . . , sendo o instinto carregado de
heranças e sujeito a taras, seria cingir-se a ou
tros, continuar p reso aos que precederam e lega
ram suas paixões e seus erros aos descendentes.
Nesse caso, leitora, o homem ficaria obrigado a
repetir os mesmos gestos, a atolar-se na mesma
lama, a beber do mesmo veneno como seus
ascendentes.
Eu paro aqui com a exposição de Bellouard.
Não quero atirar os teus pensamentos brancos
na torrente de lama e lodo, cuj o berço fica na
obediência ao instinto.
Agora sabes, de sobejo, por que não deves se
gui-los. Sabes que benefício tens na razão, na cons
ciência, na fé, nas normas do Evangelho. Que
culpada serias, depois de tudo isso, se te entre
gasses aos teus instintos, em pleno viço da natu
reza, em plena floração de alma e corpo !
xvm
1. Almas contemplativas!
vão rolando
por esta vida, como os rios quietos . . .
Rolam os rios, - árvores e tetos,
céus e terras, tranquilos, espelhando . . .
Fecundam. plantações, movem engenhos,
dão de beber, sustentam. pescadores,
suportam barcos e carreiam lenhos . . .
Lá se vão, num rolar manso e tristonho,
- cumprindo o seu destino sem clamores,
e sonhando consigo um grande sonho. (A. A.)
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contemplativas pelo amor à meditação, à leitura
refletida, aos retiros de cada ano.
Corno nos risos, há também variedade entre as
ahnas contemplativas. Há diferença de caudal, <l.e
andamento, de berço e de reflexão do ambiente.
Já agora com os anos da mocidade podes ser um
límpido regato, no qual até as estrelas de Deus
vêm se espiar pela madrugada.
Não faças pouco da meditação e nem lhe se
j as avara com o tempo. Não penses em compli
cá-la. E' coisa complicada olhar a aurora e o cre
púsculo no céu ?
2. De que vínheis falando pelo caminho?
Duas vezes caiu esta pergunta dos lábios do
Divino Mestre. Uma vez motivou-a o cuidado dos
. apóstolos com os primeiros lugares no reino. Ou
tra vez foi a tristeza dos discípulos de Emaús, es
candalizados com a morte do Messias.
Mas que vexante pergunta seria esta para mui
tas j ovens que falam pelos caminhos, pelas ruas !
E' verdade, um refinado adulador escreveu que
a palestra de muitas moças é corno a conversa
"das frondes de árvores que orlam o caminho".
Ouve-se-lhe o farfalhar das folhas, o ciciar de
uma para outra. Embora não se entenda o que
conversam, é poético ouvi-las. Não ; nem sempre
é poético e romântico o que passa pelos lábios
das j ovens.
Ao contrário do que São Paulo aconselhava
aos efésios, "saem de suas bocas palavras más, pa
lavras para a destruição da fé, palavras que fazem
mal a quem as ouve" Compreendes, leitora, que
é urna desgraça andarem os lírios arrancados, j us
tamente por quem devia cultivá-los, velar sobre
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eles e deles se ufan.ar. De outro lado, que contas
dará a D eus - que pesa toda palavra simples
mente inútil ! - quem em sua palestra profere
o que nem se deve nomear entre cristãos? - A
desculpa alegada no caso é a vontade de rir e di
vertir-se. Mas o riso é como o sal do Evangelho.
Espalhado indiscretamente, esteriliza e envenena
a vida; em dose prudente, torna-se amena e sa
borosa. Por isso ria-se do que é risível, mas de
modo que Deus possa ouvir o riso, sem ansioso
indagar sobre o motivo dele.
Estou certo de que a leitora não pretende
figurar entre os iconoclastas, que p artem estátuas
das virtudes colocadas no templo ·do coração pe
los carinhos de uma mãe, e vigiada com amor pe
los anj os do céu.
3. O cavalheirismo de nosso Senhor . . .
Aquele a quem amamos como Mestre, Salva
dor, Amigo e Modelo, foi em tudo um homem per
feito e acabado. Teve as perfeições humanas, des
de a beleza dos traços até à delicadeza do cora
ção, desde a riqueza da inteligência até à elegân
cia das formas no trato. Não admira, por isso, que
tenha sido um perfeito cavalheiro no seu lidar
com as senhoras que o procuravam.
De fato, excetuando as sombras que o misté
rio oculta, podes ver esse traço amável na vida
de teu Deus e Senhor. Nas suas comparações não
se esquece de mencionar o humilde, mas devotado
trabalho da mulher. Encontra-se com a samarita
na, mas depois de ter procurado e preparado esse
encontro. Queria corrigi-la sem vexá-la com a pre
sença dos discípulos, os quais despachara a com
pras na cidade. Pede água à mulher, é p or ela
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tratado como j udeu. Não se impacicnlu com u
curiosidade feminina daquela 'Criatura. Niio u cen
sura porque não vive bem, mas fú-la dizer <[UC
não tem marido, lembrando-lhe apenas 1111c os
outros cinco homens de sua convivência lamht'�m
não o eram. A samaritana fez como a criança que
se vê embaraçada : em vez de responder à per
gunta, apresenta outra. Tática genuinamente fe
minina também . Tanto conquistou o transviado
coração de pecadora, que esta foi melhorando o
tratamento que lhe dava. De j udeu , passou a cha
má-lo senhor, profeta, Messias. Tanta sede sentiu
d a água por ele prometida, que, largando o cân
taro, foi buscar os homens da cidade a fim de
beberem daquela água . . . Que cavalheirismo em
corrigir um erro moral na vida de uma mulher !
Outra cena. A mãe de dois discípulos pede ao
Mestre um lugar de destaque para os filhos. "De
creta que estes meus dois filhos se sentem no teu
reino, um à direita e o outro à esquerda" Exces
sivo, sem dúvida, tal amor materno, mas com
preensível na pobre senhora. Responde-lhe o Se
nhor : "Vós não sabeis o 'que pedis . . . " Disse bem,
porque ela viera industri ada pelos finórios discí
pulos que muito bem sabiam o que pediam e com
muita tática punham a mãe pela frente . . . Não
a censurou, não lhe negou o desej o, afirmou ape
nas que não estava em mãos dele fazer o que
ela rogava . . .
Pegue a leitora do Evangelho e leia a história
de Madalena, das irmãs de Lázaro, da mulher in
fiel. Verá sempre a delicadeza em velar o erro,
em poupar a confissão pública, em fazer uma
misericórdia às escondidas . . . Portanto, não tenha
receio de se aproximar do Mestre. Será recebida
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com todo cavalheirismo de homem perfeito, ao
lado da misericórdia de um Deus paternal.
4. Isso anima
A inocência é uma gota de água no mundo,
enquanto o arrependimento é o oceano que a cer
ca e salva (Lacordaire) . Por causa de faltas e
erros da tua vida, não tens direito de apiJ.gar a
lâmpada com que hás de ir ao encontro do Esposo.
Os cristãos que palmilham a estrada batida
pelo filho pródigo são mais numerosos do que os
outros, que nunca deixaram a casa paterna. Dei
xaste-a um dia pelo p ecado ? Volta pela estrada
do arrependimento, com a palavra salvadora :
Vou procurar meu Pai !
Alguma tempestade desfolhou teus lírios?
Andas triste pelo teu j ardim desfeito ? Animo ! O
j ardineiro prudente, vendo a geada .matar-lhe os
lírios, pl a n t a logo outras flores belas e aprecia
das também. Um a terra da qual se arrancam os
espinheiros e agora produz frutos abundantes,
agra d a mais do que uma outra que nem espinhos
e nem frutos ostenta (S. Gregório) .
Que vem a ser uma ovelha que o pastor
achou ? E' aquela que ele carrega sobre os ombros,
cheio de alegria. Estás sobre os ombros de Deus,
como arrependida e penitente ? Estás bem, não
há dúvida . . .
5. Tu e os outros . . .
Znqueu é um tipo que deves conhecer mais de
perto, entre os muitos que desfilam pelas pági
nas do Evangelho. De profissão era fiscal, vi
vendo ús voltas com o público sacrificado e ca
lotei?J>. De estatura era pequeno ; de índole, curio-
172
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so. Por ser pequeno e curioso, queria e não po
dia ver muita coisa. No meio do povo nada di
visava. E por cima era tímido. Não ousava abrir
passagem para ver de perto a Cristo Senhor.
Aqui aparece uma qualidade que se recomen
da : era independente e esperto. Por isso corre na
frente ·do povo e sobe a uma árvore, lá na curva
da estrada. Escondido entre os ramos, espera p elo
Mestre. Riem-se muitos, outros caçoam do im
provisado e ridículo trepador. Que o façam ! Za
queu teve sua recompensa. Foi visto, foi convida
do pelo Mestre e pôde hospedá-lo em sua casa.
Assim como ele, deves também tu, leitora, ser
independente em muita coisa. Não deves dizer
sempre : As outras não fazem isso e por que de
verei eu fazê-lo ? Zaqueu não viu ninguém subir
a uma árvore, mas subiu assim mesmo. Os outros
não precisavam de tal recurso, por serem maio
res do que ele. As outras que pretendes imitar,
moça e leitora, podem ser mais altas do que tu.
Por isso . E ignoras porventura que o Espírito
Santo é sempre individual na formação das al
mas ? Para cada uma tem caminhos especiais. Ca
da criatura tem seu alimento particular. Morre
aquela que o rejeita sob o pretexto de que não é
o mesmo para todas.
