Liminar Credi-Shop X Estado Do Piauí

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poder judiciário

tribunal de justiça do estado do piauí


GABINETE DO Plantão Judicário

PROCESSO Nº: 0752737-63.2020.8.18.0000


CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)
ASSUNTO(S): [Liminar]
IMPETRANTE: CREDI SHOP SA ADMINISTRADORA DE CARTOES DE CREDITO

IMPETRADO: ESTADO DO PIAUI

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de medida liminar, que


CREDI SHOP SA ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO impetra em
face do GOVERNADOR DO ESTADO DO PIAUÍ, por força de apontado ato coator
exarado por meio de decreto de restrição/proibição de exercício de atividade da
Empresa Impetrante, requerendo na inicial pedido liminar sob a seguinte
fundamentação:
“A empresa, ora impetrante, presta serviços de administração de cartões de crédito
para consumidores (titulares de seus cartões) nos Estados do Piauí, do Maranhão,
do Pará e em Tocantins. Sob a autorização e fiscalização direta do Banco Central
do Brasil (Lei n.12.865/2013).
Portanto, desde julho de 2019, após longo caminho de análise de processos e
procedimentos, de auditorias diversas e projetos de implementações, a impetrante
(Credi-Shop S/A) obteve autorização do Bacen (Banco Central do Brasil) de
funcionamento sob os novos moldes insculpidos pela Lei n.12.865/2013, como
instituição de pagamento, tecnicamente um arranjo de pagamentos.
(...)
Some-se à natureza jurídica da impetrante e ao matiz particular de sua atividade
como operadora de importante meio de pagamento no Estado do Piauí, o
reconhecimento em Decreto Presidencial n. 10.282/2020 de que a atividade
exercida pela impetrante é ESSENCIAL.
(...)
Nestes termos, sua atividade não pode ser inviabilizada por nenhum decreto de
governos estaduais e/ou municipais, exceto se viabilizadas de forma
específica/objetiva e como resultado de articulação PRÉVIA com o órgão regulador

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ou o poder concedente ou autorizador (Art. 3º, §10, da Lei n.13.979/2020), no caso,
o Banco Central do Brasil.
Notadamente, que a impetrante tem adotado todas as medidas recomendadas de
redução de seu quadro de funcionários presentes fisicamente em sua sede,
fornecimento de máscaras, álcool em gel, distanciamento, controle de fluxo de
pessoas no recebimento de pagamentos em seus caixas, viabilizado formas digitais
de atendimentos e autoatendimentos, dentre outros. Todo esse esforço para manter
em funcionamento minimamente responsável a prestação da atividade essencial
que é viabilizar meio de pagamento (cartão de crédito) aos seus clientes para que
possam adquirir prioritariamente neste momento de pandemia os alimentos e
remédios.
(...)
Ressalte-se a fundamental importância da prestação dos serviços de apoio, de
esclarecimento, de liberação de créditos, de desbloqueio de cartões, de
fornecimento de senhas e etc., que interessam diretamente aos usuários do cartão
CREDISHOP, em 04 (quatro) estados da federação feita pela CENTRAL DE
ATENDIMENTO (call center).
Nesse particular, o funcionamento da central de atendimento (SAC) da impetrante é
um serviço que quando suspenso implica em imediato prejuízo aos titulares de
cartões CREDISHOP, OS consumidores (). Em outras palavras, a impetrante não
está pleiteando redução de seus prejuízos ao defender o funcionamento da central
de atendimento (SAC), está sim, em primeiríssimo plano, procurando minimizar os
prejuízos dos diversos consumidores, TITULARES DO CARTÃO CREDISHOP, de
pelo menos 04 (quatro) estados da Federação que ficarão impossibilitados de
desbloquearem um cartão; de liberarem crédito para aquisição de remédios, por
exemplo; de se informarem sobre utilização do cartão de uma forma geral.
Somando-se a estes pontos o fato de que a impetrante é obrigada por força do
Decreto n.6523/2008 a manter em funcionamento, e com opção do consumidor ser
atendido por um atendente, 24h por dia e 07 (sete) dias por semana.
(...)
Cumpre salientar, que a impetrante tem mantido a prestação de seu serviço
essencial com número de empregados reduzido a menos de 50% (cinquenta por
cento) de forma presencial na sede de sua empresa, os demais (cuja natureza do
trabalho permitem) trabalhando em sistema de home office e/ou com contratos
suspensos. A impetrante ainda implementou diversas medidas, um protocolo já em

