O ALFABETO LATINO e PRONUNCIA

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O ALFABETO LATINO 

“Um povo se inicia na escrita, não criando para si um alfabeto,


mas adaptando para sua língua o alfabeto de um povo mais
civilizado”. (Marouzeau)

Isto foi o que aconteceu com o latim, cujo alfabeto é uma adaptação “de um dos
alfabetos usados nas colônias gregas da Itália meridional” (Laurand).
Quanto à origem grega do alfabeto latino ninguém discute. É um fato assentado,
cuja evidência não comporta contestação. Entretanto, como receberam os romanos este
alfabeto é, ainda hoje, objeto de discussão. Alguns, os mais numerosos, dão-no como
recebido diretamente dos gregos. Outros, por intermédio dos etruscos (Grenier).
A data exata da introdução da escrita em Roma, como é natural, não é conhecida
com certeza absoluta. A fíbula de Preneste e o vaso de Duenos dos fins do século VII ou
princípios do século VI a. C., o cipó encontrado no Forum em 1899, talvez do século VI
a. C. são os primeiros documentos históricos da escrita. Por isso, alguns autores julgam
ter sido introduzida a escrita em Roma desde o VIII século.
O Alfabeto Latino primitivo contava 21 letras:

A, B, C, D, E, F, ×, H, I, K, L, M, N. O, P, Q, R, S, T, U, X.

Posteriormente, este alfabeto sofreu algumas modificações. O, ×, ou Z arcaico,


não aparecendo mais na língua latina, foi abandonado.
O C representando os sons do capa e do gama, em 312, com a reforma de Ápio
Cláudio fica reservado para o fonema surdo. Para o sonoro usa-se a letra G, modificação
da primeira, e no alfabeto vai ocupar o lugar do Z arcaico, então proscrito.
Mais tarde, esse alfabeto passou a ser reconhecido com 23 letras:

Maiúsculas: A,B,C,D,E,F,G,H,I,K,L,M,N,O,P,Q,R,S,T,U,X,Y,Z. 
Minúsculas: a,b,c,d,e,f,g,h,i,k,l,m,n,o,p,q,r,s,t,u,x,y,z.

A princípio, como já foi visto, não havia o J e o V. o J correspondia ao I e o V ao


U. Só no século XVI, o filósofo e filólogo Pierre de La Remée (Petrus Ramus),
introduziu no alfabeto o J e o V.
O Y e o Z não eram latinos, usando-se em palavras de origem grega, como pyra
e Zeus. O Y foi introduzido no alfabeto latino na época de Cícero e, no princípio de
palavra, é sempre antecedido por H, que corresponde ao espírito forte da língua grega,
por exemplo:
Hymnus, Hydra.
A ESCRITA

Os romanos tinham várias espécies de escrita.


Capital. Primeiramente usava-se da escrita Capital não só para as inscrições
como para os livros.
Capital Rústica. É uma simplificação da Capital, uma vez que era mais fácil de
traçar. Frequentemente substituía a primeira.
Capital Quadrada. É outra variante da Capital, em que as letras são mais ou
menos quadradas, como seu nome indica.
Cursiva. O sistema de escrita Capital, sendo, entretanto, difícil e demorado, não
se prestava para o uso corrente , para o qual se usava de um processo mais rápido, o
cursivo. Este sistema, todavia, não veio para substituir o primeiro, foi mais de emprego
individual como o nosso manuscrito. Pela origem prende-se à Capital Arcaica, da qual é
uma simplificação.
Meio Cursiva. Ao contrário da Capital Rústica, que é uma simplificação da
Capital, a Meio Cursiva é uma Cursiva aprimorada, empregada nos manuscritos.
Uncial. Vários séculos depois do aparecimento da Capital, começou-se a usar
este sistema, que, por uma passagem de São Jerônimo, alguns acreditaram ter tomado
este nome pela forma arredondada das letras. Parece-nos fora de dúvida que São
Jerônimo se referia antes ao tamanho que à forma das letras.
Meio Uncial. Escrita cursiva aprimorada que toma algumas de suas letras à
uncial; daí o seu nome.
Pelo que se caracterizou a escrita Uncial, a forma maiúscula das letras chama-se
também uncialis de uncǐa (0,m024), que era a duodécima para do pes (cerca de 0,m29).
As letras minúsculas só apareceram no quarto século pouco mais ou menos.
As letras maiúsculas se usam como em português. Particularidade do latim era
servir-se das maiúsculas nos adjetivos e nos advérbios derivados de nomes próprios, por
exemplo: Romana, Vergiliana.

QUANTIDADE DAS VOGAIS

As vogais latinas são cinco: a, e, i, o, u.


