Tratamento de Esgoto ETE Franca
Tratamento de Esgoto ETE Franca
Tratamento de Esgoto ETE Franca
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
TRATAMENTO DE ESGOTO
ETE – FRANCA/SP
O tratamento de esgotos pode ser dividido em níveis de acordo com o grau de remoção
de poluentes ao qual se deseja atingir. O tratamento preliminar destina-se a remoção de sólidos
grosseiros em suspensão (materiais de maiores dimensões e os sólidos decantáveis como areia
e gordura). São utilizados apenas mecanismos físicos (gradeamento e sedimentação por
gravidade) como método de tratamento. Esta etapa tem a finalidade de proteger as unidades
de tratamento subsequentes e dispositivos de transporte como por exemplo bombas e
tubulações, além de proteção dos corpos receptores quanto aos aspectos estéticos. O
tratamento primário além dos sólidos sedimentáveis remove também uma pequena parte da
matéria orgânica, utilizando-se de mecanismos físicos como método de tratamento. O
tratamento secundário, geralmente constituído por reator biológico, remove grande parte da
matéria orgânica, podendo remover parcela dos nutrientes como nitrogênio e fósforo. Os
reatores biológicos empregados para essa etapa do tratamento reproduzem os fenômenos
naturais da estabilização da matéria orgânica que ocorreriam no corpo receptor. O tratamento
terciário, nem sempre presente, geralmente constituído de unidade de tratamento físico-
químico, tem como finalidade a remoção complementar da matéria orgânica, dos nutrientes, de
poluentes específicos e a desinfecção dos esgotos tratados.
De acordo com a área, com os recursos financeiros disponíveis e com o grau de eficiência
que se deseja obter, um ou outro processo de tratamento pode ser mais adequado. A estimativa
de eficiência esperada nos diversos níveis de tratamento incorporados numa ETE pode ser
avaliada no Quadro I.
Quadro I – Estimativa da eficiência esperada nos diversos níveis de tratamento incorporados
numa ETE.
Matéria
Sólidos em Nutrientes Bactérias
Tipo de orgânica
suspensão (% remoção (%
tratamento (% remoção de
(% remoção SS) nutrientes) remoção)
DBO)
As lagoas de estabilização são consideradas como uma das técnicas mais simples de tratamento
de esgotos. Dependendo da área disponível, topografia do terreno e grau de eficiência desejado,
podem ser empregados os seguintes tipos de sistemas de lagoas de estabilização:
- Lagoas facultativas
- Sistema de lagoas anaeróbias seguidas por lagoas facultativas (Sistema Australiano)
- Lagoas aeradas facultativas
- Sistema de lagoas aeradas de mistura completa seguida por lagoas de decantação
LAGOAS FACULTATIVAS
O efluente entra por uma extremidade da lagoa e sai pela outra. Durante este caminho, que
pode demorar vários dias, o esgoto sofre os processos que irão resultar em sua purificação. Após
a entrada do efluente na lagoa, a matéria orgânica em suspenção (DBO particulada) começa a
sedimentar formando o lodo de fundo. Este sofre tratamento anaeróbio na zona anaeróbia da
lagoa. Já a matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) e a em suspensão de pequenas dimensões
(DBO finamente particulada) permanecem dispersas na massa líquida. Estas sofrerão
tratamento aeróbio nas zonas mais superficiais da lagoa (zona aeróbia). Nesta zona há
necessidade da presença de oxigênio. Este é fornecido por trocas gasosas da superfície líquida
com a atmosfera e pela fotossíntese realizada pelas algas presentes, fundamentais ao processo.
Para isso há necessidade de suficiente iluminação solar, portanto, estas lagoas devem ser
implantadas em lugares de baixa nebulosidade e grande radiação solar. Na zona aeróbia há um
equilíbrio entre o consumo e a produção de oxigênio e gás carbônico. Enquanto as bactérias
produzem gás carbônico e consomem oxigênio através da respiração, as algas produzem
oxigênio e consomem gás carbônico na realização da fotossíntese. As reações são praticamente
as mesmas com direções opostas:
Fotossíntese:
Respiração:
Este sistema de tratamento de esgoto constituído por lagoas anaeróbias seguidas por lagoas
facultativas, também conhecido como sistema australiano.
