Proposta de Redação - Vidas Negras Importam

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Nome: _____________________________________________________

Data: ___/___/___ Língua Portuguesa Professor: Diogo Reis

Proposta de redação: Vidas Negras Importam


O Brasil e os Estados Unidos foram sociedades fortemente marcadas pela prática da escravidão e pelo
racismo estrutural dela decorrente. Apesar de diferenças que devem ser consideradas, principalmente no
tocante a miscigenação, ocorrida de forma muita mais intensa na América tropical, em ambas as
sociedades o racismo assume uma faceta sistêmica e estrutural. Todo um complexo sistema político,
jurídico e sociocultural tem sido responsável pela manutenção de práticas injustas que fazem com que os
afrodescendentes, no Brasil e no mundo, tenham que lidar diariamente com as atrozes heranças da
escravidão. Por isso, faça um texto dissertativo-argumentativo, entre 25 e 30 linhas, com o seguinte tema:

Vidas negras importam: a persistência do racismo no Brasil e no mundo

TEXTOS DE SUPORTE

TEXTO 1
O 13 de maio e o racismo nosso de cada dia, por Magali Cunha
Hoje recordamos os 132 anos da Lei Áurea que pôs fim à prática da escravidão no Brasil. A data é
sempre uma oportunidade para recordarmos que o fim da escravidão não significou o fim do racismo, da
negação das pessoas negras como iguais, e da exploração dos trabalhadores em nosso país. É ainda
oportunidade significativa para todos reafirmarem o racismo como uma ofensa à democracia e à Vida.
O racismo é uma das formas mais cruéis de intolerância estabelecidas na história da humanidade.
Tem por base a negação (não aceitação) das diferenças entre humanos e da possibilidade de coexistência
entre diferentes. Esta negação se soma a práticas sociais e políticas que estabelecem uma distribuição
desigual de poder entre grupos sociais e determinam a supremacia de uma “raça” (a branca) sobre outra (a
negra).
Dá-se, historicamente, de forma institucionalizada, por meio de políticas e legislação, por meio da
subordinação e da exploração de povos inteiros, e também como uma estrutura integrada às formas de
vida culturalmente estabelecidas em sociedades diversas. Por meio destas expressões o racismo opera
explicita ou sutilmente, no dia a dia. 
O Brasil foi o maior receptor de africanos escravizados (46% do mercado de escravos de todo o
mundo) e o último país das Américas a extinguir a escravidão, já independente de Portugal e a um ano
antes de se transformar numa República.
Mesmo reconhecendo a cidadania a indígenas e à grande população negra e mestiça, o fato é que a
escravidão, tanto no seu sentido econômico de exploração do trabalho alheio, como no seu sentido moral
e político de produção de distinções sociais, se manteve, na prática, presente desde então.
Já havia uma cultura da desigualdade e da inferiorização de pessoas estabelecida e vivida com a
colonização e, ainda que leis surgissem na história para superar essa realidade, esta estrutura é mantida.
Pessoas negras sempre foram colocadas pela estrutura racista de sociedade em condições
inferiorizadas de vida, majoritariamente na pobreza, nas periferias e favelas, com baixos salários, e, por
vezes, com a oferta da ilegalidade como recurso para superação das dificuldades. 
Esta situação cria um estigma para a população negra brasileira, o da criminalidade. Pessoas negras
são vistas com desconfiança e sofrem com o preconceito da segurança privada e de agentes do Estado.
Muitas pessoas negras são tratadas, sem quaisquer motivos, como suspeitas em várias situações,
submetidas a humilhações e chegam a ser presas e executadas.
Estes casos se somam a uma infinidade de outros no Brasil, desde aqueles tornados públicos, por
pessoas comuns ou mesmo celebridades, até aqueles acobertados ou silenciados, do dia a dia de milhões
de pessoas cuja cor da pele é motivo para preconceito, discriminação e segregação.
No presente, basta ver os índices da covid-19 para identificarmos como opera a estrutura racista
segregacionista no Brasil. De acordo com os primeiros números disponibilizados, em abril, pelo Ministério
da Saúde, a pedido da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade) e pela Coalizão
Negra por Direitos (via Lei de Acesso à Informação), pretos e pardos são 23,1% das pessoas internadas por
Síndrome Respiratória Aguda Grave, mas correspondem a 32,8% dos óbitos por covid-19. [...]
Apesar de um passado de injustiça secular nos discursos e práticas racistas entre as próprias igrejas e
suas lideranças, há cristãos ao longo da história que fomentam uma leitura da fé para superação do
racismo. Eles formam consciências e inspiram movimentos por justiça e igualdade que têm marcado o
mundo. Entre eles estão o batista Martin Luther King e o metodista Nelson Mandela. No Brasil são muitos
os nomes de homens e mulheres negros que levam adiante a história de consciência e libertação.
O clamor por justiça e igualdade deve continuar a ser levantado não apenas pelas pessoas negras,
mas por todos nós que confessamos o racismo como pecado e ofensa, e assumimos o compromisso radical
por superá-lo a fim de transformar esta realidade injusta.
Magali Cunha: Jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. É colaboradora do Conselho
Mundial de Igrejas.