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vigor, para mitigar a possibilidade de contágio pela covid19 em suas dependências,
tais como:
· Aferição de temperatura de todos os empregados ao acessarem a sede da
impetrante; · Fornecimento de máscaras individuais de proteção (face shield);
· Distanciamento de no mínimo 2(dois) metros entre os empregados;
· Fornecimento de álcool em gel;
· Testagem sorológica dos empregados para detectar covid-19;
· Aplicação de formulário de auto avaliação para preenchimento dos empregados;
· Afastamento de empregados com sintomas gripais ou que tenham tido contato
com pessoas com tais sintomas;
· Afastamento dos empregados integrantes do grupo de risco para covid19
(diabéticos, hipertensos, cardíacos, e etc.);
· Sanitização frequente, inclusive entre os turnos das escalas dos operadores, e nos
ambientes de trabalho, nos ambientes de atendimento e instrumentos de trabalho.
Nobre Julgador, de um total de 680 empregados, a impetrante está argumentando
sobre a manutenção do funcionamento da Central de Atendimento e CPD (TI), que
significa na prática:
· Sábado (13/06/2020): 40 (quarenta) pessoas, correspondendo a 5,88% (cinco
vírgula oitenta e oito por cento) dos empregados da impetrante;
· Domingo (14/06/2020): 15 (quinze) pessoas, correspondendo a 2,20% (dois
vírgula vinte por cento) dos empregados da impetrante.
Frise-se que mesmo sendo um número extremamente reduzido de empregados,
vide informação acima, ainda irão laborar distribuídos em escalas de horários de
modo que o número de operadores, presentes no mesmo ambiente e horário será
ainda mais reduzido.
(...)
Apenas para ratificar a essencialidade dessa atividade a impetrante fez
levantamento de que nesse período de estado de calamidade decretada, no mês de
abril/2020, o percentual de 66% (sessenta e seis por cento) de todas as transações
feitas por seus cartões foram para aquisição de gêneros alimentícios e
medicamentos.
Nobre Julgador(a), estamos tratando neste mandado de segurança, em última
análise, da manutenção da disponibilização de meios financeiros à população das
classes C, D e E (estas as classes que constituem os clientes – usuários dos
cartões emitidos pela impetrante), no total aproximado de 500.000 (quinhentos mil)

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cartões, para compra da alimentação e remédios para suas famílias.
(...)
Todavia, e a despeito da clarividência da essencialidade que reveste essa
atividade, o Governador do Estado do Piauí (impetrado), editou o Decreto n.19.027
de 11 de junho de 2020, determinando dentre outras deliberações uma restrição
arbitrária dos serviços essenciais no Estado do Piauí “a partir das 24 horas do dia
12 e junho até as 24 horas do dia 13 de junho” (Art. 2º, Dec. 19.027) ; e mais
restritivo ainda “a partir das 24 horas do dia 13 de junho até as 24 horas do dia 14
de junho” (Art. 3º, Dec. 19.027).
(...)
As restrições às atividades essenciais previstas no aludido Decreto n.19.027
inviabilizam a prestação do serviço já demonstrado e comprovado como essencial
da impetrante, no momento em que exclui essa atividade (prevista em Decreto
Presidencial) do rol das atividades permitidas a funcionarem no período lá disposto.
Em outras palavras, sua Excelência o Governador do Estado do Piauí está
proibindo, por meio de simples decreto sem qualquer manifestação do Bacen, e
sem apoio em qualquer parecer técnico específico da Anvisa, o funcionamento das
estruturas mínimas que viabilizam a prestação do serviço essencial de
administradora de cartão de crédito, notadamente de suas centrais de atendimento,
infra estrutura (e funcionários) da área de TI e servidores, dentre outros, que, em
última análise, cumprem o dever de atender os usuários do cartão de crédito
CREDIHOP, de forma a que se utilizem desse meio de pagamento para aquisição
de bens e serviços essenciais, farmácias e supermercados.
(...)
DA MEDIDA LIMINAR
A Constituição Federal, bem como a Lei 12.016/2009 garantem a todos a proteção
ao direito líquido e certo quando lesados ou na iminência de lesão por ato de
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público.
Dessa forma, ficam demonstrados os fundamentos jurídicos, ou seja, "fumus boni
iuris", pelo claro desrespeito às Leis n.13.979/2020, n.12.865/13 (instituições de
pagamento), n.10.214/2000 (sistema de compensação de boletos próprios e de
terceiros),
Decreto Presidencial n.6.523/2008 (Central de Atendimento ao Consumidor), e com
o Decreto Presidencial n.10.282/2020. Presente também o "periculum in mora", pois

