03-Atos Administrativos
03-Atos Administrativos
03-Atos Administrativos
Para o direito, ato é sinônimo de manifestação de vontade com aptidão para produzir
efeitos jurídicos. Em razão disso, Hely Lopes Meirelles dizia que o “o conceito de ato
administrativo é fundamentalmente o mesmo do ato jurídico, do qual se diferencia como uma
categoria informada pela finalidade pública”.
Seguindo essa linha de raciocínio, para o saudoso professor, o ato administrativo nada
mais é do que um ato jurídico stricto sensu por meio do qual a Administração Pública
manifesta sua VONTADE produzindo os efeitos jurídicos desejados para a satisfação do
INTERESSE PÚBLICO.
ATOS DA
ADMINISTRAÇÃO
“A noção de fato administrativo não guarda relação com a de fato jurídico, encontrada
no direito privado. Fato jurídico significa o fato capaz de produzir efeitos na ordem
jurídica, de modo que dele se originem e se extingam direitos (ex facto oriturius).
A ideia de fato administrativo não tem correlação com tal conceito, pois que não leva
em consideração a produção de efeitos jurídicos, mas, ao revés, tem o sentido de
atividade material no exercício da função administrativa, que visa a efeitos de ordem
prática para a Administração. Exemplos de fatos administrativos são a apreensão de
mercadorias, a dispersão de manifestantes, a desapropriação de bens privados, a
requisição de serviços ou bens privados etc. Enfim, a noção indica tudo aquilo que
retrata alteração dinâmica na Administração, um movimento na ação administrativa.
Significa dizer que a noção de fato administrativo é mais ampla que a de fato jurídico,
uma vez que, além deste, engloba também os fatos simples, ou seja, aqueles que não
repercutem na esfera de direitos, mas estampam evento material ocorrido no seio da
Administração.
(...)
Em síntese, podemos constatar que os fatos administrativos podem ser voluntários e
naturais. Os fatos administrativos voluntários se materializam de duas maneiras: (1ª)
por atos administrativos, que formalizam a providência desejada pelo administrador
através da manifestação da vontade; (2ª) por condutas administrativas, que refletem
os comportamentos e as ações administrativas, sejam ou não precedidas de ato
administrativo formal. Já os fatos administrativos naturais são aqueles que se originam
de fenômenos da natureza, cujos efeitos se refletem na órbita administrativa.”
(CARVALHO FILHO)
Uma dica para lembrar dos elementos é ler o art. 2º da Lei 4717/65, que rege a ação
popular. Nela, os elementos do ato administrativos são arrolados e conceituados no parágrafo
único do art. 2º. Esses elementos são:
a) competência;
b) finalidade;
c) forma;
d) motivo;
e) objeto.
a. COMPETÊNCIA
É importante ressaltar que, para o STF, a prática de ato pelo agente ou órgão no exercício
da função delegada os torna partes legítimas para figurar em eventual ação para impugná-lo.
Nesse sentido é a Súmula 510 do STF:
Súmula 510. Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o
mandado de segurança ou a medida judicial.
A avocação de competência, por sua vez, consiste no ato mediante o qual uma
autoridade hierarquicamente superior atrai para sua esfera decisória a prática de ato de
competência natural de agente de menor hierarquia. Só existe entre agentes de hierarquia
diferentes (o superior avoca a atribuição do subordinado). É medida excepcional e sempre
temporária, que deve ser justificada.
No excesso de poder o agente público extrapola a competência que lhe foi conferida
mediante lei. Já no desvio de poder, o agente público apesar de competente, pratica o ato em
desconformidade com o interesse público.
b. FINALIDADE
c. FORMA
d. MOTIVO
IMPORTANTE: por força da teoria dos motivos determinantes, quando o agente público
apresentar a motivação do ato, ficará a ela vinculado, ainda que se trate de ato discricionário.
Portanto, essa teoria limita a discricionariedade da Administração nos casos em que o agente,
ainda que sem obrigação de motivar o ato, o faça.
