Poder Psiqico Da Hipnose Instrumento de Saúde e Auto Conhecimento-Simeon Edmunds
Poder Psiqico Da Hipnose Instrumento de Saúde e Auto Conhecimento-Simeon Edmunds
Poder Psiqico Da Hipnose Instrumento de Saúde e Auto Conhecimento-Simeon Edmunds
PODER
PSÍQUICO DA
Instrumento de saúde e
autoconhecimento
SIMEON EDMUNDS
PODER
PSÍQUICO DA
HIPNOSE
Instrumento de saúde e
autoconhecimento
Supervisão da Série
MAXIM BEHAR
NORBERTO DE PAULA LIMA
iv s é zn v /ij-
Tradução:
Lindbergh Caldas de Oliveira
Composi
posição,
ção, Revisão
Revisão e Arte:
Arte:
Estúdio Behar
Títu
Títullo orig
origina
inal:
l:
THE PSYCHIC POWER OF HYPNOSIS
© Copyright 1 982 by The Aquar
Aquarian
ian Pres
Presss
ISBN 0 85030 291 9
© Copyright 1983 by Hemus Editora
Editora Ltda
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Mediante contrato firmado com The Aquarian Press
Todos
Todos os direi
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Impresso no Brasil
índice
2 Hipnotismo e hipnose
O estado hipnótico — Técnicas de indução — Alucinações e
regressão —Auto -h ip nose............................................................... 12
5 Hipnose e paranormalidade
Dr. Bjorkhem - Jarl Fahler - A “senhorita B” - Prof. Vasilyev
—Dr. Ryzl —As experiências do Dr. E isenbud.......................... 33
6 Pseudoclarividência e reencamação
Memórias psíquicas e lembranças nítidas —“Brídey Murphy” . 48
l Hipnotismo e hipnose
O estado hipnótico
A palavra hipnotismo trata do assunto de uma forma abrangente,
bem com o das técnicas adotadas para induzir indivíduos ao estado
de hipnose , apesar do termo ser usado indistintamente tanto para
designar a hipnose propriamente dita quanto para o hipnotismo
propriamente dito. A palavra “hypnos” (do grego, significando, em
português, sono) foi utilizada pela primeira vez pelo médico hipno
tizador Dr. James Braid, pioneiro experimentador, como alternativa
para os termos “mesmerismo” e “magnetismo animal” , segundo a
crença errônea de que a hipnose seria uma forma particular de sono.
É verdade que certos estados hipnóticos apresentam semelhanças
superficiais com o sono normal e que determinadas sugestões de
sonolência são dadas freqüentemente quando da indução ao estado
hipnótico. Há, entretanto, grande diferença entre os dois estados,
lora o fato de um indivíduo adormecido não responder quando inter
rogado sobre algo, ao passo que outro sob estado hipnótico reage às
sugestões do hipnólogo, diferença esta mostrada por grande número
de testes científicos e observações.
Os reflexos, por exemplo, apresentam-se geralmente imutáveis sob
hipnose (exceto quando se dá sugestões ao contrário), mas diminuem
consideravelmente durante o sono. A resistência elétrica do corpo
também não é afetada pela hipnose, embora aumente cerca de dez
vezes durante o sono. Experiências recentes para medir as “ondas
cerebrais” por meio de encefalogramas demonstram essa diferença
de forma conclusiva.
O estado de hipnose é um tanto difícil de ser descrito. Pode variar
na forma, desde o alerta obediente até a inconsciência aparente, e
em graus de profundidade, de um estado de leve dissociação ao pro
fundo transe do sonâmbulo. Tem sido definido como ura estado no
qual a mente está peculiarmente suscetível à sugestão, mas embora
tal assertiva seja verdadeira, é apenas uma parte da história toda. É
totalmente impossível descrever a hipnose de forma breve, menos
ainda com poucas palavras.
Talvez a melhor maneira de se adquirir uma visão mais clara a
respeito da mesma seja olhar alguns fatos a ela pertinentes — sua
indução, fenomenologia, potenciais e limitações - e considerar
alguns conceitos errados sobre ela.
Inicialmente, o contato direto que a maioria das pessoas tinha
com o hipnotismo consistia provavelmente em participai de shows
teatrais ou simplesmente assisti-los. Não obstante a publicidade
c alegorias feitas em torno dos mesmos, eles eram, sem dúvida,
demonstrações reais. Os voluntários que bebiam água e embriagavam-
se, transpiravam enquanto venciam competições esportivas imagi
nárias, comiam cebolas com prazer pensando serem frutas doces,
e assim por diante, estavam realmente hipnotizados. Mesmo come
diantes utilizados para tais finalidades demonstravam ser bons
discípulos quando sob hipnose.
Pode-se acrescentar, à guisa de exemplo, que vários shows dessa
natureza foram considerados ilegais, pois neles muitos voluntários
feriram-se em conseqüência de sugestões feitas aleatoriamente.
O potencial de dano derivado do uso incorreto do hipnotismo
tornar-se-á mais claro à medida que avançarmos no texto.
Diversamente à crença popular, não é uma questão de “força de
vontade” obter-se um bom condicionamento para a hipnose. Já se
provou que as pessoas mais inteligentes e imaginativas são as mais
fáceis de serem hipnotizadas e isso nada tem a ver com uma força
de vontade “fraca”, ou qualquer outro fator indicando apenas
normalidade. As pessoas loucas e mentalmente deficientes são as
mais difíceis de serem hipnotizadas.
A maioria das pessoas pode ser hipnotizada. Concorda-se em que
apenas cinco a dez por cento das pessoas são virtualmente não-hipno-
tizáveis. Vinte e cinco por cento entram rapidamente em leve transe,
outra porcentagem semelhante em sonambulismo profundo, e o
restante atinge graus intermediários de hipnose.
Certos indivíduos entram em transe profundo na primeira tenta
tiva; já outros exigem um aprofundamento progressivo do grau de
hipnose nas sessões subseqüentes. É errado dizer-se que um indiví
duo não pode ser hipnotizado. Há registros de um caso em que um
médico teve de tentar setecentas vezes com um paciente antes de
obter êxito.
As sensações e reações de um indivíduo hipnotizado não são
fáceis de serem descritas e as tentativas nesse sentido só podem ser
generalizadas, mas, de maneira geral, os vários graus de hipnose
podem ser assim classificados:
Alucinações e regressão
O detalhe mais impressionante na hipnose é o fato do paciente
vivenciar alucinações sugestionadas. Diga-lhe que um enorme cão
preto encontra-se no local e ele prontamente o verá. Diga-lhe que
uma cebola é uma maçã doce e ele sentirá exatamente o sabor pre
tendido. Sugira-lhe que está tocando um violino e ele fará os gestos
do violinista e dirá o nome da música que está executando. Com uma
palavra, um pedaço de cartolina em branco torna-se um quadro, e
um vaso vazio, cheio de flores de aroma forte, inebriante.
Ainda mais impressionantes são as alucinações negativas, aceitas
prontamente. Uma pessoa desapareceu da sala, um móvel desma
iei ializou-se, a voz de alguém presente já não é mais ouvida, sente-se
o cheiro de uma substância forte e penetrante: tudo isso como resul-
lado de simples sugestões do hipnotizador.
Por meio de sugestões póshipnóticas - dadas durante a hipnose
r exteriorizadas em estado de vigília —todos os fenômenos citados
podem ser produzidos em ocasiões futuras, talvez horas, dias, meses,
ou mesmo anos distantes. Apesar de —conforme o caso - externar
sugestões pós-hipnóticas por escrito, o paciente raramente se recor
dará de ter sido sugestionado. Esse processo tem valor extraordinário
cm terapia hipnótica.
Um paciente sob hipnose pode ser induzido a lembrar-se de expe-
tiéncias passadas que, consciente, já teria esquecido completamente.
( crtos pacientes relembram apenas as circunstâncias que envolveram
is experiências, outros, por sua vez, parecem revivê-las e mostram
Iodas as reações e sensações sentidas originalmente. Por meio deste
ultimo processo, conhecido como regressão no tempo, um paciente
pode ser conduzido, através de retrocesso progressivo, a um estágio
As vezes anterior à própria infância.
Na regressão no tempo parece estar envolvido algum outro fator
além do aumento da percepção da memória. Um indivíduo levado
de volta à sua infância, por exemplo, irá escrever de maneira infantil,
icsponderá a testes de inteligência da maneira própria a uma criança
ilr idade correspondente, além de apresentar reflexos fisiológicos
l>eculiares a essa faixa etária.
O processo de regressão no tempo é de grande valia na psiquiatria,
sondo conhecido como hipnoanálise.Quando um distúrbio de ordem
emocional passado vem a ser a causa da desordem'psíquica, verifica-
so geralmente que o fato de reviver essa experiência libera os senti
mentos reprimidos e dessa forma produz-se um grande alívio emocio
nal. Este processo, que podemos chamar de “fase de abertura”, é
geralmente muito dramático.
I)e vez em quando o hipnotizador defronta-se com um caso de
icgressão falsa no qual o paciente “revive” uma experiência imaginá-
ria ou episódio fictício. A habilidade que alguns indivíduos possuem
de “representar” as emoções próprias do sugestionamento, de forma
bem convincente, é bem conhecida, tomando-se assim necessário
verificar cuidadosamente os dados obtidos a fim de checar sua veraci
dade e só a partir daí aceitar qualquer processo de regressão no
tempo como sendo verdadeiro.
Auto-hipnose
Um outro aspecto do hipnotismo que deve ser levado em consi
deração é aquele que abrange o processo da auto-hipnose. Conforme
já mencionado, a técnica de indução à hipnose consiste basicamente
de um processo subjetivo no qual o hipnólogo conduz e estimula o
paciente. É possível, entretanto , atingir estados hipnóticos sem a
ajuda do hipnólogo. Já foi observado que certas pessoas entram
espontaneamente num processo característico de ligeira auto-hipnose
enquanto outras são capazes de consegui-lo usando apenas a força
de vontade.
O estado hipnótico conhecido como “meditação profunda” é um
exemplo bem comum da leve auto-hipnose espontânea e, ao longo
dos séculos, muitos poetas famosos, escritores e músicos compuse
ram suas obras-primas quando se encontravam em condições de
transe semelhantes. Dentre outros, podemos citar Goethe, Coleridge,
Hoffman e Mozart, alguns dos gênios a quem Paul Richter referiu-se
ao escrever: “O gênio é, em muitos aspectos, um verdadeiro sonâm
bulo. Em seu sonho lúcido vê mais longe que quando desperto e
alcança os píncaros da verdade”.
É possível, embora não tão fácil, aprender como induzir a auto-
hipnose através de auto-sugestão. Uma técnica que freqüentemente
surte efeito consiste em sentar-se e permanecer relaxado de maneira
idêntica àquela em que se fica quando se está sendo hipnotizado por
outra pessoa. Em seguida formula-se auto-sugestões apropriadas
quer mentalmente quer em voz alta, tal como um hipnólogo faria.
Com a prática pode-se alcançar um estado profundo de hipnose.
Na maioria dos casos é melhor sentar-se confortavelmente que se
deitar: isso ajuda a evitar a sonolência natural causada pela postura,
causa freqüente de falhas na tentativa de se auto-hipnotizar.
Certamente, a maneira mais rápida e correta de auto-hipnotismo
consiste em deixar-se hipnotizar da maneira normal e durante a
sessão receber sugestões pós-hipnóticas de que a auto-hipnose poderá
ocorrer em qualquer data futura que se deseje. É comum ao hipnó
logo sugerir que para realizá-la será necessário repetir apenas uma
simples “fónnula-gatilho” para a obtenção dos resultados almejados.
Tal fórmula pode constituir-se apenas das palavras “agora entrarei
em estado de hipnose durante X minutos”. Na maioria das vezes,
basta apenas um a sessão com um hipnólogo, mas, para que os resul
tados sejam permanentes e realmente eficazes, são necessárias várias
sessões nas quais a sugestão pós-hipnótica é repetida e reforçada.
0 hipnotism o — como o leitor já deve ter percebido —é, em si,
um vasto e complexo assunto e neste espaço resumido é possível
somente traçar-lhe os contornos gerais. Achamos, contudo, que essas
linhas gerais são suficientes para a finalidade a que nos propomos
no momento.
3/ Fenomenologia
e pesquisa psíquica
Ao longo da história persiste a crença naquilo que chamamos
comumente de sobrenatural: fantasmas e assombrações, clarividência,
magia de feiticeiras, profecias de cartomantes, telepatia, telecinese,
cura milagrosa de enfermos, comunicação com o além, e muitos
outros fenômenos estranhos que parecem desafiar as leis naturais.
