Unidade II - Informações Gerais Sobre A Homilética PDF
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Sumário:
1 Introdução
2 A Pregação
3 O Sermão
4 O Propósito da Homilética
5 Os Principais Desafios
5.1 Desafios externos para o pregador
5.2 Desafios internos para o pregador
6 A Classificação dos Sermões
6.1 Classificação dos sermões quanto à finalidade
6.1.1 Sermão evangelístico
6.1.2 Sermão doutrinário
6.1.3 Sermão exortativo
6.1.4 Sermão de Comunhão
6.2 Classificação dos sermões quanto às ocasiões
6.3 Classificação dos sermões quanto ao tipo
6.3.1 Sermão Temático
6.3.2 Sermão Textual
6.3.3 Sermão Expositivo
6.3.4 Sermão Pseudo Expositivo
6.3.5 Sermão Exegético ou Analítico
7 Resumo
1 Introdução
Olá, sejam bem vindos à nossa segunda Unidade sobre homilética. Aqui
aprenderemos algumas definições e peculiaridades importantes sobre esta palavrinha
tão curta, mas cheia de significados e responsabilidades. Além da distinção entre
sermão e pregação, também faremos um apanhado geral sobre os objetivos da
Homilética, os principais desafios para o pregador, nos dias de hoje e um vislumbre
sobre as classificações mais comuns dos sermões.
2 A Pregação
Comecemos trabalhando a ideia do que é uma pregação. Basicamente,
poderíamos dizer que é a transmissão de uma mensagem bíblica. Esta comunicação
pode ser feita através de várias formas e impulsionada por vários objetivos. Por
exemplo, eu posso pregar (anunciar o Evangelho), por meio de minha vida ou meu
exemplo. Posso, também, pregar por intermédio de uma simples resposta casual
quando, por exemplo, você está discipulando alguém que em algum momento o
encontra para desabafar sobre suas dificuldades e você simplesmente lhe pergunta:
“Você já orou sobre isto? Já apresentou a Deus esta dificuldade?” Embora não tivesse
a intenção direta, na realidade você está dizendo àquele seu discipulando que
devemos levar para Deus nossos anseios. Posso pregar por meio das redes sociais, ao
postar uma palavra de reflexão, por exemplo. Não precisa ser um discurso formal, que
alguns logo diriam: “lá vem o crente”, mas posso pregar durante um diálogo informal.
E também ao cantarolar um cântico ou hino, ao declamar uma poesia, ao apresentar
uma coreografia coerente com a música ao fundo, ao apresentar um teatro, etc. E, é
claro, pregamos quando ministramos um estudo bíblico ou quando usamos um
sermão. Embora, tradicionalmente, às vezes temos visto a igreja, de uma forma geral,
usar o verbo “pregar” como sinônimo de sermão.
3 O Sermão
Como demostramos anteriormente, o sermão é uma das ferramentas pelas
quais podemos levar o recado de Deus aos corações das pessoas. Mas, note que se
trata de uma distinção mais didática do que etimológica, por si só. Ou seja, não
precisamos sair recriminando ou “corrigindo” alguém que disse que pregação é a
mesma coisa que sermão.
Em poucas palavras, o sermão é um discurso baseado na Bíblia, que usa uma
estrutura organizada em tópicos interdependentes, para melhor captar a atenção dos
ouvintes e ser mais efetivo na transmissão da mensagem. Outros nomes para sermão
são: Palavra, Prédica ou Homilia, de onde vem “Homilética”, o nome de nossa
disciplina. Segundo Silva, as palavras homilia (oriunda do grego) e sermonis (do latim),
tinham o significado original de conversação, em geral, voltada ao âmbito familiar.
Com o passar do tempo, sofreram uma modificação em sua semântica, passando a
significar “discurso”, no geral. Mais adiante passa a se restringir à conversação
religiosa, em contraponto à retórica, que tendia a identificar o discurso secular. Após o
período da Reforma é que Homilética passa a ser entendida como a arte de se
anunciar o evangelho. (SILVA, 2011, p. 10).
Há seguimentos que tentam fazer distinção entre sermão, homilia e prédica.
Não será o nosso caso. Dependendo de sua comunidade de fé pode ser usado um ou
outro. O mais importante é pegar o conceito geral, por trás do termo e procurar inserí-
lo em nossas pregações.
Segundo Kirst, “Homilética é a ciência que se ocupa com a pregação cristã e, de
modo particular, com a prédica proferida no culto, no seio da comunidade reunida.”
