Metodologia de Ensino Por Projetos: Levando A Prática para O Ensino de Ciências
Metodologia de Ensino Por Projetos: Levando A Prática para O Ensino de Ciências
Metodologia de Ensino Por Projetos: Levando A Prática para O Ensino de Ciências
Resumo
1
Formada em Matemática e Ciências; Mestranda em Ensino: Formação docente interdisciplinar, pela
UNESPAR-Paranavaí. Professora da Universidade Paranaense (UNIPAR), Campus Paranavaí e Colégio Nobel.
E-mail: [email protected]
2
Bióloga, Doutora em Agronomia. Professora Adjunto D do colegiado de Ciências Biológicas e da pós-
graduação em Ensino: formação docente interdisciplinar da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR,
Campus Paranavaí). E-mail: [email protected].
3
Bióloga e Pedagoga, Mestre em Educação: formação docente interdisciplinar. Professora Assistente do
colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR, Campus Paranavaí). E-mail:
[email protected].
ISSN 2176-1396
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Introdução
verbal e teórica, mas que tenha os alunos como protagonistas na construção de seu próprio
conhecimento.
Portanto, pretende-se neste estudo, fomentar discussões sobre a metodologia de ensino
por projetos, desse modo contribuir com um contínuo aprimoramento da prática pedagógica,
na expectativa de uma reflexão plausível, como a realizada por Masetto (1996, p. 3):
era uma vez uma professora... uma professora que gostava de ser professora.
Trabalhava com gosto e paixão, se realizava com a docência... E certo dia, olhou
mais pra frente e percebeu que sua ação poderia abarcar horizontes mais amplos e
atingir profundidades maiores, numa interação com seus pares e com seus alunos.
Contudo, a ação docente necessita obter horizontes mais amplos e que atinja
profundidades maiores, pois o docente precisa buscar novas metodologias de ensino que
proponham a reflexão, a pesquisa e a investigação sobre pressupostos teóricos e práticos das
abordagens do ensino e da aprendizagem.
É bom ressaltar que a superação desta realidade exige uma longa caminhada, cujo
passo inicial é uma nova compreensão da prática pedagógica em todos os níveis de ensino.
Para que o docente possa ultrapassar o papel de autoritarismo e de dono da verdade, há
a necessidade de uma prática diferenciada, em que o docente se baseie numa abordagem
progressista, no ensino com pesquisa, com visão holística e instrumentalizado por uma
tecnologia inovadora, como se pode obter na metodologia por projetos, e que não é abrangível
pelo viés unicamente disciplinar.
Desenvolvimento
Fazendo uma análise histórica da palavra Projeto, Boutinet (2002) ressalta que os
gregos e latinos desconheciam em seu vocabulário o que corresponde à concepção moderna
do termo. Essa palavra surge, de maneira regular, na França, no decorrer do século XV, sob a
forma de pourjet e Project, mas para designar ainda elementos arquitetônicos.
Ela aparece e é reconhecida no final do século XVII, com um sentido semelhante ao
que nela reconhecemos hoje. Quem iniciou a utilização do termo na área da educação foi
Dewey (1859 – 1952) junto com Kilpatrick (1871 - 1965). Podemos, portanto, dizer que os
fundamentos para a atual metodologia de ensino por projetos surgem com Dewey, no início
do século XX. A ideia passou a se difundir no Brasil a partir do movimento Escola Nova,
principalmente por intermédio de Anísio Teixeira e Lourenço Filho, por volta dos anos 1930.
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estudos, os métodos de ensino, concluindo que o currículo escolar deveria ser organizado por
meio de projetos.
É válido ressaltar que não existe receita pronta em relação à utilização da metodologia
de ensino por projetos, porém apresentaremos as dicas destacadas por Hernández, que,
mesmo tendo pensado essas ideias para a realidade espanhola, encaixa-se muitas vezes na
realidade das salas de aula brasileiras.