"Emancipando-te das outras, respeita-lhes os
direitos. Quantas criaturas deixam pelas estra
das de sua existência ruínas fumegantes ou co
rações dilacerados ! E, apesar disso, j amais pen
sam em reconstruir o que destruíram com tanta
leviandade. Tua descaridade, por exemplo, um
dia magoou profundamente alguma companheira.
Mais adiante tua severa crítica abateu uma ou
tra. Ali tua língua leviana roubou o bom nome a
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tal pessoa; mais adiante temeràriamente insinuas
te más intenções no procedimento de uma desa
feta. Hoj e, com muita impertinência , recomendas
te um livro que era perigoso. J á pensaste em re
parar o erro, à medida de tuas forças ? Fazes co
mo Zaqueu, "que p agou o quádruplo do que de
fraudara ao próximo ?" ( Cohausz) .
6. Aniversário . . .
Em casa pões uma nota festiva quando se
apresenta o aniversário ,de teus pais. Tuas amigas
não ficam esquecidas quando a vida lhes rouba
mais um ano. E até estás bem lembrada do ani
versário de algum rapaz, eom o qual apenas sim
patizas e cuj a ausência te causa um mal-estar,
e te deixa de mau humor.
Quero lembrar-te um aniversário de alto va
lor para a cristã : o aniversário de teu batismo. São
Vicente Ferrer, todos os anos, mandava celebrar
uma missa na capela em que fora batizado, em
Valença. São Luís, o santo Rei de França, fazia-se
ehamar Luís de Poissy, em memória do lugar que
o vira tornar-se filho de Deus pelo Batismo.
De fato, leitora, foi um grande dia em tua vida,
esse de teu batizado. Marcou tua feliz redenção
do pecado original ; viu-te consagrada em tem
plo de Deus ; trouxe-te o título .e a glória de
uma filha de Deus ; elevou-te a uma vida sobre
natural e conferiu-te o direito à glória no . reino
de Deus. Foi ele que te levou às mãos da Igreja,
tua santa e sempre solícita mãe espiritual.
Desse dia data o nome que tens, o nome com
que tua mãe sonha e devaneia.
Procura saber em que dia cai esse grande
acontecimento. Marca-o para o celebrares com ver-
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<ladeira unção cristã. Teus pais gostam de cele
brar teu aniversário natalício. E Deus gosta imen
samente mais de festej ar contigo teu nascimento
p ara a glória eterna.
Muita coisa podes perguntar a ti mesma, nesse
aniversário. Pergunta, por exemplo, pelo sinal da
cruz, traçado sobre o teu peito e tua testa. Indaga
da vela acesa - símbolo de tua fé - que coloca->
ram em tuas mãozinhas de criança. Ainda sen
tes o seu clarão em tua vida?
E a veste cândida, simbolizad a pela toalha ?
Veste de inocência, veste de candura ! A todas as
perguntas alguma voz dentro de ti responderá com
exatidão. Como vês, h á assunto bastante para
encheres o dia abençoado de teu batismo . . . Não
te esqueças : foi o maior dia em tua vida ! En
grandece-te celebrando-o, agradecendo a Deus
tudo quanto recebeste nas águas do batismo.
7. A força do silêncio . . .
Longe, lá longe, vai o rio serpenteando : afas
tando-se em cada contorsão ; fugindo mais e mais
até se perder no sertão maj estoso, vago, imenso,
mudo . . . Por quê ? Busca o silêncio das florestas
que lhe polvilham ouro sobre as águas. Quer bus
car a terra boa para levá-la depois pelas várzeas
em que se erguem searas.
No silêncio religioso das montanhas, presos a<)'
claustro dos granitos, estão os minérios que fas
cinam. Da solidão do oceano encanta-se a pé
rola. Sempre no silêncio, e do silêncio, vivem e
saem os tesouros do mundo material, os vultos
também do mundo espiritual.
Profetas, artistas, sábios, heróis, partiram do
deserto quando queri am pôr em reboliço o mun-
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do. Os verdadeiros grandes são silenciosos como
a majestade de Deus, das estrelas e da morte. Só
o dever lhes abre a boca. Caminham silenciosos,
como que esmagados sob o peso das idéias inefá
veis ou mortais. São logo conhecidos pelos gran
des programas que trazem na alma. Deus os co
nhece de longe . . .
Mas não será tempo perdido falar em silêncio
aos loquazes dias de uma mocidade feminina ?
Creio que não. Esse silêncio fértil em abençoados
frutos pode ser abraçado por ti, leitora, nos dias
de retiro. Por isso, não te esquives a um convite
para retiro recluso em algum colégio. Mas todos
os anos devias te entregar a esse acolhedor si
lêncio. Sairias com a alma mais limpa, com os
horizontes mais l argos, com a vista mais aguçada.
Não é bom sinal ter a moça sempre medo de fi
car sozinha com seus pensamentos e seu coração.
Ao sair do silencioso retraimento, quanta ri
queza lhe carregarão as horas da vida ! Mesmo
em casa, pel a manhã, ou à hora do repouso, à
noite, lhe é possível encontrar-se consigo e rever
se de perto.
As folhas deste livro são j ustamente para as
horas de tal silêncio. Dele nasceram e p ara ele
convidam.
XIX
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sendo de hoj e, hás de ficar com umas quantas
coisas que eram de ontem.
És cristã, tanto hoj e como ontem . . .
És mulher, tanto hoj e como ontem . . .
Portanto, como cristã, estás suj eita à lei de
Cristo ; como mulher, estás ligada aos deveres de
tua finalidade p articular.
Não tens, pois, em dias de hoj e, o direito de
proceder como se não fosses nem uma nem ou
tra coisa. Não é necessário ter muita inteligência
para compreendê-lo. Basta apenas o bom senso
e uma alma leal. Se quiseres manter esses dois
programas de cristã e de mulher, não andarás,
primeiramente, emburrada com a lgrej a por te
proibir umas tantas atitudes modernas.
Depois, j á o sabes, não te entregarás a todos
os instintos. Há muita moça que, p ara ser moder
na, afirma a igualdade de direitos entre o espírito
e o instinto. Não quer chamar pelo nome os er
ros que outrora eram batizados de pecados. Pre
fere falar em "amor livre, direito ao prazer, à
emancipação", etc. Além disso, como manterá lu
minosos os dois lados de sua vida - cristã e mu
lher - a j ovem ·que vende o pudor por umas se
das elegantes, sobre umas areias movediças de
praia, sobre os encerados salões, por entre as pá
ginas de uma leitura livre ?
Ser moderna a custo de auréolas é uma ilusão.
E' tentar viver numa outra atmosfera do que a
n atural. Todas as mudanças do tempo, de costu
mes, de idéias, de métodos, que não arranham nem
a cristã nem a mulher, podem ser aceitas por ti,
leitora. E serás feliz e serás aprovada por Deus
e por tua consciência.
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de esposa devotada. Consumir-se dentro de casa,
sem ser vista e aplaudida - é nova forma de
escravidão. Antes de tudo quer mostrar sua
personalidade . . .
E a egoísta ? Já começa bem cedo com a prá
tica da idolatria de si mesma. Moça, pensa primei
ro em si, e depois, se lhe sobrar tempo, nos outros
que moram em casa. Entre os outros figuram ga
lhardamente os p ais. Mas esse tempo nunca lhe
sobra, porque muitos cuidados lhe exigem seus
caprichos e suas ocupações "pessoais". Erra o
endereço quem lhe pede que se incomode e aju
de aqui e ali.
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bém é que "não deve comer aquele que não
trabalha".
A segunda mesa está nas escolas, nos colégios,
no estudo doméstico. Seus pratos estão nos vá
rios livros que te colocam na mão. Dize-me uma
coisa : não fazes "regime", assentada à mesa dos
livro s ? Muito errarias, porque tens obrigação de
desenvolver essa vida da inteligência. Moça al
guma tem o direito de deixar extinguir-se em seu
espírito a luz que Deus nele assoprou.
A terceira mesa está na casa de Deus, e leva o
qualificativo de santa. Com isso distingue-se das
outras e por ela recebes o pão da vida etern·a.
Ter essa última vida em toda a su a plenitude,
em toda a sua linda floração, é acabada santi
dade. - És amiga só da primeira mesa, leitora ?
Aprecias também a segunda ? Que feliz, se fores
assídua à terceira mesa ! . . .
5. O adulador silencioso .. .
180
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quarto, está dentro da tua bolsinha e há quem o
traga nas capas dos livros de reza. E' teu espelho.
Consulta-o, mas com discrição e o menos pos
sível. Lembra-te, diante dele, da alma que trazes
e que não tem espelho p ara se retratar. Que seria
se a pudesse ver com todos os descuidos, ·deslizes
e manchas que traz aos olhos de Deus e de sua
fidalga assistência !
Quando morre uma de tuas amiguinhas e vai
para o regaço de Deus, é bem possível que então
o Senhor lhe faça ver o estado de tua alma, leitora.
E como a verá diferente do que se imaginava !
6. Eu e minha toilette . . .
A cristã que existe dentro de ti, leitora, tem
umas perguntas a te fazer. Podes responder-lhe
bem baixinho, mas com toda a sinceridade. Ei-las :
Admites que na tua toilette possa haver um
problema moral ; que ela interessa não só à mo
dista, mas também à lgrej a ?
No caso de intervenções eclesiásticas, tomas a
atitude de filha confiante e submissa ?
Admites que ela, tornando-te mais elegante,
pode tornar-te também mais provocante, mais
tentadora ? e assim se converte numa das formas
de escândalo ?
