Concreto Simples
Concreto Simples
Concreto Simples
5.
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1. Histórico
Foi somente a partir de 1824, entretanto, com o advento do cimento Portland, que o
concreto assumiu um lugar de destaque entre os materiais de construção, graças à enorme
versatilidade que oferecia comparativamente aos demais produtos, possibilitando a
moldagem, com relativa facilidade, das mais diversas formas arquitetônicas. Surgiram, então,
as primeiras especificações para concreto baseadas no estudo científico de seus elementos
constitutivos e das suas propriedades físicas.
Em construções rurais o concreto é usado nas mais diversas obras. Entre outras, pode-
se citar a execução de pavimentações, cochos, bebedouros, mata-burros, pontilhões, cisternas,
silos, canaletas, canais, etc. O conhecimento das propriedades e características do concreto de
cimento Portland é, portanto, de fundamental importância para os profissionais de engenharia
que atuam em construções no meio rural e devem saber usá-lo com segurança, garantindo um
produto final de qualidade.
2. Definição
endurece e, com o passar dos dias, adquire grande resistência mecânica, convertendo-se num
material monolítico dotado das mesmas características de uma rocha.
• resistência do agregado;
• resistência da pasta;
• resistência da ligação entre a pasta e o agregado.
Quando o concreto é dosado de acordo com certos princípios básicos, que serão
estudados posteriormente, apresenta, além da resistência, as vantagens de baixo custo,
facilidade de execução, durabilidade e economia. Para tanto é necessário, inicialmente,
conhecer as características que o concreto endurecido deve possuir, para depois, a partir dos
materiais disponíveis, obter o concreto pretendido, mediante o proporcionamento correto da
mistura e o uso adequado dos processos de fabricação. O concreto fresco representa uma fase
transitória, porém de enorme influência nas características do concreto endurecido.
3. Propriedades do Concreto
Materiais de Construção – Araujo, Rodrigues & Freitas 51
Para efeito de suas propriedades, o concreto deve então ser analisado nestas duas
condições: fresco e endurecido.
O concreto fresco é assim considerado até o momento em que tem início a pega do
aglomerante.
O concreto endurecido é o material que se obtém pela mistura dos componentes, após
o fim da pega do aglomerante.
• consistência
• plasticidade
• poder de retenção de água
• trabalhabilidade
3.1.1. Consistência
Teor de água/materiais secos é, pois, a relação entre o peso da água e o peso dos
materiais secos multiplicada por 100.
Pag
A% = x100
Pc + Pm
Na elaboração do ensaio, o cone deve ser molhado internamente e colocado sobre uma
chapa metálica, também molhada. Uma vez assentado firmemente sobre a chapa, enche-se o
cone com concreto em três camadas de igual altura. Cada uma dessas camadas é “socada”
com 25 golpes, com uma barra de ferro de 5/8” (16 mm).
3.1.2. Plasticidade
À medida que as paredes das formas vão-se aproximando e a armadura se torna mais
densa, maior deve ser o grau de plasticidade da mistura, a fim de evitar o perigo de que
apareçam vazios na peça depois de concretada. Neste caso seria altamente desfavorável obter
a consistência desejada aumentando-se simplesmente a quantidade de água, pois essa prática
diminuiria significativamente a resistência do concreto, a qual para ser compensada exigiria o
emprego de mais cimento.
As areias mais finas requerem mais água, por terem maiores áreas específicas. Por sua
vez, pelo fato de serem mais finas, o teor de areia requerido pelo concreto de igual
plasticidade será menor, compensando dessa maneira o efeito negativo da finura da areia.
3.1.4. Trabalhabilidade
Materiais de Construção – Araujo, Rodrigues & Freitas 56
• resistência
• durabilidade
• impermeabilidade
• aparência
Chamamos de:
fc fc
ft = e ft ' =
10 5
Sendo:
temos que:
fck
ftk = para fck ≤ 18 MPa
10
Vários são os fatores que influem na resistência mecânica do concreto, dentre os quais
destacamos:
• fator água/cimento
• idade
• tipo de cimento
• condições de cura
O fator água/cimento (x) é a relação entre o peso de água (Pag) e o peso de cimento
(Pc) empregado no traço de um cimento.
