Cap3 Rebites2006
Cap3 Rebites2006
Cap3 Rebites2006
Informações gerais
As ligações rebitadas fazem parte das ligações fixas (não desmontáveis), apesar de
ser possível destruir os rebites para separar as peças.
A cravação do rebites pode ser feita a quente ou a frio. Quando os rebites são feitos
de aço, com diâmetro até 10...12mm ou quando os rebites são feitos de cobre, latão ou ligas
leves, a rebitagem pode ser feita a frio. Os rebites de aço de maiores diâmetros são
aquecidos até ao rubro claro.
Vantagens e Desvantagens
• Possibilidade de utilização para unir peças de materiais distintos, difíceis de soldar e para
materiais que não toleram o calor da soldadura.
• Redução da resistência do material (debilitação) por causa dos furos: 13 ... 42%, o que é
maior que nas ligações soldadas: 10 ... 40%
Classificação
* Ligações resistentes
* Ligações resistentes-herméticas
- Juntas sobrepostas
- disposição em filas
Nas ligações sobrepostas ou com uma cobre-junta os rebites estão sujeitos ao corte
simples (fig. 8.2 a ...f). Nas de duas cobre-juntas estão sujeitos ao corte-duplo e por isso
são mais resistentes (fig. 8.2 g ...i)
Tipos de rebites.
a) cabeça redonda
b) cabeça contra-punçoada abaulada
c) cabeça contra punçoada plana
d) rebite tubular (oco) com rebordos recurvados
e) rebites ocos
f) rebites explosivos (semi-ocos)
O material dos rebites deve ser o mesmo que o das peças a unir, se possível. Isto
evita a formação de pares galvânicos que podem acelerar a corrosão electroquímica.
Os rebites são feitos de aços macios dos tipos Aço 2, Aço 3 . Também se podem
empregar aços mais resistentes mas a sua rebitagem é mais difícil. Na aviação, é muito
comum o uso de rebites de duralumínio. Nas ligações de vários materiais pouco
resistentes também se empregam rebites de alumínio, cobre, latão e outras ligas, que
podem ser cravados a frio.
Tal como para os rebites explosivos, os rebites com vareta interior também se usam
quando não há acesso do outro lado, para formar a segunda cabeça. Estes rebites são
ocos e têm no seu interior uma vareta com uma extremidade avolumada e uma haste
com ou sem concentrador de tensões, na forma de uma ranhura. Durante a cravação, a
vareta é puxada para o exterior, expandindo as paredes internas do rebite e formando,
deste modo, a segunda cabeça. Quando a expansão da haste do rebite na parte interior
da peça atinge o limite, a vareta rompe-se automaticamente, deixando a parte
avolumada dentro da segunda cabeça. A vareta rompe na zona em que se situa o
concentrador de tensões, se existir. Uma das variantes do processo é usada para os
rebites ocos normais em que a parte avolumada dilata a extremidade do rebite mas
acaba por deslizar para o exterior (fig. 3-e). Os rebites ocos podem ter rebordos
recurvados (fig. 3 d), sendo utilizados para unir peças de materiais finos ou pouco
resistentes como couro, telas de tecido, etc. Os rebites ocos podem ter paredes de 0,25
a 1,5 mm. Tanto podem ser obtidos por transformação de tubos (para ligações vulgares)
ou por meio de maquinagem (para ligações importantes). O rebites ocos podem ser de
aço, cobre, alumínio ou outros materiais.
b) Quando os rebites se dispõem numa fila paralela à linha de acção das forças, a
largura necessária das peças é pequena mas a distribuição da carga é irregular (fig. 4-b,
10-b)
Quando se aplica uma carga na ligação rebitada, o seu comportamento pode ser
distinto, dependendo da presença ou ausência de folga. Em muitas cravações a frio, a
ligação não tem folga e por isso, logo que se inicia o carregamento surgem pressões
sobre as superfícies de contacto entre o rebite e as peças e o rebite tendo a cisalhar (fig.