Dás-lhe demasiado tempo e dela fazes uma
grande preocupação ?
Dás-lhe uma verba roubada à caridade, à j us-
1 iça (costureiras que não são pagas !) , às precisões
d n religião ?
Admites que a liberdade de seguir as modas
l rm limites nos quais se encontra com o pudor
11lnrmado ?
E - bem baixihho vai a pergunta - quando
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notas a responsabilidade de que estás perturban
do outros, te desculpas, ·dizendo : Por que olham
·
para mim?
Não és uma herege da palavra <lo Senhor, ao
garantir que é impossível agradar a dois senho
res, ao mesmo tempo, ao mundo e a D eus ?
7. Tiranias em casa
Meu pai e eu fazemos sempre o que eu quero,
afirmava uma j ovem. Até Taine, filósofo, achou
espirituosa a afirmação.
Realmente, há moças que são tiranas em casa,
contando com a cumplicidade da natureza que
as fez prendadas e bondosos os pais. Abusam do
poder de fascinação e tornam�se autoritárias, im
periosas, acostumadas a ser atendidas em todos
os seus caprichos. Não sei quantas irmãs tem á
leitora em casa. Não sei se é filhinha d e mamãe,
se é filha única. Sei apenas que, nesse caso, o
perigo de uma tirania é muito maior.
Moça de coração formado compreende que não
deve abusar da condescendência de seus pais.
Prej udica a si mesma, prejudica às suas irmãs
e desorienta o bom senso dos pais. Precisa ne
cessàriamente limitar os seus desejos, sonegar as
vontades de criatura caprichosa.
Há uma tirania que te fica muito bem, j ovem
e amiga. E' aquela que põe em assédio o coração
dos pais pouco religiosos, e não lhes dá sossego
até que os vê de j oelhos à mesa da Eucaristia.
Com Deus podes igualmente usar do método do
carinho. Dá-lhe gosto esse ar de filha que pro
cura arrancar-lhe todas as bênçãos. E' doce vio
·
lência que o agrada. Teresinha de Jesus era mestra
no assunto. Podes estudar com ela. - A outra
l82
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tirania é uma ameaça para o teu futuro. Que
rerás, corno esposa, talvez, que se façam tuas
vontades e caprichos.
Assim fica difícil "achar um heróico consor
te" para as variações do teu querer.
8. Sua Excia., senhorita N.
Quando urna jovem tem os traços de sua perso
nalidade bem acentuados, e só por isso uma ex
celência. Grifo o advérbio, pois quero que valha
tanto da firmeza corno da beleza moral dos traços.
Por isso é necessário que desenvolvas tua per
sonalidade. Nas florestas o Criador não pôs duas
folhas iguais. Na sociedade humana não há duas
pessoas de idêntica expressão física e moral. Mas
desenvolver sua personalidade não denota dar ple
na liberdade aos instintos. Na árvore podam-se
os galhos "ladrões" Ai de ti, se não podares o
que é unicamente instintivo em tua pessoa ! Tão
pouco significa esse orgulho de opor tua pessoa
à pessoa dos outros, contrariando-lhes a s idéias,
os planos. Não é também essa tola originalidade
no modo de vestir, de andar, de falar, etc. Muito
menos quer dizer essa indisciplina e revolta con
tra suj eição e autoridade.
Desenvolver sua personalidade é para a moça
criteriosa o cuidado em não deixar inúteis os dons
recebidos. Feição te dá, antes de tudo, tua alma.
Tanto valerás quanto valer tua alma. Aperfeiçoa-a,
portanto, pela vida interior, pela oração, pelos
sacramentos, por todos os contactos com D eus.
Eles, de certo modo, divinizam tua alma. A me
dida que crescer tua fé, acentuar-se-á também
a feição moral de tua personalidade.
Vamos aos dons particulares que recebeste :
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meiguice, inteligência, sensibilidade, aptidões di
versas, etc. Não te é lícito enterrar esses talentos.
Deus em ti os colocou para deles te utilizares.
Pequeno foi o dote? Não te desoles por causa dis
so. O Senhor j amais colhe onde não plantou .e só
exige os j uros de acordo com o capital. Cabe-te,
porém, explorar corno avara o pouco que rece
beste. Foi grande e gentil o dote ? Vê lá, não te
envaideças com ele e trata-o com respeito. És
formosa, és rica, és inteligente, t ens sensibilida
de artística ? Então grava bem na memória esse
princípio : os do-iis da graça e da natureza têm a
finalidade dos gênios. Só para os outros, como
o gênio de Beethoven, de Chopin, etc., foi para
gerações vindouras.
XX
184
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veram trabalhando em Nazaré, cessou a glorifica
ção do ócio e a difamação do trabalho.
Os primeiros cristãos escreviam como epitá
fio nas sepulturas : Rezai por ele, porque não pode
mais trabalhar.
O Espírito Santo escreveu um poema à mu
lher, mas à que é boa, virtuosa e . . . trabalhadora.
Podes lê-lo nos Livros Santos (Prov 31, 10 ss) .
Desconfio muito que estas linhas venham cair
nas mãos de alguma desocupada. Destas que fa
zem consistir seu trabalho em mudar de vestidos,
em puxar o tempo pelas orelhas, em ir da j ane
la ao espelho e deste à rua e desta ao sofá para
ociosas leituras. Pois saiba tal criatura que igno
ra o primordial dever das mãos femininas : o tra
balho unido à oração.
Quem sabe, alguma pobrezinha vive se la
mentando do muito trabalho. Não é lírio que nem
tece e nem fia ; não anda vestida na opulência
de um rei. Pelo contrário. Trabalha de estrela a
estrela, e mal dá conta do necessário em casa.
Quem não conhece essas heroínas de irmãs, mo
ças ainda, que se matam lidando pelos irmão
zinhos menores, dos quais ficaram sendo mães 1
Benditas criaturas, chamas que vos consumis
aquecendo outros ! Deus toma nota de cada fio
de linha que puxais atrás de uma agulha, de cada
passo dentro e fora de casa, e marca o dia em
que virá em pessoa recompensar-vos por tudo.
Cuidai de uma coisa apenas : santificai vosso tra
balho pela reta intenção e pela alegria cristã !
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uma senhorita que é dona e dá ordem a alguma
empregada. E a esta j ovem dona tem ele muito
que dizer.
Diz-lhe que tenha os olhos abertos para os sa
crifícios de uma criada. Esta não tem liberdade
de comer quando tem fome, de sentar-se quando
está fatigada. Quebra algum obj eto ? Logo dirão
que o fez porque aquilo não custou seu dinheiro,
porque não está acostumada a lidar com coisas
finas. E' o desprezo atirado à necessitada, à sua
condição de menos formada. Dão-lhe alguma coi
sa ? E querem que reconheça a grandeza da dá
diva. Amanhece a j ovem dona aborrecida e de
mau humor ? A criada o saberá no primeiro en
contro. Se nesse dia anda depressa, censurada é
por ser atropelada. Anda devagar? E tem de ou
vir que serve para ir chamar a morte. Quando a
pobrezinha se atrapalha, lembr.a-1he a "meiga se
nhorita" seus ares de tonta. Num lance de boa
vontade ela oferece-se para explicar alguma coi
sa de seu alcance ? E' batizada de oferecida. Sua
tristeza e até suas lágrima s são sinônimos de fin
gimento, porque a sinceridade é privilégio da do
ninha, máxime ao lidar com . . . a mãe enganada.
Um dia, o coração dessa criada tocou os sinos
do amor e ela enfeitou-se de flores, começou a
receber alguma cartinha de seu eleito, que está
longe e trabalha honestamente. Mas, que horror !
A p atroazinha escandaliza-se, ela que recebe pos
tais de moços e de artistas de Hollywood ! Parece
que a pobre não pode ter coração, a não ser com
licença e fiscalização da senhorita.
E se a empregadinha é mais bonitinha que a
filha de casa ? Então . começa outra história
nessa altura.
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Uma pergunta, senhorita. De certo pertences a
uma obra de apostolado . social. Mas j á cui
daste de ser após tola j unto à empregada? Olhas
para seus deveres religiosos, animas a boa von
tade, vences a ignorância dessa alma remida por
Deus ? Faz-lhe uma festa : convida-a para ir
comungar contigo . . .
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mundanismo. Se o meio em que vives te obriga a
acompanhar certas "sendas suaves", paralisa-lhes
o narcotismo com voluntárias renúncias, de todo
o tamanho e de toda a qualidade . . .
4. Receitas . . . para doçuras religiosas . . .
Quantas devoçõezinhas têm nossas moças ! São
verdadeiras receitas p ara uma doçura religiosa,
para gulodice espiritual de criaturas cuj o p aladar
aprecia a variação. Mutuamente se comunicam as
fórmulas e por elas se entusiasmam. Santa Tere
sinha, por exemplo, j á entrou em muita receita . . .
Com tais devoções, puramente sentimentais e
chiques, fica esquecida a devoção central : a euca
ristia. O Crucificado - tão eloquente em suas
chagas - desaparece diante de santinhos e santi
nhas de rosto mais "engraçado". E depois o exa
gero de muita moça converte tais devoções em
verdadeiros talismãs para a obtenção de favores;
principalmente temporais.
Que acontece ? Um dia a receita não produz o
resultado esperado. E então a moça abandona-a
e afirma "saber por experiência" que pouco adian
ta ter devoções . . .
Dos males e dos ridículos é ainda esse o
menor . . .