Ressalta-se que a Lei 9.7844/99 admite a chamada motivação aliunde, que ocorre
quando utiliza-se a motivação de outro ato para embasar o seu, conforme disposto no artigo
50:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
o
§ 1 A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em
declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações,
decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.
e. OBJETO
COmpetência
FInalidade VINCULADOS
ELEMENTOS DO ATO
ADMINISTRATIVO FOrma
Motivo
DISCRICIONÁRIOS
OBjeto
MÉRITO ADMINISTRATIVO:
Quando o administrador atua dentro da esfera de liberdade que a lei lhe confere, as
suas decisões são chamadas de mérito administrativo, que nada mais é do que a valoração da
oportunidade e conveniência de praticar o ato. Como se pode ver, o mérito administrativo só
existe nos atos discricionários.
a. Presunção de legitimidade
Todo ato administrativo, quando nasce, presume-se praticado de acordo com a ordem
jurídica. Isso porque a Administração Pública está jungida ao princípio da legalidade, devendo
agir sempre nos estritos termos e limites fixados pela lei e pela Constituição. Trata-se, porém,
de uma presunção relativa, que pode ser ilidida por prova em contrário. Até que venha a ser
suspenso ou invalidado, o ato produz todos os seus efeitos validamente.
Com base nisso, Hely Lopes Meirelles identifica dois principais efeitos que decorrem da
presunção de legitimidade do ato administrativo:
Para Alexandre Aragão, essa presunção deve passar por uma releitura no atual estágio do
Estado Democrático de Direito. Segundo afirma, a presunção relativa de legitimidade dos atos
administrativos se decompõe em presunção de veracidade, ligada à certeza dos fatos
subjacentes ao ato, e a presunção de legalidade, concernente às razões jurídicas que
amparam o ato.
b. Imperatividade
É o atributo do ato que impõe a coercibilidade para o seu cumprimento. Ele não é
aplicável a todos os atos, mas apenas àqueles cujo conteúdo seja uma ordem administrativa,
com força impositiva. Decorre da própria existência do ato, em virtude da sua presunção de
legitimidade.
c. Autoexecutoriedade
IMPORTANTE: Existe uma exceção da exceção as penalidades pecuniárias que podem ser
descontadas do contracheque são autoexecutáveis. É o caso de estatutos funcionais que
preveem hipóteses de ressarcimento pelos danos causados pelo agente público. Neste caso, é
possível o desconto em folha, se ordem judicial.
a) ato geral: ato abstrato, impessoal, aplicável à coletividade como um todo. Não há
destinatário determinado.
Observação: Uma portaria com a nomeação de 300 candidatos é considerado ato individual,
pois há a individualização das pessoas atingidas pelo ato. O ato individual se refere a indivíduos
específicos.
Quanto ao alcance
a) atos internos: produz efeitos dentro da própria administração. (ex: determinação do horário
de lanche dos servidores da repartição X)
b) atos externos: produz efeitos fora da administração. Estes atos produzem efeitos dentro e
fora da administração (ex: determinação de que um órgão funcionará de 08 às 14h)
b.2) a lei estabelece uma competência e não diz como exercer (ex: compete ao
prefeito zelar pelo paisagismo do município)
b.3) a lei utiliza conceitos vagos ou indeterminados que exigem que o conteúdo seja
preenchido.
IMPORTANTE: No que tange ao controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, este
controle é possível no que toca à legalidade dos atos. De outro lado, não se admite a análise
de conveniência e oportunidade dos atos administrativos, ou seja, não se pode apreciar o
mérito dos atos discricionários.
Quanto ao objeto
a) atos de império: aqueles que a administração pratica valendo-se de sua supremacia em face
do particular. Ex: desapropriação.
A doutrina tem criticado essa classificação porque quando a administração pratica atos
em pé de igualdade com o particular, o regime jurídico será o privado, dessa forma, não será
ato administrativo e sim ato da administração.
Quanto à formação
a) ato simples: aquele que se torna perfeito e acabado com uma simples manifestação de
vontade.
b) ato composto: depende de mais de uma manifestação da vontade, que acontece dentro de
um mesmo órgão. A primeira manifestação é a principal, a segunda é secundária. Ex: ato
praticado pelo subordinado que depende de visto do superior (efeito prodrômico do ato
administrativo).
c) ato complexo: depende de mais de uma manifestação da vontade, que acontece em órgãos
diferentes, em patamar de igualdade. Ex: nomeação de dirigente de agência reguladora,
senado aprova e presidente nomeia (efeito prodrômico do ato administrativo).