Pag
x=
Pc
onde:
R = resistência do concreto
A e B = constantes empíricas
x = fator água/cimento
A durabilidade pode ser definida como sendo a capacidade que o concreto possui de
resistir à ação do tempo, aos ataques químicos, à abrasão ou a qualquer outra ação de
deterioração. A durabilidade depende, entretanto, do tipo de ataque, físico ou químico, que o
concreto, depois de endurecido, será submetido, devendo ser analisado criteriosamente antes
da escolha dos materiais e da dosagem.
4. Produção do Concreto
Uma vez conhecidas as propriedades que devem possuir o concreto em suas duas fases
- fresco e endurecido-, pode-se detalhar o processo de produção do concreto.
• dosagem;
• mistura;
• transporte;
• lançamento;
• adensamento;
• cura.
O traço pode ser medido em peso ou em volume. Geralmente quando não está
expressa de forma clara a unidade, supõem-se que esta medida seja em peso. Se o traço for em
volume deve ser indicado. Freqüentemente adota-se uma indicação mista: o cimento em peso
e os agregados em volume.
1:a:p
ou
1:a”:p” em volume
RESISTÊNCIA À
3
FATOR CONSUMO POR M DE CONCRETO FRESCO COMPRESSÃO
Para o caso de grandes obras, a dosagem experimental é a única aceitável, isto porque,
os materiais constituintes e o produto resultante são ensaiados em laboratórios.
O método de dosagem que será desenvolvido neste trabalho nos parece o mais
apropriado para o uso específico em obras rurais dada a facilidade de entendimento e
aplicação. Será um método de dosagem parcialmente experimental, que considera o maior
número de parâmetros possíveis, permitindo ao engenheiro fabricar um concreto que garanta
o máximo de rendimento dos materiais disponíveis com as características de qualidade
desejadas.
- velocidade de rotação - quanto a velocidade de rotação, para cada tipo de betoneira existe
uma velocidade ótima do tambor, acima da qual poderá haver o início da centrifugação dos
materiais, diminuindo, portanto, a homogeneidade da mistura.
4.3. Transporte
É a terceira etapa da produção do concreto, que após a mistura, tem que ser
transportado ao local de enchimento das formas.
No transporte do concreto deve-se tomar cuidado para que não haja vibração
excessiva, o que pode provocar segregação dos componentes, prejudicando a homogeneidade
do concreto. O transporte, também deve ser rápido, a fim de evitar que o concreto perca a
trabalhabilidade necessária às etapas seguintes.
4.4. Lançamento
• que as formas, quando em madeira, estejam saturadas de água, para que não absorvam a
água do concreto;
• que seja evitado arrastar o concreto distâncias muito grandes. O arrastamento da mistura,
com enxada, nas formas ou mesmo sobre o concreto já aplicado, pode provocar perda de
argamassa, que adere aos locais por onde passa. Admite-se que o concreto seja espalhado,
por arrastamento, em distâncias na ordem de 0,80 a 1,00 m. Para distâncias maiores deve-
se apanhar o concreto com uma pá e aplicá-lo onde for necessário;
• que seja evitado o lançamento do concreto de grandes alturas. A altura máxima permitida,
para que não haja segregação, está em torno de 1,50 a 2,00 m. Para peças esbeltas, como
pilares, em que a altura é superior as indicadas, o concreto deve ser lançado através de
janelas abertas na face lateral da forma, que serão posteriormente fechadas, a medida que
avança a concretagem.
4.5. Adensamento
Para o adensamento manual podem ser usadas barras de aço ou pedaços de madeira
que funcionarão como soquetes. A camada de concreto deve ser submetida a choques
repetidos, sendo mais importante o número de golpes, do que a energia de cada golpe. O
adensamento manual é feito por camadas de concreto, com espessura máxima de 15 a 20 cm e
para um concreto fresco com slump de 5 a 12 cm. O processo de adensamento deve cessar
assim que aparecer na superfície do concreto uma camada lisa de cimento e elementos finos.