Leitora, és dona de muitas receitas religiosas ?
Se forem sempre eucarísticas as elevações de tua
alma e as lembranças de teu amor, parabéns.
Figuras entre as predestinadas.
5. Sempre entre as prudentes
Solícito de tua felicidade, dá-te nosso Senhor
o conselho da vigilância e da oração. Deixou-te
até a bela comparação das virgens prudentes que,
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à hora marcada, se apresentaram para o ban
quete de núpcias. Acesas lhes andavam as lâm�
padas, nem tiveram necessidade de comprar óleo,
j ustamente naquele instante.
Essas duas atitudes são genuinamente cristãs,
sendo incompreensível sua ausência na vida de
toda j ovem esclarecidamente cristã. "Pois são de
cada dia e de cada tempo os perigos e tentações ?
Em todo lugar podes encontrá-las : no deserto e
no povoado, no templo e em casa, no mundo e
no convento ; - em todo o tempo : na j uventude e
na tua velhice, na oração e no trabalho ; na doen
ça e na saúde, de dia e de noite ; - por todos os
modos : pela astúcia e pela violência, pelas s u
gestões interiores do espírito maligpo, e pelas s en
sações exteriores dos sentidos, pela prosperidade
e pela adversidade, pela alegria e pela tristeza".
Não admira que, ensinada pelas tentações, es
crevesse uma alma : Antigamente eu me fiava
em mim mesma, agora conto comigo (fraca) . In
teligência, imaginação, coração, sentidos - tudo
é porta para elas. Dos olhos então está escrito
que por eles, como o ladrão pela j anela, entra
a morte. - Vigia a reza, leitora. Não te fies na
calma aparente dos dias que talvez te corram
tranquilos. Nada há tão tranquilo como o dina
mite antes de . . . explodir. Nunca te tomes por
invulnerável. O ovo, antes de ser quebrado, tem
até aparência de mármore. E é tão frágil. - En
tendes agora por que rezas "Não nos deixeis cair
em tentação" ?
6. Deslumbrada . . .
Restabelecendo os fatos, deturpados por lou
cas comparações, escreveu um nosso poeta :
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Eu sou homem - nada m enos,
Tu és mulher - nada mais ;
Eu sou empregado público,
Tu minha noiva bem cedo . . .
Eu sou Artur Azevedo,
Tu és Carolina Morais . . .
190
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trada a sua. Nas mãos de certas j ovens parece,
ainda hoj e, não ser outro o destino da vida. Co
mo a criança levanta a areia e deixa-a cair-lhe
das mãozinhas, assim dia por dia vão essas j o
vens fazendo escoar as horas de ouro, de valor
imenso nos anos da mocidade.
Inutilizam-na, tornando-a ociosa, mole. Que
pena se a leitora figurasse entre as adeptas do
mínimo incómodo na vida 1 Pensas talvez que tens
o direito de buscar o n éctar de todas as flores ?
Nisso eu veria a revelação de fé superficial. Sa
bes que a cruz de nosso Senhor não pôde ser car
regada pelo imperador revestido de seda e de in
sígnias ? Heráclio teve de despir tudo isso e a
cruz deixou-se levar por ele.
Para não ser areia fugidia, fez o Senhor que
tua vida tivesse a unção dos sacramentos nas
horas mais assinaladoras ; que se movesse dentro
de 10 preceitos divinos e se governasse por cinco
preceitos maternos da lgrej a.
A cristã cabe fazer de sua existência uma ele
vação litúrgica, uma prece, uma cerimónia ri
tual, um amor vivificante, enfim. Por que não
fazes de tua alma uma p ágina do Evangelho e de
teu corpo o suporte desse livro santo ? Tua casa
(bonita e singela) pode tornar-se um oratório.
A mesa, a cama, a oficina e o escritório, a cai
xa da loj a ou da tábua de bater roupas, mudar-se
podem num altar. Das ocupações diárias, dos atos
prosaicos, te é dado fazer um acontecimento refü
gioso, um rito de eternidade no tempo provisório.
Já escreveu São Pedro que "tu pertences a mna
casta sacerdotal" A j ovem amante da pureza
de sua alma, cuidadosa em elevar suas inten-
191
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ções a Deus, em cuj a graça vive - está longe de
perder a vida como areia entre os dedos.
Responde à tua consciência : foram areia os
anos que se escoaram entre tuas mãos ? Mas de mãos
vazias ninguém pode aparecer diante do Deus e
Homem que as tem . cheias de sangue da cruz !
XXI
1. Lê e crê . . .
Das tuas prendas hão de lucrar outros tam
bém. Já te disseram que és bela e j á teu retrato
figurou entre as "belezas" estampadas por revis
tas. Não precisas negar o que for realmente exato.
Reconhece a prenda, mas lembra-te de que com
ela Deus conta para a tua salvação e para teu
apostolado cristão. Que a beleza sej a uma prenda
perigosa, ninguém 'que te queira bem o há de
negar. Deves vigiá-la e manej á-la com precaução,
dela usando só para propagar o que é nobre, belo,
digno do teu destino eterno e da salvação do pró
ximo. Seria rebaixar a prenda de Deus, se tão so
mente a quisesses contemplar no espelho ou no
tolo deslumbramento de gente. fútil. Que horror,
se dela te servisses para tentar teus irmãos re
midos por Deus ! Não queiras ser Eva sedutora.
Há tantas no mundo !
És rica ? E ouve, leitora, uma verdade que te
fará riquíssima se a seguires : a riqueza não te
foi dada para satisfazer tuas fantasias e ociosi
dades perigosas. Ela não te dispensa do traba
lho, porque as mãos calejadas de nosso Senhor
são uma censura divina para todas as senhori
tas "cristãs" que têm medo de ferir as mãos num
insignificante calozinho.
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A riqueza é uma espec1e de empréstimo que
Deus te fez. Pedir-te-á conta de cada tostão. Ai
dos ricos ! exclamou o Mestre. Pois tão grandes e
tão sérios são os seus deveres para com os ou
tros, que se expõem a descuidá-los por causa do
conforto da vida.
És inteligente ? Olha, não exibas a inteligência
inútil e vaidosamente. Tão pouco faça s menos
caso das ocupações que não são "intelectuais".
Cultivar a inteligência à custa do coração é um
erro fatal. Deus e o próximo te querem, antes de
tudo, de coração inteligente e devotado. Servir-se
a moça da sua inteligência para conhecer os meios
e recursos ao seu alcance na prática do bem ; p a
ra melhor compreender a extensão dos seus de
veres e de suas responsabilidades, é simplesmente
invej ável. Que bela atividade para a inteligência,
o penetrar na floresta sagrada das verdades reli
giosas e de ver de perto as belezas que encerra !
Beleza, inteligência, riqueza - que fazem de ti
e delas que fazes tu ?
2. Ele te dirá . . .
O exame, no fim do ano, diz se a alma vadiou
ou estudou. O exame diante do espelho falará da
expressão do rosto e do seu asseio. O exame da
tua consciência cristã contar-te-á de que e spírito
és tu.
"Não basta conhecer em que consiste o espírito
mundano. Já sabes que os traços que o revelam
são :
- ausência do sobrenatural nas idéias ;
- ausência do sobrenatural no conj unto geral
da vida.
Queres saber se é este o espírito de teu íntimo ?
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3. Coração teimoso . . .
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4. Teus flertes . . .
Flertar é brincar apenas; é passa-tempo e nada
mais. E' coisa da idade, de moça em geral. As
sim falam muitas j ovens, assim procedem muitas
das tuas amiguinhas, guiadas por . . . ti, talvez.
Mas vamos analisar com calma e realidade o
assunto, leitora. Dizes que o flerte é brinquedo. Mas
de que e com quê ? Brincar com uma folha seca
é inofensivo p assa-tempo ; brincar com uma ví
bora_ é coisa arrisca díssima ou fatal. Ora, o flerte
é um brinquedo com o coração, com a consciên
cia, com a alma.
Com o coração. - Flertas e brincas com o teu
coração, com o alheio, nas várias temporadas de
passeios e de estações. Mas o coração não é bola
de tênis, que atiras ao parceiro e dele recebes de
volta. Não é apenas "órgão vital" no organismo.
Para nosso Senhor é tudo. Ele - ao falar do co
ração - fala com seriedade de assustar. "Amarás
o Senhor teu Deus de todo o teu coração ; do co
ração nascem as invej as, os homicídios, os adul
térios" Pede que se lhe dê o coração, fala do Pai
que lê no coração. Como vês, ele não ri ao falar
do coração. Insinua que o vigies, que o guardes
e defendas . . .
Brincar com o coração é brincar ao mesmo
tempo com dois destinos presos a ele : o desta e o
da outra vida. Sabes que o cenário de heroísmo e
de desesperos, a lareira das chamas votivas e das
incendiárias é o coração. Tudo, na vida, relativo
a Deus e ao próximo, se resolve numa questão
de coração.
Brincando com o coração, a moça' mostra que
não liga importância à vida dele. Pois fàcilmente
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a entrega a qualquer compromisso. Nesse brin
quedo ele sai manchado, sai gasto ( o flerte rou
bou-lhe as pétalas mais formosas) , sai usado.
Passa a figurar depois como "coisa de segunda
mão". Por cima ganha j eito e gosto de ser falso.
Durante anos de flerte acostumou-se a fingir que
gostava. Habitua-se a ser superficial, expondo
se a não compreender um grande amor que o
·
procure. E depois fica sendo como rio espraiado.