IMPORTANTE: Para que o ato administrativo esteja regularmente produzindo efeitos ele
precisa passar por três planos de análise: PERFEIÇÃO, VALIDADE E EFICÁCIA.
1. Ato Perfeito: É aquele que completou as etapas necessárias para sua existência
2. Ato válido: É aquele que está de acordo com a lei
3. Ato eficaz: É aquele que está apto a produzir os seus efeitos
Há ainda os que mencionam o ATO EXEQUÍVEL, que seria aquele apto a produzir os seus
efeitos IMEDIATAMENTE.
b) ATO ORDINATÓRIO: é aquele que vai organizar, que vai escalonar os quadros da
administração. É o exercício do poder hierárquico.
c) ATO ENUNCIATIVO: é aquele que apenas atesta, que certifica uma situação (Ex: parecer).
Não tem conteúdo decisório.
d) ATO NEGOCIAL: é aquele em que há uma coincidência da vontade do poder público com a
vontade do particular (Ex: permissão, autorização, licença).
e) ATO PUNITIVO: aquele que tem no seu conteúdo uma punição. Trata-se do exercício do
poder disciplinar ou do poder de polícia.
L9784, Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram
efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.
L9784, Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem
prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela
própria Administração.
Assim, existem alguns vícios que são sanáveis, permitindo a convalidação do ato.
Segundo José dos Santos Carvalho Filho, são três as formas de convalidação do ato
administrativo:
Ratificação
Reforma
Conversão
Sobre o tema, convém transcrever as claras lições de José dos Santos Carvalho Filho:
“Há três formas de convalidação. A primeira é a ratificação. Na definição de MARCELO
CAETANO, “é o acto administrativo pelo qual o órgão competente decide sanar um
acto inválido anteriormente praticado, suprindo a ilegalidade que o vicia”. A
autoridade que deve ratificar pode ser a mesma que praticou o ato anterior ou um
superior hierárquico, mas o importante é que a lei lhe haja conferido essa competência
específica. Exemplo: um ato com vício de forma pode ser posteriormente ratificado
com a adoção da forma legal. O mesmo se dá em alguns casos de vício de
competência. Segundo a maioria dos autores, a ratificação é apropriada para
convalidar atos inquinados de vícios extrínsecos, como a competência e a forma, não
se aplicando, contudo, ao motivo, ao objeto e à finalidade.
A segunda é a reforma. Esta forma de aproveitamento admite que novo ato suprima a
parte inválida do ato anterior, mantendo sua parte válida. Exemplo: ato anterior
concedia licença e férias a um servidor; se se verifica depois que não tinha direito à
licença, pratica-se novo ato retirando essa parte do ato anterior e se ratifica a parte
relativa às férias.
A última é a conversão, que se assemelha à reforma. Por meio dela a Administração,
depois de retirar a parte inválida do ato anterior, processa a sua substituição por
uma nova parte, de modo que o novo ato passa a conter a parte válida anterior e uma
nova parte, nascida esta com o ato de aproveitamento. Exemplo: um ato promoveu A e
B por merecimento e antiguidade, respectivamente; verificando após que não deveria
ser B mas C o promovido por antiguidade, pratica novo ato mantendo a promoção de A
(que não teve vício) e insere a de C, retirando a de B, por ser esta inválida.”
De acordo com a doutrina majoritária, NÃO podem ser convalidados vícios nos
elementos motivo e finalidade, tidos como insanáveis. Assim, somente admitiriam sanatória
os vícios nos elementos competência, forma e objeto.
a) extinção natural: é a que decorre do cumprimento normal dos efeitos do ato, findo o qual o
ato deixa de existir.
f) extinção volitiva: é a que decorre de uma manifestação de vontade. Pode ser de três
espécies
Súmula 356: "A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos”
Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a apreciação judicial”
A anulação opera efeitos ex tunc, retroagindo à data em que o ato foi praticado. Em
outras palavras, é como se o ato nunca tivesse existido, não produzindo efeitos.
Já na revogação, como o ato era válido, produzirá seus regulares efeitos até a data em
que foi revogado pela autoridade competente. Diz, então, que a revogação possui
efeitos “ex nunc” (dali para frente).
ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
Vício de Legalidade Análise de conveniência e oportunidade
Efeitos “ex tunc” (retroativos) Efeitos “ex nunc” (dali para frente)