GUSMAO, R P - OS ESTUDOS DE GEOGRAFIA RURAL NO BRASIL Revisão e Tendencias
GUSMAO, R P - OS ESTUDOS DE GEOGRAFIA RURAL NO BRASIL Revisão e Tendencias
GUSMAO, R P - OS ESTUDOS DE GEOGRAFIA RURAL NO BRASIL Revisão e Tendencias
tendências1
Os estudos de Geografia Rural no Brasil, nas três últimas décadas, passaram por
grandes transformações, em termos de seus enfoques preferenciais. Inicialmente, os
estudos rurais eram essencialmente descritivos do quadro agrário ou explicativos da
distribuição espacial de produtos agrícolas e de rebanhos ou ainda focalizadores do
processo de expansão do espaço agrário, através de colonização nacional ou estrangeira.
Em seguida, esses estudos passaram a apresentar uma preocupação de ordem conceitual
– metodológica, objetivando à identificação de tipos de organização agrária e assumindo
um caráter classificatório. Os estudos de população rural, nessa segunda fase, voltaram-
se, sobretudo, para os aspectos da estrutura e dinâmica populacional. Essa segunda fase
caracterizou-se pelos primeiros estudos de aplicação de índices e de técnicas
multivariadas na análise das características da organização agrária no Brasil.
Finalmente, uma terceira fase é identificada nos estudos rurais, caracterizando-se
por uma abrangência de tratamento do espaço rural, sob uma ótica de desenvolvimento
rural. Três ordens de consideração estão presentes nessa perspectiva de estudo do
espaço rural: uma se volta para os aspectos de modernização da agricultura e focaliza as
características internas ao estabelecimento; uma outra se prende ao exame dos aspectos
infra-estruturais, institucionais e de mercado, externos ao estabelecimento produtor e
explicativos da modernização das atividades agrárias e uma terceira se liga à focalização
da população rural, com ênfase nos seus níveis de alfabetização e de escolaridade, nos
seus níveis de rendimento, nas condições de subemprego e na infra-estrutura social dos
domicílios.
Nesse sentido globalizante de abordagem do espaço rural, fica excluída a
dicotomia representada pela consideração, em separdo, da população rural e das
atividades agrárias, uma vez que a concepção de desenvolvimento rural envolve, não só
a melhoria das atividades, mas também o bem estar da população rural.
Nessa fase, grande ênfase vem sendo colocada na procura de referentes teórico-
conceituais que sirvam de suporte e esse gênero de pesquisa e grande empenho vem
sendo feito numa visão interdisciplinar dos problemas de pesquisa. Um outro aspecto
dessa fase é o caráter pragmático que os geógrafos rurais têm procurado conferir às suas
pesquisas sobre o desenvolvimento rural, dentro de um contexto de desenvolvimento
regional.
rural. Essa preocupação, por parte de geógrafos rurais brasileiros, teve início,
praticamente há pouco tempo, ou seja, a partir de 1975, quando se passou a encarar o
espaço rural, segundo uma perspectiva abrangente. Essa nova linha de pesquisa derivou
de uma consciência de que o problema agrário não poderia ser analisado apenas com
uma abordagem restrita às características internas ao estabelecimento rural, mas que
deveria ser tratado dentro de um contexto mais amplo, que procurasse explicar a
estrutura espacial da agricultura brasileira.
Um outro aspecto associado a esse novo enfoque nos estudos rurais, que deve ser
ressaltado, é aquele representado pelo esforço em tentar dirigir os estudos rurais
segundo um enfoque mais pragmático, o que, até então, não havia merecido a suficiente
atenção por parte dos geógrafos empenhados no estudo do espaço rural.
Os estudos de desenvolvimento rural que, já há bastante tempo, vêm sendo
empreendidos por geógrafos estrangeiros, voltados para os problemas de desequilíbrios
regionais, quase sempre enfatizando o sentido de dependência do mundo rural em
relação às áreas urbanas. Recentemente tem se procurado o papel dinâmico que os
espaços rurais podem desempenhar no desenvolvimento regional, perspectiva essa
derivada, principalmente, entre dos estudos e das experiências feitas em países em
desenvolvimento.
No Brasil, os estudos de desenvolvimento rural têm sido, preferencialmente,
tratados por economistas que têm se limitado mais à consideração dos aspectos
estruturais envolvidos nessa linha temática. Esses estudos procuraram utilizar o
arcabouço teórico-conceitual existente, a nível mundial, e, ao mesmo tempo, avaliar o
sentido de sua aplicação a um contexto brasileiro, dessa avaliação resultando, algumas
vezes, a formulação de conceitos e teorias adaptadas a um contexto nacional. Caberia
aos geógrafos, voltados para os problemas rurais, incorporar uma dimensão espacial aos
estudos de agricultura, dentro de um contexto de desenvolvimento, procurando, não só
considerar a distribuição espacial dos níveis de desenvolvimento, mas também, a
compreensão dos processos geradores da estrutura espacial do desenvolvimento do
espaço rural.
Os estudos de desenvolvimento rural deverão procurar abordar, principalmente os
aspectos referentes à modernização da agricultura, os problemas que essa modernização
possa acarretar em termos de liberação de mão-de-obra rurria e os problemas de
tornando, então, necessário avaliar o papel do emprego de uma tecnologia evoluída nos
trabalhos agrários, na liberação de mão-de-obra e no surgimento de novas relações de
trabalho. Sendo o estado de São Paulo aquele em que a modernização da agricultura
atingiu os seus mais altos níveis, justifica-se o interesse em dimensionar o impacto que
a tecnologia moderna tem ocasionado na força de trabalho agrícola.
A consideração da mão-de-obra volante na agricultura de São Paulo, e toda a
problemática a ela associada, tem um caráter fundamental numa ótica de
desenvolvimento do espaço rural, tendo em vista que uma melhoria nas atividades
agrárias não deve ser dissociada de uma melhoria nas condições de bem estar da
população rural.
Considerações Finais
Nota
1 – Texto publicado conforme o original, extraído dos Anais do 3º Encontro Nacional de Geógrafos,
AGB/UFC, Fortaleza, 1978, como documento básico para a Sessão Dirigida sobre Estudos Rurais. p. 57-
62. Agradecemos a Rivaldo Pinto de Gusmão a autorização para publicar o referido texto.
Referências
Revistas e boletins consultados para o levantamento das tendências dos estudos rurais
no Brasil.
1. Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros – São Paulo.