Dispersa suas ternuras, transborda, sai do tra
çado roteiro.
Moça que flerta não pode ter um amor verda
deiro e cristão. Nem o primeiro, porque não pode
contentar-se com um só amor. Nem o segundo,
porque não se suj eita a querer um só amor. Acos
tumou-se a ter sobre sua mesa vários e perfumosos
buquês de flores. O dia que tiver um só, colocado
sempre pela mesma mão, estranhará, achará uma
falta enorme.
Quem foi abelha, voando de flor em flor, con
tentar-se-á em ficar presa dentro de um j ardim
fechado pelas austeras normas da moral cristã ?
Pode haver exceções e quanto a conversões
neste ponto podes esperá-las, em se tratando de
tuas amigas. Ao tratar-se de ti mesma, apressa-as,
começa desde j á com elas. - Era isso que eu ti
nha a dizer-te, leitora, acompanhando de certa
distância a exposição de Bellouard.
197
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o que se faz. Mas é um suplício horrível ter que
ouvir as censuras da consciência dia e noite, ainda
que todos batam palmas pelo que se fez.
Como vês, leitora, é teu imenso tesouro e inve
j ável fortuna, essa consciência. E' serena estrela
a luzir dentro da tua alma, inundando-a de doce
p az . Na família, que adora sua filha única, po
derá alguma coisa suprir a falta dessa criatura,
se a morte a levar? Tua consciência é uma outra
"filha do coração". Nad a a supre.
Mas o flerte mete-se a brincar com a consciên
cia também. Esta, mal ele começa com seu brin
quedo, avisa a moça, protesta com discrição ou
com violência.
Aos protestos, às censuras, ao pranto da cons
ciência, a moça dos flertes responde, sem nm cari
nho, sem um consolo, com uma cara emburrada
e zangad a. Fica de mal com a pobrezinha.
O resultado, leitora, não tarda a aparecer. O
tal brinquedo deixa empanada a limpidez de vis
tas. A consciência insensivelmente torna-se incer
ta, confusa, indecisa. Já não distingue com pre
cisão entre o bem e o mal, entre o ilícito e o lí
cito. As tintas empalidecem, os contornos se des
fazem. Como as sentinelas na guerra tomam a
sombra por inimigo, ela toma o prazer p elo de
ver. Vencida na clareza do seu pensar, emudece
no seu falar. Já não sabe como se exprimir. Fica
tua vida moral entregue ao regime do vago e do
incerto.
Mais ainda. Ela perde sua lealdade , começa a
adaptar-se, a esperar, faz concessões forçadas, en
tra em negócios com o coração, compra-lhe con
ceitos e vende-lhe a lei moral. Por fim, chega o
dia em que se torna também venal. Não brada :
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E' proibido. Diz apenas : E' desculpável, não é
mau . . .
Tudo isso Bellouard achou no flerte inocente
das moças ! E Deus acha ainda muita outra coisa.
6. Cuidando do fogo
Toda moça cristã. é por natureza uma vestal :
está destinada a guardar o fogo que Deus acen
deu. Para o mundo, portanto, a leitora terá de
guardar a fé. O primeiro fogo a iluminar e aque
cer é a fé. Sem ela o mundo perece, os ideais
desaparecem, o homem maldiz sua vida.
Mas, senhorita, receio que não estej as cum
prindo bem a missão. Primeiro, porque não au
mentas, nem esclareces, nem realizas a tua fé.
Depois, porque não te preocupas em espalhá-la,
em despertá-la em todo o mundo. Vamos : por
nada admitas que se apague esse fogo ! És ves
tal assinalada por Deus.
Ao mundo guardarás o pudor. A medida que
surgirem desafios e inj úrias ao pudor, irás opon
do tua resistência, mostrando como ele é belo
·
ornamento e insubstituível encanto na mulher.
Vendo-te recatada, com rosas do pudor n·o rosto,
o mundo lembrar-se-á do paraíso que perdeu. Irá
procurá-lo, então.
Em teus cuidados figura também o verdadeiro
amor, que mais e mais vai desaparecendo no mun
do. Este apenas conhece o amor-prazer, o egoísmo
elegante ou brutal. Para os triunfos desse amor
não há flores de virtude, mas lágrimas, ao invés.
"Por isso a j ovem cristã deve guardar o amor
humilde, generoso, sorridente e bom ; esse amor
fiel, profundo, ardente e calmo ; amor que faz vi
ver e nada consegue matar; esse amor p elo qual
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se amam outros corações na terra e com eles se
sobe até à fonte do amor - Deus".
7, Gotas do tempo
A vida coITe como um caudal. Desde o ber
ço com ele se assemelha. De pequena fonte, avo
lumando vai suas águas, subindo a arroio, a re
gato, a rio. Rola sem cessar as suas águas, va
riando de rumos, de margens, de cenário. Agos
tinho, o sábio e o santo, chama os momentos fu
gazes e rápidos da vida "gotas de tempo".
Então será coisa desprezível, o tempo ! dirás,
leitora. Não ; valem muito essas gotinhas. Deus
se vende por um momento de tempo, dando seu
coração e seu reino a quem o ama. Empregado
na prática do bem, no cumprimento dos deveres
de cada dia, o tempo vale ouro.
O tempo, só por não voltar mais, j á vale como
uma saudade e um tesouro. Sabes quem te reco
mendou aproveitasses bem o tempo ? Teu Mestre
e Salvador. Pois mandou que trabalhássemos en
quanto nos durasse a luz !
Gotas do tempo caem no oceano da eternidade
e continuam a valer o que valem essa imensa, in
compreensível eternidade.
E agora escuta uma coisa. Deste tesouro tens
vários ladrões. O pecado é o primeiro. Alma em
pecado é vida de tempo perdido para Deus. O
segundo é a falta de reta intenção no cumpri
mento das obrigações. E' o desleixo dessas obri
gações o terceiro l adrão. E depois há uma "amá
vel quadrilha" de salteadores deste teu ouro.
Quem? As mui gentis amigas, que representam as
amizades inúteis e prej udiciais. Trata de conhe
cê-las e guardar-lhes os nomes. Amizades que te
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melhoram e não te desviam do dever - essas são
mensageiras de Deus, são imagens dos anj os
invisíveis.
8. Vais ficando para trás?
"Atualmente, a educação dos moços obedece
a um método mais de acordo com a moral cristã
e as necessidades sociais. Os moços j á têm cons
ciência esclarecida de seus deveres, tão múltiplos,
e da grandeza que há em cumpri-los. Aprende
ram a fazer uma outra idéia da mulher, não a
desprezando como boneca ou como um ser peri
goso e inferior. Sonham com a pureza que dese
j am guardar por seu amor ; tencionam tomá-la
por companheira intelectual, colaboradora social,
auxiliar em todos os instantes e para todas as coi
sas e, ao mesmo tempo, metade "do próprio ser e
tabernáculo onde querem deixar o coração. Uma
geração de moços atinge hoj e a virilidade tendo
ainda o frescor do sentimento, j unto à integri
dade das forças. Vibra ao menor sopro de amor
e de liberdade ; aspira a continuar na família a vida
de fervor religioso e de apostolado cuj o valor en
tendeu nos dias da mocidade"
O autor de tão belas palavras chega a profe
tizar que as moças em breve perderão a realeza
da virtude, porque o certo irá parar nas mãos
dos moços da nova geração. De fato, vemos em
nossa pátria um belo surto de regeneração entre
a mocidade masculina. Olhe a moça para essa
plêiade de rapazes pertencentes às várias associa
ções de caráter religioso e social.
Se a leitora quiser contar apenas com a idade
gentil, com as prendas dessa idade ; se não cuidar
de reformar o coração e alargar as esferas de um
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puro e generoso devotamento cristão - é bem
possível que não sej a digna dele" (do moço) ,
no dia em que lhe entregar o coração, e dele rece
ber um outro p ara guardá-lo no sacrário do
próprio peito.
De certo a senhorita dirá que o autor destas
linhas está torcendo para os moços. Não ; eu gosto
de enciumar as boas vontades. Falando aos mo
ços, ponho as moças em poético pedestal de gran
deza moral. Mas, dirigindo-me às leitoras, digo
lhes que não está fora de perigo ficar a palma d a
vitória nas mãos dos rapazes.
Por isso não mereci aquela censura feita p or
uma j ovem, que acompanhava a irmã noiva, quei
xosa do noivo, ao ouvir-me defender este último :
- Clory, eu j á te disse que não vale a pena
acusar um homem a outro homem ; isso é uma
classe unida . . .
XXII
1. Nada se improvisa !
Lendo as páginas de um romance, a senhora
armou um palco na imaginação e dentro dele pôs
se a realizar complicados heroísmos, como esposa
dedicada. Nisso a mãezinha, lá de dentro de casa,
chamou a filha para aj udá-la. E a "heróica" se
nhorita levantou-se resmungando, mal humorada,
e foi fazer o serviço com rosto de parca.
Um quadrinho singelo, mas frequente na vi
da das j ovens. Amanhã ou depois, a leitora terá
de escolher um véu : de virg em, de noiva, de irmã.
Cada véu traz uma lista de e xi gências morais,
cita .uma l adainha de prendas que o coração, que
as mães devem apontar, que o caráter deve lem
brar. Erro seria supor a leitora que tudo isso virá
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dentro da corbeille de noiva, nos tecidos do há
bito religioso, nos fios de véu de virgem . . . Nada
de improviso, senhorita. Só terás, amanhã, o que
hoj e plantares e cultivares. E' uma das piores
ilusões da mocidade feminina, esse cálculo errado.