Conquanto as pessoas cultas hoje em dia tentem desmistificar tais
crendices tachando-as de tolas superstições, permanece uma incóg
nita acerca do imponderável. Referimo-nos a inumeráveis registros
de ocorrências dessa natureza, feitos por homens eminentemente
ilustres e íntegros cujo testemunho em assuntos de caráter científico
é profundamente respeitado.
Nenhum exame sério dessas ocorrências foi tentado até meados
do século dezenove e, mesmo então, poucos homens com respaldo
científico acharam válido analisá-los e os cientistas representantes
da ciência ortodoxa da época - cuja atitude muito se assemelha à
de muitos cientistas atuais - recusaram-se a considerar qualquer coi
sa que não estivesse de acordo com suas próprias e limitadas teorias.
O interesse por fatos sobrenaturais ou paranormais (o primeiro
não é usado correntemente pelos estudiosos do assunto) foi desper
tado por duas razões: (a) os primeiros hipnotizadores ou magnetiza
ilores (segundo o jargão da época) mencionavam a ocorrência de po
deres clarividentes, demonstrados por alguns de seus pacientes sob
estado de transe, e (b) devido ao rápido crescimento do espiritismo
e aos extraordinários feitos de seus “médiuns” .
Em conseqüência disso, grande número de cientistas e estudiosos
do assunto, incluindo alguns dos mais eminentes pensadores da
época, passou a dedicar-se ao estudo do que um deles, Sir William
Itarret, descrevia como “aquela fronteira discutível existente entre
o território já conquistado pela ciência e os escuros domínios da
superstição e ignorância” . Esses fenômenos passaram a ser chamados
de psíquicos e sua investigação de pesquisa psíquica.
Terminologia
Embora haja um grande número de opiniões divergentes com rela
ção ao material mvestigado através da pesquisa psíquica, existem
duas classes de fenômenos que, segundo o autor, tiveram todas as
suas dúvidas dirimidas. Esses fenômenos são a telepatia, ou trans
ferência de pensamentos, como é geralmente conhecida, e a clari
vidência, ou, como é mais popularmente conhecida, “terceira visão”.
A telepatia pode ser definida como “a comunicação de idéias de
uma mente para outra, independente dos canais de sentidos que se
conhecem”. A clarividência, segundo a definição adotada pelos
pesquisadores psíquicos, é “a percepção extra-sensorial de eventos
objetivos de forma bem distinta das idéias originadas na mente de
uma outra pessoa”. Tanto a telepatia quanto a clarividência estão
incluídas entre os fenômenos PÉS (Percepção Extra-Sensorial), e
usa-se freqüentemente esta terminologia porque na prática é geral
mente difícil distinguir entre os dois. Por exemplo, se percebo que
um amigo está à porta do meu quarto, poderia ser perfeitamente
possível que eu tivesse captado uma espécie de transmissão de sinal
de sua mente, o que seria telepatia, ou poderia, por outro lado,
ocorrer deste amigo ter sido “visto” diretamente, o que seria clari
vidência.
De forma semelhante, o indivíduo que em experiências de labora
tório utiliza seus poderes PES para “identificar” grande número de,
digamos, cartões manuseados pelo experimentador em sala contígua,
pode estar “vendo” tais cartões diretamente, o que seria clarividên
cia, ou pode estar obtendo as respostas corretas da mente do experi
mentador, o que seria um caso de telepatia, ou seja, um destes fenô
menos pode estar envolvido. Se em casos excepcionais envolvendo
PES houver necessidade de excluir a possibilidade da telepatia de
forma que a ocorrência de clarividência seja testada, ou vice-versa,
então deve-se tomar medidas especiais de precaução.
Também inclui-se entre os fenômenos PES a precognição ou
conhecimento antecipado de um fato a ocorrer no futuro que não
poderia ter sido conseguido utilizando-se meios normais. Pode-se
citar ainda a retrocognição ou póscognição, que é a percepção extra-
sensorial de um fato ocorrido no passado. As evidências tanto da
precognição como da retrocognição são quase tão boas quanto as
da telepatia e clarividência.
Parece existir também alguma evidência laboratorial da psicoci
nese, a influência direta da mente sobre objetos, como, por exemplo,
quando se usa a vontade para fazer com que um dado caia sempre
com a face que se deseja voltada para cima. Inúmeros pesquisadores
que aceitam a ocorrência das várias formas de PES, não acreditam,
contudo, em fenômenos “físicos”, tal coino a psicocinese.
Telepatia espontânea
Grosso modo, pode-se dividir a pesquisa psíquica em duas cate
gorias: a verificação e investigação de relatos de ocorrências espontâ
neas e a realização de experiências que visam produzir tais fenômenos
sob condições cientificamente controladas. São comuns relatos de
casos do que parece ser telepatia espontânea entre pessoas que têm
fortes laços afetivos entre si. Quem já não ouviu falar de casos de
pessoas que souberam, de alguma forma inexplicável, da doença de
um parente ou do acidente sofrido por algum ente querido? Os regis
tros da SPR incluem muitos casos dessa natureza.
Um soldado, o general-de-divisão Richardson, foi gravemente feri
do em batalha, e pensando estar à beira da morte pediu a um ajudante-
de-ordens para tirar um anel de seu dedo e mandá-lo à esposa que
naquele momento achava-se a muitos quilômetros de distância.
Quase ao mesmo tempo sua esposa teve esta estranha experiência.
Foram estas suas palavras:
“Estava deitada em minha cama, semi-adormecida, quando vi
perfeitamente meu marido sendo retirado do campo de batalha,
gravemente ferido, e depois dizer: ‘Tire este anel do meu dedo e
mande-o à minha mulher’. Durante todo o dia seguinte não pude
esquecer a experiência um só momento. Certo tempo depois
eu soube, é claro, que meu marido fora gravemente ferido em
batalha. Conseguiu sobreviver, entretanto. Posteriormente o
ajudante-de-ordens contou-me pessoalmente o fato e as mesmas
palavras que eu ouvira a muitos quilômetros de distância no exato
instante em que foram ditas por meu marido”.
Observe que a esposa do oficial afirmou estar “deitada em sua
cama num estado de semiconsciência”. Este estado, chamado de
condição hipnagógica, é muito parecido com a auto-hipnose na qual
as experiências psíquicas parecem ocorrer com certa facilidade.
Psicometria e psicografia
Qualquer que seja o tipo de PES, se telepatia, clarividência, pre-
cognição, etc., a maneira de perceber os eventos varia de uma pessoa
para outra e segundo as circunstâncias de cada caso em particular.
Além dos sonhos, visões hipnagógicas e leitura de bola de cristal,
como nos exemplos dados, as outras formas mais comuns são a
psicometria, ou leitura de objetos, e a psicografia.
Certas pessoas, ao segurar um objeto, são capazes de descrever
eventos e pessoas ligadas ao mesmo. Algumas vezes uma fotografia
ou uma carta selada é submetida à psicometria, da mesma maneira.
Parece haver duas formas mais ou menos distintas de psicometria,
uma das quais consiste do “sensitivo” perceber fatos diretamente
associados ao objeto e outra na qual o objeto parece formar um elo
telepático entre a mente do sensitivo e a mente da pessoa ligada a
ele. Neste caso, parece que o objeto —uma vez estabelecido o enca-
deamento —perde sua utilidade.
Certas pessoas crêem que se pegarem caneta e papel e direciona
rem seus pensamentos, conscientemente, para alguma outra ativi
dade, a caneta começará a escrever sozinha, algumas vezes rabiscos
totalmente desprovidos de sentido, e outras, frases perfeitamente
inteligíveis. Isso não envolve, é claro, nenhum fator psíquico ou
paranormal. Na verdade, a psicografia é usada freqüentem ente em
psiquiatria como meio de se chegar a lembranças de eventos que
repousam em áreas do inconsciente.
Uma vez ou outra, entretanto, essa escrita revela conhecimentos
que não poderiam ter sido obtidos por meios normais, e há casos até
surpreendentes em que várias psicografias feitas em locais diversos
apresentavam material ininteligível separadamente, mas que, em con
ju nto , tomavam-se perfeitamente coerentes.
As adivinhações com o copo e o tabuleiro Ouija são apenas algu
mas variações da mesma forma de automatismo.
Todas essas “técnicas” de percepção psíquica são, segundo o
autor —e talvez para a grande maioria dos pesquisadores atuais —
processos subjetivos, não-paranormais em si mesmos, através dos
quais o conhecimento adquirido de forma paranormal toma-se com
preensível ao sensitivo. A matéria-prima PES aflora diretamente, a
princípio, como se estivesse a nível inconsciente.
Alguns sensitivos chegam mesmo a dispensar tais objetos: expli
cam apenas que sabem e só.
Poderes mediúnicos
Os espíritas acreditam, é claro, que através de todos esses métodos
pode-se estabelecer comunicação com os espíritos de pessoas já
falecidas. A história, contexto e psicologia do espiritismo são muito
complexos para permitirem uma abordagem sucinta neste ponto;
diríamos apenas que o tipo de evidência produzida na grande maioria
das sessões espíritas teria valor praticamente nulo para pesquisadores
psíquicos realmente sérios e que as provas concretas da ocorrência
desses fenômenos provêm não do espiritismo em si, mas do trabalho
desenvolvido pela pesquisa psíquica.
Não é objetivo deste livro questionar o fato de que alguns médiuns
possuem poderes psíquicos genuínos, mas o sucesso da maioria deles
prende-se mais freqüentem ente à grande credulidade que despertam
e à crença daqueles que os procuram. Talvez seja oportuno observar
que poucos médiuns se dispõem a submeter-se a investigação cientí
fica feita por pesquisadores sérios.
É reduzido o número de médiuns de renome que têm colaborado
com os pesquisadores psíquicos e demonstrado evidências incontes
táveis de algum tipo de faculdade psíquica, muito embora a comuni
cação com os mortos seja, no mínim o, uma questão em aberto.
Um dos mais famosos sensitivos desse quilate na Inglaterra foi
indubitavelmente Douglas Johnson, que além de suas atividades
profissionais normais como médium, submetia-se voluntariamente
a experiências científicas realizadas com o uso ou não da hipnose.
Muitos hão de lembrar-se de suas demonstrações convincentes de
psicometria no programa “Linha da Vida” , da BBC de Londres.
Deve-se notar que Johnson acreditava realmente estar em contato
com pessoas já falecidas.
Referimo-nos aqui aos médiuns “mentais”, ou seja, àqueles que
fornecem informação falada ou escrita, caso estejam ou não em
estado de transe. O chamado transe mediúnico, segundo já demons
trado claramente, trata-se de um estado de auto-hipnose, e a maioria
dos pesquisadores é de opinião que as entidades que presumivel
mente baixam (guias) são simplesmente personalidades secundárias
dos próprios médiuns.
Praticamente todos os assim chamados médiuns “físicos” —
aqueles que dizem materializar objetos, fazer levitação, sons de bati
das, fotografias de espíritos e outros efeitos psicocinéticos —foram
devidamente investigados e provou-se serem embusteiros e nenhum
deles mostrou de forma convincente haver produzido manifestações
psíquicas verdadeiras. Na verdade, a maioria de suas atuações cons
titui uma tapeação tão descarada que o pesquisador Archie Jarman
descreveu-os certa vez como “o tipo de mediunidade fraudulenta
que concorre para espalhar a má reputação até mesmo entre os
médiuns charlatães”.
Nos
No s prim
pr imei
eiro
ross an
anosos do h ipn ip n o tism
ti sm o , o u m esm es m eris
er ismm o, cocom m o era
então chamado, o tema era considerado geralmente como algo para-
normal. Os transes, alucinações, estados de catalepsia, e assim suces
sivamente, eram considerados como coisas induzidas por alguma
espé
espécie
cie de estranho fluido fluido magnético, enq uan to o próprio m agn agneti
etiza-
za-
dor acreditava-se dotado de poderes que os simples mortais não
poss
po ssuíuíam
am..
Atualmente, poucas pessoas sustentam esse ponto de vista, muito
embora a verdadeira natureza da hipnose ainda seja algo não com
pre
p reee nd
ndid
idoo em sua tota to tali
lidd ad
adee . Desde
Des de o tem te m p o de Mesmer,
Mesm er, c o n tud tu d o ,
afirmaram-se vezes sem conta que alguns indivíduos sob estado
hipnótico possuíam realmente poderes psíquicos tais como clarivi
dência, telepatia, precognição, etc. Já dissemos que o interesse pela
pesq
pe squis
uisaa psíq
ps íquu ica
ic a foi esti
es timm u lado
la do inic
in icia
ialm
lmen ente
te p o r afir
af irmm açõe
aç õess de
dest
staa
natureza e também pela difusão crescente do espiritismo. É interes
sante notar que muitos dos mais conhecidos médiuns do século
passa
pa ssadodo cocomm eçar
eç aram
am suas carreicar reira
rass cocomm o indi
in diví
vídu
duos os m esmes m éric
ér icos
os da
escola Mesmer.