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a medida determinada pelo atacado Decreto 19.027/2020 terá início já às 24h do
dia 12/06/2020, tendo como principais prejudicados os usuários do cartão de
crédito, que é o meio de pagamento, como já se o disse, utilizado por mais de
500.000 usuários espalhados por quatro Estados da Federação, integrantes das
classes C, D e E. para pagar pela compra de produtos essenciais para saúde e
alimentação!
Assim, a petição do mandado de Segurança deve ser recebida e analisada com a
urgência que se apresenta.”
Explicitados os fundamentos da demanda, torna-se mister examinar o pedido de
liminar formulado.
Inicialmente, insta consignar que o Mandado de Segurança é uma ação
constitucional que visa proteger direito líquido e certo.
Regulamentando o mandamus, preceitua a Magna Carta Brasileira, em seu artigo
5º, LXIX, litteris:
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público;
Sedimentada a finalidade da impetração do Mandado de Segurança,
cumpre destacar que, tratando-se de pedido liminar, cabe ao julgador, nesta fase
processual, observar se estão configurados os pressupostos de admissibilidade
dessa tutela de urgência, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.
O fumus boni iuris entendido como o vestígio de bom direito, preceitua
que deve ser verificado se, em princípio, há consistente fundamento jurídico, capaz
de reconhecer o feito como merecedor das garantias da tutela cautelar. Já o
periculum in mora, reside no fundado temor de que, enquanto aguarda a tutela
definitiva, venham a faltar às circunstâncias de fato favoráveis à própria tutela.
Estabelecidas tais premissas, passo a perscrutar o caso sub judice.
Analisando a inicial, constata-se que assiste razão à Impetrante.
Salta aos olhos o entendimento de que a atividade exercida pela
Empresa Impetrante se enquadra nos requisitos de atividade essencial, em especial
considerando a presente situação de enfrentamento de uma pandemia, onde diante
da necessária restrição da atividade comercial e dos serviços disponibilizados ao
público, impõe-se a considerável parcela da população a utilização do cartão de
crédito como, por vezes o único, meio de pagamento, e financiamento, na compra
de produtos essenciais a sua manutenção, como alimentos e remédios.

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Ora, restringir o funcionamento da Central de Atendimento ao
Consumidor (SAC), com a atuação de seus operadores (seguindo todas as
recomendações de proteção e higiene), bem como da infraestrutura de TI (e
funcionários necessários para manutenção dos sistemas), põe em risco as
operações objeto da atuação da Impetrante, atingindo não apenas ao
funcionamento “interno” da empresa mas colocando em risco o acesso de,
conforme a inicial, 500.000 (quinhentos mil) usuários do serviço de crédito
oferecido, que como já registrado, atende a parcela considerável da população.
Não bastasse tal constatação, verifica-se que a atividade da Empresa
Impetrante se enquadra no disposto no Decreto nº 10.282/2020, que define os
serviços públicos e essenciais, especificamente em seu artigo 3º, §1º, incisos VII,
XX, XXIII, que considera, dentre outros, atividade essencial: o serviço de call center
; o serviço de pagamento, de crédito e de saque e aporte prestados pelas
instituições supervisionadas pelo Banco Central do Brasil; e o serviço relacionado à
tecnologia da informação e de processamento de dados (data center) para o
suporte de outras atividades previstas neste Decreto.
Isto posto, verifica-se o vestígio do bom direito, entendendo-se que, a princípio,
mostra-se o feito merecedor da tutela pleiteada.
Comprovado o primeiro requisito, é salutar que se examine a existência do
periculum in mora.
Há que se reconhecer, que a demora na prestação jurisdicional certamente causará
grave lesão não somente a Impetrante mas à considerável número de usuários de
seu serviço de crédito, existindo fundado temor de que, enquanto se espera a
tutela, ocorra ao direito posto em juízo lesão de difícil ou impossível reparação, bem
como, considerando a vigência do ato coator, neste final de semana, resta evidente
a necessidade de concessão da medida no presente plantão judiciário.
Logo, é forçoso concluir que encontram-se presentes, no caso em comento, os
pressupostos autorizadores da medida liminar vindicada.
ANTE O EXPOSTO, com base nas razões expendidas, CONCEDO a liminar
vindicada para determinar que a autoridade coatora se abstenha de impedir por
qualquer meio o funcionamento da atividade essencial da Impetrante, notadamente
da Central de Atendimento ao Consumidor (SAC), com a atuação de seus
operadores (seguindo todas as recomendações de proteção e higiene), bem como
da infraestrutura de TI (e funcionários necessários para manutenção dos sistemas),
ficando o Governador do Estado do Piauí e todas as suas secretarias e órgãos de

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controle, fiscalização e policia impedidos de promover qualquer tipo de restrição ou
embaraço ao seu funcionamento, na forma supra consignada, e de aplicar qualquer
tipo de sanção e/ou multa em face da impetrante, sob pena de multa diária que
arbitro em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a ser aplicada a autoridade que por
ventura descumprir a presente ordem, sem prejuízo das sanções penais, cíveis e
administrativas cabíveis.
Serve a presente decisão de mandado de cumprimento de urgência, inclusive a ser
cumprido pelo agente público que por ventura vir a fiscalizar a atividade da
Impetrante, na forma consignada na presente ordem.

Cumpra-se.

TERESINA-PI, 12 de junho de 2020.

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