Já vimos a primeira vocação da mulher : é o de
votamento, mesmo a custo do seu sangue. Foi
feita a mulher mais para tornar os outros felizes,
do que para ser ela mesma feliz. Não se prepa
rar para isso é trair a própria missão dada pelo
Criador, reclamada pelo coração e por todas as
forças vivas do próprio ser.
Ora, quem em casa é uma comodista, uma
egoísta por convicção e feição, uma que sempre
deixa o serviço para a irmã, etc., que traz o cora
ção vazio de ideais, pobre em generosidade; que
anda com as mãos sem as provas da seda de seus
agrados e sacrifícios - terá tudo isso amanhã
como esposa, como virgem, como religiosa. Ár
vore sem frutos, com pouca sombra, mera inutili
dade sobre o lugar que ocupa. Serás isso ?
2. Grãozinhos de areia . . .
Dia por dia ela (a prudente j ovem) foi se im
pondo um ato de mortificação totalmente de
sinteressado. Ora priva-se de um passeio ou de
uma simples voltinha agradável ; ora, entre dois
caminhos, escolhia o menos agradável. De uma
poltrona cômoda passava a sentar-se numa cadei
ra ; cessava de ler, justamente quando a curio
sidade começava a despertar-se. Aparentemente
era de pouco valor o que ia fazendo.
Entretanto nisso firmou-se a energia da heroí
na que ela soube mostrar diante dos rudíssimos
golpes d a vida. Houve sadia e cristã filosofia por
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p arte da j ovem, que não fez pouco desse exercí
cio da vontade. Os grãozinhos de areia são, iso
ladamente, coisa anódina. Reunidos, formam as
dunas, que enfrentam a fúria ·do mar e lhe detêm
o avanço pel a terra adentro.
Pequenas contrariedades feitas à tua vontade,
leitora, formarão essa duna contra a qual os v a
galhões de p aixões resolutas e teimosas irão se
quebrar, cantando no embate o teu triunfo de
cristã prudente. Não faças pouco das p equenas
mortificações . . .
3. No mundo das coisas pequenas .
Os pequenos defeitos e a s pequenas virtudes !
Nem um nem outro devem ser tratados com
ares de pouco caso. As vinhas não perecem sob
as p atas de animais. Morrem vítimas de um ser
microscópico : a filoxera. Os corais insignifican
tes - até no meio do mar ! - formam suas ilhas
indestrutíveis. Os formidáveis diques da Holan
da são combatidos, não pelo elementar vigor das
ondas, mas por um inseto que j á vinte vezes pôs
em perigo o país. Atos de grande virtude, de he
roísmo moral, são raros. Nascem de circunstân
cias especiais e têm a vida toda para palco e es
colha da hora de sua realização.
Ocasião p ara praticar pequenas virtudes não
faltam dentro das horas de cada dia e nas do
bras de conversa. A prática contínua de pequenas
virtudes supõe uma paciência real e uma grande
reserva de energia. Receber polidamente os im
portunos, não apoquentar-se com os ·mal educa
dos, não ceder à tentação de criticar ordens, fe
char os olhos sobre desatenções habituais . . . eis
aí, senhorita, uma p equena e grande virtude.
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Até o sorriso contínuo pode muito bem ser a
prova da virtude que tens. Parece ser o clarão da
chama que dentro de ti arde e se consome pelo
bem.
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5. O célebre tambor
A tristemente conhecida Mme. Maintenon não
queria que nos livros para as mocinhas se escre
vesse a palavra amor. Substituí- a pelo termo
tambor . . E a mudança não é de todo descabida.
.
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mas que não vivem com Jesus são sepulcros ári
dos. Todas as almas que não padecem cm� ele são
sepulcros , remexidos". Ora, à moça cristã cabe
levar aromas e perfumá-los, chamando neles a
vida cristã com sua fragrância de virtudes.
Oração, exemplo, sacrifício, conselho - eis os
adequados meios para seres apóstola. Hoj e em
dia o apostolado tomou um nome que denota dis
ciplina e unidade de vistas e de obediência. Cha
ma-se Ação Católica. A leitora não se faça de ro
gada para pertencer à fileira das "que trazem
aroma nas mãos e buscam sepulcros onde j azem
cristãos".
A união do apostolado é difícil, mas indispen
sável também. Os maus são fortes porque se
unem. Da união nasce a ação concentrada e es
sa impõe o sacrifício das idéias e dos métodos
pessoais. Cuidado, leitora, não queiras impor teu
modo de ver nas associações, com prejuízo da
ação em conj unto.
Isso de andar por caminhos individualistas é
imitar as varas desunidas no feixe do apólogo.
Separadas, foram quebradas com facilidade.
E' muito tentador para uma senhorita da "so
ciedade" o sistema de fazer prevalecer suas idéias,
como se a sua posição, por si só, lhe assegurasse
visões mais nítidas do que as têm as sentinelas
de Israel. Ação em comum é como oração em
comum : Deus associa-se às almas unidas.
7. Galeria de moças
Vamos fazer uma parada apreciação dos vá
rios tipos de moças, que se tornaram afamadas e
modelares n a história d e Deus.
Rebeca. - Foi gentil p astora e obsequiosa cria-
207
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tura. Baixou seu cântaro, dando de beber ao servo
e emissário de Abraão, e depois ainda tirou água
para todos os camelos da caravana . Trabalho pe
noso, mas que denotava o amor dessa moça às
lidas caseiras. E assim ela mesma deu o sinal pe
dido pelo emissário desejoso de saber que moça
devia ser a noiva de Isaac.
Raquel. - Que alma bela e que coração en
cantador devia possuir essa criaturinha ! Pois, pa
ra merecer-lhe a mão, Jacob trabalhou durante 1 4
anos, d e sol a sol.
Sara. - Moça sem sorte quanto aos preten
dentes à sua mão. Briga com as criadas e estas lhe
recordam o "azar que teve com sete pretenden
tes". Fechada no quarto, a pobrezinha põe-se a
rezar e a chorar durante 3 dias. E disse coisas
que mostram a pureza de sua vida. Disse : "Se
nhor, vós sabeis que eu conservei minha alma li
vre da concupiscência ; que nunca me ajuntei com
os que se divertiam, nem fiz amizade com o s que
procediam levianamente !" Deus atendeu às ora
ções da pobre moça. Pouco depois era noiva feliz
de um noivo que o anj o lhe apresentara : Tobias.
A filha de Jefté.- Outro nome não se lhe sabe.
Foi a filha sacrificada pelo ju ramento estouvado
do pai. Ele j urara imolar a Deus a primeira pes
soa que lhe saísse ao encontro, se voltasse vito
rioso para casa. Vence o inimigo e, para celebrar
lhe o triunfo, a filha corre ao seu encontro, num
j usto alvoroço de alegria. Ciente da rude promessa
p aterna, a moça não vacilou. Ofereceu-se a mor
rer para que o p ai cumprisse o j uramento. Que
dedicação ao pai ! - A filha de Jefté saiu em com
panhia das moças do lugar, a errar pelas mon
tanhas, chorando sua desdita : não podia ver um
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descendente seu, ia morrer virgem. Hoj e em dia,
leitora, seria paganismo uma moça chorar sua
vida virginal. Pois diante de si tem outros admi
ráveis exemplos de ilibada virgindade.
Marta. Que moça prestimosa, mas também
-
- 14
Audi filia 209
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cado da filha de Faraó, que se condoera do pe
queno, corre a buscar-lhe a mãe, e assim salva
lhe a vida.
Mais tarde Mfriam acompanhou o irmão, j á
então homem de Deus e guia do povo, pelo deser
to, rumo à terra prometida. Era profe tis a e "pri
madona" do coro das cantoras e dançarinas que
celebravam os triunfos do povo eleito. Era cota
díssima. Mas um dia o "ciúme e a invej a" lhe
invadiram a alma. Míriam murmurou contra o
mano e contra ele levantou o povo. "Então só por
meio dele é que o Senhor vos fala ?" - Duro e
severo foi o castigo do céu por causa desse pe
cado. Míriam ficou leprosa, sua "carne tornou-se
branca como a neve". Separaram-na do povo. So
mente diante das orações do mano amado por
Deus é que lhe voltou a saúde. Míriam não viu
a terra prometida. Morreu no deserto.
Isso de ciúmes e invej as pode acabar tràgica
mente, não, leitora ? E que dizer das tuas revol
tas contra o homem de Deus - o confessor, o
teu Bispo, o Santo Padre - quando ele reclama
contra erros e faltas da tua vida ? Não digas :
Só por meio dele é que Deus fala ? Assim falou
Míriam, a infeliz leprosa.
Dina. - E' uma figura dos tempos patriar
cais. Mas j á naquele tempo a moça era a mes
ma que hoj e. Gostava de passear e conhecer o
povo de um lugar. Assim Dina saiu, fazendo um
footing, para ver as mulheres daquele povoado
(Salém) . Lá se foi toda faceira com os encantos
que a natureza lhe dera. Era de fora e logo cha
mou a atenção sobre si. Por ela apaixonou-se
Hemor, preso num enamoramento violento. Sen
do filho do chefe da terra, fez processo muito sim-
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ples : furtou a moça. O fim foi uma mortandade
que os irmãos de Dina fizeram no lugar, magoa
dos pelo procedimento do rapaz. - Muitas vezes
os footings, o desejo de ver "as moças do lugar",
as idas e vindas para a exibição, não se revestem
de tanta segurança para o espírito, como as pas
seadoras supõem. A moça volta para casa e o
coração fica na rua . . .