(1996, p. 9). Outra ideia trabalhada por este mesmo autor, nesta definição, é a de que
“pregar é, em boa parte, artesanato” que se aprende a partir da prática daquilo que
formos vendo na teoria. (KIRST, 1996, p. 9).
Ampliando um pouquinho mais o nosso conceito, para Karl Barth:
“A prédica é a tentativa – ordenada à igreja – de servir à Palavra
de Deus através de uma pessoa vocacionada para tal finalidade;
e isto, de tal modo que um texto bíblico seja explicado em fala
livre a seres humanos da atualidade, como algo que lhes diz
respeito e como anúncio daquilo que eles têm a ouvir do próprio
Deus”. (BARTH, Apud KIRST, 1996, p. 18).
Segundo Key (2001) eis algumas palavras usadas em o NT, relacionadas à
pregação:
“Laléo (falar ou discursar) [...] Martyréo (testemunhar) [...]
Kerýsso (proclamar como arauto, trazer notícias, pregar ou
divulgar mensagens) [...] Euangelízomai (trazer, anunciar ou
pregar boas novas) [...] propheteúo (falar com a inspiração
imediata do espírito Santo) [...] Didáskein (comunicar a verdade
divina através do ensino) [...] Parresiázomai (falar com ousadia,
falar abertamente, sem medo) [...] Pleróo (encher ou tornar
cheio) [...] Parakaléo (implorar, exortar, consolar, suplicar,
confortar). (KEY, 2001, p. 29)
Só por aí, você já deve ter percebido a grande honra que temos, de sermos
chamados a pregar e, ao mesmo tempo, a árdua responsabilidade que sobrevêm aos
nossos ombros. Curiosamente, por um lado, a homilia é tão fascinante e, ao mesmo
tempo complexa, pois é um misto de arte, de técnica e de ciência. Segundo Silva, como
ciência, nos obriga a usar nosso intelecto na elaboração do que estudar e do como
expor. Como arte nos pede a trabalhar nossa sensibilidade estética e, ainda, como
técnica, nos ajuda a otimizar o tempo e sermos mais eficazes em nossa missão. (SILVA,
2011, p. 11s).
Permita-me dar uma palavrinha, a título de testemunho pessoal. No início,
pode parecer algo tão difícil de se alcançar. Mas, persistam e certamente serão bem
sucedidos. Passei por isto, e ainda tenho presenciado a vida de vários alunos, que por
resistência à novidade ou à transformação, são relutantes em aceitar ou seguir os
passos e as dicas sugeridas. Consequentemente, ainda sofrem em suas pregações.
Pior, seus ouvintes também continuam sofrendo. Todavia, àqueles que se deixaram
moldar e se permitiram crescer e se readequar, é muito bonito ver seu crescimento na
arte da pregação.
4 O Propósito da Homilética
Outra questão tão importante quanto saber sobre o significado de homilia, é
podermos entender sua razão de ser, seu propósito. Um dos principais objetivos de um
bom pregador deve ser a preocupação em alimentar coerentemente seu rebanho.
Infelizmente, tem sido cada vez mais comum encontrarmos membros de igreja que
nunca leram a Bíblia toda ou que nem sequer tem poucos minutos de devocional,
buscando maior intimidade com Deus. Para complicar ainda mais este quadro
catastrófico, não são poucas as heresias que podemos presenciar através de rádios,
Tv’s ou internet. Em outras palavras, nosso povo anda comendo comida estragada e
não tem a menor maturidade exigida para saber discernir o que de fato vem de Deus e
o que acaba sendo apenas manipulação humana, baseada em estratégias de
marketing, tais quais àquelas usadas no meio empresarial.
A igreja deve ser bem alimentada. Por isto, segundo Kirst, o sermão precisa
fornecer informações sadias e sérias que “abram horizontes, que preparem e deitem o
fundamento para transformações e complementações de convicções, valores e
padrões de atitude, ou seja, para uma reorganização de determinado subsistema
cognitivo”. (KIRST, 1996, p. 28.).