F. A. Mesme
Mesmerr (1733-1815
(1733 -1815)) parece ter travado con conhecim
hecim ento com
pessoa
pe ssoass do dota
tada
dass de po podedereress psíq
ps íqui
uicocos.
s. E m bo borara n ã o ten te n h a de
deix
ixad
adoo
documentos que corroborem tais afirmativas, pode-se deduzir isso —
de maneira
mane ira bem clara — de seu seuss escritos.
escritos. Num deles, refere-se, refere-se, por
exemplo, à humanidade como seres “dotados de uma sensibilidade
que os capacita a estar em sintonia mental com aqueles que estão
em volta, e mesmo a distâncias maiores”, e acrescenta que “às vezes,
uma pessoa em estado sonambúlico pode perceber fatos passados e
futuros através da percepção interior”.
O mais antigo relato confiável sobre a intensificação de poderes
psíq
ps íqui
uico
coss atravé
atr avéss da hipn
hi pnososee papare
rece
ce ter
te r sido
sid o feit
fe itoo pe
pelolo Marquê
Mar quêss de
Puysegur, discípulo de Mesmer que em 1807 publicou o livro Do
magnetismo animal, contendo muitos exemplos. Um destes casos
é sobre um indivíduo, jovem agricultor ignorante, que sob mesme-
rização demonstrou não só aumento de sua inteligência mas também
notáveis poderes de clarividência. De Puysegur observou que diversos
indivíduos sem qualquer conhecimento médico eram capazes de
lazer diagnósticos exatos de doenças. Notou, outrossim, que ocasio
nalmente uma outra personalidade parecia vir à tona, demonstrando
mais faculdades e visão visão mais clara das coisas que a origina original.l.
Afirmações semelhantes foram feitas por Alexandre Bertrand,
notável médico francês, em sua obra Tratado sobre o sonambulismo,
publ
pu blic
icad
adoo em 18 182323.. B ertr
er tran
andd ve
veri
rifi
fico
couu tamta m b ém que alguns
alg uns indi
in diví
ví
duos podiam obedecer a comandos ordenados “mentalmente”, ao
passo qu quee o u tro
tr o s teri
te riam
am e x p e rimri m e n tad
ta d o algo co com
m o um a espéci
esp éciee de
“comunidade de sensação” com ele. Quase ao mesmo tempo, o Barão
Du Potet, um dos primeiros a reconhecer o valor da hipnose como
anestésico, demonstrou o “mesmerismo à distância” para os mem
bros da A cade
ca demm ia de M ed edici
icina
na da Fran
Fr ançaça..
Em 1840, o Rev. C. H. Townsend registrou a mesmerização
de uma adolescente numa residência distante do local em que se
encontrava. AfirmAfir m ou aindaa inda que caso sentisse sentisse alguma dor, a jovem, jovem ,
enquanto mesmerizada, sentiria também a mesma coisa e na mes
ma parte do corpo. Ao provar várias substâncias, ela era capaz de
identificá-las.
O Dr. James Esdaile, pioneiro no uso da hipnose em cirurgias
antes do advento dos anestésicos, menciona, em 1846, que um jovem
indiano, mesmerizado, era capaz de dizer a ordem correta em que
um seu assistente colocava sal, gomo de lima, uma folha de gen-
ciana e um pouco de conhaque na boca de Esdaile. Também afir
mava haver hipnotizado um cego, diversas vezes, fitando-o fixa
mente de uma distância de aproximadamente vinte metros. Para
certificar-se de não estar transmitindo impressões sensoriais ao
homem, Esdaile colocou-se algumas vezes sobre um muro, segundo
ele “em horas incertas, para que o mesmo não suspeitasse de minha
prese
pre senç
nçaa e sempre
sem pre co com m bobonsns resu
re sult
ltad
adosos”” .
Em 1850, o Dr. Herbert Mayo, F. R. S., Prof. de Fisiologia do
Real Colégio de Cirurgiões, registrou também ter obtido êxito nesse
tipo de com unidade de sensação, sensação, afirmando:
A pessoa em transe, não possuindo nessa condição qualquer
sensação de gosto ou cheiro por si mesma, prova e cheira tudo
aquilo que o condutor da experiência experimenta. Caso uma
pessoa
pes soa em tal ta l esta
es tado
do prove
pro ve poporr ex exem
empl ploo m osta
os tard
rdaa ou açúc
aç úcar,
ar,
dará a impressão de desconhecer tais substâncias: se entretanto
a mostarda for colocada na língua do experimentador, o ele
mento em transe demonstrará grande repugnância e tentará cus
pi-la. Oc
Ocorr
orree o mesmme smoo co com m qu qualalqu
quer er do
dorr qu
quee o pepesqsqui
uisad
sador
or
venha a sentir. Por exemplo, se se puxasse o cabelo do pesqui
sador, o paciente em transe sentiria o mesmo desconforto físico
causado por tal gesto, como se fosse nele próprio.
Dentre outros pioneiros do hipnotismo, autores de depoimentos
que comprovaram de fato a comunidade de sensação, podem-se
incluir John Elliotson, médico-chefe do University-College Hospital
de Londres; James Braid que, conforme já vimos, criou os termos
hipnose e hipnotismo, e William Gregory, professor de química na
Universidade de Edinburgo. Relatos semelhantes foram apresentados
subseqüentemente por Sir William Barrett e Edmund Gurney e
foram fator relevante para a fundação da Sociedade para a Pesquisa
Psíquica, sendo grande parte do trabalho inicial da SPR devotado ao
estudo da conexão entre a hipnose e a telepatia e outras formas de
fenômenos psíquicos.
O Prof. Gregory —que escreveu: “Tenho visto e comprovado ser a
comunidade de sensação algo firmemente estabelecido em grande
número de casos” —registrou também um dos mais convincentes
exemplos de viagem astral e clarividência.
Em 1851, Gregory, que morava em Edinburgo, visitou um amigo
mesmerista residente a cerca de 50 quilômetros de distância de sua
casa. Este amigo fazia-se acompanhar de uma jovem conhecida por
seus poderes psíquicos. Esta acedeu em submeter-se a um teste, e,
mesmerizada, começou a descrever detalhadamente a casa de
Gregory e a de seu irmão. Gregory continua seu relato:
Então pedi-lhe que fosse a Greenock, distante cerca de 70
quilômetros de onde nos encontrávamos, para visitar meu filho
que lá reside com um amigo. Encontrou-o logo e passou a descre
vê-l
vê -loo porm
po rmenoriza
enorizadam
damente,
ente, interessando-se
interessando-se sobremodo
sobremo do pelo rapaz,
a quem nunca vira nem ouvira falar. Ela o viu —disse —brincando
num campo ao lado de um pequeno jardim onde há um chaié,
a certa distância da cidade num terreno elevado. Ele estava brin
cando com um cão. Eu sabia que meu irmão tinha um cão, mas
não tinha a mínima idéia de como ele era, por isso pedi-lhe para
descrevê-lo. Ela falou que era um cão enorme da raça Terra-nova,
pre
p reto
to,, co
comm um a ou duas manc
ma ncha
hass branca
bra ncas.
s. E ra m uito
ui to apega
ape gado
do ao
rapaz e os dois brincavam
brincavam naquele m omento.
om ento. “Oh! — gritou
subitamente —o cão saltou e tirou o gorro dele”. Nesse momento
viu no jardim um senhor de idade que antes lia um livro e agora
proc
pr ocura
urava
va algo em to rn o de si. Nã Nãoo era m u ito
it o velho
vel ho mas
ma s seus
cabelos eram grisalhos e tinha suíças e sobrancelhas pretas. Achou
que fosse um pastor, salientando entretanto não ser o mesmo
per
p erte
tencncen
ente
te à Igreja
Igre ja Católi
Cat ólica
ca ou Episc
Ep iscopa
opal,l, mas
ma s um disside
diss idente
nte
(na verdade era um pastor de uma seita adjunta à igreja presbi
teriana). Convidada a entrar na casa, ela o fez e passou então a
descrever a sala de estar. Na cozinha —prosseguiu —havia uma
criada preparando o jantar que consistia de pernil, o qual estava
assando na brasa e podia ver claramente que este ainda não estava
no ponto. Viu também uma senhora de idade. Procurando nova
mente pelo rapaz, viu-o brincando com o cachorro à frente da
porta enquanto o cavalheiro permanecia de pé no alpendre. Viu
então quando o rapaz correu escada acima para a cozinha que
ficava no andar superior do chalé (e é de fato) e a cozinheira deu-
lhe algo para comer, o que julgou ser uma batata.
Anotei imediatamente todos os pormenores e os transmiti ao
senhor, o qual respondeu-me serem todos eles exatos, exceto pelo
alimento que a cozinheira dera ao rapaz, que era na verdade um
pequeno biscoito. O cão correspondia perfeitamente à descrição
feita; também conferia o detalhe do gorro que o cão tirou do
rapaz quanto à hora e local em que ocorreu; ele mesmo encon
trava-se no jardim lendo um livro; havia um pernil assando na
brasa e não estava pronto ainda; também se achava presente
naquele momento, na cozinha, uma senhora de idade que não
pertencia ao senhorio. Todos estes fatos eram totalm ente desco
nhecidos para mim e não poderia ter havido nenhuma espécie de
leitura mental, apesar de que, se tivesse ocorrido algo desse tipo,
como já afirmei anteriormente, não seria menos extraordinário,
mas apenas um fenômeno diferente.
Exteriorização da sensibilidade
Outro fenômeno que de tão freqüente não pode ser ignorado é a
exteriorização da sensibilidade, na qual todos os sentidos do paciente
são transferidos para objetos inanimados. Em 1892, Albert de
Rochas relatou haver feito uma paciente sentir calor e frio conforme
as mudanças de temperaturas ocorridas num copo de vidro que ela
mesma tocava com as mãos; essa paciente também sentiu dor quando
uma boneca que trazia ao colo foi-lhe retirada e picada com uma
agulha. Outros mesmeristas contemporâneos, notadamente Dupony
e de Luys, afirmaram ter obtido resultados semelhantes com o uso
de fotografias.
Alguns pacientes conseguiram ótimos resultados em psicometria,
ou leitura de objetos, da qual dois exemplos de fenômenos foram
incluídos no Capítulo 1. O Dr. Herbert Mayo —que mencionei ante
riormente como tendo experimentado a comunidade de sensação —en
viou certa feita um cacho de cabelos de uma paciente para um amigo
americano residente em Paris. Este deu-o a um paciente hipnotizado,
tendo o mesmo afirmado que a pessoa de quem haviam retirado
aquele cacho de cabelos sofria de paralisia dos membros inferiores,
além de outro mal, e também usava um aparelho ortopédico. Suas
afirmações foram comprovadas na íntegra.
Nossa pesquisa cobriu principalmente os anos pioneiros do século
passado. Não é de se estranhar que fenômenos tais como “magne
tismo animal”, “fluidos etéricos”, etc., fossem aceitos quase sem
críticas àquela época, já que mesmo atualmente os mesmos ainda são
amplamente aceitos.
Verifiquemos agora de que maneira esses relatórios, juntamente
com outros mais recentes, são encarados à luz da análise crítica e
científica do presente século.
Hipnose e paranormalidade
Até o final do século passado a hipnose era geralmente vista com
reservas pela classe médica —o que não é de todo surpreendente em
virtude dos inúmeros charlatães e profissionais de fama duvidosa
que afirmavam curar toda e qualquer doença imaginável com seu
recurso e devido às duvidosas práticas dos hipnotizadores de salão.
Em 1892, entretanto, uma comissão criada pela Associação Médi
ca Britânica aceitou unanimente a hipnose como valioso e real méto
do terapêutico, e no ano de 1900 em Paris um Congresso Internacio
nal de Hipnotismo endossou estes pareceres.
Como resultado, a pesquisa no começo deste século concentrou-se
principalmente na área da hipnose médica, particularmente durante
a Primeira Guerra Mundial, quando foi amplamente utilizada no
tratamento da neurose de guerra. Os progressos atingidos paralela
mente pela psicologia demonstraram que muitos dos fenômenos
hipnóticos tidos como paranormais poderiam ser perfeitamente
explicados em termos normais e a tendência conseqüente foi explicar
todos os “fenômenos superiores” desta forma.
Nem todos os cientistas tinham a mente tã o estreita assim. Na
França, por exemplo, Richet, Osty e Janet continuaram a utilizar
a hipnose em pesquisas psíquicas e foram imitados por outros reno-
mados expoentes do conhecimento científico. Embora os relatórios
indicando experiências bem-sucedidas fossem raros, a evidência por
eles apresentada era irrefutável.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Dr. William Brown, famoso
psicólogo, foi um pioneiro na utilização da hipnose para o trata
mento das desordens psicopatológicas, descobrindo que muitos de
seus pacientes adquiriam poderes telepáticos sob hipnose enquanto
outros experimentavam notáveis feitos de viagem astral e clarividência.