Materiais de Construção – Araujo, Rodrigues & Freitas 70
120%
100%
Resistência
80%
60%
40%
20%
0%
0% 5% 10% 20%
Índice de vazios
• mesa vibratória: são mesas sobre as quais são colocadas as peças de concreto a serem
adensadas. Geralmente são usadas em indústria de pré-moldados de pequeno e médio
porte, para a produção de blocos, placas, meios-fios, pequenas vigas, etc.
4.6. Cura
Denomina-se cura o conjunto de medidas que têm por finalidade evitar a evaporação
prematura da água necessária à hidratação do cimento.
A Norma Brasileira exige que a cura seja feita nos 7 primeiros dias contados do
lançamento do concreto. É desejável, entretanto, que se faça até o 140 dia, para se ter
garantias contra o aparecimento de fissuras devidas à retração.
• imersão: é o método ideal de cura, tendo entretanto uma aplicação restrita. É mais
empregado em industrias de pré-moldagem, onde as peças fabricadas são imersas em
tanques com água. Pode ser empregado, também, em lajes e pisos quando existe a
possibilidade e a disponibilidades de cobri-las com uma pequena lâmina de água.
• manutenção da umidade da forma: é um método que só pode ser usados em peças nas
quais a forma, de madeira ou outro material absorvente, proteja a maior parte da
superfície, tais como pilares e vigas. O método consiste em molhar a forma em intervalos
freqüentes, mantendo assim a umidade.
5. Método de Dosagem
Materiais de Construção – Araujo, Rodrigues & Freitas 72
Dosar um concreto consiste em determinar a proporção mais adequada com que cada
material - cimento, areia, brita e água - entra na composição da mistura, ou seja, é procurar o
traço mais adequado para atender as condições específicas do projeto, utilizando
corretamente os materiais disponíveis.
5.1.1. Cimento
O agregado miúdo mais utilizado é a areia lavada. As areias indicadas para o concreto
são do tipo média e grossa, cujos índices de qualidade e constantes físicas já foram
observados no Capítulo de Agregados.
devendo ser menor que 1,2 vezes a dimensão máxima característica do agregado nas camadas
horizontais e 0,5 vezes a mesma dimensão no plano vertical.
e
dmáx < para vigas e pilares
4
e
dmáx < para lajes
3
e'
dmáx <
1,2
e''
dmáx <
0,5
onde:
5.1.4. Água
A qualidade da água deve ser considerada para efeitos de dosagem, embora o cuidado
maior deva ser mais, em relação a quantidade de água empregada, do que propriamente com
os elementos que ela possa conter.
Este trabalho não se deterá em estudos mais profundos sobre os teores de substâncias
nocivas permissíveis na água de amassamento, tendo em vista que a determinação desses
teores só é possível em laboratórios especializados, o que para obras pequenas ou distantes,
normalmente é inviável
A recomendação prática é de que seja sempre utilizada água potável. No caso da água
possuir grande quantidade de argila e silte (águas de rios, poços, barragens, etc.) recomenda-
se que a mesma fique em repouso até que se perceba que o mesmo já sedimentou no fundo do
recipiente.
Além deste fato, existe a possibilidade de, nos ensaios de controle de qualidade,
ocorrerem erros que contribuirão para aumentar a variação de resistência, sem que, neste
caso, tenha havido alterações na qualidade do próprio concreto.
Compete a quem vai executar a obra, fabricar um concreto que satisfaça as condições
impostas no projeto da estrutura. Para garantir a obtenção do fck de projeto é calculada uma
tensão de dosagem fc28 superior à tensão característica, de forma a levar em conta os diversos
fatores que possam influenciar na resistência final do concreto, que vão desde a sua
fabricação (homogeneidade dos materiais, precisão de medidas, etc.) até a cura.
O fc28 corresponde ao valor médio, ou seja, a uma probabilidade de 50%, obtido nos
ensaios de ruptura à compressão. O valor de fc28 depende do tipo de controle de qualidade da
obra. Geralmente, quanto mais rigoroso for este controle, menor será a tensão de dosagem,
pois maior precisão poderá ser garantida à obtenção do fck.