O modelo de Hernández propõe que o educador abandone o papel de “transmissor de
conteúdos”, para se transformar num pesquisador. O educando, por sua vez, passa de receptor
passivo a sujeito do processo. Nesta concepção, não há um método a seguir, mas uma série de
condições a respeitar. O primeiro passo é determinar um assunto. Esta escolha pode ser feita
partindo de uma sugestão do professor ou dos próprios alunos.
Complementando esta ideia, podemos mencionar que os benefícios da utilização da
metodologia de ensino por projetos didáticos são fascinantes e surpreendentes. Fascinante
pela capacidade de envolver até os alunos mais displicentes. Surpreendente por trazer
embutido o princípio do inesperado.
Na pedagogia de projetos o aluno aprende no processo de produzir, de questionar, de
levantar dúvidas, de pesquisar e (re)criar relações, que incentivam novas buscas, descobertas,
compreensões e (re)construções do conhecimento. E, portanto, o papel do docente deixa de
ser o de transmitir informações – que tem como centro a atuação do professor -, para criar
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situações de aprendizagens cujo foco se incide sobre as relações que se estabelecem nesse
processo, cabendo ao professor realizar mediações necessárias para que o aluno consiga
encontrar sentido, significado naquilo que está aprendendo, a partir das relações criadas
nessas situações. Sobre isto, Valente, agrega:
À luz das reflexões das etapas discutidas anteriormente, não poderíamos deixar de fora
a opinião de Paulo Freire (2011, p. 16):
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quem ensina aprende ao ensinar, quem aprende ensina ao aprender. Não há ensino
sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino. Enquanto ensino continuo buscando,
(re)procurando. Ensino porque busco, porque busquei; porque indago e me indago.
Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo.
Pesquiso para conhecer o que ainda não se conhece, comunicar ou anunciar a
novidade.
Consoante a isto, propor a metodologia de ensino por projetos e trabalhar com ela é
permitir que o aluno aprenda no processo e possa refazê-lo, caso haja necessidade. Ele passa a
ter a oportunidade de apontar as dificuldades encontradas no processo, tratando da sua auto
avaliação, da avaliação do grupo, do professor, da metodologia, da temática investigada e da
própria avaliação.
Nesta abordagem, o estudante se torna o principal agente da aprendizagem,
responsável pelo seu próprio sucesso, privilegiando uma aprendizagem por descoberta pessoal
do aluno e, ainda mais, por informação vinda do professor.
Leite, Malpique e Santos (1993, p. 68), descrevem esse aspecto da seguinte forma:
o aluno só aprenderá quando tiver prazer em conhecer, ou seja, quando tiver uma
curiosidade livre de bloqueios (...) O professor só conseguirá ensinar quando tiver
prazer na sua ação catalisadora da curiosidade dos seus alunos, mantendo, porém, a
objetividade na apreciação que deles deverá fazer.
isso, Behrens (2000b, p. 94) salienta que “como sujeito, o aluno precisa ser instigado a
avançar com autonomia, a se exprimir com propriedade, a construir espaço próprios, a tomar
iniciativa, a participar com responsabilidade, enfim, a fazer acontecer e a aprender a
aprender”.
Os professores que utilizam esta metodologia precisam ser profissionais que reflitam
sobre suas próprias ações pedagógicas. Esse processo de reflexão auxiliará na condução da
aprendizagem do aluno. A ação docente deve provocar processos que permitam conseguir
compreender e interpretar os temas apresentados, deixando claro o objetivo ou o significado
de porque está se originando nesse processo a produção de novos conhecimentos.
A metodologia de ensino por projetos deve permitir que o aluno aprenda fazendo e,
além disso, reconheça a própria autoria naquilo que produz, por meio de problemas de
investigação que lhe impulsionam a contextualizar conceitos conhecidos e descobrir outros
conceitos que surgem durante o desenvolvimento do projeto. Nesta situação de aprendizagem,
o aluno precisa selecionar informações significativas, tomar decisões, trabalhar em grupo,
gerenciar confronto de ideias, enfim, desenvolver competências interpessoais para aprender
de forma colaborativa com seus pares.