Nessa mesma época, o Dr. Gustav Pagenstecher realizava experiên
cias extraordinárias com a Sra. Reyes de Zierold, no México. Esta,
como já dissemos no Capítulo 1, era dotada de notáveis poderes de
psicometria, ou leitura de objetos. Um pedaço de mármore romano,
por exemplo, foi tudo o que precisou para descrever minuciosa e
exatamente o Fórum Romano e templos circunvizinhos. Com um
bloco de papel de cartas descrevia o local e os processos de fabrica
ção utilizados. Uma carta escrita no mesmo papel permitiu-lhe
afirmar que o indivíduo que a havia escrito sofria de apoplexia e
descreveu seu estado. Através do cinto de um soldado morto descre
veu sua aparência e a maneira com o ocorreu sua morte.
Dr. Bjorkhem
No intervalo entre as duas grandes guerras o psicólogo sueco Dr.
John Bjorkhem realizou grande número de experiências nas quais
foram testados mais de três mil indivíduos. Chegou então à conclu
são de que a maioria deles desenvolvia poderes extra-sensoriais
quando hipnotizados. Uma paciente exepcional, adolescente nativa
da Lapônia, descreveu certa vez o que se passava em sua residência
que ficava a centenas de quilômetros de distância. Disse tudo que
seus familiares faziam àquele momento e forneceu detalhes do
artigo de um jornal que seu pai estava lendo naquele exato ínterim.
Logo depois seus pais lhe telefonaram. Ficaram preocupados quan
do, segundo eles, sua “aparição” materializou-se à frente deles, e
temeram que lhe tivesse acontecido algo de grave.
Em outra experiência, o Dr. Bjorkhem hipnotizou uma jovem
e disse-lhe para “ir mentalmente” do apartamento onde estava
até outro no mesmo prédio cujo interior jamais vira. Após alguns
minutos, ela afirmou encontrar-se no referido apartamento, passando
então a descrevê-lo. Entre outras coisas, descreveu minuciosamente
a configuração dos aposentos e muitos objetos existentes no interior
dos mesmos, as medidas de um espelho afixado à porta de um deles,
o forro diferente de um sofá e a cor de alguns tapetes e capachos.
Disse ainda haver um grosso álbum de fotografias de capa de couro
escuro sobre a mesa (na verdade tratava-se de uma bíblia da família
contendo uma seção para fotografias), descreveu algumas das foto
grafias nele existentes e o nome de algumas das pessoas fotografadas.
Jarl Fahler
Êxitos mais recentes com experiências de clarividência com indi
víduos submetidos à hipnose foram registrados por outro psicólogo,
Jarl Fahler, ex-presidente da Sociedade para a Pesquisa Psíquica
da Finlândia. À maior parte do trabalho de Fahler baseou-se em
experiências com uma paciente extraordinária, chamada simples
mente de “Sra. S”.
Em certa oportunidade, perguntou-lhe se um certo “Sr. X”, a
quem ela conhecia apenas de vista e cujas atividades pessoais e
comerciais ignorava completamente, viajaria para o exterior, e a
“Sra. S” respondeu que pessoas em várias partes do mundo aguar
davam uma oportunidade para vê-lo. Prosseguiu descrevendo um
italiano que o estava aguardando num hotel de Londres, afirmando
ainda ser Piovene o nome do homem e que podia ver esse nome
impresso num dos cantos do bloco de papel em que estava escre
vendo. Embora o italiano estivesse usando uma caneta-tinteiro naquele
instante, estava escrevendo com letras de fôrma. Falou ainda sobre
suas maneiras irrequietas e de tê-lo visto brincando com um pino e
tamborilando os dedos à mesa. Descrevendo sua aparência, disse que,
embora parecesse uma “boa pessoa”, o “Sr. X” deveria ter muita
cautela ao manter qualquer tipo de transação com ele.
Quando foi verificar os dados obtidos, Fahler descobriu que o
“Sr. X” conhecia realmente um italiano de nome Piovene e que sua
aparência e hábitos nervosos, bem como a maneira de escrever,
correspondiam exatamente àquelas descritas pela “Sra. S”. Este
homem estivera aguardando o “Sr. X” na data mencionada, hospeda
do no Savoy Hotel em Londres. Posteriormente o “Sr. X” queixou-se
com Fahler de não ter tomado as devidas precauções, já que agora ti
nha motivos de sobra para evitar qualquer negócio com Piovene.
Á “Sra. S” também foi submetida com sucesso a testes de “exte
riorização da sensibilidade” conduzidos por Fahler. Este colocou
um copo de vidro em suas mãos e sugeriu-lhe sob hipnose que “todas
as suas sensações” estavam sendo transferidas para a água do copo
que estava segurando. Verificou-se então que, quando seus braços
ou mãos eram picados com uma agulha, não havia qualquer reação,
mas quando se mergulhava a agulha na água do copo ela reagia
imediatamente. O mesmo resultado foi obtido colocando-se o copo
d’água em outro recinto. Fahler perfurou a água dez vezes, a garota
deu dez saltos. Apresentou reações idênticas quando outro experi-
mentador realizou um teste colocando-se atrás de uma porta herme-
ticamente fechada.
Fahler também realizou testes quantitativos com as cartas Zener,
e descobriu que os resultados melhoravam significativamente quando
os indivíduos sumetidos ao teste eram hipnotizados. Alguns dos
testes foram realizados na Finlândia e os demais no laboratório
de parapsicologia do Dr. Rhine na Universidade de Duke, EUA*.
* Certa vez, ao final de uma palestra em que descrevi o teste, uma amável
senhora procurou-me e perguntou: “Sr. Edmunds, eu não quis falar nada na
quele momento, pareceu-me bobagem, mas o que acha que aconteceria se ao
invés de ser picada com a agulha ela tivesse bebido a água?” Realmente não me
parecia uma tolice. Quisera saber a resposta também.
A “senhorita B”
É digno de nota que o “Sr. X” de Fahler, assim como outros
mencionados anteriormente, experimentaram a perfeita sensação
de estarem presentes no local em que ocorreram todos os fatos
descritos em suas “excursões psíquicas” e tiveram, além disso, a
perfeita sensação de “voltarem ao corpo” ao final das mesmas. Os
indivíduos que participaram das experiências mais bem-sucedidas,
realizadas pelo autor desta obra, também disseram haver experi
mentado essa sensação de retomo ao corpo. Um deles, a “Srta. B”,
poderia fazer comentários completos sobre seus “movimentos”
não só nos locais da excursão propriamente dita, mas também sobre
aqueles experimentados durante seu “deslocamento” de e para
esses locais.
A “Srta. B” é uma pessoa extremamente dócil e é capaz de per
manecer sob hipnose profunda durante longos períodos, nos quais
pode realmente executar as mais diversas tarefas, tais como preparar
um café ou drinque, ligar um gravador. Apresenta amnésia total após
cumprir todas as ordens recebidas, a não ser que lhe seja ordenado,
durante a hipnose, para recordar certas ocorrências específicas.
Submeteu-se voluntariamente a alguns testes de PES, com a finali
dade de verificar a diferença existente entre os pontos obtidos nas
cartas Zener, sob hipnose e em vigília. O resultado final foi negativo.
Para quebrar a monotonia dos palpites sobre as cartas Zener, foi
sugerido à Srta. B durante a hipnose que ela era uma médium e
estava prestes a dirigir urna sessão (A Srta. B era espírita e já havia
comparecido a muitas sessões). Sentamo-nos todos com as mãos
devidamente entrelaçadas à maneira tradicional (três pesquisadores
e a paciente) e a Srta. B entrou em transe dentro do transe mediú-
nico. Transmitiu diversas mensagens de pretensas “entidades”, algu
mas delas de caráter geral que poderiam destinar-se a qualquer
pessoa, outras mais específicas, incluindo nomes e datas, jamais
verificados.
Como a paciente parecia reagir mais satisfatoriamente a este teste
do que ao teste com as cartas Zener, tentou-se uma variação numa
sessão realizada uma semana depois. Antes de hipnotizar a Srta. B,
o autor repetiu-lhe a estória da paciente do Prof. Janet e o fogo
no laboratório de Richet. Foi hipnotizada, e então foi-lhe dito que
poderia sair em “excursões psíquicas” exatam ente como a paciente
de Janet havia feito e que iria “sair de sua mente”, descobrir onde
o Sr. C, um dos pesquisadores, morava, e descrever sua casa para os
presentes. Tínhamos quase absoluta certeza de que a Srta. B não
tinha a menor idéia de onde o Sr. C vivia e muito menos como era
sua casa.
Após dizer que estava atravessando um rio, a Srta. B afirmou
estar em frente à casa, passando então a descrever certas “curvas ou
arcos” que segundo ela existiam acima das janelas. Ao ser-lhe orde
nado para “entrar” na residência, “dirigiu-se” aos fundos da mesma
afirmando ser a única maneira possível de fazê-lo. Passou então a
descrever o interior da casa, de maneira geral; parte do seu relato
estava errada e o resto poderia corresponder a quase qualquer casa.
Comentou entretanto sobre um quadro enorme onde se viam homens
a cavalo combatendo com armas que lhe pareciam ser hastes de ferro.
“Não, não são exatamente isso.” Sugeri serem lanças, e ela replicou:
“Sim, é essa a palavra certa”, e prosseguiu descrevendo alguns livros
arrumados em estantes, fazendo o seguinte comentário: “Ali (apon
tado), mas não quero vê-los” . Ao referir-se a eles, deu a exata impres
são de que sentira repulsão. Não foi capaz de dar maiores detalhes e
por isso foi-lhe ordenado que “voltasse novamente ao seu corpo aqui
presente”. Feito isso, despertou.
O Sr. C confirmou que sua casa localizava-se depois do rio e que
a descrição da fachada fora notavelmente precisa, com relação às
janelas arqueadas, num estilo bem incomum. Na verdade não era
necessário entrar pelos fundos da casa, mas poder-se-ia entrar
daquela maneira. Mais interessante, entretanto, foi sua descrição
do interior da casa. 0 Sr. C possuía realmente um quadro grande
representando a batalha de Waterloo, no qual homens a cavalo
lutavam exatamente como a Srta. B descrevera. Também confirmou
possuir uma coleção de livros um tanto mórbidos sobre a história
da pena de morte, e a Srta. B apresentou a reação típica que se
poderia esperar de uma mulher sensível. Eu deveria supor que
haveria chances mínimas para alguém hipnotizado descobrir através
de palpites tal combinação de coisas tão incomuns.
O fato de o Sr. C encontrar-se presente nos fez suspeitar da exis
tência de alguma espécie de envolvimento telepático durante o
transcurso da experiência. Para eliminar essa possibilidade, outra
sessão foi marcada sem sua presença.
A hora marcada, apanhei a Srta. B, conforme o combinado, e
a levei à casa de uma amiga, a Srta. F, local onde outro pesquisador,
o Sr. N, já nos aguardava. A Srta. B nunca tinha visto antes nem a
Srta. F nem tampouco o Sr. N, e nunca estivera antes naquela resi
dência. Quando lá chegamos, ela foi conduzida por minha amiga,
a Srta. F, a um dos aposentos da casa, enquanto eu, o autor deste
livro, e o Sr. N fomos para outro, no qual seria realizada a experiên
cia, a fim de verificar se todos os detalhes estavam em ordem.
Pouco antes de minha chegada e da Srta. B, o Sr. N foi até os
fu ndos da casa na direção de uma estante de livros existente na sala
que seria usada para a experiência e, às apalpadelas, retirou um livro
ao acaso. Levou-o sem olhar sua capa para um dormitório vizinho
que se encontrava às escuras e colocou-o debaixo de uma almofada
em uma poltrona. Saiu então do aposento e fechou a porta, manten-
do-a sob observação. Ninguém entrou no aposento novamente antes
do início da experiência. Durante todo o transcorrer dessa operação
o Sr. N não chegou a ver o livro.
A Srta. F levou então a paciente para a sala de experiências (não
havia mais ninguém na casa) e o teste foi iniciado. Hipnotizei a
Srta. B e após certificar-me de que estava em estado de transe pro
fundo, contei-lhe detalhadamente o que o Sr. N fizera. Pedi-lhe
então para ir “mentalmente” até o local onde o livro estava escon
dido e dizer-nos tudo o que pudesse acerca dele.
Após alguns minutos de silêncio, disse que podia ver o livro. Era
grande, porém “fino para seu tamanho; era marrom e tinha algumas
faixas ou linhas vermelhas”. Na primeira capa viam-se as letras L e G
que representavam segundo ela os nomes “Leveson Gower”. Não
pôde dar nenhuma outra informação e achamos conveniente encerrar
a experiência.