As lagoas anaeróbias são normalmente profundas, variando entre 4 a 5 metros. A
profundidade tem a finalidade de impedir que o oxigênio produzido pela camada superficial seja
transmitido às camadas inferiores. Para garantir as condições de anaerobiose é lançado uma
grande quantidade de efluente por unidade de volume da lagoa. Com isto o consumo de
oxigênio será superior ao reposto pelas camadas superficiais. Como a superfície da lagoa é
pequena comparada com sua profundidade, o oxigênio produzido pelas algas e o proveniente
da reaeração atmosférica são considerados desprezíveis. No processo anaeróbio a
decomposição da matéria orgânica gera subprodutos de alto poder energético (biogás) e, desta
forma, a disponibilidade de energia para a reprodução e metabolismo das bactérias é menor
que no processo aeróbio. A eficiência de remoção de DBO por uma lagoa anaeróbia é da ordem
de 50% a 60%. Como a DBO efluente é ainda elevada, existe a necessidade de uma outra unidade
de tratamento. Neste caso esta unidade constitui-se de uma lagoa facultativa, porém esta
necessitará de uma área menor devido ao pré-tratamento do esgoto na lagoa anaeróbia. O
sistema lagoa anaeróbia + lagoa facultativa representa uma economia de cerca de 1/3 da área
ocupada por uma lagoa facultativa trabalhando como unidade única para tratar a mesma
quantidade de esgoto. Devido a presença da lagoa anaeróbia, maus odores, provenientes da
liberação de gás sulfídrico, podem ocorrer como consequência de problemas operacionais. Por
este motivo este sistema deve ser localizado em áreas afastadas, longe de bairros residenciais.
(SPERLING,1996)
Para conhecer exemplos de ETEs que utilizam o Sistema Australiano para tratamento de
esgotos sanitários.
LAGOAS DE MATURAÇÃO
A função desta lagoa é a remoção de patogênicos. Esta é uma alternativa mais barata à
outros métodos como por exemplo a desinfecção por cloração. (SPERLING,1996)
Para conhecer um exemplo de ETE que se utiliza de uma lagoa de maturação para a remoção
de patogênicos.
LODOS ATIVADOS
O sistema de lodos ativados não exige grandes requisitos de áreas como por exemplo as
lagoas. No entanto há um alto grau de mecanização e um elevado consumo de energia elétrica.
O tanque de aeração ou reator, o tanque de decantação e a recirculação de lodo são partes
integrantes deste sistema. O efluente passa pelo reator, onde ocorre a remoção da matéria
orgânica e depois pelo decantador, de onde sai clarificado após a sedimentação dos sólidos
(biomassa) que formam o lodo de fundo. Este é formado por bactérias ainda ávidas por matéria
orgânica que são enviadas novamente para o reator (através da recirculação de lodo). Com isso
há um aumento da concentração de bactérias em suspensão no tanque de aeração, para ser ter
uma ideia, esta é mais de 10 vezes maior que a de uma lagoa aerada de mistura completa sem
recirculação. Porém uma taxa equivalente ao crescimento das bactérias (lodo biológico
excedente) deve der retirada, pois se fosse permitido que as bactérias se reproduzissem
continuamente, alguns problemas poderiam ocorrer. A presença de biomassa no efluente final
devido à dificuldade de sedimentar em um decantador secundário sobrecarregado e a
dificuldade de transferência de oxigênio para todas as células no reator são exemplos destes.
A alta eficiência deste sistema é em grande parte devido a recirculação de lodo. Esta permite
que o tempo de detenção hidráulico seja pequeno e consequentemente também o reator
possua pequenas dimensões. A recirculação de sólidos também ocasiona com que os sólidos
permaneçam mais tempo no sistema que a massa líquida. Este tempo de permanência da
biomassa no sistema é chamado de Idade do Lodo.
Além da matéria orgânica carbonácea o sistema de lodos ativados pode remover também
nitrogênio e fósforo, porém a remoção de coliformes é geralmente baixa devido ao pequeno
tempo de detenção hidráulico e normalmente insuficiente para o lançamento no corpo
receptor.
Para conhecer o funcionamento de uma ETE que utiliza este sistema para tratar esgotos
domésticos.
A diferença deste sistema para o sistema convencional é que a biomassa permanece mais
tempo no reator (18 a 30 dias), porém continua recebendo a mesma carga de DBO. Com isso o
reator terá que possuir maiores dimensões e consequentemente existirá menor concentração
de matéria orgânica por unidade de volume e menor disponibilidade de alimento. Para
sobreviver as bactérias passam a consumir a matéria orgânica existente em suas células em seus
metabolismos. Assim, o lodo já sairá estabilizado do tanque de aeração, não havendo
necessidade de se ter um biodigestor. Este sistema também não possui decantador primário
para evitar a necessidade de uma unidade de estabilização do lodo resultante deste.
Como a estabilização do lodo ocorre de forma aeróbia no reator, há um maior consumo
de energia elétrica. Porém, este é um sistema de maior eficiência de remoção de DBO dentre os
que funcionam com lodos ativados. (SPERLING, 1997)
Neste sistema há apenas uma unidade e todas as etapas de tratamento do esgoto ocorrem
dentro do reator. Estas passam a ser sequências no tempo e não mais unidades distintas. A
biomassa permanece no tanque e não havendo necessidade de sistema de recirculação de lodo.