A mediação do professor por sua vez, é fundamental, pois ao mesmo tempo em que o
aluno precisa reconhecer a sua própria autoria no projeto, ele também precisa sentir a
presença do professor que ouve, questiona e orienta, visando propiciar a construção de
conhecimento do aluno. A mediação implica na a criação de situações de aprendizagens que
permitam ao aluno fazer regulações, uma vez que os conteúdos desenvolvidos no projeto
precisam ser sistematizados para que os alunos possam formalizar os conhecimentos
colocados em ação. O trabalho por projetos potencializa a integração de diferentes áreas do
conhecimento, assim com a integração de várias mídias e recursos, os quais permitem que os
alunos possam expressar seu pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de
representação. Do ponto de vista de aprendizagem no trabalho por projeto, destaca-se a
possibilidade de o aluno (re)contextualizar aquilo que aprendeu, bem como estabelecer
relações significativas entre conhecimentos. Nesse processo, o aluno pode (re)significar os
conceitos e as estratégias utilizadas na solução do problema de investigação que originou o
projeto e, com isso, ampliar o seu universo de aprendizagem.
Além das dimensões supracitadas, no ensino por projetos, existe também uma
mudança no comportamento do professor e do aluno. As relações professor-aluno, aluno-
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aluno e até professor-professor são nitidamente afetadas, são influenciadas nessa metodologia,
que conduz o professor à observação das mudanças gradativas de seus educandos, as quais
são percebidas continuamente, não apenas pela avaliação de uma tarefa, mas por um conjunto
de atividades individuais e coletivas realizadas.
Há, dessa maneira, uma maior aproximação entre professor e aluno. Aquele que busca
superar o papel de transmissor do conhecimento – torna-se mediador do processo - enquanto o
educando torna-se, de fato, um agente do processo.
É importante salientar que tanto os papéis do educando quanto do educador são
fundamentais dentro da metodologia de ensino por projetos. O professor desperta no aluno o
papel de um ser fundamental no grupo como se ele estivesse ali executando tarefas,
desenvolvendo seu potencial o tempo todo, e sempre aprendendo. A função do docente é a de
motivador, facilitador do processo de ensino, mediador que possibilita a produção do
conhecimento; função de estimulador da pesquisa; função de promotor de um trabalho
compartilhado, sendo companheiro dos estudantes. Assim, a partir da apresentação dos
conteúdos nas aulas, o professor pode desafiar os alunos a buscar a construção do seu
conhecimento sobre determinado aspecto da realidade.
observação, trabalho em grupo, comparação, análise e síntese. Fazendo com que haja
interesse e curiosidade nas aulas de Ciências.
O interessante da utilização de projetos é que permite o envolvimento e a cooperação
entre os próprios estudantes, entre professor e alunos e ainda a utilização de vários outros
recursos externos à sala de aula, como: a utilização de bibliotecas públicas, laboratórios,
computadores, parques, museus, visitas técnicas e estudo de campo.
Os saberes exigidos pela sociedade do conhecimento supõem novos papéis para o
educador. Nesse sentido, os mesmos, devem adequar-se aos desafios da sociedade
contemporânea, pois ao trabalharem com diferentes conteúdos, têm papel principal na
seleção, organização e problematização dos saberes, lembrando que, suas escolhas devem
contribuir para com a formação crítica-reflexiva do educando.
Em suas considerações, Libâneo (2004, p. 36) assevera que:
De acordo com Leite (2007), o aluno quando participa de uma metodologia de ensino
por projetos envolve-se numa experiência educativa em que o processo de construção e
reconstrução do conhecimento está integrado às práticas vivenciadas. Ainda segundo o autor,
o estudante deixa de ser apenas um aprendiz do conteúdo de ciências para transformar-se em
um ser humano capaz de desenvolver uma atividade complexa e nesse processo apropriasse
de um objeto de conhecimento cultural.
Na perspectiva de Hernández e Ventura (1998), para se desenvolver um projeto deve-
se partir de um tema ou problema que seja de interesse dos alunos para depois iniciar o
processo de pesquisa. Porém, é importante salientar que ao escolher o tema, o docente deve
ficar alerta para que tal tema esteja em consonância com os conhecimentos formais
trabalhados em sala de aula; uma vez que os projetos são apenas instrumentos de mediação
entre os interesses de aprendizagem do aluno e as tarefas e responsabilidades do ensino do
professor.