O Sr. N foi buscar o livro. Era, como a Srta. B dissera, um volume
grande, porém de pouca espessura e a encadernação era de fato
marrom, embora essa cor não pudesse ser vista a não ser que se remo
vesse primeiro a sobrecapa cinzenta. Na primeira página em branco
do livro havia algumas palavras escritas à mão, dentre as quais desta
cavam-se as letras maiúsculas Le G. Entretanto, nada havia que lem
brasse o nome Leveson Gower. Não havia grifos ou linhas vermelhas
nem no livro nem na sobrecapa e eu já estava a ponto de guardá-lo
novamente na estante quando, folheando a esmo suas páginas,
descobri várias seções grifadas com tinta vermelha e podia-se ver
perfeitamente tais observações.
Infelizmente, as circunstâncias impediram a realização de novos
testes e, conseqüentemente, o valor evidente dos resultados obtidos
não é muito importante. Entrementes, dois pontos são dignos de
nota. O primeiro deles consiste no fato de que o indivíduo hipno
tizado nem sempre parece “ver” as coisas que descreve, mas de algu
ma maneira toma conhecimento delas, como por exemplo no caso
dos grifos existentes no livro fechado. O segundo trata-se de ter
acrescentado não só nomes aparentemente fictícios às iniciais, mas
pronunciar e,ssas palavras enfatizando sua fonética. Uma mulher
inglesa culta, a Srta. B, em circunstâncias normais, pronunciaria os
nomes sentidos telepaticamente da forma correntemente adotada
em seu país, ou seja, “Leweson Gaw”.
Prof. Vasilyev
Durante muitos anos, até a sua morte em 1966, o Prof. Leonid
Vasilyev, Chefe do Departamento de Fisiologia da Universidade
de Leningrado, realizou experiências utilizando a hipnose na pro
dução de fenômenos de telepatia e clarividência. Apesar de seu
trabalho ter sido divulgado só recentemente fora dos países da cor
tina de ferro, sabe-se pelos relatórios agora disponíveis que obteve
pleno êxito.
Uma característica do trabalho desenvolvido pelo Prof. Vasilyev,
era o cuidado meticuloso que tomava em cada fase de suas expe
riências a fim de evitar qualquer possibilidade de erros, distorção
dos fatos ou fraudes. Em muitas de suas experiências foi assistido
por dois membros do famoso Instituto do Cérebro Bekhterev, os
Drs. I. F. Tomashevsky e A. V. Dubrovsky.
A grande maioria das experiências de Vasilyev abordou a suges-
tão à distância, particularmente a indução e supressão de estados
hipnóticos por meio da telepatia. Em uma de suas séries composta
de duzentas e sessenta tentativas de hipnose à distância obteve cerca
de noventa por cento de êxito.
Em alguns dos ensaios feitos para testar a teoria, de que esta seria
uma forma de “rádio mental”, Vasilyev alojou seus pupilos em
gabinetes hermeticamente fechados (gabinetes metálicos Faraday)
a fim dt evitar a ação de ondas eletromagnéticas e manteve-se tam
bém em gabinetes semelhantes em recinto anexo. A blindagem
utilizada não alterou em nada o total de resultados positivos obtidos.
Vasilyev também confirmou o que muitos outros já haviam obser
vado: a distância apresenta efeito desprezível ou nulo em telepatia.
Era capaz de hipnotizar sensitivos a distâncias que iam desde 20, 50,
500, 4.500, até 7.700 metros, e até mesmo de Leningrado a Sebas-
topol, cidades que distam entre si cerca de 1.700 quilômetros. Isso
demonstra mais uma vez que a telepatia não se realiza através de
qualquer forma de onda hertziana ou eletromagnética que se
conheça, já que devido à distância forçosamente teria sua intensi
dade reduzida.
Segundo os pesquisadores russos, as sugestões hipnóticas jamais
devem ser dadas através de palavras. Um colega de Vasilyev, o Prof.
K. I. Platinov, afirmou:
É importante notar que em todas as ocasiões que tentei hipno
tizar sensitivos através de ordens mentais do tipo ‘durma, durma’,
o resultado foi nulo. Mas quando criei mentalmente o rosto e a
figura de uma paciente adormecida (ou despertada), sempre
obtive o resultado desejado.
A partir disso, Vasilyev concluiu que o termo “transmissão de
pensamento” não sintetiza perfeitamente o processo envolvido.
Escreveu: “Para aquilo que é transmitido telepaticamente não há
conceitos, opiniões ou deduções; resumindo, nada que no sentido
preciso e estrito da palavra possa ser definido como ‘pensam ento’.
Podemos afirmar, portanto, serem transmitidas, sempre, apenas
sensações, imagens, emoções e estímulos à ação. .
Embora tenha usado de extrema cautela em suas declarações,
afirmando serem suas descobertas “consistentes ideologicamente”
com o “materialismo científico” marxista, concluiu entretanto que
a “sugestão à distância irá assumir uma importância imprevista,
talvez até imprevisível, caso seja provado — e nossas experiências
levam a crer nessa possibilidade —que a telepatia envolve algum tipo
de energia ou fator ainda desconhecido para nós, presente apenas
na expressão mais elevada da matéria, elemento este desenvolvido
no processo evolucionista — a substância e a estrutura do cérebro.
A descoberta dessa energia ou fator eqüivaleria à descoberta da
energia nuclear”.
Dr. Ryzl
Os ensaios do Dr. Milan Ryzl envolveram um total de 226 sensi
tivos dos quais 73 eram do sexo masculino enquanto 153 do sexo
feminino e suas idades oscilavam entre dezesseis e trinta e cinco
anos. Nenhum deles, ao que sabe com certeza, demonstrou previa
mente qualquer sinal de faculdade psíquica, e não se utilizou
nenhum método especial de seleção para os ensaios. Deste total,
registrou-se certo grau de clarividência em cinqüenta e seis indiví
duos (25%) e destes, três homens e vinte e quatro mulheres obtive
ram “clarividência em nível relativamente bom”. Trinta mulheres
conseguiram resultados surpreendentes comparáveis àqueles obtidos
pela principal sensitiva do Dr. Ryzl, a Srta. “J. K.” , a quem me
referirei mais tarde.
Não obstante alguns indivíduos terem conseguido apresentar
faculdades de clarividência na primeira sessão de hipnose a que
foram submetidos, o Dr. Ryzl deixa bem claro que este método não
é de forma alguma o mais fácil e rápido. Geralmente requer repetidas
sessões de hipnose durante um período considerável. 0 primeiro
passo, é claro, consiste no aprofundamento do transe e intensificação
da sugestionabilidade, após o que vem o “aproveitamento dessa su-
gestionabilidade intensificada para obter a necessária inibição da ati
vidade cerebral e persuadir o indivíduo sobre a possibilidade de
adquirir PES, e de que vai realmente obtê-la”.
O paciente recebe então sugestões de alucinações progressiva
mente mais complexas, a princípio sobre coisas bem familiares e
subseqüentemente de pessoas, objetos ou cenas fictícios. Esta técni
ca é mantida até que as “imagens” vistas pela pessoa em experiência
sejam tão claras e nítidas quanto aquelas vistas através da percepção
visual comum e possam ser conservadas pelo tempo que o hipnólogo
achar necessário. Só quando se atinge essa fase é que começa o
treinamento da PES propriamente dito.
Neste ponto, às vezes basta controlar o paciente para detectar a
presença de clarividência no sentido de obter resultados simples.
Nenhum controle é acrescentado nesta fase sendo o indivíduo
instruído para fechar os olhos e distinguir objetos colocados numa
bandeja à sua frente apenas. É útil, na maioria das vezes, a sugestão
dada pelo hipnólogo de que a “imagem” do objeto está-se tomando
gradualmente mais nítida. Outro método consiste em fazer com que
o hipnotizado “veja”, por meio da clarividência, os detalhes de um
“sonho” sugerido pelo hipnotizador.
Uma vez detectada a presença de PES em estado rudimentar,
pode-se adotar três caminhos para realizar um treinamento mais
avançado. Segundo o Dr. Ryzl, são os seguintes:
1. Desenvolvimento de novas habilidades através de sugestão
de tarefas cada vez mais difíceis e complicadas. Primeiro trans
fere-se algo para algum ponto no espaço. Talvez atrás do paciente;
para outro aposento, e assim por diante. Caso se obtenha êxito,
passa-se então à clarividência em épocas diferentes; primeiro vai-se
ao passado, daí ao futuro. Devem ser tomadas precauções ainda
mais rígidas. Tenta-se descobrir se o indivíduo hipnotizado é
capaz de perceber tanto impressões auditivas quanto visuais.
Deve-se também verificar se é capaz de captar pensamentos de
outras pessoas (telepatia), e também desenvolver outras formas
de PES, tais como formas táteis: apalpadelas à distância. Deve-se
habituar o indivíduo a mudar seu ponto de observação conforme
necessário.
2. Procura-se eliminar as causas dos erros de cognição clari-
vidente. A princípio, a recém-desenvolvida faculdade de clarivi
dência é bastante imperfeita, sujeita a grande número de erros.
Nosso paciente precisa aprender agora a evitá-los. Certos erros
originam-se de sugestões erradas dadas pelo próprio hipnotizador.
Quanto mais sugestionável o indivíduo, maior o número de erros
que poderá cometer. É necessário infundir-lhe uma boa dose de
autoconfiança, ensinando-o a controlar de forma crítica tanto
suas percepções como as palavras do experimentador. Outra causa
de erros é a influência da auto-sugestão e as suposições do próprio
hipnotizado. Experiências passadas, desejos, apreensões, pres-
suposiçoes, bem como pensamentos surgidos aleatoriamente em
sua mente, influenciam-no.
Em princípio, a tarefa mais importante consiste em ensaiar o
indivíduo a estabelecer de forma confiável a diferença entre
alucinações verdadeiras e falsas. Ele deve aprender a fazer isso
por si mesmo. As vezes as visões verdadeiras caracterizam-se pela
nitidez e luminosidade que apresentam. Com mais freqüência, o
indivíduo deve tentar descobrir por si mesmo critérios subjetivos
que o ajudarão a reconhecer, por experiência própria, as visões
verdadeiras. Pode-se conseguir isso submetendo-o a muitas expe-
rências de clarividência preliminares nas quais tudo aquilo que
expressar poderá ser confrontado com a realidade informando-se-
-o imediatamente sobre seus erres e acertos.
3. Treina-se o indivíduo a usar suas habilidades clarividentes
por si mesmo. Enquanto nas fases iniciais do treinamento o men
tor esforça-se para intensificar a sugestionabilidade às suas pala
vras, agora deve concentrar seus esforços sentido de reduzi-la
1 1 0
Certa vez estava ele de férias num local distante cerca de cem quilô
metros de sua clínica de Nova Iorque quando resolveu concentrar-se
para “sugestionar” um de seus pacientes à distância, ordenando-lhe
que lhe fizesse uma ligação telefônica interurbana. Ao terminar sua
concentração, deu-se conta de que não havia telefone algum na casa
em que se hospedara.
Regressando a Nova Iorque, encontrou-se novamente com seu
cliente mas não mencionou sua tentativa. Durante a sessão hipnótica
daquele dia, deu-lhe um comando mental para que lhe telefonasse
impreterivelmente naquela mesma tarde. Tal sugestão entretanto não
surtiu nenhum efeito. Mais ou menos na metade da semana seguinte,
contudo, enviou a Eisenbud três cartões-postais — algo sem prece
dentes — enquanto estava ausente de Nova Iorque, e fez ainda um
telefonema interurbano sob um pretexto aparentemente fútil. Algum
tempo depois contou a Eisenbud ter ficado “obcecado” com uma
idéia relativa a ele durante várias semanas. Eisenbud hipnotizou-o
explicando-lhe a seguir sua tentativa banal, a “sugestão telepática”
feita para que telefonasse, e após isso sua obsessão desapareceu.
O Dr. Eisenbud aventa a seguinte explicação psicoanalítica:
Lembrei-me do cartão-postal que me enviara. Tudo que escre
vera foi: “Alô, doutor. Acabei de encontrar uma gatinha tão
devagar que o tempo que perdeu pra falar: Acho que não sou
aquele tipo de garota, ela já era”. Isso fez-me cogitar na possibili
dade de Harry ter estado todo o tempo debatendo-se contra a
compulsão importuna de telefonar-me e, por fim, antes que pu
desse explicar que não era um certo tipo de paciente sob hipnose,
que ele inconscientemente deveria ter relacionado à natureza
feminina, ele, de fato, era. Procurei me lembrar da “ordem” dada
originalmente quando havia total impossibilidade de resposta e
verificar se alguma ordem subseqüente teria de aguardar até que a
primeira fosse cumprida. A verdade é que apenas a muitos quilô
metros de distância de mim Harry foi capaz de executar a ordem
que recebera inicialmente, e o cartão-postal que provavelmente
fora enviado para substituir a ligação interurbana não realizada
(para não dizer muita coisa de um total de três cartões enviados
em apenas uma semana) pode perfeitamente significar a luta
íntima travada por Harry para não dar vazão a uma atitude total
mente contrária ao seu comportamento normal. Pareceu-me ser
o tipo de coisa que gera confusões quando se trata de comandos
pós-hipnóticos dados verbalmente. O indivíduo tenta realmente
uma fusão, uma concessão às suas convicções pessoais, só que tal
tentativa é feita em local que lhe pareça totalmente exeqüível.
