Trabalho - Drummond e A Maquina Do Mundo
Trabalho - Drummond e A Maquina Do Mundo
Trabalho - Drummond e A Maquina Do Mundo
SÃO PAULO
2018
Em um mundo sitiado, o homem respira as poeiras levantadas pelo período
do pós-Segunda Guerra Mundial, ainda que alguns denominem essa época como a
Era de Ouro do capitalismo, devido a grande expansão econômica adquirida com os
lucros advindos da disputa da técnica e dos meios de produção entre as grandes
potências. A inimizade declarada e a luta armada entre países também tinha cunho
ideológico, e para alguns intelectuais as negociatas militares não trouxeram a vitória
para nenhum dos lados, ao contrário, transformaram também em ruína a verdade
que proporcionou um dia o entusiasmo para um engajamento político.
O horizonte do pós-guerra mantém-se negro, e um enigma, diante do homem
que encontra inalterado apenas o céu. Claro enigma, livro de 1951, posterior ao
lirismo engajado do poeta Carlos Drummond de Andrade, é um desdobramento dos
efeitos do período belicista que marcou o século XX. Diante da sociedade
pós-industrial, em que a máxima do lucro continua sendo o modo predominante de
produção, fazendo valer o lado obscuro da grande potência soviética em sua avidez
pelo poder em si mesmo, Drummond escreve uma obra que representa a recusa de
um discurso participante desse “novo mundo”, numa oposição negativa diante de
uma realidade insondável à razão, à ação humana e à poesia (Camilo, 2001).
Esta obra traz em sua antologia o poema A máquina do mundo, o qual pinta
um quadro trágico do destino do homem desenganado com as verdades, as ciências
e os nexos da vida oferecida pelo “mundo-máquina”. O presente trabalho pretende
analisar como poeta faz uso do quadro trágico para rejeitar ascensão do herói,
metáfora do “eu” engajado, ao narrar a tragédia do mundo técnico e pondo em causa
o destino do homem submetido aos processos desse novo e reacionário mundo.
O presente trabalho tem o objetivo de analisar o tédio presente no estado de
existência do “eu” como resposta à uma frustração anti-heróica. Por meio das
colorações do poema apresentaremos uma hipótese de compreensão poética
acerca do negativismo positivo do “eu”, entendendo os conceitos de positivo e
negativo não como dinâmicas opostas, mas complementares. Dessa forma, este
negativismo, que ultrapassa a esfera do interior e contamina sua realidade com tons
de chumbo, é entendido como uma afirmação de resistência do “eu” culminando na
recusa à “máquina do mundo”. Pretende-se demonstrar através do poema a adoção
de uma perspectiva metafísica, que compõe o enredo trágico, como também
demonstrar a semelhança existente entre os pontos conceituais do poema e os
traços conceituais da filosofia taoísta, individualista por natureza, que procura na
introspecção do sujeito a verdade como um acontecimento do ““eu” ele mesmo”.
Esse pensamento oriental sintetiza o conceito de dualidade na descrição do universo
em duas polaridades fundamentais: negativo e positivo como dinâmicas opostas e
complementares. A partir dessa premissa, o trabalho procurará demonstrar como a
recusa do “eu” é uma afirmação de existência, similar também à perspectiva taoísta,
ao fazer uso da observação dos fenômenos do mundo e rejeitar as ofertas
mundanas como estratégia de resistência do “eu”, contrapondo dessa maneira o
sentido de destino trágico presente na perspectiva do homem ocidental.
A máquina do mundo
BIBLIOGRAFIA
CAMILO, Vagner (2001) Drummond: da Rosa do Povo à Rosa das Trevas,
São Paulo, Ateliê Editorial
ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma. Companhia das Letras. São
Paulo, 2012.