7). A força de atrito contribui para resistir à força, mas sempre em adição ao efeito da
pressão no contacto e tendência ao cisalhamento.
A carga nos rebites não é uniformemente distribuida mas a carga externa é igual ao
somatório das cargas nos rebites. A carga em cada rebite depende do alongamento local
das peças ligadas, que por sua vez está associado às características da ligação,
incluindo a posição dos rebites e os módulos de elasticidade das peças ligadas, que
devem ser preferivelmente próximos.
Não se recomenda o uso de rebites com carregamento por tracção, ao longo do eixo
da haste do rebite.
As hastes das rebites podem ser destruidos por cargas estáticas que provocam
cisalhamento. Independentemente do tipo de ligação (com ou sem folga) o cisalhamento
pode provocar a rotura das hastas e da ligação (fig. 8-a)
Se a distância entre os rebites for pequena, a secção remanescente das peças pode
romper por insuficiência na resistência à tracção (linha ck, fig. 8-c).
Quando as peças têm uma pequena espessura pode ocorrer o esmagamento dos
rebites ou das peças, por excesso de compressão. (fig. SHIGLEY)
O cálculo das ligações rebitadas é feito com base em recomendações, nas quais se
escolhem os passos dos rebites (t), os diâmetros (d), as espessuras das cobrejuntas ( δ1)
e as bainhas (e) (fig. 7)
Supondo que há uma carga Ft que age sobre o conjunto de peças a ligar, cada
rebite está sujeito a uma carga:
Ft
F0 =
z
onde z - é o número de rebites que repartem a força Ft, na ligação (possivelmente não todos
os rebites, se houver cobre-junta)
A tensão normal na secção debilitada será maior que a tensão numa secção sem
furos. Na ausência de furos (secção a-a) – fig. 7:
F0
F0 = σ ' ⋅ t ⋅ δ ou σ ' =
t ⋅δ
σ' t−d
= =ϕ ϕ ≤1 (REB. 1)
σ t
4 ⋅ Ft
τ cis = ≤ [τ ] (REB. 2)
π ⋅d 2 ⋅ z ⋅i
σ esm = σ c =
Ft
d ⋅ δ min ⋅ z
[ ]
≤ σ esm (REB. 3)
F0
σ tr = ≤ [σ tr ] (REB. 5)
(t − d ) ⋅ δ min
Ft
σ tr = ≤ [σ tr ] (REB. 6)
(b − z ⋅ d ) ⋅ δ min
onde: z - é o número de rebites que repartem a força (nem sempre é o número total)
i - é o número de planos cisalhantes.
δmin - é a espessura da peça mais fina na ligação
b ou l - é a largura das peças unidas
t – é o passo entre os rebites
Ft – é a força total sobre a ligação
F
F0 – é a força por cada rebite da ligação = t
z
Quando a ligação rebitada não tem folga, como acontece quando a rebitagem é feita
a frio, a compressão mútua entre as hastes dos rebites e os furos começa logo que se
aplica a carga externa e conjuga-se com a força de atrito. Assim, as ligações com rebites
cravados a frio são resistentes e rígidas.
Numa ligação rebitada com várias filas de rebites, a carga não se distribui
uniformemente pelas filas a não ser que se tomem medidas para o efeito. O fenómeno é
similar ao que ocorre nas ligações soldados com cordões laterais longos. Os pontos mais
externos das ligações tendem a alongar mais sob o efeito da carga, o que tem como
consequência uma maior tensão nas extremidades. Os rebites das filas intermédias
estão numa posição menos deformada das peças, visto que uma parte da carga já está
transferida para a outra peça conjugada pelos rebites exteriores. Uma das soluções para
a irregularidade excessiva na distribuição das tensões é o aumento deliberado da
flexibilidade das peças unidas nas extremidades (figs. 9 e 10 - d). (fig. 2.5.5. IVANOV)
Cargas Variáveis
1
γ = (REB. 7)
Qmin
1 − 0,3 ⋅
Qmax
onde Qmin e Qmax são cargas com sinais opostas, que são considerados na fórmula.