Ambas as minhas ordens, tanto a primeira quanto a segunda,
foram dadas à hora do almoço. A chamada interurbana de Harry
ocorreu às 12:45, num dia de semana. Havia uma dúvida em
minha mente: Será que havia protelado a execução dos comandos
dados mentalmente?
Para verificar se teria sucesso com sugestões à distância, Eisenbud
começou a concentrar-se em um de seus pacientes. Interrompeu,
entretanto, sua concentração, julgando ser sua atitude um pouco
deselegante, já que se tratava de paciente que começara suas expe
riências há pouco tempo. Não obstante, no espaço de uma hora
este lhe telefonou perguntando-lhe sobre a possibilidade de alterar
a data da próxima sessão.
No dia seguinte Eisenbud concentrou-se alguns minutos para
receber uma chamada de uma amiga que morava no Connecticut,
e de quem não recebia notícias há um ano e meio. Dentro de uma
hora a jovem lhe telefonou dizendo que sentira uma vontade simples
mente irresistível de falar com ele.
Em suas crônicas fascinantes descrevendo estas experiências
(Jornal Hindu de Parapsicologia, vol. IV, n? 3, 1962-3), o Dr.
Eisenbud enumera de forma convincente as razões que o levam a
crer ser a sugestão à distância um dos mais antigos “fatos da nature
za” conhecidos pelo homem, algo ainda não estudado de forma
plena. Salienta, outrossim, o detalhe de que nenhum dos primeiros
pesquisadores continuou ou aprofundou suas experiências, embo
ra algumas delas merecessem maior atenção e, na verdade, pesqui
sas posteriores. Confessando haver falhado quanto à persistência
no prosseguimento de suas experiências bem-sucedidas, o Dr. Eisen
bud observa que, de forma oposta à crença popular, ninguém é
capaz de «manter perm anentemente e m uito menos achar agradá
vel o conhecimento e exercício proporcionados por tal poder.
Suspeita ainda que “a perturbadora estimulação de uma das mais
profundas e narcisistas inclinações mágicas” , representada pela prá
tica da sugestão à distância, “parece ser a raiz do problema causado
pela inibição generalizada, característica aparente da atitude atual
com relação ao indivíduo”. O Dr. Eisenbud concorda, é claro, com a
necessidade de mais pesquisas nesse campo.
/ Pseudoclarividência e
6 / reencarnação
Pode parecer, pelo que se viu até aqui, que tudo que se precisa
para despertar a clarividência ou outros poderes psíquicos seja hipno
tizar alguém e ordenar que descreva fatos que ocorreram em local
distante ou relacionados ao passado de algum objeto. Infelizmente
não é assim tão simples.
É verdadeiro: diga a uma pessoa que ela possui faculdades clarivi-
dentes e ela descreverá algo —e o fará de maneira tão convincente
que será quase impossível duvidar de sua boa fé. Entretanto, quando
se realiza uma investigação minuciosa dos fatos, verifica-se a ocor
rência freqüente de desapontamentos.
O indivíduo não está agindo de má-fé. Se as sugestões são dadas
da forma apropriada, ele acredita piamente estar realmente vendo
tudo que vê naquele momento através de sua clarividência, ou rece
bendo mensagens telepáticas, ou qualquer coisa que lhe tenha sido
ordenado. Entretanto, apesar da consideração que temos para com
sua integridade, apesar de acharmos convincente aquilo que diz e
também o assunto tratado, é imprescindível que se faça duas per
guntas fundamentais a toda e qualquer pesquisa psíquica. Primeira,
precisamos questionar se estes fenômenos podem ser englobados
na classificação dos fenômenos perfeitamente normais sem recorrer
a justificativas paranormais, e segunda, se achamos realmente que só
algo paranormal explicaria os fenômenos. Resumindo, é preciso
comprovar-se a existência ou não de evidências confiáveis para a
explicação paranormal dada pelo indivíduo.
9 2 4
7 IJ
abaixo do título inglês. Pacientes fazem isso com certa freqüên
cia, embora em sua honestidade, quando não-hipnotizados,
possam jurar que não sabem absolutamente nada sobre os fatos
ou a linguagem em questão.
Há registros de muitos casos semelhantes. O Dr. Lewis Wolberg
menciona o caso de uma mulher hipnotizada que subitamente come
çou a recitar poemas em grego. Jamais estudara essa língua antes,
e pelo que sabia, nunca tivera qualquer contato com a mesma. A
investigação revelou, entretanto, que quando tinha cerca de dois
anos de idade sua mãe trabalhara como governanta para um profes
sor de grego que costumava caminhar em volta da casa recitando
poesias gregas ou treinando suas conferências. Nessas ocasiões
a criança poderia estar brincando pela casa enquanto sua mãe tra
balhava.
Há outro caso também sobre uma senhora de pouca instrução que
não-hipnotizada começou a falar alemão fluentemente, embora por
mais que se esforçasse não recordava haver tido qualquer contato
com essa língua. A hipnose revelou que alguns anos antes ela fora
faxineira do consulado alemão e de vez em quando ouvia conversas
em alemão. Conscientemente não se recordava de ter ouvido nenhu
ma palavra nesse idioma.
As lembranças inconscientes de algo que tenham lido ou ouvido,
ou simplesmente uma imaginação muito fértil, são seguramente a
origem de muitos fatos aparentemente paranormais ocorridos com
pessoas hipnotizadas, como o caso da minha paciente, que criou a
história do “Bispo de Sevilha”. Isto é particularmente verdadeiro na
maioria dos casos citados como evidências de reencarnações. O
exemplo clássico, analisado por Theodore Flournoy, psicólogo suíço,
é descrito em seu famoso livro, Da índia ao Planeta Marte.
O Prof. Flournoy passou vários anos estudando a “mediunidade”
de uma jovem a quem deu o pseudônimo de “Hélène Smith”. Espí
rita, Hélène acreditava serem seus transes controlados pelos “guias”
e não aceitava o fato de estar sendo hipnotizada apesar de, como
Flournoy dizia, “não perceber que mesmo evitando essa palavra está
aceitando a realidade, pois seus exercícios espíritas consistem real
mente de auto-hipnose, já que se originam da influência especial de
determinadas entidades”.
Além das ilustres figuras do passado, tais como Maria Antonieta
(cuja “assinatura” feita pelo seu espírito era bastante diferente da
verdadeira), Hélène afirmava também m anter contato com um jovem
recentemente falecido e que reencamara em Marte. Costumava tam
bém “abandonar o corp o” flutuando através de nuvens densas e
profusamente coloridas em direção a Marte.
Hélène descrevia a vida no planeta vermelho reforçando sua
descrição com esboços feitos de memória após as sessões, incluindo
“carruagens sem cavalos ou rodas, emitindo centelhas à medida que
passavam; casas com fontes nos telhados” e “uma espécie de arma
ção tendo por cortinas um anjo feito de ferro com suas asas abertas”.
Os marcianos teriam aparência exatamente igual à dos habitantes da
Terra, exceto que ambos os sexos trajavam-se de forma bem seme
lhante, com calças e longas blusas.
Hélène escreveu também longas mensagens em uma estranha
língua que dizia ser marciana. Isso impressionou grande número de
pessoas, nem tanto pelo conteúdo apresentado, antes porém pela
forma da linguagem e uso consistente de vários termos. Flournoy
provou, porém, ser a referida língua baseada estruturalmente no
francês e concluiu que Hélène a teria inventado subconscientemente,
embora isso fosse uma façanha notável para uma mulher pratica
mente ignorante.
Em sua análise, Flournoy demonstrou que embora Hélène não
tivesse apresentado evidências de poderes psíquicos verdadeiros,
não havia dúvidas a respeito de qualquer imaginação consciente ou
simulação. Era tudo conseqüência de processos mentais inconscien
tes, baseados em suas próprias inclinações latentes, experiências,
temperamentos e padrões comportamentais.
“Bridey Murphy”
O famoso caso “Bridey Murphy”, que há alguns anos causou sen
sação internacionalmente, parece ter explicação semelhante. Morey
Bemstein, hipnotizador amador do Colorado, Estados Unidos,
interessou-se pela reencamação. Lera sobre tentativas de demonstra
ção de reencamação feitas através de regressão hipnótica até que
o paciente hipnotizado “revivesse” vidas anteriores e decidiu ele
próprio fazer tentativas semelhantes. Sua paciente era Virginia
Tighe (“Ruth Simmons”, no livro de Bemstein), jovem casada e
já hipnotizada várias vezes, capaz de entrar rapidamente em transe
profundo. A experiência constava de seis sessões, nas quais Virginia
regressou hipnoticamente à sua primeira infância e foi-lhe ordenado
então retroceder mais ainda até uma vida anterior.
O caso, principalmente na forma de respostas às perguntas de
Bemstein, apresentava Virginia como tendo sido em outra vida
Bridget Kathleen Murphy, nascida em 1798, em Cork. O pai chama
va-se Duncan Murphy, era advogado e ela tinha um irmão chamado
Duncan Blaine Murphy; outro irmão seu morrera ao nascer. Ela
afirmava ter morado num lugar chamado “The Meadows” (os
prados) e a diretora da escola em que estudara chamava-se Sra.
Strayne, cuja filha desposara o irmão de Bridey* . O fato mais antigo
recordado foi a surra que levou ao arranhar a tinta da armação de
sua cama. Aos vinte anos casou-se com Sean Joseph McCarthy,
professor de direito da Universidade de Queen, em Belfast. 0 casa
mento realizou-se numa igreja protestante. Mudaram-se para Belfast
em 1828, onde casou-se pela segunda vez, cerimônia esta presidida
por um padre católico, John Joseph Gorman e realizada na Igreja de
Santa Teresa, afastada da estrada de Dooley. Morreu sem filhos em
1864, sendo enterrada em Belfast.
“Bridey” citou o nome de suas amigas e pessoas de sua relação,
suas preferências acerca de trajes, comidas, livros, música, e descre
veu lugares, casas, ruas e navios. Falava num dialeto nativo usando
expressões raramente ouvidas fora da Irlanda. Nem Virginia nem
Morey conheciam esse país. Bernstein publicou um relatório textual
dos fatos obtidos juntamente com suas sindicâncias e observações
subseqüentes, em seu livro Em busca de Bridey M urphy. Foi também
editado um disco a partir do material gravado em fita durante as
sessões.
Seguiu-se muita controvérsia à publicação do livro, e muitos
pretensos expertos no assunto criticaram-se entre si através de
publicações. Dos comentários consistentes e sérios, os mais impor
tantes são os do Dr. E. J. Dingwall, um dos mais capazes e expe
rientes pesquisadores britânicos, e do Prof. C. J. Ducasse, filósofo
e parapsicólogo americano.
O Dr. Dingwall realizou uma meticulosa pesquisa de campo —e
seu relatório foi devastador. Não conseguiu localizar nenhuma das
pessoas citadas por “Bridey” . Não encontrou em documentos histó
ricos nenhum advogado chamado Duncan Murphy, nenhum profes
sor da Universidade Queen chamado Sean McCarthy, nem reverendo
John Gorman, ou qualquer Sra. Strayne. Jamais alguém ouvira falar
da estrada de Dooley em Belfast e não existiu nenhuma Igreja de
Santa Teresa lá até o ano de 1910, cerca de cinqüenta anos após a
data em que “ Bridey” afirmou ter morrido.
A primeira comprovação histórica da venda de camas de ferro
detectada pelo Dr. Dingwall na Irlanda datava do ano de 1830, e
é extremamente improvável que algumas delas estivessem sendo
normalmente usadas já no ano de 1802. Não foi encontrado nada
que indicasse a existência de algum lugar chamado “The Meadows”.