Dessa forma, a metodologia de ensino por projetos na área de Ciências reforça a
importância pela busca incessante do aprender e das relações com o saber. Nós, como seres
inacabados procuramos constantemente conhecer, interpretar, explorar e criar o mundo
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Considerações Finais
[...] formar para a vida significa mais do que reproduzir dados, denominar
classificações ou identificar símbolos. Significa: saber se informar, comunicar-se,
argumentar, compreender e agir; enfrentar problemas de diferentes naturezas;
participar socialmente, de forma prática e solidária; ser capaz de elaborar críticas ou
propostas; e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado.
O atual modelo de educação não atende a essas exigências e, ainda mais, trabalha
segundo a concepção tradicional, onde os alunos recebem cada vez mais concepções e
conceitos, com nenhuma ou pouca interação com suas realidades e, raramente, as transforma
em conhecimento.
No mundo atual as transformações são rápidas, o volume de informações é cada vez
maior, as novas tecnologias invadem nossas vidas o que tem exigido dos educandos um novo
perfil. A maioria deles dominam as novas tecnologias, recebem informações em tempo real,
vivem conectados em fóruns, sites e chats enquanto os educadores insistem em cumprir os
conteúdos dos livros didáticos, seguir anotações amareladas e registrar tudo na lousa.
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A metodologia de ensino por projetos muda o foco da sala de aula do professor para o
aluno, da informação para o conhecimento, da “decoreba” para a aprendizagem. Dessa forma,
é possível equilibrar teoria e prática, dividir responsabilidades e tarefas, comunicar resultados,
discutir processos avaliativos. Ao trabalhar assim, o professor e o aluno assumem papel de
pesquisadores de coprodutores do processo de ensino e aprendizagem. Situações problemas
são levantadas para aproximar a aprendizagem de situações reais vivenciadas pelos alunos. A
pesquisa avança por todas as etapas do projeto permitindo que a informação seja transformada
em conhecimento e aprendizagem. Isto é, ao fazer, ao testar, ao pesquisar teoria e prática se
harmonizam.
Os projetos rompem com o conceito de teoria como um conhecimento especulativo,
racional, associado a aulas expositivas e atividades não significativas para os alunos; rompem
também com o conceito de prática como resultado de ação, associada a métodos e técnicas. “É
possível perceber a concepção de Teoria-Prática em uma relação de distinção e de
dependência, quando a percepção da prática depende da – e só é existente após a – percepção
da teoria” (OLIVEIRA, 2003, p. 47). Consoante a isto vemos que não há mais a lógica
tradicional em direção da teoria para a prática ou a prática como aplicação da teoria.
Considera-se a concepção de teoria e prática como complementares, dependentes,
inseparáveis.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Maria Carmem Silveira; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos Pedagógicos
na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 1996.
DEWEY, John. Como pensamos: como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo
educativo, uma exposição. Tradução de Haydée Camargo Campos, 4. ed. São Paulo:
Nacional, 1979.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed.
São Paulo, SP: Paz e Terra, 2011.
FREIRE, Fernanda Maria Pereira; PRADO, Maria Elisabette Brisola Brito. Projeto
Pedagógico: Pano de fundo para escolha de um software educacional. In: VALENTE, José
Armando (Org.). O Computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas, SP: NIED,
1999. p. 111-120.
LEITE, Elvira; MALPIQUE, Manuela; SANTOS, Milice Ribeiro dos. Trabalho de projeto:
leitura comentada. Porto: Afrontamento, 1993, p. 68.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 5. ed. Goiânia:
Editora alternativa, 2004.
OLIVEIRA, Fernanda Machado Freitas de. As dimensões da Teoria e da Prática nos cursos
de Graduação em Administração: Contribuições da Metodologia de Projetos à Luz do
Pensamento Complexo. 2003. 149 f. Dissertação (Mestrado em Educação Tecnológica) –
Centro Federal Educação Tecnológica de Minas Gerais /CEFETMG, Belo Horizonte, 2003.
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