Em função desses fatores a NBR 6118 impôs certas condições para determinação do
fc28 baseada em elementos da teoria estatística onde, na prática, a variação da resistência
obedece a distribuição normal de freqüência - Curva de Gauss - conforme demonstra a Figura
13. Assim sendo, o cálculo da tensão de dosagem é dado pela expressão a seguir, onde Sd é o
desvio padrão:
Caso o desvio padrão não seja conhecido através de ensaios com corpos de prova da
obra considerada ou de outra obra, cujo concreto tenha sido executado com o mesmo
equipamento e em iguais condições de organização e controle, o desvio padrão será fixado
pelos seguintes critérios:
Sd = 4,0 MPa
Sd = 5,5 MPa
Sd = 7,0 MPa
5.3. Determinação do Traço
Materiais de Construção – Araujo, Rodrigues & Freitas 76
Pag
x=
Pc
onde:
A fixação ou escolha do fator água/cimento (x) do concreto deve ser baseada nos
critérios de resistência mecânica e de durabilidade. Recomenda-se utilizar sempre o menor
valor determinado.
Em relação a durabilidade, quando não for possível, ou a obra não justificar um estudo
mais aprofundado da durabilidade do concreto, pode-se adotar, para o fator água/cimento (x),
as recomendações da Tabela 11.
Pag
A% = × 100
Pc + Pm
onde:
x
A% = × 100
1+ m
5.3.3. Determinação do Peso dos Agregados Secos por Peso de Cimento (Pm)
Definida a relação água/materiais secos (A%), o valor de Pm pode ser obtido através
da seguinte expressão:
100 × Pag
Pm = − Pc
A%
onde para um dado valor de x e para 1 kg de cimento, temos que:
Materiais de Construção – Araujo, Rodrigues & Freitas 79
100 × x
Pm = −1
A%
Com relação a dosagem não experimental a NBR 6118 prescreve que a proporção do
agregado miúdo, no volume total dos agregados, é fixada de maneira a se obter um concreto
com trabalhabilidade adequada ao seu emprego e deve situar-se sempre entre 30% e 50%.
Pbrita = Pm - Pa
Para a obtenção do traço em peso para 1 saco de cimento, basta multiplicar o traço
encontrado anteriormente por 50, uma vez que cada saco de cimento contém 50 kg.
Ph − Ps
Da definição de umidade, onde h% = × 100 , pode-se colocar Ph em
Ps
evidencia, sendo:
h% × Ps
Ph = + Ps
100
A conversão de peso para volume é feita em função da massa específica aparente dos
agregados.
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Ps
Define-se volume como sendo V =
γ
Vh − Vs
Da definição de inchamento onde I% = × 100 , pode-se colocar Vh em
Vs
evidência, sendo:
I % × Vs
Vh = + Vs
100
1000 = Vc + Va + Vp + Vag
P P
D= ∴ Vch =
Vch D
Portanto:
Pc Pa Pp Pag
1000 = + + +
Dc Da D p Dag
Como:
Então:
Pa = a.C
Pp = p.C
Pag = x.C
Assim:
C a. C p. C x. C
1000 = + + +
Dc Da Dp 1
ou
1 a p
1000 = C + + + 1
Dc Da D p
1000
C=
1 a p
+ + +x
Dc Da D p
Quando não se determinar a densidade real, pode-se usar para as areias e britas Da =
Dp = 2,65 kg/dm3 e para o cimento Portland comum Dc = 3,15 kg/dm3 . Então:
Materiais de Construção – Araujo, Rodrigues & Freitas 83
1000
C=
0,32 + 0,377.(a + p) + x
7. Medição do Traço
Naturalmente, é impossível misturar de uma só vez 1m3 de concreto, assim, cada traço
é executado em função de um saco de cimento e os agregados são medidos através de
padiolas.
As padiolas possuem base fixa e altura variável. As dimensões da base são de 0,35 m x
0,35 m e a altura varia em função do volume de agregado a ser medido.
Recomenda-se que a altura da padiola não exceda 0,35 m a fim de facilitar o manuseio
do operário na obra, não as tornando extremamente pesadas.