Quando um grupo de rebites (ou parafusos) é carregado por uma força cuja linha de
acção não passa pelo centro do grupo considera-se que a força é excêntrica. O centro do
grupo é um ponto pelo qual a linha de acção de uma força não gera momentos resultantes.
Este ponto chama-se centróide. Todas as forças que não passem pelo centróide criam
momentos que tendem a girar uma peça relativamente à outra em redor do centróide.
Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações rebitadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 65
Assim, as reacções totais que se observam nos rebites têm que contrabalançar não só as
forças excêntricas como também os momentos gerados por estas. Assim, a força de
cisalhamento em cada rebite será a soma das reacções à força e ao momento.
As reacções a uma força cisalhante externa são paralelas e têm direcção contrária à
da força externa. Porém, as reacções ao momento têm direcções diferentes que dependem
da posição de cada rebite relativamente ao centróide. Estas reacções são perpendiculares
ao raio-vector r que vai desde o centróide 0 ao centro do rebite (A, B, C e D na fig. 11).
Pressupondo que os rebites são semelhantes, as reacções à força cisalhante externa
podem ser determinadas, com uma boa aproximação, como a razão entre a força externa e
o número de rebites:
Ft
FFi = (REB. 8)
z
onde:
FFi – é a reacção no rebite i devida ao efeito cisalhante da força externa;
Ft – é a força total externa
z – é o número total de rebites que aparam a força externa
i – é a designação do rebite dado (por exemplo A, B, C, etc. )
As reacções ao momento FMi têm valores desconhecidos. Sabe-se que a soma dos
momentos de cada reacção é igual ao momento reactivo total, cujo valor é igual ao
momento externo. Esta afirmação pode ser expressa por:
FMA FMB F
= = ... = MN = constante (REB. 10)
rA rB rN
Assim sendo, qualquer uma das reacções pode ser usada para representar as outras. Por
exemplo, se se escolher a reacção FMB pode-se escrever:
FMB F F F
FMA = ⋅ rA ; FMB = MB ⋅ rB ; FMC = MB ⋅ rC ; … FMN = MB ⋅ rN (REB. 11)
rB rB rB rB
FMB F F F
M = ⋅ rA ⋅ rA + MB ⋅ rB ⋅ rB + MB ⋅ rC ⋅ rC + ... + MB ⋅ rN ⋅ rN
rB rB rB rB
M ⋅ ri
FMi = (REB. 12)
(
r + r + rC2 + ...rN2
2
A
2
B )
Desta forma determina-se a magnitude da reacção devida ao momento em qualquer dos
rebites.
NOTAS: - Para cargas variáveis pode-se calcular a tensão admissível como sendo 10 ...20%
inferior aos valores tabelados
Resolução:
∅120
σ esm = σ c =
Ft
d ⋅ δ min ⋅ z
[
≤ σ esm
'
] (REB. 3)
onde Ft deve ser subsituida pela força externa total (para os 6 rebites), quer seja devida ao
cisalhamento quer seja devida ao momento torsor.
π ⋅ d 2 ⋅ z ⋅i π ⋅ 82 ⋅1 ⋅1
Ft _ τ = ⋅ [τ ] = ⋅ 140 = 7037 N
4 4
Comparando os valores das forças que podem ser suportadas por cada rebite, nota-
se que as tensões críticas são as de cisalhamento, ou seja, nas condições dadas, o rebite
resiste menos ao cisalhamento. Assim, os cálculos na base das tensões de esmagamento
são escusados.
Para fins práticos, não é necessário fazer o cálculo desta alínea uma vez que se sabe que a
força devida ao momento nesta alínea é metade da máxima. Bastaria multiplicar o momento
achado para a alínea a) por 0,5.
Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações rebitadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 69
♦
2. Rebites com distribuição não uniforme
Uma ligação rebitada tem dois perfis de 200 mm de largura formando um L. Um dos perfis
tem 5 mm de espessura e o
outro 10 mm. Os furos são
brocados. Os rebites e os perfis
325 são de Aço 2. O diâmetro dos
rebites é de 10 mm. Na
extremidade do perfil horizontal,
A B a 125 mm do rebordo inferior do
perfil e 325 mm do perfil
vertical, aplica-se uma força
estática F, inclinada em +45º,
C relativamente ao plano
horizontal. Os rebites são 3 e
situam-se a 25 mm dos
rebordos, formando um
triângulo equilátero cujos lados iguais têm 150 mm. Calcular o valor máximo da força que se
aplica na extremidade tendo em vista:
Resolução:
A B
α rB
rA
RFA RFB RMB
•0
rC
Reacção à força
F
R AF = RBF = RCF =
3
As reacções à força são representadas no sentido oposto ao da força externa, por
conveniência. Assim, não é preciso fazer quaisquer decomposições.
Reacção ao momento
M ⋅ rA M ⋅ rB M ⋅ rC
RMA = RMB = RMC =
(r + rB2 + rC2 ) ;
2
A (r + rB2 + rC2 ) ;
2
A (r + rB2 + rC2 )
2
A
BC 150 1 1
tgα = = = ou seja α = arctg = 26,56º
2 ⋅ (A B ) 2 ⋅ 150 2 2
150 1
0 A = rA = ⋅ = 111,8 mm ;
3 sen 26,56
50
0 B = rB = = 70,71 mm ;
sen 45
0 A = rA = 100 2 + 50 2 = 111,8 mm ;
0 B = rB = 50 2 + 50 2 = 70,71 mm ;
0 C = rC = 100 2 + 50 2 = 111,8 mm.
( ) ( ) ( )
rA2 + rB2 + rC2 = 100 2 + 50 2 + 50 2 + 50 2 + 100 2 + 50 2 = 30.000
M ⋅ rA F ⋅ ⋅ rA 400 400
RMA = = v = Fv ⋅ ⋅ rA = Fv ⋅ ⋅ 111,8 = 1,49 ⋅ Fv ;
(r + rB + rC ) 30000
2
A
2 2
30000 30000
M ⋅ rB 400 400
RMB = 2 = Fv ⋅ ⋅ rB = Fv ⋅ ⋅ 70,71 = 0,94 ⋅ Fv ;
(rA + rB + rC )
2 2
30000 30000
M ⋅ rC 400 400
RMC = 2 = Fv ⋅ ⋅ rC = Fv ⋅ ⋅ 111,8 = 1,49 ⋅ Fv ;
(rA + rB + rC )
2 2
30000 30000
Assim:
RMC = RMA = 1,49 ⋅ Fv = 1,49 ⋅ (F ⋅ sen 45) = 1,05 ⋅ F
Rc = RMC
2
+ RFC
2
+ 2 ⋅ RMC ⋅ RFC ⋅ cos 18,43 = 1,37 ⋅ F
Resistência ao corte
Nesta fórmula, o papel da força cisalhante é desmpenhado pelo valor máximo da força no
rebite, RC. O número de rebites é z=1 (só se considera o rebite C) e só há um plano de
cisalhamento (i=1). A tensão admissível é seleccionada da tabela [τ]=140 MPa. Assim, a
força máxima no rebite segundo a condição de resistência ao cisalhamento fica:
π ⋅d2 ⋅ z ⋅i π ⋅ 10 2 ⋅ 1 ⋅ 1
Ft = RC ≤ ⋅ [τ ] = ⋅ 140 = 11 ⋅ 10 3 N
4 4
Resistência ao esmagamento
Ft
σ esm = σ c = ≤ [σ esm ]
d ⋅ δ min ⋅ z
Conclusão
Dos cálculos deduz-se que a condição mais crítica é a resistência ao corte, que
confere a menor força limite na extremidade da barra:
RC 11 ⋅ 10 3
F= = = 8 ⋅ 10 3 N . ♦
1,37 1,37