Além disso, embora possamos correr o risco de sermos redundantes, a prédica
tem como objetivo transmitir as boas novas de Deus. Parece tão óbvio, mas na prática,
infelizmente, tem sido cada vez mais frequente o uso de suas técnicas para se
transmitir os pensamentos próprios e interesseiros do pregador. Recentemente ouvi
um colega professor contando a seguinte história, que também foi presenciada por
mim alguns anos mais tarde. Dois alunos, um dele e outro meu, preocupados com a
qualidade de seu sermão, vieram nos procurar com seu esboço prontinho, com títulos,
tópicos, subtópicos, ilustrações, aplicações, enfim, tudo esquematizado, ou melhor,
quase tudo. Pois, quando perguntamos sobre a passagem bíblica que eles haviam
embasado seus sermões, simplesmente responderam; “então, só tá faltando o texto
bíblico”. É isto mesmo que você está lendo! Por duas vezes, fiquei sabendo de pessoas
que preparam seus sermões sem nem sequer terem um texto bíblico. Por favor, nunca
esqueça que sermão precisa ser a partir da Bíblia. Caso contrário será palestra,
discurso retórico, conselhos interessantes ou palavras de auto-ajuda. E, infelizmente,
há muito disso, nos púlpitos de nossas igrejas.
Devemos pregar a Palavra de Deus, porque cremos que nosso Deus é um Ser
pessoal, que se revela e deseja se relacionar com as pessoas. Para isto,
concomitantemente, devemos pregar aquilo que nosso Senhor, por meio de seu
Espírito Santo já falou conosco.
Outro objetivo bastante peculiar da Homilética é nos ensinar a transmitir esta
mensagem, que é a mais sublime, de uma maneira a melhor impactar e a ficar na
mente de nossos ouvintes. Por esta razão, aqui nós gastaremos bastante tempo e
energia com a definição e a elaboração de um bom esboço para o sermão. Mesmo
que, depois, você opte por não seguir em nada do que formos pedindo daqui para
frente, as atividades e avaliações serão baseadas a partir disto. Num primeiro
momento parece algo tão mecânico e “carnal”, mas creiam, quando nos dispomos a
gastar energia ordenando nossos pensamentos e quando gastamos energia em buscar
boas ilustrações e aplicações, a tendência é conseguirmos vencer a predisposição de
nossos ouvintes enjoarem de nós. E, teremos muito mais facilidade para que eles
possam se lembrar daquilo que pregamos na semana anterior.
5 Os Principais Desafios
Não sei se você já usou algumas destas expressões, mas infelizmente temos
deixado de anunciar o evangelho engessados na falsa ilusão de que “os mundos
mudaram”, “os tempos são outros”, “as pessoas não querem mais saber de Deus”,
entre outras. Mas segundo Barna (1998, p. 31ss), embora haja muitas peculiaridades
distintas entre a sociedade considerada o berço do cristianismo e a nossa, há muitas
similaridades entre ambas. Semelhanças estas que às vezes são elencadas como
desestímulo para uma pregação mais bem-sucedida. Por exemplo, dentre as mais de
20 situações culturais e/ou espirituais parecidas, destacamos: religião e instabilidade
familiar, promiscuidade exacerbada, desigualdade social que conduz à extremos casos
de pobreza, uma fé baseada nos méritos (crença nas obras), sincretismo religioso,
religiosidade, idolatria, corrupção (política e religiosa), impostos elevados, exploração
da fé, entre outras. Enfim, escrevo isto, para dizer, que embora haja diferenças
significativas entre as sociedades antigas e a atual, há muitas similaridades entre elas
que podem e devem ser combatidas e corrigidas pela boa pregação da Palavra de
nosso Deus.
Devemos conhecer os desafios e as diferenças, para melhor nos prepararmos
para elas e jamais para usá-los como desculpas de uma vida morosa e apática. Ou seja,
é importante saber que diante da correria desenfreada de hoje não basta apenas o
pastor subir ao púlpito. Como acontecia nos tempos de Esdras, considerado o primeiro
pregador, que falou por horas e o povo ficou em pé ouvindo-o. Os tempos e as
situações são outras. Devemos selecionar nossas palavras, escolher nossas ilustrações,
pensar em nossas aplicações, a ponto de transmitirmos os ensinamentos das Escrituras
de forma a atrair e não assustar o povo. Isto não significa preparar sermões “água com
açúcar”, no sentido de sempre falar o que o povo quer ouvir. Já ouvi dezenas de
sermões com a mensagem dura, mas de forma a nos instigar a termos uma vida
melhor, sem ficar com raiva do pregador.