A s {ilhas ide Sião.
- O austero profeta Isaías,
antevendo a calamidade a cair sobre o povo, cha
mou à ordem as vaidades das moças de Sião.
Elas se enfeitavam "à moda oriental", como se
fossem fadas caídas do céu. Não ligavam para as
misérias da nação, para a seriedade das prova
ções. Queriam ser vistas e admiradas : na rua,
no templo, nos passeios, nas grandes festas reli
giosas e populares.
- Pois que as filhas de Sião se elevaram -
disse mais o Senhor, fala Isaías - e andaram
com o pescoço emproado, e iam fazendo acenos
com os olhos e gestos de mãos, passeavam com os
seus ruidosos pés, e caminhavam a passo mesura
do ( de melindrosas, leitora ) . . . o Senhor torna
rá calva a cabeça das filhas de Sião, e despoj á
las-á do seu cabelo ; tirará o adorno dos calça
dos, e os diademas, os colares e as gargantilhas,
os braceletes e os garavins, as barreiras e as ligas,
as cadeias de ouro e os vasos de essências e as
arrecadas ; os anéis e os pingentes de pedras pre
ciosas caídos sobre a fronte ; os vestidos de reser
va e as charpas, os volantes e as agulhetas, o s es
pelhos e delicados lenços, os listões e as roupas
de verão (Is 3, 16 ss) .
Mas que arsenal de vaidade ! Em que fortuna
ficaria tudo isso e quanta caridade ficou impe-
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dida por toda a verba, indispensável para a lista
do toucador !
A palavra do Senhor cumpriu-se. Escravas,
sangrando os p és pelas pedras, queimando-se so
bre a areia candente do deserto, com uma corda
à cinta, lá se foram tangidas para o exílio, as mo
ças, as melindrosas de Sião, as surdas aos avisos
d o "austero" profeta . . .
Leitora, hoj e mesmo passa um sério exame
ao teu toucador e guarda-vestidos. Se encontrares
a desordem neles - tão comum no futurismo das
j ovens modernas - expulsa-a. Mas se encontra
res o luxo fútil, descaridoso, desnecessário e tal-
vez injusto . esconjura-o!
Não digas : Ando no luxo porque posso. Pelo
dinheiro podes, talvez. Mas pela caridade - que
impõe a todos a obrigação de dar o supérfluo -
não podes esbanj ar esse dinheiro, como se tão so
mente a ti ele pertencesse. Do contrário, por que
mandaria nosso Senhor aj untar "com a riqueza
tesouros e amigos no céu" ? . . .
XXIII
1. Os ares da sua graça
Em Spoleto todo o mundo conhecia o j ovem
Francisco Possenti. Rodeavam-no as moças e dele
falavam nas suas p alestras, e em toda parte. E
com simpatia e ciúmes. Nos bailes tinha-se por
vencedora aquela que fosse eleita para uma dan
ça. Ao girar pelo salão, ao s reflexos dos cristais,
como uma rosa levada com outra na mesma ara
gem de vaidade e na mesma onda de harmonias,
a preferida exultava de felicidade.
Francisco sabia quanto valia para o mundo fe-
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mmmo. E as moças encontravam nele um rapaz
de fina educação, de irrepreensível moral. Os
pais quedavam-se tranquilos, cientes de que nada
ameaçava a filha que se apoiasse nos braços da
quele moço. Sabiam que de seus olhos não sairia
fulgor algum nocivo. Nenhum aperto de mãos se
creto. Nenhuma palavra ambígua ou indiscreta.
Mas um dia o filho do governador deixou tudo
e foi, arrependido, despir-se das vaidades, inter
nando-se num convento. Viveu em penitência,
fez-se santo. Agora o conhecemos pelo nome de
São Gabriel da Virgem Dolorosa, lídima glória da
Ordem dos Padres Passionistas.
Quem lhe mudou a alma ? Ouve, leitora.
Piedosa e meiga era a irmã de Francisco,
Maria Luísa. Juntos passeavam pela floresta, en
quanto ela suavemente o advertia para que dei
xasse as vaidades e ilusões d a mocidade. Havia
um quê na voz, no olhar de Maria Luísa que, agra
dando ao irmão, lhe descia ao fundo da alma.
Eram . os ares da sua graça de cristã profunda
mente piedosa e toda de Deus.
- Sê bom Francisco ; deixa essas tolices ; po
·
des fazer tanto por Deus. Vamos rezar j untos?
O mê s d e Maio o s viu aj oelhados na igrej a.
Mas veio a doença e emoldurou de ouro aquela
alma de santa, escondida nas formas agradáveis
de Maria Luísa. Sua paciência deslumbrou o ir
mão. Veio a morte e deixou na alma do moço uma
serena e saudosa visão da irmã. Chamava-a de
santa. Então os ares daquela graça, sempre lem
brada, fizeram desaparecer da vista de Francisco
os ares das outras graças, todas mundanas e fúteis.
Veio depois a misericórdia divina e completou o
213
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trabalho de santificação. Assim deve a Igrej a um
santo aos ares da graça daquela alma de Deus.
E tu, leitora, que ares ou encantos desprendes
de ti mesma ? Eles levam a Deus ou afastam dele ?
Recordam dias de inocência, apresentam-se satura
dos do sobrenatural ? Ou então dizem tão somente
que és da terra e arrastas para a terra ? Olha, cris
tã : isso faz parte do teu exame de consciência.
214
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São divertimentos imorais por sua natureza e por
isso também proibidos e condenados, sempre e em
toda parte. São uma revolta contra a lei divina.
Por conseguinte, leitora, não podes ser toleran
te neste ponto. Nem podes usar meias medidas.
Nem te adianta dizer que o confessor não te proi
biu a dança. Nem te escusa o procedimento das ou
tras. Nem te defende do pecado a presesça dos p ais.
Graças a Deus, devagar vai aparecendo uma
reação no mundo feminino que se dá mais à re
ligião. Mas urge intensificá-la.
Não sabes que os inimigos da religião querem
j ustamente isso : que a moça católica não vej a
nada de mal nos bailes?
Agora vou lembrar-te outras circunstâncias de
peso neste assunto. Os vestidos de baile são uma
ofensa aberta contra o recato e pudor. Formam
ao mesmo tempo grave tentação para o mundo
masculino dos salões. E escandalizam a quem
apenas os observa.
Vem a circunstância do tempo. Dá-se tempo
demais aos bailes e desse tempo se faz uma ocasião
de encontros combinados entre rapaze s e moças . •
.. Daí nascem as familiaridades perigosas. Hoj e
é tão fácil dançar uma moça o tempo todo com
um par. D ança-se à noite, pela noite afora. Há
bebidas e o que a elas se segue.
Não pense a leitora que sej a tudo. Ao lado
dos perigos obj etivos, que existem para todos, há
os perigos subj etivos, que existem apenas para
vários indivíduos.
1) Nem a austeridade d a Quaresma, tempo de penitência,
Impede tanta moça de ir ao baile.
215
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Para uma moça que peca gravemente, sempre
ou quase sempre que dança uma dança honesta
( tão rara hoj e !) , é o baile evidentemente ocasião
próxima de pecado e, portanto, divertimento p roi
bido. Diga-se o mesmo de quem a ele assiste nas
mesmas condições.
Que fazer se por uma razão muito séria não
pode urna j ovem abster-se de um tal baile hones
to ? Recorra à oração, vigie o coração e procure
afastar o perigo, de próximo para remoto.
Mas se os pais mandam que a filha vá aos
b ailes ? Neste ponto a filha não está obrigada a
obedecer.
216
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Grande m1seria olharmos para o que está tão
longe e não para o que temos a nossos pés. Não
queremos ver-nos a este espelho, por nos não ver
mos tão feios, como somos.
Todos os infortúnios vêm ao homem de se não
conhecer. O homem de maiores méritos deve
sempre entender que há outros, que os têm avan
taj ados. Um daqueles p adres do deserto, que só
comia tremoços, se imaginava o mais abstinente.
E vivia outro abaixo, que só se sustentava das
cascas dos mesmos tremoços, que esperava em
um regato de água, em que aquele primeiro as
costumava lançar a certa hora.
Não te tenhas por melhor que os outros, p ara
que Deus te não tenha por pior que todos. Nunca
faz mal suj eitar-se a todos, e muitas vezes faz
mal antepor-se a um só.
E' verdade que o homem que compreendeu
tudo o mais, .não se pode conhecer a si mesmo, co
mo notou Filo. Por isso dissemos em outra p arte
que, pondo Adão nome a todos os animais, confor
me a natureza de cada um, não quis Deus que o
pusesse a si próprio, porque não acabaria de se
conhecer, para se poder definir.
Finalmente, nesta n avegação d a vida o piloto
é a prudência e o astrolábio é o conhecimento de
si próprio, que em todos os mares ensinará os ru
mos por que se há de navegar ao porto da for
tuna" ( An tônio Macedo, Eva e Ave) .
4. Figura bíblica
Certamente conheces a simpática figura de
Rute, nos Livros Santos. Atrás dos segadores ia a
moça respigando no campo de trigo. A tarde levava
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enorme feixe sobre a cabeça, garantindo assim a
fartura em casa.