TEXTO 2
Manifesto político para um Judiciário contra o racismo estrutural, por Karla Aveline
Nós, brancos e brancas, somos os responsáveis pelas violências que culminaram com as mortes de
João Pedro – no Brasil – e de George Floyd – nos EUA – e esses homicídios guardam intensa relação com
todo o passado escravocrata dos dois países.
Escravização de corpos negros produzida por nós, brancos e brancas.
Violência estatal produzida por nós, brancos e brancas, que ocupamos a quase totalidade dos cargos
de poder nas instituições públicas.
Racismo estrutural produzido por nós que estamos à frente de todas instituições de saber e de poder,
aqui ou lá. 
Racismo sistêmico, cotidiano, que mantêm segregados negros/as e nos concede, por isso mesmo, os
privilégios materiais e imateriais decorrentes do simples fato de termos menos melanina no corpo.
Não tenhamos memória seletiva! EUA e Brasil abrigam as maiores populações negras fora do
continente africano e essa migração forçada foi causada por nós.
Nossas terras foram e são testemunhas de todas as atrocidades cometidas por nós e, por conta de
um projeto colonial que perdura até os dias de hoje, racializamos, classificamos, hierarquizamos,
oprimimos, violentamos e exploramos os povos originários e os corpos negros – de homens, mulheres,
crianças e idosos.
Brancos e brancas têm sido, por ação ou omissão, em todo o globo terrestre, o que já se viu de mais
violento, sanguinário, perverso, abusivo e opressivo. Somos o mais vivo exemplo da total falta de
humanização, empatia, respeito; pecamos pela ganância, pela sede de poder, por perversão, pela falta de
ética e de valores dignos.
Desde a invenção das Américas, sempre estivemos à frente de toda e qualquer estrutura de poder –
sejam escolas, igrejas, universidades, justiças, fábricas, hospitais, presídios, manicômios, abrigos, polícias e
somos os responsáveis diretos pela construção desse sistema mundo indigno. É das mãos brancas que
escorre esse fel!
Nós, brancos e brancas, permanecemos usufruindo desses privilégios que nossos/as descendentes
brancos/as nos deixaram. Somos herdeiros desse mundo branco e violento que oprime, subalterniza,
hierarquiza, mata e prende corpos negros.
Ainda que negros/as levantem as mãos para o alto, que se comportem como a sociedade branca
requer e obriga, ainda que sejam “civilizados” como alguns brancos e brancas ainda argumentam, ainda
que sigam regras e ordens injustas e ilegais, ainda assim, seguem sendo assassinados, seguem tendo seus
direitos mais básico violados.
EUA e Brasil lideram o número de encarceramentos e, de forma causal, pessoas negras são as que
superlotam essas prisões indignas, pessoas negras são as que mais morrem de causa violenta. Aqui e lá.
Há uma linha ainda não rompida, direta, entre escravização de corpos negros e os grandes
encarceramentos, entre desumanização de corpos negros e o assassinato da juventude negra no Brasil.
A academia já produziu – tanto lá como aqui – muito material de qualidade para discutir a questão da
violência estatal direcionada ao povo negro e empobrecido das periferias, da seletividade penal, do super
encarceramento, da segregação racial, do racismo estrutural e institucional, e da ausência de negros e
negras ocupando cargos de poder no sistema de justiça brasileiro e americano.
PROPONHO, do alto do meu privilégio de classe e raça, enquanto MAGISTRADA branca, que todos os
homens e mulheres que ocupam cargos de poder no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério
Público, nas demais esferas do sistema de justiça, nas associações de classe, que transformemos nossa
indignação em ação.
Não nos calemos mais.
Não sejamos omissos.
Que nossa indignação seja capaz de levar para as instituições a discussão necessária a respeito das
causas estruturantes que são responsáveis pelos grandes encarceramentos, pela violência estatal, pelo
genocídio da juventude negra.
Que nos responsabilizemos, estudando e compreendendo o contexto histórico, social, cultural,
antropológico, político, das instituições a que pertencemos para que passemos a discutir ações
propositivas.
Que usemos o poder que está em nossas mãos para promover as transformações sociais que
construirão um mundo digno e respeitoso para todos.

Karla Aveline: Magistrada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e membra da
Associação dos Juízes para Democracia.
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/blogs/sororidade-em-pauta/manifesto-politico-para-um-
judiciario-contra-o-racismo-estrutural/

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