O pregador atual pode ter que enfrentar algumas atitudes ou situações que lhe
exigirão um pouco mais de atenção e esforço. A isto, chamaremos de desafios. Ele
pode ter desafios internos (relacionados à sua própria personalidade) ou externos
(quando pertinentes à comunidade na qual estará pregando)
1 Esta irmã é membro da Igreja do Evangelho Quadrangular e foi minha colega de turma, no
curso de Teologia, na antiga FEPAR. Ela disse isto, após um dos colegas (destes falsos-
moralistas, que falam muito de ser espiritual, mas na prática, são mais carnais que os pagãos)
dizer que um bom pregador não deve gastar tempo estudando e sim, depender totalmente do
Espírito. Segundo ele, no dia que ele precisava pregar, orava 15 minutos, antes do culto e
pronto, estava preparado para ministrar o sermão para sua igreja.
jovem me disso, que justamente o fato de se buscar a direção de Deus para as
resoluções e a liberdade dos membros expressarem suas opiniões e serem ouvidos o
levou a se entregar a Cristo, desejando ter uma vida mais participativa no Reino de
Deus.
f) Plágio ou, se preferir, “sermão marmitex” – quando, muitas vezes por
preguiça ou má administração do tempo, não fomos capazes de nos debruçar na Bíblia,
atrás de uma Palavra para nosso rebanho e, por conta disso, simplesmente
reproduzimos algum sermão que ouvimos ou encontramos na internet, sem nem ao
menos, verificarmos se ele é bíblico ou pior ainda, sem mencionarmos sua origem.
g) Medo da responsabilidade – diante da árdua tarefa que é se esmerar para
apresentarmos um bom sermão, muitas vezes somos tentados a ficar com medo do
que esta missão pode nos apresentar. Quando fazemos em nome de Deus, mas sob
sua orientação o temor haverá sempre, mas não precisamos travar, com receio de
errarmos, pois o Espírito Santo é o maior interessado em nos ajudar a sermos bem
sucedidos como pregadores.
h) Perfeccionismo ou falta de Humildade – talvez um dos mais comuns. A partir
do momento em que começamos a aprender técnicas de como nos aprimorar e,
concomitantemente, vamos percebendo as falas mais comuns ou os erros a serem
evitados, torna-se comum, quando estamos ouvindo algum pregador, ficarmos
avaliando-o a partir das técnicas aprendidas e achar que só nós é que pregamos
direito. Temos que tomar cuidado, pois não importa quem está à frente pregando, se
formos humildes o suficiente, Deus poderá falar conosco. Não é tarefa fácil, mas é
possível e deve ser constantemente trabalhada em nossa vida diária. Precisamos ser
humildes ao ouvir os outros, ou ao receber algum elogio e, também, precisamos saber
que sempre há o que melhorar em nossa atuação como expositores da Palavra de
Deus.
7 Resumo
Como foi possível ver, pregação é diferente de sermão. O sermão é uma forma
bem específica da mensagem ser proclamada. Este tipo de pregação, também pode ser
chamado de prédica ou homilia, embora algumas denominações pareçam ter
definições próprias para cada uma delas.
Também vimos que juntamente com o privilégio de podermos transmitir a
Palavra de nosso Deus aos nossos ouvintes existe um grande temor e
responsabilidade. Afinal, o que dissermos, através do sermão, dado as devidas
proporções, é considerado pela igreja como ministração vinda de Deus. Por isto, nossa
atenção deve estar cada vez mais redobrada. Pois nosso objetivo maior é alimentar, e
bem, o rebanho de Deus. Para tanto e, diante de tamanha grandeza, o sermão precisa
ser a partir da Bíblia. Se não usarmos a Bíblia não será sermão será palestra ou
qualquer outra coisa. Somos apenas o instrumento pelo qual nosso Senhor falará ao
seu povo.
Não bastassem tal encargo sobre nossos ombros, também precisamos
entender os principais desafios que temos pela frente. Desafios culturais e sociais,
costumes e gostos diferentes, um estilo de vida agitado, expectativas distorcidas,
negligência ou desinteresse ao espiritual, falta de técnicas e habilidade, que podem
nos legar a querer imitar alguém ou copiar o sermão de outro, e, principalmente, um
dos maiores riscos e desafios a serem vencidos pelo pregador: falta de uma vida
prática e séria, pautada na Palavra de Deus.
Quanto à classificação, os sermões podem ser considerados quanto à finalidade
(evangelístico, doutrinário, exortativo ou de comunhão), quanto à ocasião (dominical,
semanal, ao ar livre, radiofônico entre muitos outros) ou quanto ao tipo (textual,
temático, expositivo, pseudo expositivo, analítico ou exegético). Saber destas variáveis
nos ajuda a atender melhor cada situação, de forma mais equilibrada e certeira.