Um mapa de Cork, do ano de 1801, apresenta uma parte da cidade
denominada Mardike Meadows, um distrito conhecido por suas
desordens aos domingos de manhã, e como afirma Dingwall, “tivesse
Hipnose e diagnóstico
Diz-se ser a hipnose utilizada não apenas no tratamento de
doenças, mas também em seu diagnóstico. Certos indivíduos hipno
tizados são capazes de adquirir uma faculdade de clarividência que
lhes permite determinar a doença de certo paciente. O primeiro a
fazer tal coisa parece ter sido o Marquês de Puysegur, aluno de Mes-
mer, que citou a experiência realizada com um jovem agricultor
ignorante que em estado de transe profundo apresentava nítidos
poderes de clarividência, através dos quais era capaz de diagnosticar
doenças de pessoas enfermas. O Prof. Charles Richet e o Dr. Herbert
Mayo, F. R. S., ambos eminentes fisiologistas, incluem-se entre
aqueles que realizaram tal tipo de experiências. O segundo deles
enviou certa vez um cacho de cabelos retirado de um de seus pacien
tes para um amigo seu em Paris. Este entregou-o a um indivíduo
hipnotizado, tendo o mesmo afirmado que seu possuidor sofria de
paralisia parcial dos membros inferiores e usava habitualmente um
aparelho cirúrgico, além de padecer de outro mal. A veracidade des
sas afirmações foi comprovada pelo Dr. Mayo.
Edgar Cayce
O mais famoso “diagnosticador psíquico”, dentre todos os que
se conhecem, foi sem dúvida Edgar Cayce (1876-1944) que, con
forme já vimos, foi curado de grave enfermidade na garganta por
um hipnotizador.
Convencido a fazer “leituras clínicas” em estado hipnótico, Cayce
descobriu ser capaz de fazer diagnósticos de pacientes que se encon
travam a muitos quilômetros de distância. Não precisava de nenhum
detalhe dos sintomas; apenas endereço e nome do paciente a seu
devido tempo. Deitava-se, então, e lentamente entrava em estado de
transe enquanto seu assistente Layne repetia a fórmula invariavel
mente usada:
Você terá agora diante de si (nome do paciente), que está
neste momento em (endereço). Vai aproximar-se cuidadosamente
desse corpo, fazer-lhe um exame geral e dizer-me seu estado atual
e causas de sua enfermidade; indicará também sugestões para
sua cura. Responderá às minhas perguntas à medida que eu for
formulando.
Caso o paciente não estivesse àquele momento em sua casa con
forme o combinado, Cayce dizia: “Não temos o corpo - não o
encontramos”. Normalmente, porém, começaria dessa forma:
‘Temos o corpo”, e daria a seguir uma descrição do paciente à qual
freqüentemente acrescentava a descrição de sua residência, arredores
e atividades das pessoas presentes na casa. Faria então um diagnósti
co e prescreveria tratamento fazendo uso de terminologia médica
aitamente especializada.
Durante sua vida, fez mais de 30.000 “leituras clínicas” e veio a
ser conhecido como o “médico adormecido”. Nem todas essas
“leituras” foram corretas, mas a maioria era espantosamente precisa.
Quando se tornou muito conhecido, inúmeros médicos recorreram
a ele a fim de solicitar sua ajuda para diagnosticar casos particular
mente difíceis e um deles garantiu ter Cayce obtido uma precisão
maior que 90% nas “leituras” de casos que lhe foram submetidos
dessa maneira.
Um notável exemplo de “leitura” bem-sucedida foi aquela feita
para uma jovem que recebera atestado de insanidade mental. Cayce
diagnosticou que o problema fora causado pela compressão de um
dente do siso com incidência sobre determinado nervo do cérebro
e sua extração permitiria a cura completa. Um exame da situação
dos dentes da paciente e a conseqüente extração do dente em ques
tão provaram a exatidão do diagnóstico de Cayce, e a jovem recupe-
rou-se completamente.
Sugestionabilidade
Tem-se observado freqüentemente que o grau de sugestionabili
dade do indivíduo exerce grande influência nos resultados obtidos,
e este princípio parece sem dúvida atuar nas curas realizadas por
membros da Ciência Cristã e pelos curandeiros “espirituais”, bem
como nos “milagres” dos santuários, tais como o de Lourdes. As
condições associadas - tensa atmosfera religiosa, expectativa,etc. —
são tamanhas que se tornam capazes de aumentar a sugestionabilidade
do paciente, elevando-o a nível bem alto e as enfermidades que pare
cem ser curadas sob tais circunstâncias são quase invariavelmente
aquelas do tipo curável através de sugestão hipnótica.
Grande número de curas têm sido feitas de forma aparentemente
paranormal através do hipnotismo, mas a maioria delas, infelizmente,
sem provas confiáveis. Um caso registrado por alguém não menos
autorizado que o Dr. A. A. Mason, Diretor Geral do Queen Victoria
Hospital, East Grinstead; publicado em 1952, despertou grande
interesse nos círculos médicos e parapsicológicos. Relatava um caso
de cura nessas condições.
O paciente, um jovem de dezesseis anos, sofria de ictiose congê
nita, conhecida também como xerodermia, doença hereditária
normalmente tida como incurável. Uma camada negra, calosa, reco
bria to do seu corpo, exceto o tórax, pescoço e rosto. Seguem-se as
palavras do Dr. Mason:
A pele apresentava-se papilífera, as papilas projetando-se 2,6
mm acima da superfície e separadas entre si por um espaço de
aproximadamente 1 mm. Suas dimensões variavam desde as
menores, protuberâncias de forma semelhante a roscas, localiza
das no abdômen, até as enormes excrescências que mediam cerca
de 5 mm, espalhadas pelos pés, coxas e palmas das mãos. As
pequenas aberturas que permitiam vislumbrar áreas diminutas da
pele entre as papilas também apresentavam-se negras, escamosas
e cheias de fissuras. Era tão dura ao toque quanto a unha normal
dos dedos e tão ressecada que qualquer tentativa para dobrá-la
provocava rachaduras em sua superfície das quais eventualmente
escorriam gotas de um soro de sangue. Nas dobras da pele, aber
tas pelos movimentos do paciente, havia fissuras doloridas e
cronicamente infeccionadas. A camada escamosa, quando seccio-
nada, apresentava consistência de cartilagem e era indolor até uma
profundidade de vários milímetros.
A gravidade da condição do paciente variava nas diferentes
áres do corpo, apresentando-se pior nas mãos, pés, coxas e pantur-
rilhas e menos graves nos antebraços, abdômen e costas. A pele da
face, pescoço e tórax era aparentemente normal, embora, confor
me demonstrado mais tarde, se tornasse escamosa quando trans
plantada para as palmas das mãos.
O paciente foi tratado em diversos hospitais sem sucesso, e os
enxertos de pele não apresentaram resultados positivos. O Dr. Mason
decidiu então tentar um tratatamento baseado na ação da hipnose,
limitando suas sugestões inicialmente ao braço esquerdo, de forma a
excluir a possibilidade de resolução espontânea. “Cerca de cinco dias
depois”, declarou o Dr. Mason, “a camada escamosa amoleceu,
tornou-se friável e caiu. A derme apresentava-se ligeiramente eritema-
tosa, mas sua textura e cor eram normais. De um envoltório negro
semelhante a uma couraça, a pele tornou-se cor-de-rosa e macia em
poucos dias. As melhoras foram observadas inicialmente nas dobras
e áreas de fricção e posteriormente nas demais áreas do braço. O
eritema desapareceu em poucos dias. Ao fim de dez dias o braço
apresentava-se completamente são do ombro ao pulso”.
O Dr. Mason estendeu então o tratamento ao resto do corpo do
jovem obtendo sucesso quase idêntico, conforme ilustra a tabela
abaixo:
1 Situação atual
/ e perspectivas futuras
8 No texto deste livro foram abordadas rapidamente algumas expe
riências de PES utilizando as cartas Zener. Já que considerável par
cela da pesquisa psíquica foi baseada nelas, parece-me que a atenção
a elas dispensada foi demasiadamente pequena, embora eu considere
seu valor relativo. É claro que admito sua importância: representam
o único tipo de evidência aceitável para muitos céticos do meio
científico. Mas, quando uma pessoa descreve em detalhes um fato
que está ocorrendo a quilômetros de distância, ou que irá acontecer
futuramente, isso para mim é algo muito mais importante —e certa
mente de maior interesse —que simplesmente obter uma somatória
maior ou menor de pontos em experiências com as cartas Zener.
Em que pese o fato de ter participado de tais experiências, e
eventualmente utilizar as cartas Zener como parte dos testes mais
gerais na avaliação de PES, realizei apenas um amplo teste desse tipo
e duvido realmente que ainda me preocupe em fazer outro. O resul
tado foi negativo, mas vou descrevê-lo resumidamente, não só para
ilustrar os detalhes da experiência, mas também seus interessantes
“efeitos secundários”.
Essa experiência, realizada em colaboração com David Jolliffe,
amigo e membro da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, tinha como
objetivo a obtenção de resultados semelhantes aos do Dr. Milan
Ryzl. Um relatório contendo a íntegra da experiência foi publicado
no Journal da SPR de dezembro de 1965.
Foram testadas quatro garotas que afirmaram nunca terem parti
cipado de experiências paranormais ou de PES antes. Foi-lhes expli
cada a natureza da experiência e todas foram hipnotizadas diversas
vezes durante um período de condicionamento de dois meses que
antecedeu o teste. Receberam intensivas sugestões de estarem desen
volvendo suas faculdades de PES.
Foram usadas as cartas Zener e a técnica geral descrita no Capí
tulo 3 na íntegra, de forma que os resultados obtidos podem ser
comparados aos de outros pesquisadores. O arranjo e procedimento
adotados foram os seguintes:
Utilizaram-se dois cômodos adjacentes; estes não se comunica
vam diretamente entre si, mas suas portas davam para um corredor
comum. As paredes divisórias eram grossas. Havia pesadas cortinas
nas portas e a conversação mantida num deles era completamente
inaudível no outro. O quarto A foi ocupado pelo agente (o “trans
missor”) e nele instalou-se uma campainha elétrica que eu acionava
através de teclas, do quarto B.
Sentei-me no quarto B com uma das jovens sob hipnose e, para
dar início à primeira série de tentativas, premi quatro vezes a campa
inha em toques curtos, conforme fora combinado. O agente no
quarto A escolheu então um dos maços de cartas Zener previa
mente embaralhados. Então dei um toque breve de campainha, o
agente olhou a primeira carta do maço que tinha em suas mãos e a
jovem hipnotizada deu seu palpite na tentativa de acertar o nome
da mesma e eu anotei o que dissera numa folha de papel destinada
à marcação dos pontos, dei novo sinal para a tentativa seguinte, e
assim sucessivamente até o final da primeira série de palpites. Após
cada série de tentativas eu ia ao quarto A para verificar as “cartas-
alvo” antes de serem novamente embaralhadas e anotava seus nomes
inversamente às tentativas feitas na folha de marcação de pontos.
Havia, é claro, testemunhas presentes a cada sessão.
Cada jovem foi submetida a dez sessões semanais compostas de
oito séries de tentativas, perfazendo por conseguinte um total de
dois mil palpites. Os resultados eram comparados com relação a
escqres pré ou pós-cognitivos, bem como para “palpites” diretos.
Não se verificou nenhum caso significativamente diferente daquilo
que se poderia esperar como decorrente da pura casualidade, nem
se observou qualquer aumento do total de acertos durante todo o
período em que se realizou a experiência.
Ocorreram, entretanto, alguns efeitos incidentais curiosos. Uma
das jovens, durante um teste informal subseqüente a uma das sessões,
descreveu minuciosamente a pessoa com quem eu estivera na noite
anterior e o que essa pessoa fizera. É quase certo que não obteve
essas informações por qualquer um dos meios que se conhece. Duas
vezes, sentada no quarto A , após sessões diferentes, entrou em
hipnose profunda quando eu, sentado no quarto B, “sugestionei-a”
mentalmente para fazê-lo. Em ambas as ocasiões ela declarou ter
ouvido minha voz dizendo: “Durma”, e chamando-a pelo nome, As
duas tentativas subseqüentes falharam e infelizmente a jovem não
mais pôde comparecer para novos testes e ao final de experiência.
É interessante notar, entretanto, ser ela sabidamente uma pessoa que
jamais entrara em estado de hipnose espontaneamente, e que as
tentativas feitas por outros para hipnotizá-la foram inúteis.
Outra jovem chegou numa das sessões visivelmente angustiada,
explicando que sua vida sentimental atravessava péssima fase. Pronti
fiquei-me a cancelar a sessão, mas percebendo que isso poderia
arruinar todo o trabalho feito, insistiu resolutamente para que pros
seguíssemos.
Hipnotizei-a da forma costumeira, e teve início a série de tenta
tivas. Na metade da quarta sessão tocou o telefone da mesa do corre
dor. Ignoramos o fato, prosseguindo com a experiência. Alguém
presente no apartamento o atendeu. Como de costume, eu havia
sugerido à jovem que esta não ouviria nenhum som exceto minha
voz, e ela não esboçou qualquer reação visível quando o telefone
tocou.