Rute é a imagem da moça que, nos campos de
Deus, vai atrás dos apóstolos recolhendo almas,
num apostolado paciente, disciplinado e sobre
natural. Hoj e em dia a Ação Católica arrebanha
a s j ovens e quer convertê-las numa ala intérmina
e incansável de respigadoras. Quer mudá-las em
ondas portadoras das graças e invasoras de tudo :
das casas, das ruas, dos campos, das praças, dos
escritórios, das salas, das fábricas. E sempre, com
a obsessão de salvar a alma do próximo, ganhan
do-o para Cristo e sua lgrej a.
Mas semelhante apostolado há de ser primei
ramente sobrenatural. Sentes, leitora, uma queda
natural ao trabalhares com esta ou aquela alma ?
Tens d e servir-te dessa queda como meio que te
facilita o trabalho. Vigia, porém, esse atrativo.
Do contrário ele invadirá os campo s reservados
à graça e aos seus métodos. Dá-se o contrário ?
C au sa - te re pulsa uma determinad a alm a ? Nem
por isso deixes de olhá-la como Deus a olha, co
mo Cristo a olhou do alto da cruz.
Com Deus e por Deus e para Deus - eis o le
ma para salvar as almas. Primeiramente preci
sas contar com os recursos da graça e deves pro
curá-los por uma vida pura, devotada e piedosa.
Apostolado paciente - porque a paciência é
outra cruz redentora. Sobretudo purifica e mos
tra a nobreza de intenções de quem trabalha. Nada
de prantos e pessimismos. As lágrimas nunca re
erguem ruínas sobre as quais têm caído. Os sal
gueiros e'"" chorões j amais deram fruto saboroso.
Apostolado disciplinado - porque Deus ama
a ordem em tudo. Moça teimosa em sustentar
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suas idéias e seus hábitos perante a autoridade
que a orienta, não possui o espírito do Senhor. Por
isso vencerá a alma simples e dócil, instrumento
humilde e eficaz nas mãos ungidas da autoridade
religiosa.
5. Que desilusão !
Suponho que tens um pai que te enche de re
voltas. Quando eras criança, tudo nele era adorá
vel. Depois, tristemente, ficaste sabendo, estás sa
bendo ainda, de umas quantas coisas. E não po
des negá-las. E não consegues desculpá-las. E
não te é dado impedi-las.
Trata-se de defeitos graves, que até j á provo
caram a intervenção, aliás inútil, de outros pa
rentes. Entre todos os defeitos o que te revolta é a
inj ustiça de teu pai para com pessoas de tua es
timação. Tudo ele interpreta mal. Desafia-te a
que lhe enumeres o que os outros fizeram por ti.
E tu, leitora, és dona de um terrível segredo. Em
dolorosíssima situação, tal pessoa , vítima de in
j ustiças, te valeu numa discrição comovedora.
Não podes revelar teu segredo. O mundo viria
abaixo. E todos os dias te tentam neste ponto . . .
Leitora, nada de desânimos. Se os defeitos
existem inegáveis, existem também curáveis em
teu pai. Reza por ele, sacrifica-te por ele, tem pa
ciência. Não te ponhas a analisar as faltas ou as
inj ustiças, as explosões ou as queixas de teu pai.
Mas como poderei respeitá-lo assim ? Respeita-lhe
a investidura da paternidade. Essa nada lhe tira.
E por que viverás comparando o teu pai com
o pai das outras amigas? Enveredando por este
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caminho, acabas naquela pergunta irreverente :
Mas por que Deus me deu tal pai?
Nas horas de. irritação, o silêncio é teu me
lhor conselheiro. Se achares prudente dizer algu
ma coisa, espera que volte a calma nas pal avras
e no rosto de teu pai.
Depois falarás, rezando. Se nem isto adian
tar, cala-te, envolvendo-te naquela paciência re
dentora.
6. Coração cruel
Seis longos anos viram a eclosão de uma ami
zade respeitosa. Tua amiguinha era um fio de
ouro na tessitura de tua vida. E sempre foi boa.
Nunca te deu um conselho mau, magoou-te com:
uma indiscrição. Bem pouco recebia de ti, em re
tribuição. Tu te fazias de rogada para uma vi
sita, para uma telefonada, etc.
Um belo dia essa amiguinha esqueceu-se, li
geiramente. Houve excesso de sua parte, adian
tando-se-lhe o coração, transpondo uma fronteira
de carinho. E foi quanto bastou para te esque
ceres de tudo. Um recado malcriado foi tua res
posta cobarde. Pois na hora acolheste tudo com
o melhor sorriso e cumplicidade. Nem indagaste
de mais nada, leitora, na tua revolta.
Chamo a isso crueldade. Se a amiguinha er
rou, devias mostrar-lhe o erro, indagar-lhe do arre
pendimento e bom propósito. Não adianta alegar
como desculpa o acanhamento. Pois esse acanha
mento não impediu a telefonada grosseira e ofen
siva. Não adianta lembrar que precisavas defen
der-te do perigo. Poderias afastá-lo, talvez, com
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uma simples censura ou queixa ou ameaça d e
romper as relações de amizade. 1
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um vidro. Pois o tempo de sua duração é incerto
e depende de um nada, de um acidente.
Quanto erro, portanto, se contas com a dura
ção da vida para adiar sempre tua conversão !
Aqui vale o conselho de Agostinho, santo e pen
sador : Corrige-te hoje por causa de amanhã.
Há moças que reconhecem os erros de hoj e e
esperam corrigi-los, mais tarde, amanhã. Não é
este o método que os santos aconselham. Outras
há que temem a morte. Agostinho desaconselha
esse medo, por vão e ineficaz. Diz assim : "Por
que tens medo do que não conseguirás evitar,
ainda que temas ? Teme antes de tudo aquilo
que, temendo, podes impedir. O medo não impe
dirá a chegada da morte. Mas bem pode impedir
que te condenes depois da morte". A vida só tem
uma finalidade que lhe dá imenso valor : ser a
preparação de uma santa morte.
Nada mais nobre do que o homem entregar
sua vida ao Criador num gesto fidalgo de resigna
ção e preparação cristã. Nada mais profana a vi
da do que uma morte estóica, pagã, revoltada con
tra os desígnios de Deus. Por isso, leitora, na flo
ração de tua vida pensa no fruto que colherias
no fim de seu ciclo. Prepara o gesto de fidalga
e cristã, para que na tua morte haj a um que do
martírio de uma Inês, de uma Cecília, de uma
Agueda, de uma Teresinha de Jesus. E' mais uma
tradição cristã as que moças devem conservar e
reproduzir na sua vida.
1NDICE
223
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XII XVIII
1. l >n tua altura . . . . . . . . . . . 112 1. Almas contemplativas ! . . . 168
:l. AH moçus <le Rama . . . . . . 114 2. De que v1nheis falando
a. llm ambiente prejudicial 115 pelo caminho? . . . . . . 169
4. Bonum Verbum . . . . . . . . . 116 3. O cavalheirismo de nosso
ú. Teus encontros . . . . . . . . . 117 Senhor . . . . . . . . . . . . . . 170
6. Teu lado fraco . . . . . . . . . . 119 4. Isso anima . . . . . . . . . . . . . . . 172
7. Esta tristeza não é minha 120 5. Tu e os outros . . . . . . . . . 172
6. Aniversário . . . . . . . . . . . . . . 171
XIII 7. A força do .sH'!,w::io 175
1. O que !li.Irou aos sofrimen-
tos de Cristo . . . . . . . 121 XIX
2. O segredo da mocidade 123 1. Hoje como ontem . . . . . . . 176
3. Vestida com o sol . . . . . . 124 2. Fechou-lhes a porta . . . . . 178
4. Endereço errado ........ 126 3. Ideal renegado . . . . . . . . . . 178
5. Tuas greves de vencida 126 4. Três vidas e três mesas 179
6. São assim tuas alegrias ? 128 5. O adulador silencioso . . . 180
7. Verso de dois pés . . . . . . 129 6. Eu e minha toilette 181
7. Tiranias em casa . . . . . . . 182
XIV 8. Sua excia., srta. N. . . . . . 183
1. Experiências inegáveis . . 130
2. Sou incapaz de semelhan- XX
te coisa . . . . . . . . . . . . 132 1. Vestida como eles . . . . . . 184
3. Um programa para cada 2. Filha de Deus e tua criada 185
dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 3. Espirit.o deste mundo . . . 187
4. Coração porta-alfinetes . . . 134 4. Receitas . . . para doçuras
- 5. Nada simpático . . . . . . . . . . 135 religiosas . . . . . . . . . . . 188
6. Puros devaneios e veleida- 5. Sempre entre as prudentes 188
des Inúteis . . . . . . . . . 136 6. Deslumbrada . . . . . . . . . . . . . 189
7. Vejo os homens como ár- 7. Como areia entre os dedos 190
vores . . . . . . . . . . . . . . . . 137
8. Abelha ou mosca? . . . . . . 139 XXI
1. Lê e crê . . . . . . . . . . . . . . . . . 192
XV 2. Ele te dirá . . . . . . . . . . . . . . 193
1. Ela o queria assim 140 3. Coração teimoso . . . . . . . . . 195
2. Sétima sensivel . . . . . . . . . . 141 4. Teus flertes . . . . . . . . . . . . . 195
3. Essa inconstância! • • • . . . . 143 5. E brincas com ela? . . . . . 197
4. Fruto proibido . . . . . . . . . . . 144 6. Cuidando do fogo . . . . . . . 199
5. O que as outras falam . . . 145 7. Gotas do tempo . . . . . . . . . 200
6. Felicidade, onde moras ? 147 8. Vais ficando para trás ? 201
7. Queres uma vida assim? 147
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