Um sistema de lodos ativados fluxo intermitente possui ciclos bem definidos de operação. São
estes: enchimento, reação, sedimentação, esvaziamento e repouso. Em sistemas que recebem
esgotos de forma contínua, como por exemplo as estações que recebem esgotos domésticos,
há a necessidade de ser ter mais de um tanque de aeração trabalhando em paralelo. Pois um
tanque que está no ciclo de decantação não pode estar recebendo esgotos e para isso deve
haver um outro tanque que esteja no ciclo de enchimento. Este sistema pode funcionar tanto
como um de lodos ativados convencional como um de aeração prolongada. (SPERLING, 1997)
FILTROS BIOLÓGICOS
O filtro biológico é constituído de um leito que pode ser de pedras, ripas ou material
sintético. O efluente é lançado sobre este por meio de braços rotativos e percola através das
pedras (ou outro material) formando sobre estas uma película de bactérias. O esgoto passa
rapidamente pelo leito em direção ao dreno de fundo, porém a película de bactérias absorve
uma quantidade de matéria orgânica e faz sua digestão mais lentamente. É considerado um
processo aeróbio uma vez que o ar pode circular entre os vazios do material que constitui o leito
fornecendo oxigênio para as bactérias. Quando a película de bactérias fica muito espessa, os
vazios diminuem de dimensões e a velocidade com que o efluente passa aumenta, devido a isso
surgem forças cisalhantes que fazem com que a película se desgarre do material. Os filtros
podem ser:
Neste sistema, como a carga de DBO aplicada é baixa, o lodo sai parcialmente estabilizado
devido ao consumo da matéria orgânica presente nas células das bactérias em seus processos
metabólicos por causa da escassez de alimento. Tem eficiência comparável ao sistema de lodos
ativados convencional. Ocupa uma maior área e possui uma menor capacidade de adaptação as
variações do efluente, porém consome menos energia e é mais simples operacionalmente.
(SPERLING, 1995)
Este sistema é menos eficiente que o sistema de filtros biológicos de baixa carga e o lodo
não sai estabilizado. A área ocupada é menor e a carga de DBO aplicada é maior. Há uma
recirculação do efluente para que mantenha os braços distribuidores funcionando durante a
noite, quando a vazão é menor e, evitando assim que leito seque. Com isto há também um novo
contato das bactérias com a matéria orgânica melhorando a eficiência. Uma outra forma de
aumentar a eficiência é colocando filtros biológicos em série. Há diferentes formas de combinar
os filtros e a recirculação de efluentes. (SPERLING,1995)
BIODISCOS
Este sistema é limitado para o tratamento de pequenas vazões. O diâmetro máximo dos
discos é reduzido sendo necessário um grande número de discos para vazões maiores.
(SPERLING, 1995)
Este sistema possui menores dimensões devido a sua condição anaeróbia. É menos
eficiente que os sistemas aeróbios, porém há uma baixa produção de lodo e este já sai
estabilizado. Por ser um processo anaeróbio há a possibilidade de geração de maus odores, mas
esta pode ser evitada por um projeto, planejamento e manutenção adequados.
A fossa séptica possui pouca eficiência e geralmente é utilizada como processo
complementar. O efluente passa através da fossa e a matéria orgânica sedimentável forma um
lodo de fundo que sofrerá digestão anaeróbia. Este já sai estabilizado, porém com muitos
patogênicos.
O filtro anaeróbio é constituído por um leito, normalmente de pedras, onde se forma uma
película de bactérias. O efluente entra na parte inferior do filtro e atravessa o leito em um fluxo
ascendente. Por isso o leito é afogado, ou seja, os vazios são preenchidos com o efluente. Este
motivo e também a alta concentração de matéria orgânica por unidade de volume fazem com
que as bactérias envolvidas neste processo sejam anaeróbias. Por ser um processo anaeróbio as
dimensões do filtro são reduzidas e a unidade é fechada. (SPERLING, 1995)
Gradeamento/Caixas de Areia/E.E.E.B.
SETOR 2
Decantadores Primários
Tanques de Aeração
SETOR 4
SETOR 5
O tanque de mistura tem por objetivo preparar uma mistura homogênea do lodo
primário e do lodo secundário(biológico). O lodo primário, antes do tanque de
mistura, passa por um gradeamento fino, para reter aglomerados sólidos, estopas,
cabelos, etc. Nos adensadores ocorre a sedimentação do lodo que, através de bombas, é
enviado para os Biodigestores (Setor 6).
SETOR 6
Biodigestores
SETOR 7
O sistema possui uma área construída de 116.000 e tem um consumo mensal médio de
energia elétrica de 490.166,70 kWh.
A ETE produz mensalmente 699,00 m3 de lodo com um teor médio de sólidos secos de
18,25 %. O lodo produzido é destinado a agricultura.
Os parâmetros presentes na tabela abaixo são utilizados pela ETE para a avaliação do
desempenho do sistema.
A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Franca foi equipada com um biodigestor que capta diariamente 2.500 m³ de biogás,
capaz de produzir biometano suficiente para substituir 1.500 litros de gasolina Foto: Rene Moreira/Estadão
Estudos apontam que a produção em Franca será capaz de abastecer 200 veículos leves; na Sabesp, 19 carros já estão adaptados e
rodando com o gás do esgoto Foto: Rene Moreira/Estadão