Ao ser acordada para um intervalo após a sessão, disse: “Oh
Simeon, se ‘X’ telefonar, diga que não estou aqui. Não quero que
apareça e estrague toda a experiência”. Na verdade a chamada tele
fônica nada tinha a ver com ela. O detalhe interessante, entretanto,
foi observado ao se estabelecer uma comparação entre seus palpites
e as cartas-alvo, descobrindo-se ter ela acertado cinco palpites con
secutivos enquanto o telefone tocava — único momento em que
obteve tal escore durante o desenrolar de todas as sessões.
“Flashes” psíquicos
Tive uma paciente a quem submeti freqüentemente a sessões de
hipnose durante algumas experiências de psicologia. Os testes ocasio
nais de PES com ela geralmente apresentavam resultados negativos,
mas às vezes parecia-me que ela tinha lampejos clarividentes de uma
precisão extraordinária. Diversas vezes descreveu coisas que ocorriam
em minha casa na Dha de Wight, a qual jamais visitara. Uma carac
terística singular de sua faculdade de clarividência consistia em rara
mente dar respostas imediatas às perguntas do teste, mas apresentar
voluntariamente essas respostas algum tempo depois, usualmente
quase ao final de uma sessão hipnótica.
Certa vez perguntei a ela o que havia em um embrulho fechado
em um recipiente dentro do porta-malas do meu carro que se achava
também trancado. Eu não tinha a mínima idéia do que havia dentro
do embrulho que eu prometera não abrir até o dia seguinte; sabia
somente que era um presente de aniversário. Em resposta à minha
pergunta, a moça disse apenas “não sei” , porém, meia hora depois,
quando eu estava a ponto de acordá-la, observou: “Há um livro no
embrulho; um livro vermelho e grande”. No dia seguinte, quando
abri o pacote, encontrei um livro grande com a capa vermelha e
brilhante.
Quando ia visitá-la, viajava geralmente de trem. Ao chegar à
estação freqüentemente a encontrava esperando-me, muito embora
eu nunca lhe dissesse quando aguardar-me. “Alguma coisa me disse”,
explicava ela, “que você estava a caminho”, e assegurou-me que
sempre que se sentia impelida a ir até lá e me encontrar eu chegava.
Devo adiantar que jamais tentei enviar-lhe qualquer mensagem tele
pática avisando-a da m inha chegada.
Tive outra paciente, Nora, que apresentava ocasionalmente esses
“flashes” psíquicos enquanto hipnotizada. A maioria das minhas
sessões com ela constituía-se de longas conversas com o suposto
espírito de um jovem soldado, morto na Coréia, que presumivel
mente falava através da garota em transe. Embora nunca tenha forne
cido qualquer evidência passível de ser verificada, suas declarações
e descrições eram realmente dramáticas e impressivas. Demonstravam
um conhecimento e uso lingüístico que Nora, uma empregada
doméstica de educação limitada, dificilmente teria, e acredito plena
mente que muitas pessoas aceitariam tais comunicações como verda
deiramente vindas do além.
Pelo que pude observar, Nora não tinha qualquer conhecimento
ou experiência com relação ao espiritismo. As “comunicações”
começavam quando, hipnotizada, era-lhe ordenado para permanecer
sentada quieta, por meia hora, e para descrever qualquer coisa que
estivesse vendo ou ouvindo. Este caso, entretanto, é uma digressão.
Mencionei Nora por sua clarividência espontânea. Eis um exemplo:
Nora estava sentada quieta, profundamente hipnotizada, quando
disse subitamente: “Posso ver seu carro. Está na estrada, e dentro
dele há uma grande cobra”. Quando indagada, disse ser bege a cor
do carro e “leu” o número da placa.
O carro que eu usava estava estacionado “estrada abaixo”, a certa
distância da casa em que Nora trabalhava e onde nos encontrávamos.
Era de um a cor bege não muito comum. Quando a deixei e me dirigi
novamente ao carro, descobri que havia dado os números e letras
corretos da placa, só que em ordem inversa. Nora certamente não
pôde ver-me chegar e estacionar o carro, que no local em que estava
não podia ser visto da casa. Eu havia emprestado esse carro e o vira
pela primeira vez há menos de meia hora antes de chegar. Não o
dirigi por nenhuma rua próxima nem passei em frente à casa antes
de estacionar. E eu realmente não havia notado anteriormente que
no banco traseiro achava-se, toscamente enrolada, uma mangueira
de aspirador de pó que à primeira vista dava a alarmante impressão
de ser uma enorme cobra.
Nora também predisse a maneira como terminariam nossas expe
riências. Previu a morte de seu patrão, a venda da casa, a conse
qüente perda de seu emprego e os atritos surgidos no seio da família
em conseqüência disso. Todos esses fatos pareciam completamente
inverossímeis à época em que ela os predisse, e escapavam total
mente ao seu controle ou influência.
Dificuldade de classificação dos fenômenos psíquicos
Os-exemplos citados nos capítulos anteriores sobre fatos ocorri
dos com pessoas que vivenciaram experiências tais como telepatia,
clarividência, etc., fazem-me crer na indubitável existência dos
fenômenos psíquicos. Os exemplos de minha experiência própria
reforçam essa conclusão, mas também ilustram a extrema dificuldade
existente para sua classificação bem como a total imprevisibilidade
com que ocorrem usualmente. É inevitável que os êxitos obtidos
sejam registrados; ninguém se interessaria em saber dos resultados
conseguidos após horas de tentativas com as cartas Zener, que apre
sentam apenas um total de pontos previsíveis pelas leis da probabili
dade, ou sobre a voz secreta que “preconiza” a vitória de um cavalo
sem chances e que concorre ao primeiro prêmio de uma corrida
anual de cavalos, ou ainda sobre o tipo de “clarividência” que
poderia ser apenas um a dedução inteligente (se inconsciente) de fa
tos já conhecidos pelo indivíduo. Qualquer pesquisador poderia dar
exemplos como estes considerando-os como aparentemente bem-su-
cedidos. É somente comparando-se com o total de resultados negati
vos que se pode avaliar a significação dos êxitos obtidos.
Pode-se estabelecer um paralelo com os médiuns espíritas real
mente capazes que às vezes, como tenho afirmado, demonstram
inequivocamente poderes psíquicos, não importa se aceitamos ou
não o fato por eles alegado de entrarem em contato com o além.
O médium, em seu transe hipnótico auto-indutivo, produz muita
coisa duvidosa e também que não é absolutamente paranormal,
mas consegue às vezes lampejos de algo verdadeiramente psíquico.
Somente um reduzido número deles, como Douglas Johnson e
outros do mesmo calibre, podem invocar seus poderes psíquicos
quase à vontade e mesmo assim admitem terem-seus dias negativos.
E através da história do espiritismo o número de médiuns geral
mente aceito pelos pesquisadores sérios, passível de ser enquadrado
nessa categoria, dificilmente chegaria a algumas poucas dezenas.
De forma semelhante, somente um pequeno número de clarivi
dentes, como Janet Léonie, Madame Morei de Osty e a Sra. Reyes
de Zierold de Pagenstecher, parecem-me capazes de usar seus poderes
psíquicos mais ou menos espontaneamente. Descendo-se na escala
e considerando-se apenas aqueles que aspiram à “mediunidade”,
não obtendo de forma plena os poderes psíquicos, pode-se afirmar
que a maioria das tentativas para obter tais poderes através da
hipnose falhou. Esta assertiva é particularmente verdadeira no que
se refere às experiências quantitativas com as cartas Zener e não
há a menor dúvida que milhares de tentativas feitas por hipnotiza
dores, e jamais registradas, para a obtenção de viagem astral, clarivi
dência e outros, foram infrutíferas.
Parece-me que a causa da falha em ambos os exemplos seja prova
velmente a abordagem errada feita por inúmeros pesquisadores.
A maioria deles está empenhada em experiências quantitativas com
as cartas Zener e experiências semelhantes que procuram detectar
a PES em geral. Têm tentado a hipnose apenas de passagem, da
mesma forma como tentaram experiências com drogas, estimulantes
e outras variações de condições experimentais simplesmente para
observar se tinham ou não efeito imediato. Os pesquisadores que
concentraram sua atenção em experiências quantitativas de hipnose,
usaram como pacientes pessoas prontamente disponíveis, sem aten
tar para o fato de terem ou não alguma faculdade psíquica latente.
Quanto às tentativas individuais para a produção de viagem astral
clarividente sob hipnose, etc., parece-me que a maioria dos que se
aventuraram a realizar essas experiências eram mais hipnólogos que
pesquisadores psíquicos. Seu principal interesse foi talvez o hipno
tismo em si, e todo o conhecimento que possuíam sobre os “fenô
menos maiores” baseava-se na literatura existente sobre o próprio
hipnotismo e não na literatura referente à pesquisa psíquica. Geral
mente, por conseguinte, consideravam a viagem astral, a comunidade
de sensações e os fenômenos similares que foram associados à
hipnose como verdadeiramente causados pela hipnose propriamente
dita: que estes são fenômenos hipnóticos. A possibilidade do indiví
duo possuir alguma faculdade — de determinada natureza - passível
de ser estimulada através da hipnose, ou que poderia ser desenvol
vida após um certo período de sessões hipnóticas, em muitos casos
não foi considerada.
É possível, como afirma o Dr. Ryzl, que a faculdade psíquica
possa ser desenvolvida em praticamente qualquer pessoa, mas eu
particularmente não acredito nessa possibilidade. Sou inclinado a
pensar que um número relativamente bem reduzido de pessoas
possui faculdades de PES mesmo latentes. Em algumas dessas pessoas
tais faculdades desenvolvem-se espontaneamente e então em casos
excepcionais temos uma Eileen Garret ou um Douglas Johnson.
Em outras, essas faculdades permanecem latentes, a menos que um
hipnólogo faça-as aflorar, quando novamente só em casos excepcio
nais surge uma Madame Morei ou uma Léonie ou uma Sra. Reyes de
Zierold.
Em minha opinião, as faculdades psíquicas podem ser comparadas
ao talento musical. Se alguém possui um “bom ouvido”, esta facul
dade pode ser desenvolvida e ter-se-á como resultado um músico —
em casos raros, um virtuose —mas se o indivíduo é surdo ou quase
isso, então nenhum tipo de exercício surtirá qualquer efeito. Da
mesma maneira, parece-me, todo o treinamento do mundo não
surtirá nenhum efeito a menos que o indivíduo em questão traga
esse dom do berço.
Parece-me improdutivo realizar testes com cartas Zener, tentar
fazer viagens astrais ou ainda desenvolver poderes psíquicos utili
zando essa maneira aleatória de experimentar indivíduos. A impos
sibilidade de encontrar alguém sensitivo dotado de faculdades
psíquicas notáveis, usando essa abordagem, parece altamente remota.
A descoberta de sensitivos não é a razão e fim das experiências,
é claro. Seu objetivo primordial é obter uma compreensão melhor
não só da hipnose e fenomenologia psíquica, mas também descobrir
um modo de introduzir tais conhecimentos em nossos conceitos
pré-existentes sobre ocorrências dessa natureza. Contudo, nosso
objetivo fundamental é a obtenção de resultados: não se pode
teorizar de maneira producente a menos que se tenha um farto
dossiê de fatos.
Podemos resumir nossas conclusões presentes da seguinte forma:
certas pessoas possuem realmente poderes psíquicos. Esse dom
parece ser usualmente latente, embora suija quase espontaneamente
talvez num contexto trivial e por uma razão ainda desconhecida para
nós, quem sabe em conseqüência de algum estímulo emocional. A
hipnose geralmente não é envolvida em tais ocorrências espontâneas.
Além disso há fortes indícios de que essa faculdade latente possa
ser desenvolvida e cultivada através da hipnose. Os “médiuns” (os
verdadeiros) podem exercitar esse poder, embora somente um peque
no número deles dotado de poderes notáveis tenha sido capaz de
fazê-lo praticamente à vontade; e o estado de auto-hipnose induzida
(transe mediúnico) é característica da mediunidade.
Com os não-médiuns não resta dúvida de que a hipnose indu
zida por um hipnólogo — a “hetero-hipnose” para diferençar da
“auto-hipnose” — auxilia freqüentemente o desenvolvimento e
funcionamento dos poderes psíquicos. Segundo declara o Prof.
Charles Richet: “É evidente que a clarividência pode existir fora do
estado hipnótico; mas não é menos verídico afirmar que a hipnose
aumenta a clarividência. Várias pessoas quase incapazes de quais
quer manifestações transcendentais em estado de vigília tomam-se
lúcidas quando hipnotizadas”.
Em resumo, se tais poderes psíquicos existem realmente latentes,
ou sob os véus da mente, a nível inconsciente talvez, então a hipnose
é a chave para liberá-los.