Estas vogais podiam ser breves ou longas, teoricamente pronunciando-se as
breves em uma unidade de tempo e as longas em duas. Tal duração, porém, não era de
um rigor matemático, podia variar segundo determinadas circunstâncias.
As vogais longas eram marcadas por um sinal: ¯(mácron), enquanto as breves
eram assinaladas com: ˘ (bráquia ou braquia).
Dessa maneira, por exemplo, na palavra “cōrpōris”, a pronúncia do primeiro o
(ō) durava mais tempo que a do segundo (ŏ).
Observações:
1) A sílaba longa subentende-se com ou sem mácron.
2) Em regra geral, uma vogal é breve quando seguida de outra vogal e longa
quando seguida de duas consoantes; por exemplo: inflŭit, mulĭer, ancilla.
3) A quantidade das vogais é traço distintivo em latim; por exemplo: pōpŭlus
(choupo) e pŏpŭlus (povo).

TIMBRE DAS VOGAIS

O ā e o ă soavam em latim aproximadamente do mesmo modo, ou seja, o a


latino, seja longo ou breve, sempre se pronúncia como nosso a aberto.
Não tão facilmente discorre-se sobre a pronúncia do e latino. Segundo o
professor Ernesto de Faria, o ē (longo) pronuncia-se como o nosso ê (fechado),
enquanto o ĕ (breve) teria a mesma pronúncia do nosso é (aberto)1. Contudo, os
gramáticos latinos não são concordantes com respeito à opinião do renomado professor.
O Professor João Ravizza, por exemplo, da Arcádia Romana, defende a pronúncia com
o timbre aberto para todo e latino2.
As vogais i e u, longas ou breves, pronunciam-se como em Português.
Problema idêntico ao da pronúncia do e ocorre com a vogal o em latim. Ernesto
de Faria, em postura análoga a já exposta com relação à pronúncia do e, acredita que o ō
(longo) deva soar como o nosso ô (fechado), enquanto o ŏ (breve) soaria como ó
(aberto)3. Já Ravizza acredita que a vogal o em latim deva ser pronunciada como uma
vogal fechada4.
Entretanto, todos concordam que a pronúncia das vogais latinas nunca deve ser
nasalizadas.

O ACENTO

Em geral, não há palavras oxítonas. As duas sílabas são, portanto, paroxítonas;


por exemplo: mensa - / men´as/.
As três ou mais sílabas serão paroxítonas se a penúltima sílaba for longa; por
exemplo: romanus - / roma´nus/;
As três ou mais sílabas serão proparoxítonas se a penúltima for breve; por
exemplo: lacrĭma - / la´crima/.

1
Cf. FARIA, Ernesto. Gramática Superior de Lingua Latina, p. 10.
2
Cf. RAVIZZA, P. João. Gramática Latina, p. 10.
3
FARIA, op. Cit., p. 19.
4
RAVIZZA, op. Cit., p. 10.
A PRONÚNCIA LATINA

Há três tipos de pronúncia para o latim: a tradicional, a reconstituída e a


eclesiástica romana.

PRONÚNCIA TRADICIONAL

Era usada até pouco tempo atrás pelos liceus e colégios particulares, quando o
latim era cadeira obrigatória nos currículos do ensino médio. É a pronúncia do latim
mais ou menos adaptada a língua de cada nação. Como se pronuncia entre nós teve
fundamento no latim vulgar. As letras são pronunciadas como em português, com
algumas exceções:

A pronúncia a ser abordada é a pronúncia romana, chamada, também, de


pronúncia eclesiástica:
a) As vogais, quase sempre, mantêm seu som original, em qualquer posição que
ocupem no vocábulo, evitando-se pronunciar o “o” como “u” e o “e” como “i” no
final das palavras;
b) Os ditongos “ae” (æ) e “oe” (œ) pronunciam-se como “e”. Por exemplo: nautæ
(náute), pœna (péna).
Obs.: Nas palavras de origem grega, e também em muitas de origem
latina, o ae e o oe, cada vogal deve ser pronunciada separadamente.
Quando tal palavra tiver tal peculiaridade o e virá com um trema
sobre ela “ë ”, p.ex.: poëta (poeta). Contudo não é obrigatório o uso do
trema. Só se exige quando pode haver confusão entre duas formas,
p.ex.: aëris, genitivo de aër, o ar; e aeris, genitivo de aes, bronze. Em
geral os livros litúrgicos trazem acentuação, quando necessário com
trema. Por fim, nos ditongos o acento fica sobre a primeira das duas
vogais, p.ex.: aurum (áurum), euge (éuge), déinde e não deínde.
c) C diante do e e i soa sempre como tche, tchi : Cicero (tchítchero), Cœlum
(tchélum);
d) A letra “L” não tem som de “u”, mas da própria letra, como a palavra “sol” falada
no Rio Grande do Sul ou em Portugal.
e) ch soa também como k: pulcher (púlker), Charĭsma (karisma);
f) g sempre como dge ou dgi: angelus (ándgelus), Georgĭcæ (Dgeordgitche);
g) gn tem som de nh: agnus (anhus - cordeiro)
h) h é geralmente mudo, excerto nas palavras mihi e nihil nas quais o h tem som de
k; (miki, nikil);
i) O j (i consonante) não era usado pelos Romanos nas escrita; havia porém,
diferença na pronúncia. A distinção entre i e j é posterior à idade média. O I
consoante (j) quando precede uma vogal, tanto no principio como no meio da
palavra: ianua = janua, porta; coniuratio = conjuratio, conjuração; em todos os
outros casos é vogal. P.ex.: ais, tu o dizes, etc. Nos livros eclesiásticos na maioria
das vezes o j é substituído, na escrita, pelo i;
j) m e n nunca são nasais: Campus (ká-m-pus, e não kãpus)
h) r nunca como rr: Roma (róma, com o r pronunciado como em barato)
m) s sempre como ss: rosa (róssa)
n) u do grupo qu é sempre pronunciado: qui, quem (kúi, kúem)
o) v sempre como u: vita (uíta) (no latim eclesiástico o v tem som de v mesmo não
sendo substituído por u, salvo raras exceções. Em muitos livros recentes, o v é
sempre substituído, na escrita, pelo u);
p) x como ks: maximus (máksimus), como a palavra fixo em português;
q) O t originalmente se pronunciava sempre como o som do t português. Foi no
período da decadência da língua latina que prevaleceu o uso de pronunciar esta
consoante como ci antes do i (i breve) seguido de vogal, p.ex.: propitĭus (propícius),
propicio; amititĭa (amicícia), amizade. Este uso se conserva também no caso
vocativo singular dos nomes próprios em us da segunda declinação, onde se
suprimiu a vogal e, depois do i, p.ex.: Horati, que se pronuncia Horaci, Horacio;
Tati, pron. Taci, Tácio entre outros.
Pronuncia-se sempre como em português:
1) Se for seguido de um ī (longo) ou acentuado, p.ex.: totīus e petiēram, pron. totíus,
petiéram.
2) Se for precedido de s, x ou t, p.ex.: hóstia, Bruttĭum misĭio, justĭor.
3) Nos vocábulos gregos e estrangeiros, p.ex.: Miltĭades, Beotia, Ægyptĭus.
4) Na antiga desinência em ier do infinitivo, p.ex.: patĭer por pati, nitier por niti, em
vitĭum gen./pl. de vitis, videira, para diferenciá-lo talvez de vitĭum, ii n., vicio
n) Os conjuntos qu e gu pronunciam-se sempre como se houvesse um trema no “u”;
o) o grupo “ph” tem o som de “f”.
p) z como dz: Zeus (dzeus)
q) y é pronunciado como o “i”
r) sc antes de e e i tem soa como ch. Adulescentĭbus (adulechéntibus)
s) as letras restantes (a, b, d, e, f, i, l, o, p, t, y) são pronunciadas como em
português.
Última observação: letras dobradas como ll, tt, mm, etc., devem ser
pronunciadas separadamente: uma coisa é coma e outra é comma.

PRONÚNCIA ECLESIÁSTICA ROMANA

É a pronúncia adotada pelos italianos e seguida nos seminários de Portugal e em


muitos outros de várias nações. É usada na Igreja por recomendações de Pio X (“in
liturgĭco castu”) e imposta por João XXIII na “Vetĕrum Sapientĭa”.
Corresponde às treze primeiras regras da pronúncia tradicional (menos a 1.o. e a
1.p.), acrescidas das seguintes:
2.a. CE e CI soam como / tché / e / tchi /; por exemplo: Cicĕro - / tchi´théro /,
coelum - / tché´lum /.
2.b. GN soa como / nh /; por exemplo: agnus - / a´nhus /.
2.c. G soa como / d j /; por exemplo: tragicus - / tra´djikus /.
2.d. SC soa como / ch /; por exemplo: scientĭa - / chién´sia /.
2.e. J soa como / i /; por exemplo: Jesus - / ié´sus /.
2.f. Z soa como / dz /; por exemplo: Zeus - / dzéus /.
Observação: Segundo alguns gramáticos, como por exemplo Antônio Freire, há
variações na pronúncia eclesiástica que podem ser assim encontradas5:
a) CC soam como / ttch/; por exemplo: ecc - / é´ttché /.
b) H soando como / k / em mihi e nihil - / mi´ki / e / ni´kil/.
c) SC soando como / ch /, apenas antes de e e i; por exemplo: scientĭa - / chién´sia
/. Contudo, pronunciar-se-ia SC como / sk / nos demais casos; por exemplo: esca - /
é´ska /, musca - / mu´ska /.
d) TI soando como / tsi / antes de vogal e precedido por qualquer letra à exceção de
s, x, e t; por exemplo: tertĭus - / tér´tsius /, patientĭa - / patsien´tsia /.
e) X soando como / ks / depois de vogal que não seja e; por exemplo: axis - / a´ksis
/. E pronunciado como / kz / antes de e; por exemplo: exaudi – / é´kzaudi /.
f) XC soando como / kch / antes de e e i; por exemplo: excelsis - / ékchél´sis/.

5
Cf. FREIRE, S. J. Antônio. Gramática Latina.

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